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68 www.backstage.com.br CAPA 68 Alinhamento de sistemas sonoros: afinando o instrumento A Alinhamento Não são só os instrumentos que têm de ser afinados. O sistema de sonorização também tem de passar por um processo de ajuste antes de cada show: é o chamado alinhamento. Alguns dos técnicos mais prestigiados do país, de vários segmentos, falam de suas experiências com o alinhamento de sistemas sonoros. de sistemas sonoros: afinando o instrumento Miguel Sá [email protected] ntes de cada show, os músicos - ou os roadies - afinam os instru- mentos para que eles soem de for- ma harmônica e correta. O som também tem de passar por uma espécie de afina- ção: é o alinhamento do sistema sonoro. Carlos Correia, projetista, técnico de som e consultor, define o processo como “me- dição, análise e posterior correção, visan- do à integração eletroacústica dos com- ponentes de um sistema de reprodução sonora”. Para Peter Racy, técnico da Gabisom, alinhamento é “um ajuste fino ou otimização do sistema como um todo, para que seus vários componentes traba- lhem integrados se adequando da melhor forma possível à situação (do local de show)”. Marcelo Claret, sound designer, técnico de som e diretor do IAV, lembra que o sistema deve trabalhar dentro da margem de segurança com equilíbrio na extensão de resposta de freqüência e en- tre as regiões de freqüência. O alinhamento sonoro ocorre tanto no sistema de P.A. como no palco, mas com objetivos diferentes. No primeiro, a preo- cupação é ajustar os componentes do sis- tema de reprodução entre si, com ade- quação ao local da apresentação. No pal- co, é feito um trabalho de ajuste do siste- ma de side fill, levando em conta as sobras do sistema de P.A e o tipo de monitoração que os músicos usam: in-ear, caixas de monitores ou ambos, como explica Ricar- do Mizutani. “No palco, em ambientes fechados, a ‘volta’ do som do P.A. é uma parcela muito importante no somatório do que se ouve. Diferentes métodos de trabalho vão surgir se o artista usa, ou Foto: Divulgação

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AlinhamentoNão são só os instrumentos que têm de ser afinados. O sistema desonorização também tem de passar por um processo de ajuste antes decada show: é o chamado alinhamento. Alguns dos técnicos maisprestigiados do país, de vários segmentos, falam de suas experiênciascom o alinhamento de sistemas sonoros.

de sistemas sonoros: afinando o instrumento

Miguel Sá

[email protected]

ntes de cada show, os músicos -ou os roadies - afinam os instru-mentos para que eles soem de for-

ma harmônica e correta. O som tambémtem de passar por uma espécie de afina-ção: é o alinhamento do sistema sonoro.Carlos Correia, projetista, técnico de some consultor, define o processo como “me-dição, análise e posterior correção, visan-do à integração eletroacústica dos com-ponentes de um sistema de reproduçãosonora”. Para Peter Racy, técnico daGabisom, alinhamento é “um ajuste fino

ou otimização do sistema como um todo,para que seus vários componentes traba-lhem integrados se adequando da melhorforma possível à situação (do local deshow)”. Marcelo Claret, sound designer,técnico de som e diretor do IAV, lembraque o sistema deve trabalhar dentro damargem de segurança com equilíbrio naextensão de resposta de freqüência e en-tre as regiões de freqüência.

O alinhamento sonoro ocorre tanto nosistema de P.A. como no palco, mas comobjetivos diferentes. No primeiro, a preo-

cupação é ajustar os componentes do sis-tema de reprodução entre si, com ade-quação ao local da apresentação. No pal-co, é feito um trabalho de ajuste do siste-ma de side fill, levando em conta as sobrasdo sistema de P.A e o tipo de monitoraçãoque os músicos usam: in-ear, caixas demonitores ou ambos, como explica Ricar-do Mizutani. “No palco, em ambientesfechados, a ‘volta’ do som do P.A. é umaparcela muito importante no somatóriodo que se ouve. Diferentes métodos detrabalho vão surgir se o artista usa, ou

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não, in-ear. Tem uns que usam fone ape-nas de um lado, lamentavelmente. Ou-tros usam caixa e fones. Enfim, o técnicode palco deverá se virar para que estasoma confusa de sons possa estar próximado que o artista, ou músico, deseja emseu ouvido”, conclui.

