agregados reciclados

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BETO COM AGREGADOS RECICLADOSANLISE COMENTADA DA LEGISLAO EXISTENTE

Paulo Csar Magalhes Gonalves

DISSERTAO APRESENTADA PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM

ENGENHARIA CIVIL

JRI: PRESIDENTE: Professor Doutor Francisco Loforte Ribeiro ORIENTADOR: Professor Doutor Jorge Manuel Calio Lopes de Brito VOGAIS: Professor Doutor Francisco Loforte Ribeiro Doutora Susana Andreia Monteiro dos Reis Pestana

NOVEMBRO DE 2007

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

AGRADECIMENTOSO presente trabalho, ao preencher quase dez meses da minha vida no s acadmica como pessoal, teve uma influncia bastante grande no rumo que esta tomou. Como seria de esperar, nem sempre tudo correu como esperado nem da forma mais simples e por vezes ansiada. Contudo, se foi possvel o seu trmino, foi tambm devido a algumas pessoas que se mostraram preponderantes para que este meu objectivo fosse alcanado. Ao orientador deste trabalho, o Professor Jorge de Brito, eu agradeo a disponibilidade pelas reunies a horrios por vezes nada standard, a capacidade de motivar, mostrando que sempre possvel alcanar um melhor resultado e que o trabalho sempre recompensado, a impressionante experincia, capaz de colocar e/ou retirar presso no momento certo, de modo a potenciar as minhas capacidades e, finalmente, o tempo dispendido em concelhos que, apesar de no estarem directamente ligados ao tema estudado, contriburam para que a presente dissertao resultasse valorizada. engenheira Isabel Martins agradeo a disponibilidade e simpatia demonstradas e o facto de ter contribudo para a obteno de documentos que seriam de outro modo talvez impossveis de obter, situao esta que empobreceria sobremaneira o trabalho apresentado neste texto. Aos meus pais, Ana e Antnio, e aos meus irmos, Carla e Carlos, agradeo a pacincia e amizade demonstrados, mesmo quando o meu estado de esprito, provocado pelos obstculos impostos por esta dissertao, no correspondia s suas expectativas. Aos meus amigos, agradeo a amizade e companheirismo, pois sempre me apoiaram e incentivaram. Em particular, um agradecimento aos meus colegas e amigos que me acompanharam nas longas sesses de trabalho da ltima fase desta dissertao.

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

RESUMOAs preocupaes com o meio ambiente e com a gesto dos recursos naturais tornam os resduos de construo de demolio materiais interessantes para serem utilizados como agregados reciclados. Para que estes possam ser aplicados, necessrio que sejam seguidas directrizes de modo a que as diferenas entre os agregados naturais e reciclados sejam tidas em conta, controlando os efeitos negativos que estes possam originar. Na presente dissertao, foi feito um levantamento de vrias normas e recomendaes para a aplicao de agregados reciclados em beto, assim como um comentrio detalhado de todos os parmetros nelas presentes, como os requisitos impostos aos agregados ou as condies de aplicao em beto. Efectuou-se uma comparao, entre todas as normas, de todos os parmetros, tais como massa volmica, absoro de gua ou presena de contaminantes dos agregados reciclados, assim como mximas percentagens de substituio de AP por AR e classes mximas de resistncia autorizadas para o fabrico de beto com agregados reciclados. Verificou-se que as normas estudadas se regem essencialmente por duas filosofias. Enquanto que a primeira consiste em incorporar AR em pequena quantidade e supor que no trazem prejuzos ao beto, a outra permite maiores percentagens de substituio de AP por AR, mas so estabelecidos coeficientes correctivos de modo a considerar o decrscimo da performance do beto. Foi elaborada uma recomendao para a utilizao de AR em beto, onde constam no s as duas perspectivas referidas, como tambm uma metodologia inovadora, na qual os coeficientes correctivos so calculados caso a caso. Palavras-chave: agregados reciclados, beto com agregados reciclados, especificaes, recomendaes.

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

ABSTRACTThe environment and natural resources management concerns make the CDW an interesting material to be used as recycled aggregates. In order to be applied, it is necessary to follow directives, to take into account the differences between the natural and recycled aggregates, controlling the potential negative effects that these differences can originate. In this work it was made a report of some standards and recommendations, which include the application of recycled aggregates on the production of recycled aggregate concrete, as well as a detailed comment of all of their parameters, like the recycled aggregates requirements and their conditions of application in concrete. It was made a comparison of all the parameters, such as density, water absorption or the presence of impurities of the recycled aggregates, as well as maximum limit of incorporation of recycled aggregates and the maximum strength class of the recycled aggregate concrete. It was verified that the studied specifications have essentially two different philosophies. While one of them consists in a small incorporation of recycled aggregates, assuming that it will not bring any damage to the concrete properties, the other one allows greater percentage of incorporation of recycled aggregates and establish corrective coefficients in order to consider the decrease of performance of the recycled aggregate concrete. A recommendation for the use of recycled aggregates in recycled aggregate concrete was prepared, and it consists, not only in the two related perspectives, but also includes an innovative methodology, where the corrective coefficients are calculated case-bycase. Keywords: recycled aggregates, recycled concrete aggregates, specifications, standards.

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

NDICEAGRADECIMENTOS...........................................................................................................................................I RESUMO .............................................................................................................................................................. II ABSTRACT.........................................................................................................................................................III NDICE ................................................................................................................................................................ IV NDICE DE QUADROS..................................................................................................................................VIII NDICE DE FIGURAS.........................................................................................................................................X ABREVIATURAS............................................................................................................................................... XI 1. INTRODUO ........................................................................................................................................ 1.1 1.1. 1.2. 1.3. 2. CONSIDERAES PRELIMINARES ........................................................................................................ 1.1 OBJECTIVOS E METODOLOGIA ............................................................................................................ 1.1 ESTRUTURA DA DISSERTAO ........................................................................................................... 1.2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO ............................. 2.1 2.1. 2.2. 2.2.1. 2.2.2. 2.2.3. 2.3. 2.3.1. 2.3.2. 2.3.3. CONSEQUNCIAS DA GERAO DE RESDUOS .................................................................................... 2.1 CLASSIFICAO DOS RCD................................................................................................................. 2.7 Origem ......................................................................................................................................... 2.7 Composio.................................................................................................................................. 2.8 Destino ....................................................................................................................................... 2.12 PROCESSAMENTO DOS RCD ............................................................................................................ 2.12 Tipos de demolio .................................................................................................................... 2.12 Centrais de reciclagem............................................................................................................... 2.13 Processamento na central de reciclagem................................................................................... 2.15Separao na origem ........................................................................................................................ 2.15 Recepo dos RCD e armazenamento inicial ................................................................................... 2.16 Pr-triagem e separao inicial......................................................................................................... 2.16 Triagem e seleco dos fluxos contaminados................................................................................... 2.16 Britagem e crivagem ........................................................................................................................ 2.17 Armazenamento e sada dos produtos finais..................................................................................... 2.17

2.3.3.1. 2.3.3.2. 2.3.3.3. 2.3.3.4. 2.3.3.5. 2.3.3.6.

2.4. 2.4.1. 2.4.2.

APLICABILIDADE DOS RCD NA CONSTRUO.................................................................................. 2.17 Argamassas ................................................................................................................................ 2.18 Pavimentos rodovirios.............................................................................................................. 2.19

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

2.4.3. 2.4.4. 3.

Sistemas de drenagem ................................................................................................................ 2.19 Beto .......................................................................................................................................... 2.20

UTILIZAO DOS AGREGADOS RECICLADOS NO FABRICO DE BETO ........................... 3.1 3.1. 3.1.1. 3.1.2. 3.1.3. 3.1.4. 3.1.5. 3.2. 3.2.1. 3.2.2. 3.3. 3.3.1. 3.3.2. 3.3.3. 3.3.4. 3.3.5. 3.4. 3.4.1. 3.4.2. 3.4.3. PROPRIEDADES DOS AGREGADOS RECICLADOS .................................................................................. 3.1 Granulometria, forma e textura ................................................................................................... 3.1 Massa volmica............................................................................................................................ 3.2 Absoro de gua......................................................................................................................... 3.3 Impurezas ..................................................................................................................................... 3.6 Desgaste ....................................................................................................................................... 3.7 PROPRIEDADES NO ESTADO FRESCO DE BETO PRODUZIDO COM AGREGADOS RECICLADOS .............. 3.7 Consistncia ................................................................................................................................. 3.8 Massa volmica............................................................................................................................ 3.8 PROPRIEDADES MECNICAS DO BETO PRODUZIDO COM AGREGADOS RECICLADOS .......................... 3.9 Resistncia compresso............................................................................................................. 3.9 Resistncia traco ................................................................................................................. 3.10 Mdulo de elasticidade .............................................................................................................. 3.11 Retraco ................................................................................................................................... 3.12 Fluncia ..................................................................................................................................... 3.13 DURABILIDADE DO BETO PRODUZIDO COM AGREGADOS RECICLADOS ........................................... 3.14 Permeabilidade .......................................................................................................................... 3.14 Resistncia aos ciclos gelo-degelo ............................................................................................. 3.15 Resistncia aos ataques qumicos .............................................................................................. 3.16

4.

ANLISE DA REGULAMENTAO EXISTENTE .......................................................................... 4.1 4.1. 4.1.1. 4.1.2. 4.1.3. 4.2. 4.2.1. BRASIL NBR 15.116 ....................................................................................................................... 4.1 Classificao e composio dos agregados ................................................................................. 4.1 Requisitos dos agregados reciclados ........................................................................................... 4.2 Apreciaes finais ........................................................................................................................ 4.3 ALEMANHA........................................................................................................................................ 4.4 DIN 4226-100 Aggregates for mortar and concrete recycled aggregates............................ 4.4Classificao dos agregados ............................................................................................................... 4.5 Composio........................................................................................................................................ 4.5 Densidade das partculas e absoro de gua ..................................................................................... 4.6 Cloretos e sulfatos .............................................................................................................................. 4.7 4.2.1.1. 4.2.1.2. 4.2.1.3. 4.2.1.4.

