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AIDS
O Sistema de Informação sobre Mortalidade e o padrã o de mortalidade por Aids em Santa Catarina: limites e possibilidades de anál ise
Heloisa Peixoto*
* Mestre em Saúde Pública e responsável pelo Serviço de Tratamento de Dados da Secretaria da Saúde do Estado de Santa Catarina
Resumo: Este trabalho descreve o padrão de mortalidade por aids em Santa Catarina no período de 1986 a 2001 com a finalidade de oferecer subsídios para a intervenção em saúde coletiva. As variáveis analisadas são basicamente aquelas incluídas na declaração de óbito, documento fonte do Sistema de Informações sobre Mortalidade, o que permitiu avaliar o potencial de análise deste banco de dados. Os resultados mostraram que o risco de morrer por aids apresentou tendência crescente até 1996, levemente interrompida em 1997 e 1998, quando verifica-se a retomada do crescimento nos coeficientes. No período de 1996 a 2001, observou-se uma redução de apenas 0,4% nos coeficientes de mortalidade por aids, bem mais expressiva no sexo masculino, que apresentou redução de 7,6% enquanto no sexo feminino observou-se acentuada tendência de ascensão do coeficiente (22,4%). A análise do indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos - APVP mostrou queda no número de APVPs por aids, no período de 1996 a 2001, tendo a idade média ao morrer passado de 33,3 para 37,6, representando um ganho médio de 4,3 anos no período. A distribuição espacial dos óbitos identificou as macrorregiões da Grande Florianópolis e do Vale do Itajaí como as mais atingidas. O estudo das causas associadas permitiu verificar que algumas doenças associadas ficam sub-dimensionadas quando se considera apenas os grupamentos da CID-10 para causas básicas de óbitos por aids, a exemplo da tuberculose, que foi discriminada como categoria específica de causa básica por aids em 35 óbitos, mas mencionada em 63 deles. A distribuição dos óbitos por aids segundo as variáveis estado civil, ocupação, escolaridade e raça/cor identificou problemas no preenchimento das declarações de óbito, apontando falhas que precisam ser corrigidas para o melhor aproveitamento desta base de dados.
Unitermos: aids, mortalidade
Introdução
As transformações do perfil de morbimortalidade da população, com o aparecimento de
novas doenças e a alteração do comportamento epidemiológico de outras, fez com que, após
um longo período em que as técnicas da chamada epidemiologia analítica foram
supervalorizadas, a importância da epidemiologia descritiva, como ferramenta de conhecimento
epidemiológico para o enfrentamento de problemas, fosse resgatada.
Nesse sentido, BARATA1, lembra que “as investigações, nas quais a caracterização da
distribuição dos casos, segundo as categorias de tempo, espaço e pessoas foram
determinantes para o esclarecimento de doenças emergentes e re-emergentes”.
A descrição do padrão de mortalidade de uma doença, a partir da utilização de
categorias básicas como a sua distribuição espaço-temporal e segundo atributos que possam
contribuir para a identificação de grupos de maior risco, permite obter uma melhor
compreensão do problema e orientar a construção de respostas para o seu enfrentamento.
A literatura científica sobre o comportamento da aids, tem incluído trabalhos 2, 3, 4 que
utilizam os dados de mortalidade para identificar aspectos importantes da epidemia.
Atualmente, a aids é a 12ª causa de morte em Santa Catarina e 1ª na faixa etária de 20 a
49 anos, sendo necessário conhecer melhor as características epidemiológicas da doença no
Estado.
Este trabalho trata-se de estudo exploratório descritivo, de abordagem quantitativa, que
pretende descrever o padrão de mortalidade por aids em Santa Catarina, utilizando para isso
as bases de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, de 1986 a 2001.
Objetivos Geral: Descrever o padrão de mortalidade por aids em Santa Catarina, a partir da
análise do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, a fim de
fornecer subsídios para o conhecimento da realidade e para a definição de medidas
preventivas.
Objetivos Específicos:
• Analisar a evolução do coeficiente de mortalidade por aids em Santa Catarina no
período de 1986 a 2001, com ênfase nos seis últimos anos;
• Identificar diferenças no risco de morrer por aids, segundo sexo e idade no período de
1996 a 2001;
• Mensurar o número de Anos Potenciais de Vida Perdidos – APVP por morte prematura
devido a aids e a evolução de indicadores relacionados no período de 1996 a 2001;
• Descrever a distribuição espacial dos óbitos por aids e comparar os riscos, segundo
sexo, observados nas macrorregiões de saúde em 2001;
• Verificar a variação percentual do coeficiente de mortalidade por aids de municípios
selecionados, considerando os anos de 1996 e 2001;
• Verificar a importância relativa dos sub-grupos de causas da aids, considerando as
causas básicas processadas em 2001;
• Mensurar a participação das causas associadas a aids, considerando todos os
diagnósticos registrados em atestados de óbito cuja causa básica foi aids, ocorridos em
2001.
• Descrever a distribuição percentual dos óbitos por aids ocorridos em 2001, segundo
local de ocorrência, estado civil , escolaridade, raça/cor, e ocupação;
Material e Métodos
Foram utilizados no trabalho informações sobre óbitos de residentes em Santa Catarina,
ocorridos no período de 1986 a 2001, cuja causa básica informada foi AIDS, processados pelo
Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM.
A tabulação dos dados e o cálculo dos indicadores foi realizada utilizando-se
basicamente os recursos do Tabwin e do Excel.
O número de Anos Potenciais de Vida Perdidos por AIDS foi obtido por uma adaptação
do método proposto por ROMEDER e McWHINNIE5 (1977), cuja expressão matemática é
dada como:
limite superior
Apvp = ΣΣΣΣ aidi onde:
i = limite inferior
ai = número de anos que faltam para completar 70 anos, quando a morte ocorre entre as idades de i e i + 1 anos;
di = número de óbitos ocorridos entre as idades de i e i + 1 anos, empregando-se o ajuste de 0,5 quando se arbitra que todas as mortes ocorreram no meio do ano.
A média de Apvp por óbito, para cada grupo de causas, foi calculada como resultado da
divisão do total de Apvp pelo número de óbitos considerados. Esse procedimento permite
conhecer a idade média em que ocorreram os óbitos, também incluída nas tabelas de
apresentação dos dados, pela diminuição desse valor do limite superior adotado.
Os dados populacionais, necessários para o cálculo dos coeficientes de mortalidade e
APVPs por 1000 habitantes, tomaram como base as estimativas populacionais do IBGE,
disponíveis na home-page da Secretaria de Estado da Saúde.
