almeida, regina gonçalves de almeida

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ELIANA REGINA GONÇALVES DE ALMEIDA VIDEO MAPPING: REFLEXÕES SOBRE A PINTURA KADIWÉU UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPO GRANDE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE ARTES VUSUAIS BACHARELADO CAMPO GRANDE 2013

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  • 1. ELIANA REGINA GONALVES DE ALMEIDAVIDEO MAPPING: REFLEXES SOBRE A PINTURA KADIWUUNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPO GRANDEDEPARTAMENTO DE COMUNICAO E ARTESCURSO DE ARTES VUSUAIS BACHARELADOCAMPO GRANDE2013

2. ELIANA REGINA GONALVES DE ALMEIDAVIDEO MAPPING: REFLEXES SOBRE A PINTURA KADIWUMonografia apresentada como exigncia paraobteno do Ttulo de bacharel em Artes Visuais Banca Examinadora da Universidade Federal do MatoGrosso do Sul. Orientadora: Prof Msc. VenisePaschoal Melo. Co-Orientadora: Prof DrCarla MariaBuffo de Cpua.Campo Grande2013 3. ELIANA REGINA GONALVES DE ALMEIDAVIDEO MAPPING: REFLEXES SOBRE A PINTURA KADIWUCOMISSO EXAMINADORA___________________________________________________Prof Ma. Venise Paschoal MeloUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul___________________________________________________Prof Dr Carla Maria Buffo de CpuaUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul___________________________________________________Prof Dr Eluiza Bortolotto GhizziUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul___________________________________________________Prof Dr Paulo Duarte PaesUniversidade Federal de Mato Grosso do SulCampo Grande, MS,______de____________________________de 2013 4. A Deus por ser meu Criador, Amigo e Redentor, por ter me conduzido em todos os momentosde minha vida, especialmente nos ltimos quatro anos, nos quais tem demonstrado seu amorpor mim de modo singular. 5. AGRADECIMENTOSSou grata a Deus por que me manteve com seu poder incomparvel, sei que foi por seucuidado e amor por mim que reestabeleceu minha sade todas as vezes que me encontravaesgotada por minhas atividades do cotidiano (como estudante, dona de casa, esposa e me deum casal de crianas sendo um deles recm nascido no primeiro ano da faculdade).Ao meu esposo por ter sido um real companheiro, amigo e amante. Demonstrando suabondade nos menores atos, por me cobrir com seu amor, e agir com resoluta abnegao epacincia.Aos meus filhos, mesmo pequenos, me incentivaram, e a cada dia demonstraram amorsem medida, especialmente por terem sido pacientes comigo, embora esperassem comansiedade o termino dos meus estudos para que pudssemos passar mais tempo juntosbrincando.Sou grata a minha me, por sempre me incentivar desde pequena nas artes, e porsempre ser uma amiga com quem eu posso contar, companheira, protetora e por me amar emtodos os momentos.A minha sogra, pela bondade a qual tem tratado minha famlia e por suas fervorosasoraes em nosso favor.Ao meu irmo Renato, por ter me apoiado e incentivado desde o incio em meu estudoacadmico, com carinho especial que olho para ele, pois alm de ser meu irmo e amigo,tem sido uma inspirao na minha vida como estudante, pois com sua conduta disciplinadatem se dedicado em seus estudos e com as bnos de Deus tem alcanado seus objetivos.Sou imensamente grata a minha irm Mrcia que de maneira muito especial meapoiou, doando seu tempo ao cuidar dos meus queridos filhos e todas as vezes quecompartilhou suas refeies com minha famlia, me poupando da cozinha para que eu pudesseestudar.E a todos meus familiares, pois sei que torcem para que eu seja vitoriosa em todos osmomentos de minha vida.Sou grata aos professores que passei esses intensos quatro anos, todos tiveram soleneimportncia em minha formao acadmica. 6. Minha sincera gratido professora Ma Venise Paschoal de Melo por que teve muitapacincia comigo. Com ela aprendi a apreciar a arte contempornea e as tecnologias em favordo artista. Preocupou-se at mesmo em convocar uma equipe especializada em videomapping para que meu trabalho pudesse acontecer. E tambm pela amizade quedesenvolvemos no decorrer desses anos. Desejo muito sucesso nesta nova etapa de sua vida,Com a professora DraCarla Buffo de Cpua aprendi sobre escultura, uma artefascinante, onde o artista descobre que pode subverter a matria bruta a sua vontade.Sou grata ao professor Dr Paulo Duarte Paes, ele sempre demonstrou profundo amorpela filosofia e pelas artes, muito dedicado aos alunos, sempre os incentivando nodesenvolvimento do saber.Sou grata professora Dr Eluiza Bortolotto Ghizzi, tenho por ela carinho e especialadmirao, foi com ela, quando na iniciao cientfica, descobri o prazer da pesquisa.Mostrou-se sempre paciente comigo na minha falta de domnio de produo textual, ecompaixo nas diversas vezes em que me encontrava sobrecarregada nas atividadesacadmicas.Minha gratido ao Rafael Souza Lima Ferreira, tcnico do laboratrio de informticadesta universidade, a Ariane de L. Andrade Pinto, a CssiaYuri Hayashi e ao VinciusGonalves, que fizeram parte da equipe de produo do video mapping organizado pelaprofessora Venise Melo para que a concluso da obra tornasse possvel. Juntos, realizamos asanimaes que faz parte da obra desse trabalho. Sou grata por t-los conhecido e pela amizadeque desenvolvemos nesse perodo.A todos meus amigos que me incentivaram e me ajudaram, em especial a minhairm Liege Eliana que sempre se mostrou pronta a me ajudar (no s a mim mas a outrostambm) sem medir esforos para que este trabalho se conclusse, bem como seu esposoAislan pelo seu altrusmo.No poderia me esquecer de algumas amigas, Daniela Cristina, Mariana Medeiros,Paula Poiet, e Rayana Valeriano pelos momentos de lutas e conquistas, elas, meusagradecimentos. 7. [...] Porm, quer embalando, quer despertando, jogando com sombras ou trazendo luzes, aarte jamais uma mera descrio clnica do real. Sua funo concerne sempre ao homemtotal, capacita o Eu a identificar-se com a vida de outros, capacita-o a incorporar a si aquiloque ele no , mas tem possibilidade de ser [...]Ernst Ficher 8. RESUMOAs tecnologias digitais de comunicao e informao vm sendo utilizadas atualmente comoum meio de expressar ideias e conceitos. Cada vez mais exploradas na arte contempornea,so responsveis por caracterizar a hibridizao das linguagens, ampliando as possibilidades epotencialidades da arte de nosso tempo. Em meio a essas reas em expanso se localiza avideoinstalao e sua transformao para um modo mais sofisticado e complexo de produo:a instalao multimdia, onde tal produo de arte adquire novas propores atravs dosrecursos tecnolgicos e novos softwares que surgem a cada dia. A partir destes conceitos e,ainda, fundamentado na temtica que aborda a ressignificao cultural Kadiwu, expressadapela pintura corporal indgena, o objetivo deste trabalho foi a produo de umaexperimentao artstica na forma de instalao multimdia, que utiliza das tcnicas de videomapping, com a inteno de ser um convite ao espectador para a reflexo sobre astransformaes e ressignificaes sobre a identidade deste povo.Palavras Chave: 1.Arte contempornea, 2.instalao multimdia, 3.Kadiwu, 4.resignificaocultural. 9. ABSTRACTThe digital technologies of communication and information are used at present like a way ofexpressing ideas and concepts. More and more explored in the contemporary art, they are responsiblebecause of characterizing the mixture of the languages, enlarging the means and potentialities of theart of our time. Amid these areas in expansion the videoinstalao is located and it sweatstransformation for a more sophisticated and complex way of production: the installation multimedia,where such a production of art acquires new proportions through the technological resources and newsoftwares that appear to each day. From these concepts and still, based on the theme that approachesthe cultural ressignificao Kadiwu, expressed by the physical native painting, the objective of thiswork there went to production of an artistic experimentation in the form of installation multimedia,which it uses of the techniques of video mapping, with the intention of being an invitation to a viewerfor the reflection on the transformations and new meanings on the identity of these people.Keywords: 1. Contemporary Art, 2. Multimedia installation, 3.Kadiwu, 4. Cultural change. 10. LISTA DE IMAGENSFigura 1- Fontin 1917, rplica 1964. Marcel Duchanp ............................................................16Figura 2 - Roda de bicicleta, Duchamp ....................................................................................16Figura 3 - Cindy Sherman ........................................................................................................17Figura 4 - Cindy Sherman ........................................................................................................17Figura 5 - Robert Smithson. Lago Utah. 1970 .........................................................................20Figura 6 -TV Fonte: http://www.thecreatorsproject.com/pt-br/blog/original-creators-o-mestre-da-v%C3%ADdeo-arte-nam-june-paik Magnet.......................................................................22Figura 7 - TV Bra (com Charlotte Moorman)..........................................................................22Figura 8 - Emergence. 