ajax cruzeiro

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12 Jornal do Comércio - Porto Alegre Segunda-feira, 27 de maio de 2013 JC Empresas & Negócios RESPONSABILIDADE SOCIAL Eduardo Bertuol Rosin Na Vila Cruzeiro, em Por- to Alegre, um grupo de jovens aguarda com grande expectativa pela sexta-feira. O motivo não é apenas a proximidade do final de semana, mas o dia de treino. Fun- dado em 12 de setembro de 1988, o Esporte Clube Ajax da Cruzeiro é um time de várzea criado por amigos que queriam jogar bola. Hoje, Olmidio Miguel Rosa, conhe- cido na região como Mano, e seu irmão, Olmiro Fernandes da Rosa Júnior, trabalham juntos para manter a história do clube viva e o esporte presente na vida das crianças e jovens da comunidade. Sem um local que possam chamar de sede, os treinos dos garotos acontecem em um campo cedido pela prefeitura de Porto Alegre para atividades beneficen- tes. É na rua Coronel Neves, 555, mais especificamente no campo do Centro da Comunidade George Black (Cegeb) que os meninos trei- nam. Entre eles está o jovem Die- go dos Santos, de 16 anos. Rapaz de poucas palavras, ele costuma chegar com antecedência junto com seu irmão mais novo, Diogo dos Santos, e ficar batendo bola até a hora do treino. A paixão pelo futebol passou pela geração de irmãos da família, o mais velho, Roberto dos Santos, também já jo- gou no Ajax. Atualmente, o time trabalha com mais de 100 meninos da faixa etária de sete a 17 anos. A inscri- ção no clube é apenas verbal, bas- ta aparecer nos treinos. Desde os 13 na equipe, Diego já conquistou diversos títulos e demonstra gra- tidão. “Lá eu aprendi a realmente jogar bola, hoje sei me posicionar no campo.” Apesar de torcer para o Grêmio, ele já atuou nas catego- rias de base do Internacional, as- sim como os dois irmãos. Dispen- sado, hoje busca no Ajax espaço para acrescentar o aprendizado e conquistar campeonatos. “Anti- gamente tinha receio em disputar bolas com alguns jogadores, agora chego firme nas marcações. Pena que temos treinos apenas uma vez por semana”, lamenta. É no chão batido esburacado que os garotos correm atrás da bola em busca do gol e do sonho de um dia se tornar um profissio- nal de sucesso. Uma conquista al- cançada por Jonas Lima da Silva. Um dos prodígios do Ajax, hoje com 24 anos, jogou durante a ado- lescência no time até os 17, quando foi selecionado para a base do São José. Após conquistar o vice-cam- peonato juvenil em 2004, o atleta assinou contrato profissional com o Zequinha até 2012. Com isso, re- alizou o sonho de reformar a casa na Vila Cruzeiro e comprar um carro. Atuando como meio-campis- ta, Jonas jogou também no Brasil de Pelotas e disputou o campeona- to amazonense pelo Nacional, de Manaus. Com força de vontade, o jogador conquistou metas mais altas. Em 2011, foi jogar na Europa, no Portimonense Sport Clube, de Portugal, time da Liga Orangina (segunda divisão do Campeonato Português). Voltou para o Brasil em 2012 e hoje atua pelo Guarany de Camaquã. Silva demonstra muito orgu- lho ao falar de Mano. Ele conta que, mesmo quando treinava nas categorias de base do Grêmio, fa- zia questão de participar e acom- panhar o Ajax. “O trabalho feito pelo Mano é excelente, hoje é di- fícil conhecer pessoas que ajudem o próximo sem pedir nada em tro- ca”, conta. “Muitas vezes, ele usa o seu dinheiro para que crianças possam seguir o sonho de jogar bola. Tenho muito orgulho de conhecê-lo”, exalta o jogador. Atu- almente, o atleta negocia com um clube da China. Sonhos viram realidade na várzea Esporte Clube Ajax da Cruzeiro colabora para crianças tentarem alcançar o desejo de virarem jogadores A inscrição no clube é apenas verbal, basta aparecer nos treinos Os irmãos Rosa trabalham juntos para manter o esporte presente na vida da comunidade JONATHAN HECKLER/JC JONATHAN HECKLER/JC Recursos poderiam estimular os talentos Quase 25 anos depois de fundar o Ajax, Olmidio Miguel Rosa – o Mano -, presidente do time, tenta conciliar o trabalho de assistente administrativo com o comando do clube ama- dor. Ele e o irmão Júnior cuidam de tudo, desde a atualização do site até a parte financeira, que ele reconhece ser uma das gran- des dificuldades. “Assim como em todos os clubes da várzea, a parte da gestão é um imenso problema. O sustendo vem com a venda de rifas, bonés, toucas e materiais do clube para a tor- cida. Algumas vezes, infeliz- mente, os próprios jogadores do time precisam ajudar na arreca- dação afirma. “O Júnior, quan- do consegue, traz lanches para a gurizada após os treinos.” Mano revela que presidir o Ajax foi uma das maneiras en- contradas para ajudar as crian- ças da comunidade e manter viva a história do time. “O esporte é de profunda importância no de- senvolvimento de uma criança”, ressalta. Orgulhoso, ele mostra as fotos das comemorações de tí- tulos, matérias recortadas de jor- nais que citam a equipe, e conta sobre os mais de 200 troféus da história do time. “Conquistamos títulos todos os anos. Como não possuímos sede própria, minha ideia é criar um museu contando a história do clube. No momento isso parece utopia. Quem sabe no futuro a gente alcance esse objetivo”, sonha. ASSINE O JC. LIGUE . 0800.051.0133

