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ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL NOVAS PERSPECTIVAS Helena Polak

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ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL

NOVAS PERSPECTIVAS

Helena Polak

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Contato com a autora: [email protected] Blog: http://helenapolak.blogspot.com/ Este livro pode ser adquirido através do site:

www.clubedeautores.com.br

Obrigada a todos que incentivaram e contribuíram com a elaboração deste livro!!

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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL...........................................................................6 II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO BORDERLINE?......................................................................10 III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO BORDERLINE........................................................................19

1. Vergonha / Invalidação ...................................................19 2. Raiva................................................................................21 3. Impulsividade ..................................................................22 4. Variações de humor.........................................................24 5. Sensibilidade sensorial / ansiedade .................................24 6. Sensibilidade a crítica......................................................25 7. Interpretação equivocada de emoções.............................26 8. Distorção de “fatos” / memória emocional / atemporalidade ....................................................................28 9. Atribuição de culpa .........................................................31 10. Medo de abandono / medo de intimidade .....................32 11. Atitude “oito ou oitenta” ...............................................34 12. Ruminação.....................................................................35 13. Depressão / Medicamentos............................................36 14. Insônia ...........................................................................37 15. Problemas de Interação Social ......................................37 16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas.........................39

IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA....................41 V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS ..................................46 VI. EMOÇÕES........................................................................49 VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU DEPRESSÃO..........................................................................53

1. Táticas para conter impulsos prejudiciais .......................54 2. Táticas para combater depressão.....................................55 3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o ato decorrente ......................................................................56

a) Fazer perguntas a si mesma.........................................56 b) Protelar........................................................................57

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c) Procurar distração........................................................57 d) Conversar consigo mesma ..........................................58

4. Táticas a médio e longo prazo.........................................59 a)Fazer papel de repórter.................................................59 b) Usar auto-afirmações ..................................................60 c) Buscar outras fontes de adrenalina..............................61

VIII. NOVAS PERSPECTIVAS.............................................63 1) Reconhecendo distorções cognitivas, como: ..................64

a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta ..............64 b) Extrapolação/ generalização .......................................64 c) Prisma negativo...........................................................64 d) Conclusões precipitadas..............................................64 e) Tamanho dos problemas .............................................64 f) Raciocínio emocional ..................................................65 g) Projeções do “deveria”................................................65 h) Rótulos ........................................................................65 i) Personalização e culpa .................................................65

2. Modificando as distorções cognitivas .............................66 a) Identifique o tipo de percepção errônea ......................66 b) Examine as provas ......................................................66 c) Fale consigo mesma ....................................................66 d) Busque o meio termo ..................................................67 e) Faça uma pequena pesquisa de opinião ......................67 f) Descreva situações com outras palavras......................67 g) Não assuma toda a culpa.............................................67 h) Não atribua toda a culpa aos outros ............................67 i) Analise o custo-benefício.............................................68

3. Libertando-se de ressentimentos .....................................68 4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus pensamentos negativos:.......................................................72

IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS OUTROS.................................................................................75 X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE..........................85

1. Crenças problemáticas.....................................................85 2. Identificando suas crenças...............................................85

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3. Reprogramando suas crenças ..........................................88 4. Identificando valores .......................................................89 5. Definindo metas ..............................................................92

XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL..........................................96

1. Aprendendo a relaxar ......................................................96 a) Relaxamento muscular progressivo ............................97 b) Meditação....................................................................98

2. Cuidando melhor de si.....................................................99 a) Alimentação ................................................................99 b) Movimentação.............................................................99 c) Sono reparador ..........................................................100

3. Organizando seu tempo.................................................101 XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE ...................................103 REFERÊNCIAS....................................................................113

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I. IDENTIFICANDO A ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL  Você se identifica com a maioria das afirmativas abaixo?  

Tenho medo de ser abandonada pelos outros  Quando tenho um impulso muito forte, eu o sigo sem pensar nas consequencias  

Meus relacionamentos são instáveis e problemáticos  Quando penso sobre minha infância, vem a sensação de falta de compreensão e carinho, lembranças de abuso e trauma 

Sinto um vazio interior a maior parte do tempo, uma falta de rumo 

Tenho problemas com vícios, dependências, compulsões, transtornos alimentares, etc. 

Meu humor varia de uma hora para outra e até muitas vezes no mesmo dia 

Frequentemente não consigo controlar minhas reações, que são muito intensas 

Sinto que o mundo à minha volta é cheio de ameaças e pressões e cobranças  

Às vezes me acho muito vulnerável e fraca, sinto que não dou conta de lidar com a vida 

Desconfio que frequentemente incomodo as pessoas, que elas não me aceitam como sou 

Sofro muito com as palavras e atitudes dos outros, pois levo tudo de forma pessoal – e negativa  

Tenho problemas de insônia, depressão, ataques de pânico, de ansiedade.  

   

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Veja como a renomada escritora Pearl Buck descreve uma pessoa altamente  criativa  que  já  nasce  com  extrema  sensibilidade emocional – para a qual:  

“Um toque é uma pancada, um barulho é um estrondo, um revés é uma tragédia, uma alegria é um êxtase, um amigo é um amado, um amado é um deus,

e o fracasso é a morte.”

Se você chega a sofrer com sua extrema sensibilidade emocional, é  possível  que  você  apresente  algumas  características  daquilo que, no  seu  conjunto, é  chamado  (por  falta ainda de um nome melhor)  de  “transtorno  de  personalidade  borderline”  ( “bórderláine”, ou simplesmente “bórder”).   O  objetivo  aqui  não  é  rotular  ninguém,  e  sim  identificar  e entender da melhor forma possível os fatores que  lhe afligem e, 

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com base nisto, partir para a adoção de uma nova perspectiva, adotando atitudes que podem melhorar consideravelmente a sua qualidade de vida, atenuando suas angústias e incertezas.   Às vezes a simples constatação de que aquilo que nos atormenta tem um nome específico,   possui características específicas, tem potencial  de  recuperação,  e  é  compartilhado  por  milhares  e milhares de pessoas ao redor do mundo, pode proporcionar um certo  alívio.  E  essa  identificação  talvez  lhe  permita  partir mais rapidamente para o próximo passo –  ok, se é esse o meu problema, o que posso fazer então para melhorar?   Entretanto,  mesmo  com  toda  a  sua  inteligência  e  percepção, poderá haver diversos motivos pelos quais você talvez relute em aceitar  de  imediato  essa  possibilidade,  por  considerá‐la perturbadora,  depreciativa,  radical,  discriminatória,  pessimista, constrangedora, etc.   Em vista da sua experiência de vida e sua alta sensibilidade inata, talvez você nao queira aceitar ou admitir que tenha qualquer tipo de  “transtorno”  de  personalidade,  ou  comportamental,  ou emocional, ou o que seja. Essa reação é perfeitamente normal.   De modo geral, não queremos ser considerados “diferentes” de forma  negativa. Além  disso,  todos  nós  no  fundo  tememos  que algum profissional da área de saúde  (seja mental ou  física)   nos diga que realmente sofremos de algum problema que precisa ser analisado,  tratado,  acompanhado,  medicado,  etc.,  ou  que  nos diga que temos que fazer algumas mudanças em nosso estilo de vida  (como  ter que  fazer atividade  física, ou parar de  fumar, de beber, de  comer doces,  etc.). Mudança é uma palavra  chave:  a ponte entre o conhecido e o desconhecido.  Se você quiser, pode optar por considerar o conteúdo deste livro simplesmente como um conjunto de informações sobre questões 

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emocionais ou de  relacionamento, que podem vir a ser úteis de alguma forma.   Mas, se você  reconhecer, nem que seja somente no seu  íntimo, que você efetivamente possui algumas das características acima descritas,  comuns  ao  transtorno  borderline,  e  sabe  que  suas reações  impulsivas e/ou negativas atrapalham a  sua vida e  seus relacionamentos  –  então  você  pode  começar  a  trabalhar  suas questões com a ajuda das ferramentas oferecidas aqui, como um primeiro  passo,  enquanto  você  não  busca  e  encontra  o  apoio profissional (e/ou familiar) necessário para progredir mais rápida e seguramente na construção de uma vida melhor.   O  importante  é  justamente  dar  o  primeiro  passo,  e  colocar intenção no seu progresso e recuperação. Não é um caminho fácil –  você  vai  precisar  de  muita  coragem,  perseverança  e  fé. Confiança  de  que  você  vai  chegar  a  um  ponto  de  poder aproveitar  muito  melhor  sua  vida  como  recompensa  por  este esforço.   Quanto  mais  você  protelar  em  analisar  objetivamente  a relevância  das  características  e  consequências  da  alta sensibilidade  emocional  no  seu  caso,  e  em  tomar  as  medidas necessárias para se entender melhor e procurar a ajuda adequada para  fazer  as mudanças  indicadas, mais  íngreme  e  lento  será o seu caminho de  recuperação. Aproveite esta oportunidade para começar a mudar sua perspectiva desde já.   Observação: Adota-se o uso do feminino ao longo do livro para concordar com a palavra “pessoa” – embora naturalmente a alta sensibilidade emocional possa

ser encontrada tanto em homens quanto mulheres.

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II. O QUE PODE GERAR COMPORTAMENTOS DO TIPO BORDERLINE? Não há  resposta  simples para essa pergunta. Existe um  intenso debate  em  andamento  sobre  os  fatores  que  podem  contribuir para  a  manifestação  dos  sintomas  do  Transtorno  de Personalidade Borderline (TPB), sem que se tenha chegado ainda a um consenso. Somente para  ilustrar como que esse problema tem  sido  relativamente  pouco  estudado  até  agora,  o primeiríssimo  congresso  internacional  sobre  Borderline  foi realizado apenas em 2010, em Berlim.   Um dos novos nomes propostos para o distúrbio é “Transtorno de  Regulação  Emocional”,  pois  é  justamente  a  “desregulação emocional”  que  traduz  a  dificuldade  que  a  pessoa  tem  em regular, modular,  controlar,  e  até  reconhecer  e  classificar  suas próprias emoções.  Muitas  pesquisas  estão  sendo  conduzidas  sob  diversas  óticas, mas de modo geral a constatação é de que algumas pessoas já nascem com um certo conjunto de vulnerabilidades neurobiológicas, as quais podem (ou não) levar a uma manifestação dos comportamentos associados ao transtorno, dependendo das experiências pessoais e influências do meio.   Estas  pesquisas  continuam  analisando  a  ação  de neurotransmissores,  serotonina,  a  amídala  (parte  do  sistema límbico),  as  diferentes  formas  de  perceber  e  processar conhecimento  e  emoções,  a  hipersensibilidade  a  estímulos  e mudanças,  a  atividade  do  córtex  pré‐frontal,  as  questões relacionadas  à  insônia,  resposta  a  dor,  receptores  opióides,  o cerebelo, o hipocampo, baixa ocitocina, entre outras.   Existe uma grande diversidade na “programação”  individual – o que, por sua vez – e  isto é de suma  importância  ‐ aponta para o potencial de “reprogramar” as reações e atitudes da pessoa com 

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sintomas  Borderline,  principalmente  através  de  terapia,  para permitir que tenha uma vida mais tranqüila e equilibrada.  Alguns  tipos de  comportamento “menos  comuns” encontrados em  nosso  meio  de  familiares  e  amigos  podem  dizer  respeito, talvez,  a  um  tio  impulsivo  e  esbanjador,  uma  tia  que  sofre  de depressão, um avô que bebia demais, um primo super tímido, um outro  primo  brilhante  porém  imprevisível,  um  parente  muito “sistemático”, outro  extremamente  ciumento  e  possessivo,  um colega  que  só  quer  saber  de  aventuras  radicais,  e  assim  por diante.   Considerados  individualmente, tais traços podem até ser aceitos socialmente como hábitos “excêntricos” (embora o alcoolismo, o homossexualismo  e  transtornos  de  comportamento,  por exemplo,  ainda  carreguem  um  pesado  estigma,  contribuindo para  que  as  próprias  pessoas  e  seus  parentes  não  queiram comentá‐los abertamente nem buscar ajuda).   Mas,  no  caso  do  Borderline,  pode  ocorrer  a  concentração  de diversas  destas  vulnerabilidades  e  características  em  uma  só pessoa – o que representa uma carga  individual excessivamente pesada para se  lidar de forma adequada sem alguma espécie de ajuda.  Com  uma  boa  terapia  (uma  das  opções mais  eficazes  sendo  a Cognitiva  comportamental,  que  visa  justamente  essa reprogramação,  ou  psico‐educação)  e  o  apoio  e  envolvimento positivo de pessoas amadas e amigas, e também, muitas vezes, a ajuda de medicação adequada, a pessoa com sintomas Borderline pode  atingir  um  excelente  grau  de  recuperação.  Relatos fascinantes  e  inspiradores  podem  ser  encontrados  em  grande quantidade em blogs e vídeos e sites na internet, em livros (como The Buddha and the Borderline, por Kiera Van Gelder, BPD Coaching and Advocacy,  por  A.  J. Mahari,  Loud in the House of Myself,  por  Stacy 

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Pershall,  por  enquanto  disponíveis  somente  em  inglês),  entre outras fontes.   É  interessante  observar  que  muitas  pessoas  com  sintomas Borderline  acabam  encontrando  equilíbrio,  satisfação  e realização  ao  exercer  atividades  que  envolvem  a  prestação  de ajuda aos outros, seja através de enfermagem, assistência social, voluntariado, ensino de modo geral, terapia, etc.  Um dos exemplos mais marcantes na área internacional é da Dra. Marsha  Linehan,  da  Universidade  de  Washington  nos  EUA, pioneira  no  desenvolvimento  e  utilização  da  Terapia Comportamental Dialética, que  já ajudou um grande número de pessoas  com  sintomas  borderline  ao  redor  do mundo  –  sendo que  ela  mesma  passou  por  uma  juventude  turbulenta, atormentada por sintomas borderline. Maiores detalhes sobre o caso  dela  podem  ser  encontrados  no  site www.borderlinepersonalitydisorder.com.  Temos  também  o  caso  amplamente  divulgado  do  jogador  de futebol  americano,  Brandon  Marshall,  que  declarou  que  vai trabalhar para que o transtorno se torne mais conhecido, e assim mais  rapidamente  diagnosticado  e  tratado.  Entre  pessoas  já falecidas,  podemos  somente  especular,  mas  aparentemente tanto o famoso pintor Van Gogh quanto à Lady Diana sofriam de vários sintomas borderline.    No  final  deste  livro  você  encontrará  também  relatos  de  outras pessoas  já  diagnosticadas  como  portadoras  do  transtorno  de personalidade  Borderline  (ou  seja,  desregulação  emocional), ilustrando sua trajetória, suas dúvidas e angústias, sua coragem e seus avanços. E você poderá acompanhar também alguns grupos excelentes  no  Facebook,  como  Transtorno  de  Personalidade Borderline e Grupo de Portadores do Transtorno Borderline onde as  pessoas  conversam  sobre  seus  problemas,  trocam  idéias    e sugestões, encontrando apoio e compreensão, assim como blogs 

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informativos  e  interativos,  tais  como http://vidadeumaborderline.blogspot.com/,  e http://cafepsicanalitico.blogspot.com/.   Não  devemos  nunca  esquecer  de  que  existem muitos  níveis  e tipos de sintomas Borderline, bem como variadas fases e ciclos e combinações de comportamentos. Às vezes, se as circunstâncias de  vida  não  desencadeiam  as  fortes  e  negativas  reações emocionais  características  do  transtorno,  a  vulnerabilidade biológica  pode  permanecer  dormente  por  muito  tempo,  ou mesmo latente para sempre, e/ou poderá manifestar‐se de forma relativamente branda, e/ou mais passageira.   Além disso, à medida que a pessoa chega aos quarenta,  levando uma  vida  com  menos  conflitos  emocionais,  registra‐se  uma frequente tendência à diminuição dos sintomas de instabilidade e impulsividade,  às  vezes  até  sem  tratamento  específico. Entretanto,  sem  um  ambiente  estruturado  e  sem  terapia, algumas pessoas podem até piorar – portanto, não é a  idade em si  o  fator  determinante.  Entre  outros  profissionais  a  confirmar essa  tendência,  temos  o  Dr.  Erlei  Sassi  Junior,  formado  em medicina  e  psicoterapia  pela Universidade  de  São  Paulo  (USP), que  estuda  pacientes  com  transtorno  borderline  há  15  anos  e atualmente  coordena  o  Ambulatório  dos  Transtornos  de Personalidade  e  do  Impulso  do  Instituto  de  Psiquiatria  do Hospital das Clínicas, também na capital paulista.   O  mesmo,  ao  ser  indagado  sobre  as  principais  mudanças esperadas no Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais,  o  DSM‐V,  previsto  para  publicação  em maio  de  2013, respondeu à Veja Online de 31/07/2011 o seguinte: “no DSM‐V, a principal evolução no diagnóstico do transtorno será a aplicação de  questionários  destinados  a  medir  duas  características. Primeira:  em  que medida  o  paciente  se  vê  como  um  indivíduo autônomo, ou  seja, que não depende dos outros. Quanto mais considerar‐se  independente,  menos  graves  são  os  sintomas. 

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Segunda:  a  capacidade  do  paciente  de  colocar‐se  no  lugar  do outro. Quanto mais entender as aflições de outra pessoa, menos graves  são  os  sintomas.  Desta maneira,  será  possível medir  o nível  de  intensidade  do  transtorno.  Dependendo  do  grau  da doença, o tratamento muda.”  Resumindo  –  não  há  uma  única  causa  específica  do  transtorno Borderline,  pois  a  manifestação  dos  sintomas  depende  do conjunto  individual  de  vulnerabilidades  e  a sequencia/combinação  de  eventos  que  impactaram  aquela pessoa.  Por  conseguinte,  é  importante  frisar que  a  pessoa  que apresenta  o  transtorno  não  “tem  culpa”  pelo  aparecimento  e manifestação  dos  sintomas  de  Borderline,  e  nem  existe  uma figura  exclusiva  a  quem  possa  ser  atribuída  a  “culpa”  pelo desenvolvimento do  transtorno, entre pais, parentes, parceiros, cônjuges ou amigos.  É  essencial  lembrar  que  todos  nós  temos  momentos  de desregulação  emocional.  Porém  alguns  aspectos  que  levam certas  pessoas  a  serem  efetivamente  diagnosticadas  como portadoras  do  Transtorno  de  Personalidade  Borderline  dizem respeito  ao grau em que tais características afetam as suas vidas e a dos outros, a intensidade e velocidade com que essas emoções surgem e são expressas, e a demora em retornar para um estado emocional mais objetivo e tranqüilo.   A  possibilidade  de  que  a  causa  destes  comportamentos perturbadores  seja  o  Transtorno  de  Personalidade  Borderline deve  ser  contemplada,  avaliada  e/ou  confirmada  por  um profissional  da  área  de  saúde  mental,  única  pessoa  com competência  para  fazer  o  diagnóstico  preciso  e  oferecer  o tratamento e acompanhamento terapêutico adequado.   Entretanto,  geralmente  são  os  familiares  ou  cônjuges  os primeiros  a  testemunhar  os  comportamentos  imprevisíveis  e impulsivos  apresentados  pela  pessoa  com  alta  sensibilidade 

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emocional  (potencialmente  Borderline),  e,  por  não  terem conhecimento suficiente sobre o assunto, ficam sem saber como agir ou reagir, onde e que tipo de ajuda devem procurar, e nem têm condições de avaliar devidamente se a ajuda encontrada é a mais adequada para o caso em questão.   A própria pessoa com sintomas Borderline muitas vezes não sabe onde  e  como  procurar  ajuda  para  seus  dilemas  e  angústias, principalmente  se  nao  tem  conhecimento  do  conjunto  de características  que  pode  indicar  a  presença  do  transtorno.  E existem  também  fatores  pessoais,  econômicos,  familiares,  etc. que criam obstáculos à sua busca e obtenção da ajuda necessária e eficaz. Como resultado, normalmente há uma longa e lastimável demora  no  reconhecimento  do  problema  e  na  definição  do diagnóstico correto, assim como na posterior disponibilização de suporte e tratamento adequado.   Foi justamente pensando neste aspecto – o da frequente demora em se encontrar ajuda terapêutica eficaz - e considerando que esse tempo perdido é traduzido em sofrimento para cada pessoa e sua família - que tomamos a iniciativa de oferecer uma compilação de “primeiros passos” para que a própria pessoa com sintomas Borderline possa ir adquirindo mais consciência e autoconfiança até que consiga ter acesso ao devido apoio profissional.  Pois  o  sofrimento  emocional  é  um  fator  constante  na  vida  da pessoa  altamente  sensível, decorrendo basicamente do  fato de carregar suas emoções à  flor da pele, como se  lhe  faltasse uma importante  camada protetora que  a maioria dos outros possui. Ela  vive  num  turbilhão  emocional,  e  por  conseguinte  procura aliviar  sua  dor  de  qualquer  forma  disponível  no  momento  – mesmo se isto faz com que ela se vire contra os outros ou contra si  mesma.  É  como  se  estivesse  literalmente  pegando  fogo  e corresse desesperadamente em direção ao rio mais próximo para apagar  as  chamas, nem que para  isso  tenha de derrubar  todos que se encontram em seu caminho. 15

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 Esse  caos  interno  é  descrito  assim  em  primeira mão  por  uma pessoa com sintomas Borderline: 

“Você queria saber o pior sobre mim, as coisas que não contei para ninguém e escondi debaixo da superfície. Como posso explicar? Como posso explicar quem eu sou, se nem eu mesma sei com certeza? Como colocar em palavras os piores aspectos de mim, dos quais tenho fugido há tanto tempo? Vou lhe contar meus segredos, vou contar tudo. Pode ser que isso me ajude. Talvez você me deteste por isso ou talvez você entenda. Não sei, mas estou cansada de fugir. Então aqui vai,

vou lhe dar o que você pediu. Eu te odeio. Isso não é verdade, mas às vezes acho que é. Não atendo o telefone quando você liga, embora queira falar com você. Não te ligo, mesmo sendo isso a única coisa que quero fazer. Não vou te procurar, embora todas as partes de mim queiram fazer isso. Vou sentir raiva de você, vou querer te magoar, vou te afugentar porque tenho medo que você se aproxime demais. Preciso de sua atenção constante, seu apoio, mas os receberei com fria indiferença. Terei ciúme da atenção que você dá para outros, e terei raiva de você por me ignorar. Vou me sentir bem carinhosa e próxima de você um dia, somente para ficar com raiva de você e querer te expulsar da minha vida no dia seguinte. Sofro de amnésia emocional, talvez eu tenha sido sempre assim. Vejo cada evento, cada dia, cada conversa como um evento separado, sempre buscando sinais de que você possa vir a me magoar. Quando me sinto ignorada, fico com raiva e esqueço que no dia anterior você me falou quanto que gostava de mim.

