ailton branco - arca da informação

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Arca da Informação . .. por Ailton Branco -----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: Semear Debates Enviada em: sábado, 27 de setembro de 2008 22:46 Assunto: [Grupo Maçônico Semear Debates] Arca da Informação - Bons e Maus Irmãos do Semear Debates A partir do presente levo aos Irmãos o título de e-mail que circulará no Semear Debates, sempre apresentando tema sobre maçonaria com definição, interpretação ou histórico. Os primeiros termos seguirão ordem alfabética de escolha e depois continuarão sendo propostos conforme circunstância de momento. Nessa primeira colaboração, estou enviando aos Irmãos o conteúdo de matéria publicada no número 86 da Revista Acácia, abordando em especial as peripécias sadomasoquistas praticadas em procedimentos ritualísticos. Os assuntos futuros serão sintéticos e, portanto, menos extensos que o escolhido de hoje. O desejo é de que representem colaboração e não saturação. Um abraço a todos Ailton [1] ARCA DA ALIANÇA Caixa de madeira de acácia, revestida de ouro, na qual foram depositadas as Tábuas da Lei recebidas por Moisés no Monte Sinai. Foi construída pelo artesão Bezaleel para Moisés. Bezaleel é descrito no Antigo Testamento com as mesmas distinções depois atribuídas a Hiram na lenda do grau de Mestre Maçom. Além da fabricação da Arca da Aliança, Bezaleel fez todos os equipamentos para o Tabernáculo do deserto, cujos ítens são idênticos àqueles mencionados na história de

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 Arca da Informação       ... por Ailton

Branco

-----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: Semear Debates Enviada em: sábado, 27 de setembro de 2008 22:46Assunto: [Grupo Maçônico Semear Debates] Arca da Informação - Bons e Maus

Irmãos do Semear Debates A partir do presente levo aos Irmãos o título de e-mail que circulará no Semear Debates, sempre apresentando tema sobre maçonaria com definição, interpretação ou histórico. Os primeiros termos seguirão ordem alfabética de escolha e depoiscontinuarão sendo propostos conforme circunstância de momento. Nessa primeira colaboração, estou enviando aos Irmãos o conteúdo de matéria publicada no número 86 da Revista Acácia, abordando em especial as peripécias sadomasoquistas praticadas em procedimentos ritualísticos. Os assuntos futuros serão sintéticos e, portanto, menos extensos que o escolhido de hoje. O desejo é de que representem colaboração e não saturação.Um abraço a todosAilton

          [1]      ARCA DA ALIANÇA 

                                   Caixa de madeira de acácia, revestida de ouro, na qual foram depositadas as Tábuas da Lei recebidas por Moisés no Monte Sinai. Foi construída pelo artesão Bezaleel para Moisés. Bezaleel é descrito no Antigo Testamento com as mesmas distinções depois atribuídas a Hiram na lenda do grau de Mestre Maçom. Além da fabricação da Arca da Aliança, Bezaleel fez todos os equipamentos para o Tabernáculo do deserto, cujos ítens são idênticos àqueles mencionados na história de Hiram em 1 Reis, incluindo o altar, o grande vaso, os candelabros, a mesa de pães, as tigelas e as pás.Por volta de 1723, os reverendos Jean Desaguliers e James Anderson juntaram o relato bíblico de Hiram às histórias do manuscrito de Bezaleel e Noé e criaram uma lenda mixada para caracterizar a figura de Hiram Abif que haviam concebido para o conteúdo central do grau de Mestre. A Arca da Aliança aparece no topo das Armas da Grande Loja Unida da Inglaterra, mostrando tratar-se de um símbolo relevante para a maçonaria especulativa moderna.Na iniciação hebraica a Arca da Aliança simboliza o homem e a matriz da natureza. A arca-altar entre os egípcios, hindús e caldeus era um altar que

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simbolizava a natureza matricial. A arca de Osíris, com as sagradas relíquias, era do mesmo tamanho da arca judaica.Na maçonaria, é o símbolo da aliança, da reciprocidade construtiva entre o homem e Deus. No inventário do templo maçônico consta do mobiliário que ornamenta o Sanctus Santorum no grau 4º do Rito Escocês Antigo e Aceito, o grau do Mestre Secreto, representando pequeno altar que recorda a presença de Deus. O grau do Mestre Secreto tem íntima relação com passagem bíblica em Êxodo. Depois da saída dos hebreus do Egito, Deus celebrou uma aliança com os hebreus, dando-lhes estatutos para o seu governo e, por meio de instruções a Moisés, instituiu o culto para ele e seu povo, fornecendo minuciosos detalhes para a confecção do Tabernáculo; dos móveis, utensílios e paramentos à ritualização dos sacrifícios, do cerimonial litúrgico e do sacerdócio. No grau de Mestre Secreto, o retângulo que serve de local de trabalho nas lojas simbólicas é transformado em Templo de Salomão, dividido em quadrados, sendo o mais a leste considerado o Oriente ou Sanctus Santorum.A Arca da Aliança está presente também na decoração do Santuário do grau 23º do REAA, Chefe do Tabernáculo, e no grau 5º do Rito Moderno, denominado Escocês. A Arca da Aliança é o símbolo bordado sobre a cor púrpura do estandarte letra T, com a divisa Laus Deo, primeiro estandarte do grande Acampamento no grau 32º do Rito Escocês Antigo e Aceito, o Sublime Príncipe do Real Segredo. 

02/10/2008 - GLMERGS - SemearA maçonaria é arte!

 

          [2]         BALAÚSTRE 

                                  Denominação de todos os documentos expedidos pelos Soberanos Grandes Inspetores Gerais Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito. São seus sinônimos, ata e prancha. Os balaústres são as correspondências com que o Supremo Conselho do Grau 33 do REAA exercita suas relações institucionais com outros Supremos Conselhos ou apóia sua autoridade jurisdicional sobre Lojas, Capítulos, Conselhos e Consistórios.Do grego balaustion, que significa flor de romeira brava, ornamento das colunas, o termo italiano balaustro representa pequeno pilar empregado geralmente com outros unidos a ele por uma lage ou corrimão para formar um apoio ou uma grade.O termo balaústre foi adotado pela Grande Loja Maçônica do Rio Grande do Sul, em 1992, em substituição à palavra "acta" que consta no texto original do ritual criado em 1928 e atribuído ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Não há registro em rituais anteriores dos graus simbólicos, no Brasil ou no exterior, do uso do termo balaústre para significar ata. A opção deveu-se à intenção de reforçar a hegemonia do Rito Escocês Antigo e Aceito na jurisdição da Potência Maçônica Grande Loja do Rio Grande do Sul e caracterizar a

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supremacia exercida pelo Supremo Conselho do Grau 33 nos procedimentos ritualísticos realizados nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, administrados pela Grande Loja. 

05/10/2008 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte! 

 

                 [3]          CAPÍTULO  

                                  Assembléia de dignidades eclesiásticas. Local onde se realiza a assembléia. Corpo de cônegos ou monges de uma igreja ou catedral. Na época dos carolíngios, dinastia que reinou sobre a Germânia até 911 e sobre a França até 987, o Capítulo era um colegiado que apresentava ao rei ou imperador projetos de decisões legislativas ou administrativas em matéria política, econômica ou social.Na maçonaria operativa da Idade Média, decidida a construção e escolhido o local, era desenhada a maquete. Em seguida, recrutava-se a mão-de-obra necessária. No próprio lugar da construção, os operários não qualificados. Os especialistas eram, geralmente, itinerantes. O Mestre-de-obra, assim que reunia os carpinteiros, mandava erguer o alojamento dos pedreiros e achava de seu dever mostrar o "traço" aos Companheiros. Os trabalhadores incumbidos da preparação do terreno, davam início às fundações. Os talhadores de imagens começavam a interpretar os temas fornecidos pelo Capítulo, colegiado de monges que projetavam a obra e eram seu responsável técnico, principiando pelo Cristo coberto de chagas, a fim de tornar imutável a referência metrológica.Em maçonaria especulativa, Capítulo é a denominação do conjunto de Oficinas de graus adicionais, também dito, altos graus. O Capítulo estabeleceu-se na maçonaria através do grau Rosa-Cruz nos ritos que possuem esse grau. É a sede do poder no conjunto de Oficinas. O Capítulo pertence à jurisdição de um Supremo Conselho. Uma exceção foi em 1820, quando o Grande Oriente de França assumiu em definitivo no país a jurisdição dos graus 1 ao 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito, constituindo a denominada informalmente Loja Capitular, sob a autoridade geral do Sapientíssimo que é o Presidente do Capítulo. Ao Supremo Conselho de França restou a jurisdicão do grau 19 ao 33.  

06/10/2008 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 

               [4]         CRISTÃOS                                                                    No período anterior à fundação da primeira Grande Loja em Londres, em 1717, as Lojas maçônicas inglesas admitiram somente candidatos declarados cristãos. Os idealizadores da Grande Loja planejaram abrir as Lojas filiadas para judeus, muçulmanos e hindus. Para fixarem a

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cultura e alguns símbolos judaicos na maçonaria azul, criaram um terceiro grau nas Lojas, o grau de Mestre, contendo a Arca da Aliança e a lenda de Hiram. A novidade enfrentou muita resistência, mas em 1725 já contava com número significativo de adeptos e se firmou. O conteúdo do grau apoiou-se em práticas adotadas pelos antigos essênios judeus. Surgiram as primeiras analogias morais e metafísicas com a construção do Templo de Jerusalém. Na seqüência dos anos, William Preston passou a compilar suas Preleções, transformadas, em parte, nas instruções adotadas pelo sistema ritualístico praticado na Grande Loja de Londres. Associada à obra da construção do Templo pelo rei Salomão, os maçons ingleses imaginaram uma maçonaria operativa, três mil anos atrás. Os servos operários foram guindados a maçons talhadores de pedra e divididos em categorias - aprendizes e companheiros; os artífices especializados foram elevados à posição de mestres arquitetos e os reis patrocinadores da obra, designados como Grão-Mestres Reais. Foi o modo como os maçons especulativos modernos imaginaram aumentar a credibilidade da maçonaria, dando-lhe uma pretensa anterioridade.Em suas "Constituições" de 1723, James Anderson se estende bastante sobre a história judaica e, particularmente, na construção do Templo pelo Rei Salomão. A Grande Loja de Londres foi apelidada, no correr do século 18, a Grande Loja dos "modernos", em virtude das modificações ritualísticas adotadas para as Lojas a ela filiadas. O sistema ritualístico dos "modernos" ingleses viajou para outros países. Fixou-se na França, delineando o Rito Moderno e, mais tarde, pavimentou os novos conceitos interpretativos sobre simbolismo e filosofia maçônicos assimilados pelos idealizadores do Rito Schröder, na Alemanha. 

08/10/2008- GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

  

               [5]        DEÍSMO  

                                  Sistema filosófico ou atitude dos que aceitam a existência de um Deus destituído de atributos morais e intelectuais e que poderá ou não ter influído na criação do Universo. O deísta crê em Deus, mas não aceita religião nem culto, rejeitando toda espécie de revelação divina e, pois, a autoridade de qualquer Igreja.Em maçonaria os sistemas ritualísticos podem ser divididos em ritos deístas, teístas e adogmáticos. Determina essa diferenciação o texto do ritual relativo à qualidade de consciência da presença de Deus nos trabalhos maçônicos e a interpretação dos Princípios morais simbolizados nas cerimônias e no ornamento da Loja. Exemplo de rito deísta, o Rito Schröder foi concebido desde sua origem com um conjunto de símbolos e cerimônias que guardam distância das religiões. Seus praticantes têm autonomia de opção pessoal a partir da crença em Deus. O Rito Schröder selecionou da ritualística inglesa dos chamados "modernos" algumas referências à construção do

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Templo de Jerusalém, por Salomão, sem, contudo, ultrapassar os limites das analogias pontuais.O sistema ritualístico inglês caracteriza, hoje, o conteúdo teísta. Em 1717, a ritualística da primeira Grande Loja foi deísta, quando abriu as portas das Lojas para variadas opções religiosas pessoais dos seus filiados, sem especificar uma a ser obedecida. Em 1815, após o surgimento da Grande Loja Unida da Inglaterra, a primitiva Constituição de Anderson foi alterada, tornando-se dogmática e impositiva, atendendo preferência dos representantes da segunda Grande Loja de Londres, auto-proclamados "antigos".O Rito Moderno representa o segmento ritualístico adogmático. Foi um rito teísta a partir da sua estruturação com sete graus e assim permaneceu durante 91 anos. Em 1877, decidiu em convenção a supressão da afirmação dogmática da existência de Deus e da imortalidade da alma. Adotou o princípio do respeito absoluto à liberdade de consciência da fé. O Rito Escocês Antigo e Aceito começou teísta, na afirmação documental de Albert Pike, em nome do Supremo Conselho jurisdição Sul dos Estados Unidos. No entanto, em 1875, Supremos Conselhos sediados em países católicos, reagindo às fortes ações antimaçônicas, planejaram levar à Convenção de Lausanne, prevista para 1878, a proposição de tornar as definições do Grande Arquiteto do Universo não exclusivamente teístas, portanto, abertas a outras consciências da fé individual. A proposição foi aprovada e incluída na Declaração de Princípios do rito. Com essa decisão o REAA tornou-se integralmente deísta durante poucos dias. Imediatamente ao encerramento da Convenção de Lausanne, o Supremo Conselho - Sul dos Estados Unidos contestou a Convenção e, apoiado pelos Supremos Conselhos da Escócia e da Grécia, recomendou aos Corpos irmãos do mundo a reformulação da Declaração de Princípios a respeito da consciência livre sobre a compreensão do Grande Arquiteto do Universo. Os rituais dos graus filosóficos nas Lojas filiadas aos Supremos Conselhos dos Estados Unidos, Escócia, Grécia e Brasil mantiveram o sentido teísta, impondo as crenças em um Deus pessoal e no dogma cristão da imortalidade da alma. Os outros alteraram seus rituais na direção do deísmo. A divisão no REAA persiste até o presente, alimentada pelo antagonismo dualista entre Supremos Conselhos teístas personalistas e deístas não personalistas.  

14/10/2008 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

__._,_.___  

                  [6]        ESPECULATIVOS (MAÇONS)                                  Os maçons especulativos formam uma categoria que se considera desaguadouro moral e cultural dos primeiros artesãos construtores, nascidos livres e congregados em corporações do ofício. As primeiras corporações de ofício surgiram no século XI, na Europa Ocidental. Diversas especialidades operativas foram contempladas. Seus integrantes eram

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artesãos que realizavam pessoalmente todas as etapas do trabalho. O mesmo tecelão cardava, fiava, tecia, alinhava, passava, empacotava e vendia. Os artesãos construtores aprenderam com os monges beneditinos nas obras dos mosteiros a executarem todas as tarefas da obra e, como os monges, todos faziam. Os monges, seguindo a regra de São Bento, dividiam-se entre o trabalho braçal e as orações. Com o aumento da quantidade das obras eclesiásticas nos países católicos, os monges transferiram conhecimentos e atribuições para os burgueses artesãos que os auxiliavam. Os burgueses assimilaram a capacitação e constituíram corporações do ofício de artesãos construtores. São considerados os primeiros maçons operativos, descendentes profissionais diretos dos monges beneditinos e as corporações do ofício, uma conseqüência dos mosteiros. Alguns burgueses artesãos juntaram recursos e evoluíram para atividades mercantilistas. Formaram empresas empreiteiras de obras para fazerem contratos de prestação dos serviços. Para tal contrataram trabalhadores sob regime de assalariados. Surgiu, assim, a primeira relação do capital com o trabalho. Burgueses mercantilistas idealizaram em seqüência, outro tipo de negócio - a produção transformadora - e tornaram-se burgueses manufatureiros. Os burgueses mercantilistas e manufatureiros originaram os maçons operativos aceitos. Eram profissionais na mesma especialidade da corporação do ofício mas não atuando mais como artesãos. Na Inglaterra, a evolução dos burgueses construtores não ocorreu dessa maneira. Não se agregaram em corporações do ofício. Trabalharam para empreiteiros contratantes. Os monges beneditinos, arquitetos e obreiros, não se fixaram na Inglaterra, como fizeram em outros países do continente. O estilo e o acabamento das obras na Inglaterra eram diferentes, sem a sofisticação artesanal das construções beneditinas. Diante da inexistência de período operativo dos maçons na Inglaterra, os maçons modernos, especulativos, se denominaram Pedreiros Livres e tiraram da Bíblia a história-base de um passado operativo - o relato da construção do Templo de Jerusalém, pelo rei Salomão, há 3.000 anos - e acoplaram-na ao texto do momento recente. Romancearam o assunto e divulgaram ao mundo uma época de referência operativa que ofereceu à maçonaria inglesa uma anterioridade que nenhuma outra referiu. Elegeram a geometria prática como precursora da maçonaria especulativa e determinaram arbitrariamente a inauguração da história da maçonaria moderna no ano em que fundaram a primeira associação de Lojas, em 1717 - a Grande Loja de Londres.  

22/10/2008- GLMERGS - SemearMaçonaria é arte! 

----- Original Message ----- From: J.A.Bittencourt To: Ailton Branco Sent: Thursday, May 14, 2009 8:30 AMSubject: Re: Arca da Informação - 6 - Especulativos

Meu Ir.'.    Mui grato.

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    Desde que fui convidado à Maçonaria tenho lido/estudado com foco na Inglaterra, mas creio que as vertentes Francesa e Italiana deveriam ser mais estudadas pois tambem formam esta Maçonaria Atual. Ou não?        TFA -----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: J.A.Bittencourt Enviada em: quinta-feira, 14 de maio de 2009 23:32Assunto: Re: Arca da Informação - 6 - Especulativos

Irmão Bittencourt Tens razão. As guildas do ofício de artesãos construtores se desenvolveram na França, na Escócia, na Itália e na Alemanha. A Inglaterra, não tendo associações de pedreiros, criou a maçonaria operativa, artificialmente, na construção do templo de Jerusalém. Obrigado pelo retorno comentado.Um abraço fraternoAilton Branco

 

                [7]                     FRANC-MAÇON                                   Artesão construtor franco, integrante de associação de ofício, ou guilda. Inicialmente auxiliar e aprendiz dos monges beneditinos na arte de construir prédios na Idade Média, tornou-se autônomo artesão construtor em conseqüência da diminuição da presença dos monges nos canteiros de obras.As guildas foram corporações de trabalhadores em profissões afins ou associações de mercadores. Surgidas no século VIII sob a forma de associações de orações e socorro mútuo, as guildas vieram  a ser, por ocasião da renovação econômica do Ocidente no século XI, associações, no âmbito de uma cidade, dotadas de jurisdição e privilégios codificados em um estatuto.Os artesãos construtores constituíram burguesia que se diferenciou no povo franco, esse em condição de vassalagem do regime feudalista. A vassalagem estabelecia sujeição do vassalo ao senhor feudal, a quem pagava tributo e estava vinculado por juramento de fé e de homenagem. O feudalismo foi o regime que se caracterizou pelo fortalecimento do poder da nobreza e pelo enfraquecimento do poder central na autoridade sobre a propriedade da terra, constituindo Estados aparentemente autônomos.O burguês franco-maçom não devia vassalagem pois tinha a "franc", a liberdade, a franquia que o liberava, transferindo seu vínculo de obediência ao Clero, que não pretendia vassalagem. O termo "franc-maçon", teoricamente corresponde ao "freemason" dos ingleses e escoceses. Freemason foi traduzido para pedreiro livre. Então, pergunta-se: - por que não dizer, atualmente, apenas, maçom, sem as partículas que separam em origem e nada acrescentam? "Franc-maçon" significa artesão burguês associado a guilda de trabalhadores em obras, livre de vassalagem. "Freemason", pedreiro livre especulativo com anterioridade operativa transferida para a construção do Templo de Jerusalém, por Salomão, há 3.000 anos.

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A cronologia histórica para a maçonaria operativa na ótica dos maçons ingleses modernos foi buscar referência na obra que até o presente carece de prova da sua efetiva construção: o Templo atribuído a Salomão. A maçonaria operativa inglesa é tão virtual quanto sua obra-prima eleita. O "freemason" afirma ser nobre de nascimento. Conheceu o maço e o cinzel dos operativos através de desenho e elegeu o herdeiro da Coroa Britânica seu Grão-Mestre para que os maçons do mundo sintam-se seus súditos. O feudalismo acabou na Europa no século XVII. Com ele deviam desaparecer os termos "franc-maçon" e "freemason", encerrando período de maçonarias divergentes e concorrentes. No presente, basta, maçom, síntese do construtor de talentos no canteiro do caráter.

04/11/2008.

                  [8]                  GEOMETRIA / MAÇONARIA  O Manuscrito Kilwinning, Old Charge de cerca de 1670, recorda o antigo Poema Regius, de 1390, e afirma que os grandes homens do Egito tinham um problema oriundo do clima daquela terra, uma região quente e abundante em gerações. Por isso, o rei do Egito convocou o Parlamento para discutir o problema e, não encontrando a solução, transferiu o desafio para as pessoas do reino. O nobre e sábio Euclides se ofereceu para ensinar geometria aos filhos dos senhores egípcios para que aqueles pudessem viver honestamente como cavalheiros. Euclides ensinou a Ciência da Geometria na prática, para o trabalho em pedra em todas as formas de obras nobres pertinentes a igrejas, templos, castelos, torres e propriedades e toda a espécie de edificação.No Manuscrito Kilwinning, o rei David aparece como amigo dos maçons, impondo-lhes deveres de acordo com Euclides, na construção do Templo de Jerusalém, que começou mas não concluiu. No documento lê-se que a Inglaterra nesse período não tinha nenhum Dever de Maçonaria. A arte foi trazida para a Inglaterra através do Canal da Mancha por Santo Albano. O bom regime da Maçonaria, no entanto, foi destruído por questões políticas. Mais tarde, foi restabelecido pelo rei Athelstan. Seu filho Edwin, um praticante da Geometria, coletou informações a respeito da Maçonaria em sua terra e no exterior e compilou tudo em livro que devia ser lido e contado a todos os que entravam para a arte. Depois de 1550, ocorreu uma onda de interesse pelos Antigos Deveres que foram associados com temas do fim da Renascença, como a glorificação da Matemática e do Arquiteto e a busca pela sabedoria hermética dos antigos. Dos anos 1650 em diante, há evidências de trabalhadores escoceses familiarizados com o conteúdo das Old Charges, mais que seus colegas ingleses.O Manuscrito Kilwinning recapitula grande parte do conteúdo de que se reveste o Poema Regius - documento inglês em 794 versos. O Manuscrito Regius conta a lenda de Euclides, a lenda de Athelstan e as obrigações referentes às assembléias dos maçons ; - "Graças à boa Geometria, este

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honesto ofício que é a boa Maçonaria, foi constituído e criado". Athelstan reuniu "grandes senhores e senhoras de várias graduações, duques, condes, barões, cavaleiros e escudeiros, bem como a alta burguesia". O encontro produziu quinze "artigos da Geometria".Esse antigo conhecimento da nobreza inglesa sobre Maçonaria/Geometria emprestou o nome e foi transformado em sociedade secreta durante os anos que antecederam a criação da primeira Grande Loja, no século 18. A Maçonaria nasceu ciência matemática  e sobrevive como confraria de segredos, com pouca ciência e nenhuma matemática.

M.M. da G.L. do Rio Grande do Sul25/11/2008 

 

                  [9]                    Hermes Trismegisto                                   O Egito foi no mundo antigo uma verdadeira fortaleza da ciência sagrada, uma escola para seus mais ilustres profetas, um refúgio e um laboratório das mais nobres tradições da humanidade. Thot, deus egípcio apresentado com corpo humano e cabeça de íbis, uma ave pernalta das regiões quentes da Europa, foi considerado o inventor da escrita, o juiz que pesava as almas dos mortos e um mago. Os gregos o rebatizaram como Hermes Trismegisto. O nome de Hermes Trismegisto-Thot, misterioso e primeiro iniciador no Egito das doutrinas sagradas, é um nome genérico que designa ao mesmo tempo um homem, uma casta e um deus. Como homem, Hermes ou Thot é a figura que presidia as iniciações no Egito; como casta, é o sacerdócio depositário das tradições ocultas; como deus, é o planeta Mercúrio, elevado à categoria de espírito que presidia a região supraterrestre da iniciação celestial.Os gregos, discípulos dos egípcios, o chamaram de Hermes Trismegisto, o três vezes grande, porque era considerado rei, legislador e sacerdote. Na época do culto a Hermes, chamada "o reino dos deuses", o sacerdócio, a magistratura e a realeza se encontravam reunidos em um só corpo governante. Os egípcios atribuíram a Hermes-Thot, quarenta e dois livros sobre a ciência oculta, que deram origem ao hermetismo grego. A doutrina do Fogo-Princípio e Verbo-Luz, contida no livro "A Visão de Hermes", é a essência da iniciação egípcia. Não havia papiros e nem escrita fonética, mas a ideografia sagrada já existia. A ciência do sacerdócio estava inscrita em hieróglifos nas colunas e nos muros das criptas.Cinco mil anos antes da nossa Era, a luz de Rama - nas tradições egípcias, é a época designada como o reinado de Osiris, o senhor da luz - despertada no Irã, resplandeceu sobre o Egito e se converteu na lei de Amon-Rá, o rei solar de Tebas. Estabeleceu-se o que se pode chamar de governo dos iniciados. Tinha como pedra fundamental uma síntese das ciências conhecidas sob o nome de Osiris - O-Sir-Is -, o senhor intelectual. O faraó era o iniciado coroado que recebia do templo seu nome de iniciação e exercia a arte sacerdotal e real no trono.

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

A iniciação hermética associava a educação do corpo, da alma e do espírito. Era levado em conta a tríplice natureza do homem, muito diferente de um sonho vazio e muito mais que um ensinamento científico; era a criação de um alma por si mesma, seu aparecimento sobre um plano superior, seu florescimento no mundo divino.O hermetismo, como doutrina, se coloca entre os gnosticismos e o cristianismo. No gnosticismo, rejeita o dualismo e no cristianismo, rejeita o Salvador. O objetivo do hermetismo é obter a salvação ou libertação depois da morte pela gnose adquirida nesta vida, neste mundo. O segmento da maçonaria que assimila o hermetismo, justifica a influência da filosofia do estoicismo e do platonismo no processo como ciências ocultas que colaboram para a iniciação pessoal . A iniciação maçônica com base no hermetismo apoia-se nos ensinamentos da magia, da astrologia e da alquimia. 

M.M. da G.L. do Rio Grande do Sul28/11/2008

  

               [10]                 FILHOS DA VIÚVA                                   A designação "filho da viúva" e "filhos da viúva" é de origem maniquéia. Os próprios maniqueus foram apelidados de "filhos da viúva". No Livro dos Mistérios consta que o persa Mani, ou Manes, fala do "Filho da Viúva" referindo-se a Jesus. Na cabala "viúva" é uma designação de Malchut. Cabala significa "tradição". Trata-se de uma doutrina secreta e de uma mística que surgiu no judaísmo e floresceu na Idade Média. Dava grande importância à interpretação dos números e das letras. Aí a viúva abandonada é Malchut. Malchut significa reino, reinado.A religião de Maniqueu é baseada num gnosticismo dualista, na coexistência dos dois princípios opostos - o do bem e o do mal. Mani professava a coexistência e a luta eterna de dois princípios: um, bom, simbolizado pela luz; outro, mau, representado pelas trevas e identificado com a matéria.A humanidade, nascida do deus mau, só pode ser libertada pelo conhecimento da verdadeira ciência. Os maniqueístas eram divididos em duas classes: os auditores, ou neófitos, e os eleitos. A oração. o jejum, os cânticos, constituíam todo o seu culto. O maniqueísmo pretendia ser uma religião universal. Do século III ao VI, ele expandiu-se sob a vertente babilônica, a leste, no Irã e na Ásia Central, e a oeste, no Egito, no norte da África e até na Itália. Posteriormente, do século VII ao XIII, sob a vertente sogdiana, estendeu-se ao Tibete, Turquistão e à China. A partir do século XI surgiram, na Europa, os cátaros - albigenses do sul da França - que foram qualificados como maniqueístas.Na tradição cristã, a viúva significa a Igreja. A analogia para isso é a história do vaso cheio de óleo da viúva. S. Agostinho diz: "Omnis Ecclesia una vidua est, deserta in hoc saeculo" - (A Igreja toda é uma viúva abandonada neste mundo).

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

Em maçonaria, a viúva é Isis que representa a natureza, a terra, a lua, a prima matéria. Isis, como prima matéria, tem a qualidade virginal da mãe; é a matéria original de todas as coisas, a mãe da "pedra" - filho filosófico da matéria. A maçonaria representa Isis, a natureza fria e inferior que é fecundada pelo calor de Osíris. O "Filho da Viúva" é o maçom originário das trevas materiais, que, ao morrer, simboliza Osíris, e, ao ressurgir,  representa a Horus, o deus do silêncio e da meditação. Mais tarde, como presidente de Loja Simbólica ou de Loja do Hermetismo, representando Osíris, esposa a mãe Isis para continuar a resplandecer a natureza (maçonaria) com sua luz e produzir novas colheitas (de maçons) com seu calor (amor).Apuleio, destaca que Isis veste (palla nigerrima) o manto negro e que desde tempos remotos tem ela a fama de possuir o elixir da vida e de ser versada em todas as artes mágicas. Plutarco, diz que Isis é de mil nomes e serve de vaso e matéria para o bem e para o mal. 

Ailton Branco – GLMERGS - 06/12/2008

______________________________________----- Original Message ----- From: Guilherme Aguiar .·. To: [email protected] Sent: Wednesday, April 15, 2009 12:47 PMSubject: Re: [Grupo Maçônico Semear Debates] Arca da Informação - 20 - Iniciação Egípcia IX

Ilustre mano Ailton,De onde o Irmão retira esses maravilhosos textos? Tens um material pronto? Um livro?Um T.F.A. C.·. M.·. Guilherme AguiarA.R.G.B.L.S. Justiça e Perfeição nº 1178GOB - RS,  Or.·. Porto Alegre R.E.A.A.Fone: 51-96269890 -----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: [email protected] Enviada em: quinta-feira, 16 de abril de 2009 00:59Assunto: Re: [Grupo Maçônico Semear Debates] Arca da Informação - 20 - Iniciação Egípcia IX

Prezado Irmão Guilherme Para produzir o material sobre a Iniciação Egípcia seleciono eventos ou referências de duas fontes: a obra de Edouard Schuré sobre Grandes Iniciados e o Legado do Egito, relato organizado pela Universidade de Oxford, Inglaterra, 1948. Para cada número redijo o texto no e-mail que faz a sequência do processo, modo que escolhi para despertar interesse dos Irmãos e evitar texto longo que inibe a leitura.O material não está pronto. É produzido conforme me imagino dentro da cerimônia em cada capítulo.Estou feliz com a aprovação do Irmão e com a gentileza da iniciativa de comentar.Um abraço fraternoAilton BrancoLoja Estrela do Atlântico Sul, 120 - GLMERGS - Semear 

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

          [11]       ISIS                                   Deusa do panteão egípcio, esposa-irmã de Osíris e mãe de Hórus. Diz a tradição que Osíris e Ísis reinaram no Egito, ensinando ao povo as normas da civilização, a agricultura e as artes necessárias à vida. Osíris viajou para o resto do mundo onde foi levar sua mensagem a outros povos. Ao voltar foi traído por seu irmão Seth, que o matou e esquartejou. Ísis recolheu seus pedaços, espalhados pelo Egito, exceção do pedaço do corpo correspondente ao genital, que foi substituído por um de madeira. Reconstituiu o corpo de Osíris, devolvendo-o à vida, e, sem conjunção física, concebeu dele um filho, Hórus. Depois que Osíris, ressuscitado, partiu para sempre, Ísis criou com cuidado o filho, ocultando-o de Seth, até que chegasse à idade viril. Após a morte de Ísis, sua alma foi habitar a Lua, enquanto a de Osíris fora habitar o Sol. Os egípcios acreditavam que as cheias periódicas do rio Nilo eram produzidas pelas lágrimas de Ísis, que chorava a morte de Osíris. Ísis passou a representar a natureza, mãe de todos os seres. Seu culto se espalhou para fora do Egito. Na época helenística foi confundida com Deméter.A difusão do culto popular de Ísis e Osíris, corresponde à organização interna e sábia dos pequenos e grandes mistérios. As cerimônias secretas foram cercadas de barreiras quase intransponíveis, de perigos terríveis. Foram inventadas as provas morais, exigido o juramento de silêncio e foi rigorosamente aplicada a pena de morte contra os Iniciados que divulgavam o menor detalhe dos segredos. Graças a essa organização severa, a Iniciação egípcia converteu-se em refúgio da doutrina esotérica, em cadinho a evidenciar os sentimentos em favor do renascimento do nacionalismo contra os invasores fenícios e também serviu de escola das religiões futuras. A maçonaria especulativa inspirou seu modelo de sociedade iniciática nos mistérios egípcios dos templos de Tebas e Mênfis. Os adeptos deviam superar provas como as da morte, da água, do fogo e da superação das tentações pessoais.Os mistérios salvaram a alma do Egito da tirania estrangeira, restauraram os direitos à ciência egípcia e à religião masculina de Osíris. 

GLMERGS - 15/12/2008 

            [12]      INICIAÇÃO EGÍPCIA                                                          O desejo de desvendar o segredo das coisas trouxera-o de tão longe. Haviam-lhe dito que nos santuários do Egito viviam sacerdotes, hierofantes conhecedores da ciência divina. O forasteiro bate na porta do grande templo de Tebas ou de Mênfis. Alguns serviçais conduzem-no sob o pórtico de um pátio interno cujos enormes pilares parecem lotos gigantescos que sustentam com sua força  e sua pureza o Arco Solar, o templo de Osíris. O hierofante aproxima-se do recém chegado e fita-o com olhar inflexível. O

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

forasteiro vê-se diante de um homem para quem é impossível esconder algo. O sacerdote de Osíris interroga-o sobre sua cidade natal, sua família e sobre o templo que o orientou até aquele momento. Se nesse curto e invasivo exame for considerado indigno dos Segredos, com um gesto silecioso e irrevogável o sacerdote mostra a porta. Mas se o hierofante encontrar no aspirante o desejo sincero da verdade, pede que o acompanhe. Atravessam pórticos e pátios internos. Por uma avenida talhada na rocha, a céu aberto, e ornamentada com estrelas e esfinges, chegam em um pequeno templo que serve de entrada para as criptas subterrâneas. A porta é dissimulada por uma estátua de Ísis em tamanho natural. A deusa, sentada, tem um livro fechado sobre os joelhos, em atitude de meditação e recolhimento. O véu cobre seu rosto. Na parte inferior da estátua, lê-se: "Mortal algum levantou meu véu". - - Esta é a porta do santuário oculto,- diz o hierofante. - Observa essas duas colunas; a vermelha, representa a ascensão do espírito até a Luz de Osíris; a preta, significa o cativeiro do espírito na matéria e essa prisão pode levar ao aniquilamento. Todos que se interessam em conhecer nossa ciência colocam sua vida em risco. A loucura ou a morte é o que encontra o fraco ou o mau. Somente os fortes e os bons encontram nela a vida e a imortalidade. Muitos imprudentes entraram por esta porta e não conseguiram sair vivos. É um abismo que só aos intrépidos nossa ciência permite rever a luz do dia. Reflete bem no que vais fazer, nos perigos que vais correr. Se teus princípios não são capazes de superar quaisquer provas, renuncia à tentativa, pois, após o fechamento desta porta não poderás retroceder,- acrescenta. Se o forasteiro persistir com sua intenção, o hierofante leva-o de volta ao pátio interno e o recomenda aos serviçais do templo, com os quais irá passar uma semana, obrigado aos trbalhos mais humildes, escutando hinos e fazendo orações. Obrigar-se-à ao absoluto silêncio.  

15/01/2009 - GLMERGS                                                                                                                      

          [13]      INICIAÇÃO EGÍPCIA - II                      O candidato persistiu na vontade de prosseguir. O hierofante trouxera-o de volta ao pátio interior e recomendado aos servidores. Com eles passou uma semana fazendo trabalhos humildes, escutando hinos e fazendo orações.Chegada a noite da prova seguinte, os assistentes conduzem o candidato até a porta do santuário oculto. Entram em um vestíbulo forrado de negro, sem saída aparente. A claridade produzida por grandes velas permite ao estranho perceber, em ambos os lados dessa sala lúgubre, fileiras de estátuas com corpo de homem e cabeça de animais; leões, touros, aves de rapina e serpentes. Elas parecem observar com olhar irônico a passagem do iniciando. No final dessa sinistra sala, retangular como uma avenida, que atravessam sem dizerem uma palavra, há uma múmia e um esqueleto, em pé, colocados frente a frente. Com um gesto apenas, os dois assistentes mostram

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ao noviço uma abertura arredondada na parede diante dele. É a entrada para um corredor baixo que somente rastejando se pode entrar.- Até aqui podes voltar sobre os teus passos, diz um dos assistentes. A porta do santuário ainda não foi fechada. Depois de fechada, deves continuar tua caminhada até a outra ponta do corredor, sem poder voltar. - Eu fico, diz o noviço, reunindo toda a sua coragem.Os assistentes entregam-lhe uma pequena lâmpada acesa, retornam até o início do corredor e fecham a porta do santuário bruscamente, produzindo um estrondo. Não há mais lugar para vacilação. O candidato precisa passar pela abertura arredondada e percorrer o corredor à frente. Tão logo desliza os primeiros centímetros, arrastando-se sobre os joelhos e com a lâmpada segura pela mão, escuta uma voz do fundo do subterrâneo, dizendo: "Aqui morrem os loucos que tem ambição excessiva de conhecimento e de poder". Devido a um especial efeito acústico, essa frase se repete sete vezes em ecos separados. É preciso avançar! O corredor tem uma inclinação cada vez maior. Ao final, afunila e desemboca em outra abertura arredondada, que dá acesso a uma pequena escada de ferro. No fim da escada, o noviço percebe a existência de um poço aterrador. A lâmpada, apertada convulsivamente por sua mão trêmula, projeta tênue claridade nas trevas sem fim. Que fazer? Ir para cima, a volta é impossível; para baixo, a queda na escuridão. No meio desse desespero, examinando o ambiente, olha para a sua esquerda e vê uma abertura alongada e estreita. Agarrado com uma das mãos na escada e a outra segurando a lâmpada, olha mais atentamente a abertura e percebe uns degraus. É uma outra escada. Pode ser a salvação. Jogou-se até ela, subiu e escapou do abismo. A escada, perfurando a rocha como uma broca, tem o formato em espiral. Finalmente, o aspirante depara-se com uma grade em bronze, que o separa de uma ampla galeria sustentada por grandes cariátides - estátuas de mulher em traje talar. Entre uma e outra, pinturas com figuras simbólicas na parede. Há onze de cada lado, suavemente iluminadas por lâmpadas de cristal fixadas nas mãos das cariátides.Um sacerdote com atribuições de pastóforo - guardião dos símbolos sagrados - abre a grade para o noviço e o recebe com um sorriso. Felicita-o por ter atravessado com sorte a primeira prova. Em seguida, conduzindo-o através

da galeria, vai explicando o significado das pinturas sagradas.               

GLMERGS – Semear - 26/01/2009

                [14]              INICIAÇÃO EGÍPCIA - III 

                         O mago pastóforo recebeu o noviço com um sorriso, felicitando-o pelo desempenho, enquanto abria a grade de bronze que bloqueava a passagem da escada em espiral para a galeria. A primeira

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prova estava concluída com sorte. Percorrendo a galeria ornamentada por estátuas femininas em traje talar, o sacerdote explicava o significado das pinturas sagradas vistas na parede, entre uma estátua e outra. Abaixo de cada uma das pinturas há uma letra e um número. - "Os vinte e dois símbolos representam os vinte e dois primeiros arcanos e se constituem no alfabeto da ciência oculta, ou seja, os princípios absolutos, as chaves universais que, aplicadas pela vontade, se convertem na fonte de toda a sabedoria e de todo o poder. Esses vinte e dois princípios ficam gravados na memória do candidato pela correspondência com as letras da língua sagrada e com os números que se vinculam a essas letras. Cada letra e cada número expressam nessa língua uma lei ternária que tem sua repercussão no mundo divino, no mundo intelectual e no mundo físico. Assim como o dedo que toca uma corda da lira faz ressoar uma nota da escala musical e vibrar todas as suas harmônicas, do mesmo modo o espírito que contempla todos os efeitos virtuais de um número e a voz que profere uma letra com a consciência do seu alcance evocam uma potência que repercute nos três mundos.""A letra "A", por exemplo, que corresponde ao número "1", expressa no mundo divino o Ser absoluto de onde emanam todos os seres; no mundo intelectual, a unidade, fonte e síntese dos números; no mundo físico, o homem, ponto mais elevado dos seres relativos, que pela expansão das suas faculdades se eleva nas esferas concêntricas do infinito. O arcano está representado entre os egípcios por um sacerdote com manto branco, cetro na mão e a coroa de ouro na cabeça. O manto branco significa a pureza; o cetro, o poder e a coroa de ouro, a luz universal." O noviço não compreende tudo o que ouve de novo. Os conteúdos lhe são estranhos. Eles condensam a doutrina da religião egípcia sobre a vida após a morte. Mas perspectivas desconhecidas abrem-se diante dele com a palavra do pastóforo interpretando as belas pinturas. Depois de cada pintura aflora uma sucessão de pensamentos e de imagens. Pela primeira vez acredita estar penetrando os interiores do mundo graças à misteriosa cadeia de revelações. Assim, de letra em letra, de número em número, o mestre explica ao aprendiz o sentido dos arcanos e o conduz através a Isis Urânia - a Ísis Celeste - até o carro do divino Osíris, o vencedor da morte. Segue pela torre irradiante até a estrela flamejante e, por último, até a coroa dos magos, os reis celestes. - Deves saber bem - diz o pastóforo, - o que esta coroa significa. Toda a vontade que se une a Deus para manifestar a verdade e fazer justiça, inicia nesta vida a participar do poder divino sobre os seres e sobre as coisas, a recompensa eterna dos espíritos liberados.Ao ouvir o mestre, o neófito experimenta uma mistura de surpresa, temor e admiração. São as primeiras luzes assimiladas do santuário e a verdade intuída lhe parecendo a aurora de uma divina lembrança. Notas:

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

Carro de Osíris - simboliza a busca do equilíbrio entre as forças do dia e da noite, a ação da vontade sobre a matéria.

Magos - sacerdotes egípcios que realizavam as cerimônias do Templo, interpretavam símbolos e poemas e entoavam hinos religiosos. 

05/02/2009 - GLMERGS - Semear

          [15]           INICIAÇÃO EGÍPCIA - IV 

                         De letra em letra, de número em número, o mestre explicou ao discípulo o significado dos arcanos, como vivem  e se movimentam seres produzidos pelo espírito humano. Um mundo primitivo, onde até mesmo objetos sem vida são dotados de uma força vital, salvadora e mágica, mediante a qual  esses objetos tornam-se parte integrante dos homens, como o carro de Osíris, a estrela  flamejante e a coroa dos magos. O pastóforo dedicou atenção especial para essa coroa dos reis sacerdotes, a qual simboliza a vontade de Deus em manifestar a verdade e exercer a justiça  sobre os indivíduos e as coisas nesta vida. A essa vontade deve se unir a vontade de auto-redenção do noviço que é alcançada através a integração com o espírito universal, um princípio cósmico para os egípcios que associa ciência e conhecimento religioso.Ao terminar de falar, o pastóforo abriu uma porta que dá acesso a outra sala com teto abobadado, estreita e comprida, em cuja extremidade crepita um forno aceso.- É a morte! - exclama o noviço emocionado. Com espasmos trêmulos, olhou angustiado para o guia.- Meu filho, a morte somente assusta as naturezas pervertidas. Eu atravessei antes essas chamas como se fossem um canteiro de rosas, - respondeu o pastóforo.A grade da galeria dos arcanos foi fechada atrás do postulante. Como na prova anterior, recuar, impossível. Seguir em frente, portanto. Ao aproximar-se da barreira de fogo percebe que o forno não passa de uma ilusão de ótica, provocada por ágeis entrelaçamentos de gravetos de madeira colorida, distribuídos sobre grelhas. Um caminho demarcado no meio do cenário oferecia passagem naturalmente.Após a prova do fogo havia a prova da água. O aspirante foi obrigado a atravessar uma água parada e negra, tão logo a claridade do incêndio da câmara do fogo ficou às suas costas. Auxiliares conduzem-no, então, ainda trêmulo, até uma gruta escura na qual se vê apenas um filete de água, misteriosamente iluminado por uma galeria em bronze no teto. Os assistentes secam o noviço. Ele é ungido com essências raras. Vestem-no com finíssimo tecido e o deixam a sós.- Descansa e espera o hierofante, - recomendam antes de se afastarem.O noviço está cansado. Alonga-se e repousa no suntuoso tapete no piso que lhe serve de leito. Depois das muitas emoções esse é um doce momento. As

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pinturas de figuras sagradas que havia visto, as esfinges e as cariátides, voltaram à sua mente. Uma das pinturas insistia em monopolizar a sua imaginação; o arcano X, representado por uma roda suspensa por seu eixo, entre duas colunas. De um lado da roda, subindo, está Anúbis, o gênio do Bem, belo jovem na puberdade. No outro lado, descendo, Tífon, o gênio do Mal, criado em Delfos pela serpente Píton, precipitando-se de cabeça no abismo. Entre ambos, na cúspide da roda, uma esfinge sentada com uma espada entre as garras. O vago som de uma música lasciva que parece surgir do fundo da gruta, desvanece essa imagem; sons leves e indefiníveis, de uma languidez triste e incisiva. 

