alexandra isabel correia do couto · postos de trabalho e fomentem a dinâmica de uma indústria...
TRANSCRIPT
Alexandra Isabel Correia do Couto
UM
inho
|201
4
outubro de 2014
Ba
rre
ira
s à
en
tra
da
em
Po
rtu
ga
l
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gestão
Barreiras à entrada em Portugal
Alex
andr
a Is
abel
Cor
reia
do
Cou
to
Dissertação de MestradoMestrado em Economia Industrial e da Empresa
Trabalho realizado sob a orientação da
Professora Doutora Natália Maria Carvalho Barbosa
Alexandra Isabel Correia do Couto
outubro de 2014
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gestão
Barreiras à entrada em Portugal
iii
AGRADECIMENTOS
A realização e conclusão deste trabalho nunca teria sido possível sem a contribuição direta
ou indireta de várias pessoas. Para todos, os meus sinceros agradecimentos!
Porém, um agradecimento muito especial:
– Aos meus pais, por não medirem esforços para que alcançasse esta etapa da minha vida,
pelas palavras de incentivo nas horas mais difíceis e pelo carinho, compreensão e paciência
disponibilizada. Também ao meu irmão pelas mesmas razões e, principalmente, pelos gestos
tidos e pelas palavras ditas nos momentos em que mais precisei de sorrir;
– À minha orientadora Doutora Natália Maria Carvalho Barbosa pela sua orientação
traduzida numa presença sempre constante e numa resposta sempre atempada aos meus apelos,
fazendo-se sempre acompanhar de palavras de confiança e incentivo. Agradeço-lhe igualmente
os ensinamentos, críticas e sugestões dadas ao longo deste trabalho;
– A todos aqueles que se demonstraram disponíveis para esclarecer dúvidas ou para fornecer
material imprescindível para o trabalho. Em especial, ao Doutor Satwinder Singh e ao Doutor
Clemens Lutz e a todas as empresas que responderam ao questionário, possibilitando, assim, a
realização do estudo empírico;
– Ao Diogo por acreditar que sou capaz e pela sua dedicação e apoio incansáveis, pela
amizade incondicional, pela força e confiança que deposita em mim. Um agradecimento que
não cabe em palavras ao namorado, ao amigo, ao companheiro;
– Aos meus avós maternos, aos meus tios Lúcio e Bela, ao meu primo Ricardo, ao meu
afilhado, à Rita, ao Sr. Adelino e à Dona Ana pelo apoio, amizade e incentivo ao longo deste
percurso;
– Ao avô Côto e à avó Lurdes que, mesmo não estando presentes, continuam a seguir todos
os meus passos. A eles, dedico todo este trabalho.
iv
v
Barreiras à entrada em Portugal
Resumo
A questão levantada por Smiley (1988) e Singh et al. (1998) sobre a falta de estudos
empíricos sobre a importância das barreiras à entrada tem extrema importância. Algumas das
barreiras identificadas pelos vários estudos parecem meramente baseados na teoria. Porém,
existem algumas barreiras que na realidade desempenham um papel relevante e necessitam de
atenção por parte das autoridades da concorrência. Como tal, o objetivo deste estudo é
identificar as barreiras à entrada que têm sido mais frequentemente usadas por empresas
portuguesas para inibir a entrada de novas empresas e quais as que afetam mais a decisão de
entrada no mercado.
Através de um questionário dirigido às empresas portuguesas dos setores da construção,
indústria transformadora e comércio por grosso e a retalho conclui-se que as barreiras com mais
importância estão relacionadas com custos afundados, necessidade de capital, custos de capital
e desvantagens de custo. Como tal, as autoridades deveriam dar atenção especial ao
funcionamento dos mercados financeiros. As barreiras que parecem ter menor importância para
as empresas portuguesas são os acordos estratégicos, o acesso a I&D, os custos de mudança e
a garantia do input/controlo sob os recursos.
Apesar de algumas diferenças pouco significativas, a ordem de importância das várias
barreiras à entrada é coerente entre os diferentes setores de atividade e entre as empresas de
diferentes dimensões. Ainda assim, as micro empresas têm uma perceção mais baixa no que
concerne às barreiras à entrada do que as PME’s e grandes empresas.
Uma análise fatorial permitiu identificar as seis dimensões subjacentes das barreiras à
entrada: I&D, comportamento estratégico, risco de investimento, publicidade, desvantagens de
custo e capacidade. Estes resultados demonstram que, na perceção das empresas, tanto as
barreiras estruturais como as estratégicas são importantes e a eficácia das barreiras estratégicas
depende das características estruturais do mercado.
Apesar de os dados indicarem que as barreiras à entrada não são um fenómeno com elevada
gravidade na economia portuguesa, elas podem criar restrições às forças competitivas em
determinados mercados pelo que merecem atenção por parte das autoridades da concorrência.
Palavras-chave: Barreiras à entrada; novas empresas; comportamento estratégico
vi
vii
Barriers to entry in Portugal
Abstract
The question raised by Smiley (1988) and Singh et al. (1998) about the absence of empirical
studies on the importance of barriers to entry is extremely important. Some of the barriers
identified by several studies seem merely based on the theory. However, there are some barriers
that actually play an important role and need attention from competition authorities. So, the
aim of this study is to identify the barriers to entry that have been most frequently use by
Portuguese firms to inhibit the entry of new firms and which of the barriers affect more the
decision to enter in the market.
Through a questionnaire sent to Portuguese firms from the sectors of construction,
manufacturing, wholesale and retail is concluded that the most important barriers are related to
sunk costs, capital requirements, capital costs and cost disadvantages. So, the authorities should
give special attention to the functioning of financial markets. The barriers that seem to have
minor importance to Portuguese firms are strategic agreements, access to R&D, switching costs
and securing the input/control over strategic resources.
Despite some minor differences, the ranking of the importance of the various barriers to
entry is consistent between different sectors and between firms of different sizes. Still, micro
firms have lower perceptions regarding barriers to entry than SMEs and large firms.
A factor analysis identified six underlying dimensions of barriers to entry: R&D, strategic
behavior, risk of investment, advertising, cost disadvantages and capacity. These results
demonstrate that in the perception of firms, both structural and strategic barriers are important
and that the efficacy of strategic barriers depends on the structural characteristics of the market.
Although the data indicates that barriers to entry are not a phenomenon with high severity in
the Portuguese economy, they can create restrictions on competitive forces in certain markets
and therefore deserve special attention from competition authorities.
Key-words: Barriers to entry; new firms; strategic behavior
viii
ix
Índice
Capítulo I – INTRODUÇÃO ..................................................................................................1
1.1. Escolha e justificação do tema ..................................................................................1
1.2. Objetivos do estudo e questões de investigação ........................................................2
1.3. Estrutura da dissertação ............................................................................................3
Capítulo II – ENTRADA DE NOVAS EMPRESAS: IDENTIFICAÇÃO E MECANISMOS
DE INIBIÇÃO DE ENTRADA ..............................................................................................5
2.1. “Barreira à entrada”: em busca de uma definição ..........................................................5
2.2. Diferentes mecanismos de inibição de entrada ..............................................................7
2.3. Barreiras à entrada: será que são efetivamente eficazes na inibição de entrada de novas
empresas no mercado? ...................................................................................................... 22
Capítulo III – DADOS E METODOLOGIA ......................................................................... 27
3.1. Tipo de dados e instrumento de recolha .................................................................. 27
3.2. O questionário ........................................................................................................ 29
3.3. Descrição da população e seleção da amostra ......................................................... 34
Capítulo IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 37
4.1. Caracterização da amostra ...................................................................................... 37
4.2. As barreiras à entrada percecionadas pelas empresas portuguesas ........................... 41
4.3. As dimensões subjacentes das barreiras à entrada ................................................... 56
Capítulo V – CONCLUSÃO................................................................................................. 70
5.1. Principais conclusões e recomendações ...................................................................... 70
5.2. Fiabilidade, validade e principais limitações do estudo ............................................... 71
5.3. Pistas para trabalhos futuro ......................................................................................... 73
x
Referências bibliográficas ..................................................................................................... 74
ANEXOS ............................................................................................................................. 81
Anexo 1 – Questionário ........................................................................................................ 82
Anexo 2 – Classificação Portuguesa das Actividades Económicas do Instituto Nacional de
Estatística ............................................................................................................................. 91
Anexo 3 – E-mail enviado às empresas no pré-teste e no envio definitivo ............................. 95
Anexo 4 – Carta e declaração enviada às empresas de forma a comprovar a autenticidade e
veracidade do questionário ................................................................................................... 96
Anexo 5 – “Regras do polegar” ou “Rules of thumb” para determinar o dimensão ideal de
amostras de modo a aplicar várias técnicas estatísticas .......................................................... 99
Anexo 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por setor de atividade 100
Anexo 8 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por dimensão das empresas
........................................................................................................................................... 103
xi
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Barreiras à entrada .................................................................................................8
Tabela 2 – Distribuição das empresas por setor de atividade e classe/dimensão..................... 38
Tabela 3 – Estratégias adotadas pelas empresas instaladas .................................................... 40
Tabela 4 – Tipo de empresas que procuram entrar no mercado onde as empresas respondentes
operam ................................................................................................................................. 40
Tabela 5 – Barreiras à entrada mais e menos importantes na perceção das empresas ............. 42
Tabela 6 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por setor de atividade
............................................................................................................................................. 45
Tabela 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição dos setores ................ 46
Tabela 8 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças setoriais ................................................. 47
Tabela 9 – Testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni para as diferenças
setoriais ................................................................................................................................ 48
Tabela 10 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por dimensão da
empresa ................................................................................................................................ 49
Tabela 11 – Proveniência do volume de negócios e tipo de empresas observadas .................. 53
Tabela 12 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição das dimensões das
empresas............................................................................................................................... 53
Tabela 13 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças entre as dimensões das empresas ......... 54
Tabela 14 – Testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni para as diferenças
entre as dimensões das empresas .......................................................................................... 55
Tabela 15 – A atratividade do mercado por dimensão e setor da empresa observada ............. 55
Tabela 16 – Matriz das correlações ....................................................................................... 59
Tabela 17 – Testes de KMO e de Bartlett para medir a adequação da amostra....................... 60
Tabela 18 – Eigenvalues iniciais ........................................................................................... 60
Tabela 19 – Loadings dos fatores antes da rotação ................................................................ 62
Tabela 20 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo
de 6 fatores) .......................................................................................................................... 64
Tabela 21 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo
de 7 fatores) .......................................................................................................................... 65
Tabela 22 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo
de 8 fatores) .......................................................................................................................... 66
xii
Índice de Gráficos
Gráfico 1 – Distribuição das empresas observadas por tipo de empresa................................. 39
Gráfico 2 – Objetivo principal das empresas instaladas ......................................................... 39
Gráfico 3 – Distribuição das empresas por tipo de mercado principal onde operam ............... 41
Gráfico 4 – Scree Plot – Análise dos componentes principais ............................................... 61
1
Capítulo I – INTRODUÇÃO
Este capítulo da dissertação tem como objetivo discutir a relevância do tema e apresentar a
justificação da escolha do mesmo para este trabalho. Além disso, são delimitados não só os
objetivos do estudo mas também as questões de investigação. Por último, é feita uma
apresentação da estrutura deste trabalho.
1.1. Escolha e justificação do tema
A criação de empresas pode trazer grandes vantagens para o desenvolvimento económico
através da inovação que promove o avanço tecnológico, trazendo consigo novos processos
produtivos e produtos, novas fontes de oferta e promovendo a exploração de novos mercados
(Audretsch e Thurik 2001; Szirmai et al. 2011). A entrada de novas empresas no mercado é
uma fonte de mudança que tende a gerar melhorias na produtividade e na competitividade
económica (Sanyang e Huang 2010). Espera-se também que estas novas empresas criem novos
postos de trabalho e fomentem a dinâmica de uma indústria pois, de facto, são as pequenas
empresas e, em particular as novas, que são mais bem-sucedidas na criação de emprego
(Audretsch e Thurik 2001).
As novas empresas são atraídas para o mercado por lucros acima do nível competitivo de
longo prazo. Quando entram, elas acabam por ter uma função de equilíbrio do mercado na
medida em que podem contribuir para a convergência dos níveis de preço e lucro para o nível
competitivo. Resumidamente, a entrada de novas empresas contribui para a promoção da
eficiência alocativa e dinâmica do mercado (Audretsch e Thurik 2001).
Todavia, existem uma série de mecanismos que podem dificultar ou até mesmo barrar a
entrada de novas empresas e, consequentemente, não permitir que a eficiência alocativa e
dinâmica do mercado seja alcançada (Blees et al. 2003; Dijksta et al. 2006; Kemp e Lutz 2006;
Lutz et al. 2010). Por esta razão, o estudo dos tipos de barreiras à entrada que existem e o efeito
que têm sobre a entrada de novas empresas no mercado é um tópico relevante e integrante de
uma qualquer política de concorrência. São vários os estudos que demonstram que há uma
relação positiva entre a criação de novas empresas e o crescimento económico (Holcombe 1998;
Acs e Armington 2003; Audretsch 2007; Smith 2010), daí ser fundamental perceber os fatores
que facilitam a criação de barreiras à entrada.
Vários estudos discutem a variedade de barreiras à entrada possíveis de existir nos mercados
(ver, por exemplo, Stigler 1968; Porter 1980; Shepherd 1997; Blees et al. 2003; Lutz et al.
2
2010). Blees et al. (2003) tiveram como base a vasta literatura acerca deste tópico e acabaram
por identificar trinta e sete barreiras à entrada, tanto estruturais como estratégicas. Contudo,
algumas questões cruciais ainda persistem. A importância de cada uma das barreiras e quais as
que afetam mais a decisão de entrada no mercado são questões que merecem estudo adicional.
Os trabalhos empíricos acerca deste tópico não abundam. Smiley (1988), Singh et al. (1998)
e Lutz et al. (2010) destacam a importância da realização deste género de trabalhos nesta área
em vários países de forma a determinar até que ponto se podem generalizar os resultados
obtidos em estudos já realizados e entender que barreiras realmente influenciam o processo de
entrada no mercado.
Dada a dificuldade que existe em levar a cabo um estudo empírico sobre barreiras à entrada
(Smiley 1988; Bunch e Smiley 1992) e em estudar o comportamento estratégico de uma
empresa, nesta dissertação tentar-se-á avaliar as perceções que as empresas portuguesas têm em
relação a barreiras à entrada específicas. As perceções que as empresas têm acerca das barreiras
à entrada são fundamentais para perceber quais as que realmente impedem a entrada de
potenciais entrantes numa indústria (Lutz et al. 2010). Alguns estudos realçam a importância
das barreiras estratégicas (Bunch e Smiley, 1992), enquanto outros enfatizam a relevância das
barreiras estruturais (Bain 1956). Como tal, serão tidas em conta potenciais barreiras estruturais
bem como estratégicas que foram identificadas na revisão de literatura (ver, por exemplo, Dixit
1980; Demsetz 1982; Klemperer 1987; Bunch e Smiley 1992; Singh et al. 1998; Han et al.
2001; Blees et al. 2003; Lutz et al. 2010).
1.2. Objetivos do estudo e questões de investigação
A questão de investigação que tem orientado os vários estudos empíricos neste tópico é: qual
a importância empírica dos vários tipos de comportamento estratégico que foram modelados?
(Kemp e Lutz 2006). No caso de Portugal parece que não existe nenhum estudo empírico que
identifique o tipo e intensidade de barreiras à entrada mais frequentemente encontradas pelas
novas empresas. Assim, o objetivo desta dissertação é proceder à elaboração de um estudo
empírico de forma a encontrar resposta às seguintes questões de investigação:
1. Na perceção das empresas portuguesas, que barreiras à entrada desempenham um
papel relevante no mercado em que operam?
2. Quais as barreiras que afetam mais a decisão de entrada no mercado?
Este estudo tem como principal objetivo replicar o estudo de Lutz et al. (2010) em Portugal,
para que seja possível determinar até que ponto se podem generalizar os resultados obtidos em
3
estudos já realizados e entender que barreiras realmente influenciam o processo de entrada no
mercado.
1.3. Estrutura da dissertação
Esta dissertação encontra-se organizada no formato que melhor permite atingir os objetivos
delineados. Desta forma, encontra-se dividida em cinco capítulos, cada um constituído por três
subcapítulos.
No capítulo I é feito o enquadramento da dissertação na temática das barreiras à entrada e a
escolha do tema é justificada. Além disso, são descritos os objetivos do estudo que motivaram
a sua execução, bem como as questões de investigação. Por fim, é descrita a estrutura da
dissertação.
No capítulo II, e com base na pesquisa bibliográfica efetuada, abordam-se sucintamente as
diferentes perspetivas existentes acerca do tópico “barreiras à entrada” com o objetivo de definir
este conceito e fazer a distinção entre os dois tipos de barreiras existentes: barreiras estruturais
e barreiras estratégicas. São também apresentados uma série de modelos teóricos que permitem
a identificação de dezasseis barreiras, tanto estruturais como estratégicas, as quais foram objeto
de avaliação no questionário enviado às empresas. Por último, são ainda apresentados os poucos
estudos empíricos realizados acerca desta temática e que comprovam a existência de algumas
destas barreiras em determinados setores económicos de alguns países.
No capítulo seguinte é feita a descrição do tipo de dados e metodologia utilizada neste
estudo. É discutido o tipo de dados mais adequados a usar, tendo em conta os objetivos e as
questões de investigação deste trabalho, assim como o tipo de pesquisa efetuada e as razões da
escolha de um questionário como método de recolha dos dados. Adicionalmente, são analisados
os prós e contras das diferentes formas de envio dos questionários e é apresentada a escolha
mais adequada para este caso.
É também descrito de que forma os dados vão ser analisados e que instrumentos vão ser
utilizados para o efeito. Seguidamente, o questionário utilizado é descrito pormenorizadamente
bem como os objetivos de cada questão feita. Mais, a população em estudo e a forma como a
amostra foi selecionada são apresentadas. Para finalizar, são enumeradas algumas bases de
dados secundárias que foram necessárias utilizar.
Já o capítulo IV tem início com a caracterização da amostra recolhida no que concerne aos
setores de atividade, à dimensão das empresas, ao tipo de estratégias adotadas pelas empresas
instaladas, entre outros aspetos relevantes. É igualmente apresentada alguma informação básica
acerca do mercado onde as empresas observadas operam. Seguidamente, os resultados obtidos
4
no que diz respeito às barreias que desempenham um papel relevante no mercado em que as
empresas operam e quais as que afetam mais a decisão de entrada no mercado são apresentados.
É ainda realizada uma análise fatorial com o objetivo de identificar as dimensões subjacentes
das barreiras à entrada.
Finalmente, no capítulo V são apresentadas as conclusões retiradas com este estudo e são
sugeridos possíveis trabalhos futuros que poderão ser feitos acerca desta temática. É ainda feita
uma breve discussão da validade e das limitações do estudo.
5
Capítulo II – ENTRADA DE NOVAS EMPRESAS: IDENTIFICAÇÃO E
MECANISMOS DE INIBIÇÃO DE ENTRADA
Este capítulo da dissertação tem como objetivo a definição do conceito de “barreira à
entrada”, bem como a identificação dos diferentes tipos de barreiras existentes. Primeiramente,
são apresentadas as diferentes perspetivas existentes acerca das barreiras à entrada – a
perspetiva da economia industrial e a perspetiva da gestão estratégica – com o objetivo de
definir o conceito de “barreira à entrada”.
Além disso, é feita uma revisão de literatura existente acerca deste tópico, levando à
identificação de dezasseis barreiras à entrada, tanto estruturais como estratégicas. Por último,
são revistos os diferentes estudos empíricos já realizados de forma a perceber que conclusões
foram retiradas para posterior comparação com os resultados obtidos com este trabalho.
2.1. “Barreira à entrada”: em busca de uma definição
Ao longo das últimas décadas a discussão sobre o tópico “barreiras à entrada” tem sido
grande. Inicialmente, a análise deste tópico foi desenvolvida por Bain (1956), mas muitos outros
autores o seguiram (ver, por exemplo, Stigler 1968; Fisher 1979; Porter 1980; Von Weizsacker
1980; Gilbert 1989) surgindo, assim, diferentes definições do conceito “barreira à entrada”.
Analisando a vasta literatura existente acerca deste tema, é possível fazer a distinção entre duas
perspetivas: a perspetiva da economia industrial (ver, por exemplo, Bain 1956; Stigler 1968;
Von Weizsacker 1980; McAfee et al. 2004) e a perspetiva da gestão estratégica (ver, por
exemplo, Porter 1980; Singh et al. 1998; Robinson e McDougall 2001).
A economia industrial foca-se na indústria como unidade de análise, estudando as suas
características estruturais e as reações que as diferentes empresas dessa indústria têm a essas
características (Bain 1956). Para este autor, uma barreira à entrada é definida como uma
vantagem que as empresas instaladas numa dada indústria têm sobre as potenciais entrantes.
Esta vantagem reflete-se na capacidade que as empresas instaladas têm em aumentar o preço
acima dos níveis competitivos sem atrair novas entradas para a indústria (Bain 1956).
Mais tarde, Stigler (1968) enriquece a visão de Bain (1956) ao juntamente considerar as
condições de pós-entrada e focando-se na eficiência das empresas instaladas versus eficiência
das empresas entrantes. Uma barreira à entrada é definida como um custo que as entrantes têm
de suportar ao ingressar no mercado, mas que as empresas instaladas não têm (pois já o fizeram
na altura em que entraram no mercado) (Stigler 1968).
6
Alguns anos mais tarde foi a vez de Von Weizsacker (1980) dar o seu contributo para esta
linha de pensamento, focando-se nos efeitos que as barreiras à entrada poderão ter no bem-estar
social. Para este autor, uma barreira à entrada é definida como um custo de produção que tem
de ser suportado pelas novas empresas mas que não tem de ser suportado pelas empresas
instaladas, o que implica uma distorção no uso dos recursos económicos do ponto de vista social
(Von Weizsacker 1980).
Gilbert (1989) também deu o seu contributo para a definição do conceito “barreira à
entrada”. A sua definição foca-se nas vantagens que as empresas instaladas têm, em vez de se
focar nas desvantagens que as novas empresas sofrem. Uma barreira à entrada é o lucro
adicional que as empresas que já estão no mercado podem ter como única consequência de já
estarem instaladas (Gilbert 1989). Pouco tempo depois Geroski et al. (1990) deram a sua
colaboração, realçando a importância do comportamento como um determinante do
desempenho e da estrutura do mercado no longo prazo. Esta perspetiva aproxima-se da
perspetiva da gestão estratégica, uma vez que os aspetos comportamentais são considerados
como a chave para a análise da indústria. Todavia, e em linha com a perspetiva da economia
industrial, a unidade de análise continua a ser a indústria (Lutz et al. 2010).
A perspetiva da gestão estratégica centra-se no estudo da empresa em si e o que é que ela
pode fazer para conservar ou aumentar a sua rentabilidade. Por exemplo, ao desenvolverem um
recurso singular e difícil de imitar, as empresas instaladas podem criar um produto/serviço
diferente dos outros todos que já existem no mercado, o que poderá aumentar as barreiras à
entrada (Blees et al. 2003). Se as potenciais entrantes não conseguirem oferecer o mesmo
produto/serviço que a empresa instalada oferece – porque não têm aquele recurso singular –, a
empresa instalada pode praticar um preço mais elevado e ter lucros acima do normal. Este tipo
de comportamento estratégico permite às empresas tentar barrar a entrada de novas empresas
no mercado (Blees et al. 2003). Esta capacidade de gerar um valor superior ao das novas
empresas é conhecida como vantagem competitiva e está fortemente relacionada com os
recursos que as empresas possuem (Barney 1991).
Contudo, o objetivo deste trabalho não é discutir qual destas perspetivas é a mais correta,
mas sim identificar as barreiras que desempenham um papel relevante na decisão de entrada
num determinado mercado na perceção das empresas (Smiley 1988; Singh et al. 1998; Chang
e Tang 2001; Lutz et al. 2010), sendo a unidade de análise a empresa. Ambas perspetivas têm
a sua importância e a escolha correta dependerá da questão/problema em estudo (Lutz et al.
2010). Assim, tendo em conta o objetivo deste estudo decidiu-se adotar uma definição mais
abrangente do conceito “barreira à entrada”, encontrada no trabalho de Dijksta et al. (2006):
7
uma barreira à entrada pode ser definida como todas as vantagens que as empresas instaladas
numa determinada indústria têm sobre as potenciais entrantes, na perceção das empresas que
querem entrar num novo mercado. Esta definição foca-se na perceção que as empresas têm
acerca de maior ou menor dificuldade de entrada num novo mercado (Dijksta et al. 2006),
aspetos cruciais para tentar encontrar uma resposta às questões de investigação levantadas neste
estudo.
2.2. Diferentes mecanismos de inibição de entrada
As barreiras à entrada podem ser de dois tipos: barreiras estruturais e barreiras estratégicas.
As barreiras estruturais estão relacionadas com as características estruturais – como a procura
e os custos – da indústria em que as empresas operam. A existência deste género de barreiras
poderá dever-se a determinadas condições do mercado, como a existência de economias de
escala ou a regulação governamental (Bain 1956). Contrariamente, as barreiras estratégicas são
concebidas propositadamente pelas empresas instaladas de forma a influenciar o
comportamento de potenciais entrantes, isto é, de forma a dissuadirem a sua entrada no mercado
(Gilbert 1989).
Após uma revisão da literatura existente sobre barreiras à entrada foi possível identificar
diferentes barreiras (ver, por exemplo, Bain 1956; Porter 1980; Tirole 1988; Gilbert 1989; Blees
et al. 2003). Ainda que muitas delas tenham uma relação umas com as outras, estas barreiras
foram nitidamente distinguidas nos estudos anteriores. Mais, muitas das barreiras identificadas
podem ser consideradas tanto estruturais como estratégicas, dependendo da influência que as
empresas instaladas têm sobre essa barreira. No total foram identificadas dezasseis barreiras à
entrada realçando que, à semelhança do estudo de Lutz et al. (2010), algumas barreiras foram
agrupadas, uma vez que muitas vezes são usados nomes diferentes para barreiras semelhantes,
como por exemplo, o “controlo sobre recursos estratégicos”, a “localização” e a “integração
vertical” dizem respeito a uma barreira mais abrangente que poderá ser denominada de
“garantia/controlo sob recursos produtivos” (Lutz et al. 2010). As barreiras identificadas são
apresentadas na Tabela 1, juntamente com uma breve descrição de cada uma delas e alguns dos
diferentes estudos que as analisam, quer na perspetiva de barreira estrutural e/ou estratégica.
