afirmativa9

94
plural firmativa A ANO II - Nº 09 - AFROBRAS Nossa voz Nossa vida

Upload: afrobras-afirmativa

Post on 09-Mar-2016

336 views

Category:

Documents


52 download

DESCRIPTION

firmativa Nossa voz Nossa vida plural ANO II - Nº 09 - AFROBRAS ações afirmativas

TRANSCRIPT

Page 1: afirmativa9

pluralfirmativaA

AN

OII

-N

º0

9-

AF

RO

BR

AS

Nossa voz Nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 11673303_Afirmativa.indd 1 10/5/05 10:31:24 AM10/5/05 10:31:24 AM

Page 2: afirmativa9

1673303_Afirmativa.indd 21673303_Afirmativa.indd 2 10/5/05 10:31:27 AM10/5/05 10:31:27 AM

Page 3: afirmativa9

ações afirmativas

1673303_Afirmativa.indd 31673303_Afirmativa.indd 3 10/5/05 10:31:32 AM10/5/05 10:31:32 AM

Page 4: afirmativa9

4

cartas

Recebi e agradeço a

gentileza do envio da revis-

ta Afi rmativa Plural.

Atenciosamente,

Senador Renan Calheiros

Presidente do Senado Federal

Agradeço-lhes pelo envio da publicação, que

além de oportuna está de fato muito boa.

Cordialmente,

Horacio Lafer Piva

Klabin S/A

Prezada Editora:

Gostaria uma vez mais, agradecer à Afrobras pela

gentileza em nos enviar a Revista Afi rmativa.

Atenciosamente,

João Baptista Borges Pereira

Comissão Permanente de Políticas

Públicas para a População

Negra – USP

Tem esta a fi nalidade de

agradecer a edição nº 8, ano II

da publicação “Afi rmativa Plural”

encaminhada por V. Sa. Aproveito

para parabenizá-lo e sua equipe pelo

excelente trabalho realizado. Parabeni-

zo, também a AFROBRAS pela brilhante

iniciativa, valorizando, incentivando e di-

fundindo a cultura afro-brasileira, na pro-

moção da igualdade racial do nosso país. Com

os meus protestos de elevada estima e distinta

consideração, subscrevendo-me,

Atenciosamente,

José Aristodemo Pinotti

Secretário Municipal de Educação de São Paulo

Recebemos e agradecemos o envio da Afi rma-

tiva Plural n.08. Gostaríamos de continuar

recebendo outros exemplares do periódi-

co, visto que será bastante útil para nosso

acervo.

Cordialmente,

Elisangela Terra Barbosa,

Centro Universitário Vila

Velha - UVV

Vila Velha/ES

1673303_Afirmativa.indd 41673303_Afirmativa.indd 4 10/5/05 10:31:34 AM10/5/05 10:31:34 AM

Page 5: afirmativa9

5

Estamos comemorando dupla-mente dois aniversários neste bimes-

tre: nossa revista Afi rmativa Plural, quecompleta dois anos de vida, com júbilo

por poder contar com grandes colaborado-res, amigos que entenderam e aprovaram a li-

nha editorial adotada e sempre nos presenteiam com seus artigos e entrevistas; e um ano do pro-

grama Negros em Foco, transmitido pela RedeBrasileira de Integração, canal 14 UHF, em SãoPaulo e Brasília. O Negros em Foco é um progra-

ma com perfi l jornalístico, inédito, apresentado porduas jornalistas negras que procuram debater temasque levem pessoas negras e não negras a pensar sobre

o racismo e a exclusão no país. Mas se temos o quecomemorar de forma particular, também temos mui-to a refl etir. Por isto a nossa capa nesta edição especialde aniversário: Nossa Voz, Nossa Vida, que retrata o silêncio e a invisibilidade do negro nos meios decomunicação no Brasil. Como diz Regina dos San-tos, presidente da Sociedade de Cultura Dombali, no livro “Racismos Contemporâneos”, a popula-

ção negra e afro-descendente é impedida de sever refl etida de forma positiva no espelho da

mídia e, quando aparece, sua imagem ganha contornos construídos pelo imaginário do

preconceito racial, reforçando imagensdistorcidas de nossa realidade.

Desde a época em que o ator Sér-gio Cardoso pintava seu rosto

no século passado para representar uma

personagem negra na televisão - o Pai Thomaz -, aos dias de hoje, não mu-dou muita coisa. Isso representa prejuízoduplo: para o negro, que não se vê represen-tado, e para a população em geral, que deixa dever e de participar de uma diversidade cultural que, com certeza, só traria progresso ao país.Claro, sabemos que a nossa participação nos meios de comunicação aumentou, não podemosnegar, mas não chega perto de atingir os 48% que representamos na população deste país. Sem contar que quando nos apresentam, continuam os estereóti-pos, quase sempre associando nossa imagem a coisasnegativas, ruins.

Está mais do que na hora de os governantes repensa-rem nessa questão, principalmente no que diz respeito à concessão de canais de TV, um meio de comunicação de massa, que até agora tem sido privilégio de poucos e que tem excluído cada vez mais metade da popula-ção desse país, que também trabalha, paga impostos e consome como todos os não negros.Pelo aniversário dos dois anos da nossa revista, recebemos muitos cumprimentos e resolvemos editar os muitos parabéns que recebemos dos amigos, sem deixarmos de lado as matérias eartigos que discutem temas sempre atuais. Acredito que todos terão uma boa leitura e muita coisa para pensar e repensar. Feliz aniversário para todos nós!

Francisca RodriguesEditora

Dupla comemoração!

editorial

1673303_Afirmativa.indd 51673303_Afirmativa.indd 5 10/5/05 10:31:34 AM10/5/05 10:31:34 AM

Page 6: afirmativa9

66

CapaNossa voz, nossa vidaA invisibilidade do negro nos meios de comunicação ................................................................ 56

2

3

4

1

5

Afi rmativa Plural é uma publicação da Afrobras - Sociedade Afro Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, com periodicidade bimestral. Ano 2, Núme-ro 9 - Rua Marquês de Itu, nº 70 – 5º andar – Vila Buarque – São Paulo /SP - Brasil - CEP 01223-000 -Tels (55 -11) 3256.4562 - 3256.6545Conselho Editorial: José Vicente, Ruth Lopes, Raquel Lopes, Francisca Rodri-gues, Cristina Jorge, Nanci Valadares de Carvalho, Francisco Canindé Pegado do Nascimento, Jarbas Vargas Nascimento, Humberto Adami, Felice Cardina-li, Sônia Guimarães.Direção Editorial e de Redação: Jornalista Francisca Rodrigues (MTb. 14.845 - [email protected]); Redação e Publicidade: Maximagem Assessoria em Comunicação ([email protected]) - Tel. (11) 3255-9351. Jornalistas: Zulmíra Felício ([email protected] - Mtb.11.316), Telma Regina Alves ([email protected] - Mtb. 14.943) Viviane Souza ([email protected] -Mtb. 40.744) Demetrius Trindade ([email protected] - Mtb.30.177) - Fotografi a: J. C. Santos, Cíntia Sanchez, Miro Ferreira e divulgação. Colaboradores: Rodrigo Massi ([email protected]) e Maurício Pestana ([email protected]) - Foto da Capa: Mauro Faustino e Muska.Editoração, CTP, Impressão e Acabamento: Imprensa Ofi cial do Estado de São Paulo

A revista Afi rmativa Plural é uma publicação da Afrobras. A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas. A re-produção desta revista no todo ou em parte só será permitida com autorização expressa da Editora e com citação da fonte.

Entrevista especialNetinho............................................................................ 7Feliz Aniversário ........................................................... 11EmpreendedorismoO segredo do sucesso - Ubirajara Tadeu Silva da Cruz ................................................................ 24ComportamentoMobilização social contra a violência ..............................a 26Ponto de VistaA diáspora do século XXI e a construção das lideranças - Rosenildo Gomes Ferreira ..........................a 29Responsabilidade SocialEmpresários pelo desenvolvimento humano -

Viviane Senna...................................................a 30Voluntariado, essência feminina e junção de forças - D.Lu Alckmin..................................... 32

Responsabilidade social e democracia - Martha Suplicy .....................................................y 38 PolíticaMinirreforma política é risco de grande retrocesso em 2006 - Fernando Rodrigues............. 40CulturaA herança africana - Manolo Florentino.................. 50Caruru de Preceito - Elisabete Junqueira .................a 54ComunicaçãoO negro na comunicacão - Maria Célia Malaquias .. 6215 bilhões de reais - Qual é a sua parte? - Silvino Ferreira Jr. ................................................. 64

ndice

Perfi l

Eunice Prudente - Estudo e trabalho .............................. 66

Na ZumbiUnipalmares lança Núcleo Afro Work ............................k 69Prefeito de New Orleans (EUA) se emociona ao visitar a Unipalmares .................................................... 71Projeto Guri Pólo Unipalmares faz sua primeira apresentação ................................................................... 74Conferência internacional - o futuro do negro no século XXI.................................................................... 75PluralSaída de Gaza, opção estratégica ou retirada sob fogo palestino - Samuel Feldberg............................g 76A miscigenação do mundo é inevitável - José de Paiva Netto ................................................................... 7860 anos após a bomba atômica - Takahiko Horimura .....a 82

OpiniãoO elo que falta - Carlos Ayres Britto ............................... 84

Troféu Raça Negra 2005............................................... 87

Palavra do Presidente O Katrina não será capaz................................................ 92

1 - Zulmira Felício, 2 - Telma Alves, 3 - Demetrius Trindade, 4 - Francisca Rodrigues, 5 - Viviane Souza

1673303_Afirmativa.indd 61673303_Afirmativa.indd 6 10/5/05 10:31:34 AM10/5/05 10:31:34 AM

Page 7: afirmativa9

7

Marcada para entrar no ar no pró-

ximo dia 20 de novembro, Dia Na-

cional da Consciência Negra, a TV

da Gente será a primeira emissora de

televisão em canal aberto já dirigida

por um negro no país. À frente do

projeto está o apresentador Netinho

de Paula. Menino pobre, nascido no

município de Carapicuíba, região da

Grande São Paulo, Netinho come-

çou a sua vida de “empreendedor”

vendendo doces na estação de trem

da cidade. Em 1986, juntou-se ao

grupo Negritude Junior, iniciando

assim sua carreira como cantor e

compositor. No ano de 1995, nascia

o Projeto Família Negritude, hoje

entrevista especial

etinho de Paula

Instituto Casa da Gente, também

dirigido por Netinho, que atende a

cerca de 1.200 crianças e adolescen-

tes. Em 2001, o artista se lançou na

carreira solo e ampliou ainda mais

seus horizontes profi ssionais quando

assumiu o comando do programa

“Domingo da Gente”, na Rede Re-

cord de Televisão. Foi ainda ideali-

zador, co-produtor e ator no seriado

Turma do Gueto, atração cuja pro-

posta é mostrar a realidade da vida de

quem mora na periferia das grandes

cidades.

Em entrevista à Revista Afi rmativa

Plural, Netinho de Paula conta um

pouco de sua trajetória na televisão,

fala sobre a participação do negro na

mídia e também sobre a fi losofi a e

objetivos principais da TV da Gente

que, segundo ele, além do ineditismo

de ser dirigida por um negro, vai dar

prioridade à diversidade e terá maio-

ria de afro-brasileiros também no seu

quadro operacional.

Afi rmativa: Em sua opinião, a par-

ticipação do negro na mídia, em geral,

melhorou? Você enxerga alguma mu-

dança de uns anos para cá?

Netinho: Eu acredito que de uns

dois ou três anos pra cá o que há é

uma predisposição em incluir. Não

acredito, ou isso não quer dizer que

melhorou ou que mudou. Quan-

inicia seu reinado na televisão

7

1673303_Afirmativa.indd 71673303_Afirmativa.indd 7 10/5/05 10:31:36 AM10/5/05 10:31:36 AM

Page 8: afirmativa9

ações afirmativas

1673303_Afirmativa.indd 81673303_Afirmativa.indd 8 10/5/05 10:31:36 AM10/5/05 10:31:36 AM

Page 9: afirmativa9

9

do entrei na Record, por exemplo,

há cinco anos, imaginei que pelo

fato de ter sido contratado, de es-

tar apresentando um programa de

Domingo, que as outras emissoras

iriam fazer a mesma coisa; iam ter

pelo menos um. E não aconteceu

exatamente nada. Não mudou em

nada. O que houve foi uma repre-

sentatividade maior em campanhas

publicitárias. Mas em outros senti-

dos, não vi avanço.

Afi rmativa: Por que você acha que não

avançou ainda? Onde está esse entrave?

Netinho: Especifi camente nesse

critério mídia e entretenimento, de

TV, comunicação, por mais que es-

sas questões das cotas fossem incre-

mentadas, com 20% de exigência da

nossa raça dentro desses órgãos, nós

não teríamos quantidade sufi ciente

para preencher todos os cargos que

as TVs exigem. Eu acho que ainda

falta mão-de-obra qualifi cada. Esse é

um ponto de vista, uma análise que

eu faço. O outro critério é que não

há uma boa vontade por parte das

lideranças dentro dessas emissoras

com o processo de inclusão. Eles não

têm nenhum tipo de compromis-

so com o processo. E isso não é um

sentimento que eu tenho, porque eu

estou lá dentro, eu trabalho lá. É um

fato mesmo. Não existe um compro-

misso de representatividade tanto do

lado externo da TV, como do lado

interno. Então, é até por esse motivo

que eu resolvi tomar a iniciativa de

montar uma TV dirigida por nós.

Afi rmativa: De qualquer forma, você

é um negro que há cinco anos tem um

programa na TV Record. Mas, você dis-

se que não há uma vontade de incluir

mais. Por que foi diferente com você?

Netinho: Vou deixar bem claro. Eu

não fui convidado para ir trabalhar na

Record. Eu tinha um patrocinador, eu

tinha uma empresa que confi ava no

meu carisma, na minha maneira de

conduzir e que levou esse recurso para

a emissora. Quando esse programa foi

ao ar, a audiência correspondeu.

Afi rmativa: E se você não tivesse um

patrocínio?...

Netinho: Nem pisava lá hoje. Nem

pisava. Eu comecei fazendo esse pro-

grama da princesa no Gugu e, quan-

do eu pedi para ser contratado e pra

receber, a conversa foi totalmente

outra. Enquanto era de graça, tudo

bem, bacana. Fiquei um ano fazendo

de graça. Por isso que, quando eu ex-

presso minhas opiniões, eu não digo

com base em pesquisas, são coisas

que eu vivenciei, que eu vi e que eu

tinha muita consciência de tudo que

estava acontecendo. Eu sabia inclusi-

ve, aonde eu queria chegar.

Afi rmativa: Agora, cinco anos, um

programa consolidado, várias outras de

suas ações consolidadas, você tem patro-

cinadores que conseguem bancar essa

iniciativa sua e mesmo assim o mercado

não abriu os olhos para esse segmento?