13/02/2009 - GLMERGS-Semear    

              [16]           INICIAÇÃO EGÍPCIA - V                                    O noviço, enquanto repousa, lembra as pinturas sagradas que havia visto na cripta; as letras do alfabeto da ciência oculta e os números dos primeiros arcanos. Uma música lasciva de sons leves e indefiníveis brota do fundo da gruta. Um tilintar metálico associado a vibrações de arpa e sons de flauta. Suspiros de ardente desejo erótico são captados em meio à melodia. Fantasias excitantes nascem na mente do noviço que fecha e abre os olhos. Cresce a expectativa de uma resposta expontânea para a realidade do ambiente. Nova olhada e a incrível surpresa: a poucos passos do seu leito uma figura feminina transbordante de vida e em diabólica sedução. Uma mulher da região de Núbia, coberta com fina tela vermelha, que permitia a visão dos seus contornos físicos, e com um colar de amuletos, semelhante às sacerdotisas do santuário da deusa mãe de Milita, está em pé, provocando-o com seu olhar. Segura com a mão esquerda uma taça ornamentada com rosas. Um tipo feminino irradiando intensa e embriagadora sensualidade. Seus olhos negros brilham na penumbra. O noviço põe-se em pé de um salto e, surpreso, hesita. Cruza os braços sobre o peito para assegurar-se de nada fazer sob o impulso da provocação. A escrava avança em passos lentos e, abaixando os olhos, murmura com voz suave: - "Tens medo de mim, formoso estrangeiro? Trago-te a recompensa dos vencedores, o esquecimento das fadigas e a taça da felicidade".O noviço sente o apelo da tentação dos sentidos. A escrava esboça movimento de apoiar-se no leito. O noviço lembra da advertência do guia antes das provas, a respeito dos perigos aos quais ia se expor, e se esquiva. Rejeita a taça e rechaça a tentadora mulher. A escrava retira-se. Em silêncio e só, os pensamentos do noviço entrechocam. Os neócoros surgem ruidosos. Doze, carregando tochas, cercam o noviço para conduzi-lo triunfalmente até o santuário de Ísis, onde os magos alinhados em semi-círculo e vestidos de branco, o esperam em reunião plenária. O noviço vencera as primeiras provas. Triunfara da morte, do fogo e da água e resistira às suas próprias tentações. Tivesse sucumbido aos desejos da matéria e caído no abismo da

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fantasia erótica representada pela escrava tentadora e envolvente, seria considerado escravo dos sentidos. O escravo dos sentidos vive nas trevas. Fica prisioneiro do Templo. Quem consegue salvar a própria vida no Templo, mas perde a liberdade, não tem maturidade para se libertar das trevas, vencer a morte física e iniciar a elevação espiritual. As limitações materiais e as garantias conhecidas do Templo também aprisionam aqueles que não têm perspectivas de alcançarem a luz celeste. 

12/03/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

  

           [17]     INICIAÇÃO EGÍPCIA - VI 

                         O discípulo jurara silêncio e obediência. Foi saudado pela assembléia de neócoros como irmão e futuro iniciado. Está admitido no seu umbral. Agora começam os longos anos de estudo e aprendizagem. Antes de elevar-se a Ísis Urânia, deve conhecer a Ísis terrestre, instruir-se nas ciências físicas e fazer estudos sobre o desenvolvimento físico e moral do homem. Seu tempo é dividido entre as meditações em seu quarto, o estudo dos hieroglifos nas salas e nas áreas do templo tão vasto como uma cidade, e as instruções dos mestres. Aprende a ciência dos minerais e das plantas, a história do homem e dos povos, a medicina, a arquitetura e a música sagrada. Nessa longa aprendizagem conhece e vivencia informações. Não basta ter o conhecimento, é necessário exercitar a força da vontade através a renúncia pessoal. Os sábios antigos acreditavam que o homem somente percebe a verdade quando ela se converte em uma parte do seu ser último, em um ato expontâneo da alma. Mas nesse profundo trabalho de assimilação, o aprendiz fica entregue a si mesmo. Seus mestres não o ajudam em nada. Com frequência, o neófito surpreende-se com a frieza e a indiferença com que é tratado. Observado atentamente, o noviço obedece regras inflexíveis e com obediência total. Não lhe revelam nada além de certos limites. Às suas inquietudes e perguntas, respondem: - "Espera e trabalha". As revoltas são inevitáveis, acompanhadas de suspeitas e lamentos. Estará sob o poder tirânico de audazes impostores ou de magos obscuros que subjugam sua vontade para atingir fins desprezíveis? As certezas fogem de sua mente. Está só, prisioneiro do templo. A verdade se revela sob a figura da esfinge; "Eu sou a dúvida!" E a besta alada, com sua cabeça de mulher impassível e suas garras de leão, arrebata-o.Os pesadelos são sucedidos por períodos de calma e de pressentimento divino. O noviço compreende o sentido simbólico das provas que havia enfrentado ao entrar no templo. Não é bastante! - Por que - ainda se pergunta - o poço sombrio onde esteve a ponto de cair é menos negro que o abismo momentâneo da insondável verdade?

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- Por que o fogo  foi menos temível que as paixões que agora fustigam sua natureza? - Por que a água gelada que teve que atravessar pareceu menos fria que a dúvida de agora, onde se afoga seu espírito nas horas de apreensão?Em uma das salas do templo, duas figuras sagradas dos vinte e dois arcanos mostrados na cripta durante a noite de provas. Os arcanos, que inspiram o aprendiz a imaginar o pórtico da ciência oculta, são as colunas de sustentação da teologia. Os arcanos constituem letras alegóricas e números. As diversas combinações desses signos correspondem a oráculos onde está contida a ciência inteira dos egípcios, a escrita do santuário. Mas, para melhor compreendê-los é indispensável completar a iniciação. 

02/04/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 

         [18]        INICIAÇÃO EGÍPCIA - VII 

                         O aprendiz está confinado no templo e estuda a ciência inteira dos egípcios. A escrita do santuário começa pela ciência oculta contida nos arcanos. Até completar a iniciação terá que percorrer longo caminho conhecendo a Ísis terrestre,- instruir-se nas ciências físicas e conhecer o significado das combinações dos números, as propriedades das plantas, a história do homem e dos povos, a medicina, a engenharia, a arquitetura e a música sagrada. A religião dos povos egícios favorece o desenvolvimento da ciência, principalmente a médica. Acreditam que para alcançar vida eterna a alma de seus mortos precisa de um corpo. Outros povos, como sumérios e assírios, pensam diferente; se o corpo for aberto a alma foge. Essa crença impossibilita a retirada cirúrgica de orgãos no processo de mumificação. A preocupação com os mortos é o portal para o conhecimento dos segredos do corpo humano. Os processos da mumificação revelam detalhes do sistema circulatório, especialmente o funcionamento do coração que é considerado o gerenciador do corpo e das emoções. O neófito aprende modos de embalsamamento dos cadáveres. Para isso, deve conhecer a anatomia das vísceras. As informações são transmitidas oralmente. Todavia, tudo é registrado em papiros para consultas posteriores. Na mumificação os papiros médicos usados são preparados especialmente para a cerimônia. Possuem trechos das orações do Livro dos Mortos, além das orientações práticas específicas.Os remédios também merecem muito estudo. Os benefícios e os cuidados no uso do óleo de rícino, ácido acetilsalicílico, própolis e anéstésicos, são observados com interesse. Outras áreas do conhecimento são visitadas pelo iniciando; a engenharia química, hidráulica, a construção imobiliária e a construção naval. Os armadores conhecem as propriedades de expansão da madeira, sua rigidez e durabilidade. Tais conhecimentos são vitais na

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construção de embarcações capazes de sustentar blocos de pedras com mais de 80 toneladas.O Nilo, artéria que é a própria vida dos egípcios, é também uma fundamental fonte de pesquisa e avanços científicos. Sabem da importância do rio como via de transporte e de sua relação com a preservação e manutenção das terras férteis ao longo do vale. As cheias são consideradas benéficas pelos egípcios e não uma vingança dos deuses, como na Mesopotâmia. Os conhecimentos sobre fertilizantes naturais como esterco, o trabalho das minhocas e a lama que é transportada para áreas estéreis, além do manuseio do arado, constituem acervo da bagagem cultural dos aprendizes no templo.Os egípcios são mais adiantados no emprego de pedras em obras de diversas finalidades. São peritos no encaixe perfeito de pesados blocos de granito. As construções em rochas e a precisão nos cortes mostram a especialização dos conhecimentos geológicos. Construções como pirâmides, a esfinge e as estátuas do Vale dos Reis são estruturas belas e requintadas. O modo de vida e a religião estão ligados ao desenvolvimento da arte de construir. Utilizam réguas, esquadros e prumos. Os egípcios querem durar para sempre e isso faz parte de vários estágios de sua cultura. Os templos são construídos com a certeza de serem eternos. As paredes de pedra servem, ainda, como suporte para sua história.Os egípcios são caprichosos joalheiros e marceneiros. Conhecem técnica de soldagem de metais. Produzem móveis entalhados e dobráveis, assim como camas com estrado. Além de estudiosos da Terra, gostam de desvendar os mistérios do céu. Através o mapeamento celeste fazem o reconhecimento das estrelas para contar as horas à noite. Autores do calendário solar, com 365 dias em 12 meses, dividem o dia em 24 horas, doze para a noite e doze para o dia. Conhecem planetas como Vênus e Marte e estrelas como Sírius e Órion e localizam o norte pelo posicionamento das estrelas.São químicos especializados na produção de perfumes e cosméticos e precursores na fabricação de tintas sintéticas.No campo musical manejam a harpa, a flauta, a trombeta de metal, o oboé e dois tipos de alaúdes. Todo esse conhecimento está depositado na memória dos magos sacerdotes. A escrita hieroglífica revela que os egípcios procuram mostrar os signos com estética, dispondo-os às vezes um em cima do outro ou superpondo-os. São usados em escritas oficiais e religiosas, traçados em bela forma e com riqueza de detalhes.O aprendiz exercita o seu desenvolvimento físico e moral. A iniciação é único meio com o qual se liberta da ignorância e faz do templo a viagem para o conhecimento da Ísis pessoal.

08/04/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

  

                [19]        INICIAÇÃO EGÍPCIA - VIII    

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

                                   Numa das salas do templo o neófito, diante da muda sociedade das divindades silenciosas e sem nome, experimenta focos de uma nova verdade penetrando em seu coração. Longas horas de solidão favorecem a incursão meditativa no fundo do eu. Distancia-se cada vez mais do mundo conceitual. Eventualmente, pergunta a um dos magos: "Conseguirei algum dia cheirar a rosa de Ísis e ver a luz de Osíris?" O mago sacerdote responde: "Isso não depende de nós. A verdade não se dá. Encontramo-la em nós ou não a encontramos. Não faremos de ti um adepto, é preciso que chegues a sê-lo por ti mesmo. O loto brota sob a água bem antes de florescer. Não apresses a eclosão da flor divina. Se tiver que vir, virá no seu momento. Trabalha e ora!"O discípulo segue seus estudos. O conhecimento é uma faculdade espiritual. Assim correm os meses, os anos. Sente que se realiza nele uma transformação lenta. As paixões que assediaram sua juventude perdem colorido. Experimenta frequentes momentos de descida ao labirinto subjetivo do seu ser. A intimidade com o universo interior dos sentimentos proporciona compreensões com novas amplitudes do caráter existencial humano. Os pensamentos trocam de papel; tornam-se companheiros do neófito na travessia silenciosa, em lugar de porta-vozes das exigências sistemáticas da razão coletiva. A forma de manifestação do seu mundo interno, hati - a alma animal - e bai - a alma racional, fica diferente. As revoltas abrandam, os desejos diluem, o pesar desaparece. A alma racional entrega-se às cogitações sem limites. O pensamento curva-se à sensação de nova existência. Sentimentos traduzem-se em palavras mudas, como: "Oh!, Ísis, já que minha alma não é mais que uma lágrima dos teus olhos, que caia como orvalho sobre outras almas e que eu, morrendo, sinta-me como um perfume que sobe até a ti. Eis-me disposto ao sacrifício."Inúmeras meditações têm a presença do hierofante, em pé, observando discretamente o discípulo. O mestre parece ler todos os seus pensamentos. Num dos segmentos do tempo...- "Meu filho", - diz o sacerdote -  "se aproxima a hora em que a verdade a ti será revelada pois, já a pressentes nos momentos em que mergulhas nas tramas imprevisíveis do fundo de teu eu e nele encontras vida divina. Vais entrar na grande, na inefável comunhão dos Iniciados, pois és digno disso pela pureza dos sentimentos, pelo amor à verdade e pela força da renúncia. Mas ninguém franqueia o umbral de Osíris sem passar pela morte e pela ressurreição. Vamos acompanhar-te até a cripta. Nada temas, pois estás entre nós."No entardecer, os sacerdotes de Osíris, empunhando grandes tochas acesas carregadas no alto, conduzem o novo adepto até uma cripta baixa, cujo teto se apoia em quatro pilares com esfinges. Num dos cantos há um sarcófago em mármore, aberto.  

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Maçonaria é arte!

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

              [20]         INICIAÇÃO EGÍPCIA - IX                                    Os sacerdotes de Osíris conduziram o adepto até a cripta onde há um sarcófago de mármore, aberto.- "Nenhum homem escapa da morte e toda a alma está destinada à ressurreição. O adepto passa vivo pela tumba para penetrar, a partir desta vida, na luz de Osíris. Deita-te, então, nesse ataúde e aguarda a luz. Essa noite abrirás a porta do espanto e aguardarás no umbral da maestria" - disse o hierofante.O adepto deita-se no sarcófago aberto. O hierofante estende a mão sobre ele para lhe desejar boa sorte. O cortejo dos Iniciados afasta-se da cova em silêncio. Uma pequena lamparina no piso ainda ilumina fracamente as esfinges que suportam as colunas maciças da cripta. Um coro de vozes distantes é ouvido pelo velado.- "É o canto dos funerais!" - O pensamento do adepto ecoa escolhendo interpretações para o significado e para a direção dos cânticos. O coro emudece. A lamparina apaga. O adepto está só, nas trevas e no silêncio. O frio do sepulcro abate-se sobre ele e gela seu corpo. Acometem sensações físicas dolorosas de morte. Entra em letargia. Sua vida desfila em quadros sucessivos de recordações, sua consciência está vaga e fugidia. O frio e a emoção parece dissolverem  seu corpo. Os pensamentos esvoaçam como conteúdos etéreos que se afastam nas asas da alma racional. Entra em êxtase. Acende um ponto distante brilhando no fundo negro da escuridão . Movimenta-se em aproximação e se converte numa estrela com cinco pontas com os raios coloridos. Em seguida, a atenção volta-se para um sol que surge com o centro encandescente.-"Serão alucinações da minha mente? Ou efeitos produzidos pelos mestres? É o presságio da verdade celeste, a estrela flamejante da esperança e da imortalidade?"Desaparecem as figuras astrais. Brota um casulo copado que se abre numa flor, a rosa iluminada que expande suas pétalas, as folhas balançam presas no caule rígido.-"É a flor de Ísis!"A flor de Ísis, para os egípcios, é uma rosa que simboliza a mística da sabedoria contida no coração. A visão do adepto é fugaz. A flor desaparece na escuridão da noite como aroma de essência. Um nuvem inespecífica movimenta o cenário débil em contraste até se condensar e converter-se numa figura humana.-"Uma mulher!", constata o noviço. -"A Ísis do santuário oculto...".Mais jovem, sorridente e efusiva que aquela, com um veu transparente que envolve em espiral o corpo feminino, tem na mão um rolo. Aproxima-se  suavemente, inclina-se sobre o Iniciado deitado na tumba e lhe diz: -"Sou tua irmã invisível, tua alma divina e esta é a trajetória da tua vida. Aqui estão os dias das tuas existências passadas e os dias vazios das tuas vidas futuras. Agora me conheces, chama-me e virei!"

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Um olhar de ternura e cumplicidade ornam a face do adepto. Pensamentos mágicos sobre o imponderável futuro povoam a mente... Até que o encanto se rompe. O afastamento precipitado do doce imaginário lança o adepto de volta à realidade do seu corpo e ao esmorecimento; sensação de que argolas de ferro imobilizam seus membros. A visão fica turva. A cabeça está pesada. No despertar da vivência onírica abre os olhos e vê, em pé diante de si, o hierofante acompanhado dos magos. Eles o rodeiam, oferecem um estimulante líquido e o ajudam a se erguer.-"Estás ressuscitado!" - diz o guia. -"Vem celebrar conosco o ágape dos Iniciados e conta-nos tua viagem na luz de Osíris. Agora és um dos nossos!"Os sacerdotes acompanham o novo adepto até o observatório do templo. Ali será revelada a visão de Thot. 

15/04/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 _-----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: Semear Debates Enviada em: sábado, 18 de abril de 2009 02:03Assunto: [Grupo Maçônico Semear Debates] Arca da Informação - 21 - Iniciação Egípcia X

                 [21]    INICIAÇÃO EGÍPCIA - 10 

                         A lenda da visão de Thot não está escrita. Presente simbolicamente nas estrelas da cripta, a explicação é transmitida oralmente.- "Presta atenção." - diz o hierofante - "A visão contém a história permanente do universo e o círculo das coisas".Tudo começa com Thot adormecendo depois de fazer meditações. À medida que seu corpo entorpecia, seu espírito se afastava, subindo ao espaço. Nessa transição, um ser imenso, sem forma determinada, chamava Thot pelo nome.- "Quem és?" - respondeu.- "Sou Osíris."- "Que desejas?"- "Conhecer a origem dos homens".- "Oh! Divino Osíris, é o caminho para conhecer a Deus" - deduziu Thot.Thot sentiu-se inundado por um facho de luz. Nas ondas do raio passavam as formas humanas fundamentais. Repentinamente, as figuras despencaram na escuridão das trevas insondáveis. Thot acompanhou, mergulhando num caos úmido, cheio de húmus, onde se ouvia lúgubres gemidos. Contudo, uma voz emerge do abismo, prevalecendo sobre as demais. Thot reconhece: é o grito da luz. Uma chama sutil vence o lodo espacial e eleva-se nas alturas.Thot segue com o fogo. Coros astrais invadem os seus ouvidos. A voz da luz ascendeu ao espaço celeste. - "Compreendes o que vês e ouves, Thot, em teu sonho flamejante? Acabas de ver o que é a eternidade. A luz que te inundou foi a inteligência divina que potencializa as coisas e contém os elementos primordiais de todos os seres.

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As trevas de onde evoluíste é o mundo material em que vivem os homens. O fogo que viste brotar das profundezas é a Palavra Sagrada, que se une à divindade e origina a vida."- "Uma percepção maravilhosa. Vejo não mais apenas com os olhos, também com os sentidos do espírito. Como isso se passou?" - perguntou Thot.- "A Palavra Sagrada está em ti. O que entende, vê e palpita em ti é a palavra, o fogo sagrado, a palavra criadora."- "Se assim é," - insistiu Thot - "faz-me ver a vida dos mundos, o caminho das almas, o destino do homem."- "Teu desejo será atendido" - assegurou Osíris.Thot sentiu-se cada vez mais pesado até despencar no espaço. Esbarrou no cume de uma montanha cósmica - assim acima como abaixo. Anoitecia. Thot sentia seus membros pesados.- "Levanta os olhos e observa" - disse Osíris.Thot vislumbra um cenário maravilhoso; o espaço infinito onde o céu estrelado em sete níveis esféricos o envolve. Em cada um nível escalonado circula um planeta com respectivo caráter, signo astrológico e iluminação celeste.- "Olha, ouve e compreende. Vês sete círculos da vida. Através deles as almas realizam sua evolução de ascensão ou queda. São os sete raios da Palavra Sagrada. Cada um dirige um círculo escalonado do espírito, uma fase da vida das almas. São sete divindades cosmogônicas, cada uma com seu sentido e atribuições."- "Vejo as sete regiões que compreendem o mundo visível e invisível. Vejo os sete raios da Palavra Sagrada. Mas, oh! Mestre, como se realiza a viagem dos homens nos mundos?" - perguntou Thot.- "Vês uma partícula luminosa que desce da região celestial no sétimo plano? São sementes de almas. Vivem como vapores nos limites elevados do mundo da sabedoria universal. Ao descerem de plano em plano, as almas ganham envoltórios com peso proporcional. Em cada condensação adquirem novo sentido corporal. Sua energia vital aumenta, mas a memória da sua origem celestial diminui. Cada vez mais cativas da matéria e embriagadas pela vida, precipitam-se pelos caminhos do amor, da dor e da morte, até sua prisão terrestre, onde a vida divina parece uma apenas ilusão. 

18/04/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 

  [22]           INICIAÇÃO EGÍPCIA - XI 

                         Os sacerdotes de Osíris estão com o adepto no observatório do templo. O hierofante prossegue a narrativa da lenda da visão de Thot, o primeiro Iniciador das doutrinas sagradas do Egito.- "As almas podem morrer?" - perguntou Thot.- "Sim!" - respondeu Osíris. - "Muitas merecem a descida fatal. A alma é filha do céu e sua viagem é uma prova. A fixação no mundo da matéria pode

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esmaecer a consciência de sua origem divina. E o retorno até regiões cósmicas com densidades grosseiras é inevitável."Ao ouvir essas sentenças, Thot atormentou-se. O espaço celestial transformou-se. As sete camadas esféricas desapareceram sob espessas nuvens. Viu espectros humanos vagando, em gritos lamentosos, conduzidos por vultos fantasmagóricos.- "Esse é o destino das almas inferiores. O sofrimento termina somente com a perda total da consciência antiga," - acrescentou Osíris.O impacto da constatação produziu luzes esclarecedoras. Thot recuperou o esplendor espiritual da consciência divina. As nuvens dissiparam-se e as sete camadas esféricas reapareceram. O som da palavra de Osíris retornou: - "Vês esse enxame de almas que tentam agrupar-se próximo à lua? Algumas são enviadas ao planeta Terra como bando de pássaros refugiando-se da tempestade. Outras voam até camada esférica superior. Essas conseguem recuperar a visão da instância divina e impregnam-se desses atributos com lucidez. Tornam-se iluminadas. A ti, Thot, resta reforçar os valores celestiais de tua alma e serenar teu espírito obscurecido, contemplando esses voos longínquos de almas que retornam às sete esferas e nelas se disseminam. Podes seguí-las, basta querer. Observa como formam coros divinos. Cada uma se posiciona próximo ao seu signo zodiacal preferido. As almas mais formosas vivem na órbita do planeta solar. As camadas onde tudo termina e tudo recomeça, condensam os sons dos sete planetas e pronunciam juntas: sabedoria, amor, justiça, beleza, esplendor, ciência, imortalidade."- "Eis o que viu o antigo Thot e o que seus sucessores nos transmitiram," - diz o hierofante. "As palavras do sábio são como as notas da harpa que contém toda a música com os números e as leis do universo. A visão de Thot voltara-se para o céu estrelado cuja profundidade insondável era plena de constelações. Para um jovem é apenas uma cobertura com pontos luminosos, mas para o sábio é o espaço sem limites onde giram os mundos com seus ritmos e suas cadências. Essa visão continha os números eternos, os signos evocadores e as chaves mágicas. Aprender a contemplar e compreender o mundo das estrelas permitia ampliar a percepção dos limites individuais, porque a lei que governa todos os mundos tem os mesmos fundamentos."Assim o sacerdote do templo relata a lenda da revelação de Osíris ao antigo Thot. Explica que a doutrina da palavra celestial representa a luz divina no seu equilíbrio estático perfeito. Refere a tripla natureza constituída por inteligência, força e matéria; espírito, alma e corpo; luz, palavra e vida. A essência, a manifestação e a substância são três termos que se correspondem reciprocamente. Sua união estabelece o princípio divino do conhecimento, a lei da unidade ternária que tanto acima como abaixo realiza a Criação. 

25/04/2009- GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 

                    [23]       INICIAÇÃO EGÍPCIA - XII- 25 -

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                                   O sacerdote do templo comentando a lenda sagrada conduziu a mente do discípulo até o princípio gerador da vida, o centro ideal do universo. No relato expandiu o tempo e o espaço do Ser. Revelou a divindade em estado dinâmico no exercício da sua evolução. Mostrou a etapa da visão de Thot que refere o universo visível e invisível, o céu estrelado e as sete camadas esféricas vinculadas aos sete planetas que simbolizam sete princípios. São sete estados de matéria e de espírito, sete mundos diferentes que os seres devem atravessar em sua caminhada através do sistema solar. Os sete caráteres, ou sete deuses cosmogônicos, significam os espíritos superiores que constituem as camadas esféricas, resultantes dos diferentes estágios da energia celeste. Cada um desses divinos estamentos universais é o símbolo e a personalidade coletiva de legiões de espíritos agindo a partir de sua base esférica sobre os seres humanos e sobre as demais atividades terrestres. Os sete gênios personificados nos deuses cosmogônicos não vibram apenas nas cores da natureza e nas notas musicais. Manifestam-se também na essência tripla do homem que se submete à matriz sétupla dos mundos: chat, corpo material - anch, força vital - ka, corpo astral - hati, alma animal - bai, alma racional - cheybi, alma espiritual e ku, espírito divino.- "Com essa visão, penetraste no umbral do grande arcano," - diz o hierofante ao discípulo, encaminhando a conclusão da lenda. - "A vida divina te foi apresentada através das imagens da realidade. Thot levou-te a conheceres o céu invisível, a luz de Osíris, o deus oculto do universo que vivifica milhões de almas que habitam corpos e esferas. A ti, Iniciando, compete escolheres o caminho para a ascensão até o espírito elevado. Agora pertences aos ressuscitados vivos. Lembra que há duas chaves fundamentais na ciência: 1ª - o exterior é como o interior das coisas. O pequeno é como o grande. Há apenas uma lei, pois tudo resume-se na unidade do universo divino.2ª - os homens são deuses mortais e os deuses são homens imortais.A lei do mistério encobre a grande verdade. O conhecimento só deve ser revelado aos homens que se submetem e suportam as mesmas provas. É preciso medir a verdade apropriada para cada inteligência - verdade em excesso para os fracos, leva-os à loucura e para os malvados, transforma-se em perigosa arma. Guarda a verdade em teu coração e que ela fale por tua obra. A ciência será tua força, a fé, tua luta e o silêncio, tua armadura inviolável."As revelações do sacerdote de Amon-Ra - o deus egípcio de Tebas - abriram amplos e novos horizontes sobre si mesmo e sobre o universo, na mente compreensiva do Iniciando. A repercussão íntima dessas revelações é mais intensa quando pronunciadas no observatório de um templo grandioso como o de Tebas e tendo por cenário a imensidão da calma noite egípcia. Os pórticos, as coberturas brancas e os terraços escavados nas laterais das montanhas do templo, são ornamentos imóveis dormitando na paisagem. Mais adiante, estão grandes monolitos de estátuas colossais dos deuses sentados à margem de um lago iluminado pelo luar. A silhueta de três pirâmides perdem-se no horizonte do olhar. O indescritível céu lá estava povoado de pontos luminosos, agora vistos pelo novo Iniciado como moradas

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futuras. No sombrio espelho do Nilo, o imaginário dourado esquife da lua, lembrança litúrgica do barco de ísis navegando sobre o rio das almas, conduzindo-as até o sol de Osíris. Recordou o Livro Egípcio dos Mortos e o significado dos símbolos revelados ao seu espírito. Depois do que havia aprendido, o novo Iniciado acreditou na existência do reino crepuscular do Amenti, a misteriosa transição da vida terrestre para a vida celestial. E previu a futura grande viagem para a qual havia sido considerado apto e digno por Thot, a viagem do infinito, através dos mundos das existências. 

01/05/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte! 

                 [24]       INICIAÇÃO EGÍPCIA - XIII                                              (final)                                           A lenda da visão de Thot segue no relato do hierofante, agora contando a divindade em estado dinâmico.- "O adepto sentia-se no reino do Amenti, misterioso interregno entre a vida terrestre e a vida celeste, onde o morto volta a ter voz e visão. O Iniciando, como ressuscitado vivo, imagina-se preparado para a grande viagem, a viagem do infinito através dos mundos e das existências. Considerado apto e digno, já conhecia a solução do enigma: -Uma só alma, a grande alma do todo, originou, dividindo-se, todas as almas que se movimentam no universo. De posse do grande segredo, subiu na barca de Ísis e partiu para flutuar nos espaços. Raios de imensa aurora percorriam os véus azulados dos horizontes celestiais. Em coro os akhimu-secu, espíritos gloriosos que alcançaram o eterno descanso manifestavam-se: - Levanta-te, Ra hermakuti, Sol dos espíritos, aqueles que vão na barca estão em exaltação -. O grande ciclo divino transborda de felicidade ao glorificar a barca sagrada. Há regozijo na capela misteriosa: - Levanta-te, Amon-Ra hermakuti, Sol que se cria a si mesmo-. E o adepto respondia: - Alcancei a verdade. Ressuscito como um deus vivo e brilho no coração dos deuses que habitam o céu porque sou da sua natureza-."Pensamentos grandiosos e  diálogos fantásticos ocorrem na mente do Iniciando na noite seguinte à da cerimônia da ressurreição. Durante o dia, percorrendo as avenidas ensolaradas do templo, pensa tratar-se de sonho a experiência da noite anterior. Reencontrando a estátua de Ísis, vê outra vez a inscrição - Mortal nenhum levantou meu véu - e sabe que muito ainda há para descobrir no templo e conhecer outros enigmas. É longa a viagem da barca de Ísis. A visão desse outro mundo fora suficiente para fazer brotar na consciência o misterioso eu celeste que lhe falara em sonho, sua alma fraterna antecipando o ser futuro que uma próxima realidade revelará. As cerimônias da recepção terminaram e o adepto torna-se um sacerdote de Osíris. A última, pede um juramento de silêncio sobre os segredos do templo. Solenemente, o novo mago promete jamais revelar a doutrina de Osíris,

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senão sob o triplo véu dos símbolos dos mistérios. A seguir, vai atuar no rio da vida dos seus semelhantes, escutando a voz da luz da sua imortalidade, essa alma velada que pode iluminar as almas obscuras através da sua lamparina invisível.

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A descrição em termos modernos da adesão iniciática egípcia realizada dois mil anos antes da era cristã, pretende familiarizar os Irmãos com a ancestralidade de procedimentos litúrgicos e valores religiosos presentes na ritualística atual maçônica. Os egípcios estabeleceram ética, moral e método para o rito solar de culto aos demiúrgos do seu monoteísmo racionalista cósmico. São precursores na idealização de símbolos adotados por civilizações posteriores como os gregos, seus discípulos imediatos.O modelo de adesão inicática velada vem dos egípcios, que nos legaram  símbolos, orações e lendas hoje conhecidos na rotina das Lojas. A esteira do processo é o rito solar. A barca das almas, reproduzida na arca de Noé, a estrela de cinco pontas, o raio flamejante que originou a espada , as provas do fogo e da água, as viagens iniciáticas com obstáculos, a escada em espiral, a palavra sagrada como sinônimo de criação e que se transforma em luz espiritual, os solstícios, a influência dos planetas no caráter humano através da passagem nas casas zodiacais e alguns procedimentos do grau de mestre, são expressivos exemplos da contribuição egípcia para o sincretismo maçônico da era cristã moderna.O berço da cultura iniciática que adotamos e preservamos reside na antiga religião-ciência dos magos de Osíris. Mas que os maçons de hoje não pretendam usar essa fulgurante herança para tentar provar a antiguidade da maçonaria que fazemos. Os egípcios foram exímios talhadores de pedra mas não foram protagonistas de uma maçonaria operativa, constituída por pedreiros agrupados em associações. A idéia de maçonaria operativa precursora da maçonaria  especulativa não tem mais a unanimidade dos pesquisadores. E analogias históricas muito antigas são analogias sem comprovação. Não existiu maçonaria no Antigo Egito, apesar da força que alguns setores da maçonaria fazem para convencer em contrário. Existiram países com povos detentores de conhecimentos admiravelmente adiantados, o suficiente para serem copiados por instituições que, no século 21 da era cristã, como a maçonaria, neles se inspiram para realizarem suas cerimônias de aperfeiçoamento pessoal.

Prudente juízo crítico nos livrará de constrangimentos inevitáveis diante das atuais limitações culturais da maçonaria se compararmo-nos com a capacitação científico-organizacional da civilização egípcia. Afinal, ela foi a base da inspiração da cultura grega, por nós reverenciada como exemplo de erudição filosófica. O vetor histórico da maçonaria começou a ser talhado muito depois da destruição do templo de Tebas após a invasão assíria, em 663 a.C.. 

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08/05/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte que apenas imita a vida nas antigas adesões iniciáticas.

          [25]       JUSTO E PERFEITO                                    Os alquimistas Rosa-cruz idealizaram sistema ritualístico para os graus azuis da maçonaria reunindo conhecimentos que possuíam da ciência divina dos antigos egípcios e da filosofia dos gregos contemporâneos ao começo do cristianismo. O chamado sistema escocês de ritos absorveu grande parte dos símbolos e dos conceitos dos alquimistas medievais.Os maniqueus, gnósticos dualistas seguidores do líder religioso persa, Manes, contribuíram com a roda cósmica para inspirar o rito solar e a roda da criação dos alquimistas. A roda da criação constou de um zodíaco com doze casas representadas pelos signos desenhados no interior dos templos das Lojas simbólicas. A ciência natural alquimista da Idade Média mostrada através do rito solar e do zodíaco, nos revelou ensinamentos sobre o caos e o divino na natureza cósmica. A ordem cósmica era uma harmonia considerada justa e perfeita.Os alquimistas consideravam o universo cósmico conhecido um ser divino auto-organizado e animado que funcionava perfeitamente ordenado como um todo e não uma estrutura criada por uma divindade exterior. O movimento regular dos planetas e a estrutura dos organismos vivos provavam que a idéia de cosmos descrevia a realidade justa e bela do mundo. Acreditavam numa estrutura não apenas divina, perfeita, mas também racional - o logos. A estrutura cósmica perfeita e racional designava a ordenação harmônica das coisas.Os alquimistas que ornamentaram o interior da Loja simbólica do REAA com as doze casas do zodíaco fizeram circular a palavra sagrada, o logus,  levado a cada uma dessas casas para simbolizar a criação da natureza divina na Loja, a Ísis terrena. Nos ritos que fazem circular a palavra sagrada, o ambiente no interior do templo, antes do logus, é tão caótico quando o da sala dos passos perdidos. Depois da circulação da palavra sagrada o ambiente torna-se divino e apropriado para os trabalhos, transformando-se em Loja iniciática - aquela que recebeu o logus. Essa percepção leva à compreensão de que a sagração antecipada do templo reservado para ritos que circulam a palavra sagrada, é inócua e redundante, porque o templo de ritos como o REAA é sagrado toda a vez que a Loja se reúne e o logus se manifesta.No rito solar divinizado por Osíris, a Loja ou templo, representa parte divina e racional do universo onde a alma humana, o lápis filosofal dos maçons nascidos nos diversos signos, é aperfeiçoado pelo entrechoque dos caráteres existentes na irmandade. Os ritos maçônicos alquimistas orientam que o Iniciado deve buscar elevar o alcance da sua pedra espiritual através do amor que harmoniza as divergências e através da ética racional que organiza a beleza do comportamento pessoal.

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Quando o Segundo Vigilante anuncia no REAA que está tudo justo e perfeito, depois de receber a palavra sagrada, isso é dizer, depois que o caos foi ordenado pelo divino e pela razão, está comunicando que o cosmos divino e lógico está constituído para tornar possível o trabalho de aperfeiçoamento dos maçons, esclarecendo-os com Sabedoria. A Sabedoria do logus apóia-se na sua própria Força e Beleza para produzir o homem cósmico. Os Vigilantes, no REAA, devem se posicionar lado a lado em cada extremidade das colunas Norte e Sul para delimitarem a circulação do logus nas doze casas zodiacais e comunicarem o êxito da sagração do templo. A palavra sagrada inicia sua caminhada em Áries e termina em Peixes. No final da Loja - no fim dos trabalhos - a palavra sagrada não precisa circular porque ela serve para ordenar o caos no começo. Depois de terminados os trabalhos a circulação do logus é inexplicável sob a ótica da razão; mostra desconhecimento do que significa a circulação da palavra sagrada. 

10/06/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte!

 

               [26]       KA dos MORTOS 

                         A edição nº 23 da Arca da Informação - Iniciação Egípcia - mostra a essência tripla do homem - espírito, alma e corpo - absorvida na matriz sétupla dos mundos: corpo material, força vital, corpo astral, alma animal, alma racional, alma espiritual e espírito divino.

KA - denominação egípcia correspondente ao corpo astral ou corpo emocional da cultura contemporânea, tinha a capacidade de integrar-se com a ordem cósmica ao se separar do corpo e, através da fusão com o cosmos universal, elevar sua hierarquia luminosa e retornar com a alma ao espírito divino. O KA era parte do corpo do planeta ao qual estava vinculada a alma racional do ser. Cativa da matéria e da vida a alma expandia-se e aderia a substâncias semelhantes, criando a sensação de peso. O KA era um estado da alma do ser, responsável pelos sentimentos fortes do amor, da dor e da morte. Esse era o principal veículo invisível envolvido em todos os tipos de relacionamentos, pois tinha em sua natureza elementos de caráter de outras vidas.

O KA concentrava os elementos malignos da alma, que, ao descer através das esferas, para nascer outra vez, sofria a investida de potências malignas lançadas pela serpente Apófis, a inimiga clássica do deus solar egípcio.

O cosmos emocional do homem estava gravado em um "manuscrito" que constituía o KA. O caráter do homem era formado pelos sinais zodiacais. Sinais zodiacais e KA reunidos davam a personalidade cósmica humana. Ascensão e queda, altura e profundidade, para cima e para baixo pelas casas dos sete planetas descreviam um realizar emocional dos opostos, que lentamente levava ou devia levar a um equilíbrio entre eles. A alma dos mortos - crença no Antigo Egito - ascendia através dos sete círculos

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planetários, até à divindade solar, seu lugar de origem. Firmicus Maternus ensina-nos que "animo descensus per orbem solis tribuitur" (o espírito desce pela órbita do sol). Daí a origem da oferenda funerária egípcia de uma pequena escada. O KA (corpo emocional) integrava a alma nessa escalada, depois de separar-se do corpo morto.

Essa cultura tradicional foi conhecida dos alquimistas, que mantiveram a escada planetária de sete degraus nos ritos de iniciação do sincretismo. A alquimia do começo da Idade Média, remontando diretamente à cultura alexandrina e transmitida pela cultura árabe, concluia o mistério de ísis com o "solificatio" - solarização, que designava o Iniciado coroado como Hélios. A seguir, Hélios realizava a sua trajetória simbólica pelas casas zodiacais, estudando a ciência.

A ciência divina dos egípcios e dos antigos alquimistas gregos considerava o cosmos uma estrutura impessoal, harmoniosa e divina.

A maçonaria adota a escada como símbolo do modo ascensional figurado nos ritos solares maçônicos alquimistas para significar o processo de purificação (sublimação alquimista) dos adeptos. Nos ritos maçônicos que não adotam os signos zodiacais, portanto, que não fazem analogia com a antiga idéia de cosmos dos egípcios e gregos alquimistas, a escada é símbolo de evolução consciente e inconsciente do adepto em direção ao Ser Superior através da filosofia e do sincretismo propostos pelo rito.  

21/06/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de reflexão!

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               [27]      LOGOS - I                                   A expressão Verbo Divino, ou Verbo Solar, foi cunhada por Krishna, na Índia. Significou a Verdade, a Beleza e a Bondade infinitas, revelando-se no homem consciente com um poder redentor que alcançou as profundidades do cosmos pela força do amor e do sacrifício. Da Índia o Verbo Solar irradiou-se para os templos da Ásia, África e Europa. Na Pérsia, o Verbo Solar foi personificado por Mitra, o reconciliador do luminoso Ormuz com o sombrio Ahriman; no Egito, foi personalizado por Hórus, o filho de Osíris e Ísis; na Grécia, por Apolo, o deus do sol e da lira. Em todos, o Verbo Solar foi um mediador divino e a sua luz foi a palavra de vida.Segundo a doutrina secreta da Índia, assimilada no Egito e na Grécia, a alma humana era filha da alma cósmica. Para os antigos hindús, egípcios e gregos os pais originavam somente o corpo da criança. A sua alma vinha da natureza invisível. As faculdades transcendentes da alma perduravam através dos Iniciados que as desenvolviam  e disciplinavam  em segredo, sob o véu do mistério que as resguardava das profanações exteriores. Essa era a razão das cerimônias de Iniciações. Os profetas não passavam pelas Iniciações porque eram considerados enviados divinos. No agrupamento dos Iniciados perdurava a inspiração divina. Em vez de se esparramarem por todo o universo e desaparecerem no infinito as faculdades transcendentes eram condensadas em um único ponto denominado Verbo Solar. Ao glorificarem o

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sol os Iniciados não adoravam especificamente o sol físico mas somente o espírito animador nele. O Verbo Solar era a manifestação sentimental que os adeptos exercitavam para relacionarem-se com a natureza, toda ela divina e organizada. Desde a origem da vida cósmica conhecida o pensamento divino que harmonizava o sistema planetário condensava-se e manifestava-se por meio de organismo soberano que era, simultaneamente, seu Verbo e sua Chama. Esse espírito - superior gênio (caráter) solar - era inspirador e flor sublime da existência ordenada e harmônica da natureza cósmica. O gênio sublime - o Verbo Solar - não se revelava subitamente aos Iniciados. Só podia aproximar-se dos homens por etapas sucessivas. Para os Iniciados antigos a alma humana estava ligada à alma do mundo e essa ligada ao pensamento universal, a instância mais elevada, desconhecido do homem. A inteligência divina estava presente na alma do mundo pela luz cósmica. Essa luz espiritual era elaborada pelos Iniciados como código de orientação para alcançar a transcendência. Esse código invisível de valores emocionais foi, mais tarde, compreendido pelos gregos com dois caráteres; Logos e Eros. Logos é o código invisível da divina personalidade ou gênio masculino e Eros, da divina personalidade ou gênio feminino. O Logos é o mundo que sai da condição de possibilidade do existir para a condição de manifestação do existir na estrutura e no significado. A manifestação do existir dá-se na racionalização da estrutura e do significado do zodíaco.A organização política das cidades gregas que permitia aos cidadãos a discussão, a argumentação e a deliberação permanentes nas assembléias públicas, favoreceu o pensamento racional emancipado da crença divina herdado dos egípcios. Essa tradição republicana propiciou a busca da sabedoria de salvação dos medos da finitude pessoal, através da razão no pensamento livre. Assim é que já existiam em Atenas, desde o século IV antes da nossa era, numerosas escolas filosóficas. As escolas trabalharam a teoria filosófica, significando eu vejo as coisas divinas pela contemplação do que é divino no real que nos cerca. Ver o essencial do mundo. E nessa tradição, a essência mais íntima do mundo foi a harmonia, a ordem justa e bela, que os gregos estóicos designaram com o nome de cosmos.O Verbo Solar evoluiu para o Logos. Fortaleceu-se o entendimento de que a estrutura do universo não era apenas divina, perfeira, mas também racional. Os gregos escolheram o termo Logos para designar a parte masculina dessa ordenação admirável das coisas e que a razão humana pode trazer à Luz. Assim nasceu a teoria filosófica. A história mostra, a seguir, a ruptura do cristianismo com o mundo grego. O Logos que, para os estóicos confundiu-se com a estrutura impessoal, harmoniosa e divina do cosmos todo, para os cristãos se identifica com a figura do Cristo. Os cristãos afirmam que o Logos é encarnado num Ser excepcional, o Cristo.A maçonaria cultural alquimista assimilou e adotou a idéia do Logos grego - que denominou Palavra Sagrada - inspirada na cultura egípcia do Verbo Solar.

