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Agradecimentos
Ao meu Orientador, Professor Doutor Mário Varela Gomes, por toda a ajuda,
orientação e paciência que me possibilitaram a execução deste trabalho;
À Câmara de Grândola, em especial à Drª Purificação Maria Pinela Pereira, pela
disponibilidade, simpatia e ajuda que me possibilitaram o reconhecimento do local e
do património arqueológico das redondezas;
Ao Senhor António Douradinha, proprietário dos terrenos, pela sua
disponibilidade em proporcionar-me, acompanhada pela Sra Dra Purificação Maria
Pinela Pereira, a oportunidade de visitar a gruta arqueológica sob estudo, neste
trabalho;
Ao desenhador, Sr. Bernardo Lam, pela sua simpatia, qualidade profissional e
disponibilidade, para complementar o meu trabalho;
Ao Museu Geológico e Mineiro, em especial ao Dr. José Moita, pela
disponibilidade e ajuda prestadas e que tão importantes foram, para a elaboração
deste trabalho;
Às minhas colegas pela disponibilidade, boa disposição, paciência e companhia
com que me ajudaram nos momentos complicados deste percurso académico;
À minha família, pelo seu apoio, paciência, companhia, afecto e carinho que me
permitiram continuar em frente, nos momentos de desalento.
Índice
RESUMO ............................................................................................................................ 2
ABSTRACT ......................................................................................................................... 2
1 - OBJECTIVOS ................................................................................................................. 4
2 - METODOLOGIA ............................................................................................................ 5
3 - LOCALIZAÇÃO .............................................................................................................. 7
4 - ENQUADRAMENTO AMBIENTAL ................................................................................. 9
5 - A JAZIDA ARQUEOLÓGICA ......................................................................................... 15
5.1 - DESCOBERTA E PRIMEIROS TRABALHOS ......................................................................... 15
5.2 - DESCRIÇÃO ............................................................................................................. 17
5.3 - ESPÓLIO ................................................................................................................. 21
6 - ESTUDOS E RESULTADOS RECENTES ......................................................................... 24
7 - CATÁLOGO DO ESPÓLIO ............................................................................................ 30
7.1 - PEDRA LASCADA ....................................................................................................... 30
7.2 - PEDRA PICOTADA/POLIDA .......................................................................................... 34
7.3 – CERÂMICA ............................................................................................................. 47
7.4 - ARTEFACTOS DE OSSO ............................................................................................... 53
8 – CULTURA MATERIAL E INTEGRAÇÃO CRONOLÓGICO-CULTURAL ............................ 55
9 - INTERPRETAÇÃO FUNCIONAL E SIMBÓLICA .............................................................. 70
9.1 - O ESPAÇO FUNERÁRIO ............................................................................................... 70
9.2 - ASPECTOS RITUAIS .................................................................................................... 73
10 - CONCLUSÃO............................................................................................................. 78
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 84
WEBGRAFIA .................................................................................................................... 90
ÍNDICE TOPONÍMICO ...................................................................................................... 92
ÍNDICE ANTROPONÓMICO ............................................................................................. 94
2
Resumo
No decorrer de trabalhos de investigação dos Serviços Geológicos de Portugal,
em 1920, foi possível descobrir, na zona de Melides, duas grutas conhecidas por Gruta
da Cerca do Zambujal e Gruta do Lagar.
O presente trabalho reporta-se ao estudo dos dados da cultura material,
provenientes da Gruta da Cerca do Zambujal, enquadrando-os, crono-culturalmente,
no panorama da presença humana na Costa Sudoeste da Península Ibérica.
A Gruta da Cerca do Zambujal parece integrar-se numa tipologia de sítios
culturalmente relacionados com a utilização de cavidades subterrâneas, por
sociedades neolíticas, como locais de inumação.
A presença de cerâmica lisa, a existência de indústria lítica laminar, de sílex, de
utensílios polidos e de material osteológico humano, que permitiu datação de
radiocarbono, tal como vestígios de rituais com ocre, deixam classificar este sítio, no
Neolítico Médio/Final.
A julgar pelo conjunto artefactual recolhido, o grupo humano que utilizou a
gruta mencionada inseria-se, socialmente, nas formas de relacionamento entre o
Homem e o Meio, que caracterizaram as sociedades costeiras do período indicado.
Abstract
During research works carried out by the Geological Services of Portugal in
1920 it was possible to discover two caves known as Cerca do Zambujal Cave and Lagar
Cave.
The present work refers to the study of the material culture data from Cerca do
Zambujal Cave, chronoculturally framed in the panorama of human presence in the
Southwest of the Iberian Peninsula.
The Cerca do Zambujal Cave seems to integrate a typology of sites culturally
related to the usage of underground cavities as inhumation locals by Neolithic
societies.
3
The presence of undecorated pottery, the existence of lithic laminar industry in
silex, of polished tools and human osteologic materials, which made possible
radiocarbon dating, as well as ritual traces with ochre, lead this site to be classified in
the Medium/Final Neolithic.
Considering the artifactual set collected, the human group that made use of
the above mentioned cave inserted socially in the forms of relationship between Man
and Environment, which characterized coastal societies in the referred period.
4
1 - Objectivos
A presente dissertação foi desenvolvida com o intuito de realizar levantamento
de toda a informação existente sobre o arqueossítio conhecido por Gruta da Cerca do
Zambujal.
Importava conhecer quais os estudos realizados e o espólio encontrado, o seu
enquadramento cronológico e as potencialidades, tendo em conta uma nova
abordagem.
O trabalho que nos propomos desenvolver assentará, primeiramente, no
levantamento de toda a informação existente sobre o sítio arqueológico, nos
resultados dos trabalhos que se realizaram, tentando perceber com que fim foram
desenvolvidos e as conclusões obtidas. Assim, posteriormente poderemos perceber
quais os pontos e aspectos que não foram tratados ou desenvolvidos em trabalhos
anteriores, permitindo-nos tentar colmatar essas lacunas.
Os dados disponíveis e a análise do espólio encontrado, conduzirão a
percepcionar qual a realidade socio-economica e cultural a que correspondem os
testemunhos encontrados.
Tencionamos tentar compreender a gruta, não só simplesmente enquanto local
onde se encontram vestígios arqueológicos da passagem do homem do Neolítico, mas
captar a sua essência simbólica e transcendente, como lugar escolhido para
enterramentos. Ou seja, deseja-se construir e interpretar permitindo-nos perceber,
segundo diferentes pesquisas, a comunidade que utilizou aquele lugar.
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2 - Metodologia
A metodologia, segundo Minaya (1999:80), é um percurso do pensamento e a
prática exercida na abordagem da realidade. Ela ocupa um lugar central, no interior
das teorias, pois, para produzir Ciência, é preciso seguir determinados procedimentos
que nos permitam alcançar o fim que procuramos (Vilelas, 2009:43).
Não é possível obter um conhecimento racional, sistemático e organizado,
actuando de qualquer modo. É necessário seguir um método, um caminho concreto,
que nos aproxime da meta. O método refere-se directamente à lógica interna do
processo de descoberta científica e a ele correspondem, não somente a orientação e a
selecção dos instrumentos e técnicas específicas de cada estudo, mas também o fixar
dos critérios de verificação, ou de demonstração, do que se afirma na investigação. Ele
engloba o estudo dos meios pelos quais se entendem todos os fenómenos e se
ordenam os conhecimentos (Vilelas, 2009:43).
Para a elaboração do presente trabalho, optou-se por se estudar, de forma
sistemática, todo o material disponível no Museu do Instituto Geológico e Mineiro,
procedente da Gruta da Cerca do Zambujal, não se fazendo qualquer selecção, mas
antes organizando-o em grandes categorias: pedra lascada, pedra polida, cerâmica e
osso. Fizemo-lo, acreditando que essa estratégia de organização dos materiais, em
categorias analíticas, seria adequada. A partir delas, poder-se-ia estabelecer relações
de comportamentos, culturais e de longa duração, bem como estudos que
privilegiassem as características sistemáticas e diacrónicas da organização tecnológica
(Lemonnier, 1986:151; 1992:8-9).
Assim, sabendo que, para se fazer uma boa análise, se impõe a necessidade de
recorrer a instrumentos de recolha de informação, suficientemente flexíveis e
aprofundados, e tendo em conta os objectivos da investigação, decidímos recorrer à
análise descritiva dos materiais. Para tal, começou-se por se averiguar em que local
estaria o espólio armazenado, verificando-se que na sua totalidade estava no Museu
Geológico e Mineiro, após o que se fez o necessário requerimento para realizar o seu
estudo
6
Finalmente, fez-se a separação do espólio, de acordo com as grandes categorias
anteriormente referidas, para que a sua análise pudesse ser sistemática e registada,
segundo os atributos julgados pertinentes, como: matéria-prima, cor, forma,
dimensões, etc..
Paralelamente ao trabalho de laboratório. procedeu-se à investigação
documental, tendo em vista um melhor conhecimento do possível contexto daquele
conjunto artefactual, nomeadamente em relação à sua integração crono-cultural e
simbólica, bem como em relação ao próprio sítio.
Dado que um dos critérios de analise foi a cor dos artefactos, recorrendo-se à
sua classificação através das Munsell Soil Color Charts (1975). Por esta razão, os índices
cromáticos devem entender-se como aproximados.
Na classificação dos elementos não plásticos (e.n.p.) das cerâmicas, seguiu-se a
escala de Froster, em que a sua divisão é: ‘grão muito fino’(A), quando estas
apresentam diâmetros de 0,25 a 0,35 mm; ‘grão fino’ (B), se medirem entre 0,35 e
0,50 mm; ‘grão fino, a médio’ (C), quando apresentam diâmetros de 0,50 a 0,71 mm; é
‘grão médio’ (D), quando os seus elementos variam entre 0,71 e 1 mm; ‘grão médio, a
grosseiro’ (E), quando os componentes têm valores entre 1,00 e 1,41mm; ‘grão
grosseiro’ (F) os que apresentam dimensões superiores àquelas.
Um outro aspecto a referenciar foi a realização de catálogo pormenorizado do
espólio, executando-se o seu registo visual, através da fotografia e do desenho.
Para a produção das fotografias foi utilizada uma máquina fotográfica Nikon
D3100, com objectiva AF-S DX 55-200mm f/4-5.6 VR.
Os desenhos arqueológicos são da autoria de Bernardo Lam, à escala 1:1,
depois reduzidas 40/45%, através do programa Microsoft Office Picture Manager.
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3 - Localização
Topónimo: Gruta da Cerca do Zambujal
Freguesia: Melides; Concelho: Grândola; Distrito: Setúbal
Coordenadas, segundo o sistema de coordenadas PT-TM06/ETRS89, a jazida
arqueológica situa-se a -52240,236855 e -168889,74362.
A Freguesia de Melides “Confina a norte com a freguesia de Carvalhal; a leste e
a sueste com Grândola e Santa Margarida da Serra respectivamente; a sul, com o
concelho de Santiago do Cacém; e a oeste com o Oceano Atlântico.” (Plano de
Urbanização de Melides, 2011:5)
Figura 1 – Localização geográfica de Melides (http://www.vacances-location.net/aluguer-ferias/aluguer-ferias-melides,alentejo-litoral.thtml, 17 de Abril de 2012)
O arqueossítio mencionado corresponde a cavidade natural, situada junto à
povoação de Melides, do seu lado sudoeste, em vale que separa dois morros de
calcários miocénicos. Nesse mesmo local, em que se encontra a Gruta da Cerca do
8
Zambujal, localiza-se uma segunda gruta, a Gruta do Lagar, também ela utilizada como
necrópole, durante o Neolítico.
A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se (segundo a Carta Militar de Portugal,
na escala 1:25 000 nº 494 - Melides, Grândola), a 200 metros da igreja de Melides e a
200 metros, aproximadamente, da ribeira de Melides.
Figura 2 – Localização da Gruta da Cerca do Zambujal (nº10) (segundo o PDM de Grândola, 1995)
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4 - Enquadramento ambiental
A estação arqueológica, conhecida como Gruta da Cerca do Zambujal,
enquadra-se numa das unidades morfoestruturais, em que a Península Ibérica se
encontra dividida, a Bacia Cenozóica do Tejo e do Sado. Esta, por sua vez, segundo as
unidades paleogeográficas e tectónicas, integra-se na Orla Ocidental da Península
Ibérica.
