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Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas nos Coredes Alto Jacuí e Produção – AP Pré-Colheita Relatório I Outubro/2013

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Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas nos Coredes Alto Jacuí e Produção – AP Pré-Colheita

Relatório IOutubro/2013

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Fundação de Economia e Estatística

Centro de Estudos Econômicos e Sociais (CEES)

Núcleo de Análise Setorial (NAS)

AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS

AGRÍCOLAS NOS COREDES ALTO JACUÍ E

PRODUÇÃO — AP PRÉ-COLHEITA

RELATÓRIO I

Pesquisadores

Cesar Stallbaum Conceição Rodrigo D. Feix

Bolsistas FAPERGS

Mateus Carvalho Cenedeze

Pietro G. Vicari de Oliveira

Porto Alegre, outubro de 2013

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SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, GESTÃO E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser CONSELHO DE PLANEJAMENTO: Presidente: Adalmir A. Marquetti. Membros: André F. Nunes de Nunes, Angelino Gomes Soares Neto, Julio César Ferraza, Fernando Ferrari Filho, Ricardo Franzói e Leonardo Ely Schreiner. CONSELHO CURADOR: Luciano Feltrin, Olavo Cesar Dias Monteiro e Gérson Péricles Tavares Doyll. DIRETORIA

PRESIDENTE: ADALMIR ANTONIO MARQUETTI DIRETOR TÉCNICO: ANDRÉ LUIS FORTI SCHERER DIRETOR ADMINISTRATIVO: ROBERTO PEREIRA DA ROCHA

CENTROS ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Renato Antonio Dal Maso PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Dulce Helena Vergara INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Juarez Meneghetti INFORMÁTICA: Valter Helmuth Goldberg Junior DOCUMENTAÇÃO E DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES: Tânia Leopoldina P. Angst RECURSOS: Maria Aparecida R. Forni

Esta pesquisa, financiada pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento

(AGDI), da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, foi desenvolvida pelo

Núcleo de Análise Setorial, do Centro de Estudos Econômicos e Sociais da Fundação de Economia e

Estatística Siegfried Emanuel Heuser, Secretaria do Planejamento, Mobilidade e Desenvolvimento

Regional do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Como referenciar este trabalho: CONCEIÇÃO, C. S.; FEIX, R. D.. Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas nos

Coredes Alto Jacuí e Produção – AP Pré-Colheita. Relatório I. Porto Alegre: FEE, 2013. Relatório do

Projeto Estudo de Aglomerações Industriais e Agroindustriais no RS. Disponível em:< http://www.fee.rs.gov.br/publicacoes/relatorios/>.

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Sumário

Introdução .................................................................................................................................... 04 1 Localização e área de abrangência regional da aglomeração......................................... 04 2 Breve histórico da produção de máquinas e implementos agrícolas no Rio Grande do Sul e da formação da AP Pré- Colheita....................................................................................

05

3. Caracterização socioeconômica e produtiva dos Coredes Produção e Alto Jacuí............. 08 3.1 Indicadores sociais e demográficos ....................................................................................... 09

3.2 Formação da mão de obra ...................................................................................................... 13

3.3 Indicadores econômicos e estrutura produtiva .................................................................... 15 4. Caracterização e atual importância da AP Pré-Colheita ........................................................ 22 4.1 A atividade ................................................................................................................................ 22 4.2 A cadeia produtiva ................................................................................................................... 30 4.3 Mercados consumidores.......................................................................................................... 33 5. A AP Pré-Colheita como APL.................................................................................................. 38 5.1 Coordenação e cooperação ....................................................................................................

39

5.2 Inovação ...................................................................................................................................

40

Considerações finais......................................................................................................................

41

Referências .................................................................................................................................. 44

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Introdução

Nos Coredes Alto Jacuí e Produção, está localizada uma das aglomerações produtivas (APs)

industriais da classe de atividade de fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária

(Classe CNAE 28.33-0) do Rio Grande do Sul. Segundo o relatório Aglomerações industriais do Rio

Grande do Sul: identificação e seleção1, essa mesma atividade também está concentrada em outros quatro

Coredes: Noroeste Colonial, Fronteira Noroeste, Jacuí-Centro e Central.

As máquinas e implementos agrícolas, juntamente com os defensivos agrícolas, sementes e

fertilizantes, constituem os principais insumos da atividade agropecuária. Contudo, devido à sua

abrangência, o setor é bastante heterogêneo, envolvendo a produção de bens que participam de todas as

etapas produtivas, desde o preparo do solo e plantio (pré-colheita), até procedimentos de colheita e pós-

colheita (como armazenamento e beneficiamento da produção agropecuária). No que se refere à sua

especialização e distribuição no território, vários estudos e trabalhos (Tatsch et al., 2009; Neumann, 2011)

destacam a existência de três subsistemas na indústria gaúcha de máquinas e implementos agrícolas: pré-

colheita, colheita e pós-colheita.

O presente relatório tem por objetivo fazer a caracterização econômica, social e produtiva da

aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas pré-colheita (AP Pré-Colheita), localizada nos

Coredes Alto Jacuí e Produção. Por sua importância tanto para a dinâmica econômica regional quanto para

o desempenho da indústria gaúcha e brasileira de máquinas e equipamentos agropecuários, essa

aglomeração pode ser classificada como um núcleo de desenvolvimento setorial e regional.

O estudo precede e será utilizado para instrumentalizar as oficinas de trabalho que serão realizadas

junto aos principais atores da AP Pré-colheita, com vistas a: i) identificar os entraves à competitividade das

empresas que a compõem; ii) avaliar as vantagens locacionais existentes e o potencial de desenvolvimento

engendrado no território; iii) analisar os vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre

as empresas aglomeradas e com outros atores locais, tais como governo, associações empresariais,

instituições de crédito, ensino e pesquisa.

O trabalho está organizado em cinco seções, contadas a partir desta Introdução. A primeira seção

apresenta a localização e área de abrangência da aglomeração. Em seguida, realiza-se um breve relato

sobre o histórico da produção de máquinas e implementos agrícolas no Rio Grande do Sul e na região da

AP Pré-Colheita. Na seção 3, destacam-se as características socioeconômicas e da estrutura produtiva da

região em que a aglomeração está localizada. A seção 4 apresenta as características setoriais da

aglomeração e revela sua atual importância regional e para a economia do Estado. Por fim, a partir de

estudos previamente realizados, são avaliadas as condições de governança, inovação e aprendizado na

aglomeração.

1. Localização e área de abrangência regional da aglomeração

A AP Pré-Colheita está localizada em municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção e será objeto

de estudo desse trabalho. Segundo Tatsch et al. (2009), Neumann e Lahorgue (2012) e Rede Polimetal RS

(2013), essa aglomeração é composta de empresas localizadas nos Municípios de Passo Fundo, Marau,

Carazinho, Ibirubá e Não-Me-Toque (Figura 1). Seus produtos finais principais são máquinas e

equipamentos destinados à nutrição e preparação do solo e plantação e cultivo agrícola.

1 Em ZANIN, COSTA e FEIX (2013).

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Figura 1

Delimitação territorial da AP Pré-Colheita dos Coredes Alto Jacuí e Produção

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Resultados da pesquisa.

A AP Pré-Colheita possui relações de complementariedade produtiva com as demais aglomerações

gaúchas produtoras de máquinas e implementos Agrícolas. A AP Colheita está localizada nos Municípios de

Horizontina e Santa Rosa, ambos do Corede Fronteira Noroeste, e é especializada na produção de

colheitadeiras. Já a aglomeração Pós-Colheita concentra-se nos Municípios de Panambi e Condor, no

Noroeste Colonial, e tem como principais produtos finais as máquinas e equipamentos para a secagem,

armazenagem e estocagem de grãos. A aglomeração identificada nos Coredes Central e Jacuí-Centro é

menos conhecida, e não existem estudos enquadrando suas atividades em um dos subsistemas

anteriormente citados.

2. Breve histórico da produção de máquinas e implementos agrícolas no

Rio Grande do Sul e da formação da AP Pré-Colheita

Segundo Castilhos et al. (2008), a implantação da indústria produtora de máquinas e implementos

agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado,

quando o Governo Federal autorizou as operações da Ford no País, para montar o trator Fordson, que era

importado dos Estados Unidos. Daí sucedeu-se um rol notável de empresas nacionais e internacionais, que

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78

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Municípios:

1 – Horizontina.

2 – Santa Rosa.

3 – Condor.

4 – Panambi.

5 – Ibirubá.

6 – Carazinho.

7 – Não-Me-Toque.

8 – Passo Fundo.

9 – Marau.

10 – Santa Maria.

11 – São João do Polêsine.

12 – Agudo.

13 - Paraíso do Sul.

14 - Cachoeira do Sul

Legenda:

Pré-colheita.

Colheita.

Pós-colheita

Central e Jacuí-Centro

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edificaram o setor no Brasil e que forjaram um parque fabril com características próprias, obedecendo a

condicionantes histórico-estruturais tanto internos quanto externos.

A importação brasileira de tratores e implementos acelerou-se após a Segunda Guerra Mundial, e a

necessidade de manutenção dessas máquinas originou uma série de oficinas de conserto, reparação de

peças e ferrarias nos estados onde a mecanização agrícola estava mais presente (Regiões Sul e Sudeste).

Com a instalação da indústria de tratores no território nacional, a produção local de implementos também se

difundiu. Muitas das pequenas empresas de reparos e consertos transformaram-se nas primeiras fábricas de

máquinas e implementos agrícolas gaúchas (TATSCH, 2006, p. 109).

Conforme destacado por Lima, Marcantonio e Almeida (1986, p. 170), a indústria gaúcha de

máquinas e implementos agrícolas surgiu para atender ao mercado regional, tendo moldado sua oferta de

produtos de acordo com as características estruturais da produção de trigo, arroz, milho e, posteriormente,

soja. O fato de a indústria paulista também ter se voltado para seu mercado regional, aliado à diferença

significativa das matrizes produtivas agrícolas dos dois estados, limitou a concorrência setorial. Assim,

quando as culturas da soja e do milho se expandiram para outros estados (Santa Catarina, Paraná e Mato

Grosso), as empresas gaúchas se encontraram em posição de vantagem para também ganhar o mercado

nacional. Portanto, pode-se afirmar que as empresas gaúchas foram:

[...] gestadas no bojo de unidades fabris de tipo nitidamente familiar, [e] evoluíram da simples produção de peças de reposição e de assistência técnica para a fabricação de produtos com considerável nível de sofisticação tecnológica. Não são, portanto, empresas constituídas ou reconvertidas para um mercado recém-formado. Trata-se de estabelecimentos que, a partir da articulação com a economia regional, haviam acumulado capacidade produtiva ao longo do tempo, o que os tornou aptos a captar favoravelmente os estímulos oferecidos pela demanda (LIMA, MARCANTONIO e ALMEIDA, 1986, p. 170).

Ainda nessa direção, Oderich Sobrinho (1997) apud Tatsch (2006, p. 135) acrescenta que foram “[...]

a presença de espíritos empreendedores com capacidade de aceitar riscos, somada à existência de mão de

obra com habilidades artesanais e a proximidade da fronteira agrícola, as razões que explicam uma parcela

tão grande da indústria nacional de máquinas e implementos ter-se localizado no Rio Grande do Sul”. Para

Tatsch (2006, p. 165-36), com o passar do tempo, no entorno dessas empresas foi criado um aparato de

apoio e suporte, composto de empresas fornecedoras de peças e de componentes e outras organizações

(centros de pesquisa, escolas técnicas, universidades) que reforçaram a localização dessa indústria na

região noroeste do Estado.

Na década de 80, o setor assumiu nova configuração, quando iniciou um movimento de

concentração na indústria liderado por poucas empresas, quase todas internacionais. Mais recentemente,

em virtude de um expressivo processo de fusões e aquisições, capitaneado pelos grandes grupos

internacionais, o setor conta com um número menor de empresas nacionais de grande porte. Sob a ótica da

reestruturação produtiva, as empresas líderes adotaram a estratégia de desverticalização, ou seja, a

concentração econômica trouxe consigo a desconcentração técnica (CASTILHOS et al., 2008).

Segundo Brum e Tybusch (2002, p. 123-24), a concentração de mercado resultante da construção

de parcerias (joint ventures), fusões e aquisições, deu-se principalmente em equipamentos de maior valor

agregado e permitiu a incorporação de novas tecnologias aos produtos fabricados no Estado. Os autores

destacam ainda que a demanda nacional por máquinas e implementos agrícolas está se deslocando, cada

vez mais, para o Paraná e para áreas de cerrado. Embora o Rio Grande do Sul ainda seja o maior

fabricante, ele não é mais o principal mercado desses bens. Isso estaria levando as empresas localizadas no

noroeste gaúcho a avaliarem, pelo menos, três estratégias: i) permanecer na região, tendo consciência de

que a produção de equipamentos de grande porte terá como mercado prioritário o Centro-Oeste, o que

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requer uma importante organização de logística; ii) diversificar sua linha de produção, priorizando pequenos

equipamentos agrícolas adaptados às características diversificadoras da pequena propriedade rural,

característica particular da região; e iii) transferir-se fisicamente para outros estados brasileiros, fato que não

seria a melhor solução econômica para o RS.

Especificamente, no que se refere ao histórico da aglomeração de empresas da AP Pré-Colheita,

uma série de elementos explicativos de sua constituição são comuns às demais aglomerações do setor.

Destaca-se a figura do imigrante europeu, dotado de experiência prévia acumulada em seus país de origem,

no estabelecimento de oficinas destinadas à montagem e à manutenção de máquinas e implementos

agrícolas importados que começavam a chegar na região. A necessidade de adaptação dos produtos às

características de solo e das culturas locais e a falta de peças de reposição impulsionou a fabricação de

novos implementos. Na década de 70, com a introdução do plantio direto, empresas da região foram

precursoras no desenvolvimento de máquinas adaptadas a esse fim e consolidaram sua posição no

mercado.

Nos anos 90, uma série de inovações tecnológicas também potencializou o surgimento da

agricultura de precisão e, novamente, a região foi pioneira na adoção dessa nova filosofia de prática agrícola

no País. Na agricultura convencional, as áreas agrícolas de uma determinada propriedade são tratadas

como homogêneas, e a aplicação dos insumos (fertilizantes, defensivos, etc.) é determinada pela sua

necessidade média, independentemente das especificidades de cada parte do território de cultivo. A

agricultura de precisão revolucionou essa prática através do uso de tecnologias para o manejo do solo,

insumos e culturas de modo adequado para as variações espaciais e temporais nos fatores que afetam a

produtividade. Sua aplicação envolve a administração de três novas tecnologias, que são o sensoriamento

remoto, o uso de sistemas de informações geográficas (SIG) e o sistema de posicionamento global (GPS).

A indústria local da AP Pré-Colheita percebeu o surgimento desse novo nicho de mercado — que,

para muitos especialistas, se tornará prática dominante num futuro próximo — e especializou-se no

desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas que viabilizem a agricultura de precisão. Em 2009, o

Município de Não-Me-Toque recebeu o título de Capital Nacional da Agricultura de Precisão (Lei nº 12.081

/2009). Dentre as justificativas apresentadas no projeto de lei que resultou na atribuição desse título destaca-

se:

[...] o caráter inovador do município na utilização da agricultura de precisão, sendo coroado

de êxito o Projeto Aquarius2, ali desenvolvido [a partir de 2000] com o apoio de grandes

indústrias sediadas no País, como a Massey Ferguson, Augustin & Cia, Bunge, Stara,

Cotrijal, Fazenda Ana e a Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (CÂMARA DOS

DEPUTADOS, 2007).

