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AgnciasReguladoras
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Apresentao
A Associao Brasileira de Agncias
Reguladoras (ABAR), atenta discusso
nacional sobre o papel das Agncias
Reguladoras, solicitou, em 2003, a Floriano de
Azevedo Marques Neto, advogado, Professor
Doutor do Departamento de Direito Pblico da
Faculdade de Direito da Universidade de So
Paulo e membro do Comit Executivo da
Sociedade Brasileira de Direito Pblico, uma
anlise sobre a moderna regulao estatal,
abrangendo a importncia das Agncias no
exerccio desta funo pblica, os
fundamentos jurdicos dos agentes reguladores
no Direito brasileiro e a separao que deve
existir entre polticas pblicas e atividade
regulatria. Dr. Floriano produziu o documento
solicitado que, aps debatido e aprovado
pelas 24 Agncias associadas, passou a
representar a posio da ABAR em relao aos
temas abordados.O presente trabalho uma sntese do estudo
efetuado, cuja ntegra se encontra
disposio dos interessados.Salientamos que o documento apresenta
questes relacionadas com a
constitucionalidade das Agncias, crticas ao
modelo atual e sugestes para o seu
aperfeioamento. A anlise mostra,
claramente, que as Agncias Regulatrias so,
sem dvida, instrumentos de fortalecimento do
Estado e que, no exerccio de suas atividades,
devem priorizar a transparncia de seus atos, o
ASSOCIAO BRASILEIRA DE AGNCIAS DE REGULAO - ABARAv. Borges de Medeiros, 659, 14 andar - Porto Alegre - RS - BrasilCEP - 90.020-023 - Telefone: (51) 3288.8869www.abar.org.br
DIRETORIA
Presidente - Maria Augusta FeldmanAGERGS - Agncia Estadual de Regulao dos Servios Pblicos Delegados do Rio Grande do Sul
Diretores:Eduardo Henrique Ellery FilhoANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica
lvaro Otvio Vieira MachadoARSAL - Agncia Reguladora de Servios Pblicos do Estado de Alagoas
Zevi KannCSPE - Comisso de Servios Pblicos de Energia do Estado de So Paulo
Marco Antnio Sperb LeiteAGR - Agncia Goiana de Regulao, Controle e Fiscalizao de Servios Pblicos
Secretria Executiva e Financeira:Roberta Moraes de VasconcelosAGERGS - Agncia Estadual de Regulao dos Servios Pblicos Delegados do Rio Grande do Sul
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A criao das Agncias de Regulao foi conseqncia de uma
profunda mudana na relao do aparelho estatal com a sociedade,
particularmente com a ordem econmica. At ento, a interveno
estatal estava centrada na supremacia do interesse pblico sobre os
interesses privados. No havia maior preocupao do Estado com o
equilbrio especfico do setor sob interveno, de vez que seus objetivos
eram de natureza geral.
O Estado assumia a explorao de atividades econmicas
relevantes ou essenciais e a poltica de preos era definida no ambiente
poltico. Eram avaliados fatores que no levavam em conta os interesses
especficos do setor regulado, gerando a instabilidade regulatria e a
inviabilidade da ao privada em setores sujeitos
interveno estatal.
O papel regulador do Estado
As transformaes ocorridas nos
ltimos anos apontam para o
fortalecimento do papel regulador
do Estado em detrimento do papel
AgnciasReguladoras
A interveno estatal:a relao entre Estado e sociedade
incentivo participao da sociedade no
processo regulatrio e a mediao de conflitos
como instrumentos para que se garanta o
equilbrio nas relaes entre o Poder Pblico, o
agente regulador, o ente regulado e os
cidados. Esperamos que a presente sntese contribua
para o debate em curso sobre as Agncias
Reguladoras e que a consolidao das
atividades regulatrias no Brasil, objetivo da
existncia da ABAR, sirva para os interesses
maiores da Nao brasileira.
