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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INTERDISCIPLINAR E METODOLOGIA DO
ENSINO FUNDAMENTAL
INTERDISCIPLINARIDADE: UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA
ANGELA CLAUDIA SCHMIDT
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO
ARIPUANÃ/2012
AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INTERDISCIPLINAR E METODOLOGIA DO
ENSINO SUPERIOR
INTERDISCIPLINARIDADE: UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA
ANGELA CLAUDIA SCHMIDT
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO
“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação Interdisciplinar e Metodologia do Ensino Superior.”
ARIPUANÃ/2012
RESUMO
Como compreender que um jovem estudante, apresente dificuldades na
resolução de problemas simples como interpretar e redigir textos, bem como em
mostrar-se um agente social atuante e um profissional competente. Em busca de
sanar tais dificuldades o trabalho escolar precisa valer-se da interdisciplinaridade,
conteúdos das diversas disciplinas complementando-se e principalmente vindo de
encontro ao que o aluno quer e precisa aprender. Há que ocorrer esse vínculo com a
realidade, um objetivo, para quê e para quem o professor ministra sua aula. O
professor como agente político interferidor, comprometido com os alunos, a escola e
a sociedade no seu tempo e realidade.
Este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e de
pesquisa de campo realizada pela Secretaria Municipal de Educação de Erval Seco
– RS e tornou-se surpreendente pela amostra da diversidade regional brasileira em
contrapartida ao senso comum que norteia a educação na visão de pais, alunos,
professores e comunidade em busca do desenvolvimento de uma educação de
qualidade.
.A pesquisa bibliográfica, a análise e compreensão da realidade local de
diferentes comunidades, a preocupação comum nos relatos de pais e professores
nos permite dimensionar a questão da interdisciplinaridade e a sua importância na
trajetória de vida e aprendizado do aluno. Percebemos que as discussões não se
alteram apesar do decurso do tempo e das realidades diversas.
O trabalho interdisciplinar, muitas vezes difícil a nós professores,
acostumados ao estudo especifico de disciplinas, que sentimos a necessidade de
fazer com que nossos alunos percebam a importância e a aplicação do aprendizado
proposto e avaliar neste o conjunto de habilidades e competências que o qualifiquem
para que compreenda e seja capaz de interferir no contexto histórico da vida social.
Palavras chave: Interdisciplinaridade – educação – escola – aluno - sociedade
SUMÁRIO
Introdução...................................................................................................................04
1.Considerações sobre a realidade educacional no município de Erval
Seco - RS: Opiniões e alternativas propostas pela comunidade...............................07
2. A Escola e a Sociedade............................................................................... .........12
3. A autonomia como finalidade da educação..........................................................18
4.Interdisciplinaridades – Religando Saberes............................................................21
Conclusão...................................................................................................................28
Referências Bibliográficas..........................................................................................30
INTRODUÇÃO
Na realização do trabalho de conclusão cujo tema é a interdisciplinaridade,
nos deparamos com um assunto de suma importância. Nós professores, de uma
maneira geral costumamos desenvolver os conteúdos de acordo com o que consta
nos planos de ensino e no livro didático, às vezes até com algum projeto, algumas
aulas especiais, mais criativas. Acontece, porém que ao fazermos isso muitas vezes
estamos desperdiçando oportunidades. Oportunidades de vincular os nossos
conteúdos aos conteúdos que os outros professores estão desenvolvendo, à
bagagem de conhecimentos que nossos alunos trazem consigo, à curiosidade de
nossos alunos e também nossa. Se deixarmos de lado nossa forma de ministrar
nossas aulas, limitados à nossa disciplina e nos envolvermos mais, trazendo para a
aula o que está acontecendo lá fora, na escola, nas famílias, no bairro, cidade, país
e no mundo estaremos enriquecendo nosso trabalho. Ele será mais prazeroso e
gratificante além de oportunizar uma aprendizagem mais efetiva e valiosa às nossas
crianças.
Nosso objetivo maior, como professores, deve ser sempre o de tornar
nossas crianças indivíduos capazes de sobreviver no meio em que vivem, achando
alternativas com autonomia. Sendo capazes de compreender o sentido da história,
das relações, de pensar por si mesmas,argumentar, assimilar e apropriar-se dos
fundamentos do pensamento científico. Queremos que elas sejam sujeitos sociais e
que tenham uma vida digna e feliz.
Para realizar esse trabalho, além de pesquisas bibliográficas para saber o
que os diversos autores pensam a respeito do assunto, eu quis saber das pessoas,
dos pais, alunos, professores, líderes da comunidade o que é que esperam da
educação já que queremos dar esse retorno à sociedade. Sem condições de fazer
uma pesquisa desse porte em ARIPUANÃ/MT, obtive junto à Secretaria Municipal de
Educação de Erval Seco/RS, minha cidade natal, um trabalho feito junto à rede
municipal de ensino e que nos dá uma visão dessas questões. O trabalho esse foi
realizado pela equipe da Secretaria Municipal de Educação em 2003, mas as
questões envolvidas são sempre atuais e o que esses pais e líderes comunitários
nos dizem levam-nos a repensar nossa forma de fazer educação.
O trabalho da equipe de educação não se restringiu a fazer a pesquisa, mas
após isso, e baseados nos dados educacionais do município, que estava
apresentando elevado índice de evasão escolar e de reprovação, e nos dados da
pesquisa, realizaram um trabalho de capacitação dos professores visando a sua
conscientização e instrumentalização. O material utilizado no curso foi o projeto
“Alternativa Para o Ensino de Ciências nas Quatro Primeiras Séries” que já vinha
sendo utilizado há alguns anos na região por professores da UNIJUÍ em trabalhos de
extensão.
Esse projeto da UNIJUÍ trata exatamente do que estamos vendo, aula
integrada, ou seja, interdisciplinaridade. O ensino de ciências serve como tema
gerador para as demais disciplinas, permitindo que se faça o desenvolvimento de
aulas integradas. Ele é um ótimo ponto de partida para a introdução de uma
metodologia ativa de trabalho na qual o aluno passa a ser agente no processo
ensino-aprendizagem.
