alice ruiz
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DOIS EM UM
DOIS EM UMINFLUÊNCIAS
1 – Poesia Concreta
Poesia concreta surgiu com o Concretismo, fase literária voltada para a valorização e incorporação dos aspectos geométricos à arte (música, poesia, artes pláticas). Em 1952, a poesia concreta tem como fundadores três poetas: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos. O poema do Concretismo tem como característica primordial o uso das disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem preocupações com a estética tradicional de começo, meio e fim e, por este motivo, é chamado de poema-objeto.
DOIS EM UM
CARACTERÍSTICAS:
-a eliminação do verso; -o aproveitamento do espaço em branco da página para disposição das palavras; -a exploração dos aspectos sonoros, visuais e semânticos dos vocábulos; -o uso de neologismos e termos estrangeiros; -decomposição das palavras; -possibilidades de múltiplas leituras. -A comunicação através do visual era a forma de expressão de todas as poesias concretas.-
DOIS EM UM
Para onde foramLembranças que esquecemosCoisas
QueNunca
Chegaram A
Ser?
DOIS EM UM
O vento vai me trazer
SoprosSurpresasVocê
O vento vai me trazer de volta Sem luto
Pelo obsoletoSó ab só luto
DOIS EM UMOUTROS EXEMPLOS:
Minuto a minuto meu quererQuis quero crerUm dia azulouTodo azul teu dia a diaNo teu dia tudo
que podia
•Em geral, Alice emprega versos livres, que raramente ultrapassam oito sílabas. Predominam versos brancos, mas com blocos rimados e ocorrência das chamadas "rimas pobres", isto é, com terminações em "ão" e formas verbais infinitivas, além de repetições de termos idênticos ou de mesma categoria gramatical.
DOIS EM UM
Se eu fizer poesiaCom tua misériaAinda te falta pão
pra mim não
Não vai dar tempoDe viver outra vidaPosso perder o tremPegar a viagem erradaFicar paradaNão muda nadaTambémPode nunca chegarA passagem de voltaE meia vamos dar
Vai chorarcanta
Vai falargrita
Vai andardança
DOIS EM UM• Há forte presença de tercetos, que incluem índices das estações do ano, o que evidencia a preferência de Alice pela composição à maneira do haikai. Digo "à maneira", pois nos seus haikais cabe a virtualidade metafórica, simbólica, e a alusão sensual, estranhas à forma tradicional. Além disso, o aspecto descritivo do haikai tradicional cede seu lugar decisivo para a agudeza verbal e as figuras de linguagem.
Primeira folha de outonoNo chão começaO meio do ano
PrimaveraAté a cadeiraOlha pela janela
Entre a terra e a lua Minha alma Na tua
DOIS EM UM•Ao assumirem o primeiro plano do poema, tais jogos de palavras, de incidental inspiração concretista (mas sem o seu sentido experimental ou de negação do verso), fazem prevalecer o lúdico, e mais ainda o pop. A sintaxe direta, o vocabulário informal, a gíria, o clichê reforçam tais efeitos.
A luz está acesa a luz está tão acesaNão importa toda ondasSe você se importa se espraiandoSe você ora olhandoOra não por quem a vejaOra simSempre acesa já não importaChama perdida se você está láChamando
a luz está
DOIS EM UM
apaixoNADAapaixoTUDOapaixoQUASE
SEDUzindoTARDUzindoNoites indo
•Nada os acentua tanto, porém, como o tema das exigências do corpo e do tesão. A poesia de Alice mescla, pois, certo racionalismo construtivo com algo do clima de "desbunde" e da poesia dita marginal, o que resulta, por vezes, num curioso feminismo de viés sedutor (como na imagem exemplar da "navalhanaliga"). Mais forte nos poemas mais antigos, esse traço híbrido não se apaga ao longo do livro, mas se reduz face ao jogo esperto com as palavras. Ambos os aspectos talvez ajudem a entender o vínculo da poesia de Alice com a MPB, que já lhe rendeu parcerias com Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro etc.
DOIS EM UM
Tua mãoNo meu seioSim nãoNão simNão é assimQue se medeUm coração
Teu corpo seja brasaE o meu a casaQue se consome no fogoUm incêndio bastaPra consumar esse jogoUma fogueira chegaPre eu brincar de novo
Treze anosProduzindoPoesiaEsse hálito alimentaTreze anosUm só tesão
DOIS EM UM•A exploração da linguagem como arma é demasiado utilizada pelos poetas marginais. O engajamento político e a busca de uma consciência coletiva para formar uma identidade contra a ditadura podem ser observados no poema.
dizer não tantas vezes até formar um nome.
•Metalinguagem
Queria tantoFazer um poema hojeUma canção que fosseDigna desse diaCom suas coresBrilhos e brisas
Queria tantoQue esse poema me quisesseE me fizesse um mimoMe desfazendo em risos(...)
DOIS EM UM•Intertextualidade
Drumundana
E agora Maria?O amor acabouA filha casouO filho mudouTeu homem foi pra vidaQue tudo criaA fantasiaQue você sonhouApagouÀ luz do diaE agora Maria?Vai com as outrasVai viverCom a hipocondria
Os olhos de Camões (poemontagem)
Em vossos claros olhos escondidoO lindo ser de vossos belos olhosCom que os meus olhos foi escurecendoE os olhos pelas águas alongava
Vossos olhos, Senhora, que competemMas contra vossos olhos quais serão?De meus olhos vereis estar mandadoAs dos meus olhos, com que os seus se banhem
Olhos onde tem feito tal misturaOlhos formosos, em quem quis naturaNasceram lindas flores para os olhos
Os olhos meus de ver os vossos tiraJá não podeis fazer meus olhos ledosMas nos olhos mostrou quanto podia
DOIS EM UM• Música
Socorro, não estou sentindo nadaNem medo, nem calor, nem fogoNão vai dar mais pra chorar, nem pra rirSocorro, alguma alma, mesmo que penadaMe entregue suas penasJá não sinto amor, nem dor, já não sinto nadaSocorro, alguém me dê um coraçãoQue esse já não bate, nem apanhaPor favor, uma emoção pequenaQualquer coisaQualquer coisa que se sintaEm tantos sentimentosDeve ter algum que sirvaSocorro, alguma rua que me dê sentidoEm qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhadaSocorro, eu já não sinto nada, nada...
Arnaldo Antunes e Alice Ruiz
DOIS EM UM• Música
De você sei quase nadaPra onde vai ou porque veioNem mesmo seiQual é a parte da tua estradaNo meu caminho
Será um atalhoOu um desvioUm rio rasoUm passo em falsoUm prato fundoPra toda fomeQue há no mundo
Noite alta que reveleUm passeio pela peleDia claro madrugadaDe nós dois não sei mais nada
Se tudo passa como se explicaO amor que fica nessa paradaAmor que chega sem dar avisoNão é preciso saber mais nada
Zeca Baleiro e Alice Ruiz