As características estruturais de uma indústria podem ser bastante relevantes uma vez que
podem criar condições adversas à entrada de novas empresas no mercado (Bain 1956). De facto,
o sucesso das potenciais entrantes depende de condições de entrada como as economias de
escala, a diferenciação de produto e as vantagens absolutas de custo (Bain 1956). As economias
de escala, se forem significativas, podem atuar como uma barreia à entrada pois as potenciais
8
Tabela 1 – Barreiras à entrada
Barreira
Descrição da barreira
Fonte na perspetiva de barreira
estrutural
Fonte na perspetiva de barreira
estratégica
Economias de escala
A diminuição dos custos de produção e distribuição por unidade de produção gera assimetria de
custos. As empresas instaladas poderão aumentar o volume de produção, o que leva ao
estabelecimento de preços abaixo dos níveis rentáveis para as empresas entrantes.
Bain (1956); Stigler (1968); Scherer (1973);
Porter (1980); Harrigan (1981); Tirole
(1988); Geroski et al. (1990); Blees et al.
(2003); Kemp e Lutz (2006); Lutz et al.
(2010)
–
Desvantagens de custo
As empresas instaladas podem ter vantagens de custo independentes da escala (localização favorável,
subsídios governamentais…), que podem não ser possíveis de replicar pelas empresas entrantes.
Bain (1956); Tirole (1988); Shepherd (1997);
Han et al. (2001); Blees et al. (2003)
–
Excesso de capacidade
As empresas instaladas que não estiverem a utilizar em pleno as suas instalações aumentam o volume
de produção até ao máximo na tentativa de servir o mercado todo e diminuir os níveis dos preços.
Lieberman (1987)
Spence (1977); Eaton e Lipsey
(1979); Dixit (1980); Harrigan
(1983); Lieberman (1987);
Shepherd (1997); Blees et al. (2003)
Custos afundados
Custos que não podem ser recuperados, mas que são necessários para entrar no mercado. Podem ser
uma barreira à entrada significativa, especialmente se o investimento necessário for significativo.
Bain (1956); Porter (1980); Sutton (1991);
Harbord e Hoehn (1994); Blees et al. (2003)
–
Publicidade
Muita publicidade por parte das empresas instaladas aumenta o custo de entrada para as potenciais
entrantes e afeta a lealdade dos consumidores a determinado produto/serviço, bem como a dimensão
das economias de escala.
Spence (1980); Harrigan (1981); Netter
(1983); Schmalensee (1983); Karakaya e
Stahl (1989); Blees et al. (2003)
Bunch e Smiley (1992); Singh et al.
(1998); Chang e Tang (2001); Blees
et al. (2003)
Acesso a
conhecimento/Know-
how/ I&D
As empresas instaladas poderão ter elevado conhecimento/know-how resultante da experiência que
foram ganho ao longo dos anos, bem como patentes que lhes permite ter um certo poder de mercado
durante um período de tempo limitado.
Karakaya e Stahl (1989); Shepherd (1997);
Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)
Karakaya e Stahl (1989); Blees et al.
(2003); Lutz et al. (2010)
Necessidade de capital
Necessidade de investir em grandes recursos como infreaestruturas, maquinaria e I&D de forma a
competir ou entrar no mercado.
Bain (1956); Porter (1980); Tirole (1988);
Shepherd (1997); Blees et al. (2003); Lutz et
al. (2010)
–
Diferenciação de produto
Os produtos/serviços das empresas instaladas são reconhecidos e são alvo da lealdade dos
consumidores devido à publicidade, por serem os primeiros do mercado, pelo atendimento ao
consumidor ou por diferenças ao nível do produto/serviço.
Bain (1956); Porter (1980); Schmalensee
(1982); Gilbert (1989); Shepherd (1997);
Robinson e McDougall (2001)
Bain (1956); Porter (1980);
Karakaya e Stahl (1989); Shepherd
(1997); Blees et al. (2003)
9
Tabela 1 – Barreiras à entrada (Continuação)
Custos de mudança
Os custos de mudança evitam que os consumidores mudem de fornecedor e, geralmente, as mudanças
tecnológicas podem aumentar ou diminuir estes custos.
Porter (1980); Karakaya e Stahl (1989);
Klemperer (1995); Shepherd (1997);
Blees et al. (2003)
–
Regulação governamental
(licenças e políticas)
Os governos limitam o número de empresas numa determinada indústria através da exigência de
determinadas licenças, pondo limites ao acesso de matérias-primas, etc.
Porter (1980); Dixit e Kyle (1985); Tirole
(1988); Blees et al. (2003)
–
Acesso a canais de
distribuição
Os principais canais de distribuição são bloqueados restando canais inferiores ou até mesmo nenhum,
tendo que as novas empresas estabelecer o seu próprio canal, o que poderá ser dispendioso.
Porter (1980); Robertson e Gatignon
(1991); Han et al. (2001); Blees et al.
(2003)
Robertson e Gatignon (1991);
Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)
Garantia do input/Controlo
sob os recursos
O controlo sobre recursos estratégicos implica que as empresas instaladas podem manter na sua posse
os recursos que as potenciais entrantes necessitam para entrar no mercado.
–
Karakaya e Stahl (1989); Rey e
Stiglitz (1995); Shepherd (1997);
Cabral (2000); Blees et al. (2003)
Preço limite
As empresas instaladas fixam um preço baixo, e uma taxa elevada de produção, de maneira a que as
potenciais entrantes não consigam ter lucro a esse preço.
–
Bain (1956); Milgrom e Roberts
(1982); Gilbert (1989); Blees et al.
(2003)
Retaliação
Pode deter a entrada apenas se as empresas instaladas forem capazes de influenciar as expetativas das
potenciais entrantes acerca da reação que irão ter após a entrada ocorrer.
–
Karakaya e Stahl (1989); Robertson
e Gatignon (1991); Gatignon et al.
(1997); Shepherd (1997); Clark e
Montgomery (1998); Thomas
(1999); Prabhu e Stewart (2001);
Blees et al. (2003)
Assimetria de informação /
Informação incompleta
As empresas entrantes não irão ter todo o conhecimento da indústria disponível para usarem e poderão
tomar decisões erradas acerca das suas estratégias de entrada baseadas em informação incompleta.
Exemplo: custos de entrada.
–
Milgrom e Roberts (1982, 1987);
Geroski et al. (1990); Bunch e
Smiley (1992); Shepherd (1997);
Clark e Montgomery (1998); Blees
et al. 2003)
Acordos estratégicos
Alguns acordos estratégicos permitem às empresas instaladas ganharem algumas vantagens sobre as
empresas entrantes. Por exemplo: limitar ou bloquear o acesso a canais de distribuição.
–
Bain (1956); Shepherd (1997);
Singh et al. (1998); Blees et al.
(2003)
Adaptado de: Karakaya e Stahl (1989) e de Lutz et al. (2010)
10
entrantes seriam obrigadas a ingressar no mercado em grande escala e arriscarem-se a uma forte
reação por parte das empresas instaladas, ou a ingressar em pequena escala e sujeitarem-se a
incorrer em deseconomias significativas (Bain 1956; Scherer 1973). Noutras palavras, se as
potenciais entrantes entrarem com capacidade abaixo da escala mínima de eficiência irão
incorrer em desvantagens de custo relativamente às empresas instaladas.
Porém, se entrarem à escala ótima ou perto dela, geralmente leva a que os preços baixem e,
consequentemente, também os lucros. Todavia, na maioria das indústrias existem tanto grandes
empresas como pequenas empresas logo, o efeito das economias de escala poderá não ser muito
importante devido às escalas mínimas de eficiência serem relativamente pequenas (Stigler
1968; Geroski et al. 1990).
Existe ainda outro efeito das economias de escala que poderá inibir a entrada de novas
empresas no mercado: a necessidade de elevados montantes de capital quando os níveis das
escalas mínimas de eficiência são altos (Bain 1956). Quando isto acontece, as empresas
entrantes irão necessitar de investir quantidades avultadas de capital de forma a conseguirem
produzir eficientemente (Blees et al. 2003).
As desvantagens de custo existem quando os potenciais custos unitários de produção são
mais altos para as empresas entrantes do que para as empresas instaladas (Bain 1956). As
potenciais entrantes que sabem que vão enfrentrar custos unitários mais altos ponderam melhor
a sua decisão de entrada no mercado e, desta forma, as desvantagens de custo poderão funcionar
como uma barreira à entrada (Blees et al. 2003). Segundo Bain (1956), o controlo de técnicas
de produção superiores por parte das empresas instaladas – por exemplo, exercido através da
posse de patentes –, os preços mais baixos dos fatores produtivos resultantes de imperfeições
do mercado, o controlo sob fatores estratégicos – especialmente relativos a recursos naturais –
resultante, por exemplo, de contratos de exclusividade e taxas de juro mais baixas para as
empresas instaladas do que para as potenciais entrantes são as principais fontes de vantagens
de custos para as empresas instaladas.
Blees et al. (2003) realçam ainda que as empresas instaladas podem conquistar uma
vantagem competitiva caso tenham acesso a conhecimento (know-how), uma vez que
possibilita-lhes obter maiores ganhos de eficiência nas suas operações. Estes ganhos de
eficiência resultam da personalização de sistemas e rotinas para as características dos seus
trabalhadores podendo tornar-se uma vantagem de custo para as empresas instaladas e,
consequentemente, uma desvantagem para as potenciais entrantes (Blees et al. 2003).
Quando há entrada de novas empresas num determinado mercado, as empresas instaladas
que não estiverem a utilizar em pleno a sua capacidade produtiva poderão aumentar o volume
11
produzido até ao máximo com o intuito de servir todo o mercado e baixar os níveis dos preços
criando, assim, uma desvantagem de custo para as empresas entrantes (Spence 1977; Eaton e
Lipsey 1979; Harrigan 1983). Segundo Lieberman (1987), o excesso de capacidade pode ser
uma barreira estratégica e não-estratégica.
O excesso de capacidade como barreira não-estratégica relaciona-se com os aspetos
estruturais das instalações das empresas instaladas que estão a ser subutilizadas devido à
procura cíclica ou devido a estarem sujeitas a deseconomias de escala. Os níveis de procura
muitas vezes sofrem oscilações ao longo do tempo, o que por vezes leva as empresas instaladas
a investir em excesso de capacidade para conseguirem dar resposta a períodos de pico de
procura (Lieberman 1987). Assim, poderá dizer-se que o excesso de capacidade não-estratégico
a maior parte das vezes relaciona-se com a curva da procura (Blees et al. 2003). Já o segundo
tipo de excesso de capacidade relaciona-se com o facto de as empresas instaladas tentarem
barrar a entrada de novas empresas no mercado através da ameaça de retaliação competitiva
(Lieberman 1987).
Todavia, não existe consenso entre os vários autores acerca de o excesso de capacidade ser
ou não utilizado estrategicamente pelas empresas instaladas como barreira à entrada, pelo que
se levantam várias questões relativas à sustentabilidade desta barreira. Shepherd (1997) diz que
o excesso de capacidade permite às empresas instaladas retaliarem contra a entrada de novas
empresas no mercado e até mesmo tornar essa ameaça credível. Já Dixit (1980) defende que
essa ameaça não é credível porque as empresas instaladas cujo objetivo é a maximização do
lucro nunca vão ter as suas instalações subutilizadas se não tiverem a certeza que a entrada de
novas empresas no mercado vai ocorrer. De facto, se a entrada não ocorrer, essa subutilização
das suas instalações origina deseconomias de escala e lucros mais baixos. Mais, Dixit (1980)
assume ainda que, sobre determinadas circunstâncias, as empresas instaladas não terão como
objetivo tornarem-se líderes de mercado pelo que irão evitar o excesso de capacidade. Spence
(1977) refere que as empresas entrantes julgam que as empresas instaladas vão sempre manter
a capacidade de produção que tinham antes de a entrada ocorrer.
Em suma, o excesso de capacidade usado estrategicamente pelas empresas instaladas tem
várias limitações e, caso seja utilizada, não se sabe se é ou não eficaz (Blees et al. 2003). Estes
autores afirmam que é seguro dizer que as empresas, por vezes, mantêm níveis de excesso de
capacidade mas por motivos essencialmente não-estratégicos. Todavia, admitem que o excesso
de capacidade, se usado eficazmente pelas empresas instaladas, poderá resultar numa séria
desvantagem de custo para as empresas entrantes podendo, assim, barrar a sua entrada no
mercado (Blees et al. 2003).
12
Os custos afundados são custos que no curto ou médio prazo não podem ser eliminados,
mesmo se as empresas pararem totalmente a sua produção (Blees et al. 2003). Sutton (1991)
faz a distinção entre dois tipos de custos afundados: endógenos e exógenos. O primeiro tipo diz
respeito a custos afundados que derivam de escolhas por parte das empresas entrantes, tais como
a Investigação e Desenvolvimento (I&D) e a publicidade. Já o segundo tipo refere-se a custos
afundados que têm de ser suportados por todas as empresas entrantes, como aqueles que
derivam de economias de escala (Sutton 1991).
Segundo Harbord e Hoehn (1994), há alguns aspetos acerca dos custos afundados que se
devem ter em consideração. Primeiro, estes custos não podem ser recuperados aquando a saída.
Depois, geram uma assimetria de custos entre as empresas instaladas e as potenciais entrantes
porque, quando as empresas se comprometem, os custos afundados deixam de ser uma porção
dos custos de oportunidade de produção. Por fim, são uma forma de compromisso por parte das
empresas instaladas para não saírem do mercado. Assim, se a probabilidade de recuperar estes
custos for baixa, as potenciais entrantes poderão ver a sua entrada no mercado dificultada
(Harbord e Hoehn 1994).
A sustentabilidade desta barreira é bastante grande (Blees et al. 2003). Para estes autores, os
custos afundados exógenos são sustentáveis até ao ponto em que a estrutura da indústria sofre
mudanças drásticas resultantes, por exemplo, de grandes alterações tecnológicas. Como os
custos endógenos implicam uma escolha por parte das empresas entrantes como, por exemplo,
investir fortemente em publicidade, a sustentabilidade deste tipo de custos afundados depende
do facto de as empresas entrantes terem ou não realmente uma escolha para fazer. As empresas
entrantes poderão optar por não ter grandes custos (com um carácter irrecuperável) em
publicidade, mas competir através do preço ou desenvolver um canal de distribuição superior
(Blees et al. 2003).
Netter (1983) defende que a publicidade provoca uma melhoria na alocação dos recursos,
uma vez que melhora a transparência do mercado através da partilha de informação com os
consumidores acerca dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas. Os consumidores
podem usar esta informação para os auxiliar na comparação de produtos/serviços e tomar
decisões mais acertadas. Contrariamente, Karakaya e Stahl (1989) referem que a publicidade
distorce a alocação dos recursos pois aumenta o custo de produção e os custos de mudança do
consumidor. Além disto, a publicidade das empresas instaladas pode afetar a eficácia da
publicidade das empresas entrantes, já que muitas vezes cria o reconhecimento do
produto/serviço da empresa instalada e angaria a lealdade dos consumidores (Karakaya e Stahl
13
1989). É através destes objetivos que a publicidade pode tornar-se uma barreira à entrada (Blees
et al. 2003).
Existem ainda outras três formas de a publicidade funcionar como barreira à entrada
(Schmalensee 1983). Este autor refere que a publicidade são custos afundados e para que seja
eficaz, requer uma escala mínima de eficiência grande. Se os níveis de publicidade forem
constantemente altos acabam por gerar custos adicionais que são fixos para cada um dos níveis
de produção das empresas entrantes. A lealdade dos consumidores para com os
produtos/serviços das empresas instaladas e o receio que poderão ter dos produtos/serviços das
empresas entrantes exige que estas empresas tenham elevados custos em publicidade ou, caso
contrário, a sua publicidade poderá não ser eficaz. Como tal, ou as despesas em publicidade são
mais altas para as empresas entrantes do que para as instaladas, ou a publicidade das entrantes
poderá ser menos eficaz (Schmalensee 1983).
Outra forma de a publicidade funcionar como barreira à entrada relaciona-se com o facto de
poder criar economias de escala porque, por vezes, algumas empresas dedicadas à elaboração
de campanhas publicitárias oferecem descontos para grandes campanhas às empresas instaladas
(Schmalensee 1983). Estes descontos levam ao decréscimo do custo de cada campanha
publicitária que a empresa comprar nas vezes seguintes e, consequentemente, o custo médio
por campanha publicitária diminui. As grandes empresas instaladas terão economias de escala
sobre as pequenas empresas entrantes e, por consequência, o seu custo de publicidade por
produto/serviço vendido será inferior ao custo de publicidade por produto/serviço vendido pelas
empresas entrantes (Schmalensee 1983). Por último, a publicidade poderá originar informação
imperfeita relativa ao preço e à qualidade dos produtos/serviços para os consumidores, o que
poderá criar algumas vantagens duradouras para os produtos/serviços das empresas instaladas
e até mesmo bloquear a entrada de novos produtos/serviços no mercado (Schmalensee 1983).
Assim, as empresas entrantes têm necessidade de fazer um investimento significativo em
publicidade com o intuito de contrariar esta oferta desequilibrada de informação, quando
poderiam utilizar esse investimento numas instalações ou maquinaria pois, caso a entrada no
mercado não seja bem-sucedida, o dinheiro em publicidade é perdido (custo afundado)
(Schmalensee 1983). Já o investimento em instalações ou maquinaria pode ser, pelo menos
parcialmente, recuperado. Como consequência, o risco aumenta para os financiadores de capital
e, deste modo, os custos de financiamento para as empresas entrantes poderão ser mais elevados
(Schmalensee 1983).
As empresas instaladas poderão ter elevadas taxas de conhecimento/know-how resultante da
experiência que foram ganho ao longo dos anos que têm estado no mercado. Muitas vezes, as
14
potenciais entrantes não têm este conhecimento/know-how necessário para entrarem nesse
mercado (Karakaya e Stahl 1989; Lutz et al. 2010). Outras vezes, as empresas instaladas
possuem patentes que lhes permite ter um certo poder de mercado durante um período de tempo
limitado, limitando a entrada durante esse período já que se torna difícil para as potenciais
entrantes terem acesso aos conhecimentos protegidos por patente (Karakaya e Stahl 1989; Lutz
et al. 2010).
Uma das grandes dificuldades que as potenciais entrantes normalmente têm é a necessidade
de capital. Quando o mercado onde pretendem entrar necessita de tecnologias ou instalações
especializadas e equipamentos específicos, poderá haver alguma relutância por parte das
potenciais entrantes em possuir uma quantidade significativa de capital para poder investir em
atividades arriscadas e irrecuperáveis (como publicidade ou I&D) ou em ativos muito
específicos, o que poderá ser uma barreira à entrada (Porter 1980). Mais, o facto de serem novas
empresas poderá gerar-lhes grandes dificuldades em conseguir financiamento para os seus
investimentos devido ao elevado risco para os credores (Tirole 1988).
A diferenciação de produto pode surgir de várias formas que vão desde diferenças físicas à
criação de uma marca ou o atendimento ao cliente (Bain 1956; Gilbert 1989). Quando usada
estrategicamente pelas empresas instaladas, pode ser uma das maiores barreiras à entrada num
determinado mercado (Bain 1956; Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Esta barreira pode
ter dois efeitos distintos, estando o primeiro relacionado com as empresas instaladas ganharem
a lealdade dos consumidores (Bain 1956). Estas empresas podem ganhar a lealdade dos
consumidores bem como fazer com que o seu produto/serviço seja reconhecido através da
publicidade já que, habitualmente, assume-se que esta lealdade faz com que os consumidores
escolham os produtos/serviços das empresas instaladas, em vez dos das empresas entrantes
(Bain 1956; Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Os consumidores irão dar preferência aos
produtos/serviços das empresas instaladas pois, geralmente, não têm muita informação acerca
da qualidade dos produtos/serviços das empresas entrantes (Schmalensee 1982).
O segundo efeito da diferenciação de produto resulta diretamente da lealdade ao
produto/serviço que as empresas instaladas criaram entre os consumidores (Blees et al. 2003).
Esta barreira elimina parcialmente o efeito do uso do preço como arma por parte das empresas
entrantes, pois os consumidores tornam-se menos sensíveis aos preços e, desta forma, a
elasticidade preço diminui (Schmalensee 1982). De facto, a lealdade dos consumidores ao
produto/serviço criado pelas empresas instaladas permite-lhes aumentar os seus preços até um
determinado ponto sem perder clientes. Ao mesmo tempo, têm a possibilidade de aumentar os
custos das empresas entrantes uma vez que têm despesas de venda – como os custos em
15
publicidade para criar diferenciação de produto –, o que força as empresas entrantes a fazer o
mesmo caso desejem competir com os produtos/serviços diferenciados das empresas instaladas
(Bain 1956; Shepherd 1997).
Os custos que as empresas entrantes têm para tentarem diferenciar os seus produtos/serviços
de maneira a conseguirem competir com os produtos/serviços diferenciados das empresas
instaladas são sempre mais altos em relação aos custos que as empresas instaladas têm. Estes
custos são mais elevados paras as empresas entrantes porque, como resultado da queda da
sensibilidade dos consumidores aos preços, as empresas instaladas conseguem manter preços
mais elevados do que as entrantes (Bain 1956; Shepherd 1997). Além disto, através do aumento
dos custos totais das empresas entrantes e do nível de preços, as empresas instaladas podem
aumentar a escala mínima de eficiência das entrantes – isto é, forçar as empresas entrantes a
comprometerem-se com um nível de produção mais elevado –, caso tenham economias de
escala suficientes para o fazer (Bain 1956; Shepherd 1997).
Quando uma empresa entrante tem que enfrentar a barreira à entrada “diferenciação de
produto”, os principais obstáculos que tem de enfrentar são os custos mais elevados juntamente
com a redução da elasticidade preço e a lealdade dos consumidores para com os
produtos/serviços das empresas instaladas (Blees et al. 2003). Noutras palavras, a diferenciação
de produto é uma barreira à entrada quando o produtor (uma empresa entrante) de um novo
produto/serviço não consegue replicar outro produto/serviço das empresas instaladas sem
incorrer em custos ou perdas nas suas vendas (Gilbert 1989).
É ainda importante realçar que a diferenciação de produto nem sempre é uma barreira à
entrada. Robinson e McDougall (2001) referem que um nível alto de diferenciação de produto
está geralmente associado à limitação da entrada de novas empresas no mercado ou até mesmo
à não-entrada. De igual modo, um nível baixo também pode ser eficaz como barreira mas,
geralmente isto está mais relacionado com economias de escala. Ainda segundo estes autores,
níveis moderados de diferenciação de produto não funcionam tão bem como barreira à entrada
já que, geralmente, as empresas entrantes tentam diferenciar o seu produto/serviço num nicho
de mercado que ainda não esteja servido pelas empresas instaladas.
Sempre que os consumidores têm de incorrer em custos elevados para aderirem a novos
produtos/serviços de novos concorrentes em deterioramento de produtos/serviços já existentes,
estes custos de mudança poderão funcionar como uma barreira à entrada (Porter 1980;
Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Segundo Klemperer (1995), os custos de mudança
podem estar relacionados com a necessidade de os produtos/serviços de um novo fornecedor
serem compatíveis com os equipamentos existentes, com os custos de transação relativos à
16
mudança de fornecedores, com os custos de aprender a usar novas marcas de produtos/serviços
e a incerteza acerca da qualidade dos produtos/serviços que ainda não foram testados.
Os custos de mudança permite às empresas instaladas aumentar os níveis de preços até um
certo ponto sem perder clientes porque estes custos, na maioria dos casos, não permite aos
consumidores regulares mudar de fornecedor. De certa forma, isto acaba por ser uma vantagem
substancial para as empresas instaladas porque acabam por ter um certo grau de poder
monopolístico sobre os seus consumidores regulares (Klemperer 1995). A verdade é que os
consumidores estão de certa maneira “presos” ao produto/serviço fornecido pelas empresas
instaladas e, uma empresa entrante irá ter elevados custos para conseguir que os consumidores
mudem do produto/serviço das empresas instaladas para o seu produto/serviço (Shepherd
1997). Custos de mudança elevados vão aumentar a lealdade dos consumidores ao
produto/serviço das empresas instaladas, bem como tornar os consumidores dependentes dessas
empresas (Blees et al. 2003).
No que concerne à política governamental, nomeadamente às licenças, Tirole (1988) e Blees
et al. (2003) referem que o governo pode restringir ou até mesmo barrar a entrada através da
emissão de licenças para certas atividades de uma indústria quando a querem regular – por
exemplo, uma licença para vender bebidas alcoólicas ao público. Estas licenças governamentais
geralmente estão vinculadas a um determinado período de tempo, sendo que podem limitar a
entrada de novas empresas no mercado de duas formas. A primeira está relacionada com o facto
de o número de licenças que podem ser emitidas terem um limite máximo e, desta maneira, não
ser possível ter no mercado mais que um determinado número de empresas (Blees et al. 2003).
A segunda forma tem a ver com os requisitos que têm de ser cumpridos de maneira a obter essa
licença. Estes requisitos podem aumentar a necessidade de capital e/ou os conhecimentos
necessários, ou até mesmo excluir determinados grupos de potenciais entrantes porque nunca
irão conseguir cumprir esses requisitos para a obtenção da licença (Blees et al. 2003).
Ainda a respeito da política governamental, os governos também podem limitar ou barrar a
entrada de novas empresas no mercado através de determinadas políticas restritivas relativas,
por exemplo, à segurança do produto ou instalações e ao controlo da poluição (Tirole 1988;
Blees et al. 2003). Políticas governamentais como estas podem aumentar as economias de
escala, a necessidade de capital e outras potenciais barreiras. Também os regulamentos de
licenciamento, monopólios estatais, subsídios para as empresas instaladas, encargos
administrativos para as empresas entrantes e administrações públicas pouco desenvolvidas
podem igualmente barrar a entrada de novas empresas no mercado (Blees et al. 2003).
17
O acesso a canais de distribuição poderá ser uma barreira à entrada quando as potenciais
entrantes têm a necessidade de assegurar a distribuição do seu produto/serviço já que, em
algumas indústrias como a transformadora, este acesso é um pré-requisito fundamental para as
empresas conseguirem vender os seus produtos/serviços (Blees et al. 2003). Não é comum as
empresas terem as suas próprias instalações para transportar, armazenar e distribuir os seus
produtos/serviços e, como tal, dependem de grossistas e retalhistas para o fazer (Robertson e
Gatignon 1991).