4.2.2.

German committee for reinforced concrete (DAfStb) Concrete with recycled aggregates ....... 4.7Parte I Aplicao do beto............................................................................................................... 4.8 Parte II Agregados reciclados provenientes de resduos de beto.................................................. 4.11

4.2.2.1. 4.2.2.2.

4.3. 4.3.1. 4.3.2. 4.3.3.

HONG KONG WBTC NO.12/2002 ................................................................................................. 4.12 Aplicao ................................................................................................................................... 4.12 Propores de mistura ............................................................................................................... 4.12 Trabalhabilidade........................................................................... 4.Erro! Marcador no definido.

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

4.3.4. 4.3.5. 4.4. 4.4.1. 4.4.2. 4.5. 4.5.1. 4.5.2. 4.5.3. 4.6. 4.6.1. 4.6.2. 4.7. 4.7.1. 4.7.2. 4.7.3. 4.7.4. 4.8. 4.8.1. 4.8.2. 4.9. 4.9.1. 4.10.

Resistncia ................................................................................................................................. 4.13 Requisitos dos agregados reciclados ......................................................................................... 4.13 JAPO B.C.S.J............................................................................................................................... 4.14 Agregados reciclados................................................................................................................. 4.14 Beto com utilizao de agregados reciclados .......................................................................... 4.16 RILEM RECOMMENDATION ............................................................................................................ 4.17 Classificao dos agregados...................................................................................................... 4.17 Requisitos dos agregados reciclados ......................................................................................... 4.18 Campo de aplicao................................................................................................................... 4.19 REINO UNIDO BS 8500-2:2002 ..................................................................................................... 4.21 Agregados reciclados................................................................................................................. 4.21 Campo de aplicao................................................................................................................... 4.23 HOLANDA C.U.R. ......................................................................................................................... 4.25 Composio dos agregados reciclados ...................................................................................... 4.25 Granulometria............................................................................................................................ 4.26 Contaminantes............................................................................................................................ 4.27 Aplicao ................................................................................................................................... 4.28 PORTUGAL E 471:2006 ................................................................................................................. 4.30 Agregados reciclados................................................................................................................. 4.30 Campo de aplicao................................................................................................................... 4.32 BLGICA .......................................................................................................................................... 4.34 PTV 406 : Prescriptions Techniques : Granulats de debris de demolition et de construction SUA OT 70085 ........................................................................................................................... 4.36 Agregados reciclados e condies de aplicao ................................................................... 4.36 Apreciaes finais ................................................................................................................. 4.38

recycles................................................................................................................................................... 4.35

4.10.1. 4.10.2. 4.11.

OUTRAS NORMAS ............................................................................................................................. 4.39 Dinamarca............................................................................................................................. 4.39 Japo ..................................................................................................................................... 4.40 Rssia .................................................................................................................................... 4.40 Noruega................................................................................................................................. 4.41 Espanha................................................................................................................................. 4.41Agregados reciclados ....................................................................................................................... 4.42 Beto com agregados reciclados....................................................................................................... 4.43

4.11.1. 4.11.2. 4.11.3. 4.11.4. 4.11.5.4.11.5.1. 4.11.5.2.

4.11.6. 5.

Norma Europeia .................................................................................................................... 4.43

RECOMENDAES PARA A UTILIZAO DE AGREGADOS RECICLADOS EM BETO . 5.1 5.1. 5.1.1. 5.1.2. 5.1.3. SUMRIO DE TODA A DOCUMENTAO NORMATIVA.......................................................................... 5.1 Classificao dos agregados........................................................................................................ 5.1 Requisitos dos agregados reciclados ........................................................................................... 5.3 Campo de aplicao..................................................................................................................... 5.5

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

5.2. 5.2.1. 5.2.2. 5.2.3. 5.2.4. 6.1. 6.2. 6.3. 7. 8.

PROPOSTA DE ESPECIFICAO ........................................................................................................... 5.7 Consideraes iniciais ................................................................................................................. 5.7 Classificao dos agregados reciclados ...................................................................................... 5.8 Requisitos dos agregados reciclados ........................................................................................... 5.9 Condies de aplicao ............................................................................................................. 5.10 CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................................... 6.1 CONCLUSES GERAIS ......................................................................................................................... 6.2 PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 6.4

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 7.1 ANEXOS ................................................................................................................................................... 8.1 ANEXO 1 .......................................................................................................................................................... 8.2 ANEXO 2 .......................................................................................................................................................... 8.1 ANEXO 3 .......................................................................................................................................................... 8.2 ANEXO 4 .......................................................................................................................................................... 8.4

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

NDICE DE QUADROSQuadro 2.1 Performance de recuperao dos RCD........................................................................................... 2.4 Quadro 2.2 Produo de RCD na Europa. ........................................................................................................ 2.5 Quadro 2.3 Produo de agregados na EU em 2005. ........................................................................................ 2.6 Quadro 2.4 Distribuio dos RCD pelos vrios tipos de origem....................................................................... 2.7 Quadro 2.5 Origem dos RCD na ustria em 2004............................................................................................ 2.8 Quadro 2.6 Composies de resduos de construo. ..................................................................................... 2.10 Quadro 2.7 Composies de resduos de demolio. ...................................................................................... 2.10 Quadro 2.8 Composio dos resduos de construo na Dinamarca em 2003 ................................................ 2.11 Quadro 2.9 Comparao entre os diferentes tipos de britadoras ..................................................................... 2.15 Quadro 3.1 Baridade, densidade dos agregados seca (s) e densidade dos agregados saturados com superfcie seca (sss).............................................................................................................................................................. 3.3 Quadro 3.2 - Absoro de gua dos agregados reciclados segundo trabalhos experimentais de vrios investigadores ...................................................................................................................................................... 3.4 Quadro 3.3 Absoro de gua de agregados finos de diferentes composies.................................................. 3.5 Quadro 4.1 Requisitos para os agregados reciclados ........................................................................................ 4.3 Quadro 4.2 Composio dos agregados reciclados ........................................................................................... 4.5 Quadro 4.3 Requisitos dos agregados reciclados massa volmica e absoro de gua.................................. 4.6 Quadro 4.4 Requisitos dos agregados reciclados teor de cloretos e sulfatos.................................................. 4.7 Quadro 4.5 Teor mximo de agregados reciclados em beto em relao: (a) volume total de agregados; (b) volume do grupo de agregados ............................................................................................................................ 4.8 Quadro 4.6 Percentagem mxima de substituio de agregados grossos reciclados......................................... 4.9 Quadro 4.7 Resistncias permitidas do beto com agregados reciclados........................................................ 4.12 Quadro 4.8 Requisitos dos agregados reciclados ............................................................................................ 4.13 Quadro 4.9 Requisitos de qualidade para agregados reciclados...................................................................... 4.15 Quadro 4.10 Teores de impurezas admissveis em agregados reciclados ....................................................... 4.15 Quadro 4.11 Tipos de beto com agregados reciclados e valores mximos de resistncia compresso....... 4.16 Quadro 4.12 Usos adequados para beto com agregados reciclados .............................................................. 4.16 Quadro 4.13 Requisitos para os agregados grossos reciclados para beto (RCAC)........................................ 4.18 Quadro 4.14 Condies para o uso em beto .................................................................................................. 4.20 Quadro 4.15 Requisitos para os agregados grossos reciclados ....................................................................... 4.22 Quadro 4.16 Dosagem mxima de cimento ou combinao, para at 0,20 kg Na2O eq por m3 de beto ....... 4.24 Quadro 4.17 Dosagem mxima de cimento ou combinao, para 0,60 kg Na2O eq por m3 de beto ............. 4.24 Quadro 4.18 Condies de aplicao dos agregados reciclados em beto ...................................................... 4.24

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

Quadro 4.19 Composio dos agregados reciclados. ...................................................................................... 4.26 Quadro 4.20 Granulometria solicitada para agregados reciclados de beto .................................................... 4.26 Quadro 4.21 Granulometria solicitada para agregados reciclados de alvenaria .............................................. 4.27 Quadro 4.22 Requisitos dos agregados reciclados .......................................................................................... 4.27 Quadro 4.23 Relao entre parmetros de beto com agregados reciclados e beto convencional ................ 4.29 Quadro 4.24 Composio dos agregados reciclados ....................................................................................... 4.31 Quadro 4.25 Requisitos dos agregados ........................................................................................................... 4.31 Quadro 4.26 Classes de resistncia e de exposio ambiental permitidas ...................................................... 4.32 Quadro 4.27 Requisitos dos agregados reciclados .......................................................................................... 4.34 Quadro 4.28 Condies de aplicao do beto com agregados reciclados...................................................... 4.34 Quadro 4.29 Factores correctivos para os valores de clculo caractersticos.................................................. 4.35 Quadro 4.20 Composio dos agregados reciclados de resduos de construo e demolio ......................... 4.35 Quadro 4.31 Requisitos para os agregados reciclados .................................................................................... 4.37 Quadro 4.32 Condies de aplicao dos agregados reciclados ..................................................................... 4.37 Quadro 4.33 Diferenas entre as propriedades de beto com agregados reciclados e beto convencional..... 4.38 Quadro 4.34 Requisitos dos agregados reciclados .......................................................................................... 4.39 Quadro 4.35 Requisitos para o beto com agregados reciclados .................................................................... 4.39 Quadro 4.36 Requisitos s propriedades fsicas.............................................................................................. 4.40 Quadro 4.37 Limites mximos de contaminantes ........................................................................................... 4.40 Quadro 4.38 Composio dos agregados reciclados para utilizao em beto ............................................... 4.41 Quadro 4.39 Contedos mximos de impurezas permitidos ........................................................................... 4.42 Quadro 4.40 Especificaes previstas na norma espanhola EHE ................................................................... 4.42 Quadro 5.1 Composio dos agregados reciclados das normas analisadas....................................................... 5.2 Quadro 5.2 Requisitos dos agregados reciclados das normas analisadas.......................................................... 5.4 Quadro 5.3 Aplicao dos agregados reciclados nas normas analisadas........................................................... 5.6 Quadro 5.4 Composio das diferentes classes de agregados ........................................................................... 5.9 Quadro 5.5 Requisitos para os agregados reciclados ...................................................................................... 5.10 Quadro 5.6 Condies de aplicao do BAR no sujeito a coeficientes correctivos ...................................... 5.11 Quadro 5.7 Tipos de beto fabricado com agregados reciclados .................................................................... 5.11 Quadro 5.8 Coeficientes correctivos das propriedades do BAR da recomendao proposta.......................... 5.13 Quadro 5.9 Declives (valor de m) para as rectas que relacionam as propriedades dos betes com as massas volmicas e absores de gua dos agregados da mistura e resistncia compresso aos 7 dias do BAR........ 5.15

