Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº1948

Maio/2015

João Câmara

Na comunidade rural de Matão dos Nunes, localizado no município de João Câmara, moram Leide e Raimundo, com os seus filhos Ricardo e Raiane. A família, que mora há 11 anos na comunidade, desenvolve uma experiência produtiva que chama a atenção no entorno. Trata-se de uma experiência de agricultura per iu rbana, carac ter izada por ser desenvolvida no entorno das cidades, em pequenas áreas, e que possui a importância de fornecer alimentos para as regiões periféricas onde muitas vezes não existem outras opções de venda e compra. Esse tipo de produção já ganhou espaço e visibilidade em grandes cidades de todo país, mas também em cidades de médio e pequeno porte, como é o caso de João Câmara.

Além de garantir a soberania alimentar da família, com uma produção que é feita em apenas 40 metros quadrados de extensão de terra, a venda do que sobra da plantação ao redor da casa é a única fonte de renda da família. Quando chegaram ao Matão dos Nunes, Leide diz que começaram a plantar para sobreviver. Hoje, com uma plantação de hortaliças, frutas e plantas medicinais, desenvolvem uma forma de plantio sem o uso de agrotóxico e com sementes crioulas, produzindo alimento saudável e respeitando o meio ambiente. Leide diz que planta de tudo um pouco: alface, coentro, hortelã, couve, cebolinha, pimentão, pimenta, manjerona, agrião, cidreira, anador, boldo, arruda, alecrim, morango, limão, coco, pinha, manga, caju, mamão, maracujá, acerola. A família também cria galinhas. Mesmo com toda essa variedade, Leide e Raimundo dizem que, se tivessem mais terra, era certo que a diversidade da produção seria ainda maior.

Raimundo Leide e Ricardo

Plantação de hortaliça da família

Agricultura Periurbana no Matão dos Nunes

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Realização Apoio

A água usada para a plantação vem de um cacimbão. Leide diz que se não fosse o cacimbão, seria impossível produzir tudo isso, pois não conseguiriam pagar o alto valor da conta de água. Para cuidar do plantio, dona Leide diz que a rotina começa bem cedo e de 5 horas da manhã já está de pé. O cuidado com a plantação é o trabalho de toda família. Ricardo tem 17 anos e estuda pela manhã, mas à tarde é a hora que dá a sua contribuição. Além do cuidado com a plantação, ele também vende na feira Agroecológica de João Câmara todos os sábados, e na escola desenvolve um trabalho de horta coletiva com os demais alunos. Aprendendo desde jovem com a mãe e com o pai, Ricardo vem dando continuidade ao trabalho como agricultor, garantindo a sucessão rural e geracional no semiárido. Com a conquista da Feira Agroecológica e de Economia Solidária do Município de João Câmara, a renda da família ficou maior. É na feira que comercializam o excedente da sua produção em um espaço de comercialização solidária, ocupando o mercado local com a agricultura camponesa e familiar, valorizando o que produzem ao conquistar um espaço na cidade onde podem vender a preço justo. Além da feira, a família vende em casa para comunidade e restaurantes vizinhos. A experiência da família mostra que a luta pelo acesso a terra, inclusive no espaço periurbano, é ainda muito atual, um direito a ser conquistado por boa parte de agricultoras e agricultores do Brasil. Com muita resistência e o desejo de uma vida melhor, mesmo com todas as dificuldades de acesso a terra e água, a família gera renda, garante a soberania alimentar e convive de forma sustentável com o meio ambiente.

Leide na feira agroecológica de João Câmara

Recebendo visita de intercâmbio

Plantação de morangoCacimbão

Plantas medicinais