Hoje, por causa da tecnologia digital,o alinhamento de sistemas passa por umprocesso de aumento de precisão. Antes,era um processo empírico de montagemcom bastante equalização, onde não erapossível sequer ajustar os delays entre asregiões de freqüências. Hoje, com o usode softwares de medição, como o SmaartLive e o advento dos line arrays, com seusprogramas próprios de alinhamento, ficacada vez mais difícil errar. Algumas dasprincipais ferramentas para o alinhamen-to são os softwares de análise (Smaart,SIM, Spectra Full e outros), analisadoresde espectro, equalizadores paramétricos,gráficos e processadores de sistema desonorização, como XTA ou BSS, além, éclaro, dos ouvidos.

Passo a passoMarcelo Claret destaca a importância

não só do alinhamento das freqüências,mas também da freqüência em funçãodo tempo. Isso garante que não haja in-terferências destrutivas do tipo combfilter ou cancelamentos de fase. O ali-nhamento das freqüências garante oequilíbrio entre os graves, médios e agu-dos. Carlos Correia resume os passos daforma como faz o alinhamento dos siste-

mas: “O primeiro é a medição, a análiseacústica e o diagnóstico dos possíveis pro-blemas do sistema; depois, passamos àfase dos ajustes de fase e tempo entre oscomponentes, níveis entre as diversas fai-xas de freqüências e depois fazemos umaaudição com música para que possamoster uma idéia dos resultados. Caso nãonos agrade, fazemos tudo novamente atéque consideremos o resultado satis-fatório”, conclui. Peter Racy esmiuça aforma como trabalha no seu dia-a-dia.Ele ressalta que parte do princípio de queo sistema seja bem dimensionado para asituação na qual será utilizado em termosde potência, cobertura e qualidade dosom. Também é necessário que o sistemaesteja corretamente setorizado e quehaja controle suficiente de cada zona desonorização (ganho, delay e equalizaçãoem cada ramal). É preciso ainda que osistema esteja corretamente instalado,respeitando os parâmetros definidos du-rante o projeto. “Podemos então pensarem integrar todos os subsistemas e setoresde modo a obter uma cobertura homogê-nea de toda a área sonorizada”, comenta.

Há várias situações diferentes pelas

quais o técnico pode passar ao montaruma sonorização. Desde um sistema sim-plificado, onde há apenas L&R e sub-graves, até sistemas complexos, como odo show dos Rolling Stones, onde foi fei-ta a sonorização da praia de Copacabanaem uma extensão de mais de um quilô-metro, com diversas torres de delay. “Emum sistema simplificado não há muito ase fazer além de certificar-se que todas asáreas estão cobertas pelo L&R, acertar afase do L&R em relação ao subgrave e,com um equalizador, filtrar algumas fre-qüências indesejáveis que podem serconseqüência do próprio sistema ou dasala reagindo ao sistema”, comenta Peter.“Em sistemas mais complexos, temos ain-da que integrar diversos subsistemas como objetivo de formar uma cobertura uni-forme e coesa. Na Gabisom, tive a opor-tunidade assistir a inúmeros “gurus” ecada um tem seu método particular. An-tes de iniciar um procedimento de análi-se, todos, sem exceção, fazem a verifica-ção de cada ramal (ganho, delay, equa-lização, microfone) para certificar-se deque está tudo conectado corretamente”.

