agravo de instrumento n. 2012.032931-6 de caçador - relator jorge luiz costa beber

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Agravo de Instrumento julgado pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina, mantendo o credenciamento de Laboratórios de Análises Clínicas à Unimed - Caçador.

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  • Agravo de Instrumento n. 2012.032931-6, de CaadorRelator: Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. AO CAUTELARINOMINADA. CONTRATO DE PRESTAO DE SERVIOS DESADE. LABORATRIO DE ANLISES CLNICAS. ARTIGO 17DA LEI N. 9.656/1998. INTERLOCUTRIO QUE DEFERIUMEDIDA LIMINAR PARA IMPOR COOPERATIVAREQUERIDA A MANUTENO DO CREDENCIAMENTO DAAGRAVADA COMO PRESTADORA DE SERVIOS.PRESENA DOS REQUISITOS DO FUMUS BONI JURIS E DOPERICULUM IN MORA. DECISO MANTIDA. AGRAVO DEINSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO.

    A incidncia das exigncias timbradas no art. 17 da Lei n.9.656/1998, alm de tambm alcanarem os laboratrioscredenciados, podem por estes ser denunciadas, casodescumpridas, j que esto na iminncia de perder ocredenciamento, e no apenas pela Agncia Nacional deSade - ANS ou por algum consumidor contrariado com asomisses das operadoras do plano no tocante aocumprimento daquelas imposies.

    "O descredenciamento efetuado pela recorrida sem aobservncia dos requisitos previstos pelo art. 17, 1, da Lei9.656/98, portanto, configura prtica abusiva, combatidapelos arts. 6, IV, 30, 48 e 51, XIII e 1, II, do CDC. Destaco,ainda, que a conduta da UNIMED atenta contra o princpio daboa-f objetiva que deve guiar a elaborao e a execuo detodos os contratos, pois frustra a legtima expectativa doconsumidor" (STJ, REsp n. 1.119.044/SP, Rela. Mina. NancyAndrighi, DJe 04.03.2011).

    Uma vez demonstrado o provvel prejuzo ao laboratriode anlises clnicas oriundo da resciso unilateral docontrato de prestao de servios, bem assim a ausncia dopreenchimento dos requisitos estampados no artigo 17, 1,da Lei n. 9.656/1998, para fins de descredenciamento, deser reconhecido, em favor da agravada, a presena dospressupostos atinentes s cautelares, traduzidos pelo juzode probabilidade da pretenso de fundo, tambm intituladode fumaa de bom direito, e o perigo de dano, tudo aconspirar favoravelmente ao deferimento do pleito liminar.

  • Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n.2012.032931-6, da comarca de Caador (2 Vara Cvel), em que agravante UnimedCaador Cooperativa de Trabalho Mdico da Regio do Contestado, e agravadoLaboratrio de Anlises Clnicas Madalozzo Camatti:

    A Quarta Cmara de Direito Civil decidiu, por votao unnime,conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.

    O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Des. VictorFerreira, com voto, e dele participou o Exmo. Des. Luiz Fernando Boller.

    Florianpolis, 29 de agosto de 2013.

    Jorge Luis Costa BeberRELATOR

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • RELATRIOTrata-se de agravo de instrumento interposto por Unimed Caador

    Cooperativa de Trabalho Mdico da Regio do Contestado contra interlocutrio (fls.112-116) que, em ao cautelar preparatria inominada (Autos n. 012.12.002839-7),deferiu medida liminar inaudita altera pars para impor a manuteno da agravadaLaboratrio de Anlises Clnicas Madalozzo Camatti Ltda. como prestadora deservios, sob pena de multa diria de R$ 500,00.

    Nas razes recursais (fls. 2-29), expressou que em 13 de fevereiro de2012 enviou correspondncia agravada visando renegociao do contrato deprestao de servios ou sua resciso, caso inexitoso o acordo.

    Acrescentou que a proposta que fez objetivava a manuteno do pactosob discusso, apenas com a modificao no que diz respeito aos exames norealizados pela agravada..

