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CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula Demonstrativa Olá, Concurseiros! A notícia de que o Executivo não deve fazer concursos neste ano foi um balde de água fria para muita gente. O governo Lula foi muito bom em termos de concursos e esperávamos que não houvesse uma mudança tão radical. Porém, isso não significa que vocês devem parar de estudar. Mesmo que não haja provas dentro de um período curto de tempo, é o estudo de longo prazo que traz mais resultados. Sei disso por experiência própria. Comecei a estudar para concursos em agosto de 2005 para Auditor da Receita Federal, cuja prova ocorreu em dezembro daquele ano. Não passei para auditor, mas passei para analista em janeiro de 2006. Não parei de estudar. Ainda em setembro de 2006 decidi mudar meu foco para o Tribunal de Contas da União, cuja prova veio a ocorrer somente em setembro de 2007, na qual consegui ser aprovado. Portanto, contando desde o início, foram dois anos estudando. A disciplina de Administração Pública ganhou bastante espaço nos concursos dos últimos anos. Concursos tradicionais passaram a cobrá-la de forma regular, inclusive em provas discursivas, o que tem exigido que vocês estudem uma disciplina com a qual muitos não tinham tido nenhum contato anterior. Trata-se de uma disciplina com conteúdo bastante extenso e que muitas vezes está longe de ser senso comum. Digo sempre que administração pública é uma disciplina “bombril” nos concursos, tem 1001 utilidades. Tudo aquilo que eles não sabem onde por, colocam em Administração Pública. Assim, ela aborda itens de ciência política, administração financeira e orçamentária, administração geral, direito administrativo e constitucional, etc. Decidi, então, lançar este curso de Administração Pública focado em concursos da ESAF, abrangendo os editais de AFRFB, AFT, APO-MPOG, EPPGG-MPOG, CGU e STN. As aulas são teóricas, mas também haverá uma lista de exercícios comentados. O curso será composto de 10 aulas, além desta demonstrativa, no seguinte cronograma: Aula Demonstrativa: Estado: conceito e evolução do Estado Moderno; Conceitos fundamentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. Direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evolução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades contemporâneas e no Brasil.

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CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA ESAF PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS

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Aula Demonstrativa

Olá, Concurseiros!

A notícia de que o Executivo não deve fazer concursos neste ano foi um balde de água fria para muita gente. O governo Lula foi muito bom em termos de concursos e esperávamos que não houvesse uma mudança tão radical. Porém, isso não significa que vocês devem parar de estudar. Mesmo que não haja provas dentro de um período curto de tempo, é o estudo de longo prazo que traz mais resultados.

Sei disso por experiência própria. Comecei a estudar para concursos em agosto de 2005 para Auditor da Receita Federal, cuja prova ocorreu em dezembro daquele ano. Não passei para auditor, mas passei para analista em janeiro de 2006. Não parei de estudar. Ainda em setembro de 2006 decidi mudar meu foco para o Tribunal de Contas da União, cuja prova veio a ocorrer somente em setembro de 2007, na qual consegui ser aprovado. Portanto, contando desde o início, foram dois anos estudando.

A disciplina de Administração Pública ganhou bastante espaço nos concursos dos últimos anos. Concursos tradicionais passaram a cobrá-la de forma regular, inclusive em provas discursivas, o que tem exigido que vocês estudem uma disciplina com a qual muitos não tinham tido nenhum contato anterior. Trata-se de uma disciplina com conteúdo bastante extenso e que muitas vezes está longe de ser senso comum. Digo sempre que administração pública é uma disciplina “bombril” nos concursos, tem 1001 utilidades. Tudo aquilo que eles não sabem onde por, colocam em Administração Pública. Assim, ela aborda itens de ciência política, administração financeira e orçamentária, administração geral, direito administrativo e constitucional, etc.

Decidi, então, lançar este curso de Administração Pública focado em concursos da ESAF, abrangendo os editais de AFRFB, AFT, APO-MPOG, EPPGG-MPOG, CGU e STN. As aulas são teóricas, mas também haverá uma lista de exercícios comentados. O curso será composto de 10 aulas, além desta demonstrativa, no seguinte cronograma:

Aula Demonstrativa: Estado: conceito e evolução do Estado Moderno; Conceitos fundamentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. Direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evolução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades contemporâneas e no Brasil.

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Aula 01 – 13/04: Modelos teóricos de Administração Pública: patrimonialista, burocrático e gerencial.

Aula 02 – 20/04: Evolução da administração pública no Brasil. Experiências de reformas administrativas. O processo de modernização da Administração Pública.

Aula 03 – 27/04: Organização do Estado e da Administração Pública. Desconcentração e descentralização administrativa. Estado unitário e Estado federativo. Relações entre esferas de governo e regime federativo. Sistemas de governo. Coordenação Executiva – problemas da articulação versus a fragmentação de ações governamentais. Dimensões da coordenação: intragovernamental, intergovernamental e governo-sociedade.

Aula 04 – 04/05: Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). Accountability. Governo eletrônico e transparência. Processos participativos de gestão pública.

Aula 05 – 11/05: Ciclo de Gestão do Governo Federal. Controle da Administração Pública. Ética no exercício da função pública. Sistema de Planejamento e Orçamento do Governo Federal: gestão por programas; integração planejamento e orçamento; eficiência do gasto público; custos.

Aula 06 – 18/05: Novas tecnologias gerenciais e organizacionais e sua aplicação na Administração Pública: planejamento estratégico, qualidade total, reengenharia, balanced scorecard. Qualidade na Administração Pública.

Aula 07 – 25/05: Gestão pública empreendedora. Gestão da mudança organizacional: ferramentas e perspectivas de mudança organizacional. Desenvolvimento institucional. Gestão por competências; Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais

Aula 08 – 01/06: Novas formas de gestão de serviços públicos: formas de supervisão e contratualização de resultados; horizontalização; pluralismo institucional; prestação de serviços públicos e novas tecnologias. Instrumentos gerenciais contemporâneos: avaliação de desempenho e resultados; sistemas de incentivos e responsabilização; flexibilidade organizacional; trabalho em equipe; mecanismos de rede.

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Aula 09 – 08/06: Teorias das organizações aplicadas à Administração Pública. Caracterização das organizações: tipos de estruturas organizacionais, aspectos comportamentais (motivação, clima e cultura).

Aula 10 – 15/06: Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação. Avaliação e mensuração do desempenho governamental. Conceitos de Eficiência, Eficácia e Efetividade aplicados à Administração Pública. As políticas públicas no Estado brasileiro contemporâneo. Política de combate à pobreza: possibilidades e limitações. Desigualdades socioeconômicas da população brasileira.

Eu disponibilizei no final dessa aula o edital dos seis concursos e uma tabela correlacionando os itens dos editais com as aulas. Alguns itens tratados no curso fazem parte de outras disciplinas desses concursos, como administração geral e ciência política. Também relaciono esses itens com as aulas no final desta aula.

As questões vistas nas aulas serão exclusivamente da ESAF. Tentarei colocar o máximo de questões possível, por isso vocês verão questões mais recentes e mais antigas. Vocês podem achar esta aula demonstrativa um pouco grande, mas a parte teórica não é extensa. Colocarei as questões na ordem cronológica, dos concursos mais recentes para os mais antigos. Sempre que vocês tiverem alguma dúvida, utilizem o fórum de perguntas, pois é uma ferramenta importante no estudo de vocês. Cada aula vai contar ainda com um resumo com os pontos mais importantes e uma indicação de textos que vocês encontram na internet para leitura complementar.

Agora, vou me apresentar. Sou Auditor Federal de Controle Externo do Tribunal de Contas da União. Já fui Analista Tributário da Receita Federal do Brasil e escriturário da Caixa Econômica Federal, além de ter trabalhado em outras instituições financeiras da iniciativa privada. Sou formado em jornalismo, graduando em economia e tenho especialização em Orçamento Público. Sou professor de disciplinas como Administração Pública, Ciências Políticas e Políticas Públicas, tendo dado aulas em cursinhos de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Cuiabá.

Nesta aula demonstrativa, vocês poderão ter uma ideia de como será nosso curso. Espero que gostem e que possamos ter uma jornada proveitosa pela frente.

Boa Aula!

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SUMÁRIO

1 ESTADO........................................................................................................................................................ 5

1.1 CONCEITO DE ESTADO ............................................................................................................................................. 5

1.2 ORIGEM DO ESTADO ............................................................................................................................................... 7

1.3 ESTADO, GOVERNO E APARELHO DO ESTADO............................................................................................................. 11

1.4 EVOLUÇÃO DO ESTADOMODERNO .......................................................................................................................... 15

2 DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS E SOCIAIS ......................................................................................................... 25

2.1 EVOLUÇÃO DO PAPEL DO ESTADO E EMERGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL ............................................................................ 27

2.2 ESTADO DE BEM‐ESTAR SOCIAL............................................................................................................................... 32

3 CRISE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO ........................................................................................................ 39

3.1 NEOLIBERALISMO ................................................................................................................................................. 42

3.2 NEOINSTITUCIONALISMO ECONÔMICO...................................................................................................................... 45

3.3 ESTADO REGULADOR............................................................................................................................................. 48

3.4 GOVERNANÇA PROGRESSISTA ................................................................................................................................. 50

4 QUESTÕES.................................................................................................................................................. 51

4.1 CONCEITO, ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTADOMODERNO ............................................................................................ 51

4.2 DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS E SOCIAIS ......................................................................................................................... 79

4.3 CRISE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO ....................................................................................................................... 95

4.4 GABARITO......................................................................................................................................................... 108

4.5 LISTA DAS QUESTÕES........................................................................................................................................... 109

5 RESUMO .................................................................................................................................................. 128

6 LEITURA SUGERIDA .................................................................................................................................. 130

7 EDITAIS .................................................................................................................................................... 130

7.1 ITENS DOS EDITAIS X AULAS .................................................................................................................................. 133

7.2 OUTRAS DISCIPLINAS COBERTAS PELO CONTEÚDO DO CURSO ....................................................................................... 133

8 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................... 136

Esta aula demonstrativa não aborda diretamente itens do edital de AFRFB e AFT, mas ela é importante porque dá a base para o estudo dos modelos teóricos de administração pública. Veremos aqui a evolução do Estado Moderno, passando pelo liberalismo, pelo Estado de Bem-Estar e pelo Neoliberalismo, evolução essa que está muito ligada à evolução da administração pública. Não dá estudar a passagem do patrimonialismo para a burocracia e desta para o gerencialismo sem conhecer a passagem do Estado de Bem-Estar para o Neoliberalismo. Por isso, sugiro que vocês estudem pelo menos a parte da crise do Estado contemporâneo.

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1 Estado

Vamos começar vendo o conceito de Estado e sua evolução. Uma vez que nosso curso é voltado para a ESAF, é importante que saibamos como ela formula suas questões. E uma coisa que ela faz muito é copiar de textos de autores consagrados (muitas vezes nem tanto), por isso as aulas terão diversas citações de autores como Norberto Bobbio, Luis Carlos Bresser Pereira, Maria das Graças Rua, Dalmo Dallari, entre outros, que são autores bastante usados pela ESAF. Assim vocês poderão se familiarizar com a forma como eles escrevem, que acaba sendo a mesma usada nas questões.

1.1 Conceito de Estado

Dalmo Dallari afirma que a palavra “Estado” apareceu pela primeira vez em “O Príncipe“, de Maquiavel, escrito em 1513. Já Norberto Bobbio coloca que tal palavra se impôs pela difusão e prestígio de “O Príncipe”, mas isso não quer dizer que ela foi introduzida por Maquiavel. Ela já devia ser de uso corrente à época, tanto que o autor a usou logo na primeira frase do livro: “Todos os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados”.

Não faz muito sentido saber se Maquiavel foi o primeiro ou não a usar o termo Estado, certo? Vocês devem achar que eu estou viajando na maionese, mas a ESAF já cobrou isso. Na prova para Gestor do MPOG de 2005, a banca deu como errada a seguinte alternativa: “O Termo ‘Estado’ foi criado por Maquiavel”. Não foi a única vez que eles cobraram algo desse tipo. Na última prova de EPPGG, uma questão cobrava a origem do termo “política”, e uma das alternativas dizia que ele foi criado por Maquiavel. Mais uma vez a questão está errada.

Eles insistem em colocar Maquiavel como o criador dessas palavras porque ele foi o primeiro grande cientista político moderno. Ele viveu entre 1469 e 1527, período dentro do Renascimento. Antes de Maquiavel, analisava-se a política tentando-se superpor a teoria à prática. Prevalecia uma visão normativa, em que se pensava a política em como ela deveria ser, e não como ela de fato é.

É nesse mesmo período que surge o que se convencionou chamar de Estado Moderno, que é o Estado como conhecemos hoje, composto por seu território, seu povo e sua soberania. E é por meio de seus elementos essenciais que muitos autores conceituam o termo “Estado”, como faz Duguit:

Renascimento: período dahistória europeia, entre os

séculos XIV e XVII, quemarcou o final da Idade

Média e o início da IdadeModerna e foi caracterizado

pela redescoberta dos caloresculturais, políticos e

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Grupo humano fixado em determinado território, onde os mais fortes impõem aos mais fracos sua vontade.

Nesta definição, podemos observar três elementos constitutivos: povo, território e poder político. Mas e esta questão que fala em quatro elementos essenciais?

1. (ESAF/MPOG/2002) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo, território, governo e independência.

A questão é certa. Na realidade, existe uma grande diversidade de opiniões a respeito. Dalmo Dallari afirma que a maioria dos autores indica três elementos, embora divirjam quanto a eles. De maneira geral, costuma-se mencionar a existência de dois elementos materiais, o território e o povo, havendo grande variedade de opiniões sobre o terceiro elemento, que muitos denominam formal. O mais comum é a identificação desse terceiro elemento como o poder ou alguma de suas expressões, como autoridade, governo ou soberania. Dallari decidiu trabalhar com quatro elementos: a soberania, o povo, o território e a finalidade.

Vamos ver os elementos do Estado:

Território: espaço geográfico em que o Estado exerce a sua soberania, com a exclusão da soberania de qualquer outro Estado.

Povo: conjunto de cidadãos que se subordinam ao mesmo poder soberano e possuem direitos iguais perante a lei;

Soberania: poder mais alto que existe dentro do território com relação ao seu povo, e frente a outros Estados. Expressa-se como ordenamento jurídico impositivo.

Governo: núcleo decisório do Estado, formado por membros da elite política, e encarregado da gestão da coisa pública. Enquanto o Estado é permanente, o governo é transitório porque, ao menos nas democracias, os que ocupam os cargos governamentais devem, por princípio, ser substituídos periodicamente de acordo com as preferências da sociedade.

Segundo o Programa Nacional de Educação Fiscal, elaborado pela ESAF:

Pode-se conceituar Estado como uma instituição que tem por objetivo organizar a vontade do povo politicamente constituído, dentro de um território definido, tendo como uma de suas características o exercício do poder coercitivo sobre os membros da sociedade. É, portanto, a

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organização político-jurídica de uma coletividade, objetivando o bem comum.

Podemos observar aqui quatro elementos: povo, território, poder e finalidade (bem comum).

Além das definições de Estado que consideram seus elementos essenciais, existem outros tipos, filosóficas, jurídicas, econômicas, etc. Entre as definições jurídicas, podemos citar a de Kant: “reunião de uma multidão de homens vivendo sob as leis do Direito”. Del Vechio critica esta definição, dizendo que ela poderia ser aplicada tanto a um município quanto a uma penitenciária, mas ele mesmo não vai muito além, definindo Estado como “o sujeito da ordem jurídica na qual se realiza a comunidade de vida de um povo”.

As definições sociológicas partem para o lado da força, da dominação de um grupo sobre outro. É o caso da definição de Max Weber: “comunidade humana que, dentro de um determinado território, reivindica para si, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência física legítima”. Marx, como não poderia deixar de ser, pensa de forma parecida: “o poder organizado de uma classe para opressão de outra”. O conceito de Estado repousa, por conseguinte, na organização ou institucionalização da violência. Para Trotsky, “todo Estado se fundamenta na força”.

PARA GUARDAR

Elementos essenciais do Estado: povo, território e poder – ou suas variáveis: soberania, independência, autoridade, finalidade.

1.2 Origem do Estado

Segundo Darcy Azambuja, existem três modos pelos quais historicamente se formam os Estados:

Originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas.

Secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros.

Derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

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O modo originário se daria quando, sobre um território que não pertence a nenhum Estado, uma população se organizasse politicamente, por impulso espontâneo de suas forças sociais e psicológicas. Um exemplo é a França. No mundo atual, toda a superfície do globo está dividida pelos diversos Estados existentes, sendo praticamente impossível que surja um Estado pelo modo originário.

O modo secundário pode ser dividido em dois aspectos: ou um Estado se fraciona para formar outros, ou vários Estados se unem para formar um novo Estado. Vimos recentemente, em 1993, a Tchecoslováquia se dividir em dois Estados, a República Tcheca e a Eslováquia.

Entre os modos derivados, a colonização é o mais geral e importante. Temos o caso dos Estados nas Américas, que se formaram a partir da colonização europeia. Há também os casos de guerras, como a Alemanha que foi dividida em dois Estados. Israel nasceu de uma convenção nas Nações Unidas.

Dalmo Dallari não trabalha com esta classificação. Ele divide as causas do aparecimento dos Estados em formação originária e formação derivada. Na primeira, partiríamos de agrupamentos humanos ainda não integrados em qualquer Estado; e na segunda a formação de novos Estados ocorre a partir de outros preexistentes. Portanto, o que Azambuja considera como secundário, para Dallari seria derivado.

Examinando as principais teorias que procuram explicar a formação ORIGINÁRIA do Estado, Dallari afirma que se chega a uma primeira classificação, com dois grandes grupos:

1. Teorias que afirmam a formação natural ou espontânea do Estado, não havendo entre elas uma coincidência quanto à causa, mas tendo todas em comum a afirmação de que o Estado se formou naturalmente, não por um ato puramente voluntário;

2. Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados, apresentando em comum, apesar de também divergirem quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado.

Já Azambuja divide as teorias sobre a origem da autoridade nas doutrinas teocráticas e doutrinas democráticas. As primeiras defendiam que o poder e a autoridade vêm de Deus. Estas teorias surgiram durante a Idade Média com os pensadores ligados à Igreja e passaram a ser usadas pelas famílias reais europeias como forma de se manterem no poder: foi Deus quem escolheu determinada família para reinar. Já as doutrinas democráticas defendem que a soberania, ou o poder político, reside no povo. As teorias contratualistas seriam as democráticas.

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Dalmo Dallari agrupa as teorias não contratualistas da seguinte forma:

Origem familiar ou patriarcal: as teorias situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado;

Origem em atos de força, de violência ou conquista: essas teorias sustentam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco;

Origem em causas econômicas: o Estado teria se formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, suprir as necessidades de trocas dos indivíduos, integrando-se as diferentes atividades profissionais;

Origem no desenvolvimento interno da sociedade: segundo essas teorias, o estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, entretanto, prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Mas aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma mais complexa têm absoluta necessidade do Estado, então ele se constitui.

Já as teorias contratualistas afirmam que o Estado não surge naturamente, mas sim de um ato racional, uma escolha de um grupo humano que decidiu estabelecer um poder político como forma de instituir a ordem. Assim, decidiram, por meio de um contrato, ceder parte de sua liberdade, criando um poder político uno com soberania sobre todos os demais.

Antes do contrato, havia o que eles convencionaram chamar de “estado de natureza”, período em que as pessoas se relacionavam, mas não havia um poder instituído para garantir a ordem. Os contratualistas são também jusnaturalistas porque defendem a existência de direitos anteriores ao Estado.

Todos os autores contratualistas concordam com a existência desse momento anterior, mas irão divergir quanto ao grau de desordem existente. Os contratualistas mais importantes são três: Hobbes, Locke e Rousseau.

Thomas Hobbes (1588-1679) foi um filósofo inglês e defensor do absolutismo. Ele foi o primeiro grande teórico contratualista, partindo da convicção de que o homem, em épocas primitivas, vivia fora da sociedade, sendo todos os homens iguais e

Jusnaturalismo: defende aexistência de um direito cujo

conteúdo é estabelecidonaturalmente, existente

independente de uma ordemjurídica, e, portanto, válido em

qualquer lugar. O “Direito Natural”seria superior ao direito positivo,

aquele estabelecido no papel. Estedireito natural tem validade em si,

é anterior e superior ao direitopositivo e, em caso de conflito, é

ele que deve prevalecer.

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essencialmente egoístas, tendo todos os mesmos direitos naturais e não existindo nenhuma autoridade ou lei. O estado de natureza foi uma época de anarquia e violência.

Para pôr termo a este período de violenta anarquia, os homens criaram, por um contrato, a sociedade política e cederam seus direitos naturais a um poder comum, a que se submetem por soberania e que disciplina seus atos em benefício de todos. O contrato que criou o poder, ou o Estado, não pode ser rescindido jamais, porque isso importaria em a humanidade voltar à anarquia do estado de natureza. Segundo Hobbes, o Estado é um Leviatã, monstro alado, que sob suas asas abriga e prende para sempre o homem.

John Locke (1632-1704) também foi um filósofo inglês, mas, ao contrário de Hobbes, era defensor do Liberalismo. Ele parte também da existência de um estado de natureza, mas diverge de Hobbes ao afirmar que nesta época primitiva havia sim ordem e razão. O problema era que a ausência de leis fundamentais, de uma autoridade que dirimisse os litígios e defendesse o homem contra a injustiça dos mais fortes, determina uma situação de instabilidade e incerteza, e por isso é criada a sociedade política, por um contrato.

A propriedade é um conceito central na teoria de Locke, para quem a finalidade do estado civil é a preservação da propriedade. Dentro deste conceito não se coloca apenas os bens ou posses do indivíduo, mas também sua vida e sua liberdade. O Estado teria sido criado para interpretar a lei natural, manter a ordem e a harmonia entre os homens e garantir o direito de propriedade. As pessoas, porém, não cedem, não alienam seus direitos em favor do Estado, que neles deve respeitar os direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade.

Jean Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, é outro autor contratualista. Ele admitia ainda mais explicitamente a existência do estado de natureza, uma época primitiva em que o homem vivia feliz e livre fora da sociedade. Segundo o autor, o homem nasceu livre, feliz e bom; a sociedade o tornou escravo, mau e desgraçado.

A época de ouro do estado de natureza terminou devido ao progresso da civilização. A desgraça da humanidade teria começado quando a primeira pessoa cercou um pedaço de terra e afirmou que era seu. Nesse momento começou a injustiça, com a sobreposição dos mais fortes em relação aos mais fracos. Para manter a ordem e evitar maiores desigualdades, os homens criaram a sociedade política, a autoridade e o Estado, mediante um contrato. Por esse contrato o homem cede ao Estado parte de seus direitos naturais, criando assim uma organização política com vontade própria, que é a vontade geral. Mas dentro dessa organização, cada indivíduo possui uma parcela de poder, e, portanto, recupera a liberdade perdida em conseqüência do contrato social.

O quadro abaixo faz um resumo da visão desses três autores:

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Hobbes Locke Rousseau

1) Defensor do absolutismo;

2) Via o estado de natureza como um período de caos e violência;

3) O contrato social representaria a abdicação da liberdade e não poderia se rescindido jamais;

4) Os homens cediam seus direitos em benefício do Estado.

1) Defensor do liberalismo;

2) Via o estado de natureza de uma forma melhor, mas a falta de uma ordem política poderia traz violações ao direito de propriedade;

3) Os homens não cedem seus direitos em favor do Estado.

1) Teórico iluminista, suas ideias influenciaram a revolução francesa;

2) No estado de natureza, primeiro, o homem era livre, vivia só e era feliz; quando foi criada a propriedade, surgiu a desgraça do homem.

4) O Estado representa a vontade geral e cada indivíduo mantém uma parcela de poder.

1.3 Estado, Governo e Aparelho do Estado

Como falei no início da aula, as definições usadas pelas bancas normalmente não são criadas por elas mesmas, mas copiadas de outros autores. Vamos ver uma questão da ESAF:

2. (ESAF/MPOG/2003) O governo é o grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. No caso das democracias liberais, o Estado tem que manter a legitimidade desse grupo atendendo de forma diferenciada ao seu público de apoio:

Essa questão foi tirada do glossário de um curso da ENAP:

Governo: Grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. É formado por todos os poderes e funções da autoridade pública.

Dessa forma, temos que entender que esta parte da alternativa está correta, já que é cópia. É um tanto vago dizer que o Estado é a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada, mas também não podemos dizer que isto esteja errado. A questão é errada porque, nas democracias liberais, o Estado não deve atender determinados grupos de forma diferenciada. Ele deve obedecer ao princípio do universalismo de procedimentos.

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Como a alternativa fala em democracias liberais, temos que analisar a questão sob a ótica do Estado democrático, a inclusão das demais classes sociais na política. O Estado contemporâneo é visto como uma organização que está sob a influência de três tipos de agentes sociais: a burocracia operando no seu interior; as classes ou elites dirigentes, formadas pelos grandes empresários, pelos intelectuais, pelos políticos, pelos líderes corporativos; e, finalmente, a sociedade civil como um todo, que engloba os dois primeiros, mas é mais ampla que os mesmos. Segundo Maria das Graças Rua:

Esta tensão entre o ideal e o mundo real da política, entre o bem público e o interesse particular, tem sido objeto da reflexão política e do esforço de construção de mecanismos institucionais que configuram o que hoje conhecemos como democracia liberal: a regra da maioria, a separação e independência dos poderes, o mandato representativo limitado, as eleições livres e regulares, e outras.

A ação do Estado não é apenas a expressão da vontade das classes dominantes, nem é o resultado da autonomia da burocracia pública. Em contrapartida, também não é a manifestação de interesses gerais. Ao invés disso, essa ação é o resultado contraditório e sempre em mudança das coalizões de classe que se formam na sociedade civil e da autonomia relativa do Estado garantida por sua burocracia interna. Portanto, a legitimidade do governo, nas democracias liberais, não é mantida atendendo-se de forma diferenciada ao seu público de apoio, mas sim uma relação como diversos atores, inclusive a sociedade como um todo.

Bobbio conceitua governo como:

O conjunto de pessoas que exercem o poder político e que determinam a orientação política de uma determinada sociedade. É preciso, porém, acrescentar que o poder de Governo, sendo habitualmente institucionalizado, sobretudo na sociedade moderna, está normalmente associado à noção de Estado.

Existe uma segunda acepção do termo Governo, mais própria da realidade do Estado moderno, a qual não indica apenas o conjunto de pessoas que detêm o poder de Governo, mas o complexo dos órgãos que institucionalmente têm o exercício do poder. Neste sentido, o Governo constitui um aspecto do Estado. Segundo Maria das Graças Rua:

O Governo, por sua vez, é o núcleo decisório do Estado, formado por membros da elite política, e encarregado da gestão da coisa pública. Enquanto o Estado é permanente, o governo é transitório porque, ao menos nas democracias, os que ocupam os cargos governamentais

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devem, por princípio, ser substituídos periodicamente de acordo com as preferências da sociedade.

Hely Lopes Meirelles traz o conceito de Governo:

Governo – Em sentido formal, é o conjunto de poderes e órgãos constitucionais; em sentido material, é o complexo de funções estatais básicas; em sentido operacional, é a condução política dos negócios públicos. Na verdade, o Governo ora se identifica com os Poderes e órgãos supremos do Estado, ora se apresenta nas funções originárias desses Poderes e órgãos como manifestação da soberania. A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente. O Governo atua mediante atos de Soberania ou, pelo menos, de autonomia política na condução dos negócios públicos.

Podemos perceber que o governo é aquele que exerce a soberania. É importante destacar que esta pertence ao povo, como afirma a Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º:

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Portanto, como já afirmava Rousseau, o poder tem origem no povo, é nele que reside a soberania. Porém, apesar de pertencer ao povo, ela é exercida por seus representantes, que formam o governo. Meirelles diferencia governo de Administração Pública.

Administração Pública – Em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é o conjunto das funções necessária aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.

Neste conceito de administração pública temos o que chamamos de aparelho de Estado. Este corresponde à estrutura do Estado encarregada de colocar os serviços públicos em prática. No Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, a definição é a seguinte:

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Entende-se por aparelho do Estado a administração pública em sentido amplo, ou seja, a estrutura organizacional do Estado, em seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e três níveis (União, Estados-membros e Municípios). O aparelho do Estado é constituído pelo governo, isto é, pela cúpula dirigente nos Três Poderes, por um corpo de funcionários, e pela força militar. O Estado, por sua vez, é mais abrangente que o aparelho, porque compreende adicionalmente o sistema constitucional-legal, que regula a população nos limites de um território. O Estado é a organização burocrática que tem o monopólio da violência legal, é o aparelho que tem o poder de legislar e tributar a população de um determinado território.

Com base nesta distinção entre Estado e Aparelho do Estado, o plano justifica porque se chama Reforma do Aparelho do Estado e não Reforma do Estado. A segunda seria um projeto amplo que diz respeito às varias áreas do governo e, ainda, ao conjunto da sociedade brasileira; enquanto que a reforma do aparelho do Estado tem um escopo mais restrito: está orientada para tornar a administração pública mais eficiente e mais

voltada para a cidadania.

Quando se quer reformar o Estado, o objetivo é melhorar a governabilidade; quando se quer reformar o aparelho do Estado, o objetivo é melhorar a governança, conceitos que estudaremos na Aula 04. A governabilidade pode ser entendida como a capacidade de governar, envolve ao relacionamento do Estado com a sociedade, sua legitimidade. Já a governança pode ser entendida como a capacidade de gestão, a capacidade técnica, financeira e gerencial de implementar as políticas públicas.

Segundo Maria das Graças Rua:

O que hoje entendemos como “Administração Pública” consiste em um conjunto de agências e de servidores profissionais, mantidos com recursos públicos e encarregados da decisão e implementação das normas necessárias ao bem-estar social e das ações necessárias à gestão da coisa pública.

Na ótica marxista, o Estado é um aparelho repressivo, isto é, o Estado é uma máquina, um aparato técnico que garante à classe dominante seu poder sobre as classes dominadas. O Estado é, antes de tudo, composto de aparelhos repressivos, que são a

O Plano Diretor é um documento do Governo FHC, de 1995, e que trazia a base dareforma gerencial que seria promovida. Veremos ele na Aula 02, mas ele é bem

importante, vale à pena vocês darem uma lida. Está disponível no site:

http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/PlanoDiretor/planodiretor.pdf

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política, os tribunais, as prisões, a polícias, o exército, o Governo. Estes aparelhos trabalham a serviço das classes dominantes perpetuando sua dominação através da força. Existem ainda os aparelhos ideológicos do Estado, que são usados para que o capitalismo possa se reproduzir, como a escola, a igreja, a família, sindicatos, o direito e outros.

1.4 Evolução do Estado Moderno

Vou colocar primeiro um resumo da evolução do Estado, para depois estudarmos cada etapa de forma mais detalhada. Nele, farei uma associação com os direitos civis, políticos e sociais, que veremos mais à frente nessa aula.

O Estado Moderno tem origem com o absolutismo (século XIV), quando o monarca centraliza o poder político dentro de um determinado território. Até então, na Idade Média, o poder estava distribuído entre vários “feudos”, cada um mandando em seu pedaço de chão. Nesse período, o Rei concentra todo o poder, administrando o Estado de forma arbitrária.

Começam a surgir movimentos contestando esse poder absoluto, que se fortaleceram principalmente com a independência dos EUA e a revolução francesa, em fins do século XVIII. São impostos limites ao soberano, principalmente com o surgimento dos direitos civis, ligados à liberdade e à propriedade. Num segundo momento são criados os direitos políticos, o que irá resultar no desenvolvimento das democracias liberais.

Os direitos sociais aparecem em meados do Século XIX, o que irá provocar uma ampliação da atuação do Estado. A crise de 1929 irá fazer com que aumente sua intervenção na economia, como forma de tirar os países da recessão, e na década de 1940 surge o Estado de Bem-Estar Social, considerando um direito de todo cidadão que o Estado lhe garanta condições mínimas de subsistência por meio das políticas sociais.

O pós-Segunda Guerra Mundial foi um período de prosperidade do capitalismo, em que tanto o 1º quanto o 2º e o 3º mundos cresciam a taxas elevadas. Com efeito, foi possível financiar essa ampliação da atuação estatal.

Porém, com as crises do petróleo na década de 1970 e a elevação das taxas de juros, o financiamento externo se torna escasso, interrompendo a “era de ouro do capitalismo”. Os países entram em crise fiscal, sem capacidade de financiar suas políticas sociais, enquanto as demandas da sociedade só cresciam. Como resposta a essa crise, no início da década de 1980, surgem governos conservadores nos EUA e na Inglaterra, defendendo a redução do tamanho do Estado por meio do neoliberalismo.

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1.4.1 Antes do Estado ModernoO Estado Moderno – aquele composto por um território, um povo e uma soberania – surgiu com o absolutismo. Porém, isso não significa que não existiu nenhuma forma de Estado anteriormente. Segundo Dalmo Dallari, com pequenas variações, os autores que tratam da evolução do Estado adotaram uma sequência cronológica que compreende as seguintes fases:

Estado Antigo: com a designação de Estado Antigo, Oriental ou Teocrático, os autores se referem às formas de Estado mais recuadas no tempo, que apenas começavam a definir-se entre as antigas civilizações do Oriente propriamente dito ou do Mediterrâneo. A família, a religião, o Estado, a organização econômica formavam um conjunto confuso, sem distinção aparente. Há duas marcas fundamentais do Estado deste período: a natureza unitária e a religiosidade. O Estado Antigo aparece como uma unidade geral, não admitindo qualquer divisão interior, nem territorial, nem de funções. A influência predominante foi religiosa, afirmando-se a autoridade dos governantes e as normas de comportamento como expressões da vontade de um poder divino;

Estado Grego: na realidade não havia um Estado único, envolvendo toda a civilização helênica, mas várias cidades-Estado, que apresentavam características comuns. O ideal visado era a autossuficiência, a formação de uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si. No Estado Grego o indivíduo tem uma posição peculiar: há uma elite, que compõe a classe política, com intensa participação nas decisões do Estado.

