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Agenda Abdan para Eleições de 2018 | 1

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Agenda Abdan para Eleições de 2018 | 1

Agenda Abdan para Eleições de 2018 | 2

I. Expediente ............................................................................................................................................................................................2

II. Carta do Presidente ...............................................................................................................................................................................3

III. A ABDAN ................................................................................................................................................................................................4

IV. A Matriz Energética Brasileira ................................................................................................................................................................5

V. A Indústria Nuclear no Brasil e no Mundo ..............................................................................................................................................9

1) A Geração Núcleo-Elétrica ...............................................................................................................................................................14

2) O Uso Social da Energia Nuclear .......................................................................................................................................................17

3) Série Histórica de Empregos ............................................................................................................................................................18

VI. Cadeia da Indústria Nuclear .................................................................................................................................................................20

VII. Situação das Usinas Nucleares de Angra ..............................................................................................................................................21

VIII. A Indústria Nuclear Precisa se Fortalecer .............................................................................................................................................25

IX. Propostas .............................................................................................................................................................................................26

X. Lista de Abreviações ............................................................................................................................................................................27

Conteúdo

I. Expediente

A DIRETORIA:• Presidente: Celso Cunha

• Vice –Presidente: Carlos Isidro Leipner Gomes – Westinghouse

• Vice-Presidente: André Luiz Salgado – Framatome

• Vice-Presidente: Orpet José Marques Peixoto – A F Consult

MEMBROS DO CONSELHO CONSULTIVO:• Carlos Autran – Amazul

• Paulo Massa – MPE Engenharia

• Sergey Krivolapov – Rosatom

• Antonio Müller

• Aquilino Senra

EQUIPE TÉCNICA:• Alice Cunha da Silva - Westinghouse

• Bertrand Pulce - Framatome

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II. Carta do Presidente

Apesar de enormes ganhos em acesso global à eletricidade ao longo das duas últimas décadas, os governos e organiza-ções de desenvolvimento continuam a investir em eletrifi cação para alcançar a saúde, proteção ambiental, qualidade de vida e sustentabilidade. A energia nuclear é uma parte da solução dos desa� os energéticos e climáticos modernos.

Como todos desejamos, espera-se para os próximos anos uma volta signifi cativa ao crescimento da economia brasileira. Isso certamente demandará um aumento da necessidade de energia e consequente aumento da capacidade brasileira de geração elétrica.

Consideramos que a energia nuclear tem papel certo e signifi cativo neste contexto, pois é energia de base segura, competitiva e energia limpa.

O novo governo precisará estabelecer diretrizes que permitam um desenvolvimento contínuo e sustentável da ge-ração núcleo-elétrica. Ela deve estar em consonância com o que for decidido sobre a participação do setor nuclear na matriz energética. A decisão fi rme e contínua do novo governo em relação à área nuclear é imperativa para o desenvolvimento do nosso país.

Acreditamos na diversidade e complementaridade entre as diversas fontes de Energia Elétrica e nas signifi cativas vanta-gens da utlilização da geração nucleo-elétrica na composição da Matriz Energética, em consonância com as modernas políticas de preservação do meio-ambiente, por se tratar de uma fonte de Energia Limpa, não emissora de Gases de Efeito Estufa (GEF), contribuindo para o atingimento dos objetivos assumidos pelo Brasil no âmbito do COP 21.

Para isso, os candidatos que se apresentam ao pleito eleitoral deste ano, devem incluir em suas agendas no que tange a geração de energia, seriamente, o setor nuclear.

A crise hídrica que o país vem atravessando na última década, mostra as fragilidades que temos hoje na geração de energia e ameaça toda a nossa cadeia produtiva e o consequente aumento do desenvolvimento do Brasil.

Fora isso, os recentes números de desemprego no Brasil, revelados pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), demonstram o drama de milhões de brasileiros que estão à margem do mercado de trabalho. Os indicadores da economia são bem tímidos e, por isso, o cenário para o futuro ainda não é animador.

Retomar as obras de Angra 3, paralisadas desde 2015. O investimento na opção nuclear não é apenas atrativo em termos de matriz energética. Dados apresentados pela Agência Internacional de Energia Atômica, citando um estudo feito por Donald Harker e Peter Hans Hirschboeck, indicam que a cada 2 MW novos de energia nuclear, um novo emprego local é criado. O documento ainda detalha que a fonte nuclear é a quem tem maior potencial de geração de vagas dentre todas as demais, levando em consideração a capacidade média de potência instalada dos empreendimentos. Em breve, esses números de-vem ganhar vida em dois países europeus – Inglaterra e França -, que estão depositando suas fi chas na geração nuclear.

Retomar Angra 3, discutir o PNE 2050, pensar na entrada novas centrais nucleares nos próximos 30 anos não só é uma necessidade como também um olhar para o horizonte em termos de desenvolvimento econômico e social pelas pos-sibilidades de geração de emprego e renda, crescimento da capacidade competitiva e manutenção das conquistas dos nosso país. Isso nos parece fundamental e exequível.

Diretoria da ABDAN

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III. A ABDAN

A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares – ABDAN, entidade que visa promover a utilização da energia nuclear no Brasil, representando assim os principais atores da área nuclear no país, elaborou este documento com objetivo principal de submeter à Vossa Excelência, candidato à Presidência da República do Brasil, um resumo em que destaca importância da inclusão do setor nuclear no desenvolvimento nacional e principalmente a necessidade do planejamento de novas usinas nucleares na matriz de energia elétrica brasileira. Esse documento permitirá refl exão e análise, para decisão sobre propostas da área nuclear que V. Exa. poderá incluir em seu programa de governo.

Figura 1 - Características da Energia Nuclear – Visão da ABDAN

SEGURANÇAENERGÉTICA

OPERAÇÃO DE BASE COMPENSANDO A

SAZONALIDADE HIDROELÉTRICA

REGULAMENTAÇÃOMAIS RIGOROSA

SOBRE SEGURANÇA

MENOR CUSTODE GERAÇÃO

DE ENERGIA SOLAR

PROMOVE A CRIAÇÃODE EMPREGOS

GARANTE ASEGURANÇA

DA REDE

MENOR IMPACTOAMBIENTAL

GARANTE PREÇOSCONSTANTES E PREVISÍVEIS

DESENVOLVE KNOW HOW TECNOLÓGICO BENEFICIANDO

OUTROS SETORES

COMPLEMENTAR À INTERMITÂNCIA DAS EÓLICAS

E SOLARES

EMISSÃO ZERODE CO2

MENOR PREÇO FINALDE ELETRICIDADE PARA

O CONSUMIDOR

CREDIBILIDADE GEOPOLÍTICA E CIENTÍFICA DO PAÍS

NÃO DEPENDEDE CONDIÇÕES

CLIMÁTICAS

MENOS RESÍDUOS EM COMPARAÇÃO COM OUTRAS

FONTES TÉRMICAS

O BRASIL JÁ DOMINA O CICLO DO COMBUSTÍVEL NUCLEAR

PROMOVE O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

E SOCIAL

MAIOR GERAÇÃO DE ELETRICIDADE, FATOR DE

CAPACIDADE E DISPONIBILIDADE(90%)

MENOR NÚMERO DE ACIDENTES FATAIS

POR MW/H PRODUZIDO

DESENVOLVE SERVIÇOS REGIONAIS E LOCAIS

MEIO AMBIENTE/SEGURANÇA

EFICIÊNCIADE CUSTOS

DESENVOLVIMENTOSOCIAL E ECONÔMICO

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IV. A Matriz Energética Brasileira

O Brasil tem atualmente uma matriz de energia elétrica predominantemente hidroelétrica que tem a vantagem de produzir eletricidade de forma limpa e barata.

