almanaque chuva de versos n. 439

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Uma Trova de Maringá/PR Cônego Benedito Vieira Telles

Frondosa árvore, bendita,

que antepassados plantaram. Árvore alegre, bonita,

de ti saudades ficaram! ________________________

Uma Trova do Rio de Janeiro/RJ Josafá Sobreira da Silva

Vou expor verdade franca,

peça a Deus para entendê-la: – quem da terra a flor arranca no céu, ofende uma estrela.

________________________

Um Poema de Maringá/PR José Bidóia

PEDACINHO DE ESTRELA

Ela é mais que feminina, é um pedacinho de estrela,

com jeito de paz divina, que caiu no meu caminho

e nem sei porque caiu, talvez pra fugir do frio,

dos corações masculinos, corações sem charme,

sem romantismo, sem catecismo do amor,

que hoje em dia é tão comum, eu juro que era mais um,

até encontrar com ela, juro não tinha janela,

dentro do meu interior, para ver o mundo e a vida, nem um ponto de partida, ou luz mesmo que de vela.

________________________

Uma Trova de São Gonçalo/RJ Gilvan Carneiro da Silva

Mesmo que a tantos iluda com diversas abordagens,

história de amor não muda, mudam só os personagens.

________________________

Um Poema de Bandeirantes/PR Lucília Alzira Trindade Decarli

AUSÊNCIA

Senti que a ausência doída ganhou maior dimensão ao constatar minha vida ausente em seu coração!

Você, que foi presença em minha vida,

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mas foi embora sem dizer-me adeus, por avaliar, talvez, que a despedida

traria a dor crucial dos lábios seus…

Você, que no momento da partida não se furtou de olhar nos olhos meus,

fez-me pensar ainda ser querida, quase gritar: – “não vá, fique, por Deus!”

Ante o silêncio imposto entre nós dois,

pairou a dúvida cruel, depois: – quem, a este amor, negou vital clemência?…

– Quem pouco amou! – Constato, ao responder:

– menos amando, não pôde entender quem mais sofreu a dor que trouxe a ausência!

___________________ Uma Trova de São Paulo/SP

Héron Patrício

Não botem fogo na cana, peço ecologicamente:

– que a cana boa e bacana é que põe fogo na gente…

____________________ Uma Quadra de Barreiro/Portugal Victor Manuel Capela Batista

Da escola tenho saudade e do tempo que lá andei,

porque foi lá de verdade qu’ a ser homem comecei.

_______________________

Uma Trova Hispânica da Argentina Alicia Borgogno

Blancos, negros, amarillos, en un cambio de verdad,

bajo un sol pleno de brillos se abrazan en igualdad.

________________________

Um Poema de Curitiba/PR Lúcia Constantino

PERCURSO

Da solidão à comédia humana há o desafio da cama

uma noite que vai um fio de cabelo que cai

uma poesia mal feita um peito que não aleita

um sorriso que trai um andar verde e amarelo

um chinelo velho um rosto que se desfaz

e um chão sempre presente onde enfim dormirá a semente

no seu regresso à paz. ________________________

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Trovadores que deixaram Saudades Antonio Roberto Fernandes

São Fidelis/RJ (1945 – 2008) Campos dos Goytacazes/RJ

Xepeiro de olhos tristonhos, à noite, exausto e sozinho,

cato no chão dos meus sonhos a xepa do teu carinho.

________________________ Uma Trova de Santa Juliana/MG

Dáguima Verônica

Passa o dia, morre a tarde nos braços da solidão…

Finda o sonho sem alarde nas cordas do violão!

________________________ Um Haicai de São Sebastião/SP

Álvaro Cardoso Gomes

Agonia do dia: – estrias do roxo poente no olho da ave morta.

________________________

Uma Trova de Belo Horizonte/MG Wanda de Paula Mourthé

“Deixa esse amor que te mata!” − É o que a prudência me diz,

mas antes ser insensata que ser sensata e infeliz!

