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Agressividade em comentários noticiosos: uma reflexão sobre violência virtual
Liana Feitosa Ferreira1
Resumo
A presente proposta tem o objetivo de refletir acerca das práticas de violência virtual na internet, e debater acerca dessas reações, vistas em comentários publicados por internautas sob textos jornalísticos em sites noticiosos, por exemplo. Essa análise se faz necessária devido à crescente presença da internet na vida das pessoas, cuja penetração se dá em 54% dos lares brasileiros, segundo dados de 2014 do IBGE. Sabe-se que o ambiente virtual é utilizado não só para trocas de informações, mas também para a exposição emocional. Com a crescente popularização da web, esse espaço oportunizado pela internet apresenta manifestações de todo tipo de comportamento, inclusive os virtualmente agressivos. Sendo assim, propõe-se uma revisão bibliográfica com o intuito de apresentar a visão de diversos autores acerca dessa realidade cibercultural e dessas manifestações violentas no ambiente online.
Palavras-chave: Agressividade. Comentários. Manifestações online. Violência
virtual.
1 Jornalista, mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
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O que é violência2 virtual e o que a caracteriza? Essa pergunta esconde
diversas explicações e definições criadas por diferentes autores que pesquisam a
comunicação, as mídias sociais digitais, as interações e a cibercultura. Com a
crescente popularização da internet, os estudos acerca do comportamento e das
manifestações virtuais também têm crescido.
Os mais recentes dados sobre internet apresentados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao ano de 2014 e divulgados em abril
de 2016, apontam que, há dois anos, “mais da metade dos domicílios particulares
permanentes passaram a ter acesso à internet, saindo de 48%, em 2013, para 54,9%,
em 2014, o equivalente a 36,8 milhões de domicílios” (IBGE, 2016, p. 40). Em 2004,
6,3 milhões de residências possuíam acesso à internet por meio de microcomputador.
Em 2012, no entanto, este número saltou para 25,7 milhões de domicílios, mais que
o triplo em oito anos (IBGE, 2016, p. 40).
Diante dessa realidade, compreender a popularidade da web como um
fenômeno que influencia as pessoas ajuda a perceber como a sociedade tem se
relacionado com a comunicação virtual. Com o nascimento das novas tecnologias e
o surgimento das redes sociais digitais os indivíduos passaram a poder interagir
instantaneamente, diferente das possibilidades de interação até então existentes,
como cartas e telefone. Além disso, como consumidoras de informações, as pessoas
passaram a exercer papel ativo, de participação com o surgimento da internet,
diferente do papel passivo até então exercido pelo receptor. Com esse novo espaço
de comunicação, uma nova realidade nasceu. Sendo assim, este artigo tem o objetivo
de pensar na internet como um espaço de interações, manifestações, exposição e
opinião. Para isso, esta análise considera os comentários, não em uma página virtual
2 Segundo o dicionário Aurélio, violência é qualidade de violento, constrangimento físico ou moral,
uso da força, coação. Violento por sua vez, é definido como que age com ímpeto; impetuoso, que se exerce com força, agitado, tumultuoso, irascível, irritadiço, intenso, veemente, em que se faz uso da força bruta, contrário ao direito e à justiça.
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ou site específico, mas opiniões encontradas nos espaços de comentários sob textos
jornalísticos.
Desta forma, serão consideradas análises de pesquisadores como o
comunicador e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Ciro Marcondes
Filho (1994), o doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Edilson Cazeloto (2007), a comunicadora e antropóloga
argentina Paula Sibilia (2009), o especialista em cibercultura Eugênio Trivinho (2010),
doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP,
o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2004 e 2014) e o jornalista Leonardo
Sakamoto (2016), doutor em Ciência Política pela USP. Em suas obras, esses
autores não buscaram centralizar suas análises nessa temática. No entanto, suas
considerações e avaliações lançam luz e abrem caminho para a reflexão de
comportamentos sociais encontrados no ambiente virtual e que são cada vez mais
comuns: a agressividade e a violência destilada por escrito em comentários e
postagens. O objetivo não é falar sobre cyberbullying3, mas pensar na violência de
forma geral, como um fenômeno atual e visível nas redes, localizado na agressividade
contida em palavras de ódio publicadas em opiniões na internet.