Por outro lado, a natureza essencialmente hídrica desta matriz tem colocado em risco o Sistema Interligado Nacional, comprometendo a sua segurança energética com a imprevisibilidade das condições climáticas. O racionamento de 2001, a crise energética em 2013, 2014 e 2015, e a crise hídrica com reservatórios chegando aos volumes morto de água, tem estressado o setor elétrico brasileiro com severas consequências: elevados custos adicionais de geração térmica a partir de fontes fósseis; poluição ambiental associada a este tipo de geração; impacto nas tarifas para o consumidor; além de elevados riscos de novo racionamento.

Esse quadro tem a tendência de ser continuado ao longo dos anos agravado pela importância cada vez mais crescente do uso de recursos hídricos para o segmento sócio-ambiental.

A Capacidade instalada relativa aos empreendimentos de geração constantes do Sistema Interligado Nacional – SIN está apresentada na fi gura abaixo por tipo de fonte do parque gerador existente.

Fonte: Dados coletados da ANEEL – Fevereiro 2018Figura 2 - Matriz energética brasileira – capacidade instalada % por fonte

A potência instalada indica o valor máximo que o Sistema pode produzir.

Hídrica | 60.678%

Biomassa | 8.76495%

Fóssil | 16.3199%

Eólica | 7.5162%

Importação | 4.9348%Undi-Elétrica | 3.0201%

Solar | 0.583%

Nuclear | 1.202%

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Entretanto, dada às diferenças de fatores de capacidade de cada fonte (energia gerada/energia baseada em toda capacidade instalada), é a produção de energia que melhor expressa à participação real na produção anual de energia, conforme apresentado na fi gura 3. A hidrelétrica tem seu fator de capacidade com a marca de 45% e a Eólica menos que 40%. Já a geração nuclear opera com fator de capacidade acima de 90%, levando a uma participação na produção de energia que é maior que o dobro do que sua parcela na potencia instalada. Demonstrando assim sua con� abilidade e a importancia para a operação do sistema.

Entre os cinco países com maior potencial hidroelétrico, o Brasil está na 4ª posição, com 260.000 MW, e é, de longe, o que possui o maior percentual hidroelétrico em sua matriz. O Brasil, entre esses países, é o que tem o sistema elétrico mais dependente da hidroeletricidade e, portanto, mais vulnerável a défi cits de suprimento de energia em função das condições climáticas.

68,1%9,1%

8,2%

5,4%2,6%

2,4%

4,2%0,01% Solar

Carvão eDerivados

HídricaGás Natural

Biomassa

Eólica

NuclearDerivados de Petróleo

Figura 3- Oferta Interna de Energia elétrica por Fonte – Brasil - Fonte: Balanço Energético 2016

A Matriz Energética Brasileira

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A Matriz Energética Brasileira

Estes fatos, aliados a uma expansão hidroelétrica sem reservatórios prevista no PDE (2026) – Programa Decenal de Energia do Ministério de Minas e Energia – para os próximos 10 anos, e a perspectiva da redução do uso dos recursos hídricos na geração elétrica, como já temos observado, estão demandando urgentemente uma nova política energética para o país, que substitua esse alto percentual hidroelétrico, por uma ampliação da participação térmica, operando em regime de base, com baixo custo operacional e baixo impacto ambiental, de acordo com o comprometimento feito pelo país na COP 21 a solução, sem dúvida, é a geração nucleoelétrica.

Com a previsão de crescimento da economia para os próximos 10 anos, é vital que essa nova política energética comece a ser implementada. Em um cenário em que o crescimento econômico se dê de forma mais acelerada ou onde a retomada de alguns setores industriais ocorra de maneira mais acentuada, a demanda energética poderá responder de maneira bastante acentuada. Nesse caso poderá haver impactos pronunciados sobre os requisitos de oferta de energia para atender à demanda energética requerida.

Observe-se o alto percentual de participação hidráulica em termos de produção anual de energia. A hidroeletricidade foi priorizada no Brasil, desde a década de 60. O planejamento da expansão de oferta da energia elétrica começou pela exploração do potencial hidráulico disponível nas bacias hidrográfi cas das regiões sudeste, sul e nordeste, onde a infraestrutura para o seu aproveitamento era de mais fácil acesso, até chegar a esse elevado percentual.

O potencial hidroelétrico remanescente, além de situar em bacias hidrográfi cas mais distantes dos grandes centros de consumo, está, basi-camente, localizado na região amazônica, que apresenta pouca declividade com rios que se caracterizam como de planície. Neste sentido, torna-se difícil, planejar e construir grandes reservatórios de regularização plurianual nos rios da região norte, pela inexistência de locais adequados, sem implicar em áreas inundadas excessivas, com profundidades médias reduzidas.

Além disso, cresce a necessidade de utilização dos recursos hídricos para outros fi ns como: irrigação, pecuária, indústria (fabricação de pro-dutos alimentícios, de bebidas, produtos têxteis, produtos químicos e etc.) e o abastecimento humano; ou seja, onde não há alternativas causando uma maior restrição à utilização desses recursos para fi ns de produção de energia. Segundo a Agência Nacional de Águas em qualquer situação de crise hídrica o uso prioritário da água passa a ser para o consumo humano e o de animais, com importantes impactos na geração hidroelétrica.

Tendo como foco as energias renováveis, nos últimos anos a parcela de energia eólica cresceu na matriz energética brasileira. Em 2015, o Brasil foi o quarto País que mais cresceu na produção dessa energia no mundo. Esse crescimento acelerado, apesar de acrescentar energia renovável a matriz também tem causado estresse na operação do Sistema interligado de energia (feita pelo Operador Nacional do Sistema – ONS) devido à característica de intermitência dessa fonte juntamente com a falta de uma energia de base confi ável. Acrescentem-se aqui os problemas de instabilidade de frequência na rede.

Nos últimos anos também houve grandes investimentos na produção de energia solar. No segundo semestre de 2017, foram inaugurados no Brasil os dois maiores empreendimentos de energia solar da América Latina. Em janeiro de 2018, a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) anunciou que o país havia ultrapassado a marca de 1 gigawatt de capacidade instalada em projetos de energia solar em operação. No entanto o Brasil ainda esta reconhecidamente atrasado em relação ao setor fotovoltaico relativamente a outros países. Além disso, apesar do grande potencial de crescimento dessa fonte do Brasil, ela também possui a característica de variabilidade intermitência que causa instabilidade ao sistema energético brasileiro precisando da complementaridade de uma fonte mais confi ável como base.

No caso da presença da energia nuclear na matriz, o Brasil conta com 2 usinas em operação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em Angra dos Reis, localizadas estrategicamente entre Rio de Janeiro e São Paulo. As duas usinas são responsáveis pela produção de 1990 MW de energia limpa, o que corresponde a 30% do consumo de energia do Rio de Janeiro. Angra 2, com 1350 MW, poderia sozinha, atender o consumo de duas cidades do porte de Fortaleza e Porto Alegre. Com o início da operação de Angra 3 mais 11 milhões de megawatts-hora-ano serão acrescentados à rede elétrica brasileira, ou seja, energia sufi ciente para abastecer cidades como Brasília e Belo Horizonte durante um ano inteiro.

Em meio a todo esse processo de retomada de Angra 3, ainda temos o fato de que Angra 1 está licenciada a operar até 2024 precisando passar por uma extensão de vida útil para continuar garantindo o abastecimento de energia ao país, e posteriormente o mesmo acontecerá com Angra 2.

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De toda maneira não há como planejar a expansão de um sistema predominantemente hidroelétrico com défi cit zero de suprimento de energia. Contrariamente em um sistema térmico, o risco de défi cit de suprimento de energia é praticamente zero. Neste sistema a geração de energia dependerá, apenas, da disponibilidade de combustível, o que é previsível, desde que haja, evidentemente, capacidade de geração disponível.

