alexandre salim crimes especie parte 2

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Parte especial – crimes em espécie Título II – Dos crimes contra o patrimônio 1. Roubo qualificado: art. 157, § 3º, CP A qualificadora, ao contrário da majorante, deverá ser analisada na primeira fase no critério trifásico de fixação de pena. No parágrafo terceiro temos duas qualificadoras, quais sejam, lesão corporal de natureza grave (leia-se, ou gravíssima) e a morte. Lembrando que matar para roubar configura latrocínio. A leitura do parágrafo terceiro deve ser analisada sob o ponto de vista da violência empregada, pois no caput do art. 157 refere a “violência” e a “grave ameaça”, enquanto no parágrafo terceiro temos apenas a palavra “violência”, ou seja, há um forte entendimento doutrinário no sentido que no crime de latrocínio se exige violência strictu sensu, que é a agressão física. Nesse sentido, vejamos o entendimento do STJ: RECURSO EM HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO LATROCÍNIO. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO POR MEDIDA SOCIOEDUCATIVA MAIS BRANDA. PRESENÇA DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA JUSTIFICAR A MEDIDA DE INTERNAÇÃO. PRECEDENTES. 1. O Superior Tribunal de Justiça já sedimentou o entendimento de que o ato infracional análogo ao latrocínio configura conduta praticada mediante grave ameaça ou violência à pessoa. 2. Esta Corte Superior mantém a orientação de que, ainda que exista parecer técnico favorável sugerindo a aplicação de medida mais branda, este é peça auxiliar, podendo o magistrado afastá-lo, em conformidade com o princípio do seu livre convencimento. 3. A decisão respaldada em elementos concretos, determinando a continuidade da medida socioeducativa, até posterior reavaliação, constitui motivação idônea, estando em conformidade com o art. 113, da Lei nº 8.069/90. 4. Recurso em habeas corpus a que se nega provimento. (STJ. Quinta Turma. RHC 39342/PA. Rel. Min. Moura Ribeiro. DJ 10/09/2013). Ainda, em relação ao resultado morte previsto no parágrafo terceiro, ele poderá ser a título doloso ou culposo. Se a morte ocorrer de forma dolosa, o juiz deverá elevar a pena de acordo com o art. 59 do Código Penal. Por oportuno, o STF sumulou a matéria em relação a competência para julgamento e processo do crime de latrocínio: “a competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri”, pois não se trata de crime doloso contra a vida, mas sim de um crime contra o patrimônio. 1.1 Crime preterdoloso O crime preterdoloso é aquele em que há dolo na conduta antecedente e culpa no resultado consequente. Sabendo que o latrocínio sempre será um crime qualificado pelo resultado que, no entanto, será chamado de preterdoloso se a morte da vítima sobrevier por culpa. 1.2 Subtração tentada e morte consumada Na hipótese de a subtração não ter sido consumada por ato alheio a vontade do agente, mas por algum motivo o indivíduo matar a vítima, o STJ entende que o latrocínio restará consumado. Corroborando o entendimento supracitado, vejamos a súmula n. 610 do STF: “há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima”.

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  • Parte especial crimes em espcie

    Ttulo II Dos crimes contra o patrimnio 1. Roubo qualificado: art. 157, 3, CP

    A qualificadora, ao contrrio da majorante, dever ser analisada na primeira fase no critrio trifsico de fixao de pena.

    No pargrafo terceiro temos duas qualificadoras, quais sejam, leso corporal de natureza grave (leia-se, ou gravssima) e a morte. Lembrando que matar para roubar configura latrocnio.

    A leitura do pargrafo terceiro deve ser analisada sob o ponto de vista da violncia empregada, pois no caput do art. 157 refere a violncia e a grave ameaa, enquanto no pargrafo terceiro temos apenas a palavra violncia, ou seja, h um forte entendimento doutrinrio no sentido que no crime de latrocnio se exige violncia strictu sensu, que a agresso fsica.

