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ALEJANDRO SOMASCHINI feito nas costas

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Proyecto de instalación.

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Page 1: Alejandro somaschini - Feito nas costas

ALEJANDRO SOMASCHINIfeito nas costas

Page 2: Alejandro somaschini - Feito nas costas

Feitos nas costas.

Instalação.

Telhado ruído.

2014

Um jardim de uma fundação portuguesa. Ano 2014. Os visitantes vão encontrar, no meio do

jardim, uma estrutura (antiga e postmoderna no mesmo tempo) ruída. Os vestígios dum telhado

que foi forte, mas caiu pelo seu próprio peso. As telhas são grandes, tem forma de costas. As

telhas, embaixo, são douradas (folha dourada).

O trabalho gira em torno de duas idéias:

A primeira tem relação com um momento pontual, com uma mudança de geografias socioeconô-

micas e culturais. A crise econômica e a ideia de contra-colonialismo. Portugueses que emigram

do seu país e procuram trabalho em Angola ou Brasil. A extrapolação diretamente oposta do que

tinha acontecido historicamente.

A segunda tem relação com as quebraduras em geral, de estruturas antigas. Estruturas que já

não suportam seu próprio peso. Um telhado ruído pelo próprio peso, sua própria densidade. A

caída de sistemas que não suportavam as suas próprias acumulações. O momento ¨quebre¨ de

sistemas obsoletos religiosos, teóricos, econômicos, sociais.

Um grande fóssil deitado na grama. O momento quebre necessário para talvez reconstruir um

futuro imediato.

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Page 4: Alejandro somaschini - Feito nas costas

Nada sobra

Existe um equilíbrio, nas obras de Alejandro Somaschini, entre as longas pesquisas que antecedem

a produção da obra, e o momento da criação propriamente dita, que por sua vez é, quase sempre,

marcadamente física. Trata-se de um equilíbrio evidente e perfeito, no sentido que o artista não

prioriza nenhum dos dois momentos. A lenta acumulação de um arsenal de informações, histórias,

imagens e materiais que constituem o ponto de partida para a construção da obra prepara o terre-

no para o sucessivo embate, através do qual o artista transforma, na maioria das vezes por um

processo quase alquímico, esse repertório imaginário e físico em algo novo, surpreendente e

contudo quase natural, como se pertencesse à ordem lógica e conhecida das coisas, e não ao

âmbito da criação. Talvez além das reais intenções do artista, o fato de considerar os dois momen-

tos igualmente fundamentais na economia da obra constitui, em si, uma declaração de intenções,

explicita uma visão de mundo extremamente atual, ética e necessária, ao pressupor um engaja-

mento direto, aberto e real com as coisas. Alejandro Somaschini não se limita, isto é, a uma obser-

vação, ou até a um planejamento, mas assume para si a responsabilidade da produção física,

manual, sem se furtar a estudar, aprender, recuperar ou até inventar as técnicas que a ocasião

demanda.

A enorme instalação concebida para o o jardim da Fundação C. Gulbenkian, com seu enorme telha-

do parcialmente ruído, resume perfeitamente essa tensão constante: as telhas foram moldadas

pelo artista sobre suas costas, sintetizando de maneira exemplar o seu engajamento. Por um lado,

ao utilizar seu corpo como modelo para as telhas, Alejandro se coloca fisicamente no lugar dos

escravos que, como é sabido, utilizavam suas próprias coxas para moldar as telhas das casas, que

resultavam, portanto, “feitas nas coxas”. Mas a ênfase, aqui, não parece ser na precariedade do

gesto, nem no esforço titânico de construir o mundo com seu próprio corpo, mas na necessidade

de reavaliarmos, urgentemente, o que é realmente imprescindível. Nesse sentido, o telhado “feito

nas costas”, mesmo caído, continua sendo um abrigo: simples e elementar, ele é contudo funcio-

nal, e possui a beleza de algo elementar, depurado de qualquer atributo gratuito, em que nada

sobra. É sintomático, nesse sentido, que o artista inclua entre as referências que nortearam a

concepção da obra, uma parábola do teólogo e filósofo Ivan Illich, sempre extremamente crítico em

relação aos rumos do chamado desenvolvimento:

“O caracol constrói a delicada arquitetura de sua concha adicionando, uma após a outra, espirais

cada vez mais largas, depois cessa bruscamente e começa a fazer enrolamentos agora decres-

centes. Isso porque uma única espiral ainda mais larga daria à concha uma dimensão 16 vezes

maior. Ao invés de contribuir para o bem-estar do animal, ela o sobrecarregaria.

