almanaque brasil 150 - outubro 2011

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O Almanaque Brasil é um verdadeiro armazém da memória nacional, capaz de promover uma viagem pela história do País, em temas como música, cinema, teatro, literatura, dança. Marcam presença curiosidades, fatos históricos e matérias especiais, sempre de maneira envolvente e com surpreendente tratamento gráfico. A revista é editada pela Andreato Comunicação e Cultura, distribuída nos vôos da TAM e vendido nas Bancas de todo o Brasil. Mas não espere para viajar. Assine o Almanaque e viaje nas boas histórias do Brasil.

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ARMAZÉM DA MEMÓRIA NACIONAL

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www.almanaquebrasil.com.br

O presente vemos apenas de perfil. É o passado que temos diante de nós.

Henry James, escritor norte-americano

Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak AndreatoEditor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis VecchioneEditora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton SeverianoRedatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane BenettiDesigners Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas, Soledad Cifuentes e Daniela Santiago (estagiária)

Redatoras web Jaqueline Ogliari e Marisa Nascimento (estagiária) Gerente administrativa Fabiana Rocha OliveiraAssistentes administrativas Eliana Freitas, Viviane Silva, Geisa Lima Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)Impressão Gráfica Oceano

PUBLICIDADEFernanda Santiago e Jacqueline Carone (11) 3873-9115E-mail: [email protected]

Novidades antigas

Elifas Andreato

este ALMANAQUE, anunciamos há mais de 13 anos novidades antigas. Parece

contraditório, mas não é. É isso que o faz tão necessário e atraente. Eu sabia

desde o começo que seu sucesso viria justamente pela revelação de que tudo

foi novidade no seu tempo. Novidades que são hoje as bases do que é novo e revolucionário –

coisas que logo serão também “de antigamente”.

O mundo mudou radicalmente nas últimas décadas. Essa formidável mudança foi um

pouco mais da aventura humana, sempre empurrada pela curiosidade, patrocinadora da

incessante busca do conhecimento. E foi a vontade de conhecer melhor a nossa história

que nos encorajou, contrariando todas as opiniões, a fazer das páginas deste vulgarizador

da nossa memória um espaço para as lembranças de histórias que nos fizeram chegar

aonde chegamos. Brasileiros de nascimento ou de coração – sejam eles ilustres conhecidos

ou fundamentais anônimos – deram valiosas contribuições para que possamos hoje

desfrutar deste novo velho país.

Tenho comprovado, edição a edição, o acerto desta modesta publicação como uma

valiosa contribuição para o conhecimento do povo. Há 150 meses o ALMANAQUE cai nas

mãos de jovens estudantes, executivos, professores, intelectuais, artistas. Ao longo desses

anos, colecionamos elogios rasgados de gente importante, e também de uma porção de

brasileiros que se encontram nessas histórias que aqui contamos. Para eles, a despeito da

nossa mirada para o passado, tudo é novidade. Afinal de contas, o saber é sempre novo.

Enquanto isso, todos os dias, milhões de brasileiros seguem fazendo a história desse país.

Uma bela história que será contada no futuro, quando elas serão

também novidades antigas.

Dedico este texto a dona Hilda Gabriela Nengelberg Melnik,

que, aos 84 anos, devora as histórias que contamos com o entu-

siasmo de uma adolescente. As fotografias que ela nos enviou de sua

coleção completa do ALMANAQUE, encadernada com zelo, são a

prova de que mesmo quem viveu tantas décadas de cabo a rabo é

capaz de saborear o passado como uma grande novidade.

O Almanaque está sob licença Creative Commons. A cópia e a reprodução de seu conteúdo são autori-

zadas para uso não comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodu-ção com outros fins, entre em contato com a Andreato Comunicação & Cultura. Leia a íntegra da licença no site do Almanaque.

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Distribuição em voos nacionais e internacionais:

[email protected] www.almanaquebrasil.com.br twitter.com/almanaquebrasil

O Almanaque é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura.Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115

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Parceria

índice 5 cArTA ENiGMáTicA

8 vOcê sABiA? 14 BrAsiL NA Tv

16 PAPO-cABEÇA 20 iLUsTrEs BrAsiLEirOs 22 EsPEciAL

26 JOGOs E BriNcADEirAs27 O TEcO-TEcO28 vivA O BrAsiL

32 EM sE PLANTANDO, TUDO Dá

34 BOM HUMOr: NOssO E DOs LEiTOrEs

círio de Nazaré

Marcelo rosenbaum

J. carlos

roupas do Brasil

Guapuruvu

capa Guilherme Resende

cANTOs E LETrAs

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Outubro 2011

O chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas era Gregório Fortunato, gaúcho de São Borja como o presidente. O Anjo Negro, como tornou-se conhecido, assumiu o posto em 1938, quando Vargas sofreu uma tentativa de golpe, e nunca mais deixou de ser seu fiel escudeiro. Foi acusado de ordenar o Atentado da Rua Tonelero, contra o principal desafeto de Vargas, o jornalista Carlos Lacerda – fato que desencadearia o suicídio do presidente, em 1954. A foto ao lado, tirada no Paraná em 1950, mostra que o guarda-costas estava pronto para obedecer a qualquer ordem, nem que fosse apenas para arrumar as madeixas do patrão. RE

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enhuma outra atriz brasileira participou de tantos longas-me-tragens. Foram 108 filmes ao longo da vida – um recorde. Fez filme de todos os gêneros. Mas ficou marcada mesmo

por fazer rir. Para Oscarito, era a maior comediante do cine-ma brasileiro. Já Grande Otelo a chamava de “Charles Cha-plin de saia”.

A menina do interior do Rio de Janeiro começou a carreira no cinema em 1954. Até essa época, apresentava-se numa rá-dio carioca, ora fazendo comédia, ora recitando poemas – é autora, inclusive, de quatro elogiados livros de poesias. Foram suas caras e bocas para a comédia que a levaram para a recém--criada tevê e, logo depois, para o cinema.

Tanto nas telinhas quanto nas telonas eram dedicados a ela papéis de moças frágeis – certamente pelo físico miúdo; não

media nem um metro e meio. Muitas vezes deu vida a empre-gadas domésticas. Outras, a moças feias, apesar da vaidade. E também sabia fazer socialites milionárias e cantoras de ópera.

A partir da década de 1970, ganhou espaço em produções televisivas como Sítio do Picapau Amarelo, em que interpre-tava dona Carochinha. Mas destacou-se mesmo a partir da bem-sucedida parceria com Chico Anysio, com personagens como Biscoito, a mulher rica do bebum Tavares. Num outro papel, o sucesso foi ainda maior. Deu vida a uma recatada senhorita, que encenou diariamente na tevê até pouco antes da morte, aos 83 anos, em 8 de outubro de 1999. Sempre que a personagem ouvia algo que considerava obsceno, fazia uma cara de espanto e, aos frangalhos, lançava o bordão: “Ele só pensa... naquilo!”. (BH)

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o u t u b r o

2/10/1974Pelé se desPede do santos numa Partida contra a Ponte Preta, no estádio da Vila belmiro, aPós 18 anos no clube.

1/10/1977Pelé se desPede

definitiVamente do futebol Pelo new York cosmos, numa Partida contra o

santos, em que joga meio temPo Por cada equiPe.

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Pernambucanos no New York Times assustaram Tio Sam

SAIBA MAIS Medo, Comunismo e Revolução, de Pablo Porfírio (Ufpe, 2009).

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ornalistas, professores, representantes do governo. A luta por melhores condições de vida das Ligas Camponesas em Pernambuco

atraiu olhos do Brasil inteiro para o estado, no fim dos anos 1950. E chamou atenção também fora do País. Em 31 de outubro de 1960, o jornal The New York Times publicou como título da primeira página: “A pobreza do Nordeste do Brasil gera ameaça de revolta”.

Com o eco da notícia nos Estados Unidos, logo o serviço secreto americano se envolveu no caso. Em tempos de Guerra Fria, os relatórios da CIA apontavam que Francisco Julião, líder do movimento, tinha “longa admiração por Fidel Castro e Mao Tse-Tung” e anunciara que “a revolução logo começaria no centro do Brasil”.

Até uma missão especial veio dos Estados Unidos para Pernambuco – chefiada por Edward Kennedy, irmão do presidente –, e o estado recebeu 100 milhões de dólares do Tio Sam. Com o golpe militar de 1964, Francisco Julião foi preso, e as Ligas, definitivamente encerradas. (NP)

(NP)

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Fases da Lua

1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31

cheianova

crescenteminguante

J

ara Juscelino Kubitschek, um dos grandes inimigos do regime militar brasileiro, o exílio

imposto pela ditadura foi um pouco além do comum. Logo após o golpe de 1964, ele teve seus direitos políticos cassados e viveu no exterior. Voltou três anos depois: “Não posso deixar de confessar que viver fora do País, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensava no Brasil”.

Mas poderia ser pior, sim. Quando voltou, JK foi expressamente proibido de pisar na capital que ergueu no centro do País. Até mesmo quando voava de Minas para Goiás e o monomotor precisou fazer um pouso de emergência, o avião não teve autorização da torre para descer em Brasília.

O ex-presidente ficou sete anos sem ver a cidade. E só fez uma visita discreta, na cabine de um

caminhão, porque um temporal interrompeu uma viagem que fazia nas proximidades. Tomou coragem e disse ao motorista: “Toque para Brasília”. Viu a praça dos Três Poderes, o Palácio da Alvorada e a catedral, que ainda não conhecia.

Depois, contaria emocionado sobre o passeio ao jornalista Carlos Chagas: “Senti-me um súdito romano das Gálias que pela primeira vez visita Roma”. O artigo “Brasília não vê JK chorar” relatava a angústia. Quando Juscelino morreu, em um acidente automobilístico nunca esclarecido, estava com um recorte da publicação no bolso do paletó.

Só mesmo morto, em 1976, desembarcou na capital federal. Repousou no cemitério Campo da Esperança até ser transportado ao Memorial JK, projetado por Oscar Niemeyer no ponto mais alto do Plano Piloto.

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Só morto JK pôde desembarcar novamente em Brasília

SAIBA MAIS Visite a página de Juscelino no Projeto Memória: www.projetomemoria.art.br/JK.

4/10 dia mundialda anistia

Passeata promovida pelas Ligas Camponesas no Recife.

Juscelino Kubitschek é escoltado no embarque para o exílio.

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Outubro 2011

Chateação de Drummond virou livro divertidíssimo

(NP)

“Engraçado. Eu pensava que o senhor fosse um débil mental, mas agora, vendo que faz as coisas normalmente,

vejo que me enganei. Desculpa, foi por causa da pedra no meio do caminho...”. Carlos Drummond de Andrade, ou o “pedregoso”, o “beletrista mineiro”, o “poeta perereca” ou “poeta cavoqueiro”, costumava ouvir esse tipo de comentário no ministério em que trabalhava.

O mineiro de Itabira precisou aceitar que o seu No Meio do Caminho era poema-símbolo do modernismo e que seria sempre lembrado por ele – mais vezes para o mal do que para o bem. Até as escolas ensinavam o conceito de “modernismo-pedra-burrice-loucura”, como definia. Saiu-se da situação com uma de suas marcas mais peculiares: a ironia.

