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AJUSTES DE CAPACIDADE E DEMANDA EM OPERAÇÕES DE SERVIÇO: Um Estudo de Caso no Setor de Telecomunicações CRISTIANE CORRÊA HOREWICZ Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Ciências em Administração Orientador: Prof. Kleber Fossati Figueiredo Ph.D. em Administração Rio de Janeiro, RJ – Brasil 2003

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AJUSTES DE CAPACIDADE E DEMANDA EM OPERAÇÕES DE

SERVIÇO: Um Estudo de Caso no Setor de Telecomunicações

CRISTIANE CORRÊA HOREWICZ

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto COPPEAD de Administração

Mestrado em Ciências em Administração

Orientador: Prof. Kleber Fossati Figueiredo

Ph.D. em Administração

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

2003

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AJUSTES DE CAPACIDADE E DEMANDA EM OPERAÇÕES DE

SERVIÇO: Um Estudo de Caso no Setor de Telecomunicações

CRISTIANE CORRÊA HOREWICZ

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de

Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências em

Administração.

Aprovada por:

____________________________________ - OrientadorProf. Kleber Fossati Figueiredo – COPPEAD/UFRJ

____________________________________Profª. Rebecca Arkader – COPPEAD/UFRJ

____________________________________Prof. Assed Naked Haddad – EE/UFRJ

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

2003

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Horewicz, Cristiane Corrêa.

Ajustes de Capacidade e Demanda em Operações de Serviço: Um

Estudo de Caso no Setor de Telecomunicações / Cristiane Corrêa

Horewicz – Rio de Janeiro, 2003.

XI, 162 fl., il.

Dissertação (Mestrado em Ciências em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de

Administração, 2003.

Orientador: Kleber Fossati Figueiredo

1. Serviços. 2. Capacidade. 3. Demanda. 4. Telecomunicações. 5.Dissertação (Mestrado UFRJ/COPPEAD). I. Título

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Kleber Fossati Figueiredo, pelo apoio, paciência e

confiança, fundamentais para a retomada e conclusão deste trabalho.

À Profa. Rebecca Arkader e ao Prof. Assed Naked Haddad, por aceitarem o

convite para compor a banca, e pelos comentários e críticas que enriqueceram

o estudo.

Aos funcionários entrevistados da Empresa, pelo interesse, receptividade e

colaboração, que foram essenciais para a elaboração do estudo.

À Tractebel Brasil e à todos os meus colegas de trabalho, pela compreensão e

por todo o apoio que recebi para que conseguisse finalizar este trabalho com

êxito.

Aos meus avós, por tudo.

Ao Ico, por existir.

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RESUMO

HOREWICZ, Cristiane Corrêa. Ajustes de Capacidade e Demanda emOperações de Serviço: um estudo de caso no setor de telecomunicações.

Orientador: Kleber Fossati Figueiredo. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003.

Dissertação (Mestrado em Ciências em Administração).

O estudo verifica como uma das principais empresas de telecomunicações do

país gerencia as questões de capacidade em serviços de telefonia de longa

distância. Os aspectos peculiares dos serviços levam as empresas prestadoras

de serviços a despenderem uma atenção especial em relação ao ajuste entre a

capacidade e demanda. Os serviços de telecomunicações são extremamente

vulneráveis ao maior ou menor acerto no dimensionamento de seus

investimentos em relação à demanda de utilização de tráfego. A partir de um

estudo de caso, identificam-se os principais mecanismos que são utilizados

pela empresa para ajustar a demanda e a capacidade de suas operações.

Verifica-se uma concordância entre a teoria revista na literatura e a prática

adotada pela empresa, e que as decisões de capacidade em operações de

serviços de telecomunicações são fortemente influenciadas pela necessidade

de se obter rentabilidade nos serviços prestados.

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ABSTRACT

HOREWICZ, Cristiane Corrêa. Ajustes de Capacidade e Demanda emOperações de Serviço: um estudo de caso no setor de telecomunicações.

Orientador: Kleber Fossati Figueiredo. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2003.

Dissertação (Mestrado em Ciências em Administração).

This study investigates how one of the main Brazilian telecommunication

companies manages its capacity in long distance services. In order to comply

with the unique aspects of its service offer, the company has to pay special

attention to a precise match between capacity and demand. Telecommunication

services are extremely vulnerable to the challenge of sizing capacity related

investments. By means of a case study, the study identifies the main

mechanisms used by the company to match demand and capacity in its

operations. The case indicates a fit between theory as described in literature

and the practices adopted by the company, showing how the need to obtain

better profitability influences the sizing of capacity in telecommunication

services.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Telefonia Fixa Local - Estrutura de Mercado................................... 11

Quadro 2: Acessos Fixos Instalados em 2001 ................................................. 11

Quadro 3: Telefonia Fixa Intra-Regional - Estrutura de Mercado..................... 12

Quadro 4: Longa-Distância e Transmissão de Dados - Estrutura de Mercado 12

Quadro 5: Medidas usuais de capacidade ....................................................... 27

Quadro 6: Níveis de desagregação de planejamento ...................................... 30

Quadro 7: Influência das estratégias quanto ao instante de incrementar

capacidade nos critérios competitivos....................................................... 34

Quadro 8: Estratégias alternativas de gerenciamento de demanda para

diferentes situações de capacidade .......................................................... 50

Quadro 9: Meios de transmissão de longa distância: principais características67

Quadro 10: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Capacidade .................... 81

Quadro 11: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Demanda........................ 82

Quadro 12: Rede Doméstica de Longa Distância e de Dados ......................... 90

Quadro 13: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Capacidade Utilizados.. 122

Quadro 14: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Demanda Utilizados ..... 123

Quadro 15: Situação do atendimento telefônico no Brasil em 1996............... 144

Quadro 16: Qualidade do atendimento telefônico no Brasil em 1996 ............ 144

Quadro 17: Telefonia Fixa - Incumbentes e Regiões de Atuação .................. 147

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Quadro 18: Estrutura de Mercado da Telefonia Fixa - Fase de Transição até

2002 ........................................................................................................ 148

Quadro 19: Situação Pós-Processo de Privatização da Telefonia Fixa ......... 149

Quadro 20: Cronograma de Mudanças no Setor de Telecomunicações........ 151

Quadro 21: Ajustes da Produtividade Anual do Fator K ................................. 155

Quadro 22: Comparativo entre as Empresas Incumbentes e as Autorizadas 157

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ligação de Longa-Distância (Caracterização Esquemática)............. 70

Figura 2: Estratégias de Gerenciamento de Capacidade e Demanda ............. 80

Figura 3: Posicionamento Estratégico da Empresa........................................ 121

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 1

1.1 Importância do Estudo ......................................................................... 3

1.2 Objetivos do Estudo............................................................................. 6

1.3 Delimitação da Pesquisa...................................................................... 6

1.4 Organização do Trabalho..................................................................... 7

1.5 Contexto do Estudo – O Setor de Telecomunicações no Brasil........... 8

1.5.1 Cenário Pós-Privatização ............................................................. 9

1.5.2 Desequilíbrios Causados pelo Modelo de Privatização Adotado 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................... 21

2.1 Características dos Serviços.............................................................. 21

2.2 O Conceito de Capacidade e sua Influência em Serviços ................. 24

2.3 Estratégias de Capacidade em Serviços ........................................... 28

2.4 Mecanismos de Ajuste entre Capacidade e Demanda em Serviços.. 35

2.4.1 Gerenciamento da Capacidade .................................................. 36

2.4.2 Gerenciamento da Demanda...................................................... 47

2.4.3 Utilização Estratégica da Capacidade Ociosa ............................ 58

2.5 O Serviço de uma Empresa de Telecomunicações e a Questão da

Capacidade ....................................................................................... 60

2.5.1 As Operações dos Serviços de Telecomunicações.................... 61

2.5.2 Questões Relevantes nas Decisões de Capacidade .................. 69

2.5.3 Evolução da Infra-Estrutura de Telecomunicações..................... 75

2.6 Resumo e Esquema Conceitual para a Análise de Caso................... 77

3 METODOLOGIA .......................................................................................... 83

3.1 Tipo de Pesquisa ............................................................................... 83

3.2 Coleta de Dados ................................................................................ 83

3.3 Tratamento dos Dados....................................................................... 84

3.4 Limitações do Método ........................................................................ 85

4 DESCRIÇÃO DO CASO .............................................................................. 87

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4.1 A Empresa ......................................................................................... 87

4.2 Concorrência...................................................................................... 88

4.3 Infra-Estrutura .................................................................................... 89

4.4 Segmentos de Mercado e Serviços Oferecidos ................................. 91

4.5 Previsão e Gerenciamento da Demanda ........................................... 94

4.6 Gerenciamento da Capacidade ....................................................... 102

5 ANÁLISE DO CASO .................................................................................. 107

5.1 A Empresa e a Questão da Capacidade em suas Operações......... 107

5.2 Estratégias de Gerenciamento de Capacidade e de Demanda ....... 109

6 RESUMO, CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS... 124

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 133

ANEXO 1 HISTÓRICO DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES............. 140

Evolução Histórica e o Sistema Telebrás ................................................... 140

Reforma Regulamentadora e Privatização ................................................. 146

Obrigações e Restrições Regulamentares ................................................. 151

Aspectos Regulatórios e as Assimetrias Pró-Entrantes.............................. 156

ANEXO 2 ROTEIRO DE ENTREVISTAS.................................................. 159

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1 INTRODUÇÃO

O setor de serviços tende a crescer, como vem ocorrendo nos últimos anos. No

Brasil, os estrangeiros têm investido muito mais no setor de serviços do que na

indústria. A partir de 1995, houve duas motivações básicas para esse

comportamento: a reestruturação do mercado financeiro, ocorrida nos primeiros

anos do Plano Real, e a privatização dos serviços públicos, principalmente dos

setores de telecomunicação e energia. A opção pelo setor de serviços –

comércio, comunicação, eletricidade, gás, finanças, seguros e outros – revela

também uma tendência da economia mundial.

A intensificação do movimento global, tanto do lado produtivo como financeiro,

aliado ao crescente progresso tecnológico, destacadamente na área de

microeletrônica, colocou as telecomunicações em uma posição estratégica no

cenário mundial, dado que sua utilização passou a ser, cada vez mais, uma

vantagem competitiva. O desenvolvimento econômico de um país está

diretamente associado aos recursos oferecidos pela tecnologia da informação.

Comunicação instantânea, serviços multimídia, mobilidade, transferência de

dados em alta velocidade, e a possibilidade de realizar teleconferências

passaram a ser, dentre outros, instrumentos decisivos no processo

concorrencial (CARVALHO, DE PAULA, 2001).

Até a década de 80, os serviços de telecomunicações eram considerados

monopólio natural, basicamente por exigirem a implantação de redes de cobre

e por apresentarem custos fixos relevantes em relação ao tamanho da

demanda. Além disso, julgava-se que a atividade era estratégica para as

nações. A regulação do setor, nem sempre institucionalizada, visava garantir

ao operador monopolista, de modo geral estatal, condições de se viabilizar, por

meio de economias de escala e utilização de subsídios cruzados (BNDES,

2000b).

Esse panorama mudou substancialmente, em função do desenvolvimento

tecnológico, que permitiu: a oferta de serviços, notadamente os de telefonia

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celular, que prescindem da rede de cobre; o compartilhamento de redes por

várias operadoras, o que representa redução de custos fixos; e, sobretudo, a

oferta de produtos sofisticados, principalmente os que surgiram em decorrência

do processo de convergência tecnológica – Internet, dados em alta velocidade,

multimídia – para os mercados corporativo e residencial, que transformaram o

perfil da demanda do setor, tornando-o viável para o investimento privado.

Assim, considerando-se, ainda, a dificuldade do setor público em arcar com o

alto volume de investimentos necessários, em função das demandas por

serviços cada vez mais sofisticados, desenhou-se o cenário propício para a

reestruturação do setor, que teve como foco a quebra dos monopólios – forma

institucional historicamente adotada no setor em nível mundial – e, também, a

privatização.

Na Europa, com exceção da Inglaterra (onde houve venda da totalidade das

ações da British Telecom), a privatização tem consistido na liberação dos

mercados à competição, acompanhada da abertura do capital das operadoras

estatais em bolsa, conservando-se, em alguns países, certo controle do

Estado. O quadro atual é de amplo domínio do mercado pelas empresas

anteriormente monopolistas (BNDES, 2000b).

Nos Estados Unidos, as telecomunicações já eram privadas, sob a forma de

monopólio da AT&T. Essa estrutura foi aberta, em 1984, com a cisão da AT&T

em uma operadora de longa distância (AT&T) e várias operadoras de telefonia

local (as Baby-Bells). A competição, na telefonia celular, foi introduzida em

1983 e, na telefonia fixa, em 1996, com o Telecom Act (BNDES, 2000b).

Na América Latina, a maioria dos processos de privatização implicou a compra

das estatais locais pelas grandes operadoras (européias, principalmente), tanto

de forma isolada como em consórcios, e envolveu, ainda, a garantia de

mercado por determinado tempo (prazo para introdução de competição) e a

definição de investimentos mínimos a serem realizados (BNDES, 2000b).

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Após a reestruturação, tem-se verificado uma mudança radical no perfil dos

provedores de serviços de telecomunicações, sendo prática geral as alianças,

incorporações e fusões de concessionárias de diversos portes, com o objetivo

de conquistar novos segmentos de mercado.

Nesse novo cenário, pode-se observar o crescimento explosivo de bases de

clientes e receitas dos serviços mais recentes lançados no mercado,

verificando-se uma tendência de menor crescimento relativo na telefonia fixa.

Nota-se também que há um crescimento no volume de recursos que,

anualmente, é investido no setor e que a competição é maior nos serviços com

potencial de crescimento (BNDES, 2000b).

Por serem empresas prestadoras de serviços, as empresas de

telecomunicações são fortemente afetadas pelas questões relacionadas ao

gerenciamento da capacidade e todas as complicações e dificuldades que as

características intrínsecas de uma operação de serviço geram.

1.1 Importância do Estudo

O setor brasileiro de telecomunicações – incluindo equipamentos e serviços –

tem passado por grandes transformações. Vários aspectos relacionados com a

prestação de serviços se modificaram: participação do capital privado,

privatização, entrada de capital estrangeiro, etc. Com a abertura do mercado e

a quebra do monopólio estatal do Sistema Telebrás, vários novos participantes

entraram no mercado, oferecendo principalmente, alguns serviços

especializados. Além disso, a privatização trouxe a concorrência no setor, e

com isso a corrida pela melhoria dos serviços prestados pelas novas

operadoras.

A privatização deu grande impulso ao setor de telecomunicações. Em 2001,

por exemplo, a taxa de crescimento do setor de telecomunicações foi de 12%,

enquanto o PIB cresceu apenas 1,5%. Mesmo com a desvalorização do real

ocorrida em janeiro de 1999, a expansão naquele ano chegou a 21,28% em

relação a 1998 (BOLETIM, 2002).

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A expansão das telecomunicações foi a principal condicionante do aumento de

17,72% na receita operacional líquida do setor de serviços entre 1999 e 2000,

conforme a Pesquisa Anual de Serviços, divulgada em maio de 2002 pelo

IBGE. As empresas da categoria Correios e Telecomunicações apresentaram

crescimento de receita de 26,36%, o mais expressivo entre as prestadoras de

serviços no período. A pesquisa indica também que os serviços de telefonia

fixa tiveram, em 2000, o maior peso na receita global do setor de

telecomunicações, que totalizou R$ 52,8 bilhões (ESTADÃO, 2002b).

Os números consolidados pela ANATEL em novembro de 2002 mostram que o

Brasil já soma quase 73,445 milhões de telefones. Na época da privatização,

julho de 1998, o país contava com 20,2 milhões de telefones fixos instalados.

Com a antecipação das metas de universalização (previstas para 2003)

realizada por três das quatro concessionárias do Serviço Telefônico Fixo

Comutado (STFC)1, o total de telefones fixos instalados em novembro de 2002

no país já chegava a 49,411 milhões, um aumento de cerca de 145% em

quatro anos. O aumento do número de telefones públicos foi de 150% nesse

período, passando de 547 mil quando da venda das estatais para 1,367 milhão

em novembro de 2002.

Segundo a Assessoria de Imprensa da ANATEL (2002), a previsão é de que

até 2005 o número de telefones chegará a 58 milhões. A densidade de

telefones por cem habitantes aumentou de 12,5 em 1998 para 29,77 em 2002.

No segmento de celulares, em dezembro de 2002 estavam em funcionamento

no país mais de 33 milhões de telefones, um aumento de 489% no período de

quatro anos. Na época da privatização das empresas do Sistema Telebrás, em

julho de 1998, existiam 5,6 milhões de celulares no país. Com a expansão do

1 Serviço Telefônico Fixo Comutado é o serviço de telecomunicações que, por meio de transmissão de

voz e de outros sinais, destina-se à comunicação entre pontos fixos determinados, utilizando processos

de telefonia. São modalidades do STFC destinado ao uso público em geral: o serviço local, o serviço de

longa-distância nacional e o serviço de longa-distância internacional (Regulamento do Serviço Telefônico

Comutado, aprovado pela Resolução ANATEL n. 85/1998).

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serviço, a densidade de celulares, que era de 3,5 por cem habitantes naquela

época, subiu para 19,39 em novembro de 2002 (ASSESSORIA DE IMPRENSA

DA ANATEL, 2002).

Porém, esse aumento explosivo da quantidade de linhas em funcionamento no

país não foi acompanhado por um aumento em iguais proporções do volume

de tráfego telefônico. A partir do momento em que a expansão promovida pelas

operadoras de telefonia penetrou nas classes de menor poder aquisitivo,

percebeu-se uma sensível redução na rentabilidade dos serviços por usuário,

assim como um considerável aumento das taxas de inadimplência no setor.

Dessa forma, o maior desafio das empresas de telecomunicações tem sido

obter a maior rentabilidade possível dos serviços prestados.

Uma das formas de se atingir esse objetivo é a adoção de medidas para

incentivar uma demanda mais lucrativa e a otimização da capacidade das

operações.

Como em outros setores, as questões relativas ao gerenciamento da

capacidade, ou seja, o ajuste entre oferta e demanda, são de suma importância

e podem ser determinantes para o sucesso ou fracasso. Há uma forte relação

entre o gerenciamento da capacidade e o atingimento de metas de qualidade e

de produtividade dos recursos de uma empresa (ARMISTEAD, CLARK, 1992).

Devido às características intrínsecas dos serviços, tais como: a perecibilidade,

que impossibilita a estocagem de capacidade não utilizada; a heterogeneidade,

que dificulta a estimativa da duração e dos recursos consumidos; e a

simultaneidade entre produção e consumo, que não permite a produção

antecipada ou a estocagem de excedentes, essas questões tornam-se ainda

mais complexas.

Portanto, o sucesso das empresas de telecomunicações está intimamente

ligado às estratégias de gerenciamento de capacidade adotadas, assim como

aos mecanismos de ajuste entre capacidade e demanda utilizados para

otimizar o sistema e aumentar a lucratividade da empresa.

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6

1.2 Objetivos do Estudo

O objetivo da dissertação foi o de identificar os principais mecanismos

utilizados por uma grande empresa do setor de telecomunicações para ajustar

os tempos de espera dos clientes e a capacidade ociosa de suas operações de

serviços. Através de um estudo de caso, verificou-se como a empresa busca o

ajuste entre a oferta e a demanda por seus serviços e lida com a ociosidade de

seus ativos ou com a incapacidade de atender a todos os seus clientes. Foi

estudada a área de serviços de telefonia de longa distância.

Concretamente, esse trabalho procurou responder às seguintes questões:

- Quais fatores são críticos em relação à gestão da capacidade e demanda, e

quais são os drivers que orientam essa questão em empresas de

telecomunicações?

- Como a Empresa lida com as questões relativas à falta e ao excesso de

capacidade em suas operações: quais são as estratégias de capacidade e

de demanda adotadas pela Empresa? Por que são utilizadas? Essas

estratégias estão em conformidade com a literatura?

- Como a Empresa lida com as flutuações de demanda no curto prazo: quais

são os mecanismos de ajuste de oferta e demanda utilizados pela

empresa? Por que são utilizados? Estes mecanismos estão em

concordância com a literatura existente sobre gerenciamento de capacidade

e demanda em serviços?

1.3 Delimitação da Pesquisa

A dissertação se limita ao mercado de telefonia fixa, ou seja, não são

abordados mecanismos de ajuste entre capacidade e demanda em outros

mercados de telecomunicações, tais como telefonia celular ou TV a cabo.

O trabalho não tem a intenção de avaliar a eficácia das estratégias e

mecanismos adotados e utilizados pela empresa pesquisada. O objetivo

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constitui-se apenas em identificá-los e compará-los com o que é sugerido na

literatura.

1.4 Organização do Trabalho

Para cumprir o objetivo proposto, o trabalho foi organizado em seis partes. No

primeiro capítulo são introduzidos o assunto e a sua importância, os objetivos e

a delimitação da dissertação. Neste mesmo capítulo foi inserido um subtítulo

abordando o setor de telecomunicações no Brasil. A intenção é situar o leitor

em relação às principais características do setor, as conseqüências da

privatização e as regras que limitam o poder de ação das empresas de

telefonia, assim como a evolução do mercado de telefonia fixa no Brasil.

No segundo capítulo é apresentado o referencial teórico que foi utilizado para

embasar a pesquisa. A questão da capacidade em serviços é apresentada, e

são discutidos métodos de gerenciamento de capacidade e demanda em

operações de serviços em geral. Neste capítulo foi inserido um subitem

dedicado exclusivamente à questão de capacidade em empresas de telefonia.

Como a capacidade dos serviços de telecomunicações é composta

principalmente de equipamentos e tecnologia, nesse capítulo são apresentadas

as infra-estruturas utilizadas para a prestação dos serviços e suas limitações

de capacidade.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia empregada no desenvolvimento do

estudo. Parte do material utilizado para a redação do caso foi obtida por

pesquisa bibliográfica, e outra parte por meio de entrevistas com funcionários

da Empresa. Durante a redação do caso, houve a preocupação de não

mencionar o nome da empresa pesquisada, por solicitação da mesma. Por

esse motivo, algumas informações relevantes tiveram que ser omitidas e

alguns dados disfarçados, considerando que possibilitariam o reconhecimento

da Empresa.

No capítulo seguinte é descrito o caso. A análise do caso é apresentada no

quinto capítulo. Neste capítulo são comparados os mecanismos de ajuste de

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capacidade e demanda propostos pelos diversos autores pesquisados com os

mecanismos utilizados pela empresa de telecomunicações estudada. Devido à

especificidade do setor estudado, em alguns casos foram feitas analogias a

algumas das ferramentas de ajuste.

Por fim, no sexto capítulo são apresentados o resumo, as conclusões e

algumas propostas para novas pesquisas.

1.5 Contexto do Estudo – O Setor de Telecomunicações no Brasil

A reestruturação do setor de telecomunicações brasileiro veio acompanhada da

privatização do Sistema Telebrás, monopólio estatal verticalmente integrado e

organizado em diversas subsidiárias, que fornecia serviços através de uma

rede de telecomunicações interligada em todo o território nacional.

A idéia básica do modelo de privatização escolhido é a de adequar o setor de

telecomunicações ao novo contexto de globalização econômica, de evolução

tecnológica setorial, de novas exigências de diversificação e modernização das

redes e dos serviços, além de permitir a universalização da prestação de

serviços básicos, tendo em vista a elevada demanda reprimida no país. Devem

ser destacadas, inclusive, as pressões internacionais para a abertura do

mercado de telecomunicações brasileiro, manifestadas nas próprias

deliberações do Acordo Geral de Comércio e Serviços da Organização Mundial

do Comércio (OMC), do qual o Brasil é signatário.

Dois aspectos devem ser realçados nesse processo: o primeiro é o fato de que

a privatização, ao contrário do ocorrido em diversos países em

desenvolvimento e mesmo em outros setores de infra-estrutura do Brasil, foi

precedida da montagem de um detalhado modelo institucional, dentro do qual

se deve destacar a criação de uma agência reguladora independente e com

grande autonomia, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL); o

segundo é o fato de a reestruturação do setor de telecomunicações brasileiro

ter sido precedida por reformas setoriais em diversos países, o que trouxe a

vantajosa possibilidade de aprendizado com as experiências anteriores.

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9

Um histórico do setor de telecomunicações no Brasil é encontrado no Anexo 1.

Nesse anexo estão apresentados a evolução histórica do setor, as

características da reforma regulamentadora e da privatização, e as obrigações

e restrições regulamentares das empresas de serviços de telefonia fixa

comutada.

1.5.1 Cenário Pós-Privatização

No fim de 2002, o cenário das telecomunicações no Brasil encontrava-se da

seguinte forma (BNDES, 2000b):

• Grande aumento na oferta de linhas telefônicas, não havendo mais as

filas de espera relativas ao plano de expansão;

• Aumento da oferta de novos telefones públicos, bem como maior

atenção à sua conservação;

• Redução gradual do “mercado paralelo” e do aluguel de linhas

telefônicas;

• Diminuição gradual da desigualdade no atendimento telefônico entre os

estados mais ricos e mais pobres e entre as diversas camadas sociais;

• Aumento gradual do número de localidades atendidas por serviço

telefônico;

• Redução da distância necessária para se alcançar o telefone público

mais próximo;

• Redução das tarifas de utilização de telefone, principalmente as de

habilitação na telefonia local (que passaram de R$ 1.120,00 em 1997

para R$ 50,00 em setembro de 2000) e as de longa distância (na qual já

há competição entre as operadoras que atuam nesse mercado,

verificando-se, em alguns casos, descontos de até 40% em relação às

tarifas anteriormente praticadas);

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• Nível crescente de digitalização da planta, o que resulta em melhor

qualidade nas ligações e na possibilidade de oferta de serviços mais

sofisticados;

• Órgão regulador atuante, que fiscaliza as concessionárias e tem poderes

para puni-las com pesadas multas e outras sanções, em caso de não

cumprimento de cláusulas contratuais; e,

• Competição na oferta de serviços de telecomunicações empresariais,

podendo-se ver o surgimento de várias empresas nesse nicho de

mercado, o que, além de desenvolver o setor, é positivo, no sentido de

baixar as tarifas dos serviços para as empresas, melhorando sua

competitividade.

Entretanto, tem-se que, especialmente nos mercados locais, não parece ter

emergido concorrência. As incumbentes praticamente detêm a grande parte da

infra-estrutura local e são responsáveis por 99% do tráfego das ligações locais

(Quadros 1 e 2). Esse quadro pode ser um indicativo de que a política de

duopólio e as assimetrias regulatórias contribuíram para inibir a atuação das

entrantes.

As entrantes têm focado seus esforços em nichos de mercado, em especial no

mercado corporativo e aqueles de maior rentabilidade. A GVT, por exemplo,

que é a empresa-espelho da Brasil Telecom, adotou uma política de

crescimento em áreas específicas. O resultado é que a Telemar, Telefônica e

Brasil Telecom não têm sombra de concorrentes. E o duopólio esperado na

área local pelo desenho da privatização em 1998, nunca aconteceu na prática.

O monopólio ainda é realidade na telefonia residencial.

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Quadro 1: Telefonia Fixa Local - Estrutura de Mercado

Empresas Região I Região II Região IIIIncumbentes 99% 99% 99%Empresas Espelho 1% 1% 1%Total 100% 100% 100%* Participação relativa ao total de minutosFonte: Considera et al. (2002)

Quadro 2: Acessos Fixos Instalados em 2001

Região Operadora ParticipaçãoTelemar 82%CTBC (MG) 3%IVésper 15%Brasil Telecom 90,4%CTBC (MS) 0,1%CTBC (GO) 0,4%Sercomtel 1,4%

II

GVT 7,7%Telesp 90%CTBC (SP) 2%IIIVésper 8%

Fonte: ANATEL (2002)

Para a ANATEL, porém, um dos grandes destaques do modelo de privatização

das telecomunicações no Brasil foi a penetração da telefonia fixa, que ao final

de 2001 era de 99% nas famílias da classe A, 84% na B, e 62% na C.

Entretanto, nas classes D e E o acesso à linha fixa é baixo, de 20% e 5%

respectivamente. Em meados de 2002, havia aproximadamente 22 milhões de

domicílios que não dispunham de telefone, metade deles na classe D.

(ESTADÃO, 2002a). Na avaliação da ANATEL, o problema da oferta de

terminais já foi resolvido. O que precisa ser feito é o equacionamento da

questão da demanda, ou seja, a capacidade da população de arcar com os

custos do serviço de telefonia.

No que tange aos serviços de longa-distância, percebe-se que, comparados

aos serviços locais, houve a emergência de competição. Dentro das regiões I,

II e III, tem-se que aparentemente o modelo implementado (oligopólio com

quatro empresas) garantiu a emergência de concorrência (Quadro 3). Note-se

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que, entretanto, como no caso da telefonia fixa local, a pequena participação

das empresas-espelho pode significar que as políticas de duopólio e regulação

assimétrica podem estar inibindo a atuação das firmas entrantes. Além disso, a

vantagem das incumbentes locais pode estar escondendo a emergência de

práticas restritivas verticais (CONSIDERA et al., 2002).

Quadro 3: Telefonia Fixa Intra-Regional - Estrutura de Mercado

Empresas Região I Região II Região IIIEmbratel 37% 21% 21%Intelig 5% 5% 5%Telemar 58% - -Brasil Telecom - 74% -Telefonica - - 74%Total 100% 100% 100%Fonte: Considera et al. (2002).

Com a política de duopólio, tem-se que, nos serviços de longa-distância (inter-

regional e internacional), a Intelig, baseada em uma política agressiva de

tarifas, conseguiu capturar cerca de 20% do mercado (Quadro 4). Esse

resultado parece indicar o maior potencial competitivo dos mercados de longa-

distância em comparação com os mercados locais.

Com a antecipação das metas pela Telefônica e pela Telemar, estas duas irão

entrar nos mercados de longa distância nacional e internacional em 2003, e

reduzirão a participação da Embratel e Intelig.

Quadro 4: Longa-Distância e Transmissão de Dados - Estrutura de Mercado

Empresas Dados Longa-DistânciaInter-regional*

Longa-DistânciaInternacional*

Embratel 41% 80% 75%Intelig e outras 59% 20% 25%Total 100% 100% 100%* Participações relativas ao total de minutos.Fonte: Considera et al. (2002).

A ANATEL projetou uma evolução do mercado brasileiro de telefonia a taxas

relativamente lineares até 2005, e surpreendeu-se com resultados de um

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crescimento além do previsto da planta de telefonia, fazendo com que, no início

de 2002, esta se tornasse a maior da América Latina, respondendo por 40% da

planta total da região (GAZETA MERCANTIL, 2002). Notou-se, porém, que

desde o fim de 2000 configurava-se uma tendência de crescimento do número

de terminais ociosos no STFC, sugerindo que a demanda não estaria

crescendo ao mesmo ritmo da oferta dos serviços.

Os investimentos elevados que as operadoras de telefonia fixa fizeram para

antecipar as metas de universalização da ANATEL e poder atuar em outras

áreas provocaram um excedente de linhas (ESTADÃO, 2002a). As operadoras

privilegiaram a expansão das redes e até compraram equipamentos em

excesso. Por outro lado, não segmentaram devidamente o mercado, deixando

de oferecer os serviços adequados aos diversos grupos de usuários.

Em junho de 2002, as linhas residenciais somavam 73% do total em serviço.

As direcionadas ao setor corporativo, incluindo tronco, detinham 23%, ou 8,4

milhões de linhas ativadas. E os telefones públicos, 4%. A disputa no segmento

residencial, a partir de 2002, tornou-se mais delicada, pois as concessionárias

fizeram um atendimento maciço, satisfazendo quase toda a demanda que

estava reprimida ao cumprirem e adiantarem o plano de metas da ANATEL

programada para 2003 (GAZETA MERCANTIL, 2002).

A pressa em cumprir as metas da ANATEL também fez com que as operadoras

não dispensassem aos novos assinantes o tratamento adequado do ponto de

vista do custo do serviço que passaram a consumir. Muitos desses novos

assinantes pertencem às classes de baixa renda. Como não foram orientados

para um consumo segundo suas capacidades de pagamento, o que se

verificou foi uma explosão na inadimplência. Para se ter uma idéia do

problema, entre janeiro e setembro de 2001 foram bloqueadas, no Brasil todo,

2,57 milhões de linhas, porque os usuários não pagaram as contas. A situação

foi agravada pela ausência de sistemas internos que permitissem solucionar

rapidamente problemas de não pagamentos (REVISTA UPDATE, 2002).

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Com investimentos previstos de US$ 30,5 bilhões no país no período de 2000 a

2006, as operadoras de telecomunicações não deverão, nos próximos anos,

alocar recursos para infra-estrutura. A maior parte dos investimentos já foi

realizada na antecipação das metas. A tendência é conseguir a maior

rentabilidade possível da infra-estrutura existente. Assim, algumas frações

deverão ser concentradas na manutenção das redes e na implantação de

novos serviços, os quais exigem investimentos bem inferiores aos realizados

nos últimos anos. A expansão geográfica será efetuada em sua maioria através

de parcerias e utilização de infra-estrutura de terceiros (COMPUTERWORLD,

2002).

1.5.2 Desequilíbrios Causados pelo Modelo de Privatização Adotado

Segundo Domeneghetti (2002), a lógica mercadológica das estruturas perfeitas

de concorrência ocorre quando há equilíbrio entre oferta e demanda, quando

há diferenciação entre os diferentes perfis de consumidores por nichos,

segmentos e, portanto, quando há diferentes tipos de empresas, com

diferentes tamanhos e focos / expertises para atenderem a esses diferentes

públicos.

Em outras palavras, o mercado inteligente acontece quando há grandes,

médias e pequenas empresas se diferenciando não só por tamanho, mas por

foco, preço, nicho, enfim, delineando diferentes estratégias para perfis diversos

de clientes. Acima de tudo, o mercado "perfeito" acontece quando há liberdade

total de movimentação das empresas, inclusive regional.

Nesse tipo de mercado, quando competitivos, os pequenos tornam-se líderes

de nichos específicos, os médios buscam se equilibrar na competição por

custos e espaços não explorados por grandes (regiões ou tecnologias, por

exemplo) e os grandes implementam suas estratégias de crescimento e

maximização de resultados comprando médios e pequenos.

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O problema é que o mercado brasileiro de telefonia está longe de ser similar ao

descrito acima. Isso porque não apresenta nenhuma das condições citadas

para a formação de um mercado equilibrado (DOMENEGHETTI, 2002).

Liberdade de oferta de produtos e serviços

O modelo de privatização adotado no Brasil optou por "departamentalizar" a

concorrência em telefonia por tipo de "produto ou serviço". Isso quer dizer que

algumas empresas adquiriram licença para concorrer em telefonia móvel,

outras operadoras em telefonia fixa e outras ainda em longa distância.