De acordo com Peter, em geral, o pro-

Hoje, por causa da tecnologia digital,o alinhamento de sistemas passa por um

processo de aumento de precisão. Antes, eraum processo empírico de montagem

com bastante equalização

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cesso acontece da se-guinte forma: “Geran-do pink noise, abre-seuma via de cada vez econfere-se cada canalde amplificação inde-pendentemente”. Nes-te momento, o profissi-onal procura identificarse há vias trocadas ecomponentes ou equipa-mentos danificados. De-pois, é feita uma com-paração do L&R das vi-as das altas freqüências,médias e graves paradetectar desequilíbrioentre um lado e outro.O próximo estágio é ligar apenas a via degraves e somá-la à de subgraves para veri-ficar se elas estão somando ou se é neces-sário inverter a polaridade da via desubgraves para que haja esta soma. “Paraquem não utiliza software para auxiliarna análise, existem truques, como gerarum sinal entre 60 a 80Hz em ambas asvias, inverter a polaridade de uma via, ecaçar um ponto nulo enquanto se ajustao delay do sub. A fase do sub estaráotimizada com o grave apenas naquelafreqüência escolhida. As demais fre-qüências estarão bem próximas, mas nãootimizadas. Portanto, a escolha desta fre-qüência deve ser feita de forma consci-ente, levando em conta o tipo de música,a resposta do equipamento, o local, etc.”.

Quando esta parte do processo se en-cerra, o técnico pode tocar alguma músi-ca de referência no sistema e andar pelolocal do show para ter uma primeira im-pressão da sonoridade do sistema na sala,identificando possíveis correções na res-posta. “Tudo conferido, partimos para aanálise inicial, onde levantamos a respos-ta do sistema principal à procura de algu-ma anomalia. Pode ser um excesso ou fal-ta de resposta em determinada região de

freqüência” diz Peter, que faz algumasobservações: “quando usamos instru-mentos para análise, é importante traba-lhar com apenas um lado do P.A. ligado eo microfone posicionado no eixo centraldele e a uma distância média. A diferen-ça no tempo de chegada de dois P.As aomicrofone causará erros de leitura”.

Existem muitos problemas que podemacontecer na resposta de um P.A. Há téc-nicos que já procuram logo o equalizadorpara resolvê-los, mas isto pode não ser aatitude mais correta. “Pode ser posicio-namento do P.A., emitindo muita ener-gia sobre uma superfície causando fortes

reflexões que cancelamcom o som direto. Podeser devido ao equipa-mento não ter um bomcontrole de diretivi-dade e produzir o fa-moso ‘comb filter’, devi-do à interação caóticaentre os próprios com-ponentes do P.A. Na ma-ioria dos casos , equa-lizador deve ser o últimorecurso para correção,depois de tentadas to-das as outras possíveissoluções: reposiciona-mento do PA, revesti-mento de superfícies,

atenuação, etc”. Peter ainda fala sobre oquanto prefere utilizar equalizadoresparamétricos para a equalização do siste-ma quando isto é possível. “É preferívelutilizar equalizadores paramétricos deboa qualidade no sistema. Além de ofe-recerem mais flexibilidade e precisão doque os gráficos, em geral introduzemmenos deslocamento de fase”, afirma. “Éclaro que estes equalizadores serão utili-zados apenas para cortes. Nunca para ‘pu-xar’ uma região, pois o headroom do siste-ma diminuirá muito. Os estágios seguin-tes começarão a clipar muito cedo, dimi-nuindo a eficiência e o volume final”,ressalta. Resolvidos os fenômenos maisaparentes, devemos ter uma curva deresposta sensata e que agrade aos ouvi-dos”, afirma o técnico Peter Racy.

Os mesmos procedimentos devem sertomados com relação aos subsistemas.Deve-se ter o cuidado de fazer o alinha-mento apenas com o subsistema a ser ali-nhado ligado e com o microfone de aná-lise posicionado na frente dele, semprecom referência na curva de resposta P.A.principal. É importantíssimo acertar odelay e o volume entre o P.A. principal eos subsistemas de forma que pareça que

“Quando usamosinstrumentos para

análise, é importantetrabalhar com apenas um

lado do P.A. ligado e omicrofone posicionado noeixo central dele e a umadistância média” (Peter)

Tela do Smaart Live

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o som tenha origem psicoacústica no P.A.principal e que os sistemas de delay efront fill não se sobressaiam. “Mais umpasseio por toda a área sonorizada, ouvin-do música, confirmará se está tudo certoou se algo precisa ser reajustado, dandoatenção especial às zonas de interseçãode dois ou mais subsistemas. Note se a

interação destes subsistemas provoca al-guma anomalia. Usando os ouvidos, con-fira os tempos de delay de diversos pon-tos. O tempo que funciona bem na fren-te pode não funcionar tão bem para as la-terais. Encontra-se um tempo médio”.

