agostinho da silva areias, filhos & c.º, l.da, interpôs · agostinho da silva areias, filhos...

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Cópiadasentençado3.ª JuízoCívelda Comarca deLisboa e dos acórdãos da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de marca nacional n.ª 195 283. Cópia da sentença proferida nos autos de recurso de marca n.ª8999/85, que arecorrenteAgostinho da SilvaAreias, Filhos & C.º, L.da, com sede em Covas, Guimarães, move ao recorrido Instituto Nacional da Propriedade Industrial,com sede no Campo das Cebolas, em Lisboa.

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Cópia da sentença do 3.ª Juízo Cível da Comarca de Lisboa e dos acórdãos da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de marca nacional n.ª 195 283.

Cópia da sentença proferida nos autos de recurso de marca n.ª 8999/85, que a recorrente Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, com sede em Covas, Guimarães, move ao recorrido Instituto Nacional da Propriedade Industrial, com sede no Campo das Cebolas, em Lisboa.

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Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, interpôs recurso, nos termos do artigo 203.ª do Código da Pro- pridade Industrial, contra o despacho do Sr. Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial datado de 19 de Maio de 1983, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.2 5 de 1983, e distri- buído em 7 de Maio de 1984, que concedeu o registo da marca n.º 195 283 a LASA, requerido por Armando da Silva Antunes, L.da Alegou ser a marca destinada a assinalar «lenços», pro-

dutos da classe 24.º da tabela anexa ao referido Código. A recorrente assinala a vasta gama dos seus produtos

com a marca ASA, tendo, para salvaguarda dos seus direitos no País e no estrangeiro, promovido vários registos de tal marca, alegando a sua vasta gama de produtos, na sua maio- ria da referida classe 24.º Assim a marca n.ª 155 492, ASA, solicitada em Maio

de 1969 e concedida por despacho de 18 de Dezembro de 1971, destinada a vários produtos da classe 24.º, entre os quais «panos de lençol»; as marcas n.os 83 033/4, ASA, solicitadas em Fevereiro de 1955 e concedidas por despacho de 2 de Outubro de 1961, destinadas a assinalar, entre outros, «tecidos de linho, tecidos de algodão» da classe 24.º, e as marcas n.os 184 557 e 184 559, ASA, solicita- das em 26 de Dezembro de 1973 e concedidas por despacho de 23 de Junho de 1981, assinalando, entre outros, produtos da classe 24.1 «Artigos manufacturados de algodão, tecidos de algodão estampados». Além desta, como identificativo do seu estabelecimento,

promoveu, nos termos do artigo 141.º do Código da Pro- priedade Industrial, os registos de:

Nome n.º 14 165 -Fábrica de Tecidos ASA, soli- citado em 10 de Agosto de 1965 e concedido por despacho de 26 de Janeiro de 1976;

Insígnia n.º 1739 - ASA - Fábrica de Tecidos, solicitado e concedido nas mesmas datas.

Lesados podem ser os direitos e legítimos interesses da recorrente com o despacho recorrido. E indiscutível a seme- lhança gráfico-fonética de «LASA» e «ASA». Ambas as expressões compõem marcas que se destinam

à mesma classe - 24.ª -, sendo afins os produtos. O que está de acordo com o definido no artigo 94.º para a

imitação de marcas. Também a recorrente e a proprietária da marca em apreço

exercem a sua actividade industrial na mesma zona geo- gráfica e económica, o que mais vem agravar o receio de serem lesados os seus direitos pela coexistência no mercado de produtos designados pelas expressões. A marca ajuizada destina-se a assinalar lenços e as mar-

cas da recorrente «lençóis», «tecidos de linho», «artigos ma- nufacturados de algodão» e «tecidos estampados». Ora, há lenços que são feitos de «tecidos de algodão

estampados», sendo de englobar nos artigos manufacturados de algodão. Há paralelismos nas palavras «lenços/lençóis» e até na própria marca (lenços) ASA. A marca ASA, pela sua grande projecção no mercado

nacional e internacional, mercê do crédito e reputação de que tem beneficiado, pode ser alvo fácil de concorrentes menos escrupulosos. Terminou no sentido de ser renovado o despacho que

concedeu o registo de marca n.ª 195 283. O Sr. Director do Servico de Marcas, a fl. 29, manteve o

seu despacho, por entender não haver confusão fácil entre as expressões «LASA» e «ASA» e esta marca não estar protegida por lenços. Entre tecidos e lenços não há afinidade, mas comple-

mentaridade.