Netinho: Não. O mercado não abriu

e isso não é ruim. Isso é um grande

triunfo.

Afi rmativa: Por que?

Netinho: Porque seria muito ruim a

gente ter brancos explorando o que

tem que ser explorado por negros.

Nós é que temos que nos organizar

e mostrar que sabemos, que temos

condição de fazer e inclusive lucrar

com isso. E eu acho que esse é o atu-

al momento. Acho que o movimen-

to negro, hoje, está muito maduro

e a grande discussão do movimento

negro agora deve ser que os novos

negros têm que fazer parte do mo-

vimento, parar de conversar somente

entre os intelectuais, e a gente se or-

ganizar para ocupar esses espaços. Eu

acho que agora é o momento. Tal-

vez se não fosse pela fase atual que

estamos passando, seria muito fácil

um branco perceber que existe um

publico, que existe esse consumo, e

ele organizar tudo isso. Eu posso dar

como um grande exemplo a Revista

Raça. Quem é que ganhou com a Re-

vista Raça? A Editora Símbolo, que é

de uma coreana. Não seria maravilho-

so que nós tivéssemos nos organizado

e essa revista ser algo nosso? Agora,

não podemos desprezar que ela teve

coragem, teve visão e investiu, e por

isso colheu. E por isto estamos aí com

nove anos de Revista Raça. É o que eu

não quero que aconteça com a TV. A

TV tem que ter capital negro, ela tem

que ser nossa e a gente tem que ter

autonomia para poder fazer isso.

Afi rmativa: A partir deste princípio,

podemos dizer que teremos maioria de

negros na sua TV?

Netinho: Exatamente. Não tenha

dúvida. É uma TV que é dirigida

por negros, e aquela representativi-

dade vamos querer ter em todos os

cargos. É claro que não é uma TV

feita para o negro. E, sim, uma TV

dirigida por negros, o que é muito

diferente. Queremos ter uma televi-

são que tenha o que nós entendemos

como pluralidade racial e que não é

representada hoje nas emissoras de

que existem.

Afi rmativa: Quando você diz: Não

é para o negro, você pode até discutir,

pode até ter um programa como faze-

entrevista especial

9

1673303_Afirmativa.indd 91673303_Afirmativa.indd 9 10/5/05 10:31:49 AM10/5/05 10:31:49 AM

Page 10: afirmativa9

10

mos na Afrobras, como o Negros em

Foco, que discute a questão de precon-

ceito e tudo mais. Mas não especifi ca-

mente voltado só para o negro. Você vai

procurar discutir o tema de uma forma

geral? Quando você falar de cultura,

você vai tratar a cultura de uma for-

ma em geral? De minorias em geral?

Netinho: De minorias em geral e

mais que isso. Nessa nossa TV, um

dos critérios que temos é que todos

os âncoras, prioritariamente, devem

ser negros. Haverá outras etnias tam-

bém em comandos. Mas sempre o

âncora a dar o coração será o negro.

E isso é fato decisivo no que estamos

fazendo. Não com intenção de causar

nenhum tipo de discussão ou atrito.

Mas acho que isso é legitimo.

Afi rmativa: E para isso você acha

que temos profi ssionais sufi cientes no

mercado?

Netinho: Eu acredito que sim.

Mas precisamos avaliar que muitos

desses profi ssionais não são negros.

Alguns profi ssionais que sabem

fazer televisão e que estamos tra-

zendo, têm muita consciência de

que têm que fazer aquele trabalho e

que ele terá um assessor negro que

é pra quem ele vai ensinar o que ele

está fazendo. Porque a gente quer

que essa TV também tecnicamente

seja coordenada por negros. É nes-

se sentido que digo para você que,

se tivesse um sistema de cotas nas

outras emissoras, ela já seria mo-

tivo de riso hoje. Nós não temos

quantidade de negros sufi cientes

para preencher cargos técnicos em

emissoras de TV. Então, teremos

brancos trabalhando na nossa tam-

bém. O patrão dele é que é negro,

e isso que é diferente.

Afi rmativa: Você acha que esse seu

trabalho na televisão, hoje, contribui

para preservação da auto-estima do ne-

gro? Contribui para abrir um pouco a

cabeça das pessoas para lutar, estudar e

melhorar a sua condição social? Enfi m,

para fazer tudo aquilo que você tanto

incentiva?

Netinho: Não tenha dúvida. É o

que eu digo. Pela maneira que sou

recebido nessas periferias, em todas,

aonde alguns políticos têm que pe-

dir permissão para entrar, têm que

chegar escoltados e que, quando eu

chego, é uma festa, acredito que

é porque eles vêem em mim um

exemplo de perseverança, de luta,

e entendem a palavra que a gente

passa. Entendem que existe um ou-

tro caminho a seguir sem ser a mar-

ginalidade, sem ser o caminho das

drogas. A mulher negra, particular-

mente com esse quadro da prince-

sa – muitas mulheres que antes da

transformação se sentiam tão feias

– e que, após aquela conversa, após

aquele tratamento, começaram a

se ver como mulheres lindas, in-

cluídas no sistema. Então eu acho

que o programa trouxe, sim, muita

auto-estima para o nosso povo.

Afi rmativa: E o papel da televisão?

Você acha que a televisão, que os meios

de comunicação em geral teriam que

ter como regra básica prestação de ser-

viço, a inclusão de minorias? Você acha

que o que a gente vê hoje na televisão

deveria ser mudado?

Netinho: Veja bem. Eu acho mui-

to perigoso a gente passar algumas

responsabilidades que são de teor

político para o que deveria ser sim-

plesmente entretenimento. Acho que

a função da televisão é dar entreteni-

mento. E cada TV tem o seu foco.

Os religiosos estão se organizando

para ter uma TV que tenha culto o

dia todo; a Igreja Católica conseguiu

montar a Rede Vida com uma pro-

posta católica; a Globo, que domina

o sistema de dramaturgia; e a Record,

que tenta se fi rmar numa linha de

show. Enfi m, acho que o caminho da

televisão é por aí. O que eu consegui

implementar, e o que eu sei, é que

nós nunca tivemos representativida-

de nesses meios de comunicação. E

quando aparece alguém, a pressão do

próprio movimento negro é muito

grande para ver se o cara vai falar de

negro, se o cara vai falar de educação,

se o cara vai falar.... Porque ele não

tem nada assim, e quando aparece

um, a cobrança é imediata. Veja o

próprio movimento do pagode dos

anos 90. Ele foi tão criticado, porque

a “negrada” invadiu a televisão, mas

era para cantar música romântica,

para rebolar e para dançar. E algumas

pessoas diziam “puxa, a gente está

aqui sofrendo e os caras estão lá do

outro lado dançando? A gente quer

que fale da gente”. Mas ninguém

se articulou para ter um canal, para

poder falar de outras coisas. E é isso

que eu quero poder fazer na nossa

TV. Eu quero que a gente tenha todo

um lado de entretenimento, toda a

linha de show, e quero que a gente

tenha programas sérios, que foquem

assuntos que podem estar trazendo

a discussão, o assunto do momento.

Mas não podemos esquecer que a

função de uma TV é simplesmente

dar entretenimento.

entrevista especial

10

1673303_Afirmativa.indd 101673303_Afirmativa.indd 10 10/5/05 10:31:51 AM10/5/05 10:31:51 AM

Page 11: afirmativa9

11

“Nesses dois anos, a revista Afi rmativa Plural tem se fi rmado como um canal de comunicação fundamental para a valorização da cultura afro-brasileira. Num país marcado pela pluralidade racial, iniciativas desse gênero merecem todo nosso apoio e respeito.”

Senador Renan Calheiros - Presidente do Senado Federal

Esta revista está comemorando os seus dois anos de vida e como

não poderia deixar de ser, recebemos muitos parabéns dos amigos.

Como parte da festa, resolvemos fazer um retrato dessas

felicitações que podemos apreciar aqui.

“A Afi rmativa Plural é uma coluna de vanguarda pela promoção da raça negra: a maior dívida moral do país.”

Senador José Sarney

Agê

ncia

Sen

ado

/ Ger

aldo

Mag

ela

feliz aniversário

Agê

ncia

Sen

ado

11

1673303_Afirmativa.indd 111673303_Afirmativa.indd 11 10/5/05 10:31:51 AM10/5/05 10:31:51 AM

Page 12: afirmativa9

ações afirmativas

12

ações afirmativas

“A Revista Afi rmativa cumpre importante tarefa na difusão dos princípios da igualdade de direitos, deveres e oportunidades. Cultivar estes valores é imprescindível ao equilíbrio e harmonia da sociedade e para que o desenvolvimento da Nação assente-se sobre sólidas bases de justiça social.”

Paulo Skaf - Presidente da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

“Parabenizo a revista Afi rmativa Plural, editada pela ONG Afrobras, pelo seu segundo aniversário,

lembrando que ao longo de três séculos e meio de regime escravista, o Brasil contraiu uma dívida para

com os 80 milhões de brasileiros afro-descendentes, que só pode ser resgatada por meio de políticas públicas como as recomendadas em 2001 pela

Conferência da ONU contra o racismo e a xenofobia, ocorrida em Durban, na África do Sul.”

Abram Szajman – Presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo

feliz aniversário

12

1673303_Afirmativa.indd 121673303_Afirmativa.indd 12 10/5/05 10:31:54 AM10/5/05 10:31:54 AM

Page 13: afirmativa9

13

capa

“A construção de uma sociedade mais justa começa pela eliminação de preconceitos. Para isso é essencial a elevação da auto-estima das minorias, pela valorização de suas raízes culturais. É esse o excelente trabalho que a revista Afi rmativa tem feito nos seus dois anos de luta pela maior integração dos afro-descendentes.”Parabéns!”

Geraldo Alckmin - Governador do Estado de São Paulo

13

1673303_Afirmativa.indd 131673303_Afirmativa.indd 13 10/5/05 10:32:00 AM10/5/05 10:32:00 AM

Page 14: afirmativa9

ações afirmativas

14

ações afirmativasfeliz aniversário

“É de extrema importância a existência de um espaço capaz de proporcionar à sociedade a necessária discussão sobre o respeito à diversidade nacional porque as nossas diferenças representam a nossa identidade. Nossa identidade, como nação, tem todos os gêneros, todas as raças, todas as etnias, todas as religiões e orientações sexuais. Parabéns a todos vocês!”

Ministra Nilcéa Freire - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

“Parabenizo a revista Afi rmativa Plural pelo segundo ano de publicação. A comunicação é um meio importante no debate sobre igualdade racial

e social, porque coloca o problema do ponto de vista de diferentes atores sociais. A identidade moral e cultural do brasileiro passa,

obrigatoriamente, pela questão da discriminação racial, um tema que deve estar no foco de nossas atenções durante nossa busca por

um país mais justo e igualitário para todos os cidadãos.”

Luiz Flávio Borges D´Urso - Presidente da OAB-SP

“A Revista Afi rmativa Plural é braço forte na luta desassombrada pela cidadania plena; é voz

serena, mas fi rme, no clamor intermitente contra as amarras incompreensíveis do preconceito, da

ignorância, do atraso.”

Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal

14

1673303_Afirmativa.indd 141673303_Afirmativa.indd 14 10/5/05 10:32:12 AM10/5/05 10:32:12 AM

Page 15: afirmativa9

15

feliz aniversário

“No mesmo ano em que o presidente da República decretou como o ‘Ano da Igualdade Racial’, cujo objetivo é promover ações afi rmativas em favor dos afro-brasileiros, a valorosa revista Afi rmativa Plural, publicada bimestralmente pela Afrobras – Sociedade Afro-brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural, comemora seu segundo ano de circulação. Embora, em tenra idade, esta neófi ta revista, graças ao esforço e competência de seu Conselho Editorial e colaboradores, tem se fi rmado como um inestimável e profícuo canal de comunicação, além de um instrumento de conscientização para o problema da exclusão social dos afro-descendentes brasileiros, fazendo-o de forma sensata e elucidativa, sem nunca ladear a obstinação na persecução de uma sociedade mais justa e igualitária, mormente por meio da oportunização igualitária da educação e da qualifi cação profi ssional. Além desse imprescindível veio político-social, a Revista Afi rmativa Plural também se destaca pela sua qualidade gráfi ca e editorial, trazendo matérias que abordam temas diversos, como educação, economia,

justiça, política e religião, que nos levam à refl exão, ao tempo que também nos brindam com o elevado entretenimento. Por todas essas qualidades, faço questão de registrar minhas efusivas congratulações à Revista Afi rmativa Plural, o que faço por intermédio do seu Conselho Editorial e na pessoa do Presidente da Afrobras e Reitor da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, Dr. José Vicente.”

Otavio Brito Lopes - Vice-Procurador-Geral do Ministério Público Federal do Trabalho

“Parabéns a Afrobras por estes dois anos de trabalho sério e consistente, trazendo para a comunidade negra e toda a sociedade em geral a conscientização de um Brasil com igualdade e união.”

Joana Woo - Presidente daEditora Símbolo

“Gosto muito da revista Afi rmativa Plural. Ela traz o pensamento de diferentes segmentos nacionais e contribui de maneira exemplar para consolidação de uma sociedade pluralista e sem preconceitos, como deve ser o Brasil.”

Jadiel Ferreira - Embaixadordo Ministério de Relações Exteriores em São Paulo

15

1673303_Afirmativa.indd 151673303_Afirmativa.indd 15 10/5/05 10:32:16 AM10/5/05 10:32:16 AM

Page 16: afirmativa9

ações afirmativas

16

ações afirmativasfeliz aniversário

“Promover o combate à discriminação e defender a igualdade de oportunidade para todos é trabalhar pelo desenvolvimento social, educacional e cultural de um país.Em nome do Ministério Público do Trabalho, ressalto a importância da revista Afi rmativa Plural no sentido de atingir os objetivos acima, que são a razão de existir da ONG Afrobras.Que os dois anos completados este mês se multipliquem e permitam a continuidade do belo trabalho desenvolvido até hoje, em favor da comunidade afro-descendente e, em última análise, de todos os brasileiros.”

Sandra Lia Simón - Procuradora-Geral do Ministério Público Federal do Trabalho

“Esperamos que a Revista Afi rmativa tenha vida longa, vida infi nita pelo brilhante trabalho que realizou durante estes dois anos. É um exemplo a ser seguido por todos aqueles que amam a liberdade, a igualdade e a justiça.”

Paulo Paim – Senador

Quero transmitir meus sentimentos de felicitações à equipe da Afi rmativa Plural pelos seus dois anos de aniversário, sempre inspirada por um ideal de irmandade, bem próprios aliás, desta instituição que é a Afrobras. Me

coloco à disposição para colaborar no que se fi zer necessário para o melhor encaminhamento da revista.

Minhas mais altas considerações a toda a equipe.Julio Cesano Peña, Cônsul do Uruguai.