Dessa forma, além da pressão de cumprimento das metas estipuladas pela

ANATEL, cada uma dessas empresas teve que se focar em um único tipo de

segmento de mercado, processo muito interessante para o país (pois a

competição focada ajuda a aumentar a qualidade e reduzir preços, portanto

"universalizando" o serviço), mas pouco interessante para as empresas, que

perderam assim a chance de fazer o cross-sell (vendas cruzadas) de produtos

e serviços e a formação de pacotes especiais para cada tipo de cliente.

Um exemplo taxativo de limitação por segmento tem ocorrido na telefonia de

longa distância, em que a Embratel e a Intelig têm enfrentado como único

critério possível de concorrência o preço, o que definitivamente destrói suas

estruturas financeiras no médio prazo.

Liberdade regional

Além da restrição por segmento de negócios, o modelo de privatização também

limitou as operações das empresas por região geográfica. Dessa forma,

também em relação ao crescimento por nicho de consumidor, por exemplo, os

competidores ficaram confinados em regiões específicas.

Nesse caso, também o país foi beneficiado, uma vez que o foco regional forçou

as empresas a derivarem seus investimentos e benefícios às suas regiões,

potencializando, dentro do possível, um crescimento homogêneo do número de

usuários no país como um todo.

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Para as empresas, o resultado negativo é visível e a abertura da concorrência,

ao invés de ser positiva, é uma ameaça aos players cativos em seus mercados

protegidos. A possibilidade de expansão para novas áreas por parte das

operadoras de telefonia fixa que anteciparam suas metas deve levar a um

aumento da concorrência no setor. Entretanto, esse movimento tende a ser

limitado.

No segmento fixo, a competição tende a se concentrar entre as companhias

incumbentes, ou seja, a expectativa é que as empresas-espelho continuem

enfrentando dificuldades para alcançar participação mais expressiva no

mercado.

Essas perspectivas implicam uma questão fundamental. As empresas devem

priorizar os nichos mais rentáveis, que são o mercado corporativo e os

consumidores residenciais de maior poder aquisitivo.

No caso específico da telefonia fixa, vale ressaltar que, no mercado residencial,

tem havido pouca competição desde a privatização do setor. As empresas-

espelho que deveriam competir com as incumbentes, não têm conseguido

atingir esse objetivo, embora isso não signifique que não tenham chance de

permanecer no setor. O mais provável é que continuem a ter uma posição de

menor destaque na telefonia fixa, mas é certo que existem nichos de mercado

nos quais elas podem continuar atuando.

Mesmo nos segmentos onde deve haver maior competição, não se deve

esperar disputas de mercado concentradas em redução dos preços de

produtos e serviços. Primeiramente, tais estratégias podem comprometer a

viabilidade financeira das operadoras. Além disso, não garantem por si só a

fidelização dos usuários, ou seja, embora o preço seja um fator de grande

importância na escolha da prestadora do serviço, a capacidade de atender às

demandas dos usuários não deve ser colocada em segundo plano.

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Dilema tecnológico

Além das limitações impostas pelo modelo de privatização, as empresas

também tiveram suas limitações de expansão por conta das tecnologias

escolhidas.

Essa situação tem acarretado dois problemas principais ao equilíbrio do

mercado: primeiro, afasta algumas empresas estabelecidas das tecnologias de

convergência, favorecendo novos entrantes que já chegam com tecnologia

superior; segundo, o custo de troca do parque tecnológico é altíssimo e o custo

da não-troca pode significar o fim das empresas. É uma decisão difícil,

principalmente para aquelas empresas que já passam por dificuldades

financeiras.

Oferta X Demanda

As características do usuário brasileiro sugerem que os serviços de voz

continuarão predominando no setor de telecomunicações por mais alguns

anos. A má distribuição de renda e o baixo nível educacional de expressiva

parcela da população impedem uma expansão rápida de serviços mais

sofisticados.

Este cenário indica que, apesar de novas tecnologias de comunicação

continuarem em desenvolvimento, não há perspectivas de utilização em larga

escala das ferramentas mais avançadas no mercado doméstico nos próximos

anos.

A solicitação feita pela AT&T à ANATEL de licenças para operar em telefonia

fixa no país é um exemplo. A operadora norte-americana percebeu que as

empresas que quiserem atuar em larga escala no mercado brasileiro devem

continuar oferecendo serviços de voz nos próximos anos. Serviços mais

sofisticados têm potencial de crescimento, mas de forma ainda limitada a

algumas regiões e a alguns tipos de usuários.

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Tipos de clientes e tipos de serviços

Um dos principais problemas das empresas de telefonia em atuação no Brasil

tem sido a reduzida rentabilidade oferecida pelos usuários.

Tradicionalmente, o mercado de telefonia passa por dois períodos distintos

durante sua evolução: crescimento e maturidade. O mercado brasileiro

encontra-se na fase de crescimento, na qual ocorre um período de aumento da

demanda, intensificação da concorrência entre as operadoras e queda nos

custos dos serviços. Por outro lado, a receita média por usuário (Arpu)

apresenta redução devido à prática de preços mais baixos e à incorporação de

consumidores de menor poder aquisitivo.

À medida que a demanda das classes de renda mais elevada é atendida, as

operadoras precisam buscar novos nichos de mercado. Assim, os

consumidores de menor poder aquisitivo, que representam uma parcela

expressiva do mercado consumidor brasileiro, surgem como alternativa para a

expansão dos serviços de telecomunicações.

Esses clientes se caracterizam, porém, por demandar serviços de menor valor

agregado, ou seja, oferecem um Arpu relativamente inferior ao proporcionado

por consumidores residenciais de alta renda ou corporativos. Além disso, o

risco de inadimplência nesse segmento tende a ser mais elevado,

comprometendo a rentabilidade dos serviços que lhe são prestados.

A receita média obtida com consumidores residenciais das classes A e B é

cerca de três vezes superior à de usuários das classes C, D e E. Considerando

a receita líquida menos os custos operacionais por terminal, somente os

consumidores A e B proporcionam resultados positivos para as empresas.

A forte disseminação dos serviços pré-pagos no mercado doméstico –

explicada, sobretudo pelo perfil da demanda brasileira – apenas reforça esse

quadro preocupante para as companhias. Esse tipo de serviço – que concentra

aproximadamente 65% da base de clientes de telefonia celular – oferece Arpu

equivalente a cerca de um terço daquela gerada pelo pós-pago.

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O ambiente econômico desfavorável no país também contribuiu para o

agravamento desse quadro no ano de 2002, embora não tivesse sido

determinante. As dificuldades enfrentadas por diversas empresas –

principalmente de pequeno e médio porte – provocaram aumento de

inadimplência também no segmento corporativo, prejudicando a rentabilidade

das operadoras.

Assim, um dos principais desafios das empresas a partir de 2003 é encontrar

estratégias capazes de melhorar sua rentabilidade. Isso justifica a preocupação

delas em concentrar esforços no segmento corporativo e na oferta de serviços

mais caros para consumidores residenciais de maior poder aquisitivo.

Entretanto, esses usuários não são encontrados em grande escala em

nenhuma região do país. Dessa forma, além de discutir e propagar vantagens

tecnológicas, as operadoras de telefonia devem se preocupar em elaborar

produtos e serviços capazes de atender à demanda dos usuários brasileiros e,

ao mesmo tempo, serem rentáveis (MATTOS, 2002).

Tamanho das empresas

Os pontos discutidos anteriormente apontam para um cenário de consolidação

do mercado de telecomunicações. Existe hoje uma grande quantidade de

empresas atuando em áreas de negócios nas quais (i) a demanda reprimida

caiu significativamente nos últimos anos; (ii) os usuários concentram-se em

serviços de voz e (iii) apenas os segmentos corporativo e residencial de alta

renda – que não são encontrados em larga escala em nenhuma região do país

– proporcionam boa rentabilidade às companhias.

Esses fatores tendem a limitar a expansão da base de clientes e prejudicar a

rentabilidade das operadoras, dificultando a viabilidade econômica de muitas

empresas.

Com isso, devem surgir diversos planos de negócios visando fusões,

aquisições e joint ventures entre as companhias do setor, no intuito de obter

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ganhos de escala que permitam maior eficiências na prestação de serviços e

redução de custos operacionais.

Pode-se esperar, ao longo dos próximos anos, uma diminuição expressiva do

número de operadoras de telefonia em atuação no Brasil. As que

permanecerem no mercado tendem a se transformar em provedoras de

serviços fixos e móveis, com abrangência nacional.

Muitas empresas de telefonia provavelmente encontrarão dificuldades em

manter ou ampliar sua participação no mercado doméstico. A expansão mais

lenta da base de clientes, a demanda concentrada em serviços de menor valor

adicionado e a intensa concorrência trarão muitos problemas para as

operadoras. A abertura do mercado para as que anteciparam suas metas deve

intensificar a competição em algumas áreas e segmentos do mercado,

comprometendo a rentabilidade dos players envolvidos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

O crescimento do setor de serviços, nos últimos anos, vem despertando o

interesse por parte dos pesquisadores e estudiosos, gerando um volume de

literatura valioso. O objetivo deste capítulo é fazer uma revisão de literatura

sobre gerenciamento de capacidade e demanda em operações de serviço,

identificando as principais causas da falta ou excesso de capacidade e os

mecanismos utilizados para amenizar seus efeitos.

A revisão de literatura está dividida em três partes. Na primeira é introduzido o

conceito de capacidade em serviços. Devido às características das operações

de serviços, diferenciadas das operações industriais, iniciou-se essa primeira

parte com uma panorâmica sobre a natureza dos serviços. Em seguida, são

apresentados o conceito de capacidade e sua influência em serviços, inclusive

a importância de se medir a capacidade do sistema e como são feitas essas

medições.

Na segunda parte são apresentadas formas de se adequar a capacidade com a

demanda pelo serviço. Levantaram-se estratégias de gerenciamento de

capacidade e de demanda propostas por diversos autores. A seguir, então, são

apresentados mecanismos de ajuste de capacidade e demanda que podem ser

utilizados pelas operações de serviço.

Dada a importância de se compreender como a questão da capacidade afeta

as operações de uma empresa de telecomunicações, foi incluído um último

tópico onde são apresentadas a infra-estrutura do negócio e as questões mais

críticas que influenciam as tomadas de decisão em relação a capacidade dos

sistemas de telecomunicações.

2.1 Características dos Serviços

Diferentemente de produtos, que podem ser estocados, um serviço é uma

experiência pessoal intangível que não pode ser transferida de uma pessoa

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para outra. Entretanto, há uma grande dificuldade para diferenciar um serviço

de um produto, pois muitas vezes a prestação do serviço envolve a utilização

de um bem e a compra de um produto envolve algum tipo de serviço.

(FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995).

Sasser (1976) sugere que os serviços podem ser diferenciados das operações

de produção por terem características peculiares que os diferenciam da

indústria manufatureira. Algumas das principais características dos serviços

estão apresentadas a seguir:

a. Os serviços são diretos: eles não podem ser estocados. A perecibilidade

dos serviços deixa a empresa sem um importante mecanismo de ajuste

entre oferta e demanda utilizado pelas empresas industriais: o estoque

de segurança;

b. Há um alto grau de interação produtor-consumidor na produção dos

serviços, que é uma vantagem mista; de um lado, os consumidores são

uma fonte de capacidade produtiva, mas, de outro, o papel do

consumidor gera incerteza para a empresa quanto ao tempo do

processo, à qualidade do produto e à adequação da instalação às

necessidades do consumidor;

c. Por um serviço não poder ser transportado, o consumidor deve ser

levado ao sistema de entrega de serviços ou vice-versa;

d. Devido à natureza intangível de um serviço, o estabelecimento e a

avaliação de níveis para uma operação de serviços são, em geral,

tarefas altamente subjetivas e qualitativas.

Murdick et al. (1990) lembram que há alguns tipos de serviços que possibilitam

manter um estoque, como vídeo locadoras, bibliotecas e bancos de sangue.

Porém, como Lovelock (1996) observa, as oportunidades para se manter um

estoque em operações de serviço são, por definição, bastante limitadas,

dependendo muito do tipo de serviço envolvido.

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Desse modo, como as empresas de serviços nem sempre podem se valer de

estoques para lidar com flutuações da demanda, torna-se imprescindível um

bom ajuste entre sua capacidade operacional e a demanda, a fim de se evitar

ociosidade nos horário de baixo pico ou incapacidade de atender seus clientes

nos horários de maior movimento (HOFFMAN, BATESON, 1997; SASSER et

al., 1978).

Segundo Haksever et al. (2000), a variabilidade na prestação dos serviços é

um fator crítico para os gestores. A forma como um serviço é prestado depende

tanto das condições físicas e psicológicas do prestador quanto do cliente. O

resultado obtido pode variar muito, e é muito difícil garantir que clientes com

expectativas diferentes tenham o mesmo nível de satisfação em relação ao

serviço prestado. Por esse motivo, em alguns casos não há como padronizar

os serviços, pois as necessidades de cada cliente podem ser diferentes. Essa

heterogeneidade dos serviços também dificulta o controle e a garantia da

qualidade, assim como a medição da produtividade e da capacidade

operacional do serviço.

Haksever et al. (2000) e Hoffman e Bateson (1997) destacam ainda que um

dos principais fatores que tornam os serviços perecíveis é a necessidade de se

envolver o cliente no processo produtivo. Ou seja, a produção e o consumo são

simultâneos, o que obriga as empresas de serviços estarem próximas dos

clientes, não podendo centralizar a produção em um único local.

Quando aviões, trens, ou navios partem, por exemplo, os assentos vazios são

perdidos para sempre. Problemas similares ocorrem em quartos de hotéis,

entradas para shows, mesas ociosas em restaurantes, e muitos outros serviços

que tenham capacidade fixa. Um outro problema encontrado é a falta de

capacidade. Quando a demanda aumenta, muitos serviços enfrentam

limitações na oferta de capacidade, que os impedem de servir os clientes

adicionais. Por exemplo, agências de aluguel de carros têm um número

limitado de veículos em cada loja, os hotéis têm um número limitado de

quartos, e as oficinas têm um número limitado de mecânicos. (DESIRAJU,

SHUGAN, 1999).

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Muitos desses serviços com capacidade limitada têm uma alta taxa de custo

fixo / variável, que se reflete na presença de instalações físicas e equipamentos

caros e pouca mão-de-obra. Assumindo que os custos associados para servir

segmentos diferentes mantêm-se constantes, então quanto mais alto o preço e

maior o volume de uso, maiores serão os lucros. Entretanto, clientes de

segmentos diferentes nem sempre podem ou estão dispostos a pagar pelo

serviço, e ainda, têm padrões de uso diferentes, nem sempre usufruindo todos

benefícios oferecidos pelo serviço. Para complicar ainda mais o problema, o

volume de demanda de um segmento específico e a sua sensibilidade ao preço

podem variar muito ao longo do tempo (LOVELOCK, 1996).

Logo, operações de serviços exigem um gerenciamento diferenciado das

operações manufatureiras. A natureza dos serviços torna muito mais

complexas as tomadas de decisões, que devem levar em consideração não

apenas questões sobre o produto, mas também sobre o comportamento do

consumidor que é envolvido no processo. No tópico a seguir é apresentado o

conceito de capacidade e como esta influencia as decisões em operações de

serviços.

2.2 O Conceito de Capacidade e sua Influência em Serviços

Segundo Gianesi e Corrêa (1994, p.156), “capacidade é o potencial produtivo

de um sistema”. De acordo com Lovelock (1996), a capacidade produtiva em

operações de serviços se dá diversas formas. Uma delas seriam as instalações

físicas, como hotéis, clínicas médicas, prateleiras de supermercados, ou

vagões de trens. Outra forma de capacidade produtiva refere-se a

equipamentos, como telefones em um call center, secadores de cabelos em um

salão de cabelereiros, detectores de metais em aeroportos, ou caixas

registradoras em supermercados. Qualquer equipamento com capacidade

limitada pode representar um gargalo no processo, impondo um limite máximo

de volume e de qualidade no serviço prestado em um dado período.

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Além das limitações devido a equipamentos, as operações de serviço também

sofrem restrições em função do quadro de funcionários. Um nível inadequado

de pessoal causa restrições, tais como o número de clientes (ou objetos) que

uma instalação de serviço pode processar durante um certo intervalo de tempo,

mesmo se a instalação física e o equipamento disponível forem capazes de

suportar volumes mais altos. A mão-de-obra é tipicamente mais flexível que

elementos físicos em sua capacidade de sustentar certos níveis de “saída”

durante o tempo (HAKSEVER et al., 2000, KLASSEN, ROHLEDER, 2000;

LOVELOCK, 1996).

As operações de serviço também são prejudicadas por outros motivos que

restringem a capacidade do sistema. Diferentemente das operações

manufatureiras, os serviços nem sempre podem acompanhar a demanda

transportando seus produtos de um lugar para outro. Além disso, muitas vezes

a capacidade máxima de atendimento não é flexível, ou exige altos custos de

investimento para aumentá-la, como por exemplo, mais lugares em cinemas ou

mais aviões em companhias aéreas (HAKSEVER et al., 2000).

Geralmente, empresas de serviço que possuem restrição de capacidade

utilizam como medida de eficiência operacional a porcentagem de capacidade

vendida. Por exemplo, empresas de transporte utilizam como medida de

eficiência operacional o fator de carga, em hotéis tem-se a taxa de ocupação,

empresas de consultoria de engenharia aplicam o chamado homem-hora, etc.

(LOVELOCK, 1996). Nem sempre, entretanto, tais medidas refletem a

realidade sobre a lucratividade do negócio. A combinação de perecibilidade e

restrição de capacidade pode encorajar uma estratégia de serviços orientada

para a utilização total da capacidade, porém, altas taxas de utilização podem,

muitas vezes, mascarar perdas de lucratividade devido a altos descontos de

preços concedidos aos clientes (DESIRAJU, SHUGAN, 1999).

Para Lovelock (1996), os serviços que envolvem atividades tangíveis estão

mais sujeitos a problemas de capacidade que os serviços baseados em

informação. Porém, o autor observa que, estes últimos também podem ter

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26

problemas similares de capacidade, quando os clientes são obrigados a irem

até as instalações de serviço.

Segundo Lovelock (1996), a qualquer momento uma empresa de serviço com

capacidade fixa pode se deparar com uma das quatro condições a seguir:

a) a demanda supera a capacidade máxima disponível, resultando em

possível perda de clientes;

b) a demanda supera o nível de capacidade ótima; nenhum cliente é

dispensado, mas todos podem perceber uma certa deterioração na

qualidade do serviço prestado;

c) a demanda e o fornecimento estão balanceados em um nível de

capacidade ótima;

d) a demanda está abaixo da capacidade ótima e os recursos produtivos

estão subtilizados; o que pode significar que os clientes estão

desapontados com a experiência ou têm dúvidas acerca da viabilidade

do serviço.

O autor chama a atenção para a diferença entre capacidade máxima disponível

e capacidade ótima. Quando a demanda supera a capacidade máxima, alguns

consumidores potenciais poderão ficar desapontados porque serão

dispensados e o negócio estará perdido para sempre. Mas, quando a demanda

está operando entre a capacidade ótima e a máxima há um risco de que todos

os consumidores atendidos neste momento recebam um nível inferior de

serviço e, portanto, fiquem insatisfeitos.

Em alguns casos a capacidade ótima e a máxima são as mesmas. Isso

acontece, por exemplo, em atividades como teatro e esportes em estádios,

onde a lotação é desejada, já que cria uma sensação de euforia e participação

nos espectadores, aumentando sua satisfação. Em outros serviços, os

consumidores podem sentir que recebem um serviço melhor se a instalação

não estiver operando com capacidade total. A qualidade de um serviço de

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restaurante, por exemplo, geralmente diminui quando todas as mesas estão

ocupadas. Passageiros que viajam de avião sozinhos preferem, na maioria das

vezes, que a poltrona ao lado esteja vazia. Logo, reduzir a demanda a um nível

ótimo pode ser desejável mesmo para empresas de serviços que raramente

dispõe de uma demanda que exceda a capacidade máxima disponível

(HESKETT et al., 1994; HOFFMAN, BATESON, 1997; LOVELOCK, 1996).

Para Murdick et al. (1990), a demanda por serviços geralmente é mais difícil de

ser prevista que a demanda por produtos, e as suas variações são tipicamente

mais severas e freqüentes, ou seja, ocorrem em períodos curtos de tempo.

Gianesi e Corrêa (1994) afirmam que a capacidade é medida em termos de

volumes de saídas por unidade de tempo. Entretanto, em serviços, a

capacidade nem sempre pode ser medida através de unidades de medidas

físicas. Embora seja possível medir com alguma acurácia o número de clientes,

o mix e a natureza dos serviços podem variar muito. Em serviços, podem se

utilizar as seguintes unidades de medida de capacidade: número de clientes,

tempo de prestação de serviço, variedade de serviços prestados e o número de

cada, e número de produtos fornecidos (MURDICK et al., 1990). Algumas

empresas de serviço e suas medidas mais usuais de capacidade estão listadas

no Quadro 5.

Quadro 5: Medidas usuais de capacidade

Empresa de Serviço Medida de capacidade usualCompanhia aérea Número de lugaresHospital Número de leitosCinema Número de lugaresRestaurante Número de cadeiras ou mesasEmpresa de consultoria Número de homens-horaUniversidade Número professores ou alunosArmazém Número de metros quadrados ou cúbicosOficina mecânica Número de mecânicos

Fonte: Gianesi e Corrêa (1994), p. 157

Em qualquer sistema de serviço, as filas ocorrem sempre que a demanda

excede a capacidade existente. Isso ocorre quando os servidores estão

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ocupados e não podem atender de imediato os clientes ou pedidos de serviço

que chegam. A formação de filas pode acontecer em qualquer sistema em que

as chegadas e o serviço variam de acordo com o tempo (FITZSIMMONS,

FITZSIMMONS, 1995). Entretanto, mesmo que haja capacidade suficiente no

sistema, a flutuação de tempos de chegada e tamanhos da demanda também

podem acarretar a espera do cliente (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Segundo Gianesi e Corrêa (1994), quanto maior a variabilidade dos tempos de

chegada dos clientes, maior será a fila média (ou o tempo médio em fila) e / ou

menor a utilização média da capacidade. De forma similar, se o atendimento

apresentar variabilidade, levando mais tempo que o esperado e / ou menos

tempo que o esperado, isto também afetará as taxas de utilização e as filas

médias no sistema.

Dessa forma, a única forma de se reduzir as filas em um sistema em que existe

variabilidade no processo de clientes e no processo de atendimentos é manter

uma taxa média de atendimento maior que a taxa média de chegada de

clientes. Quanto maior a variabilidade das taxas envolvidas, maior deverá ser a

diferença entre taxas médias de chegada e atendimento para que se mantenha

determinado tamanho de fila (GIANESI, CORRÊA, 1994).

2.3 Estratégias de Capacidade em Serviços

A capacidade de uma empresa de serviços está diretamente relacionada com a

sua habilidade em prestar os serviços que oferece (HAKSEVER et al., 2000).

A importância de se medir e gerenciar a capacidade de sistemas de serviço

deve-se a diversas razões. Primeiro, porque é necessário ter capacidade

suficiente para atender os clientes. Segundo, porque questões de capacidade

afetam: o desempenho dos custos dos sistemas de operações; a maior ou

menor facilidade de programar a produção de serviços; e o desempenho em

termos de tempos (velocidade da prestação do serviço e capacidade de

cumprir prazos) que o sistema apresenta (GIANESI, CORRÊA, 1994).

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De acordo com Hill (1991), nos níveis mais altos da organização, as questões

sobre capacidade referem-se principalmente a alocação da capacidade e

expertise, assim como todas as áreas, desde o recrutamento até a direção

estratégica do negócio. No nível operacional, elas se referem a todos os

detalhes das especificações de serviço, incluindo normas de procedimentos e

processos de resposta subseqüentes. Esses detalhes afetam aspectos de

necessidade de capacidade a curto prazo, performance e serviço ao

consumidor.

Para Gianesi e Corrêa (1994, p.156), “as decisões sobre capacidade envolvem

as seguintes atividades:

a. avaliação da capacidade existente;

b. previsões de necessidades futuras de capacidade;

c. identificação de diferentes formas de alterar a capacidade no curto,

médio e longo prazo;

d. identificação de diferentes formas de alterar a demanda;

e. avaliação do impacto da decisão a respeito de capacidade sobre a

qualidade do serviço prestado;

f. avaliação econômica, operacional e tecnológica de alternativas de

incrementar capacidade;

g. seleção de alternativas para obtenção de capacidade adicional.”

Murdick et al. (1990) introduzem a noção de planejamento agregado, também

conhecido como planejamento de capacidade. Planejamento agregado

constitui-se na determinação da capacidade de recursos necessária para que a

empresa seja capaz de atender a demanda durante um período de um a três

anos. Através do planejamento agregado é possível transformar planos

estratégicos de marketing ou de previsão de demanda, associados com

planejamento a longo prazo, em necessidades de capacidade total.

Essas necessidades de capacidade agregada servem como uma estrutura para

a alocação a curto prazo da capacidade total em produtos individuais e

serviços. No Quadro 6 são apresentadas as características gerais do

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planejamento agregado, planejamento desagregado em recursos e outputs, e

planejamento a curto prazo de recursos. Os autores diferenciam as empresas

de serviço conforme o grau de tangibilidade dos serviços que prestam.

Chamam de empresas tipo manufatureiras aquelas que apresentam outputs

tangíveis ou que têm operações distintas de linha de frente e retaguarda.

Quadro 6: Níveis de desagregação de planejamento

Fonte: Murdick et al. (1990), p.207.

Quando a demanda por um serviço é relativamente estável, torna-se simples o

processo de planejamento agregado. Entretanto, em muitos serviços a

demanda sofre grandes flutuações, que podem ocorrer até em períodos curtos

de tempo, como em horas do dia ou dias da semana. Nesses casos é mais

Níveis de desagregação de planejamento

Níveis de planejamento Empresas tipo manufatureiras Empresas tipo de serviço

Nível 1

Planejamento agregado

Transformação de decisõesestratégicas em capacidadeprodutiva por um a três anos

Transformação de decisõesestratégicas em planejamentode tecnologia e de recursospor um a três anos

Nível 2

Planejamento desagregado

Decisões sobre linhas de produtosindividuais em relação à capacidadee ao tempo

Decisões sobre capacidadedesagregada em relação àsinstalações, equipamentos, erecursos humanos para o anoseguinte

Decisões sobre formatosbásicos dos serviços e nosmercados a serem alcançados

Decisões com previsão de umano de como a capacidadeserá expandida ou limitada ecomo a demanda serágerenciada

Nível 3

Planejamento de recursos

Planos semanais, mensais, etrimestrais de produção para ajustara capacidade conforme asflutuações a curto prazo dademanda

Decisões de estoques de matéria-prima e produto acabado

Decisões de prioridades paraprodutos, pedidos, e distribuição detarefas de operações individuais

Planos semanais, mensais etrimestrais de produção paraajustar a capacidade com ademanda gerenciada

Decisões de estoques dematéria-prima

Decisões de distribuição detarefas dos empregados

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complicado aplicar o planejamento agregado, pois este não envolve decisões a

curto prazo, e sim o estabelecimento de mecanismos para ajustar essas

variações na demanda. As principais decisões do planejamento agregado

referem-se principalmente a recursos humanos e capacidade necessária

(MURDICK et al., 1990).

A longo prazo, as empresas de serviço estão preocupadas com decisões de

capacidade que envolvem mão-de-obra, processos e instalações. A curto

prazo, entretanto, mão-de-obra é uma dimensão de capacidade variável, que

pode ser alterada com a contratação de mão-de-obra temporária quando

necessário, ou por políticas de longo prazo de aumento da capacitação dos

funcionários por meio de treinamentos (HILL, 1991).

É essencial que todos os fatores sejam considerados antes de se tomar

decisões de capacidade. Aumento de capacidade requer tempo para planejar,

adquirir e instalar. Conseqüentemente, a decisão deve ser tomada antes que o

aumento seja realmente necessário. Capacidade disponível é tão importante

quanto um preço competitivo para se conseguir mudanças na participação de

mercado. Ainda, como a participação de mercado é dividida por todos os

competidores no mercado, decisões de capacidade e o tempo certo dessas

decisões ajudam à empresa mostrar sua maior capacitação frente a seus

concorrentes. Assim sendo, uma iniciativa da empresa em adicionar

capacidade antes que essa seja necessária é crítico em si e também como um

potencial inibidor para o investimento competitivo (HILL, 1991).

Murdick et al. (1990) sugerem que uma das formas de se projetar uma

instalação de serviços é levar em consideração os custos totais, ou seja,

fazendo-se um trade-off entre os custos de capacidade e os custos de espera

do cliente, sendo que estes podem ser decorrentes da perda de produtividade

dos empregados devido a falhas no sistema, ou podem simplesmente ser uma

estimativa do custo de perda de clientes devido à má prestação de serviço ou

às longas filas.

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Klassen e Rohleder (2000) lembram que as operações de serviço não podem

ser dimensionadas para atender a demanda média esperada. Quando se tem

capacidade fixa, é quase impossível aumentar a capacidade temporariamente

para acompanhar variações imprevistas de demanda. Logo, as empresas de

serviços precisam trabalhar com capacidade suficiente para absorver picos de

demanda inesperados, a fim de manter o nível de serviço satisfatório.

Normalmente, a forma de expansão da capacidade depende do tipo de sistema

de serviço. Os sistemas de serviço que são mais intensivos em mão-de-obra

podem agregar capacidade gradualmente, à medida que contratem mais

pessoas (GIANESI, CORRÊA, 1994). Os autores dão como exemplo uma

empresa de auditoria contábil. A capacidade da empresa é basicamente

limitada pelo número de auditores contratados. Um aumento gradual no volume

de negócios pode ser acompanhado também, de forma gradual, por um

aumento no quadro de funcionários, na medida do necessário. Já um cinema,

para ter sua capacidade de servir espectadores ampliada substancialmente

deverá, em geral, construir uma nova sala, com equipamento completo

adicional. A adição de capacidade se dá aos saltos, pois a tecnologia limita a

escala dos incrementos.

Outro aspecto de importante consideração é o instante em que se dá o

incremento de capacidade. O incremento pode antecipar-se ou seguir ao

aumento da demanda. Alguns fatores influenciam a decisão sobre o momento

quando deve dar-se o incremento de capacidade. Um deles é a conveniência

econômica de se postergarem os investimentos. Isto faria com que a estratégia

de seguimento da demanda, ou Chase Demand, fosse a mais desejável. Além

disso, essa estratégia também garante que a ocupação da capacidade seja

praticamente de 100%. A decisão de incrementar a capacidade se dá só

quando há garantia de que a nova quantidade de capacidade adquirida seja

utilizada totalmente. Isso faz com que se trabalhe com custos baixos. Estes

dois motivos de ordem econômica parecem indicar que a estratégia de Chase

Demand seja a mais desejável, entretanto, “não se deve esquecer que as

análises em gestão de operações nunca devem obedecer a critérios

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exclusivamente econômicos. Devem obedecer também a critérios estratégicos,

que refletem a forma que a empresa compete no mercado” (GIANESI,

CORRÊA, 1994, p.162).

Se, por um lado, a estratégia de Chase Demand favorece os custos baixos, por

outro penaliza o nível de serviço oferecido ao cliente. Trabalhar muito próximo

do limite de capacidade máxima pode significar um mau serviço prestado a

todos os clientes, além de significar também que uma parcela substancial de

clientes simplesmente não é atendida nos momentos em que a demanda

excede a capacidade. Isso traz o risco de que os clientes passem a não incluir

a empresa em suas próximas decisões de escolha de prestador de serviço

(GIANESI, CORRÊA, 1994).

Para Hoffman e Bateson (2001), o gerenciamento da oferta não deve apenas

levar em consideração os aspectos operacionais da empresa, mas também

deve se preocupar com as conseqüências que qualquer alteração possa ter na

percepção do cliente em relação ao serviço. Os autores sugerem que, antes de

ser tomada qualquer decisão em relação à capacidade, a empresa de serviços

faça uma análise do problema com uma visão de marketing.

De acordo com Gianesi e Corrêa (1994), quando se opta por incrementar a

capacidade, antecipando-se à demanda, o investimento em capital é

antecipado, o sistema costuma trabalhar com um certo nível de ociosidade,

acarretando custos unitários mais altos, mas, em compensação, o nível de

serviços poderá ser melhor e, principalmente nos aspectos relacionados aos

tempos de atendimento, o desempenho competitivo deverá melhorar.

Segundo Sasser (1976), a capacidade pode ser fixada em um nível capaz de

atender a um determinado percentual da demanda máxima esperada, ou seja,

um nível de capacidade entre a ótima e a máxima do serviço. Nessa estratégia,

chamada de Level Capacity, porém, além de existir a possibilidade de se

trabalhar com o sistema ocioso, há também menos flexibilidade para absorver

picos de demanda que podem vir a superar o nível de capacidade fixado,

resultando no não atendimento de alguns clientes. Segundo Rhyne (1998),

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esse tipo de estratégia é exclusiva das empresas de serviços. As indústrias

geralmente acompanham a demanda.

Gianesi e Corrêa (1994) afirmam que a decisão sobre o momento em que se

dá o incremento de capacidade em relação ao aumento da demanda deve,

portanto, considerar o balanço dos desempenhos competitivos esperados que

advirão da adoção das diferentes estratégias. O Quadro 7 ilustra esse ponto.

Quadro 7: Influência das estratégias quanto ao instante de incrementar

capacidade nos critérios competitivos

Estratégias

Critério

Capacidadeantecipa-se à

demandaPolítica Mista

Capacidadesegue a

demanda

Utilização de recursos baixa média alta

Instante do desembolso antecipado médio postergado

Risco ao desempenho em velocidade baixo moderado alto

Risco ao nível de serviços baixo moderado alto

Flexibilidade de volumes alta média baixa

Custo unitário decorrente de utilizaçãoda capacidade

alto médio baixo

Fonte: Adaptado de Gianesi e Corrêa (1994), p. 163

Entretanto, em ambas as estratégias as empresas de serviços se deparam com

problemas associados à cada uma das decisões: o aumento ou a diminuição

da capacidade por curtos períodos, ou ter capacidade ociosa ou insuficiente

para atender a demanda.

No tópico seguinte são apresentados os mecanismos encontrados na literatura

para reduzir o gap entre a oferta e a demanda devido a flutuações na

demanda.