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Sou um caos inconsistente. Existe uma parte de mim que está feliz e confiante, e uma outra parte que é insegura e carente. Esses dias, nunca sei que lado vai vir à tona. Cada vez que acho que as coisas estão sob controle, que eu sei que você gosta de mim e me sinto bem com nosso relacionamento, a dúvida e o medo voltam. Talvez com tempo possam sumir inteiramente, mas tenho minhas dúvidas. Basta aparecer um novo relacionamento, um novo amigo, um novo dia, e tudo volta outra vez. Você pergunta o que pode fazer por mim, e eu não sei o que lhe responder. A minha parte carente quer sua atenção constante, precisa de suas palavras e seus pensamentos, de sua presença. Mas sei que isto não é a resposta, preciso aceitar as limitações em nosso relacionamento. A minha parte assustada quer você fora da minha vida para facilitar as coisas. A minha parte detestável quer te magoar e machucar porque acredita que você me machucou. Tudo que posso pedir é que você entenda, que não desista. Vou lhe ignorar às vezes, posso ser grossa com você, posso tentar magoá-lo. Posso me esconder de você e esperar que você me procure, para que eu sinta que você realmente se importa comigo. Não é justo fazer essas coisas com você, mas eu as farei. Não posso lhe pedir para agüentar isso tudo, não é justo, e, não importa como eu aja, gosto demais de você para lhe sujeitar a isso tudo. Mas você perguntou, e é isso que tenho a lhe dizer. Não gosto disso. Não gosto de ser carente e pegajosa. Não gosto de magoar as pessoas. Não gosto de ser grossa e sarcástica com as pessoas que me cercam. Não gosto dessa parte de mim. Durante muitos anos ignorei isso e fiz de conta que isso era eu, mas entendi agora que eu estava errada. Isso não é eu – é uma falsa identidade criada para me proteger do mundo. Não foi fácil chegar a este entendimento, e talvez ainda não o tenha aceito inteiramente. Mas encontrei o meu caminho, sinto que posso mudar e que posso aceitar esse lado meu e impedi-lo de se tornar aquilo que sou. Não vai ser fácil e não vai ser rápido, mas tenho fé que vou conseguir. Talvez um dia eu me veja como a pessoa que você vê por trás de minhas defesas, e talvez um dia vou permitir que os outros também vejam aquela pessoa.

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Isso é dirigido a você, mas você representa muitas pessoas. As pessoas que estão próximas a mim agora. As pessoas das quais eu quero estar próxima mesmo as tendo afugentado. Os amigos que afastei no passado, os amigos que nunca perdoei e nunca permiti voltar para minha vida, os amigos aos quais nunca tive oportunidade de dizer essas coisas. As pessoas que vou conhecer no futuro, as pessoas das quais vou gostar até que novamente eu as empurre para fora de minha vida. A parte de mim que ainda está tentando entender quem eu sou. Você é estas pessoas todas e muitas mais”.  Os  conceitos  abordados  na  seção  a  seguir  estão  descritos também  no  primeiro  livro  da  autora,  Sensibilidade à Flor da Pele, dirigido  principalmente  a  familiares  de  pessoas  com  sintomas Borderline,  porém  são  incluídos  aqui  devido  à  sua  importância para o melhor entendimento dos aspectos mais problemáticas da alta sensibilidade emocional.    

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III. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO BORDERLINE 1. Vergonha / Invalidação  A  vergonha  é  um  aspecto  que  não  só  permeia  como  provoca muitas das ações e reações da pessoa com sintomas Borderline.   Existem diversas maneiras de definir o sentimento de vergonha. Mas, basicamente, podemos dizer que a vergonha é o mal‐estar emocional  vinculado  à  idéia  de  alguma  ação  que  imaginamos censurada pelos outros e/ou por nós mesmos.   Mas, de onde vem essa vergonha?  Essa sensação enraizada de vergonha entre muitas pessoas com sintomas  Borderline  é  geralmente  atribuída  a  um  ambiente “invalidante” na  infância e/ou  juventude – um ambiente em que as reações emocionais da criança, principalmente as negativas ou mal  compreendidas  (tais  como  raiva,  medo  e  tristeza)  foram tratadas com zombaria, ironia, impaciência, rejeição ou desprezo, e/ou  consideradas  inadequadas,  incômodas,  erradas,  inválidas, inaceitáveis  ou  indesejáveis;  um  ambiente  em  que  foram repetidamente  praticados  atos  ou  proferidas  palavras  para controlar, inibir, coibir ou moldar tais reações.   Essa invalidação pode ser percebida e assimilada pela pessoa com alta  sensibilidade  emocional  em  uma  grande  variedade  de situações, desde casos de abuso sexual real a uma mera falta de sintonia entre  sua personalidade e a dos  seus pais. Mesmo pais amorosos e bem‐intencionados podem  ter dificuldades em  lidar com  uma  criança mais  sensível,  por  falta  de  conhecimento,  de tempo, ou outros fatores.  

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Pessoas  com  predisposição  a  Borderline  podem  tornar‐se incapazes  de  validar  a  si  mesmas,  de  sentir  empatia  por  si mesmas,  de  se  consolar  e  acalentar,  de  gerar  e  manter  uma 

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autoconfiança  saudável.  Quando  a  manifestação  de  suas emoções  negativas  é  bloqueada  ou  punida,  isso  gera  uma resposta ou reação de vergonha – primeiro, pelo próprio fato de ter sentido essa emoção  intensa, e, segundo, por  ter externado essa emoção, expondo‐se a crítica e juízo.   A  vulnerabilidade  biológica  da  pessoa  com  sintomas Borderline impede que ela consiga distinguir entre o que ela é e o que ela sente, e, por não corresponder às expectativas da  família ou da sociedade,  sente‐se  punida  de  alguma  forma  pelas  suas  ações, que  são,  por  sua  vez,  uma  manifestação  direta  de  seus sentimentos  e  impulsos.  Portanto,  ela  age  conforme  seus sentimentos  e,  caso  punida,  internaliza  que  está  sendo  punida pelo que ela é.  

  

Veja este comentário de uma pessoa com sintomas Borderline:  “Um terapeuta me contou que toda família tem sua ovelha negra – essa ovelha negra sendo a pessoa que se sobressai pelo seu poder, e que os outros, por se sentirem inseguros em seu convívio, buscam controlar e fazer com que se torne uma ovelha branca. Essa pessoa nunca conseguiu ser uma ovelha branca, mas ficou com a sensação de que não se encaixava em lugar nenhum. Infelizmente, ela tem Borderline.”  

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A  reação  natural  a  um  sentimento  de  vergonha  é  acobertá‐lo, pois a pessoa  se  sente vulnerável, e a vergonha acaba gerando mais vergonha, num círculo vicioso.  E é  justamente essa vergonha que  impede muitas pessoas  com sintomas Borderline de procurar ajuda na forma de terapia, pois isto  também acarreta duas  reações distintas de vergonha. Uma, resultante do medo de que o  terapeuta  vai  conseguir enxergar seus  defeitos  e  enquadrá‐la  como  problemática  e  imperfeita, como  uma  pessoa  que  precisa  ser  “consertada”.  E  outra,  pelo medo de que, se a terapia não der resultado, sua vergonha e seu fracasso serão confirmados oficial e publicamente.   Passada  a  crise  de  desregulação  emocional,  a  pessoa  com sintomas  Borderline  pode  sentir‐se  envergonhada  e constrangida. Porém normalmente não expressa a sua vergonha, nem procura  justificar seu comportamento, nem pede desculpas – mais uma vez porque, se admitisse sua culpa, poderia tornar‐se alvo de mais crítica. Ou então  simplesmente porque ela mesma não consegue se perdoar.  Sua  vergonha  pode  intensificar‐se  rapidamente,  externando‐se em forma de tristeza, medo e raiva. A raiva, por ser uma emoção extremamente  forte,  frequentemente  prevalecerá  sobre  as outras.   2. Raiva Uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  ter  um  acesso  de raiva a troco de aparentemente nada: uma coisa mínima fora do lugar, um pequeno atraso, uma palavra descuidada, uma  ligeira mudança de planos  ‐ esses eventos remetem não só à vergonha mas  também  a  uma  hipersensibilidade  a  crítica, a  uma insegurança básica. A raiva tem a função, entre outras coisas, de criar uma barreira contra três sentimentos básicos que conduzem à  baixa  de  auto‐estima  –  vulnerabilidade,  impotência,  e 

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abandono. Porém, incontrolada e mal usada, acaba atrapalhando a  nossa  vida,  e  nessa  ânsia  de  nos  defender  desses  perigos, partimos para o ataque.  Veremos mais  adiante  algumas  dicas  para  atenuar  acessos  de raiva.  3. Impulsividade De modo geral, nossas emoções podem  ser desencadeadas por sinais, indícios, impressões ou “vibrações” vindos do ambiente ao nosso  redor,  e  nosso  “sistema  imunológico  emocional”,  por assim  dizer,  automaticamente  procura  interpretar  o  significado desses sinais.   No  caso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline,  o  significado destes  sinais  pode  ser  interpretado  erroneamente,  levando  à impulsividade e comportamentos aparentemente injustificados.   A  impulsividade pode  ser vista como uma  tendência a agir com pouco  ou  nenhum  planejamento  para  reduzir  o  impacto  de estímulos  adversos.  Esta  reação  automática  pode  ser  essencial para sua sobrevivência quando você tiver que fugir de um perigo real,  como  desviar  de  um outro  carro ou  fugir  de  um  cachorro bravo. Entretanto, dependendo do contexto e da  intensidade da resposta,  a  impulsividade  pode  ser  uma  característica disfuncional que gera sérios problemas na vida do Borderline.   A  impulsividade extrema pode  levar a comportamentos de risco, tais  como  imprudência  ao  volante,  jogatina,  libertinagem, promiscuidade, associação com pessoas à margem da lei, excesso de  consumismo,  viagens  repentinas,  obsessão  por  cirurgias plásticas,  distúrbios  alimentares  como  anorexia  e  bulimia, autolesão,  tudo  com  o  mesmo  objetivo  básico:  aliviar  a  dor emocional através de uma alta dose de adrenalina ou através de outras fontes de dor que suplantem a dor original.  

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 Um  fator  que  talvez  contribua  para  esta  impulsividade  é  uma possível diferença na organização dos circuitos neurais. Pesquisas recentes  com  ressonância magnética  funcional mostram  que  o cérebro  em  descanso  das  pessoas  com  sintomas  Borderline mostra maior ativação do córtex pré‐frontal (a parte do cérebro que parece  ser  responsável pela  análise  e  tomada de decisões, servindo  também  como  freio  de  agressão)  do  que  em  pessoas sem sintomas Borderline.   Isto  se  traduz  em  uma  percepção  mais  aguçada  de  ameaças, geralmente na área emocional. Quando a ameaça é percebida ou efetivamente  se materializa,  o  córtex  pré‐frontal  “desliga”  e  o sistema  límbico  “acende”.  Como  conseqüência,  a  pessoa  com sintomas  Borderline  reage  de  forma  reativa  e  impulsiva,  tendo seu  processo  decisório  inibido.  Isto  muitas  vezes  leva  a  uma desregulação  emocional  e  extrema  personalização  –  em  outras palavras,  ela  não  só  percebe  uma  ameaça,  mas  acredita  que esteja especificamente direcionada a ela.  Um  dos  moderadores  da  atividade  no  córtex  pré‐frontal  é  a serotonina, que é o neurotransmissor modulador das vias senso‐perceptivas  responsáveis  pela  sensação  de  dor,  e  que  também contribui  para  o  melhor  controle  do  impulso  sexual,  da agressividade  e  da  ansiedade.  Cogita‐se  que  deficiências  no metabolismo da  serotonina  (e na quantidade e  sensibilidade de seus receptores) possam exacerbar os sintomas Borderline.   O aspecto positivo desta visão neurobiológica é que este quadro pode  ser  aos  poucos  modificado  através  do  pensamento (durante  o  processo  da  terapia  Cognitiva  comportamental,  por exemplo), à medida que o córtex pré‐frontal vai sendo reativado e  re‐programado.  Isto permite que as emoções  se  transformem de impulsivas para ponderadas. E essa é uma das principais metas a ser buscada.  

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4. Variações de humor

Uma das principais características da pessoa com  sintomas Borderline é a sua  imprevisível  e  drástica  variação de  humor.  Sua  alta  sensibilidade  e reatividade  emocionais  prejudicam seu  processo  cognitivo,  seu raciocínio,  sua  tomada  de  decisões, sua auto‐confiança. Seu humor tende a oscilar de forma mais rápida do que 

ocorre  em  alguns  outros  distúrbios  comportamentais  (como  o bipolar, por exemplo), podendo mudar diversas vezes no decurso de poucas horas.  Isso  cria um  clima de  insegurança geral  tanto para a própria pessoa quanto para seus amigos e familiares.   A amídala, uma parte do sistema límbico, parece ter participação nesta labilidade/instabilidade emocional. Sua função principal é o processamento de emoções e o armazenamento de  lembranças emocionais.  Serve  também  como  o  sistema  de  alarme  do cérebro, acendendo as reações de fuga ou luta. A amídala recebe informacoes  sensoriais  do  corpo  através  do  tálamo  e  envia mensagens para muitas outras áreas,  inclusive o rosto, ativando expressões  faciais,  além  de  estar  associada  com  o  olfato.  As pessoas com sintomas Borderline em alguns estudos mostraram ter  amídalas  bem mais  ativas  do  que  a maioria  da  população, levando  a  uma  intensificação  nas  reações  emocionais  a  quase todas as situações de vida, colocando‐as em estado praticamente constante de alerta e prontidão.   5. Sensibilidade sensorial / ansiedade  As  pessoas  com  sintomas  Borderline  frequentemente apresentam alta  sensibilidade, não  só a  cheiros, mas  também a outros  estímulos  sensoriais,  tais  como  texturas  (tecidos,  etc.), ruídos  (interpretando  como  ofensivos  alguns  sons  que  nao 

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incomodam  os  outros),  sabores,  luminosidade,  e  assim  por diante.   As  pesquisas  também  indicam  que  pode  haver  uma  conexão entre  a  ansiedade,  a  impulsividade  e  variações  de  humor.  A ansiedade  é  geralmente  uma  das  primeiras  características observadas por terapeutas ao  lidar com pessoas posteriormente diagnosticadas com Borderline (assim como a depressão).   Se  fosse  promovida  uma  conscientização  maior  entre  pais  e professores  quanto  à  importância  da  detecção  precoce  de ansiedade  e  sensibilidade  exacerbadas  em  crianças,  talvez  elas pudessem  ser  ensinadas  técnicas  de  “coping”  para  aprender  a lidar  melhor  com  essas  características,  evitando  assim  o desenvolvimento de problemas mais sérios no futuro.   6. Sensibilidade a crítica As pessoas  com  sintomas Borderline  têm  tendência  a  reagir de forma  inesperadamente  radical  a  críticas  e  rejeições percebidas 

ou  imaginadas; a evitar tarefas, reuniões ou  interações  sociais  em  que  possa surgir  qualquer  rejeição  implícita;  a monitorar  constantemente  as  reações dos  outros  para  detectar  algum  indício, por mais sutil que seja, de desaprovação no  seu  radar  emocional;  e  a  vivenciar antecipadamente  emoções  negativas com base em supostas rejeições futuras.  

 Quando  tal  rejeição  ou  crítica  é  percebida  ou  efetivamente ocorre, principalmente quando parte de uma pessoa com a qual tenha  um  forte  vínculo  afetivo,  isto  gera  ondas  de  raiva, hostilidade e às vezes até violência física. Mais uma vez, isso tem a ver com vergonha e medo de  julgamento. De qualquer forma, uma pessoa  com  sintomas Borderline vai  se  julgar  severamente 

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por  causa  da  vergonha  (sou uma má pessoa)  e  vai  se  rejeitar  (não mereço aceitação).   Além disso, por mais paradoxal que pareça, pode voltar‐se contra as  pessoas  que  lhe  estendem  a  mão  e  oferecem  aceitação, porque acha que no fundo não merece tal aceitação.   Esta é a  lei de “efeito e causa”, assim explicada por uma pessoa com sintomas Borderline:   “O mundo opera no sentido de “efeito e causa” (e não ao contrário). Se eu sinto coisas de uma certa forma, vou procurar retroativamente uma causa para as mesmas – uma causa que não possa ser atribuída a mim! Pois se for, eu seria julgada como estando errada. E eu não aguento ser julgada como errada.” 7. Interpretação equivocada de emoções O  processamento  de  informações,  ou  seja,  o  processamento cognitivo  e  emocional,  é  intimamente  relacionado  ao  nosso sistema  neurobiológico.  Alterações  nesse  processamento  são frequentemente  o  primeiro  sinal  observado  pelos  parentes  e próximos de que tem algo na pessoa amada que foge à regra.  Mesmo  afirmações  aparentemente  neutras  podem  ser interpretadas  de  forma  emocional,  e  levadas  pessoalmente, causando reações  imprevistas. Pode ser algo tão  inócuo como – “você  está  bonita  hoje”  (reação  personalizada,  focando  na palavra “hoje”: por que você diz isso, tou feia nos outros dias?), e assim por diante.   O transtorno de personalidade Borderline geralmente apresenta obstáculos  à  comunicação  habitual.  As  palavras  dos  outros parecem sofrer uma distorção “no ar”, uma mutação inexplicável entre o instante em que são proferidas e o momento em que são ouvidas,  absorvidas  e  interpretadas  pela  pessoa  com  sintomas 

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Borderline, muitas vezes  já com conotação negativa, acusatória, crítica.   Pesquisas recentes realizadas por Larry Siever e Barbara Stanley indicam que alguns elementos químicos no cérebro, tais como a ocitocina, bem como o nosso sistema opióide endógeno, afetam nossa capacidade de confiar nos outros e firmar relacionamentos. Cada  área  do  cérebro  possui  uma  função  específica  e  precisa estar  corretamente  conectada  com  locais  neuroanatômicos específicos  para  que  todos  os  sistemas  funcionem adequadamente  em  harmonia.  Também  existem  muitos neurotransmissores e neuropeptídios (hormônios) envolvidos na regulação destes sistemas que afetam as formas de percepção de atos e palavras.  Alguns  estudos  também mostram  que  as  emoções negativas  são  processadas  de forma  distinta  das  positivas, usando estruturas e viajando por circuitos  neurais  diferentes.  Os gatilhos  negativos  parecem provocar  respostas  mais  intensas  do  que  os  positivos.  Por aparentemente  possuírem  uma  propensão  inata  a  enxergar  as coisas  pelo  lado  negativo,  as  pessoas  com  sintomas  Borderline podem  encontrar  mais  dificuldade  em  administrar  relações interpessoais,  levando  tudo  para  o  campo  pessoal  e  assim intensificando suas reações.  Um aspecto  interessante – e relevante –  indicado por pesquisas usando  ressonância magnética  funcional  é que  as pessoas  com sintomas  Borderline,  em  comparação  com  a  maioria  da população,  parecem  ter  uma  reação  muito  mais  intensa  e negativa  a  expressões  faciais  neutras,  interpretando‐as  como ameaçadoras, suspeitas, enigmáticas, negativas.   

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Isto é algo a ser  levado em conta  tanto pelos  familiares quanto pelos terapeutas. Pois os parentes, confrontados com acessos de raiva, geralmente procuram manter sua calma a qualquer custo – e acabam exacerbando a explosão emocional, por ter sua reação controlada interpretada como desinteresse, raiva contida, crítica, desamor,  condescendência,  etc.  E  os  terapeutas,  que normalmente  procuram  manter‐se  objetivos  e  impassíveis durante  suas  sessões,  podem  estar  transmitindo,  em  vez  de segurança  e  tranqüilidade,  algo muito  diferente. A  pessoa  com sintomas Borderline de modo geral parece preferir uma forma de comunicação mais  emocional,  clara  e  vigorosa,  porém  sempre sem crítica ou julgamento.  8. Distorção de “fatos” / memória emocional / atemporalidade  As  pessoas  com  sintomas Borderline  podem  chegar  a  distorcer fatos ocorridos, em situações nas quais: 

é menos doloroso mentir do que confessar a verdade;  querem dar uma impressão melhor à outra pessoa do que elas têm de si mesmas;  

querem evitar crítica ou autocrítica;   não conseguem enxergar a “verdade” por causa de seu “raciocínio” emocional.  

 Se  a  pessoa  a  quem  elas  contam  a  sua  versão  dos  fatos  tem probabilidade  de  julgá‐la  como  “má”  ou  “imperfeita”,  a expectativa  da  desaprovação  desencadeia,  primeiro,  a sensibilidade e reação à rejeição, e depois a vergonha, porque a pessoa  com  sintomas  Borderline  realmente  acredita,  no  fundo, que, se ela confessar a verdade, os outros vão descobrir que ela é uma “má pessoa” e vão acabar por rejeitá‐la totalmente.   Algo que sempre precisa ser levado em conta é que:  

A “verdade” da pessoa com sintomas Borderline é sua emoção.

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A  pessoa  com  sintomas  Borderline  não  necessariamente  se baseia naquilo que vê, ouve, testemunha ‐ baseia‐se mais no que ela sente, e  interpreta as coisas através das “lentes emocionais” de  suas  experiências,  mesmo  que  tal  interpretação  seja divergente dos “fatos” externos presenciados pelos outros à sua volta.   E uma pessoa tomada por fortes emoções não consegue aceitar, assimilar,  arquivar  ou  reconhecer  informações  que  não confirmem ou não  justifiquem tal emoção, conforme evidencia o seguinte depoimento:    “As lembranças são como pastas no meu arquivo mental. Já que estou sempre sendo julgada, eu uso esses arquivos seletivamente, assim como os advogados no seu trabalho. Desta forma, somente serão utilizadas as lembranças que se adéquam aos meus sentimentos do momento. Pois as lembranças que apresentam provas contrárias aos meus sentimentos não serão consideradas como provas admissíveis – ou então serão alteradas para preservar a minha inocência.”   Portanto,  ela  estará  mais  propensa  a  re‐interpretar  ou  gerar “fatos” alternativos que possam corroborar o que está sentindo. Na  sua  visão,  não  está  efetivamente  “mentindo”,  mas  sim salientando  ou  selecionando  “fatos”  para  respaldar  sua  forte reação emotiva à situação vivida.   É muito  importante  entender  este  processo  que  leva  a  pessoa com  sintomas  Borderline  a  contar  inverdades,  pois  as mesmas podem  ser  altamente  prejudiciais  e  ofensivas  às  pessoas  à  sua volta,  que,  por  desconhecerem  o  transtorno  e  suas características, não sabem que não devem levar essas acusações pessoalmente, e que não devem tentar se defender das mesmas, pois  estas  são  um  reflexo  de  ataque  ou  contra‐ataque  sobre  o qual  a  pessoa  com  sintomas Borderline  tem  pouco ou  nenhum controle. 

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Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  relatam  eventos para amigos, parentes e  terapeutas de  forma bem diferente do que efetivamente aconteceram. Podem até acusar  seus pais de abuso, sem  fundamento na  realidade vivenciada pelos outros. É importante, portanto, ter uma visão mais clara de como funciona o  processo  de  elaboração  de  lembranças  emocionais (envolvendo  a  amídala,  o  hipocampo,  lobo  temporal,  entre outros)  para  entender melhor  eventuais  divergências  de  fatos ocorridos.   Frequentemente, por ter uma forte desconfiança do mundo e das pessoas  que  a  cercam,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  se sente vulnerável e  impotente. E  já que as suas emoções podem ser desencadeadas e desreguladas com tanta facilidade e rapidez, de  forma  tão dolorosa,  ela quer proteger‐se  contra  essa dor,  e pode  enxergar  sua  vulnerabilidade  como  uma  forma  de  abuso emocional pelos outros, em vista da  intensidade da dor que  isso acarreta. Em consequência, ela pode incorporar essa percepção à sua memória e “história pessoal” como se de fato tivesse sofrido abusos concretos.  Devemos  também  lembrar  do  aspecto  de  atemporalidade  ‐  a pessoa  com  sintomas  Borderline  tende  a  fazer  uma  conexão direta e atemporal entre experiências emocionais do passado e acontecimentos  atuais,  porque  a  sensação  para  ela  é  uma  só  ‐ não faz diferença se algo aconteceu há uma hora ou há vinte anos atrás. Por conseguinte, pode acabar agindo com base na soma de suas  lembranças  emocionais,  com  uma  intensidade  que  aos outros parece desproporcional à situação presente:  “Todo tempo é presente. Se algo me incomoda agora, é diretamente relacionado à maior dor que já senti – e essa dor vem se juntar ao presente também. O tempo não cura feridas porque, na realidade, o tempo não passa. Tudo – passado, presente, e futuro – está sempre no aqui e no agora.”