Notificada a proprietária da marca concedida -LASA. Segundo ela, deve manter-se o despacho recorrido, por

não existir semelhança, atendendo à «utilidade e finalidade dos produtos» e à «possibilidade de concorrência do mercado entre tecidos, de linho ou de algodão, e lenços». Nem entre «lenços» e «lençóis». Nem ainda entre «artigos manufacturados de algodão» e

«lençóis». Inexiste também relevante semelhança gráfica e fonética

entre as marcas em confusão. ASA não é uma denominação de fantasia. LASA é expressão fantasiosa. Teve vista o Ex.mo Magistrado do Ministério Público,

nada tendo promovido. Pelo n.Q 12.ª do artigo 93.º do Código da Propriedade

Industrial, deve ser «recusado o registo de marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham reprodução ou imitação, total ou parcial, de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado». Pelo artigo seguinte, «considera-se imitada ou usurpada,

no todo ou em parte, a marca destinada a objectos ou pro- dutos inscritos no reportório sob o mesmo número, ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto». Conforme é pacífico na jurisprudência e na doutrina, a

comparação das marcas tem de fazer-se atendendo à seme- lhança que resulta do conjunto dos elementos que as constituem e de modo algum assinalando dissemelhanças ou fazendo a decomposição desses elementos, atitude men- tal que nunca está no espírito do consumidor (cf. os Acór- dãos do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Fevereiro de 1970 e de 16 de Julho de 1976, in Boletim do Ministério de Justiça n.os 194, p. 237, e 259, p. 239, Prof. J. Gabriel Pinto Coelho, Lições, 3.º ed., I, p. 426, e Dr. Justino Cruz, Código da Propriedade Industrial, p. 69). Roubier, Le droit de la propriété industrielle 1952, II,

p. 360, diz que a comparação entre as duas marcas deve ser feita tendo em consideração o facto de que o comprador não tem simultaneamente as duas marcas debaixo dos olhos e que, por consequência, o juiz não deve colocar uma marca ao lado da outra para proceder ao exame. Como salientam Roubier (ob. cit., p. 361) e Ferrer

Correia (Lições, I, 1965, p. 347) e mereceu a concordância, por exemplo, do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18 de Novembro de 1975, in Boletim do Ministério de Justiça, n.º 251, p. 187, a apreciação deve ser conduzida em função do engano de que podem ser vítimas os consumi- dores. Tendo cm conta os preceitos atrás transcritos, há, em

primeiro lugar, que apurar se os produtos são os mesmos, se são semelhantes, se estão inscritos sob o mesmo nú- mero ou, não o estando, se há afinidade manifesta. Depois, em caso afirmativo, há que saber se tal seme-

lhança - gráfica, figurativa ou fonética - pode induzir facilmente em erro o consumidor, salvo após exame atento ou confronto. Parece-nos que existe afinidade manifesta entre os pro-

dutos a que respeitam as marcas em causa, pois a marca da recorrente destina-se a assinalar «lençóis», «tecidos de linho», «artigo manufacturados de algodão» e «tecidos estampados», enquanto a marca recorrida se destina a «len- ços».

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Não só, como salienta a recorrente, os lenços podem ser feitos de tecidos de linho e de tecidos de algodão estampa- dos, como são manifestamente artigos manufacturados, po- dendo ser de algodão. Além de que entre «lençóis» e «lenços», com as marcas

de ASA e LASA, é, por nós, manifesta a semelhança: seme- lhança gráfica e semelhança fonética. Para o consumidor médio, que não tenha as duas marcas

em presença, poderá tal semelhança induzi-lo em erro facil- mente. Termos em que julgo o recurso procedente por provado,

revogando o despacho recorrido, a substituir por outro que recuse o registo da marca LASA para lenços, requerida por Armando da Silva Antunes, L.da Sem custas, por as não dever a entidade recorrida.

Transitada, remeta certidão dactilografada ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

Registe e notifique.