Contudo, o acesso aos habituais canais de distribuição está bloqueado nalgumas indústrias
devido tanto a questões estruturais – não há mais espaço nos canais de distribuição – como a
questões estratégicas, já que as empresas instaladas podem bloquear o acesso aos canais de
distribuição de forma a obterem uma vantagem competitiva sustentável sobre as empresas
entrantes. Esta vantagem competitiva das empresas instaladas força as empresas entrantes a ter
custos de distribuição mais elevados, pois têm a necessidade de procurar outros canais de
distribuição ou até outra forma de distribuir os seus produtos/serviços (Robertson e Gatignon
1991).
Geralmente, só grandes empresas que têm um elevado poder de negociação sobre os seus
compradores conseguem bloquear o acesso aos canais de distribuição. Contudo, isso também é
possível para empresas pequenas que possuam um poder de negociação substancial dentro do
segmento ou nicho do mercado onde operam (Blees et al. 2003). Os canais de distribuição
bloqueados estrategicamente pelas empresas instaladas são uma barreira à entrada sustentável
mas, a sua duração depende da estratégia que as empresas instaladas adotaram e de aspetos
legais como o cartel ou regulações sobre a concentração de empresas. Também os canais de
distribuição bloqueados por questões estruturais são uma barreira à entrada sustentável porque
é necessária uma mudança drástica da estrutura do mercado para alterar as condições sobre as
quais o bloqueio ocorreu (Blees et al. 2003).
Blees et al. (2003) destacam a importância dos recursos para as empresas instaladas
conseguirem ter uma vantagem competitiva sobre as potenciais entrantes. Os recursos são um
pré-requisito para as empresas serem capazes de produzir e, sem eles, não conseguem satisfazer
as exigências do mercado (Blees et al. 2003). São diversos os tipos de recursos necessários para
as empresas produzirem, mas a teoria económica dá destaque a três: capital, mão-de-obra e
matérias-primas. Os recursos estratégicos podem ser definidos como inputs tangíveis e
intangíveis que possibilitam às empresas instaladas assegurarem uma vantagem competitiva
sobre potenciais entrantes (Karakaya e Stahl 1989; Blees et al. 2003). As empresas instaladas
que controlem determinados recursos estratégicos podem impedir as potenciais entrantes de
18
aceder a esses recursos e, desta forma, dificultarem ou até mesmo barrarem a sua entrada no
mercado (Shepherd 1997).
Existem algumas formas legais de controlo sob os recursos, como as patentes e as concessões
governamentais. As empresas mineiras são um exemplo: quando obtêm uma concessão para
explorar uma determinada área, estas empresas têm um controlo total sob estes recursos (Blees
et al. 2003). Porém, o controlo sob recursos estratégicos só é sustentável enquanto barreira à
entrada desde que as potenciais entrantes não tenham nenhuma oportunidade de ganhar o
controlo de recursos ainda melhores – por exemplo, quando um fornecedor integrado
verticalmente força as potenciais entrantes a aceder ao mercado através de outros (melhores ou
mais baratos) canais de distribuição (Rey e Stiglitz 1995; Blees et al. 2003).
Além disto, a sustentabilidade desta barreira também depende do tipo de recursos e do tipo
de controlo que as empresas instaladas têm: o controlo sob a mão-de-obra não dura tanto quanto
o controlo sob a localização e o controlo por meio do aluguer ou concessão pode durar menos
do que o controlo através da posse de um local rentável (Blees et al. 2003). De maneira a que
as empresas instaladas consigam mantar a sua vantagem competitiva, os recursos deverão ser
valiosos, raros, duráveis, difíceis de imitar e insubstituíveis (Blees et al. 2003).
Quando são utilizadas estratégias de preço, uma potencial entrante pode julgar que um preço
baixo de uma empresa instalada como uma vantagem absoluta de custo e, assim, desencorajar
a sua entrada (Gilbert 1989). Mais, quando as potenciais entrantes estudam o comportamento
das empresas instaladas em situações de entrada no passado, e se apercebem que elas tiveram
frequentemente reações agressivas a estes episódios, as potenciais entrantes aumentam a sua
expetativa em receberem a mesma reação. Assim, as estratégias de preço limite ou preço
predatório também podem criar barreiras à entrada (Gilbert 1989). De facto, muitas empresas
instaladas usam estratégias relacionadas com o preço quando existe a ameaça de entrada de
novas empresas no mercado (Bain 1956).
Bain (1956) destacou a importância do preço limite como estratégia utilizada pelas empresas
instaladas, que basicamente consiste em estabelecerem o preço logo abaixo do nível em que a
entrada seria atrativa. Neste caso, este preço limite é o preço máximo que as empresas instaladas
podem praticar sem tornar a entrada no mercado atrativa (Blees et al. 2003). A política ótima
de preço perante a ameaça de entrada envolve preços que estão abaixo do nível de monopólio
de curto prazo mas, ainda assim, acima do nível que iria prevalecer após a entrada ocorrer
(Milgrom e Roberts 1982).
É de salientar que Bain (1956) refere que estabelecer um preço limite só é possível se
existirem outras barreiras. As empresas instaladas têm duas hipóteses, dependendo da ameaça
19
de entrada e do tempo necessário para a entrada ocorrer (Bain 1956). Quando a posição das
empresas instaladas é forte e as barreiras à entrada são elevadas, a resposta típica para tentar
barrar qualquer tentativa de entrada é baixar os preços logo abaixo do preço limite (Blees et al.
2003). Quando a posição das empresas instaladas é fraca e a entrada é provável que ocorra, a
estratégia será maximizar os lucros no curto prazo através de um grande aumento dos níveis de
preço acima do preço limite. Como resultado, as empresas irão entrar no mercado e o preço irá
cair após a entrada (Blees et al. 2003).
Relativamente à sustentabilidade do preço limite como barreira à entrada, no caso em que a
entrada é em pequena escala, esta barreira só funciona se conjugada com as vantagens de custo
das empresas instaladas (Blees et al. 2003). No caso de a entrada ser em grande escala, o preço
limite baseia-se no comportamento endógeno das empresas instaladas e, nalguns casos, e
entrada só é bloqueada se a ameaça e o compromisso das empresas instaladas for credível. O
preço limite desce se a procura se tornar mais elástica e o mercado aumentar de dimensão e
sobe quando as economias de escala se tornam mais relevantes (Blees et al. 2003).
A retaliação pode definir-se como o conjunto de estratégias que as empresas instaladas
podem adotar contra as potenciais entrantes, quando estas procuram entrar no mercado. Esta
barreira diz respeito especificamente aos mecanismos estratégicos que as empresas instaladas
utilizam após a entrada ocorrer, e não às condições de pré-entrada (Blees et al. 2003). Alguns
exemplos destes mecanismos são as inovações e interações em mercados semelhantes, o preço
e a publicidade (Shepherd 1997).
Geralmente, esta barreira é abordada de duas formas distintas pelos vários autores. A
primeira abordagem constitui a criação de uma lista que agrega todas as respostas possíveis e
adequadas das empresas instaladas à entrada de novas empresas no mercado (Robertson e
Gatignon 1991; Gatignon et al. 1997). A segunda abordagem diz respeito aos sinais que as
empresas instaladas devem enviar às potenciais entrantes acerca da sua determinação em
retaliar, caso a entrada ocorra. É através da construção de uma reputação credível entre as
potenciais entrantes que as empresas instaladas conseguem deter a sua entrada (Clark e
Montgomery 1998; Prabhu e Stewart 2001). De facto, Thomas (1999) demonstra que uma
resposta antecipada das empresas instaladas à entrada de novas empresas no mercado onde
operam é um dos determinantes de entrada mais importante.
A retaliação pode ser uma barreira à entrada bastante eficaz. Robertson e Gatignon (1991)
argumentam que o essencial para que esta barreira funcione é que as empresas instaladas
enviem sinais às potenciais entrantes acerca da sua vontade de retaliar. De acordo com Clark e
Montgomery (1998), os sinais enviados pelas empresas instaladas serão tão mais influentes
20
quanto mais difícil e/ou dispendiosa for a recolha da informação por parte das potenciais
entrantes. A credibilidade de um sinal depende do nível de credibilidade e sucesso da atividade
das empresas instaladas. As empresas instaladas que adotam constantemente um
comportamento estratégico e são bem-sucedidas podem mais facilmente enviar sinais credíveis
(Clark e Montgomery 1998). A reputação pode ser essencial, uma vez que contribui bastante
para as expectativas das potenciais entrantes acerca da estratégia de retaliação que as empresas
instaladas poderão adotar. Estas expectativas podem ser utilizados para deter efetivamente
entrada (Clark e Montgomery, 1998; Thomas 1999; Prabhu e Stewart 2001).
A informação incompleta está relacionada com a incapacidade que as potenciais entrantes
têm em obter uma visão geral, completa e precisa acerca das condições reais do mercado onde
pretendem ingressar (Blees et al. 2003). Noutras palavras, a informação incompleta refere-se à
incapacidade de uma potencial entrante prever com precisão e detalhe as especificidades da
situação pós-entrada, especialmente por falta de informação relativa à procura real do mercado
e aos custos de operar no mesmo (Milgrom e Roberts 1982; Geroski et al. 1990). Estas
incertezas podem influenciar negativamente a estratégia de entrada da potencial entrante, uma
vez que poderá fazer falsas suposições e/ou estimativas enfraquecendo a sua posição De facto,
as potenciais entrantes têm inerentemente menos informação do que as empresas instaladas e,
além disto, a aquisição desta informação pode ser dispendiosa (Shepherd 1997). A falta de
informação não é só uma barreira por si só, mas também contribui para o aumento do risco das
potenciais entrantes e, consequentemente, o seu custo de capital (Blees et al. 2003).
A assimetria de informação refere-se à situação em que uma das empresas – geralmente a
empresa instalada – tem mais informação do que a outra (Blees et al. 2003). Noutras palavras,
a assimetria de informação diz respeito a uma diferença que existe entre as empresas instaladas
e as potenciais entrantes, relativa a I&D e a conhecimento (Geroski et al. 1990). A maioria das
vezes, as empresas instaladas estão mais bem informadas e capazes ao nível do conhecimento
que possuem do que as potenciais entrantes, principalmente devido às vantagens obtidas através
da aprendizagem e experiência (Blees et al. 2003). O facto de as empresas entrantes terem
menos informação do que as instaladas poderá barrar a sua entrada no mercado, caso necessitem
indispensavelmente desse conhecimento para conseguirem entrar, podendo este conhecimento
estar protegido, por exemplo, por patentes (Blees et al. 2003).
Esta barreira está relacionada com as barreiras “preço limite” e “retaliação”. A sinalização
pode determinar a estratégia de preço das empresas instaladas (Milgrom e Roberts 1982, 1987).
O sucesso de determinadas estratégias de preço, como o preço limite, depende até que ponto as
potenciais entrantes correlacionam o comportamento pré-entrada das empresas instaladas com
21
os lucros pós-entrada (Blees et. al 2003). A informação incompleta é crucial, uma vez que estas
estratégias de preço são desenhadas para explorar as assimetrias de informação entre as
empresas instaladas e as potenciais entrantes (Geroski et al. 1990).
Geralmente, uma potencial entrante considera a entrada no mercado rentável se percecionar
que as empresas instaladas têm custos elevados, e não rentável se os custos forem baixos
(Milgrom e Roberts 1987). As empresas instaladas podem estabelecer preços abaixo do nível
ótimo de curto prazo para sinalizar às potenciais entrantes que têm custos baixos – quando de
facto, poderão não ter – ou para demonstrar que irão retaliar contra as potenciais entrantes. De
qualquer forma, as empresas instaladas vão tentar impedir a entrada usando o preço como um
sinal (Milgrom e Roberts 1987; Clark e Montgomery 1998). A informação incompleta pode
levar as potenciais entrantes a aceitar os sinais e a tê-los em conta na hora de decidir se deve ou
não entrar no mercado (Blees et al. 2003).
Apesar de os preços de pré-entrada das empresas instaladas poderem não influenciar a
rentabilidade pós-entrada, podem tornar-se sinais de alguns determinantes não observáveis dos
seus lucros, isto é, podem ajudar a ocultar o seu lucro verdadeiro (Blees et al. 2003). Noutras
palavras, poderá transmitir às potenciais entrantes que as empresas instaladas não estão a ter
lucro – quando na realidade estão – e, desta forma, deter a sua entrada.
Alguns acordos estratégicos entre as empresas instaladas permite-lhes ganharem algumas
vantagens sobre as potenciais entrantes e, algumas vezes, até mesmo barrar a sua entrada no
mercado. Um exemplo destes acordos são a integração vertical. As empresas podem optar por
integrar verticalmente para atingir eficiências ou para retirar vantagens relacionadas com
condições de monopólio (Blees et al. 2003). Se for eficiente para as empresas numa determinada
indústria integrar verticalmente, então uma potencial entrante tem de entrar em dois ou mais
níveis de produção de forma a conseguir igualar os custos das empresas instaladas. Isto requer
mais investimentos e maior compromisso e, assim, pode funcionar como barreira à entrada
(Shepherd 1997).
Quando um setor tem características de um monopólio natural, o poder de monopólio pode
ser transferido para um mercado a montante ou a jusante. Se não forem tomadas medidas e o
acesso ao monopólio natural for negado às empresas entrantes, esta barreira à entrada é bastante
severa (Blees et al. 2003). Em suma, é possível para as empresas instaladas tirarem vantagens
relacionadas com condições de monopólio. Através da integração vertical, as empresas
instaladas podem aumentar as barreiras à entrada (Blees et al. 2003).
A integração vertical deixa de ser sustentável quando a hierarquia deixa de ser a solução
mais eficiente ao nível dos custos. Isto pode acontecer quando os custos de transação se tornam
22
mais baixos devido a inovações, como por exemplo a Internet, ou quando o mercado consegue
produzir a um nível muito mais baixo de custos (Blees et al. 2003). Este pode ser o caso quando
são desenvolvidas novas tecnologias ou surgem novos mercados. Um caso específico em que a
integração vertical é acabada é quando o governo decide dividir uma empresa, por exemplo,
para introduzir concorrência num antigo monopólio. Outras vezes, os monopólios são proibidos
através de leis de concorrência (Blees et al. 2003).
2.3. Barreiras à entrada: será que são efetivamente eficazes na inibição de entrada de
novas empresas no mercado?
Os modelos teóricos acerca da temática “barreiras à entrada” são em números elevados mas,
são poucos os estudos empíricos realizados acerca da mesma. Um dos primeiros trabalhos
empíricos foi desenvolvido por Harrigan (1981). A autora estudou o comportamento de seis
empresas pertencentes a cinco indústrias (embalamento de carne, bebidas destiladas, cigarros,
cimento hidráulico e fabrico de aeronaves) ao longo de nove anos, e conclui que a constituição
de condições de excesso de capacidade e o corte dos preços para conseguir suportar essa
capacidade são barreiras à entrada bastante relevantes. Mais, investindo em I&D, as empresas
instaladas conseguem aumentar as economias de escala tecnológicas dentro das respetivas
indústrias ou até mesmo contribuir para a presente evolução tecnológica da indústria para que
as seguintes tentativas de entrada sejam mais ineficazes.
Um estudo empírico levado a cabo por Harrigan (1983) nos Estados Unidos parece indicar
que, na indústria transformadora, as empresas instaladas poderão tentar barrar a entrada de
novas empresas no mercado mantendo um determinado nível de capacidade, construindo
sempre as suas instalações antes das empresas entrantes e nas localizações disponíveis mais
apropriadas. Assim, o nível de investimento necessário para entrar no mercado onde operam
aumenta tornando a entrada pouco atraente.
Smiley (1988) utilizou como meio de recolha de informação um questionário direcionado a
empresas americanas, onde mais de metade dos inquiridos compararam, em termos de
relevância, as estratégias de impedir a entrada de novas empresas com outras estratégias de
marketing e decisões de produção. A prática de dissuasão à entrada revelou-se um problema
bastante relevante para as empresas incluídas no estudo. Smiley (1988) demonstrou ainda que,
para novos produtos, as empresas limitam a entrada através do patenteamento e da criação de
lealdade ao produto através de grandes despesas em publicidade. Para os produtos já existentes,
as empresas tentam limitar a entrada através do preenchimento de todos os nichos existentes do
23
produto, da ocultação dos dados relativos à rentabilidade do produto e, mais uma vez, da criação
de lealdade ao produto através de despesas em publicidade.
Karakaya e Stahl (1989) desenvolveram um estudo cujo objetivo era identificar as principais
barreiras capazes de dissuadir a entrada de novas empresas em dois mercados – o mercado de
bens de consumo e o mercado de bens industriais – e saber se a importância das barreiras à
entrada na decisão de entrada no mercado eram ou não diferentes entre estes dois mercados.
Para tal, foram modeladas as decisões de entrada no mercado de 137 executivos em 49 grandes
empresas americanas, em que o instrumento de decisão de entrada consistia em 32
oportunidades de entrada no mercado. Os executivos inquiridos revelaram que tinham em
consideração as várias barreiras aquando a decisão de entrada no mercado e que a barreira mais
importante era as desvantagens de custo. Além disso, a importância das diferentes barreiras
diferia entre o mercado de bens de consumo e o mercado de bens industriais.
Bunch e Smiley (1992) elaboraram um estudo de forma a perceberem se as empresas
instaladas tentam frequentemente limitar a entrada de novas empresas e que estratégias são
usadas mais frequentemente. As barreiras mais usadas para produtos existentes e novos
produtos são as mesmas que se destacaram no estudo de Smiley (1988). Porém, para produtos
recém-desenvolvidos, a dissuasão estratégica à entrada é regularmente utilizada quando os
mercados são concentrados, compostos por grandes empresas e intensivos em I&D. Para os
produtos existentes, a dissuasão estratégica é também utilizada em mercados concentrados e
intensivos em I&D, mas a dimensão das empresas não tem qualquer influência.
Mathis e Koscianski (1996) apresentam resultados semelhantes aos de Harrigan (1983)
relativos à indústria americana do titânio mas, apesar de argumentarem que as instalações
subutilizadas poderem ser uma barreira à entrada, não encontram provas de que as empresas
instaladas investem intencionalmente em excesso de capacidade com o objetivo de a usarem
como uma barreira à entrada. Mais, os autores também não conseguem provar que as empresas
instaladas irão desviar-se do seu objetivo de maximização do lucro para investirem em excesso
de capacidade.
Singh et al. (1998), analisando as indústrias de alimentação, química e de engenharia elétrica,
demonstraram que para estas três indústrias existe evidências de que as empresas têm ações
estratégicas, apesar de ser em menor extensão do que as detetadas por Smiley (1988). As
barreiras mais usadas são a publicidade, I&D (mas não o patenteamento) e algumas restrições
verticais.
Thomas (1999) realça que uma das maneiras mais importantes para deter a entrada de novas
empresas no mercado é as empresas instaladas responderem antecipadamente à situação,
24
usando o preço, a publicidade ou a criação de novos produtos. Ao estudar a indústria dos cereais
prontos a comer, Thomas (1999) concluiu que as empresas instaladas, para limitarem a escala
de entrada, utilizam a publicidade. Além disto, há grande probabilidade de as empresas
entrantes encontrarem uma resposta de preços agressiva e de as empresas instaladas retaliarem
quando a escala de entrada é maior.
Um estudo realizado em Singapura (Chang e Tang 2001) obteve resultados semelhantes aos
trabalhos referenciados anteriormente, especialmente com os resultados de Smiley (1988).
Também nesta cidade-estado, mais de metade dos inquiridos compararam, em termos de
relevância, as estratégias de impedir a entrada de novas empresas com outras estratégias de
marketing e decisões de produção. Os autores vieram demonstrar que, contrariamente ao que
se acredita, as barreiras à entrada não são relativamente baixas ou inexistentes nesta pequena
economia aberta. De facto, a dissuasão à entrada parece ser uma prática bastante frequente para
as empresas envolvidas no estudo. As barreiras usadas mais frequentemente nesta economia
são a publicidade, o preenchimento de todos os nichos do produto e o domínio de canais de
distribuição.
Karakaya (2002) estudou a importância de 25 barreiras à entrada em mercados industriais
através de um questionário dirigido a 93 empresas pertencentes a esses mercados. A maioria
dos executivos consideram as desvantagens de custo e a necessidade de capital como as duas
barreiras à entrada mais importantes. A regulação governamental e a publicidade foram as
barreiras apontadas como menos importantes. Além disto, o autor levou a cabo uma análise
fatorial dos dados com o objetivo de descobrir quais as dimensões subjacentes das barreiras à
entrada nestes mercados. Os resultados indicaram que existem quatro grandes dimensões
subjacentes das barreiras à entrada: vantagens específicas das empresas instaladas – como por
exemplo, desvantagens de custo resultantes de economias de escala –, diferenciação de produto,
necessidade de capital ou custos de entrada no mercado e a expetativa de lucro por parte das
empresas entrantes, sendo que esta última não diz necessariamente respeito a uma barreira à
entrada, mas sim a um conjunto de indicadores de atratividade do mercado.
Lutz et al. (2010) desenvolveram um trabalho para a Holanda acerca do conhecimento que
as empresas têm sobre as barreiras estruturais e estratégicas à entrada existentes no mercado
onde operam. Os autores concluíram que as empresas dão bastante importância a esta questão.
Ambos os tipos de barreiras à entrada são relevantes e a eficácia das barreiras estratégicas está
sujeita às características da estrutura do mercado. Após procederem a uma análise conjunta, os
autores demonstraram que, em particular, as barreiras enraizadas em três dimensões – capital,
25
acesso a canais de distribuição e ações estratégicas – requerem atenção por parte das autoridades
da concorrência, uma vez que elas podem impedir a entrada de novas empresas no mercado.
Niu et al. (2012) levaram a cabo um estudo na China cujo um dos objetivos era determinar
a ordem de importância das barreiras à entrada neste mercado. Ao inquirir 193 executivos
chineses, os autores concluíram que as três barreiras mais importantes são: o efeito que a
publicidade tem – já que neste mercado a publicidade dificilmente aumenta o volume de vendas
–, o acesso aos canais de distribuição – pois o número de distribuidores a vender o produto
principal das empresas é limitado, dificultando o desenvolvimento de um mercado por parte
destas – e a concentração de vendedores isto é, quanto maior for a quota de mercado detida
pelas grandes empresas da indústria, maior é a pressão competitiva imposta nas empresas
entrantes, o que acontece neste país. Já as três barreiras à entrada apontadas como menos
importantes são: as políticas governamentais pois não é difícil para as empresas instaladas
cumprirem as normas impostas pelo governo, as despesas em publicidade porque facilmente
conseguem angariar fundos para mais campanhas publicitárias e a necessidade de capital já que,
geralmente, neste país a diferença entre os níveis de capital necessário e disponível para as
empresas instaladas não é grande.
Os estudos existentes acerca da temática “barreiras à entrada” centra-se nas estratégias
utilizadas pelas empresas instaladas para defenderem as suas posições no mercado e impedir a
entrada de novas empresas, bem como em aspetos estruturais do mercado que também podem
barrar a entrada de novas empresas (ver, por exemplo, Bain 1956; Porter 1980; Blees et al.
2003; Dijksta et al. 2006; Kemp e Lutz 2006; Lutz et al. 2010). De facto, identificar os diferentes
mecanismos que podem barrar a entrada de novas empresas no mercado é importante, na
medida em que as barreiras à entrada podem influenciar significativamente os níveis de
rentabilidade da indústria e a estrutura competitiva do mercado. Em indústrias em que as
barreiras à entrada são elevadas, é provável que se formem oligopólios, diminuindo o grau de
concorrência no mercado e levando a uma queda do bem-estar económico e social e diminuindo
a taxa de inovação (ver, por exemplo, Blees et al. 2003; Lutz et al. 2010).
São vários os estudos que discutem a variedade de barreiras à entrada possíveis de existir
nos mercados (ver, por exemplo, Stigler 1968; Porter 1980; Shepherd 1997; Blees et al. 2003).
Contudo, algumas questões cruciais ainda persistem. A importância de cada uma das barreiras
e quais as que afetam mais a decisão de entrada no mercado são questões que merecem estudo
adicional. Os trabalhos empíricos acerca deste tópico não abundam, sendo que autores como
Smiley (1988), Singh et al. (1998) e Lutz et al. (2010) destacam a importância da realização
deste género de trabalhos nesta área em vários países de forma a determinar até que ponto se
26
podem generalizar os resultados obtidos em estudos já realizados e entender que barreiras
realmente influenciam o processo de entrada no mercado.
27
Capítulo III – DADOS E METODOLOGIA
Este capítulo da dissertação tem como objetivo descrever o tipo de dados e metodologia
utilizada de forma que, eventualmente, possa ser replicado. Em primeiro lugar, é feita uma
discussão do tipo de dados mais adequados a utilizar, tendo em conta os objetivos e as questões
de investigação deste trabalho. Segundo, é discutido o tipo de pesquisa feita e são apresentadas
as razões da escolha de um questionário como método de recolha dos dados.
Além disto, são analisados os prós e contras das diferentes formas de como os questionários
podem ser enviados e é apresentada a escolha mais adequada para este caso. É também descrito
de que forma os dados vão ser analisados e que instrumentos vão ser utilizados para o efeito.
Seguidamente, o questionário utilizado é descrito pormenorizadamente bem como os
objetivos de cada questão feita. Mais, a população em estudo é apresentada, assim como a forma
que a amostra utilizada foi selecionada.
3.1. Tipo de dados e instrumento de recolha
Uma vez definido o objetivo do estudo e delineadas as questões às quais se pretende dar
resposta, é fundamental definir que tipo de dados utilizar. São vários os autores que destacam
as dificuldades de levar a cabo um estudo empírico acerca de barreiras à entrada (ver, por
exemplo, Smiley 1988; Bunch e Smiley 1992; Chang e Tang 2001). Smiley (1988) refere que,
o facto de as operações de quase todas as empresas serem multiproduto e de as estratégias que
as empresas adotam ao nível do produto serem o ponto chave para este estudo, faz com que as
bases de dados existentes acerca do nível de atividade das empresas não sejam úteis. Mesmo
que as estratégias das empresas sejam transversais a todos os produtos ou que a informação
disponível em fontes adequadas seja uma aproximação ao nível individual de cada produto, é
difícil intrepertar as razões implícitas dos padrões observados (Smiley 1988).
Chang e Tang (2001) argumentam, em particular, que usar informações acerca do lucro das
empresas não permite determinar a causa, o efeito e as intenções ao nível do produto. Portanto,
uma vez que o objetivo deste estudo é procurar saber, na perceção das empresas portuguesas,
quais as barreiras à entrada que desempenham um papel relevante no mercado em que operam
e quais destas barreiras afetam mais a decisão de entrada no mercado, e tendo em conta as
dificuldades referidas, os dados recolhidos serão dados primários à semelhança dos estudos de
Smiley (1988), Chang e Tang (2001) e Lutz et al. (2010) .
