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    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAFACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA

    Campus de Presidente Prudente

    Nova Alta Paulista, 1930-2006:entre memrias e sonhos.

    Do desenvolvimento contido ao projeto poltico dedesenvolvimento regional

    Izabel Castanha Gil

    Orientador: Prof. Dr. Bernardo Manano Fernandes

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Geografia - rea deConcentrao: Desenvolvimento Regionale Planejamento Ambiental, para obtenodo ttulo de doutora em Geografia.

    Presidente Prudente2007

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    Gil, Izabel Castanha.

    Nova Alta Paulista, 1930-2006: entre memrias e sonhos.Do desenvolvimentocontido ao projeto poltico de desenvolvimento regional / Izabel Castanha Gil Presidente Prudente, 2007.

    395 f: il, graf. + mapa

    Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Cincias eTecnologia.Orientador: Bernardo Manano Fernandes

    1. Nova Alta Paulista desenvolvimento regional regio contida desenvolvimento territorial poltica regional de coeso. I. Gil, Izabel

    Castanha. II. Fernandes, Bernardo Manano. III. Ttulo.

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    Aos que me completam:

    Gil,

    Mirelle, Jaqueline, e Flvio Luiz.

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    Agradeo

    A Deus, pela vida;

    A meus pais (in memorian), pela simplicidade e exemplo de persistncia;

    A meus irmos Osvaldo e Luzia, que me permitiram trilhar os caminhos do estudo;

    A meu esposo e meus filhos, pela compreenso;

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Bernardo Manano Fernandes, pela firmeza e determinao;

    Aos membros do Nera, pelo aprendizado constante;

    Erinati , Mrcia e Ivonete, funcionrias da ps, pelo profissionalismo e ateno.

    Aos amigos Rubens Galdino da Silva e Carolina S. G. Galdino da Silva, pela troca de idias;

    Eunice L. Guimares Lima, companheira de ideais, pela reviso dos textos;

    Aos jovens

    Aluzio Itamar Costa, pela sensibilidade e preciso tcnica na arte final;

    Anderson Vieira Silva, pela meticulosidade na tabulao dos dados censitrios;

    Fabiano Rodrigo Biffi, pelo rigor e dedicao no levantamento dos dados empricos;

    Flvio Luiz Gil, pelo apoio na compilao dos dados econmicos censitrios;

    Francine Brito Alves, pela dedicao na consulta aos arquivos jornalsticos;

    Joo Paulo Barboza de Carvalho, pelo assessoramento nos recursos da informtica;

    Rafael Sposito Puerta, pelo assessoramento no trato dos dados estatsticos.

    s pessoas que contriburam com seus depoimentos, informaes, e inquietaes; Aos dirigentes e funcionrios de instituies, pela disponibilizao dos documentos, dados e informa

    FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas), pela disponibilizao dos laboratrios de informaparatos tecnolgicos, facilitando os trabalhos de pesquisa.

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    H homens que lutam um dia, e so bons; H outros que lutam um ano, e so melhores; H aqueles que lutam muitos anos, e so muito bons;

    Porm h aqueles que lutam toda a vida.Estes so imprescindveis.

    Bertold Brecht

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    SUMRIO

    Lista de mapas ............................................................................................................................. i

    Lista de quadros..........................................................................................................................ii

    Lista de tabelas ..........................................................................................................................iii

    Lista de grficos......................................................................................................................... iv

    Lista de figuras ...........................................................................................................................v

    Lista de siglas ............................................................................................................................vi

    Comentrios ps-defesa........................................................................................................... vii

    Resumo e palavras-chave ........................................................................................................viii

    Abstract and key-words...........................................................................................................xix

    Introduo.................................................................................................................................01

    Captulo 1

    TERRITRIO E DESENVOLVIMENTO: REFLEXES E CONCEPES ..............181.1 Reflexes .........................................................................................................................181.2 Crescimento econmico ou desenvolvimento? ............................................................... 251.3 Territrio e territorialidade como base e expresso do desenvolvimento.......................311.4 Desenvolvimento territorial: contedo e forma...............................................................331.5 Desenvolvimento territorial em regies contidas: a tentativa de construo de

    de um conceito.................................................................................................................361.6 Desenvolvimento territorial e insero ativa: algumas consideraes .......................... . 40

    1.7 Regio e territrio: as dimenses do desenvolvimento...................................................431.8 O territrio como unidade de anlise...............................................................................521.9 O desenvolvimento regional sob o enfoque territorial ....................................................571.10 Os fundamentos contemporneos do desenvolvimento regional ....................................631.11 O desenvolvimento regional da Nova Alta Paulista sob os princpios do

    desenvolvimento territorial..............................................................................................66

    Captulo 2

    1930-1975: O EXTREMO OESTE PAULISTA E A FORMAO REGIONALDA NOVA ALTA PAULISTA .............................................................................................67

    2.1. Levantamento bibliogrfico de alguns estudos regionais................................................672.2. A gnese da pesquisa e a delimitao do recorte espacial: procurandocompreender os problemas regionais .............................................................................. 69

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    2.3. O extremo Oeste do Estado de So Paulo: noes de tempo e espao............................762.4. A Nova Alta Paulista e a (in)definio regional.............................................................. 812.5. A expanso da cafeicultura como fenmeno de expanso do capital..............................852.6. Desconsidera-se o trabalho nativo, busca-se o imigrante................................................862.7. O caf ruma para o Oeste: os condicionantes fsicos, as terras disponveis e agrilagem...........................................................................................................................912.8. O capital empurra os trilhos e semeia os cafezais ...........................................................972.9. Minguam as reas livres, sobram os espiges: os pioneiros do terceiro setor............... 1002.10. A territorializao do caf no Extremo Serto do Estado .............................................1042.11. Progresso e prosperidade no extremo Oeste do Estado de So Paulo...........................1122.12. A relao cidade-campo e a territorializao da nova regio.......................................1152.13. A ausncia de planejamento governamental e os elementos internos da formao

    de uma regio contida....................................................................................................1282.14. O extremo Oeste paulista no contexto do Estado de So Paulo e os elementos

    externos da formao de uma regio contida ................................................................1322.15. O paradigma nacional de desenvolvimento poca da colonizao do

    extremo Oeste paulista ..................................................................................................137

    Captulo 3

    1975-1996: UMA GEADA DESORIENTA A BSSOLA DO DESENVOLVIMENTOREGIONAL .........................................................................................................................1423.1. As dimenses do tempo das relaes sociais na Nova Alta Paulista .............................. 1423.2. A geada, o caf, e o desenvolvimento regional aps 1975: a busca de opes...............144

    3.2.1. Uva ........................................................................................................................1583.2.2. Acerola ..................................................................................................................1593.2.3. Maracuj ................................................................................................................1603.2.4. Seringueira.............................................................................................................1603.2.5. Caf........................................................................................................................1613.2.6. Pastagem................................................................................................................164

    3.3. A diversificao do tercirio............................................................................................1653.4. A expanso das escolas tcnicas e a instalao dos institutos isolados de ensino

    superior: a ausncia de uma poltica acadmica para o desenvolvimento regional.........1673.5. A indstria como sada: o modelo e seu arremedo.......................................................... 1703.6. O esgotamento do nacional-desenvolvimentismo e suas implicaes na Nova

    Alta Paulista....................................................................................................................1733.7. A criao da AMNAP como entidade poltica representativa da regio.........................1903.7.1. Metodologia utilizada para o resgate histrico da entidade e anlise de sua

    influncia no desenvolvimento regional da Nova Alta Paulista............................1903.7.2. A gnese ................................................................................................................1913.7.3. As associaes de municpios em um ambiente federalista ..................................1933.7.4. A Nova Alta Paulista toma conscincia de si mesma............................................2043.7.5. AMNAP: cooperao, competio e resistncia ...................................................2083.7.6. Movimento pela reativao da ferrovia

    (Ramal de Jah trecho Bauru-Panorama)...........................................................2183.7.7. Construo da ponte sobre o rio Paran ................................................................221

    3.7.8. No AMNAP? A associao dos municpios em um ambiente poltico-administrativo descentralizado................................................................ 2233.7.9. AMNAP: resistncia e realizaes ........................................................................227

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    Captulo 4

    1997 2006: A NOVA ALTA PAULISTA SOB A TENDNCIA DODESENVOLVIMENTO ENDGENO .............................................................................2324.1. As emergncias contemporneas somam-se s incertezas .............................................2324.2. O esgotamento do nacional-desenvolvimentismo, o lado avesso do neoliberalismo,

    e a descentralizao espacial dos presdios no Estado de So Paulo..............................2344.3. As energias renovveis e o rearranjo espacial da Nova Alta Paulista............................2474.4. O desenvolvimento regional da Nova Alta Paulista no contexto das energias

    renovveis ......................................................................................................................2554.5. Transformaes econmicas regionais recentes: os PIB municipais como indicadores 260

    Captulo 5

    DESENVOLVIMENTO CONTEMPORNEO NA NOVA ALTA PAULISTA:EM BUSCA DE NOVAS EXPERINCIAS .....................................................................2715.1. Desenvolvimento endgeno e desenvolvimento local: algumas palavras......................2715.2. As razes do desenvolvimento na Nova Alta Paulista e suas manifestaes

    na atualidade...................................................................................................................2745.3. A identificao de agentes regionais catalisadores do desenvolvimento regional

    na Nova Alta Paulista .....................................................................................................2785.3.1. Vantagens e desvantagens da AMNAP na construo de um projeto poltico

    de desenvolvimento regional...............................................................................2795.3.2. A atuao do Conselho Regional de Desenvolvimento.......................................280

    5.4. O papel das prefeituras nas pequenas cidades da Nova Alta Paulista............................2825.4.1. A experincia de Junqueirpolis: mobilizao austeridade, realizaes.............2845.4.2. A educao infantil como aliada do desenvolvimento local: aspecto legal e

    gesto social.......................................................................................................... 2905.4.2. A educao infantil como geradora de emprego .................................................294