Figura 4 – Unidades Paleogeográficas (segundo http://alemdasaulas.wordpress.com/2010/10/08/carta-geologica-de-portugal-2/ , 27 de Abril de 2012)
Figura 3 – Bacia do Tejo e do Sado (1:150 Km) (segundohttp://geografiaa10.blogspot.pt/, 27 de Abril de 2012)
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A parte inferior da série sedimentar daquela bacia é francamente continental,
com formações detríticas grosseiras na base e intercalações de calcários e argilitos de
neoformação.
“Foi no Miocénico que ocorreram algumas acções transgressivas do mar que,
mais ou menos, penetraram na bacia. Ao Miocénico Continental seguiu-se o Pliocénico,
também Continental, com sedimentação fluvial detrítica, arenitos, conglomerados e
argilitos. O Quaternário está bem representado pelos diversos níveis de terraços
fluviais, ao longo dos leitos do Tejo e do Sado e alguns dos seus afluentes.”
(Carta Geológica de Portugal; http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-
geol%C3%B3gia-de-portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)
Figura 5 – Bacia Sedimentar do Tejo e do Sado (segundo
http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-geol%C3%B3gia-de-
portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)
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Segundo a divisão administrativa de Portugal, Melides situa-se na zona da
Estremadura.
Figura 6 – Unidades biofísicas do concelho de Grândola (seg. o PDM de Grândola, Setembro de 1995)
A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se, portanto, na bacia sedimentar
terciária e quaternária do Sado, na Zona Ocidental Alentejana a correspondente à
planície e orla costeiras.
Aquela unidade tem litologia composta por areias de praias, dunas e outras
rochas predominantemente detríticas, correspondente a zona plano-ondulada, de
orientação predominante a W e uma altitude desde 0 até cerca de 100 metros, em que
o relevo é considerado de acentuado a muito acentuado (declive superior a 16%) (seg.
o Plano Director Municipal de Grândola). Ali dominam solos arenosos junto à Costa,
sobre as areias de dunas e junto à Serra Litoral, apresentando acentuados problemas
de erosão.
Gruta da Cerca do Zambujal
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Citando o Plano Urbanístico de 2011:5, salientamos que “ (…) as Arribas da
Galé, compostas por afloramentos de Idade Quaternária e do Plio-Pleistocénico, de
idade inferior a 5 milhões de anos. São constituídas por arenitos argilosos, geralmente
pouco permeáveis. “.
É ainda de referenciar a existência de aluviossolos e coluviossolos, ao longo das
linhas de drenagem que desaguam na lagoa de Melides, ou directamente no oceano.
Actualmente, a vegetação natural é composta por formações xerófilas, próprias
das dunas litorais e das dunas interiores, mais ou menos consolidadas. Podem ser
ainda encontrados juncais e matas de tamargueiras, junto à lagoa litoral, sendo que a
planície é arenosa e composta de carvalhal, com domínio do sobreiro. O solo encontra-
se, presentemente, utilizado como sistema florestal, sendo o pinheiro e o eucalipto o
tipo florístico escolhido para tal.
Relativamente aos recursos hídricos superficiais, o sítio arqueológico encontra-
se perto de um afluente da lagoa de Melides, em zona sudoeste do povoado de
Melides, e entre a linha principal de talvegue e a linha secundária de festo. Ou seja,
entre zona de vale e zona de relevo, em que este é de acentuado a muito acentuado.
Figura 7 – Relevo geral da zona onde se localiza Melides (seg. http://web.letras.up.pt/asaraujo/geofis/t1.html - 28 de Abril de 2012)
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Figura 8 – Carta fisiográfica de Melides em que a zona a tracejado é de declive superior
a 16% (seg. PDM Grândola, Setembro de 1995)
Figura 9 – Localização da gruta em relação a linha de talvegue principal (linha preta
grossa), e uma linha de festo secundária (linha a tracejado fina) (seg. PDM de
Grândola, Setembro de 1995)
Gruta da Cerca do Zambujal
Gruta da Cerca do Zambujal
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A Gruta da Cerca do Zambujal, que se encontra nos contrafortes da Serra de
Grândola, localiza-se numa área de biótopos classificados. Ou seja, é uma área com
interesse patrimonial, por conter conjunto de valores naturais e paisagísticos. A zona
de Melides apresenta paisagem de características homogéneas, sendo a única
excepção a Lagoa “ (…) com cerca de 26 hectares, pontuada por pequenas ilhas com
vegetação hidrófila. As espécies aquáticas aqui dominantes são as enguias, carpas,
barbos, achigãs e pardelhas, enquanto que a avifauna é composta por espécies como a
garça pequena, garça branca, garça vermelha, milhafre preto e tarambola dourada.”
(P.U, 2011:5)
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5 - A Jazida Arqueológica
5.1 - Descoberta e primeiros trabalhos
A Gruta da Cerca do Zambujal foi intervencionada, em 1920, por Romão de
Sousa, conservador dos Serviços Geológico, e João Telo, colector da mesma instituição
(Nogueira, 1927:41).
No entanto, o primeiro trabalho descritivo com a localização do sítio
arqueológico, enquadramento crono-cultural, inventariação de material arqueológico
recolhido e elaboração de algumas suposições, foi publicado em 1927, por Augusto de
Mello Nogueira, em volume das “Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal”
(Tomo XVI). A este investigador devemos a seguinte descrição: “Junto à povoação, (…),
a Sudoeste, vêem-se algumas grutas entre as quais uma maior no sítio denominado
Cerca do Zambujal. (…) Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o
número de restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da
Cerca do Zambujal, (…)” (Nogueira, 1927:41,42)
Durante aquela intervenção não foi executado um trabalho criterioso na
recolha da informação, apesar de ambas grutas terem sido escavadas até à rocha, ou
seja, apenas se exumou o espólio arqueológico, sem registo tridimensional do mesmo,
atribuição de camadas arqueológicas, não se tendo feito recolhas de sedimentos ou
diferenciação estratigráfica, determinação de associações ou outras prátcas
metodológicas que conduzissem à melhor classificação dos espólios e do sítio. O
próprio autor reconhece que “ As grutas foram escavadas até à rocha, sendo todas as
terras miudamente pesquisadas, mas não tendo sido possível diferençar camadas.”
(Nogueira, 1927:42)
Na mesma época, em 1931, foi realizado estudo pormenorizado, por Barbosa
Sueiro, sobre os casos de perfuração do olécrane, da apófise supra-epitroclear e do
canal do úmero, observados nas estações neolíticas de Melides, sendo
especificamente mencionada a Gruta da Cerca do Zambujal. Com este trabalho,
pretendeu-se realizar comparação dos dados ali obtidos, com os de algumas estações
arqueológicas do mesmo período, nomeadamente Alcobertas, Carvalhal, Casa da
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Moura (Cesareda), Lapa Furada (Cesareda), Liceia, Malgasta, Palmela, Serra do Monte
Junto, etc.. Barbosa Sueiro pretendia, a partir das semelhanças ou disparidades ósseas
eventualmente detectadas, compará-las com as encontradas noutras populações da
mesma época, para obter informações que pudessem contribuir para uma melhor
compreensão das características antropológicas das sociedades em estudo.
Meio século depois O. Da Veiga Ferreira (1982:285) “ (…) apresenta uma
listagem das grutas portuguesas com interesse cultural desde a pré-história à proto-
história, fauna fóssil e actual, interesse mineralógico ou mineiro, etc..”. Nesta, a Gruta
da Cerca do Zambujal é novamente referenciada.
Posteriormente, em 1993, voltaria a ser mencionada e enquadrada, em
publicação da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, onde se faz a
exposição, ao nível daquela região, do património arqueológico existente, sua
localização e integração histórico-cronológica. É então, apresentada a evolução da
ocupação humana, da região indicada, desde o seu início até à actualidade, bem como
a seriação e localização geográfica dos sítios arqueológicos.
Mais tarde, em 1995, com a elaboração e posterior publicação do Plano
Director do Município de Grândola, o sítio arqueológico objecto do presente trabalho
foi de novo citado e enquadrado na catalogação do património arqueológico existente
no Distrito de Setúbal.
De referenciar que, durante os anos 80, mas para a área da antropologia, a
Gruta da Cerca do Zambujal foi novamente objecto de estudo, a cargo da antropóloga
canadiana, Mary Jackes. Tratou-se de investigação que tinha em vista efectuar a
selecção, pesquisa e elaboração de estudos antropológicos, igualmente enfocados no
material osteológico recolhido (Lubell et alii, 1994:203).
Desde os anos 90 até hoje, vários têm sido os trabalhos desenvolvidos em
torno daquele espólio, sendo um deles na área da paleodieta, elaborados por vários
investigadores, nomeadamente canadianos e um português. Foram iniciativas que
tinham, como objectivo, colmatar a falta de informação existente sobre o
desenvolvimento do Neolítico Médio. De facto, o conhecimento até então disponível,
relativamente àquele período, baseava-se, quase exclusivamente, na análise dos
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artefactos encontrados, pouco contribuindo para a compreensão paleoeconómica
daquele período.
“In Portugal, the distinction between the Mesolithic and Neolithic is defined
almost exclusively on the basis of artefcat assemblages from a limited number of
coastal and near-coastal sites. (…) Most Neolithic remains come from ossuary caves
and no associated settlements have been found and excavated with modern
techniques. There is thus an almost total absence of paleoeconomic data for the
Neolithic.” (Lubel et alii, 1994:201)
5.2 - Descrição
O arqueossítio em estudo é uma gruta natural, de ambiente calcário, utilizada
como sepulcro. Ela é constituída por uma câmara de planta irregular, ainda que
aproximadamente rectangular, possuindo três aberturas voltadas para sueste. Mede,
aproximadamente, seis metros de comprimento por cerca de quatro metros de
largura, variando a altura, embora seja suficiente para que, no seu centro, se possa
estar de pé.
Na zona sul, existe um corredor curto que comunica com uma chaminé, com
cerca de quatro metros de altura, mas que não rompe até à superfície.
Figura 10 – Vista geral da entrada da gruta (NO-SE) (Autor Mariana Villar Mendes)
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Figura 11 – Vista geral de 2 pequenas entradas da zona sul da gruta (NE-SO) (Autor
Mariana Villar Mendes)
Figura 12 – Vista de pormenor do corredor que dá acesso a pequena sala com chaminé
(SE-NO) (Autor Mariana Villar Mendes)
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Figura 13 – Vista geral da pequena sala que tem a chaminé (N-S) (Autor Mariana Villar
Mendes)
Figura 14 – Vista em pormenor da chaminé (Autor Mariana Villar Mendes)
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O solo da gruta situa-se a meia altura da colina onde ela se encontra e a uns
três metros acima do vale. Em torno da sua câmara principal, existem numerosos
nichos pouco profundos.
Aquando da descoberta, a Gruta da Cerca do Zambujal encontrava-se repleta
de areias, possivelmente arrastadas pelas águas, que envolviam o espólio
arqueológico. No entanto, os materiais cerâmicos e os restantes artefactos jaziam
perto da entrada, enquanto os ossos humanos se localizavam no interior, junto às
paredes.
Segundo Mello Nogueira, devido ao facto ter sido encontrado um único
esqueleto, na sua posição normal, numa fenda exterior, perto do lado direito da
entrada da gruta, esta poderia ter sido maior, prolongando-se um pouco pelo pequeno
terraço existente à sua frente e integrando a zona onde se fez aquele achado.
Actualmente, a entrada da gruta encontra-se envolta por grande quantidade de
vegetação, o que dificulta o seu acesso.
Figura 15 – Vista geral da gruta em relação à ribeira de Melides (E-O) (Autor Mariana
Villar Mendes)
Gruta da Cerca do Zambujal
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5.3 - Espólio
Segundo Mello Nogueira, foram recolhidos, na Gruta da Cerca do Zambujal, em
1920, quinze machados, sete enxós e um escopro ou formão de pedra polida, sete
instrumentos lascados de sílex, quatro artefactos em osso e sete contas de xisto. Os
machados estariam inteiros, perfeitos e bem trabalhados, pertencendo a dois tipos
diferentes: os de secção elíptica e os de faces planas, sendo onze do primeiro tipo e
quatro do segundo. Todos estes instrumentos, de pedra polida/picotada, têm o gume
muito afiado e nenhum apresentava vestígios de encabamento.
O mesmo autor afirma que o grupo dos artefactos de sílex seria composto por
seis facas de dois gumes e por uma peça quadrada, de pequena espessura, talhada em
gume nos quatro lados, dos quais dois seriam cortantes e em que o vértice formado
seria muito aguçado.