Rodr

igo

Ferr

eira

/MPT

Agê

ncia

Sen

ado

16

1673303_Afirmativa.indd 161673303_Afirmativa.indd 16 10/5/05 10:32:25 AM10/5/05 10:32:25 AM

Page 17: afirmativa9

17

feliz aniversário

“Com apenas dois anos de vida editorial, a revista Afi rmativa Plural já construiu um marco na luta do povo negro e dos afro-descendentes em busca de igualdade ao lado dos outros segmentos da sociedade. Veículo de combate às práticas discriminatórias, Afi rmativa Plural também é um expressivo registro do avanço da comunidade negra na ocupação dos espaços que por direito lhe pertencem na sociedade brasileira. Os 117 anos de Abolição da Escravidão exigem uma refl exão por parte de todos os brasileiros: como faremos do Brasil um país realmente igualitário para todos; como avançarmos as inúmeras conquistas da comunidade negra em direção à igualdade racial. Refl exão que tem na revista Afi rmativa Plural um importante espaço de vocalização.” José Serra - Prefeito da Cidade de São Paulo

17

1673303_Afirmativa.indd 171673303_Afirmativa.indd 17 10/5/05 10:32:38 AM10/5/05 10:32:38 AM

Page 18: afirmativa9

ações afirmativas

18

ações afirmativasfeliz aniversário

“O respeito à diversidade é, sem dúvida alguma, um dos traços distintivos da democracia, cujo fi m último é assegurar a todos convivência harmônica e com liberdade, em prol do bem-estar coletivo, e nesse particular, a Afi rmativa Plural realça a varolização humana, ao mostrar a comunidade negra como ativa participante do debate nacional, em busca de um país desenvolvido e capaz de proporcionar, aos que nele vivem, qualidade de vida, adequada distribuição de renda e justiça social.A Afrobras, a Universidade Zumbi dos Palmares e a Afi rmativa constituem sólido tripé no qual a sociedade brasileira encontrará apoio, estímulo e participação, ou seja, uma combinação de esforços e recursos em benefício da construção de uma Nação econômica e socialmente desenvolvida e em condições, portanto, de proporcionar aos brasileiros qualidade de vida, adequada, distribuição de renda e justiça social.” Um abraço,Gabriel FerreiraPresidente da CNF- Confederação Nacional das Instituições Financeiras

18

1673303_Afirmativa.indd 181673303_Afirmativa.indd 18 10/5/05 10:32:40 AM10/5/05 10:32:40 AM

Page 19: afirmativa9

19

“Celebrar o aniversário da Revista Afi rmativa é comemorar a conquista de um espaço plural e democrático, onde podemos debater e encontrar assuntos relacionados à população afro-brasileira. Em meio aos mecanismos que buscamos para superação do racismo e a conquista plena da cidadania da comunidade negra, a Revista Afi rmativa confi gura-se como um instrumento importante de promoção da igualdade racial. É com satisfação que parabenizo a equipe e os leitores da Revista Afi rmativa.”

Deputado Sebastião Arcanjo – Tiãozinho (PT)Coordenador da Frente Parlamentar pela Igualdade Racial

“Afi rmativa mexe com os brios de todos nós e nos leva a tomar decisões com fi rmeza.”

Agnaldo Timóteo – Vereador-SP

feliz aniversário

“Quero me irmanar aos editores, nas comemorações dos dois anos da revista Afi rmativa Plural, e convidar todos os seus leitores a participar dos debates na Câmara dos Deputados dos projetos do Estatuto da Igualdade Racial e do Estatuto do Índio.”

Severino Cavalcanti - Presidente da Câmara Federal

19

1673303_Afirmativa.indd 191673303_Afirmativa.indd 19 10/5/05 10:32:41 AM10/5/05 10:32:41 AM

Page 20: afirmativa9

ações afirmativas

20

ações afirmativas

“Que essa menina, que agora já anda sozinha, possa crescer cada vez mais com saúde intelectual e nos dê bastante alegria!!!”

Isabel Fillardis - atriz

“Afi rmativa correta: é a informação conscientizando a Raça Negra.”

Emilio Santiago - cantor

ó

“Parabéns a Revista Afi rmativa Plural pelos dois anos de existência. Sempre é bom que haja publicações como esta, não só para o público negro, mas para a sociedade em geral. Espero que, cada vez mais, apareçam revistas para as diversas raças e povos deste mundo.”

Daiane dos Santos - atleta

feliz aniversário

20

1673303_Afirmativa.indd 201673303_Afirmativa.indd 20 10/5/05 10:32:44 AM10/5/05 10:32:44 AM

Page 21: afirmativa9

21

O movimento negro, toma-

do como movimento social,

tem impresso conquistas im-

portantes em nosso País nos últi-

mos anos, entre as quais estimular

e preparar uma elite intelectual e po-

lítica capaz de tomar a frente em várias

iniciativas. Nossa sociedade já reconhece

que temos um problema grave de natu-

reza étnica que precisa ser enfrentado e

combatido. Estão em debate novas pro-

postas e formulações que apontam um

horizonte de solução para a grave desi-

gualdade e das práticas discriminatórias

que temos em nosso País.

Por todo esse cenário hoje existente, é

com enorme orgulho e satisfação que ve-

mos a Revista Afi rmativa Plural chegar

ao seu segundo aniversário contribuindo

de forma contundente para a melhoria

da inclusão dos afro-descendentes na so-

ciedade brasileira.

Como parceiros da Afrobras desde

2000, o Instituto Metodista de Ensino

Superior é solidário à causa afi rmativa

no Brasil e trabalha em conjunto, não só

com a Afrobras, mas também com ou-

tras organizações sérias que buscam levar

educação e cidadania ao povo brasileiro.

Só neste ano de 2005, são 700 alunos

benefi ciados pela Metodista com bolsas

de estudo destinadas exclusivamente

para afro-descendentes.

Além do oferecimento dessas bolsas de

estudo, a Universidade Metodista de São

Paulo faz também a sua parte para dimi-

nuir o problema da exclusão por meio de

projetos como o Núcleo de Formação

Cidadã, programa esse que integra os es-

tudantes com a comunidade e benefi cia

alunos, professores, funcionários e mora-

dores da região pela parceria entre pro-

dução de conhecimento e atendimento

às demandas sociais.

Temos ainda orgulho em ter em nosso

quadro de professores, o atual Secretário

da Justiça de São Paulo e especialista na

legislação de combate ao racismo, Dr.

Hédio Silva Jr, que teve contato com a

Metodista pela primeira vez em 1982,

quando aqui participou de um evento

organizado por entidades do movimento

negro do Estado de São Paulo.

Por tudo isso, temos certeza que a ins-

trução molda o ser humano para a vida

em sociedade e lhe dá mecanismos para

sobreviver em uma economia que cada

vez exige mais dos trabalhadores. Acredi-

tamos que a educação e a instrução são

os principais instrumentos contra a ex-

clusão racial, social e econômica. Por isso

trabalhamos com afi nco para formar um

profi ssional preparado para a vida e cons-

ciente do seu papel na sociedade. Por isso

apoiamos projetos tão importantes como

a Revista Afi rmativa Plural, que transmi-

te em suas matérias valiosas noções de

cidadania e cultura, moldando o pensa-

mento dos brasileiros para uma sociedade

mais fraterna e justa.

Afi rmativa Pluralcontribui de forma contundente para a inclusão dos

na sociedade brasileiraafro-descendentes

Por: Prof. dr. Davi Ferreira Barros – reitor da Universidade Metodista

de São Paulo e diretor-geral do Instituto Metodista de Ensino Superior

feliz aniversário

21

1673303_Afirmativa.indd 211673303_Afirmativa.indd 21 10/5/05 10:32:51 AM10/5/05 10:32:51 AM

Page 22: afirmativa9

22

Foi inscrevendo a irmã num concurso de

beleza negra que o baiano Helder

Dias saiu de Alagoinhas, a apro-

ximadamente 108km de Sal-

vador, Bahia, para demar-

car espaço e tumultuar o

mercado publicitário

nacional. Em meados

de 1996, o jovem

coreógrafo ganha-

va a vida dando

aulas de passarela

no interior de sua

terra natal e em

Sergipe.

Nessa época esta-

va ocorrendo um

grande concurso

para eleger as mais

belas negras do Bra-

sil.

Sonhando com a possi-

bilidade de colocar a irmã

na maior vitrine de moda do

país, Helder não pensou duas

vezes e inscreveu Raineldes Dias,

de 17 anos, no concurso. O difícil

mesmo foi convencer uma menina

do interior da Bahia de que ela tinha

talento e beleza para tanto. “Eles

querem negra com cara de branca e

eu não tenho cara de branca, meus

traços são fortes”, dizia a garota.

Quando eles checaram os nomes das

dezessete fi nalistas e viram o de Raí,

como é chamada pelo irmão, eles

ratoqueruge

não esperaram. Em menos de um

mês, os dois desembarcaram em São

Paulo para a fi nal do concurso, onde

Raineldes foi a terceira colocada.

Helder, bem mais do que irmão de

miss, mostrou seu talento e cativou

Rita de Cássia, diretora da New

Company – a primeira agência diri-

gida ao público negro – e promoto-

ra do concurso. Os dois trabalharam

juntos por três anos, até que ela se

mudou para o exterior e dei-

xou a diretoria nas suas

mãos.

Nome da agência surgiupor umimpulso

Em abril de

2000, Rita

resolve fe-

char defi ni-

tivamente a

agência. O que

parecia o fi m

foi o empurrão

que faltava. Cerca

de 80 modelos fi -

caram sem referência

no mercado. Batendo

de porta em porta, ouviam

todo tipo de desculpa, desde que

eram muito parecidos com rostos já

conhecidos no mundo fashion até

que um negro era sufi ciente para o

elenco de uma agência. A verdade é

que nenhum deles conseguiu colo-

cação nas chamadas agências “con-

vencionais” do país.

Mas Helder Dias já era conhecido no

mercado publicitário e os trabalhos

pareciam bater à sua porta. Mesmo

empreendedorismo

1673303_Afirmativa.indd 221673303_Afirmativa.indd 22 10/5/05 10:32:55 AM10/5/05 10:32:55 AM

Page 23: afirmativa9

23

sem estrutura, o rapaz continuava

a encaixar seu pessoal em diversas

campanhas. Demonstrando ousadia,

assume o calendário da Johnson’s, só

que dessa vez era preciso a assinatura

da agência a que pertencia a modelo

Carla Leite. Foi num impulso que ele

informou ao produtor de elenco Lu-

cas/Fernanda Salen, depois de muita

insistência, o nome da agência: HDA

Models (Helder Dias Araújo).

Em setembro de 2000, Dias encon-

tra uma moça chorando por ter sido

reprovada em um teste e a convida

para trabalhar com ele na agência

– que já tinha nome, mas ainda não

existia – ela aceita.

Em janeiro de 2001, Yara Olivei-

ra, com apenas 14 anos, a primeira

e até então única modelo do cast,

brilha na São Paulo Fashion Week,

desfi lando para nada menos do que

duas das grifes famosas: Zapping

e Zoomp. Pronto! Passa a existir a

HDA Models, que já chega incomo-

dando muita gente forte.

Helder chegou a ser aluno de Glória

Kalil e do produtor de moda César

Fassina em um curso de produção de

moda no Senac, no qual foi bolsista –

ele pessoalmente esteve em uma uni-

dade, contou sua história e a diretora

Claudia Magno, comovida, o pre-

senteou com a bolsa de estudos para

o curso. Dias morava “de favor” no

apartamento de uma amiga, Marise

Paixão, em São Paulo. Era de lá que

ele fazia seus contatos. Sabendo que

uma empresa que funcionasse num

apartamento residencial teria pouca

credibilidade e competitividade no

mercado publicitário, não foram

poucas as vezes que ele próprio esteve

em clientes entregando material dos

modelos. Depois, por

telefone confi rmava

se o motoboy já havia

passado lá.

Muitas vezes saiu

com o dinheiro ape-

nas da passagem de

ida, tendo que voltar

a pé. O pior – ou o

melhor – era quando

o celular tocava no

meio do caminho e

outro cliente soli-

citava material. Aí,

então, o percurso era

todo feito a pé, in-

dependentemente da

distância. Fatos que

ele não se envergonha

de contar.

Como também era

necessário um núme-

ro de telefone fi xo, ele

informava o do ore-

lhão perto do apar-

tamento. Sem dinheiro sequer para

contatar seus modelos quando tinha

trabalho fechado, o combinado era

um toque do telefone e retorno da

ligação em seu celular. E o negócio

foi dando certo!

Grandes campanhasprotagonizadas por negrosHoje, a HDA Models é a maior

agência de negros do país e a única

voltada para moda, beleza e publici-

dade. Enquanto agências como Eli-

te, Ford, Mega, Marlyn e outras se

limitam a ter um, dois ou no máxi-

mo três negros em seu cast, a HDA

enche páginas de revistas, outdoors e

passarelas de todo o país, espalhando

a beleza da raça negra com seus cerca

de 200 modelos. Quando pergunta-

ram para Helder onde ele conseguia

negras de corpos tão esculturais e tão

lindas, a resposta foi simples: “Elas

estão onde as pessoas estão. É que

vocês não param para observá-las.

O meu cast é superseletivo. Trabalho

com os mais belos negros do merca-

do, todos dentro dos padrões inter-

nacionais!”, entusiasma-se. Segundo

ele, sua agência tem a sua cara. Sua

maior conquista? Ele cita algumas:

Yara Oliveira, Ednei Santos, Alexia

Bairon, Walita, Pirelli, Glauci Mello

e Érika Lago. E vem por aí muito

mais: grandes campanhas que já es-

tão sendo protagonizadas por negros

maravilhosos, da HDA Models.

Helder Dias Araújo - HDA Models

empreendedorismo

1673303_Afirmativa.indd 231673303_Afirmativa.indd 23 10/5/05 10:32:55 AM10/5/05 10:32:55 AM

Page 24: afirmativa9

ações afirmativas

24

ações afirmativas

Surpreender, inovar, criar necessi-

dades. Essas são palavras-chave que

codifi cam o segredo do sucesso de

muitas empresas. A visão de mercado

e a criatividade também são atitudes

importantes para manter e conquis-

tar clientes.

O empresário nunca deve seguir

fórmulas antigas, que não traduzem

a realidade do mercado, pois a mu-

dança de hábitos e opiniões dos con-

sumidores é imprevisível.

Veja casos como da MBR, Serpro

(maiores e melhores Revista Exame)

- é tanta inovação que nem dá para

copiar. Na verdade, quando um con-

corrente copia o que você fez, ele está

te aplaudindo, e isso quer dizer que

você já está à frente dele. Não adian-

ta fugir, pois hoje inovar é como co-

mer...você ainda come todos os dias?

Ouvir o cliente é essencial, mas sur-

preendê-lo é ainda melhor. Levar

ao consumidor o que ele espera é o

mesmo que oferecer um produto ou

serviço que a concorrência já presta.