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2.4 Mecanismos de Ajuste entre Capacidade e Demanda em Serviços

Políticas de alteração de capacidade necessitam, antes de tudo, que se

identifiquem aqueles setores cuja alteração de capacidade vai proporcionar o

maior benefício em termos do aumento da capacidade do sistema como um

todo: os gargalos do processo (GIANESI, CORRÊA, 1994).

Ainda, segundo os autores, quando há a identificação e a possibilidade de

aumento de capacidade de um gargalo em um sistema de múltiplos estágios,

pode haver uma migração do gargalo de uma etapa a outra do processo. Essa

mudança de etapa do gargalo pode ocorrer durante o dia, variando dentro das

faixas horárias, exigindo que a demanda seja estudada e prevista para cada

etapa do processo de fornecimento do serviço.

Segundo Bitran e Mondschein (1997), o nível da demanda indica as decisões

básicas sobre o nível de capacidade que deve ser introduzido em um sistema

de prestação de serviço. O padrão da demanda muitas vezes influencia o tipo

de capacidade desenvolvida para o fornecimento do serviço. O relacionamento

entre as demandas de diversas fases de um serviço de múltiplas etapas sugere

o nível de capacidade a ser proporcionado para cada uma das etapas.

Lovelock (1996) propõe duas políticas que podem ser adotadas para resolver o

problema da flutuação da demanda. A primeira é ajustar por meio de

mecanismos a capacidade para atender as variações de demanda. Neste caso,

que recai na área de gerenciamento de operações e de recursos humanos, é

necessário um entendimento sobre o que constitui a capacidade produtiva e

como esta sofre com as variações de demanda. A segunda é gerenciar o nível

de demanda, utilizando ferramentas de marketing para deslocar a demanda

dos períodos de pico para os períodos de menor demanda, a fim de se obter

um fluxo mais homogêneo de pedidos de serviços.

Gianesi e Corrêa (1994) acrescentam a essas duas políticas mais uma

possibilidade de se resolver a questão. Além de se controlar os níveis de

capacidade e demanda através de ajustes, é possível também, em alguns

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casos, absorver as variações da demanda usando estoques. A escolha da

política de ajuste depende fortemente do comportamento da demanda em

períodos futuros.

Klassen e Rohleder (2000) lembram que é bem mais fácil para o prestador de

serviço ter controle dos seus recursos físicos e humanos do que prever a

demanda. Logo, na busca do ajuste entre a oferta e a demanda, as empresas

têm muito mais poder para influenciar a oferta.

2.4.1 Gerenciamento da Capacidade

Diversos mecanismos podem ser utilizados para ajustar a capacidade do

sistema. Esses mecanismos podem se traduzir em medidas de médio e longo

prazo, que podem ser realizadas para introduzir flexibilidade no serviço e

aumentar a eficiência das instalações, quanto em decisões operacionais, que

geralmente são tomadas para a obtenção de respostas rápidas aos aumentos

de demanda.

Gianesi e Corrêa (1994) explicam que, no médio e longo prazo, as empresas

têm normalmente maior liberdade e uma gama maior de alternativas a

escolher, assim como podem também alterar mais substancialmente seus

níveis de capacidade. Não se pode esquecer, entretanto, o que diz o princípio

geral das previsões: "quanto mais distante no futuro está o período previsto,

maiores as incertezas da previsão". E mais, há um agravante: as decisões

tomadas com base em previsões de longo prazo são, em geral, as mais

estratégicas e as mais difíceis de reverter (justamente por isso demandam

antecedência), além de serem as que, em geral, envolvem os maiores volumes

de capital.

Normalmente no curto prazo, as opções para se alterar a capacidade estão

restritas a variações moderadas devido a certas modificações estruturais

(principalmente em processos intensivos em capital), necessárias a alterações

substanciais de capacidade.

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Porém, Gianesi e Corrêa (1994) observam que, o uso de mecanismos de

ajuste de capacidade deve ser pensado a partir de uma ótica estratégica e não

apenas levando em conta a alternativa mais econômica. Não se deve

esquecer, por exemplo, que não é tarefa fácil imbuir um trabalhador temporário

do mesmo espírito e da mesma cultura dos trabalhadores permanentes. Este é

um problema sentido por lojas que contratam temporariamente estudantes para

auxiliarem nos períodos de pico de vendas que antecedem o Natal. Estas

empresas geralmente encontram dificuldades em garantir que estes estudantes

ofereçam a seus clientes usuais um nível de serviço com o qual estes estão

acostumados. É evidente que atender à demanda crescente do Natal pode ser

muito importante para um grande número de lojas, mas também não se pode

esquecer que um cliente mal atendido pode significar a perda de um

substancial fluxo futuro de negócios.

A seguir são apresentados os mecanismos usualmente utilizados para ajustar a

capacidade do sistema a fim de atender efetivamente às variações da

demanda, propostos por diversos autores.

Localização: serviços móveis ou distribuídos

Não há nenhum canal de distribuição tradicional (i.e., indústria, armazém,

atacado, varejo) em sistemas de prestação de serviços. Em vez disso, ou o

consumidor se locomove até o serviço, ou o serviço vai até o consumidor. Por

esse motivo, a proximidade entre a locação das instalações de serviço e os

seus consumidores é um fator crítico para o sucesso da empresa (HILL,1991).

A demanda excedente pode ser atendida por meio de múltiplas instalações

(MURDICK et al., 1990). A flexibilidade de localização pode aumentar a

utilização das instalações, alocando de uma forma dinâmica o fornecimento

dos serviços mais perto da demanda potencial. De acordo com Bitran e

Mondschein (1997), este mecanismo é útil, principalmente, quando a demanda

varia geograficamente por um certo período de tempo. Como exemplos, os

autores citam os trailers de alimentação e as livrarias móveis. Kotler (1999)

menciona as ambulâncias da empresa brasileira Amil, que estão presentes em

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todos os grandes eventos esportivos e fornece serviços emergenciais para

qualquer pessoa que passe mal, seja ou não associada, o que, segundo o

autor, faz com que muitas dessas pessoas mudem seus planos de saúde para

a Amil.

Instalações modulares

Bitran e Mondschein (1997) sugerem que as instalações sejam modulares, i.e.,

que seja possível desativar parte das instalações ou equipamentos durante os

horários de pouca demanda, reduzindo, dessa forma, os custos operacionais.

Entretanto, os autores lembram que o layout das instalações de serviço deva

ser projetado de tal maneira que não fique perceptível para os consumidores a

parte da capacidade inutilizada, pois poderia dar a impressão de má qualidade

de prestação serviço. A modulação é efetiva em supermercados, postos de

correio, e lojas de varejo, onde somente uma parcela de funcionários, ou de

caixas, é necessário nos períodos de baixa demanda.

Serviços baseados no uso do telefone, onde um número variável de atendentes

pode ser programado de acordo com os padrões diários de demanda, também

podem ter suas instalações moduladas (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Compartilhamento de capacidade

A prestação de serviço em geral requer que a empresa de serviços invista em

equipamentos caros e em habilidades de mão-de-obra, necessários para

executar o serviço, mas que não são utilizados em plena capacidade. Em tais

casos, a empresa poderia considerar o compartilhamento da capacidade com

outra atividade, para utilizar conjuntamente, os recursos necessários

dispendiosos, mas não totalmente aplicados (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997;

FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995; HOFFMAN, BATESON, 1997;

LOVELOCK, 1996; SASSER, 1976).

Como exemplo de divisão de capacidade, Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995) e

Sasser (1976) citam a forma de atuação das companhias aéreas. Em

aeroportos pequenos, as empresas de aviação dividem os mesmos portões de

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acesso, rampas, equipamentos de transporte de bagagens, e pessoal da pista

de pouso. Também é comum para algumas companhias alugar suas aeronaves

para outras durante os períodos de baixa estação; o acordo de aluguel inclui a

pintura da aeronave com a insígnia apropriada e a redecoração do seu interior.

Outro exemplo é dado por Bitran e Mondschein (1997). No Chile, os Bancos

criaram uma rede de caixas eletrônicos, o Redbank, que podem ser instaladas

em qualquer agência bancária e utilizadas por clientes de Bancos

concorrentes. O Banco proprietário do caixa eletrônico recebe uma tarifa

proporcional ao número de transações realizadas pelos clientes de seus

competidores.

Investimentos antecipados em expansão de capacidade

A previsão antecipada de expansão de capacidade pode reduzir muito os

custos necessários para atender a um aumento de demanda. Alguns recursos

podem ser previstos e preparados para futuras expansões, como por exemplo,

uma área para ampliação das instalações ou mesmo projetos de instalações

prediais que serão necessários.

Esse mecanismo é uma forma de responder rapidamente a um incremento de

demanda (HESKETT et al., 1994; HOFFMAN, BATESON, 1997; SASSER,

1976).

Tecnologia e automação: economia de tempo

Algumas vezes substituições de equipamentos simples e baratos ou

modificações podem gerar um aumento de produtividade e, portanto, expandir

a capacidade (MURDICK et al., 1990). A utilização da tecnologia pode

aumentar de forma significativa a eficiência das instalações e aumentar a

capacidade atual do sistema. Por exemplo, os Bancos estão usando a

tecnologia para melhorar a eficiência dos funcionários da linha de frente. A

Federal Express é um exemplo de uma empresa que tem incorporado

automação em muitas etapas de seu processo de serviço de entregas

(BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

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Sistemas de informação: adicionar valor e aumentar a eficiência

Segundo Murdick et al. (1990), as operações de serviço são notoriamente

ineficientes. Os sistemas de informação podem melhorar a produtividade e

ainda reduzir o número de funcionários necessário para a execução do serviço.

Bitran e Mondschein (1997) citam a Federal Express como uma empresa que

tem utilizado a tecnologia de informação como uma importante vantagem

competitiva. A empresa consegue agregar valor aos seus serviços e aumentar

a sua eficiência utilizando ferramentas como: (a) pré-processamento dos dados

do cliente, que melhora a eficiência dos serviços acelerando o acesso a toda

informação necessária para a entrega do serviço e, (b) análise no local do

serviço, que aumenta as receitas de vendas por permitir uma rápida análise de,

por exemplo, o histórico do cliente.

Padronização dos serviços

As empresas que vendem poucos produtos, altamente padronizados, têm

vantagem sobre as outras porque isso aumenta a eficiência de suas

instalações de serviço. Há duas razões principais para tal. A primeira é que os

empregados são, em geral, mais produtivos quando têm que executar um

número reduzido de tarefas diferentes. A outra razão é que a padronização

permite uma previsão de demanda mais acurada, o que é particularmente

importante em indústrias de serviço, já que nem sempre é possível manter

estoques.

A rede de lanchonetes do McDonald's é um bom exemplo de utilização da

padronização. Todo o sistema de preparação dos alimentos e de entrega é

baseado nas técnicas de linha de produção. Além disso, caso o consumidor

queira algo diferente do cardápio oferecido pela lanchonete, este terá que

esperar mais tempo que o normal, pois a prioridade de serviço é dada àqueles

que solicitam o produto padrão. (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997; HOFFMAN,

BATESON, 1997).

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Mão-de-obra temporária e de tempo parcial: mais pessoas

Ajustar o quadro de funcionários para acomodar o pico de demanda é uma

alternativa útil em alguns tipos de serviços. O ciclo do pico de demanda varia

de acordo com a atividade, e pode ocorrer em certas horas do dia (companhias

telefônicas, energia elétrica), em certos dias da semana (restaurantes,

cinemas), em certas semanas do mês (Bancos, supermercados), ou em certos

meses do ano (hotéis, vendas de Natal, clubes). Estas atividades normalmente

mantêm um quadro de empregados, em tempo integral, que operam a

instalação nos períodos de movimento regular, mas que precisam de auxílio

nos períodos de maior demanda. Um dos recursos mais conhecidos é contratar

mão-de-obra para trabalhar em tempo parcial ou como funcionário temporário,

especialmente estudantes de nível secundário e superior, assim como outras

pessoas que estejam interessadas em suplementar a renda (BITRAN,

MONDSCHEIN, 1997; FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995; HAKSEVER et

al., 2000; LOVELOCK, 1996; SASSER, 1976; SHEMWELL, CRONIN Jr., 1994).

Cross-training: pessoas mais capacitadas

O cross-training, ou treinamento multifuncional é uma forma de se atacar a

restrição de capacidade no período de máxima demanda. Mesmo quando a

prestação do serviço parece estar sendo operada com capacidade total, certos

elementos físicos e seus operadores podem estar sendo subtilizados. Se os

empregados forem treinados para realizar uma variedade de tarefas, eles

poderão ser deslocados para os pontos de gargalos, aumentando, dessa

forma, a capacidade total do sistema. Em supermercados, por exemplo, o

gerente pode solicitar que estoquistas operem as caixas registradoras quando

as filas começarem a ficar muito grande. Da mesma forma, durante períodos

de baixa demanda, os operadores de caixa podem ser solicitados para ajudar a

colocar os produtos nas prateleiras (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997;

FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995; HAKSEVER et al., 2000; HESKETT et

al., 1994; LOVELOCK, 1996; SASSER et al., 1979).

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Extensão ou redistribuição das horas de funcionamento: mais tempo

Para atender ao crescimento da demanda sem expandir a capacidade física,

pode-se ajustar o horário de funcionamento da instalação de serviço. A

redistribuição do horário é uma alternativa atraente quando esse aumento é

temporário (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997; HAKSEVER et al., 2000;

SHEMWELL, CRONIN Jr., 1994).

Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995) lembram que o planejamento de turnos de

trabalho é uma medida importante para muitas organizações de serviço que

enfrentam uma demanda cíclica, como companhias telefônicas, hospitais,

Bancos e departamentos de polícia.

Estender o horário de funcionamento é também uma alternativa para atrair

consumidores que não podem acessar o serviço durante o horário comercial

normal. Apesar disso, as empresas geralmente ajustam seus horários em

função de sua própria conveniência, e não a dos consumidores. Porém, alguns

fatores básicos estão contribuindo para que as empresas adotem essa prática:

(a) a pressão econômica dos consumidores, (b) mudanças na legislação, (c)

incentivos econômicos para uma melhor utilização dos ativos, (d)

disponibilidade de empregados para trabalhar nos novos horários, e (e)

crescimento das instalações de auto-atendimento. Um grande número de

atividades já está usando esse mecanismo, como por exemplo,

supermercados, Bancos por meio de caixas eletrônicos, lojas de varejo, e

serviços de suporte ao consumidor (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Pré-processamento dos pedidos

A natureza de alguns serviços permite a realização de certas tarefas antes que

o serviço seja realmente executado. Essas etapas pré-processadas ficam

armazenadas para enfrentar as horas de pico. A possibilidade do pré-

processamento está altamente correlacionada com o grau de padronização dos

produtos e processos. Muitas empresas de serviço utilizam o pré-

processamento da informação para reduzir o tempo de serviço. (BITRAN,

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MONDSCHEIN, 1997; FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995; HAKSEVER et

al., 2000; HESKETT et al., 1994; SASSER et al., 1978; SHEMWELL, CRONIN

Jr., 1994).

Bitran e Mondschein (1997) fazem menção a um sistema de informação

implantado por uma pizzaria, que ao receber pedidos por telefone, solicita

somente o número do telefone do cliente para identificá-lo. Exemplos como

este também podem ser encontrados em hospitais, serviços de entrega, e

empresas de manutenção.

Manutenção preventiva dos equipamentos nas instalações do prestadorde serviço

A manutenção preventiva durante os períodos de baixa demanda é uma

maneira indireta de aumentar a capacidade do sistema durante os períodos de

pico de demanda, simplesmente por reduzir a taxa de pane nos equipamentos

(BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Cooperação com outros concorrentes: divisão dos custos

É comum encontrar situações na indústria de serviços onde concorrentes

fazem acordos entre si para satisfazer o excesso de demanda em uma das

empresas. Nesse processo, ambas as partes ganham: uma aumenta os lucros

e a outra diminui os custos, tanto tangíveis quanto intangíveis, de recusar

consumidores. Por exemplo, gerentes de hotéis com lotação esgotada

geralmente recomendam aos clientes, cujos pedidos não podem ser atendidos,

outros hotéis da cidade (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Serviços complementares

Esse mecanismo, especialmente compatível com serviços altamente sazonais,

permite que dois ou mais produtos sejam oferecidos em diferentes épocas do

ano, a fim de se estabelecer uma demanda mais homogênea (BITRAN,

MONDSCHEIN, 1997).

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Lovelock (1996) acrescenta que, algumas vezes, oferecer serviços variados

torna-se quase que necessário, já que descontos de preço não justificam o uso

do serviço fora de determinadas épocas. Ele justifica a afirmação com um

exemplo em que compara a situação de um fabricante de esqui e de um

operador de uma rampa de esqui durante o verão. O primeiro pode ou produzir

para estocar ou tentar vender seu produto com desconto no verão. Porém,

como não é possível esquiar nesta época do ano, nenhum praticante irá

comprar bilhetes para subir de teleférico em pleno verão, por preço algum.

Então, para estimular o uso do teleférico no verão, o operador tem que alterar

seu produto instalando uma rampa de esqui que não necessite de neve, ou

uma rampa de tobogã, ou mantendo trilhas para caminhadas e promovendo

visitas no verão.

Segundo o autor, muitos serviços não se modificam ao longo do ano, mas

outros passam por modificações significativas dependendo da época.

Hospitais, por exemplo, geralmente oferecem a mesma gama de serviços

durante o ano. Em contraste, hotéis em regiões turísticas estão sempre

alterando o mix e o foco de serviços oferecidos, como jantar, entretenimento, e

esportes, para ir ao encontro das preferências dos clientes em diferentes

estações.

Entretanto, Murdick et al. (1990) lembram que, embora a utilização da

capacidade ociosa seja a maior razão para a criação de novos serviços, muitas

empresas que seguem essa estratégia correm o risco de se envolver com

serviços que estão além da sua área de atuação ou mesmo do seu mercado-

alvo.

Downgrading de produtos ou upgrading de consumidores

Este é o caso quando há pedidos de todos os produtos e/ou serviços, de forma

que todo serviço é um substituto aceitável para aqueles que são “piores” que

ele. Isso proporciona uma maior flexibilidade de capacidade, já que a

disponibilidade de um produto individual pode ser vista como a capacidade

agregada de todos os produtos que têm a mesma, ou melhor qualidade que

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ele. Em hotéis, as suítes podem ser substituídas por quartos de padrão

standard ou deluxe, enquanto quartos deluxe são substitutos para o padrão

standards. Em companhias aéreas, muitas pessoas aceitam viajar tanto em

classes turísticas como em classes econômicas (BITRAN, MONDSCHEIN,

1997).

Overbooking

Quando são possíveis reservas e a taxa de comparecimento dos clientes é

inferior a 100%, o overbooking é um mecanismo viável para aumentar a

utilização da capacidade. Normalmente, essa estratégia pode ser usada em

conjunto com outros mecanismos, como a compensação do cliente ou o

downgrading de produtos, a fim de se diminuir os custos associados. Sua

utilização é comum em empresas de transportes e hotéis, já que seus produtos

(assentos e quartos) são altamente perecíveis (BITRAN, MONDSCHEIN,

1997).

Uma estratégia de overbooking eficiente deve minimizar o custo de

oportunidade esperado de capacidade ociosa, assim como o custo esperado

de dispensa de reservas. Logo, a adoção de uma estratégia de overbooking

exige treinamento do pessoal da linha de frente (p.ex., os funcionários da

recepção de um hotel) para que estes lidem cordialmente com hóspedes cujas

reservas não foram honradas. No mínimo, um transporte de cortesia deve estar

disponível para levar o cliente para um hotel concorrente, depois de já ter sido

arranjado um quarto equivalente (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995).

Controle do tempo de duração do serviço

Em muitas atividades, os prestadores de serviço podem controlar, até certo

ponto, a duração da execução do serviço. Os tempos de prestação dos

serviços podem ser encurtados quando há muitos clientes aguardando, ou

estendido para manter alta a utilização da capacidade das instalações. Em um

restaurante inovador, o Benihana de Tóquio, os alimentos são preparados, de

uma maneira teatral, por cozinheiros especializados na presença dos clientes.

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O tempo de duração de cada show depende do número de pessoas que estão

esperando um lugar no bar do restaurante. Cabeleireiros, restaurantes, e

visitas turísticas são outros exemplos de empresas que podem ajustar a

duração do serviço de acordo com a carga de trabalho (BITRAN,

MONDSCHEIN, 1997).

Planejamento dinâmico

Uma flexibilidade da programação fornece uma importante ferramenta para o

gerenciamento da capacidade do sistema. Por exemplo, é crucial para uma

empresa de serviços de entrega que exista um sistema de planejamento

dinâmico que programe eficientemente os horários e rotas de coleta e entrega

de encomendas. Sistemas de atendimento de emergência também necessitam

de uma programação flexível que ajuste a capacidade fixa (ambulâncias,

caminhões) com a demanda, que é imprevisível. Existem softwares

desenvolvidos para esse propósito (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997;

HAKSEVER et al., 2000).

Bitran e Mondschein (1997) citam como um exemplo prático a Federal Express.

Os despachantes da empresa têm que planejar a rota de seus veículos de tal

maneira que estes coletem as encomendas diariamente sempre às 10:30 da

manhã.

Engajamento do cliente no serviço

Segundo Sasser (1976), quanto mais o consumidor faz, mais amenas se

tornam as exigências especiais de mão-de-obra por parte do produtor.

Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995) citam os restaurantes de fast-food, que

praticamente aboliram os funcionários que servem refeições e limpam as

mesas.

O cliente, que passa a ser um co-produtor, não somente faz o pedido

diretamente a partir de um menu limitado, como também limpa sua mesa

depois da refeição. Naturalmente, os clientes esperam um serviço mais rápido

e barato para compensar a sua ajuda; entretanto, o prestador de serviço se

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beneficia por outros motivos. Haverá menos pessoas para supervisionar e

pagar, mas o mais importante é que, tendo o cliente como um co-produtor,

haverá sempre mão-de-obra exatamente no momento em que é necessária.

Logo, a capacidade de servir não permanece tão fixa, variando mais

diretamente com a demanda (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997; FITZSIMMONS,

FITZSIMMONS, 1995; HAKSEVER et al., 2000; HESKETT et al., 1994;

HOFFMAN, BATESON, 1997; RHYNE, 1988; SASSER, 1976).

Mas, Sasser (1976) aponta alguns riscos em aumentar a participação do

consumidor no processo: os consumidores poderiam rejeitar a idéia de fazer o

trabalho e também pagar por ele; o controle do gerente sobre o fornecimento

do serviço é reduzido; e tal mudança pode gerar competição para o próprio

serviço. Segundo o autor, o cliente de um restaurante onde ele mesmo prepara

sua refeição poderia perfeitamente estar em casa.

Serviços feitos para grupos de clientes

Uma maneira excelente de se aumentar a eficiência e a flexibilidade do serviço

é executá-lo, quando possível, simultaneamente para um grupo de clientes.

Algumas atividades de serviço mais flexíveis possibilitam também que se altere

o tamanho do grupo, incluindo um número maior de clientes, para responder a

aumentos na demanda. Exemplos de serviços que podem tirar vantagem da

economia de escala são os passeios turísticos em museus ou lugares

históricos, que não se iniciam até que um grupo suficientemente grande se

forme (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997). Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995) dão

como exemplo de serviço feito para grupos de clientes o restaurante Benihana

de Tóquio, onde cada mesa comporta oito lugares. Os shows, dados pelos

cozinheiros especializados que preparam as refeições na presença dos

clientes, só se iniciam quando todos os lugares estiverem completos.

2.4.2 Gerenciamento da Demanda

O gerenciamento da demanda envolve questões como satisfação do

consumidor, produtividade da empresa, utilização da capacidade disponível,

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qualidade do serviço prestado e lucratividade da empresa. Para que se possa

planejar estratégias de gerenciamento de demanda, é necessário, antes de

tudo, conhecer os padrões das curvas de demanda, assim como sua

intensidade (KLASSEN, ROHLEDER, 2000).

Além disso, é preciso, também, compreender os fatores que regem as

variações da demanda ao longo do tempo de um tipo específico de serviço.

Lovelock (1996) sugere algumas questões que ajudam a entender o

comportamento da demanda:

1) O nível de demanda do serviço segue um ciclo previsível? Se a resposta é

positiva, então o ciclo de duração pode ser:

a. um dia (varia de acordo com a hora);

b. uma semana (varia de acordo com o dia);

c. um mês (varia de acordo com o dia ou a semana);

d. um ano (varia de acordo com o mês ou com a estação);

e. algum outro período.

2) Quais são as causas subjacentes dessas variações cíclicas?

a. grade de horário dos empregados;

b. ciclos de pagamento de contas e impostos;

c. datas de pagamento de salários;

d. calendário escolar e férias;

e. mudanças climáticas;

f. ocorrência de feriados públicos e religiosos;

g. ciclos da natureza.

3) Os níveis de demanda parecem mudar aleatoriamente? Em caso de

resposta positiva, então as causas subjetivas podem ser:

a. mudanças climáticas do dia a dia;

b. fatos que não podem ser previstos antecipadamente;

c. acidentes, desastres naturais e atividades criminais.

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4) A demanda por um determinado serviço pode ser desagregada por

segmentação de mercado por refletir fatores como:

a. padrões de uso por um tipo particular de consumidor ou por um motivo

especial?

b. variações na lucratividade líquida de cada transação completada?

Para Bitran e Mondschein (1997), as flutuações de demanda são causadas por

três motivos: os hábitos dos consumidores, influências de terceiros e situações

imprevisíveis. No caso da variação da demanda ter sido causada pela primeira

razão, há como os gerentes de serviços influenciarem a demanda. Porém,

quando a causa reside na influência de terceiros, os mecanismos de

gerenciamento de demanda não são muito eficazes, sendo mais indicado,

nesse caso, gerenciar a capacidade. E, se a razão da variação for por causa de

situações não previsíveis, o serviço precisa ser dimensionado de tal forma que

seja possível atender a picos de demanda temporários com alta probabilidade

de ocorrência.

Lovelock (1996) propõe três estratégias para se gerenciar a demanda. A

primeira sugere não tomar nenhuma atitude e deixar que a demanda encontre

seu próprio nível. Os consumidores geralmente sabem pela própria experiência

ou por informação boca-a-boca quando terão que esperar na fila para utilizar

um serviço ou quando o serviço estará disponível sem nenhum atraso. O

problema é que, eles também podem descobrir que o concorrente é mais

receptivo.

Outra estratégia mais intervencionista envolve influenciar o nível de demanda a

qualquer momento, tomando iniciativas para reduzir a demanda nos períodos

de pico e aumentando-a quando há capacidade excedente.

A última estratégia proposta por Lovelock (1996) envolve estocar a demanda

até que a capacidade esteja disponível. Isso pode ser obtido tanto introduzindo

um sistema de reservas que promete aos clientes o acesso à capacidade,

como criando um sistema formalizado de filas.

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O Quadro 8 relaciona as estratégias propostas com as três situações básicas

que podem ocorrer em uma operação de serviço: capacidade insuficiente em

relação a demanda, capacidade suficiente, e excesso de capacidade.

Quadro 8: Estratégias alternativas de gerenciamento de demanda para

diferentes situações de capacidade

Situação da capacidade em relação a demanda

EstratégiaCapacidade insuficiente(excesso de demanda)

Capacidade suficiente(demanda satisfatória)

Excesso de capacidade(demanda insuficiente)

Tomarnenhumaatitude

Formação de filas desorganizadas(pode irritar os clientes edesencorajar o uso futuro)

Capacidade étotalmente utilizada(mas, seria esse o mixdo negócio maislucrativo?)

Capacidade é desperdiçada(os clientes podem ficardesapontados com aexperiência no caso deserviços como teatro)

Reduzir ademanda

Um aumento de preço iráaumentar os lucros. Comunicaçãopode ser utilizada para encorajar ouso em outros períodos de tempo(Esse esforço poderia estar focadoem segmentos menoslucrativos/desejáveis?)

Tomar nenhuma atitude(mas ver quadro acima)

Tomar nenhuma atitude(mas ver quadro acima)

Aumentara demanda

Tomar nenhuma atitude, a não serque existam oportunidades deestimular (e dar maior prioridade)segmentos mais lucrativos

Tomar nenhuma atitude,a não ser que existamoportunidades deestimular (e dar maiorprioridade) segmentosmais lucrativos

Redução seletiva de preços(tentar evitar que secanibalize outros negócios;garantir que todos os custosestejam cobertos). Usarcomunicação e variação emprodutos/distribuição (mas,reconhecer custos extrascaso existam, e analisar ostrade-offs entre lucratividadee níveis de uso)

Estoque dedemandaporsistema dereservas

Considerar um sistema deprioridade para os segmentos maisdesejáveis. Fazer com que osoutros clientes mudem para (a)fora do período de pico ou (b) parapicos futuros

Tentar assegurar o mixde negócios maislucrativo

Certificar que o espaço édisponível e que nenhumareserva será necessária

Estoque dedemandapor meiode filasformalizadas

Considerar prioridade para ossegmentos mais desejáveis.Procurar manter os clientes emespera ocupados e confortáveis.Tentar prever com acurácia otempo de espera

Tentar evitar atrasosdevido a gargalos noprocesso

Não se aplica

Fonte: Lovelock (1996, pg. 212)

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Assim como Gianesi e Corrêa (1994), Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995),

Lovelock (1996) e Bitran e Mondschein (1997) também afirmam que para que

uma estratégia de gerenciamento de demanda tenha sucesso, é necessário

que a empresa tenha habilidade para segmentar o seu mercado em um grupo

homogêneo.

Através de uma análise mais aprofundada pode-se, algumas vezes, descobrir

segmentos com ciclos de demanda previsíveis inseridos na demanda total, que

aparentemente seguem um padrão aleatório. Esse fato ilustra a importância de

se particionar a demanda em segmentos (LOVELOCK, 1996). A segmentação

do mercado permite que as empresas invistam seus recursos de capacidade

limitada de forma mais efetiva.

Por outro lado, se a empresa de serviço não segmentar seu mercado, ela

precisará satisfazer as necessidades de consumidores heterogêneos com um

conjunto simples de serviço. Sob essas circunstâncias, o melhor que poderia

ser esperado seria uma performance de qualidade mediana, o que não seria

suficiente para ganhar mercado a longo prazo. A tendência que tem sido

observada é a mudança de mercados de massa para micro-mercados, e até

mesmo para “mercados unitários” (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Na partição de demanda, como Gianesi e Corrêa (1994) chamam a

segmentação de mercado, tenta-se identificar diversas fontes de demanda

(grupo de clientes) com comportamento diferenciado e, a partir daí, procura-se

programar o atendimento aos diversos grupos, de forma a maximizar a

utilização da capacidade e minimizar os tempos de espera desnecessários. A

identificação de grupos de clientes com comportamentos diferentes em relação

à demanda também pode sugerir outros procedimentos. Em alguns casos,

parte dos consumidores pode estar disposta a reservar um horário com

antecedência, enquanto outros podem necessitar serem atendidos naquele

exato momento.

Segundo o autor, a facilidade de se desagregar a demanda total depende da

natureza dos registros de clientes mantidos pela empresa. Se cada transação é

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registrada separadamente e arquivada convenientemente, torna-se

extremamente mais simples compreender o comportamento da demanda. Além

disso, a análise da demanda possibilita detectar demandas indesejáveis, que

podem ser desencorajadas a solicitar o serviço, mesmo que com isso não se

consiga eliminar as flutuações da demanda restante. Todavia, isso pode fazer

com que os picos de demanda se mantenham no nível de capacidade do

serviço. Logo, nenhuma política para amenizar a demanda tem sucesso a

menos que esteja baseada no entendimento da razão pela qual os

consumidores de um determinado segmento de mercado escolhem utilizar o

serviço.

O conhecimento do cliente é um exercício quase obrigatório para as empresas

de serviços. Saber onde o cliente está, quem ele é, o que deseja, quando e

como quer ser servido, quando irá pagar e quanto tempo está disposto a

esperar pelo serviço são as questões que devem ser respondidas pelos

prestadores de serviço. Essas respostas serão utilizadas para a escolha das

ferramentas de gerenciamento de demanda apropriadas e também auxiliarão

na identificação de segmentos de clientes (HAKSEVER et al., 2000).

Além das ações sugeridas por Lovelock (1996) no Quadro 8, na literatura é

possível encontrar diversos mecanismos que podem ser adotados para ajustar

a demanda à capacidade. Em seu artigo, Bitran e Mondschein (1997)

apresentaram uma gama de mecanismos que podem ser utilizados em

qualquer tipo de estratégia de gerenciamento de demanda. Os autores

estudaram respostas dinâmicas que as empresas de serviço podem dar, a

médio e curto prazo, para atender às mudanças no comportamento da

demanda.

Existem diversos mecanismos que tencionam alterar os padrões de demanda

modificando o comportamento do consumidor. O sucesso dessas técnicas

depende fortemente da elasticidade da demanda. A seguir, são apresentadas

as ferramentas de gerenciamento de demanda disponíveis na literatura.

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Pré-venda: sistema de reservas

Pré-venda da capacidade produtiva de uma instalação de serviço é o mesmo

que estoque de demanda por meio de sistema de reservas. O excesso de

demanda de um período pode ser alterado, deslocando-o para um outro

período. O que se faz quando sistemas de reservas são implantados é vender

capacidade futura de prestação de serviço. Tenta-se fazer o cliente programar-

se com antecedência e informar ao sistema esta sua programação e, desta

forma, evitar as variações de demanda, muitas vezes de difícil previsão. Desta

forma, reduz-se a espera em fila e garante-se ao cliente a disponibilidade do

serviço.

Sistemas de reservas são freqüentemente utilizados em empresas aéreas,

restaurantes, hotéis, locadoras de automóveis, cabeleireiros, e outras que

lidam com serviços “perecíveis”, sensíveis ao tempo.

Entretanto, podem surgir problemas quando os consumidores não aparecem

ou quando as empresas de serviço praticam o “overbooking” – ato de reservar

uma capacidade maior que a disponível. Para lidar com esses problemas

operacionais podem ser utilizadas algumas estratégias de marketing, incluindo

a exigência de pagamento antecipado de uma taxa de reserva (nem sempre

possível), o cancelamento de reservas não-pagas depois de um certo tempo, e

algum tipo de compensação às vítimas de overbooking (BITRAN,

MONDSCHEIN, 1997; FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1997; GIANESI,

CORREA, 1994; HAKSEVER et al., 2000; HOFFMAN, BATESON, 1997;

LOVELOCK, 1996; SHEMWELL, CRONIN, Jr., 1994).

Marketing direto: estendendo o ponto de venda até às residências

Utilizando o marketing direto, empresas de catálogos podem moldar a

demanda controlando o quanto e quando as malas-diretas devem ser enviadas.