    Nesse sentido, vejamos o entendimento do STJ: RECURSO EM HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL ANLOGO AO LATROCNIO. ALEGAO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO POR MEDIDA SOCIOEDUCATIVA MAIS BRANDA. PRESENA DOS REQUISITOS NECESSRIOS PARA JUSTIFICAR A MEDIDA DE INTERNAO. PRECEDENTES. 1. O Superior Tribunal de Justia j sedimentou o entendimento de que o ato infracional anlogo ao latrocnio configura conduta praticada mediante grave ameaa ou violncia pessoa. 2. Esta Corte Superior mantm a orientao de que, ainda que exista parecer tcnico favorvel sugerindo a aplicao de medida mais branda, este pea auxiliar, podendo o magistrado afast-lo, em conformidade com o princpio do seu livre convencimento. 3. A deciso respaldada em elementos concretos, determinando a continuidade da medida socioeducativa, at posterior reavaliao, constitui motivao idnea, estando em conformidade com o art. 113, da Lei n 8.069/90.

    4. Recurso em habeas corpus a que se nega provimento. (STJ. Quinta Turma. RHC 39342/PA. Rel. Min. Moura Ribeiro. DJ 10/09/2013).

    Ainda, em relao ao resultado morte previsto no pargrafo terceiro, ele poder ser a ttulo doloso ou culposo.

    Se a morte ocorrer de forma dolosa, o juiz dever elevar a pena de acordo com o art. 59 do Cdigo Penal. Por oportuno, o STF sumulou a matria em relao a competncia para julgamento e processo do crime de

    latrocnio: a competncia para o processo e julgamento de latrocnio do juiz singular e no do Tribunal do Jri, pois no se trata de crime doloso contra a vida, mas sim de um crime contra o patrimnio.

    1.1 Crime preterdoloso

    O crime preterdoloso aquele em que h dolo na conduta antecedente e culpa no resultado consequente. Sabendo que o latrocnio sempre ser um crime qualificado pelo resultado que, no entanto, ser chamado de preterdoloso se a morte da vtima sobrevier por culpa.

    1.2 Subtrao tentada e morte consumada

    Na hiptese de a subtrao no ter sido consumada por ato alheio a vontade do agente, mas por algum motivo o indivduo matar a vtima, o STJ entende que o latrocnio restar consumado.

    Corroborando o entendimento supracitado, vejamos a smula n. 610 do STF: h crime de latrocnio, quando o homicdio se consuma, ainda que no se realize o agente a subtrao de bens da vtima.

  • 1.3 Lei n. 8.072/90 O latrocnio considerado crime hediondo, conforme o art. 1, inc. II da Lei n. 8.072/90.

    2. Extorso art. 158 do Cdigo Penal O verbo nuclear agora constranger, e no mais subtrair, e contra vtima especfica, mediante violncia

    prpria ou moral, e com o intuito de obter para si ou para outrem devida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar fazer alguma coisa.

    2.1 Tipo subjetivo

    Dolo + dolo especfico ou elemento subjetivo do tipo. No crime de extorso, o dolo genrico est no verbo nuclear constranger e, com intuito de obter para si ou

    para outrem devida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar fazer alguma coisa o dolo especfico. A extorso pressupe trs momentos, assim, ao analisar o tipo objetivo veremos que a extorso pressupe esses

    trs momentos.

    2.2 Tipo objetivo

    a) Constranger: comportamento do agente; b) Comportamento da vtima: ela faz ou deixa de fazer alguma coisa; e c)Obteno da indevida vantagem econmica.

    2.3 Consumao

    Vide HC 232062/RJ, STJ e Ap. 70054143433, TJ/RS.

    O crime de extorso se consuma quando o agente constrange a vtima e ela deixa de fazer ou faz alguma coisa.

    ROUBO EXTORSO Subtrao Tradio

    O comportamento da vtima desnecessrio. O comportamento da vtima imprescindvel.

    2.4 Crime continuado O STJ entendeu que no possvel crime continuado entre os crimes de roubo e extorso, entendendo que eles

    tm definio autnoma e assim devem ser punidos (HC 281130, STJ). De outro lado, o STF entendeu de forma diferente, configurando ao nica as aes de constranger e subtrair,

    tratando-se de concurso formal (HC 98960, STF). No h crime continuado entre roubo e extorso, pois so infraes de espcies distintas, sendo esse o

    entendimento tanto do STJ quanto do STF.