Incluímos esse trabalho da Secretaria Municipal de Educação de Erval Seco
-RS nesta monografia por ser um trabalho intensivo, sério e que buscou respostas
junto àqueles que são tão pouco ouvidos – os pais dos alunos e os líderes locais. Já
o projeto da aula integrada introduzido no município após a etapa da pesquisa e
levantamento de dados trata da prática daquilo que achamos que deva ser feito na
educação. Uma educação num contexto, disciplinas vinculadas entre si e com o
meio, com a realidade; com nexo e coerência e tendo como objetivo maior a
formação de um aluno cidadão, digno, feliz.
Apresentamos o presente trabalho em quatro capítulos, sendo que no
primeiro expomos algumas informações a respeito do município de Erval Seco e os
dados obtidos pela Secretaria Municipal de Educação daquele município junto à
comunidade escolar e lideranças locais em pesquisa realizada. Esses dados são
surpreendentes e nos fazem ver que certas questões que nós, professores,
menosprezamos, na verdade são de suma importância. Também nos fazem sentir a
necessidade da interação escola/comunidade para poder ministrar uma educação
contextualizada. No segundo capitulo tratamos da necessidade do professor
perceber o seu poder de transformar o mundo e de formar alunos que também
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tenham essa capacidade. Falamos também do trabalho de Paulo Freire e um breve
histórico do país e do papel político da educação. Já no terceiro capítulo
defendemos a importância da valorização do conhecimento que a criança traz, da
manutenção da sua espontaneidade, de despertar sua curiosidade e de permitir que
ela participe da construção do seu conhecimento e no capítulo final , aproveitando
ainda o trabalho da Secretaria Municipal de Educação de Erval Seco, falamos sobre
como trabalhar a interdisciplinaridade tendo o ensino de ciências como tema
gerador.
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1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A REALIDADE EDUCACIONAL NO MUNICÍPIO DE
ERVAL SECO: OPINIÕES E ALTERNATIVAS PROPOSTAS PELA
COMUNIDADE
Em 2003, época em que foi realizado esse trabalho, o município de Erval
Seco apresentava uma extensão de 623 km quadrados, sendo 50% área de campo
com predomínio da monocultura intercalada de soja e trigo e também plantio de
erva-mate e na outra parte, montanhosa, com residência de descendentes de
italianos a alemães tendo propriedades bem organizadas, culturas diversificadas
(soja, milho, arroz, feijão, batata, verduras, frutas e avicultura e pecuária leiteira),
intercalada com áreas de extrema pobreza e desorganização.
As fontes de renda do município eram exclusivamente a agricultura, o
comércio e a indústria de erva-mate.
A população era de 2.579 pessoas na zona urbana e de 12.242 na zona
rural.
Eram atendidos 1.436 alunos na rede municipal de ensino, a reprovação
atingia uma média de 22% sendo maior na primeira série – 32%. A evasão escolar
tinha uma média de 7% sendo que na quinta série chegava a 17%.
Em regiões de maior pobreza, de peões, de cortadores de erva, agregados e
pequenos agricultores que por desconhecerem técnicas apropriadas tem baixa
produção, era grande a porcentagem de alunos que vinham à aula mal nutridos, mal
vestidos e sem higiene.
Esta realidade exigia uma mudança de atitude por parte das famílias,
sociedade e principalmente escola. Foi com essa finalidade que a Secretaria
Municipal de Educação iniciou o trabalho envolvendo toda a comunidade escolar.
Foram feitas reuniões em todas as escolas municipais onde foram debatidos
os temas constantes no roteiro abaixo, o qual já tinha sido distribuído com
antecedência às escolas:
1.O que se pensa sobre Educação?
- Como está o ensino em nossa escola?
-O que se ensina, quem ensina, quem aprende?
2. Qual o papel do professor face è expectativa do aluno e da comunidade?
- O que o aluno e a comunidade esperam da escola?
- O que a escola propõe?
3. Crise de valores.
-Posicionamento da escola e da família frente a esta realidade.
-Que valores estão sendo cultivados na família e na escola?
4. Educação com comprometimento de todos.
5 . A humanização da escola.
-Relacionamento: professores, alunos, funcionários, pais.
-Ambiente físico.
6. Como vejo e como gostaria de ver minha escola?
7. É possível melhorar a qualidade do ensino com os recursos materiais e humanos
hoje existentes?
Em síntese, o que se concluiu foi:
- A escola está desvinculada da comunidade, não atendendo os seus anseios.
-Os conteúdos estão fora da realidade.
-A escola não prepara para a vida, não ensina a pensar, a ser criativo. O aluno
estuda para passar na prova.
-Os professores estão desmotivados por encontrarem na escola uma realidade
totalmente diversa daquela para a qual foram preparados: por não receberem
remuneração adequada às suas necessidades e por não receberem o apoio da
comunidade.
-Há professores sem habilitação.
-Os alunos não participam do processo de educação, eles são meros expectadores.
-Há falta de verbas para a educação. Os pais e professores sentem dificuldades
para manter as escolas fazendo festas e outras promoções.
-Há falta de equipamentos, material de apoio didático e pedagógico e de espaço
físico nas escolas.
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-Os alunos precisam trabalhar para ajudar manter a casa.
Para solucionar esses problemas foram apresentadas as seguintes
alternativas pelos grupos:
a) Deve ocorrer uma mudança na forma de ensinar nas escolas que formam
professores. Os professores são preparados para uma realidade que não existe.
As escolas formadoras deveriam primeiro fazer uma análise do meio em que o
professor vai atuar, um levantamento dos interesses da comunidade, para, a
partir daí, estabelecer objetivos educacionais correspondentes à esta realidade.
Seria ainda interessante que os universitários estagiassem em escolas do meio
rural.
b) Promover uma maior integração entre família, escola e professores. Os
professores devem visitar as casas dos pais dos alunos, E estes devem deixar
de vir à escola apenas em reuniões para eleição de diretoria e em promoções,
mas também reuniões para discutir questões relativas ao ensino de seus filhos e
a sua comunidade e para conversar com os professores.
c) Deve haver uma mudança nos conteúdos dos currículos escolares; estes devem
vir ao encontro de realidade do aluno. Deve-se ensinar coisas práticas, aquilo
que o aluno vai precisar durante sua vida.
