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Alberto Correia TABERNAS DE VISEU CONVIVIALIDADE E ÓCIO

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Alberto Correia

TABERNAS DE VISEUCONVIVIALIDADE E ÓCIO

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Alberto Correia

Edição

Município de Viseu

2020

TABERNAS DE VISEUCONVIVIALIDADE E ÓCIO

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VISEU – UMA VELHA CRUZ DE CAMINHOS

A Porta do Soar, uma de entre as sete portas que se rasgavam no mu-ralhado antigo da cidade, abria sobre o Poente e logo se desdobrava em caminhos, um deles, principal, seguia até ao mar e por ele subiam carreteiros com lenhas, frutas e pipos de vinho e almocreves com odres de azeite, barricas de peixe que vinha dos vários portos de mar com os abonados carregos de sal. Obedientes às leis do Concelho faziam descar-ga na Praça (actual Praça de D. Duarte) cortando na Rua das Estalagens (actual Rua Grão Vasco) onde alguns demoravam.Como nesta, pelas outras portas entrava e saia gente. Compravam e vendiam no quotidiano mercado ou nas bancas armadas nas feiras de terça-feira. E cumpriam-se obrigações nos Paços do Concelho. Satisfa-ziam-se os dízimos da igreja ou as prestações da coroa. E era o rodopio dos vizinhos no fervilhante quotidiano da urbe. Lavadeiras descendo até às margens da Ribeira, mulheres na ida à fonte antes que a água tivesse subido às moradas. Soldados, abades, a criadagem da fidalguia, artesãos e lojistas que entravam de manhã para sair ao fim do dia. Viajantes e romeiros requerendo pouso por um dia, enxerga e manta, loja para abrigo da montada, e mesa posta, que a lei era servir bem na estalagem.A taberna que já no tempo dos romanos tinha sido inventada, era tam-bém lugar de abrigo, lugar de encontro, ócio ou refeição. A tabuleta pintada ou o ramo de loureiro eram marca na entrada. Abriam-se à Praça, na Rua Direita, na rua do Arco, em vielas e travessas, ou então fora de portas onde os bois dos carrejões e as bestas dos almocreves encontravam franco abrigo, erva ou cevada antes da largada.

> Viseu. Largo Pintor Gata (antiga Praça da Erva) vendo-se ao fundo a Porta do Soar.

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TABERNAS DA CIDADE – SERVIS E VENERANDAS São tão antigas quanto a cidade, as tabernas, esses públicos lugares de encontro e mediação e cumpriam, na terra dos homens, servis e vene-randas, a peculiar missão que as gerara, que o mesmo acontecia com o adro ou a fonte, a igreja, o sítio do mercado e outros sítios mais. Serviam particularmente esse amálgama de gente a que chamavam povo, os homens da lavoura da margem da cidade, os artesãos de ofícios vários, a pequena burguesia comercial e burocrata, os estudantes, os soldados quando livres da caserna, feirantes, romeiros ou outro viageiro qual-quer que viesse a pé ou de montada ou na camioneta da carreira, bem mais tarde. E por tal efeito as posturas municipais não reservavam às tabernas as ruas principais, os Adros, as Praças com estátuas armadas. E elas então abriam portas nas ruas buliçosas do miúdo comércio que o povo frequentava e alargavam por ruas transversais e por travessas maneirinhas. E abriam tanta vez fora de portas.Serviam vinho ao copo e ao quartilho. Serviam aguardente, ginjinha, pirolitos e gasosa, água das pedras, cerveja e laranjada. Vendiam cigar-ros e palitos, bolachas, biscoitos, rebuçados. E havia as rifas. Havia as tabernas que ao lado mantinham “mercearia”. Tinham para venda arroz, massa, açúcar, café, sabão, colorau, canela, tudo vendido em cartuchos de papel. E havia os petiscos costumados, quase sempre com cheirinho bom. Havia o taberneiro. E os homens, uns presos ao balcão, outros em bancos sentados. Negócio acabado, alvaroques, jogo, desafios em eterna discussão e a conversa de entretém. E as notícias do mundo em viva voz antes de chegar a rádio e a TV.

> Taberna do Mafalda. Aspecto do interior. Rua João Mendes, a popular Rua das Bocas.