O poeta colecionou por décadas, em silêncio, tudo o que se escreveu sobre a poesia. No aniversário de 40 anos da obra, em 1968, finalmente lançou Uma Pedra no Caminho – A biografia de um poema. O livro juntava trechos de jornais, revistas, programas de rádio e discursos que criticavam, citavam ou faziam referência aos versos. “Se não fiz de minha dor um poema, como pretendia Goethe, fiz da minha chateação um livro”, brincava.

O material recolhido foi disposto em categorias, como Reação pelo Ridículo, Muita Gente Irritada, Popularidade, Mesmo Negativa, Isto Lembra Aquilo. A Pedra traz trechos em que a metáfora foi usada, organizados por assunto. Há até um discurso de Luís Carlos Prestes no Comitê Nacional do PCB de 1945. O autor não esquece nem de colunista político que usa o “tinha uma pedra...” como “hino do Congresso”, ou de jornalista do cotidiano que cita as palavras para denunciar a precariedade de ruas pedregosas e esburacadas.

Drummond também recortava a ele próprio nos jornais. Em um capítulo especial, colocou as entrevistas que deu explicando a ideia de chateação e monotonia que pretendia com as palavras repetidas. E um texto seu, já cansado: “Não há nisto poema algum, bom ou mau. Há apenas algumas palavras que podem ser encontradas facilmente no Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa”.

Nem mesmo cartas de amigos ficaram de fora. “É o mais forte exemplo que conheço, mais bem frisado, mais psicológico, de cansaço intelectual”, escreve Mário de Andrade. E Murilo Mendes: “No Meio do Caminho é o tipo do poema no meio da cabeça da gente. Nunca me esquecerei. Não sai”.

A segunda edição da biografia do poema, mais de 40 anos depois da primeira, engrossou os arquivos de Drummond com mais páginas e páginas de citações e referências posteriores ao livro e à morte do poeta. Uma prova de que Murilo Mendes acertou, afinal: tantos anos depois, a pedra continua no meio do caminho.

20/10 dia do poeta

É um dos 12 apóstolos que acompanharam Jesus. Não deve ser confundindo com Judas Iscariotes – o traidor de Cristo. Acredita-se que Judas Tadeu era fazendeiro e largou tudo para pregar o Evangelho pelo Oriente Médio, onde morreu martirizado por sua devoção às palavras divinas. Hoje é conhecido como o santo das causas impossíveis.

1 sábado Teresinha do Menino Jesus2 domingo Santos Anjos da Guarda3 segunda Francisco de Borja4 terça Francisco de Assis5 quarta Benedito6 quinta Bruno Abade7 sexta Nossa Senhora do Rosário8 sábado Pelágia9 domingo Luís Bertrán10 segunda Paulino de York11 terça Alexandre Sauli12 quarta Nossa Senhora Aparecida13 quinta Eduardo 3º14 sexta João Ogilvie15 sábado Teresa d’Ávila16 domingo Margarida Maria Alacoque17 segunda Inácio de Antioquia18 terça Lucas19 quarta Paulo da Cruz20 quinta Pedro de Alcântara21 sexta Gaspar del Búfalo22 sábado Maria Salomé23 domingo João de Capistrano24 segunda Antônio Maria Claret25 terça Antônio de Sant’Ana Galvão26 quarta Evaristo27 quinta Frumêncio28 sexta Judas Tadeu29 sábado Narciso30 domingo Germano31 segunda Afonso Rodrigues

São Judas Tadeu

SAIBA MAIS Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um poema, edição ampliada por Eucanaã Ferraz (IMS, 2010).

enigma figurado

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confira a resposta na página 26

E ssa menininha é a única brasileira a ser indicada ao Oscar de melhor atriz. Além de nome importante do cinema, é considerada uma das grandes do teatro nacional e foi a primeira atriz contratada pela recém-criada televisão, em 1951, da qual nunca mais sairia. É mãe de outra atriz conhecida. Quando nasceu, em 16 de outubro de 1929, foi batizada como Arlette Pinheiro Esteves da Silva. Mas é conhecida por outro nome.

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O poeta e a pedra, em ilustração de Alvarus.

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www.almanaquebrasil.com.br

tenção: sobá não é igual a yakisoba. Ambos vêm da culinária japonesa, têm macarrão,

legumes e carne, mas são bem diferentes. O sobá tem como base um macarrão feito artesanalmente e um caldo especial que obriga o indivíduo a comer em uma cumbuca. O prato ainda leva omelete cortado em tirinhas, um bocado de cebolinha e carne de porco bem frita. Joga-se shoyo a gosto ou pedacinhos de gengibre. A receita faz a cabeça dos campo-grandense há décadas e nos últimos anos virou uma verdadeira mania.

Do centro aos bairros mais populares, sempre há onde comer a iguaria. “O sobá é a maior contribuição da colônia japonesa para Campo Grande. Virou um símbolo cultural”, afirma Maristela Yule, diretora do documentário Arigatô, sobre a história da colônia japonesa no estado.

Em 1914, quando a estrada de ferro chegou a Campo Grande, muitos japoneses chegaram à região. “O sobá era a marmita deles. Todos iam comer em uma barraquinha, que tinha uma cortininha impedindo que os outros vissem dentro. Era comer escondido mesmo. Até que um brasileiro abriu a cortininha, viu o que eles estavam comendo, perguntou o que era, experimentou e gostou. Em pouco tempo, o sobá já estava conhecido em toda a cidade”, relata Yule.

Mais do que conhecido, o sobá é um ver-dadeiro astro da culinária local. E um prato extremamente saudável, como toda a culinária da província de Okinawa, no Japão – um dos motivos para o local abrigar a maior concentração de pessoas centenárias no planeta. A iguaria foi tombada como patrimônio cultural imaterial de Campo Grande em 2006. (rodrigo teixeira, de campo Grande-Ms – ovErMuNdo)

SAIBA MAIS Confira outros textos e fotos sobre Campo Grande, culinária e imigração japonesa em www.overmundo.com.br.

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confira a resposta na página 26

de quem são estes olhos?

Vindo de uma tradicional família mineira – é descendente inclusive de Tiradentes –, o dono destes

olhos encanta gerações de noveleiras desde a década de 1960. É considerado o primeiro galã da

teledramaturgia nacional. Nascido em 5 de outubro de 1935, já atuou em mais de 50 novelas. Seu

papel mais conhecido é o de Irmãos Coragem, novela na qual atuou com sua mulher. Mais uma

dica: teve um papel importante em Insensato Coração.

Sobá agrada do Campo Grande ao Japão

não deve ser mera coincidência que o autor de uma das obras mais melancólicas e apaixonadas da música brasileira, nelson cavaquinho, nasceu sob os domínios de escorpião. os escorpianos “reagem com o estômago” nos relacionamentos – pode ser com familiares, amigos ou a pessoa amada. Possuem a habilidade nata de perceber o que não é dito, o que está escondido. daí vêm suas inquietudes. é também uma pessoa extremamente fiel a quem jurou confiança.

Escorpião23-10 a 21-11

No site do ALMANAQUE, ouça canções do Pessoal do Ceará. Acesse também o blog pessoaldoceara.blogspot.com.

Pessoal do Ceará juntou rocks e toadas no mesmo som

(BH)

m comum, todos eram jovens

e ligados às artes, principalmente à música. Também coincidia serem cearenses ou viverem no Ceará e ansiarem por mudanças na cena cultural do início dos anos 1970. Destacavam-se nomes como Ednardo, Raimundo Fagner, Fausto Nilo, Belchior, Augusto Pontes. Essa junção de tanta gente boa ainda não estava batizada. Um locutor de uma rádio paulistana, porém, os anunciou como Pessoal do Ceará. E foi dessa forma que aquela agitação cultural entrou para a história.

O movimento iniciou-se entre estudantes da Universidade Federal do Ceará, então centro das discussões intelectuais de Fortaleza. Os jovens ouviam de forró a bossa nova, Tropicália e Beatles. Essa mistura de influências começou

E a resultar em sons nunca ouvidos no lugar. Tudo com letras inspiradas, que reproduziam o anseio por mudanças estéticas.

Um dos marcos foi o lançamento, em 1973, do disco Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem,

que recebeu como subtítulo Pessoal do Ceará. Nas vozes de Ednardo, Rodger Rogério e Teti, o disco apresentava uma pequena revolução cultural. Surgiam harmonicamente maracatus, toadas, sertanejos, rocks e canções psicodélicas de vários compositores locais. “Nosso trabalho foi todo feito com o mesmo amor e carinho como se tecem os lindos bordados que esta capa estampa”, apresentava o texto do disco. A música Terral resumia o movimento: Eu sou do luxo da aldeia / Eu sou do Ceará.

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25/10 dia do macarrão 7/10

dia do compositornacional

Encarte do disco que apresentava o Pessoal do Ceará.

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Outubro 2011

outubrotambém tem

Dia Mundial da MúsicaDia Mundial da JuventudeDia do Latino AmericanoDia do Barman

Dia do Bóia Fria

Dia do Tecnólogo

Dia Nacional do CompositorDia do NordestinoDia do Atletismo

Dia da HonestidadeDia do Teatro Municipal Dia da HispanidadeDia do Corintiano

Dia da Comunidade EspanholaDia do Professor

Dia da Criança que Estuda Dia do OrientadorDia do Pintor de ParedeDia do Guarda NoturnoDia do Poeta

Dia do Lixeiro

Dia da Praça

Dia da Aviação

Dia das Nações UnidasDia do Sapateiro

Dia dos Músicos EruditosDia Mundial de Oração pela PazDia Universal da AnimaçãoDia das Flores

Dia do Lobinho

Dia do Saci

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10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 3031

o que se colhe em outubroestação colheita

Laranja, mexerica, jabuticaba, abacaxi,

manga, mamão.

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SAIBA MAIS Site do projeto Flor Gentil: www.florgentil.com.br.

(laís duarte)

Flores esquecidas desabrocham novamente em asilos

m uma noite qualquer elas decoram e colorem festas. São testemunhas de casamentos, formaturas, eventos sociais. No outro dia, continuam coloridas e belas, mas têm morte prematura

anunciada: vão parar no lixo. Vida dura e curta essa das flores... Ao perceber que poderia dar vida nova aos arranjos caros que são dispensados quando as luzes dos salões se apagam, a florista Helena Lunardelli semeou uma ideia e fez desabrochar o projeto Flor Gentil.

Um ano atrás, Helena passou a recolher os vasos nos locais onde as comemorações acontecem. Clubes, igrejas e restaurantes viraram parceiros. Ao lado de um grupo de voluntários, seleciona as flores que ainda estão fortes, viçosas. Com delicadeza e carinho, o grupo monta novos buquês. Dá vida nova às plantas e, com elas, alegria a muitos.

As flores recolhidas pelo projeto viram gestos singelos de carinho em casas de repouso da capital paulista. Muitos idosos se comovem ao receber os buquês, outros simplesmente se alegram quando o perfume e as cores se espalham pelo ambiente.