Ninguém diz que um banco realiza

transações fi nanceiras, o que é intrín-

seco, mas provavelmente fala que a

i n s -

t ituição

utiliza papéis recicláveis

e que está preocupada com questões

ambientais. Dessa maneira, quando

o cliente é surpreendido e fi ca sa-

tisfeito torna-se a melhor forma de

propaganda da empresa, ou seja, um

vendedor ativo.

Através dessa linha, é preciso de-

senvolver a consciência de que em

uma empresa todos são vendedo-

res, já que o sucesso da organização

depende não apenas do departa-

mento de vendas ou do marketing,

como também de profi ssionais de

outras áreas.

Assim, adminis-

trar uma empresa

nos dias atuais é si-

nônimo de se adaptar

rapidamente às transforma-

ções do mercado e inovar constan-

temente.

Algumas dicas importantes:

1) Use e abuse da Internet e entre na

globalização pela porta da frente.

A empresa que não está conectada

perde, dia-a-dia, mercado para as

que estão.

2) Podem dizer o que quiserem, mas a

primeira impressão é a que fi ca, sim!

Um atendimento impecável, um

ambiente limpo, acolhedor e agradá-

Por: Ubirajara Tadeu Silva da Cruz

Professor Universidade da Cidadania

Zumbi dos Palmares

segredo do

empreendedorismo

24

1673303_Afirmativa.indd 241673303_Afirmativa.indd 24 10/5/05 10:33:01 AM10/5/05 10:33:01 AM

Page 25: afirmativa9

25

vel e boa vontade de todos

os funcionários para com o

cliente tem o poder de um

presente inesperado.

3) Desculpem a insistência,

mas é verdade: você tem que

surpreender o cliente a todo o

momento.

Surpreender é fazer com o

cliente tenha uma experi-

ência única e inesquecível a

cada instante.

Soluções que surpreendem

muitas vezes são baratas,

criativas e faz sua empresa

ganhar muitos pontos no

jogo do mercado.

4) Faça parcerias! Faça par-

cerias! Faça parcerias! Faça

parcerias!

Uma empresa sozinha no mercado, sem

parceiros, é devorada em pouco tempo

pela concorrência. Faça parcerias!

Faça parcerias com empresas que te-

nham negócios afi ns ao seu ou o mes-

mo público-alvo e fortaleça-se.

5) Todos os funcionários têm que ter a

medida exata da fi losofi a da empresa e

estarem motivados para segui-la.

Sua empresa deve ter uma missão ou

fi losofi a bem clara e divulgá-la para

todos os membros da equipe.

Imagine a seguinte cena: pergunta-

ram para um pedreiro que colocava

tijolo sobre tijolo na construção da

Disney o que ele estava fazendo, ele

respondeu – “Estou construindo o

maior centro de entretenimento e

lazer do mundo”. Isso é ter noção da

missão da empresa.

6) Tenha um diferencial.

Lembre-se sempre de que o seu clien-

te, ao comprar, leva em conta muito

mais a emoção do que a razão. Se

você o tiver cativado através dos seus

diferenciais em atendimento, prazo,

descontos e outras vantagens, será

único para ele.

7) Crie Novos Produtos e Serviços.

Uma empresa que fi deliza seu clien-

te cria galinhas de ovos de ouro. É

sabido que é mais lucrativo vender

novos produtos para os antigos

clientes do que conseguir novos

clientes para vender os produtos an-

tigos, principalmente na crise. Mas

para tal, você precisa ter clientes fi -

éis ao seu produto.

8) Faça de seus clientes, vendedores.

Encante seu cliente e ele venderá

seus serviços ou produtos

de maneira brilhante.

Uma indicação de um ami-

go vale mais do que mil pro-

pagandas no horário nobre

da TV. Faça com que seu

cliente venda o seu produto

e faça propaganda dele gra-

tuitamente através de uma

opinião favorável, de uma

camisa, de um cd personali-

zado, de qualquer lembran-

ça que seja útil, única ou

especial para ele.

9) A rotina da sua empresa

tem que ser um “case” de suces-

so. Se você e seus funcionários

seguiram as dicas acima, não

há porque temer a crise ou o

momento economicamente

difícil de nosso país, a sua empresa está

fadada ao sucesso; caso contrário...

10) Valorize a reclamação.

A reclamação é uma dádiva divina...

Toda a vez que um cliente reclama,

é como se ele estivesse dizendo:

“Hei empresa! Eu AINDA gosto

de você, mas veja lá o que você vai

fazer agora hein!?”

Se isso aconteceu, levante a mão para

o céu, pois do contrário você jamais

fi caria sabendo do problema, perderia

o cliente e pior, perderia mais clientes

ainda, pois não conseguiria resolver o

problema por falta de informação.

Dados de pesquisa confi rmam que

o cliente que teve seus problemas

resolvidos a contento pela empresa é

signifi cativamente mais fi el do que o

cliente que nunca enfrentou nenhu-

ma difi culdade com a empresa.

Prof. Ubirajara Tadeu Silva da Cruz

empreendedorismo

25

1673303_Afirmativa.indd 251673303_Afirmativa.indd 25 10/5/05 10:33:01 AM10/5/05 10:33:01 AM

Page 26: afirmativa9

26

A criminalidade e a violência constituem

o mais preocupante problema brasileiro.

Mitigá-las exige a mobilização da socieda-

de e ações articuladas com o poder públi-

co. Prova disto está expressa em números:

a taxa de homicídios por cem mil habi-

tantes na Região Metropolitana, confor-

me cálculos elaborados pelo Instituto São

Paulo Contra a Violência, caiu de 49,29,

no ano 2000, para 30,38, em 2004, com

diminuição, portanto, de 38,37%.

O Mapa da Violência de São Paulo, ela-

borado pela Unesco (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciên-

cia e a Cultura), que abrange o período

1993/2003, referenda esses dados. Além

disso, expressa com clareza o signifi ca-

do do engajamento da comunidade, ao

incluir entre os motivos da bem-vinda

queda à mobilização das organizações da

sociedade civil e a articulação de institui-

ções públicas e privadas, além da melho-

ria da estrutura da segurança pública.

O Fórum Metropolitano de Segurança

Pública, criado pelo Instituto São Pau-

lo Contra a Violência, que o secretaria,

é um dos protagonistas desse processo.

Integrado pelos prefeitos dos 39 muni-

cípios da Grande São Paulo, tem atuado

como organismo catalisador de ações e

estratégias na luta contra a criminalida-

de. Seu trabalho contribui para a redu-

ção da violência, pois propicia a troca de

experiências bem-sucedidas, aproxima

as prefeituras, entidades de classe, orga-

nizações da sociedade, guardas munici-

pais, Secretaria da Segurança do Estado e

polícias Civil e Militar. Seria importante

multiplicar esse modelo de atuação em

todo o Brasil e no Interior paulista, onde

a queda do número de homicídios, de

19,97 casos por cem mil habitantes, em

2000, para 15,72, em 2004 (diminuição

de 21,28%), não foi tão acentuada quan-

to na Grande São Paulo,

Em sua mobilização, o Fórum preconiza

os princípios de tolerância, solidariedade

e respeito aos direitos humanos, igual-

mente necessários ao estabelecimento de

uma sociedade mais pacífi ca. Tal postura

também é importante para que o País re-

duza suas assimetrias. O estudo da Unesco

demonstrou, por exemplo, que os jovens

de 15 a 24 anos são as maiores vítimas de

homicídio no Estado de São Paulo. Nes-

te segmento, o índice é três vezes maior

do que nas faixas etárias de zero a 14 e

acima de 24 anos. Outro estudo, este do

IBGE, embora date de 1998 e careça de

atualização, revela que, dentre as vítimas

de homicídio no País, 66% são negros e

34%, brancos. Isto, num contexto demo-

gráfi co no qual a participação dos bran-

cos na população total era de 54,70% e

a dos negros, 45,30%. O Brasil, aliás,

tem a segunda maior população negra do

mundo, atrás apenas da Nigéria.

Corrigir essas assimetrias também é im-

prescindível no processo de combate à

violência. Neste sentido, a lição de casa

começa com o acesso universal ao ensino

público de qualidade, passa pela multi-

plicação de empregos, apoio ao empre-

endedorismo e distribuição de renda, e

culmina com a disseminação do respeito

aos direitos humanos e de marcos le-

gais, como o Estatuto da Criança e do

Adolescente. Tal responsabilidade não se

restringe ao governo. É missão de toda a

sociedade e fator condicionante ao efeti-

vo desenvolvimento do Brasil.

comportamento

Por: Eduardo Capobianco, presidente do Instituto São Paulo Contra a ViolênciaPP

obilização social contra a violência

1673303_Afirmativa.indd 261673303_Afirmativa.indd 26 10/5/05 10:33:10 AM10/5/05 10:33:10 AM

Page 27: afirmativa9

27

A violência que toma conta do país

despertou as autoridades para que me-

didas mais radicais fossem tomadas em

relação a posse de armas de fogo. Teve

início com o Estatuto de Desarmamen-

to – Lei 10.826 que começou a vigorar

em 23 de dezembro de 2003 e, desde

então, várias campanhas já foram rea-

lizadas para que armas de fogo fossem

entregues aos departamentos das Polí-

cias Civil, Militar e Federal.

Agora, o Senado coloca em votação o

Referendo, aprovação ou não, do arti-

go 35 do Estatuto do Desarmamento,

que é a “proibição da comercialização

de armas de fogo e munição em todo

o território nacional”. O Referendo

acontece dia 23 de outubro de 2005

e todas as pessoas entre 18 e 70 anos,

são obrigadas a votar. Em entrevista ao

programa Negros em Foco, da Afrobras

pela TV RBI, canal 14 UHF, São Pau-

lo e Brasília, a Coordenadora da Rede

pelo Desarmamento do Instituto Sou

da Paz, Beatriz Cruz, falou da atuação

do Instituto na campanha e explicou o

que é o Referendo e qual seu objetivo.

Negros em Foco: Qual a diferença entre

Plebiscito e Referendo? Como e quando

vai acontecer o Referendo?

Beatriz Cruz: Tivemos o Plebiscito

uma vez aqui no Brasil e as pessoas ti-

nham que decidir se era: monarquia,

parlamentarismo ou presidencialismo,

agora não, é diferente. As pessoas vão

ter que dizer: sim ou não a uma per-

gunta. No Estatuto do Desarmamento,

já está lá o artigo que o congresso apro-

vou, que é o artigo 35, que diz: “Fica

proibida a comercialização de armas

de fogo e munição em todo o territó-

rio nacional”. Essa medida só entra em

vigor mediante referendo, a realizar-se

em Outubro de 2005, ou seja, as pes-

soas vão referendar uma proposta do

Senado. Vão dizer: sim ou não para a

proibição da venda de armas.

Negros em Foco: As pessoas vão votar

na mesma zona eleitoral?

Beatriz Cruz: Sim, na mesma zona

eleitoral. Tem que levar o título, a

identidade. Um processo normal. O

TSE vai começar com propagandas

explicando o que é o “Referendo” e

como as pessoas devem votar.

Negros em Foco: O que a Sra. tem a

dizer, sobre o alto índice da violência por

arma de fogo?

Beatriz Cruz: Hoje existem muitas

armas em circulação no Brasil e elas

são freqüentemente usadas. Para se ter

uma idéia, cada ano morrem 38 mil

pessoas e entre os jovens e isso é assus-

tador. Hoje a arma de fogo é a princi-

pal causa de morte de homens jovens

no Brasil. Ela mata mais que acidente

de trânsito, do que na maior parte dos

países. É o que mais mata. Mata mais

do que qualquer doença, mais que

AIDS, mais do que qualquer outra

causa externa.

armafaz referendo

em outubro

rasilsobre

negros em foco

1673303_Afirmativa.indd 271673303_Afirmativa.indd 27 10/5/05 10:33:11 AM10/5/05 10:33:11 AM

Page 28: afirmativa9

28

Negros em Foco: A Unesco divulgou

que na última década as mortes por

arma de fogo, superam o número de víti-

mas de 23 confl itos armados no mundo.

Como a Sra. vê esses dados?

Beatriz Cruz: Isso é assustador. Nós

temos esse número imenso no Brasil.

Não estamos em guerra, mas, ao mesmo

tempo, temos um número de países que

estão em confl ito. O Brasil responde

mais ou menos, por 3% da população

mundial, mas corresponde a 8% das

mortes por armas de fogo no mundo

todo. Isso aparece em um relatório que

foi feito por uma campanha internacio-

nal de controle de armas no mundo,

que se chama Controlados. O Brasil

está no caminho certo para tentar rever-

ter o problema. Foi aprovado o Estatuto

do desarmamento, tivemos a campanha

de recolhimento de arma e agora, va-

mos ter o Referendo que será mais uma

oportunidade para virar a página.

Negros em Foco: Quem é contra a cam-

panha do desarmamento e

contra a proibição da co-

mercialização de armas,

alega que ao entregarem

suas armas, não terão

como se defender. O que o

Instituto Sou da Paz, acha

deste argumento?

Beatriz Cruz: Uma

pessoa quando compra

uma arma para sua legí-

tima defesa, na verdade,

não está se defendendo,

é muito mais um risco

ter aquela arma, do que

uma proteção e isso é

comprovado por pes-

quisas. Poucas pessoas

têm preparo para lidar

com uma arma de fogo, um instru-

mento muito sério, feito para matar.

A defesa tem que ser pública, a po-

lícia tem que fazer isso, temos que

exigir uma polícia de qualidade, um

melhor atendimento. A outra questão

é que o cidadão de bem e bandido é

uma classifi cação que não se pode

fazer, muito tênue ou linear, entre

quem é do bem e quem é do mau.

Não existe isso. Depende da situação.

Se você tiver uma arma na mão, será

sempre o mau.

Confl itos intempestivos acabam trans-

formando muitas pessoas do bem, em

mau. E isso acontece em trânsito, em

bares. Para se ter uma idéia, arma,

morte por arma, homicídio. Estamos

pensando no roubo seguido de mor-

te; vieram assaltar e mataram, mas isso

corresponde a 5% do total de homi-

cídios. Os outros homicídios, não são

todos por motivos banais, mas a sua

grande maioria é. O Departamento

de Homicídio e Proteção a Pessoa (

DHPP), mostrou que de 2004 à 2005

nos homicídios que aconteceram, o

principal motivo das mortes, era vin-

gança e vingança não associada ao trá-

fi co, isso tem uma categoria específi ca,

é vingança mesmo: “Ah, mexeu com a

minha namorada eu vou fazer. Mexeu

comigo. Eu tenho que ser homem”.

Vemos muito isso.

Negros em Foco: Somente 5% corres-

pondem ao roubo seguido de morte. As

pessoas desconhecem esses dados. Quais os

riscos de se ter uma arma em casa?

