agudização de insuficiência renal crônica em felino ... · agudização de insuficiência renal...

3
Agudização de Insuficiência Renal Crônica em Felino – Relato de Caso Maína de Souza Almeida 1 , Miriam Nogueira Teixeira 2 , Eneida Willcox Rêgo 2 , Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida 3 , Simone Gutman Vaz 4 , Breno Menezes dos Santos 4 , Ana Katharyne Ferreira Fagundes 4 , Giselle Ramos da Silva 4 ________________ 1. Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos- PE. CEP: 52-171-900. E-mail: [email protected] 2. Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3. Médica Veterinária residente/ PPGCV/ Laboratório de Patologia Clínica/ Hospital Veterinário/DMV /UFRPE. 4. Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Introdução A insuficiência renal crônica (IRC) é uma doença renal comum em cães e gatos que se caracteriza por lesões estruturais irreversíveis em 75% ou mais dos néfrons, prejudicando assim a capacidade dos rins de realizar suas funções. As alterações glomerulares e túbulo-intersticiais que progridem para IRC podem ter várias origens como substâncias nefrotóxicas, neoplasias renais e/ou distúrbios infecciosos e inflamatórios [1]. A IRC é uma importante causa de morbidade e mortalidade nos cães e se caracteriza por um curso progressivo, sendo o processo inicial desencadeante difícil de ser estabelecido na maioria dos casos. Ocorre principalmente nos animais de idade mais avançada tanto em cães quanto em gatos. É também observada em animais mais jovens, associada a doenças renais congênitas ou hereditárias, sendo mais freqüente em cães de raça definida. Ambos os sexos são igualmente acometidos, tanto na forma juvenil como na forma senil [2]. Na IRC ocorre o comprometimento da manutenção dos equilíbrios hidroeletrolítico e ácido-básico e da capacidade de excreção de produtos resultantes do metabolismo, além de interferir na síntese de várias substâncias [1]. A azotemia é o excesso de uréia ou de outros componentes nitrogenados no sangue. A perda da função renal leva ao acúmulo dos compostos contendo nitrogênio, inclusive a uréia e a creatinina. Muitos dos produtos do catabolismo das proteínas são excretados principalmente por filtração glomerular. Assim, pacientes com insuficiência renal apresentam sua capacidade de excretar os catabólitos proteináceos prejudicada, devido à significativa redução na velocidade de filtração glomerular. Acredita-se que os catabolitos protéicos contribuam significativamente para a produção dos sinais clínicos urêmicos e para as anormalidades laboratoriais [1,3]. A IRC resulta em acidose metabólica devido à capacidade limitada dos rins insuficientes em excretar H+, e em regenerar bicarbonato. O equilíbrio ácido-básico normal é mantido pela combinação de reabsorção tubular do bicarbonato filtrado e pela excreção de H+ com amônia e tampões urinários [1]. O fósforo é absorvido pelo trato digestório e excretado principalmente pelos rins. A hiperfosfatemia é muito comum em casos de IRC. Nos estágios iniciais da insuficiência renal a concentração sérica de fosfato é normal, porque ocorre um aumento compensatório na excreção de fosfato pelos néfrons residuais [1,3]. Geralmente as concentrações séricas de fósforo acompanham as concentrações de nitrogênio sangüíneo. Tipicamente não ocorre hiperfosfatemia em pacientes com afecção renal, mas não azotêmicos. A hiperfosfatemia na IRC leva ao hiperparatireoidismo secundário renal, redução dos níveis de calcitriol (vitamina D ativa), calcificação dos tecidos moles, osteodistrofia renal, e hipocalcemia. [1]. A hipocalemia, que é a diminuição sérica do potássio, é freqüente nos gatos e menos observada nos cães, sendo considerada como aplicação iatrogênica da fluidoterapia nessa ultima espécie. Para alguns autores a hipocalemia não é freqüente em pacientes com IRC poliúrica. Eles recomendam dietas com conteúdo normal de potássio para pacientes com IRC [3]. No decorrer da evolução da IRC e na dependência do grau de comprometimento renal, observa-se o comprometimento de outros sistemas orgânicos tais como o digestivo, cardiovascular, esquelético, neurológico e hematopoiético entre outros. As manifestações clínicas ocorrem isoladamente ou em conjunto. [2] A presença da IRC deve ser estabelecida com base no histórico clínico e na anamnese, no exame físico e nos resultados dos exames laboratoriais. A urinálise pode ser efetuada para: análise qualitativa da química urinária, determinação das enzimas urinárias para a avaliação da lesão renal, exame do sedimento urinário e determinação da relação entre proteina/creatinina urinária. Os testes de função renal podem ser usados como marcadores da função renal. A avaliação seqüencial é usada para monitorar o tratamento e o progresso da doença. [1,4,5]

