alta. e vai piorar a desigualdade de renda no brasil é

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5/15/2020 A desigualdade de renda no Brasil é alta. E vai piorar | Nexo Jornal https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/05/11/A-desigualdade-de-renda-no-Brasil-é-alta.-E-vai-piorar 1/8 EXPRESSO (/EXPRESSO/) Marcelo Roubicek 11 de mai de 2020 (atualizado 11/05/2020 às 21h11) Números do IBGE destrincham as disparidades nos rendimentos dos brasileiros em 2019. Economistas ouvidos pelo ‘Nexo’ apontam por que as diferenças devem se aprofundar na crise do novo coronavírus O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou em 6 de maio números que retratam a desigualdade de renda (https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de- imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27594- pnad-continua-2019-rendimento-do-1-que-ganha- mais-equivale-a-33-7-vezes-o-da-metade-da- populacao-que-ganha-menos) no Brasil em 2019. Por meio dos dados, é possível entender como se manifestam as diferenças nos rendimentos dos brasileiros em termos de gênero, cor ou raça, região do país e grau de instrução. Os números foram obtidos pela realização da Pnad Contínua – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. A cada três meses, o instituto visita 211 mil domicílios de todo o território nacional e coleta informações sobre trabalho e renda, entre outros itens. Em 2020, em meio à pandemia, a coleta de informações está sendo feita por telefone (/expresso/2020/05/04/Como-ficam-as-pesquisas-do- IBGE-quando-não-se-pode-ir-a-campo) . A desigualdade de renda no Brasil é alta. E vai piorar ECONOMIA (/TEMA/ECONOMIA) BRASIL (/TEMA/BRASIL)

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EXPRESSO (/EXPRESSO/)

Marcelo Roubicek 11 de mai de 2020 (atualizado 11/05/2020 às 21h11)

Números do IBGE destrincham as disparidades nos rendimentos dosbrasileiros em 2019. Economistas ouvidos pelo ‘Nexo’ apontam por que asdiferenças devem se aprofundar na crise do novo coronavírus

FOTO: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL - 12.04.2019

COMUNIDADE E PRÉDIOS DE LUXO NO RIO DE

JANEIRO

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)publicou em 6 de maio números que retratam adesigualdade de renda(https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27594-pnad-continua-2019-rendimento-do-1-que-ganha-mais-equivale-a-33-7-vezes-o-da-metade-da-populacao-que-ganha-menos) no Brasil em 2019. Pormeio dos dados, é possível entender como semanifestam as diferenças nos rendimentos dosbrasileiros em termos de gênero, cor ou raça, região dopaís e grau de instrução.

Os números foram obtidos pela realização da PnadContínua – a Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios. A cada três meses, o instituto visita 211 mildomicílios de todo o território nacional e coletainformações sobre trabalho e renda, entre outros itens.Em 2020, em meio à pandemia, a coleta de informaçõesestá sendo feita por telefone(/expresso/2020/05/04/Como-ficam-as-pesquisas-do-IBGE-quando-não-se-pode-ir-a-campo) .

A desigualdade de renda no Brasil éalta. E vai piorar

TEMAS

ECONOMIA(/TEMA/ECONOMIA)

BRASIL(/TEMA/BRASIL)

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A Pnad tem uma versão divulgada mensalmente, masos dados que destrincham os rendimentos e quepermitem identificar diferentes desigualdades na rendasão publicados com frequência anual. Abaixo, o Nexotraz cinco recortes diferentes sobre a desigualdade derenda no Brasil em 2019, conforme registrado pelosdados do IBGE.

Os números do IBGE mostram o tamanho da diferençados rendimentos entre aqueles que recebem mais e osque recebem menos a cada mês. Dividindo osbrasileiros em dez faixas (chamadas “decis”) –começando pelos 10% que menos recebem e indo até os10% que mais ganham –, a diferença que aparece ésignificativa.