Estado Romano: uma das peculiaridades mais importantes do Estado Romano é a base familiar da organização, razão pela qual se concediam privilégios especiais aos membros das famílias patrícias, compostas pelos descendentes dos fundadores do Estado. Assim como no Estado Grego, durante muitos séculos, o povo participava diretamente do governo, mas aqui também devemos considerar apenas uma faixa restrita da população. Os diversos povos conquistados possuíam um status inferior aos romanos. Somente no final do Império, quando Constantino assegurou a liberdade religiosa do Império, é que desapareceu, por influência do Cristianismo, a noção de superioridade dos romanos.

Estado Medieval: surge com as diversas invasões bárbaras e o esfacelamento do Estado Romano. O cristianismo vai representar a base da aspiração à universalidade. Afirma-se desde logo a unidade da Igreja, num momento em que não se via claramente uma unidade política. Motivos religiosos e pragmáticos levaram a conclusão de que todos os cristãos deveriam ser integrados numa só sociedade política. Por outro lado, as invasões bárbaras introduziam novos costumes e estimulavam as próprias regiões invadidas a se afirmarem como unidades políticas independentes. Apesar da presença do Imperador, havia uma pluralidade sem definição hierárquica de poderes menores e a

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variedade imensa de ordens jurídicas, que formavam um quadro de instabilidade, gerando o germe de criação do Estado Moderno.

1.4.2 Estado ModernoAs deficiências da sociedade política medieval determinaram as características fundamentais do Estado Moderno. A necessidade de restaurar a unidade do Estado romano fez despertar a consciência para a busca da unidade, que afinal se concretizaria com a afirmação de um poder soberano, no sentido de supremo, o mais alto de todos dentro de uma precisa delimitação territorial. A burguesia ascendente necessitava da ordem para ter segurança em suas rotas comerciais e da unidade para ter uma moeda comum que permitisse o comércio em maior escala. Por isso patrocinou a ascensão da primeira versão do Estado Moderno, o Estado Absolutista.

O Estado Moderno tem como marco a Paz de Westfália, que foi uma série de tratados de paz na metade do século XVII que inaugurou o moderno Sistema Internacional, ao acatar consensualmente noções e princípios como o de soberania estatal e o de Estado-Nação.

O Estado Moderno, no que tange à sua organização, constituiu-se na passagem dos meios reais de autoridade e administração, que eram de domínio privado, para a propriedade pública; e o poder de mando, que vinha sendo exercido como um direito do indivíduo, fosse expropriado – primeiro, em benefício do príncipe absoluto e, depois, do Estado. Segundo Bobbio:

A história do surgimento do Estado moderno é a história dessa tensão: do sistema policêntrico e complexo dos senhorios de origem feudal se chega ao Estado territorial concentrado e unitário por meio da chamada racionalização da gestão do poder e da própria organização política imposta pela evolução das condições históricas materiais.

Para Weber, as características essenciais do Estado Moderno são:

a ordem legal,

a burocracia,

a jurisdição compulsória sobre um território

a monopolização do uso legítimo da força

De acordo com Max Weber, o Estado moderno, ao se constituir, foi retirando dos diversos elementos da sociedade o direito de uso da força e da violência que antes era exercido por várias instâncias sociais, e foi concentrando para si este direito, utilizando-o

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apenas de conformidade com as leis vigentes. Hoje, o Estado moderno reivindica para si "o monopólio da violência física legítima", exercendo-o como o seu único detentor. E o uso da força e da violência pelo Estado é legítimo porque está fundado em lei socialmente reconhecida. Só o Estado detém a autoridade e o poder de prender, de sustar o direito de ir e vir e de algemar e punir o cidadão de várias formas.

Para Habermas:

O Estado moderno tem duas marcas constitutivas: a soberania do poder estatal, corporificada no príncipe, e a diferenciação do Estado em relação à sociedade, ainda que, de maneira paternalista, se tenha reservado às pessoas em particular um teor essencial de liberdade subjetiva.

Para Weber, uma característica do Estado Moderno é dominação racional-legal, ou o modelo burocrático, que estudaremos na próxima aula. Contudo, temos que lembrar que, como falamos acima, a primeira versão do Estado Moderno é o absolutismo, ainda marcado pela dominação tradicional e pelo patrimonialismo.

No modelo racional-legal temos uma ordem jurídica impositiva, isto porque o conjunto das normas e leis se exerce imperativamente. O Estado é a única organização cujo poder regulador ultrapassa os seus próprios limites organizacionais e se estende sobre a sociedade como um todo, sendo, por isso, chamado de “poder extroverso”. Em razão disso, o Estado é dotado de soberania. Segundo Weber:

O Estado moderno possui as seguintes características, primeiramente formais: uma autoridade administrativa e judicial sujeita à mudança de estatutos, e à qual a atividade do quadro administrativo, também sujeito à mudança de estatutos, se orienta. Este sistema de autoridade reivindica validade não apenas para membros da associação, a maioria dos quais a ela pertencem por nascimento, mas também, numa grande extensão, para toda conduta que ocorre dentro da área de sua jurisdição; é, portanto, uma associação compulsória com uma base territorial. Além disso, considera-se o uso da força hoje como legítimo, apenas na medida em que é permitido pelo Estado ou prescrito por ele. Esta reivindicação do Estado moderno de monopolizar o uso da força é uma marca distintiva tão essencial a ele com o seu aspecto de jurisdição compulsória e de organização contínua.

Falando da necessidade do Estado Moderno para a burguesia, Bobbio afirma que:

É fácil de entender, nesse processo, o papel desenvolvido pelas chamadas premissas necessárias para o nascimento da nova forma de

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organização do poder. A unidade de comando, a territorialidade do mesmo, o seu exercício através de um corpo qualificado de auxiliares “técnicos” são exigências de segurança e eficiência para os extratos de população que de uma parte não conseguem desenvolver suas relações sociais e econômicas no esquema das antigas estruturas organizacionais.

Podemos ver aqui três características que ele chama de “necessárias”: unidade de comando, territorialidade e corpo técnico.

A primeira função do Estado é a manter a ordem e a segurança interna, além da garantia da defesa externa. É com base nesta função que o aparato de segurança pública, o exército permanente, se torna um componente fundamental do Estado. É com base nisso também que o Estado é definido como a instituição que exerce o monopólio legítimo do uso da força ou da coerção organizada.

Contudo, a manutenção da ordem pelo Estado exige regras estabelecidas, um ordenamento jurídico impositivo. Portanto, outra função do Estado é a de regulamentação jurídica, de estabelecer o direito.

O Estado precisa ser financiado, principalmente por tributos cobrados junto à sociedade. Por esses motivos que outro componente fundamental do Estado é o quadro administrativo ou administração pública, que tem como atribuição decidir, instituir e aplicar as normas necessárias à coesão social e à gestão da coisa pública.

Essas são funções clássicas do Estado, presentes mesmo nas concepções do Estado mínimo, originalmente características do capitalismo competitivo, quando predominava aquilo que hoje denominamos Estado Liberal.

1.4.3 EtapasVamos ver agora a classificação proposta por Norberto Bobbio para a evolução do Estado, que já foi usada pela ESAF em questões. Para o autor, teríamos a seguinte sequência de formas de Estado consagradas junto aos historiadores:

1. Estado feudal

2. Estado estamental

3. Estado absoluto

4. Estado representativo.

Vamos ver as definições de Bobbio para cada um deles.

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O Estado feudal é caracterizado pelo exercício acumulativo das diversas funções diretivas por parte das mesmas pessoas e pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais.

No Estado feudal há uma fragmentação do poder. É só lembrarmos que no feudalismo os nobres possuidores de terra detinham um elevado poder sobre seus feudos. Ele está se referindo ao período anterior ao Estado Moderno, na Idade Média.

Ainda antes do Estado Moderno, antes do absolutismo, ele fala em Estado Estamental:

Por Estado estamental entende-se a organização política na qual se foram formando órgãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma posição social, precisamente os estamentos, e enquanto tais fruidores de direitos e privilégios que fazem valer contra o detentor do poder soberano através das assembléias deliberantes como os parlamentos.

Estamento, segundo o Dicionário Houaiss, significa: “grupo de indivíduos com análoga função social ou com influência em determinado campo de atividade”. Uma sociedade estamental é uma “ordem de status” baseada em “prestígio social” para qualificar positiva ou negativamente os grupos sociais. Uma sociedade dividida em estamentos diferencia-se de uma sociedade dividida em classes sociais porque, nesta, o critério de separação das classes é econômico, é a posse ou não de riqueza, de um bem. Já nos estamentos, o critério é status, é o pertencimento a determinado grupo. A pessoa é nobre porque nasceu com “sangue azul”. Por mais que um burguês viesse a adquirir riqueza, não faria parte da nobreza.

Os grupos positivamente qualificados costumam manter um estilo de vida que desvalora o trabalho físico, o esforço premeditado e contínuo, o interesse lucrativo, e buscam, através de monopólios sociais e econômicos, a manutenção de um modus vivendi exclusivo, diferenciado, traduzido em privilégios de consumo. A razão de ser dos estamentos, portanto, é a desigualdade calcada na diferenciação da honra pessoal, no exclusivismo social e na ostentação do consumo. Enquanto a mobilidade social numa sociedade dividida em classes é possível, pois basta uma pessoa adquirir riqueza para mudar de classe, na sociedade estamental quase não há mobilidade, pois as pessoas já nascem dentro de determinado estamento. Um exemplo próximo são as castas, na Índia.

Bobbio diferencia a evolução do Estado Moderno em duas fases: sociedade por camadas e moderna sociedade civil. A primeira era caracterizada pela presença de uma articulação social por camadas (baseadas no reconhecimento jurídico dos "direitos" e das "liberdades" tradicionais e no prestígio da posição social adquirida). Já a segunda,

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uma configuração contemporânea, constitui um modo diferente de articulação social, horizontal e não vertical, fundada sobre a posição de classes no confronto das relações de produção capitalista. Ou seja, num primeiro momento as relações sociais tinham um caráter muito mais estamental, baseadas no prestígio, enquanto no segundo, o capitalismo havia transformado essas relações para algo mais próximo das classes sociais, baseado na posição econômica dos indivíduos.

Podemos dizer que esta sociedade por camadas era caracterizada pela força dos antigos grupos feudais, os nobres, que ainda detinham muito poder e limitavam a atuação do príncipe, já que este, num primeiro momento, dependia das categorias ou camadas sociais para criar e manter o quadro administrativo e um exército permanente. Segundo Bobbio:

A origem "senhoril" do poder monárquico foi na verdade de tal maneira marcada que depressa condicionou o processo de formação do aparelho estatal por causa da absoluta insuficiência das entradas privadas do príncipe para a instauração de uma administração eficiente e, sobretudo, para a criação de um exército estável. Daí resultou a absoluta necessidade do príncipe de recorrer à ajuda do "país", por meio de suas expressões políticas e sociais: as categorias sociais reunidas em assembléia.

A ajuda financeira era subordinada a um prévio “conselho” por parte das próprias camadas sociais, em torno dos fins para os quais o príncipe tinha sido obrigado a solicitar sua ajuda financeira. Junte-se a isso o fato de a posição de força ocupada por essas camadas sociais, que detinham participação nos mais altos cargos administrativos e políticos que paulatinamente iam surgindo para acompanhar o crescimento da dimensão estatal.

Isso constituía um aspecto contraditório em relação à tendência centralizadora do Estado Moderno, uma tendência para a gestão monopolista do poder por parte de uma instância unitária e monocrática. O desenvolvimento constitucional do Estado moderno devia desenvolver-se contra as categorias sociais, em razão da eliminação do seu poder político e administrativo.

Pouco a pouco, o príncipe superou a dependência de financiamento junto a estas camadas e eliminou o "direito de aprovação dos impostos" dos grupos sociais, inventando modos e canais de arrecadação das contribuições controladas e administradas diretamente por ele. O principie ganhou poder, em detrimento das camadas sociais. Segundo Bobbio:

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Esse processo foi possível, conforme se acentuou, graças à progressiva conquista, por parte do príncipe e de seu aparelho administrativo, da esfera financeira, à qual estava intimamente ligada a esfera econômica do país. Isso pode acontecer, em primeiro lugar, graças ao apoio que o príncipe facilmente encontrou, na sua luta contra os privilégios, até fiscais, da mais importante das categorias sociais: a nobreza. Esse apoio veio da parte dos estratos mais empenhados da população e particularmente da burguesia urbana, na mira de uma distribuição dos encargos fiscais mais justa entre as várias forças do país e, também, de uma ativa política de defesa, de sustentação e de estímulo do príncipe em relação à atividade.

O principie ganha o apoio da burguesia na luta contra o poder da nobreza, principalmente contra os privilégios dessa classe, buscando uma tributação mais justa. Além disso, buscava-se uma delimitação de um espaço das relações sociais. Bobbio afirma que:

O Estado moderno significava precisamente a negação de tudo isso: a instauração de um nível diferente da vida social, a delimitação de uma esfera rigidamente separada de relações sociais, gerenciada exclusivamente de uma forma política.

A negação a que o autor se refere é a estrutura da sociedade de camadas sociais, em que não havia uma separação entre o social e o político e persistia uma articulação policêntrica, com base na prevalência senhorial ou "pessoal" do poder. Portanto, o Estado Moderno surge como uma forma de diferenciação do Estado e da sociedade civil. A gestão do Estado deverá se dar de forma exclusivamente política, excluindo-se a influência das categorias sociais.

Outra separação importante que ocorreu se deu em relação à Igreja. Para Bobbio:

A distinção entre o espiritual e o mundano, inicialmente introduzida pelos papas para fundamentar o primado da Igreja, desencadeou agora sua força na direção do primado e da supremacia da política.

A burguesia não lutava apenas contra a nobreza, mas também contra o clero. A Igreja havia colocado de forma bem distintas o plano terreno, mundano, e o espiritual, com o objetivo de se colocar como representante de Deus na Terra e fundamentar seu poder junto à sociedade. No entanto, esta distinção foi usada depois pelo Estado moderno justamente para instaurar o Estado laico, o Estado em que prevalece a política e não a religião.

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O Estado Moderno nasceu da passagem do feudalismo para a Idade Moderna, possuindo como característica marcante a centralização e a personalização na figura do monarca que detinha o poder com exclusividade. A unidade dos Estados Nacionais convergia para o soberano, que era o elemento de integração, consolidação e poder. Nascia a primeira versão do Estado Moderno, o Estado Absolutista.

A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo paralelo de concentração e de centralização do poder num determinado território. Por concentração, entende-se aquele processo pelo qual os poderes através dos quais se exerce a soberania – o poder de ditar leis válidas para toda a coletividade, o poder jurisdicional, o poder de usar a força no interior e no exterior com exclusividade, enfim o poder de impor tributos – são atribuídos de direito ao soberano pelos legistas e exercidos de fato pelo rei e pelos funcionários dele diretamente dependentes. Por centralização, entende-se o processo de eliminação ou de exautoração de ordenamentos jurídicos inferiores, como as cidades, as corporações, as sociedades particulares, que apenas sobrevivem não mais como ordenamentos originários e autônomos, mas como ordenamentos derivados de uma autorização ou da tolerância do poder central.

Percebam que o autor fala em concentração e centralização do poder. A primeira corresponde ao fato de somente o Rei poderia exercer o poder, ele seria o único poder dentro do território. Exercendo a soberania. A centralização corresponde ao fato de as cidades e outras formas de associação perderem sua autonomia.

Quando o Estado (monarca) se tornou monopolista na esfera política, os interlocutores diretos deixaram de ser as categorias, passando a ser os indivíduos, instalando o princípio do individualismo, um dos marcos do Estado Moderno Liberal.

A excessiva centralização de poder nas mãos do rei, cujo poder era ilimitado e arbitrário, passou a se tornar um empecilho para a classe burguesa. O Estado Absoluto, de incentivador da burguesia, passou a ser seu obstrutor. No início, havia o apoio a uma política mercantilista na qual a burguesia comercial era privilegiada com uma estreita regulamentação das atividades econômicas, o que era uma necessidade para a consolidação e o acúmulo de capitais. Porém, o Estado Absolutista passou a ser considerado um empecilho ao desenvolvimento das atividades econômicas quando houve a necessidade de expansão do capital para além das fronteiras nacionais.

Com a Revolução Francesa, em 1789, uma nova fase do Estado Moderno tem início. Sob os auspícios de Rousseau e tendo como propulsor o desejo da burguesia de ir além do poder econômico que já possuía, tomando para si o poder político que era privilégio

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da aristocracia, nasce o Estado Liberal. Se durante o regime absolutista havia a concentração do poder nas mãos do monarca, no Estado Liberal o poder foi transferido ao povo. A determinação da política econômica era no sentido de não intervenção nos negócios privados, deixando-os fluir ao sabor do mercado. Segundo Mário Lúcio Quintão Soares:

O liberalismo deve ser compreendido como movimento econômico-político, tendo como base social a classe burguesa, propugnando, na esfera econômica, o princípio do absenteísmo estatal e, na esfera política, sufrágio, câmaras representativas, respeito à oposição e separação de poderes.

Em relação ao Estado Representativo, Bobbio afirma que ele surgiu “sob a forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, na Inglaterra após a ‘grande rebelião’, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revolta das treze colônias contra a pátria-mãe”.

O que diferencia o Estado representativo dos demais é a presença de representantes do “povo” (por povo entendendo-se, ao menos num primeiro momento, a classe burguesa), reconhecendo-se direitos políticos aos indivíduos. No Estado representativo os sujeitos soberanos não são mais o príncipe investido por Deus, nem o povo como sujeito coletivo e indiferenciado. É o cidadão, que possui direitos naturais, direitos que cada indivíduo tem por natureza e por lei e que, precisamente porque originários e não adquiridos, podem fazer valer contra o Estado, inclusive recorrendo ao remédio extremo da desobediência civil e da resistência.

Vimos acima que Bobbio colocou uma sequência reconhecida pela doutrina que contém quatro tipos de Estado: feudal, estamental, absolutista e representativo. Mas o autor afirma que a última fase da sequencia histórica não exaure certamente a variedade de estados hoje existentes. Os Estados que escapam da fase dos Estados representativos são os Estados socialistas (Bobbio escreve ainda na época da URSS). Contudo, não é fácil dizer qual é a forma de Estado que eles representam, sendo muito amplo o contraste entre os princípios constitucionais oficialmente proclamados e a realidade de fato.

Um traço marcante que diferencia os Estados socialistas, em contraste com as democracias representativas é que, nestas, nós temos sistemas multipartidários e, naqueles, monopartidários. É só lembrarmos-nos da China, que até hoje mantém um sistema de partido único. Segundo Bobbio:

O domínio de um partido único reintroduz no sistema político o princípio monocrático dos governos monárquicos do passado e talvez constitua

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o verdadeiro elemento característico dos Estados socialistas de inspiração leninista direta ou indireta, em confronto com os sistemas poliárquicos das democracias ocidentais.

Vimos como foi a evolução do Estado Moderno até o Estado Representativo, até a formação das democracias liberais. Veremos a continuação, com a formação do Estado de Bem-Estar Social e o Neoliberalismo mais a frente.

2 Direitos Civis, Políticos e Sociais

Segundo Marshall, podemos distinguir na história política das sociedades industriais três fases:

1. A primeira, ao redor do século XVIII, é dominada pela luta pela conquista dos direitos civis, como liberdade de pensamento, de expressão, etc.

2. A fase seguinte, ao redor do século XIX, tem como centro a reivindicação dos direitos políticos, como o de organização, de propaganda, de voto, etc., e culmina na conquista do sufrágio universal;

3. É precisamente o desenvolvimento da democracia e o aumento do poder político das organizações operárias que dão origem à terceira fase, caracterizada pelo problema dos direitos sociais, cujo acatamento é considerado como pré-requisito para a consecução da plena participação política.

Resumindo, temos que os direitos civis são da primeira fase, os políticos da segunda e os sociais da terceira.

Essa classificação é muito parecida com uma outra usada bastante aqui no Brasil:

1. Os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos civis e políticos. Correspondem às liberdades clássicas, e têm por fundamento o princípio da liberdade.

2. Os direitos fundamentais de segunda geração são os direitos sociais, econômicos e culturais, e têm por fulcro o princípio da igualdade.

3. Os direitos fundamentais de terceira geração são os direitos vinculados ao desenvolvimento, à paz, ao meio-ambiente, e têm por lastro o ideal da fraternidade.

Durante a evolução do Estado Moderno, até o surgimento do Estado de Bem-Estar Social, ocorreram três fases que se distinguem pelos direitos que foram privilegiados. A

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primeira fase foi a dos direitos civis, que obrigam o Estado a uma atitude de não intervenção, de abstenção. O liberalismo defendia a retirada do Estado da vida privada dos cidadãos, prevendo uma série de direitos como liberdade de pensamento, de associação, de expressão, etc.

Já a segunda fase trouxe os direitos políticos (liberdade de associação nos partidos, direitos eleitorais), que estão ligados a formação do Estado democrático representativo e implicam uma liberdade ativa, uma participação dos cidadãos na determinação dos objetivos políticos do Estado.

Já a terceira fase fortaleceu os direitos sociais (direito ao trabalho, à assistência, ao estudo, à tutela da saúde, liberdade da miséria e do medo), maturados pelas novas exigências da sociedade industrial e que implicam, por seu lado, um comportamento ativo por parte do Estado ao garantir aos cidadãos uma situação de certeza.

Muitos defendem que os direitos sociais surgiram como uma forma de acalmar as massas, para evitar que ideias socialistas ganhassem espaço e os trabalhadores se revoltassem. Para Marshall, se o Estado provia as necessidades do trabalhador, não era como portador de qualquer direito à assistência, mas como tendentemente perigoso para a ordem pública e para a ordem da coletividade. Era uma situação de oposição entre os direitos civis e políticos de um lado e, de outro, os direitos sociais, já que estes surgiam em contradição àqueles. Aqueles que recebiam a assistência social do Estado perdiam sua condição de cidadão.

Um exemplo é a Lei dos Pobres da Inglaterra, aprovada em 1834, pela qual a pessoa obtinha seu mantimento a expensas da coletividade, e em troca da renunciava à própria liberdade pessoal. A “Poor Law” não tratava as reivindicações dos pobres como direito de cidadania, mas ao contrário, como reivindicações que só poderiam ser atendidas se eles deixassem de ser cidadãos, pois os indigentes abriam mão dos direitos civis.

Somente em meados do século XX que surgem medidas assistenciais que não só não estão em contradição com os direitos civis e políticos das classes desfavorecidas, mas constituem, de algum modo, seu desenvolvimento. É essa a principal característica do Estado de Bem-Estar Social: a atuação do Estado passa a ser considerada como um direito do cidadão.

Segundo Bobbio:

A “questão social”, surgida como efeito da Revolução Industrial, representou o fim de uma concepção orgânica da sociedade e do Estado, e não permitiu que a unidade da formação econômica-política pudesse ser assegurada pelo desenvolvimento autônomo da sociedade, com a simples garantia de intervenção política de “polícia”.

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Bobbio fala em “concepção orgânica da sociedade e do Estado”. O termo orgânico aqui está ligado a uma acepção que usamos em nossos cotidianos. Quando vamos à feira em busca de vegetais, nos deparamos com uma escolha: produtos comuns ou orgânicos. Podemos escolher entre produtos com agrotóxicos ou sem. Os vegetais orgânicos possuem como característica a não intervenção do homem em seu desenvolvimento, ou seja, trata-se de um desenvolvimento natural, autônomo.

O mesmo acontece com as sociedades e o Estado. A concepção orgânica significa que, no Estado liberal, não haveria uma intervenção de cima, a sociedade e os indivíduos poderiam se desenvolver naturalmente, sem ingerências do Estado. Com o surgimento da questão social, faz-se necessária uma atuação positiva do Estado para concretizar estes direitos.

2.1 Evolução do papel do Estado e emergência da questão social

Norberto Bobbio diferencia os momentos da evolução do Estado de acordo com a alternância entre a prevalência do privado ou do público, da autonomia da sociedade o da intervenção estatal.

Segundo o autor, durante séculos o direito privado foi o direito por excelência. O primado do direito privado se afirmou com a difusão e recepção no Ocidente do direito romano, cujos institutos principais são a família, a propriedade, o contrato e os testamentos.

O direito público como corpo sistemático de normas nasce bem mais tarde, apenas na formação do Estado Moderno. Com a dissolução do Estado antigo e com a formação das monarquias germânicas, as relações políticas sofreram uma transformação tão profunda e surgiram na sociedade medieval problemas tão diversos – como aqueles das relações entre Estado e Igreja, entre o Império e os reinos, entre os reinos e as cidades – que o direito romano passou a oferecer poucos instrumentos de interpretação e análise.

No Estado Liberal manteve-se o primado do privado sobre o público, defendendo a não intervenção do Estado na esfera privada. É com o surgimento dos direitos sociais que assistimos ao fortalecimento do direito público. Segundo Bobbio:

O primado do público assumiu várias formas segundo os vários modos através dos quais se manifestou, sobretudo no último século, a reação contra a concepção liberal do Estado e se configurou a derrota histórica, embora não definitiva, do Estado Mínimo. Ele se funda sobre a contraposição do interesse coletivo ao interesse individual e sobre a necessária subordinação, até a eventual supressão, do segundo ao

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primeiro, bem como a irredutibilidade do bem comum à soma dos bens individuais, e, portanto sobre a crítica de uma das teses mais correntes do utilitarismo elementar.

O primado do público significa o aumento da intervenção estatal na regulação dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos da sociedade. Com efeito, segue o caminho inverso ao da emancipação da sociedade civil em relação ao Estado, emancipação que fora uma das consequências históricas do nascimento, crescimento e hegemonia da classe burguesa.

O primado do público sobre o privado representa também o primado da política sobre a economia, ou seja, da ordem dirigida do alto em relação à ordem espontânea, da organização vertical da sociedade em relação à organização horizontal. O processo de intervenção dos poderes públicos na regulação da economia é também designado como processo de “publicização do privado”.

Contudo, esse processo é apenas uma das faces do processo de transformação das sociedades industriais mais avançadas. Ele é acompanhado e complicado por um processo inverso que Bobbio chama de “privatização do público”. O Estado Moderno é caracterizado por uma sociedade civil constituída por grupos organizados cada vez mais fortes e atravessada por conflitos grupais que se renovam continuamente. Estes grupos são considerados como organizações semissoberanas, como as grandes empresas, as associações sindicais, os partidos, dotadas de grande poder de influência nos rumos do Estado.

Assim, a publicização do privado representa o processo de subordinação dos interesses do privado aos interesses da coletividade, representada pelo Estado que invade e engloba progressivamente a sociedade civil. Já a privatização do público é caracterizada pela revanche dos interesses privados através da formação de grandes grupos que se servem dos aparatos públicos para o alcance dos próprios objetivos.

Com o surgimento do Estado Liberal e o fortalecimento dos direitos políticos, se desenvolve também a primeira noção de Estado de Direito. Exigia-se que fossem estabelecidas regras estáveis e formais que impusessem limites a atuação estatal, ganhando força o movimento político do Constitucionalismo, que tinha como objetivo estabelecer em toda parte regimes constitucionais, governos limitados em seus poderes, submetidos a constituições escritas. Este movimento confunde-se, no plano político, com o liberalismo e, como este, sua marcha no século XIX e nas três primeiras décadas do século XX foi triunfal.

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Uma das principais inovações do Estado Moderno foi a separação da esfera pública da privada. Vimos que o Estado Moderno surge como uma forma de diferenciação do Estado e da sociedade civil. Segundo Bobbio:

Através da concepção liberal do Estado tornam-se finalmente conhecidas e constitucionalizadas, isto é, fixadas em regras fundamentais, a contraposição e a linha de demarcação entre o Estado e o não-Estado, por não-Estado entendendo-se a sociedade religiosa e em geral a vida intelectual e moral dos indivíduos e dos grupos.

Bobbio, para melhor conceituar o Estado de Direito, faz uma distinção entre a limitação dos poderes do Estado e a limitação das funções do Estado:

O liberalismo é uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às suas funções. A noção corrente que serve para representar o primeiro é Estado de direito; a noção corrente para representar o segundo é Estado mínimo. Enquanto o Estado de direito se contrapõe ao Estado absoluto, o Estado mínimo se contrapõe ao Estado máximo: deve-se, então, dizer que o Estado liberal se afirma na luta contra o Estado absoluto em defesa do Estado de direito e contra o Estado máximo em defesa do Estado mínimo, ainda que nem sempre os dois movimentos de emancipação coincidam histórica e praticamente.

Podemos afirmar que os principais elementos do Estado de Direito são:

a submissão do império a lei,

a separação dos poderes

a definição de direitos e garantias individuais.

A submissão ao império da lei se dá com o estabelecimento das primeiras Constituições escritas, a sujeição do poder estatal ao ordenamento jurídico. Os liberais se enquadram na teoria jusnaturalista, defendendo que há uma série de direitos que precedem o Estado e que este deve obedecê-los. O Estado de Direito é aquele em que apenas as leis podem definir qual é o Direito que competirá ao governante aplicar.

Em relação à separação de poderes, Montesquieu ganhou notoriedade com a criação da teoria da colaboração de funções, apontando a existência de três formas: o Legislativo, que fazia e corrigia as leis; o Executivo das coisas que dependem dos direitos das gentes que promovia a paz ou a guerra e ações ligadas a outros Estados; e, por último, o Executivo das coisas que dependem do Direito civil, ou seja, aquele que possui o

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poder de julgar porque punia os crimes e julgava os litígios entre os indivíduos, dando este último origem ao Poder Judiciário.

Por fim, a enunciação dos direitos fundamentais refere-se justamente ao reconhecimento dos direitos que devem ser obedecidos pelo Estado. O objetivo das primeiras constituições liberais era assegurar à sociedade certos direitos e garantias mínimos, destinados a lhes conferir um espaço de liberdade perante o Estado. Foram previstos, então, os direitos à liberdade de locomoção, de reunião, de manifestação do pensamento, o direito à vida e à propriedade, entre outros, bem como garantias relacionadas a estes direitos, a exemplo do habeas-corpus, remédio constitucional destinado a assegurar o direito à liberdade de locomoção.

Estes direitos e garantias correspondem ao que chamamos de direitos fundamentais de primeira geração. Sua característica principal é que exigem uma não ação do Estado, no sentido de respeitar as esferas jurídicas por eles protegidas. Por isso que estas Constituições eram conhecidas também como negativas, dando ênfase ao objetivo construir um espaço de liberdade individual sem intervenção estatal.

Com o surgimento do Estado Representativo, assistiu-se ao surgimento do Estado Democrático de Direito, que reúne os princípios do Estado Democrático e o do Estado de Direito. Apesar de as primeiras constituições preverem a participação popular por meio do voto, esta participação era ainda restrita. Segundo Darcy Azambuja:

As primeiras Constituições escritas e leis que se lhes seguiram, ainda que inspiradas nas ideias igualitárias das doutrinas do Contrato Social, não deram o direito de voto a todos os membros da sociedade. A primeira grande exclusão foi das mulheres, até bem recentemente ainda. Os legisladores da Revolução Francesa, em contradição com as ideias de igualdade que pregavam, partiram do axioma de que sociedade deve ser dirigida pelos mais sensatos, mais inteligentes, mais capazes, pelos melhores, por uma elite enfim. É o que se denomina sufrágio restrito. Para descobrir essa elite dois critérios foram adotados: 1º) são mais capazes os indivíduos que possuem bens de fortuna; 2º) são mais capazes os que possuem mais instrução. É o sistema do senso alto, do voto restrito pelas condições de fortuna ou de instrução.

Além disso, o termo democrático não significa apenas que há uma maior participação da sociedade por meio do voto. O Estado de Direito durante o início do Estado Liberal teve como consequência a distorção do princípio da legalidade. Restringiu-se o exame da validade de uma lei aos seus aspectos meramente formais, permitindo a subsistência no

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ordenamento jurídico estatal de qualquer regra posta em vigor, desde que houvesse sido observado o procedimento próprio para sua instituição.

Por causa disso, o Estado de Direito evoluiu em direção ao Estado Democrático de Direito, no qual se considera a lei não só pelo ângulo formal, mas também pelo material, reconhecendo-se a legitimidade tão somente daquelas que apresentarem conteúdo democrático, em conformidade com os interesses e aspirações do povo.

Segundo Macpherson, a expressão “democracia liberal” também apresenta esta dualidade de conceitos. Num primeiro sentido, ela pode ser considerada como a democracia de uma sociedade de mercado capitalista, onde a liberdade é um valor de suma importância. Num segundo sentido, ela expressa uma sociedade empenhada em garantir que todos os seus membros sejam igualmente livres para concretizar suas capacidades, ou seja, ao lado da liberdade, a igualdade torna-se um valor imprescindível. Segundo o autor:

“Liberal” pode significar a liberdade do mais forte para derrubar o mais fraco de acordo com regras do mercado; ou pode significar de fato igual liberdade para todos empregarem e desenvolverem suas capacidades. Esta última definição é contraditória em relação à primeira.

Como teoria, a democracia liberal começou a surgir em princípios do século XIX. Mas é em meados do mesmo século que uma mudança na sociedade irá exigir um modelo muito diferente de democracia. A classe trabalhadora começava a parecer perigosa à propriedade, uma vez que as suas condições de vida e trabalho se tornavam tão ostensivamente desumanas. Começa a ganhar força o socialismo, colocando em alerta a burguesia. Segundo Cerqueira Filho:

Por “questão social”, no sentido universal do termo, queremos significar o conjunto de problemas políticos, sociais, econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a ‘questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho.

Assim, numa segunda fase do Estado Liberal, no século XIX, buscou-se sua legitimação, através de lutas políticas e sociais, com a ampliação do conceito de cidadania, mediante expansão dos direitos políticos (como voto secreto, periódico e universal) a outros segmentos sociais e o resgate da ideia da igualdade jurídica como o marco dos direitos fundamentais. Percebe-se uma mudança de rumos e de conteúdos no Estado Liberal, quando este passa a assumir tarefas positivas, prestações públicas, a serem

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asseguradas ao cidadão como direitos peculiares à cidadania, ou agir como ator privilegiado do jogo sócio-econômico.