Upload: buidan

Post on 27-Sep-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Agudização de Insuficiência Renal Crônica em Felino– Relato de Caso

Maína de Souza Almeida1, Miriam Nogueira Teixeira2, Eneida Willcox Rêgo2, Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida3, Simone Gutman Vaz4, Breno Menezes dos Santos4, Ana Katharyne Ferreira Fagundes4, Giselle Ramos da

Silva4

________________1. Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos- PE. CEP: 52-171-900. E-mail: [email protected]. Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3. Médica Veterinária residente/ PPGCV/ Laboratório de Patologia Clínica/ Hospital Veterinário/DMV /UFRPE. 4. Discente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Introdução

A insuficiência renal crônica (IRC) é uma doença renal comum em cães e gatos que se caracteriza por lesões estruturais irreversíveis em 75% ou mais dos néfrons, prejudicando assim a capacidade dos rins de realizar suas funções. As alterações glomerulares e túbulo-intersticiais que progridem para IRC podem ter várias origens como substâncias nefrotóxicas, neoplasias renais e/ou distúrbios infecciosos e inflamatórios [1].

A IRC é uma importante causa de morbidade e mortalidade nos cães e se caracteriza por um curso progressivo, sendo o processo inicial desencadeante difícil de ser estabelecido na maioria dos casos. Ocorre principalmente nos animais de idade mais avançada tanto em cães quanto em gatos. É também observada em animais mais jovens, associada a doenças renais congênitas ou hereditárias, sendo mais freqüente em cães de raça definida. Ambos os sexos são igualmente acometidos, tanto na forma juvenil como na forma senil [2].

Na IRC ocorre o comprometimento da manutenção dos equilíbrios hidroeletrolítico e ácido-básico e da capacidade de excreção de produtos resultantes do metabolismo, além de interferir na síntese de várias substâncias [1].

A azotemia é o excesso de uréia ou de outros componentes nitrogenados no sangue. A perda da função renal leva ao acúmulo dos compostos contendo nitrogênio, inclusive a uréia e a creatinina. Muitos dos produtos do catabolismo das proteínas são excretados principalmente por filtração glomerular. Assim, pacientes com insuficiência renal apresentam sua capacidade de excretar os catabólitos proteináceos prejudicada, devido à significativa redução na velocidade de filtração glomerular. Acredita-se que os catabolitos protéicos contribuam significativamente para a produção dos sinais clínicos urêmicos e para as anormalidades laboratoriais [1,3].

A IRC resulta em acidose metabólica devido à capacidade limitada dos rins insuficientes em excretar

H+, e em regenerar bicarbonato. O equilíbrio ácido-básico normal é mantido pela combinação de reabsorção tubular do bicarbonato filtrado e pela excreção de H+ com amônia e tampões urinários [1].

O fósforo é absorvido pelo trato digestório e excretado principalmente pelos rins. A hiperfosfatemia é muito comum em casos de IRC. Nos estágios iniciais da insuficiência renal a concentração sérica de fosfato é normal, porque ocorre um aumento compensatório na excreção de fosfato pelos néfrons residuais [1,3].

Geralmente as concentrações séricas de fósforo acompanham as concentrações de nitrogênio sangüíneo. Tipicamente não ocorre hiperfosfatemia em pacientes com afecção renal, mas não azotêmicos. A hiperfosfatemia na IRC leva ao hiperparatireoidismo secundário renal, redução dos níveis de calcitriol (vitamina D ativa), calcificação dos tecidos moles, osteodistrofia renal, e hipocalcemia. [1].

A hipocalemia, que é a diminuição sérica do potássio, é freqüente nos gatos e menos observada nos cães, sendo considerada como aplicação iatrogênica da fluidoterapia nessa ultima espécie. Para alguns autores a hipocalemia não é freqüente em pacientes com IRC poliúrica. Elesrecomendam dietas com conteúdo normal de potássio para pacientes com IRC [3].