    Assentou pretender a reviso do contrato, e no a sua resciso,ressaltando ser absolutamente normal, nos contratos de tal natureza, haver previsode extino da relao obrigacional, ds que, contudo, observado o prvio e expressoaviso, com antecedncia mnima de 90 dias.

    Sustentou a ausncia de fumus boni iuris, pois ao notificar a agravadaapenas exercitou regularmente o seu direito resciso contratual, bem assim ainaplicabilidade da Lei n. 9.656/1998, porquanto incidente somente para prestadoresde servios hospitalares, o que no seria o caso, j que a agravada laboratrio deanlises clnicas.

    Requereu a concesso do efeito suspensivo ativo para manter avalidade da notificao extrajudicial e, ao final, fosse o recurso conhecido e provido,reformada a deciso combatida.

    Contraminuta s fls. 149-163v, tendo a e. Desa. Substa. Rosane PortellaWolff (fls. 165-171) indeferido o efeito almejado, dada a ausncia do risco de lesograve e de difcil reparao, aps o que os autos vieram conclusos para julgamento.

    VOTO

    Preenchidos os requisitos extrnsecos e intrnsecos de admissibilidaderecursal, o recurso conhecido.

    O recurso direcionado contra deciso que deferiu medida liminar paraimpor cooperativa agravante a manuteno do contrato de prestao de servioscom a agravada.

    Convm registrar, de sada, que no mbito da cognio sumria doagravo de instrumento, deve-se analisar to somente o acerto ou desacerto dointerlocutrio recorrido, ou seja, a existncia ou no dos requisitos necessrios concesso da liminar para o caso concreto.

    1. Da aplicao do artigo 17 da Lei n. 9.656/1998 e dos sujeitos aquem ele se dirige.

    O punctum saliens da espcie sob exame centra-se na incidncia ou

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • no do artigo 17 da Lei dos Planos de Sade (Lei n. 9.656/1998), o qual elencarequisitos especficos para o caso de descredenciamento de laboratrio em relao operadora do plano, adiante examinados.

    Dispe a aludida norma:"Art. 17. A incluso como contratados, referenciados ou credenciados dos

    produtos de que tratam o inciso I e o 1o do art. 1o desta Lei, de qualquer entidadehospitalar, implica compromisso para com os consumidores quanto suamanuteno ao longo da vigncia dos contratos.

    1o facultada a substituio de entidade hospitalar, a que se refere ocaput deste artigo, desde que por outro equivalente e mediante comunicaoaos consumidores e ANS com trinta dias de antecedncia, ressalvados desseprazo mnimo os casos decorrentes de resciso por fraude ou infrao dasnormas sanitrias e fiscais em vigor.

    2o Na hiptese de a substituio do estabelecimento hospitalar a que serefere o 1o ocorrer por vontade da operadora durante perodo de internao doconsumidor, o estabelecimento obriga-se a manter a internao e a operadora, apagar as despesas at a alta hospitalar, a critrio mdico, na forma do contrato.

    3o Excetuam-se do previsto no 2o os casos de substituio doestabelecimento hospitalar por infrao s normas sanitrias em vigor, duranteperodo de internao, quando a operadora arcar com a responsabilidade pelatransferncia imediata para outro estabelecimento equivalente, garantindo acontinuao da assistncia, sem nus adicional para o consumidor.

    4o Em caso de redimensionamento da rede hospitalar por reduo, asempresas devero solicitar ANS autorizao expressa para tanto, informando:

    I - nome da entidade a ser excluda;II - capacidade operacional a ser reduzida com a excluso;III - impacto sobre a massa assistida, a partir de parmetros definidos pela

    ANS, correlacionando a necessidade de leitos e a capacidade operacional restante; eIV - justificativa para a deciso, observando a obrigatoriedade de manter

    cobertura com padres de qualidade equivalente e sem nus adicional para oconsumidor" (grifos meus).