10/07/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

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        [28]        LOGOS - II 

                         A interpretação alquímica explica que o cáos é o combate feroz dos elementos opostos. A conjunção do elemento masculino Sol com o feminino Lua Nova, através da união mística, produz o surgimento do Uno e do Unificado. O Unificado significa o homem-luz, o qual, segundo o simbolismo gnóstico, é idêntico ao Logos que existia antes da Criação. Trata-se de uma idéia de cosmos. O Logos é o "Kýon" - o princípio que gera.Os ritos maçônicos idealizados dentro da alquimia ocidental que cultua o rito solar da transmigração espiritual - diferente do rito solar com inspiração astrológica - incluem no conjunto de símbolos as casas zodiacais. A casa ou signo zodiacal designa a "domus propria", a matrix das substâncias da natureza. O zodíaco com doze casas dos alquimistas gregos, elaborado a partir do zodíaco com sete casas e sete planetas dos antigos egípcios, constrói sua história de salvação existencial do homem, de baixo para cima, ou seja, das trevas da Terra para o Ser alado divino e para a luz celeste. A figura do Salvador na alquimia é a alma da natureza, que provém da Sabedoria de Deus, infundida na matéria, ou do Logos criador do mundo. A psicologia do inconsciente contemporânea faz analogia com entendimentos alquimistas precursores e deduz correspondência da casa zodiacal com a alma individual no inconsciente do ser humano.O rito maçônico alquimista começa na figura do Venerável Mestre - o homem-luz - produzido pela conjunção mística  do Sol com a Lua Nova e portador do Logos-Sabedoria. O homem-luz (Venerável Mestre) cria a Palavra Sagrada para depois criar a Loja. A Palavra Sagrada circula com o Logos-Força na direção do Primeiro Vigilante para despertar a força mental dos adeptos presentes e com o Logos-Beleza na direção do Segundo Vigilante para animar a beleza mental dos adeptos presentes. Os três atributos são indispensáveis para organizar o conhecimento dos adeptos em uma dimensão mental expandida. A recepção gradativa do Logos pelos Vigilantes, que são desdobramentos racionais do Venerável Mestre, está em acordo com o que foi salientado na edição de Arca da Informação nº 27 - Logos I, a respeito da impossibilidade do homem assimilar o Logos de modo súbito. O Vigil, aquele que cumunica, reproduz o som-luz enviado pelo Venerável Mestre que cria a Palavra Sagrada com o espírito animador do Logos, idéia dos alquimistas gregos inspirada no antigo Verbo Solar dos alquimistas egípcios.Concluída a circulação da Palavra Sagrada nas casas zodiacais, simbolizando a associação alquímica da Sabedoria, da Força e da Beleza do Logos com a matriz espiritual humana inconsciente, irracional, o cáos dos elementos constituintes da alma organiza-se racionalmente através do conhecimento. Tudo fica "justo e perfeito".O Logos cria e organiza a Loja e lhe dá capacidade de manifestação. A Loja de rito maçônico alquimista é a união dos adeptos "animados" pelos atributos do Logos Solar para realizarem o exercício de aperfeiçoamento da pedra

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bruta (o conteúdo espiritual do homem sem ou pouca luz), na sua caminhada em busca da assimilação de mais Logos. Logos e Eros são os valores intuitivo-intelectuais correspondentes às concepções arquetípicas de Sol e Lua. Logos e Eros designam de modo mais inteligível do que os conceitos indefinidos do Princípio Criador de Sol e Lua, certa particularidade psíquica. O Rito Escocês Antigo e Aceito é exemplo de ritualística maçônica atual que tem as casas zodiacais simbolizadas no ambiente da experiência Iniciática e circulação do Logos Solar para simbolizarem a transmigração das almas.  

15/07/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

 

           [29]      MEMORIZAÇÃO 

                        A memorização é um recurso intelectual que se desenvolveu acentuadamente no Antigo Egito. Os avanços científicos e culturais dos povos egípcios ainda surpreendem aos pesquisadores. Diversas descobertas atribuídas a europeus pós-Renascimento fizeram parte do quotidiano daqueles que viveram às margens do Nilo muitos séculos antes de Cristo. Uma das revelações mais impressionantes ao estudar a herança do Antigo Egito é seu desenvolvimento em

medicina e farmacologia.

Embora estivessem errados em algumas de suas conclusões – acreditavam que o coração comandava nossos pensamentos – os povos do Antigo Egito descobriram a partir da mumificação várias coisas que podiam ser aplicadas nos vivos. Um dos exemplos disso é o conhecimento sobre o sistema circulatório conforme descrevem papiros datados de 1550, antes da era cristã. Para os egípcios, partiam do coração vasos sanguíneos que o ligavam diretamente a cada um dos membros ou órgãos com funções vitais. Na cabeça um dos vasos terminava no ouvido esquerdo. Acreditando que o coração era centro de tudo e que ele estava ligeiramente deslocado para o lado esquerdo do peito, os magos passaram a fazer as comunicações sagradas através desse ouvido. Os nomes eram pronunciados de forma pausada para favorecer a memorização e produzir os efeitos pretendidos pelos sacerdotes, ou seja, a percepção e a compreensão dos adeptos sobre a estrutura harmônica e hierárquica do universo cósmico. Para isso, a memorização era fundamental. Dela dependiam a sobrevivência do povo e a evolução progressista do império.O Livro Egípcio dos Mortos foi um raro conjunto de papiros escritos para garantir os ensinamentos sobre substâncias da natureza material e das emanações celestiais, sobre as técnicas de extração de órgãos para a mumificação e sobre cirurgias médicas.

Os hieróglifos – signos do sistema ideogramático dos antigos egípcios, desenhados em pedras e madeira nos monumentos – constituíram a escrita simplificada utilizada pelos escribas. Não foram meio de leitura habitual da comunidade. Os hieróglifos determinativos, mais complexos, que não eram lidos, foram empregados nas inscrições sagradas.

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Os assuntos referentes à ciência sagrada eram desconhecidos do povo e, por isso, ensinados em etapas vagarosamente reveladas. Esse sistema de comunicação do conhecimento sagrado foi copiado pelos integrantes da Royal Society que fundaram a Grande Loja de Londres, em 1717. Condicionaram a transmissão dos segredos específicos dos graus de Aprendiz e Companheiro – os existentes na época – a uma modalidade de procedimento caracterizada pela pronúncia soletrada das letras no ouvido esquerdo – e apenas no esquerdo – seguida da pronúncia silabada. Para simbolizar a evolução do conhecimento adquirido nos trabalhos maçônicos, a pronúncia no grau de Companheiro foi apenas silabada no ouvido esquerdo. A solicitação da primeira letra ao Mestre para que o Neófito forneça a segunda deve-se à intenção de construir em etapas e em conjunto a obra de organização intelectual do Neófito. Esse, pelo procedimento, sabe a segunda letra, mas não sabe a terceira, fato que surpreende se interpretarmos que o conhecimento da segunda letra pressupõe conhecer também a terceira, pois conhece a quarta letra. A quarta letra é o símbolo do conhecimento adquirido depois de saber a terceira fornecida pelo Mestre. O procedimento caracteriza o modo como os intelectuais e cientistas ingleses do século XVIII entendiam o conhecimento empírico.

Outro recurso adotado no desenvolvimento dos rituais maçônicos no século XVIII foi a memorização dos procedimentos, recordando a Arte da Memória, técnica específica que se especializou na Grécia Antiga com advogados e tribunos do Parlamento, além de oradores públicos que discursavam defendendo a aprovação de leis desejadas pelo povo. Maçons ingleses, irlandeses e escoceses decoraram o manual ritualístico que indicava as falas e as cenas do cerimonial iniciático.

A prática, usada no teatro, foi levada para o interior das Lojas maçônicas e considerada com muita seriedade pelos Oficiais. Até hoje, como consequência disso, um dos aspectos principais de um ritual de Loja inglesa e norte americana é a habilidade de aprender e decorar grandes preleções como acontece na descrição do simbolismo nas Tábuas de Delinear.

O primeiro ritual dos graus azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito, produzido em dezembro de 1804, em Paris, também considera a memorização dos procedimentos uma necessidade. A Palavra Sagrada comunicada nas Iniciações e na abertura dos trabalhos é transmitida no ouvido esquerdo e o desenvolvimento do cerimonial praticado de memória. A prova está na existência do cargo de Grande Experto, o único Oficial que detém o manual ritualístico, usado apenas como socorro na eventualidade de esquecimento de alguma sequência litúrgica ou verbal.  

25/07/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

 

    [30]              NOME SIMBÓLICO                    

                                  É um nome alternativo escolhido pelo maçom quando de sua consagração na Ordem ou de sua Iniciação no grau de Mestre e pelo qual

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é maçonicamente designado. O uso foi adotado por Obediências Maçônicas em diversos países, tanto nos graus azuis (simbólicos) como nos demais. O nome simbólico, na maioria, refere-se a personagens alegóricos ou históricos e tem conteúdo Iniciático na maçonaria Adonhiramita. Durante a época das perseguições, quando a maçonaria precisou tomar inúmeras precauções para defender seus membros da observação inquisitória dos opositores, os maçons adotaram nome fictício durante os trabalhos para não serem facilmente identificados. Lembremos que os graus azuis praticados na maioria dos países europeus politicamente influentes, seguiam a ritualística norte americana assimilada da Grande Loja de Londres dos “antigos”. E nos diálogos entre Oficiais era feita a citação do nome próprio do Irmão, como até hoje. Nos países em que os maçons eram visados como autores de delito pelo fato simples de ser maçom, o nome próprio era trocado por um “nome de guerra” para dificultar a identificação. Isso foi especialmente usado na Espanha e também em Portugal, onde as ditaduras proibiram reuniões políticas e funcionamento de sociedades secretas. A democratização dos regimes políticos fechados diminuiu a adoção dos “nomes de guerra” pelos maçons europeus.

No Brasil, o nome simbólico chegou através da maçonaria Adonhiramita. Ganhou também a designação de nome histórico pela tendência das escolhas pessoais recaírem em vultos importantes da história mundial. Exemplos expressivos: o Príncipe Regente D. Pedro, quando Iniciado, adotou o nome heróico de Guatimozin e Joaquim Gonçalves Ledo o de Diderot. Outros ritos, como o Rito Escocês Antigo e Aceito, copiaram o uso. Até a segunda metade do século 20, as Obediências brasileiras valorizaram o nome simbólico. Até mesmo as Grandes Lojas, que não praticam o Rito Adonhiramita, propuseram a escolha de nome simbólico para os Iniciados no seu Rito Escocês de 1928. Atas de reuniões nos anos 1900, no grau de Mestre, de Lojas das Grandes Lojas mostram os relatos dos trabalhos com a participação dos presentes identificados apenas pelo nome simbólico.

O nome simbólico Iniciático não deve ser confundido com “nome de guerra” usado nas épocas de perseguição aos maçons pelos governos intolerantes. O nome simbólico Iniciático integrado aos usos da maçonaria Adonhiramita está vinculado à cultura hebraica e sua tradição simbólica. Pode-se atribuir ao poema babilônico Enuma Elich a referência no assunto. No poema, lê-se: “Quando no alto, o céu não era denominado e embaixo, a terra não tinha nome...”. Significa que o que é denominado adquire existência. O que não tem nome não existe. Foi com dez Palavras que Deus criou o mundo. No Salmo XXXIII:9, estão: “Faça-se a luz”. “Pois ele falou e tudo se fez”. Em Judite XVI:14 - “Pois tu o disseste e as coisas se fizeram”.

A lógica aristotélica apresenta-se como a articulação interna do Logos, destinada a facilitar a descoberta da estrutura da realidade. Enquanto filosofia primeira, a metafísica opõe-se à coisa em si, ao objeto inteligível. Outro entendimento de Logos está no Logos dos cabalistas. Ele deixa de ser o dizer

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carregado de significado e torna-se o davar, isto é, a Palavra além do lugar das idéias ou da lei moral. O davar como intermediário entre a absoluta transcendência de Deus e a finitude do homem. Segundo os fundamentos do conhecimento semítico o davar é o fazer. A palavra davar pode ser empregada indistintamente para palavra ou coisa, para assunto ou ordem. Por isso, diz-se que a coisa só tem realidade se tiver um nome. E o homem, dentro dessa percepção, não é apenas designado por seu nome próprio; ele é esse nome. Abrão sabia que não teria filhos quando Deus disse: “Teu nome não será mais pronunciado de hoje em diante, Abrão. Teu nome será Abraão, pois serás pai de uma infinidade de nações”. Sarai soube que não teria filhos quando Deus disse a Abraão: “Sarai, tua esposa, não a chamarás mais Sarai, mas Sara será seu nome. Abençoá-la-ei e dar-te-ei também por ela, um filho” (Gênese XVII). A mudança do nome implica na mudança no destino. Em consequência, o conhecimento do nome do homem é o conhecimento do próprio homem.

A maçonaria Adonhiramita considera que a condição de Iniciado do homem muda o seu destino, comprometendo-o com a Ciência do Ser; o conhecimento de Deus e de si mesmo, numa relação mútua. O nome simbólico é um landmark da mudança do homem comum para homem Iniciado. 

02/08/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

 

          [31]      ORIENTE                                                O termo Oriente, que em maçonaria contemporânea sugere tratar-se de localização geográfica, originalmente designa substrato de uma idéia. O Oriente não era um quadrado elevado alguns degraus do restante do piso do templo maçônico. Historicamente é um ser onipresente na dimensão espaço-tempo, que se manifesta como um ser humano gigantesco e simbólico que envolve e contém o cosmos inteiro. Corresponde ao núcleo mais profundo da mente humana e aparece na forma simbólica personificada em um Iniciador masculino, um guru, um velho sábio ou um espírito da natureza. Na maçonaria azul (simbólica) que segue o rito solar dos espíritos do Sol e da Lua, o Homem Cósmico (o Iniciador Masculino, o Guru,  etc...) é Horus, personificado no Venerável Mestre. A Loja cósmica, organizada através da circulação da palavra sagrada na abertura dos trabalhos - o Logus, trabalha sob a Inteligência soberana e a Sabedoria racional do Oriente (o Venerável Mestre), que dispara o raio flamejante (símbolo na espada) para iluminar o cáos espiritual dos maçons.  Transforma os homens pouco "iluminados" em Iniciados na Vontade e no Amor do Ser Superior.Nos ritos maçônicos em que não circula a palavra sagrada na abertura da Loja e o rito solar é astrológico, o acendimento das luzes litúrgicas substitui aquele simbolismo e faz seu primeiro ato de acendimento na posição

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do Venerável Mestre como personificação do Oriente-Sabedoria racional. Nesses ritos o Venerável Mestre simboliza um rei e ou sábio que orienta e coordena os trabalhos de aperfeiçoamento na ética e no amor fraternal.O acréscimo da cultura hebraica, em 1717, ao simbolismo mais antigo da maçonaria cristã contribuiu para a analogia que se faz entre o trono do mundo e o trono do rei Salomão no Oriente maçônico. Na ritualística cristã da maçonaria européia, anterior a 1717, a cadeira do Venerável Mestre correspondia à cadeira pontifícia. As modificações nos procedimentos ritualísticos a partir da primeira Grande Loja de Londres e depois da segunda Grande Loja de Londres, em 1751, conservaram inalterado, contudo, o simbolismo do Oriente na personificação do Venerável Mestre.Na nossa civilização ocidental, idéias semelhantes às do Homem Cósmico foram associadas ao símbolo de Adão, o Primeiro Homem. Segundo a lenda judaica, Deus, ao criar Adão, colheu dos quatro cantos do mundo pó vermelho, preto, branco e amarelo. Assim, considerava-se que Adão se extendia de uma ponta à outra da Terra. Na antiga Pérsia o mesmo Primeiro Homem - designado Gayomart - era descrito como uma figura imensa que irradiava luz. Na tradição hindu o Homem Cósmico é algo que vive dentro do ser humano, sendo sua única parte imortal. Nos mitos simbólicos da velha Índia essa figura é conhecida como Purusha. Purusha vive no coração de cada indivíduo e ocupa, ao mesmo tempo, todo o cosmos.De acordo com vários mitos o Homem Cósmico não significa apenas o começo da vida, mas também o seu alvo final, a razão de ser de toda a Criação.Na civilização ocidental o Homem Cósmico tem sido identificado com Cristo e na Oriental, com Krishna ou Buda. No Velho Testamento essa mesma figura simbólica aparece como o "Filho do Homem" e no misticismo judeu surge, mais tarde, como Adão Kadmon. Movimentos do fim da Antiguidade adotaram o termo "Antrhopos" (a palavra grega que significa homem) para referir o Homem Cósmico.Os inúmeros exemplos oriundos de civilizações e épocas as mais diversas mostram a universalidade do símbolo do Grande Homem Cósmico.As Lojas maçônicas realizaram até fins do século XVIII seus trabalhos Iniciáticos em ambientes onde o piso era plano com destaque apenas para o sólio do Venerável Mestre, representando o Oriente, sobre degraus. O Oriente era, portanto, apenas o trono sobre degraus. Essa imagem de Oriente na maçonaria sofreu grande transformação em 1818, em Paris, quando o Grande Oriente de França aumentou a extensão da área dos degraus, até então, restrita ao trono. O conjunto piso com degraus foi aumentado até ocupar toda a geografia do terço mais ao fundo do retângulo da área do templo maçônico. Esse plano elevado foi denominado Oriente. A idéia de um Venerável Mestre como sinônimo de Oriente foi corrompida. O principal motivo para a alteração foi a intenção de destacar a presença dos maçons detentores do grau Rosa-Cruz. O Grande Oriente detinha a jurisdição até o grau Rosa-Cruz nos ritos Francês e Escocês Antigo e Aceito. No modelo de Loja capitular os

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maçons Iniciados no grau Rosa-Cruz tinham o poder preferencial de presidirem os trabalhos nas Lojas em graus inferiores. E, a partir dessa mudança na concepção de Oriente, ganharam o direito de situarem-se em local diferenciado no templo, o que caracterizou uma superioridade litúrgica. Depois do desaparecimento das Lojas capitulares devido à redistribuição da abrangência dos poderes institucionais das Obediências, o piso elevado do Oriente foi reservado para os Mestres Instalados, nos dois primeiros graus simbólicos da maçonaria brasileira.

15/08/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

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[32]________________A PEDRA   (Lápis)______________[32]

O simbolismo da pedra foi trazido pelos alquimistas para dentro de uma

maçonaria cristã, a maçonaria que existiu em todo o período anterior ao

surgimento da primeira Grande Loja de Londres e que perdurou vários anos

posteriores, até que todas as antigas Lojas estivessem subordinadas a uma

das duas Grandes Lojas londrinas, no século 18. A pedra continha os quatro

elementos e ela era a própria composição do mundo. Havia igualdade entre

os quatro elementos que se combatiam, mas que na natureza se

comunicavam. Para os antigos alquimistas a pedra (lapis) era a mais durável

de todas as Criações e eles fizeram referências ou representações da

totalidade do ser através dos muitos sinônimos da pedra filosofal (lapis

philosophorum), colocada em paralelo com Cristo, e muitas vezes

considerada a “prima materia” ou o meio de produzir o “ouro filosofico“. O

lapis (pedra) era um ente mítico de proporções cósmicas, sinônimo de “ouro

filosofico“, o todo do homem, o si-mesmo que ultrapassa a compreensão

humana. Os filósofos mais antigos viram que essa pedra, em seu nascimento

e em sua sublimação podia servir de comparação com todas as coisas do

mundo, tanto reais como as intelectuais. A pedra (lapis) designou para os

alquimistas, tanto a matéria inicial – a prima materia - como o produto final do

“opus” – o lapis estrito senso. Amiúde a pedra era comparada a Cristo como

“lapidi angulari” (pedra angular). Como Cristo é chamado na Sagrada

Escritura de pedra angular rejeitada pelos construtores, o mesmo aconteceu

com a pedra dos sábios. A analogia “pedra“-Cristo aflorou relativamente cedo

entre os autores latinos, uma vez que o simbolismo alquímico é impregnado

de alegorias eclesiásticas. As alegorias dos Padres da Igreja enriqueceram a

linguagem alquímica, mas as idéias básicas sobre a relação “pedra“-Cristo

são originárias de fontes pagãs, sobretudo gnósticas. As raízes do

gnosticismo não estão no cristianismo.

Fontes antigas são testemunhos da relação “pedra“-Cristo. O texto de Petrus Bônus de Ferrara, datado de 1330 – revela: “A Arte sagrada é em parte natural e em parte divina. Concluída a sublimação dá-se a germinação de uma alma de um branco resplandecente através da mediação do espírito com o qual ela própria voa para o céu”. O processo de germinação de uma pedra, apesar de miraculoso, pertencia à esfera do natural. A fixação e a permanência da alma e do espírito ao final da sublimação ocorriam com a participação da pedra secreta filosofal, impossível de ser apreendida pelos

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sentidos, mas pela inspiração ou revelação divinas, ou através dos ensinamentos de um sábio.Alexander Polyhistor escreveu: “Esta pedra secreta é uma dádiva de Deus. É a pedra sem a qual a alquimia não poderia existir. Ela é o coração do “ouro“.A alquimia estava acima da natureza. Era divina. O intelecto não conseguia compreendê-la, mas precisava acreditar nela como acreditava nos milagres de Deus e nos fundamentos da confissão cristã. Os antigos filósofos, através do conhecimento de sua Arte, sabiam da iminência do fim do mundo e da ressurreição dos mortos, quando a alma era de novo ligada ao seu corpo originário para a eternidade. O corpo era glorificado. Tornava-se incorruptível e sutil, podendo penetrar tudo que é sólido. Sua natureza era tanto espiritual como corpórea. Quando a pedra se decompunha, tornando-se pó como um ser humano na sepultura, Deus devolvia a alma e o espírito, retirando-lhe toda a imperfeição. É possível deduzir a relação entre o mistério de Cristo e o da pedra (lapis). A obra (opus) filosofica representava um paralelo, uma imitação, talvez uma continuação da obra de redenção divina.Na alquimia em extinção do século XVII, o paralelo “lapis“-Cristo continuou vivo sob a forma de simbolismo cultural nas sociedades secretas que floresceram nessa época, sobretudo os Rosa-cruzes. Na maçonaria azul do século XVII, então com dois graus, os Rosa-cruzes criaram segmento cultural acima desses para continuar a divulgação da Arte sagrada, apoiada principalmente na idéia de sublimação. A pedra filosofal - o lapis philosophorum – era símbolo fundamental do processo de transformação prodigiosa do ser humano. Nos graus azuis constaram as pedras inferiores; a bruta, constituída essencialmente pelos elementos inferiores, somáticos, e a polida, de elementos superiores, psíquicos. Os maçons – pedras (lapis) – transformados pela visão dos olhos e pela compreensão do coração. Apoiados na Fé, na Esperança e na Caridade, o Mestre Maçom da Virtude e do Silêncio torna-se a pedra filosofal (lapis filosofico) – o Mui Poderoso e Perfeito Mestre Rosa-Cruz.

31/08/2009 - GLMERGS – SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

           [33]     QUERUBIM 

                         A palavra deriva do hebreu cherubim. Alguns autores consideram oriunda do termo caldeu Charab que é traduzido como entalhador ou gravura. Outro significado, apoiando-se em Ezequiel, 28:14, é poderoso, que emprega esse atributo referindo-se ao rei de Tiro. Também se lhe dá o significado de criança ou nuvem. Representações conciliatórias mostram o querubim como a figura de um poderoso menino sentado sobre uma nuvem. Na teologia bíblica os querubins ocupam lugar superior aos anjos, distinguindo-se desses na missão de admirar a Deus e realizar a glória e a majestade do seu trono. Os querubins figuram na lenda do Paraíso com uma espada em brasa guardando a Árvore da Vida depois da expulsão de Adão e Eva. Segundo as instruções de Moisés, figuram também na Arca da Aliança e

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no Tabernáculo, sendo dois deles lavrados em ouro com as asas estendidas para cobrir o propiciatório como guardiães do pacto de Israel. Davi alude aos querubins em seus Cânticos. Salomâo mandou construir dois colossais, alados, de madeira de oliveira e cobertos de ouro para serem colocados no interior do oráculo. Também se conhecem querubins em forma de leão, águia e outros animais segundo as visões de Ezequiel e João. A descrição original e completa dos querubins não foi encontrada ainda. Admite-se como mais provável que a referência na Bíblia tenha sido obtida dos deuses egípcios que os hebreus conheceram durante os longos anos que permaneceram no Egito.Denominam-se querubins os membros constituintes do Conselho dos Cavaleiros do Sol, ou Príncipes Adeptos, grau 28º do Rito Escocês Antigo e Aceito. Segundo o ritual seu número não pode exceder de sete porque sete eram os planetas conhecidos dos antigos egípcios e os querubins são os anjos encarregados de governar esses planetas. São eles:- Michael (pauper Dei) que governa Saturno.- Gabriel (vir Dei) que governa Júpiter.- Uriel (ignis Dei) que governa Marte.- Z'raphiel (oriens Dei) que governa o Sol.- Namaliel (indulgentia Dei) que governa Vênus.- Raphael (medicina Dei) que governa Mercúrio.- Tsaphiel (mirans Dei) que governa a Lua.

A simbolização da ciência sagrada dos antigos egípcios em concomitância com a tradição da Árvore da Vida no

conteúdo do grau 28 do REAA tem motivado, desde o início das atividades do Rito nos anos 1800, inúmeras contestações dos Irmãos cabalistas às autoridades litúrgicas do Supremo Conselho. Séculos de uso pelos Iniciados construíram muitos sistemas de simbolismo em torno da Árvore Cabalista e suas sephiroth. Quando, porém, a Árvore e seu sistema foram registrados por escrito pela primeira vez, eles continham pouco mais que um diagrama e certas atribuições básicas. O sistema hebraico é rigidamente monoteísta; o panteão de deuses é substituído por dez arcanjos e dez coros de anjos.A doutrina dos quatro mundos no cabalismo clássico considera as condições de ser desde a Idéia até o resultado final. A força da divindade atuando na Idéia, a força dos arcanjos no plano Criativo detalhado, a força dos coros angélicos no mundo formativo da realização e a força material na obtenção do resultado. Os arcanjos são considerados seres que se aperfeiçoaram numa fase mais antiga da evolução. Os anjos são seres inteligentes das forças das esferas às quais estão associados. Cada tipo angélico tem uma atribuição específica. Os arcanjos, os anjos, os serafins, os querubins, são personificados na cabala oral e prática. A Árvore cabalística é um diagrama que representa toda a Idéia da Criação contida na mente inconsciente de Deus. No plano da matéria física a Criação é sintetizada na forma de oito planetas, compreendidos como temperamento astrológico, e duas condições cósmicas. Alguns dos atributos associados às sephiroth derivam da caracterização astrológica dos planetas. A caracterização auxilia a

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compreensão do significado das sephiroth na evolução pessoal. Cada sephirah é presidida por um dos dez nomes santos de Deus.Para os antigos egípcios o mundo é Deus e a natureza do mundo é englobada pela natureza divina. A ciência sagrada dos antigos egípcios e seus discípulos gregos refere-se ao todo do universo como um ser que se constituiu organizado e animado por processo evolutivo da alma universal. A ordem cósmica é uma organização magnífica e análoga à de um ser vivo que funciona de maneira impecável.Para os judeus o divino é um Ser diferenciado do universo que existe antes dele e que o criou. O Iniciado judeu, o místico cabalista, quer aprimorar a sua mente, o seu corpo e a sua alma para buscar a "união com o Absoluto". Tem percepção da separação entre seu mundo pessoal e o mundo de Deus. À medida que seus sentidos se aprimoram fica mais próximo do mundo etéreo dos seres angélicos até atingir o nível não manifesto de consciência chamado deverkuth, unindo-se a Deus, o mais alto estado que pode ser atingido pela consciência humana.Na cosmogonia divina dos antigos egípcios os seres fazem parte do absoluto cósmico. Os Iniciados empregam o conhecimento pessoal para obterem, nas sucessivas encarnações, a trajetória ascendente na hierarquia angélica dos sete planetas e se aproximarem da morada do espírito de Osíris.No grau 28 do REAA a lenda remonta ao Jardim do Édem, o paraíso terrestre citado no livro de Gêneses. Mas estão presentes duas visões de mundo no simbolismo do grau; o mundo dos antigos egípcios e gregos, acabado, ordenado e harmonioso, com cada um dos sete planetas personalizados no querubim de afinidade. E o mundo caótico, indefinido e infinito visto pelos judeus. O mundo de Elohim, o Deus dos deuses, cujo pensamento floresce em milhões de estrelas, esferas móveis de flutuantes universos. "No princípio, Deus criou os céus e a Terra." Primeiramente nasceu dele, Aur, a Luz. Luz inteligente nascida do estremecimento da Ísis Celeste no seio do Infinito; alma universal, luz astral, anterior e posterior a todos os sóis. 

25/09/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexões!

             [34]       ROMÃS 

                         Maçã romana é o nome original da fruta conhecida em nosso meio pela denominação de romã e citada em rituais maçônicos. A maçã romana é o fruto que o imaginário masculino escolheu para representar princesas que simbolizam a fonte da fertilidade e do amor.No final do século XV artistas franceses produziram trabalhos em tecido com desenhos simbolizando eventos ou situações da época. A romã está presente no livro "The Lost Language of Simbolism" (A Linguagem Perdida do Simbolismo), de Harold Bayley, publicado em 1912. É um trabalho em dois volumes que utiliza a linguística e a mitologia para explicar símbolos e

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emblemas descobertos em marcas d´água dos antigos fabricantes de papel de Provença. São mais de 1.400 desenhos, descobertos em bíblias dos séculos XIII e XVIII. As mais antigas datam de 1282. Os hereges do sul da França também inseriam marcas simbólicas no papel que utilizavam para imprimir a literatura popular. Uma engenhosa maneira que os fabricantes de papel encontraram de esconder suas crenças em símbolos para se protegerem da Inquisição.Há numerosas marcas d´água que retratam um leão. Em uma delas o leão tem uma romã na ponta final da cauda. O leão representa a transformação pelo fogo, na alquimia. Com suas sementes vermelhas em grande quantidade, a romã era símbolo da fertilidade feminina nas religiões antigas.No Cântico dos Cânticos, o jardim do Noivo e da Noiva é descrito como um pomar de romãs.No templo edificado por Salomão as romãs foram incluídas, conforme se constata em I Reis, Antigo Testamento:- "Tendo, pois, vindo Hirão para o rei Salomão, fez todas as suas obras. Fundiu duas colunas de bronze: cada uma delas de dezoito côvados de altura: e a ambas as colunas dava voltas uma linha de doze côvados. Fez também dois capitéis de bronze fundido para os pôr sobre o alto das colunas: um capitel tinha cinco côvados de altura e outro capitel era também da altura de cinco côvados. E via-se como uma espécie de rede e de cadeias entrelaçadas umas nas outras com admirável artifício. Ambos os capitéis das colunas eram fundidos: havia sete ordens de malhas num capitel e outras sete no outro capitel. E rematou as colunas com duas ordens de romãs ao redor de cada uma das malhas para cobrir os capiéis que estavam no alto e o mesmo fez no segundo capitel... . E além disto no alto das colunas sobre as malhas, outros capitéis proporcionados à medida da coluna: na circunferência, porém, do segundo capitel havia duzentas romãs postas em duas ordens. E pôs estas duas colunas no pórtico do templo... ." Esta descrição das colunas do pórtico do templo de Jerusalém foi incorporada na simbologia maçônica.O ritual de Emulação, traduzido em 1920 por A.J.T. Sadler, reproduz a ornamentação das colunas conforme está na Versão dos Setenta, protestante, que inclui os lírios. John Harris produziu desenhos de Tábuas de Traçar para os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre da ritualística inglesa, gravuras que foram incluídas no rito escrito no Brasil, em 1928, incluindo procedimentos de vários ritos, para uso das Grandes Lojas brasileiras em nome do Rito Escocês Antigo e Aceito. As romãs estão no painel que retrata os símbolos estudados no grau de Companheiro do ritual de Emulação, o mesmo encontrado no ritual das Grandes Lojas.As edições do guia do Rito Escocês Antigo e Aceito, tanto a francesa de 1804 como as edições brasileiras do condomínio entre Grande Oriente do Brasil e Supremo Conselho do Grau 33, dirigido por Mário Behring, mostram na - Decoração e Utensílios da Loja, grau de Aprendiz: "De cada lado da porta no oeste por onde entram os Obreiros, há uma coluna em bronze, cujo capitel é da Ordem Coríntia. Cada uma dessas colunas possui três romãs entreabertas."

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No ritual de Emulação as romãs estão "enriquecendo os capitéis das colunas pela exuberância dos seus bagos, que denotam abundância." Representam a abundância e a prosperidade da família maçônica.No guia do REAA de 1804 as três romãs simbolizam a transformação do adepto pela vivência da morte nas trevas profanas, renascendo no templo ao transpor as colunas.A romã é encontrada em trabalhos atribuídos a Sandro Filipepi, conhecido em todo o mundo como Botticelli, após o ano de 1483. Na obra - Madona do Magnificat - a Madona da romã e suas variantes, o Menino Jesus está segurando uma romã parcialmente aberta. Intérpretes posteriores concluíram que Botticelli pintou a romã no colo do Menino Jesus em várias obras porque acreditou na fertilidade física de Jesus.

 

Artist Sandro Botticelli

Year 1481

Type Tempera

Dimensions 118 cm × 118 cm (46 in × 46 in)

Location Uffizi, Florence22/10/2009 - GLMERGS - Semear

Maçonaria é arte de fazer reflexões! __._,_.___ 

           [35]     STERKIN                                   Este é o primeiro nome dos três Companheiros que atentaram contra a vida do arquiteto Hiram Abif, na lenda do ritual original francês de 1804 dos graus azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito. Os outros

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dois são Oterfurt e Abiram. Esses nomes derivam de Hobban, Sterke e Austerfluth do regime retificado escocês nascido na Alemanha para eliminar a influência do sistema cavaleiresco templário de Ramsay. Hobban, Sterke e Austerfluth são os três maus Companheiros do Sol.O ritual dos graus azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1804 foi elaborado pelos denominados Mestres Escoceses de Paris, maçons que gozaram privilégios nas Lojas francesas desde 1755, quando foram reconhecidos pela Grande Loja de França. Os Mestres Escoceses foram praticantes do Rito Escocês Filosófico da Loja Mãe Escocesa de França. Fundaram e constituíram a Grande Loja Geral Escocesa, em 1804, para jurisdicionar as Lojas azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito, ano em que o Supremo Conselho foi fundado na França. Na maçonaria Adonhiramita, Sterkin é um dos nove Mestres que Salomão escolheu para procurarem o cadáver de Hiram. Rituais franceses antigos do Rito Adonhiramita mostram Sterkin como a palavra de passe do grau 5º - Pequeno Eleito ou Eleito dos Nove. Rituais do Grande Oriente do Brasil editados em 1924 e 1926 conservam nikrets como a palavra de passe do grau 5º, também conhecido por Primeiro Eleito.

11/11/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de reflexão!

                 [36]    TRAPEIRA 

                         Abertura ou janela no telhado por onde penetra o ar e a luz. Na explanação da Tábua de Delinear do terceiro grau das Cerimônias Exatas do Ofício Maçônico - ritual praticado pelas Lojas filiadas à Grande Loja Unida da Inglaterra, consta: "Os ornamentos de uma Loja de Mestre Maçom são o Pórtico, a Trapeira e o Pavimento Quadrangular. O Pórtico era a entrada para o Sactum Santorum; a Trapeira, a janela que dava luz para o mesmo; e o Pavimento Quadrangular, para nele andar o Sumo Sacerdote.Rituais ingleses misturam descrições bíblicas com símbolos herméticos, forjando dessa forma, um conjunto exclusivo de procedimentos para a maçonaria azul, a partir da primeira Loja de Emulação. As histórias mais inusitadas criadas pelas Lojas de Emulação para ilustrar sua maçonaria estão na associação da idéia da essência de rito solar com o templo de Jerusalém. A Bíblia descreve o Sactum Santorum um recinto sem aberturas para o exterior. Os maçons ingleses inventaram a trapeira no Sactum Santorum.A Trapeira é uma janela que os alquimistas ingleses elegeram como ornamento da Loja dos Mestres Maçons. Mas ela está caracterizada em um dos desenhos de John Harris do segundo grau para as Lojas de Emulação. Em outros ritos a Trapeira é uma abertura que aparece em painéis de Lojas Capitulares, formada por ângulos retos na base e curvatura em arco na parte superior, tendo a maioria dos desenhos uma

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treliça no espaço entre as esquadrias. As janelas frequentemente estão acompanhadas da figura de uma pedra piramidal, o símbolo da pedra filosofal dos alquimistas.Duas Trapeiras estão presentes em desenho publicado em 1566, com a figura de um homem sentado numa cátedra. É Hermes Trismegisto e o livro que tem diante de si é um daqueles que contém as explicações do segredo da obra alquímica, conhecimentos que Hermes ocultava dos homens.A Trapeira é considerada ornamento de Loja, ou Templo, nos ritos ou graus que se desenvolvem em ambiente simbolicamente fechado. Nos ritos que consideram a Loja, ou Templo, símbolo da natureza e o teto representa o céu estrelado, não é compatível exibir painéis com desenhos de janelas representando as três Luzes. Nos ambientes com céu estrelado ou com constelações a iluminação simbólica dá-se pelo Sol e pela Lua diretamente sobre toda a natureza que é a Loja. A Trapeira simboliza, desde a época pós-paracélsica, o meio de iluminação do alquimista, cuja fonte passou a ser a luz da natureza. Antes de Paracelso, a revelação do segredo da produção da pedra filosofal era feita por Deus, ou por um mestre de grande experiência, através do sonho ou de misteriosa visão. Na maçonaria brasileira são usados nas Lojas de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito painéis com desenhos de janelas. Esses painéis são do período em que as Lojas eram Capitulares, incluindo o simbolismo, que não tinha valor litúrgico no contexto. Portanto, esses painéis não dizem respeito aos graus simbólicos do Rito que mostra o céu estrelado no teto. A Trapeira deve figurar apenas em ritos que funcionam em Loja cujo teto artificial não simboliza a natureza celestial.

06/12/2009 - GLMERGS - SemearA maçonaria é arte de reflexão!

 

               [37]       UTENSÍLIOS 

                         São objetos que se usam no exercício de uma arte, ofício, etc... . Os antigos arquitetos construtores e escultures usaram utensílios no desempenho do ofício, os quais a maçonaria elegeu-os símbolos da arte de transformar o pensamento e a emoção dos seus Iniciados. São ítens existentes fisicamente em uma Loja para torná-la emblemática do trabalho de construção simbólica. Esquadro, compasso, nível, prumo ou perpendicular, trolha, régua, lápis, alavanca, cinzel, maço, linha, pedra, lewis, prancheta, espada, punhal, escada, gadanha, tapete, corda, vara, ampulheta, vela, livro sagrado, livro da Constituição, esquife, pedestal, mesa, banco, bolsa de coleta, são os utensílios mais usados e conhecidos no denominado simbolismo maçônico durante o processo de autoconhecimento. Alguns desses são mostrados como jóias móveis ou imóveis. Em rituais de 1804 do Rito Escocês Antigo e Aceito encontram-se as alabardas dos Diáconos. Um

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tapete de 1804 da Trafalgar Lodge nº 111 (da Grande Loja de Londres dos Antigos), além dos emblemas e símbolos hoje adotados, mostra outros utensílios que saíram de uso; o bastão de Aarão, o pote de maná e as tábuas da Lei. Citado como um dos utensílios das cerimônias do Ofício inglês, o Skirret é o carretel de pedreiro. Um carretel que tem um eixo comprido pontiagudo e no qual se enrola um cordão. Nas construções, o pedreiro usou o skirret para desenhar grandes círculos. O carretel é preso no solo pelo eixo e gira liberando o cordão que, esticado, representa o raio do círculo a ser marcado. O skirret substituiu nas obras da Idade Média ao antigo compasso já empregado pelos chineses.As pedras bruta e polida são utensílios essenciais em todos os rituais do simbolismo porque representam a evolução psíquica da Obra humana. A pedra bruta, grosseiramente cortada e sem nenhum acabamento representa o candidato recém admitido. A pedra cúbica ou polida, um cubo perfeito, bem acabado e polido - símbolo da perfeição, representa o Companheiro. No Certificado da Grande Loja da Inglaterra, a pedra bruta é exibida com os utensílios adequados - o maço comum e o cinzel sobre ela. A pedra cúbica tem sobre si o compasso, representando a consciência. Nas cerimônias inglesas a pedra bruta está perto da coluna coríntia do Segundo Vigilante; a pedra cúbica está perto da coluna dórica que identifica o Primeiro Vigilante. Tradicionalmente, o Segundo Vigilante é encarregado dos Aprendizes, de forma que, simbolicamente, a pedra bruta é mostrada sob seus cuidados, enquanto o Primeiro Vigilante tem ao seu encargo os Companheiros.

No Brasil, há uma confusão nas atribuições dos Vigilantes no Rito Escocês brasileiro criado em 1928 para as Grandes Lojas, devido à mistura de procedimentos de rituais norteamericanos e franceses. É adotado como painel do grau de Aprendiz no Rito Escocês brasileiro a gravura desenhada por John Harris para a Emulation Lodge of Improvement. É a tábua de delinear que mostra a pedra bruta junto ao Segundo Vigilante, porque no Ofício - na Inglaterra, e no Rito dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos praticado nos Estados Unidos essa é a relação. No Rito Escocês brasileiro a gravura não corresponde à prática, pois, nesse Rito, o Segundo Vigilante é reponsável pelos Companheiros. O impasse permanece porque ilustração e comportamento ritualístico não se harmonizam. E alterar as posições das pedras no painel original não se coaduna com o caráter maçônico.

13/12/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de fazer reflexão!

        [38]      VIRTUDE MAÇÔNICA                                    Virtude é a disposição constante de praticar o bem e evitar o mal. Para o cristianismo, as virtudes naturais, ou morais, se fundamentam na natureza do ser humano; as principais dentre elas, que condicionam as outras, são chamadas cardeais: a prudência, a justiça, a força

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e a temperança.. As virtudes sobrenaturais, ou infusas, são dadas por Deus no exercício da graça. As Escrituras Sagradas privilegiam entre as sobrenaturais, sob o nome de virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade. Textos produzidos especialmente para a liturgia maçônica apontam para a importância de se cultivar uma Virtude Maçônica do Processo Iniciático: falar bem, com sinceridade, de Irmãos, ou silenciar. Essa Virtude Maçônica é uma qualidade exercida pelo Iniciado em atendimento a princípio ético da maçonaria. No diálogo reproduzido a seguir, extraído das Cerimônias Exatas do Ofício está configurada a idéia de Virtude Maçônica para os Irmãos ingleses dos idos de 1800.- P - Por que foste feito maçom?- R - Para obter conhecimentos e segredos entre maçons.- P - Onde são guardados esses segredos?- R - No coração dos Irmãos.- P - A quem podem os mesmos ser revelados?- R - Somente a outros maçons.- P - Como são os mesmos revelados?- R - Por sinais, toques e palavras especiais.- P - Por quais outros meios se pode continuar o reconhecimento entre maçons?- R - Por meio da uma chave, igualmente especial, quer na sua construção, quer na sua prática.- P - Onde se encontra essa chave?- R - Dentro de uma arcada de ossos.- P - Onde jaz?- R - Não jaz e sim está suspensa.- P - Como assim?- R - Porque sempre deve estar pronta para cumprir suas obrigações, nunca traindo por negligência aos seus juramentos.- P - Por que está em suspenso?- R - Está em suspenso ligada pelo fio da vida.- P - Por que se acha tão ligada ao coração?- R - Porque se fecha para os indignos e se abre para quem tem mérito.- P - De que é composta essa chave?- R - Não é composta de matéria e nem é confeccionada pela arte de um mortal.- P - Explicai esse mistério.- R - Quando se fala de um Irmão só se pode dizer bem dele, nunca o traindo.- P - Detalhai melhor essa vossa afirmativa.- R - É preciso defender os interesses de um Irmão em sua ausência, dele fazendo boa referência, quando a verdade o permita. Quando não for possível fazê-lo com sinceridade, deve-se adotar uma Virtude Maçônica, ou seja, o silêncio. Agora uma reflexão interpretaiva. Fale-se apenas bem dos Irmãos. Mas falar bem com sinceridade. Ou se opte pelo silêncio. A Virtude Maçônica, conforme o diálogo, está em falar bem, com sinceridade, ou silenciar. Essa virtude

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constitui numa chave. O reconhecimento entre os maçons também pode ser através dessa chave invisível que se manifesta como um culto de fidelidade à Verdade que o Irmão representa. O maçom é uma Verdade. Tem valores que ultrapassam as exigências da ordem social e mergulham na profundidade de uma tradição humanista e religiosa apoiada em conceitos e atitudes. As Cerimônias do Ofício recomendam: dessa Verdade só se fala bem e sinceramente. Ou, o silêncio. O silêncio maçônico, dentre diversas finalidades e simbolismos, pode expressar, portanto, a rejeição a um Irmão considerado de má ética. A expressão - Meus Irmãos como tal me reconhecem - vale a partir dos preceitos ora interpretados porque representa o reconhecimento subjetivo através de uma chave imaterial. A consciência é a chave que, após recordar mentalmente as virtudes naturais e sobrenaturais, abre o coração para os maçons que têm mérito e fecha-o para os indignos. É a consciência localizada no coração conforme pensavam os antigos egípcios.O silêncio consciente é a presença muda de juízo crítico a respeito da verdade humana negativa, eventualmente personificada em Irmão reconhecido inconveniente. A Virtude Maçônica da condenação pelo silêncio manifesta-se pela ausência de palavras hipócritas, aquelas que falam bem, mas sem sinceridade.