O marketing direto também pode ser usado para aumentar a demanda em

períodos de baixa procura, oferecendo cupons, brindes ou descontos

promocionais. Essa aplicação transcende a indústria de vendas por catálogo e

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pode ser encontrada em uma variedade de empresas de serviço como bancos,

cadeias de fast-food e lojas varejistas (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997.).

Políticas de preço: distribuindo a demanda ao longo do tempo por meiode incentivos de preço

A política de preços destina-se a deslocar porções da demanda no tempo,

como de períodos de pico para vales de demanda. Exemplos são os preços

reduzidos das seções de cinemas no meio da semana, os preços especiais de

baixa estação em hotéis e companhias aéreas, o cardápio de preço reduzido

para horário de pouca procura em restaurantes, tarifas reduzidas para ligações

interurbanas fora de horários de pico de utilização, entre outros. Em geral, além

de transferir parte da demanda de pico para outros momentos, as tarifas

reduzidas tendem a gerar demanda antes reprimida pelo valor da tarifa. Isto

permite melhor utilização dos recursos que muitas vezes são escassos, além

de maiores lucros, desde que as tarifas cubram ao menos os custos variáveis.

Porém, para que o preço funcione como uma ferramenta de gerenciamento de

demanda efetiva, é necessário que se tenha alguma noção da forma e da

inclinação da curva de demanda do produto (i.e., como a quantidade de

demanda por serviço reage a aumentos ou reduções de preço por unidade) em

um determinado momento. É importante prestar atenção se a curva de

demanda agregada por um serviço específico sofre variações repentinas de um

período a outro. Caso haja variação, pode ser que seja necessário adotar

esquemas de preços diferenciados a fim de se utilizar toda a capacidade em

cada um dos períodos. Entretanto, podem existir curvas de demanda

específicas para diferentes segmentos em cada período de tempo, refletindo

variações entre segmentos quanto à necessidade pelo serviço ou à capacidade

de pagamento.

Logo, a política de diferenciação de preço é altamente dependente da

elasticidade de preço da demanda: quanto mais baixa a elasticidade de preço,

menor o impacto da demanda (GIANESI, CORRÊA, 1994; HAKSEVER et al.,

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2000; HOFFMAN, BATESON, 1997; LOVELOCK, 1996; SHEMWELL, CRONIN

Jr, 1994).

Comunicação: informar a carga de trabalho aos clientes

É uma forma de lembrar aos clientes dos períodos de pico e encorajá-los a

utilizar o serviço nos períodos de menor demanda. Isso pode ser feito por meio

de sinalização, propagandas, e mensagens de vendas. Mudanças de preços,

características do produto, e distribuição devem ser comunicadas claramente.

Se a empresa quiser obter uma resposta específica para variações em

elementos do seu marketing mix, é preciso manter seus consumidores

informados sobre suas opções (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997; HAKSEVER et

al., 2000; HESKETT et al., 1994; LOVELOCK, 1996; SHEMWELL, CRONIN,

Jr., 1994).

Promoções, liquidações e propaganda

São artifícios utilizados para aumentar a demanda por meio de reduções

temporárias de preços ou oferta de benefícios. A propaganda ajuda a

intensificar a demanda em períodos de baixa procura pelos serviços (BITRAN,

MONDSCHEIN, 1997; HAKSEVER et al., 2000; SHEMWELL, CRONIN, Jr.,

1994).

As lojas de varejo geralmente planejam suas grandes liquidações e promoções

no início da estação, mesmo que ainda não saibam quais os produtos que

estarão em promoção e a que preços. Utilizando experiências anteriores,

sabem que o aumento brusco da demanda é necessário para produtos que não

serão bem vendidos. Promoções e liquidações são mais necessárias para

produtos sazonais ou perecíveis, como moda high-fashion, alimentos de

estações, e passagens de avião (BITRAN, MONDSCHEIN, 1997).

Manutenção preventiva dos equipamentos dos usuários

Bitran e Mondschein (1997) sugerem que seja feita a manutenção preventiva

nos equipamentos dos usuários, pois é uma maneira de se reduzir a demanda

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nas horas de pico, já que se uma certa fração de clientes mantiver seus

equipamentos funcionando perfeitamente, então a taxa de pedidos de serviço

se reduzirá na mesma proporção. Esse mecanismo se aplica, por exemplo,

para empresas de reparo de sistema de refrigeração.

Serviços complementares

Outro mecanismo para controlar a demanda, atraindo clientes para períodos de

baixa procura, é oferecer serviços complementares. Alguns restaurantes

instalam bares para que seus clientes esperem até alguma mesa seja liberada.

Além de ser lucrativo para o restaurante, o bar ajuda a acalmar os clientes mais

ansiosos (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995).

Para os autores, o desenvolvimento de serviços complementares é uma

maneira natural de expandir o mercado, e é particularmente atrativo se as

novas demandas são contra-cíclicas e resultarem em uma demanda agregada

mais uniforme (i.e., quando a demanda pelo novo serviço é alta, a demanda

pelo serviço original é baixa).

Segmentação da demanda

A segmentação da demanda permite que os recursos da empresa sejam

investidos de forma mais eficiente. A partir da identificação de demandas com

comportamentos, características ou necessidades similares, é possível agregar

os clientes em segmentos.

Identificando-se os padrões de demanda, é possível projetar serviços que

atendam às necessidades específicas de cada segmento, assim como ajustar a

capacidade das operações de tal forma que atenda de maneira satisfatória

diferentes segmentos, otimizando os recursos da empresa.

Loss leaders: promoções diárias

Inclui todas as promoções especiais que são feitas a curto prazo para ser livrar

de produtos que são fracassos de venda ou para atrair consumidores para as

lojas. Os supermercados geralmente oferecem alguns poucos produtos a

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preços muito baixos para aumentar o fluxo de clientes nas lojas (BITRAN,

MONDSCHEIN,1997).

Yield Management

Com o objetivo de se utilizar a capacidade total do sistema com o máximo de

lucratividade, desenvolveu-se um complexo sistema chamado de yield

management (DESIRAJU, SHUGAN, 1999). Esse sistema refere-se à obtenção

da melhor rentabilidade possível, ao longo do tempo, de cada unidade de

capacidade disponível do serviço. Um dos requisitos para seu sucesso é o

pleno conhecimento do mix de consumidores do serviço para, então,

desenvolver-se estratégias que evitem a venda de unidades por preços

inferiores àqueles que os consumidores estão dispostos a pagar (LOVELOCK,

1996).

O yield management emprega técnicas como descontos para compras

antecipadas, quantidade limitada de unidades para vendas antecipadas a tais

preços, e capacidade de overbooking (DESIRAJU, SHUGAN, 1999).

Esse sistema foi desenvolvido em meados da década de 80 pela indústria

aérea (DESIRAJU, SHUGAN, 1999), sendo posteriormente adotado por outras

empresas de serviços de capacidade restrita e de natureza perecível, como

transportadoras, empresas de aluguel de automóveis, hospitais, hotéis, e etc.

(FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 1995).

Segundo Fitzsimmons e Fitzsimmons (1995), o yield management é mais

apropriado para empresas de serviços que possuem as seguintes

características:

a. Capacidade fixa substancial – empresas de serviço com um alto

investimento em instalações são sujeitas à restrição de capacidade;

b. Possibilidade de segmentar mercados – para que o yield management

seja efetivo, a empresa de serviço tem que ser capaz de segmentar seu

mercado em diferentes classes de consumidores;

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c. Estoque perecível – para empresas de serviço com capacidade restrita,

cada quarto ou assento significa uma unidade de estoque a ser vendida;

d. Produto vendido antecipadamente – sistemas de reservas são adotados

por empresas de serviço para vender a capacidade antes de seu uso;

entretanto, as empresas têm que escolher entre aceitar reservas a

preços promocionais ou aguardar e tentar vender a unidade em estoque

a preços mais altos;

e. Demanda flutuante – a partir de previsão de demanda, o yield

management possibilita que a empresa de serviços aumente a utilização

da capacidade em períodos de baixa demanda e aumente os lucros em

períodos de alta demanda;

f. Custo marginal de vendas baixo e custo marginal de alteração de

capacidade alto – o custo de vender uma unidade adicional precisa ser

baixo, porém, o custo marginal de adição de capacidade é alto, por

causa dos altos investimentos em instalações necessários.

2.4.3 Utilização Estratégica da Capacidade Ociosa

Em alguns casos, a capacidade ociosa pode ser utilizada para alavancar os

negócios de empresas de serviços. Um estudo realizado por Ng et al. (1999),

com empresas de serviços da Malásia e de Singapura revelou que muitas

empresas abordam as questões de capacidade com estratégias que não são

encontradas na literatura. Segundo este estudo, a capacidade ociosa é

utilizada como um recurso estratégico para melhorar a performance do

negócio.

As estratégias de utilização de capacidade ociosa identificadas pelos autores

foram categorizadas em sete grupos:

1) Desenvolvimento do cliente e de fidelidade por meio de programas de

fidelidade e distribuição de amostras grátis que permitem que o cliente

experimente o serviço antes de decidir a compra.

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2) Vendas casadas, visando agregar valor ao serviço, reduzir o risco de

venda da empresa, aumentar demanda, reduzir custos de marketing e

ocultar descontos.

3) Políticas de Recursos Humanos, visando aumentar a lealdade e a

motivação dos empregados, aumentar o compromentimento com a

empresa e reduzir a rotatividade.

4) Permuta de capacidade com outras empresas para reduzir custos,

aumentar o mix de produtos e a rentabilidade.

5) Desenvolvimento de canais de distribuição através da transferência de

parte da capacidade para o distribuidor, visando melhorar o

relacionamento com o canal, aumentar o esforço de venda e o

comprometimento do distribuidor, incentivar investimentos em

propaganda, expandir a área de atuação e reduzir os custos de

desenvolvimento de novos mercados.

6) Criação de barreiras de entrada à novos concorrentes em um segmento

de mercado ou à uma indústria, por meio de aumento da capacidade e

redução dos custos unitários do serviço.

7) Diferenciação e aumento da qualidade através da redução dos tempos

de espera pelo serviço, proporcionando um conforto maior para o

cliente, e da redução do impacto da presença e participação de outros

clientes.

O estudo indicou que enquanto as estratégias de desenvolvimento de clientes,

políticas de recursos humanos, criação de barreiras de entrada e diferenciação

geralmente utilizam capacidade ociosa, as estratégias de vendas casadas,

permuta de capacidade e desenvolvimento de canais de distribuição não são

aplicadas pela empresas diretamente à capacidade ociosa.

Para Ng et al. (1999), o objetivo das empresas de serviço não é mais a busca

do ajuste de capacidade e demanda, mas a maximização de suas vendas

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futuras e a redução dos riscos percebidos. As estratégias empregadas visam

esses objetivos, ao invés de simplesmente ajustar oferta e demanda. As

empresas de serviços estão mais voltadas sua empregar a capacidade de uma

forma mais estratégica do que aplicar as técnicas sugeridas pela literatura.

2.5 O Serviço de uma Empresa de Telecomunicações e a Questão daCapacidade

Normalmente numa empresa de produção industrial é perfeitamente possível a

identificação visual de produção e, por conseguinte, a associação dos insumos

correspondentes a esses processos. Essa mesma identificação, porém, não é

possível durante o processo de geração dos serviços de telecomunicações,

pois se trata de um sistema compartilhado, no qual, num mesmo instante

podem estar transitando, por um determinado equipamento (multiplexador,

cabo de fibra ótica, central telefônica local, etc.), uma gama de serviços

analíticos com características e complexidades altamente diferenciadas.

Enquanto a elaboração de um produto está perfeitamente associada aos

insumos, na prestação dos serviços de telecomunicações os insumos são

consumidos pelos segmentos de planta utilizados para a geração dos serviços.

A especificidade e o processo de produção altamente integrado dos serviços

de telecomunicações dificulta a definição de um sistema de apuração dos

custos dos serviços, decorrentes de grandes plantas não divisíveis. A utilização

de plantas não divisíveis acarreta que, em uma determinada planta de

telecomunicações, os recursos utilizados para a geração dos serviços sejam

praticamente fixos, variando, principalmente em função da capacidade

projetada de escoamento de tráfego.

Assim, os custos globais são pouco sensíveis ao grau de real utilização,

alterando-se apenas por patamares quando realizados novos investimentos.

Isto implica na criação de grandes investimentos em disponibilidade de planta,

dada à necessidade de dimensionamento de sistemas para horas de pico em

decorrência da impossibilidade de estocar e transportar “produtos” como forma

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de regularizar o fluxo produtivo em relação a demanda real no tempo. Logo, a

empresa é extremamente vulnerável ao maior ou menor acerto no

dimensionamento dos investimentos em relação à demanda de utilização de

tráfego.

Num sistema de telecomunicações, em função do uso de parte ou da totalidade

da planta, o processo de geração dos serviços ocorre de diferentes formas, tais

como – redes dedicadas exclusivamente a um tipo de serviço; redes

compartilhadas por vários tipos de serviços; e serviços que utilizam redes

dedicadas e compartilhadas (GUERREIRO, CATELLI, 1995).

2.5.1 As Operações dos Serviços de Telecomunicações

A seguir são introduzidos os principais conceitos e elementos que constituem

um sistema de telecomunicações.

2.5.1.1 Serviços de Telecomunicações

Os serviços de telecomunicações são classificados em dois tipos: os básicos e

os de valor adicionado (SVA). Os primeiros são ofertados pela rede telefônica

tradicional – telefones de uso público, linhas residenciais e comerciais – em

suas dimensões local, interurbana e internacional – e podem, incluir ainda,

alguns serviços oferecidos por redes específicas. Os SVAs são serviços

avançados de telecomunicação que envolvem a transmissão e o

processamento de informações com o uso de softwares, acrescendo valor aos

serviços básicos que lhe dão suporte. O surgimento de tecnologias digitais de

transmissão e comutação (interligação entre usuários) e a incorporação de

recursos computacionais às redes reduziram acentuadamente os custos de

transmissão e de processamento da informação, permitindo o crescimento da

oferta dos SVAs (PASTORIZA, 1996).

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62

2.5.1.2 Equipamentos de Telecomunicações

Os serviços de telecomunicações são oferecidos por um conjunto de

equipamentos e meios de transmissão organizados de maneira a dar suporte à

interconexão, à distância, dos diferentes usuários.

Estes equipamentos e meios de transmissão constituem um sistema com

arquitetura na forma de redes, as quais são compostas pelos equipamentos do

usuário, de comutação e de transmissão (locais, interurbanos e internacionais).

Equipamentos do Usuário

Os equipamentos dos usuários apresentam, basicamente, duas tendências: a

primeira é a incorporação no aparelho telefônico padrão fixo e móvel, de um

conjunto crescente de multifunções (viva voz, secretária eletrônica, bloqueio de

chamadas, identificação de ligações, siga-me, etc.); a segunda é a interface

destes aparelhos com microcomputadores (desktop ou portáteis), através de

placas de modem, para a transmissão de dados, permitindo assim, a ativação

de outras funções além da telefonia (correio eletrônico, acesso à Internet, etc.)

(PIRES, PICCININI, 1997).

Equipamentos de Comutação e de Transmissão

A função de comutação, realizada pelas centrais telefônicas, tem o objetivo de

interligar os terminais telefônicos dos usuários, o que ocorre através do

controle dos circuitos de transmissão e da conexão entre a origem e o destino

dos sinais transmitidos.

A comutação envolve uma rígida hierarquia de centrais. A centrais locais (CL)

atendem a usuários dentro de uma determinada área. As centrais tandem

(CTa) conectam as chamadas entre centrais e podem ser mistas (CTaM)

quando, além desta função, atendem também a usuários próximos. As centrais

trânsito (CT) só fazem conexão entre as centrais tandem. As centrais urbanas

(CT-U) interligam as chamadas entre as centrais tandem e as cidades próximas

ou de regiões metropolitanas. As centrais interurbanas (CT-IU) não atendem

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usuários diretamente, possuindo juntores de alta capacidade para conectar

todas as chamadas interestaduais entre elas próprias. Por fim, as centrais

internacionais (CT-INT) processam o tráfego internacional, que é concentrado

por algumas centrais trânsito nacionais, endereçando as ligações para os

países de destino. (PIRES, PICCININI, 1997).

Assim, quando um usuário disca o prefixo internacional correspondente a um

número de outro usuário localizado no exterior, sua central telefônica local

reconhece este prefixo e encaminha a ligação para a central internacional,

após percorrer todas as centrais hierarquicamente inferiores.

Inicialmente, a única forma de expansão dos serviços interurbanos ocorria pelo

aumento da capacidade de cabos (pares adicionais de fios) entre as cidades. A

elevação dos custos de investimentos e de organização e manutenção destas

redes gerou uma preocupação crescente com o gerenciamento do tráfego e

com os congestionamentos das linhas, estimulando a busca de inovações.

Atualmente, segundo Pires e Piccinini (1997), a função de comutação é

realizada por centrais automáticas com base na tecnologia eletrônica digital,

através de programas de software armazenados em memórias eletrônicas.

Estas centrais são conhecidas como Centrais de Programa Armazenado-

Temporal (CPA-T).

As CPA-Ts são resultado de uma evolução tecnológica marcada pela

substituição da eletromecânica pela eletrônica e da analógica pela digital. Estas

inovações permitiram o alargamento da faixa de transmissão, o que

proporcionou o aumento da capacidade de processamento das informações e a

incorporação de inteligência nas redes através do uso de softwares. Além

disso, estas inovações aumentaram a flexibilidade e a qualidade de

transmissão de sinais dos sistemas de telecomunicações.

Estes avanços tecnológicos permitiram a transmissão conjunta de voz e dados,

o que não era possível na comutação tradicional, ampliando significativamente

a oferta de serviços de valor adicionado.

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64

Além disso, a capacidade de transmissão de sinais e a oferta de novos

serviços na mesma rede física também foram impulsionadas pelo surgimento

de novas técnicas de multiplexação que, associadas à comutação, otimizam as

instalações de transmissão. Os multiplexadores (mux) são equipamentos

empregados na interligação de centrais telefônicas, com a função de transmitir

simultaneamente vários canais de transmissão (voz, dados, etc.).

2.5.1.3 Redes e Meios de Transmissão

As redes – conjuntos integrados de equipamentos e meios de transmissão com

o objetivo de permitir a transmissão de sinais e a oferta de serviços de

telecomunicações – podem ser: corporativas (privadas), que são aquelas de

propriedade particular ou alugadas à rede pública, para fornecer serviços

especializados exclusivos para grandes usuários, como empresas,

condomínios, etc; e públicas, que são aquelas que permitem a todos os

usuários usufruírem todos os serviços que são oferecidos.

A evolução tecnológica das técnicas de comutação e multiplexação fez com

que as redes específicas para telefonia e dados – inicialmente, os principais

serviços oferecidos – fossem capazes de suportar os diversos serviços de valor

adicionado ofertados atualmente. Contudo, os serviços de voz continuam

ocupando a maior parcela da capacidade instalada da rede (PIRES, PICCININI,

1997).

Redes Corporativas

A crescente oferta de novos serviços de valor adicionado incentivou os

fabricantes de equipamentos de telecomunicações a desenvolverem um

conjunto completo de comunicação, conhecido como rede corporativa (ou

dedicada), através do qual os grandes usuários podem obter serviços de

qualidade e confiabilidade superiores aos fornecidos pela rede pública. Com

isto, estes usuários evitam os principais problemas apresentados pelas redes

públicas, tais como a baixa qualidade das transmissões, a limitada velocidade

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de emissão e transporte, o congestionamento do tráfego nas horas de pico e os

custos elevados nas transmissões internacionais e interurbanas.

A existência de uma volumosa quantidade de dados a serem transmitidos

paralelamente ao tráfego de voz levou muitas empresas a organizarem suas

informações através de uma rede interna de informações (Intranet), na qual os

dados de todos os departamentos da empresa podem ser armazenados e

transmitidos online e disponibilizados a todos os funcionários através do correio

eletrônico (PIRES, PICCININI, 1997).

Redes Públicas

Embora a maior quantidade de serviços oferecidos na rede pública seja a

telefonia, os usuários recorrem a esta rede para acessar, também, serviços de

transmissão de dados. O transporte destes sinais pode ser feito de duas

formas: rede não-comutada, onde os equipamentos dos usuários são

interligados entre si por linhas públicas especiais, disponibilizadas ponto a

ponto durante o tempo de utilização, com capacidade de transporte de até 64

kbps; e rede comutada, onde o usuário, através do sistema de comutação da

rede pública, acessa diferentes pontos para a transmissão e recepção de

dados, sendo possível a interconexão entre várias redes ou vários usuários

(PIRES, PICCININI, 1997).

A rede telefônica apresenta dois segmentos: predial (interna), composta pelo

cabeamento no interior das centrais telefônicas das operadoras, interligando

seus equipamentos; e pública, que tem três segmentos: rede externa,

interurbana e internacional. A rede externa é composta por um conjunto de

equipamentos de infra-estrutura (postes, dutos, caixas, cabos de assinantes e

cabos-troncos que ligam equipamentos externos à central telefônica),

subdividindo-se em duas partes: vertical (cabeamento do interior de prédios e

residências, de responsabilidade dos usuários) e horizontal (cabeamento aéreo

ou subterrâneo, representando cerca de 50% do total de investimentos da

concessionária).

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66

O segmento externo horizontal é composto pelos cabos que interligam a

estação telefônica ao armário de distribuição, compondo a rede primária; os

cabos que interligam estes armários às caixas terminais, designados como

redes de distribuição secundária; e finalmente, aqueles que interligam estas

caixas aos usuários, chamados de redes de distribuição (ou última milha).

Os investimentos na última milha – composta, basicamente, por pares de fio de

cobre – envolvem elevados custos de instalação e manutenção e têm um baixo

retorno, em razão do reduzido volume intermitente de operações realizadas.

Apesar disso, o ritmo de introdução de novas tecnologias na última milha

apresenta muito dinamismo, com uma tendência, no caso de grandes usuários,

de introdução de fibras óticas nos circuitos, acompanhada da descentralização

da comutação.

Um exemplo deste movimento no Brasil é a constituição de Centrais Privadas

de Comutação Telefônica (CPCT) em novos condomínios residenciais, as

quais são totalmente digitalizadas e interligadas por cabos óticos aos

assinantes e à rede pública. As principais vantagens trazidas para os usuários

são as seguintes: redução do tempo necessário para completar as chamadas;

diminuição dos riscos de defeitos e congestionamentos; e viabilização de

serviços integrados (voz, dados e imagens) na última milha (PIRES, PICCININI,

1997).

2.5.1.4 Meios de Transmissão de Longa Distância: Redes Interurbanas eInternacionais

Os segmentos das redes interurbanas e internacionais dão o suporte para as

comunicações telefônicas de longa distância. Suas arquiteturas devem permitir

a transmissão de uma grande quantidade de sinais através da combinação de

diversas tecnologias, cujo conjunto de opções pode ser visualizado no Quadro

9.

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Quadro 9: Meios de transmissão de longa distância: principais características

Modalidades Características

Microondas Alta capacidade, longas distâncias.

Cabo CoaxialInterligação de localidades de grande tráfego interurbano oulocal. Atualmente, vem deixando de ser utilizado em razão doadvento da fibra ótica.

Fibra Ótica Altíssima capacidade de transmissão. Ideal para redes comgrande concentração de sinais.

Satélites Grande flexibilidade no uso. Podem ser utilizados para coberturade áreas externas ou localizadas.

Fonte: Pires e Piccinini (1997).

As arquiteturas das redes locais (urbanas) e de longa distância (interurbanas e

internacionais) atendem a lógicas econômicas distintas. Nas primeiras, o

retorno dos investimentos é determinado pela densidade de usuários da rede.

Já o retorno dos investimentos nas redes de longa distância está relacionado à

quantidade de informações transmitidas.

O segmento de transmissão de sinais em longa distância passa, atualmente,

por um intenso ritmo de inovações tecnológicas, que visa aumentar o volume

de tráfego com qualidade e confiabilidade, reduzindo, assim, o custo e,

conseqüentemente, aumentando sua rentabilidade.

Em linhas gerais, estes meios resumem-se a duas categorias básicas, cada

qual com aplicações específicas: transmissão com fio (por cabo) e transmissão

sem fio (rádio). Em geral, a instalação da infra-estrutura de transmissão de

longa-distância é bastante onerosa, envolvendo elevados custos de operação e

manutenção e, no caso do rádio, implica a regulação de freqüências, cujo

espectro escasso é uma barreira natural à sua expansão. Todas estas

tecnologias envolvem economia de escala em sua aplicação (PIRES,

PICCININI, 1997).

Entre os meios de transmissão sem fio, destaca-se a tecnologia de satélites,

que tem as seguintes vantagens: elevada capacidade de transmissão,

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68

permitindo o uso de faixas com banda larga, cobertura de grandes áreas,

flexibilidade operacional e economias de escopo (oferta simultânea de vários

serviços).

No caso das transmissões com fio, a tecnologia avança sua fronteira com a

utilização de fibra ótica tanto para os sistemas terrestres como para a

instalação de cabos submarinos. A implantação de cabos intercontinentais e de

satélite já concorre em custos, sendo que os primeiros têm, como vantagem,

maior capacidade de transmissão do que o satélite.

Avanços na tecnologia dos semicondutores têm proporcionado benefícios para

as fibras óticas, dentre os quais se destacam: aumento da capacidade e

redução de perdas de transmissão, menor incidência de erros e maior proteção

contra interferências. Estes aspectos têm contribuído para a melhora da

competitividade da fibra ótica no que se refere tanto à transmissão tradicional

por par metálico ou coaxial quanto à transmissão por rádio.

Apesar dos custos elevados de implantação, a crescente demanda por serviços

intensivos em informação (serviços multimídia, por exemplo) tem contribuído

para aumentar a adoção da tecnologia ótica, elevando os retornos de escala. O

uso da fibra ótica permanece com baixa viabilidade na última milha, vis-à-vis os

elevados custos de instalação frente à ainda relativamente baixa densidade da

demanda (PIRES, PICCININI, 1997).

2.5.1.5 As Redes Digitais de Serviços Integrados

A situação tecnológica atual dos sistemas de telecomunicações é bastante

heterogênea, existindo uma diversidade de redes (superpostas e/ou paralelas)

e de meios de transmissão (celulares, satélites, fibras óticas, etc.) com

configurações digitais ou analógicas nas diferentes hierarquias de redes.

Atualmente, ocorrem deseconomias em razão da prestação de serviços por

redes separadas, gerando ineficiências no tráfego e uma certa ociosidade

temporária dos canais.

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69

A sofisticação crescente da demanda por serviços de valor adicionado vem

incentivando as operadoras de telecomunicações a estender as redes digitais

até a última milha. A convergência dos serviços de informática, radiofusão e

telecomunicações tem impulsionado um ritmo crescente da adoção de

tecnologia digital, já que a oferta integrada destes serviços é incompatível com

o uso de equipamentos analógicos.

A alternativa do acesso sem fio, isto é, telefonia fixa sem fio, permite às

operadoras ampliarem a oferta de serviços telefônicos e de valor adicionado

sem incorrerem nos elevados custos dos investimentos em acessos óticos.

Entretanto, sua utilização requer maior desenvolvimento da capacidade de

gerenciamento de tráfego multimídia e da qualidade de transmissão de sinais.

Por sua vez, as tecnologias com base em satélites atendem os quesitos de

qualidade, mas são muito dispendiosas (PIRES, PICCININI, 1997).

No tópico seguinte são discutidas algumas questões que são diretamente

relacionadas com o problema de capacidade em operações de serviços de

telecomunicações.

2.5.2 Questões Relevantes nas Decisões de Capacidade

O termo fechamento de mercado se refere à prática, executada por uma firma

dominante, de negar acesso adequado a qualquer insumo essencial para

alguns usuários, com o objetivo de estender o seu poder de mercado de um

segmento do mercado para o outro (potencialmente competitivo). Nesse caso,

essencialidade implicaria basicamente em três assertivas: (i) o insumo é

indispensável para um competidor (existente ou potencial); (ii) o insumo é

detido por uma ou poucas empresas dominantes; e (iii) o insumo não pode ser

economicamente ou tecnicamente duplicado pelos competidores. Nesse

sentido, o fechamento de mercado poderia assumir diversas formas, desde a

negativa em prover acesso até a discriminação de preços e o aumento dos

custos dos rivais via cobrança de preços artificialmente altos pelo insumo

(REY, TIROLE, 1997).

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70

Transpondo esses conceitos para o setor de telecomunicações, percebe-se

que a rede local é claramente um insumo essencial para as empresas

prestadoras de serviços de telefonia fixa de longa-distância e operadores de

telefonia móvel. Em primeiro lugar, na grande maioria das vezes, a

interconexão com as redes locais é indispensável para a prestação de serviços

de longa-distância. Quando o usuário A faz uma ligação de longa-distância

para B, uma operadora local transporta a chamada da residência do usuário A

até a linha de transmissão da operadora de longa-distância, que por sua vez a

entrega a uma outra operadora local, que transporta até a residência de B

(Figura 1). Embora já existam alternativas tecnológicas para contornar as redes

de operadoras locais, a sua aplicação se restringe a algumas regiões (em

geral, com maior concentração de clientes corporativos ou com maior

densidade populacional).

Figura 1: Ligação de Longa-Distância (Caracterização Esquemática)

Em segundo lugar, as concessionárias ainda possuem grande poder de

mercado, respondendo por grande parte da infra-estrutura e da prestação de

serviços de caráter local.

Além disso, tem-se que a duplicação de alguns componentes das redes locais

mostra-se economicamente inviável na maioria das regiões. Somente nas

áreas de maior densidade populacional ou com maior concentração de clientes

corporativos, o volume de tráfego justificaria a construção de infra-estrutura

local por parte das operadoras de longa-distância.

Rede da Operadora Local Rede da Operadora Local

A B

Linha de Transmissão daOperadora de Longa

Distância

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A Questão da Interconexão

A promoção da concorrência no setor de telecomunicações inclui

necessariamente a definição de regras adequadas de interconexão, isto é, pela

garantia a todos os competidores de acesso adequado a um recurso essencial

para prestação da maioria dos serviços (redes locais).

A primeira premissa para que todos os competidores tenham acesso adequado

às redes locais é a obrigatoriedade de interconexão por parte das incumbentes

locais. No entanto, também é necessário garantir que o preço cobrado por esse

acesso não seja tal que inviabilize ou prejudique a capacidade das operadoras

de longa-distância competirem (CONSIDERA et al., 2002).

Cabe lembrar que o fechamento de mercado nem sempre se materializa pela

efetiva recusa em prover interconexão. Ele pode assumir formas mais sutis,

como o oferecimento de acessos tecnologicamente defasados ou tecnicamente

inadequados. Esta questão se mostra ainda mais premente nas interconexões

com as redes locais, que são caracterizadas como insumos essenciais.

A desvinculação2 dos diversos serviços e componentes associados às redes

das operadoras locais implica que outros prestadores de serviços de

comunicação possam ter acesso a porções das redes locais de modo a poder

construir suas redes através da combinação de infra-estrutura próprias e

alugadas. Por exemplo, uma empresa poderia construir sua própria infra-

estrutura de comutação e transporte, alugando de outra empresa (incumbentes

ou outra provedora de serviços locais) a última milha necessária para conectar

os consumidores locais à sua infra-estrutura.

Sendo assim, as partes das redes ou serviços que envolverem um montante

significativo de investimentos deverão ser alugadas pelos competidores às

operadoras locais estabelecidas de modo que, se existirem economias de

2 Trata-se da tradução do termo unbundling.

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72

escala e/ou de escopo, todos os competidores e consumidores serão

beneficiados por isso. A possibilidade de entrada sem construção de infra-

estrutura própria diminui dramaticamente as barreiras e os riscos associados à

entrada nos mercados locais de telecomunicações (CONSIDERA et al., 2002)

A racionalidade em se requerer a desvinculação repousa no fato de que estas

empresas possuem recursos e instalações essenciais que são requeridos por

seus competidores, e que a concorrência não é possível a não ser que estes

recursos estejam disponíveis para as demais empresas em bases não

discriminatórias. A possibilidade de entrada sem a necessidade de construção

de infra-estruturas próprias deve permitir que, pouco a pouco, seja erodida a

posição dominante das incumbentes nos mercados locais.

A desvinculação das redes locais possui um forte potencial para introduzir

competição nos mercados locais. No entanto, os diversos serviços e

componentes das redes locais se constituem em mercados distintos, com

potencial concorrencial diferentes. Por um lado, percebe-se claramente que o

mercado para o fornecimento da última milha não possui características

competitivas. Sendo assim, seria desejável que essa infra-estrutura estivesse

disponível para os demais concorrentes. Por outro lado, o mercado de

transporte de grandes volumes de informação3 se mostra competitivo. Nesse

caso, não se mostra necessário obrigar as empresas a disponibilizarem a infra-

estrutura para a prestação desse serviço para seus rivais. Aliás, seria desejável

do ponto vista concorrencial que as empresas entrantes investissem em

componentes não considerados essenciais (infra-estrutura de bulk transport,

por exemplo). A desvinculação indiscriminada dos componentes pode levar a

um sub-investimento em infra-estrutura de rede, diminuindo o potencial

competitivo de certos mercados (CONSIDERA et al., 2002).

3 Refere-se ao temo bulk transport (transmissão não comutada entre dois pontos, em geral envolvendo

grande quantidade de informações e clientes corporativos).

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73

A Questão da Escolha de Padrões Tecnológicos

Sabe-se que a indústria de telecomunicações tem se mostrado extremamente

dinâmica. Nesse sentido, dada a incerteza quanto as tecnologias a serem

utilizadas no futuro, o regulador deve dedicar especial atenção quando da

escolha de padrões técnicos. Num contexto de indefinição, as empresas

tendem a não optar por certas inovações tecnológicas por temerem ficar

comprometidas com tecnologias que podem se mostrar inadequadas no

futuro.4

Essas considerações se mostram ainda mais relevantes no setor de

telecomunicações. As mudanças em curso nos mercados de comunicação

devem contribuir para aumentar a importância das externalidades da rede, no

sentido de que os benefícios conseguidos pelos usuários finais por

pertencerem a uma rede estão positivamente relacionados ao número de

usuários conectados a esta rede ou a redes compatíveis (efeito clube). O valor

dos serviços de telecomunicações aumenta na medida em que as redes

tornam-se maiores e mais abrangentes5.

Desse modo, o grau de interoperabilidade entre os diversos serviços e

aplicações, bem como interconectividade entre as diversas redes passam a ser

elementos críticos da estrutura de mercado6. Com a ausência de interconexão,

o consumidor não tem a possibilidade de contato com outras pessoas que não

aquelas que compartilham a mesma rede, a não ser que incorra em maiores

custos ao ter que contratar diversos serviços e/ou diversas empresas

prestadoras de serviço. A possibilidade de interconexão permite ao consumidor

4 Esse fenômeno é conhecido como lock in tecnológico

5 Deve-se ressaltar aqui a importância da implementação de normas e padrões técnicos que facilitem a

interconexão mútua das diversas redes.