2002. Bill Viola....................................................................................23Figura 9 - Enrique Roscoe........................................................................................................24Figura 10 - Video mapping fachada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) por VJSpetto, 2011..............................................................................................................................25Figura 11 - Mulheres Kadiwu - Rio Nabileque ......................................................................27Figura 12 - Mulheres Chamacoco - Rio Nabileque..................................................................28Figura 13 -Coleo FFKCH - USP / 1987 Ex-acervo Plneo Ayros, USP -SP........................28Figura 14 - Desenho pintura Facial ..........................................................................................29Figura 15 - Fotos Claude Lvi Strauss/1935 .........................................................................30Figura 16 - Projeo de video mapping em escultura como suporte. Rabarama......................33Figura 17 Escultura Quebra-cabeas, Rabarama...................................................................34Figura 18 - In-croci. Rabarama.................................................................................................35Figura 19 - Escultura Rabarama Fonte: http://regbor.blogspot.com.br/2012/07/escultora-italiana.html..............................................................................................................................36Figura 20 - Mulher Chamacoco................................................................................................36Figura 21 - Mulher Chamacoco Rio Nabileque.....................................................................36Figura 22 - Escultura Rabarama ...............................................................................................36Figura 23 - Mulher Kadiwu /meio perfil ................................................................................37Figura 24 -Mulher Kadiwu /perfil ..........................................................................................37Figura 25 - Mulher indgena com traos semelhantes aos traos de mulheres Kadiwu .........38Figura 26 - Mulher Kadiwu / posio frontal .........................................................................38Figura 27 - Base de madeira revestida de isopor, unidas com cola e fita crepe brancas..........39Figura 28 - Incio da modelagem/revestindo a base com argila...............................................39Figura 29 - base do rosto ..........................................................................................................39Figura 30 preparando a cavidade dos olhos para receber o globo ocular ..........................39Figura 31 - dando detalhes aos olhos e boca ............................................................................40Figura 32 - primeira verso do busto........................................................................................40Figura 33 - Rosto remodelado, modelando novos olhos. .........................................................40Figura 34 - Remodelado estrutura craniana..............................................................................40Figura 35 - Finalizando a face, vista lateral esquerda. .............................................................40Figura 36 - Busto finalizado.....................................................................................................41Figura 37 - Pea dividida com acetato......................................................................................41Figura 38 - Cobrindo a pea com gesso ...................................................................................41 11. Figura 39 - Extraindo a argila da forma ...................................................................................41Figura 40 - Abrindo a forma.....................................................................................................41Figura 41 - Removendo resduos que restaram na forma.........................................................41Figura 42 - Retira-se primeira parte da forma (costa) da pea .................................................42Figura 43 - Retira-se segunda parte da forma (frente) da pea ................................................42Figura 44 - Mulher de Etquija ................................................................................................44Figura 45 - Jovem Caduveo......................................................................................................44Figura 46 - Coleo Siqueira Junior / 1987..............................................................................45Figura 47 - Desenhos orgnico/geomtricos ...........................................................................45Figura 48 - Desenho Facial Kadiwu Kadiwu vetorizado no Corel Draw e dividido em layersAdobe Illustrator.......................................................................................................................45Figura 49 - Desenho Kadiwu (para o peitoral do busto) vetorizado no Corel Draw e divididoem layers no Adobe Illustrator .................................................................................................45Figura 50 - Trabalhando desenhos Kadiwu no Adobe Ilustrator/ Layers ..............................46Figura 51 - Desenhos com linhas pontilhadas (baseado na fig.52) ..........................................47Figura 52 - Foto Lvi-Strauss, 1935.........................................................................................47Figura 53 - Moa em festa; desenhos coloridos (releitura figura 54).......................................48Figura 54 - Foto Lvi-Strauss, 1935.........................................................................................48Figura 55 - Mscara - suporte total...........................................................................................50Figura 56 - Animao desenho peitoral no software After Effects...........................................50Figura 57 - Demonstrao de animao no software de desenhos Kadiwu peito e rosto total..................................................................................................................................................52Figura 58 - Pintura corporal Kadiwu escamas.....................................................................53Figura 59 - Desenho criado a partir da i figura 59....................................................................53 12. SUMRIOINTRODUO ......................................................................................................................131. OS MEIOS DIGITAIS NA ARTE CONTEMPORNEA .............................................151.1 ARTE CONTEMPORNEA .........................................................................................151.1.1 O Grupo Fluxus......................................................................................................181.1.2 Instalao Multimdia............................................................................................191.1.2.1 Video Mapping: Sobre aspectos Histricos e Tcnicos.....................................232. AS PINTURAS KADIWU COMO PROPOSTA TEMTICA...................................273. METODOLOGIA DE PRODUO................................................................................323.1 DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS (GERAIS) E REFERNCIAS..................323.1.1 Referncias para o Suporte e Projees ...............................................................333.2 DESENVOLVIMENTO DE SUPERFCIE DE PROJEO (SUPORTE) .................363.2.1. Modelagem em Argila...........................................................................................373.2.2 Forma perdida........................................................................................................403.2.3 Preenchimento da Forma com Massa Plstica....................................................423.2.4 Acabamento ............................................................................................................423.3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DAS ANIMAES GRFICAS EMAPEAMENTO DE VDEO ..............................................................................................433.3.1 Vetorizao .............................................................................................................443.3.4 Animao Digital....................................................................................................493.3.5 Som ..........................................................................................................................543.4 PROJETO E MONTAGEM DA VIDEOINSTALAO..............................................55CONCLUSO.........................................................................................................................56REFERNCIAS .....................................................................................................................57 13. 