18/12/2009 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de reflexão!

  

           [39]     WASHINGTON,D.C. 

                        Em um de seus diários, George Washington descreve o encontro com os proprietários da terra onde ele pretendia construir a capital federal dos Estados Unidos. Reuniram-se no hotel do maçom John Sutter e depois de esboçar seu plano, Washington explicou que desejava lotes de terra que, quando unidos, fossem extensos o suficiente para abranger as cidades de Alexandria e Georgetown. Dezoito proprietários concordaram em transferir suas terras.Em 15 de abril de 1791 as diversas Lojas da cidade reuniram-se na casa do Irmão Wise, em Alexandria, e daí seguiram por trilha acidentada que conduzia à área pretendida para o local de nascimento da capital federal. Estandartes à frente, o grupo paramentado com o tradicional avental de pele e luvas brancas, os Oficiais identificados com o colar e a joia, formaram a procissão. Por volta das 15,30 horas, o Mestre Maçom Ellicott confirmou simbolicamente a posição exata em Jones Point de onde deveria sair o traçado básico do distrito. Feito isso, Elisha Cullen Dick, Mestre (Venerável) da Loja de Alexandria, antes e depois de George Washington, colocou o marco de pedra, sendo assistido por vários maçons. Foi uma pedra temporária. Quando a localização foi completada lançaram sobre o marco, trigo, vinho e óleo, de acordo com a prática maçônica. Estava fundada a cidade de Washington,D.C. com a missão de se tornar a capital de um dos mais poderosos países do planeta. No horário escolhido pelos maçons - 15,30 horas - Júpiter, o mais

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benéfico dos planetas no céu começou a surgir no horizonte. Ele situou-se a 23 graus de Virgem. O poder zodiacal de Virgem, chamada nos círculos maçônicos do Real Arco de a "Bela Virgem", era capaz de imprimir influência forte e benigna na construção da capital federal. A Virgem em ascensão estava representada em cártula junto a pedestais do Real Arco. A posição de Júpiter em relação a Virgem é um dos motivos porque muitos astrólogos afirmam que Washington,D.C. é regida por Virgem. O brinde maçônico celebrado meia hora antes do cortejo até Jones Point teve oratória explícita: "Possa a pedra que estamos prestes a colocar no solo, permanecer um monumento imutável da sabedoria e unanimidade da América do Norte". O brinde está registrado no Dunlap's American Daily Advertiser, edição de Filadélfia em 28 de abril de 1791.Dezoito meses de planejamento, inspeção topográfica e escavações passaram-se depois do lançamento do marco de pedra. Uma ponte fora construída para facilitar a passagem entre Georgetown e o local da obra. A Casa do Presidente foi o primeiro prédio público erguido em Washington,D.C.. No sábado, 13 de outubro de 1792, foi realizada a cerimônia maçônica da Loja Georgetown nº 9, de lançamento da pedra angular. Um jornal de Charleston, a City Gazette, publicou em 15 de novembro de 1792, uma carta de cavalheiro de Filadélfia, informando que; "a primeira pedra foi assentada no canto sudoeste da Casa do Presidente, na cidade de Washington, pelos franco-maçons de Georgetown e arredores, que se reuniram na ocasião. A procissão organizou-se no hotel Fountain Inn, de Sutter, em Georgetown. A cerimônia foi realizada pelo Irmão Peter Casanave, Mestre da Loja nº 9, que proferiu uma oração muito bem adaptada para a ocasião." No ano seguinte, um jovem arquiteto imigrado da Irlanda tornou-se o Mestre (Venerável) da Loja Georgetown nº 9 - James Hoban. Ele vencera o concurso para projetar a Casa do Presidente. A estrutura da construção foi planejada com ênfase na segurança dos alicerces e das vigas. Isso foi fundamental por ocasião do ataque dos britânicos em 1814, quando queimaram a Casa do Presidente. As paredes originais do projeto de Hoban resistiram e permaneceram em pé. Mas as paredes internas e o interior construídos mais tarde por outro responsável, foram severamente danificados. Hoban foi contratado para empreender o extenso trabalho de reconstrução. Foi ele que mandou pintar as paredes externas de branco para ocultar as marcas dos chamuscados. Esse é o motivo pelo qual a Casa do Presidente passou a ser denominada de Casa Branca. A ação de planejamento e de erguimento de toda uma cidade para centralizar o poder político e administrativo dos Estados Unidos da América foi obra da maçonaria organizada. A iniciativa é emblemática o suficiente para mostrar ao mundo que a maçonaria pode fazer muito mais pela sociedade em geral e pelos maçons individualmente, que os benefícios produzidos na proposta templário-litúrgica da maçonaria brasileira; agente dissimulada de prosaicas terapias sintomáticas para a solidão, para agressividades e intolerâncias.

03/01/2010 - GLMERGS - SemearMaçonaria é arte de reflexão!

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              [40]      XILOLATRIA, SIMBOLATRIA,...                                                           Xilolatria é o culto dos ídolos de madeira. Surgiu com a xilografia que é a fase da imprensa anterior à invenção da tipografia e durante a qual a reprodução de imagens e textos se fazia por meio de pranchas de madeira gravadas em relevo. A arte ampliou especializações com o grande interesse que despertaram as gravuras em madeira reproduzindo figuras do cristianismo. O surgimento de esculturas em madeira, materializando em três dimensões personalidades de culto religioso favoreceu o exercício da idolatria; os crentes fazendo gestos de adoração e de fidelidade diante das imagens sacras. A opção por materiais alternativos à madeira para a produção de imagens de santos, anjos e outras entidades míticas, criou sinônimos de xilolatria, como simbolatria, com significado mais amplo porque não estava vinculado ao material usado na escultura. A maçonaria emprega didadicamente vários símbolos com a intenção de provocar nos seus Iniciados as projeções e insights indispensáveis para o processo racional de evolução do psiquismo. Como diz Charles Nehr em seu livro - Simbolisme et Franc-Maçonnerie - "o símbolo é uma ferramenta". A afirmativa sintetiza que não deve haver simbolatria em maçonaria para que se respeite o princípio da não dogmatização religiosa da Ordem. Entretanto, isso está frequentemente sendo desrespeitado. Atitudes pessoais de maçons, ou até mesmo orientações equivocadas de Comissões de Liturgia das Potências brasileiras, constituem-se em cultos dos símbolos com veneração obediencial. No livro de Charles Nehr, o autor comenta que "atualmente se trabalha em muitas ocasiões dentro das Lojas uma simbolatria obscurantista." Na maçonaria brasileira destaco procedimento que bem caracteriza a simbolatria; a execução de sinal penal dirigido para o Oriente por maçom parado no eixo longitudinal do templo, durante o giro no Ocidente, mesmo na ausência eventual do Venerável Mestre. O sinal, nessa circunstância, é feito em saudação ao delta transparente localizado sobre o Trono, ou atrás, que tem no seu interior a letra Iod ou o nome de Deus em hebraico. O sinal que é realizado com a intenção de reverenciar o delta obedece à crença religiosa de adoração do objeto que, tão somente, representa uma idéia de divindade; não é a divindade. O Venerável Mestre é o decodificador das emanações espirituais superiores e redistribui aos seus dirigidos a inspiração que essas influências divinas lhe proporcionam. É anterior e preferencial à inclusão do delta entre os ornamentos maçônicos. O Venerável Mestre mostra pela primeira vez ao Iniciando o sinal penal diretamente vinculado ao conteúdo do juramento solene, juramento realizado perante as Luzes, os Oficiais e a Assembléia de Irmãos, cujo rito praticado pode ter ou não o delta entre os seus símbolos. Assim sendo, o sinal penal tem valor para o intelecto humano que possui a condição indispensável para a compreensão do gesto; a inteligência racional. O livro sagrado, em ritos que não adotam o delta, representa a presença simbólica da divindade através da palavra. Na tábua de delinear do grau 1 do ritual de Emulação há uma escada imaginária de

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escensão moral do Aprendiz, apoiada no livro sagrado e unida a uma estrela brilhante no céu, a Glória Divina. Na escada estão os símbolos de Fé, Esperança e Caridade. Não se tem notícia na maçonaria de adeptos executarem o sinal penal em saudação ao livro sagrado. A pesquisa no primeiro ritual organizado para os graus azuis do Rito Esxcocês Antigo e Aceito, em 1804, confirma que todo o trabalho em Loja desse rito é realizado em honra e glória do Venerável Mestre, que abre a fecha a Loja e constitui maçons nos três graus simbólicos, em nome de Deus. Portanto, nenhum símbolo material supera em dignidade a presença do Venerável Mestre e muito menos o substitui, durante a execução dos trabalhos. A antiga xilolatria, ou o seu sinônimo, a simbolatria, devem permanecer ausentes dos rituais para que a tênue linha demarcatória entre maçonaria e religião não fique ainda mais esmaecida. 

09/01/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!

            [41]     YORK 

                         Segunda cidade da Inglaterra nos séculos XV e XVI, York foi um núcleo comercial importante e influente centro político desde os romanos, quando seu nome era Eboracum. Em York floresceram as guildas, tanto mercantis quanto de ofício, embora não haja registro de guilda de maçons. A criação da primeira Grande Loja de Londres, em 1717, gerou conflitos na maçonaria inglesa causados pela disputa de influências e de credibilidade entre a Loja de York, representando a tradição cerimonial cristã, e a nova Grande Loja, abrindo as portas das Lojas maçônicas também para judeus, muçulmanos e budistas. E credibilidade em maçonaria era mensurada pela antiguidade. Por isso, surgiram histórias fantásticas e documentos duvidosos vinculando a maçonaria a eventos antigos lendários. A Constituição de York é uma história de maçonaria, tornada documento duvidoso, o qual pretende mostrar normas adotadas em uma assembleia de maçons realizada no ano 926, em York, e presidida por Edwin, filho do rei Athelstan, o primeiro rei da Inglaterra. A Constituição de York é composta de três partes: um preâmbulo em forma de prece, uma história sumária da arte de construir e finalmente os estatutos da sociedade maçônica. Athelstan é um personagem histórico e tem na maçonaria a sua lenda. Conta que Athelstan tinha os maçons em grande apreço, tendo outorgado ao seu filho Edwin o direito de reunir os profissionais da cantaria com a finalidade de os reorganizar. Na realidade, Athelstan não teve filho algum, pelo menos na linha sucessória.E. Lennhoff, em "Los Masones ante la Historia" , (1981), diz sobre Athelstan: "Segundo a lenda, desde 926, estabeleceu-se em solo inglês uma associação de canteiros. Diz-se que sob o patrocínio de Edwin, irmão do rei Athelstan, que subiu ao trono em 924, realizou-se em York uma grande reunião de construtores, com a finalidade de regulamentar, de forma independente, os assuntos da associação. Para tal, dispunham de uma Carta,

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

expedida por Athelstan. Essa lenda induziu aos que, sem senso crítico, chegaram à seguinte conclusão, completamente errônea: ..."portanto, a primeira Grande Loja da Inglaterra reuniu-se pela primeira vez em York, no ano de 926". A lenda de York, em consequência, desempenhou importante papel na historiologia maçônica e até documentos falsos foram produzidos sobre ela".B. E. Jones, em "Freemasons' Guide and Compendium", (1980), entende que a realização de uma assembleia de maçons, no tempo de Athelstan, deve ser considerada impossível. As estradas eram praticamente inexistentes, as construções eram de madeira e os maçons constituíam um grupo pequeno e desorganizado.Em 1864. J. G. Findel viajou para a Inglaterra para procurar o original da Constituição de 926. As buscas foram infrutíferas. Findel, em "Histoire de la Franc-Maçonnerie", (1976), esclarece: - não foi encontrado o original da Constituição de York;- em registros feitos pelos arquitetos da catedral de York, publicados em 1859 pela Surtee's Society, nada consta a respeito de assembleia geral de maçons ingleses, nem de Constituição elaborada sob a direção de Edwin;- o célebre arqueólogo e historiador de York, Irmão Drake, não faz alusão ao documento;- no processo verbal sobre a reabertura da Grande Loja de York, bem como no protesto dessa Grande Loja contra a Grande Loja de Londres, não existe referência alguma à Constituição de 926; - inventário feito em 1777, dos seus arquivos, pela Grande Loja de York, nada encontrou sobre a Constituição de York;- um Irmão, de nome J. Stonnehouse, de York, certificou a identidade da tradução latina da Constituição de 926. No entanto, as buscas nos registros da cidade revelam que não existiu o sr. J. Stonnehouse;- no certificado de J. Stonnehouse é citada uma Sociedade de Arquitetura em York, funcionando em 1806. Essa sociedade nunca existiu.Assim, conclui Findel, "não se pode mais ter dúvidas quanto ao documento maçônico de 926; ele não existiu". 

17/01/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!

01/02/2010

[42]____________________ZODÍACO____________________

Arquivado em: Maçonaria — Ailton Branco @ 19:33

Tags: Ailton Branco, Arca da Informação, Maçonaria, Rituais Antigos

Palavra originária do termo Zoidiakos. Tem a raiz grega “zoon”, que significa

“seres vivos”. Para os antigos, o cosmos era um ser vivo. O conhecimento da

natureza teve início com a observação das estrelas. Na área do simbolismo - 54 -

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contemporâneo, zodíaco é a representação da zona da esfera celeste que se

estende de um lado e de outro da eclíptica, sobre aproximadamente 8º de

latitude e na qual se observa o deslocamento aparente do Sol, da Lua e dos

principais planetas do Sistema Solar, salvo plutão. O mais célebre zodíaco

antigo é o que foi encontrado no Egito no grande templo ptolomaico dedicado

a Hator, em Dendera, uma aldeia do Alto Egito à margem esquerda do rio

Nilo. Esse zodíaco hoje está à visitação no Museu do Louvre. Na Antiguidade,

o zodíaco foi dividido em doze signos, cada um deles se estendendo sobre

30º de longitude. Esses signos receberam nomes de constelações com as

quais coincidiam há cerca de 2.000 anos. Nessa época a passagem do Sol no

equinócio de primavera – o ponto vernal – coincidia com sua entrada no signo

identificado com a constelação de Carneiro. Mas em virtude do fenômeno da

precessão dos equinócios, o equinócio da Primavera retrocedeu sobre a

eclíptica à razão de 50,26’’ por ano, ou seja, um signo do zodíaco em 2.150

anos.

O astrólogo egípcio Ptolomeu, do século 1 d.C., idealizou listas de regências,

considerando as estrelas, o zodíaco e os planetas entidades espirituais por si

mesmos. A influência exercida sobre pessoas ou cidades por um signo do

zodíaco, uma estrela fixa ou um planeta era considerada divina por Ptolomeu.

A influência cósmica primitiva foi vinculada aos deuses pagãos, pois os

planetas e os signos zodiacais receberam nomes e atributos muito antes da

era cristã. Os nomes e funções dos seres angélicos regendo planetas e

signos zodiacais derivam de fontes arcanas de crenças neoplatônicas ou

gnósticas. Pouco depois de Ptolomeu ordenar a compilação do conhecimento

astrológico antigo o cristianismo começou a difundir a percepção de novos

mistérios misturados aos velhos sistemas de Iniciação. Em três séculos a

astrologia tradicional perdeu posição e ficou limitada aos enclaves dos

gnósticos, neoplatonistas e mitraicos, considerados heréticos pela religião

cristã. Foram estabelecidas fronteiras de conhecimento aceitável, o que

representou a rejeição de muitos eventos considerados significativos apenas

para servirem aos deuses pagãos. No século 5 d.C., as hierarquias espirituais

que influenciavam os planetas receberam nomes cristãos. As hierarquias

espirituais propostas por Dionísio tornaram-se elementos fundamentais da

tradição cristã e foram assimiladas pela arte e pela religião. As antigas esferas

planetárias, tão importantes nas escolas herméticas de mistérios do Egito e

da Grécia foram associadas a lendas e símbolos do cristianismo. Dionísio - 55 -

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descreveu as funções espirituais das nove categorias de anjos e ligou-as com

as nove esferas celestiais, herdadas da astrologia pré-ptolomaica. Apenas

sete dessas esferas estavam ligadas aos planetas. As duas esferas mais

externas assinalavam a concentricidade do zodíaco e das estrelas fixas. Nem

todos os sistemas cósmicos antigos consistiam de nove esferas.

Mais tarde, as literaturas rosa-cruz e alquímica se encarregaram de divulgar

formas astrológicas modernas, assimiladas no Ocidente em lugar da literatura

clássica. Os rosa-cruzes e alquimistas introduziram o tema na maçonaria

através do grau imediatamente acima do último das Lojas azuis.

O avental usado por George Washington no lançamento da pedra angular da

Casa do Presidente, em 1792, mostra pilares encimados por globos; um dos

globos porta uma faixa representando o zodíaco. A lenda ensina que depois

do Dilúvio os dois pilares colocados no pórtico frontal do templo construído

por Salomão se perderam. O filósofo grego Pitágoras reencontrou um e o

mago egípcio Hermes Trismegisto, o outro. Foi Hermes quem descobriu e

ensinou a sabedoria do cosmos ou as verdades celestiais. No livro “Moral e

Dogma”, Albert Pike destaca símbolos astrológicos e os vincula com rituais

maçônicos. A capital dos Estados Unidos, planejada pelos maçons, é uma

realidade contemporânea do conhecimento na maçonaria do século XVIII e o

prestígio creditado à astrologia. Washington D.C., é a cidade dos zodíacos.

Existem mais de 30, sendo 20 só na área central. É a cidade com maior

quantidade de zodíacos públicos. Maçons que participaram da construção das

catedrais medievais na Europa incluíram vários zodíacos e símbolos

planetários arcanos no corpo de prédios como Chartres. Na Catedral de

Chartres foi colocado um magnífico vitral na parede sul, a famosa janela

zodiacal com imagens dos 12 signos ao lado dos meses correspondentes, e

mais três zodíacos na face oeste do prédio. Nos graus de Aprendiz e

Companheiro do Rito Escocês Antigo e Aceito a corda com 7 ou 12 nós é um

dos ornamentos muito representativos da trajetória do Iniciado nesse rito.

Representa o zodíaco com os sete planetas ou as doze casas zodiacais. Não

tem proximidade alguma, no REAA, com o significado de laços de amor.

A posição estratégica ocupada pela astrologia e sua analogia com o

desenvolvimento material e espiritual do maçom foram eclipsadas. Hoje a

astrologia está presente apenas como desenho nos rituais e a literatura

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maçônica pouco ou nada lhe dedica atenção. A astrologia, a partir do início do

século 19, entrou em zona de preconceito ou simples desconhecimento dos

maçons que praticam ritos com esse conteúdo e hoje perde em importância

até para o ritual.

01/02/2010 - GLMERGS – Semear

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Maçonaria é arte de reflexão!

06/02/2010

[43]_______________APOTEOSE MAÇÔNICA______________

Arquivado em: Maçonaria — Ailton Branco @ 20:52

Tags: Ailton Branco, Arca da Informação, Maçonaria, Rituais Antigos

As cerimônias de admissão do candidato ainda ecoam no labirinto de sua

mente e na sessão seguinte lá está o Diácono apontando para os símbolos

impressos no painel que o Mestre de Loja descreve na explanação da Tábua

de Delinear do primeiro grau (o mesmo desenho adotado em 1928, nas

Grandes Lojas para o Rito Escocês brasileiro). No prolongamento do

pavimento de mosaico da gravura, um altar retangular tem em seu plano

superior o Livro das Sagradas Escrituras com Esquadro e Compasso

sobrepostos. No lado oriental do altar, uma escada, a Escada de Jacó, une o

piso preto e branco a uma estrela brilhante no céu – a Glória no centro de

tudo. Na sua companhia vê-se o Sol, a Lua, sete estrelas menores e a

imagem convencional de uma nuvem. Na escada, a intervalos verticais, a

cruz, a âncora e a taça, representando a fé, a esperança e a caridade. Na

alocução o Mestre de Loja não revela, mas está configurada no terço superior

do painel, a apoteose maçônica – a ascensão simbólica do homem à

divindade; a síntese gráfica do processo de transformação do homem em

deus.

Apoteose, literalmente, a transformação divina, o homem que se torna deus.

Constantino Brumidi, o principal pintor do Capitólio – a Casa do Congresso –

entre as décadas de 1850 e 1880, além dos signos zodiacais em um dos

corredores, produziu o maior quadro do prédio; a Apoteose de Washington.

Mostra George Washington sendo transformado em deus. É um afresco

de 433 metros pintado no teto, que adorna a cúpula da Rotunda do Capitólio, - 57 -

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

a 55 metros de altura. Foi concluído em 1865. No painel central está George

Washington em vestes brancas com a dalmática do grau de Cavaleiro Rosa-

cruz do ritual de Kilwining. Está acompanhado de 13 donzelas. George

Washington ergue-se acima dos mortais sobre uma nuvem, num instante de

apoteose; a sua transformação em deus. Ao redor dele personagens de 4,5

metros representando deuses antigos; Minerva, Vulcano, Ceres e Netuno,

acompanhados de figuras de inventores mais recentes como Ben Franklin,

Robert Fulton e Samuel Morse.

No livro “O Símbolo Perdido” de Dan Brownn, à pag. 478; “… A espetacular

coleção de imagens do teto era de fato uma mensagem dos Antigos Mistérios

e estava ali por um motivo. Os pais fundadores tinham imaginado os Estados

Unidos como uma tela em branco, um campo fértil sobre o qual poderiam

lançar as sementes dos Mistérios. Hoje, aquele ícone sublime, o pai da nação

subiu aos céus, pairava silenciosamente sobre os legisladores, líderes e

presidentes do país… um lebrete arrojado, um mapa para o futuro, a

promessa de um tempo em que o homem iria evoluir rumo à maturidade

espiritual completa.”

A “Apoteose de Washington” mostra o resultado final da experiência

existencial de uma criatura que compreendeu ser  imagem e semelhança

mental do Criador; o templo de Deus na obra silenciosa do homem evoluído.

Movidos pela fé na atitude, pela vaidade da apoteose, pela esperança nos

benefícios da obra, pela vontade servidora, homens como George

Washington perceberam através das cerimônias do Real Arco que há algo na

alma que demanda a crença de que a vida tem um objetivo que transcende o

plano material. Apoteose maçônica, o ágape metafísico que reúne no cálice

alquímico da imaginação o homem que evolui a deus e deus que cria o

homem; metáforas de evolucionismo e criacionismo juntadas pelo amálgama

iniciático da maçonaria.

06/02/2010 - GLMERGS – Semear

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Maçonaria é arte de reflexão!

12/02/2010

[44]___________________ATHESATHA__________________

Arquivado em: Maçonaria — Ailton Branco @ 20:11

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

Nome que se da ao presidente do Capítulo Rosa-cruz no Rito de Mênfis.

Significa Governador ou Chefe dos Sacerdotes.

No ano de 1805, alguns especuladores italianos criaram, sob o nome de Rito

de Misraim, ou do Egito, um novo sistema composto inicialmente de trinta

graus, ampliado em pouco tempo para 90 graus. Parte desses graus copiados

do antigo escocismo, alguns do martinismo da maçonaria hermética e

completados com passagens do rito escocês reformado, em prática na

Alemanha e na França. O Rito de Misraim se estendeu rapidamente por toda

a Itália, fixando-se especialmente em Nápoles, onde foi adotado por um

Capítulo Rosa-cruz intitulado “A Concórdia”. Seus instituidores formaram o

“Supremo Conselho dos Grandes Ministros Constituintes da Ordem”. O

presidente do Capítulo “A Concórdia” tinha o titulo de “athesatha”. Em 1814, o

misraimismo foi introduzido na França em meio às desavenças entre o

Grande Oriente e as diferentes facções do escocismo. Em 1821, depois de

reaproximação entre o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito e

o Grande Oriente de França, este último dirigiu uma circular a todas as Lojas

da sua obediência lembrando que o Rito de Misraim não havia sido

reconhecido por ele e proibindo toda a forma de relacionamento com as Lojas

do rito. Em 1826, o Rito de Misraim praticamente desapareceu na França e na

Itália. Continuou sendo praticado na Irlanda para onde fora levado em 1820.

Durante o período de intercâmbio no Grande Oriente de França a

denominação “athesatha” foi absorvida do misraimismo pelo grau Rosa-cruz

do Rito Escocês Antigo e Aceito. Athesatha permaneceu identificando a maior

autoridade do Capítulo, entretanto, substituída no Rito Escocês por

corruptelas provocadas pela grafia literal de pronúncias deturpadas. Surgiram,

então, Artesatha, arthisarta, artisarta, alisarta, etc. No Rito de Mênfis,

“athesatha” conservou a denominação original e por isso o termo é

identificado com o rito.

O Rito de Mênfis foi fundado em 1839, inspirado no Rito de Misraim. Praticado

inicialmente em Paris, Marselha e Bruxelas, o Rito de Mênfis ficou conhecido

também como Rito Oriental. O grau “Cavaleiro Príncipe Rosa-cruz” é o 18° de

um total de 92 graus, divididos em três séries. A Menf dos árabes foi

importante cidade e uma das capitais do Antigo Egito, situada na margem

esquerda do rio Nilo. Ganhou renome com seus inúmeros templos, sendo que

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quatro foram muito celebrados: Phtha (depois Vulcano dos gregos), Hathor

(Athyr), Apis e Serapis.

12/02/2010 - GLMERGS – Semear

Colégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!

15/02/2010

[45]_______________FANTASIA FARAÔNICA_____________

Arquivado em: Maçonaria — Ailton Branco @ 19:22

Tags: Ailton Branco, Arca da Informação, Maçonaria, Rituais Antigos

A Casa do Templo, primeira denominação pública da sede do Supremo Conselho, grau

33, jurisdição sulista, nos Estados Unidos da América, está incluída na trama do

romance de Dan Brown, “O Símbolo Perdido”, para sediar cerimônia de demonismo

com sacrifício real. A Casa do Templo foi construída pelo arquiteto John Russel Pope, o

mesmo que projetou o memorial de Thomas Jafferson. A estrutura em forma piramidal e

guardada por duas esfinges de 17 toneladas, eleita, na época, a construção mais

esotérica de Washington, D.C., foi uma iniciativa do então Soberano Grande

Comendador, General de Brigada Albert Pike. Considerado o maçom mais influente do

século 19 e um dos mais eruditos; autor de vários livros, dentre eles, “Morals and

Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry”, 1871, um clássico

do tema. No prefácio, admite que mais da metade da obra é uma semicompilação.

Aprendeu francês para melhor assimilar a literatura francesa sobre esoterismo e

ocultismo. Foi seguidor de Eliphas Lévi, ocultista, cuja obra estudou detalhadamente.

Pike incluiu em seus livros cópias de trechos traduzidos de vasto material bibliográfico,

muitos, sem dedicar os créditos. Fez modificações em diversos graus do Rito Escocês

Antigo e Aceito, adaptando-os às interpretações místicas pessoais. Essas alterações,

que misturaram ritualística e liturgia da iniciação maçônica com cerimônias de magia

obediencial, justificam a proposição recente do Supremo Conselho de França de

retornar aos rituais do ano de 1804, quando foi criado o Supremo Conselho, grau 33,

em Paris. Numa das violações da ritualística escocesa antiga, ignorou a descrição

simples sobre o céu no teto da Loja apenas com nuvens e estrelas nos rituais franceses

iniciais do simbolismo – nos Estados Unidos, o REAA não tinha rituais para os graus

anteriores ao 4. Pike criou seus próprios rituais. Publicou-os no livro “Book of the

Lodge”, no qual mostra o teto da Loja simbólica decorado com constelações e planetas.

O mapa de Pike é esquemático; não reflete as reais posições das estrelas no

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

firmamento (por exemplo, Leão não poderia ser representado seguindo-se à Ursa

Maior). A intenção de Pike parece ter sido copiar para o Rito Escocês Antigo e Aceito a

nominata astrológica considerada muito favorável sob a qual foi lançada a pedra

angular de Washington, D.C., sem preocupar-se com as posições das constelações e

planetas descritas pelos astrônomos. Visualizou o mapa estelar para o Rito Escocês a

partir do posicionamento de Virgem, junto com a constelação Bootes ao norte. É o

cenário cósmico que representa o plano estelar da capital americana na época da sua

fundação. Pike aproveitou em seu desenho a associação com a mitologia egípcia feita

pelo astrônomo Joseph Lalande, maçom importante, cujas obras foram amplamente

divulgadas entre os americanos no final do século 18, que já afirmava, em 1731:

“Virgem é consagrada a Ísis, assim como Leão é consagrado a Osíris. A esfinge,

composta por um Leão e uma Virgem, foi usada como símbolo para designar a cheia do

Nilo. Coloca-se um feixe de espigas de trigo na mão da virgem para expressar a idéia

dos meses, talvez porque o signo de Virgem fosse chamado pelos orientais de

Soumbouleh ou Shibbolet, ou seja, o trigueiro”.

Em meio às suas limitações e à carência de obras que tratem da astrologia maçônica

de modo fidedigno, Albert Pike tomou a iniciativa de reunir muitas tradições astrológicas

e vinculá-las com os rituais e crenças maçônicos. Nesse contexto, com seus interesses

pessoais e suas convicções, deixou marcas no desenvolvimento posterior do

pensamento maçônico nos Estados Unidos e nas relações institucionais dos Supremos

Conselhos, grau 33, do Rito Escocês Antigo e Aceito. Na opinião do professor e

astrólogo pesquisador da vida e dos escritos de Nostradamus, David Ovason, “…

quando Albert Pike escreveu sobre o Rito Escocês Antigo e Aceito nas últimas décadas

do século 19, esforçou-se para examinar a doutrina astrológica e cosmológica na

literatura de onde tirou muito de seu conhecimento. Entretanto, embora fosse um

erudito em algumas áreas, era desinformado a respeito de questões astronômicas e

astrológicas. Assim demonstrou na analogia entre as três estrelas do cinturão da

constelação de Órion e os três reis da doutrina bíblica cristã, apresentada na dedicação

cerimonial da Casa do Templo. Mostra compreensão equivocada sobre a realidade

cosmológica e histórica. Embora a crença de que as três estrelas no cinturão de Órion

outrora fossem identificadas com os Três Reis Magos estivesse bem fundamentada, a

idéia jamais entrou na corrente principal da doutrina astrológica ou astronômica e já era

arcaica nessa época”.

As pirâmides antigamente eram consideradas portais místicos por meio dos quais os

faraós mortos podiam ascender até os deuses. Albert Pike, não deixou por menos;

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Page 62: Ailton Branco - Arca da Informação

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construiu a sede do Supremo Conselho, grau 33, jurisdição sulista, em forma de

pirâmide e planejou torna-lo seu mausoléu. No “Símbolo Perdido” não escrito da sua

vida, Pike sepultou consigo na Casa do Templo o seu símbolo da Palavra Perdida, a

fantasia de ser um faraó americano no contexto místico da era moderna.

15/02/2010 - GLMERGS – SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!

             [46] FACA de AKEDAH                                    Akedah é a história de como Abrahão foi testado por Deus que mandou imobilizar com ligura seu amado filho Isaac para oferecê-lo em sacrifício no Monte Moriah. No capítulo 22 do Livro do Gênesis está um dos mais dramáticos relatos das Escrituras Sagradas. O episódio é conhecido pelos estudiosos da bíblia como sacrifício de Isaac, que os judeus denominam Akedah, que quer dizer atadura ou atar.A faca de Akedah torna-se conhecida no meio maçônico através do Livro “O Símbolo Perdido”, romance que remete o epílogo para o interior da Casa do Templo, a sede do Supremo Conselho, grau 33, Rito Escocês Antigo e Aceito, jurisdição sulista, nos Estados Unidos da América, onde está prevista cerimônia de conteúdo demonista.A primeira Tábua de Delinear do ritual de Emulação, em um segmento de sua narrativa, na palavra do Mestre de Loja, revela: - “Nossas Lojas repousam em terreno sagrado porque a primeira foi consagrada por três grandes oferendas nele feitas e que obtiveram a aprovação divina. Em primeiro lugar a pronta submissão de Abrahão ao desejo de Deus, não recusando oferecer em holocausto seu filho Isaac para o sacrifício da fogueira e então ao Altíssimo aprouve substituí-lo por uma vítima mais propícia. Em segundo lugar as muitas preces piedosas e jaculatórias do rei David que realmente aplacaram a ira de Deus e paralisaram a peste que então lavrava entre o seu povo devido a ele ter inadvertidamente feito recenseá-lo. Em terceiro lugar, as muitas ações de graças, oblações, sacrifícios pelo fogo e valiosas oferendas que Salomão, rei de Israel, fez na terminação, dedicação e consagração do templo em Jerusalém ao serviço de Deus. Estas três oferendas fizeram, então, fazem agora e confio que farão sempre, tornar sagrado o terreno da Loja.”Faca de AkedahAkedah é a expressão que simboliza a primeira oferenda citada no ritual sancionado pela Grande Loja Unida da Inglaterra, que resultou dos trabalhos de unificação das Grandes Lojas de Londres, a dos Antigos e a dos Modernos, em 1813. A faca em poder de Abrahão tornou-se uma histórica faca com dimensão de adaga e lâmina de ferro polido. A faca de Akedah está representada no desenho da primeira Tábua de Delinear por um punhal – para alguns autores, adaga – apoiado verticalmente no piso e encostado na

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face ocidental da base da coluna da ordem Dórica, no Ocidente da Loja, associada ao Primeiro Vigilante. Esse instrumento pontiagudo e cortante é aplicado pelo Guarda Interno no peito esquerdo desnudo do Candidato quando esse é apresentado na porta da Loja para ser admitido, na Iniciação. O painel do grau 1 desenhado por John Harris para a Loja de Emulação, onde consta o punhal também foi adotado pelo Rito Escocês brasileiro em 1928.. Alguns símbolos na gravura não têm correspondência no Rito Escocês Antigo e Aceito como o punhal referido. O instrumento está vinculado às três oferendas de sagração e dedicação do templo a Jeová enunciadas no ritual inglês Cerimônias Exatas da Arte Maçônica.  No Rito Escocês Antigo e Aceito não há sagração do templo em cerimônia prévia com ritual específico porque a sagração se dá na ocasião da circulação da palavra sagrada, formando a Loja Cósmica na abertura dos trabalhos.No Rito Schröder a essência do rito não cogita instrumentos de sacrifício religioso e nem arma cavaleiresca; punhal ou espada. A pedagogia do Rito Schröder não requer templo, necessita apenas de um ambiente que circunstancialmente possa acolher obreiros intelectuais durante os trabalhos em Loja que se converte em escola de filosofia. 

 02/03/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão! 

             [47]   FACA DE NEKAM                                            A edição n° 46 da Arca da Informação abordou o tema Faca de Akedah, fazendo analogia entre o objeto citado no livro O Símbolo Perdido e o punhal apoiado na base da Coluna do Primeiro Vigilante, mostrado no desenho de John Harris para a Primeira Tábua de Delinear do ritual de Emulação. Na descrição do painel inglês estão citadas as três oferendas a Jeová para tornar sagrado o terreno da Loja. O punhal do ritual de Emulação está relacionado a uma das ofertas; o sacrifício de Isaac, filho de Abrahão.O Rito Escocês Antigo e Aceito também tem os seus punhais. O mais emblemático está na liturgia do grau 30°, que tem atualmente um mínimo de quatro denominações; Grande Inquisidor, Kadosch Grande Eleito, Cavaleiro Kadosch ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra.Fora do escocesismo há muitas Ordens que ostentam o título Cavaleiro Kadosch (Sanctus consacratus purificatus). O antigo e tradicional título na maçonaria é Cavaleiro da Águia Branca e Negra. Os rituais reportam-se ao acontecimento trágico que marcou o fim de uma Ordem ilustre por suas virtudes e suas desgraças. A base dos catecismos dos Cavaleiros ou Eleitos Kadosch é a tradição templária. No único sistema ritualístico do grau reconhecido em França no século 19 as cerimônias são realizadas em 4 salas

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ou aposentos. Uma das salas, decorada em vermelho, tem ao Oriente o trono do Grão-Mestre ou Grande Comendador, por cima do qual está uma dupla águia coroada tendo as asas abertas e um punhal nas garras.  Atrás do trono estão os estandartes da Ordem do Templo. Em fundo branco, duas faixas verdes cruzadas agregam legendas e figuras. Uma das faixas mostra a cruz teutônica em vermelho e uma águia negra com duas cabeças sustentando nas garras um punhal e a divisa: Vencer ou Morrer. No Cavaleiro Kadosch ou Templário do Rito de Heredom os maçons vestem túnica branca aberta lateralmente em forma de dalmática bordada em preto; por cima uma banda preta usada como faixa com franjas em prata e um punhal com cabo de marfim e de ébano suspenso na cintura. O Cavaleiro Kadosch do ritual maçônico usa o punhal no gesto simbólico de ferir, pois, representa aquele que se dedicava, no passado distante, a vingar o assassinato de Jacob de Molay, Grão-Mestre dos templários, e restaurar a Ordem do Templo. Prestava juramento de perseguir aos assassinos e aos seus descendentes. Nekam, Adonai! (Vingança, Senhor!).A águia está presente emblematicamente em quase todos os graus da maçonaria conhecidos pela designação de “Filosóficos ou Altos Graus”. Simboliza a audácia, a investigação e a inteligência que observam com olhar sereno e fixo a deslumbrante luz da verdade, porque a águia olha sem pestanejar os vivos resplendores do sol. A águia conduzindo em suas garras o punhal de nekam simboliza o combate aos inimigos que persegue com seu olhar implacável, 

 09/03/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!  

           [48] CAVALARIA MEDIEVAL                                   “A figura do guerreiro nobre e protetor dos indefesos foi forjada no século XI. A Idade Média foi pródiga em criar cultura. E uma das maiores e mais duradouras criações literárias daqueles séculos distantes foi a figura do cavaleiro cristão. Nobre, altivo, defensor das viúvas e indefesos, a imagem do cavaleiro ainda hoje fascina milhares de pessoas”. Essa é a opinião do brasileiro Ricardo da Costa, professor de história medieval e pesquisador correspondente da Real Academia de Letras de Barcelona; -“Desde o fim da Alta Idade Média, no século X, os milites estavam cada vez mais próximos da nobreza. Inicialmente, eles eram apenas vassalos, mas entre 1032 e 1100 foram gradualmente se mesclando à aristocracia não religiosa, como aconteceu no Sacro Império Romano-Germânico”.Para ingressar na cavalaria o jovem passava por uma cerimônia de iniciação que já estava consolidada no fim do século XI. O lento processo de transformação do estatuto social da cavalaria foi acompanhado da cristianização desses guerreiros. A partir do século XI a Igreja cristianizou a cerimônia de iniciação dos cavaleiros que passaram a prestar um juramento

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por meio do qual se comprometiam a proteger a sociedade e a Igreja com suas armas. Para assegurar uma defesa duradoura, Igrejas e Abadias decidiram recrutar seus próprios cavaleiros, que formaram as milites ecclesiae no sul e no norte da França. A cerimônia de recepção era precedida de jejum, da confissão, da comunhão e de atos de humildade e de penitência. O ideal cavalheiresco dos cavaleiros, criado no século XI, foi adotado de forma lenta pela sociedade da Europa Medieval. A difusão dos chamados costumes corteses se deu de cima para baixo. Abraçados pela elite, esses valores se irradiaram gradualmente para a base da sociedade, de modo que somente no final do século XIX a população burguesa em geral adotou tais práticas sociais. Os maçons, uma burguesia elitizada, contribuíram para a disseminação das histórias cavalheirescas romanceadas. Adotaram, muitas dezenas de anos antes, a lenda da cavalaria templária para propagar a boa ética, obediência hierárquica e fidelidade à doutrina cristã. Documentos consultados até agora revelam a existência de 318 títulos de graus maçônicos, conhecidos todos eles com a denominação garbosa de Cavaleiro. No Diccionario Enciclopédico de la Masonería, Frau Abrines e Arús Arderiu afirmam: -“O título de Cavaleiro na Ordem Maçônica tem sido empregado de forma abusiva, até o extremo de o título acompanhar-se de nomes e qualificativos ridículos e absurdos”.Cavaleiro cristão antigo, representação arquetípica, coletivamente elaborada, transmitida pela história e adaptada a necessidades estéticas, libera o desejo latente de muitos maçons de significarem o nobre combatente defensor da Viúva, após as cerimônias litúrgicas do grau. O laço que une a maçonaria com a antiga Cavalaria é o sistema ritualístico Kadosch que tem seu grau emblemático no Cavaleiro Kadosch. A base dos catecismos dos Cavaleiros ou Eleitos Kadosch é a tradição templária. Existem várias opiniões acerca da origem do grau de Kadosch, considerado um dos mais importantes em inúmeros ritos maçônicos. A imensa maioria dos maçons afirma que o grau foi criado em Lyon, em 1743. O nome templário do grau é Grande Inquisidor Grande Eleito. Foi concebido originalmente para simbolizar a vingança do assassinato de Jacob de Molay e restaurar a Ordem do Templo. Do grau Grande Inquisidor surgiu o grau Eleito dos Nove ou de Perignan. A seguir foi constituído o grau Eleito dos Quinze. Seguiram-se o Mestre Ilustre, o Cavaleiro da Âncora ou da Esperança e por último o Inspetor Grande Eleito ou Cavaleiro Kadosch. No Rito de Heredom ganhou o nome de Cavaleiro da Águia Branca e Negra. No Rito Francês ou Moderno, Kadosch Perfeito Iniciado. Desde 1793 os maçons abrandaram as cerimônias de conteúdo agressivo, desistiram de reorganizar a Ordem dos antigos cavaleiros e deram caráter eminentemente filosófico ao sistema ritualístico Kadosch. A figura imaginária do terrível vingador das vítimas da Ordem templária cedeu lugar nos catecismos para o caráter humano puro, intelectualizado, íntegro, útil, justo e bom, que serve à pátria e obedece às suas leis; que goza as benesses da vida sem abusar delas, suporta com resignação os infortúnios e tem como regra infalível de sua conduta as leis naturais que considera emanadas do Supremo Arquiteto dos Mundos.

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  14/03/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Maçonaria é arte de reflexão!