Especial destaque deve ser dado ainda à capacidade de identificação de interesses comuns pelos

agentes locais da cadeia do agronegócio e o desenvolvimento de ações conjuntas na área de abrangência

da AP Pré-Colheita. Há um grande empenho de organizações da região em promover seu reconhecimento

nacional e internacional pela qualidade das máquinas e implementos ofertados. Exemplo disso é a feira

Expodireto/Cotrijal de Não-Me-Toque, criada em 2000, e que, atualmente, se constitui em uma das principais

feiras de negócios do setor na América Latina.

O formato "exposição-feira", com demonstrações estáticas e dinâmicas, favoreceu o contato do

público com as fontes geradoras de informação e tecnologias no agronegócio e funciona como uma vitrine

para os produtos desenvolvidos pelas indústrias locais de maquinário agrícola. Em um mesmo espaço, o

2 O Projeto Aquarius foi o primeiro projeto brasileiro de agricultura de precisão a nível comercial e até hoje desenvolve pesquisas de

máquinas agrícolas que viabilizam esse tipo de agricultura. Para saber mais sobre o projeto, acessar: <http://w3.ufsm.br/projetoaquarius/>.

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agricultor tem condições de conhecer, avaliar e adotar avanços técnicos que auxiliam no aumento da

produtividade e na solução de problemas específicos. Na edição de 2012, o número de visitantes foi de 185

mil pessoas e o montante de negócios registrados ultrapassou 1,1 bilhão de reais (PREFEITURA

MUNICIPAL DE NÃO-ME-TOQUE, 2013).

3. Caracterização socioeconômica e produtiva dos Coredes Produção e

Alto Jacuí

Grande parte dos 35 municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção está localizada na mesorregião

geográfica Noroeste Rio-Grandense3. O Corede Alto Jacuí é composto de 14 municípios: Boa Vista do

Cadeado, Boa Vista do Incra, Colorado, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Ibirubá, Lagoa dos Três Cantos,

Não-Me-Toque, Quinze de Novembro, Saldanha Marinho, Salto do Jacuí, Santa Bárbara do Sul, Selbach e

Tapera. A Figura 2 apresenta sua distribuição no território gaúcho.

Figura 2

Municípios do Corede Alto Jacuí

Já o Corede Produção é composto de 21 municípios: Almirante Tamandaré do Sul, Camargo,

Carazinho, Casca, Ciríaco, Coqueiros do Sul, Coxilha, David Canabarro, Ernestina, Gentil, Marau, Mato

Castelhano, Muliterno, Nova Alvorada, Passo Fundo, Pontão, Santo Antônio do Palma, Santo Antônio do

Planalto, São Domingos do Sul, Vanini e Vila Maria. A distribuição desses municípios no território gaúcho é

apresentada na Figura 3.

3 A exceção é o Município de Nova Alvorada, localizado na mesorregião Nordeste Rio-Grandense.

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Figura 3

Municípios do Corede Produção

Na seção 3.1, será realizada a caracterização socioeconômica dessas regiões, com destaque para

os municípios que compõem a região de abrangência da AP Pré-Colheita: Passo Fundo, Marau, Não-Me-

Toque, Carazinho e Ibirubá.

3.1 Indicadores sociais e demográficos

A área total dos municípios que compõem os Coredes Alto Jacuí e Produção compreende 12.908,2

km2 e é habitada por 495.278 pessoas. Quando considerados em conjunto, a participação desses Coredes

em termos territoriais e populacionais, no Estado, é parecida (em torno de 4,6%), o que implica uma

densidade demográfica próxima à média do RS (Quadro 1). O Corede Alto Jacuí, porém, é mais dependente

do Setor Primário e apresenta menor densidade demográfica (22,5 hab/km²). No que se refere aos

indicadores de saúde e educação, observa-se como destaques negativos a taxa de analfabetismo no

Corede Alto Jacuí (4,75%) e a expectativa de vida ao nascer no Corede Produção (71,21 anos). Os demais

indicadores apresentam desempenho superior à média do RS, com destaque para a elevada renda per

capita e o menor coeficiente de mortalidade infantil.

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Quadro 1

Resumo estatístico dos Coredes Alto Jacuí, Produção e do RS

VARIÁVEIS ALTO JACUÍ PRODUÇÃO RS

População total (2011) 155.357 hab. 339.921 hab. 10.735.890 hab.

Área (2011) 6.905,5 km² 6.002,7 km² 281.748,5 km²

Número de municípios 14 21 496

Densidade demográfica (2011) 22,5 hab/km² 56,6 hab/km² 38,1 hab/km²

Taxa de analfabetismo (2010) (1) 4,75% 4,02% 4,53%

Expectativa de vida ao nascer (2000) 73,21 anos 71,21 anos 72,05 anos

Mortalidade Infantil (2010) (2) 9,53 8,46 11,2

PIB (2010) (3) 4.211.927 8.607.218 252.482.597

PIB per capita (2010) R$ 27.125 R$ 24.633 R$ 23.606

Exportações totais (2010) US$ 216.910.471 US$ 229.663.374 US$ 15.382.445.828

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013a).

(1) Pessoas com 15 anos ou mais. (2) Por mil nascidos vivos. (3) Valores em R$ mil, a preços de mercado.

Contando com 62.821 habitantes em 2010, o município mais populoso do Corede Alto Jacuí é Cruz

Alta (Tabela 1). Em seguida, destacam-se os Municípios de Ibirubá e Não-Me-Toque. Em conjunto, esses

três municípios abrigam 63% da população do Corede. Vale destacar que, entre 2000 e 2010, a região se

caracterizou por apresentar redução de 2,7% na população total. Os Municípios de Cruz Alta e Santa

Bárbara do Sul foram os que mais contribuíram para esse resultado. Já os municípios de Não-Me-Toque e

Ibirubá, ambos pertencentes a AP Pré-Colheita, responderam pelo maior crescimento absoluto da população

entre os municípios do Corede.

No Corede Produção, o município mais populoso é Passo Fundo (184.826 habitantes), seguido de

Carazinho e Marau. Juntos, os três municípios abrigam 83% da população do Corede. Isso demonstra que,

além da sua maior densidade demográfica, existe uma significativa concentração populacional em poucos

municípios da região. Nesse Corede, entre 2000 e 2010, houve expansão da população acima da média do

Estado (8,3%), e os três maiores municípios da região foram os que mais contribuíram para esse

desempenho. A esse respeito, os maiores destaques são Passo Fundo (mais 16.368 habitantes) e Marau

(mais 8.003 habitantes).

A partir das observações anteriores, é possível determinar que os municípios da AP Pré-Colheita

são os principais polos de atração populacional dos Coredes Alto Jacuí e Produção. A população dos cinco

municípios da AP expandiu-se em 28.233 pessoas (9,8%), enquanto a população dos demais municípios

dos Coredes retraiu-se em 6.637 pessoas (menos 3,6%) no período de análise.

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Tabela 1

População dos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2000 e 2010

MUNICÍPIOS E COREDES

2000 2010 VARIAÇÃO PARTICIPAÇÃO

(2) VARIAÇÃO

%

Alto Jacuí ........................................... 159.572 155.264 -4.308 1,45% -2,7%

Boa Vista do Cadeado (1) ................ 2.471 2.441 -30 0,02% -1,2%

Boa Vista do Incra (1) ....................... 2.282 2.425 143 0,02% 6,3%

Colorado ........................................... 4.072 3.550 -522 0,03% -12,8%

Cruz Alta (1) ..................................... 67.350 62.821 -4.529 0,59% -6,7%

Fortaleza dos Valos (1) .................... 4.985 4.575 -410 0,04% -8,2%

Ibirubá .............................................. 18.633 19.310 677 0,18% 3,6%

Lagoa dos Três Cantos .................... 1.627 1.598 -29 0,01% -1,8%

Não-Me-Toque ................................. 14.413 15.936 1.523 0,15% 10,6%

Quinze de Novembro ....................... 3.582 3.653 71 0,03% 2,0%

Saldanha Marinho ............................ 3.195 2.869 -326 0,03% -10,2%

Salto do Jacuí (1) ............................. 11.534 11.880 346 0,11% 3,0%

Santa Bárbara do Sul ....................... 10.003 8.829 -1.174 0,08% -11,7%

Selbach ............................................. 4.861 4.929 68 0,05% 1,4%

Tapera .............................................. 10.564 10.448 -116 0,10% -1,1%

Produção ............................................ 312.145 338.049 25.904 5,12% 8,3%

Almirante Tamandaré do Sul (1) ...... 2.239 2.067 -172 0,02% -7,7%

Camargo ........................................... 2.498 2.592 94 0,02% 3,8%

Carazinho (1) .................................... 57.655 59.317 1.662 0,55% 2,9%

Casca ............................................... 8.440 8.651 211 0,08% 2,5%

Ciríaco .............................................. 5.252 4.922 -330 0,05% -6,3%

Coqueiros do Sul .............................. 2.695 2.457 -238 0,02% -8,8%

Coxilha .............................................. 2.979 2.826 -153 0,03% -5,1%

David Canabarro .............................. 4.740 4.683 -57 0,04% -1,2%

Ernestina (1) ..................................... 3.075 3.088 13 0,03% 0,4%

Gentil ................................................ 1.771 1.677 -94 0,02% -5,3%

Marau ............................................... 28.361 36.364 8.003 0,34% 28,2%

Mato Castelhano .............................. 2.454 2.470 16 0,02% 0,7%

Muliterno ........................................... 1.768 1.813 45 0,02% 2,5%

Nova Alvorada .................................. 2.757 3.182 425 0,03% 15,4%

Passo Fundo .................................... 168.458 184.826 16.368 1,73% 9,7%

Pontão .............................................. 3.904 3.857 -47 0,04% -1,2%

Santo Antônio do Palma ................... 2.207 2.139 -68 0,02% -3,1%

Santo Antônio do Planalto ................ 2.001 1.987 -14 0,02% -0,7%

São Domingos do Sul ....................... 2.831 2.926 95 0,03% 3,4%

Vanini ................................................ 1.887 1.984 97 0,02% 5,1%

Vila Maria .......................................... 4.173 4.221 48 0,04% 1,2%

RIO GRANDE DO SUL 10.187.798 10.693.929 506.131 100,00% 5,0% FONTE DOS DADOS BRUTOS: Censos Demográficos do IBGE (2000 e 2010).

FEE (2013b). (1) Os municípios que sofreram alterações territoriais em 2001 tiveram sua população recalculada para o ano de 2000 conforme sua divisão territorial original. (2) Corresponde à participação de cada município ou Corede no total da população gaúcha em 2010.

Conforme já seria possível presumir a partir dos dados socioeconômicos disponíveis no resumo

estatístico, o desenvolvimento econômico dos Coredes Alto Jacuí e Produção é superior ao da maioria dos

Coredes do RS. Os resultados do cálculo do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese)4 para o

ano de 2009 posicionam essas regiões, respectivamente, na quarta e sétima melhores colocações entre os

4 O Idese é um índice sintético, calculado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), inspirado no Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH). Abrange um conjunto de indicadores sociais e econômicos, classificados em quatro blocos temáticos: saneamento e domicílios, educação, renda e saúde.

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12

28 Coredes do Estado (Tabela 2). O posicionamento no ranking poderia ser ainda melhor, não fosse pelo

fraco desempenho relativo observado no bloco de saneamento. O Corede Alto Jacuí apresenta resultado

acima da média do RS para todos os demais blocos de análise que compõem o índice, e o Corede Produção

se destaca nos blocos de educação e renda.

Tabela 2

Idese no Rio Grande do Sul, por Corede — 2009

COREDES BLOCOS

IDESE RANKING Educação Renda Saneamento Saúde

Serra 0,894 0,839 0,692 0,845 0,818 1º

Metropolitano Delta do Jacuí 0,879 0,841 0,683 0,845 0,812 2º

Vale do Rio dos Sinos 0,869 0,886 0,560 0,854 0,792 3º

Alto Jacuí 0,880 0,896 0,522 0,869 0,792 4º

Campos de Cima da Serra 0,844 0,783 0,645 0,843 0,779 5º

Noroeste Colonial 0,916 0,846 0,508 0,840 0,778 6º

Produção 0,876 0,843 0,546 0,833 0,774 7º

RIO GRANDE DO SUL 0,870 0,813 0,569 0,850 0,776 - FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013c).

Quando comparados os municípios que compõem os Coredes estudados, observa-se uma

significativa desigualdade entre o nível dos seus respectivos Ideses. No Corede Alto Jacuí, apenas em

quatro municípios o Idese foi superior à média do Estado. Os destaques positivos foram os Municípios de

Cruz Alta e Santa Bárbara do Sul, seguidos dos municípios da AP Pré-Colheita, Ibirubá e Não-Me-Toque

(Tabela 3).

Tabela 3

Idese dos municípios do Corede Alto Jacuí — 2009

MUNICÍPIOS EDUCAÇÃO RENDA SANEAMENTO SAÚDE IDESE

Cruz Alta ....................... 0,897 0,916 0,628 0,846 0,822

Santa Bárbara do Sul .. 0,887 0,918 0,485 0,846 0,784

Ibirubá .......................... 0,880 0,922 0,423 0,888 0,778

Não-Me-Toque ............ 0,869 0,855 0,530 0,857 0,778

Tapera ......................... 0,872 0,851 0,509 0,855 0,772

Quinze de Novembro 0,883 0,820 0,515 0,867 0,772

Saldanha Marinho ........ 0,925 0,857 0,400 0,867 0,762

Fortaleza dos Valos ..... 0,852 0,880 0,388 0,855 0,744

Colorado ....................... 0,900 0,872 0,338 0,855 0,741

Lagoa dos Três Cantos 0,957 0,868 0,281 0,856 0,741

Salto do Jacuí ............... 0,806 0,715 0,524 0,873 0,730

Selbach ........................ 0,866 0,830 0,320 0,855 0,718

Boa Vista do Incra ....... 0,889 0,892 0,196 0,855 0,708

Boa Vista do Cadeado 0,853 0,948 0,116 0,849 0,692 FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013c).

No Corede Produção, a desigualdade é ainda maior (Tabela 4). Apenas três municípios, justamente

os que compõem a AP Pré-Colheita, possuem Idese superior à média da região. Passo Fundo e Carazinho

são os únicos municípios com níveis de desenvolvimento acima da média do RS.