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Portanto,  se  algo  no  ambiente  da  pessoa  com  sintomas Borderline a remete a uma memória  implícita ou emocional, e se ela  interpreta  algo  equivocadamente  de  forma  personalizada, suas  emoções  são  deflagradas  sem  que  ela  saiba  por  que, reativando  seguidamente  a  experiência  emocional  do  passado. Eventos  ou  palavras  que  magoaram  a  pessoa  no  passado parecem ser revividos com o mesmo (ou até maior) grau de dor, sofrimento e  intensidade emocional, como se  tivessem acabado de  acontecer,  independente  da  cronologia  real.  A  dificuldade inerente que as pessoas com sintomas Borderline têm em deixar para  trás  lembranças  desagradáveis  faz  com  que  vivam  em constante sofrimento, o qual não é atenuado nem compensado por lembranças de bons momentos.  9. Atribuição de culpa A  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode  responsabilizar  os outros  (seja  Deus,  o  destino,  o mundo,  a  vida,  os  colegas  de trabalho,  os  pais,  o  cônjuge,  etc.)  pelos  problemas  percebidos,  entre outras causas porque ela mesma não quer ser vista como a “causa”  de  problemas  ou  sofrimento.  Isso  a  tornaria  uma  “má pessoa”  e,  assim  sendo,  ela  mereceria  nada  menos  do  que  a morte (parece dramático, mas a vida das pessoas com sintomas Borderline  é permeada de drama, de hipérboles, de  extremos). Portanto, é mais fácil atribuir a culpa a outras pessoas ou fatores externos.   Isto  não  representa  exatamente  uma  projeção,  e  sim  uma tentativa de desvio de atenção, por medo de rejeição, de crítica e julgamento,  de  sofrimento.  Se  ela  tivesse  culpa  “no  cartório”, isso  reforçaria  a  sua  vergonha  e  a  sua  certeza  de  que  não consegue fazer nada direito. Pelo seu prisma de preto ou branco, oito  ou  oitenta,  basta  uma  ponta  de  culpa,  e  ela  já  se  sente condenada.   

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Como  disse  um  homem  com  Borderline  para  a  sua  esposa,  ao tentar explicar porque a culpava por tantas coisas:   “Eu quero que todo mundo concorde comigo. Se não concordam comigo, começo a ficar ansioso. Quando você discute comigo, quando você não está jogando no meu time, fico achando que você me considera um fracassado. Fico extremamente irritado quando você não concorda comigo. Não sei bem por que – simplesmente fico frustrado, e depois fico com raiva de você porque me sinto frustrado.”

É  por  isso  que,  passado  o  período  de  desregulação  emocional, quando a pessoa com  sintomas Borderline  retorna a um humor mais estável, raramente “assume responsabilidade” pelo que fez ou disse, nos moldes do que os outros esperam –  seja com um reconhecimento de culpa, com um pedido de desculpas ou com explicativas e justificativas.  10. Medo de abandono / medo de intimidade

Estes dois medos –  tanto de abandono quanto de  intimidade    ‐ são  os  dois  lados  da mesma moeda  –  e,  no mundo  “preto  ou branco”  da  pessoa  com  sintomas  Borderline,  o  medo  de intimidade  pode  alternar  para  medo  do  abandono  muito rapidamente, e vice‐versa.  

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Relacionamentos  intensos  e  íntimos  envolvem  emoções muito profundas. Infelizmente, para a pessoa com sintomas Borderline, essas  emoções  podem  ser  apavorantes,  por  serem  fortes, cansativas  e  desgastantes  demais.  Por  isso  ela  pode  afastar  a pessoa  amada  com  medo  de  se  perder  neste  turbilhão  de emoções.  Ela  sente  que  não  dá  conta  de  lidar  com  todos  os aspectos  desse  envolvimento  e  fica  com  medo  de  perder  a percepção de seu “eu”.   Por  outro  lado,  um  dos  seus  maiores  medos  é  o  medo  de abandono  pelas  pessoas  que  ela  preza.  Assim  sendo,  muitas vezes opta por terminar um relacionamento – de forma brusca e irremediável  ‐ para não ter que sofrer essa perda pressentida do “eu”, sofrimento este alimentado tanto pelo medo de abandono quanto pelo medo de intimidade.   Em  outras  palavras,  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  pode optar por cortar relações com outros para  impedir que ocorra o abandono  previsto  ou  então  para mostrar  que  não  precisa  do outro, ou então para evitar possíveis críticas e rejeição. Assim ela acredita  poder  controlar  melhor  a  situação  para  mitigar  seu (potencial) sofrimento.   Mas  é  importante  falar  um  pouco  mais  sobre  a  questão  do abandono, pois é necessário entender que, para uma pessoa com sintomas Borderline, “abandono” pode significar muito mais do que  o  abandono  físico mais  objetivamente  percebido.  Existem outros  tipos  de  abandono mais  sutis  que  são  impactantes.  Por exemplo, o sentimento de abandono pode ser deflagrado por:  

sensação de falta de compreensão por parte dos outros;  dificuldade em se entrosar ou participar de um grupo;  sensação de solidão, de nostalgia;  sensação de perda pelo rompimento de um relacionamento;  morte de um animal de estimação;  mudança de residência;  

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perda de emprego;  medo de rejeição ao descobrir preferência por relacionamentos com pessoas do mesmo sexo; 

sensação de falta de rumo na vida;  falta de definição de identidade;  carência emocional;   percepção de rejeição, impaciência, invalidação;   morte de pessoa querida. 

 Uma sensação de abandono é uma ferida profunda, muitas vezes pouco  compreendida,  que  pode  passar  despercebida  pelos outros à sua volta.  11. Atitude “oito ou oitenta”

A  pessoa  com  sintomas Borderline  tem  a  tendência  de ver  o  mundo  externo  ou  de forma muito  positiva  ou  então muito  negativa,  e frequentemente oscila de forma inesperada  entre  esses  dois extremos  de  opinião.  Essa variabilidade  pode  ser 

extremamente frustrante e confusa para quem a ama, porque ela pode  achar  alguém  maravilhoso  um  dia,  e  detestável  no  dia seguinte.   Por  exemplo,  quando  uma  pessoa  com  sintomas  Borderline  se sente  (para  isso bastando a sua  interpretação, visão, percepção do  caso)  criticada  por  um  amigo,  provavelmente  dirá  a  outros que  ele  é  burro,  incompetente,  mentiroso,  traiçoeiro,  etc.  Ao invés  de  esperar  passar  sua  onda  de  revolta  e  raiva  contra  o amigo, a pessoa com sintomas Borderline poderá impulsivamente romper com ele de forma radical, fazendo assim com que ele se afaste definitivamente – mais uma vez, mantendo‐se fiel à diretriz 

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pessoal  de  “abandonar  antes  de  ser  abandonada”,  baseada  na seguinte crença:  

“Pensamento é realidade. Se penso em algo, já é fato. Se alguém menciona

algo, já é fato.”

12. Ruminação As  pessoas  com  sintomas  Borderline  são  propensas  a  ficar remoendo  acontecimentos  e  conversas  para  tentar  detectar  a possível existência de críticas veladas ou segundas intenções por parte de outros. Essa tendência a ficar remoendo ou ruminando pode explicar algumas manifestações de desconfiança e medo.   Isto envolve a personalização, isto é, a atitude de levar tudo para o campo pessoal, pois o medo de crítica e de julgamento faz com que a pessoa  com  sintomas Borderline acredite que  tudo,  tudo mesmo, tem a ver com ela.  A ruminação pode desencadear o “raciocínio emocional”, em que os  sentimentos  se  equiparam  a  fatos.  Pois,  conforme  ilustrado por  um  dos  depoimentos  acima,  a  pessoa  com  sintomas Borderline  pensa  em  ordem  inversa,  isto  é,  partindo  do  efeito para  a  busca  de  uma  causa.  Assim  sendo,  basta  ela  achar  que existe uma segunda intenção para que isto se torne um fato para ela e uma base plausível para futuras ações e reações.   A pessoa com sintomas Borderline fica mais inclinada a entrar em processo  de  ruminação  quando  está  ociosa,  entediada,  ou quando  sofre  de  insônia  (o  que  é  bastante  comum,  como veremos mais adiante).  Uma  forma de  ajudar  a  combater  essa  tendência de  remoer  as coisas  é  buscar  se  envolver  em  atividades  prazerosas,  sejam 

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físicas, mentais, sociais ou outras. Além disso, algumas formas de meditação  que  visam  a  concentração  no momento  presente  ‐ como,  por  exemplo,  o  estado  de  plena  atenção  (o  mindfulness) proposto  pelo  budismo, que  é  usado  também  no  mundo corporativo  para  combater  o  estresse  ‐  ajudam  a  pessoa  a aprender a se preocupar menos com o passado e o futuro.   13. Depressão / Medicamentos  

A pessoa  com  sintomas Borderline muitas  vezes  faz  uso  de  grandes quantidades  de  bebida  alcoólica e/ou drogas para amortecer sua dor 

emocional.  O  perigo  é  exacerbado  pelo  fato  de  que  consegue ingerir  quantidades  espantosas  de  medicamentos  (inclusive remédios  receitados pelos  seus médicos,  tais  como  ansiolíticos, analgésicos, antidepressivos, etc.) e/ou drogas  ilícitas, ou álcool, sem  perder  a  consciência  e  sem  sofrer  efeitos  de  overdose  ou ressaca.   Infelizmente, esses  remédios e drogas podem  ter  sérios efeitos colaterais  –  muitas  vezes  gerando  o  próprio  efeito  que supostamente  deveriam  combater  (como  antidepressivos  que geram pensamentos suicidas) – e podem aumentar o descontrole emocional ou estimular a  impulsividade. Por conseqüência, além do  perigo  inerente,  os  resultados  de  seu  uso  podem  acabar gerando mais vergonha e autopunição por parte da pessoa com sintomas Borderline.   É  comum  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  sentir  intensa  dor emocional em diversas ocasiões durante o dia,  todo dia.  Já que essas  emoções  são  emoções  básicas,  como  tristeza,  raiva  e medo,  as  reações  às mesmas  são  tanto  físicas quanto mentais. Esses  estados  emocionais  são  tão  poderosos  que  prevalecem sobre o pensamento racional. Ao sentir dor, independente da sua 

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fonte, a reação primordial do corpo e da mente é de buscar alívio o mais rápido possível, por qualquer meio que seja.   14. Insônia Uma das manifestações físicas comuns  de  Borderline  é insônia.  Isso se deve em parte ao  fato  de  ficar  remoendo acontecimentos  (reais  ou imaginados,  passados  ou futuros). 

 Além  disso,  existem  indícios de que  a  composição química do  cérebro da pessoa  com  sintomas Borderline não permita ao organismo  um  eficiente  aproveitamento  da  serotonina,  um neurotransmissor que atua como sedativo e calmante natural do nosso corpo. Muitas pessoas com sintomas Borderline precisam de soníferos para conseguir adormecer e acabam tomando esses remédios em altas doses, por não  surtirem efeito  facilmente. A falta  de  descanso  adequado  acaba  exacerbando  as manifestações  de  sintomas  Borderline,  tais  como  ansiedade, isolamento, variações de humor e sensibilidade a estresse. 15. Problemas de Interação Social As pessoas com sintomas Borderline são  frequentemente vistas como pessoas egoístas/egocêntricas que pouco se importam com os  problemas  e  o  sofrimento  dos  outros.  Precisamos  lembrar, entretanto,  que,  já  que  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  age sob o  efeito  de  fortes  emoções  (principalmente  negativas),  ela tem  dificuldade  em  enxergar  muito  além  de  seu  redemoinho pessoal de preocupações.   Muitas  vezes  ela  fica  insegura  em  certos  contextos  sociais, fazendo  com  que  fale  excessivamente,  entregando‐se  a  longos  37

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monólogos  (geralmente  sobre  si  mesma),  usando  linguagem inapropriada ou abordando assuntos inadequados para a ocasião e para sua platéia.   Embora possa parecer que  isso  seja  fruto de alta auto‐estima e uma demonstração de  falta de  consideração  com os outros, na realidade o que ocorre é que ela passa muito tempo procurando detectar  se  as  outras  pessoas  enxergam  a  sua  vergonha  e  a rejeitam,  monitorando  constantemente  o  seu  ambiente  para captar  sinais  de  desaprovação,  às  vezes  manifestando comportamentos  de  extrema  desconfiança  e  até  tendências paranóicas.   Neste  sentido, Larry Siever pondera que  talvez níveis baixos de opióides  endógenos  nas  pessoas  com  sintomas  Borderline contribuam  para  intensificar  suas  emoções  negativas  e  sua sensação  de  vazio  interior  e  disforia  (depressão,  tristeza, melancolia,  pessimismo),  alimentando  também  sua  busca impetuosa  por  laços  afetivos  e  sua  reação  exacerbada  a  uma perda dos mesmos. Isto tem a ver com o fato de que a satisfação geralmente  obtida  através  de  vínculos  emocionais,  desde  a infância, parece fugir do alcance de muitas pessoas com sintomas Borderline.   Hoje  em  dia,  com  a  facilidade  de  comunicação  via  internet  e celular, a pessoa com sintomas Borderline pode  facilmente criar uma rede de relacionamento “virtual”, o que  lhe permite passar rapidamente  de  mera  “conhecida”  para  “amiga  do  peito”, contando detalhes de sua vida íntima, para que os outros fiquem com dó dela e/ou sintam admiração por ela.   Assim, cria um contingente de pessoas que estão “do lado dela”, compensando  a  sua  carência  afetiva,  alimentando  sua  fome  de aceitação, validação, elogios, carinho,  respeito.  Isso também  lhe permite  controlar  melhor  o  desenrolar  e  a  intensidade  de 

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relacionamentos,  inclusive  seu  eventual  término  (novamente, garantia de que possa abandonar antes de ser abandonada).  O mesmo  ímpeto  de  busca  de  aprovação muitas  vezes  leva  as pessoas  com  sintomas  Borderline  a  se  moldar,  como  um camaleão, aos anseios, interesses e preferências dos que querem impressionar e cativar,  tais como namorados, surpreendendo‐os e  encantando‐os  com  o  nível  de  empatia,  sensibilidade  e compatibilidade demonstradas.  16. Autolesão / dor / pensamentos suicidas Às  vezes  as  pessoas  com  sintomas  Borderline  recorrem  à autolesão, cortando‐se com giletes ou  facas, queimando‐se com fósforos  ou  cigarros,  arrancando mechas  de  cabelo,  cutucando unhas ou o rosto até sangrar.   Mas  ‐  por  que  alguém  buscaria  infligir  dor  a  si  mesmo? Aparentemente, segundo pesquisas recentes feitas pela Barbara Stanley da Universidade de Colúmbia, a percepção de dor entre as  pessoas  com  sintomas  Borderline  diminui  durante  os momentos de autolesão, ao mesmo tempo que aumentam seus níveis  de  opióides  endógenos  (produzidos  pelo  próprio  corpo). Assim, quando se cortam, sentem mais um alívio psíquico do que dor física.   É  importante  lembrar que o objetivo primordial desses  atos de autolesão  não  é  chamar  atenção,  até  porque muitos  episódios ocorrem  longe dos olhares das pessoas que as amam. Às vezes, quando  não  conseguem  encobrir  ou  disfarçar  os  cortes  ou cicatrizes resultantes,  isso acaba gerando ainda mais vergonha e constrangimento quando os outros  reparam e comentam sobre os mesmos.   Como pode ser visto na literatura e também nos depoimentos de pessoas  com  o  transtorno  e  nos  blogs  mencionados, 

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pensamentos suicidas são bastante comuns e recorrentes, pois o desânimo  diante  das  dificuldades  enfrentadas  nos relacionamentos, principalmente, é muito grande, e a pessoa, ao se sentir extremamente frustrada e magoada, pode cogitar uma fuga definitiva.   

   

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IV. REAÇÃO DAS PESSOAS À SUA VOLTA  Se você se  identificou com uma série de características descritas acima, e viu como são comuns a tantas outras pessoas com alta sensibilidade emocional, você poderá até constatar que, entre as suas amizades e outros relacionamentos, você já está em contato com pessoas com características semelhantes, com as quais você poderá compartilhar e comentar suas novas descobertas.   Mas, e com relação aos outros à sua volta? O que você deve dizer ou deixar de falar? Esse aspecto é bem delicado. Antes de tomar qualquer  atitude,  o  ideal  seria  que  obtivesse  confirmação  do diagnóstico  efetivo  de  transtorno  de  personalidade  Borderline, elaborado  por  um  profissional  qualificado  da  área  de  saúde mental.   Mas, como já comentamos, esse processo pode ser muito difícil e demorado.  Portanto,  até  que  você  consiga  fazer  terapia  eficaz com um profissional experiente nesta área, mesmo que seja para tratar de  alta  sensibilidade emocional, ou  ansiedade, depressão ou  síndrome  do  pânico,  ou  distúrbio  alimentar  ou comportamental, ou algo  semelhante, o  importante é que você não se sinta sozinha e desamparada. Use todas as ferramentas e contatos possíveis para buscar apoio e compreensão,  tais como livros, blogs, amigos (sejam virtuais ou não).  Dentro de sua própria família, você corre o risco de não encontrar muita  receptividade  ao  falar  sobre  suas  angústias  emocionais como  possíveis  sinais  de  um  transtorno  comportamental,  por uma  série  de  motivos.  Entre  outros:  seus  pais,  por  exemplo, podem  achar  que  estão  sendo  acusados  de  ter  lhe  criado  de forma  errada  e  vão  reagir  repelindo  essa  idéia  e  tudo  que  a mesma  implica  (seja  por  sentimento  de  culpa  ou  outro);  seus parentes podem não  se sentir em condições de  lidar com a sua dor e portanto vão negar que você tenha qualquer “problema”; podem  hesitar  em  admitir  perante  outros  que  você  seja  um 

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pouco  “diferente”,  uma  espécie de  “ovelha negra” que não  se encaixa  nos  padrões  aceitos  pela  família  e  pela  sociedade  em geral;  os  cônjuges  ou  namorados  podem  ficar  temerosos  em dizer  ou  fazer  algo  “errado”  e  exacerbar  seus  sintomas  (por estarem “pisando em ovos”), e/ou podem  ter medo de  ter que mudar  algo  neles mesmos  para  lidar  com  você  de  forma mais compreensiva e eficaz.   Basicamente,  entretanto,  na  maioria  dos  casos  podemos procurar partir do pressuposto de que estas atitudes de aparente falta de empatia e apoio podem ser atribuídas mais a uma falta de conhecimento e de  flexibilidade, do que a uma real má vontade ou desinteresse.   Às  vezes  sonhamos  com um  tipo de  apoio  e  compreensão que simplesmente  não  vem  da  forma  e  na  hora  que  queremos  – nestes casos, devemos procurar aceitar as limitações dos outros, assim  como  queremos  que  os  outros  aceitem  as  nossas.  E  fica sempre  aquela  dúvida  no  ar  –  será  que  o  problema  está  no excesso  de  expectativas,  ou  na  insuficiência  do  retorno esperado?   De  modo  geral,  as  pessoas  possuem  um  sistema  de  crenças estabelecido, e têm medo de fazer mudanças. Além disso, muitas fazem julgamentos e críticas de forma automática e praticamente inconsciente.  Rebaixar  os  outros  não  deixa  de  ser  uma ferramenta  que  algumas  pessoas  usam  para  se  sentir  mais poderosas. Por  isso, acham‐se no direito de  julgar os outros pela sua  situação  econômica,  pelas  suas  decisões,  pelo  seu comportamento, pela sua aparência, até pelo seu cansaço,  falta de  ânimo,  estado de  saúde,  e  assim por diante  –  chamando os outros de “fracos”, “frescos”, “incompetentes”, “lerdos”, etc.  Os  conceitos  rígidos,  às  vezes  expressos  de  forma  repetida  e enfática,  com  relação  ao que é “certo“ ou  “errado“ não  levam em  conta  a  “possibilidade”  de  que  as  opiniões  tão 

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orgulhosamente defendidas possam não ser a “verdade suprema e única”... Opiniões são somente  isso – opiniões. Elas podem ser úteis para nortear a nossa própria vida e nossas ações, mas não constituem uma verdade absoluta que deva ser obrigatoriamente acatada por todos à nossa volta.   Com  relação  ao  conceito  de  “verdade”  versus  “mentira”, devemos  lembrar  que  “verdade”  pode  significar  algo  diferente do  que  “fatos  ocorridos”,  conforme  já  mencionado,  e  até  a descrição  de  fatos  ocorridos  pode  variar  de  uma  pessoa  para outra  –  dez  testemunhas  de  um  acidente  ou  crime  podem oferecer dez relatos diferentes, e três irmãos podem recordar um acontecimento na infância de modo inteiramente diverso.   Além disso, muitas  vezes as pessoas  confundem  aceitação  com aprovação, e têm medo de abrir mão de sua postura habitual por acreditar  que  elas  mesmas  serão  julgadas  como  fracas  ou indecisas ou “sem caráter”. A tendência mais enraizada é sempre buscar  impor  aos  outros  nossos  próprios  parâmetros,  julgando que  nossa  linha  de  conduta  é  a  única  certa. Muitas  pessoas  se orgulham  de  seu  discernimento,  de  seus  preceitos  morais,  de saber distinguir entre o certo e o errado, às vezes agarrando‐se mais  à  sua  própria  necessidade  de  auto‐afirmação  do  que pensando no bem estar e sentimentos dos outros.   É  importante, entretanto, aceitar que as emoções não  são nem certas nem erradas – simplesmente são. E  indispensável adquirir uma  compreensão  mais  ampla  da  força  e  da  importância  das emoções,  não  necessariamente  em  contraposição  à  razão, mas em  complementação  à  mesma.  É  através  do  casamento equilibrado  do  emocional  com  o  racional  que  conseguimos otimizar a nossa tomada de decisões na vida.  É interessante observar que os estudos da neurociência mostram claramente que a parte emocional do cérebro aprende coisas de um  modo  diferenciado  da  área  de  pensamento  lógico.  As 

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habilidades  de  inteligência  emocional  são  desenvolvidas  numa região  do  cérebro  chamada  sistema  límbico,  que  controla  os instintos,  os  impulsos,  as  motivações.  Por  outro  lado,  as habilidades  técnicas  e  analíticas  são  aprendidas  no  neocórtex, que é a parte do cérebro que processa a lógica e os conceitos.  Mas, voltando a uma pergunta comum – a quem você pode ou deve contar que você acha ou sabe que tem sintomas Borderline? A resposta é – depende.  Primeiro,  você  tem  que  avaliar  isso  caso  a  caso,  para  tentar minimizar  o  risco  de  se  expor  a  críticas,  discriminação  (sim, infelizmente  tem  essa  possibilidade),  perda  de  confiança. Algumas pessoas, por desconhecimento, podem achar que você só  está  querendo  justificar  suas  próprias  ações  e  reações  ao alegar problemas emocionais, podem começar a se distanciar, a espalhar boatos  sobre você –  coisas que você  certamente quer evitar.   Depende  também  do  relacionamento  que  você  tem  com  a pessoa, depende da forma e do momento em que você aborda e explica o assunto, depende das idades e parentescos envolvidos, e assim por diante. Mais uma vez, o  ideal seria ter o suporte de um  profissional  compassivo  e  experiente.  Na  falta  do mesmo, procure antes de mais nada sempre avaliar a  fundo exatamente por  que  você  está  querendo  (ou  precisando)  contar  a  alguém sobre  seu  problema,  e  quais  são  os  possíveis  e/ou  prováveis benefícios/riscos/conseqüências.  O  caminho  mais  recomendável  talvez  seja  o  de  informar  os outros,  na  medida  que  julgar  necessário  e  viável,  que  você simplesmente  tem  dificuldade  em  administrar  suas  emoções  e reações, e que  você está  trabalhando  isto,    assim  como muitas pessoas ‐ inclusive executivos de grandes empresas – freqüentam cursos para aprender a controlar estresse e raiva.   