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

NDICE DE FIGURASFigura 2.1 Quantidade de resduos gerados na Alemanha entre 2001 e 2004 (Mt)........................................... 2.2 Figura 2.2 Estimativa da quantidade de resduos gerados na Alemanha (Mt) mdia 2001-2004...................... 2.2 Figura 2.3 Composio mdia dos agregados produzidos na EU em 2005....................................................... 2.5 Figura 2.4 - Variabilidade dos agregados produzidos nos pases da EU em 2005. .............................................. 2.6 Figura 2.5 Percentagem mdia dos constituintes dos resduos de construo recolhidos na central de Ribeiro Preto. .................................................................................................................................................................... 2.9 Figura 2.6 Composio dos RCD da cidade de Salvador................................................................................ 2.10 Figura 2.7 Incidncias de cada tipo de resduo nos estaleiros, em obras de construo e demolio. ............ 2.11 Figura 2.8 Mdia da composio dos RCD..................................................................................................... 2.12 Figura 3.1 Correlao entre a massa especfica aparente e a absoro de gua. ............................................... 3.5 Figura 3.2 Relao entre a absoro de gua e o coeficiente de Los Angeles................................................... 3.7 Figura 3.3 Relao entre a resistncia compresso e a massa volmica do beto. ....................................... 3.10 Figura 3.4 Relao entre resistncia compresso e traco. ......................................................................... 3.11 Figura 3.5 Relao entre a resistncia compresso e o mdulo de elasticidade. .......................................... 3.12 Figura 3.6 Comparao entre retraco dos vrios tipos de beto. ................................................................. 3.13 Figura 3.7 Comparao da deformao por fluncia entre beto com agregados reciclados e naturais.......... 3.14

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

ABREVIATURASAFR agregados finos reciclados; AGR agregados grossos reciclados; AP agregados primrios ou naturais; AR agregados reciclados; ARA agregados reciclados de alvenaria; ARB agregados reciclados de beto; ARM agregados reciclados mistos; BAR beto com agregados reciclados; BR beto de referncia; CDW construction and demolition waste; RCA recycled concrete aggregates; RCD resduos de construo e demolio. A/C gua / cimento

xi

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

1.

INTRODUO1.1. Consideraes preliminares

Apesar de ser uma actividade ancestral, no existiam, at s ltimas dcadas, preocupaes na actividade da construo civil que inclusse a gesto dos resduos produzidos. Os resduos de construo e demolio (RCD) ainda no esto sujeitos a regras de gesto, como acontece com os resduos slidos urbanos (RSU), talvez por os primeiros no gerarem preocupaes de contaminao, como acontece no caso dos RSU. Os RCD contm quantidades significativas de materiais inertes, cujas propriedades tm vindo a ser estudadas e para os quais j foram reconhecidas boas caractersticas para a utilizao como agregados, apesar das compreensveis diferenas relativamente aos agregados naturais (AP). Estes resduos devem ser explorados de modo a minimizar, o mais possvel, a utilizao dos recursos naturais e deposio em aterros. Desta forma, os ganhos ambientais so evidentes, alm de que, com a continuidade da explorao de agregados naturais, estes vo comeando a escassear perto das reas urbanas, zona onde, preferencialmente, tem maior incidncia a actividade de construo civil, pelo que comeam a encarecer, devido ao aumento dos custos de transporte. A aplicao em agregados para beto a que melhor explora o valor intrnseco dos RCD, mas, apesar disso, estes tm vindo a ser utilizados apenas em aplicaes com menor grau de exigncia, como bases e sub-bases de pavimentos rodovirios. A falta de especificaes que assegurem a manuteno dos requisitos de segurana e utilizao dos elementos construdos uma das razes pelo qual o receio da aplicao desta matria-prima ainda subsiste, apesar das potencialidades que os agregados reciclados (AR) tm demonstrado nas campanhas experimentais efectuadas mundialmente.

1.2.

Objectivos e metodologia

Este trabalho teve como objectivo principal fazer o levantamento do maior nmero de normas e especificaes possvel, que inclussem no fabrico de betes a utilizao de agregados reciclados em substituio de agregados naturais, efectuando-se uma descrio comentada de todos os seus parmetros. Posteriormente, pretende-se fazer uma comparao sistemtica entre todas as normas, sendo apresentada sob a forma de quadros resumo, que permitissem um confronto de todos os requisitos1.1

CAPTULO 1

INTRODUO

e condies de aplicao exigidos. Esta comparao permitir obter concluses sobre quais os parmetros que so ou no consensuais. Relativamente aos ltimos, tencionava-se pesquisar campanhas experimentais existentes de modo a formar uma opinio sobre estes parmetros. Por ltimo, era esperado delinear-se um conjunto de recomendaes para a utilizao de agregados reciclados em beto, com a inteno de poder mitigar o problema da legislao a ser implementada em Portugal, visto no existir qualquer norma ou especificao visando esta problemtica de uma forma clara e completa.

1.3.

Estrutura da dissertao

A dissertao apresentada est dividida em seis captulos. O primeiro o presente captulo, onde, alm deste ponto, existe ainda uma descrio da problemtica que envolve o tema da dissertao, da metodologia adoptada e dos objectivos que foram propostos presente dissertao. No segundo captulo, apresentado, numa primeira fase, o panorama actual da produo de RCD na Europa de uma forma geral, dando especial nfase a estatsticas referentes aos pases que contribuem em maior escala para a reutilizao deste tipo de resduos. Estas referncias introduzem a caracterizao dos RCD, no que respeita s formas de classificao, processamento e aplicabilidade. O terceiro captulo inicia o estudo da utilizao dos RCD como agregados para beto, sendo efectuada uma descrio geral das propriedades dos agregados reciclados (AR) e dos betes com agregados reciclados (BAR), assim como as respectivas diferenas para com os betes convencionais. O quarto captulo trata o mago da presente dissertao, isto , a anlise da regulamentao existente. So comentadas as normas das quais se conseguiu recolher informao suficientemente relevante para ser comparada com as restantes, sendo explanados os requisitos a que os agregados reciclados tm de obedecer para poderem ser aplicveis em beto, nomeadamente massa volmica, absoro de gua ou contaminantes, entre outros, assim como o campo de aplicao dos mesmos como agregados para beto, nomeadamente a sua percentagem de incorporao, resistncia compresso do beto ou classes de exposio ambiental, entre outros. No quinto captulo, efectuada uma comparao de todas as normas estudadas, condensadas sobre a forma de quadros resumo, que pretendem confrontar propriedade a propriedade todas as filosofias e tendncias presentes nas diversas especificaes. Por fim, apresentada uma recomendao para a utilizao de agregados reciclados em beto, desenvolvida a partir da experincia adquirida com as anlises efectuadas no captulo anterior. Alm de reunir todas as filosofias presentes nas normas estudadas, ainda proposta uma metodologia inovadora para a utilizao de agregados reciclados em beto. O sexto e ltimo captulo apresenta um resumo de cada norma estudada, sob a forma de concluses, alm de um conjunto de sugestes para trabalhos futuros.

1.2

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

2.

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E

DEMOLIOO presente captulo tem o objectivo de situar a problemtica da gesto dos RCD, que cada vez mais se assume como uma meta fulcral no caminho de um desenvolvimento sustentvel. apresentado o panorama actual da produo de RCD, como introduo sua caracterizao, seguindose o seu processamento e aplicabilidade. A ltima surge como um prefcio do discutido nos captulos seguintes, j que exactamente este o assunto de que trata a dissertao, nomeadamente a aplicabilidade dos RCD como agregados para fabrico de beto.

2.1.