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13

Tabela 4

Idese dos municípios do Corede Produção — 2009

MUNICÍPIOS EDUCAÇÃO RENDA SANEAMENTO SAÚDE IDESE

Passo Fundo .......................... 0,877 0,859 0,654 0,807 0,799

Carazinho ............................... 0,885 0,818 0,584 0,821 0,777

Marau ..................................... 0,860 0,816 0,580 0,844 0,775

Nova Alvorada ....................... 0,846 0,892 0,320 0,860 0,730

Santo Antônio do Planalto .... 0,867 0,831 0,336 0,868 0,726

Casca .................................... 0,904 0,815 0,325 0,845 0,722

Almirante Tamandaré do Sul 0,936 0,873 0,192 0,835 0,709

Ciríaco ................................... 0,845 0,728 0,422 0,830 0,706

Coxilha .................................. 0,846 0,762 0,350 0,830 0,697

Gentil ..................................... 0,937 0,894 0,065 0,840 0,684

Vila Maria .............................. 0,910 0,875 0,096 0,845 0,682

David Canabarro ................... 0,865 0,723 0,228 0,845 0,665

Ernestina ............................... 0,897 0,812 0,065 0,846 0,655

Coqueiros do Sul .................. 0,821 0,715 0,239 0,834 0,652

Pontão .................................. 0,852 0,878 0,061 0,815 0,651

Mato Castelhano ................... 0,941 0,765 0,056 0,830 0,648

Camargo ............................... 0,851 0,810 0,063 0,845 0,642

Santo Antônio do Palma ...... 0,873 0,712 0,061 0,843 0,622

Muliterno ............................... 0,846 0,717 0,084 0,815 0,615

São Domingos do Sul .......... 0,888 0,620 0,083 0,844 0,609

Vanini ................................... 0,859 0,607 0,062 0,840 0,592 FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013c).

3.2 Formação da mão de obra

Na região da AP Pré-Colheita, está localizado um conjunto de organizações voltadas para educação

e treinamento da mão de obra. O Quadro 2 apresenta a relação dos cursos técnicos oferecidos pelas

unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) nos municípios da aglomeração.

Quadro 2

Cursos técnicos oferecidos pelo Senai nos municípios da AP Pré-Colheita

Curso Área Modalidade Municípios

Carazinho Marau Passo Fundo

Básico de soldagem Metalmecânica Iniciação X - X

Programação e operação em torno CNC

Metalmecânica Aperfeiçoamento X X -

Eletrônica básica Eletroeletrônica Iniciação - - X

Leitura e interpretação de desenho técnico

Metalmecânica Iniciação - - X

FONTE: Senai-RS

NOTA: Está prevista a inauguração de unidade do Senai no Município de Não-Me-Toque, em 2013.

No Quadro 3, estão reunidas as instituições de ensino superior e de nível técnico existentes nos

municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção e os respectivos cursos formadores de mão de obra e

difusores de conhecimento para o setor de máquinas e implementos agrícolas.

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14

Quadro 3

Cursos técnicos, de formação inicial e continuada e de graduação, oferecidos nos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2012

Municípios Instituição e Cursos Nível

Cruz Alta

Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS

Curso Superior de Tecnologia em Agroindústria Graduação

Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ

Agronomia Graduação

Administração Graduação

Ibirubá

Instituto Federal Rio Grande do Sul

Tecnólogo em Produção de Grãos Graduação

Curso Técnico em Mecânica Técnico

Técnico em Eletrotécnica Técnico

Técnico em Agropecuária Técnico

Desenhista Mecânico Técnico

Soldador no Processo MIG/MAG Técnico

Torneiro Mecânico Técnico

Carazinho

Universidade Luterana do Brasil - ULBRA

Agronegócio Graduação

Engenharia de Produção Graduação

Administração Graduação

Universidade de Passo Fundo - UPF

Administração Graduação

Engenharia de Produção Mecânica Graduação

Passo Fundo

Universidade de Passo Fundo - UPF

Administração Graduação

Agronegócio Graduação

Agronomia Graduação

Design de Produto Graduação

Engenharia de Produção Graduação

Engenharia de Produção Mecânica Graduação

Engenharia Elétrica Graduação

Engenharia Mecância Graduação

Fabricação Mecânica Graduação

Geoprocessamento Graduação

Técnico em Eletrotécnica Técnico

Técnico em Mecânica Técnico

Faculdade Anhanguera de Passo Fundo – FAPLAN

Administração Graduação

Instituto Estadual Cecy Leite Costa

Técnico em Eletrônica Técnico

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense

Técnico em Mecânica Técnico

Casca Universidade de Passo Fundo - UPF

Administração Graduação

Marau

Faculdade de Getúlio Vargas - IDEAU

Engenharia de Produção Graduação

Faculdade de Administração da Associação Brasiliense de Educação - FABE

Administração Graduação

Salto do Jacuí Instituto Estadual Miguel Calmon

Técnco em Eletrônica Técnico FONTE: Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (2012).

Esses cursos e instituições constituem-se nas principais fontes locais de acesso ao conhecimento

codificado, ou seja, de saberes transacionados e acessíveis no mercado. Os saberes tácitos existentes na

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15

aglomeração, manifestados nas rotinas organizacionais e na experiência coletiva de diferentes grupos,

somente poderão ser melhor avaliados após a realização das oficinas de trabalho, próxima etapa do projeto.

Segundo Tatsch (2006a), as empresas da aglomeração atribuem alta importância ao papel das

instituições locais na formação e na capacitação de recursos humanos da região. São especialmente com os

centros locais de capacitação profissional que as empresas estabelecem parcerias formais para a realização

de programas de treinamento.

3.3 Indicadores econômicos e estrutura produtiva

Em conjunto, os Coredes Alto Jacuí e Produção participaram com 5,0% do PIB gaúcho em 2010

(Tabela 5). O Corede Produção respondeu por 3,3% do produto, e o Corede Alto Jacuí, por 1,7%. Essas

regiões se posicionam, respectivamente, nas sétima e 13ª posições no ranking dos Coredes gaúchos, no

que se refere à participação no PIB gerado. Entre 2001 e 2010, a participação dos dois Coredes no PIB

estadual oscilou entre 4,4 e 5,6%. Em razão da maior dependência do setor agrícola no Corede Alto Jacuí,

sua participação na renda estadual oscila principalmente conforme o resultado econômico das safras de

grãos.

Tabela 5

Participação dos Coredes no PIB do Rio Grande do Sul – 2001-10

COREDES 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Metropolitano Delta do Jacuí ........ 27,9 28,3 26,4 27,1 29,8 29,0 28,7 27,4 26,7 26,9

Vale do Rio dos Sinos ................... 16,1 15,4 15,0 15,7 15,4 14,8 14,4 15,3 15,6 14,9

Serra ............................................. 10,0 10,1 9,8 10,4 10,9 10,4 10,3 10,3 10,4 11,0

Sul ................................................. 6,1 6,0 5,9 5,9 5,6 5,7 6,0 6,6 6,5 6,6

Vale do Rio Pardo ......................... 3,9 4,0 4,1 4,3 4,1 4,0 3,7 3,7 4,3 3,9

Fronteira Oeste ............................. 3,6 3,6 3,6 3,6 3,7 3,9 3,7 4,0 3,9 3,9

Produção ...................................... 3,1 3,3 3,5 3,3 3,1 3,2 3,3 3,3 3,3 3,3

Vale do Taquari ............................. 3,0 3,2 3,1 3,2 3,1 3,0 3,0 2,9 3,0 3,1

Central ........................................... 2,5 2,6 2,8 2,6 2,5 2,7 2,7 2,7 2,7 2,6

Norte ............................................. 2,0 1,7 2,1 1,9 1,8 1,9 2,0 1,9 1,9 1,9

Missões ......................................... 1,8 1,9 2,1 1,7 1,5 1,8 2,0 2,0 1,9 1,8

Fronteira Noroeste ........................ 1,8 1,9 2,1 2,0 1,6 1,6 1,8 1,8 1,7 1,7

Alto Jacuí ..................................... 1,6 1,6 2,0 1,7 1,3 1,5 1,7 1,8 1,8 1,7

Outros ........................................... 16,7 16,4 17,5 16,8 15,8 16,4 16,6 16,2 16,4 16,6 FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013d).

Segundo Zanin, Costa e Feix (2013), o Corede Alto Jacuí pode ser classificado como Região

Desenvolvida em Expansão, por apresentar crescimento econômico e Idese acima da média estadual. Já o

Corede Produção é classificado como Região Desenvolvida em Declínio, pois dispõe de nível de

desenvolvimento econômico acima da média estadual e menor ritmo de crescimento relativo do produto.

Dado que os Coredes Alto Jacuí e Produção responderam por 4,6% da população e por 5,0% do

PIB do Estado em 2010, é possível depreender que sua renda per capita seja superior à gaúcha. De fato,

essas regiões ocupam, respectivamente, a quarta e quinta posições entre os Coredes do RS no que se

refere a essa variável (Tabela 6). No Corede Alto Jacuí, a renda per capita foi de R$ 27.127,52, e no Corede

Produção, de R$ 24.726,98. Conforme já salientado, o Corede Alto Jacuí conseguiu expandir sua

participação no PIB do Estado, mesmo tendo perdido população ao longo da última década. Essa situação,

ao mesmo tempo em que explica seu ótimo desempenho em termos da evolução da renda per capita,

também sinaliza para dificuldades de absorção da população no mercado de trabalho local.

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16

Tabela 6

PIB per capita dos principais Coredes e do Rio Grande do Sul — 2001, 2006 e 2010

COREDES 2001 2006 2010

R$ Ranking R$ Ranking R$ Ranking

Serra .............................................. 12.334,68 1º 20.288,36 1º 32.103,75 1º

Vale do Rio dos Sinos ................... 12.283,35 2º 18.521,67 3º 29.228,12 2º

Metropolitano Delta do Jacuí ........ 11.112,33 3º 19.180,83 2º 28.104,08 3º

Alto Jacuí ..................................... 9.060,69 8º 15.285,42 6º 27.127,52 4º

Produção ...................................... 9.160,85 6º 15.417,79 4º 24.726,98 5º

Vale do Taquari ............................. 9.178,41 5º 15.106,29 7º 23.922,04 6º

Vale do Rio Pardo ......................... 9.097,16 7º 15.323,68 5º 23.829,85 7º

Noroeste Colonial .......................... 9.290,28 4º 13.405,73 10º 23.336,19 8º

Campos de Cima da Serra ............ 7.340,43 13º 13.672,71 9º 23.234,50 9º

Vale do Caí .................................... 8.564,02 9º 14.344,89 8º 22.351,94 10º

RIO GRANDE DO SUL ................. 8.996,79 14.922,88 23.609,90

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2013).

Em 2001, o Alto Jacuí ocupava a oitava posição entre os Coredes gaúchos, no que se refere à renda

per capita, tendo avançado para a sexta posição em 2006 e para a quarta posição em 2010. No mesmo

período, o Corede Produção avançou apenas uma posição no ranking dos Coredes de maior renda per

capita. Vale frisar que essa região manteve praticamente estável sua participação no PIB do Estado, e sua

população se expandiu acima da média, o que explica o menor crescimento relativo da renda per capita.

Dentre os municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção, aqueles com maior renda per capita em

2010 são destacados na Figura 4. Dezesseis municípios possuem renda média abaixo do Estado, e aqueles

que compõem a AP Pré-Colheita se caracterizam pelo desempenho superior à média dos Coredes. Os

destaques positivos são Marau, Não-Me-Toque e Ibirubá, que ocuparam, respectivamente, a primeira,

terceira e quinta posições entre os 35 municípios das regiões. O destaque negativo na aglomeração é

Carazinho, com uma renda per capita abaixo da média estadual (R$ 20.139,88) e que supera apenas a de

sete municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção5.

5 Os municípios da AP Pré-Colheita ocuparam as seguintes posições no ranking estadual da renda per capita em 2010: Marau (25º), Não-Me-Toque (31º), Ibirubá (40º), Passo Fundo (100º) e Carazinho (172º).

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17

Figura 4

Municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção de maior renda per capita — 2010

FONTE DOS DADOS BRUTOS: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2013).

A avaliação da composição do Valor Adicionado Bruto (VAB) evidencia a já referida dependência

econômica do Corede Alto Jacuí em relação à renda gerada na agropecuária (Figura 5). Apesar da atividade

ter perdido importância entre 2001 e 2010, passando de 29% para 17% do VAB total, sua participação na

região ainda é significativamente superior à observada no RS (9,4%). Além da tendência natural de

crescimento do setor serviços, outro aspecto a destacar no Corede Alto Jacuí é a ampliação da presença do

setor industrial, que ganhou quatro pontos percentuais de participação na composição do VAB, entre 2001 e

2010.

O Corede Produção caracteriza-se pela maior diversificação produtiva em relação ao Corede Alto

Jacuí. A composição do VAB da região assemelha-se mais à do Estado, porém os laços entre a

agropecuária e a indústria são ainda mais estreitos. Entre os anos de 2001 e 2010, ocorreu perda de

participação das atividades industriais e agropecuárias em favor dos serviços.

34.568,53

34.239,80

33.380,50

31.104,22

30.832,69

30.280,46

29.654,02

29.446,80

28.407,74

27.345,34

27.338,20

27.194,41

27.185,08

26.895,37

26.887,69

25.222,94

25.021,98

24.850,71

24.618,50

24.509,74

14.000 17.000 20.000 23.000 26.000 29.000 32.000 35.000

Marau

Boa Vista do Cadeado

Não-Me-Toque

Vila Maria

Ibirubá

Gentil

Santa Bárbara do Sul

Coxilha

Casca

Nova Alvorada

Boa Vista do Incra

Pontão

Cruz Alta

Almirante Tamandaré do Sul

Lagoa dos Três Cantos

Tapera

Colorado

Fortaleza dos Valos

Passo Fundo

Santo Antônio do Planalto

PIB per capita em 2010 (R$)

Page 19: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

18

Figura 5

Composição e evolução do VAB dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2001 e 2010

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER (2013d).

A estrutura do VAB nos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção é bastante heterogênea

(Tabela 7). Nas atividades industriais, destacam-se os Municípios de Marau, Não-Me-Toque, Tapera e Salto

do Jacuí, com participação superior a 30% do VAB. Os municípios da AP Pré-Colheita figuram nos rankings

dos 10 municípios com maior participação da indústria e menor participação da agropecuária no VAB dos

Coredes. Vale destacar que, em 12 municípios, a agropecuária é a principal atividade na composição do

VAB e, em apenas oito, sua participação é inferior à da indústria. Mais uma vez, isso reforça a alta

importância da atividade agropecuária e a baixa representatividade da atividade industrial como

características dominantes nos municípios dessas regiões. Passo Fundo, Cruz Alta, Carazinho e Ibirubá são

os municípios economicamente mais dependentes do setor de serviços. Vale recordar que os dois primeiros

são os principais núcleos populacionais de seus Coredes, constituindo-se também em referência na oferta

de serviços especializados, notadamente nas áreas educacionais e de saúde.