________________

Um Poema de Itanhaém/SP Filemon F. Martins

INCURÁVEL

Talvez não haja remédio em toda a medicina,

nem magia ou terapia nem mesmo a psiquiatria

que possa curar ou aliviar a dor

de quem está doente e na alma sente

os desencantos do Amor. ________________________

Uma Trova de São José dos Campos/SP Amilton Maciel Monteiro

Eu vou plantar um jardim,

mas não em lugar qualquer; vou plantar dentro de mim

e atrair minha mulher.

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Um Haicai de Curitiba/PR Álvaro Posselt

Diante do espelho

minhas olheiras me olham com olhar de cansado

________________________ Uma Trova de Curitiba/PR

Vanda Fagundes Queiroz

Não sei quem é mais feliz, quem é mais abençoado:

– Se é quem recebe ou quem diz um simples “muito obrigado”.

_________________ Um Soneto de Sorocaba/SP Dorothy Jansson Moretti

“PONTE TERRA-INFINITO”

Olho o horizonte onde a estrada termina

e vejo nuvens fofas voluteando, um grande e negro pássaro voejando entre a orla do céu e a da campina.

Lembro os versos do poeta que cantando

o Amor e a Natureza, nem atina que às frágeis cordas da lira divina,

vai o Infinito à Terra acorrentando.

“Ponte Terra-Infinito” são os versos que repercutem pelo ar, dispersos,

brotando de sadia inspiração…

Ponte Infinito-Terra separando, e ao mesmo tempo as pontas amarrando

da Fantasia às pontas da Razão. ________________________

Uma Trova de São Simão/SP Thalma Tavares

Velho é quem, preso ao cabresto

de paixão não assumida, busca na idade um pretexto para ausentar-se da vida.

_____________________ Um Haicai de São Paulo/SP

Eunice Arruda

Solidão no inverno o velho aquece as mãos com as próprias mãos

________________________

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Uma Trova de Mendes/RJ João Felício dos Santos

Se te trato com rudeza,

com acrimônia, azedume, é que Deus te deu beleza e depois me deu ciúme! ________________________ Um Poema de Matão/SP José Júlio Fernandes

ILUSÃO DE MARIPOSA

Impulsiva, incauta, bem imprudente,

ofuscada pelo brilhar da luz, debatendo-se, indo à morte, luzente

a mariposa, que o calor seduz.

Certamente imaginou ter prazer na fornalha mortal muita enganosa,

como se a morte, seria o viver, como se destruição fosse proveitosa…

Banal, infeliz, assim ignorando

mais e mais, debatendo e se afogando exaurindo forças, entorpecida

como a menina, na sua flor da idade,

que, inebriada – prazer da cidade,

ganhasse algo na atitude suicida…!!! ________________________

Uma Trova de Belo Horizonte/MG Luiz Carlos Abritta

Eu te agrado, tu me agradas,

e, no doce cativeiro, sem algemas, sem ciladas, tu me prendes por inteiro!

_____________________________ Recordando Velhas Canções

A cigana (1973)

Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Na distância vi seu vulto desaparecer

Nunca mais seu rosto eu pude ver Na distância vi seu vulto desaparecer

Nunca mais seu rosto eu pude ver

Uma vez você apareceu na minha vida Eu não percebi você de mim se aproximar Não sei de onde você veio e nem perguntei

Talvez de alguma estrada que eu ainda não passei

Seu olhar me disse tanta coisa num momento Parecia que podia ler meu pensamento E no seu sorriso mil segredos percebi

Então nos seus mistérios de repente me perdi

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Minha mão você nas mãos a conheceu

Minha vida inteira e o seu encanto me envolveu Toda minha história leu nas linhas que mostrei

O que estava escrito e o meu amor eu lhe entreguei

Hoje você anda por lugares que eu não sei Vive nos meus sonhos e nas lembranças que guardei

Disse tanta coisa quando leu a minha mão Você só não previu a minha solidão

________________________ Uma Trova de Arapongas/PR

André Ricardo Rogério

Ah, que bonito escarcéu… Gralha Azul… Panapaná…

A certeza está no céu: – Deus mora no Paraná! ________________________ Um Poema de Santos/SP

Cláudio de Cápua

MEU SONHO

Poeta, tenho um sonho suspenso, quero ser pássaro!