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Pode ocorrer que você realmente tenha magoado e prejudicado outras pessoas no passado por comportamentos decorrentes de sua  impulsividade,  intolerância  a  crítica, medo  de  abandono,  e outras características da alta sensibilidade emocional.   Por  exemplo,  você  pode  ter  se  afastado  de  sua  família  e “adotado” a família de amigas ou namorados/cônjuges, por sentir que nestes outros ambientes você estará menos sujeita a críticas e  cobranças.  A  sua  dedicação  e  seus  atos  de  bondade  são apreciados de uma  forma que alimenta a sua auto‐estima, e  lhe faz sentir‐se mais útil e acolhida. Entretanto,  talvez você não se dê  conta  da  dor  causada  aos  seus  familiares  pelo  seu afastamento e aparente rejeição dos mesmos.   Aos poucos, com terapia e uma reprogramação de suas reações, talvez  você  consiga  “chegar”  nessas  pessoas  que  lhe  são importantes  e  começar  a  reconstruir  seu  relacionamento. Nada como um dia após o outro, mesmo não havendo garantia de que as coisas transcorram na forma exata que desejaríamos.  

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V. ABORDAGENS TERAPÊUTICAS  Não é muito comum uma pessoa com sintomas Borderline buscar ajuda psicoterápica por  iniciativa própria para o transtorno em si –  e,  também,  muitas  vezes,  mesmo  quando  inicia  terapia  e  a mesma começa a focar o transtorno, ela a abandona.  Pois,  considerando  que  a  pessoa com  sintomas  Borderline  sofre intensamente com crítica e medo de rejeição,  vergonha  de  si  mesma,  e confusão  quanto  aos  seus  próprios sentimentos,  uma  abordagem  que não  leva  esses  aspectos  em  conta provavelmente  não  terá  muito sucesso.  É  importante  o  terapeuta dar  o mesmo  tanto  de  importância ao aspecto de aceitação quanto ao de necessidade de mudança, o que otimiza as chances de continuação do tratamento.  Terapias  tradicionais  que  partem  do  pressuposto  de  que  os comportamentos  de  hoje  são  causados  por  experiências  do passado  muitas  vezes  não  levam  em  conta  os  componentes neurobiológicos do Borderline,  limitando assim seu potencial de êxito.   Mas,  uma  vez  oficialmente  diagnosticado  o  transtorno,  as pessoas  com  Borderline  são  geralmente  tratadas  com  uma combinação de:   a. estabilizadores  de  humor  e  antidepressivos.  Esses 

medicamentos  psicofarmacológicos  devem  ser  receitados  e ministrados de  forma  extremamente  criteriosa, pois podem causar graves efeitos  colaterais, que  variam de pessoa para pessoa, existindo ainda o perigo de exagero no consumo de medicamentos,  pelo  fato  de  as  pessoas  com  sintomas 

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Borderline  não  sentirem  tão  rapidamente  os  efeitos esperados dos mesmos; e  

 b. terapias  de  eficácia  comprovada,  como  a  Cognitiva 

Comportamental e  sua derivada, a Terapia Comportamental Dialética,  que  ajudam  a  pessoa  com  sintomas  Borderline  a reconhecer e diferenciar e reprogramar os seus pensamentos e sentimentos. 

Cabe  aos  profissionais  da  área  de  saúde mental  fornecer  uma descrição mais detalhada das terapias que podem ser usadas no tratamento  –  oferecemos  aqui  somente  um  pequeno  resumo superficial sobre as duas acima mencionadas.   Segundo  a  Dra.  Judith  Beck,  que  continua  desenvolvendo  o trabalho  pioneiro  de  psicoterapia  iniciado  pelo  seu  pai,  Aaron “Tim” Beck,  no Beck  Institute  na  Filadélfia,  a  Terapia  Cognitiva parte do princípio de que crenças e pensamentos de uma pessoa influenciam  suas  emoções,  ações  e  sintomas  físicos,  e  que  as técnicas específicas que o terapeuta escolhe para usar com cada paciente  devem  ser  individualizadas  com  base  na  Conceituação Cognitiva  deste  paciente  (a  compreensão  do  terapeuta, confirmada pelo paciente, de quais são as crenças subjacentes do paciente; os padrões não adaptativos que ele desenvolveu para “lidar”  com  estas  crenças;  e  os  pensamentos,  emoções  e comportamentos  diários  que  aparecem  como  resultado  destas crenças).  Por  outro  lado,  a  Terapia  Comportamental  Dialética  –  TCD  foi desenvolvida  especificamente  pela  Dra.  Marsha  Linehan, professora  de  psicologia  na Universidade  de Washington,  EUA, para tratar o transtorno de personalidade Borderline.   Essa  abordagem  –  TCD  ‐  visa  ajudar  a  pessoa  com  sintomas Borderline a vislumbrar aos poucos as tonalidades de cinza entre seus  extremos  usuais  de  “preto ou branco”  (isto  é, os  dilemas dialéticos) na sua forma de agir e pensar.   47

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A  terapia  individual  da  TCD  tende  a  ser  bastante  direta  e confrontativa,  e  busca  abordar  em  uma  sessão  semanal  os conteúdos  que  venham  a  se  apresentar. A  prioridade  é  dada  à atenção a comportamentos suicidas e auto‐destrutivos, e depois a  comportamentos  que  interfiram  com  o  progresso  da  própria terapia. A seguir vem assuntos ligados à qualidade de vida e à sua melhora.  Durante  a  terapia  individual  frequentemente  se  discute  como melhorar as aptidões que compõem o modelo da TCD, ou como superar os obstáculos ao desenvolvimento das mesmas. A terapia de grupo consiste geralmente em uma sessão semanal orientada ao  desenvolvimento  de  habilidades  específicas,  divididas  da seguinte forma: a) Atenção Plena (“mindfulness”) b) Regulação de emoções c) Tolerância à pressão e frustração d) Efetividade nas relações interpessoais.  Continue  sempre  pesquisando  (verifique  tratamento  disponível em Itapira, São Paulo, por exemplo, no Instituto Bairral, liderados pelo  Dr.  Sérgio  Monteiro,  tel.  (19)  3863‐9400 (veja http://www.doctoralia.com.br/medico/sergio+augusto+monteiro+dos+santos-11943276; ou  no  Rio  Grande  do  Sul,  pela  Dra.  Ângela Leggerini de Figueiredo na PUCRS (cujo telefone de consultório é 51  32227322,  ou  o  tratamento  focado  em  Terapia  Cognitiva Comportamental  realizado pela Dra. Nilcéa Coelho na  região do Rio  de  Janeiro  ([email protected]),  Continue também trocando  idéias com outras pessoas e aprendendo cada vez  mais  sobre  as  manifestações  e  características  da  alta sensibilidade  emocional.  Novas  possibilidades  e  respostas surgirão, e assim você poderá encontrar ajuda para se recuperar mais  rapidamente  e  buscar  a  felicidade  que  você  procura.  Esse movimento,  essa  busca,  esse  esforço  de  sua  parte  certamente abrirão novos caminhos.  48

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VI. EMOÇÕES  Conforme explicado pela Judith Beck em seu livro Terapia Cognitiva - Teoria e Prática- Judith Beck - Ed. Artmed, as emoções "negativas" são  normais  e  fazem  parte  de  nossas  vidas  tanto  como  as emoções  "positivas".  É  importante  aprender  a  diferenciar  os pensamentos automáticos das emoções, a rotular a emoções e a classificar a intensidade das emoções.  Muitas  vezes  as  emoções  vêm  sem  identificação  específica. Ninguém passa o dia inteiro analisando e rotulando suas próprias emoções  –  agora estou feliz, agora fiquei frustrado, tou chateado, tou deprimido, tou tenso, e  assim  por  diante. Muitas  emoções  passam como nuvens no céu, e é somente quando essas se avolumam ou escurecem  ou  então  se  afastam  para  deixar  o  sol  brilhar,  que efetivamente reparamos e nos conscientizamos do nosso estado de espírito.   A  pessoa  com  sintomas  borderline,  ao  ser  dominada  por sentimentos  muito  fortes,  conflitantes  e  confusos,  pode encontrar  dificuldade  em  reconhecê‐los  e  classificá‐los, mesmo que este discernimento seja essencial para o desenvolvimento de seu controle emocional. Veja a seguir uma mera amostra de como você pode se sentir de uma hora para outra:   

Abandonada, anormal, abusada, aceita, realizada, ativa,

insatisfeita, chateada, entediada, briguenta, envergonhada, alerta, audaciosa, temerosa, sonolenta, faminta, alegre, prestativa,

saudosa, impaciente, criativa, animada, irrequieta, angustiada, exuberante, dramática, anti-social, pasma;

ciumenta, confusa, amorosa, ignorante, iluminada, insegura,

insignificante, insultada, intelectual, inteligente, constrangida, grata, desolada, desesperada, solitária, irritadiça, corajosa, linda, desengonçada, sortuda, discriminada, incompreendida, gorda,

inchada, descabelada, esperta;

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curiosa, derrotada, defensiva, elétrica, apática, assoberbada, exausta, atônita, esperançosa, destruída, culpada, injuriada, inspirada, distraída, sonhadora, indignada, debilitada, tonta, exasperada, ciumenta, invejosa, ingênua, impaciente, sádica,

teimosa, simpática, loquaz, taciturna;

indecisa, vulnerável, vitoriosa, violenta, inútil, desmotivada, espirituosa, descrente, pirada, pensativa, extasiada, agradável, p... da vida, apaixonada, psicótica, impotente, pessimista, relaxada, sexy, romântica, produtiva, sensível, arrependida, jovem, zen,

caprichosa, explorada, mal tratada;

perturbada, deprimida, abatida, generosa, glamorosa, hipócrita, histérica, divertida, vazia, imatura, despreparada, desamparada,

gostosona, controlada, despreocupada, ansiosa, eufórica, dedicada, sorrateira, mentirosa, excluída, explosiva, competitiva,

preocupada... 

Ao aprender aos poucos a conhecer e reconhecer melhor nossas emoções, poderemos começar a entender melhor os fatores que as geram, aceitar o fato de que muitas são realmente passageiras e  toleráveis, e distinguir as emoções negativas  intensas que são dolorosas e podem ser disfuncionais quando interferem na nossa capacidade de pensar claramente, de resolver problemas, de agir efetivamente  ou  obter  satisfação.  Em  situações  dolorosas extremas  a  intensidade  de  emoção  é  excessiva  e  acaba  sendo inapropriada para a situação vivida.  A sua jornada pessoal de recuperação vai exigir que você tenha a coragem  e  determinação  para  (i)  se  aceitar,  e  (ii)  começar  a analisar e reprogramar alguns de seus pensamentos e reações – isto  pode  parecer  paradoxal,  mas  são  dois  aspectos indispensáveis  para  o  sucesso,  o  qual  só  virá  com  tempo  e esforço e ajuda.  

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O conceito de mudança pode lhe assustar, e você talvez sinta que não  está  pronta  para  uma  empreitada  tão  “radical”.  Isso  é perfeitamente  compreensível.  Não  precisa  sentir  vergonha  se hesita em dar os primeiros passos para  sua  recuperação, em  se enveredar  por  um  caminho  novo  e  aparentemente  cheio  de riscos  e  perigos.  Mas,  chegará  um  momento  em  que  você concluirá que está na hora de assumir a responsabilidade pelo seu futuro. E a sua recompensa será uma vida nova e promissora.  

Não somos responsáveis pelo que nos fez ser quem somos agora.

Porém, daqui para a frente, somos responsáveis pela pessoa que passamos a ser, e por tudo que dissermos e fizermos.

  E S C O L H A S Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for ou viver infeliz por não ser quem você gostaria. Você pode assumir sua individualidade ou reprimir seus talentos e sonhos, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse. Você pode produzir‐se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar ou dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas são fúteis, não sérias e bem situadas como você. Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as outras pessoas ou com aquele olhar de censura, que poda, pune, fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos, limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus. Você pode amar e deixar‐se amar de maneira incondicional ou ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta. Você pode ouvir o seu coração e viver apaixonadamente ou agir de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar a vida antes de vivê‐la. Você pode deixá‐la como está para ver como é que fica ou com paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias na sua vida e no mundo à sua volta. Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos ou partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de 

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ganhar. Você pode amaldiçoar sua sorte ou encarar a situação como uma grande oportunidade de crescimento que a vida lhe oferece. Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados para todas as suas insatisfações ou encarar a verdade de que, no fim das contas, sempre você é quem decide o tipo de vida que quer levar. Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas, caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas, avanços e retrocessos ou continuar acreditando que ele já estava escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer. Você pode viver o presente que a vida lhe dá ou ficar preso a um passado que já acabou, e portanto, não há mais nada a fazer, ou a um futuro que ainda não veio, e que portanto, não lhe permite fazer nada. Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que você é e possui ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por não ser ou não possuir tudo o que você gostaria. Você pode engajar‐se no mundo, melhorando a si próprio e, por conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta ou esperar que o mundo melhore para que então você possa melhorar. Você pode continuar escravo da preguiça ou comprometer‐se com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o seu plano de vida. Você pode aprender o que ainda não sabe ou fingir que já sabe tudo e não precisa aprender nada mais. Você pode ser feliz com a vida como ela é ou passar todo o seu tempo se lamentando pelo que ela não é. A escolha é sua. E o importante é que você sempre tem escolha. Pondere bastante ao se decidir, pois é você que vai carregar ‐ sozinho e sempre ‐o peso das escolhas que fizer..  Autor Desconhecido 

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VII. LIDANDO COM IMPULSIVIDADE E/OU DEPRESSÃO  Muitas  vezes  as  pessoas  com  alta  sensibilidade  emocional  são censuradas  por  querer  ou  pensar  ou  fazer  coisas  que  são consideradas  inapropriadas  ou  intempestivas,  e  elas  acabam concluindo que estão erradas.  Na  realidade, de modo geral, as pessoas  com  sintomas Borderline  querem  as  mesmas coisas  que  todo mundo  quer  – querem  ser  felizes,  ter um bom emprego,  manter  boas amizades,  querem  receber carinho  e  aprovação,  querem  se  divertir,  querem  amar  e  ser amadas,  querem  se  realizar  profissionalmente.  Entretanto, tipicamente  querem  que  seus  desejos  sejam  atendidos plenamente e imediatamente.   Já vimos que existem muitos motivos que podem lhe “empurrar” para cometer estes atos  impulsivos ou entrar em um estado de depressão,  devido  às  suas  vulnerabilidades  biológicas  e  suas experiências anteriores.   Mas  vamos  agora  olhar  para  o  lado  prático:  como  esses comportamentos  indesejados  podem  ser  previstos,  contidos, freados, contornados – e substituídos.  A  proposta  básica  da  terapia  cognitiva  comportamental  é  que poderemos nos sentir melhor se conseguirmos substituir nossos pensamentos negativos automáticos (os PAN, que são a principal fonte  da  impulsividade  e  depressão)  por  pensamentos  mais positivos.   

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Abaixo  estão  descritas  algumas  táticas  que  podem  lhe  ajudar neste sentido – algumas exigem mais prática, dando excelentes resultados  a  longo  prazo  após  serem  devidamente  assimiladas, enquanto outras são mais “emergenciais”.  1. Táticas para conter impulsos prejudiciais

 Mesmo  quando  você  estiver  na presença  de  outros  e  quiser  ser discreta,  você  pode  recorrer  aos cinco sentidos para se centrar e não ceder a impulsos prejudiciais:  1. Tato   

a) pegue  um  cubo  de  gelo  e  segure  até  ficar  incômodo (porém não ao ponto de doer)  

b) banhe seu rosto com água fria  c) tome um gole de água e segure na boca um pouco antes 

de engolir d) pegue  num  objeto  que  lhe  passa  segurança  (uma 

medalha, uma correntinha, um anel, etc.) e) mantenha uma gominha/elástico no seu pulso para que 

você  possa  puxar  e  soltar  em momentos  de  estresse, para voltar ao prumo mais depressa.  

 2. Visão 

a) respire  fundo  e  comece  a  concentrar‐se  em  observar detalhadamente tudo que vê à sua volta – Tipo: o quadro naquela  parede  está  torto,  a  blusa  da  fulana  é  branca com  gola  rulê,  a mesa  é  quadrada,  a  samambaia  está meio murcha, etc. 

 3. Audição 

a) pare  tudo  para  prestar  atenção  em  todos  os  sons  e ruídos à sua volta – seja ônibus buzinando, o motor da 

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geladeira vibrando, uma porta rangendo, o zumbido do computador  ligado,  um  telefone que  toca,  um pássaro que canta. 

 4. Olfato 

a) tenha à mão algo que  tenha um cheiro mais  forte para lhe  despertar  –  tipo  um  sabonetinho  ou  lencinho umedecido na bolsa, ou pare para cheirar uma  flor, um cafezinho, etc. 

 5. Paladar 

a) pegue um chiclete  (mastigar é  relaxante,  seria bom  ter sempre um chiclete à mão), ou pare tudo para comer ou beber algo e concentre‐se nisso. 

 Seja criativa – ninguém conhece você melhor que você mesma – experimente  com  diferentes  formas  de  centramento  rápido  e eficiente,  encontre  as  que  melhor  funcionam  para  você,  e compartilhe com amigos em blogs, etc.   2. Táticas para combater depressão  Mais uma vez, você pode usar os cinco sentidos:  1. Tato  –  vista  um 

training  bem  macio, receba uma massagem ou abraço, acaricie um cachorro  ou  gato, sentindo  seu  pelo macio  e  absorvendo seu  carinho incondicional;  tome um banho gostoso, passe um creme e sinta sua pele sedosa – tantas sensações boas estão ao seu alcance, não hesite em se mimar. 

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 2. Visão – você pode curtir a natureza, seja na vida  real ou em 

livros ou vídeos, observar peixinhos em um aquário,   fitar as chamas de uma vela ou  lareira, olhar para a vastidão de um oceano ou lago. 

 3. Audição – qual é o seu tipo de música predileta? O que lhe faz 

sentir mais  calma e ao mesmo  tempo energizada? Pode  ser música zen com barulhinho de água no fundo, Enya com suas músicas  New  Age,  pode  ser  jazz  ou  rock  ou MPB, música clássica,  algo  que  lhe  transporta para  um  lugar  virtual mais acolhedor, reconfortante. 

 4. Olfato – acenda um incenso ou uma vela perfumada, asse um 

bolo ou prepare uma torrada,   experimente óleos essenciais para aromaterapia, coloque um perfume gostoso. 

 5. Paladar – muitos sabores podem nos remeter a momentos de 

alegria  e  tranquilidade  –  pode  ser  um  cafezinho  ou cappuccino, um pedaço de broa fresquinha, um sorvete, uma comida caseira ou um sushi com wasabi –  tudo depende da sua história, de suas preferências, lembranças e associações. 

3. Outras dicas para inserir uma pausa entre o impulso e o ato decorrente

a) Fazer perguntas a si mesma

Respire fundo e se pergunte ANTES de ceder a um impulso: a. É realmente importante fazer isso?  b. Vai ser bom para mim a curto prazo? c. Vai prejudicar a mim e outros a longo prazo? d. Se  eu  for  adiante  com  isso,  como  vou  me  sentir 

amanhã? E depois? e. E se eu deixar de obedecer este impulso agora, como 

vou me sentir amanhã? 

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Essa  estratégia  não  é  tão  fácil  de  ser  implementada, principalmente nas primeiras vezes. Pois,  já que a  impulsividade diz  respeito  a  atos  impensados,  e  o  ato  de  responder  as perguntas  acima  exige  que  você  pare  para  pensar,  você  vai precisar de algum  tempo para  reprogramar  seus hábitos e  suas reações. Mas aos poucos você vai assimilando e automatizando essa sequencia, e descobrirá que é de grande ajuda – é como se fosse o Grilo Falante que atua como a consciência do Pinóquio.  

b) Protelar

Por exemplo,  se você  sente o  forte  impulso de dirigir de  forma perigosa,  primeiro  procure  fazer  um  esforço  para  dirigir  mais lentamente durante uns quinze minutos – e veja o que acontece. Quem sabe a vontade passa. E se você está a  fim de estourar e gritar  com  alguém, ou  se  cortar, ou  tomar doses  excessivas de remédio, procure postergar esses atos, seja contando até dez ou escolhendo  alguma  outra  atividade,  tipo  mandando  uma mensagem/torpedo para alguém.   Com  o  tempo,  você  vai  conseguir melhorar  sua  capacidade  de tolerar  frustração  e  retardar  a  gratificação  –  ambos  aspectos chave para uma vida mais saudável e equilibrada. E também, com o  tempo,  você  vai  descobrir  que  a  impulsividade  não  é  tão intrínseca  e  necessária  à  sua  personalidade  quanto  você acreditava. Além disso, devemos nos  lembrar que nem sempre o que desejamos intensamente em dado momento é o melhor para nós a longo prazo 

c) Procurar distração

Você  pode  usar  diferentes  formas  de  distração,  executando atividades  bem  diversas  das  que  você  sente  tanta  urgência  de fazer – atividades alternativas prazerosas, que ajudam a atenuar a sua frustração e lhe fornecem outros tipos de gratificação.  Dependendo  de  suas  preferências,  você  pode  contemplar  algo como: 

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• Sair para caminhar ou correr, fazer ginástica  • Assistir um filme • Desenhar  e/ou  colorir,  talvez  uma  mandala  –  tem 

diversos modelos na internet • Ler  um  livro  interessante, ou pegar  uma  revista para 

folhear • Ligar para um amigo • Surfar na internet ou papear no Skype ou tuitar • Tomar um banho longo e relaxante • Receber uma massagem • Fazer arrumação na sua casa, no seu quarto, em uma 

gaveta • Fazer um  suco de  limão ou  laranja,  curtindo o aroma 

cítrico  • Mexer  com  plantas,  regá‐las  para  sentir  o  cheiro 

gostoso de terra molhada • Brincar com um animal de estimação  

d) Conversar consigo mesma

Ao sentir a aproximação de uma onda de raiva ou  impulsividade ou frustração, procure mudar de ambiente ou de quarto, respire fundo e comece a conversar consigo mesma – como se fosse um adulto  carinhoso  falando  com  sua  criança  interior  que  está magoada  e/ou  querendo  fazer  birra.    Ou  use  a  figura  de  uma boneca  ou  bichinho  de  pelúcia  para  conversar,  desabafar, argumentar.  Ao conversar consigo mesma, você se acalma e reflete sobre suas ações, e toma consciência do fato de que suas reações podem ser contempladas como algo  independente de você, e assim  sendo você poderá aprender a ter mais poder e controle sobre elas.  

