alevinos saudáveis_ o ponto de partida para uma produção estável _ panorama da aqüicultura

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19/06/2015 Alevinos Saudáveis: o ponto de partida para uma produção estável | Panorama da Aqüicultura

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CALENDÁRIO PANORAMA L

Matérias

Alevinos Saudáveis: o ponto de partida para uma produção estável

Por:

Santiago Benites de Pádua1

Roney Nogueira de Menezes Filho2

Claudinei da Cruz3

1Médico Veterinário. E-mail: [email protected]

2Médico Veterinário. E-mail: [email protected]

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3NEPEAM, Unesp de Jaboticabal. E-mail: [email protected]

A expansão da criação de peixes em todo o território nacional tem sido evidenciada nos últimos anos, no entanto, muitos

empreendimentos esbarram em problemas sanitários que se tornam gargalos, causando instabilidades na produção. As perdas de

produção e na produtividade podem causar queda dos negócios com a falta de periodicidade na oferta de peixes ou animais fora do

padrão exigido pelo mercado.

Neste momento de crescimento torna-se essencial a adoção de medidas rigorosas de biosseguridade no sistema de criação. Caso

contrário, as doenças infectocontagiosas continuarão a emergir e se disseminar entre criatórios de todo o país. As atuais medidas

corretivas não são suficientes para conter o avanço de alguns patógenos, especialmente, os virais e algumas bacterioses, tampouco

minimizar seus impactos na indústria emergente, portanto os cuidados com segurança, vigilância de patógenos e profilaxia são essenciais

para o crescimento ordenado do setor aquícola.

A propagação de doenças por meio do transporte de alevinos é uma realidade no Brasil. Poucas pisciculturas-berçário adotam em sua

rotina um manejo sanitário eficiente, a ponto de não possuírem real conhecimento dos agentes que afligem sua produção. Desta forma,

os alevinos constituem-se como uma das principais fontes de infecção para as fases de crescimento e engorda. Aliados a essa situação, os

protocolos terapêuticos oficialmente disponíveis no Brasil não são apropriados para o controle de vários agentes parasitários, além da

limitação de sua aplicação em produção de grande escala. Portanto, a estocagem de alevinos saudáveis e livres de patógenos torna-se um

requesito essencial para uma produção mais segura.

Assim, discutimos neste artigo a importância da adoção de um manejo sanitário direcionado para as fazendas-berçário produtoras de

alevinos com a abordagem de algumas medidas de biosseguridade, vigilância e controle aplicáveis às etapas de larvicultura e

masculinização para a tilapicultura.

Fonte de infecção

Na avaliação de uma doença em peixes de criação com objetivo de elaborar medidas de controle e erradicação é imprescindível identificar a fonte de infecção para serem

direcionados os esforços de contenção do agente em questão para que o problema seja solucionado na sua origem. Caso contrário, as medidas paliativas poderão

proporcionar a diminuição da incidência da doença em certos períodos ou fases do ciclo de produção, com o risco da emergência de surtos em épocas de maior desafio.

Além disso, a utilização de farmoquímicos pode induzir a resistência dos patógenos com o passar do tempo, tornando o problema maior do que era em seu início.

Ao realizar o diagnóstico de enfermidades em peixes na fase de engorda provenientes de várias regiões, observamos que em sua maioria, os parasitos que causam

problemas nesta fase já estão presentes desde os juvenis estocados, no entanto, a doença ainda encontra-se em fase subclínica. Na avaliação de alevinos, verificamos que

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são portadores desses patógenos, especialmente de parasitoses como a tricodiníase e monogeníase. Na análise de matrizes e reprodutores observamos que estes se

constituem na principal fonte de infecção para toda a cadeia de produção. Portanto, os esforços para controle e erradicação de doenças efetivamente devem ser

concentrados em pisciculturas-berçário para que estas não atuem como veiculadoras de patógenos.

É possível erradicar doenças na piscicultura?

Esta pergunta é comum nos diversos setores da cadeia aquícola, mas erradicação de doenças depende do agente em questão. Os agentes bacterianos que habitam

normalmente a flora residente dos animais e da água (aquelas bactérias que vivem sobre os animais sadios e água de criação) não são passíveis de erradicação. Nesta

situação, a imunoprofilaxia por meio de vacinação é a forma mais apropriada para controle da doença. Os agentes parasitários espécie-específica são passíveis de

erradicação, no entanto, não são fáceis tampouco rápidos os processos de erradicação, o que varia conforme o agente. Em relação aos parasitos não específicos também

é possível proceder à erradicação conforme a condição, porém isso envolve muitas outras espécies de peixes, o que se torna impraticável em sistemas de tanques-rede

instalados em reservatórios de rios.