Consequncias da gerao de resduos

Apesar de a construo civil ser uma actividade antiqussima, tendo sempre associada sua actividade a gerao de resduos, s nas ltimas dcadas as preocupaes sobre a gesto desses mesmos resduos tm comeado a aparecer, assim como as tentativas de minimizar este problema (INR, 2007). Comea ento a surgir uma conscincia ambiental, no tendo surgido mais cedo por a composio dos RCD, sendo fundamentalmente de materiais inertes, no gerar preocupaes de contaminao por lixiviao, propagao de matrias txicas ou inconvenientes de putrefaco de matrias orgnicas como acontece no caso dos Resduos Slidos Urbanos (RSU), sendo por isso que a preocupao com os resduos tem assumido maior expresso na rea dos RSU (RUIVO e VEIGA, 2004). inegvel que a reduo dos detritos um assunto de enorme importncia devido s razes econmicas e ambientais que deles advm, tais como o consumo de recursos naturais, o consumo de energia e a poluio inerentes produo de materiais, fazendo com que sejam efectuados estudos e implementadas medidas, visando orientar e melhorar a gesto dos resduos (SALINAS, 2002). Esta reduo dos resduos passa indubitavelmente pela reduo dos RCD, pois embora existam discrepncias em relao s estimativas, devido sua variabilidade com o pas e mtodos de quantificao, chega-se sempre a quotas importantes de RCD no cmputo geral dos resduos. Segundo dados publicados pela Destatis (www.destatis.com), presentes nas Figuras 2.1 e 2.2, a Alemanha, com uma populao de 82,5 milhes de habitantes, produz anualmente 225.753 toneladas de RCD, ou seja, 2.736 kg/hab.ano. Contudo, esta estimativa no retrata com preciso o que se passa2.1

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

na Europa, pois segundo a Eurostat, Environment Statistics, esta mdia situa-se nos 1.126 kg/hab.ano na EU 25. De acordo com a DEPA (Danish Environmental Protection Agency), os RCD so cotados na Dinamarca como sendo causa de 30% dos resduos gerados no pas em 2003, quando eram gerados 3.785 Mt de RCD (DEPA, 2005). Dada a escassez de aterros, que se prevem cheios em 2008, a reciclagem aparece neste pas como a chave para a resoluo do problema (MONTECINOS e HOLDA, 2006). Na ustria, a produo total de resduos cifrava-se em 2004 em 59 Mt (PLADERER, 2006) dos quais 29% eram provenientes de RCD (com solo de escavao includo).

450 400 350 300 250 200 150 251,322 100 50 0 2001 2002 2003 2004 240,821 223,389 187,478 49,187 49,397 45,314 45,461 52,772 42,218 46,689 49,622 46,712 50,452 48,344 53,005

Resduos de explorao mineira (sem lixo txico) Resduos Municipais

Resduos Industriais

RCD

Figura 2.1 Quantidade de resduos gerados na Alemanha entre 2001 e 2004 (Mt). Fonte: Destatis (2005)

50,034; 14% 46,812; 13% 47,947; 13% RCD Resduos Industriais Resduos Municipais Resduos de explorao mineira (sem lixo txico) 225,753; 60%

Figura 2.2 Estimativa da quantidade de resduos gerados na Alemanha (Mt) mdia 2001-2004. Fonte: Destatis (2005)

2.2

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

Os RCD geram diversos impactes ambientais nas cidades, tais como o uso de reas de aterros, deposies irregulares, entupimento de redes de esgotos e assoreamento de rios, entre outros. Deve gerir-se adequadamente os RCD com o objectivo de minimizar os seus impactes ambientais e econmicos. Essa gesto pode ter por base algumas medidas: a) evitar deposies ilegais por meio de regulamentao e criando uma maior atractividade para esses resduos, que minimize os custos de recolha, transporte e deposio; b) triar os resduos de modo a aumentar a sua reciclabilidade; c) estimular a reciclagem por meio de especificaes, directivas e normas, que encorajem as utilizaes dos materiais reciclados de uma forma competitiva (ANGULO, 2005). Segundo SCHNEIDER (2003), na cidade de So Paulo, mais de 20% dos RCD so depositados ilegalmente dentro da cidade, originando um custo superior a 16 milhes de euros por ano para colocar estes resduos em aterros prprios. Nos ltimos anos, a reciclagem de resduos tem sido incentivada em todo o mundo, por questes polticas, econmicas e ecolgicas, surgindo como uma soluo que cada vez mais vista como consensual para toda esta problemtica e pode-se constatar que pases que vivem mais de perto este problema apresentam, h muito, taxas de reciclagem bastante elevadas (SALINAS, 2002). O mercado total da reciclagem na Alemanha registrou em 2004 um retorno de 4.94 mil milhes de euros. O emprego na indstria cresceu de 13375 empregados em 2000 para mais de 17000 em 2004 (Eurostat, 2006). Ainda que uma parte desta actividade econmica e emprego esteja relacionada com a reciclagem dos resduos comerciais e habitacionais, os RCD representam a parcela mais significativa destes nmeros. O Instituto Econmico de Pesquisa de Colnia (Alemanha) estima que, em 2005, o uso de matrias-primas secundrias acrescente 3,7 mil milhes ao PIB alemo, relativos a custos com materiais que so evitados. Tais poupanas tm especial significado em materiais que comeam a escassear ou que so regularmente importados (ZEBAU, 2006). A Dinamarca um exemplo de como agir de modo a incentivar / persuadir a que as medidas j mencionadas sejam eficazes. Regra geral, na Dinamarca, os produtores dos resduos so os responsveis pela seleco e despejo dos mesmos, o que partida implica que sejam estes os primeiros a preocuparem-se, pois so tambm os primeiros a sofrerem as consequncias de uma m gesto dos resduos. Como medida persuasiva de reduzir as quantidades de resduos gerados e encaminh-los para a reciclagem, a Dinamarca optou por um instrumento fiscal, os impostos. Assim, so cobradas taxas pelos resduos entregues nas estaes de tratamento, sendo que, quando os produtores efectuam a separao do resduo ou se este tiver como destino a reciclagem, estes impostos so reembolsados. Estas taxas cifram-se desde 2001em 44,30/ton para resduos a incinerar e 50,34/ton para resduos a aterrar. A elevada percentagem de reciclagem tambm obtida atravs da incluso de britadoras e centrais de reciclagem nos aterros, assim como mantendo uma estreita ligao com os trabalhos de demolio. Outra das medidas a aplicao de demolio selectiva mesmo quando esta se vislumbra mais onerosa e morosa do que as tcnicas tradicionais de demolio, pois traz futuras compensaes,

2.3

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

pela reduo dos custos em taxas a pagar por aterro e incinerao dos resduos, alm das receitas provocadas pela comercializao dos materiais reciclveis (MONTECINOS e HOLDA, 2006). Para melhor se compreender o estado em que a gerao de RCD se encontra, o Quadro 2.2 apresenta os valores mdios da produo deste tipo de resduos nos diversos pases europeus, retirados de um artigo publicado pela Comisso Europeia em 2003, ao qual foram acrescentados os crescimentos mdios anuais, calculados a partir da base de dados referida anteriormente, assim como uma estimativa da produo per capita. Estas estatsticas tm o inconveniente de tambm reportarem dados da dcada de 90, pelo que j se encontram em alguns casos desactualizadas. Encontram-se ainda valores de natureza algo duvidosa, uns bastante elevados, outros bastante reduzidos, o que em termos mdios indica uma produo de RCD per capita de 1064 kg/hab.ano. Estes valores, bastante diferentes do que habitual aparecer na literatura, podem ser explicados por diferentes vises que alguns pases podem ter sobre o assunto, ao, por exemplo, no contabilizarem a maioria da produo de RCD. Desta forma, so olhados com desconfiana valores demasiado altos ou demasiado baixos, quanto comparado com outras estatsticas existentes, como SYMONDS (1999). No Quadro 2.1, encontram-se assim estatsticas mais actuais de alguns pases europeus, onde ainda observvel o seu rcio de reciclagem de RCD. Os valores apresentados esto acima do que outras referncias bibliogrficas afirmam. SYMONDS (1999) afirma que na Europa so produzidos 180 milhes de toneladas por ano, perfazendo uma mdia de 480 kg/hab.ano. Este valor menos de metade da primeira estatstica, o que pode indiciar que os valores podem no ser comparveis. Assim, enquanto que SYMONDS (1999) no contabiliza nas suas estatsticas os solos de escavao, provvel que as produes de RCD apresentadas por MUTHMANN (2003) contemplem, em alguns pases, esta parcela.Quadro 2.1 Performance de recuperao dos RCD. Fonte: UEPG (2006)

PasHolanda Reino Unido Alemanha Blgica Frana

RCD produzidos (Mt)25,8 91,0 213,9 14,0 309,0

Reciclagem Mt %24,6 81,8 186,3 12,0 195,0 95,3 89,9 87,1 85,7 63,1

Aterro Mt %0,9 9,2 27,6 2,0 114,0 3,5 10,1 12,9 14,3 36,9

FonteSurvey 2002-2003, 2005 QPA, 2003 Monitoring-Bericht, 2002 WS e FDERECO, 2005 Survey FNTP et Ademe, 2001

De forma anloga, pode-se reparar que, no que diz respeito aos agregados, existem pases que tm assumido uma postura que tm permitido um maior aproveitamento dos RCD para este fim. Os agregados reciclados so uma das possveis aplicaes dos RCD na construo, sendo a sua aplicao explanada no ponto 2.5 do presente captulo. O Quadro 2.3 mostra a produo dos vrios tipos de agregados produzidos em cada pas enquanto que as Figuras 2.3 e 2.4 retratam o peso que a produo dos agregados reciclados tem no mercado total dos agregados, que ultrapassa as 3 milhes de toneladas (ARAB, H. B., 2006).