    5.5. O papel das instituies regionais de ensino superior ....................................................3025.6. Por uma poltica regional de coeso...............................................................................304

    6. CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 309

    7. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 314

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    8. ANEXOS

    I - AMNAP - Sntese das matrias coletadas nos jornais locais e nas atas disponveisentre 1977 e 2007 ..............................................................................................................326

    II Manifesto de Panorama....................................................................................................369III Manifesto So Paulo Mato Grosso do Sul...................................................................370IV Estatuto AMNAP 2007 ..................................................................................................371V Censos Econmicos IBGE (Tabelas) .............................................................................. 384VI PIB Municipais 1999-2004 (Tabelas) ............................................................................406

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    Lista de mapas

    1- Nova Alta Paulista ............................................................................................................... 712- Nova Alta Paulista no Estado de So Paulo.........................................................................713- Nova Alta Paulista no Brasil ................................................................................................714- So Paulo diviso regional ................................................................................................995- Evoluo da cobertura florestal no Estado em So Paulo..................................................1026- So Paulo: aspectos fsicos, principais cidades e rede ferroviria, cerca de 1930.............1067- Evoluo da frente pioneira no espigo Feio-Aguape e Peixe 1900-1950 .................... 1078- A marcha do caf................................................................................................................109

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    Lista de quadros

    1- Um quadro moderno do ponto de vista territorial ................................................................ 602- Hexgono do desenvolvimento regional ..............................................................................623- PIB e IDH-M dos municpios da Nova Alta Paulista .......................................................... 744- Criao dos municpios da Nova Alta Paulista..................................................................1115- Distncia entre as cidades ..................................................................................................1196- O Estado de So Paulo no contexto nacional - 1901-1920 ................................................1337- Evoluo da indstria de transformao no Estado de So Paulo - 1907-1928.................1338- Evoluo da populao - quadro comparativo ...................................................................1749- As dez maiores arrecadaes de ICMS do extremo Oeste paulista - maio de 1995 ..........17510- Movimentao vertical (extrarregional) da Amnap .........................................................22911- Movimentao horizontal (intrarregional) da Amnap......................................................22912- Cidades-sede das assemblias e representadas na presidncia da Amnap.......................23013- Demandas reivindicadas pelas diretorias da Amnap........................................................23114- Ganhos da Amnap por meio de programas estaduais, sem atendimento especfico s

    reivindicaes da Amnap.................................................................................................23115- Nova Alta Paulista - delitos 2000-2006 - Homicdio doloso e Furtos .............................24516- Nova Alta Paulista - delitos 200-2006 - Roubos e Furto e roubo de veculos.................24617- Profisso das mes ...........................................................................................................29518- Profisso dos pais .............................................................................................................29519- Gerao de empregos na educao infantil......................................................................29720- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 1999.........................................40621- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 2000.........................................40722- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 2001.........................................40823- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 2002.........................................40924- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 2003.........................................41025- Nova Alta Paulista: PIB Municipal e renda per capita 2004.........................................411

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    Lista de tabelas

    1- NAP: aspectos demogrficos ............................................................................................... 732- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1940.......................................................................3843- Nova Alta Paulista: Censo Comercial (Atacadista e Varejista) 1950 ................................3854- Nova Alta Paulista: Censo Comercial (Varejista) 1960.....................................................3865- Nova Alta Paulista: Censo Comercial (Atacadista) 1960 ..................................................3876- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1970.......................................................................3887- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1980.......................................................................3898- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1985.......................................................................3909- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1940-1985 N de estabelecimentos .................... 39110- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1940 ......................................................................39211- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1950 ......................................................................39312- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1960 ......................................................................39413- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1970 ......................................................................39514- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1980 ......................................................................39615- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1985 ......................................................................39716- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1940-1985 N de estabelecimentos....................39817- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1940........................................................................39918- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1950........................................................................40019- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1960........................................................................40120- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1970........................................................................40221- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1980........................................................................40322- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1985........................................................................40423- Nova Alta Paulista: Censo Servios 1940-1985 N de estabelecimentos ..................... 405

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    Lista de grficos

    1- Produo de caf na Nova Alta Paulista ............................................................................1482- Produo de caf em Adamantina......................................................................................1483- Pessoal ocupado nas lavouras de caf da Nova Alta Paulista............................................1494- Pessoal ocupado nas lavouras de caf em Adamantina......................................................1495- Brasil: populao cafeeira e preos 1960-1996...............................................................1526- Nova Alta Paulista: populao cafeeira e preos 1946 1995 ....................................... 1527- Populao total da Nova Alta Paulista...............................................................................1768 - Evoluo da populao urbana e rural da Nova Alta Paulista .......................................... 1769 - Principais produtos agrcolas da Nova Alta Paulista ........................................................17710- Produo de caf na Nova Alta Paulista ..........................................................................17711- Evoluo da cultura de caf nos municpios da Nova Alta Paulista ...............................17712 a 15- Nova Alta Paulista: Censo Industrial 1940 1985

    N de estabelecimentos................................................................................... 179 a 18016 a 19- Nova Alta Paulista: Censo de Servios 1940 1985

    N de estabelecimentos................................................................................... 181 a 18220 a 23- Nova Alta Paulista: Censo Comercial 1940 1985

    N de estabelecimentos................................................................................... 183 a 18424 a 27- Nova Alta Paulista: PIB Municipal Agropecurio 1999 2004 .................... 265 a 26628 a 31- Nova Alta Paulista: PIB Industrial 1999 2004 ............................................ 267 a 26832 a 35- Nova Alta Paulista: PIB Municipal Servios 1999 2004 ............................ 269 a 270

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    SIGLAS

    ABPF - Associao Brasileira da Preservao FerroviriaACE - Associao Comercial e EmpresarialAIC - Acordo Internacional do CafALL - Amrica Latina LogsticaAMNAP - Associao dos Municpios da Nova Alta PaulistaAMOP - Associao dos Municpios do Oeste PaulistaAMCOP - Associao dos Municpios do Centro-Oeste PaulistaANTT - Agncia Nacional de Transportes TerrestresAPMCP - Associao de Preservao da Memria da Companhia PaulistaAPTA - Agncia Paulista de Tecnologia para o AgronegcioARENA - Aliana Renovadora NacionalASPACO - Associao Paulista dos Criadores de OvinosBNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e SocialCAMDA - Cooperativa Mista da Regio de AdamantinaCASUL - Cooperativa dos Cafeicultores do Sul de So Paulo LtdaCATI - Coordenadoria de Assistncia Tcnica IntegradaCEPAM - Centro de Pesquisa e Amparo aos Municpios da Fundao Faria LimaCNM - Confederao Nacional dos MunicpiosCPDC - Conselho Deliberativo da Poltica do CafCATENAP - Clube dos Amigos da Televiso da Nova Alta PaulistaCAZOLA - Cooperativa da Zona de LucliaCAC - Cooperativa Agrcola de CotiaCAIC - Companhia de Agricultura, Imigrao e ColonizaoCEETEPS - Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula SouzaCFC - Conselho Federal de ContabilidadeCESP - Centrais Energticas de So PauloCGICB - Companhia Geral de Immigrao e Colonizao do BrasilCOMAP - Consrcio dos Municpios da Alta PaulistaCOREDE - Conselho Regional de DesenvolvimentoCPEF - Companhia Paulista de Estrada de FerroDAEE - Departamento de gua e Esgoto do Estado de So PauloDEINTER - Departamento de Polcia Judiciria de So Paulo Interior

    DER - Departamento de Estradas de RodagemDIRA - Delegacia Regional AgrcolaDNIT - Departamento Nacional de Infra-Estrutura de TransportesERI - Escritrio Regional de IntegraoERPLAN - Escritrio Regional de PlanejamentoESEFAT - Escola Superior de Educao Fsica de TupFACAT - Faculdade de Cincia Econmicas e Gerenciais de TupFADAP - Faculdade de Direito da Alta PaulistaFAESP - Federao da Agricultura do Estado de So PauloFACESP - Federao das Associaes Comerciais do Estado de So PauloFAFIA - Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Adamantina

    FAFIT - Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de TupFAI - Faculdades Adamantinenses IntegradasFEBEM - Fundao Estadual de Bem-Estar do Menor

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    FEO - Faculdade de Enfermagem e Obstetrcia de AdamantinaFEPASA - Ferrovias Paulista S.AFERROBAN - Ferrovia Bandeirante S.A.FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So PauloFPM - Fundo de Participao dos MunicpiosFUNDEC - Fundao Dracenense de Educao e CulturaIAA - Instituto do Acar e do lcoolIAC - Instituto Agronmico de CampinasIBC - Instituto Brasileiro do CafIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaINPS - Instituto Nacional de Previdncia SocialINSS - Instituto Nacional de Previdncia e Seguridade SocialMDB - Movimento Democrtico BrasileiroMST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem TerraOIT - Organizao Internacional do TrabalhoPDS - Partido Democrtico SocialPMDB - Partido do Movimento Democrtico BrasileiroPNOT - Poltica Nacional de Ordenamento TerritorialPNUD - Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPPA - Plano PlurianualPT - Partido dos TrabalhadoresPTB - Partido Trabalhista BrasileiroPSDB - Partido da Social Democracia BrasileiraPNDR - Plano Nacional de Desenvolvimento RegionalRA - Regio AdministrativaRFFNOB - Rede Ferroviria Federal Noroeste do BrasilRMSP - Regio Metropolitana de So PauloSABESP - Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So PauloSEADE - Sistema Estadual de Anlise de Dados EstatsticosSEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio Pequena e Mdia EmpresaSUDECO - Superintendncia para o Desenvolvimento do Centro-OesteTELESP - Telefonia de So Paulo S.A.UDOP - Unio dos Produtores de Bioenergia (nomenclatura incorporada

    em 2007. Anteriormente lia-se Usinas e Destilarias do Oeste Paulista)UPNAP - Unio dos Prefeitos da Nova Alta Paulista

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    COMENTRIOS PS-DEFESA

    O ritual de defesa pblica de uma tese de mestrado e doutorado tem a funo desubmeter a pesquisa realizada a alguns representantes da comunidade cientfica, a chamada banca, que, com os seus filtros acadmicos, a submetero a uma anlise, julgando-a prpriaou imprpria ao domnio pblico. Nessa troca, ganham o pesquisador avaliado, com asobservaes de outros pesquisadores, o orientador, que revela seus pressupostos terico-metodolgicos diludos no produto final de seu/a pupilo/a, os prprios pesquisadoresmembros da banca, que atualizam conceitos e discusses, e a sociedade, pois, ao final, recebe

    um produto depurado.Por fora dos aspectos operacionais do processo, o momento da defesa, apesar de

    pblica, resume-se a um pequeno nmero de pessoas. Nem sempre so feitos registrosaudiovisuais e a riqueza do debate perde-se em anotaes do defendente e de seu orientador.Algumas contribuies so relevadas e inseridas na verso final da tese, outras se perdem notempo.