Questionando os pais sobre o que achariam necessário que seus filhos
aprendessem, eles elencaram o seguinte:
-Ler e escrever;
-Convites, cartas, bilhetes, nota promissória, cheque, avisos, subscritar
envelopes, verbos;
-Elaborar textos práticos de acordo com a realidade;
-Sistema monetário;
-Tabuada;
-Medidas: área, perímetro, cubagem...trabalhar com quarta, salamin,
alqueire..;
-Quatro operações;
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-Juros e porcentagem;
-Resolver problemas práticos envolvendo produtos da localidade;
-Questões de higiene saúde, alimentação;
-Bons hábitos e atitudes;
-Trabalhos manuais, atividades como cozinhar, costurar, tachar sapatos, fazer
vassouras, sabão caseiro, etc.
d) calendário escolar no município precisa ser reformulado, sendo que as férias
devem coincidir com a época da colheita de soja para melhorar a frequência
escolar.
e) Magistério municipal deve ser mais valorizado, com plano de carreira que
incentive o estudo e institua gratificações por difícil acesso, uni docência e tempo
de serviço.
Foram ainda distribuídos questionários à lideranças locais, presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Pastores, Padre, Prefeito, Médicos, Secretários
da Administração Municipal, os quais afirmaram que a escola deveria:
a) Orientar mais sobre higiene, alimentação e educação sexual â nível de ensino
fundamental e médio, pois faltam hábitos de higiene, a água consumida é de
baixa qualidade, há alto índice de verminose e ainda, programas de saúde não se
destacam nas escolas e há falta de atuação popular no setor saúde.
Quanto à educação para o lar, deve ser dado maior destaque, já que as
jovens rurais estão despreparadas para serem donas de casa e a população usa
alimentação tradicional e de má qualidade (por exemplo, colonos usam demais a
banha de porco, balas e doces tem uso exagerado entre crianças do interior,
agrotóxicos são chamados de remédios em hortaliças).
b) Preparar a criança para a vida que se vive na comunidade e propiciar a formação
de líderes atuantes no campo sociopolítico, pois existe muita individualidade dos
agricultores e o “caciquismo”, o poder que vai e volta nas mesmas mãos. Há
também falta de experiências comunitárias convincentes, (o imediatismo requer
percepção de vantagem , quando se trata de despertar interesses), e a pobreza
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em grande escala faz com que o povo só queira doações e as coisas prontas,
sem retribuição. A escola precisa preparar para a autonomia, a busca de
alternativas de sobrevivência e não fazer este adestramento que vem sendo feito.
c) Dar orientações sobre ecologia, pois o município apresenta graves problemas de
conservação do solo, estradas e água. Inseticidas são usados
indiscriminadamente e sem cuidados e as matas já foram todas praticamente
devastadas.
Ao analisarmos as ideias apresentadas por esses pais e líderes comunitários
a sensação que temos é de certo desconforto diante do que estamos fazendo da
educação. Quantas vezes nos prendemos ao livro didático, a planos de ensino
completamente desvinculados daquilo que nossos alunos querem e precisam. Ao
não conversarmos com aqueles que nos rodeiam estamos nos comportando como
seres superiores, menosprezando o seu conhecimento, seu entendimento de mundo
que vimos agora ser bem maior do que imaginamos.
Ao fazermos uma educação distanciada da realidade, um ensino não
pertinente, fazendo nosso aluno memorizar conhecimentos que não tem relação
com sua vida , estamos ofertando uma educação de baixa qualidade, discriminativa.
Discriminamos ao não recuperar o conhecimento prévio dos participantes, ao não
fazê-los participar nos processos de investigação , resolução de problemas,
construção de conhecimentos, centrando tudo no ensino e na autoridade do
professor e discriminamos também quando os conteúdos e aprendizagens não
facilitam o desenvolvimento de valores, de capacidades, de destrezas que permitam
às pessoas viver e trabalhar com dignidade e participar na sociedade como sujeitos
autônomos.
Com certeza não é isto o que pretendemos do nosso trabalho como
professores então é hora de parar, ouvir, perscrutar o mundo que nos cerca e aos
nossos alunos e tomarmos uma decisão política, assumirmos nosso papel de
educadores que querem e podem fazer o melhor por eles.
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2. ESCOLA E A SOCIEDADE
Neidson Rodrigues em seu livro Por uma nova escola,o transitório e o
permanente da educação (1995, p. 9) coloca que a grande tarefa é: “levar os
educadores à uma compreensão mais abrangente do momento histórico que
estamos vivendo e a considerar a extensão dos desafios que nos serão agora
colocados”. O Brasil e o mundo está passando por transformações a todo o tempo e
os professores não podem ficar à margem do processo, pelo contrário, a eles cabe o
papel de facilitar o acesso de seus alunos a esse novo mundo, de serem capazes de
sobreviver e serem também agentes transformadores.
De acordo com CREMA (1988, p.59), e citando o paradigma holístico, do
grego holos = totalidade, ‘ .essa abordagem consiste na consideração de que todos
os fenômenos ou eventos se interligam e se inter-relacionam de uma forma global;
tudo e interdependente’.
Uma coisa importante que está acontecendo, segundo RODRIGUES, é que
o homem começou a entender que a história
... Não é consequência de fatalidades, ela decorre da constante transformação da realidade através da intervenção humana. A história que se ensina na escola aparece com desdobramentos ocasionais produzidos pelas ações de alguns homens notáveis. Isto faz com que os educandos pensem que todos os fatos históricos resultam da ação de alguns grandes homens e não percebam que, na verdade, estes fatos resultam de uma contingência, de uma transformação ocorrida no seio da sociedade e que obrigou a tal mudança. Sem saber de sua força, o povo se acomoda e fica a espera de que algum “Messias” apareça para resolver seus problemas. (1995, p. 112).