Após a decisão do tipo de dados mais adequados a utilizar, é necessário averiguar de que
forma vão ser recolhidos e qual a metodologia mais adequada para o tratamento dos mesmos.
28
Seguindo Kothari (2004), o objetivo deste trabalho é procurar saber com que frequência um
determinado fenómeno acontece ou com que frequência um fenómeno está relacionado com
outro. Neste caso, procura-se saber, na perceção das empresas portuguesas, quais as barreiras à
entrada que desempenham um papel relevante no mercado em que operam e quais destas
barreiras afetam mais a decisão de entrada no mercado. Assim, o tipo de pesquisa a efetuar será
descritiva, uma vez que não se tem controlo sobre as variáveis e apenas é possível reportar o
que aconteceu ou está a acontecer, descrevendo o estado de algo tal e qual como existe ou
existiu (Kothari 2004).
A recolha de dados primários pode ser efetuada através de vários métodos, como por
exemplo, entrevista ou questionário (Kothari 2004). Smiley (1988) utilizou o questionário como
instrumento de recolha de dados para um estudo similar. O uso de um questionário traz-nos
algumas vantagens em relação à entrevista. Neste caso, exige menos recursos no que concerne
ao tempo e pessoal e são mais adequados para conseguir obter informações confidenciais
(Glasow 2005). Além disso, o questionário está livre da possível influência que o intrevistador,
consciente ou inconscientemente, possa ter sobre os respondentes – isto é, as respostas estão
nas próprias palavras de quem responde – e os respondentes têm o tempo que necessitarem para
dar respostas bem ponderadas (Kothari 2004; Alves 2012). Como os respondentes, na grande
maioria das vezes, não são facilmente acessíveis, o questionário também permite que possam
ser alcançados convenientemente (Kothari 2004). É ainda de referir que este método de recolha
de dados permite aceder a amostras de maior dimensão e, assim, os resultados poderão ser mais
fiáveis (Kothari 2004).
Como tal, o instrumento de recolha de dados selecionado é o questionário. A justificação
desta escolha baseia-se não só nas razões apresentadas anteriormente, mas também no trabalho
de Yin (2003), que refere que existem três critérios cruciais para ajudar na seleção do método
de recolha de dados: o tipo de questão de investigação, o grau de controlo que o investigador
tem sobre os acontecimentos comportamentais reais e o nível de focalização que se quer fazer
a acontecimentos atuais versus acontecimentos históricos (Yin 2003).
Quando o objetivo da investigação é responder a questões maioritariamente do tipo “O
quê?”, “Quem?”, “Onde?”, “Qual (ais)?” e/ou “Quanto (s)?”, o investigador tem pouco controlo
sob os acontecimentos em estudo e a investigação centra-se no estudo de acontecimentos atuais,
então o questionário deverá ser o instrumento selecionado para a recolha dos dados (Yin 2003).
Relativamente ao método de envio do questionário, há duas opções: por correio tradicional
ou por correio eletrónico. Como este estudo não tem qualquer financiamento, e o correio
29
tradicional iria ser bastante dispendioso (Kwak e Radler 2002), a escolha feita foi o envio por
correio eletrónico.
Aquando da escolha deste método de envio é preciso ter em consideração alguns aspetos
importantes, além do custo. Os questionários enviados por correio tradicional geralmente têm
taxas de resposta mais altas do que aqueles enviados por correio eletrónico (Kwak e Radler
2002). Todavia, quando se enviam notificações a relembrar o seu preenchimento, a taxa de
resposta daqueles enviados por correio eletrónico aumenta (Kwak e Radler 2002; Kaplowitz et
al. 2004). Além disso, os questionários enviados desta forma são respondidos mais rapidamente
do que os enviados por correio tradicional (Kwak e Radler 2002), o que neste estudo é bastante
útil dado o tempo limitado para a elaboração do mesmo. É ainda de realçar que, no que diz
respeito à qualidade da informação obtida, a recolha através dos questionários enviados
eletronicamente tende a ser mais desejável já que, a taxa de não-resposta às perguntas é menor
e, quando existem perguntas de resposta aberta, as respostas tendem a ser mais longas (Kwak e
Radler 2002).
A análise de dados é quantitativa uma vez que nos permite explicar e procurar regularidades,
através da objetividade dos processos e da quantificação das medidas (Almeida e Freire 2000),
o que ajudará a responder às questões de investigação deste estudo. Serapioni (2000) destaca
as características essenciais dos métodos quantitativos: a orientação para a quantificação e causa
dos fenómenos, bem como para a verificação e resultados, o uso de métodos controlados, a
objetividade, a natureza hipotético-dedutiva e a replicabilidade e possibilidade de
generalização. Para este estudo, é fundamental a comparação com outros estudos empíricos
similares, bem como a quantificação e explicação da importância das barreiras à entrada. A este
propósito, Kothari (2004) realça que neste tipo de análise, os investigadores procuram muitas
vezes descobrir causas para os fenómenos observados, mesmo não tendo controlo sobre as
variáveis.
3.2. O questionário
O questionário utilizado neste estudo (Anexo 1) teve como referência para a sua construção
o enquadramento teórico deste tópico discutido no capítulo II e os questionários elaborados por
Singh et al. (1998) e Lutz et al. (2010). A maioria das questões são as mesmas que foram
utilizadas nos estudos elaborados por estes autores, para que possa ser possível fazer a
comparação de resultados.
O tipo de questões utilizadas foi questões de resposta fechada, tanto de escolha múltipla e
dicotómica como de escalas de medição. A escolha deste tipo de questões baseia-se no trabalho
30
de Reja et al. (2003) acerca da utilização de questões de resposta aberta versus questões de
resposta fechada em questionários online. Os autores concluíram que as questões de resposta
aberta em comparação com as de resposta fechada demoram mais a ser descodificadas, são mais
difíceis de analisar estatísticamente, aumentam a probabilidade de não-resposta e produzem
uma maior diversidade de respostas (o que posteriormente pode complicar a análise dos dados).
Além disso, os resultados obtidos sugerem que as questões de resposta aberta produzem mais
dados em falta do que as de resposta fechada (Reja et al. 2003). Em cada uma das questões de
escolha múltipla e dicotómica foi colocada quase sempre a opção “outro/a” para que, no caso
de a resposta do respondente não se enquadrar em nenhuma das sugeridas, o respondente dê
uma resposta o mais verdadeira possível e para evitar que escolha uma das opções ao acaso.
O questionário encontra-se dividido em 3 secções. Na secção I são feitas algumas questões
relativas a informação básica acerca da empresa, como o setor de atividade e o número de
trabalhadores. As questões da secção II dizem respeito às condições/circunstâncias de entrada
no mercado, onde são descritos alguns aspetos competitivos e perguntado às empresas para
avaliarem, em termos de importância, até que ponto uma nova empresa de dimensão semelhante
à empresa respondente tem de enfrentar esses aspetos competitivos no principal mercado em
que essa empresa opera. A secção III serve para recolher informação relativa ao principal
mercado em que a empresa respondente opera.
A secção I é constituída por 10 questões. A primeira questão diz respeito ao setor em que a
principal atividade da empresa se enquadra. Os setores selecionados foram denominados
conforme a última Classificação Portuguesa das Actividades Económicas do Instituto Nacional
de Estatística (2007) (Anexo 2), sendo que algumas divisões foram agrupadas e alguns nomes
simplificados – as divisões 13 e 14 foram agrupadas e denominadas de “Indústria têxtil e do
vestuário”, as divisões 27 e 28 foram igualmente reunidas e designadas de “Fabricação de
equipamento elétrico, de máquinas ou equipamento” e a divisão 41 ficou apenas como
“Desenvolvimento de projetos e construção de edifícios”.
A pergunta número 2 desta secção tem como objetivo determinar a dimensão da empresa.
Para escolher as respostas apresentadas foi tido em consideração a definição de micro, pequena,
média e grande empresa segundo as normas europeiras (European Union Commission 2003).
As cinco questões seguintes têm como objetivo averiguar se o que é perguntado, tem ou não
influência na percepção que as empresas têm relativamente às barreiras à entrada no mercado
em que operam. Já a pergunta 9 tem como objetivo saber, na percepção das empresas, quais as
três barreiras com um papel mais relevante no mercado principal em que operam, caso uma
empresa de dimensão semelhante à sua queira entrar nesse mercado. A última questão está
31
relacionada com a anterior, perguntado-se o tipo de nova empresa que iria tentar entrar no
mercado onde a empresa respondente opera.
A secção seguinte é constituída apenas por uma pergunta: “Até que ponto uma nova empresa
de dimensão semelhante à sua tem de enfrentar os seguintes aspetos competitivos no principal
mercado da sua empresa?”. De seguida são apresentados 24 aspetos competitivos e é pedido às
empresas que os classifiquem de acordo com a seguinte escala: 1 – Muito fortemente; 2 –
Fortemente; 3 – Um pouco; 4 – Raramente; 5 – Nunca. Cada um desses aspetos competitivos
diz respeito a uma barreira à entrada (com exceção do aspeto competitivo número 5). O objetivo
desta questão é essencialmente saber quais das barreiras à entrada descritas por cada um dos
aspetos competitivos desempenham um papel relevante na decisão de entrada no mercado.
Alguns destes aspetos competitivos foram abordados por duas questões em separado para
possibilitar a distinção entre a importância das características estruturais e a das características
estratégicas. Por exemplo, em relação à publicidade foram apresentadas duas afirmações: 1 –
“As empresas neste mercado têm despesas elevadas em publicidade e campanhas
promocionais” (estrutural); 2 – “Os produtos/serviços das empresas dentro do mercado são
fortemente suportados por publicidade e campanhas promocionais. Isto fará a entrada menos
atrativa para as novas empresas” (estratégica).
Além disto, a barreira identificada na revisão de literatura como “Acesso a
conhecimento/Know-how/I&D” foi dividida em duas respetivamente denominadas de “Acesso
a conhecimento” e “Acesso a I&D”, para ser possível distinguir o uso de patentes do
conhecimento/know-how adquirido pelas empresas através da sua experiência e/ou da
qualificação dos seus trabalhadores. Também a barreira “Necessidade de capital” foi dividida
em “Necessidade de capital” e “Custos de capital”. O objetivo é fazer a distinção entre o capital
que as potenciais entrantes necessitam para entrar no mercado – funcionando por si só como
uma barreira pelo facto de o capital necessário ser uma quantia tão elevada que as potenciais
entrantes, mesmo pedindo um empréstimo, não conseguem angariá-lo – e os custos que têm de
suportar para obter o capital necessário, nomeadamente taxas de juro mais elevadas.
É ainda de realçar que o aspeto competitivo número 5 desta secção não é em si uma barreira
à entrada. Este aspeto tem como objetivo captar a atratividade do mercado onde a empresa
opera, aferida pela maior ou menor dificuldade em ser rentável e sobreviver. Noutras palavras,
é uma maneira indireta de captar a perceção dos inquiridos relativamente à probabilidade de
sobrevivência de uma nova empresa no mercado onde operam.
32
Na última secção as empresas têm de descrever o principal mercado em que operam, com o
propósito de averiguar se o tipo de mercado em que operam tem ou não influência na perceção
que têm relativamente às barreiras à entrada.
Segundo Alves (2012), na fase de preparação do instrumento de recolha de dados – neste
caso, o questionário – num estudo é essencial proceder-se à elaboração de um pré-teste do
mesmo, antes do seu envio definitivo. No pré-teste o questionário deve ser aplicado a um
número reduzido de unidades de análise com o objetivo de verificar se existe algum erro,
perguntas mal construídas e/ou de difícil interpretação (Alves 2012). Assim sendo, procedeu-
se à elaboração de um pré-teste do questionário usado neste estudo, cujos objetivos eram:
1. verificar a clareza das instruções do questionário bem como da justificação da aplicação
do mesmo;
2. averiguar se as questões eram de fácil compreensão e concisas;
3. certificar que não existiam eventuais erros;
4. procurar a existência de perguntas múltiplas isto é, de perguntas que contivessem duas
ou mais perguntas numa só;
5. apurar se o questionário era ou não demasiado extenso;
6. verificar se a hiperligação que continha o questionário funcionaria nos diversos web
browsers, nomeadamente Google Chrome, Internet Explorer e Modzilla Firefox.
Dado o tempo limitado para a elaboração deste estudo e, visto que a maioria dos inquiridos não
seriam fáceis de contactar pessoalmente, optou-se por usar uma amostra por conveniência para
esta fase de preparação do questionário.
A amostra utilizada nesta fase do trabalho é constituída por 4 empresas pertencentes aos
setores selecionados para participar no estudo. Em primeiro lugar, os responsáveis pela tomada
de decisões e implementação de estratégias de entrada em novos mercados – tais como o
gerente, CEO, Diretor ou Gestor Geral – dessas empresas foram convidados por e-mail a
responder ao questionário, sabendo que estaria a aceitar respostas no período compreendido
entre 3 a 8 de Dezembro de 2013. No final do preenchimento, seriam novamente contactados
para responderem a algumas questões complementares.
O questionário foi então enviado da mesma forma como iria ser enviado definitivamente:
um e-mail de apresentação enviado a partir do endereço eletrónico institucional contendo o
nome do aluno, instituição de ensino, o objetivo do estudo, a razão pela qual o questionário
estava a ser feito, instruções de preenchimento e respetivo hiperligação onde o questionário se
encontraria disponível (Anexo 3). Após a receção das respostas aos questionários, os
respondentes receberam de novo um e-mail pedindo-lhes que dessem algum feedback relativo
33
ao questionário, ou seja, se era de fácil compreensão, se encontraram algum erro ou
inconsistência, se era ou não demasiado longo e se tiveram algum problema com o acesso a
este. É de realçar que os respondentes não tinham qualquer conhecimento de que se tratava de
um pré-teste, sendo que as suas respostas são igualmente confidenciais.
O feedback dos participantes foi positivo. Apontaram que as instruções de preenchimento
do questionário eram de fácil compreensão, a linguagem usada era simples e de fácil
entendimento, as questões eram claras e concisas, não existiam erros e não tiveram problemas
de acesso ao questionário. O único aspeto negativo apontado foi apenas por parte de uma das
empresas que considerava o questionário um pouco extenso.
O questionário definitivo foi enviado no dia 10 de Dezembro de 2013, terça-feira. A escolha
deste dia da semana para o envio baseia-se nalgumas dicas dadas pelos criadores do Survey
Monkey (2009)1: se a nossa amostra é constituída maioritariamente por profissionais – neste
caso, gerente, CEO, Diretor ou Gestor Geral das empresas –, deve ser evitado enviar os
questionários às sextas-feiras, sábados ou domingos, bem como às segundas-feiras. Esta dica
justifica-se pelo facto de muitos destes profissionais terem trabalho para a semana ao qual
precisam de dar início, e-mails para pôr em dia ou fazer a limpeza da caixa de correio eletrónico,
o que poderá fazer com que o nosso e-mail seja ignorado, perdido ou apagado sem intenção.
Para Frohlich (2002) existem algumas técnicas que poderão melhorar a taxa de resposta.
Uma delas é o envio de um breve e-mail de apresentação apelando à participação dos
respondentes. Esse e-mail deverá ser remetido através de um endereço eletrónico oficial e ser
acompanhado com algum tipo de documentação que comprove a autenticidade e veracidade do
questionário. O autor recomenda igualmente o envio de e-mails de reforço solicitando a ajuda
daqueles que ainda não responderam e a elaboração de um pré-teste do questionário para
verificar a legibilidade, a ordem das questões e remover possíveis questões ambíguas.
Posto isto, foi enviado um breve e-mail de apresentação (Anexo 3) a partir do endereço
eletrónico institucional contendo o nome do aluno, instituição de ensino, o objetivo do estudo,
a razão pela qual o questionário estava a ser feito, instruções de preenchimento, respetivo link
onde o questionário se encontraria disponível e quanto tempo demoraria o seu preenchimento.
Neste caso, foi dito que demoraria “apenas alguns minutos” para evitar frustração por parte do
respondente caso fosse dito que demoraria, por exemplo, 10 minutos a responder e esse
respondente tivesse demorado 20; as pessoas são todas diferentes e poderão demorar tempos
diferentes a responder.
1 O Survey Monkey é um site onde é igualmente possível a criação de formulários online, tal como no Google Docs. Porém, para ter uma
conta nesta ferramenta que permita construir questionários mais elaborados, é necessário comprá-la.
34
Quando solicitado, foi igualmente enviada uma carta e uma declaração (Anexo 4)
devidamente assinada pelo autor e orientador do estudo e carimbados pela instituição de ensino
para comprovar a autenticidade e veracidade do questionário. Além disso, era ainda explicado
que as respostas eram uma informação estritamente confidencial, utilizada apenas para este
trabalho, sendo os dados recolhidos tratados em agregado. O questionário aceitou respostas de
10 de Dezembro de 2013 a 9 de Fevereiro de 2014. A 21 de Janeiro de 2014, foi enviado um e-
mail de reforço solicitando, mais uma vez, a colaboração daqueles que ainda não tinham
respondido.
3.3. Descrição da população e seleção da amostra
A população-alvo em estudo neste trabalho engloba as empresas pertencentes à indústria
transformadora (com exceção da indústria do tabaco) e aos setores da construção, do comércio
por grosso e a retalho e das atividades financeiras e de seguros. A escolha destes setores de
atividade deveu-se ao facto de em estudos anteriores (ver, por exemplo, Smiley 1988, Karakaya
e Stahl 1989, Karakaya 2002 e Lutz et al. 2010) se ter concluído que nestes setores as barreiras
à entrada realmente existem e são mais evidentes. Por exemplo, a indústria do tabaco não faria
sentido ser incluída visto que é um setor pertencente ao Estado, ou seja, é um setor onde a
entrada está bloqueada. O mesmo se pode dizer de setores como o de captação, tratamento e
distribuição de água, o de recolha, drenagem e tratamento de águas residuais, o da
administração pública, defesa e segurança social obrigatória, o da educação, entre outros.
No entanto, é de realçar que como os respondentes poderiam enventualmente não saber ao
certo onde incluir a atividade da sua empresa numa das opções dadas na pergunta do
questionário relativa a esta informação, foi incluída a opção “outro” e pedido aos respondentes
que especificassem a atividade (ver questão 1 do questionário – Anexo 1). Mais tarde, algumas
das respostas dadas nessa opção que poderiam corresponder a uma das opções de resposta
apresentadas foram incluídas numa dessas opções. As que eventualmente suscitaram dúvidas
em qual opção poderiam ser incluídas, foram mantidas na opção “outro”.
Inicialmente, as informações necessárias para se proceder ao envio dos questionários seriam
recolhidas apenas através da base de dados Amadeus. Nesta base de dados, selecionou-se no
campo de pesquisa todas as empresas portuguesas pertencentes aos setores de ativididade em
estudo e respetiva informação necessária, obtendo-se um total de 230537 empresas2. Porém, foi
encontrado um problema: existiam poucos endereços eletrónicos, tornando-se necessário
2 Dados relativos a 2012
35
encontrar outra base de dados para a recolha dos endereços em falta. Assim, a base escolhida
foi a Informa D&B Portugal.
Hill (2002) refere que existem três formas para se decidir a dimensão ideal da amostra: “o
caminho do esforço mínimo” – que consiste na obtenção de uma amostra o maior possível tendo
em consideração os limites dos recursos disponíveis –, a estimação utilizando as “regras do
polegar” ou “rules of thumb” – que é uma regra de aproximação baseada nas experiências de
uma série de investigadores, cujo objetivo é estimar a dimensão mínima da amostra para que
seja possível efetuar uma análise estatística apropriada dos dados, já que técnicas estatísticas
diferentes geralmente têm “regras do polegar” diferentes (Anexo 5) – e a estimação usando a
análise da potência – que é uma abordagem mais moderna baseada na teoria estatística.
Assim, a dimensão da amostra foi selecionado tendo em consideração não só a sua
representatividade e a análise estatística necessária efetuar aos dados recolhidos para dar
resposta às questões de investigação, mas também o tempo limitado para a elaboração deste
estudo, que impedia que a amostra fosse muito grande. Resumidamente, a dimensão da amostra
foi escolhido tendo em conta “o caminho do esforço mínimo” – sendo que se procurou recolher
o máximo de endereços eletrónicos possíveis durante o tempo em que o questionário esteve a
ser construído (entre 21 de Setembro e 30 de Novembro de 2013) – e as “regras do polegar”.
Segundo Kothari (2004), o tipo de amostra a utilizar varia consoante o tipo de estudo que
está a ser feito. Como este estudo é de pesquisa descritiva, o tipo de amostra mais adequada
será uma amostra aleatória. Os dados recolhidos na base de dados Amadeus foram exportados
para um ficheiro Excel onde ficaram numerados de 1 a 230537. Em seguida, foi-se escolhendo
aleatoriamente um número entre os valores referidos que correspondia a um nome de uma
empresa e, seguidamente, se na base de dados Amadeus não constasse o endereço eletrónico da
empresa selecionada, recolher-se-ia essa informação no Informa D&B Portugal.
Além disto, sempre que um dos números escolhidos correspondia a uma empresa cujo
endereço eletrónico não estava presente em nenhuma das bases referidas, o processo era
repetido até o número escolhido corresponder a uma empresa que tivesse a informação
necessária disponível numa das bases. É ainda de realçar que desta amostra foram excluídas as
empresas utilizadas no pré-teste do questionário.
Em suma, a população-alvo é constituída por 230537 empresas e ao todo foram recolhidos
7700 endereços eletrónicos. Alguns dos e-mails enviados foram devolvidos por serem inválidos
36
(um total de 173) e outros 3 por as empresas não serem portuguesas3 e, por essa razão, não se
enquadrar no estudo. Portanto, a dimensão da amostra corresponde ao número de endereços
eletrónicos válidos que é de 7524 empresas.
Krejcie e Morgan (1970) apresentam duas fórmulas para calcular a dimensão mais
apropriada de uma amostra, sendo que uma é usada quando a dimensão da população é
desconhecida e a outra quando a dimensão é conhecida. No entanto, os autores desenvolveram
uma fórmula que lhes permitiu a construção de uma tabela para determinar a dimensão ideal de
uma amostra consoante a dimensão da população em causa de uma maneira mais simples. Por
exemplo, para uma população cuja dimensão é igual a 70, a amostra deve ser constituída pelo
menos por 59 elementos.
Por isso, tendo em conta esta tabela, para uma população entre os 100000 e os 250000
elementos – como é o caso da população em estudo neste trabalho – a amostra deverá ser
constituída por pelo menos 384 elementos. Os 7524 endereços recolhidos durante o tempo
disponível são um valor superior aos 384, por isso a dimensão da amostra recolhida seria
bastante boa. Todavia, apenas foram obtidas 168 respostas válidas, o que corresponde a taxa de
resposta4 relativamente baixa – 0,0223 %. Desta forma, as conclusões retiradas neste estudo
terão que ser tidas com cautela e evitadas generalizações para a totalidade das empresas
portuguesas.
3 Na base de dados Amadeus, quando se seleciona as empresas de Portugal, aparecem todas as empresas que estão no país, mesmo as que
não são portuguesas.
4 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎 = 𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑞𝑢𝑒𝑠𝑡𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠
𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑖𝑐𝑖𝑝𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑐𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠=
168
7524 ≈ 0,0223%
37
Capítulo IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo tem como objetivo principal a apresentação dos resultados obtidos com este
estudo e a discussão dos mesmos. Em primeiro lugar será feita uma caracterização da amostra
no que concerne aos setores de atividade, dimensão das empresas, tipo de estratégias adotadas
pelas empresas observadas, entre outros aspetos relevantes.
Seguidamente, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos no que diz respeito às
barreiras que desempenham um papel relevante no mercado em que as empresas operam. Por
último, será ainda feita uma análise fatorial com o objetivo de identificar quais as barreiras que
realmente afetam mais a decisão de entrada no mercado.
4.1. Caracterização da amostra
Na Tabela 2 são apresentados o número de observações por setor de atividade e
classe/dimensão das empresas. Para analisar a dimensão das empresas respondentes
considerou-se a definição de micro, pequena, média e grande empresa segundo as normas
europeiras (European Union Commission 2003), que definem a dimensão das empresas
consoante o número de trabalhadores que empregam. Assim, a maioria das observações
pertencem à classe das pequenas e médias empresas – PME’s. O tecido empresarial português
é constituído essencialmente por PME’S5 logo, é possível afirmar que a amostra representa bem
este aspeto da indústria portuguesa. Além disto, sendo este o tipo de empresas que, segundo a
revisão de literatura efetuada, são as que mais percecionam barreiras à entrada provavelmente
os resultados obtidos correspondem à realidade vivida pela maior parte das empresas
portuguesas. Ainda assim, é necessário ter cautela uma vez que a amostra é pequena.
Os setores de atividade estão representados de forma relativamente uniforme, com exceção
do setor da contrução. No setor do comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos
automóveis e motociclos e no setor da construção apenas temos respetivamente duas e três
observações de empresas com 250 ou mais trabalhadores. Uma vez que a amostra foi recolhida
a partir de uma base de dados que inclui subsidiárias e sucursais de grandes empresas, e as
respostas foram fornecidas pelos gestores locais, as questões referem-se aos números de
empregados das subsidiárias/sucursais selecionadas. De facto, aproximadamente 60% das
empresas respondentes pertencem a um grupo de empresas (Tabela 2). Mais uma vez, alerta-se
5 Segundo o Instituto Nacional de Estatística (2013), em 2011 99,9% do tecido empresarial português correspondia a PME’s.
38
para o facto de os resultados não poderem ser generalizados a todos os setores e a todas as
empresas pertencentes aos setores respondentes por a amostra ser reduzida.
Tabela 2 – Distribuição das empresas por setor de atividade e classe/dimensão
Fonte: Autora
A maioria das empresas que responderam ao questionário são empresas não muito grandes
mas já bastante conhecidas ou grandes empresas já estabelecidas (Gráfico 1). Isto poderá ter
algum impacto nas perceções que estas empresas têm relativamente às barreiras à entrada
porque, estando já estabelecidas e tendo bastante experiência, poderão não dar tanta importância
a determinadas barreiras – como por exemplo, à necessidade de capital e aos custos associados
para a obtenção do mesmo – como uma pequena potencial entrante daria caso tentasse entrar
6 O setor das atividades financeiras e de seguros foi incluído na opção “outro”, uma vez que apenas tinha duas observações.