    No desconheo precedente desta Corte envolvendo situao idnticaao caso sub examine, estando aquele julgado assim ementado:

    "AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR INOMINADA DEFERIDAPARA A MANUTENO DE CONTRATO DE PRESTAO DE SERVIOS ENTRELABORATRIO DE ANLISES CLNICAS E COOPERATIVA DE TRABALHOMDICO. NOTIFICAO REALIZADA PELA AGRAVANTE COM VISTAS RENEGOCIAO OU RESILIO DO CONTRATO DE PRESTAO DESERVIOS. PREVISO EXPRESSA EM CLUSULA CONTRATUAL. PRINCPIODA LIVRE ESCOLHA. POSSIBILIDADE. DECISO REFORMADA. RECLAMORECURSAL ACOLHIDO.

    1 No h que se pretender abrupta ou atentatria ao princpio da boa-f, aruptura contratual quando decorre ela de clusula expressa avenada pelas partescontraentes, com estrita observncia das exigncias contidas na disposiocontratual aceita por ambas as litigantes, como forma de resilir o contrato deprestao de servios mdicos que as vinculava. A ruptura, em tal hiptese, bilateral, posto que prevista contratualmente a faculdade de qualquer um doscontraentes extinguir a avena, atravs posterior ato de manifestao da vontade.

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • a chamada resoluo convencional, posto que resultante de acordo feito naoportunidade da celebrao do contrato.

    2 Prevista no prprio pacto a possibilidade de sua resciso pela manifestaounilateral de um dos contraentes, observado o prazo ajustado para a notificao daparte contrria, prevalece a autonomia da vontade de extinguir o vnculo contratual,mormente quando sequer se cogita da existncia de qualquer vcio no exercciodessa autonomia.

    3 No dado compelir a operadora de plano de sade a manter ocredenciamento de determinada empresa prestadora de servios, quando o contratofirmado com esta respalda, no plano jurdico, a sua inteno de romper a avena, emrazo de haver ela, a operadora do plano de sade, instalado na localidade seuprprio laboratrio de anlises clnicas. E no h razo, de ordem tica ou moral, aobrigar que uma cooperativa de trabalho mdico terceirize servios laboratoriais queela prpria tem condies de prestar.

    A possvel inobservncia da precedente notificao dos usurios e decomunicao Agncia Nacional de Sade, acerca do descredenciamento dolaboratrio de anlises clnicas recorrido, tal como previsto na Lei n. 9.656/1998, soprovidncias tipicamente administrativas, cujo no atendimento pode ensejar aaplicao, operadora de plano de sade, de sanes de natureza diversas. Noentanto, para a aplicao dessas sanes a legitimao dos prprios usurios e daANS, e no da prestadora de servios em via de descredenciamento" (TJSC, Agravode Instrumento n. 2012.032933-0, de Caador, rel. Des. Trindade dos Santos, j.04.07.2013).

    Todavia, com a devida vnia ao i. Relator, o Superior Tribunal de Justiaj sinalizou pela incidncia do mencionado dispositivo em casos congneres. E mais:tambm exarou que ele se destina aos hospitais, rede de profissionais e aoslaboratrios credenciados ou referenciados:

    "DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SADE. DESCREDENCIAMENTODE CLNICA MDICA NO CURSO DE TRATAMENTO QUIMIOTERPICO, SEMSUBSTITUIO POR ESTABELECIMENTO DE SADE EQUIVALENTE.IMPOSSIBILIDADE. PRTICA ABUSIVA. ART. 17 DA LEI 9.656/98.

    1. O caput do art. 17 da Lei 9.656/98 garante aos consumidores de planos desade a manuteno da rede de profissionais, hospitais e laboratrios credenciadosou referenciados pela operadora ao longo da vigncia dos contratos.

    2. Nas hipteses de descredenciamento de clnica, hospital ouprofissional anteriormente autorizados, as operadoras de plano de sade soobrigadas a manter uma rede de estabelecimentos conveniados compatvelcom os servios contratados e apta a oferecer tratamento equivalente queleencontrado no estabelecimento de sade que foi descredenciado. Art. 17, 1,da Lei 9.656/98.