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4. Táticas a médio e longo prazo

a)Fazer papel de repórter

1. Descreva – neste caso, por escrito  ‐ um episódio  recente ou marcante de  impulsividade, da  forma mais objetiva possível, com  todos  os  detalhes  –  como  se  você  fosse  um  jornalista fazendo  uma  reportagem.  Pode  ter  sido  uma  briga,  uma explosão emocional, um episódio de auto‐lesão, um pequeno furto  em  loja,  comer  ou  beber  compulsivamente,  dirigir perigosamente,  fazer  sexo  indiscriminadamente,  consumir drogas, o que seja.  

2. Especifique  onde  você  estava  e  o  que  estava  fazendo justamente  antes  de  agir  impulsivamente  –  se  estava  no serviço, numa festa, conversando num barzinho, namorando, ou sozinha em casa assistindo TV, etc. 

3. Procure definir como você estava se sentindo  logo antes de agir impulsivamente, verificando a lista de emoções sugeridas logo acima.  

4. Agora, descreva o que você esperava que acontecesse como resultado do seu ato  impulsivo – talvez você quisesse aliviar seu  tédio,  sentir‐se  mais  conectada  com  a  realidade,  mais dona  de  si  em  um  ambiente  social,  menos  invejosa  ou frustrada,  amenizar  sua  irritação  por  ter  recebido  ou percebido uma crítica, ou algo assim.  

5. E  o  que  você  sentiu  depois  de  ter  cedido  ao  arroubo  de impulsividade?  Avalie  se  você  conseguiu  o  que  você pretendia.  Talvez  você  descubra  que,  embora  seu  ato impulsivo  prometia  gerar  um  alívio  ou  um  “barato” temporário,  logo  em  seguida  você  acabou  voltando  ao patamar/sentimento existente antes ao ato, ou então acabou se  sentindo  até  pior  do  que  antes. Muitas  vezes  vem  uma onda de  remorso, auto‐desprezo, culpa, vergonha, sensação de  isolamento do mundo. Anote o que você puder,  isto  lhe será útil depois. 

 

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Então, resumindo: 1. Descreva um ato impulsivo/ impensado seu 2. Lembre onde você estava e o que estava  fazendo antes 

de agir 3. Explique como se sentia antes do ato impulsivo 4. Escreva o que você esperava conseguir com este ato 5. Conte como você se sentiu depois do ato, e se conseguiu 

ou não o que pretendia.   Cada vez que você fizer esse “exercício”, você vai aprender mais sobre  si  mesma,  e  vai  entender  melhor  por  que  faz  coisas impulsivas.  Você  precisa  ser  clara  e  honesta  consigo  no  seu relatório  –  sua objetividade  é  sua  grande  aliada! Ninguém mais precisa saber, se você não quiser compartilhar suas avaliações e constatações – mas cada análise lhe trará mais perto de um auto‐controle  mais  satisfatório  e  efetivo.  Se  você  puder  conversar sobre  suas descobertas com um  terapeuta, uma  troca de  idéias seria extremamente proveitosa – pois é um caminho bem difícil de se trilhar totalmente sozinha.  

b) Usar auto-afirmações

Uma outra forma, que pode ser alternativa ou complementar às sugeridas  acima,  envolve  a  elaboração  de  afirmações  que  você vai aprendendo a fazer automaticamente para si mesma, para lhe ajudar  em  momentos  de  estresse,  de  monotonia  irritante,  de ansiedade,  de  busca  de  emoções  fortes,  de  risco  de  perigo  – situações que podem provocar uma impulsividade indesejável.  Alguns exemplos de auto‐afirmação seriam: • Eu posso me dar o  luxo de ceder a esse  impulso mais  tarde, 

em outra hora, portanto não precisa ser agorinha mesmo • Não gosto desses  impulsos,  e  tenho que  reconhecer que  às 

vezes eles vão embora se eu não os acato de  imediato (tipo: eu deveria poder mandar neles, e não eles em mim) 

• Estou  vendo que minha  impulsividade  está me prejudicando de  várias  formas  –  preciso  encontrar  atividades  alternativas 

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para dar uma guinada na minha vida, fazer outras coisas mais divertidas e mais salutares 

• Cada vez que consigo controlar meus impulsos, sinto‐me mais poderosa e confiante 

• Eu quero me orgulhar dos meus esforços e minhas conquistas em vez de me sentir um lixo após ceder à minha impulsividade negativa / destrutiva 

• Nem  todo  sentimento  ou  impulso  meu  tem  que  ser extravasado, concretizado 

• Às vezes o que parece bom na hora só dá “titica” mais tarde. • Só  porque  estou  a  fim  de  alguma  coisa  não  quer  dizer  que 

efetivamente preciso desta coisa, muito menos agora.  Você  pode  desenvolver  suas  próprias  frases  ou  lembretes,  de forma  mais  personalizada,  e  colocá‐las  numa  agenda  ou  num arquivo  do  computador  ou  IPod  para  que  você  tenha  acesso rápido e fácil a qualquer momento. Toda vez que você sentir que conseguiu se controlar, você  tem  todo direito de sentir orgulho de si mesma, e de se parabenizar!  

c) Buscar outras fontes de adrenalina

 Muitas  pessoas,  inclusive  alguns  borderlines,  possuem  uma predisposição a buscar emoções fortes e situações de maior risco e  perigo.  Se  você  sente  essa  necessidade  premente  de  buscar sensações  fortes,  isto  muitas  vezes  pode  lhe  envolver  em situações que são perigosas não só para você como para outros ao seu redor.   Estude  então  a  possibilidade  de  buscar  alternativas  mais saudáveis que possam preencher essa necessidade, tais como: 

• Escalada • Rafting • Mergulho • Trekking • Trilha de bike 

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• Arvorismo, tirolesa  • Hipismo • Esportes radicais • Skateboarding • Turismo de aventura.  

           Sem dúvida, esta lista inclui atividades arriscadas, que devem ser praticadas  com  o máximo  preparo  e  cuidado  possíveis,  usando todo  o  equipamento  de  segurança  necessário,  etc.  Mas  são sugestões  válidas  de  alternativas  para  comportamentos indesejáveis.  Por  outro  lado,  algumas  pessoas  simplesmente  curtem  o gostinho  de  competir  ‐  e  podem  satisfazê‐lo  de  outras  formas menos radicais. Podem ficar empolgadas com um jogo de xadrez ou truco, futebol ou basquete, gincanas e ações de voluntariado, participando  em  aulas  de  culinária  e  inventando  receitas, escrevendo,  desenhando,  etc.  Existem  diversas  formas  de  se atender  a  esse  desejo  de  enfrentar  desafios  e  extravasar  sua criatividade  –  e  ainda  obter  o  beneficio  adicional  de  conhecer mais  gente,  aprender  coisas  novas,  ser  mais  apreciado  como companheiro/a, fortalecer a auto‐estima.  

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VIII. NOVAS PERSPECTIVAS Já  vimos  que muitas  pessoas  com  alta  sensibilidade  emocional e/ou  características  Borderline  demonstram  a  tendência  de interpretar gestos, palavras, atos, atitudes, eventos, etc. de uma forma que pode não condizer com as verdadeiras  intenções dos outros  e  os  acontecimentos  efetivos.  Essa  percepção diferenciada, ou distorção  cognitiva,  é  intimamente  relacionada aos  aspectos  neurobiológicos  abordados  em maior  detalhe  em capítulos anteriores.   Felizmente,  estas  percepções  negativas  (e/ou  pensamentos automáticos  negativos  –  os  PAN)  podem  ser  gradualmente alteradas  através  de  uma  reprogramação  ou  re‐educação sistemática  e  corretamente  direcionada,  de  preferência  sob  a orientação e acompanhamento de um experiente, compassivo e dedicado terapeuta.    

 

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1) Reconhecendo distorções cognitivas, como:

a) Pensamento preto ou branco, oito ou oitenta

Esta tendência pode  lhe  levar a enxergar as coisas e/ou pessoas como perfeitas em um momento e  totalmente  imprestáveis em outro.  

b) Extrapolação/ generalização

Um  acontecimento  –  como  perder  o  emprego,  levar  bolo  de namorado, ter um cheque devolvido, ter uma proposta recusada, etc. – já pode lhe levar a acreditar que este revés deve ser válido para tudo na sua vida: “sou um fracasso total, nunca vou conseguir nada na minha vida, isso sempre acontece comigo”. 

c) Prisma negativo

Entre as coisas que lhe acontecem, você pode ter dificuldade em enxergar  o  lado  positivo,  e  pode  acabar  se  fixando  mais  no negativo.  Por  exemplo,  se  você  faz  uma  apresentação  de trabalho e, entre todos os elogios recebidos dos colegas, uma só pessoinha  faz  um  comentário  crítico  –    é  talvez  sobre  esse comentário negativo que você vai se por a ruminar por dias (ou anos?).  

d) Conclusões precipitadas

Você  pode  tender  a  chegar  rapidamente  a  uma  conclusão negativa, mesmo  quando  nenhum  dos  fatores  aparentes  apóia essa conclusão. Por exemplo, se você acha que alguém  lhe olha de  forma diferente, pode  concluir de  imediato que essa pessoa não  gosta  de  você  ‐  quando  ela  pode  simplesmente  estar preocupada com coisas que não tem nada a ver com você.  

e) Tamanho dos problemas

Você  pode  enxergar  seus  problemas  e  possíveis  defeitos  como excessivamente  sérios.  Problemas  e  a  percepção  dos mesmos não são efetivamente passíveis de comparação entre uma pessoa e  outra.  Entretanto,  é  a  mais  pura  verdade  que,  de  vez  em 

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quando,  é  salutar  lembrar  dos  pontos  positivos  em  nossa  vida, tornando a nossa perspectiva mais objetiva e otimista. 

f) Raciocínio emocional

Como  já  comentamos  acima,  a  predominância  da  “lógica” emocional  sobre  a  racional é  algo  instintivo para  a pessoa  com alta  sensibilidade  emocional,  porém  o  aspecto  “retroativo”  e atemporal  deste  raciocínio  emocional  é  algo  que  perturba  e aliena os outros e pode  resultar em problemas no seu dia‐a‐dia, promovendo atitudes mais negativas de sua parte.  

g) Projeções do “deveria”

Frases que começam com as palavras “deveria” ou “tinha que”, indicando  expectativas  ou  falta  de  opção,  geralmente  são contraproducentes. Se  você aplica a  intenção a  si mesma,  você vai se sentir encurralada, sem opção. E quando você tenta aplicar o conceito aos outros, cria expectativas que provavelmente  lhe trarão mais frustrações.  

h) Rótulos

Rotular é combinar a atitude 8/80 com a atitude de generalização excessiva  –  por  exemplo,  em  vez  de  simplesmente  aceitar  que cometeu  um  erro,  você  já  se  considera  uma  fracassada  ou incompetente. Isto está longe da realidade. Todo mundo erra, e é assim  que  se  aprende.  Então  pense  em  si  mesma  como batalhadora,  corajosa,  persistente,  e  lembre‐se  de  coisas importantes que você já conseguiu realizar.  

i) Personalização e culpa

O conceito de personalização pode ser visto sob diversos ângulos – um deles sendo o de achar que tudo tem a ver com você; mas também tem o aspecto de que você pode estar se considerando responsável  por  coisas  que  na  realidade  não  estão  sob  seu controle, seja total ou parcialmente. Esse tipo de personalização gera sentimentos de culpa, vergonha,  incompetência, e alimenta a depressão e a tristeza. 

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 Por  outro  lado,  algumas  pessoas  podem  partir  para  o  lado oposto, e colocar a culpa de tudo em cima dos outros, sem levar em  consideração  as  formas  em  que  elas mesmas  podem  estar contribuindo para o problema.  2. Modificando as distorções cognitivas

 Aqui estão algumas sugestões de atitudes que podem  lhe ajudar a  perceber  o  mundo  com  outros  olhos,  diminuindo  a  sua angústia, ansiedade e depressão. 

a) Identifique o tipo de percepção errônea

Qual  foi  o  tipo  de  pensamento  negativo  que  lhe  veio  –  e  qual distorção  entre  as  relacionadas  acima  você  acha  que  pode  ter sido a causa?  

b) Examine as provas

Ao  invés  de  simplesmente  partir  do  pressuposto  que  seus pensamentos  negativos  refletem  a  realidade,  examine  as evidências que lhe levaram a esta conclusão. 

c) Fale consigo mesma

Em vez de se criticar duramente, fale consigo como se estivesse falando  com  uma  amiga  com  problema  semelhante  – 

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provavelmente  você  demonstrará  mais  compaixão  e  paciência enxergando o caso como se fosse dos outros, em vez de seu. 

d) Busque o meio termo

Em  vez  de  adotar  a  atitude  de  classificar  tudo  como  preto  ou branco, lembre‐se de todas as matizes intermediárias que podem ser  contempladas.  Quando  algo  não  dá  certo,  procure  atribuir uma nota entre 0 e 10, para distinguir melhor os prós e contras de um evento ocorrido. 

e) Faça uma pequena pesquisa de opinião

Confira com outros se seus próprios pensamentos e atitudes são realistas.  Por  exemplo,  se  você  acha  que  não  é  normal  ficar nervosa  ao  falar  em  público,  pergunte  a  outros  se  já  sentiram nervosismo nessa  situação – e acabará descobrindo que muitos dos seus temores são compartilhados por um grande número de pessoas. 

f) Descreva situações com outras palavras

Procure  usar  termos  que  são menos  intensos  e  carregados  ao avaliar ou descrever uma situação. Por exemplo, quando você se pega dizendo “foi burrice  ter  feito aquilo”, delete a  frase, volte atrás e reformule assim: “teria sido melhor se eu não tivesse feito aquilo  daquele  jeito”.  Isso  diminui  a  carga  emocional  e  abre  o leque para cogitar outras opções.  

g) Não assuma toda a culpa

Em vez de automaticamente assumir que você faz tudo errado e que portanto tudo é culpa sua, pense em todos os outros fatores que podem ter contribuído para uma dada situação. Focalize seu pensamento na solução do problema, em vez de gastar toda sua energia em se culpar e se martirizar. 

h) Não atribua toda a culpa aos outros

Por outro  lado, não procure  se  isentar de  toda  a  culpa por um evento.  Analise  onde  você  pode  ter  contribuído  de  forma 

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negativa,  para  que  você  possa  tomar  atitudes  melhores  da próxima vez.

i) Analise o custo-benefício

Faça  uma  relação  de  todas  as  vantagens  e  desvantagens  de adotar ou nutrir um dado sentimento –  isso é aplicável também com  relação  às  crenças problemáticas,  conforme  veremos mais adiante. Essa análise poderá  lhe  trazer algumas  surpresas – por exemplo,  um  aparente  benefício  de  ficar  atolada  na  tristeza  e melancolia (sim, às vezes é por opção mesmo da própria pessoa) é  que  é mais  fácil  lamentar  do  que  tentar  ser  feliz.  Você  pode acreditar que, quando está infeliz, não tem o que perder, mas, se está feliz, tem tudo a perder. E assim acaba bancando a vítima, o que não lhe traz os resultados desejados.

3. Libertando-se de ressentimentos  É  importante  levar  em  conta  que  viver  eternamente  numa montanha  russa  de  emoções  é  altamente  cansativo.  Afinal  de contas,  você  está  lutando  contra  o  mundo  –  e  muitas  vezes contra si mesma ‐ o tempo todo. Se você se sente continuamente ameaçada,  insegura,  criticada,  mal‐amada,  pouco  valorizada, incompreendida, etc., e ainda tem que lutar para tentar controlar suas explosões emocionais, seus fortíssimos impulsos, sua raiva e revolta,  e  talvez  até  seu  ímpeto  de  beber,  se machucar,  tomar drogas,  buscar  consolo  em  sexo  casual,  e  assim  por  diante,  é compreensível que você esteja exausta.  A  sugestão  é  que,  antes  de mais  nada,  você  busque  um  grau maior de aceitação – aceitação do fato de que essas dificuldades existem sim, mas que você não precisa despender tanta energia se  debatendo  contra  as  ondas mais  fortes, mais  avassaladoras. Você pode se manter mais próxima a uma margem mais segura, enquanto  se  fortalece  e  aprende  a  lidar  melhor  com  as turbulências. Assim  você  pode  se  livrar  de  um  pouco  da  culpa, mágoa,  desejo  de  autopunição,  vergonha  e  tristeza  que  você 

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carrega.  E  consegue  aos  poucos  aceitar  também  que  existem elementos fora do seu controle que contribuíram para que você chegasse onde está agora.   Você  provavelmente  tem  motivos  muito  válidos  para  guardar alguns  rancores  do  passado  com  relação  aos  outros  (veremos essa  questão  mais  adiante),  assim  como  talvez  sinta  muita vergonha por coisas que você mesma tenha feito.   A  próxima  vez  que  você  estiver  pensando  coisas  ruins  sobre  si mesma, tente fazer o seguinte:  1. Comece  aos  poucos  a  assumir  responsabilidade  por  ações 

que  você  agora  reconhece  tenham  sido  prejudiciais  e/ou indesejáveis  –  com  relação  a  outros  ou  a  si  mesma.  Se possível, procure pedir perdão se você magoou alguém. E se você mesma se prejudicou, peça desculpas a si mesma. 

 2. Lembre‐se  de  que  você  nem  causou  nem  pediu  essa 

predisposição à alta sensibilidade emocional. Seus problemas comportamentais são o resultado de um conjunto de fatores inter‐relacionados, conforme já detalhado acima. 

 3. Aceite  que  você  não  pode mudar o  passado,  nem  desfazer 

suas  ações  nem  dos  outros.  Se  você  ficar  presa  aos ressentimentos  e  arrependimentos  do  passado,  isto  lhe impedirá  de  avançar  na  sua  recuperação.  Não  fique  se criticando, se recriminando, nem se deixe assumir o papel de vítima, de coitada. Você  tem que  focar no  futuro – nas suas metas, na sua busca de recuperação e uma vida melhor. 

 4. Para conseguir chegar a um ponto de maior auto‐aceitação e 

auto‐perdão,  é  útil  você  dizer  a  si mesma  algo  como:  “Ok, estou  onde  estou.  Mas,  daqui  para  a  frente,  vou  dar pequenos  e  constantes  passos  para  construir  uma  vida melhor.  Não  vou  ficar  me  recriminando  se  eu  tiver  algum 

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revés.  Continuarei  firme  no  meu  propósito  de  busca  de melhora.” Você  tem muito mais poder do que  imagina. Seja paciente  consigo  mesma,  não  fique  se  comparando  aos outros, concentre‐se nas suas metas.   

  E  ‐ quanto a perdoar os outros? Talvez você  tenha  sido alvo de muitos  abusos  e  injustiças,  e  tenha  sofrido muitas decepções  e maldades  nas mãos  de  pessoas  próximas,  amadas,  da  própria família.  Isso  infelizmente  acontece  com muitas  pessoas  que,  já tendo  nascido  com  as  vulnerabilidades  da  alta  sensibilidade emocional,  chegam  a  desenvolver  alguns  sintomas  ou comportamentos borderline.  

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Primeiro, é  importante frisar que perdoar não significa de forma alguma  que  você  vá  considerar  os  atos  cometidos  contra  você 

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como  aceitáveis ou  justificáveis.  E  nem  significa  que  você  deva menosprezar ou minimizar a  importância do que aconteceu com você. Mas o essencial é  contemplar que a grande vantagem de perdoar é que isso lhe permite livrar‐se do fardo da raiva, do ódio, e/ou  desejo  de  vingança  que  você  carrega  o  tempo  todo,  algo que  prejudica  somente  a  você.  Como  dizem,  é  como  se  você quisesse  jogar brasas quentes nos que  te magoaram  e  feriram, sendo que a única pessoa que se queima e sofre é você mesma.  De  início, você pode considerar essa tarefa de praticar o perdão impossível de ser realizada. Sem dúvida, o processo de perdão é complicado,  demorado,  e muitas  vezes  implica  em  dois  passos para frente e um para trás. Mas aqui estão algumas dicas que lhe poderão ser úteis neste trabalho:  1. Sempre  que  a  imagem  da  pessoa  que  lhe  ofendeu  ou 

magoou, ou do evento doloroso,  vier  à  sua mente, procure imediatamente  substituí‐la por outra  imagem – pode  ser de um  artista  de  cinema,  um  animal  de  estimação,  um  bom amigo,  um  santo  ou  anjo  de  guarda,  um  personagem  de desenho animado (como o Rei Leão em cima da montanha) – a escolha é puramente pessoal, deve ser algo que  lhe venha espontaneamente.  O  importante  é  que  você  possa rapidamente sobrepor essa imagem para amenizar a carga de raiva ou ódio ou  ressentimento associada àquela pessoa ou evento,  e  permitir  uma  mudança  de  enfoque  e  a concentração  imediata em algo diferente, positivo, benéfico. Ao fazer  isso consistentemente, você verá que o sentimento negativo  associado  àquela  pessoa  ou  acontecimento  vai  se diluindo, não mais gerando aquele nó de ansiedade e revolta no seu âmago, no seu plexo solar, e não mais lhe dominando.  

 2. Aos  poucos,  você  começará  a  se  sentir  mais  inteira  e 

protegida, sem voltar ao mesmo grau de vulnerabilidade ou impotência toda vez que relembra algo ruim do passado. Não entregue o seu poder aos outros. Procure não alimentar a sua 

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raiva  ‐  pelo  contrário,  imagine  que  você  está  a  beira‐mar, segurando  um  punhado  de  areia,  e  aos  poucos  você  solta essa  areia,  esses  grãos  de  raiva  e  ressentimento,  que  são levados pelas ondas, lavando a sua alma.  

 3. Voce  poderá  encarar  o  perdão  como  um  desapego  do 

passado, e  lembrar‐se de um outro aspecto que merece  ser considerado:  ao  alimentar  ressentimentos  contra  alguém, estamos julgando aquela pessoa segundo os nossos próprios conceitos – NÓS achamos que ela fez algo errado e por  isso merece  castigo  ou  retribuição  ou  algo  semelhante.  Mas  a rigor não temos o direito de julgar os outros segundo nossos critérios  (embora  alguns  critérios  éticos  obviamente  sejam universais)  –  e  isto  se  aplica  também  aos  “erros”  que cometeram  –  portanto,  deixe  que  o  tempo,  ou  a  justiça divina, etc. cuidem dessa parte. Livre‐se desses rancores para que você possa deixar de ser uma vítima e começar a assumir seu  papel  verdadeiro  de  guerreira  do  bem,  alguém  que conseguiu  e  vai  continuar  conseguindo  superar  grandes dificuldades. 