Lisboa, 1 de Julho de 1985. - Moura Cruz.

Cópia do acórdão proferido nos autos de recurso de marca n.º 8999/85, que a recorrente Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, com sede em Covas, Guimarães, move ao recorrido Instituto Nacional da Propriedade Industrial, com sede no Campo das Cebolas, em Lisboa, pelo Tribunal da Relação de Lisboa.

Em conferência, acordam na Relação de Lisboa:

Armando da Silva Antunes, L.da, com sede nas Caldas de Vizela, interpôs este recurso de apelação da sentença lavrada no 3.º Juízo de Lisboa (3.º Secção), pela qual se revogou o despacho do Ex.mo Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial datado de 19 de Maio de 1983, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.ª 5 de 1983, que lhe concedera o registo da marca n.ª 195 283, LASA, por ela requerido, opondo-se a tal registo a então recorrente e ora recorrida Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, com sede em Covas, Guimarães, que o entendeu lesivo dos seus di- reitos, visto que, para salvaguarda, dos mesmos tanto no País como no estrangeiro, fizera registar com a marca ASA uma vasta gama dos seus produtos, na sua maioria da mesma classe em que incluía o produto registado com a marca LASA, e que consistia em «lenços», pois que obti- vera a marca n.ª 155 492, ASA, destinada a vários pro- dutos da referida classe, a 24.1, entre os quais «panos de lençol» [...], a marca n.ª 83 033/A, ASA, destinada a assinalar, entre outros, «tecidos de linho, tecidos de algo- dão», da mesma classe, e ainda as marcas n.os 184 557 e 184 559, ASA, para produtos daquela classe, designada- mente «artigos manufacturados de algodão, tecidos de algo- dão estampados», o que, aliado a outros factores que indi- cou, demonstrava verificar-se o condicionalismo do artigo 94.ª do Código da Propriedade Industrial. Concluiu a ora apelante a sua douta alegação deste

modo:

1.ª O produto a que se destina a marca registanda e os para que estão protegidas as marcas oponentes não só se não incluem no mesmo número do reportório, como estão inscritos em classes di- ferentes;

2.º Entre esses produtos não se encontra a afinidade a que se refere a lei, pois que, não satisfazendo a mesma necessidade ou necessidades semelhantes, não se cruzam no mercado em termos alternativos ou complementares;

3.º Os conjuntos significativos formados por cada uma das marcas em confronto não se confundem entre si, remetendo, antes, o consumidor para si- gnificados completamente distintos;

4.ª Em suma, não há, por parte da marca registanda, imitação total ou parcial da marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado;

5.ª A sentença recorrida violara, pois, o disposto nos artigos 93.º, n.º 12.ª, e 94.ª do Código da Propriedade Industrial, termos em que, em provi- mento do recurso, devia ser revogada, com as con- sequências legais.

A parte contrária, na sua também douta alegação, pug- nou pela confirmação do decidido. O que tudo visto. Damos como definitivamente assente a seguinte matéria

fáctica apurada como provada pela 1.º instância:

a) Foi concedido à apelante Armando da Silva An- tunes, L.da, por despacho do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Indus- trial datado de 19 de Maio de 1983, o registo da marca n.ª 195 283, LASA, destinada a «lenços», produtos inseridos na classe 24.º da respectiva tabela anexa ao Código da Propriedade Industrial;

b) A apelada Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, tem, por seu turno, registadas a seu favor ou em seu nome as seguintes marcas:

1) Marca n.ª 155492, ASA, solicitada em Maio de 1969 e concedida por despacho de 18 de Dezembro de 1971, destinada a vários produtos da classe 24.º, entre os quais «pa- nos de lençol, em peça, lençóis confeccio- nados [...] fabricados com algodão, linho [...]» (cf. documento a fl. 10), com os n.os de reportório P-100 e L-314;

2) Marcas n.os 83 033/83 034, ASA, soli- citadas em Fevereiro de 1955 e concedidas por despacho de 2 de Outubro de 1961, des- tinadas a assinalar, entre outros, «tecidos de linho, tecidos de algodão», da mesma classe 24.º, com o número de reportório T-176 e T-152 (cf. documento a fl. 12);