    Considerando que o conhecimento uma construo e que as convices cientficasso, tambm, instrumentos de poder, optou-se (orientador e orientada) por registrar algunsapontamentos relevantes feitos pelos membros da banca. Suas contribuies servem de alerta(nenhuma pesquisa completa) e como referncia para outros que esto desenvolvendo suas pesquisas. Coloca-se, tambm, um breve currculo de cada dos membros da banca,contextualizando-os como cientistas e como cidados.

    Prof. dr. RUBENS GALDINO DA SILVA. Historiador. Professor de Filosofia do Direito ecoordenador do ncleo de pesquisas jurdicas da FAI (Faculdades AdamantinensesIntegradas)

    O professor Rubens sugere que o ttulo se limite primeira parte: Nova Alta Paulista,1930-2006: entre memrias e sonhos. Para ele, o contedo da tese remete ao movimento dehomens e mulheres que migraram para o Oeste paulista (memria). Os sonhos do passadomantm-se no presente: a esperana de um futuro melhor. Isto bastaria.

    Apesar de a poesia estar presente at no movimento mais rude de um trabalhador,opta-se por manter o ttulo na sua forma original, pois se considera que a primeira parte se

    remete natureza subjetiva que permeia a deciso e a coragem de rumar-se para odesconhecido, mesmo que esta atitude seja conseqncia de motivos materiais de

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    sobrevivncia. A segunda parte Do desenvolvimento contido ao projeto poltico dedesenvolvimento regional remete-se ao contedo cientfico da pesquisa, inscrito j na pginainicial do trabalho. Tal registro teria a funo de apontar ao leitor a tnica do trabalho.

    Uma outra observao deu-se em relao a um dado histrico impreciso apresentadoao longo do texto. Originalmente, escreveu-se que os trilhos da CPEF pararam em Lucliadurante algum tempo, antes de seguir para o Oeste, passando por Adamantina. Neste caso,Luclia teria se tornado cidade ponta de trilho. O historiador adverte que, em 1928, foiinaugurada a estao ferroviria de Tup e, de l, os trilhos seguiram em direo barrancado rio Paran. Por uma questo de ordem operacional, o avano acontecia gradativamente,mas no houve uma parada estratgica em Luclia. Foras polticas locais mobilizaram-se

    para que isto ocorresse, com o intuito de bloquear o desenvolvimento de Adamantina, queseria a prxima estao, distando, apenas, sete quilmetros daquela cidade. Tal fato aponta para a impreciso que pode conter um trabalho cientfico, desmistificando a idia de verdadeabsoluta que a cincia pode suscitar.

    Referindo-se a Pierre Monbeig, em seu clssico Pioneiros e fazendeiros de So Paulo,quando este discute a natureza das franjas pioneiras, Galdino levanta a questo do carter efervescente de uma rea em fase de colonizao. A oportunidade de negcios e de

    prosperidade que as terras frteis e baratas proporcionam, suscita esperanas e cobias,atraindo pessoas e empreendimentos. H, no entanto, uma tendncia natural acomodao, oque, no caso da Nova Alta Paulista, tambm poderia ter contribudo para a estabilizao dasdcadas posteriores.

    Trata-se de uma inferncia bastante apropriada. A acomodao uma tendnciainerente a qualquer processo, porm, na Nova Alta Paulista, ela ganhou contornos quecontriburam para o desencadeamento de um desenvolvimento contido e, por extenso, de

    uma regio contida. O carter comercial e meramente especulativo do negcio das terras e aviso dos migrantes focada mais na ocupao dessas terras e na consolidao de sua condiode proprietrio, a poltica local, centrada em obter vantagens imediatas, o empresariadodedicando seus esforos ao retorno imediato de seus investimentos, e a ausncia de polticas pblicas estaduais e federais, que garantissem a estruturao dos elementos fundantes de umdesenvolvimento sustentvel, contribuam para que a conjuntura dos momentos posteriores(geada de 1975, concentrao industrial na RMSP, crise fiscal do Estado, esgotamento donacional desenvolvimentismo, entre outros) se fizesse sentir de maneira mais intensa naquela poro do territrio paulista. Durante a colonizao, no se estruturaram suficientemente osaparatos basilares do desenvolvimento (entre eles a instalao de centros universitrios

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    dedicados Pesquisa e Desenvolvimento), nem se articulou uma rede de cooperaointrarregional capaz de gerar energia suficiente para desencadear novos processos, dessa vezcentrado no prprio lugar. Como conseqncia, a evaso populacional, o desmonte daorganizao da agricultura originalmente implantada e a dificuldade em se dinamizar aeconomia regional, foram inevitveis.

    Prof. dr. ELPDIO SERRA. Gegrafo. Professor do Departamento de Geografia da UEM(Universidade Estadual de Maring).

    Fez algumas observaes quanto aos aspectos tcnicos do trabalho apresentado,contribuindo para o seu aperfeioamento. Destacou que, na pesquisa sobre a formao

    econmica e social de uma rea territorial, no apareceram os conflitos de terra, comuns noOeste paulista. Eles no existiriam na Nova Alta Paulista ou teriam sido negligenciados?

    Durante a pesquisa, contataram-se rgos oficiais (ITESP, INCRA, Procuradoria doEstado em Presidente Prudente e Marlia) e militantes do MST para averiguar esta temtica.Constatou-se o registro de alguns casos de irregularidades documentais de posse em Pauliciae Tupi Paulista, onde h algumas ocupaes de terra. No conjunto da Nova Alta Paulista,essas ocupaes no adquirem uma dimenso significativa, como reas vizinhas (Andradina e

    Pontal do Paranapanema), onde os conflitos so exponenciais.Tal fato carece de estudos especficos, o que no se constitua em objeto de anlise.

    Relacionando essa aparente estabilidade na estrutura fundiria regional com o seudesenvolvimento, pondera-se que esta seja resultante da prpria condio de desenvolvimentocontido. O conflito est latente, porm adormecido num contexto econmico-social poucoacelerado quando comparado com outros mais dinmicos.

    Prof. dr. EVERALDO MELLAZZO. Economista. Professor do Programa de Ps-graduao em Geografia e chefe do Departamento de Planejamento da Unesp PresidentePrudente.

    Seus questionamentos so instigantes: Se o desenvolvimento passa pela luta declasses, por que ela no foi objeto de anlise? Os estudos apontam para estruturas econjunturas que contriburam para uma condio de desenvolvimento contido. Qual seria odesenvolvimento no contido? Quais potencialidades no se realizaram? Ao descortinar oselementos de um desenvolvimento contido, onde a pesquisadora pretende chegar?

    Tais inquisies levam a novas reflexes, apontando para posicionamentos futuros,denotando o carter dinmico do conhecimento. Em relao ao primeiro questionamento, ao

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    se definir as problematizaes que norteariam e moveriam a pesquisa, optou-se por buscar aapreenso do desenvolvimento regional numa perspectiva macro. Talvez a carncia deestudos regionais tenha influenciado tal deciso, uma vez que se dispem de poucos dadossistematizados sobre essa rea do territrio paulista. Acreditou-se que, dessa forma,contemplar-se-ia mais facilmente a interao dos principais agentes do desenvolvimento: oEstado, a sociedade, as instituies, e o empresariado.

    O desenvolvimento no contido, indagado pelo pesquisador, remete a reflexes deordem prtica e outras de natureza ontolgica. Comparando os indicadores socioeconmicos,na Nova Alta Paulista predominam resultados inferiores mdia do Estado de So Paulo: PIBMunicipal, renda per capita, produtividade agrcola, entre outros. Neste caso, o

    desenvolvimento que se deseja contempla a possibilidade de se avanar, alterando esseranqueamento e se revertendo em melhor qualidade de vida. Tal avano desdobrar-se-ia emganhos quantitativos e qualitativos. A constatao de desenvolvimento contido, no entanto,no se limita a estes aspectos. A concepo de desenvolvimento eminentemente poltica, passando tambm pela viso de mundo de quem a concebe. H os que ganham com acondio desfavorvel de desenvolvimento em que vivem os diferentes grupos humanos; hquem tire proveito da degradao ambiental do solo e da gua, enquanto esta se constitui

    numa ameaa coletiva.Para esta pesquisadora, o desenvolvimento deve pautar-se na sustentabilidade

    econmica, social e ambiental. Deve, ainda, ser equnime para proporcionar condies dignasde vida e de trabalho a todos aqueles que vivem e convivem naquele lugar. H, ento, que se buscar a instrumentalizao de pessoas e instituies para que induzam suas aes, oordenamento burocrtico, e o foco da gesto para o bem comum.

