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São Paulo, 21 a 27 de junho de 2013 10 Alimentação saudável: até que ponto? Há casos em que a preocupação exagerada com o que se come passa a prejudicar a saúde e se torna um problema Mariana Sales Passar horas a fio analisando a emba- lagem dos alimentos nos supermercados, só ingerir produtos saudáveis como frutas e cereais e não consumir nada que seja preparado por outra pessoa – o que inclui não frequentar restaurantes e lanchone- tes – são atitudes que podem caracterizar um distúrbio alimentar diagnosticado re- centemente, decorrente do cuidado exa- gerado em relação à alimentação. “A ortorexia começa quando a pre- ocupação com o que se come vira ob- jetivo de vida, e esse se torna o único assunto da pessoa”, explica Elisabete Almeida, diretora-executiva do progra- ma “Meu Prato Saudável” – iniciativa do InCor (Instituto do Coração). A médica diz que, quando se trata de saúde, os excessos também são prejudiciais. “Se virar obsessão, certamente será mais prejudicial do que benéfico”, diz. Na medida certa A não ser que haja alguma restrição nutricional específica, não há alimento proibido, só é preciso regular a quantida- de para evitar o aumento do peso – que pode causar várias doenças. E comer de forma saudável deve ser um hábito natu- ral, de preferência adquirido na infância. “Preocupar-se com a alimentação não é igual ser ortoréxico. A diferença está no grau de preocupação com o alimento inge- rido e na restrição de nutrientes que são es- senciais ao organismo”, salienta Elisabete. A médica ensina que para montar um bom cardápio é preciso procurar o equi- líbrio em cada refeição. “Metade do prato deve conter verduras e legumes (crus e cozidos) e a outra metade, carboidratos, como arroz, massas e batata, e proteí- nas (animal e vegetal)”, exemplifica. Excesso No país ainda não há estimativa do número de pessoas diagnosticadas com o transtorno. Mas, segundo a BBC Brasil, o NCFED (Centro Nacional para Distúrbios Alimentares Britânico) rece- be mais de 6 mil ligações e e-mails por ano, de pessoas que sofrem com o pro- blema. Segundo a médica, modismos alimentares – como dietas – o culto ao corpo e a excessiva publicidade de pro- dutos supostamente saudáveis ou en- riquecidos são alguns dos fatores que podem desencadear esse distúrbio. “Os ortoréxicos costumam levar es- sas tendências a níveis extremos”, diz Elisabete. “Geralmente, eles não co- mem carne, pois querem saber de onde ela vem, como o animal foi sacrificado. E isso, na maioria das vezes, é impos- sível de se rastrear. Assim, o indivíduo só passa a comer aquilo que considera saudável, natural, isento de agrotóxicos, por exemplo, e elimina da dieta esses outros produtos que desconhece a pro- cedência. Ele automaticamente perde peso, já que não consegue obter todos os nutrientes necessários”, completa. Consequências Essa obsessão por alimentos con- siderados saudáveis pode levar a di- versos distúrbios nutricionais como anemia, carência de vitaminas e osteo- porose, doenças que serão percebidas em longo prazo. Outro problema desen- cadeado por esse comportamento exa- gerado, no qual o que realmente impor- ta é a qualidade dos alimentos, pode ser o afastamento do convívio social, inclusive dentro de casa, para evitar os questionamentos. Os tratamentos são os mesmos usa- dos em casos de outras compulsões e distúrbios. Psicoterapia, medicamen- tos, se necessário, e a reeducação ali- mentar fazem parte do processo. Afinal, a alimentação saudável deve ter como objetivo evitar doenças e, assim, viver mais e com qualidade, e não tornar o cotidiano mais difícil. Vacinação Prorrogada por três vezes, a va- cinação contra a gripe no estado de São Paulo terminou, na semana pas- sada, com pelo menos 8,4 milhões de pessoas imunizadas desde o dia 15 de maio, quando se iniciou a campanha. O número superou a meta de vacinar 7 milhões de pessoas ou 80% do público- alvo composto de idosos; crianças de 6 meses a 2 anos; gestantes; puérpe- ras; indígenas; profissionais de saúde e doentes crônicos. FOTO: DIVULGAÇÃO FOTO: IMAGE SOURCE HEIDE BENSER Verificar o conteúdo nutricional de todos os alimentos pode ser um sinal da ortorexia

