alienaÇÃo parental sob o Ângulo da psicologia … · 3.1 psicologia jurídica e seu surgimento...

51
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VOZ DO MESTRE ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA Pedro Alves de Mattos Rio de Janeiro 2010

Upload: hathuan

Post on 13-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VOZ DO MESTRE

ALIENAÇÃO PARENTAL

SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA

Pedro Alves de Mattos

Rio de Janeiro

2010

Page 2: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VOZ DO MESTRE

Pedro Alves de Mattos

ALIENAÇÃO PARENTAL

SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA

Rio de Janeiro

2010

Monograf ia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau do titulo de especialista. Orientador:

Page 3: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

3

Pedro Alves de Mattos

ALIENAÇÃO PARENTAL

SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA JURIDICA

Aprovada em: _________________________________

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

Rio de Janeiro

2010

Monograf ia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau do titulo de especialista. Orientador:

Page 4: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

4

DEDICATÓRIA

Tenho a alegria de oferecer o presente trabalho a minha família, que

sempre apoiou e incentivou minha trajetória acadêmica.

Page 5: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

5

AGRADECIMENTOS

Sinto-me no dever de render agradecimentos a toda equipe de

professores pela competência e didática com que conduziram o nosso

curso de Pós-Graduação, em especial meu orientador.

Page 6: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

6

RESUMO

A presente monograf ia se dedica a analisar um tema muito freqüente nos debates relacionados com os problemas jurídicos, sociais e psicológicos das famílias contemporâneas. Trata-se da alienação parental, que ref lete conflitos entre cônjuges, em que uma das partes procura denegrir perante a criança a imagem do outro genitor. O estudo se inicia por uma breve revisão dos aspectos jurídicos e legais que envolvem o tema, concluindo com a apresentação da lei 12318/10 que procura normatizar a matéria. Em seguida, o trabalho se propõe a fazer algumas ref lexões sobre a consti tuição familiar na sociedade hodierna e os problemas da pós-modernidade que afetam intr insecamente as famílias. Em atenção à psicologia jurídica, o estudo historia a entrada dos prof issionais da psicologia como apoio indispensável às decisões do judiciário. Como contribuição específ ica, se propõe uma intervenção multidiscipl inar dos prof issionais na atuação sobre a al ienação parental de forma mais direta sobre a sociedade. Palavras chaves: Alienação Parental; Psicologia Jurídica; Família, Crianças.

Page 7: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

7

ABSTRACT

This monograph is devoted to analyse a very common theme in discussions related to the legal and social problems of contemporary families. It is the parental al ienation, that ref lects conflicts between spouses, in which a party seeks to ruin the other parent´s image for the child 's. The study begins with a brief review of legal and juridical aspects of the theme, concluding with the presentation of the Law 12318/10 which seeks to standardize the f ield. Then, the work makes some points about the composit ion of the family in society today and the problems of postmodernity that intr insically affect the families; attention to jur idical psychology, the study entry history of professional psychology as essential support to the juridical decisions. As specif ic contribut ion, we propose a multidiscipl inary approach of the professionals in action on parental alienation more directly on society. Key words: Parental Al ienation; Juridical Psychology; Family; Children.

Page 8: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... .... ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ ..8 CAPÍTULO 1 ALIENAÇÃO PARENTAL: ENFOQUE JURÍDICO......... .......9

1.1 Intervenção Legais nas Disputas pela Guarda dos Fi lhos..... ......... .....9

1.2 A Dissolução do Vinculo Conjugal e a Guarda dos Filhos.. . . . . . . . . . . . . . . .10

1.2.1 Direitos e Deveres dos Ex-Cônjugues.. ........ ......... .. ............ .11

1.3 O Insti tuto da Guarda Comparti lhada no Direito de Famíl ia...... ........12

1.3.1 A Guarda Comparti lhada no Direito Comparado.. ... ............ ...14

1.4. A Síndrome de Alienação Parental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

1.4.1 Comentários à Lei de Alienação Parental: 12.318/10............17

CAPÍTULO 2 AS CONSEQÜÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL PARA A

FAMÍLIA..... ........ .. ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ .21

2.1 Casamentos e Separações... ........ ............ ........ ........ ............ ........ .21

2.2 Os Filhos Têm Direitos a Pais Responsáveis..... .... .... ............ ........ .23

2.3 Alienação Parental como Gênese de Doenças e Crimes.......... ........ .28

CAPITÚLO 3 O PAPEL DO PSICÓLOGO JURÍDICO: CONFLITOS,

DIÁLOGOS E PROJETOS DE VIDA.... ............ ........ ........ ............ ........ .31

3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento........... . ........ ... ............ ........ ..31

3.2 O Moderno Prof issional da Psicologia Jurídica......... .. ............ ........ .34

3.3 Psicólogo Jurídico e os Operadores de Direito: Dif íci l Diálogo

Necessário....... ..... ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........36

CONCLUSÃO........ ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........ .43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.... ............ ........ ........ ............ ........ ..45

Page 9: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

9

ANEXO......... ........ ............ ........ ........ ............ ........ ........ ............ ........46

Page 10: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

10

INTRODUÇÃO

Na Constituição Federal de 88 está consagrado um principio

expresso que dispõe:

“É dever da família, sociedade e do Estado assegurar À cr iança e ao adolescente o direito à vida, saúde, al imentação, educação lazer, cultura, dignidade, respeito, l iberdade (. .) além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência , discr iminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Abordar como o judiciário brasi leiro tem agido para coibir questões

conflituosas na famíl ia, pelo fato do direito tr i lhar o caminho da evolução

social, continuamente, foi um dos objetivos do presente estudo

monográf ico.

Particularmente, é analisada a questão da alienação parental,

problema muito presente no centro dos debates atuais no Brasi l sobre a

vida familiar contemporânea. Tal temática envolve uma participação

multidiscipl inar entre operadores do direito, psicólogos e outros

prof issionais, de forma individualizada e em equipe.

A questão da al ienação parental i lustra como certos problemas

exigem maior part icipação das forças sociais e, talvez menor ingerência

da just iça, em seus aparatos habituais.

A lei 12.318/10, aqui analisada, veio a ser criada com a f inalidade de

contribuir para a normatização da al ienação parental e desta forma, foi

considerada como um grande avanço na proteção dos direitos das

crianças e dos pais vit imados, cujas disposições já eram trazidas no bojo

da doutrina e da jurisprudência há vários anos.

Page 11: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

11

Justif ica-se a escolha da temática por sua importância intrínseca e

por interesse pessoal do psicólogo que atua na just iça e assina esta

monograf ia.

CAPÍTULO 1

ALIENAÇÃO PARENTAL: ENFOQUE JURÍDICO

1.1 Intervenção Legais nas Disputas pela Guarda dos Filhos

Na Constituição Federal de 88 está expresso:

“É dever da famíl ia, sociedade e do Estado assegurar À criança e ao adolescente o direito à vida, saúde, alimentação, educação lazer, cultura, dignidade, respeito, l iberdade (. .) além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência , discr iminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

A guarda dos menores vem sendo, no decorrer do tempo, regulada

através de várias legislações, de acordo com a evolução da sociedade e

em atendimento às suas necessidades. Devem ser observados os

interesses materiais, morais, emocionais e espir ituais dos f i lhos menores,

e as situações são sempre únicas, devendo o Juiz adotar a decisão que

melhor atenda a cada caso concreto (TEIXEIRA, 2009).

Existem, ainda, embora em raras situações, tribunais e Juízes

impregnados de preconceito, o que impede a atribuição da guarda ao pai.

Na real idade ainda persiste, mesmo nos dias atuais, a idéia de que a mãe

continua tendo aquele papel de mãe naturalmente boa, apegada aos

f i lhos, cuja dedicação integral e i l imitada aos mesmos é sua principal

função. Todavia, esse papel tradicional de mãe está completamente

ultrapassado.