[49] ALQUIMIA                                           Nos velhos escritos egípcios consta a palavra "Khemia" que significa "transmutação do ouro e da prata" e identifica a "arte egípcia". Os árabes incorporaram o vocábulo sob a forma "al-kimiya", que significa "pedra filosofal", e a introduziram na península Ibérica. Os dicionários do século 19 atestam "alquímea", "alquímia", "alchymia" como a parte da química que versa sobre a transformação dos metais. De origem desconhecida, é atribuída pela tradição egípcia a Hermes Trismegisto, criador das ciências e das artes, sendo por isso chamada "arte hermética".  A alquimia tem sido estigmatizada no que tem de pior e não é lembrada no que tem de melhor. Não era apenas uma corrida mercenária em busca de fórmulas para transformar chumbo em ouro. Era uma busca filosófica dos segredos criativos da natureza; naturismo pagão. À maneira pagã, mente e matéria estavam ligadas. A meta espiritual do alquimista era a conquista da prata ou do ouro interior em sua imutável pureza e luminosidade. Carl Jung fala da alquimia não só como “a mãe da química”, mas como “a precursora de nossa moderna psicologia do inconsciente”. Jack Lindsay vê a alquimia “prefigurando todos os conceitos de desenvolvimento e evolução científicos e antropológicos”.O processo alquímico buscava transformar a “prima materia”, ou caos de substâncias mutáveis, na eterna e incorruptível “pedra filosofal”. Essa entidade perfeita é descrita como um andrógino. Tanto a matriz primitiva quanto o produto acabado são hermafroditas, pois contêm todos os quatro elementos básicos; terra, ar, água e fogo. A terminologia do incesto está por toda a parte na alquimia, revelando seu caráter pagão implícito. Os temas de incesto do romantismo têm origem nessa história antiga.Os alquimistas deram o nome de mercúrio a um hermafrodita alegórico que constitui todo o processo ou parte dele. Mercúrio, o deus, é mercúrio líquido, o elixir das transformações. Os alquimistas também falam da pedra que não é pedra. Falam da sua água filosofal que não é água, é mercúrio, que por sua vez é um espírito. O mercúrio representa a matéria arcana que se transforma nas operações alquímicas. Transforma-se de matéria mineral impura em uma forma espiritual muitas vezes personificada. A água dos filósofos é a matéria clássica que transforma os elementos químicos e é transformada pelas mudanças. É o espírito libertador da esperança religiosa. Essas idéias tiveram início na literatura antiga, continuaram a se desenvolver na Idade Média e chegaram até no conto popular. Por um período de aproximadamente mil e setecentos anos esses elementos arquetípicos  atuaram no comportamento e na crença humanos. O mercúrio, por um lado, é um metal; por outro, um

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líquido e, além disso, pode ser facilmente evaporado, isto é, transformado num espírito. Como panacéia, o Mercúrio universal foi espírito salvador e mantenedor do mundo, considerado pelos alquimistas um redentor que estabelece a paz entre os inimigos; como alimento da imortalidade livra as pessoas das doenças e da corruptibilidade, semelhante ao que Cristo teria feito pelos homens. Os alquimistas vêem uma figura dupla do Salvador: Cristo como salvador do homem e como salvador do macrocosmo sob a forma de lapis philosophorum.Textos antigos referem o milagre do desaparecimento e reaparecimento que se revelou ao alquimista na evaporação da água e, respectivamente, na do mercúrio. Zósimo de Panápolis nos legou no século III um valioso documento que faz analogia da meditação sobre as transformações da água numa panela fervente com a transformação da alma de Heráclito, que tinha virado água, ou espírito invisível, sob a vara mágica de Hermes e a sua queda de retorno à visibilidade da criação. Garantem os velhos mestres da alquimia que a sua água é, ao mesmo tempo, fogo. O seu mercúrio é duplex, uma junção dos opostos, o mensageiro dos deuses, o uno e a totalidade. Ele é um Hermes ctônico, um Mercúrio subterrâneo, espírito que emana da terra, que tanto brilha claro como incandesce ardendo, mais pesado que o metal e mais leve do que o ar; serpente e águia ao mesmo tempo, ele envenena e cura. Por um lado o mercúrio é o elixir da vida; por outro lado, um perigo mortal para quem não o conhece. Para os eruditos de séculos anteriores a filosofia dos alquimistas era uma verdadeira religião do médico.Os alquimistas da Real Sociedade de Londres criaram a Primeira Grande Loja de Londres, em 1717, para abrirem as portas das Lojas maçônicas aos não cristãos. A maçonaria até esse evento acolhia cristãos, predominantemente os católicos. O novo conteúdo ritualístico elaborado para essa mudança apoiou-se na construção do Templo de Jerusalém, na época, considerada a obra perfeita. Escolhido tema-símbolo da transformação ético-espiritual do maçom, - a pedra e o pedreiro livre - o templo de Javé não teve existência física comprovada. Ficou conhecido através do texto bíblico. Esse templo, que não é templo, equivale à água filosofal dos alquimistas, que não é água, que é mercúrio e que, por sua vez, é espírito. O Templo de Javé, uma obra teoricamente com projeto arquitetônico, com dimensões, com poder divino como “elixir” das transformações pessoais, também é somente uma idéia, que se evapora, que vira espírito. Alquimia, do Antigo Egito à Idade Média, da Inglaterra à França, do casamento caótico da albedo e da nigredo no pavimento de mosaico ao casamento redentor da rosa e da cruz, constitui a essência de grande parte da maçonaria simbólica e filosófica. Até mesmo para conteúdos maçônicos não ortodoxos como o Rito Schröder, a alquimia serviu de referência demarcatória para os autores do rito escolherem paradigmas filosóficos alternativos sem coincidências e nem interferências alquímicas.

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[50] CEIA DE CRISTO                                  A Ceia de Jesus Cristo é o objeto de uma comemoração especial dos maçons do grau Rosa-cruz do Rito Escocês Antigo e Aceito, em alguns Capítulos no Brasil, como glorificação das doutrinas humanitárias do nazareno, considerado vítima do despotismo político e religioso. A data da ceia corresponde à quinta feira de endoenças. Apagando e acendendo as luzes, a Oficina representa o farol da filosofia, extinto pela ignorância e brilhando depois com uma luz pura. A ceia consta de uma refeição frugal e fraternal. Consiste essencialmente de um bolo simbólico, que os Cavaleiros Rosa-cruz dividem entre si, e de vinho, que bebem em comum, depois de o fazerem circular em grande cálice emblemático de sua união. Os maçons formam a cadeia de união em roda da mesa, para isso preparada no meio do templo. A ceia de endoenças foi acrescentada aos usos do grau 18º do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil, por maçons da ala criada entre os Rosa-cruz, intitulada rosacrucianismo cristão. A essência filosófica alquímica tradicional da Ordem Rosa-cruz, no entanto, é a que foi transferida para a maçonaria no século XVIII através de diversos ritos antigos. Christian Rosenkreutz, nascido provavelmente na Alemanha, figura lendária a quem é atribuída a fundação da associação mística rosa-cruz de âmbito universal, escreveu a obra Chymische Hochzeit (Casamento Químico), com inspiração na simbólica tradicional do casamento sagrado existente na alquimia.A alquimia constituiu-se progressivamente em um conhecimento raro e, por conseguinte, o seu conteúdo tornou-se cada vez mais difícil de ser compreendido. A alquimia era quase inteiramente desconhecida como filosofia da natureza e como movimento religioso. As exposições gerais posteriores a respeito foram deturpadas pela suposição errada de que ela não passou de uma etapa preliminar da química. O seu aspecto útil mais importante é o filosófico. Ficou conhecida como “arte espagírica”. A palavra “espagírico” designa tanto a alquimia como a medicina da época que dependia dela; é formada pela união de dois radicais gregos: “spao”, que quer dizer separar e “ageiro”, reunir. A arte do alquimista consistia na separação e na solução dos elementos, bem como na sua composição e na solidificação. Considerava o estado inicial em que tendências e forças opostas estão em competição e a seguir pesquisava o processo que tornasse possível reconduzir à unidade os elementos e as propriedades. Os opostos são fatores que podem se unir pela atração que exercem ou se repelirem. A oposição pode se dar em disposição de dualismo ou de quatérnio. O quatérnio é um grupo de quatro elementos que se opõem em linhas cruzadas.Pesquisadores da problemática do homem moderno, como Carl Gustav Jung, precedidos por Herbert Silberer, desde 1914, fazem analogias entre o processo dos opostos na simbólica da alquimia e a dissociação da personalidade humana em consequência de tendências incompatíveis, que provêm normalmente de disposições psíquicas. Imagens que se manifestam

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em sonhos, têm, muitas vezes, correspondência paralela com símbolos alquímicos. Um exemplo é o fenômeno conhecido como transferência, o qual corresponde ao “casamento alquímico”; os alquimistas magos entendiam que todas as criaturas devem ser desenvolvidas para se tornarem substância una. De acordo com isso, o Mercúrio, em sua forma bruta de matéria primária, é equiparado ao homem primitivo, formado dos quatro elementos, dissolvido no mundo físico; o Mercúrio em sua forma sublimada é a totalidade restaurada do homem, o homem essência pura. Referências ou representações da totalidade, respectivamente do si-mesmo, na alquimia constituem os muitos fenômenos do lápis philosophorum, o mesmo que pedra filosofal, que é colocada pelos alquimistas em paralelo com Cristo.  Um texto alquímico escrito por clérigo, provavelmente no século XIII, expõe um estado de espírito no qual cristianismo e alquimia se interpenetram reciprocamente. Serve-se da mística do Cântico dos Cânticos para fundir as idéias aparentemente heterogêneas, procedentes do cristianismo e da filosofia da natureza. O texto é conhecido como “Aurora Consurgens I” e atribuído a Tomás de Aquino. A obra procura unir a concepção cristã e a alquímica; o espírito cristão da época medieval e a filosofia da alquimia.O grau Rosa-cruz do Rito de Heredom, precursor do Rito Escocês Antigo e Aceito, não substitui o conteúdo alquímico pela crença cristã. Sintetiza a conjunção da concepção cristã com a filosofia universal dos alquimistas. A essência do conhecimento Rosa-cruz levado até a maçonaria no passado visou dotar o adepto do grau, cristão ou não cristão, da compreensão da relação entre as leis naturais humanas e as leis cósmicas, dentro da concepção de conjunção de corpo e espírito; o corpo, representado pelo cubo que se desdobra na cruz, e o ponto no centro, representado pela rosa, símbolo da perfeição da natureza.Incluir o grau Rosa-cruz na liturgia religiosa da crucificação de Cristo é forçar a maçonaria a se vincular em mais essa circunstância à fé obediencial e dogmática.  

30/03/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

          [51]       CAPUT MORTUUM                                  O termo está no livro “O Símbolo Perdido”, romance ocultista de Dan Brawn. É citado para representar a figura de um crânio humano flagrado e registrado em vídeo durante cerimônia de recepção a candidato na Casa do Templo, sede do Supremo Conselho Grau 33° do REAA nos Estados Unidos.Caput mortuum é uma expressão latina cuja tradução literal é “cabeça morta”, usada em alquimia. Também chamada de “nigredo”, significa substância inútil que sobrou de uma operação de separação dos opostos, como na sublimação. Os alquimistas representam esse resíduo com uma caveira

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humana estilizada. O símbolo foi utilizado no século 18 para dizer resíduo, o restante. Caput mortuum foi também, por vezes, empregado como sinônimo de compostos metálicos marrom-avermelhados. Em alquimia o gesto alusivo à  “caput mortuum” é a decapitação. Esse símbolo refere-se à morte do homem comum, à morte do seu caos interior e da dúvida em que vive porque é incapaz de encontrar a verdade em si mesmo.As trevas do espírito humano mencionadas na Aurora Consurgens, são o “caput mortuum”, ou negrume, estágio inicial do processo alquímico. As trevas espirituais coincidem com a dificuldade e a aflição encontradas no início da obra. Os antigos adeptos se dedicavam à obra alquímica com uma concentração incomum e com verdadeiro fervor religioso. Tal devoção propiciava a projeção de valores e de significados no objeto de investigação, preenchendo-o com formas e figuras cuja origem está no inconsciente do pesquisador. Os alquimistas repetiam que “opus”, a obra, provém de uma só matéria, devendo retornar ao uno depois de receber limpeza por um processo longo e que significa, às vezes, repetir interminavelmente a mesma emoção em  diferentes aspectos, sendo, portanto, uma espécie de movimento circular. Por essa razão a obra alquímica é muitas vezes chamada de “opus circulare”, a obra de forma circular. O “caput mortuum”, no sentido alquímico, significa putrefação, decomposição. O corpo é reduzido à sua matéria primordial da qual se originou. Esse processo é chamado de “cozimento”. A putrefação destrói a natureza e a forma do corpo, que se transmuta em um novo estado do ser. É uma etapa inevitável para tornar-se mestre nos ritos maçônicos epagíricos – aqueles que possuem a sua essência ou parte dela apoiada na arte da alquimia. Os processos de cozimento do adepto nos ritos alquimistas culminam no grau Rosa-cruz.Nas instâncias iniciais da caminhada nos ritos maçônicos de meditação alquímica, o símbolo tradicional da coexistência de nigredo e albedo é o pavimento de mosaico. Considerando-se o Rito Escocês Antigo e Aceito como referência constata-se que nos rituais franceses dos graus azuis, o pavimento preto e branco constitui-se de um tapete retangular no ocidente, ocupando apenas parte do piso total do templo. Sobre ele caminha o candidato somente quando é levado ao altar dos juramentos para prestar seu compromisso. A passagem sobre os mosaicos brancos e pretos marca o momento em que o adepto passa sobre a síntese caricata da realidade estrutural humana – impurezas e alvuras, e jura submeter-se às condições do processo iniciático para superar as imperfeições com fé, esperança e amor caridoso. Uma correspondência criativa alternativa ao tapete alquímico, se verifica no Rito Schröder. Os organizadores dessa liturgia maçônica idealizada no último decênio do século 18, tiveram na mente o intuito de conceberem o simbolismo maçônico nos três graus universais da maçonaria, apoiados na filosofia humanista, diferente da filosofia religiosa dos alquimistas Rosa-cruz. E dentre as novidades criaram um tapete que em lugar dos mosaicos brancos e pretos, mostra utensílios de trabalho do Ofício da construção. As ferramentas simbólicas induzem o candidato a observar o meio em que vive e projetar racionalmente a obra de edificação pessoal e social. O tapete do Schröder simboliza a planta baixa do templo construído por Salomão, escolhido como

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espelho referencial da obra ética e comportamental do maçom. O tapete não representa o templo de Salomão. A título de estabelecer diferenças das propostas iniciáticas sintetizadas nos dois tapetes, o tapete do REAA reflete a presença do bem e do mal na estrutura do homem, a qual será trabalhada pela meditação. O tapete do Rito Schröder mostra que o uso dos instrumentos adequados da filosofia humanitarista no caráter humano torná-lo-á ser social aprimorado individual e coletivamente.No Rito Moderno, a postura introspectiva com fé, esperança e caridade, fazendo analogia à dos antigos alquimistas, adotada até a reforma do rito na convenção de 1877, foi substituída por postura sócio-política dinâmica inspirada na filosofia racional humanista de liberdade, igualdade e fraternidade. O maçom  Rosa-cruz do Rito Moderno obriga-se, sobre a espada, símbolo da força colocada a serviço do Direito, sustentar sempre a causa do fraco e do oprimido e defender a maçonaria contra os que a atacam.

17/04/2010 - GLMERGS - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

           [52] ORIENTE IMPERIAL                                    Os Regulamentos Gerais de 1779 do Grande Oriente de França, secção 3, parte II, das Leis Constitucionais, descrevem a decoração de uma Loja (na época não se denominava templo). Sobre o Oriente: “A Loja, na forma de um quadrilongo, é decorada em seu contorno com colunas em estilo jônico. O Trono está elevado sobre três degraus que são cercados por várias colunetas em estilo jônico”. O livro “Os Segredos dos Construtores” contém: “O modelo adotado pelos primeiros templos maçônicos, com o Venerável Mestre representando o Oriente num átrio semicircular, cercado por colunatas cujo centro se abre para o céu, tem inspiração em antigas igrejas de Cartago como a de Damons el-Karita. A mesma particularidade se encontra em Saint-Martin de Tours”. Os rituais do século XVIII revelam que os graus azuis, também chamados universais, eram praticados em Lojas que tinham o piso com o mesmo nivelamento de Ocidente a Oriente. O desnível existia apenas no local destinado ao trono. Essa decoração foi mantida até o início do século XIX e serviu de palco para os procedimentos dos ritos Escocês Primitivo, Francês e, a partir de 1804, do Rito Escocês Antigo e Aceito. Depois da fundação do Supremo Conselho Jurisdição Sul do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito, em Charleston, Estados Unidos, o rito foi levado para a França, onde foi criado o Supremo Conselho em Paris. A intenção foi organizar o rito à semelhança dos Estados Unidos; o Grande Oriente de França com a jurisdição das Lojas azuis e o Supremo Conselho, das Lojas do 4 ao 33. Depois de muitas discussões, acordos e finalmente um desentendimento

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definitivo, o Supremo Conselho realizou uma Assembleia geral para fundar a Grande Loja Geral Escocesa com a finalidade de comandar as Lojas azuis e elaborar um ritual inédito para essas Lojas do Rito Escocês Antigo e Aceito. Surgiu o ritual em dezembro de 1804, adotado a partir de 1805. No ritual não houve qualquer menção a um desnível entre Oriente e Ocidente. Em 1816, o Supremo Conselho enfraqueceu-se estrutural e politicamente. A Grande Loja Geral Escocesa abateu colunas. O Grande Oriente de França assumiu a jurisdição do Rito Escocês Antigo e Aceito dos graus 1 ao 18, formou as Lojas Capitulares, e o Supremo Conselho limitou-se a trabalhar durante vários anos apenas nas Lojas do sistema ritualístico Kadosch. Em 1819, o Grande Oriente elaborou rituais novos, que foram adotados ao longo do ano de 1820, para os 18 graus. Nesses rituais, uma das novidades importantes foi a mudança de simbolismo do Oriente; deixou de ser personalizado pelo Venerável Mestre da Loja para ser representado por um pedaço de piso, levantado três degraus mais alto do que o piso situado no Ocidente. Essa mudança foi escolhida para obedecer à influência arquitetônica em moda na época. Os arquitetos Pierre Fontaine e Charles Percier, ambos freqüentadores da Escola da Academia de Paris, considerados os principais arquitetos de Napoleão I, projetaram e executaram diversas obras em castelos, a construção do arco do triunfo do Carroussel, a ala noroeste do Louvre e os imóveis com arcada da rua de Rivoli. Criaram o estilo Império e exerceram grande influência pelo ensino e pela publicação de coletâneas logo conhecidas na Europa. Propondo modelos da Renascença, evitaram os riscos de grandiloquência na segunda geração neoclássica e abriram caminho para o ecletismo, defendendo ao mesmo tempo a razão prática. Dentro do estilo Império, construíram na fachada da Escola Militar uma grande tribuna elevada para sediar o trono, visando as cerimônias da festa das águias. O mesmo motivo arquitetônico levou os maçons da época a transformarem o Oriente da Loja (do templo) em uma grande tribuna onde se situa o trono do Venerável Mestre. O espaço na volta foi ampliado e cercado por uma balaustrada na divisa entre as regiões geográficas correspondentes ao Oriente e ao Ocidente da Loja.  Mais tarde, os degraus receberam  denominações de virtudes, num ato de discutível inspiração que apenas copiou o modelo da escada em espiral do grau de Companheiro das Cerimônias Exatas da Arte Maçônica (o Ofício da The Union Grand Lodge of England). As alterações ocorreram em período conturbado da política profana francesa. Napoleão I havia exercido sua segunda abdicação e partido para a Ilha de Santa Helena, encerrando seu reinado. Mas sua ausência aumentou a força de sua lenda. O Oriente Imperial ficou para uso dos Príncipes Rosa-cruz na Loja Capitular. A “luz” recebida do Oriente para o aperfeiçoamento dos maçons virou símbolo de poder hierárquico e de discriminação depois de 1820.

02/05/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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           [53] LOJA FRANCESA EM 1779 A Grande Loja de Londres, criada em 1717, proliferou em toda a Inglaterra. Por via da Irlanda a maçonaria inglesa atingiu a França. A nobreza irlandesa, desde Luiz XI, prestava serviço militar regularmente nos Regimentos Irlandeses na França. Os Oficiais dessas tropas criaram em 1726 a primeira Loja maçônica francesa, instalada num grande restaurante na Rua dos Açougues, em Saint-Germain-des-Prés. Ela filiou-se à Grande Loja da Inglaterra. Mas a maçonaria fizera seus primeiros movimentos na França nas reuniões dos refugiados jacobitas que usaram os encontros para conservarem os vínculos políticos e sociais dos seguidores dos Stuart contra a Casa de Hanôver. Em 1735 foi criada a Grande Loja de França. A finalidade da maçonaria para os franceses estava dividida; para uns era uma sociedade para distração de mundanos, especialmente nas Lojas “escocesas” jacobitas. Era um imenso salão de modas sem preocupação com ritual normativo. Nas Lojas “francesas”, funcionando entre os militares, a maçonaria era regida pela Constituição de Anderson, a ritualística reproduzia a maioria dos procedimentos ingleses e falava-se de filosofia, de literatura, ciências e até de melhoramentos sociais. Em 1758, a Grande Loja de França desligou-se da Grande Loja de Londres, adquiriu autonomia jurisdicional e promoveu uma reforma ritualística, concluída em 1761. Foi elaborada a ritualística que, mais tarde, em 1786, foi oficialmente denominada Rito Francês. Em 1770, havia 150 Lojas em França das quais apenas vinte trabalhavam com regularidade ritualística. A Grande Loja de França ficou adormecida de 1766 até 1771. Ao retornar às atividades teve insuperável dissidência; parte dos maçons reergueu a Grande Loja de França com o nome de Grande Loja Nacional Francesa e outra criou o Grande Oriente de França, em 1772. A implantação e a organização do Grande Oriente foram regulamentadas pelos Estatutos da Ordem Real dos Francomaçons de França, promulgados em 1779. No Capítulo III, parte 2 está a descrição da ornamentação de uma Loja para trabalhar em três graus, decisão de assembléia do Grande Oriente de França, em 1777. A Loja é precedida da Sala dos Servos, do Vestíbulo, da Sala de Visitas e da Sala de Banquete. A Sala dos Servos tinha a finalidade de abrigar, durante a reunião, o grande número de lacaios responsáveis pelos coches que congestionavam as imediações da Loja maçônica. A Loja na forma de um quadrilongo é decorada em seu contorno com colunas em estilo jônico. As bases e os capitéis são dourados. Os espaços entre as colunas são ocupados por nichos nos quais estão estátuas em mármore branco, em cima de pedestais. Nos intercolúnios estão pintados medalhões que mostram os atributos escritos dos Oficiais da Loja. A parede do contorno da Loja, acima das colunas, é decorada com mármore. O trono está elevado sobre três degraus que são cercados por várias colunas em estilo jônico. Acima do encosto do trono há um disco flamejante que ilumina o Oriente. O trono é coberto por um grande dossel azul e dourado fixado nas colunas. Cortinas da mesma cor presas na armação do dossel caem parcialmente até serem

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amarradas para permitirem aberturas no circuito recortado para o trono. Sobre o trono, pendente do dossel, uma estrela flamejante. Diante do trono a mesa do Venerável; sobre a mesma são colocados os Estatutos do Grande Oriente, o livro dourado, o livro do Regulamento da Loja, um compasso e a joia do Venerável. Três grandes estrelas (velas) assentadas em candelabros azuis e dourados são dispostas no piso em esquadria. O conjunto fica próximo da mesa do Venerável, no lado ocidental. Muitas outras velas iluminam a Loja. Os dignitários têm diante de si a mesa necessária às suas funções, com a joia em cima. No lado Norte, na extremidade ao lado do Oriente, o lugar do Secretário. Atrás dele está a estátua do Silêncio na forma de uma mulher que tem o indicador da mão direita sobre os lábios. À direita do Secretário, o lugar do Orador, ao lado do Oriente. Atrás, está a estátua da Prudência, na forma de uma mulher tendo na mão um espelho e aos seus pés, uma serpente. O lado Sul, à esquerda do trono, tem decoração semelhante. Na extremidade ao lado do Oriente, está o lugar do Tesoureiro. Atrás dele, a estátua da Caridade, representada por uma mulher que amamenta o filho. Ao lado do Tesoureiro está o lugar do Guarda Selos. Atrás dele, a estátua da Fé, na imagem de uma mulher com os olhos vendados. No Ocidente, a porta principal da Loja é decorada lateralmente por dois nichos na parede. No nicho do lado Sul, atrás do Primeiro Supervisor (Vigilante), vê-se a estátua da Força, representada por uma mulher apoiada numa coluna partida, ao pé da qual está um leão. No nicho do lado Norte, atrás do Segundo Supervisor, está a estátua da Justiça representada por uma mulher que segura com uma das mãos uma balança e com a outra, uma espada. Os supervisores são situados junto às duas colunas simbólicas que ornam o Ocidente. Essas colunas são de bronze e seus capiteis são decorados com romãs vermelhas. Nas paredes laterais da Loja estão duas portas, no meio de todo o comprimento, uma no lado Norte e outra no lado Sul. Junto da porta no lado Norte está a estátua da Temperança, na forma de uma mulher que entorna a água num vaso. Fica atrás do lugar do Mordomo. Junto da porta no lado Sul se vê a estátua da Esperança representada por uma mulher com uma coroa de rosas em uma das mãos, enquanto a outra mão apóia-se numa âncora. Nos quatro ângulos da Loja, grandes taças douradas que contêm os atributos da maçonaria. A abóbada da Loja é ornada com infinidade de estrelas. No centro do Ocidente o quadro da Loja. Bancos nos lados Sul e Norte da Loja para acomodarem os ilustres participantes.

13/05/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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         (54)   LOJA ESCOCESA na FRANÇA                                                                A Loja escocesa ganhou essa denominação informal na França ao ser caracterizada como Loja maçônica com finalidades políticas reunindo os membros do partido legitimista inglês e escocês, os jacobitas,

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refugiados em território francês desde 1688 juntamente com o rei Jaime II da Inglaterra e Irlanda e Jaime VII da Escócia, deposto por seu genro, Guilherme de Orange, que foi sensível às pressões da oposição whig. O rei Jaime II convertera-se ao catolicismo em 1671 e sua aproximação com Luiz XIV bem como os favorecimentos concedidos aos católicos desencadearam forte movimento de oposição do povo e do Parlamento. A destituição de Jaime II foi deflagrada no ano do nascimento de seu filho Jaime Eduardo Stuart, porque seus opositores temeram a implantação de uma dinastia católica. A Inglaterra, desde 1534, adotara o anglicanismo por ato do rei Henrique VIII, mas o povo continuou por muito tempo cultuando o catolicismo. O partido jacobita, depois da deposição, subsistiu nos territórios antes comandados pela Casa dos Stuart, além de ter criado novas frentes com os exilados que acompanharam a família real até a França. A Loja maçônica foi o principal meio de manutenção da coesão política no exterior e onde eram anunciadas as ações de resistência. Surgiram as Lojas escocesas, organizadas à semelhança das Lojas em atividade nos palácios e nos castelos da Escócia. A maçonaria escocesa foi precursora da maçonaria na Inglaterra. Seus primeiros passos datam de 1600. O primeiro uso da palavra "Loja" no sentido maçônico e as evidências de sua existência com regularidade e com indícios de funcionamento e organização em âmbito nacional, verificou-se na Escócia. Os primeiros catecismos maçônicos expondo a "Palavra do Maçom" e os segredos de reconhecimento foram também concebidos na maçonaria escocesa. Os maçons jacobitas levaram o modelo estrutural das Lojas da Escócia para a França e usaram o segredo elaborado em torno da "Palavra do Maçom" para desenvolverem planos políticos com segurança e discrição.  Em 1708, os Stuart tentaram retomar o trono para Jaime II na Inglaterra e Irlanda. A iniciativa fracassou. Em 1719, idêntica investida na Escócia, que também foi mal sucedida. Fracassadas as duas tentativas as Lojas escocesas jacobitas diminuíram a intensidade dos conteúdos políticos e ampliaram os temas culturais e ocultistas. Em 1747, foi fundado na cidade de Arras, França, pelo Príncipe Carlos Eduardo Stuart, um Capítulo maçônico primordial jacobita. Foi o primeiro núcleo de graus acima do de Mestre criado na França, sob o título de Soberano Capítulo Primordial de Rosa-cruz da Escócia Jacobita com poderes para constituir Capítulos semelhantes em outras cidades, sob a exigência de ser único em cada cidade. Em 1780, foi instituído o Capítulo de Arras do Vale de Paris. O Capítulo Primordial de Arras constituiu-se na primeira Loja Capitular escocesa, onde se originou o sistema ritualístico escocês, um conjunto de ritos diversificados que reuniram elevado número de graus superiores aos três iniciais. A Loja Capitular de Arras foi a matriz do Rito Escocês Primitivo com 4 graus. Esse rito tem sido citado equivocadamente como Rito Escocês Antigo e Aceito com 4 graus. Os maçons que pesquisam o escocesismo sabem que o Rito Escocês Antigo e Aceito nunca teve quatro graus apenas.A criação das Lojas escocesas na França representou a sobrevivência do conteúdo ético, estético e institucional da maçonaria simbólica e cavalheiresca da Escócia, mais sistematizada na comparação com a de outras nações no século 17. A maçonaria da Escócia, organizada em Lojas no exterior, mesmo

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que num primeiro momento por motivos políticos profanos, evitaram que a essência do pensamento e da liturgia dos maçons escoceses fossem neutralizados pelo ímpeto hegemônico das instituições maçônicas inglesas que, como a realidade não permite duvidar, incorporaram as novidades metodológicas, culturais e metafóricas da maçonaria da Escócia e divulgaram-nas ao mundo associadas aos conceitos religiosos e filosóficos do cientificismo britânico, com regras estatutárias que designaram as tavernas de Londres o berço do movimento maçônico mundial.

18/05/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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    (55)       CAPÍTULOS EM BONIFICAÇÃO                                              A maçonaria escocesa jacobita chegou na França em 1688 na bagagem da Corte do rei Jaime II da Inglaterra e Irlanda e Jaime VII da Escócia, destituído do trono pelo Parlamento apoiado pela oposição anglicana. Na Inglaterra, os ocupantes da Casa dos Stuart desde o reinado de Carlos II, irmão e antecessor de Jaime II, usaram a maçonaria para se beneficiarem politicamente. Jaime Stuart, depois que se refugiou na França, aproveitou particularidades das Lojas maçônicas para agir no planejamento político visando a retomada do poder britânico. A convivência também permitiu aos jacobitas perceberem que a sociedade francesa era receptiva às distinções pessoais através de títulos e condecorações. E a maçonaria era terreno fértil para a criação de Ritos com títulos pomposos e graus honoríficos bem ao gosto do interesse alimentado na competição por “status” social. Os maçons franceses seriam clientes dispostos a desembolsarem o que fosse estipulado para ostentarem uma dignidade de Ordem de Cavalaria Rosa-cruz, Templária e outras.Em 1747, Jaime Stuart teve a intenção de manifestar seu agradecimento aos maçons de Artois e aos Oficiais da guarnição da cidade de Arras pelas provas de fidelidade e dedicação durante os seis meses que permaneceu nessa cidade. Por bula expedida na condição de Grão-Mestre do Soberano Capítulo Cavaleiro da Águia e do Pelicano, o rei criou o Soberano Capítulo Primordial de Rosa-cruz Jacobita de Arras e designou para a regência e administração os Cavaleiros Lagneau e Robespierre (pai do famoso Convencional), ambos, advogados; Nazard e seus dois filhos médicos; J. B. Lucet, mestre tapeceiro e Geronimo Cellier, mestre relojoeiro. Tinham autorização para fazerem Cavaleiro Rosa-cruz e criarem outros Capítulos Jacobitas de Arras em cidades convenientes ou com interessados. O de Paris surgiu em 1780. Diversos graus foram criados para estruturarem a Loja que ficou assim constituída: Graus FundamentaisAprendizCompanheiroMestreGraus Primitivos ou PolíticosTemplárioMestre IrlandêsPerfeito Mestre IrlandêsMuito Alto Mestre IrlandêsMestre EscocêsMestre Secreto

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Mestre PerfeitoGraus Reformistas (de Ramsay)Escocês NoviçoCavaleiro do TemploReal Arco JacobitaCavaleiro da Águia e do Pelicano (Rosa-cruz Jacobita). O Soberano Capítulo Primordial de Rosa-cruz Jacobita de Arras foi precursor de outros Capítulos e Conselhos que jurisdicionaram Altos Graus em diversos Ritos posteriores.No ano seguinte, 1748, Jaime Stuart desejoso de dar aos maçons de Toulouse também uma prova de seu agradecimento pelas atenções que haviam dispensado ao seu ajudante-de-campo Sir Samuel Lockard durante sua permanência nessa cidade, reproduzindo o que fizera para os maçons de Arras, criou um Conselho Supremo, cujos chefes escolhidos pelos jacobitas se denominaram Menatzchims, e outorgou a esse Conselho uma Patente de Constituição com o título de Rito dos Escoceses Fieis. O Conselho teve a faculdade de administrar e conferir os nove graus da Loja Capitular, assim estruturada:Graus FundamentaisAprendizCompanheiro MestreMestre Secreto (acrescentado mais tarde)Graus TempláriosEleitos I, II, III, IVMaçonaria CientíficaIniciados nos Segredos Dezenas de Ritos e Capítulos foram criados no século 18 por diferentes setores ou individualidades franceses, com mais de duas centenas de graus lançados para atender aos interesses, culturas e preferências dos maçons.O tempo passou. A inflação de Lojas Capitulares e Ritos de Altos Graus diminuiu. O Grande Oriente de França, com muita dificuldade para ordenar o seu próprio destino, porque fazia parte do mesmo sistema maçônico dominado pela vaidade pessoal e pela luta de poder envolvida na hierarquia dos graus superiores, conseguiu neutralizar a maioria dos Capítulos e Ritos com finalidades bonificadoras e lucrativas. Na virada do século, sob os ares da revolução política de 1789, muitos Conselhos implodiram, Ritos desapareceram e Capítulos foram absorvidos pelo Grande Oriente de França. Permaneceram os Altos Graus que sobreviveram à limpeza ética e cultural onde evoluíram as idéias das campanhas políticas revolucionárias de libertação de povos colonizados em especial nas Américas. A ética na maçonaria melhorou. Os maçons revelaram no século 19 mais idealismo social e filosófico. A elite cultural e científica povoou as Lojas maçônicas. O esoterismo Rosa-cruz, inspirado na religião-ciência dos antigos egípcios e sua crença na lenda de Osíris, adaptou o rito solar aos princípios de vários graus. 

06/06/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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           (56) REAA – 1926- 77 -

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                                           Em 1927, o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil do Grau 33 para o Rito Escocês Antigo e Aceito rompeu o tratado com o Grande Oriente do Brasil. O Soberano Comendador e mais doze Irmãos levaram a Carta Constitutiva e a partir dessa base institucional consideraram-se aptos para fundarem as primeiras Grandes Lojas estaduais para jurisdicionarem as Lojas Simbólicas do Rito Escocês. Os Supremos Conselhos dependem das Lojas Simbólicas para povoarem suas Lojas dos chamados Altos Graus.  A maioria das Lojas que aderiram às novas Obediências eram Lojas Capitulares. Trabalhavam nos primeiros 18 graus da hierarquia do REAA e, por essa razão, já possuíam os rituais indispensáveis para o ordenamento das cerimônias iniciáticas do simbolismo, procedimentos em vigor desde a chegada do Rito ao Brasil. Esse mesmo ritual conhecido dos maçons brasileiros há quase cem anos, foi obedecido pelas Lojas Simbólicas das Grandes Lojas no primeiro ano de sua fundação, ou seja, todo o ano de 1927. Em 26 de novembro de 1927, o Supremo Conselho assinou tratado com a Grande Loja Simbólica do Rio de Janeiro, constando no artigo 6 a confecção de um novo ritual para o Rito. Em 1928, fruto da encomenda, surgiu um ritual desconhecido, completamente diferente do ritual tradicional do Rito Escocês Antigo e Aceito, para ser adotado pelas Lojas das Grandes Lojas brasileiras. O novo e estranho ritual foi homologado pelo Supremo Conselho, a Potência encarregada de preservar a inalterabilidade dos procedimentos do Rito Escocês Antigo e Aceito. O novo ritual substituiu o antigo ritual, adotado oficialmente pelo mesmo Supremo Conselho que  aprovou duas orientações diferentes, com o mesmo título, para as cerimônias do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito. Os maçons inovadores não respeitaram a centenária cultura litúrgica dos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito. Entenderam mais importante marcar a existência de um cisma institucional maçônico, fraudando as tradições de um rito e demonstrando que para os maçons também os fins justificam os meios, numa manifestação de deformação do caráter que não serve de exemplo para os pósteros.A seguir, a reprodução da abertura do ritual do REAA, válida até 1926 para o Supremo Conselho do Brasil: 

SESSÃO ECONÔMICA Ordem dos Trabalhos Venerável – (bate !) – Em Loja, meus Irmãos. Irmão 1° Vigilante, qual é o primeiro dever de um Vigilante em Loja?1° Vigilante – Verificar se o templo está coberto.Venerável – Certificai-vos disso, meu Irmão.1° Vigilante – Irmão Cobridor, cumpri o vosso dever.Cobridor – (depois de bater regularmente à porta do templo) – Irmão 1° Vigilante, o templo está coberto.1° Vigilante – O templo está devidamente coberto, Respeitabilíssimo Mestre.Venerável – Qual é o segundo dever de um Vigilante em Loja, Irmão 1° Vigilante?1° Vigilante – Verificar se todos os presentes são Maçons.Venerável – Verificai se o são.1° Vigilante – À ordem, meus Irmãos. (todos fazem o sinal de ordem). Respeitabilíssimo Mestre, eles o afirmam em ambas as colunas.Venerável – Irmão 1° Vigilante, a que horas começam os Aprendizes Maçons os seus trabalhos?

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1° Vigilante – Ao meio dia, Respeitabilíssimo Mestre. Venerável – Que horas são, Irmão 2° Vigilante?2° Vigilante - Meio dia em ponto, Respeitabilíssimo Mestre. O Venerável bate (!!!) – o que é repetido pelos Vigilantes – ficando todos de pé e à ordem. O 1° Diácono sobe os degraus do trono, coloca-se em frente do Venerável e ambos fazem o sinal gutural.O Venerável da-lhe depois ao ouvido a palavra sagrada e o Diácono dirige-se ao 1° Vigilante; com as mesmas formalidades transmite-lhe a palavra sagrada e volta ao seu lugar. O 1° Vigilante a envia por intermédio do 2° Diácono e, do mesmo modo, ao 2° Vigilante. 

2° Vigilante – (bate !) – Tudo está justo e perfeito na coluna do meio-dia.1° Vigilante – (bate !) – Tudo está justo e perfeito em ambas as colunas, Respeitabilíssimo Mestre.Venerável – Em nome do Grande Arquiteto do Universo e de São João da Escócia, nosso padroeiro, está aberta esta Loja de Aprendiz Maçom, com o título distintivo N...; desde agora a nenhum Irmão é permitido falar ou passar de uma para outra coluna, sem obter a devida permissão, nem se ocupar de assuntos políticos ou religiosos. A mim, meus Irmãos, pela simples bateria. Todos fazem o sinal gutural e aplaudem pela bateria simples. Venerável – (bate !) – Sentemo-nos, meus Irmãos. Irmão Secretário, dê-nos conta do balaústre dos nossos últimos trabalhos. Atenção, meus Irmãos.

19/07/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

(57) POR QUE, RITO SCHRÖDER 

                                  1783. O Sistema da Estrita Observância tumultuava a maçonaria germânica. Os maçons demonstravam crescente resistência à exigência de se submeterem ao juramento de obediência incondicional aos integrantes dos Altos Graus da Estrita Observância, os Soberanos da Excelsa Ordem dos Cavaleiros do Templo Sagrado de Jerusalém, mantidos secretos e desconhecidos. O Sistema da Estrita Observância, desde 1741, exerceu influência inegável nas províncias alemãs, substituindo a ritualística inglesa adotada. Em 1782, o Congresso de Wilhelmsbad aboliu definitivamente a Estrita Observância da maçonaria européia. Era o momento favorável para a reativação do cerimonial inglês. Mas para isso, havia um obstáculo a transpor: não existiam rituais escritos. A solução foi organizar uma comissão para recuperar de memória os procedimentos ingleses executados antes de 1741 e

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estudar rituais diversos vigentes no momento. Friedrich Ludwig Schröder foi convidado para integrar o grupo em 1788.Schröder fora recém eleito Venerável Mestre da Loja Emanuel e fizera a primeira tradução para o alemão das obras de Shakespeare. Dirigiu-as e também foi seu intérprete no teatro. Tornou-se, aos 35 anos, o maior ator de teatro da Alemanha. Frequentou a nobreza germânica e conviveu com Herder, Lessing, Goethe, Fessler e Schiller. Entrou para a maçonaria em 8 de setembro de 1774. Apenas seis semanas depois de Iniciado fundou a Loja Elisa do Coração Ardente para os atores de sua troupe interessados em se tornarem maçons.O novo ritual da maçonaria alemã foi concluído em 1790. Ficou em discussão até 29 de junho de 1801, quando uma assembleia geral dos Maçons da Grande Loja Provincial da Baixa Saxônia e Hamburgo o aprovou e adotou. O ritual da comissão concilia procedimentos ritualísticos dos maçons filiados às Lojas da Grande Loja de Londres, de 1717, apelidados de “modernos”, com o pensamento filosófico do movimento cultural em evidência na época, conhecido em alemão como “Aufklärung” - Filosofia das Luzes.A nova idéia trazida para os conceitos Iniciáticos da maçonaria faz parte de projeto iluminista que teve a intenção de resgatar a capacidade de pensar e se manifestar com liberdade no mundo influenciado por estruturas de dominação e obediência, que se nutrem de crenças, ideologias e preconceitos. O ritual da equipe de Schröder propicia na didática maçônica outra teoria de desenvolvimento do contato e da transformação do caráter humano, desenvolvimento que percorre de forma integrada as diversas esferas do ser e do fazer, em seus contextos éticos. Inspira-se na tese de consciência humana universal, tratada por Gotthold Lessing em “Diálogos entre Ernest e Falk.” Contribui para a construção na prática de uma perspectiva humanista de união fraterna entre os maçons. Outro pensador que colaborou no acabamento da elaboração intelectual do novo sistema ritualístico foi Johann Herder, teólogo e filósofo, para quem, através dos símbolos, são transmitidos conceitos de arte. Os idealizadores do Rito Schröder consideraram “humanität” - caridade no sentido amplo - a manifestação do ideal maçônico humanitário e a filantropia o meio de concretizar esse espírito humanista. A filantropia, ou humanitarismo, é o conjunto de concepções capazes de mobilizar melhorias na condição humana da sociedade.Schröder criou consórcio de maçons para o bem geral, a pesquisa maçônica e a administração de Lojas, que financiou a construção do Hospital Maçônico de Hamburgo e da Fundação Pró-Criança. Também organizou uma caixa de pensão para atores.O Rito Schröder ganhou essência filosófica e contornos interpretativos de cultura disponível na obra de Shakespeare, um modelo a ser seguido. Os construtores do Rito elegeram a linguagem universal da arte para fazer dos símbolos e das lendas nas cerimônias maçônicas os veículos de renovação de conceitos éticos. O insight introspectivo emocional que lapida conteúdos caóticos – instinto e crenças - mediante o mergulho nos labirintos da mente e o retorno à superfície da racionalidade, induzido pelos ritos ocultistas, é

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substituído pela conscientização racional elaborada a partir das experiências culturais e as vivências interativas pessoais e sociais. No conceito de Schröder os maçons constituem uma união de virtudes e não uma sociedade esotérica. O Rito Schröder, no Brasil, tem ampliado seu raio de atuação no universo da maçonaria, recebendo crescente adesão de obreiros que nele encontram movimentos e mensagens alternativas atraentes. Mas pouco saiu das atuações e reflexões semelhantes ao que se vê no interior do templo destinado aos trabalhos de Ritos que lidam com tradições de magia, alquimia e cabala. Com ênfase para as padronizações ritualísticas, embora seus obreiros saibam que a proposta beneficente do Rito é muito mais abrangente que suas formalidades litúrgicas, o exercício prático da autonomia ética - humanität – filantropia, carece de mais presença na obra social de aculturamento moral da cidadania. O processo transformador do Rito completa-se na ação de campo que enriquece a bagagem subjetiva do caráter servidor de cada Obreiro, primordial na maçonaria idealizada por Schröder, Lessing e Herder. Rito Schröder, cerimonial da maçonaria simbólica em ritualística com finalidades objetivas, linguagem litúrgica inspirada no idealismo transcendental, sem dogmatismos religiosos e com proposta caritativa apoiada na filantropia compartilhada, tudo integrado na missão de difundir o pensamento ético universal que deseja o bem da humanidade.    

16/09/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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        (58) 5ª SUB-RAÇA da 5ª RAÇA 

                               No questionário da instrução do grau 15º do Rito Escocês Antigo e Aceito há um segmento do texto referente ao quadro simbólico que diz: - “A ESTRELA nos recorda a quinta sub-raça da quinta raça da qual descendemos.â€�A estrela em referência é a estrela de cinco pontas. Poucos Irmãos recordam esse simbolismo a respeito de raças que o ritual não informa. Perguntamos repetidamente: qual é a quinta Raça? E a quinta Sub-Raça?

Nos textos sobre Antropologia Gnóstica, a evolução de uma alma-planetária, o conjunto de todas as essências espirituais que se manifestam em um planeta, passa de um planeta a outro de acordo com leis pré-determinadas. Uma humanidade planetária nasce, evolui e se desenvolve, evoluindo e involuindo, em sete etapas planetárias. Essas sete etapas são chamadas de Sete Raças-Raízes, ou Raças Planetárias. A analogia do simbolismo da estrela de cinco pontas com as raças planetárias foi uma das modernas alterações acrescentadas ao ritual, inspirada nos textos sobre ocultismo

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de Charles Webster Leadbeater. A estrela de cinco pontas aparece nos hieróglifos egípcios simbolizando a estrela Sirius que anuncia a direção do Sol-nascente. A estrela Sirius é a estrela mais brilhante no céu noturno do ocidente. Em 24 de dezembro alinha com as três estrelas mais brilhantes da Constelação de Órion. Todas apontam para o nascer do sol no dia 25 de dezembro, terceiro dia após o solstício de inverno no hemisfério norte. Em 25 de dezembro o sol inicia sua caminhada na direção do norte que dura seis meses e culmina no solstício de verão.