A partir de então, qualquer aumento de sua produtividade serviria somente para paliar as dificulda-

des criadas por esse aumento do tamanho da concha para além dos limites fixados para a sua

finalidade. Passando do ponto-limite de alargamento das espirais, os problemas do sobrecresci-

mento se multiplicam em progressão geométrica, ao passo que a capacidade biológica do caracol

só pode, na melhor das hipóteses, seguir uma progressão aritmética”.

Jacopo Crivelli Visconti

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A Arte considera o património comum do Homem, na pluralidade de obras que preservam memória

-individual e colectiva- ao longo da cronologia, servindo-lhes de impulso no devir: "A Arte é sobretu-

do atitude universal da pessoa humana."

Ao longo dos anos, Alejandro Somaschini tem privilegiado a incidência do seu olhar crítico sobre

episódios e situações históricas localizadas nos conflitos societários, onde se destaca a denúncia

metaforizada da escravidão no Brasil. Numa poética quase incongruente, o peso da história

plasma-se na figuração intermedial do humano que carrega às costas a obediência. As coisas do

mundo são menos pesadas do que as ideias que obrigam a esse mito de Sisifo…busca incessante

pela razão das coisas…ou escopo do titã Atlas que carrega o mundo… (efabulações narrativas e

visuais sobre a escravidão, residindo na fantasia estruturada do pensamento mítico-poético

grego…

A Arte procura a unidade, integrando manifestações sob o denominador comum que é o indivíduo

humano no seu todo. Atingir a unidade suposta na Arte "…não é mistério para alguns, mas é um

segredo que fica no segredo de cada artista." Exige-lhe o domínio do mistério pessoal; alcançar

conhecimento e sabedoria das coisas primordiais; cumprir a missão intransmissível de autoridade

pessoal -invisível ou intangível alteridade- portanto, segredo de si mesmo. O artista preservará a

coerência, produzindo algo que contemple a atitude humana revertida na arte , designadamente,

na postura ética consignada no acto de criação. Uma das metáforas da construção (formação

progressiva da consciência do eu) habita a definição de casa. Para edificar a identidade própria

assim como assegurar a integridade de uma comunidade, deambula-se nos terrenos da edificação

de uma pele que é a casa.

A casa supõe unidades compósitas e funcionais que Bachelard analisou na Poética do Espaço.

Tanto os materiais, quanto as partes desse todo, são convocados por A.S. para conceptualizar as

suas produções quase de força alegórica. O telhado é uma zona de contacto e de fronteira, consti-

tuída por unidades concatenadas entre si, como um feixe unitário, que protege e se mantém invio-

lável. Cada telha “colonial” é parte indispensável, salvaguardada embora a sua fragilidade e potên-

cia dúctil. Assume um protagonismo investigativo (e metonímico) numa axiologia, também de cariz

post-colonialista, por parte do autor.

A totalidade de uma qualquer tipologia -conceitual e/ou objectual - decorre da aglomeração organi-

zada (analisada, sistematizada, revista para plausível interpretação), subsumada a dada categori-

zação específica. Assim, imagem, objecto ou ideia adquirem carga suplementar, sem exigir um

acto de total dissolução originária ou generalizado esbatimento singular. Cada elemento/obra que

o artista produz, resulta de uma notável harmonia, de uma equilibrada relação entre um “saber

fazer bem” (tekné) que domestica e executa o pensado. Pois que o artista é um artesão também,

dominando os ofícios da acção sobre os materiais, quanto domesticando as suas próprias ideias.