Page 12: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

12

Assim, não se pode mais af irmar, como antigamente, que a mãe é

imprescindível na educação dos f i lhos enquanto o pai é totalmente

dispensável. Está comprovado que cabe a ambos os genitores a

responsabil idade pela criação e educação dos f i lhos, para o seu

desenvolvimento saudável e natural, uma vez que enquanto a mãe é

afetuosa e terna com os f i lhos, cabe ao pai dar-lhes l imites.

Tanto a doutrina como a jurisprudência recomenda, assim, o

afastamento dos f i lhos do conflito judicial de guarda. Caso seja a criança

ouvida, deve o Juiz deixar bem claro que a opinião manifestada é

importante, mas não decisiva. O Juiz pode e deve esclarecer ao menor

que a decisão f inal é da Justiça, evitando, assim, o surgimento de novos

problemas emocionais.

1.2 A Dissolução do Vinculo Conjugal e a Guarda dos Filhos

“Nas varas de família ouve-se o eco das apelações insat isfeitas, os desencontros amorosos causando a demanda de uma reparação esperando que a lei possa colocar-se na posição de regular o irregulável”.(Barros, 1997, p.40).

A regulamentação de visitas é um processo interposto pelo genitor

que não possui a guarda da criança para assegurar o seu efetivo

compromisso de visitar as crianças sob o crivo da decisão do juiz que lhe

dará a certeza de sua possibi l idade de visita pela sentença judicial

(BARROS, 1997).

Muitos ex-cônjuges tentam punir-se, mutuamente, por meio da

disputa dos f i lhos, uti l izando-os como instrumento de vazão as suas

dif iculdades ou até como “troféu” tendo em vista a derrota do outro

cônjuge (VAINER, 1999).

Houve um consenso com relação à necessidade dos Juízes de

atribuir a guarda das crianças ao genitor que reúna melhores condições

Page 13: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

13

para desempenhar o papel de guardião, sempre usando como critério o

melhor interesse dos f i lhos. Atualmente o Direito de Famíl ia, na questão

da guarda dos f i lhos, também se adaptou a uma nova realidade. A notória

preferência dada à mãe na hora da escolha do guardião acabou

provocando um distanciamento entre o pai e seus f i lhos.

Os processos que são interpostos nas varas de famíl ia são os que

correm em segredo de justiça no qual os atos não têm a publicidade

adequada para a preservação das partes, preservando o decoro e

promovendo o bom andamento da lide (SILVA, 2003).

Assim, para propiciar a reorganização das relações entre pais e

f i lhos no interior da famíl ia desfeita pela separação conjugal, foi

estabelecido um novo tipo de guarda, exercida de forma comparti lhada

entre o pai e a mãe, de modo a diminuir os traumas pelo distanciamento

de um dos genitores, normalmente o pai, visando, ainda, acabar com a

f igura do pai periférico ou quinzenal.

1.2.1 Direitos e Deveres dos Ex-Cônjugues

O dever jurídico dos pais é indisponível e irrenunciável. O art igo 229

da CRFB/88 diz que os pais têm o dever de assist ir, cr iar e educar os

f i lhos menores de cuja orientação não afastam os art igos 21 e 22 do

ECA.(APASE, 2005)

Uma das missões dos cônjuges é o dever de sustento.guarda e

educação dos f i lhos, relat ivamente aos f i lhos comuns. O sustento

relaciona-se ao aspecto material, isto é, as despesas com a sobrevivência

adequada e compatível com os rendimentos dos pais, e ainda com saúde,

esporte, lazer, cultura e educação dos f i lhos.A guarda é o direito-dever de

convivência e manutenção do f i lho, com oposição a terceiros, inerentes à

condição de pai ou de mãe.

Page 14: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

14

Segundo o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu

artigo 33, a guarda obriga à prestação da assistência material, moral e

educacional à criança ou adolescente. Prevê a Constituição Federal que a

educação tem como f inalidade desenvolver a criança a f im de que haja

seu preparo para a cidadania e tenha igualdade de condições necessárias

para se estabelecer com dignidade na vida e no mercado de trabalho, de

onde vai garantir a sua sobrevivência.

A Constituição Federal atual, humanista como é privilegiando mais o

alcance dos seus princípios do que das normas propriamente ditas ao

conferir atenção especial à igualdade dos cônjuges na chefia da

sociedade conjugal e, sobretudo, ao discipl inar sobre a igualdade entre

f i lhos, permitiu maior intervenção posit iva do Estado.

1. O princípio da não discriminação contra os f i lhos nascidos fora do

casamento, ou seja, da igualdade de todos os f i lhos;

2. O princípio da igualdade de direitos e deveres dos cônjuges

1.3 O Instituto da Guarda Compartilhada no Direito de Família

A real idade das Varas de Famíl ia por todo o país mostra que, em

vez de poupados da discórdia dos conflitos adultos, as crianças são

trazidas muitas vezes para o centro do problema, tornando-se até mesmo

protagonistas da separação. As disputas de guarda trazem uma dimensão

jurídica e burocrática ao f im do casamento, esgotando física e

psicologicamente os envolvidos no conflito.

Um caso de alienação parental pode causar patologias como

hipocondria, angústia, insônia, anorexia, estados depressivos e

psicossomáticos, entre outros distúrbios f ísicos, psíquicos e relacionais.

Page 15: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

15

Cabe aos membros do Ministério Público zelar pelo interesse da

criança em primeiro lugar, sendo essa à parte considerada mais indefesa

da família.

Portanto, não só aos pais cabe promover um ambiente sadio para

seus f i lhos; a Just iça também deve tomar ciência da gravidade que tal

situação pode provocar, fazendo-se presente com o devido respaldo

jurídico que protegerá os mais fragil izados.

Antônio César Peluso, ministro do Supremo Tribunal Federal, em

publicação constante da Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça

de São Paulo, v. 80, p. 16, explana sobre uma série de situações

englobadas na guarda dos f i lhos. Ensina-nos, então:

“Ora, a guarda, enquanto manifestação operat iva do pátr io poder compreende, em princípio, a convivência no mesmo local, desdobrando-se nas faculdades de autor ização para sair de casa, de se comunicar com o menor e sua regulamentação (direto de visitas), de vigi lância, o qual, em tema de responsabi l idade civi l , tem sér ias impl icações, consist indo na necessidade de evitar que os f i lhos estejam sujeitos a per igo de ordem pessoal e que ofereçam perigo a terceiros (. . .) . Abrange ainda acesso a leituras, espetáculos, companhias etc., de correção moderada, educação, formação f ísica e mental, espir itual, segundo as aptidões e capacidades, de exigência de respeito, obediência e até prestação de serviços apropr iados à idade, e dever de assistência material e moral”.

O novo Código Civil atento a mudanças aboliu pelo art. 1.583, o

critério da culpa pela separação, que impedia o genitor que deu causa ao

rompimento de f icar com a guarda dos f i lhos menores.À guarda foram

destinados, no Código Civi l vigente, os art igos 1.583 a 1.590. Os art igos

1.583 e 1.584 sofreram nova alteração e com o advento dessa nova Lei,

em nosso ordenamento jurídico passou a constar, além da guarda

unilateral, a guarda comparti lhada, que poderá ser requerida por

Page 16: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

16

consenso entre os pais ou decretada pelo Juiz quando verif icada a

necessidade ou a possibi l idade da sua aplicação, visando sempre o

melhor interesse do f i lho menor.

A guarda unilateral não mantinha os laços afetivos entre pais e

f i lhos de forma satisfatória, causando evidente prejuízo pelo afastamento

das crianças de um dos seus genitores.

A guarda compart i lhada surge, tanto na legislação brasi leira quanto

na legislação de outros países. Esse modelo que surgiu recentemente no

nosso ordenamento jurídico possui nuances peculiares, advindas da

evolução social e dos novos costumes familiares visa, primordialmente, o

benefício dos menores, e a adoção desse modelo de guarda assegura que

a autoridade parental seja exercida nas mesmas condições existentes

durante a convivência.