Dos quatro artefactos em osso, talhados em ponta, três seriam sido talhados
sobre lascas e um, o de menores dimensões, era oco. Dos três utensílios talhados
sobre lascas, um estaria partido em uma das pontas e, no lado oposto, a parte mais
larga, apresentaria princípio de furo.
As sete contas correspondiam a pequenos discos circulares, muito perfeitos,
furados ao centro, com diâmetros que mediam entre os 4,5 milímetros e os 6
milímetros, apresentando espessura média, entre os 2 milímetros e os 3,5 milímetros.
No mesmo estudo, foi ainda mencionada a existência de cerâmicas espessas,
mas bem executadas, designadamente uma tigela pequena, de forma esférica, um
vaso de bordo circular e fragmentos de outros artefactos, bem como de espólio
osteológico, humano, em grandes quantidades, de restos faunísticos, os quais foram
considerados como podendo ser, ou não, contemporâneos da utilização da gruta como
necrópole.
Actualmente, o espólio arqueológico deste arqueossítio, que se encontra no
Museu Geológico e Mineiro de Lisboa, comporta, segundo a inventariação feita no
presente estudo, cinco lâminas inteiras e uma outra, partida no seu volume próximal,
catorze machados, oito enxós e dois escopros de pedra polida/picotada, três furadores
de osso, sete contas de xisto, muito bem conservadas, e duas taças, em cerâmica,
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inteiras, possuindo, uma delas, pequena carena. Foi possível verificar, ainda, a
existência de dois fragmentos correspondendo a porções de bordo, possivelmente
pertencentes a taças, e cinco fragmentos de paredes de recipientes de cerâmica, cujas
formas não é possível identificar.
Conserva-se, também, algum espólio osteológico, referente aos enterramentos
encontrados na gruta, bem como ossos pertencentes a fauna diversa.
A partir do primitivo estudo do espólio encontrado na Gruta da Cerca do
Zambujal e do actual, pode constatar-se a existência de disparidades, quer no número,
quer na classificação tipológica daquele. A classificação errónea pode, no entanto, ser
considerada um mal menor, se se tiver em conta o desaparecimento de algum desse
espólio, como é possível deduzir-se, ao comparar-se o registo daquilo que existe, no
Museu, em 2012, e o que foi publicado em 1927. 1
Apesar de, no presente estudo, não se ter tratado o espólio osteológico, animal
e humano, pode percepcionar-se, através da publicação de 1927, quais as espécies
faunísticas encontradas, aquando da sua descoberta, bem como a contabilização do
espólio osteológico humano.
1 Porque o material osteológico, humano e animal, das duas grutas, disponível no Museu, se encontrava
misturado, não nos foi possível levar a cabo qualquer comparação.
Material publicado em 1927
Machados 15
Enxós 7
Escopro /Formão 1
Facas 6
Peça quadrada ind. 1
Osso trabalhado 4
Contas de xisto 7
Taça em calote 1
Taça carenada 1
Material existente em 2012
Machados 14
Enxós 8
Escopro 2
Lâminas/Facas 6
Peça quadrada ind. 0
Osso trabalhado 3
Contas de xisto 7
Taça em calote 1
Taça carenada 1
Recipiente indeterminado 2
23
Fauna Ossos encontrados
Vulpes alópex Crânio, bacia, úmero e tíbias
Meles taxus, Bodd Úmeros e fémur
Capra sp. Mandíbula (lado esquerdo), úmero e metatarsos
Lynce pardellus, Miller Tíbia e fémur
Sus scrofa, L. Mandíbula (lado esquerdo) e tíbia
Oryctolagus cuniculus Muitos crânios, úmeros, etc.
Ave de rapina (Buteo?) Tíbias
Ossos encontrados Nº
Crânios completos 7
Fragmentos de crânio 5
Maxilares inferiores 8
Fragmentos de maxilares inferiores lado direito 24
Fragmentos de maxilares inferiores lado esquerdo 18
Fragmentos de maxilares superiores 22
Fragmentos de maxilares inferiores 5
Vértebras, costelas, omoplatas, clavículas, etc. indeterminado
O estudo de Barbosa Sueiro (1931) incidiu sobre o material encontrado nas
grutas do Lagar e do Zambujal, tendo sido identificados restos pertencentes a adultos,
a adolescentes e a crianças. Refere, concretamente, 101 húmeros humanos (85 de
adultos, 7 de adolescentes e 9 de crianças). Daqueles, apenas 22 (só de indivíduos
adultos), foram encontrados na Gruta do Lagar. Isto quer dizer que todos os outros
procedem da Gruta da Cerca do Zambujal, como o autor sugere, ao dizer “encontrados
principalmente na Gruta do Zambujal” (Sueiro, 1931:12). Quanto aos ossos de animais,
“na Gruta do Lagar, apenas foi encontrado 1 húmero de raposa” (Sueiro, 1931:12).
24
6 - Estudos e resultados recentes
A Gruta da Cerca do Zambujal foi, conforme atrás referimos, objecto de
investigações, elaboradas a partir de 1984, pelos canadianos Mary Jackes e David
Lubell, na sequência da sua integração em projecto, que decorreu de 1984 a 1989,
denominado “Archaeology and Human Biology of the Mesolithic-Neolithic transition in
Portugal” (Lubell et alii, 2004:209)
Tal como aqueles investigadores referem, o seu principal objectivo era: “ (…) to
understand early Holocene palaeodemography and subsistence ecology and included
two related investigations: (a) study of previously excavated Mesolithic and Neolithic
human skeletal collections from Muge and elsewhere in Portugal, and (b)
interdisciplinary excavation and analysis of transitional sites in the Alentejo and
Estremadura.” (Lubell et alii, 2004:209)
O trabalho desenvolvido tentava superar lacunas que anteriores investigadores
por não terem meios e capacidade técnica para o seu desenvolvimento ficaram pela a
análise e estudo “clássico” dos materiais que encontravam, elaborando suposições
quanto à cronologia e tipos de sociedades do passado.
Tal como referem os arqueólogos canadianos acima citados, a transição
Mesolítico-Neolítico era definida, quase exclusivamente, com base nos conjuntos
artefactuais, de número limitado, de sítios costeiros ou situados perto da costa, tendo
muitos deles grande quantidade de amostras de esqueletos humanos que nunca
tinham sido estudados, em detalhe. Em contraste com o Mesolitico, em que os mortos
se encontravam enterrados dentro dos limites do local de habitação e tendo a sua
análise permitido obter imagem provável do tipo de dieta alimentar, a maioria do
espólio osteológico do Neolítico, por jazer em grutas sepulcrais, as quais não se
encontravam associadas aos locais de habitação, não fornecendo, portanto, esse tipo
de informação, criou uma lacuna de dados sobre a paleoeconomia daquele período
(Lubell e Jackes, 1994:201)
Para colmatar essa ausência de dados, foi elaborada uma série de estudos aos
ossos encontrados em arqueossítios como a Gruta da Cerca do Zambujal e a Gruta do
Lagar, ambas em Melides e datáveis do Neolítico, através, quer de análises de
25
rádiocarbono, quer de análises isotópicas do colagénio; as primeiras, identificando o
período temporal em que aquela população viveu e as segundas a composição da sua
dieta alimentar, dando, portanto, contribuição para o esforço de reconstrução
paleoeconómica das populações (Lubell e Jackes, 1994:201,202).
Os isótopos analisados por estes investigadores, Mary Jackes e David Lubell,
nos ossos, foram o Carbono (13C) e o Nitrogénio (15 N), pelo facto de terem a mesma
proporção nos ossos e nos alimentos ingeridos (Lubell e Jackes, 1994:202).
Um outro estudo, elaborado por aqueles mesmos dois investigadores, incidiu
sobre a diferença do tipo de dieta alimentar, em populações do Mesolitico e do
Neolítico, mas através da análise da dentição e seu desgaste. Este tipo de análise pode,
no entanto, levantar problemáticas diversas, dado os dentes poderem ser utilizados
com outros propósitos, tal como referem Lubell e Jackes (1994:208)
Tabela 1 – Tabela das datações por radiocarbono e resultados das análises de isótopos, onde se inclui amostra da Gruta da Cerca do Zambujal (seg. Lubell e Jackes, 1994:203)
Conforme os dados obtidos, pelas análises isotópicas elaboradas, Lubell e
Jackes (1994:203) chegaram à conclusão de que se deu uma intensificação na
tendência para o consumo de recursos terrestres, durante o Neolítico. É também
26
sugerido um aumento na homogeneidade do regime alimentar durante aquele mesmo
período.
Todavia, estudos faunísticos efectuados a sítios do Neolítico e Calcolítico,
demonstraram que, apesar de haver animais domésticos, como o porco, a ovelha, a
cabra, a dieta alimentar era, numa grande percentagem, constituída por alimentos
marinhos, como os bivalves e gastrópodes.
A própria análise dentária, através da percepção de elementos como as cáries e
outras patologias odontológicas, são reflexo do tipo e natureza dos recursos
alimentares.
Tabela 2 – Tabela das percentagens do desgaste dos 1º molares no momento da erupção dos 3º molares (seg. Lubell e Jackes, 1994:209)
Excluindo o factor já referido de que o desgaste dentário poder reflectir o uso
dos dentes para outros fins, a análise comparativa entre os sítios da Moita Sebastião,
da Casa da Moura, da Arruda e das Grutas de Melides 2 permitiu analisar o desgaste
dentário e o seu grau, relacionando o grau de abrasão com o tipo de alimentação
adoptada. Aquele viria a confirmar que durante o Mesolítico o tipo de alimentação
2 No estudo elaborados por Mary Jackes e David Lubell neste artigo, bem como em investigações posteriores, o
espólio osteológico referente ás Grutas de Melides corresponde ao enconcontrado na Gruta da Cerca do Zambujal e
da Gruta do Lagar. Aqueles não efectuaram uma separação dos materiais de ambos os sítios.
27
escolhida pelas populações seria baseada em recursos marinhos, tendo sido durante o
Neolítico que se começou a optar por uma maior variedade alimentar, incluindo os
alimentos terrestres. Em alguns sítios, deste último período, haveria quase
exclusivamente, alimentação terrestre.
Tanto este artigo, em que nos baseamos para fornecer os dados acima
expostos sobre a Gruta da Cerca do Zambujal, como nos artigos posteriormente
publicados por Lubell e Jackes, tendo ou não a comparticipação de outros
investigadores, tiveram como base os estudos realizados, entre 1984 e 1986.
Posteriormente àquela investigação, foi também desenvolvido estudo
petrográfico, por Katina Lillios (segundo nos foi referido pelos técnicos do Museu
Geológico e Mineiro), com base em amostras dos materiais, de pedra picotada/polida,
recolhidos na Gruta da Cerca do Zambujal. Neste estudo pretendia-se determinar que
tipo de rocha preferencialmente foi utilizada pela população que frequentou a gruta,
para a execução dos machados, enxós e escopros, bem como determinar se a matéria-
prima utilizada seria local ou não. Isto pôde ser deduzido apenas através de outros
estudos, do mesmo tipo, efectuados, pela mesma investigadora, em sítios da Idade do
Bronze da Estremadura (quatro povoados e uma gruta-necrópole), nos quais se tinham
encontrado artefactos de anfibolito.
Apesar de termos estabelecido contacto com Katina Lillios, não nos foi possível
obter mais informação sobre a investigação efectuada a partir dos materiais da Gruta
da Cerca do Zambujal.
Posteriormente, em 2000, João Zilhão, na sequência da elaboração do projecto
de investigação da Universidade de Wisconsin, Madison, sobre “Europe’s First
Farmers”, desenvolveu estudo sobre o Mesolítico e o Neolítico, na Península Ibérica,
em que mais uma vez surge a questão sobre a transição entre aqueles dois períodos,
em Portugal, e a lacuna na informação existente sobre a adaptação do homem
caçador-recolector para o homem com economia de “produção”, tendo esta
perspectiva que se basear em áreas arqueológicas costeiras.
28
Figura 16 – Localização de recursos de anfibolito e dos sítios estudados (segundo
Lillios, 1997:139)
29
Vários foram os sítios arqueológicos comparados entre os quais estão as grutas
de Melides, a partir dos estudos do Lubbel et alii, de 1994, onde, através de quadros,
se expõe a composição isotópica de Nitrogénio e colagénio nos esqueletos humanos
em sítios do Mesolítico, Neolítico e da Idade do Bronze.