    3. O descredenciamento de estabelecimento de sade efetuado sem aobservncia dos requisitos legalmente previstos configura prtica abusiva e atentacontra o princpio da boa-f objetiva que deve guiar a elaborao e a execuo detodos os contratos. O consumidor no obrigado a tolerar a diminuio da qualidadedos servios contratados e no deve ver frustrada sua legtima expectativa de podercontar, em caso de necessidade, com os servios colocados sua disposio nomomento da celebrao do contrato de assistncia mdica.

    4. Recurso especial conhecido e provido" (Grifos meus, REsp n. 1.119.044/SP,Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe 04.03.2011).2. Dos requisitos estampados no art. 17 da Lei n. 9.656/1998.O preceptivo legal aponta as seguintes exigncias, s quais a operadora

    do plano de sade deve estrita obedincia: ampla comunicao aos consumidoresacerca da retirada do laboratrio e ANS, ambas com trinta dias de antecedncia; esubstituio da entidade laboratorial por outra similar (evidente que, aqui, a menslegis exige que a nvel clnica possua capacidade de atendimento no mnimo igual ousuperior quela descredenciada, sob pena de ofensa carga valorativa insculpida noCdigo de Defesa do Consumidor).

    No ponto, transcrevo excerto do voto proferido pela Ministra NancyAndrighi, extrado do precedente suso referido:

    "Os contratos de assistncia mdica e hospitalar contm peculiaridades quetornam imprescindvel a estrita observncia aos comandos legais da Lei 9.656/98 edo CDC, especialmente porque tratam de um direito de extrema relevncia social.Nesse sentido, o exerccio da grande maioria dos direitos fundamentais econstitucionalmente tutelados depende, em ltima anlise, do gozo efetivo do direito sade, como ocorre com o direito vida e dignidade humana. evidente,portanto, que a sade no pode ser tratada como simples mercadoria: asempresas e profissionais que prestam servios mdicos devem se submeter snormas constitucionais e infraconstitucionais que cuidam diretamente dotema.

    O caput do art. 17 da Lei 9.656/98 garante aos consumidores amanuteno da rede de profissionais, hospitais e laboratrios credenciados oureferenciados pela operadora de plano de sade ao longo da vigncia doscontratos.

    Ocorre que h situaes nas quais a excluso de hospital, clnica ou mdicocredenciado decorre de fato superveniente e imprevisvel, como a majoraoexcessiva dos preos dos servios mdicos e a consequente impossibilidade demanter o equilbrio contratual, ou seja, uma relao proporcional entre o valor doprmio e a cobertura oferecida. Assim, a substituio de clnicas e profissionaisda rede credenciada possvel, mas encontra-se subordinada aopreenchimento dos requisitos contidos no 1 do art. 17 da lei 9.656/98" (Grifosmeus).

    Nessa toada, diferentemente do que anunciou o i. Relator desta CorteCatarinense no julgado antes transcrito, penso, com renovada vnia, que a incidnciadas exigncias timbradas no art. 17 da Lei n. 9.656/1998, alm de tambmalcanarem os laboratrios credenciados, podem por estes ser denunciadas, casodescumpridas, j que esto na iminncia de perder o credenciamento, e no apenaspela Agncia Nacional de Sade - ANS ou por algum consumidor contrariado com asomisses das operadoras do plano no tocante ao cumprimento daquelas imposies.

    Isso porque a temtica controvertida, ao fim e ao cabo, antes de gerarpossveis prejuzos para a empresa que questiona o descredenciamento, trazinegveis danos para o consumidor, j to espoliado nas relaes com os planos desade.

    Com a mxima concesso outorgada, no parece razovel permitir queo prejuzo se consume, sabendo-se que o mesmo inevitvel, para, somente aps,

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • havendo reclamao por algum consumidor ou questionamento da ANS, serreconhecido que o descredenciamento no deveria ter sido efetivado.