No ciclo do projeto, todos dão e recebem. Quem sonha dominar a arte de construir arranjos florais aprende de graça preparando buquês. Quem recebe a gentileza se encanta com o presente e retribui com alegria. “Flores são veículos de amor e vida, elas têm o poder de desarmar e emocionar as pessoas”, sintetiza Helena.

Bardi e Chateaubriand na inauguração do Masp.

Helena Lunardelli, do projeto Flor Gentil, entrega buquê em asilo.

anduíche. Foi esse o prato principal do jantar organizado por Assis

Chateaubriand a fim de arrecadar fundos para a construção do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Os ricaços paulistanos devem ter ficado boquiabertos quando o excêntrico empresário leiloou cabritos, leitões e coelhos e serviu pão com mortadela para os convidados.

Dono de um império das comunicações, Chateaubriand aproveitou que a Europa estava em ruínas depois da Segunda Guerra Mundial para comprar a preço de banana verdadeiras preciosidades. Pretendia assim constituir o mais importante acervo brasileiro de artes. Para isso, tinha a seu lado o italiano Pietro Maria Bardi, jornalista e crítico de arte. Foi a esposa dele, a arquiteta Lina Bo Bardi, quem transformou um andar do prédio dos Diários Associados, de Chatô, num museu, inaugurado em 2 de outubro de 1947. Levaria ainda quase duas décadas para o museu mudar de endereço e transformar-se em um dos principais cartões-postais da cidade, em plena avenida Paulista.

SAIBA MAIS Chatô, O Rei do Brasil, de Fernando Morais (1994).

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Antes de ser cartão-postal, Masp ocupou andar de jornal

29/10 dia das flores

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noite de 21 de outubro de 1967 foi uma das mais marcantes da música popular brasileira.

Era a final do 3° Festival da Música Brasileira, promovido pela TV Record. No páreo, disputando o primeiro prêmio, enfileiravam-se canções que se tornariam clássicos da nossa música: Roda Viva, de Chico Buarque; Alegria Alegria, de Caetano Veloso; Domingo no Parque, de Gilberto Gil; Ponteio, de Edu Lobo e Capinam.

Ao longo do evento, não faltaram contratempos. Estava quase na hora de Gilberto Gil subir no palco, mas nada de chegar ao Teatro Paramount, em São Paulo. Nana Caymmi, então sua namorada, apelou para o presidente da Record: “O Gil está na cama e disse que não vai”. Paulo Machado de Carvalho prontamente correu ao hotel para buscar o baiano, amedrontado pela performance inovadora que

havia preparado. E não era para menos: Gil aguentou boas vaias até conquistar o público com Domingo no Parque. O mesmo aconteceu com Caetano. E também com Sérgio Ricardo, que não suportou a pressão e encerrou sua apresentação quebrando o violão e o atirando na plateia.

No caso de Gil, a reação do público muito se devia às guitarras do grupo que o acompanhava, Os Mutantes. Muitos defendiam que era uma interferência da música norte-americana na “pura” música popular brasileira. Em poucos versos, porém, a plateia pareceu ter mudado de ideia. O jurado Sérgio Cabral contou mais tarde a sensação de ter sido domado pela invasão roqueira: “A estética matou minha ideologia em dois minutos”. Gil acabou levando o segundo lugar; Ponteio, o primeiro.

AGuitarras vaiadas e violão quebrado marcaram Festival de 67

SAIBA MAIS Uma Noite em 67, documentário de Renato Terra e Ricardo Calil (2010).

epois que os meninos mais velhos excluíram Otávio Júnior de uma

partida de futebol, ele andava a esmo pela favela, quando viu um livro deixado no lixo. Foi assim que leu seu primeiro livro, aos oito anos – e só porque naquela tarde faltou luz e não dava para ver televisão. Durante os tempos de escola, andava 20 quilômetros até a biblioteca pública, no centro do Rio de Janeiro.

Ainda caminharia muito por leitura. Em paralelo a cursos de teatro e cinema, desde os 15 anos roda os complexos da Penha e do Alemão lendo histórias para crianças. Passou a se inteirar de projetos e oficinas sobre aprendizado e desenvolvimento por meio dos livros.

Além de um tapete emprestado da mãe para as contações de história, arranjou uma mala onde carregava até 100 livros. Fazia uma espécie de escambo,

recolhendo obras de quem não queria mais. Em 2009, juntou seu acervo de 10 anos a uma doação do Ministério da Cultura para inaugurar a primeira “barracoteca” da comunidade. Para o investimento no imóvel, anunciou o projeto na internet e contou com a ajuda do pai, que é pedreiro, para reformar o antigo salão de forró.

Otávio até passou para o outro lado e assinou um livro de memórias: O Livreiro do Alemão (Panda, 2011). Seu projeto de difusão da leitura, chamado Ler é 10 – Leia Favela, segue de pé. E ainda aguarda o dia em que todas as esquinas da favela tenham uma biblioteca: “Enquanto tem muita gente que quer reter o conhecimento, passando de geração em geração, nossa proposta é quebrar esse pensamento e formar uma comunidade mais consciente. O livro tem esse poder”.

Livreiro do complexo do Alemão salvou livros no lixoD

SAIBA MAIS Leia mais histórias sobre leitura na agência Brasil que Lê: www.brasilquele.com.br.

12/10 dia da leitura

Gilberto Gil ensaia Domingo no Parque com Os Mutantes.

Otávio Júnior: o livro tem poder.

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squeça as piaçavas. As bruxas modernas não voam pelos céus montadas em vassouras para encontrar suas companheiras de magia. Elas garantem estar no

mundo real e no virtual também. Comunicam-se por e-mail, deixam recados nos sites de relacionamento, têm páginas na internet.

Feiticeiras já não se reúnem às escondidas no breu das florestas. É em Paranapiacaba, interior de São Paulo, que centenas de magos e bruxas do Brasil e até de outros países se juntam não é de hoje. Quando os astros conspiram a favor deles, um enorme caldeirão é aquecido na fogueira da praça principal da histórica cidadezinha, escolhida por preservar matas e nascentes. Em torno dele, bruxas como as das histórias, vestidas com mantos, chapelões e longas túnicas, entoam cânticos e fazem feitiços. Os moradores já se acostumaram a vê-las desfilando por ali noite e dia e acreditam que ninguém precisa se preocupar. A intenção não é envenenar maçãs nem pôr pra dormir belas princesas, e sim trabalhar pela paz entre os homens, pedir prosperidade e harmonia com a natureza.

Uma das chefes da bruxaria é Tânia Gori, escritora e coordenadora de uma escola para formação de bruxas (sim, é possível despertar a bruxa e o mago que dormem dentro de você!). Ela conta que toda mulher é um pouco feiticeira à medida em que produz no fogão feitiços culinários: alimentos temperados com boas doses de amor e afeto. “Bruxas são pessoas preocupadas com o meio ambiente, que buscam equilíbrio com os outros e com o planeta”, explica.

Bruxas não envenenam maçãs em ParanapiacabaE

SAIBA MAIS Escola de bruxarias Casa de Bruxa: www.casadebruxa.com.br.

(laís duarte)

s festas no palácio do Catete organizadas pela esposa do presidente Hermes da

Fonseca, a cartunista Nair de Teffé, já tinham fama pelo original bom gosto e animação. Mas ninguém esperava o que a jovem primeira-dama havia preparado para a última delas, em 26 de outubro de 1914. Nair convidou o compositor popular Catulo da Paixão Cearense para acompanhá-la ao violão, considerado instrumento da malandragem, em popular maxixe de Chiquinha Gonzaga. Estava pronto o cenário para o “escândalo do Corta-Jaca”, como ficou conhecida a despedida do presidente.

A letra não errou: Esta dança é buliçosa / Tão dengosa / Que todos querem dançar / Não há ricas baronesas / Nem marquesas / Que não saibam requebrar, requebrar. A oposição e a imprensa ficaram de cabelo em pé com o tango tropical. “A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba”, definiu o senador Rui Barbosa no Congresso.

A

Nair de Teffé: último baile teve direito a violão e “dança selvagem”.

Nair colocou baronesas para requebrar no palácio

No site do ALMANAQUE, ouça o Corta-Jaca de Chiquinha Gonzaga.

o baú do Barão

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

“Que faz o peixe, afinal? Nada.”

31/10 dia das bruxas

Origem da expressão

Vá se queixar ao bispo no século 17, ter filhos no brasil era algo primordial.

a igreja até incentivava que as moças ficassem grávidas antes de subir ao altar, para

comprovar que o homem era fértil – desde que depois o casamento se consumasse. o

que acontecia, porém, é que muitos homens sumiam após os primeiros namoros. e as

mulheres, o que faziam? iam se queixar ao bispo, que mandava alguém atrás do noivo

fujão. da prática teria nascido a expressão usada até hoje.

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Vanguart - Boa Parte de Mim Vai Embora (Deck/Vigilantes). O compositor Hélio Flanders assumiu que colocou dois anos de terapia no novo disco. E pergunta: “Até onde podemos ir entre o orgulho do rompimento amoroso e a redenção da volta?”. As 13 faixas buscam responder a esse mistério. Outra novidade é que todas as canções da banda de folk estão em português.

Pélico - Que Isso Fique Entre Nós (independente). “Ouviu Ataulfo, Lupicínio, leu Nelson Rodrigues, rasgou o coração e fez um disco.” É assim que a cantora Tulipa Ruiz apresenta o novo disco de Pélico. Em vez de pandeiro, ele empunha a guitarra, mas as composições que tiram o coração do prumo estão lá, expondo dores de cotovelo e tristezas de amor.

Palavras de Poder, de Lauro Henriques Jr. (Leya). O escritor e jornalista entrevistou importantes nomes da espiritualidade e do autoconhecimento de áreas tão distintas quanto budismo, astrologia, psicologia e física quântica. O resultado é uma reunião inédita de como diversas linhas de pensamento entendem a vida. No final, os próprios mestres e especialistas trocam ideias. O propósito, segundo o autor, é que as sabedorias façam sentido para o dia a dia.

Solar da Fossa, de Toninho Vaz (Casa da Palavra). A pensão mais pop da cultura brasileira teve suas memórias resgatadas. De 1964 a 1971, dona Jurema alugou apartamentos para jovens sem grana como Tim Maia, Betty Faria, Paulo Coelho e Ruy Castro – que assina o prefácio. Não faltam as músicas compostas no solar – Alegria, Alegria, de Caetano, e Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, por exemplo – e a agitação do pátio onde Chico Buarque conheceu Marieta Severo.

Loucuras de torcedores - programa 8 • Ilustres e anônimos capazes de fazer as maiores maluquices por amor ao time.• No Papo-Cabeça, uma inspiradora conversa com a atriz Denise Fraga.• No É do Baú, a febre dos papéis de carta.• E no Ciência Doméstica, como acertar na hora de escolher frutas e legumes.