Figura 17 – Segundo Zilhão, 2000:162
Figura 18 – Segundo Zilhão, 2000:162
30
7 - Catálogo do espólio
Os materiais que passaremos a inventariar e descrever foram precariamente
analisados e estudados, por outros investigadores, pelo que algumas peças tinham
várias referências atribuídas. Sendo assim, e por se ter optado por não se voltar a
conferir mais uma numeração, podendo causar alguma confusão, optou-se por se
utilizarem as referências que as peças já possuíam.
7.1 - Pedra lascada
Lâmina (228.21) – Contém os volumes proximal e mesial, encontrando-
se talhada em sílex de cor castanha (7.5YR 6/2). Oferece contorno sub-rectangular
e secção triangular. Possui pequeno retoque subvertical no bordo do volume
proximal. Mede 4 cm de comprimento, 0,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura
média.
31
Lâmina (228.22) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Possui
contorno e secção trapezoidais. Conserva, no reverso, bolbo de percursão. Os
bordos não apresentam retoques. Mede 7,8 cm de comprimento, 1,5 cm de uma
largura e 0,3 cm de espessura média.
Lâmina (228.17) – Talhada em sílex de cor castanha acinzentada (7.5YR
5/2). Apresenta contorno sub-rectangular e secção trapezoidal. Conserva bolbo de
percursão, no reverso, e retoques subverticais em ambos bordos do volume
proximal. Mostra no anverso da superfície mesial, restos de córtex. Mede 9 cm de
comprimento, 1,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura média.
32
Lâmina (228.19) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Mostra
contorno e secção trapezoidais. Apresenta retoques subverticais em ambos os
bordos e entalhes no volume proximal. Possui, na extremidade distal, pequena
porção de superfície cortical, tal como se pode observar na fotografia de pormenor
ampliada. Mede 10 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 0,2 cm de espessura
média.
33
Lâmina (228.18) – Talhada em sílex de cor castanha amarelada (2.5YR
6/3). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Mostra pequenos retoques
subverticais em ambos bordos e entalhes opostos no volume proximal, tal como se
pode ver na fotografia de pormenor ampliada. Na extermidade distal observa-se
pequeno levantamento. Mede 8 cm de comprimento, 1 cm de largura e 0,2 cm de
espessura média.
34
Lâmina (228.20) – Afeiçoada em sílex de cor castanha alaranjada (7.5YR
5/8). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Conserva bolbo de percursão e
restos de córtex na extremidade distal. Apresenta dois entalhes opostos, no
volume distal, tal como se pode observar na fotografia de pormenor ampliada.
Mede 7 cm de comprimento, 1,3 cm de largura e de 0,3 cm de espessura média.
7.2 - Pedra picotada/polida
Machado (228.16) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura
acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e oferece apenas o
gume polido. Este, algo obliquo, tem contorno convexo. A secção transversal é
oval. Mede 13 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.
35
Machado (228.6) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura
(5G 1.7/1). Apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume polido. Este
tem contorno convexo. A secção transversal é circular. Mede 8,5 cm de
comprimento, 4,5 cm de largura e 4 cm de espessura máxima.
36
Machado (228.9) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura
acinzentada (2.5G Y4/1). Apresenta algum picotado nas superfícies laterais e o
gume bem polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8
cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 2,7 cm de espessura máxima.
Machado (228.5) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (10G 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este
tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 7,5 cm de comprimento,
4,7 cm de largura e 3,3 cm de espessura máxima.
37
Machado (228.2) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5GB3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem
contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8 cm de comprimento, 4,7
cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.
Machado (228.40) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume bem polido.
Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é circular. Mede
14,8 cm de comprimento, 5,4 cm de largura e 4,5cm de espessura máxima. Foi-lhe
amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua
caracterização litológica.
38
Machado (228.36) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5BG 3/1), apresenta polimento em 2/3 das superfícies, estando as
restantes picotadas. O gume foi bem polido e mostra contorno convexo. A secção
transversal é oval. Mede 13 cm de comprimento, 6 cm de largura e 3,8 cm de
espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar
amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.
Enxó (228.37) – Afeiçoada em xisto anfibólico, com cor cinzenta clara
(5GY 6/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é recto. A
secção transversal é oval. Mede 15,7 cm de comprimento, 5,5 cm de largura e 3,7
cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar
amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.
39
Machado (228.38) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor cinzenta
clara esverdeada (2.5GY 7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido.
Este tem contorno recto. A secção transversal é oval. Mede 14 cm de
comprimento, 5 cm de largura e 3,7 cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado
parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua
caracterização litológica.
Machado (228.4) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume
polido. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular.
Mede 7,9 cm de comprimento, 3,7 cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.
40
Escopro (228.41) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeado (5BG 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este
oferece contorno recto. A secção transversal é trapezoidal. Encontra-se amputado
em mais de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 5,6 cm de
comprimento, 3 cm de largura e 3,6 cm de espessura máxima.
Escopro (228.35) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies, do anverso e do reverso, polidas
na sua totalidade e parcialmente as faces laterais. O gume foi bem polido e é recto.
A secção transversal é quadrangular. Encontra-se amputado em mais de metade do
seu volume original. Mede, actualmente, 7 cm de comprimento, 3,3 cm de largura
e 3,3 cm de espessura máxima.
41
Enxó (228.34) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura (5G
2/1), apresenta polimento na totalidade das superfícies, bem como no gume. Este
tem contorno recto. A secção transversal é oval. Encontra-se amputado em mais
de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 4,5 cm de comprimento,
1,5 cm de largura e 1,4 cm de espessura máxima.
Enxó (228.33) - Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura esverdeada
(5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este
tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Encontra-se amputada em
cerca de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 10,8 cm de
comprimento, 4,5 cm de largura e 1,7 cm de espessura máxima.
42
Enxó (228.12) – Afeiçoada em xisto anfibolítico, com cor azul escura
esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o
gume. Este tem contorno recto. A secção transversal é ovalada. Mede,
actualmente, 9 cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 1,7 cm de espessura
máxima.
Machado (228.11) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura
(5G 2/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem
contorno convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 9,7 cm de comprimento,
4,1 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.
43
Enxó (228.15) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5G 3/1), apresenta as faces totalmente polidas, bem como o gume.
Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 7,4
cm de comprimento, 3,9 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.
Machado (228.7) – Afeiçoado em anfibolito, com cor acinzentada escura
(2.5GY 4/1). Apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é
ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 7,8 cm de
comprimento, 4 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.
44
Machado (228.3) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG
1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno
convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 9,9 cm de comprimento, 5 cm
de largura e 3,4 cm de espessura máxima.
Machado (228.1) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG
1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno
convexo. A secção é quadrangular. Mede 10,6 cm de comprimento, 4,8 cm de
largura e 3,6 cm de espessura máxima.
45
Machado (228.8) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG
1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno
ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 11,2 cm de
comprimento, 5,3 cm de largura e 3,4 cm de espessura máxima.
Enxó (228.14) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e
algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como
o gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é trapezoidal. Mede
8,8 cm de comprimento, 3,4 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.
46
Enxó (228.13) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura
esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o
gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é oval. Mede 7,4 cm de
comprimento, 3,4 cm de largura e 1 cm de espessura máxima.
Enxó (228.10) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e
algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como
o gume. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 10,4 cm de
comprimento, 4,5 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.
47
Contas (228.32) – Conjunto de sete contas discoides, talhadas em xisto,
de cor cinzenta escura, algo azulada (N – 3/0). Medem entre 0,3 cm a 0,5 cm de
diâmetro e cerca de 0,1 cm de espessura. Todas elas se encontram inteiras e em
bom estado de conservação.
7.3 – Cerâmica
Taça carenada (228.25) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, carena baixa
e e fundo quase plano. O bordo possui lábio com secção semicircular. Foi fabricada
com pasta homogénea a compacta, contendo elementos não plásticos,
feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das
paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e tanto a superfície exterior como a interior
possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-
se bem alisadas. Mede 8,4 cm no bordo, 10,9 cm de diâmetro na carena, 6 cm de
altura e a espessura média das paredes é de 0,8 cm.
48
Taça em calote (228.23) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, com lábio
de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a compacta, contendo
elementos não plásticos, feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B –
0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 5/2) e tanto a superfície
exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2).
Estas encontram-se bem alisadas. Mede 8,6 cm de diâmetro no bordo, 4,3 cm de
altura e a espessura média das paredes é de 0,4 cm.
Taça (228.26) – Fragmento correspondendo a porção do bordo, oblíquo
e afilado, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a
compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, feldspáticos e quartzosos,
de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e
tanto a superfície exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha
escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-se muito pouco alisadas. Media 22 cm
49
de diâmetro de bordo, 7,7 cm de altura e a espessura média das paredes é de 0,7
cm.
Taça (?) 228.27 – Fragmento correspondendo a porção do bordo,
vertical e com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta algo
homogénea, mas não muito compacta, contendo elementos não plásticos,
micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão médio e alguns grosseiros (C – 0.50 a
0.71). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1), a superfície exterior
possui cor castanha escura (5YR 3/2) e a superfície interior mostra igualmente cor
castanha escura (5YR 2/2). Aquelas encontram-se bem alisadas. Media 7,5 cm de
diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,6 cm.
50
Recipiente indeterminado (11 B) – Fragmento correspondendo a porção
de parede. Foi fabricado com pasta com alguma homogeneidade, contendo
elementos não plásticos, micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão fino (A – 0.25
a 0.35). O núcleo das paredes e as superfícies possuem cor castanha escura (2.5YR
1.7/1). A espessura média das paredes é de 0,9 cm.
Recipiente indeterminado (4 B) – Fragmento correspondendo a porção
de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos
não plásticos, quartzosos, micáceos (Moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –
0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR 1.7/1) e tanto
a superfície exterior como a interior possuem igualmente cor castanha escura (5YR
3/1). As superfícies mostram algum alisamento. A espessura média das paredes é
de 0,7cm.
51
Recipiente indeterminado (228.24) – Fragmento correspondendo a
porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo
elementos não plásticos, quartzosos, feldspáticos e micáceos, de grão fino (A –
0.25 a 0.35). O núcleo das paredes mostra cor preta (5YR 2/1) e tanto a superfície
exterior como a interior possuem igualmente cor castanha avermelhada. As
superfícies oferecem algum alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.
Recipiente indeterminado (10 B) – Fragmento correspondendo a porção
de parede. Foi fabricado com pasta homogénea é compacta, contendo elementos
não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –
0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (5YR 2/1), a
superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 3/2) e a superfície
interior apresenta igualmente cor castanha escura (5YR 2/1). Apenas a superfície
exterior contém alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.
52
Recipiente indeterminado (12 B) – Foi fragmento correspondendo a
porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo
elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão
fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes e as suas superfícies possuem cor
castanha avermelhada (5YR 4/8). Estas encontram-se alisadas. A espessura média
das paredes é de 0,6 cm.
Recipiente indeterminado (9 B) – Fragmento correspondendo a porção
de parede. Foi fabricado com pasta, homogénea e compacta, contendo elementos
não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –
0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (2.5YR 2/2), a
superfície exterior possui cor avermelhada, com zonas pretas, (2.5YR – 4/3) e a
superfície interior mostra cor vermelha (2.5YR 5/6). Ambas superfícies encontram-
se alisadas. A espessura média das paredes é de 0,6 cm.
53
Recipiente indeterminado (7 B) – Fragmento correspondendo a porção
de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos
não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A –
0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR – 4/2), a
superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 5/4) e a interior mostra,
igualmente, cor castanha escura (5YR 4/2). Apenas a superfície exterior se encontra
alisada. A espessura média das paredes é de 0,7 cm.
7.4 - Artefactos de osso
Furador (228.29) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie
indeterminada. Oferece contorno e secção trapezoidal. Encontra-se totalmente
polido e afeiçoado, em ponta, na extremidade distal. Mede 6,9 cm de
comprimento, 2,2 cm de largura e 0,6 cm de espessura máxima.
54
Furador (228.28) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie
indeterminada. Oferece contorno trapezoidal e secção semicircular. Encontra-se
totalmente polido e fragmentado na extremidade proximal. Mede 8,5 cm de
comprimento, 1,7 cm de largura e 0,5 cm de espessura máxima.
Furador (228.30) – Utiliza porção de osso longo de ave, de espécie
indeterminada. Oferece contorno e secção circulares. Encontra-se polido e
fragmentado na extremidade proximal. Mede 9,5 cm de comprimento e 0,9 cm de
diâmetro máximo.