Maria Augusta FeldmanPresidente da ABAR
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do Estado produtor de bens e servios. A atividade regulatria estatal
passa a dar relevncia separao entre o operador estatal e o ente
encarregado da regulao do respectivo setor; e admisso do setor
regulado da existncia de operadores privados competindo com o
operador pblico. introduzido o conceito de competio entre setores
sujeitos interveno estatal indireta.
H diferenas substanciais quanto aos pressupostos, objetivos e
instrumentos da atividade estatal de regulao e a interveno direta no
domnio econmico. A interveno regulatria pautada pela
mediao e no pela imposio de objetivos e comportamentos
ditados pelo Estado, que passa a exercer sua autoridade no de forma
impositiva, mas arbitrando interesses e dando suporte para setores com
menor eficincia. Os objetivos da atividade regulatria se deslocam dos
interesses do Estado e passam a se identificar mais com os interesses da
sociedade. Ademais, a regulao vai demandar a construo de
mecanismos de interveno estatal que permitam efetivar essa nova
forma de relacionamento com os agentes econmicos. A mediao e
a interlocuo com os agentes envolvidos no setor regulado so
fundamentais.
A moderna regulao e a busca do equilbrio
A moderna noo de regulao remete idia de equilbrio dentro
de um dado sistema regulado. Esse poder envolver a introduo de
interesses gerais, externos ao sistema, que devero ser processados pelo
regulador de forma que a sua consecuo no acarrete a inviabilidade
do setor regulado. Assim, a ao estatal passa a depender do equilbrio
entre os interesses privados (competio, respeito aos direitos dos usurios,
admisso da explorao lucrativa de atividade econmica) e as metas e
objetivos de interesse pblico (universalizao, reduo de desigualdades,
modicidade de preos e tarifas, maiores investimentos, etc.).
A quebra de monoplios, a desestatizao ou a abertura de setores .
competio no necessariamente devem ser associados aos
mecanismos desregulatrios. Esses processos alimentam o
desenvolvimento de uma nova forma de regulao, possivelmente
mais firme e consistente. As transformaes no papel regulador do
Estado tambm no devem ser associadas aos processos de supresso
da interveno estatal sobre o domnio econmico. A reforma
regulatria vai no sentido exatamente contrrio aos processos de
desregulao ou de auto-regulao do mercado.
A moderna regulao e os interesses pblicos
Alm da funo estabilizadora, que busca preservar o equilbrio do
mercado, a atividade regulatria estatal tem, tambm, uma funo
redistributiva. A Constituio (artigo 174) d ao Estado, como ente
normativo e regulador da atividade econmica, a incumbncia de
incentivar e planejar atividades econmicas, o que d regulao uma
conotao muito mais ampla do que a simples correo de falhas de
mercado. Mas esse carter redistributivo coloca-se pela regulao a
partir de uma perspectiva de mediao de interesses e de busca de
equilbrio interno ao sistema regulado.
Atividade regulatria e atividade regulamentar
A regulao estatal envolve funes muito mais amplas do que a
funo regulamentar. Esta consiste em disciplinar uma atividade
mediante a emisso de comandos normativos, de carter geral, ainda
que com abrangncia meramente setorial. A regulao estatal envolve
atividades coercitivas, adjudicatrias, de coordenao e organizao.
E ainda funes de fiscalizao, sancionatrias, de conciliao, bem
como o exerccio de poderes coercitivos e funes de subsidiar e
recomendar a adoo de medidas de ordem geral pelo poder central.
O artigo 174 da Constituio imputa ao Estado o papel de agente
normativo e regulador da atividade econmica (includos os servios
pblicos). Assim, a funo reguladora deve abranger tanto as atividades
econmicas, cuja explorao est sujeita ao regime privado de
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mercado, quanto aquelas que tenham sido eleitas pela Constituio ou
pela Lei como servios pblicos. Se, nestas ltimas, a regulao estatal
inerente ao prprio regime de prestao, naquelas a regulao
tambm se justificar, caso estejamos diante de um setor relevante ou
essencial da vida econmica. Portanto, regular no sinnimo de
regulamentar.