É importante ressaltar que a guarda comparti lhada independe da

existência de bom relacionamento entre os ex-cônjuges. O pai e a mãe se

separam um do outro, mas nunca dos f i lhos, e essa modalidade de guarda

propõe exatamente a efetivação dessa situação, numa divisão mais

equil ibrada do tempo que cada genitor passa com o f i lho, garantindo,

ainda, a part icipação de ambos na educação e criação da prole comum.

1.3.1 A Guarda Compartilhada no Direito Comparado

Embora cada País tenha sua estrutura familiar própria é importante

discorrer sobre a aplicação do inst ituto da guarda comparti lhada fora do

Brasil, considerando, inclusive, que por estarmos na era da globalização,

todo modelo bem sucedido em outras culturas deve ser seguido.

A noção de guarda conjunta surgiu na Inglaterra e se estendeu à

França e ao Canadá, espalhando-se depois, por toda a América do Norte.

Na França surgiu a primeira lei sobre guarda comparti lhada, que foi

Page 17: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

17

denominada Lei Malhuret, nome do então Secretário de Estado dos

Direitos Humanos, editada em 22 de julho de 1987, sob o número

87.570/87, que apenas confirmou uma tendência, já que o assunto

formava jurisprudência desde 1976.

Assim, na França adotam-se os dois modelos de guarda, a uni lateral

e a compart i lhada. Em Portugal a guarda compart i lhada foi admit ida pelos

tribunais mesmo antes da elaboração de legislação pertinente. Com a

legalização da guarda compart i lhada, denominada guarda conjunta

naquele País, no ano de 1999, f icou estabelecido que os pais devessem

decidir em conjunto as questões relativas à vida dos f i lhos, dando-se

prioridade ao novo modelo.

Na Alemanha, como regra geral, os pais, ao se divorciarem, decidem

pela divisão da guarda dos f i lhos menores, e na Argentina foi adotada,

pela legislação, como regra básica, o exercício da guarda de forma

conjunta.

No Canadá a Lei do Divórcio estabelece que o tr ibunal deva garantir

à criança o contato constante com seus genitores, na medida dos seus

interesses, razão pela qual os pais são orientados pela autoridade

judiciária à implantação da guarda comparti lhada, caso não seja

requerida, desde logo. A l imitação da aplicação da guarda compart i lhada

ocorre apenas quando é requerido por ambos os genitores.

Nos Estados Unidos o direito desenvolveu essa nova modalidade de

guarda em larga escala. A maioria dos Estados Americanos adota a

guarda compart i lhada como um dos modelos de custódia. Em outros,

como na Califórnia e no Colorado, a legislação prioriza a guarda

comparti lhada, tanto que estatist icamente, a divisão da guarda é adotada

em 80% e em 95% dos casos, respectivamente.

1.4. A Síndrome de Alienação Parental

Page 18: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

18

Conceitua-se como alienação parental na lei como “a interferência

na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou

induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança

ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que

repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à

manutenção de vínculos com este”.

A chamada Síndrome de Alienação Parental (abreviada como SAP) é

um termo designado por Richard A. Gardner , nos anos 80, para se referir

ao que ele descreve como um distúrbio no qual uma criança, deprecia e

insulta um dos pais sem qualquer justif icativa, devido a uma combinação

de fatores, inclui a doutrinação pelo outro progenitor, as tentativas da

própria criança denegrir um dos pais (WIKIPÉDIA, 2010).

Normalmente a Síndrome de al ienação parental acontece nos casos

em que a separação judicial ou divórcio foi marcado pela situação de

lit ígio, ou mesmo nos casos em que um dos cônjuges deseja estabelecer

vingança com o outro, e quando este não obtém êxito esperado no retorno

da relação f ica frustrado e gera na pessoa uma tendência a se vingar.

(Teixeira, 2009).

Desencadeia assim a destruição e desmoralização do outro cônjuge,

normalmente uti l izando o f i lho como instrumento desta vingança para

agredir e ofender ao ex-cônjuge de uma forma contundente, o que é ainda

mais exarcebado quando esse outro além de ter superado o luto da

separação ainda já começou a se relacionar com outra pessoa, o que vêm

a fomentar a raiva muito mais forte do ex-cônjuge. (Idem, 2009).

Os casos mais freqüentes da Síndrome da Alienação Parental estão

associados a situações onde a ruptura da vida conjugal gera, em um dos

genitores, uma tendência vingativa muito grande que existe quando não

se consegue elaborar adequadamente o luto da separação, e da perda e

desencadeia um processo de destruição, vingança, desmoralização e

Page 19: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

19

descrédito do ex-cônjuge. Neste processo vingativo, o f i lho é ut i l izado

como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. (DIAS, 2009).

1.4.1 Comentários à Lei de Alienação Parental: 12.318/10

A lei de alienação parental é a 12.318, promulgada em agosto de

2010 dispõe sobre a alienação parental alterando o art. 236 da Lei nº

8.069, de 13 de julho de 1990, com conseqüências processuais e,

materiais, notadamente no tocante à guarda.

Em seu art. 2 º está elencado expressamente que se considera ato

de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança

ou do adolescente induzida por um dos genitores, ou até mesmo por seus

familiares seja pelos avôs, avós ou pelos que tenham a criança ou

adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que repudie

genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de

vínculos com este, abrangendo assim um conceito bastante elástico desta

prática.

O inciso I do parágrafo único do Art. 2° considera ato de alienação

parental a realização de campanha de desqualif icação da conduta do

genitor no exercício da paternidade ou maternidade. Bastante próximos

são os incisos II, III e IV, também do Art. 2° da Lei 12.318/10, que

qualif icam a conduta de se dif icultar o exercício da autoridade parental. O

inciso V prevê na conduta da omissão de informações pessoais relevantes

sobre a criança ou adolescente, já o inciso VI trata da denunciação

caluniosa e o VII prevê como ato de alienação parental a mudança de

domicíl io para local distante, sem justif icat iva, visando a dif icultar a

convivência da criança.

O art. 3º da lei 12318/10 que a alienação parental atenta contra o

direito fundamental à convivência familiar saudável, não apenas com o

genitor, mas também com o grupo familiar. Neste está disposto também

Page 20: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

20

às conseqüências da adoção da tese da legit imidade dos avós e familiares

na interpretação do preceito a quem beneficiarão as cautelares e o regime

de convivência mínima que se possa estabelecer, a menos que com a lei

12.010/09, popularmente conhecida como Lei Nacional da Adoção, veio

corroborar com essa convivência famil iar, e só havendo um laudo que se

ateste a sua nocividade na f igura de quaisquer destes, que tal será

evitada ou suprimida.

A Lei 12.010/09, por exemplo, inseriu no Estatuto da Criança e do

Adolescente, a instituição da famíl ia extensa ou ampliada, formada para

além da unidade: pais e f i lhos, englobando parentes próximos com os

quais a criança e os adolescentes tenham vínculo de af inidade e

afetividade.

O caput do artigo 4º autoriza o magistrado a conhecer de ofício a

existência de quaisquer atos de al ienação parental e realizar adoção de

providencias e com esse objetivo o artigo 4º, expressamente, af irma que

haja a prioridade na tramitação processual e a garantia de convivência

mínima entre crianças e adolescentes e os genitores.

Verif icada a existência dos indícios de autoria e materialidade a que

se refere o art. 4º, para evitar ou adiar a produção de efeitos do ato

i l ícito, determinando o juiz a tramitação priori tár ia do feito. A f im de

assegurá-la, expressamente é conveniente realizar a aplicação por

analogia do §1º do art. 1211-B do CPC, com a redação dada pela lei

12008/2009.

Poderá o magistrado determinar a ampliação do regime de

convivência famil iar também em favor dos avós, se adotado pelo apl icador

o entendimento de que podem ser vít imas de atos de al ienação parental e

legit imados a propor ação a esse respeito.

Page 21: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

21

Superada a situação de urgência, o juiz, se necessário, determinará

perícia psicológica, conforme disposição do artigo 5° da lei de alienação

parental.