Line arrayO line array representou muita mu-

dança na forma como se faz o áudio, enão poderia ser diferente no que diz res-peito à forma de se alinhar o sistema. Oline array não é apenas um “ajuntamen-to” de caixas: é um sistema que, parafuncionar em sua plenitude, depende de

posicionamento correto e processamentoadequado. “Se não houver o alinhamen-to correto, do ponto de vista de empi-lhamento, do ângulo de curvatura e como alinhamento no tempo para depois fa-zer a equalização, pode jogar tudo fora”,comenta Claret.

Uma das características mais marcan-tes deste tipo de sistema é o controle dediretividade do som. Antes de ser mon-tado, é feito um projeto da sonorizaçãoutilizando o software proprietário decada sistema. Utilizando os dados colo-cados pelo sound designer, o softwareajuda a evitar problemas como reba-timentos no teto e laterais, além de umaconcentração racional de energia sonoranos lugares certos do local do show. Mas amontagem precisa realmente ser feita deforma correta, de acordo com as especi-ficações. “No meu entendimento, a prin-cipal diferença de procedimento no ali-nhamento entre o line array e o sistemaconvencional está na montagem e posi-cionamento correto do line array em re-lação à área a ser sonorizada”, comentaCarlos Correia.

Mizutani relembra que “o grandeavanço dos modernos line arrays não estásomente na melhor cobertura, está antesde tudo na possibilidade da predição dosistema e conseqüente padronização demontagem. Os modernos line arrays - osverdadeiros - vêm com um software. Pelaprimeira vez nos é oferecido um métodoque vai muito além do ‘achismo’. Osoftware auxilia o técnico da empresa de

“Se não houver oalinhamento correto,do ponto de vista deempilhamento, do

ângulo de curvatura ecom o alinhamento no

tempo, pode jogartudo fora” (Claret)

Sérgio Jachelli Marcos Ski

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alinhados, o que não acontece mais hoje.“Melhorou em geral”, afirma Sérgio. “Asfirmas ‘cansadas’ continuam (a traba-lhar), mas nós não temos pegado maiselas”, conta. “Há mais respeito pelo artistagospel”. Em todo o caso, o técnico sempreleva CDs de referência com ruído rosa emúsica, além de um analisador de espec-tro P.A.s para evitar maiores surpresas.

Mizutani lembra que os equipamentosusados também podem trazer problemasna hora de trabalhar. “A maioria dostransdutores vendidos no mercado queequipam os sistemas mais comuns desonorização profissional é de boa qualida-de, mesmo os nacionais. As falhas estãono projeto de caixa e alinhamento inade-quados, na maioria das vezes. Quanto aoprojeto da caixa, como técnicos operado-res, não podemos fazer muito a respeito.Mas se temos a ampla liberdade de alteraralguns parâmetros do processador digital,é possível melhorar muito a performancedo sistema. Enfim, com recursos em mãos,é possível equilibrar a resposta de freqüên-cia, melhorar a percepção da resposta atransientes, uniformizar a cobertura comcortes mais adequados, diminuir a distor-ção etc. Mas lembre-se que isso não é umatarefa para todos: é necessário um bomconhecimento de eletroacústica para semexer na ‘intimidade’ de um processadorde sistemas, ou algum alto-falante pode irpara o espaço”, previne.