Em Amor Líquido, Bauman (2004) descreve as características da atual
sociedade, definida por ele como modernidade líquida. Sua liquidez confere às
relações interpessoais mobilidade e rapidez, alterando as interações sociais. É a
natureza dessas interações o foco deste artigo. Mas voltando a Bauman, o autor
define que os indivíduos dessa sociedade são naturalmente desligados, mas buscam
conectar-se entre si a todo instante.
Nenhuma das conexões que venham a preencher a lacuna deixada pelos vínculos ausentes ou obsoletos tem, contudo, a garantia de permanência. De qualquer modo, eles só precisam ser frouxamente atados, para que possam ser
3 Comportamento agressivo, repetitivo e intencional que pode partir de um indivíduo ou de grupos,
gerando danos psicológicos à vítima. O cyberbullying se dá através de mensagens de texto utilizando da “coerção psicológica com finalidade de ameaçar, perseguir, coagir ou amedrontar, ou ainda por meio da propagação de imagens/vídeos que expõem situações íntimas ou constrangedoras” (WANZINACK e REIS, 2015, p. 5).
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outra vez desfeitos, sem grandes delongas, quando os cenários mudarem – o que, na modernidade líquida, decerto ocorrerá repetidas vezes (BAUMAN, 2004, p. 7).
Nesse cenário instável e altamente mutante, as conexões ganham novos
significados, assim como a palavra rede, que, para o autor, sugere períodos em que,
num momento o indivíduo está em contato com outros, e em outro movimenta-se
solitariamente. Nessa rede, as conexões se dão e se encerram por escolha dos
indivíduos. Por isso, é fácil entrar e dos relacionamentos virtuais, diferentemente da
realidade não-virtual (BAUMAN, 2004, p. 12).
As conexões podem ser rompidas, e o são, muito antes que se comece a detestá-las. Elas são “relações virtuais”. (...) Elas parecem feitas sob medida para o líquido cenário da vida moderna, em que se espera e se deseja que as “possibilidades românticas” (e não apenas românticas) surjam e desapareçam numa velocidade crescente e em volume cada vez maior, aniquilando-se mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa de “ser a mais satisfatória e a mais completa” (BAUMAN, 2004, p. 12).
Para o autor, essas relações virtuais, nomeadas de conexões, acabam
estabelecendo um padrão que orienta todos os outros relacionamentos. Dessa forma,
agora, estar em movimento é uma necessidade, quando antes era "um privilégio e
uma conquista" (BAUMAN, 2004, p. 13). A fragilidade dos vínculos e a velocidade
das interações são características tão reais que se mostram tão marcantes nessa
sociedade quanto à volatilidade da autoexposição e das confissões nas redes.
Ciclicamente, autorrevelações são feitas a esmo, conexões intensas são
estabelecidas, mas, assim como a liquidez da água, escorrem pelos vãos dos
vínculos interpessoais, frustrando pessoas e levando a novas autoexposições e
autorrevelações.
Nessa rotina volátil, uma primeira "modalidade" de violência é identificada: a
da necessidade de exposição virtual. Para Eugênio Trivinho (2010), a cibercultura
desenvolve no indivíduo, não de maneira descarada, mas de forma velada, a
"necessidade compulsiva de aparecer via media, de projetar o si-próprio e o campo
próprio em algum rincão de visibilidade comunicacional” (TRIVINHO, 2010, p. 9).
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Esforçando-se para compreender o significado sociocultural desse desejo de
presença e autoexposição, o autor destaca que, na sociedade cibercultural, às
pessoas, grupos, marcas e objetos são impostas a ideia de que, esses só existirão
de fato, se for através da mídia. E, aqui, leia-se a internet como mídia.
Dessa mesma forma, Bauman e Donskis (2014) pontuam as mesmas
características e, esse primeiro, destaca que vivemos em uma sociedade
confessional, que promove autoexposição pública como se fosse a mais verdadeira,
eficiente e fácil maneira de provar existência social.
Milhões de usuários do Facebook competem para revelar e tornar públicos os aspectos mais íntimos e inacessíveis de sua identidade, conexões sociais, pensamentos, sentimentos e atividades (BAUMAN E DONSKIS, 2014, p. 71).
Nesse contexto, Sakamoto (2016) vai além e classifica a internet como um
espaço de muitas manifestações agressivas e intolerantes. Autor de O que aprendi
sendo xingado na internet, o pesquisador aponta para o fato de que essas reações
são sintomas de uma sociedade cada vez mais desapegada. Desta forma, a empatia
e a habilidade de solidarização com o próximo parecem desafios cada vez maiores.