Helena Blavatsky (1.831-1.891), ensina que em Gênesis 25:24-34 encontramos a história alegórica do nascimento da Quinta Raça. A aliança entre os descendentes dos Hierofantes da distante Thule paradisíaca, a Ilha de Cristal, e os descendentes do Noé atlante deu origem a uma raça mista de homens justos e perversos (Gn 9:1-29). Essa raça desenvolveu uma linguagem inflexiva e um corpo mental que a possibilitou ligar-se ao mundo dos pensamentos. A Raça Ariana foi instruída pelo ser que hoje conhecemos como Gautama Buda. Há 40 mil anos ele apareceu aos egípcios como Thoth, conhecido mais tarde pelos gregos como Hermes, emigrando para a Arábia para ensinar-lhes sua doutrina da luz interior. Em 29.700 a.C. surgiu como o primeiro Zaratustra e fundou a Religião do Fogo na Pérsia, ensinando que o fogo e a água eram purificadores de tudo, sendo a água a forma e o fogo a vida. Talvez venha daí o ensinamento posterior de Ormuz como espírito e Ahrimán como matéria, deturpado como sendo um poder maligno. Apareceu aos gregos como Orfeu, por volta de 7.000 a.C., ensinando por meio de cantos e música. Mostrou que o som estava em todas as coisas e que se o homem se harmonizasse, a divina harmonia se manifestaria através dele, alegrando toda a natureza. Reapareceu por volta de 550 a.C. pela última vez, como Sidarta Gautama, para restaurar a religião hindu, alcançando então a iluminação final, o estado de Buda.

Chamada de antiga Raça Caucásica, a Raça raiz Ariana, evoluiu das primeiras dinastias divinas criadas com a estirpe sagrada que sobreviveu, há cerca de 800.000 anos, tendo sido dado o passo definitivo para sua criação há 100 mil anos, pela seleção de alguns semitas. Foram eles deslocados através da Arábia, para uma “terra prometida†e proibidos de miscigenação com outras tribos. Fixaram-se definitivamente� no planeta há 14.000 anos. Essa primeira Sub-Raça Ariana ficou conhecida como Hindu, Indo-egípcia ou Indo-ariana. Há 60 mil anos já era numerosa e uma cidade se formou, ao longo de cerca de mil anos, na forma de um leque acompanhando a costa e penetrando no continente cerca de 36 quilômetros. Construída com pedras maiores que as da cidade egípcia de Karnak, foi dirigida por três seres: Suria (futuro Maitreya), Mahaguru (futuro Gautama Buda) e o Amado Vaivasvata (Manu da quinta Raça). Há 45 mil anos a cidade chegou ao seu apogeu, como capital de um vasto império que incluiu toda a Ásia oriental e central, Tibete, Índia, China e Tailândia, e todas as ilhas do Japão à Austrália.

A segunda Sub-Raça Ariana constituiu-se dos Semitas Arianos. Apareceu no sul da Ásia, na época pré-védica. Revelou a sabedoria dos Rishis do Hidustão e os esplendores do antigo império chinês.

Há 30 mil anos, veio a terceira Sub-Raça, a Iraniana. Conquistou facilmente a Pérsia e a Mesopotâmia. Seu poder cresceu até dominar toda a Ásia ocidental, mas evitando a Arábia e a Índia. Seu império durou até cerca de 2.200 a. C., mantendo um alto nível de civilização.

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Há 20 mil anos a quarta e a quinta Sub-Raças emigraram para o império Persa seguindo destinos diferentes. A Sub-Raça Céltica, ou Celta, quarta Sub-Raça, com destino ao Cáucaso, e a Teutônica, quinta Sub-Raça, foi para as margens do Mar Cáspio, a noroeste do Cáucaso.  

A quinta Sub-Raça Teutônica, emigrou para a Cracóvia, na Polônia, de onde surgiram ramificações finais; para o sul (croatas, sérvios e bósnios) e para o norte e leste (eslavos – os russos modernos). Uma segunda onda, a leta, deu origem aos lituanos e prussianos e uma terceira, a germânica, deu origem aos teutões, godos e escandinavos.

Em 18.800 a.C. a estirpe fundamental da quinta Raça raiz emigrou para “arianizar†� a Índia. Quatro grandes civilizações floresceram: os arianos europeus, os egípcios, os hebreus e os hindus indianos.

O resumo responde à questão do ritual do Grau de Cavaleiros do Oriente do REAA:

Qual é a quinta Raça? R: Ariana

Qual é a quinta Sub-Raça? R: Teutônica

05/10/2010 - Glmergs - Semear

Colégio de Estudos do Rito SchröderOficina de Restauração do REAA

(59) TEOSOFIA PARA OS CAVALEIROS DO ORIENTE                                   A curiosidade despertada pela analogia no grau dos Cavaleiros do Oriente do Rito Escocês Antigo e Aceito entre a estrela de cinco pontas e a quinta Sub-raça da quinta Raça da qual descendemos motivou a publicação 58ª da Arca. Essa provocou interesse pelo conhecimento das Raças que antecederam a atual Raça-Raíz Ária e as raças que a sucederão.Antes, porém, da apresentação da síntese do tema é conveniente destacar conflito ideológico-esotérico presente em diferentes graus do mesmo Rito maçônico. No simbolismo do REAA conhecemos procedimentos compatíveis com a idéia de morte e ressurreição como modo de desenvolver o processo evolutivo da alma humana; o corpo morre e a alma do Iniciado segue sua trajetória cósmica. Entendimento diferente oferece o texto do grau 15° do mesmo rito, ao se referir às raças e sub-raças, induzindo o Iniciado na maçonaria a elaborar a idéia de processo evolutivo da alma humana através de episódios reencarnacionistas. Nos textos de Antropologia Gnóstica encontra-se explicações a respeito da semelhança da reencarnação da alma planetária - o conjunto de todas as essências espirituais que se manifestam num planeta - com o processo evolutivo via reencarnações da alma humana. A alma individual reencarna em outro corpo físico; a alma planetária passa de um planeta a outro de acordo com leis pré-determinadas pelos deuses siderais. Constata-se, assim, que o mesmo rito revela diferentes entendimentos do modo como se realiza o fenômeno evolutivo espiritual humano. A maçonaria é um condomínio de ritos e de espaços para as suas diferenças. A diversidade de interpretações fenomenológicas, litúrgicas, simbólicas ou filosóficas entre os diversos ritos preserva as opções de conceito e de crença para elaborações individuais dos maçons. Mas o mesmo rito não deve germinar conflitos que gerem incoerência entre os fundamentos consumidos na racionalização dos fenômenos. Essa

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é mais uma constatação que reforça opiniões de observadores ritualistas que afirmam existirem contradições ou solução de continuidade temática entre graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.Dito isso..., nos textos de antropologia gnóstica......todos os planetas têm 7 Raças e 7 Sub-raças. Nosso planeta Terra já deu 5 raças, faltam duas. Depois das 7 Raças e transformada pelos cataclismos a Terra se converterá, através dos milhões de anos, em uma nova Lua. A vida começou seu processo evolutivo na Lua. Quando a grande vida abandonou a Lua, essa converteu-se em deserto. Na Lua também existiram 7 Raças cada uma com suas 7 Sub-raças. A alma lunar, a vida lunar prossegue evoluindo. A humanidade que evoluiu na antiga Terra-Selene reencarnou no planeta Terra. Assim reencarnam os seres e os mundos. Os teósofos crêem que a Lua é mais antiga que a Terra por ser um astro pertencente a uma outra cadeia planetária. As sete etapas de evolução da alma planetária deram origem às sete Raças-raízes ou Raças Planetárias. Antes que a primeira raça humana se tornasse visível e tangível no mundo tridimensional, teve que gestar dentro da matriz do mundo, o Jagad-Yoni. A evolução teosófica difere da evolução biológica convencional porque considera a criatura humana constituída por diferentes qualidades de matéria. As raças e sub-raças são introduzidas no cenário mundial através de transformações ou alterações no código genético (ADN) dos seres, promovidas pelo acúmulo de experiência individual e/ou manipulação direta por entidades ou devas que trabalham sob a orientação do Manu da raça-raiz. Uma Raça-raiz pode abranger várias etnias, porém cada etnia corresponde a uma Sub-raça de uma Raça-raiz. Sob o ponto de vista teosófico e gnóstico: 

RAÇA RAIZNÍVEL

MANIFESTAÇÃOCONTINENTE

OCUPADO SUB-RAÇASETNIA

DOMINANTE REFERÊNCIASÉON, ERA, PERÍODO

GEOLÓGICO

 1. ETÉRICA

PROTOPLASMÁTICA

 Etérico

 Shivetadvipa (Deserto de

Gobi)

    Chayas: corpos amorfos, assexuados (reprodução

por expansão e gemação), etéricos imensos

Éon Arqueano e ProterozóicoPeríodo Pré-Cambriano

(até  570 .106 anos)

 2. HIPERBÓREA

 Físico

 Plaksha

(Ásia do Norte)

    "Sacos de Mingau": andróginos, reprodução

por extensão.

Éon FanerozóicoEra Paleozóica

Período Cambriano a

Permiano(até  235 . 106

anos)

  

3. LEMURIANA

  

Físico

 Shalmali ou

Lemúria(Mar do Sul)

    

Negra

Evolução dos "nascidos do suor" aos cíclopes, separação de sexos,

chegada dos Senhores de Vênus, inclinação do eixo

da Terra.

Éon FanerozóicoEra Mesozóica e

CenozóicaPeríodo Triássico a

Terciário Paleogênico

(até  16 . 106 anos)

  

4. ATLANTE

  

Físico

  

Atlântida (Oceano

Atlântico)

1. Ramoahal2. Tlavatli3. Tolteca

4. Turaniana5. Semítica6. Acadiana7. Mongólia

Vermelha Vermelha Vermelha Amarela Amarela Amarela Amarela

Homem FurfoozHomem de CromagnumIncas, Maias, Astecas e

Egípcios

Éon FanerozóicoEra Cenozóica

Período Terciário

a Quaternário Pleistocênico

(até 10.000 anos)

 5. ARIANA

 Físico

 Graunsha (Eurásia,

América e Austrália)

1. Hindu2. Ário-semítica

3. Iraniana4. Céltica

5.Teutônica6.7.

BrancaBranca

       Branca       Branca

     Branca

Início em cerca de 60.000a.C  Início em cerca

de 40.000 a.C Início em cerca de 30.000a.C  Início em cerca de 20.000 a.C   Início em cerca de 20.000

a.C

Éon FanerozóicoEra Cenozóica

Período Quaternário Holocênico

(até a atualidade)

 

Complemento ao quadro:

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QUINTA RAÇA-RAIZ ou ÁRIA

É a atual. Consta que surgiu há 1 milhão de anos misturando-se à quarta Raça-Raíz. O

Manu, ou Guia Vaivásvata elegeu os melhores espécimes para desenvolverem ainda

mais o mental concreto herdado dos atlantes e dar início à evolução do mental abstrato.

1ª Sub-raça – Ário-hindu2ª Sub-raça – Ário-semítica3ª Sub-raça – Iraniana4ª Sub-raça – Céltica5ª Sub-raça – Anglo-Teuto-Saxônica6ª Sub-raça – Espanhola com raças autóctones da Indoamérica7ª Sub-raça – Mescla das Sub-raças anteriores desenvolvendo-se nos Estados Unidos e no Brasil. 

SEXTA RAÇA-RAIZ ou KORADHI

Surgirá depois do cataclismo da quinta Raça. Viverá numa Terra transformada ou

etérica. Desenvolverá o Princípio Búdico ou da intuição.

SÉTIMA RAÇA-RAIZ

Será a última. Realizará o Princípio Átmico. Os teósofos acreditam que depois das sete

Raças a Terra se converterá em uma nova Lua.

25/10/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

         (60) CONHECE-TE A TI MESMO                                           No alto do templo de Delfos – o templo de Apolo – estava inscrito um dos lemas mais célebres de toda a cultura grega: “Conhece-te a ti mesmo”. Hoje em dia se entende que a sentença significa que se deva praticar a introspecção, isto é, tentar conhecer seus próprios pensamentos e desvendar seu inconsciente. Para Luc Ferry – filósofo francês e defensor do humanismo secular – “O significado original é bem diferente. Não se trata de psicanálise. A expressão quer dizer que devemos conhecer nossos próprios limites, ter conhecimento de nosso lugar na ordem cósmica, o universo ordenado e equilibrado que Gaia e Zeus desejaram”. Em “A Sabedoria dos Mitos Gregos”, ele acrescenta: “O lema nos convida a encontrar esse justo lugar no coração do grande Todo e, sobretudo, a nele permanecer, sem nunca pecar por hybris. Inclusive, muitas vezes ela (a frase) se associa a uma outra, “Nada em excesso” – igualmente inscrita no templo de Delfos -, que tem o mesmo sentido”. O termo grego hybris pode ser traduzido para arrogância, insolência, orgulho ou descomedimento, todas significando uma faceta da hybris, a ameaça contra a ordem

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cósmica. Para o homem, a mais grave hybris consiste em desafiar os deuses ou, pior ainda, imaginar-se igual a eles. Quando os deuses se ofendem o cosmo se convulsiona.Muito cedo se desenvolveu em Delfos, cidade da Grécia antiga, na Fócida, o culto às divindades ctonianas assistidas pela serpente Píton. Apolo representa uma força olímpica anticaótica. Na mitologia grega, Apolo e Dioniso personalizam a oposição de dois mundos; o de Apolo, civilizado e harmonioso e o de Dioniso, caótico e desordenado. Nietzche explicando a diferença entre Apolo e Dioniso, fez menção à expressão “conhece-te a ti mesmo”: “Apolo, deus ético, pede comedimento aos seus e, para que o preservem, indica o conhecimento de si mesmo. Por isso, “conhece-te a ti mesmo” e “nada em excesso” acompanham a exigência estética, enquanto o orgulho exagerado e o descomedimento, dentre todos os demônios, são os principais inimigos da esfera apolínica, ou seja, o mundo bárbaro, o mundo dos Titans. [...]”.A frase do templo de Apolo citada em trabalhos dos ritos maçônicos cosmo-esotéricos, tem a finalidade de promover a compreensão da missão do homem nesse mundo divino e ordenado. Conhece-te a ti mesmo sugere que o homem vá além da mera percepção de sua presença no universo. Na mitologia as narrativas oferecem significados que encerram sabedoria de vida para os seres humanos. As histórias com todo o seu conteúdo teológico e cosmológico foram inventadas pelo homem para dar sentido ao universo e à vida, para tentar compreender o que se faz nessa terra e discernir o sentido da existência.Aos maçons dos ritos que trabalham na Loja cósmica nos graus simbólicos como o Rito Escocês Antigo e Aceito, “conhece-te a ti mesmo” orienta para que cada Iniciado pense o seu lugar no universo e vença os apelos do orgulho, da insolência e da arrogância mediante o exercício do comedimento racional que o conduzirá à justeza de atitudes. Com (co)medimento o Iniciado é co-autor da sua própria medida ideal de comportamento. Dessa forma se harmoniza com o cosmo divino, a natureza una que conhecemos nos dias atuais como universo.Em Sócrates, a expressão já tem outro significado, diferente daquele da cultura da Grécia arcaica. Está ligada a uma teoria da verdade que Platão desenvolve. Uma doutrina segundo a qual nós teríamos, em tempos anteriores, conhecido o que é verdadeiro, mas depois esquecemos, de forma que o conhecimento vem num terceiro momento, uma rememoração de algo que já se encontra em nós sem que saibamos. Para Sócrates, o conhecimento é reconhecimento, rememoração. Essa visão da verdade permanece na história posterior da filosofia e contribuiu para as teses de psicologia moderna. Para a filosofia humanista humanitarista veiculada pelo Rito Schröder, que não trabalha com conteúdos religiosos ou esotéricos, a expressão “conhece-te a ti mesmo” simboliza a verdade que existe em nós desvelada pela identificação das opiniões de cada indivíduo entre as tantas que circulam no meio humano. O ritual Schröder adota a preleção para indicar ao maçom o caminho para revelar a si mesmo os seus verdadeiros critérios, que lhe são próprios, na elaboração da ética pessoal e na escolha da conduta. É a experiência de reencontrar a sabedoria individual original com o mínimo de influência de culturas ou de valores externos. O campo dessa experiência está nas ações de filantropia ética que aperfeiçoam o Iniciado, experiência inspirada na filosofia humanista e estimulada pela ética no exercício da verdade.

28/12/2010 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

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          (61) ESTE PENSAR LIVRE - I

                                          A obra social da maçonaria tem suscitado controvérsias; as iniciativas dos maçons devem ser em seu nome pessoal ou da corporação?  Respondo: ambas. O neófito quando é admitido já conhece o Deus pessoal da sua crença. Não obstante essa realidade, foi inventado o Grande Arquiteto do Universo para ser o deus de todos os maçons em nome do coletivo. A maçonaria pode ter um deus coletivo? Então pode ter também uma obra social em nome do coletivo.

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No seu círculo concêntrico interno o maçom é criativo. Criou o Grande Arquiteto do Universo, criou templos, ritos e rituais, criou o Mestre Perfeito e muitos graus. Não criou até agora a fórmula da humildade.

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Maçons há que acreditam no poder do segredo para garantir a sobrevivência da maçonaria.

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As antigas iniciações preparavam o homem para enfrentar crises existenciais e filosóficas. A iniciação na maçonaria brasileira prepara o neófito para enfrentar crises ritualísticas.

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Ouço dizer que o maçom não lê. Compreensível. Até hoje se repete que não sabe ler e nem escrever, apenas soletrar!?

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No cerimonial inglês de instalação do Venerável Mestre eleito há um sinal de saudação à realeza. Nos rituais praticados no Brasil o sinal foi suprimido. A eliminação do simbolismo de um sinal característico não altera o caráter majestático de todo o cerimonial de instalação.

 ************************

          Em época de terceirização das tarefas de imprimir rituais, os Grão-Mestres que, na sua Iniciação, juraram e prometeram nunca revelar os mistérios..., nunca os escrever,

gravar, traçar, imprimir... ,   e outros meios pelos quais possam divulgá-los, quebram esse compromisso no desempenho das funções administrativas. Na Inglaterra, a

Grande Loja Unida não realiza impressão de rituais e nem manda imprimir. 

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Quando era constituída apenas pelas elites culturais e políticas, os segredos da maçonaria eram mistérios que serviam para separar as elites do povo inculto e sem poder. Hoje os segredos da maçonaria servem tão somente para lembrar que ali existiram elites.

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A maçonaria estuda o homem através dos símbolos. É um estudo da relação do homem com o seu inconsciente. Está diretamente relacionada com o estudo do ser humano e de seus problemas espirituais. Fazer maçonaria apenas no mundo da ritualística desacredita o subjetivo e acorrenta o maçom às leis formais de vida.

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Há ritos maçônicos que praticam e difundem o absolutismo religioso. Exceto por patriotismo, morais absolutistas costumam ser motivadas pela religião. A fonte preferida da moralidade absolutista é normalmente o livro sagrado, interpretado como detentor de uma autoridade incontestável. Os ritos que reproduzem trechos de algum tipo de Escrituras durante a liturgia contribuem com uma moralidade absolutista religiosa. A proposição de segmentos da maçonaria em favor do laicismo é enganosa.

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 O Supremo Conselho Jurisdição Sul do REAA dos Estados Unidos informa que tem proclamado desde as origens da livre maçonaria a crença em um Deus pessoal e no dogma cristão de imortalidade da alma. Não obstante essa orientação cristã, as Grandes Lojas brasileiras adotam o Antigo Testamento para a leitura dos versículos na abertura dos trabalhos nas Lojas. Moral da história: no REAA brasileiro a coerência também é simbólica.

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A fé em um princípio criador foi considerada pelo Supremo Conselho Jurisdição Sul do REAA dos Estados Unidos “uma frase sem significado que anula o Deus da justiça e da bondade, a Providência protetora de nossa existência cotidiana, destrói com o mesmo golpe a religião e derruba os altares de toda Fé e de toda a Maçonaria”.A dúvida: o Supremo Conselho entende que o princípio criador destrói a religião do maçom ou a religião presente na liturgia do REAA?

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No presente, o indivíduo aceita cada vez menos os controles externos. Quer exercitar suas opções pessoais no cotidiano. Os controles sociais são pessoais e externos. Em maçonaria o controle externo do maçom é exercido pelo ritual. O controle pessoal, a sua vontade, resume-se em decidir participar ou não da reunião. O controle pessoal está desenhando o futuro das relações Maçom/Loja.

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O ofício de contar histórias representa a criação de algo. As histórias têm força! Elas expandem a psique, suscitam interesse, curiosidade, compreensões que fazem aflorar arquétipos. Nas lendas estão incrustadas instruções que nos orientam a respeito das complexidades da vida. Três mil anos antes da era cristã o hierofante egípcio contava ao adepto durante a Iniciação a lenda da visão de Thot. Mantinha viva em sua memória.  Hoje, na maçonaria brasileira não temos a capacidade de contar. Somos burocratas, lemos no ritual o conteúdo das lendas inicáticas. Os maçons ingleses ainda preservam a tradição de memorizar as cerimônias! 

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04/01/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

           (62) ELITES

                                  Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, o Brasil foi uma espécie de grande feitoria da Coroa portuguesa, organizada com o fim de gerar a maior riqueza com o menor custo financeiro possível. A terra concentrou-se nas mãos de poucas famílias e com ela o poder e o prestígio. O país se organizou em regime de grandes propriedades fundiárias, basicamente exploradoras de riquezas minerais ou monoculturas de produtos tropicais voltados ao abastecimento dos mercados europeus. Foram movidas, num primeiro momento, pelo braço de escravos indígenas buscados nos sertões do território. Depois, pelo elemento escravo buscado na África.No início do século XIX, o Brasil independente de Portugal, as elites econômicas, políticas e culturais tomaram as iniciativas necessárias para a construção de uma nação livre e soberana. Juristas imperiais, filhos da elite proprietária do país criaram a idéia-conceito do Estado. Os literatos, artistas e escritores da realeza estabelecida no território brasileiro criaram uma identidade nacional. Diferentes meios de irradiação dessa informação foram acionados. A maçonaria contribuiu com muita participação, atuando como precursora dos partidos políticos que ainda não existiam. A história do início da maçonaria no Brasil suscita algumas controvérsias. O movimento maçônico na colônia portuguesa surgiu com a fundação de clubes revolucionários, sociedades que tinham um caráter puramente político. Os primeiros foram a Associação Literária dos Selectos, no Rio, em 1752, a Academia dos Renascidos, na Bahia, em 1759, a Scientífica, no Rio, em 1772 e a Arcádia Ultramarina, no Rio de Janeiro, em 1786. Em 1796, foi fundado o Areópago do Itambé, pelo médico e botânico pernambucano Manoel de Arruda Câmara, que regressara da Europa e fixado residência na localidade de Itambé, em Pernambuco. Na obra - Introdução à História da Revolução de 1817 - de Maximiliano Machado, encontra-se a descrição do caráter do Areópago do Itambé: “uma sociedade política, secreta, uma espécie de magistério que instruía e despertava entusiasmo pela democracia republicana e demonstrava a dignidade do homem, ao mesmo tempo inspirando ódio à tirania dos reis...”.Fizeram parte dessa sociedade secreta, entre outros: Capitão André Dias de Figueiredo, padre Antonio Felix Velho Cardoso, padre José Pereira Tinoco, padre Antonio de Albuquerque Montenegro e padre João Ribeiro Pessôa. O fundador, Manoel de Arruda Câmara, fora frade carmelita, totalizando, portanto, cinco clérigos no período inicial da organização. Mais tarde, filiaram-se: Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque (fundador da Academia de Suassuna, em 1802), frei Joaquim do Amor Divino Caneca (o inesquecível

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Frei Caneca), o padre Miguelinho e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada (um dos três Andradas).Nessa sociedade foi fomentada a conspiração que tinha por fim fazer de Pernambuco uma República, sob a proteção de Napoleão Bonaparte. Descoberta, foi dissolvida em 1801.Nota-se que nessa fase da nossa história, os clérigos se filiavam às entidades maçônicas, deixando de fazê-lo a partir do “caso dos bispos”, criado por D. Vidal, em 1872, que os obrigou a abandonar a Maçonaria.Pesquisadores encontraram documentos na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, a respeito da devassa na conspiração. Outros documentos relativos ao Areópago e suas atividades políticas, encontram-se no Arquivo Público de São Petersburgo, mais tarde, Leningrado.O pensamento político de reação contra a realeza associada ao alto clero na França, que aumentava imposto conforme a necessidade dos gastos da Corte, repercutiu no Brasil através do intercâmbio cultural realizado pelos brasileiros frequentadores dos cursos superiores disponíveis na França. A cidade de Montpellier, localizada no sul da França, foi muito procurada por estudantes estrangeiros, já que a sua Universidade sempre foi importante centro de estudos. Nessa, a Faculdade de Medicina destacou-se na preferência dos brasileiros, conforme relato do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Quinze brasileiros estudaram em Montpellier, entre 1767 e 1793. Entre esses, Arruda Câmara, fundador do Areópago do Itambé, José Joaquim Maia e Barbalho, José Alvares Maciel e Domingos Vidal Barbosa. O primeiro, foi o precursor da Conjuração Mineira, o segundo, o incentivador, e o terceiro, um ativista secundário.Os registros consultados por escritores maçônicos revelam que a primeira Loja fundada no Brasil, formalizou-se em 1800, na cidade do Rio de Janeiro, sob o nome de Loja União. No ano seguinte o nome foi trocado para Loja Reunião, porque se transformara em núcleo de encontro e convivência dos maçons dispersos pelo país. Recebeu sua patente do Grande Oriente da Ilha de França, localizado na cidade de Porto Luiz, na Ilha Mauritius, no Oceano Índico.Em seguida foram fundadas: a Loja Virtude e Razão, na Bahia, em 1802, a Loja Constancia e a Loja Filantropia, ambas no Rio de Janeiro, em 1804. Essas foram as primeiras Lojas regularmente organizadas no Brasil. Outras foram surgindo nas Províncias da Bahia e de Pernambuco. A Loja Virtude e Razão permaneceu sem obediência, portanto independente, até a criação do Grande Oriente Brasileiro. O Areópago, embora citado como marco inicial das organizações maçônicas no Brasil, nunca se caracterizou como Loja Maçônica pois, não formava novos maçons.Em 1813, 18 maçons ativos da Loja Virtude e Razão resolveram fundar na Bahia uma terceira, a Loja União para viabilizar legalmente a criação da primeira federação maçônica no Brasil. No mesmo ano, as Lojas Virtude e Razão, Humanidade e União instalaram em Salvador, o Grande Oriente Brasileiro, sendo proclamado Grão-Mestre, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.

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Diluídas as atitudes cívicas com a evolução do processo republicano, a maçonaria brasileira foi se comprimindo no interior dos templos. Os maçons optaram por uma maçonaria de culto. As ações políticas idealistas e os eventos culturais de interesse geral da sociedade foram substituídos pelos valores religiosos. O discurso dos maçons brasileiros negando ser a maçonaria uma instituição religiosa apenas reproduz o conteúdo do Regulamento Geral da Grande Loja inglesa de 1717 que veta as discussões sectárias em Loja sobre religião e política. Contrariando tal assertiva Salomão, Javé e Cristo são cultuados dogmaticamente. Alguns ritos ou rituais abrem o Livro Sagrado e até são lidos versículos, especificando passagens bíblicas que se tornam lei moral para todos os maçons naquele rito, mesmo não sendo a Escritura Sagrada da sua crença. Nesses casos, a presença do Livro Sagrado não é apenas simbólica. É dogmática.Somos maçons enganosos e enganados; enganosos, porque fazemos o faz de conta  negando conteúdos religiosos dogmáticos. Enganados, porque creditamos às indicações e sindicâncias de candidatos o lamentado nível ético e cultural da maçonaria brasileira. Queremos elites. Nosso imaginário pensa em Gonçalves Ledos, Guatimosims, Arrudas Câmara, Antonios Carlos Ribeiro de Andrada, Hypólitos José da Costa. O povo maçônico é o retrato da sociedade que o gera. A história maçônica recente revela outro cenário pouco considerado; uma guerra de conflitos entre conteúdo e discurso que se prolongam porque somos uma grande oficina de lideranças clonadas. As personas maçônicas forjadas nas Lojas brasileiras se limitam a copiar atitudes formatadas pelo ritualismo comportamental dos antecessores e repetir as palavras de ordem do sistema.

17/01/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA -----Mensagem Original----- De: HUGO SCHIRMER Para: [email protected] Enviada em: quinta-feira, 20 de janeiro de 2011 21:59Assunto: RES: [Semear Debates] Arca da Informação - 62 - Elites Boa noite aos Amados irmãos, com um pouco de atraso estou lendo hoje o Artigo trazido pelo Irmão Ailton, muito bom e interessante e nos trás boas informações.

Apenas em um detalhe, gostaria que outros Irmãos, verificasse onde na realidade fica a “ILE DE FRANCE”.

Eu sempre imaginei como está descrito no trabalho.Ao que nos parece ILE DE FRANCE É NA REALIDADE A CIDADE DE PARIS, ILHA DA FRANÇA.

Diz a WIKIPÉDIA:

Ilha de FrançaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ilha de França (em francês:Île-de-France) é uma das 23 regiões administrativas da França. Sob o Antigo Regime, era uma província francesa. Após a Revolução passou a chamar-se Região Parisiense, até 1975, quando recuperou o antigo nome.

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Portanto, nada de Ilhas Mauritius, quem criou a lenda e inventou isso.

Já tinha lido que as ou a primeira(s) loja(s) Brasileiras estava(AM) filiadas ao Oriente de ILE DE FRANCE, só que aprendemos errado, ou nos ensinaram assim.

Um tfaH.Schirmer

De: [email protected] [mailto:[email protected]] Em nome de Ailton BrancoEnviada em: sexta-feira, 21 de janeiro de 2011 13:47Para: [email protected]: Re: [Semear Debates] Arca da Informação - 62 - Elites

Meus Irmãos

O Grande Oriente da Ilha de França não foi fundado na Ilha de França. Foi fundado em 1778 na cidade de Porto Luiz por 4 Lojas filiadas ao Grande Oriente de França e da Grande Loja da Inglaterra. Porto Luis é cidade da Ilha de Maurícia ocupada pela Companhia Francesa das Indias Orientais em 1721. Um abraço fraternoAilton Branco

-----Mensagem Original----- De: HUGO SCHIRMER Para: [email protected] Enviada em: terça-feira, 25 de janeiro de 2011 00:08Assunto: RES: [Semear Debates] Arca da Informação - 62 - Elites  Boa noite.Meu irmão procurei pela internet e as coisas são muito confusas.Não vejo como existir nas então ilhas Mauricio condições de sediar quatro (4) Lojas maçônica!!!! Lá no ano de 1778.Hoje sua população é baseado em Hindus e outras etnias.Se já existia o Grande oriente de França, como o sinete abaixo, qual seria se reunir duas Potencias antagônicas para fundar uma outra Obediência?Qual o nexo nisso?Um tfaH.schirmer

-----Mensagem Original----- De: Ailton Branco Para: [email protected]

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Enviada em: terça-feira, 25 de janeiro de 2011 15:22Assunto: Re: [Semear Debates] Arca da Informação - 62 - Elites

Meu Irmão

É difícil para nós, maçons atuais, compreendermos alguns nexos que motivaram atitudes de Irmãos, no século 18. Nessa época, existiam Lojas maçônicas constituídas nos navios durante as longas viagens. Ao aportarem, e diante da permanência na localidade de número expressivo de maçons, eles constituíam novas Lojas. Era o principal meio de congregação dos militares e ou das forças-tarefa dos exércitos ou companhias de navegação comercial, nos territórios visitados ou ocupados. É apenas uma hipótese, embora seja uma realidade genérica hoje constatada por documentosda história maçônica. Como disse, é uma cogitação que não tem a intenção de responder às questões apresentadas pelo Irmão. Fazendo uma simples projeção para o futuro imagino que maçons que nos sucedam daqui a duzentos anos possam perguntar qual o nexo que motivava os maçons em 2011 a se reunirem em oito ou nove Lojas, no mesmo rito, com a presença média de 15 a 18 Irmãos, na mesma noite, no mesmo lugar, como acontece atualmente nas sedes das Grandes Lojas ou dos Grande Orientesnas capitais brasileiras. Não deveriam se reunir em três Lojas com a presença de 60 Obreiros? Essa proliferação de Lojas não devia ser distribuída nos diversos bairros? Pois, não sei responder. O mesmo acontece com alguns eventos históricos da maçonaria universal. Para anossa cultura ética do presente alguns motivos do passado são apenas cogitações enquanto não decobrimos, pela pesquisa, as suas razões.Renovo meu abraço fraterno.Ailton Branco

(63) CRISTIANO ROSACRUZ PELA ANTROPOSIA 

                        Folheio a literatura antroposófica e recolho informações que não possuía. São conheceres que revelam a proximidade desse movimento científico-espiritualista com alguns nomes e conteúdos tradicionais na maçonaria, os quais passo a compartilhar. Afinal, o caminho do “conhecimento Iniciático” é pavimentado pela associação de entendimentos, de discernimentos, de insights, de visão. Em maçonaria, pode-se não compartilhar todas as crenças mas, a argamassa cultural para um substrato de conhecimentos gerais, sim. O termo antroposofia tem sua raiz no grego e quer dizer "conhecimento do ser humano". Foi criado no início do século XX por Rudolfo Steiner. É um método de conhecimento da natureza do ser humano e do Universo que pretende ser mais amplo que o método científico convencional, pois inclui a pesquisa no mundo espiritual de outros níveis da estrutura material e das energias físicas. Bernard Lievegoed, médico antroposófico indonésio, pergunta em seu livro “O

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Salvamento da Alma”, qual é o significado de Christian Rosenkreutz ou Cristiano Rosacruz para a antroposofia. Rudolfo Steiner, conferencista e escritor austríaco e fundador da Sociedade Antroposófica da Suíça afirma que constitui encargo da corrente rosacruz transformar a terra numa obra de arte e Cristiano Rosacruz é uma das individualidades humanas que avançaram tanto em seu desenvolvimento que conseguiram elevar sua  consciência pelo menos até a Segunda Hierarquia de seres espirituais (Kyriótetes, Dýnameis e Exusiai – Dominações, Virtudes e Potestades). Essas individualidades conseguem entrar em contato com os elevados seres dessa hierarquia cósmica e aconselhar-se com eles sobre quais impulsos são necessários para o desenvolvimento da humanidade. Eles são os grandes guias da humanidade, também chamados os grandes iniciados. A peculiaridade de tais guias consiste em se mostrarem seres humanos comuns.Esta pesquisa busca revelar a vinculação da personalidade de Cristiano Rosacruz com Hiram Abif no entender da corrente espiritualista antroposófica. Os escritos históricos mais conhecidos relacionados aos rosacruz são atribuídos a Johann Valentin Andreae: “Fama Fraternitatis”, escrito em 1614; “Confessio Fraternitatis”, de 1615 e “Chymishe Hochzeit Christiani Rosencreuz (o Casamento Químico de Cristiano Rosacruz), de 1616.  Para o movimento antroposófico, Cristiano Rosacruz se tornou conhecido com esse nome em uma de suas últimas encarnações. Na era pré-cristã, uma importante encarnação dessa individualidade foi Hiram Abif, o construtor do templo de Jerusalém, por determinação do rei Salomão, um homem com grandes conhecimentos cósmicos. Para a construção ele precisava de um mestre-de-obras que soubesse lidar com a terra. Salomão, que era descendente de Abel, queria encontrar um descendente de Caim para a tarefa.No importante conteúdo rosacruz da lenda do Templo, Hiram diz que o seu antepassado primordial foi Tubal-Caim, o qual desenvolveu o ofício de ferreiro e de construtor. Portanto, dentro desse enfoque, a linhagem Rosacruz é uma corrente solar pura da qual os caimitas são os portadores. A palavra Caim significa “aquele que sabe fazer”. Caim foi o primeiro a rasgar a terra a fim de cultivá-la, abrindo-a para as forças vivificantes do sol. Ele é aquele que, como ferreiro, transforma o ferro bruto em ferramenta. No entender de Steiner, a missão dos rosacruz é o enobrecimento da substância.Rudolfo Steiner dedicou uma série de conferências ao tema, que foram reunidas no volume “A Lenda do Templo e a Lenda Áurea”. Nelas descreve o drama que se desenrola entre Salomão, descendente de Abel, e Hiram, descendente de Caim. O drama se refere à contraposição entre Abel e Caim. A obra destaca o surgimento de uma dualidade no desenvolvimento da humanidade; há pessoas que dispõe do saber e pessoas que dispõe do fazer. O impulso de mudar a Terra, de convertê-la num templo, é a base mais profunda da corrente rosacruz.Outra encarnação de Cristiano Rosacruz referida por Steiner é a do conde francês de Saint Germain. Numa conferência de 4 de novembro de 1904, Steiner disse, entre outras coisas: “Antes da Revolução Francesa, apareceu para uma dama da corte da rainha Maria Antonieta, madame d’Adhémar, uma

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personalidade que predisse todos os acontecimentos importantes da revolução francesa, para preveni-la. Foi o Conde de Saint Germain, a mesma personalidade que havia fundado a Ordem dos Rosacruz numa encarnação anterior. Embora visse a revolução como uma consequência inevitável, ele a estava prevenindo. (...) Cristiano Rosacruz, em sua encarnação do século XVIII, como guardião dos mistérios mais internos do Mar de Bronze e do Santo Triângulo Dourado, se apresentou para advertir! A humanidade deveria se desenvolver em ritmo lento.” (n: o Mistério do Mar de Bronze e o Santo Triângulo Dourado se referem à lenda do Templo de Jerusalém e a Hiram Abif).As reencarnações atribuídas a Cristiano Rosacruz pela corrente que se autodenomina Ciência Espiritual dos nossos dias, antroposoficamente orientada, não a torna igual na elaboração dos fenômenos espirituais à Ordem Rosacruz e nem à Maçonaria. Steiner afirma no seu livro - O Conhecimento dos mundos superiores - que "a corrente antroposófica considera que abrange uma área mais ampla do que a dos rosacruz, ou seja, toda a Teosofia", termo empregado por ele para significar  - sabedoria do divino e não para identificar o nome próprio de um movimento ocultista.Os rosacruz alquimistas idealizaram a essência e a liturgia das Lojas azuis da maçonaria, mais tarde renomeadas Lojas Simbólicas quando as Lojas azuis foram incorporadas pelas Lojas Capitulares. A Iniciação rosacruz tem seu início ao redor do século XIII, tendo sido reconhecida naquela época, pelas personalidades dedicadas à liderança espiritual ocultista, como apropriada à alma humana mais evoluída. Os graus azuis foram concebidos para prepararem o adepto à Iniciação no grau Rosacruz nos ritos que o praticam na maçonaria.

30/01/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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           (64)        SKIRRET                    O painel da Loja de Mestre escolhido pelos

representantes da Grande Loja do Rio de Janeiro que criaram em 1927 um novo ritual para os graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil, mostra a figura de um ataúde. Na extremidade correspondente à localização da cabeça está um ramo de acácia. Na face ventral do ataúde, próximas à acácia, estão três figuras: uma “skirret”, traduzida nos rituais brasileiros para linha e trena; um compasso e um lápis. O painel foi idealizado por John Harris em 1823 para a Loja de Emulação da Grande Loja Unida da Inglaterra e adotado no novo ritual das Grandes Lojas. O desenho constituiu-se na Tábua de Delinear do terceiro grau das “Perfect Cerimonies of the Masonry Craft”, traduzidas em 1920 por Joseph Sadler  para as Lojas do chamado  Rito de York do Grande Oriente do Brasil. O painel do Rito Escocês Antigo e Aceito até então usado pelo Grande Oriente do Brasil com a

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aprovação do Supremo Conselho, hoje identificado com as Grandes Lojas, foi substituído em 1927 pelo painel da maçonaria inglesa.

No ritual traduzido por Sadler das cerimônias inglesas de elevação ao grau três, o Mestre da Loja, explanando a Tábua de Delinear ao candidato, ensina: “Apresento-vos agora os instrumentos de trabalho de um Mestre Maçom; são a Linha, o Lápis e o Compasso. A Linha (skirret) é um instrumento que funciona num eixo central d’onde é tirado um fio para marcar o terreno para o alicerce da construção projetada; com o Lápis o artista hábil delineia a construção n’um desenho ou planta, para instrução ou guia dos Obreiros; o Compasso habilita-o com segurança e precisão a verificar e determinar os limites e proporções de suas várias partes”.

“Skirret”, como trena, foi adotada pela Loja Campos Salles, 5565, de São Paulo, mas é raramente ouvida na maçonaria brasileira, embora seja considerado um instrumento de trabalho com significativo e útil simbolismo pelos maçons ingleses. Albert G. Mackey, em sua Encyclopedia of Freemasonry define o termo: "In the English system the skirret is one of the working tools of a Master Mason. It is an implement which acts upon a center-pin, whence a line is drawn, chalked, and struck to mark out the ground for the foundation of the intended structure. Symbolically, it points to us that straight and undeviating line of conduct laid down for our pursuits in the volume of the Sacred Law. What makes the skirret so special is that it is used before the foundation of a building is laid; and, therefore, the skirret is generally used before the other working tools. A skirret allows a person to see the precise location for the foundation. Consequently, the surrounding ground can easily be designated for other purposes. Initial use of the skirret enables changes to be made to the mark rather than, later, to change a finished foundation of stone or concrete. As Freemasons, our foundation is our own individual character. On that foundation we build the superstructure of honesty, integrity, loyalty, compassion, and brotherhood. As British Freemasons, let us, remember to pick up this unique working tool, the skirret, and regularly use it to mark out the foundation of our character". (No sistema Inglês, a linha é uma das ferramentas de trabalho de um Mestre Maçom. É um instrumento que age sobre um pino central de onde é puxada uma linha que delineia e marca o terreno para a fundação de uma estrutura pretendida. Simbolicamente, ela representa a linha reta e invariável de conduta estabelecida para nossas atividades no volume da Lei Sagrada. O que torna a linha tão especial é que ela é usada antes que a fundação de um edifício seja definida e, portanto, é geralmente usado antes das outras ferramentas de trabalho. A linha permite que uma pessoa possa ver a localização exata da fundação. Por conseguinte, o terreno circundante pode ser facilmente destinado para outros fins. A utilização inicial da linha permite que correções sejam feitas na marcação em vez de, mais tarde, na fundação acabada de pedra ou concreto. Como maçons, nossa base é o nosso próprio caráter individual. Sobre essa base construímos uma superestrutura de honestidade, integridade, lealdade, compaixão e fraternidade. Como maçons ingleses, permitam-me, lembremo-nos de retomar essa ferramenta única de trabalho, a linha, e regularmente usá-la para delinear o alicerce do nosso caráter).

A figura símbolo da linha ou trena (skirret) é raramente mostrada até mesmo na maçonaria norte americana, que adotou os procedimentos ritualísticos ingleses, em especial dos chamados “modernos”, pertencentes à primeira Grande Loja de Londres. O painel em referência, com “skirret” no ataúde, sintetiza o sincretismo do terceiro grau da maçonaria inglesa do século XIX. No entanto, o mesmo painel, a partir de 1927, tem sido abordado em trabalhos instrutivos sobre o rito criado para as Grandes Lojas brasileiras, como painel original do Rito Escocês Antigo e Aceito.