    Quanto aos objetivos desta pesquisadora com este trabalho investigativo, d-se a ele o

    carter condicional de meio e no de fim. O por fazer infinito. Atendo-se aodesenvolvimento da Nova Alta Paulista, a inteno contribuir para que grupos locais tenhammais um elemento para reflexo. H que se definir algumas urgncias (e isto deve ser feitocoletivamente): a constituio de uma regio administrativa uma forma de se conquistar mais autonomia? Em caso afirmativo, o atual modelo satisfaz? Como fortalecer umaarticulao intra-regional em rede, de modo a encadear possibilidades de desabrochamento desuas potencialidades? Os passos futuros caminham na direo de buscar resposta coletiva aesses questionamentos vitais.

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    Prof. dr. ELISEU SAVRIO SPOSITO. Gegrafo. Professor do Departamento deGeografia e do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Unesp Presidente Prudente.

    Eliseu fez observaes quanto s falhas organizacionais e textuais da tese, favorecendoa sua apresentao esttica e literria. Sua contribuio terica aponta para uma questocentral no desenvolvimento da Nova Alta Paulista: o papel das instituies de ensino superior.Afirmou-se, no trabalho, que a FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) tem potencialidade imediata para assumir esse papel. Dispe de estrutura fsica, laboratorial, eacadmica apropriada para os desafios das demandas regionais. Outras faculdades tambmapresentam condies similares, embora um pouco menos aparelhadas. Consideram-se, nestegrupo, os dois campus da Unesp (Dracena e Tup), instalados em 2003. Pergunta o professor:

    apesar da titulao de um percentual significativo dos docentes, h condies reais para sededicarem pesquisa? Essas pessoas esto realmente disponveis para se dedicarem pesquisa e extenso? H projetos institucionais que abrigam programas geradores dedesenvolvimento? Em outras palavras: essas faculdades so o que pensam que so?

    A resposta no. H um universo estrutural a ser construdo. Estes questionamentosestendem-se aos rgos tcnicos estaduais, ao preparo dos componentes das cmarasmunicipais para legislarem sobre questes basilares do desenvolvimento, como lei de uso do

    solo, composio oramentria e tributria, legislao ambiental e expanso das bioenergias,entre tantas outras. Como se v, o desenvolvimento regional apresenta-se incipiente e frgilem sua estruturao basilar.

    Prof. dr BERNARDO MANANO FERNANDES. Gegrafo. Professor do Departamentode Geografia e do Programa Ps-Graduao em Geografia da Unesp Presidente Prudente.Pesquisador responsvel pelo Ncleo de Pesquisas sobre Reforma Agrria/Unesp.

    Destaca-se, aqui, a atividade de orientao, e o papel do professor orientador durante afase da pesquisa e aps a defesa. Esta ao reveste-se de um aspecto didtico-pedaggico peculiar atividade de orientao, mas encerra um contedo eminentemente poltico. Asorientaes podem ser concebidas como fim ou como meio. Como fim, o contato entreorientador e orientado se encerra na defesa. Como meio, esta a concluso de uma etapa e aabertura de outra, agora mais abrangente e eivada de possibilidades.

    Criam-se ns, que permitem a ampliao de redes infindveis de relacionamentos. Nessas articulaes, orientando e orientador podem criar possibilidades de desdobramentosdos contedos discutidos e, principalmente, de materializao de noes e conceitos forjadosao longo da convivncia acadmica. Desta interao, emergem novos territrios, reproduzindo

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    a natureza viva do conhecimento e o carter dinmico da cincia. Nesta permanenteconstruo, ganham orientando e orientador, ganham os que se beneficiam de sua produo,ganha a sociedade.

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    Resumo

    O desenvolvimento, apesar da completude que o termo encerra, ocorre de modo desigual entreas diferentes reas e regies. Segundo a lgica monopolstica que embasa os processos sociaise econmicos, a sociedade empreende as configuraes espaciais e territoriais que se nosapresentam no cotidiano. A Nova Alta Paulista, localizada no extremo Oeste paulista,configurou-se nas dcadas medianas do sculo XX, concomitante urbano-industrializaoem curso na regio metropolitana comandada pela capital. Fatores externos, como as macro-tendncias internacionais, alm das aes governamentais inspiradas no nacional-desenvolvimentismo, aliados a fatores internos, como alguns apectos locacionais, as polticaslocais, e o predomnio de uma cultura resistente ao fortalecimento das articulaesintrarregionais, contriburam para uma configurao socioeconmica secundria no contextoestadual. O momento sinaliza transformaes profundas na atual organizao espao-territorial, alertando para a necessidade de estudos de impacto sobre o impacto nodesenvolvimento regional. Nesta pesquisa, estabeleceram-se como objetivos: analisar como sedeu a formao econmica e social da Nova Alta Paulista para compreender a suaconfigurao atual; investigar a adequao do conceito de regio contida para denominar asua caracterizao socioeconmica e poltico-cultural; utilizar o novo contedo que perpassa aidia de territrio, compreendendo-o como uma formao social resultante das relaes de poder que se estabeleceram e que se estabelecem num determinado tempo e lugar, atribuindoo enfoque territorial ao desenvolvimento; investigar se a concepo atual de desenvolvimentoregional, denominado desenvolvimento endgeno, conseguir territorializar-se, a partir dosmovimentos socioespaciais empreendidos pelos grupos e segmentos locais em conflito com asforas hegemnicas da atualidade. Procurou-se estabelecer objetivos que contemplam aformao regional em suas relaes internas e externas, num esforo para lhe desvendar arealidade sob a dimenso espao-temporal, em trs momentos: o da colonizao eestruturao econmico-poltico-scio-cultural (1930-1975), o da desarticulao econmico-social (1975-1996) e o atual, em fase de redefinio econmico-poltico-social (1997-2006).A periodizao deveu-se necessidade de se estabelecer recortes temporais como recursometodolgico para facilitar a anlise. A confluncia de fatores internos e externos resultandona caracterizao regional identificada inspirou a elaborao do conceito de regio contida,averiguado ao longo da pesquisa. Acredita-se que para a superao das amarras que secolocam como obstculo a um desenvolvimento mais equnime, h a necessidade doestabelecimento de uma poltica regional de coeso. Para isso, se considera a importncia daarticulao das foras polticas e utilizao de recursos econmicos, com nfase nos aspectosculturais das pessoas e instituies, de modo a empreender e subsidiar projetos que estimulem

    iniciativas diversas e promovam bem-estar coletividade.

    Palavras-chave: Nova Alta Paulista desenvolvimento regional regio contida desenvolvimento territorial poltica regional de coeso.

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    Abstract

    Development, despite the completion the term incites, occurs unequally in the midst of different areas and regions. According to the monopolistic logic that bases the social andeconomical process, society understakes the environment wich we are daily exposed to NovaAlta Paulista, located in the farwest of the state of So Paulo, was developed in the mid of thetwentieth century, together with the urban industrialization on course in the metropolitan areain state control. External factors, such as the international conjuncture, besides thegovernments move inspired by the national development trend, combined with internalfactors, such as certain characteristics of the environment, local policies, and the predominance of a resistant conception to the consolidation of regional debates, contributed toa minor socioeconomical situation in the context of the state. Current affairs are leading us toimportant changes on environmental and territorial organization under the tendency torenewable sources of energy. Such fact demands reflection and study on its impact over development in the region. In this study, the objectives were to analyse how thesocioeconomical development of Nova Alta Paulista took place to understand its current face;to examine the adjustment to the idea of a suppressed region to designate its socioeconomicaland political cultural characteristics; to make use of a new approach that suprpasses theconception of territory, conceiving it as a social development which results from theconception of region to a territorial notion; to verify If the idea of regional development,named endogeneous development, will be able to territorialize, beginning with thesocioeconomical actions under taken by local parties and segments in conflict with currenthegemonical powers. Objectives which ponder the regional aspects both in its external andinternal relations, in an effort to unveil the facts in the time environment situation in threestages: colonization and socioeconomical-political-cultural structure (1930-1975),socioeconomical disarrangement (1975-1996), and currently, in a stage of socioeconomical- political reorganization (1997-2006). The periodization was due to the need of establishingtime intervals to favours the analysis. The confluence of internal and external factors havingas a result the regional characteristics identified inspired the elaboration of the conception of asuppressed region, examined during the study. It is believede that in order to break with thechaims that are an obstacle to a more equal and fair development it is necessary to establish acohesive regional policy, articulating political powers and economical resources, emphasizingcultural traits of people and institutions, in order to undertake and subsidize, projects whichestimulate initiatives and promote collective welfare.

    Key-words: Nova Alta Paulista regional development suppressed region territorialdevelopment cohesive regional policy.

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    Introduo

    Por que estudar o desenvolvimento regional da Nova Alta Paulista? As relaessociais, em seus aspectos histricos e geogrficos, a incluindo o cotidiano das pessoas em

    suas relaes com o outro, com as instituies, e com a natureza, guardam a magia da

    realizao da vida ao mesmo tempo em que desenham paisagens que marcam as civilizaes.

    O contedo dessas paisagens constitui os espaos produzidos pela dialtica dessas inter-

    relaes. Nesses espaos, permeados de interesses que engendram as co-relaes de foras,

    formam-se os territrios. Produtoras e produtos de complexas teias de relaes, as pessoas

    reproduzem padres e, ao mesmo tempo, demonstram originalidade, inaugurando o novo e

    perpetuando estruturas.

    Estudar o desenvolvimento permite compreender essas estruturas, identificando-lhes

    os aspectos transitrios e os permanentes e de que forma eles interferem nos fluxos da

    sociedade. Compreender esse mecanismo e denunciar suas amarras constituem-se num

    compromisso do cientista social, principalmente em pases com gritantes contradies, como

    o Brasil. Quando os esclarecimentos possibilitam a pessoas e instituies a tomada de

    conscincia sobre o seu papel e o desvirtuamento em que podem incorrer, atingiu-se o

    objetivo numa pesquisa comprometida com a coletividade.

