algodão - cultivo no cerrado

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ALGODÃO – CULTIVO NO CERRADO INTRODUÇÃO A cultura do algodoeiro atravessou grandes dificuldades na década de 80. Entre estas podem se destacar a chegada ao Brasil da praga do bicudo, responsável por sérios prejuízos à cultura, e os incentivos oferecidos para compra de algodão importado que fizeram a demanda interna do produto pela indústria têxtil nacional, entrar em franco declínio. Essas dificuldades resultaram na queda substancial da produção no Nordeste Brasileiro, em função da baixa adoção de tecnologias que impossibilitava a convivência adequada com a praga do bicudo e da baixa competitividade do produto local com o importado, em razão da sua qualidade extrínseca e da escala de comercialização. O revés da cultura do algodoeiro também foi verificado nas demais áreas tradicionalmente produtoras de São Paulo e Paraná. Este último estado viu sua área plantada cair de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para menos de 40.000 hectares em 2001. Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma grande oportunidade de negócios. A segunda metade da década de 90 significou um marco na migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras para o cerrado brasileiro. Hoje esta região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura, programas de incentivo à cultura implementada pelos estados da região e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologias modernas. Este último aspecto tem feito com que o cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas. A Embrapa vem participando decisivamente da aventura do algodão no cerrado

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Page 1: Algodão - Cultivo no Cerrado

ALGODÃO – CULTIVO NO CERRADO

INTRODUÇÃO

A cultura do algodoeiro atravessou grandes dificuldades na década de 80. Entre estas podem se destacar a chegada ao Brasil da praga do bicudo, responsável por sérios prejuízos à cultura, e os incentivos oferecidos para compra de algodão importado que fizeram a demanda interna do produto pela indústria têxtil nacional, entrar em franco declínio.

Essas dificuldades resultaram na queda substancial da produção no Nordeste Brasileiro, em função da baixa adoção de tecnologias que impossibilitava a convivência adequada com a praga do bicudo e da baixa competitividade do produto local com o importado, em razão da sua qualidade extrínseca e da escala de comercialização. O revés da cultura do algodoeiro também foi verificado nas demais áreas tradicionalmente produtoras de São Paulo e Paraná. Este último estado viu sua área plantada cair de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para menos de 40.000 hectares em 2001.

Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma grande oportunidade de negócios. A segunda metade da década de 90 significou um marco na migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras para o cerrado brasileiro. Hoje esta região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura, programas de incentivo à cultura implementada pelos estados da região e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologias modernas. Este último aspecto tem feito com que o cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas. A Embrapa vem participando decisivamente da aventura do algodão no cerrado através da geração e transferência de tecnologias. A cada ano, vêm sendo lançadas pelo menos duas novas cultivares e sendo desenvolvidos novos sistemas de produção e de  manejo integrado de pragas e doenças, visando atender a uma demanda crescente por novas tecnologias.

O presente sistema de produção de algodoeiro no cerrado que a Embrapa está disponibilizando, resulta da necessidade dos clientes, de acesso imediato a informações precisas sobre temas que envolvem toda a cadeia produtiva do algodoeiro no cerrado. Constitui-se em uma contribuição a mais e espera-se que seja de grande utilidade para o desenvolvimento da cultura do algodoeiro nesta região de grande importância para o agronegócio brasileiro.

CLIMA

O algodoeiro é muito sensível à temperatura. Noites frias ou temperaturas diurnas baixas restringem o crescimento das plantas levando-as à emissão de poucos ramos frutíferos. Por isso, a semeadura é aconselhável em regiões ou épocas em que as temperaturas permaneçam entre 18º  e 30ºC, nunca ultrapassando o limite inferior de 14ºC e superior a 40ºC (Doorenbos at al., 1979).

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Os parâmetros térmicos que limitam o desenvolvimento do algodoeiro ao longo do seu ciclo podem ser observados na Tabela 1. 

Tabela 1. Parâmetros térmicos para o desenvolvimento da cultura do algodoeiro.

Estapas de crescimento Limite mínimo(ºC)

Limite ideal(ºC)

Limite máximo(ºC)

Germinação 14 18 a 30 40Des. Vegetativo 20 30 40Formação de gemas e floração

dia: 20noite: 12

30 dia: 40noite: 27

Maturação de frutos 20 27 a 32 38Maturação de frutos 20 27 a 32 38Fonte: Doorenbos et al., (1979)

A temperatura tem importância também como indutora do crescimento das plantas, tendo sido determinada a exigência em unidades de calor para cada fase do crescimento do algodoeiro. Assim, é necessário um determinado acúmulo térmico, representado pelo somatório da diferença entre as  temperaturas médias e a temperatura mínima basal diárias, para que o algodoeiro expresse todo seu potencial de crescimento a cada fase de seu desenvolvimento. Essas necessidades térmicas, denominadas de Unidades de Calor (UC) ou Graus Dia (GD) é característica de cada variedade, influenciando fortemente a época de cultivo, em função da latitude e altitude de cada localidade. Na Tabela 2 encontram-se essas temperaturas determinadas para variedades cultivadas nos Estados Unidos e no Brasil, de acordo com ROSOLEM, 2001. 

Tabela 2. Número médio de dias e unidades de calos (UC) que o algodão necessita durante seu crescimento, em vários estádios. Dados médios obtidos com as cultivares ITA 90 e Antares, na safra 98/99, na região de Rondonópolis, MT.

Estádio de Crescimento Número de dias Unidades de Calor (1)

MT Literatura MT LiteraturaSemeadura à emergência 4-9 50-60Emergência ao primeiro botão 33 27-38 358 425-475Primeiro botão à primeira flor 21 20-25 271 300-350Emergência à primeira flor 54 47-63 629 725-825Primeira flor ao primeiro capulho 54 45-66 658 850Emergência ao primeiro capulho 109 125-161 1.287 1.575-1.675

EntrenósNa haste principal 2-3 40-60Nos ramos 5-6 80-120(1) UC – Unidades de Calor acumuladas, calculadas por: UC= [(T + t)/2 – 15], onde T = temperatura máxima diária; t =

temperatura mínima diária; 15 = temperatura base (ºC).Fonte: Rosolem, 2001

Dependendo do clima e da duração do ciclo, o algodoeiro necessita de 700 a 1.300mm de chuva para atender suas necessidades de água; 50 a 60% dessa água é necessária durante o período de floração (50 a 70 dias), quando a massa foliar está completamente desenvolvida. A necessidade de água do algodoeiro, representada pela evapotranspiração máxima (Etm) em relação à evapotranspiração de referência (Eto), é estimada para cada etapa do

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desenvolvimento das plantas utilizando-se o respectivo coeficiente de cultivo (kc), através da equação: ETm = kc x ETo.Na tabela 3 são apresentados os valores de kc nas diversas fases de desenvolvimento do algodoeiro.

Tabela 3. Coeficiente de cultivo para cada fase de desenvolvimento do algodoeiro.

Período inicial(15 a 25 dias)

Des. vegetativo Gemas e Floração Maturação de Frutos

Final de ciclo e colheita

0,4 0,7 1,05 0,8 0,65Fonte: Doorenbos et al., (1979)

A partir de 1997/98, para efeito de crédito e seguro agrícola, foi introduzido o zoneamento agrícola, o qual é  baseado na definição das regiões e épocas de semeadura com menor risco de perdas por adversidades climáticas.

MANEJO DE SOLOS

Por se tratar de uma planta oleaginosa, o algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutun L.r latifolium Hutch), afirma-se, teoricamente, como exigente, no que se refere ao solo, preferindo aqueles de textura média, profundos, ricos em matéria orgânica, permeáveis, bem drenados e de boa fertilidade. No entanto, trata-se de uma cultura de larga adaptação, no que se refere às condições edáficas, podendo ser cultivada em diversos tipos de solo de características físicas adversas e menos férteis, desde que sejam efetuadas as devidas correções, de forma que passem a apresentar características suficientes para atender às necessidades básicas ao seu pleno desenvolvimento por outro lado, solos rasos, excessivamente arenosos e/ou pedregosos, demasiadamente argilosos e/ou siltosos e de baixa permeabilidade, devem ser evitados por suas características de difícil correção. Áreas sujeitas a encharcamento também são desfavoráveis ao cultivo do algodoeiro por não suportarem baixa oxigenação no ambiente radicular.Os solos de cerrado, em geral, por serem profundos, apresentam características de valor elevado em capacidade de infiltração de água, em acidez hidrolítica,  em toxidez de alumínio, na capacidade de fixação de fósforo e baixos níveis de potássio, cálcio e magnésio trocáveis, entre outras, a capacidade produtiva é baixa em condições naturais. Contudo, o potencial para uso com o algodoeiro é alto, uma vez corrigidas as deficiências nutricionais.

Manejo do Solo

O manejo do solo se constitui de práticas simples e indispensáveis ao bom desenvolvimento das culturas e compreende um conjunto de técnicas que, utilizadas racionalmente, proporcionam alta produtividade mas, se mal utilizadas, podem levar à destruição dos solos a curto prazo (Figura 1), podendo chegar à desertificação de áreas extensas.

De maneira geral, pode-se considerar, os seguintes tipos de manejo do solo:

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     Preparo convencional - provoca inversão da camada arável do solo, mediante o uso de arado; a esta operação seguem outras, secundárias, com grade ou cultivador, para triturar os torrões; 100% da superfície são removidos por implementos. Este tipo de preparo só deve ser utilizado quando da correção de algumas características na subsuperfície do solo, onde necessite de incorporação de corretivos ou rompimento de camadas compactadas (Figura 2).

     Preparo mínimo - intermediário, que consiste no uso de implementos sobre os resíduos da cultura anterior, com o revolvimento mínimo necessário para o cultivo seguinte. Geralmente é utilizado um escarificador a 15cm suficiente para romper crostras e pé de grade niveladora (Figura 3).

     Plantio direto - aqui, as sementes são semeadas através de semeadora especial sobre a palhada de culturais do cultivo anterior ou de culturas de cobertura palha produzidas no local para este fim (Figura 4).

     Plantio semi direto - semelhante ao Plantio Direto; semeadura direta sobre a superfície, com semeadora especial, diferindo deste sistema apenas por haver poucos resíduos na superfície do solo.

Os manejos referidos nos itens 2, 3 e 4, são conhecidos como  conservacionistas considerando-se  uma das melhores formas, até o momento, estabelecidas na conservação de água e do solo.

As técnicas de manejo do solo a serem aplicadas em determinada área dependem de vários fatores. Cada área rural tem suas peculiaridades e requer decisão própria. Para cada caso, definir-se-ão as técnicas, de acordo com: a textura do solo, o grau de infestação de invasoras, os resíduos vegetais que se encontram na superfície, a umidade do solo, a existência de camadas compactadas, pedregosidade e os riscos de erosão e máquinas; para isto, o estudo do perfil do solo torna-se primordial; contudo, vale a pena lembrar que sempre, que possível, deve-se decidir pelos manejos conservacionistas e mesmo quando da impossibilidade, elegem-se os preparos que provoquem o menor revolvimento do solo. 

Estudo do perfil do solo

Através de uma trincheira, pode-se estudar o perfil do solo em que se observa a existência de diferentes camadas que se diferenciam, seja na cor, na dureza, no desenvolvimento de raízes ou na textura (Figura 5).A camada agrícola ou arável é a parte superior, rica em matéria orgânica e em microrganismos, onde a maior parte das raízes se desenvolve. As características dessa camada fazem parte dos principais fatores que servem de base para a decisão do tipo de preparo de solo a ser usado.

No Cerrado brasileiro o uso de máquinas e implementos cada vez mais pesados vem acelerando o processo de empobrecimento da matéria orgânica e a formação de encrostamento superficial e de camadas adensadas na subsuperfície do solo, comumente chamada “camada compactada”.; que reduz a taxa de infiltração, aumenta a erosão a  lixiviação de cátions, incidindo no incremento de perdas de nutrientes do solo, que é a causa mais grave da degradação do meio físico. 

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A matéria orgânica é o componente de maior importância no desenvolvimento da estrutura e na manutenção de sua estabilidade, incidindo diretamente sobre a maior ou menor susceptibilidade do solo a formação de crostas superficiais (Figura 6). O impacto das gotas de chuva diretamente sobre a superfície desnuda desses solos, arranca as partículas finas arrastadas pela água em sua descida, até a referida camada, onde exercem efeito prejudicial sobre a infiltração de água. Neste processo é determinante a desnudez do solo e a camada compactada se torna desfavorável ao desenvolvimento dos cultivos pois, além de pouco permeável  à água e ao ar, dificulta a penetração das raízes, o que repercute negativamente sobre a produtividade do solo, principalmente quando se trata de uma cultura como o algodão, que exige ambiente edáfico com equilíbrio entre a quantidade de macro e microporos, ou seja, favorável tanto à retenção de umidade quanto à aeração.A existência de camada compactada é facilmente identificada através do exame do sistema radicular das plantas em pleno desenvolvimento vegetativo, observando-se a morfologia das raízes (Figura 7). Sintomas como desvio lateral da raiz principal, tortuosidade anormal, deformações da forma cilíndrica, acúmulo de raízes secundárias próximo a superfície, são características que indicam a existência de compactação ou toxidez, havendo necessidade de  correção. A descompactação deve ser efetuada com um implemento, geralmente de hastes rígidas capazes de romper a dita camada de forma que a ponta da haste opere a, pelo menos, 5 cm abaixo do limite inferior da compactação.  Para romper adensamentos superficiais, geralmente, escarificadores (Figura 8), promovem bom trabalho, enquanto camadas mais profundas e expessas necessitam de subsoladores de alta resistência.  Áreas de solos de textura média ou arenosa com mais de quatro anos de pousio  dificilmente necessitam de descompactação pois, as raízes das plantas ali existentes já se encarregaram de realizá-la biologicamente.