No exerccio da atividade regulatria, o Estado orientado pela
perspectiva de intervir em setores da economia:
a) sem afastar a participao dos agentes privados;
b) separando as tarefas de regulao das de explorao de
atividade econmica, mesmo quando permanecer atuando
no setor atravs de um ente que controla;
c) orientando sua interveno para a defesa dos interesses dos
cidados, como participantes das relaes econmicas
travadas no setor regulado;
d) procurando manter o equilbrio interno ao setor regulado para
permitir a preservao e incremento das relaes de
competio (concorrncia), sem deixar de imprimir ao setor
pautas distributivas ou desenvolvimentistas tpicas de polticas
pblicas;
e) exercendo a autoridade estatal atravs de mecanismos e
procedimentos menos impositivos e mais voltados
composio e arbitramento de interesses, o que envolve maior
transparncia e participao na atividade regulatria.
Os entes estatais incumbidos da regulao devem ter como
caractersticas essenciais serem rgos pblicos, que concentrem vrias
funes e competncias, que estejam voltados para um setor da
economia que exija significativa especializao, objetivando a busca
de equilbrio entre interesses envolvidos com a atividade regulatria e
atuando com neutralidade em relao a estes interesses.
Carter pblico: devero ser rgos do Estado dotados de
autoridade e revestidos das prerrogativas e condicionantes inerentes a
todos os rgos pblicos, mas tambm se manterem transparentes na
sua forma de atuao e permeveis participao dos administrados
(regulados ou cidados) no exerccio da autoridade.
Concentrao de funes: o que legitima a atuao do regulador
sua capacidade de, com eficincia, combinar o equilbrio do sistema
regulado com a concretizao de objetivos de interesse geral definidos
para o setor.
Especializao: o ente regulador deve ter profundo conhecimento
do setor regulado. A especialidade no apenas garante maior
eficincia regulatria, como tambm evita problemas de troca de
informaes entre a Agncia e o regulado.
Equilbrio: deve manifestar-se no apenas pela mediao dos
vrios interesses existentes no setor regulado, como pela estabilidade
que deve ser assegurada na regulao. essencial que, nos setores em
que se deseje incentivar a competio, a regulao no s no impea
como tambm promova a previso de inovaes.
Neutralidade: o agente regulador deve manter-se imparcial em
face dos interesses regulados, includos os do poder pblico, e deve
exercer com prudncia e proporcionalidade suas competncias, para
melhor atingir os objetivos visados com a regulao.
As Agncias como Autor idades Reguladoras
Independentes
O termo agncia gera trs problemas conceituais na tradio
jurdica brasileira. O primeiro, em funo da indefinio terminolgica
ditada pela origem americana do nome. O segundo, pela dificuldade
de encaixe do termo na tradio do Direito brasileiro. E o terceiro decorre
do fato de que a Constituio Federal (artigo 21, XI e artigo 177, 2, III),
ao referir-se expressamente a entes reguladores, utilizou o termo rgo
regulador e no Agncias.
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Por uma questo didtica e metodolgica, preferimos usar o termo
Autoridades Reguladoras Independentes. Essa designao, constante
na doutrina europia, portuguesa em particular, tem o mrito de nela
embutir os trs aspectos centrais para caracterizar as Agncias: serem
elas rgos pblicos, dotados de autoridade, voltados ao exerccio da
funo de regulao e caracterizados pela independncia.