O técnico Marcos Ski, que faz o mo-nitor da dupla Gean e Geovani e tambémjá trabalhou como técnico de P.A, conta

que, nas viagens pelo Brasil, encontra-se,por exemplo, muitos sistemas fora defase. Algumas vezes é necessário mexerno alinhamento de som para obter o mí-nimo de qualidade. “Pegamos todos ostipos de sistemas, do A ao Z”, diz, se refe-rindo à qualidade das sonorizações queencontra pelo país. Ele comenta o aumentodo número de line arrays, tanto nacionaiscomo importados, como Attack, Seleniume D.A.S., mas lamenta muito quando aequipe técnica encontra um daquelesequipamentos que copiam, de forma er-rada, equipamentos de marcas famosasou os “line array covers” que já surgempelos grotões do Brasil.

ResponsabilidadeMas e quando não tem jeito? E quan-

do o sistema está realmente montado deforma totalmente inadequada? “Sempretem de haver algum tipo de alinhamentodo sistema, mesmo que não seja comple-to, perfeito ou do nosso agrado. Casocontrário, não se consegue trabalhar,nem de modo precário”, expõe CarlosCorreia. “Eu já passei várias situações mui-to problemáticas onde tive até que des-montar e remontar completamente o siste-ma sonoro, ou o show não poderia ter ocor-rido”, conclui, ressaltando que se deve tertato com os profissionais que montaram osistema de forma inadequada.

E de quem seria a responsabilidadepelo alinhamento? A princípio, todos res-pondem que é da empresa de sono-rização, mas Marcelo Claret lembra deum detalhe: depende da função para aqual a empresa foi contratada. Se a em-presa foi chamada apenas para a locaçãode equipamento, o responsável pelo ajus-te do sistema de sonorização seria umprofissional contratado pela organizaçãodo show ou evento. Segundo ele e os ou-tros técnicos, as principais empresas desonorização têm uma preocupação como alinhamento correto do som.

som a determinar o número adequadode elementos (as caixas), a altura e incli-nação do bumper, a curvatura mais ade-quada entre os elementos, etc. Se antesnão havia uma padronização, agora, comos line arrays, é possível reduzirmos o le-que de resultados ótimos para um deter-minado ambiente”.

Condições adversasMarcelo Claret comenta que um pla-

nejamento de turnê e um projeto adequa-do de sonorização são o primeiro passopara um alinhamento adequado. “Vocêchega lá e faz só o que é possível, mas aí jápartiu de uma premissa errada”. Segundoele, a falta de tempo para realizar as coisascorretamente, a falta de planejamento eaté de pessoas capacitadas para realizar oestudo da melhor maneira de sonorizar olocal pode prejudicar o processo de ali-nhamento. Ele ainda lembra da confusãoque, às vezes, é feita entre equalização dosistema e alinhamento propriamente dito.Mizutani completa dizendo que entre asdez mil possíveis causas para um som ruim,“a primeira, com certeza, seria um alinha-mento inadequado. Em um sistema malalinhado você é obrigado a ‘entortar’ mui-to a equalização de cada instrumento.Como o equalizador de canal da mesa demixagem possui no máximo quatro ban-das, fora o filtro passa-altas, em um instru-mento de largo espectro acabam faltandorecursos para deixar o som dele mais natu-ral, mais real. Então, aquela conga, porexemplo, não soa como conga, faltam har-mônicos. Mas não é só ela. Some-se aque-le tamborim que não soa como tambo-rim, mais aquele baixo de uma nota só,mais aquela guitarra muito abafada,mais a voz fanha, etc. Enfim, a mixagemjá nasce comprometida se o alinhamen-to for ruim”, conclui.

Sérgio Jachelli, que faz o P.A. da can-tora gospel Aline Barros, lembra que erafreqüente encontrar equipamentos não

Peter Racy (centro) alinha o som dos Stones

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Miguel Sá[email protected]

e o alinhamento sonoro na era digital

Fabrício Neiva

Fabrício Neiva, técnico de P.A. do grupo Uakti, ex–técnico do Skank econsultor da Serenata Musical, faz comparações entre os sistemas desom de ontem e de hoje e fala sobre o uso da tecnologia digital noalinhamento de sistemas sonoros.