Assinale-se a circularidade alquímica, revestida de extrapolações, acumulada pelos meios, ferra-

mentas e técnicas para aceder ao tangível e ao visível, transfigurados em matéria e corresponden-

do ao conceitual do Alejandro Somaschini.

Maria de Fátima Lambert

(Excerto do texto “A alquimia e seus convidados no banquete de Alejandro Somaschini”)

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Na minha ultima exposição individual "Caracol", feita no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires

estive a trabalhar sob dois conceitos. A sanação e a construção. Neste segundo caso fiz um trabal-

ho “Degolagem” que foi a continuação deste ideia do telhado quebrado.. a ideia de como fazer mais

leve uma estrutura - modulo (telha colonial) e alguma proposta de re-contrução.

“A textura, a espessura, as saliências e os contornos das coisas, tão simples quanto o delinear

ornamentativo de uma mesa ou estirador de arquitecto, podem ser palco para gerar espécimes

que sejam “doppelganger”, duplos de si, a descolar para voos que celebrem a leveza de um espírito

apaziguado. É caso de ofício da arte, tanto quanto da espiritualidade e do esoterismo que a alimen-

tam (...)”

Maria de Fatima Lalbert

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Decolagem.

Tabuleiro de madeira, bajorrelieves, croquis-gravuras de re-constuçoes.

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Decolagem.

Tabuleiro de madeira, bajorrelieves, croquis-gravuras de re-constuçoes e estrutura flutuante.

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No ano 2011 fiz duas exposições em Lisboa. “Cuando los días están nublados, no todo lo que brilla

es oro” Foi um so projeto em dois espaços, na estufa do Museu da Cidade (Campo Grande) e na

galería Graça Brandão.

Como nativo dum pais conquistado, europeizado, trabalhe a ideia de conquista e re-conquista. A

estufa como um espaço de reprodução e criação, um atelie de transmutações onde fazer ouro do

barro.. uma barca quase pronta a chegar e fazer a troca, venda das criações en um espaço comer-

cial (galería).

Na galería (o dia siguiente) fiz obras em relação a conmemorações na historia politico-economica

dos dois paises, Portugar e Brasil.

“A leitura que Alejandro Somaschini faz da história da relação Portugal - Brasil é uma de conquista

e reconquista, de partilha e de saque... 500 anos de memórias que se parecem repetir numa

cadência alternada e simbiótica. É a partir das memórias, monumentos, objectos e símbolos desta

coexistência que Somaschini concebe as exposições na Galeria Graça Brandão e na estufa do

Museu da Cidade. Mas não se trata um arquivo indiferente e indiscriminado. É antes uma leitura

pessoal e mediada, que transfigura estes legados à luz da actual situação económica, política,

social e artística dos dois países. Os trabalhos-metáfora produto desta leitura identificam e repro-

duzem actividades e rituais, profissões e mesteres, hábitos, símbolos e materiais, esquecidos ou

menosprezados, aqui transformados alquimicamente e valorizados simbólica e factualmente pela

sua pele dourada e pelo seu estatuto de obra-de-arte. De forma séria mas satírica, expõem-se

assim as fragilidades, vícios, falhas de memória e consequentes dificuldades da sociedade e

economia actuais”.

Andreia Poças

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Cuando los días están nublados, no todo lo que brilla es oro” - Museu da Cidade.

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“Cuando los días están nublados, no todo lo que brilla es oro” - Galeria Graça Brandão.

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Cabral.

Mural de azulejos e cera de abalhas, nota conmemorativa aos 500 anos da conquista do

Brasil e lingotes de barro.

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Homenagem a Chico Rei.

Barro, ouro liquido.

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Coleta seca”

Porcelana, cobre, grama do Museu da Cidade com fezes de pavão.

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Incontinencia”

Madeira botada fogo, mel, chumbo, barro cru..

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st”

Caixas de madeira de mercado, repoduções douradas de escombros do Museu da Cidade.

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Exposiciones Individuales 2012 “Caracol”. Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - mamba. BA-Arg.

2011 “Cuando los días están nublados, no todo lo que brilla es oro". Instalación.