Classe/dimensão
< 10
trabalhadores
10–49
trabalhadores
50–249
trabalhadores
≥250
trabalhadores
TOTAL
A e
mp
resa
fa
z p
arte
de u
m g
ru
po
(10
0 e
mp
resa
s =
> 5
9,5
2%
)
Seto
r d
e a
tiv
ida
de
6
Indústria transformadora
(exceto indústria do
tabaco)
1
10
25
14
50
(29,76%)
Setor da construção 0 2 2 3 7
(4,17%)
Comércio por grosso e a
retalho; reparação de
veículos automóveis e
motociclos
1
11
15
2
29
(17,26%)
Outro 0 3 4 7 14
(8,33%)
A e
mp
resa
nã
o f
az p
arte
de u
m g
ru
po
(6
8 e
mp
resa
s =
> 4
0,4
8%
)
Seto
r d
e a
tiv
ida
de
6
Indústria transformadora
(exceto indústria do
tabaco)
2
7
14
1
24
(14,29%)
Setor da construção 0 0 4 0 4
(2,38%)
Comércio por grosso e a
retalho; reparação de
veículos automóveis e
motociclos
2
22
13
0
37
(22,02%)
Outro 0 3 0 0 3
(1,79%)
TOTAL 6
(3,57%)
58
(34,52%)
77
(45,83%)
27
(16,07%)
168
(100%)
39
no mercado. De facto, e tal como foi referido no ponto 2.2, à partida é mais difícil para uma
potencial entrante obter financiamento do que para uma empresa instalada.
Gráfico 1 – Distribuição das empresas observadas por tipo de empresa
Fonte: Autora
No que diz respeito ao objetivo principal das empresas instaladas, as respostas não diferem
muito (Gráfico 2). Dependendo do objetivo que têm, estas empresas irão adotar diferentes
estratégias/políticas de forma a alcançá-lo. De um modo geral, todas as empresas responderam
que adotavam pelo menos duas das estratégias referidas (Tabela 3). As perceções das empresas
instaladas relativamente às barreiras à entrada poderão ser influenciadas se tiverem em conta
as barreiras que poderão resultar (intencionalmente ou não) das estratégias/políticas que adotam
para atingir o seu objetivo principal, e não as dificuldades independentes destas
estratégias/políticas que realmente as potenciais entrantes poderão ter de enfrentar ao ingressar
no mercado.
Gráfico 2 – Objetivo principal das empresas instaladas
Fonte: Autora
40
Tabela 3 – Estratégias adotadas pelas empresas instaladas
Estratégias adotadas N Frequência
Desenvolvimento dos produtos existentes 52 20%
Desenvolvimento dos processos produtivos 51 19,6%
Introdução de novos produtos ou de produtos melhorados na mesma área 98 37,7%
Adotar estratégias/ações competitivas contra os novos produtos rivais (ou novos rivais) 52 20%
Outra 7 2,7%
TOTAL 2607 100%
Fonte: Autora
Foi questionado às empresas respondentes o tipo de empresa entrante que procura entrar no
mercado onde operam, ao que a maioria respondeu uma nova empresa estrangeira. O tipo menos
apontado foi uma empresa que não está de todo relacionada com o mercado onde a empresa
observada opera (Tabela 4).
Tabela 4 – Tipo de empresas que procuram entrar no mercado onde as empresas
respondentes operam
Tipo de empresa entrante N Frequência
Uma empresa já existente que ainda não oferece produtos/serviços similares 37 17,8%
Uma empresa semelhante que está ativa noutra região de Portugal 40 19,2%
Uma nova empresa estrangeira 80 38,5%
Uma empresa semelhante tal como um fornecedor ou cliente que já oferece outros produtos/serviços 31 14,9%
Uma empresa que não está de todo relacionada com este mercado 8 3,8%
Uma Start-Up que ainda não atua noutros mercados 12 5,8%
Total 2087 100%
Fonte: Autora
No que respeita à caracterização do mercado principal onde as empresas respondentes
operam, a maior parte afirma que é um mercado maduro, enquanto apenas uma pequena
percentagem afirma que é um mercado que está a começar (Gráfico 3). É diferente para uma
empresa entrar num mercado a começar ou entrar num mercado em crescimento. Geralmente,
os mercados mais atrativos são aqueles que estão nos primeiros estágios de evolução porque
oferecem um maior potencial futuro e a probabilidade de estar lotado com empresas já bem
estabelecidas é menor. No entanto, sustentar o crescimento deste mercado requer um
investimento considerável em estratégias de marketing e publicidade e, desta forma, o retorno
a curto prazo pode ser relativamente baixo.
7 Este valor é superior ao número de empresas respondentes uma vez que, nesta questão, as empresas poderiam escolher uma ou mais
opções.
41
Gráfico 3 – Distribuição das empresas por tipo de mercado principal onde operam
Fonte: Autora
Já um mercado maduro é mais atrativo quando o objetivo é um retorno financeiro mais
imediato, uma vez que exige menos investimento. Porém, a probabilidade de existirem imensas
empresas já bem estabelecidas é maior. Como tal, a perceção das empresas relativamente às
barreiras à entrada poderá diferir consoante o tipo de mercado onde operam. Por exemplo, a
reação das empresas instaladas à entrada de novas empresas num mercado maduro poderá ser
em maior escala, pelo facto de ser um mercado que já está relativamente preenchido por
empresas bem estabelecidas, e estas novas empresas poderem ser uma ameaça ao seu lucro.
4.2. As barreiras à entrada percecionadas pelas empresas portuguesas
Na Tabela 5 são apresentadas as diferenças relativamente à importância que as empresas dão
às barreiras à entrada em estudo. A primeira barreira apontada como menos importante é os
acordos estratégicos feitos entre as empresas que já estão instaladas no mercado. A segunda
barreira menos importante é o acesso a I&D no sentido em que o mercado onde as empresas
instaladas atuam é pautado por baixa inovação e não têm grandes despesas neste campo, o que
não obriga a que as novas empresas tenham de ter essas despesas. Estes resultados apontam que
as barreiras que as empresas portuguesas percecionam como sendo menos importantes são as
mesmas que as empresas holandesas também percecionam (ver Lutz et al. 2010).
De acordo com as empresas respondentes, as barreiras em estudo de um modo geral não
representam grandes restrições para a entrada no mercado de novas empresas uma vez que, o
valor médio total é igual a 3, ou seja, são vistas pelas empresas respondentes como apenas “um
pouco” importantes. Este resultado é igualmente semelhante ao de Lutz et al. (2010), sendo que
os seus resultados apontam que as barreiras em estudo são “um pouco” ou “raramente”
enfrentadas pelas empresas entrantes.
42
Tabela 5 – Barreiras à entrada mais e menos importantes na perceção das empresas
Barreira à entrada a
Médiab
Estrutural Estratégica
Custos afundados 2,26 –
Necessidade de capital 2,30 –
Custos de capital 2,49 –
Desvantagens de custo 2,57 –
Garantia do input/Controlo sob os recursos – 3,48
Custos de mudança 3,50 –
Acesso a I&D – 3,51
Acordos estratégicos – 3,88
MÉDIA DE TODAS AS BARREIRAS 3,00
a Na tabela estão apenas representadas as quatro barreiras com mais e menos importância.
b Opções de resposta: 1 = Muito fortemente, 2 = Fortemente, 3 = Um pouco, 4 = Raramente, 5 = Nunca
Fonte: Autora
Todavia, algumas barreiras parecem desempenhar um papel relativamente importante. Os
custos afundados que as novas empresas têm de enfrentar em caso de saída do mercado e a
necessidade de capital que as novas empresas têm para conseguirem entrar no mercado são duas
das barreiras com maior relevância. Novamente, estes resultados não diferem muito dos
resultados obtidos por Lutz et al. (2010), sendo a única diferença que os autores identificam
também a diferenciação de produto utilizada estrategicamente pelas empresas instaladas como
sendo uma barreira com alguma relavância para as empresas holandesas. Blees et al. (2003)
referem que a dimensão das empresas entrantes é um fator importante quando tentam entrar
num mercado onde predominam produtos diferenciados. Geralmente, isto exige às empresas
entrantes a introdução de uma linha completa de diferentes produtos ao mesmo tempo (Blees
et al. 2003).
A capacidade das grandes empresas introduzirem este conjunto de produtos é maior do que
a das empresas de dimensão mais reduzida. Estas empresas conseguem mais facilmente
suportar os custos extra – tais como custos de produção e publicidade – associados à introdução
destes produtos uma vez que, geralmente, têm um orçamento mais elevado (Blees et al. 2003).
Já em mercados com diferenciação de produto baixa, a barreira mais importante associada é as
economias de escala. De novo, são as grandes empresas que estão mais bem preparadas para
atingir as economias de escala necessárias ou para adquirir as tecnologias necessárias para
poderem superar a barreira (Blees et al. 2003). Ora, de acordo com a Tabela 4, a maioria das
empresas que tentam entrar no mercado principal onde as empresas instaladas operam são novas
empresas estrangeiras. Pelas razões referidas, se estas novas empresas estrangeiras tiverem uma
43
dimensão considerável, poderá justificar o facto de a diferenciação de produto não ser uma
barreira com grande importância em Portugal.
De acordo com a maioria dos estudos empíricos existentes acerca desta temática (ver ponto
2.3), seria de esperar que as barreiras com maior importância fossem barreiras essencialmente
estratégicas. Porém, as barreiras apontadas pelas empresas portuguesas como mais importantes
estão particularmente relacionadas com os aspetos estruturais do mercado onde atuam. Esta
diferença poderá dever-se ao facto de a maior parte dos estudos empíricos existentes serem
relativamente antigos. As condições dos mercados e a situação económica dos países vão
sofrendo alterações ao longo do tempo e, como tal, os resultados que se poderiam obter nos dias
de hoje se estes estudos fossem novamente realizados poderiam ser diferentes. De facto, os
resultados obtidos num estudo recente por Lutz et al. (2010) na Holanda são semelhantes aos
resultados obtidos neste trabalho. Seria até de esperar que, sendo dois países bastante diferentes
com contextos económicos distintos, os resultados obtidos em Portugal fossem um pouco
diferentes aos obtidos na Holanda.
De um modo geral, a ordem de importância de barreiras à entrada específicas (Tabela 6) é
coerente entre os setores. Os custos afundados em caso de saída do mercado é uma das barreiras
com maior relevância para todos setores em estudo, assim como a necessidade de capital. Os
custos associados à obtenção do capital necessário é igualmente uma barreira com bastante
importância para todos os setores, exceto o setor da construção e para os setores classificados
como “outro”.
Tendo em conta o atual contexto económico de Portugal, é cada vez mais arriscado para as
empresas entrarem num novo mercado sem conseguirem recuperar o investimento inicial em
caso de saída do mesmo. Aliás, a atratividade do mercado em que as empresas respondentes
operam é relativamente baixa para todos os setores (Tabela 6). Além disto, as empresas têm
mais dificuldades em obterem o capital necessário para entrarem num novo mercado, pois é
cada vez mais difícil os bancos concederem empréstimos, ou concederem empréstimos a taxas
relativamente baixas.
Já o excesso de capacidade surge como uma das barreiras mais relevantes apenas para o setor
da contrução. Este setor, que pode ser caracterizado como o barómetro da economia nacional,
tem vindo a sentir com grande intensidade os efeitos da crise económica mundial, vendo o seu
volume de negócios diminuir. De facto, a atratividade do mercado neste setor é bastante baixa
(Tabela 6). Este excesso de capacidade poderá estar mais relacionado com os aspetos estruturais
das empresas instaladas – que poderão estar a ser subutilizadas devido à baixa procura
resultante, por exemplo, da queda do investimento em obras públicas – do que com aspetos
44
estratégicos. Aliás, Blees et al. (2003) referem que o excesso de capacidade não-estratégico a
maior parte das vezes está relacionado com oscilações da procura.
Resumindo, neste trabalho os problemas-chave para todos os setores são a necessidade de
capital – à semelhança de Lutz et al. (2010) – e, adicionalmente, os custos afundados em caso
de saída do mercado.
No que concerne às barreiras com menor importância (Tabela 6), também a ordem de
importância não difere muito entre os setores. Os acordos estratégicos entre as empresas
instaladas são a barreira com menor importância para todos os setores. Por vezes, é complicado
para as empresas instaladas realizarem estes acordos sem que se originem, por exemplo,
situações de conluio ou abuso de posição dominante. Como estas práticas são restritivas da
concorrência e, consequemente, proibidas por lei no nosso país, poderá explicar o facto de ser
uma barreira pouco utilizada pelas empresas instaladas. Também esta barreira é apontada como
barreira menos importante no estudo de Lutz et al. (2010), mesmo sendo a Holanda um país
com um contexto económico diferente de Portugal.
O acesso a I&D como barreira estratégica surge também como barreira menos importante
para a maior parte dos setores, com exceção da indústria transformadora. Geralmente, esta
barreira é de curta duração porque, a maior parte das vezes, as empresas instaladas impedem o
acesso ao seu I&D através do uso de patentes, que possuem um prazo. Findo esse prazo, as
empresas instaladas deixam de ter exclusividade sobre o acesso à I&D que protegiam com a
patente. Além disto, requer que as empresas instaladas tenham fundos suficientes para investir
eficientemente em I&D de maneira a aumentar economias de escala tecnológicas, bem como
forçar a evolução do contexto da indústria de forma a tornar as tentativas subsequentes ainda
mais ineficazes (Karakaya e Stahl 1989). Por ser uma barreira de curta duração e, como tal,
poder não valer a pena o investimento ou até mesmo as empresas instaladas não terem fundos
suficientes, poderá justificar o facto de ser uma barreira pouco utilizada pelas empresas
instaladas.
Porém, observam-se algumas diferenças entre os vários setores em estudo. Por exemplo, os
custos de mudança dos consumidores são a barreira que, na perceção das empresas pertencentes
aos setores da construção e comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis
e motociclos, raramente têm de ser enfrentadas pelas novas empresas. Karakaya (2002)
argumenta que os mercados industriais oferecem mais oportunidades para a utilização dos
custos de mudança como meio para aumentar a lealdade dos consumidores a um produto,
devido aos riscos percetíveis envolvidos na compra de produtos industriais, como maquinaria.
45
Tabela 6 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por setor de
atividade
a Opções de resposta: 1 = Muito fortemente, 2 = Fortemente, 3 = Um pouco, 4 = Raramente, 5 = Nunca
+ Barreiras com mais importância; -- Barreiras com menos importância
Fonte: Autora
Os mercados mais intensivos em tecnologia – como o setor automóvel – irão oferecer mais
oportunidades para a criação de dependência do fornecedor do que mercados com produtos
mais simples – como os detergentes – devido à complexidade tecnológica envolvida (Blees et
al. 2003). Esta poderá ser uma justificação de os custos de mudança não serem considerados
uma barreira pouco importante para a indústria transformadora (exceto indústria do tabaco).
Média por setor de atividade a
Ba
rreir
a E
stru
tura
l
Barreira à Entrada
Indústria
transformadora
(exceto indústria do
tabaco)
(74 empresas)
Setor da
construção
(11 empresas)
Comércio por grosso e a
retalho; reparação de
veículos automóveis e
motociclos
(66 empresas)
Outro
(17
empresas)
Acesso a canais de distribuição 2,58 2,55 2,71 2,35
Necessidade de capital 2,35 + 2,27 + 2,26 + 2,29 +
Economias de escala 2,77 2,73 2,95 2,71
Regulação governamental 2,80 2,91 2,83 2,88
Acesso a conhecimento 3,34 3,36 3,35 3,24
Desvantagens de custo 2,61 2,64 2,59 2,29 +
Diferenciação de produto 2,65 2,82 2,61 2,53
Custos de mudança 3,41 3,91 -- 3,59 -- 3,29
Acesso a I&D 2,81 3,27 3,64 -- 3,06
Publicidade 3,31 3,55 2,77 3,53
Custos de capital 2,46 + 2,55 2,53 + 2,47
Custos afundados 2,32 + 1,91 + 2,23 + 2,29 +
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade 2,54 2,09 + 2,67 2,71
Publicidade 3,51 -- 3,55 3,03 4,12 --
Diferenciação de produto 2,70 2,64 2,79 3,00
Acesso a I&D 3,34 3,73 -- 3,59 -- 3,82 --
Retaliação 3,45 3,18 3,05 3,53
Preço limite 2,82 2,73 2,89 2,88
Assimetria de informação /
Informação incompleta
3,07 2,82 2,95 3,24
Acesso a conhecimento 3,34 3,64 3,38 3,53
Garantia do input/Controlo sob os
recursos
3,47 -- 3,36 3,42 3,82 --
Acesso a canais de distribuição 3,12 3,55 3,05 3,24
Acordos estratégicos 3,86 -- 4,18 -- 3,86 -- 3,82 --
MÉDIA TOTAL POR SETOR 2,95 2,99 2,96 3,04
ATRATIVIDADE DO MERCADO 2,24 1,73 2,27 2,35
46
Nos vários setores de atividade em estudo, a importância das barreiras à entrada na perceção
das empresas não difere muito, já que a classificação média atribuída a todas barreiras por setor
é de aproximadamente “um pouco”. Todavia, observam-se algumas diferenças entre os setores,
como já foi referido. De acordo com o teste Kolmogorov-Smirnov8 (Tabela 7), os setores de
atividade não seguem uma distribuição normal (nível de significância de 5%). Palant (2005)
refere que quando os dados não cumprem os critérios para que se possa utilizar um teste
paramétrico (o principal critério é que a população siga uma distribuição normal), são medidos
através de uma escala e/ou a amostra utilizada é bastante pequena, deverá ser realizado um teste
não-paramétrico. Por estas três razões, é mais adequado utilizar um teste não-paramétrico para
averiguar se existem diferenças entre os diferentes setores de atividade ao nível das barreiras à
entrada percecionadas pelas empresas.
Tabela 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição dos setores
Kolmogorov-Smirnov
Estatística df p-value
Setor de atividade a 0,275 168 0,000
a A variável segue uma distribuição normal quando p-value > 0,05
Fonte: Autora
O teste não-paramétrico usado foi o de Kruskall-Wallis (Tabela 8). Para o nível de
significância de 5%, conclui-se que apenas existem diferenças entre os setores de atividade ao
nível das barreiras “publicidade” como barreira estratégica e estrutural e do acesso a I&D como
barreira estrutural.
Para averiguar se estas diferenças são ou não significativas procedeu-se à elaboração de seis
testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni9 (Tabela 9). Para o novo nível
de significância, conclui-se que as diferenças são significativas apenas entre a indústria
transformadora (exceto indústria do tabaco) e o setor do comércio por grosso e a retalho,
reparação de veículos automóveis e motociclos ao nível da publicidade como barreira estrutural
e o acesso a I&D também como barreira estrutural, e entre o setor do comércio por grosso e a
retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos e o setores classificados como “outro”
ao nível da publicidade como barreira estratégica.
8 Ver Anexo 7 para mais pormenores.
9 Correção de Bonferroni = 𝑁í𝑣𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑠𝑖𝑔𝑛𝑖𝑓𝑖𝑐â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑢𝑡𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜
𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒𝑠 𝑀𝑎𝑛𝑛−𝑊ℎ𝑖𝑡𝑛𝑒𝑦 𝑎𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑖𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑟 =
0,05
6 ≈ 0,008 → Novo nível de significância
47
Tabela 8 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças setoriais
a Existem diferenças setoriais ao nível das barreiras percecionadas pelas empresas quando p-value < 0,05
Fonte: Autora
O setor do comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos
poderá ter uma maior necessidade de campanhas publicitárias e de marketing para conseguir
vender os seus produtos do que a indústria transformadora (exceto indústria do tabaco). Por
exemplo, no setor de venda automóvel a publicidade é necessária, pois para as marcas
conseguirem vender o seu produto têm que o dar a conhecer ao consumidor final.
Contrariamente, uma empresa responsável pela fabricação de pasta de papel (setor pertencente
à indústria transformadora) não tem tanta necessidade de usar publicidade, uma vez que a pasta
de papel é uma matéria-prima destinada a indústrias de fabricação de papel e não ao consumidor
final. Aliás, muitas das vezes as fábricas de fabricação de papel estão integradas com as
operações de fabrico de pasta de papel no mesmo local.
Barreira Estatística df p-value a
Ba
rreir
a E
stru
tura
l Acesso a canais de distribuição 1,705 3 0,636
Necessidade de capital 0,349 3 0,951
Economias de escala 1,282 3 0,733
Regulação governamental 0,152 3 0,985
Acesso a conhecimento 0,143 3 0,986
Desvantagens de custo 1,474 3 0,688
Diferenciação de produto 1,162 3 0,762
Custos de mudança 3,784 3 0,286
Acesso a I&D 19,997 3 0,000
Publicidade 13,997 3 0,004
Custos de capital 0,172 3 0,982
Custos afundados 2,678 3 0,444
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade 3,359 3 0,340
Publicidade 14,673 3 0,002
Diferenciação de produto 1,142 3 0,767
Acesso a I&D 5,592 3 0,133
Retaliação 7,170 3 0,067
Preço limite 0,389 3 0,942
Assimetria de informação / Informação incompleta 2,693 3 0,441
Acesso a conhecimento 1,071 3 0,784
Garantia do input/Controlo sob os recursos 2,218 3 0,528
Acesso a canais de distribuição 1,836 3 0,607
Acordos estratégicos 1,069 3 0,785
48
Tabela 9 – Testes adicionais de Mann-Whitney10 com correção de Bonferroni para as
diferenças setoriais
Acesso a I&D (Barreira
Estrutural)
Publicidade (Barreira
Estratégica)
Publicidade (Barreira
Estrutural)
Setores a Mann-Whitney
U
p-value Mann-Whitney
U
p-value Mann-Whitney
U
p-value
Indústria transformadora (exceto
indústria do tabaco) versus setor da
construção
306
0,169
379
0,703
349
0,426
Indústria transformadora (exceto
indústria do tabaco) versus comércio por
grosso e a retalho; reparação de veículos
automóveis e motociclos
1431
0,000
1837,5
0,009
1755,5
0,003
Indústria transformadora (exceto
indústria do tabaco) versus outro
543
0,362
424,5
0,029
560
0,463
Setor da construção versus comércio por
grosso e a retalho; reparação de veículos
automóveis e motociclos
286,5
0,245
285
0,243
216
0,027
Setor da construção versus outro 82,5 0,586 78,5 0,457 91,5 0,921
Comércio por grosso e a retalho;
reparação de veículos automóveis e
motociclos versus outro
386,5
0,041
267
0,001
350,5
0,014
a As diferenças são significativas quando p-value < 0,008
Fonte: Autora
Na indústria transformadora (exceto indústria do tabaco), o acesso a I&D como barreira
estrutural tem maior importância do que para o setor do comércio por grosso e a retalho,
reparação de veículos automóveis e motociclos. Na indústria transformadora a evolução
tecnológica e inovação são fatores com extrema importância – como por exemplo, na fabricação
de computadores –, sendo que se torna necessário que muitas das empresas pertencentes a este
setor necessitem de investir constantemente em I&D.
A ordem de importância das barreiras à entrada específicas (Tabela 10) não difere muito
entre empresas de diferentes dimensões. Porém, as micro empresas têm uma perceção mais
baixa no que concerne às barreiras à entrada do que as PME’s, resultado semelhante aos estudos
de Lutz et al. (2010) e Kemp e Lutz (2006). Todavia, é um resultado inesperado já que alguns
investigadores esperam que aconteça exatamente o contrário (ver, por exemplo, Blees et al.
2003). As conclusões retiradas no trabalho de Blees et al. (2003) baseiam-se apenas em
10 Foram realizados 6 testes de Mann-Whitney pois são o número de testes necessário para efetuar comparações entre os quatro setores de
atividade definidos.
49
trabalhos teóricos e, na teoria, espera-se que as micro empresas tenham mais consciência das
barreiras à entrada que irão enfrentar aquando a sua entrada num mercado. Porém, o facto de
serem empresas com reduzida dimensão e a maior parte não ter muita experiência e/ou
conhecimento relativamente ao mercado onde operam, poderá influenciar as suas perceções
relativamente às barreiras que poderão encontrar.
Tabela 10 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por
dimensão da empresa
Média por dimensão da empresa a
Barreira à Entrada
Micro
empresa
(6)
Pequena
empresa
(58)
Média
empresa
(77)
Grande
empresa
(27)
Ba
rreir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição 2,83 2,71 2,52 2,59
Necessidade de capital 1,83 + 2,36 + 2,21 + 2,56 +
Economias de escala 3,33 3,03 2,60 2,96
Regulação governamental 3,50 2,84 2,69 3,04
Acesso a conhecimento 3,83-- 3,22 3,39 3,30
Desvantagens de custo 2,17 + 2,72 2,56 2,37 +
Diferenciação de produto 2,67 2,57 2,69 2,59
Custos de mudança 3,50 3,53 -- 3,49 -- 3,44
Acesso a I&D 3,67 3,28 3,16 3,00
Publicidade 3,83 -- 2,86 3,17 3,48
Custos de capital 1,67 + 2,47 + 2,57 2,52 +
Custos afundados 1,83 + 2,26 + 2,26 + 2,33 +
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade 3,50 2,53 + 2,51 + 2,67
Publicidade 4,17 -- 3,40 -- 3,25 3,59 --
Diferenciação de produto 3,00 3,10 2,51 + 2,70
Acesso a I&D 4,00 -- 3,47 -- 3,51 -- 3,52 --
Retaliação 3,50 3,17 3,35 3,26
Preço limite 3,00 2,83 2,87 2,81
Assimetria de informação / Informação incompleta 2,83 2,91 3,14 2,96
Acesso a conhecimento 3,17 3,31 3,48 3,37
Garantia do input/Controlo sob os recursos 2,67 3,40 -- 3,57 -- 3,59 --
Acesso a canais de distribuição 3,83 -- 2,98 3,08 3,44
Acordos estratégicos 3,50 3,66 -- 3,96 -- 4,22 --
MÉDIA TOTAL 3,12 2,98 2,98 3,06
ATRATIVIDADE DO MERCADO 2,67 2,28 2,08 2,48
a Opções de resposta: 1 = Muito fortemente, 2 = Fortemente, 3 = Um pouco, 4 = Raramente, 5 = Nunca
+ Barreiras com mais importância; --Barreiras com menos importância
Fonte: Autora
50
A falta de conhecimento e/ou experiência poderá fazer com que não conheçam determinadas
características de uma barreira à entrada e, desta forma, não a reconhecerem como sendo uma
barreira. Algumas delas poderão eventualmente nem saber o que é uma barreira à entrada.