55
8 – Cultura material e integração cronológico-cultural
A cultura material, à luz da Arqueologia, traduz-se no estudo do espólio
deixado pelo Homem ao longo dos tempos da sua evolução, como testemunho das
suas acções, de se relacionar com o ambiente e das formas de estar em sociedade.
Não se pode, contudo, tirar conclusões certas e indiscutíveis em relação às próprias
acções, motivos e sentimentos, que estarão por detrás da elaboração dos objectos.
Através do estudo do material recolhido em sítios arqueológicos, como a Gruta
da Cerca do Zambujal, pretende-se atribuir cronologia àquela presença humana e
enquadrá-la em termos culturais, numa fase da evolução do Homem. Não se pode, no
entanto, querer separar em “caixas” cada fase crono-cultural.
O material osteológico que se encontrou nesta gruta corresponde a
testemunhos correspondentes a 46 indivíduos, entre crianças e adultos. O estudo
agora apresentado não conta com a análise pormenorizada deste. No entanto, tentou-
se perceber a que tipo de material correspondia e se poderia, ou não, conter vestígios
de ritualizações, tal como o tipo de ritualizações, caso existissem indícios destas. Os
vários fragmentos osteológicos recolhidos integravam, entre outros, crânios,
mandíbulas, ossos longos e ossos pélvicos, conforme atrás referimos.
“Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o numero de
restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da Cerca do
Zambujal, que é, como veremos, de pequenas dimensões, relativamente diminuto o
numero de instrumentos líticos, ósseos e de cerâmica, não tendo aparecido vestígios
de refeições ou outros que provassem a sua habitação.” (Nogueira, 1927:42)
O único sinal de ritualização que foi possível detectar naqueles restos
corresponde à presença de ocre vermelho.
Segundo os testemunhos dos intervenientes responsaveis pelos trabalhos
arqueológicos efectuados na gruta, nesta era possivel identificar diferentes “nucleos”
de disposição quer dos materiais arqueológicos, quer das ossadas, quer ainda o
enterramento único contendo esqueleto completo, em posição de decubido dorsal.
56
Aqueles núcleos estavam localizados em zonas diferentes da gruta,
encontrando-se as ossadas depositadas junto às suas paredes e o espólio na sua
entrada. O único esqueleto completo encontrava-se em uma zona exterior da gruta,
mas integrando o contexto desta. Este aspecto é deveras importante, pois pode ser
detectado faseamento na forma de deposição dos mortos. Tal como refere Joaquina
Soares (2003:43), durante o Neolítico Final os mortos seriam enterrados encostados às
paredes das câmaras funerárias e durante o Calcolítico Inicial e Pleno o inumado seria
enterrado na parte central das câmaras. Importa referir que o material exumado na
Cerca do Zambujal não se encontrava associado a nenhum dos enterramentos
identificados, mas sim aglomerados à entrada daquela. Este factor vem dificultar a
possibilidade da detecção e datação relativa dos rituais funerários.
Segundo Zilhão (1984:29), há uma “ (…) tendência para a complexificação dos
rituais funerários e para a maior importância dada a cada indivíduo (…)” desde o
Neolítico antigo ao Romano, ou seja, existe evolução das estruturas funerárias com o
passar do tempo. Neste sentido, o mesmo autor, realiza separação temporal,
enquadrando o enterramento isolado da Cerca do Zambujal, na fase em que existe
uma escolha de “ (…) recintos naturais, mais ou menos arranjados, para a realização de
enterramentos, (…)” e em que se procederam a inumações em “fenda entre os
estratos”, mas sem espólio. Ao contrário do caso em apreço, é possível encontrar-se
na, Caverna dos Alqueves, inumações em “fendas entre os estratos”, “ acompanhadas
por espólio reduzido mas que, pela presença de uma ponta de seta, pode ser de um
Neolítico Final.” Um outro facto a mencionar, tal como refere Zilhão (1984:30), é que o
hábito de estruturar e ritualizar as tumulações secundárias poderá ter surgido no
Neolítico Final estendendo-se a todo o Calcolítico, tal como se pode observar na Lapa
do Fumo e na Lapa do Bugio, dois extremos cronológicos da mesma região.
Do mesmo modo, no arqueossítio em estudo, o grupo das ossadas corresponde
a deposição secundária, evidenciada não só pela sua dissociação como pela presença,
de salpicos de ocre em alguns restos osteológicos, como exemplificam os crânios.
Nestes, foi ainda possível encontrar ocre nas suturas, evidência de ritualização, já com
estes descarnados. Ou seja, este é mais um factor a ter em consideração relativamente
ao enquadramento cronológico do tipo de tumulações encontradas.
57
Passando à análise do material arqueológico podemos depreender, devido à
sua contabilização geral, que há um maior número de artefactos de pedra polida,
seguido dos materiais de pedra lascada, materiais de osso, cerâmica e contas de colar.
Espólio arqueológico
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Lâminas Machados Enxós Escopros Taça Carenada Taça em Calote Fragmento
correspondente
a porção de
bordo
Fragmento
indeterminado
Tipologia
Tota
l
Gráfico 1 – Contabilização do material arqueológico estudado
A existência de um maior número de materiais de pedra polida e lascada, e a
diminuta representatividade de espólio cerâmico, onde se contabilizam duas taças
inteiras e dois fragmentos de bordo, associado à prática “ (…) de estruturar e ritualizar
as tumulações secundárias (…)”, (Zilhão, 1984:30), pode indicar contexto do Neolítico
Médio/Final. Este aspecto não viria a ser confirmado pelas várias datações de
radiocarbono (ver quadro p.19, capitulo 6), efectuadas por investigadores canadianos
que se debruçaram sobre o estudo do material osteológico deste e de outros
arqueossítios, pois indicaram, para a Gruta da Cerca do Zambujal, datação absoluta no
III milénio a.C. e, portanto, no Calcolítico.
Também o material encontrado na gruta do Algar do Barrão (Monsanto,
Alcanena), que a integram como sendo um local do Neolítico Médio, é quase
exclusivamente constituído por materiais não cerâmicos, como lâminas, lamelas,
machados e enxós de pedra polida, furadores de osso, entre outro espólio, onde a
cerâmica apresenta formas simples, lisas e com aplicação de almagre (Carvalho et alii,
2003:115). Por outro lado, a Gruta da Cerca do Zambujal não possui alguns dos
testemunhos que identificam os locais do Neolítico Final, do Centro e Sul de Portugal,
58
como seja, para além de maior número de cerâmicas, lâminas e lamelas, a presença de
alfinetes de osso, pontas de flecha e de placas de xisto gravadas.
Não se pode, também, deixar de observar a ausência, neste mesmo local, de
testemunhos como as braceletes e os geométricos, que o poderiam enquadrar no
Neolitico Médio.
Analisando o material de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal, pode-se
perceber que o tipo de secção predominante das lâminas é a trapezoidal, com 83%,
sendo apenas de 17 % as de secção triangular.
Quanto ao tipo de contorno daquelas peças 67% é trapezoidal, sendo as
restantes, 33%, sub-rectangulares.
Nesta amostragem apenas 67% possuía retoque, enquanto as restantes 33 %
não a apresentaram.
O comprimento predominante encontra-se entre os 7 cm e os 10 cm, havendo
apenas uma lâmina que, por se encontrar partida, mede, apenas, 4 cm.
83%
17%
Trapezoidal
Triangular
Gráfico 2 – Secção das lâminas
59
33%
67%
Sub-rectangular Trapezoidal
Gráfico 3 – Contorno das lâminas
33%
67%
Ausente Sub-vertical
Gráfico 4 – Retoque das lâminas
60
50%50%
Ausente
Presente
Gráfico 5 – Entalhes nas lâminas
As características de indústria de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal
podem ser identificadas em jazidas como a Lapa do Bugio ou nas antas de Reguengos
de Monsaraz, em que, entre outros materiais de pedra lascada ausentes na estação
estudada, as lâminas ou facas, sem retoques, têm numerosa presença. As facas são
produtos alongados delgados e ligeiramente encurvados, que nos monumentos
megalíticos funerários não se encontram normalmente retocadas. Tal como refere V.
Leisner (1985:59) “ (…) ‘facas’ pequenas e finas, que no sudeste caracterizam o
neolítico final (…)” foram também encontradas em antas de Reguengos, como sejam a
anta 1 das Vidigueiras, a anta do Poço da Gateira, anta 2 da Comenda, entre outras
deste período.
Outras jazidas, em que se pode encontrar este tipo de material de pedra
lascada, são os hipogeus da Quinta do Anjo (Palmela). Entre outro espólio ali exumado,
importa destacar os cinco fragmentos de lâminas não retocadas, de sílex. Foi possível,
ainda, encontrar paralelos, na Gruta dos Ossos, nas jazidas do Neolítico Final da
Comporta e no povoado do Neolítico Final do Carrascal, apesar da sua diminuta e algo
fragmentada amostragem. Pode-se determinar paralelos com um outro sítio do
Neolítico Inicial/Médio, ou seja, a Gruta dos Carrascos, sobre o qual foi elaborado
estudo sobre este tipo de materiais, por A. Faustino de Carvalho. Apesar da Gruta da
61
Cerca do Zambujal ser datável do Neolítico Final, as lâminas de pedra lascada são
semelhantes às da Gruta dos Ossos, acima referenciada, que foram separadas, por
este autor, em duas categorias, a partir da variação da largura média e que foi datada
do Neolítico Final/Calcolítico Inicial da Estremadura/Ribatejo (Carvalho, 1998:68).
Apesar de se detectar estas variações nas lâminas exumadas na Gruta da Cerca
do Zambujal, não podemos deixar de estabelecer as parecenças indicadas quanto à sua
forma simples, sem ou quase nenhum retoque e tipo de secção que possuem,
triangular ou trapezoidal. No que se refere ao tipo de matéria-prima, o sílex, em que
foram elaboradas, ele pode ser encontrado na Península de Setúbal ou na Costa
Alentejana, assim como em raros locais do Alto Alentejo (Gomes, 2002:127).
Passando à análise do material de pedra polida/picotada, que totaliza 24
exemplares, conseguiu-se claramente percepcionar que há uma maior quantidade de
machados (14) comparativamente às enxós (8) e escopros (2).
No que concerne ao tipo da secção transversal, existe maior predomínio da
oval com onze exemplares, seguida da secção subcircular com quatro e da ovalada
com três, existindo ainda, mas em menor número, as secções circular, quadrangular e
trapezoidal.
Quanto há picotagem, em onze exemplares, ela é reconhecível nas superfícies,
enquanto que em nove está totalmente ausente e em apenas quatro se pode visualizar
picotagem parcial.
Relativamente à matéria-prima foi possivel perceber que dos 24 artefactos em
pedra polida/picotada, 19 eram de anfibolíto e apenas 5 foram produzidas em xisto
anfibólico, possivelmente devido ao facto de ser uma matéria-prima local e de fácil
aquisição.
62
8
2
14
Enxó Escopro Machado
Gráfico 6 – Material de Pedra Polida
2
6
1 1
4
Circular Oval Ovalada Quadrangular Subcircular
Gráfico 7 – Secções do material de pedra polida
63
11
2
1
Ausente Parcial Presente
Gráfico 8 – Polimento das superfícies dos machados
1
7
Ausente Presente
Gráfico 9 – Polimento das superficies das enxós
64
1
4
9
Ausente Parcialmente Presente
Gráfico 10 – Picotagem nos machados
7
1
Ausente Presente
Gráfico 11 – Picotagem nas enxós
65
19
5
Anfibolito Xisto Anfibolico
Gráfico 12 – Matéria-prima da pedra polida
Através da análise do material de pedra polida pode-se atribuí-lo ao Neolítico
Médio/Final. De facto, a maior presença dos machados e das enxós, de secção oval ou
subcircular, apesar de não se terem encontrado goivas, constitui indicativos daquele
período. Outra característica reside na existência de uma maior quantidade de
machados com as superfícies picotadas e com apenas o gume polido. Todavia, em
relação às enxós, há uma maior quantidade totalmente polidas, apresentando trabalho
de maior cuidado.
Comparativamente ao estudo efectuado, por J. L. Cardoso (1992:99), para
material encontrado na Lapa do Bugio, podemos encontrar semelhanças com o espólio
da Gruta da Cerca do Zambujal não só relativamente ao tipo de machados como
também de enxós.