Estes fatos mostram a necessidade de uma ampliação da participação térmica, operando em regime de base e com baixo custo operacional e reduzido impacto ambiental, na matriz de energia elétrica do sistema nacional, a fi m de proporcionar maior tranquilidade ao suprimento energé-tico. Convém salientar, entretanto, que o mix térmico existente hoje no país, além de insufi ciente é, em grande parte, inadequado para operação econômica em regime de base, tendo imposto pesado ônus à matriz energética brasileira neste momento de escassez hídrica, além de um signi-fi cativo impacto ambiental através da poluição atmosférica associada, o que não acontece com a termoelétrica nuclear.

O Brasil dispõe de recursos energéticos para realizar esta geração térmica de base através do carvão mineral do sul do país, gás natural e urânio. Cada uma destas fontes possui importantes características que justifi cam sua respectiva participação na composição da matriz de energia elétrica brasileira. A defi nição desses níveis, ao longo do tempo, é uma tarefa importante do processo decisório relativo ao Setor Energético, cuja escolha é fundamental para a defi nição da política energética a ser adotada no país.

O uso da tecnologia nuclear tem vantagens comparativas que justifi cam seu aumento de participação no mix energético brasileiro. As usinas nu-cleares do país são importantes para a segurança, economicidade e a confi abilidade da operação do sistema elétrico. Como já mencionado, essas usinas produzem eletricidade com alto fator de capacidade e baixo custo operacional, o mais baixo entre todas as fontes térmicas, contribuindo para baixar o custo total e, como consequência, a tarifa de energia elétrica. Ressaltando, a opção nuclear viabiliza, também, a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. As emissões advindas da fabricação de combustível nuclear são extremamente baixas.

O gráfi co 5 abaixo compara a emissão de gases de efeito estufa de diferentes fontes de energia.

Dadas as grandes reservas de urânio do país e o fato do Brasil controlar a tecnologia completa do ciclo do combustível nuclear, incluindo o enri-quecimento do urânio, o país também se benefi ciará do acréscimo do uso da geração nuclear sob o ponto de vista da independência energética, evitando que o Brasil possa vir a importar gás natural e carvão mineral. A comparação de custo entre as diversas fontes, incluindo as renováveis, desde que com os custos nivelados, apresentam vantagens competitivas para as novas tecnologias nucleares, previstas para serem construídas no Brasil, as reatores das gerações III e III+.

A diversifi cação da matriz cria condições necessárias para minimizar a dependência física e/ou climática da produção de eletricidade. Essa diver-sifi cação deve ocorrer a custos competitivos, que indica uma maior participação na construção de centrais nucleares, em função das inovações introduzidas com as novas tecnologias de reatores nucleares.

Grá� co 1 – Comparação de emissão de gases de efeito estufa por fonte de energia

A Matriz Energética Brasileira

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V. A Indústria Nuclear no Brasil e no Mundo

A energia nuclear passa atualmente por um momento de crescimento signi� cativo em sua aplicação. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA) em seu relatório anual ”World Energy Outlook”, a energia nuclear poderá crescer em 58% até 2040.

Para responder aos desafi os energéticos, a tecnologia nuclear se apresenta presentemente como uma tecnologia disponível, com tecnologia segura e sedimentada, sem emissão de carbono. A geração nuclear é capaz de gerar grandes quantidades de energia perto dos lugares de consumo para suprir as necessidades da sociedade em termos de qualidade, quantidade e confi abilidade.

Os riscos econômicos, sociais e ambientais das gerações energéticas são relevantes. Devido ao crescimento do consumo de energia em combi-nação com a escassez de fontes energética e restrições sobre as emissões de CO2, tornam o processo de escolha da fonte geradora de energia bem seletivo. A energia nuclear no mundo combina disponibilidade, segurança e é ambientalmente correta: portanto uma fonte de energia que cada vez mais deverá ser utilizada.

A matriz de energia elétrica mundial (base 2015) é fortemente dependente das usinas termelétricas: carvão, gás, óleo e nuclear totalizam 82% do atendimento da demanda global. Excluindo a nuclear (15%), verifi ca-se que a energia fóssil predomina com 67% da participação to-tal. Só o carvão é responsável por 41% desta matriz. As energias renováveis estão crescendo muito, porém a maior expansão vem das energias fosseis, poluentes. O gráfi co apresenta a comparação entre a as fontes geradoras e consumo mundial.

Grá� co 2 – Consumo de energia no mundo por fonte energética – 105 BTUs – Fonte “Energy International Agency”

Histórico Projeções

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A energia nuclear tem vantagens ambientais distintas sobre os combustíveis fósseis, podendo conter e gerenciar virtualmente todos os seus resí-duos sem causar qualquer tipo de poluição não controlável. Menos de 50% da produção de energia mundial pode ser considerada limpa.

Figura 4 – Emissões de CO2 por fonte de geração de energia elétrica – Toneladas equivalentes de CO2 por GWh gerado

Por outro lado, como já mencionado, a recomendação recente do IPCC 2014 sugere uma mudança radical nesta matriz, onde 80% do supri-mento de energia elétrica em 2050 deverão provir de um mix de energia elétrica de baixa emissão de carbono.Atualmente, o mundo possui 450 reatores nucleares para fi ns pacífi cos operando em 33 países e 50 em construção.

Dezesseis países dependem da energia nuclear para pelo menos um quarto do consumo de sua eletricidade. A França produz cerca de três quartos da sua eletricidade através da energia nuclear, enquanto a Bélgica, a República Tcheca, a Finlândia, a Hungria, a Eslováquia, a Suécia, a Suíça, a Eslovênia e a Ucrânia obtêm um terço ou mais. A Coreia do Sul e a Bulgária produzem mais de 30% de sua geração elétrica da ener-gia nuclear, enquanto os EUA, Reino Unido, Espanha, Romênia e Rússia quase um quinto é proveniente da energia nuclear. O Japão produzia mais de um quarto da sua eletricidade através da energia nuclear e deverá retornar a esse nível. Até países como a Itália e a Dinamarca, que não possuem usinas nucleares, importam cerca de 10% de sua energia consumida proveniente de geração nuclear.

O maior produtor mundial é os EUA, seguidos pela França e pelo Japão (em fase de retorno a operação de suas centrais), países que dependem muito dessa tecnologia para a manutenção de suas infraestruturas sócio-espaciais. Os franceses, por exemplo, contam com a energia nuclear para o suprimento de aproximadamente 75% de toda a eletricidade consumida no país.

As usinas nucleares produzem eletricidade com alto fator de capacidade e baixo custo operacional, o mais baixo entre todas as fontes térmi-cas, contribuindo para baixar o custo total e, como consequência, a tarifa de energia elétrica. Neste particular, a França, possuindo um sistema predominantemente nuclear na geração elétrica tem uma das menores tarifas a nível residencial da Europa como pode ser visto pelo gráfi co abaixo. Esses países benefi ciam-se de uma eletricidade barata, segura e não intermitente que traz um crescimento substancial.

A Indústria Nuclear no Brasil e no Mundo

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Gráfi co 3 – Tarifas de preço de eletricidade residencial para Europa – Fonte Eurostar H2

A opção nuclear viabiliza, também, a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que não são emitidos gases de efeito estufa pela sua operação. As emissões advindas da fabricação de combustível nuclear são extremamente baixas. O gráfi co a seguir apresenta as taxas de emissão de CO2 por KWh gerado, e novamente a França se torna um exemplo de um país europeu com larga geração nuclear e uma das menores emissões de CO2 na atmosfera.

Gráfi co 4 – Emissões de CO2 por KWh gerado em países da Europa – Fonte Eurostar H2

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Em 2017, 31 países operavam reatores de energia nuclear, o que gerou 2.476 TWh de eletricidade em 2017, representando um acréscimo de 1,4% acima do que foi gerado em 2016. Particularmente a China aumentou a sua produção nuclear de 36,6 TWh (+23 %). A fi gura a seguir apresenta globalmente o número de reatores em operação e a capacidade líquida de geração de energia elétrica desde o início da operação dos reatores até hoje.