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14/02/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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         (65) MAÇOM ESPECULATIVO                                  A criação da Grande Loja de Londres, em 1717, foi convenientemente explorada pelos maçons ingleses da Real Sociedade, sob a liderança e estratégia do genial John Theophilus Desaguliers, para constar que nessa data fora colocado um marco delimitando o início do período especulativo do saber maçônico. Antes, as atividades eram tidas como operativas desenvolvidas por pedreiros profissionais. O mundo maçônico acatou a tese. Aceitou uma inverdade que prevaleceu por força de vários fatores. Um deles, a abertura das portas das Lojas aos adeptos não cristãos. A maçonaria existente até então na Inglaterra, sob a liderança da grande e famosa Loja de York, aprovava preferencialmente candidatos que se declaravam cristãos. Na base dessa divergência está uma disputa política entre seguidores da Casa dos Stuarts, católicos jacobitas, do reinado de Carlos II, e os nobres seguidores da dinastia de Orange e da dinastia de Hanover, protestantes. Em 1688, o rei Jaime II da Inglaterra e Jaime VII da Escócia, irmão e sucessor de Carlos II, fora destituído do trono inglês pelo Parlamento devido aos favores crescentes que vinha concedendo aos católicos. Os Stuarts sempre usaram a maçonaria para se beneficiarem politicamente. A fundação da Grande Loja de Londres com a finalidade de criar uma corporação de maçons judeus, muçulmanos e budistas para neutralizar o domínio dos maçons católicos de York, atingiu o objetivo. A maçonaria liderada por York perdeu adeptos e praticamente desapareceu até 1725, coincidindo com a publicação da primeira edição da Constituição de Anderson e Desaguliers e com a adoção da lenda de Hiram no terceiro grau..O brevíssimo relato tem a intenção de mostrar que existia antes de 1717, na Inglaterra e na Escócia, uma maçonaria forte, não operativa, fiel ao cristianismo, portanto uma maçonaria com estreitos laços religiosos e políticos. A denominação ou classificação de maçom especulativo serviu para ajudar a neutralizar a divulgação de um período da maçonaria inglesa católica que aos “anti-stuartistas” não interessava ser recordado. Num raciocínio dedutivo, em franco desenvolvimento na Europa desde o século 17 e exercitado pelos fundadores da Grande Loja de Londres, os maçons não especulativos, ou seja, maçons católicos, classificados  como operativos, tinham um saber inculto, rudimentar.  A escolha do termo especulativo para personalizar o novo maçom das tavernas britânicas convida a um pequeno retrospecto histórico do saber.Consta que Pitágoras, perguntado sobre quem era, teria respondido: “sou um amante do saber (philosophos)”. Antes da era cristã havia o saber comum e o saber especulativo, culto, procurado, buscado. O saber procurado foi denominado por Platão, 428-348 a.C., epistéme. O amor à sabedoria

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procurada criou a filosofia, através de um método, o reflexivo. Aristóteles entendeu filosofia como o saber racional, reflexivo, adquirido, acrescido do que hoje denominamos ciência.No século VII, o bispo Isidoro de Sevilha, autor da obra “Etimologias” relacionou ciência à filosofia: “Filosofia é o conhecimento das coisas humanas e divinas, acompanhado do estudo do bem viver. Parece que consta de dois componentes: a ciência e a opinião. É ciência quando uma coisa é conhecida em seu autêntico fundamento. Trata-se de opinião quando uma coisa, ainda não delimitada perfeitamente, permanece desconhecida e não se pode dar nenhuma explicação definitiva sobre ela”.Em 1100 d.C., o conceito de ciência para os dominicanos englobava a divina onipotência, o conhecimento humano e dos anjos.Tomás de Aquino, nos anos 1200, incluiu a ciência como uma das três “virtudes intelectuais especulativas” (as outras foram a sapiência e o intelecto): “Como já dissemos, é pela virtude especulativa que o intelecto especulativo se aperfeiçoa para considerar o que é verdadeiro”. Tomás de Aquino considerou a ciência como a investigação das causas das coisas naturais pela observação empírica.A Idade Média herdou dos antigos o conceito de ciência, inclusive a reflexão filosófica, mas, dessa vez, dominados pela religião e pelo desejo de conciliar os saberes adquiridos dos filósofos – especialmente de Aristóteles, que se conhece pelas traduções árabes – com os dogmas do cristianismo. A inclinação dessa época para rejeitar a tradição, por um lado, levou à negligência do saber obtido dos filósofos do passado e, por outro, conduziu a encarar novos pontos de vista que iriam florescer no século XVII: surge principalmente a preocupação em se proceder à observação empírica da realidade antes de interpretá-la pela mente.Pelas informações precedentes, deduz-se que a classificação de maçom especulativo pretendeu estabelecer uma diferença intelectual entre o maçom pedreiro construtor e o maçom filósofo. Para os fundadores da Grande Loja inglesa, de 1717, o maçom operativo pouco ou nada tem de saber reflexivo e de teologia (estudo incluído na filosofia especulativa). Exercita uma filosofia vulgar, a filosofia prática. Era indispensável promover o mesmo personagem a um patamar institucional mais elevado. A solução foi rotulá-lo com um novo saber. O maçom especulativo passa a ser o símbolo de um saber diferenciado, o saber teorético. O filósofo Bernardo de Claraval, fazendo eco a Aristóteles, escreveu: “É justo chamar a filosofia de ciência da verdade, porque o fim da ciência teorética (especulativa) é a verdade, enquanto o fim da filosofia ou ciência prática é a ação”.A filosofia especulativa compreende a Metafísica fundamental, a Crítica, a Aporética, a Metafísica especulativa, ou ontológica, a Henótica - o estudo da unicidade individual, a Teologia natural, a Axiologia - teoria do valor, a Timologia - o estudo de estimação, a Meontologia - o “me on” de Platão estudado na Filosofia Concreta, e a Teodiceia, que estuda a existência e os atributos de Deus. Teoricamente, essa é a abrangência do saber reservado ao maçom especulativo. Até o presente, a dedicação ao estudo desses temas

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especulativos tem sido constrangedora, constatação que se faz a partir da maçonaria inglesa, autora da designação.Nessa peripécia político-filosófica dos maçons ingleses, em 1717, constata-se que o lendário maçom operativo foi apenas um maçom especulativo católico que não construiu catedrais na Inglaterra. Já o maçom especulativo cientificista inglês, representante do racionalismo que tudo explica pela ciência filosófica, pouco estuda filosofia. Como pedreiro livre apenas no ritual, torna-se virtualmente um maçom operativo escravo porque é obreiro protagonista no simbolismo das cerimônias da construção do templo de Jerusalém. Os maçons fundadores da Grande Loja de Londres foram criativos e imaginativos, mas pouco coerentes. No entanto, parece que sabiam com quem lidavam; confiaram na obediência irracional dos novos adeptos.

 06/03/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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          (66) BARRETE FRÍGIO

                                          Os ritos maçônicos com o simbolismo solar e a essência do conteúdo filosófico-religioso dos Rosa-cruz nos diversos graus, adotaram o chapéu como insígnia de cabeça dos Mestres. No Rito Escocês Antigo e Aceito, tomado aqui como referência por se tratar de rito conhecido da maioria dos maçons brasileiros, o chapéu usado em 1804 - ano do primeiro ritual organizado para totalizar os 33 graus - sobre a peruca, com a aba caída e copa mole, tem semelhança com um barrete. É inspirado no tradicional barrete frígio dos alquimistas construtores de catedrais no século XI.

O barrete frígio ou barrete da liberdade é uma espécie de touca ou carapuça, originariamente utilizada pelos moradores da Frígia (antiga região da Ásia Menor, onde hoje está situada a Turquia).Fulcanelli, escreve em “O Mistério das Catedrais”:“O barrete frígio, que era usado pelos “sans-culottes” e constituía uma espécie de talismã protetor no meio das hecatombes revolucionárias, era o sinal distintivo dos Iniciados. Na análise que faz de uma obra de Lombard (de Langres) intitulada Histoire des Jacobins, depuis 1789 jusqu'à ce jour, ou État de l’Europe en Novembre 1820 (Paris, 1820), o sábio Pierre Dujols escreve que no grau de Epopta (nos Mistérios de Elêusis) “perguntava-se ao recipiendário se sentia a força, a vontade e a abnegação necessárias para meter mãos à GRANDE OBRA. Então, colocavam-lhe um barrete vermelho na cabeça, pronunciando esta fórmula: 'Cobre-te com este barrete, ele vale mais do que a coroa de um rei'”. Estava-se longe de suspeitar que esta espécie de chapéu, chamado Libéria nas Mitríacas, e que distinguia outrora os escravos libertos, fosse um símbolo maçônico e o atributo supremo da Iniciação. Não devemos, portanto, admirar-nos de encontrá-lo representado nas nossas moedas e nos nossos monumentos públicos”.

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O chapéu, sendo aquilo que cobre a cabeça, significa em geral o que simboliza a cabeça. Recobre a personalidade como uma representação principal outorgando-lhe sua significação. A coroação confere ao soberano a natureza divina do Sol. O barrete doutoral representa a dignidade do erudito. Um chapéu incomum significa a natureza incomum do usuário, como o chapéu cardinalício vermelho de abas largas, que o papa entrega aos novos cardeais.

Na maçonaria, o chapéu é o símbolo do Iniciado no grau de Mestre. Para os antigos alquimistas o barrete era atributo dos adeptos. A catedral de Notre-Dame de Paris possui e conserva a personificação do alquimista na fachada da sua estrutura. Perto do eixo médio do majestoso edifício, no ângulo reentrante da torre setentrional, está o relevo de um grande velho em pedra. É o alquimista de Notre-Dame, coberto com um barrete frígio, negligentemente colocado sobre a cabeleira, representando o sábio em posição de observação da natureza.

A ritualística das Lojas azuis do Rito Antigo e Aceito, em 1765, que serviu de base para o ritual de 1804 das Lojas azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito, na França, revela o uso  obrigatório do chapéu apenas para o Venerável Mestre. E por que o chapéu integra-se na personalidade do Venerável Mestre durante os trabalhos nos graus de Aprendiz e Companheiro?

O Venerável Mestre, sendo o responsável pela criação da Loja cósmica no Rito Escocês Antigo e Aceito, necessariamente é um adepto com esclarecimento Iniciático elevado para que sua sabedoria e amor caridoso permitam realizar a missão divina de transformar a Loja caótica na Loja perfeita. Essa criação se dá por meio da emanação da palavra sagrada que ele transmite ao seu Diácono, pois: “No princípio era o Verbo”. No Antigo Testamento, o Verbo é aquilo que surge em primeiro lugar e antes de tudo. É um atributo divino, o sopro da Criação que no ato original se identifica com a palavra.

No momento em que forma a Loja a partir do caos e recebe de Deus o dom da linguagem para produzir o sopro da palavra sagrada, o Venerável Mestre está acima da Natureza a nomear.

Os cabalistas que estruturaram a maçonaria ocultista que conhecemos configuraram o Venerável Mestre como um ser cósmico que reúne em si as almas dos adeptos na Loja ainda no caos e trabalha para a reforma espiritual de cada um durante a Loja perfeita. O Venerável Mestre abre a Loja perfeita em nome de Deus como se pode verificar no ritual de 1804: “Em nome de Deus e de São João da Escócia declaro esta Loja aberta e coberta. Está proibido falar ou passar de uma Coluna para outra sem a permissão do Vigilante de sua Coluna. ...”

No templo onde é praticado o Rito Escocês Antigo e Aceito há 12 colunas com a corda de doze nós, simbolizando as casas zodiacais. Elas representam as diversas moradas ou etapas do processo de transfiguração da alma de cada adepto presente (no Rito Escocês Antigo e Aceito não há corda de 81 nós como aparece em alguns rituais brasileiros atribuídos a esse rito).  A transformação espiritual na Loja escocesa se dá por transfiguração

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das almas. A doutrina de transfiguração das almas começou a ter impacto para os cabalistas a partir de meados do século XVI e tornou-se símbolo de transformação espiritual no escocesismo no século XVIII.

O Venerável Mestre desempenha sua missão como o Iniciado capacitado a conduzir a assembléia da Loja ao melhor estágio de organização da substância anímica dos maçons. E o chapéu  cobrindo a cabeça do Venerável Mestre é o símbolo da sua dignidade e da sua realidade espiritual em relação a Deus e aos homens.

28/03/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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            (67) CARTOLA                                              Em 1790, quando o Rito Schröder foi delineado, os homens usavam peruca no meio social europeu. Em 1801, data da publicação do Ritual pronto, os homens usavam na cobertura da cabeça, peruca ou chapéu alto. O chapéu alto foi inventado por John Hetherington, em 1797. Reza a história que a primeira vez que foi usado causou pânico nas ruas de Londres, levando Hetherington a ser acusado em tribunal de usar um chapéu que propositadamente pretendia assustar as pessoas. Passado o susto, o chapéu alto tornou-se uma referência na moda masculina, sendo habitualmente usado em situações solenes e devidamente acompanhado de um fraque. A cartola, rainha dos chapéus, marcou todo o século XIX.

Os organizadores do ritual Schröder incluíram o cilindro – zylinder – na indumentária dos praticantes do rito. O cilindro, ou cartola, faz parte da opção por um todo, o traje solene, diferente de outros ritos contemporâneos, em que o chapéu foi adotado para simbolizar o Iniciado ou a dignidade do cargo de Venerável Mestre. Assim ocorreu com o barrete frígio, adotado pelos alquimistas construtores de catedrais como símbolo do Iniciado nos fenômenos ocultos da natureza. O Rito Schröder elegeu para as suas reuniões o traje solene com fraque, camisa, luvas brancas, nele incluída a cartola, por motivo estético. Foi escolhida a estética vestual para envolver a melhor ética pessoal. Ética e estética se potencializam e produzem sutis elaborações de ordem emocional e afetiva que se harmonizam no fato litúrgico e se projetam no quotidiano do maçom no convívio da sua comunidade. É o cenário de aplicação e desenvolvimento da ética humanista que aprimora e resolve.

A estética no Rito Schröder empresta personalidade ao sistema. Os idealizadores do cerimonial apoiado apenas na filosofia, sem ingredientes religiosos e ocultistas, construíram novas ideias para a interpretação da missão da maçonaria. Com base na tradição crítica que inclui a beleza como manifestação da verdade, a partir de postulados do filósofo Friedrich Hegel, a arte é vista como uma espécie de discurso no qual a estética é quem profere

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a palavra. Para Hegel, “o belo se define como a manifestação sensível da verdade.”

No Rito Schröder, a cartola é parte de um conjunto que configura uma personalidade. Os componentes da indumentária se completam entre si, como os diferentes instrumentos de uma orquestra. O Rito Schröder sempre esteve intimamente ligado às artes, ao teatro em especial. Friedrich Schröder, aos 35 anos de idade, já era considerado o maior ator de teatro na Alemanha e a Loja Os Três Globos, de Berlim, foi fundada por artistas franceses que viajaram até a Prússia.

O novo rito maçônico nasceu em meio a uma filosofia social emergente e com uma ritualística simples, leve e objetiva. Esse panorama inaugurou a reunião maçônica que substituiu o ocultismo tradicional influente na época pela solenidade cerimonial ritualizada de um evento artístico-cultural. Para tal, um chapéu elegante num traje de festa foram elementos estéticos valorizados, uma espécie de selo identificativo de evento maçônico que se afasta do caráter religioso, esotérico ou de condecorações cavaleirescos e se completa com o conteúdo intelectual que favorece as reflexões filosóficas para o congraçamento e o aperfeiçoamento na convivência social.

Mas a tendência entre nós brasileiros, para tratar os temas do Rito Schröder de forma semelhante à que é empregada nos demais ritos é uma evidência. Aqui e ali vejo interesse em saber o significado da cartola, a peça que desperta curiosidade pelo diferencial que estabelece nos usos. E algumas vezes lá está a resposta a essa questão: a cartola simboliza o homem livre. A interpretação, no entanto, também desperta curiosidade, para não dizer ressalvas. Além de separar a cartola do conjunto estético do vestuário, pesquisa específica não encontra relatos ou referências que mostrem o chapéu alto cilíndrico como indicativo de algum tipo de liberdade pessoal.

A cartola foi apenas um chapéu elegante no século XIX e peça de uma indumentária solene que se compõe de mais outras peças. A não ser que se pretenda criar uma analogia com o barrete frígio do escocesismo. O barrete surgiu como símbolo da libertade dos escravos na antiga Frígia, hoje, Turquia. Depois, foi adotado pelos alquimistas como símbolo do Iniciado.

Então, não se pergunte o que simboliza a cartola, ou as luvas, ou o fraque isoladamente no Rito Schröder. Eles representam conjuntamente parte de um Conceito. E isso é o importante para a maçonaria do Rito. O filósofo alemão Friedrich Hegel, contemporâneo de Schröder, expõe em sua obra “A Fenomenologia do Espírito”, as idéias partilhadas nos últimos anos 1700 sobre o desenvolvimento do Conceito e sua importância para o pensar a vida. O sistema que Hegel se propõe a estabelecer repousa no modo de colocar o ser e o pensamento. O conhecimento do mundo e o discurso pelo qual esse conhecimento se exprime exercitam o desenvolvimento do Conceito. O sistema hegeliano engloba a totalidade: nele, exterioridade e interioridade se juntam. O procedimento por oposição e englobamento das oposições, tanto no plano do entendimento como no da história do Conceito, ou do Espírito, Hegel chamou de dialética. Dialética é o movimento do Conceito, a própria vida do sistema, uma realidade que tem um aspecto objetivo e um aspecto subjetivo, enquanto é um modo de conhecimento. A dialética no Rito Schröder

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está no movimento do Conceito de Natureza à luz da maçonaria. A moral interior em oposição e ao mesmo tempo associada à ética exterior, e ambas englobadas pela estética personalística, constituem a própria vida do sistema ritualístico-filosófico criado por Schröder.   

 02/04/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

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PROPÓSITOS DA PRIMEIRA GRANDE LOJA DE LONDRES

                Por que surgiu a primeira Grande Loja de Londres? Quais os interesses não revelados que detonaram iniciativa tão marcante? Nos anos que antecederam esse “landmark” na história da maçonaria mundial, a confraria na Inglaterra mostrava duas realidades distintas: os maçons católicos, que faziam suas reuniões em locais cedidos pela Igreja e os maçons não católicos que se reuniam em locais públicos, como tavernas e hospedarias. As Lojas que reuniam maçons cristãos obedeciam à ritualística simples organizada para as recepções aos candidatos e para as trocas de grau. Eram lideradas pela pujante Loja de York. As lojas constituídas por maçons judeus, muçulmanos e budistas e que se reuniam em tavernas, eram informais. As reuniões, em ágapes, se destinavam às trocas de idéias variadas e às relações sociais. A concorrência entre os dois segmentos da maçonaria britânica era acirrada, até com episódios de violência contra o patrimônio. Historiadores não comprometidos com a versão oficial revelam a campanha sistemática de maçons filiados à Grande Loja de Londres contra documentos de qualquer espécie que informassem algo sobre a existência das Lojas católicas mais antigas. A Grã-Bretanha, desde o Ato de Supremacia proclamado por Henrique VIII, em 1534, para romper com Roma e estabelecer a Reforma religiosa, viu-se dividida entre catolicismo e protestantismo. Esse último ainda contribuiu com o puritanismo; movimento de confissão calvinista que rejeitava tanto a Igreja Romana como a Igreja Anglicana. Em 1649, a Revolução Puritana, sob a liderança de Oliver Cromwell, saiu-se vencedora contra a Monarquia. Protagonizou a prisão e decapitação do Rei Carlos I e proclamou a República na Grã-Bretanha. Com a morte de Cromwell, abriu-se um período de crise, que conduziu à restauração dos Stuart, em 1660. Quando Jaime II pretendeu restabelecer o catolicismo, desprezando os interesses da maioria protestante, eclodiu a Revolução Gloriosa, em 1688. O Stuart foi facilmente vencido, refugiando-se na França de Luís XIV. A partir de 1714, reinaram os Hannover, alemães, protestantes, pouco interessados na gestão do país e que, por isso,

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favoreceram e reforçaram a importância dos “Whigs”, adeptos de uma Monarquia limitada pelo Parlamento.Os intelectuais e cientistas da Royal Society, dentre eles vários maçons, eram contra a influência da Igreja porque essa pregava a idéia do criacionismo para explicar o surgimento do mundo. A Igreja apoiava sua posição nas teses dos filósofos antigos, nas Sagradas Escrituras e na autoridade de fé e de santidade dos padres. Os integrantes da Royal Society adotaram o lema: Nullius in Verba, para mostrar que acreditam na verdade dos fatos, obtida através da experiência científica e não ditada pela palavra de alguma autoridade. Combatiam também a Escolástica, que era uma linha dentro da filosofia medieval com elementos notadamente cristãos. A Escolástica surgiu da necessidade de responder às exigências de fé, ensinada pela Igreja, acrescentando ao universo do pensamento grego os temas: Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada. O ambiente político estava favorável para os maçons não cristãos prestigiarem sua atividade, substituindo as finalidades mundanas das suas reuniões nas tavernas por encontros com formalidades específicas para uma sociedade que pretendia parecer cultural e filantrópica.  A esse respeito escreve John J. Robinson, em “Nascidos do Sangue – Os Segredos Perdidos da Maçonaria”: “Enquanto a Maçonaria continental estava ocupada em tecer mais e mais padrões complexos de rituais, a Maçonaria britânica original de três graus enfrentava seus próprios problemas. Como todo o conhecimento de qualquer propósito anterior desaparecera, a Maçonaria emergiu como uma sociedade glutona e beberrona, com, talvez, uma sombria ênfase exagerada na última. Todos os Maçons ingleses provavelmente lamentavam que seu Irmão moralista, William Hogarth, houvesse imortalizado o estado da Maçonaria londrina do século XVIII em sua pintura intitulada A Noite, que retrata um Mestre Maçom bêbado como um gambá sendo carregado para casa pelo Guarda da Loja, ambos com as insígnias maçônicas.”Era preciso encontrar uma solução para esse comportamento. Os maçons ligados à Royal Society, liderados por John Theophilus Desaguliers, filósofo, assistente e divulgador de Isaac Newton, idealizaram fundar uma associação de Lojas para planejar e organizar melhor o desempenho da maçonaria não atrelada aos eventos da Igreja. Reuniram quatro Lojas de tavernas e criaram a Grande Loja de Londres, em 1717.A história da fundação da primeira Grande Loja no mundo mostra uma dupla motivação para o evento: combater as Lojas que conservaram a influência dos temas católicos na sua ritualística e ajudar a expandir o sionismo entre as elites. A emigração de judeus sefarditas (de origem espanhola e portuguesa) e asquenazes (de origem alemã e polonesa), sobretudo oriundos da Holanda e da Alemanha para a Grã-Bretanha, ganhou intensidade na segunda metade do século XVII. A Grã-Bretanha proporcionou à sua minoria judia condições próximas do ideal para cultivar seus rituais religiosos. A regularização social dos judeus teve lugar em geral sem obstáculos, ao longo de um período prolongado. Oliver Cromwell deu permissão para o culto público a um

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pequeno grupo de sefarditas, em 1656, e a licença manteve-se após a restauração da monarquia em 1660.A geografia e a história colocaram a Grã-Bretanha de certo modo fora da Europa continental e a experiência judaica ali, por sua vez, foi algo especial. Os judeus foram admitidos tardiamente, mas, quando o foram, desfrutaram das liberdades básicas durante um tempo mais prolongado que em qualquer outro país europeu. A composição heterogênea da sociedade britânica produziu crescente liberdade de culto. Embora a vigência da Declaração de Direitos (1689) que, entre outras regulamentações, restringiu a liberdade religiosa ao culto protestante, os preconceitos contra grupos religiosos minoritários foram tênues.Apesar de ser uma das comunidades menos importantes e menores na Grã-Bretanha, os judeus aproveitaram a generosa tolerância reinante e destacaram-se na política, no comércio, nas artes e nas ciências, enfim, em todos os aspectos da vida nacional inglesa. A posição dominante da Grã-Bretanha no mundo dotou os líderes judeus de um papel preponderante internacional, como no desenvolvimento inicial do sionismo.E a maçonaria fez parte do processo sendo um dos meios de difusão do sionismo. Os primeiros rituais surgidos da existência da Grande Loja de Londres elegeram o Templo de Jerusalém construído por Salomão, o símbolo da obra perfeita. Serviu de referência na analogia com o trabalho da maçonaria de aprimoramento do caráter humano. O texto do ritual reproduziu passagens bíblicas dos hebreus nas explanações aos maçons. A resistência ao retorno do catolicismo na maçonaria e a divulgação do sionismo conjugaram-se numa corrente que sufocou as Lojas cristãs remanescentes. A influência dos judeus maçons com posições de destaque na marinha, no comércio de armas e no mercado de negócios bancários levou o poderio político e institucional da maçonaria inglesa para além fronteiras da Grã-Bretanha. A estratégia de fazer constar que a Grande Loja de Londres inaugurou uma nova maçonaria, a especulativa, em substituição à operativa, deu certo. O mundo maçônico acreditou. A eliminação dos documentos relativos às atividades anteriores a 1717 deu veracidade à tese. A maçonaria britânica tornou-se forte e respeitada. Os maçons ingleses mantiveram-se suficientemente poderosos para ditarem ao mundo, cem anos mais tarde, as oito regras para a regularidade das Lojas e dos maçons no universo.

 19/04/2011 - Glmergs - SemearColégio de Estudos do Rito Schröder

Oficina de Restauração do REAA

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CONSULTORIA DE JAMES ANDERSON

                             A Grande Loja de Londres criada em 1717 produzira até 1721, como legislação para regular seu funcionamento, os Regulamentos Gerais. O segundo Grão-Mestre, George Payne, reuniu manuscritos diversos,

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inclusive cópias das Ancient Charges, que serviram de referência e informação. Quatro anos  depois  da sua fundação ainda não possuía uma Constituição. Os grupos ou lojas que constituíram a Grande Loja, inicialmente, reuniram pessoas de origem modesta, pequenos lojistas, comerciantes e artesãos. O modelo que reproduziam era de uma fraternidade, presente na Europa desde o século XI. Na Idade Média a vida era muito difícil. Não havia sistema de auxílio social para ajudar os trabalhadores e suas famílias nas dificuldades. Em Londres, em 1717, as pequenas organizações chamadas lojas ainda tinham uma função de apoio mútuo. Mas para os idealizadores da Grande Loja era indispensável dotar as reuniões maçônicas de motivos atraentes para a aristocracia, acrescentar outras atribuições para  as lojas. A nobreza estava interessada em ciência. A Grande Loja precisava dos cavalheiros e da nobreza na maçonaria para angariar recursos e prestígio. A maçonaria cultural não tinha credibilidade como instituição corporativa. A Grande Loja pretendia se transformar em uma nova sociedade mercantil e de lazer. John Theophilus Desaguliers, um francês que se mudou pequeno com seus pais para a Inglaterra, onde mais tarde frequentou a Universidade de Oxford e se doutorou em Lei Canônica, desempenhou papel fundamental na criação e na consolidação da Grande Loja de Londres. Diz Roger Danchez, do Instituto Maçônico de França: “Como muitos outros cientistas ou artistas da época, Desaguliers usava a maçonaria para contatos profissionais e “lobby” a fim de obter os meios necessários para seus experimentos. Tornou-se Grão-Mestre eleito em 1719. Nos dois anos seguintes, sob sua influência, uma classe social completamente nova entraria para a Loja. Primeiro alguns aristocratas e depois a nobreza que frequentemente pertenciam à comunidade científica. E finalmente, como culminação do seu trabalho em 1721, Desaguliers conseguiu eleger como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, o Duque de Montagu, que na época era o homem mais rico da Inglaterra”. Andrew Prescott, da Universidade de Sheffield, Reino Unido, acrescenta: “Desaguliers conseguiu essa transformação não apenas pela mudança nos indivíduos, mas também por abalar as estruturas. Em 1721 ele pediu a um pastor escocês desconhecido, James Anderson, para redigir uma Constituição cujo propósito era organizar os maçons e seu estilo de vida. O pastor vivia modestamente e por volta de 1720 teve diversos reveses financeiros. Ele estava afogado em dívidas e sua situação era precária. Para sobreviver ele elaborava árvores genealógicas sob encomenda. Nessas genealogias completamente inventadas ele criava para seus clientes uma linhagem famosa e de prestígio. Pediram a ele para fazer a mesma coisa para um novo clube – a Grande Loja. Anderson não elaborou apenas as regras, mas também uma história para a instituição. No entanto, não eram as idéias de Anderson expressas ali, mas a dos líderes da nova Grande Loja, em particular as de John Theophile Desaguliers”. Desaguliers, já como ex-Grão Mestre, viajou a Edimburgo, na Escócia, em 1721, para visitar a Loja Mary’s Chapel com a intenção de conhecer a sua ritualística e a sistemática organizacional. A legislação elaborada para a Grande Loja ofereceu, desde as primeiras peças divulgadas, algumas informações dúbias ou imprecisas. Nos

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Regulamentos Gerais consta o vocábulo "landmark" pela primeira vez no 39° e último regulamento: "Cada Grande Loja anual tem o inerente poder e autoridade para modificar este regulamento, ou redigir um novo, em benefício da Fraternidade contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos landmarks." Os antigos landmarks não foram especificados para que pudessem se tornar invariáveis. Essa foi uma exigência inconsistente porque não foi vinculada a uma figura com especificidade. Os maçons que quisessem se assegurar que estavam obedecendo aos "antigos landmarks" não encontravam orientação porque a figura do landmark não tinha individualidade e nem forma. Isso foi reconhecido e o termo landmark foi substituído por "rule", que significa regra, na assembleia geral da Grande Loja em novembro de 1723. Na apresentação do volume do Livro das Constituições de 1723, Anderson cita referências documentais que teriam emprestado sustentação ao conteúdo de sua legislação: "Antigos Registros de Lojas além-mar e das Lojas na Inglaterra, Escócia e Irlanda". Os documentos e as lojas não foram relacionados e nem revelados.        James Anderson nasceu em Aberdeen, na Escócia, em 1679, onde também foi educado e ordenado ministro da Igreja Presbiteriana da Escócia em 1707. Anderson mergulhou nas histórias dos construtores da Idade Média, incluindo as Ols Charges ou Antigos Encargos. Tudo o que Anderson escrevia era verificado por uma comissão de catorze membros. Em março de 1722, o trabalho ficou pronto, quando foi relatado para discussão e aprovação a representantes de 24 lojas, reunidos na Taverna Ponte da Praia. Foi dessa maneira que nasceu a famosa constituição de Anderson, o Livro das Constituições, apresentado oficialmente às lojas em janeiro de 1723. John Hamill, pesquisador e porta-voz da Grande Loja Unida da Inglaterra, refere-se ao Livro das Constituições como “um texto fundamental produzido pela maçonaria. Ele foi traduzido em Francês, Alemão e Italiano, quando a Grande Loja emergiu na Europa de 1730 e no que viria se tornar, a partir de 1776, os Estados Unidos da América”. Ainda na opinião de Roger Danchez, do Instituto Maçônico de França: “Anderson relacionou os membros do novo clube maçônico de Londres aos construtores da Idade Média. Inventou uma ligação com os construtores enquanto ainda alegava que os verdadeiros ancestrais dos maçons eram também os diversos líderes mundiais desde Adão. Essa mentira foi de fato política. Dessa maneira ele criou legitimidade para os novos líderes da Loja que também eram da classe dominante da sociedade inglesa. Esse trabalho de Anderson foi muito importante para estabelecer a autoridade moral dessa nova organização”.

Desaguliers e Anderson foram acusados pelos maçons cristãos ingleses e irlandeses de promoverem a descristianização da maçonaria pela redação do texto sobre Deus e Religião do Livro das Constituições: “Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer que ela fosse, hoje se pensa mais acertado somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões particulares para si próprio, isto é, serem homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os possam distinguir”... As lojas

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que se reuniam nas tavernas de Londres em 1717 e se filiaram à Grande Loja aceitaram maçons dos quais era exigida de forma genérica uma crença religiosa monoteísta, não necessariamente cristã. Isso fez nascer, poucos anos depois, conflito de relacionamento com a influente Loja de York, frequentada por maçons declarados cristãos e considerada também uma Grande Loja por alguns autores. Apesar das falsidades ideológicas de Anderson, Desaguliers e dos outros líderes solidários na elaboração da árvore genealógica dos ancestrais dos maçons, tornadas verdades através da pena obediente de escritores maçons copiadores de histórias padronizadas, é jubiloso constatar que  há verdades que não viraram mentiras. A Constituição da Grande Loja de Londres trouxe, em 1723, para a maçonaria a idéia de não discriminação religiosa. Além disso, a Constituição de Anderson ofereceu ao mundo, para sempre, uma frase que sintetiza missão bem sucedida da maçonaria: “...por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância”.

31/05/2011 - Glmergs - Semear

 

          (70) J. T. DESAGULIERS                                   Os maçons que fundaram a Grande Loja de Londres em 1717, ofereceram ao mundo a alternativa de se conhecer e praticar uma maçonaria menos vinculada às restrições da crença obediencial ao cristianismo. J. T. Desaguliers organizou a Grande Loja, dotou-a de uma Constituição que ficou famosa e preparou-a para receber contingente crescente de personalidades influentes. James Anderson compilou essa Constituição e inventou uma história de antiguidade para a maçonaria inglesa. São dois expoentes desse processo. Jean Théophile Desaguliers, mais conhecido na Inglaterra como John Theophilus, é proveniente de uma família huguenote. Os huguenotes, protestantes franceses que se desenvolveram durante a Reforma do século XVI, estavam vivendo momentos difíceis no fim do século XVII devido às violentas perseguições dos católicos. Com dois anos, Jean Théophile foi levado escondido dentro de um tonel pelo seu pai, de La Rochelle, na França, para Guernsey, uma ilha no Canal da Mancha. Nove anos depois a família Desaguliers estabeleceu-se em Londres. John Theophilus bacharelou-se em 1709 e recebeu o diaconato do bispo da igreja anglicana de Londres. Após o mestrado em filosofia, casou-se com Joanna, filha de William Pudsley e no ano seguinte mudou-se para Westminster onde se tornou mestre de conferências em ciências. Nessa época conheceu sir Isaac Newton, que se tornou padrinho de um de seus dois filhos. Em 1718, Desaguliers obteve o título de Doutor em Direito Civil por Oxford. Em 1719 tornou-se capelão da paróquia de Whitchurch no Middlesex.Para aqueles que não conhecem a obra e as principais ações do pastor, cientista, filósofo, advogado e maçom J. T. Desaguliers ofereço algumas

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informações. Desaguliers, em 1712, obteve mestrado em filosofia e letras. Sucedeu ao Professor John Keill na cadeira de filosofia experimental no Hert Hall de Oxford. Publicou em 1734, “A Course of Experimental Philosophy” (Curso de Filosofia Experimental) em dois volumes. Traduziu para o inglês a obra “Mécanique du feu”, em 1716. Nesse mesmo ano publicou seus estudos de física experimental sob o título “Lectures of Experimental Philosophy”, obra reeditada em 1719. Tornou-se especialista em ventilação e também fez estudos sobre a máquina a vapor.Sua crescente reputação de cientista e filósofo facultou-lhe o ingresso em diversas sociedades científicas. Em 29 de julho de 1714 foi admitido como membro da Royal Society de Londres, fundada em 1660. Desaguliers dedicou-se com Isaac Newton, de quem se tornou assistente, a diversas pesquisas no terreno da física experimental. Colaborou com Newton na redação dos “Corrigenda” e dos “Addenda” incluídos no Livro I de “Philosophiae naturalis principia mathematica” (Princípios matemáticos de filosofia natural), obra que fora publicada em 1687. Após a publicação do “Curso de Filosofia Experimental”, traduziu do latim para o inglês “Mathematical Elements of Natural Philosophy” de Gravesandes. De 1730 a 1732, viajou aos Paises-Baixos para proferir conferências em três idiomas, ganhando 30 shillings por apresentação, valor considerado elevado. Por toda a vida, Desaguliers, foi um cientista apaixonado e uma das forças motrizes da revolução newtoniana.Os trabalhos produzidos sobre filosofia, os estudos realizados sobre o pensamento científico e filosófico de Isaac Newton e as palestras proferidas sobre o tema  credenciaram Desaguliers como filósofo. Isaac Newton considerou filósofo até o rei Salomão chamando-o de “o maior filósofo do mundo”. Para melhor orientar aos leitores não familiarizados com a cultura da época, destaco que no período em que Newton fez suas pesquisas e contou com a assistência de Desaguliers, a filosofia mecânica abrangia assuntos de natureza filosófica, teológica e alguns temas herméticos. Keith Moore, guardião da memória documental da Royal Society, afirma: “Desaguliers deixou sua marca na instituição. Ele estava no centro de uma rede de pessoas que eram interessadas na ciência. Mas não apenas ciência. Ele falava Francês e Latim muito bem. Dava palestras em três línguas. Sua rede de contatos não era apenas britânica, se estendia para o continente também. Os trabalhos de Desaguliers estão cuidadosamente preservados na Royal Society. Há arquivos originais que são testemunhas do ambiente científico em que ele viveu e trabalhou. Muitos dos maiores cientistas nesse período eram grandes colecionadores, o que custava muito dinheiro. E Desaguliers precisava de uma consideravel quantia de dinheiro para pagar as experiências e os equipamentos. A casa dele era repleta de equipamentos e ele precisava disso para dar apoio às palestras públicas que ministrava. Foi um grande divulgador da ciência newtoniana, da filosofia newtoniana. No clero ele conseguia uma renda. A Royal Society o ajudava em termos de engenharia de projetos e os círculos maçônicos ofereciam relacionamentos que proporcionavam negócios de patrocínios para que ganhasse a vida através dos mesmos”.

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Desaguliers teve uma visão pragmática da maçonaria, aproveitando-se dela para financiar seus estudos e através dos seus grupos divulgar os conhecimentos que sempre mostrou intenção de popularizar. E para materializar esse objetivo a maçonaria precisava ser poderosa, capaz de reunir homens de posição estratégica na sociedade para que os recursos materiais e as oportunidades vantajosas se multiplicassem. Eis o que diz Roger Dachez, do Instituto Maçônico de França: “Como muitos outros cientistas ou artistas da época, Desaguliers usou, assim, a maçonaria para contatos profissionais e lobby a fim de obter os meios necessários para seus experimentos. Nos dois anos seguintes, sob sua influência, uma classe social completamente nova entraria para a Grande Loja. Primeiro alguns aristocratas e depois a nobreza, que frequentemente pertenciam à comunidade científica. E finalmente, como culminação do seu trabalho, em 1721, ele consegue eleger como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, o Duque de Montagu, que na época era o homem mais rico da Inglaterra”.  O plano para transformar a maçonaria num centro patrocinador de conhecimentos científicos e de oportunidades de negócios, é comentado por David Stevenson da Universidade de St. Andrews, que há 25 anos estuda os arquivos das lojas escocesas: “Há uma ironia nisso porque os maçons alegam que na loja maçônica todos são iguais, estão nivelados. As diferenças sociais são ignoradas. Mesmo assim os maçons ingleses estavam desesperados para se tornarem respeitados através de membros da nobreza por terem líderes na hierarquia social e no governo entre eles”.Na reunião de 29 de setembro de 1721 da Grande Loja, diante de 16 lojas presentes, Desaguliers contratou oficialmente o pastor escocês James Anderson para organizar e redigir uma Constituição para a Grande Loja. Desde 1720, Desaguliers aproximara-se de Anderson para encomendar o estudo das antigas Constituições Góticas com a finalidade de serem transformadas numa Constituição para a Grande Loja. Anderson atravessava situação econômica e financeira muito precária, tendo seu nome lançado na “torre dos devedores”. Desaguliers pagou as dívidas de Anderson e acertou o trabalho.  Em apenas três meses, Anderson completou o estudo e em 21 de dezembro de 1721 apresentou o “Manuscrito Projeto” que foi entregue a uma comissão de 14 maçons para as emendas que considerassem necessárias.Ainda em 1721, Desaguliers foi à Escócia para visitar a Loja Mary’s Chapel para conhecer a estrutura funcional da maçonaria na Escócia e observar a ritualística da loja a fim de introduzi-las nas lojas da Grande Loja de Londres. Quando foi fundada a Grande Loja, em 1717, a maçonaria inglesa era constituída por lojas que aceitavam apenas maçons cristãos e lojas que acolhiam cristãos, judeus e muçulmanos. As lojas cristãs como de York e do Lancashire eram em sua maioria permanentes e se reuniam em locais cedidos pela Igreja. As lojas de maçons de diversas opções religiosas eram ocasionais e faziam reuniões ad hoc em locais públicos, em especial tavernas e hospedarias, com o intuito de iniciar maçons. Dentre as lojas não exclusivas dos cristãos, quatro eram permanentes e essas fundaram a Grande Loja de Londres.

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A data e o local da iniciação de J. T. Desaguliers não são conhecidos. Inexiste documentação disponível. Há indícios de que possa ter sido em 1712. Sabe-se, contudo, que Desaguliers e James Anderson foram membros da Loja nº 2 que se reunia na taverna Horn. Desaguliers apresentou sua candidatura a Grão-Mestre em 1717, mas foi eleito somente em 1719. Terceiro Grão-Mestre da Grande Loja de Londres e o último plebeu a ocupar o cargo, foi nomeado em três oportunidades, 1722, 1724 e 1725, para dirigir os trabalhos da Grande Loja como Grão-Mestre Adjunto, concluindo o mandato do Grão-Mestre. Foi Venerável da Lodge of Antiquity, então Loja nº 1, em 1723.Depois que conheceu a organização dos arquivos das lojas escocesas, que faziam ata das reuniões e guardavam os documentos que continham informações importantes sobre as atividades dos maçons, Desaguliers implantou idêntica sistemática na Grande Loja e nas lojas. Para se ter idéia da precariedade do sistema organizacional da maçonaria inglesa basta lembrar que a assembleia de fundação da Grande Loja de Londres não produziu ata para registrar o evento. A ata que faltou foi escrita vinte anos depois por James Anderson.  Além de organizar a maçonaria inglesa, Desaguliers ofereceu-lhe uma Constituição para servir de referência. Estabeleceu a regularidade na frequência das reuniões, adotou traje maçônico, alfaias, jóias, calendário de festas e hierarquia nos brindes dos banquetes. Criou a caixa de auxílio mútuo maçônico e o fundo de beneficência da Grande Loja da Inglaterra. Foi solidário com James Anderson na adoção da expressão Grande Arquiteto do Universo, fazendo surgir na maçonaria inglesa a idéia de deísmo que passou a competir com o então existente teísmo católico.A pesquisadora de maçonaria, Jéssica Harland, da Universidade da Florida, afirma a respeito do período imediato à criação da Grande Loja e do trabalho de Desaguliers: “Muito rapidamente uma verdadeira moda maçônica tomou conta de Londres. Era um sucesso que envolvia todas as classes sociais. O número de lojas mais que dobrou. Em 1723, apenas em Londres, havia mais de 30 lojas. E aquilo tudo explodiu em poucos anos. Nobres, plebeus, comerciantes, todos em Londres diziam: essa é a última moda. Não era como nos velhos clubes. Os líderes de mercado agora eram os clubes maçônicos (as lojas)”.    Os estudos recentes de pesquisadores não restritos aos limites das versões oficiais das obediências maçônicas têm oferecido relatos com informações que nos permitem conhecimentos diferentes ou complementares dos produzidos pelas pesquisas dos grupos internos da corporação.