13INTRODUOEsta pesquisa de concluso de curso teve como finalidade compreender processos daarte contempornea medidas pelas tecnologias digitais, visando a produo de um trabalhoartstico na forma de Videoinstalao utilizando, principalmente, a tcnica de Vdeo Mapping(Vdeo Mapeado), cuja temtica se direciona s reflexes sobre a pintura corporal do povoKadiwu e as suas transformaes.Para tal desenvolvimento, foi realizado inicialmente um breve levantamentobibliogrfico a respeito da Arte Contempornea e dos modos de produo de instalaesmultimdia; um breve histrico a respeito da pintura corporal, de tal povo, que faz parte dahistria do estado de Mato Grosso do Sul e, ainda, um aprofundamento nas tcnicas queenvolvem os processos de Video Mapping, tais como: suporte, animao digital, projeo devdeo e videoinstalao.Para a realizao desta proposta artstica foi elaborado um busto com traos dafisionomia feminina Kadiwu, utilizando tcnicas especficas de escultura, como amodelagem, com a finalidade de gerar um suporte para a projeo de animaes realizadas apartir da releitura de grafismos dessa comunidade indgena. Para conceber essa obra se feznecessrio o uso de softwares especficos de animao, edio de vdeo, udio e manipulaode imagem bitmap, tais como Adobe Ilustrator (AI), Corel Draw, Adobe After Effects (AE) eAdobe Premiere.O presente trabalho foi organizado em trs captulos: o primeiro aborda o contextohistrico da Arte Contempornea, onde esto inseridas as instalaes e, mais especificamente,as videoinstalaes nas quais os artistas utilizam dos computadores como meio de expresso,espelhados nos conceitos e questionamentos do grupo Fluxus e da Arte Conceitual.No segundo captulo, apresentamos nossa proposta temtica, fazendo um brevehistrico sobre o povo Kadiwu. Sob o ponto de vista dos antroplogos europeus GuidoBoggiani (1975) e Lvi-Strauss (1996), abordamos alguns aspectos dos valores da pinturadeste povo e transformaes apontadas por esses autores, todavia, nesse captulo tomamoscomo orientao de fundamental importncia o ponto de vista de Lvi-Strauss (1996), porabordar questes da transformao dos valores do grafismo Kadiwu manifestadas at porvolta dos anos 30. E no terceiro captulo apresentamos a metodologia de produo artstica, as 14. 14relaes dos aspectos terico-prticos desta pesquisa, atravs da descrio de todo o processoe do resultado das obras produzidas.O objetivo deste trabalho foi o de nos aproximar dos modos de produo da artetecnolgica, bem como o de reforar a importncia do papel da arte para o levantamento dediscusses e reflexes acerca da sociedade. 15. 151 OS MEIOS DIGITAIS NA ARTE CONTEMPORNEANeste captulo abordado um breve panorama da arte de videoinstalao e das suasrelaes com o video mapping que se encontra inserido na instalao multimdia no contextoda arte contempornea, e de conceitos associados a esse tipo de linguagem que permeiam opresente trabalho.1.1 ARTE CONTEMPORNEAA arte contempornea reconhecida pela busca de novas experincias, espaos,materiais e tambm de estabelecer dilogos diferentes com o pblico. Alm de ser uma arteem processo evolutivo, est sujeita a mudanas e se encontra livre por no estar mais toenvolvida diretamente com a comercializao da arte; essa posio lhe confere liberdade pararepresentar a si mesma. Por isso a arte contempornea transita livremente por diversosterritrios.Diante desse panorama, podemos compreender que o valor da obra artstica consistemais no processo e no conceito, do que em seu valor como produto final; e adiciona aparticipao do pblico, tornado-se obra aberta; e, ainda, vem estabelecendo grandeproximidade com as novas tecnologias. Esses novos conceitos estabelecem um dialogodiferente com o observador, em que ele no mais se encontra em posio de contemplar, massim de pensar sobre a obra ou at mesmo fazer parte dela. Deste modo, como Canton (2008.p. 49) afirma, a arte contempornea se materializa a partir de uma negociao constante entrearte e vida, vida e arte.De modo geral, so considerados os conceitos de Marcel Duchamp na construodestes valores, atravs da negao da arte clssica, das crticas ao mercado e seus valores, demodo que a arte no mais representada num espao ilusrio, mas sim por meio de objetos decarter comercial e do cotidiano, tais como: porta-garrafas, roda de bicicletas, vaso sanitrio,etc. Estes objetos so expostos em museus como obras e essas atitudes geram umaressignificao dos objetos e da arte, que contribuem para seu carter efmero.Exemplos dessas obras so apresentados nas seguintes imagens: 16. 16Figura 1- Fontin 1917, rplica 1964. Marcel DuchanpFonte: http://www.tate.ort.uk/art/ar/artworks/duchanp-foruntain-t07573Figura 2 - Roda de bicicleta, DuchampFonte: http://www.arquitetonico.ufsc.br/ready-madeDesta maneira, dos suportes fixos aos objetos e instalaes, a arte contempornea vaise estendendo aos processos e conceitos da arte conceitual e apropriando-se das recentestecnologias, portanto desmaterializada, fugaz e efmera. Vrios artistas se apropriaram doespao e de elementos do cotidiano, fazendo da arte algo que se aproxime da vida, tornando-se temporal assim como somos.A arte conceitual uma forma de expresso que tenta abolir o fsico omximo possvel, cujo objetivo evitar a estimulao tica em favor deprocessos intelectuais, os quais o pblico convidado a partilhar com oartista (LUCIE-SMITH, 2006. p. 151).Segundo Marzona (2007), a arte conceitual surge em determinados lugares com opropsito de crtica, que tornou to firme e difundida ao ponto de firmar-se na artecontempornea. Esse pensamento pode ser observado nas obras de muitos artistas, como:Jenny Holzer, Sherrie Levine, Cindy Sherman, Louise Lawler, Richard Prince entre outros.Destacamos o trabalho de Cindy Sherman porque ela levanta questes semelhantes desse trabalho; por um lado semelhante porque discute sobre resignificao de identidadesociocultural. Por outro lado, se difere na tcnica e no contexto.A artista usa seu prprio corpo como suporte, e por meio dele a mesma cria inmerasfaces de mulheres, imagens por vezes grotescas, registradas por meio da fotografia, mas suainteno abordar os efeitos dos esteretipos femininos difundido pela mdia. A artistaaborda um tema similar aos nossos propsitos, pondo, segundo Pina (2005, p. 3), emevidncia a ideia da fragmentao da identidade que contradiz a condio humanstica daunidade identitria. 17. 17Figura 3 - Cindy ShermanFonte: http://spruethmagers.com/artists/cindy_sherman@@viewq34Figura 4 - Cindy ShermanFonte: http://www.dellanno.com.br/blog/tag/cindy-sherman/Em seu trabalho, Sherman prope atravs de suas inmeras faces uma reflexo arespeito dos efeitos causados na identidade das mulheres, quando em contato compersonalidades hollywoodianas. Em outras palavras essas mulheres tendem a resignificar a simesmas, com o intuito de ajustar o seu prprio eu a esses smbolos (sexuais, de moda etc.);isso tende a criar identidades uniformes, menos particulares e mais sociais. Isso podeacontecer tambm com outros smbolos, em diferentes culturas.Tomando a referida artista como exemplo, em nossa proposta aqui apresentada,buscamos levar o observador a refletir sobre a ideia de mudanas na identidade do povoKadiwu a pensar a respeito das transformaes que ocorreram, e ainda ocorrem, com afuno da pintura corporal em resposta ao contato com outras culturas. Para isso, fizemos 18. 18uso da tcnica do video mapping como videoinstalao, desenvolvendo animaes, que soprojetadas em forma de vdeo, sobre um suporte, um busto esculpido, representando umamulher Kadiwu.Associado a estes conceituais, os recursos tecnolgicos de nosso tempo vmpermitindo aos artistas a produo de novas estticas. Ampliando as instalaes aos processosmultimdia, utilizando de imagem e sons caminham nessa direo. A estetizao dosprprios meios de comunicao, com o desenvolvimento da arte em vdeo, [...] faz parte dessatendncia de levar a vida produo artstica (ARANTES, 2005, p.35).1.1.1 O Grupo Fluxus de fundamental importncia reforarmos, aqui a referncia ao artista MarcelDuchamp, para melhor compreendermos a essncia da arte contempornea: o conceito deDuchamp influenciou diversos artistas, contribuiu para o surgimento do grupo Fluxus, queincentivava o pblico a participar da obra.O grupo Fluxus nasceu em Nova York na dcada de 1960, e parte de suas razes estofincadas no movimento dadasta 1. Um de seus fundadores foi o msico norte-americano JohnCage, que atraiu com seu trabalho vrios artistas de diversas nacionalidades e diversas reasde atuao, como Raoul Hausmann, Rauschenberg, Yoko Ono, Nam June Paik, entre outros.O grupo partilhava dos mesmos ideais: a crtica seriedade do modernismo, aoposio ao comercio da arte, a arte realizada coletivamente, e ainda livre do poder daburguesia. Havia [...] um elemento de crtica social e provocao [...] determinao de fazermudanas na sociedade em si [...] (LUCIE-SMITH, 2006. p.157).De acordo com Arantes (2005), o Fluxus entendia essa oposio como intermdia,alm de transmitir a ideia de homogeneizao entre obra e pblico. Desde ento, a arte torna-se cada vez mais hibrida e complexa, sendo atualmente expandida pelas mdias digitais.Nosso interesse em discutir a respeito destes processos foi o de desvendar a artemultimdia digital, considerando-a como uma das linguagens artsticas que compem a arte1Dadasmo foi um movimento artstico da chamada vanguarda artstica moderna, iniciado em Zuriqueem 1916, no chamado Cabaret Voltaire. Formado por um grupo de escritores, poetas e artistasplsticos. Dada vem para abolir de vez a lgica, a organizao, a postura racional, trazendo para arteum carter de espontanesmo e gratuidade total. A falta de sentido, alis presente no nome escolhidopara a vanguarda. Disponvel em: 19. 19contempornea e suas potencialidades como meio de questionamentos e reflexo. Estesconhecimentos foram necessrios, pois contriburam em nossa produo artstica, ondeutilizamos de diversos recursos tecnolgicos e tradicionais.1.1.2 Instalao MultimdiaA Instalao compreende em uma arte contextual que precisa da participao doespectador para que seja uma obra completa. Segundo Domingues, se define como oapropriar-se de ambientes, internos ou externos, e de objetos industrializados ou naturais, quepodem ser analisados de dois modos: no primeiro o artista recebe um espao destinado ao seuprojeto, como em casos de bienais, em que ele ir criar ou construir o ambiente de acordo comsua proposta, e no segundo modo o artista adapta-se s caractersticas do espao,incorporando-as, enfatizando-as (DOMINGUES, 1993, p. 137).Todavia, a essncia da obra est no que o artista pretende transmitir s pessoas com odiscurso e conceito que ele projetou. Para entendermos melhor, exemplificamos com osmovimentos da dcada de 1960 de Land Art2e de Arte Povera3. No caso da Land Artdestacamos o artista Robert Smithson e sua obra no Lago Utah (Figura 05); essa obra interferena paisagem, e todos os componentes ao seu redor fazem parte da obra, que fica sujeita aosefeitos da natureza e do tempo para se desintegrar.Deste modo, percebemos que a questo no mais imitar a natureza e levar oobservador a contemplar a obra, mas sim inseri-lo ou envolve-lo na obra para que ela secomplete, e assim fazer com que o visitante se torne participante dela.2A Land Art, tambm conhecida como Earth Art ou Earthwork o tipo de arte em que o terrenonatural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, ele prprio trabalhado de modo aintegrar-se obra. Disponvel em: 3Arte Povera, tem como caracterstica formal a utilizao de materiais simples e artesanais comomadeira, trapos, jornais, terra, cordas, metais, etc. Disponvel em: 20. 