Conforme o Art. 6° da Lei 12.318/10, munido do laudo psicológico ou

biopsicossocial, o juiz irá se pronunciar a respeito da configuração ou não

do ato de alienação parental. Estabelece o art. 7º que, na impossibil idade

de adoção da guarda comparti lhada, será ela atribuída preferencialmente

ao genitor que melhor viabi l izar a convivência do menor com o outro (é

dizer, o que propicie as condições que mais se aproximem das

observadas na guarda comparti lhada). Vale, uma vez mais, o que já se

assentou múlt iplas vezes a respeito da aplicação do disposit ivo aos “avôs”

e familiares.

A lei demonstra que a perícia é fundamental nos casos em que a

própria observação fática não for ef icientemente conclusiva e reitera que

a multidiscipl inaridade nestes casos é fundamental.

Isso acontece já que a intervenção interdiscipl inar entre a psicologia

e o direito é cada vez mais forte viabil izando perspect ivas de integração

onde as responsabil idades de cada área devem ser trabalhadas e a

multidiscipl inaridade favoreça os processos de anál ise, principalmente

nos casos de alienação parental (JESUS, 2001).

O trabalho do psicólogo na área jurídica está sendo visto pela

maioria da população como, predominantemente, individual e diagnóstico

(DIAS, 2010).

Segundo a lei de al ienação quando identif icado qualquer ato ou

indício de material idade ou de autoria de al ienação parental, o processo

terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, depois de

ouvido o Ministério Público, como f iscal da lei, as medidas provisórias

necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do

adolescente, inclusive para lhe assegurar sua convivência com genitor ou

Page 22: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

22

viabi l izar a efetiva reaproximação entre ambos, conforme o caso e desde

que tal convivência não se traduza em verdadeiro risco à integridade

física ou psicológica da criança ou adolescente (ZIMERMAN, 2010).

Nesses casos a lei também expressamente declara o papel da

perícia a ser realizado por prof issional ou equipe multidiscipl inar

competente, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes,

exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e

da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos

envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta

acerca de eventual acusação contra genitor (IDEM, 2010).

A Lei 12.318/10, por meio de seu Art. 8°, bem determina que a

alteração de domicíl io da criança ou adolescente é irrelevante para a

determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito

de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso ou de decisão

judicial.

No Direito de Família não existe a f igura de indenização por isso o

inciso III tem sido amplamente questionado e considerado controverso,

pois Amor não se paga e muito menos convivência e essa é retórica dos

defensores da tese de não ressarcibi l idade dos danos morais e de

indenizações pagas.

Page 23: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

23

CAPÍTULO 2

AS CONSEQÜÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

PARA A FAMÍLIA

2.1 Casamentos e Separações

O crescente número de divórcios ocorridos em terr itório brasi leiro

indica a relevância dos estudos a respeito da alienação parental e suas

conseqüências para a família. Sabemos que, a part ir do século XX e, mais

acentuadamente, agora no século XXI, as configurações de família vêm

mudando consideravelmente, abrindo espaço para novos paradigmas de

relacionamentos que antes eram considerados proscritos ou inaceitáveis.

A inserção da mulher do mercado de trabalho, ocorrida desde o

século XIX na Europa e consolidada principalmente após a Segunda

Guerra Mundial, teve como conseqüência a emancipação f inanceira da

f igura feminina, que começou a lutar, também, pela independência social.

Mães que trabalham fora, pais desconhecidos, divórcio, novas famíl ias –

tudo isso passou a ser comum para alguém nascido nas últ imas décadas.

A dessacral ização do casamento, endossada no Brasi l pela Lei do

Divórcio e pela Constituição Federal de 1988, mostrou ser possível, do

ponto de vista jurídico, constituir uma família sem que para isso fosse

preciso passar pelo viés do casamento. A sociedade pretendia-se l ivre e

ansiava por estabelecer vínculos afetivos também f lexíveis. Segundo

Raquel Pacheco Ribeiro e Souza, a sociedade, hoje em dia,

Page 24: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

24

[ . . . ] f inca-se em princípios dist intos daqueles sobre os quais repousou em tempos idos, não mais se estabelecendo por questões polít icas, econômicas ou rel ig iosas. A "famíl ia rejuvenescida" revela-se locus de amparo e sol idariedade, onde seus membros se funcional izam uns em relação aos outros, comprometendo-se mutuamente com a formação e com o desenvolvimento sadio de suas personal idades e com o respeito à dignidade de cada um de seus integrantes. (p. 2)

Sabemos que a famíl ia é considerada uma inst ituição sagrada por

quase todas as religiões. O número crescente de divórcios e conflitos

familiares mostra, porém, que tal idéia é, muitas vezes, considerada

ultrapassada e mesmo romântica, não sendo compatível com a real idade

pós-moderna.

A justiça brasi leira é, hoje em dia, testemunha de numerosos casos

de desajuste famil iar que envolvem, inúmeras vezes, os f i lhos de um

casal em pé de guerra. Nem mesmo eles têm força suf iciente para evitar

que o confl ito famil iar se instale e se propague.

Estabelecer leis que protejam os envolvidos no conflito familiar é um

exercício bastante complexo. A discórdia entre um casal pode fazer vir à

tona sentimentos mesquinhos por parte de um dos cônjuges (na maioria

das vezes a mãe), os quais se desdobram em atitudes insensíveis e

impensada, prejudiciais a todos os envolvidos. A tr iste realidade é que a

ruptura de um matrimônio pode, em muitos casos, trazer conseqüências

drást icas, não só para o casal l it igante, mas também para seus f i lhos.

Segundo Leila Maria Torraca de Brito,

[ . . . ] os embates com os ex-cônjuges permanecem por longo período, com repercussão na convivência com a prole. [ . . . ] Pais e mães mostram-se desorientados em relação ao desempenho dos papéis parentais após a separação, com dúvidas a respeito de como l idar com os f i lhos. (p. 25)

Page 25: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

25

A dor que o f im do matrimônio provoca pode levar às últ imas

conseqüências: a separação de um casal signif icará, até mesmo, a

separação e destruição de toda uma famíl ia. Se o papel principal dos

pais é proteger seus f i lhos do sofrimento, a inversão de valores que a

situação pode af lorar faz com que as crianças e os jovens sejam vít imas

dos genitores alienadores. São os que passam a controlar – e prejudicar –

a vida seus f i lhos, em uma tentativa desesperada de atingir o genitor

alienado.

Segundo Andréia Calçada, em trabalho publicado no l ivro Guarda

comparti lhada organizado por Rodrigo C. Pereira em 2005: aspectos

psicológicos e jurídicos, organizado pela Associação de Pais e Mães

Separados, a APASE, o genitor al ienador é visto

[ . . . ] como produto de um sistema i lusório, onde todo o seu ser se orienta para a destruição da relação dos f i lhos com o outro genitor. [ . . . ] é, às vezes, sociopata e sem consciência moral. É incapaz de ver a situação de outro ângulo que não o seu, especif icamente sob o ângulo dos f i lhos. Não dist ingue a diferença entre dizer a verdade e mentir . (p. 139)

Genitor al ienador e genitor alienado sempre são responsáveis pelo

nascimento da criança e pela construção de sua personalidade antes de

tudo são pais e a criança espera que como tais eles se comportam.

2.2 Os Filhos Têm Direitos a Pais Responsáveis

O papel dos pais, no caso de uma separação, é arcar com as

conseqüências psicológicas que o fato provocará em seus f i lhos, da

maneira mais prudente possível. É evidente que a separação consiste em

uma experiência dif íci l para os f i lhos, o que não quer dizer que tenha ela

que ser necessariamente dramática. Os pais devem proporcionar aos

Page 26: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

26

f i lhos um ambiente psicológico saudável e amistoso, que assegure a

proteção do f i lho como prioridade de ambas as partes.

Mesmo em um caso de separação amigável, é comum que a criança

não se sinta mais amada ou se sinta rejeitada e culpada pela separação

dos pais. Cabe aos genitores reconfigurar o novo lar e mostrar aos f i lhos

que o processo não deve ser, necessariamente, traumático ou

desgastante.