Na média, quem está no topo recebe mais de 36 vezesdo que ganha quem está na parte de baixo. Os númerosainda mostram que os 10% com maior renda ficam com43%(https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/05/10-mais-ricos-ficam-com-43-da-renda-nacional-diz-ibge.shtml) de todos os rendimentos do trabalho dopaís.

Olhando com mais detalhes para os extremos da rendado trabalho no Brasil, a diferença fica ainda maior. O1% com maior rendimento mensal ganha, em média,180 vezes o que ganha a pessoa que está na parcela dos5% com menor renda.

R$ 160é o que ganha por mês umapessoa que está entre os 5%com menor rendimentohabitual do trabalho

A desigualdade por faixa derenda

A DIVISÃO POR FAIXA DE RENDA

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R$ 28.659é o que ganha por mês umapessoa que está no 1% commaior rendimento habitualdo trabalho

Em 2019, não houve alteração no quadro dedesigualdade de renda sob a ótica da cor ou raça, que semanteve expressiva. Assim como em todos os anosdesde 2012, que marca o início da série do IBGE, apopulação preta e a população parda receberam valoresmédios praticamente idênticos pelo trabalho do mês. Jáa população branca, na média, recebeuconsideravelmente mais.

O gráfico acima mostra a evolução recente dadesigualdade de renda pelo recorte da cor e raça. Emtodos esses anos, uma pessoa branca recebeu, emmédia, entre 70% e 80% mais que uma pessoa preta ouparda em um mês. Em 2019, essa diferença significouuma renda do trabalho maior em cerca de R$ 1.300 acada mês.

O IBGE também mostrou nos dados como adesigualdade de renda entre homens e mulheres noBrasil aumentou em 2019 em relação a 2018. Orendimento médio mensal do trabalho de um homemem 2019 ficou praticamente estável em relação ao anoanterior, subindo de R$ 2.551 para R$ 2.555. Já orendimento médio da mulher caiu de R$ 2.010 em 2018para R$ 1.985 em 2019.

O recorte por cor ou raça

RECORTE RACIAL

O recorte por gênero

DESIGUALDADE ENTRE HOMENS EMULHERES

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Olhando desde 2012, a diferença entre o que ganhamhomens e mulheres caiu. Em 2012, um homem ganhavaem média 35,8% a mais que uma mulher; em 2018, essadiferença havia caído para 26,9%. Mas em 2019, voltoua aumentar, e os homens receberam em média 28,7% amais que as mulheres naquele ano.

A desigualdade de renda aparece também no recorte daescolaridade (ou grau de instrução) dos brasileiros. Em2019, o rendimento mensal de quem tem ensinosuperior completo foi consideravelmente maior que deoutros níveis de escolaridade.

O gráfico acima mostra o tamanho da distância entrequanto ganhou, em média, alguém com diploma deensino superior em relação aos outros níveis deinstrução. Mas essa discrepância com relação aosgrupos com menor escolaridade vem caindo ao longodos anos. Se em 2012 uma pessoa com ensino superiorcompleto ganhava 6,4 vezes o que ganhava uma pessoasem instrução, esse valor caiu para 5,6 em 2019.

A pesquisa mostra que, em 2019, a média do quantorecebeu quem tem fundamental completo foi maior doque a de quem não terminou o ensino médio. O dadoparece contraintuitivo, mas não é uma novidade de2019 – em todos os outros anos desde o início da sériedo IBGE em 2012 ocorreu o mesmo fenômeno.

Grau de instrução

DISTÂNCIA DE QUEM TEM DIPLOMA

A questão regional

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O Brasil é um país onde há disparidades entre osrendimentos nas diferentes regiões(/expresso/2020/03/01/Qual-foi-o-quadro-da-renda-dos-brasileiros-nos-estados-em-2019) . Nos númerosdo IBGE, esse fenômeno apareceu nos rendimentostotais, que contabilizam a renda do trabalho e de outrasfontes, tais como aposentadoria, aluguéis, pensões ebenefícios como o Bolsa Família(/expresso/2020/02/23/A-fila-do-Bolsa-Família.-E-a-redução-de-beneficiários) .