Parte I. Museu da Cidade. Lisboa, Portugal.

2011 “Cuando los días están nublados, no todo lo que brilla es oro". Instalación.

Parte II. Galeria Graça Brandão. Lisboa, Portugal

2010 “Archivo Carpe Diem”. Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa - Portugal.

2009 “Cetus”. Galería Progetti. Rio de Janeiro - Brasil

2007 “Análogo” Borges Contemporáneo, C.C.Borges. BA-Arg.

Bienales2013 “fogo” Do barroco para o barroco - está a arte contemporânea. 17a. Bienal de Cerveira, Cerveira - Portugal.

2011 “Sal”. Arqueologia do Detalhe - 16a. Bienal de Cerveira, Cerveira - Portugal.

2010 “Totem y Medium”, Bienal Arquivo Geral, Rio de Janeiro -Brasil.

2009 “Análogo para Rádiovisual” Grito e Escuta - Bienal do Mercosul, Porto Alegre - Brasil.

Premios y concursos2013 “Decolagem” Salón Nacional - Nuevos soportes e instalaciones. Palais de Glace. BA-Arg.

2011 “Cera *3”. Salón Anual Rosa Galisteo. Santa Fe-Arg.

2011 “Cera *2”. Salón Nacional - Nuevos soportes e instalaciones. BA-Arg.

2011 “Cera *3”. Premio Fundación Andreani. BA-Arg.

2010 “Columna”. Premio Fundación Williams. BA-Arg.

2009 “Tablero N1 ò sobre algun acontecimiento metafìsico que acompañò a la realidad” Segundo premio Salon Nacional de Artes

Visuales Palais de Glace - BA-Arg.

2008 “David Levinthal en la Argentina” Premio Bienal de Fotografia. Galería Arte x Arte. BA-Arg.

Becas - residencias.2010 Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa - Portugal.

2008 Intercambios Fundacion Alonso y Luz Castillo. BA-Arg.

2006 Intercampos II, Espacio Fundación Telefónica. BA-Arg

Exposiciones colectivas2012 "Desenho atual+izado" Quase Galeria. Porto, Portugal

2012 "13 artistas + 13 obras (e todas as demais): Uma Coleção de Arte Contemporânea para Josefa de Óbidos". Obidos, Portugal.

2012 "Passante no mundo (Paulo Reis e C" Quase Galeria. Porto, Portugal.

2011 “No todo. Lo que brilla es oro”. Economía Política, 200 años de historia. Casa Nacional del Bicentenario. BA-Arg.

2011 “Mesa de luz. Aproximaçao a Santa Teresa”. Galería Progetti. Rio de Janeiro-Brasil.

2010 “Análogo en Fase2”. Centro Cultural Recoleta.

2008 “ST” Sapo Photo en Kentler Gallery - US-NY.

2008 “ST, de la serie Lejando Norte o David Levintahl en la Argentina.” Galería Petalos Gloster. BA-Arg.

2007 “Arveja Negra” Muestra Vida pública, Fondo Nacional de las Artes. BA-Arg.

2007 “Análogo” Museo de Arte Contemporáneo de Rosario - MACRO.

2007 “ST, de la serie Lejano Norte ó David Levinthal en la Argentina” 2do. Salón Nacional de Arte - Premio Platt.

2007 “ST. de la serie Lejano Norte ó Divid Levinthal en la Argentina” Premio Metrovías de Fotografía Contemporánea Argentina.

2006 “Espectador” Muestra Ostinato, Estudio Abierto- Centro. BA-Arg.

2006 “Análogo” Periferica `05. C.C. Borges. BA-Arg.

2006 “110 = 3” Traffic, Centro de Arte Contemporáneo Córdoba. CDBA-Arg.

2006 “Portugnol” Portuñol ( Portunhol. Fundación Centro de Estudios Brasileros. BA-Arg.

2006 “ST” Estudio Abierto - Puerto 2005. BA-Arg

2006 “El Horizonte” Estudio Abierto - Puerto 2005. BA-Arg.

bio AlejandroSomaschini

[email protected]