02/07/2011 - GLMERGS - Semear

 

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INFLUÊNCIA JUDAICA NA MAÇONARIA INGLESA 

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                                           Os criadores da primeira Grande Loja de Londres descartaram a filosofia e optaram por um tema bíblico para o conteúdo da ritualística e das instruções das Lojas afiliadas. Coincidência? Essa alegação é um primor de primarismo. O século XVIII foi um período de esclarecimento. A filosofia estava em voga por toda a Europa e inspirou a expressão “Idade da Razão”. O prestígio da filosofia não bastou para os idealizadores do novo clube - a Grande Loja – e nem para James Anderson, o responsável pela criação da história e das regras de funcionamento da instituição. No Livro das Constituições, de 1723, Anderson se estende sobre a história judaica e, particularmente, a construção do templo de Jerusalém. A respeito dessa preferência Colin Dyer em “O Simbolismo na Maçonaria” escreve: “O periódico ressurgimento de questões referentes aos judeus na Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII pode ter contribuído para despertar um interesse na sua história”. Nos anos do rápido desenvolvimento da maçonaria inglesa após 1700, apareceram na Inglaterra rituais baseados na “palavra do maçom” e nos catecismos maçônicos, ambos de origem escocesa. Um sistema de dois graus foi adotado a partir dos graus escoceses de Aprendiz admitido e de Companheiro, substituindo o que antes era um sistema de grau único. A Loja em sua forma escocesa estabelecida por William Schaw ganhou a adesão dos ingleses. Em 1720, a Inglaterra estava dominante no desenvolvimento da maçonaria na Grã-Bretanha. O desejo de afastamento do conflito religioso entre católicos e protestantes dentro das Lojas levara maçons simpatizantes do ocultismo a incluir no fim do século XVII temas de misticismo hermético e Rosa-cruz. Em seguida surgiu o “newtonianismo” na maçonaria inglesa com a inclusão de assuntos da moderna ciência, em especial maçonaria/geometria. John Theophilus Desaguliers, o organizador do projeto de implantação da Grande Loja de Londres, assistente de Isaac Newton, contratou James Anderson, em 1721, para elaborar uma constituição que conseguisse organizar os maçons e seu estilo. Desaguliers planejou transformar as Lojas da Grande Loja em grupos de aristocratas e nobres interessados em ciência e filosofia sem interferência de dogmas das teologias cristãs. Desaguliers e Anderson construíram os conteúdos ritualísticos com passagens religiosas retiradas do Antigo Testamento e, ao mesmo tempo, incluíram na legislação a proibição de discussões sobre religião nos trabalhos das Lojas. Essa restrição constitucional de embates dogmáticos sobre a fé, visou reprimir manifestações críticas à introdução das Sagradas Escrituras em lugar da bíblia cristã e inibir embates teológicos futuros entre católicos, protestantes e cabalistas. Os conteúdos hebraicos foram escolhidos para inspirar os trabalhos dos novos clubes maçônicos. As narrativas do Antigo Testamento emprestariam tradição em anterioridade e em moralidade para competir com a tradição da moralidade cristã, presente nas reuniões de parcela das Lojas inglesas. Newton liderou na Royal Society o pensamento que considerou a cultura judaica e seu misticismo da cabala em nível superior de compreensão dos fenômenos transcendentais. Sir Isaac Newton trabalhou com as informações que teve em mãos a respeito da filosofia e da sabedoria da cabala. Pesquisou a tecnologia dos antigos babilônios, as filosofias de

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Pitágoras e Platão e as tradições e os mistérios do Egito antigo. Apesar de seus próprios feitos científicos, Newton sabia que a intelectualidade da época vivia à sombra da figura mítica do rei Salomão, a quem chamou de “o maior filósofo do mundo”. Newton considerou o projeto do templo de Jerusalém um paradigma para o futuro de toda a humanidade. Entendeu que as dimensões e a geometria da planta do templo continham dados matemáticos que serviam de referências para escalas de tempo. E Desaguliers compartilhou com essa opinião de seu mestre. Desaguliers queria dotar a maçonaria de mais prestígio na sociedade. Então, projetou a contribuição social dos judeus que, no começo do século XVIII, já ocupavam cargos importantes na estrutura comercial e financeira da Inglaterra e desempenhavam algumas funções políticas relevantes.Para melhor acompanhar o processo de crescimento da influência judaica na Inglaterra, um breve retrospecto dessa evolução. No ano 1290, Eduardo I, rei da Inglaterra, expulsou os judeus do seu reino e confiscou todos os seus bens. O exílio dos judeus ingleses durou 365 anos. Durante esse período os judeus habitaram secretamente as terras britânicas, tendo que esconder sua identidade. Comunidades de “marranos” cresceram e se mantiveram na Península Ibérica graças à proteção de famílias ricas simpatizantes com o judaísmo ou, ainda, de famílias convertidas.Em 1640, começou a guerra civil denominada Revolução Puritana entre forças do Parlamento, lideradas por Oliver Cromwell, e as tropas reais. O exército puritano foi apoiado por famílias judaicas com grande influência. Com a vitória dos puritanos alguns judeus patrocinadores da campanha foram aceitos oficialmente por Cromwell em 1656 como cidadãos ingleses com direito à pratica de sua religião original.Na segunda metade do século XVII a emigração de judeus oriundos da Holanda e da Alemanha ganhou intensidade. A Grã-Bretanha proporcionou condições próximas do ideal para cultivarem seus rituais. Liderados pelo Rabi Menasseh bem Israel a comunidade judaica insistiu com petições e projetos de sinagogas para que a admissão judaica fosse oficial. Em 1698, uma lei de Guilherme de Orange reconheceu definitivamente o direito dos judeus permanecerem na Inglaterra e a prática livre da religião.A Constituição e a ritualística com temática hebraica foram implantadas cinco anos após a fundação da Grande Loja de Londres. O simbolismo absorveu a influência da cultura religiosa e dos usos das seitas judaicas dos essênios e dos cabalistas, ambas bem documentadas na fase de pesquisas de James Anderson.A adoção do Antigo Testamento como livro sagrado das Lojas, a ritualística rica em simbolismo religioso judaico e a implantação do terceiro grau com a lenda da construção do templo de Jerusalém como tema central foram fatores persuasivos para despertar a simpatia dos judeus ingleses e sua adesão crescente à maçonaria que abrira suas portas para os não cristãos. O Irmão Leon Zeldis, Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Rito Escocês de Israel escreveu trabalho intitulado “Aportes Sefarditas” onde afirma: “Os judeus começaram a ingressar na maçonaria simbólica pouco tempo depois da criação da primeira Grande Loja de Londres, em

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1717. As reformas introduzidas pelos dirigentes deístas da maçonaria daqueles tempos estão refletidas na Constituição de Anderson, onde a fé no cristianismo deixa de ser uma das condições para ser admitido na Ordem...” A primeira menção que existe de um judeu maçom na Grã-Bretanha data de 1716, um sefardita que adotara o cristianismo. Outros houve disfarçados de cristãos. O ingresso dos judeus na maçonaria inglesa se intensificou a partir da criação do grau de Mestre, em 1725.O dr. William Wynn Westcott, em 1887, produziu texto para a Loja Quatuor Coronati em que apresenta detalhes a respeito da influência dos maçons judeus na inclinação dos “modernos” da primeira Grande Loja de Londres para o misticismo diferente da cabala, durante o transcorrer do século XVIII. Anderson e Desaguliers não foram os únicos maçons a mostrar interesse por assuntos judaicos e pelo idioma hebraico, no século XVIII. Laurence Dermott, que por muitos anos foi o secretário da Grande Loja dos “antigos”, de 1751, conhecia o idioma hebraico e denominou as Constituições de sua Grande Loja com um nome hebraico – Ahimon Rezon, A competição entre as duas Grandes Lojas de Londres desenhava-se feroz e a disputa pela opção dos judeus fez parte das ferramentas na arena.O crescimento da importância dos judeus na Inglaterra confirmou que eles representaram valioso meio de acesso da maçonaria às instâncias do poder nas áreas da política e da economia. Por sua vez, a maçonaria despertou o interesse dos judeus porque se revelou o novo centro de convergência de lideranças políticas e culturais inglesas e de negócios importantes, capaz de ajudar a expandir entre as elites o embrião de um sentimento permanente dos judeus que mais tarde eclodiu no sionismo. A respeito de sionismo é inusitado saber que ainda há quem alimenta a credulidade de que o movimento surgiu com um panfleto de Leo Pinsker, em 1892. O sionismo começou com os protossionistas que foram pensadores e religiosos judeus que expressaram em obras escritas o desejo ancestral do povo judeu em retornar às raízes históricas através da volta para sua terra de origem. Pela narrativa religiosa e tradicional o sionismo surgiu logo após a queda do segundo templo de Jerusalém.A maçonaria não foi criação dos judeus como pretendem opiniões interessadas em divulgar essa versão, porque a maçonaria não começou com as Grandes Lojas de Londres. Mas depois de 1717 o tempo se encarregou de confeccionar a tábua de delinear da história evolutiva da relação entre judeus e maçonaria. Salomão, Hiram e Hiram Abif construíram o templo imaginário da maçonaria especulativa. 

21/08/2011 - Glmergs - Semear 

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ORIGEM DA CIRCULAÇÃO DA PALAVRA SAGRADA

                             A circulação da palavra sagrada do Venerável até o Segundo Diácono, último portador, é uma tradição antiga da maçonaria francesa que aparece pela primeira vez no ritual datado de 1763 da Loja Verdadeira Harmonia de Mons, uma loja dedicada ao marquês de Gages. A mistura do ritual anglo-irlandês dos maçons da Grande Loja dos “Antigos”, divulgado em 1760 através dos textos da publicação inglesa, “Three Distinct Knocks”, com o ritual da loja do marquês de Gages, contribui para o catecismo de diversos rituais dos graus azuis das lojas escocesas na França que praticavam também os altos graus antes da chegada do supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito. E a circulação da palavra sagrada foi mantida nesses rituais. Em 1801, foi criada em Paris a Loja Tripla Unidade Escocesa que inicialmente esteve filiada ao Grande Oriente de França. Trabalhou no Rito de Heredom, como revela o texto manuscrito da abertura dos trabalhos. Essa loja foi uma das três fundadoras da Grande Loja Geral Escocesa em outubro de 1804, na assembleia das lojas escocesas convocada pelo Grande Consistório, a maior autoridade sobre os altos graus escoceses então constituída. O Supremo Conselho ainda funcionava em caráter provisório.Os graus azuis do Rito Antigo e Aceito foram anotados num caderno com 48 páginas manuscritas em letra bem legível, que serviu de orientação para as Luzes e Oficiais conduzirem os procedimentos formais da loja. Tem a abertura da loja, a leitura dos últimos trabalhos, introdução e telhamento de visitantes, recepção ao candidato, a instrução e a cerimônia de encerramento. Esse caderno foi denominado “Guia de Maçons Escoceses – em Edimburgo 58 :. :.”. Quando a Loja Tripla Unidade Escocesa filiou-se à Grande Loja Geral Escocesa, levou seus rituais de 1801. O Rito Antigo e Aceito se constitui de diálogos habituais das lojas francesas sobre  um texto básico da ritualística inglesa dos “antigos”. O original manuscrito do Rito Antigo e Aceito de 1801 manteve fidelidade ao ritual da publicação Three Distinct Knocks reproduzindo até mesmo um erro do ritual inglês onde em determinado segmento da abertura o Venerável se dirige ao Segundo Vigilante chamando-o Primeiro Vigilante. No exemplar de 1801 o neófito é consagrado “sob os auspícios da metrópole de Heredom sob o Regime Escocês reunido ao Grande Oriente de França”.Vejam a reprodução do ritual de abertura e uma tradução acoplada para a simples facilitação da leitura.Ritual da Loja Tripla Unidade Escocesa – Le V.M. frappe e dit:O Venerável Mestre bate e diz:- Debout et à l’ordre, mes FF.- De pé e à ordem, meus Irmãos.

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- F :.:. 1er S :.:. Quel est le premier devoir d’un Surveillant en loge ?- Irmão Primeiro Vigilante. Qual é o primeiro dever de um Vigilante em loja?- C’est de voir si la loge est couverte.- Ver se a loja está coberta. Le V :.:. M :.:. dit - Faites-vous en assurer mon F :.:.O Venerável Mestre diz – Procurai vos assegurar meu Irmão. Le F :.:. 1er S :.:. donne l’ordre au F:.:. 2ème S :.:. qui le transmet au F :.:. Couvreur, lequel après avoir regardé à l’extérieur du temple referme la porte & dit au F :.:. 2ème S :.:. qui le transmet au F :.:. 1er S :.:. que le temple est à couvert. Celuy -ci dit au V :.:. M :.:. : Le temple est couvert.O Irmão Primeiro Vigilante dá a ordem ao Irmão Segundo Vigilante que a transmite ao Irmão Cobridor, o qual após ter olhado no exterior do templo fecha a porta e comunica ao Irmão Segundo Vigilante que transmite ao Irmão Primeiro Vigilante: o templo está a coberto. Esse diz ao Venerável Mestre – O templo está coberto. - F :.:. 2ème S :.:. quel est le second devoir d’un F :.:. S :.:. en loge ?- Irmão Segundo Vigilante, qual é o segundo dever de um Vigilante em loja? - C’est de voir si nous sommes tous maçons & à l’ordre.- Ver se somos todos maçons e à ordem. Le V :.:. M :.:. dit : Assurez vous en mon F :.:.O Venerável Mestre diz: Assegurai-vos disso meu Irmão. Le F :.:. 1er S :.:. le répète au F:.:. 2ème S :.:., celui ci rend compte & puis le F :.:. 1er S :.:. dit au V :.:. M :.:.O Irmão Primeiro Vigilante repete para o Irmão Segundo Vigilante; esse retorna ao Irmão Primeiro Vigilante que comunica ao V.M.. - Nous sommes tous maçons & à l’ordre.- Somos todos maçons e à ordem. - F :. 2ème Diacre, quelle est votre place en loge ?- Irmão Segundo Diácono, qual é o vosso lugar em loja? - A la droite du F :. 1er S :. s’il veut le permettre.- À direita do Irmão Primeiro Vigilante se ele o permitir. - Pourquoy mon F :. ?- Por que meu Irmão? - Pour porter les ordres du F :. 2ème S :. & veiller à ce que les FF :. se tiennent decemment sur les colonnes.- Para transmitir as ordens do Irmão Segundo Vigilante e velar para que os Irmãos se mantenham decentemente nas colunas. - Ou se tient le F :. 1er Diacre ?- Onde se coloca o Irmão Primeiro Diácono? - Derrière ou à la droite du V :. M :. s’il veut bien le luy permettre.- Atrás ou à direita do Venerável Mestre se ele o permitir. - Pourquoy F :. 1er Diacre occupés vous cette place ?- Por que Irmão Primeiro Diácono ocupais esse lugar? - Pour porter ses ordres au F :. 1er S :. & à tous les officiers dignitaires afin que les travaux soient plus promptement exécutés.- Para transmitir suas ordens ao Irmão Primeiro Vigilante e a todos os oficiais dignatários a fim de que os trabalhos sejam prontamente executados.

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- Ou se tient le F :. 2ème S :. ?- Onde se coloca o Irmão Segundo Vigilante? - Au Sud V :. M :.- Ao Sul, Venerável Mestre. Puis s’adressant au F :. 2ème S :., il luy dit Dirigindo-se ao Irmão Segundo Vigilante, lhe diz: - F :. 1er S :. pourquoy occupez-vous cette place ?- Irmão Primeiro Vigilante, por que ocupais esse lugar? - Pour mieux observer le soleil à son méridien, envoyer les ouvriers du travail à la récréation, les rappeller du travail afin que le V :. M :. en retire honneur & gloire.- Para melhor observar o sol em seu meridiano, enviar os obreiros do trabalho à recreação, chamá-los de volta do trabalho a fim que o V.M. obtenha honra e glória. - Ou se tient le F :. 1er S :. ?- Onde se coloca o Irmão Primeiro Vigilante? - A l’Ouest V :. M :. - A Oeste, Venerável Mestre. Puis s’adressant au F :. 1er S :. il luy dit.Dirigindo-se ao Irmão Primeiro Vigilante, lhe diz: - F :. 1er S :. pourquoy occupes vous cette place ?- Irmão Primeiro Vigilante, por que ocupais esse lugar? - Comme le Soleil se couche à l’ouest pour fermer le jour, de même le F :. 1er

S :; s’y tient pour fermer la loge, payer les ouvriers & les renvoyer contens.- Como o Sol se põe a oeste para fechar o dia, também o Irmão Primeiro Vigilante aí se coloca para fechar a loja, pagar os obreiros e despedi-los contentes. - F :. 1er S :. ou se tient le V:. M :. ?- Irmão Primeiro Vigilante, onde se coloca o Venerável Mestre? - A l’est V :. M :.- A leste, Venerável Mestre. - Pourquoy mon F :. ?- Por que, meu Irmão? - Comme le Soleil se lève à l’est pour commencer sa course & ouvrir le jour, de même le V :? M :; s’y tient pour ouvrir la loge, la diriger dans ses travaux & l’éclairer de ses lumières. - Como o Sol se levanta a leste para começar seu curso e abrir a loja, também o Venerável Mestre aí se coloca para abrir a loja, dirigi-la nos seus trabalhos e esclarecer suas luzes. Le V :. M :. frappe alors (trois coups) de son maillet par tems égaux ; ensuite se tournant vers le F :. 1er diacre , ils font mutuellement le signe guttural. Le V :. M :. lui donne le mot sacré en cette manière B :. O :. O :. Z :. pour ouvrir la loge d’apprentiff maçon du Rit ancien accepté dans la loge Ecossaise la triple unité.O Venerável Mestre bate (três golpes) de seu malhete em tempos iguais; em seguida virando-se para o Irmão Primeiro Diácono, fazem mutuamente o sinal gutural. O Venerável Mestre lhe dá a palavra sagrada desta maneira: B – O –

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O – Z para abrir a loja de aprendiz maçom do Rito Antigo e Aceito da Loja Escocesa Tripla Unidade. Le F :. 1er diacre le porte au F :. 1er S :. qui l’envoye par son 2ème diacre au F :. 2ème S :. qui frappe (un coup) et dit.O Irmão Primeiro Diácono leva-a ao Irmão Primeiro Vigilante que a envia pelo Segundo Diácono ao Irmão Segundo Vigilante que bate (um golpe) e diz: - V :. M :. Tout est juste et parfait.- Venerável Mestre, tudo está justo e perfeito. Le V :. M :. en se découvrant ditO Venerável Mestre, descobrindo-se, diz: - A la G :. du G :. A :. de l’U :., au nom & sous les auspices de la métropole universelle d’Herodom, sous le Régime Ecossais réuni au G :. O :. de France, la R :. L :. Ecossaise la triple unite est ouverte au grade d’apprentif ; il n’est plus permis de parler ny de passer d’une colonne à l’autre sans en avoir reçu la permission du F :. S :. de sa colonne.- À Glória do Grande Arquiteto do Universo, em nome e sob os auspícios da metrópole universal de Heredom, sob o Regime Escocês reunido ao Grande Oriente de França, a Respeitável Loja Escocesa Tripla Unidade é aberta no grau de aprendiz; não é mais permitido falar nem passar de uma coluna para outra sem a permissão do Irmão Vigilante de sua coluna. - A moy mes FF :.- A mim, meus Irmãos.Tous les FF :. font le signe guttural.Todos os Irmãos fazem o sinal gutural. A influência do Rito "Antigo" anglo-irlandês é perceptível. O autor do ritual de 1801, quando escreveu esta abertura tinha claramente na sua frente a divulgação inglesa de 1760. Do ritual inglês, copiou a posição dos Vigilantes, a primeira no Ocidente, e a segunda no Sul, e conservou os diáconos, tipicamente irlandeses, que eram desconhecidos das lojas dos "Modernos" da primeira Grande Loja da Inglaterra. Ele evitou, no entanto, copiar somente o texto britânico, incluindo algumas frases clássicas do estilo francês. A circulação final da palavra sagrada reflete uma tradição antiga que se encontra no ritual datado de 1763 da Loja Verdadeira Harmonia de Mons. O resultado é essencialmente sincrético aliando usos dos “Antigos” com a tradição francesa.A Bíblia não consta nessa abertura. No entanto, na última página do caderno manuscrito de 1801 ela é nominalmente citada:“Nota: A loja de aprendiz da loja Escocesa a tripla unidade jamais deve abrir os trabalhos sem que a Bíblia esteja sobre o altar, aberta na segunda epístola de São João com o compasso aberto em cima e suas duas pontas sobre um esquadro de cerca de quatro polegadas. As pontas do compasso apontadas para o sul e ocidente e as duas pontas do esquadro na direção do Oriente”.

28/10/2011 - Glmergs - Semear 

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A PEDRA CÚBICA 

A Pedra Cúbica, Piramidal ou Pontiaguda simboliza os antigos conhecimentos humanos. Diz-se que o Companheiro prepara simbolicamente as ferramentas sobre a pedra cúbica porque ela reúne os conhecimentos que precedem a uma perfeita instrução e podem trazer-se com ela todas as figuras da Geometria. A Pedra Cúbica constitui uma das bases essenciais da maçonaria. É um cubo com uma pirâmide superposta, cujo simbolismo se acrescenta ao primeiro. Reúne em si a perfeição do cubo e a ascensão harmônica da pirâmide de base quadrangular. É confundida com a pedra polida quadrada do simbolismo da maçonaria inglesa. Os usos ritualísticos encontrados na primeira metade do século XVIII tinham diferenças, influenciadas pela cultura religiosa e filosófica dos praticantes: ingleses ou franceses. William Preston é exemplo de autor que percebeu a existência de diferentes critérios interpretativos para o emprego de um mesmo símbolo nos rituais. Em 1730, a letra G aparecia na maçonaria francesa no interior da Estrela Flamígera. Mais tarde, Preston encontrou a letra G suspensa, posicionada no centro da cobertura de Lojas inglesas de Companheiro.A pedra polida quadrada da tábua de delinear simboliza o Companheiro trabalhando para disciplinar suas emoções, polindo sua personalidade, com o auxílio de ferramentas práticas transformadas em elementos especulativos éticos e morais associados à crença em Deus, todos orientados pela Geometria na direção dos caminhos da Natureza.Na Pedra Cúbica de Ponta do sistema escocês estão conjugados os conhecimentos simbolizados pelo cubo e pela pirâmide, que representam os mistérios cogitados para o processo de aperfeiçoamento iniciático concebido para os graus escoceses. O processo se fundamenta na elaboração de elementos simbólicos e conteúdos culturais como a união de duas cruzes num símbolo duplo da Natureza e da Divindade, os hieróglifos, as palavras misteriosas de passagem dos diversos graus com o tema da lenda de Hiram, os sinais numéricos dos antigos egípcios, os símbolos astrológicos dos sete planetas da antiguidade, proporcionados pela base cúbica. Eles estão na pavimentação dos caminhos que conduzem ao conhecimento superior da Geometria.Na tampa da Pedra Cúbica de Ponta, uma pirâmide, a Estrela Flamígera é o símbolo mais expressivo desenhado. Representa o céu, morada eterna da Divina Providência, sob o título de Sublime Arquiteto dos Mundos, a quem rendem culto os maçons.A expressão Pedra Cúbica de Ponta está no primeiro ritual de Companheiro, de 1804, do Rito Escocês Antigo e Aceito. É uma das referências da ritualística simbólica escocesa. Na instrução do ritual de Companheiro das primeiras décadas dos anos 1800 do Rito Francês do Grande Oriente de França, consta: P – O que é a pedra cúbica?

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R – Essa pedra, sobre a qual supõe-se que os companheiros afiam seus instrumentos, simboliza os progressos que eles devem fazer na instituição e em suas relações com os Irmãos. O Cubo, por ser o sólido mais perfeito e com mais superfícies contínuas, pode servir para todos os usos; por isso a pedra cúbica, em sua interpretação moral, é a pedra angular do templo imaterial levantado à filosofia; ela é também o símbolo da alma que aspira subir até sua fonte. A pedra cúbica termina em pirâmide, símbolo do fogo, a fim de que nela se inscrevam os nomes sagrados. Para talhá-la é preciso fazer uso do compasso, do esquadro, do nível, do fio de prumo e esses instrumentos representam, para nosso espírito, as ciências, cuja perfeição vem do alto. Essa pedra alegórica deve, portanto, pertencer aos símbolos do segundo grau.    Muitas peças de arquitetura abordando o simbolismo da pedra no grau de Companheiro confundem a Pedra Cúbica com a Pedra Polida quadrada, esta representada na Tábua de Delinear da maçonaria inglesa.A adoção da Pedra Cúbica de Ponta na França pelos maçons escoceses baseou-se no significado da expressão empregada pelo filósofo Cebes na descrição do seu quadro denominado Pinax. Cebes, filósofo grego, discípulo de Sócrates, viveu no século V a.C.

= Pinax ou Quadro de Cebes (descrição restrita):Diante do templo de Saturno havia uma pintura em madeira que representava uma história muito particular, que não se podia entender porque não parecia nem uma cidade nem um exército. Havia uma parede que continha dentro dela mais duas, uma mais extensa que a outra. Na parede exterior havia uma porta com muita gente e dentro do cercado uma multidão de mulheres. Na entrada estava situado um ancião, cuja postura e atitude indicavam entregar algo aos que entravam.Em tempos passados um estrangeiro cujas obras e palavras davam mostras de que era sapientíssimo e de que seguia ensinamentos de Pitágoras ou de Parmênides, consagrou a Saturno o templo e a pintura. A alegoria tem história semelhante ao enigma que a esfinge propunha aos viajantes; quem o compreendia passava sem obstáculo; a quem não entendesse o enigma a esfinge o devorava. No quadro da vida humana de Cebes acontece o mesmo. A indiscrição é uma esfinge que propõe aos homens problemas parecidos. Mostra-lhes o que é bom na vida, o que é mau e o que é nem bom e nem mau. Quem não entende o enigma morre nas mãos da imprudência. Não de uma vez como acontecia com aquele que era comido pela esfinge, mas sucumbe durante todo o transcurso da vida como um condenado à prisão perpétua. A quem entende a alegoria sucede o contrário; a imprudência morre, o homem fica a salvo, tendo uma vida feliz e afortunada. (...)Por uma portinhola frente a um caminho pouco freqüentado passam poucas pessoas como em qualquer caminho primitivo e íngreme que aparentemente é muito perigoso. Vê-se também um monte com subida estreita cercado nos dois lados por profundos precipícios. O caminho conduz à Verdadeira Ciência.

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(...)No meio, outro cercado com sua porta. É a mansão dos Bem Aventurados onde moram todas as Virtudes e sua companheira Felicidade. É um caminho muito bonito. Junto da porta há uma bonita mulher de meia idade, cuja aparência evidencia juízo, vestida com simplicidade, olhando para baixo e sentada firmemente sobre uma pedra quadrada junto a outras que parecem suas filhas. A do meio é a Verdadeira Ciência; as outras duas são a Persuasão e a Verdade. No relato de Cebes, a pergunta dos peregrinos:- “Por que se senta a Verdadeira Ciência sobre uma Pedra Cúbica”?- “Esta emblematiza o caminho que a ela conduz. É seguro para todos que a ela recorrem e os merecimentos que lhes outorga são infalíveis para quem os recebe”, responde o guia.- “Que dons são esses”?- “Segurança e Ânimo”.- “Em que consistem”?- “Em uma sabedoria que nenhum mal lhes causará na vida”.(...)

Os gnósticos se consideravam os conhecedores da Verdadeira Ciência. Entre os antigos a filosofia constituía-se da moral e da física. A moral estabelecia os princípios que orientavam a prática na direção da felicidade e a física estudava a natureza e os seus mistérios. Para os antigos, segundo o filósofo francês da escola espiritualista, Victor Cousin; “é dos mistérios que se originou a filosofia”.Na concepção original escocesa a Pedra Cúbica de Ponta não é a personificação do Companheiro maçom, como se verifica em rituais em que a pedra polida é um cubo. A Pedra Cúbica de Ponta é a base da Loja de Companheiro e das Lojas dos graus hirâmicos do sistema escocês. As faces cúbicas da base e triangulares da cúspide revelam os caminhos do conhecimento que se estendem por diversos graus do sistema escocês. A Pedra Cúbica de Ponta escocesa serve de alicerce onde se apoia o trabalho que conduz à antiga Verdadeira Ciência.No Brasil, o confuso uso e a mistura das interpretações dos simbolismos das pedras polidas dos rituais ingleses e escoceses  são o resultado da precariedade de conhecimento que dedicamos às suas especificidades.  

09/11/2011 - Glmergs - Semear 

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A BEBIDA DO ERRO E DA IGNORÂNCIA                                            As cerimônias de Iniciação em alguns ritos maçônicos têm em seus procedimentos a passagem pela prova da taça. A finalidade dessa prova originalmente é a de preparar o iniciando para a convivência com as facilidades e as dificuldades, os prazeres e os sofrimentos na caminhada que irá desenvolver se prosseguir na direção do processo de aperfeiçoamento pessoal na maçonaria. A

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denominação de taça sagrada é errônea porque confunde com o vaso ou taça usado como objeto sagrado nos graus Rosa-cruz e Kadosh. A taça da bebida que rituais denominam da boa e da má sorte foi retirada do quadro de Cebes, filósofo grego que existiu no século V a.C. Na descrição do quadro, a bebida do erro e da ignorância é o anúncio que precede o nascimento. Ela é o primeiro convite à reflexão dos nascituros a respeito do que encontrarão na existência que em breve se instalará e como devem se comportar para alcançarem prosperidade e saúde.Na maçonaria o recipiendário recebe a luz no seio de uma Loja entre a assembleia de seus Irmãos. O iniciado entra na nova vida pela morte para se pôr em marcha rumo à realização de seu ser. A prova da taça é realizada antes do nascimento do recipiendário na maçonaria. É uma prova a mais de exame da coragem do candidato, não é uma caça aos dissimulados. A prova da taça com a bebida misteriosa é uma das mais realistas provas simbólicas. O contraste entre o doce e o amargo imediatamente remete todos os que a conhecem a reflexões sobre os prazeres e as vicissitudes da existência, seja comum ou iniciática.No resumo a seguir, a descrição específica desse quadro em madeira do discípulo de Sócrates que inspirou a prova da bebida do bom e do mau caminho na maçonaria: - (...)

- Vedes essa cerca? - disse pegando um pedaço de pau nas mãos apontando para a pintura.- Em primeiro lugar sabei que esse lugar é chamado Vida e que a multidão que se reúne na porta vai nascer e vir a este mundo. O ancião que carrega um papel numa das mãos e com a outra parece querer ensinar algo se chama o Bom Gênio. Diz aos que vêm à vida o que lhes convém fazer e lhes mostra o caminho por onde devem andar se quiserem alcançar prosperidade e saúde no decurso da existência.- Vês perto da porta aquela cadeira exatamente no ponto por onde deve passar a multidão e sentado nela um jovem de boa presença, de figura sedutora, com um vaso na mão?- Chama-se engano porque diz mentiras para cativar todos os homens.- Brinda com uma bebida a quantos entram na vida.- Essa bebida é o erro e a ignorância.- Após beber, a multidão que vai nascer entra na Vida.- E bebem todos do erro?- Todos bebem; uns mais, outros menos.No interior da Vida, há uma grande quantidade de duvidosas autoridades de variados aspectos denominadas Opiniões, Desejos, Prazeres. Quando a multidão entra, correm ao seu encontro, abraçam cada um e os levam consigo.- E onde levam?- Umas, à salvação; outras à sua perdição pelo engano.- Ah, que perigosa bebida.Todas prometem levar ao melhor fim e pelo caminho de uma vida cheia de bem-aventurança e prosperidade. Mas como eles beberam o erro e a ignorância pelas mãos do engano não atinam com a verdadeira direção da vida. Andam desorientados, correndo a esmo, vagando de um lado para outro.- Quem é a mulher que parece meio cega e louca e que está em pé sobre uma bola de pedra?- Chamam-na fortuna e não somente é cega e louca, mas também surda.- E de que se ocupa?- Passear, privando uns de si para dar-se a outros, pois tal é a sua inconstância. Sua postura e atitude evidenciam sua inclinação e costumes.- Como é isso?

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Arca da Informação       .... por Ailton Branco

- Estar em pé sobre uma bola de pedra a evidencia.- Que significa?- Que seus dons não são firmes nem estáveis, pois sobrevivem grandes decepções se confiamos nela.- E toda essa gente que a rodeia, que pretende, como se chama?- Todos são os desconsiderados, cada um dos quais quer o que ela tira.- Por que todos não conservam o mesmo semblante? Por que uns parece regozijarem-se enquanto outros baixam tristemente as mãos?- Os alegres receberam da fortuna e a consideram boa; os outros que parecem chorar vêem perdido o que primeiro receberam e a consideram má.- Que coisas ela dá e que tanta alegria causam aos que recebem?- Opulência, glória, linhagem de nobreza, família, poder, reinos e coisas do estilo, que o vulgar tem por coisas boas.- (...)

O ritual bem feito, limpo no conteúdo e correto na apresentação dos fatos históricos, é passaporte para viagens à teologia, aos costumes e à tradição cultural de povos antigos que sedimentaram nosso conhecimento atual em diversas áreas da vida contemporânea.A alegoria da taça com bebida doce e amarga pretende anunciar ao adepto que a vida do iniciado tem dissabores enquanto ele busca esclarecimentos que o tornem mestre de suas próprias razões.                                   

02/12/2011 - Glmergs - Semear  

Arca       MAÇONARIA                  ..... por Ailton Branco

                                                                 

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 TEMPLO INTERIOR                                          A expressão templo interior é empregada usualmente em peças de arquitetura para caracterizar o ambiente pessoal em que repercute o trabalho da maçonaria no seu Iniciado. Faz analogia com o templo de Jerusalém construído por Salomão, considerada metaforicamente a obra perfeita da arquitetura antiga. Oriente Interior, como sinônimo de templo interior, foi empregado em maçonaria no rito científico de Fessler para simbolizar uma ideia. O ex-capuchinho Inácio Aurélio Fessler, professor de direito, historiador e literato húngaro, organizou o rito que recebeu seu nome a partir de rituais franceses do primitivo Rito de Perfeição ou Heredom. É um dos melhores ritos maçônicos concebidos no século XVIII. Com o objetivo de fomentar o ensinamento das então chamadas ciências maçônicas, programou uma série de conferências e cursos especiais de instrução para cada um dos graus do sistema. Em pouco tempo os maçons das Lojas de Berlim notaram a grande deficiência existente nos rituais dos altos graus comparados com os conteúdos selecionados por Fessler para os mesmos. Em 1796, Fessler foi nomeado Deputado Grão-Mestre da Grande Loja Nacional da Alemanha para proceder a uma reforma de todos os rituais, em especial, dos altos graus, com o objetivo de reescrevê-los, formando uma nova escala de instrução histórico-moral da maçonaria.

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Não tardou para concluir seu trabalho. Apresentou rituais completos para os três primeiros graus, que acreditava serem os únicos racionais e apropriados para a maçonaria, e propôs o abandono de todos os rituais dos graus superiores.

Apesar de muito prestigiado pelo seu conhecimento de maçonaria, a proposição de supressão dos altos graus foi rejeitada. Fessler resignou-se diante de tão firme resistência e aceitou fazer apenas uma revisão do material em uso. Mas insistiu na necessidade da fusão de alguns altos graus para diminuir a sua quantidade. O sistema de Fessler ficou assim constituído:

  Graus Universais 

1 - Aprendiz teósofo2 - Companheiro teósofo3 - Mestre teósofo  Altos Graus4 - O Santo dos Santos5 - A Justificação6 - A Celebração7 - O Trânsito ou a Verdadeira Luz8 - A Pátria9 - A Perfeição

Esses graus constituem um curso completo de ensinamento maçônico, no qual estão compreendidos todos os ritos e sistemas conhecidos na época.

No primeiro grau de instrução se destaca o símbolo do templo construído por Salomão, com o qual Fessler relacionou todo o edifício do seu Oriente Interior. Em cada um desses templos há um Santo dos Santos construído pelo Obreiro. O templo do mundo, que segundo o simbolismo maçônico é uma alegoria do universo, alude à perfeiçào moral que devem adquirir os maçons pelo trabalho ao qual estão devotados.

O Santo dos Santos, ou seja, o primeiro grau de iniciaçào dos altos conhecimentos do rito de Fessler, tem um ritual intitulado "Recepção do Arquiteto Perfeito". A Loja representa o templo de Jerusalém e o Venerável Mestre recebe o título de "Perfeito Arquiteto Superior". A ordem moral desse grau contém uma exposição simbólica da majestade da ordenação do mundo. A construção do Santo dos Santos, símbolo da disposição do homem à perfeição, evolui lentamente em conquência da indiferença, da inércia e da falta de atividade. Esses defeitos, dos quais nem os homens mais perfeitos ficam imunes, fazem com que os arquitetos descuidem seu dever e caiam em apatia. Por isso, no rito, o arquiteto do Oriente Interior, o Santo dos Santos, é mandado ao tribunal da lei moral para que corrija os defeitos, preparando-se para passar ao grau seguinte: a Justificação dos defeitos.

11/12/2011 - Glmergs - Semear

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 OS ATENEUS DE SCHRÖDER                                        A decadência do Rito da Estricta Observância, depois das resoluções do Congresso de Wilhelmsbad, evoluiu para a formação de Comissão de Irmãos em Hamburgo com a incumbência de resgatar o modelo inglês de maçonaria e revisar a legislação das Lojas. Após cinco anos de infrutíferas reuniões, Friedrich Schröder, Venerável da Loja Emanuel à Flor de Maio, de Hamburgo, foi convidado para integrar o grupo. Um ano após, 1789, apresentou o seu trabalho e as conclusões. Em 1794, Schröder, ainda Venerável da Loja Emanuel, foi proclamado Deputado Grão-Mestre. Empreendeu a tarefa de dotar as Lojas de rituais apropriados para uma nova ideia de maçonaria, que foram aprovados em assembleia de Veneráveis no dia 29 de junho de 1801.No começo das suas pesquisas formou uma associação com 14 Irmãos para estudar a maçonaria como um todo; sua estrutura, seu funcionamento e as finalidades para as quais servia. Não conseguiu manter a continuidade do grupo. Em 1797 fez uma segunda tentativa, dessa vez criando uma Loja de Instrução e Econômica, que realizou 18 reuniões e parou de funcionar. Em 1802, de posse de rituais e atas de antigos e novos sistemas maçônicos, colecionados desde os anos em que pesquisou para a missão de realizar a reforma ritualística na Grande Loja Provincial de Hamburgo, fez a primeira reunião de nova associação, os Irmãos de Confiança. “Esses “Irmãos de confiança” se reuniam mensalmente na casa de algum dos membros, vindo ao encontro Irmãos de outros lugares, como por exemplo: de Oldenburg, Hannover, Weimar, Rostock e assim por diante. Todos mantinham correspondência entre si, a qual era regulada através de Hamburg. Estes “Irmãos de confiança” foram de certa forma a pré-escola para o Engbund, que Schröder fundou em 25 de Outubro de 1802”, afirma o Irmão Manfred Kreyer em palestra realizada em 1996 na Loja Absalom e reproduzida pelo Colégio de Estudos do Rito Schröder.      Friedrich Schröder, Deputado Grão-Mestre da Grande Loja de Hamburgo, instituiu nas Lojas afiliadas e em algumas outras que não pertenciam à sua jurisdição os engbund, grupos com fins didáticos que se ocupavam do estudo dos diversos sistemas e graus da maçonaria, sem negligenciar jamais o princípio fundamental que professavam, ou seja, a maçonaria não pode admitir mais que os três graus de São João. Prosseguindo em seu trabalho, Schröder redigiu o Livro das Constituições para a Grande Loja Provincial de Hamburgo e da Baixa Saxônia. No Livro, ele explica o que eram e o objetivo que tinham os engbund, cátedras às quais foi dado, impropriamente, o nome de grau, até pelo próprio Schröder. O engbund de Hamburgo tornou-se a mutterbund, União Histórica dos Escolhidos, a associação-mãe e centro de todas as demais sociedades desse gênero que se uniram estreitamente por meio de uma ativa correspondência. As secções históricas ou engbund formaram um grau de instrução separado do simbolismo. Para nelas ingressar era necessário possuir o grau de mestre. Ao se referir a esse grau de instrução, o grande livro das Constituições de Hamburgo se expressa nos seguintes termos:“Apesar de ter sido tão estudado e aprovado o acordo feito em 1790 através do qual foram suprimidos para sempre todos os graus superiores em geral, muito longe de ser elemento essencial da Franco-maçonaria como são apresentados, pois consideramos esses graus apenas filhos do erro, a experiência demonstrou que muitos Irmãos não se satisfazem com a excelente doutrina contida nos três únicos graus verdadeiros que, junto com a Constituição, contêm o genuíno espírito da confraternidade. Imaginam que em tal ou qual sistema, se encontra a chave de ciências extraordinárias e até

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sobrenaturais. A fim de prevenir os Irmãos contra falsas ilusões, assim como para precavê-los das funestas consequências a que possa conduzir-lhes sua avidez por conhecer os segredos da ciência, apesar de todas as suas boas intenções e de sua firme adesão à maçonaria, instituiu-se um grau de instrução que qualquer deles pode obter facilmente, mediante um compromisso. Como os documentos necessários para adquirir os conhecimentos desejados são completamente independentes e diferentes dos arquivos das Lojas, uma vez que foram adquiridos e colecionados particularmente por alguns Irmãos a custo de muito esforço e frequentemente também de grandes gastos, depreende-se que a nenhum maçom é assegurado o direito de dispor deles nem de tomar parte no referido grau de instrução sobre o qual a Constituição se expressa como segue”;“Esse grau não pode se ocupar, sob nenhum conceito, de nada que afete o governo e a administração seja da Grande Loja Provincial, seja das demais Lojas da sua jurisdição”;“Para dissipar toda a desconfiança e afastar das Lojas a ideia de que esse grau possa afetar os direitos adquiridos das mesmas, além do Grão-Mestre Provincial, do Deputado Grão-Mestre e dos Grandes Inspetores, todos os Veneráveis das Lojas farão parte, ipso facto, desse grau na qualidade de representantes das mesmas”; (...)Na palestra do Irmão Manfred Kreyer na Loja Absalom, outro destaque: “Os Irmãos que se unirem a um “Engbund” devem assinar um compromisso no qual reconhecem a Constituição como sua lei fundamental constituída e se submetem às decisões da Associação. Os trabalhos acontecem sem ritualística e sem vestuário maçônico, porém é dada a mesma atenção ao malhete do presidente como em Loja. O trabalho encerra com uma coleta para os pobres. Os trabalhos consistiam na recepção a novos membros, preleção e retificação dos documentos disponíveis, comunicação e exame de todas as novas manifestações, escritos e acontecimentos (na Maçonaria), na informação e discussão sobre correspondência circular e de trabalhos de membros isolados, como também, sintonização sobre perguntas às quais dizem respeito ou às relações culturais ou ao trabalho dos Engbund. Valor especial é dado ao trabalho cultural científico próprio de cada um dos membros individualmente. A recepção só pode ser dada a Irmãos Mestres”.Os engbund obtiveram rapidamente resultados satisfatórios, mas o isolamento do trabalho do grupo e a inexistência de arquivamento dos documentos inviabilizaram o seu aproveitamento. Esse material, pelo seu imenso valor informativo, daria inestimável contribuição para o conhecimento atual da história da maçonaria. J. G. Findel em Histoire de la franc-maçonnerie assegura que circularam entre os membros dessas academias alguns exemplares manuscritos que, no entanto, não tiveram divulgação no meio maçônico. O escritor maçônico alemão Mosdorf, autor de Comunicações aos Francomaçons sérios e Enciclopédia dos Francomaçons, contemporâneo de Schröder e falecido em 1824, diz que as secções históricas “produzem verdadeiramente um bem parcial porque produzem reflexões úteis dos assuntos de que se ocupam, mas não podem, e nem o fizeram até o momento, atingir todo o objetivo a que se propõem em virtude de sua própria organização especial que as torna independentes do restante da Confraternidade”.Os engbunds terminaram em 1868 por determinação da Confederação dos Grão-Mestres da Alemanha porque estavam interferindo na administração das Lojas simbólicas alemãs. Em maçonaria os títulos de cargos e dignidades, cedo ou tarde, transformam-se em passaportes para o abuso de poder. Semelhante sucede com os Conselhos de Mestres Instalados no Brasil, que oficialmente são considerados órgãos opinativos sem poder decisório. No entanto, cada vez mais decidem os destinos de Lojas simbólicas cujos mestres toleram a interferência porque são convencidos que estão despreparados para a atribuição. Os maçons que obedecem os limites de jurisdição de um poder eventual

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representam uma histórica raridade. Assim na maçonaria da Alemanha em 1800 como na maçonaria brasileira em 1900, os títulos dignitários pessoais justificam a liberação do conteúdo autoritário reprimido.A experiência passada de Schröder com seus ateneus maçônicos pode ser aperfeiçoada mediante a inclusão na grade de instruções do grau de mestre das Lojas do rito, a título de integração com a cultura maçônica do meio, o estudo de temas ou graus de outros ritos. Uma ideia próxima do engbund tradicional está presente no desempenho do Colégio de Estudos do Rito Schröder, excelente contribuição para o estudo e a divulgação do rito. É um engbund virtual. A diferença relevante entre o presencial de 1800 e o virtual de 2000 está no nível de abordagem. Lá os mestres estudaram, entre outros, assuntos dos ritos e sistemas em todos os graus, conteúdos teológicos e escolas filosóficas na maçonaria. No nosso brasileiro ateneu à distância prevalece a mesma atitude que as Lojas simbólicas cronificam: as informações são voltadas para o Aprendiz.

14/01/2012 - Glmergs - Semear    

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ARCA DA INFORMAÇÃOAilton   Branco

Antes da era cristã, hindús, egícios e gregos acreditavam que o Cosmos era constituído por

opostos. Em simetria. Em perfeito equilíbrio. Preto e branco, alto e baixo, bom e mau, homem e

mulher, os opostos suscitam reflexões temporárias no tempo interminável. Homem e mulher

alimentam simples e complexos conhecimentos. O estudo do organismo, do comportamento, das

doenças enriqueceu a história de homens e mulheres com o xamanismo, a medicina, a

terapêutica, a psicologia, a terapia.

Psicoterapia médica: minha preferência, meu trabalho.

Homens e mulheres precisam compreender os enigmas da natureza em que vivem. E da sua

natureza. Criamos a filosofia para exercitar o conhecimento da ética na arte de viver. A ética, a

estética, uma atitude, a adesão, o amor, a morte constroem opções, geram conflitos e sugerem

reflexões filosóficas.

Filosofia - um meio para ser mais livre – outra preferência pessoal.

A antiga ciência divina, as posteriores religiões dogmáticas, a filosofia humanista edificaram a

maçonaria. Maçonaria é arte de reflexão a respeito de símbolos. Entre alquimia e símbolos

estudados por Carl Gustav Jung e o pensamento alargado de Luc Ferry em sua filosofia kantiana

do idealismo transcendental, penso a maçonaria – logo, existo nela.

Maçonaria - uma preferência cultural complementar, lazer terapêutico através da interação de

caráteres que oferece método alternativo de autoconhecimento em horas amenas do quotidiano.

Escrever, conversar, pesquisar e desenvolver os temas referidos é realização construtiva de

momentos de prazer. Em especial, se esses momentos aproximarem pessoas queridas para

compartilharem idéias, unidas por boa música, alimento para consumo demorado e metódico

ao sabor mágico do vinho solidário.

Arca da informação – mixagem do símbolo tradicional de antigas relações entre seres visíveis e

invisíveis com o moderno espírito jornalístico da síntese essencial.

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