Segundo os números do instituto, Sudeste, Centro-Oeste e Sul mantiveram uma distância considerável nosrendimentos mensais em relação a Nordeste e Norte. SeSul e Centro-Oeste registraram rendimentos médiosmensais muito próximos de R$ 2.500, isso significoucerca de R$ 900 a mais do que a renda média no Nortee quase R$ 1.000 a mais do que a renda média noNordeste.

Em 2019, o rendimento médio nas regiões Sul, Sudestee Centro-Oeste permaneceram praticamente estáveisem relação a 2018. No Nordeste, houve crescimento de3,1% nesse período; no Norte, houve queda de 6,4% emrelação ao ano anterior.

Ainda não há dados que mostrem exatamente comocaminha a desigualdade de renda no Brasil em 2020.Mas perspectiva para este ano é que o Brasil registreuma das piores crises econômicas de sua história – senão a pior (/expresso/2020/04/14/A-queda-projetada-para-a-economia-brasileira-em-2020) . Isso porque apandemia do novo coronavírus está fazendo com que aspessoas circulem menos nas ruas, afetando o consumo elevando empresas a quebrarem ou reduzirem osquadros de funcionários para permanecer de pé.

Diante disso, o Nexo conversou com três economistaspara entender como a pandemia deve afetar o quadrogeral da desigualdade no país.

DIFERENÇAS REGIONAIS

A desigualdade em 2020

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Como a crise da pandemia podeimpactar a desigualdade de renda noBrasil?

JULIANA INHASZ A crise que vivemos hoje com apandemia pode impactar bastante a distribuição derenda; primeiro porque ela afeta as pessoas de formamuito diferente. Quando falamos de pessoas que estãosendo impactadas por essa pandemia, estamos falandoque tanto o pequeno quanto o grande empresário estãosendo impactados. Mas os pequenos empresários nogeral têm mecanismos de proteção muito menores doque os grandes.

Há uma outra característica que é o fato de que, hoje,quem consegue se manter minimamente dentro dessasituação são no geral as pessoas que têm trabalhosformais, que contam com algum tipo de segurança quevem da formalização no mercado de trabalho. É óbvio:nem todos os formais estão de alguma forma seguros.Mas, eventualmente, se pessoas que estão no mercadoformal ficarem desempregadas, vão ter como acionar oseguro-desemprego, fundo de garantia – vão ter algumtipo de colchão de proteção. Isso não acontece com ostrabalhadores informais, que são uma partesignificativa hoje da população brasileira.

E esses trabalhadores informais, no geral, têm umaqualificação menor. Estamos muitas vezes falando damanicure ou da empregada doméstica, que moram nasperiferias e que precisam dessa renda para sobreviver ealimentar sua família. Também utilizam essa renda emnegócios na região onde moram. As pessoas vão ficardesempregadas, e uma parte da renda que antes iriapara essas periferias não vai estar mais sendocanalizada para isso. É uma parte do fluxo de renda queé interrompido.

São regiões que já eram marginalizadas e que podemficar ainda mais marginalizadas. Isso pode sim acirrarbastante a distribuição de renda, piorar bastante adesigualdade de renda no Brasil. A gente vai ter umasociedade obviamente muito mais desigual.

GUILHERME MELLO Para entender o impacto econômicoda crise do coronavírus na desigualdade de renda, éimportante ter um cenário de como vinha a evolução dadesigualdade no Brasil nos últimos anos. O Brasil é umdos países mais desiguais do mundo, seja do ponto devista da desigualdade de renda, seja do ponto de vistada desigualdade de riqueza. O cenário não é só de

Juliana Inhasz, professora de economiado Insper

Guilherme Mello, professor deeconomia da Unicamp

Renan Pieri, professor de economia daFGV (Fundação Getulio Vargas)

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concentração, é de polarização de renda. Isso éestrutural no Brasil, tem a ver com nossa formaçãoeconômica e social.