20Figura 5 - Robert Smithson. Lago Utah. 1970Fonte: http://gizcolorido.wordpress.com/2009/10/14/land-art/Para a Arte Contempornea a Instalao muito significativa, pois ambas possuem osmesmos princpios; a Instalao promove novas experincias sensitivas, aproxima a vida daarte, experimental e se estabelece como obra aberta quando recebe o observador comoparticipante interativo.A Instalao, [...] permite enquanto potica artstica, uma grandepossibilidade de suportes. A gama variada de possibilidades na realizaodestas modalidades artsticas, faz com que essas formas de fazer artstico sesituem de forma totalmente confortvel na produo artsticacontempornea, j que a Arte Contempornea tem como caracterstica oquestionamento do prprio espao e do tempo (BOSCO e SILVA, 2010, p.7)Ainda neste contexto, encontramos Duchamp ampliando os conceitos; Bosco e Silva(2010) entendem que:Ao privilegiar o ato do artista, em detrimento muitas vezes do objetoartstico, Duchamp coloca as questes conceituais, filosficas e crticasacima das questes formais. exatamente neste ponto crucial que suainfluncia na arte contempornea se apresenta de forma to intensa e viva. Oprocesso criativo eleva-se, ento ao patamar de arte (BOSCO e SILVA,2010, p. 3).O artista Marcel Duchamp se tornou referncia para arte contempornea por conseguirinverter os valores da arte: ele conquistou a liberdade quando passou a centralizar o conceito einteno do artista no lugar da forma da obra. 21. 21Diante desses conhecimentos, compreendemos ento que as instalaes conceituaispromovem o caminho para a abordagem da Videoarte e, posteriormente, da Videoinstalao.Inicialmente a Videoarte, segundo Silveirinha (2005), consistia em subverter o aparelho deTV de suas funes, em interferncias na gerao de imagens eletrnicas, por meio desintetizadosres de vdeos e colorizadores. Sobre a origem da Videoarte, a autora afirma:A arte vdeo valoriza, e procura explorar, as caractersticas tcnicas do meioelectrnico. Assim, joga com uma auto-referencialidade que insiste emtornar visvel a materialidade do meio fazendo uso daquilo que a televisoconsidera erros tcnicos e rudo: granulosidade, hipercolorao,deformao da relao espacial entre as linhas, ausncia de imagem,procedimentos de acelerao e desacelerao de imagens, sobreposio. Poroutro lado, procura redimensionar a prpria relao espacial do aparelhotelevisivo, redefinindo o seu espao e a interaco (SIVERINHA, 2005, p.12)O artista Num June Paik foi um dos pioneiros da videoarte e tambm um dos maisimportantes videoartistas; membro do grupo Fluxos, que tinha como propsito descentralizara funo do aparelho de TV como meio de comunio, fazendo desses aparelhos, esculturas,instrumentos musicais; e modificava as imagens televisivas por meio de ims potentes (Figura06 e Figura 07). Sua inteno, muitas vezes, era reunir os aparelhos televisores produzindoassemblages [...] para formar figuras antropomrficas grosseiras, representativas do papelcada vez mais dominante que a televiso desempenha na vida humana (LUCIE-SMITH,2006, p. 235). 22. 22Figura 6 -TV Fonte:http://www.thecreatorsproject.com/pt-br/blog/original-creators-o-mestre-da-v%C3%ADdeo-arte-nam-june-paik MagnetFigura 7 - TV Bra (com Charlotte Moorman)Fonte: http://www.thecreatorsproject.com/pt-br/blog/original-creators-o-mestre-da-v%C3%ADdeo-arte-nam-june-paikA Videoinstalao se apresenta como uma ampliao dos conceitos da Videoarte epode se expandir para a forma de Instalaes Multimdia. Segundo Domingues (1993), aVideoinstalao constitui-se em espaos mltiplos com capacidades intertextuais e hbridos,onde possvel mesclar tcnicas e materiais, rudos e imagens eletrnicas.Desse modo se revela como uma das linguagens artsticas que encarta muita fora paraexpressar sentimentos, conceitos, crticas e ideias na arte contempornea. Na videoinstalaoutilizam-se recursos tecnolgicos como a fotografia, vdeos e sons, luz, texturas contendosimbologias articuladas de acordo com a inteno do artista, para envolver e estimular ossentidos dos visitantes. Os ambientes so preparados como um convite para a experimentaoe os resultados so infinitas experincias, pois so vividas e entendidas por sujeitos diferentes.Do gesto consciente do visitante na videoinstalao, somado s suasreferncias pessoais, surge uma reflexo crtica. Nesse sentido, o quepermeia toda a relao sensria no ambiente instalativo a convivnciacrtica e sensvel com o espao perceptivo e a possibilidade de ter clara anoo de diferena entre o eu e o outro. Desse modo, como que pelo avessodo cinema, a videoinstalao imerge o visitante no para mant-lo em umespao ilusionista, mas sim para nele provocar um outro tipo de relao como espao perceptivo, uma relao dupla, simultnea, entre a imerso e aemerso na imagem e som, entre o espao e o tempo (MELLO, 2007).Gary Hill e Bill Viola so alguns dos videoartistas da dcada de 1970 que se tornaramconhecidos por suas obras que causaram polmicas. Ambos utilizam imagens do corpo 23. 23humano e elementos da natureza como o fogo e gua; e essas combinaes tratam daidentidade e da espiritualidade humana; assim como observado por Lucie-Smith (2006), novdeo O mensageiro h a representao da repetio do ciclo de vida e morte (Figura 08).Figura 8 - Emergence. 2002. Bill ViolaFonte: Para Arantes (2005), o uso de dispositivos tecnolgicos, bem como cientficos, naarte resulta na hibridizao entre esses meios, alm da inter-relao entre o homem e astecnologias digitais. As instalaes multimdias acontecem atravs desta hibridizao, e oartista busca envolver e despertar no observador os processos da interatividade, o sensocrtico, a evocao dos sentimentos, dos comportamentos e estmulo aos pensamentosreflexivos, no que aproxima e interliga a vida com a arte.Para Melo (2008), ocorre uma ampliao nos meios de participao na obra e a formade produo fica muito mais complexa com o uso das novas tecnologias digitais deinformao e comunicao, o que vem garantindo novos suportes e produo de novasestticas. Um bom exemplo desse uso na atualidade o vdeo mapping, que utiliza deprojees de imagens mapeadas em diversos tipos de suportes.1.1.2.1 Video Mapping: Sobre aspectos Histricos e TcnicosCom o avano dos meios digitais assistimos hoje na arte tecnolgica a presena desuportes mltiplos; que neste caso apresentamos os processos e tcnicas do video mapping oumapeamento de vdeo, que se define atualmente como um modo de produo de vdeoprojetado sobre superfcies das mais variadas, desde grandes arquiteturas aos menores objetos.Essas imagens podem ser bidimensionais ou tridimensionais, conferindo s estruturasiluses de movimento e profundidade. Inserido no contexto da instalao multimdia o video 24. 24mapping atualmente muito utilizado pelos Video Jockeys (VJ)4, designers, empresas demarketing, grafite digital e tantas outras possibilidades.Alguns artistas executam seus trabalhos em grandes ou pequenos formatos, em locaisfechados ou abertos, tais como o VJ Spetto, que tambm videocenarista evideoperformancer, e o artista digital, msico e designer Henrique Roscoe, que trabalha comequipamentos analgicos e os digitais, compondo uma arte hibrida em harmonia com a artecontempornea.Alguns dos trabalhos de Roscoe consistem em projetar imagens a partir de pintura emdisco de vinil, composies criadas por ele mesmo, e estas so projetadas em superfcies emtempo real atravs de uma cmera de vdeo e projetores, essas imagens variam conforme ognero musical.Figura 9 - Enrique RoscoeFonte: No site do Festival de Arte Digital (FAD), apresentado o trabalho de HenriqueRoscoe (Figura 10), uma proposta conceitual audiovisual generativa. Onde a fuso deimagens, udio e vdeo executada em performances ao vivo e em tempo real ou na forma devdeos e instalaes. Sua performance baseada no conceito de sinestesia onde as cores, asformas e os movimentos de cada elemento so sincronizados com notas, harmonias e ritmo.4Os VJ so artistas que visam o uso de mixagem de imagens e projeo de vdeos, associado amsicas diversas e animaes em tempo real ou simplesmente para a projeo de superfciesmapeadas. 25. 