 Manejo Conservacionista

Os objetivos de uma agricultura sustentável são o desenvolvimento de sistemas agrícolas que sejam produtivos, conservem os recursos naturais, protejam o ambiente e melhorem as condições de saúde e segurança a longo prazo. Neste sentido, as práticas culturais e de manejo, como a rotação de culturas, o plantio direto, e o manejo do solo conservacionista, são muito aceitáveis pois, além de controlarem a erosão do solo e as perdas de nutrientes, mantêm e/ou melhoram a produtividade do solo.       

Nos melhores solos do cerrado, que em geral são profundos, bem estruturados possuem textura média, com uma boa drenagem ao longo do perfil, e de suaves pendentes, pode-se manter um alto nível de produtividade mediante a aplicação de escassas mas bem estruturadas práticas de conservação de solos; então, um verdadeiro sistema de agricultura sustentável é aquele em que os efeitos benéficos das diferentes práticas de conservação são iguais ou ultrapassam os efeitos adversos dos processos depredativos. O componente vital deste equilíbrio dinâmico é a matéria orgânica, a qual tem que ser mantida através de adições regulares de materiais orgânicos.

Uma das característidas do solo que mais sofre influência do manejo é a estrutura que pode ser considerada o componente básico de sua fertilidade física, ao condicionar o desenvolvimento

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da porosidade intra e interagregados, como a principal via de circulação da água e do ar no solo. A estrutura que envolve uma série de interrelações muito sutis, estabelecidas entre os componentes minerais e orgânicos do solo e que resulta de uma série de processos físicos, químicos e biológicos, pode facilmente se deteriorar pela ação das forças de compressão derivadas do uso incorreto de máquinas e implementos agrícolas. Os restos vegetais deixados na superfície do solo nos sistemas de manejo conservacionistas (Figura 9). repercutem muito no aumento e na conservação da estabilidade de agregados na superfície e na redução da compactação das camadas subsuperficiais.

Todos estes fatores incidem também sobre a capacidade de infiltração de água no solo que é resultante do balanço entre a quantidade de água que chega e a que sai. Neste balanço influi a taxa de infiltração, o escorrimento superficial, a ascensão capilar, a drenagem  e a evaporação.  Do volume de água que cai na superfície, parte se infiltra no solo e atinge o lençol freático, garantindo a perenização dos cursos d'água, enquanto a parte infiltrada é retida pelo solo -  constituindo-se em água disponível para as plantas, o que é de grande importância, pois o processo de nutrição de plantas depende da água disponível para a formação da solução do solo -, as plantas podem absorver os nutrientes necessários ao seu pleno desenvolvimento.

Parte da água retida no solo é perdida por evaporação e/ou evapotranspiração e, em função da capacidade de infiltração e retenção de água do solo e da intensidade das chuvas, parte pode exceder e ser perdida por escoamento superficial; dependendo do volume e da velocidade deste escoamento, pode ocorrer o arraste de partículas de solo e dos insumos nele aplicados, sedimentando-se em baixadas, lagos e rios, o que afeta gradativamente a capacidade produtiva do solo, reduzindo entre outros fatores, a sua fertilidade, a capacidade de infiltração e a retenção de água. Além disso eleva a acidez e provoca irregularidade superficial, o que vem a dificultar seu uso agrícola, exigindo mais energia e insumos para a manutenção de sua produtividade.

Em todos esses fatores citados, a matéria orgânica tem paticipação direta ou indireta, estando presente na atividade agrícola desde a sua origem  e até a sua utilização, de maneira histórica, diretamente à fertilidade e à produtividade dos solos cultivados. Em muitos solos, a matéria orgânica humificada do horizonte superficial é o principal fator responsável pela "capacidade de troca de cátions" (CTC) verdadeira dispensa dos nutrientes, que  podem ser liberados progressivamente à disposição dos cultivos; logo, pode-se deduzir que é um componente do solo que tem papel fundamental nas perdas de nutrientes por lixiviação.

A parte desta relação direta, há outras, indiretas: o húmus, como visto anteriormente, é um dos principais condicionantes do desenvolvimento da estrutura do solo e de sua estabilidade; a degradação da estrutura incide sobre a distribuição do tamanho dos poros e da erodibilidade e perdas de solo da zona, que costuma ser a mais rica em húmus e nutrientes; por outro lado, os resíduos dos cultivos deixados na superfície pelos sistemas de preparo conservacionistas protegem a ação direta do impacto das gotas de chuva (responsáveis pelo selamento de poros e pela formação de crostas superficiais), incidem sobre o regime de temperatura e umidade do solo e, também, reduzem o escoamento superficial.Assim, pode-se dizer que a proteção da superfície do solo nos sistemas de manejo evita perdas de umidade por evaporação, o que, unido ao desenvolvimento de uma quantidade maior de macroporos aptos para a transmissão de água e de microporos para sua retenção,

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proporcionam incremento significativo na capacidade de armazenamento de água e nutrientes e melhor disponibilidade destes para os cultivos.

ADUBAÇÃO E CORREÇÃO

Considerando que a quantidade de nutrientes exportados da lavoura pela fibra e semente é relativamente pequena, comparada a outras culturas de importância econômica, o algodoeiro não seria considerado uma planta esgotante do solo. Contudo, nos casos em que é adotada a prática de arrancar e queimar a soqueira, como medida de controle de doenças e pragas, em cultivo convencional, ocorre perda de parte dos nutrientes que poderiam retornar ao solo. Este método de destruição dos restos culturais associado ao revolvimento intensivo do solo durante seu preparo faz com que as recomendações de adubação sejam superiores ao que é retirado pela fibra e semente para compensar as perdas e evitar o empobrecimento gradual do solo.

Uma maneira de minimizar estas perdas seria através da implantação de sistemas agrícolas sustentáveis que sejam produtivos, conservem os recursos naturais, protejam o ambiente e melhorem as condições de saúde e segurança a longo prazo. Neste sentido, as práticas culturais e de manejo, como a rotação de culturas, a reciclagem de nutrientes e o preparo conservacionista do solo são muito aceitáveis pois, além de controlarem a erosão do solo e as perdas de nutrientes, mantêm e/ou melhoram a produtividade do solo. Em muitos solos, a matéria orgânica humificada do horizonte superficial é o principal fator responsável pela "capacidade de troca de cátions" (CTC), verdadeira despensa de nutrientes, que podem ser liberados progressivamente à disposição dos cultivos; logo, pode-se deduzir que a matéria orgânica tem papel fundamental na ciclagem e manutenção dos nutrientes, evitando as perdas por lixiviação. Os resíduos dos cultivos deixados na superfície pelos sistemas de plantio direto (Figura 1) e/ou semi direto oferecem a melhor forma de se restaurar a produtividade dos solos agrícolas degradados. 

Figura 1. Cobertura do solo (palhada de milho e soja).

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O planejamento de um sistema sustentável, como o citado anteriormente, requer uma série de etapas preliminares como histórico da área, complexo florístico de ervas daninhas, pesquisa de mercado, estudo do perfil do solo e etc.

Análises do Solo

Como seguimento importante desta última, estão as amostragens de solos para análises de fertilidade que servirão como base para recomendação de calagem e  adubação. Por essa razão as amostras coletadas devem ser representativas da área a ser cultivada. Para isso, a área a ser amostrada deve ser dividida em talhões de até 20 ha, homogêneos quanto à topografia, cor e textura do solo, cobertura vegetal anterior, histórico de uso e drenagem. Em cada talhão, toda a área deve ser percorrida em zigue-zague, retirando-se 15 a 20 subamostras simples, de mesmo volume. As subamostras simples deverão ser misturadas em um recipiente limpo para formar uma única amostra composta, da qual são retirados cerca de 500 a 600 g de terra, identificados e enviados ao laboratório. Em áreas sob cultivo convencional as amostras de solo devem ser coletadas nas camadas 0-20 e 20-40 cm. No sistema de Plantio Direto nos três primeiros anos segue-se o mesmo procedimento do convencional, sendo que a partir do quarto ano é recomendável retirar amostras nas camadas 0-10, 10-20 e 20-40 cm de profundidade.

Quanto à época de amostragem, é conveniente retirar amostras com bastante  antecedência do plantio, uma vez que a recomendação de adubação e calagem depende dos resultados da análise do solo. No caso do manejo convencional, convém coletar as amostras antes da aração para permitir a aplicação de calcário antes dessa operação. O ideal seria repetir a amostragem e análise de solo anualmente, visando assegurar o acompanhamento das condições de fertilidade do solo e recomendação de adubação adequada. Que pode ser complementada pela análise foliar.

Análises Foliares

A análise foliar é uma ferramenta essencial para a avaliação do estado nutricional do algodoeiro que deve ser considerada como complementar à análise do solo e nunca como substituta. Quando usada em conjunto com os resultados de análise do solo e o histórico de uso da área, permite acompanhar o equilíbrio nutricional das culturas, tendo-se a recomendação de adubação mais consistente.

A época correta de amostragem é no período do florescimento, 80 a 90 dias após a emergência. Deve-se coletar a 5ª folha totalmente formada a partir do ápice da haste principal, num total de 30 folhas por área homogênea. Recomenda-se evitar folhas que apresentem danos causados por pragas e doenças sintomas de doenças. Após a coleta, as folhas devem ser colocadas em sacos de papel, identificadas e enviadas ao laboratório, se possível no mesmo dia.

Calagem

Por ser o algodoeiro pouco tolerante à acidez e à presença de alumínio trocável e ser exigente em cálcio, elemento vvvvvimportante na germinação e desenvolvimento inicial das raízes, a correção da acidez é essencial para a obtenção de boa produtividade. A

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calagem é a aplicação de corretivo da acidez (geralmente calcário) no solo e tem o objetivo de corrigir a acidez, neutralizar o alumínio trocável, elevar a saturação de bases e fornecer cálcio e magnésio para as plantas. Além desses efeitos diretos, com a calagem a cultura é beneficiada indiretamente pelo aumento da capacidade de troca de cátions (CTC) e da disponibilidade de N, S, P, B e Mo, melhoria do desenvolvimento do sistema radicular, que permite exploração de maior volume de solo e conseqüentemente maior eficiência na absorção de nutrientes do solo pela planta.

Recomendação de calagem

São vários os métodos usados para cálculos da necessidade de calcário, sendo a mais usada para a cultura do algodão aquele baseado na CTC e SATURAÇÃO DE BASES, o qual  aplica a seguinte fórmula:

 NC (t/ha) = CTC (V2-V1)/100, sendo:  NC = necessidade de calcário em t/haCTC (mmolc/dm3) = capacidade de troca cátions do solo a pH 7,0 (Ca2+ + Mg2+ + K+ + H+

+Al3+) V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada para a cultura (60-70%) V1 = porcentagem de saturação por bases atual do solo, calculada pela fórmula: 100 x SB/CTC SB = soma de bases trocáveis (Ca2++Mg2++ K+, em cmolc/dm3).

A quantidade de calcário recomendada é para aplicação do produto em uma superfície (S) de um hectare (10.000 m2), a uma profundidade de incorporação (PI) de 20 cm e usando calcário com PRNT igual a 100 %. Caso haja diferença em qualquer desses critérios é necessário fazer uma correção na quantidade aplicada:

Quantidade de calcário (t/ha) = NC x S/10.000 x PI/20 x 100/PRNT, onde PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total do calcário utilizado.

A calagem deve ser feita a pelo menos dois meses do plantio e em área total com posterior incorporação com aração e gradagem. Caso seja usado o plantio direto, deve ser aplicado na superfície ½ da dosagem recomendada até o limite de 2,5 t/ha em solos argilosos e 2,0 t/ha em solos arenosos.

A correção da acidez e dos teores tóxicos de Al na subsuperfície pode ser feita com gesso agrícola. O seu uso é recomendado quando na camada subsuperficial (20-40) a saturação por alumínio for superior a 20% e/ou a saturação de cálcio for menor que 60% da CTC efetiva.