Novamente as barreiras percecionadas pelas empresas como sendo as de maior relevância
são coerentes entre as diferentes dimensões de empresa (Tabela 10). Todas as diferentes
dimensões reconhecem os custos afundados como sendo uma das barreiras com maior
relevância. Tendo em conta o atual contexto económico do país, percebe-se a relutância que as
empresas, independentemente da sua dimensão, têm em entrar num mercado e não conseguirem
sobreviver e, como resultado, incorrerem em custos irrecuperáveis ou parcialmente
irrecuperáveis.
A necessidade de capital surge também como uma das barreiras com maior importância para
todas as dimensões. Todavia, as grandes empresas atribuem menos importância a esta barreira
relativamente às restantes dimensão. As grandes empresas que tentam entrar num novo mercado
são geralmente empresas que já possuem atividades noutros setores e estão a tentar diversificar
o seu negócio. De facto, cerca de 17,8% das empresas que tentam entrar no mercado principal
onde as empresas respondentes operam são empresas existentes que ainda não oferecem
produtos/serviços semelhantes (Tabela 4). Estas empresas poderão acabar por ter mais
experiência e conhecimentos a nível organizacional e tecnológico, bem como relações
estabelecidas com fornecedores, clientes e canais de distribuição. Consequentemente, têm
maior facilidade em obter empréstimos ou encontrar investidores do que as micro e PME’s,
uma vez que o risco do investimento não é tão grande (Blees et al. 2003).
Também os custos associados à obtenção de capital são uma barreira com relevância para
todas as dimensões, exceto para as médias empresas. Ainda assim, não deixa de ser uma barreira
com uma média bastante baixa (2,57) para as médias empresas, isto é, não deixa de ser uma
barreira com alguma importância.
É de realçar que o excesso de capacidade surge como uma barreira com elevado peso para
as PME’s. Blees et al. (2003) referem que o excesso de capacidade será transformado em
capacidade produtiva só quando o preço (anormalmente elevado) do mercado baixa devido à
entrada de novas empresas, de forma a que as empresas instaladas maximizem o seu lucro.
Pequenas entrantes são geralmente incapazes de influenciar a oferta até ao ponto de induzir
uma séria redução dos preços do mercado. Assim, as empresas de dimensão considerável
sofrem mais com esta barreira do que empresas de dimensão reduzida (Blees et al. 2003),
devido à considerável capacidade extra que as empresas com dimensão maior trazem para o
mercado.
51
Ainda que as desvantagens de custo surjam como uma das barreiras mais importantes para
as micro e grandes empresas, não deixa de ser uma barreira fortemente enfrentada pelas
empresas das outras dimensões. As vantagens de custo das empresas instaladas sob as
potenciais entrantes podem efetivamente ter origem numa série de fatores. Alguns exemplos de
fontes de vantagens de custo são controlo sob técnicas de produção superiores exercido, por
exemplo, através de patentes, preços mais baixos dos fatores produtivos resultantes de
imperfeições do mercado (Bain 1956), diferenças de taxas salariais ou trabalhadores com
talento superior (Shepherd 1997). As micro empresas e, até mesmo grandes empresas entrantes,
poderão ter grandes dificuldades igualar a vantagens de custo das empresas instaladas
associadas a estes fatores nomeadamente, quando se trata de taxas salariais diferentes ou talento
superior.
Segundo a teoria (Blees et al. 2003) seria de esperar que a diferenciação de produto fosse
uma barreira com bastante relevância para as pequenas empresas. No entanto, os resultados
deste trabalho indicam que são as médias empresas que percecionam esta barreira como sendo
uma das barreiras que as novas empresas têm de enfrentar mais frequentemente aquando a
entrada no mercado. Uma possível explicação para este resultado é que as pequenas empresas
são “menos castigadas” se se especializarem em nichos do mercado especifícos (Kemp e Lutz
2006). As empresas entrantes de dimensão maior poderão ter que produzir uma gama inteira de
produtos/serviços para conseguirem servir o mercado convinientemente (Kemp e Lutz 2006).
Relativamente às barreiras apontadas como tendo menor importância destacam-se o acesso
a I&D como barreira estratégica para todas as dimensões de empresas e os acordos estratégicos
para as empresas de todas as dimensões, exceto para as micro empresas. Porém, tal como nas
restantes dimensões, não deixa de ser uma barreira apenas um pouco enfrentada por empresas
desta dimensão. De novo, a justificação de os acordos estratégicos serem uma barreira com
pouca relevância para as empresas de diferentes dimensões poderá ser que, por vezes, é
complicado para as empresas instaladas realizarem estes acordos sem que se originem, por
exemplo, situações de conluio ou abuso de posição dominante. Como estas práticas são
restritivas da concorrência e, consequemente, proibidas por lei no nosso país, poderá explicar o
facto de ser uma barreira pouco utilizada pelas empresas instaladas.
O acesso a I&D como barreira estratégica pode não ser muito utilizada pelas empresas
instaladas pois, geralmente, esta barreira é de curta duração porque, a maior parte das vezes,
as empresas instaladas impedem o acesso ao seu I&D através do uso de patentes que possuem
um prazo. Findo esse prazo, as empresas instaladas deixam de ter exclusividade sobre o acesso
à I&D que protegiam com a patente. Além disto, requer que estas empresas tenham fundos
52
suficientes para investir eficientemente em I&D de maneira a aumentar economias de escala
tecnológicas, bem como forçar a evolução do contexto da indústria de forma a tornar as
tentativas subsequentes ainda mais ineficazes (Karakaya e Stahl 1989).
A garantia do input/controlo sob os recursos é igualmente uma barreira com pouca relevância
para as médias e grandes empresas. Segundo Blees et al. (2003), as empresas de maior dimensão
têm mais possibilidades de deter controlo sob determinados recursos necessários para
conseguirem operar no mercado. Este controlo resulta do facto de, ou estas empresas têm uma
maior capacidade financeira para comprar as melhores matérias-primas, terem trabalhadores
mais especializados ou maquinaria superior, ou o seu poder de negociação sobre os
fornecedores é maior do que o poder de negociação de empresas mais pequenas. Além disto, é
mais difícil para empresas de dimensão mais reduzida protegerem as suas patentes ou a sua
base de conhecimento (Blees et al. 2003).
Os custos de mudança são considerados pelas PME’s como uma barreira com pouca
importância. Blees et al. (2003) referem que, geralmente, a dimensão das empresas têm pouca
influência na sua capacidade de criar ou manter a dependência dos seus consumidores. A
criação desta dependência dos consumidores depende da tecnologia e do marketing. No entanto,
os autores admitem que, muitas vezes, as grandes empresas terão mais capacidade de angariar
fundos para capitalizar as oportunidades de maximização dos custos de mudança
desenvolvendo, por exemplo, produtos/serviços complementares. Mais, se possuírem grandes
recursos financeiros, as grandes empresas têm mais possibilidades de reduzir os preços com o
objetivo de atrair consumidores em picos de procura e novos consumidores (Blees et al. 2003).
Curiosamente, segundo Blees et al. (2003), seria de esperar que as micro empresas
considerassem a publicidade – tanto como barreira estratégica como barreira estrutural – como
uma barreira com bastante importância. Porém, os resultados mostram o contrário. Uma
explicação possível poderá ser o facto de a maior parte destas empresas serem empresas
bastante conhecidas e o seu volume de negócios provenir do comércio entre empresas (Tabela
11). Como tal, poderá não haver tanta necessidade de utilizar a publicidade para as empresas
darem a conhecer o seu produto/serviço. Também esta justificação poderá servir para o facto
de o acesso a canais de distribuição como barreira estratégica ser uma barreira com pouca
importância para as empresas desta dimensão.
53
Tabela 11 – Proveniência do volume de négocios e tipo de empresas observadas
Fonte: Autora
De acordo com o teste Kolmogorov-Smirnov11 (Tabela 12), quase todas as barreiras à
entrada não seguem uma distribuição normal dentro das diferentes dimensões das empresas
(nível de significância de 5%). Palant (2005) refere que quando os dados não cumprem os
critérios para que se possa utilizar um teste paramétrico (o principal critério é que a população
siga uma distribuição normal), são medidos através de uma escala e/ou a amostra utilizada é
bastante pequena, deverá ser realizado um teste não-paramétrico. Pelas três razões referidas, é
mais adequado utilizar um teste não-paramétrico para averiguar se existem diferenças entre as
diferentes dimensões das empresas ao nível das barreiras à entrada percecionadas pelas
mesmas.
Tabela 12 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição das dimensões
das empresas
a A variável segue uma distribuição normal quando p-value > 0,05
Fonte: Autora
Novamente, o teste escolhido foi o teste de Kruskal-Wallis (Tabela 13). Para um nível de
significância de 5%, concluiu-se que existem diferenças entre as dimensões das empresas ao
nível das economias de escala e da publicidade como barreiras estruturais e da diferenciação de
produto como barreira estratégica.
11 Ver Anexo 8 para mais pormenores.
Tipo de empresa observada Micro
empresa
Pequena
empresa
Média
empresa
Grande
empresa
Pro
ven
iên
cia
do
vo
lum
e d
e n
eg
ócio
s d
as
em
presa
s o
bse
rv
ad
as
Co
mércio
en
tre
em
presa
s
Grande empresa já estabelecida 1 19 24 16
Empresa não muito grande mas já bastante conhecida 4 19 36 3
Empresa relativamente pequena 1 4 1 0
Empresa pequena mas em crescimento 0 1 1 0
Nova empresa 0 0 0 0
Outra 0 0 2 0
Co
mércio
en
tre
em
presa
s e
co
nsu
mid
or f
ina
l
Grande empresa já estabelecida 0 3 5 7
Empresa não muito grande mas já bastante conhecida 0 10 7 1
Empresa relativamente pequena 0 0 1 0
Empresa pequena mas em crescimento 0 1 0 0
Nova empresa 0 0 0 0
Outra 0 1 0 0
Kolmogorov-Smirnov
Estatística df p-value
Dimensão da empresa a 0,250 168 0,000
54
Tabela 13 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças entre as dimensões das empresas
a Existem diferenças entre a dimensão das empresas ao nível das barreiras percecionadas quando p-value <
0,05
Fonte: Autora
Para averiguar se estas diferenças são ou não significativas procedeu-se à elaboração de seis
testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni12 (Tabela 14). Para o novo
nível de significância, conclui-se que as diferenças encontradas são significativas apenas entre
as pequenas e as médias empresas ao nível da diferenciação de produto como barreira
estratégica. Segundo Kemp e Lutz (2006), uma possível explicação para este resultado é que,
se as pequenas empresas forem capazes de se especializar em nichos específicos de mercado,
irão sentir as consequências desta barreira com menos intensidade.
12 Correção de Bonferroni =
0,05
6 ≈ 0,008 → Novo nível de significância
Barreira Estatística df p-value a B
arreir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição 1,254 3 0,740
Necessidade de capital 4,119 3 0,249
Economias de escala 9,819 3 0,020
Regulação governamental 4,080 3 0,253
Acesso a conhecimento 2,068 3 0,558
Desvantagens de custo 3,305 3 0,347
Diferenciação de produto 0,659 3 0,883
Custos de mudança 0,172 3 0,982
Acesso a I&D 2,505 3 0,474
Publicidade 9,168 3 0,027
Custos de capital 4,907 3 0,179
Custos afundados 1,599 3 0,660
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade 6,635 3 0,084
Publicidade 4,581 3 0,205
Diferenciação de produto 9,116 3 0,028
Acesso a I&D 1,318 3 0,725
Retaliação 1,719 3 0,633
Preço limite 0,355 3 0,949
Assimetria de informação / Informação incompleta 2,535 3 0,469
Acesso a conhecimento 0,924 3 0,820
Garantia do input/Controlo sob os recursos 4,304 3 0,230
Acesso a canais de distribuição 6,831 3 0,077
Acordos estratégicos 4,053 3 0,256
55
Tabela 14 – Testes adicionais de Mann-Whitney13 com correção de Bonferroni para as
diferenças entre as dimensões das empresas
a As diferenças são significativas quando p-value < 0,008
Fonte: Autora
Como foi referido no ponto 3.2, a questão 5 da secção II do questionário, apesar de ser um
aspeto competitivo, não é em si uma barreira à entrada. Esta questão tem como objetivo captar
a atratividade do mercado onde a empresa opera, aferida pela maior ou menor dificuldade em
ser rentável – isto é, em adquirir um volume de vendas viável – e sobreviver. Ou seja, é uma
maneira indireta de captar a perceção dos inquiridos relativamente à probabilidade de
sobrevivência de uma nova empresa no mercado onde operam.
Quando avaliamos a perceção das empresas relativamente à atratividade do mercado onde
operam, os valores são baixos (Tabela 15) tanto por dimensão da empresa como por setor, o
que significa que no mercado onde operam é difícil adquirir um volume de vendas viável para
conseguirem sobreviver no mercado. É de realçar que o setor da construção é aquele onde as
empresas consideram que a atratividade do mercado é realmente bastante baixa (1,73). Este
Tabela 15 – A atratividade do mercado por dimensão e setor da empresa observada
a Opções de resposta: 1 = Muito fortemente, 2 = Fortemente, 3 = Um pouco, 4 = Raramente, 5 = Nunca
Fonte: Autora
13 Foram realizados 6 testes de Mann-Whitney pois são o número de testes necessário para efetuar comparações entre as quatro
diferentes dimensões das empresas.
Economia de escalas
(Barreira Estrutural)
Publicidade (Barreira
Estrutural)
Diferenciação de produto
(Barreira Estratégica)
Dimensão a Mann-Whitney
U
p-value Mann-Whitney
U
p-value Mann-Whitney
U
p-value
Micro versus pequena empresa 135 0,332 93,5 0,054 166,5 0,856
Micro versus média empresa 129,5 0,061 154 0,160 180 0,351
Micro versus grande empresa 59,5 0,270 64 0,403 71 0,631
Pequena versus média empresa 1682 0,009 1862,5 0,087 1574 0,002
Pequena versus grande empresa 757 0,788 524,5 0,011 644 0,175
Média versus grande empresa 817 0,080 872,5 0,197 944,5 0,465
Dimensão da empresa Médiaa Setor de atividade Média
Micro empresa 2,67 Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco) 2,24
Pequena empresa 2,28 Setor da construção 1,73
Empresa média 2,08 Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis e motociclos 2,27
Grande empresa 2,48 Outro 2,35
TOTAL 2,38 TOTAL 2,15
56
resultado pode ser explicado pelo facto de este setor, que se pode caracterizar como o barómetro
da economia nacional, ter vindo a sentir com grande intensidade os efeitos da crise económica
mundial, vendo o seu volume de negócios diminuir.
O valor médio dado a este aspeto competitivo é significativamente mais baixo do que os
valores médios dados pelas empresas às barreiras à entrada (ver Tabelas 6 e 10). Para Kemp e
Lutz (2006) – que obtiveram resultados semelhantes – este valor mais baixo poderá resultar do
efeito cumulativo das barreiras à entrada estratégicas (acordos estratégicos, retaliação, preço
limite…). No entanto, a importância dada a estas barreiras é significativamente mais baixa do
que a importância dada à aquisição de um volume de vendas viável. Isto poderá indicar que o
problema relaciona-se mais com o funcionamento normal dos processos competitivos e,
consequentemente, que os requisitos para uma entrada bem-sucedida e sobrevivência no
mercado não são fáceis de cumprir (Kemp e Lutz 2006). Os autores acrescentam ainda que a
aquisição de um volume de vendas viável está igualmente relacionada com a sobrevivência das
empresas após a entrada no mercado, que é influenciada fortemente pelas reações
(desconhecidas) que as empresas instaladas podem ter contra a entrada de novas empresas.
Em suma, a ordem de importância das barreiras à entrada não difere muito entre os diferentes
setores de atividade em estudo nem as diferentes dimensões das empresas. A classificação
média atribuída por setor e por dimensão das empresas também não é muito diferente, sendo a
classificação média atribuída a todas as barreiras de aproximadamente “um pouco” enfrentadas
pelas novas empresas.
As barreiras à entrada com mais relevância para a maioria dos setores e das diferentes
dimensões das empresas são os custos afundados, a necessidade de capital e os custos
associados à obtenção do capital. Já as barreiras com menor relevância também para a maioria
dos setores e diferentes dimensões das empresas destacam-se os acordos estratégicos entre as
empresas instaladas, o acesso a I&D como barreira estratégica e os custos de mudança. Além
disto, ao contrário do que seria de esperar segundo a maior parte das expetativas formuladas
pela literatura (Blees et al. 2003), as micro empresas têm uma perceção mais baixa acerca das
barreiras à entrada do que as PME’s e grandes empresas.
4.3. As dimensões subjacentes das barreiras à entrada
Nesta sub-secção será realizada uma análise fatorial – mais propriamente, uma análise dos
componentes principais – cujo objetivo é reduzir o grande número de barreiras à entrada
percecionadas pelas empresas e sumarizá-las num pequeno conjunto de dados denominado
57
“fatores” ou “componentes”. Desta forma, será possível identificar as barreiras que realmente
influenciam o processo de entrada de novas empresas no mercado.
Antes de se efetuar uma análise fatorial a um determinado conjunto de dados é necessário
averiguar se esse conjunto de dados é ou não adequado para efetuar essa análise. Existem dois
aspetos fundamentais que se devem ter em considerção: a dimensão da amostra e o grau da
relação entre as variáveis (Palant 2005). No que concerne à dimensão da amostra, Comrey e
Lee (1992) sugerem algumas linhas orientadoras para esta questão:
50 é uma amostra muito pobre;
100 é uma amostra pobre;
200 é uma amostra aceitável;
300 é uma amostra boa;
500 é uma amostra muito boa;
1000 é uma amostra excelente.
Já Tabachnick e Fidell (2007) sugerem que é seguro ter pelo menos 300 casos para se efetuar
uma análise fatorial. Para averiguar se a dimensão da amostra é adequado para efetuar uma
análise fatorial também se pode ter em conta o rácio entre o número de participantes por variável
usada. Guadagnoli e Velicer (1988) indicam 20 participantes por variável. Tabachnick e Fidell
(2007) sugerem que 5 participantes por variável é adequado na maioria dos casos.
Embora não exista unanimidade entre os vários autores sobre qual a dimensão da amostra
ideal para efetuar uma análise fatorial, Palant (2005) refere que a recomendação geralmente é:
quanto maior for a amostra, melhor. Em amostras pequenas os coeficientes de correlação entre
as variáveis são menos confiáveis, uma vez que tendem a variar de amostra para amostra (Palant
2005). Os fatores obtidos de um conjunto pequeno de dados não generalizam tão bem como os
fatores derivados de amostras maiores. Apesar de a amostra utilizada neste trabalho ser
relativamente pequena – 168 participantes –, já é considerada uma amostra aceitável segundo
Comrey e Lee (1992) e, se considerarmos o rácio entre o número de participantes por variável
usada – neste caso, 168 participantes por cada uma das 23 barreiras à entrada –, a amostra é
adequada segundo estes autores.
O segundo aspeto fundamental a ter em conta para averiguar se é ou não possível efetuar
uma análise fatorial a um determinado conjunto de dados diz respeito à força das correlações
entre as variáveis (Palant 2005). Tabachnick e Fidell (2007) recomendam que se analise a
matriz das correlações para averiguar se existem coeficientes maiores ou iguais a 0,3. Se se
encontrarem poucos valores acima deste, a análise fatorial não é adequada. No caso deste
58
trabalho, a matriz das correlações (Tabela 16) demonstra a existência de vários coeficientes
maiores ou iguais a 0,3. À partida a análise fatorial parece ser adequada.
Existem também dois testes estatísticos que permitem fazer esta análise: o teste à
esfericidade de Bartlett (1954) e a medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO) (Kaiser 1970, 1974). O primeiro teste deverá ser significativo, isto é, o p-value terá de
ser menor que 0,05 (Bartlett 1954) e a medida de KMO – que varia entre o 0 e o 1 – deverá ser
no mínimo 0,6 para que se tenha uma boa análise fatorial (Kaiser 1970, 1974). O resultado do
teste de Barlett é χ2 (253) = 1195,575; p = 0,000, o que significa que existe correlação entre as
variáveis e a medida de KMO indica uma média adequação da amostra para a análise – KMO
= 0,721 – (Tabela 17). Assim, faz sentido realizar uma análise fatorial a estes dados pois o
resultado dos testes implica que as perceções das empresas relativas a cada uma das barreiras
pode ser explicada pelas outras barreiras, isto é, existe uma relação entre as várias barreiras
percecionadas pelas empresas de tal forma que é possível agrupá-las, reduzindo assim a
quantidade de informação e destacando as barreiras que realmente influenciam o processo de
entrada no mercado.
Para se extrair fatores de um determinado conjunto de dados é necessário determinar o
número mais pequeno possível de fatores que podem ser utilizados para representar da melhor
maneira as relações entre as várias variáveis em estudo (Palant 2005). Existem várias formas
para extrair o número de fatores subjacentes, sendo que a mais usada é a análise dos
componentes principais. O processo de decisão do número de fatores que se deve extrair não é
simples. Tabachnick e Fidell (2007) aconselham que se proceda a uma análise exploratória dos
dados, testando um número diferente de fatores até obter uma solução satisfatória. Porém,
existem várias técnicas que auxiliam esta tomada de decisão, sendo que as mais utilizadas são
o critério de Kaiser ou a regra do eigenvalue14 e o teste scree de Catell (Palant 2005).
O critério de Kaiser consiste em reter os fatores com um eigenvalue igual ou superior a 1
para serem estudados mais aprofundadamente (Palant 2005). O teste scree consiste na
construção de um gráfico de linhas com os eigenvalues de cada um dos fatores e encontrar o
ponto onde a forma da curva muda de direção e se torna horizontal, sendo que se devem reter
todos os fatores que se encontrem acima do ponto de quebra da linha, pois estes fatores são os
que mais contribuem para explicar a variância de todos os dados iniciais (Catell 1966).
14 O eigenvalue de um fator é a percentagem de variância explicada por esse fator.
59
Tabela 16 – Matriz das correlações a
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12 B13 B14 B15 B16 B17 B18 B19 B20 B21 B22 B23
B1 1
B2 0,22 1
B3 0,25 0,23 1
B4 0,13 0,31 0,24 1
B5 -0,07 -0,09 0,18 0,22 1
B6 0,03 0,00 0,04 0,05 0,17 1
B7 0,08 0,04 0,07 0,15 0,33 0,11 1
B8 0,08 -0,03 0,10 0,10 0,41 0,23 0,28 1
B9 0,04 0,02 0,17 0,27 0,45 0,14 0,31 0,41 1
B10 -0,07 0,01 -0,04 0,02 0,14 0,18 0,25 0,17 0,21 1
B11 -0,07 0,15 0,03 0,12 -0,06 0,31 0,11 0,13 0,07 0,18 1
B12 -0,03 0,23 0,04 0,15 -0,07 0,30 0,14 0,14 -0,01 0,15 0,63 1
B13 -0,02 0,04 0,17 0,05 0,11 0,25 -0,06 0,10 -0,06 0,01 0,19 0,29 1
B14 -0,09 0,05 0,02 0,04 0,18 0,08 0,13 0,18 0,08 0,66 0,07 0,11 0,15 1
B15 0,06 -0,07 0,26 0,05 0,30 0,15 0,38 0,36 0,29 0,22 0,13 0,16 0,21 0,22 1
B16 -0,03 -0,03 0,16 0,22 0,48 0,10 0,18 0,43 0,67 0,33 0,14 0,09 0,02 0,30 0,36 1
B17 0,03 0,09 0,04 0,05 0,12 0,27 -0,03 0,18 0,05 0,37 0,15 0,21 0,17 0,36 0,07 0,24 1
B18 0,07 0,03 0,04 0,08 0,00 0,24 -0,09 0,04 0,00 -0,01 0,23 0,22 0,29 0,03 -0,01 0,13 0,47 1
B19 0,00 0,13 0,07 0,07 0,11 0,20 -0,12 0,01 0,01 0,02 0,22 0,24 0,20 0,04 -0,09 0,09 0,36 0,45 1
B20 0,05 -0,04 0,04 0,13 0,33 0,27 0,30 0,39 0,48 0,38 0,26 0,15 0,06 0,27 0,26 0,53 0,30 0,09 0,25 1
B21 -0,13 0,09 0,02 0,11 0,21 0,21 0,15 0,25 0,12 0,19 0,39 0,31 0,18 0,17 0,13 0,28 0,34 0,41 0,37 0,38 1
B22 0,05 -0,03 0,02 0,13 0,21 0,21 0,20 0,15 0,08 0,19 0,15 0,17 0,23 0,14 0,27 0,23 0,31 0,22 0,16 0,20 0,44 1
B23 -0,12 -0,03 0,00 -0,05 0,09 0,19 0,05 0,17 -0,01 0,16 0,23 0,04 0,12 0,03 0,00 0,13 0,34 0,25 0,33 0,26 0,37 0,25 1
a Valores arredondados por excesso a duas casas decimais
Fonte: Autora
60
Tabela 17 – Testes de KMO e de Bartlett para medir a adequação da amostra
Fonte: Autora
Neste estudo optou-se por utilizar os dois métodos para determinar o número de fatores a
extrair. Analisando a tabela da variância total explicada (Tabela 18) referente aos dados deste
trabalho, verifica-se que os oito primeiros componentes têm eigenvalues iguais ou maiores que
1. Embora o critério de Kaiser possa levar à retenção de um número elevado de fatores (Horn
1965), segundo Fava e Velicer (1996) as consequências da sobreestimação são preferíveis às
consequências de um método que falhe a identificação de fatores separados.
Tabela 18 – Eigenvalues iniciais
Componente Eigenvalues iniciais % Variância explicada % Acumulativa
1 4,830 21,000 21,000
2 2,645 11,502 32,502
3 1,836 7,984 40,486
4 1,504 6,538 47,024
5 1,369 5,951 52,975
6 1,259 5,475 58,451
7 1,042 4,530 62,981
8 1,000 4,346 67,327
9 0,843 3,665 70,992
10 0,812 3,531 74,523
11 0,686 2,983 77,506
12 0,680 2,955 80,462
13 0,626 2,722 83,184
14 0,590 2,564 85,748
15 0,536 2,330 88,078
16 0,496 2,157 90,235
17 0,443 1,926 92,161
18 0,416 1,808 93,969
19 0,376 1,635 95,604
20 0,296 1,287 96,891
21 0,288 1,252 98,143
22 0,234 1,018 99,161
23 0,193 0,839 100
Fonte: Autora
KMO Medida da adequação da amostra 0,721
Chi-Quadrado aproximado 1195,575
Teste de Bartlett df 253
Sig. 0,000
61
Procedeu-se igualmente à análise do scree plot (Gráfico 4) onde se pode observar que há
claramente uma quebra entre os componentes 7 e 8, o que significa que os componentes 1 a 7
explicam uma maior percentagem da variância do que os restantes componentes. Tendo em
conta a análise do scree plot deverão extrair-se sete fatores.