No decorrer da evolução política das sociedades, surge um segundo tipo de Constituição, a social ou dirigente. Enquanto as liberais eram chamadas de negativas, as sociais, pelo contrário, exigem uma atuação positiva do Estado. Esta mudança de paradigma ocorreu porque se percebeu que o Estado Liberal não assegurava plenas condições de desenvolvimento para os membros economicamente mais fracos do corpo social, o que impedia a plena fruição das liberdades asseguradas pela Constituição liberal.

O antigo individualismo do liberalismo deixou de se adequar à nova realidade social. A liberdade negativa precisou ser revista, girando em torno da remoção de obstáculos para o autodesenvolvimento dos homens. Essa foi a fórmula de passagem do Estado mínimo para o Estado Social, o que resultou na transformação de seu perfil, deixando de ser uma atuação negativa, para promover a assunção de tarefas positivas do Estado.

O surgimento dos direitos sociais exige que o Estado coloque em prática uma série de políticas públicas que busquem justamente conferir tais condições materiais, de modo a assegurar um mínimo de igualdade entre os membros da sociedade. São os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, entre outros, que se voltam a obter uma igualdade real entre os indivíduos, em complemento à igualdade formal assegurada pelo modelo anterior de Constituição. Aqui nascia o Estado Social de Direito.

A primeira consequência desse novo perfil de atuação positiva trazido pelo Estado Social de Direito foi a diminuição da atividade livre do indivíduo. Cresce a intervenção estatal, desaparece o modelo de Estado Mínimo, as liberdades contratuais e econômicas são reduzidas, e governo e os partidos são mais suscetíveis às reivindicações sociais.

2.2 Estado de Bem­Estar Social

Considera-se que o Estado de Bem-Estar Social teve início na década de 1940, na Inglaterra. Contudo, isso não significa que antes disso não houvesse nenhum tipo de política social, ou então que o liberalismo permaneceu ileso até essa data. Desde a metade do Século XIX já podem ser observadas diversas iniciativas de alguns países no sentido de o Estado ter uma participação maior no provimento de serviços sociais, como vimos acima na Lei dos Pobres na Inglaterra.

Outro exemplo foi a Alemanha de Bismarck, no século XIX, durante período de intensa industrialização. Um dos maiores avanços da Alemanha e de seus programas de

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"serviços sociais" foi na área da educação. O princípio fundamental foi estabelecer um nível elevado de educação do seu povo, para que a estrutura produtiva pudesse alcançar graus de desenvolvimento que proporcionassem ao país maiores vantagens econômicas e sociais diante de seus concorrentes europeus.

O Código Prussiano de 1794 anunciava um sistema de proteção social que foi aperfeiçoado por Bismarck. Esse sistema preconizava a função exclusiva do Estado em garantir políticas que pudessem aliviar o sofrimento dos despossuídos, inclusive com a criação de empregos para os excluídos da máquina econômica. Bismarck tinha uma preocupação assentada no desenvolvimento do sistema de proteção social. Em 1883, foi aprovada a Lei de Seguro-Saúde com o objetivo de integrar em um sistema único de segurança as principais categorias de trabalho, principalmente aqueles trabalhadores das minas de carvão.

Porém, as políticas sociais do século XIX se caracterizavam pela contradição entre os direitos civis e políticos, de um lado, e os sociais, de outro. Aquele que recebesse ajuda estatal perdia sua cidadania.

Os anos 1920 e 1930 assinalam um grande passo para a constituição do Welfare State. A Primeira Guerra Mundial, assim como a Segunda, permitem experimentar a maciça intervenção do Estado, tanto na produção (indústria bélica), como na distribuição (gêneros alimentícios e sanitários). A grande crise de 1929, com as tensões criadas pela inflação e pelo desemprego, provoca em todo o mundo ocidental um forte aumento das despesas públicas para a sustentação do emprego e das condições de vida dos trabalhadores.

Os estados se viram no meio de uma grave crise econômica com um número cada vez maior de pessoas atingindo os níveis da pobreza e da indigência. Como respostas à crise foram postas em prática as ideias econômicas de John Maynard Keynes, que defendia um papel mais interventor do Estado na economia de forma a estimular a demanda e, por consequência, o crescimento.

Mas, então, o que diferencia as políticas adotadas pela Inglaterra na década de 1940 das anteriores para que consideremos o início do Estado de Bem-Estar Social apenas neste período? Segundo Bobbio, o simples compromisso do Estado na prestação de serviços sociais não configuraria o Estado de Bem-Estar Social; é preciso que estes serviços sociais sejam considerados um direito da população. Bobbio afirma que o exemplo mais próximo da definição é a política posta em prática na Grã-Bretanha a partir da Segunda Guerra Mundial, quando foram aprovadas providências no campo da saúde e da educação, para garantir serviços idênticos a todos os cidadãos, independentemente da sua renda. Segundo o autor:

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Na realidade, o que distingue o Estado assistencial de outros tipos de Estado não é tanto a intervenção direta das estruturas públicas na melhoria do nível de vida da população quanto o fato de que tal ação é reivindicada pelos cidadãos como um direito.

Essa escolha inglesa de conceber as políticas sociais como um direito, e não apenas como um assistencialismo, está representada no texto de uma de suas leis, que é considerado o princípio fundamental do Estado de Bem-Estar:

Independentemente de sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito de ser protegidos – com pagamento em dinheiro ou com serviços – contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta (doença, desemprego, maternidade).

Assim, o princípio básico do estado do bem-estar social é que TODO cidadão, seja rico, seja pobre, tem o direito a um conjunto de bens e serviços que deveriam ter seu fornecimento garantido diretamente pelo Estado. O Estado de Bem-Estar defende a cobertura universal, ou seja, todos têm direito, não só os mais pobres. Esses direitos incluiriam a educação em todos os níveis, a assistência médica gratuita, o auxílio ao desempregado, a garantia de uma renda mínima, recursos adicionais para a criação dos filhos, etc.

Bobbio define o Estado de Bem-Estar Social como:

O Estado de Bem-Estar (Welfare State), ou Estado assistencial, pode ser definido, à primeira análise, como Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação saúde, habitação, educação, assegurados a todo o cidadão, não como caridade, mas como direito político.

Já Guedes afirma que:

A definição de Welfare State pode ser compreendida como um conjunto de serviços e benefícios sociais de alcance universal promovidos pelo Estado com a finalidade de garantir uma certa "harmonia" entre o avanço das forças de mercado e uma relativa estabilidade social, suprindo a sociedade de benefícios sociais que significam segurança aos indivíduos para manterem um mínimo de base material e níveis de padrão de vida, que possam enfrentar os efeitos deletérios de uma estrutura de produção capitalista desenvolvida e excludente.

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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, todos os Estados industrializados tomaram medidas que estenderam a rede dos serviços sociais, instituíram uma carga fiscal fortemente progressiva e intervieram na sustentação do emprego ou da renda dos desempregados.

Bobbio divide as causas do crescimento do Estado de Bem-Estar em dois tipos: uma reação contra o crescimento do socialismo; uma forma aumentar o poder de compra da sociedade para permitir o desenvolvimento do capitalismo de massa.

Teóricos das décadas de 1950 e 60 deram bastante atenção às causas políticas, que estão no primeiro grupo. Para não permitir que as classes trabalhadoras se direcionassem para as ideologias socialistas, a burguesia teria feito concessões com o objetivo de melhorar as condições da sociedade e manter a legitimidade de sua hegemonia. Assim, o Estado de bem-estar seria uma criação da classe capitalista para legitimar seus interesses e, geralmente, as reformas não passariam de instrumentos com objetivos de reforçar o status quo e perpetuar a dominação sobre a classe trabalhadora. A concessão de direitos econômicos, sociais e políticos seria uma forma de os representantes do capital buscarem apoio das forças opostas, evitando, com isso, que insurgissem processos de grandes rupturas.

Gramsci chama isso de “revolução passiva”, em que a burguesia, para manter seu controle econômico, permite que a esfera política satisfaça certas demandas dos sindicatos e dos partidos políticos de massas da sociedade civil. Assim, ela aceita uma realidade aquém dos seus interesses econômicos com o objetivo de manter sua hegemonia.

Pesquisas mais recentes têm sublinhado o papel desempenhado por fatores econômicos na constituição do Estado assistencial. O fordismo demonstrou que era possível um capitalismo de massa, com produção em larga escala, mas para isso era preciso o consumo de massa, ou seja, uma sociedade com condições mínimas de subsistência que pudesse ir além da satisfação das necessidades mais essenciais para adquirir bens de consumo. Assim, o Estado de bem-estar teria sua razão de ser na argumentação do princípio de que a classe capitalista, ao perceber as necessidades de expansão do consumo em decorrência da produção em massa, estabeleceu uma série de acordos e acertos institucionais que foram necessários para a continuidade do processo de produção e acumulação.

Fordismo: modelo de produçãoem massa que revolucionou a

indústria automobilística apartir de 1914, adotando a

especialização do trabalho, apadronização e a simplificação.

A linha de montagem foiaperfeiçoada, com a

automatização.

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2.2.1 E no Brasil?Pode-se dizer que na história brasileira, mesmo considerando suas especificidades, não se constituiu um sistema de seguridade social próximo do modelo que ficou conhecido como Welfare State. Talvez seja mais coerente considerar que, durante todo o processo histórico de formação e estruturação das formas do Estado moderno no Brasil, não se tenha implementado mais do que apenas algumas políticas de bem-estar social.

No Brasil e nos países latino-americanos da periferia do mundo capitalista, a dimensão social não foi aplicada da mesma forma que nos países desenvolvidos. O Estado nacional-desenvolvimentista é característico desse grupo nessa época, e se preocupava em promover a industrialização por meio da ação direta do Estado, como criador e impulsionador de empresas estatais industriais. O objetivo primordial era a industrialização do país, ficando para um segundo plano a instituição de condições de subsistência mínimas para a população.

Na década de 1930, grande parte da população brasileira ainda se concentrava nas zonas rurais, onde grandes conflitos ocorriam num contexto de um sistema social escravagista e semifeudal. Apesar do rápido processo de urbanização, os trabalhadores não reuniam condições concretas e objetivas que fossem responsáveis pelo amadurecimento de lutas e movimentos políticos e engendrassem situações de ruptura contra as condições de exploração e apropriação da riqueza capitalista. Ou seja, as condições não alcançavam um estágio de amadurecimento para a luta operária.

Ao contrário do que houve em países da Europa, a classe trabalhadora, em vez de se fortalecer diante dos avanços das forças produtivas, foi sendo enfraquecida pelo esvaziamento que o próprio Estado getulista promovia, ao incorporar a luta de classe no seio do próprio Estado. Veremos na Aula 04 uma forma de intermediação de interesses, o corporativismo – em que Estados fascistas mantinham a estabilidade junto às classes trabalhadoras cooptando seus líderes por meio dos movimentos sindicais. A "estatização da luta de classes", terminologia empregada por Draibe, colocou freios no surgimento dos movimentos contestadores da nova ordem.

Autores colocam que a construção da cidadania no Brasil ocorreu por três momentos: o da cidadania concedida, o da cidadania regulada e o da nova cidadania.

A cidadania concedida era característica da Primeira República, quando havia a forte presença dos “coronéis”. Nesse contexto, o homem livre e pobre, para usufruir alguns direitos elementares da cidadania civil, dependia necessariamente dos favores dos senhores territoriais. Assim, não existia uma relação direta das pessoas com o Estado, esta relação era mediada pela figura do “coronel“.

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Wanderley dos Santos afirma que a cidadania regulada se instaura no Brasil a partir de 1943, no período de expansão e consolidação do capital industrial. O Estado formaliza uma legislação especial de garantia de direitos aos trabalhadores. Nesse período, o cidadão portador de direitos limita-se aos trabalhadores urbanos de carteira assinada, fato que exclui a expansão dos direitos sociais aos demais indivíduos da sociedade, como os trabalhadores rurais e os trabalhadores autônomos urbanos. O autor traz a seguinte definição de cidadania regulada:

Por cidadania regulada entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se, não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional e que, ademais, tal sistema de estratificação ocupacional é definido por norma legal. Em outras palavras, são cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer uma das ocupações reconhecidas e definidas em lei.

Ou seja, a cidadania é limitada por fatores políticos. O autor atribui o termo cidadania regulada a incorporação dos direitos sociais e trabalhistas durante o Governo Vargas, em detrimento dos direitos civis e políticos.

A partir dos anos 1970 inicia-se no Brasil uma série de movimentos populares que, por possuírem características específicas que os diferenciam dos movimentos tradicionais, são denominados “Novos Movimentos Sociais”. São movimentos de atores sociais que até este momento tinham pouca ou nenhuma representação no cenário político brasileiro: mulheres, negros, homossexuais, ecologistas, grupos oriundos das periferias urbanas.

Também chamada de a cidadania ampliada, a nova cidadania representa, além do reconhecimento de novos direitos a personagens antigos, e de direitos antigos a novos personagens, a constituição de sujeitos sociais ativos e de identidades coletivas em meio a um cenário político e social revigorado.

No período que vai do segundo governo Vargas ao golpe militar de 1964, não houve muitos avanços rumo à construção de um sistema de seguridade social. Muito pelo contrário, o fortalecimento do ideário desenvolvimentista eclipsou as tentativas de formulação e implementação de políticas nesse sentido. Até início dos anos 1960, o debate econômico centrou-se na problemática do desenvolvimento das forças produtivas, deixando-se em plano secundário as questões mais diretamente sociais, como distribuição de renda e da propriedade, tampouco as políticas de benefícios sociais se ampliaram.

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Após a morte de Vargas, em 1954, os rumos da economia e da sociedade brasileira foram traçados sob fortes pressões e tensões políticas. A classe trabalhadora se agitava, todavia tinha pouco poder de reivindicação para promover mudanças institucionais importantes e continuava atrelada aos imperativos do Estado burguês. A aliança entre a burguesia e a velha oligarquia se estreitava com o objetivo de avançar no projeto de capitalismo centralizador.

Dessa reflexão pode-se inferir que o sistema de seguridade social no Brasil, no contexto e nas características que assumiram a luta de classes e a composição dos blocos hegemônicos, ao contrário das experiências de países europeus no período pós-II Guerra Mundial, não reuniu as condições suficientes para ser constituído.

Na ditadura de 1964 foi posto em prática um projeto megalomaníaco de Brasil-potência, financiado com abundante crédito externo, que ampliou as possibilidades de investimentos no país (infraestrutura, sistema educacional, notadamente as universidades, telecomunicações etc.). Entretanto, o país não dispôs de um sistema de seguridade social de cobertura universal, semelhante aos Estados de bem-estar social europeus. Repete-se a mesma estratégia adotada anteriormente: privilegia-se o crescimento e desenvolvimento econômico, deixando de lado a questão social. Como afirmou o então Ministro da Fazenda, Delfim Netto: “é preciso deixar o bolo crescer para depois dividir”.

O que restou de benefícios sociais, principalmente em termos de educação e saúde, foi direcionado, em sua maioria, para a demanda das classes médias em consolidação no país. Mais uma vez, grande parte da massa trabalhadora, tanto do campo quanto aquela concentrada nos rincões de pobreza urbanos, ficou excluída.

Com a crise fiscal a partir na década de 1980 e o crescimento exponencial da inflação, a primazia da área econômica sobre a social permaneceu. Novamente, as políticas públicas se concentraram nas políticas econômicas ficando todas as demais subordinadas aos resultados do ajustamento externo. Essa situação deixou o Estado em condições bastante deterioradas em se tratando do financiamento das políticas públicas. Dessa forma, houve perdas consideráveis nas políticas de bem-estar.

A Constituição de 1988 até tentou implantar no Brasil uma modelo de seguridade social próximo ao Welfare State. No entanto, os elementos da crise econômica e o curso da reforma do Estado, que vinha caminhando numa perspectiva neoliberal, criaram obstáculos à aplicação dos preceitos da nova Constituição.

Apesar de a Constituição rezar pela garantia de um modelo de seguridade social aos cidadãos, incorporando todos os trabalhadores (informais, marginalizados, da Zona Rural etc.) ao sistema de proteção social, as condições deterioradas do financiamento

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do setor público inviabilizaram a ampliação dos gastos sociais e execução de políticas públicas.

Outro grande fator responsável pelo retrocesso no processo de construção de um sistema mais amplo de seguridade social no Brasil foi o drástico movimento de desmonte do aparelho estatal federal realizado pelo governo Collor de Mello. As principais vítimas desse processo foram as áreas de assistência social e os programas públicos de universalização dos direitos sociais explícitos na Carta Magna. Logo em seguida, em 1995, é promovida a reforma gerencial, que muitos chamam de neoliberal, que teve também um caráter de redução das atividades estatais.

Depois de analisar toda esta evolução das políticas sociais no Brasil, podemos perceber que o Estado Brasileiro não adotou uma estratégia de Bem-Estar Social, caracterizada pela universalização dos direitos sociais. Ele se caracterizou sim pela intervenção na economia como planejador, promotor do desenvolvimento e produtor direto de bens, mas não houve uma política sistematizada de bem-estar social.

3 Crise do Estado Contemporâneo

O período do pós-Segunda Guerra Mundial foi de prosperidade para o capitalismo mundial. Os países cresciam a taxas elevadas, financiados pela abundância do capital externo a baixo custo. Eric Hobsbawn usou a expressão “era dourada do capitalismo” para designar esse período, em que não só os países capitalistas desenvolvidos, mas o bloco socialista e parte do Terceiro Mundo alcançaram altíssimas taxas de crescimento. A principal receita para o contínuo sucesso durante trinta anos foi a existência de um amplo consenso social a respeito do papel do Estado, o qual procurava garantir prosperidade econômica e bem-estar social.

Essa conjuntura permitiu que o Estado de Bem-Estar Social se desenvolvesse, disponibilizando recursos para que os governos implementassem amplas políticas de assistência social.

Na medida em que o Estado ampliava sua atuação, também cresciam as demandas da sociedade por mais serviços. O aumento da intervenção do governo a partir da segunda metade do século XX ocorreu simultaneamente a uma perda de sua autoridade, principalmente na década de 60.

A maior escolarização da população, que também tinha mais acesso aos meios de comunicação de massa, fez com que as pessoas adotassem uma postura reivindicatória, desafiando as autoridades em todas as instituições e em todos os setores, da família à escola, da fábrica à burocracia.

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Esse movimento alcançou seu ápice em maio de 1968, quando uma série de protestos teve origem na França e se alastrou pelo mundo todo. Os estudantes franceses entraram numa verdadeira batalha contra a polícia, defendendo uma transformação profunda nas relações entre raças, sexos e gerações.

A elevação dos gastos do governo norte-americano devido à Guerra do Vietnã, associada aos gastos de uma sociedade de consumo financiada por déficits na balança de pagamentos, fez com que a situação fiscal dos EUA se deteriorasse significativamente, tornando insustentável a manutenção do padrão ouro-dólar, que foi abandonado em 1971. Os EUA entraram numa crise fiscal e monetária. Numa reação em cadeia, outros países adotaram a flutuação de suas moedas.

Para piorar, a década de 1970 foi marcada por duas crises do petróleo. Como protesto à ajuda dos EUA a Israel na guerra do Yom Kippur, em 1973, os países árabes produtores de petróleo, membros da OPEP, decidiram elevar consideravelmente o preço do barril do petróleo, que chegou a triplicar em menos de três meses. Já em 1979 a revolução islâmica no Irã provocou uma segunda onda de aumentos, como se pode observar no gráfico abaixo.

Essas crises fizeram com que as taxas de juros dos financiamentos externos subissem para a estratosfera, interrompendo o desenvolvimento econômico dos países, que entraram em crise fiscal.

Assim, de um lado, assistimos a um crescimento das demandas da sociedade por mais políticas sociais. De outro, reduziam os recursos disponíveis para que tais políticas fossem implementadas. Por isso que muitos autores a crise tem origem numa sobrecarga de demandas, em que o sistema política não tem condições de suprir às exigências dos grupos sociais, resultando numa crise de governabilidade.

O padrão‐ouro foi o sistema monetárioque vigorou desde o século XIX até a

Primeira Guerra Mundial. Tododinheiro deveria ter lastro em ouro. Em

1945, no Acordo de Bretton Woods,este sistema foi alterado para o padrãoouro‐dólar, em que cada país teria umpreço fixo de sua moeda em relação aoouro, e haveria a conversibilidade ouroao dólar, em que os EUA garantiam a

troca de dólares por ouro emdeterminada taxa.

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Segundo Abrúcio, quatro fatores socioeconômicos contribuíram fortemente para detonar a crise do Estado contemporâneo. O primeiro foi a crise econômica mundial, iniciada em 1973, na primeira crise do petróleo, e retomada ainda com mais força em 1979, na segunda crise do petróleo. O fato é que a economia mundial enfrentou um grande período recessivo nos anos 80 e nunca mais retomou os níveis de crescimento atingidos nas décadas de 50 e 60. Neste momento de escassez, o Estado foi o principal afetado, entrando numa grave crise fiscal.

A crise fiscal foi o segundo fator a enfraquecer os alicerces do antigo modelo de Estado. Após ter crescido por décadas, a maioria dos governos não tinha mais como financiar seus déficits. E os problemas fiscais tendiam a se agravar na medida em que se iniciava, sobretudo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, uma revolta dos taxpayers (contribuintes) contra a cobrança de mais tributos, principalmente porque não enxergavam uma relação direta entre o acréscimo de recursos governamentais e a melhoria dos serviços públicos. Estava em xeque o consenso social que sustentara o Welfare State.

Os governos estavam, ainda, sobrecarregados de atividades – acumuladas ao longo do pós-guerra –, com muito a fazer e com poucos recursos para cumprir todos os seus compromissos. Além disso, os grupos de pressão, os clientes dos serviços públicos, não queriam perder o que, para eles, eram conquistas — e que para os neoliberais eram grandes privilégios. O terceiro fator detonador da crise do Estado contemporâneo, portanto, se constituía naquilo que a linguagem da época chamava de situação de “ingovernabilidade”: os governos estavam inaptos para resolver seus problemas.

Por fim, a globalização e todas as transformações tecnológicas que transformaram a lógica do setor produtivo também afetaram – e profundamente – o Estado. Na verdade, o enfraquecimento dos governos para controlar os fluxos financeiros e comerciais, somado ao aumento do poder das grandes multinacionais resultou na perda de parcela significativa do poder dos Estados nacionais de ditar políticas macroeconômicas.

A crise do Estado de Bem-Estar Social vai estar atrelada à crise da burocracia. Os governos tinham que produzir uma série de serviços e bens exigidos pela sociedade, mas não possuíam recursos suficientes. Eles precisavam, então, de eficiência, o que estava longe de ser proporcionado pelo modelo burocrático, que era rígido, lento, caro e não dava atenção às necessidades da população.

Podemos colocar dentro da crise do Estado Contemporâneo os seguintes aspectos:

o fim do desenvolvimentismo pós-guerra, devido ao fim de Bretton Woods, às crises do petróleo, às crises de liquidez e à instabilidade do mercado financeiro internacional, aos novos requisitos de integração competitiva da globalização etc.;

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a crise do Welfare State keynesiano, devido às disfunções e às desvantagens da intervenção estatal, para garantir o bem-estar e a estabilidade econômica, relativamente aos atributos do mercado;

as disfunções burocráticas ou a crise do modo de implementação estatal de serviços públicos; e

a ingovernabilidade: sobrecarga fiscal, excesso de demandas e crise de legitimidade.

Com toda a insatisfação da sociedade em relação ao modelo burocrático, começam a surgir as teorias em busca de uma administração gerencial. Ao mesmo tempo, a crise fiscal demonstra que o Estado de bem-estar social era inviável, o que provocou o aparecimento das teorias neoliberais. Segundo Bresser Pereira:

A administração pública gerencial é frequentemente identificada com as ideias neoliberais por outra razão. As técnicas de gerenciamento são quase sempre introduzidas ao mesmo tempo em que se implantam programas de ajuste estrutural que visam enfrentar a crise fiscal do Estado.

Essa insatisfação da sociedade irá levar ao poder governos conservadores como o de Ronald Reagan, nos EUA, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra, no início dos anos 1980, que irão adotar reformas segundo os princípios do neoliberalismo.

3.1 Neoliberalismo

Podemos dividir o neoliberalismo em dois momentos: na década de 1930 defendia um Estado Regulador; na década de 1980 defendia um Estado Mínimo.

O neoliberalismo apareceu na década de 1930, com alguns economistas que defendiam princípios que são basicamente os mesmos do liberalismo. A diferença estava naquilo que a nova realidade do capitalismo impunha. Devido a formação de monopólios, oligopólios, trustes etc., em alguns mercados não se podia mais falar em livre-concorrência, daí a necessidade de intervenção do Estado na economia. Para os neoliberais desse período, os mecanismos de mercado são capazes de organizar a vida econômica, política e social, desde que sob a ação disciplinadora do Estado. Portanto, defendia-se um Estado Regulador.

Enquanto a economia americana adotava os postulados keynesianos de intervenção na economia em momentos de crise como forma de gerar demanda e permitir o crescimento econômico, alguns estudiosos continuavam repudiando qualquer tipo de

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intervenção no mercado. Os neoliberais dessa época não defendiam um Estado Mínimo, mas um Estado capaz de cumprir quatro objetivos:

Proteger os cidadãos dos potenciais inimigos;

Garantir que cada cidadão seja autossuficiente para o seu desenvolvimento;

Manter uma estrutura que possibilite uma competição e uma cooperação eficiente entre os homens, viabilizando o bom funcionamento do livre-mercado;

Criar um ambiente seguro para os cidadãos, garantindo não a igualdade material, mas as condições de competição, ou seja, o acesso aos recursos que todos necessitam para competir.

Já o neoliberalismo do final do Século XX, que foi aplicado pelos países desenvolvidos, defendia a absoluta liberdade de mercado, um Estado Mínimo. Suas principais ideias eram:

Desregulamentação dos mercados de trabalho e de bens e serviços;

Questionamento do papel do Estado como aparato protetor das economias nacionais e a pressão de grupos econômicos dominantes no sentido de diminuir a atuação estatal;

Abertura econômica e financeira para o exterior;

Privatização das empresas estatais;

Crença de que os imperativos de mercado são suficientes para promover o desenvolvimento econômico e social.

O pressuposto neoliberal que permeava o programa de reformas orientadas para o mercado é que, uma vez alcançadas a estabilidade e a eficiência, o crescimento viria naturalmente. A postura neoliberal baseia-se no pressuposto de que uma vez desregulamentada e privatizada a economia, criando-se com isso condições para a competição, os mercados surgirão e seu funcionamento fará com que os recursos sejam realocados entre setores e atividades.

Segundo José Luis Fiori:

As reformas neoliberais adquiriram várias formas e matizes, mas alguns elementos estiveram presentes em todas elas: assim com a “remercantilização” da força de trabalho, a contenção ou desmontagem dos sindicatos, a desregulação dos mercados de trabalho e a privatização de muitos dos serviços sociais que estiveram previamente

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em mãos dos Estados. Reformas que se sucederam em tempos de enorme fragilização das forças políticas de esquerda e que acabaram promovendo cortes substantivos nos programas de integração de rendas, com redução simultânea dos demais programas de proteção social a níveis mínimos e preferentemente direcionados a públicos segmentados e específicos das populações mais pobres.

O exemplo mais emblemático de implantação do neoliberalismo é o governo de Thatcher, na Inglaterra. Ele procurou implantar de forma sistemática toda a receita neoliberal. As práticas adotadas incluíram elevação das taxas de juros, redução de impostos sobre os altos rendimentos, abolição de controle sobre fluxos financeiros, desemprego em massa e sufocamento dos movimentos sindicais e grevistas.

Nos Estados Unidos, por outro lado, o modelo foi implantado apenas parcialmente, no governo Reagan. Na variante norte-americana, não houve a mesma preocupação com o déficit público. O que se testemunhou, na verdade, foi o seu crescimento, já que havia (e ainda há) uma conta altíssima de gastos militares.

Uma das primeiras experiências neoliberais no mundo também ocorreu no Chile, com o governo autoritário da ditadura de Pinochet, na década de 70. Na América Latina, o movimento foi adotado depois na Bolívia em 1985 e, nos anos 90, por Menem na Argentina, Pérez na Venezuela e Fujimori no Peru. No Brasil, deu-se início no governo de Fernando Collor de Mello, e foi aplicado em parte no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Princípio da Subsidiariedade

Um dos fundamentos das reformas do Estado promovidas no final do Século XX é o Principio da Subsidiariedade. Ele tem suas origens mais remotas no pensamento aristotélico, que apresentava uma sociedade composta por diversos grupos com tarefas específicas, realizando suas próprias necessidades. Para Aristóteles, "a família empreende as atividades da vida cotidiana, a cidade realiza ocupações mais amplas".

Em primeiro lugar, tem-se que a subsidiariedade aponta no sentido da valorização da liberdade individual, não nos moldes imperantes na época do Liberalismo, mas uma liberdade responsável e condicionada pelo bem comum. Tem-se que os indivíduos (e as sociedades menores), por sua iniciativa e indústria, devem buscar a realização de seus fins e do bem comum, devendo agir com liberdade, desde que não prejudiquem o bem geral e os demais.

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Nesse contexto, o Estado deve respeitar os indivíduos e as sociedades intermediárias no exercício dos seus direitos, no cumprimento dos seus deveres e obrigações, sem suplantá-los ou fazer as suas vezes, a menos que isso se faça necessário por circunstâncias excepcionais. Visa-se com isso ao desenvolvimento das potencialidades e do exercício efetivo da liberdade, com a assunção das correspondentes responsabilidades, por parte das sociedades menores e dos indivíduos. Incumbe ao Estado criar condições para que o indivíduo, pessoalmente, alcance a realização de seus fins.

Este princípio foi defendido nas reformas do Estado para subsidiar a defesa da redução das atividades do Estado, com a transferência delas para a iniciativa privada.

3.2 Neoinstitucionalismo Econômico

Trata-se uma escola de pensamento que emergiu ao longo da década de 1980, tendo como principal foco de análise as instituições.

O neoinstitucionalismo faz parte das diversas correntes de pensamento econômico liberal. Para esta escola (também conhecida como nova teoria institucional) dois aspectos devem ser levados em consideração ao se analisar o desempenho econômico de uma nação: as regras do jogo e a qualidade dos jogadores.

As regras do jogo correspondem às instituições, descritas por João Mello Neto como sendo:

Todos os valores, convicções, crenças e regras de conduta aceitos consensualmente por uma sociedade. Elas podem ter poder formal - caso dos códigos e leis aplicados pelo Judiciário - ou apenas força moral - caso em que os transgressores são punidos pela censura e pelo repúdio da própria comunidade.

Já a qualidade dos jogadores corresponde à capacidade dos agentes econômicos se desempenharem na competição do mercado. Essa capacidade, no entanto, só poderá ser medida de maneira efetiva se cada agente, nas suas interações, tiver a convicção de que todos os outros agentes, que com ele interagem, estarão submetidos às mesmas condições. Sendo assim, essas condições devem privilegiar a competência e não os privilégios, e isso exige regras claras, transparentes, de conhecimento prévio e generalizado, e, dentro do possível, estáveis.

Portanto, sob a ótica neoinstitucionalista, ao se analisar o desempenho de uma economia, é preciso levar em conta as regras do jogo e a qualidade dos jogadores, considerando sempre que a segunda é condicionada pelas primeiras.

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A contribuição do neoinstitucionalismo econômico ao discurso da crise do Estado é que as instituições são importantes (institutions matter) em dois principais sentidos:

elas são vitais para a produção de resultados, mas são uma escolha de segunda ordem (second best), um mal necessário, uma vez que o mercado por si só não pode assegurar as transações sem estruturas ou organizações formais;

as organizações não são instâncias tão racionais assim; a racionalidade (da eficiência econômica) é limitada, sujeita a uma série de “interferências” e constrangimentos decorrentes da sua natureza multifacetada (política, humana, cultural etc.).

A partir desses fundamentos, o Estado passa a ser considerado como um problema – logo, a solução seria haver menos Estado, e mais mercado e sociedade civil. O Estado havia, segundo essa ótica, atingido um ponto de estrangulamento e ingovernabilidade. À sociedade civil caberia resgatar sua determinação e suas capacidades próprias, depender menos do Estado (afinal, haveria no limiar do século XXI condições tecnológicas para isso) e controlá-lo mais. O Estado deveria restringir-se a suas funções mínimas (defesa, arrecadação, diplomacia e polícia), a um aparato mínimo de proteção social (com reconhecimento de poucos – e seletos – direitos sociais, e baseado na prestação privada de serviços de relevância social) e a uma gestão mínima da ordem econômica (com destaque para a regulação e a gestão macroeconômica).

Vamos ver uma questão da ESAF:

3. (ESAF/TCU/2002) Teorias no âmbito do neoinstitucionalismo econômico, entre as quais a teoria da agência e a teoria da escolha pública, formam, juntamente com abordagens contemporâneas de gestão, a base conceitual do New Public Managment.

Esta questão é certa. O New Public Managment (Nova Administração Pública), é uma forma de se referir à administração gerencial, como veremos na próxima aula.

A Teoria da Escolha Pública (TEP) é o estudo dos processos de decisão política numa democracia, utilizando o instrumental analítico da economia, fundamentalmente os conceitos de comportamento racional e autointeresse que definem o homo economicus. Diferentemente das escolhas privadas feitas pelos indivíduos sobre bens e serviços de uso privado, a Escolha Pública refere-se às decisões coletivas sobre bens públicos. Todavia, essas decisões coletivas são tomadas por indivíduos, integrantes de um grupo ou organismo coletivo, que afetam a todos os integrantes da coletividade.

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Segundo a TEP, políticos e burocratas, da mesma forma que empresários e consumidores, são atores racionais e estão motivados pelo interesse próprio, que no caso dos políticos consiste em atingir o poder e/ou manter-se nele. Isso resulta muitas vezes no fracasso das políticas públicas em satisfazer de forma eficaz ao conjunto da sociedade ou mesmo à maioria da população através de políticas em prol do bem comum. A conclusão da TEP é que existem falhas na ação dos governos, da mesma forma que existem falhas no funcionamento do mercado.