6 Em um contexto onde a estratégia de vendas de pacotes de serviços esteja disseminada, a garantia deinteroperabilidade entre diversas redes, serviços e aplicações pode ser encarada como mais umaimportante estratégia de diferenciação.

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o acesso a usuários de várias redes através da contratação de um único

serviço.

Sendo assim, devido ao fato das redes de telecomunicações serem sistemas

de vários componentes, a capacidade dos provedores de serviços em agregar

recursos, instalações e funções de diversas empresas (podendo assim oferecer

serviços integrados) torna-se uma variável de extrema relevância para a

emergência ou não de competição nos mercados de comunicação

(CONSIDERA et al., 2002).

A Questão do Acesso Discado à Internet

A rede de telefonia foi projetada para o serviço de voz, mas acabou sendo

usada em grande parte para comunicação de dados, e, especialmente, para

acesso à Internet, causando problemas para a qualidade do serviço de voz,

além de ter custos não uniformes.

Na década atual, conta-se em vários milhões o número de usuários da Internet

no Brasil através de acesso discado. Esta demanda é atendida por duas

classes de empresa: primeiro, os provedores de Internet, que fornecem o

acesso à rede, através de equipamentos especializados (servidores de acesso

remoto, roteadores) e uma conexão permanente à Internet contratada com

algum provedor de backbone, como a Embratel ou a Intelig; segundo, as

companhias de telefonia local, que fornecem as linhas telefônicas, tanto para o

usuário, como para o provedor de Internet, e toda a rede discada que interliga

estes dois.

Segundo Stanton (2002), do ponto de vista da empresa de telecomunicações,

uma questão central é o impacto do tráfego de Internet sobre sua rede de

telefonia. Tradicionalmente, a rede de telefonia é projetada para atender ao

tráfego de voz. Anos de estudos das características da comunicação de voz

revela que uma conversa dura em média três minutos, e que o número de

usuários simultâneos é uma pequena fração do número total de assinantes.

Estas cifras permitem o dimensionamento preciso da capacidade das centrais

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telefônicas e dos troncos entre elas, para garantir a disponibilidade de um canal

de voz fim a fim quando estiver desocupado o número chamado. Quando um

usuário de computador estabelece sua conexão discada, o tempo médio de

duração da chamada é de 40 minutos. Isto significa a retenção por muito tempo

dos recursos (centrais e troncos) necessários para manter o canal fim a fim,

obrigando um aumento de investimento das companhias telefônicas, para

manter a qualidade dos seus serviços de voz, que utilizam a mesma infra-

estrutura.

Deve-se notar que esta mudança ocorreu apesar da alteração de tarifação de

chamadas locais introduzida nos anos 80. Antes disso, não havia impulsos, e o

custo de uma ligação local independia da sua duração. Não é claro se era para

coibir a duração excessiva das ligações por computador, ou para aumentar a

receita, mas as companhias telefônicas introduziram tarifação por impulsos (em

média, um impulso a cada quatro minutos) nessa época. Entretanto, quando foi

introduzida esta tarifação, foi dado ao usuário um "bônus": a contagem de

impulsos não ocorre até hoje para ligações locais entre meia-noite e 6 horas,

depois das 14 horas aos sábados, e todo o dia de domingo e feriados, sendo

cobrado apenas um impulso por chamada. Logo, muitos dos acessos para a

Internet se deslocaram para estes horários sem impulsos.

Apesar do enorme aumento do uso da rede de telefonia discada para acesso à

Internet, até o ano de 2003 não foi modificado este modelo de tarifação. Em

uma consulta pública lançada pela ANATEL, em 2002, para discutir novas

formas de tarifação para o acesso à Internet, descobriu-se que 44% da

população moram nas 94% das cidades brasileiras sem acesso a um provedor

de Internet local, o que significa que para estes usuários o acesso discado só

poderia ser realizado por uma ligação não local, intrinsecamente mais cara.

2.5.3 Evolução da Infra-Estrutura de Telecomunicações

Segundo Lins (2001), a expansão de capacidade é um processo que vem

sendo sentido desde a última década: a cada doze meses, duplica-se a

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76

capacidade das fibras óticas; a cada dezoito meses, dobra o desempenho dos

processadores, ensejando a oferta de equipamentos cada dia mais velozes;

novos softwares oferecem recursos eficazes para reconhecimento e

sintetização de voz, gerenciamento de redes de telecomunicações e

implantação de Internet em eletrodomésticos, veículos, sistemas elétricos,

sistemas de segurança, e inúmeros outros ambientes. A oferta desses recursos

possibilita a integração de serviços, alavancando a convergência.

De fato, o principal efeito da elevação de capacidade é a possibilidade de se

usar a infra-estrutura de telecomunicações para serviços que demandam maior

throughput. Nesse sentido, as empresas operadoras de telefonia fixa com infra-

estrutura de fibras óticas encontram-se em melhores condições para oferecer

um maior leque de opções ao usuário, por terem maior capilaridade, operarem

com sistemas de comutação e utilizarem uma tecnologia madura para o

serviço.

A convergência apresenta-se como uma tendência forte na próxima década,

consistindo na integração de infra-estrutura e de serviços para oferecer um

serviço contínuo e completo ao usuário. As primeiras tentativas de

convergência foram realizadas ao final da década de oitenta, com a arquitetura

ISDN7, que não decolou comercialmente. Na década atual, porém, além da

oferta de fibras óticas e sistemas de comutação de alto desempenho, algumas

tecnologias vêm apontando novas alternativas para a implantação desses

serviços integrados: a telefonia sobre IP, que permitirá usar a infra-estrutura de

Internet para trafegar voz bidirecional; a adoção de telefonia ou de serviços

bidirecionais sobre a infra-estrutura da TV a cabo, associada aos recursos da

televisão digital; o tráfego de dados e imagens na infra-estrutura telefônica,

através da Internet ou de outros serviços interativos, todas essas opções

apontam para uma crescente integração entre telefonia, Internet e cabodifusão.

7 Em português, RDSI – rede digital de serviços integrados.

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Para Lins (2001), as inovações citadas acima devem alavancar uma expansão

adicional dos serviços de telecomunicações. Primeiramente, o usuário de

telefonia fixa tenderá a contratar mais linhas telefônicas domiciliares na medida

em que disponha de serviços mais "ricos", uma tendência já configurada no

primeiro mundo, em que os domicílios com mais de uma linha telefônica

representam a cada ano maior proporção do mercado de telefonia fixa

comutada.

2.6 Resumo e Esquema Conceitual para a Análise de Caso

As operações das empresas de telecomunicações são fortemente influenciadas

pelas questões referentes à oferta e demanda. Devido aos altos investimentos

necessários para incrementar a capacidade de seus sistemas, as empresas

ficam extremamente dependentes de uma maior exatidão no dimensionamento

de seus ativos em relação à demanda de utilização de tráfego. Por esse

motivo, a definição de uma estratégia de capacidade adequada e a utilização

de mecanismos para ajustar capacidade e demanda são essenciais para a

otimização dos serviços de telecomunicações.

O gerenciamento da capacidade envolve o entendimento sobre o que constitui

a capacidade produtiva e como esta sofre com as variações de demanda. Duas

estratégias podem ser adotadas, dependendo da flexibilidade da empresa para

alterar a sua capacidade. A primeira é a estratégia de seguimento de demanda,

ou Chase Demand, onde a decisão de incrementar a capacidade somente se

dá quando há garantias de que a nova quantidade de capacidade será

totalmente utilizada. A outra opção é manter um nível de capacidade suficiente

para atender a um determinado percentual da demanda máxima esperada,

mantendo o sistema sempre com um certo nível de ociosidade. Essa estratégia

é chamada de nível de serviço, ou de Level Capacity.

O gerenciamento da demanda envolve questões como satisfação do

consumidor, produtividade da empresa, utilização da capacidade disponível,

qualidade do serviço prestado, e lucratividade da empresa. Três estratégias

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podem ser adotadas para se gerenciar a demanda. A primeira é esperar que a

própria demanda encontre o seu nível. A segunda estratégia envolve influenciar

o nível de demanda, deslocando-a dos períodos de pico para períodos de

menor procura. A última estratégia sugere estocar a demanda até que a

capacidade esteja disponível.

A escolha das estratégias de capacidade e de demanda que podem ser

adotadas pela empresa de serviços depende das características de sua

capacidade e da sua habilidade de influenciar os níveis de demanda.

Dependendo do tipo de serviço prestado, a empresa pode combinar as

estratégias de gerenciamento de capacidade e de demanda para obter

melhores resultados em suas operações.

As principais maneiras de se reduzir o gap existente entre capacidade e

demanda nos períodos em que a oferta supera a demanda, ou naqueles em

que a demanda supera a capacidade, são: gerenciar a oferta para atender as

variações de demanda, utilizando mecanismos de ajuste de capacidade, e/ou

gerenciar os níveis de demanda, utilizando mecanismos de ajuste de demanda.

O esquema conceitual que foi adotado para a análise do caso está

apresentado na Figura 2. Neste modelo são demonstradas as possíveis

combinações entre as estratégias de gerenciamento de capacidade e de

demanda.

Alguns mecanismos de ajuste de capacidade sugeridos na literatura não se

aplicam aos serviços de telefonia, pois são mais indicados para serviços que

mantêm uma linha de frente para atender pessoalmente os clientes. Os

serviços de telecomunicações são prestados por meio de sistemas de redes

telefônicas e o serviço é entregue no momento em que é solicitado. Por esse

motivo, mecanismos como a implantação de instalações modulares,

downgrading ou upgrading de clientes, engajamento do cliente no serviço,

overbooking e planejamento dinâmico não foram levados em consideração

durante a análise do caso.

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79

O cross-training também não se aplica porque os serviços de

telecomunicações requerem mão-de-obra especializada, com treinamento

específico para cada função exercida.

A extensão ou redistribuição das horas de funcionamento das instalações

também foi desconsiderada devido à própria característica dos serviços

prestados, que têm como prerrogativa a ininterrupção dos serviços. As

chamadas telefônicas podem ser realizadas a qualquer hora do dia e da noite.

Os serviços de telefonia não se alteram ao longo do ano, logo não há como

empresas de telecomunicações oferecerem serviços complementares.

Nos Quadros 10 e 11 são apresentados os mecanismos de ajuste de

capacidade e de demanda que foram utilizados na análise do caso e suas

respectivas referências bibliográficas. Na análise do caso foi feita uma

comparação entre os mecanismos de ajuste entre capacidade e demanda

utilizados pela empresa pesquisada e os propostos pelos diversos autores

consultados durante a revisão de literatura.

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80

Figura 2: Estratégias de Gerenciamento de Capacidade e Demanda

Con

trol

e da

Dem

anda Capacidade fixa e alto

potencial de influênciasobre a demanda

Capacidade flexível e altopotencial de influência

sobre a demanda

Influ

ênci

a da

Dem

anda Capacidade fixa e médio

potencial de influênciasobre a demanda

Capacidade flexível emédio potencial deinfluência sobre a

demanda

Dem

anda

Aut

o-re

gulá

vel Capacidade fixa e pouco

ou nenhum potencial deinfluência sobre a

demanda

Capacidade flexível epouco ou nenhum

potencial de influênciasobre a demandaIn

fluên

cia

sobr

e o

com

port

amen

to d

a de

man

da

Level Capacity Chase Demand

Flexibilidade para ajuste da capacidade

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Quadro 10: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Capacidade

Mecanismo Referências

Localização: serviços móveis oudistribuídos Bitran, Mondschein, 1997; Hill, 1991; Murdick et al., 1990

Compartilhamento de capacidade Bitran, Mondschein, 1997; Fitzsimmons, Fitzsimmons, 1995;Hoffman, Bateson, 1997; Lovelock, 1996; Sasser, 1976

Investimentos antecipados emexpansão de capacidade Heskett et al., 1994; Hoffman, Bateson, 1997; Sasser, 1976

Tecnologia e automação Bitran, Mondschein, 1997; Murdick et al., 1990

Sistemas de informação Bitran, Mondschein, 1997; Murdick et al., 1990

Padronização dos serviços Bitran, Mondschein, 1997; Hoffman, Bateson, 1997

Mão-de-obra temporária e de tempoparcial

Bitran, Mondschein, 1997; Fitzsimmons, Fitzsimmons, 1995;Haksever et al., 2000; Lovelock, 1996; Sasser, 1976;Shemwell, Cronin Jr., 1994

Pré-processamento de pedidosBitran, Mondschein, 1997; Fitzsimmons, Fitzsimmons, 1995;Haksever et al., 2000; Heskett et al., 1994; Sasser et al.,1979; Shemwell, Cronin Jr., 1994

Manutenção preventiva dosequipamentos nas instalações doprestador de serviços

Bitran, Mondschein, 1997

Cooperação com outrosconcorrentes Bitran, Mondschein, 1997

Controle do tempo de duração doserviço Bitran, Mondschein, 1997

Serviços feitos para grupos declientes Bitran, Mondschein, 1997; Fitzsimmons, Fitzsimmons, 1995

Utilização estratégica dacapacidade ociosa Ng et al., 1999.

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Quadro 11: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Demanda

Mecanismo Autores

Pré-venda: sistema de reservasBitran, Mondschein, 1997; Gianesi, Corrêa, 1994;Haksever et al., 2000; Hoffman, Bateson, 1997;Lovelock, 1996; Shemwell, Cronin Jr., 1994

Marketing direto Bitran, Mondschein, 1997

Políticas de preçoGianesi, Corrêa, 1994; Haksever et al., 2000; Hoffman,Bateson, 1997; Lovelock, 1996; Shemwell, Cronin Jr.,1994

ComunicaçãoBitran, Mondschein, 1997; Haksever et al., 2000;Heskett et al., 1994; Lovelock, 1996; Shemwell, CroninJr., 1994

Promoções, liquidações epropaganda

Bitran, Mondschein, 1997; Haksever et al., 2000;Shemwell, Cronin Jr., 1994

Manutenção preventiva dosequipamentos dos usuários Bitran, Mondschein, 1997

Serviços Complementares Fitzsimmons, Fitzsimmons, 1995

Segmentação da demanda Bitran, Mondschein, 1997; Lovelock, 1996

Loss leaders – promoçõesdiárias Bitran, Mondschein, 1997

Yield management Desiraju, Shugan, 1999; Fitzsimmons, Fitzsimmons,1995; Lovelock, 1996

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3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

Vergara (1998) apresenta dois critérios básicos para classificação do tipo de

pesquisa: quanto aos fins e quanto aos meios. Tomando-se a taxionomia

proposta pela autora, os seguintes comentários podem ser feitos considerando

a pesquisa descrita no presente trabalho:

a. quanto aos fins: na literatura recente sobre gerenciamento de capacidade e

demanda para o setor de serviços, é pouco comum encontrar autores que

endossem seus fundamentos teóricos através de exemplos advindos do setor

de telecomunicações. Apesar da literatura sobre gerência de capacidade e

demanda em serviços ser bastante vasta, não foram encontrados trabalhos que

estudem diretamente a utilização das estratégias e técnicas de ajuste da

capacidade na indústria de telecomunicações. Por esse motivo, tem-se que a

pesquisa realizada é de caráter exploratório.

b. quanto aos meios: a pesquisa realizada é de campo, bibliográfica,

documental e estudo de caso. A pesquisa é de campo e documental porque foi

necessário obter dados e informações sobre os sistemas utilizados para ajuste

de capacidade e demanda na Empresa. Bibliográfica, porque foram utilizados

materiais já publicados, como livros, artigos e revistas especializadas, inclusive

da área de telecomunicações. E, por fim, a pesquisa é um estudo de caso,

porque, a fim de se verificar se os mecanismos de ajuste de capacidade e

demanda propostos na literatura são adotados por empresas de

telecomunicações, realizou-se um estudo aprofundado e detalhado do assunto

em uma empresa de telefonia de longa distância.

3.2 Coleta de Dados

Os dados foram coletados por meio de pesquisas bibliográfica, documental e

de campo.

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A pesquisa bibliográfica iniciou-se no ano de 2000 e foi realizada por meio de

consulta em livros, revistas especializadas, jornais e publicações que

contivessem dados pertinentes ao assunto. Além disso, realizou-se pesquisa

eletrônica na Internet. Como o setor de telecomunicações está sujeito a rápidas

inovações tecnológicas, foram pesquisadas apenas as publicações mais

recentes sobre telefonia fixa e de longa distância.

Foi feita pesquisa documental, onde foram levantados documentos que

auxiliassem a compreensão da política de capacidade implementada na

empresa estudada, assim como as leis, diretrizes, e metas instituídas pela

ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), que é a agência reguladora

e fiscalizadora do governo dos serviços de telecomunicações.

A pesquisa de campo foi realizada na sede da empresa estudada, situada na

cidade do Rio de Janeiro, durante os meses de dezembro de 2002 e janeiro de

2003. Os dados foram coletados por meio de, aproximadamente, sete horas de

entrevistas focalizadas, com questões não estruturadas. Foram entrevistados

funcionários das áreas de planejamento financeiro, planejamento de rede e

inteligência de mercado da Empresa. O roteiro de entrevistas utilizado

encontra-se no Anexo 2.

3.3 Tratamento dos Dados

Considerando o setor de telecomunicações, que oferece uma gama de serviços

aos mais diferentes consumidores, a prática de ajuste de capacidade e

demanda nem sempre chega a resultados homogêneos. Esta seria uma

primeira restrição ao método quantitativo. Por outro lado, não se quis

categorizar os resultados, mas considerá-los de tal forma a permitir que

elucidem, com riqueza dos detalhes, as decisões tomadas pela Empresa em

relação ao gerenciamento da capacidade e demanda. Não houve intenção de

se proceder a um teste de representatividade nesta pesquisa. Por fim, a

eficiência dos programas de ajuste de capacidade e demanda pode ser

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influenciada por fatores qualitativos (como, por exemplo, comportamento da

demanda) que dificultariam o estudo agregado.

A construção do caso se deu a partir dos dados coletados, onde foi visada a

situação da Empresa no presente em relação ao gerenciamento de capacidade

e demanda. Durante a redação do caso, houve a preocupação de não

mencionar o nome da empresa pesquisada, por solicitação da mesma. Por

esse motivo, algumas informações relevantes tiveram que ser omitidas e

alguns dados disfarçados, considerando que possibilitariam o reconhecimento

da Empresa.

Fez-se uma análise sobre a adequação das estratégias de gerenciamento de

capacidade e de demanda adotadas pela Empresa. Em seguida, realizou-se

uma análise comparativa, onde foram confrontados os métodos de ajuste de

capacidade e demanda utilizados pela Empresa e aqueles sugeridos pela

literatura.

3.4 Limitações do Método

O método do caso possui suas limitações como qualquer método de pesquisa.

Uma das principais é a impossibilidade de se fazer generalizações e

inferências sobre a ocorrência dos fenômenos estudados no universo da

amostra a partir de um reduzido número de casos.

O leitor, durante a leitura do caso, deve ter em sua mente, por exemplo, a

questão da representatividade da empresa selecionada e o período

compreendido pela pesquisa. Um estudo semelhante em outras empresas

pode apresentar resultados diferentes daqueles observados. Quanto ao

período, as mudanças freqüentes no setor de telecomunicações podem ensejar

adaptações nas estratégias empresariais; neste caso, a aplicação da mesma

metodologia pode redundar em relatos que expressem modificações em

relação ao observado anteriormente.

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O método também está limitado pela seleção dos atores entrevistados, tendo

em vista a impossibilidade de se entrevistar todos os gerentes e técnicos da

Empresa envolvidos com a questão de capacidade, e pelas dificuldades

encontradas para acessar todos os dados necessários para realização dos

estudos. Caso outros funcionários fossem entrevistados, provavelmente

encontrar-se-ia resultados diversos, dado que as informações obtidas nas

entrevistas e utilizadas para a redação e análise do caso estão baseadas em

relatos individuais e subjetivos.

Outra limitação encontrada foi a quantidade reduzida de publicações que lidem

com a questão da gestão de capacidade e demanda em serviços de

telecomunicações. A maior parte da literatura encontrada está mais voltada

para os aspectos técnicos do negócio, não contemplando decisões que

envolvam soluções gerenciais e de marketing para ajustar a capacidade e a

demanda dos serviços.

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4 DESCRIÇÃO DO CASO

Neste capítulo é apresentada a situação da Empresa pesquisada. Inicialmente

tem-se uma breve descrição da Empresa, o seu posicionamento frente a

concorrência, a sua infra-estrutura operacional, a questão da capacidade e a

previsão e gerenciamento de demanda.

Os principais aspectos operacionais da Empresa relacionados com a questão

do ajuste entre capacidade e demanda são abordados ao longo dos dois

últimos itens deste capítulo. A análise detalhada dos mecanismos utilizados

pela Empresa é apresentada no próximo capítulo, onde são comparadas as

estratégias utilizadas pela Empresa com aquelas propostas na revisão de

literatura.

4.1 A Empresa

A Empresa é uma das novas empresas formadas em 1998 como parte do

processo de privatização do setor de telecomunicações. O seu negócio

consiste principalmente em oferecer serviços telefônicos domésticos locais, de

longa distância, Internet, dados e serviços internacionais no Brasil a empresas

e consumidores.

Presente em milhares de municípios brasileiros e com uma estrutura comercial

e de operações em mais de 100 cidades no Brasil, a Empresa oferece aos

seus clientes mais de 80 modalidades de serviços de telecomunicações, em

âmbito nacional e internacional. Os serviços prestados incluem voz avançada,

transmissão de dados em alta velocidade, Internet, comunicação de dados por

satélites e comunicação de dados de pacotes comutados, serviço 0800 e

serviços de longa distância comutado e dedicado, redes corporativas e serviços

locais para empresas.

A Empresa melhorou a qualidade do serviço em 2001. Nesse ano, as taxas

médias de ocupação do circuito durante os períodos de pico (como percentual

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de chamadas tentadas) foram de 2,6% e de 4,4%, em comparação a 3,84% e

8,97% para o ano de 2000, para as chamadas internacionais e domésticas de

longa distância, respectivamente. As taxas médias de conclusão de chamada

por discagem direta, durante períodos de pico, em 2001 (como percentual de

chamada tentadas) foram de 65,7% e 60,0%, em comparação com os 62,5% e

54,9% em 2000, para chamadas internacionais e domésticas de longa

distância, respectivamente. Os clientes conseguiram acessar uma operadora

em 2001 em até 10 segundos. A disponibilidade da operadora (como

percentual das chamadas tentadas) foi de 95,2% em 2001, em comparação

com 93,1%, em 2000.

4.2 Concorrência

Em julho de 1999, de acordo com o plano de privatização, as companhias

começaram a competir para as chamadas nacionais de longa distância e as

chamadas de saída internacionais conectadas através das redes das

operadoras de linha fixa, bem como as chamadas que se originam numa rede

de linha fixa e terminam numa rede celular. Após essa data, foi permitido aos

clientes escolherem uma operadora para suas chamadas nacionais e

internacionais de longa distância através da discagem do respectivo código

para esta operadora (código PIC).

A Empresa opera em um negócio altamente competitivo, cujos participantes

possuem recursos significativos e clientes já conhecidos, o que pode acirrar a

concorrência pelo preço e limitar a capacidade para expandir sua fatia do

mercado. Se a Empresa não for capaz de disputar o mercado favoravelmente

com seus concorrentes, isso pode levar a reduções de preços, perda de

receita, subutilização de serviços, redução das margens operacionais e perdas

de frações do mercado. Alguns dos concorrentes da Empresa têm, ou podem

vir a ter, vantagens competitivas, como as seguintes: renome mais consagrado;

maiores recursos financeiros, técnicos, de marketing e outros; bases de

clientes mais amplas; e, relacionamento mais estreito entre clientes atuais e

potenciais.

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A indústria de telecomunicações está sujeita a alterações rápidas e importantes

na tecnologia. Avanços tecnológicos contínuos em telecomunicações tornam

impossível prever a dimensão da concorrência futura. A Empresa não tem

como prever se as tecnologias que está empregando no presente serão

desatualizadas ou estarão sujeitas à concorrência de novas tecnologias no

futuro, ou se terá condição de adquirir, em termos razoáveis, novas tecnologias

necessárias para competir em circunstâncias diferentes, se for o caso.

4.3 Infra-Estrutura

Sua rede de telecomunicações de longa distância fornece conexões nacionais

e internacionais a milhares de pontos, através do Brasil.

As instalações da Empresa estão espalhadas por todo o Brasil, fornecendo

infra-estrutura necessária para suportar telecomunicações internacionais e de

longa distância em toda a extensão do território nacional. Conduz a maior parte

de suas atividades de gerenciamento a partir da cidade do Rio de Janeiro e

possui e aluga escritórios em outras cidades, incluindo São Paulo, Porto

Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Salvador e Belém. Para a Empresa,

as suas instalações de rede encontram-se em boas condições e estão aptas a

suportar a ampla série de serviços avançados de comunicações que oferece.

As instalações de rede lhe proporcionam um lugar de destaque em termos de

rede de telecomunicações para todas as distâncias da América do Sul.

Rede Doméstica de Longa Distância e Rede de Dados

A Empresa é fornecedora de serviços de transmissão de dados de alta

velocidade e provedora de serviços Internet no Brasil, com a uma das maiores

redes nacionais de sistemas de transmissão por fibra ótica de banda larga. Sua

rede tem cobertura em todo o território nacional, possuindo, no fim de 2002,

28.868 quilômetros de cabos de fibra, compreendendo mais de 1.068.657

quilômetros de fibras óticas. Em 2001, a rede da Empresa suportou 21,800

bilhões de minutos de tráfego doméstico a longa distância e 1,861 bilhão de

longa distância internacional. Desse total, 1,161 bilhões foram de chamadas

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internacionais recebidas, e 700 milhões de chamadas emitidas. Comparando

com 2000, em 2001 o tráfego de ingresso da Empresa aumentou 2,6% e o de

saída 8,8%.

Além do mais, a Empresa utiliza um sistema de comutação 100% digital para

voz e dados e utiliza comunicações de dados comutados por pacotes, ATM

(modo assíncrono de transferência) e relé de tramas para serviços de dados e

Internet. Tem redes metropolitanas digitais de fibra ótica nas principais cidades

no Brasil com conexões laterais por fibra com os prédios comerciais

conectados aos circuitos metropolitanos, fornecendo conexões diretas de alta

qualidade. Continua a expandir a construção de redes metropolitanas digitais

de fibra ótica a outras cidades estratégicas com alta concentração de clientes

comerciais. Utiliza sistemas de transmissão digital por microondas em áreas

onde a instalação de cabos de fibra apresenta uma menor relação

custo/benefício. Utiliza também satélites para fornecer serviços a locais

distantes no país.

O seguinte Quadro apresenta alguns detalhes relativos a rede doméstica de

longa distância e de dados da Empresa:

Quadro 12: Rede Doméstica de Longa Distância e de Dados

Em 31 de dezembroInformações sobre a Rede 1999 2000 2001

Circuitos urbanos de fibra (quilômetros de fibra) 28.578 81.524 90.524

Fibra ótica (quilômetros de fibra) 974.673 1.045.617 1.068.657

Troncos de longa distância 1.354.000 1.877.486 1.484.730

Fonte: Relatório Anual de 2001 da Empresa

Rede Internacional

A Empresa fornece serviços internacionais através de sistemas internacionais

de cabo submarino, ligando o Brasil com parceiros comerciais importantes.

Tem comutadores internacionais digitais em locais estratégicos e emprega

satélites para fornecer uma capacidade internacional adicional e atingir regiões

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ao redor do mundo onde este constitui o método mais econômico. Tem

conexões fronteiriças de rede internacional direta via cabos digitais de fibra

ótica até a Argentina, o Uruguai e o Paraguai e via transmissão digital por

rádio, até a Bolívia. Para complementar e diversificar sua rede internacional e

aumentar sua capacidade global de serviço de uma forma que apresente uma

boa relação custo/benefício, a Empresa utiliza capacidades de satélite

alugadas a partir de sistemas internacionais de satélite. Os canais de satélite

são controlados e monitorados através de suas duas estações terrestres

próprias para o serviço internacional.

Possui uma rede internacional de cabos submarinos que atinge todos os

continentes, através de sistemas submarinos a cabo. Em 2000, aumentou

substancialmente a capacidade de sua rede com a conclusão de dois novos

sistemas digitais a cabo. Em 2001, a rede internacional foi completada com

uma capacidade adicional em alguns cabos privados, o que melhorou a

diversidade da rede.

4.4 Segmentos de Mercado e Serviços Oferecidos

A Empresa atua em dois segmentos do mercado de telecomunicações: de

Comunicação de Dados e de Telefonia – Voz (longa distância nacional e

internacional, local). Os clientes da Empresa são divididos em dois grupos:

clientes residenciais e pequenas empresas e clientes corporativos.

Segmento de Comunicação de Dados

A Empresa considera que se distingue dos demais concorrentes no mercado

por sua abrangência de oferta de serviços e a habilidade em combiná-los para

atender as necessidades dos clientes, pela experiência de sua mão-de-obra,

por sua equipe de vendas e atendimento nacionais, e pela extensão e

qualidade de sua rede. Os serviços de dados que a Empresa oferece incluem

linhas dedicadas de várias velocidades, inclusive as de alta velocidade para

outras operadoras de serviços de telecomunicações, várias tecnologias para a

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transmissão de dados comutados, transmissão de dado via satélite e vários

produtos de Internet voltados para o segmento empresarial.

Sua rede, de extensão nacional e internacional, permite que esses produtos

sejam oferecidos, de forma integrada, em muitas regiões do Brasil, atendendo

clientes cujas necessidades vão além de uma cidade, um estado, uma região.

Os três grupos principais que utilizam os serviços de comunicação de dados da

Empresa são instituições financeiras, entidades governamentais e grandes

empresas. As instituições financeiras utilizam estes serviços principalmente

para as operações bancárias, a comunicação por telecomunicação e entre

agências. As entidades governamentais utilizam esses serviços para

processamento de dados, de caráter legal e outros bancos de dados e a

integração de voz, dados e imagem. As grandes empresas utilizam esses

serviços para e-mail, processamento de dados, integração de voz, dados e

imagem, faturamento e administração.

Desde a privatização, a Empresa vem atingindo um nível elevado de

diversificação nos serviços de dados e aumentou sua base de serviços de valor

agregado. Aproximadamente 27% da receita de dados em 2002 derivam de

serviços que têm sido desenvolvidos desde 1998.

De 2000 a 2002, o crescimento da base líquida de clientes foi de 28%. A

Empresa também diversificou sua base de clientes no período de 1998 a 2002,

adicionando à sua lista de clientes um número crescente de empresas de

médio e pequeno porte. Esse foi o resultado de uma estratégia coordenada

envolvendo esforço nas áreas de vendas, produto e desenvolvimento de

acesso. A receita líquida dos serviços de dados representou 25,8% do total em

2002.

Segmento de Telefonia – Voz

O segmento de telefonia da Empresa é dividido em duas grandes áreas que

prestam os serviços de voz: a Unidade Corporativa, que atende a grandes

clientes do mercado empresarial; e a Unidade de Consumo, que atende aos

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mercados residencial e de pequenas empresas. Cada unidade oferece a seus

clientes serviços de telefonia de longa distância nacional e internacional, sendo

que, a Unidade Corporativa também oferece serviços de telefonia local a

clientes empresariais.

Cada uma das áreas mantém o seu próprio DataBase Marketing, uma área de

Mercado, Concorrência e Pesquisa, e uma área de Gerência de Produtos. A

Unidade de Consumo conta com Call Centers, que mantêm o contato com os

clientes e fazem marketing direto (campanhas de venda, acompanhamento de

satisfação). Na Unidade Corporativa, o relacionamento entre a Empresa e os

clientes é mantido por meio de Gerentes de Conta.

A estratégia da Empresa no mercado corporativo constitui-se na substituição

da receita de voz básica por serviços que adicionem valor para seus clientes

corporativos. A receita de clientes corporativos advinda de planos alternativos

de longa distância nacional cresceu mais de 200% em 2002.

Em relação aos mercados residencial e de pequenas empresas, a Empresa dá

ênfase não somente à rentabilidade, mas também às receitas provenientes dos

clientes recorrentes. A receita do mercado residencial e de pequenas empresas

nos planos alternativos de longa distância nacional cresceu 131% em 2002.

O serviço de longa distância nacional representou 61,3% da receita líquida

operacional total em 2002. O serviço de longa distância internacional

representou 9,4% da receita líquida operacional total em 2002.

Na Empresa há um processo de planejamento anual de ajuste de capacidade e

demanda. A área de Marketing da Empresa é responsável pelo gerenciamento

de demanda, enquanto as áreas de Engenharia e Planejamento de Rede são

as responsáveis por atender as necessidades de capacidade. Os

gerenciamentos da demanda e da capacidade da Empresa são apresentados

nos dois itens subseqüentes.

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4.5 Previsão e Gerenciamento da Demanda

A Empresa está inserida em um ambiente muito competitivo. A capacidade de

atendimento existe – em termos de capacidade de rede consegue-se escoar o

tráfego com relativa facilidade – porém, há muitas empresas no mercado de

telecomunicações disputando o mesmo cliente. Segundo um funcionário

entrevistado, os problemas envolvendo a demanda são decorrentes

principalmente da competitividade do setor e da questão do faturamento,

devido ao alto nível de inadimplência.

Até o ano de 2001 podia-se perceber uma grande correlação entre o

crescimento do volume de tráfego e o crescimento do número de terminais

telefônicos instalados no país. Com a corrida para se atingir as metas de

universalização, durante o período de 2000 a 2002, as operadoras locais

disponibilizaram um grande número de terminais telefônicos, penetrando nas

classes sociais de menor poder aquisitivo. Muitos desses terminais ainda não

estão em uso, pois os valores cobrados pela habilitação da linha telefônica e a

assinatura mensal ainda estão em patamares restritivos para uma certa parcela

da população.

A partir desse momento notou-se um descolamento do volume de tráfego

telefônico em relação ao crescimento do número de terminais. O aumento do

fluxo de tráfego telefônico passou a ser motivado por outros fatores: planos

promocionais, tarifas mais baratas, guerras de preço entre as operadoras e

aumento dos volumes de chamadas de telefonia fixa para telefonia celular.

Após o atendimento das metas de universalização, as operadoras locais

começaram a ativar os clientes de uma forma mais seletiva, pois o nível de

inadimplência no setor cresceu muito devido ao forte aumento do número de

linhas, bem como à desaceleração da economia. A estratégia das empresas do

setor passou a ser vender o serviço para clientes que já possuem linha

telefônica, ou seja, ao invés de buscar novos clientes, que nem sempre têm o

perfil desejado, as operadoras passaram a criar campanhas e promoções para

oferecer uma segunda linha telefônica para seus clientes antigos.