Figura 5 – Reatores em operação e a capacidade líquida de geração de energia elétrica (1954 até 2017)

Nos anos de 2016/2017, ganhou força a necessidade urgente de aumentar a capacidade de geração mundial, tanto para substituir antigas unidades de combustíveis fósseis, especialmente as de carvão que contribuem com alta emissão de CO2, quanto para atender as maiores necessidades de eletricidade em muitos países. Existe demanda para novas plantas de geração, com diferenciadas capacidade. As unidades geradoras consideradas como “energia limpa”, onde se posiciona a geração nuclear, terão prioridade em atender essa demanda. A fi gura 8 apresenta globalmente por países a situação dos reatores nucleares planejados, em construção, em operação e a serem desligados.A próxima fi gura apresenta a expansão/contração anual do número d novos reatores, comparando reatores conectados verso reatores desli-gados desde o início da geração nuclear,

Figura 6 – Quadro global atual da situação dos reatores nucleares planejados, em construção, em operação e a serem desligados

A Indústria Nuclear no Brasil e no Mundo

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Figura 7 - Expansão/contração anual do número de reatores, comparando reatores conectados versus reatores desligados desde o início da geração nuclear

Em 2016 - assim como em 2015 - dez reatores nucleares foram conectados a rede elétrica internacional. Isso representa, desde 1990, as maio-res entradas de geração nuclear na rede elétrica internacional. Em 2016, a geração nuclear aumentou em 15 países, diminuiu em 12 e mante-ve-se estável em quatro. Sete países (China, Hungria, Índia, Irã, Paquistão, Rússia, África do Sul) alcançaram sua maior produção nuclear em 2016. Países como a China, Índia, Paquistão e Rússia conectaram novos reatores a rede. Pode-se constatar a expansão da geração de energia nuclear e construções de novas usinas principalmente nos países em desenvolvimento. Pela fi gura apresentada e os dados acima podemos concluir, que exceto em 2011 quando os reatores japoneses tiveram que ser desligados (em fase de retorno atualmente), a comunidade inter-nacional vem experimentando um aumento da utilização de reatores nucleares representando uma tendência mundial pela opção nuclear.Com o crescimento global do consumo energético, muitos esforços têm sido feitos para aumentar a oferta de energia, com a energia nuclear se confi gurando como uma das mais confi áveis taxas de geração elétrica. 45 países, que não possuem tecnologia nuclear, expressaram junto a AIEA seu interesse nesta questão, para a construção de reatores e/ou desenvolver uma indústria neste sentido.

Grá� co 5 – Consumo de eletricidade/per capita: comparação internacional

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Com o desenvolvimento e crescimento econômico, o Brasil tende a alcançar níveis de consumo de eletricidade/ per capita de países desen-volvidos. Estamos ainda bem abaixo dos valores médios de países desenvolvidos, existindo no Brasil uma demanda reprimida no consumo de energia elétrica. A energia nuclear deve ser uma parte da solução para responder a esse desa� o.

Empresas e nações que desenvolvem a energia nuclear têm programas para aumentar signifi cativamente o número de suas usinas nucleares até 2050, aumento esse que representaria cerca de 25% da eletricidade mundial.

Além dos fatores já mencionados, muitos governos consideram a ampliação internacional da energia nuclear uma alternativa às oscilações do preço dos produtos energéticos, além de ser uma proteção à incerteza sobre os combustíveis fósseis.

O crescimento econômico, a prosperidade e o aumento da população estão levando inevitavelmente ao aumento do consumo de energia. O mundo muda a cada dia com os desenvolvimentos da tecnologia, as alterações climáticas e a energia trazendo novos desafi os e novas opor-tunidades. A demanda energética mundial indica claramente a necessidade de crescimento da capacidade de geração de energia elétrica e se considerarmos a energia nuclear a construções de usinas nucleares. A geração de energia nuclear é uma parte essencial da solução para proteger as futuras gerações.

Em dezembro de 2015, o acordo de Paris consolidou anos de negociações com um acordo entre 188 países para limitar as emissões de dióxido de carbono. Muitos países estão impulsionando ativamente o crescimento de seus planos de produção de energia nuclear para cumprir os compromissos assinados.

Além disso, em longo prazo, a tendência de urbanização e aumento nos padrões de vida em países menos desenvolvidos vai aumentar muito a demanda por eletricidade, especialmente, a fornecida por geração de energia de base, como nuclear. Expandir a oferta de energia elétrica e simultaneamente reduzir os efeitos das mudanças climáticas é o desafi o que se apresenta aos formu-ladores de políticas energéticas. Esses desafi os exigem investimentos consideráveis no mundo inteiro.

Tratando-se de elemento motriz da área nuclear, a geração nuclear termoelétrica é com certeza a que movimenta a maior parcela de recursos da área nuclear e será aqui considerada inicialmente.

1) A Geração Núcleo-Elétrica

Como todos desejamos, espera-se para os próximos anos uma volta signifi cativa ao crescimento da economia brasileira. Isso certamente demandará um aumento da demanda de energia e consequente aumento da capacidade brasileira de geração elétrica, a forma mais comum de uso da energia. Observando o cenário mundial com outra perspectiva, devido ao desenvolvimento tecnológico e modernidade, tem-se cada vez mais utilizado da energia elétrica no benefício da sociedade. Temos vários exemplos, mas apenas como efeito ilustrativo, podemos citar que em um futuro próximo teremos a substituição dos motores de combustão utilizados nos meios de locomoção (carros, etc.) por carros elétricos, mais efi cientes e menos poluentes, o que certamente aumentará o consumo de energia elétrica.

Portanto, baseados neste e em outros exemplos, no Brasil, um país em desenvolvimento, é de se esperar um crescimento contínuo por déca-das da utilização da energia elétrica sendo essa fornecida por suas diversas maneiras de geração.

Consideramos que a energia nuclear tem papel certo e signifi cativo no futuro do Brasil. Não só porque a energia nuclear se enquadra nas chamadas Energias Limpas, “Clean Energies”, como também o fato de que o nosso país dispõe de abundância de materiais nucleares físseis e férteis (principalmente urânio em seus diversos elementos) para geração além de ser possuidor de tecnologia nuclear para transformá-lo em eletricidade.

A Indústria Nuclear no Brasil e no Mundo

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Portanto deixemos que os especialistas técnicos, econômicos, políticos e sociais decidam, com base e conhecimento, qual a porcentagem de participação da fonte nuclear teremos na nossa matriz de geração elétrica. Consideramos certo que geração elétrica nuclear terá sua participação, pois o Brasil, estratégica e economicamente, não pode abrir mão dessa riqueza mineral que possui e da capacidade tecno-lógica que domina.Tendo isso em conta, se analisarmos o tamanho da geração núcleo-elétrica no Brasil vemos que ela ainda se encontra em seus estágios ini-ciais, mesmo o país possuindo capacidade para implementá-la de maneira mais efi ciente e rápida.

Nos governos passados várias tentativas foram feitas de se aprovarem planos onde se apresentavam melhores perspectivas para energia nuclear. De uma forma ou outra, o previsto no planejamento sempre foi muito mais promissor do que o que se concretizou na prática. O que temos em realidade é a implantação de um reator nuclear a cada aproximadamente 20 anos (uma geração).

É preciso se estabelecer uma diretriz que permita um desenvolvimento contínuo e sustentável da geração núcleo-elétrica. Ela deve estar em consonância com o que for decidido sobre a participação do setor nuclear na matriz energética. As decisões e planejamentos passados não se mostraram exitosos para prover continuidade ao setor.

A decisão fi rme e contínua do novo governo em relação à área nuclear é imperativa para o desenvolvimento do nosso país nessa área tão sen-sível. O Brasil possui todos os requisitos , inclusive o desenvolvimento estratégivo tecnológico sufi ciente para ter um programa núcleo-elétrico forte, consistente e exitoso, o que nos ajudará no caminho de ser uma nação forte e independente.