De modo geral, a quantidade de gesso (QG) a ser aplicada no solo pode ser calculada pela fórmula:

QG (kg/ha) = 50 x %argila  

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Ou ainda: 

Solos arenosos (< 15% de argila) Até 700 kg/haSolos de textura média (15 – 35% de argila) Até 1.200 kg/haSolos argilosos (35 – 60% argila) Até 2.200 kg/haSolos muito argilosos (> 60% argila) Até 3.200 kg/ha

Para o algodoeiro, sugere-se a observação das seguintes condições destacadas por Medeiros et al. (2002):

 I) Em solos argilosos, porém com baixos teores de potássio, a gessagem pode ser efetuada desde que seja feita adubação com potássio.

II) Em solos argilosos com teores médios ou altos de potássio, o gesso pode ser usado sem restrições. III) A quantidade de gesso a ser aplicada não deve ultrapassar 1.500 kg/ha. IV) O gesso pode ser usado como fonte de enxofre e nesse caso a quantidade deve ser calculada para fornecer 20 a 30 kg/ha desse nutriente.Vale salientar que o solo corrigido pode voltar a ficar ácido porque os fatores que causam a acidez continuam atuando ao longo do tempo, por exemplo: perdas de bases (Ca, Mg e K) por lixiviação, que é aumentada na presença dos ânions sulfato, cloreto e nitrato fornecidos nas adubações, com conseqüente redução do pH.

utilização de adubos nitrogenados, como sulfato de amônio e uréia, que acidificam o solo.

processo de nitrificação (transformação de amônio em nitrato) que ocorre após a mineralização do nitrogênio da matéria orgânica, cuja reação provoca  acidificação do solo.

extração de cátions (Ca, Mg, K) pelas culturas. Por isso, é conveniente monitorar, anualmente, a fertilidade do solo através de análises laboratorias para que se identifique alterações na reação do solo e a necessidade de sua correção.

Adubação

Para se fazer uma adubação equilibrada, é muito importante conhecer a quantidade total de nutrientes extraídos, exportados (fibra e sementes) e quanto retornou ao solo através dos restos culturais. Porém, além das exigências nutricionais, vários fatores determinam a resposta das culturas à adubação, tais como: a dinâmica  dos nutrientes no solo, o histórico de uso da área (principalmente, cultura anterior, correções e adubações aplicadas) e, a disponibilidade de água, dentre outros. O fósforo, por exemplo, embora seja o macronutriente menos absorvido pelo algodoeiro, é usado em maior proporção nas formulações de adubação devido à sua fixação no solo, especialmente na regiões de cerrado. De qualquer forma os teores de nutrientes no solo devem ser manejados de modo a se construir sua fertilidade até os níveis considerados altos ou adequados. Desse ponto em diante, a adubação deve objetivar manter a fertilidade e o nível da produtividade alcançada.

O fósforo e o potássio são recomendados em função da análise do solo, considerando as tabelas de recomendação de adubação de cada estado ou região.

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A recomendação de nitrogênio é baseada na produtividade esperada e no potencial de resposta da cultura associado ao histórico de uso da área.

Não se espera resposta à adubação potássica quando o teor de potássio no solo for superior a  2,5 mmolc/dm3 ou quando a relação (Ca + Mg)/K < 20.

O enxofre, assim como o nitrogênio, não é recomendado pela análise do solo. Nos casos em que se espera resposta a esse nutriente, a aplicação de 25 a 30 kg/ha usando gesso tem sido suficientes  para o algodoeiro.

É recomendável o uso de fontes solúveis de fósforo e de formulações NPK que contenham sulfatos, seja como sulfato de amônio e/ou superfosfato simples, que além de N e P também fornecem enxofre.

A adubação de plantio deve ser feita no sulco de semeadura, ao lado e abaixo da semente, com pequena proporção de nitrogênio (10-15 kg/ha), fósforo em dose total, metade ou um terço da dose recomendada de potássio e micronutrientes.

A adubação de cobertura pode ser única ou parcelada, se necessário. A primeira cobertura deve ser feita entre 30 a 35 dias após a emergência, com N, K, S e B (1/2 da dose), caso esses dois últimos não tenham sido aplicados na semeadura. A segunda cobertura com N e K (se necessário) deve ser feita cerca de 20-30 dias após a primeira. Este parcelamento aumenta a eficiência da adubação pois assegura o fornecimento desses nutrientes na fase de maior absorção pelas plantas e evita perdas por lixiviação, sobretudo em solos arenosos. Além disso, a aplicação de quantidades elevadas de adubo potássico na semeadura pode prejudicar a emergência das plantas devido ao aumento da pressão osmótica no meio, uma vez que o cloreto de potássio tem elevado índice salino.

Resultados de pesquisas recentes têm indicado que: A aplicação de nitrogênio em cobertura em doses acima de 120 kg/ha não são econômicas,

As aplicações tardias de nitrogênio (após 80 dias de emergência) promove o crescimento vegetativo, prolongamento do ciclo da cultura, aumento da queda de botões florais e aumento da intensidade de ataques de pragas e doenças, sem que ocorra aumento da produtividade.

Respostas a doses elevadas de nitrogênio em cobertura (acima de 140 kg/ha) estão associadas à compactação do solo e/ou à presença de nematóides.

Quanto aos micronutrientes, a adubação via solo tem se mostrado mais eficiente do que a adubação foliar. Em áreas com histórico favorável para a deficiência desse micronutriente, recomenda-se a aplicação de até 1,2 kg/ha na semeadura, ou em cobertura junto com N e K. Como o limite entre a deficiência e a toxicidade de boro é muito estreito, aplicações acima de 2 kg/ha podem causar prejuízo na produção. Em solos de cerrado, na fase de correção, recomenda-se aplicar 3 kg/ha de Zn se o teor no solo for inferior a 0,6 mg/dm3, para prevenir deficiências.

Os resultados de pesquisa mostram que a adubação foliar é menos eficiente do que a adubação tradicional, via solo. Por isso, a pulverização foliar é recomendada apenas para corrigir deficiências detectadas durante o desenvolvimento da cultura. Entretanto, quando

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essas deficiências ocorrem parte da produção potencial da planta já está comprometida e a correção apenas diminui a intensidade das perdas.

No caso de solos corrigidos e com uso de elevadas adubações com NPK, visando altas produtividades, é conveniente o uso de formulações NPK de plantio contendo micronutrientes, para prevenir possíveis deficiências. Nessas formulações é comum o uso de fritas como fonte de todos os micronutrientes. As fritas são relativamente baratas e de lenta solubilização no solo, assegurando liberação gradual dos micronutrientes sem causar toxicidade.

Sintomas de deficiências

Nitrogênio – Redução do crescimento vegetativo e amarelecimento uniforme da planta. Os sintomas são mais acentuados nas folhas mais velhas, nas quais surgem manchas avermelhadas ou pardas que secam e provocam a queda prematura das folhas. As plantas apresentam-se pouco desenvolvidas, com número reduzido de ramos vegetativos e botões florais.Fósforo – Ocorre atraso no desenvolvimento e as folhas apresentam coloração verde escuro intensa e manchas ferruginosas no limbo. Esses sintomas são difíceis de serem detectados no campo.Potássio – Amarelecimento das margens das folhas mais velhas, que avança entre as nervuras. Com o agravamento da deficiência, a superfície das folhas passam para uma coloração bronzeada. A clorose se desloca gradualmente para as folhas mais novas e as mais velhas morrem e caem, provocando a maturação prematura dos frutos e causando prejuízo na produtividade e na qualidade do produto.  Cálcio – Sintomas de deficiência de cálcio são difíceis de serem encontrados no campo. Sob condições severas de deficiência o sistema radicular é prejudicado, o crescimento é paralisado e ocorre murchamento e queda das folhas. As folhas que não caem tornam-se avermelhadas.Magnésio – O sintoma bem característico é a clorose internerval das folhas mais velhas, que evolui para a coloração vermelho-púrpura, formando um contraste nítido com o verde das nervuras. As folhas deficientes e as maçãs se desprendem com facilidade.Enxofre – Clorose do ponteiro, caracterizado pela coloração verde-limão típica que atinge as folhas mais velhas, causando sua queda prematura.Boro – O algodoeiro é uma das plantas mais exigentes em Boro. Os principais sintomas de deficiências são: folhas novas amareladas e enrugadas, contrastando com o verde normal das folhas mais velhas.

flores defeituosas e aumento da queda de botões florais e dos frutos, os quais apresentam escurecimento interno na sua base.

aparecimento de anéis verde-escuros nos pecíolos. superbrotamento e morte dos ponteiros, quando a deficiência é muito severa.Zinco – Clorose internerval nas folhas novas, que se apresentam com as bordas voltadas para cima e lóbulos alongados no formato de “dedos”. Manganês – Clorose internerval das folhas novas dos ponteiros, contrastando com o verde das nervuras.

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Cobre – as folhas novas apresentam nervuras tortas e salientes. São sintomas de difícil ocorrência no campo.Ferro – Sintomas semelhantes aos da deficiência do manganês. Não se espera deficiência de ferro no Brasil, a não ser em condições de elevada disponibilidade de manganês, devido ao antagonismo entre eles, ou em solos alcalinos.

CULTIVARES

Programa de melhoramento no cerrado

O programa de melhoramento do algodoeiro nas condições do cerrado foi iniciado em 1989, nas condições do Chapadão dos Parecis em Mato Grosso. Posteriormente este programa foi expandido para os cerrados dos Estados de Goiás e Bahia, resultando em uma série de cultivares desenvolvidas especificamente para essas condições. As principais características exigidas pelos produtores de algodoeiro, para uma cultivar a ser utilizada nos cerrados são: produtividade elevada (200 a 300 arrobas/ha); alto rendimento de fibras (38 a 41%); ciclo normal a longo (150 a 180 dias de ciclo); características tecnológicas modernas medidas em HVI (high volume instrument) incluindo: finura de 3,9 a 4,2 I.M ; resistência acima de 28 gf/tex ;  maturidade acima de 82% ; teor de fibras curtas inferior a 7% ; comprimento de fibras acima de 28,5 mm ; número de neps na fibra inferior a 250 ; fiabilidade acima de 2.200 ; alongamento em torno de 7% . As características extrínsecas devem ser correspondentes aos tipos 4,5 a 6,0 com refletância (Rd) acima de 70% e grau de amarelecimento (+b) menor que 10,0 e com índice de caramelização ou açúcar inferior a 0,40%.

São exigidas também resistência múltipla às principais doenças causadas por vírus (doença azul , vermelhão e  mosaico comum), bactérias (bacteriose ou mancha angular), fungos (ramulose, mancha branca, causada por ramulária areola, pintas pretas causadas por Alternaria ou stemphylium, fusariose, verticilose, cercosporiose, antarcnose, tombamento, podridão das maçãs) e nematóides das galhas e reniforme. A resistência a pragas sugadoras e transmissoras de viroses como pulgões e mosca branca é altamente desejável.

As cultivares devem apresentar boas respostas a aplicação de insumos modernos, incluindo fertilizantes químicos, inseticidas, herbicidas, fungicidas, reguladores de crescimento e desfolhantes  É exigida boa adaptação a colheita mecanizada, devendo as plantas apresentarem a inserção do primeiro ramo frutífero acima de 20 cm do solo; porte ereto, mesmo quando fixarem todo seu potencial produtivo; capulhos bem aderidos as cápsulas e que não caiam mesmo após fortes chuvas e ventos. Devem ser tolerantes aos veranicos prolongados, que ocorrem normalmente nos cerrados de Goiás, Bahia, Maranhão e Piauí; devendo apresentar sistema radicular vigoroso e profundo; possuírem alta capacidade de fixação de capulhos nas plantas, inclusive até nos ponteiros; e suportarem espaçamentos estreitos e altas densidades de plantas/metro linear de sulco.

Como resultados da continuidade de seu programa de melhoramento a Embrapa já desenvolveu onze cultivares de algodoeiro para as condições do cerrado, incluindo-se a CNPA ITA 90, CNPA ITA 92, BRS ITA 96, CNPA ITA 97, BRS ANTARES, BRS FACUAL, BRS AROEIRA , BRS IPÊ , BRS SUCUPIRA , BRS ITAUBA e BRS CEDRO,

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além de estarem em fase final de avaliação e aumento de sementes mais seis novas cultivares. Dessas as cultivares  BRS ITA 96 , BRS FACUAL , BRS ANTARES e BRS ITAUBA são indicadas para os produtores familiares pela sua alta resistência múltipla a doenças, rusticidade e poderem ser trabalhadas com baixos custos de produtividade, além de serem bem adaptadas para colheita manual. As cultivares indicadas para a safra 2002/2003 para plantio no cerrado são a CNPA ITA 90 ,BRS IPÊ , BRS AROEIRA , BRS SUCUPIRA e BRS CEDRO. Para obter as melhores respostas e custos mais baixos todas as cultivares devem ser exploradas em esquema de rotação de culturas, onde após a abertura do cerrado se faria uma safra com arroz , três safras com soja, seguido-as de duas safras com algodão e depois uma de milho. Usando-se a rotação do algodão em ciclos trianuais com soja e milho evita-se o agravamento dos problemas com doenças e pragas, além de serem obtidas produtividades mais elevadas e custos mais baixos com as três lavouras e melhor aproveitamento da mão de obra e das maquinas na propriedade.