3) Marcas n.os 184 557 e 184 559, ASA, so- licitadas em 26 de Dezembro de 1973 e concedidas por despacho de 23 de Junho de 1981, assinalando, entre outros, produtos da classe 24.º, «artigos manufacturados de algo- dão, tecidos de algodão, tecidos de algodão estampados», com os n.os de reportório A-419 e T-152 (cf. documento a fl. 14);

4) Como identificativo do seu estabeleci- mento, a ora apelada promoveu, nos termos do artigo 141.ª do Código da Propriedade In- dustrial, os registos de nome n.ª 14 165 - Fábrica de Tecidos ASA, solicitado em 10 de Agosto de 1965 e concedido por des- pacho de 26 de Janeiro de 1976, e insígnia n.ª 1739 - A S A - Fábrica de Tecidos, solicitado e concedido nas mesmas datas (cf. documentos a fls. 16 e 18);

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5) Apelante e apelada exercem a sua actividade industrial na mesma zona geográfica e eco- nómica;

6) Lençóis, lençóis para hospital e lenços de bolso em tecidos figuram actualmente no reportório, respectivamente, com os n.os L-397, L-399 e L-400, sendo todos da classe 24.º da correspondente tabela de produtos (5.ª).

Conforme estabelece o artigo 79.ª do Código da Pro- priedade Industrial, a marca é um sinal ou conjunto de sinais nominativos, figurativos ou emblemáticos que, apli- cados por qualquer forma num produto ou no seu invólucro, o fazem distinguir de outros idênticos ou semelhantes. Destina-se, pois, a dar identidade a determinado produto, de forma que se possa distinguir de outros iguais ou seme- lhantes. Permite, por um lado, a quem o produz que assi- nale o que fabricou, identificando o produto da sua autoria, e, por outro, assegura a quem o procura a distinção entre o artigo que pretende dos restantes que com ele se podem con- fundir, por serem idênticos ou similares. Representa, pois, uma garantia, para o industrial, para o comerciante e para o consumidor, evitando que sejam defraudados no ciclo eco- nómico do produto com imitações resultantes de actividades económicas ilícitas, como a concorrência desleal. Por isso mesmo, o artigo 93.ª daquele Código, no seu

n.ª 12.º, preceitua que será recusado o registo das marcas que contrariem o disposto nos artigos 76.ª a 79.ª e seus parágrafos ou que em todos ou alguns dos seus elementos contenham (cf. o corpo desse artigo) reprodução ou imi- tação, total ou parcial, de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado. E o artigo seguinte diz que se considera imitada ou usur-

pada, no todo ou em parte, a marca destinada a objectos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo número ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou con- fusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto, e o respectivo § único diz que constitui imitação ou usurpação parcial de marca o uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada, de forma que pes- soas analfabetas os não possam distinguir de outros adopta- dos por possuidor de marcas legitimamente usadas, mor- mente as de reputação internacional. É a consagração do princípio da novidade estabelecido

nos artigos 45.º e 50.º, n.ª 12, da Lei n.ª 1972, de 21 de Junho de 1938, e 93.ª, n.ª 2.ª, 95.º e 122.ª, n.ª 2.ª, do Có- digo da Propriedade Industrial. Registada a marca, o seu titular passa a ter a propriedade

e o exclusivismo dela, nos tennos do artigo 74.º do Código da Propriedade Industrial. E o § 1.2 deste preceito confere- lhe a presunção jurídica de novidade ou distinção de outra anteriormente r e g i s t a d a . O que se pretende, como diz Ferrer Correia in Lições de

Direito Comercial de 1973, vol. I, p. 328, é evitar a possi- bilidade de confusão de uma com a outra marca no mercado, quando ambas sejam relativas ao mesmo produto ou a produtos similares.