No caso da alienação parental, a criança perde sua confiança no

núcleo familiar e se sentem sozinhos para enfrentar um conflito do qual

não têm culpa. O genitor al ienador, muita vezes, prioriza seu ódio ao ex-

cônjuge e se afasta afetivamente do próprio f i lho, usando-o como simples

“estratégia de guerra”. A separação não deve ser vista necessariamente

como um processo que traz como conseqüência f i lhos desajustados,

assim como nem todos os jovens desajustados são f i lhos de casais

separados; a saúde psicológica de uma criança depende de fatores que

vão muito mais além do f ísico.

O que pode causar morbidez psicológica por parte da criança ou

adolescente é justamente o conflito, o estado de tensão que uma

separação mal resolvida pode gerar, principalmente se for acompanhada

de um processo de divórcio que demanda tratamento jurídico. A discórdia

familiar torna-se, então, pública e of icial, envolvendo aspectos que muitas

vezes afetam inclusive o lado f inanceiro de ambos os genitores. O grande

estrago está na instabil idade causada pela separação, na insegurança

que ela pode causar, nas incertezas que provoca na mente do f i lho, até

então acostumado a um referente famil iar que já não existe.

Sabe-se que a chave para um bom desenvolvimento psíquico dos

jovens é que eles cresçam em um ambiente estável, l ivre de conflitos

parentais, capazes de se sentirem seguros mesmo após a mudança

brusca de referencial familiar.

Page 27: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

27

É extremamente importante, e também prevista por le i, a garantia de

que os f i lhos terão convivência com ambos os genitores depois do

desenlace. Em casos extremos, porém, essa garantia pode ser revogada e

a criança afastada do convívio de uma das partes do antigo casal. Em

todo caso, a harmonia dessa convivência triangular é de crucial

importância para a formação sadia da personalidade dos

f i lhos. É dessa maneira que os f i lhos — e também seus genitores —

colocam-se em posição de reconhecimento da alteridade, respeitando

todos os envolvidos na separação e colocando o bem da criança como

principal prioridade.

Segundo Raquel Pacheco Ribeiro e Souza,

“afastada de um dos pais, a cr iança f ica confusa porque “seu ser ínt imo, o sujeito tal como formado por aqueles dois seres estruturantes, f ica abalado". Não convivendo com o outro genitor (na maior ia das vezes, o pai), os f i lhos acabam por perder o valor s imból ico da imagem paterna, tão relevante para a estruturação psíquica do sujeito (p. 07)”.

É comum detectar-se um alto número de doenças psicossomáticas

tais como perturbações de ansiedade, depressões, estresse síndrome do

pânico nas crianças que convivem com casais em pé de guerra. E esses

problemas são, na maioria das vezes, arrastados pela criança por toda a

sua vida. É comum elas se tornarem adultos com problemas psicológicos

em geral e relacionais, especif icamente.

A real idade das Varas de Família por todo o país mostra que, em

vez de poupados da discórdia dos conflitos adultos, as crianças são

trazidas muitas vezes para o centro do problema, tornando-se até mesmo

protagonistas da separação. As disputas de guarda trazem uma dimensão

Page 28: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

28

jurídica e burocrática ao f im do casamento, esgotando física e

psicologicamente os envolvidos no conflito.

O impacto que tais experiências podem provocar na formação da

personalidade das crianças envolvidas é tremendo. Um caso de alienação

parental pode causar patologias como hipocondria, angústia, insônia,

anorexia, estados depressivos e psicossomáticos, entre outros distúrbios

f ísicos, psíquicos e relacionais. Até mesmo os prof issionais que trabalham

com as separações l it igiosas precisam tomar os devidos cuidados em

relação às suas atribuições, pois estão afetando diretamente, e mais do

que ninguém, os f i lhos que sofrem com a separação dos pais.

Cabe aos membros do Ministério Público zelar pelo interesse da

criança em primeiro lugar, sendo essa a parte considerada mais indefesa

da famíl ia. A atitude intervencionista do Estado será necessária todas as

vezes que, agindo por um impulso de vingança ou de ódio e aversão, os

pais passam a agir não mais dentro de seus papéis de pai e mãe, mas

como homem e mulher lutando em um verdadeiro campo de batalha.

Portanto, não só aos pais cabe promover um ambiente sadio para

seus f i lhos; a Just iça também deve tomar ciência da gravidade que tal

situação pode provocar, fazendo-se presente com o devido respaldo

jurídico que protegerá os mais fragil izados.

É muito comum que, nos casos de alienação parental, a falta de

convívio com o outro genitor articule uma espécie de “pacto de lealdade”

(RIBEIRO E SOUZA, p. 13) que rechaça a terceira parte e alimenta uma

relação quase doentia entre os conviventes. Até mesmo o relacionamento

com os não famil iares é afetado por esse círculo fechado que exclui, na

maioria das vezes, a f igura paterna do convívio familiar.

Assim, amor – ódio e abandono tomam proporções extremas e às

vezes perigosa, e os desdobramentos e danos do desenlace conjugal

podem ser irreparáveis.

Page 29: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

29

Evandro Luiz Silva, em colaborador do livro Guarda compart i lhada

(2005), reproduz a fala de uma criança que convivia com pais em pé de

guerra:

Psicólogo : - “E por que você não quer morar com ele (seu pai)?”

Paciente : - “Porque minha mãe diz que ele mente... que ele não gosta de

mim”.

Psicólogo : -“ Por que você não falou para a Assistente Social que queria

morar com seu pai e com sua mãe?”

Paciente : - “Porque a mamãe fica brava comigo.. . porque o papai iria f icar

bravo comigo... a Assistente falou que ter duas casas faz mal”.

Nesse trecho da entrevista, pode-se constatar o mal causado na

criança pelos apelos afetivos de um dos genitores, nesse caso a mãe, que

tomava como pessoal o fato de a criança gostar do próprio pai. Estamos

diante de um caso de relacionamento neurótico, do qual os envolvidos

podem passar o resto de suas vidas tentando se livrar, ou mesmo

repetindo com novos cônjuges (no caso dos adultos que cresceram em um

lar desajustado).

[ . . . ] nada é mais terrível para os f i lhos do que uma mãe que possa dizer- lhes: "Sacrif iquei tudo por vocês", ou seja, uma mãe que tenha vivido como uma falsa viúva ou uma falsa solteirona a pretexto de estar encarregada dos f i lhos. Vemos as repercussões disso a longo prazo, não apenas nos f i lhos, porém, mais tarde, na família dos netos. (DOLTO, 1989)

O psiquiatra Richard Gardner escreveu a obra A Síndrome de

Alienação Parental , def inindo essa enfermidade como um distúrbio que

surge, principalmente no contexto das disputas pela guarda e custódia

Page 30: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

30

das crianças. Há uma verdadeira lavagem cerebral por parte de um dos

progenitores contra o outro progenitor, deixando a criança em uma

posição delicada e comprometedora na medida em que ela se sente

“cúmplice” desse ódio ao pai ou à mãe.

2.3 Alienação Parental como Gênese de Doenças e Crimes

Tornou-se comum, hoje em dia, falsas denúncias de abuso sexual

como forma de se prat icar a al ienação parental; o impacto que essa

denúncia provoca, na famíl ia menos próxima e no convívio social e

prof issional do acusado, porém, pode ser irrevogável. O f i lho é,

imediatamente, afastado do não-guardião e o acusado perde a

credibil idade até como pessoa. Apesar de não deixar marcas no corpo,

dif icultando o processo de apuro da verdade, a síndrome de alienação

parental deixa marcas psicológicas profundas e na maioria das vezes

indeléveis. Af inal de contas, tão traumático quanto ter um pai ou uma mãe

abusador é ter um pai ou uma mãe capazes de inventar uma mentira tão

grave só para afastar o f i lho da convivência do outro genitor. Nos dois

casos, a criança dif icilmente voltará a confiar no genitor convivente com a

mesma confiança.