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O RAMO DE LOUREIRO E OUTROS SINAIS

Porque tens há tantos dias / As tuas pipas vazias, / Os tonéis postos em pé? Gil Vicente, in Pranto de Maria Parda

Nesse longíssimo ano de 1522 Maria Parda fazia pranto porque ao deambular pelas ruas de Lisboa não encontrava os habituais ramos que sinalizavam as velhas tabernas junto das quais agora se encostavam pipas vazias e permaneciam de pé os tonéis, igualmente vazios, e ela, que gostava do bom vinho, lamentava também o elevado preço a que chegara esse produto de eleição.Como em Lisboa, como na antiga Grécia ou em Roma, os ramos de hera ou de pinho, símbolos de Dionísio ou Baco, os ramos de loureiro sus-pensos sobre a porta ou ladeando as entradas assinalavam em Viseu a existência das tabernas. Quando não podia ser um garrafão suspenso de um gancho de ferro ou a elucidativa tabuleta pintada com seu nome de guerra onde o vinho e os petiscos se anunciavam do melhor.O vinho chegava em pipas, em barris, em ancoretas, comprado a granel nas velhas adegas das quintas do Dão e entrava na cidade com boieiros a guiar juntas de bois que puxavam carros remansosos. Vieram, mais tarde, as camionetas. E ao abrir o vinho novo apareciam os anúncios nos jornais com a simbólica imagem de um fradinho a beber junto à porta onde pousavam, à espera, os barris vazios para encher. E a habitual clientela que não demoraria a aparecer!...

> Ancoreta. Vasilha para transporte de vinho adaptada a carga de muares. Era largamente usada em tabernas de feira.

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ALTO SABER DE UMA LEGENDA: “QUERES FIADO? TOMA!”

A atmosfera das tabernas que, à noite, durante anos se iluminara à luz vaga do vulgar candeeiro de petróleo ou do mais moderno Petromax, ganhou no longo tempo como que uma especial patine de sacralidade e, não raro, o taberneiro arvorava em prateleira, ao jeito de nicho ou andor, um ícone pelo qual sentisse alguma estimação. Santo António aparecia muita vez. Comprado na Feira Franca aos bonecreiros chegara ali como herança de família. Era um Santo virtuoso e milagreiro, patrono de alegrias nas po-pulares festas de Verão.Mas havia na taberna outro ícone costumeiro que, melhor que o Santo António milagreiro, respondia ao espírito do lugar. E também era de barro e viera de uma feira. Figurava busto de homem entre o sério e o divertido, braços armados num gesto de estranho desafio a que se deu o nome de “manguito”.Era o “Zé Povinho” da memória, oprimido, pobre, rezingão, paciente, toda-via e corajoso, virtudes de nobreza que o tornaram sobrevivo à opressão.Mas ali, na prateleira, o Zé Povinho ganhou uma particular identidade. Passaram a dar-lhe um novo nome que ganhou geral aceitação graças à escrita de uma estranha locução: - Queres fiado?... Toma!... “Toma!” foi o nome que ficou. O desafio.O Toma agora figurava o abstracto taberneiro, que nem todos em seu ser eram iguais, e o manguito traduzia, sobre as costas do freguês, a recusa do avio do tabaco, dos palitos, do quartilho, para lançar por sobre o rol.

> Figuração do Zé Povinho que se vulgarizou com a habitual designação: Toma!

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TABERNA – NOTÍCIA DA CIDADE DOS HOMENS

A taberna antiga do alegre vozear solto através da porta sempre aberta e do intenso e sadio cheiro que se desprendia dos peixinhos do rio acaba-dos de fritar, das moelas apimentadas ou das feijocas guisadas servidas ao meio-dia das terças-feiras de mercado, era na cidade um enfatizado mundo de homens, fossem eles os madrugadores oficiais cobrando o mata-bicho antes de se sentarem à banca do ofício, os tais feirantes que solviam negócios demorados e ora bebiam o alvaroque costumado, os carrejões de lenha para os fornos prontos para a volta da jornada. Os marçanos vinham mais ao fim do dia. Despejavam sobre o balcão a mais avantajada gorjeta que uma boa dona lhes dera na entrega da caixa de cartão com a mercearia. E logo saíam, sorrateiros, que ao do-brar da esquina os esperava a conversada. Demoravam os já práticos caixeiros que espaireciam das monótonas jornadas, das tarefas dia a dia repetidas, dos nem sempre merecidos recados do patrão. E andavam por lá, matando horas, os ociosos costumeiros. Taberna, espelho fiel de humanidade.De longe-em-longe lá entrava uma mulher. Recado breve. Duas palavras trocadas com a vendeira que atrás do balcão cumprisse vez. E era a garrafa que vinha sob o avental e que voltava quase cheia, agasalhada, outra vez. E o sinal de que apontasse a conta lá no rol. Às vezes era essa mulher, ou outra, que entrava envergonhada. Hora de ceia. Os filhos pequenos prontos para deitar. O caldo sobre a mesa a esfriar. Os homens ao balcão, em silêncio, abriam alas. E o homem dela, em silêncio, deixava-se levar.