A atividade objeto das Agncias e suas caractersticas
No exerccio de suas funes regulatrias, as Agncias renem os
seguintes poderes:
a) Normativo: comandos gerais para o setor regulado,
complementando a legislao existente;
b) De outorga: emisso, obedecendo s polticas pblicas
aplicveis ao setor, de licenas, autorizaes, injunes, com
vistas a franquear ou interditar o exerccio de uma atividade
regulada a um particular;
c) De fiscalizao: seja pelo monitoramento das atividades
reguladas ou pela aferio das condutas dos regulados,
buscando impedir o descumprimento de regras ou objetivos
regulatrios;
d) Sancionatrio: aplicar advertncias, multas ou mesmo
cassaes de licenas e obrigar o particular a reparar um
consumidor ou corrigir os efeitos de uma conduta lesiva a algum
valor ou interesse tutelado pelo regulador;
e) De conciliao: conciliar ou mediar interesses de operadores
regulados, consumidores isolados ou em grupos ou ainda de
agentes econmicos que se relacionam com o setor regulado,
embora no mbito da cadeia econmica;
f) De recomendao: subsidiar, orientar ou informar o poder
poltico, recomendando medidas ou decises a serem editadas
no mbito das polticas pblicas.
Capacidade tcnica
As Agncias devem especializar-se quanto ao setor regulado, pois
a capacidade tcnica do regulador um requisito para a prpria
legitimao da regulao. Quanto mais as Agncias e seus agentes
dominarem cdigos, necessidades e possibilidades do setor regulado,
mais a regulao ser eficiente e menores sero os problemas de
comunicao entre regulador e regulado.
A capacitao tcnica deve ser perseguida j no recrutamento de
dirigentes e funcionrios, levando em considerao capacidade
especfica, conhecimento tcnico e, eventualmente, experincia no
setor regulado. Ademais, a Agncia deve manter-se permanentemente
atualizada e informada, dispondo de meios e instrumentos no s para
exigir dos regulados informaes e conhecimentos, como tambm
disponibilizar estudos, consultorias e pesquisas a seu pessoal, para que
ele seja permanentemente incentivado e treinado.
Permeabilidade
As Agncias devem manter dilogo permanente, transparente e
aberto com os agentes sujeitos regulao. Embora o operador deva
se submeter ao regulamento, licena, ao plano ou ao contrato, isto
no impede que ele seja ouvido, participe, negocie e tente fazer
prevalecer seus interesses. De outra parte, o rgo regulador precisa
buscar permanentemente a participao, no processo, de
consumidores, grupos de interesse, associaes, entidades de classe,
agentes econmicos outros que no os operadores regulados.
Em contrapartida, h o risco da captura pelo interesse dos
regulados. Mas este risco inerente prpria regulao e quanto mais
aberta e institucionalizada for a relao do rgo regulador com a
sociedade, mais controle esta poder ter para coibir a captura.
Processualidade
O manejo da ampla gama de poderes que detm, as Agncias
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ficam obrigadas a, no seu exerccio, se submeter ao devido processo
legal, na sua acepo mais ampla. O trao de processualidade
manifesta-se tanto pela observncia da idia de processo quanto no
procedimento.
Independncia
A independncia constitui trao essencial destes rgos. Ela se
demarca a partir de instrumentos jurdicos, mas s se consagra se o
regulador detiver meios e instrumentos para bem exercer suas funes e
tiver rigor e transparncia para assegurar sociedade que os objetivos
da regulao continuam sendo pblicos. A independncia das
Agncias deve manifestar-se com relao a todos os interesses
envolvidos com a atividade regulatria. Mas, do ponto de vista jurdico e
institucional, perante os rgos do governo que a independncia se
mostra mais polmica.
H duas espcies de independncia: a orgnica e a
administrativa. So dimenses distintas, mas que se complementam,
particularmente porque a independncia orgnica ser inviabilizada se
o rgo regulador no tiver mecanismos que assegurem
independncia na sua gesto.
Independncia orgnica: no exerccio das suas atividades-fim, a
Agncia dever dispor de mecanismos que evitem sua subordinao
vontade poltica do poder central para alm das metas, objetivos e
princpios constantes das polticas pblicas estabelecidas para o setor. A
independncia orgnica serve para assegurar ampla autonomia no
manejo dos instrumentos regulatrios e se compe a partir da
estabilidade dos dirigentes e da no-subordinao hierrquica das
Agncias ao Poder Executivo central.