A análise da mortalidade por causas foi feita com base nos óbitos ocorridos em 2001 e
considerou a causa básica selecionada e as causas associadas informadas no atestado.
Para a análise das causas associadas, foi necessário criar um arquivo .dbf com os óbitos
por aids, contendo os dados referentes aos códigos da Classificação Internacional de Doenças-
CID-10 6, dos campos destinados ao preenchimento das causas do óbito (Parte I: linhas
a,b,c,d) e Parte II). Os registros informados em cada linha do atestado foram combinados num
único arquivo do Excel de forma a permitir a tabulação das freqüências de cada diagnóstico
informado.
A apresentação dos resultados sobre as causas associadas também obedeceu aos
critérios de agregação da CID-10, com sub-totais por capítulos.
Resultados e Discussão
Distribuição Temporal:
Desde o seu início, na década de 80, a epidemia pelo HIV, vem sofrendo mudanças
importantes. Segundo GIOVANI 7, é possível dividir a epidemia em quatro momentos distintos:
1º) a infeçäo se concentra em homossexuais ou bissexuais masculinos; 2º) incremento
significativo da categoria usuário de droga injetável, juvenilizaçäo (20 a 29 anos de idade) e
heterossexualizaçäo da epidemia; 3º) avanço acentuado de transmissäo heterossexual e da
transmissäo vertical, aumentando o número de crianças nascidas portadoras do vírus HIV e 4º)
avanço da Aids nas pessoas idosas, acima dos 50 anos de vida.
Alguns aspectos que caracterizam esses momentos da epidemia podem ser
evidenciados na análise do comportamento da mortalidade por aids.
A tabela 1 mostra a evolução do número de óbitos e coeficientes de mortalidade por aids
para cada sexo, de 1986, quando ocorre o primeiro óbito por aids no Estado (um homem, de 43
anos, residente no município de Brusque), até o último ano com o processamento finalizado
pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade.
Tab.1 - Óbitos, Coeficientes de Mortalidade por AIDS (por 100.000 habitantes) e Variação % 1996-2001, segundo sexo, Santa Catarina, 1986-2001.
Ano
Do Óbito
Masculino Feminino Total
Nº Coef. Nº Coef. Nº Coef. 1986 1 0,05 - - 1 0,02 1987 5 0,24 2 0,10 7 0,17 1988 11 0,51 3 0,14 14 0,33 1989 31 1,41 6 0,28 37 0,85 1990 70 3,14 7 0,32 77 1,73 1991 99 4,35 30 1,32 129 2,84 1992 116 5,03 34 1,48 150 3,26 1993 175 7,44 66 2,82 241 5,13 1994 268 11,22 66 2,77 334 7,01 1995 276 11,39 97 4,02 373 7,71 1996 316 12,96 101 4,15 417 8,55 1997 309 12,46 96 3,87 405 8,17 1998 298 11,85 103 4,10 401 7,97 1999 321 12,59 123 4,83 444 8,71 2000 329 12,33 124 4,61 453 8,46 2001 325 11,97 139 5,08 464 8,52
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
Até o ano de 1996, observa-se tendência crescente do número de óbitos e coeficientes,
com ligeira interrupção nos anos de 1997-98, quando pode ser verificada pequena redução dos
coeficientes.
A partir de 1999, ano em que foi registrado o maior coeficiente no período analisado,
volta a tendência de incremento no número de óbitos ( figura 1).
Trabalho realizado por OLIVEIRA 8, que comparou as tendência dos coeficientes de
mortalidade por aids após a introdução dos inibidores de proteases no arsenal terapêutico da
doença no Brasil e em Santa Catarina, já havia evidenciado que, diferente do que vem
ocorrendo no país e no mundo, os coeficientes de mortalidade por aids em Santa Catarina, não
declinaram a partir de 1996, apresentando, inclusive uma tendência de ascensão nos últimos
anos. Entre as possíveis causas que poderiam explicar o achado, o autor destaca: falhas no
diagnóstico precoce; problemas de adesão ao tratamento; esquemas de tratamento
antiretroviral e de profilaxia inadequados; dificuldades de acesso ao acompanhamento médico
e características próprias das doenças oportunísticas no estado.
A tabela 2 permite entender melhor o comportamento do coeficiente de mortalidade por
aids nos últimos seis anos analisados. A variação percentual no período 1996-2001, mostra
que enquanto o risco de morrer por aids entre os homens apresentou uma redução de 7,6%,
no sexo feminino o risco aumentou em 22,4% (figura 2), confirmando a crescente participaçäo
das mulheres no total de casos registrados no país.
A feminização da epidemia tem sido foco de preocupação de trabalhos 9,10,11, que,
investigando o comportamento preventivo sexual de mulheres frente à aids, identificam a
relaçäo heterossexual como a forma de transmissäo que mais tem contribuído para esta
tendência e demonstram que o conhecimento acerca das medidas de prevenção das
DST/AIDS, não parece suficiente para assegurar comportamentos sexuais livres de risco,
principalmente entre as mulheres casadas e de parceria fixa.
Tab.2 - Variação % do Coeficiente de Mortalidade por AIDS, segundo sexo e faixa etária, Santa Catarina, 1996-2001.
Faixa etária
Masculino Feminino Total
1996 2001 Variação % 1996 2001 Variação % 1996 2001 Variação %
< 1 14,96 8,34 -44,28 2,22 8,70 291,99 8,71 8,52 -2,25 1 a 14 0,56 0,14 -75,80 0,73 0,14 -80,69 0,65 0,14 -78,52
15 a 19 1,65 1,08 -34,11 0,42 0,00 -100,00 1,04 0,55 -47,02 20 a 29 21,19 13,84 -34,70 7,04 6,42 -8,75 14,14 10,14 -28,29 30 a 39 35,76 29,30 -18,08 11,68 12,39 6,02 23,69 20,80 -12,21 40 a 49 14,79 22,19 50,02 4,72 8,19 73,48 9,78 15,16 55,03 50 a 59 12,21 14,65 20,07 1,19 8,51 615,43 6,63 11,53 74,03 60 e + 3,03 8,11 167,81 1,03 0,83 -18,81 1,95 4,12 111,68
Total 12,96 11,97 -7,64 4,15 5,08 22,4 8,55 8,52 -0,35
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
O número de óbitos em menores de 1 ano no período analisado, se manteve estável (8
óbitos em 1996 e 8 em 2001, apesar do aumento da mortalidade feminina, o que sugere que a
implantaçäo de medidas destinadas à reduçäo da transmissäo materno-infantil e as novas
tecnologias no acompanhamento clínico-laboratorial das crianças, podem ter contribuído
diretamente para isso.