29%

17%

15%

19%

56%65%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2001 2010

Alto Jacuí

13%11%

24%21%

63%69%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2001 2010

Produção

Serviços

Indústria

Agropecuária

Page 20: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

19

Tabela 7

Composição percentual do VAB e renda per capita dos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2010

MUNICÍPIOS AGROPECUÁRIA INDÚSTRIA SERVIÇOS PIB per capita

(R$)

Corede Alto Jacuí ......................... 16,9 18,6 64,5 27.125,07

Boa Vista do Cadeado ................. 56,4 2,9 40,7 34.239,80

Não-Me-Toque ............................. 11,6 35,7 52,7 33.380,50

Ibirubá .......................................... 16,3 19,0 64,7 30.832,69

Santa Bárbara do Sul .................. 35,1 7,5 57,3 29.654,02

Boa Vista do Incra ....................... 49,4 3,4 47,2 27.338,20

Cruz Alta ...................................... 6,0 16,3 77,7 27.185,08

Lagoa dos Três Cantos ............... 48,1 4,3 47,7 26.887,69

Tapera ......................................... 11,8 34,4 53,8 25.222,94

Colorado ...................................... 39,3 4,9 55,8 25.021,98

Fortaleza dos Valos ..................... 39,3 4,0 56,7 24.850,71

Saldanha Marinho ....................... 35,2 4,8 60,1 23.456,63

Selbach ........................................ 33,9 11,2 54,9 23.079,27

Quinze de Novembro ................... 45,8 5,0 49,2 21.072,81

Salto do Jacuí .............................. 18,3 31,3 50,3 16.639,30

Corede Produção .......................... 10,8 20,6 68,6 24.633,01

Marau ........................................... 9,1 49,9 41,0 34.568,53

Vila Maria ..................................... 41,1 15,3 43,6 31.104,22

Gentil ........................................... 47,1 4,0 49,0 30.280,46

Coxilha ......................................... 63,2 4,1 32,7 29.446,80

Casca ........................................... 30,6 18,4 51,0 28.407,74

Nova Alvorada ............................. 32,0 8,0 60,0 27.345,34

Pontão ......................................... 55,2 5,8 39,0 27.194,41

Almirante Tamandaré do Sul ....... 49,8 4,6 45,6 26.895,37

Passo Fundo ................................ 1,8 16,8 81,4 24.618,50

Santo Antônio do Planalto ........... 50,0 4,7 45,3 24.509,74

Camargo ...................................... 47,6 8,3 44,1 23.587,65

Ernestina ...................................... 45,7 6,8 47,5 20.943,74

Coqueiros do Sul ......................... 53,9 4,0 42,1 20.942,41

Mato Castelhano .......................... 49,3 4,9 45,7 20.726,44

Carazinho .................................... 5,4 17,5 77,1 20.139,88

Muliterno ...................................... 55,8 8,0 36,3 19.914,82

Santo Antônio do Palma .............. 51,9 10,5 37,6 18.621,49

David Canabarro .......................... 46,8 5,3 47,9 18.207,02

Ciríaco ......................................... 46,2 7,1 46,7 17.328,38

Vanini ........................................... 42,0 6,4 51,6 15.649,68

São Domingos do Sul .................. 43,1 10,8 46,1 14.643,86

RIO GRANDE DO SUL .................... 8,7 29,2 62,1 23.606,00

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (2013d) e IBGE (2013).

A análise da composição do valor das saídas fiscais da indústria de transformação e extrativa,

variável proxy para o valor da produção, confirma a existência de maior diversificação produtiva no Corede

Produção (Quadro 4). No Corede Alto Jacuí, cinco classes de atividade responderam por 80,8% do valor das

saídas da Indústria em 2010. São elas, em ordem de importância: 28.33-0 – Fabricação de máquinas e

equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto para irrigação (38,4%); 10.52-0 – Fabricação de

laticínios (12,8%); 20.14-2 – Fabricação de gases industriais (10,7%); 10.41-4 – Fabricação de óleos

vegetais em bruto, exceto óleo de milho (10,4%); e 10.51-1 – Preparação do leite (8,4%). No Corede

Produção, as cinco principais classes de atividade pertencem à Divisão 10 – Fabricação de Produtos

Alimentícios e respondem por apenas 56,6% do total do valor das saídas. Ao passo que a fabricação de

máquinas e implementos agrícolas se constitui na principal atividade produtiva do Corede Alto Jacuí, no

Corede Produção ela responde por tão somente 5,6% do valor das saídas industriais.

Page 21: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

20

Quadro 4

Estrutura da indústria de transformação, segundo o valor das saídas das principais atividades, dos Coredes Alto Jacuí e Produção e Rio Grande do Sul — 2010

FONTE: RIO GRANDE DO SUL (2011).

Como característica marcante, comum aos dois Coredes, destaca-se a estreita relação entre a

indústria e a agropecuária. No Corede Produção, as atividades industriais a jusante da agropecuária

(agroindústrias) são mais significativas, e sua força está expressa na Fabricação de Produtos Alimentícios,

responsável por 65,7% do valor das saídas industriais.

Já no Corede Alto Jacuí, as atividades industriais a montante da agropecuária são dominantes. Se

consideradas em conjunto, as participações das atividades de produção de máquinas e equipamentos para

a agricultura, irrigação agrícola e adubos e fertilizantes, tem-se 40,5% do valor das saídas industriais da

região. Portanto, é possível dizer que a matriz produtiva industrial do Corede Alto Jacuí é mais dependente

dos elos da cadeia do agronegócio situados antes da porteira da propriedade rural, dentre os quais desponta

a produção de máquinas e implementos agrícolas.

Como já seria de se esperar, a distribuição do emprego industrial dos Coredes analisados é

semelhante a do valor das saídas (Quadro 5). Em termos do estoque de empregos existente em dezembro

de 2010, o tamanho do setor industrial do Corede Produção é 3,4 vezes maior que a do Corede Alto Jacuí.

DIVISÃO E CLASSES DE ATIVIDADE ALTO JACUÍ

(%) PRODUÇÃO

(%) RS (%)

10 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 33,8 65,7 18,4

10121 - Abate de suínos, aves e outros pequenos animais 0,0 16,7 3,2

10139 - Fabricação de produtos de carne 0,0 10,2 0,6

10112 - Abate de reses, exceto suínos 0,1 8,3 1,8

10520 - Fabricação de laticínios 12,8 0,6 1,3

10414 - Fabricação de óleos vegetais em bruto, exceto óleo de milho 10,4 9,9 3,7

10511 - Preparação do leite 8,4 7,1 0,7

10660 - Fabricação de alimentos para animais 2,0 11,4 1,5

15 - PREPARAÇÃO DE COUROS [...] E CALÇADOS 5,4 1,4 6,7

15106 - Curtimento e outras preparações de couro 5,4 1,3 1,5

20 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS 11,9 3,5 8,9

20142 - Fabricação de gases industriais 10,7 0,0 0,6

20134 - Fabricação de adubos e fertilizantes 1,1 2,8 2,3

22 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE BORRACHA E DE MATERIAL PLÁSTICO

0,1 1,3 3,7

22226 - Fabricação de embalagens de material plástico 0,0 0,9 0,7

23 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MINERAIS NÃO-METÁLICOS 1,1 0,9 1,0

23303 - Fabricação de artefatos de concreto, cimento [...] 0,9 0,6 0,3

25 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE METAL, EXCETO MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

1,5 10,5 5,2

25110 - Fabricação de estruturas metálicas 0,0 7,7 0,5

25420 - Fabricação de artigos de serralheria, exceto esquadrias 0,0 1,2 0,1

25926 - Fabricação de produtos de trefilados de metal 1,1 0,2 0,3

28 - FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS 39,7 6,4 5,6

28330 - Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto para irrigação

38,4 5,6 1,5

28321 - Fabricação de equipamentos para irrigação agrícola 0,9 0,1 0,1

28224 - Fabricação de máquinas, equipamentos [...] para transporte e elevação de cargas e pessoas

0,0 0,3 0,4

28402 - Fabricação de máquinas-ferramenta 0,1 0,3 0,4

OUTRAS ATIVIDADES 6,5 10,3 50,4

TOTAL 100,0 100,0 100,0

Page 22: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

21

Quadro 5

Emprego das indústrias extrativas e de transformação nos Coredes Alto Jacuí e Produção e no Rio Grande do Sul — 2010

SEÇÕES, DIVISÕES E ATIVIDADES ALTO JACUÍ

PRODUÇÃO RS

INDÚSTRIAS EXTRATIVAS 63 360 6.331

INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO 5.897 20.074 692.814

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 579 9.651 112.713

Abate de suínos, aves e outros pequenos animais 0 6.773 36.610

Fabricação de produtos de carne 0 884 5.119

Preparação do leite 26 522 1.730

Fabricação de laticínios 307 84 5.378

Fabricação de alimentos para animais 32 351 3.366

Fabricação de óleos vegetais em bruto, exceto óleo de milho 146 194 3.069

FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS 3.818 2.668 58.809

Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto para irrigação

3.766 2.348 22.145

Fabricação de máquinas, equipamentos e aparelhos para transporte e elevação de cargas e pessoas

0 128 4.729

Fabricação de equipamentos para irrigação agrícola 18 37 102

Fabricação de máquinas-ferramenta 12 40 3.193

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE METAL, EXCETO MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

139 2.300 59.668

Fabricação de estruturas metálicas 28 1.105 5.782

Fabricação de esquadrias de metal 66 553 4.907

PREPARAÇÃO DE COUROS [...] E CALÇADOS 528 929 138.574

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MINERAIS NÃO-METÁLICOS 224 614 20.130

FABRICAÇÃO DE MÓVEIS 59 570 37.320

CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS 58 563 25.130

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MADEIRA 133 482 17.091

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE BORRACHA E DE MATERIAL PLÁSTICO 12 549 40.785

METALURGIA 44 274 14.372

Fundição de ferro e aço 42 238 6.957

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS 73 174 15.760

TOTAL 5.960 20.434 699.145

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

A única Divisão CNAE em que o Corede Alto Jacuí possui maior estoque de empregos é a

Fabricação de Máquinas e Equipamentos, resultado explicado pela expressiva representatividade da

atividade de fabricação de máquinas e equipamentos agropecuários. Quase a metade dos empregos

industriais do Corede Produção corresponde à Fabricação de Produtos Alimentícios. Em seguida, destacam-

se a Fabricação de Máquinas e Equipamentos (23%) e a Fabricação de Produtos de Metal (11%) como as

divisões industriais mais importantes na região.

No Corede Alto Jacuí, as divisões de Fabricação de máquinas e equipamentos (3.818 empregos),

Fabricação de produtos de metal (139 empregos) e Metalurgia (44 empregos) respondem por

aproximadamente 67% do estoque de empregos industriais. Essas atividades são mais importantes em

termos de empregos do que em valor da produção. O inverso se verifica em relação à Fabricação de

produtos alimentícios no Corede Produção.

A maior participação dos Coredes Alto Jacuí e Produção no emprego industrial gaúcho é verificada

nas atividades de Fabricação de equipamentos para irrigação agrícola (54%), Preparação do leite (32%),

Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária (28%) e Fabricação de estruturas

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22

metálicas (20%). Em conjunto, essas regiões respondem por 3,8% do emprego estadual das Indústrias

Extrativas e de Transformação (26.394 empregos).

Os municípios da AP Pré-Colheita destacam-se pela elevada representatividade no emprego

industrial de seus Coredes (Tabela 8). Nos Municípios de Passo Fundo, Marau, Não-Me-Toque, Carazinho e

Ibirubá, estavam localizados 83% dos empregos industriais dos Coredes Alto Jacuí e Produção em 2010. O

principal destaque é Passo Fundo, abrigando 34,3% do emprego industrial dos dois Coredes.

Tabela 8

Número de empregos industriais nos principais municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2010

COREDES E MUNICÍPIOS INDÚSTRIAS

Extrativas De Transformação Total % do Total

Corede Alto Jacuí ................ 63 5.897 5.960 22,6

Não-Me-Toque .................... 0 2.939 2.939 11,1

Ibirubá ................................. 4 1.097 1.101 4,2

Tapera ................................. 0 766 766 2,9

Cruz Alta ............................. 22 737 759 2,9

Corede Produção ................ 360 20.074 20.434 77,4

Passo Fundo ....................... 53 9.008 9.061 34,3

Marau .................................. 3 6.949 6.952 26,3

Carazinho ............................ 22 1.836 1.858 7,0

Casca .................................. 97 588 685 2,6

São Domingos do Sul ......... 148 361 509 1,9

Vila Maria ............................ 3 430 433 1,6

TOTAL .................................. 423 25.971 26.394 100,0 FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

4. Caracterização e atual importância da AP Pré-Colheita

4.1 A atividade

A classe de atividade que deu origem à identificação e escolha para estudo da AP Pré-Colheita foi a

Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, peças e acessórios, exceto irrigação

(código 28.33-0 da CNAE 2.0)6.

Segundo a Comissão Nacional de Classificação (Concla), essa classe de atividade compreende7:

(1) fabricação de máquinas para agricultura: arados, grades, adubadoras, semeadeiras, colheitadeiras,

trilhadeiras e semelhantes; (2) fabricação de máquinas e aparelhos para extinção de pragas: pulverizadores,

polvilhadeiras e semelhantes; (3) fabricação de máquinas e equipamentos para avicultura, apicultura,

cunicultura e criação de pequenos animais (incubadoras, criadeiras, comedouros, colmeias, fumigadores,

etc.); (4) fabricação de máquinas, aparelhos e materiais para obtenção de produtos de origem animal

(ordenhadeiras mecânicas, tosquiadores de lã, etc.); (5) fabricação de máquinas para beneficiamento e

preparação de produtos agrícolas: máquinas para beneficiar algodão, café, arroz, debulhadoras para milho,

instalações para classificação, seleção e beneficiamento de frutas e semelhantes; (6) fabricação de

carrocerias e carretas agrícolas; (7) fabricação de peças e acessórios para máquinas agrícolas; e (8)

6 Para maiores detalhes sobre os critérios de identificação e seleção das aglomerações, acessar o relatório Aglomerações Industriais do Rio Grande do Sul: identificação e seleção (ZANIN, COSTA e FEIX, 2013).

7 Para acessar a estrutura completa da CNAE 2.0 e sua descrição, ver a página da Concla na internet: <http://www.cnae.ibge.gov.br/estrutura.asp?TabelaBusca=CNAE_200@CNAE%202.0>.

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23

instalação, manutenção e reparação de máquinas agrícolas, quando executadas pelo fabricante8. As

atividades descritas nos itens 1, 2, 6 e 7 são as mais diretamente associadas às atividades de pré-colheita e,

portanto, aos produtos finais ofertados pelas empresas que compõem a aglomeração.

Os empregos e estabelecimentos da atividade 28.33-0 estão concentrados nos estados da Região

Sul do Brasil e em São Paulo (Figura 6). O estoque de empregos da classe no Brasil totaliza 55.427,

distribuindo-se em 1.477 estabelecimentos. No Rio Grande do Sul, estão situados 40% dos empregos e 29%

dos estabelecimentos da atividade.

Figura 6

Distribuição dos empregos e estabelecimentos da classe de atividade 28.33-0

por unidade da Federação — 2010

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

Os 22.275 empregos da atividade no RS representam pouco mais de 3% do total de empregos

industriais no Estado9, e sua distribuição no território é desigual (Tabela 9). Nos Coredes Noroeste Colonial

(AP Pós-Colheita) e Fronteira Noroeste (AP Colheita), está localizada a maior parcela dos empregos da

atividade (44,8%). Os Coredes da AP Pré-Colheita ocupam a terceira e quarta posições, abrigando um total

de 6.114 empregos, o que equivale a 27,6% do total da atividade no RS. Os valores dos Quocientes

Locacionais (QL) do emprego e dos estabelecimentos demonstram a elevada especialização dos Coredes

Noroeste Colonial, Fronteira Noroeste, Alto Jacuí, Produção e Jacuí-Centro na fabricação de máquinas e

implementos agrícolas. Observa-se ainda que a atividade é especialmente representativa em termos do

emprego industrial total nos Coredes Alto Jacuí (63,0%) e Noroeste Colonial (51,4%).