Beatriz Cruz: Hoje, duas crianças

são internadas, por dia, com alguma

lesão por arma de fogo. Acidentes

com arma de fogo acontecem a toda

hora, Os pais têm arma e acham que

os fi lhos não sabem onde está; mas sa-

bem. Pegam a arma e acabam levando

para escola, às vezes, simplesmente,

para se mostrar: “olha só aqui, te-

nho uma arma”, às vezes, realmente,

para cometer alguma coisa, fazer uma

ameaça. É muito preocupante.

Negros em Foco: A maioria das mor-

tes, por arma de fogo, se dá na periferia

das cidades, principalmente, São Paulo.

Sabemos que na periferia está a maior

parte dos negros. A Sra. tem alguma in-

formação sobre isso?

Beatriz Cruz: Eu não tenho um

dado exato sobre etnia, mas sabemos

que a maior parte das mortes, são

focadas nos jovens, homens e negros

e nas periferias das cidades. Isso é

real e as pessoas vêem isso acontecer,

acho que é uma situação a se pen-

sar, como mudar? Então, num lugar

que você acaba tendo acesso a arma

muito fácil, você acaba tendo mais

mortes.

negros em foco

1673303_Afirmativa.indd 281673303_Afirmativa.indd 28 10/5/05 10:33:11 AM10/5/05 10:33:11 AM

Page 29: afirmativa9

29

Robson de Souza, 21anos, jeito mo-leque, corpo franzino e mais conhe-cido por Robinho, desponta como um dos símbolos mais expressivos da cultura popular brasileira: o futebol. Esse esporte foi criado na Inglaterra e chegou por aqui no fi nal do Século XIX, e apesar de ter sido apropria-do pelos membros da elite, caiu no gosto popular. E aos poucos foi assu-mindo um papel semelhante ao que já ocorria com a música, tornando-se um veículo de ascensão social para os jovens que vivem nas periferias das grandes cidades. Nenhum esporte de massa tem tamanho poder cata-lisador. Tampouco nenhuma outra modalidade é capaz de representar tão bem o Brasil pelo mundo afora. Pelos cálculos da Confederação Bra-sileira de Futebol (CBF), no perío-do janeiro-julho deste ano o país já “vendeu” 406 jogadores para clubes estrangeiros. Em todo o ano passa-do foram 857. Muitos, como nosso Robinho, saíram daqui para atuar em agremiações de ponta, o Real Madrid, e certamente conseguirão engordar a poupança com salários e prêmios milionários. Mas a maior fatia vai atrás de um futuro nebuloso e têm de submeter-se a condições ad-versas (no que concerne ao clima e à cultura) em algum grotão da Europa,

do Oriente Médio ou da Ásia. Às ve-zes, deixam para trás o país, a família e os amigos em troca, sem exagero, de um prato de comida e alguns tro-cados.O que nos salta aos olhos é que a maior fatia dessa verdadeira diáspora é representada por afro-descendentes. Não se trata de mera coincidência ou obra do acaso. Submetido a um per-verso processo darwinista desde an-tes da concepção, boa parte dos in-tegrantes desta camada da população brasileira procura agarrar com unhas e dentes as mínimas chances de co-locação profi ssional e/ou ascensão social que surgem pelo caminho. E devido aos efeitos danosos da políti-ca econômica ortodoxa e de escolhas governamentais equivocadas, princi-

palmente a partir de 1997, é forçoso dizer que a emigração, mesmo em bases precárias, surge como uma das poucas alternativas. Em recente visita ao Brasil, onde par-ticipou de um seminário sobre gestão e liderança global, o ex-presidente americano Bill Clinton foi criticado ao apontar os males que a exclusão e o confi namento em guetos de um número expressivo de pessoas, sobre-tudo jovens, podem causar ao país. Essa imagem lhe saltou aos olhos no tortuoso trajeto entre o Aeroporto In-ternacional de Guarulhos e um hotel cinco estrelas na região central de São Paulo. Segundo Clinton, os líderes que o país precisa podem estar en-tre essas pessoas. E para descobri-los é preciso que a cidadania plena e as oportunidades alcance também essa camada da população. Talvez famosos como Robinho e anô-nimos como Anderson Cartilho Car-dena (vendido ao Tofta Itrottarfelag, das Ilhas Faroe) e outros milhares de jovens brasileiros integrem o pelotão de potenciais líderes que o Brasil pre-cisa. Pena que para eles o saguão do aeroporto tenha se mostrado como a única alternativa para escapar da fal-ta de oportunidade de ascensão so-cial e/ou sobrevivência digna em seu próprio país. Até quando?

Por Rosenildo Gomes Ferreira

Jornalista da Revista IstoÉ Dinheiro

A diáspora do século XXI e a

construção de lideranças

ponto de vista

29

1673303_Afirmativa.indd 291673303_Afirmativa.indd 29 10/5/05 10:33:20 AM10/5/05 10:33:20 AM

Page 30: afirmativa9

30

responsabilidade social

Ao longo dos últimos 10 anos, tenho

convivido com líderes empresariais, di-

rigentes de políticas públicas e ativistas

de ONG’s. Isto vem me possibilitando

uma compreensão crescente da magni-

tude e da complexidade dos problemas

com que estamos confrontados e do

desempenho do mundo empresarial

no enfrentamento das desigualdades

sociais intoleráveis que fazem do Brasil

um país de cidadãos e sub-cidadãos.

A primeira das duas mais importan-

tes lições que pude aprender nessa

caminhada é a de que o investimento

social privado pode e deve ser cada

vez mais um investimento social es-

tratégico. Isto quer dizer que ele não

pode limitar-se às ações de curto

prazo, ao apagar incêndios, mas deve

comprometer-se com horizontes

temporais mais largos, tendo ainda a

mpresários pelo Desenvolvimento Humano

Por: Viviane Senna, Presidente do

Instituto Ayrton Senna

1673303_Afirmativa.indd 301673303_Afirmativa.indd 30 10/5/05 10:33:20 AM10/5/05 10:33:20 AM

Page 31: afirmativa9

31

preocupação de saltar do micro para

o macro e operar na lógica dos gran-

des números.

A segunda lição refere-se ao lugar

que o empenho pelo social, a chama-

da responsabilidade social corporati-

va, deve ocupar na estrutura de uma

organização. Para uns, ela deve estar

no marketing; para outros, na área de

recursos humanos; para um terceiro

grupo, no campo das relações insti-

tucionais. Para mim, no entanto, o

lugar mais digno dessa preocupação

é no coração e na mente dos lideres

empresariais. Se ela não estiver aí,

muito pouco valerá ela estar em ou-

tros lugares.

O LIDE-EDH é um exemplo desta

nova lógica. Trata-se de uma arti-

culação de 80 das mais expressivas

lideranças empresariais, que deci-

diram atuar conjuntamente com as

políticas públicas e uma organização

do terceiro setor, em favor de uma

causa e com base numa estratégia.

Esta causa é o desenvolvimento do

potencial das novas gerações por

meio da educação. A estratégia é rea-

lizar investimentos de médio e longo

prazos, atuando na lógica dos gran-

des números.

O grupo LIDE/EDH é uma resposta

ética, solidária e construtiva de uma

importante fração do PIB brasileiro

ao Brasil do 72º lugar no ranking

mundial de Desenvolvimento Hu-

mano. Ele inaugura um capítulo

promissor na história da responsa-

bilidade social corporativa do país,

dando um novo sentido ao papel do

empresariado nos destinos da nação.

Viviane Senna

responsabilidade social

1673303_Afirmativa.indd 311673303_Afirmativa.indd 31 10/5/05 10:33:21 AM10/5/05 10:33:21 AM

Page 32: afirmativa9

ações afirmativas

32

ações afirmativas

Quando pensamos no termo

voluntariado, logo imagina-

mos palavras como doação,

amor, solidariedade, ternura,

fraternidade, compaixão. Expe-

riências e sentimentos capazes de

compor, também, uma defi nição de-

talhada sobre a natureza das mulheres

– personagens múltiplas que parecem ter

recebido uma dose extra de iluminação,

uma partícula maior da centelha divina

presente em todos os seres vivos.

Nas ruas, nos lares, nos becos estreitos das

favelas, em ambientes muitas vezes insalubres

existentes na maioria dos municípios brasileiros,

milhares de mulheres vivem um cotidiano de ba-

talhas. Uma jornada de lutas intermináveis que têm

início, geralmente, antes do dia clarear. Ainda de ma-

drugada, elas levantam, preparam a refeição do dia, la-

oluntariado, Por: Maria Lúcia

Alckmin, presidente

do Fundo Social

de Solidariedade do

Estado de São Paulo

essência

feminina

e junção

de forças vam roupa, organizam a ro-

tina da casa. Só depois, saem

para trabalhar, para procurar

trabalho, para deixar as crianças

na creche, sempre na esperança

de conquistar um futuro melhor,

uma vida mais digna para si e para

seus familiares.

Muitas têm de enfrentar uma verda-

deira maratona para chegar aos seus

destinos variados. São horas percorrendo

trechos a pé, horas somadas nas esperas vi-

vidas em pontos de ônibus que, comumente,

já chegam lotados. São trajetos áridos que dão

início a verdadeiras viagens, itinerários cansa-

tivos e desgastantes que podem incluir, ainda,

longos trechos de trem, metrô, lotação. Outras,

no entanto, permanecem em suas casas, organizan-

do tudo para que maridos e fi lhos possam viver suas

responsabilidade social

32

1673303_Afirmativa.indd 321673303_Afirmativa.indd 32 10/5/05 10:33:26 AM10/5/05 10:33:26 AM

Page 33: afirmativa9

responsabilidade social

33

1673303_Afirmativa.indd 331673303_Afirmativa.indd 33 10/5/05 10:33:28 AM10/5/05 10:33:28 AM

Page 34: afirmativa9

ações afirmativas

34

ações afirmativas

vidas de forma mais organizada, se-

gura, equilibrada. São elas que lavam,

passam, cozinham, fazem as compras,

administram a casa, levam os fi lhos

à escola, cuidam para que se sintam

protegidos, amados. Juntas, todas es-

sas mulheres ajudam a fazer o Brasil, a

construir a riqueza do país, a assegurar

o presente e o futuro da nação.

Mesmo com essa rotina estafante,

muitas vezes ainda encontram tempo

para ajudar ao próximo, para trabalhar

pelo bem comum de suas comunida-

des. Nas igrejas – independentemente

do credo que preconizam – podemos

observar que todas as suas obras, vol-

tadas às necessidades mais prementes

das populações carentes das cidades e

regiões, têm nas mulheres a expressão

maior de sua força.

São elas, por exemplo, o grande exér-

cito que compõe a Pastoral da Crian-

ça, ONG cuja atuação já salvou a vida

de milhões de meninos e meninas em

todo o País. Crianças que, não raro,

apresentam quadros graves de des-

nutrição, mesmo com idade inferior

a um ano. São essas mulheres que,

geralmente, também presidem às as-

sociações de bairro, assumindo papéis

essenciais como líderes comunitárias.

São elas que, faça chuva ou faça sol,

batem às portas das casas localizadas

nas localidades mais pobres e periféri-

cas, sempre levando orientações como

agentes de saúde. Profi ssionais que fo-

ram treinadas, muitas vezes, por ou-

tras mulheres. Figuras femininas ma-

ravilhosas que foram precursoras na

missão de levar às mães informações

básicas sobre alimentação saudável,

higiene, soro caseiro, cidadania. Fun-

ções indispensáveis pelas quais, qua-

se sempre, as mulheres não recebem

remuneração e, quando recebem, são

valores baixíssimos, simbólicos, insu-

fi cientes para o sustento de suas pró-

prias famílias.

Trata-se de uma grande fraternidade

composta por mulheres guerreiras,

mulheres de fi bra, mulheres movidas

pelo desejo de fazer do mundo um

lugar mais humano. Heroínas cujos

nomes não se encontram no registro

da História ofi cial justamente por-

que dar à luz é apenas uma dentre as

múltiplas facetas dessa mulher mo-

derna e também da mulher ancestral

que todas trazemos dentro de nós.

Na verdade, se queremos traçar um

perfi l fi dedigno das mulheres temos

de levar em conta a enorme gama

de sentimentos e qualidades que

marcam sua personalidade. Dentre

eles está a capacidade de doação, o

amor incondicional, a sensibilidade,

a solidariedade, o espírito fraterno, o

altruísmo e a força.

Milton Nascimento e Fernando

Brant sintetizaram como ninguém

essa essência feminina na letra da co-

nhecida canção Maria Maria, quan-

do dizem: “Mas é preciso ter manha/

é preciso ter graça/É preciso ter so-

nho sempre/ Quem traz na pele essa

marca/Possui a estranha mania de ter

fé na vida”. São versos primorosos

que exprimem, dentre outras coisas,

a capacidade da mulher, das Marias

que, com manha e com graça, são, ao

mesmo tempo, guerreiras e sonhado-

ras. Idealistas cuja fé em seus propó-

sitos pode mover montanhas. Mu-

lheres que são meninas eternas em

sua coragem de brincar, de imaginar

e de criar novas histórias de forma

ininterrupta e corajosa, superando as

adversidades do caminho.

Essas mulheres são voluntárias natas.

Doadoras de amor que apreenderam

a maravilha que é ajudar o seu seme-

lhante, colaborando para a constru-

ção de um mundo melhor. Nos 645

municípios do Estado de São Paulo,

observamos – devido ao trabalho

que desenvolvemos na presidência

do Fundo Social de Solidariedade

que são protagonistas que ambicio-

nam apenas fazer o bem, sem olhar

a quem.

Há um ditado que resume a força gi-

gantesca das mulheres: “Como Deus

não pode estar em todos os lugares

ao mesmo tempo, criou as mães, de

maneira que pudesse ser bem repre-

sentado”. É uma frase importante

que nos leva a refl etir sobre a grande-

za desse ser de extrema sensibilidade

e altruísmo que é a mulher, mesmo

observando que ele expõe, apenas,

a questão da maternidade. Sabemos

“Como Deus não

pode estar em todos

os lugares ao mesmo

tempo, criou as mães,

de maneira que pudesse

ser bem representado”

responsabilidade social

34

1673303_Afirmativa.indd 341673303_Afirmativa.indd 34 10/5/05 10:33:34 AM10/5/05 10:33:34 AM

Page 35: afirmativa9

35

do Estado de São Paulo (Fussesp) – a

trajetória encantadora dessas Marias

comprometidas com a construção de

novos tempos.

São criaturas iluminadas como Cleu-

za Ramos, do Morro Doce, na Zona

Oeste da Capital. Líder comunitária

que comove pela força, pelo sorriso

largo e pela extrema capacidade de

ação. Sua solidariedade e preocupa-

ção com as pessoas que estão à sua

volta são exemplos que devem ser se-

guidos por todos. Cleuza é a respon-

sável por montar, em parceria com o

Fussesp, unidades das padarias arte-

sanais. Essas padarias possibilitam a

promoção de cursos de panifi cação

à população de baixa renda, além

de conciliar esses ensinamentos com

explicações relativas às noções de hi-

giene, cidadania, direitos e deveres.