Em relação aos vírus, a situação pode ser mais complicada. Isso ocorre, pois vários agentes virais utilizam organismos aquáticos variados (vertebrados ou invertebrados)

como reservatório, além de subtratos inertes presentes no ambiente aquático. Sendo difíceis de serem eliminadas do ambiente essas formas de manutenção por meio

das técnicas usuais de desinfecção. Portanto, as medidas de biosseguridade devem ser aplicadas de forma que impeçam a introdução de vírus no ciclo de produção, visto

que as medidas de contenção do avanço da doença podem ser pouco eficientes.

Assim, não se controla doença de peixes sem deter conhecimento prévio sobre a biologia do patógeno, sua relação com o hospedeiro e o ambiente. Esses são os

requisitos fundamentais para iniciar a implantação de um programa sanitário, pois este deve ser adequado às doenças e ao manejo utilizado no sistema e, em uma

segunda etapa efetivar a profilaxia de riscos contra entrada de novos agentes etiológicos, com ações que visam quebrar os ciclos de vida de alguns patógenos e prover

barreiras de disseminação de outros.

Algumas dificuldades surgem nas situações em que a relação patógeno: hospedeiro: ambiente não é totalmente elucidada, como o caso da mixosporidíase que acomete

especialmente peixes nativos, na qual o ciclo de vida ainda não é conhecido por completo. Neste caso, nos baseamos em informações disponíveis para agentes

filogeneticamente próximos. Como exemplo, temos a infecção por Henneguya pseudoplatystoma em surubins (Figura 1).

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Figuras 1. Mixosporidíase em surubim híbrido. Peixes exibindo cistos

macroscópicos (a-b), plasmódios observados em corte histológico (c).

Esporos de Henneguya pseudoplatystoma observados em exame a fresco (d) e corados com Giemsa (e).

As figuras 1 a e b foram gentilmente cedidas pela Dr.ª Juliana Rosa Carrijo Mauad

Este patógeno pode causar o comprometimento da capacidade respiratória de juvenis, o que torna os animais pouco resistentes ao manejo. No entanto, seu ciclo

evolutivo não foi desvendado; porém nos baseamos nos conhecimentos disponíveis em relação ao ciclo de outro gênero pertencente à mesma família, o Myxobolus spp.,

que por sua vez, existem algumas espécies com ciclo conhecido e que se assemelham muito entre si.

Manejo integrado de doenças

Ao manejar doenças que acometem os peixes não podemos fazer uma abordagem direcionada somente a um patógeno em específico, pois na maioria das situações os

surtos diagnosticados são causados por dois ou mais agentes patogênicos que interagem e resultam em perda de produção. Como citamos anteriormente, algumas

doenças não são passíveis de erradicação e o seu controle também pode não ser aplicável em alguns casos. Portanto, as doenças devem ser manejadas em um programa

integrado contra patógenos, com o controle e erradicação de agentes que são passíveis dessa ação aliado ao manejo sanitário integrado que mantenha os demais agentes

em níveis de incidência seguros, na qual o controle pontual por farmoquímicos não seja economicamente e ambientalmente viável.

Para efetivar esta forma de trabalho no campo, o diagnóstico continuado das doenças que acometem os peixes torna-se a base de todos os esforços. Embora algumas

medidas de controle possam atuar sobre mais de um tipo de doença, a garantia de seu correto funcionamento e efetividade serão confirmados somente com a

diminuição da incidência da doença, monitorado por meio de análises diagnósticas conduzidas por profissionais habilitados. Vale ressaltar que a mortalidade é apenas a

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última etapa da manifestação de uma doença e sua diminuição não reflete necessariamente no controle alcançado.

Interação entre patógenos

A abordagem holística em um manejo sanitário para pisciculturas-berçário deve-se principalmente pela grande interação entre diferentes agentes etiológicos. Em

recentes artigos publicados na Panorama da AQÜICULTURA, nos quais foram discutidos sobre protozoários parasitos de peixes, pode-se notar que em todos os casos

foram registrados o envolvimento de agentes bacterianos que potencializam os efeitos nocivos das parasitoses. De fato, a grande maioria das doenças parasitárias

causam espoliação ou abrasão, com formação de lesões nos peixes, sendo rota de entrada de agentes oportunistas (Figura 2), como as bacterioses usuais que acometem

os peixes.

Figura 2. Ilustração da interação entre patógenos em sistemas com altas densidades de estocagem.