De harmonia com os citados c transcritos artigos 93.ª, n.ª 12.ª, e 94.ª do Código da Propriedade Industrial, para que uma marca se deva considerar imitada ou usurpada devem verificar-se os seguintes requisitos cumulativamente: destinarem-se as marcas ao mesmo produto ou produtos afins; existir entre elas semelhanças gráfica, fonética ou

figurativa, de modo que o consumidor possa ser facilmente induzido em erro ou confusão no mercado, e ser necessário o seu confronto ou exame atento para que se possam dis- tinguir (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, in Bole- tim do Ministério da Justiça, n.ª 153, p. 273, e Acórdão desta relação de 17 de Julho de 1959, in Jurisprudência das Relações, 5.ª, p. 661). A afinidade dos produtos não deriva da sua inscrição nas

mesmas classes ou números das tabelas ou do reportório a que se refere o artigo 297.ª do Código da Propriedade Indus- trial, mas do seu fim, destino ou aplicação. É questão de direito apurar se, face às semelhanças ou

diferenças entre marcas comerciais nominativas, existe ou não imitação e, portanto, concorrência desleal através da usurpação parcial ou total. A confusão entre as marcas tem de se situar a nível do

consumidor médio, não sendo necessário em exame atento, nem confronto, e sendo ainda desnecessário semelhança entre todos os elementos das duas marcas (Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 14 de Novembro de 1979 e de 23 de Julho de 1980, in Boletim do Ministério da Jus- tiça, n.os 291, p. 520, e 299, p. 345). Apliquemos os princípios legais atrás enunciados ao

caso dos autos:

1.º A marca LASA da apelante e a marca ASA da apelada, enquanto a primeira se destina a «lenços», a segunda, entre outros produtos, destina-se a «artigos manufacturados de algodão», estando incluídos na mesma classe, a 24.º, da tabela n.ª 5 anexa ao Código da Propriedade Industrial, donde poder existir uma identidade ou semelhança de pro- dutos entre as referidas duas empresas com aquelas marcas, desde que entre os produtos manufactura- dos pela segunda se incluam lenços de algodão (ar- tigo manufacturado), e semelhança, desde que a pri- meira fabrique, com a sua pretendida marca, lenços de seda, por exemplo;

2.2 Há uma evidente semelhança gráfica e fonética entre as duas marcas, até porque uma, a LASA, é iniciada por uma consoante branda, que mais a faz aproximar da marca ASA, o que talvez não suce- desse tanto se se tratasse de CASA ou MASA. Para além disso, a imitação parece patente se tiver- mos em conta em conta que o «L» com que se inicia a marca pode reportar-se à espécie do pro- duto (lenços), mais ASA (a outra marca, já regis- tada). Não é forçosamente necessário que haja ainda semelhança figurativa, como pretende a recor- rente, pois que a disjuntiva «ou» utilizada pelo artigo 94.º do Código da Propriedade Industrial demonstra-o sem margem de dúvidas;

3.ª Essas semelhanças, para o nível médio do con- sumidor, fazem-no cair em confusão certamente, salvo através de um confronto ou exame atento das duas marcas que evite o erro.

Se a tudo isso acrescentarmos o facto de a apelada, deten- tora legítima da marca ASA, a ter registado para produtos da área de tecidos e, designadamente, manufacturados, onde se pode incluir o vestuário e até lenços, para além de as duas empresas exercerem a sua actividade na mesma zona geográfica e económica, podemos concluir, como na sen- tença recorrida, pela imitação de marca anteriormente regis- tada, ainda que parcialmente, destinada a produto idêntico e semelhante, que pode induzir em erro ou confusão no mer-

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cado, nas condições atrás expostas, termos em que impro- cede o recurso e se confirma a sentença criteriosa recorrida, com custas pela recorrente.

Lisboa, 5 de Março de 1987. - Gomes Noronha- Rui de Brito-Prazeres Pais [vencido, pelas seguintes razões, em resumo: de harmonia com os artigos 93.ª, n.2 12.ª, e 94.ª do Código da Propriedade Industrial, para que uma marca se deva considerar imitada ou usurpada devem verificar-se os seguintes requisitos cumulativos: des- tinarem-se as marcas ao mesmo produto ou produtos afins; existir entre as marcas semelhança gráfica, fonética ou figu- rativa, de modo a o consumidor poder ser facilmente indu- zido em erro ou confusão no mercado, e ser necessário o seu confronto ou exame atento para que se possam distin- guir (cf., v. g., o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça in Boletim, n.2 153, p. 273, e os Acórdãos da Relação de Lisboa de 17 de Julho de 1959, in Jurisprudência das Relações, 5.ª, p. 661, e de 24 de Janeiro de 1975, in Bole- tim, n.º 243, p. 315). Assim, quanto aos enunciados seguintes, a afinidade de