8 Por sua vez, é importante esclarecer que a classe 28.33-0 não compreende as seguintes atividades associadas à Indústria de máquinas e implementos agrícolas: fabricação de ferramentas manuais utilizadas no trabalho agrícola (25.43-8); fabricação de esteiras transportadoras para uso em estabelecimentos agropecuários (28.22-4); fabricação de equipamentos de irrigação para uso agrícola (28.32-1); fabricação de tratores agrícolas (28.31-3); fabricação de máquinas para beneficiamento de produtos agrícolas usadas na indústria da moagem (28.62-3); manutenção e reparação de máquinas e equipamentos agrícolas, quando executadas por empresa especializada (33.14-7); instalação de máquinas e equipamentos agrícolas, quando executada por empresa especializada (33.21-0).

9 A base utilizada na determinação do percentual foi o total de empregos das indústrias extrativas e de transformação e das atividades de software.

22.145; 40%

19.535; 35%

5.075; 9%

4.035; 7%

4.637; 9%Empregos

Rio Grande do Sul

Sao Paulo

Santa Catarina

Parana

Outros

431; 29%

401; 27%178; 12%

206; 14%

261; 18%

Estabelecimentos

Page 25: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

24

Tabela 9

Número de empregos, estabelecimentos e concentração da classe de atividade 28.33-0 no Rio Grande do Sul, por Corede — 2010

COREDES

EMPREGOS

ESTABELECIMENTOS

Número QL % da Indústria

no Corede % da Atividade

no RS

Número QL

Noroeste Colonial ........................ 5.086 16,52 51,40 22,97 48 8,09

Fronteira Noroeste ...................... 4.835 11,84 36,82 21,83 39 4,55

Alto Jacuí ................................... 3.766 20,25 62,98 17,01 37 9,24

Produção .................................... 2.348 3,65 11,34 10,60 48 3,63

Serra ........................................... 1.004 0,20 0,62 4,53 49 0,57

Metropolitano Delta do Jacuí ..... 976 0,30 0,93 4,41 39 0,66

Vale do Caí ................................. 664 0,93 2,89 3,00 4 0,34

Jacuí-Centro ............................... 580 4,56 14,19 2,62 11 3,25

Central ........................................ 490 1,86 5,79 2,21 10 1,11

Vale do Rio dos Sinos ................ 400 0,09 0,28 1,81 12 0,15

Missões ...................................... 347 2,00 6,23 1,57 9 1,63

Centro-Sul .................................. 299 1,12 3,48 1,35 14 2,69

Vale do Taquari .......................... 276 0,21 0,66 1,25 22 1,00

Norte .......................................... 257 0,48 1,51 1,16 14 1,27

Sul .............................................. 162 0,27 0,83 0,7% 8 0,58

Nordeste ..................................... 150 0,70 2,17 0,68 12 2,10

Vale do Rio Pardo ...................... 145 0,21 0,64 0,65 18 1,33

Litoral ......................................... 119 0,66 2,07 0,54 5 0,57

Fronteira Oeste .......................... 111 0,50 1,56 0,50 8 1,34

Outros ......................................... 130 - 0,35 0,59 24 -

TOTAL ........................................ 22.275 - 3,13 100,59 455 - FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

Dentro da AP Pré-Colheita, o Corede Alto Jacuí apresenta maior número de empregos na atividade,

mas menor número de estabelecimentos, em relação ao Corede Produção.

O valor das saídas da atividade representa apenas 1,5% do total das indústrias extrativas e de

transformação do RS (Tabela 10). A AP Pré-Colheita responde por mais de um quarto desse total (0,4%).

No Corede Alto Jacuí, a produção de máquinas e equipamentos agropecuários é responsável por 38,4% do

total do valor das saídas industriais. Nos demais Coredes, a surpresa foi a expressiva representatividade da

atividade no Vale do Caí (18,5%) e a importância dessa região no total do valor das saídas da classe no RS

(27,3%)10

.

10

Não foi possível determinar com precisão a origem dessa representatividade. Segundo os dados da RAIS, em 2010, existiam quatro

estabelecimentos no Corede Vale do Caí autoclassificados na atividade 28.33-0. Dentre esses, um estabelecimento de grande porte localizado em Montenegro respondia por 650 empregos, o que equivale a 97% dos empregos da classe na região. De acordo com FIERGS (2013), a única empresa que atua na fabricação de máquinas e implementos agrícolas em Montenegro é a multinacional John Deere. Porém, a planta da empresa no Município dedica-se à fabricação de tratores, atividade que estaria enquadrada na classe de atividade 28.31-3.

Page 26: Aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas ... · agrícolas no Brasil e no Rio Grande do Sul tem o seu referencial na década de 20 do século passado, quando

25

Tabela 10

Valor das saídas da classe de atividade 28.33-0 no Rio Grande do Sul, por Corede — 2010

COREDES PARTICIPAÇÃO NA INDÚSTRIA

DO RS (%)

PARTICIPAÇÃO NA INDÚSTRIA DO COREDE (%)

DISTRIBUIÇÃO DA ATIVIDADE NOS COREDES

(%)

Alto Jacuí ................................... 0,3 38,4 22,5

Noroeste Colonial ........................ 0,2 21,1 11,7

Vale do Caí .................................. 0,4 18,5 27,3

Jacuí-Centro ................................ 0,1 10,7 4,3

Fronteira Noroeste ...................... 0,1 5,9 6,9

Produção ................................... 0,1 5,6 7,8

Alto da Serra do Botucaraí .......... 0,0 4,5 0,2

Nordeste ...................................... 0,0 2,6 1,0

Central ......................................... 0,0 2,4 1,1

Missões ....................................... 0,0 1,7 0,8

Norte ........................................... 0,0 0,9 0,9

Serra ........................................... 0,1 0,6 7,3

Centro-Sul ................................... 0,0 0,5 0,4

Metropolitano Delta do Jacuí ...... 0,1 0,4 5,5

Celeiro ......................................... 0,0 0,3 0,1

Vale do Taquari ........................... 0,0 0,2 0,6

Litoral ........................................... 0,0 0,2 0,0

Sul ............................................... 0,0 0,1 0,4

Fronteira Oeste ........................... 0,0 0,1 0,1

Vale do Rio dos Sinos ................. 0,0 0,1 0,8

Vale do Rio Pardo ....................... 0,0 0,0 0,2

Outros .......................................... 0,0 0,1 0,0

TOTAL ........................................ 1,5 - 100,0 FONTE DOS DADOS BRUTOS: RIO GRANDE DO SUL (2011).

A análise do porte dos estabelecimentos11

da atividade revela que, respectivamente, 84% e 88% dos

estabelecimentos localizados nos Coredes Alto Jacuí e Produção classificam-se como micro ou pequenas

empresas (Tabela 11). De forma geral, percebe-se que as regiões com maior número de empregos são

aquelas que apresentam maior número de médias e grandes empresas, ainda que as micro e pequenas

predominem em todas as regiões. Em 2010, existiam cinco estabelecimentos de porte médio e um

estabelecimento de grande porte no Corede Produção e quatro estabelecimentos de médio porte e dois de

grande porte no Corede Alto Jacuí.

11

A classificação do porte das empresas segundo o número de empregados, utilizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e adotada neste trabalho, obedece aos seguintes critérios: microempresa — até 19 empregados; pequena empresa — de 20 até 99 empregos; médias empresas — de 100 até 499 empregos e; grande empresa — 500 ou mais empregos.

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Tabela 11

Porte dos estabelecimentos e salário médio da classe de atividade 28.33-0

no Rio Grande do Sul, por Corede — 2010

COREDES ESTABELECIMENTOS SALÁRIO MÉDIO Micro Pequena Média Grande

Serra .................................................... 38 9 2 0 2.026,52

Noroeste Colonial ................................ 35 7 4 2 1.573,84

Produção ............................................ 33 9 5 1 1.812,55

Metropolitano Delta do Jacuí ............... 29 8 2 0 1.599,94

Alto Jacuí ............................................ 25 6 4 2 1.708,40

Fronteira Noroeste ............................... 22 6 9 2 2.380,42

Vale do Taquari .................................... 19 3 0 0 1.227,09

Vale do Rio Pardo ................................ 17 1 0 0 894,18

Norte .................................................... 13 0 1 0 1.932,27

Centro-Sul ............................................ 11 2 1 0 1.130,86

Nordeste .............................................. 9 3 0 0 1.091,13

Celeiro .................................................. 8 0 0 0 1.091,19

Jacuí-Centro ........................................ 7 2 2 0 1.169,90

Vale do Rio dos Sinos .......................... 7 4 1 0 1.854,72

Central ................................................. 6 2 2 0 1.454,07

Outros .................................................. 36 11 1 1 -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

A última versão disponível do Cadastro das Indústrias, Fornecedores e Serviços (FIERGS, 2013)

aponta a existência de quatro estabelecimentos industriais de grande porte na AP Pré-Colheita, localizados

em Não-Me-Toque (Stara e Jan), Passo Fundo (Semeato) e Ibirubá (Vence Tudo). Segundo a pesquisa, os

estabelecimentos de médio porte da atividade estão situados nos Municípios de Passo Fundo (Kuhn),

Ibirubá (AGCO e Indutar), Carazinho (Semeato) e Marau (GSI)12

. Cabe a ressalva de que a análise se refere

ao porte dos estabelecimentos e não das empresas propriamente ditas. A AGCO, por exemplo, é uma das

principais empresas multinacionais que atua na fabricação de maquinário agrícola, contando com milhares

de colaboradores e plantas industriais espalhadas em mais de uma dezena de países13

.

O salário médio praticado nas empresas da atividade em análise é significativamente superior à

média verificada nas seções das indústrias extrativas e de transformação gaúchas (R$ 1.496,74). Em 2010,

no RS, o salário médio da atividade foi de R$ 1.808,83. As regiões em que as empresas da atividade melhor

remuneram os empregados são a Fronteira Noroeste e a Serra. Os Coredes da AP Pré-Colheita situam-se

em uma posição intermediária em termos da remuneração dos empregados ocupados na atividade.

A Tabela 12 apresenta a distribuição dos empregos e dos estabelecimentos da atividade produtiva

de máquinas e equipamentos agrícolas, por porte, nos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção. A

análise do emprego reafirma que os municípios de Não-Me-Toque e Passo Fundo se constituem nos centros

econômicos da aglomeração. Aproximadamente 72% dos empregos da classe estão localizados nesses

municípios. Vale destacar a importância dos grandes estabelecimentos: apesar de apenas 3,5% dos

estabelecimentos da região serem assim classificados, sua participação é de 25,6% no emprego. Essa

participação somente é inferior à dos estabelecimentos de médio porte (40,7%).

12

A diferença das informações da RAIS e da FIERGS pode decorrer de duas razões principais: i) o período de referência — RAIS (2010) e FIERGS (2013); ii) a metodologia de agregação das informações. A FIERGS considera como unidade de referência as empresas, e a RAIS, os estabelecimentos industriais. Assim, se uma mesma empresa possui mais de um estabelecimento em determinada atividade no mesmo município, os dados de emprego são somados pela FIERGS e reportados separadamente pela RAIS.

13 A GSI, que conta com uma unidade industrial em Marau, foi adquirida pela AGCO em 2011.

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Tabela 12

Número de empregos e estabelecimentos da classe 28.33-0, por porte, nos municípios dos Coredes Alto Jacuí e Produção — 2010

MUNICÍPIOS E COREDES

EMPREGOS ESTABELECIMENTOS

Micro Pequena Média Grande Total

Alto Jacuí ........................ 3.766 25 6 4 2 37

Cruz Alta ........................ 12 5 0 0 0 5

Fortaleza dos Valos ....... 2 1 0 0 0 1

Ibirubá ............................ 913 1 1 3 0 5

Não-Me-Toque .............. 2.738 12 4 1 2 19

Santa BÁrbara do Sul ... 5 1 0 0 0 1

Selbach .......................... 91 3 1 0 0 4

Tapera ........................... 5 2 0 0 0 2

Produção ......................... 2.348 33 9 5 1 48

Camargo ........................ 0 1 0 0 0 1

Carazinho ...................... 318 6 3 1 0 10

Casca ............................ 2 1 0 0 0 1

Coxilha .......................... 1 1 0 0 0 1

Ernestina ....................... 1 1 0 0 0 1

Marau ............................ 337 3 0 1 0 4

Passo Fundo ................. 1.687 19 6 3 1 29

Vila Maria ....................... 2 1 0 0 0 1

TOTAL .............................. 6.114 58 15 9 3 85 FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

Outro aspecto a ser notado é a existência de 10 municípios nos Coredes Alto Jacuí e Produção com

registro de emprego na atividade e que não pertencem aos municípios que compõem a AP Pré-Colheita.

Possivelmente, a sua não inserção na aglomeração pelos trabalhos que a analisaram esteja relacionada à

baixa representatividade do emprego desses municípios (menos de 2% do total).

A pesquisa da FIERGS (2013) permite a visualização do emprego da atividade e outras

características, por empresa (Quadro 6). Contrastando com a AP Colheita, onde ocorreu um processo de

aquisições das grandes empresas nacionais pelas multinacionais John Deere (Horizontina) e AGCO (Santa

Rosa), as empresas da AP Pré-Colheita continuam sendo dominantemente constituídas de capital nacional.

Encaixam-se nesse perfil as maiores empresas da aglomeração (Stara, Semeato, Jan).

Nos últimos anos, ocorreu a aquisição de duas empresas locais por grupos internacionais. A

primeira se deu em 2005, quando a fábrica de semeadeiras e plantadeiras pertencente à Metasa (Passo

Fundo) foi comprada pelo grupo francês Kuhn. A segunda ocorreu em 2007, com a compra pela AGCO da

Sfil (Ibirubá), fabricante de implementos agrícolas.14

Nem todas as empresas da atividade localizadas na região ofertam produtos finais voltados às

atividades de pré-colheita. Algumas empresas são fornecedoras de peças e serviços para as que atuam na

fabricação de implementos agrícolas (IC Soluções Mecânicas, Molasul, por exemplo) e outras produzem

itens relacionados ao pós-colheita e à produção animal (GSI de Marau).

Outro aspecto a assinalar é que as principais empresas da aglomeração, cuja origem é a fabricação

de bens finais para atividades de pré-colheita, diversificaram seu portfólio nos últimos anos e passaram a

ofertar produtos para as atividades de colheita e pós-colheita. A Stara, por exemplo, anunciou recentemente

um acordo de transferência de tecnologia com o grupo italiano Argo Tractors, para viabilizar a instalação de

14

Em 1999, a Stara também estabeleceu uma joint venture com a empresa alemã Amazone Werke. Porém, a família fundadora da empresa continua detendo mais de 99% das ações.

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uma linha de produção de tratores. Esse era um dos poucos produtos do segmento não ofertados pela

empresa (STARA, 2013).