Brasil de todos os santos - programa 9• Divirta-se com as mais curiosas formas de devoção aos santos.• No Papo-Cabeça, o designer Marcelo Rosenbaum.• O ilustre homenageado do programa é o doce e inesquecível Mario Quintana.• E no Cantos do Brasil, a voz rouca e poderosa de Edvaldo Santana.

Pseudônimos: sujeito oculto - programa 10• Os pseudônimos que protegeram a reputação de gente como Nelson Rodrigues, Machado de Assis e até do imperador Pedro 1°.• No Cantos do Brasil, João Bosco revela: “Pra mim, partitura só serve para sentar em cima”.• Descubra a origem da expressão a dar com pau.• E aqueles graciosos passarinhos de madeira, Como É Que Se Faz?

Saudades do Brasil - programa 11• De João Cabral a Caetano Veloso: saudades e apertos de brasileiros no exterior.• Um Papo-Cabeça com Marcelo Gleiser, o astrônomo que ensina física a poetas.• A malemolência de Mart’nália no Cantos do Brasil.• E afinal: quem era Amélia, a “mulher de verdade”?

Brasília, a capital do sonho - programa 12• Tem até santo envolvido: conheça histórias e curiosidades por trás da construção de Brasília.• Diretamente do Pará, a delicada arte da cerâmica marajoara.• No Papo-Cabeça, Tião Rocha conta como transforma o Vale do Jequitinhonha pela educação.• Você Sabia? Nosso mais antigo time de futebol só ergueu uma taça...

Amor, sublime amor - programa 13• Histórias de amor, infidelidade e ciúme que fizeram ilustres brasileiros enlouquecer. • Eugênio Scannavino e seu Saúde e Alegria: da Amazônia para o Papo-Cabeça.• Letra bonita e padronizada: o Como É que Se Faz? mostra a arte dos cartazes de supermercado.• No Ciência Doméstica, verdades, truques e mitos da pescaria.

Curiosidades no mapa - programa 14• Entre milhares de municípios, encontramos os de peculiaridades e encantos pra lá de inusitados.• Sabia que nosso primeiro acidente de carro envolveu José do Patrocínio e Olavo Bilac?• Lô Borges traz ares mineiros ao Cantos do Brasil.• É do Baú: quem não lembra da dancinha do Menudos?

TV Brasil: 16/9, 20h TV Cultura: 2/10, 15h

TV Brasil: 23/9, 20h TV Cultura: 9/10, 15h

TV Brasil: 21/10, 20h TV Cultura: 6/11, 15h

TV Brasil: 28/10, 20h TV Cultura: 13/11, 15h

TV Brasil: 30/9, 20hh TV Cultura:16/10, 15h

TV Brasil: 7/10, 20h TV Cultura: 23/10, 15h

TV Brasil: 14/10, 20h TV Cultura: 30/10, 15h

Tem mais na Telinha!

O fim da leitura deste Almanaque é só o começo do abastecimento do seu tanque

de brasilidade. O Almanaque está na internet (www.almanaquebrasil.com.br), no

Twitter (@almanaquebrasil), no Facebook (página do Almanaque Brasil) e também na

televisão. Preparamos entrevistas, matérias e reportagens em todos os canto do País

para levar às TVs Cultura e Brasil, todas as sextas e domingos. Luciana Mello é quem

comanda essa viagem, auxiliada por Almanaquias, o inimitável personagem de Robson

Nunes, que apronta poucas e boas pelas ruas com microfone e bom humor à mão.

Aqui você já pode dar uma olhada no itinerário. Acompanhe também os perfis na

internet e fique sempre antenado no seu almanaque preferido!

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Para se certificar dos horários de exibição, consulte o site das emissoras: www.tvbrasil.org.br

e www.tvcultura.com.br.

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Ele está toda semana no programa de Luciano Huck. Frequenta revistas de comportamento, coleções de grandes lojas, propagandas de banco. Com uma marca fácil de identificar, concilia cultura brasileira e objetos despojados, surfando com propriedade na onda da sustentabilidade. Mas não parece ser essa a principal motivação profissional de Marcelo Rosenbaum. Quando o assunto é os projetos paralelos a que se dedica é que sua fala ganha entusiasmo. Enquanto toca os trabalhos no escritório de design que leva seu nome, roda o País e arquiteta ideias transformadoras, articulando comunidade, estudantes e grandes empresas. “Acredito que seja esse o meu trabalho: usar o meu potencial, que conquistei pelo trabalho, pela presença na mídia, de um jeito mais multiplicador.” Perguntado como se define, diante de uma atuação tão diversificada, ele responde: “Como um estudante. Fiz uma porção de coisas na vida, mas tenho a sensação de que nem comecei”.

M A R C E L O R O S E N B A U M

Como é possível um sujeito com o sobrenome tão estrangeiro assinar pe-ças de design tão marcadamente brasileiras? Eu me considero 100% brasileiro. Meu avô paterno é alemão, minha avó paterna é russa, am-bos judeus, vindos pra cá um pouco antes da Segunda Guerra. Minha mãe é católica, filha de beata italiana com pai português. Meus pais fo-ram os primeiros da família a nascer no Brasil. Mas em nenhum mo-mento da minha vida ouvi em casa que não fôssemos brasileiros. Talvez seja isso que traz a liberdade que desfruto em meu trabalho, a possibili-dade de fazer qualquer coisa, ir para qualquer direção. Eu morei na Ale-manha. Lá, o filho de turco, mesmo nascendo na Alemanha, é turco. Na escola será sempre o turco. Nosso país têm os braços abertos.

Esse amálgama cultural típico do Brasil se traduz também no jeito de mo-rar brasileiro? A casa do povo brasileiro é muito generosa. As casas pelo Brasil estão sempre de portas abertas. Sempre vai ter um cafezinho para oferecer, mesmo que a pessoa seja muito pobre. Pode ser uma casa de ribeirinho ou no sertão. A pessoa mal pode ter o que comer,

mas se você chegar ela vai te por para dentro. Isso é muito genuíno e especial. É evidente que, nas grandes cidades, muda tudo.

Como surgiu o projeto A Gente Transforma? Conheci o Parque Santo Antônio, na periferia de São Paulo, por um convite da Tia Dag, uma mulher incrível, criadora da Casa do Zezinho. É uma comunidade re-lativamente pequena, mas lotada de gente, com córrego, esgoto a céu aberto, crianças brincando no lixo, tráfico de drogas, casas de nove metros quadrados habitadas por 10 pessoas. Uma situação absurda. Aquilo ficou na minha cabeça. Eu queria fazer algo no lugar, mas não sabia como, então pensei na rede que a gente criou com o nosso traba-lho: diretores de marketing, imprensa, outros profissionais. Conheci ONGs que trabalham com mutirão, que se mobilizam pela internet para fazer mutirão em áreas degeneradas no fim de semana, trazendo a comunidade para fazer junto – é nessa dimensão que penso a arqui-tetura hoje. Então criamos um game social, com a participação de jo-vens estudantes de Arquitetura e de Design de todo o País.

Tenho a sensação de que nem comecei

Por João Rocha Rodrigues

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Outubro 2011

Qual era o primeiro problema a ser atacado no local? Havia muitos, mas o campo de futebol era uma questão. Ao mesmo tempo que era a única área de lazer da comunidade, era também uma área de dis-córdia. Era só homem que jogava. Não tinha alambrado. A bola caía na casa da senhorinha do outro lado. O ponto de tráfico era em fren-te, e os jogos atrapalhavam o tráfico. O córrego está bem ao lado. Toda vez que inundava, não se podia jogar. A ideia era aterrar o cam-po para a água não entrar mais. Mas, se aterrasse, mataria todas as pessoas do outro lado. E aí esse pessoal do outro lado detestava o pessoal do campo.

E o que foi feito? Percebemos que era preciso que todas essas pessoas estivessem juntas. Então, na primeira ação, fomos pintar as casas do entorno do campo, com apoio da Suvinil. O retorno dessa empresa era o marketing, divulgar a ação de uma forma inte-ressante. Trouxemos um assessor de imprensa, um diretor de conteúdo para o portal na internet, no qual também convidávamos os jovens estudantes a participar. Foi um sucesso. Conseguímos 800 estu-dantes de várias partes do País. Chamamos 40. No game, abrimos para a universidade de Londres. Eu fiquei um tempo nessa articulação, sempre puxan-do assunto com pessoas que poderiam ajudar no projeto de alguma forma. Sempre punha um “En-tão, eu estou fazendo um projeto...” na conversa para conseguir novos aliados. Assim a Vivo entrou como parceira, a Cavalera uniformizou toda a tur-ma, a Votorantim deu cimento para rebocar as ca-sas, a Nike uniformizou todos os times que jogavam no campo, a Leroy Merlin deu material... Na sema-na em que chegaram os estudantes, a Casa Cor ti-nha acabado havia pouco tempo. Pegamos coisas da Casa Cor e, junto com a comunidade, transforma-mos o lixão num parque. O Ministério da Integra-ção Nacional também entrou no projeto de cabeça. Conseguimos um trator, aterramos a área do lixão, fizemos um parque com mais de 100 metros linea-res de árvores, deque, playground, churrasqueiras.

A comunidade se envolveu imediatamente com o projeto? Na primeira reunião, fomos expulsos aos berros. “Pintar minha casa? Não quero que pinte minha casa coisa nenhuma!” Hoje a pessoa que nos pôs para fora é a que mais está no projeto. O dono da boca, Cabelo, hoje é Geo-vani e veio pedir emprego para mim no último dia do projeto. É um cara empreendedor, genial. E, na favela, a única possibilidade para o empreendedor é trabalhar no tráfico. Com o projeto, ele viu outra possibilidade. Hoje trabalha na Casa do Zezinho e está sendo capacita-do para ser o dono da “boca da cultura”.

E os estudantes, o que levaram dessa experiência? Todos os que vieram, ao voltar, fizeram algo parecido ou inspirado no A Gente Transforma. Cada um no seu potencial. Estudantes do Ceará, Paraíba, Minas Ge-rais, Rio de Janeiro... A ideia é essa: multiplicar.

O que mudou na comunidade, além das melhoras na infraestrutura? A Nike fez um comercial do Neymar jogando no Parque Santo Antônio. Ima-gina para a moçada da comunidade o Neymar passar uma tarde por lá... A propaganda nacional da Vivo acaba no Parque Santo Antônio. São coisas que vão se desdobrando e vão contribuindo para a autoesti-ma da comunidade, com potencial para mostrar todos os brilhos que há por lá. Acredito que seja esse o meu trabalho: usar o meu potencial, que conquistei pelo trabalho, pela mídia, pela presença na tevê, de um jeito mais multiplicador, beneficiando o maior número de pessoas. É uma missão, uma obrigação, uma responsabilidade.