25Som e imagem tm o mesmo valor significativo e so gerados simultaneamente ao tocar cadanota no teclado, atravs dos instrumentos construdos em software.Figura 10 - Video mapping fachada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) por VJ Spetto, 2011.Fonte: A imagem acima se refere a um evento ocorrido em 2011, na fachada do CentroCultural Banco do Brasil (CCBB) no Rio de Janeiro, e tomamos como exemplo da tcnica devideo mapping em arquitetura; esse trabalho foi realizado pelo VJ Spetto, para homenagear oaniversrio de 80 anos do poeta concretista Augusto de Campos. Teve muitas cores edeclamaes de versos do poeta homenageado pelo cantor e compositor Arnaldo Antunes.O Video Mapping, segundo Lessa e Cassetari (2012), no uma tcnica nova, massim uma redescoberta que adquiriu uma performance refinada, tendo suas razes no Teatrode Sombras, na Cmara Escura e, mais tarde, na lanterna mgica, que era um equipamentode produes de fenmenos fantasmagricos ou ilusionismo, voltado para impressionar opblico.A fantasmagoria ou Phantasmagoria5se manifesta na atualidade sob as tcnicas deprojeo do Vdeo Mapping, por apresentar ligaes de continuidade e aprimoramento datcnica, por meio de tecnologias recentes manipuladas por artistas com interesse de causaruma realidade por meio de iluses que, [...] pode tornar presente o ausente (KENELSEN,2010, p. 10).A projeo mapeada na atualidade, ou o Vdeo Mapping como mais conhecido nainternet, tem por caracterstica o uso de equipamentos combinados com diversos softwarespara projetar imagens nas mais inusitadas superfcies, pois as imagens nesta situao so5Phantasmagoria- Do grego phantasma (fantasma) derivado de phantaz, eu fao iluso -, e agoreru, eu falo; como aetimologia indica, um dilogo pode ser dar entre o pblico e o fantasma ressuscitada pela laterna mgica (MANNONI apudLESSA e CASSETARI,2012 p. 5). cic 26. 26livres para transitar, todavia no so imagens livres de suporte, pois sua natureza precisa deuma superfcie para se materializar.O mapeamento acontece pelo registro fotogrfico da superfcie a ser mapeada, a qualreceber a projeo. O processo dividido em quatro etapas: o primeiro consiste em mapear asuperfcie, o segundo em preparar as imagens para projeo, o terceiro so os testes deprojeo, o quarto a projeo propriamente dita.Para o mapeamento da superfcie faz-se necessrio o registro de imagens do suportecom os cuidados de distncia, altura, posio da cmera fotogrfica que simular a posio doprojetor de imagens que ser usado; aps a captao da imagem, essa levada a um softwareonde sero feitos o mapeamento e as mscaras delimitando o campo do suporte, no levandoem conta sua dimenso. Com essa etapa pronta, inicia-se o segundo momento, a de animaode imagens ou manipulao de vdeos em software, que sero usados para a projeo. Comesse processo realizado so feitos testes para ajustes finais e, no quarto passo, com tudopronto realiza-se a projeo final. Os equipamentos usados so: Datashow, suporte diversos,computador e softwares, vdeo e animaes. Os softwares mais empregados, de acordo comLessa e Cassetari (2012) so: Modulo8, software desenvolvido pela GarageCube, prpriopara performances ao vivo; Video Projection Tools (VPT), software livre criado pela HCGije especfico para Mac e Windws, utilizado em teatros e instalaes; Resolume, umsoftware muito usado por VJs (Video Jokey) e artistas que trabalham com combinao deimagens em tempo real sincronizadas com msicas; Adobe After Effects, pertencente aAdobe Sustems, um software amplamente usado para trabalhar com efeitos especiais emvdeos, animaes bidimensionais e tridimensionais, entre outros; e Cinema 4D, Softwaredesenvolvido pela empresa alem MAXON Computer para modelagem 3D, com diversosrecursos, como texturizao, iluminao e renderizao.Em nosso trabalho utilizamos a tcnica de video mapping, mas de modo um poucodiferente dos exemplos relatados acima, produzimos nosso prprio suporte, pois envolvemostambm as tcnicas tradicionais de escultura (modelagem), as quais foram utilizadas paramodelar um busto feminino de mulher Kadiwu criada especificamente para a propostatemtica do trabalho. 27. 272 AS PINTURAS KADIWU COMO PROPOSTA TEMTICACom o objetivo de inserir um propsito nossa produo artstica, elaboramos umtrabalho que pudesse gerar reflexes a respeito do povo Kadiwu, consideramos esta temticaimportante por entender a relevncia da discusso a respeito de um povo que faz parte dahistria desse estado e que possui uma trajetria de luta pela preservao de sua identidadecultural.Kadiwu um dos povos indgenas, que vivem em Mato Grosso do Sul, soremanescentes do povo Guaicuru. Encontram-se atualmente localizados na Serra daBodoquena, situando-se ao sul do pantanal sul-mato-grossense, na parte oeste do estado deMato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, onde, segundo Siqueira Junior (1992),vivem aproximadamente a cerca de duzentos anos.No se sabe exatamente como a arte da pintura corporal Guaicuru se originou; sabe-seque essa arte evoca mistrio e, ao mesmo tempo, encanta por seus elementos intricadosdispostos sobre a pele, ora realizados em formas orgnicas, ora em formas geomtricas queexpressam profundo significado da cultura de seu povo.Figura 11 - Mulheres Kadiwu - Rio NabilequeFonte: Siqueira Junior, 1992. 28. 28Figura 12 - Mulheres Chamacoco - Rio NabilequeFonte: Siqueira Junior, 1992.Tanto para os Guaicuru como para os antigos Kadiwu, a pintura corporal servia comoum meio de separar as classes sociais: diferenciando os nobres hereditrios dos guerreiros edos escravos. Segundo Boggiani (1975), as pinturas usadas pela alta sociedade Kadiwu(esposas de cacique e capites) eram motivos delicados aplicados na face; j os desenhos dasmulheres da plebe (escravas) eram desenhos rsticos delineando costas, braos e peito. Asmulheres eram responsveis pela aplicao dos desenhos decorativos; conforme relata oantroplogo Lvi-Strauss seus rostos, s vezes tambm seus corpos inteiros, so cobertos porum tranado de arabescos assimtricos que alternam com motivos de sutil geometria (LVI-STRAUSS, 1996, p. 173).Com a mesma habilidade, os desenhos tambm so aplicados na decorao decermicas para uso domstico. Nos dias atuais, a produo das peas realizada ainda damesma maneira (Fig. 4).Figura 13 -Coleo FFKCH - USP / 1987 Ex-acervo Plneo Ayros, USP -SPFonte: Siqueira Junior, 1992.Ainda refletindo sobre a funo sociolgica da arte Kadiwu, de identificar ossenhores, os guerreiros e os escravos, sabemos que, alm disso, anteriormente os Kadiwu se 29. 29pintavam para se considerar como pessoa; eles acreditavam que precisava-se estar pintadopara ser homem: quem se mantinha no estgio da natureza no se diferenciava do bruto(LVI-STRAUSS, 1996, p. 177).[...] as pinturas do rosto conferem ao indivduo sua dignidade de serhumano; operam a passagem da natureza cultura, do animalestpido ao homem civilizado. Em seguida, diferentes quanto aoestilo e composio segundo as castas, expressam numa sociedadecomplexa a hierarquia dos status. Possuem, assim, uma funosociolgica (LVI-STRAUSS, 1996, p. 183).A estrutura da pintura Kadiwu, na anlise visual de Lvi-Strauss (1996), secaracteriza pelo misto de formas orgnicas e geomtricas, elaboradas com finas linhas cujoefeito se assemelha a delicadas rendas; e tais desenhos eram organizados de maneira a nogerar repeties sem perder sua caracterstica esttica. Alguns desenhos aplicados sobre aface, braos e peito se assemelhavam forma da letra S, apresentando elementos sinuosos,alm de formas geomtricas como losangos, espirais e cruzes. So composies complexas,porm equilibradas, aplicadas de modo nico e autntico. Ainda sob o ponto de vista doantroplogo supracitado, observa-se que, ao traarem os desenhos na superfcie do rosto,ornamentam-no com essas formas, livremente passando pelos olhos, boca e nariz, explorandotodo campo facial sem restries.Figura 14 - Desenho pintura FacialFonte: Siqueira Junior, 1992. 30. 30Lvi- Strauss (1996) afirma ainda que essa arte equivalia a um braso:Os nobres ostentavam sua posio por meio de pinturas corporaisfeitas com moldes ou por meio de tatuagens, que eram o equivalente aum braso. Depilavam-se totalmente o rosto, inclusive as sobrancelhase as pestanas, e tratavam, com repugnncia, de irmo de avestruz oseuropeus de olhos peludos [...] (LVI-STRAUSS, 1996, p. 168).Figura 15 - Fotos Claude Lvi Strauss/1935Fonte: Siqueira Junior, 1992.Ainda de acordo com o autor, as pinturas Kadiwu, por volta dos anos 30, no haviamsofrido muitas alteraes em sua forma esttica, porm, seus valores sociais iniciais foram sedissolvendo com o passar do tempo, embora a luta pela preservao da pureza sangunea e deseus valores culturais estivesse presente desde o passado. H tambm uma observao feitapor Boggiani (1975) que faz o seguinte relato:Pelo longo contacto com a civilizao europia no s mudaram os hbitossociais e os costumes dos Caduveo, mas os ornamentos originais, osutenslios e os instrumentos de trabalho desapareceram quase inteiramente eforam substitudos por produtos europeus ou por processo tcnicos novos detrabalho (BOGGIANI, 1975, p. 51). SICDiante dessa observao, podemos refletir sobre o processo de ressignificao cultural,entender ainda que ele inerente ao comportamento humano; o contato com o outro causamudanas de ambos os lados; de modo geral essas mudanas se apresentam lentas, mas 31. 31evolutivas. Estas observaes no so vistas com olhar negativo nesse trabalho, masentendemos que h uma necessidade de saber lidar com os aspectos comportamentais do serhumano para lidar com as mudanas ocorridas por influncias externas, sem que se percamtraos originais da cultura e do indivduo. Para ECO,Cada ser humano vive dentro de um certo modelo cultural e interpreta aexperincia com base no mundo de formas assuntivas que adquiriu: aestabilidade desse mundo essencial para que possa mover-serazovelmente em meio s provocaes contnuas do ambiente e organizaras propostas constitudas pelos eventos externos em um conjunto deexperincias orgnicas. Manter portanto nosso conjunto de assunes deorganicidade, e mant-lo absolutamente inalterado, h uma certa diferena.Outra condio de nossa sobrevivncia enquanto seres pensantes justamente a de saber fazer evoluir nossa inteligncia e nossa sensibilidadede modo que cada experincia adquirida enriquea e modifique o sistema dasnossa assunes. (ECO, 1969, p.142). SIC.Sabendo da importncia desta discusso temtica, nos direcionamos para a produode uma obra que pudesse propor, de modo subjetivo, tais reflexes, deste modo apresentamosnossa traduo de desenhos criados a partir dos traos utilizados nos desenhos e pinturascorporal Kadiwu, atravs das linguagens da arte contempornea, principalmente com o usodos recursos tcnicos do Video Mapping, com a inteno de resgatar e valorizar tais aspectosimportantes que perfazem a cultura de nosso estado. 