    O tempo presente, em suas evidncias de esgotamento de modelos que seconsideravam equivocadamente como seguros, refora a idia da importncia de valorizao

    do lugar, a qual, por sua vez, suscita a necessidade de se pensar o desenvolvimento em bases

    mais engajadas com o compromisso de cada um, incluindo a as pessoas, as instituies, os

    empreendimentos privados, e o Estado. Pensar o lugar sob a perspectiva da equidade e da

    justia social atribuir-lhe a condio de sustentabilidade. O desenvolvimento ganha, ento, o

    centro dos debates.

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    Neste trabalho, destacou-se um fragmento do territrio brasileiro e paulista em seus

    aspectos mltiplos, considerando que no lugar se interceptam todos eles. Ao identificarem-se

    os elementos universais contidos no desenvolvimento de uma rea espacialmente delimitada, busca-se contribuir para que os atores sociais envolvidos possam ampliar seus horizontes,

    rompendo escalas e inserindo-a integralmente na realidade maior. , pois, nessa ponte que

    se pretende atuar nesta investigao cientfica.

    A Nova Alta Paulista uma rea do Estado de So Paulo, que busca incansavelmente

    o seu reconhecimento poltico junto ao governo estadual como rea independente das regies

    administrativas a que pertence, e pela sua vitalizao econmica e social. Formou-se no

    crepsculo da economia cafeeira e na aurora da economia urbano-industrial brasileira, entre as

    dcadas de 1930 e 1960. A primeira, em declnio, no reunia mais foras para vitaliz-la; a

    segunda canalizava todas as suas energias para os plos de aglomerao. A populao que

    primeiro a ocupou, em sua maioria, fugia das contradies engendradas nas reas cafeeiras

    consolidadas, que expulsavam os camponeses medida que concentravam riquezas; a massa

    populacional (especialmente em idade ativa), formada no interior da nova rea colonizada, foi

    tragada pelas foras das reas que se dinamizavam com a concentrao da atividade

    industrial.

    Conhecer a trajetria histrica e as lutas das pessoas para fazer valer os ideais que asmotivaram a ocup-la no passado, bem como as lutas do presente, para validar antigos enovos anseios e necessidades, permite compreender a sua resistncia e os caminhos percorridos para a realizao desses ideais. Nesse percurso, o liame tecido pelas inter-relaesentre os diferentes atores sociais revela a originalidade e os equvocos de pessoas, grupos ecomunidades em movimento, na luta pela configurao de um territrio: o territrio da NovaAlta Paulista.

    A luta pelo territrio da Nova Alta Paulista tem um significado espacial, quandoreivindica a criao de uma regio administrativa independente. Esta luta pelo territrio, em

    seu sentido conceitual contemporneo, adquire dimenses maiores: conquistar reconhecimento poltico junto aos governos centrais, especialmente o estadual; romper

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    amarras oramentrias, como o atual repasse de verbas pelo critrio da proporcionalidade(municpios que arrecadam mais impostos obtm repasses maiores); priorizao das reasmais dinmicas para investimentos de recursos pblicos, principalmente em infra-estrutura;descontinuidade das polticas pblicas, comprometendo o andamento de projetos e programas;a ausncia, inadequao ou insuficincia das aes de apoio s iniciativas locais, quasesempre baseadas nos pequenos empreendimentos rurais e empresariais, resultando nafragilidade desses segmentos. Nesse contexto, reas que se formaram de modo desvantajoso,desguarnecidas de recursos e equipamentos que possam fortalece-las para uma competiomais equilibrada, ficam merc das foras hegemnicas, o que contribui para reproduzir e perpetuar a sua condio secundria.

    A percepo dessas relaes desiguais ocorre em momentos e em intensidadesdiferentes pelas pessoas e segmentos, levando-os a empreender lutas constantes e aengajarem-se em lutas maiores, tambm de modo diferenciado. Esse fato indica a inevitvelformao de diferentes territrios no interior de uma mesma comunidade e de uma mesmarea, o que garante o aspecto plural da totalidade. Politicamente, a ausncia de um eixo dedesenvolvimento estabelecido pela sociedade, por meio de seus agentes catalisadores ecoordenado pelos dirigentes por ela escolhidos, faz com que as lutas estruturais derivadas e

    voltadas aos interesses comuns acabem ocorrendo de modo desarticulado, o que dificulta asua efetivao e a sua convergncia aos propsitos iniciais.

    Todas essas questes so inerentes ao desenvolvimento de qualquer sociedadeocidental contempornea, principalmente daquelas historicamente forjadas nas contradiesimanentes da diviso internacional do trabalho. Desvendar-lhes as mazelas contribui parasuperar amarras, transpondo barreiras elementares que obstruem a realizao da vida de modomais equnime, levando as pessoas a serem mais felizes e convivendo com a natureza de

    modo mais harmonioso.A palavra que catalisa toda essa concepo e a sua manifestao exteriorizada

    espacialmente desenvolvimento. Considerando-o como uma terminologia que encerracompletude, o desenvolvimento s pode ser humano e sustentvel. Esse carter de completudede seu significado expe a redundncia de qualquer adjetivo que se queira agregar; ganhando,ento, a conotao de multidimensionalidade. As expresses desenvolvimento local,desenvolvimento regional, desenvolvimento nacional, ou desenvolvimento internacionalreferem-se a escalas de anlise. Apesar de cada uma delas possuir suas especificidades, odesenvolvimento contm vrias unidades dialticas, entre elas o fato de no acontecer simultaneamente em todos os lugares e segmentos, sendo que, em alguns deles, ele perdura

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    indeterminadamente como aqum das condies desejveis dignidade humana. A luta pelodesenvolvimento, embora nem sempre leve este nome, , sempre, uma luta pela vida.

    A formao regional da Nova Alta Paulista um exemplo concreto de espacializaodessa dialtica: de um lado, a formao da metrpole paulista como um plo de aglomerao,na mais convincente mostra do paradigma do nacional-desenvolvimentismo iniciado no ps-guerra; de outro, a aniquilao de reas cuja dinmica no se coaduna perfeitamente lgicaestabelecida. Assim, para legitimar prioridades (a concentrao industrial como fator dedesenvolvimento), os governos centrais (do Estado de So Paulo e federal) destinaramrecursos prodigiosos metrpole paulista, enquanto algumas reas, particularmente a NovaAlta Paulista, prescindiam de investimentos essenciais. Se, por um lado, o foco do ncleo

    estratgico do poder instalado nas esferas superiores materializava o paradigma em voga, por outro, a articulao da poltica da rea prejudicada no alcanava a dimenso dasconseqncias futuras. No se pode deixar de reconhecer a precocidade das cidades que seformavam naquela poca, absortas nas suas necessidades mais elementares, e a culturaindividualista que marcou a sua colonizao, fatos que contribuam para que se reforassem profundas desigualdades regionais no territrio paulista. As lutas pela conquista deequipamentos regionais e locais basilares s jovens cidades confundiram-se com as lutas pela

    superao das desigualdades regionais, embora nem mesmo as lideranas polticas ecomunitrias o tenham percebido com clareza.

    A observao desses aspectos d a dimenso da complexidade e da abrangncia que aidia de desenvolvimento suscita. Aos planejadores de aes voltadas coletividade, emqualquer das escalas: local, regional, nacional ou mundial, imprescindvel a compreensodesses mecanismos para vislumbrar as suas especificidades e a sua interdependncia, quandoa inteno criar polticas e programas que contemplem todos os atores sociais e a

    preservao dos recursos que lhes servem de substrato. Aos intelectuais colocam-se osdesafios da reflexo terico-metodolgica voltada compreenso desses conceitos emecanismos de ao, procurando aclarar interpretaes confusas e evitar equvocos.

    Considerando a dinamicidade do desenvolvimento, cujo significado se altera emfuno da conjuntura de uma determinada poca, h a necessidade de se discuti-lo naatualidade, num contexto redefinido pelas intensas transformaes desencadeadas no bojo da Nova Ordem Mundial e, por conseqncia, pelos rearranjos polticos, sociais, econmicos eculturais empreendidos e vivenciados nos ltimos anos.

    Um novo contedo, ento, emana das relaes sociais, suscitando discusses queapontam para a necessidade de reviso de noes e concepes que dem conta de

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    compreender essa nova realidade que se manifesta, ainda, carente de interpretaes. Arealidade brasileira, precarizada pelas assimetrias sociais e pela degradao ambiental potencializadas pela hegemonia das relaes de mercado, suscita a urgncia de se rever o papel do Estado e da prpria sociedade civil, apontando a obsolescncia das relaesverticalizadas entre ambos. Em termos de desenvolvimento, essas relaes se materializaram,nas dcadas medianas do sculo XX, em forma de planejamentos centralizados, burocrticos eautoritrios, pouco reconhecedores do protagonismo de todos os atores sociais envolvidos.Cidades surgiram e regies configuraram-se nessa lgica, como o caso da Nova AltaPaulista.

    Alguns pressupostos tericos aplicados compreenso da produo espacial e

    territorial da Nova Alta Paulista esclarecem a sua configurao como rea comdesenvolvimento dependente e contido pela interseco de fatores externos e internos. Aintensificao de tais fatores leva-a a inserir-se desvantajosamente, para a maior parte da populao, na diviso territorial do trabalho. Dessas contradies emanam as suas lutas polticas, sociais, e econmicas, configurando um permanente movimento socioterritorial,valendo-se de iniciativas e movimentos socioespaciais.