Não quero ter, do homem da terra, os lastros.

Pássaro, irei viver meus dias

junto dos astros! E, além das estrelas, flutuando no azul,

não deixarei rastros. ________________________ Uma Trova de Maringá/PR

Eliana Palma

No volume das queimadas vaga o lume pelo chão:

– iluminando as roçadas, vaga-lumes de carvão! _____________________

Um Haicai de Belo Horizonte/MG Eolo Yberê Libera

Neste bosque urbano

árvore feita em concreto - meu corpo estremece. ________________________

Um Poema em Décimas, de Fortaleza/CE Nemésio Prata

SOBRE O POEMA “MENSAGEM NA GARRAFA”,

DE JOSÉ FELDMAN

É fato, e vou confessar: logo que vi a garrafa

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preparei minha tarrafa para a "perdida" pescar,

e sua rolha tirar. Que segredo ela traria:

números da loteria um mapa de algum tesouro,

quem sabe a milhar do touro... era tudo o que eu queria!

Ao abrir a garrafinha,

boiando em meus pensamentos, lembrando dos velhos tempos de criança; olho a folhinha:

pois o 12 se avizinha! Mas para surpresa minha

ao ler a primeira linha vem-me aos olhos um poema de uma singeleza extrema:

a gota rolou sozinha!

Fala de alma e poesia. fala de versos diversos, fala de chuva de versos, de tristeza e de alegria: não foi pouca a agonia! Aumentou a pulsação do meu velho coração.

que não é mais de criança e já não aguenta a "dança", mesmo valsa, da emoção!

Não é para qualquer um este dom maravilhoso,

diria..., miraculoso, de nos brindar, em jejum,

tão gostoso desjejum. No mar da imaginação

esse nosso ilustre irmão Poeta do Paraná,

ou melhor, de Maringá, vai buscar inspiração! ___________________

Uma Trova de São Francisco de Iatabapoana/RJ Roberto Pinheiro Acruche

Palpite não é dinheiro,

se fosse, eu estava bem… Pois o que há de palpiteiro, só me enchendo, como tem!

________________________ Um Poema de Curitiba/PR

Maria da Luz Portugal Werneck

BOLHAS DE SABÃO

Eram leves, suaves, frágeis, belas… Na mesma rapidez com que subiam, Vermelhas, azuis, roxas e amarelas, As bolhas de sabão se dissolviam.

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Com elas eu voava em pensamento… Chegava aos céus, aos píncaros dos montes

Envolta no mais doce encantamento Descortinando novos horizontes…

Levaram devaneios e esperanças,

Levaram, também, cores e a magia Do meu mundo de risos e bonanças

Deixaram-me, entretanto, uma lição: Assim na vida, são os nossos sonhos,

Mil bolhas coloridas de ilusão. ________________________ Uma Trova de Curitiba/PR

Wandira Fagundes Queiroz

Tem-se às vezes na batalha uma vitória aparente,

pela conquista que espalha derrota dentro da gente.

___________________ Hinos de Cidades Brasileiras

Água Clara/MS

Trabalho, pujança e fé Nasceram dos desbravadores Que aqui, vieram se instalar E a semente da esperança

Com os trilhos da NOB Conseguiram semear.

Pecuária, madeira, agricultura e o carvão

Que ostenta esta rica região É o celeiro de fartura

Que reflete no nosso Brasão.

Conduzindo brilhantemente O futuro dessa gente ordeira

Que cultuamos com civismo e amor Carregando no peito o orgulho

Da riqueza do nosso labor.

Nós somos a estrela dourada Que brilha no céu da esperança Transmitindo bondade e pureza

Que se encontra no sorriso de uma criança.

Água Clara, terra querida Cheia de belezas mil

Recebe de braços abertos Os filhos de todo Brasil. ________________________ Uma Trova de Maringá/PR

A. A. de Assis

Benditas sejam as vidas que, alegres, serenas, santas,

vivem a vida envolvidas em levar vida a outras tantas!

______________

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Um Poema de São Paulo/SP Therezinha Dieguez Brisolla

Meu Credo

Nesta vida conturbada,

sinto-me um tanto acanhada e até com certo receio

de lhe dizer que ainda sonho e, por sonhar, me disponho

a lhes falar no que creio.