Na figura 3 fica evidenciado que o risco de morrer por aids nas idades inferiores a 40
anos diminuiu no período, enquanto nas idades mais avançadas o risco aumentou,
caracterizando a tendência descrita para o 4º momento da epidemia.
Anos Potenciais de Vida Perdidos
O indicador Anos Potenciais de Vida Perdidos – APVP, tem sido utilizado para mensurar
a magnitude de diferentes causas de morte, considerando não só o número de óbitos mas
também a idade em que estes ocorreram, dando um peso maior para os óbitos que ocorrem
em idades mais jovens.
A idéia básica é a de que, da mesma forma que podemos estimar o número de anos que
uma pessoa espera viver (esperança de vida ano nascer), considerando as probabilidades de
morte observadas em determinado período, também é possível obter informação sobre o
número de Anos Potenciais de Vida Perdidos por morte prematura, desde que seja definido um
limite superior de idade abaixo do qual consideramos que a morte tenha ocorrido
prematuramente. Assim, no cômputo de APVPs por uma causa, cada óbito contribuiu com a
diferença entre a idade no momento da morte e o limite superior considerado.
Com o objetivo de estudar melhor o comportamento da mortalidade por aids no período
de 1996 a 2001, foram calculados o total de APVPs por esta causa, estabelecendo-se como
limite superior a idade de 70 anos.
A tabela 3 apresenta os resultados encontrados e inclui outros indicadores derivados do
APVP, que podem ser visualizados nas figuras 4 e 5.
Nota-se que apesar da variação percentual do coeficiente de mortalidade por aids,
apresentada na tabela anterior, ter sido bastante pequena (0,4% no período de 1996 a 2001), a
variação do número de APVP por 100.000 habitantes, foi de 11,6%, o que indica a migração
dos óbitos para idades mais avançadas. Isso se confirma quando analisamos a idade média ao
morrer observada ao longo do período, passando de 33,3 anos em 1996 para 37, 6 anos no
último ano analisado, o que representa um ganho médio de 4,3 anos no período.
Esta constatação parece sugerir que apesar da pequena redução nos coeficientes de
mortalidade, o tratamento disponível vem aumentando a sobrevida dos pacientes, retardando o
momento da morte.
Tab.3 - Óbitos < 70 anos e Anos Potenciais de Vida Perdidos por morte prematura por AIDS, Santa Catarina, 1996-2001
Anos Óbitos
< 70 anos
APVP
Total por óbito por 1.000 habitantes
Idade Média ao Morrer
1996 413 15.162,0 36,7 3,2 33,3 1997 401 14.270,5 35,6 3,0 34,4 1998 398 13.765,0 34,6 2,8 35,4 1999 439 15.453,5 35,2 3,1 34,8 2000 450 14.929,0 33,2 2,9 36,8 2001 461 14.948,5 32,4 2,8 37,6
Variação absoluta no período 48 -213,5 -4,3 -0,4 4,3
Variação % no período 11,6 -1,4 -11,7 -11,6 12,9
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade; IBGE
Distribuição Espacial
Macrorregiôes
Da mesma forma como tem sido observado em outros países, a maioria dos óbitos são
de residentes em grandes áreas urbanas, situação que, progressivamente, vem se modificando
com o aparecimento de ocorrências em aglomerados urbanos de médio e pequeno porte.
Considerando os óbitos ocorridos em 2001 (tabela 4 e figura 6), a macrorregião de
Florianópolis apresenta o maior coeficiente de mortalidade por AIDS de Santa Catarina, 15,3
óbitos por 100.00 habitantes (1,8 vezes maior que a média do Estado).
Tab. 4 - Óbitos de residentes e Coeficientes de Mortalidade por AIDS (por 100.000 habitantes), segundo sexo, Santa Catarina, 2001
Macrorregião de Residência
Masculino Feminino Total Razão de mortalidade
Homem/Mulher Nº Coef. Nº Coef. Nº Coef. Florianópolis 95 23,0 33 7,8 128 15,3 2,9 Vale do Itajaí 101 16,9 57 9,4 158 13,1 1,8 Sul 54 13,2 18 4,4 72 8,8 3,0 Nordeste 54 12,9 19 4,6 73 8,8 2,8 Lages 4 2,8 8 5,5 12 4,1 0,5 Extremo Oeste 9 2,6 3 0,9 12 1,8 2,9 Meio Oeste 7 2,5 1 0,4 8 1,4 6,3 Planalto Norte 1 0,9 0 0 1 0,5 ∞ Santa Catarina 325 12,0 139 5,1 464 8,5 2,4
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade; IBGE
Fig. 6. Coeficientes de Mortalidade por aids, segundo macrorregiões, Santa Catarina, 2001
A macrorregião do Vale do Itajaí aparece em 2º lugar, com um risco médio de 13,1 por
100.000, observando-se aí uma das menores razões de mortalidade homem/mulher.
Em seguida, aparecem empatadas as macrorregiões do sul catarinense e do nordeste
(8,8 por 100.000).
As regiões do oeste e o planalto norte apresentam os menores coeficientes de
mortalidade por aids, com um número reduzido de óbitos pela doença, que parece estar ainda
concentrado no sexo masculino.
Municípios selecionados
A análise por macrorregião, no entanto, esconde aspectos importantes da distribuição
espacial por municípios. Para analisar esta questão, foram incluídos na tabela 5 os coeficientes
de mortalidade por aids nos anos de 1996 e 2001 e a variação percentual observada no
período de municípios com mais de 40.000 habitantes, que tenham registrado pelo menos 10
óbitos por aids no ano de 2001, ano que serviu de base para a ordenação dos municípios.
Tab.5 - Óbitos e Coeficientes de Mortalidade por AIDS (por 100.000 habitantes), segundo município de residência, Santa Catarina, 2001
Município
Óbitos Coeficientes Variação % no
período 1996 2001 1996 2001 1 Itajaí 57 72 42,24 47,74 13,02 2 Navegantes 5 10 15,45 24,26 57,02 3 Laguna 10 11 22,79 22,92 0,57 4 Florianópolis 85 73 31,33 20,72 -33,87 5 Palhoça 16 19 19,71 17,78 -9,79 6 Criciúma 25 26 15,71 15,01 -4,46 7 Balneário Camboriú 16 11 27,50 14,22 -48,29
8 São José 30 24 19,86 13,50 -32,02 9 Joinville 30 51 7,54 11,43 51,59 10 Blumenau 20 29 8,64 10,84 25,46
Santa Catarina 417 464 8,55 8,52 -0,35
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade; IBGE
Itajaí é o município com o maior risco de morte por aids do estado (47,7 por 100.000
habitantes), um risco 5,6 vezes maior que a média do estado. O município apresentou
incremento de 13% do coeficiente no período.