    Principalmente a partir de meados dos anos de 1990, percebem-se tendncias de

    rearranjos regionais nas atividades agrrias, base histrica de sua organizao econmica,quais sejam a expanso da fruticultura nas pequenas propriedades, e da agroindstriasucroalcooleira de modo generalizado; nas atividades urbanas, a sofisticao do tercirio,destacando-se a ampliao do ensino superior, a remodelao do setor comercial, e, nasegurana pblica, a recepo de presdios.

    A cincia geogrfica pode oferecer importante contribuio aos estudos dodesenvolvimento, prope-se, ento, o estudo do desenvolvimento regional sob o enfoque

    geogrfico, considerando a dimenso territorial como categoria de anlise, configurando ochamado desenvolvimento territorial. A conjuntura que se desenha desde meados da dcadade 1980, engendrada pelo contexto mundial ps-guerra fria no mundo e no Brasil, imprimiumudanas estruturais perceptveis, inclusive, na escala do lugar: a abertura democrticacondicionada descentralizao poltico-administrativa favorece o fortalecimento de atoreslocais; a revoluo tcnico-cientfica facilitou o acesso informao e aos bens e servios demelhor qualidade; os mercados mundializados promovem rearranjos na localizao e nasformas de produo, alterando a configurao espacial e territorial regional.

    Nesse contexto, iminente a obsolescncia de alguns conceitos e a emergncia deoutros. Paradoxalmente, a globalizao, capitaneada pelas grandes corporaes, favorece as

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    fuses e o agigantamento de empresas, sugerindo uma homogeneizao das economias e dosespaos. Ao mesmo tempo, se percebe uma reao a essas aes homogeneizadoras, incitandoa auto-afirmao das diferenas, ou seja, a reafirmao de identidades, fazendo emergir osterritrios.

    As transformaes locais e regionais recentes apontam para a iminncia de rearranjosespaciais, econmicos, sociais, polticos e ambientais, tendo como motor o capitalmonopolista que se territorializa, principalmente na rea em foco, com a expanso da cana-de-acar, atrado pelos preos acessveis das terras degradadas e subutilizadas, pela numerosaoferta de mo-de-obra barata e semiqualificada, e por uma massa de pequenos agricultorescom mdia etria superior a cinqenta anos, que no oferece grande resistncia nova onda

    que se aproxima. O impacto dessas mudanas carece de anlise e a redefinio dodesenvolvimento desses municpios, com as suas respectivas populaes, depende do que se pensar e de como se agir hoje.

    O desenvolvimento, como se v, adquire status de fim e de meio, ao deixar de ser mera energia emanada do movimento desencadeado pelas pessoas, para se transformar emnecessidade de ordenamento da sociedade, estabelecendo limites individuais de direitos,impondo deveres, e normatizando aes, de modo a tentar garantir o acesso de todos s

    condies basilares de sobrevivncia. A essncia ontolgica dessa condio esbarra nomodelo de sociedade historicamente construdo, que transformou em bem particular osrecursos indispensveis realizao da vida (solo, gua, madeira, minrios), condicionando,assim, o acesso a eles somente por meio de um outro recurso, criado pela prpria sociedade, odinheiro.

    Consideram-se, neste estudo, os municpios membros da Associao dos Municpiosda Nova Alta Paulista AMNAP-, sua principal representao poltica desde 1977. Numa

    rea de 8.484 km2, distribuda em trinta municpios, vivem 362.573 habitantes (IBGE, Censo2000), sendo que cerca de 85% residem nas cidades. De formao recente (aps 1930), essarea viveu, em poucas dcadas, trs fases distintas: um intenso processo de colonizao, entreas dcadas de 1930 e 1960, uma rpida desacelerao e desarticulao de sua economia nasdcadas de 1970 e 1980, e a manifestao de rearranjo, principalmente espacial, econmico esocial, a partir do final da dcada de 1990.

    Ostentando expressivos dados qualitativos da realidade brasileira (altos ndices deescolaridade e longevidade, por exemplo, apresentados ao longo do trabalho) e contrapondooutros bastante indesejveis, entre eles os de evaso populacional e baixa oferta de emprego, a Nova Alta Paulista busca, com dificuldades, articular segmentos e instituies por meio de

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    estratgias endgenas, com segmentos e instituies regidos por estratgias exgenas, entreelas, as prprias polticas pblicas elaboradas pelos governos centrais, alm das tenazesinvestidas do capital hegemnico. Tais articulaes demonstram a complexidade das relaeshorizontais e verticais que a populao e as lideranas empreendem entre si e com as esferassuperiores.

    Transformando essas preocupaes em objeto de anlise acadmica, foramestabelecidos questionamentos que direcionaram a pesquisa e elaboradas hipteses paraaveriguao ao longo do estudo. Quatro problematizaes foram delimitadas como eixos paraas investigaes:1- A Nova Alta Paulista uma regio poltica de formao econmica e social recente,

    datando das dcadas medianas do sculo XX. Nos decnios de 1940 e 1950, especialmente,ela conheceu uma exploso de desenvolvimento, surgindo dezenas de vilas, patrimnios edistritos, sendo que a maioria deles conquistou emancipao poltica, tornando-se municpio.Esse surto de desenvolvimento, no entanto, foi breve e comeou a declinar j no final dadcada de 1960. Que mecanismos e foras agiram poca da colonizao e quais agem, naatualidade, contribuindo para um desenvolvimento econmico e social inferior mdia doEstado de So Paulo?

    2- Em busca de referenciais tericos que permitam a anlise das dificuldades para inseroativa da Nova Alta Paulista de modo mais eqitativo na economia mundializada, pode-serecorrer idia de regio contida para explicar a sua caracterizao?3- O modelo poltico denominado desenvolvimento territorial, que tem no territrio a suacategoria de anlise, pode contribuir para, a partir do seu processo de formao regional,apontar alguns caminhos para o desenvolvimento regional contemporneo?4- O paradigma contemporneo de desenvolvimento, denominado desenvolvimento

    endgeno, e os atuais movimentos socioespaciais em curso na Nova Alta Paulista serocapazes de empreender um desenvolvimento regional que promova crescimento econmicocom equidade social e sustentabilidade ambiental?

    Como hipteses de trabalho se desenvolveram as seguintes suposies:1- A condio dependente e secundria do desenvolvimento regional da Nova Alta

    Paulista d-se na convergncia de fatores internos e externos a essa rea do Estado de SoPaulo. Internamente, ela foi alvo da cobia alvissareira de colonizadores atrados pelas terras baratas e abundantes numa das ltimas pores do territrio paulista ainda inexploradas, poca que se seguiu depresso econmica de 1929, num movimento de recuperao e

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    reproduo dos lucros com a venda fracionada de terra. Colonos e demais investidores com poucos recursos, transformaram-se, em sua maioria, em agricultores e empresrios com pouco potencial para investimentos, dificultando a formao de um mercado consumidor regionalforte e de um ambiente dinmico para novos empreendimentos. O manejo inadequado dosrecursos naturais, principalmente do solo, efetuado em reas cuja caracterizao ecolgicademonstrava incompatibilidade com as prticas econmicas convencionais, acelerou adegradao ambiental regional, comprometendo a sustentabilidade futura. A articulao poltica das lideranas locais e regionais do passado pouco priorizou a formao de umacultura de cooperao entre os municpios vizinhos. Tal prtica dificultou o fortalecimentodas relaes horizontais capazes de minimizar carncias geradas pela assimetria nas relaes

    verticais, sendo essa configurada pelas relaes entre os municpios e os governos do Estado eda Unio.

    Externamente, fatores polticos e econmicos, como a crise financeira de 1929, aconcorrncia de novas reas produtoras, entre outros, contriburam para a exausto daeconomia cafeeira, abrigada no paradigma agrrio-exportador em que se assentara,historicamente, o desenvolvimento brasileiro. Emergia o fenmeno da urbano-industrializao, sustentado pelo modelo do nacional-desenvolvimentismo, que acreditava no

    desenvolvimento a partir de investimentos nas indstrias de base para subsidiar os plos decrescimento. Tais plos se constituam em reas dinmicas e atrativas aglomerao deindstrias complementares. Fatores locacionais, como a distncia dos grandes centrosconsumidores, a pouca expresso do mercado consumidor regional e a ausncia de recursosnaturais que atrassem indstrias motrizes, mostraram-se pouco atraentes ao capital industriale financeiro da poca. O Estado Federado de So Paulo e a Unio, por meio de seusgovernantes, encontravam-se fortemente envolvidos com a otimizao dos projetos

    priorizados, selecionando as reas onde os recursos pblicos seriam direcionados, e limitandoas possibilidades de equipagem das reas em desvantagem, principalmente no setor de infra-estrutura, comprometendo a sua insero mais equilibrada num cenrio cada vez maiscompetitivo que se configurava.

    O esgotamento do paradigma do nacional-desenvolvimento, realizado s custas doendividamento do Estado brasileiro, agravou a crise financeira das contas pblicas, acirrandoas dificuldades das prefeituras dos pequenos municpios e comprometendo a sobrevivnciaadministrativa de muitos deles na Nova Alta Paulista, o que compromete, por sua vez, acapacidade de o poder pblico local apoiar iniciativas que estimulem crescimento econmicocapaz de promover um desenvolvimento mais dinmico.

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    Atualmente, a dificuldade de mobilizao das foras sociais (instituies e lideranas polticas e comunitrias) para a criao de um projeto de desenvolvimento suficientementeforte para catalisar as energias regionais, e o risco de um equvoco em se pleitear uma regioadministrativa, repetindo-se o modelo poltico-administrativo vigente, inibem a possibilidadede se identificar novas formas de gesto, sob o paradigma do desenvolvimento endgeno,criando condies favorveis ao crescimento econmico e ao desenvolvimento. Talconstatao exige da sociedade regional reflexo sobre seus objetivos, estratgias e aes, oque, certamente, passa pela reflexo sobre o papel das lideranas locais e regionais, de modo adespertar uma vontade coletiva capaz de construir uma sinergia voltada aos rumos dodesenvolvimento contemporneo.