Para manter projetos como esse é preciso de dinheiro. E, muitas vezes, os desejos de marketing são efêmeros, atendendo apenas a necessida-des pontuais. Como fazer para que não se perca essa dinâmica criada

na comunidade? Esse é o ponto. Infelizmente, ape-sar de tudo o que conseguimos com o A Gente Transforma – capa de jornais, revistas, prêmios –, o marketing não entende isso como resultado, mesmo que hoje se fale tanto de branding. Por is-so que acredito que seja importante transformar essa energia em negócio, mesmo porque o que fi-zemos até agora foi praticamente emergencial. Há muito ainda a fazer no Parque Santo Antônio e em milhares de comunidades problemáticas Brasil afora. E não dá pra ficar de braços cruzados espe-rando a solução vir do poder público. O ponto é desenvolver tecnologias que possam ser testadas aqui e multiplicadas para todo o Brasil.

Esses projetos em que você se envolve devem tomar tempo de seu trabalho como designer, não? É... Da-qui a pouco vou ser interditado pela equipe do es-critório. Estou quase no limite. Mas aí tem as ma-drugadas, e dou conta da outra parte. Temos a ideia de levar o A Gente Transforma para o Piauí, para a Chapada do Araripe, para fazer parecido com o que se fez no Parque Santo Antônio. Esta-mos conversando com o governo do Piauí, com o

Sebrae, focando em design e no mercado. Estamos conseguindo achar formas mais sustentáveis como negócio. O grande pulo do gato desse trabalho é fazer isso se transformar num negócio. Por uma cau-sa, uma justificativa, mas é um negócio. Fazer negócio é bom para todo mundo. Traz subsídios e desenvolvimento para a comunidade, leva para o mercado mundial, forma estudantes.

Para finalizar, como você se define? Simplesmente um arquiteto, um designer? Eu não sou arquiteto. Não sou formado. Tenho inclusive um processo gigante no Crea. Fui fazer um estágio na Alemanha e aban-donei a faculdade no penúltimo ano. Até me matriculei no ano passa-do, mas não consegui frequentar as aulas. Como eu me definiria pro-fissionalmente? Como um estudante. Como não me formei ainda, te-nho a possibilidade de ser um eterno estudante. Fiz uma porção de coisas na vida, mas tenho a sensação de que nem comecei.

“É importantetransformar essa

energia em negócio.Há muito ainda afazer no ParqueSanto Antônio eem milhares decomunidadesproblemáticasBrasil afora.”

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rompimento da política do Café com Leite, em que paulis-tas e mineiros se revezavam na presidência, ele adiantara o acontecimento. Antecipou também o Estado Novo, a eclosão da Segunda Guerra e, quatro décadas antes de ocorrer, o des-monte do bloco socialista na Guerra Fria.

Nada aconteceu na primeira metade do século 20 sem que seus desenhos fossem testemunhas: o advento do telégrafo, do telefone, da fotografia, do bonde elétrico, do avião, do automó-vel, do cinema, do rádio. Talvez seu legado mais admirável seja o perfeito retrato de uma época, como previsto em um artigo de 1923. “O ente que olhar, daqui a 100 anos, as obras-primas de J. Carlos poderá viver a vida que andamos vivendo”, escreveu o jornalista Álvaro Moreyra.

Assim como os pintores franceses Taunay e Debret mostram como era o Rio de Janeiro no século 18, é impossível entender a primeira capital da República no século 20 sem passar pelas aquarelas e bicos de pena de J. Carlos. Ao lado de Noel Rosa, ele é considerado um dos maiores cronistas da cidade. Costurou

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ão

or favor, quero sentar-me ao lado de J. Carlos”, exigiu Walt Disney à organização de um almoço oferecido a ele pelo Itamaraty, em 1941. Durante a recepção, o

empresário norte-americano teria aproveitado a oportunidade para convidar J. Carlos para trabalhar em seus cobiçados estú-dios. Nosso mais célebre desenhista recusou. Com inspiração no trabalho do brasileiro, Disney acabaria criando um xará dele, o papagaio Zé Carioca. O José original seguiu retratan-do em linhas certeiras a realidade do País, em quantidade e qualidade até hoje invejáveis.

“J. Carlos pegou a caricatura brasileira na idade da pedra. Quarenta e oito anos depois, tinha posto o País no mapa nessa matéria”, afirma o biógrafo Cássio Loredano. Nas palavras do escritor José Lins do Rego, ele “deu à caricatura brasileira a universalidade que Machado de Assis deu à nossa literatura e Villa-Lobos à nossa música”.

“Minhas charges dizem o que eu penso e sinto”, dizia. E muitas vezes J. Carlos pensava adiante. Três anos antes do

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J. carlos

O desenhista carioca fez do bonde seu escritório, tornou-se um dos maiores cronistas do Rio de Janeiro e recusou-sea ir para os estúdios da Disney. Ao testemunhar com sagacidade, aquarela e bico de pena a Belle Epóque nacional, colocou a caricatura brasileira no mapa, num traço tão universal quanto a música de Villa-Lobos ou a literatura de Machado de Assis.

Um tempo na ponta da pena

Por Natália Pesciotta

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O melhor produto do Brasil é o brasileiroCÂMARA CASCUDO

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Outubro 2011

o comedimento e o acerto na escolha das cores; o traço, à mão livre, sempre elegante. Apesar de tão perfeitamente re-gistrar uma época e um lugar, as aquarelas e bicos de pena são atemporais e abrangentes. “Oitenta anos, e um frescor absurdo. De antiquado, temos apenas a ortografia”, observa Loredano sobre a atualidade da obra.

Em um tempo em que o rádio ainda engatinhava, os se-manários ilustrados tinham grande repercussão no País. A obra de J. Carlos era desfrutada por futuros talentos de gerações seguintes, como o pintor Santa Rosa, na Paraíba; Carlos Drummond de Andrade, em Minas; Érico Veríssimo, no interior do Rio Grande do Sul.

As principais revistas da época traziam seu desenhos, muitas vezes de cabo a rabo: A Careta, Fon Fon, O Malho. Entre 1922 e 1931, dirigiu todas as publicações da empre-sa O Malho. Com o endurecimento da censura de Getúlio Vargas, abriu um escritório de publicidade. Criou também personagens infantis para O Tico Tico, a primeira revista brasileira voltada para as crianças. Antes mesmo de existir o nome da profissão, J. Carlos foi um designer que atuou em todas as frentes.

Discutia a capa do próximo disco de João de Barro, o Braguinha, quando sofreu uma hemorragia cerebral, aos 66 anos. Morreu dois dias depois, em 2 de outubro de 1950, na mesma cidade em que nasceu e viveu toda a vida. “Nunca teve crepúsculos”, resume a escritora Maria Eugênia Celso. “Viveu até o fim a palpitação cotidiana dos acontecimentos.”

o cotidiano em caricaturas de anônimos, do subúrbio de leiteiros e malandros a salões elegantes de almofadinhas e melindrosas – dois tipos sociais que ele eternizou. O car-naval, o samba, as mulheres e as ruas cariocas nunca mais foram vistas da mesma forma depois dele.

Da Mauá à Paris“Meu escritório é o bonde”, dizia. A condução pública era o melhor lugar, segundo o artista, para entender os tipos e a linguagem das ruas. Ao contrário do que se pode imaginar, J. Carlos não era um boêmio e não vivia na noite da Lapa, apesar de tão bem retratá-la. Era dedicado à mulher e aos sete filhos em Botafogo. Quando comprou o terreno na rua que hoje leva seu nome, mostrou o lugar à noiva. Colocou o lápis no chão e disse a ela: “Em cima deste lápis, hei de construir nosso lar”.

O único vício era mesmo o desenho: trabalhava quase compulsivamente. Fala-se em uma média de três trabalhos por dia. É algo como 100 mil desenhos, entre charges, car-tuns, caricaturas, ilustrações, vinhetas, logotipos, capas de revista, desenhos infantis e de publicidade. Costumava dizer que, se sua obra fosse estendida sobre a avenida Rio Branco, cobriria da praça Mauá até a praça Paris.

Atual há 80 anosJ. Carlos nunca estudou arte. Começou publicando uma charge em A Careta, aos 18 anos, e nunca mais parou. Para os especialistas, os primeiros trabalhos eram ainda simplórios e sem personalidade própria. Porém, logo o ra-paz alcançaria características inconfundíveis e certeiras: a valorização do branco da página e de detalhes marcantes;

“Meu escritório é o bonde”, dizia. A condução pública era

o melhor lugar, segundo o artista, para entender os tipos

e a linguagem das ruas.

O Bonde e a Linha: Um perfil de J. Carlos, de Cássio Loredano (Capivara, 2002).

Page 22: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

Se a moda sedimenta o que somos, como

acreditam alguns estilistas, na nossa história

tal sedimento ganhou formas tão distintas

quanto chapéus de couro, longos vestidos

franceses, terno e gravata, pano nos ombros

e outras invenções tropicais.

izem que a moda brasileira começou em 1960. Foi quando a indústria química

Rhodia introduziu no Brasil tecidos sintéticos, e, para divulgá-los, movimentou

a Feira Internacional da Indústria Têxtil, valorizando o potencial brasileiro,

então esquecido nas passarelas. Nomes como Aldemir Martins, Volpi e Heitor

dos Prazeres participavam do desenvolvimento de estampas e objetos, sob coordenação

de Alceu Penna. Os modelos não eram apresentados sem contexto: eram acompanhados

de textos de Carlos Drummond de Andrade e Torquato Neto, músicas de Caetano Veloso

e Jorge Ben e cenários de Cyro del Nero.

Zuzu Angel, Denner e outros continuaram a fazer o nome brasileiro nas passarelas.

Hoje a influência da cultura nacional chega ao exterior pelo trabalho de estilistas como

Ronaldo Fraga, Lino Villaventura, André Lima e companhia.

Neste ALMANAQUE, porém, começamos a história bem atrás. É preciso levar em conta

que em vários cantos do País nos vestimos de formas além da dita moda oficial. Claro

que, principalmente nas capitais e grandes cidades, sempre acompanhamos a moda do

mundo, nem sempre bem adaptada à nossa realidade. Mas se muitas vezes copiamos o

Velho Continente, outras tantas criamos soluções e adaptações absolutamente originais.

“A moda é a última camada após as suas convicções”, resume o estilista brasileiro

Jun Nakao. E conclui: “A moda sedimenta tudo aquilo que o sujeito é”. As vestimentas

comunicam, seja pelas questões funcionais, seja por sua estética. Nas próximas páginas,

nosso povo mostra seu reflexo pendurado num guarda-roupas.

D

Com

que

ro

upa?

Texto: Natália Pesciotta

Arte: Guilherme Resende

Page 23: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

PRA QUEM PODE No século 19, sapatos eram o maior atributo de distinção social. Escravos, claro, só andavam descalços. Adquirir um par era a primeira coisa a ser feita quando se conquistava a liberdade.

Nem por decreto

brasileiras

tiravam rebuco

Por várias vezes os mandatários tentaram, desde o

século 17, proibir que as mulheres do Brasil Colônia

se rebuçassem – ou seja, usassem longos panos

cobrindo a cabeça, à maneira da Idade Média.

Um deles, Martim Lopes, afirmava que o traje

“detestável e inculto” dava liberdade para que

damas “entrassem até de dia na casa de homens”

ou servisse de disfarce para criminosos.

Acredita-se que as mulheres quisessem esconder

cicatrizes da varíola. E ainda que brancas pobres usassem o

figurino por vergonha de realizar tarefas associadas a escravos.