CNPA ITA 90

Cultivar mais plantada no cerrado brasileiro, com mais de 50% da área cultivada. Em alguns Estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul chega a ocupar mais de 85% da área. Com essa cultivar os produtores do cerrado tem obtido as mais altas produtividades, com rendimentos médios de 300 @/ha, podendo chegar, em algumas lavouras, a até 400 @/ha. O seu rendimento de fibras está em torno de 30 a 39%, além de apresentar excelentes características tecnológicas de fibras, com resistência forte (30,0 gf/tex) , comprimento no HVI-SL 2,5% de 30,2 mm , finura de 4,2 a 4,5 mm , refletância de 72%, grau de amarelecimento de 7,9 e fiabilidade (CSP) entre 2.200 a 2.500. Possui resistência moderada a ramulose, mancha de ramularia e pinta preta. É medianamente susceptível a bacteriose e altamente susceptível a viroses (doença azul, vermelhão  e mosaico comum), devendo-se usar o MIP, considerando o pulgão como vetor de viroses, ou seja, nunca permitir que a população de pulgões passe de 10% de plantas infestadas, até os 130 dias do ciclo, após o qual será permitida a elevação dessa população para 30% de plantas infestadas por pequenas colônias. Possui ciclo longo (170 a 180 dias), devendo ser plantada cedo outubro a novembro no Estado de Mato Grosso do Sul, novembro nos Estados da Bahia , Goiás e Maranhão e 20 de novembro a 30 de dezembro no Estado de Mato  Grosso.

Exige a regulação do porte com reguladores de crescimento, que devem ser aplicados a partir dos 25 a 30 dias, além de adubação elevada. Essa cultivar é a mais indicada para produtores altamente tecnificados, inclusive dos chapadões de maior altitude dos Estados de Goiás , Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, resultando em excelentes rendimentos para chapadões de até 1.100m de altitude. As sementes originais dessa cultivar começaram a ser distribuídas em 1992, encontrando-se atualmente em franca degeneração.  Atualmente a Embrapa e seus licenciados estão distribuindo uma nova semente genética, denominada CNPA ITA 90 II, que preserva todas as caracteristicas da cultivar original, além de ser mais uniforme e apresentar produtividade 25 @/ha superior a cultivar original.

BRS IPÊ

Esta cultivar apresenta em media produtividade equivalente ou até 10% superior a CNPA ITA 90 e ciclo igual (170 a 180 dias), obtendo melhor desempenho nas regiões de

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chapadões de altitude (até 1.100 m). Apresenta rendimento de fibras de 38%, resistência de fibras forte (28,8 gf.tex), finura media (IM de 4,2) e comprimento de fibras no HVI –SL 2,5% de 29,7 mm. Apresenta tolerância a ramulose , bacteriose, mancha de Alternaria  e Ramularia e viroses. Deve ser manejada como uma cultivar sensível a viroses, porém utilizando MIP com 20% de plantas infestadas com pulgões até os 110 dias, após os quais se toleraria 40% de plantas com colônias pequenas de pulgões. Deve-se controlar o porte das plantas e a mancha de Ramularia cedo,iniciando as aplicações de fungicidas e reguladores aos 40 dias da emergência.  BRS AROEIRA

Possui produtividade de algodão em caroço em torno de 10% acima da CNPA ITA 90, porém possui rendimento de fibras 1% inferior (media de 37%). Apresenta ciclo normal (160 a 170 dias), sendo em média 10 dias mais precoce que a CNPA ITA 90. Possui boas características de fibras com comprimento no HVI-SL 2,5% de 29,4 ; resistência de 28 gf/tex e finura (IM) de 4,1. Sua grande vantagem está na resistência múltipla a doenças, por apresentar resistência a ramulose , viroses , mancha de stemphylium, além de tolerância a bacteriose, manchas de ramulária , alternária e ao complexo fusarium-nematóide. Com essas características pode ser indicada com vantagens para o cerrado de Goiás e Mato Grosso do Sul, inclusive nas áreas com infestação de fusarium-nematóide.

Na sincronia de plantio nas fazendas, essa cultivar deve ser plantada mais cedo (outubro a novembro na maioria das regiões), para se obter vantagens de sua resistência a doenças.   Deve-se controlar o porte das plantas e a mancha de ramulária cedo (iniciando as aplicações de fungicidas e reguladores aos 40 dias da emergência). É uma cultivar para uso em sistema de produção de baixo custo, devendo para isto ser usada adubação média, menos aplicação de N na fundação e apenas duas coberturas; usar MIP com controle de pulgões apenas quando se detectar 60% de plantas com colônias e programar apenas uma aplicação de fungicida para a mancha de ramulária aos 30-40 dias da emergência, quando aparecerem os primeiros sintomas nas folhas do terço inferior.

BRS SUCUPIRA

Cultivar de algodoeiro indicada para os cerrados de Mato Grosso e Bahia, por apresentar resistência múltipla a doenças e alta resistência a veranicos e solos de baixa fertilidade, inclusive arenosos. Apresenta em média, produtividade de algodão em caroço  e de fibras 5% e 2% acima da CNPA ITA 90, respectivamente. Possui ciclo longo (170 a 180 dias), rendimento de fibras de 37 a 38% , resistência de fibras de 30,0 gf/tex e finura (I.M.) de 3,9.

Apresenta resistência múltipla a doenças, incluindo viroses , ramulose e bacteriose, além de tolerância as manchas de ramulária, alternária e a seca. Na sincronia de plantio nas fazendas, essa cultivar deve ser plantada mais cedo (outubro a novembro na maioria das regiões), para se obter vantagens de sua resistência a doenças.  Deve-se controlar o porte das plantas e a mancha de Ramulária cedo (iniciando as aplicações de fungicidas e reguladores aos 40 dias da emergência). É uma cultivar para uso em sistema de produção de baixo custo, devendo para isto ser usada adubação media, menos aplicação de N na

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fundação e apenas duas coberturas; usar MIP com controle de pulgões apenas quando se detectar 60% de plantas com colônias de pulgões e programar apenas uma aplicação de fungicida para ramulária aos 30-40 dias da emergência, quando aparecerem os primeiros sintomas nas folhas do terço inferior.  BRS CEDRO

Cultivar de alta produtividade (até 310 @/ha) e alto rendimento de fibras (40 a 41%). Apresenta, também, resistência a viroses e tolerância a ramulose, ramularia e bacteriose. Possui ciclo longo, porte alto e alta resistência de fibras (acima de 28 gf/tex), comprimento HVI-SL 2,5% de 30mm e finura (I.M) de 4,3.

O plantio dessa cultivar deve ser efetuado em novembro no Mato Grosso do Sul e em dezembro no Mato Grosso. Por ser resistente a viroses pode-se trabalhar com MIP normal, utilizando-se o nível de controle de pulgão de 60% de plantas infestadas. Por ser de porte alto recomenda-se iniciar as aplicações de reguladores aos 25 a 30 dias, programando-se 2,0 l de regulador/ha. Cultivar adequada para produtores altamente tecnificados. Recomenda-se prever a possibilidade de controle de ramulária e ramulose iniciando-se as aplicações aos 30-40 dias no início do aparecimento dos sintomas.

Tabela 1. Características médias das cultivares de algodoeiro indicadas para os chapadões de altitude do Centro-Oeste.

Características CNPA ITA 90 BRS IPÊ BRS CEDROProdutividade Até 300 Até 330 Até 330Rendimento de fibras (%) 38 - 39 38 - 39 39 - 40-Comprimento de fibras (HVI - mm)

30,2 29,7 30,0

Resistência de fibras (gf/tex) 30,0 28,8 29,2Finura (Í.Micronaire) 4,4 4,2 4,4Resistência a viroses Susceptível Medianamente

ResistenteResistente

Resistência a ramulose Medianamente Resistente

Medianamente Resistente

Medianamente Resistente

Ciclo (dias) 170 - 180 170 - 180 170 - 180

Tabela 2. Características médias das cultivares de algodoeiro indicadas para os cerrados de baixa altitude do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.

Características BRS AROEIRA BRS SUCUPIRA CNPA ITA 90Produtividade Até 330 Até 315 Até 300Rendimento de fibras (%) 37 - 38 37 - 38 38 - 39Comprimento de fibras (HVI - mm)

29,4 30,8 30,2

Resistência de fibras (gf/tex) 28,0 30,0 30,0Finura (Í.Micronaire) 4,1 3,9 4,4Resistência a viroses Resistente Resistente SusceptívelResistência a ramulose Resistente Resistente Medianamente

ResistenteCiclo (dias) 150 - 160 170 - 180 170 - 180

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SEMENTES

A semente constitui um dos insumos de menor custo no sistema de produção do algodoeiro, correspondendo, em média a 2,3 a 3,0 % do custo total da lavoura (Freire et al. 1999).As sementes são produzidas por produtores e empresas especializadas. A semente é um pacote cujo conteúdo são todos os genes que caracterizam a espécie e a cultivar. Se uma determinada cultivar é eleita pela pesquisa e pelo consenso entre produtores, é porque o seu comportamento é o melhor possível para as condições de clima, solo e de tecnologia agrícola da região, e as características de seus produtos, são as mais aceitas. Conseqüentemente, o patrimônio genético desta cultivar, que basicamente diferencia seu comportamento, tem que ser protegido. (Carvalho & Nakagawa, 1980).

O produtor que adquire uma semente de qualidade, deve esperar que o seu plantio resulte na reprodução das características especificadas pela descrição da cultivar, com o máximo de uniformidade. O controle de qualidade das sementes é regulamentada pelo Governo Federal em legislação específica que trata do comércio e fiscalização de sementes e mudas. A legislação brasileira recente permitiu a implantação, em todo o país, de sementes certificadas.

A produção de sementes envolve diferentes entidades, responsáveis pelas sucessivas etapas que resultam na disponibilização das sementes aos produtores.Carvalho & Nakagawa (1980), definem o papel das diferentes entidades envolvidas na produção de sementes como segue:

Entidade certificadora:

Desempenha diferentes papéis no processo de produção de sementes certificadas. É responsável pelo programa de melhoramento genético, do qual resultam novas cultivares as quais são registradas, protegidas e recomendadas aos produtores; - Multiplica as sementes das cultivares geradas, resultando no que se denomina de semente básica; - Exerce papel fiscalizador das etapas do processo produtivo, podendo aprovar ou rejeitar o trabalho de produção da semente; - Pode produzir a semente certificada. Entretanto esse papel vem sendo desempenhado pelo setor privado, por meio de contratos estabelecidos entre o obtentor da cultivar e uma entidade produtora.

Entidade produtora

Pode ser do setor público ou privado. Caracteriza-se por ser responsável pelo nível de qualidade constante do certificado. Quem emite o certificado, de acordo com as análises realizadas, é a entidade certificadora, porém quem se responsabiliza perante o cliente consumidor pelo que consta no certificado, é a entidade produtora.

Cooperante

É o indivíduo em cuja área agrícola serão produzidas as sementes. Quando a entidade produtora não dispõe de área suficiente para produzir toda a semente a que se propõe, faz contratos específicos com outros produtores para este fim.

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No cerrado brasileiro, para a produção de sementes de algodão, normalmente a entidade produtora é, também, cooperante, uma vez que produz as sementes em sua própria área agrícola.

Classes de Sementes

A semente certificada é o resultado de um material vegetal, de cujas caracterísiticas genéticas, os atores envolvidos no processo produtivo, têm pleno conhecimento.  Para que se produza a semente certificada, o ponto de partida é uma pequena quantidade de sementes de determinada cultivar, obtidas pelo melhoramento genético ou da multiplicação das sementes de uma cultivar já existente, sob condições rigorosamente controladas (Carvalho & Nakagawa, 1980).

Essa pequena quantidade de sementes, ao ser multiplicada, resulta no aparecimento de algumas classes intermediárias, até se alcançar o nível de semente certificada.

I) Semente genética: é produzida sob responsabilidade do melhorista e mantida dentro de suas características de pureza genética. A partir desta é produzida a  semente básica.II) Semente básica: é aquela que resulta da multiplicação da semente genética, produzida sob a responsabilidade do obtentor ou de uma instituição por ele autorizada. Em geral é a partir desta classe que se produz a certificada, dependendo da quantidade produzida. Se esta não for suficiente, exige uma nova multiplicação, da qual resulta a semente registrada.III) Semente Fiscalizada: resulta da multiplicação da semente básica, Certificada ou da própria Fiscalizada, categorias A e B mantendo sua pureza varietal e identidade genética e produzidas sob controle da entidade certificadora.IV) Semente certificada: resulta da multiplicação da semente básica, da registrada ou da própria certificada categoria A. É produzida pela entidade produtora de acordo com normas estabelecidas pela entidade certificadora. É a classe de sementes que será disponibilizada aos produtores.

No Estado de Mato Grosso, de acordo com a portaria 93, de 1-9-1998, existem duas classes de sementes certificadas (A e B) e três classes de sementes Fiscalizadas (A, B e C), sendo o produto derivado da Semente Fiscalizada C, destinado a indústria de óleo e torta.