A partir do momento que o homem percebe que ele “existe no tempo” e não
apenas vive, ele não apenas está no mundo, mas está com o mundo, ele deixa de
ser um mero expectador e passa a ser interferidor da história, se integra no contexto
ao invés de apenas se adaptar, e esta sua integração o enraíza e faz dele um ser
“situado e datado”. (FREIRE, 1984, p. 41).
Paulo Freire, em seu livro Educação como prática da liberdade (1984), nos
coloca que a educação tem um papel político muito significativo nesse processo. Ela
pode ser uma força de mudança e libertação e fazer com que a sociedade passe a
ser “sujeito de si mesma”, de sua história, tomando consciência do seu papel no
tempo e no espaço. Nos conta também sua experiência do âmbito de alfabetização
de adultos realizada numa fase de transição política, a Pré Revolução de 1964.
O período era de mudanças, o regime autoritário que vigorava há algumas
décadas estava decadente. A população estava paulatinamente tomando
consciência de seu papel, se organizando em sindicatos e associações, ocupando
os espaços.
Para que o homem possa participar ativamente das mudanças é necessário
que ele se integre, adquira consciência critica da situação e aprenda sobre e com as
mudanças. Aí entra o papel do educador que não pode mais discutir apenas o seu
tema especifico, como se pudesse operar isoladamente.
O Brasil, desde o seu descobrimento, se caracteriza por apresentar uma
sociedade de dominantes e dominados, com um povo considerado incapaz de tomar
decisões. Cuja tarefa é a de ser comandado pela elite, e a educação existente
sempre foi dentro desses moldes, servindo como um instrumento para manter a
submissão do povo.
O povo que aos poucos ganhava consciência de suas possibilidades se
inserindo no mundo, assumindo tarefas de seu tempo e se tornando critico e
autoconfiante ameaça as elites que detinham os privilégios e estas então se
arregimentam para se manter no poder, passam a atuar como “defensores” do povo
e da “democracia” existente, fazendo-o silenciar oferecendo “remédios”, criando
instituições assistenciais e rotulando como subversivos aqueles que ameaçavam a
democracia, que, para eles, era manter a situação de dominação.
O assistencialismo, faz de quem recebe a assistência um objeto passivo,
sem possibilidade de participar do processo de sua própria recuperação e também
contradiz o processo de democratização fundamental, impedindo ao sujeito a
participação social critica e construtiva.
A escola, até então, também nada fazia em prol desse despertar, prestando-
se ao contrário, como mecanismo de acomodação.
Segundo Paulo Freire (1984), este momento de transição era muito delicado,
pois as pessoas ao perceberem sua situação de dominadas se rebelam e tomam
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atitudes irracionais, sem preparo e sem organização, tornando-se facilmente
joguetes daqueles que souberem se aproveitar da situação.
A escola precisa atender às necessidades do povo oferecendo uma
educação que o prepare para a realidade em constante mutação, para poder decidir
e ter responsabilidade social e política dentro da democracia. Uma educação que
desenvolva nas pessoas os poderes intelectuais, o interesse da busca da verdade, a
capacidade de analisar criticamente as situações, tomar decisões racionais na
resolução de seus problemas e de sua comunidade, sem se deixar levar pela
propaganda, por fanatismos e pelo ceticismo.
É função da escola, despertar essa criticidade, esta consciência do poder
inerente ao homem, consciência do fato de ser capaz, porque, a partir do momento
que ele perceber que tem valor, que sua função, seja qual for, é importante, ele
passará a ser um indivíduo atuante, que buscará saber a razão das coisas a sua
volta e viver mais dignamente.
Para levar o homem a assumir essa nova postura, a educação segundo
FREIRE (1984), deve colocá-lo em intimidade com os seus problemas fazê-lo
participar, debater, analisar, pesquisar e não apenas estudar e repetir trechos que
nada tem a ver com a sua realidade. Deve deixar de ser baseada na oratória sem
profundidade, cheia de palavras ocas que nada dizem para a formação da
personalidade do educando, para o desenvolvimento de sua criticidade.
Foi baseando-se nisto que Paulo Freire elaborou seu método de
alfabetização de adultos descrito em seu livro “Educação como prática da liberdade”.
Este método visava à formação integral do educando e não apenas alfabetizar
mecanicamente a partir de palavras e frases que nada trazem, nada dizem aos
alunos. Visava promover a “ingenuidade em criticidade” ao mesmo tempo em que
alfabetizava. Partia do estudo e análise da realidade dos alunos para posterior
adaptação do conteúdo programático a esta realidade é poder se usar um método
ativo, dialogal, crítico e criticizador.
Segundo o autor o diálogo é uma relação horizontal de A com B. Nasce de
uma matriz crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança,
da fé, da confiança. Por isso só o diálogo comunica. Quando os dois polos do
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diálogo se ligam assim, com amor, com esperança, com fé um no outro se fazem
críticos na busca de algo, se instala então uma relação de simpatia entre ambos. Só
aí há comunicação. E quem dialoga, dialoga sobre alguma coisa com alguém e essa
“coisa” deveria ser o conteúdo programático.
Segundo FREIRE (1984, p. 96), “a educação é um ato de amor, por isso, um
ato de coragem. Não pode temer o debate, a análise da realidade. Não pode fugir à
discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”.
Em 1964, quando se sucedeu a revolução, Paulo Freire foi extraditado do
Brasil e seu trabalho foi interrompido. Sua luta, no entanto, continuou no Chile e em
outros países sempre defendendo que a alfabetização não se resume a dominar as
técnicas de leitura e escrita mas o indivíduo precisa entender o que lê e escrever
aquilo que entende.
Neidson Rodrigues em seu livro Por uma nova escola (1995, p. 31), comenta
a situação estabelecida no País no período pós-64 e como o povo foi se insurgindo
contra essa situação, o que exige agora uma nova educação.
Após 1964 o poder foi estruturado para estabelecer um regime permanente
e para tal houve uma total reestruturação da sociedade.
A nova tecnocracia empresarial e militar passou a liderar a vida social,
política, econômica e cultural do país. Os partidos políticos, sindicatos e qualquer
movimento social representativo foram eliminados.