    Sobre o assunto, impossvel no reproduzir as palavras da e. MinistraNancy Andrigh, que noutra passagem assentou:

    "Assim, ainda que as necessidades financeiras e operacionais das operadorasde planos de sade sejam compreensveis e fundamentadas, o interesse pblicoque cerca esse ramo de atividade impe limites substituio indiscriminadade estabelecimentos e profissionais credenciados. Isso porque o teor do art. 17da Lei 9.656/98 indica que esse dispositivo foi redigido com base nos princpios queorientam o CDC, especialmente naquele que cuida da boa-f objetiva. A legislaoespecfica, portanto, buscou concretizar os direitos abstratamente garantidos pelosart. 30, 20, 48 e 51, XIII, do CDC aos usurios dos servios de sade complementar.

    [...] O descredenciamento efetuado pela recorrida sem a observncia dosrequisitos previstos pelo art. 17, 1, da Lei 9.656/98, portanto, configuraprtica abusiva, combatida pelos arts. 6, IV, 30, 48 e 51, XIII e 1, II, do CDC.Destaco, ainda, que a conduta da UNIMED atenta contra o princpio da boa-fobjetiva que deve guiar a elaborao e a execuo de todos os contratos, pois frustraa legtima expectativa do consumidor. Nesse sentido, o consumidor no deve verfrustrada sua legtima expectativa de poder contar, em caso de necessidade, com osservios colocados sua disposio no momento da celebrao do contrato deassistncia mdica" (Grifei e sublinhei).

    Naquele marcante julgado, o i. Ministro Sidnei Benetti pediu vista dosautos para verberar que:

    "O ponto essencial est em que a recorrente comeou a ser atendida no dia5.12.2005 na Clnica de Oncologia Mdica, credenciada pela ora recorrida, mas, nodia seguinte, esta, a recorrida, passou a autorizar o atendimento apenas no HospitalSanta Helena, informando a autora, quando de nova solicitao de atendimento, nodia 16.12.2005, que o hospital anterior estaria descredenciado a partir de30.12.2005.

    V-se, pois, violao do art. 17 da Lei 9656/98, que exige o prazoantecedente de 30 dias para a validade da troca de hospital credenciado e,ainda, com exigncia de equivalncia de condies de atendimento" (Grifosmeus).

    A jurisprudncia de diversos Tribunais transita no mesmo sentido:"PLANO DE SADE. DESCREDENCIAMENTO DE HOSPITAIS E

    LABORATRIOS SEM PRVIA COMUNICAO AOS CONSUMIDORES ESUBSTITUIO POR ESTABELECIMENTOS EQUIVALENTES.INADMISSIBILIDADE. INTELIGNCIA DO ARTIGO 17 CAPUTE PARGRAFOS, DALEI N. 9.656/98. DIREITO DO CONSUMIDOR A INFORMAO ADEQUADA ECLARA. ABUSIVIDADE RECONHECIDA. PRECEDENTES DO COLENDOSUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. SENTENA REFORMADA. RECURSOPROVIDO PARA JULGAR PROCEDENTE A AO" (TJSP, APL n.0127614-96.2011.8.26.0100, Rela. Desa. Claudia Lcia Fonseca Fanucchi, SextaCmara de Direito Privado, DJe 22.06.2012).

    Ainda:"APELAAO CVEL AAO DECLARATRIA DE NULIDADE DE ATO ILEGAL

    COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DESCREDENCIAMENTO DE CLNICA

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • MDICA DE ASSISTNCIA CARDIOLGICA E DE REABILITAAO DEPACIENTES CARDIOPATAS DO QUADRO DE PRESTADORES DE SERVIOS DAUNIMED CURITIBA - RESILIAO UNILATERAL ARTIGO 473, CC. POSSIBILIDADE- DIREITO POTESTATIVO - APLICABILIDADE DO ARTIGO 17, 1, DA LEI N.9.656/98. CLNICA MDICA ENTIDADE HOSPITALAR INOBSERVNCIA DOPROCEDIMENTO LEGAL DESCREDENCIAMENTO INVLIDO - RESOLUAO71/2004 DA ANS APLICABILIDADE SENTENA MANTIDA.

    1. A resilio unilateral faculdade atribuda aos contratantes de, a qualquertempo, desfazer o pacto, revelando-se a sua natureza de direito potestativo.