 4. Sugestões de outras pessoas para lidar melhor com seus pensamentos negativos:  

• Procuro viajar ao meu âmago, buscar um nível de energia onde eu mesma sou a luz que procuro, a felicidade que desejo, o amor que me falta, a abundância que almejo. Ao me tornar essas coisas, eu as atraio para mim, elas se tornam parte de mim.

• Levanto a cabeça, olho em volta, vejo que tem tanta

gente em condição pior do que a minha, e depois procuro saber o que posso fazer para ajudá-las.

• Eu sofro de depressão e ansiedade desde que me

lembre. O que mais ajuda a melhorar meu estado de espírito é fazer as coisas que realmente gosto – mexer com animais, visitar ou conversar com uma amiga “pra

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cima”, ler e rezar, sair para dar uma caminhada, fazer aulas de algo interessante que me enriquece.

• Eu paro tudo, tento aquietar meus pensamentos e

sentimentos, respiro profundamente, concentrando-me na minha respiração, penso em lugares e ocasiões tranqüilas e prazerosas, momentos bons da minha vida.

• Eu não tenho com quem conversar, portanto mantenho

um diário sobre os acontecimentos e pensamentos e emoções de cada dia. Eu não tenho o talento de me sentir magicamente melhor ao tentar me distrair. Vejo que muitos pensamentos negativos são relacionados às pessoas com as quais tenho que conviver, sem opção, e que me tratam como alguém inferior. A única coisa que eu consigo fazer é perseverar, sobreviver da melhor forma possível, sempre pensando: isto tudo também passará. É a única coisa que acho que posso dizer a mim mesma que é incontestável.

• Três pontos essenciais: substituir os pensamentos

negativos por positivos, aprender a relaxar, arrumar tempo para exercícios físicos. Isso ajuda a manter a esperança viva.

• Para ajudar a fazer passar a raiva de algo no passado

ou presente, imagino uma mão serena, carinhosa e refrescante pousada sobre minha fronte.

• Meus pensamentos negativos geralmente são

associados a ressentimentos sobre o passado ou medos sobre o futuro. Assim, procuro trazer minha atenção para o presente, conversando com alguém ou me envolvendo em alguma tarefa. Também descobri que ao perdoar outros e pedir perdão a carga de pensamentos negativos diminuiu bastante. Também tenho que assumir responsabilidade pelo que faço, e não culpar os outros.

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• Sugiro sair de onde você está se sentindo deprimida, pois quando a gente tá sozinha ou sem nada para fazer, tudo fica mais pesado. Mudar de ambiente ajuda demais – você pode ir ao supermercado, ao shopping, nem que seja somente para olhar vitrine.

• Uma coisa que descobri que melhora o meu ânimo é

responder positivamente quando alguém me pergunta – como vai? Mesmo me sentindo deprimida e triste. Criei esse hábito, e o meu sorriso acabou tornando-se autêntico, uma parte de mim.

• Eu imagino uma bolha protetora em volta de mim, que

não deixa passar as palavras que machucam, as críticas que ferem, os olhares que magoam. Assim me sinto protegida e tenho tempo para reconectar com minha essência antes de reagir. Como dizem em um filme – eu sou a dona da minha alma.

 

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IX. APRENDENDO A CONVIVER MELHOR COM OS OUTROS   Todos  nós  queremos  conviver  de  forma  harmoniosa  e gratificante  com  nossos  parentes,  amigos,  colegas,  namorados, maridos, todas as pessoas importantes na nossa vida.  Mas, para muitas pessoas com alta sensibilidade emocional, isso é muito mais difícil do que parece. Portanto, é  importante buscar formas  não  só  de  entender  melhor  suas  próprias  emoções  e reações, como também entender como seus comportamentos e suas ações afetam os outros. Aos poucos você pode aprender a ser menos reativa e defensiva, adquirindo novas habilidades que lhe trarão ótimos resultados.  A  primeiríssima  coisa  a  ser  enfatizada  é  algo  óbvio,  porém facilmente esquecido – as opiniões, os pensamentos, as crenças e as  emoções  das  outras  pessoas  não  estão  necessariamente alinhadas com as suas. Você não deve partir do pressuposto de que elas pensam e sentem de forma  igual a você, pois cada uma tem a sua história e sua bagagem e o seu momento.  Se você não procura se colocar no  lugar delas e compreender a motivação e situação delas, você corre um risco real de ofender, desrespeitar, magoar ou irritar as outras pessoas. Às vezes, quem sabe,  você  pode  também  sobrecarregar  os  outros  com  longos relatos  sobre  os  seus  próprios  problemas  –  problemas  que refletem  as  suas  preocupações  e  prioridades, mas  que  podem estar distanciados do dia a dia da outra pessoa – portanto pode haver  um  choque  ou  descompasso  entre  a  relevância  relativa para os dois lados.   Assim  sendo,  é  importante  começar  a  praticar  algumas habilidades  de  relacionamento  interpessoal,  e  ficar  antenada naquilo  que  preocupa,  interessa,  irrita,  magoa  ou  agrada  os 

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outros,  mesmo  que  não  explicitem  esses  sentimentos  e motivações.   Ao  se  tornar  mais  sensível  às  necessidades  emocionais  dos outros, você estará mais preparada para:  

• Sentir empatia • Entender melhor as ações dos outros • Ajustar seu próprio comportamento às atitudes e reações dos outros na medida adequada • Antecipar como que os outros provavelmente reagirão ao que você diz ou faz • Distinguir  e  compreender  melhor  nuances  de  fala  tais como  sarcasmo,  humor,  indiretas,  gozação  amigável,  duplo sentido, etc.  

 Se  você  tem  o  hábito  –  consciente  ou  não  –  de  projetar  nos outros  seus  próprios  sentimentos  negativos,  com  o  intuito  – geralmente  inconsciente  –  de  aliviar  a  sua  própria  angústia  e desconforto  ao  “passar  adiante”  para  outros  o  que  está  lhe incomodando,  isso  fará com que você  realmente acabe  levando tudo para o campo pessoal, atrapalhando seus relacionamentos. Isto  lhe  induz a  interpretar de  forma errônea uma série de atos alheios  que  podem  ser  inteiramente  bem  intencionados  e inocentes e que não têm nada, mas nada mesmo, a ver com você pessoalmente.   Se  você  se  preocupa  muito  com  sua  própria  aparência,  por exemplo,  ou  está  irritada  com  alguma  coisa,  você  pode  acabar criticando  os  outros  neste  sentido,  para  que  você  não  precise lidar  com  sua  própria  vergonha,  culpa,  angústia,  desconforto, insatisfação.  E,  como  consequência,  as  pessoas  que  convivem com você ficam surpresas com esses “ataques” que lhes parecem vir do nada, e podem sentir‐se injuriadas e ofendidas.  

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Para  que  você  possa  reduzir  essa  tendência  de  projetar  suas emoções  sobre  os  outros,  você  pode  experimentar  algumas atitudes diferentes – se possível, com o suporte de um terapeuta experiente.  O  primeiro  passo  consiste  em  aprimorar  a  sua  percepção  de  si mesma  –  verificando  aquela  lista  de  emoções  no  capitulo  V  e sendo honesta na sua avaliação. E, se você estiver sendo tomada por  raiva, por exemplo,  repare  também nas suas  reações  físicas (aperto no peito,  tensão nos ombros ou pescoço, contração da mandíbula,  aceleração  do  ritmo  cardíaco,  rubor  no  rosto,  etc.) pois são sinais de alarme de que você possa estar prestes a dizer ou  fazer  algo negativo ou ofensivo  – portanto,  respire  fundo  e procure controlar sua reação.  Ao conseguir conter sua reação, pergunte‐se:  • Será que na realidade estou chateada é comigo mesma? • Será que fiz algo recentemente de que me envergonho, que 

me incomoda? • Será que estou apreensiva com alguma coisa? • Será que estou preocupada que alguém vai me abandonar?  Se  a  resposta  a  alguma  das perguntas  acima  for  sim,  sua  raiva provavelmente tinha mais a ver com você mesma do que com os outros.  Então,  em  vez  de  atacar  ou  contra‐atacar  alguém impulsivamente,  pratique  algumas  dessas  respostas “alternativas”,  que  são  menos  danosas  aos  seus relacionamentos:  • Desculpe,  estou  meio  transtornada  agora,  depois  a  gente 

conversa mais, ok? • Entendo onde você quer chegar, mas não estou pronta para 

conversar sobre isso agora, ok?  

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Ficar irritada e zangada com os outros por causa de seus próprios sentimentos  de  vergonha  e  raiva  é  um  hábito  que  você  talvez tenha desenvolvido ao  longo dos anos. Não é de uma hora para outra que você vai conseguir mudar  isso – portanto não espere resultados  imediatos, mas entenda que você está aos poucos se reprogramando para ter uma vida melhor.  Ao  conversar  com  os  outros,  é benéfico  aprender  a  fazer  um revezamento  nos  seus  diálogos. Tente  habituar‐se  a  fazer  uma pausa de vez em quando (procure visualizar  a  tecla  do  controle remoto de DVD: PAUSE/ II) para  dar um tempo para a outra pessoa se expressar,  concedendo  a  ela  a mesma  atenção que  você mesma gostaria  que  receber.  Com  isto você  não  somente  vai  melhorando  e  consolidando  seus relacionamentos,  como  também  vai  aprendendo mais  sobre  as pessoas à sua volta e enriquecendo a sua vida.   Para  ajudar,  você  pode  fazer  algumas  perguntas  para  que  a conversa flua de forma mais natural e agradável. O  importante é que  você  demonstre  interesse  –  no  começo  pode  ser  meio forçado da sua parte, mas aos poucos vai ficando cada vez mais espontâneo  e  genuíno.  Pergunte  sobre  os  pensamentos  e experiências da outra pessoa, preste atenção de verdade no que ela  diz,  olhando‐a  nos  olhos.  Não  leve  as  respostas  da  outra pessoa  de  forma  pessoal,  nem  tente  ficar  imaginando  e procurando  segundas  intenções  nas  suas  palavras.  Procure controlar  o  seu  (antigo)  impulso  de  se  defender,  e  demonstre uma curiosidade amigável, empática.  Por exemplo, você pode dizer:  

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• Que interessante! – conta mais! • E aí, o que você fez? • Não diga!! Que situação, heim? • É mesmo? (no tom correto para encorajar o papo).  Procure evitar qualquer nuance de sarcasmo ou crítica, para que você possa dar continuidade a uma boa troca de idéias. Espere a pessoa  completar  suas  frases,  seus  pensamentos,  resistindo  ao ímpeto de interrompê‐la com pressa de voltar para SEU assunto.  É muito  comum  uma  pessoa  com  alta  sensibilidade  emocional interpretar erroneamente as expressões, palavras e atitudes dos outros, devido a  todos os motivos  já anteriormente explicados. Isto  é,  se  você  já  parte  de  uma  pressuposição  negativa,  uma atitude negativa leva a outra.   Procure  relembrar  algumas  conversas  suas  que  tiveram  um desenrolar  indesejável, para ver se você descobre em que ponto você  levou  alguma  coisa  pessoalmente  de  forma  indevida, gerando com isso um desentendimento, uma briga, uma ruptura.  Por exemplo, pequenas  frases  totalmente  inofensivas e neutras dos  outros  podem  desencadear  uma  onda  de  raiva  e ressentimento dentro de você – se você as levar pessoalmente.  O que você sente não é nem certo nem errado, é simplesmente o que você está efetivamente sentindo – mas você deve procurar se  esforçar  para  reconhecer  esses  sentimentos  e  amenizá‐los antes de agir ou reagir com base neles, imprimindo cada vez mais objetividade aos seus diálogos.   Provavelmente,  ao  longo  de  sua  vida  você  criou  defesas  para conseguir  lidar  com  o  mundo  que  seu  sistema  biológico  e emocional de modo geral interpreta como sendo hostil, perigoso, ameaçador e negativo – e  isto  faz  com que  você  fique  a maior parte  do  tempo  “com  um  pé  pra  trás”  –  e  reaja  de  forma 

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instintivamente  defensiva  a  qualquer  percepção, por mais  vaga que seja, de uma crítica ou ameaça em potencial.   Sua forte reação, embora perfeitamente explicável do seu ponto de  vista,  muitas  vezes  pega  os  outros  de  surpresa,  por  não entenderem essa sua bagagem de reatividade e  impulsividade, e você acaba afastando as pessoas sem querer. Voce pode ficar tão envolvida e dominada pelas suas emoções, que não repara direito as reações dos outros às suas palavras e seus atos. Isso gera uma quebra  na  comunicação,  um  desencontro  infeliz  que  pode  ter sérias conseqüências para seus relacionamentos.  Quando você  fica muito  focada em  seus próprios problemas ao conversar com os outros, podem realmente começar a “desligar” e  acabar  fugindo  da  sua  presença.  Se  isso  acontece,    não  tem nada a ver com o seu valor como pessoa, não significa que você “não presta”, que você não tem nada importante para contribuir ao relacionamento, etc. Simplesmente significa que você também tem  que  fazer  a  sua  parte  e  começar  a  prestar mais  atenção como  que  seu  comportamento  afeta  os  outros,  buscando melhorar esse convívio.  Comece observando as expressões faciais das pessoas à sua volta quando  estão  conversando  entre  si  –  veja  se  você  consegue distinguir quando estão  irritadas, felizes,  impacientes, perplexas, neutras,  animadas,  cansadas,  entediadas,  e  assim  por  diante. Depois de praticar essa observação objetiva, como espectadora, comece a aplicar esse discernimento aos seus próprios diálogos com os outros.   Cabe um comentário aqui – todos conhecemos algumas pessoas que têm o hábito de conversar  interminavelmente, bastando um simples  ”hmmm”  ou  “é  mesmo”  para  “dar  corda”  a  um monólogo  por  horas  seguidas...  Mas  isto  somente  serve  para lembrar  como  isso pode  ser  cansativo, e  lhe dar mais  incentivo para evitar o mesmo erro. 

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 Então  a  questão  é  trabalhar  sua  reação  automática  de  defesa contra críticas e ataques verbais percebidos para evitar que você solte  palavras  hostis,  ofensivas,  sarcásticas,  etc.  no  “calor  do momento”.  Provavelmente  sua  reação  se  baseia  na  famosa fórmula de que a melhor defesa é o ataque. E quando você está com  raiva  –  quando  qualquer  pessoa  está  com  raiva  –  não consegue  raciocinar  direito,  não  consegue  ser  ponderada  e objetiva.  Vamos  repetir  algo  essencial:  não  leve  tudo  pessoalmente.  Se alguém atrasa, se alguém entra na sua  frente na  fila, se alguém adia um compromisso, etc.,  isso não é  intencionalmente dirigido contra  você.  Para  lhe  ajudar  a  ver  as  coisas  de  forma  mais impessoal, tente o seguinte:  1. Pare e respire fundo e conte até cinco. 2. Depois pergunte a si mesma se o que aconteceu ou  foi dito 

era  realmente dirigido  contra  você ou não  tinha nada  a  ver com você 

3. Avalie se ficar com raiva e extravasar essa raiva (geralmente em  cima  de  pessoas  “inocentes”)  vai  lhe  trazer  algum beneficio 

4. Pense  se  sua  raiva  vai magoar  a  outra  pessoa  –  ou  causar mágoa e remorsos em você mesma 

5. Diga  a  si  mesma  –  “é,  às  vezes  coisas  ruins  acontecem, comigo e com todo mundo, a vida é assim mesmo, bola pra frente”. 

 E procure usar a tática do Grilo Falante para isso também – isto é, imagine um amigo do seu lado lhe dizendo:  1. Vai com calma, senão você vai acabar falando o que não quer 2. Vai ver que a outra pessoa falou isso sem maldade nenhuma 3. Diga alguma coisa gentil, positiva, em vez de explodir, mude 

radicalmente de enfoque 

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4. Você gostaria que alguém falasse para você aquilo que você está querendo botar para fora neste momento de raiva? 

 Não que você  consiga  se  controlar e  reprogramar de uma hora para  outra. Mas  esse  tipo  de  diálogo  interno, depois  de  automatizado,  ajuda  muito  a  criar aquela pausa  (relembrando a  tecla PAUSE II)   tão essencial entre o surgimento de sua emoção ‐ e suas palavras e atitudes subsequentes. Assim, você vai ganhando mais confiança, e melhorando  sua auto‐estima e a qualidade de seus relacionamentos.  Outra  tática, um pouco mais “avançada”, é aprender a ouvir de verdade o que a pessoa está dizendo a você, e  conseguir  ter a objetividade  de  extrair  da  fala  uma  pequena  parte  com  a  qual você consegue  lidar, e  responder somente à mesma. Assim, em vez de alimentar e aumentar o tom da discórdia, você desarma a “bomba”  proativamente, mudando  de  enfoque.  Isto  não  quer dizer  que  você  deva  concordar  com  tudo  sem  estar verdadeiramente  de  acordo, mas  sim  procurar  algo  na  fala  da outra  pessoa  com  que  você  honestamente  pode  concordar,  e trabalhar em cima disso. Responder sem revidar, mas colocando a sua opinião e posição.  Por  exemplo,  se  seu  parceiro  diz  algo  como  –  você está sempre largando louça suja na pia! – respire fundo, e procure responder algo como – entendo que você não goste disso, não é legal, mas às vezes tenho outras prioridades. Vamos ver se a gente chega num acordo sobre isso? Parece difícil – você pode até já estar sentindo o sangue ferver ao pensar numa  situação dessas!! Mas você vai conseguir,  sim, aos poucos, ir aceitando o fato de que ninguém é perfeito, nem você nem o outro,  e que o  convívio  exige  flexibilidade de  ambos os lados,  e,  se  você  ceder  um pouquinho  (de modo  razoável) não será o  fim do mundo. Você não  vai perder  a  sua  identidade ou 

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autoridade. Vai aprender a dialogar, e se expressar de forma mais diplomática.   E quando você  realmente quer  reclamar de algo que você acha injusto, ou quer mudar o  rumo de um  relacionamento, ou quer colocar  seu  ponto  de  vista,  procure  fazer  isso  de  uma  forma menos  agressiva,  mais  ponderada,  dando  abertura  para  um verdadeiro diálogo, praticando abordagens como:  

• Eu  posso  estar  enganada, mas  parece  que  você  está chateado comigo?  

• Eu posso estar sendo hiper sensível, mas não consigo lhe responder direito quando você grita comigo ou usa esse tom de voz. 

• Estou  muito  cansada  –  seria  muito  legal  se  você pudesse me ajudar com essa tarefa. 

 Esses preâmbulos predispõem os outros a  lhe dar mais atenção, mais  compreensão,  e  você ganha duplamente, porque  também sente o alívio de conseguir expressar suas próprias necessidades de uma forma mais produtiva e calma.  Quanto a relacionamentos amorosos, a recomendação geral seria de  você  primeiro  praticar  a  consolidação  de  suas  habilidades interpessoais  com  pessoas  que  não  são  tão  próximas  a  você, onde não tem tanta carga emocional, antes de tentar estabelecer relacionamentos  mais  íntimos  e  intensos,  pois  estes  exigem muito mais  de  você.  Ao  desenvolver mais  autoconfiança,  verá que a tendência é atrair pessoas que lhe façam bem, ao contrário de antes.  A primeira  coisa  a  fazer  é  aprender  a ouvir  – ouvir  com  toda  a atenção,  com  o  coração  aberto,  com  calma  e  paciência  e  boa vontade.  Se  você  acha  que  já  tem  esse  dom,  ótimo  –  mas verifique  se  os  outros  concordam  com  você,  e  não  fique  com raiva se a opinião deles for contrária!!! 

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 Segundo  –  procure  elogiar  os  outros,  praticando  isso frequentemente. Você mesma vai curtir  isso e vai se sentir mais segura.  Não  use  generalidades  como  –  você é a melhor pessoa do mundo, porque coisas desse tipo geralmente não convencem, não tem  o  efeito  desejado.  Procure  elogiar  aspectos  específicos, como: nossa, gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil; ou – essa comida que você preparou está deliciosa, que temperos que você usou? (mas não dê  ouvidos  ao  diabinho  dentro  de  você  que  sussurra  no  seu ouvido  lhe  incitando a acrescentar algo negativo  logo depois do elogio – tipo: gostei do jeito que você conduziu aquela reunião difícil, ainda mais depois do desastre que foi a última, ou essa comida que você preparou está deliciosa, pena que você não cozinha assim o tempo todo).  As  pessoas  à  sua  volta  vão  criar mais  confiança  com  relação  à previsibilidade  de  suas  atitudes,  e  esquecerão  os  diálogos ríspidos e críticos do passado, curtindo mais a pessoa que você realmente é, respondendo bem às suas palavras positivas e cada vez mais sinceras.  

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X. CONSOLIDANDO SUA IDENTIDADE  Suas  reações  baseiam‐se  em  parte nas  suas  crenças.  E  é  importante distinguir  que  você  é  uma  coisa,  e suas crenças são outra.  1. Crenças problemáticas  As  pessoas  desenvolvem  seus sistemas  de  crenças  na  infância,  à  medida  que  procuram entender  e  lidar  com  o  mundo  ao  seu  redor.  Assim,  muitas crenças giram em torno da forma em que foram criadas e como foram  tratadas pelos seus pais, professores, amigos e parentes. Certos  eventos marcam  profundamente  a  criança, mas  podem passar  despercebidos  ‐  ou  ignorados  intencionalmente  ‐  pelos adultos  ao  seu  redor.  Muitas  pessoas  com  alta  sensibilidade emocional  e/ou  borderline  tiveram  infâncias  caóticas, imprevisíveis, sujeitas a influências e informações conflitantes.   Portanto, é  compreensível que  suas  crenças possam variar com base  nas  suas  experiências,    desencadeando  emoções avassaladoras.  Mas  agora  que  você  está  na  idade  adulta,  é importante tentar desenvolver uma visão mais objetiva das suas crenças e tornar‐se mais consciente de seu poder para mudá‐las.  2. Identificando suas crenças  Para que você possa chegar a uma definição mais clara de suas crenças  problemáticas  (um  assunto  extremamente  vasto, abordado aqui de forma muito sucinta e superficial), que podem incluir coisas do gênero: minha mãe não me ama, sempre fui desajeitada, nasci na família errada, meu pai não queria que eu tivesse nascido, etc. etc.), experimente o seguinte: 

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1. Descreva uma crença que lhe incomoda e atrapalha sua vida e seus comportamentos 

 2. Anote  uma  ou mais  lembranças  de  eventos  de  sua  infância 

que  podem  ter  contribuído  para  o  desenvolvimento  desta crença  

 3. Anote alguns eventos ou acontecimentos na sua vida hoje em 

dia que tendem a reforçar essa crença, e observe se  isso  lhe transporta de volta à sua infância ou não 

 4. Fique se lembrando que hoje você é adulta, e que os eventos 

que  desencadeiam  suas  emoções  hoje  geralmente  não  são tão  significativos  quanto  os  acontecimentos  que  geraram essas  crenças  na  sua  infância.  Lembre‐se  também  que  sua mente  verá  cada  vez mais  claramente  a  distinção  entre  os eventos passados e os presentes.  