A síndrome de alienação parental pode ser vista como um

acontecimento de enorme complexidade. Primeiro porque o abuso

emocional cometido não estabelece uma marca visível, visto que este t ipo

de violência não deixa marcas no corpo, o que complica ainda mais a

prova material desta violência, favorecendo desta forma, o genitor de

traços alienador. Segundo defende José Manuel Aguilar, psicólogo

forense, quando acontecer de indícios da síndrome serem detectados, o

que se deve fazer nestes casos, é compreender que

Page 31: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

31

[ . . . ] a estratégia de el iminar qualquer contacto entre o progenitor al ienado e o f i lho é a pior decisão que pode ser adoptada, pr incipalmente porque quando um sujeito perde o contato com o pai, f ica em completa disposição de corromper a verdade, ao desaparecer a prova da real idade que o contacto provoca. (2008, p 94)

Os f i lhos envolvidos podem ser poupados mantendo dessa forma

visitas que podem ser restr itas, desde que acompanhas por um psicólogo

judicial. A criança ou o adolescente, poderá a vir manter contato com o

genitor, visando dessa forma dar a ver ao primeiro e poder perceber e

entender a inf luencia negativa sobre o seu outro genitor não corresponde

a verdade. Dessa forma os prof issionais envolvidos de forma jurídica

poderão assim, considerar se cabe ao guardião a custódia do f i lho,

podendo até mesmo alterar a guarda a favor do outro genitor.

É possível avaliar a capacidade daquele que busca a guarda do f i lho

quando o avaliador leva em consideração o respeito das relações afetivas

estabelecidas entre a criança e ambos os pais. Terá vantagem aquele que

apresentar uma ref lexão clara sobre o convívio do f i lho com o outro

genitor, podendo obter dessa forma a guarda do f i lho.

Para a criança, a experiência poderá ser menos traumática,

dependendo dos vínculos estabelecidos com ambos os genitores, onde se

dist ingue a forma de afetividade, as práticas sociais feitas com ambos os

genitores, além do universo material proporcionado por eles.

Os valores estabelecidos poderão servir de base para estruturar

pós-separação. No entanto, muitas vezes assistimos aos pais em

condições precárias na observância destes mesmos valores mencionados

acima, principalmente por conta da desintegração interior sofr ida por

ambos, sendo dessa forma estabelecida à guarda dos menores a

terceiros.

Page 32: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

32

O desamparo das crianças pode e deve merecer a atenção de um

grupo de prof issionais, tais como: juízes, promotores de justiça,

advogados, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, para que, dessa

forma, possam ajudar a manter, ou quem sabe conseguir reconstruir a

dignidade da criança ou do adolescente envolvidos em agressões

emocionais pelos próprios pais.

No próximo capítulo será analisada a resposta da sociedade diante

dos problemas provocados pela alienação parental. Através das

providencias presididas pelos representantes da just iça as equipes

especialistas intervém nas famíl ias que vivenciam tais problemas. Será

visto como tentam minorar os efeitos da alienação parentais que incidem

sobre as crianças e adolescentes. Em particular será analisado o papel

importante da psicologia jurídica nesse processo.

Page 33: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

33

CAPITÚLO 3

O PAPEL DO PSICÓLOGO JURÍDICO:

CONFLITOS, DIÁLOGOS E PROJETOS DE VIDA

3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento

Este capítulo procura trazer informações sobre essa nova área de

atuação do Psicólogo que é a Psicologia Jurídica, uma área ainda pouco

conhecida, porém de extrema importância para a atuação dos

prof issionais tanto da área do Direito, quanto da Psicologia. A elaboração

deste surge da vontade de comparti lhar os estudos e discussão sobre o

referencial teórico, e contribuir com o debate hodierno sobre as

atribuições dos psicólogos no contexto jurídico, bem como sua art iculação

com demais instâncias envolvidas.

A Psicologia Jurídica surge como uma área de especial idade da

ciência psicológica, relat ivamente recente, em comparação às áreas

tradicionais de formação e atuação da Psicologia como a Escolar, a

Organizacional e a Clínica. É comum e necessário que esta especial idade

tenha uma clara interface com o Direito, e com suas várias correlações

no mundo jurídico, mas de acordo com BRITO (2008, p 114) o psicólogo

em sua prática não deve se limitar às demandas das inst i tuições jurídicas,

ou das partes l it igantes, pois independente da área em que trabalhe, o

prof issional deverá agir com plena clareza dos l imites e dos alcances de

suas atividades. Ele ressalta que se deve priorizar o respeito à cidadania

e a diferenças da pessoa atendida, assim como manter o compromisso

f irme com a ética prof issional.

Segundo BRITO (1993), em sua pesquisa junto a magistrados,

af irma que vários deles reconhecem que surgem problemas que fogem á

área jurídica, tratando-se de questões emocionais sérias, às quais, não

tendo sido resolvidos antes pela partes envolvidas, contribuíam para que

Page 34: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

34

estes processos voltassem para os juizes, atrapalhando o andamento dos

trabalhos (p 94). Somado a isso, BARROS (1999) ressalta que há

demandas no campo jurídico que por vezes envolvem fantasias e

frustrações que este não pode regular... desta forma o atendimento

psicológico contribui para que o cl iente possa esclarecer sua demanda e

que questões alheias a este campo possam ter outro endereçamento

(p.440).

Assim, pode af irmar que :

“A função do prof issional psi consiste em interpretar a comunicação inconsciente que ocorre na dinâmica famil iar e pessoal [ . . . ] Seu objet ivo é destacar e anal isar os aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, que digam respeito a questões afet ivo-comportamentais da dinâmica famil iar, ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem-estar da cr iança e/ou adolescente, a f im de auxil iar o ju iz na tomada de uma decisão que melhor atenda às necessidades dessas pessoas. (SILVA, 2003, p.39)”.

No que tange à Psicologia Jurídica seu surgimento é bastante

recente, e segundo BRITO (1993), a primeira aproximação da Psicologia

com o Direito aconteceu lá no f inal do século XIX, proporcionando algo

que se deu se o nome de “psicologia do testemunho”. Nas palavras de

(ALTOÉ, 2003) tal prática “t inha como objetivo verif icar, através do estudo

experimental dos processos psicológicos, a f idedignidade do relato do

sujeito envolvido em um processo jurídico.”Pretendia-se com isso, conferir

se tais processos corroboravam com a veracidade dos fatos ou pelo

contrário, dif icultavam.

Page 35: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

35

Ela segue informando que:

Sobretudo através da aplicação de testes, buscava-se a compreensão dos comportamentos passíveis de ação jur ídica. Esta fase inic ial foi muito inf luenciada pelo ideário posit ivista, importante nesta época, que privi legiava o método cient íf ico empregado pelas ciências naturais (Jacó-Vi lela, 1999; Foucault , 1996). Mira y Lopes, defensor da cient if ic idade da psicologia na apl icação de seu saber e de seus instrumentos junto às inst itu ições jur ídicas, escreveu o “Manual de Psicologia Jurídica” (1945), que teve grande repercussão no ensino e na prát ica prof issional do psicólogo, até recentemente.

Tais práticas levavam o prof issional a atuar fazendo testes,

elaborando laudos, perícias criminais, e pareceres psicológicos, a partir

de entrevistas e testes realizados, em sua maioria em penitenciárias e

hospitais psiquiátricos penais, para garantir soltura condicional,

comutação de pena, isto, é mecanismos para avaliar se o detento poderia

ser ressocializado ou não Rauter (1994) apud Sônia Altoé, (2003). Mas o

autor ressalta que tais exames e laudos respingavam preconceitos sociais

e julgamentos de valores da época, com pouca isenção ou distanciamento

em relação a uma pessoa sofrendo de medidas punit ivas.

A autora segue citando o jurista, Verani, que para ele:

“aqueles instrumentos oferecidos pela psicologia t inham um uso que favorecia a ef icácia do controle social e reforçava a natureza repressora que está inser ida no direito, ao invés de garantir as l iberdades e os direitos fundamentais dos indivíduos (Verani, 1994, p 14).”