Além da racionalidade e do interesse próprio, um terceiro elemento fundamental é o conjunto de regras e instituições políticas. Segundo a perspectiva da TEP, a escolha de políticas públicas dos governos é resultante de opções motivadas por preferências individuais, feitas sob determinadas regras e procedimentos de decisão coletiva. Em face de tais regras, cada participante escolhe sua estratégia segundo o critério de maior utilidade individual (maximização dos benefícios).

Outra corrente importante do neoinstitucionalismo é a Teoria da Agência, segundo a qual as relações contratuais, quer explícitas ou implícitas, delimitam a figura de um sujeito ativo que recebe o nome genérico de principal, e de um sujeito passivo chamado agente. O principal é quem contrata e o agente o contratado. A Teoria da Agência enfoca as transações sociais entre atores nas esferas tradicionais do Estado e do mercado como relações contratuais.

A suposição básica existente na relação principal-agente é de que o agente agirá em favor do principal e que por isso receberá alguma recompensa. O agente, ou contratado, deverá desempenhar certas funções, de acordo com os critérios do principal, ou contratante.

No entanto, em muitos casos o principal tem certa dificuldade em saber se o agente está realmente cumprindo com suas obrigações de forma satisfatória. Aqui entra a assimetria de informação. O agente dispõe de um conjunto de possíveis comportamentos a adotar, suas ações afetam o bem-estar entre as partes e dificilmente são observáveis pelo principal.

Decorrentes da assimetria de informações, surgem outros dois problemas:

Seleção adversa = quando são selecionados os agentes com maior risco. Se a indústria de seguros de vida praticar um preço baseado na média de risco das pessoas, saíra perdendo porque quem terá maior propensão a fazer seguros serão as pessoas com maior risco. Por isso que são praticados preços de acordo com o risco de cada um.

Risco moral = uma das partes envolvidas em um contrato não dispõe de condições ou mecanismos para monitorar as ações e as atitudes da outra parte

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envolvida, que pode ter um comportamento de risco. Muitas pessoas com plano de saúde passam a usar os serviços médicos numa proporção bem maior do que quando não tinham o plano. Também existe para o agente. Por exemplo, quando o Estado determina alguns critérios no momento da contratação das empresas privadas e depois passa a usar outras regras.

Devido a esses problemas, o principal incorre em custos adicionais para ter que monitorar a atuação do agente. Por exemplo, quando uma empresa contrata um pessoa para distribuir panfletos na rua, não sabe se essa pessoa irá realmente entregá-los ou jogá-los no lixo. Assim, é preciso monitorar a ação desse agente.

3.3 Estado Regulador

Apesar de, na década de 1980, as primeiras reformas gerenciais terem sido marcadas pelo ideário neoliberal, percebeu-se que o ajuste estrutural não era suficiente para que houvesse a retomada do crescimento. Ocorreram ganhos positivos, como o fato da balança de pagamentos voltar a um relativo controle, por toda a parte caíram as taxas de inflação, os países recuperaram pelo menos alguma credibilidade. Porém, o crescimento econômico não foi retomado e as políticas sociais foram reduzidas, deixando desassistida parte da população.

A partir daí as reformas gerenciais entendem que o Estado Mínimo não é algo concreto a ser buscado. Bresser considerava irrealista a ideia de um Estado Mínimo. Vamos ver outra passagem do autor:

O pressuposto neoliberal que estava por trás das reformas - o pressuposto de que o ideal era um Estado mínimo, ao qual caberia apenas garantir os direitos de propriedade, deixando ao mercado a total coordenação da economia - provou ser irrealista. Em primeiro lugar porque, apesar do predomínio ideológico alcançado pelo credo neoconservador, em país algum - desenvolvido ou em desenvolvimento - este Estado mínimo tem legitimidade política. Não há sequer apoio político para um Estado que apenas acrescente às suas funções as de prover a educação, dar atenção à saúde e às políticas sociais compensatórias: os cidadãos continuam a exigir mais do Estado.

Portanto, apesar de, no início, as reformas gerenciais terem sim como objetivo o Estado Mínimo, afirmar que as reformas gerenciais defendem isso já não é mais válido.

Nesta nova visão, ao abandonar funções empresariais, relacionadas à produção de bens e serviços, o Estado estaria se capacitando para ter uma atuação mais seletiva e,

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portanto, mais eficaz. O novo papel regulatório do Estado faz parte do resultado de um programa de reformas que, a despeito de ser orientado para o mercado, objetiva a recuperação da capacidade de intervenção estatal.

A aplicação prática da teoria resultou numa série de medidas com o objetivo de retirar do Estado o papel de produtor, de executor. Ao se retirar da produção e prestação de serviços, ao Estado caberia proteger, de forma institucionalizada, investidores e consumidores. Investidores desejam um sistema regulatório estável e previsível para que o processo de acumulação de capital da companhia possa se materializar; consumidores desejam ser protegidos da prática de preços abusivos, em setores onde existem monopólios naturais. Para o governo, estabelecer e definir mecanismos de revisão e controle do preço justo dos serviços monopolistas é a grande questão. O preço justo permite ao governo cobrar do investidor a realização dos investimentos necessários à continuidade e qualidade da oferta de serviços, ao tempo em que fornece as bases da justificação do mesmo perante os consumidores.

Essa nova visão do Estado também está presente no Plano Diretor, segundo o qual:

A reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento.

A partir deste princípio, o Plano defendeu estratégias diferentes para os setores de organização do Estado. Fora o núcleo estratégico e as atividades exclusivas, que deveriam permanecer estatais, no setor de serviços não exclusivos e no de produção de bens e serviços para o mercado deveria haver uma forma de transferência para a iniciativa privada: no primeiro caso a publicização e, no segundo, a privatização.

Um dos traços marcantes desta mudança foi a criação das agências reguladoras. O nascimento dessas agências está diretamente relacionado com o processo de privatização de serviços públicos ocorrido na década passada. O Estado deixou de exercer determinadas tarefas, que foram repassadas para a iniciativa privada, mas não pôde apenas esquecer tais setores. É preciso fiscalizá-los e regulá-los. Para tanto, instituiu as agências reguladoras. Estudaremos melhor essas mudanças que ocorreram no Brasil nas Aulas 02 e 03.

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3.4 Governança Progressista

Recentemente, estadistas como Bill Clinton, Tony Blair e Fernando Henrique Cardoso criaram um grupo denominado Terceira Via, que atualmente teve seu nome alterado para Governança Progressista.

O fracasso do neoliberalismo, ou neoconservadores, em responder às demandas da sociedade por mais segurança e bem-estar social abriu espaço para novas abordagens políticas, favorecendo a ascensão e consolidação da Terceira Via.

Tanto nos EUA como no Reino Unido, as reformas tiveram início com governos conservadores, como o de Reagan e de Thatcher. Contudo, estes governos são substituídos posteriormente por um abrandamento político. Na Inglaterra, assume o Partido Trabalhista, que irá rever muitos dos postulados neoliberais. São governos que produzem ideias e ações que combinam economia de livre-mercado e regulação estatal.

Anthony Giddens foi um dos expoentes desta corrente. Ele atuou como conselheiro do governo de Tony Blair. Em seu livro “A Terceira Via”, ele faz a síntese dos pensamentos desse movimento político.

Em linhas gerais, o grupo da governança progressista procura manter a disciplina econômica obtida com as reformas estruturais e “democratizar a globalização”, conjugando os benefícios do mercado com um estilo de governo mais focado nas questões sociais, que passaram a ser demandadas no final da década de 1990. Segundo Ana Paula Paes de Paula (2005):

Verificamos assim que os governos de orientação social-liberal adotaram uma posição mais conformista, pois se renderam às reformas neoliberais realizadas e tentaram se adequar a elas, incluindo questões sociais.

Na visão do grupo, trata-se de rejeitar não apenas o estatismo burocrático da velha esquerda, mas também os postulados neoliberais do "Estado mínimo". Busca-se, com a governança progressiva, redesenhar a administração pública para livrá-la de distorções seculares, para torná-la mais transparente e, portanto, mais forte e mais capaz de implementar políticas públicas. Buscam-se os ideais clássicos da solidariedade e coesão social, aplicados segundo as exigências de hoje, o que requer um novo Estado capaz de assegurar o bem-estar a todos.

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4 Questões

4.1 Conceito, Origem e Evolução do Estado Moderno

1. (ESAF/APO-MPOG/2010) O termo Estado evoluiu muito em sua utilização desde Maquiavel. Escolha a opção que não está correta.

a) Bruno Bauer, criticado por Marx em ‘A Questão Judaica’ (1844), analisa o Estado sob a ótica da emancipação política e critica o Estado religioso. Para Bauer, a religião é uma inimiga da razão e, consequentemente, do progresso, pois impede a formação de um bem comum, pautado na comunidade de homens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tornando-se necessária sua abolição.

b) A fundamentação do Estado Rousseauniano é a vontade de todos, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos.

c) Para Marx, é no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liberdade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações sociais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igualdade social.

d) Para Weber, Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva.

e) O Estado, para Durkheim, é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

Nessa questão, até do Wikipedia A ESAF copiou.

A letra “A” é correta. Ela foi copiada de um artigo disponível em: http://xivciso.kinghost.net/artigos/Artigo_979.pdf

Bauer limita sua analise na emancipação política e se contenta em fazer criticas ao Estado religioso. Considera a religião uma inimiga da razão e, consequentemente, do progresso, pois impede a formação de um bem comum, pautada na comunidade de homens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tornando-se necessário sua abolição.

Nesse contexto, Bauer acredita que suplantando a religião, superando os preceitos teológicos, o homem alcançaria uma emancipação política verdadeira. Ao contrário dessa posição, Marx afirma que não é necessário que o homem renuncie a sua religião para alcançar a

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emancipação política, pois este pressuposto se faz necessário em outro tipo de emancipação mais amplo: a emancipação humana.

A letra “B” é errada, não é vontade de todos, mas sim vontade geral. Foi copiada do seguinte site: http://www.espacoacademico.com.br/022/22and_rousseau.htm

4. A vontade de todos e a vontade geral

A fundamentação do Estado rousseauniano é a vontade geral, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos. Como existe uma tendência humana em defender os interesses privados acima da vontade coletiva, a assembleia, enquanto um processo de decisão, é o espaço da destruição das vontades particulares em proveito do interesse comum. Isto é diferente da vontade de todos, que seria apenas a soma dos interesses particulares dos cidadãos. “Há, às vezes, diferença entre a vontade de todos e a vontade geral: esta só atende ao interesse comum, enquanto a outra olha o interesse privado, e não é senão uma soma das vontades particulares. Porém, tirando estas mesmas vontades, que se destroem entre si, resta como soma dessas diferenças a vontade geral”.

A vontade geral é, portanto, a soma das diferenças das vontades particulares e não o conjunto das próprias vontades privadas. Percebe-se que a existência de interesses particulares conflituosos entre si é a essência da vontade geral no corpo político, o que confere à política uma condição de arte construtora do interesse comum.

A letra “C” é certa, também foi copiada do artigo da letra “A”:

Marx, partindo de uma relação entre emancipação política e emancipação humana, busca, ao contrário de Bauer, um apoio para suas explicações na própria “imperfeição” do Estado político em geral, não apenas do cristão. O Estado, para ele, pode se desprender da religião sem implicar numa liberdade efetiva para os homens, pois, o Estado moderno suprime a propriedade privada, mas tal supressão pressupõe a sua existência. A priori, não admite nenhuma distinção de fortuna, nascimento, de posição social, etc. Mas, na verdade, não suprime as distinções, diferenças e desigualdades, porque o Estado político só existe na medida em que os pressupõe. Para ele, mesmo que os indivíduos possam ser “espiritualmente” e “politicamente” livres num estado secular, ainda podem estar presos á restrições materiais sobre sua liberdade pela desigualdade de renda.

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É no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liberdade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações sociais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igualdade social.

Portanto, a emancipação política faz parte do privado, do particular, está “fechada”, enquanto que a emancipação humana, de acordo com Marx, é algo que transcende essa “igualdade” política, consistindo em algo muito distinto da cidadania. A política faz parte da esfera do particular, do limitado, sendo o social a dimensão do humano, ou seja, do universal, e apenas a emancipação humano-social, permite que os homens sejam efetivamente livres. Esse tipo de emancipação supõe a erradicação da religião e do capital, assim como de suas categorias. Nesse sentido, a emancipação política não requer que os judeus renunciem á religião, pois não é uma emancipação completa, mas limitada a esfera política. Só a emancipação humana, por ser completa, é que pressupõe a erradicação de todas essas formas de grilhões sociais.

As letras “D” e “E” foram copiadas do Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

O Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas (constituição). O Estado para Durkheim é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

Gabarito: B.

2. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O monopólio do uso da força pelo Estado e seus agentes é uma característica do poder político. Identifique o enunciado correto.

a) Somente em países onde existe uma constituição escrita o Estado tem legitimidade para impor o monopólio do uso da força.

b) Todo grupo organizado e com uma liderança constituída tem legitimidade para usar a força.

c) É preciso que exista um sistema legal para que a violência seja usada legitimamente pelos agentes do Estado.

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d) A legitimidade do monopólio da força exclui a dominação ideológica.

e) O Estado que abre mão de manter forças armadas deixa de ter o monopólio da força.

O monopólio no uso da força é uma das características do Estado Moderno. Contudo, a constituição escrita não é indispensável. Vimos que o constitucionalismo vai ganhar força apenas com o liberalismo, e o Estado Moderno iniciou com o Absolutismo. Além disso, até hoje existem países com constituições não escritas, como é o caso da Inglaterra. Essas constituições não escritas dão legitimidade ao uso da força da mesma forma que as escritas. A letra “A” é errada.

Somente o Estado tem legitimidade para usar a força. A letra “B” é errada.

A letra “C” foi dada como certa, mas discordo dela. Max Weber conceitua Estado pelo monopólio no uso legítimo da força. Segundo o autor:

Hoje, o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de um determinado território – este, o ‘território’, faz parte da qualidade característica –, reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima, pois o específico da atualidade é que todas as demais associações ou pessoas individuais somente se atribui o direito de exercer a coação física na medida em que o Estado permita.

Weber afirma também que:

O Estado, do mesmo modo que as associações políticas historicamente precedentes, é uma relação de dominação de homens, apoiada no meio da coação legítima

E então o autor diferencia três tipos de justificações, de legitimidade de uma dominação:

Primeiro, a autoridade do ‘eterno ontem’, do costume sagrado por validade imemorável e pela disposição habitual de respeitá-lo: dominação ‘tradicional’. Segundo, a autoridade do dom de graça pessoal, extracotidiano (carisma): a entrega pessoal e a confiança pessoal em revelações, heroísmo ou outras qualidades de líder de um indivíduo: dominação carismática. Por fim, a dominação, em virtude de ‘legalidade’, da crença na validade de estatutos legais e da ‘competência’ objetiva, fundamentada em regras racionalmente criadas.

Portanto, na minha opinião, a letra “C” seria errada, pois afirma que a violência, para ser legítima, precisa de um sistema legal. A legitimidade da violência pode advir também da

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tradição e do carisma. A legitimidade com base na lei é só abrange uma das formas de dominação. Mas essa alternativa foi dada como correta.

A letra “D” é errada porque a dominação ideológica permite que haja legitimidade no monopólio do uso da força.

A letra “E” é errada porque o uso da força não ocorre só pelas forças armadas.

Gabarito: C.

3. (ESAF/ANA/2009) Assinale a opção que preenche corretamente a lacuna da seguinte frase: “Segundo Hauriou (in Droit Constitutionnel), é com a _______________________ que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a propriedade privada e o comércio jurídico individualista.”

a) Revolução Comercial

b) humanidade sedentária

c) Globalização dos Mercados (3ª Onda)

d) humanidade nômade

e) Revolução Industrial

Essa questão foi copiada do Livro “Introdução à Ciência Política”, de Darcy Azambuja, outro autor que a ESAF gosta muito de usar. O livro reescreve a seguinte passagem de Hauriou:

Houve sucessivamente duas variedades humanas: a humanidade nômade e a humanidade sedentária, o Homo vagus e o Homo manes. É com a humanidade sedentária que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a propriedade privada e o comércio jurídico individualista.

Essa questão poderia ser resolvida com uma dedução. A propriedade privada já existe há muito, mas muto tempo mesmo. Isso elimina as letras “A”, “C” e “E”. Ficamos entre a humanidade sedentária e a nômade. É quando o homem se fixa no solo que surge a propriedade e o Estado, ou seja, com a humanidade sedentária.

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Gabarito: B.

4. (ESAF/ANA/2009) Acerca das chamadas teorias contratualistas do Estado, é incorreto afirmar:

a) podem ser explicadas sob os enfoques antropológico, filosófico ou político.

b) em sentido amplo, vem o fundamento do Estado em um contrato, aceito pela maioria dos indivíduos, assinalando o fim do estado natural e o início do estado social.

c) algumas de suas correntes foram utilizadas para justificar o absolutismo, ao passo que outras o foram para contradizê-lo.

d) têm por expoente máximo a obra legada por Nicolau Maquiavel.

e) em comum, nas teorias contratualistas, encontra-se a ênfase no caráter racional e laico da origem do poder.

Essa questão, assim como a maioria das que abordam o contratualismo, foi tirada do “Dicionário de Política”, de Norberto Bobbio. O trecho sobre o contratualismo está transcrito no seguinte site:

http://leonildoc.orgfree.com/enci/bobbio8.htm

A letra “A” é certa. A antropologia é a ciência que tem como objeto de estudo o homem e a humanidade. Os contratualistas, influenciados pela ideia do Direito Natural, foram os primeiros a aplicar os princípios da antropologia cultural no estudo do Estado. Segundo Norberto Bobbio:

É igualmente necessário fazer uma distinção analítica entre três possíveis níveis explicativos: há aqueles pensadores que sustentam que a passagem do estado de natureza ao estado de sociedade é um fato histórico realmente ocorrido, isto é, estão dominados pelo problema antropológico da origem do homem civilizado; outros, pelo contrário, fazem do estado de natureza mera hipótese lógica, a fim de ressaltar a idéia racional ou jurídica do Estado, do Estado tal qual deve ser, e de colocar assim o fundamento da obrigação política no consenso expresso ou tácito dos indivíduos a uma autoridade que os representa e encarna; outros ainda, prescindindo totalmente do problema antropológico da origem do homem civilizado e do problema filosófico e jurídico do Estado racional, vêem no contrato um

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instrumento de ação política capaz de impor limites a quem detém o poder.

A letra “B” é certa. Segundo Bobbio:

Em sentido muito amplo o contratualismo compreende todas aquelas teorias políticas que vêem a origem da sociedade e o fundamento do poder político (chamado, de quando em quando, potestas, imperium, Governo, soberania, Estado) num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim do estado natural e o início do estado social e político.

A letra “C” é certa, segundo Bobbio:

Se a estrutura do pensamento dos contratualistas usa a mesma sintaxe, as soluções políticas a que eles chegaram são profundamente diversas; é possível indicar três correntes claramente diferençadas. Temos, em primeiro lugar, a corrente absolutista (Hobbes, Spinoza, Pufendorf); trata-se de um absolutismo que pretende ser claramente diferente do despotismo, pois vê nas ordenações do Estado não a expressão de uma vontade caprichosa e arbitrária, mas a conseqüência de uma lógica necessária, enquanto racional, relativa aos fins, visando ao bem de cada cidadão. Na vertente oposta, encontramos a corrente liberal (Locke, Kant) que propõe o controle e limitação do poder do monarca pelas assembléias representativas, às quais é confiado o poder de legislar. A corrente democrática é minoritária; teoricamente aprofundada apenas por Rousseau, apresenta uma solução que, em certos aspectos, está muito mais próxima da absolutista do que da liberal, porquanto tende a conformar os indivíduos com a racionalidade da soberana vontade geral.

A letra “D” é errada, Maquiavel não foi um contratualista. Bobbio cita os seguintes autores como expoentes dessa corrente: J. Althusius (1557-1638), T. Hobbes (1588-1679), B. Spinoza (1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), J. Locke (1632-1704), J.-J. Rousseau (1712-1778), I. Kant (1724-1804).

A letra “E” é certa. A instituição da ordem política por meio de um contrato foi um ato racional dos homens, e não algo espontâneo. Segundo Bobbio:

O Estado, nascido de um contrato, não acrescenta nada à racionalidade e sociabilidade da sociedade civil: é só um instrumento coativo cuja função é não tanto criar quanto executar o direito que a sociedade racionalmente expressou.

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Gabarito: D.

5. (ESAF/ANA/2009) Segundo as teorias não contratualistas, em sua forma originária, o Estado teria uma entre as seguintes origens, exceto:

a) a ampliação do núcleo familial ou patriarcal.

b) os atos de força, violência ou conquista.

c) as causas econômicas ou patrimoniais.

d) o desenvolvimento interno da sociedade.

e) o fracionamento de Estados preexistentes.

Vimos que Dalmo Dallari agrupou as teorias não contratualistas da seguinte forma:

Origem familiar ou patriarcal: as teorias situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado;

Origem em atos de força, de violência ou conquista: essas teorias sustentam que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco;

Origem em causas econômicas: o Estado teria se formado para se aproveitarem os benefícios da divisão do trabalho, suprir as necessidades de trocas dos indivíduos, integrando-se as diferentes atividades profissionais;

Origem no desenvolvimento interno da sociedade: segundo essas teorias, o estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, entretanto, prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Mas aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma mais complexa têm absoluta necessidade do Estado, então ele se constitui.

O fracionamento de Estados preexistentes não é uma formação originária de um Estado, mas sim secundária.

Gabarito: E.

6. (ESAF/PSS/2008) Um dos temas centrais da discussão em torno da formação do Estado Moderno, sobre o qual existem algumas correntes teóricas bem definidas, é a

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origem da autoridade e os fundamentos da obediência. Entre as teorias existentes, destaca-se aquela que defende a formação contratual do Estado. Identifique, entre os enunciados abaixo, aquele que não é característico dessa vertente teórica.

a) Uma generalizada condição de liberdade, entendida como independência, domínio de si próprio.

b) Uma história e uma cultura comuns, como fundamento dos pactos entre os homens.

c) A capacidade dos homens de realizar escolhas racionais.

d) Uma situação de vida coletiva.

e) Uma generalizada capacidade de uso da força, que torna os homens relativamente iguais.

Como vimos, o contrato social surge da necessidade de os homens instaurarem a ordem, transferirem o poder para uma entidade soberana que defenderá o interesse coletivo e promoverá a justiça. Esse contrato social não tem como fundamento uma história e uma cultura comuns. A ideia de que o Estado surge de uma história e cultura comuns está nas teorias da Origem familiar ou patriarcal, teorias que situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado, ou então nas teorias da origem no desenvolvimento interno da sociedade.

As demais alternativas trazem aspectos do estado de natureza, quando o homem tinha o domínio de si próprio, capacidade de realizar escolhas racionais, uma situação de vida coletiva (estado social), e uma generalizada capacidade de uso da força. Hobbes que afirma que nenhum homem era tão forte que não temesse os outros, nem tão fraco que não fosse perigoso aos demais, por isso os homens eram relativamente iguais.

Gabarito: B.

7. (ESAF/APO-MPOG/2008) Na civilização ocidental, os diversos aspectos do Estado moderno só apareceram gradualmente, quando a legitimidade passou a ser atribuída ao conjunto de normas que governava o exercício da autoridade. São características essenciais do Estado moderno todas as que se seguem, exceto:

a) um ordenamento jurídico impositivo.

b) a cidadania: relação de direitos e deveres.

c) o monopólio do uso legítimo da violência.

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d) um quadro administrativo ou uma burocracia.

e) a jurisdição compulsória sobre um território.

Esta questão foi tirada de Weber, segundo o qual:

A ordem legal, a burocracia, a jurisdição compulsória sobre um território e a monopolização do uso legítimo da força são as características essenciais do Estado moderno.

Só faltou a letra ‘b’, que é justamente o gabarito da questão. A cidadania não é uma condição para o Estado Moderno, podemos ter Estados Totalitários.

Gabarito: B.

8. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) A formação do Estado moderno, entre os séculos XII/ XIII e XVIII/XIX, consistiu em um longo e complexo processo que levou à normatização das relações de força por meio do exercício monopolístico do poder pelo soberano. Todos os enunciados abaixo sobre a formação do Estado estão corretos, exceto:

a) além do desenvolvimento do Estado territorial institucional, a formação do Estado moderno envolveu a passagem do poder personificado do príncipe para o primado dos esquemas universalistas e abstratos da norma jurídica, que mais tarde daria origem ao Estado de Direito.

b) o processo de formação do Estado foi marcado pela tensão entre, de um lado, a expropriação dos poderes privados locais; e, de outro, a necessidade do soberano de recorrer às categorias ou camadas sociais para dispor de fundos para criar e manter seu quadro administrativo e um exército permanente.

c) além da distinção entre o espaço público e o privado, a formação do Estado implicou em substituir gradualmente a supremacia da dimensão individual do senhor feudal e do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da sociedade civil, novos interlocutores do soberano.

d) a delimitação de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma exclusivamente política, tornou-se possível graças à conquista, pelo príncipe, do apoio da esfera financeira à luta contra os privilégios, inclusive fiscais, da aristocracia.

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e) a distinção entre o mundo espiritual e o mundano, sobre a qual se assentava o primado da Igreja e de sua concepção universalista da república cristã, acabou por fundamentar a supremacia da política.

A primeira alternativa trata da passagem do Estado Absolutista para o Estado Liberal. Vimos que, para Weber, uma característica do Estado Moderno é dominação racional-legal, ou o modelo burocrático. Isto porque o capitalismo e a democracia exigiam uma administração mais imparcial e racional. Portanto, mesmo que o Estado Moderno tenha iniciado com a dominação tradicional do absolutismo, a sua evolução envolveu sim a passagem para a dominação racional-legal. A letra “A” é correta.

Essa questão foi tirada do livro “Dicionário de Política”, do Norberto Bobbio. Segundo o autor:

A história do surgimento do Estado moderno é a história dessa tensão: do sistema policêntrico e complexo dos senhorios de origem feudal se chega ao Estado territorial concentrado e unitário por meio da chamada racionalização da gestão do poder e da própria organização política imposta pela evolução das condições históricas materiais.

Vimos que Bobbio diferencia a evolução do Estado Moderno em duas fases: sociedade por camadas e moderna sociedade civil. Num primeiro momento as relações sociais tinham um caráter muito mais estamental, baseadas no prestígio, enquanto no segundo, o capitalismo havia transformado essas relações para algo mais próximo das classes sociais, baseado na posição econômica dos indivíduos. Esta sociedade por camadas era caracterizada pela força dos antigos grupos feudais, os nobres, que ainda detinham muito poder e limitavam a atuação do príncipe, já que este, num primeiro momento, como afirma a letra ‗b‘, dependia das categorias ou camadas sociais para criar e manter o quadro administrativo e um exército permanente. A letra “B” é correta.

Pouco a pouco, o príncipe superou a dependência de financiamento junto a estas camadas. A letra “C” é incorreta porque não houve uma substituição do poder do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da sociedade civil, mas justamente o contrário. Além disso, não foram estas que passaram a ser os novos interlocutores do soberano. Logo que o Estado – o príncipe e seu aparelho de poder – se tornou monopolista na esfera política, – os seus interlocutores diretos não foram mais as categorias, mas os indivíduos.

O principie ganhou poder, em detrimento das camadas sociais. Segundo Bobbio:

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Esse processo foi possível, conforme se acentuou, graças à progressiva conquista, por parte do príncipe e de seu aparelho administrativo, da esfera financeira, à qual estava intimamente ligada a esfera econômica do país. Isso pode acontecer, em primeiro lugar, graças ao apoio que o príncipe facilmente encontrou, na sua luta contra os privilégios, até fiscais, da mais importante das categorias sociais: a nobreza. Esse apoio veio da parte dos estratos mais empenhados da população e particularmente da burguesia urbana, na mira de uma distribuição dos encargos fiscais mais justa entre as várias forças do país e, também, de uma ativa política de defesa, de sustentação e de estímulo do príncipe em relação à atividade.

A letra “D” é correta já que o principie ganha o apoio da burguesia na luta contra o poder da nobreza, principalmente contra os privilégios dessa classe, buscando uma tributação mais justa. A alternativa “D” ainda fala em “delimitação de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma exclusivamente política”. Bobbio afirma que:

O Estado moderno significava precisamente a negação de tudo isso: a instauração de um nível diferente da vida social, a delimitação de uma esfera rigidamente separada de relações sociais, gerenciada exclusivamente de uma forma política.

Por fim, a letra “E” é correta, também foi tirada do texto de Bobbio, segundo o qual:

A distinção entre o espiritual e o mundano, inicialmente introduzida pelos papas para fundamentar o primado da Igreja, desencadeou agora sua força na direção do primado e da supremacia da política.

Gabarito: C.

9. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Um dos objetos de grande atenção do pensamento e da teoria política moderna é a constituição da ordem política. Sobre essa temática, uma das tradições de reflexão mais destacadas sustenta que a ordem tem origem contratual. Todos os elementos abaixo são comuns a todos os pensadores da matriz contratualista da ordem política, exceto:

a) o estado de natureza.

b) a existência de direitos previamente à ordem política.

c) a presença de sujeitos capazes de fazer escolhas racionais.

d) um pacto de associação.

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e) um pacto de subordinação.

Vimos que os autores que sustentam a formação contratual dos Estados são chamados de contratualistas. Eles apresentam em comum, apesar de divergirem quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado.

Todos estes autores acreditavam no estado de natureza, um período, em épocas primitivas, em que o homem, vivia fora da sociedade, sendo todos os homens iguais e essencialmente egoístas, tendo todos os mesmos direitos naturais e não existindo nenhuma autoridade ou lei. Estes autores se enquadram também nas teorias jusnaturalistas, defendendo a existência de direitos naturais preexistentes à ordem política. A terceira alternativa também é comum a todos os pensadores contratualistas, já que, para realizar o pacto, os homens deveriam ser capazes de fazer escolhas racionais.

Alguns autores defendem que o contrato social tem dois desdobramentos: um "pacto de associação" pelo qual vários indivíduos reúnem-se para viver em sociedade; e um "pacto de submissão" que instaura o poder político e ao qual o indivíduo promete obedecer. O pacto de associação é comum a todos os contratualistas, já que o contrato social surge desse pacto. Já o de subordinação não é unânime, como no caso de Rousseau.

Gabarito: E.

10. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Embora não seja a única abordagem sobre a origem do Estado moderno, o contratualismo tem destacada importância para a reflexão sobre a ordem democrática. Examine os enunciados abaixo sobre essa corrente da ciência política e marque a resposta correta.

1. Todos os contratualistas veem no pacto um instrumento de emancipação do indivíduo e de sua transformação de súdito em cidadão.

2. Todos os contratualistas apontam a obediência como elemento central para a manutenção da ordem política, mas também reconhecem o direito de rebelião contra o poder tirânico.

3. Do mesmo modo que consideram o contrato uma relação obrigatória entre as partes, todos os contratualistas também indicam as sanções para quem o infringe.

4. Para os contratualistas, a constituição da ordem política não altera a estrutura social, nem a racionalidade individual, nem a sociabilidade da sociedade civil.

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a) Todos os enunciados estão corretos.

b) Somente o enunciado 4 está correto.

c) Somente o enunciado 1 está correto.

d) Somente o enunciado 2 está correto.

e) Estão corretos os enunciados 1, 3 e 4.

A primeira afirmação é errada. Segundo Bobbio:

Todos os contratualistas vêem assim no contrato um instrumento de emancipação do homem, emancipação política apenas, que deixa inalterada e até garante a estrutura social, baseada precisamente na família e na propriedade privada, mantendo uma clara distinção entre o poder político e o poder social, entre o Governo e a sociedade civil.

Assim, todos os contratualistas veem no contrato um instrumento de emancipação do homem, mas é uma emancipação política. Como vimos, a cidadania não é uma condição para o Estado Moderno.

A segunda afirmação é errada, já que Hobbes não reconhece o direito à rebelião.

A terceira afirmação é errada. Segundo Bobbio:

Se o contrato é uma relação obrigatória entre as partes, é necessário também saber quais as sanções previstas para quem os infringe. As soluções são as mais diversas. De um lado estão os que afirmam que, estabelecido o pacto pela vontade, torna-se depois necessário, os povos não o podem revogar. De outro, estão as teses de que cabe ao povo agir contra o monarca que violou o pacto.

A quarta afirmação é correta.

Gabarito: B.

11. (ESAF/CGU/2008) Indique a opção que completa corretamente as lacunas das frases a seguir:

Há três modos pelos quais historicamente se formam os Estados: Os modos ______________ em que a formação é inteiramente nova, o Estado nasce diretamente da população e do país; os modos _____________, quando a formação se produz por

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influências externas e os modos ______________, quando vários Estados se unem para formar um novo Estado ou quando um se fraciona para formar um outro.

a) originários – derivados – secundários.

b) derivados – contratuais – originários.

c) contratuais – derivados – naturais

d) naturais – originários – derivados

e) secundários – naturais – originários.

Esta questão foi copiada de Darcy Azambuja, segundo o qual os três modos são:

Originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas.

Secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros. Derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

Gabarito: A.

12. (ESAF/STN/2005) Sobre teoria geral do Estado, processo evolutivo do ente estatal, poderes e funções do Estado e formas de governo e de Estado, assinale a única opção correta.

a) O Estado moderno de tipo europeu, quando do seu surgimento, tinha como características próprias: ser um Estado nacional, correspondente a uma nação ou comunidade histórico-cultural, possuir soberania e ter por uma de suas bases o poder religioso.

b) O poder político ou poder estatal é o instrumento de que se vale o Estado moderno para coordenar e impor regras e limites à sociedade civil, sendo a delegabilidade uma das características fundamentais desse poder.

c) A função executiva, uma das funções do poder político, pode ser dividida em função administrativa e função de governo, sendo que esta última comporta atribuições políticas, mas não comporta atribuições co-legislativas.

d) Forma de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo, sendo os Estados, segundo a classificação dualista de Maquiavel, divididos em repúblicas ou monarquias.