Isso aparentemente chegou a mudar um pouco nosanos 2000 e também no início dos anos 2010. Noentanto, as pesquisas mais recentes mostram que essesganhos dos assalariados não foram suficientes paramexer tanto na estrutura polarizada de renda, porqueos ganhos dos mais ricos com os seus estoques deriqueza – sejam imobiliários ou de títulos da dívidapública ou título privados – equipararam ou atésuperaram os ganhos dos assalariados. A partir de 2015,a concentração de renda volta a se agravar em todassuas medidas, até pelo menos 2018. Isso também vemjunto não só com o aumento do desemprego e daprecarização, mas da pobreza e da miséria. Esse era ocenário brasileiro quando chegou agora a criseeconômica decorrente do coronavírus.

Essa crise tende, como na maioria das crises, a agravaras desigualdades de renda, que já vinham crescendo nosúltimos anos. Isso ocorre porque a crise afeta demaneira desigual as diferentes classes sociais e classesde renda. Só do ponto de vista sanitário, por exemplo,já é possível perceber que a maioria das mortes e doscasos graves se concentram na população mais pobre,que mora na periferia das grandes cidades, e nostrabalhadores negros.

E, também do ponto de vista das rendas do trabalho,essas pessoas são mais afetadas, porque geralmente sãotrabalhadores precários, e a paralisação econômicaafeta diretamente as suas atividades. Eles não têmnenhuma garantia de emprego e salário como teria umtrabalhador formal ou um trabalhador do setor público.Isso vai aprofundar a desigualdade de renda que jáobservávamos nos últimos anos.

RENAN PIERI Nós já tivemos períodos na história em queo crescimento econômico esteve relacionado à queda dadesigualdade ou até aumento da desigualdade. Olhandopara os anos 1960 e 1970, o crescimento econômicoestava mais associado ao aumento da desigualdade.Nesse último ciclo longo de crescimento do começo dosanos 2000, tivemos um crescimento econômicoassociado a uma redução da desigualdade. Então,explicar desigualdade é sempre difícil: depende muitodas fontes do crescimento econômico, e não docrescimento econômico em si.

O que aprendemos dessa primeira década do séculosobre crescimento e desigualdade é que se o empregoestiver relacionado (como esteve) ao aumento donúmero de vagas formais – que em geral pagam melhore dão mais estabilidade ao trabalhador – e ao aumentoda escolaridade média, você pode sim ter ummovimento de redução da desigualdade social comcrescimento econômico.

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Estou dizendo isso porque esse novo ciclo da crise dapandemia possivelmente vai reduzir o crescimentoeconômico; não é óbvio, a princípio, se haverá umaumento da desigualdade por conta disso. Mas já épossível prever e analisar que muitas vagas formais vãoser perdidas. Também é possível verificar que temosuma dificuldade muito grande de boa parte dos alunos– sobretudo de escolas públicas – de se manteremestudando.

Juntando essas duas coisas – uma dificuldade maiordos mais pobres de ter acesso à boa qualidade deeducação, e as vagas formais desaparecendo domercado – é possível e provável que tenhamos umaumento da desigualdade nos próximos anos. A gente jávinha de um movimento de aumento da desigualdadedesde a crise de 2015-16; observamos que conforme osempregos voltaram a acontecer, ainda que de formalenta, a maior parte desses empregos era informal. Sãoempregos que pagam menos e dão menos segurançapara o trabalhador. Então nesse próximo ciclo de crise,é possível que o grau de informalidade aumente aindamais. E menos formalização, menos acesso à educação:mais desigualdade.

VEJA TAMBÉM

(https://thetrustproject.org/)SAIBAMAIS

ENTREVISTA (/ENTREVISTA/) Atrajetória da desigualdade noBrasil, segundo este economista(/entrevista/2020/02/20/A-trajetória-da-desigualdade-no-Brasil-segundo-este-economista)