Em segundo lugar aparece o município vizinho, Navegantes, que duplicou o número de
óbitos de 1996 para 2001 e no qual foi observado o maior incremento da mortalidade no
período, entre os municípios analisados. É interessante notar que Balneário Camboriú, também
vizinho de Itajaí, aparece em 7º lugar na ordenação, tendo conseguido reduzir quase pela
metade o coeficiente no período.
Laguna, localizado na macrorregião sul, surge com o 3º maior coeficiente, mas apresenta
estabilidade do coeficiente de mortalidade no período. O município de Criciúma, da mesma
macrorregião ficou na 6ª posição, tendo reduzido o risco em 2001 em 4,5%.
Da Grande Florianópolis, aparecem em destaque a capital (4º lugar), Palhoça (5º) e São
José (8º). Pode-se observar que Florianópolis e São José reduziram em aproximadamente um
terço o risco de morte por aids, enquanto o município de Palhoça reduziu menos de 10%, o que
pode estar indicando diferenças nas estratégias de prevenção e tratamento, mais bem
sucedidas nos municípios que alcançaram maiores reduções. Fatores como a desigualdade no
acesso aos cuidados de saúde e menor aderência ao tratamento podem estar também
relacionados com essas diferenças.
A 9ª e 10ª posição foram ocupadas pelos municípios de Joinville e Blumenau,
respectivamente. Considerando tratar-se de municípios de grande adensamento e fluxo
populacional (Joinville é o município de maior população do estado e Blumenau o 3º), a
constatação de que os dois apresentaram tendências de incremento no coeficiente é
preocupante.
Finalmente é preciso salientar que em 1996, 63 municípios registraram pelo menos um
óbito de residente por aids. Em 2001 esse número subiu para 76, representando 26% dos
municípios catarinenses.
Distribuição segundo Causas do Óbito:
A qualidade do preenchimento das causas de óbito na declaração de óbito é uma das
limitações do Sistema de Informações sobre mortalidade. Em 2001, 12% dos óbitos
processados no Estado foram incluídos no capítulo das mal definidas.
No entanto, acreditamos que o número de óbitos por aids com atestados sem a menção
da causa não deva ser significante, até porque aproximadamente 75% dos óbitos por causas
mal definidas estão concentrados em maiores de 60 anos, idade em que o número de óbitos
por aids deve ser pequeno.
Além dos problemas de preenchimento, existem ainda possíveis erros de codificação
e/ou digitação das causas, que podem interferir nos resultados.
Atualmente, a causa básica do óbito é selecionada automaticamente pelo Seletor de
Causa Básica – SCB, um módulo do Sistema de Informações sobre Mortalidade que, após
digitação de todos os diagnósticos já codificados, utiliza as regras internacionais para
selecionar a causa básica do óbito. Na base de dados do SIM ficam guardados, em campos
separados, a causa básica e todos os códigos de causas informadas no atestado.
É a causa básica do óbito, entendida como a doença, lesão ou violência que iniciou a
seqüência de eventos patológicos que levam à morte, que tradicionalmente é utilizada na
descrição da mortalidade por causas, porque possibilita a visão de medidas preventivas.
No entanto, esse tipo de análise é considerada unidimensional, pois desconsidera as
outras causas informadas no atestado, escondendo, por vezes, aspectos interessantes do
padrão da mortalidade por causas.
Apesar de difícil, não só por dificuldades operacionais mas também porque envolve
questões relativas ás próprias regras de codificação e seleção da causa básica, a análise da
mortalidade causas múltiplas envolvendo a aids vem sendo discutida em trabalhos como o de
ALMEIDA12 .
No caso da mortalidade por aids, especificamente, a depressäo da imunidade celular
causada pelo HIV explica o desenvolvimento de infecçöes oportunistas ou neoplasias näo-
habituais, compromentendo todos os órgäos, incluindo-se o sistema nervoso central e outras
patologias. As regras utilizadas para a seleção da causa básica incluem associações
complexas que precisam ser explicitadas antes de qualquer discussão dos resultados.
Assim, se um atestado de óbito menciona a aids e uma tuberculose, a causa básica
recebe o código B20.0 (doença pelo HIV resultando em tuberculose). Porém, se no atestado
tiver registrado ainda uma pneumonia por pneumocystis carinii, ou outra infecção, o código fica
em B20.7 (HIV resultando em múltiplas infecções). Avançando ainda mais, podemos imaginar
um óbito por aids em que o médico preencheu, na linha a, tuberculose, na linha b, uma
neoplasia maligna e na linha c, a aids. Nesse caso, o código da causa básica seria B21.9 (HIV
resultando em neoplasia), ficando escondida a informação sobre a tuberculose.
Esses exemplos mostram que, mesmo com as associações previstas, seria difícil
mensurar a magnitude da tuberculose ou de outra causa como causa associada a aids,
utilizando somente a tabulação por causas básicas.
Considerando estas questões, decidimos apresentar duas tabelas de mortalidade por
aids segundo causas: a tabela 6 mostra a distribuição percentual dos óbitos por aids, segundo
a causa básica selecionada; a tabela 7 mostra a freqüência de cada diagnóstico mencionado
nos atestados de óbito em que a causa básica selecionada foi a aids.
Do total dos óbitos cuja causa básica foi aids, 14,2% não registraram doenças
associadas, sendo codificadas em B24 (aids sem outras especificações).