Gráfico 4 – Scree Plot – Análise dos componentes principais
Fonte: Autora
Analisando também os loadings de cada uma das variáveis nos oito fatores (Tabela 19),
verifica-se que os loadings da maioria das variáveis é bastante forte (a maior parte acima dos
0,4) em todos os fatores, o que suporta a decisão de reter os oito. Ainda que a maioria dos testes
apontem para a extração de 8 fatores, neste trabalho foram feitas várias tentativas, variando o
número de fatores a extrair. Assim, foram feitas três análises dos componentes principais
extraindo 6, 7 e 8 fatores. Os resultados serão apresentados e discutidos mais à frente,
justificando a escolha da extração de 6 fatores em vez de 7 ou 8.
Após o número de fatores a reter estar determinado, é necessário interpretá-los e, para o
efeito, os fatores são “rodados”, isto é, o padrão dos loadings é organizado de forma a que seja
mais fácil de interpretar (Palant 2005). Existem dois tipos de rotação: ortogonal (os fatores não
se correlacionam) e oblíqua (os fatores correlacionam-se). Segundo Tabachnick e Fidell (2007),
as soluções resultantes da rotação ortogonal são mais simples e fáceis de interpretar e reportar
mas requer que se assuma que os fatores não se correlacionem.
62
Tabela 19 – Loadings dos fatores antes da rotação
Componente a
1 2 3 4 5 6 7 8
B1 0,516 0,563
B2 0,587
B3 0,571
B4 0,540
B5 0,507 - 0,442
B6 0,467 - 0,410
B7 - 0,413 0,404
B8 0,559
B9 0,511 - 0,552
B10 0,510 - 0,404 0,463
B11 0,460
B12 0,428 0,404 0,493
B13 0,560
B14 0,446 0,438 0,487
B15 0,476 0,446
B16 0,661 - 0,405
B17 0,552 0,430
B18 0,558
B19 0,529
B20 0,690
B21 0,629
B22 0,503 0,469
B23
a Apenas são apresentados os loadings acima de 0,4
Fonte: Autora
Contrariamente, a rotação oblíqua permite que os fatores se correlacionem, mas são mais
dificeis de interpretar, descrever e reportar. Na prática, os dois tipos de rotação dão soluções
muito parecidas (Tabachnick e Fidell 2007). É de salientar que dentro das duas rotações existem
várias técnicas. Na rotação ortogonal a mais usada é a Varimax uma vez que tenta minimizar o
número de variáveis que têm loadings elevados em cada fator, ao passo que na rotação oblíqua
é a Direct Oblimin (Palant 2005). Foram efetuados os dois tipos de rotação neste trabalho.
Como os resultados obtidos em ambas as rotações foram semelhantes, optou-se por relatar os
resultados da rotação ortogonal Varimax apenas por ser o método mais utilizado e com
resultados mais fáceis de interpretar.
Portanto, a análise dos componentes principais foi realizada com 23 itens com rotação
ortogonal Varimax. A medida de KMO = 0,721 indica uma média adequação da amostra para
63
a análise e o teste de Barlett χ2 (253) = 1195,575; p = 0,000 indica que existe correlação entre
as variáveis, logo faz sentido realizar a análise.
As Tabelas 20, 21 e 22 mostram os resultados obtidos com a extração de 6, 7 e 8 fatores
respetivamente. Segundo o critério de Kaiser e a análise dos loadings dos fatores antes da
rotação dever-se-iam reter 8 fatores. Por isso, do ponto de vista estatístico, seria ideal reter este
número. Porém, mesmo apesar de a composição dos primeiros quatro fatores praticamente não
variar – independentemente do número de fatores que se retém – e a publicidade como barreira
estrutural e estratégica ser identificada como um fator separado em qualquer um dos modelos,
o modelo com 6 fatores leva a uma interpretação inequívoca dos resultados. Por exemplo, no
modelo com 7 fatores seria difícil interpretar e explicar a relação entre a regulação
governamental e a necessidade de capital.
Assim, a análise fatorial identifica 6 fatores que constituem o sistema subjacente e dirigem
as perceções das empresas relativas às barreiras à entrada, isto é, identificam as barreiras que
afetam a decisão de entrada no mercado (Tabela 20). O primeiro fator é constituído por barreiras
tanto estruturais como estratégicas: “acesso a I&D” como barreira estrutural e estratégica,
“acesso a conhecimento” também como barreira estrutural e estratégica e “custos de mudança”.
Com exceção dos custos de mudança, todas estas barreiras estão diretamente relacionadas
com know-how e I&D. Porém, segundo Blees et al. (2003), os custos de mudança estão
relacionados com a velocidade e radicalidade de possíveis mudanças tecnológicas, que só se
dão se as empresas instaladas investirem constantemente na aquisição de conhecimento e em
I&D, forçando o avanço tecnológico do mercado onde operam. Alterações tecnológicas rápidas
e/ou drásticas podem alterar a pópria natureza dos produtos e fabricação dos mesmos e,
consequentemente, de um mercado. Uma vez que os custos de mudança dos consumidores estão
relacionados com a lealdade dos consumidores a determinados produtos ou linha de produtos,
uma nova tecnologia que permita oferecer um novo e diferente produto, pode ser uma maneira
de contornar a barreia “custos de mudança” (Blees et al. 2003). Assim, o fator 1 é denominado
de “I&D”.
As empresas instaladas podem adotar uma série de estratégias relacionadas com o seu
comportamento de forma a dificultar, desencorajar ou até mesmo barrar a entrada de novas
empresas no mercado onde operam. A retaliação, o preço limite e a utilização estratégica da
assimetria de informação e da informação incompleta pelas empresas instaladas são três
exemplos dessas estratégias, daí o fator 2 se designar por “comportamento estratégico”.
64
Tabela 20 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 6 fatores)
a Método de extração: Análise dos componentes principais. Número de fatores retidos: 6 fatores. Método de rotação: Varimax com normalização de Kaiser. Os valores a negrito
indicam os loadings dados às barreiras à entrada incluídas nos fatores (≥ 0,60)
Fonte: Autora
Loadings dos fatores com rotação a
Fator 1:
I&D
Fator 2: Comportamento
estratégico
Fator 3: Risco de
investimento
Fator 4:
Publicidade
Fator 5: Desvantagens
de custo
Fator 6: Capacidade
Bar
reir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição - 0,01 - 0,04 - 0,13 - 0,04 0,60 0,13
Necessidade de capital - 0,12 0,05 0,31 0,11 0,68 - 0,22
Economias de escala 0,16 0,00 - 0,10 - 0,07 0,63 0,31
Regulação governamental 0,29 0,06 0,18 - 0,03 0,59 - 0,15
Acesso a conhecimento 0,70 0,10 - 0,18 0,01 0,03 0,20
Desvantagens de custo 0,17 0,27 0,36 0,03 - 0,02 0,33
Diferenciação de produto 0,51 - 0,28 0,26 0,11 0,02 0,17
Custos de mudança 0,63 0,05 0,09 0,05 - 0,01 0,23
Acesso a I&D 0,81 - 0,01 0,01 0,00 0,16 - 0,13
Publicidade 0,23 0,03 0,14 0,85 - 0,09 0,00
Custos de capital 0,08 0,20 0,84 0,02 - 0,02 0,04
Custos afundados - 0,04 0,12 0,82 0,10 0,12 0,19
Bar
reir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade - 0,11 0,24 0,16 0,02 0,10 0,69
Publicidade 0,12 0,03 0,01 0,87 0,01 0,13
Diferenciação de produto 0,45 - 0,22 0,11 0,16 0,05 0,62
Acesso a I&D 0,76 0,18 - 0,02 0,23 0,08 - 0,02
Retaliação 0,05 0,64 - 0,01 0,50 0,09 0,13
Preço limite - 0,06 0,72 0,08 - 0,02 0,12 0,20
Assimetria de informação / Informação incompleta 0,00 0,74 0,13 - 0,04 0,12 - 0,03
Acesso a conhecimento 0,65 0,28 0,19 0,25 - 0,04 - 0,06
Garantia do input/Controlo sob os recursos 0,28 0,57 0,36 0,07 - 0,10 0,11
Acesso a canais de distribuição 0,21 0,34 0,10 0,12 - 0,04 0,44
Acordos estratégicos 0,14 0,59 0,08 0,03 - 0,25 0,04
65
Tabela 21 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 7 fatores)
a Método de extração: Análise dos componentes principais. Número de fatores retidos: 7 fatores. Método de rotação: Varimax com normalização de Kaiser. Os valores a negrito
indicam os loadings dados às barreiras à entrada incluídas nos fatores (≥ 0,60)
Fonte: Autora
Loadings dos fatores com rotação a
Fator 1 Fator 2
Fator 3 Fator 4 Fator 5 Fator 6 Fator 7
Bar
reir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição - 0,14 0,06 - 0,26 - 0,09 0,58 0,53 - 0,04
Necessidade de capital - 0,12 0,03 0,23 0,09 0,74 - 0,04 - 0,10
Economias de escala 0,20 - 0,02 - 0,12 - 0,07 0,54 0,10 0,44
Regulação governamental 0,33 0,00 0,15 - 0,04 0,61 - 0,10 0,02
Acesso a conhecimento 0,73 0,08 - 0,13 0,02 - 0,04 0,08 0,22
Desvantagens de custo 0,12 0,31 0,36 0,03 - 0,03 0,25 0,20
Diferenciação de produto 0,35 - 0,17 0,21 0,09 0,03 0,62 - 0,12
Custos de mudança 0,57 0,10 0,10 0,05 - 0,04 0,34 0,09
Acesso a I&D 0,83 - 0,05 0,03 0,01 0,16 0,04 - 0,09
Publicidade 0,18 0,06 0,13 0,85 - 0,05 0,15 - 0,11
Custos de capital 0,05 0,20 0,84 0,03 0,06 0,04 - 0,01
Custos afundados - 0,05 0,12 0,82 0,10 0,17 0,05 0,18
Bar
reir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade - 0,04 0,23 0,22 0,05 - 0,01 - 0,02 0,78
Publicidade 0,14 0,02 0,02 0,89 0,01 - 0,02 0,15
Diferenciação de produto 0,38 - 0,15 0,12 0,17 - 0,06 0,49 0,46
Acesso a I&D 0,80 0,14 0,02 0,24 0,07 - 0,03 0,03
Retaliação 0,04 0,66 - 0,03 0,48 0,10 0,05 0,07
Preço limite - 0,03 0,71 0,09 - 0,03 0,11 - 0,08 0,23
Assimetria de informação / Informação incompleta 0,06 0,70 0,14 - 0,04 0,15 - 0,23 0,05
Acesso a conhecimento 0,59 0,30 0,19 0,25 0,00 0,19 - 0,19
Garantia do input/Controlo sob os recursos 0,26 0,59 0,37 0,07 - 0,06 0,09 0,00
Acesso a canais de distribuição 0,11 0,44 0,08 0,11 - 0,08 0,46 0,20
Acordos estratégicos 0,08 0,64 0,08 0,01 - 0,21 0,14 - 0,14
66
Tabela 22 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 8 fatores)
a Método de extração: Análise dos componentes principais. Número de fatores retidos: 8 fatores. Método de rotação: Varimax com normalização de Kaiser. Os valores a
negrito indicam os loadings dados às barreiras à entrada incluídas nos fatores (≥ 0,60)
Fonte: Autora
Loadings dos fatores com rotação a
Fator 1 Fator 2
Fator 3 Fator 4 Fator 5 Fator 6 Fator 7 Fator 8
Bar
reir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição 0,00 0,01 - 0,07 - 0,07 0,18 0,05 0,01 0,88
Necessidade de capital - 0,14 0,05 0,21 0,09 0,72 - 0,04 - 0,06 0,24
Economias de escala 0,20 - 0,01 - 0,09 - 0,06 0,42 - 0,02 0,48 0,31
Regulação governamental 0,24 0,03 0,04 - 0,05 0,75 0,10 0,05 - 0,03
Acesso a conhecimento 0,67 0,06 - 0,21 0,01 0,08 0,24 0,23 - 0,17
Desvantagens de custo 0,23 0,27 0,48 0,04 - 0,23 0,02 0,19 0,25
Diferenciação de produto 0,34 - 0,28 0,18 0,09 0,08 0,63 - 0,12 0,14
Custos de mudança 0,64 0,04 0,16 0,05 - 0,14 0,18 0,10 0,17
Acesso a I&D 0,85 - 0,05 0,02 0,01 0,16 - 0,04 - 0,07 0,02
Publicidade 0,20 0,02 0,14 0,85 - 0,04 0,14 - 0,11 - 0,01
Custos de capital 0,07 0,18 0,83 0,03 0,10 0,09 - 0,02 - 0,10
Custos afundados - 0,04 0,11 0,82 0,10 0,18 0,07 0,18 - 0,05
Bar
reir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade - 0,05 0,23 0,22 0,05 - 0,03 0,05 0,77 - 0,08
Publicidade 0,12 0,02 0,00 0,88 0,05 0,03 0,15 - 0,10
Diferenciação de produto 0,40 - 0,23 0,14 0,17 - 0,10 0,40 0,47 0,13
Acesso a I&D 0,79 0,13 - 0,01 0,24 0,12 0,02 0,05 - 0,10
Retaliação 0,08 0,65 0,03 0,49 - 0,01 0,04 0,07 0,16
Preço limite - 0,01 0,72 0,13 - 0,02 0,03 - 0,03 0,22 ,007
Assimetria de informação / Informação incompleta 0,06 0,73 0,14 - 0,04 0,13 - 0,11 0,05 - 0,04
Acesso a conhecimento 0,65 0,26 0,23 0,25 - 0,05 0,11 - 0,18 0,09
Garantia do input/Controlo sob os recursos 0,19 0,55 0,27 0,07 0,12 0,43 - 0,02 - 0,24
Acesso a canais de distribuição 0,05 0,35 0,00 0,11 0,03 0,73 0,19 - 0,02
Acordos estratégicos 0,08 0,60 0,07 0,02 - 0,18 0,30 - 0,16 - 0,05
67
Os custos de capital dizem respeito aos custos associados à obtenção de capital necessário
para entrada no mercado de uma potencial entrante, tais como as taxas de juro. Estes custos
serão tanto maiores quanto maior foi o risco de investir nessa empresa. Ora, os custos afundados
– a outra barreira que faz parte do fator 3 – podem ser uma forma de as empresas instaladas se
empenharem à sua atividade na indústria aumentando o risco de investimento e,
consequentemente, também os custos de capital (Blees et al. 2003). Como tal, o fator 3 intitula-
se de “risco de investimento”.
A publicidade como barreira estrutural e barreira estratégica compõem o fator 4, portanto
foi chamado de “publicidade”. O acesso aos canais de distribuição como barreira estrutural, a
necessidade de capital e as economias de escala fazem parte do fator 5. Todas estas barreiras
estão relacionadas com desvantagens de custo das empresas entrantes, daí este fator ter esta
denominação. Blees et al. (2003) referem que o bloqueio ao acesso dos canais de distribuição
existentes força as empresas entrantes a desenvolver novos – e geralmente mais dispendiosos –
sistemas de distribuição. Uma vez que esta alternativa de distribuição é mais dispendiosa, as
empresas instaladas acabam por ter vantagens de custo relativamente às empresas entrantes
(Blees et al. 2003). As empresas instaladas que tiverem elevadas vantagens de custo – por
exemplo, devido a desenvolvimentos tecnológicos – podem necessitar de menos capital externo
(Blees et al. 2003). As empresas entrantes que não estiverem a operar à escala mínima de
eficiência irão incorrer numa desvantagem de custo em comparação com as empesas instaladas.
A vantagem de custo de operar à escala mínima de eficiência contribui para o efeito percentual
das economias de escala15 (Blees et al. 2003).
O último fator é composto pelo excesso de capacidade e pela diferenciação de produto como
barreira estratégica. De acordo com Sørgard (1997), uma empresa entrante deve sempre limitar
a sua capacidade, mesmo que os custos por unidade de produção sejam pequenos, de forma a
evitar a “armadilha” de investimento inicial elevado em capacidade. Uma entrante poderá
procurar um nicho de mercado na tentativa de sinalizar que não se sente ameaçada pela quota
de mercado da empresa instalada. Um elevado grau de diferenciação de produto poderá ajudar
a alcançar isto. A nova entrante poderá ser capaz de aumentar a procura até determinados níveis
que o excesso de capacidade da instalada é insuficiente para servir o mercado todo deixando,
assim, espaço para entrada (Sørgard 1997). Portanto, o fator 6 chama-se de “capacidade”.
15 O efeito percentual das economias de escala diz respeito a uma situação em que a entrada se dá perto ou à escala mínima de
eficiência, causando um decréscimo dos preços de venda, especialmente se a escala mínima de eficiência for grande comparativamente à
dimensão da indústria.
68
Estes fatores explicam aproximadamente 58,45% (Tabela 18) da variância total. Mais de
metade das barreiras à entrada são fortemente representadas por um destes fatores uma vez que,
de um modo geral, os loadings dos fatores são relativamente altos apenas para um dos fatores
identificados (≥ 0,60).
Apesar de Lutz et al. (2010) identificarem 7 fatores em vez de 6, existem algumas
semelhaças com os seus resultados e os resultados obtidos neste estudo. Em ambos temos os
fatores I&D, comportamento estratégico e publicidade, sendo este último constituído pela
própria barreira. Existem também parecenças com os resultados dos trabalhos de Karakaya e
Stahl (1989) e de Karakaya (2002). No primeiro estudo, foram identificados três fatores no
mercado de bens de consumo e no segundo quatro fatores no mercado de bens industriais, sendo
eles vantagens específicas das empresas instaladas, necessidade de capital ou custos de entrada
no mercado, diferenciação de produto e expetativa de lucro por parte das empresas entrantes.
O último fator não diz propriamente respeito a uma barreira à entrada, mas sim um conjunto de
indicadores de atratividade do mercado.
Os primeiros três fatores identificados por Karakaya e Stahl (1989) e por Karakaya (2002)
são coerentes com os fatores identificados neste trabalho, sendo que os custos de entrada no
mercado correspondem ao fator denominado “risco financeiro”. A grande diferença entre os
resultados deste trabalho e os resultados destes dois estudos é o número de dimensões
subjacentes e a identificação de novos fatores, tais como o comportamento estratégico e a I&D.
Em suma, mais de metade das barreiras identificadas estão fortemente representadas nos
fatores extraídos com a análise dos fatores principais. Esta análise deu origem a 6 fatores: I&D,
comportamento estratégico, risco de investimento, publicidade, desvantagens de custo e
capacidade, sendo que as barreiras percecionadas pelas empresas que afetam mais a decisão de
entrada no mercado estão enraizadas a estes fatores.
Existem fatores que podem ser considerados barreiras estruturais e fatores que incluem
barreiras tanto estruturais como estratégicas. Os fatores “risco de investimento” e
“desvantagens de custo” podem ser considerados como barreiras estruturais, ao passo que os
fatores “I&D” e “publicidade” incluem barreiras estruturais e estratégicas.
Apesar de a revisão de literatura destacar que existem diferenças entre as barreiras estruturais
e as estratégicas, estes dois aspetos demonstram que, na realidade, as barreiras estratégicas estão
dependentes das características estruturais dos mercados. As características estruturais
específicas dos mercados não acionam as barreiras estratégicas, mas são uma condição
necessária para que sejam eficazes, ou seja, o uso eficaz de uma barreira de forma estratégica
por parte de uma empresa instalada parece depender de características estruturais do mercado,
69
como, por exemplo, o número de empresas que opera, a dimensão dessas empresas ou a
existência de outras barreiras pois, como já foi referido, as barreiras sofrem influência uma das
outras.
Lutz et al. (2010) dão o exemplo da indústria dos cereais, onde uma estratégia de
diferenciação de produto é ineficaz mas, numa indústria com produtos diferenciados esta
estratégia poderá funcionar. Destaca-se ainda que o fator denominado “comportamento
estratégico” poderia classificar-se como uma barreira estratégica. Todavia, é claro que até
mesmo para este fator as estratégias de retaliação e de limite de preço só são eficazes se o
número de concorrentes no mercado for limitado o que, mais uma vez, implica que a eficácia
das barreiras estratégicas está dependente dos atributos da estrutura do mercado (Lutz et al.
2010).
70
Capítulo V – CONCLUSÃO
Neste capítulo são apresentadas as conclusões retiradas com este estudo e são sugeridos
possíveis trabalhos futuros que poderão ser feitos acerca desta temática. É ainda feita uma
breve discussão da validade e das limitações do estudo.
5.1. Principais conclusões e recomendações
Após uma revisão de literatura cuidada, conclui-se que a questão levantada por Smiley
(1988), Singh et al. (1998) e Lutz et al. (2010) sobre a necessidade de estudos empíricos acerca
da importância das barreiras à entrada é de extrema importância. Algumas das barreiras
identificadas pelos vários estudos parecem meramente baseados na teoria. No entanto, tendo
em conta os poucos estudos empíricos existentes acerca desta temática, existem algumas
barreiras que na realidade desempenham um papel relevante e necessitam de atenção por parte
das autoridades da concorrência.
Os resultados obtidos neste trabalho são apenas uma pequena prova empírica sobre as
barreiras à entrada, nomeadamente no que diz respeito à perceção que as empresas portuguesas
têm relativamente à importância das diferentes barreiras estruturais e estratégicas. Na análise
feita ao longo deste trabalho são tidos em conta dois aspetos diferentes: que barreiras à entrada
desempenham um papel relevante no mercado onde as empresas operam e quais as barreiras
que afetam mais a decisão de entrada no mercado.
As barreiras que se destacam como sendo mais importantes na perceção das empresas estão
relacionadas com o capital: custos afundados, necessidade de capital, custos de capital e
desvantagens de custo das empresas instaladas. Todavia, a maioria das barreiras parecem
desempenhar um papel pouco relevante visto que o valor médio para o total das barreiras é
baixo. As barreiras são consideradas apenas como “um pouco” importantes. No que concerne
às barreiras com menor importância, destacam-se os acordos estratégicos entre empresas
instaladas, o acesso a I&D, os custos de mudança dos consumidores e a garantia do
input/controlo sob os recursos.
Apesar de existirem algumas diferenças entre os vários setores de atividade em estudo, de
um modo geral, a ordem de importância das várias barreiras à entrada é coerente. O mesmo
acontece para as empresas de diferentes dimensões. Estes resultados indicam que as principais
explicações para as diferenças que existem relativamente às barreiras percecionadas pelas
empresas não são as diferenças entre os diferentes setores de atividades ou das diferentes
dimensões das empresas.
71
Um resultado curioso prende-se com o facto de as micro empresas terem uma perceção mais
baixa no que concerne às barreiras à entrada do que as PME’s e grandes empresas, uma vez que
alguns investigadores esperam que aconteça exatamente o contrário (ver, por exemplo, Blees
et al. 2003). As conclusões retiradas no trabalho de Blees et al. (2003) baseiam-se apenas em
trabalhos teóricos e, na teoria, espera-se que as micro empresas tenham mais consciência das
barreiras à entrada que irão enfrentar aquando a sua entrada num mercado. Porém, o facto de
serem empresas com reduzida dimensão e a maior parte não ter muita experiência e/ou
conhecimento relativamente ao mercado onde operam, poderá influenciar as suas perceções
relativamente às barreiras que poderão encontrar. A falta de conhecimento e/ou experiência
poderá fazer com que não conheçam determinadas características de uma barreira à entrada e,
desta forma, não a reconhecerem como sendo uma barreira. Algumas delas poderão
eventualmente nem saber o que é uma barreira à entrada.
A análise fatorial permitiu identificar as seis dimensões subjacentes das barreiras à entrada:
I&D, comportamento estratégico, risco de investimento, publicidade, desvantagens de custo e
capacidade. Um resultado surpreendente é que algumas barreiras estruturais e estratégicas são
coerentes: algumas barreiras estão enraizadas à estrutura do mercado, mas isto parece incentivar
as empresas a reagir de forma estratégica. A importância do conhecimento, das patentes e dos
custos de mudança podem servir como um exemplo. A publicidade e a diferenciação de produto
fornecem exemplos semelhantes em que as barreiras estruturais induzem ações estratégicas.
Como tal, conclui-se que a eficácia das barreiras estratégicas depende de atributos da estrutura
do mercado.
Os resultados confirmam que são várias as barreiras que podem influenciar as decisões de
entrada no mercado. Consequentemente, as barreiras à entrada podem reduzir a quantidade de
novas empresas bem como a potencial concorrência. Como as barreiras à entrada percecionadas
pelas empresas como sendo as mais importantes estão relacionadas com questões financeiras,
as autoridades deveriam dar atenção especial ao funcionamento dos mercados financeiros.
5.2. Fiabilidade, validade e principais limitações do estudo
Para que um estudo empírico tenha credibilidade, é necessário verificar a sua fiabilidade e
validade. A fiabilidade de uma investigação diz respeito à replicabilidade do estudo, isto é, se
o estudo for repetido por outro investigador num período de tempo diferente e utilizando os
mesmos procedimentos descritos, será que chegaria aos mesmos resultados e conclusões
obtidos neste estudo. Assim, a fiabilidade mede a qualidade da pesquisa, com o objetivo de
reduzir o enviesamento e erros no estudo dependentes do investigador (Yin 2003).
72
Já a validade de um estudo serve para verificar se o plano de investigação foi cumprido, ou
seja, se ao longo do trabalho “houve consistência dos procedimentos usados, assim como dos
resultados obtidos, que devem ser independentes do olhar do investigador, para serem
objetivos” (Alves 2012, p.56). Ajuda, ainda, a provar que os resultados obtidos neste estudo
correspondem autenticamente a alguma realidade conhecida e não são meramente uma
construção resultante da imaginação do investigador e se existe a possibilidade de generalizar
os resultados alcançados a situações idênticas. Todavia, a generalização de resultados nem
sempre se verifica quando se está perante uma amostra de pequena dimensão (Alves 2012).
Uma estratégia utilizada para ajudar a garantir a fiabilidade e validade deste trabalho foi
utilizar o mesmo método de recolha de dados primários utilizado em estudos empíricos deste
género (ver, por exemplo, Smiley 1988; Chang e Tang 2001; Lutz et al. 2010). Mais, o
questionário utilizado foi essencialmente igual ao utilizado no trabalho de Lutz et al. (2010), de
forma que os resultados obtidos pudessem ser comparados com o trabalho destes autores e
outros.