Estabelecimento de campo para produção de sementes: O estabelecimento de um campo de produção de sementes requer uma série de medidas, cujo objetivo principal é evitar que as sementes sofram contaminação genética ou varietal durante qualquer uma das fases do processo produtivo. As principais medidas a serem tomadas visando a produção de sementes são:a) Definição da cultivar;b) Registro do produtor ou contrato firmado com o obtentor da cultivar;c) Escolha da área;d) Isolamento dos campos de produção ee) Purificação ou "roguing"

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Cuidados a serem tomados no processo de produção de sementes de algodoeiro Taxa de cruzamento natural: também conhecida como taxa de alogamia. É considerada bastante baixa no cerrado, em função da baixa população de abelhas silvestres, grande extensão de lavouras comerciais e alta frequência de aplicação de inseticidas qua provocam a morte de insetos polinizadores. Esta taxa varia de 0 a 15% no Mato Grosso.

Misturas mecânicas: podem ocorrer durante as operações de plantio, colheita e armazenamento, beneficiamento, ensacamento e deslintamento. Devem ser tomadas medidas preventivas visando evitar as misturas, destacando-se: evitar o plantio de algodão em área previamente plantada com algodão; passar corrente de ar com uso de compressor pelos fusos da colheitadeira e dutos da algodoeira; limpar as máquinas entre o beneficiamento de uma cultivar e outra; eliminar uma pequena parte do material beneficiado após a mudança de cultivar.

Degeneração genética natural: fenômeno que ocorre de forma natural, principalmente quando a cultivar é derivada de hibridação interespecífica. Para minimizar tal problema deve-se evitar o plantio sucessivo de algodão em uma mesma área e isolar os campos de produção de sementes.

O isolamento de um campo de produção de sementes de algodão deve levar em consideração as seguintes distâncias entre campos cultivados com diferentes variedades:

Isolamento de campos para produção de sementes básica e certificada: 50 metros quando houver barreira vegetal;800 metros quando não houver barreira vegetal;

Isolamento de campos para produção de semente fiscalizada: 30 metros quando houver barreira vegetal;500 metros quando não houver barreira vegetalFreire et al. (1999)

Inspeções no campo O objetivo das inspeções nos campos de produção de sementes é comparar a qualidade dos mesmos, com os padrões de lavoura recomendados oficialmente. Estas inspeções visam assegurar que as sementes não estejam contaminadas, física ou geneticamente além dos limites tolerados (Vieira & Beltrão, 1999).

Os campos de produção de algodoeiro devem ser inspecionados pelo menos três vezes visando confirmar os padrões de isolamento, presença e incidência de plantas fora do padrão, de plantas de outras espécies, raças e cultivares, ervas daninhas proibidas e doenças, entre outros.

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Os estádios fenológicos onde as inspeções devem ocorrer são os seguintes:

Pré-floração: compreendido o período de crescimento vegetativo que precede o florescimento;Floração: período em que as flores estão abertas, o estigma receptivo e a antera liberando pólen. Para fins de inspeção, 5% ou mais de plantas florescidas, caracteriza o período de floração;Pré-colheita: quando 50% das maçãs encontram-se abertas, as sementes se aproximam da maturação fisiológica e estão completamente formadas. É possível que, inspeções posteriores, sejam necessárias (Vieira & Beltrão, 1999).

–Padrões de campos de produção de sementes exigidos no estado de Mato Grosso:–presença de outras espécies de algodão: zero (Tabela1)–presença de outras cultivares: 1:12.000; 1:8.000 1:4.000 para as classes básica, certificada e fiscalizada, respectivamente–presença de plantas silvestres comuns e nocivas toleradas: o mínimo possível, com atenção especial para carrapicho e picão preto;–presença de plantas nocivas proibidas: zero para Oryza sativa - arroz preto, Vigna spp (feijáo de corda), Cyperus rotundus (tiririca), Sorghum halepense (capim maçambaia), Rottboellia exaltata (capim camalote).bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis): caso o ataque seja generalizado, com mais de 40% de maçãs atacadas, deve-se eliminar o campo;–Murcha de Fusarium: (Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum): eliminar o campo quando a incidência for generalizada. Caso a doença ocorra em reboleiras, a área deve ser isolada e as plantas eliminadas até em torno de 10 metros em volta da reboleira, programando-se uma nova inspeção para acompanhar a evolução da doença. É recomendável eliminar o campo quando a incidência for acima de 1%, tal como ocorre em São Paulo.–Ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides): tolerar até, no máximo, 5% de plantas infectadas. Estas devem ser arrancadas e incineradas

Existem, também, padrões de sanidade de sementes de algodão definidos por uma comissão que trata desse assunto a nível nacional (Tabela 2)

A Embrapa Algodão possui vários parceiros licenciados para produção de sementes de algodoeiro em diferentes regiões do Brasil, os quais produzem as sementes de cultivares lançadas pelo melhoramento genético, a partir dos programas de pesquisa existentes nos diferentes estados produtores.

PLANTIO

A resposta do algodoeiro em relação à população de plantas é complexa e envolve aspectos ecofisiológicos. Vários fatores influenciam na definição do melhor espaçamento entre fileiras podendo-se destacar: cultivar, clima, fertilidade do solo e sistema de cultivo e colheita (Righi et al., 1965; Laca Buendia & Faria, 1982).

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O espaçamento adequado é aquele em que as folhas das plantas devem cobrir toda a superfície entre fileira na época do máximo florescimento, sem haver entrelaçamentos entre elas. Como regra prática, com base em resultados de pesquisas, sugere-se como espaçamento ideal, aquele correspondente a 2/3 da altura das plantas (Gridi-Papp et al., 1992).

Alterações no espaçamento e na densidade de plantio, induzem a uma série de modificações no crescimento e desenvolvimento do algodoeiro. A altura das plantas, o diâmetro da haste principal, a altura de inserção do primeiro ramo frutífero, o número de ramos vegetativos e reprodutivos são algumas das características morfológicas do algodoeiro significativamente influenciadas pela população de plantas (Staut & Lamas, 1999: Jost & Cothren, 2000). Essas características se correlacionam negativamente com o aumento da população, exceto a altura de inserção do primeiro ramo frutífero, que é maior em condições de altas populações.

Os componentes de produção como número de capulhos por planta, peso de capulho e peso de 100 sementes, têm os seus valores reduzidos com o aumento da população de plantas (Lamas et al., 1989; Souza, 1996).

A produção de algodão em caroço é mais influenciada pelo espaçamento entre fileiras e as características tecnológicas da fibra, pela densidade (Jones & Wells), 1997). Geralmente, tem-se verificado uma tendência de redução do espaçamento entre fileiras e aumento da densidade de plantas. Entretanto, os resultados já obtidos permitem inferir que, nem sempre a produtividade é maior numa condição de alta população (Lamas et al., 1989; Jost & Cothren, 2000). A relação entre a produção de algodão e a população de plantas depende das condições edafoclimáticas nas quais a cultura se desenvolve. Assim, embora a redução do espaçamento entre fileiras possa reduzir os custos de produção sem alterar significativamente a produção de fibra, a qualidade desta pode ser sensivelmente deteriorada.Para as condições do cerrado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, considerando-se as cultivares atualmente em uso, a população de plantas deve estar entre 80.000 a 120.000 plantas/ha. O espaçamento entre fileiras deve ser de 0,80 a 0,90, com 8 a 12 plantas/m.2

TRATOS CULTURAIS

Entende-se por tratos culturais, o conjunto de práticas que permitem que uma lavoura expresse ao máximo sua potencialidade produtiva. Entre as práticas culturais empregadas na cultura do algodoeiro durante o seu ciclo produtivo destacam-se: direção e profundidade de semeadura, desbaste, espaçamento, densidade, arranjos, uso de reguladores de crescimento e desfolhantes.

A semeadura do algodoeiro no cerrado é feita mecanicamente com semeadeira tratorizada, (Figura 1).

A semeadura deverá ser efetuada em curva de nível ou, pelo menos, em sentido perpendicular ao escorrimento das águas (Figura 2). A profundidade de semeadura deverá

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fixar-se entre 3 e 5cm, conforme a textura e a capacidade de armazenamento de água do solo. De maneira geral, quanto maior a capacidade de retenção de água do solo, menor a profundidade de plantio. Solos de textura arenosa e baixa capacidade de armazenamento de água, requerem maior profundidade que os solos de textura pesada. Para os primeiros, recomenda-se o plantio a uma profundidade de 5cm e, para os outros, a uma profundidade de 3cm.

Na semeadurana mecanizada, sugere-se de 5 a 12 plantas por metro linear, em função da fertilidade e da disponibilidade de água no solo. Em condições de cerrado, e em grandes plantios, indica-se usar semente deslintada, grafitada, tratada e calibrar a semeadeira, para deixar cair aproximadamente 13 sementes/m. A prática do desbaste, recomendada para pequenos produtores não se aplica às condições do cerrado. A calibração da semeadeira deverá ser feita levando-se em consideração, também, o teor de germinação e vigor da semente.

À época de plantio do algodoeiro no cerrado está relacionada ao grau de incidência de pragas, doenças e a possibilidade de colheita em período seco. Geralmente, as melhores épocas de plantio coincidem com o início do período chuvoso. Do plantio ao início da floração, a lavoura necessita de água, mas em menor quantidade que nas outras fases do seu ciclo. O déficit hídrico e o excesso de umidade no período compreendido entre 60 e 100 dias após a emergência (DAE), podem induzir a queda das estruturas frutíferas e comprometer a produção, pois aproximadamente, 80% das estruturas responsáveis pela produção do algodoeiro são emitidas neste período.

Para qualquer cultivar de algodoeiro, cultivado em regime de sequeiro, recomenda-se que a época de plantio não se prolongue além de um mês. A falta de uniformidade poderá acarretar problemas com pragas, particularmente com lagarta rosada, bicudo e percevejos, com reflexos no rendimento.

Para a região de cerrado, abrangendo os Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais, o plantio no mês de novembro tem dado melhores resultados. Sendo que nos chapadões de Goiás esta época pode ser ampliada até final de Dezembro, a exemplo do vizinho Estado do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul onde a melhor época de semeadura tem sido durante o mês de dezembro (Figura 3).

Entende-se por espaçamento o intervalo entre duas fileiras, e, densidade de plantio, o espaço deixado entre plantas dentro da fileira de uma lavoura. O espaçamento e a densidade de plantio são aspectos tecnológicos, que definem a população e o arranjo de plantas, podendo interferir no rendimento e nas operações a serem realizadas em uma lavoura. O espaçamento e densidade de plantio baseiam-se em três fatores: a) disponibilidade de água no solo; b) fertilidade do solo e c) a presença da praga do bicudo.

Para o algodoeiro no cerrado, quando houver condições de elevada disponibilidade de água e solos férteis, recomenda-se o uso de populações mais elevadas dentro da faixa ótima de 50mil a 100mil plantas/ha. A população de plantas sugerida para o algodoeiro nessas condições situa-se em torno de 80.000 plantas/ha. Variações de 25% para mais ou para menos, não alteram significativamente o rendimento de algodão em pluma. A

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recomendação para espaçamento é de 0,76m a 0,90m entre fileiras e o número de plantas por metro linear, dependerá da fertilidade do solo, da disponibilidade de água e do hábito de crescimento da cultivar. De maneira geral, em terras férteis este número deverá ser maior, como já foi discutido. A mesma recomendação deve ser feita quando do  uso de cultivares de maior porte e no caso de pouca disponibilidade de água no solo.

Regulador de crescimento

A manipulação da arquitetura da planta do algodoeiro através de biorreguladores de crescimento é uma estratégia agronômica que visa o incremento da produção e maior eficiência no uso de defensivos e na colheita.

Reguladores de crescimento são compostos sintéticos que atuam no metabolismo da planta inibindo a síntese dos hormônios de crescimento (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abissísico). Os principais produtos usados como reguladores de crescimento em algodão são:

    Cloreto de mepiquat (pix) – 1,0 litro ha-1. aplicar parcelado em quatro aplicações, a primeira (10% da dose recomendada) quando as plantas do algodoeiro alcançarem 40-50cm de altura, a segunda (20%da dose), a terceira (30%da dose) e a quarta, 40% da dose a ser testada, serão aplicadas quando da retomada do crescimento das plantas;

    Cloreto de clormequat (tuval) – 50g ha-1. Em condições semelhantes ao produto anterior;

    Cloreto de clorocolina (CCC) – 0,50 litro ha-1. Aplicar entre 35-50 dias após a germinação ou quando as plantas atingirem 1,0m de altura.