produtos em mercadorias não deriva da sua inscrição nas tabelas em reportório, a que se refere o artigo 297.º do Có- digo da Propriedade Industrial, mas dos respectivos destinos em aplicação. É questão de direito apurar-se, face às semelhanças e dife-

renças entre marcas comerciais nominativas, se existe ou não imitação e, portanto, concorrência desleal através da usurpação. Sendo totalmente diferentes, quer pela sua natureza, quer

pela sua aplicação, quer pelos seus efeitos imediatos, os produtos protegidos pelas marcas, é evidente que não pode haver concorrência desleal (Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 21 de Fevereiro de 1964, in Boletim, n.º 184, p. 310, e de 8 de Janeiro de 1974, in Boletim, n.º 233, p. 214, e Revista dos Tribunais, n.ª 91, p. 380).

A semelhança fonética e gráfica da marca, quanto ao seu elemento terminal de dissemelhança dos elementos iniciais, em relação à outra marca não significará imitação se esse facto não fizer cair em erro ou confusão o consumidor des- prevenido (cf. Prof. Fcrrcr Correia, Lições de Direito Co- mercial, e Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Maio de 1959, in Boletim, n.º 87, p. 430, e Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 93.ª, p. 71).

É jurisprudência assente que o conceito de imitação ou usurpação de uma marca por outra visa evitar a fácil indu- ção em erro do consumidor médio, que só por exame atento ou confronto pode distingui-las, e não do consumidor pre- venido ou especializado, e ainda que, para que ela se verifi- que, não é necessária a semelhança entre todos os elemen- tos (cf. os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 14 de Novembro de 1979 e de 23 de Julho de 1980, in Bole- tim, n.os 291, p. 520, e 299, p. 345). A marca LASA, ora em juízo, destina-se a assinalar

«lenços», enquanto as marcas ASA assinalam, entre outros produtos, «panos de lençol, em peça, lençóis confeccio- nados, cobertores de cama (colchas)» (documento n.º 3), «tecidos de linho e tecidos de algodão» (documento n.ª 4) e «artigos manufacturados de algodão, tecidos de algodão es- tampados», «tecidos de algodão, tecidos impermeáveis para camas, tecidos para roupa branca, tecidos sarjados e toalhas de mesa» (documento n.º 5). A expressão «ASA» é sigla utilizada com o nome e insígnia do estabelecimento - Fá- brica de Tecidos ASA (documentos n.os 6 e 7). Os «lenços» protegidos pela marca ASA não têm

qualquer afinidade com os mencionados produtos da marca ASA supramencionados quanto à sua aplicação ou destino, único critério afinidor da existência ou não da afinidade dos

produtos, pois a marca não deriva, como se disse, da inscri- ção na tabela com o reportório referido no artigo 279.º do Código da Propriedade Industrial (cf., neste sentido, tam- bém o Acórdão da Relação de Lisboa de 12 de Outubro de 1977, in Colecção de Jurisprudência, ano II, 1977, t. 4, p. 957). Na realidade, «os lenços» destinam-se ao uso pessoal dos

seus detentores, são por assim dizer um complemento do vestuário, ao passo que os referidos outros produtos são de uso doméstico, em geral, neles não se incluindo, necessa- riamente, «os lenços», como produtos manufacturados de algodão, usados,pela marca ASA. Não se vislumbram, assim, afinidades entre produtos a

que se reporta aquela marca e a marca L A S A . Em relação à fonética e à grafia das marcas em con-

fronto, há dissemelhança da consoante «L» da marca LASA em relação à marca ASA. Todavia, isso permitirá, sem dúvida, a distinção das mar-

cas à simples observação do eventual comprador médio, não se falando de um comprador previsto ou especializado. À partida, não haverá o perigo de confusão entre as mar-

cas, pois, como é evidente, um comprador normal e cor- rente, ao procurar adquirir «lenços» no mercado, nunca po- derá encontrá-los à venda com a marca ASA, mas sim com a marca LASA. Não há aqui, de facto, um produto com interesse acau-

telado pela marca ASA que justifique o não registo da marca LASA. É que - lembre-se - o registo das marcas tem um