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O crescimento das taxas de inadimplência no setor afeta diretamente a

Empresa, especialmente por esta não possuir terminais ligados diretamente a

todos os seus clientes de longa distância, que são conectados à Empresa por

meio das instalações das operadoras de telefonia locais.

Ao contrário de outras partes do mundo, onde a concorrência entre operadoras

de longa distância ocorre através de pré-seleção da operadora pelo usuário, no

Brasil essa escolha é feita por chamada. Na ausência da obrigatoriedade do

co-faturamento em conta única, a empresa prestadora de serviços de longa

distância é obrigada a ter uma capacitação enorme de registro de linhas

telefônicas no seu sistema de cadastro e de faturamento. As operadoras locais

só mantêm registros das linhas instaladas em suas respectivas regiões,

enquanto que a Empresa precisa manter sistemas de cadastro e de

faturamento capazes de registrar as milhões de linhas em operação no Brasil,

já que qualquer linha é passível de realizar ligações de longa distância

utilizando o seu código de acesso.

Em contraste com um modelo de pré-seleção, onde a operadora de longa

distância tem condições de obter os dados cadastrais da linha antes da

primeira ligação ser completada pelo cliente, no modelo de escolha de

operadora por chamada a operadora pode desconhecer os dados cadastrais do

cliente até depois dele completar a ligação. Assim, a operadora incorre no

custo da prestação de serviço e até obter as informações cadastrais corretas

pode não ter como cobrar as chamadas realizadas por aquela linha. Isso facilita

a inadimplência.

Enquanto as empresas de telefonia fixa eram obrigadas a fornecer à Empresa

estas informações, a qualidade das informações muitas vezes era inconsistente

e limitava a faculdade da Empresa de faturar com precisão e efetuar a

cobrança dos usuários em tempo hábil. Além disso, a questão da qualidade de

informações cadastrais foi exacerbada pelo acelerado aumento do número de

linhas e a freqüente troca de numeração.

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Outro fator que facilita o aumento da inadimplência é a proibição regulamentar

da prévia limitação de crédito do usuário. Em outras palavras, a Empresa não

pode obrigar o pré-pagamento do serviço mesmo conhecendo o histórico e

perfil de insuficiência de crédito do usuário, apenas uma vez inadimplente é

que a operadora pode interromper o serviço. Mas isso pode significar mais de

um mês de uso do serviço antes que alguma ação de interrupção possa ser

tomada.

Para lidar com essa situação complexa, a Empresa vem implementando

diversos sistemas com a finalidade de capacitá-la a gerenciar o faturamento e

cobrança. Foi necessária a implantação de sistemas de controle de fraude e

gerenciamento de chamadas de alta capacidade, sistemas para o manuseio de

um amplo banco de dados com informações de clientes de todo o país e

centros de atendimento ao cliente.

O gerenciamento de chamadas assegura que os clientes inadimplentes fiquem

proibidos de fazer uso de sua rede. Todas as chamadas que passam pelas

centrais de comutação da Empresa são filtradas por um banco de dados

centralizado, que instrui a central de comutação sobre como tratá-las. As

chamadas efetuadas e a cobrar para um número inadimplente podem ser

interrompidas. No final de 2001, aproximadamente 1,8 milhão de linhas

estavam bloqueadas. Este número dobrou para 4,6 milhões em dezembro de

2002, refletindo-se em reduções de receita da Empresa.

O nível de demanda é monitorado continuamente para auxiliar na elaboração

de campanhas de vendas, e para se conhecer o comportamento dos clientes e

das curvas de demanda. O acompanhamento é realizado a partir de pesquisas

de marketing, por base de clientes ou por base de mercado, ou por meio da

análise dos resultados da Empresa, comparando-se os patamares de tráfego e

de receita das curvas de demanda de determinados períodos.

Ao longo dos últimos anos a curva de demanda tem se comportado de maneira

crescente. Os níveis de demanda seguem um ciclo previsível: a curva é

sazonal e depende de alguns fatores, como: número de dias úteis no mês e

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quantidade de feriados – o tráfego é maior nos dias úteis. Em datas

comemorativas, como Dia dos Pais, por exemplo, o tráfego depende do tipo de

cliente, se for residencial o tráfego é maior, se for corporativo, é bem menor

que a média de um dia útil. O principal indicador do nível de tráfego é a

quantidade de dias úteis no mês. Há meses em que o volume de tráfego é

maior, como, por exemplo, março e agosto, que têm 31 dias.

Somente quando ocorre algum fato externo excepcional é que a demanda se

altera de forma inesperada, como, por exemplo, o atentado terrorista nas

Torres Gêmeas, ocorrido em setembro de 2001, que causou um

congestionamento no tráfego telefônico.

Uma guerra de preços entre operadoras também gera um aumento pontual

relevante no fluxo da rede. Quando o preço é reduzido, o tráfego aumenta

durante um certo tempo, e depois cai para um patamar intermediário. Porém, a

tendência é que volte aos níveis anteriores na medida em que os preços são

aumentados. O tráfego que é gerado durante a redução de preço das tarifas é

artificial. Se o cliente não tiver nenhum interesse de tráfego na localidade para

qual está sendo oferecido o desconto, ele não vai realizar a ligação telefônica.

O nível de demanda só se mantém acima do patamar inicial se outras medidas

forem tomadas, como, por exemplo, descontos constantes nos preços das

chamadas.

Entretanto, nota-se uma certa elasticidade da demanda. A curva de demanda

pode ser deslocada ou aumentada usando-se políticas de preços. Todavia,

segundo o entrevistado, vale lembrar que a sensibilidade ao preço é relativa,

pois a percepção do cliente em relação ao preço dos serviços de telefonia é, na

verdade, induzida por ações de marketing e propaganda. Devido a enorme

quantidade de tarifas diferentes, geralmente o cliente não busca saber quanto

custa o serviço antes de usá-lo. Como a escolha da operadora de longa

distância se dá a cada chamada realizada, o usuário costuma discar o código

de acesso que está mais acostumado.

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Ainda, promoções para deslocar a demanda para horários fora do pico

funcionam pontualmente. O cliente que não tem necessidade de usar o serviço

em outros horários que o habitual, dificilmente usará o serviço em determinado

horário por causa de uma redução de preço. É necessário fazer um estudo de

viabilidade para saber se o aumento de volume de tráfego é maior que as

perdas obtidas em conseqüência da redução da tarifa. Às vezes o aumento de

fluxo de tráfego não compensa essas perdas, e ainda cria uma percepção no

cliente que a Empresa poderia sempre cobrar tarifas mais baratas.

Por esses motivos, a Empresa está sempre realizando pesquisas para

acompanhar o mercado, o comportamento e a satisfação do consumidor. As

pesquisas de mercado ajudam a Empresa entender quais são os atributos

melhor percebidos pelos clientes, assim como quais são as motivações que os

levam a escolher a operadora de longa distância – hábito ou preço?

As tarifas para a maioria dos serviços de telefonia fixa doméstica e

internacional comutada de longa distância, ou STFC, prestados pela Empresa,

estão sujeitos à aprovação final da ANATEL, a qual a Empresa apresenta as

solicitações de reajuste de tarifa anuais.

A Empresa pode também oferecer planos alternativos além do plano de

serviços básicos. Por exemplo, um cliente pode desejar escolher um plano

alternativo que permita chamadas ilimitadas por uma taxa estabelecida ao

invés de pagar taxas por minuto sob o plano de serviços básicos. Planos

alternativos devem ser submetidos a ANATEL para aprovação, mas não estão

sujeitos ao limite de preço.

São aplicadas tarifas para as chamadas domésticas de longa distância,

incluindo intra-regionais de longa distância e inter-regionais de longa distância,

computadas com base no horário do dia e do dia da semana em que as

chamadas são efetuadas, a duração da chamada, a distância coberta e a

existência de serviços especiais, tais como assistência de operador. As tarifas

para as chamadas domésticas de longa distância são afixadas pela ANATEL e

são as mesmas para o Brasil inteiro. As tarifas para as chamadas domésticas

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de longa distância estão divididas em cinco componentes de distância e

localização: de 0 até 50 quilômetros; de 50 até 100 quilômetros; de 100 até 300

quilômetros; acima de 300 quilômetros e tarifas especiais para áreas

metropolitanas.

As tarifas cobradas para as chamadas internacionais originadas no país variam

dependendo do horário do dia e do dia da semana em que as chamadas são

efetuadas, da duração da chamada, do país de destino e da existência de

serviços especiais, tais como o auxílio de um operador. As tarifas máximas

para o serviço internacional de longa distância são fixadas pela ANATEL e são

as mesmas para o Brasil inteiro. Segundo um informe aos acionistas, a

Empresa reduziu substancialmente as tarifas para as chamadas internacionais

originadas no país em anos anteriores. Isso foi em parte em resposta à

concorrência considerável vinda das empresas fora do Brasil, conhecidas como

revendedoras de serviços telefônicos. As revendedoras fornecem aos clientes

o número de um sistema automático de retorno de chamada localizado num

país com tarifas internacionais mais baratas, permitindo que as chamadas

sejam cobradas fora do Brasil. Para competir de forma mais barata, a Empresa

reduziu o custo das chamadas realizadas a níveis semelhantes aos cobrados

pelas revendedoras.

Enquanto essas tarifas se aplicam à maioria dos clientes, a Empresa

desenvolveu uma variedade de programas promocionais e de fidelidade do

cliente em 2000 e 2001. Os produtos foram desenvolvidos para atender as

necessidades específicas de cada segmento de clientes: há planos com tarifas

diferenciadas para os horários que o cliente usa mais o serviço; contratação de

blocos de minutos por um valor fixo e com tarifas mais baratas que a do plano

básico nos minutos seguintes, entre outros. O programa de descontos da

Empresa ao cliente tem o objetivo de preestabelecer a identidade de seus

clientes, melhorando as cobranças a estes, com uma maior lealdade do cliente

e sua fidelidade. Esses programas foram concebidos para aumentar a

participação de mercado da Empresa e promover o uso do seu código de

seleção para chamadas de longa distância nacionais e internacionais.

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A adesão voluntária do cliente em determinado plano é um indicador que este

tem a intenção de usar os serviços da Empresa. Porém, apesar disso, não há

como garantir que o cliente não use os serviços de outras operadoras de longa

distância em algum momento, pois a escolha da operadora se dá chamada por

chamada.

Segundo o entrevistado, a Empresa procura não adotar a estratégia de

oferecer preços promocionais com a exclusiva finalidade de aumentar a

demanda, pois, por não ter o controle total dos custos de interconexão, não tem

condições de competir pelo menor custo. Entretanto, quando a concorrência

lança uma campanha promocional, a Empresa tende a acompanhar, visando

garantir a satisfação e a fidelidade de seus clientes.

Em abril de 1999, a Empresa iniciou um programa de diferenciação de preço

para as chamadas internacionais realizadas para o Brasil oferecendo tarifas,

dependendo do destino dentro do Brasil. Chamadas para as áreas do Rio de

Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte tiveram um desconto de até 50% sobre a

tarifa básica. Esse programa deu a Empresa uma flexibilidade para competir

com outras operadoras, principalmente com repetidoras, e resultaram na

recuperação de um importante volume de tráfego para as chamadas

internacionais, que anteriormente estava declinando.

Os clientes da Empresa apresentam perfis de consumo diferenciados. O cliente

residencial usa mais o serviço nos horários de tarifa reduzida e super-reduzida

(à noite e nos fins-de-semana), e o tempo de duração de suas chamadas são

mais longos nesses horários do que nos horários normal e diferenciado.

Durante a semana, nos horários de tarifa normal, o tráfego corporativo é maior

que o residencial.

No mercado de voz, a competição entre as operadoras de longa distância pelo

cliente do segmento residencial ocorre chamada por chamada. É o segmento

onde há mais competição e onde é mais difícil fidelizar o cliente, que não

percebe diferença na qualidade dos serviços prestados pelas operadoras. Por

esse motivo, a Empresa investe maciçamente em propaganda e marketing de

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massa para fortalecer a marca e fazer com que o seu código de discagem de

longa distância seja sempre lembrado pelos usuários do serviço. É o segmento

que gera mais volume de tráfego para a Empresa, porém as margens são

baixas.

Devido ao problema de rentabilidade no mercado residencial, a Empresa sub-

segmenta esse mercado, focando naqueles clientes que consomem mais o

serviço. A Empresa faz marketing direto, envia malas diretas oferecendo planos

especiais para esses clientes, e utiliza mídias mais sofisticadas para atingir

esse público, como TV a Cabo, por exemplo.

Não há sistema de reservas no mercado residencial, porque o serviço é

prestado chamada por chamada. Porém, a Empresa oferece cartões

telefônicos pré-pagos para chamadas de longa distância, que podem ser

utilizados em qualquer tipo de aparelho telefônico, e também oferece planos de

blocos de minutos por valores pré-fixados.

O segmento de pequenas empresas é considerado um mercado potencial, que

ainda é pouco explorado. Esse segmento engloba um número enorme de

clientes, que demandam serviços mais baratos e mais simples.

O grande cliente corporativo tem mais dificuldade em migrar para outras

prestadoras de serviços de telecomunicações, pois além da grande quantidade

de equipamentos instalados nas dependências do cliente, há geralmente um

relacionamento de confiança de longa data e o custo da troca é alto.

Como o cliente unitário corporativo gera um tráfego muito maior, a Empresa

procura lhe oferecer um tratamento especial: oferece pacotes de serviços com

preços reduzidos, com descontos progressivos por volume e tarifas

diferenciadas, e ainda disponibiliza um gerente de contas que propicia

atendimento personalizado e oferece a esses clientes outros serviços de

telecomunicações – dados, Internet, 0800, etc. É o segmento que gera a maior

rentabilidade para a Empresa.

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As operadoras de celulares também geram um substancial aumento de volume

de tráfego, pois mantêm contratos de interconexão com as operadoras de

longa distância para completar as chamadas nacionais e internacionais de seus

assinantes.

Para a Empresa, o ideal é obter o lucro mínimo de todos os clientes e tentar

obter uma margem maior do cliente corporativo. Entretanto, o cliente

corporativo sozinho não consegue subsidiar completamente os demais clientes.

4.6 Gerenciamento da Capacidade

O Setor de Planejamento de Redes da Empresa é responsável por garantir a

capacidade do sistema, atendendo a previsões de demanda oriundas de

diversas fontes: o atendimento às obrigações regulatórias (metas de

universalização); estratégias financeiras (bloqueio de chamadas e savings de

interconexão); previsões das áreas de marketing e vendas (definição de

serviços e projeções de demanda); projetos da área de engenharia; e

solicitações da área de operações.

Atualmente a previsão de necessidades futuras de capacidade é realizada por

meio de planejamento agregado para um horizonte de um ano. A partir do

levantamento das demandas, é definida uma meta que servirá como base para

as ações que serão implementadas pelo setor de planejamento de redes

durante o ano. Essa meta, definida em bases financeiras, é traduzida em

projetos representando facilidades e funcionalidades.

As facilidades envolvem soluções de hardware e software, que possibilitam o

aumento da capacidade do sistema de acordo com as necessidades. As

funcionalidades são traduzidas em ações que possibilitam a eficiência

operacional e o atendimento aos requisitos formulados para a rede, como o

bloqueio de chamadas de clientes inadimplentes. Além disso, a Empresa

realiza análises de investimentos dos projetos, que determinam se é mais

interessante aumentar a capacidade da rede, ou utilizar a rede dos

concorrentes, pagando tarifas de uso.

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A Empresa atualmente está adotando a estratégia de acompanhamento de

demanda, com as decisões de alteração de capacidade sendo tomadas em

curtíssimo prazo, de um a três meses no máximo. Isso vem ao encontro com a

política de redução de custos e otimização do sistema. O nível de capacidade

do sistema se mantém compatível com a demanda, sempre levando em

consideração a qualidade dos serviços prestados. Para sistemas

contigenciados, a Empresa procura sempre trabalhar com um nível de

utilização da capacidade instalada, nos seus meios de transmissão, bem

inferior ao valor de 100%.

A explicação para se ter uma capacidade ociosa deve-se à estrutura das redes

de telecomunicações. Para que se mantenha a qualidade e a confiabilidade

dos serviços, sem interrupções nas transmissões dos sinais, é necessário que

haja sempre rotas de fuga disponíveis. Ou seja, caso aconteça uma falha em

algum ponto da rede, deve-se sempre existir um outro "caminho" para onde

esses sinais serão desviados, e esse caminho tem que estar dimensionado

para atender toda a demanda da rede em caso de contingências. Em situações

de rede envolvendo duas alternativas a utilização pode ficar limitada à cerca de

50% da capacidade instalada e em casos com mais de duas alternativas a

valores mais altos. Por esse motivo, a estrutura das redes de telecomunicações

é dita redundante, sendo projetada em formato de "anel" para soluções do tipo

fibra ótica.

Para a Empresa, os maiores gargalos do processo são de caráter financeiro. A

viabilidade econômica-financeira dos projetos determina o aumento ou não das

capacidades disponibilizadas. Segundo o entrevistado, não há mais a

mentalidade de se dispor capacidade aguardando um possível aumento de

demanda futuro. O aumento só se realiza caso seja comprovado que essa

demanda realmente existirá.

A capacidade necessária aos serviços da Empresa é traduzida em

equipamentos e uso de tecnologia. Há duas formas de se alterar a capacidade:

com a instalação ou substituição de equipamentos, ou com a utilização de

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softwares que permitem uma otimização da rede, capacitando-a a atender

demandas que necessitem uma maior capacidade de transmissão de sinais.

Muitas vezes, a Empresa aluga meios de transmissão (linhas dedicadas) de

outras operadoras para atender a alguns clientes. Essa decisão depende da

análise econômico-financeira que é realizada em cada projeto. Em alguns

casos, é mais vantajoso alugar a linha e pagar as tarifas de uso e de

interconexão do que implementar uma nova rede. Os custos de implementação

da última milha são os mais altos em uma rede de telecomunicações, e as

receitas obtidas nem sempre justificam o desembolso dos investimentos

necessários para a sua implementação.

Com a redução dos tamanhos dos equipamentos devido às inovações

tecnológicas, muitas áreas antes ocupadas por estes equipamentos ficaram

ociosas, principalmente em prédios. A Empresa aluga essas áreas para outras

prestadoras de serviço, como por exemplo, prestadoras de serviços de valor

adicionado.

Além disso, a Empresa mantém 268 convênios bilaterais com administrações

estrangeiras de telecomunicações e operadoras privadas. Esses convênios

estabelecem as tarifas de pagamento entre a Empresa e as operadoras

estrangeiras para a utilização de suas instalações na realização de chamadas

internacionais faturadas no Brasil, e entre as operadoras estrangeiras e a

Empresa para a utilização das instalações da Empresa nas chamadas

internacionais faturadas no exterior.

A Empresa dispõe, basicamente, de quatro tipos de tecnologia de transmissão

de dados e voz: fibras óticas, satélites, rádios, e redes metálicas de cobre.

Cada uma dessas tecnologias possui capacidades de transmissão distintas, e a

escolha da tecnologia a ser empregada depende principalmente de fatores

econômicos e operacionais.

O uso da tecnologia de fibras óticas em suas principais redes possibilita uma

grande flexibilidade no aumento da capacidade. Com poucas alterações na

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infra-estrutura da rede de fibra ótica é possível multiplicar a sua capacidade.

Entretanto, a implementação desse tipo de rede só é viável economicamente

quando há uma grande demanda a ser atendida, que gere um volume de

transmissão que justifique a sua implantação. Por esse motivo, nem sempre é

interessante implantar esse tipo de tecnologia na última milha. Depende muito

do tipo e porte do cliente que será atendido. Existe uma demanda mínima de

volume de tráfego que justifica a chegada da fibra ótica até um certo local.

A Empresa mantém sistemas de informações que são fundamentais para a sua

operação. O controle da base de dados é vital para as atividades de billing8 e

segurança da rede. Algumas redes dispõem de sistemas de alarmes pró-ativos,

que comunicam aos centralizadores operacionais quando alguma falha ocorre

no sistema, possibilitando que sejam tomadas ações reparadoras, muitas

vezes antes mesmo que o cliente perceba que algum problema ocorreu.

Os serviços oferecidos aos clientes corporativos são geralmente padronizados

em "produtos de prateleira". Isso facilita o planejamento de capacidade, pois

todas as necessidades, procedimentos e rotinas para a prestação do serviço já

são conhecidas. Entretanto, em alguns casos a Empresa elabora projetos

especiais para alguns clientes de grande porte, ou que sejam estratégicos. O

Setor de Engenharia é o responsável pela elaboração desses projetos

especiais.

Alguns serviços da Empresa são realizados por mão de obra terceirizada ou

temporária, principalmente nas áreas de implantação e manutenção da rede.

As instalações passam constantemente por manutenção preventiva, pois a

confiabilidade e qualidade dos serviços já são intrínsecas ao negócio, ainda

mais depois da abertura do mercado de telecomunicações.

8 Billing é a análise e valoração das chamadas nacionais e internacionais das operadoras de telefonia.

Esse serviço é usado para a validação das chamadas, diferenciação, tarifações por plano de serviços e

promoções, manutenção de tabelas e recuperação de chamadas.

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O compartilhamento da rede (unbundling) é um assunto que vem sendo

discutido pelos agentes do setor exaustivamente na ANATEL. Teoricamente,

as operadoras locais não poderiam impor barreiras restritivas ao uso da rede

pelos seus concorrentes, ou impor tratamento discriminatório ou diferenciado

às empresas que utilizam seus sistemas. Porém, atualmente não é isso o que

se observa. As operadoras estão tentando sempre encontrar formas de

dificultar o acesso às suas redes. A Empresa, por necessitar utilizar as redes

locais para completar suas ligações, tem como prioridade o investimento em

implantação de rede de acesso na última milha para ligar diretamente seus

clientes empresariais à rede de longa distância da Empresa.

Em 2002, foram construídos e adicionados à rede, um total de 148 pontos de

presença de interconexão (PPIs), a qual possui mais de 400 pontos de

presença de interconexão próprios e outros 329 pontos de presença alugados,

permitindo cobrir todo o território nacional. O aumento substancial de PPIs

contribuiu para a redução do montante pago em interconexão de longa

distância (TU-RIU) e contribuiu significantemente para a redução dos custos de

interconexão de 47,8% em 2001 para 46,1% da receita líquida em 2002.

A Empresa possui sistemas de bloqueio de assinantes inadimplentes e oferece

serviços pré-pagos que possibilitam a limitação do uso em ligações telefônicas

nacionais e internacionais. Dependendo da distância e a tarifa entre as

cidades, o sistema calcula o tempo disponível para a ligação, informando-o ao

usuário do cartão pré-pago para ligações de longa distância.

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5 ANÁLISE DO CASO

Neste capítulo é realizada a análise das informações obtidas sobre a Empresa

durante a pesquisa. Faz-se uma comparação entre as práticas de

gerenciamento de capacidade e de demanda adotadas pela Empresa com as

propostas no esquema conceitual. Com isso, verifica-se como essa empresa

busca o ajuste entre a capacidade e a demanda por seus serviços, e como lida

com a ociosidade de seus ativos ou com a incapacidade de atendimento a

todos os seus clientes. O objetivo é identificar os mecanismos de ajuste

adotados pela Empresa e compará-los com os que foram sugeridos na revisão

de literatura.

Em primeiro lugar, é feita uma análise da Empresa enfocando os impactos e as

questões sobre a capacidade que são geradas em função das características

próprias às operações de seus serviços. Em seguida, são discutidas as

estratégias de gerenciamento de capacidade e de demanda adotadas pela

Empresa e identificados os mecanismos de ajuste entre capacidade e

demanda utilizados em suas operações.

5.1 A Empresa e a Questão da Capacidade em suas Operações

A Empresa, como uma prestadora de serviços de telecomunicações, tem

características marcantes tendo suas operações fortemente influenciadas pelas

questões de capacidade.

A Empresa oferece serviços de telefonia de longa distância nacional,

internacional, comunicação de dados e Internet a clientes empresariais e

residenciais. O processo de produção da Empresa pode ser definido como uma

atividade de transporte de voz e dados, por meio de um sistema compartilhado

de redes e equipamentos. Os produtos gerados são experiências intangíveis,

que não podem ser transferidas para outras pessoas em algum outro momento.

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A produção e o consumo dos serviços de telecomunicações são simultâneos.

Os insumos são consumidos pelos segmentos de planta utilizados para a

geração dos serviços. O processo de produção é altamente integrado,

utilizando sua infra-estrutura de diferentes formas, dependendo do tipo de

serviço que está sendo realizado.

As redes da Empresa são utilizadas tanto para transportar os serviços de voz

quanto os de dados. Os recursos utilizados para a geração desses serviços

são praticamente fixos, variando em função da capacidade projetada para o

escoamento do tráfego. Assim, a Empresa fica extremamente vulnerável a

variações bruscas de demanda, pois, devido a perecibilidade dos serviços, não

há como estocar ou mesmo transportar “produtos” para regularizar o fluxo

produtivo em relação a demanda.

Além disso, para garantir a qualidade e a continuidade de seus serviços, a

Empresa precisa dispor de capacidade suficiente para atender picos de

demanda inesperados. Muitos dos serviços oferecidos não podem ser

interrompidos devido a congestionamentos nas redes. Por esse motivo, a

Empresa trabalha com uma margem de segurança considerável, mantendo até

em alguns casos, 50% da capacidade ociosa em alguns segmentos de suas

redes.

A heterogeneidade dos resultados dos serviços prestados também afeta as

operações da Empresa. Apesar de possuir capacidade relativamente suficiente

para atender a demanda, é uma tarefa complexa determinar o tempo médio de

uso dos serviços no dimensionamento da capacidade necessária. A Empresa

não tem como limitar a duração das chamadas ou mesmo programar para que

as chamadas sejam realizadas em outros horários. Neste caso, o controle da

heterogeneidade se dá por meio de medidas que visem influenciar a demanda.

A seguir são discutidas as estratégias de gerenciamento de capacidade e

demanda adotadas pela Empresa, assim como os mecanismos de ajuste

utilizados.

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5.2 Estratégias de Gerenciamento de Capacidade e de Demanda

A Empresa adota o planejamento agregado para definir metas, que servem

como base para as ações que são implementadas para otimizar suas redes de

telecomunicações.

A capacidade da Empresa se traduz em equipamentos e meios de

transmissão, que constituem o sistema de redes, e o uso de tecnologia. Há

duas formas de se alterar a capacidade do sistema de longa distância: com a

instalação ou substituição dos equipamentos e meios de transmissão, o que

implica em grandes investimentos; ou com a utilização de softwares, que

permitem o alargamento da faixa de transmissão de sinais, proporcionando

aumento da capacidade de processamento das informações.

A Empresa vem passando por um processo de redução de custos e otimização

do sistema. Por essa razão, a decisão quanto ao aumento da capacidade do

sistema depende da análise financeira dos projetos e da confirmação de que a

demanda realmente existirá. A estratégia de acompanhamento de demanda

vem sendo adotada pela Empresa, com decisões de alteração de capacidade

sendo tomada em curto prazo.

A adoção dessa estratégia só é possível porque os avanços tecnológicos das

técnicas de transmissão de sinais possibilitaram uma maior flexibilidade de

capacidade à Empresa. Antes, a única forma de se expandir os serviços de

longa distância era por meio do aumento da capacidade de cabos entre as

cidades. Então, trabalhava-se com uma capacidade praticamente fixa, que

muitas vezes não atendia o volume de tráfego e possuía elevados custos de

investimentos e manutenção.

Devido a necessidade de se contingenciar as redes de fibra ótica, a fim de se

garantir a qualidade e a confiabilidade dos serviços, os níveis de utilização da

capacidade dessas redes mantêm-se sempre bem abaixo de suas capacidades

máximas. Dependendo do número de rotas de fuga da rede, a taxa de

utilização da capacidade pode ficar bem abaixo até da capacidade ótima citada

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por Lovelock (1996). Nos outros meios de transmissão utilizados pela Empresa,

o nível de capacidade se mantém compatível com a demanda, sempre levando

em consideração a qualidade dos serviços.

A preocupação com a confiabilidade e a qualidade dos serviços de longa

distância deve-se principalmente a dois motivos: primeiro porque a Empresa

precisa atender às metas de qualidade de serviços de telefonia estipuladas

pela ANATEL, sendo sujeita à multas caso não consiga alcançar os índices

determinados nos contratos de concessão. Segundo porque, com o aumento

da concorrência, a Empresa precisa manter sua imagem de prestadora de

serviços de qualidade junto a seus clientes.

A seguir são apresentados os mecanismos de ajuste de capacidade que são

utilizados pela Empresa.

Localização: serviços móveis ou distribuídos

Pela própria característica dos serviços de telecomunicações, a Empresa

precisa, de alguma forma, se conectar aos seus clientes. Entretanto, como é

uma operadora de longa distância, nem sempre se conecta diretamente aos

equipamentos dos clientes, tendo que utilizar as redes das operadoras locais

para tal. Porém, a Empresa tem investido na implantação de redes na última

milha, a fim de reduzir os custos de interconexão e melhorar o relacionamento

com seus clientes empresariais.

As instalações da Empresa estão bem próximas da demanda potencial. O

sistema de redes de longa distância cobre todo o território nacional. Ela dispõe

de quatro tipos de tecnologia de transmissão de dados e voz que a possibilita

atender a clientes em qualquer localidade do país: fibras óticas, satélites,

rádios e redes metálicas de cobre. Por meio de sistemas submarinos a cabo e

satélites, seus clientes são conectados a diversos países do mundo.

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Compartilhamento da capacidade

O compartilhamento da capacidade é fundamental para as operações de

telecomunicações. Assim como a Empresa depende das redes das operadoras

locais para se conectar aos seus clientes, as operadoras locais precisam

utilizar as suas redes para completar suas chamadas de longa distância.

Entretanto, como os custos de interconexão são muito altos, a Empresa tem

realizado investimentos em implantação de redes de acesso na última milha

para conectar alguns clientes corporativos. Porém, essa decisão depende do

trade-off entre os custos de implantação de uma nova rede e os custos de

interconexão.

A Empresa também mantém convênios bilaterais com empresas no exterior

para compartilhamento de suas redes.

Investimentos antecipados em expansão de capacidade

A Empresa planeja anualmente suas necessidades de capacidade para

atender demandas potenciais. Os investimentos são realizados somente

quando são comprovadas as necessidades. Porém, muitas das tecnologias

utilizadas permitem uma rápida resposta ao incremento de demanda. Depois

de realizado o cabeamento da rede de fibra ótica, por exemplo, é muito fácil

aumentar sua capacidade. Com poucas alterações em sua infra-estrutura é

possível multiplicar a sua capacidade, permitindo uma maior flexibilidade.

Tecnologia e automação

A evolução tecnológica dos equipamentos de telecomunicações aumentou a

flexibilidade e a qualidade de transmissão dos sistemas de telecomunicações.

A Empresa é capaz de aumentar a capacidade e otimizar o uso da rede por

meio de atualizações de softwares de controle.

A Empresa dispõe de tecnologias de transmissão de dados e voz com

capacidades distintas, que são empregadas considerando fatores operacionais

e econômicos.

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Sistemas de informação

Os sistemas de informação são fundamentais para as operações da Empresa.

São utilizados nas atividades de biling e de segurança da rede. Falhas na rede

podem ser detectadas por meio de sistemas de alarme, o que possibilita que o

problema seja solucionado rapidamente, evitando a descontinuidade do serviço

por muito tempo.

A Empresa também mantém um sistema de bloqueio de assinantes

inadimplentes. Dessa forma, consegue-se evitar que suas redes sejam

utilizadas e seus serviços não sejam pagos. Quando uma chamada interurbana

é realizada, a Empresa necessariamente paga as taxas de interconexão para

as operadoras locais de cada uma das cidades interconectadas. Logo, quando

o cliente não paga a fatura, a Empresa tem que arcar com o prejuízo.

Padronização dos serviços

Para facilitar o planejamento de capacidade, a Empresa oferece serviços

padronizados em forma de “pacotes” a seus clientes corporativos. As

necessidades, procedimentos e rotinas para a prestação do serviço já são

conhecidas, permitindo agilidade na resposta à demanda.

Mão-de-obra temporária ou de tempo parcial

É utilizada mão-de-obra temporária ou terceirizada nas áreas de implantação e

manutenção de rede. A Empresa contrata empresas especializadas para

realizar esses serviços, reduzindo os seus custos fixos e ganhando flexibilidade

e agilidade na capacidade de executar essas tarefas.

Manutenção preventiva dos equipamentos nas instalações da Empresa

O compromisso da Empresa com a qualidade e a confiabilidade dos serviços a

obriga realizar manutenções preventivas em seus equipamentos e meios de

transmissão com muita freqüência. Uma falha em qualquer ponto da rede, que

descontinue o serviço por alguns momentos, pode causar um prejuízo enorme

tanto para a Empresa como para seus clientes.

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Controle do tempo de duração do serviço

A Empresa criou um cartão pré-pago para ligações de longa distância que

limita o tempo de uso de acordo com o valor pago pelo cartão. Quando o

cliente disca o código de área da cidade para qual está ligando, o sistema

automaticamente calcula o tempo disponível para a ligação, informando-o ao

usuário. Quando terminam os créditos do cartão, a chamada telefônica é

encerrada automaticamente. Esse sistema evita a inadimplência.

Serviços para grupo de clientes

O uso da tecnologia de fibra ótica, apesar das inúmeras vantagens trazidas aos

seus usuários, como a redução do tempo necessário para completar as

chamadas e diminuição dos riscos de defeitos e congestionamento, só é viável

economicamente quando há uma grande demanda a ser atendida, que gere

um volume mínimo de transmissão que justifique a sua implantação. Por essa

razão, a Empresa avalia os tipos e os portes dos clientes que serão atendidos

pela rede de fibra ótica, implantando essa tecnologia na última milha somente

quando é garantido o volume mínimo de tráfego necessário. A Empresa possui

algumas Centrais Privadas de Comutação Telefônica digitalizadas em edifícios

comerciais, que atendem a diversos clientes empresariais condôminos por

meio de cabos óticos, que são interconectados às outras Centrais Telefônicas

da Empresa por meio de rede de fibra ótica ou por rádio-transmissão.

Utilização estratégica da capacidade ociosa

A Empresa utiliza sua capacidade ociosa estrategicamente. Essa capacidade é

utilizada para garantir a confiabilidade dos serviços. As redes de fibra ótica são

contingenciadas, sendo projetadas em formato de anel e previstas rotas de

fuga para os sinais transmitidos em caso de pane do sistema. Além disso, as

redes são de certa forma super dimensionadas, prevendo a ocorrência

esporádica de picos de demanda.