Nestas condições, a infestação por parasitos variados abrem rotas de entradas para bactérias que, em conjunto com as

parasitoses, levam à mortalidade

Aliado a essa condição, temos ainda os efeitos estressantes que o parasitismo proporciona aos animais, bem como, o desequilíbrio osmorregulatório ocasionado pelo

comprometimento da função branquial em situações de infestação maciça deste órgão. Animais submetidos a esta condição possuem seu sistema imune comprometido,

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ao passo que não conseguem desenvolver uma resposta imunológica eficiente contra esses patógenos.

Controle baseado no uso de farmoquímicos

Atualmente temos poucas opções autorizadas oficialmente disponíveis para conduzir uma intervenção terapêutica em situações de surtos em pisciculturas. Em busca

realizada no Compêndio de Produtos Veterinários – SINDAN, pode-se verificar o registro de três moléculas de antibióticos (Florfenicol, Oxitetraciclina e Neomicina;

embora este último seja destinado a peixes ornamentais) e duas moléculas de antiparasitários (Triclorfon e Diflubenzuron), além de outros produtos a base de vitaminas,

minerais e agentes biocidas para desinfecção. No entanto, na prática são empregadas muitas outras moléculas de forma indiscriminada e sem conhecimento dos

potenciais riscos à saúde humana, dos peixes e de toda a biota aquática.

As formas como são conduzidos os tratamentos também são pontos importantes a serem discutidos. Muitas vezes as condições ambientais são ignoradas. Por exemplo, a

água com altos níveis de matéria orgânica em suspensão interfere na eficácia de muitos produtos químicos (permanganato de potássio e alguns antibióticos). Algumas

moléculas podem se transformar em mais tóxicas em alguns casos e outras podem se acumular no sedimento por meio de adsorção (organofosforados).

Outro produto químico muito utilizado é o Diflubenzuron que atua na inibição de síntese de quitina, que possui baixa toxidade aos peixes. No entanto, sua

biotransformação gera, entre outros, um metabólito denominado 4-chloroaniline, que por sua vez apresenta alta toxidade aos peixes e provável efeito carcinogênico para

humanos. Ao aplicar este tipo de fármaco em viveiros escavados, o sedimento efetua a adsorção de boa parte, que somado a aplicações sucessivas pode representar em

maiores riscos ao ecossistema aquático. Nesta situação, caso haja movimentação do sedimento o produto retorna para a coluna d’água, embora com biodisponibilidade

reduzida em relação à dosagem inicial de aplicação, com risco de causar intoxicação aos animais, além de proporcionar o desequilíbrio de toda fauna zooplanctônica, o

que leva a posterior floração de algas por dois principais motivos: 1 – devido à incorporação de nutrientes na coluna d’água pela movimentação do sedimento; 2 – devido

à morte da comunidade zooplanctônica pela ação do fármaco, que na verdade ocorre desde as primeiras aplicações.

Figuras 3. Respostas branquiais em alevinos de surubim submetidos ao

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tratamento usual com formol. Filamento normal, exibindo amplo

espaço entre as lamelas secundárias (a – seta); filamento com

moderada hiperplasia epitelial ocupando os espaços entre as lamelas

secundárias (b – cabeça das setas), que evolui para fusão das lamelas

secundárias (c – seta) até levar à fusão total de todas as lamelas

secundárias (d). Este processo ocorreu dentro de uma semana de

tratamento em dias alternados com sal

Outro produto químico amplamente utilizado para múltiplas finalidades em pisciculturas é o formaldeído. Este produto possui efeito lesivo às brânquias dos peixes, que

por sua vez desencadeia respostas de defesa; como a hiperplasia epitelial nas lamelas e filamentos (Figura 3). Da mesma forma como ocorre em outros produtos,

aplicações consecutivas proporcionam maior intensidade do comprometimento branquial, ao passo que pode levar à corrosão das lamelas (Figura 4).

Figura 4. Respostas branquiais em alevinos de surubim submetidos ao

tratamento usual com formol.

Filamento normal, proveniente de peixe não tratado (a) e filamentos severamente lesionados, havendo corrosão com fusão das lamelas secundárias devido ao uso de

formaldeído (b)

Assim, o mais apropriado ao proceder a intervenções terapêuticas é a utilização de tanques menores, revestidos com geomembrana, concreto ou similar, abastecido com

água limpa e com suprimento de oxigenação. Em adição, torna-se essencial o monitoramento das condições físico-químicas da água (temperatura, oxigênio, pH,

alcalinidade, dureza e condutividade), além da presença de técnicos habilitados e treinados. Esta prática pode não ser aplicável em grandes produções de engorda, porém

em fazendas-berçário é operacionalmente adequado.