No decorrer da evolução da IRC e na dependência do grau de comprometimento renal, observa-se o comprometimento de outros sistemas orgânicos tais como o digestivo, cardiovascular, esquelético, neurológico e hematopoiético entre outros. As manifestações clínicas ocorrem isoladamente ou em conjunto. [2]

A presença da IRC deve ser estabelecida com base no histórico clínico e na anamnese, no exame físico e nos resultados dos exames laboratoriais. A urinálise pode ser efetuada para: análise qualitativa da química urinária, determinação das enzimas urinárias para a avaliação da lesão renal, exame do sedimento urinário e determinação da relação entre proteina/creatinina urinária. Os testes de função renal podem ser usados como marcadores da função renal. A avaliação seqüencial é usada para monitorar o tratamento e o progresso da doença. [1,4,5]

O objetivo do presente trabalho foi mostrar a importância da avaliação eletrolítica em pacientes acometidos por doença renal.

Material e métodos

Foi atendido na Renal Vet no Rio de Janeiro, um Felino SRD de catorze anos, pesando 5,4 kg, que deu entrada na clinica veterinária em 31/08/07 com insuficiência renal crônica (IRC), apresentando os seguintes sinais clínicos: apatia, hipertermia e anorexia. O paciente tinha histórico de pancreatite, hepatite, IRC agudizada, apresentando uréia de 272 mg/dl e creatinina 6,4 mg/dl. Após a entrada na clinica o animal foi submetido a mais alguns exames a fim de avaliar a função eletrolítica.

Resultados e Discussão

Conforme citado por Almeida [1] a insuficiência renal é uma enfermidade comum que acomete cães e gatos e se caracteriza quando mais 66% a 75% dos néfrons estão afuncionais. Sabendo que os rins tem como uma de suas funções a manutenção do equilíbrio eletrolítico, torna-se necessário a dosagem dos eletrólitos de animais com insuficiência renal aguda ou quando a insuficiência renal crônica apresenta agudização. Os resultados de tais dosagens seencontram na tabela 1.

Conforme visto, no resultado da avaliação da função renal e eletrólitos foi possível observar que este animal apresentava alterações nos níveis de uréia e creatinina. Estes estavam acima do valor de referência. Castro & Matera afirmam que essa alteração se deve ao comprometimento renal. O fósforo estava acima do valor esperado, o que é justificado por Almeida [1].

Apesar de Bellodi [3] descrever que a hipocalemia é freqüente nos gatos e menos observada nos cães, sendo considerada como aplicação iatrogênica da fluidoterapia nessa última espécie, este animal não apresentou tal alteração.

Agradecimentos

Agradeço a Deus, aos técnicos administrativos e aos docentes pelo auxílio técnico-científico e a todos os colegas pelas oportunidades de estudo.

Referências[1] ALMEIDA, Lívia Mara Nascimento de. 2008. Insuficiência

Renal Crônica em Cães. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) – Curso de Medicina Veterinária, Universidade Castelo Branco. Rio de Janeiro.

[2] NOTOMI, M. K. 2006. Estudo retrospectivo de casos de insuficiência renal crônica em cães no período de 1999 a 2000. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. São Paulo. V. 43, suplemento, p. 12-22.

[3] BELLODI, Carolina. 2008. Insuficiência Renal Crônica em Pequenos Animais. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização Quallitas – UCB, Rio de Janeiro.

[4] CASTRO, P.F.; MATERA, J.M. 2005. Ureterolitíases obstrutivas em cães: Avaliação da Função Renal na Indicação da Ureterotomia ou Ureteronefectomia. Ver. Educ. Contin. CRMV- SP, São Paulo, Vol. 8, n.1, pág 38-47.

[5] MEYER, D.J.; COLES, E.H.; RICH, L.J. 1995. Medicina de Laboratório Veterinária. São Paulo: Editora Roca. p.308

Tabela 1: Resultado dos exames realizados.

Variáveis Felino Referência*

Creatinina 8,0 mg/dL 0,8-1,8 mg/dL

Fósforo 16,1 mg/dL 4,5-8,1 mg/dL

Sódio 152 UI/L 147-156 UI/L

Uréia 252 mg/dL 20-32 mg/dL

Potássio 4,3 mEq/L 4,0-4,5 mEq/L

* Meyer et al. 1995