Apesar de no presente caso de estudo não existirem enxós delgadas,
totalmente polidas, elas podem ainda ser comparáveis às de outras jazidas do
Neolítico Médio/Final. De facto, foi ainda possível encontrar paralelos em sítios como a
Gruta dos Ossos, nas jazidas do Neolítico Final da Comporta ou no povoado do
Neolítico Final do Carrascal. Uma das características comuns corresponde à existência
de uma maior quantidade de enxós com as superfícies picotadas do que com elas
polidas.
66
Um outro aspecto a ter em consideração relativamente às enxós é a sua
importância simbólica para as comunidades pré-históricas neolíticas. Tal como refere
Valera, (2006:341), aquele aspecto encontra-se bem representado “ (…) no papel de
relevo que lhes foi progressivamente atribuído em muitos rituais funerários (…)”. Foi
segundo o mesmo autor, durante a segunda metade do IV milénio e a primeira metade
do III milénio A.C., que terá ocorrido o grande apogeu desta categoria artefactual
(Valera, 2006:342).
No que se refere à cerâmica da Gruta da Cerca do Zambujal foi possível
encontrar paralelos em exemplares da Comporta I, II e III, nomeadamente nas jazidas
de Pontal, Malhada Alta e Possanco.
Com Comporta I, que se integra, segundo J. Soares e C. T. da Silva (1980:15), em
fase do Neolítico Médio de tradição antiga, no enquadramento da evolução do
Neolítico a Sul do Tejo, podemos observar semelhanças relativamente às formas em
calote, às pastas compactas e às superfícies alisadas. Relativamente à Comporta II, que
se enquadra na fase do Neolítico Médio-Recente, do mesmo enquadramento evolutivo
acima referido, foi possível encontrar paridade relativamente às formas em calote,
mas não tanto em relação ás pastas, as quais voltam a ter semelhanças com Comporta
III, que se enquadra na fase do Neolítico Final, quando se tornam novamente mais
compactas, mas não tanto com as formas que se encontram nesta mesma fase (Soares
e Silva, 1980:16).
Este tipo de características da cerâmica lisa é, também, possível de ser
encontrado em contextos da Estremadura, Estremadura/Ribatejo, datáveis do mesmo
período crono-cultural, como por exemplo no povoado do Carrascal e Gruta do Ossos.
O material acima analisado remete-nos, pois, para um Neolitico Final, tal como
já anteriormente referido.
Durante o período referido existem série de características na cultura material,
embora estes possam variar, ou acoplar outros, dependendo da localização geográfica
dos sítios arqueológicos e de existência, ou não, de miscigenações culturais.
67
2
7
1 1
Fragmento
correspondendo a
pressão de bordo
Fragmento
indeterminado
Taça Carenada Taça em Calote
Gráfico 13 – Forma das cerâmicas
2
9
Homogeneidade relativa Homogénia e Compacta
Gráfico 14 – Tipo de pastas
A par deste espólio que analisámos, mas em número reduzido, devem-se incluir
as contas discoides, em xisto e perfuradas no centro. Eles são comparáveis às
encontradas, por exemplo, na Barrosinha (Comporta II) datáveis do Neolítico Recente,
mas ainda em numerosos monumentos megalíticos do Neolítico Médio/Final,
designadamente do Alentejo Litoral. Entre estes devemos citar as ocorrências do
dólmen da Palhota (Santiago do Cacém) (Soares e Silva, 1976-77), e da sepultura do
Marco Branco (Santiago do Cacém) (Silva e Soares, 1983) em que as contas discoides
68
em xisto são em ambos os locais raras não ultrapassando os três exemplares no
primeiro exemplo e de duas no segundo exemplo.
Por fim, entre os artefactos da Gruta da Cerca do Zambujal encontram-se três
furadores de osso, comparáveis aos procedentes da gruta do Algar do Bom Santo,
datáveis do Neolítico Médio/Final, mas também de outros arqueossítios como por
exemplo a Lapa do Bugio (Cardoso, 1992:90)
Tal como refere Carvalho, et alii., (2003:101), “A cronologia do Algar do Barrão,
assim como as práticas funerárias e o espólio associado, encontram paralelo num
conjunto de cavidades cársicas do Maciço Calcário Estremenho e regiões adjacentes (p.
ex., Gruta do Lugar do Canto, Gruta dos Ossos) cujo espólio, tradicionalmente atribuído
ao Neolítico médio, tem vindo a ser, em alguns casos, datado de finais do IV milénio
(ou seja, no que se convencionou chamar Neolítico final).”. Também se pode enquadrar
a gruta da cerca do Zambujal neste parâmetro de análise comparativa.
Quanto ao material osteológico humano encontrado no arqueossítio em
estudo, pode-se enquadrá-lo nas práticas funerárias do Neolítico, pois é durante este
período, que a forma de encarar os mortos se vai alterar. Vai-se observar “(…) uma
proliferação de rituais de enterramento, que se transformam no tempo e que variam
também de acordo com as áreas estudadas.” (Carvalho., 2003:325)
Em zonas, como a Estremadura, Alto Alentejo, e no Alentejo Litoral (Melides),
onde existem grutas naturais, muitas delas foram utilizadas como local de
enterramento, ou seja, como necrópoles colectivas. A Gruta da Cerca do Zambujal,
pode integrar este tipo de utilização funerária.
Apesar de já anteriormente, durante o Mesolítico, se presenciar ritualização
funerária, através do enterramento dos mortos em depressões escavadas no solo, não
encontramos, contudo, separação física clara entre o espaço dos vivos e o dos mortos.
Este seria um espaço com “ (…) expressão de uma territorialidade qualitativa, de
identificação de uma comunidade com um espaço concreto, ainda que este seja
utilizado a um ritmo sazonal.” (Diniz, 2000: 113)
Tal como refere Mariana Diniz (2000:114), não se pode atribuir, uma
simplicidade simbólica rudimentar àquele ritual, pois não se podendo deduzir qual o
69
significado subjacente, para aquelas comunidades, da importância que teria a
proximidade espacial entre a comunidade e os seus antecessores. Esta deve “(…) ter
constituído uma linha de significado dominante na construção social da morte,
dispensando materializações mais elaboradas.”
Apesar da escassa informação quanto aos enterramentos atribuíveis ao
Neolítico Antigo, pode-se, detectar no Neolítico Médio e Final separação e,
consequentemente, a mudança na forma de interpretação do espaço, havendo
evidente afastamento entre os sítios de habitat e os locais de enterramento.
70
9 - Interpretação funcional e simbólica
9.1 - O espaço funerário
Ao longo dos tempos, desde as primeiras sociedades pré-históricas até à
actualidade, a Natureza, mas acima de tudo, a Terra, tem sido valorizada e até
sacralizada, embora de modos diversos, relativamente ao conceito que existe
actualmente. A Terra carrega, em si, uma carga simbólica que a conecta à fecundidade,
à fertilidade, à criação e à regeneração, como verdadeira mulher e mãe também. Por
isso, é-lhe atribuído um carácter doce, protector, mas firme e permanente. “É a Terra-
Mater ou a Tellus Mater bem conhecida das religiões mediterrânicas, que dá
nascimento a todos os seres.” (Eliade, 2006:148). “ (…) os primeiros homens viveram
um certo tempo no seio da sua mãe, isto é no fundo da Terra, nas suas entranhas”
(Eliade,2006: 149).
“Os espaços subterrâneos, onde os homens procuravam o contacto com o
transcendente e as forças da fertilidade, capazes de originarem e de manterem a vida,
ou de reproduzirem a cultura, tornando-se verdadeiras grutas-santuário, continuaram
longa tradição que remonta, pelo menos, ao Paleolítico Médio, quando ali se
desenvolveram os primeiros enterramentos e outras práticas de carácter ritual.”
(Gomes, 2007:150).
“ As grutas, lugares escuros, silenciosos, em geral húmidos e correspondendo a
espaços limitados, contendo formações geológicas peculiares, foram consideradas,
durante a Pré e a Proto-História, locais sagrados e de culto, capazes de conduzirem ao
interior da terra, ao lugar de residência das forças da Natureza, onde existiam os
mistérios do nascimento e da morte, da génese de deuses e heróis mas, também, da
ligação com o transcendente e o conhecimento superior.” (Gomes, 2007:154)
No mundo actual, vários são ainda os mitos e simbologias que se encontram
associados ao conceito de ‘Terra-Mãe’, não sendo, portanto, exclusivos das religiões
da Pré-História. Entre as muitas designações atribuídas à Terra, encontram-se as que
remontam à tradição indo-europeia: Urd, Erda, Ertha, Terra, Gaia, Hera, Deméter ou
Europa, todas elas com o significado de ‘deusa’, mãe primordial e mitológica.
71
Actualmente, em várias partes do mundo, ainda se praticam ritos e se respeitam
simbolismos que se encontram associados à Terra. Por outro lado, conceitos como o
da água, das grutas e de todos os produtos tirados da terra são, de algum modo,
considerados sagrados e com bastante carga simbólica. Neste contexto e mesmo pela
sua forma física de envolvimento, de ninho e gestação, de refúgio e protecção, atribui-
se, frequentemente, a uma caverna ou a uma gruta, simbologia universal de origem,
de nascimento e até de iniciação, através de um renascimento. Por isso, como Vaz de
Figueiredo (2010:1) afirma, as cavernas estão muitas vezes associadas,
simbolicamente, ao útero, ao colo materno, à genitália feminina, ou, como Mário
Varela Gomes (2007:154) diz: “Elas foram, por excelência, lugares de culto e espaços
de iniciação, com acesso restrito, onde se encenaram rituais de passagem, e
mergulhava nas profundezas da terra ou até nas águas primordiais, quiçá mesmo no
ventre da grande deusa-mãe, mas onde também se conheciam alguns dos segredos ali
guardados, voltando-se ao exterior renascido e com novo estatuto.”
Ou seja, a gruta estaria associada à iniciação, enquanto zona de passagem para
o mundo dos sonhos, das ideias ou da transcendência, “Elas foram, por excelência,
lugares de culto e espaços de iniciação, com acesso restrito, onde se encenaram rituais
de passagem” (Gomes, 2007:154); “(...) a gruta é o palco onde a luz do dia trabalha as
trevas subterrâneas” (Bachelard, 1990:156).
Mesmo na actualidade, as grutas são consideradas locais que transmitem a
energia da terra e, por isso, são utilizadas como templos, em muitas religiões, como na
cristã, onde a Virgem, inclusivamente, ali aparece. Na Turquia, existe uma lenda que
situa o nascimento do primeiro homem e da primeira mulher, numa caverna. No
Extremo Oriente, a caverna simboliza o Cosmos, sendo a sua abóbada o Céu e o seu
solo a Terra.
Não será, portanto, desprovida de significado e lógica, a utilização de
grutas/cavidades subterrâneas durante a Pré-Historia, como sítios de necropolização.
Constituem exemplo deste tipo de ocupação e utilização, as Grutas de Melides,
mais precisamente a Gruta da Cerca do Zambujal e que, apesar das suas pequenas
dimensões, terá tido grande simbolismo, para a comunidade que a utilizou como local
72
de enterramento e, por conseguinte, como local de passagem e renascimento dos
indivíduos nela sepultados.
A carga simbólica que carrega foi-lhe conferida, portanto, não só por aquilo que
é a sua configuração física de caverna - talvez equiparada com o útero - mas também
pela conotação de local de passagem para um renascimento espiritual. Este aspecto
seria materializado nos próprios ritos que nela se praticavam, enriquecidos pela sua
proximidade à água (Ribeira de Melides), elemento purificador. A morte não seria
encarada como o fim mas sim como a possibilidade de um recomeço. No entanto, “A
morte, enquanto rito de passagem implica em uma estrutura de sinalização. O rito,
profano em sua aparência, abre-se para o sagrado. Na relação entre o caos (morte) e o
equilíbrio (vida), os ritos funerários são possuidores da perturbação da morte, mas
instauram uma nova ordem.” (Carvalho, 2001:1).
No entanto, a par de todo o simbolismo positivo, existe também conotação
negativa que atribui às cavernas uma ligação com as trevas, com o desconhecido, com
o mundo infernal, como sendo um espaço de conflito; lugar do sagrado, mas também
do maligno, um lugar onde dia e noite coexistem.
Na Gruta da Cerca do Zambujal os mortos foram presumivelmente depositados
encostados às suas paredes havendo um indivíduo que foi inumado à entrada, no
exterior da cavidade.