Tab.6 - Distribuição percentual dos óbitos por AIDS , segundo causa básica, Santa Catarina, 2001
CID-10 Causa Básica Nº % B20 Doença pelo HIV resultando em doenças infecciosas e parasitárias 326 70,3
B20.7 . infecções múltiplas 92 19,8 B20.8 . outras doenças infecciosas e parasitárias 81 17,5 B20.1 . outras infecções bacterianas 45 9,7 B20.0 . tuberculose 35 7,5 B20.6 . pneumonia por Pneumocystis carinii 34 7,3 B20.5 . outras micoses 26 5,6 B20.3 . outras infecções virais 11 2,4 B20.4 . candidíase 1 0,2 B20.9 . doenças infecciosas e parasitárias não especificada 1 0,2 B21 Doença pelo HIV resultando em neoplasias malignas 15 3,2
B21.8 . outras neoplasias malignas 6 1,3 B21.0 . sarcoma de Kaposi 4 0,9 B21.2 . outros tipos de linfoma não-Hodgkin 3 0,6 B21.7 . múltiplas neoplasias malignas 1 0,2 B21.9 . neoplasia malígna não especificada 1 0,2
B22-B23 Doença pelo HIV resultando em outras doenças especificadas 57 12,3 B22.7 . doenças múltiplas classificadas em outra parte 33 7,1 B22.2 . síndrome caquética 9 1,9 B22.1 . pneumonite intersticial linfática 4 0,9 B23.2 . anomalias hematológicas e imunológ. não classif. em outra parte 4 0,9 B23.8 . em outras afecções especificadas 4 0,9 B22.0 . encefalopatia 3 0,6 B24 B24 Doença pelo HIV não especificada 66 14,2
Tab.7 - Distribuição percentual dos óbitos por AIDS , segundo causas associadas,
Santa Catarina, 2001
Diagnósticos por capitulos da CID-10 Nº % Código Cid-10 Infecciosas e Parasitárias - Sub-total 356 76,7
A41 Septicemias 102 22,0 A16-A19 Tuberculose 63 13,6
B59 Pneumocistose 52 11,2 B58 Toxoplasmose 49 10,6 B45 Criptococose 31 6,7
A01-A09 Diarréia e gastroenterite 14 3,0 B17 Hepatite aguda C 10 2,2 B37 Candidíase 9 1,9
B18-B19 Hepatite viral crônica e não especificada 7 1,5 B16 Hepatite aguda B 4 0,9 B25 Doença por citomegalovírus 4 0,9 A39 Meningococcemia aguda 4 0,9
A319 Infecção micobacteriana não especificada 2 0,4 A52-A53 Sífilis 2 0,4
B49 Micose não especificada 2 0,4 A80-A89 Infecções virais do SNC 2 0,4
B99 Outras doenças infecciosas e as não especificadas 2 0,4 A499 Infecção Bacteriana de local não especificado 1 0,2 A27 Leptospirose 1 0,2
Continuação Diagnósticos por capitulos da CID-10 Nº % Tab.7 Neoplasias - Sub-total 23 5,0 C85 Linfoma não Hodgkin não especificado 7 1,5 C46 Sarcoma de Kaposi 5 1,1 C34 Neoplasia malígna dos brônquios e pulmões 2 0,4 C80 Neoplasia malígna sem especificação de localização 2 0,4 C38 Neoplasia malígna do mediastino 1 0,2 C53 Neoplasia malígna do colo do útero 1 0,2 C60 Neoplasia malígna do pênis 1 0,2 C67 Neoplasia malígna da bexiga 1 0,2 C71 Neoplasia malígna do cérebro 1 0,2 C76 Neoplasia malígna do abdome 1 0,2 C78 Neoplasia malígna secundária do fígado 1 0,2
Doenças do sangue e órgão hematopoéticos - Sub-total 34 7,3 D64 Anemia não especificada 14 3,0 D61 Anemia aplástica 11 2,4 D69 Púrpura e outras afecções hemorrágicas 4 0,9 D70 Agranulocitose 2 0,4 D53 Anemia megaloblástica sem outra especificação 1 0,2 D65 Coagulação intravascular disseminada 1 0,2 D75 Doença não especificada do sangue e órgãos hematopoéticos 1 0,2
Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas - Sub- total 31 6,7 E43-E46 Desnutrição 12 2,6 E86-E88 Distúrbios metabólicos 12 2,6 E11-E14 Diabetes Mellitus 6 1,3
E16 Hipoglicemia não especificada 1 0,2 Transtornos mentais e comportamentais - Sub-total 6 1,3
F10-F17-F19 Transtornos mentais devido ao uso de substância psicoativa 6 1,3 Doenças do Sistema Nervoso – Sub-total 47 10,1
G93 Outros transtornos do encéfalo 19 4,1 G03 Meningite devida a outras causas e as não especificadas 9 1,9 G04 Encefalite, mielite e encefalomielite não especificada 9 1,9 G00 Meningite bacteriana 4 0,9 G06 Abcesso e granuloma intracraniano 2 0,4 G31 Doença degenerativa do sistema nervoso, não especificada 1 0,2 G61 Síndrome de Guillain-Barré 1 0,2 G95 Doença não especificada da medula espinal 1 0,2 G96 Transtorno não especificado do sistema nervoso central 1 0,2
Doenças dos olhos e anexos – Sub-total 1 0,2 H54 Cegueira e visão subnormal 1 0,2
Doenças do aparelho circulatório - Sub-total 27 5,8 I61 Hemorragia intracerebral 6 1,3
I42-I49 Cardiomiopatia e outras arritimias cardíacas 6 1,2 I50 Insuficiência cardíaca 5 1,1 I10 Hipertensão arterial 3 0,6 I51 Doença não especificada do coração 2 0,4 I26 Embolia pulmonar 1 0,2 I27 Hipertensão arterial pulmonar 1 0,2 I33 Endocardite infecciosa aguda ou subaguda 1 0,2 I62 Hemorragia subdural 1 0,2 I69 Sequela de doença cerebrovascular 1 0,2
Continuação Diagnósticos por capítulos da CID-10 Nº % Tab.7 Doenças do aparelho respiratório - Sub-total 244 52,6 J96 Insuficiência respiratória 133 28,7 J18 Pneumonia por microorganismo não especificado 65 14,0 J98 Outros transtornos respiratórios 13 2,8 J15 Pneumonia bacteriana 10 2,2 J84 Pneumonia intersticial 6 1,3 J44 Outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas 4 0,9 J80 Síndrome do desconforto respiratório do adulto 3 0,6 J47 Bronquectasia 2 0,4 J69 Pneumonite devida a alimento ou vômito 2 0,4 J40 Bronquite não especificada 1 0,2 J43 Enfisema 1 0,2 J81 Edema pulmonar 1 0,2 J82 Eosinofilia pulmonar 1 0,2 J86 Piotórax 1 0,2 J90 Derrame pleural 1 0,2
Doenças do aparelho digestivo - Sub-total 52 11,2 K72 Insuficiência hepática 14 3,0 K92 Hematêmese e hemorragia gastrointestinal 9 1,9 K74 Fibrose e cirrose hepática 6 1,3 K76 Outras doenças do fígado 5 1,1 K52 Gastroenterite e colite não infecciosa 4 0,9 K75 Hepatite sem outras especificações 4 0,9 K65 Peritonite 3 0,6 K56 Íleo paralítico 2 0,4 K70 Cirrose hepática alcoólica 2 0,4 K25 Úlcera gástrica 1 0,2 K63 Perfuração do intestino não traumática 1 0,2 K73 Hepatite crônica não classificada em outra parte 1 0,2