Como mencionado, os atores do setor nuclear e mesmo os representantes do governo formularam em diferentes momentos proposições de programas nucleares mais ou menos audaciosos e que não se concretizaram totalmente. Pensamos ter chegado o momento de propor uma linha que é mais conservadora, porém factível, e que poderá ser ajustada caso cenários mais promissores se apresentem ao longo do tempo.

Note-se que muitos estudos de renomadas instituições, como por exemplo, a FGV, indicam cenários mais arrojados baseados em necessidades futuras de nossa matriz energética. Esse crescimento de produção de energia elétrica é base para o crescimento da economia brasileira.

É importante também ressaltar o ganho do nível de desenvolvimento econômico com o estabelecimento desse programa, especialmente nas regiões onde essas novas unidades nucleares forem implantadas. Novas cidades, novas comunidades, milhares de empregos, melhorias nos agentes de educação e oportunidades serão geradas. Eleva-se assim o nível técnico e tecnológico do país melhorando os índices de desen-volvimento internacional.

O próximo Governo deverá tomar a decisão sobre o Programa Nuclear de Geração Núcleo-elétrica já no início de 2019, prazo que poderá via-bilizar a entrada em operação das primeiras novas usinas nucleares do país a partir de 2028. Salienta-se que a iniciativa privada está pronta para prover todo suporte necessário ao Estado Brasileiro na tomada dessa decisão, incluindo a possibilidade de desenvolver e implantar em um novo modelo para construção e operação das novas usinas, que inclua aporte de capital privado, a exemplo de modelos utilizados em outros países e em outros empreendimentos de infra-estrutura no Brasil.

Para execução das duas ações acima apresentadas são necessárias políticas, planejamento e desenvolvimentos de modelos como abaixo descritos.

A) Demanda de Novas Usinas Nucleares

A sociedade mundial demanda modifi cações substanciais na forma de produzir energia elétrica. Combustíveis como carvão, óleo e gás, em-bora atualmente de maior produção na matriz mundial (ver página 13) devem ser reduzidos paulatinamente e energias renováveis têm o seu crescimento demonstrado nas recentes ações. Permanecem as recomendações do Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) - 2014 que sugerem que 80% do suprimento de energia elétrica em 2050 sejam provenientes de um mix de energia elétrica de baixa emissão de car-bono, ou seja: as renováveis; a energia nuclear; a energia fóssil com tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS) e a bioenergia.

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De acordo com a World Nuclear Association (WNA) - 2017 o mundo tem 403 usinas nucleares em operação, está construindo 72 novas usinas e discute mais três centenas de propostas de novos reatores, muitos dos quais para entrarem em operação antes de 2030. Esses dados confi -guram de� nitivamente a opção nuclear como um dos grandes participantes no cenário energético mundial para os próximos anos.

A visualização da matriz de energia elétrica brasileira para 2040 ou 2050 (Fonte Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, FGV-SP) mostra um novo perfi l de composição das fontes de energia. A hidroeletricidade, embora ainda possa crescer em GWH gerado, terá um percentual menor na matriz. Renováveis e nuclear devem crescer percentualmente com redução da produção por carvão e óleo.

No PNE para 2030 (Plano nacional de Energia), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foi estabelecida a necessidade de mais 4 usinas nucleares (além de Angra 1, 2 e 3) totalizando a entrada de mais 5300 MW de geração nuclear. Embora a EPE não tenha ainda divulgado o perfi l da matriz energética brasileira para 2050, considerando atualizações até 2018 e estimativa de crescimento econômico, é certo que a fonte nuclear será contemplada com 4 ou mais unidades nucleares. Isso signifi ca um acréscimo na capacidade de geração nuclear maior que 5300 MW, correspondendo a entrada em operação de Angra 3 e de pelo menos quatro novas usinas nucleares na faixa de 1.000MW, operando com um fator de capacidade médio de 85 %.

Portanto, o Brasil terá que colocar em operação pelo menos 4 novas usinas nucleares em 30 anos, contados a partir de 2020. Para atingir esta meta, em 2050, será necessário que entre em operação 1 usina nuclear a cada 7,5 anos.

Portanto planejar para o Brasil a entrada de 4 centrais nucleares pode ser considerado um plano bastante conservador e sem ufanismos. A germinação e conclusão do empreendimento de uma central nuclear dura aproximadamente 10 anos. Esse tempo pode ser reduzido caso sejam construídas mais de uma central em um mesmo sítio.

Para uma nova usina nuclear entrar em operação em 2028 será necessário que a decisão seja tomada imediatamente no início do novo governo, em 2019. A decisão de se implantar um conjunto de novas usinas, no presente documento sugerido, deve olhar os anos futuros ao interstício do governo eleito (pós 2022), visualizando-se o programa como um todo.

Isto permitirá a reestruturação do modelo atualmente adotado e também modifi car a estrutura dos órgãos do setor a melhor adequar suas participações nesse novo modelo. A indústria nacional e provedores internacionais estão prontos a participar, e, quanto mais fi rme for a defi nição do programa melhores serão as condições de negociação e contratação dessas novas usinas.

Permitirá também que todos os agentes envolvidos, inclusive a instituições de licenciamento e fi scalização, formação de pessoal, etc., possam se estruturar adequadamente.

Com relação à garantia de combustível, embora seja necessária alguma reestruturação nos agentes do setor, a situação é bastante incentivadora para um programa desse formato pois o potencial uranífero do país – para combustível – é bastante confortável ao considerarmos as reservas conhecidas atuais (6ª reserva mundial), tendo prospectado apenas 25% do território brasileiro, e as perspectivas de novas descobertas. Portanto, a posição brasileira é tranquila em relação ao suprimento de combustível para esse programa e para sua expansão futura. Esta vantagem estra-tégica é fundamental para a independência energética do país, evitando importações de outros energéticos como carvão mineral e gás natural.

Outro fator importante é a característica da geração núcleo-elétrica ser de operação em base o que combina perfeitamente com os investi-mentos que têm sido feitos em geração através de energias renováveis (Eólica, Solar, etc..), trazendo fl exibilidade e estabilidade ao sistema de geração e distribuição de energia elétrica.

O Governo brasileiro terá que assumir um papel ativo trabalhando em conjunto com todos os interessados a fi m de ultrapassar obstáculos e obter os resultados pretendidos. Neste sentido cabe destacar que um comprometimento claro e estável em relação à energia nuclear, como parte da estratégia nacional e para cumprimento da política energética a ser defi nida, é um pré-requisito fundamental para o sucesso de um programa nu-clear, como pode ser observado em países com programas nucleares exitosos como Coréia do Sul, China, Índia, Rússia, França, Estados Unidos, etc.

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Para as novas centrais nucleares, algumas iniciativas já foram realizadas pela Eletrobrás Eletronuclear, como o estudo de viabilidade e ade-quação de novos sítios para a escolha dos locais onde deverão ser instaladas as unidades do programa. Todos esses sítios candidatos foram selecionados vislumbrando a construção de mais de uma unidade de reatores em cada um deles.

Figura 8 – Vista do sítio de de uma Central Nuclear com 2 reatores

2) O uso social da Energia Nuclear O desenvolvimento da tecnologia nuclear e suas aplicações vem há muitos anos sendo um dos principais objetivos dos nossos governos, permitindo que o Brasil desenvolvesse e dominasse, a nível de países desenvolvidos, processos e técnicas da área nuclear.É importante mencionar que o domínio do ciclo do combustível nuclear desde a prospecção do minério até a produção do combustível nu-clear para as usinas núcleo-elétricas é primordial para o fortalecimento e independência do programa gerador de energia. Dentro desse ciclo salientamos o enriquecimento isotópico do urânio, tecnologia que pouco países têm o domínio.