O Estado era onipresente. A vontade do Estado deve ser interpretada como
vontade de todos. Não deixa espaço para divergências ou contestações.
Era fundamental no Novo Estado garantir o projeto de desenvolvimento
capitalista, pois os interesses econômicos são prioritários. As ações são
direcionadas para grupos minoritários, interesses capitais monopolistas,
modernização da economia brasileira em função do jogo de interesses
internacionais que tendia a excluir pouco a pouco a população dos benefícios dessa
modernização. Amplas camadas sociais são excluídas e as necessidades básicas
da população não são consideradas. Em virtude disso, a população começa a se
organizar para solucionar seus problemas e resistir à política oficial pública.
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Surgem associações com o apoio da Igreja e dos partidos políticos de
oposição, as quais crescem à medida que cresce o descontentamento e a
frustração e se tornam instrumentos de negociação política no âmbito de sua
atuação.
Com isto, surgem lideranças que assumem o poder a nível de município e
renovam a prática da política municipal, que reorienta suas prioridades a partir da
pressão popular. Os municípios abandonam o enfoque da política nacional e
passam a ativar a política de interesse social, (educação, alimentação, habitação,
bem estar social e segurança passam a ser prioridade a nível de município).
A partir daí a política municipal passa a ser modelo para a estadual e os
candidatos da oposição e do governo apresentam o enfoque social como prioritário,
principalmente a partir de 1982.
A sociedade brasileira é canalizada em nova direção. Há uma nova definição
do papel do Estado e dos rumos a serem assumidos pelos novos dirigentes, ou seja,
coordenar, atender e procurar alternativas para a solução dos problemas básicos da
sociedade brasileira.
Os movimentos populares passam a ser parceiros na elaboração e
condução das decisões políticas à nível municipal e o Estado não mais podia se
afirmar à margem das reivindicações populares.
As políticas sociais tomaram nova forma, e no campo educacional surgem
iniciativas de democratização interna da escola, expansão de ofertas educacionais,
ênfase à qualidade da educação e debates sobre a função da escola; fatos que
estão a apontar novos caminhos para a educação brasileira.
E conforme diz Neidson Rodrigues , o processo educativo deve ser de tal
forma consciente a ponto de poder elevar a consciência das classes populares e
fazê-las perceber seu papel histórico e lutar com conhecimento de terreno. Esse
conhecimento será sua arma. Portanto, não é só mudar técnicas de educação,
currículos e programas; precisa-se ter clareza do novo método de trabalho da escola
em função do papel político a ser desempenhado pela educação. Tem que se ter
como ponto de partida a experiência vivida pelo educando, e a partir do que ele tem
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a dizer sobre a vida podemos estabelecer uma direção para a tarefa pedagógica. O
educador terá então uma base, saberá do nível de consciência e da competência de
analisar o mundo que o cerca e o processo de trabalho. Ao não levar isso em conta
a prática pedagógica vai ser “forma sem conteúdo”, não vai ter um significado e nem
levar o educando à uma consciência crítica.
E, a partir deste contexto, surge nas escolas um método de pesquisa e de
ensino voltado para a interação em uma, de duas ou mais disciplinas, num processo
que pode ir da simples comunicação de ideias ate a integração recíproca de
finalidades, objetivos, conceitos, conteúdos, terminologia, metodologia,
procedimentos, dados e formas de organizá-los e sistematizá-los no processo de
elaboração do conhecimento, a que chamamos interdisciplinaridade.
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3. AUTONOMIA COMO FINALIDADE DA EDUCAÇÃO
Antes de entrar para a escola a criança aprendeu uma língua, se comunica,
entende e é entendida, pergunta, responde, descreve, narra. Ao ignorar todo esse
cabedal de conhecimento que a criança traz consigo, partindo para um ensino
desvinculado de sua realidade, em que o professor é o dono da verdade, segundo
CALLAI E GRISON (1983), a criatividade da criança acabará sendo tolhida. Quando
o professor restringe a sua aula ao monólogo, impedindo a manifestação
espontânea da criança, não valorizando a sua participação ou então censura a
criança ao falar errado ou fazer um exercício de forma diferente da prescrita, pode
ocorrer inclusive um retrocesso na aprendizagem. A criança que antes de entrar na
aula era espontânea, comunicativa, curiosa, passa a ser um indivíduo passivo que
se amolda dentro de uma engrenagem que nada tem a ver com sua vivência.
A par da comunicação, segundo CALLAI E GRISON (1983), ela adquiriu
informações, formulou ideias, estabeleceu relações sobre as “coisas” do meio.
Aprendeu a observar, a distinguir características, a agrupar por semelhanças.
Dominou conceitos e obteve informações como: direção, forma, textura, espaço,
tempo, relações sociais de parentesco, de trabalho, de compra e venda. Conseguiu
esse conhecimento participando junto com o grupo das diferentes situações que
despertaram o seu interesse e curiosidade e também pela necessidade. Aprendeu
reagindo aos estímulos e exigências do meio.
Porém, ao entrar na escola, na maioria das vezes a criança terá de se
adaptar a um sistema no qual não tem chances de prosseguir nesse seu
aprendizado natural. As aprendizagens que antes eram adquiridas, através de um
processo em que havia a participação ativa, enfrentando, questionando, buscando
soluções para os problemas e descobrindo novos problemas para resolver, deixam
de ser assim e passam a ser uma “verdade” imposta pelo professor.
Para ensinar, devemos primeiramente saber respeitar a criança, ouvir a si
mesmo e ao outro, conhecendo o desenvolvimento de sua inteligência e relações
com o meio, valorizando aquilo que ela já sabe e incentivando-a na busca do saber.
É importante que todo o professor conheça as fases do desenvolvimento
mental da criança, apresentadas nos estudos de Piaget, para compreender a
importância, a necessidade, de desenvolver um ensino em que a criança participe
do processo para poder construir, estruturar em sua mente os conhecimentos.
O professor precisa conscientizar-se de que para receber e assimilar uma
informação nova, conceitos novos, precisa reorganizar os conhecimentos que
detém.