Page 36: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

36

Por f im ela lembra que foi a Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (UERJ), no ano de 1980, que criando, pela primeira vez no Rio

de Janeiro, uma área de concentração, dentro do curso de especialização

em psicologia clínica, denominada “Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos”

(Brito, 1999), vem preencher uma lacuna nessa relação, para suprir os

prof issionais de ferramentas teóricas, auxil iando no seu dia a dia.

3.2 O Moderno Profissional da Psicologia Jurídica

A relação entre a psicologia e as práticas jurídicas ainda se dão de

forma estremecida e o lugar do psicólogo nesta área ainda está por se

configurar. Em determinadas situações, o atendimento psicológico por

meio do acolhimento, da escuta diferenciada e da disponibi l idade ao

dialogo, possibil ita muitas vezes ao cliente encontrar alternativas criativas

ou outra compreensão sobre o que esta pode signif icar.

Há uma constante necessidade de o psicólogo jurídico entender as

demandas às quais lhes são direcionadas, e deve-se tentar entender a

problemática em questão de acordo com o conhecimento teórico de sua

discipl ina. BRITO (2003) ressalta que os psicólogos não devem se ater na

leitura de com quem está l idando, ele cita como exemplo, um pedido de

tutela, guarda ou visitação, termos estes que fazem muito sentido no

direito.

Deve-se sim, segundo o autor, focar atenção ao referencial da

psicologia, compreendendo que nas determinadas situações jurídicas

anteriormente citadas estão envolvidas, normalmente, alguns aspectos

que dizem respeito ao desenvolvimento infantil, assim como ao

desenvolvimento da família, e também às relações conjugais, entre

outros.

Page 37: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

37

É também importante lembrar que os psicólogos jurídicos devem

estar atentos a um elemento muito importante, que é o contexto social, no

qual os indivíduos se const ituem, assim como “aos estudos sobre relações

de gênero e f i l iação, tendo em vista as mudanças que vem ocorrendo na

famíl ia contemporâneo” (BRITO, 2003, p 19).

No l ivro de BRITO (2008) a descrição do atendimento a uma senhora

ajuda a entender os elementos presentes no dia a dia de um psicólogo

jurídico: o individuo no caso era uma senhora, solicitando a tutela de três

netos. Após ter sido explicado o conceito de tutela, assim como a

implicação para os envolvidos, lhe foi passada a importância e as

funções dos membros da estrutura familiar, assim como seus direitos e

deveres (p. 121).

Ele também cita casos de mulheres que, sentindo-se “impotentes

diante da situação vivida, recorriam à instância jurídica na tentativa de

fazer cessar a violência, de impor um limite a seus companheiros (p.

122). ” A autora ressalta, entretanto, que como aquelas mulheres não

procuravam alguma Delegacia Especial izada em Atendimento a Mulher

(DEAM), para formalizar denúncia contra seus companheiros, elas

procuravam ajuda, buscando informações e/ou orientação para o caso.

Os casos apresentados servem para i lustrar a necessidade da

compreensão da demanda, com isenção e ética, conforme Brito (2008)

“para além dos termos iniciais de sua formulação, uti l izando ferramentas

das quais a psicologia dispõe, assim como outros estudos no campo das

ciências humanas e sociais.” Não se pode deixar de lado também, as

relações estabelecidas dos grupos familiares atendidos, assim como o

contexto social, que venha a surgir das demandas (p 123).

Page 38: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

38

3.3 Psicólogo Jurídico e os Operadores de Direito: Difícil Diálogo

Necessário

A questão da al ienação parental i lustra adequadamente como certos

problemas modernos exigem maior participação das forças sociais e

menos ingerência da justiça. É de nossa tradição recorrer à decisão

judicial como primeira alternativa em certas pendências. No caso de

casamentos dissolvidos, muito disso acontece.

No entanto, o desejável é que a sociedade vá assumindo aos poucos

uma série de l it ígios, ao invés de recorrer à justiça. Dois movimentos

devem ocorrer para esta “ l ibertação” da sociedade. A just iça deve se

“movimentar”, delegando ou devolvendo à sociedade a responsabil idade

por decisões que, a rigor, só dela dependem. Medida recente passou a

permitir o divórcio consensual apenas com registro em cartório.

Da parte da sociedade, o movimento deve ser muito mais forte e

abrangente. No campo da família, das relações de trabalho e dos direitos

difusos, este movimento deve se estruturar e crescer.No caso da

alienação parental, a Lei nº 12.318-10 , segundo a APASE (associação

de pais separados) o encaminhamento de soluções, constitui uma grande

inovação em nossas leis. Ao invés de depositar nas mãos exclusivas do

juiz, as alternat ivas de solução, apela para a sociedade. Reconhece que

não basta a visão e o poder de um árbitro único.

Há problemas nas famílias cujas complexidades dependem de um

emaranhado de exigências e negociações à base de concessões

recíprocas, idas e vindas, com passos lentos, e muitas vezes, o apoio de

amigos e de especial istas: psicólogos, médicos, assistentes sociais,

pedagogos. Talvez associações e outras entidades possam ser acionadas,

Page 39: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

39

como as escolas dos f i lhos, as f irmas onde trabalham os cônjuges, outras

famílias, ent idades rel igiosas.

A Lei nº 12.318-10 também inova ao def inir as condutas dos juizes

perante a alienação parental. A lei vê o juiz mais como um concil iador do

que como um julgador. Ainda mantém medidas como a da multa e da

suspensão da autoridade parental, que conforme se lê abaixo:

(Art. 6 Art. 6º Caracterizados atos t ípicos de al ienação parental ou qualquer conduta que dif iculte a convivência de cr iança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulat ivamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabil idade civi l ou cr iminal e da ampla ut i l ização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso... .

I I I – est ipular multa ao al ienador;

VII – declarar a suspensão da autoridade parental1.

Tais mudanças ensejam recursos, que sobrecarregariam a justiça,

sem garantias de ef icácia. A medida da alínea IV, ou seja, determinar

acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial2, encaminhar a

psicólogos e outros prof issionais, parece ser o mais ef icaz. Equivale a

uma providência que os cônjuges podem tomar, ou já tomaram por si

próprios.

Em suma, a lei não leva medidas aos juizes para que repitam o

clássico “bater o martelo”. Só falta a lei dizer que não compensa abrir

processo de al ienação parental, e que é mais úti l recorrer a pessoas e a

prof issionais, que no seio da sociedade podem oferecer vários t ipos de

apoio.

1 www.planalto.gov.br/ccivil_03/_.../Lei/L12318.htm 2 idem

Page 40: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

40

A propósito da al ienação parental, talvez a psicologia jurídica possa

ser entendida como mais importante que os próprios órgãos jurídicos a

que serve. Um estudo como o presente pode ousar em propostas que

signif iquem contribuições efetivas para alguns graves problemas sociais.

Recomendações e propostas gerais

§ Valorizar as associações de pais, assim como outras

correlacionadas, de acordo com a lei.

§ Buscar apoio das insti tuições em geral, tais como igrejas,

escolas, empresas, etc, as quais podem contribuir, de forma

geral para dar suporte pedagógico, acolhimento,etc.

§ Procurar estabelecer laços com as escolas das vit ima de

alienação, pois através delas se tem acesso a uma parte da

vida na qual os pais em geral não tem acesso, assim como foi

visto anteriormente,em geral, as vit imas podem vir a ter baixo

rendimento escolar.

§ Fazer uso de equipes multidicipl inares não tão somente para

serem realizadas perícias, como diz a lei. Ter apoio de

Assistentes Sócias, Pedagogos e Psicólogos os quais tenham

tanto embasamento teórico no tema da alienação parental,

como prática em casos. E que atendam essas famíl ias e suas

demandas enquanto ações assistenciais, dentro de um

conjunto de polít icas publicas articuladas neste campo.

Page 41: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

41

CONCLUSÃO

Nos últ imos anos tanto o meio acadêmico quanto os outros espaços

sociais dir igiram seus olhares para o estudo da psicologia jurídica

enquanto área de extrema importância para a atuação dos prof issionais

tanto da área do Direito quanto da Psicologia.