O certo é que o hábito só caiu em desuso quando a Família Real

mudou-se para estas terras.

Roupa da terra era ultima moda entre revolucionariosOrdem expressa de Portugal chegou à Colônia em 1785: todos os teares e manufaturas estavam

proibidos. O alvará da rainha dona Maria pretendia que por aqui apenas se cuidasse das terras e das minas, ordem imposta por mais de um século. Enquanto isso, vestir roupas fabricadas no Brasil era ato de rebeldia. Assim faziam os patriotas da Conjuração Mineira, da

Revolução Pernambucana e, como não poderia deixar de ser, da Revolta dos Alfaiates, na Bahia. Um dos líderes, Cipriano Barata, só andava com imponente casaca preta de algodão da terra.

Madame, se nao era francesa, fingiaNo século 19, a moda francesa ditava o vestuário das madames

brasileiras. Na carioca rua do Ouvidor, a mais chique e antenada do

Império, as lojas que não eram verdadeiramente conterrâneas de

Napoleão davam um jeito de afrancesar o nome: Madame Dupeyrat

vendia coletes; Madame Estoueigt se encarregava da alta-costura; Madame Coulon oferecia camisaria; Madame

Douvizi, chapéus femininos.Nem nossa primeira coluna de moda era escrita em português. Os conselhos da Causerie Parisienne (algo como Bate-Papo Parisiense), no Jornal do Brasil, eram dados por uma francesa e passaram dois anos sendo publicados sem tradução.

CALOR, EU? Aos comerciantes que anunciavam

“o último gosto na Europa” pouco importava se a moda de Paris

fosse para o clima ameno. As damas da elite raramente saíam às

ruas esburacadas e uma das razões, além das regras sociais, era que

não suportavam o sol brasileiro com tantas camadas de grossos

tecidos. Só em casa estavam liberadas para usar roupas leves.

Da tevepara as ruas

O colunista social Ibrahim Sued percebeu que A Dama de Preto, telenovela dos anos 1950, era reproduzida nas festas cariocas. Virou até marchinha de Jorge

Veiga. Já era um prenúncio do sucesso dos modelitos em folhetins televisionados.Texto: Natália Pesciotta

Arte: Guilherme Resende

Moda árabeO Clone (2001)

Meia lurexDancin’Days (1978)

Saia balonêBambolê (1987)

Saia rodada de lambadaRainha da Sucata (1990)

Page 24: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

Além de estilistas e artistas, tivemos

também um presidente que defendia

fervorosamente trajes mais

condizentes com a realidade do

País. Jânio Quadros achava ternos

e gravatas inadequados à quente

e poeirenta nova capital. Tratou

de vestir uma túnica bege que

trouxera da Índia e só andava assim,

fosse no gabinete ou em eventos

oficiais. Chegou a pensar em instituir o

traje – que a imprensa não demorou a

apelidar de “pijânio” – como obrigatório

para o funcionalismo federal. Mas não

conseguiu muitos adeptos.

Terno, gravata e vestido de gala têm

concorrência no Rio Grande do Sul.

Uma lei estadual de 1989 estabelece até

que a pilcha, tradicional vestimenta

dos gaúchos, seja a opção oficial a

essas roupas de festa.

Entram bombacha, camisa, lenço, saia de armação...

Tudo regulamentado pelo Centro de Tradição

Gaúcha (CTG). A bombacha, por exemplo, deve ter a

medida de cada perna igual à medida da cintura.

Ainda é contestável a origem da típica calça gaúcha.

Pode ter origem turca ou moura e ter sido trazida por

ingleses ou espanhóis. Popularizou-se na escassez que

o estado viveu durante e depois da Guerra do Paraguai.

Sem deixar de ser elegante, o traje era barato e

prático para o trabalho nas estâncias.

Solucao para homem dos tropicos era usar saiaPara o artista Flávio de Carvalho, o colarinho das camisas masculinas só podiam ser reminiscência da Revolução Francesa: começaram a ser usados nessa época e têm relação com a guilhotina. O jornal O Diário de S. Paulo, em que ele assinava a coluna A Moda e o Novo Homem, nos anos 1950, sugeriu que ele propusesse traje adequado à metrópole

de então. Flávio não se contentou com o desenho. Chamou de Experiência Número 3 o dia em que saiu pelas ruas da capital paulista vestindo blusa de manga larga e saia.

VIDE LENÇO A variedade europeia de

nós de gravata fica no chinelo em comparação às

opções de amarração do lenço gaúcho: farroupilha,

republicano, pachola, quadrado, namorado, crucifixo,

rapadura... Geralmente as cores vermelha e branca

simbolizam simpatia a maragatos ou ximagos, grupos

da Guerra dos Farrapos, Revolução Federalista e

Revolução de 1923. Lenço preto é para luto.

Brasil de

bombacha

sobrevive

ao tempo

Janio queria

todo mundo de pijanio

ANOS 1920Moçoilas de J.Carlos: da rua para as ilustrações, das ilustrações para as ruas, a febre era a mulher-menina, melindrosa. As modernistas paulistanas aparecem nos retratos seguindo a tendência.

ANOS 1910As primeiras damas que apostaram na calça jute-culote “afrontaram a curiosidade pública”, como legendavam os jornais. Havia especulação sobre a duração da loucura – alguns achavam que era devaneio passageiro. Uma charge na revista Careta mostrava dois sujeitos conversando: “Mas então tu és um marica. Quem usa calça na sua casa não és tu?”. E o outro: “Qual!... Meu velho... Hoje todos usam, até minha sogra!”.

ANOS 1910As primeiras damas que apostaram na calça jute-culote “afrontaram a curiosidade pública”, como legendavam os jornais. Havia especulação sobre a duração da loucura – alguns achavam que era devaneio passageiro. Uma charge na revista Careta mostrava dois sujeitos conversando: “Mas então tu és um marica. Quem usa calça na sua casa não és tu?”. E o outro: “Qual!... Meu velho... Hoje todos usam, até minha sogra!”.

ANOS 1910As primeiras-damas que apostaram na calça jupes-culottes “afrontaram a curiosidade pública”, como legendavam os jornais. Havia especulação sobre a duração da loucura – alguns achavam que era devaneio passageiro. Uma charge na revista Careta mostrava dois sujeitos conversando: “Mas então tu és um marica. Quem usa calça na sua casa não és tu?”. E o outro: “Qual!... Meu velho... Hoje todos usam, até minha sogra!”.

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Page 25: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

A ROUPA TRADICIONAL DO VAQUEIRO NORDESTINO é muito mais utilitária do que a dos antigos cangaceiros. O gibão de couro serve como uma espécie de armadura, já descrevia Euclides da Cunha em Os Sertões. “É a forma grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo.”

• História da Moda no Brasil, de Gilda Chataignier (Estação das Letras e Cores, 2010).• Estrelas de Couro – A estética do cangaço, de Frederico Pernambucano (Escrituras, 2010).• Encourados, de Geyson Magno e Adriana Victor (B52, 2007).

ANOS 1970Na luta contra a repressão,

a vanguarda brasileira descobriu que era jovem, plural e tinha

uma história. As maiores novidades na moda tiveram influências hippies e tropicalistas.

ANOS 1940 Tempo de guerra no mundo. É a vez dos comedidos tailleurs com saia (brasileiras usavam flor na lapela). Espalharam-se manuais de modelos prontos para alfaiataria.

ANOS 1950Auge da sociedade de

consumo. A pompa do cinema e, no Brasil, das chanchadas, reflete-se

nas ruas. Voltam os contornos dos anos 1920, ainda mais acentuados.

Os brutos

tambem

costuramQuando começou a estudar os adornos do

cangaço, o historiador Frederico Pernambucano

percebeu um grande paradoxo naqueles

sertanejos: eram homens com potencial

de criminalidade muito desenvolvido, mas

possuíam – e produziam – peças de delicadeza

impressionante. Para o historiador, nenhum

grupo social brasileiro teve indumentária tão

imponente. Até hoje as cores, símbolos e formas

típicas dos bandoleiros – que remetem à Idade

Média – fazem parte da estética nordestina.

Os bornais e chapéus de couro, repletos de

enfeites, condecoravam os homens e atribuíam

orgulho pela existência do grupo. Por isso,

costurar e bordar não era desonra para cabra

macho, e sim uma forma de honrar subalternos,

companheiros e a si mesmo. Como se vê na foto

ao lado, Lampião foi fotografado costurando

em uma máquina Singer com sorriso triunfal

no rosto.

Tecido baiano amarra continentesNa Costa do Marfim, provavelmente ninguém reconhece o chamado

“pano da costa” usado pelas típicas baianas. Porém, mesmo com as

modificações culturais e adaptações brasileiras, o tecido representa

um elo entre as gerações antigas e o continente distante. Dentro do

candomblé, o símbolo de classe ganha ainda outros significados. Deve

ser usado sobre o ombro ou amarrado no peito, dependendo da

hierarquia da dona, e ter sempre as cores do santo a ela consagrado.

A bata e o brocado da saia também sinalizam o posto da

baiana. O torso amarrado na cabeça, defendia a antropóloga

Heloísa Alberto Torres, “talvez seja o elemento mais

individualizador de toda a indumentária baiana”.

SAIBA MAIS

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Page 26: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

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Pala

vras

Cru

zada

sO Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Para decidir qual das três astutas filhas herdaria seu trono, o rei de Bássora fez um desafio às moças. Elas teriam os olhos vendados e em cada uma seria colocado um par de brincos. Antes disso, o pai mostrou as cinco opções que tinha em mãos: dois pares de rubi e três de esmeraldas. A filha que quisesse arriscar um palpite poderia tirar a venda e ver os brincos das irmãs. Se acertasse qual a cor do seu próprio par de brincos e explicasse o raciocínio, ficaria com todo o reino. Se

errasse, entretanto, deveria deixar a sala sem uma moeda sequer. A primeira que tentou, após ver os brincos das irmãs, não obteve êxito. A segunda, ao tirar a venda e ver os brincos da irmã remanescente, também deu resposta equivocada. A última filha, antes mesmo de desvendar os olhos, respondeu corretamente os brincos que estava usando e ainda descreveu o raciocínio para o pai. E você, caro leitor, seria capaz de dar a resposta correta?

ac

ervo

da

fa

míli

a

Respostas

CARTA ENIGMÁTICA Aos frangalhos, lançava o bordão: “Ele só pensa naquilo”. (Zezé Macedo).

ENIGMA FIGURADO Fernanda Montenegro. O QUE É O QUE É? Pena.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1b (Perpétua, de Tieta); 2d (Nazaré, de Senhora do Destino); 3a (Odete Roitman,de Vale Tudo ); 4c (Raquel, de Mulheres de Areia).