32. 323 METODOLOGIA DE PRODUODiante de tais informaes adquiridas durante o levantamento bibliogrfico a respeitodo estado atual da arte contempornea mediada pelas tecnologias digitais e da temticarelacionada ao povo Kadiwu, apresentamos neste captulo o processo realizado na produoda obra, o momento em que relacionamos os aspectos tericos e prticos, a partir daconcepo dos conceitos inseridos no objeto artstico, bem como seu processo tcnico.Deste modo, este trabalho artstico passou por vrios processos: (1) desenvolvimentode conceitos e referncias; (2) produo de suporte para o Vdeo Mapping a partir deprocessos de modelagem tradicional com o uso de argila, (3) desenvolvimento de animaodigital, (4) Mapeamento do vdeo e, por fim, (5) a montagem do espao de instalaopropriamente dita, os quais expomos detalhadamente logo abaixo.3.1 DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS (GERAIS) E REFERNCIASA obra apresentada consiste em uma videoinstalao que utiliza das tcnicas de VdeoMapping, que por sua vez, tem como superfcie de projeo uma escultura, que representa afigura feminina do povo Kadiwu. As imagens projetadas foram produzidas a partir da anlisevisual de imagens fotogrficas encontradas nos registros dos pesquisadores Lvi-Strauss(1996) e Boggiani (1975) e, tambm, a partir de releituras pessoais, utilizando tcnicas daanimao digital.Foi escolhida a figura feminina porque, de acordo com Lvi-Strauss (1996), so elasas responsveis por manter, at os dias de hoje, vivos os conhecimentos das tcnicas dessaarte to antiga que faz parte da identificao de seu povo.O propsito de estudar, analisar e transformar tais desenhos e traos, foi o de instigar oespectador a apreciar a obra de um modo crtico, proporcionando uma reflexo sobre asmudanas que ocorrem quando uma cultura entra em contato com outras. 33. 333.1.1 Referncias para o Suporte e ProjeesDurante as pesquisas busca de obras que relacionassem escultura e video mapping,encontramos um caso de projeo, por meio de vdeo mapping, sobre uma obra da artistaItaliana Paola Epifani, mais conhecida como Rabarama (Figura 16), que apresenta umaprojeo de video mapeado em 360 graus sobre uma escultura em forma de corpo humano;tal projeo consiste em envolver todos os lados do suporte pelas imagens projetadas poraparelhos dispostos em diferentes ngulos. O vdeo mapping, nesse caso, no foi criado pelaartista, mas, como uma homenagem obra dela.No trabalho de Rabarama (Figura 13) o tema principal o universo e a vida; sua visodo universo concebida como um quebra-cabeas com as peas entrelaadas, em que cadapea tem o seu prprio lugar em um determinado (ou, mais corretamente, predeterminado)espao e tempo; nesse universo a humanidade est em metamorfose constante e programada,ou seja, uma metamorfose na qual negado ao indivduo o livre arbtrio em relao, porexemplo, ao comportamento biolgico do corpo. Na imagem abaixo, de uma escultura daartista, possvel ver essa ideia do quebra-cabeas estampada na superfcie da obra.Figura 16 - Projeo de video mapping em escultura como suporte. RabaramaFonte: http:www.youtube.com/watch?v=OZfTKSmPxxA 34. 34Em outras obras, percebemos que as tatuagens tridimensionais na superfcie docorpo escultrico assumem novas formas simblicas. A artista utiliza resina para cobrir suasesculturas antropomrficas, evocando a primeira etapa na vida de uma pessoa, quando aplacenta, com seu fluido amnitico sutenta a vida no espao uterino. Suas obras se encontramem vrios pases como China, Mxico, Itlia etc. Seus tamanhos variam desde pequenas peasat obras gigantescas.Figura 17 Escultura Quebra-cabeas, Rabarama.Fonte: 35. 35Relacionamos as obras de Rabarama com o nosso processo artstico pois, guardadas asdiferenas, nos dois casos os aspectos que ficam em evidncia so o corpo representado pelaescultura e a sobreposio na superfcie de desenhos que simbolizam e significam umareflexo sobre o ser humano e sua identidade. A relao entre o corpo humano e imagens quesignificam algo sobre esse corpo ou sobre a relao entre corpo e ambiente ou outra, estpresente de diferentes formas em diferentes culturas. Relembrando alguns relatos de Lvi-Strauss (1996), observamos que os Kadiwu se pintavam porque acreditavam que a pintura oslibertava da natureza bruta (Figura 19, Figura 20, Figura 21 e Figura 22).Figura 18 - In-croci. RabaramaFonte: 36. 36Figura 19 - Escultura Rabarama Fonte:http://regbor.blogspot.com.br/2012/07/escultora-italiana.htmlFigura 20 - Mulher ChamacocoFonte: Siqueira Junior, 1992Figura 21 - Mulher Chamacoco Rio NabilequeFonte: Siqueira Junior, 1992.Figura 22 - Escultura RabaramaFonte: 3.2 DESENVOLVIMENTO DE SUPERFCIE DE PROJEO (SUPORTE)Sabendo que o Vdeo Mapping necessita de um suporte para projeo de imagens eque nossa proposta aborda as transformaes dos valores da pintura Kadiwu, foi idealizadoum suporte na forma de busto feminino, finalizado em massa plstica branca, com umacabamento que lhe conferiu uma superfcie lisa, com a inteno de gerar uma analogia comas mulheres indgenas que usavam o corpo e o rosto tambm liso (sem pelo) para a aplicao 37. 37das pinturas. O processo seguiu as etapas seguintes: 1- modelagem em argila; 2- formaperdida; 3- preenchimento da forma com massa plstica e 4- acabamento.3.2.1 Modelagem em ArgilaO artista modelador parte de uma imagem, seja ela um esboo feito a grafite, foto,modelo vivo entre outros. Em nosso processo seria mais prtico e confortvel trabalhar com omodelo vivo, por ter acesso a detalhes como profundidade, superfcie, contornos,proporcionando uma riqueza de detalhes muito maior para a obra, no entanto, para estetrabalho de representao de uma ndia kadiwu com traos muito singulares, isso exigiriaque tivssemos uma mulher dessa origem como modelo vivo, o que no foi possvel. Destemodo, tanto o busto, quanto os desenhos que representam a pintura facial, foramdesenvolvidos a partir da observao de imagens disponibilizadas por Siqueira Junior (1992)em seu livro Arte e tcnica Kadiwu; alm dessas, uma imagem de uma mulher indgena foicapitada da internet, pois as imagens do livro citado no suprem por completo os requisitospara a modelagem, as quais expomos a seguir.Figura 23 - Mulher Kadiwu /meio perfilFonte: Siqueira Junior, 1992.Figura 24 -Mulher Kadiwu /perfilFonte: Siqueira Junior, 1992. 38. 38Figura 25 - Mulher indgena com traos semelhantes aostraos de mulheres KadiwuFonte: http://www.mochileiro.tur.br/parquesms.htmFigura 26 - Mulher Kadiwu / posio frontalFonte: Siqueira Junior, 1992.Os materiais utilizados para esta modelagem foram: (1) Suporte de madeira; (2) isoporpara revestir o suporte; (3) fita crepe; (4) estecas e outros instrumentos; (5) argila; (6)borrifador de gua; (7) fita mtrica.Com as imagens 23, 24, 25 e 26 selecionadas e impressas em papel A4 em preto ebranco, demos incio ao revestimento do suporte com isopor, sobre o qual foi trabalhada amodelagem como vemos na figura 27:Com a fita mtrica verificamos as medidas de meu prprio corpo e as utilizamos naproduo da modelagem conforme orientao da professora e co-orientadora Carla de Cpua,para dar as propores naturais.Na figura 27 o suporte encontra-se revestido de isopor, esse procedimento auxilia aeconomizar a argila, alm de deixar a pea mais leve; em caso de haver necessidade detransport-la para outro local, como foi o caso desse trabalho. Ele foi modelado em um local edepois transportado para a sala de escultura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul(UFMS), para passar pelo processo de forma em gesso e preenchimento com a massa plstica,processo que mostramos mais tarde.Assim que a base ficou pronta, iniciamos a modelagem, onde foram aplicadas vriascamadas de argila, de modo que aos poucos o busto foi tomando forma, como podemos vernas figuras 28 e 29. 39. 39Figura 27 - Base de madeira revestida de isopor, unidas comcola e fita crepe brancas.Fonte: Acervo pessoalFigura 28 - Incio da modelagem/revestindo a base comargila.Fonte: Acervo pessoalNa figura 30 o rosto j recebeu bochechas, nariz e boca; esta ltima no correspondeu sexpectativas, por isso foi removida. Para oferecer mais detalhes no rosto, trabalhou-se duascavidades no local dos olhos pra receber o globo ocular, como mostrado na figura 30.Figura 29 - base do rostoFonte: Acervo pessoalFigura 30 preparando a cavidade dos olhos para recebero globo ocularFonte: Acervo pessoalA modelagem da cabea foi desmanchada e refeita vrias vezes, at conseguirmos darao rosto traos semelhantes aos da mulher Kadiwu.As figuras 32 a 35 mostram o desenvolvimento da escultura com as fisionomias dorosto. 40. 40Figura 31 - dando detalhes aos olhos e bocaFonte: Acervo pessoal Fonte: AcervoFigura 32 - primeira verso do bustoFonte: Acervo pessoalFigura 33 - Rosto remodelado, modelandonovos olhos.Fonte: Acervo pessoalFigura 34 - Remodelado estruturacraniana.Fonte: Acervo pessoalFigura 35 - Finalizando a face, vistalateral esquerda.Fonte: Acervo pessoal3.2.2 Forma perdidaTerminado a modelagem, inicia-se outro processo, o da forma perdida. Neste caso aforma perdida porque no ato de retirar a escultura, j no material desejado, normalmenteocorre reteno entre o molde em argila (por causa da forma humana dada ao busto, comdetalhes que variam em tamanho e profundidade, como o nariz, boca e queixo provocandoreteno) e a forma de gesso, o que exige quebrar a forma para completar o processo, dessemodo, se torna forma perdida, como vemos nas prximas imagens. 