Se for oportunizado à criança a estruturação mental do seu conhecimento,
será bem mais fácil para ela a assimilação de novos saberes. No caso da
matemática, se a criança não construiu a estrutura do número, toda a contagem,
leitura e escrita dos numerais será feita apenas de memória, decorando. Também há
que se dar a liberdade para que o indivíduo se desenvolva de maneira peculiar a ele
mesmo. Se houver muitas restrições e imposições a criança tende a se conformar e
adaptar em vez de exercer a iniciativa e responsabilidade.
Constance Kamii, em seu livro A criança e o número (2008), diz que, a
estrutura mental não pode ser ensinada diretamente ao aluno e, por isso, o
professor deve priorizar o ato de encorajar a criança a pensar, com autonomia e
ativamente, nas diferentes situações não dissociando os aspectos social, moral e
intelectual, e todas as matérias devem ser ensinadas dentro desse objetivo amplo.
Sabemos, no entanto, que encorajar esse pensamento espontâneo é difícil já que
somos acostumados a só buscar obter das crianças respostas certas.
A autonomia, enquanto ato de governar-se e como finalidade da educação
requer que as crianças não sejam levadas a dizer coisas nas quais não acreditam
com sinceridade.
Ao ensinar a obediência e as respostas corretas, ao usar sanções e
recompensas para que as crianças fiquem “boas”, as escolas evitam o
desenvolvimento de sua autonomia. Há vezes em que o aluno tem sucesso na
escola pelo fato de ter memorizado, só pra passar nos exames, palavras, por
exemplo, que não entende ou que não lhe importam. O verdadeiro sucesso ocorre
quando o aluno obtém a habilidade de pensar autônoma e criticamente e quando o
que aprende na escola lhe for útil para sua adaptação ao meio ambiente.
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Por isso é imprescindível que o professor encare o seu trabalho buscando
sempre o que for importante, significativo. Ele é responsável pela vida de seus
alunos então precisa buscar as prioridades para poder lhes dar uma vida melhor. E
necessário formar-se os estudantes, de tal forma que, uma vez adultos, sejam
capazes de continuar a sua ‘educação’ após sair da escola.Fazer deles indivíduos
autônomos e capazes de se adaptarem aos diversos tipos de ambientes e também
poderem contribuir para a melhoria dos ambientes em que se encontram.
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4. INTERDISCIPLINARIDADE – RELIGANDO SABERES
É preciso retomar e religar saberes fundamentais, recriar valores universais,
redefinir conceitos, considerando sempre os meios e os fins, a ética e a
responsabilidade.
Ao definir os fins a serem alcançados, ao discernir o que é fundamental para
atingi-los, ao fazer o planejamento de sua prática pedagógica, a escola, segundo
FAZENDA (1991), abre caminhos para que a ação interdisciplinar avance no plano
teórico e prático. Por essa via, o processo de ensino-aprendizagem pode ser
direcionado a criar condições para o aluno desenvolver a consciência reflexiva. E
desenvolver também sua capacidade de estabelecer relações entre ideias, e de
elaborar, assimilar e socializar conhecimentos significativos para a vida real.
O projeto interdisciplinar, segundo FAZENDA (1991), deve unir todo o
conhecimento separado, contextualizá-lo e situar toda a verdade parcial no conjunto
de que ela faz parte, lembrando que o aprendiz é um ser inteiro e que aprende em
um contexto também inteiro.
É preciso ter ciência do que deve ser feito e do poder e compromisso do
professor. Ele não tem alternativa. Ele sempre vai ser um agente interferidor. E já
que vai interferir, segundo GADOTTI (1986), que seja desta forma ética, convicta,
comprometida, amando o seu trabalho e ajudando os seus alunos a serem pessoas
capazes de sobreviver e de achar alternativas para si e para o mundo que os cerca.
Conforme Neidson Rodrigues:
o processo educacional tem um objetivo a alcançar, e para isso, exige que os educadores tenham um claro conhecimento da realidade para a qual se educa. se a escola detém a liderança no processo educacional ela tem que ter clareza da realidade para a qual está educando.
Diz ainda que:
o professor de ciências julga que não precisa conhecer a realidade social, o de educação física atribui esse conhecimento ao professor de história e assim por diante. Isso decorre da divisão do trabalho educativo, da fragmentação que existe “ e do fato de “ professores preparados para trabalhar em escolas que não existem. (RODRIGUES, 1995, p.66).
Mas como fazer essa religação de saberes? O que fazer para preparar
melhor os professores para uma escola real? Relembrando sobre o trabalho feito
com essa finalidade pela Secretaria Municipal de Educação de Erval Seco.
Após o trabalho de levantamento de dados sobre a educação no município,
a pesquisa junto à comunidade escolar e lideranças e também revisão bibliográfica,
que provam o quanto a educação está vinculada com a estruturação da sociedade e
o papel político que tem, passaram ao trabalho prático com um grupo de
professores.
O principal objetivo desse trabalho, segundo relatório da SMEC, foi de
conscientização dos professores sobre o papel da educação, de que esta em
momento algum pode ser apolítica, pois no momento em que se opta por uma
educação descompromissada com a realidade social, também se está fazendo uma
opção política. Essa opção pode ser resultado de comodismo ou mesmo da
ignorância dos resultados que dela poderão advir. Fará dos alunos um grupo de
indivíduos amorfos, adestrados, sem autonomia e que irão servir àqueles que os
desejam ignorantes para aceitarem a exploração sem se revoltar.
A outra opção é pela educação libertadora, que permite ao indivíduo ser
autônomo, saber tomar decisões, encontrar alternativas de sobrevivência, conhecer
o seu meio e promover a melhoria do mesmo em seu benefício e da comunidade.
O essencial nessa educação libertadora, segundo RODRIGUES (1995), é
ensinar o aluno a pensar, a confiar na sua capacidade, a tomar decisões e a
expressar-se livremente. Isso não vai se conseguir através do ensino tradicional,
estático, em que o professor é o agente e o aluno o paciente da aprendizagem.