    2- Denominam-se regies contidas aquelas cujo crescimento econmico e odesenvolvimento so empreendidos e absorvidos apenas pela minoria dos grupos e segmentoseconmicos e sociais, estendendo-se para a maioria um desenvolvimento mais lento, emconseqncia da assimetria de poder e de articulao entre as diferentes classes sociais. Para amaioria, ento, o desenvolvimento contido. O termo contido, nesse contexto, expressa aidia de freado, reprimido, de no expanso, possibilitando a compreenso de que os lugaresno se explicam por si s, pois esto inseridos na totalidade, que resultante das relaes

    sociais e das relaes das pessoas com o meio. Teoricamente, as regies contidas soformadas no bojo das regies econmico-sociais, tornando-se regies de reserva, este ltimoum conceito largamente utilizado na perspectiva do materialismo histrico e dialtico paraexplicar a formao regional e sua insero na diviso internacional do trabalho.

    H regies cuja localizao e disponibilidade de recursos e ou equipamentoscontribuem para que se tornem atrativas a pessoas e investimentos, potencializando a suacaracterizao, e, da, o seu engajamento em outras regies igualmente constitudas. Ao

    mesmo tempo, outras reas com caracterizao contrria, ou que ainda no despertaram ointeresse dos sujeitos hegemnicos, so ocupadas e ou exploradas com velocidade inferior,desencadeando, portanto, energia oposta s primeiras. As regies atrativas exercem efeito polarizador, para onde convergem mais capital e mais pessoas, que se representam emadensamentos populacionais, infra-estrutura equivalente (e at mesmo antecipando) s suasnecessidades, e expanso tcnica e tecnolgica que, permanentemente, as impelem em direoao novo. As regies atrativas, portanto, se auto-alimentam.

    No outro extremo dessa mesma engrenagem, algumas regies desenvolvem uma foradesagregadora, cuja energia canalizada para desprender recursos em abundncia (matrias-

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    primas, baixo custo na produo de mercadorias, e trabalho humano), pois a suadisponibilidade maior que o consumo local.

    A assimetria entre as regies dinmicas e as regies contidas determinada pelaracionalidade econmica reforada pelo Estado, que falha ao negligenciar seu dever precpuode equidade, desviando-se de um foco multidimensional para o outro extremo, o setorial, privilegiando setores e ou reas em detrimento dos direitos e dos interesses comuns a todos oscidados.

    3- O desenvolvimento territorial compreendido como um modelo poltico concebido para promover o desenvolvimento de um determinado lugar, regio ou pas. Ele contempla atotalidade, sendo, portanto, multidimensional. Sua operacionalizao enfatiza todas as

    dimenses da organizao social: sade, educao, ambiente, segurana, agricultura familiar,agronegcio, cidade, campo etc. Esse modelo poltico, imbudo de viso ideolgica queconsidera a eqidade e o protagonismo como oposio simples idia de competitividade para a insero do local na economia globalizada, deve embasar e respaldar as polticas pblicas municipais e permear os programas estaduais e nacionais, que visam odesenvolvimento regional.

    A questo do desenvolvimento tanto abarca aspectos prticos e operacionais quanto

    concepes tericas e analticas, considerando seus efeitos normativos e institucionais. Aabordagem territorial deve contemplar o crescimento econmico com equidade social, aerradicao da pobreza, a questo do protagonismo dos atores sociais e sua participao poltica, o territrio como unidade de referncia e a preocupao com a sustentabilidadeambiental.

    4- O paradigma do desenvolvimento regional contemporneo emana da dialticacontida na aparente contradio desencadeada pela globalizao centralizadora de poder e de

    recursos, ao mesmo tempo que descentraliza as aes e suscita reaes que promovem poder poltico a grupos e segmentos que se sentem prejudicados.

    Na Nova Alta Paulista, percebem-se vrios movimentos socioespaciais quedemonstram esta reao, pois a descentralizao poltico-administrativa dos Estadosfederados tem transferido para os municpios e a sociedade grande parte da responsabilidadesobre os seus destinos, sem o devido respaldo. A ausncia de debates sobre essas mudanas paradigmticas, combinadas com estratgias de ao dos lderes polticos regionais focadas principalmente em resultados imediatos, comprometem o desenvolvimento regionalcontemporneo ameaado por desafios exteriores gigantescos, sob a tendncia das energiasrenovveis, que se espacializa com a expanso das lavouras de cana-de-acar. A Nova Alta

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    Paulista corre o risco de, mais uma vez, ter o seu modelo de desenvolvimento esgotado, comoo ocorrido no modelo anterior, promovendo gerao de riquezas apenas para poucos grupos, oque refora e perpetua o desenvolvimento setorial e excludente, portanto, conservador, porqueno consegue romper as razes histricas das desigualdades socioeconmicas.

    Em decorrncia das problematizaes e hipteses estabelecidas, priorizaram-se osseguintes objetivos nesta pesquisa:

    - Analisar como se deu a formao econmica e social da Nova Alta Paulista paracompreender a sua configurao atual, com ndices econmicos e sociais inferiores mdia estadual;

    - Investigar a adequao do conceito de regio contida para denominar a caracterizao

    socioeconmica e poltico-cultural da Nova Alta Paulista;- Utilizar o novo contedo que perpassa a idia de territrio, compreendendo-o como

    uma formao social resultante das relaes de poder que se estabeleceram e que seestabelecem num determinado tempo e lugar, atribuindo o enfoque territorial aodesenvolvimento, deslocando, portanto, a idia de regio para a de territrio;

    - Investigar se o paradigma contemporneo de desenvolvimento regional, denominadodesenvolvimento endgeno, conseguir territorializar-se, a partir dos movimentos

    socioespaciais empreendidos pelos grupos e segmentos locais em conflito com asforas hegemnicas da atualidade.

    Procurou-se estabelecer objetivos que contemplam a formao regional em suasrelaes internas e externas, num esforo para lhe desvendar a realidade na dimenso espao-temporal em trs momentos: o da colonizao e estruturao econmico-poltico-scio-cultural (1930-1975), o da desarticulao econmico-social (1975-1996) e o atual, em fase de

    redefinio econmico-poltico-social interna (1997-2006). A periodizao deveu-se necessidade de se estabelecer recortes temporais como recurso metodolgico para facilitar aanlise. sabido que toda tentativa de periodizao incorre em limitaes, porm, por umaquesto didtica, recorre-se a este procedimento. Cada fase ser objeto de anlise, justificandoa sua delimitao.

    A delimitao dos recortes temporais seguiu a dimenso sucessria do tempo,enquanto para as anlises se usou a dimenso da coexistncia. Sucesso e coexistncia so asduas principais dimenses utilizadas, em Geografia, para se trabalhar a questo do tempo.

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    A dimenso das sucesses utilizada para delimitar os trs momentos do

    desenvolvimento regional dessa regio poltica - considera o fluir do tempo, passando assim a

    idia de ordenamento seqencial dos fenmenos. O tempo da sucesso o tempo histricoque atende mais a um aspecto didtico do que tentativa de compreenso da totalidade,

    ganhando, portanto, uma conotao de abstrao, enquanto o tempo da simultaneidade

    concreto. As diferenas e semelhanas, bem como as diferenas e possibilidades de uso do

    tempo so reunidas no espao, denotando-lhe a condio de realidade.

    Na Nova Alta Paulista, como em qualquer outro lugar, h uma sobreposio detempos: o de cada pessoa, cada empresa ou instituio, cada comunidade, cada cidade, eassim sucessivamente. Os tempos e os acontecimentos comuns a esses grupos, em reasdelimitadas por certas semelhanas, caracterizam o desenvolvimento regional, e este, por suavez, tambm se insere no tempo estadual, nacional e internacional. As simultaneidades queocorrem sob uma certa homogeneidade (econmica, social, cultural etc) reforam a realidaderegional, em sintonia ou no com a simultaneidade dos tempos em outras reas e em outrasescalas.

    Em se tratando de desenvolvimento, o recorte temporal estabelecido para o estudo da Nova Alta Paulista no se coaduna com os perodos do desenvolvimento delimitados pelogoverno federal, nem pelo estadual. Eles foram definidos tomando-se como referncia algunsacontecimentos regionais significativos, o que evidencia a preocupao de se colocar a regiocomo sujeito. Seu desenvolvimento, transcorrido de modo espontneo, sem seguir um planejamento regional ou um ordenamento estadual ou federal, at o final da dcada de 1990,transcorre na totalidade do desenvolvimento do pas e do Estado de So Paulo, recebendo

    influncias e protagonizando impactos decorrentes dos movimentos dessas outras escalas,inclusive da internacional.

    Os intervalos delimitados de tempo definem-se como um conjunto de relaes e de propores prevalecentes ao longo de um espao de tempo. Esses intervalos de tempo sosubmetidos mesma lei histrica, mantendo-se as estruturas. Tal noo permite a liberdade do pesquisador em estabelecer vrias periodizaes, que variam de acordo com a escala deobservao. Ele permite definir o objeto de anlise histrico, mantendo-se as estruturas.

    Para a delimitao do primeiro momento (1930-1975), tomou-se como referncia umacontecimento externo de grande impacto poltico-econmico-social na poca, a crise de

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    1929, e um acontecimento interno, a geada de 1975, que influenciou profundamente os rumosdo desenvolvimento regional nos anos subseqentes. O externo contribuiu para a aceleraode movimentos migratrios em direo ao extremo Oeste paulista, como uma forma desuperar o refluxo em que mergulharam as antigas regies produtoras de caf. O interno porque um fenmeno climtico a geada de 1975 -, em poucas horas, desmantelou umalgica construda durante anos, colocando a nu o modelo de desenvolvimento empreendidoat ento. Encerrou-se bruscamente um ciclo, sem a mnima previso emergencial e futura.