Para ele, na verdade, essa realidade corresponde a uma "faca com duas lâminas: de
um lado, [a internet] aproxima, de outro, afasta" (SAKAMOTO, 2016, p. 14). Se por
um lado promove encontros e reencontros, aproxima minorias e potencializa a união
de grupos com interesses comuns, dando forças às mais diversas e legítimas causas,
também "pode se tornar um púlpito de onde fala, mas não se ouve"
(SAKAMOTO, 2016, p. 14).
Estamos perdendo a habilidade de escutar o outro, deixando de desenvolver empatia e a capacidade de lidar com as próprias emoções. Se fugimos dos términos [de namoro], não vamos aprender isso nunca. Não podemos resolver tudo por WhatsApp (SAKAMOTO, 2016, p. 14 e 15).
A opinião é da psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência de
Internet do Hospital das Clínicas de São Paulo, que em entrevista ao autor detalhou
a questão dos relacionamentos amorosos no contexto da cibercultura. Essa realidade
de fuga citada por ela, entretanto, carrega consigo problemas ainda mais extensos,
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desvendando situações mais alarmantes e, finalmente, mais conectadas de fato com
o que queremos tratar como violência virtual.
Para Sakamoto (2016), parte da discussão sobre ódio na internet está
diretamente relacionada à cada vez mais frequente incapacidade humana de lidar,
nessa sociedade líquida, com outras pessoas e, claro, com as emoções. Didatiza o
autor:
Xingo, insulto, minto, difamo, ameaço não apenas porque me sinto protegido por um pretenso anonimato, mas também pelo fato de que não vejo meu interlocutor frente a frente. Ele é um avatar com nome desconhecido, não uma pessoa com sentimentos (SAKAMOTO, 2016, p. 15).
Para ele, portanto, o anonimato dá sensação de segurança ao agressor e, por
isso, não raramente, as pessoas abusam da aparente liberdade que têm e dizem o
que querem e como querem, não importa a quem. Liberdade e agressividade, então,
parecem dar as mãos em um casamento incoerente. Para Paula Sibilia (2009), esse
cenário é a realidade da web, uma vez que o ambiente virtual concede a seus
usuários espaço para manifestações. Nos últimos anos, a internet “tem dado à luz um
amplo leque de práticas que poderíamos denominar ‘confessionais’” (SIBILIA, 2009,
p. 27), defende a autora. Milhares de pessoas em todo o mundo têm usado as
inúmeras ferramentas online disponíveis para expor sua intimidade publicamente.
Gerou-se, assim, um verdadeiro festival de “vidas privadas”, que se oferecem despudoradamente aos olhares do mundo inteiro. As confissões diárias de você, eu e todos nós estão aí, em palavras e imagens, à disposição de quem quiser bisbilhotá-las; basta apenas um clique do mouse. E, de fato, tanto você como eu e todos nós costumamos dar esse clique (SIBILIA, 2009, p. 27).
Além dela, o pesquisador Marcondes Filho (1994) também se une ao coro
desses que apontam a internet como ambiente de autoexposição exagerada, e afirma
que a característica mais marcante desse período – denominado por ele de
tecnocêntrico – é a “cultura do aparecimento” (MARCONDES FILHO, 1994, p. 51).
Pessimista, o autor acredita que, nem tanto liberdade, mas frieza, é o que as
tecnologias de comunicação e informação têm gerado.
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A comunicação, como espaço de troca de sensações, vivências, informações com o outro, hoje é “realizada” por meio de aparelhos e máquinas eletrônicas. As tecnologias tentam artificialmente reagregar um mundo de contatos humanos que na prática já está totalmente rarefeito, pulverizado (MARCONDES FILHO, 1994, p. 51).
Mais fatalista que que Sibilia, o autor acredita que a sociedade tem se tornado
cada vez menos social, com pessoas que “cada vez menos falam-se, encontram-se,
vêem-se, tocam-se; em que as pessoas têm cada vez menos tempo para as outras,
para os amigos; uma sociedade, portanto, de progressivo isolamento” (MARCONDES
FILHO, 1994, p. 51).