Uma prática bastante comum ao transportar alevinos, especialmente de tilápia, é a aplicação de formaldeído antes dos procedimentos de embarque, com o objetivo de

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tratar as possíveis parasitoses que não foram diagnosticadas, como ocorre na maioria das situações. Com essa prática, os produtores induzem a lesões no órgão

respiratório desses animais em um momento pré-desafio, que será o transporte.

Após o transporte, alguns ainda optam por reforçar o tratamento, lançando mão de agentes oxidantes, como o permanganato de potássio, que, da mesma maneira como

o formaldeído, possui efeito agressivo às brânquias. Assim, os efeitos deletérios se somam, sendo eles: tratamento com formol + manejo para embarque + transporte +

tratamento com permanganato de potássio + aclimatação em novo ambiente. Essa combinação causa mais danos do que benefícios aos peixes. Portanto, é uma prática

equivocada, além de tornar os animais mais susceptíveis a adquirir infecções nos dias subsequentes à estocagem, devido às lesões, estresse e diminuição da imunidade.

Intervenções terapêuticas são necessárias em várias situações a campo, porém é necessário que seja conduzida de forma responsável e em momentos estratégicos, para

que proporcione menor efeito adverso aos animais e ao ambiente, com alta eficiência na solução do problema em questão.

Biosseguridade na produção de alevinos

O impedimento da livre circulação de patógenos entre diferentes unidades de produção e entre setores distintos dentro de uma propriedade são os maiores desafios

para um programa sanitário. A adoção de medidas de biosseguridade torna as pisciculturas mais preparadas para solucionar os entraves sanitários. Para ajustar uma

propriedade a este perfil, além de demandar adequações na estrutura é necessário capacitação dos colaboradores, organização e disciplina de toda a equipe. As medidas

básicas devem ser implantadas, gradualmente, até que se obtenha completo domínio das práticas de manutenção envolvidas no processo.

Fonte de água

Inicialmente, deve-se ater na fonte e qualidade da água para laboratórios e estufas de larvicultura, bem como sua disponibilidade durante o ano e eventuais fontes de

contaminação; seja ela por resíduos de produtos, descarte de água de transporte ou pela estocagem de peixes. A utilização de sistemas para decantação e filtragem da

água de abastecimento proporciona maior segurança, pois contém a introdução de patógenos no sistema de criação. Após este processo de limpeza, recomenda-se ainda

a utilização de tratamento com lâmpadas UV.

De pouco adianta filtrar a água de abastecimento caso não haja controle algum nos ovos ou larvas estocadas, bem como controle da circulação de pessoas e animais, ou

ainda a setorização de equipamentos. Por outro lado, em pisciculturas-berçário que possuírem abastecimento de água direto de uma nascente de boa qualidade, livre de

contaminação, bem como sem acesso de outros animais inclusive de peixes, talvez não seja necessário utilizar sistemas complexos para limpeza e filtragem da água.

Manejo de larvas

Duas principais formas de manejo são praticadas para criação do alevino de tilápia. Uma delas é a manutenção de reprodutores em hapas e coleta periódica de ovos na

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boca da fêmea, sendo os ovos submetidos à desinfecção e incubados no laboratório de larvicultura (Figura 5). Este manejo é o mais interessante no ponto de vista

sanitário, uma vez que os ovos permanecem poucos dias em contato com as matrizes e, dependendo do protocolo de desinfecção, consegue-se obter o controle de

parasitos adquiridos nessa fase.

Figura 5. Sistema de incubação de ovos e tilápia (a) e estágio inicial da

larvicultura em bandejas (b-c).

Foto: AguaVale Piscicultura, Igrapiúna, Bahia

Outra forma amplamente utilizada é a coleta de nuvens de larvas que foram incubadas naturalmente na boca das matrizes. Neste sistema, os peixes são mantidos em

viveiros escavados e, periodicamente, é realizada a coleta de larvas com auxílio de rede de baixa micragem. Com essa prática, as larvas adquirem os mesmos parasitos

das matrizes e reprodutores, sendo necessária a intervenção terapêutica durante o processo de masculinização, que deve ser realizado de preferência em estufas (Figura

6), para obter o controle dos parasitos obtidos nessa fase.

 

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Figura 6. Coleta de larva de tilápia (nuvens) em viveiro escavado (a),

classificação (b) com posterior larvicultura e masculinização realizada

em estufas contendo viveiros de concreto (c).