O trabalho interdisciplinar esbarra em dificuldades diversas de aceitação e
criticas de caráter pessoal.
A colaboração interdisciplinar requer, por definição, segundo FAZENDA
(1991), qualidades não somente de tolerância mútua, mas de abnegação, de
apagamento dos indivíduos em beneficio da funcionalidade do grupo e, no limite, a
vontade de anonimato.
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Na intenção de remodelar o ensino nas escolas do meio rural a Secretaria
Municipal de Educação de Erval Seco vinha já implantando a Proposta Metodológica
de Aula Integrada das professoras Dolair Augusta Callai e Lori Inês F. Grison (1983).
Esta proposta se fundamenta no fato de que a criança ao entrar na aula já traz
consigo muitos conhecimentos que devem ser valorizados pelo professor, sendo que
o mesmo deve planejar seu trabalho a partir daquilo que o aluno já sabe,
oportunizando sempre a sua participação ativa na construção de novos
conhecimentos.
Enfatiza ainda esta proposta que todo o ensino deve partir de um tema
gerador, algo ligado à realidade da criança, em torno do qual devem ser
desenvolvidas todas as disciplinas, ficando portanto integradas entre si, e que em
escolas uni docentes deve haver integração também entre as diferentes séries. Para
se fazer esse tipo de ensino, as aulas integradas tem dois momentos, o trabalho
comum e o trabalho específico.
No trabalho comum, cada assunto será tratado por todos, num envolvimento
total das áreas de modo a não parcializar a percepção do cotidiano. Entrevistas,
publicações, observações, experimentações, etc., podem ampliar a discussão. No
trabalho específico, os fatos, fenômenos e/ou acontecimentos do dia a dia serão
estudados com uma preocupação mais direta com as áreas de ensino.
Na implantação da proposta da Aula Integrada pela SMEC foram
encontradas inúmeras barreiras, tais como: professores com dificuldades de se
desvincular do ensino formal; estão muito presos ao livro didático; alguns não
conseguem elaborar textos próprios; falta conhecimento mais profundo do conteúdo
e a maioria acha difícil encontrar atividades práticas que possam ser desenvolvidas
com os alunos , nas quais eles possam participar ativamente e que sirvam para
desencadear o estudo de outras áreas.
Com a finalidade de facilitar, melhorar, esses aspectos, foi desenvolvido com
os professores o projeto Alternativa Para o Ensino de Ciências nas Quatro Primeiras
Séries. Tendo conhecimento dessa proposta e tendo inclusive realizado no
treinamento as diversas experiências , o professor vai estar apto a usar o ensino de
ciências como tema gerador ou centro de interesse para as demais áreas, tendo o
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ensino de ciências as condições básicas e fundamentais para se iniciar um processo
de aprendizagem inserindo nas preocupações teórico praticas a interdisciplinaridade
e conceitos como consciência de classe e identidade cultural, contextualizando o
saber escolar.
Este projeto já vinha sendo implantado na região de Ijuí – RS, através de
cursos para professores do currículo por atividades e teve o envolvimento de muitas
pessoas . Segundo os professores, as crianças participam com entusiasmo e se o
professor souber trabalhar esse envolvimento, vai produzir as mudanças desejadas.
As atividades propostas no projeto são bastante espontâneas e livres e
ligadas ao cotidiano da criança. A partir de coisas simples, do dia a dia da criança,
pode-se trabalhar cientificamente não só o ensino da ciência, mas também outras
áreas. Pode-se, por exemplo, explorar a comunicação e expressão ao fazer o relato
dos experimentos; a matemática durante o controle dos mesmos e a integração
social ao relacionar os fenômenos com a vida da comunidade. Além disso, essa
proposta derruba o tabu de que sem laboratório não se pode fazer ciência,
mostrando que praticamente todos os fenômenos ocorridos em nosso meio, e que
estão ao nosso alcance, podem ser explorados cientificamente.
O desafio para os professores das séries iniciais é saber o que as crianças
“já sabem” a partir de atividades conhecidas e aceitas por elas e a comunidade para
conseguir uma mudança conceitual e metodológica. Tem que se descobrir primeiro
qual o conceito que as crianças possuem sobre o fato, para, a partir daí, permitir-
lhes que realizem atividades que lhes façam perceber que seu conceito não é tão
consistente como parecia e então reconstruir um novo conceito. A metodologia
consiste em fazer com que a criança seja obrigada, em situação problemática clara,
a emitir hipóteses à luz de seus conhecimentos prévios, de experimentar variações,
de analisar os dados e ver como isto está em acordo ou desacordo com o que
pensava antes.
Os professores devem estar atentos ao fato de que a inclusão de atividades
de experimentação e observação isoladas, ao longo da programação do ensino
fundamental não resgata o ensino da má fama de teórico e livresco. Não há dúvida
de que uma visita ao jardim zoológico ou a organização de uma feira de ciências são
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atividades desejáveis e interessantes, que podem agir como elementos motivadores
mas, se não forem devidamente explorados podem trazer pouco retorno, não
trazendo uma aprendizagem significativa.
E preciso ofertar ao aluno aprendizagens capazes de modificar o seu
comportamento pessoal e contribuir para modificações de suas condições de vida
coletiva.
Para que o trabalho de experimentação e observação contribua com todo o
seu potencial para o desenvolvimento intelectual e mental do aluno é necessário que
esteja incluído metodicamente na programação de disciplinas de estudo escolar.
Métodos ativos que partem da curiosidade e motivação da criança,
frequentemente nos dão a impressão de que o papel do professor fica anulado em
sala de aula e que os alunos devem ser deixados totalmente livres. Porem, este não
é o caso, o professor é indispensável para organizar as tarefas de ensino-
aprendizagem; propor as situações e atividades que levem a criança a trabalhar em
problemas úteis; organizar contra-exemplos que levem a contradições úteis para a
compreensão dos fenômenos em estudo e para também discutir e tirar conclusões
dos resultados obtidos.Para poder fazer esse tipo de trabalho, é fundamental que o
professor tenha conhecimento correto dos conteúdos específicos e recursos
bibliográficos adequados; tenha conhecimento também da psicologia cognitiva e
suas implicações na sala de aula; que conheça e respeite as etapas de
aprendizagem,usando linguagem adequada para cada uma destas , assim como a
importância de vocabulários significativos conceituais.