    2. Para o vlido descredenciamento da clnica mdica do quadro deprestadores credenciados, conforme revela o 1 do artigo 17 da Lei n. 9.656/98 e oartigo 2, pargrafo nico, inciso V, alnea a da Resoluo Normativa 71/2007 daAgncia Nacional de Sade, exigvel a sua substituio por outra entidadehospitalar equivalente; a comunicao aos consumidores, com 30 dias deantecedncia; a comunicao Agncia Nacional de Sade, com 30 dias deantecedncia; e, a comunicao pessoa jurdica prestadora de servio, comantecedncia mnima de 60 dias.

    3. A expresso "entidade hospitalar" a que se refere o artigo 17 da Lei n.9.656/98 gnero, que compreende, como espcies, as clnicas mdicas, oslaboratrios, os hospitais e quaisquer entidades correlatas que prestem servios deassistncia sade. RECURSO CONHECIDO E NAO PROVIDO". (TJPR, Ap. Cvel.n. 897318-8, do Foro Central da Regio Metropolitana de Curitiba, Rela. Desa.Substa. Angela Maria Machado Costa, j. 25.07.2012).

    Mais:"CIVIL. CONSTITUCIONAL. DIREITO SADE. AGRAVO DE

    INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. DESCREDENCIAMENTO DE ENTIDADEHOSPITALAR SEM OBSERVNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 17 DA LEI N.9.656/98: AUTORIZAO ANS INFORMANDO O NOME DA ENTIDADEHOSPITALAR A SER EXCLUDA, CAPACIDADE OPERACIONAL DA ENTIDADE,CONSEQNCIAS PARA OS QUE ADERIRAM AO PLANO QUE OBTINHAM AREDE HOSPITALAR E JUSTIFICATIVA PARA A DECISO. NO COMPROVAODE CUMPRIMENTO DE TAIS REQUISITOS. IMPOSSIBILIDADE. PRTICAABUSIVA, INCLUSIVE AOS DIREITOS DO CONSUMIDOR. REFORMA DADECISO. SUSPENSO DO DESCREDENCIAMENTO. CONHECIMENTO EPROVIMENTO DO RECURSO" (TJRN, AI n. 2011.000668-0, Rel. Des. AmauryMoura Sobrinho, Terceira Cmara Cvel, j. 16.05.2011).

    3. Do no enquadramento da presente situao aos ditames doartigo 6 do Cdigo de Processo Civil.

    O fato do descumprimento das imposies averbadas no art. 17 da Lei9.656/98 ter sido anunciada pelo prprio laboratrio agravado no afronta o comandoinsculpido no art. 6 da lei adjetiva codificada, justo que tal iniciativa, antes deconfigurar pedido de tutela com base em direito alheio, visa acautelar direito difusoque atinge um nmero expressivo de consumidores, notadamente em se tratando delaboratrio localizado em cidade interiorana, onde se agravam ainda mais ascondies para utilizao daqueles servios.

    4. Da presena dos requisitos necessrios ao deferimento daliminar.

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • Sobre o fumus boni juris, disserta VICENTE GRECO FILHO:" a probabilidade ou possibilidade da existncia do direito invocado pelo autor

    da ao cautelar e que justifica a sua proteo, ainda que em carter hipottico. Estepressuposto tem por fim evitar a concesso de medidas quando nenhuma aprobabilidade ou possibilidade de sucesso e, portanto, intil a proteo cautelar. Paraa aferio dessa probabilidade no se examina o conflito de interesses emprofundidade, mas em cognio superficial e sumria, em razo mesmo daprovisoriedade da medida. O fumus boni iuris no um prognstico de resultadofavorvel no processo principal, nem uma antecipao do julgamento, massimplesmente um juzo de probabilidade, perspectiva essa que basta para justificar oasseguramento do direito" (Direito processual civil brasileiro. 12. ed. So Paulo:Saraiva, 1997. v. 3. p. 154).