Tratou a presente monograf ia de demonstrar como a intervenção

interdiscipl inar entre a psicologia, direito e outras ciências estão cada vez

mais forte e indo de encontro as perspectivas de integração e atuação em

diferentes segmentos da sociedade.

O trabalho mostrou como a famíl ia foi se modif icando, através dos

tempos, sofrendo inf luência direta das grandes transformações

socioeconômicas. Também o ordenamento jurídico se foi adaptando, e a

família, a partir da Constituição Federal de 1988, passando a ser

especialmente tutelada pelo Estado, sofrendo, assim, o Direito de Famíl ia

profunda transformação.

A Constituição Federal acabou com a desigualdade entre homens e

mulheres, com a defesa do princípio da isonomia e a idéia de colaboração

deixou de ser defendida, prevalecendo, uma atuação conjunta e igualitária

entre os genitores.

No presente trabalho um grande problema que at inge atualmente os

casais separados, qual seja, o da alienação parental foi aqui abordado,

sob o ângulo da psicologia jurídica. Ênfase particular se deu à atuação

do psicólogo, quer por designação direta do juízo quer por solicitação das

famílias e de outras instâncias sociais.

O trabalho permite concluir pela necessidade de a justiça se

“movimentar”, delegando ou devolvendo à sociedade a responsabil idade

por decisões que, a r igor, só dela dependem, propondo soluções

Page 42: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

42

integradas com outros ramos do saber, como a psicologia jurídica, por

exemplo.

Page 43: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUILAR, José Manuel. Síndrome de alienação parental: f i lhos

manipulados por um cônjuge para odiar o outro. Casal de Cambra:

Caleidoscópio, 2008.

ALIENAÇÃO PARENTAL, 2010. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Al ienação_Parental. Acesso em Dezembro

2010.

ALIENAÇÃO PARENTAL, 2010. http://www.alienacaoparental.com.br/o-

que-e. Acesso em Dezembro 2010.

ALTOÉ, Sônia.A lei e as leis: Direito e psicanálise.Rio de janeiro: ed.

Revinter, 2003.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Síndrome De Alienação Parental: A Tirania

do Guardião.APASE, vários autores.Ed. Equil íbrio, 2007.

BRITO, Leila. Famíl ias e separações: perspect ivas da psicologia

jurídica.Rio d Janeiro: EdUERJ,2008.

CAFFÉ, Mara. Psicanálise e direito: a escuta analít ica e a função

normativa jurídica. 2ª edição. São Paulo: Quartier lat in, 2008.

DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parental:Realidades Que A Justiça

Insiste Em Não Ver.RT, 2007.

DOLTO, Françoise. Quando os pais se separam. Tradução de Vera

Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.

Page 44: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

44

GARDNER, R. "Parental Al ienation Syndrome (PAS): sixteen years later".

Academy Forum 45 (1): 10–12. A Publicat ion of the American Academy of

Psychoanalysis. 2001.

GIUSTI, Edoardo. A arte de separar-se. Tradução de Raffaela de Fi l ippis.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

JESUS, Fernando de Psicologia aplicada à justiça. Goiânia, AB,

2001.Coleção curso de direito.

MENDONÇA, Marta. O novo guia para um bom divórcio. Época. São

Paulo, 2006.

PLANALTO, 2010. Disponível em

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_.../Lei/L12318.htm. Acesso em Dezembro

2010.

ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos

de separações judiciais no direito civil brasileiro. Monograf ia. Curso de

Direito. PUC- RS, Porto Alegre, 2008. Disponível em:

<http://www.Alienacaoparental.Com.br//textos-sobre-

sap/felipe_niemezewski.pdf>

RIBEIRO DE SOUZA, Raquel Pacheco. Os f i lhos da famíl ia em li t ígio

judicial: Uma abordagem crít ica. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n.

2129, 30 abr. 2009. Disponível em:

<http:// jus.uol.com.br/revista/texto/12721>. Acesso em: dez. 2010.

SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia jurídica no processo civil

brasi leiro: a interface da psicologia com o direito nas questões de

família.São Paulo: casa do psicólogo, 2003.

Page 45: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

45

SILVA, José Afonso Da. Curso de Direito Constitucional Posit ivo. 26 ed.

São Paulo, Malheiros, 2006.

TEIXEIRA, Ana Carol ina Brochado. Famíl ia guarda e autoridade parental.

2ª edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

TORRACA, Leila Maria de Brito. Famílias e Separações. EDUERJ, Rio de

janeiro, 2008.

VERANI, Sérgio.Alianças para liberdade.In Brito.Psicologia e instituições

de direito: a prática em questão.Rio de Janeiro: Comunicarte, 1994.

ZIMMERMAM, David e Mathias, Antônio Carlos. Aspectos Psicológicos na

prática jurídica. Obra coletiva. Coltro. Campinas, SP: Mil lennium, 2008.

Page 46: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

46

ANEXO: LEI 12318/10

Page 47: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

47

O Presidente da República

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na

formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida

por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou

adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigi lância para que repudie

genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de

vínculos com este.

Parágrafo único. São formas exemplif icat ivas de al ienação parental,

além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,

praticados diretamente ou com auxíl io de terceiros:

I – real izar campanha de desqualif icação da conduta do genitor no

exercício da paternidade ou maternidade;

II – dif icultar o exercício da autoridade parental;

III – dif icultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV – dif icultar o exercício do direito regulamentado de convivência

familiar;

V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais

relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e

alterações de endereço;

VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares

deste ou contra avós, para obstar ou dif icultar a convivência deles com a

criança ou adolescente;

Page 48: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

48

VII – mudar o domicíl io para local distante, sem justif icat iva, visando

a dif icultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,

com familiares deste ou com avós.

Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere direito

fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar

saudável, prejudica a real ização de afeto nas relações com genitor e com

o grupo famil iar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente

e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou

decorrentes de tutela ou guarda.

Art. 4º Declarado indício de ato de alienação parental, a

requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação

autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o

juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas

provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da

criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com

genitor ou viabil izar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao

genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em

que há iminente r isco de prejuízo à integridade fís ica ou psicológica da

criança ou do adolescente, atestado por prof issional eventualmente

designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.

Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em

ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia

psicológica ou biopsicossocial.

§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou

biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista

pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do

relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes,

avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a

Page 49: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

49

criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra

genitor.

§ 2º A perícia será realizada por prof issional ou equipe

multidiscipl inar habil itados, exigido, em qualquer caso, aptidão

comprovada por histórico prof issional ou acadêmico para diagnosticar

atos de al ienação parental.

§ 3º O perito ou equipe mult idiscipl inar designada para verif icar a

ocorrência de al ienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para

apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização

judicial baseada em justif icat iva circunstanciada.

Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou

qualquer conduta que dif iculte a convivência de criança ou adolescente

com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá,

cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabil idade

civil ou criminal e da ampla uti l ização de instrumentos processuais aptos

a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

I – declarar a ocorrência de alienação parental e advert ir o

alienador;

II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor

alienado;

III – est ipular multa ao alienador;

IV – determinar acompanhamento psicológico e biopsicossocial;

V – determinar a alteração da guarda para guarda comparti lhada ou

sua inversão;

VI – determinar a f ixação cautelar do domicíl io da criança ou

adolescente;

Page 50: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

50

VII – declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço,

inviabil ização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá

inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da

residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de

convivência famil iar.

Art. 7º A atr ibuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência

ao genitor que viabil iza a efetiva convivência da criança ou adolescente

com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda

comparti lhada.

Art. 8º A alteração de domicíl io da criança ou adolescente é

irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações

fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de

consenso entre os genitores ou de decisão judicial.

Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de agosto de 2010.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Page 51: ALIENAÇÃO PARENTAL SOB O ÂNGULO DA PSICOLOGIA … · 3.1 Psicologia Jurídica e seu Surgimento ... multidisciplinar entre operadores do direito, ... trazidas muitas vezes para

51