A interdisciplinaridade não nasce dentro do professor do dia para a noite ou
através de uma reunião, convite ou imposição. E uma desconstrução e reedificação
por etapas. Mudanças que geram medo, ansiedade, insegurança. Sua disciplina sai
da individualidade, da particularidade e se dilui na complexidade multifacetada de
outras disciplinas em proveito comum do conhecimento e isto ocorre pela
capacitação, pelo apoio coletivo, pelo dialogo das vivencias que possibilitam as
aventuras de afazeres interdisciplinares que não ocorrem apenas em grandes
projetos. E possível praticar a interdisciplinaridade entre dois professores ou ate
mesmo sozinho. O que faz a diferença e o professor estar atento às oportunidades.
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A interdisciplinaridade é uma ferramenta necessária para a educação sócio-
construtivista que tem por objetivo o desenvolvimento das capacidades intelectuais e
subjetividade dos alunos fazendo-os assimilar os conteúdos de forma participativa e
consciente, sendo o professor um parceiro mais experiente na conquista do
conhecimento, interagindo com a experiência do aluno.
Na educação sócio construtivista, a finalidade dos conteúdos das matérias é
ajudar os alunos a desenvolverem competências e habilidades, a serem capazes de
ver e interpretar o mundo que os cerca, relacionar conhecimentos, serem capazes
de pensar por si próprios, estabelecer método de raciocínio,e principalmente saber
utilizar esses conhecimentos em sua vida prática. Piaget definia a inteligência como
a capacidade de estabelecer relações. O fundamental é que o aluno desenvolva
suas próprias capacidades a partir da construção do conhecimento fazendo um
constante enfrentamento, comparação entre o que ele já sabe a respeito de
determinado assunto e assimilando a novidade e dando um sentido para o que
aprendeu.. Também é muito importante a troca que acontece na sala de aula, o
compartilhamento de saberes entre o professor e alunos e os alunos entre si. A sala
de aula é o lugar da interlocução, do levantamento de questões, de aprender a
argumentar, de confrontar ideias. É ali que o aluno deve ter oportunidade de
aprender ter a autonomia do pensamento.
Em uma educação feita de forma fragmentada, com compartimentalização
do conhecimento, não vai haver essa assimilação do conteúdo de forma consciente
pelo aluno. Há de ocorrer a interdisciplinaridade, a integração e interação entre as
disciplinas limítrofes frente a um problema, envolvendo conceitos e métodos de cada
uma delas, para discutir juntos hipóteses e metodologias e chegar a uma conclusão
fundamentada no conhecimento de várias especialidades ou disciplinas.
A interdisciplinaridade proporciona o diálogo entre as disciplinas para melhor
compreender um problema; permite que se supere a especialização excessiva que
ocorre na ciência hoje; o exercício profissional dos especialistas também fica
enriquecido; permite a formação de conceitos comuns às várias disciplinas a
respeito de determinado assunto; propicia trabalho em equipe; cria domínios novos
de conhecimento e possibilita o” saber aplicado”. A interdisciplinaridade, segundo
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ele, além de eliminar as barreiras entre disciplinas, também aproxima pessoas que
passam a incorporar conhecimentos ao invés de tomá-los por empréstimo.
O planejamento, a troca de informações, o incentivo ao trabalho de grupo e
capacidade de improvisar a partir das necessidades de cada classe, determinam o
sucesso de trabalhos interdisciplinares.
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CONCLUSÃO
O presente trabalho permitiu-me o enriquecimento de conhecimentos a
cerca da educação no Brasil, das diferentes ideias dos educadores brasileiros a
respeito da educação e também das ideias da população, pais, professores,
lideranças de comunidades sobre o assunto.
Fez com que eu percebesse o quanto meu trabalho como professora é
importante e que eu de uma forma ou de outra sou um agente político interferidor e
tenho que ter o cuidado para que minha interferência se dê de forma positiva. Meu
comprometimento é fundamental, pois tenho como missão a formação de meus
alunos para viver em uma sociedade que nem sempre é justa e que por isso, é um
lugar difícil e meu compromisso é maior.
Vi com este trabalho o quanto devemos ouvir aqueles que nos cercam. A
escola não é algo isolado, ela está inserida em um contexto. Os conteúdos que
trabalho em sala de aula também não devem ser algo isolado. Eles devem estar
ligados aos outros saberes: outras disciplinas, conhecimento já trazido pelos meus
alunos, saberes do meio em que está a escola e principalmente os saberes que meu
aluno vai aplicar, que vão lhe servir para abrir fronteiras, ajudá-lo a ser um indivíduo
autônomo, capaz de perceber o mundo que o cerca, viver bem neste mundo e ser
um agente capaz de perceber as mudanças necessárias e lutar por elas.
O trabalho de pesquisa e projeto aplicado pala Secretaria Municipal de Erval
Seco ajudou muito no sentido de ver o que as outras pessoas, não apenas os
educadores, pensam a respeito da educação e a conclusão que tirei foi de que eles
devem ser ouvidos sempre pois tem ideias riquíssimas, que não devem ser
menosprezadas. Já o projeto de formação dos professores tanto na Proposta
Metodológica de Aula Integrada quanto no Alternativa para o Ensino de Ciências nas
Quatro Primeiras Séries mostraram uma forma pratica de aplicar a
interdisciplinaridade, nesse caso tendo o ensino de ciências como tema
gerador.Pretendo levar ao conhecimento da Secretaria Municipal de Educação de
minha cidade, Aripuanã, para possível utilização da proposta junto aos professores
da rede municipal de ensino já que, apesar de toda a distância, os problemas
apresentados pela educação nos dois municípios são parecidos, e pelo fato dos
professores necessitarem apoio para conseguirem ministrar suas aulas tendo como
base um tema gerador e integrando as diversas disciplinas de maneira a enriquecer
seu trabalho e a vida de seus alunos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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