Doenças da pele e tecido subcutâneo -Sub-total 2 0,4 L08 Infecção da pele e tecido subcutâneo não especificada 1 0,2 L89 Úlcera de decúbito 1 0,2
Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjun tivo – Sub-total 3 0,6
M86 Osteomielite 2 0,4 M02 Doença de Reiter 1 0,2
Doenças do aparelho geniturinário - Sub-total 31 6,7 N17-N19 Insuficiência renal 21 4,5
N39 Infecção do trato urinário de localização não especificada 3 0,6 N12 Nefrite túbulo-intersticial 2 0,4 N28 Doença renal sem especificação 2 0,4 N15 Abcesso renal e perinefrético 1 0,2
N31-32 Disfunção neuromuscular da bexiga 1 0,2 N32 Fístula êntero-visical 1 0,2
Complicações da gravidez, parto e puerpério - Sub-to tal 1 0,2 O86 Infecção puerperal 1 0,2
Afecções originadas no período perinatal - Sub-tota l 1 0,2 P21 Asfixia ao nascer 1 0,2
Continuação Diagnósticos por capitulos da CID-10 Nº % Tab.7 Mal definidas - Sub-total 130 28,0 R68 Falência de múltiplos órgãos 61 13,1 R09 Parada respiratória 30 6,5 R64 Caquexia 20 4,3 R57 Choque 6 1,3 R40 Coma 4 0,9 R10 Abdome agudo 2 0,4 R56 Convulsões 2 0,4 R04 Hemorragia pulmonar sem outras especificações 1 0,2 R18 Ascite 1 0,2 R58 Hemorragia 1 0,2 R59 Linfadenopatia 1 0,2 R63 Anorexia 1 0,2
Total de diagnósticos informados** 989
* percentuais calculados sobre o total de óbitos co m causa básica "aids"= 464
** o total não inclui os diagnósticos de causa básica
Se eliminarmos do cômputo os códigos atribuídos à causa básica, foram informados nas
declarações de óbito por aids de 2001, mais de 150 outros diagnósticos, que apareceram 989
vezes nos atestados na parte I (linha a, linha b, linha c, linha d ) e na parte II do atestado, isto
é, em média, cada declaração de óbito por aids, foi preenchida com 3,1 diagnósticos.
Considerando os sub-grupos de agregação de causas básicas, a maior participação
coube às infecções oportunísticas, que representam 70,3% do total. Dentro deste grupamento,
assume lugar de destaque as infecções múltiplas, outras infecções bacterianas, tuberculose e
a pneumonia por pneumocystis carinii.
É interessante notar que a ordenação das causas dentro de cada grupo, na tabela que
considera somente as causas básicas e na que apresenta as freqüência totais de causas
associadas a aids, são semelhantes, mas a tabela 7 permite mensurar melhor a participação
dos diferentes diagnósticos como causas associadas a aids.
A participação do grupo das infecciosas e parasitárias, aferida pela tabela 7 é bem maior:
76,7% dos óbitos por aids mencionaram alguma doença deste grupo.
As septicemias são as mais freqüentemente registradas, tendo sido informadas em 22%
dos óbitos por aids.
A tuberculose, foi mencionada em 63 atestados, mas selecionada como categoria
discriminada de causa básica, apenas 35 vezes. Segundo MURAI13, que estudou a tendência
da tuberculose em Itajaí no período pré e pós surgimento da AIDS, o uso de drogas de abuso e
co-infecçäo pelo HIV , modificou o perfil epidemiológico da tuberculose, modificando-o em
relação à idade, e ocorrendo um aumento da proporçäo de formas extrapulmonares, de näo
reatores à tuberculina, de óbitos e de abandono de tratamento.
O mesmo é observado para a pneumonia por Pneumocystis carinii, que quase dobra a
sua participação percentual sobre o total de óbitos por aids quando se considera o total de
vezes em que foi mencionada nos atestados, passando (7,3% para 12,9%).
A toxoplasmose (49 menções) e a criptococose (31 menções) também estão entre as
mais registrados nas declarações. Segundo estudo realizado por LONGHI e al14, o
aparecimento da criptococose é freqüente em pacientes em estágio avançado da doença,
particularmente naqueles com contagem CD4 menor que 100/mm3, sendo a meningite, muitas
vezes assintomática, a forma mais comum de apresentação. O autor lembra ainda que o
tratamento precoce da criptococose localizada previne a disseminação da doença.
As hepatites virais, se computadas juntas, teriam totalizado 21 menções, ficando em 6º
lugar entre as infecciosas na tabela 7, mas preferimos manter as categorias separadas a fim de
verificar a participação da hepatite C, que sozinha foi mencionada 10 vezes.
A participação das neoplasias malignas também aumenta quando consideramos o total
de vezes que são mencionadas (23) e comparamos com os dados da tabela 6 (15). O linfoma
não Hodgkin e o sarcoma de Kaposi foram os tipos de neoplasia mais informados
A tabela 7 também parece mais apropriada para aferir a quantidade de vezes em que a
morte por aids está relacionada a complicações por doenças do aparelho respiratório: 52% dos
atestados mencionaram doenças incluídas neste capítulo. As insuficiências respiratórias e as
pneumonias por microrganismo não especificado lideram o grupo.
Trabalho realizado por LAVADO 15, que discutiu questões acerca das possíveis causas
de alterações respiratórias freqüentemente encontradas em indivíduos portadores de
HIV/AIDS, concluiu que estas complicações poderiam resultar da própria infecção pelo HIV ou,
ainda, das complicações respiratórias associadas à AIDS, não podendo-se afirmar que o AZT,
antiretroviral largamente utilizado no combate à aids, seja responsável pela importante
diminuição da musculatura respiratória dos doentes.
As doenças do aparelho digestivo e as doenças do sistema nervoso central também
aparecem em lugar de destaque entre as causas associadas, tendo aparecido em 11,2% e
10,1% dos atestados, respectivamente.