41. 41Nesse momento do processo, com a modelagem finalizada, foi marcado o local (riscocom ferramenta de ponta fina, que inicia no ombro e percorre pelo meio da cabea at o outroombro), para receber o acetato (folhas de RX), como mostra a figura 36. A diviso com oacetato tem como objetivo manter as metades da forma de gesso separadas, sem danificar apea modelada.Figura 36 - Busto finalizadoFonte: Acervo pessoalFigura 37 - Pea dividida comacetatoFonte: Acervo pessoalFigura 38 - Cobrindo a pea com gessoFonte: Acervo pessoalFigura 39 - Extraindo a argila da formaFonte: Acervo pessoalFigura 40 - Abrindo a formaFonte: Acervo pessoalFigura 41 - Removendo resduos querestaram na formaFonte: Acervo pessoalAps a forma pronta, realiza-se a limpeza na parte interna da forma, retirando toda aargila com cuidado para no danificar algum detalhe. Bolhas de ar so muito comuns nomomento em que o gesso est sendo preparado, por isso devemos cuidar para que elas no seformem em grande quantidade; neste caso, no tivemos muitos problemas com essas bolhasna forma de gesso. 42. 423.2.3 Preenchimento da Forma com Massa PlsticaO prximo passo consiste no preparo da forma de gesso que segue trs etapas: 1-espalha-se a vaselina nas partes interna da forma de modo que fique lisa, evitando marcas depincel, que possam ficar eventualmente impressas na superfcie do busto; 2- distribumos amassa plstica tendo o cuidado para que fique uniforme e espessa, esse cuidado aumenta suaresistncia; 3- aps o produto seco, removida a forma com as ferramentas: formo e martelode madeira; o formo introduzido na fissura causadas pelas folhas de acetato, com a ajudado martelo, que dividem os lados frente e costa da pea.Na imagem 42 e 43 mostramos a pea em massa plstica sendo retirada da forma de gesso.3.2.4 AcabamentoPara fazer o acabamento utilizamos os seguintes materiais: lixa dgua, bacia, gua.Nesse processo demos incio ao lixamento da pea, com lixas de grnulos mais grossos at aslixas de grnulos mais finos para obter uma superfcie lisa; depois de concludo esse processoo suporte recebeu um tratamento com massa de polir como acabamento final, realando aFigura 42 - Retira-se primeira parte da forma (costa)da peaFonte: Acervo pessoalFigura 43 - Retira-se segunda parteda forma (frente) da peaFonte: Acervo pessoal 43. 43textura liza e acrescentando-lhe brilho. E assim fica pronto o suporte para receber o videomaping.Com o suporte pronto, damos incio a outro processo, um tanto complexo, pois exigeo conhecimento de alguns softwares especficos, como Adobe Ilustrator, Adobe After Effects eCorel Draw para a produo das animaes grficas que sero projetadas sobre o suporte.3.3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DAS ANIMAES GRFICASE MAPEAMENTO DE VDEOConforme j expusemos acima, as imagens projetadas tm como referncias desenhose fotografias registradas por Boggiani (1975) e Lvi-Strauss (1996). A proposta gerarreflexes sobre a ressignificao da cultura Kadiwu, representada pela pintura corporal. Estetipo de pintura exerce um papel importante para a nao Kadiwu at nos dias atuais, pois,alm de manter sua memria cultural, ela tambm se tornou cone de seu povo.As imagens projetadas so fragmentos de animaes grficas; os primeiros desenhosinseridos na obra, sobre a superfcie do busto da mulher Kadiwu, so animaes de desenhossem alteraes na sua forma original ou seja, apresentamos os desenhos de modosemelhante s imagens dos registros fotogrficos dos autores j citados a animao continuaapresentando desenhos com alteraes, at perderem totalmente as semelhanas com osprimeiros desenhos.A proposta de apresentar animaes baseados nos desenhos da pintura corporalKadiwu tem como objetivo demonstrar, por meio desse processo de desenho que parte daforma original aos criados por ns baseados nos originais, uma representao do processo datransformao dos valores da pintura corporal e os desenhos criados de acordo com apercepo do artista, ou seja, nossos conhecimentos, fazendo um mistura de conhecimentosculturais.Buscamos valorizamos as formas geomtricas, o estilo da linha curvilnea e linhaspontilhadas, utilizadas no corpo das mulheres indgenas.O processo de produo de Video Mapping ocorreu em quatro etapas: 1- vetorizaode imagens; 2- criao de desenhos a partir da pintura corporal Kadiwu; 3- animao dasimagens; 4- renderizao das animaes; 5- teste de projeo. 44. 443.3.1 VetorizaoO processo de vetorizar - redesenhar imagens em formato bitmap para vetorial- edesenhar novas imagens foi realizado em dois softwares: o Corel Draw e o Adobe Ilustrator.Nota-se, abaixo temos imagens em formato bitmap, retiradas da obra do autor Boggiani(1975) para a apropriao dos desenhos da pintura corporal (Fig. 44 e 45).As figuras 46 e 47 so planificaes de pintura corporal, aplicadas na face dasmulheres Kadiwu, que fazem parte da coleo de Siqueira Junior (1987) e Darci Ribeiro(1950), capitadas do livro Arte e tcnica Kadiwu de Siqueira Junior (1992).Figura 44 - Mulher de Etquija Figura 45 - Jovem CaduveoFonte: Boggiani (1975) Fonte: Boggiani (1975) 45. 45Aps o redesenho de todas as imagens a serem utilizadas na obra, as exportamos parao Adobe Illustrator, a fim de serem divididas em camadas, para facilitar o processo deanimao das mesmas no software After Effcts (Figura 48, 49 e 50).Figura 48 - Desenho Facial Kadiwu vetorizado no CorelDraw e dividido em layers Adobe IllustratorFonte: Acervo pessoalFigura 49 - Desenho Kadiwu (para o peitoral do busto)vetorizado no Corel Draw e dividido em layers no AdobeIllustratorFonte: Acervo pessoalFigura 46 - Coleo Siqueira Junior / 1987Fonte: Siqueira Junior, 1992Figura 47 - Desenhos orgnico/geomtricosColeo Darcy Ribeiro / 1950Fonte: Siqueira Junior, 1992 46. 46Figura 50 - Trabalhando desenhos Kadiwu no Adobe Ilustrator/ LayersFonte: Acervo pessoalAbaixo apresentamos os desenhos sobre o suporte para a projeo, o busto (Fig. 51 e53). Nesta prxima composio nos embasamos nas linhas pontilhadas da imagem fotogrfica(Fig. 52) de Siqueira Junior (1935), a qual nos baseamos para criar outro desenho,aproveitando das caractersticas dos elementos que conferem um aspecto delicado sobre apele e sobre o suporte da obra: As linhas animadas surgem de dois pontos verticais: basesuperior (cabea) que desliza em movimentos sinuosos sobre a superfcie do suporte nosentido de cima para baixo. Essas linhas seguem, contrastando sua cor preta com a superfciebranca; da mesma forma, acontece simultaneamente com as linhas que surgem da parteinferior do suporte para cima, seguindo o mesmo processo. 47. 47Figura 51 - Desenhos com linhas pontilhadas (baseado na fig.52)Imagem trabalhada no Adobe IllustratorFonte: Acervo pessoalFigura 52 - Foto Lvi-Strauss, 1935Fonte: Siqueira Junior, 1992.Sabemos que os Kadiwu usam as cores somente nas cermicas, nos desenhos empapel, diferenciando o uso sobre a pele, na qual os desenhos so formados com pigmentopreto (liquido extrado do jenipapo), todavia, no processo de produo de nossa obra no nosrestringimos apenas ao uso do preto para a composio das linhas e desenhos; na composioabaixo (Fig. 53) buscamos adicionar cores, mas com outro olhar, o do artista, enfatizando ossignificados festivos do ritual Kadiwu. 48. 48Nesses desenhos, utilizamos muitas cores em tons alegres, que no fazem relaodireta com as cores aplicadas na cermica Kadiwu.Figura 53 - Moa em festa; desenhos coloridos (releitura figura 54)Fonte: Acervo pessoalAs formas compostas de linhas circulares e pontos so inspiradas na imagemfotogrfica (Fig. 54) utilizada como registro na obra de Lvi-Strauss (1935), registro da festada moa, ritual praticado h sculos na sociedade Kadiwu no momento em que a menina setorna moa. As cores nesta composio promove um carter festivo e alegre, que geralmente usado em outras Culturas.Figura 54 - Foto Lvi-Strauss, 1935Fonte: Siqueira Junior, 1992. 49. 493.3.4 Animao DigitalO processo de animao requer conhecimentos de diversos softwares especializados;e, em parte por isso, geralmente no se trabalha sozinho na produo de animaes, emboraisso seja possvel; porm, o trabalho torna-se muito mais prolongado e dificultoso.Neste caso no foi diferente; para a produo das animaes do vdeo que seria usadonesse trabalho em formato de instalao multimdia, contamos com uma equipe de apoioespecializada. Essa equipe foi formada por quatro pessoas, um tcnico de laboratrio deinformtica com conhecimento em diversos softwares, juntamente com trs acadmicos comconhecimento em vdeo mapping e animao digital, obtidos em disciplina ministrada pelaprofessora M Venise Melo.Aps o processo apresentado anteriormente, levamos as imagens j vetorizadas,(redesenhadas) previamente preparadas, para o software After Effects, onde iniciamos oprocesso de produo das animaes grficas. Para o desenvolvimento do video mapping, foinecessrio produzir mscaras definidas a partir do contorno da imagem do suporte (o busto),as mscaras fazem a delimitao do espao no qual as projees das animaes acontecero,de acordo com a forma do objeto.Na figura 55 mostra-se a mscara que abrange ombros e rosto do suporte. Esse recursode trabalhar com a mscara sobrepondo a imagem do suporte facilita para o profissional queproduz animaes, pois possvel ter ideia pr-antecipada do que ir acontecer na projeofinal, como vemos nos exemplos a seguir. 50. 50Figura 55 - Mscara - suporte totalFonte: Acervo pessoalNa figura 56 mostramos um dos desenhos no incio da animao que vai se formando;como que por um pincel fino e invisvel, so traadas linhas pretas que formam elementosgeomtricos e orgnicos como losangos, setas, forma sinuosa entre outros que compe abeleza do grafismo Kadiwu.Figura 56 - Animao desenho peitoral no software After EffectsFonte: Acervo pessoal 51. 