    Para DANIEL AMORIM ASSUMPO NEVES:"O periculum in mora representa a situao de urgncia derivada do perigo que

    o tempo necessrio para a concesso da tutela definitiva no caso concretorepresenta para a efetividade da proteo jurisdicional. Sempre que o demandantecomprovar que, no sendo tutelado imediatamente o seu direito material, corrersrio e iminente risco de perecer, haver justificativa para a concesso da tutelacautelar sob o aspecto do periculum in mora.

    [...] Segundo ensina a melhor doutrina, o perigo de dano deve ser fundado emelementos objetivos, sendo indispensvel ao demandante a demonstrao de formaobjetiva e clara do perigo da ineficcia da tutela definitiva no caso concreto. Merosreceios subjetivos ou crises de insegurana abstratas no so suficientes para aconfigurao do periculum in mora". (Grifos no original, Manual de direito processualcivil. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 1226).

    Com efeito, verificam-se presentes, por ora, tanto o fumus boni jurisquanto o periculum in mora. Aquele porque, at o presente momento, no se afigurouadequada a maneira pela qual a agravante pretendeu rescindir o pacto, caso noobtido acordo, por meio da notificao extrajudicial que repousa s fls. fls. 61 e132-133.

    J o periculum in mora, de outro giro, pode ser extrado dos prejuzos deordem patrimonial que a agravada certamente ter com a resciso unilateral docontrato.

    Em situao semelhante, tive a oportunidade de assim me manifestar:"O simples descredenciamento imotivado, cuja viabilidade restou

    defendida pela r, fere o devido processo legal e assume ares de autoritarismo,o que no se compadece com a ordem constitucional vigente. Alis, odescredenciamento sumrio, sem a formao de um procedimentoadministrativo mnimo, com as suas respectivas fases, penaliza enormementea empresa autora, que desde 1991 prestava servios para demandada,afrontando, neste particular, o princpio da boa-f objetiva. Nada disso foiefetuado; pelo menos com mnimo de regularidade.

    Se certo que as ponderaes suso mencionadas admitem questionamentosem face da relao entre os litigantes ser de natureza privada, o que viabilizaria apossibilidade de resilio, pelo s fato de uma das partes no mais pretender mantero vnculo contratual, no menos lcito afirmar que nos dias atuais situaes dessesjaez, especialmente quando envolvidos interesses meta-individuais e atinentes

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber

  • dignidade humana (prestao de servios de recuperao fsica), devem,tambm, ser examinados luz da funo social do contrato, que iniludivelmenteatenua e reduz o alcance do princpio da autonomia contratual. Portanto, emprincpio, nada impediria a resciso do vnculo firmado entre as partes, ds quecorretamente encaminhado.

    Entretanto, no caso em apreo, o que me parece exigvel, por fora dodispositivo legal abaixo mencionado, seria a prvia comunicao por parte da r aseus consumidores, da forma mais ampla possvel, a fim de que tomassem amploconhecimento do descredenciamento a partir de determinada data, ficando cientesda ausncia de prestao de servios pela autora em favor da r" (Grifei).

    Tal deciso, a propsito, foi mantida por este egrgio Tribunal deJustia:

    "APELAO CVEL. AO DECLARATRIA. MEDIDA CAUTELARINOMINADA PREPARATRIA. DESCREDENCIAMENTO DA AUTORA COMOPRESTADORA DE SERVIOS COOPERATIVA R. IMPOSSIBILIDADE SEM AOBSERVNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, BEM COMO DO DISPOSTONO ART. 17, 1 DA LEI FEDERAL N. 9.656/1998, A SABER COMUNICAOPRVIA AOS CONSUMIDORES E AGNCIA REGULATRIA PERTINENTE.RECURSO NO PROVIDO" (AC n. 2007.057028-5, de Blumenau, rel. Des. CarlosPrudncio, j. 11-10-2011).

    Diante disso, em ateno ao restrito mbito de cognio desta espcierecursal, voto por conhecer do agravo de instrumento e desprov-lo.

    Gabinete Des. Subst. Jorge Luis Costa Beber