    2.5 Tipo majorado

    Art. 158, 1 - se o crime cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um tero at metade.

    2.6 Qualificadoras

    Art. 158, 2 - aplica-se extorso praticada mediante violncia o disposto no 3 do artigo

    anterior.

    2.7 Lei n. 8.072/90 S hedionda a extorso com resultado morte, conforme o art. 1, inc. III da Lei n. 8.072/90.

  • 3. Extorso qualificada (sequestro relmpago)

    Art. 158, 3 - se o crime cometido mediante a restrio da liberdade da vtima, e essa condio necessria para a obteno da vantagem econmica, a pena de recluso, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, alm da multa; se resulta leso corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, 2o e 3o, respectivamente.

    Crime hediondo: no est previsto na Lei n. 8.072/90 que o 3 crime hediondo.

    4. Extorso mediante sequestro art. 159, CP

    4.1 Lei n. 8.072/90

    Existe hediondez em todas as formas de extorso mediante sequestro, conforme o art. 1, IV da Lei n. 8.072/90. 4.2 Natureza da vantagem

    O tipo penal refere a qualquer vantagem, desse modo, ela poder ser financeira ou no, sendo esse o entendimento do STJ conforme a seguinte deciso:

    PENAL. RECURSOS ESPECIAIS. EXTORSO MEDIANTE SEQESTRO E DUPLO HOMICDIO QUALIFICADO. SENTENA DE PRONNCIA CONFIRMADA PELO TRIBUNAL A QUO. POLICIAIS FEDERAIS. INCOMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DO ART. 8o., I DO PACTO DE SO JOS DA COSTA RICA. QUESTO DECIDIDA COM BASE EM INTERPRETAO DE ARTIGO DA CONSTITUIO FEDERAL (ART. 109, IV DA CF). COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL BEM DEFINIDA. CARACTERIZAO DO CRIME DE EXTORSO MEDIANTE SEQESTRO. INTERPRETAO DO TERMO "QUALQUER VANTAGEM" DO ART. 159 DO CPB. EFETIVA DEMONSTRAO DA PRIVAO DA LIBERDADE DAS VTIMAS PARA OBTENO DE INDEVIDA VANTAGEM ECONMICA. DESNECESSIDADE DESSA VANTAGEM ADVIR DIRETAMENTE DAS VTIMAS DO SEQESTRO. CRIME CONEXO AO HOMICDIO. COMPETNCIA DO JRI PARA DECIDIR SOBRE A ADEQUAO TPICA. DISSDIO JURISPRUDENCIAL NO DEMONSTRADO. PARECER DO MPF PELO PARCIAL CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO ESPECIAL DE FBIO MART KAIR DESPROVIDO. RECURSO ESPECIAL DE MARCOS PAULO DA SILVA ROCHA PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSO, DESPROVIDO. 1. Ofende diretamente interesse da Unio Federal, atraindo a competncia da Justia Federal (art. 109, IV da CF), a conduta de Policiais Federais que mesmo fora do exerccio funcional, mas vestindo a farda, portando o distintivo da corporao, as identidades e as armas e no uso de viatura oficial da DPF, praticam crimes contra pessoas alheias Administrao Pblica.

    2. Na hiptese, a imputao clara de que a conduta dos denunciados e ora recorrente, privando as vtimas de sua liberdade e ameaando-as de morte, tinha o escopo de, por meio da obteno da informao privilegiada, localizar cheques furtados e receber indevida vantagem econmica de terceiros, o que suficiente, nesse momento, para a caracterizao do tipo penal do art. 159 do CPB. 3. O tipo penal no impe que a perseguida vantagem seja de natureza financeira nem deva ser obtida diretamente dos sequestrados ou de seus familiares; de todo modo, a questo de saber se a elementar efetivamente ocorreu, isto , se os acusados atuaram com este dolo especfico, deve ser analisada pelo Tribunal do Jri. 4. Inadmissveis os recursos pela alnea c do permissivo constitucional, pois o sugerido dissdio jurisprudencial no restou demonstrado, j que partem os recorrentes da premissa

  • de que ausente o elemento normativo do tipo referente indevida vantagem econmica, o que, como exposto, no ocorreu.