A capacidade ociosa torna-se, então, uma vantagem competitiva para a

Empresa. Além de garantir a qualidade e a confiabilidade dos serviços, a

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extensa capacidade da Empresa também inibe os investimentos em redes de

transmissão de outros concorrentes. As empresas entrantes no mercado de

longa distância têm a opção de compartilhar as redes, gerando uma receita

extra de aluguel de rede para a Empresa.

A capacidade excedente das redes da Empresa poderia ser utilizada para

oferecer pacotes de serviços casados. Porém, a regulação vigente não autoriza

a venda casada de serviços básicos, como telefonia de longa distância e local,

para evitar a prática de subsídios cruzados. Ou seja, cada serviço básico de

telefonia precisa ser contratado ou solicitado individualmente pelo cliente. Caso

isso fosse possível, a Empresa poderia oferecer pacotes de serviços de

comunicação de dados, que possuem um valor percebido maior, para clientes

corporativos incluindo serviços de longa distância.

Dois mecanismos de ajuste de capacidade que poderiam ser muito úteis à

otimização das operações da Empresa não são empregados: o pré-

processamento de pedidos e a cooperação entre competidores.

O pré-processamento de pedidos, ou fazendo-se uma analogia para os

serviços de telecomunicações, a pré-seleção de operadora de longa distância

pelo cliente, seria uma ótima ferramenta para se reduzir as altas taxas de

inadimplência dos usuários de serviços de longa distância, pois possibilitaria

uma pré-avaliação da capacidade de pagamento do cliente antes de se

disponibilizar o serviço e, se fosse permitido, a Empresa também poderia limitar

o crédito do usuário. Além disso, a Empresa não precisaria manter um vultuoso

banco de dados com o cadastro de todas as linhas instaladas no país, e sim

somente daquelas que pré-selecionaram o serviço. Porém, o modelo adotado

no Brasil para ligações de longa distância foi o de seleção de operadora

chamada por chamada, que só permite o conhecimento do cliente no momento

que o serviço está sendo prestado.

Devido a concorrência acirrada entre as operadoras de telefonia, não é muito

comum a cooperação entre os competidores.

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Assim como a Empresa procura otimizar o uso de seus ativos por meio de

mecanismos de ajuste de capacidade, ela também emprega mecanismos para

influenciar a demanda. A abertura do mercado de telecomunicações impôs um

aumento da competição entre as operadoras de telefonia, e apesar do

constante crescimento da demanda, a Empresa vem perdendo participação de

mercado em serviços de longa distância em função da entrada de novos

concorrentes em 2002.

A partir do momento em que houve um descolamento entre o aumento do

número de terminais telefônicos instalados e o nível de demanda, a Empresa

percebeu a necessidade de utilizar mecanismos para estimular o crescimento

do volume de tráfego telefônico.

Os níveis de demanda da Empresa seguem um ciclo previsível, entretanto,

conforme o que Bitran e Mondschein (1997) sugerem, fatores como mudança

de hábito dos consumidores, influências ocasionadas por terceiros, como por

exemplo, uma redução de preços promovida pelas concorrentes, e situações

imprevisíveis geram flutuações na demanda da Empresa.

Para lidar com essas variações de demanda e incentivar o crescimento do

volume de tráfego, a Empresa adota a estratégia de influenciar o nível de

demanda.

Lovelock (1996) propõe que, quando se tem capacidade suficiente e a

demanda é satisfatória, e o objetivo é aumentar a demanda, a empresa deve

tentar estimular e dar maior prioridade para segmentos mais lucrativos. E,

sugere também que, quando se tem excesso de capacidade com a demanda

insuficiente, e o objetivo é aumentar a demanda, deve-se fazer uma redução

seletiva de preços (garantindo que todos os custos estejam cobertos) e usar

comunicação e variação em produtos / distribuição (reconhecendo custos

extras e analisando os trade-offs entre lucratividade e níveis de uso).

Ambas estratégias são adotadas pela Empresa. A capacidade da Empresa é

suficiente para atender a demanda, porém a Empresa vem notando uma

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redução no volume de tráfego telefônico, devido principalmente à maior

concorrência e ao aumento de linhas bloqueadas por inadimplência,

impactando diretamente nos seus resultados financeiros. O segmento

corporativo gera uma maior rentabilidade para a Empresa, porém o segmento

residencial e de pequenas empresas gera a maior parte do volume de tráfego

total, apesar de suas margens serem menores.

Cada um desses segmentos é atendido por uma unidade operacional

específica: a Unidade de Consumo atende ao segmento residencial e de

pequenas empresas, e a Unidade Corporativa atende aos grandes clientes.

Dessa forma, a Empresa consegue direcionar melhor suas ações para obter a

máxima rentabilidade possível de seus clientes. As características e

necessidades dos clientes de cada segmento são muito distintas, o que implica

oferecer tratamentos diferenciados. Por exemplo, enquanto os clientes

residenciais procuram utilizar os serviços nos horários de tarifa reduzida e nos

fins-de-semana, os clientes corporativos consomem mais os serviços no

horário comercial e nos dias úteis. O cliente residencial prioriza o menor preço,

enquanto que o corporativo busca, além do melhor preço, a qualidade e a

confiabilidade dos serviços.

As pesquisas de mercado, que são constantemente realizadas pela Empresa,

buscam acompanhar as variações na demanda e compreender melhor o

comportamento dos clientes dos serviços de voz. Além disso, fornecem

informações que são utilizadas na elaboração e acompanhamento das

estratégias de ajuste de demanda adotadas pela Empresa.

A seguir são apresentados os mecanismos de ajuste de demanda utilizados

pela Empresa.

Pré-venda: sistema de reservas

A oferta de cartões pré-pagos para chamadas de longa-distância é uma das

formas que a Empresa encontrou de vender capacidade futura de prestação de

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serviços. Entretanto, esse produto não possibilita a Empresa prever quando o

serviço será utilizado.

A Empresa também oferece planos alternativos com blocos de minutos por

valores pré-fixados. O cliente paga mensalmente um valor fixo e tem um prazo

determinado para utilizar os minutos contratados. O valor total do plano é pago

mesmo que todo o tempo contratado de conversação disponível não seja

utilizado. É uma espécie de sistema de reservas, pois possibilita que a

Empresa se programe para atender a esta demanda, e o cliente, de certa

forma, é penalizado financeiramente caso não use o serviço integralmente.

Marketing direto

O marketing direto é freqüentemente adotado pela Empresa para atingir os

clientes mais rentáveis. Para os clientes do segmento residencial e de

pequenas empresas que mais consomem os serviços são enviadas malas

diretas oferecendo planos especiais e divulgando produtos e promoções. No

segmento corporativo, a Empresa oferece pacotes de serviços, descontos e

serviços de valor adicionado por meio de gerentes de conta, que fornecem

tratamento personalizado para os grandes clientes.

Políticas de preço

Apesar das tarifas para a maioria dos serviços de longa distância serem

regulamentadas, a Empresa desenvolveu diversos produtos para atender

necessidades específicas de cada segmento de clientes. A utilização desse

mecanismo pela Empresa visa principalmente aumentar sua participação de

mercado, promovendo o uso do seu código de acesso de longa distância.

Mas, como a decisão do cliente se dá no momento em que este realiza a

chamada telefônica, não há garantias reais que ele usará sempre os serviços

da Empresa. A adesão voluntária do cliente em algum dos planos alternativos

oferecidos apenas sugere que ele tem a intenção de selecionar o código da

Empresa. A total fidelização do cliente é muito difícil de ser conseguida.

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Percebe-se um certo grau de elasticidade na demanda, logo a política de

diferenciação de tarifas mostra-se um mecanismo eficiente para deslocar a

demanda para determinados horários e dias, como à noite e fins-de-semana. É

importante notar, porém, que a sensibilidade dos clientes em relação ao preço

é relativa, pois devido a enorme complexidade das estruturas tarifárias dos

serviços de telefonia, o cliente, na maior parte das vezes, não consulta tabelas

de preço antes de efetuar as chamadas telefônicas. Portanto, a decisão do

cliente nem sempre pode estar relacionada com a política de preços que a

Empresa adota.

Comunicação

Os esforços de comunicação são fundamentais para que estratégias como

oferta de planos alternativos de serviços tenham sucesso, aumentando, dessa

forma, a procura pelos serviços pelos consumidores. Esses planos alternativos

só podem ser contratados após uma solicitação do cliente. A Empresa mantém

contato com os clientes por meio da mídia, malas diretas e por telemarketing

ativo. Os Call Centers da Empresa realizam pesquisas de satisfação e de

mercado junto aos clientes residenciais e de pequenas empresas, e também

prestam serviços de atendimento ao consumidor, recebendo reclamações,

críticas e solucionando problemas de faturamento. Todas as ações são

realizadas visando conquistar a fidelidade dos clientes.

Promoções, liquidações e propaganda

A Empresa procura não realizar promoções de preço apenas com o intuito de

aumentar sua demanda. Os preços promocionais são utilizados principalmente

para incentivar o cliente a utilizar o código de acesso da Empresa, criando o

hábito, ou quando a concorrência lança campanhas promocionais. Porém, com

o declínio do volume de tráfego dos serviços de longa distância internacional, a

Empresa adotou esse mecanismo para recuperar as perdas de demanda. A

decisão de se adotar descontos promocionais depende de um estudo de

viabilidade para se saber se o aumento do volume de tráfego compensa as

perdas obtidas em função das reduções de tarifa.

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As guerras de preço promovidas pela concorrência geram desgastes muito

grandes para a Empresa, pois como não tem condições de competir pelo

menor preço, devido aos altos custos de interconexão, não é interessante para

a Empresa que os clientes criem a percepção que preços mais baratos

poderiam ser cobrados sempre.

A utilização de propaganda é fundamental para o negócio da Empresa. Como

um dos principais fatores que influenciam a decisão do cliente residencial é o

hábito de se utilizar o código de acesso da operadora de longa distância, a

Empresa precisa divulgar o seu código maciçamente na mídia. Além disso, o

reconhecimento da marca como uma prestadora de serviços de qualidade

também influencia a decisão dos clientes, tanto residenciais, como

corporativos.

Manutenção preventiva dos equipamentos dos usuários

Os equipamentos instalados nas dependências dos clientes corporativos

passam sempre por manutenção preventiva, a fim de se evitar falhas e

descontinuidade na operação.

Segmentação da demanda

A segmentação do mercado dos serviços de voz é feita por tipo de cliente:

residencial e de pequenas empresas e cliente corporativo, e por tipo de

produto: longa distância nacional e longa distância internacional. Há uma

unidade de negócio para cada um desses segmentos de clientes, possuindo

cada uma áreas próprias de gerenciamento de banco de dados, inteligência de

mercado, e gerência de produtos. Cada unidade de negócio tem autonomia

para definir as estratégias que serão tomadas no que se refere a políticas de

preços, desenvolvimento de produtos, níveis de serviços, campanhas

promocionais e atendimento ao cliente.

Com o aumento de concorrentes no mercado de telefonia de longa distância,

os usuários não precisam mais aguardar para utilizar os serviços de longa

distância, ou seja, caso o cliente não consiga completar a chamada utilizando o

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código de acesso da Empresa, provavelmente ele tentará logo em seguida usar

o código de alguma das outras concorrentes. Isso significa que a tolerância do

cliente pela espera do serviço tornou-se quase nula, e o congestionamento da

linha significa à perda imediata do negócio. Por essa razão, não faz sentido

para a Empresa oferecer serviços complementares que reduzam o desconforto

da espera. Porém, algumas operadoras introduziram uma mensagem

eletrônica que avisa ao cliente que o número discado encontra-se ocupado, e

solicita que tente novamente mais tarde.

Segundo o entrevistado, promoções diárias também não são utilizadas com

freqüência pela Empresa, pois não alteram significantemente os níveis de

demanda. Entretanto, em algumas datas especiais, como dia dos Pais, a

operadora promove descontos especiais para ligações de longa distância.

A única forma de se vender serviços de telefonia antecipadamente é por meio

de cartões telefônicos "pré-pagos". Porém, o volume de tráfego gerado por este

sistema representa uma parcela quase insignificante do volume total de tráfego

gerado. Na maior parte das ligações de longa distância, os clientes selecionam

a operadora no momento da chamada. Por essa razão, não há como a

Empresa oferecer descontos para compras antecipadas, limitar a quantidade

de unidades para vendas antecipadas a tais preços, ou mesmo empregar a

técnica de overbooking. Assim, as técnicas de yield management mencionadas

por Desiraju e Shugan (1999) se mostram ineficazes para otimizar a

capacidade da Empresa.

Na Figura a seguir é apresentado o posicionamento da Empresa em relação às

estratégias de gerenciamento de capacidade e demanda propostas na

literatura. Têm-se também dois Quadros onde estão resumidos os mecanismos

de ajuste entre oferta e demanda utilizados pela empresa pesquisada.

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Figura 3: Posicionamento Estratégico da Empresa

Con

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Influ

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Dem

anda Capacidade flexível e

médio potencial deinfluência sobre a

demanda

Dem

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Level Capacity Chase Demand

Flexibilidade para ajuste da capacidade

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Quadro 13: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Capacidade Utilizados

Mecanismos de Ajuste de Capacidade

Localização: serviços móveis ou distribuídos X

Compartilhamento de capacidade X

Investimentos antecipados em expansão de capacidade X

Tecnologia e automação X

Sistemas de informação X

Padronização dos serviços X

Mão-de-obra temporária e de tempo parcial X

Pré-processamento de pedidos

Manutenção preventiva dos equipamentos nas instalações do prestador deserviços X

Cooperação com outros concorrentes

Controle do tempo de duração do serviço X

Serviços feitos para grupos de clientes X

Utilização estratégica da capacidade ociosa X

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Quadro 14: Resumo dos Mecanismos de Ajuste de Demanda Utilizados

Mecanismos de Ajuste de Demanda

Pré-venda: sistema de reservas X

Marketing direto X

Políticas de preço X

Comunicação X

Promoções, liquidações e propaganda X

Manutenção preventiva dos equipamentos dos usuários X

Serviços Complementares

Segmentação da demanda X

Loss leaders – promoções diárias

Yield management

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6 RESUMO, CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

O objetivo do estudo foi identificar os principais mecanismos que podem ser

utilizados para ajustar a demanda e a capacidade dos sistemas em operações

de serviços no setor de telecomunicações. Realizou-se um estudo de caso em

uma empresa prestadora de serviços de telefonia de longa distância brasileira

e procurou-se responder às seguintes questões:

- Quais fatores são críticos em relação à gestão da capacidade e demanda, e

quais são os drivers que orientam essa questão em empresas de

telecomunicações?

- Como a Empresa lida com as questões relativas à falta e ao excesso de

capacidade em suas operações: quais são as estratégias de capacidade e

de demanda adotadas pela Empresa? Por que são utilizadas? Essas

estratégias estão em conformidade com a literatura?

- Como a Empresa lida com as flutuações de demanda no curto prazo: quais

são os mecanismos de ajuste de oferta e demanda utilizados pela

empresa? Por que são utilizados? Estes mecanismos estão em

concordância com a literatura existente sobre gerenciamento de capacidade

e demanda em serviços?

As respostas a essas questões foram obtidas a partir da análise do caso e as

conclusões são apresentadas ao longo deste capítulo. É importante frisar que

os resultados encontrados no estudo da Empresa nem sempre são igualmente

aplicáveis a outras operadoras de serviços de telecomunicações.

A Empresa está inserida num contexto que limita de certa forma os seus

movimentos e prejudica a sua rentabilidade. O modelo de privatização adotado

impõe restrições em relação aos produtos e serviços que podem ser

oferecidos, aos mercados de atuação e às tarifas cobradas pelos serviços

básicos. Há um grande número de empresas competindo pelo mesmo cliente,

os usuários concentram-se mais nos serviços de voz, com poucas perspectivas

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de utilização em larga escala de outros serviços mais sofisticados que

poderiam agregar valor, e apenas os segmentos corporativos e residencial de

alta renda proporcionam boa rentabilidade à Empresa. Além disso, o aumento

de usuários de menor poder aquisitivo na base de clientes da Empresa elevou

consideravelmente as taxas de inadimplência, comprometendo a rentabilidade

dos serviços que lhe são prestados.

Desse modo, um dos principais desafios da Empresa tem sido encontrar

estratégias capazes de melhorar sua rentabilidade.

A evolução tecnológica dos equipamentos de comutação e transmissão de

sinais permitiu um aumento da capacidade de transmissão das redes, além de

uma maior flexibilidade e qualidade de serviços. As redes se tornaram

“inteligentes”, ou seja, o aumento da capacidade das redes de transmissão

passou a ser feito por meio de ajustes nos programas de software nas centrais

digitais de comutação. Com isso, os investimentos em expansão de

capacidade em redes de telefonia já existentes foram muito reduzidos, e a

Empresa ganhou muita flexibilidade para alterar sua capacidade.

Porém, os custos necessários para implantação de uma nova rede de telefonia

ou para troca de equipamentos são muito altos. Por isso, pode-se concluir que

a capacidade da Empresa é relativamente flexível, pois dependendo da

necessidade, pode ser facilmente alterada ou não. Análises de viabilidade

técnica e financeira, realizadas a cada nova necessidade de capacidade,

determinam as ações que serão tomadas.

A busca constante pela rentabilidade dos clientes tem levado a Empresa a frear

investimentos em projetos com taxa de retorno duvidosa. Por esse motivo, é

compreensível que a Empresa adote a estratégia de acompanhamento de

demanda. Os projetos de alteração de capacidade só são materializados se

houver demanda suficiente para garantir o retorno dos investimentos.

A maior parte das redes da Empresa são de longa distância, utilizando uma

combinação de meios de transmissão: fibras óticas, satélites, rádios e cabos

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coaxiais, e cobrem todo o território nacional. Para atender grandes clientes

corporativos, a Empresa oferece redes dedicadas, com tecnologia de fibras

óticas, que aumenta a qualidade, a velocidade e a confiabilidade dos serviços.

A questão principal a ser resolvida acha-se na decisão de investir ou não em

infra-estrutura na última milha para conectar esses clientes às redes de longa

distância da Empresa. Como os retornos dos investimentos na implantação das

redes locais estão geralmente relacionados à densidade de usuários na rede, o

volume de informações transmitidas por esses clientes corporativos deve ser

suficiente para se obter ganhos de escala. Uma forma de viabilizar esses

investimentos é atender ao maior número de clientes corporativos possíveis

utilizando a mesma rede local de fibra ótica implantada, prestando os serviços

para grupos de clientes reunidos em um mesmo local, como edifícios

comerciais.

Entretanto, para chegar nesses clientes, a Empresa também tem a opção de

utilizar a rede local da operadora de telefonia fixa local, pagando pelos custos

de interconexão e uso da rede. A decisão depende do trade-off entre os custos

de investimento para implantar uma nova rede e os custos decorrentes do

compartilhamento da rede local.

A opção de alugar a última milha da rede local para atender a um grande

cliente, porém, às vezes pode representar riscos para a Empresa por dois

motivos principais. Primeiro porque, para conectar os equipamentos da

Empresa que serão instalados nas dependências dos clientes à rede local, esta

precisa fazer uma solicitação à operadora local e aguardar até que as

alterações técnicas necessárias para a conexão sejam realizadas. Esse

procedimento obriga a Empresa a informar à operadora local dados dos

clientes que serão atendidos, assim como suas necessidades de capacidade.

Nada garante que, durante o tempo de espera para que a solicitação seja

atendida, a operadora local não contacte e ofereça serviços com condições

mais vantajosas a esses clientes.

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O segundo risco é em relação à qualidade e a confiabilidade do serviço

prestado. Apesar da Empresa realizar sempre manutenções preventivas nos

equipamentos que estão nas dependências do cliente, não há como garantir

que as redes locais alugadas recebam o mesmo tratamento e nunca haja

interrupções ou queda de qualidade nos serviços.

Interrupções na transmissão dos sinais podem trazer prejuízos enormes para

clientes corporativos. Para evitá-los, a Empresa mantém contratos com

empresas terceirizadas para a realização de freqüentes manutenções

preventivas em seus equipamentos e redes de transmissão e reparações em

caso de falhas no sistema. A terceirização dos serviços de manutenção dá

mais flexibilidade e agilidade à Empresa, pois como seus sistemas de redes

estão espalhados pelo país inteiro, além de custoso, seria muito complicado

manter e gerenciar inúmeras equipes de manutenção para atender à diferentes

localidades. Além disso, a Empresa possui sistemas de segurança que alertam

as centrais de operação quando ocorre alguma falha no sistema.

Por outro lado, para reduzir os prejuízos decorrentes do aumento da

inadimplência, a Empresa desenvolveu um sistema de bloqueio de chamadas.

Quando um cliente tenta acessar a rede da Empresa, os seus dados são

verificados no banco de dados e, caso esteja inadimplente, sua ligação é

automaticamente interrompida. Esse mecanismo otimiza o uso da rede, pois

apesar da redução do volume de tráfego devido aos números de clientes

bloqueados, a rentabilidade das chamadas realizadas aumenta.

A entrada de novos concorrentes no mercado de telefonia de longa distância

tem provocado uma evidente redução na participação de mercado da Empresa.

Para lidar com esse problema e aumentar sua lucratividade, a estratégia de

influenciar o nível de demanda tem sido adotada pela Empresa. Ela tem focado

nos consumidores mais rentáveis, como os corporativos e os residenciais das

classes mais altas. Porém, é exatamente nesses segmentos que a

concorrência é mais acirrada.

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Cada um desses segmentos é atendido por diferentes unidades de negócio da

Empresa. Essa separação deve-se às diferentes necessidades, perfis de

consumo, percepções e níveis de satisfação dos segmentos. Dessa forma, a

Empresa consegue desenvolver produtos, propagandas e atendimentos

específicos para atender as necessidades de cada um dos segmentos.

Em função do modelo de seleção de operadora de longa distância definido na

privatização, onde a escolha se dá chamada por chamada, os níveis de

demanda precisam ser monitorados continuamente. Uma das maiores

dificuldades enfrentadas pela Empresa é definir quais são as motivações e os

atributos do serviço que influenciam a escolha do cliente de telefonia de longa

distância.

Um dos fatores que influencia a escolha do cliente é o hábito de se usar o

código da operadora de longa distância. O código é um número, que precisa

ser lembrado no momento em que a chamada será realizada. Muitos clientes

discam o código de uma determinada operadora por este ser o primeiro que lhe

vem à mente, sem estarem preocupados com atributos como preço ou

qualidade do serviço. Caso não consigam realizar a chamada na primeira

tentativa, provavelmente tentarão novamente utilizando o código de alguma

outra operadora. Com tantas opções, a tolerância à espera em serviços de

telefonia de longa distância tornou-se praticamente nula. Por isso, a fidelização

do cliente é muito difícil de ser obtida nesse tipo de serviço.

Estímulos como reduções promocionais de tarifas têm um efeito momentâneo

sob as curvas de demanda. O cliente só usa o serviço de longa distância se

sentir a necessidade de se comunicar com alguém em alguma outra localidade,

em um determinado momento. Logo, mesmo que algumas das tarifas estejam

em promoção, o cliente não efetuará a chamada se não for necessário. Além

disso, como a escolha da operadora se dá no momento da chamada, poucos

clientes consultam as complexas tabelas de tarifas das operadoras para saber

qual oferece o serviço pelo preço mais baixo. Então, a sensibilidade do cliente

em relação ao preço da tarifa de longa distância é muito relativa.

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Por essas razões, a capacidade da Empresa de influenciar a demanda não é

total, dependendo fortemente de ações de marketing e estratégias de

comunicação para incentivar o consumo e fortalecer o reconhecimento do

código de acesso da Empresa.

Além de propagandas maciças em diversos meios de divulgação, seja para

promover novos produtos e serviços ou o seu código de acesso, a Empresa

também utiliza a estratégia de marketing direto, por meio de malas diretas e

telemarketing ativo. As promoções de preço são utilizadas com uma certa

cautela pela Empresa. Como não compete por custo, estratégias de redução

dos preços de produtos e serviços podem comprometer sua viabilidade

financeira.

Esses mecanismos adotados pela empresa para gerenciar a capacidade e a

demanda, comentados acima, visam principalmente melhorar sua participação

de mercado e aumentar sua rentabilidade, seus dois maiores objetivos. Pôde-

se perceber ao longo da análise do caso que a Empresa age de acordo com o

que Lovelock (1996) propôs no Quadro 8. A capacidade da Empresa é de certa

forma flexível, podendo ser alterada facilmente quando a necessidade se dá

em redes antigas, e exigindo altos custos de investimentos quando se trata de

implantação de novas redes. O nível de demanda é satisfatório, porém sua

rentabilidade vem decrescendo. E, para justificar novos investimentos em infra-

estrutura, é necessário que haja escala, ou seja, que a demanda existente

aumente ainda mais.

Logo, é justificável que a Empresa adote duas políticas simultaneamente: a de

focar e estimular segmentos mais rentáveis, e ao mesmo tempo, promover a

massificação do uso dos serviços.

Apesar das margens obtidas no segmento residencial e de pequenas empresas

serem baixas, a receita gerada devido ao enorme volume de tráfego é maior

que a receita gerada pelo segmento corporativo, que tem margens de lucro

superiores. Por essa razão, a Empresa precisa atender da melhor forma

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possível ambos clientes, não focando seus negócios em apenas um segmento

de mercado.

De todos os mecanismos para ajuste de capacidade sugeridos pela literatura,

foram considerados na análise do caso apenas aqueles que fossem relevantes

no modelo teórico. Comparando-os com os mecanismos de gerenciamento de

capacidade utilizados pela Empresa, percebeu-se muitos deles são adotados.

A cooperação entre outros concorrentes não é uma prática comum no mercado

de telefonia, e o pré-processamento de pedidos não pode ser utilizado devido

ao modelo de seleção de operadora imposto na privatização. A operadora é

escolhida a cada chamada telefônica, não sendo possível realizar um contrato

de prestação de serviços que permita ao cliente pré-selecionar a operadora de

longa distância que pretende utilizar em suas próximas chamadas.

Quanto aos mecanismos de gerenciamento de demanda, pôde-se perceber

que a Empresa emprega a maior parte dos sugeridos na literatura. Dos dez

propostos pelos autores pesquisados, sete são efetivamente utilizados.

Os três mecanismos de ajuste de demanda que não são usados são serviços

complementares, promoções diárias e o yield management. A razão disso é

que, em primeiro lugar, não há mais formação de filas ou venda antecipada,

quando o serviço não está disponível, o cliente busca outra operadora de

telefonia. E, em segundo, porque as promoções diárias não alteram a demanda

significativamente. Por exemplo, não é porque, em um determinado dia, as

tarifas de chamadas internacionais para o Japão estão mais baratas, que os

clientes irão usar mais o serviço.

Portanto, com a análise do caso foi possível observar que a Empresa possui

capacidade suficiente e relativamente flexível, possibilitando uma certa

agilidade para atender às variações de demanda. E, a demanda pode, de certa

forma, ser influenciada por mecanismos de ajuste. Entretanto, as maiores

limitações de capacidade da Empresa percebidas estão diretamente

relacionadas a questões financeiras, devido a quedas nas receitas e a taxas de

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retorno de investimento em novos projetos nem sempre atrativas pela falta de

escala.

Os mecanismos de ajuste de capacidade são utilizados principalmente para

otimizar o uso dos sistemas de telecomunicações da Empresa. E, os de

gerenciamento de demanda são ferramentas utilizadas para incentivar o

aumento da demanda para se obter ganhos de escala. Logo, todas as decisões

da Empresa são tomadas visando melhorar a rentabilidade de suas operações.

Pôde-se perceber que apesar de utilizar mecanismos como segmentação de

mercado e marketing direto, os mecanismos de gerenciamento de demanda

que são mais eficientes para influenciar a demanda são aqueles que envolvem

decisões de preço, como precificação e promoções. Os serviços de telefonia de

longa distância sofrem restrições regulamentares como, por exemplo preço teto

e proibição de “venda casada” com outros serviços de maior valor agregado da

Empresa. Isso obriga as operadoras a concorrerem entre si nesse mercado

somente utilizando o preço do serviço como diferencial.

A Empresa utiliza sua capacidade ociosa de maneira estratégica. Assim como

o estudo de Ng et al. (1999) revelou que muitas empresas de serviços estão

mais preocupadas em obter a máxima rentabilidade possível de sua

capacidade do que simplesmente ajustar a oferta e a demanda, foi possível

perceber, a partir do estudo de caso, que as empresas de telecomunicações

também estão mais voltadas para o uso estratégico de sua capacidade,

visando aumentar sua lucratividade.

A capacidade ociosa da Empresa é utilizada para garantir a qualidade e

confiabilidade da rede, além de ser uma vantagem competitiva frente às

operadoras entrantes no mercado de telefonia de longa distância. A Empresa

também tem a opção de disponibilizar a capacidade de rede de fibra ótica

excedente para oferecer outros serviços de maior valor agregado em outros

segmentos do setor de telecomunicações, como comunicação de dados, por

exemplo, aumentando o uso da rede.

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Outro ponto de concordância com o estudo de Ng et al. (1999) foi perceber que

alguns mecanismos de ajuste de oferta e demanda sugeridos pela literatura

são utilizados com muitas restrições ou não são utilizados por não oferecerem

benefícios reais para a Empresa. Como exemplo, pode-se citar o uso de

promoções. Apesar da Empresa utilizar esse mecanismo, nem sempre é

utilizado com o intuito de aumentar a demanda, e sim como resposta às ações

da concorrência. Segundo a Empresa, a oferta constante de descontos

promocionais pode dar a impressão que as tarifas telefônicas cobradas

normalmente pela Empresa estão acima do valor justo. As promoções diárias

poderiam ser utilizadas, porém, além de não servirem para aumentar

efetivamente o uso, também prejudicam a percepção do cliente em relação à

Empresa.

Uma sugestão para uma nova pesquisa seria refazer o estudo em uma

empresa prestadora de serviços de telefonia móvel para se verificar se há

muitas diferenças na abordagem das questões de capacidade e demanda.

Como as tecnologias empregadas em telefonia móvel e as regulamentações

que regem esse mercado são bem distintos das de telefonia fixa, é possível

que os problemas relativos a capacidade e demanda, assim como os

mecanismos de ajuste adotados, sejam diferentes dos vistos nesse estudo.

Outra possibilidade seria realizar a pesquisa em empresas de outros setores

regulamentados, que também sofrem limitações decorrentes de regras

estipuladas em contratos de concessão. O estudo poderia ser feito em alguma

empresa distribuidora de energia elétrica, por exemplo.

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140

ANEXO 1 HISTÓRICO DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

Evolução Histórica e o Sistema Telebrás

Apesar de as telecomunicações terem se difundido no Brasil a partir do ano de

1877, os serviços de telecomunicações evoluíram lentamente até a década de

60. Neste período, o setor de telecomunicações no Brasil apresentava um

quadro inadequado à expansão requerida para o desenvolvimento industrial:

62% dos terminais telefônicos instalados estavam atribuídos a uma companhia

particular, que operava no eixo Rio - São Paulo - Belo Horizonte9, enquanto

que os 38% restantes estavam a cargo de mais de 800 entidades: prefeituras,

pequenas e médias empresas e cooperativas (FAGUNDES, 1995).

Como resultado deste sistema fragmentado, em 1960, a rede de telefonia no

país possuía somente um milhão de telefones instalados; havia uma

significativa demanda reprimida por novas linhas telefônicas e a qualidade das

comunicações era extremamente baixa (ALMEIDA apud FAGUNDES, 1995).

As comunicações internacionais eram feitas por rádio e seus preços as

tornavam inacessíveis para a grande maioria da população.

A importância do Estado no setor cresceu a partir de 1962, com a criação do

Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117), que estabeleceu um

programa de ação para as telecomunicações (VIANNA apud FAGUNDES,

1995).

A participação do Estado se consolidou na década de 70, quando o Ministério

das Comunicações, criado em 1967, regulamentou o Código Brasileiro de

Telecomunicações, estabelecendo as normas de operação do sistema nacional

de telecomunicações. Segundo estas normas, as telecomunicações ficariam

9 Companhia Telefônica Brasileira (CTB), subsidiária da Canadian Traction Light Power and Company e

responsável por cerca de 70% dos telefones brasileiros na década de sessenta.

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sob o monopólio das empresas estatais estaduais e federais, enquanto a

radiofusão ficaria a cargo da iniciativa privada. (MOREIRA apud FAGUNDES,

1995).

Até o ano de 1972 os serviços telefônicos no Brasil foram prestados por mais

de 900 empresas independentes, que forneciam serviços telefônicos básicos

não integrados. O sistema de telecomunicações no país operava em condições

abaixo do necessário, oferecendo serviços de qualidade insuficiente para a

demanda, sem perspectiva de melhora imediata e, mesmo assim, apenas para

uma percentagem determinada de usuários. Os governos federal, estaduais e

municipais podiam oferecer qualquer um dos diferentes serviços de

telecomunicações, sem controles sobre tarifas e sem qualquer ligação entre as

companhias.

Em 1972, como última etapa do processo de reestruturação institucional do

setor, o Ministério das Comunicações criou a TELEBRÁS, empresa de

economia mista e holding, com a finalidade principal de (i) atuar como uma

companhia de participações para companhias fornecedoras de serviços

públicos de telecomunicações no Brasil e (ii) para implementar as políticas do

governo federal do Brasil na modernização e expansão do sistema brasileiro de

telecomunicações. Entre 1972 e 1975, a TELEBRÁS, através das suas

subsidiárias, adquiriu quase todas as outras companhias telefônicas no Brasil10.

Na década de setenta, os objetivos da TELEBRÁS estavam voltados para: a) a

promoção da expansão da telefonia básica, local e de longa distância; b) a

integração da rede de telefonia básica em todo o país; c) a avaliação da

demanda por serviços de telefonia e encaminhamento de soluções para o seu

atendimento; e d) a coordenação da atuação da EMBRATEL e das operadoras

estaduais (FAGUNDES, 1995).

10 Somente quatro companhias continuaram fora do Sistema Telebrás, representando aproximadamente

9% de todas as linhas em serviço no Brasil em 31 de dezembro de 1997.

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Os recursos obtidos com a prestação de serviços interurbanos e internacionais

financiaram, via mecanismo de subsídios cruzados, o crescimento da rede

urbana: entre 1972 e 1980, o número de terminais instalados no Sistema de

Telecomunicação Brasileiro (STB) cresceu cerca de 340%, passando de 1,4

milhões em 1972 para 5,1 milhões em 1980. As taxas de crescimento dos

novos terminais telefônicos e da densidade telefônica, entre 1972 e 1980,

foram de 17,3% a.a. e 14,55 a.a., respectivamente.