Além disto, para garantir que também o questionário fosse válido e fiável, foi feito um pré-
teste para verificar se as questões eram adequadas e abrangentes o suficiente para alcançar os
objetivos deste estudo e se eram claras e objetivas para os respondentes.
Apesar destes cuidados, este trabalho tem algumas limitações. Uma das limitações é a
dimensão da amostra. Como a amostra utilizada neste trabalho é relativamente pequena, as
conclusões retiradas neste estudo terão que ser tidas com cautela e evitadas generalizações para
a totalidade das empresas portuguesas. Todavia, a análise feita e as conclusões retiradas poderão
servir de guia para futuros trabalhos.
Outra das limitações é o facto de a amostra em estudo ser constituída por empresas
instaladas, em vez de empresas entrantes ou potenciais entrantes. Esta limitação pode levar a
um certo enviesamento uma vez que as empresas instaladas já superaram as barreiras existentes.
O facto de estas empresas saberem resolver o problema (neste caso, saber como superar
determinada barreira) faz com que esse problema (barreira) se torne trivial (Kemp e Lutz 2006).
Para contrariar este argumento pode-se afirmar que somente as empresas instaladas deverão
participar no estudo, uma vez que se deve ter apenas em conta a opinião de empresas viáveis
(Kemp e Lutz 2006).
Além disto, este estudo baseia-se nas perceções que as empresas têm mas não relaciona estas
perceções com a verdadeira entrada, sendo que é possível que existam diferenças entre as
perceções que as empresas têm e entre as barreiras que realmente são utilizadas quando a
entrada realmente acontece.
73
5.3. Pistas para trabalhos futuro
As limitações deste trabalho permitem deixar algumas pistas para possíveis trabalhos
futuros. A primeira sugestão seria a elaboração de um estudo semelhante com uma amostra de
maior dimensão para confirmar se as barreiras identificadas neste estudo como mais e menos
importantes são realmente as que influenciam a decisão de entrada no mercado de todas as
empresas portuguesas.
Como já foi referido, as empresas participantes no estudo são empresas instaladas, isto é,
são empresas já com alguma experiência e conhecimento pelo que as suas perceções
relativamente às barreiras à entrada poderão diferir das perceções de empresas muito recentes
(ou novas empresas entrantes). Como tal, seria interessante a realização de um trabalho que
analisasse estas potenciais diferenças.
Este estudo tem como base as perceções que as empresas têm, mas não relaciona estas
perceções com a verdadeira entrada, pelo que são necessários mais estudos para avaliar esta
relação e identificar as barreiras que realmente influenciam o processo de entrada.
Segundo a organização Transparency International (2013)16, o índice de corrupção
percecionado em Portugal relativamente aos negócios é de 51% e de 66% para o
parlamento/legislatura, o que equivale a dizer que no nosso país, os respondentes consideram
que os negócios e o parlamento/legislatura são extremamente corruptos. Estes valores levam-
nos a refletir um pouco até que ponto a corrupção pode ser considerada uma barreira à entrada
e se ela existe no nosso país. De facto, existem poucos estudos que relacionem a corrupção com
as barreiras à entrada. Campos et al. (2010) elaboraram um estudo junto de uma amostra de
empresas brasileiras pertencentes ao setor da indústria transformadora e descobriram que a
corrupção é considerada a barreira à entrada mais importante para este setor, acima das finanças,
dos impostos e da regulação. Como tal, tendo em conta os valores elevados relativos à
corrupção percecionada em Portugal nas áreas dos negócios e do parlamento/legislatura, seria
interssante a elaboração de um estudo empírico que relacionasse a corrupção com as barreiras
à entrada de novas empresas.
Por último, tal como as recomendações de Smiley (1988), Singh et al. (1998) e Lutz et al.
(2010), continua a ser necessário mais estudos empíricos sobre esta temática em vários países
de forma a perceber se as barreiras à entrada utilizadas nos diferentes países diferem ou não e,
se diferirem, que fatores influenciam essas diferenças.
16 A Transparency International é uma organização não-governamental que luta contra a corrupção e produz um relatório anual no qual
se analisam os índices de perceção de corrupção nos vários países do mundo.
74
Referências bibliográficas
Acs, Z.J. e Armington, C., 2003. Endogenous growth and entrepreneurial activity in cities.
Working Papers 03–02, Center for Economic Studies, U.S. Census Bureau.
Almeida, L.S. e Freire, T., 2000. Metodologia da investigação em psicologia e educação.
Psiquilíbrios, ed.5, Braga.
Alves, M. da Piedade, 2012. Metodologia Científica. Escolar Editora, Lisboa.
Audretsch, D.B. e Thurik, A.R., 2001. What’s new about the new economy? Sources of growth
in the managed and entrepreneurial economies. Industrial and Corporate Change, 10(1),
pp.267–315.
Audretsch, D.B., 2007. Entrepreneurship capital and economic growth. Oxford Review of
Economic Policy, 23(1), pp.63–78.
Bain, J.S., 1956. Barriers to New Competition. Harvard University Press, Cambridge.
Barney, J., 1991. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management,
17(1), pp.99–120.
Bartlett, M.S., 1954. A note on the multiplying factors for various chi square approximations.
Journal of the Royal Statistical Society, 16(Series B), pp.296–298.
Blees, J., Kemp, R., Maas, J. e Mosselman, M., 2003. Barriers to entry: differences in barriers
to entry for SMEs and large enterprises, EIM Research Report H200301, Zoetermeer: Holanda.
Bunch, D.S. e Smiley, R., 1992. Who deters entry? Evidence on the use of strategic entry
deterrents. The Review of Economics and Statistics, 74(3), pp.509–521.
Cabral, L.M.B., 2000. Introduction to Industrial Organization, Cambridge: The MIT Press.
Campos, N., Estrin, S. e Proto, E., 2010. Corruption as a Barrier to Entry: Theory and
Evidence. IZA Discussion Paper No. 5243, pp.1–25. Disponível em:
http://ftp.iza.org/dp5243.pdf [Acedido a 17 de Janeiro de 2014].
Catell, R.B., 1966. The scree test for number of factors. Multivariate Behavioral Research,
1(2), pp.245–276.
75
Chang, H.L. e Tang, F.-F., 2001. An Empirical Study on Strategic Entry Barriers in Singapore.
Asia Pacific Journal of Management, 18(4), pp.503–517.
Clark, B.H., e Montgomery, D.B., 1998. Deterrence, Reputations and Competitive Cognition.
Management Science, 44(1), pp.62–82.
Comrey, H.B. e Lee, A.L., 1992. A First Course in Factor Analysis. Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Demsetz, H., 1982. Barriers to entry. The American Economic Review, 72(1), pp.47–57.
Dijksta, S. , Kemp, R. e Lutz, C., 2006. Do entry barriers perceived by SMEs, affect real entry?
Some evidence from the Netherlands, SCALES–paper N200507, Scales Research Reports, EIM
Business and Policy Research, Zoetermeer: Holanda.
Dixit, A., 1980. The role of investment in entry-deterrence. The Economic Journal, 90(357),
pp.95–106.
Dixit, A. e Kyle, A.S., 1985. The use of protection and subsidies for entry promotion and
deterrence. The American Economic Review, 75(1), pp.139–152.
Eaton, B.C. e Lipsey, R.G., 1979. The theory of market pre-emption: The persistence of excess
capacity and monopoly in growing spatial markets. Economica, 46(182), pp.149–158.
European Union Commission, 2003. Commission recommendation of 6 May 2003 concerning
the definition of micro, small and medium-sized enterprises, Official Journal of the European
Union, pp. 36–41.
Fava, J.L. e Velicer, W.F., 1996. The effects of underextraction in factor and component
analyses. Educational and Psychological Measurement, 56(6), pp.907–929.
Fisher, F.M., 1979. Diagnosing monopoly. Quartely Review of Economics and Business, 19(2),
pp.7–33.
Frohlich, M.T., 2002. Techniques for improving response rates in OM survey research. Journal
of Operations Management, 20(1), pp.53–62.
Gatignon, H., Robbertson, T. e Fein, A., 1997. Incumbent defence strategies against new
product entry. International Journal of Research in Marketing, 14(2), pp.163–176.
76
Geroski, P., Gilbert, R.J. e Jacquemin, A., 1990. Barriers to entry and strategic competition.
Fundamentals of pure and applied economics. Harwood Academic Publishers, Chur.
Gilbert, R, J., 1989. Mobility barriers and the value of incumbency. Handbook of Industrial
Organization, 1(Chapter 8), pp.475–535.
Glasow, P.A., 2005. Fundamentals of survey research methodology. The MITRE Corporation,
pp.1–28.
Guadagnoli, E. e Velicer, W.F., 1988. Relation of sample size to the stability of component
patterns. Psychological Bulletin, 103(2), pp.265–275.
Han, J.K., Kim, N. e Kim, H.-B., 2001. Entry barriers: a dull-, one-, or two-edged sword for
incumbents? Unraveling the paradox from a contingency perspective. The Journal of
Marketing, 65(1), pp.1–14.
Harbord, D. e Hoehn, T., 1994. Barriers to entry and exit in European competition policy.
International Review of Law and Economics, 14(4), pp.411–435.
Harrigan, K.R., 1981. Barriers to entry and competitive strategies. Strategic Management
Journal, 2(4), pp.395–412.
Harrigan, K.R., 1983. Entry barriers in mature manufacturing industries. Advances in Strategic
Management, 2(1), pp.67–97.
Hill, M.M., 2002. Investigação por questionário. Edições Sílabo, ed.2, Lisboa.
Holcombe, R.G., 1998. Entrepreneurship and economic growth. The Quarterly Journal of
Austrian Economics, 1(2), pp.45–62.
Horn, J.L., 1965. A rationale and test for the number of factors in factor analysis.
Psychometrika, 30(2), pp.179–186.
Instituto Nacional de Estatística, 2013. Empresas em Portugal em 2011. pp.1–237. Disponível
em:
http://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=156087485&att_display=n&att
_download=y [Acedido a 17 de Setembro de 2014].
77
Instituto Nacional de Estatística, 2007. Classificação Portuguesa das Actividades Económicas
Rev.3. pp.1–311. Disponível em:
http://www.ine.pt/ine_novidades/semin/cae/CAE_REV_3.pdf [Acedido a 19 de Outubro de
2013].
Kaiser, H.F., 1970. A second generation little jiffy. Psychometrika, 35(4), pp.401–415.
Kaiser, H.F., 1974. An index of factorial simplicity. Psychometrika, 39(1), pp.31–36.
Kaplowitz, M.D., Hadlock, T.D. e Levine, R., 2004. A comparison of web and mail survey
response rates. Public Opinion Quarterly, 68(1), pp.94–101.
Karakaya, F. e Stahl, M., 1989. Barriers to entry and market entry decisions in consumer and
industrial goods markets. The Journal of Marketing, 53(4), pp.80–91.
Karakaya, F., 2002. Barriers to entry in industrial markets. Journal Business and Industrial
Marketing, 17(5), pp.379–388.
Kemp, R. e Lutz, C., 2006. Perceived barriers to entry: are there any differences between small,
medium-sized and large companies? International Journal of Entrepreneurship and Small
Business, 3(5), pp.538–553.
Klemperer, P., 1987. Entry deterrence in markets with consumer switching costs. The Economic
Journal, 97, pp.99–117.
Klemperer, P., 1995. Competition when consumers have switching costs: An overview. Review
of Economic Studies, 62(4), pp.515–539.
Kothari, C.R., 2004. Research Methodology: Methods and Techniques. New Age International,
ed.2, New Delhi.
Krejcie, R.V. e Morgan, D.W., 1970. Determining sample size for research activities.
Educational and Psychological Measurement, 30(3), pp.607–610.
Kwak, N. e Radler, B., 2002. A comparison between mail and web surveys: Response pattern,
respondent profile, and data quality. Journal of Official Statistics, 18(2), pp.257–273.
Lieberman, M., 1987. Excess capacity as a barrier to entry: An empirical appraisal. The Journal
of Industrial Economics, 35(4), pp.607–627.
78
Lutz, C., Kemp, R. e Dijkstra, S.G., 2010. Perceptions regarding strategic and structural entry
barriers. Small Business Economics, 35(1), pp.19–33.
Mathis, S. e Koscianski, J., 1996. Excess capacity as a barrier to entry in the U.S. titanium
industry. International Journal of Industrial Organization, 15(2), pp.263–281.
McAfee, R.P., Mialon, H.M. e Williams, M.A., 2004. What is a Barrier to Entry? The American
Economic Review, 94(2), pp.461–465.
Milgrom, P., e J. Roberts, 1982. Limit-pricing and Entry under Incomplete Information: An
Equilibrium Analysis. Econometrica, 50(2), pp. 443–460.
Milgrom, P., e Roberts, J., 1987. Informational Asymmetries, Strategic Behavior and Industrial
Organization. American Economic Review, 77(2), pp. 184–193.
Netter, J.M., 1983. Political competition and advertising as a barrier to entry. Southern
Economic Journal, 50(2), pp.510–520.
Niu, Y., Dong, L.C. e Chen, R., 2012. Market entry barriers in China. Journal of Business
Research, 65(1), pp.68–76.
Palant, J., 2005. SPSS Survival Manual. Open University Press, ed.2, Buckingham.
Porter, M., 1980. Competitive Strategy. The Free Press, New York.
Prabhu, J., e Stewart, D.W., 2001. Signalling Strategies in Competitive Interaction: Building
Reputations and Hiding the Truth. Journal of Marketing Research, 38(1), pp. 62–72.
Reja, U., Manfreda, K.L., Hlebec, V. e Vehovar, V., 2003. Open-ended vs. close-ended
questions in web questionnaires. Advances in Methodology and Statistics, 19, pp.159–177.
Rey, P. e Stiglitz, J., 1994. The role of exclusive territories in producers’ competition. The
RAND Journal of Economics, 26(3), pp.431–451.
Robertson, T.S., e H. Gatignon (1991). How innovators thwart new entrants into their market.
Strategy & Leadership, 19(5), pp. 4–11.
Robinson, K.C. e McDougall, P.P., 2001. Entry barriers and new venture performance: A
comparison of universal and contingency approaches. Strategic Management Journal, 22(6–7),
pp.659–685.
79
Sanyang, S.E. e Huang, W.-C., 2010. Entrepreneurship and Economic Development: The
Empretec Showcase. International Entrepreneurship and Management Journal, 6(3), pp.317–
329.
Scherer, F.M., 1973. The determinants of industrial plant sizes in six nations. The Review of
Economics and Statistics, 55(2), pp.135–145.
Schmalensee, R., 1982. Product differentiation advantages of pioneering brands. The American
Economic Review, 72(3), pp.349–365.
Schmalensee, R., 1983. Advertising and entry deterrence: an exploratory model. Journal of
Political Economy, 91(4), pp.636–653.
Serapioni, M., 2000. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em saúde: algumas
estratégias para a integração. Ciências da Saúde Colectiva, 5(1), pp.187–192.
Shepherd, W. G., 1997. The Economics of Industrial Organization. Prentice-Hall International,
ed.4, Upper Saddle River.
Singh, S., Utton, M. e Waterson, M., 1998. Strategic behaviour of incumbent firms in the UK.
International Journal of Industrial Organization, 16(2), pp.229–251.
Smiley, R., 1988. Empirical evidence on strategic entry deterrence. International Journal of
Industrial Organization, 6(2), pp.167–180.
Smith, D., 2010. The role of entrepreneurship in economic growth. Undergraduate Economic
Review, 6(1), pp.1–17.
Sørgard, L. 1997, Judo economics reconsidered: capacity limitation, entry and collusion.
International Journal of Industrial Organization, vol. 15(3), pp. 349–368
Spence, A.M., 1977. Entry, capacity, investment and oligopolistic pricing. The Bell Journal of
Economics, 8(2), pp.534–544.
Spence, A.M., 1980. Notes on advertising, economies of scale, and entry barriers. The
Quarterly Journal of Economics, 95(3), pp.493–507.
Stigler, G.J., 1968. The organization of industry. University of Chicago Press, Chicago.
80
Survey Monkey, 2009. Tips to Enhance Survey Respondent Participation. Response Rates &
Surveying Techniques, pp.1–3. Disponível em:
http://s3.amazonaws.com/SurveyMonkeyFiles/Response_Rates.pdf [Acedido a 21 de
Novembro de 2013].
Sutton, J., 1991. Sunk Costs and Market Structure: Price Competition, Advertising and the
Evolution of Concentration. The MIT Press, ed.5, Cambridge.
Szirmai, A., Naudé, W. e Goedhuys, M., 2011. Entrepreneurship, Innovation and Economic
Development: An Overview. Oxford University Press.
Tabachnick, B.G. e Fidell, L.S., 2007. Using multivariate statistics. Pearson Education, ed.5,
Boston, Massachusetts.
Thomas, L.A., 1999. Incumbent firms’ response to entry: Price, advertising, and new product
introduction. International Journal of Industrial Organization, 17(4), pp.527–555.
Tirole, J., 1988. The theory of industrial organization. The MIT Press, ed.16, Cambridge.
Transparency International, 2013. Global Corruption Barometer 2013 – Portugal. Disponível
em: http://www.transparency.org/gcb2013/country/?country=portugal [Acedido a 1 de
Outubro de 2014].
VanVoorhis, C.R.W. e Morgan, B.L., 2007. Understanding power and rules of thumb for
determining sample sizes. Tutorials in Quantitative Methods for Psychology, 3(2), pp.43–50.
Von Weizsacker, C.C., 1980. A welfare analysis of barriers to entry. The Bell Journal of
Economics, 11(2), pp.399–420.
Yin, R.K., 2003. Case study research: design and methods. Sage Publications, ed.3, Thousand
Oaks.
81
ANEXOS
82
Anexo 1 – Questionário
83
84
85
86
87
88
89
90
Fonte: Autora
91
Anexo 2 – Classificação Portuguesa das Actividades Económicas do Instituto Nacional
de Estatística
92
93
94
Fonte: Instituto Nacional de Estatística (2007)
95
Anexo 3 – E-mail enviado às empresas no pré-teste e no envio definitivo
Exmos. Senhores,
O meu nome é Alexandra Couto e sou aluna do 2º ano do Mestrado em Economia Industrial
e da Empresa, Universidade do Minho.
No âmbito da minha dissertação de Mestrado estou a proceder à elaboração de um estudo
cujo objetivo é identificar as barreiras à entrada mais frequentemente usadas por empresas
portuguesas para inibir a entrada de novas empresas e quais as que mais afetam a decisão de
entrada no mercado.
Para tal, estou a efetuar um questionário direcionado às empresas portuguesas.
Preferencialmente, o questionário deverá ser respondido por quem toma decisões e implementa
estratégias de entrada em novos mercados (p. ex. gerente, CEO, Diretor ou Gestor Geral da
empresa). Porém, dado que os endereços eletrónicos foram recolhidos a partir do portal Informa
D&B, este e-mail poderá não estar a chegar à pessoa mais adequada para responder ao
questionário. Por isso, se for esse o caso, peço por favor que reencaminhe este e-mail à pessoa
mais adequada para responder.
O preenchimento do questionário demorará apenas alguns minutos e encontra-se disponível
no endereço https://docs.google.com/forms/d/1_eFW0xHcp0tftHvT5XUKR-
ln_EcTq27VEF5Garf3tmA/viewform, bastando para o efeito aceder à respetiva página. Caso
ao clicar o questionário não seja lançado, poderá fazer cópia do link e colá-lo na barra de
endereço do seu browser.
A resposta da vossa empresa é muito importante e será uma informação estritamente
confidencial, utilizada apenas para este trabalho, sendo os dados recolhidos tratados em
agregado.
Agradeço desde já a sua colaboração,
Atenciosamente,
Alexandra Couto
96
Anexo 4 – Carta e declaração enviada às empresas de forma a comprovar a
autenticidade e veracidade do questionário
97
98
99
Anexo 5 – “Regras do polegar” ou “Rules of thumb” para determinar a dimensão ideal
de amostras de modo a aplicar várias técnicas estatísticas
Relação Dimensão aceitável da amostra
Medir diferenças entre grupos (ex. Teste-t, ANOVA…)
30 participantes por variável para 80% de confiança. Se a
confiança for menor, não menos de 7 participantes por variável.
Relações (ex. correlações, regressões…)
≈ 50
Qui-quadrado
Pelo menos 20 no total e variáveis com menos de 5 participantes.
Análise fatorial
≈ 200 aceitável; ≈ 300 boa; ≈1000 excelente
(Comrey e Lee 1992);
Pelo menos 300 (Tabachnick e Fidell 2007);
20 participantes por variável (Guadagnoli e Velicer
1988);
5 participantes por variável (Tabachnick e Fidell
2007).
Adaptado de: VanVoorhis e Morgan (2007)
100
Anexo 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por setor de atividade
Barreira Setor de atividade a Estatística df p-value
Ba
rreir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,234
0,253
0,209
0,244
74
11
66
17
0,000
0,048
0,000
0,008
Necessidade de capital
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,210
0,219
0,238
0,193
74
11
66
17
0,000
0,146
0,000
0,092
Economias de escala
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,255
0,303
0,239
0,295
74
11
66
17
0,000
0,006
0,000
0,000
Regulação governamental
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,183
0,345
0,185
0,177
74
11
66
17
0,000
0,001
0,000
0,161
Acesso a conhecimento
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,225
0,260
0,179
0,242
74
11
66
17
0,000
0,036
0,000
0,009
Desvantagens de custo
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,184
0,282
0,210
0,273
74
11
66
17
0,000
0,036
0,000
0,009
Diferenciação de produto
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,202
0,310
0,248
0,178
74
11
66
17
0,000
0,004
0,000
0,157
Custos de mudança
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,191
0,320
0,195
0,273
74
11
66
17
0,000
0,002
0,000
0,002
Acesso a I&D
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,194
0,221
0,258
0,243
74
11
66
17
0,000
0,141
0,000
0,009
101
Anexo 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por setor de atividade
(continuação)
Ba
rreir
a E
stru
tura
l
Publicidade
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,199
0,323
0,185
0,209
74
11
66
17
0,000
0,002
0,000
0,046
Custos de capital
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,253
0,266
0,250
0,250
74
11
66
17
0,000
0,029
0,000
0,006
Custos afundados
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,243
0,366
0,302
0,273
74
11
66
17
0,000
0,000
0,000
0,002
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Excesso de capacidade
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,295
0,266
0,199
0,265
74
11
66
17
0,000
0,029
0,000
0,002
Publicidade
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,246
0,277
0,162
0,241
74
11
66
17
0,000
0,018
0,000
0,010
Diferenciação de produto
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,186
0,217
0,198
0,180
74
11
66
17
0,000
0,155
0,000
0,146
Acesso a I&D
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,209
0,217
0,215
0,263
74
11
66
17
0,000
0,157
0,000
0,003
Retaliação
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,222
0,188
0,244
0,316
74
11
66
17
0,000
0,200
0,000
0,000
102
Anexo 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por setor de atividade
(continuação)
a A variável segue uma distribuição normal quando p-value > 0,05
Fonte: Autora
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Preço limite
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,199
0,277
0,175
0,215
74
11
66
17
0,000
0,018
0,000
0,000
Assimetria de informação /
Informação incompleta
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,192
0,246
0,239
0,257
74
11
66
17
0,000
0,001
0,000
0,004
Acesso a conhecimento
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,184
0,236
0,169
0,203
74
11
66
17
0,000
0,086
0,000
0,062
Garantia do input/Controlo sob os
recursos
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,206
0,235
0,185
0,212
74
11
66
17
0,000
0,091
0,000
0,040
Acesso a canais de distribuição
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,188
0,191
0,183
0,200
74
11
66
17
0,000
0,200
0,000
0,069
Acordos estratégicos
Indústria transformadora (exceto indústria do tabaco)
Setor da construção
Comércio por grosso e a retalho; reparação de
veículos automóveis e motociclos
Outro
0,209
0,380
0,293
0,290
74
11
66
17
0,000
0,000
0,000
0,000
103
Anexo 8 –Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por dimensão das
empresas
Barreira Dimensão a Estatística df p-value B
arreir
a E
stru
tura
l
Acesso a canais de distribuição
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,214
0,232
0,221
0,219
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,002
Necessidade de capital
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,250
0,211
0,220
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,002
Economias de escala
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,293
0,274
0,207
0,299
6
58
77
27
0,000
0,006
0,000
0,000
Regulação governamental
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,325
0,197
0,189
0,228
6
58
77
27
0,047
0,000
0,000
0,001
Acesso a conhecimento
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,196
0,241
0,245
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000
Desvantagens de custo
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,223
0,202
0,219
0,268
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000
Diferenciação de produto
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,237
0,187
0,201
0,217
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,002
Custos de mudança
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,183
0,180
0,186
0,183
6
58
77
27
0,200
0,002
0,000
0,021
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Acesso a I&D
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,184
0,209
0,204
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,005
Publicidade
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,223
0,190
0,197
0,266
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000
Custos de capital
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,293
0,253
0,263
0,238
6
58
77
27
0,117
0,000
0,000
0,000
104
Anexo 8 –Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por dimensão das
empresas (continuação)
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Custos afundados
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,261
0,293
0,278
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000
Excesso de capacidade
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,319
0,210
0,236
0,297
6
58
77
27
0,056
0,000
0,000
0,000
Publicidade
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,172
0,215
0,202
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,006
Diferenciação de produto
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,167
0,226
0,223
0,202
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,006
Acesso a I&D
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,285
0,195
0,230
0,195
6
58
77
27
0,138
0,000
0,000
0,010
Retaliação
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,392
0,271
0,206
0,262
6
58
77
27
0,004
0,000
0,000
0,000
Preço limite
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,333
0,200
0,169
0,260
6
58
77
27
0,036
0,000
0,000
0,000
Assimetria de informação /
Informação incompleta
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,223
0,259
0,217
0,217
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,002
Acesso a conhecimento
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,215
0,188
0,198
0,226
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,001
Garantia do input/Controlo sob os
recursos
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,293
0,190
0,244
0,202
6
58
77
27
0,117
0,000
0,000
0,006
Acesso a canais de distribuição
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,254
0,201
0,176
0,245
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000
105
Anexo 8 –Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por dimensão das
empresas (continuação)
a A variável segue uma distribuição normal quando p-value > 0,05
Fonte: Autora
Ba
rreir
a E
stra
tég
ica
Acordos estratégicos
Micro empresa
Pequena empresa
Média empresa
Grande empresa
0,204
0,230
0,284
0,290
6
58
77
27
0,200
0,000
0,000
0,000