    5. Recurso Especial de FBIO MAROT KAIR desprovido. Recurso Especial de MARCOS PAULO DA SILVA ROCHA parcialmente conhecido, e, nessa extenso, desprovido. (STJ. Quinta Turma. REsp 1102270/RJ. Rel. Min. Napoleo Nunes Maia Filho. DJ 23/11/2010). Grifo nosso.

    4.3 Consumao

    Sabendo que o verbo nuclear sequestrar, a consumao se protrai no tempo, assim, estamos diante de um crime permanente. Lembrando a disposio da smula n. 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigncia anterior cessao da continuidade ou da permanncia.

    Ademais, o crime do art. 159 formal, sendo possvel estender a ele a inteligncia da smula n. 96 do STJ: o crime de extorso consuma-se independentemente da obteno da vantagem indevida.

    Em suma, o crime de extorso mediante sequestro se consuma com a privao da liberdade da vtima, independentemente da obteno do resultado.

    4.4 Tipo subjetivo

    Com fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do

    resgate o dolo especfico ou elemento subjetivo do tipo.

    4.5 Formas qualificadas

    Art. 159, 1, CP. Se o seqestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqestrado menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime cometido por bando ou quadrilha1. Pena - recluso, de doze a vinte anos.

    Art. 159, 2, CP. Se do fato resulta leso corporal de natureza grave. Pena - recluso, de

    dezesseis a vinte e quatro anos. Aqui tambm se inclui a leso gravssima, embora a lei s mencione a leso de natureza grave.

    Art. 159, 3, CP. Se resulta a morte. Pena - recluso, de vinte e quatro a trinta anos.

    Delao premiada: art. 159, 4, CP. se o crime cometido em concurso, o concorrente que o denunciar autoridade, facilitando a libertao do seqestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros. uma causa de reduo de pena.

    Para incidir a delao premiada, no basta que o coautor informe o local do cativeiro, mas tambm a integridade fsica da vtima deve ser mantida.

    A Lei n. 9.807/99 traz a possibilidade de delao premiada como causa extintiva da punibilidade (art. 13).

    4.6 Colaborao premiada

    Lei n. 12850/13: alm de criar a associao criminosa, essa lei tambm criou a organizao criminosa, sendo que naquela bastam trs ou mais pessoas, e nesta necessrio quatro ou mais.

    A colaborao premiada est prevista no art. 4 da Lei:

    Art. 4. O juiz poder, a requerimento das partes, conceder o perdo judicial, reduzir em at 2/3 (dois teros) a pena privativa de liberdade ou substitu-la por restritiva de direitos

    1 Art. 288, CP: Associarem-se 3 (trs) ou mais pessoas, para o fim especfico de cometer crimes: Pena - recluso, de 1 (um) a 3 (trs) anos. Pargrafo nico. A pena aumenta-se at a metade se a associao armada ou se houver a participao de criana ou adolescente.

  • daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigao e com o processo criminal, desde que dessa colaborao advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificao dos demais coautores e partcipes da organizao criminosa e das infraes penais por eles praticadas; II - a revelao da estrutura hierrquica e da diviso de tarefas da organizao criminosa; III - a preveno de infraes penais decorrentes das atividades da organizao criminosa; IV - a recuperao total ou parcial do produto ou do proveito das infraes penais praticadas pela organizao criminosa; V - a localizao de eventual vtima com a sua integridade fsica preservada.

    Vale referir a grande novidade que veio com a Lei n. 12850/13, prevista no 6 do art. 4:

    6. O juiz no participar das negociaes realizadas entre as partes para a formalizao do acordo de colaborao, que ocorrer entre o delegado de polcia, o investigado e o defensor, com a manifestao do Ministrio Pblico, ou, conforme o caso, entre o Ministrio Pblico e o investigado ou acusado e seu defensor.

    5. Dano art. 163, CP

    5.1 Infrao de menor potencial ofensivo O crime de dano de competncia dos Juizados Especiais Criminais, portanto, se submeter ao procedimento

    sumarssimo.

    5.2 Dano qualificado O dano qualificado no ser de competncia do Juizado Especial Criminal, pois a pena extrapola o limite de

    competncia daquele.