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Page 1: Alimentação saudável: até que ponto? - Amazon S3...10 São Paulo, 21 a 27 de junho de 2013 Alimentação saudável: até que ponto? Há casos em que a preocupação exagerada com

São Paulo, 21 a 27 de junho de 201310

Alimentação saudável: até que ponto?Há casos em que a preocupação exagerada com o que se come

passa a prejudicar a saúde e se torna um problema

Mariana Sales

Passar horas a fio analisando a emba-lagem dos alimentos nos supermercados, só ingerir produtos saudáveis como frutas e cereais e não consumir nada que seja preparado por outra pessoa – o que inclui não frequentar restaurantes e lanchone-tes – são atitudes que podem caracterizar um distúrbio alimentar diagnosticado re-centemente, decorrente do cuidado exa-gerado em relação à alimentação.

“A ortorexia começa quando a pre-ocupação com o que se come vira ob-jetivo de vida, e esse se torna o único assunto da pessoa”, explica Elisabete Almeida, diretora-executiva do progra-ma “Meu Prato Saudável” – iniciativa do InCor (Instituto do Coração). A médica diz que, quando se trata de saúde, os excessos também são prejudiciais. “Se virar obsessão, certamente será mais prejudicial do que benéfico”, diz.

Na medida certaA não ser que haja alguma restrição

nutricional específica, não há alimento proibido, só é preciso regular a quantida-de para evitar o aumento do peso – que pode causar várias doenças. E comer de forma saudável deve ser um hábito natu-ral, de preferência adquirido na infância.

“Preocupar-se com a alimentação não é igual ser ortoréxico. A diferença está no grau de preocupação com o alimento inge-rido e na restrição de nutrientes que são es-senciais ao organismo”, salienta Elisabete.

A médica ensina que para montar um bom cardápio é preciso procurar o equi-

líbrio em cada refeição. “Metade do prato deve conter verduras e legumes (crus e cozidos) e a outra metade, carboidratos, como arroz, massas e batata, e proteí-nas (animal e vegetal)”, exemplifica.

ExcessoNo país ainda não há estimativa

do número de pessoas diagnosticadas com o transtorno. Mas, segundo a BBC Brasil, o NCFED (Centro Nacional para Distúrbios Alimentares Britânico) rece-be mais de 6 mil ligações e e-mails por ano, de pessoas que sofrem com o pro-blema. Segundo a médica, modismos alimentares – como dietas – o culto ao corpo e a excessiva publicidade de pro-dutos supostamente saudáveis ou en-riquecidos são alguns dos fatores que

podem desencadear esse distúrbio. “Os ortoréxicos costumam levar es-

sas tendências a níveis extremos”, diz Elisabete. “Geralmente, eles não co-mem carne, pois querem saber de onde ela vem, como o animal foi sacrificado. E isso, na maioria das vezes, é impos-sível de se rastrear. Assim, o indivíduo só passa a comer aquilo que considera saudável, natural, isento de agrotóxicos, por exemplo, e elimina da dieta esses outros produtos que desconhece a pro-cedência. Ele automaticamente perde peso, já que não consegue obter todos os nutrientes necessários”, completa.

ConsequênciasEssa obsessão por alimentos con-

siderados saudáveis pode levar a di-

versos distúrbios nutricionais como anemia, carência de vitaminas e osteo-porose, doenças que serão percebidas em longo prazo. Outro problema desen-cadeado por esse comportamento exa-gerado, no qual o que realmente impor-ta é a qualidade dos alimentos, pode ser o afastamento do convívio social, inclusive dentro de casa, para evitar os questionamentos.

Os tratamentos são os mesmos usa-dos em casos de outras compulsões e distúrbios. Psicoterapia, medicamen-tos, se necessário, e a reeducação ali-mentar fazem parte do processo. Afinal, a alimentação saudável deve ter como objetivo evitar doenças e, assim, viver mais e com qualidade, e não tornar o cotidiano mais difícil.

Vacinação

Prorrogada por três vezes, a va-cinação contra a gripe no estado de São Paulo terminou, na semana pas-sada, com pelo menos 8,4 milhões de pessoas imunizadas desde o dia 15 de maio, quando se iniciou a campanha.

O número superou a meta de vacinar 7 milhões de pessoas ou 80% do público-alvo composto de idosos; crianças de 6 meses a 2 anos; gestantes; puérpe-ras; indígenas; profissionais de saúde e doentes crônicos.

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