    O segundo momento (1975-1996) iniciou-se com a ocorrncia da geada e caracterizou-se pelos longos anos de desacelerao e incertezas econmicas, com profundos reflexossociais, quantificados na expressiva evaso populacional, crescimento vegetativo negativo,

    quedas nas arrecadaes oramentrias municipais, quedas na produtividade agrcolaconvencional, aumento do desemprego, empobrecimento de boa parte da populao, entreoutros. Nacionalmente, neste ano, implantou-se o Pr-lcool, constituindo-se no embrio dastransformaes regionais em curso no terceiro momento. Foi um perodo, tambm, em que asociedade brasileira esteve envolvida com a abertura poltica do pas, alm dos esforos parasuperar profundos entraves econmicos. Os anos de 1980 e incio da dcada de 1990 forammarcados pelos efeitos da abertura dos mercados, deflagrando incertezas generalizadas. A

    crise fiscal do Estado brasileiro refletiu-se nas prefeituras, limitando a sua atuao. Na NovaAlta Paulista, todos esses fatores resultaram em anos difceis a quase todos os cidados ecidads, arrefecendo ainda mais as condies reais para um desenvolvimento mais prspero.

    Tomou-se o ano de 1996 como referncia para encerramento do segundo ciclo porque,no incio de 1997, a Associao dos Municpios da Nova Alta Paulista AMNAP - adotoumedidas de gesto poltica que demonstram claras evidncias de implementao do paradigmado desenvolvimento endgeno, inspirada pela descentralizao poltico-administrativa do

    governo estadual paulista, mesmo que, regionalmente e no interior da associao, no setenham priorizado debates sobre essa temtica. Assim, encerra-se uma fase de indefinies einicia-se um novo momento.

    O terceiro momento (1997-2006) inicia-se com a realizao de uma assemblia daAmnap, em fevereiro de 1997, na cidade de Osvaldo Cruz. Os dirigentes fizeram a opo pelaremodelao do seu Regimento Interno propiciando a oportunidade de participao de todosos segmentos representativos das comunidades, abrindo canais participao popular e buscando parcerias com organismos multilaterais, como o SEBRAE, por exemplo.

    Apesar de no se ter promovido debates sobre o paradigma do desenvolvimentoendgeno, este foi um marco significativo da nova fase do desenvolvimento regional, que

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    carece de maior aprofundamento, inclusive, com a experincia estadual da gesto gerencial ea experincia federal da gesto com vertente societal.

    O ano de 2006 marca o fim do perodo delimitado para este estudo, mas no aconsumao de um modelo de desenvolvimento em curso. Em cada um desses momentosforam identificados quatro atores principais (Estado, capital, sociedade, e lideranas locais eregionais), de cujas inter-relaes emanam os movimentos, que, na prtica, se expressam nodesenvolvimento. Buscou-se, em cada momento, identificar os paradigmas dodesenvolvimento, discutindo a sua caracterizao no desenvolvimento regional da Nova AltaPaulista e as suas limitaes quanto s expectativas dos cidados.

    A metodologia utilizada para a estruturao da pesquisa foi a definio do objeto de

    estudo o desenvolvimento regional e, a partir dele, o estabelecimento do recorte paradelimitar os aspectos considerados prioritrios. As leituras bibliogrficas e documentaissubsidiaram as anlises e reflexes. Os dados foram coletados junto s instituies oficiais,sendo elas IBGE, ministrios federais, secretarias estaduais de governo do Estado de SoPaulo, vrios rgos oficiais destas secretarias, entre eles os EDR de Tup e Dracena,Diretorias de Ensino, ERPLAN Presidente Prudente, Casas da Agricultura, alm das prefeituras e cmaras municipais, conselhos municipais de desenvolvimento, conselho

    regional de desenvolvimento rural, SEBRAE, entre outros. Realizaram-se entrevistas comlideranas polticas locais, e membros das diretorias da Amnap em diferentes pocas, alm deconsultas s atas das assemblias desta associao, consulta aos arquivos de jornais locais,levantamento de documentos histricos de diversos municpios, entre outros. Entre osentrevistados, buscaram-se pessoas com as mais variadas formas de representatividade, entreeles colonizadores, autoridades polticas do executivo e do legislativo dos municpios,intelectuais que atuam nas instituies de ensino superior da rea em estudo, e pessoas

    comuns, que ficaram ou que esto margem do desenvolvimento e, por isso, sentem, de perto, os efeitos perversos do no desenvolvimento ou do desenvolvimento contido.

    Ainda no aspecto metodolgico, se destacam as atividades de orientao, realizadasentre a orientanda e o professor orientador. Os encontros aconteciam em momentosestratgicos, isto , naqueles em que se percebia a necessidade de uma discusso, com vistas inaugurao de uma nova fase. Ao final de cada etapa, os textos eram enviadoseletronicamente ao orientador, para suas consideraes.

    As reflexes engendradas no desenrolar da pesquisa revelaram elementos inovadoresna compreenso da construo do desenvolvimento de um lugar. Estas constataesdemonstravam a insuficincia de expresses recorrentes, como por exemplo, regio

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    deprimida, economia estagnada, e, at mesmo, em alguns casos, desenvolvimento endgeno.Essa incompletude e inadequao conceitual provocavam certo desconforto terico, incitandoa necessidade de se arriscar novas nomenclaturas e denominaes. Brota, ento, a noo dedesenvolvimento contido e, por extenso, de regio contida. Ao largo das reflexes, ousou-selana-las como um conceito.

    Considera-se que noo algo que parte de uma idia, no sendo, ainda, averiguado.O que se constatou, com a pesquisa, foi que houve uma interseco de elementos objetivos esubjetivos que no contribuiu para o desabrochameto de condies favorveis a umdesenvolvimento mais prspero e sustentvel na Nova Alta Paulista. No se desconsidera aconcentrao de riquezas que houve e que h naquela rea. O que se destaca o percentual

    estatstico majoritrio dos desprivilegiados. (IBGE, vrios censos. Seade, vrias publicaes.Vide bibliografia).

    Foi da, ento, que se optou por lanar os termos regio contida e desenvolvimentocontido como conceitos. Eles puderam ser averiguados e, uma vez submetendo os dadoscomprobatrios anlise, estes se apresentaram como fundantes da atual conjunturadesfavorvel que a Nova Alta Paulista apresenta no contexto do Estado de So Paulo.

    As transformaes pelas quais vm passando a rea em estudo, especialmente no plano

    econmico, poltico e cultural, com a formao de novas mentalidades, impulsionadas pelaconjuntura nacional e mundial, favorecem a formao de um ambiente propcio a mudanas.De fato, elas ocorrero, pois o capital hegemnico, agora interessado nas energias renovveis,vem promovendo uma revitalizao tcnico-econmica de todo o Oeste paulista, onde seinsere a Nova Alta Paulista, como uma pequena frao geogrfica.

    Para contextualizar o desenvolvimento regional contemporneo da Nova Alta Paulista,demonstrando seus conflitos e seus esforos para a superao, estruturou-se este trabalho de

    pesquisa com a seguinte configurao: No captulo l, esto apresentados os principais conceitos e noes que embasam o

    tema da pesquisa, discutindo os termos desenvolvimento e crescimento econmico,desenvolvimento endgeno, desenvolvimento territorial, formao regional e regio contida.

    No captulo 2, a Nova Alta Paulista apresentada como rea de interesse, esboando-se a sua atual caracterizao social, econmica, ambiental, poltica e cultural, bem como oobjeto de estudo definido nesta pesquisa: o seu desenvolvimento regional. Buscou-secaracterizar o primeiro momento da formao regional (1930-1975) no contexto histrico, poltico e econmico do Brasil, particularmente do Estado de So Paulo, de onde emerge acolonizao do extremo Oeste. Procurou-se identificar as razes sociais e culturais que

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    marcam a identidade regional em seus aspectos sociolgicos, espaciais e territoriais,destacando a espacializao de uma colonizao comercial e suas implicaes estruturais nodesenvolvimento regional. Destacaram-se, tambm, a formao de alguns territrios ealgumas territorialidades, que contriburam para a construo das peculiaridades desta rea.Discutiu-se o paradigma de desenvolvimento vigente quela poca e sua influncia no processo e na configurao da formao regional

    No captulo 3, estudou-se o segundo momento do desenvolvimento regional (1975-1996), destacando-se a desarticulao da economia cafeeira e o desarranjo que provocou naorganizao econmica, social e poltica regional. A essa fase de incertezas internas somam-se o esgotamento modelo denominado nacional-desenvolvimentismo e a crise fiscal do Estado

    que se fazia sentir nos municpios.Apresenta-se, neste captulo a Associao dos Municpios da Nova Alta Paulista

    AMNAP -, principal representao poltica regional: o contexto que inspirou a sua criao,sua trajetria, seus percalos, seus conflitos, e, em especial, a sua resistncia inadequaodas polticas centrais em relao aos interesses regionais, catalisando e reforando o ideriode pertencimento cultivado pela populao local. Discute-se o seu papel sob a tendncia dodesenvolvimento endgeno, apresentando suas potencialidades e seus limites como agente

    catalisador do desenvolvimento regional. No captulo 4, discute-se o momento atual (1997-2006) no contexto da

    descentralizao poltico-administrativa do Estado, empreendida pelas transformaes damodernidade, de onde emerge a concepo de desenvolvimento endgeno. A expanso daatividade sucroalcooleira, sob a tendncia das energias renovveis, impe a necessidade de se pensar o futuro do desenvolvimento regional, considerando seu carter concentrador edesarticulador de iniciativas voltadas pequena produo.

    No captulo 5, faz-se uma sntese