O domínio da tecnologia nuclear permitiu também ao país a incursão em programas mais ambiciosos, como o do desenvolvimento do submarino nuclear pela Marinha do Brasil. A cada dia, novas técnicas nucleares são desenvolvidas nos diversos campos da atividade humana, possibilitando o alcance de objetivos que difi cilmente podem ser realizados por outras técnicas não nucleares. A medicina, a indústria, particularmente a farmacêutica, e a agricultura são as áreas mais benefi ciadas. Os isótopos radioativos ou radioisótopos, de-vido à propriedade de emitirem radiações, têm vários usos. As radiações podem atravessar a matéria ou serem absorvidas por ela, o que possibilita outras múltiplas aplicações.

Nesse campo citamos os mais importantes:• Traçadores radioativos com aplicações em geologia e estudos de ciências;• Medicina Nuclear - é a área da medicina onde são utilizados os radioisótopos, tanto em diagnósticos como em terapias. Os chamados ra-diofármacos são usados em diversos procedimentos médicos. Por exemplo, os mapeamentos (diagnósticos por imagem com contraste por elemento nuclear) de diversos órgãos: cintilografi as renal, cerebral, hepato-biliar (fígado), pulmonar, óssea e de placenta; diagnóstico de doenças coronárias diversas e em estudos circulatórios. Além disso, de procedimentos de cura e mitigadores da dor como o caso de pacientes com metástase;• Radioisótopos para aplicações na agricultura;• Aplicações na Indústria. A aplicação de radioisótopos mais conhecida na indústria é a radiografi a de peças metálicas ou gamagrafi a indus-trial. Empregada em larga escala em indústria aeronáutica (fadiga).

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O fortalecimento do programa nuclear no Brasil, cujo componente de maior expressão, considerado aspectos fi nanceiros, é o da geração núcleo-elétrica, permite que na sociedade se crie condições e competências que aumentam as aplicações nucleares em outros setores.

3) Série Histórica de Empregos

A energia nuclear também traz um crescimento importante da cadeia produtiva devido a investimentos nos locais da implan-tação das centrais nucleares, da indústria fornecedora dos equipamentos e sistemas e de serviços especializados de construção, operação e manutenção que permitem o desenvolvimento econômico e do mercado de trabalho com empregos qualificados.

Cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos são criados por cada 1000 MWe de capacidade nuclear construída, de acordo com um novo estudo da Agência de Energia Nuclear da OCDE (NEA) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os números são um relatório conjunto intitulado Medição do Emprego gerado pelo Setor de Energia Nuclear.. As conclusões do relatório foram anunciadas pelo Geoffrey Rothwell, da NEA, no Simpósio da Associação Nuclear Mundial (WNA).

Durante a preparação do local e a construção de um reator típico de 1000 MWe, há cerca de 12.000 novos empregos durante a construção, disse Rothwell. Em seguida, durante 50 anos de operação, anualmente há cerca de 600 funcionários adminis-trativos, operacionais e de manutenção e funcionários contratados permanentemente. Após a operação vem o desmantela-mento, para o qual há cerca de 500 funcionários por ano ao longo de um período de dez anos. Finalmente, durante 40 anos, há cerca de 80 funcionários que gerenciam resíduos radiativos. Além disso, o estudo colocou o emprego indireto na cadeia de fornecimento nuclear.

O trabalho foi feito em colaboração com funcionários da Areva, do Centro de Estudos de Energia Avançada (Idaho, EUA), do Secretariado do Fórum Internacional da Geração IV, do Instituto Coreano de Pesquisa em Energia Atômica (KAERI), do Instituto de Energia Nuclear dos EUA, do Grupo de Estratégia PriceWaterHouseCoopers , O Instituto Central de Rosatom e a Universidade de Stuttgart.

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Figura 9 – Aplicações nucleares na medicina. Diagnósticos por imagem

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Outra comprovação desse tema são os estudos realizados na construção de novos reatores na Inglaterra - Hinkley Point - mostram que a in-dústria nuclear proporciona um desenvolvimento local importante. A fi gura apresenta a demanda de profi ssionais qualifi cados nas diversas fases de implantação de uma central nuclear. Alem disso, os empregos criados são mais qualifi cados, com solicitação de educação, experiên-cia e treinamento específi cos que em cadeia proporcionarão mão-de-obra com melhores e maiores qualifi cação e remuneração.

Figura 10 – Demanda de pro� ssionais quali� cados nas diversas fases de implantação de uma central nuclear – Fonte EDF

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A cadeia produtiva do setor nuclear movimenta, anualmente, recursos da ordem de US$ 250 bilhões em escala global, considerando desde a etapa inicial de mineração do urânio até a produção de energia elétrica nos reatores de potência, além dos investimentos na implantação de novas cen-trais nucleares, já em construção.

Dono da sexta maior reserva de urânio do mundo, o Brasil fez parte do grupo de países que apoiou a criação da Agência Internacional de Energia Atômica, em 1957, logo após ter iniciado suas atividades no setor nuclear no ano de 1956, com a Criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Embora domine todas as etapas do ciclo do combustível nuclear, inclusive aquela que é tratada como segredo industrial pelos outros 12 países que a possuem, no caso a de enriquecimento isotópico, o Brasil ao contrário desses países, não participa dessa cadeia produtiva internacional, na qual poderia atuar de igual para igual, caso nosso programa nuclear não tivesse sofrido tantas interrupções ao longode mais de cinco décadas de existência.

As reservas de urânio atualmente conhecidas no território nacional permitiriam o funcionamento de 12 usinas nucleoelétricas, com uma capacida-de de geração de energia equivalente a uma usina de Itaipu operando pelos próximos 80 anos, ou seja, com nossa necessidade de abastecimento garantida até o � nal do século.

A implantação desse parque gerador implicaria em um montante de investimento na casa dos R$ 80 bilhões, dos quais entre 70% e 80 % atendidos pela indústria nacional, além de um volume de contratações anuais em torno de R$ 10 bilhões para o fornecimento de insumos, equipamentos, sistemas, componentes, peças de reposição e serviços técnicos, os quais demandariam mão de obra especializada e uma geração de empregos de dezenas de milhares de postos de trabalho, em especial nas localidades onde seriam instaladas as centrais nucleares e as plantas de produção do ciclo do combustível.

O Brasil já possui um parque industrial com potencial tecnológico para atender a esta demanda por produtos e serviços. As etapas de mineração e benefi -ciamento de urânio são realizadas pela Indústrias Nucleares do Brasil S.A.– INB, assim como a de fabricação dos elementos combustíveis, produzidos em sua planta localizada na cidade de Resende. A operação das usinas fi ca a cargo da Eletronuclear (ETN) que opera a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, instalada na cidade de Angra dos Reis. Parte dos componentes adquiridos por essas unidades é fornecida pela Nuclep que possui uma planta de caldeiraria pesada localizada na cidade de Itaguaí, também no Estado do Rio de Janeiro.

Dentro de um horizonte de retomada do Programa Nuclear Brasileiro, essas plantas industriais funcionariam como polos catalizadores para odesenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional. Estamos falando de um programa de mobilização industrial, impulsionado por um aporte contínuo de recursos, que fl uiria por intermédio de uma rede capilar de pequenas e médias empresas, promovendo o desenvolvimento de centenas de polos produtivos municipais, distribuídos em vários pontos do território nacional. Isso foi o que aconteceu, por exemplo, com a Coréia do Sul e vem acontecendo, neste momen-to, com nosso vizinho, a Argentina, países que iniciaram seu programa nuclear à mesma época que o Brasil.

Mas, para que esse potencial se converta em resultados concretos alguns tabus do modelo econômico brasileiro precisam ser quebrados. Por exem-plo, a vedação à participação da iniciativa privada nas atividades econômicas do setor.

O modelo de desenvolvimento industrial por intermédio do monopólio estatal está exaurido, e o Brasil já experimentou os resultados positivos dessa mudança em vários outros setores de atividade.

Outro tabu refere-se ao questionamento quanto à sustentabilidade da geração termonuclear. Os dados atuais demonstram que usinas nucleares são tão ou mais sustentáveis do que as plantas eólicas ou solares, em qualquer um dos três aspectos por onde se queira analisar, quer seja o am-biental, o social ou o econômico.