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Quadro 6

Informações sobre as empresas da atividade 28.33-0 nos municípios da AP Pré-Colheita

Empresa Município Empregos Importador Exportador Produtos

Grazmec Não-Me-Toque 64 Sim Sim Implementos agrícolas

Jan Não-Me-Toque 1.694 Sim Sim Implementos agrícolas

Dobel Não-Me-Toque 8 Não Não Implementos agrícolas sob encomenda, serviços de galvanização com zinco

Irani Kunz ME Não-Me-Toque 1 Não Não Manutenção de máquinas agrícolas

Jair de Oliveira ME Não-Me-Toque 7 Não Não Manutenção de máquinas agrícolas, gabarito, estufa para secagem de papel

Molasul Não-Me-Toque 13 Não Não Molas para linha agrícola, artefatos de arame em geral

Roster Não-Me-Toque 18 Não Sim Peças para implementos agrícolas, peças para máquinas agrícolas

SLPA Roster Não-Me-Toque 15 Não Não Manutenção de máquinas agrícolas

Soder Não-Me-Toque 30 Não Sim Implementos agrícolas, equipamentos rodoviários, reservatórios e tanques

Stahar Não-Me-Toque 45 Não Sim Plaina agrícola frontal, plataforma de transporte de plantadeira, carreta hidráulica

Stara Não-Me-Toque 1.830 Sim Sim Carreta agrícola, plaina de solo, pulverizador agrícola

Agromac Passo Fundo 21 Não Não Fertisystem acoplável em semeadoras adubadoras, Fertisystem dosador de precisão

Bandeirante Passo Fundo 70 Não Sim Implementos agrícolas

CSA-Semeato Passo Fundo 600 Sim Não Máquinas agrícolas, peças de reposição para máquinas agrícolas

Ciro Lopes Filho Passo Fundo 6 Não Não Telhas, calhas, barcos de fibra de vidro

Fancontrol Passo Fundo 23 Não Não Controladores de temperatura e umidade eletrônico

Ghipol Passo Fundo 9 Não Não Peças para máquinas agrícolas

IC Soluções Mecânicas Passo Fundo 34 Sim Não Usinagem em geral

Zanatta Estufas Agrícolas Passo Fundo 50 Sim Sim Filme agrícola, estruturas metálicas para estufa, equipam. em geral para irrigação

Kuhn Passo Fundo 460 Sim Sim Implementos agrícolas

Maritel Passo Fundo 15 Não Não Rodado duplo, roda agrícola, alongador de eixo

Metalúrgica Marini Passo Fundo 50 Não Sim Equipamentos para agroindústria

AGCO Ibirubá 300 Sim Sim Equipamentos agrícolas

Vence Tudo Ibirubá 540 Sim Sim Implementos agrícolas

Indutar Ibirubá 200 Sim Não Componentes e peças metálicas

Tornitec Ibirubá 25 Não Não Peças para máquinas agrícolas

Gihal Carazinho 50 Não Não Implementos agrícolas

Metalúrgica São Bento Carazinho 38 Não Sim Peças para implementos agrícolas

Semeato Carazinho 243 Não Sim Equipamentos agrícolas

GSI Brasil Marau 346 Sim Sim Equipamentos para avicultura, suinocultura, armazenagem de grãos

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FIERGS (2013).

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30

4.2 A cadeia produtiva

A indústria de máquinas e implementos agrícolas mantém vínculos produtivos e tecnológicos com

inúmeros setores, como o químico (com destaque para plástico, borracha, tintas, fertilizantes e pesticidas),

da biotecnologia (melhorias genética de sementes, estudos do solo, etc.) e da microeletrônica (com a

utilização e incorporação de equipamentos de telecomunicações para sensoriamento remoto, e dispositivos

microeletrônicos). Essa indústria constitui o elo final de uma cadeia produtiva cujas interações setoriais mais

diretas são estabelecidas com as indústrias siderúrgicas, metalúrgica e outros segmentos metal-mecânicos,

como máquinas-ferramenta e peças e componentes para a indústria de material de transporte. Pela sua

posição final na cadeia produtiva, caracteriza-se basicamente como montadora de partes, peças e

componentes fornecidos a montante na cadeia.

Tradicionalmente, identifica-se como divisões industriais diretamente ligadas a esse setor metal-

mecânico, a metalurgia, a fabricação de máquinas e equipamentos, a fabricação de produtos de metal, a

fabricação de borracha e plástico e a fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (Figura 7).

Figura 7

Cadeia produtiva de máquinas e implementos agrícolas

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Lemos et al. (2009).

As maiores empresas vendem seus produtos aos revendedores (concessionárias) de máquinas.

Essas concessionárias autorizadas recebem treinamento da indústria para operação e manutenção dos seus

produtos e respondem por, aproximadamente, três quartos das vendas de implementos agrícolas acoplados

no Brasil (SIMS e KIENZLE, 2009). Nas empresas menores, uma parcela maior da produção é vendida

diretamente ao consumidor final.

De acordo com NITEC (2000, p. 11), os principais insumos utilizados pela cadeia produtiva de

máquinas e implementos agrícolas do Rio Grande do Sul são chapas, aços trefilados, tintas, pneus, perfis,

material para solda, plásticos e borrachas, motores e componentes para máquinas. Grande parte da

matéria-prima deste setor provém do mercado nacional, especialmente dos Estados de São Paulo e do

Metalurgia

Borracha e plástico

Máquinas, aparelhos e

materiais elétricos

Máquinas e equipamentos

Produtos de metal, exclusive

máquinas e equipamentosMáquinas e Implementos

Agrícolas

Exportações

Instituições

FinanceirasInstituições

de P&D&I

Formação

e treinamento

Agricultores

Concessionárias

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31

próprio Rio Grande do Sul. Entretanto, alguns componentes importantes, como motores e componentes para

máquinas, são importados do exterior.

Nas duas últimas décadas, sob a ótica da reestruturação produtiva, as empresas líderes do setor de

máquinas e implementos agrícolas no Rio Grande do Sul focaram suas atividades nas pontas mais

lucrativas das cadeias produtivas, desativando diversas etapas que integram a produção e estimulando a

criação de novas empresas para desempenhar essas atividades (desverticalização). Estas últimas passam a

ser fornecedoras da atividade fim (CASTILHOS et al., 2008).

Conforme Tatsch (2006; 2008), o núcleo do arranjo de máquinas e implementos agrícolas do

noroeste do Rio Grande do Sul se baseia no segmento de produção de bens de uso final — de

complexidade tecnológica variada — e pelos segmentos de fabricantes de peças e componentes. A partir

desse núcleo, é possível observar a existência de uma oferta de serviços, dentre os quais podem ser citados

aqueles relacionados às etapas do processo produtivo central, tais como fundição e usinagem, bem como

serviços de manutenção e de assistência técnica. Além dessas atividades, existem também empresas que

prestam serviços de contabilidade e informática às demais firmas, bem como que oferecem serviços de

segurança, alimentação e limpeza. A autora destaca ainda que a rede de distribuição e de assistência

técnica das empresas tem grande importância no contexto de terceirização de algumas etapas do processo

produtivo. A agilidade e a eficiência do serviço ofertado pelas concessionárias contribuem para a

consolidação dos canais de comercialização e o estabelecimento de confiança do usuário em relação à

marca escolhida pelo equipamento. Ademais, através dessa rede, as firmas podem colher informações

relevantes junto aos clientes, as quais possibilitam o aprimoramento e a adequação dos produtos.

O fenômeno da desverticalização não se deu de forma generaliza no Estado. Na AP Pré-Colheita,

empresas de grande porte continuam com a produção verticalizada, exercendo atividades de metalurgia

(fundição), injeção de plásticos, estamparia e usinagem, dentre outras. Exemplo disso é o grupo Semeato,

composto por sete unidades: três montadoras de máquinas agrícolas (Passo Fundo e Carazinho), uma

fabricante de discos (Butiá/RS), duas fundições (Vespasiano/MG e Passo Fundo) e uma unidade de

pesquisa e desenvolvimento de novos produtos (Passo Fundo). Em Carazinho, junto à fábrica de

semeadeiras e plantadeiras da empresa, está localizada ainda a linha de fabricação de plástico, com injeção

de plástico e rotomoldado para abastecer as demais unidades. Em Passo Fundo também estão os setores

de estamparia, usinagem, solda, tratamento de superfície, pintura e montagem de outros produtos finais.

Outro exemplo de ação que está na contramão do processo de desverticalização no setor é a

inauguração da unidade de produção, usinagem e pintura de peças fundidas pela Stara, em Carazinho, no

ano de 2011. Ainda assim, nem todos os segmentos da cadeia produtiva de máquinas e implementos

agrícolas estão internalizados na aglomeração. Conforme identificado por Tatsch (2006), existe um elenco

significativo de firmas fornecedoras de matérias-primas e insumos e até mesmo de peças, bem como de

equipamentos de fabricação (máquinas-ferramenta), que se encontra fora dessa estrutura produtiva regional,

instalado em outras regiões ou fora do País.

De acordo com Neumann (2011, p. 112), para garantir a qualidade dos produtos, a maioria das

empresas da AP Pré-Colheita promove a verticalização da produção. Isto lhes permite controlar a qualidade

em todas as etapas de fabricação. Além disso, a produção verticalizada lhe permite reduzir os custos de

produção, através do reaproveitamento de matérias-primas e da diminuição dos custos de transporte.

Ainda sobre o adensamento da cadeia produtiva na região da AP Pré-Colheita, observa-se que a

produção de máquinas e equipamentos responde por, aproximadamente, dois terços dos empregos das

divisões associadas à produção de máquinas e implementos agrícolas (Tabela 13). Depreende-se que a

oferta de insumos por empresas não classificadas na atividade-fim é de pequena significância no Corede

Alto Jacuí. No Corede Produção, há sinais de maior interdependência produtiva, principalmente a partir dos

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Municípios de Marau, Passo Fundo e Carazinho. O fato de o processo de desverticalização produtiva não ter

sido tão acentuado na AP Pré-Colheita parece ter diminuído a importância das pequenas e médias

empresas na organização da cadeia de suprimentos do setor nessa aglomeração.

Dahab (1993) observou que as possibilidades de estabelecer vínculos com fornecedores que levem

a uma maior desverticalização e aprimoramento tecnológico da indústria de máquinas e implementos

depende de dois fatores principais: a infraestrutura tecnológica disponível para as firmas e as possibilidades

de redesenhar a organização industrial.

Tabela 13

Número de empregos nas Divisões CNAE diretamente relacionadas ao setor metal-mecânico produtor de máquinas e implementos agrícolas — 2010

MUNICÍPIOS E COREDES

BORRACHA E PLÁSTICO

METALURGIA PRODUTOS DE METAL

MÁQUINAS, APARELHOS E MATERIAIS ELÉTRICOS

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

TOTAL

Alto Jacuí .................... 12 44 139 3 3.818 4.016

Boa Vista do Cadeado 0 0 0 0 0 0

Colorado ..................... 0 0 1 0 16 17

Cruz Alta .................... 0 0 51 0 12 63

Fortaleza dos Valos ... 0 0 1 0 2 3

Ibirubá ........................ 1 40 28 0 927 996 Lagoa dos Três Cantos ........................ 0 0 0 0 0 0

Não-Me-Toque ........... 3 0 29 0 2.742 2.774

Quinze de Novembro 0 0 1 0 0 1

Salto do Jacuí ............ 0 0 3 0 0 3

Santa Bárbara do Sul 0 0 6 0 5 11

Selbach ...................... 7 4 5 0 109 125

Tapera ........................ 1 0 14 3 5 23

Produção .................... 549 274 2.300 90 2.668 5.881

Camargo .................... 68 0 13 0 2 83

Carazinho ................... 138 41 225 6 347 757

Casca ......................... 5 0 84 1 3 93

Ciríaco ........................ 0 0 2 0 0 2

Coxilha ....................... 0 0 0 0 1 1

David Canabarro ........ 0 0 36 0 0 36

Ernestina .................... 0 0 12 0 2 14

Gentil .......................... 16 0 17 0 0 33

Marau ......................... 217 14 1.228 12 369 1.840

Muliterno .................... 0 0 4 0 0 4

Passo Fundo .............. 105 216 500 71 1.846 2.738

São Domingos do Sul 0 0 159 0 0 159

Vila Maria ................... 0 3 20 0 98 121

TOTAL ......................... 561 318 2.439 93 6.486 9.897 FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2011).

Dentre as empresas que atuam como potenciais fornecedoras da cadeia de máquinas e

implementos agrícolas na AP Pré-Colheita, destacam-se as listadas no Quadro 7. Apesar da reduzida

significância em termos de empregos gerados, é marcante a dominância de micro e pequenas empresas.

Apenas a Metasa (Marau) e a unidade de fundição da Semeato (Passo Fundo) não se enquadram nesse

perfil. Conforme evidenciado anteriormente no Quadro 6, há, na região da aglomeração, uma série de

empresas de menor porte, autoclassificadas como produtoras de máquinas e implementos agrícolas, que

produzem peças para esse segmento, constituindo-se, portanto, em fornecedoras de bens intermediários na

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cadeia produtiva. A realização da pesquisa de campo permitirá revelar quão estreitos são esses laços

produtivos entre as micro e pequenas empresas e as grandes empresas que constituem o centro dinâmico

da produção local.

Quadro 7

Empresas potenciais fornecedoras do setor de máquinas e implementos agrícolas localizadas nos municípios da AP Pré-Colheita — 2013

Empresa Município Empregos Produtos/Serviços

Makil Não-Me-Toque 4 Prestação de serviços na linha agrícola, comando eletrônico

Agrofix Passo Fundo 11 Peças agrícolas

Ezata Passo Fundo 28 Corte e conformação de metais

GDC Passo Fundo 60 Ferramentas e estampos /usinagens especiais/ dispositivos de solda e usinagem

Granville & Maia Passo Fundo 13 Fundição em ferro

Corazza Passo Fundo 13 Máquinas de corte, moldes para ferramentas, matrizes

Morzan Passo Fundo 10 Peças de reposição para implementos agrícolas

Poliforma Passo Fundo 8 Peças de polietileno rotomoldado, depósitos para adubos

Semeato Fundição Passo Fundo 210 Peças para implementos agrícolas

Uniplastic Passo Fundo 8 Implementos agrícolas, palanques para cerca elétrica

Usifundi Ibirubá 50 Usinagem e fundição

Matrimar Marau 16 Fabricação de máquinas especiais, usinagem em geral

Metasa Marau 695 Estruturas e componentes metálicos

Mirol Mecânica Marau 5 Peças usinadas

Tecnotri Plásticos Marau 31 Rotomoldagem, pallets de plástico

Incol Carazinho 2 Peças de reposição para colheitadeiras

Soder Carazinho 90 Tanques, implementos agrícolas

Tecnoma Carazinho 37 Implementos agrícolas

Total - 1.291 -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FIERGS (2013).

4.3 Mercados consumidores

Conforme observado no Quadro 6, as maiores empresas da aglomeração participam do comércio

internacional. Não existem dados precisos e atualizados indicando qual é a parcela da produção da AP Pré-

Colheita que é destinada ao mercado gaúcho, brasileiro e internacional. De acordo com Sims e Kienzle

(2009, p. 40), o mercado regional tem importância secundária para os fabricantes de plantadeiras e

semeadeiras (menos de um terço da quantidade vendida).

Neumann (2011, p. 105) constatou que uma parcela significativa das vendas das empresas da AP

Pré-Colheita é orientada para o mercado interno (40% para a Região Centro-Oeste e 30% para a Região

Sul). Os produtos vendidos diferem de região para região. Na Região Sul, predominam as vendas de

produtos adaptados à atividade agrícola desenvolvida em propriedades de médio e pequeno porte. Na

Região Centro-Oeste, as máquinas e equipamentos vendidos destinam-se, principalmente, à agricultura de

larga escala. Segundo a autora, as exportações representam de 10 a 17% das vendas das empresas da

aglomeração que participam do comércio internacional.

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34

Os dados disponíveis no Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior – Aliceweb

(BRASIL, 2013) indicam que 13 das 45 empresas dos municípios da AP Pré-Colheita com registro de

exportação em 2010 enquadram-se na atividade econômica de Fabricação de máquinas e equipamentos

para a agricultura e pecuária (classe 28.33-0). Naquele ano, a Stara e a Semeato foram as únicas empresas

enquadradas na faixa de exportação entre 10 e 50 milhões de dólares. As empresas GSI, Jan, Kuhn, Vence

Tudo e AGCO, individualmente, exportaram entre 1 e 10 milhões de dólares.