Recomenda-se fazer aplicação dos produtos parceladamente. No caso do pix, por exemplo, 1 litro do produto comercial seria aplicado: 100 ml ha -1 aos 35-40 dias após a germinação; 200ml ha-1 7 a 14 dias após; 300ml ha-1 7 a 14 dias após;400ml ha-1 7 a 14 dias após. Os efeitos esperados destes produtos na planta do algodoeiro são: plantas mais compactas, maior penetração de luz no dossel da planta, frutificação mais precoce, maior produção por planta, maior número de capulhos por plantas, menor incidência de pragas e maior eficiência na colheita. Desfolhantes e maturadores são produtos químicos utilizados com o propósito de otimizar o desempenho da colheita do algodoeiro. Dentre os efeitos atribuídos a estes insumos destacam-se: redução dos problemas ocasionados com o excesso de sombreamento como apodrecimento das maçãs no baixeiro da planta, redução da umidade das fibras e das sementes, obtenção de um produto mais limpo, redução dos custos de beneficiamento, precocidade e uniformidade de abertura dos frutos, além de facilitar a colheita. Estes produtos também reduzem a frutificação tardia e a incidência de pragas como a do bicudo e a lagarta rosada.

Dentre os fatores ambientais, a temperatura é o que mais influencia a ação destes produtos. Os produtos mais usados em algodoeiro são:Thidiazuron – 0,075 a 0,150 kg ha-1   com 60% de frutos abertosBromoxinil -   1,0 kg ha-1   com 60% de frutos abertos

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Dimethipin -    1,5 a 2,0 kg ha-1   com 60 % de frutos abertosEthefon+cyclanilide – 0,72+1,20 ha-1   com 90 % de frutos abertos.

Recomendações técnicas para o uso de herbicidas no controle de plantas daninhas na cultura do algodoeiro no cerrado

1. Plantas Daninhas

1.1.      Conceituação

Planta daninha pode ser definida como toda planta cujas vantagens não têm sido ainda descobertas ou como a planta que interfere com os objetivos do homem (Fisher, 1973). Ashton & Mônaco (1991) definem planta daninha como sendo a planta que cresce onde não é desejada. Assim, uma planta de algodão, por exemplo, é considerada planta daninha num plantio de mamona.

1.2.      Características das Plantas Daninhas     As espécies daninhas podem germinar, crescer, desenvolver-se e reproduzir em condições ambientais pouco favoráveis, como em estresse hídrico, umidade excessiva, temperaturas pouco propícias, fertilidade desfavorável, elevada salinidade, acidez ou alcalinidade.As plantas daninhas constituem-se, também, num problema sério para a agricultura porque se desenvolvem em condições semelhantes às das plantas cultivadas. Se as condições edafoclimáticas  são propícias à lavoura, o são também para as espécies daninhas, mas, se as condições ambientais são antagônicas às espécies cultivadas, as espécies daninhas, por apresentarem elevado grau de adaptação, podem aí sobreviver e se perpetuar muito mais facilmente. A Figura 1 ilustra o grau de incidência de plantas daninha em área de cultivo de algodoeiro irrigado no litoral do Rio Grande do Norte.

1.3. Impacto das Plantas Daninhas

As plantas daninhas reduzem a produção das lavouras e aumentam seus custos de produção, mas podem, também, causar problemas de ordem social afetando a saúde, as residências, as áreas de recreação e a manutenção de áreas não cultivadas. Além desses aspectos, as plantas daninhas podem afetar a eficiência da terra, o controle de pragas e doenças, produtos agrícolas, o manejo da água na irrigação e a eficiência humana (Ashton & Mônaco, 1991).       

2. Competição Plantas Daninhas/Plantas Cultivadas

O algodoeiro, como qualquer planta cultivada, não se desenvolve de maneira isolada, mas com plantas de sua espécie e de espécies diferentes, em populações estreitamente espaçadas e intimamente relacionadas. Na fase de plântula, um espécime não altera o estabelecimento de outro da mesma ou de espécie diferente. A interferência de uma planta sobre outra se inicia quando a demanda, por um ou mais fatores de crescimento, é maior que o suprimento.

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 Período Crítico de Competição

Denomina-se período crítico de competição o período no qual a presença de plantas daninhas reduz expressivamente o rendimento das plantas cultivadas. Laca-Buendia et al. (1979) trabalhando com algodão em regime de sequeiro, definiram o período crítico de competição entre as plantas daninhas e o algodoeiro no Estado de Minas Gerais. Para o cerrado do Triângulo Mineiro, o período crítico de competição foi entre o plantio e a sexta semana após a emergência (Figura 2). As espécies daninhas aí predominantes foram: Commelina nudiflora L., Digitaria sanguinalis L. Scop., Althernanthera ficoidea L.r. Br. e Sida rhombifolia L. No Norte de Minas, este período se configurou entre as quarta e oitava semanas após emergência (Figura 2) e as espécies daninhas predominates foram: Sida cordifollia L., Sida rhombifolia L., Merremia aegyptia L. Urban e Ipomoea aristolochiaefolia HBK Don.

3.       Métodos de Controle de Plantas Daninhas

3.1.      Prevenção

Este método consiste em impedir ou evitar que as plantas daninhas sejam transportadas para áreas agrícolas onde elas ainda não existem. É, em geral, o meio mais prático de combate às plantas daninhas.

3.2.      Erradicação

A erradicação consiste na eliminação de todas as plantas e seus órgãos, inclusive das sementes. Este método é difícil de ser realizado, e só é economicamente viável em pequenas hortas e jardins, onde toda massa do solo (1,2m a 2m de profundidade) é removida ou peneirada; no caso de plantio extensivo de culturas é quase impossível o uso da erradicação, pois os custos seriam bastante elevados.

3.3.      Controle

Este é o método mais utilizado de combate de plantas daninhas na agricultura e consiste em interromper temporariamente o crescimento e o desenvolvimento das referidas plantas durante o ciclo da cultura, especialmente no período crítico de competição.

3.3.1. Controle Mecânico

Este tipo de controle pode ser manual, através de cultivo a tração animal ou tratorizado. Preparo do solo

O preparo do solo pode se mostrar um eficiente meio de controle de plantas daninhas, podendo ser realizado com o solo seco ou úmido. O aspecto mais importante neste método é o uso correto do implemento a ser utilizado. A Figura 3 ilustra um tipo de implemento usado no preparo do solo para o plantio do algodoeiro em área irrigada.

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Controle à enxada

A enxada é um dos implementos mais utilizados no controle de plantas daninhas na cultura do algodoeiro, especialmente nos países e regiões pobres onde a mão-de-obra é abundante e os custos, baixos. No uso da enxada, os aspectos mais importantes a serem considerados são a profundidade do corte e a época da capina. A profundidade da capina deve ser o mais superficial possível, 3 cm no máximo, para não danificar as raízes do algodoeiro. A limpa superficial deverá ser iniciada logo que as plantas daninhas germinem, pois nesse estágio elas são mais susceptíveis ao controle, não sendo necessário aprofundar a operação.         Controle a Cultivador

O uso de cultivador ainda  é o método mais utilizado na cotonicultura. Neste método, recomenda-se levar em consideração, também, a profundidade e a época de operação. Os cultivos devem ser concentrados no período crítico de competição e a operação deve ser iniciada após plantio, dependendo do grau de incidência e se prolongar até os sessenta dias da emergência. Semelhantemente ao processo manual, o agricultor cultivará superficialmente, não excedendo 3 cm de profundidade. Há evidências, na literatura, de que quanto mais amplo o espaçamento, menor a concentração de raízes em torno das plantas e maior o entrelaçamento de raízes nas entrelinhas (Freire & Alves, 1976). Espaçamentos mais largos cultivos mais rasos, portanto.

Controle Químico

Este tipo de controle é realizado através do uso de herbicidas que são produtos químicos que, aplicados em concentrações convenientes às plantas daninhas, matam ou retardam o seu crescimento em benefício das plantas cultivadas. É o método mais empregado na cotonicultura do cerrado. Os herbicidas podem constituir-se num insumo de grande eficiência no controle de plantas daninhas (Figura 4). A Figura 5 ilustra o efeito de herbicida na dessecação da cultura de cobertura no plantio direto em algodoeiro no cerrado goiano.

4.       Herbicidas Registrados para a Cultura do Algodão

Alachlor, Alachlor+Trifluralin, Amônio – Glufosinato, Clethodim, Clomazone, Cyanazine, Diuron, Diuron + MSMA, Diuron + Paraquat, Fluazifop – P- Butil, Linuron, MSMA, Norflurazon, Oxadiazon, Oxyfluorfen, Paraquat, Pendimethalin, Propaquizafop, Pyrithiiobac – Sodium, Sethoxidin e Trifluralin (Rodrigues & Almeida, 1998). 

DOENÇAS

O cerrado brasileiro, apresenta amplas condições de clima favoráveis ao desenvolvimento de doenças que afetam a cultura do algodoeiro. Algumas doenças consideradas pouco expressivas nas regiões tradicionalmente produtoras despontam no cerrado, podendo

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ocasionar perdas consideráveis à produção, caso não sejam tomadas as medidas de controle necessárias em tempo hábil.

Principais doenças do algodoeiro no cerrado:

Tombamento

É uma doença bastante comum e de ocorrência generalizada em todas as áreas produtoras de algodão do cerrado, sobretudo aquelas onde são verificados maiores índices pluviométricos, podendo causar sérios prejuízos ao estabelecimento da cultura, em função, principalmente, dos efeitos sobre a redução do estande.

Os sintomas de tombamento podem ser observados logo após a emergência das plântulas, nas folhas cotiledonares e primárias, as quais apresentam lesões irregulares de coloração pardo-escura. Estas lesões também podem ser observadas no caule da plântula, na mesma face de inserção da folha e imediatamente abaixo do coleto. Essas lesões, ao circundarem todo o caule, induzem o tombamento e morte da plântula. Entre os patógenos causadores de tombamento podem-se destacar os fungos dos gêneros Colletotrichum, Fusarium, Pythium e Rhizoctonia, sendo este último o mais importante. O controle da doença é feito por meio do tratamento de sementes conforme a Tabela 1.

Ramulose

Doença causada pelo fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides é caracterizada por ocasionar encurtamento dos internódios e superbrotamento da região apical, dando aspecto de vassoura aos ramos terminais (Figura 1). É uma das mais importantes doenças do algodoeiro, particularmente no cerrado. Alta pluviosidade e fertilidade do solo, temperaturas entre 25º e 30ºC e umidade relativa do ar acima de 80% favorecem a ação do fungo. O controle é realizado através do uso de cultivares resistentes: as principais recomendadas pela Embrapa são: BRS Aroeira e BRS Sucupira. O controle químico pode ser realizado conforme a  Tabela 2

Mancha angular

A mancha angular é causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum e caracteriza-se por apresentar manchas foliares de formato anguloso, delimitadas pelas nervuras. As manchas, de início oleosas (Figura 3) adquirem posteriormente, aspecto necrótico e apresentam coloração marrom ou parda-escura. As lesões também podem se localizar ao longo das nervuras principais, formando uma zona necrótica adjacente a estas; nos caules e ramos podem ser observadas lesões deprimidas, escuras e alongadas, podendo atingir vários centímetros de comprimento no sentido longitudinal, enquanto nas maçãs, lesões circulares inicialmente encharcadas de coloração verde escuro, são formadas na parede do carpelo e posteriormente se tornam escuras e causam a podridão das maçãs. O controle desta doença é feito unicamente com o uso de cultivares resistentes. O controle químico com o uso de antibióticos é de elevado custo e de eficiência duvidosa. As principais cultivares recomendadas para controle são: BRS Aroeira, BRS Ipê e BRS Sucupira.

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 Mancha branca ou mancha de ramulária

Causada pelo fungo Ramularia areola, caracteriza-se por apresentar manchas esbranquiçadas, de formato anguloso em ambas as superfícies foliares; sob condições de alta umidade e ambientes sombreados, sobretudo no terço inferior da planta pode afetar o algodoeiro ainda precoce e ocasionar queda de folhas (Figura 4). Lesões com as mesmas características daquelas ocasionadas nas folhas, podem ocorrer nas brácteas; não é comum sobre plântulas, em especial nos cotilédones, porém quando ocorrem, os cotilédones se tornam cloróticos e avermelhados e há queda de folhas. Não existem cultivares resistentes, porém existem algumas tolerantes tais como a BRS Sucupira, BRS Ipê e BRS Aroeira. A Cultivar BRS Antares é altamente suscetível. O controle químico em cultivares suscetíveis deve se iniciar a partir dos 40 dias após a emergência utilizando-se os fungicidas descritos na tabela 3, abaixo.

Manchas de alternária e estefilium

Causadas pelos fungos Alternaria sp e Stemphylium solani . Caracterizam-se por apresentar manchas necróticas circulares no início, evoluindo para manchas irregulares no caso de S solani e circulares com anéis concêntricos quando ocasionadas por Alternaria sp. São cíclicas, não obedecendo um padrão lógico de ocorrência a cada ano. As cultivares da Embrapa recomendadas para o cerrado apresentam resistência a estas doenças. O controle químico pode ser feito utilizando-se fungicidas estanhados conforme a Tabela 3.