Os investimentos do Sistema Telebrás permitiram, ao longo das últimas três

décadas, um expressivo crescimento do número de terminais por 100

habitantes, que passou de 1,75 em 1962, para 5,9 em 1986, e 8,4 em 1993. A

taxa de crescimento da densidade telefônica na década de 80, no entanto, foi

menor que na década anterior, devido não só a queda nos investimentos acima

mencionada, mas também ao incremento da concentração de renda e ao

elevado valor cobrado pela linha telefônica, a título de autofinanciamento

(PRATES apud FAGUNDES, 1995). Com efeito, o incremento médio anual da

densidade telefônica, na década de oitenta, declinou para 4,1% a.a., enquanto

a taxa de instalações de novos terminais situou-se em torno de 5,6% a.a.

Em 1997, antes do processo de privatização, os serviços públicos de

telecomunicações eram explorados pelo Sistema Telebrás – composto pela

empresa holding, a TELEBRÁS; por uma empresa operadora de longa

distância de âmbito nacional e internacional, que explorava também serviços

de comunicações de dados e de telex, a EMBRATEL; e por 27 empresas de

âmbito estadual ou local – e por quatro empresas independentes, sendo três

estatais (a CRT, controlada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul; a

SERCOMTEL, pela Prefeitura de Londrina; e a CETERP, pela Prefeitura de

Ribeirão Preto) e uma privada (a Cia. de Telecomunicações do Brasil Central,

sediada em Uberlândia e que atuava no Triângulo Mineiro, no nordeste de São

Paulo, no sul de Goiás e no sudeste do Mato Grosso do Sul). Em 1997, o

Sistema Telebrás era o principal fornecedor de serviços locais de

telecomunicações e entre Estados, e o fornecedor líder do serviço de telefone

celular móvel. O Sistema Telebrás também prestava serviços de

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telecomunicações correlatos, tais como comunicações de dados, transmissão

de som e imagem e outros serviços de valor agregados em todo o território

nacional.

Em janeiro de 1998, cada uma das subsidiárias do Sistema Telebrás, menos a

EMBRATEL e a Companhia Telefônica da Borda do Campo – CTBC, cindiu as

suas operações de telefonia celular para formar uma empresa independente. A

TELEBRÁS terminou a prestação das suas atividades históricas de negócios.

Sem dúvida, a criação da TELEBRÁS representou um enorme progresso nos

serviços de telecomunicações no país, operando inúmeras mudanças

estruturais até à metade da década de 80. Durante a década, no entanto, com

a capacidade do governo brasileiro para novos investimentos quase exaurida,

em um contexto de altas taxas de inflação e pesadas dívidas interna e externa,

tornou-se difícil a realização dos investimentos necessários pela TELEBRÁS.

Além disso, o setor, então, não podia fomentar qualquer concorrência e ocorria

um descasamento entre as tarifas e os custos dos serviços.

Essa situação foi agravada quando a globalização das atividades produtivas e

financeiras conferiu às telecomunicações um papel de crucial importância no

cenário mundial. Comunicação instantânea, mobilidade, transferência de dados

em alta velocidade, serviços multimídia e possibilidade de realizar

teleconferências passaram a ser recursos imprescindíveis à competitividade de

corporações de todos os portes.

Assim, além do difícil acesso das classes menos favorecidas da população aos

serviços de telecomunicações, a competitividade das empresas instaladas no

Brasil estava, também, comprometida, o que, em última instância, poderia se

refletir, desfavoravelmente, na competitividade do país. Essa deficiência do

atendimento telefônico no país, em 1996, está mostrada nos Quadros as

seguir.

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144

Quadro 15: Situação do atendimento telefônico no Brasil em 1996

Linhas TelefônicasFixas / 100 Habitantes

Linhas Residenciais /100 Habitantes

Telefones Públicos /1000 Habitantes (%)

Acessos Celulares / 100Habitantes

China 4,5 China 11,0 China 1,1 China 0,56México 9,5 Brasil 25,3 Espanha 1,5 México 1,10Brasil 9,6 México 33,2 Alemanha 2,0 Brasil 1,6Argentina 17,4 Argentina 54,0 Argentina 2,3 Argentina 1,61Espanha 39,3 Espanha 94,7 Brasil 2,6 Espanha 3,33Japão 48,9 Reino Unido 96,0 México 2,7 Alemanha 7,07Reino Unido 52,8 Japão 96,2 Reino Unido 5,9 Reino Unido 12,23Alemanha 53,8 Suécia 100 Estados Unidos 6,2 Estados Unidos 16,52Estados Unidos 64,0 Estados Unidos 100 Japão 6,3 Japão 21,39Suécia 68,2 Alemanha n.d. Suécia n.d. Suécia 28,18

Fonte: BNDES (2000b).

Quadro 16: Qualidade do atendimento telefônico no Brasil em 1996

Índice deDigitalização –

Telefonia Fixa (%)

Falhas a cada 100Linhas / Ano

Tráfego Telefônico(Minutos/Assinante)

Produtividade(Linhas /

Empregado)

Faturamento porLinha Fixa (US$)

Brasil 57,1 Espanha 1,3 Brasil 23,8 China 114 China 318

Espanha 67,4 Japão 1,7 China 26,1 Brasil 169 Espanha 755

EstadosUnidos

80,5 Brasil 3,2 Japão 27,8 México 180 México 786

Alemanha 84,0EstadosUnidos

4,4 Argentina 29,6EstadosUnidos

190 Brasil 823

Argentina 85,2 México 4,6 Espanha 77,1 Alemanha 205 Suécia 852

México 88,0 Suécia 8,4EstadosUnidos

112,4 Reino Unido 218 Reino Unido 931

ReinoUnido

92,6 Alemanha 8,7 Alemanha 117,9 Argentina 224 Argentina 983

Suécia 96,0 Reino Unido 15,0 México 121,3 Espanha 229 Alemanha 1.011

Japão 97,0 Argentina 29,3ReinoUnido

148,0 Japão 289EstadosUnidos

1.071

China 99,5 China n.d. Suécia 156,0 Suécia 304 Japão 1.532

Fonte: BNDES (2000b).

Antes da privatização, o quadro das telecomunicações poderia ser assim

descrito (BNDES, 2000b; CARNEIRO, BORGES, 2002):

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• Falta de linhas de telefone fixo para atender a toda a população, o que o

tornava bem caro e acessível apenas às classes mais favorecidas;

• Pagamento antecipado pela linha telefônica (planos de expansão) e filas

de espera para recebê-la, pois a operadora tinha até dois anos para a

sua entrega, prazo que nem sempre era cumprido;

• Maior prioridade para os centros mais desenvolvidos, privilegiando as

classes sociais mais elevadas;

• Existência de muitas localidades não atendidas por serviço telefônico;

• Negócios como “mercado paralelo” e aluguel de linhas eram comuns e

praticados, em algumas regiões, mediante valores altíssimos;

• Baixa prioridade ao atendimento, o que resultava em longos períodos de

espera por reparos ou por transferências de linhas;

• Baixa qualidade dos serviços oferecidos, com enormes índices de

ligações não completadas e tempos de espera de ruído de discar;

• Em áreas rurais ou de periferia urbana, grande dificuldade de encontrar

um telefone público funcionando;

• Ausência de distinção entre poder concedente e concessionária, não se

verificando qualquer mecanismo de punição às concessionárias ou de

exigência quanto ao atendimento dos direitos dos usuários;

• Baixo nível de digitalização da planta, o que impedia a ampla oferta de

serviços mais sofisticados para as linhas existentes, tais como “siga-me”

e “chamada em espera”; e,

• Risco de migração de empresas para outros países que oferecessem

melhores recursos de telecomunicações.

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Reforma Regulamentadora e Privatização

Em 1995, o Ministério das Comunicações propôs o primeiro plano para

reestruturar completamente o setor, incluindo a competição e a abertura ao

capital privado, um amplo programa de investimentos promovido pelo Governo

e apoiado significativamente pela mobilização de recursos humanos,

financeiros e gerenciais privados, pretendendo transformar o setor de

telecomunicações brasileiro em um agente para o desenvolvimento nacional,

com capacidade de estimular a produtividade e garantir acesso universal aos

serviços de telecomunicações.

No início de 1995, o Governo Federal empreendeu uma reforma completa na

regulamentação da indústria brasileira de telecomunicações. Em agosto de

1995, a Constituição Federal foi alterada para permitir que o Governo Federal

outorgasse concessões às companhias privadas para prestar serviços de

telecomunicações. Em julho de 1997, o Congresso Nacional adotou a Lei n.

9.472 de 16 de julho de 1997, a Lei Geral das Telecomunicações (LGT), que

estabeleceu uma nova estrutura regulamentadora, a introdução da

concorrência e a privatização do Sistema Telebrás. A Lei Geral das

Telecomunicações estabeleceu uma agência reguladora independente,

denominada a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, que

começou a adotar uma série de atos normativos que implementaram as

disposições da LGT (junto com regulamentos, decretos, pedidos e planos

emitidos pelo Presidente da República referente às telecomunicações).

A adoção da LGT e as Regulamentações das Telecomunicações e a

privatização do Sistema Telebrás conduziram a mudanças radicais no

ambiente operacional, normativo e competitivo das telecomunicações

brasileiras. As mudanças incluem (i) o estabelecimento de um regulador

independente e o desenvolvimento de regulamentação completa do setor das

telecomunicações, (ii) o desmembramento da TELEBRÁS, (iii) venda do

controle acionário do Titular do Registro a novos investidores e (iv) a introdução

da concorrência na prestação de serviços de telecomunicações.

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Em maio de 1998, na preparação para sua privatização, o Sistema Telebrás foi

reestruturado, dando origem a quatro empresas de Serviço Telefônico Fixo

Comutado - STFC. Inicialmente, a cada uma dessas empresas foi associada

uma região de atuação, de acordo com o Quadro 17.

Quadro 17: Telefonia Fixa - Incumbentes e Regiões de Atuação

Região Tele Regional Área Geográfica

I Tele Norte Leste

Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia,Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grandedo Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá,Amazonas e Roraima

II Tele Centro SulDistrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás,Tocantins, Rondônia e Acre

III Telesp São PauloIV Embratel Nacional

Fonte: ANATEL

A princípio, no que tange aos STFCs, as empresas responsáveis pelas regiões

I, II e III estariam restritas à prestação de serviços locais e de longa-distância

dentro de suas regiões. Por sua vez, a Embratel poderia atuar somente na

prestação de serviços de longa-distância e internacionais. Além disso, para

cada uma das empresas de telefonia fixa resultantes da cisão do Sistema

Telebrás (denominadas firmas incumbentes) deveria haver uma concorrente

(denominadas firmas entrantes ou empresas – espelho) (CONSIDERA et al.,

2002).

A reestruturação do Sistema Telebrás, visando sua privatização, foi baseada

em três razões: a) criar empresas com porte significativo, considerando o

contexto internacional, que lhes permitisse ter a capacidade de gerar recursos

próprios e efetuar investimentos em todas as regiões do país; b) viabilizar, no

mercado interno, diversas alianças com players globais, possibilidade que seria

reduzida a uma só parceria se fosse mantida uma única empresa; e c)

aumentar a eficiência da ação regulatória ao permitir o recurso de comparação

entre as operadoras atuantes no mercado a ao diminuir a assimetria de

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informação pró-firma dominante, situações que não ocorreriam caso houvesse

um monopólio privado.

Previu-se ainda que, no que diz respeito às regiões I, II e III, uma mesma

empresa poderia deter autorizações em mais de uma região. Porém, uma

mesma empresa não poderia deter autorização simultânea para a região IV e

para qualquer uma das outras regiões. Além disso, havia expressa vedação

para que empresas derivadas do processo de reestruturação do Sistema

Telebrás participassem da licitação das empresas-espelho.

Desse modo, na fase de transição (até 2002), foram previstos duopólios

temporários na prestação dos serviços de telecomunicações. Exceção foi feita

para os serviços de longa-distância prestados dentro das regiões I, II e III

(longa-distância intra-regional). O Quadro 18 apresenta a estrutura de mercado

prevista pelo Plano Geral de Outorgas até 2002 e o Quadro 19 a situação do

mercado após o processo de privatização da telefonia fixa.

Quadro 18: Estrutura de Mercado da Telefonia Fixa - Fase de Transição até

2002

Serviço ConcessionáriasLocais

EntrantesLocais Embratel Intelig Observação

Local X X DuopólioL.D. Intra-regional X X X X 4 competidores

L.D. Inter-regional X X Duopólio

L.D.Internacional X X Duopólio

L.D. – Longa Distância.

Fonte: Considera et al. (2002).

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Quadro 19: Situação Pós-Processo de Privatização da Telefonia Fixa

Incumbentes AutorizadasÁrea de Atuação Empresa Área de Atuação Empresa

Subconjunto Região I(1) Tele Norte-Leste Região I CambráSubconjunto Região II(2) Tele Centro-Sul Região II MegatelSubconjunto Região III(3) Telesp Região III VésperRegião IV Embratel Região IV Bonari

Fonte: BNDES

(1) Com exceção do setor 3 (área de atuação da Cia. de Telecomunicações do Brasil Central – CTBC)

(2) Com exceção dos setores 20 (área de atuação da SERCOMTEL – Londrina), 22 e 25 (áreas deatuação da CTBC), 29 (área de atuação da Cia. Riograndense de Telecomunicações – CRT) e 30 (áreade atuação da Cia. Telefônica Melhoramento e Resistência – CTMR, de Pelotas / Rio Grande do Sul eredondezas).

(3) Com exceção dos setores 32 (área de atuação das Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto –CETERP), 33 (área de atuação da CTBC) e 34 (área de atuação da Cia. Telefônica de Borda de Campo –CTBC).

As empresas concessionárias, além das metas de universalização, de

continuidade dos serviços e de qualidade impostas pelos contratos de

concessão, têm também a obrigação de garantir interconexão às suas redes a

qualquer outra prestadora de serviços, mediante o pagamento de tarifas

ajustadas. Suas tarifas são controladas pela ANATEL, conforme o mecanismo

de price-cap, que se constitui na definição de um preço-teto para os preços

médios da empresa, corrigido de acordo com a evolução de um índice de

preços ao consumidor (no caso, o IGP-DI) menos um percentual equivalente a

um fator de produtividade. Este mecanismo propicia o repasse de ganhos

tarifários ao consumidor, por meio de dedução de percentuais dos seus

reajustes tarifários.

As empresas autorizadas, chamadas empresas-espelho, lideradas pelos

consórcios Cambrá, Megatel e Bonari, são conhecidas pelos clientes como

Vésper, Vésper São Paulo e Intelig, respectivamente. Essas operadoras

apresentam uma forma diferenciada de regulação das auferidas pelas

empresas incumbentes. Diferentemente das antigas estatais, estas operadoras

não estão sujeitas a metas de universalização, continuidade, interconexão ou

qualidade, tendo apenas que cumprir aquelas com que se comprometeram em

suas propostas, além de terem suas tarifas liberadas.

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Após 2002 houve uma maior abertura à concorrência, inclusive com a

diversificação de serviços, podendo as operadoras celulares também prover

serviços de STFC. Nesse sentido, para 2002, o modelo de regulação

estabeleceu a possibilidade de as operadoras de telefonia fixa

(concessionárias) que antecipassem suas respectivas metas de

universalização diversificarem seus serviços e área de prestação dos mesmos.

O art. 10, §§ 1° e 2°, do Decreto n. 2.584, de 2 de abril de 1998, assegurou

que, a partir de 31 de dezembro de 2002, deixaria de existir qualquer limite

para o número de agentes habilitados à prestação de serviços de telefonia fixa

destinado ao público em geral. Esse mesmo dispositivo, contudo, fixou a

antecipação daquele marco temporal, para 31 de dezembro de 2001, para

todas as operadoras que antecipassem o cumprimento das metas de

universalização (Quadro 20).

A principal motivação econômica para que, na fase de transição para a

concorrência, fossem estabelecidos duopólios e vedada a entrada de novas

empresas, parece ter sido evitar as perdas relacionadas à entrada via

duplicação ineficiente de infra-estrutura. Esse argumento baseou-se na

hipótese de que as telecomunicações se configuram como monopólios (ou

duopólios) naturais, hipótese discutível, principalmente na telefonia de longa-

distância. Nesse sentido, a experiência internacional mostra que, em termos de

concorrência, os resultados do estabelecimento temporário de duopólios na

prestação de serviços de telefonia não se mostraram positivos. No Reino

Unido, nos sete anos em que vigorou a estrutura duopolística, não se verificou

o acirramento da concorrência, nem tampouco incrementos significativos de

produtividade. No mínimo, a liberdade de entrada de novas empresas traz

consigo eficiências que não podem ser desprezadas. É possível que esses

ganhos de eficiência sejam maiores do que as ineficiências relacionadas à

duplicação de infra-estrutura (MATTOS apud CONSIDERA et al., 1995).

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Quadro 20: Cronograma de Mudanças no Setor de Telecomunicações

Segmento 1999 2000 2001 2002 2003* 2004**Telefonia FixaLocal

Duopólio regional (concessionáriae a empresa-espelho local)

Telefonia FixaLonga Distância(Intra-região)

Concorrência entre aconcessionária local, a empresa-espelho local, a Embratel e suaempresa-espelho

Telefonia FixaLonga Distância(Inter-região)

Duopólio entre a Embratel e suaempresa-espelho

Telefonia FixaLonga DistânciaInternacional

Duopólio entre a Embratel e suaempresa-espelho

Telefonia Móvel

Duopólioregional(operadorasdas bandas Ae B)

Autorizada a livreentrada paraserviços PCS(salvo na área8)****

Autorizada a livre entrada emqualquer segmento ou tipo deserviço (será permitida aentrada das concessionárias edas empresas-espelho se asmetas estabelecidas para todasas empresas que atuam emsuas regiões forem cumpridasantecipadamente).

Outros Serviços*** Competitivo* A partir de 2003, é permitida a entrada das autorizadas em qualquer segmento de mercadoou serviços, desde que sejam cumpridas todas as obrigações de atendimento e expansãoprevistas nos contratos.** A partir de 2004, será permitida a entrada das concessionárias em qualquer segmento demercado ou serviços, exceto TV a cabo, mediante a obrigatoriedade de constituição desubsidiárias, desde que sejam cumpridas todas as obrigações de atendimento e expansãoprevistas nos contratos.*** Serviços de Valor Adicionado.****Embora o marco regulatório tivesse previsto a entrada do SMP para 2000, o atraso nalicitação das bandas C, D e E acarretou a postergação para o ano de 2002.Fonte: PIRES (1999).

Obrigações e Restrições Regulamentares

As obrigações e restrições as quais as concessionárias estão sujeitas são as

seguintes:

Expansão da Rede – Plano Geral de Metas para a Universalização (PGMU).De acordo com o PGMU, as companhias de linhas fixas regionais são

obrigadas a expandir os serviços de linhas fixa para cobrir todo o território

nacional de acordo com a Lista de Obrigações. A Embratel também está sujeita

ao requisito do serviço universal de fornecimento de acesso ao serviço de

discagem direta nacional e à longa distância internacional pela instalação de

telefones públicos em regiões remotas e comunidades isoladas. Os requisitos

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do serviço universal formal não se aplicam a serviços de linhas fixa sob o

regime privado e companhias de celulares, apesar de as mesmas estarem

sujeitas a certos requisitos similares sob a Lista de Obrigações, incluindo

obrigações para expandir as suas redes e prestar serviços sem discriminação

de preço dentro das categorias de clientes.

As metas têm tanto uma natureza quantitativa quanto qualitativa, devem ser

cumpridas anualmente e seu prazo final é 31 de dezembro de 2005.

As metas quantitativas pretendem uniformizar o acesso e a qualidade do

serviço telefônico fixo comutado em todo o Brasil, independentemente da

região geográfica do país. A realização dessas metas fará com que todas as

regiões do Brasil estejam em igualdade de condições no atendimento das

demandas individuais em localidades com mais de 300 habitantes e no grau de

cobertura oferecida pelos TUPs (Terminais de Uso Público) em todas as

localidades com mais de 100 habitantes.

Por sua vez, as metas qualitativas pretendem garantir a velocidade da

expansão das linhas atendidas, funcionando como uma variável de ajuste de

demanda. Em outras palavras, devido à imprevisibilidade da demanda, a

estipulação de prazos máximos de atendimento de solicitação de acessos

individuais permite a correção de eventuais erros de subavaliação dos níveis

de demanda embutidos nas metas quantitativas, visto que, independentemente

das metas físicas estabelecidas, há um limite de tempo máximo a ser

respeitado pelas concessionárias para o atendimento da demanda de acessos

individuais.

As concessionárias são responsáveis pelo financiamento das suas obrigações

de serviço universal de expansão da rede com as suas próprias receitas. Se

qualquer uma das três companhias de linhas fixas regionais falhar no

cumprimento das suas obrigações na sua região, a ANATEL pode conceder

autorizações a companhias concorrentes que prestem serviço e podem

compelir a companhia de linha fixa regional a colocar a sua rede disponível

para o uso do concorrente.

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Qualidade dos Serviços – Plano Geral de Metas de Qualidade (PGMQ). OPGMQ contém uma série de obrigações de qualidade de serviços que são

incorporados na Lista de Obrigações, para a Embratel e para cada companhia

de linha fixa regional. Estas incluem a consecução de certas metas tais como a

redução da média de demora do sinal de discagem, obtenção de certas taxas

de conclusão de chamadas para chamadas locais, à longa distância intra e

inter-regionais e internacionais, reduzindo a média de demora de assistência

da operadora, redução das coberturas de problemas para 100 linhas, redução

do tempo médio de conserto, redução do tempo médio de instalação, aumento

da acuidade do faturamento e consecução de certos níveis de satisfação de

clientes no pagamento de telefones públicos e telefonia residencial e não

residencial.

A falha em atingir ambas as obrigações, de expansão e modernização da rede

e a qualidade dos serviços da Lista de Obrigações, pode resultar em multas e

penalidades de até R$ 50 milhões, como também a potencial revogação da

concessão das companhias prestadoras de serviços de linhas fixas.

Interconexão. A interconexão é definida como a ligação entre redes de

telecomunicações funcionalmente compatíveis, de modo que os usuários dos

serviços de uma das redes possam comunicar-se com os de outra ou acessar

serviços nela disponíveis. Como as incumbentes controlam o acesso ao

usuário final, a regulação da interconexão é uma condição imprescindível para

viabilizar a entrada de novos operadores no mercado.

A interconexão é obrigatória entre as redes de telecomunicações por

solicitação de qualquer parte. As tarifas de interconexão estão sujeitas ao limite

de preço estabelecido pela ANATEL. Taxas abaixo do limite de preço aplicável

podem ser negociadas entre as partes. Se uma companhia oferecer uma tarifa

de interconexão abaixo do limite de preço, ela deve oferecer esse preço a

qualquer outra parte requisitante numa base não discriminatória.

Limites de preços. As concessões para as companhias de linhas fixas

regionais e a Embratel fornecem um mecanismo de limite de preço para

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estabelecer e ajustar tarifas numa base anual. O mecanismo do limite de preço

consiste num montante máximo ou limite de preço, estipulado pela ANATEL,

que pode ser cobrado para um serviço em particular numa taxa média

mensurada para uma cesta de serviços básicos. Os serviços incluem todos os

serviços do plano de serviço básicos, tais como encargos de instalação, taxas

de assinatura mensal, serviços locais, de longa distância intra-regionais, de

longa distância inter-regionais, de longa distância internacionais, como também

serviços telefônicos públicos e encargos de interconexão, incluindo taxas de

uso de rede.

O limite de preço inicial estabelecido pela ANATEL na concessão está baseado

em tarifas prévias existentes. O limite de preço inicial é ajustado numa base

anual sob a fórmula contida na concessão. A fórmula permite dois ajustes no

limite de preços. Primeiro, o limite de preços é revisado para cima para refletir

aumentos na inflação pela multiplicação do limite de preços por (1 + (1(y)),

onde y representa a taxa de inflação mensurada pelo Índice Geral de Preços –

Disponibilidade Interna (IGP-DI), um índice de inflação desenvolvido pela

Fundação Getúlio Vargas. Segundo, o limite de preços ajustado pela inflação é

ajustado para baixo para assegurar os lucros com a produtividade, pela

multiplicação do limite de preços pela inflação por (I – K), onde K representa

um fator de produtividade estabelecido (conhecido como “fator K”).

A fim de fornecer um incentivo para as concessionárias aumentarem a sua

eficiência e recuperar os clientes dos serviços de telecomunicações, a ANATEL

aplica um fator K representando os ajustes de produtividade anual às tarifas

das concessionárias. No período de 1º de janeiro de 1999 a 31 de dezembro

de 2005, as tarifas são ajustadas para cima como segue:

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Quadro 21: Ajustes da Produtividade Anual do Fator K

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Companhias de linhas fixas – local 0% 0% 1% 1% 1% 1% 1%Companhias de linhas fixas – interconexãolocal 0% 0% 5% 10% 15% 20% 20%

Embratel – longa distância nacional 2% 2% 4% 4% 4% 5% 5%Embratel – longa distância internacional 5% 15% 15% 15% 15% 15% 15%Companhias de linhas fixas – longadistância intra-regional e interconexão delonga distância

2% 2% 4% 4% 4% 5% 5%

Fonte: ANATEL

O limite de preços cobre uma cesta de serviços básicos. Enquanto a tarifa

média ponderada para a cesta inteira não pode exceder o limite de preços, as

tarifas para serviços individuais dentro da cesta podem ser aumentadas.

Tarifas de Longa Distância Nacionais. As tarifas de longa distância nacionais

de discagem direta são calculadas por minuto para o primeiro minuto e para um

décimo de minuto para cada minuto a seguir, baseado na distância que uma

chamada dever percorrer, a duração de uma chamada, a hora do dia e o dia da

semana. Até o fim de 2002 existiam 20 tarifas de longa distância nacionais,

baseadas nas combinações de cinco categorias de distância e quatro

categorias de dias / hora.

Tarifas de Longa Distância Internacionais. As tarifas de longa distância

internacional de discagem direta são calculadas em uma base por minuto,

fundamentadas na hora do dia e no dia da semana em que as chamadas são

feitas, na duração das chamadas e no país de destino (nove grupos de países).

Encargos de Uso de Rede. A taxa de uso da rede está sujeita a um limite de

preços estipulado pela ANATEL. O limite de preços para a taxa de uso da rede

especificado pela ANATEL varia de companhia para companhia baseada nas

características de custo subjacentes de cada rede de companhia. A taxa é

cobrada por distância e/ou minuto de uso, a qual representa um encargo médio

para uma cesta de elementos e serviços da rede.

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Aspectos Regulatórios e as Assimetrias Pró-Entrantes

Para garantir a reestruturação do setor de telecomunicações, ou seja, a

concorrência no setor, foi adotado um instrumental regulatório com fortes

assimetrias pró-entrantes. As assimetrias podem ser definidas como a

existência de um conjunto de direitos e deveres que diferem de um prestador

de serviço para outro, mesmo quando ambos fornecem serviços equivalentes e

atuam em um mesmo mercado geográfico.

No setor de telecomunicações, os objetivos destas políticas são os de reduzir o

poder de mercado das incumbentes, incentivar a entrada de novas operadoras

e obter uma estrutura de mercado mais competitiva. Espera-se que as

diferenças colocadas pela regulação venham a contrabalançar as vantagens

possuídas pelas incumbentes, levando assim a uma competição relativamente

equilibrada.

Segundo Pires (1999), a regulação promovida no segmento de telefonia fixa

promove assimetrias, quanto ao regime de exploração, na estipulação da área

de atuação, de proibição de expansão de atividades, de incentivo à

universalização, de proibição de diversificação das atividades e, de utilização

de novas tecnologias.

Pode-se considerar que o tipo de regime ao qual as incumbentes estão sujeitas

é o de direitos e obrigações do regime público, enquanto as entrantes têm

autorizações de regime privado. A implicação mais relevante desta assimetria é

que apenas as incumbentes estão sujeitas ao controle tarifário e a metas de

universalização, que devem ser financiadas, no curto prazo, com suas próprias

receitas. Contudo, vale ressaltar que os termos de autorização das empresas-

espelho editados pela ANATEL prevêem, também, a observância de preços-

limite para serviços e o cumprimento de metas por parte dessas empresas

entrantes, muito embora em escalas bem mais flexíveis que as exigidas das

concessionárias.

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A definição da área de atuação também é considerada como uma assimetria

propiciada pela regulação estatal. Diferentemente das empresas-espelho e da

Embratel, as demais concessionárias de telefonia fixa atuam em subconjuntos

regionais. Não é permitido também que estas empresas ou um grupo de

empresas detenham participação acionária em mais de uma autorizada por

região. As empresas-espelho apresentam diferenciação no período de

expansão de suas atividades em relação às concessionárias. Segundo o Plano

Geral de Outorgas – PGO, as concessionárias ficam impedidas de ampliar ou

diversificar suas atividades até 31 de dezembro de 2003, e as empresas-

espelho autorizadas até 31 de dezembro de 2002.

Quadro 22: Comparativo entre as Empresas Incumbentes e as Autorizadas

ASPECTOSREGULATÓRIOS INCUMBENTES AUTORIZADAS

Condições de Acesso aoMercado

Requer prévia concessão,mediante licitação Simples autorização

Preços e Tarifas Regime price cap durante, nomínimo, três anos Liberdade de preços

Obrigações deUniversalização

Prestação e financiamento (nocurto prazo) desses serviços

Somente em casosexcepcionais

Fiscalização

Cumprimento rigoroso docontrato, com obrigações deprestação de informação àANATEL

Princípios gerais de atividadeeconômica, previstos naConstituição

Prazos20 anos, prorrogáveis pormais um período de igualduração

Indefinido

Tecnologias Não tem acesso, a princípio atecnologia WLL Acesso à tecnologia WLL

Fonte: Pires (1999)

A quarta assimetria refere-se ao incentivo para a universalização dos serviços.

A permissão de entrada em outros segmentos de mercado está condicionada

ao cumprimento de metas, sendo que o prazo original para a permissão pode

ser reduzido caso o cumprimento dessas obrigações seja antecipado.

Uma outra assimetria relevante está relacionada à possibilidade de

diversificação dos serviços. Por estarem condicionadas ao cumprimento das

metas com os decorrentes incentivos assimétricos, as concessionárias terão

dificuldades para a diversificação de seus serviços.

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A quinta assimetria proporcionada pela regulação estatal está na possibilidade

da utilização da tecnologia Wireless Local Loop (WLL). Essa tecnologia

consiste numa telefonia fixa celular e proporciona a vantagem de prescindir de

redes cabeadas até a casa do usuário, o que acarreta menor tempo de

implantação e menor custo de investimento. As concessionárias somente

tiveram acesso a esta tecnologia a partir de 2001. Antes disso, só em cidades

com menos de 50 mil habitantes ou naquelas que a empresa-espelho

declarasse que não atenderia.

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ANEXO 2 ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Questão Inicial (Aberta):

“Que tipos de problemas a Empresa enfrenta envolvendo a demanda pelo

serviço e a capacidade de atendimento?”.

Questões que foram abordadas durante a entrevista:

Características da Capacidade

1) Medidas de capacidade utilizadas

2) O que determina a capacidade do serviço: mão-de-obra, equipamentos,

rede, etc?

3) Como são tomadas as decisões de capacidade?

• Avaliação de capacidade existente

• Previsões de necessidade futuras de capacidade

• Identificação de diferentes formas de alterar a capacidade no curto,

médio e longo prazo

• Avaliação do impacto da decisão a respeito de capacidade sobre a

qualidade do serviço prestado

• Avaliação econômica, operacional e tecnológica de alternativas de

incrementar capacidade.

4) Como é feito o planejamento de recursos (a curto prazo)?

5) Há planejamento a médio prazo? (1 ano)

6) Qual é o nível de capacidade?

7) Quais são os gargalos do processo?

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Comportamento da Demanda

8) Como se comporta a curva de demanda? (constante, cíclica, crescente

ou decrescente).

9) Quais são os fatores que regem as variações de demanda ao longo do

tempo: (comportamento da demanda)

- Os níveis de demanda seguem um ciclo previsível?

- Quais são as causas dessas variações cíclicas?

- Os níveis de demanda parecem mudar aleatoriamente?

- Quais são as causas dessas variações aleatórias?

- A demanda por um determinado serviço pode ser desagregada por

segmentação de mercado por refletir fatores como:

- Padrões de uso por um tipo particular de consumidor ou por um

motivo especial?

- Variações na lucratividade líquida de cada transação completada?

Gerenciamento da Demanda

10) Qual é a situação atual da capacidade em relação à demanda?

• Capacidade insuficiente (excesso de demanda)

• Capacidade suficiente (demanda satisfatória)

• Excesso de capacidade (demanda insuficiente)

11) Que tipo de medida(s) é(são) tomada(s) para ajustar a demanda à

capacidade?

12) A demanda é segmentada? Como?

13) Há sensibilidade de preço?

14) A demanda é elástica?

15) Algum(ns) desses mecanismos de ajuste de demanda é utilizado?

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• Pré-venda – sistema de reservas?

• Marketing direto?

• Diferenciação de preço?

• Comunicação sobre a carga de trabalho?

• Promoções e liquidações?

• Promoção de demanda fora de pico?

• Manutenção preventiva dos equipamentos dos usuários?

• Serviços complementares?

• Pricing (segmentação)

16) A Empresa utiliza outros mecanismos para ajustar a demanda? Quais?

Gerenciamento da Capacidade

17) O serviço prestado depende mais de mão-de-obra ou de

equipamentos?

18) Qual é a política adotada para gerenciamento de capacidade?

• Capacidade antecipa-se à demanda

• Política mista

• Capacidade segue a demanda

19) Algum(ns) desses mecanismos de ajuste de capacidade é(são)

utilizado(s) na Empresa?

• Locação de equipamentos

• Divisão de capacidade

• Tecnologia

• Sistemas de informação

• Padronização dos serviços

• Funcionários extras ou temporários

• Cross-training (treinamento multifuncional)

• Extensão ou redistribuição das horas de funcionamento (turnos)

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• Pré-processamento do pedido

• Manutenção preventiva nas instalações

• Cooperação com outros concorrentes (uso da rede)

• Serviços complementares

• Downgrading de produtos ou upgrading de consumidores

• Controle do tempo de duração do serviço

• Engajamento do cliente no serviço

• Serviços para grupo de clientes

20) A Empresa utiliza outros mecanismos para ajustar a capacidade?

Quais?

Informações Complementares

21) Como a Empresa está estruturada?

22) Quais são as áreas responsáveis pelo ajuste de capacidade e

demanda?

23) Como é feita a interface entre as áreas de Marketing e Engenharia?