As exportações de produtos relacionados à classe de atividade 28.33-015

, oriundas dos municípios

da AP Pré-Colheita, cresceram significativamente a partir do início dos anos 2000 (Figura 8). O pico das

exportações ocorreu em 2011, tendo atingido um total de US$ 141,1 milhões em valores correntes. Em

termos reais, a variação da média trienal das exportações entre o início e o fim do período (1999/01-

2010/12) foi equivalente a 24,7% ao ano. Esse crescimento foi sustentado principalmente pela venda de

semeadores e adubadores (32,4%), reboques e semirreboques autocarregáveis para uso agrícola (22,3%),

pulverizadores (7,1%), ceifeiras e debulhadoras (5,6%) e partes de máquinas e aparelhos agrícolas para

preparação do solo (5,1%).

Além do acelerado crescimento em termos monetários, outra característica marcante da evolução

das exportações da aglomeração, evidenciada na Figura 8, é a diversificação dos produtos comercializados.

Enquanto, em 1999, os cinco principais produtos respondiam por 91% das vendas externas da região16

, em

2012, esses mesmos produtos representavam tão somente 52%. Em 2012, para atingir participação

equivalente à de 1999, era necessário contabilizar as exportações dos 10 principais produtos da atividade.

Em grande medida, essa diversificação resulta do próprio esforço das empresas da região em aumentar o

número de produtos ofertados, principalmente no que se refere àqueles de maior valor agregado, destinados

às atividades de preparação do solo, plantio, fertilização, pulverização e transporte.

15

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) disponibiliza um tradutor que permite identificar os produtos associados a cada atividade econômica segundo a CNAE 2.0. Esses produtos são classificados de acordo com a Nomenclatura Comum do Mercosul e, no caso da classe de atividade 28.33-0, referem-se às seguintes posições e subitens: 84248111, 84248119, 84248190, 84249010, 84249090, 8432, 8433, 84341000, 84349000, 8436, 84371000, 84379000, 87162000.

16 Os cinco principais produtos exportados em 1999 foram semeadores-adubadores (43%), outras máquinas e aparelhos para avicultura (31%), partes de máquinas e aparelhos agrícolas para preparação do solo (7%), outros semeadores, plantadores e transplantadores (6%) e outras máquinas e aparelhos para agricultura, horticultura (5%).

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35

Figura 8

Evolução das exportações de máquinas e implementos agrícolas da

AP Pré-Colheita — 1999-2012 (em US$ milhões)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2013). NOTA: valores FOB deflacionados pelo IPC-Estados Unidos (2005 = 100).

A diversificação das vendas externas também se deu parcialmente em termos de mercados

atingidos. Nos anos de 1999 e 2000, as exportações da AP Pré-Colheita foram direcionadas a apenas 23

países, principalmente da América Latina e Caribe (14 países). Mais recentemente, o número de países

alcançados pelos produtos locais da atividade cresceu, passando para 64 nos anos 2011 e 2012. Porém, em

termos monetários, as exportações concentraram-se ainda mais nos países da América Latina e Caribe. A

região ampliou sua participação como mercado consumidor de 79,3% em 1999-2000 para 84,7% em 2011-

12. Outras regiões que também elevaram sua participação nas compras das máquinas e implementos

agrícolas produzidos na AP Pré-Colheita foram África (de 0,3% para 5,3%) e Oceania (de 0% para 0,9%). A

principal perda de participação ocorreu na Europa, com declínio de 17,2% em 1999-2000 para 8,4% em

2011-12 (BRASIL, 2013).

8,6

12,8

25,1 25,8 21,9

44,6

77,2

39,7

58,1

78,9

122,5

5,2 8,9 8,9

0

20

40

60

80

100

120

140

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Outras máquinas e aparelhos agrícolas para preparação do solo

Outros semeadores, plantadores e transplantadores

Outras máquinas e aparelhos para avicultura

Outras grades, escarificadores, cultivadores, enxadas, etc.

Arados e charruas

Outros

Partes de outs.máquinas e apars.p/colheita, debulha, etc.

Outras máquinas e aparelhos para agricultura, horticultura

Partes de máquinas e aparelhos agrícolas para preparação do solo

Outros aparelhos para pulverizar fungicidas/inseticidas

Ceifeiras-debulhadoras

Reboques/semi-reboques autocarregáveis para uso agrícola

Semeadores-adubadores

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36

A Figura 9 ilustra a distribuição do valor das exportações dos produtos da classe de atividade 28.33-

0, oriundos da AP Pré-Colheita, nos principais países de destino. Para tornar a análise mais robusta e dirimir

o impacto de variações anuais nos destinos, optou-se pela utilização do valor médio exportado entre 2010 e

2012 como referência. Em conjunto, Venezuela, Paraguai e Bolívia absorveram 69% das exportações da

aglomeração.

Figura 9

Destino das exportações de máquinas e implementos agrícolas da AP Pré-Colheita — participação média entre 2010 e 2012

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2013).

Quando se analisam as exportações de máquinas e implementos agrícolas da aglomeração em

comparação com o RS e o Brasil, torna-se ainda mais evidente sua especialização, não absoluta, na

produção de produtos relacionados às atividades de pré-colheita (Tabela 14).

35%

27%

6%

4%

4%

4%

3%

3%

3% 2%

9%

Venezuela

Paraguai

Bolívia

Africa do Sul

Argentina

Uruguai

França

Chile

Ucrânia

Colombia

Outros

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37

Tabela 14

Exportação dos subitens da classe de atividade 28.33-0 pela AP Pré-Colheita — 2010

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2013).

Em oito dos 10 principais subitens (produtos) exportados em 2010, a aglomeração foi responsável

por mais da metade das vendas do RS. O principal destaque é a venda de semeadores-adubadores, que

representam 46,3% das exportações da atividade da aglomeração e, respectivamente, 77,3% e 61,3% das

exportações gaúchas e brasileiras do produto.

Entre os principais produtos exportados, aqueles que podem ser classificados como não diretamente

relacionados às atividades de pré-colheita são as máquinas e aparelhos para avicultura, as ceifeiras-

debulhadoras e as partes de outras máquinas e aparelhos para colheita e debulha. Juntos, esses produtos

participam com 12,7% do total das exportações da aglomeração. Em 2010, a AP Pré-Colheita respondeu por

19,9% das exportações gaúchas e por 7,8% das exportações brasileiras da atividade.

Em se tratando das importações realizadas pelos municípios que compõem a aglomeração, é

substancial a representatividade das posições pertencentes à cadeia produtiva de máquinas e implementos

agrícolas (Tabela 15).

Código

SH8Descrição do SH8

Valor

(US$

milhões)

Participação

na AP

(%)

Participação

no RS

(%)

Participação

no Brasil

(%)

84323010 Semeadores-adubadores 30,05 46,3 77,3 61,3

84362900 Outras máquinas e aparelhos para avicultura 4,46 6,9 77,8 19,2

84248119 Outros aparelhos para pulverizar fungicidas/inseticidas, etc. 4,24 6,5 90,2 5,4

84329000 Partes de máquinas e apararelhos agrícolas, etc. para preparação do solo 3,77 5,8 61,1 8,6

84368000 Outras máquinas e aparelhos para agricultura, horticultura etc. 3,63 5,6 48,8 15,5

84323090 Outros semeadores, plantadores e transplantadores 2,65 4,1 99,7 30,9

84328000 Outras máquinas e aparelhos agrícolas, etc. para preparação do solo 2,61 4,0 60,7 24,3

87162000 Reboques/semi-reboques autocarregáveis, etc. para uso agrícola 2,40 3,7 65,8 41,5

84335100 Ceifeiras-debulhadoras 2,18 3,4 1,3 1,3

84322900 Outras grades, escarif icadores, cultivadores, enxadas, etc. 1,76 2,7 77,4 43,0

84339090 Partes de outras máquinas e aparelhos para colheita, debulha, etc. 1,61 2,5 4,1 2,4

84321000 Arados e charruas 1,44 2,2 96,2 21,7

84335990 Outras máquinas e aparelhos para colheita 1,26 1,9 100,0 0,8

84369100 Partes de máquinas e aparelhos para avicultura 0,89 1,4 36,1 15,1

84336090 Máquinass para limpar/selecionar ovos e outros produtos agrícolas 0,58 0,9 94,0 12,8

84369900 Partes de máquinas e aparelhos para agricultura, horticultura, etc. 0,57 0,9 63,3 20,9

84324000 Espalhadores de estrume/distribuidores de adubos/fertilizantes 0,47 0,7 38,5 15,0

84322100 Grades de discos, uso agrícola, etc. para preparação do solo 0,13 0,2 75,2 0,6

84332010 Ceifeiras com dispositivo de acondicionamento em fileiras 0,10 0,2 66,9 2,6

84335200 Outras máquinas e aparelhos para debulha 0,04 0,1 5,8 1,2

84249090 Outras partes de aparelhos mecânicos para projetar lubrif icantes sobre pneumáticos 0,04 0,1 7,1 0,4

84248190 Outros aparelhos para agrigultura ou horticultura 0,02 0,0 24,2 0,9

84361000 Máquinas e apars.p/prepar.de alimentos/rações p/animais 0,01 0,0 0,4 0,1

Total 64,91 100,0 19,9 7,8

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38

Tabela 15

Importações dos municípios da AP Pré-Colheita nas posições relacionadas à atividade de produção de máquinas e implementos

agrícolas — 2010-12

CÓDIGO SH4

DESCRIÇÃO DO SH4 MÉDIA 2010-12

(US$ mil) PARTICIPAÇÃO

% RANKING

8483 Veios (árvores) de transmissão [...] 8.376,14 7,6 1º 8436 Outras máquinas e aparelhos para agricultura [...] 5.539,83 5,0 3º

8433 Máquinas e aparelhos para colheita ou debulha de produtos agrícolas [...]

4.551,22 4,1 5º

8426 Cábreas, guindastes [...], pórticos de descarga e de movimentação [...]

4.257,04 3,9 6º

8412 Outros motores e máquinas motrizes 3.352,88 3,1 8º

7219 Produtos laminados planos de aço inoxidável [...] 2.627,78 2,4 10º

8432 Máquinas e aparelhos de uso agrícola [...] 2.597,94 2,4 11º

8424 Aparelhos mecânicos para [...] dispersar ou pulverizar líquidos ou pós [...]

2.289,90 2,1 12º

8456 Máquinas-ferramentas para trabalhar quaisquer matérias por desbaste [...]

2.161,22 2,0 14º

7208 Produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado [...]

2.059,67 1,9 15º

3901 Polímeros de etileno, em formas primárias 2.004,66 1,8 17º

8526 Aparelhos de [...] radionavegação e aparelhos de radiotelecomando

1.752,54 1,6 18º

8479 Máquinas e aparelhos, mecânicos não especificados [...] 1.721,64 1,6 19º

8413 Bombas para líquidos [...] 1.634,75 1,5 20º

7225 Produtos laminados planos, de outras ligas de aço [...] 1.562,58 1,4 21º

8537 Quadros, painéis, [...] para comando elétrico ou distribuição de energia

1.430,16 1,3 23º

8427 Empilhadores; outros veículos para movimentação de carga [...]

1.213,50 1,1 25º

4011 Pneumáticos novos, de borracha 1.206,59 1,1 26º

8481 Torneiras, válvulas [...] para canalizações, caldeiras, reservatórios

1.182,31 1,1 27º

Total - 109.920,51 100,0 -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2013).

Dentre as 30 posições com maior valor importado, 19 podem assim serem enquadradas e

representam, em média, 46,9% das compras externas de Não-Me-Toque, Passo Fundo, Marau, Carazinho e

Ibirubá entre 2010 e 2012. Esse é mais um sinal da não internalização completa da cadeia produtiva na

aglomeração. De fato, a significativa participação de posições que abrangem produtos como caixas de

transmissão, motores, aço, máquinas-ferramenta, Aparelhos de radionavegação e radiotelecomando, dentre

outros componentes, comprova essa dependência com o exterior.

Entre 2010 e 2012, as importações de produtos relacionados à classe de atividade 28.33-0 na AP

Pré-Colheita foi de US$ 15,149 milhões. O saldo da balança comercial da atividade nos municípios da

aglomeração é bastante positivo (US$ 94,770 milhões), e as importações são dominantemente constituídas

de subitens que não concorrem com a produção local da aglomeração. As peças e outros bens

intermediários associados à atividade de pré-colheita representaram, aproximadamente, 30% das

importações da aglomeração (BRASIL, 2013).

5. A AP Pré-Colheita como APL

Nesta seção, são levantadas algumas informações a partir de fontes primárias e secundárias que

podem contribuir para a compreensão de condições de governança, padrões de inovação, processos de

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aprendizado e de interação/cooperação entre os agentes econômicos presentes na AP Pré-Colheita. Cabe

ressalvar que o espaço de análise dos trabalhos referenciados nem sempre coincide completamente com a

delimitação da AP Pré-Colheita.

5.1 Coordenação e cooperação

A aglomeração produtiva de máquinas e implementos agrícolas da região noroeste foi uma das

cinco aglomerações objeto do Programa de Apoio aos Sistemas Locais de Produção, iniciado no ano de

1999, sob a coordenação da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais do Governo do

Estado do Rio Grande do Sul. Zawislak, Ruffoni e Vieira (2002, p. 83) identificaram que a coordenação

existente na aglomeração não era realizada nem por um comitê-gestor, nem por uma empresa-líder.

Naquele momento não havia coordenação definida.

Em março de 2005, na região da AP Pré-Colheita, empresas do setor metal-mecânico e entidades

públicas e privadas acordaram um termo de cooperação para o desenvolvimento do APL de Implementos

Agrícolas Pré-Colheita do Alto Jacuí e Produção. No ano seguinte, os associados da entidade decidiram

ampliar a abrangência setorial da iniciativa e permitir a participação de empresas de outros segmentos

produtivos correlatos à fabricação de máquinas e equipamentos agrícolas. Assim, criou-se um nome fantasia

para o APL, que passou a ser chamado de Rede Polimetal RS (ALESSANDRETTI, 2006). O objetivo da rede

é buscar, de forma organizada e em conjunto, divulgação, informação, tecnologia, novos mercados,

qualificação e formação de recursos humanos para seus associados.

Dentre as ações programadas no momento da constituição da entidade, destaca-se a criação de um

sistema de inteligência de mercado para o funcionamento da Rede de Negócios do APL Pré-Colheita. Esta

seria uma das etapas necessárias ao objetivo final de ter-se disponível um observatório econômico para o

setor de implementos agrícolas na região. Esse centro virtual reuniria informações das áreas de

comercialização para aquisição de matérias-primas a um custo menor e venda de produtos, bem como

informações pertinentes ao setor para análise de cenários e tendências (Rede Polimetal RS, 2013).

Segundo o site da Rede Polimetal RS na Internet, atualmente, 24 empresas são associadas à

entidade. Em sua grande maioria, trata-se de micro e pequenas empresas, fornecedoras de peças e

componentes e prestadoras de serviços intermediários à cadeia de máquinas e implementos agrícolas. A

única empresa associada de maior porte, produtora de bens finais da cadeia, é a Vence Tudo (Ibirubá). O

SEBRAE, a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Universidade de Cruz Alta (Unicruz) apoiam a iniciativa

e tiveram participação efetiva na sua constituição.