2.4

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

Quadro 2.2 Produo de RCD na Europa. Fonte: adaptado de MUTHMANN (2003) Pas Blgica Dinamarca Alemanha Grcia Espanha Frana Irlanda Itlia Luxemburgo Holanda ustria Finlndia Reino Unido Noruega Sua Chipre Repblica Checa Estnia Letnia Litunia Malta Polnia Romnia Eslovquia Eslovnia Crocia Total Produo mdia de RCD (1000 ton) 6.559 2.787 238.580 1.898 22.000 24.300 2.012 26.226 4.359 15.604 27.500 33.545 70.625 1.840 6.393 555 8.486 294 39 231 970 668 623 477 427 290 497.285 Crescimento mdio anual n/a 6,05% 2,07% 3,90% n/a -0,05% 27,19% -4,20% 42,16% 4,33% n/a 4,12% 0,39% -3,74% n/a -2,34% 16,55% 16,08% n/a 10,00% -2,29% 2,94% 27,68% -6,80% 35,64% n/a Intervalo do estudo 1994 1992-2000 1996-2000 1996-2000 1991 1991-1997 1995-1998 1991-1999 1997-1999 1990-2001 1999 1997-1999 1990-1999 1990-2000 1998 1990-1999 1998-2001 1995-2000 2001 2000-2001 1990-2001 1998-2001 1995-2000 1998-2000 1995-2001 2000 Populao em Produo per 2005 (milhes capita (kg/hab) de habitantes) 10,4 5,4 82,5 11,1 43,0 59,9 4,1 58,5 0,5 16,3 8,2 5,2 60,0 4,6 7,5 0,7 10,2 1,3 2,3 3,4 0,4 38,2 21,7 5,4 2,0 4,4 467,2 631 516 2892 171 512 406 491 448 8717 957 3354 6451 1177 400 852 793 832 226 17 68 2424 17 29 88 213 66 1064

46%

6% 2%

Areia Agregados grossos naturais Agregados rciclados Agregados artificiais

46%

Figura 2.3 Composio mdia dos agregados produzidos na EU em 2005. Fonte: UEPG (2006)

2.5

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

Quadro 2.3 Produo de agregados na EU em 2005. Fonte: UEPG (2006)

Pas ustria Blgica Repblica Checa Finlndia Frana Alemanha Irlanda Itlia Holanda Noruega Polnia Portugal Eslovquia Espanha Sucia Sua Reino Unido Total

Areia 66,0 13,9 25,5 53,0 170,0 263,0 54,0 225,0 24,0 15,0 104,3 6,3 8,9 159,0 23,0 46,5 124,0 1.381,4

Produo de agregados (Mt) Agregados Agregados Agregados grossos artificiais reciclados naturais 32,0 3,5 3,0 38,0 12,0 1,2 38,0 3,4 0,3 45,0 0,5 n/a 223,0 10,0 7,0 174,0 46,0 30,0 79,0 1,0 0,0 145,0 4,5 3,0 4,0 20,2 n/a 38,0 0,2 n/a 37,7 7,2 1,6 82,0 n/a n/a 16,9 0,2 0,3 300,0 1,3 0,0 49,0 7,9 0,2 5,3 5,3 n/a 85,0 56,0 12,0 1.391,9 179,2 58,6

Total 104,5 65,1 67,2 98,5 410,0 513,0 134,0 377,5 48,2 53,2 150,8 88,3 26,3 460,3 80,1 57,1 277,0 3.011,1

100%

80%

60%

40%

20%

0%

us tri a Re B p lg ic bl a ic aC he ca Fi nl n di a Fr an a A le m an ha Irl an da It lia H ol an da N or ue ga Po l ni a Po rtu ga Es l lo v qu ia Es pa nh a Su c ia Su Re a in o U ni doAreia Agregados grossos naturais Agregados reciclados Agregados artificiais

Figura 2.4 - Variabilidade dos agregados produzidos nos pases da EU em 2005. Fonte: UEPG (2006)

2.6

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

2.2.

Classificao dos RCD

Os RCD apresentam caractersticas variadas no que diz respeito sua composio, quantidades, origem e destino final. Como tal, complicado efectuar a sua classificao segundo um s parmetro. Tm vindo assim a ser classificados de diferentes formas, de modo a facilitar a sua identificao e reutilizao.

2.2.1. OrigemOs RCD podem ser divididos em 3 grupos, tendo em conta o tipo de obra do qual so provenientes: resduos de construo, resduos de reabilitao e resduos de demolio. Os primeiros resultam maioritariamente do sobredimensionamento dos materiais necessrios. Podem tambm advir de danos nos mesmos materiais, desperdcios decorrentes dos processos construtivos e restos de embalagens associadas ao transporte e armazenamento dos materiais de construo. Os resduos de demolio so constitudos por materiais tpicos de construo, sendo na maioria materiais inertes. A sua composio muito diversificada e varia com o tipo de obra a ser demolida, a localizao geogrfica da obra, a poca de construo e o tipo de utilizao que o edifcio / obra matinha enquanto funcional. Estes resduos podem ainda conter contaminantes perigosos como o amianto. Os resduos provenientes de reabilitaes e remodelaes tm uma composio muito variada, dependendo bastante do tipo de reabilitao em causa. Em regra, assemelham-se com os resduos de demolio apesar da maior quantidade de materiais tpicos de interiores. Acredita-se que este tipo de obras pode vir a ter um relevo cada vez maior na gerao de RCD em Portugal, dada a importncia que pode assumir nos prximos anos, pois est-se numa poca em que comea a caducar a vida til dos edifcios de beto armado construdos na dcada de 50, dcada em que a construo em beto armado foi banalizada. No Quadro 2.4, pode-se comparar as estimativas apresentadas por RUIVO e VEIGA (2004) com os dados publicados pelo WCD (Waste Centre Denmark) sobre a provenincia dos RCD segundo o tipo de obra, sendo que, segundo esta ltima fonte, os dados so apenas relativos Dinamarca.Quadro 2.4 Distribuio dos RCD pelos vrios tipos de origem Tipo de obra Construo Reabilitao Demolio Fonte RUIVO e VEIGA (2004) 10-20% 30-40% 40-50% WCB (2005) 5-10% 20-25% 70-75%

2.7

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

Segundo o KWTBau (2005), com base em estatsticas efectuadas na Alemanha, os RCD advm em 65,9% de escavaes, 24.3% de demolies de edifcios, 7,8% de demolies de pavimentos rodovirios enquanto apenas 2% dos RCD provm de construes. PLADERER (2006) apresenta algumas estatsticas sobre os RCD na ustria, mas que incluem o solo de escavao. Para se poder efectuar uma comparao com os valores presentes no Quadro 2.5, foram modificados os dados, sendo apresentadas no Quadro 2.5.Quadro 2.5 Origem dos RCD na ustria em 2004. Fonte: adaptado de PLADERER (2006) Origem dos RCD Resduos de demolio Resduos de beto Resduos de construo de estradas Resduos de construo Outros Total Mt 2.502 1.352 1.200 1.100 567 6.721 % 37,2 20,1 17,9 16,4 8,4 100,0

2.2.2. ComposioOs RCD so maioritariamente constitudos por materiais inertes como beto, materiais cermicos, vidro e metais, contendo no entanto outros materiais como plsticos, papel, madeira, materiais betuminosos e resduos perigosos. Esta composio dos RCD pode variar com vrios factores, como a localizao geogrfica, processos construtivos, poca de construo, tipo de obra, entre outros. A fraco inerte representa na maioria dos casos cerca 70% do volume total, podendo assumir valores mais expressivos, dependendo do tipo de obra (http://europa.eu.int). Dentro dos inertes, o beto e as alvenarias assumem o maior destaque. O beto, menos significativo nos resduos de construo do que demolio, constitui segundo a International Solid Waste Association (ISWA) entre 30% a 40% dos RCD. Os materiais cermicos podem ser compostos por telhas, tijolos, azulejos e louas sanitrias e constituem at 50% de material utilizado na construo dos edifcios (PEREIRA, 2002). O vidro encontrado nos resduos de demolio e provm maioritariamente de janelas de edifcios. conveniente que existam preocupaes com este material, nomeadamente na sua remoo manual antes da demolio, de modo a que no seja misturado com os restantes inertes, pois a sua composio siliciosa costuma trazer problemas ao nvel das reaces lcalis-slica. Na categoria dos metais, encontra-se o ao e o ferro usados para produzir o beto armado e, como tal, com presena assegurada em qualquer obra. A madeira pode ser encontrada em todos tipos de obra. Nos resduos de construo, assume maior relevncia devido execuo de cofragens enquanto que na demolio de edifcios antigos pode ser proveniente da respectiva estrutura. Elementos como portas e janelas tambm tm um peso importante neste tipo de material, tanto no que respeita aos resduos de construo como demolio.

2.8

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

O carto e o papel so encontrados fundamentalmente nas obras de construo provenientes de embalagens de equipamentos e materiais, que so esquecidos e erroneamente misturados com os restantes resduos. Os plsticos, representados maioritariamente na construo pelo polietileno (PE), polipropileno (PP), policloreto de vinilo (PVC), poliestireno expandido e poliestireno reticulado (PEX), so provenientes de cabos e tubagens. Segundo RUIVO e VEIGA (2004), prev-se que estes resduos comecem a aparecer de forma mais significativa nos resduos de demolio pois comeam a ser demolidos os edifcios em que estes materiais comearam a ser usados no sector da construo, em meados da dcada de 60. LEITE (2001) compara as pesquisas efectuadas por ZORDAN (1997) e LATTERZA (1998) na central de Ribeiro Preto (So Paulo), cujos resultados podem ser observadas na Figura 2.5. Repara-se que a composio tem diferenas significativas, tendo em conta que a nica variante entre as pesquisas a diferena temporal estendida por alguns meses.60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Argamassa Cermicos Pedra Latterza (Abr/1997) Beto Outros

Latterza (Nov/1996)

Zordan (Out/1996)

Figura 2.5 Percentagem mdia dos constituintes dos resduos de construo recolhidos na central de Ribeiro Preto. Fonte: ZORDAN (1997), LATTERZA (1998)

CARNEIRO et al. (2000) determinaram a composio dos RCD em Salvador (Bahia) podendo ser observada na Figura 2.6 a respectiva distribuio em termos de composio, enquanto que ANGULO (1998) estimou a incidncia dos vrios tipos de resduos nas obras de construo e demolio em Londrina, numa pesquisa que envolve 66% do volume de resduos gerados na cidade. Estes resultados podem ser observados na Figura 2.7.