O terceiro tabu, talvez o mais difícil de superar, é quanto ao preconceito em relação às atividades do setor nuclear. Esse preconceito está presente não somente em boa parte da população, mas também em muitos de nossos representantes políticos, em nossos administradores públicos, em membros dos órgãos de controle, que muitas vezes se deixam infl uenciar por movimentos internacionais, quando deveriam ser os primeiros a buscar um esclare-cimento correto quanto a essa opção tecnológica para compor nossa matriz energética. Para superar esses tabus, cabe às instituições que atuam no setor promover ações de esclarecimento, de divulgação e de discussão, a fi m de mostrar que o país tem capacidade científi ca, técnica, industrial e intelectual para explorar de forma segura, econômica e responsável esse potencial de desenvolvimento colocado à disposição da sociedade brasileira.

VI. Cadeia da Indústria Nuclear

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1) Angra 1 e Angra 2

A UTN Angra 1 e a UTN Angra 2, nuclear, estão localizadas no município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, subsistema Sudeste/Centro-Oeste. A fi gura a seguir, ilustra a localização geoelétrica das duas usinas.

Na Tabela a seguir, são apresentadas algumas das principais características físico-operativas das UTNs Angra 1 e Angra 2, podendo-se obser-var que além das altas infl exibilidades, totalizando 1.600 MWmed, custos variáveis (CVU) inferiores a 30 R$/MWh, tornando estas usinas uma das fontes mais atrativas dos SIN quando considerado sua operação contínua.

VII. Situação das Usinas de Angra

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Como a produção destas usinas termonucleares é disponibilizada diretamente no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que possui a maior carga do SIN, estas usinas contribuem para evitar congestionamentos nas interligações entre subsistemas. A geração máxima total, da ordem de 1.750 MWmédios, é sufi ciente para atender a aproximadamente 2,5% da carga do SIN e mais de 4,3% da carga do Sudeste/Centro-Oeste no ano de 2019. A operação das UTNs Angra 1 e Angra 2 durante um mês corresponde a 0,9% da energia armazenável máxima do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o que em base anual corresponde a um acréscimo de 10,3% EARmáx na energia armazenável deste subsistema. Adicionalmente, considerando-se a base de dados e as informações dos estudos de médio prazo do Programa Mensal de Operação – PMO de outubro de 2017, foi realizada simulação com o modelo NEWAVE, em sua versão 23, para avaliação do impacto da não disponibilidade das UTNs Angra 1 e Angra 2 no ano de 2019. A tabela a seguir apresenta o valor esperado do custo total de operação para o cenário que considera a suspensão da operação das usinas de Angra 1 e Angra 2 em 2019, assim como sua variação em relação ao cenário em que essas usinas estão disponíveis ao longo de todo o horizonte de estudos (caso PMO de outubro de 2017). O custo total de operação corresponde a soma dos custos esperados de geração térmica e energia não suprida valorizada ao custo do défi cit, no período 2017-2021, referenciados ao valor presente, de outubro de 2017.

Observa-se na tabela, anterior, que caso as UTNs Angra 1 e Angra 2 não estejam disponíveis para a operação em 2019, o valor esperado do custo total de operação sofre uma elevação de R$ 1,4 bilhão, o que corresponde a um acréscimo de 5,1% em relação ao caso base. A Figura a seguir apresenta a evolução dos Custos Marginais de Operação (CMOs) médios mensais dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste para os dois cenários avaliados.

Observa-se na fi gura, a elevação nos valores do CMO do subsistema Sudeste/Centro-Oeste por uma possível suspensão da produção de energia nas UTNs Angra 1 e Angra 2 ao longo do ano de 2019. O impacto é decrescente ao longo do horizonte de análise, sendo a maior variação em termos absolutos,66 R$/MWh, verifi cada no primeiro mês do estudo. Por todos os motivos apresentados, é possível afi rmar que as UTNs Angra 1 a Angra 2 têm papel fundamental no atendimento energético ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste e ao SIN no ano de 2019.

Situação das Usinas de Angra

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2) Angra 3

A UTN Angra 3, possui capacidade instalada de 1.405 MW e está sem previsão para entrada em operação no horizonte do planejamento da operação.Localizada no município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, irá integrar o complexo da Central Nuclear Almirante Álvaro Al-berto, que inclui a UTN Angra 1 (657 MW), em operação, e a UTN Angra 2 (1.350 MW), também em operação.

A fi gura a seguir, ilustra a construção da Usina Angra 3.

A potência instalada de Angra 3, 1.405 MW, corresponderia a 0,9% da capacidade instalada no SIN, e 4,5% da capacidade instalada em termoelétricas em 31/12/2016. Com a expansão da oferta de geração prevista no PEN 2016, em 2020 esses percentuais passariam, respectivamente, para 0,8% do SIN e 4,1% da capacidade termoelétrica total.

Como a produção de Angra 3 será disponibilizada diretamente na Região Sudeste, que possui a maior carga do SIN, esta usina contri-buirá para evitar congestionamentos nas interligações entre subsistemas. Sua geração máxima, superior a 1.200 MWmédios, é sufi ciente para atender sozinha a aproximadamente 1,8% da carga do SIN e mais de 3,2% da carga do Sudeste no ano de 2021.

A operação da UTN Angra 3 durante um mês corresponde a 0,6% da energia armazenável máxima da Região Sudeste, o que em base anual corresponde a um acréscimo de 7,2% da energia armazenável máxima desta região.

Os benefícios elétricos trazidos pela usina são, por exemplo:• Alívio do carregamento do sistema de transmissão da área Rio de Janeiro e Espírito Santo;• Melhoria do controle de tensão e melhor desempenho dinâmico do sistema• Diminuição do risco de corte de carga na área, principalmente em situações de contingências duplas;• Condições mais adequadas para realização de manutenções na malha de transmissão e no parque gerador mesmo nos períodos de verão quando as condições de atendimento ao RJ/ES são mais desfavoráveis; e

Situação das Usinas de Angra

Figura 11 – Vista do sitio de Angra 3 – Angra dos reis - RJ

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Cabe destacar que a presença da usina de Angra 3 permitirá, também, mesmo na ausência da usina de Angra 2, que seja suportada a perda simultânea de quaisquer dois circuitos de 500 kV do sistema de transmissão de suprimento à área, sem corte de carga.

Após o período de quase uma década, posterior a Angra 2 entrar em operação, teve início a retomada efetiva do empreendimento Angra 3, em 2010, com as licenças ambientais da CNEN e IBAMA . Em meados de 2014, poucos poderiam prever que esse empreendimento sofreria um revés tão grande. Nessa época, antes do início do governo que agora se fi nda, se tinha uma previsão de término do empreendimento em 2018. Era tanta a certeza do término desse empreendimento, que mesmo a ABDAN não via problemas de fundo e não elencava propostas relevantes de ações para permitir seu término.

Devido a acontecimentos de natureza política e institucional dos quais todos temos conhecimento, entramos em um vácuo de decisões sobre o empreendimento. Isto foi agravado pelo modelo econômico de defi nição de sua tarifa vigente. A redefi nição do valor desta tarifa, que atualmente se discute, é necessária para tornar o empreendimento viável.

Enfretando a cobrança do custo do fi nanciamento já disponibilizado e valores reduzidos da tarifa de Angra 3, a Eletronuclear vem sofrendo impactos altíssimos.

Em paralelo, vem se analisando modelos para solução do empreendimento saindo do modelo com participação única do estado, que atual-mente não possui recursos disponíveis para fi nanciar a conclusão do empreendimento.