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e) A divisão fundamental de formas de Estados dá-se entre Estado simples ou unitário e Estado composto ou complexo, sendo que o primeiro tanto pode ser Estado unitário centralizado como Estado unitário descentralizado ou regional.

A letra “A” é errada porque o Estado moderno só pode ser compreendido se antes visualizarmos que este Estado deva ser laico e soberano. Este caráter secular deve ser entendido não apenas como uma forma republicana de realização do poder, mas como uma maneira de entender o próprio caráter soberano do Estado. Se por soberania entendemos a existência de uma autoridade suprema, devemos, por outro lado, entender que nenhuma outra força soberana (que não tipicamente estatal, como um líder religioso, por exemplo) exerça influencia nos assuntos políticos. Ou seja, não pode haver confronto de soberanias dentro de um mesmo Estado. Assim, para o poder ser soberano a soberania deve ser una e indivisível. Por isso o Estado moderno é secular: pois expulsou da esfera de poder o poder religioso.

A letra “B” é errada porque o poder político é indelegável, ou inalienável, porque a vontade é personalíssima: não se transfere a outros. O corpo social é uma entidade coletiva dotada de vontade própria, constituída pela soma das vontades individuais. Os delegados e representantes eleitos terão de exercer o poder de soberania segundo a vontade do corpo social consubstanciada na Constituição e nas leis.

Na separação de poderes, temos três funções estatais – a legislativa, a jurisdicional e a administrativa – que são exercidas com precipuidade, mas não com exclusividade, pelos três poderes. Dessa forma, a letra “C” é errada já que em determinados casos a função de governo comporta sim funções co-legislativas.

Na letra “D”, a ESAF quis nos confundir misturando os conceitos de forma e de sistema de governo. A letra “D” é errada porque a forma de governo não diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo. Isto é sistema de governo (presidencialismo e parlamentarismo). A forma de Governo refere-se à maneira como se dá a instituição e o exercício do poder na sociedade, e como se dá a relação entre governantes e governados (monarquia X república)

Na letra “E” temos as formas de Estado. Os Estados Moderno e Contemporâneo têm assumido, basicamente, duas formas: a forma federada, quando se conjugam vários centros de poder autônomo; e a forma unitária, caracterizada por um poder central, que conjuga o poder político. Dallari afirma que alguns autores têm sustentado a existência de uma terceira forma, o Estado Regional, menos centralizado do que o unitário, mas sem chegar aos extremos de descentralização do federalismo.

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Contudo, Dallari afirma que, para a maioria dos autores que tratam do assunto, o Estado Regional é apenas uma forma unitária um pouco descentralizada, pois não elimina a completa superioridade política e jurídica do poder central. A letra “E” segue Dallari, e coloca o Estado Regional como uma forma de Estado Unitário descentralizado. A letra “E” é correta, portanto a resposta da questão.

Gabarito: E.

13. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Do ponto de vista histórico podemos verificar várias definições de Estado, com características específicas. Indique a opção correta.

a) O Estado feudal caracteriza-se por uma concentração de poder, em um determinado território nacional, na figura do rei.

b) O Estado estamental caracteriza-se por uma divisão de classes entre os detentores, ou não, dos meios de produção.

c) O Estado socialista caracteriza-se por desconcentrar o poder entre a população por meio de um sistema multipartidário.

d) O Estado absolutista caracteriza-se por um duplo processo de concentração e centralização de poder em um determinado território.

e) O Estado representativo caracteriza-se por ser exclusivo a sociedades democráticas modernas, não existindo em monarquias.

Esta questão foi tirada de Norberto Bobbio, segundo o qual teríamos a seguinte sequência de formas de Estado consagrada junto aos historiadores: Estado feudal, Estado estamental, Estado absoluto, Estado representativo. Vamos comparar as definições de Bobbio com as alternativas:

O Estado feudal é caracterizado pelo exercício acumulativo das diversas funções diretivas por parte das mesmas pessoas e pela fragmentação do poder central em pequenos agregados sociais.

Portanto, a letra “A” é incorreta porque no Estado Feudal não há concentração, mas sim fragmentação do poder.

Por Estado estamental entende-se a organização política na qual se foram formando órgãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma posição social, precisamente os estamentos, e enquanto tais fruidores de direitos e privilégios que fazem valer contra o detentor

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do poder soberano através das assembléias deliberantes como os parlamentos.

A letra “B” é incorreta por afirmar que o Estado estamental se baseia na separação de classes entre os detentores ou não dos meios de produção. Como vimos, a sociedade estamental tem como critério o pertencimento ou não a determinado grupo, o status. É na sociedade por classes que o critério é econômico.

O domínio de um partido único reintroduz no sistema político o princípio monocrático dos governos monárquicos do passado e talvez constitua o verdadeiro elemento característico dos Estados socialistas de inspiração leninista direta ou indireta, em confronto com os sistemas poliárquicos das democracias ocidentais.

A letra “C” é incorreta porque o Estado Socialista é caracterizado pelo partido único, e não por um sistema multipartidário.

A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo paralelo de concentração e de centralização do poder num determinado território.

A letra “D” é correta, cópia da definição de Weber. É só lembrarmos que no absolutismo, os reis concentraram todo o poder sobre o Estado.

Em relação ao Estado Representativo, Bobbio afirma que ele surgiu:

sob a forma de monarquia constitucional e depois parlamentar, na Inglaterra após a “grande rebelião”, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revolta das treze colônias contra a pátria-mãe.

Podemos ver, portanto, que a letra “E” é incorreta porque o Estado representativo existe também em monarquias.

Gabarito: D.

14. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Os jusnaturalistas marcaram o pensamento político da Idade Moderna. Entre seus principais autores temos Hobbes, Locke e Rousseau. Em relação às obras desses autores, julgue as sentenças abaixo:

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I. Locke e Rousseau, inseridos no contexto do Iluminismo, resgatam o pensamento clássico aristotélico, no qual concebem o Estado como um prosseguimento natural da sociedade familiar.

II. Rousseau e Hobbes defendem que o estado de natureza - onde os indivíduos são iguais e donos de sua liberdade - é melhor que o Estado de Direito, visto que a desigualdade entre os homens surge com a criação deste e com o direito de propriedade.

III. Locke e Rousseau guardam semelhanças em suas descrições sobre o estado de natureza, no qual os indivíduos viviam em relativa paz. Porém para Locke, o direito de propriedade é natural, entanto que, para Rousseau, não era natural e apenas consolidou a desigualdade entre os homens.

IV. Os três autores defendem a existência de um estado de natureza que precede o Estado de Direito, este criado por meio de um contrato firmado entre os indivíduos. Entretanto, as motivações que levaram os indivíduos a fundarem o Estado, são distintas em cada autor.

Estão corretas:

a) As afirmativas I e III.

b) As afirmativas I e IV.

c) As afirmativas II e III.

d) As afirmativas II e IV.

e) As afirmativas III e IV.

A afirmação I é errada. Locke e Rousseau são contratualistas, se contrapõe às teorias da origem familiar do Estado.

A segunda afirmação é errada, pois somente Rousseau considera o estado de natureza melhor.

A terceira afirmação é certa. Locke é um defensor do direito de propriedade, enquanto para Rousseau o problema começou a instituição da propriedade.

A quarta afirmação é certa, o estado de natureza é comum aos contratualistas.

Gabarito: E.

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15. (ESAF/APO-MPOG/2005) A teoria da propriedade teve grande importância no desenvolvimento do pensamento liberal. John Locke em sua obra “O Segundo Tratado Sobre o Governo” (1690) discorre acerca do direito de propriedade. Selecione a opção que apresenta corretamente características do pensamento desse autor.

I. O estado de natureza é marcado por uma paz relativa, onde os indivíduos são dotados de razão e desfrutam do direito de propriedade, além da liberdade e igualdade.

II. Compartilha com Hobbes a noção de que o direito de propriedade é legitimado e garantido pelo Estado, tendo esse a prerrogativa de intervenção na propriedade.

III. O direito da propriedade, que inicialmente era limitado pelo trabalho de cada indivíduo, passou a ser ilimitado a partir do advento da moeda e da conseqüente possibilidade de acumulação.

IV. Apesar da sofisticação da teoria da propriedade, essa não fazia menção à posse de bens móveis, pois no século XVII a riqueza estava diretamente ligada à posse de terra e não a de bens de consumo.

Estão corretas:

a) as afirmativas I e IV.

b) as afirmativas I e III.

c) as afirmativas II e III.

d) as afirmativas II e IV.

e) as afirmativas III e IV.

A primeira afirmação é correta. Há liberdade e propriedade, mas é preciso uma ordem superior para garantir estes direitos.

A segunda afirmação é errada, a propriedade é garantida, e não legitimada pelo Estado, que não pode intervir.

É com a acumulação que o direito a propriedade se torna ilimitado, e é a partir deste momento que se torna necessário o Estado para garantir a ordem.

A quarta afirmação é falsa, a propriedade não era só a terra, abrangia inclusive a vida e a liberdade.

Gabarito: B.

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16. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) Uma das mais consolidadas matrizes de análise da constituição da ordem política é a teoria contratualista. Examine as assertivas abaixo sobre o contratualismo e indique a única incorreta.

a) Como regra, o contrato ou pacto social é um instrumento de emancipação política do indivíduo, que altera essencialmente a estrutura social, além de estabelecer uma clara distinção entre o governo e a sociedade civil.

b) O Estado nascido de um contrato não acrescenta nada à racionalidade e à sociabilidade da sociedade civil, sendo um instrumento coativo cuja função é executar o direito que a sociedade estabeleceu.

c) A maioria dos contratualistas concebe, entre o estado natural puro e o estado político, um estado social, onde os homens convivem livremente segundo a razão.

d) A maioria dos contratualistas entende a constituição da ordem a partir de dois tipos de contrato: o pacto de associação, que institui a comunidade política; e o pacto de submissão, que instaura o monopólio do uso da força.

e) Enquanto relação entre as partes, o contrato estabelece sanções para os que o violarem, sendo estas expressas por alguns autores, no que tange aos governantes, como direito de resistência e deposição.

Esta questão foi tirada do Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, segundo o qual:

Todos os contratualistas vêem no contrato um instrumento de emancipação do homem, emancipação política apenas, que deixa inalterada e até garante a estrutura social, baseada precisamente na família e na propriedade privada, mantendo uma clara distinção entre o poder político e o poder social, entre o Governo e a sociedade civil.

O início e o final da primeira alternativa são, portanto, corretos, já que o contrato social configura sim um instrumento de emancipação política e estabelece uma clara distinção entre governo e sociedade civil. Contudo, ela é incorreta porque a estrutura social não é alterada, é inclusive reforçada. A letra “A” é incorreta.

Para entendermos as alternativas “B” e “C”, é necessário inverter a sua ordem. A maior parte dos contratualistas acredita na existência de um estado social, intermediário ao estado de natureza e ao estado político. No estado social já estariam presentes a sociabilidade e a racionalidade. Por isso, o estado político não acrescentaria nada nesse sentido, só viria estabelecer a ordem por meio da coação. As letras “B” e “C” são corretas.

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A letra “D” já foi vista na questão 09, quando falamos que não é unânime entre os contratualistas a existência do pacto de subordinação, mas a que a maioria deles vê essa duplicidade do contrato social: um pacto de associação e de submissão. Mais uma vez citamos Bobbio:

Temos, por um lado, o "pacto de associação" entre vários indivíduos que, ao decidirem viver juntos, passam do estado de natureza ao estado social; por outro, o "pacto de submissão" que instaura o poder político e ao qual se promete obedecer. O primeiro cria o direito, o segundo instaura o monopólio da força; com o primeiro nasce o direito privado, com o segundo, o direito público.

A letra “D” é correta.

A última alternativa restringe a “alguns autores” a ideia de que as sanções aos governantes podem se configurar em direito de resistência e deposição. Isto porque, para Hobbes, o soberano, estabelecido para manter a paz, há de gozar de impunidade em tudo o que fizer, uma vez que só ele, e não os indivíduos, possui o direito de julgar sobre o que é bom ou é mau para o Estado; a única sanção cabível nesse caso depende da sua incapacidade de manter a ordem, isto é, não da quebra da legitimidade do seu poder, mas da sua efetividade. A letra “E” é correta.

Gabarito: A.

17. (ESAF/APO-MPOG/2003) Uma questão central hoje para a administração pública diz respeito à forma de reconstruir o Estado, isto é, como redefini-lo em um mundo globalizado. Para isto é preciso um perfeito entendimento da sua essência, bem como de sua estrutura dentro do modelo de democracia liberal, preponderante nos dias atuais. Assinale a opção que identifica corretamente o conceito de Estado e como ele se estrutura no âmbito das democracias liberais.

a) A administração pública burocrática emergiu na segunda metade do século XX como resposta à crise do Estado, como modo de enfrentar a crise fiscal e como instrumento de proteção do patrimônio público.

b) O Estado é a instituição que organiza a vontade de um povo, politicamente constituído, no que diz respeito a seus interesses coletivos. O Estado moderno precisa ser eficiente e ser gerido de forma efetiva e eficiente.

c) O governo é o grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. No caso das democracias liberais, o

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Estado tem que manter a legitimidade desse grupo atendendo de forma diferenciada ao seu público de apoio.

d) Por Estado entende-se um agrupamento de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar o restante e perpetuar este controle por meio do aparelho de Estado.

e) O Estado é um grupo territorial soberano e a administração pública deve servir aos interesses dessa soberania, sem nenhum compromisso com nenhuma de suas partes, sendo neutra em relação ao conflito distributivo interno.

A letra “A” é errada porque a administração burocrática não surge na segunda metade do século XX, mas sim no século XIX. A descrição dessa alternativa é da administração gerencial, e foi copiada de Bresser Pereira, segundo o qual:

A administração pública gerencial emergiu, na segunda metade deste século, como resposta à crise do Estado; como modo de enfrentar a crise fiscal; como estratégia para reduzir custos e tornar mais eficiente a administração dos imensos serviços que cabem ao Estado; e como um instrumento para proteger o patrimônio público contra os interesses do rent-seeking ou da corrupção aberta. Mais especificamente, desde os anos 60 ou, pelo menos, desde o início da década dos 70, crescia uma insatisfação, amplamente disseminada, em relação à administração pública burocrática.

Vimos que o Programa Nacional de Educação Fiscal, elaborado pela própria ESAF, afirma:

Pode-se conceituar Estado como uma instituição que tem por objetivo organizar a vontade do povo politicamente constituído, dentro de um território definido, tendo como uma de suas características o exercício do poder coercitivo sobre os membros da sociedade. É, portanto, a organização político-jurídica de uma coletividade, objetivando o bem comum.

A letra “B” é correta. A letra “C” é errada porque no Estado Moderno há a separação entre a sociedade e o Estado, que não deve privilegiar determinados grupos, mas atuar de forma imparcial. Além disso, o objetivo do Estado não é que os governantes se perpetuem por meio do aparelho do Estado. A letra “B” também é errada. A administração pública tem o compromisso com toda a sociedade, devendo atuar de acordo com o bem comum. A letra “E” é errada.

Gabarito: B.

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18. (ESAF/APO-MPOG/2002) Assinale como verdadeira (V) ou falsa (F) as definições sobre o Estado, seu conceito e sua evolução, relacionadas a seguir.

( ) Por Estado entende-se um grupo de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar uma série mais ou menos restrita de atividades do grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

( ) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo, território, governo e independência.

( ) Um Estado é caracterizado pela participação da população nas decisões de governo, seja diretamente ou através de representantes.

( ) O Estado moderno surgiu na Idade Média, como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ocidental.

( ) Uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda.

Escolha a opção correta.

a) V, F, V, V, F

b) F, V, F, V, V

c) V, V, F, F, V

d) V, F, V, F, F

e) F, F, V, V, V

A primeira afirmação foi tirada do Dicionário de Ciências Sociais, da FGV, segundo o qual:

Por Estado entende-se um agrupamento de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar, direta ou indiretamente, uma série mais ou menos restrita de atividades desse mesmo grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

Podemos ver que a questão é correta, já que é quase que uma cópia literal da definição da FGV.

Já vimos a segunda afirmação, na Questão 01 da teoria. Ela também é verdadeira.

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A terceira afirmativa coloca como um dos elementos do Estado a participação da população nas decisões do governo, seja diretamente, ou por meio de representantes. Não vimos ninguém citar tal elemento como constitutivo do Estado, ou seja, como indispensável à existência do Estado. Isso porque ele é dispensável, há Estados em que não há participação da população nas decisões, como os Estados Absolutistas, onde apenas o rei manda. Portanto, a afirmativa é falsa.

O Estado Moderno não surge como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ocidental. Aqui surgiu o Estado Medieval. Por isso a quarta afirmação é falsa.

Vimos que as definições sociológicas de Estado são fortemente marcadas pela noção de força, coerção, institucionalização da violência. Tanto que muitos consideram o poder político como um dos elementos constitutivos do Estado. É verdadeiro dizer que uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda. Cabe ao Estado impor o ordenamento jurídico. A quinta afirmação é verdadeira.

Gabarito: C.

19. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Focalizando o pensamento de Rousseau, assinale a única assertiva incorreta.

a) Os males dos quais os homens sofrem não derivam da natureza humana, mas sim de cursos errôneos de evolução da sociedade.

b) O homem que pensa é um animal degenerado; o homem natural era um ser pré-racional, um selvagem errante, dotado apenas de necessidades naturais e do sentimento de compaixão.

c) Numa sociedade que tenha repudiado o contrato iníquo, constitui-se uma vontade – a vontade geral – que pertence imediatamente à ordem cívica, posto que representa mais que a soma das vontades particulares.

d) O contrato social é o único meio pelo qual os direitos se tornam possíveis, repousando estes sobre o abandono por cada um de sua soberania, sua transferência para o corpo da coletividade e sobre a recusa de submeter-se a uma outra pessoa.

e) Devido à necessidade de distinguir o ato pelo qual um povo faz a escolha de um governo e o ato pelo qual ele se constitui em soberano é indispensável admitir a existência do direito natural e do pacto de sujeição.

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A letra “A” é certa. Para Rousseau os homens nascem bons e felizes. É com o progresso que surgem os problemas.

A letra “B” é certa. O bom selvagem era o homem feliz, errante, que vivia no estado de natureza. A racionalidade envolve a degeneração do homem.

A letra “C” é certa. “Iníquio” é o contrário de equidade. Numa sociedade que valoriza a igualdade, surge a vontade geral, que é maior que a individual.

A letra “D” é certa. Somente com o contrato o homem pode exercer sua liberdade, excetuando-se o primeiro estágio do estado de natureza.

A letra “E” é errada. Rousseau não admite a existência do pacto de sujeição.

Gabarito: E.

20. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Acerca do pensamento de Hobbes, assinale a opção correta.

a) O Estado foi instituído quando, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos agressores, todos os homens pactuaram, cada um com todos os outros, que renunciariam ao uso privado da força, transferindo-o para uma pessoa artificial.

b) O pacto que institui a sociedade política baseia- se na crença acerca da soberania popular, da qual derivam todos os direitos e faculdades do Estado, cabendo ao povo soberano opção de seguir ou não as decisões deste.

c) No estado de natureza, caracterizado como um estado de guerra de todos contra todos, os homens viviam em perfeita liberdade, podendo livremente se dedicar ao comércio, às artes e à ciência.

d) Pelo pacto, o direito de representar a pessoa de todos é conferido ao soberano, cujos atos e decisões são autorizados tal como se fossem praticados e tomados por cada um dos homens, desde que não impliquem violação do direito à propriedade e aos frutos do trabalho.

e) Os súditos podem libertar-se do pacto com o seu soberano. Assim, basta que um indivíduo decida desfazer o pacto com o soberano para que esse deixe de existir.

A primeira alternativa traz a noção do contrato social de Hobbes. A letra “A” é certa. Hobbes defendia o absolutismo, por isso não cabia ao povo optar em seguir ou não as decisões do soberano. A letra “B” é errada.

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Para Hobbes o estado de natureza era caracterizado pela desordem, pela anarquia. A letra “C” é errada. A letra “D” é certa até o “desde que”. A letra “E” é errada porque os súditos não podem se libertar do pacto.

Gabarito: A.

21. (ESAF/APO-MPOG/2001) A concepção de Estado vem sofrendo alterações ao longo do tempo, sendo alvo de controvérsias entre diferentes matrizes ideológicas. Assinale a opção que melhor define as características do Estado numa democracia liberal.

a) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se pela ausência de demarcação entre estado e não-estado.

b) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se por deter o monopólio do poder econômico.

c) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se por prover a todos os cidadãos o acesso à saúde, educação, previdência social e aposentadoria.

d) O Estado, nas democracias liberais, caracteriza-se por defender a burocratização do aparelho estatal.

e) O Estado, nas democracias liberais, caracteriza-se por reivindicar a superioridade do mercado.

Uma das principais inovações do Estado Moderno foi a separação da esfera pública da privada. Vimos que o Estado Moderno surge como uma forma de diferenciação do Estado e da sociedade civil. Segundo Bobbio:

Através da concepção liberal do Estado tornam-se finalmente conhecidas e constitucionalizadas, isto é, fixadas em regras fundamentais, a contraposição e a linha de demarcação entre o Estado e o não-Estado, por não-Estado entendendo-se a sociedade religiosa e em geral a vida intelectual e moral dos indivíduos e dos grupos.

Portanto, a letra “A” é errada.

As democracias liberais, como o próprio nome diz, são caracterizadas pelo liberalismo, o que invalida a afirmação de que o Estado detém o monopólio do poder econômico. Para Bobbio:

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O duplo processo de formação do Estado Liberal pode ser descrito, de um lado, como emancipação do poder político do poder religioso (Estado laico) e, de outro, como emancipação do poder econômico do poder político (Estado do livre mercado). Através do primeiro processo de emancipação, o Estado deixa de ser o braço secular da Igreja; através do segundo, torna-se o braço secular da burguesia mercantil e empresarial. O Estado Liberal é o Estado que permitiu a perda do monopólio do poder ideológico, através da concessão dos direitos civis, entre os quais, sobretudo o do direito à liberdade religiosa e de opinião política, e a perda do monopólio do poder econômico, através da concessão da liberdade econômica.

Assim, a letra “B” é errada. A letra “C” traz a descrição do Estado de Bem-Estar Social, e não das democracias liberais. A letra “C” também é errada.

Em relação a letra “D”, já vimos que o modelo burocrático nasce dentro das democracias liberais, para suprir a necessidade da democracia e do capitalismo por uma administração racional e impessoal. Portanto, neste sentido, seria correto afirmar que as democracias liberais defendem a burocratização do aparelho estatal, ou seja, tornar o aparelho estatal racional e impessoal, mesmo que nas últimas décadas estejam ocorrendo reformas que tem como objetivo substituir a administração burocrática por uma gerencial.

Contudo, este não foi o sentido empregado pela ESAF nessa questão. O termo “burocracia” pode ser empregado de formas diferentes. Nem sempre ele estará se referindo ao modelo racional-legal de Max Weber. Assim, quando a alternativa fala em “burocratização do aparelho estatal”, ela deve estar se referindo a uma das características do totalitarismo enumeradas por Hanna Arendt. Segundo a autora, Totalitarismo é um regime político baseado na extensão do poder do Estado a todos os níveis e aspectos da sociedade. Ao contrário do que pregava o liberalismo, os regimes totalitários defendem o Estado Máximo, o Estado Total. Portanto, a burocratização do aparelho estatal é a maior participação do Estado na vida das pessoas, sua presença nas escolas, através de hinos e ideologias. Portanto, algo contrário ao que acontecia nas democracias liberais. Por isso a letra “D” é errada.

O liberalismo sempre estará ligado a idéia de superioridade do mercado. O Estado é um mal necessário, ou seja, é necessário pois na sua falta haveria anarquia, mas ainda é um mal, por isso deve ser um Estado mínimo. Por isso que as democracias liberais se caracterizam por reivindicar a superioridade do mercado. A letra “E” é correta, é a resposta da questão.

Gabarito: E.

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4.2 Direitos civis, políticos e sociais

22. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O surgimento do Estado Moderno foi acompanhado do surgimento da noção de cidadania, que teve como condição um dos seguintes fenômenos sociais:

a) o fim dos regimes despóticos.

b) a emergência da noção de indivíduo.

c) a abolição da escravidão.

d) a revolução industrial e surgimento do proletariado.

e) a escolha direta dos governos locais

A noção de indivíduo surgiu no Renascimento e desenvolveu-se com o liberalismo nos séculos XVII e XVIII. Ela avançou na medida em que os laços comunais se desfaziam, substituídos por novas relações sociais e políticas, e a ideia de comunidade perdia sua força integrativa.

No Estado representativo, os sujeitos soberanos não são mais o príncipe investido por Deus, nem o povo como sujeito coletivo e indiferenciado, mas sim o cidadão, que possui direitos naturais, direitos que cada indivíduo tem por natureza e por lei e que, precisamente porque originários e não adquiridos, podem fazer valer contra o Estado inclusive recorrendo ao remédio extremo da desobediência civil e da resistência. Portanto, a letra “B” é uma condição para o surgimento da noção de cidadania.

Porém, entendo que a questão deveria ter sido anulada, pois a letra “A” também seria uma resposta válida. Nos governos despóticos não podemos falar em cidadania. Segundo Luiz (2007):

A cidadania era quase que totalmente negada pelo absolutismo, visto que: a) o sujeito era um súdito do rei, o que não lhe garantia direito, apenas obrigação e respeito à autoridade; e b) a participação política era inexequível em função das decisões serem centralizadas na figura do rei, não havendo, com isso, democracia.

Portanto, o fim dos regimes despóticos também foi uma condição para o surgimento da noção de cidadania. Mas eles consideraram apenas a noção de indivíduo.

Gabarito: B.

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23. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O historiador T. A. Marshall é uma referência obrigatória quando se trata de pesquisar a evolução dos direitos civis, políticos e sociais. Para ele, há uma sequência cronológica e lógica no desenvolvimento de tais direitos, com a conquista das liberdades civis levando à obtenção do direito de votar e ser votado e a expansão da representação política popular permitindo a aprovação parlamentar dos direitos sociais. Os seguintes enunciados se referem ao Brasil. Escolha a única opção válida.

a) É correto afirmar que a mesma sequência ocorreu, apenas com interrupções no exercício dos direitos políticos.

b) É correto afirmar que, a despeito das limitações impostas aos direitos políticos, o regime militar ampliou os direitos civis e sociais.

c) É correto afirmar que a prolongada vigência da Escravidão impediu que a evolução dos direitos seguisse a sequência estabelecida por Marshall.

d) É correto afirmar que a grande expansão dos direitos sociais registrada no primeiro governo Vargas ocorreu em grande parte sob um regime que suprimiu direitos políticos.

e) É correto afirmar que os direitos civis, políticos e sociais foram estabelecidos simultaneamente com a promulgação da Constituição de 1988.

Segundo Mashall, podemos distinguir na história política das sociedades industriais três fases:

1. A primeira, ao redor do século XVIII, é dominada pela luta pela conquista dos direitos civis, como liberdade de pensamento, de expressão, etc.

2. A fase seguinte, ao redor do século XIX, tem como centro a reivindicação dos direitos políticos, como o de organização, de propaganda, de voto, etc., e culmina na conquista do sufrágio universal;

3. É precisamente o desenvolvimento da democracia e o aumento do poder político das organizações operárias que dão origem à terceira fase, caracterizada pelo problema dos direitos sociais, cujo acatamento é considerado como pré-requisito para a consecução da plena participação política.

A letra “A” é errada. Essa mesma sequência ocorreu no Brasil. Tivemos interrupções dos direitos políticos e civis com as ditaduras.

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A letra “B” é errada. Os direitos civis não foram ampliados, mas sim reduzidos, como o direito de ir e vir, de liberdade, etc.

A letra “C” é errada, tivemos sim a sequência.

A letra “D” é a certa.

A letra “E” é errada, os direitos já existiam anteriormente.

Gabarito: D.

24. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) A primazia do público sobre o privado, como assinalam Bobbio e outros autores, se manifestou, sobretudo no século XX, como reação à concepção liberal do Estado e como derrota histórica, ainda que não definitiva, do “Estado Mínimo”.

Em relação às afirmativas abaixo, assinale a opção correta.

1- Essa primazia baseia-se na contraposição entre interesse coletivo e privado com a necessária subordinação do segundo ao primeiro.

2- Essa primazia admite a eventual supressão do interesse privado em benefício do interesse coletivo.

3- Essa primazia implica irredutibilidade do bem comum à soma dos bens individuais.

4- A primazia do público significa o aumento da intervenção estatal na regulação coativa do comportamento dos indivíduos e dos grupos infra-estatais.

a) Estão todas corretas.

b) Estão todas incorretas.

c) Apenas a nº 1 está correta.

d) Apenas a nº 2 está correta.

e) Apenas a nº 3 está correta.

A primeira e a segunda afirmações são corretas. Contrapõe-se o interesse coletivo ao particular, com a subordinação deste àquele. A terceira é correta. A soma do bem comum é maior que a dos bens individuais. A quarta é correta. Com o público acima do privado, o Estado deve intervir. Quando é o contrário, ganha força o liberalismo.

Gabarito: A.

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25. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Marshall (1964) apresenta uma importante contribuição sobre as causas históricas de desenvolvimento da sociedade que culminaram no crescimento do Estado de Bem-estar. Na coluna A, à esquerda, encontra-se a fase histórica e na coluna B, à direita, o tipo de luta social predominante:

Coluna A Coluna B

AI – primeira fase BI – Luta pela conquista dos direitos civis (liberdade de expressão, por exemplo).

AII – segunda fase BII – Luta pela conquista dos direitos sociais (como educação, por exemplo).

AIII – terceira fase BIII – conquista dos direitos políticos (voto, por exemplo).

Solicita-se relacionar a coluna A com a coluna B e assinalar a opção que indica as relações corretas.

a) AI–BII; AII-BI; AIII-BIII.

b) AI–BI; AII-BII; AIII-BIII.

c) AI–BI; AII-BIII; AIII-BII.

d) AI–BII; AII-BIII; AIII-BI.

e) AI–BIII; AII-BI; AIII-BII.

Segundo Mashall, podemos distinguir na história política das sociedades industriais três fases:

1. A primeira, ao redor do século XVIII, é dominada pela luta pela conquista dos direitos civis, como liberdade de pensamento, de expressão, etc.

2. A fase seguinte, ao redor do século XIX, tem como centro a reivindicação dos direitos políticos, como o de organização, de propaganda, de voto, etc., e culmina na conquista do sufrágio universal;

3. É precisamente o desenvolvimento da democracia e o aumento do poder político das organizações operárias que dão origem à terceira fase, caracterizada pelo problema dos direitos sociais, cujo acatamento é considerado como pré-requisito para a consecução da plena participação política.

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O direito à instrução desempenha historicamente a função de ponte entre os direitos políticos e os direitos sociais: o atingimento de um nível mínimo de escolarização torna-se um direito-dever intimamente ligado ao exercício da cidadania política.

Resumindo, temos que os direitos civis são da primeira fase, os políticos da segunda e os sociais da terceira, o que corresponde a letra “C”, a resposta da questão.

Gabarito: C.

26. (ESAF/STN/2005) Sobre a emergência da questão social como campo de intervenção do Estado e a constituição dos direitos civis, políticos e sociais como parte dos elementos constituintes da cidadania na sociedade ocidental moderna, é possível afirmar que:

a) a questão social desencadeou-se primeiramente nos países em desenvolvimento, onde a passagem da comunidade tradicional e da economia agrária para a sociedade economicamente organizada em torno da atividade industrial representou o fim de uma concepção orgânica do Estado e da sociedade.

b) a par dos direitos civis, os direitos políticos reforçam a separação entre as esferas do Estado e da sociedade, essencial para assegurar a legitimidade e para evitar crises de governabilidade nas democracias liberais.

c) o exercício dos direitos civis, políticos e sociais no Brasil obedece a um padrão de cidadania regulada, no qual o reconhecimento desses direitos se dá de cima para baixo e seletivamente, conforme critérios específicos, entre os quais os de renda e raça acabam reforçando a exclusão social.

d) a conquista dos direitos sociais implicou, nos países desenvolvidos, uma ruptura das linhas demarcatórias entre a sociedade e o Estado e impôs a este último o imperativo de regular e intermediar os conflitos entre o capital e o trabalho.

e) os limites da intervenção pública visando responder à questão social encontram-se no conflito de racionalidade entre duas funções do Estado contemporâneo: assegurar condições favoráveis à acumulação de capital e garantir condições para a coesão e o consenso social.

Segundo Bobbio:

A “questão social”, surgida como efeito da Revolução Industrial, representou o fim de uma concepção orgânica da sociedade e do Estado, e não permitiu que a unidade da formação econômica-política

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pudesse ser assegurada pelo desenvolvimento autônomo da sociedade, com a simples garantia de intervenção política de “polícia”.

A letra “A” é errada porque a questão social não se desencadeou primeiramente nos países em desenvolvimento, mas sim nos países desenvolvidos. Estes países estavam em grau avançado de industrialização, quando as condições de vida dos trabalhadores tornavam-se cada vez piores. Os direitos sociais surgiram para evitar que ideias socialistas ganhassem espaço e os trabalhadores se revoltassem.

A letra “B” começa com a expressão “a par de”, que pode ter dois significados. O primeiro é “estar ciente de”, “estar inteirado de”. Já o segundo é “ao lado de”. A alternativa utiliza a expressão neste segundo sentido, ou seja, podemos traduzir como “ao lado dos direitos civis, os direitos políticos...”. Está certo esse trecho da alternativa que afirma que tanto os direitos civis quanto os políticos reforçam a separação entre Estado e sociedade.