A opinião de Sibilia (2009) é mais branda, mas também aponta para o fato de
que a realidade tem se modificado devido à influência das novas tecnologias, em
especial, a internet. E, mesmo escritas sete anos antes da obra de Sakamoto (2016),
as reflexões de Sibilia (2009) parecem se aproximar do cenário descrito por ele: a
autoexposição é um “sintoma”, ou melhor, uma consequência da liberdade de
manifestação e opinião oportunizada pela web. Chamados de “rituais” pela
pesquisadora (SIBILIA, 2009, p. 27), esses comportamentos são tão
contemporâneos, na opinião dela, que acabam levando suas características para as
mais diversas áreas da vida, não ficando restritos ao universo virtual, e formando uma
“atmosfera sociocultural”. “Esse novo clima de época que hoje nos envolve parece
impulsionar certas transformações que atingem, inclusive, a própria definição de você
e eu” (SIBILIA, 2009, p. 27).
Se, com a internet, o consumidor de informação ganhou espaço para se
manifestar, e essa nova realidade e rotina geram transformações sociais, porque não
considerar que, no “balaio” dessas transformações, está a crescente manifestação de
ódio na web?
Para encontrar caminhos que levam à reflexão dessa temática, é preciso, no
entanto, considerar o ódio virtual como manifestação de violência. A agressividade
online, longe de ser uma ficção 2.0, é uma violência real e uma revelação do mal.
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Bauman e Donskis (2014) tratam desse assunto na obra Cegueira Moral: a perda da
sensibilidade na modernidade líquida. Ainda na introdução da obra, Donskis
(BAUMAN E DONSKIS, 2014) fala acerca dos paradoxos dessa sociedade cujos
valores parecem cada vez menos transparentes.
Tudo é permeado pela ambivalência. Não há mais nenhuma situação social inequívoca, da mesma forma que não há mais atores inflexíveis no palco da história. Tentar interpretar esse mundo em termos de categorias como bem e mal, pela ótica política e social do preto no branco e das separações que maniqueístas, é hoje tanto impossível quanto grotesco (BAUMAN E DONSKIS, 2014, p. 11).
Taxativo, Donskis (2014) afirma que vivemos, portanto, em um verdadeiro
caos, onde o ordem é cada vez mais utópica e leva consigo, como mencionado,
diversos valores. Para ele, o mundo já não é capaz de controlar-se, mesmo que
obsessivamente tente controlar os indivíduos e, por isso, não consegue “responder a
seus próprios dilemas nem reduzir as tensões que ele mesmo semeou” (BAUMAN E
DONSKIS, 2014, p. 11). Nesse emaranhado de incoerências e confusão, reações
insensíveis, de desapego e, claro, de agressividade, parecem fáceis de serem
encontradas. Ou seja, são manifestações do mal.
O autor continua seu raciocínio, afirmando que, muitas vezes, acreditamos que
o mal é outro, e não essa realidade que nos afeta. Parece que ele vive em outro local,
em ambientes mais hostis que aqueles que frequentamos. Só que essa, no entanto,
é apenas uma impressão, como assim já era séculos atrás. O mal, segundo os
autores, não se limita a barreiras ou territórios determinados e, inclusive, se alastra
dentro de nós.
O mal não está confinado às guerras ou às ideologias totalitárias. Hoje ele se revela com mais frequência quando deixamos de reagir ao sofrimento de outra pessoa, quando nos recusamos a compreender os outros, quando somos insensíveis e evitamos o olhar ético silencioso. (...) Essa modernidade líquida transforma em banalidade não o bem puro e simples, mas o próprio mal. (BAUMAN E DONSKIS, 2014, p. 16 e 17).
Esse mal, contido na insensibilidade, na incompreensão e na recusa de
atenção ao outro, manifesta-se frequentemente de forma verbal não-oralizada
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através de comentários e opiniões no ambiente online, como no caso real abaixo,
apenas para exemplificar uma realidade constante.
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No exemplo acima, encontrado na página de Facebook do portal nacional de
notícias G1, os três internautas destacados comemoraram o desfecho do relato: a
morte de um peão de 17 anos que sofreu queda em uma arena de rodeio, no interior
de São Paulo. Justificando a opinião deles no suposto maus-tratos infligido sobre o
touro durante a competição, minimizam a morte de um ser humano em favor do
animal. Não que a saúde e bem estar do touro sejam insignificantes, mas a
insensibilidade para com a vida humana, nesse caso, é nítida.
Esse tipo de reação de ódio gratuito e manifestações de insensibilidade, além
do uso de palavras de ódio ou agressivas em comentários na internet, tem se tornado
cada vez mais comum e visível nas redes.