BRASILIÔMETRO 1a; 2d; 3b; 4c; 5a; 6d; 7a; 8a.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS O par de brincos da filha que venceu o desafio era de esmeraldas. Se a primeira irmã tivesse visto as outras duas com brincos de rubi, então teria certeza que seus brincos eram de esmeraldas. Se ela não teve certeza, é porque ou a segunda e a terceira estavam com brincos de esmeralda, ou estavam cada uma com um tipo de pedra. A segunda, por sua vez, caso tivesse visto a irmã com brincos de rubi, saberia que o seu par só poderia ser de esmeralda – senão, a primeira já teria vencido o desafio. Assim, a filha vencedora descobriu que carregava brincos de esmeraldas.

Tarcísio Meira

DE QUEM SÃOESTES OLHOS?

3 42

1

0

56

7

8Conte um ponto por resposta certa

valiação

teste o nível de sua brasilidade

1

2

3

4

ligue os ponTos

roBerTo

SeTToN

/ae

Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Malba Tahan (Record, 2009).

Frase em inglês proferida por Pelé em sua despedida dos campos, em 1/10/1977:(a) “Love, love, love” (b) “Soccer, soccer, soccer” (c) “I’m the king” (d) “I’ll be back”

Eleito prefeito de Porto Alegre em 3/5/1955:(a) Jango (b) Vargas (c) Falcão (d) Brizola

Autor do quadro conhecido como Grito do Ipiranga, morto em 7/10/1905:(a) Portinari (b) Pedro Américo (c) Di Cavalcanti (d) Heitor dos Prazeres

Lançada em 11/10/1905, é considerada a primeira revista infantil do Brasil:(a) Turma da Mônica (b) Amigo da Onça (c) O Tico-Tico (d) Menino Maluquinho

Em 13/10/1944, é fundado por Abdias do Nascimento o grupo teatral:(a) Teatro Experimental do Negro (b) Consciência Negra (c) Arena (d) TBC

O livro Olga, lançado em 16/10/1985, foi escrito por:(a) Ruy Castro (b) Luís Carlos Prestes (c) Caco Barcellos (d) Fernando Morais

Em 22/10/1937, a escritora Rachel de Queiroz é presa em Fortaleza, acusada de ser:(a) Comunista (b) Anarquista (c) Feminista (d) Capitalista

Piloto que, em 30/10/1987, tornou-se tricampeão mundial de Fórmula 1:(a) Nelson Piquet (b) Ayrton Senna (c) Chico Landi (d) Emerson Fittipaldi

a Ela fez tantas maldades que é considerada a maior vilã da teledramaturgia brasileira. O mistério sobre quem a matou durou 13 dias, tornando-se um dos assuntos mais comentados do País.

b A beata defendia as tradições e os bons costumes com unhas e dentes. Era a grande inimiga da irmã, que no último capítulo a deixou sem peruca na igreja.

c Valendo-se da semelhança física, a moça seduziu o namorado da irmã gêmea. Também atormentava a vida de um deficiente mental que fazia esculturas na areia, interpretado por Marcos Frota.

d A vilã roubou uma recém-nascida da maternidade e a criou como sua filha. Cometeu toda sorte de maldades para manter o segredo. A verdade só viria à tona 25 anos depois.

Joana Fomm

Renata Sorrah

Beatriz Segall

Glória Pires

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ilustrações: luciano tasso

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www.lucianotasso.blogspot.com

Seu nome é Brasil, mas pode chamar de Terra dos Passarinhos

Um dos maiores craques do futebol brasileiro colecionava passarinhos que ganhava da torcida e de autoridades em todos os lugares por onde passava. Talvez você não o conheça pelo nome, Manoel dos Santos, mas certamente sabe quem é o gênio das pernas tortas pelo apelido de passarinho que recebeu da irmã na infância.

SolUçÃo na p. 26

O que um passarinho

tem que nao o deixa

brigar com o outro?

Sozinhos, Brasil e Equador concentram metade das espécies conhecidas de beija-flor do mundo. os tamanhos deles variam, mas, em comum, essas aves de bico fino são as únicas capazes de voar para trás e permanecer imóveis no ar, como um helicóptero. Isso porque movimentam as asas de forma espantosamente rápida. as menores chegam a bater as asas 80 vezes por segundo. nós, que não vivemos sem piscar os olhos, em média fazemos isso 25 vezes por minuto. Isso quer dizer que, cada vez que você dá uma piscada, um beija-flor bate as asas 170 vezes! Incrível, não?

Já Pensou nisso?

Pardal pardo, por que parlas? Parlo porque sempre parlei, porque sou pardal pardo, parlador del-rei.

Trav

a-Língua

pa

ra ler e repetir em v

oz al

ta

para descobrir o nome do homenageado do mês, basta preencher o diagrama abaixo. o número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente do texto lá de cima. por exemplo: primeiro quadrinho, linha 1: G. E assim por diante.

1 3 2 2 5 7 9 4 3

g

á pensou se, em vez de brasileiro, você fosse papagaiense? por pouco os portugueses não escolheram Terra papagalli em vez de Brasil como nosso nome. É que aqui viviam muitos

papagaios quando os colonizadores chegaram. ainda bem que eles mudaram de ideia... passados cinco séculos, um decreto elegeu outro bichinho típico destas terras como nosso pássaro-símbolo, o sabiá-laranjeira. Graças a Gonçalves Dias, que tempos atrás escreveu o famoso verso que você deve conhecer: Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá.

De bichanos cantantes e voadores estamos bem mesmo. Com quase um metro de comprimento, a arara-azul-grande que vive aqui é a maior do planeta. Tem quase um metro de comprimento. Já o nosso menor passarinho é o beija-flor, que pode medir apenas seis centímetros. na amazônia é possível encontrar a mais forte ave de rapina do mundo. o gavião-real tem garras mais compridas que as de ursos e já foi flagrada carregando um macaco de seis quilos!

J

Biólogos de todo o mundo sempre quiseram saber por que, afinal, os tucanos têm aquele bicão enorme. Já pensaram que servia para descascar frutas, para atrair fêmeas ou brigar por território. Mas em 2006 dois pesquisadores brasileiros e um canadense finalmente encontraram a resposta: o bico serve para regular a temperatura do animal. Assim como os humanos suam e os cachorros babam, esses bichos usam o bico para liberar o calor do corpo. E tem mais: de noite, dormem abraçados a ele. Como esquentou durante o dia, o bico serve como uma espécie de aquecedor natural.

O mistério do tucano

Page 28: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

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Ao homenagear a padroeira do Pará, a festividade do Círio de Nazaré é o maior evento religioso do País. Se não move

montanhas, a fé brasileira chega perto disso, reunindo por horas uma verdadeira multidão em estrondosa festa.

primeira imagem de Nazaré, conta uma das mais anti-gas histórias do mundo, foi esculpida por José, o mar-

ceneiro, para dar a Maria. Mas, me diga: podia uma imagem viver tranquila em cima de uma mesinha qualquer? Podia não, e lá ia ela chacoalhando em cima de um burrico acompanhar as an-danças da Santa Família. Cruzou países e séculos, enquanto a vocação nazarena ia se multiplicando. Imagens foram parar na África, Espanha, Portugal. Uma delas veio junto com os coloni-zadores para Belém, no Pará. Ao chegar, Nazaré notou que tudo ali passava da conta: o sol, a quentura, os bichos, os rios, a chuva, o verde. Na época, sem nenhuma igrejinha para abrigá-la, ficava um pouquinho na casa de cada família. “E que gente boa é essa, meu Filho? Carinhosos, a me chamar de Nazinha, Naza, Mãezi-nha, e me enfeitando com flores.”

Certo dia, a bordo de um barco com uma família, pensou que ia para a casa de um ribeirinho. Mas quando escutou a prosa, viu que estavam indo para outro continente. “Fui não, Filho, e pulei na-quele aguão da Baía do Guajará.” O que ela não sabia é que estava em mês “bro” – como se diz por lá dos meses com essa terminação –, quando as águas incham e ficam um rebuliço só. Ah, que mundo de boniteza viu sob as águas ambarinas! Pra lá e pra cá, horas a fio, passavam pirarucus, piraíbas, jacarés-açus, sucuris, arraias e poraquês, só para citar os grandões. Viu mais: visagens, caruanas, a cobra de fogo, e o mais dos mais, a rainha daquele mundão aquático: Uiara. Quando Uiara mandava chamar seus filhos – Maré Viva, Repiquete, Correnteza, Rebojo, Preamar, Vazante, Maré Morta e a caçula Maré da Lua –, eles levantavam a onda grande da pororoca. Aí sim é que a folia pegava bonito.

CÍRIO DE NAZARÉ

A

www.almanaquebrasil.com.br

Pororoca de gente

Page 29: Almanaque Brasil 150 - Outubro 2011

29

Outubro 2011

Preste atençãoA corda é um dos mais emblemáticos simbolismos do Círio. Ela representa para os fiéis um sacrifício

sem precedentes. Feita em sisal torcido, pesa 700 quilos, tem duas polegadas de diâmetro e 400

metros de comprimento. Surgiu em uma procissão muitas décadas atrás, quando o carro que levava a berlinda ficou preso em um atoleiro. A partir de então, foi incorporada à festividade. No final da

peregrinação, é repartida entre os promesseiros.

DevoçãoCerto dia do ano de 1700, Nazaré estava entretida vendo as brin-cadeiras dos botos-cor-de-rosa, quando uma onda mais afoita car-regou a pequenina imagem, depositando-a na margem do igarapé Murutucu. Nessa hora, passava por ali o caboclo Plácido, que a levou para sua casinha. No dia seguinte, porém, ela havia sumido. Plácido foi encontrá-la na beira do mesmo igarapé. Depois do vaivém se repetir por várias vezes, o caboclo concluiu que Nazaré queria ficar ali. Começaram a acontecer curas e milagres, e os de-votos ergueram uma capelinha de taipa. De tanta gente a visitá-la, a igrejinha foi crescendo, enquanto tudo em volta crescia também.

A determinada altura, até governador devoto a santa tinha: dom Francisco Coutinho. Certa época, muito adoentado, ele fez pro-messa que conduziria a imagem, com uma grande vela de cera – ou círio, do latim cereus –, até o Palácio do Governo. Graça alcançada, promessa cumprida, foi assim que começou, em 1793, aquela que se tornaria a maior festa religiosa do Brasil, o Círio de Nazaré.

Ondas de fiéisToda segunda sexta-feira de outubro Nossa Senhora de Nazaré inicia seu passeio. Mas não vai sozinha não, pois gosta de companhia. E muita. Começa com a romaria rodoviária até Icoaraci, lugar reno-mado pela cerâmica com jeitão dos índios marajoaras. Na manhã seguinte, vai para o trapiche, onde embarca na corveta Garnier Sampaio, da marinha brasileira. É o Círio das Águas, na baía do Gua-jará, ao lado de centenas de barcos enfeitados com bandeiras, flores e balões coloridos. Chegando às docas, em frente à igreja da Sé, é re-cebida com honras de chefe de Estado e conduzida ao colégio Gentil Bittencourt. De noite acontece a transladação até a catedral metro-politana, acompanhada por centenas de romeiros com velas acesas.