    Art. 163, III, CP contra o patrimnio da Unio, Estado, Municpio, empresa concessionria de servios pblicos ou sociedade de economia mista.

    Se a violncia for contra pessoa, o crime ser do art. 351 do CP: evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivduo submetido a medida de segurana detentiva, usando de violncia contra a pessoa: Pena - deteno, de trs meses a um ano, alm da pena correspondente violncia.

    Dano culposo: em regra, fato atpico, tendo por excees a Lei n. 9605/98 (p. nico do art. 62) e o Cdigo Penal Militar (art. 266).

    5.3 Ao penal

    Dispe o art. 167 do Cdigo Penal: nos casos do art. 163, do inciso IV do seu pargrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa, ou seja, o dano na forma simples ou o dano qualificado do inciso IV so aes penais de natureza privada, enquanto os demais incisos so crimes de ao penal pblica incondicionada.

    6. Apropriao indbita art. 168, CP

    6.1 Tipo objetivo

    Apropriao indbita propriamente dita: aquela em que o agente revela que inverteu o

    ttulo da posse, como no caso da venda da coisa; ou

    Negativa de devoluo: o agente se recusa a devolver a coisa.

  • 6.2 Consumao Na apropriao indbita propriamente dita, a consumao ocorre com a apropriao, pois se trata de crime

    comissivo. J na negativa de devoluo, quando o agente recusa a devoluo consuma-se o crime, no sendo possvel a

    tentativa, pois se trata de crime omissivo puro.

    6.3 Tipo subjetivo Dolo genrico + dolo especfico ou elemento subjetivo do tipo. Animus rem sibi habendi expresso em latim de dolo especfico. A inteno de ter para si a coisa de forma definitiva deve surgir aps a posse ou deteno da coisa, tendo em

    vista que se a inteno surgir antes, o crime ser de estelionato.

    6.4 Apropriao indbita previdenciria art. 168-A

    Dolo especfico: no h necessidade de dolo especfico no crime de apropriao indbita previdenciria, sendo este o entendimento do STJ.

    PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECUSO ESPECIAL. APROPRIAO INDBITA PREVIDENCIRIA. TIPICIDADE. INCIDNCIA DO VERBETE N. 7 DA SMULA DO STJ. DOLO ESPECFICO. COMPROVAO DESNECESSRIA. AGRAVO DESPROVIDO. - O acolhimento da pretenso recursal exigiria, necessariamente, incurso na matria ftica-probatria da lide, o que defeso em recurso especial, a teor do enunciado n. 7 da Smula do Superior Tribunal de Justia. - "O delito de apropriao indbita previdenciria constitui crime omissivo prprio, que se perfaz com a mera omisso de recolhimento da contribuio previdenciria dentro do prazo e das formas legais, prescindindo, portanto, do dolo especfico" (EREsp 1.296.631/RN, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seo, DJe 17/9/2013). Agravo regimental desprovido. (STJ. Sexta Turma. AgRg no AREsp 398155/RJ. Rel. Min. Marilza Maynard. DJ 27/05/2014).

    Por oportuno, prev a smula vinculante n. 24 do STF: no se tipifica crime material contra a ordem tributria, previsto no art. 1, incisos I a IV, da Lei n 8.137/90, antes do lanamento definitivo do tributo, sendo aplicvel a todos os crimes tributrios.

    Com essa smula o Supremo criou uma relativizao da independncia das esferas, pois o Direito Penal nunca precisou do Direito Administrativo, porm, nos crimes tributrios necessrio o esgotamento da esfera administrativa com a constituio definitiva do crdito tributrio. Apenas desta forma haver justa causa para denunciar o crime em esfera penal.

    Com o objetivo de consolidar esse entendimento, vejamos trecho da deciso em HC 266462/SP do STJ: no que toca aos crimes contra a ordem tributria, o Plenrio do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a constituio definitiva do crdito tributrio, com o consequente reconhecimento de sua exigibilidade, configura condio objetiva de punibilidade, necessria para o incio da persecuo criminal (cf.: HC 81.611/DF, Rel. Min. Seplveda Pertence, DJ de 13.05.2005; e ADI 1571, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 30.04.2004).