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Page 1: Ajax cruzeiro

12 Jornal do Comércio - Porto AlegreSegunda-feira, 27 de maio de 2013 JCEmpresas & Negócios

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Eduardo Bertuol Rosin

Na Vila Cruzeiro, em Por-to Alegre, um grupo de jovens aguarda com grande expectativa pela sexta-feira. O motivo não é apenas a proximidade do final de semana, mas o dia de treino. Fun-dado em 12 de setembro de 1988, o Esporte Clube Ajax da Cruzeiro é um time de várzea criado por amigos que queriam jogar bola. Hoje, Olmidio Miguel Rosa, conhe-cido na região como Mano, e seu irmão, Olmiro Fernandes da Rosa Júnior, trabalham juntos para manter a história do clube viva e o esporte presente na vida das crianças e jovens da comunidade.

Sem um local que possam chamar de sede, os treinos dos garotos acontecem em um campo cedido pela prefeitura de Porto Alegre para atividades beneficen-tes. É na rua Coronel Neves, 555, mais especificamente no campo do Centro da Comunidade George Black (Cegeb) que os meninos trei-nam. Entre eles está o jovem Die-go dos Santos, de 16 anos. Rapaz de poucas palavras, ele costuma chegar com antecedência junto com seu irmão mais novo, Diogo dos Santos, e ficar batendo bola até a hora do treino. A paixão pelo futebol passou pela geração de irmãos da família, o mais velho, Roberto dos Santos, também já jo-gou no Ajax.

Atualmente, o time trabalha com mais de 100 meninos da faixa etária de sete a 17 anos. A inscri-ção no clube é apenas verbal, bas-ta aparecer nos treinos. Desde os 13 na equipe, Diego já conquistou diversos títulos e demonstra gra-tidão. “Lá eu aprendi a realmente jogar bola, hoje sei me posicionar no campo.” Apesar de torcer para

o Grêmio, ele já atuou nas catego-rias de base do Internacional, as-sim como os dois irmãos. Dispen-sado, hoje busca no Ajax espaço para acrescentar o aprendizado e conquistar campeonatos. “Anti-gamente tinha receio em disputar bolas com alguns jogadores, agora chego firme nas marcações. Pena que temos treinos apenas uma vez por semana”, lamenta.

É no chão batido esburacado que os garotos correm atrás da bola em busca do gol e do sonho de um dia se tornar um profissio-nal de sucesso. Uma conquista al-cançada por Jonas Lima da Silva. Um dos prodígios do Ajax, hoje com 24 anos, jogou durante a ado-lescência no time até os 17, quando foi selecionado para a base do São José. Após conquistar o vice-cam-peonato juvenil em 2004, o atleta assinou contrato profissional com o Zequinha até 2012. Com isso, re-alizou o sonho de reformar a casa na Vila Cruzeiro e comprar um carro.

Atuando como meio-campis-ta, Jonas jogou também no Brasil de Pelotas e disputou o campeona-to amazonense pelo Nacional, de Manaus. Com força de vontade, o jogador conquistou metas mais altas. Em 2011, foi jogar na Europa, no Portimonense Sport Clube, de Portugal, time da Liga Orangina (segunda divisão do Campeonato Português). Voltou para o Brasil em 2012 e hoje atua pelo Guarany de Camaquã.

Silva demonstra muito orgu-lho ao falar de Mano. Ele conta que, mesmo quando treinava nas categorias de base do Grêmio, fa-zia questão de participar e acom-panhar o Ajax. “O trabalho feito pelo Mano é excelente, hoje é di-fícil conhecer pessoas que ajudem o próximo sem pedir nada em tro-ca”, conta. “Muitas vezes, ele usa o seu dinheiro para que crianças possam seguir o sonho de jogar bola. Tenho muito orgulho de conhecê-lo”, exalta o jogador. Atu-almente, o atleta negocia com um clube da China.

Sonhos viram realidade na várzeaEsporte Clube Ajax da Cruzeiro colabora para crianças tentarem alcançar o desejo de virarem jogadores

A inscrição no clube é apenas verbal, basta aparecer nos treinos

Os irmãos Rosa trabalham juntos

para manter o esporte presente na vida da comunidade

JON

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Recursos poderiam estimular os talentosQuase 25 anos depois de

fundar o Ajax, Olmidio Miguel Rosa – o Mano -, presidente do time, tenta conciliar o trabalho de assistente administrativo com o comando do clube ama-dor. Ele e o irmão Júnior cuidam de tudo, desde a atualização do site até a parte financeira, que ele reconhece ser uma das gran-des dificuldades. “Assim como em todos os clubes da várzea, a parte da gestão é um imenso problema. O sustendo vem com

a venda de rifas, bonés, toucas e materiais do clube para a tor-cida. Algumas vezes, infeliz-mente, os próprios jogadores do time precisam ajudar na arreca-dação” afirma. “O Júnior, quan-do consegue, traz lanches para a gurizada após os treinos.”

Mano revela que presidir o Ajax foi uma das maneiras en-contradas para ajudar as crian-ças da comunidade e manter viva a história do time. “O esporte é de profunda importância no de-

senvolvimento de uma criança”, ressalta. Orgulhoso, ele mostra as fotos das comemorações de tí-tulos, matérias recortadas de jor-nais que citam a equipe, e conta sobre os mais de 200 troféus da história do time. “Conquistamos títulos todos os anos. Como não possuímos sede própria, minha ideia é criar um museu contando a história do clube. No momento isso parece utopia. Quem sabe no futuro a gente alcance esse objetivo”, sonha.

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