51Os elementos que formam as imagens receberam movimentos em ritmos diferentes, svezes lentos outras vezes rpidos, em sincronia com o som, que combina momentos demsica indgena com um dialogo entre duas mulheres, uma de origem Guarani e outra deorigem Kadiwu. No momento da conversa o som da msica diminui para no interferir nodilogo que breve; h uma pausa e, ento, a msica continua e o som elevado, seguindoessa sequncia no decorrer da instalao.Na figura 57 a superfcie do suporte encontra-se tomada por mais elementos quecompletam a composio (agora na face tambm), esses desenhos foram vetorizados semalteraes a partir das imagens de onde foram copiadas. A proposta de iniciar a projeo dovdeo (as imagens animadas) com os desenhos Kadiwu inalterados e, no decorrer da projeoinserem novos desenhos que foram criados a partir dos desenhos j apresentadosanteriormente.Para ns, o processo que parte dos desenhos inalterados para outros criados por ns,porm, mantendo relaes no uso dos elementos entre si, tem um sentido; buscamosrepresentar em nossos desenhos as transformaes ocorridas na cultura Kadiwu, ideia relacionar os antigos valores da pintura Kadiwu, com as transformaes ocorridas em seusignificado para o povo, por meio dos desenhos criados por ns a partir das formas originaisque se encontram nos livros de Lvi-Strauss (1996), Guido Boggiani (1975) e Siqueira Junior(1992).Em algumas composies usamos desenhos em sua forma original, em outras, aindamantemos a forma, porm, adicionamos elementos semelhantes aos traos dos desenhos depintura corporal Kadiwu, que ficam quase imperceptveis as alteraes, em outros, alm de odesenho ter sido criado por ns (usando alguns elementos das composies Kadiwu) aindainserimos cores, o que no acontece na pintura corporal dessa nao. Todavia nos sentimoslivres para no processo artstico, colorir a nosso modo, o que nos trouxe uma gostosaexperincia.A seguir, na figura 59, damos mais um exemplo de desenhos que colorimos. 52. 52A figura 58, alm de ser uma das imagens que utilizamos como referncia namodelagem do suporte, tambm serviu como informao visual para o desenho representadona figura 59. Escolhemos os elementos localizados sobre o peito (figura 58) que, para ns,remetem a escamas de peixe e, por isso, os achamos interessantes, e imaginamos comoficariam coloridas. Ento buscamos organizar, no busto, esses elementos, posicionando-os emoutra regio, como o rosto, alm de elementos de formas orgnicas que crescem para baixoem direo ao peito.Figura 57 - Demonstrao de animao no software de desenhos Kadiwu peito e rosto totalFonte: Acervo pessoal 53. 53Figura 58 - Pintura corporal Kadiwu escamasFonte: Siqueira Junior, 1992Figura 59 - Desenho criado a partir da i figura 59Fonte: acervo pessoal 54. 543.3.5 SomFaz parte da composio da obra desse trabalho uma msica que foi baixada dainternet, essa msica parte de uma produo de vdeo da Oficina de Audiovisual Indgena2009 no Vdeo ndio Brasil6. Nesta gravao h o dialogo de duas mulheres, uma da naoGuarani e outra da nao Kadiwu; ambas falam sua lngua materna, em que explicam asituao de seu povo na atualidade.A mulher Guarani relata com tristeza que seu povo precisa no s conservar e resgatarsuas terras, mas tambm sua cultura, a mulher Kadiwu diz que o local em que elas vivem, a aaldeia, est em bom estado de conservao da natureza, e que eles buscam manter a arte dapintura, ensinando as crianas desde pequenas, pois eles sabem que os outros povos noindgenas e indgenas os identificam em especial pelos seu grafismo.O vdeo desse relato acompanhado por uma msica; parece haver uma mistura deinstrumentos indignas com outros, como o som do violino e violo, por exemplo, embora nopudemos identificar ao certo.Esse vdeo no aparece na projeo, somente o som composto da musica, e da voz dasmulheres conversando; todavia, o dilogo entre as mulheres, uma Kadiwu e outra Guarani,refora o que abordamos nesse trabalho, as transformaes na cultura Kadiwu, representadaspor meio da pintura, essas transformaes se manifestam em sua sociedade por influnciascausadas pelo contato com outras culturas, como por exemplo, a influncia da culturaeuropeia, citada por Boggiani (1975), bem como de outros povos, os quais causaram-lhesmudanas nos hbitos socioeconmico e cultural, como na msica, na alimentao, naproduo de artefatos, entre outros. Essas mudanas afetam na questo da funo que apintura corporal tinha no passado para eles.A funo da pintura, que outrora era de separar as castas, no se mostra mais comoantes, embora haja os que dizem que esta diferena entre eles ainda ocorre na atualidade,porm, de modo velado; todavia, no mais designada pela pintura, como ocorria no passado.Isso so apenas questionamentos que ficam abertos para anlises mais profundas.6Comunicao Kadiwu e Guarani disponvelem:acesso em: 13 de maro de 2013 55. 553.4 PROJETO E MONTAGEM DA VIDEOINSTALAOA instalao foi planejada para ser montada na Universidade Federal de Mato Grossodo Sul (UFMS), em uma sala pequena e escura, onde foram dispostos os equipamentos dainstalao que so dois pedestais, o busto (suporte), um computador, duas caixas de som e umprojetor.O busto ficou sobre um suporte de um metro e dez centmetros de altura; a sua frente,tambm em um suporte semelhante, foi colocado o projetor, direcionado para o busto que seencontrava aproximadamente a um metro e meio de distncia.A princpio, o espectador pode ter alguma fobia devido o ambiente ser pequeno eescuro, ele poder se surpreender ao se deparar com uma escultura na forma de uma mulhercom traos indgena, onde se manifestam desenhos de pinturas corporais Kadiwu, que semovimentam e mudam de forma em sequncia uma da outra, no total de sete desenhos aprojeo dos olhos em movimento e a msica de fundo que permanecem em modo looping(em repetio).O vdeo tem durao de trs minutos, aps treze segundos do incio dos desenhos, osolhos da ndia se abrem como se ela se despertasse ou criasse vida, olhando de um lado paraoutro, a princpio parece assustador uma escultura branca na forma de uma mulher Kadiwuabrindo e movimentando os olhos.A inteno de inserir os olhos na obra foi a de conferir o significado de que a naoKadiwu tem conscincia dessas mudanas, e que essa mesma conscincia precisa acontecerem ns, para sabermos lidar com as transformaes que tambm ocorrem em nossa cultura,desencadeadas por fatores semelhantes.Espera-se, tambm, causar no observador a curiosidade de conhecer a origem dosdesenhos projetados sobre o suporte, com o interesse de redescobrir a histria da naoKadiwu, que integra parte da cultura do Mato Grosso do Sul.A obra de videoinstalao, com a tcnica do Vdeo Mapping, que foi desenvolvidaneste trabalho, tem como objetivo fazer com que o espectador se sinta estimulado a refletirsobre o tema da obra, as transformaes ocorridas com os valores da pintura do povoKadiwu, pelo contato com outras culturas, e pensar nesse povo como uma parte importanteque compe, no somente a histria da nossa sociedade, mas que se faz presente e continuasendo importante para a identidade cultural da nao brasileira. 56. 56CONCLUSOA arte contempornea est em constante evoluo; busca aproximar-se da vida, serelacionar de modo mais ntimo com as pessoas, discutindo ideias, mexendo com as emoese os sentidos, provocando no sujeito experincias alm do comum.No desenvolver desse trabalho pudemos entender melhor as palavras escritas acima,foi neste momento que buscamos um conhecimento mais profundo sobre a artecontempornea e, em especial, a videoinstalao, que est se envolvendo cada vez mais comas tecnologias digitais, com ela que todas essas caractersticas reunidas da artecontempornea acontecem.Entendemos que a arte conceitual proporciona um relacionamento mais ntimo com oobservador, valorizando mais aspectos intelectuais do que os aspectos fsicos, o que mantmsua presena constante na arte contempornea.Na videoinstalao compreendemos o processo evolutivo da arte conceitual quandotranspe os limites do fazer tradicional e avana para o campo das tecnologias, quepotencializam ainda mais os sentidos do espectador, que se posiciona na obra aberta.Com o hibridismo cada vez mais intenso na arte, a instalao multimdia vemconquistando espaos por sua linguagem ecltica, aliada magia da arte ampliada pelatecnologia.No video mapping, observamos a potencialidade da instalao multimdia, e suacontribuio das relaes do espao urbano com a arte e as novas tecnologias.Nas pinturas kadiwu, encontramos a temtica de nosso trabalho, com o objetivo degerar reflexes sobre as transformaes da identidade cultural do povo Kadiwu, onde seugrafismo os identifica; no entanto, desconhecemos profundamente seus significados. Mesmocom monumentos em parques ou praas, ou mesmo que se apresente sua pintura nas escolas,ainda assim ficamos na superficialidade.Observamos que os aspectos de ressignificao so comuns nas cultuas em geral,porm, necessrio que se trabalhe para preservar os valores cultuais, sem rejeitar os novosconhecimentos, que contribuem muito para enriquecimento sociocultural progressivo de cadanao.Esta obra, aqui apresentada, foi o resultado das pesquisas desse trabalho, associando asnovas tecnologias s tcnicas tradicionais, servindo como ponte entre o artista e o observador,um modo de experimentao da arte contempornea. 57. 57REFERNCIASARANTES, Priscila. Arte e mdia: perspectivas da esttica. So Paulo: Senac So Paulo,2005.BOGGIANI, Guido. Os caduveos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.CANTON, Katia. Do moderno ao contemporneo. So Paulo: Martins Fontes, 2088.DOMINGUES, Diana M.G. A imagem eletrnica e a potica da metamorfose. Tese deDoutorado, PUC- SP, 1993. pp. 137-153.ECO, Umberto. 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