No entanto, isso não significa que as crises de governabilidade vão ser evitadas. Vamos estudar a governabilidade na Aula 04, mas já vimos que podemos conceituá-la como a capacidade de governar, a legitimidade do governo junto à sociedade. A partir do momento em que se separa o Estado da Sociedade Civil, ocorre um progressivo empobrecimento do Estado. Segundo Bobbio:

A burguesia conseguiu criar um estado dependente, no que respeita à disponibilidade financeira, às suas concessões. Se na época do Estado absoluto os que detinham o poder representavam igualmente o Estado, e a riqueza do Estado era a sua riqueza, na época do Governo constitucional, ao contrário, o Estado e a propriedade se separaram. Essa separação originou a dependência – a dependência fiscal – do Estado à sociedade. O problema do Estado parece ser, nesse caso, o da sua "recapitalização", baseada nos impostos fiscais, ou seja, o da acumulação e concentração de capital de propriedades públicas, que permitirá a solução dos mais urgentes problemas sociais.

Assim, a letra “B” é errada porque a separação entre Estado e sociedade fortaleceria as crises de governabilidade, ao invés de evitar. É mais difícil o governo conseguir sua legitimidade.

Autores colocam que a construção da cidadania no Brasil ocorreu por três momentos: o da cidadania concedida, o da cidadania regulada e o da nova cidadania. A letra “C” é errada porque a cidadania regulada se refere ao aparecimento dos direitos sociais no Governo Vargas, e não desenvolvimento dos direitos civis e políticos.

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A letra “D” afirma que a conquista dos direitos sociais implicou uma ruptura das linhas demarcatórias entre a sociedade e o Estado. Isso é correto. Para Bobbio

Se os direitos fundamentais são a garantia de uma sociedade burguesa separada do Estado, os direitos sociais, pelo contrário, representam a via por onde a sociedade entra no Estado, modificando-lhe a estrutura formal. A mudança fundamental consistiu, a partir da segunda metade do século XIX, na gradual integração do Estado político com a sociedade civil, que acabou por alterar a forma jurídica do Estado, os processos de legitimação e a estrutura da administração. Os direitos fundamentais representam a tradicional tutela das liberdades burguesas: liberdade pessoal, política e econômica. Constituem um dique contra a intervenção do estado. Os direitos sociais, ao contrário, representam direitos de participação no poder político e na distribuição da riqueza social produzida. A forma do estado oscila, assim, entre a liberdade e a participação

Portanto, o início da letra “D” é correto. Contudo, a alternativa afirma que cabia ao Estado regular e intermediar os conflitos entre o capital e o trabalho. Segundo Bobbio:

Quanto mais a política se fizer concreta, tanto mais se multiplicarão os conflitos e se acentuarão os efeitos da polarização. Estará assim aberto o caminho à crise política, em virtude da incapacidade de coordenar todos os interesses do complexo social; além disso, surgirá para o Estado o problema da legitimação, ou seja, do consenso acerca dos critérios qualitativos que orientam suas intervenções.

Com o surgimento da questão social e a ampliação da atuação do Estado, ele deveria ir muito além do que apenas regular e intermediar. O estado não pode, portanto, limitar-se a criar políticas sociais tendentes a assegurar complementarmente a integração do mercado. Pelo contrário, tem de fazer face à perda de controle social, que se manifesta essencialmente como crise de motivação em relação aos valores tradicionais do individualismo e do profissionalismo, pondo em ação uma ampla rede de vigilância e controle, que compreenda não só a ampliação do aparelho policial, como também o incremento de vastos setores do chamado trabalho social (conselheiros familiares, centros de preparação profissional, alojamento, círculos juvenis, etc.), capazes de remediar a perda das motivações que eram tradicionalmente ministradas pela família. A letra “D” é errada.

A letra “E” coloca que a intervenção pública enfrenta um conflito entre duas funções do Estado Contemporâneo: assegurar condições favoráveis à acumulação de capital e garantir condições para a coesão e o consenso social. Aqui temos a dicotomia existente

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entre os direitos civis e políticos de um lado e os sociais de outro. Aqueles defendem o Estado mínimo, a não intervenção estatal. Estes, o Estado provedor, que garante um mínimo de condições. Ao assegurar condições para a acumulação de capital, o Estado está evitando intervir nas empresas, possibilitando aos empresários que invistam, cabendo ao Estado a criação das condições materiais genéricas da produção (infraestrutura). Ao garantir a coesão social, o Estado está garantindo condições mínimas de vida para os cidadãos. A letra “E” é certa.

Gabarito: E.

27. (ESAF/STN/2005) Um dos mais importantes aspectos da discussão sobre a crise do Estado contemporâneo e sua transformação refere-se ao “Estado de Bem-Estar Social”. Sobre esse tema, indique qual(is) item(ns) abaixo está(ão) correto(s), assinalando a opção correspondente.

I - Em resposta aos conflitos entre o capital e o trabalho no final do século XIX começou a surgir na Europa o Estado intervencionista, inicialmente envolvido com o financiamento e a administração de programas de seguro social, a exemplo da Prússia de Bismarck.

II - Desde a década de 30, o Estado Brasileiro vem adotando uma estratégia de Bem-Estar Social, caracterizada pela universalização dos direitos sociais e pela intervenção na economia como planejador, promotor do desenvolvimento e produtor direto, segundo o modelo de substituição de importações.

III - O princípio fundamental do Estado de Bem-Estar Social é o da proteção universal, ou seja, independentemente da renda, todos os cidadãos, como tais, têm o direito de ser protegidos contra situações de dependência ou vulnerabilidade de curta ou longa duração.

IV - As primeiras formas de Estado de Bem-Estar Social visavam contra-arrestar o avanço do socialismo, por meio de políticas que conduziam a uma dependência do trabalhador frente ao Estado, estabeleciam novas bases de solidariedade e coesão social e asseguravam legitimidade necessária à estabilidade política.

a) Somente o item I está correto.

b) Somente os itens I, III e IV estão corretos.

c) Somente o item IV está correto.

d) Somente os itens I e III estão corretos.

e) Somente os itens I, II e III estão corretos.

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A primeira afirmação é correta. O Estado de Bem-Estar Social tem início na Inglaterra, na década de 1940. Contudo, já no século XIX puderam-se observar países empreendendo políticas sociais como forma de melhorar as condições de vida dos trabalhadores, como na Alemanha de Bismarck e os trabalhadores das minas de carvão. Contudo, como vimos, essas políticas estavam desvinculadas, até mesmo em contradição, da noção de cidadania. Uma pessoa que recebesse assistência social perdia seus direitos políticos.

A segunda afirmação é errada. Pode-se dizer que na história brasileira, mesmo considerando suas especificidades, não se constituiu um sistema de seguridade social próximo do modelo que ficou conhecido como Welfare State. Talvez seja mais coerente considerar que, durante todo o processo histórico de formação e estruturação das formas do Estado moderno no Brasil, não se tenha implementado mais do que apenas algumas políticas de bem-estar social. O Brasil priorizou o desenvolvimento econômico, inclusive pelo modelo de substituição de importações, sem dar atenção para os grupos mais necessitados. Tanto que na ditadura, Delfim Neto falava que, primeiro, era preciso deixar o bolo crescer para depois dividi-lo.

A terceira afirmação é correta, traz o princípio fundamental do Estado de Bem-Estar, que foi colocado na lei inglesa:

Independentemente de sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito de ser protegidos – com pagamento em dinheiro ou com serviços – contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta (doença, desemprego, maternidade).

A quarta afirmação é certa. Vimos que identifica duas teorias acerca das causas do crescimento do Estado de Bem-Estar:

Para não permitir que as classes trabalhadoras se direcionassem para as ideologias socialistas, a burguesia teria feito concessões com o objetivo de melhorar as condições da sociedade e manter a legitimidade de sua hegemonia.

O surgimento do Estado de bem-estar deve-se à tomada de consciência da classe capitalista quando esta percebe que a produção em massa, engendrada pelas técnicas de produção fordista, requer o consumo massivo.

Na primeira visão, um fator apontado como indutor do Estado de Bem-Estar foi o desejo da burguesia em impedir que as classes trabalhadoras se direcionassem para as ideologias socialistas, fazendo então concessões com o objetivo de melhorar as condições da sociedade e manter a legitimidade de sua hegemonia. Assim, o Estado de

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bem-estar seria uma criação da classe capitalista para legitimar seus interesses e, geralmente, as reformas não passariam de instrumentos com objetivos de reforçar o status quo e perpetuar a dominação sobre a classe trabalhadora. A concessão de direitos econômicos, sociais e políticos seria uma forma de os representantes do capital buscarem apoio das forças opostas, evitando, com isso, que insurgissem processos de grandes rupturas. Portanto,.

Gabarito: B.

28. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) No final do século XIX e início do século XX cresceu a percepção de que o campo de atuação do Estado deveria expandir-se e assimilar as demandas sociais básicas, tais como saúde, legislação trabalhista e educação. Assinale a opção que identifica corretamente esta tendência.

a) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a pobreza, o desemprego, a doença e outros problemas sociais não são apenas dados que o Estado tem que enfrentar da melhor maneira possível, mas são parte integrante do processo de formação e definição da missão do Estado.

b) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a proteção das indústrias nacionais e a luta pela abertura de novos mercados aos produtos nacionais são vitais para a defesa dos interesses nacionais e a prosperidade da nação.

c) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a criação de uma burocracia profissional, melhorando a performance do setor público, e a eliminação do patrimonialismo administrativo são condições essenciais para o atendimento de toda a população.

d) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a criação de impostos sobre grandes fortunas e a legislação contra cartéis e práticas oligopolísticas, ajudam a diminuir as diferenças sociais e a combater a pobreza.

e) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, as limitações legais na jornada de trabalho e a proibição do trabalho infantil são exemplos de que somente por meio da regulação das relações entre patrões e empregados as principais demandas sociais serão atendidas.

Segundo Abrúcio, o tipo de Estado que começava a se esfacelar em meio à crise dos anos 70 tinha três dimensões (econômica, social e administrativa), todas interligadas.

A primeira dimensão era a keynesiana, caracterizada pela ativa intervenção estatal na economia, procurando garantir o pleno emprego e atuar em setores considerados

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estratégicos para o desenvolvimento nacional — telecomunicações e petróleo, por exemplo.

O Welfare State correspondia à dimensão social do modelo. Adotado em maior ou menor grau nos países desenvolvidos, o Estado de bem-estar tinha como objetivo primordial a produção de políticas públicas na área social (educação, saúde, previdência social, habitação etc.) para garantir o suprimento das necessidades básicas da população.

Por fim, havia a dimensão relativa ao funcionamento interno do Estado, o chamado modelo burocrático weberiano, ao qual cabia o papel de manter a impessoalidade, a neutralidade e a racionalidade do aparato governamental.

A letra “A” é certa. As políticas sociais são um direito de todo cidadão, ou seja, é um dever do Estado lhe prover uma condição de subsistência mínima.

A letra “B” é errada, o Welfare state tem como foco o aspecto social. A economia será o foco do keynesianismo.

A letra “C” é errada, faz parte do aspecto administrativo.

A letra “D” é errada, o Estado de Bem-estar tem caráter universal, ou seja, atender a todos, seja rico, seja pobre.

A letra “E” é errada, não basta regular, o Estado deve fornecer bens e serviços.

Gabarito: A.

29. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) O surgimento do Estado do Bem-Estar Social e o papel cada vez maior que o Estado assumiu, ao promover o crescimento econômico e a competitividade internacional, significaram um reforço à ideia de Estado como ―coisa pública . Indique quais das seguintes características referem-se à emergência da questão social como campo de intervenção do Estado.

I. O Estado inicia um movimento de descentralização do ponto de vista político, transferindo recursos e atribuições para os níveis políticos regionais e locais.

II. O Estado acrescenta às suas funções o papel de provedor de educação pública, saúde pública, cultura pública, incentivos à ciência e tecnologia, investimentos em infraestrutura e proteção ao meio ambiente.

III. O Estado inicia o controle do déficit fiscal e de seus efeitos sobre a inflação, distribuição de renda e consequentemente no bem-estar da população.

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IV. O Estado passou a assumir um número crescente de serviços sociais e papéis econômicos em substituição à sua função anterior, baseada principalmente na defesa da soberania, propriedade e dos contratos. V. Em seu sentido mais direto, a noção de bem comum que passa a orientar o Estado do Bem-Estar tem um significado distributivo. Escolha a opção correta.

a) III, V

b) II, IV, V

c) I, III, IV, V

d) II, III, IV

e) II, V

A primeira afirmação traz uma característica da administração gerencial, que surgiu justamente com a crise do Estado de Bem-Estar, quando se utilizava ainda o modelo burocrático, de características descentralizadoras. Segundo Bresser Pereira:

Aos poucos foram-se delineando os contornos da nova administração pública: (1) descentralização do ponto de vista político, transferindo recursos e atribuições para os níveis políticos regionais e locais; (2) descentralização administrativa, através da delegação de autoridade para os administradores públicos transformados em gerentes crescentemente autônomos; (3) organizações com poucos níveis hierárquicos ao invés de piramidal, (4) pressuposto da confiança limitada e não da desconfiança total; (5) controle por resultados, a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a passo, dos processos administrativos; e (6) administração voltada para o atendimento do cidadão, ao invés de auto-referida.

A primeira afirmação é errada.

A segunda afirmação também pode ser observada em Bresser Pereira, que afirma que o modelo burocrático fazia sentido no Estado Liberal, mas não no Assistencialista. Segundo o autor:

Era uma estratégia que já não fazia sentido, depois de o Estado ter acrescentado às suas funções o papel de provedor de educação pública, de saúde pública, de cultura pública, de seguridade social, de incentivos à ciência e à tecnologia, de investimentos na infraestrutura, de proteção ao meio ambiente.

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Portanto, a segunda afirmação é correta porque traz características do Estado de Bem-Estar.

O controle do déficit fiscal não é uma característica do Estado de Bem-Estar. O déficit é uma das consequências da atuação estatal neste período, que gastava altas somas de recursos. Com as crises monetária e do petróleo, os Estados não conseguem mais se financiar, gerando assim os resultados negativos. Portanto, a terceira afirmação é errada porque o controle do déficit é posterior ao Welfare State.

A quarta afirmação traz a característica mais marcante do Estado Assistencialista, que é a atuação positiva do Estado como promovedor do bem-estar, em contraposição ao Estado Liberal. A quarta afirmação é correta.

O bem comum tem dois significados: distributivo e coletivo. No significado distributivo, pode-se dizer que uma política ou ação de governo é destinada ao bem de todos; implica dizer que o resultado da atuação estatal é para o bem-estar de todos os membros do consórcio estatal. O governo para o bem comum é admitido como sinônimo de governo imparcial, mesmo que nem todos os membros da sociedade necessariamente se beneficiem de certa política. No sentido coletivo, bem comum significa o que é de todos, comum a uma comunidade em geral ou a uma nação.

O aspecto distributivo difere do redistributivo, em que o objetivo é o desvio e o deslocamento consciente de recursos financeiros, direitos ou outros valores entre camadas sociais e grupos da sociedade. O processo político que visa a uma redistribuição costuma ser polarizado e repleto de conflitos. A quinta afirmação é correta.

Gabarito: B.

30. (ESAF/CGU/2002) Desde o seu surgimento, o Estado moderno tem desempenhado diversas funções. Marque, entre os enunciados abaixo, o que não constitui função do Estado.

a) O Estado se define como a instituição que exerce o monopólio legítimo do uso da força ou da coerção organizada. Assim, a primeira função do Estado é a manutenção da ordem e da segurança interna e a garantia da defesa externa.

b) A menos que se admita a hipótese do poder arbitrário, a manutenção da ordem pelo Estado – a resolução de conflitos, a aplicação da justiça, a imposição de sanções – exige regras estabelecidas. Assim, é função do Estado o ordenamento jurídico das interações coletivas.

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c) Como suas atividades, por definição, não são auto-sustentáveis, é função do Estado estabelecer e cobrar tributos dos que vivem sob seu domínio e administrar os recursos obtidos dessa forma.

d) Cabe ao Estado exercer uma função social, expressa no seguinte enunciado: “independentemente da sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito a ser protegidos, de alguma maneira, contra situações de vulnerabilidade de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta duração (doença, maternidade, desemprego)”.

e) Visando manter a estabilidade social e reduzir o conflito político, é função do Estado prover a maximização da eficiência do sistema econômico mediante a planificação, a regulamentação econômica e a intervenção pública em sustentação à iniciativa privada.

Esta questão foi tirada de um texto de Maria das Graças Rua, que está na leitura sugerida. Analisando as teorias da formação originária do Estado, as contratualistas e as da formação espontânea, a autora afirma que:

Em qualquer das duas hipóteses, a primeira função do Estado é a manutenção da ordem e da segurança interna e a garantia da defesa externa. É por esse motivo que um dos componente fundamental do Estado é o aparato de segurança pública constituído por uma força policial e militar pública. É também por esse motivo que frequentemente o Estado é definido como a instituição que exerce o monopólio legítimo do uso da força ou da coerção organizada.

Podemos ver que a letra “A” é correta, pegando partes desta citação.

A autora afirma também que:

Entretanto, a própria função de manutenção da ordem exige mais do que o controle dos meios para o exercício da violência. A menos que se admita a hipótese do poder arbitrário, a manutenção da ordem pelo Estado – a resolução de conflitos, a aplicação da justiça, a imposição de sanções – exige regras estabelecidas. Assim, uma outra função do Estado é a de regulamentação jurídica. Ou seja, a partir das suas relações com a sociedade, o Estado estabelece o ordenamento jurídico das interações coletivas.

A letra “B” é correta, cópia quase literal.

Mais um trecho do texto:

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Por outro lado, já que suas atividades, por definição, não são auto-sustentáveis, a segunda função do Estado é estabelecer e cobrar tributos dos que vivem sob seu domínio e administrar os recursos obtidos dessa forma. E‘ por esses motivos que um outro componente fundamental do Estado é o quadro administrativo ou administração pública, que tem como atribuição decidir, instituir e aplicar as normas necessárias à coesão social e à gestão da coisa pública.

A letra “C” é correta.

Estas funções vistas acima – manutenção da ordem, regulamentação jurídica, estabelecer e cobrar tributos – são consideradas as funções clássicas do Estado, presentes mesmo nas concepções do Estado mínimo. Ao longo do tempo, o Estado foi assumindo outras funções, como no caso do Estado de Bem-Estar Social. Maria das Graças Rua afirma que:

Todavia, somente na década de 1940 é que efetivamente se definiu uma função social do Estado, com a afirmação explícita do princípio do Estado de Bem Estar Social: “independentemente da sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito a ser protegidos contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta duração (doença, maternidade, desemprego)”.

A letra “D” é correta.

Com o Estado de Bem-Estar, desde o fim da Segunda Guerra, a maioria das sociedades industrializadas assumiu como função do Estado a oferta de serviços sociais, que gradualmente passaram a abranger diversas políticas de proteção e de compensação das desigualdades sociais – renda mínima, alimentação, saúde, educação, habitação, etc. – asseguradas aos cidadãos como direito político e não como caridade. Segundo a autora:

Ao mesmo tempo, o Estado assumiu a função de prover a maximização da eficiência do sistema econômico mediante a planificação e a gestão direta de grandes empresas, a regulamentação econômica e a intervenção pública em sustentação à iniciativa privada. De forma bastante simplificada, estas características definem o chamado Welfare State ou Estado de Bem Estar Social.

A letra “E” é incorreta porque afirma que o objetivo era “manter a estabilidade social”, quando na realidade o Estado de Bem-Estar tinha como objetivo reduzir as desigualdades sociais, ou seja, alterar a estrutura social então vigente.

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Gabarito: E.

31. (ESAF/APO-MPOG/2001) O Estado de Bem-Estar surgiu como resposta ao processo de modernização, compatibilizando capitalismo e democracia. Indique o princípio fundamental que melhor define esse modelo de Estado.

a) Independentemente de sua renda, todos os cidadãos têm o direito de serem protegidos contra situações de dependência de longa e de curta duração.

b) Todos os cidadãos têm direito de serem protegidos contra situações de dependência de acordo com sua renda.

c) O estudo deve prover os serviços básicos de saúde e educação, sendo os demais serviços prestados aos cidadãos pelo mercado.

d) Aos mais pobres cabe o direito de serem atendidos pelos serviços públicos.

e) Todos os direitos sociais devem ser prestados pelo mercado, cabendo ao Estado a garantia dos direitos civis e políticos.

Vimos que o princípio fundamental do Estado de Bem-Estar foi colocado na lei inglesa:

Independentemente de sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito de ser protegidos – com pagamento em dinheiro ou com serviços – contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta (doença, desemprego, maternidade).

A letra “A” é a certa.

A letra “B” é errada porque a renda não importa, é universal.

A letra “C” é errada, todos os serviços são prestados pelo Estado.

A letra “D” é errada porque não são só os mais pobres, são todos.

A letra “E” é errada, é o que defende o liberalismo.

Gabarito: A.

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4.3 Crise do Estado Contemporâneo

32. (ESAF/APO-MPOG/2010) A discussão sobre A Crise do Estado Contemporâneo apresenta diferentes perspectivas e explicações de acordo com o autor que a analisa. Assinale a afirmativa correta.

a) Para Gramsci, assim como para Marx, a principal crise do desenvolvimento capitalista que qualquer Estado Contemporâneo enfrenta é a crise econômica.

b) Para Althusser, e até certo ponto Poulantzas, a função do Estado é formação do consenso, e a natureza de classes do Estado é estruturada pelas relações econômicas dentro do Estado. A crise seria, portanto, reflexo da dificuldade na formação do consenso entre as frações de classes capitalistas.

c) A perspectiva de Offe, baseada em grande parte na teoria da burocracia de Weber, sugere que o Estado é independente de qualquer controle sistemático da classe capitalista (direto ou estrutural). O Estado é um sujeito “político” no sentido que organiza a acumulação de capital e é também o local das principais crises do capitalismo avançado.

d) Para O’Connor, a crise do Estado Contemporâneo é essencialmente uma crise fiscal do Estado. A crise do Estado Contemporâneo tem no profundo desequilíbrio fiscal sua expressão econômica mais forte. O’Connor relacionou essa crise à impossibilidade e incapacidade do Estado Capitalista de atender às demandas das grandes empresas oligopolistas, essencial para se legitimar enquanto Estado universal perante toda a sociedade.

e) Para a visão materialista alemã, representada por Hegel, as crises de acumulação de capital são derivações lógicas do desenvolvimento capitalista concorrencial. A crise é resultado da tendência à queda na taxa de lucro existente no capitalismo. A função essencial do Estado, na perspectiva de Hegel, seria neutralizar a crise capitalista.

Questão tirada do livro “Estado e Teoria Política”, de Martin Carnoy, que é bastante usado nas provas de ciência política.

Segundo o livro:

Para Gramsci, porém, a aceitação resulta da "hegemonia" da classe capitalista (o domínio das normas e dos valores dessa classe), e o Estado, como um aparato ideológico, ajuda a legitimar essa hegemonia e é, portanto, parte dela. Na formação de um consenso para o desenvolvimento capitalista, a responsabilidade decisiva dessa função legitimadora cabe aos intelectuais, tanto dentro quanto fora do Estado.

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Assim, a principal crise do desenvolvimento capitalista para Gramsci não é econômica, mas hegemônica. É somente quando o "consenso" subjacente ao desenvolvimento capitalista começa a desmoronar que a sociedade pode se transformar. A política revolucionária é, portanto, a luta contra a hegemonia, incluindo o desenvolvimento, como parte dessa luta, de uma "contra-hegemonia", baseada nos valores e cultura da classe operária.

Podemos ver que a letra “A” é errada porque a principal crise NÃO é econômica, mas hegemônica.

Ainda segundo Carnoy:

O estruturalismo de Louis Althusser e dos primeiros escritos de Nicos Poulantzas considera que a forma e a função do Estado capitalista estão determinadas pelas relações de classe inerentes ao modo de produção capitalista. A função do Estado é ideológico-repressiva, mas sua natureza de classe é "estruturada" pelas relações econômicas fora do Estado.

Portanto, a função do Estado é ideológico-repressiva e é estrutura FORA do Estado. A letra “B” é errada.

A letra “C” é a certa. Segundo Carnoy:

O ponto de vista "político" de Claus Offe (1) sobre o Estado se baseia amplamente nas teorias da burocracia de Max Weber. Offe argumenta que o Estado capitalista é "independente" de qualquer controle sistemático da classe capitalista, seja direto ou estrutural, mas, a seu ver, a burocracia de Estado representa, de qualquer forma, os interesses dos capitalistas, pois ele depende da acumulação de capital para continuar existindo como Estado. Ao mesmo tempo, porém, o Estado deve ser legítimo. Serve de intermediário das reivindicações dos trabalhadores, no contexto da reprodução da acumulação do capital. A política e as contradições do desenvolvimento capitalista são fundamentalmente intra-Estado. O Estado é um "sujeito" político no sentido de que organiza a acumulação do capital e é também o local das principais crises do capitalismo avançado. A política está essencialmente dentro do Estado.

A letra “D” é errada. Segundo o livro:

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Contudo, há diferenças significativas nas estratégias políticas sugeridas pelas várias teorias na perspectiva de classe. A teoria da lógica do capital sugere que o antagonismo de classe persistente na produção mais a competição entre capitais conduzirão a uma crise econômica que, necessariamente, envolverá o Estado. Na resposta e transmutação de O'Connor da lógica do capital, o Estado é cada vez mais levado a compensar a queda dos lucros e deve, simultaneamente, permanecer legítimo, respondendo materialmente às demandas da classe trabalhadora por mais benefícios sociais. O'Connor partilha com Hirsch uma ênfase na luta de classes na produção como a ação política importante, pois é este conflito de classe que acentua a crise econômica e força o Estado a intervir mais na economia. O'Connor enfatiza, além disso, a importância da luta dos trabalhadores no setor estatal, à medida em que o Estado se expande mais e mais no seu papel na produção.

O Estado não consegue atender às demandas da sociedade.

A letra “E” é errada. Segundo Carnoy:

A visão "derivacionista" alemã, representada pelo trabalho de Joachim Hirsh, deduz a forma e a função do Estado do processo de acumulação do capital. Em particular, a tendência da taxa de lucro a cair exige que a classe capitalista organize um Estado que neutralize essa tendência através de gastos do Estado em infra-estrutura física e financeira e em investimento em recursos humanos. Apesar de serem, em parte, resultantes diretas do conflito de classes, as crises de acumulação do capital são mais aspectos "inerentemente lógicos" do desenvolvimento capitalista concorrencial; daí poder-se analisar a função histórica do Estado capitalista nos termos dessa lógica inerente. A política na concepção derivacionista é também reduzida aos esforços da classe capitalista para usar o Estado a fim de neutralizar a crise capitalista.

A descrição é da visão derivacionista, e não materialista.

Gabarito: C.

33. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) A maioria dos autores que analisaram os processos de reforma do Estado o dividem em duas fases ou gerações. De um modo geral, a primeira geração ocorreu na década de 1980 e início da década de 1990 e teve por

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objetivo reduzir o Estado. A seguir, é apresentada uma série de medidas típicas das reformas do Estado empreendidas por países latino-americanos como Brasil, Argentina e Chile. Aponte a opção falsa.

a) Criação de bancos centrais.

b) Privatização de empresas estatais.

c) Diminuição da estrutura administrativa.

d) Redução do controle estatal sobre a atividade econômica (desregulação).

e) Ajuste fiscal no sentido de reduzir os gastos públicos.

Muitos de vocês encrencam com a “desregulação”, pois associam as reformas gerenciais ao Estado Regulador. O Estado vem se retirando da execução dos serviços públicos e passando para um papel de regulador. No entanto, isso não significa que ele irá regulamentar mais os serviços. Ao mesmo tempo, o Estado passa também a interfir menos na esfera privada.

Vinícius Marques de Carvalho escreveu o artigo "Desregulação e reforma do Estado: impacto sobre a prestação de serviço público". Está no livro "Direito Regulatório: Temas Polêmicos", cuja organizadora é a Zanella Di Pietro.

Para o autor, a ideia de desregulação tem um caráter genérico de redução do intervencionismo estatal, que pode se dar de várias formas em função das políticas públicas econômicas. Abrangendo, assim, a alienação da propriedade dos meios de produção públicos, a cessão de sua gestão, a abertura de setores, até então vedados à iniciativa privada, a liberação dos regimes legais da atividade privada e a colaboração de entidades privadas na execução de tarefas públicas.

Di Pietro ensina que a desregulação constitui a diminuição do regramento da atividade privada, com o intuito de diminuir a intervenção do Estado na vida do cidadão. Do ponto de vista da desregulação econômica, apresentam-se outros conceitos como: desmonopolização, desestatização, privatização e a própria concessão de serviços públicos.

Portanto, as reformas do Estado têm sim desregulado os serviços públicos.

Gabarito: A.

34. A maior parte dos países ocidentais enfrentou uma crise do Estado nos anos 80 do século XX. Algumas características estiveram presentes tanto nos países

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desenvolvidos quanto na América Latina. Outras foram características apenas dos países latino-americanos. A seguir são relacionados alguns elementos dessa crise:

1. crise fiscal;

2. esgotamento dos efeitos internos do ciclo de expansão mundial posterior à II Guerra Mundial;

3. esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações;

4. redemocratização;

5. crise da dívida externa.

Que elementos estiveram presentes em países latino-americanos como Brasil, Argentina e Peru?

a) Nenhum.

b) Apenas 1, 2 e 4.

c) Todos.

d) Apenas 3, 4 e 5.

e) Apenas 2 e 4.

Esses vários fatores estão interligados. As crises do petróleo na década de 1970 fazem com que os juros internacionais se elevem substancialmente, o que gera uma crise da dívida externa nos países latino-americanos, juntamente a uma crise fiscal, pois o financiamento do setor público fica mais difícil.

Nos anos oitenta, o longo período de estagflação também coincidiu com o esgotamento do modelo de substituição de importações. Mais tarde, os anos noventa vieram representar a década em que se abandonou o modelo nacional desenvolvimentista, baseado na substituição de importações, para a abertura comercial e financeira, a privatização e a desregulamentação dos mercados, que ampliou a vulnerabilidade externa e inviabilizou o crescimento.

Gabarito: C.

35. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) Estado de Bem-Estar (welfare state), conforme o Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, pode ser definido como o “Estado que garante tipos mínimos de renda,

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alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político”. Os enunciados a seguir se referem a essa questão:

1. há uma relação direta entre desenvolvimento econômico e os Estados de Bem-Estar tal como se desenvolveram a partir da Segunda Guerra Mundial.

2. o Brasil se tornou um Estado de Bem-Estar ao inserir direitos sociais na Constituição de 1988.

3. regimes totalitários como o fascismo e o nazismo podem ser considerados de Bem-Estar porque em seu apogeu eliminaram a fome e o desemprego.

4. pode-se dizer que entre os indígenas brasileiros estão presentes as características do Estado de Bem-Estar, porque todos os seus membros têm direito aos mesmos níveis de alimentação, saúde e educação.

5. os processos de reforma do Estado, ao incluírem privatizações e reformas dos sistemas de Previdência, acabaram com os Estados de Bem-Estar surgidos após a Segunda Guerra Mundial.

Em relação aos enunciados acima:

a) nenhum está correto.

b) todos estão corretos.

c) apenas o 2 está correto.

d) apenas o 1 está correto.

e) apenas o 5 está correto.

A primeira afirmação é correta. O Estado de Bem-Estar teve origem na década de 1940, na Inglaterra. Ele coincidiu com o período que Eric Hobsbawn chamou de “Era Dourada”, em que tanto os países capitalistas desenvolvidos quanto o bloco socialista e alguns países do Terceiro Mundo apresentaram taxas elevadas de crescimento. Além disso, muitos consideram que o próprio Estado de Bem-Estar foi um dos fatores que permitiu um maior desenvolvimento econômico. Pesquisas mais recentes têm sublinhado o papel desempenhado por fatores econômicos na constituição do Estado assistencial. A causa principal de sua difusão estaria na transformação da sociedade agrária em industrial. O surgimento do Estado de bem-estar deve-se à tomada de consciência da classe capitalista quando esta percebe que a produção em massa, engendrada pelas técnicas de produção fordista, requer o consumo massivo.

A segunda afirmação é errada. Pode-se dizer que na história brasileira, mesmo considerando suas especificidades, não se constituiu um sistema de seguridade social próximo do modelo que ficou conhecido como Welfare State. Talvez seja mais coerente

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considerar que, durante todo o processo histórico de formação e estruturação das formas do Estado moderno no Brasil, não se tenha implementado mais do que apenas algumas políticas de bem-estar social. Apesar de a Constituição rezar pela garantia de um modelo de seguridade social aos cidadãos, incorporando todos os trabalhadores (informais, marginalizados, da Zona Rural etc.) ao sistema de proteção social, as condições deterioradas do financiamento do setor público inviabilizaram a ampliação dos gastos sociais e execução de políticas públicas.

Outro grande fator, responsável pelo retrocesso no processo de construção de um sistema mais amplo de seguridade social no Brasil, foi o drástico movimento de desmonte do aparelho estatal federal realizado pelo governo Collor de Mello. As principais vítimas desse processo foram as áreas de assistência social e os programas públicos de universalização dos direitos sociais explícitos na Carta Magna.

A terceira afirmação é errada. O Estado de Bem-Estar está ligado diretamente à noção de cidadania, o oposto dos regimes fascistas. Segundo Bobbio:

Na realidade, o que distingue o Estado assistencial de outros tipos de Estado não é tanto a intervenção direta das estruturas públicas na melhoria do nível de vida da população quanto o fato de que tal ação é reivindicada pelos cidadãos como um direito.

A quarta afirmação é errada. Nos povos indígenas, temos mais um socialismo do que Estado de Bem-Estar. Caracterizam-se pela ausência do Estado, e não pelo intervencionismo deste.