O governo e os representantes políticos, dirigentes, congressistas, associações, etc., têm trabalhado ou opinado nesse modelo. Porém é ne-cessário o aceleramento dessas decisões para a preservação das partes já construídas do empreendimento, mesmo com a medidas de conser-vação mitigadoras aplicadas pela ETN, bem como para a recuperação da saúde econômica da ETN que vem se degradando com o pagamento do serviço dos empréstimos, e também a manutenção de profi ssionais altamente qualifi cados.

A nova modelagem para prosseguimento de Angra 3, conjuntamente com o ajuste da tarifa, virá a permitir a retomada das obras. É intenção da ETN assinar no ano que vem o contrato de parceria com um investidor privado para conclusão das obras de Angra 3. Para que esse modelo possa ser apresentado e discutido com os potenciais parceiros, é preciso que ela seja validado pela Eletrobrás e pelo Governo.

Portanto precisam-se de ações imediatas tais como:

1) Resolução da condição econômica do empreendimento (tarifa) e consequente aprovação de condições extraordinárias (jurídicas e admi-nistrativas) que permitam a ETN desenvolver o seu trabalho de maneira efi caz e segura;

2) Defi nição urgente do modelo que, com sua aprovação, permita a ETN tomar as medidas para sua implementação (defi nição de parceiros, estabelecimento de responsabilidades, etc.);

3) Estabelecimento de metas fi rmes para sua conclusão, incentivando os responsáveis pelo empreendimento, os investidores e os parceiros necessários ao um empreendimento desse porte.

Situação das Usinas de Angra

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Ao lado dos Estados Unidos e da Rússia, o Brasil faz parte do seleto grupo de nações que possui urânio e domina o ciclo do combustível nuclear, de modo autossufi ciente, para a geração de energia elétrica. Os outros países ou têm a tecnologia ou a matéria-prima, mas não as duas juntas. Além dos três citados, somente mais oito Estados nacionais completaram o ciclo tecnológico do enriquecimento do urânio – mas estes dependem da importação do minério.

Em breve, contudo, é provável que o Brasil seja expelido do topo dessa lista e assista ao completo abandono do seu programa nuclear, que enfrenta uma dramática crise de fi nanciamento há cerca de três anos.

De fato, a situação fi nanceira da Eletronuclear é crítica devido à falta de renovação do seu empréstimo junto ao BNDES para a construção da usina de Angra 3. O Banco está exigindo que a empresa assuma encargos da ordem de R$ 30 milhões por mês antes de a própria usina gerar receita, comprome-tendo o fl uxo de caixa da Eletronuclear e o pagamento a fornecedores.

A paralisação das obras de Angra 3, com o consequente risco de que não entre em operação, poderá agravar a crise do setor elétrico brasileiro. A usina poderia agregar quase 1.500 MW à oferta de energia num momento em que se registram baixos níveis de armazenamento nos reservatórios das hidrelétricas.

O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, com potencial para ser o primeiro desse ranking. Com minério de sobra, o país fez, a partir do fi m da década de 1970, um notável esforço tecnológico de enriquecimento do urânio, por meio de centrífugas, que surpreendeu o mundo.

Portanto, o Brasil tem matéria-prima e tecnologia para galgar a posição de player no mercado global, segundo o pesquisador. São mais de 400 usinas nucleares no mundo com necessidade de manutenção e abastecimento de urânio.

É um mercado que movimenta mais de U$ 20 bilhões, restrito a cerca de cinco países, e que envolve o fornecimento de componentes e de matéria-prima para as usinas.

Mas, além das vantagens econômicas que pode proporcionar ao Brasil, o programa nuclear tem outro viés, relacionado à defesa do Estado e da soberania nacional. O submarino nuclear tem uma importância geopolítica estratégica, já que o país tem uma costa extensa, onde há petróleo e minerais valiosos que podem ser explorados. Vale lembrar que o Brasil é o único país do mundo que tem um artigo na Constituição que proíbe o uso da energia nuclear para fi ns militares.

Além do submarino nuclear – que deverá fi car pronto em 2029, com atraso de quatro anos devido à falta de recursos –, o programa prevê a construção de mais quatro submarinos convencionais, devendo o primeiro deles ser lançado no início do ano que vem.

Hoje, a tecnologia voltada para o submarino nuclear, com enriquecimento do urânio a 20%, está sendo desenvolvida no Centro Experimental Aramar, em São Paulo. Na parte civil, o enriquecimento está limitado a 5% e o enriquecimento acima desses valores, atualmente em 20%, se destina a subma-rinos nucleares ou a reatores para pesquisa.

A sociedade, de modo geral, ouve falar em energia nuclear apenas quando ocorrem grandes acidentes em reatores de usinas, mas desconhece o seu uso em áreas como a indústria, a medicina e a agricultura, entre outras. São aplicações do dia a dia estabelecidas e socialmente aceitas, mas a principal delas é mesmo a geração de energia elétrica – hoje, 16% da energia elétrica gerada no mundo vêm das usinas nucleares.

VIII. A Indústria Nuclear Precisa se Fortalecer

Figura 12 - Réplica do submarinonuclear brasileiro.

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IX. Propostas

1

2

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5

6

7

Apresentamos, com base nos dados do presente relatório, as seguintes proposta:

A solução imediata da retomada de Angra 3 e sua conclusão num período de no máximo 6 a 8 anos;

Adoção definitiva da energia nuclear no planejamento da matriz energética e seu reconhecimento como fonte de energia limpa;

A inclusão no plano plurianual de longo prazo da EPE (o PNE 2050), com o alcance de 30 anos, da entrada de mais 4 reatores nucleares. A germinação e conclusão do empreendimento de uma central nuclear dura aproxi-madamente 10 anos. Esse tempo pode ser reduzido caso sejam construídas mais de uma central em um mes-mo sítio. O que resultaria na possibilidade de redução das tarifas ao consumidor.

Criação de um Programa de Estado evidenciando o comprometimento claro e estável do novo governo em relação à energia nuclear, como parte da estratégia nacional e para cumprimento da política energética. Neste Programa criando as condições para finalização de Angra 3 e para a entrada de, ao menos, 4 novas centrais nucleares nos próximos 30 anos nos parece fundamental e exequível.

A Reestruturação do Setor Nuclear, buscando otimizar a organização separando atribuições e consolidando atividades em busca do fortalecimento das instituições

Ampliação das aplicações Sociais da Energia Nuclear na Saúde, Meio Ambiente e Agricultura

A preocupação com a formação de novos profissionais para atuar na cadeia produtiva da Indústria Nuclear Brasileira.

Agenda Abdan para Eleições de 2018 | 27

AGR - Advanced gas-cooled reactor

BWR - Boiling water reactor

CCGT - Combined-cycle gas turbine

CCS - Carbon capture and storage

CIS - Commonwealth of Independent States

CO2 - Carbon dioxide

COP21 - 21st Conference of Parties to the United Nations Framework Convention on Climate Change

EEA - European Economic Area

EPR - Evolutionary Power Reactor

EU - European Union

FNR - Fast neutron reactor

GCR - Gas-cooled reactor

GDP - Gross domestic product

GHG - Greenhouse gas

GWe - Gigawatt (one billion watts of electric power)

GWh - Gigawatt hour (one billion watt hours of electricity)

HTGR - High temperature gas-cooled reactor

IAEA - International Atomic Energy Agency

I&C - Instrumentation and control IEA - International Energy Agency

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change

kWh - Kilowatt hour (one thousand watts hours of electricity) LTO - Long-term operation

LWGR - Light water gas-cooled reactor

LWR - Light water reactor (i.e. a BWR or PWR)

MWe - Megawatt (one million watts of electric power)

MWh - Megawatt hour (one million watts hours of electricity)

NRC - Nuclear Regulatory Commission

PHWR - Pressurized heavy water reactor

PRIS - Power Reactor Information System

PV - Photovoltaic

PWR - Pressurized water reactor

RBMK - Reaktor Bolshoy Moshchnosti Kanalniy (an LWGR)

SMR - Small modular reactor

TWh - Terawatt hour (one trillion watts hours of electricity)

X. Lista de Abreviações