Não foi possível identificar a forma das deposições e até se os corpos seriam ou
não cobertos com terra, devido à falta de informação proporcionada pela intervenção
arqueológica. Sabe-se, apenas, que o número de indivíduos encontrados foi de “pelo
menos 46” (Nogueira, 1927: 42) o que é um número superior ao dos encontrados na
Gruta do Lagar, que fica nas imediações. Pode, no entanto, perceber-se, através do
espólio, bem como devido à existência de vestígios de ocre, nos esqueletos, que houve
uma ritualização especifica dos mortos.
O outro aspecto importante, a que já aludimos, é a proximidade da gruta à
ribeira de Melides. Esta ribeira corre a, aproximadamente, 200 metros, embora na
época das chuvas transborde, alagando as duas margens e chegando ao sopé da
encosta em que se localiza a cavidade subterrânea. Ou seja, em determinadas épocas,
73
mas ciclicamente, a ribeira passaria perto da gruta. Este aspecto tanto se pode
relacionar com os recursos naturais proporcionados por aquele nicho ecológico, como
em uma perspectiva simbólica, onde a escolha do sítio teria tido uma componente
transcendente, ligada, não só à cavidade, como local de ligação com a Terra-Mãe e do
retorno a ela, como com a água da ribeira que corre próximo, esta podendo ser
entendida como símbolo do ponto de partida para o surgimento da vida. A água “É um
símbolo do Gênese, do nascimento, (…) Ela sempre nos reporta à origem
(…)”(Dicionário de Símbolos, 2008 - 2012) . “J. Aparicio Pérez (1976, 1997) reconheceu
a presença de depósitos votivos, dos séculos VI-II a.C., junto de zonas de queda, de
passagem ou de retenção de água, numa trintena de grutas-santuário da Região
Valenciana, de Castellón de la Plana” (Gomes e Calado, 2007:155)
9.2 - Aspectos rituais
A análise do espólio lítico encontrado na Gruta da Cerca do Zambujal permitiu
depreendermos dada certa escassez e padornização que este teve carácter votivo,
associado a enterramentos. Devido às diminutas dimensões dos recipientes cerâmicos
e do seu bom acabamento, eles parecem denunciar o mesmo fim, podendo
corresponder a “recipientes propositadamente produzidos tendo em vista a sua
utilização em contexto sagrado (Rutkowski, 1986:67). É possível que recipientes de
menores dimensões, como as taças, tenham servido para libações” (Gomes e Calado,
2007:155).
A presença de água importava à passagem para o além ou à comunicação com
o transcendente, encontrando-se aquele elemento conotado com divindades
femininas e guerreiras (González-Alcalde, 1993; 2002-2003).
Por outro lado o espólio, exceptuando os fragmentos de cerâmica, não mostra
vestígios de utilização, encontrando-se em bom estado de conservação.
Os vestígios de ocre, encontrados nos esqueletos, são, por si só, um forte
indício das práticas de ritualização, pois existe forte simbolismo ligado ao seu uso
funerário.
74
Resumidamente, podemos considerar a existência de um ‘significado’
subjacente, não só ao próprio sítio, como também a todo espólio ali encontrado e que
reflecte comportamentos ritualizados.
Figura 19 – Vista geral inferior de crânio humano com resto de ocre (fotografia de
Mariana Mendes)
75
Figura 20 – Vista de pormenor de crânio com vestígios de ocre (fotografia de Mariana
Mendes)
Os próprios objectos em si podem constituir uma representação, uma
figuração, do sagrado, pois “ (…) toda a representação constitui um acto, ou uma acção
de colocar algo real, ou imperceptível, perante os olhos, ou o espírito de alguém.
Poderá dizer-se que tal acção implica uma percepção, ou a percepção, de um conceito
ou de um objecto, por intermédio de uma imagem mental, de uma figura, de um signo,
etc.” (Lima, 1983:21).
Segundo o autor citado: “Levi-Strauss, com o seu estruturalismo, mostra-nos
que, afinal de contas, o Homem vive, na realidade, entre dois mundos, dois espaços
que se completam sendo um deles talvez mais importante para compreendermos esse
mesmo Homem: o mundo ou o espaço do simbólico.” (Lima, 1983:12).
No entanto, o próprio conceito de símbolo, ou de simbólico, constitui, por si só,
algo de complexo que funde, ou confunde, a razão, a intuição, a atitude científica, o
ideológico, o real, o imaginário, ou seja, integra em si todo um valor e uma carga de
significados que transcendem o próprio homem (Lima, 1983: 27).
Quando um investigador se encontra perante locais em que existem
testemunhos da presença do Homem e que remontam a épocas pré-históricas, poucos
76
são os factos possíveis de obter com certezas. Todas as interpretações são susceptíveis
de controvérsia, pois os gestos, os conceitos, o significado e o simbolismo são tudo
provas perecíveis e que se vão modificando, com os tempos (Titiev, 1969:163).
Observando a própria ritualização da colocação de objectos associados aos
mortos, eles podem ser considerados uma espécie de dádiva, mas não no sentido que
Mauss lhe atribui, em que “ (…) aquilo que obriga a dar é precisamente o facto de que
dar obriga.” (Godelier, 2000:21). No entanto, tal como explana Godelier, e deixando a
parte do contexto social subjacente a quem pratica a dádiva, esta acção institui
simultaneamente uma dupla relação entre quem dá e recebe. Uma relação de
solidariedade, (…), com quem dá, e uma relação de superioridade, já que aquele que
recebe a dádiva e a aceita fica em dívida para com quem a deu.” (Godelier, 2000:21).
Isto porque, quando se observa a acção de dádiva para com um outro indivíduo vivo, e
a dádiva para com um indivíduo morto, a intenção subjacente difere. No primeiro,
existe todo um pré-conceito que rege o homem e as suas acções, o que se pode ou
deve esperar delas. Isso, por sua vez, tanto pode criar uma aproximação dos
protagonistas da acção, enquanto momento de partilha, como pode criar um
afastamento social entre eles, enquanto momento em que se cria um sentimento de
dívida (Godelier, 2000:21).
Remetendo-nos apenas à dádiva, no contexto de tributo oferecido a quando da
morte de alguém, a intenção é de quase “submissão” e adoração, para com o
transcendente, como forma de lhe atribuir a possibilidade de uma continuação post-
mortem, de uma nova vida, para o/os indivíduo/os que começa/aram uma nova
jornada. Todo este ritual e forma de entendimento subjacente a este acto, apenas é
perceptível e totalmente compreendido, pelas comunidades que o executaram, pois
“O sagrado deve permanecer sempre, em última instância, secreto, indecifrável, deixar-
se adivinhar para além do dizível e do representável.” (Godelier, 2000: 156) No
entanto, torna-se compreensível a sua intencionalidade e objectivo primordiais.
Actualmente, existem tribos que possuem, também elas, formas de representar
e adorar as divindades que não são atingíveis pela maioria dos homens que vivem nas
comunidades “ocidentalizadas”. Por exemplo, existe uma tribo do interior da Nova
Guiné, os Baruia, em que os objectos sagrados “(…) antes de serem signos e símbolos,
77
são coisas que possuem um espírito, logo, com poderes.‘Espírito’ e ‘poder’ dizem-se
com a mesma palavra: Koulié. O que «precede» o simbólico é, então, o imaginário (…)”
(Godelier, 2000:156). Ou seja, só a verbalização já atribui um prenúncio mágico e
transcendente que remete para o próprio imaginário de quem o diz. O Homem
ocidental, que não tem as mesmas crenças que esta tribo, não as compreende, nem
acredita nelas. O valor que estas têm, para si, é de algo simbólico; no entanto, a sua
não crença nelas, não as vai anular.
Da mesma forma, podemos fazer um paralelo entre o modo como
interpretamos e compreendemos as crenças e as formas de ritualizar, nos tempos pré-
históricos, embora saibamos que esse paralelo não passa de uma imagem ténue
daquilo que, possivelmente, aconteceria, bem como do que era o seu significado e
simbolismo, genuínos. Não poderemos depreender, apenas pela análise dos locais e
dos vestígios deixados, qual o verdadeiro significado dos rituais e qual a forma como
eram interpretados, na altura, à luz da própria imagem que a sociedade tinha de si e
dos seus antepassados. Por exemplo, os Baruia dão uma grande importância aos mitos
relacionados com a origem, a própria “(…) origem do homem, das mulheres, do fogo,
das flautas, das armas, das plantas cultivadas, etc., que afirmam e reafirmam o
carácter sobrenatural dessas origens.” (Godelier, 2000:158). Ou seja, os actuais
representantes dos Baruia são como que uma “imagem” dos seus descendentes que,
por sua vez, não são considerados como iguais aos representantes que figuram nos
mitos. Estes últimos são como que uns “(…) duplos dos humanos, mas de outra
natureza, porque comunicam de pessoa a pessoa com o Sol e a Lua, (…) Ao imaginar-se
uma origem sobrenatural para o social, o social torna-se sagrado e a sociedade, tal
como é, legitima-se.” (Godelier, 2000:158). Ou seja, existe uma série de significados e
sentidos para cada gesto e para cada simbologia que lhes é atribuída. Apesar da
contemporaneidade destas tribos, elas transcendem a nossa capacidade de as
compreender e explicar. Não será, portanto, totalmente justo, para com as próprias
comunidades pré-históricas, serem-lhes atribuídos significados e simbolismos
estanques e de fácil dedução, apenas pela análise metódica e cientifica dos sítios e do
espólio encontrado nestes.
78
10 - Conclusão
O arqueossítio conhecido como a Gruta da Cerca do Zambujal permite
concluirmos que constitui realmente exemplo da necropolização no Neolítico Final3.
Trata-se de uma forma de utilização do sítio, que é recorrente naquele período - a
gruta como necrópole. Não tendo esta sido a única forma de uso daqueles espaços
subterrâneos, ela foi frequente durante o Neolítico, nomeadamente Médio/Final.
A interpretação de um sítio arqueológico, como a Gruta da Cerca do Zambujal,
não pode ser, apenas, um debruçar sobre os materiais encontrados, procedendo-se,
depois, à sua análise. Deverá ser também executado todo um trabalho de “pesquisa”
do local em si, do que o envolve, das suas potencialidades, de outros elementos e
testemunhos deixados pela comunidade que o ocupou e utilizou. Neste sentido,
através do presente estudo, pode depreender-se que a gruta, pela sua localização,
teria um simbolismo não só ligado à terra mãe e ao retorno a ela, mas também à água,
dada a sua proximidade com a ribeira de Melides que, em épocas de cheia, ali chegava.
A água, enquanto elemento de purificação e de renascimento, esteve presente, ao
longo dos tempos, em quase todas as culturas conhecidas.
A presença de uma cavidade subterrânea e as características da sua localização,
permitiram-nos deduzir o seu significado simbólico e o porquê da sua escolha para os
enterramentos efectuados, apesar das suas diminutas dimensões.
Este tipo de arqueossítios revela que o Homem, a partir de um certo momento,
sentiu a necessidade e o dever de preservar os seus mortos e de venerá-los, o que nos
vem revelar preocupações de um outro nível. Ele foi levado, igualmente, a construir os
rituais de que necessitava, para dar lógica e significado à sua mundividência. Esses
rituais têm uma importância especial, pois “é no rito e nos rituais socioculturais que, de
uma forma antropológica, se deve investigar os símbolos, o simbólico e as simbólicas.
O uso dos símbolos, que é o simbolismo, é universal ao ser humano, no entanto os
símbolos e a simbólica são características de cada cultura, povo e época, podendo
divergir, ou não, entre si.” Por isto, pode-se considerar o símbolo como “(...) um
3 Mello Nogueira (1931:42) afirma que: “Pelo exame do espólio reconhece-se tratar de uma importante
estação neolítica da primeira época, como o prova a rudeza da cerâmica e a ausência de megalítos próximos, notando contudo a perfeita execução dos instrumentos líticos”
79
elemento essencial para a compreensão das “transformações” do processo cultural.”
(Lima, 1983:34). Ou seja, a religião surgiria como agente aglutinador, na reafirmação e
estruturação da rede social destas comunidades, com economia produtora.
A Gruta da Cerca do Zambujal representa, assim, mais um elemento a associar
à rede de locais arqueológicos que serviram como necrópoles, durante o Neolítico
Final. A gruta, como cavidade subterrânea, não é um local naturalmente escolhido
pelo homem mas, devido ao tipo de ambiente de envolvimento e protecção criado
pela sua própria constituição natural, ela pode ter sido procurada para fins específicos,
nomeadamente para a ligação ao mundo transcendente.