Conhecimentos diversos que desen-

volvem, dentre outras coisas, a habili-

dade de expressão e comunicação tão

necessária à realidade imposta pelos

avanços do novo milênio.

A história de Cleuza é semelhante à

de Dona Lourdes, do Jardim Princesa,

na Zona Norte. Foi ela uma das pri-

meiras mulheres a dar início à produ-

ção de pães artesanais. Dona Lourdes

ainda é responsável por abrigar, em

duas creches, mais de 300 crianças. É

também a fundadora de uma casa es-

pecialmente montada para capacitar a

comunidade de sua região.

Toda essa força de Cleuza e Lourdes se

repete e se renova em outra persona-

gem especial da periferia de São Pau-

lo. Trata-se de Dona Duda, mulher de

fi bra que exerce liderança indispensá-

vel às campanhas e às atividades que

visam auxiliar as crianças carentes da

favela Ayrton Senna, na Zona Sul da

Capital. Foi ela quem arregimentou

esforços para construir um espaço

destinado à recepção da padaria ar-

tesanal doada pelo Fussesp, sempre

com o objetivo de organizar cursos de

fabricação de pães. Outra das ações

exemplares de Dona Duda é a realiza-

ção de um trabalho de inclusão social

com dependentes químicos.

É maravilhoso saber que as histórias

de voluntariado e solidariedade se

propagam como nunca. Temos a sorte

de poder lançar luzes, também, sobre

o magnífi co trabalho de Dona Sônia.

Liderança que mantém, no Tatuapé,

na Zona Leste, um internato para

meninas e um abrigo para 160 porta-

dores de necessidades especiais. Todos

eles aprendem a fabricar o seu próprio

pão artesanal, comercializando o ex-

cedente e provando, para si mesmos,

que podem se sustentar, ser úteis,

aprender coisas novas e gratifi cantes.

Aprendem, sobretudo, que podem

dar início a uma existência mais inde-

pendente e cidadã.

Ao todo, o Fussesp estabelece parce-

rias e programas com cerca de duas

mil líderes comunitárias. Mulheres

movidas por uma energia conta-

giante cuja base é o amor, a vonta-

de de ajudar, de transformar, de ver

o mundo melhor, mais justo, mais

humanitário. Suas ações contribuem

para uma vida melhor e mais digna

em suas comunidades.

Quem conhece a fundo esse trabalho

e exemplos têm a nítida impressão de

que, de alguma forma, elas foram to-

cadas pela bondade, pelo desejo ina-

balável de fazer o bem, pela renúncia

ao individualismo. Suas escolhas e

ações pairam acima de partidos, ide-

ologias e religiões. Todas são movidas

por um desejo sustentado pela certe-

za de que a fraternidade é caminho

mais curto e mais certo em direção

a um mundo melhor para todos os

povos e nações.

É nossa esperança que esse espírito

de luta e de amor prolifere de modo

que independa de sexo. É chegada a

hora de homens e mulheres se unirem

em suas semelhanças e diferenças, de

modo que esse complemento divino

os torne tanto mais fortes quanto

mais sensíveis, tanto mais racionais

quanto mais intuitivos, mais certos e

seguros de que a força dessa união de

idéias e ações pode originar um novo

tempo, um novo e belo horizonte

onde possamos vislumbrar a diminui-

ção gradativa da extensa desigualda-

de social que causa tanto sofrimento

a milhões de pessoas. Um horizonte

onde predomine o respeito, a tolerân-

cia, a justiça e a paz na Terra.

A fraternidade é o

caminho mais curto

e mais certo em

direção a um mundo

melhor para todos os

povos e nações.

responsabilidade social

35

1673303_Afirmativa.indd 351673303_Afirmativa.indd 35 10/5/05 10:33:34 AM10/5/05 10:33:34 AM

Page 36: afirmativa9

36

A entidade Ação Comunitária

e o Instituto Camargo Corrêa

inauguraram no mês passado,

na zona Sul de São Paulo, a nova

sede da Associação à Criança, ao

Adolescente e Jovem do Icaraí –

Acaji, que proporcionará à população

do bairro um novo espaço de educa-

ção, participação, cultura e cidadania.

Os programas sócio-educacionais ofe-

recidos no Acaji benefi ciam, atualmen-

te, 100 crianças e adolescentes.

As obras, iniciadas em setembro de

2004, fazem parte da iniciativa da

Ação Comunitária de oferecer uma

alternativa de investimento social,

além de incentivar empresas-cidadãs

a transformar os espaços físicos das

associações de bairro em lugares ade-

quados e motivadores, que permitem

a melhora na qualidade e a amplia-

ducação e

ção do atendimento às crianças, ado-

lescentes e jovens da periferia de São

Paulo.

“Após visitar outras unidades constru-

ídas e reformadas, com as atividades

educacionais em andamento, perce-

bemos

q u e

esta se-

ria uma boa oportunidade de apoiar

uma organização que conta com o

apoio técnico da Ação Comunitária,

que zela pela qualidade dos serviços

oferecidos às comunidades”, explica

Melissa Porto Pimentel, superinten-

dente do Instituto Camargo Corrêa.

Fundada ofi cialmente em 1999, a

Acaji oferece atualmente à população

do Jardim Icaraí educação infantil

para crianças de três a seis anos, com

o Programa Primeiras Letras, com o

Programa Crê-Ser. “Agora, Acaji terá

sua atuação fortalecida na comunida-

de e maior capacidade de atendimen-

to às demandas dos moradores por

outros serviços também”, conta Celso

Freitas, superintendente da Ação Co-

munitária. A ampliação das turmas

deve ocorrer em 2006, de acordo com

o planejamento da associação.

A diretoria de Acaji é composta por

moradores do bairro, que dedicam

parte de seu tempo às atividades da

Associação.

Sobre Ação Comunitária

Fundada há 38 anos, a Ação Comu-

nitária é uma organização social sem

fi ns lucrativos, que tem um projeto

pioneiro de responsabilidade sócio-

empresarial e de formação de lide-

ranças comunitárias. Seu trabalho

é desenvolvido em parceria com

outras organizações de bairro que

buscam melhorar a qualidade de

vida da população da região. A Ação

Comunitária tem sua atuação volta-

responsabilidade social

sustentabilidade

1673303_Afirmativa.indd 361673303_Afirmativa.indd 36 10/5/05 10:33:35 AM10/5/05 10:33:35 AM

Page 37: afirmativa9

37

da para as áreas da educação, cultura

e cidadania para crianças e jovens de

baixa renda.

Sobre Instituto CamargoCorrêaO Instituto Camargo Corrêa (ICC)

foi criado em dezembro de 2000 com

a fi nalidade de coordenar e desenvol-

ver as ações sociais das 16 empresas

que compõem o Grupo Camargo

Corrêa. O objetivo do ICC é dar su-

porte às instituições que promovam

ações de apoio à infância e à adoles-

cência nas áreas de educação, cultu-

ra e saúde nas localidades em que

o conglomerado está presente. São

aproximadamente 80 projetos em

andamento e um orçamento previs-

to de mais de 5 milhões para 2005.

Seus principais programas são:

1. Profi ssão Futuro - Dá apoio fi -

rias nessas instituições; faz publica-

ções e organiza seminários sobre a

ação dos abrigos.

3. Funcionário Voluntário – Apóia –

projetos que são indicados por funcio-

nários do Grupo Camargo Corrêa.

4. Espaços Educativos – Apóia pro-

jetos de reformas em organizações; o

ICC decide, junto com a organiza-

ção, como tornar esse investimento

mais adequado às atividades e neces-

sidades da organização.

5. Todos pela Educação – Progra-

ma de mobilização comunitária, de-

senhado para ser implementado em

cidades de pequeno porte. Contribui

para que a comunidade tenha auto-

nomia para o desenvolvimento de

projetos sociais. Hoje, o programa

está implantado nos municípios de

Nortelândia (MT), Apiaí (SP) e Bo-

doquena (MS).

Sede antiga Acaji

responsabilidade social

nanceiro a projetos de ONGs que

promovam a educação profi ssional

básica e o apoio à inserção e à manu-

tenção de adolescentes de baixa renda

no mundo do trabalho.

2. Programa Abrigar – Apóia abri-

gos para crianças e promove melho-

1673303_Afirmativa.indd 371673303_Afirmativa.indd 37 10/5/05 10:33:35 AM10/5/05 10:33:35 AM

Page 38: afirmativa9

38

São Paulo vivenciou entre 2001

e 2004 uma experiência das mais

exemplares na interação de esfor-

ços do poder público (Prefeitura) e

sociedade civil (empresariado e co-

munidade), visando vencer desafi os

decorrentes da escassez de recursos

para recuperação urbana, inclusão

social e cidadania; gestão urbana e

ambiental; modernização do setor

público; cultura, esportes e lazer. O

ponto alto dessa parceria, que impli-

ca exercício de responsabilidade so-

cial e cidadania, foi a criação do Fó-

rum Empresarial de Apoio à Cidade

de São Paulo, em 2002.

O projeto piloto do Fórum foi apre-

sentado em 7 de junho de 2002,

durante o Congresso da primeira

URBIS – Feira e Congresso Interna-

cional de Cidades –, que realizamos

no Anhembi. O plano estava em fase

de implementação pela Prefeitura de

São Paulo, com apoio do Instituto

Ethos de Empresas e Responsabi-

lidade Social, e nesse dia contamos

com Oded Grajew, diretor-presi-

dente do Ethos, entre os palestrantes

que defi niam a razão e a importância

de reunirmos esforços para fazer de

São Paulo uma cidade melhor para

todos.

Grajew discorreu sobre o entendi-

mento de que a relação entre o setor

público e o setor privado poderia ser

de colaboração e parceria – funda-

mento do Ethos que consagrou a

visão de as empresas também serem

encaradas como agentes de transfor-

mação social, a partir de uma atua-

ção ética e socialmente responsável.

O Ethos contava, então, com 610

empresas associadas – empregadoras

de 1 milhão de trabalhadores e 28%

do PIB brasileiro. Hoje, já são 1014

associados – empresas de diferentes

setores e portes – que têm fatura-

mento anual correspondente a cerca

de 30% do PIB brasileiro. Como se

vê, a idéia da responsabilidade social

tem agregado cada vez mais interesse

e adeptos.

Depois dessa apresentação no

Anhembi realizamos a primeira Ple-

esponsabilidade social e cidadania

Por: Marta Suplicy, vice-presidente nacional do PT e

ex-prefeita de São Paulo

responsabilidade social

1673303_Afirmativa.indd 381673303_Afirmativa.indd 38 10/5/05 10:33:39 AM10/5/05 10:33:39 AM

Page 39: afirmativa9

39

responsabilidade social

nária do Fórum Empresarial, em

dezembro de 2002, elegendo quatro

projetos prioritários para a cidade:

Telecentros, Adote um Parque, Ban-

co de Alimentos e Programa Saúde

da Família. A partir de então, con-

cretizamos diversas parcerias, todas

de muita importância para diferentes

comunidades. As primeiras empresas

a aderirem a projetos da carteira do

Fórum foram Telefônica, Unilever,

Comgás, Rede SOS Computadores

e Instituto São Domingos – que re-

ceberam o reconhecimento público

conferido pelo Fórum com o selo

“Esta Empresa Ajuda São Paulo”.

Lembro, com especial carinho, de

um dos resultados dessas parcerias: a

construção do Centro de Educação

Infantil (CEI) Sonho de Criança,

que fi zemos com o Grupo Accor,

para atender 220 crianças de zero a

seis anos, a maioria delas moradoras

do Parque do Gato – conjunto de

prédios no Bom Retiro, erguido em

2004 para oferecer aos moradores

da favela que antes existia no local

uma moradia digna, com qualidade

e infra-estrutura de lazer, educação,

esporte e convívio social. Também

trago na mente e no coração as ima-

gens das crianças que nos CEUs

(Centros Educacionais Unifi cados)

puderam tocar numa orquestra com

instrumentos doados pelo Santander

e professores de música contratados

pelo Instituto Pão de Açúcar.

Nada disso foi caridade. Tudo foi

investimento. Tudo foi feito numa

ação de natureza supra-político-par-

tidária, com projetos selecionados

a partir da sua importância social e

numa vivência rica em que também

os cidadãos puderam se identifi car,

interagir e dar sua contribuição para

manter essas conquistas, ou seja, ti-

veram como aprender, exercitar e

compreender melhor o sentido de

cidadania. Das muitas razões pelas

quais valeu governar São Paulo, o

capítulo responsabilidade social e ci-

dadania é um dos que mais gosto de

apontar.

1673303_Afirmativa.indd 391673303_Afirmativa.indd 39 10/5/05 10:33:40 AM10/5/05 10:33:40 AM

Page 40: afirmativa9

40

A melhor parte da dita minirreforma

política aprovada pelo Senado em

18.ago.2005 é que tudo poderá ainda

ser rejeitado pela Câmara dos Depu-

tados. Não há nas medidas aprovadas

pelos senadores nenhum item que

seja 100% a favor da modernização

da democracia e do sistema eleitoral.

Eis o que foi aprovado:

R esponsabilidade pelo dinhei-

ro de campanha: hoje há mui-

ta dubiedade sobre quem é o respon-

sável pela veracidade das informações

fi nanceiras e contábeis de uma cam-

panha eleitoral. Pela regra propos-

ta pelo Senado, o candidato passa

a ser “solidariamente responsável”,

assinando junto com o tesoureiro.

O efeito desse tipo de medida é nulo

inirreforma

política

é risco

de grande

retrocesso

em 2006Por: Fernando Rodrigues

- Jornalista da Folha de

S.Paulo - UOL

Brasília - DF

ou perto disso. O problema não é

responsabilizar o candidato. O ne-

cessário é que um candidato que

tenha caixa dois comprovado perca

o mandato, a qualquer tempo e épo-

ca em que o delito for descoberto.

Hoje, esse tipo de risco é quase zero.

O PFL teve um prefeito seu (Cas-

sio Taniguchi, de Curitiba, capital

do Paraná), fl agrado com caixa dois

para a sua reeleição, em 2000. A des-

coberta se deu em 2001. Taniguchi

nunca foi cassado. A chance maior

de um político perder seu registro

por causa de caixa dois é se a irre-

gularidade for descoberta antes da

diplomação/posse -o que é pratica-

mente impossível. Na regra proposta

pelo Senado não há nenhum dispo-

sitivo explícito sobre perda de man-

dato no que diz respeito a políticos

que usam caixa dois. Esse é o ponto.

É verdade que a pena para fi nan-

ciamento ilegal cresceu para cinco

anos. A multa varia de R$ 20 mil

a R$ 50 mil. É uma piada. Não se

fala em cassação. Fala-se em julgar

o político e mandá-lo para a cadeia.

A chance de algo assim acontecer

no decorrer do mandato é próxima

de zero. A multa de R$ 50 mil soa

quase como uma ofensa quando

comparada às cifras reveladas pelo

esquema do empresário Marcos

Valério de Souza, apontado como

um dos provedores do “mensalão”.