Para Neumann (2011), é com relação à interdependência produtiva, em âmbito local, que o

subsistema apresenta algumas dificuldades. Embora coexistam empresas pequenas, médias e grandes,

certos aspectos relacionados à cooperação ainda representam um problema de governança. As instituições

locais, tais como as associações comerciais e industriais estão envolvidas e integradas à indústria local, no

entanto, não são capazes de apoiar a coordenação do subsistema. Segundo a autora, esse papel poderia

ser exercido pelo APL criado pelo SEBRAE, mas que desenvolve suas atividades de forma dependente das

ações priorizadas e predeterminadas pelo SEBRAE nacional ou estadual. A coexistência de empresas de

portes distintos no APL também é apontada como uma das fontes de divergência de interesses.

Segundo Tatsch (2006b), apesar do elenco de organizações presentes junto ao arranjo de máquinas

e implementos agrícolas do noroeste do Estado, a infraestrutura institucional existente não garante uma forte

interação de suas organizações com aquelas vinculadas tanto à infraestrutura educacional quanto à

produtiva, nem mesmo assegura que existam esquemas de cooperação entre os diversos atores. Embora

existam esforços para promoção da capacitação dos atores locais e a competitividade do arranjo, o papel

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40

dessas organizações locais na coordenação de iniciativas conjuntas não é percebido de forma significativa

pelas empresas.

Em 2013, a Rede Polimetal RS apresentou proposta de enquadramento no Projeto de

Fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais, coordenado pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e

Promoção do Investimento (AGDI). Porém, a proposta não figurou entre as oito selecionadas como

beneficiárias da política pública.

5.2 Inovação

A heterogeneidade da indústria de máquinas e implementos agrícolas manifesta-se em uma “[...]

estrutura de mercado segmentada, onde as barreiras à entrada, as exigências tecnológicas de produto e de

processo e os canais de distribuição são específicos a cada segmento” (DAHAB, 1993, p. 1).

Parte substancial das mudanças tecnológicas nas máquinas e implementos agrícolas vem

incorporada nas peças e componentes adquiridos de outras indústrias a montante do complexo metal-

mecânico. Como consequência, as possibilidades de inovação na concepção de produtos também

dependem dos esforços de pesquisa voltadas ao setor agropecuário. E mais, as inovações de produtos

dependem de adaptações relacionadas às especificidades ambientais e sociais de cada região onde os

produtos são utilizados.

Talvez essa seja a principal razão para as instituições de pesquisa localizadas no arranjo de

máquinas e implementos agrícolas do Rio Grande do Sul voltar suas atenções principalmente para a esfera

agronômica e não propriamente aos estudos sobre maquinário, conforme identificado por Tatsch (2006a).

No entanto, os avanços alcançados por essas pesquisas provocam inovações na concepção dos

equipamentos agrícolas. Como exemplo, vale destacar o impacto causado pela disseminação da cultura do

plantio direto no maquinário produzido na região da AP Pré-Colheita.

Segundo Dahab (1993), três tendências tecnológicas podem ser destacadas na indústria de

máquinas e implementos agrícolas: a primeira está relacionada à incorporação de tecnologias de base

microeletrônica para monitoramento e controle das máquinas e implementos; a segunda envolve a busca por

soluções tecnológicas menos agressivas ao meio ambiente; e a terceira abrange os aspectos

organizacionais da indústria que são dados pela busca de formas de organizar a produção e distribuição dos

produtos, de forma a atender à economia de escala e escopo e, sobretudo, à especificidade do ecossistema.

De modo geral, o padrão tecnológico da indústria de máquinas e implementos agrícolas tem sido

caracterizado por inovações adaptativas. Os esforços tecnológicos das empresas têm sido direcionados à

adoção de inovações incrementais em produtos, visando, sobretudo, a aumento da robustez, durabilidade e

simplificação das funções (DAHAB, 1993). Mais recentemente, as grandes empresas passaram a apostar

também no desenvolvimento de produtos relacionados à agricultura de precisão, considerada a nova

fronteira tecnológica na mecanização agrícola.

Para Tatsch (2006), o processo de desenvolvimento tecnológico (seja de produto ou de processo) no

arranjo de máquinas agrícolas do noroeste do Estado é conduzido pelas próprias empresas.

Frequentemente, depois de desenvolvido internamente pela empresa, alguns fornecedores são chamados

para suprir e oferecer alguma parte do equipamento, valendo-se de sua expertise para sugerir adequações

ou aprimoramentos. Segundo a autora, as evidências revelam um padrão tecnológico de inovações

adaptativas. Nesse processo, as empresas inovadoras introduzem inovações incrementais a partir de

processos de aprendizado na fabricação (learning by doing) ou na utilização (learning by using). No entanto,

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41

enquanto as grandes empresas possuem laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, as pequenas

introduzem inovações em cooperação com outras empresas ou institutos — como as universidades e a

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) —, as quais são as principais responsáveis na

articulação do processo de aprendizado por cooperação e interação.

De acordo com Neumann (2011, p. 105), as empresas da AP Pré-Colheita adaptaram seus produtos

para atender às exigências da agricultura de precisão. Os projetos de desenvolvimento de produtos e

processos inovadores são executatos pelas empresas nos departamentos de engenharia. O número e a

qualificação dos funcionários envolvidos variam de fabricante para fabricante. A qualidade do produto e a

inovação tecnológica através da oferta de novos produtos no mercado são os principais determinantes da

competitividade das empresas locais. Por isso, as certificações de ISO 9001 são muito importantes.

Sims e Kienzle (2009) também concluíram que a maior parte das inovações de produto no setor de

implementos agrícolas é baseada em estudos internos conduzidos pelas indústrias. Porém, o fluxo de

conhecimento vindo das instituições de pesquisa, tais como a Embrapa, e das equipes de venda,

concessionárias e usuários finais também é fundamental. Os autores destacam ainda que existe a

consciência de que os produtos são copiados por concorrentes, ainda que os fabricantes costumem

patentear suas inovações. Uma vez que vantagens técnicas se estabelecem e resultem no aumento das

vendas de uma empresa, as demais tendem a buscar equiparação.

Considerações finais

O presente estudo procedeu à caracterização preliminar da AP Pré-Colheita sob os pontos de vista

econômico, social e produtivo. As informações levantadas serão utilizadas para instrumentalizar as oficinas

de trabalho a serem realizadas junto aos principais agentes locais, com vistas à caracterização e análise da

aglomeração sob a perspectiva de APL. Os elementos apresentados anteriormente permitem tecer algumas

considerações a seguir descritas.

Tornou-se evidente a grande importância da produção de máquinas e equipamentos agropecuários

para a dinâmica econômica da região da AP Pré-Colheita, bem como sua relevância para o setor no Estado.

Isso permite classificar a aglomeração como um núcleo de desenvolvimento regional-setorial.

O surgimento da AP Pré-Colheita está associado ao avanço do plantio agrícola e à mecanização da

agricultura brasileira. A necessidade de adaptação dos produtos às características de solo e das culturas

locais, somada à falta de peças de reposição, foram as impulsionadoras da fabricação de implementos na

região, a partir da década de 50. Na fundação das primeiras empresas, destaca-se a figura do imigrante

europeu, dotado de capacidade técnica, no estabelecimento de oficinas destinadas à montagem e à

manutenção de máquinas e implementos agrícolas importados.

As empresas da AP Pré-Colheita destacam-se pelo pioneirismo no desenvolvimento e fabricação de

implementos adaptados ao plantio direto no momento em que essa prática se difundia no País. Com isso, foi

possível consolidar uma posição competitiva no mercado, fortalecendo a vocação local para a fabricação de

produtos relacionados às atividades de pré-colheita. Nos anos 90, uma série de inovações tecnológicas

também potencializou o surgimento da agricultura de precisão e novamente os agricultores e empresários da

região foram decisivos para a viabilização e difusão dessa nova filosofia agrícola no Brasil.

Apesar de o núcleo produtivo da AP Pré-Colheita ser constituído pela fabricação de máquinas e

implementos agrícolas, tornou-se evidente a existência de vínculos diretos estabelecidos com outras

atividades relacionadas ao setor — siderurgia, metalurgia, fabricação de produtos de metal, máquinas,

aparelhos e materiais elétricos, produtos plásticos e borracha — e vínculos indiretos de interação

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42

tecnológica e produtiva com segmentos da biotecnologia, da microeletrônica e da indústria química. Vale

referir ainda o importante papel cumprido pelas instituições de ensino superior e técnico da região na

formação de mão de obra qualificada para as empresas da aglomeração.

Em se tratando das características regionais, observou-se que os municípios que compõem a

aglomeração (Carazinho, Ibirubá, Marau, Não-Me-Toque e Passo Fundo) são os principais polos de atração

populacional dos Coredes Alto Jacuí e Produção e, em geral, contribuem positivamente para a média dos

indicadores socioeconômicos locais. Existe significativa heterogeneidade produtiva entre os municípios dos

Coredes Alto Jacuí e Produção. No Corede Alto Jacuí, a indústria é menos diversificada, estando

concentrada na fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, principal atividade em

termos de emprego e valor da produção. Por sua vez, no Corede Produção destacam-se as atividades a

jusante do setor agropecuário, como a fabricação de produtos alimentícios.

As atividades agropecuárias predominam em relação às industriais na maioria dos municípios das

regiões analisadas. Sob esse aspecto, os municípios da AP Pré-Colheita constituem-se em exceções,

figurando nos rankings dos 10 municípios com maior participação da indústria e menor participação da

agropecuária no VAB. Mais de quatro quintos do emprego industrial dos Coredes Alto Jacuí e Produção

estão localizados em Passo Fundo (34,4%), Marau (26,3%), Não-Me-Toque (11%), Carazinho (7%) e Ibirubá

(4%).

Sobre as características setoriais da AP Pré-Colheita, identificou-se que, em 2010, existiam 5.993

empregos formais e 67 estabelecimentos cuja atividade principal é a fabricação de máquinas e

equipamentos para a agropecuária. Isso corresponde a, aproximadamente, 27% dos empregos e a 15% dos

estabelecimentos da atividade no Estado. Porém, nem todos esses estabelecimentos se ocupam da oferta

de produtos finais voltados às atividades de pré-colheita. Parte das empresas de menor porte ocupa-se do

fornecimento de peças e serviços para as fabricantes de implementos agrícolas, e algumas empresas

produzem itens relacionados ao pós-colheita e à produção animal.

Na região, percebeu-se a existência de empresas fabricantes de máquinas e implementos agrícolas

de diversos portes, com predomínio das micro e pequenas. Detre as grandes empresas, que respondem por

mais de um quarto do emprego da atividade, destacam-se as localizadas em Não-Me-Toque (Stara e Jan),

Passo Fundo (Semeato) e Ibirubá (Vence Tudo). Em Ibirubá também está situada a planta industrial

produtora de semeadeiras e plantadeiras da multinacional AGCO. A análise do emprego reafirmou que os

Municípios de Não-Me-Toque e Passo Fundo são os centros econômicos da AP Pré-Colheita, respondendo

por 72% dos empregos da atividade de fabricação de máquinas e equipamentos para a agropecuária.

Como tendências gerais, assinala-se a busca pela diversificação do portfólio empreendida pelas

grandes empresas de capital nacional, com vistas a concorrer em melhores condições com as multinacionais

do setor. Assim, empresas da região com origem na fabricação de bens finais para as atividades de pré-

colheita passaram a ofertar produtos para as atividades de colheita e pós-colheita. Além disso, as grandes

empresas da AP Pré-Colheita continuam bastante verticalizadas e aparentemente seguiram na contramão

do processo de reestruturação produtiva capitaneado pelas empresas multinacionais da AP Colheita no final

da década de 90. Na aglomeração estudada, as empresas locais continuam exercendo atividades de

metalurgia (fundição), injeção de plásticos, estamparia e usinagem, dentre outras. Uma hipótese a ser

testada é a de que essa estratégia está sendo adotada para garantir a qualidade dos produtos finais

ofertados, o que poderia ser reflexo da inaptidão dos fornecedores locais. Somente após a realização da

pesquisa de campo será possível avaliar quão estreitos são os laços produtivos existentes entre as

empresas locais fornecedoras de peças e outros produtos intermediários e as empresas produtoras de bens

finais que constituem o centro dinâmico da aglomeração.

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43

Vale frisar ainda que nem todos os segmentos da cadeia produtiva de máquinas e implementos

agrícolas estão internalizados na AP Pré-Colheita, existindo um elenco significativo de firmas fornecedoras

de insumos, peças e equipamentos que se encontram fora da estrutura produtiva regional. Prova disso é a

composição das importações dos municípios da aglomeração, onde se destaca a participação de itens como

caixas de transmissão, motores, aço, máquinas-ferramenta, aparelhos de radionavegação e

radiotelecomando, dentre outros componentes da indústria de máquinas e implementos.

A análise dos destinos da produção local revelou que uma parcela significativa das vendas das

empresas da AP Pré-Colheita é orientada para o mercado interno (dois terços). Os produtos vendidos no

Brasil diferem de região para região, segundo a escala de produção e as culturas agrícolas dominantes.

Outro destaque é o expressivo crescimento das vendas externas da aglomeração na última década (média

de 25% a.a.), determinado pela diversificação tanto de produtos quanto de mercados. O pico das

exportações ocorreu em 2011, tendo atingido um total de US$ 141,1 milhões em valores correntes. Os

países da América Latina e Caribe são os principais compradores dos produtos da aglomeração,

respondendo por mais de quatro quintos das exportações. O entendimento das razões que conduziram a

essa concentração espacial das vendas externas também será objeto das oficinas de trabalho.

A partir de informações de fontes secundárias, foi possível aferir que as condições de coordenação e

governança na aglomeração avançaram nos últimos anos, porém ainda são deficientes. Conforme

destacado, as instituições locais, tais como as associações comerciais e industriais, estão envolvidas e

integradas à indústria local, no entanto não são capazes de apoiar a coordenação do sistema. Nesse

sentido, o esforço para a criação da Rede Polimetal RS merece destaque. Porém, a não participação das

principais empresas da aglomeração pode sinalizar a existência de interesses conflitantes e mesmo o

descrédito em relação à iniciativa.

Não obstante sua importância econômica setorial e regional, a AP Pré-Colheita não foi enquadrada

na política estadual de fortalecimento dos APLs. Isso também pode ser um sintoma da dificuldade de

identificação de interesses comuns e de mobilização dos agentes locais para o acesso às políticas públicas

existentes. A falta de uma governança estabelecida que permita a constituição de um arranjo possivelmente

também está associada à grande heterogeneidade entre as firmas e ao predomínio de grandes empresas na

coordenação das atividades em âmbito regional.

Por fim, observou-se que as possibilidades de inovação na concepção de máquinas e implementos

agrícolas dependem, principalmente, dos esforços de pesquisa no setor agropecuário e, muitas vezes,

resultam de adaptações às especificidades ambientais e sociais de cada região onde os produtos são

utilizados. Na AP Pré-Colheita, as grandes empresas têm se destacado no desenvolvimento de produtos

relacionados à agricultura de precisão. Destaca-se a importância das informações colhidas diretamente dos

usuários e através das concessionárias para as inovações incrementais e adaptativas nos produtos

ofertados pelas empresas.

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