Murcha de fusarium

Doença causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum Os sintomas caracterizam-se pela murcha das folhas e ramos. Muitas plantas jovens podem morrer em poucos dias após os primeiros sintomas externos serem observados, comuns quando as plantas encontram-se com, aproximadamente seis semanas de idade. Algumas plantas afetadas podem sobreviver à doença emitindo novas brotações próximas ao solo mas, em geral, os ramos originados a partir desses novos brotos não são produtivos. As plantas mortas perdem todas as suas folhas e as pequenas brotações caem, permanecendo apenas o caule enegrecido. A maioria das plantas que não morrem, sofrem severa redução de crescimento. Os sintomas internos caracterizam-se pela descoloração dos feixes vasculares os quais sofrem bloqueio impedindo a livre circulação de água e seiva bruta para a parte aérea, induzindo a murcha (Figura 6).

A murcha de fusarium é ainda mais severa quando ocorre associada com nematóides, especialmente os do gênero Meloidogyne, Rotylenchus e Pratylenchus formando o que se convencionou chamar de complexo fusarium-nematóide. O controle desta doença é feito somente através de cultivares resistentes. A Embrapa recomenda o plantio da BRS Aroeira nas áreas de cerrado, sobretudo de Goiás, onde a murcha de fusarium tem ocorrido.

Doença Azul

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É uma doença de natureza virótica cujo agente causal ainda não foi descrito, caracteriza-se por induzir o encurtamento dos entrenós, o que acarreta redução do porte das plantas (Figura 7). As folhas apresentam palidez das nervuras, curvatura das bordas para baixo e rugosidade. A doença tem como vetor o pulgão Aphis gossypii. Os sintomas desenvolvem-se ente nove e 28 dias após a inoculação. O controle da doença é feito com cultivares resistentes e com o controle do vetor através da pulverização com inseticidas. As principais cultivares resistentes são: BRS Aroeira e BRS Sucupira. As cultivares BRS Ipê e CNPA Ita 90 apresentam suscetibilidade a esta virose.

Tabela 1. Fungicidas empregados no tratamento de sementes de algodoeiro.

Nome técnico

Produto Comercial Dose para 100 kg de semente

Ingrediente ativo Produto comercial

Captan Captan 750 TS 120g 160g

Thiran Rhodiaurum 500 SC 280ml 560ml

Difenoconazole  Spectro 5ml 33,4ml

Tolylfluanid Euparen 50WS 75g 150g

Pencycuron Monceren 50PM 150g 300g

Quintozene (PCNB) Kobuto/Brassicol 300g 400g

Carboxin + Thiran Vitavax-Thiran 200 SC 100 + 100ml 500ml

Benomyl Benlate 500 100g 200g

Thiadimenol Baytan FS 30ml 200ml

Carbendazin  Derosal 500 SC 40ml 80ml

Tabela 2.  Fungicidas para controle da ramulose do algodoeiro.

Nome TécnicoNome comercial Dosagem do produto

comercial (kg/ha)

Carbendazin + Trifenil Hidróxido de Estanho

Derosal + Brestanid 0,5 + 0,4

Trifenil Acetato de Estanho + Tiofanato Metílico

Hokko Suzu + Cercobin 1,0 + 0,7

Azoxystrobin Priori 0,2 a 0,3Tebuconazole + Tiofanato Metílico Folicur + Support 0,6 + 0,75Clorothalonil + Tiofanato Metílico Cerconil 1,5

Tabela 3. Fungicidas para controle da mancha de ramulária do algodoeiro.

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Nome TécnicoNome Comercial Dosagem do produto

comercial (kg/ha)

Azoxystrobin Priori 0,2Trifenil Acetato de Estanho + Tiofanato Metílico

Hokko Suzu + Cercobin 1,0 + 0,7

Carbendazin Derosal 0,5Epoxiconazole Opus 0,15

Obs. Os dados acima, constituem resultados de pesquisa. Embora esses produtos sejam aplicados regularmente pelos produtores de algodão do cerrado, apenas o Carbendazin (Derosal), possui registro no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, para pulverização em algodoeiro

PRAGAS

A cultura do algodão é de grande expressão socioeconômica para os setores primário e secundário do Brasil. Todavia, as pragas constituem-se um dos fatores limitantes para sua exploração, caso não sejam tomadas medidas eficientes de controle. Dentre as pragas que atacam o algodão cultivado no cerrado, destacam-se: as brocas (Eutinobothrus brasiliensis e Conotrachellus denieri), a lagarta rosca (Agrotis spp.), os pulgões (Aphis gossypii e Myzus persicae), o tripes (Frankliniella spp.), o percevejo de renda (Gargaphia torresi), o curuquerê (Alabama argillacea), o bicudo (Anthonomus grandis), a lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens), as lagartas do gênero Spodoptera (S.frugiperda e S. eridania), a lagarta rosada (Pectinophora gossypiella), os ácaros (Tetranychus urticae, Polyphagotarsonemus latus), os percevejos (Horcias nobilellus e Dysdercus spp.) e a mosca branca (Bemisia tabaci).

Para o controle de pragas a Embrapa preconiza o uso do sistema de manejo integrado de pragas – MIP, o qual é constituído de várias estratégias de controle. Todavia o sucesso no emprego dessas estratégias dependem da utilização de métodos de amostragens, para determinação dos níveis de controle das pragas e da ação dos inimigos naturais, visando otimizar o emprego de inseticidas.  

Amostragem de Pragas

Tomadas de decisões que visem aumentar e preservar as populações de inimigos naturais dentro do agroecossistema algodoeiro, são ações promissoras, técnica e ecologicamente viáveis, que poderão resultar em grande economia para os cotonicultores, na melhoria da qualidade do meio ambiente e na redução dos problemas de saúde pública decorrentes do uso indiscriminado de produtos químicos. Portanto, é necessário que o cotonicultor esteja apto em reconhecer as pragas e seus inimigos naturais que, porventura, venham a ocorrer durante o ciclo da cultura, realizando amostragens periódicas na lavoura para uma tomada de decisão inteligente e que seja econômica, social e ecologicamente indicada para as condições de sua empresa.

Geralmente, as amostragens deverão ser feitas em intervalo de cinco dias, tomando-se aleatoriamente 100 plantas em talhões com até 100 ha, área homogênea, através do caminhamento em ziguezague, dentro da cultura de tal maneira que se observem plantas

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que estejam bem distribuídas na cultura. Para amostrar o curuquerê em cada planta deve-se examinar a terceira folha, contada a partir do ápice para a base. No caso do bicudo, deve-se observar um botão floral de tamanho médio, tomado aleatoriamente, na metade superior da planta, a fim de se verificar a presença ou não de orifícios de oviposição e\ou alimentação. As amostragens visando o bicudo, deverão ser feitas a partir do surgimento dos primeiros botões florais até o aparecimento do primeiro capulho na cultura.

Estratégias de Controle

O manejo integrado de pragas tem como base fundamental a integração de várias estratégias de controle de pragas, tais como: manipulação de cultivar, controle cultural (plantio, conservação do solo e adubação, densidade de plantio, catação de botões florais e maçãs caídas no solo, destruição dos restos de cultura e rotação de cultura), controle climático, controle biológico e controle químico. A seguir, serão apresentadas as principais estratégias para o controle das pragas do algodoeiro.

Manipulação de cultivar e plantio

Sugere-se a utilização de cultivares produtivas de algodão de ciclo curto  resistentes a virose e uniformidade da época de plantio, sempre que possível, em áreas e períodos comprovadamente com menor incidência de pragas, visando quebrar a sincronia entre a fonte alimentar da praga e sua ocorrência, além de possibilitar a antecipação da colheita e, conseqüentemente, a destruição precoce dos restos de cultura.

Conservação do solo e adubação

A utilização correta do solo, baseada em recomendações técnicas de preparo e adubação, constitui-se em ferramenta indispensável para manutenção da sua fertilidade e estrutura, contribuindo diretamente para a formação de plantas vigorosas e, portanto, menos vulneráveis ao ataque de pragas.

Densidade de plantio

A densidade de plantio deverá ser constituída de tal maneira que se evite o adensamento excessivo da cultura, facilitando a penetração dos raios solares e o deslocamento de gotas da calda do inseticida até o alvo biológico.

Controle climático

Nas regiões brasileiras cujas condições edafoclimáticas são caracterizadas por insolação excessiva, tem exercido um papel preponderante na redução populacional de pragas. A insolação aumenta a taxa de evaporação da água presente no solo e nos insetos, funcionando como fator limitante para a sua sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo.

Page 32: Algodão - Cultivo no Cerrado

Controle Biológico

Sugere-se efetuar, uma vez por semana, liberações inundativas de 100.000 ovos parasitados/ha, pela vespinha Trichogramma pretiosum no momento do aparecimento na lavoura de lepidópteros-praga, como: curuquerê, lagartas do gênero Spodoptera spp., lagarta rosada e lagarta-das-maçãs. A liberação deverá ser feita com 15 cartões de 2 pol2

contendo ovos parasitados distribuídos em 15 pontos equidistantes entre si por ha. Outra alternativa é efetuar pulverizações com o inseticida microbiológico a base de Bacillus thuringiensis, na dosagem comercial de 8-16 e 16-32 g.i.a./ha, respectivamente, quando o curuquerê e a lagarta-das-maçãs atingirem o nível de controle. Deve-se ter bastante atenção para a presença de predadores (joaninhas, sirfídeos, bicho-lixeiro e aranhas) e parasitóides (vespinha: Lysiphlebus testaceipes) do pulgão na lavoura, obedecendo ao nível de ação desses inimigos naturais (Tabela 1). A tecnologia da produção  de Trichogramma pretiosum encontra-se à disposição de cotonicultores, na Embrapa Algodão .

Controle Químico

O controle químico das principais pragas do algodoeiro somente deverá ser efetuado quando necessário, ou seja, quando a praga atingir o nível de controle (Tabela 1). Até o aparecimento das primeiras maçãs firmes (cerca de 70 dias), não devem ser utilizados inseticidas piretróides. A escolha dos inseticidas químicos deverá contar com a participação efetiva de um agronômo, sendo então, levado em consideração a eficácia, a seletividade, a toxicidade, o poder residual, o período de carência, o método de aplicação, a formulação e o preço.

Page 33: Algodão - Cultivo no Cerrado

Tabela 1. Pragas e inimigos naturais, nível de controle, ingrediente ativo, dosagem e nível de ação sugeridos para o controle das principais pragas do algodoeiro.

Pragas e inimigos naturais

Nível de

controle

Ingrediente ativo

Dosagem(g.i.a.\ha)

Nível de ação

Brocas - CarbofuranDissulfanl

3.000,0 a 4.000,016.600,0

-

Lagarta rosca

- Carbaril 960,0 -

Tripes70% de plantas

atacadasTiometonDimetoato

Monocrotofos

175,0126,0250,0

-

Pulgão

10% ou 70% de plantas atacadas com

colônia, respectivamente,

suscetíveis ou tolerantes a virose

PirimicarbTiometon

Monocrotofos

37,5 a 50,065,5

120,0-

Percevejo de renda

53% das plantas com colônia

Tiometon 125,0 -

Curuquerê

22% ou 53% das plantas atacadas por

lagartas > ou < 15mm,

respectivamente

DiflubenzuronClofluazuronTefluazuron

TefubenozideEndosulfan

12,525,0 a 37,5

7,5300,0350,0

-

Bicudo10% das plantas com

botões florais danificados

EndosulfanPhosmetCarbaryl

525,0750,0

1.400,0-

Lagarta das maçãs

13% de plantas com lagartas

EndosulfanCarbaryl

525,0 a 700,01.200,0

-

Spodoptera spp.

13% de plantas com lagartas

EndosulfanCarbaryl

525,0 a 700,01.200,0

-

Lagarta rosada

11% das plantas com macas danificadas

Carbaryl 1.200,0 -

Ácaros 40% de plantas com colônia

AbamectinPropargite

7,2681,0

-

Percevejos 20% de plantas atacadas

EndosulfanDimetoato

525,0126,0

-

Mosca branca

- EndosulfanDimetoato

525,0 a 700,0126,0

-

Predadores e

parasitóides

-- -

71% de plantas c/ predadores e/ou múmias

Destruição dos restos de cultura

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Imediatamente após a colheita, deve-se proceder à destruição dos restos de cultura, tais como: raízes, caules, botões florais, flores, maçãs, carimãs e capulhos não colhidos, respectivamente, através do arranquio e/ou coleta, para destruição e incorporação no solo. A destruição dos restos de cultura no final da safra visa quebrar o ciclo biológico das pragas, através da eliminação dos sítios de proteção, alimentação e reprodução.

Rotação de cultura

O cultivo alternado do algodoeiro com outras culturas, em sucessões repetidas, adotando-se uma seqüência definida, além de contribuir para a redução de pragas específicas associadas a uma delas, concorre favoravelmente para a melhoria das condições físicas e químicas do solo.