Tá pensando que acabou? Nem bem começou. Domingo de madrugada tem início o grande dia do Círio. A imagem de Na-zaré, em berlinda ornamentada com milhares de flores, retorna à basílica, caminhando ao lado de mais de dois milhões de fiéis durante seis ou sete horas, debaixo daquele solão. Nesse dia, a rainha de Nazaré pode dizer para a rainha das águas: “Êba, Uiara, minha pororoca é de gente”.

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30

www.almanaquebrasil.com.br

Onde ficarSoft Inn Batista Campos • Localizado no bairro de Umarizal, tem piscina, solarium e restaurante com pratos da culinária internacional. Fone: 0800 283-9988. www.gruposolare.com.br.Hilton • Fica bem em frente ao histórico Teatro da Paz, no bairro de Campina. Fone: (91) 4006-7002. www.belemhilton.com.

se rviço

Onde comerDivina Comida • O nome não mente: o restaurante oferece manjares dos anjos em pratos a base de peixes ou carnes, acompanhados de saladas frescas. Fone: (91) 3222-4045. www.divinacomida.com.br.Famiglia Sicilia • Na mesa, especialidades do chef Fabio Sicilia, como penne ao molho de limão. Fone: (91) 4008-0001. www.domgiuseppe.com.br

Almoço do Círio Quando termina o cortejo de domingo, as famílias paraenses se confraternizam em torno das mesas fartas onde não podem faltar a maniçoba e o pato no tucupi, sumo dourado e perfumadíssimo da mandioca.

Carros do CírioOutro signo emblemático são os 13 carros que acompanham a procissão, entre eles o barco das promessas, o carro do anjo Custódio – cuja origem remonta a 1855 –, com crianças vestidas de anjinhos, o carro do caboclo Plácido e a barca portuguesa Xávega.

O Círio tem mais

Coisa que não pode faltar na sacola do viajante é um brinquedinho de miriti, o mais delicado e colorido símbolo

nazareno. Artesãos esculpem a polpa macia e esponjosa do caule do miritizeiro, dando forma de peixes, jacarés, caboclos

remadores, casais dançando forró, casamentos caboclos, barquinhos, vendedores de brinquedo, além de engenhocas

articuladas, como pombinhas bicando milho e bonecos batendo pilão.

A TAM oferece voos diretos para Belém, partindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br.

Não deixe de admirar

Basílica santuário de NazaréInspirada na Igreja de São Paulo, em Roma, foi projetada pelos arquitetos italianos Gino Coppedé e Giuseppe Pedrasso. Em seu interior, anjos estão reproduzidos em mosaico, mármore, madeira, nos afrescos e em vitrais vindos da França. No altar-mor se aninha a modesta imagem original, com apenas 30 centímetros de altura, encontrada por Plácido.

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GUAPURUVU

Uma estrela sul-americana

Desde o tempo das caravelas o guapuruvu fascinava navegantes com seu amarelo-ouro

avistado do Atlântico. De fácil manejo, rápido crescimento, serve para reflorestar matas

devastadas. Quase extinto no Sul, recuperou-se e virou árvore-símbolo de Florianópolis.

odo começo de outubro, as encostas de Florianópolis

de repente amanhecem enfeitadas de amarelo vivo. Assim ficam até dezembro, pintadas pelas flores dos guapuruvus. Desde meados do século 18, navegadores que apor-tavam na Ilha de Santa Catarina registravam seu deslumbre com a visão do atual Morro da Cruz, todo verde e salpicado de dourado, tal co-mo uma gigantesca aquarela.

Magaly Mendonça, catarinense de Itajaí, desde 1992 professora na Uni-versidade Federal de Santa Catarina – onde se formou –, observa a árvore do ponto de vista de sua profissão: geógrafa. Mas ri e cora ao recor-dar uma cena da infância: “Meu avô fazia espingardinha com guapuruvu para o meu irmão, e meu irmão quebrava ela na minha cabeça”.

Ainda bem que é madeira leve e macia. Para a netinha, o avô esculpia brinquedos de menina, como ferrinho de passar roupa de boneca. O uso mais comum, porém, sempre foi, lem-bra Magaly, fabricar canoas – “a árvore é grossa, faziam de um tronco só”. Graças aos mais de 80 centímetros de diâmetro do tronco, esculpiam “canoa de um pau só”, tipo batelão; e “canoa

bordada”, nome que se deve à bor-da acrescentada pelos pescadores

à canoa inteiriça, para deixá-la mais alta. Assim, podiam entrar em mar

agitado sem inundar a embarcação. O fabrico de canoas foi uma das razões pa-ra o quase desaparecimento da árvore no

litoral sul. Mas a razão mais antiga está na índole dos primeiros povoadores depois

dos carijós. Vieram de um arquipélago de ilhas vulcânicas, os Açores.

“Os açorianos plantavam nas encostas, lá muito férteis. Aqui, desde 1745 plantaram mandioca e cana-de-açúcar, principal-mente. O solo empobreceu e, a partir de 1950, eles se voltaram para a pesca. Os pescadores passaram a usar intensivamente a árvore para suas canoas. Antes que o guapuruvu fosse extinto, o poder público proibiu o corte”, diz Magaly.

Do ponto de vista da geógrafa, o fato de estar nascendo guapuruvu denota que se trata de mata secundária, ou seja, regenerada. No caso, Mata Atlântica. É planta nativa de rápi-do crescimento e, segundo a professora, a primeira que apa-rece quando param de desmatar. Traz dupla mensagem, diz Magaly: “Primeiro, se vemos a encosta cheia de guapuruvu, já sabemos que mexeram na mata; segundo, que é possível regenerar aquela mata”.

E o popular guapuruvu voltou a florir e se tornou árvore- símbolo de Florianópolis.

Schizolobium parahyba

T

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33

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella ([email protected])

P

SAIBA MAIS

Árvores Brasileiras, volumes 1, 2 e 3, de Harri Lorenzi (Plantarum, 2008/2009). Clube da Semente do Brasil: www.clubedasemente.org.br.

resente da Bahia até o Rio Grande do Sul, vai mudando de nome Brasil afora: bacurubu, badarra, ficheira;

pau-de-vintém, birosca, gapiruvu, pataqueira; bacuruva, pau-de-tamanco, faveira.

Árvore de até 30 metros, tronco reto, majestoso, casca cin-zenta, flores grandes, cresce em clareiras abertas pelo ho-mem ou por fenômenos naturais. Também enfeita matas de vários vizinhos: Bolívia, Paraguai, Venezuela, Equador, Pa-namá, Nicarágua, Honduras, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Belize e México.

Atenção, não serve para enfeitar

o jardim

Enfeita aqui, enfeita acolá, do Paraguai

até o México

ois músicos florianopolitanos, Reginaldo Osvaldo da Silva, o Regi, e Alexandro Heidenreich, o Kalunga, ao

celebrar em tocante canção as belezas da ilha, a primeira lembrança que lhes veio foi a árvore que, desde 1992, por lei municipal, simboliza Florianópolis: Floripa florida / És a ilha mais linda / Floripa florida / És ainda mais linda / No seio da mata meu guapuruvu / Orquídea, bromélia, aroeira, inhambu / Achei na figueira toca de tatu / Sabiá-laranjeira cessou vento sul / Chegou primavera.

D

Ele chega com a primavera

N ilson Nicodemus Frutuoso, o Taba, florianopo-litano de 59 anos, lidou a vida toda com gua-

puruvu. De sua madeira, fácil de entalhar, o avô fazia canoas. O menino da Costa da Lagoa não saía da casa do avô, com quem aprendeu a fazer barcos de brin-quedo e de verdade.

Agora que é proibido abater a árvore, Taba, com galhos caídos, esculpe barquinhos que já foram pa-rar nos Estados Unidos, Chile, Japão, Nova Zelândia e Itália, levados por turistas a preços de 100 a 2 mil reais. É seu passatempo enquanto toca com a mulher a pousada-restaurante Bela Ilha.

Com Taba sabemos que essa madeira é macia até ao tato e tem cheiro adocicado. Mostra encosta aci-ma, colado numa casa, um exemplar que estima ter 25 anos. “Logo, logo, o morador vai ter de requerer licença para abater, porque qualquer ventania desprende galhos que podem acertar a casa, animais, gente”, adverte ele.

Taba explica que o guapuruvu serve ao reflorestamen-to em campo aberto mas, apesar da beleza, não serve para quintais. Que pena.

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Causos de Rolando Boldrin

34

O caboclo Gervásio, lá dos fundões do interior de São Paulo, é um tipo amalandrado. Trabalha duro na roça, ama a mulher, mas gosta de tomar a marvada no fim do dia. A comadre é que não gosta muito das bebedeiras do marido, mas toda vez ele vai dando um jeito de dobrar a coitada. Teve um dia que Gervásio foi saindo, pé ante pé, rumo ao bar mais perto de casa. A mulher já foi logo avisando:Mulher – Ocê vai, Gervásio, mas meia-noite eu

fecho a porta.Gervásio – Pode confiar, docinho. Antes da

meia-noite eu tô aqui!Ele se foi. Só que emenda conversa com um,

conta um causo de pescador pra outro, o tempo foi indo. Quando viu, já era tarde demais. O su-jeito vai pra casa, chega perto da porta devagar e, quando vai bater, o sino da igreja toca uma vez. E dá-lhe aquele barulho imponente que só igreja do interior tem, que ecoa nas montanhas lá longe. Ele arrisca bater na porta mesmo assim.

Mulher – Eu não falei que ocê não entrava depois da meia noite? Já é uma da manhã, seu bebum.Gervásio – É nada, mulher… Bateu 10 horas

agorinha mesmo...Mulher – Que nada, homem! O sino bateu uma

vez só, não ouviu?Gervásio – E ocê queria que ele batesse o

“0” como?Podia estar bêbado, mas Gervásio era malandro

que só vendo.

Gervásio e o sino

Sob juramento– Você parece ter uma inteligência acima da média – diz o advogado a uma testemunha, para bajulá-la.– Obrigada. Se eu não estivesse sob juramento, retribuiria o elogio.

Mulher desconhecida– Mãe, é verdade que em alguns lugares do mundo a mulher não conhece o marido até se casar?E a mãe, resignada, olhando o maridão dormindo no sofá:– Aqui também é assim, minha filha.

Roubo de carroA jovem, que tinha pedido o carro emprestado do pai, volta desesperada:– Pai, roubaram o carro! – Calma, filha. Você consegue identificar os ladrões? – Não, mas eu anotei a placa!

Capiau na mecânicaO caipira arrumou emprego de ajudante numa oficina. O dono o chama para uma primeira tarefa:– Preciso arrumar o pisca-pisca deste carro. Vá lá atrás e diga se está funcionando.O capiau observa a lanterna traseira na maior atenção:– Funciona. Não funciona. Funciona. Não funciona.

Bilhete premiadoA mulher pergunta ao marido:– O que você faria se eu ganhasse na loteria?– Ora, eu pegaria a minha metade e deixaria você!– Ótimo, ganhei 100 reais na raspadinha. Pega aqui seus 50 e some!

Olho de peixeA pedicure examina a moça não lá muito inteligente:– Sabia que você tem olho de peixe?– E a senhora tem cara de vaca!

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