2.9

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

9% 5% Beto e argamassa Cermica vermelha Cermica branca 53% 22% Solo e areia Rochas naturais Plstico Outros 2% 4% 5%

Figura 2.6 Composio dos RCD da cidade de Salvador. Fonte: CARNEIRO et al. (2000)

ANGULO (2000) compara algumas estatsticas internacionais sobre a variabilidade da composio dos RCD consoante a sua origem, tendo chegado aos valores apresentados nos Quadros 2.6 e 2.7. No ltimo, a estatstica referente Alemanha apresentada em ranking de percentagem de composio.Quadro 2.6 Composies de resduos de construo. Fonte: ANGULO (2000) Materiais Cermicos Madeira Beto Tijolos e elementos slico-calcrios Argamassa Outros Holanda 39% 17% 13% 14% 8% 9% Japo 12% 19% 17% 1% 51%

Quadro 2.7 Composies de resduos de demolio. Fonte: ANGULO (2000) Materiais Cermicos Madeira Beto Argamassa / gesso Outros Alemanha 1 3 2 4 5 Japo 6,33% 7,14% 54,26% 32,27%

O DEPA (2005) publicou estatsticas relativas composio dos resduos de construo na Dinamarca, referentes ao ano de 2003, podendo ser analisadas no Quadro 2.8.

2.10

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

Resduos de Demolio 33% Beto Cermicos Argamassa Madeira Metais Vidros 52%

1% 1% 8% 5%

Resduos de Construo 6%

11%

15%

Cermicos Argamassa Madeira Ao Gesso

16%

52%

Figura 2.7 Incidncias de cada tipo de resduo nos estaleiros, em obras de construo e demolio (ANGULO, 1998)

Quadro 2.8 Composio dos resduos de construo na Dinamarca em 2003. Fonte : DEPA (2005) Materiais Beto Solo e rochas Material betuminoso Telhas Outros resduos de construo Outros resduos Outros resduos reciclveis Resduos no incinerveis % 25 22 19 6 11 8 6 3

Tendo em considerao todas estas estimativas e estatsticas, fez-se uma mdia de todos os registos enunciados no presente sub-captulo, tendo-se chegado ao panorama apresentado na Figura 2.8.

2.11

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

25%

10% Cermicos 11% Beto Argamassas Madeira Outros 23%

31%

Figura 2.8 Mdia da composio dos RCD.

2.2.3. DestinoPEREIRA (2002) constata que os resduos de demolio podem ser classificados consoante o seu destino: resduos reutilizveis ou reciclveis como agregado tais como beto e alvenarias; resduos reciclveis para outros destinos, tais como: plsticos, papel / carto, metais, vidros, madeiras e outros, devidamente separados por tipo de material; resduos para os quais no foram ainda desenvolvidas tecnologias ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua reciclagem / recuperao, tendo no gesso um exemplo claro, e que tero o aterro como destino; resduos perigosos, oriundos de demolies, reabilitaes e restauros, tais como o amianto, CFC's e PBC's, que devero ser entregues a operadores licenciados.

2.3.

Processamento dos RCD

A reciclagem e reutilizao dos RCD j so feitas regularmente em locais de processamento, por norma nas grandes metrpoles, encontrando-se numa fase de clara expanso em todo o mundo. Para que o material possa ser utilizado, deve passar for vrias fases, sendo o percurso descrito no subcaptulo que se segue.

2.3.1. Tipos de demolioOs RCD, tendo vrias origens, podem ter tambm vrios trajectos de processamento. No que toca a resduos de demolio, este processo comea na escolha do tipo de demolio. fcil depreender que a demolio selectiva tem um papel fundamental para que os materiais provenientes de demolio cheguem nas condies apropriadas s estaes de reciclagem. Atravs da demolio selectiva, a separao dos resduos feita de uma forma sistemtica, tornando o seu encaminhamento mais eficiente, originando menores quantidades de resduos depositadas em aterros.2.12

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

De modo a melhor perceber a potencialidade da demolio selectiva, pode-se comparar este mtodo com a demolio com recurso a explosivos, pois so os dois extremos no que toca aos processos de demolio existentes. Perante uma situao de demolio, existem alguns factores que so fulcrais para a escolha de um mtodo de demolio: ambiente; segurana; economia; acessibilidade e tempo. Se, relativamente aos trs primeiros factores, no se pode tirar nenhuma concluso imediata, quanto aos ltimos patente que, no que toca acessibilidade, a demolio selectiva tem vantagens, enquanto que relativamente ao tempo de execuo manifestamente mais lenta. Ainda assim, inequvoca a inrcia portuguesa em relao demolio com uso controlado de explosivos, mtodo com pouca tradio em Portugal, impulsionada pela necessidade de mo-de-obra altamente qualificada para a execuo de uma demolio deste tipo. Em Portugal, os processos de demolio assentam na destruio simultnea de toda a edificao, resultando o resduo bastante heterogneo. Contudo, o caso portugus ter maior tendncia a banalizar a demolio selectiva do que a sua antagnica (demolio com uso controlado de explosivos) e como tal poder, com a ajuda de alguma sensibilizao dos empreiteiros ou alguma novidade na legislao, catapultar a demolio selectiva para um processo vulgar e com isto proporcionar bases para que se torne cada vez mais sustentvel a reutilizao dos RCD.

2.3.2. Centrais de reciclagemOs processos de produo dos agregados reciclados realizam-se em centrais de tratamento que, regra geral, so similares s utilizadas na produo de agregados naturais. A maior diferena est no facto de incorporarem elementos especficos necessrios separao de impurezas e outros contaminantes. Estas centrais podem classificar-se segundo a sua capacidade de produo: centrais fixas (600 toneladas/h ou mais) e centrais moveis (120 a 200 toneladas/h) (VZQUEZ et al., 2006). As estaes mveis podem ser instaladas no local da demolio e tm geralmente uma entrada nica de alimentao, uma cinta transportadora, uma britadora e um ou dois peneiros diferentes. Algumas plantas mveis consistem em dois veculos transportadores, um correspondente britadora com cintas de alimentao e descarga enquanto que o outro constitui o crivo e vrias cintas (VZQUEZ et al., 2006). A utilizao de RCD encontra-se j bastante difundida para utilizao em pavimentos rodovirios. Quando o objectivo substituir um pavimento, torna-se prtico que a central seja instalada no local de demolio do pavimento, pois dessa forma so diminudos os gastos com a extraco e o transporte dos materiais. Posteriormente, so utilizados os materiais reciclados no novo pavimento. As centrais mveis, apesar de no terem uma capacidade de processamento to apurada como as centrais fixas, tm na flexibilidade a sua maior vantagem, tornando-se claramente vantajosas

2.13

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

em situaes como a enunciada. Esta flexibilidade assenta no s nas facilidades de mobilidade como na disponibilidade de vrios tamanhos e tipos de sistemas de operao (LEITE, 2001). De acordo com CAIRNS et al. (1998), as principais vantagens deste tipo de estao so: custos menores do que os das plantas fixas, em cerca de 5 %; menor tempo de instalao; reduo dos custos de transporte do material de demolio. As estaes fixas, que constituem a maioria das existentes, so instalaes permanentes com elementos transportadores e vrios peneiros, possuindo frequentemente dois tipos de britadoras. Os RCD so transportados at estas centrais (VZQUEZ et al., 2006). De acordo com CAIRNS et al. (1998), as principais vantagens deste tipo de planta de reciclagem so: possibilidade de obteno de produtos reciclados mais diversificados e de melhor qualidade do que os produzidos pelas unidades mveis; possibilidade de utilizao de equipamentos maiores e mais potentes que possibilitam melhor processo de britagem, separao de impurezas e crivagem do que os equipamentos utilizados em plantas mveis. A grande desvantagem deste tipo de central reside na necessidade de altos investimentos e da disponibilizao de grande rea para instalao da unidade. Uma vez implantada, a central de reciclagem deve ter algumas preocupaes para minimizar os impactes ambientais causados pela emisso de poeira e rudos (LEITE, 2001). A implantao da central de reciclagem muito importante, podendo ditar a viabilidade econmica do investimento. Segundo LEITE (2001), para que exista um correcto dimensionamento da estao, devem ser estudados e estimados os seguintes factores: volume de RCD passvel de ser reciclado; tipo de material e objectivo de aplicao; local de instalao da estao de reciclagem. Este ltimo factor pode assumir-se como preponderante para ditar o sucesso de uma central de reciclagem. O ideal seria que estas fossem instaladas no local de origem dos RCD, isto , no tecido urbano. Contudo, esta hiptese tem a desvantagem de sobrecarregar o trfego, tornando-se assim vantajosa a instalao das plantas de reciclagem em zonas contguas aos aterros, facilitando o transporte e diminuindo consequentemente os custos subjacentes a esta matria. O tipo de material e a sua aplicao so importantes no mbito em que necessrio saber a priori a viabilidade do projecto, pois se for necessrio efectuar demasiada triagem, os custos decorrentes desta selectividade podem tornar o processo economicamente invivel. As britadoras a serem utilizadas podem ser de dois tipos, britadora de impacto e de mandbulas. As britadoras de mandbulas produzem agregados com uma curva granulomtrica bem distribuda. Os agregados tem a particularidade de terem uma forma bastante angulosa e a