Considerações Importantes

O MIP baseia-se em amostragens periódicas na cultura. Assim, o cotonicultor poderá decidir qual a estratégia correta que deverá ser aplicada para o controle de determinada praga.O cotonicultor deve aprender a tolerar a presença de insetos na sua lavoura, enquanto esses não atingirem o nível de controle.Lavouras de algodão de diferentes idades, em uma mesma região, favorecem a sobrevivência e o surgimento precoce de pragas, aumentando o custo de produção.A destruição de restos de cultura na lavoura algodoeira é obrigatória por lei e seu descumprimento é crime.A adoção desses critérios de seleção conduzirá a diversos benefícios, tanto para o agricultor, como para a sociedade. Para o agricultor, a utilização do MIP resultará em economia nos custos de produção, melhoria na sua qualidade de vida, garantia de que esta atividade agrícola permanecerá viável economicamente por muito tempo, enquanto para a sociedade a garantia de preservação da biodiversidade, dos mananciais hídricos (lençóis, poços, açudes e rios) e à certeza da redução de resíduos nos subprodutos do algodão.

COLHEITA

Colheita e Beneficiamento

A modernização da lavoura do algodão com grandes plantios comerciais e a escassez de mão-de-obra no meio rural, contribuíram para a utilização, em larga escala, da mecanização do cultivo, sendo a colheita através de colheitadeiras automotrizes, um dos principais segmentos necessários para viabilizar a exploração da cultura em grandes áreas. A colheita mecanizada é extremamente vantajosa em relação à manual, pois os custos operacionais são reduzidos, há melhoria na qualidade do produto colhido, a colheita é feita com maior rapidez, o teor de impurezas é menor, evita a presença de contaminantes, além de  economia de mão-de-obra nas operações de recepção do produto colhido, pesagem e utilização de sacarias, o que inviabilizaria grandes extensões de cultivo.

No Brasil existem duas marcas de colheitadeira de algodão do tipo picker constituídas, em

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sua maioria, de 5 unidades colhedoras que, em condições normais, colhem entre 15 a 17 hectares equivalendo a uma produção de 4500@ a 5100@  de algodão em caroço, em uma jornada diária de trabalho.

Desempenho da colheitadeira

Pontos fundamentais sobre a implantação e o manejo da cultura, para se obter o máximo desempenho de uma colheitadeira associado à alta qualidade do produto colhido:   Preparar e nivelar bem o terreno, que deve ser, de preferência, plano não exceder a 8% de declividade,  isento de pedras, tocos e sulcos de erosão

   Realizar a semeadura, de preferencia em fileiras retas, proporcionando densidade uniforme entre 10 a 12 plantas por metro linear, e a semeadora adubadeira a ser utilizada deverá ter o mesmo número de unidades colhedoras da máquina, ou número  múltiplo.

   A variedade deve ser de estrutura compacta, com tamanho homogêneo de plantas e de ciclo relativamente precoce, para proporcionar madurez uniforme na ocasião da colheita.

   A adubação deve ser, equilibrada, de acordo com as necessidades do solo e da planta, com vistas a se obter um ótimo desenvolvimento, maturação do cultivo e produtividade.

   O controle de ervas daninhas deverá ser cuidadoso e eficiente, em função das dificuldades que elas impõem ao bom desempenho das colheitadeiras, além de depreciar a qualidade da fibra.

   Reguladores de crescimento – a altura ideal das plantas para o bom desempenho das colheitadeiras, pode variar entre 1,0m a 1,30m; entretanto, para o algodão, como tem hábito de crescimento indeterminado, deve haver equilíbrio entre o crescimento (vegetativo e reprodutivo) e o desenvolvimento, que é de natureza seqüencial. Os reguladores de crescimento atuam sobre o metabolismo da planta reduzindo o tamanho dos internódios, do número de nós, do comprimento dos ramos vegetativos e produtivos e da altura das plantas. 

   Desfolhantes: a colheita do algodão na presença de folhas verdes provocará a contaminação com restos foliares, que aumentará a umidade e produzirá  manchas de clorofila na fibra, afetando a qualidade do produto; portanto, recomenda-se a aplicação de desfolhantes quando 60 a 70% dos frutos ou capulhos estiverem abertos e a desfolha ocorre entre 7 a 15 dias após a aplicação do produto. No caso de grandes áreas recomenda-se fazer a desfolha de forma escalonada, compatível com a capacidade de colheitas das máquinas.

   Umidade da fibra: a umidade ideal para se proceder à colheita é de 12% com 95% dos capulhos abertos. Em áreas onde cai orvalho, recomenda-se que a colheita recomece pela manhã, quando o mesmo já tenha secado, ou seja, entre 8:30 e 9:00 horas e não se deve prolongar até altas horas da noite quando o orvalho já tenha começado a cair, pois é difícil de se colher algodão úmido.

COEFICIENTES TÉCNICOS

A cultura do algodoeiro exige uma série de práticas que demandam custos.  Apresenta-se a seguir, as estimativas dos custos de produção fixo, variável e total da cultura em Mato Grosso, na safra 2001/2002. O Custo fixo remunera os fatores de produção cujas quantidades não variam no curto prazo, mesmo que o mercado indique que se deve alterar a escala de produção. São custos fixos:

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depreciação e juros sobre o valor de máquinas, equipamentos e benfeitorias e juros sobre o capital empregado em terra (estimado como valor de arrendamento).O custo variável refere-se às despesas que variam de acordo com a escala de produção. São custos variáveis: sementes fertilizantes, calcário, defensivos, combustíveis lubrificantes, reparos de máquinas e equipamentos e outros.O custo total é a soma dos custos fixos e variáveis. Nas tabelas 1 e 2 são apresentados os dados obtidos em levantamento de campo no município de Sorriso-MT. 

Componentes do custo Unidade Quanti dade

Preço unitário

Valor Partici pação

(R$) (R$) (US$) (%)

A - Custos fixos 255,47 102,19 10,05  Depreciação e juros sobre capital fixo R$/ha 75,47 30,19 2,97  Remuneração da terra R$/ha 180,00 72,00 7,08

B - Custo variável 2.135,63 854,24 84,03

B.1 - Insumos 1.511,40 604,55 59,49  Calcário t 1,00 24,00 24,00 9,60 0,94  Semente de milheto kg 20,00 0,12 2,40 0,96 0,09  Semente de algodão kg 13,00 2,40 31,20 12,48 1,23  Fungicida (tratamento de sementes) 1 L 0,04 61,55 2,46 0,98 0,10  Fungicida (tratamento de sementes) 2 L 0,03 62,55 1,63 0,65 0,06  Fungicida (tratamento de sementes) 3 L 0,03 63,55 1,65 0,66 0,07  Inseticida (tratamento de sementes) L 0,08 696,50 54,33 21,73 2,14  Fertilizante (manutenção) kg 550,00 0,55 302,50 121,00 11,90  Fertilizante (cobertura) kg 500,00 0,50 250,00 100,00 9,84  Herbicida dessecante 1 L 0,60 9,30 5,58 2,23 0,22  Herbicida dessecante 2 L 2,50 11,20 28,00 11,20 1,10  Herbicida pré-emergente 1 L 2,00 12,60 25,20 10,08 0,99  Herbicida pré-emergente 2 L 1,00 9,30 9,30 3,72 0,37  Herbicida pós-emergente 1 L 2,00 12,60 25,20 10,08 0,99  Herbicida pós-emergente 2 L 3,00 9,50 28,50 11,40 1,12  Herbicida pós-emergente 3 L 0,35 89,00 31,15 12,46 1,23  Inseticidas (13 produtos) L 11,03 45,66 503,40 201,36 19,81  Fungicidas L 1,45 62,83 91,10 36,44 3,59  Regulador de crescimento L 1,00 38,00 38,00 15,20 1,50  Desfolhante L 0,40 110,00 44,00 17,60 1,73  Espalhante adesivo L 2,00 4,30 8,60 3,44 0,34  Formicida kg 0,50 6,40 3,20 1,28 0,13

B.2 - Operações agrícolas 405,00 162,00 15,92  Distribuição calcário hm 0,25 19,50 4,88 1,95 0,19  Subsolagem hm 0,60 23,33 14,00 5,60 0,55  Gradagem aradora hm 0,62 20,99 13,01 5,20 0,51  Gradagem niveladora hm 0,39 18,98 7,40 2,96 0,29  Semeadura milheto (a lanço) hm 0,25 22,52 5,63 2,25 0,22  Incorporação milheto hm 0,39 22,94 8,95 3,58 0,35  Semeadura/adubação hm 0,40 34,00 13,60 5,44 0,54  Adubação cobertura hm 1,40 17,01 23,81 9,52 0,94  Aplicação herbicidas (3 aplic) hm 0,45 18,98 8,54 3,42 0,34  Aplicação herbicidas (jato dirigido) hm 0,70 18,98 13,29 5,32 0,52  Aplicação inseticidas (5 aplic) hm 0,75 18,98 14,24 5,70 0,56  Aplicação fungicidas hm 0,15 18,98 2,85 1,14 0,11  Aplicação aérea inseticidas (4 aplic) ha 4,00 10,00 40,00 16,00 1,57  Aplicação aérea fungicidas ha 1,00 10,00 10,00 4,00 0,39  Aplicação aérea desfolhante ha 1,00 10,00 10,00 4,00 0,39  Colheita (máquina alugada) ha 7,00 30,00 210,00 84,00 8,26  Destruição soqueira hm 0,30 15,99 4,80 1,92 0,19

B.3 - Outros 219,23 87,69 8,62  Transporte externo @ 1,00 30,00 30,00 12,00 1,18  Aplicação de formicida dh 0,04 15,00 0,60 0,24 0,02

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  Assistência técnica ha 1,00 17,00 6,80 0,67  Juros sobre capital circulante % 6,00 119,93 47,97 4,72  Seguridade social rural (CESSR) % 2,20 51,70 20,68 2,03

C - Custo de produção (A + B) 2.391,10 956,43 94,08

D - Beneficiamento @ 5,00 30,00 150,00 60,00 5,90

E - Custo total (C + D) 2.541,10 1.016,43 100,00

F - Receita (pluma) @ 95,00 30,00 2.850,00 1.140,00

G - Margem líquida (F - E) 308,90 123,56

Tabela 2.  Custos fixo, variável e total da cultura do algodão semi-direto, por hectare, em Sorriso, MT, em agosto de 2001. Embrapa Agropecuaria Oeste, Dourados, MS, 2002.

Componentes do custo Uni dade

Quanti dade

Preço unitári

o

Valor Partici pação

(R$) (R$) (US$) (%)

A - Custos fixos 255,47 102,19 10,05  Depreciação e juros sobre capital fixo

R$/ha 75,47 30,19 2,97

  Remuneração da terra R$/ha 180,00 72,00 7,08

B - Custo variável 2.135,63 854,24 84,04

B.1 - Insumos 1.511,40 604,55 59,49  Calcário t 1,00 24,00 24,00 9,60 0,94  Semente de milheto kg 20,00 0,12 2,40 0,96 0,09  Semente de algodão kg 13,00 2,40 31,20 12,48 1,23  Tratamento de sementes (fungicidas)

L 0,09 27,33 5,74 2,29 0,23

  Tratamento de sementes (inseticida)

L 0,08 696,50 54,33 21,73 2,14

  Fertilizantes t 1,05 526,19 552,50 221,00 21,74  Herbicidas L 11,45 13,35 152,93 61,17 6,02  Inseticidas L 11,03 45,66 503,40 201,36 19,81  Fungicidas L 1,45 62,83 91,10 36,44 3,59  Regulador de crescimento L 1,00 38,00 38,00 15,20 1,50  Desfolhante L 0,40 110,00 44,00 17,60 1,73  Espalhante adesivo L 2,00 4,30 8,60 3,44 0,34  Formicida kg 0,50 6,40 3,20 1,28 0,13

B.2 - Operações agrícolas 405,00 162,00 15,93  Distribuição calcário hm 0,25 19,50 4,88 1,95 0,19  Preparo do solo hm 1,61 21,37 34,41 13,76 1,35  Semeadura milheto (a lanço) hm 0,25 22,52 5,63 2,25 0,22  Incorporação milheto hm 0,39 22,94 8,95 3,58 0,35  Semeadura/adubação hm 0,40 34,00 13,60 5,44 0,54  Adubação cobertura hm 1,40 17,01 23,81 9,52 0,94  Aplicação de defensivos hm 2,05 18,98 38,92 15,58 1,53  Aplicação aérea de defensivos ha 6,00 10,00 60,00 24,00 2,36  Colheita (máquina alugada) ha 7,00 30,00 210,00 84,00 8,26  Destruição soqueira hm 0,30 15,99 4,80 1,92 0,19

B.3 - Outros 219,23 87,69 8,62

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  Transporte externo @ 1,00 30,00 30,00 12,00 1,18  Aplicação de formicida dh 0,04 15,00 0,60 0,24 0,02  Assistência técnica ha 1,00 17,00 6,80 0,67  Juros sobre capital circulante % 6,00 119,93 47,97 4,72  Seguridade social rural (CESSR) % 2,20 51,70 20,68 2,03

C - Custo de produção (A + B) 2.391,10 956,43 94,09

D - Beneficiamento 5,00 30,00 150,00 60,00 5,90

E - Custo total (C + D) 2.541,10 1.016,43 100,00

F - Receita (pluma) 95,00 30,00 2.850,00 1.140,00

G - Margem líquida (F - E) 308,90 123,57