duplo objectivo de acautelar os interesses dos seus titulares e de proteger o público consumidor, evitando que seja indu- zido em erro (cf. Justiniano Cruz, Código da Propriedade Industrial, p. 65). Como diz o Prof. J. G. P. Coelho, em matéria de mar-

cas figura o princípio da liberdade, mas este limitado pelo princípio da verdade (cf. Lições de Direito Comercial, 3.º ed. I, p. 458, e o artigo 93.ª do Código da Propriedade Indus- trial. Concedendo-se, assim, o registo da marca LASA, acaute-

lam-se os referidos interesses e respeitam-se os menciona- dos princípios, pois não há imitação ou usurpação daquela marca em relação à marca ASA. Assim, pelas expostas razões, daria provimento ao

recurso, revogando a sentença recorrida].

Cópia do acórdão proferido nos autos de recurso de marca n.º 9999/85, que a recorrente Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, com sede em Covas, Guimarães, move ao recorrido Instituto Nacional da Propriedade Industrial, com sede no Campo das Cebolas, em Lisboa, no Supremo Tribunal de Justiça.

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça: Na comarca de Lisboa e no recurso interposto por

Agostinho da Silva Areias, Filhos & C.º, L.da, nos termos do artigo 203.º do Código da Propriedade Industrial, foi decidido que o despacho recorrido fosse substituído por outro que recuse o registo da marca LASA para lenços, requerido por Armando da Silva Antunes, L.da Interposto recurso dessa decisão por Armando da Silva

Antunes, L.da, a Relação de Lisboa, pelo douto acórdão a fl. 79, negou provimento ao recurso e confirmou a sentença recorrida.

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É desse acórdão que vem o presente recurso, ainda inter- posto por Armando da Silva Antunes, L.da, no qual vieram a ser apresentadas alegações com as seguintes conclusões:

1.º É questão de direito a ser decidida pelo venerando Supremo Tribunal de Justiça apurar se, face às semelhanças ou diferenças entre marcas comerciais nominativas, existe ou não imitação ou usurpação total ou parcial;

2.º De acordo com os artigos 93.ª, n.º 12.ª, e 94.º do Código da Propriedade Industrial, para que uma marca se deva considerar imitada ou usurpada devem verificar-se cumulativamente os seguintes requisitos: destinarem-se as marcas ao mesmo pro- duto ou produtos afins; existir entre eles seme- lhanças gráfica, fonética ou figurativa, de modo que o consumidor médio possa ser facilmente indu- zido em erro ou confusão no mercado, e o con- fronto ou exame atento das marcas ser necessário para a sua distinção ser possível (acórdão do Supremo Tribunal de Justiça in Boletim do Minis- tério da Justiça, n.ª 153, p. 273, e Acórdão da Relação de Lisboa de 17 de Julho de 1959, in Jurisprudência das Relações, 5.º, p. 661);

3.º De acordo com a melhor doutrina e jurispru- dência, a afinidade dos produtos não deriva da sua inscrição na mesma classe ou número das tabelas do reportório a que se refere o artigo 279.ª do Código da Propriedade Industrial, mas sim do seu fim, destino ou aplicação;

4.º No caso em apreço não existe afinidade entre os produtos assinalados com cada uma das marcas em virtude de a marca LASA assinalar lenços, um produto complementar do vestuário, e a marca ASA assinalar tecidos, panos de lençol, cortina- dos, colchas e toalhas de mesa, produtos domés- ticos; de um modo geral, cada uma das marcas assinala produtos com um fim, destino ou aplica- ção completamente distintos (vestuário e uso do- méstico, respectivamente);

5.º Não existe, por outro lado, semelhança gráfica ou fonética que facilmente induza o consumidor médio em erro ou confusão acerca das duas mar- cas;

6.º A dissemelhança figurativa é frequente, não sendo necessário um exame atento ou o confronto das duas marcas para a respectiva distinção;

7.º A marca ASA não é associada, no mercado e pelo público médio em geral, porque a recorrida nunca os fabricou, à confecção de lenços, pelo que a procura de lénços LASA não se fará por con- fusão com a marca ASA, nem tão-pouco o consu- midor será levado a comprar lenços LASA, pen- sando estar a adquirir um produto ASA;

8.º A confusão entre as duas marcas, LASA e ASA, não existe porque os requisitos enunciados supra no n.ª 2 não se verificam, pelo que o douto acór- dão recorrido (fl. 79), quando confirmou a sentença da 1.º instância, recusando, por essa via, o registo da marca n.ª 95 283, LASA, anteriormente conce- dido à recorrente pelo Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial, violou o preceituado nos ar- tigos 93.º, n.ª 12.º, e 94.ª do Código da Proprie- dade Industrial.