Otécnico de som Fabrício Neivanão pára. Entre os shows do gru-po mineiro Uakti, presta consul-

toria para os clientes da Serenata Mu-sical, em Belo Horizonte, ajudando-osa entenderem suas novas consoles di-gitais. Foi durante esses trabalhos deconsultoria que ele tomou contatocom equipamentos, como o programaSmaart Live, que faz medições queajudam muito no trabalho de alinha-mento de um sistema sonoro. Entre asdificuldades do passado e as ferramen-tas do presente, Fabrício Neiva nosconta um pouco da sua experiênciacom alinhamento de sistemas de som.

Revista Backstage - Para que se faz

o alinhamento de um sistema sonoro?

Fabrício Neiva – Todo o alinha-mento que a gente faz é para tentarfazer que essas duas fontes, ou vinte etrinta, como a gente tem em um P.A.,se comportem como uma só. Hoje, (ossistemas sonoros) têm subgraves, falan-tes de 15”, 10”, e drivers, e cada siste-ma tem os seus componentes. Dentrode cada caixa, as bobinas têm suas di-ferenças entre elas, e precisamos colo-car isso em ordem. Também precisaque tenha uma cobertura sonora, den-tro do ambiente em que queira fazer osom, para que todas as pessoas ouçam amesma coisa. Isso seria o alinhamento:

colocar tudo isso em ordem de modo queo som saia parecendo ser de uma fontesó, e que ela faça a cobertura de toda asua área.

Que tipo de equipamento se usa

para isto?

Fabrício – Hoje, nos sistemas maisdesenvolvidos, para uma otimização me-lhor das caixas, existem os processadoresdigitais. Antigamente era o crossover,que tinha somente as freqüências de

corte. Depois, começou a inversão defase. Com os processadores digitais con-seguimos fazer o equilíbrio entre as cai-xas e se você usa amplificadores de mo-delos diferentes pode ajustar o nível en-tre eles. Para a leitura de freqüências, oque todo mundo usava era o analisadorde espectro, que ainda é uma ferramen-

ta essencial. É um instrumento para seorientar. Hoje, já existem softwaresbem sofisticados. O que se usa maishoje é o Smaart Live.

Como é o passo-a-passo do processo?

Fabrício - A primeira coisa que setem de fazer é a definição de como vaiser o delay entre as bobinas - a fábricainforma (as diferenças entre as bobi-nas) - e colocar estes dados no proces-sador. Em segundo lugar, vem a estru-tura de ganho. Os limiters são a prote-ção que vai ter para o sistema. Depois,vai começar a ouvir e equalizar. Hojeem dia, dá para equalizar as bandas deforma independente nos processa-dores. A partir daí, começa a melhorara eficiência do seu som. Os softwares eanalisadores servem para lhe dar umaorientação melhor. Uma curva retinhanão significa que o som está bom. Oque define um som bom é o ouvido. Sehouver um comb filter, se você perce-ber e não souber exatamente a região,os instrumentos auxiliam para fazeruma correção mais precisa. Uma vez,estava fazendo um show em um giná-sio de péssima acústica e estava so-brando uma freqüência que eu escu-tava uma e o analisador mostrava ou-tra. Eu ia na minha, mas eu estava es-cutando o primeiro harmônico, que olocal refletia mais (do que a funda-

Os limiters são aproteção que vai

ter para o sistema.Hoje em dia, dápara equalizar asbandas de formaindependente nos

processadores

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mental). Eu tirava esse harmônico e nãoresolvia. Tinha que tirar a fundamental.Quando vi, o analisador tinha acertado.Essa é a utilidade do aparelho.

A finalização é no equalizador grá-fico ou paramétrico que fica na saídada mesa, que você equaliza a seu gos-to. Hoje, os sistemas de line array têmuma outra maneira de se trabalhar.Normalmente, eles já vêm com o seuprocessamento. Eles (as fábricas dosline arrays) indicam o processador, ospapers têm os valores todos definidos,você não tem que se preocupar comisso. E existe um negócio muito bomhoje que são os programas que cada linearray tem para alinhamento do sistema.

