além do canto orfeônico francês do século xix

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Além do Canto Orfeônico francês do século XIX, Contier (1998) menciona que Villa-Lobos também foi buscar referência na Alemanha. Nos anos 1920 o compositor assistiu, em distintas cidades alemãs, a várias apresentações corais realizadas de forma grandiosa e com um número elevado de cantores, denotando um evidente caráter nacionalista. O projeto traçado por Villa-Lobos sobre canto orfeônico foi inspirado nos exemplos alemães, por ocasião de suas visitas a algumas cidades da Alemanha, nos anos 20. Lá, ele havia assistido a diversas concentrações corais, reunindo, aproximadamente, 20.000 pessoas. Com a ascensão do nazismo, tal prática foi se ampliando, e o forte teor nacionalista contido nestas manifestações de canto coral acabou interessando a intelectuais brasileiros, como Fabiano Lozano, Villa- Lobos e João Gomes, entre outros (CONTIER, 1998, p.26). De acordo com Noronha (2011), Villa-Lobos foi conhecer a Alemanha durante a república de Weimar, período em que os projetos educacionais alemães passaram a incluir o canto coral de forma expressiva em sua grade curricular. Segundo a autora, durante este período de crescente nacionalismo, a Alemanha vivia uma expansão musical importante: florescia no país o conceito de música utilitária (Gebrauschmusik), que valorizava a funcionalidade da obra musical composta a partir de determinados objetivos, como por exemplo, música composta exclusivamente para cinema, teatro, rádio ou mesmo para crianças, com finalidades pedagógicas.

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Page 1: Além Do Canto Orfeônico Francês Do Século XIX

Além do Canto Orfeônico francês do século XIX, Contier (1998)

menciona que Villa-Lobos também foi buscar referência na Alemanha.

Nos anos 1920 o compositor assistiu, em distintas cidades alemãs, a

várias apresentações corais realizadas de forma grandiosa e com um

número elevado de cantores, denotando um evidente caráter

nacionalista.

O projeto traçado por Villa-Lobos sobre canto orfeônico foi inspirado nos exemplos alemães, por ocasião de suas visitas a algumas cidades da Alemanha, nos anos 20. Lá, ele havia assistido a diversas concentrações corais, reunindo, aproximadamente, 20.000 pessoas. Com a ascensão do nazismo, tal prática foi se ampliando, e o forte teor nacionalista contido nestas manifestações de canto coral acabou interessando a intelectuais brasileiros, como Fabiano Lozano, Villa-Lobos e João Gomes, entre outros (CONTIER, 1998, p.26).

De acordo com Noronha (2011), Villa-Lobos foi conhecer a

Alemanha durante a república de Weimar, período em que os projetos

educacionais alemães passaram a incluir o canto coral de forma

expressiva em sua grade curricular. Segundo a autora, durante este

período de crescente nacionalismo, a Alemanha vivia uma expansão

musical importante: florescia no país o conceito de música utilitária

(Gebrauschmusik), que valorizava a funcionalidade da obra musical

composta a partir de determinados objetivos, como por exemplo,

música composta exclusivamente para cinema, teatro, rádio ou

mesmo para crianças, com finalidades pedagógicas.

Noronha menciona que Leo Kerstenberg, responsável pela

atividade musical no Ministério da ciência, da cultura e da Educação,

baseou-se nesses princípios para colocar em prática o projeto

educacional alemão. Assim, além de Villa-Lobos, alguns músicos

franceses de vanguarda também tiveram contato com as

experiências alemãs e foram por elas influenciados; entre estes, a

autora destaca-se Darius Milhaud, e afirma que nos anos 1920 este

compositor também viajou para Alemanha, provavelmente a fim de

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conhecer os projetos musicais voltados à educação dos jovens, um

fato bastante preconizado pelas políticas de unidade nacional em

voga no inicio do século XX. É nesse sentido que Noronha (2011)

afirma:

A experiência orfeônica francesa inicial e o projeto orfeônico villa-lobiano, assim como a prática pedagógica alemã do período entre-guerras, têm em comum o fato de ocorrerem todas em momentos em que, nesses países, por diferentes razões, apresentava-se a necessidade de se criar um sentido de “unidade enquanto nação”. No intuito de delinear “construções identitárias” em torno de uma ideia de nacionalidade, buscou-se a fixação de valores representativos para a “invenção de uma identidade nacional” (p.88).