Novas formas de censura coexistem – da maneira mais estranha – com linguagem sádica e canibalesca encontrada na internet e que corre solta nas orgias verbais do ódio sem face, nas cloacas virtuais em que se defeca sobre os outros e nas demonstrações incomparáveis de insensibilidade humana (em especial nos comentários anônimos) (BAUMAN E DONSKIS, 2014, p. 18).
Em O que aprendi sendo xingado na internet, Sakamoto (2016) também
entrevista a coordenadora de uma empresa responsável pelo trabalho de moderação
de comentários postados em notícias, blogs e fóruns de grandes empresas de
comunicação. Sem revelar o nome verdadeiro da entrevistada, nem o da empresa
onde ela trabalha, por questões de segurança, o jornalista perguntou se a quantidade
de comentários violentos tem crescido (SAKAMOTO, 2016, p. 71). Para ela, não
apenas mais comentários hostis têm aparecido desde que ela começou a trabalhar
nesse ramo, há quatro anos, mas também tem crescido a participação das pessoas.
Aparecem mais comentários violentos. Estão querendo fazer muita justiça com as próprias mãos. Por exemplo, nos casos dos jovens amarrados em postes, as pessoas estão assustadoras, acham isso normal. Consideram a solução para os problemas. Mas, de maneira geral, o que ocorre é que as pessoas têm participado mais, ou seja, o número de comentários aumentou (SAKAMOTO, 2016, p. 73 e 74).
Se, então, a internet abre espaço para manifestações de todos nós (SIBILIA,
2009), se tem passado por transformações sociais (BAUMAN, 2004), gerando perda
de sensibilidade e tolerância (MARCONDES FILHO, 1994); se a internet tem sido
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palco de um crescente número de participações de usuários (SAKAMOTO, 2016) e
tem se tornado um ambiente de difusão do mal (BAUMAN E DONSKIS, 2014),
vivemos uma realidade violenta, na verdade coercitiva, onde a liberdade de
expressão que existe não parece ser aproveitada da melhor maneira. Cazeloto (2007)
não vê luz no fim do túnel para essa realidade.
A vida que vivemos junto ao computador, estejamos em “carne e osso” ou reduzidos à matriz de bytes de um avatar, dificilmente conseguirá apontar para a superação das injustiças, desigualdades e violências inerentes a um mundo talhado pela forma-informática (CAZELOTO, 2007, p. 178).
A violência está, portanto, no imperativo de existir em tempo real e de se expor
(TRVINHO, 2010), no caos e na confusão do ciberespaço (BAUMAN, 2004), e no
próprio mal manifestado cada vez mais frequentemente na sociedade. A violência
virtual é resultado dessa nova realidade informacional, assim como é reflexo do mal
que há no próprio ser humano (BAUMAN E DONSKIS, 2014). A internet dá a
oportunidade de interação e troca, é espaço de conexão e expressão, mas a forma
como essa liberdade é usada não diz respeito apenas a nós, mas também ao nosso
próximo.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. ___________________; DONSKIS, Leonidas. Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2014. CAZELOTO, Edilson. A velocidade necessária. In: FERRARI, Pollyana (org.). Hipertexto, Hipermídia: as novas ferramentas da comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário básico da Língua Portuguesa Folha/Aurélio. São Paulo, SP: Editora Nova Fronteira, 1988. IBGE. Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal: 2014. Coordenação de Trabalho e Rendimento – Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: <http://goo.gl/q1PhEG>. Acesso em: 31 maio 2016.
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MARCONDES FILHO, Ciro. Sociedade tecnológica. São Paulo: Scipione, 1994. SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
TRIVINHO, Eugênio. Visibilidade mediática, melancolia do único e violência invisível na cibercultura. In: XIX Encontro Nacional da COMPÓS, 2010, Rio de Janeiro, RJ. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: COMPÓS, 2010. Disponível em: <http://www.compos.org.br/data/biblioteca_1448.pdf>. Acesso em: 23 set. 2016. WANZINACK, Clóvis; REIS, Clóvis. Cyberbullying e violência na rede: relações entre poder e desenvolvimento no litoral do Paraná. In: XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2015, Rio de Janeiro, RJ. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: Intercom, 2015. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/ anais/nacional2015/resumos/R10-2414-1.pdf>. Acesso em: 23 set. 2016.