Foto: Pirajuba Aquicultura, Porto Ferreira, São Paulo

Independente do sistema de produção de larvas, caso a masculinização inevitavelmente for realizada em hapas, dificilmente o piscicultor conseguirá obter um satisfatório

controle sanitário. Isso ocorre, pois a micragem das telas devem ser de pequenas dimensões o que facilmente colmata toda a hapa devido à rápida formação de perifíton.

Dessa forma, diminui a renovação de água e aumenta o acúmulo de matéria orgânica dentro da hapa, que é a base para proliferação de patógenos.

Controle de acesso a outros animais

O controle da circulação de animais dentro da piscicultura também é de importância fundamental. Muitos animais domésticos ou silvestres que vivem nos arredores dos

viveiros são hospedeiros de parasitos, bactérias e vírus que podem causar problemas sanitários aos peixes ou simplesmente contaminá-los, na qual a ingestão pelo

consumidor final resulta em doenças transmitidas pelos alimentos (DTAs). Roedores, aves piscívoras silvestres, morcegos piscívoros, patos, gansos, cães, gatos, equinos,

bovinos, muares, caprinos e ovinos estão entre os principais animais encontrados em meio a viveiros de criação de peixe. Sanitariamente, estes animais representam

riscos à produção e devem ser criados em locais apropriados.

Veiculação de doença por meio de fômites

Uma das principais formas de veiculação de doenças entre diferentes setores de uma piscicultura é realizada por meio de fômites; que por sua vez pode ser qualquer

objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar organismos infecciosos de um local ao outro. Puçás, rede-de-arrasto, classificadores, baldes e

hapas que não foram submetidos ao bom processo de limpeza e desinfecção, atuam como os principais fômites na piscicultura. Por outro lado, com o transporte de

peixes entre propriedades distintas, temos como fonte de agentes infecciosos a água de transporte, os utensílios utilizados, os peixes e o veículo. Em adição, a veiculação

de doenças pode ocorrer pelos próprios funcionários que não respeitarem as medidas de limpeza e desinfecção ao adentrar um novo setor ou viveiro.

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Entre as medidas profiláticas utilizadas para conter a veiculação de doenças pelos fômites, está a setorização de equipamentos, não sendo permitida a utilização múltipla

do mesmo utensílio em vários locais da piscicultura. Em adição, a adoção de limpeza periódica e desinfecção por meio de agentes biocidas, tais como compostos clorados,

a exemplo da cloramina T, ou até mesmo solução hipersaturada de cloreto de sódio (sal comum) proporcionam maior controle higiênico-sanitário.

Quarentenário

A adoção de um viveiro isolado como quarentenário também proporciona maior segurança contra a entrada de novos agentes na propriedade. No entanto, este setor

deve possuir entrada e saída de água independente, com fundo e lateral revestido com geomembrana, concreto ou similar, além de tela para impedir a circulação de

animais, principalmente aves. Manter um viveiro destinado para recepção de novos animais e não adotar essas medidas básicas será pouco efetivo, bem como não lançar

mão do diagnóstico antes de estocar esses animais no plantel, uma vez que as doenças subclínicas não serão notadas pelos funcionários.

Limpeza e desinfecção

Os cuidados com a higiene pessoal, bem como dos galpões, armazéns, estufas e demais estruturas deverão ser seguidos por protocolos estabelecidos estrategicamente

de acordo com a necessidade de cada local. Antes da utilização de agentes biocidas, como os desinfetantes, é essencial que seja realizada a prévia limpeza para remoção

de partículas grandes e restos de rações, entre outros. Caso contrário, os produtos não terão boa eficácia quando houver presença de matéria orgânica.

A seleção de microrganismos resistentes às moléculas dos agentes biocidas também pode comprometer a biosseguridade de um sistema, e por isso, torna-se necessário

realizar o rodízio do princípio ativo destes produtos. Ainda, com a remoção de atrativos como as sobras de ração, acaba por refletir positivamente no controle de moscas

e roedores por diminuir o acesso ao alimento.

Conclusão

A estocagem de alevinos saudáveis livres de doenças é a melhor estratégia para obter produção mais estável e diminuir os riscos de perdas devido a surtos de doenças. O

conhecimento dos principais patógenos que ocorrem nesta fase, bem como a tomada de decisão sobre o manejo preventivo e aplicação de estratégias terapêuticas

direcionadas conforme o patógeno, representa a evolução no processo de qualidade da alevinagem. A adequação de programas de biosseguridade é a melhor forma para

controle de patógenos, proporcionando qualidade do peixe produzido, com a diminuição de utilização de produtos químicos de forma indiscriminada e melhor

adequação dos procedimentos de produção e pontos críticos durante o processo de produção de alevinos em fazendas-berçário.

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