Quando você obedece a todas essasnormas, a eficiência dos sistemas au-menta muito. A cobertura fica igual(em toda a área do show), e é o sonhode todo mundo o cara que está a dezmetros da caixa ouvir o mesmo som doque está a quarenta ou cinqüentametros. Hoje se trabalha com essa pre-cisão no áudio, mas exige conheci-mento. As pessoas têm de estudar maise não ter medo de trabalhar no soft-

ware. E para trabalhar com precisãoem áudio, precisa ter precisão na mon-tagem. Isto é fundamental. Esses linearrays que não têm software não estão

cumprindo isto. Line array não são cai-xas. É um sistema de precisão e precisaobedecer ao que ele fala. Tem de ter comum sistema desses um inclinômetro digi-tal e também uma trena eletrônica paramedir distâncias.

E como o alinhamento era feito antes

do digital?

Fabrício – Antigamente, você nãoconseguia mexer no delay entre as bobi-nas. Havia alguns processadores, os pri-meiros, que eram fixos. Então, não im-portava se na sua caixa era melhor cortar,por exemplo, em 200 Hz ou 250 Hz. Ocrossover vinha com 200Hz e tinha queobedecer aquilo ali. Depois, a gente co-meçou a variar o ponto de corte, aí come-çou a melhorar. Depois, vieram as inver-sões de fase, que foi a primeira forma dealinhamento da bobina. Depois, com osprocessamentos digitais, foi corrigindotudo isso. Um dos sonhos que eu tenhoera voltar no tempo para tentar lembrarcomo era aquele som. Eu achava bompara a época. Você só vai achar bom umMercedes quando andar em um.

Qual é a importância dos recursos

digitais?

Fabrício - Passei a errar menos e con-seguir um padrão sonoro, apesar dos dife-rentes modelos de caixas. Isso é quaseimpossível, mas você chega dentro deum padrão aceitável de variação. Comestes softwares aprendi, primeiro, a errarmenos. Eles analisam o som que vocêestá fazendo com o que você está ouvin-do no P.A. Ele compara os dois e vocêconsegue enxergar essa comparação, veronde pode estar errando. O Lake Con-tour já vem com um Smaart Live integra-do. Hoje, mesmo os processamentos digi-tais de marcas inferiores já conseguemuma boa sonoridade. Outra coisa é quealguns amplificadores de fonte digital,

novos, já vêm com DSP interno. Nes-se DSP você pode fazer os cortes.Tudo o que fazia no processador podefazer no amplificador, então não vaimais precisar do processador, e vocêvai controlar as bobinas que estão liga-das em cada canal.

De quem é a responsabilidade pelo

alinhamento?

Fabrício – Quando se trabalha na es-trada, não se tem tempo para ficar anali-sando bobina por bobina. Esse trabalhotem de ser feito pela empresa. Ela tem queentregar o sistema pronto. Você tem deequalizar só o final no equalizador gráficoda saída da mesa. Muita gente tem maniade chegar e ficar mexendo em freqüênciade corte sem conhecer. O trabalho não sefaz na hora ali. O trabalho é em cima deestudo, pesquisa, e as empresas de áudiotêm de fazer esse tipo de trabalho.

E as empresas se preocupam?

Fabrício – Hoje, nas grandes em-presas, que têm uma marca definida, étranqüilo. Você chega e está tudopronto, não tem problema nenhum. Ogrande problema é a falta de grana, ecada um opta por um tipo de produto,copia caixas, muda os transdutores,mudam tudo e na verdade nem sabemcomo é que funciona esse negócio.

Hoje, os sistemas deline array têm umaoutra maneira de se

trabalhar. Eles já vêmcom o processamento.Eles (as fábricas dosline arrays) indicam

o processador

“Quando se trabalha naestrada, não se tem

tempo para ficaranalisando bobina por

bobina. Esse trabalho temde ser feito pela empresa.Ela tem que entregar o

sistema pronto”