A quinta afirmação é errada. Não podemos dizer que acabaram os Estados de Bem-Estar Social, alguns países europeus permanecem no modelo. Apesar de que isso é um pouco polêmico, por isso cabe recurso. Alguns afirmam que o Estado de Bem-Estar teve fim. Segundo Fiori (1998):

Seja como for, a verdade é que as ideias neoconservadoras é que acabaram politicamente vitoriosas, difundindo-se de forma implacável por todo o mundo a partir de sua vitória no eixo anglo-saxão. E foram elas, portanto, que animaram os projetos neoliberais de reforma dos Estados que acabam atingindo em cheio os Estados de Bem-Estar Social, desacelerando sua expansão ou desativando muitos de seus programas. Depois de uma década e meia de hegemonia liberal-conservadora, entretanto, são muitos os autores que consideram que a destruição foi menos do que o que vem sendo apregoado. Mas a verdade é que se a desmontagem dos welfare states não ocorreu de forma abrupta e estrondosa, são inúmeros os sinais que indicam uma

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lenta transformação ou transição de quase todos os casos ou tipo em direção às formas mais atenuadas ou menos inclusivas de cobertura dos vários sistemas que compuseram o welfare em seu período áureo.

Gabarito: D.

36. (ESAF/APO-MPOG/2005) Segundo Abrúcio (1998), entre os fatores que ajudaram a desencadear a crise do Estado, indique a opção incorreta.

a) As duas crises do petróleo, em 1973 e 1979, contribuíram para a diminuição do ritmo do crescimento econômico, colocando em xeque o modelo de intervenção estatal até então vigente.

b) A crise fiscal dos tax payers, que não enxergavam uma relação direta entre o acréscimo de recursos governamentais e a melhoria dos serviços públicos, fez diminuir ainda mais a arrecadação.

c) Denúncias de corrupção envolvendo funcionários públicos de países centrais geraram um movimento, por parte dos movimentos sociais organizados, contrário à continuidade do modelo de Bem-estar.

d) A globalização enfraqueceu os Estados nacionais no que tange ao controle dos fluxos financeiros e comerciais, mitigando em grande parte sua capacidade de ditar suas políticas macroeconômicas.

e) A incapacidade do governo de responder às demandas sociais crescentes durante esse período gerou, segundo alguns cientistas políticos, uma “ingovernabilidade de sobrecarga”.

Essa questão foi tirada do texto "O impacto do modelo gerencial na Administração Pública: Um breve estudo sobre a experiência internacional recente", de Fernando Luiz Abrucio, disponível em:

www.enap.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1614

Em linhas gerais, quatro fatores sócio-econômicos contribuíram fortemente para detonar a crise do Estado contemporâneo. O primeiro foi a crise econômica mundial, iniciada em 1973, na primeira crise do petróleo, e retomada ainda com mais força em 1979, na segunda crise do petróleo. O fato é que a economia mundial enfrentou um grande período recessivo nos anos 80 e nunca mais retomou os níveis de crescimento atingidos nas décadas de 50 e 60. Neste momento de escassez, o Estado foi o principal afetado, entrando numa grave crise fiscal. A letra “A” é correta.

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A crise fiscal foi o segundo fator a enfraquecer os alicerces do antigo modelo de Estado. Após ter crescido por décadas, a maioria dos governos não tinha mais como financiar seus déficits. E os problemas fiscais tendiam a se agravar na medida em que se iniciava, sobretudo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, uma revolta dos taxpayers (contribuintes) contra a cobrança de mais tributos, principalmente porque não enxergavam uma relação direta entre o acréscimo de recursos governamentais e a melhoria dos serviços públicos. Estava em xeque o consenso social que sustentara o Welfare State. A letra “B” é correta.

Os governos estavam, ainda, sobrecarregados de atividades – acumuladas ao longo do pós-guerra –, com muito a fazer e com poucos recursos para cumprir todos os seus compromissos. Além disso, os grupos de pressão, os clientes dos serviços públicos e todos os beneficiários das relações neocorporativas então vigentes não queriam perder o que, para eles, eram conquistas — e que para os neoliberais eram grandes privilégios. O terceiro fator detonador da crise do Estado contemporâneo, portanto, se constituía naquilo que a linguagem da época chamava de situação de “ingovernabilidade”: os governos estavam inaptos para resolver seus problemas. A letra “E” é correta.

Por fim, a globalização e todas as transformações tecnológicas que transformaram a lógica do setor produtivo também afetaram – e profundamente – o Estado. Na verdade, o enfraquecimento dos governos para controlar os fluxos financeiros e comerciais, somado ao aumento do poder das grandes multinacionais resultou na perda de parcela significativa do poder dos Estados nacionais de ditar políticas macroeconômicas. A letra “D” é correta.

A letra “C” não é citada por Abrucio como um desses fatores. Pelo contrário, ele afirma que o setor privado havia passado por um período de escândalos, como bancarrotas e corrupção, mas mesmo assim havia a crença na sociedade de que o setor privado possuía o modelo ideal de gestão. A letra “C” é errada.

Gabarito: C.

37. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Para alguns autores, a crise do Estado de Bem-Estar está relacionada à socialização do Estado. Nessa perspectiva, cabem as seguintes afirmativas, exceto:

a) O Estado difundiu uma ideologia igualitária que tende a deslegitimar a autoridade política.

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b) A disposição do Estado para intervir nas relações sociais provoca um enorme aumento de demanda às instituições políticas, provocando sua sobrecarga até a paralisia.

c) O crescimento do Estado de Bem-Estar leva a um aumento da autonomia do Estado em relação às diversas forças políticas e atores sociais internos.

d) A competição entre organizações políticas leva à impossibilidade de selecionar e aglutinar os interesses causando a total permeabilidade das instituições às demandas mais fragmentadas.

e) O peso assumido pela administração na mediação dos conflitos provoca a burocratização da vida política que, por sua vez, leva à “dissolução do consenso”.

O diagnóstico contemporâneo sobre governabilidade ou “crise do Estado”, no contexto da globalização, tem como argumento central a crise fiscal nos centros do capitalismo avançado, sugerindo ao conjunto dos países, especialmente à América Latina, medidas restritivas à produção de políticas públicas voltadas para a redistribuição, no plano social.

Ao tratar da crise de governabilidade Samuel Huntington, em “A Crise da Democracia”, identifica um conjunto de quatro fatores fundamentais que estariam interferindo nos governos e gerando crise de governabilidade:

Erosão da autoridade dada a vitalidade da democracia (excesso de democracia). Dessa perspectiva eles consideram que o Estado de Bem Estar difundiu uma ideologia igualitária que ao não poder cumpri-la acaba por deslegitimar a autoridade pública. A rigor trata-se agora de sustentar a incompatibilidade entre o keynesianismo e a democracia. A letra “A” é correta.

Sobrecarga do governo. Esta tese considera que a disponibilidade do Estado intervir nas relações sociais provoca um enorme aumento das demandas dirigidas às instituições políticas, determinando uma paralisia dos governos por sobrecarga de demandas. A satisfação dessas demandas gera tendências inflacionárias da economia. A letra “B” é correta.

Intensificação da competição política, gerando desagregação de interesses. Segundo essa tese a competição entre organizações políticas leva à incapacidade de selecionar e agregar interesses, causando a incapacidade das instituições quanto à absorção de demandas fragmentárias. O peso assumido pela administração na mediação dos conflitos provoca uma burocratização da

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vida pública que, por sua vez, gera a “dissolução do consenso”. As letras “D” e “E” são corretas.

O provincianismo nacionalista na política exterior, devido a pressões exercidas pelas sociedades a respeito de suas necessidades interiores.

No centro deste diagnóstico da governabilidade das sociedades contemporâneas encontra-se uma tese economicista, que localiza o fator central da crise em fatores econômicos associados à base inflacionária e ao desempenho dos fatores fiscais. As recomendações para este problema, no receituário neoliberal, envolvem medidas de reforma institucional e política, que implica:

redução das atividades do governo: as teses do Estado mínimo, que implica na reforma institucional do Estado, procedendo à uma desconcentração do Estado, através da descentralização das políticas sociais para as instâncias sub-nacionais dos municípios e repasse das responsabilidades públicas ao setor privado;

aumento de recursos e entradas à disposição dos Estados, o que tem significado um investimento e capacitação do setor tributário do governo, cuja eficiência tem função estratégica, no novo desenho do Estado;

redução das expectativas dos grupos sociais, através de uma redução e desconcentração do Estado de Bem Estar Social, reforma da Previdência e flexibilização dos Direitos sociais; aliados a uma absurda política de contração de empregos.

A letra “C” é errada porque o crescimento do Estado de Bem-Estar reduz a autonomia do Estado, ao invés de diminuir. Quanto mais o Estado oferece serviços sociais, quanto mais pessoas ele atende, maior será o número de pessoas que dependem do Estado e exigem uma atuação eficiente.

Gabarito: C.

38. (ESAF/APO-MPOG/2001) A crise do Estado da década de 80 levou à reformulação de suas funções, de forma a permitir às economias nacionais sobreviverem num mundo globalizado. Nesse novo contexto, o Estado de orientação social-democrata passa a ter como principal atribuição:

a) Proteger as economias da competição internacional, posto que a globalização ameaça seriamente o equilíbrio interno.

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b) Criar condições que permitam aos agentes econômicos nacionais competirem globalmente.

c) Diminuir investimentos nas áreas tecnológicas e de infraestrutura, posto que uma economia globalizada requer de seus agentes econômicos privados autonomia de investimento nestes setores.

d) Diminuir a intervenção na vida econômica, como forma de permitir que o mercado globalizado regule as relações entre as economias nacionais.

e) Diminuir investimentos nas áreas de saúde, educação e cultura, posto que uma economia globalizada requer um grau de dependência menor dos agentes econômicos face ao Estado.

Os sociais-democratas adotam uma postura semelhante à da governança progressiva, se não a mesma, ou seja, ficar em cima do muro. Eles não são tão radicais quanto os neoliberais e não desejam um Estado Mínimo, mas defendem a redução da atuação estatal em atividades que o mercado pode executar. Porém, entendem que o Estado deve manter políticas sociais, garantindo uma subsistência mínima para os mais pobre. Ao invés da universalização do Welfare State, preferem a focalização, ou seja, o atendimento dos que mais precisam.

As letras “C”, “D” e “E” falam todas em redução de atividades estatais. Estão erradas porque, apesar de os sociais-democratas até defenderem esse redução em alguns setores, essa não é a principal atribuição do Estado. Também não é proteger o mercado nacional dos produtos importados. A letra “A” é errada.

Ao invés de fechar a economia aos produtos de fora, protegendo nossas empresas, que permanecem sem incentivos à inovação, o Estado deve criar as condições para que ela possam competir globalmente.

Gabarito: B.

39. (ESAF/APO-MPOG/2001) A crise do Estado do Bem-Estar Social, que teve seu ápice nos anos 80, foi marcada por uma série de críticas a essa instituição. Assinale, entre as opções a seguir, aquela que não reproduz uma crítica pertinente, formulada contra o Estado do Bem-Estar, durante a referida crise.

a) Uma crítica referente ao Estado do Bem-Estar atribui sua crise ao crescimento das demandas feitas pela sociedade, que forçaram o Estado a garantir não somente padrões mínimos de conforto, mas padrões máximos, à toda a população.

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b) Uma crítica importante formulada contra o Estado do Bem-Estar diz respeito a seu caráter permissivo e sua incapacidade de impor "obrigações cívicas" aos recebedores de benefícios.

c) Uma crítica importante dirigida ao Estado do Bem-Estar aponta-o como responsável por alimentar uma conduta de vida "hedonista" e "parasita".

d) Críticos do Estado do Bem-Estar e de seus meios de distribuição de benefícios argumentam serem estes alienantes e incapacitadores dos indivíduos beneficiados.

e) Críticos do Estado do Bem-Estar consideram a preocupação com condições de bem-estar mínimas irrelevante, tendo em vista a gravidade de outros problemas sociais.

A letra “A” é certa. Uma das críticas ao Estado de Bem-Estar refere-se ao princípio da universalização, a necessidade de atender a todos, independentemente da renda. Perdia-se, assim, o foco em dar condições mínimas de subsistência. Por isso será proposta a focalização.

A letra “B” é certa. Como é um direito do cidadão e um dever do Estado, não poderia ser exigida uma contraprestação das pessoas.

A letra “C” é certa. Muitos falam isso do Bolsa Família: “quem recebe o benefício não vai querer trabalhar”.

A letra “D” é certa. Ao invés de fornecer os meios para que as pessoas busquem por si próprias condições de vida melhor, o Estado lhes fornece os bens e serviços. É o velho ditado do “ensinar a pescar ao invés de dar o peixe”.

A letra “E” é errada. O bem-estar envolve esses problemas sociais.

Gabarito: E.

40. (ESAF/STN/2000) A controvérsia contemporânea sobre o papel do Estado é orientada, entre outros aspectos, pela discussão sobre o grau de intervenção desse na vida social e econômica. Assinale, entre as opções a seguir, aquela que não retrata corretamente pontos relevantes deste debate.

a) O Estado intervencionista, na sua pretensão de superioridade, assume para si tarefas antes de responsabilidade do não-Estado.

b) O Estado intervencionista, que assume formas históricas distintas, pode ser visualizado no welfare state contemporâneo.

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c) O Estado máximo preocupa-se com a justiça social, chamando para si a tarefa de distribuir a riqueza entre os cidadãos.

d) O Estado liberal busca restringir sua esfera de atuação às atividades consideradas de responsabilidade exclusiva do Estado.

e) O Estado abstencionista advoga para si a tarefa de regular a produção e distribuição de bens.

A letra “A” é certa. O Estado intervencionista entende que o mercado não é capaz de, por si só, resolver os problemas da sociedade, por isso assume para si a produção de bens e serviços.

A letra “B” é certa. O Estado de Bem-Estar é um tipo de Estado intervencionista.

A letra “C” é certa. O Estado Máximo é também o Welfare State.

A letra “D” é certa. O Estado deve se restringir às atividades típicas.

A letra “E” é errada. O Estado abstencionista, ou Estado Mínimo, não atua na regulação.

Gabarito: E.

4.4 Gabarito

1. B

2. C

3. B

4. D

5. E

6. B

7. B

8. C

9. E

10. B

11. A

12. E

13. D

14. E

15. B

16. A

17. B

18. C

19. E

20. A

21. E

22. B

23. D

24. A

25. C

26. E

27. B

28. A

29. B

30. E

31. A

32. C

33. A

34. C

35. D

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36. C 37. C 38. B 39. E 40. E

4.5 Lista das Questões

4.5.1 Conceito, Origem e Evolução do Estado Moderno

1. (ESAF/APO-MPOG/2010) O termo Estado evoluiu muito em sua utilização desde Maquiavel. Escolha a opção que não está correta.

a) Bruno Bauer, criticado por Marx em ‘A Questão Judaica’ (1844), analisa o Estado sob a ótica da emancipação política e critica o Estado religioso. Para Bauer, a religião é uma inimiga da razão e, consequentemente, do progresso, pois impede a formação de um bem comum, pautado na comunidade de homens livres, na igualdade de direitos e no desfrute das liberdades, tornando-se necessária sua abolição.

b) A fundamentação do Estado Rousseauniano é a vontade de todos, que surge do conflito entre as vontades particulares de todos os cidadãos.

c) Para Marx, é no Estado político que são declarados os direitos do homem, como liberdade, a propriedade, a igualdade e a segurança. No entanto, essa liberdade concedida como direito do homem não se objetiva nas relações sociais. Desse modo, a igualdade política não tem correspondência na igualdade social.

d) Para Weber, Estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva.

e) O Estado, para Durkheim, é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.

2. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O monopólio do uso da força pelo Estado e seus agentes é uma característica do poder político. Identifique o enunciado correto.

a) Somente em países onde existe uma constituição escrita o Estado tem legitimidade para impor o monopólio do uso da força.

b) Todo grupo organizado e com uma liderança constituída tem legitimidade para usar a força.

c) É preciso que exista um sistema legal para que a violência seja usada legitimamente pelos agentes do Estado.

d) A legitimidade do monopólio da força exclui a dominação ideológica.

e) O Estado que abre mão de manter forças armadas deixa de ter o monopólio da força.

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3. (ESAF/ANA/2009) Assinale a opção que preenche corretamente a lacuna da seguinte frase: “Segundo Hauriou (in Droit Constitutionnel), é com a _______________________ que começam a civilização e a história, assim como a maior parte das instituições que nos são familiares; por exemplo, do ponto de vista político, o regime de Estado, e do ponto de vista social, a propriedade privada e o comércio jurídico individualista.”

a) Revolução Comercial

b) humanidade sedentária

c) Globalização dos Mercados (3ª Onda)

d) humanidade nômade

e) Revolução Industrial

4. (ESAF/ANA/2009) Acerca das chamadas teorias contratualistas do Estado, é incorreto afirmar:

a) podem ser explicadas sob os enfoques antropológico, filosófico ou político.

b) em sentido amplo, vem o fundamento do Estado em um contrato, aceito pela maioria dos indivíduos, assinalando o fim do estado natural e o início do estado social.

c) algumas de suas correntes foram utilizadas para justificar o absolutismo, ao passo que outras o foram para contradizê-lo.

d) têm por expoente máximo a obra legada por Nicolau Maquiavel.

e) em comum, nas teorias contratualistas, encontra-se a ênfase no caráter racional e laico da origem do poder.

5. (ESAF/ANA/2009) Segundo as teorias não contratualistas, em sua forma originária, o Estado teria uma entre as seguintes origens, exceto:

a) a ampliação do núcleo familial ou patriarcal.

b) os atos de força, violência ou conquista.

c) as causas econômicas ou patrimoniais.

d) o desenvolvimento interno da sociedade.

e) o fracionamento de Estados preexistentes.

6. (ESAF/PSS/2008) Um dos temas centrais da discussão em torno da formação do Estado Moderno, sobre o qual existem algumas correntes teóricas bem definidas, é a origem da autoridade e os fundamentos da obediência. Entre as teorias existentes,

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destaca-se aquela que defende a formação contratual do Estado. Identifique, entre os enunciados abaixo, aquele que não é característico dessa vertente teórica.

a) Uma generalizada condição de liberdade, entendida como independência, domínio de si próprio.

b) Uma história e uma cultura comuns, como fundamento dos pactos entre os homens.

c) A capacidade dos homens de realizar escolhas racionais.

d) Uma situação de vida coletiva.

e) Uma generalizada capacidade de uso da força, que torna os homens relativamente iguais.

7. (ESAF/APO-MPOG/2008) Na civilização ocidental, os diversos aspectos do Estado moderno só apareceram gradualmente, quando a legitimidade passou a ser atribuída ao conjunto de normas que governava o exercício da autoridade. São características essenciais do Estado moderno todas as que se seguem, exceto:

a) um ordenamento jurídico impositivo.

b) a cidadania: relação de direitos e deveres.

c) o monopólio do uso legítimo da violência.

d) um quadro administrativo ou uma burocracia.

e) a jurisdição compulsória sobre um território.

8. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) A formação do Estado moderno, entre os séculos XII/ XIII e XVIII/XIX, consistiu em um longo e complexo processo que levou à normatização das relações de força por meio do exercício monopolístico do poder pelo soberano. Todos os enunciados abaixo sobre a formação do Estado estão corretos, exceto:

a) além do desenvolvimento do Estado territorial institucional, a formação do Estado moderno envolveu a passagem do poder personificado do príncipe para o primado dos esquemas universalistas e abstratos da norma jurídica, que mais tarde daria origem ao Estado de Direito.

b) o processo de formação do Estado foi marcado pela tensão entre, de um lado, a expropriação dos poderes privados locais; e, de outro, a necessidade do soberano de recorrer às categorias ou camadas sociais para dispor de fundos para criar e manter seu quadro administrativo e um exército permanente.

c) além da distinção entre o espaço público e o privado, a formação do Estado implicou em substituir gradualmente a supremacia da dimensão individual do senhor feudal e do príncipe pelo princípio das categorias sociais como núcleos da sociedade civil, novos interlocutores do soberano.

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d) a delimitação de um espaço das relações sociais, gerenciado de forma exclusivamente política, tornou-se possível graças à conquista, pelo príncipe, do apoio da esfera financeira à luta contra os privilégios, inclusive fiscais, da aristocracia.

e) a distinção entre o mundo espiritual e o mundano, sobre a qual se assentava o primado da Igreja e de sua concepção universalista da república cristã, acabou por fundamentar a supremacia da política.

9. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Um dos objetos de grande atenção do pensamento e da teoria política moderna é a constituição da ordem política. Sobre essa temática, uma das tradições de reflexão mais destacadas sustenta que a ordem tem origem contratual. Todos os elementos abaixo são comuns a todos os pensadores da matriz contratualista da ordem política, exceto:

a) o estado de natureza.

b) a existência de direitos previamente à ordem política.

c) a presença de sujeitos capazes de fazer escolhas racionais.

d) um pacto de associação.

e) um pacto de subordinação.

10. (ESAF/EPPGG-MPOG/2008) Embora não seja a única abordagem sobre a origem do Estado moderno, o contratualismo tem destacada importância para a reflexão sobre a ordem democrática. Examine os enunciados abaixo sobre essa corrente da ciência política e marque a resposta correta.

1. Todos os contratualistas veem no pacto um instrumento de emancipação do indivíduo e de sua transformação de súdito em cidadão.

2. Todos os contratualistas apontam a obediência como elemento central para a manutenção da ordem política, mas também reconhecem o direito de rebelião contra o poder tirânico.

3. Do mesmo modo que consideram o contrato uma relação obrigatória entre as partes, todos os contratualistas também indicam as sanções para quem o infringe.

4. Para os contratualistas, a constituição da ordem política não altera a estrutura social, nem a racionalidade individual, nem a sociabilidade da sociedade civil.

a) Todos os enunciados estão corretos.

b) Somente o enunciado 4 está correto.

c) Somente o enunciado 1 está correto.

d) Somente o enunciado 2 está correto.

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e) Estão corretos os enunciados 1, 3 e 4.

11. (ESAF/CGU/2008) Indique a opção que completa corretamente as lacunas das frases a seguir:

Há três modos pelos quais historicamente se formam os Estados: Os modos ______________ em que a formação é inteiramente nova, o Estado nasce diretamente da população e do país; os modos _____________, quando a formação se produz por influências externas e os modos ______________, quando vários Estados se unem para formar um novo Estado ou quando um se fraciona para formar um outro.

a) originários – derivados – secundários.

b) derivados – contratuais – originários.

c) contratuais – derivados – naturais

d) naturais – originários – derivados

e) secundários – naturais – originários.

12. (ESAF/STN/2005) Sobre teoria geral do Estado, processo evolutivo do ente estatal, poderes e funções do Estado e formas de governo e de Estado, assinale a única opção correta.

a) O Estado moderno de tipo europeu, quando do seu surgimento, tinha como características próprias: ser um Estado nacional, correspondente a uma nação ou comunidade histórico-cultural, possuir soberania e ter por uma de suas bases o poder religioso.

b) O poder político ou poder estatal é o instrumento de que se vale o Estado moderno para coordenar e impor regras e limites à sociedade civil, sendo a delegabilidade uma das características fundamentais desse poder.

c) A função executiva, uma das funções do poder político, pode ser dividida em função administrativa e função de governo, sendo que esta última comporta atribuições políticas, mas não comporta atribuições co-legislativas.

d) Forma de governo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes, especialmente os Poderes Legislativo e Executivo, sendo os Estados, segundo a classificação dualista de Maquiavel, divididos em repúblicas ou monarquias.

e) A divisão fundamental de formas de Estados dá-se entre Estado simples ou unitário e Estado composto ou complexo, sendo que o primeiro tanto pode ser Estado unitário centralizado como Estado unitário descentralizado ou regional.

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13. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Do ponto de vista histórico podemos verificar várias definições de Estado, com características específicas. Indique a opção correta.

a) O Estado feudal caracteriza-se por uma concentração de poder, em um determinado território nacional, na figura do rei.

b) O Estado estamental caracteriza-se por uma divisão de classes entre os detentores, ou não, dos meios de produção.

c) O Estado socialista caracteriza-se por desconcentrar o poder entre a população por meio de um sistema multipartidário.

d) O Estado absolutista caracteriza-se por um duplo processo de concentração e centralização de poder em um determinado território.

e) O Estado representativo caracteriza-se por ser exclusivo a sociedades democráticas modernas, não existindo em monarquias.

14. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Os jusnaturalistas marcaram o pensamento político da Idade Moderna. Entre seus principais autores temos Hobbes, Locke e Rousseau. Em relação às obras desses autores, julgue as sentenças abaixo:

I. Locke e Rousseau, inseridos no contexto do Iluminismo, resgatam o pensamento clássico aristotélico, no qual concebem o Estado como um prosseguimento natural da sociedade familiar.

II. Rousseau e Hobbes defendem que o estado de natureza - onde os indivíduos são iguais e donos de sua liberdade - é melhor que o Estado de Direito, visto que a desigualdade entre os homens surge com a criação deste e com o direito de propriedade.

III. Locke e Rousseau guardam semelhanças em suas descrições sobre o estado de natureza, no qual os indivíduos viviam em relativa paz. Porém para Locke, o direito de propriedade é natural, entanto que, para Rousseau, não era natural e apenas consolidou a desigualdade entre os homens.

IV. Os três autores defendem a existência de um estado de natureza que precede o Estado de Direito, este criado por meio de um contrato firmado entre os indivíduos. Entretanto, as motivações que levaram os indivíduos a fundarem o Estado, são distintas em cada autor.

Estão corretas:

a) As afirmativas I e III.

b) As afirmativas I e IV.

c) As afirmativas II e III.

d) As afirmativas II e IV.

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e) As afirmativas III e IV.

15. (ESAF/APO-MPOG/2005) A teoria da propriedade teve grande importância no desenvolvimento do pensamento liberal. John Locke em sua obra “O Segundo Tratado Sobre o Governo” (1690) discorre acerca do direito de propriedade. Selecione a opção que apresenta corretamente características do pensamento desse autor.

I. O estado de natureza é marcado por uma paz relativa, onde os indivíduos são dotados de razão e desfrutam do direito de propriedade, além da liberdade e igualdade.

II. Compartilha com Hobbes a noção de que o direito de propriedade é legitimado e garantido pelo Estado, tendo esse a prerrogativa de intervenção na propriedade.

III. O direito da propriedade, que inicialmente era limitado pelo trabalho de cada indivíduo, passou a ser ilimitado a partir do advento da moeda e da conseqüente possibilidade de acumulação.

IV. Apesar da sofisticação da teoria da propriedade, essa não fazia menção à posse de bens móveis, pois no século XVII a riqueza estava diretamente ligada à posse de terra e não a de bens de consumo.

Estão corretas:

a) as afirmativas I e IV.

b) as afirmativas I e III.

c) as afirmativas II e III.

d) as afirmativas II e IV.

e) as afirmativas III e IV.

16. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) Uma das mais consolidadas matrizes de análise da constituição da ordem política é a teoria contratualista. Examine as assertivas abaixo sobre o contratualismo e indique a única incorreta.

a) Como regra, o contrato ou pacto social é um instrumento de emancipação política do indivíduo, que altera essencialmente a estrutura social, além de estabelecer uma clara distinção entre o governo e a sociedade civil.

b) O Estado nascido de um contrato não acrescenta nada à racionalidade e à sociabilidade da sociedade civil, sendo um instrumento coativo cuja função é executar o direito que a sociedade estabeleceu.

c) A maioria dos contratualistas concebe, entre o estado natural puro e o estado político, um estado social, onde os homens convivem livremente segundo a razão.

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d) A maioria dos contratualistas entende a constituição da ordem a partir de dois tipos de contrato: o pacto de associação, que institui a comunidade política; e o pacto de submissão, que instaura o monopólio do uso da força.

e) Enquanto relação entre as partes, o contrato estabelece sanções para os que o violarem, sendo estas expressas por alguns autores, no que tange aos governantes, como direito de resistência e deposição.

17. (ESAF/APO-MPOG/2003) Uma questão central hoje para a administração pública diz respeito à forma de reconstruir o Estado, isto é, como redefini-lo em um mundo globalizado. Para isto é preciso um perfeito entendimento da sua essência, bem como de sua estrutura dentro do modelo de democracia liberal, preponderante nos dias atuais. Assinale a opção que identifica corretamente o conceito de Estado e como ele se estrutura no âmbito das democracias liberais.

a) A administração pública burocrática emergiu na segunda metade do século XX como resposta à crise do Estado, como modo de enfrentar a crise fiscal e como instrumento de proteção do patrimônio público.

b) O Estado é a instituição que organiza a vontade de um povo, politicamente constituído, no que diz respeito a seus interesses coletivos. O Estado moderno precisa ser eficiente e ser gerido de forma efetiva e eficiente.

c) O governo é o grupo legítimo que mantém o poder, sendo o Estado a estrutura pela qual a atividade do grupo é definida e regulada. No caso das democracias liberais, o Estado tem que manter a legitimidade desse grupo atendendo de forma diferenciada ao seu público de apoio.

d) Por Estado entende-se um agrupamento de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar o restante e perpetuar este controle por meio do aparelho de Estado.

e) O Estado é um grupo territorial soberano e a administração pública deve servir aos interesses dessa soberania, sem nenhum compromisso com nenhuma de suas partes, sendo neutra em relação ao conflito distributivo interno.

18. (ESAF/APO-MPOG/2002) Assinale como verdadeira (V) ou falsa (F) as definições sobre o Estado, seu conceito e sua evolução, relacionadas a seguir.

( ) Por Estado entende-se um grupo de pessoas que vivem num território definido, organizado de tal modo que apenas algumas delas são designadas para controlar uma série mais ou menos restrita de atividades do grupo, com base em valores reais ou socialmente reconhecidos e, se necessário, na força.

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( ) Um Estado é caracterizado por quatro elementos: povo, território, governo e independência.

( ) Um Estado é caracterizado pela participação da população nas decisões de governo, seja diretamente ou através de representantes.

( ) O Estado moderno surgiu na Idade Média, como uma resposta ao fim do Império Romano e às invasões constantes dos bárbaros na Europa Ocidental.

( ) Uma das características de um Estado é o monopólio do uso da violência em seu território, bem como o de taxar seus habitantes e emitir moeda.

Escolha a opção correta.

a) V, F, V, V, F

b) F, V, F, V, V

c) V, V, F, F, V

d) V, F, V, F, F

e) F, F, V, V, V

19. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Focalizando o pensamento de Rousseau, assinale a única assertiva incorreta.

a) Os males dos quais os homens sofrem não derivam da natureza humana, mas sim de cursos errôneos de evolução da sociedade.

b) O homem que pensa é um animal degenerado; o homem natural era um ser pré-racional, um selvagem errante, dotado apenas de necessidades naturais e do sentimento de compaixão.

c) Numa sociedade que tenha repudiado o contrato iníquo, constitui-se uma vontade – a vontade geral – que pertence imediatamente à ordem cívica, posto que representa mais que a soma das vontades particulares.

d) O contrato social é o único meio pelo qual os direitos se tornam possíveis, repousando estes sobre o abandono por cada um de sua soberania, sua transferência para o corpo da coletividade e sobre a recusa de submeter-se a uma outra pessoa.

e) Devido à necessidade de distinguir o ato pelo qual um povo faz a escolha de um governo e o ato pelo qual ele se constitui em soberano é indispensável admitir a existência do direito natural e do pacto de sujeição.

20. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Acerca do pensamento de Hobbes, assinale a opção correta.

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a) O Estado foi instituído quando, a fim de viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos agressores, todos os homens pactuaram, cada um com todos os outros, que renunciariam ao uso privado da força, transferindo-o para uma pessoa artificial.

b) O pacto que institui a sociedade política baseia- se na crença acerca da soberania popular, da qual derivam todos os direitos e faculdades do Estado, cabendo ao povo soberano opção de seguir ou não as decisões deste.

c) No estado de natureza, caracterizado como um estado de guerra de todos contra todos, os homens viviam em perfeita liberdade, podendo livremente se dedicar ao comércio, às artes e à ciência.

d) Pelo pacto, o direito de representar a pessoa de todos é conferido ao soberano, cujos atos e decisões são autorizados tal como se fossem praticados e tomados por cada um dos homens, desde que não impliquem violação do direito à propriedade e aos frutos do trabalho.

e) Os súditos podem libertar-se do pacto com o seu soberano. Assim, basta que um indivíduo decida desfazer o pacto com o soberano para que esse deixe de existir.

21. (ESAF/APO-MPOG/2001) A concepção de Estado vem sofrendo alterações ao longo do tempo, sendo alvo de controvérsias entre diferentes matrizes ideológicas. Assinale a opção que melhor define as características do Estado numa democracia liberal.

a) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se pela ausência de demarcação entre estado e não-estado.

b) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se por deter o monopólio do poder econômico.

c) O Estado nas democracias liberais caracteriza-se por prover a todos os cidadãos o acesso à saúde, educação, previdência social e aposentadoria.

d) O Estado, nas democracias liberais, caracteriza-se por defender a burocratização do aparelho estatal.

e) O Estado, nas democracias liberais, caracteriza-se por reivindicar a superioridade do mercado.

4.5.2 Direitos civis, políticos e sociais. Questão Social. Estado de Bem­Estar22. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O surgimento do Estado Moderno foi acompanhado do surgimento da noção de cidadania, que teve como condição um dos seguintes fenômenos sociais:

a) o fim dos regimes despóticos.

b) a emergência da noção de indivíduo.

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c) a abolição da escravidão.

d) a revolução industrial e surgimento do proletariado.

e) a escolha direta dos governos locais

23. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) O historiador T. A. Marshall é uma referência obrigatória quando se trata de pesquisar a evolução dos direitos civis, políticos e sociais. Para ele, há uma sequência cronológica e lógica no desenvolvimento de tais direitos, com a conquista das liberdades civis levando à obtenção do direito de votar e ser votado e a expansão da representação política popular permitindo a aprovação parlamentar dos direitos sociais. Os seguintes enunciados se referem ao Brasil. Escolha a única opção válida.

a) É correto afirmar que a mesma sequência ocorreu, apenas com interrupções no exercício dos direitos políticos.

b) É correto afirmar que, a despeito das limitações impostas aos direitos políticos, o regime militar ampliou os direitos civis e sociais.

c) É correto afirmar que a prolongada vigência da Escravidão impediu que a evolução dos direitos seguisse a sequência estabelecida por Marshall.

d) É correto afirmar que a grande expansão dos direitos sociais registrada no primeiro governo Vargas ocorreu em grande parte sob um regime que suprimiu direitos políticos.

e) É correto afirmar que os direitos civis, políticos e sociais foram estabelecidos simultaneamente com a promulgação da Constituição de 1988.

24. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) A primazia do público sobre o privado, como assinalam Bobbio e outros autores, se manifestou, sobretudo no século XX, como reação à concepção liberal do Estado e como derrota histórica, ainda que não definitiva, do “Estado Mínimo”.

Em relação às afirmativas abaixo, assinale a opção correta.

1- Essa primazia baseia-se na contraposição entre interesse coletivo e privado com a necessária subordinação do segundo ao primeiro.

2- Essa primazia admite a eventual supressão do interesse privado em benefício do interesse coletivo.

3- Essa primazia implica irredutibilidade do bem comum à soma dos bens individuais.

4- A primazia do público significa o aumento da intervenção estatal na regulação coativa do comportamento dos indivíduos e dos grupos infra-estatais.

a) Estão todas corretas.

b) Estão todas incorretas.

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c) Apenas a nº 1 está correta.

d) Apenas a nº 2 está correta.

e) Apenas a nº 3 está correta.

25. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) Marshall (1964) apresenta uma importante contribuição sobre as causas históricas de desenvolvimento da sociedade que culminaram no crescimento do Estado de Bem-estar. Na coluna A, à esquerda, encontra-se a fase histórica e na coluna B, à direita, o tipo de luta social predominante:

Coluna A Coluna B

AI – primeira fase BI – Luta pela conquista dos direitos civis (liberdade de expressão, por exemplo).

AII – segunda fase BII – Luta pela conquista dos direitos sociais (como educação, por exemplo).

AIII – terceira fase BIII – conquista dos direitos políticos (voto, por exemplo).

Solicita-se relacionar a coluna A com a coluna B e assinalar a opção que indica as relações corretas.

a) AI–BII; AII-BI; AIII-BIII.

b) AI–BI; AII-BII; AIII-BIII.

c) AI–BI; AII-BIII; AIII-BII.

d) AI–BII; AII-BIII; AIII-BI.

e) AI–BIII; AII-BI; AIII-BII.

26. (ESAF/STN/2005) Sobre a emergência da questão social como campo de intervenção do Estado e a constituição dos direitos civis, políticos e sociais como parte dos elementos constituintes da cidadania na sociedade ocidental moderna, é possível afirmar que:

a) a questão social desencadeou-se primeiramente nos países em desenvolvimento, onde a passagem da comunidade tradicional e da economia agrária para a sociedade economicamente organizada em torno da atividade industrial representou o fim de uma concepção orgânica do Estado e da sociedade.

b) a par dos direitos civis, os direitos políticos reforçam a separação entre as esferas do Estado e da sociedade, essencial para assegurar a legitimidade e para evitar crises de governabilidade nas democracias liberais.

c) o exercício dos direitos civis, políticos e sociais no Brasil obedece a um padrão de cidadania regulada, no qual o reconhecimento desses direitos se dá de cima para baixo

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e seletivamente, conforme critérios específicos, entre os quais os de renda e raça acabam reforçando a exclusão social.

d) a conquista dos direitos sociais implicou, nos países desenvolvidos, uma ruptura das linhas demarcatórias entre a sociedade e o Estado e impôs a este último o imperativo de regular e intermediar os conflitos entre o capital e o trabalho.

e) os limites da intervenção pública visando responder à questão social encontram-se no conflito de racionalidade entre duas funções do Estado contemporâneo: assegurar condições favoráveis à acumulação de capital e garantir condições para a coesão e o consenso social.

27. (ESAF/STN/2005) Um dos mais importantes aspectos da discussão sobre a crise do Estado contemporâneo e sua transformação refere-se ao “Estado de Bem-Estar Social”. Sobre esse tema, indique qual(is) item(ns) abaixo está(ão) correto(s), assinalando a opção correspondente.

I - Em resposta aos conflitos entre o capital e o trabalho no final do século XIX começou a surgir na Europa o Estado intervencionista, inicialmente envolvido com o financiamento e a administração de programas de seguro social, a exemplo da Prússia de Bismarck.

II - Desde a década de 30, o Estado Brasileiro vem adotando uma estratégia de Bem-Estar Social, caracterizada pela universalização dos direitos sociais e pela intervenção na economia como planejador, promotor do desenvolvimento e produtor direto, segundo o modelo de substituição de importações.

III - O princípio fundamental do Estado de Bem-Estar Social é o da proteção universal, ou seja, independentemente da renda, todos os cidadãos, como tais, têm o direito de ser protegidos contra situações de dependência ou vulnerabilidade de curta ou longa duração.

IV - As primeiras formas de Estado de Bem-Estar Social visavam contra-arrestar o avanço do socialismo, por meio de políticas que conduziam a uma dependência do trabalhador frente ao Estado, estabeleciam novas bases de solidariedade e coesão social e asseguravam legitimidade necessária à estabilidade política.

a) Somente o item I está correto.

b) Somente os itens I, III e IV estão corretos.

c) Somente o item IV está correto.

d) Somente os itens I e III estão corretos.

e) Somente os itens I, II e III estão corretos.

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28. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) No final do século XIX e início do século XX cresceu a percepção de que o campo de atuação do Estado deveria expandir-se e assimilar as demandas sociais básicas, tais como saúde, legislação trabalhista e educação. Assinale a opção que identifica corretamente esta tendência.

a) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a pobreza, o desemprego, a doença e outros problemas sociais não são apenas dados que o Estado tem que enfrentar da melhor maneira possível, mas são parte integrante do processo de formação e definição da missão do Estado.

b) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a proteção das indústrias nacionais e a luta pela abertura de novos mercados aos produtos nacionais são vitais para a defesa dos interesses nacionais e a prosperidade da nação.

c) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a criação de uma burocracia profissional, melhorando a performance do setor público, e a eliminação do patrimonialismo administrativo são condições essenciais para o atendimento de toda a população.

d) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, a criação de impostos sobre grandes fortunas e a legislação contra cartéis e práticas oligopolísticas, ajudam a diminuir as diferenças sociais e a combater a pobreza.

e) Segundo a perspectiva do estado de bem-estar, as limitações legais na jornada de trabalho e a proibição do trabalho infantil são exemplos de que somente por meio da regulação das relações entre patrões e empregados as principais demandas sociais serão atendidas.

29. (ESAF/EPPGG-MPOG/2003) O surgimento do Estado do Bem-Estar Social e o papel cada vez maior que o Estado assumiu, ao promover o crescimento econômico e a competitividade internacional, significaram um reforço à ideia de Estado como ―coisa pública . Indique quais das seguintes características referem-se à emergência da questão social como campo de intervenção do Estado.

I. O Estado inicia um movimento de descentralização do ponto de vista político, transferindo recursos e atribuições para os níveis políticos regionais e locais.

II. O Estado acrescenta às suas funções o papel de provedor de educação pública, saúde pública, cultura pública, incentivos à ciência e tecnologia, investimentos em infraestrutura e proteção ao meio ambiente.

III. O Estado inicia o controle do déficit fiscal e de seus efeitos sobre a inflação, distribuição de renda e consequentemente no bem-estar da população.

IV. O Estado passou a assumir um número crescente de serviços sociais e papéis econômicos em substituição à sua função anterior, baseada principalmente na defesa da

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soberania, propriedade e dos contratos. V. Em seu sentido mais direto, a noção de bem comum que passa a orientar o Estado do Bem-Estar tem um significado distributivo. Escolha a opção correta.

a) III, V

b) II, IV, V

c) I, III, IV, V

d) II, III, IV

e) II, V

30. (ESAF/CGU/2002) Desde o seu surgimento, o Estado moderno tem desempenhado diversas funções. Marque, entre os enunciados abaixo, o que não constitui função do Estado.

a) O Estado se define como a instituição que exerce o monopólio legítimo do uso da força ou da coerção organizada. Assim, a primeira função do Estado é a manutenção da ordem e da segurança interna e a garantia da defesa externa.

b) A menos que se admita a hipótese do poder arbitrário, a manutenção da ordem pelo Estado – a resolução de conflitos, a aplicação da justiça, a imposição de sanções – exige regras estabelecidas. Assim, é função do Estado o ordenamento jurídico das interações coletivas.

c) Como suas atividades, por definição, não são auto-sustentáveis, é função do Estado estabelecer e cobrar tributos dos que vivem sob seu domínio e administrar os recursos obtidos dessa forma.

d) Cabe ao Estado exercer uma função social, expressa no seguinte enunciado: “independentemente da sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito a ser protegidos, de alguma maneira, contra situações de vulnerabilidade de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta duração (doença, maternidade, desemprego)”. e) Visando manter a estabilidade social e reduzir o conflito político, é função do Estado prover a maximização da eficiência do sistema econômico mediante a planificação, a regulamentação econômica e a intervenção pública em sustentação à iniciativa privada.

31. (ESAF/APO-MPOG/2001) O Estado de Bem-Estar surgiu como resposta ao processo de modernização, compatibilizando capitalismo e democracia. Indique o princípio fundamental que melhor define esse modelo de Estado.

a) Independentemente de sua renda, todos os cidadãos têm o direito de serem protegidos contra situações de dependência de longa e de curta duração.

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b) Todos os cidadãos têm direito de serem protegidos contra situações de dependência de acordo com sua renda.

c) O estudo deve prover os serviços básicos de saúde e educação, sendo os demais serviços prestados aos cidadãos pelo mercado.

d) Aos mais pobres cabe o direito de serem atendidos pelos serviços públicos.

e) Todos os direitos sociais devem ser prestados pelo mercado, cabendo ao Estado a garantia dos direitos civis e políticos.

4.5.3 Crise do Estado Contemporâneo. Transformações do papel do Estado32. (ESAF/APO-MPOG/2010) A discussão sobre A Crise do Estado Contemporâneo apresenta diferentes perspectivas e explicações de acordo com o autor que a analisa. Assinale a afirmativa correta.

a) Para Gramsci, assim como para Marx, a principal crise do desenvolvimento capitalista que qualquer Estado Contemporâneo enfrenta é a crise econômica.

b) Para Althusser, e até certo ponto Poulantzas, a função do Estado é formação do consenso, e a natureza de classes do Estado é estruturada pelas relações econômicas dentro do Estado. A crise seria, portanto, reflexo da dificuldade na formação do consenso entre as frações de classes capitalistas.

c) A perspectiva de Offe, baseada em grande parte na teoria da burocracia de Weber, sugere que o Estado é independente de qualquer controle sistemático da classe capitalista (direto ou estrutural). O Estado é um sujeito “político” no sentido que organiza a acumulação de capital e é também o local das principais crises do capitalismo avançado.

d) Para O’Connor, a crise do Estado Contemporâneo é essencialmente uma crise fiscal do Estado. A crise do Estado Contemporâneo tem no profundo desequilíbrio fiscal sua expressão econômica mais forte. O’Connor relacionou essa crise à impossibilidade e incapacidade do Estado Capitalista de atender às demandas das grandes empresas oligopolistas, essencial para se legitimar enquanto Estado universal perante toda a sociedade.

e) Para a visão materialista alemã, representada por Hegel, as crises de acumulação de capital são derivações lógicas do desenvolvimento capitalista concorrencial. A crise é resultado da tendência à queda na taxa de lucro existente no capitalismo. A função essencial do Estado, na perspectiva de Hegel, seria neutralizar a crise capitalista.

33. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) A maioria dos autores que analisaram os processos de reforma do Estado o dividem em duas fases ou gerações. De um modo geral, a primeira geração ocorreu na década de 1980 e início da década de 1990 e teve por objetivo

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reduzir o Estado. A seguir, é apresentada uma série de medidas típicas das reformas do Estado empreendidas por países latino-americanos como Brasil, Argentina e Chile. Aponte a opção falsa.

a) Criação de bancos centrais.

b) Privatização de empresas estatais.

c) Diminuição da estrutura administrativa.

d) Redução do controle estatal sobre a atividade econômica (desregulação).

e) Ajuste fiscal no sentido de reduzir os gastos públicos.

34. A maior parte dos países ocidentais enfrentou uma crise do Estado nos anos 80 do século XX. Algumas características estiveram presentes tanto nos países desenvolvidos quanto na América Latina. Outras foram características apenas dos países latino-americanos. A seguir são relacionados alguns elementos dessa crise:

1. crise fiscal;

2. esgotamento dos efeitos internos do ciclo de expansão mundial posterior à II Guerra Mundial;

3. esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações;

4. redemocratização;

5. crise da dívida externa.

Que elementos estiveram presentes em países latino-americanos como Brasil, Argentina e Peru?

a) Nenhum.

b) Apenas 1, 2 e 4.

c) Todos.

d) Apenas 3, 4 e 5.

e) Apenas 2 e 4.

35. (ESAF/EPPGG-MPOG/2009) Estado de Bem-Estar (welfare state), conforme o Dicionário de Política organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, pode ser definido como o “Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político”. Os enunciados a seguir se referem a essa questão:

1. há uma relação direta entre desenvolvimento econômico e os Estados de Bem-Estar tal como se desenvolveram a partir da Segunda Guerra Mundial.

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2. o Brasil se tornou um Estado de Bem-Estar ao inserir direitos sociais na Constituição de 1988.

3. regimes totalitários como o fascismo e o nazismo podem ser considerados de Bem-Estar porque em seu apogeu eliminaram a fome e o desemprego.

4. pode-se dizer que entre os indígenas brasileiros estão presentes as características do Estado de Bem-Estar, porque todos os seus membros têm direito aos mesmos níveis de alimentação, saúde e educação.

5. os processos de reforma do Estado, ao incluírem privatizações e reformas dos sistemas de Previdência, acabaram com os Estados de Bem-Estar surgidos após a Segunda Guerra Mundial.

Em relação aos enunciados acima:

a) nenhum está correto.

b) todos estão corretos.

c) apenas o 2 está correto.

d) apenas o 1 está correto.

e) apenas o 5 está correto.

36. (ESAF/APO-MPOG/2005) Segundo Abrúcio (1998), entre os fatores que ajudaram a desencadear a crise do Estado, indique a opção incorreta.

a) As duas crises do petróleo, em 1973 e 1979, contribuíram para a diminuição do ritmo do crescimento econômico, colocando em xeque o modelo de intervenção estatal até então vigente.

b) A crise fiscal dos tax payers, que não enxergavam uma relação direta entre o acréscimo de recursos governamentais e a melhoria dos serviços públicos, fez diminuir ainda mais a arrecadação.

c) Denúncias de corrupção envolvendo funcionários públicos de países centrais geraram um movimento, por parte dos movimentos sociais organizados, contrário à continuidade do modelo de Bem-estar.

d) A globalização enfraqueceu os Estados nacionais no que tange ao controle dos fluxos financeiros e comerciais, mitigando em grande parte sua capacidade de ditar suas políticas macroeconômicas.

e) A incapacidade do governo de responder às demandas sociais crescentes durante esse período gerou, segundo alguns cientistas políticos, uma “ingovernabilidade de sobrecarga”.

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37. (ESAF/EPPGG-MPOG/2002) Para alguns autores, a crise do Estado de Bem-Estar está relacionada à socialização do Estado. Nessa perspectiva, cabem as seguintes afirmativas, exceto:

a) O Estado difundiu uma ideologia igualitária que tende a deslegitimar a autoridade política.

b) A disposição do Estado para intervir nas relações sociais provoca um enorme aumento de demanda às instituições políticas, provocando sua sobrecarga até a paralisia.

c) O crescimento do Estado de Bem-Estar leva a um aumento da autonomia do Estado em relação às diversas forças políticas e atores sociais internos.

d) A competição entre organizações políticas leva à impossibilidade de selecionar e aglutinar os interesses causando a total permeabilidade das instituições às demandas mais fragmentadas.

e) O peso assumido pela administração na mediação dos conflitos provoca a burocratização da vida política que, por sua vez, leva à “dissolução do consenso”.

38. (ESAF/APO-MPOG/2001) A crise do Estado da década de 80 levou à reformulação de suas funções, de forma a permitir às economias nacionais sobreviverem num mundo globalizado. Nesse novo contexto, o Estado de orientação social-democrata passa a ter como principal atribuição:

a) Proteger as economias da competição internacional, posto que a globalização ameaça seriamente o equilíbrio interno.

b) Criar condições que permitam aos agentes econômicos nacionais competirem globalmente.

c) Diminuir investimentos nas áreas tecnológicas e de infraestrutura, posto que uma economia globalizada requer de seus agentes econômicos privados autonomia de investimento nestes setores.

d) Diminuir a intervenção na vida econômica, como forma de permitir que o mercado globalizado regule as relações entre as economias nacionais.

e) Diminuir investimentos nas áreas de saúde, educação e cultura, posto que uma economia globalizada requer um grau de dependência menor dos agentes econômicos face ao Estado.

39. (ESAF/APO-MPOG/2001) A crise do Estado do Bem-Estar Social, que teve seu ápice nos anos 80, foi marcada por uma série de críticas a essa instituição. Assinale,

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entre as opções a seguir, aquela que não reproduz uma crítica pertinente, formulada contra o Estado do Bem-Estar, durante a referida crise.

a) Uma crítica referente ao Estado do Bem-Estar atribui sua crise ao crescimento das demandas feitas pela sociedade, que forçaram o Estado a garantir não somente padrões mínimos de conforto, mas padrões máximos, à toda a população.

b) Uma crítica importante formulada contra o Estado do Bem-Estar diz respeito a seu caráter permissivo e sua incapacidade de impor "obrigações cívicas" aos recebedores de benefícios.

c) Uma crítica importante dirigida ao Estado do Bem-Estar aponta-o como responsável por alimentar uma conduta de vida "hedonista" e "parasita".

d) Críticos do Estado do Bem-Estar e de seus meios de distribuição de benefícios argumentam serem estes alienantes e incapacitadores dos indivíduos beneficiados.

e) Críticos do Estado do Bem-Estar consideram a preocupação com condições de bem-estar mínimas irrelevante, tendo em vista a gravidade de outros problemas sociais.

40. (ESAF/STN/2000) A controvérsia contemporânea sobre o papel do Estado é orientada, entre outros aspectos, pela discussão sobre o grau de intervenção desse na vida social e econômica. Assinale, entre as opções a seguir, aquela que não retrata corretamente pontos relevantes deste debate.

a) O Estado intervencionista, na sua pretensão de superioridade, assume para si tarefas antes de responsabilidade do não-Estado.

b) O Estado intervencionista, que assume formas históricas distintas, pode ser visualizado no welfare state contemporâneo.

c) O Estado máximo preocupa-se com a justiça social, chamando para si a tarefa de distribuir a riqueza entre os cidadãos.

d) O Estado liberal busca restringir sua esfera de atuação às atividades consideradas de responsabilidade exclusiva do Estado.

e) O Estado abstencionista advoga para si a tarefa de regular a produção e distribuição de bens.

5 Resumo

Em cada aula estarei disponibilizando um resumo com os pontos principais:

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Elementos essenciais do Estado: povo, território e poder – ou suas variáveis: soberania, independência, autoridade, finalidade.

O Estado Moderno tem origem com o absolutismo, quando é centralizado o poder na ao do monarca, instituindo-se assim a soberania dentro do território.

Existem três modos pelos quais historicamente se formam os Estados: a) originário: em que a formação é inteiramente nova, nasce diretamente da população e do país, sem derivar de outro Estado preexistente. É decorrência natural da evolução das sociedades humanas; b) secundários: quando vários Estados se unem para formar um novo Estado, ou quando um se fraciona para formar outros; c) derivados: quando a formação se produz por influências exteriores, de outros Estados.

Os contratualistas entendem que o Estado foi criado por meio de uma decisão racional dos homens, que viviam em estado de natureza, ou seja, um período em que não havia ordem e os mais fortes podiam subjugar os mais fracos. Por meio de um pacto, o contrato social, os homens abrem mão de parte de sua liberdade e instituem a ordem política. Hobbes era defensor do absolutismo e entendia que o pacto não poderia ser desfeito jamais. Locke defendia o liberalismo e afirmava que as pessoas não abriam mão de todos os seus direitos. Rousseau entendia que a vontade geral era formada pela vontade dos indivíduos, que mantinham parcela de poder.

Para Weber, as características essenciais do Estado Moderno são: a ordem legal, a burocracia, a jurisdição compulsória sobre um território; e a monopolização do uso legítimo da força.

Segundo Marshall, podemos distinguir na história política das sociedades industriais três fases: a) a primeira, ao redor do século XVIII, é dominada pela luta pela conquista dos direitos civis, como liberdade de pensamento, de expressão, etc.; b) a fase seguinte, ao redor do século XIX, tem como centro a reivindicação dos direitos políticos, como o de organização, de propaganda, de voto, etc., e culmina na conquista do sufrágio universal; c) é precisamente o desenvolvimento da democracia e o aumento do poder político das organizações operárias que dão origem à terceira fase, caracterizada pelo problema dos direitos sociais, cujo acatamento é considerado como pré-requisito para a consecução da plena participação política.

O Estado de Bem-Estar Social nasce na Inglaterra, na década de 1940, e tem como princípio fundamental: “Independentemente de sua renda, todos os cidadãos, como tais, têm direito de ser protegidos – com pagamento em dinheiro ou com serviços – contra situações de dependência de longa duração (velhice, invalidez) ou de curta (doença, desemprego, maternidade)”.

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Quatro fatores socioeconômicos contribuíram fortemente para detonar a crise do Estado contemporâneo: a crise econômica mundial decorrente das duas crises do petróleo e do fim do padrão ouro-dólar; a crise fiscal; sobrecarga de demandas, decorrente de uma sociedade cais escolarizada e consciente de seus direitos, gerando uma crise de governabilidade; e, a globalização e todas as transformações tecnológicas enfraqueceram os governos

6 Leitura Sugerida

“Estado, Sociedade Civil e Legitimidade Democrática” – Luiz Carlos Bresser Pereira. http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=338

“Estado, Governo e Administração Pública” – Maria das Graças Rua. http://www.sefaz.ce.gov.br/Content/aplicacao/internet/programas_campanhas/estado-governo-adm%20publicamariagraçasruas.pdf

Conflito social e welfare state: Estado e desenvolvimento social no Brasil. Fábio Guedes Gomes http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n2/v40n2a03.pdf

7 Editais

Dos editais dos cinco concursos, só não veremos o item 8 da STN, destacado abaixo. No conteúdo do curso estão matérias cobradas em outras disciplinas, como Ciência Política de EPPGG e Teoria Política Aplicada de APO.

AFRFB – 2009

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1. Organização do Estado e da Administração Pública. 2. Modelos teóricos de Administração Pública: patrimonialista, burocrático e gerencial. 3. Experiências de reformas administrativas. 4. O processo de modernização da Administração Pública. 5. Evolução dos modelos/paradigmas de gestão: a nova gestão pública. 6. Governabilidade, governança e accountability. 7. Governo eletrônico e

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transparência. 8. Qualidade na Administração Pública. 9. Novas tecnologias gerenciais e organizacionais e sua aplicação na Administração Pública. 10. Gestão Pública empreendedora. 11. Ciclo de Gestão do Governo Federal. 12. Controle da Administração Pública. 13. Ética no exercício da função pública.

AFT – 2010

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1. Organização do Estado e da Administração Pública. 2. Modelos teóricos de Administração Pública: patrimonialista, burocrático e gerencial. 3. Experiências de reformas administrativas. 4. O processo de modernização da Administração Pública. 5. Evolução dos modelos/paradigmas de gestão: a nova gestão pública. 6. Governabilidade, governança e accountability. 7. Governo eletrônico e transparência. 8. Qualidade na Administração Pública. 9. Novas tecnologias gerenciais e organizacionais e sua aplicação na Administração Pública. 10. Gestão Pública empreendedora. 11. Ciclo de Gestão do Governo Federal. 12. Controle da Administração Pública.

MPOG – APO – 2009

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1.Evolução da administração pública no Brasil (após 1930). Reformas Administrativas. 2. Análise crítica aos modelos de gestão pública: patrimonialista, burocrático e gerencial. 3. Conceitos de Eficiência, Eficácia e Efetividade aplicados à Administração Pública: avaliação e mensuração do desempenho governamental. 4. Processos participativos de gestão pública: orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade, ouvidorias, governança interna e externa. 5. Novas formas de gestão de serviços públicos: formas de supervisão e contratualização de resultados; horizontalização; pluralismo institucional; prestação de serviços públicos e novas tecnologias. 6. Os controles interno e externo. Responsabilização e Prestação de Contas. Controle e Desempenho. Transparência 7. Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, instituído pelo Decreto nº 1.171, de 22/06/94. 8. Desconcentração e descentralização administrativa.

MPOG – EPPGG – 2009

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1. Formação do Estado e da Administração Pública. 2. Modelos teóricos de Administração Pública: patrimonialista, burocrático e gerencial. 3. Pacto Federativo e relações intergovernamentais. 4. Evolução da Administração Pública no Brasil. Reformas de Estado no Brasil Recente: República Velha (1889-1930);

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Reforma burocrática (1936); Período militar e a segunda reforma: Decreto-Lei 200 (1967); Programa Nacional de Desburocratização; Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995). 5. Ética no exercício da função pública. 6. Evolução dos modelos/paradigmas de gestão – a nova gestão pública. 7. Teorias das organizações aplicadas à Administração Pública. 8. Qualidade no serviço público. 9. Conceitos de eficiência, eficácia e efetividade aplicados à Administração Pública. 10. Caracterização das organizações: tipos de estruturas organizacionais, aspectos comportamentais (motivação, clima e cultura) 11. Desenvolvimento institucional. 12. Perspectivas da mudança organizacional. 13. Instrumentos gerenciais contemporâneos: avaliação de desempenho e resultados; sistemas de incentivos e responsabilização; flexibilidade organizacional; trabalho em equipe; mecanismos de rede. 14. Coordenação Executiva – problemas da articulação versus a fragmentação de ações governamentais. Dimensões da coordenação: intra-governamental, inter-governamental e governo-sociedade. 15. Sistema de Planejamento e Orçamento do Governo Federal: gestão por programas; integração planejamento e orçamento; eficiência do gasto público; custos.

STN – 2008

POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno. Conceitos fundamentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. Estado, governo e aparelho de Estado. O aparelho de Estado nas democracias liberais. 2. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evolução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades contemporâneas e no Brasil. 3. Weber e a burocracia. O paradigma burocrático e o paradigma gerencial na gestão pública. 4. Sistemas de governo. Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 5. Estado unitário e Estado federativo. Relações entre esferas de governo e regime federativo. 6. Direito civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado. Política de combate à pobreza: possibilidades e limitações. Desigualdades socioeconômicas da população brasileira. 7. Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação. 8. Política econômica. Determinantes políticos da gestão econômica. Crescimento, inflação, recessão e sua influência na política. Políticas de estabilização econômica no Brasil.

CGU – 2008

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 1. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno. 2. Conceitos fundamentais do Direito Público e o funcionamento do Estado. 3. Estado, governo e aparelho de Estado. 4. Estado unitário e Estado federativo. 5. Relações entre esferas de governo e regime federativo. 6. Formas de administração pública: Patrimonialista, burocrática, gerencial. 7. Evolução da Administração Pública no Brasil: reformas Administrativas: dimensões estruturais, principais características. 8. Sistemas de governo. 9. Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 10. Accountability. 11. Excelência nos serviços públicos. 12. Gestão por resultados na produção de serviços públicos. 13. Gestão de Pessoas por Competências. 14. Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais. 15. Mudanças institucionais: conselhos, organizações sociais, organização social de interesse público (OSCIP), agência reguladora, agência executiva.

7.1 Itens dos editais X Aulas

AFRFB e AFT APO EPPGG CGU STN

Aula 00 1 1, 2 e 3 1, 2 e 6

Aula 01 2, 5 e 10 2 2 e 6 6 3

Aula 02 3 e 4 1 4 7

Aula 03 1 8 3 e 14 4, 5, 8 e 15 4 e 5

Aula 04 6 e 7 4 9 e 10 4

Aula 05 11, 12 e 13 6 e 7 5 e 15

Aula 06 8 e 9 8 11

Aula 07 5 13 12 e 14

Aula 08 7, 10, 11 e 12 13

Aula 09 3 9 6 e 7

7.2 Outras disciplinas cobertas pelo conteúdo do curso

EPPGG – MPOG

CIÊNCIA POLÍTICA: 1. Conceitos básicos da ciência política: consenso; conflito; política; poder; autoridade; dominação; legitimidade, soberania, ideologia, hegemonia. 1. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno. Estado, governo e aparelho de Estado. O aparelho de Estado nas democracias liberais (Aula 00). 2. Temas centrais da teoria

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política clássica: constituição e manutenção da ordem política; contrato social; demarcação das esferas pública e privada; repartição de poderes. 3. Economia, classes sociais e política. 4. Modelos de distribuição do poder: pluralismo, elitismo, socialismo. 5. Teorias da democracia: poliarquia, democracia consociativa e majoritária. 5. Weber e a burocracia (Aula 01). 6. A crise do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social: evolução e crise. Transformações do papel do Estado nas sociedades contemporâneas e no Brasil (Aula 00). 7. Sistemas de governo (Aula 03). Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo) (Aula 04). 8. Estado unitário e Estado federativo. Relações entre esferas de governo e regime federativo (Aula 03). 9. Relações entre política e administração. 10. Participação da sociedade na esfera pública: ação coletiva, cultura política e capital social. 11. Direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. A emergência da questão social como campo de intervenção do Estado (Aula 00). Política de combate à pobreza: possibilidades e limitações. Desigualdades socioeconômicas da população brasileira (Aula 10). 12. Presidencialismo e dinâmica de relacionamento entre os poderes no Brasil (Aula 03). 13. O papel do Poder Legislativo na produção de políticas públicas. 14. Democracia, descentralização, atores sociais, gestão local. 15. Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação (Aula 10).

GESTÃO GOVERNAMENTAL: 1. Evolução dos modelos/paradigmas de gestão – a nova gestão pública (Aula 01). 2. Teorias das organizações aplicadas à Administração Pública (Aula 09). 3. Desenvolvimento institucional. 4. Perspectivas da mudança organizacional (Aula 07). 5. Instrumentos gerenciais contemporâneos: avaliação de desempenho e resultados; sistemas de incentivo e responsabilização; flexibilidade organizacional; trabalho em equipe; mecanismos de rede (Aula 08). 6. Coordenação Executiva – problemas da articulação versus a fragmentação de ações governamentais. Dimensões da coordenação: intra-governamental, inter-governamental e governo-sociedade (Aula 03). 7. Novas formas de gestão de serviços públicos: formas de supervisão e contratualização de resultados – parcerias estado e sociedade; horizontalização; pluralismo institucional; redes interorganizacionais (Aula 08). 8. Aplicação de Tecnologias de Informação e Comunicação à Gestão Pública. 9. Processos participativos de gestão pública: orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade; ouvidorias, governança interna e externa (Aula 04). 10. Modelos contemporâneos de gestão de pessoas: gestão de pessoas por competências (Aula 07); liderança e desempenho institucional. 11. Sistema de Planejamento e Orçamento do Governo Federal: fundamentos legais; conceitos básicos do sistema de planejamento, orçamento e financeiro; gestão por programas; integração planejamento e orçamento; eficiência do gasto público; custos. 12. Gestão de suprimentos e logística na

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administração pública. A modernização do processo de compras. 13. Gestão de contratos e convênios no setor público. 14. Os controles interno e externo. Responsabilização e Prestação de Contas (Aula 05).

APO – MPOG

TEORIA POLÍTICA APLICADA: 1.Conceitos básicos da ciência política: consenso; conflito; política; poder; autoridade; dominação; legitimidade, soberania, ideologia, hegemonia. 2. Estado: Conceito e evolução do Estado moderno; Estado, governo e aparelho de Estado (Aula 00). 3. Temas centrais da teoria política clássica: constituição e manutenção da ordem política; contrato social; demarcação das esferas pública e privada; repartição de poderes. 4. Burocracia (Aula 01) 5. As crises do Estado contemporâneo. O Estado de Bem-estar social, o Estado Regulador. Transformações do papel do Estado nas sociedades contemporâneas e os direitos civis, políticos e sociais (Aula 00). 6. Sistemas de governo (Aula 03). Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo) (Aula 04). 7. Estruturação do Estado no Brasil: a construção da república, da democracia, da federação, dos aparelhos de Estado e da administração pública federal (Aula 02). 8. Federalismo: Estado unitário e Estado federativo; relações entre esferas de governo e regime federativo (Aula 03). 9. Relações entre política e administração; limites e possibilidades de atuação da esfera pública na produção e regulação de bens públicos; instituições não-governamentais e o exercício do poder público. 10. Participação da sociedade na esfera pública: ação coletiva, cultura política e capital social. 11. Presidencialismo e dinâmica de relacionamento entre os poderes no Brasil pós-Constituição de 1988 (Aula 03); o papel do Poder Legislativo na produção de políticas públicas. 12. Democracia, descentralização, atores sociais, gestão local. Mobilização, organização e participação social nos processos de gestão das instituições estatais: conselhos, conferências e outros fóruns. Mecanismos legais e institucionais de ampliação, diversificação e garantia de direitos individuais, coletivos e difusos. 13. Políticas públicas: formação da agenda governamental, processos decisórios e problemas da implementação (Aula 10). 14. Representação política: a organização dos partidos políticos e dos processos eleitorais, o funcionamento dos órgãos administrativos, legislativos e de justiça; mecanismos administrativos e legislativos de controle estatal.

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8 Bibliografia

ALMEIDA FILHO, Agassiz (org.) Novo manual de Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2008.

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política. 2ª Ed. São Paulo: Globo, 2008.

AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Globo, 1995.

BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora Unb, 2007.

BOBBIO, Norberto. Estado, Governo e Sociedade: por uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2006.

CARNOY, Martin. Estado e teoria política. 3a. ed. Campinas: Papirus. 1990

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2007.

Lier Pires (org.). Curso de Ciência Política. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

GIAMBIAGI, Fábio e ALÉM, Ana Cláudia. Finanças Públicas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

MACPHERSON, C.B. A democracia liberal: origens e evolução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

RIBEIRO JUNIOR, João. Teoria Geral do Estado e Ciência Política. Bauru, SP: Edipro, 2001.

SOARES, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

STRECK, Lenio Luiz. Ciência Política e Teoria do Estado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.