Independncia administrativa: ou de gesto, busca dotar o
agente regulador de recursos e instrumentos para exercer suas
atividades sem necessidade de recorrer ao poder central. Ela se traduz
nos seguintes mecanismos:
a) Autonomia de gesto: dotar a Agncia da capacidade de
organizar e gerir seus oramentos, alocando os recursos
disponveis nas atividades que o rgo entenda serem
prioritrias e necessrias ao bom exerccio de suas
competncias. Isso evita contingenciamentos ou cortes
oramentrios que sejam feitos para atender a objetivos de
poltica monetria ou fiscal. E tambm torna incompatvel a
previso de contratos de gesto como, por exemplo, ocorre no
caso da Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL) conforme
artigo 7, da Lei n 9.427/96;
b) Autonomia financeira: garante que os recursos financeiros
necessrios atividade da Agncia no estaro subordinados
gesto do Tesouro. Ou seja, independero da boa vontade do
poder central. A pior captura que pode ocorrer a uma Agncia
aquela que engessa suas funes por falta de meios
adequados ao seu exerccio, transformando-a num
simulacro;
c) Liberdade para organizar seus servios: o rgo regulador
que determina, internamente, como sero alocadas as
competncias e atribuies dos agentes para o exerccio das
atividades regulatrias. Inclui a prerrogativa de organizar-se
funcionalmente e de distribuir-se regionalmente. E, ainda, a
liberdade de optar por firmar contratos ou convnios para obter
o concurso de terceiros;
d) Regime de pessoal compatvel: em funo da natureza das
suas atividades, nas Agncias haver trs ordens de regime de
pessoal, pois no tem sentido que os dirigentes dos rgos de
regulao tenham estabilidade (mandatos, s podem ser
afastados por justa causa) e os demais agentes sejam
demissveis por ato de vontade, quer dos dirigentes das
Agncias, quer (o que pior) da Administrao Central
(governo).
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Agncias e Governo
Legitimidade democrtica: As Agncias so instrumentos
legtimos de consagrao da democracia. A possibilidade de contar
com instituies estveis, por outro lado, lhe d a garantia de que as
pautas polticas por ele perseguidas tero respaldo e sustentao
institucional quando implementadas. Seria um despropsito manchar a
regulao pelas Agncias independentes de um carter
intrinsecamente antidemocrtico, justamente por elas se prestarem a
garantir alguma estabilidade ao jogo econmico e alguma
institucionalidade interveno estatal.
Polticas de Estado: so aquelas definidas, por Lei, no processo
complexo que envolve o Legislativo e o Executivo. Elas definem as
premissas e os objetivos que o Estado brasileiro, em determinado
momento histrico, quer ver consagrados para um setor da economia
ou da sociedade. So marcadas por um trao de estabilidade, embora
possam ser alteradas para sua adequao a um novo contexto
histrico, bastando para isso a alterao no quadro legal. So
necessariamente estruturantes, tanto das polticas governamentais
quanto das polticas regulatrias e constituem a base das polticas
pblicas setoriais.
Polticas de governo: representam os objetivos concretos que um
governante eleito pretende ver impostos a um dado segmento da vida
econmica e social. So a orientao poltica e governamental que se
pretende imprimir a um setor. Esto subordinadas s polticas do Estado.
A poltica de governo condiciona, ainda que no suprima as polticas
regulatrias.
Polticas pblicas: so normas, princpios e atos voltados a um
objetivo determinado de interesse geral. Devero ser estabelecidas no
espao governamental, conjugando os objetivos e princpios das
polticas de Estado com as metas e orientaes polticas
governamentais. Elas so definidas, necessariamente, a partir de
mediaes polticas. Embora no se confundam com as polticas
regulatrias, nos setores sujeitos nova regulao as polticas pblicas
sero implementadas, em grande parte, pelo manejo daquelas. H
uma relao de dependncia entre ambas, que se complementam.