Creio em Deus Onipotente, que dá liberdade à gente

– cada qual faz o que quer - Por isso eu peço e agradeço e, por ver que não mereço, eu digo “Se Deus quiser…”

Eu creio na Pátria amada,

nesta terra abençoada que um dia me viu nascer. Por este país me inflamo

e, para mostrar que o amo, tento cumprir meu dever.

Creio no amor à família,

na mãe que, à noite, em vigília, sussurra doce estribilho… No pai que trabalha tanto

e chora seu desencanto por dar tão pouco ao seu filho.

Creio, também, no futuro e por crer é que procuro

com otimismo viver, pois vejo tanta esperança nos olhos de uma criança

que teima, ainda, em nascer.

Creio no jovem que estuda, que no trabalho se escuda e enfrenta a vida a cantar.

Na velhice abandonada que tira, ainda, do nada,

motivos para sonhar.

Eu creio na Liberdade e na sincera amizade

de quem me dá seu sorriso, que, na Justiça, que almejo no bem que sinto e desejo

está a Paz de que eu preciso.

Por tudo isso em que creio, eu luto e não titubeio

se o mundo me contradiz. A vida só tem sentido

quando eu sonho e não duvido, que é por crer que eu sou feliz!

Todas as trovas acima foram obtidas no site do Rigon (http://angelorigon.com.br)

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Adeus - expressão ingrata que a vida um dia inventou, e a gente, na mesma data, sem querer, patenteou !

- Agonia é ver teus passos

numa pressa que alucina, e saber que, noutros braços,

a tua pressa termina ! -

Ao ver um índio passar com seu cocar grandalhão, pôs-se o pirralho a gritar:

- Olha, mãe... Que petecão! -

A viúva, irreverente, contava tanta piada,

que o “defunto” de repente gritou bem alto: – CALADA!

- Calçada do meu recanto,

se eu voltar a te pisar, a saudade pesa tanto

que é capaz de te quebrar. -

Com um ciúme tremendo, o galo teve um desmaio,

porque a franga anda sofrendo de bico-de-papagaio.

-

Confusa ficou Talita ao perguntar ao filhinho:

– “Você sabe o que é tablita?” E ele: – “É a mãe do tablitinho!”

- Coração - Casa em ruínas, onde a espera se instalou,

e o adeus rasgou as cortinas que a saudade costurou!

- Da tua ausência estou farta (ensaio a mensagem breve)...

meu coração dita a carta, mas o orgulho não escreve!

- Dentro do armário, um gemido

eriçou tudo que é pelo... Era um "fantasma" escondido

que batera o cotovelo! -

De cama encontrei Maria com Dengue. Como é que pode?

Até hoje eu não sabia que Dengue usava bigode!…

- De saudades andam fartas

as cartas que estou mandando, não cabe nas mesmas cartas o amor que está te esperando.

-

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Entre um suspiro e um lamento é constante o meu sofrer,

pois morro a cada momento, com medo de te perder.

- É tão "fraco" o Xavier,

que ao chegar embriagado, explicou para a mulher:

- foi trânsito "engarrafado"!... -

É tão roxa por novela, a mulher do Serafim,

que, se alguém chama por ela ela responde: - Plim-plim !

- É um poema à tarde breve

que agoniza em meu quintal: – o teu jeans toca, de leve,

meu vestido no varal. -

- Eu gostaria de ver um fantasma - a sogra fala. E o genro, sem se conter: - Tem espelho ali na sala!

- Fica um só momento ainda! Não importam teus deslizes:

– afinal, é sempre linda toda mentira que dizes.

-

Meus pecados reconheço, meu São Francisco bendito: – não me dês o que mereço, mas sim o que necessito…

- Modista das estações,

num traje verde-hortelã, a flora prega botões

no vestido da manhã! -

Não há vidas sem amores... Noite não há sem o dia... nem arco-íris sem cores... nem Friburgo sem poesia.

- Na porta o trinco a girar...