Termina pedindo a revogação do acórdão recorrido. Contra alegando, a recorrida sustenta que deve ser negada

a revista. Tudo visto.

As marcas que estão em confronto, apenas nominativas, são ASA, registada pela autora, e LASA, registada pela ré, tendo a Relação, pelo douto acórdão recorrido, confirmativo da decisão da 1.º instância, decidido que entre elas se veri- ficavam evidentes semelhanças gráfica e fonética, seme- lhanças essas que, para o nível médio do consumidor, o fazem cair em confusão, e que os produtos a que respeitam os registos dessas marcas eram todos da mesma classe 24.º da correspondente tabela. Há que notar, antes de mais, que este Supremo esta-

beleceu a jurisprudência desde há muito pacífica de que constitui matéria de facto a verificação da semelhança das marcas e matéria de direito o saber se houve ou não imi- tação face às semelhanças verificadas (v., por todos, o Acór- dão de 23 de Julho de 1980, in Boletim, n.º 299, p. 345; v. ainda J. G. Pinto Coelho, in Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 93.ª, pp. 17 e segs.). A marca, segundo decorre do n.ª 12.º do artigo 93.º e do

artigo 94.º, ambos do Código da Propriedade Industrial, é um distintivo de mercadorias ou produtos (cf. Ferrer Cor- reia, Lições de Direito Comercial, I, 1965, p. 331) e é proi- bido o seu registo quando reproduza ou imite, total ou par- cialmente, uma anteriormente registada por outrem para o mesmo ou semelhante produto que possa induzir em erro ou confusão no mercado. Mas, assim, embora funcione nessa matéria o princípio

da liberdade, é ele limitado pelo princípio da verdade, o que, se as marcas forem semelhantes, de forma a provocarem confusões, será violado em prejuízo da marca anteriormente registada, pelo que aquele princípio vem a traduzir-se no princípio da novidade ou especialidade da mercadoria. Ora, vem dado como provado que a marca que a recor-

rente registou, LASA, é constituída por vocábulo que ape- nas tem a mais que a marca registada pela recorrida a con- soante «L», colocada no início dele, pois a marca registada pela recorrida é constituída pelo vocábulo «ASA»; tem, assim, o primeiro vocábulo, em relação ao segundo, um fo- nema marginal inicial a mais, pelo que coexiste o morfema «ASA», não se alterando a estrutura dissilábica e sem que foneticamente haja modificação, pois o «L» inicial, por o acento tónico recair sobre a vogal com que lhe forma a sílaba, surge surdo. Nesta conformidade, as duas marcas, ASA e LASA, apre-

sentam-se por fonna a induzirem facilmente em erro ou confusão o consumidor médio, pelo que tem de concluir-se que a marca LASA é uma imitação da marca ASA, já que se verifica imitação parcial (de notar é que o jurista bra- sileiro João da Gama Cerqueira, Tratado da Propriedade Industrial, II, t. II, parte III, p. 62, considera existir até reprodução proibida sempre que a marca incorporada na denominação conservar a sua individualidade e for clara- mente perceptível na nova marca), sendo, pois, ambos os vocábulos dissílabos, com a quase totalidade dos fonemas de ambos coincidentes, a serem pronunciados por forma a, consequentemente, provocarem confusão.. Improcedem, pois, todas as conclusões das doutas alega-

ções da recorrente. Nestes termos, negam a revista. Custas pela recorrente.

Lisboa, 18 de Fevereiro de 1988.-Alcides de Al- meida-Soares Tomé-Cura Mariano.

Está conforme.

Lisboa, 15 de Setembro de 1988.-O Escrivão- -Adjunto, (Assinatura ilegível.)