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Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

percentagem de finos produzida reduzida (menos de 10%). A britadora de impacto produz agregados de boa qualidade mas, como contrapartida, apresenta uma produo de finos elevada (at 40%) (VZQUEZ et al., 2006). O Quadro 2.9 apresenta uma comparao dos dois tipos de britadoras, relativamente a uma srie de propriedades. Na Holanda, onde a produo de agregados reciclados vulgar, utilizam na maioria dos casos uma combinao destes dois tipos de britadoras. Como triturao primria, as britadoras de mandbulas so as escolhidas, devido sua elevada capacidade de processamento e baixo custo, enquanto que as britadoras de impacto so utilizadas como triturao secundria, de modo a produzir agregados de melhor qualidade, mais regulares e com menos pasta aderida.Quadro 2.9 Comparao entre os diferentes tipos de britadoras. Fonte: VZQUEZ et al. (2006) Propriedade Capacidade Custo de produo Desgaste Qualidade do agregado Quantidade de finos produzida Consumo de energia Britador de mandbulas Alta Baixo Baixo Baixo Baixo Baixo Britador de impacto Baixa Alto Alto Alto Alto Alto

2.3.3. Processamento na central de reciclagemO processamento dos resduos de construo e demolio decorre desde a sua recolha, transporte, separao, britagem, crivagem e armazenamento at sua prxima utilizao. O processamento dos RCD no difere muito do tratamento operado na produo de agregados naturais, sendo que muitos dos equipamentos utilizados se adequam s duas operaes. (LEITE, 2001) PEREIRA et al. (2004) enumeram uma srie de etapas a cumprir sobre o processamento dos RCD e funcionamento da central de reciclagem, explanadas nos pontos seguintes.

2.3.3.1.

Separao na origem

Para benefcio da qualidade e do custo dos agregados reciclados, os materiais reciclados devem ser destitudos de contaminantes. Para tal, a separao na origem atravs de demolio e recolha selectiva de resduos, incidindo especialmente em elementos de beto ou cermicos, a melhor opo. O beto proveniente das demolies dos edifcios, sendo um dos materiais mais interessantes para reutilizao, pode estar misturado com solo, outros materiais de construo ou at contaminado por impurezas. Contudo, atendendo a simples precaues durante o processo de demolio, o potencial de reciclagem do beto demolido bastante elevado, aumentando o valor dos resduos de demolio. inclusive vantajoso separar diferentes qualidades de beto, para maximizar o seu valor. Registos da composio, qualidade e historial do beto original so indicaes valiosas para a determinao do potencial de reutilizao de qualquer beto estrutural. Mesmo quando estes registos

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CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

no esto disponveis, se for possvel mostrar-se que as propores de mistura e resistncia do beto original so diferentes, esses betes no devem ser encarados da mesma forma durante a demolio (HANSEN, 1986). Esta prtica pode excluir a necessidade de se proceder a solues mais sofisticadas como separao mecnica, manual, por imerso ou por correntes de ar, que tornam o processo demasiado dispendioso, reflectindo-se no preo de venda dos agregados de resduos reciclados. Assim, a recolha em estaleiro de demolio e de construo dever prever contentores com separadores para materiais como o beto e alvenarias e outros como madeira, papel, plsticos, isolantes ou gesso (PEREIRA et al., 2004).

2.3.3.2.

Recepo dos RCD e armazenamento inicial

Todas as entradas e sadas de material devem ser controladas, sendo registadas as quantidades e caractersticas dos materiais movimentados. Em caso de dvida ou incerteza quanto s caractersticas da carga, deve ser feita uma inspeco mais pormenorizada. Deve ser ainda efectuada uma inspeco posterior aquando da descarga para garantir a qualidade do material aceite. Nas zonas de recepo de resduos, deve tratar-se da impermeabilizao do solo por intermdio de uma tela prpria, com vista a conduzir os efluentes contaminados para uma zona de recolha de guas posteriormente analisadas e tratadas, se tal for necessrio.

2.3.3.3.

Pr-triagem e separao inicial

Os fluxos de beto armado, em especial os elementos de dimenses maiores, so reduzidos em dimenso por intermdio de um martelo hidrulico e com a ajuda de uma pina demolidora, retirada a maioria das armaduras. O ao proveniente das peas de beto armado reencaminhado para siderurgia, para ser reciclado. Os fluxos separados de materiais limpos como beto, tijolos, cermica ou fluxos misturados de materiais minerais no contaminados beto, alvenarias e pedras passam por um processo de pr-segregao com o objectivo de remover a fraco 0-5 mm, sendo o restante material encaminhado para britagem. Quanto aos materiais aceites que apresentem contaminaes, so encaminhados e depositados numa zona diferente, de onde entraro num circuito de triagem (mecnica e manual) do qual devero sair suficientemente limpos para prosseguirem o processamento normal como materiais minerais no contaminados.

2.3.3.4.

Triagem e seleco dos fluxos contaminados

Os resduos que do entrada na estao so depositados numa zona prpria passando da a uma primeira fase de triagem, onde so retirados os maiores elementos e de maior visibilidade, que so indesejveis para este tipo de reciclagem como madeiras, papis, metais e isolamentos, que passaram na inspeco entrada.2.16

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

A massa de resduos de seguida dirigida para uma unidade de triagem munida de grelha vibratria, cabina de triagem manual e separador magntico. Esta instalao permite a separao dos diferentes fluxos de resduos, como os plsticos, madeira, metais, papel e carto. A passagem por um crivo permite separar as areias com granulometria entre 0 e 5 mm. Destes processos, devero resultar separadas as seguintes fraces: resduos diversos (papel e carto, plsticos, madeira, metais e outros); minerais: fraco fina (entre 0 e 5 mm); minerais de fraco mdia e grossa: prosseguem para tratamento. Existem outros processos de separao que se podem utilizar conjuntamente ou no com os processos convencionais j referidos, tais como: separao mecnica dos resduos; separao via hmida (por densidade); separao por correntes de ar.

2.3.3.5.

Britagem e crivagem

Os materiais a serem britados so constitudos apenas por resduos seleccionados de forma a resultarem valores de contaminao mnimos. A britagem feita por intermdio de uma britadora de impacto ou uma britadora de maxilas, onde os materiais so reduzidos s dimenses desejadas. Os parmetros regulveis da britadora devem ser ajustados consoante o tipo de material a ser britado e, em especial, consoante o tipo de produto que se pretende obter. sada da britagem, o produto britado passa por um separador magntico que retira os restos de metal ainda existentes no fluxo. Estes so reencaminhados conjuntamente com os resultantes de outras etapas do processo de reciclagem. parcela de finos de britagem no se devero juntar os finos resultantes da pr-britagem provenientes da passagem pelo crivo primrio, pois estes ltimos geralmente contm percentagens considerveis de partculas finas contaminantes, como gesso, matrias orgnicas e poeiras diversas.

2.3.3.6.

Armazenamento e sada dos produtos finais

Todos os stocks que no estejam separados fisicamente devero ser separados por uma distncia na base de pelo menos 4 m para garantir no existirem misturas entre stocks, e facilitar as operaes de armazenamento, cargas e descargas, nomeadamente dos veculos intervenientes nessas operaes. Todos os stocks de material devem estar devidamente identificados e cabe ao responsvel identificar e supervisionar as aces de depsito e carga de material.

2.4.

Aplicabilidade dos RCD na construo

Grande parte dos RCD pode ter, desde que gerida de forma correcta, um destino que a valorize de forma sustentvel. Esta reutilizao pode ento dar origem a produtos mais ou menos valiosos,2.17

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

dependendo da aplicao. Pode observar-se esta reutilizao desde a reciclagem directa, como o caso do vidro, dos plsticos e de metais, at ao fabrico de agregados produzidos a partir de materiais cermicos, alvenaria de pedra e de tijolo, beto e argamassas, entre outros destinos. Os agregados reciclados podem, por sua vez, ser usados no fabrico de novas argamassas, pavimentos rodovirios, sistemas de drenagem e betes. O ltimo destes pontos ir ser abordado de forma muito sucinta, j que esse o tema em discusso do captulo 3 da presente dissertao.

2.4.1. ArgamassasA fraco fina dos agregados reciclados bastante significativa no panorama geral dos RCD, pois durante o processo de britagem, mesmo quando o objectivo a produo de agregados grados, existe uma quantidade de agregados finos produzida. Se se tiver em conta um cenrio de banalizao do processo de reciclagem dos RCD, vislumbra-se uma quantidade expressiva de finos que podem ser reutilizados. As argamassas apresentam-se ento como a soluo mais bvia para utilizao da fraco fina dos RCD. Esta, que influencia negativamente as propriedades do beto, poder ser utilizada na produo de argamassas, pois as argamassas com agregados reciclados apresentam caractersticas que as tornam adequadas utilizao na construo, mesmo tendo em conta que algumas propriedades so melhores e outras piores quando comparadas com argamassas convencionais. Estas diferenas existem principalmente devido a diferenas na composio, granulometria, absoro de gua e outras caractersticas do agregado. As vantagens inerentes a este tipo de argamassas, para alm de utilizar agregados reciclados, esto relacionadas com as maiores resistncias compresso. Apesar de alguns autores acreditarem que a parcela cermica dos resduos origina uma actividade pozolnica e que esta a responsvel por esta melhoria de resistncia mecnica, no pacfico que assim deva ser entendido, pois tambm possvel que esta vantagem seja devida ao alto teor de finos, que funcionam como fler na mistura (LIMA, 1999; MIRANDA, 2000). Este efeito pozolnico pode ser explicado pelos slico-aluminatos presentes nos materiais cermicos que, quando provenientes de materiais com fabrico menos controlado, arrefecidos demasiadamente rpido aps a cozedura, originam um produto com estado amorfo, com uma estrutura no cristalina, portanto pouco estvel, tornando o material propenso a reagir. MIRANDA e SELMO (http://fernandoavilasantos.kit.net/) afirmam que muitos resultados elevados de resistncia obtidos em argamassas com RCD reciclado so justificados por esta actividade pozolnica mas sem sequer ter sido verificado se tal actividade existe no material. Inclusivamente, MIRANDA (2000) salienta que em nenhum dos tipos de entulho estudados na sua investigao foi constatada actividade pozolnica, quer por ensaios qumicos ou mecnicos.