> Recanto da antiga taberna “Boquinhas” | Caneca | Santo António | Lousa com ementa de petiscos Pagela de contribuição industrial | Alvará de licença sanitária (frente e verso)

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TABERNA - ÍCONOGRAFIA E RITUAIS

Taberna que se preze tem a sua identidade própria. Tem um nome com registo oficial. Alvará e as licenças costumadas. Mais certo será ser co-nhecida pelo nome do lugar, alcunha ou nome de baptismo do taberneiro ou por qualquer outro curioso apelativo. Lembra-se em Viseu o Chico da Ponte, a Tia Iva, o Gola Alta, o Papa Arroz. Era assim antigamente, no tempo dos ramos de loureiro ou das tabuletas pintadas com zarcão.E havia a porta aberta, grelha pintada a verde por superior intimação e a janela armada de cortina, ao jeito da montra requerida.Lá dentro era o balcão dividindo esse mundo em dois lugares. Que um era o salão, lugar de público acolhimento. Duas mesas com tampo de madeira, ou mais, dependia da grandeza. E as cadeiras que serviam, no geral, aos jogadores. Pendendo da parede um azulejo, um atrevido calen-dário e em retalhinhos de papel quadras de passante, em pé quebrado.Do outro lado pousava o taberneiro. Ficava à mão o canto dos barris, das ancoretas, ambos armados com a servil torneira. Em lugar fresco as caixas de gasosa ou laranjada. E em tempo mais moderno o barril fresco da cerveja que servia, à pressão, sobre o balcão. Copos de vidro facetados. Medidas com o sinal da aferição. Por detrás, em escada, as prateleiras. Garrafas de ginjinha, de aguar-dente, de licor, bolachas em bonitas caixas de cartão, rifas penduradas, tabaco e outras coisas mais. No alto, protector, o Santo António mila-greiro. Escarninho, desenhando o seu “manguito”, o boneco figurando o Zé Povinho.

> Conjunto de medidas aferidas (inox) | Jarro (inox) | Caixa de Bolachas / BiscoitosGarrafa de laranjada “Bussaco” | Garrafa de água de mesa “Arieiro”

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NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM – O JOGO

A mística das tabernas que a literatura revela ao longo dos tempos inscreve-as como apelativo lugar do jogo, quer este se cumpra como desafiante proposta que teste o particular virtuosismo de um ou mais parceiros, quer as estabeleça como tranquilo pouso onde, em quadras de ócio e em ambiente de saudável convivialidade se ocupe de forma agradável o tempo para que se não achou diferente sentido. E a taber-na ficava assim particularmente aberta a uma clientela de vizinhança que em resguardadas tardes de Domingo ou dia feriado, em pausadas horas de tardes já libertas do trabalho, em mais tardias horas de serão, se sentava, no geral aos pares, às bancas de madeira, pedia o baralho de habitual uso e lá seguia o bater das cartas dos populares jogos da sueca, da bisca ou chincalhão, as rodadas de vinho apostadas entre as animosas vozes dos jogadores. Que podiam ser também os mais tranquilos jogos de tabuleiro, as damas, o dominó que, em horas mais vazias, até o taberneiro se sentava para jogar. O burro, jogo deveras popular, tinha antes lugar nas tabernas da aldeia ou do pequeno poviléu. Jogava-se no Adro, à sombra do casario, se era Verão, ou num vizinho terreiro sombreado de parreira e tinha por ma-téria um caixote de madeira de estabelecido desenho e dimensão. Os jogadores, dispostos, à vez, a cerca de dois metros do caixote, atiravam um número convencionado de moedas para as introduzir nos buracos com seus pontos marcados. O jogo podia durar tardes inteiras. Ganhava a partida o jogador que obtivesse o maior número de pontos. E como era de lei cabia sempre a alguém pagar o vinho.

> Jogo de cartas | Partida de dominó | Tabela de madeira para o jogo do burro | Partida de damas

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“PÃO E VINHO ANDA O CAMINHO”

No Zé Bernardo, no Jeitinho, / No Mocho, no Escalãozinho, / N´Aninhas do Nicolau: / Ó posta de bacalhau, / Que foste prato de gritos!...