“Os espaços subterrâneos, onde os homens procuravam o contacto com o
transcendente e as forças da fertilidade, capazes de originarem e de manterem a vida,
ou de reproduzirem a cultura, tornando-se verdadeiras grutas-santuário, continuaram
longa tradição que remonta, pelo menos, ao Paleolítico Médio, quando ali se
desenvolveram os primeiros enterramentos e outras práticas de carácter ritual.”
(Gomes e Calado, 2007:150)
Também Mlekuž, (2012:199) refere que “Caves are not passive backdrops for
the activities that people perform, they are not natural places, and they do not satisfy
the generic needs of people such as ‘shelter’. We can understand caves as material
culture where dwelling occurs. And, by focusing on the process of dwelling that they
enable through the affordances they provide, they help us to challenge the dichotomies
of the natural and built environment, or of the mundane and the sacred.”
Apesar das condição naturais que a gruta apresenta, ela proporcionava ao
Homem Pré-Histórico um “canal” de ligação com o transcendente e com o útero
materno, pelo que seria o local indicado para a realização dos enterramentos dos seus
antepassados e/ou membros da comunidade, como em um regresso às origens ou à
verdade inicial e protectora. A sua localização temporal, durante o Neolítico, a prática
da necropolização em cavidades subterrâneas e da sua ritualização, deixa que ela seja
compreendida como jazida unifamiliar ou de grupo restrito, em que se utilizava espaço
comum, para uma única comunidade (Gonçalves, 2003:316).
80
Os ossos humanos encontrados na Gruta da Cerca do Zambujal
correspondendo a enterramentos secundários, foram alvo do estudo por parte de
diversos investigadores, quer canadianos, quer portugueses.
O estudo realizado por Barbosa Sueiro, em 1931, apesar de só exclusivamente
centrado nas perfurações olecrânicas e nas da apófise epitrocleana, veio levantar mais
hipóteses/deduções pertinentes, para a compreensão da comunidade que utilizou
aquele sítio. Assim, o facto de haver uma incidência significativa de perfuração
olecrânica, nos úmeros encontrados - 36,5% (Sueiro, 1931:12) - pareceu-nos poder
eventualmente pôr-se a hipótese de existir, na comunidade, alguma actividade física,
com comportamento bastante repetitivo e comum, talvez mesmo uma actividade
produtiva .
A par dos testemunhos ósseos e da importância do seu estudo, a ritualização
destes é também um factor deveras importante para uma tentativa de compreender a
comunidade a quem estes vestígios pertenciam. No sítio em estudo, os vestígios de
ritualização encontrados, contam com a associação de artefactos aos enterramentos,
bem como a utilização de ocre vermelho.
Tal como afirma Mariana Diniz (2000:113), deve-se “ (…) reconhecer que as
comunidades neolíticas não constroem apenas uma nova conexão social com o espaço,
com a paisagem, e com os outros grupos humanos, mas estabelecem uma outra
relação com os mortos.” Ou seja, é evidenciada uma mudança de compreensão do
mundo e da dimensão da vida, bem como da própria morte, uma vez que é atribuído
“(…) um novo significado aos mortos, ou ao morto, uma vez que os enterramentos
aconteceram como actos únicos e isolados, observando nós, agora, um somatório de
acções individualizadas no tempo, que confere a estes enterramentos um carácter
“colectivo” que pode não ter sido a intenção primordial.” Não se pode, portanto, fazer
uma análise, ou uma leitura, de um sítio como a Gruta da Cerca do Zambujal, em que
existem testemunhos de necropolização e sua ritualização, de uma forma
despreocupada e elementar, pois estamos perante vestígios de sociedades com
perspectivas vivenciais dispares das actuais.
No entanto, não podemos esquecer que, mesmo hoje em dia, e tal como afirma
Mariana Diniz (2000:113), esta questão pode, ainda, ser levantada: “ (…) são os actuais
81
cemitérios lugares de enterramento colectivo ou individual? A resposta só depende do
ângulo em que os observamos.”. Se esta é uma premissa mais que correcta a ser
levantada relativamente à actualidade, o mesmo deve ser aplicado às sociedades que
utilizaram este tipo de necropolização. Apesar de ainda se desconhecer “ (…) a
distância que separa estas grutas funerárias dos povoados dos seus utilizadores (…), no
entanto parece evidente a existência de duas áreas bem definidas: sítios de habitat;
lugares de enterramento. (…) A criação (…) e utilização de espaços reservados aos
mortos, diferentes dos habitat, espaços mergulhados nas trevas, limitados e finitos,
terá sido consequência de uma outra estrutura mental. (…) ” (Diniz, 2000:114). É com o
megalítismo que esta separação espacial se torna mais evidente, através da “ (…)
construção de uma barreira física, arquitectónica que encerra ou devolve às trevas
primordiais esse agente do caos que é o morto.” (Diniz, 2000:114).
Analisando, agora, os artefactos encontrados no sítio, nomeadamente
ferramentas, pode afirmar-se que “Uma ferramenta, além de ser funcional, poderia ter
acumulado outras funções.”, por exemplo, “Além de ser um objecto utilitário, um
machado de pedra poderia ser um símbolo de poder, de masculinidade. Poderia ser
ainda, cumulativamente, uma «peça de família», um objecto herdado de pai para
filho.” (Paulo Heitlinger, in http://algarvivo.com/arqueo/neolitico/pedra-ferramentas-
1.html, 29/06/2012). Nesta perspectiva, ao fazermos a análise dos materiais, o facto
de terem sido encontrados tantos machados e enxós permite-nos levantar uma série
de suposições (uma vez que nada mais é possível fazer-se, que inferir), nomeadamente
a de qual o ‘porquê’ do número destes artefactos. Poderiam estes ser considerados
como representações dos mundos masculino e feminino, em que o machado
representaria o masculino e a enxó seria o feminino? Seriam depositados aos pares?
Poderão estar associados a responsabilidades geralmente atribuídas, ou aos homens
(o machado, que requer mais força física no seu uso), ou às mulheres (a enxó mais
associada a trabalhos agrícolas, menos pesados).
Apenas podemos funcionar na área das suposições, pois as verdadeiras
intenções não nos são transmitidas pelos objectos. O que é uma realidade possível de
ser deduzida, é que os machados e as enxós seriam, “Artefactos de uso quotidiano que,
82
uma vez colocados junto ao morto, adquirem um novo significado.” (Diniz, 2004:325)
De facto, uma vez mais, mesmo hoje em dia, quando se associa um objecto a um
morto, este adquire um novo significado. Ou seja, cada objecto associado a um morto
adquire um simbolismo e uma grandeza que, mesmo que ele continue a ser utilizado
no quotidiano, o faz ganhar um novo sentido: ou um misto de saudade e respeito,
quando os laços eram positivos, afectivos, ou um misto de desrespeito, ou de zanga e
alívio, quando os laços eram mais, ou menos negativos, associados ao seu significado
normal.
Este funcionamento por hipóteses aplica-se, logicamente, também às facas, às
cerâmicas e às contas encontradas, no contexto da necropolização da Gruta da Cerca
do Zambujal. Analisando as facas, de uma forma não funcional, mas simbólica, verifica-
se que têm um “ar familiar”, devido à sua similaridade física, o que nos poderia levar a
deduzir que poderiam estar todas juntas, como se alguém as tivesse produzido, numa
mesma fase de trabalho. Poder-se-ia, também, pôr a hipótese de cada uma das facas
corresponder a um determinado morto, para quem tivesse sido feita. Nesse caso,
poderá ainda pressupor-se que iriam ser feitos vários enterramentos secundários, aos
quais essas facas seriam destinadas.
Relativamente aos fragmentos de cerâmica encontrados, podem igualmente
ser levantadas várias suposições, não só quanto à sua verdadeira origem, mas também
quanto ao seu significado. Teriam eles sido colocados no local do enterramento, ou
teriam vindo nas terras colocadas neste, aquando do seu transporte, por exemplo, do
povoado em que a sua comunidade habitava? Seriam estes fragmentos uma
representação do todo – o próprio objecto - para a vida além morte? Não pode ser
colocada de lado a hipótese proposta por M. Varela Gomes (1994:84), de que “Alguns
restos de talhe e lascas residuais de sílex local, tal como fragmentos de cerâmica, com
aspecto rolado, sugerem a hipótese, (…), que os cadáveres terão, por vezes, sido
inumados com terras vindas dos povoados.”
Aquela prática parece documentar-se noutros arqueossítios, como seja o
sepulcro colectivo da Pedra Escorregadia (Vila do Bispo, Faro), a sepultura neolítica do
Marco Branco, bem como em outros de época posterior, da Idade do Bronze, na região
de Sines, do Algarve e de Huelva.
83
A existência de fragmentos de cerâmica, que não colariam entre si, e a não
existência de fragmentos que identificassem um artefacto, ou mesmo de um artefacto
inteiro, é também interpretada como sendo um testemunho da forma simbólica de
como estes homens concebiam o outro mundo, o mundo dos mortos. Este seria quase
um espelho, o inverso do mundo dos vivos, sendo que, neste caso, uma porção de
cerâmica deste mundo, seria vista como o todo, seria uma representação desse todo.
Também os restos de ocre vermelho encontrados em alguns esqueletos têm, por si só,
um valor simbólico pois podem, pela cor do próprio ocre, “ (…) ser considerado uma
boa imitação do sangue e portanto assumir um simbolismo relacionado com a sua
perda fatal, ou com o que significaria simbolicamente a sua recuperação, por este
ritual.” (Gonçalves, 2001:166)
Várias questões, suposições ou premissas podem, portanto, ser levantadas,
quando se elabora estudo arqueológico sobre um sítio como a Gruta da Cerca do
Zambujal (…) “independentemente da não-funcionalidade específica que a maioria dos
artefactos assume neste contexto, estas representações de artefactos correspondem a
tipos funcionais reais: os machados, que cortam, a enxó, que desbasta a madeira,
descascando-a ou cortando-a em pranchas,
(…)
A funcionalidade dos artefactos votivos é sempre muito duvidosa, tratando-se
basicamente, na maior parte dos casos, de imagens de artefactos, mais propriamente
de artefactos não funcionais que representavam artefactos efectivamente funcionais.”
(Gonçalves, 2001:167).
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Índice Toponímico
Gruta do Lagar 2, 24, 25, 26, 72
Estação de Alcobertas 15
Gruta do Carrascal da Casa da Moura 15
Estação da Casa da Moura 16, 25, 26
Estação da Lapa Furada 16
Estação de Liceia 16, 28
Estação de Malgasta 16
Estação de Palmela 16
Estação da Serra de Monte Junto 16
Cabeço da Arruda 25, 26
Moita Sebastião 25, 26
Samouqueira 25
Gruta do Caldeirão 25
Gruta da Feteira 25
Grutas das Fontainhas 25
Roche Forte II 25
Pragança 28
Cova da Moura 28
Caverna dos Alqueves 56
Lapa do Fumo 56
Lapa do Bugio 56, 60, 65, 68
Gruta do Algar do Barrão 57, 68
Anta 1 das Vidigueiras 60
Anta do Poço da Gateira 60
Anta 2 da Comenda 60
Hipogeus da Quinta do Anjo 60
Gruta dos Ossos 60, 61, 65, 66, 68
Jazidas da Comporta 60, 65, 66, 67
Povoado do Carrascal 60, 65, 66
93
Gruta dos Carrascos 60
Jazidas de Pontal 66
Jazidas da Malhada Alta 66
Jazida do Possanco 66
Dólmen da Palhota 67
Sepultura do Marco Branco 67, 82
Gruta do Algar do Bom Santo 68
Gruta do Lugar do Canto 68
Pedra Escorregadia 82
94
Índice Antroponómico
Minaya 5
Vilelas 5
Lemonier 5
Nogueira 15, 55, 72, 81
O. da Veiga Ferreira 16
Lubell 16, 17, 24, 25, 26, 27, 29
Barbosa Sueiro 23, 80
Jackes 24, 25, 26, 27
Katina Lillios 27, 28
João Zilhão 27, 29, 56, 57
Joaquina Soares 56, 66, 67
Faustino Carvalho 57, 60, 61, 68, 71
V. Leisner 60
Mário V. Gomes 61, 70, 71, 73, 79, 82
João Luís Cardoso 65
Carlos Valera 66
Carlos T. Silva 66,67
Mariana Diniz 68, 80, 81, 82
Eliade 70
Vaz de Figueiredo 71
Bachelard 71
Calado 73, 79
Rutkowski 73
González-Alcalde 73
Lima 75, 79
Titiev 76
Godelier 76, 77
95
Mlekuz 79
Gonçalves 79, 83