Polticas regulatrias: so as opes de que dispe o agente
regulador para cumprir as pautas de polticas pblicas para o setor
regulado. No se admite que o manejo das polticas regulatrias
contrarie, negue ou esvazie as polticas pblicas. Porm, sero as
polticas regulatrias que definiro o melhor momento e o resultado de
uma poltica pblica setorial. Ao regulador caber ponderar os interesses
regulados e equilibrar os instrumentos disponveis, no sentido de intervir no
sistema sem inviabilizar seus pressupostos.
Funes de Estado e Funes de Governo
A Constituio contempla princpios e fundamentos do Estado que
no se confundem com os objetivos de governo. Mas, tambm, faz
vrias referncias a polticas de Estado que vinculam qualquer poltica
de governo. A seguridade social definida como um conjunto integrado
de aes de iniciativa dos Poderes Pblicos (artigo 194) e a promoo de
polticas de sade (artigo 196), e de educao (artigo 205) so dever do
Estado. At mesmo o fomento ao desporto (artigo 217) elevado
condio de uma poltica de Estado.
Todas essas disposies estabelecem polticas de Estado que,
embora dependam de polticas de governo para serem
implementadas, vinculam a liberdade do governo definio das
pol t icas governamentais. Estas devero ser formuladas,
obrigatoriamente, para que aquelas sejam concretizadas.
Quem elabora pautas polticas so os poderes Executivo e
Legislativo. O Estado tem instituies que iro obedecer Constituio,
Lei e s polticas pblicas. As polticas de governo devem ser
processadas no ambiente institucional, de modo a serem
implementadas. A questo, portanto, estar no papel que os rgos do
Estado tero no exerccio da filtragem institucional das polticas de
governo, para transform-las em polticas de Estado.
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Dadas as transformaes no papel do Estado, num contexto de
nova regulao estatal, as polticas pblicas no so mais impostas
ao setor regulado e sim introduzidas mediante critrios de mediao,
ponderao e prudncia.
A difcil articulao entre polticas pblicas e polticas
regulatrias
As leis que definem as polticas de Estado e os marcos regulatrios
para cada setor e instituem as respectivas Agncias que limitam as
polticas pblicas e regulatrias. Se os rgos reguladores so dotados
de independncia e amplas competncias de interveno em um
determinado setor, no se pode pretender atribuir-lhes, tambm, a
competncia para conceber e estabelecer as polticas pblicas
setoriais.
Os rgos reguladores no so instncia institucional de definio
de polticas, mas sim espaos e instrumentos para que as mesmas sejam
efetivadas. Elas devem ser previamente definidas pelos poderes
Executivo e Legislativo (eventualmente, at com a participao e o
suporte do rgo regulador, mas fora do seu campo decisrio). A
regulao, portanto, apresenta-se como o exerccio independente de
competncias para cumprir pressupostos e objetivos definidos nas
polticas pblicas. Essas devero ser, necessariamente, de longo prazo,
de permanente implementao e com forte vis de planejamento e
ordenao da economia. A regulao pelas Agncias, assim,
consagra a estabilidade e a permanncia na consecuo das
polticas pblicas.
Legalidade e Constitucionalidade das Agncias
No razovel interpretar o inciso II do artigo 84 da Constituio no
sentido de que a direo superior da Administrao interditaria a
conferncia, por lei, de regimes especiais de estabilidade a agentes
pbl icos que exercem funes de Estado. A tese de
inconstitucionalidade dos mandatos e da estabilidade dos dirigentes
das Agncias cai por terra diante do prprio texto constitucional. No se
interpreta a Constituio em tiras, aos pedaos. Assim, temos que
interpretar o artigo 84, II, conjugadamente com o artigo 52, III, f, que
prev a competncia tambm privativa do Senado para aprovar
previamente, por voto secreto, aps argio pblica, a escolha de (...)
titulares de outros cargos que a lei determinar. Seria um despropsito
que a Constituio previsse o envolvimento do Senado no processo de
nomeao de dirigentes de rgo estatal para, ato contnuo, admitir
que o Presidente da Repblica possa exoner-los livremente.