    6.5 Princpio da insignificncia

    STJ: AgRg no AgRg no REsp 1358577/RJ; Lei n. 10522/02, art. 20; e Portaria 75/12 do Ministrio da Fazenda.

  • Se o valor sonegado no ultrapassar R$ 10.000,00, que o montante que consta no art. 20 da Lei n. 10522/02, cabvel o princpio da insignificncia.

    STF: HC 118067 R$ 20.000,00 Hoje, embora o STJ e o STF tratem de valores diferentes, e ainda que refiram ao crime de descaminho, ns

    devemos fazer uma construo e aplicar no crime de apropriao indbita previdenciria.

    7. Estelionato art. 171, CP

    7.1 Tipo objetivo

    Resultado duplo

    7.2 Tipo subjetivo O crime se caracteriza com os dois dolos, o obter (dolo genrico) e o para si ou para outrem (dolo

    especfico).

    7.3 Particularidades

    Smula n. 73, STJ: a utilizao de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competncia da Justia Estadual; e

    Smula n. 17, STJ: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, por este absorvido.

    7.4 Autoleso

    fato atpico no Brasil.

    Exceo: art. 171, 2, V, CP.

    7.5 Cheque sem fundos

    Fraude no pagamento por meio de cheque: art. 171, 2, VI, CP.

    O cheque uma ordem de pagamento a vista, mas se o cheque for emitido pr-datado, em tese o fato atpico, mas dependendo da fraude utilizada pelo agente poder configurar estelionato na forma fundamental, que a forma do caput.

    Refere a smula n. 554, STF: o pagamento de cheque emitido sem proviso de fundos, aps o recebimento da denncia, no obsta ao prosseguimento da ao penal, portanto, se a reparao do dano for feita at antes do recebimento da denncia, obsta.

    Competncia

    Smula n. 521, STF: o foro competente para o processo e julgamento dos crimes de

    estelionato, sob a modalidade da emisso dolosa de cheque sem proviso de fundos, o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado; e

    Smula n. 244, STJ: compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de

    estelionato mediante cheque sem proviso de fundos.

    Vantagem ilcita

    Prejuzo alheio

  • 8. Receptao art. 180, CP Estamos diante de crime parasitrio, acessrio ou de fuso, pois depende da existncia de crime anterior. A

    receptao prpria a primeira parte do caput do artigo, e a partir do influir temos a receptao imprpria. Enquanto o caput exige dolo direto, o 1 trata do dolo eventual.

    HABEAS CORPUS. PENAL. RECEPTAO QUALIFICADA. PRECEITO SECUNDRIO. TESE DE VIOLAO AOS PRINCPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. PEDIDO DE APLICAO DA SANO PREVISTA PARA A FORMA SIMPLES DO DELITO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA. 1. No h ofensa aos princpios da proporcionalidade e da razoabilidade, pela majorao da pena de um delito praticado com dolo eventual (art. 180, 1., do Cdigo Penal) em detrimento de um crime praticado com dolo direto (art. 180, caput, do Cdigo Penal), pois o legislador objetivou apenar mais gravemente aquele que sabe ou devia saber que o produto era de origem criminosa e, ainda sim, dele se utilizou para a atividade comercial ou industrial. 2. Ordem de habeas corpus denegada. (STJ. Quinta Turma. HC 186066/SP. Rel. Min. Laurita Vaz. DJ 05/02/2013).

    9. Imunidades absolutas art. 181, CP

    As imunidades absolutas tambm so chamadas de escusas absolutrias, as quais no excluem o crime, mas apenas isentam o ru de pena.

    Assim prev o art. 181: isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste ttulo, em prejuzo: I - do cnjuge, na constncia da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legtimo ou ilegtimo, seja civil ou natural.

    9.1 Imunidades relativas art. 182, CP

    So relativas porque agora transmuda-se a natureza jurdica da ao penal, que passa de ao penal pblica incondicionada ao penal pblica condicionada representao da vtima.

    9.2 Excluso das imunidades art. 183, CP

    Art. 183 - No se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime de roubo ou de extorso, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaa ou violncia pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III se o crime praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.