No peito, um sino em repique... Não basta você chegar;

Deus queira que você fique! -

Nas quedas, não desistir Ter esperança. . . Tentar!.

- O pior não é cair, mas não querer levantar!

- O papagaio do Andrada capricha no palavrão,

sempre que vê a empregada pondo "louro' no feijão!

-

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O suspiro está perfeito, mas é tão pequenininho que deve ter sido feito

com ovos...de passarinho! -

Planejo a carta e o maldoso orgulho logo desponta E caneta de orgulhoso

não tem tinta e não tem ponta! -

Por capricho ou por maldade, partiste... Não vais voltar... E o que faço da saudade que ficou no teu lugar?

- Por duas frases trocadas e um só orgulho depois, estão todas as calçadas estreitas para nós dois..

- Pra barata foi bem chato descobrir que a baratinha anda curtindo um barato pelos cantos da cozinha!

- Prazer no vício... Onde a graça de um destino mais ameno? - Nada vale o ouro do taça se o conteúdo é veneno !

-

Qual poema improvisado, nosso amor se transformou, num verso de pé-quebrado

que o destino publicou. -

Quando a mulher foi chegando, o cara perdeu a fala,

pois trazia um "contrabando" tossindo no porta-mala!

- Quando vejo um tubarão,

eu me arrepio, me encolho. Por isso é que o camarão

tem sempre as barbas de molho! -

Se sofrer é, realmente, tão ruim como se diz,

por que existe tanta gente tentando ser infeliz?!…

- Timidez, irmã do medo, sabe tão bem me conter,

que me faz guardar segredo do que mais quero dizer!...

- Um caráter mal formado em desculpas se resume : – Faz do destino o culpado dos erros que não assume.

-

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Vendo a caipira agitada - "É carma" explica o guru.

E o caipira: – "É carma nada; É nervosa prá chuchu !...”

- Você nem sabe a ventura

que me traz seu bem-querer: – se é paixão ou se é loucura,

eu não quero nem saber! -

Volto a contemplar a esmo, ao luar, o meu recanto, o luar parece o mesmo,

mas o lugar mudou tanto!… -

Vou dar-lhe um beijo amoroso, mas, por favor, não se oponha!

- Se beijar é vergonhoso, quero morrer de vergonha!

____________________

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Delores Pires

Gaveta de Haicais

ABRAÇO .

Doce encantamento: o mundo, o carinho, a paz

cabem num abraço. -

ACENTUAÇÃO .

Em torno de si o guarda-chuva coloca

o pingo nos ii. -

CONDORISMO .

Ah, quem me dera voar como a nuvem no ar,

ar de primavera! -

CONTRASTE .

alegria invade minha vida. Em tua partida

morro de saudade. -

CREPÚSCULO .

Luz de fim do dia. E a tua imagem flutua...

Vaga nostalgia! -

CURIOSIDADE .

O que vais buscar, barquinho, lento e sozinho

tão longe no mar? -

ESQUILO .

Veloz, irrequieto, saltita na melodia do cricri dos grilos.

- FORTALEZA

. Notável beleza!

Contos de fadas, mãos dadas… Bela Fortaleza.

-

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ITINERÁRIO .

Baila a folha no ar. Descreve um círculo leve

no chão vai pousar. -

JANGADA .

Flutua a jangada. Vento calmo, leve e lento. Mar e céu… Mais nada…

- MARESIA

. O dia fugindo.

No ar um cheiro de mar. A noite vem vindo!

- MEMÓRIA

. Na longínqua tarde

ledas conversas de seda saudade saudade…

- MOMENTO

. Chuva de verão

bate à janela e com ela vem a solidão…

-

MUDANÇA .

Cheia de neblina a cidade, em verdade,

foge da rotina. -

NAMORO .

Noite linda aquela! Tinha no céu a estrelinha

tão pálida e bela! -

NOSTALGIA .

Silêncio sombrio. A chuva com mão de luva.

Meu dia vazio… -

PANORAMA .

O barquinho a velas vai. A noite cai…

Acendem-se estrelas. -

PAZ .

O homem queria pedissem paz e a sentissem

neste belo dia. -

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PÔR DO SOL .