A Constituio, ao permitir que a lei preveja um regime de
nomeao de titulares de cargos mediante processo complexo,
tambm admitiu que essa mesma lei conferisse a esses cargos um
regime de estabilidade, impedindo a exonerao imotivada por ato
exclusivo do Chefe do Executivo.
Ademais, as Agncias no violam o artigo 37, II da Constituio,
pois, aos cargos de dirigentes das Agncias, no se aplica o dispositivo
simplesmente porque, como tais cargos no so de livre provimento
(passam pela prvia aprovao do Senado), no havero de ser de livre
exonerao.
Princpio democrtico: a nomeao de dirigente de rgo
regulador se reveste de um reforo democrtico, na medida em que
envolve uma deciso poltica de quem tem legitimidade conferida pelo
voto popular (o Chefe do Executivo), confirmada por quem tambm
tem representatividade popular (os membros do Senado que aprovam
a indicao).
No-coincidncia de mandatos: a tese da coincidncia de
mandatos dos dirigentes das Agncias com o Chefe do Executivo poria
a perder o pressuposto da estabilizao das polticas regulatrias, que
permite, embora as naturais alternncias no poder, que haja uma
continuidade no cumprimento das polticas pblicas anteriormente
formuladas, at que as novas orientaes estejam amadurecidas. O
princpio do pluralismo poltico, consagrado no artigo 1, V, da
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Constituio, como fundamento da Repblica, argumento forte para
rejeitar a coincidncia dos mandatos.
De outra parte, o vencimento diferenciado dos mandatos de cada
dirigente do rgo regulador, de modo que a cada ano haja a
possibilidade de renovao de um dos integrantes do colegiado,
permite que se introduza, em especial quando houver alternncia das
foras polticas no governo, a pluralidade de linhas polticas no seio da
Agncia. Como o modelo brasileiro no previu a introduo da
pluralidade desde a origem, a no-coincidncia dos mandatos um
importante instrumento para, nesse sentido, democratizar as Agncias.
Subordinao hierrquica: No h, nos artigos 84, II e artigo 87,
pargrafo nico, I da Constituio, algo que obrigue todos os rgos do
Executivo ao controle hierrquico da direo superior da Administrao.
E, muito menos, que a Lei no possa estipular outros regimes de controle
que o no-hierrquico.O artigo 84, II da Constituio no d ao
Presidente da Repblica poder de injuno sobre todas as atividades
estatais. Por direo superior da Administrao deve-se entender aquele
sentido de dar o norte, as orientaes da macropoltica governamental,
e no o poder para se imiscuir no exerccio de todas as competncias
administrativas.
No h afronta ao artigo 87, pargrafo nico, I da Constituio:
Os termos de orientao, coordenao e superviso constantes no
texto constitucional no implicam na ingerncia do Governo na
atividade dos rgos vinculados aos respectivos ministrios. Estas trs
atividades so compatveis com a separao entre polticas
governamentais e polticas regulatrias, estas executadas de forma
autnoma.
Concentrao de funes: A tripartio de poderes no envolve,
nem de longe, uma segregao estanque de cada funo estatal. No
h impedimentos constitucionais multiplicidade de funes das
Agncias.
Poderes normativos: o poder normativo pode ser exercido, na
forma que a lei dispuser, pelo Poder Executivo que, na Constituio,
mais amplo que o seu chefe (artigo 76). O constituinte admitiu, ainda
que genericamente, a possibilidade de delegao legislativa ou no
haveria sentido em se referir a ela ao prever o controle do Congresso
sobre a atividade normativa delegada.