Das causas associadas incluídas nos outros capítulos (todos com participação inferior a
10%), merecem destaque as anemias (26 vezes), a desnutrição (12) e a insuficiência renal
(21).
A tabela 7 mostra ainda que ocorreu um óbito materno por aids (infecção puerperal).
Nesse caso, o SCB seleciona a aids como causa básica, mas este óbito deve ser considerado
no cálculo do coeficiente de mortalidade materna, apesar de não estar incluído no capítulo das
complicações da gravidez, parto e puerpério.
É importante destacar, ainda, a participação das causas mal definidas nos atestados de
óbito por aids: 28% dos atestados registraram diagnósticos desse tipo, sendo o mais freqüente
a falência de múltiplos órgãos.
Para estudar melhor as doenças associadas a indivíduos com aids, seria interessante
verificar a evolução de iniciativas como a descrita por DHALIA16, sobre a implantação de um
modelo de acompanhamento periódico dessas doenças e seus fatores condicionantes, através
de estudos transversais a serem realizados em hospitais de referência para o tratamento da
doença.
Distribuição segundo outras variáveis
Além da evolução dos riscos de morte por sexo e idade, da distribuição espacial e da
análise dos óbitos por causas, a base de dados do SIM possibilita a análise da distribuição dos
óbitos segundo outras variáveis, o que pode contribuir para entender melhor o padrão da
mortalidade por aids.
As tabelas a seguir, apresentam a distribuição dos óbitos por aids ocorridos em 2001,
segundo algumas destas variáveis.
• Local de ocorrência
De certa forma, a informação sobre se o local de ocorrência do óbito fornece pistas sobre
o acesso aos serviços de saúde, ainda que este acesso tenha acontecido somente na fase
terminal da doença.
É preciso identificar as condiçöes de funcionamento dos serviços de assistência aos
portadores de HIV/AIDS e sua determinaçäo sobre a qualidade das açöes de saúde, dando
prioridade aos estabelecimentos que concentram maior demanda.
Estudos desse tipo permitiriam conhecer melhor as dificuldades para obtençäo da
retaguarda de especialidades, exames especializados e internaçöes; a capacitação e a
articulaçäo das equipes multiprofissionais e as irregularidades no fornecimento dos
medicamentos para profilaxia e tratamento das doenças oportunistas.
A tabela 8 mostra que 93,5% dos óbitos por aids ocorreram em hospitais, evidenciando
que, pelo menos na fase terminal da doença, os pacientes tem acesso aos serviços de saúde.
Mais da metade dos óbitos ocorridos em 2001 se concentraram em cinco
estabelecimentos de saúde conforme mostra a tabela 9.
Tab. 8 - Distribuição % dos óbitos por AIDS, por local de ocorrência, Santa Catarina, 2001
Local Ocorrência Nº % Hospital 430 93,5 Domicílio 29 6,3 Outros 1 0,2 Sub-total 460 100,0 Ignorado 4 0,9 Total 464 100,0
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
Tab. 9 - Distribuição % dos óbitos por AIDS, por local de ocorrência, Santa Catarina, 2001
Local de ocorrência Total % % ac Hospital Marieta Konder Bornhausen (Itajaí) 80 17,2 17,2 Hospital Nereu Ramos (Florianópolis) 74 15,9 33,2 Hospital Regional Hans Deiter Schimidt ( Joinville) 48 10,3 43,5 Hospital São José (Criciúma) 27 5,8 49,4 Hospital Regional Homero de Miranda Gomes (São José) 25 5,4 54,7 Demais estabelecimentos de saúde 176 37,9 92,7 Fora de estabelecimento de saúde 34 7,3 100,0 Total 464 100,0
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
• Estado Civil
Quase 60% dos óbitos por aids em maiores de 14 anos eram solteiros. Essa proporção é
maior no sexo masculino do que no feminino (tabela 10).
Tab. 10 - Distribuição % dos óbitos por AIDS em maiores de 14 anos, segundo estado civil e sexo, Santa Catarina, 2001
Estado Civil
Masculino Feminino Total
Nº % Nº % Nº % Solteiro 187 61,1 73 56,6 260 59,8 Casado/União Consensual 89 29,1 30 23,3 119 27,4 Viúvo 10 3,3 18 14,0 28 6,4 Separado 20 6,5 8 6,2 28 6,4 Sub-total 306 100,0 129 100,0 435 100,0 Ignorado 14 4,4 5 3,7 19 4,2 Total 320 100,0 134 100,0 454 100,0
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
Também chama a atenção a grande proporção de viúvas entre as mulheres,
representando 14% do total de óbitos por aids neste sexo, sugerindo que, muito possivelmente
estas já tenham perdido seus parceiros, pela mesma doença.
Alguns trabalhos tem relatado que o diagnóstico da aids nas mulheres tem ocorrido de
forma freqüente somente após o adoecimento ou morte do companheiro (ou filho), o que
poderia também explicar os maiores riscos de mortalidade observado entre as mulheres.
• Escolaridade e Raça
A influência de fatores sócio-econômicos na epidemia pelo HIV/AIDS tem sido discutida
na literatura cientifica. Farias 3, por exemplo, conclui que a despeito da terapia anti-retroviral
gratuita, a queda na mortalidade por Aids apresentou diferenças em relaçäo às condiçöes
sócio-econômicas das áreas, sendo a reduçäo menor na populaçäo vivendo em áreas de
exclusäo social.
O preenchimento destas das variáveis escolaridade e raça/cor na declaração de óbito,
que poderiam fornecer uma aproximação da condição social das vítimas, é bastante falho, de
maneira que os “ignorados” chegam a representar mais de um quarto do total de óbitos por
aids. Essa limitação, aliada a problemas relativos à dificuldades de obtenção de
denominadores específicos nas bases de dados do IBGE impede o cálculo de coeficientes de
mortalidade por aids discriminados para as categorias de análise das variáveis.