 Essa percepção melhor da distância e diferença entre o passado e o presente somente virá com o tempo, mas é essencial para que você  possa  desenvolver  mais  segurança  e  autoconfiança.  Um aspecto  que  talvez  seja  um  obstáculo  no  seu  progresso  é  que uma parte de nós enxerga essas crenças como sendo benéficas, e assim não quer se livrar das mesmas.   Então, buscando maior objetividade, você pode fazer uma análise de custo/benefício de suas crenças  (assim como em  relação aos sentimentos,  conforme  vimos  acima).  Talvez,  ao  fazer  esse exercício,  você descubra mais  rapidamente  se  suas  crenças  são tão  vantajosas  quanto  você  pensa  ou  se  estão  lhe  sendo mais prejudiciais do que você percebia.  1. Escolha uma crença que é muito  forte em  sua vida – como, 

por  exemplo,  que  o mundo  que  lhe  cerca  é  extremamente perigoso. 

  

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2. Descreva com calma  todas as  formas possíveis em que esta crença lhe parece benéfica e lhe proteger do mal. 

 3. Anote todas as formas em que você percebe que essa crença 

possa  estar  lhe  sendo  prejudicial.  Por  exemplo,  se  você realmente acredita que sua crença sobre um mundo perigoso à sua volta gera uma cautela que lhe protege de perigos, você pode  questionar  se  isso  efetivamente  funciona.  Em  outras palavras,  temos  que  reconhecer  que  não  há  como  evitar todos os perigos possíveis da vida, sejam raios, acidentes, ou outros  imprevistos.  Então,  sua  crença  na  importância  de  se evitar todo e qualquer risco está na realidade  lhe  impedindo de viver uma vida plena. 

 4. Volte e analise tudo que você escreveu.   Veja como isso pode ser aplicado a relacionamentos.  Se você acredita que  todas as pessoas  importantes na  sua vida vão lhe abandonar mais cedo ou mais tarde, você pode achar que essa atitude precavida lhe traz os seguintes benefícios:  • Posso  ficar  alerta  para  o  primeiríssimo  sinal  de  que  uma 

pessoa está perdendo o  interesse em mim. Assim não vai me pegar de surpresa. 

• Não  vou  sofrer  tanto  seu  eu  estiver  preparada  para  o inevitável. 

• Essa crença permite que eu me agarre às pessoas, e elas vão achar que sou super dedicada. 

 Mas,  ao  analisar  esses  pontos  (e/ou  discuti‐los  com  seu terapeuta),  você  poderá  descobrir  que  os  custos  são  bem maiores do que os benefícios. Veja:  • Esta crença me torna pegajosa e as pessoas não gostam disso. 

Pego tanto no pé das pessoas que elas me evitam. 

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• A verdade é que ficar esperando que alguém me  largue dói o mesmo tanto que não ficar nessa expectativa. 

• Muitas  pessoas  já  me  disseram  que  a  minha  presença  é sufocante. 

• Esta crença me torna excessivamente dependente dos outros. • Acho  que  essa  crença  aumenta minha  probabilidade  de  ser 

abandonada pelos outros.  3. Reprogramando suas crenças  Após analisar suas crenças, você pode adotar a prática de  fazer planos para torná‐las mais positivas e produtivas:  Auto-valia: quando eu quiser algo, vou avaliar se é bom para mim a  longo  prazo  e  não  vai  prejudicar  os  outros  à  minha  volta. Sempre  que  possível,  dentro  destes  critérios,  vou  começar  a expressar  os meus  desejos,  de  uma  forma  diplomática  porém firme.  Auto-aceitação:  vou  ficar me  lembrando  que  sou  humana,  que erro  como  todo mundo  erra,  e  vou  adquirir  o  hábito  de  pedir desculpas quando eu errar.  Relacionamentos:  vou  começar  a  participar  de  alguns  grupos, matricular‐me  em  um  curso  interessante,  convidar  uma  colega para lanchar comigo.  Percepção dos outros: vou  fazer uma  lista do que considero as virtudes e os defeitos de certos amigos, para começar. Vou ver que  todo mundo  tem um pouco de cada. Vou pedir uma amiga confiável para me dar o ponto de vista dela, para poder comparar com o meu.   Insegurança: vou começar a assumir alguns pequenos riscos na minha vida, sempre mantendo a devida precaução. Vou começar 

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a sair mais, fazer caminhadas, vou sozinha mas vou evitar lugares que são obviamente perigosos.  Previsibilidade/controle:  vou  me  aventurar  a  fazer  algumas coisas que eu achava que não dava conta. Vou preparar um plano alternativo (ou dois) caso as coisas não dêem certo. Vou começar a  prestar  atenção  nas  coisas  que  funcionam  e  nas  que  não funcionam, porque muitas vezes me esqueço de tudo que já deu certo até agora.  Para  lhe  ajudar  a  entender  melhor  suas  crenças  pessoais  e consolidar  o  seu  senso  de  individualidade  e  identidade  e  auto‐valia, é muito útil você ter um pequeno roteiro para identificar os seus principais valores, o que por sua vez lhe ajuda a definir suas metas de vida.   4. Identificando valores  Existem  algumas  estratégias  que podem ser usadas para  identificar seus valores e definir suas metas.  É muito útil e produtivo para  todos  nós parar de vez em quando e pensar  no que  realmente  queremos  da  vida  e  o que podemos  fazer para  conseguir  isso. Ao  focar  em metas de médio  e  longo  prazo,  você  adquire  mais  segurança  e determinação, e  isto ao mesmo  tempo  lhe ajuda a  lidar  com as dificuldades  do  dia  a  dia,  que  se  tornam  proporcionalmente menores graças à nova perspectiva.  Então,  como  sugestão  de  roteiro,  veja  os  valores  relacionados abaixo. Analise as categorias que têm mais a ver com você, pense bem nas suas respostas, e anote‐as. Marque os cinco valores que você  considera  mais  importantes,  depois  faça  nova  triagem  e reduza a lista para os três itens prioritários.   

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Ajudar os outros – esse valor faz parte da sua vida? Você gostaria de  passar mais  tempo  ajudando os outros  de  alguma  forma?  E como você pode ser mais compassiva consigo mesma?  Espiritualidade  –  quais  são  as  suas  crenças  espirituais? O  que você entende por espiritualidade? Como suas crenças ajudam ou impactam  a  sua  vida?  Você  está  conduzindo  sua  vida  em consonância  com  seus  valores  espirituais?  Que  mudanças  que você gostaria de fazer nesse sentido?  Posses  –  qual  a  importância  de  bens materiais  para  você? Que tipo de coisas você acha importante ter? Você tem o que precisa? Você tem o que quer? O que você sente que lhe falta?  Meio ambiente/natureza – você se preocupa com a preservação do meio  ambiente,  você  faz  reciclagem  e  coleta  seletiva,  você acha  isso  importante? Você gosta de curtir a natureza, de mexer com plantas e animais?   Trabalho  –  como  você  define  “trabalho”?  O  seu  emprego  ou serviço trazem realização pessoal e profissional? O que você acha que  poderia  fazer  de  diferente  para  aproveitar  melhor  seus talentos  e  conhecimentos?  Você  ganha  o  suficiente  para  se sustentar?  Você  depende  financeiramente  de  outra  pessoa? No seu trabalho você tem oportunidades para ajudar os outros e/ou compartilhar sua experiência? Tem reconhecimento?  Comunidade – O que você considera a  sua comunidade –  seus colegas  de  trabalho,  seus  vizinhos,  seu  bairro,  seus  grupos  de estudo? Como você se relaciona com sua comunidade? Você quer tomar parte mais ativa em organizações ou entidades que visam alguma meta que você considera importante?  Relacionamentos pessoais  –  você  está  em  algum relacionamento  amoroso  no  momento?  Você  já  perdeu relacionamentos importantes por causa de comportamentos tipo 

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borderline? Como você demonstra o carinho e a preocupação que você tem pelas pessoas que você ama? As pessoas que você ama lhe ajudam ou lhe magoam?   Família – quem é que faz parte de sua família, na sua concepção? Você ainda guarda rancores contra membros de sua família com relação  à  sua  infância  e  juventude?  O  que  você  acha  que  é importante para uma família, a curto e longo prazo?  Amizades  –  você  tem  amigos?  Você  se  sente  amparada  ou explorada  pelas  pessoas  que  você  considerava  ou  ainda considera como amigas? O que você acha mais importante numa amizade,  e  o  que  você  gostaria  de  ter?  Que  mudanças  você poderia fazer para conseguir isso?  Criatividade – o que  a  criatividade  representa para  você? Você encontra  maneiras  de  expressar  a  sua  criatividade?  Você  está satisfeita e realizada com essas formas? Você acha que tem muito mais para criar e compartilhar com o mundo?  Metas intelectuais –  qual o  valor  que  você  dá  ao  aprendizado contínuo ao  longo da vida? Você acha  importante estar  sempre lendo,  estudando,  analisando, pesquisando,  comparando  idéias, fazendo cursos, etc.? Você aproveita oportunidades que surgem para você crescer  intelectualmente? Você gostaria de  fazer algo novo ou diferente neste sentido?  Lazer e diversão – o que você faz para se divertir? Você gostaria de passar mais tempo curtindo a vida? Qual a sua idéia de “curtir a vida”? Você  tem hobbies que  são  importantes para você, que lhe preenchem? Você dá  valor  ao  lazer  em  vista dos benefícios que pode trazer para seu bom humor e sua vida?  Dinheiro – você está bem financeiramente? Você tende a gastar mais  do  que  ganha?  Você  está  fazendo  uma  poupança  para  o futuro?  Você  precisa  de  algumas  coisas  para  as quais  você  não 

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tem dinheiro? Tem alguma coisa que você poderia fazer agora ou no futuro próximo para melhorar sua situação financeira?  Saúde – como está sua saúde? Seu estado de saúde é importante para  você?  Você  contribui  ativamente  para manter  boa  saúde, comendo  bem,  fazendo  exercícios  ou  caminhadas,  procurando dormir bem? Tem algumas coisas que fazem mal à sua saúde que você poderia eliminar ou mudar?  Aparência  –  você  está  satisfeita  com  sua  aparência?  Sua aparência é importante para você? A aparência dos seus amigos é importante  para  você?  O  que  você  gostaria  de  mudar  na  sua aparência?  Você – o que você gosta em você mesma? Você está disposta a se aceitar? Você valoriza a honestidade? O que você não gosta em você?  Você  se  culpa  por  todos  seus  problemas  e  dilemas?  A aprovação dos outros é essencial para sua felicidade? Você acha importante estar sempre certa?  Não  fique  se martirizando  se  você  chega  à  conclusão  que  não está  vivendo  sua  vida  exatamente da  forma que  você gostaria. Essa  perfeição  não  existe.  O  importante  é  você  começar  a analisar e avaliar essa questão, e depois destacar as três primeiras áreas em que você quer se concentrar.  Isto  lhe permitirá definir se você está  indo no  rumo desejado e, por  outro  lado,  se  não  está  investindo  tempo  demais  em atividades que  lhe desviam deste rumo. E não se esqueça – nem tudo que a gente quer na hora é bom para nós a  longo prazo... Pense em ocasiões na sua vida que confirmam esse conceito.  5. Definindo metas  Aqui  estão  algumas  dicas  para  levar  em  conta  quando  você  se sentar para definir as suas metas. 

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1. Estabeleça metas  factíveis – por exemplo, apesar de querer acabar com a fome no mundo, você pode reduzir este escopo utópico, resolvendo trabalhar como voluntária em um projeto que oferece refeições para pessoas carentes. 

 2. Procure incluir idéias e atitudes que você pode incorporar no 

seu  dia  a  dia.  Por  exemplo,  se  você  se  propõe  a  ser mais prestativa,  você  pode  planejar  dedicar  um  pouco  de  seu tempo  cada  dia  à  prática  de  pequenos  atos  de  gentileza, telefonando para um amigo para bater um papo e dar uma força, ajudando outros de alguma forma. 

 3. Estipule coisas que você efetivamente quer fazer, e não coisas 

que  você  quer  deixar  de  fazer.  Por  exemplo,  não  coloque como meta:  nunca mais  ter acessos de  raiva. Ao  invés disso, coloque  uma meta  positiva:  praticar  regularmente  os meus exercícios de regulação emocional. (Isto está de certa forma relacionado com a programação neuro‐linguística, que sugere que nossas mentes gravam a mensagem  recebida sem  levar em  conta  a  palavra  de  negação  –  como  prova,  basta  você dizer para alguém: Não olhe para trás, que automaticamente a pessoa vai se virar para olhar para trás.) 

 4. Lembre‐se  que  você  pode  revisar  suas  metas  a  qualquer 

momento,  incluindo ou eliminando  itens ao  longo do tempo. As circunstâncias mudam, nossas prioridades também. Somos obras em constante evolução.  

 5. Enfoque as mudanças que você quer fazer na sua vida. Pense 

nas coisas às quais você gostaria de se dedicar mais.  Talvez  você  elabore  vários  rascunhos  –  não  importa.  Se  você quiser  pedir  opinião  de  seu  terapeuta  ou  um  amigo,  fique  à vontade. Para colocar suas metas no papel, você pode seguir os seguintes passos:  

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Coloque como títulos os três valores que você estabeleceu como prioritários.  Abaixo  de  cada  um,  escreva  uma  meta correspondente – veja alguns exemplos abaixo:  

Criatividade:  pretendo  aprender  a  pintar,  fazer  curso  de ikebana, experimentar receitas novas, etc. Trabalho:  vou  tentar  arrumar  um  emprego,  pois  quero  ser produtiva e ficar independente. Família: vou me esforçar para ser mais tolerante e paciente com a minha mãe. Saúde:  vou fazer todos os exames que o médico pediu até o final do mês.  Lazer:  vou  procurar  fazer  mais  programas  divertidos, planejar excursões, fazer dança de salão. Ajudar os outros: vou visitar um asilo de velhinhos uma vez por mês. Aparência: estou me sentindo um lixo, vou no salão dar uma melhorada no meu cabelo e vou me cuidar mais. 

 Na  primeira  passada,  por  exemplo,  você  pode  considerar mais importante  dedicar‐se  a  melhorar  sua  aparência,  trabalhar  as amizades,  e  receber  aprovação  no  trabalho.  Depois  de  algum tempo,  você  pode  descobrir  que  estas  opções  não  deram  os resultados esperados. Mudando  seu ponto de vista e aceitando algumas  limitações  e  enxergando  outras  oportunidades  e prioridades, você pode então redefinir suas metas.   Você  talvez  defina  outros  objetivos,  como:  pretendo melhorar meu  equilíbrio  emocional  ao  continuar  fazendo  terapia,  vou procurar  e  manter  um  emprego  menos  estressante  para conseguir  independência financeira, e vou ajudar outras pessoas com  problemas  emocionais  ao  trabalhar  como  voluntária.  Você assim sentirá que seus valores estão consolidados e alinhados, e ficará satisfeita em ter mais controle sobre sua vida.  

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A opção de trabalhar ajudando os outros ou de voltar a estudar acaba  sendo,  em muitos  casos, mais  importante  e  eficaz  para ajudar você a encontrar seu rumo e seu prumo, do que começar logo  a  tentar  melhorar  a  qualidade  e  estabilidade  de  seus relacionamentos amorosos. Pois em um ambiente de  trabalho e coleguismo você pode praticar novas abordagens aprendidas na teoria  e/ou  na  terapia.  Ao  se  ocupar  com  o  trabalho,  seja voluntário ou remunerado, você também tem menos tempo para ficar  ruminando  sobre  coisas  negativas,  e  vai  adquirindo  mais auto‐confiança e independência.   Entretanto, procure evitar um ambiente de trabalho estressante, com  condições  que  podem  piorar  em  vez  de  melhorar  sua situação.  Geralmente  é  melhor  pegar  um  serviço  de  meio‐expediente  primeiro,  ou  fazer  um  curso  avulso,  ou  assumir  um projeto  mais  curto,  caso  você  esteja  afastada  da  rotina  de trabalho ou estudo há mais tempo.   Aos  poucos,  com  paciência  e  persistência,  você  conseguirá realizar  suas metas  e  sentirá uma nova  satisfação. Para  lhe dar suporte  nessa  busca,  o  ideal  é  que  você  utilize  táticas  e ferramentas  para  se  colocar  num  estado  de  espírito  mais receptivo e tranqüilo, conforme sugerido a seguir.   

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XI. LIDANDO COM O ESTRESSE DA ALTA SENSIBILIDADE EMOCIONAL  Como  vimos,  a  pessoa  muito  sensível  emocionalmente  sente, mais  intensamente  que  outras,  que  está  cercada  por  perigos, ciladas,  ataques  pessoais,  críticas,  e  assim  por  diante.  Por conseguinte, as respostas naturais do seu organismo a um ataque percebido  fazem  com  que  seu  corpo  libere  hormônios  de estresse,  seu  batimento  cardíaco  acelere,  sua  respiração  fique mais  ofegante,  suas  pupilas  dilatem,  sua  digestão  fique  mais lenta,  e  assim  por  diante.  E  quando  estas  respostas  a  estresse ocorrem  com  muita  freqüência,  acabam  prejudicando  seu organismo de várias maneiras, podendo gerar: 

• fadiga • problemas gastrointestinais • doenças cardíacas • pressão alta • baixa do sistema imunológico  • dores  musculares  (costas,  pescoço,  ombros), 

enxaquecas • problemas sexuais • aumento ou perda de peso. 

 À  medida  que  os  danos  ao  seu  organismo  se  acentuam,  sua capacidade de  lidar com estresse  fica cada vez mais  reduzida, e isto cria um círculo vicioso. Portanto, é altamente recomendável que  você  comece  a  adotar medidas para  atenuar  esse  estresse praticamente crônico, aprendendo a relaxar.  1. Aprendendo a relaxar

O relaxamento não somente beneficia seu sistema como um todo – mas também lhe prepara /condiciona melhor para refletir antes de agir, permitindo um controle mais efetivo de suas emoções e impulsividade.   

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Existem  inúmeras  formas de  relaxamento  ‐  você pode  começar por  experimentar  as  abordagens  resumidamente  descritas  a seguir, e procurar uma orientação mais completa com relação às práticas que você sente que dão mais certo para você. 

 

a) Relaxamento muscular progressivo

 Antes  de  começar,  vista  uma  roupa  folgada  e  confortável, procure um ambiente tranqüilo e agradável.   Basicamente,  o  relaxamento  consiste  em  inspirar  lentamente pelo nariz, segurar um pouco a respiração, e depois expirar pela boca, durante todo o período. A idéia é tencionar e depois relaxar cada parte do corpo, começando pelos dedões do pé, os próprios pés,  as  panturrilhas/batatas,  as  coxas,  as  nádegas/glúteos,  o abdome, as mãos, os braços, os ombros, o pescoço, o  rosto. O efeito cumulativo é extremamente agradável.  Todos  nós  estamos  sujeitos  a  sentir  tensão  várias  vezes  ao  dia (principalmente no final do dia). Seja por motivo de reuniões no serviço,  crianças brigando, engarrafamento no  trânsito, demora na fila do banco, deveres não cumpridos, cobranças e acusações e críticas – a vida é cheia de tais aborrecimentos. A técnica acima pode  ser  adaptada  e  abreviada, mas  o  importante  é  que  seja interiorizada e automatizada de forma que você possa recorrer à mesma  e  se  sentir  relaxando  só  em  seguir  os  passos mentalmente,  sem  ter  que  efetivamente  praticar  a  sequencia física. 

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b) Meditação

 A meditação ajuda a estabilizar as emoções, criando um abrigo no meio das tempestades emocionais. Também exige prática – mas, tudo que você for empreender para melhorar a sua vida exige um certo grau de trabalho, de esforço, de aplicação, de persistência e muita força de vontade, certo?  Uma das formas mais  indicadas de meditação para pessoas com alta  sensibilidade  emocional  é  aquela  chamada  de  mindfulness, definida como um estado de (i) atenção plena, (ii) voltada para o momento presente, (iii) de forma intencional, (iv) sem julgamento,  e  é  utilizada  no  programa  de  redução  do  estresse criado originalmente pelo pesquisador Jon Kabat‐Zinn, professor da Universidade de Massachusetts, EUA.   A  idéia de mindfulness, central ao pensamento budista, refere‐se a uma  conscientização  cuidadosa  dos  próprios  pensamentos  e emoções,  na  qual  qualidades  como  aceitação  e  desapego favorecem a capacidade de refletir e influenciar positivamente as próprias  experiências  cognitivas,  promovendo  também  a regulação afetiva.  Existem muitas  outras  formas  de meditação  –  assim  como  no caso de técnicas de relaxamento, o ideal é você mesma pesquisar as opções existentes e aplicá‐las com a música, o ambiente, e a postura  ideais  para  cada  modalidade.  Você  pode  encontrar muitos benefícios na prática de  ioga, por exemplo, que combina exercícios  de  alongamento  e  respiração,  concentração  no momento, e um profundo relaxamento.  E, para quem gosta de animais, adquirir ou manter um animal de estimação  é  um  fonte  preciosa  de  carinho  e  relaxamento, incluindo também os benefícios de exigir uma certa rotina no seu cuidado, e a responsabilidade por um ser que depende de você.  

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2. Cuidando melhor de si

a) Alimentação

 Tenha  carinho  e  consideração  com  você  mesma  –  procure  se alimentar melhor, de forma mais equilibrada e saudável. Isto não significa  seguir dietas  rigorosas  (e  estressantes!), nem  estipular metas utópicas. No fundo, você  já sabe que deve evitar comidas processadas,  enlatadas,  chips  e  salgadinhos,  refrigerantes, cigarros,  bebidas  alcoólicas,  frituras  em  excesso,  doces  em demasia,  e  assim  por  diante.  Se  você  comer  demais  em momentos de maior  estresse,  vai  acabar  se  arrependendo  e  se sentindo culpada, e se ingerir alimento insuficiente, seu corpo vai reclamar.  Procure  comer  verduras,  feijão,  pão  integral,  arroz  e massas, peixes e  saladas,  coma devagar,  curtindo os diferentes sabores  e  texturas.  Invente pratos diferentes – não se prenda  a combinações convencionais. 

b) Movimentação

 Também  é  importante  que  você não  fique parada – mexa‐se. Não precisa  considerar  essa recomendação  como  obrigação, “chatura”,  sofrimento  –  se  você começar  a  se  movimentar  um  pouco,  vai  sentir  um  benefício tremendo,  que  vai  lhe  incentivar  a  continuar.  Pode  ser  aos pouquinhos, se quiser – comece andando mais pela casa, depois no seu quarteirão, no parque, na esteira da academia. Pode ser que  você  goste  de  nadar,  de  fazer  Pilates,  de  passear  com  o cachorro,  ou  talvez  de  exercícios mais  vigorosos  –  você  pode escolher, dentro das opções que você  tem ao  seu alcance, mas não  se  esqueça  de  dedicar  um  tempinho  para  algo  que  vai  lhe fazer sentir bem consigo mesma. 