Controle das Agncias: no verdade que as Agncias no se
submetam a qualquer tipo de controle. Na verdade, elas esto
subordinadas a quatro espcies:
a) controle de gesto: exercido, principalmente, pelos Tribunais de
Contas e referente aplicao dos bens e servios pblicos a
seu cargo;
b) controle quanto ao cumprimento das polticas pblicas: que
deve ser exercido pelo Poder Legislativo, mediante exigncia de
relatrios semestrais e depoimentos em comisses especficas
do parlamento;
c) controle contra abusos e ilegalidades: que deve ficar com o
Poder Judicirio, podendo ainda, no caso de exorbitncia do
poder normativo delegado, ser exercido pelo Legislativo, que
tem competncia constitucional para isto;
d) controle quanto ao cumprimento das finalidades e metas da
atividade de regulao: que deve ser exercido pelo Legislativo,
pelo Executivo e, especialmente, pela sociedade.
Dez sugestes para o Aperfeioamento do Modelo de Agncias
1) Necessidade de uma lei geral sobre o regime jurdico
das Agncias;
2) Aprimorar os mecanismos de controle das atividades
das Agncias;
3) Maior articulao entre os rgos reguladores
setoriais e os rgos de tutela dos interesses gerais;
4) A efetivao do juzo tcnico no processo de
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indicao dos dirigentes das Agncias;
5) Maior pluralismo nas Agncias;
6) O incremento da transparncia e da participao
popular;
7) A descentralizao territorial da atividade das
Agncias, particularmente as federais;
8) Introduzir mecanismos de institucionalizao dos
consumidores na atividade regulada, como comits
de usurios ou grupos de representao que ajudem
a Agncia em sua tarefa regulatria;
9) A delimitao das fronteiras entre polticas, para que
se esclaream os marcos das polticas de Estado e os
papis do Governo e das Agncias, em face do setor
regulado;
10) Meios e recursos para o funcionamento das Agncias,
para que elas no sejam esvaziadas na sua
independncia administrativa e de gesto.
AAGISA - Agncia de guas, Irrigao e Saneamento do Estado da Paraba
AGEAC - Agncia Reguladora dos Servios Pblicos do Estado do Acre
AGEEL - Agncia Estadual de Energia Eltrica da Paraba
AGEPAN - Agncia Estadual de Regulao de Servios Pblicos de Mato Grosso do Sul
AGER - Agncia Estadual de Regulao dos Servios Pblicos Delegados de Mato Grosso
AGERBA - Agncia Estadual de Regulao de Servios Pblicos de Energia, Transportes e Comunicaes da Bahia
AGERGS - Agncia Estadual de Regulao dos Servios Pblicos Delegados do Rio Grande do Sul
AGERSA - Agncia Municipal de Regulao de Servios de Saneamento de Cachoeiro de Itapemirim
AGR - Agncia Goiana de Regulao, Controle e Fiscalizao de Servios Pblicos
ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica
ANP - Agncia Nacional do Petrleo
ANTAQ - Agncia Nacional de Transportes Aquavirios
Agncias filiadas ABAR
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ANTT - Agncia Nacional de Transportes Terrestres
ARCE - Agncia Reguladora de Servios Pblicos Delegados do Estado do Cear
ARCG - Agncia de Regulao dos Servios Pblicos Delegados de Campo Grande
ARCON - Agncia Estadual de Regulao e Controle de Servios Pblicos
ARPE - Agncia de Regulao dos Servios Pblicos Delegados do Estado de Pernambuco
ARSAL - Agncia Reguladora de Servios Pblicos do Estado de Alagoas
ARSAM - Agncia Reguladora dos Servios Pblicos Concedidos do Estado do Amazonas
ARTESP - Agncia Reguladora de Servios Pblicos Delegados de Transporte do Estado de So Paulo
ASEP - Agncia Reguladora de Servios Pblicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro
ARSEP - Agncia Reguladora de Servios Pblicos do Rio Grande do Norte
CSPE - Comisso de Servios Pblicos de Energia do Estado de So Paulo
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