Na tarde morrente à brisa o sol agoniza nostalgicamente…

- SIMPLICIDADE

. Singela e formosa

Num torvelinho de espinho Desabrocha a rosa.

- SOLITUDE

. Silente, à tardinha,

desliza ao sabor da brisa

gaivota sozinha. -

S.O.S. .

Perdida no morro a nuvem, frágil penugem,

grita por socorro. -

TEMPO .

Iludindo o tempo só ao relógio se engana mas não a si mesmo.

-

Delores Pires nasceu em Criciúma/SC, em 1947, tendo-se radicado no interior do Paraná desde menino. A partir de 1975, adotou Curitiba como sua cidade, onde se formou em Letras pela PUC, cursando posteriormente Mestrado naquela Universidade. Professor, milita em áreas da literatura mas sua produção maior se concentra no haicai, especialidade a que se dedica desde há muito. Po r meio de palestras e conferências tem divulgado sistematicamente essa modalidade poética em todo o país. Obras: A Estrela e a Busca, 1977; Crepúsculo, 1984; O Universo do Haicai, 1984; Voo, 1988; Criação, 1989; Kasato Maru: Porta do Haic ai no Brasil., 1990; Outono, 1992; Antologia de Haicaístas Brasilienses, 1992; Caderno de Viagem, 1995; O homem do Guarda -chuva, 1996;

Estações, 1997; Conversa de casal, 1997; Haicais Natalinos, 2000; O Livro dos Haicais, 2001; Baú de Fragmentos, 2001; Pétalas de Ipê, 2002; Passeio ao Luar, 2002; Piscadas de Sol, 2003; Tapete de Folhas, 2004; Flor de Café, 2005; Garoa de Outono, 2007; Francisco de Assis: um Olhar Poético sobre a Natureza, 2009.

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Cecy Barbosa Campos

MENINO DE RUA

Asfalto. Pés descalços, sorrateiros,

deslizando no frio da calçada procuram abrigo, no canto se escondendo

da chuva de verão, que é traiçoeira. Com molhados braços nus e pernas finas,

a criança que nunca teve infância, vai esperando do sol o surgimento

enquanto sonha com amanhãs que nunca chegam sem esquecer os ontens que perduram.

O menino, adulto prematuro, contempla palavras de neon relampejando

nos céus dos edifícios que o cercam, sem compreender aquilo que elas dizem.

Olha, então, as vitrines reluzentes - adornos natalinos, brilhos, árvores, presentes,

os símbolos de uma vida que não vive.

CENA CREPUSCULAR

O céu, ensanguentado, derramava-se no horizonte enquanto pequenos raios

brincavam de esconde-esconde atrás dos montes.

As árvores se vestiam de sombras qual amantes fugitivas.

A noite acendia suas velas e iluminava o firmamento.

CENA FINAL

Não quero escutar a tua despedida nem receber teu olhar indiferente.

Prefiro assistir tua partida silenciosa sem palavras inúteis ou falsas desculpas.

Não quero teu abraço desprovido de emoção e cheio de mentiras.

Não quero que me olhes da fotografia

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fazendo-me lembrar o que já não existe. As molduras vazias do meu porta-retrato

são menos dolorosas que a saudade de ver o teu sorriso, a cada noite,

iluminando a penumbra do meu quarto.

CENA FUGAZ

O meu corpo mergulha no teu corpo e busca o ancoradouro dos teus braços.

Engalhados os dois, em semeadura de flores que transbordam em nossos beijos,

percorremos distâncias infinitas. Do silêncio da noite que nos cerca,

ouvimos sons de alegrias inaudíveis, até que trevas espessas nos encubram

e este frenesi louco se dissipe. A morte pouco a pouco se aproxima transformando nosso afã em letargia

e da fugacidade de um momento, só resta o tédio, desamor e nostalgia.

CENA INDIFERENTE

Minha alma nada vê.

De olhos vazios contemplo o nada.

Meu coração nada sente nas profundezas do ser,

pulsando inerte.