2.18

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

As argamassas podem ser utilizadas como revestimento ou assentamento. O primeiro caso pode ser mais problemtico, pois o material reciclado, podendo apresentar grandes variaes de composio, distribuio granulomtrica ou existncia de contaminantes, pode produzir revestimentos com uma variao de desempenho significativa, tornando-se ento necessrio um controlo mais apertado para a sua utilizao.

2.4.2. Pavimentos rodoviriosA utilizao de RCD na construo de pavimentos rodovirios, nomeadamente em camadas de base e sub-base, a forma mais simples e econmica de aplicao destes materiais reciclados. No exigindo o mesmo controlo a nvel granulomtrico, permite redues importantes no custo da produo dos agregados, pois tendo uma menor necessidade de seleco possibilita a utilizao de uma faixa alargada de resduos de origem mineral (SALINAS, 2002). GONALVES e NEVES (2003) confirmam que estudos efectuados na Sucia revelaram aumento do mdulo de deformabilidade com o tempo de camadas no ligadas onde se usaram agregados reciclados de beto, revelando assim que algumas partculas de cimento se hidrataram, estabelecendo-se ligao entre os gros. Tambm no domnio das estradas, os finos podem ser usados para estabilizantes nas bases dos pavimentos rodovirios, absorver manchas de leo existentes no pavimento ou mesmo regular a acidez dos solos atravs da elevada alcalinidade do beto (GONALVES e NEVES, 2003).

2.4.3. Sistemas de drenagemOs RCD podem ainda ser empregues em camadas drenantes, efectuando diversas funes, como camadas drenantes em aterros de resduos slidos, elementos de filtro em fossas spticas, drenos em trincheiras e valas subterrneas ou mesmo como elemento substituinte em estacas de brita para acelerar recalques e melhorar a capacidade de carga em depsitos de solos moles. LIMA (1999) relembra que os materiais para enchimento devem possuir uma curva granulomtrica adequada e uma dureza elevada, de modo a proporcionarem uma fcil consolidao e manterem a capacidade de drenagem. Devem ainda ser quimicamente inertes e de baixa expansibilidade na presena de gua. Ainda que, regra geral, os agregados reciclados respondam bem a estas exigncias, dever existir particular cuidado quando estes derivam de alvenarias, pois facilmente contm materiais expansivos como madeiras, que facilitam a prolificao de vazios. A grande porosidade encontrada em RCD de granulometria mais grossa traduz-se numa elevada capacidade de absoro de gua, tornando-se numa vantagem indiscutvel em reas com dificuldade de escoamento aquando de grandes precipitaes, pois deste modo a gua fica armazenada e descarregada posteriormente de forma lenta nas redes de guas pluviais.

2.19

CAPTULO 2

CARACTERIZAO DOS RESDUOS DE CONSTRUO E DEMOLIO

AFFONSO (2005) caracterizou, no seu trabalho de investigao, os agregados de RCD para aproveitamento em camadas drenantes de aterros de resduos, tendo chegado concluso que estes preenchem os requisitos para poderem desempenhar este papel. Chegou a resultados de permeabilidade superiores aos necessrios para a vazo diria, concluindo que o material em questo tem permeabilidade suficiente para o que solicitado. Relativamente resistncia compresso, verificou que o material sofreu alguma fragmentao quando submetido a uma carga de 1800 kPa, que representa uma altura de 190 m de RSU sobre a camada drenante. Como a altura em aterros raramente ultrapassa os 100 m, o investigador concluiu que, relativamente a este parmetro, os materiais provenientes de RCD tambm se mostraram capazes.

2.4.4. BetoA utilizao de agregados reciclados em beto uma forma de se tirar maior proveito econmico dos RCD e tem sido objecto de estudo ao longo dos anos, pois continua a no ser consensual a sua utilizao. A experincia prtica mostra que o beto produzido com agregados reciclados to fcil de misturar, transportar, aplicar e compactar como o beto convencional. Contudo, devido absoro de gua relativamente alta do agregado reciclado, recomendado que os agregados reciclados estejam o mais perto de uma condio seca superficial saturada quanto possvel (HANSEN, 1986). O beto produzido com agregados reciclados tem, como seria de esperar, caractersticas diferentes das do beto convencional, diferenas estas muito dependentes do tipo e qualidade dos agregados utilizados. Pode ento obter-se beto sem funes estruturais, betes estruturais com classes de resistncia ditas normais mas tambm se podem obter betes de alta resistncia. Existe inclusive uma especificao japonesa para produo de beto de alta resistncia com agregados reciclados, a JIS A 5021, que ser abordada mais adiante. Segundo LIMBACHIYA et al. (2000), foram encontradas propores de mistura de beto produzido com agregados reciclados que, para uma dada classe de resistncia, permitem a esses betes propriedades de durabilidade, tais como resistncia penetrao dos cloretos e corroso provocada pelos mesmos, ao gelo-degelo e abraso, similares correspondente mistura de beto de agregados naturais. Isto sugere que o beto produzido com agregados grossos provenientes de elementos prfabricados pode ser utilizado em betes de altas resistncias, pois so limpos e livres de nveis prejudiciais de impurezas qumicas e outros contaminantes perigosos. Fica desta forma claro que, dadas as diversas possibilidades de aplicao dos RCD, estes podem trazer vrias contrapartidas, no s directas, de uma forma econmica, mas tambm indirectas, como o caso das consequncias ambientais, que possibilitam dar vazo a milhes de toneladas de RCD produzidas anualmente, criando bases para um desenvolvimento sustentvel.

2.20

Beto com agregados reciclados. Anlise comentada da legislao existente.

3. UTILIZAO DOS AGREGADOS RECICLADOS NO FABRICO DEBETOOs RCD podem, como explicitado no Captulo 2, ter diversos fins, entre os quais a utilizao em agregados para o fabrico de beto aquele com um grau de exigncia mais elevado. Esta utilizao obriga a que sejam tomados diversos cuidados de modo a lidar com as diferenas que a variabilidade dos agregados podem provocar nas suas propriedades. Estas, por sua vez, provocam diferenas no desempenho do beto fabricado, tanto em termos mecnicos como de durabilidade.

3.1.

Propriedades dos agregados reciclados

Os agregados reciclados apresentam uma grande variabilidade nas suas propriedades, provocada no exclusiva mas principalmente por uma grande disperso na sua composio. Pretendese, neste sub-captulo, a identificao das propriedades dos agregados reciclados que se distinguem de forma proeminente dos agregados naturais e quantificar essas mesmas diferenas. A base de comparao ser a granulometria dos agregados e a sua composio.

3.1.1. Granulometria, forma e texturaA distribuio granulomtrica uma das propriedades mais importantes na determinao de vrias caractersticas do beto, tais como trabalhabilidade, resistncia mecnica, absoro de gua, permeabilidade, entre outras (LEITE, 2001). A granulometria dos agregados reciclados depende do processo de triturao, sobre o qual HANSEN (1992), citado por LEITE (2001), afirma que britadoras de mandbulas com abertura de 33 mm produzem agregados com 20% de finos abaixo de 5 mm. GONALVES e NEVES (2003) afirmam que as melhores granulometria e forma so obtidas quando o processo de britagem consiste na utilizao inicial de uma britadora de maxilas, seguida de uma britadora rotativa. A presena de pasta de cimento aderida aos agregados do beto original provoca uma textura mais rugosa e porosa aos agregados reciclados. A qualidade do beto de origem tem influncia na forma dos agregados reciclados. medida que aumenta, os agregados reciclados tendem a ficar mais angulosos, fruto da maior resistncia da pasta aderida (KIKUCHI et al., 1998). A diferena na forma

3.1

CAPTULO 3

UTILIZAO DOS AGREGAGOS RECICLADOS NO FABRICO DE BETO

dos agregados contribui para que a trabalhabilidade dos agregados reciclados seja tendencialmente inferior. Quando aos superfinos, FERGUS (1981), citado por HANSEN (1992), constatou que a percentagem de agregados inferiores a 75 m a partir de agregados grosso de tamanho mximo 38 mm se situava entre 0,3 e 0,5%. J HANSEN e NARUD (1983) encontraram entre 0,8 e 3,5% de agregados reciclados com mxima dimenso 4 mm. Estes valores dependem em muito da qualidade do beto de origem, aumentando com esta. Com base no trabalho experimental realizado por SANTOS (2004), BRITO (2005) concluiu que o ndice de forma diminui com o granulometria dos agregados, tanto naturais como reciclados, assim como o mesmo ndice aumenta quando se passa dos agregados grossos naturais para reciclados da mesma granulometria, por fora da maior angulosidade dos ltimos. Os agregados reciclados de alvenaria podem conter elevadas quantidades de finos o que pode dificultar o controlo da granulometria, promovendo a procura de usos especficos para a parcela fina. Adoptando-se a mesma curva granulomtrica no fabrico de beto com agregados reciclados utilizada em beto convencional, consegue-se que no haja grandes variaes quanto trabalhabilidade, dosagem de cimento, entre outros parmetros. Quando