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c) Sono reparador

 Procure também analisar se você está dormindo o suficiente,  com  sono profundo,  reparador. Isto  permite  que  suas células  se  reponham  e que  sua  concentração  e memória  melhorem. Uma noite ou outra mal dormidas não são prejudiciais – mas se você  normalmente  tem  problemas  para  adormecer  e  continuar dormindo algumas horas direto,  isto pode aumentar o seu nível de  estresse  e  reatividade  (inclusive  irritabilidade  e  falta  de paciência).   Naturalmente o  ideal é não precisar tomar remédio para dormir, seja “natural”  (as passifloras/maracujinas ou  valerianas da  vida) ou com receita médica, mas às vezes uma ajuda é necessária. De qualquer forma, você pode tentar algumas das táticas abaixo ao se preparar para dormir, experimentando o que funciona melhor para você:  • Ficar debaixo de um chuveiro com água quentinha caindo nas 

sua nuca e costas • Ouvir música relaxante • Ler um livro que lhe entretenha (ou dê sono!) • Assistir programas de TV “light” • Fazer  um  lanchezinho,  tomar  um  chocolate  quente  ou  chá 

calmante   • Evitar cafeína (que é encontrada também na maioria dos chás, 

inclusive o verde), álcool, cigarros, brigas e discussões  • Deitar em uma cama confortável, com  lençóis e  travesseiros 

de textura agradável, com cobertor gostoso, adequado para a temperatura externa, em um quarto acolhedor e silencioso.  

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3. Organizando seu tempo  

Procure  analisar de  forma objetiva  como  seus dias  transcorrem de modo geral. Por exemplo: seu serviço rende quando você está trabalhando,  ou  você  passa  tempo  demais  no  telefone,  na internet ou no celular? E depois fica estressada e correndo atrás do  tempo  “perdido”,  não  tendo  cumprido  seus  prazos,  suas metas? A primeira  sugestão para  administrar melhor o  estresse “básico”  de  seu  dia‐a‐dia  é  procurar  simplificar  e  organizar  sua agenda – e sua vida.   

  Uma fonte de irritação pode ser falta de organização e bagunça à sua volta. Para resolver isso, estipule a meta de adotar pequenas rotinas para  ir colocando as coisas no  seu  lugar. Por exemplo – dedique  cinco minutos  por  dia  para  jogar  fora  coisas  que  não servem ou não funcionam mais, cinco minutos para arrumar seu guarda‐roupa ou uma gaveta ou uma estante, cinco minutos para separar  roupa  ou  objetos  para  doar  para  outros,  e  assim  por diante.  Procure executar essas tarefas – que lhe darão uma sensação de satisfação e realização – em momentos que você está mais calma, e não exagere no escopo das suas metas – precisam ser realistas, e não uma fonte de frustração adicional.   

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Pense  no  tempo  que  você  desperdiça  em  atividades  que  não estão alinhadas  com  suas metas e desejos. E  sim, é  importante você  definir  algumas metas  ‐  assim  você  sentirá  que  tem mais controle sobre sua vida e a construção do seu futuro. Pois hoje é o primeiro dia do resto de sua vida – nunca se esqueça disso.    

 

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XII. DEPOIMENTOS DE ALGUMAS PESSOAS DIAGNOSTICADAS COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE W.W.M Eu  não tenho  certeza  de quando  comecei  a  me  sentir diferente. Eu me lembro sim, muito bem, de quando me isolei de tudo  e  todos...isso  aconteceu  quando  eu  tinha  15  anos.  Logo depois  que  meu  avô  materno  faleceu,  o  que  indica  que  tal episódio serviu como gatilho.   Depois do falecimento do me avô, então comecei um tratamento para depressão, pois foi esse o diagnóstico inicial. Tomava muitos psicotrópicos  várias  vezes  ao dia. Nunca me  senti bem  com  tal tratamento.  Os  medicamentos  me  davam  sono  e desânimo. Abandonei  e  retornei  ao  tratamento  diversas vezes.  Tinha  crises  terríveis.  Sempre  fui muito  tímida  e  sempre tive muito problema para me socializar.    Felizmente  tudo  isso melhorou  com  o  tratamento. Mas  foram mais de 10 anos de sofrimento.   Além do tratamento algumas coisas tem me ajudado muito, entre elas a  companhia de um  cão  labrador que me distrai e ocupa a maior  parte  de meu  tempo.  Outra  coisa  que  tem me  ajudado muito é a fé que professo. Cuidar da vida espiritual é um fator de ótimo prognóstico no TPB. E também, manter o meu blog é uma ocupação  que  além  de me  trazer  muita  satisfação  por  ajudar outros, me proporciona a evolução pessoal. Pois tenho aprendido muito com a troca de informações lá obtidas.   Minhas  crises  agora  são  mais  moderadas  e  muito  menos frequentes.  Mas  ainda  sofro  com  a  intensidade  de  meus pensamentos que ficam a mil por hora.   

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O meu  lado sociável oscila tanto quanto o meu humor. Cada dia varia de  um  jeito diferente. Mas  está bem mais  estável do que anteriormente.  Ainda  sou  bastante  impaciente  e  tenho dificuldades  em  terminar  uma  tarefa.  E  sinto  raiva  quando  sou contrariada, embora hoje consiga controlar esse sentimento.    Nunca me cortei (auto‐mutilação) mas tinha o costume de dirigir em alta velocidade e colocar minha vida em risco.   Felizmente todos esses sintomas se atenuaram com o passar dos anos e com o tratamento adequado. Porque com o tratamento, o border  aprende  a  transformar  seus  sentimentos  e  a  reagir  de forma diferente.    Há  muitas  pessoas  que  merecem  minha  gratidão  por participarem ativamente no meu progresso e melhora. Das quais eu não poderia deixar de mencionar o meu psiquiatra Dr.  João Rodini Neto  ‐ o qual só tem acertado no meu tratamento, minha grande  amiga  escritora Helena  Polak  que  além  de me  oferecer apoio com seus  livros, tem sido um amparo constante na minha vida  e  meu  amigo  psicanalista  Henrique  Trejgier  que  tem  me oferecido dicas  infalíveis para  lidar com o TPB. Além desses, há todos os borders que participam  ativamente no  fórum do meu blog, me  oferecendo muito  carinho,  e  outros  amigos  (virtuais e 'reais') e parentes que estão presentes na minha vida até hoje  ‐ apesar das minhas inconstâncias.   Depois  de  todos  esses  anos  de  sofrimento  com  diagnósticos errados, rumos  incertos e um futuro que parecia escuro demais, posso  afirmar  que  a  luz  no  fim  do  túnel  não  é  uma  ilusão,  ela existe!  Hoje  eu  compreendo  que  um  border  pode  ser consideravelmente feliz! _____________________________________________

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H.C.F. Por volta dos meus 13 ou 14 anos, minha família começou a notar em mim uma certa tendência à tristeza e a um comportamento defensivo, dizem, no sentido de sempre estar "com quatro pedras na mão". Entretanto, eu mesma não notava isto. Eu não percebi minha tristeza até pouco depois de eu completar quinze anos, quando tudo começou a perder o sentido. Foi quando aceitei a ajuda de uma psicóloga. Com dois meses de terapia, fui encaminhada ao acompanhamento psiquiátrico. Hipótese diagnóstica: depressão moderada a severa, com comportamento automutilante. O tratamento se iniciou com Sertralina 50mg/dia, até chegar a 200mg/dia, mas eu ficava mais agitada e mais deprimida ao mesmo tempo com o uso da sertralina. Fui ao pronto socorro do Hospital São Paulo, onde recebi a hipótese diagnóstica de transtorno afetivo bipolar, fui medicada com divalproato de sódio e tioridazina, não me lembro a dosagem, e fui encaminhada ao ambulatório de doenças afetivas e de ansiedade. Cerca de seis meses depois, veio a especulação sobre o transtorno de personalidade borderline. Continuei a ser tratada para ambos, mas parece que fui parecendo cada vez "menos bipolar e mais borderline". Hoje, não se acredita que eu tenha transtorno bipolar. A psicoterapia com outras psicólogas não deu resultado algum (psicodrama, primeiro, e Cognitiva comportamental depois). Estou há dois anos com minha atual psicóloga, com a qual senti uma diferença significante com apenas dois meses de terapia. Minha mãe não aceita que eu não tenho transtorno bipolar. Minha opinião (note que é minha opinião, eu não leio a mente da minha mãe) é que com um transtorno de personalidade ela se sente mais responsável pelo meu problema. A principal diferença entre antes e depois do diagnóstico é uma sensação de libertação, porque dá um sentido para minha dor e abre meus horizonte, porque, sabendo qual o problema, é mais fácil solucioná-lo, ou amenizá-lo. Fora o fato de que depois que comecei o tratamento com meu atual psiquiatra, em um segundo

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ambulatório, este específico para pessoas com transtornos de personalidade, eu senti que meu tratamento se encaminhou melhor, inclusive na escolha da medicação. Nenhum medicamento que eu tenha tomado antes foi tão bom para mim, e o fato de eu tomar apenas na crise é muito bom também, pois me permite aprender a lidar com minha forma de perceber o mundo, compreendê-la, trabalhar com ela, permitindo-me senti-la nos momentos em que a dor não me paralisa, e abortá-la nos momentos em que sinto que a dor me paralisará. Enfim, o diagnóstico mudou tudo. Mudou a forma como me enxergo e mudou para melhor a forma como os profissionais tentam me ajudar com meu problema. O lado negro em receber um diagnóstico deste tipo começa com: o que sou eu e o que é a doença? Para esta pergunta, eu me disciplinei recentemente a não separar as duas coisas, tendo apenas uma gavetinha com a etiqueta "Comportamentos, pensamentos e sentimentos LEGÍTIMOS da Hamires", coisas com as quais tento trabalhar na terapia, sem me prender à sua origem, mas é de fato uma questão bastante angustiante. O que se lê por aí muitas vezes assusta também. Eu, particularmente, não tenho medo do diagnóstico em si, porque ele me liberta, me dá um sentido e me abre caminhos para melhorar. Sem o diagnóstico, talvez eu não estivesse aqui hoje. Estou em uma fase onde já compreendi como "nasceu" meu problema. O difícil é mesmo lidar com este conhecimento que liberta, mas também machuca. Eu acredito no meu tratamento por dois simples motivos: eu já tive melhoras e compreendo a forma como meu tratamento funciona. O que me mete medo mesmo é, muitas vezes, a falta de confiança que tenho na minha capacidade de lidar com o que ainda virá pela frente. ____________________________________ 106

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A.E.B.  Descobri uma coisa  interessante que pode me ajudar a conviver melhor comigo e achei interessante compartilhar esse insight.  Sempre tive a sensação de me sentir muito culpada pelo fato de não  gostar muito  da  época  da minha  infância. Minha mãe  era manipuladora e, como eu queria agradar meus país, eu acabava fazendo  tudo  que  eles  gostavam  e  acabei  me  perdendo,  não sabendo quem realmente eu era.  Hoje procurei entender que eles me criaram da maneira que eles acharam  certo  e que,  se  eu  acredito mesmo  no  espiritismo,  eu precisava  desses  pais,  ou  melhor,  a  gente  se  encontrava  na mesma sintonia, por isso que viemos nessa encarnação juntos.  Estou  me  perdoando  e  aceitando  que  eu  não  podia  ter  feito muita coisa,  já que eu era criança, e que aceito minha  infância e entendo que fui  “boazinha” porque  só queria ser mais amada  e aceita pelo meus pais.   Acho que dessa forma me sentirei menos culpada e ficarei mais livre para viver minha vida adulta. Bom,  sempre  tive uma  angústia muito grande e  sinto um  vazio que não  sei  como nem onde  ser preenchido. Aí   busco  ``coisas para me sentir bem.´´ Resolvi  ir ao psiquiatra, pois queria algum medicamento que me desse uma  sensação mais  feliz e de bem estar (embora eu saiba que o uso de remédio é paliativo, porque quando paro de tomar voltam os sintomas...), mas está me dando um suporte para eu pensar e tentar melhorar algo em minha vida para depois não ter necessidade de remédios.  Desde pequena era  isolada do mundo, e não gostava de contato porque me achava desinteressante (pra falar a verdade me acho um pouco mesmo,  embora  tenha  conquistado  várias  coisas  em minha vida). O que quero dizer é que essa agressividade toda que eu tinha e as oscilações de humor eram porque eu queria provar para os outros que eu posso  fazer as coisas  também, e quando me sinto rejeitada fico muito nervosa e vingativa.  Uma questão essencial é trabalhar com a auto‐estima da pessoa, identificando o por que de certas atitudes e ver o quanto o tipo de pensamento da gente leva‐nos à auto‐sabotagem no dia‐a‐dia, 

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virando um círculo vicioso. O que me incomodava e me incomoda é  o  fato  de me  isolar  das  pessoas,  porque  acho  que  elas me ignoram ou me rejeitam, de alguma forma eu  identifico algo que me  faça  crer  fielmente  que  estou  sendo  rejeitada  e  saio  fora quando percebo, antes que esse fato aconteça (às vezes não dá tempo de perceber e já fui rejeitada "na lata" por moços e fiquei péssima). O  que me  ajudou muito  a melhorar meu  comportamento  foi  o fato de fazer terapias, essa é a 4ª vez que eu faço, mas faço em épocas diferentes, não são contínuas. Ler livros de auto‐ajuda foi bom,  mas  eles  pareciam  receitas  de  bolo  ao  tentar  moldar  a gente,  aí  fica difícil porque  cada  livro  fala uma  coisa um pouco diferente...rs.   A questão é ter ferramentas para  identificar o por que  a  pessoa  se  sente  assim  e  age  de  determinada maneira  e ajudar a tirar essa idéia de "patinho feio" do mundo e amenizar a culpa que se sente pelos fatos acontecidos.  É muito chato fazer terapia  na  maioria  das  vezes,  porque  trabalhar  o autoconhecimento  implica em  revermos atitudes que  tomamos, ver que a gente erra e dá muita  raiva às vezes porque  tem que mudar um monte de coisas, dá  impressão que faço tudo errado. ... Mas através das características identificadas no borderline, tais como:  instabilidade  dos  relacionamentos  interpessoais,  auto‐imagem  e  afeto,  impulsividade;  é  possível   trabalhar  o  porque eles  agem  dessa  forma,  encontrando  a  causa  disso  tudo  e amenizar  principalmente  a  revolta  e  a  culpa  que  se  sente  por sentir tudo o que não se está conseguindo mudar.  Exemplo:  através  de  muito  sofrimento  e   angústia,    fiquei motivada a buscar o que eu quero esconder  tanto dos outros e de mim mesma, aí descobri a questão da minha infância que já te contei. Agora  tento olhar para mim criança como parte de mim adulta e que procurou estratégias para não sofrer tanto em uma família com  sofrimentos que  descontavam em mim e na minha irmã e por  isso que tomara uma postura de ser  influenciada por meus pais  e  aceitar  aquela  situação no momento. Verbalmente me  perdoei,  quero  ver  inconscientemente...rs.   

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J.S.O. Olá Helena, bom,  passei os últimos dias pensando no fato de ser diferente,  sabe, a minha  vida  inteira  passei  procurando  ser normal e agora acho que está claro que a minha busca chegou ao fim,  eu  não  preciso  ser "normal",  sou  normal  da  minha maneira,uma pessoa  íntegra, sincera e que respeita ao próximo, estou  errada?  Cada  um  é  normal  da medida  do  possível.  Sabe você me ajudou muito a entender o que é ser normal, ao menos a paranóia  de  ser  normal,  normal,  normal,  acho  que  passou  – entendi o que é ser "normal". Bom, quanto a ser diferente, estou me aceitando, é incrível, pois tudo indica que nasci  assim, eu não escolhi  ser  assim. Muitos  não  entendem  pois  não  é  algo  que  , como  falei  para  a  psicóloga,  você  chega  em  uma  determinada época  de  sua  vida  e  decide  ‐  agora  vou  ser  assim,  não,  não  é assim. Voce nasce assim, com esses desejos e preferências, não dá para explicar. Sabe, atualmente o que esta sendo difícil para mim é cumprir as minhas metas, às vezes me dá tipo uma pane, embaralha meus  pensamentos,  que  tenho que  parar  e  respirar um pouco e seguir adiante só que um pouco devagar. Bom, é um pouco frustrante. Um abraço com muito,muito carinho pois você tem me ajudado grandemente. Ah, obrigada por não me deixar. M.S.T. Quando descobri que estava com Transtorno de Personalidade Borderline estava com 27 anos, acreditava que tinha apenas Depressão. Estava internada em um Hospital e já tinha ouvido outras pacientes dizerem que tinham Personalidade Borderline. Mas eu não entendia, no fundo, o que estava acontecendo comigo. Foi um processo de auto-descoberta muito dolorido. Deixei a terapia por várias vezes porque ouvir sobre isso me machucava. Eu mesma me machucava até sangrar e cheguei ao Hospital cheia de cortes no braço, costas e cabeça. Meus relacionamentos eram intensos e breves, acabavam em briga e

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eu sentia uma mistura de amor e ódio dentro de mim que não conseguia controlar. Depois de ter deixado o Hospital tive momentos de promiscuidade, abuso de medicamentos, depressão, anomia e até euforia. Ninguém conseguia viver comigo e me mandavam para a casa de minha mãe ou avó, após algum tempo vivendo junto. Pois nessa época eu já estava fora da terapia e de controle também. Cheguei a pesar 46 quilos por me olhar no espelho e ver gorduras onde não existiam. Muito perto de perder a vida muitas vezes, e na maioria delas eu mesma queria tirar. Não queria exatamente morrer, mas acabar com a dor que minha existência provocava. Eu estava vazia e não havia nada no mundo que preenchesse aquele vazio. Eu tinha praticamente todos os sintomas do TPB mas não queria admitir ou tratar, pois era difícil. Meus pensamentos eram horríveis a respeito de mim mesma e dos outros. Cheguei a fazer 4 cirurgias plásticas. No fundo, para ver se alguém gostava de mim, para namorar ou ter amigos. Mas namorar e ter amigos eram coisas difíceis demais para mim e eu não entendia que sentia cada palavra, cada olhar, ou o pensamento de que realmente todos me abandonam de uma forma ou de outra. Eu sou um caos atemporal, a mente é desorganizada e mesmo que meu avô tenha morrido há mais de dez anos ... estou de luto até hoje, me lembro de sua respiração em seus últimos momentos de vida. As memórias são fantasmas reais e apenas as memórias dolorosas estão presentes comigo. Se eu apenas pudesse apagar elas como se apaga uma lâmpada. Hoje tenho que me proteger dos relacionamentos, consegui entender certas coisas como, por exemplo, os meus próprios sentimentos negativos e como conviver com eles. A cada dia é uma batalha para acordar, pois eu desejo simplesmente desaparecer ou não acordar mais. Quando vou na terapia fico um dia inteiro me sentindo mal, mas acredito que ela ajuda porque consigo entender agora que

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sou assim, diferente de outros. Mais sensível, mais obscurantista e mais exigente comigo mesma. Uma psicóloga que me tratou por mais ou menos nove meses me disse que eu não tinha que lutar contra o transtorno e sim com ele. Na época não entendi, mas agora sim. Não quero deixar de ser quem sou, apenas que as crises parem. Não é ruim ser Borderline, somos mal compreendidas, apenas isso. Eu não durmo à noite a não ser com altas doses de medicamentos, porque sou assombrada pela falta daqueles que me abandonaram, de quem me traiu e pela morte de uma pessoa que me amou. Cada palavra que me disseram a respeito de “mim mesma”, sobre ser "vagabunda", não trabalhar, não dormir, ser “loucona” está ainda em minha mente. Após três anos lutando contra mim mesma, decidi dar um momento para fazer as pazes com quem realmente sou. A Helena Polak me enviou seu livro há alguns meses e tomei essa decisão ao ler. Voltei para o grupo de terapia com Borderlines que existe aqui em minha cidade. Não sei se algum dia vou conseguir me amar, amar uma outra pessoa, me sentir menos solitária em meio a uma família de pessoas tão diferentes. Não sei se vou conseguir aceitar quem realmente sou e tirar a máscara que tentei usar por tantos anos, e que caiu. Mas estou mais em paz com o futuro, aceitando que serei assim e não vou mudar, apenas melhorar. Esse é o desafio de todos os seres humanos, o meu pode ser mais difícil, mas acredito que seja possível. Todo mundo precisa melhorar, não apenas eu. Talvez eu não me culpe mais pelo abandono de meus pais, mas também me assombra todos os dias. As minhas tenras memórias são de sentimentos de abandono, solidão e incompreensão. Com a terapia, parece que estou conseguindo saber quem sou. Uma identidade que não tinha, apenas pegava as personalidades de outros ao redor para ser aceita. Foram mais de dois anos de terapia para tentar alcançar uma pessoa que se perdeu há muitos

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anos atrás e tem dado resultado. Eu queria apenas um mundo mais “pró-Borderline”, que me deixe ser quem sou e seguir meu próprio caminho. Enfim, com as meninas e mulheres do grupo, a Helena ... eu pretendo ajudar a fazer isso. Eu sou uma mulher mas tenho certeza que tenho a mente de uma criança, por isso chamo de “meninas" do grupo. É como olhar o mundo pela primeira vez, todas as vezes. É tudo muito intenso: cada cor, cada som, cada palavra, cada acontecimento. Eu havia perdido isso tentando ser alguém que realmente não era. Mas estou aqui ainda, essa menina não estava morta como eu havia pensado. Ela está aqui em mim e vou viver assim, ser feliz ou triste depende do dia, das circunstâncias. Mas a essência é muito bela, não somos criminosas por não nos adequarmos ao que as pessoas exigem. Obrigada Helena Polak, Célia, Maria Fernanda, Neide, Ângela e Jussélia. Vocês ajudaram a reviver um coração que eu estava matando e ver que ele não era tão horrível assim como eu pensava. Vocês também estarão nas minhas memórias, não como assombrações, mas como instrumentos do bem. ______________________________________________

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REFERÊNCIAS 1. www.psiqweb.med.br/site/ 2. Sheehan DV, Lecrubier Y, Sheehan KH, Amorim P, Janavs J, Weiller E, Hergueta T, Baker R, Dunbar GC: The Mini-International Neuropsychiatric Interview (MINI): J Clin Psychiatry 1998; 59 (suppl 20):22–33 3. virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=164 4. www.psychologytoday.com/ 5. www.psych.org/dsmv.aspx 6. Agenda de Investigação para o DSM-V - David J. Kupfer, Michael B. First, Darrel A. Regier 7. Uma visão psicobiológica da personalidade limítrofe, por Alan Alan B. Eppel www.revistapsiqrs.org.br/administracao/arquivos/visao_psicobiologica_personalidade_limitrofe.pdf - 8. ajp.psychiatryonline.org Am J Psychiatry 167:1, January 2010 9. Disordered Personalities- Robinson, David J. (2005).. Rapid Psychler Press. pp. 255–310. ISBN 1-894328-09-4 10. Bateman, A. & Fonagy, P. (2008). /www.abpbrasil.org.br/imprensa/release/exibRelease (Dr. Fonagy - Chief Executive, The Anna Freud Centre, Freud Memorial Professor of Psychoanalysis, University College London, United Kingdom)

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11. Terapia Cognitivo-Comportamental Para Transtorno Da Personalidade Borderline, Marsha Linehan, Ed. Artmed 12. Dysfunction in the Neural Circuitry of Emotion Regulation – A Possible Prelude to Violence, Richard J. Davidson, Katherine M. Putnam, Christine L. Larson 13. Association between serotonin transporter gene and borderline personality disorder, Ni X, Chan K, Bulgin N, Sicard T, Bismil R, McMain S, Kennedy JL. www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16690085 14. The Interpersonal Dimension of Borderline Personality Disorder; Larry Siever, M.D. e Barbara Stanley, M.D. 2009. 15. www.borderlinepersonalitydisorder.com 16. Terapia Cognitiva - Teoria e Prática - Judith Beck - Ed. Artmed

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