CENA MATINAL

A lua tentava escapar do mar que, impetuoso,

lançava-se sobre ela e inundava de azul

as montanhas atrevidas. A cerração encobria o vale

escondendo as casas e os pensamentos dos homens.

As árvores brotavam das nuvens e se despiam da névoa

soltando suas longas cabeleiras verdes. O sol as beijava,

lascivamente, escorregando, afoito,

por seus membros molhados de orvalho. Aquele êxtase se transmitia por toda a natureza

no surgimento do dia que nascia.

CENA MELANCÓLICA

Quando olho o meu retrato vejo o que resta de mim.

Lembro sonhos antigos que se tornaram passado.

Lembro coisas que já não existem e pessoas que não são mais. Tento reacender, inutilmente,

a chama da vela que se esvai dentro de mim.

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Sinto um vento gelado que sopra penetrando em minha alma,

exaurindo pouco a pouco fragmentos de um ser que quase não é.

CENA MUDA

Você olhou pra mim

e lançou um sorriso complacente. Complacente… ou indiferente?

Olhei pra você e mandei de volta o mesmo sorriso. Como é triste não ter o que dizer…

CENA NATALINA

Na mesa adornada, iguarias perfumadas

aguçam o apetite para a festa gastronômica.

Fitas vermelhas enfeitam presentes

em embalagens prateadas. Garrafas de champanhe

espocam nas salas misturadas aos risos

e aos abraços. Na árvore natalina

com bolas coloridas, sininhos dourados

tintinabulam a cada instante. Na efusividade do momento,

ninguém se lembra do aniversariante.

CENA TRISTE

O sol frio

colore o silêncio através da janela de olhos vazios.

Lembranças preenchem espaços

indevassáveis. Sonhos,

compulsórios, necessários, harmonizam os tons

na desarmonia da vida. Poemas obtidos no livro da poetisa, “Cenas”. Juiz de Fora: Editar Editora Associada, 2010.

Cecy Barbosa Campos, é natural de Juiz de Fora (MG), Bacharel em Direito e licenciada em letras (inglês) pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Especialização em Teoria Literária e diversos cursos de aperfeiçoamento em inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra. Professora de Literatura Inglesa e Norte-Americana, aposentada em 1991 na UFJF. Leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Desenvolve pesquisas sobre escritores afro -descendentes. Tem artigos de pesquisa literária publicados em revistas especializadas e anais de congresso e trabalhos em prosa e verso premiados em concursos

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Entidades a que pertence Academia Juizforana de Letras. Academia Granberyense de Letras, Artes e Ciências. Academia de Letras Rio -Cidade Maravilhosa; Academia Rio Pombense de Letras, Ciências e Artes. Academia de Letras e Artes de Fortaleza, Clube de Escritores de Piracicaba. Academia de Let ras do Brasil/ Mariana. Academia de Letras do Brasil/Seccional Suiça. Ateneu Angrense de Letras e Artes. Associação Brasileira de L iteratura Comparada. Academie Mérite et Dévouement Français. Divine Academia des Arts, Lettres et Culture Française Publicações: The Iceman Cometh: a carnavalização na tragédia ; O Reverso do Mito e outros ensaios ; Recortes da Vida: contos e crônicas ; Cenas (poemas) ; Crepusculares (aldravias) ; Caleidoscópio (poetrix) Participações: – Coleção Prosa e Verso, do Grupo Sul-mineiro de Poesia e Academia Varginhense de Letras; - Modernos Contos Brasileiros; - Antologia da Academia Dorense de Letras; - Antologia Letras Contemporâneas; - Prêmio Missões; - Antologia del`Secchi; – Antologia da Academia Chapecoense de Letras; – Antologia Lumens (prêmio Walmir Ayala, 2012); – A Écrivains contemporains du Minas Gerais (França); – Livro das Aldravias (Portugal), etc.. Capítulo A Poética de Conceição Evaristo, no livro Um Tigre na Floresta dos Signos: estudos sobre poesia e demandas sociais no Brasil (2 010), organizado por Edmilson de Almeida Pereira.

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Nota sobre o Almanaque O download (gratuito) dos números anteriores em formato e-book, pode ser obtido em http://independent.academia.edu/JoseFeldman

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