Se quisessem realmente propor uma

regra com efeito de ameaça forte

política

1673303_Afirmativa.indd 401673303_Afirmativa.indd 40 10/5/05 10:33:43 AM10/5/05 10:33:43 AM

Page 41: afirmativa9

41

Medidas do Senado

variam de inócuas

a autoritárias.

Câmara tem poder

para jogar tudo no lixo

contra o caixa dois, os senadores de-

veriam ter proposto a perda imediata

do mandato no momento em que

fosse encontrada prova desse tipo de

crime. Mas aí seria necessário haver

vontade real de fazer mudanças na lei

eleitoral...

T empo de campanha - diminui

de 90 para 60 dias. Em princí-

pio, parece uma medida simpática.

“Ninguém mais agüenta esses polí-

ticos mentirosos” é o lugar-comum

mais ouvido. O problema não é, por-

tanto, o tamanho da campanha. É a

chusma de candidatos -não todos-

que aparece falando asneira em comí-

cios e nas propagandas de rádio e TV.

Num país com baixo nível de poli-

tização, falar em reduzir as campa-

nhas políticas compulsoriamente

soa como um pacto com o atraso. O

ideal seria que os políticos pudessem,

a qualquer momento, divulgar o que

pensam. Que fosse incentivado o

debate. Por que proibir um candi-

dato de fazer um cartaz ou camiseta

a favor de sua eleição? Não há razão

para tal medida em uma democracia.

S howmícios e brindes - estão

proibidos os showmícios. Se-

jam pagos ou gratuitos. Também

está proibido distribuir camisetas,

bonés, broches e outros badulaques.

A idéia dessa proibição, bem como

a da redução do tempo de cam-

panha, é que assim o custo geral

da campanha fi ca menor. Há um

raciocínio reducionista por trás:

“1) todos roubam; 2) é impossí-

vel impedir que todos roubem; 3)

vamos proibir esses ladrões, nós,

os políticos, de gastar o dinheiro”.

É quase demencial esse tipo de racio-

cínio. Se alguém acha que consegue

o voto de um eleitor dando um boné

de presente, qual é o problema? O

mais triste é a pessoa se vender por

um boné do que o desqualifi cado

que se dispõe a comprar o voto. Uns

dirão: “Temos de proteger os mais

ingênuos”. Errado. O que é necessá-

rio é liberdade para todos verifi carem

o que acontece e apontar o dedo para

o que está errado. Mas nem isso será

possível...

M enos programas de TV e rá-

dio - a propaganda eleitoral

na TV e no rádio fi ca reduzida de

45 dias para 35 dias. Também fi cam

proibidas cenas externas. A partir da

próxima eleição, se vingar a propos-

ta do Senado, o candidato aparecerá

só no estúdio, com um fundo neu-

tro e apenas o símbolo do partido.

Não serão permitidos recursos de

computação gráfi ca nem trucagens.

De novo, a idéia é reduzir custos.

Acabar com a ditadura dos mar-

queteiros. Impedir que o político

engane o eleitor com programas

falsos (alguém aí se lembra da sala

com intelectuais petistas andando

de um lado para o outro com as

propostas de governo para Lula?).

Essa proposta é de um paternalismo

paradigmático. Saudades da senza-

la. O brasileiro é burro. Não sabe

discernir entre o certo e o errado.

Gosta de ter sempre um nho-nhô

com um chicotinho dizendo o que

pode e o que não pode fazer. Uma

miséria total. Uma prova de que

os autores da lei nos desejam em

marcha batida para o século 18.

A redução da propaganda na TV

e no rádio não diminuirá em um

centavo o que cobram os marque-

teiros. Duda Mendonça cobrou,

disse ele, R$ 25 milhões para fazer

as campanhas do PT em 2002. É

tolice acreditar que o publicitário

fará uma regra de três para dar um

desconto ao PT proporcional aos dez

dias a menos na próxima campanha.

Na realidade, a diminuição do

tempo de propaganda na TV só

favorece a uma categoria: aos po-

líticos já conhecidos. Quem dese-

jar entrar na política terá menos

tempo para se apresentar. Quem

já faz parte do clube sai ganhando.

Sobre a proibição de cenas externas,

a decisão do Senado é uma aberra-

ção contra a liberdade de expressão,

um preceito constitucional. Por que

um candidato a vereador no inte-

rior do país não pode, com uma

simples e barata câmera de VHS,

mostrar os buracos de rua ou as fi -

las em hospitais? Não há resposta.

Vale, nesse caso, o mesmo raciocínio

de itens anteriores: “1) Os políticos

aproveitam para fazer caixa dois no

pagamento de altas cifras aos marque-

teiros; 2) é impossível impedir que os

políticos paguem tão alto pelos seus

programas; 3) vamos limitar a forma

como os programas são feitos”. Essa

bizarrice não considera o fato de

que não há crime nem ilicitude em

algum empresário cobrar R$ 25 mi-

política

1673303_Afirmativa.indd 411673303_Afirmativa.indd 41 10/5/05 10:33:44 AM10/5/05 10:33:44 AM

Page 42: afirmativa9

42

lhões para fazer alguns comerciais e

comandar o marketing de uma cam-

panha eleitoral. O crime está em um

partido político aceitar a proposta e

pagar com dinheiro frio. Ninguém é

obrigado a fazer tal negócio.

P esquisas eleitorais - fi cam

proibidas de serem divulgadas

as pesquisas de intenção de voto

nos 15 dias anteriores à eleição.

É quase ocioso falar sobre esse

item aprovado pelo Senado, pois

trata-se de fl agrante inconstitu-

cionalidade. Deve ser derrubado.

Ainda assim, é revelador que os polí-

ticos se voltem contra as pesquisas de

maneira recorrente. É como se quises-

sem culpar o colchão pelo adultério.

A lógica é perversa. Os senadores

votaram para proibir as pesquisas

porque acreditam que os eleitores

fi cam infl uenciados de maneira de-

letéria pelas sondagens de inten-

ção de voto. Acham que muitos

votam apenas no candidato que

aparece com chance de vencer nas

pesquisas. É possível que muitos

votem por essa lógica simplista, é

verdade. E daí? Deve-se proibi-los

de ter esse comportamento? Por quê?

Por essa lógica dos senadores, já que

os eleitores são tão superfi ciais e não

conseguem dar às pesquisas o peso

devido, melhor seria então abolir de

uma vez as eleições. Quem não sabe

interpretar pesquisas, certamente

não sabe votar. Felizmente, esse tipo

de absurdo nem os senadores brasi-

leiros são capazes de propor.

C ontas na internet - os po-

líticos candidatos passam

a ser obrigados a colocar na in-

ternet relatórios diários da con-

tabilidade de suas campanhas.

Para não dizer que tudo aprova-

do no Senado é uma porcaria,

essa não é uma medida ruim. So-

zinha, porém, resultará inócua.

Qual é o órgão do governo ou da

Justiça Eleitoral que receberá fun-

dos e recursos humanos para che-

car o que for publicado na internet?

Não se sabe. Possivelmente, não

haverá esse tipo de rastreamento.

Atualmente, as contas de campanha,

as declarações de bens dos candidatos

e outros documentos já são recebidos

pela Justiça Eleitoral. O procedimen-

to é meramente protocolar. Não há

como analisar essa massa de docu-

mentos. O que propôs o Senado a

respeito? Nada. A diferença, se for

aprovado pela Câmara o projeto do

Senado, é que agora muitas informa-

ções estarão na internet e alguns ab-

negados poderão, por conta própria,

tentar checar a veracidade dos dados.

Só que estamos longe de ter um pro-

cedimento padrão para auditar o

que todos os candidatos apresentam

como contas de campanha.

Há outros itens na tal minirreforma

do Senado, mas são menos relevantes.

A partir de agora, podem acontecer

três cenários: 1) a Câmara aprova a

reforma que veio do Senado; 2) além

de aprovar as idéias dos senadores,

os deputados também incluem itens

debatidos na Câmara e 3) para feli-

cidade geral, deputados jogam todas

as propostas no lixo e permitem, pela

primeira vez em décadas, que em

duas eleições presidenciais o Brasil

tenha a mesma regra, sem alteração.

Poucos notam, mas a democracia

representativa estável é uma norma

recentíssima na vida brasileira.

Quando FHC passou a faixa presi-

dencial para Lula em 1º de janeiro de

2003, foi a primeira vez que esse ato

acontecia desde 1960, com a passa-

gem do cargo de JK para Jânio Qua-

dros. Depois de Jânio, veio o golpe

militar (1964-1985). Era para o Bra-

sil ter eleições diretas, mas o PMDB

se acertou com o establishment e fez

uma escolha indireta. Deu tudo erra-

do. Tancredo Neves morreu antes de

assumir. Ironia maior, assumiu o vice,

José Sarney -que na ditadura militar

havia sido presidente do PDS, sigla

que dava sustentação protocolar ao

regime de exceção.

Sarney deveria fi car 4 anos no car-

go (esse era o entendimento geral,

embora a Constituição da época lhe

desse até 6 anos). Ficou 5 anos no

Planalto, distribuindo rádios e TVs

para políticos. Veio a primeira elei-

ção direta pós-ditadura em 1989.

Elegeu-se Fernando Collor, destitu-

ído do cargo depois de um rumoroso

processo de impeachment, em 1992.

Assumiu Itamar Franco. Em 1994,

elegeu-se FHC já com novas regras:

o mandato tinha sido reduzido de 5

para 4 anos.

política

7abr2005 /FolhaImagem/Lula Marques

1673303_Afirmativa.indd 421673303_Afirmativa.indd 42 10/5/05 10:33:44 AM10/5/05 10:33:44 AM

Page 43: afirmativa9

43

Quando as coisas começavam a fi car

mais calmas, os tucanos comandados

por FHC e Sérgio Motta se envolve-

ram no processo que fi cou conheci-

do como a “compra de votos para a

reeleição”. Deputados confessaram

ter vendido o voto por R$ 200 mil,

em dinheiro. A Constituição foi al-

terada. Ninguém foi punido. Os de-

putados réus confessos renunciaram

ao mandato e sumiram de Brasília.

“Nunca vi ganhar um boi para entrar

e uma boiada para sair”, brincou à

época o deputado Delfi m Netto (PP-

SP). Em 1998, FHC foi reeleito. Em

2002, quando a regra parecia estável,

o Supremo Tribunal Federal decidiu a

favor da verticalização: alianças feitas

nacionalmente teriam de ser respei-

tadas nos Estados. De novo, o Brasil

enfrentava uma mudança de normas.

Sem querer comparar com algo de

menor importância, mas já compa-

rando, as regras eleitorais no Brasil

mudam tanto quanto os regulamen-

tos dos campeonatos de futebol. Por

ironia, o campeonato brasileiro ulti-

mamente tem regras mais estáveis do

que a política.

Em 2006, há a possibilidade de

o Brasil ter, pela primeira vez em

sua história recente, a mesma regra

da eleição anterior. A verticaliza-

ção está, por enquanto, mantida.

Pode-se argumentar que a entrada

em vigor da cláusula de barreira em

2006 representa uma mudança de

regras em relação a 2002. Não é fato.

Essa lei foi votada em 1995. É uma

regra aprovada para entrar em vigor

em 2006. Como já estava aprovada,

os partidos, supostamente, já esta-

vam trabalhando com a exigência

votada há mais de 10 anos. Não se

trata, portanto, de algo que está sen-

do aprovado na última hora -como

querem agora senadores e deputados.

Manter tudo como está, ao con-

trário do que muitos dizem, seria

uma revolução num país como

o Brasil. Os eleitores passariam a

se acostumar com as regras. Aos

poucos, aperfeiçoariam a manei-

ra como escolhem seus candidatos.

Esta página trata há alguns anos de

reforma política, a chamada mãe de

todas as reformas. É difícil encontrar

algum ser humano minimamente in-

formado que seja contra uma boa re-

forma política. Mas como diz o cien-

tista político Jairo Nicolau, do Iuperj

(Instituto Universitário de Pesquisas

do Rio de Janeiro), “é quase impos-

sível encontrar dois políticos (quan-

to mais dois cientistas políticos) que

estejam pensando o mesmo quando

defendem a reforma. Alguns imagi-

nam mudanças profundas, como o

fi m do voto obrigatório e a adoção

do parlamentarismo. Outros de-

fendem propostas mais modestas,

tais como o aperfeiçoamento da re-

presentação proporcional e alguma

inibição ao troca-troca partidário”.

Por essa razão apresentada por Jairo

Nicolau é quase um crime de lesa-pá-

tria pretender fazer uma reforma polí-

tica sem a devida compreensão de uma

parcela signifi cativa da sociedade. [...]

Quem acompanha política nacional

sabe que, a rigor, já existe uma refor-

ma política em curso. Aprovada em

1995, a Lei 9.096, criou a chamada

cláusula de desempenho, também

conhecida como cláusula de barreira

- essa última designação não é ideal,

pois dá margem ao entendimento er-

rôneo de que partidos serão banidos

da vida política, o que é um equívoco.

A Lei 9.096 estabeleceu que a cláu-

sula de desempenho seria aplicada a

partir da eleição de 2006 (havia quem

entendesse que já deveria ter entrado

em vigor em 2002, mas essa é outra

discussão). É raro na história do país

casos em que se oferece tanto tempo

para os atores envolvidos se adapta-

rem a uma determinada regra. Foram

mais de 10 anos para que todas as si-

glas buscassem maneiras de atende-

rem às exigências da lei. Muito justo.

Antes de falar sobre a cláusula de de-

sempenho -que está para ser derru-

bada pela Câmara antes mesmo que

possa entrar em vigor em 2006-, vale

uma pequena recapitulação histórica.

A ditadura militar (1964-1985) ex-

tinguiu os partidos políticos ainda

nos anos 60. Um atraso monumen-

tal para a vida política nacional. Só

havia duas siglas. A Arena (Aliança

Renovadora Nacional, pró-militares

e hoje apenas PP, Partido Progressis-

ta) e o MDB (Movimento Democrá-

tico Brasileiro, a oposição consenti-

da, hoje conhecido como PMDB).

Na década de 1980, já nos seus es-

tertores, a ditadura militar resolveu

novamente permitir a existência do

multipartidarismo. Foi uma festa,

bonita, da volta do país à demo-

cracia. Cada grupo queria formar a

sua sigla. Era bom que fosse daquela

maneira. Ocorre que o represamento

de anos de ditadura fez com que o

país saísse do regime de exceção para

um certo tipo de democratismo.

No fi nal dos anos 80 e início dos

anos 90, havia mais de 40 partidos

políticos em funcionamento no

país. As regras eram facilitadas para

que, como diria Mao Tse Tung, fl o-

política

1673303_Afirmativa.indd 431673303_Afirmativa.indd 43 10/5/05 10:33:46 AM10/5/05 10:33:46 AM

Page 44: afirmativa9

44

rescessem as mil fl ores. As siglas ti-

nham amplo acesso à TV e ao rádio.