Os citados versos de José Madeira, uma carismática figura de poeta popular que pelos meados do século XX interpreta como ninguém a corrente vida de Viseu, os versos que integram um longo e elucidativo poemeto, Os Comes e Bebes, onde faz um lírico transcurso pelos histó-ricos arruamentos de Viseu onde pousavam as tabernas, evocam essa paradigmática missão ou serviço que elas cumpriam, cada uma de seu jeito, de servir o pão e o vinho, esse metafórico e basilar pão e vinho que retemperava forças de caminho feito, garantia coragem até ao fim de próxima jornada, respondia a apetites de quem ali pousava.Numa lousa pendurada ou numa folha de papel ficava à vista, no bal-cão, a ementa costumada: fêveras de vinha d´alhos, prato de arroz com feijão, fígado de cebolada, peixe em molho de escabeche, bacalhau às iscas, polvo frito, presunto, ovos cozidos, chouriça assada e, quentinho, um caldo de nabiça ou de grão. Toalha azul, aos quadrados sobre uma mesa de pau, pratos fundos com desenhos da louça de Sacavém, copos de três apurados, o vinho vinha em canecas espumando das torneiras das ancoretas do Dão.E a conversa corria, da vida, da carestia, dos negócios arrumados, de alguns amores defraudados, histórias de tempos idos que a gente já conhecia, de contadas tanta vez.

> Petiscos frequentes: Tremoços | Ovos cozidos | Azeitonas Peixinhos do rio em molho de escabeche | Orelheira | Fígado de cebolada

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> Antigas tabuletas anunciando tabernas e casas de pasto da cidade: A Cubata | MarisqueiraParreira do Minho | Lopes

TABERNAS DE VISEU - UMA GEOGRAFIA DE MEMÓRIAS

Já não se encontra nenhuma / tasca antiga na cidade; / Só na nossa saudade / estão lá todas, uma a uma.*

Circunstâncias múltiplas fizeram encerrar essa singular roda de ta-bernas que povoavam a enredada geografia da cidade. Normativos do Governo Central e da Câmara Municipal e o trágico esvaziamento do Centro histórico trocado por áreas residenciais de maior conforto mo-tivaram o lento desaparecimento dos emblemáticos estabelecimentos. Em jeito de homenagem transcreve-se a popular designação de um todavia incompleto registo das principais tabernas que mal passaram o 3.º quartel do século XX inscrito em poema por José Alves Madeira:

João Mouco, Requinquin, Pescoço de Papelão, Henrique de Massorim, Clara, Jordão, Ramboia, Zé Saleiro, Arcádia, João Porqueiro, Quim Barbas, Rabiço, Penico do Céu, Augusto Brasileiro, Penedo da Saudade, Gruta, Quinhentista, Augusto Camarada, Zé Bernardo, Jeitinho, Mocho, Escalãozinho, Aninhas do Nicolau, João dos Cabritos, Barreiros, Galo, Esfanía, Zèzinho, Cavacas, Es-condidinho, Cronha, Agostinho, Viúva, Rabo Alçado, Diogo dos Cinco Galhos, Velho, Boquinhas, Cabeça de Porco, Capricho, Vara e Meia, Mena, Remelica, Belmira, Cantinho, Lafões, Ilídio Brandão, Malícia, Cartola, Enxúndia, Papa Arroz, Malta, Calcinhas, Midá, Pila Fria, Zé Maria, Chico Macaco, Alberto da Ribeira, Paiva, Parreira, Ciências, Airó, Barreto, Cubata, Capador, Riça, Preto, Passarinho, Alpercatinhas, Isabelinha, Olho de Trás, Chico da Ponte, Mário Bispo, Tenente, Calado, Arlete, Ricardo, Cabaça, Manuel do Almargem, Gola Alta, Zé Grande, Ti Iva.

* MADEIRA, José Alves (Ricardo Sandro), Viseu. Recordações. Comprem lá carqueja!,

Câmara Municipal de Viseu, 1992.

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FICHA TÉCNICA

Título · Tabernas de Viseu. Convivialidade e Ócio

Autor · Alberto Correia

Coleção · Viseu Sabe Bem – 8

Fotografia · José Alfredo

Design · Sónia Ferreira

Edição · Município de Viseu

Iniciativa · Pelouro da Cultura, Património, Turismo e Marketing Territorial de Viseu

Impressão e acabamento · TD – Meios e Publicidade

Nº de exemplares · 500 exemplares

ISBN · 978-972-8215-59-0

Depósito legal ·

Viseu, 2020

Agradecimentos: A António João Lopes Mafalda (Taberna do Mafalda) e a Raúl Augusto Nunes (antiga taberna Boquinhas), a disponibilidade do espaço e o registo fotográfico de objectos; A João Carvalho, o registo fotográfico de objectos; Ao Museu Casa Aleixo (Ponte do Abade, Sernancelhe), o registo fotográfico de objectos; A Dora Mariano Gonçalves (Câmara Municipal de Viseu); A José de Jesus Rodrigues (Taberna A Flor da Ribeira), o registo fotográfico de documentos; À Ex. ma Gerência da Foto Germano a amável cedência de foto de Arquivo.

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