Assim, as distribuições percentuais dos óbitos segundo escolaridade e raça,
apresentadas nas tabelas 11 e 12, podem estar evidenciando apenas a composição na
população. Desta forma, a maior participação de mortes de pessoas sem instrução observada
para o sexo feminino, pode estar refletindo apenas que o nível educacional das mulheres é
mais baixo do que o dos homens. O mesmo pode ser dito sobre a pequena participação
percentual de pessoas com mais de 12 anos de estudo (5,5%)
Tab. 11 - Distribuição % dos óbitos por AIDS em maiores de 14 anos, segundo escolaridade e sexo, Santa Catarina, 2001
Escolaridade Masculino Feminino Total Nº % Nº % Nº %
Nenhuma 13 5,7 12 12,0 25 7,6 1-3 anos 64 28,2 29 29,0 93 28,4 4-7 anos 94 41,4 39 39,0 133 40,7 8-11 anos 44 19,4 14 14,0 58 17,7 12e+ 12 5,3 6 6,0 18 5,5 Sub-total 227 100,0 100 100,0 327 100,0 Ignorado 93 29,1 34 25,4 127 27,98 Total 320 100,0 134 100,0 454 100,0
Tab. 12 - Distribuição % dos óbitos por AIDS, segundo raça/cor e sexo, Santa Catarina, 2001
Raça/Cor Masculino Feminino Total Nº % Nº % Nº %
Branca 212 86,5 83 85,6 295 86,3 Preta 25 10,2 13 13,4 38 11,1 Parda 8 3,3 1 1,0 9 2,6 Sub-total 245 100,0 97 100,0 342 100,0 Ignorado 80 24,6 42 30,2 122 26,3 Total 325 100,0 139 100,0 464 100,0
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
• Ocupação
A tabela 13 mostra que também é grande a proporção de ignorados para a variável
ocupação: aproximadamente um quarto das declarações de óbito por aids omitiram esta
informação, chegando a quase um terço no sexo masculino.
Tab. 13 - Distribuição % dos óbitos por AIDS, segundo ocupação e sexo, Santa Catarina, 2001
Ocupação Masculino Feminino Total Nº % Nº % Nº %
Dona-de-casa - - 76 63,3 76 22,0 Outros trabalhadores braçais 36 16,0 0 0,0 36 10,4 Desempregado 30 13,3 2 1,7 32 9,3 Pedreiro/estucador 24 10,7 - - 24 7,0 Aposentado/pensionista 15 6,7 8 6,7 23 6,7 Condutor veículos 22 9,8 - - 22 6,4 Guarda segurança 11 4,9 - - 11 3,2 Cabeleireiro/beleza 5 2,2 3 2,5 8 2,3 Comerciante 5 2,2 2 1,7 7 2,0 Garçom/Cozinheiro 6 2,7 5 4,2 11 3,1 Outras ocupações 71 31,5 24 19,9 95 27,0 Sub-total (definidas) 225 100,0 120 100,0 345 100,0
Ignorado 95 29,7 14 10,4 109 24,0 Total 320 100,0 134 100,0 454 100,0
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade
Considerando o total de óbitos que informaram a ocupação do falecido, observamos que
a maioria das mulheres que morreram de aids, não tinham ocupação remunerada. Neste sexo,
as categorias “dona de casa” e “desempregada” somam 65% dos óbitos.
Entre os homens, as atividades braçais, de remuneração mais baixa, aparecem com
maior freqüência (27,4%). Esta informação, aliada a de que 13,3% dos homens estavam
desempregados, fornece pistas sobre as condições econômicas dos doentes.
Investigar a representaçäo e as práticas preventivas das categorias profissionais que
aparecem mais freqüentemente informadas nas declarações de óbito, pode contribuir para
desvelar a forma como construiram esse conhecimento e mapear suas práticas preventivas.
Aproximadamente 10% dos óbitos por aids nos quais a categoria ocupacional foi
informada, foram de “motoristas”, sugerindo a necessidade de dirigir campanhas e atividades
informativas e educativas para este grupo populacional.
Considerações Finais
O entendimento da dinâmica espaço-temporal da epidemia, com informações sobre
onde, quando e com que intensidade estão ocorrendo os óbitos por aids, deverá subsidiar, de
forma relevante, as açöes preventivas, orientando na distribuição correta e eficiente dos
recursos disponíveis.
A crescente vulnerabilidade da população feminina frente à aids, confirmada com os
resultados apresentados, aponta a necessidade de pensar as ações preventivas dentro de uma
perspectiva de gênero,
A análise da mortalidade por aids considerando apenas as categorias de causas básicas
previstas na CID-10, mostrou-se insuficiente para demonstrar a importância relativa das causas
associadas à doença, escamoteando aspectos importantes que precisam ser melhor
investigados. Nesse sentido, as informações obtidas a partir do uso da metodologia de análise
de causas múltiplas, são valiosas e demonstram a utilidade da inclusão desse método de
análise nos estudos de mortalidade por aids, de maneira a obter-se uma melhor aproximação
das complicações patológicas associadas à doença que levam à morte.
A constatação de que o preenchimento de campos da declaração de óbito como
escolaridade, raça/cor e ocupação ainda é muito falho, aponta para a necessidade de investir
no aprimoramento do Sistema de Informações sobre Mortalidade, a fim de que este possa, de
maneira mais fidedigna, servir de instrumento para a compreensão do padrão da mortalidade
da população.
O estudo mostrou que as técnicas de análise da epidemiologia descritiva podem
contribuir para o conhecimento da situação epidemiológica da aids, desvelando aspectos
importantes do comportamento da doença e orientando melhor as políticas, programas e ações
a serem implementados.
Apesar de suas limitações referentes à cobertura e a qualidade do preenchimento da
declaração de óbito, o Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM é ainda uma das
principais fontes de informação para estudos descritivos sobre o processo saúde doença, tendo
a vantagem de possibilitar análises de baixo custo. As metodologias sem grandes
refinamentos, como as propostas neste trabalho, podem ser facilmente implementadas, em
qualquer área, no monitoramento das situações que precisam ser enfrentadas.
Atualmente, todas as declarações de óbito que tenham doenças de notificação
compulsória informadas, são encaminhadas à Diretoria de Vigilância Epidemiológica para que
seja verificada a inclusão do caso nas notificações do Sistema de Informações de Agravos
Notificados – SINAN. No entanto, a base de dados do SINAN, nos últimos seis anos, tem um
número de óbitos por aids inferior ao processado no SIM. Isso aponta para a necessidade de
aperfeiçoar as rotinas de fluxos das informações do SIM e do SINAN, de forma a garantir maior
fidedignidade dos dois bancos de dados.
Há muito ainda a se atingir, no que se refere ao acesso a assistência a saúde, aos
medicamentos, aos exames laboratoriais, ao treinamento e capacitação, e a informação
qualificada aos portadores de AIDS.
Espera-se que o perfil e as características da evolução da mortalidade por aids aqui
apresentados constituam-se em referências para o planejamento das atividades de prevenção
e assistência aos doentes e capacitação dos profissionais de saúde.
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