Aos poucos, foi-se alterando a

norma. Hoje, o número de si-

glas com registro defi nitivo no

TSE caiu para 27. É aí que se che-

ga à cláusula de desempenho.

A idéia não é impedir que os partidos

políticos existam, mas apenas dar a

eles um tratamento proporcional

aos votos que recebem dos eleitores.

No início do retorno à democracia,

é óbvio, não se podia exigir de uma

nova agremiação política que tives-

se um determinado percentual dos

votos. Era muito cedo. Os brasilei-

ros estavam de novo reaprendendo a

discutir política. Agora, não. O PT,

por exemplo, tem 25 anos de idade.

Antes da cláusula de desempenho era

uma espécie de “farra do boi” mon-

tar um partido. Para alguns transfor-

mou-se em um negócio lucrativo.

Cada sigla tinha acesso à TV e ao rá-

dio. Recebia dinheiro do fundo par-

tidário. E, fi nalmente, tinha o direito

a funcionamento parlamentar- o que

signifi ca nomear um líder e infl uir

nas votações do plenário. Como se

sabe, um líder pode pedir verifi cação

de quórum, falar a qualquer mo-

mento, enfi m, atrapalhar ou ajudar

nas votações importantes. Quantos

mais líderes existirem, mais difícil

uma matéria caminhar com rapi-

dez pelos escaninhos do Congresso.

O acesso dos partidos a todas es-

sas benesses foi sendo reduzido ao

longo do tempo. Mas só a partir

da votação de 2006 é que o cálcu-

lo será implacável com os partidos

nanicos. Apenas as siglas que ob-

tenham pelo menos 5% dos votos

para deputado federal em todo o

país terão amplo acesso a todos os

direitos na TV, rádio, fundo parti-

dário e funcionamento parlamentar.

Se se considera a eleição de 2002,

só 7 siglas atingiram essa exigên-

cia da cláusula de desempenho: PT,

PSDB, PFL, PMDB, PPB, PSB

e PDT. O que aconteceria com

os outros? Acabariam? Não pode-

riam ter deputados? Nada disso.

Uma sigla que eleger um ou dois

deputados poderá dar posse aos seus

eleitos. Só que não terá mais do que

2 minutos por semestre na TV (em

anos não-eleitorais) e apenas um

tempo diminuto na propaganda

eleitoral. Receberá apenas uma fra-

ção mínima do fundo partidário e

não poderá nomear líder dentro da

Câmara nem do Senado. É justo.

Hoje, por exemplo, o Prona é um

partido com apenas dois deputa-

dos: Enéas Carneiro e Elimar Má-

ximo Damasceno, ambos de São

Paulo. Não obstante, o Prona tem

direito a ter um líder. É só aparecer

uma votação importante para que

Enéas surja em plenário invocando

o seu direito de falar como líder.

Nada contra nem a favor das opi-

niões de Enéas. Mas é uma aberra-

ção um partido com apenas duas

das 513 cadeiras da Câmara ter os

mesmos direitos das siglas grandes.

Se entrar para valer em vigor a

cláusula de desempenho, Enéas

viraria um deputado como os ou-

tros. Teria de se inscrever e es-

perar a sua vez para falar. Justo.

E os partidos ditos ideológicos,

que são nanicos? Terão o mesmo

tratamento dado ao Prona. Siglas

como PC do B e PV também não

terão direito a líder, nem a lon-

gos períodos na TV e no rádio.

É uma pena que as pequenas siglas

verdadeiramente sérias, indepen-

dentemente de coloração ideológi-

ca, fi quem com um funcionamento

tão restrito. É verdade. Mas assim é

a democracia. Proteger esses nanicos

é democratismo. Tolerável por algum

tempo na transição da ditadura para

o sistema atual. Foi o caso do Bra-

sil. Por mais de 20 anos houve plena

liberdade para inclusão de novas si-

glas no establishment político. Ago-

ra, esse período de carência acabou.

O problema é que os deputados e os

senadores não pensam assim. No que

depender deles, a cláusula de desem-

penho cairá de 5% para meros 2%. A

farra do boi continuará. E fi cará cada

vez mais perpetuada a grande máxi-

ma: toda vez que um deputado ou

senador não tem uma idéia o Brasil

melhora.

UOL - 24/08/2005

7abr2005 /FolhaImagem/Lula Marques

política

1673303_Afirmativa.indd 441673303_Afirmativa.indd 44 10/5/05 10:33:46 AM10/5/05 10:33:46 AM

Page 45: afirmativa9

4545

Agenda CulturalUma seleção do melhor da programação de arte e cultura

Por Rodrigo Massi e-mail: [email protected]

Artes Visuais

Exposição na Galeria Marta Traba doMemorial da América Latina revela ori-gens da América a partir do barro

Em sua 5° edição, a mostra “Barro de América” exibe as di-

ferentes expressões da cultura de países da América Latina

através do metafórico material utilizado: o barro. O evento

conta com a participação de seis países representados por

16 artistas. Curadoria de Leonor Arantes (Brasil) e Martín

Sánchez (Venezuela).

Onde: Galeria Marta Traba. Fundação Memorial da Amé-

rica Latina.

Av. Auro Soares de Moura, 664. Metrô Barra Funda. Aces-

so pelos portões 4 (estacionamento), 5 e 6.

Quando: De terça a domingo, das 9h às 18h. Até 09 de

outubro.

Entrada gratuita. Outras informações: www.memorial.org.

br - Tel. 11 3823-4706.

cultura

InternacionalMetropolitan inaugura temporadaoperística

É com noite de gala, no dia 19 de setembro, que terá

início a temporada operística 2005-2006 do Metropo-

litan Opera, em Nova York. Durante o espetáculo será

apresentado o Ato I de “As Bodas de Fígaro”, com Isabel

Bayrakdarian, Susan Graham, Dwayne Croft and Bryn

Terfel, Ato II de “Tosca” com Angela Gheorghiu, Marco

Beti e Bryn Terfel e o Ato III de Sansão e Dalila com

Denyce Graves, Plácido Domingo e Frederick Burchinal.

A regência será de James Levine.

CinemaO Centro Cultural Banco do Brasil, dentro do projeto

“Diretores Brasileiros”, exibe durante o mês de setembro

fi lmes do diretor Nelson Pereira dos Santos.

Onde: Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Pen-

teado, 112 Centro – SP, próximo às estações Sé e São Ben-

to do Metrô. Outras informações: 11 3113-3651 ou 11

3113-3652.

1673303_Afirmativa.indd 451673303_Afirmativa.indd 45 10/5/05 10:33:47 AM10/5/05 10:33:47 AM

Page 46: afirmativa9

4646

Revista Bravo e Bradesco Prime lançam1ª edição do Prêmio Bravo! Prime deCultura

Será no mês outubro, na Sala São Paulo, a entrega da 1ª

edição do Prêmio Bravo! Prime de Cultura. A iniciativa

é da Revista Bravo em parceria com o Bradesco Prime. A

premiação é dividida em oito categorias e a data também

comemora os oito anos de existência de Bravo! O regula-

mento está disponível na edição de setembro da própria

revista ou através do site www.bravonline.com.br. Outras rr

informações: 11 3037-6614.

cultura

MúsicaSão Paulo recebe OrquestraFilarmônica de Dresden

Orquestra de prestígio internacional, a Filarmônica de

Dresden, cujas origens remontam a 1870, quando foi inau-

gurada a primeira sala de concertos da cidade, se apresenta

na Sala São Paulo nos dias 1º e 2 de outubro. O conjunto

sinfônico, que já foi regido por grandes compositores como

Tchaikovsky, Dvorák e Richard Strauss, interpretará obras

de Beethoven e Wagner – dia 1º/10 – e obras de Brahms,

Respighi e Stravinsky – dia 2/10.

Onde: Sala São Paulo. Rua Mauá, 51, Luz. Quando: 1º e

2 de novembro.

Nos dias do espetáculo, estudantes de até trinta anos e com

a apresentação de carteirinha de estudante pagam 10 re-

ais. Recomenda-se chegar com duas horas de antecedência.

www.culturaartistica.com.br. Outras informações pelo tel. rr

11 3258-3344.

TeatroSão Paulo na poesia de Tom Zé

Realizada pelo Núcleo Experimental do Teatro Popular do

Sesi-SP, a peça “O que eu entendi do que Tom Zé disse”,

traz ao palco crônica amorosa sobre a cidade de São Paulo,

com inspiração na poética do consagrado artista Tom Zé.

Onde: Teatro Popular do Sesi-SP. Av. Paulista, 1313 – Pró-

ximo à estação Trianon do Metrô.

Quando: Quinta-feira a sábado, às 20h30min e domin-

go às 19h30min. Ingressos distribuídos uma hora antes do

espetáculo. Indicação: para maiores de 14 anos. Até 6 de

novembro. Entrada gratuita.

1673303_Afirmativa.indd 461673303_Afirmativa.indd 46 10/5/05 10:33:48 AM10/5/05 10:33:48 AM

Page 47: afirmativa9

4747

LivrosJosé do Patrocínio e seus 100 anosde morte ganham destaque no livro deFranklin Martins

O centenário da morte do maior jornalista

abolicionista do país, José do Patrocínio, pas-

sou praticamente despercebido pela imprensa

nacional este ano. Mas não para o comentaris-

ta Franklin Martins, que analisa o personagem

e sua importância histórica no livro Jornalis-

mo Político, lançado recentemente pela Edi-

tora Contexto. Ele conta a trajetória de Zé do

Pato, como José do Patrocínio era chamado, um homem que desco-

briu sua vocação no jornalismo e fez dele seu palanque para a luta

abolicionista. Críticos da época, lembra Franklin Martins, diziam

que o jornalista “escrevia com o coração nos lábios”.

Filho de padre e de uma escrava quitandeira, José do Patrocínio

viveu na pele todas as contradições da escravatura. Ele produziu al-

gumas das páginas mais contundentes da imprensa brasileira contra

a escravidão, um grande jornalista que aliava indignação e paixão à

análise política. Aos 25 anos, associou sua vida à causa da libertação

dos escravos. A partir daí, como jornalista, orador, poeta, drama-

turgo e vereador, tudo o que pensou, escreveu, falou e fez teve um

só objetivo: acabar com a escravidão no país. Depois do auge, no

entanto, veio a triste queda. Franklin Martins presta uma homena-

gem a esse homem hoje pouco lembrado pela história nacional.

O autor discorre ainda sobre o papel da imprensa desde a década

de 50, quando os jornais assumiam claras posturas ideológicas e

defendiam abertamente seus candidatos.

Racista, eu?! De jeito nenhum - 2Corra que a polícia vem aí

Após o enorme sucesso do livro racista eu de

Jeito Nenhum, o cartunista Mauricio Pes-

tana lança o número 2 da série dedicado

somente à questão da violação dos direitos

humanos com relação à comunidade negra.

São 100 páginas de muito humor, com da-

dos de pesquisas superatuais sobre o assunto.

Editora Escala. Nas livrarias ou pelo site: www.

mauriciopestana.com.br

cultura

Adoção de crianças negras: inclusãoou exclusão?

O livro intitulado “Adoção de crianças ne-

gras: inclusão ou exclusão?” foi baseado na

análise dos procedimentos de colocação em

família adotiva, cujos resultados gerais fazem

parte da dissertação de mestrado em Servi-

ço Social da autora, Ana Maria da Silveira,

em 2002, pela PUC/SP. Esta obra revela que

muitas crianças e adolescentes que estão dis-

poníveis para adoção têm sido preteridas, em virtude de particu-

laridades – de saúde, idade e aspectos raciais. Em se tratando das

particularidades raciais, estas podem possibilitar ou difi cultar a

inserção em família adotiva, dependendo do conceito de identi-

fi cação que lhes são atribuídos – pardo claro, pardo escuro, preto

ou branco. Embora indicada como uma das medidas que possibi-

lita o convívio familiar, nem sempre a adoção contempla a todos

que dela necessitam. Este estudo apontou, dentre outras questões,

que o preconceito na prática adotiva também ocorre entre pessoas

do próprio grupo racial. Embora tenha aumentado o número de

candidatos negros à adoção, as crianças denominadas pretas difi -

cilmente conseguem ser encaminhadas às famílias adotivas.

Hip Hop Consciência e Atitude

Big Richard. Um livro recheado de histórias e fatos da cultura no

Brasil e no mundo e, certamente, será uma fonte de aprendizado

para os amantes do movimento. Em linguagem fácil e acessível,

Big Richard trata, no livro, o HIP HOP puro e real. O HIP HOP

sem máscaras. Editora Livro Ponto. Nas livrarias ou pelo site:

www.realhiphop.com.br

1673303_Afirmativa.indd 471673303_Afirmativa.indd 47 10/5/05 10:34:15 AM10/5/05 10:34:15 AM

Page 48: afirmativa9

4848

cultura

1673303_Afirmativa.indd 481673303_Afirmativa.indd 48 10/5/05 10:34:20 AM10/5/05 10:34:20 AM

Page 49: afirmativa9

4949

1673303_Afirmativa.indd 491673303_Afirmativa.indd 49 10/5/05 10:34:27 AM10/5/05 10:34:27 AM

Page 50: afirmativa9

ações afirmativas

50

ações afirmativas

herança africana

Por: Manolo Florentino, professor no departamento de história da

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escreve na seção “Autores”,

do Mais!, da Folha de S.Paulo.

cultura

50

1673303_Afirmativa.indd 501673303_Afirmativa.indd 50 10/5/05 10:34:29 AM10/5/05 10:34:29 AM

Page 51: afirmativa9

51

Certa leitura da escravidão brasilei-

ra há muito enfatiza a multiplici-

dade de estratos civilizacionais que

lhe deram vida. Desde 1947, Frank

Tannenbaum [1893-1969] -cujo li-

vro “Slave and Citizen - The Negro

in the Americas” [Escravo e Cidadão

- O Negro nas Américas] perma-

nece incompreensivelmente ausen-

te em nosso rol de traduções- tem

alertado para a combinação entre

o direito romano, as particularida-

des do catolicismo ibérico e as po-

líticas da coroa lusitana tendentes

a mitigar o despotismo senhorial.

Antes, em “Casa Grande & Senza-

la”, Gilberto Freyre descobrira ele-

mentos análogos em lusitanismos

repletos de modelagem judaica, ro-

mana, bárbara, islâmica e até asiá-

tica, sempre amalgamados a vetores

africanos em meio à contínua adap-

tação representada pela colonização.

As trocas estabelecidas entre matrizes

culturais diversas e suas ressignifi -

cações resultaram em uma peculiar

linguagem da servidão entre nós,

cujo fundamento jamais poderia

radicar no binômio leniência/cruel-

dade -óbvio, não existe cativeiro de

qualidade superior, a não ser em res-

tritos círculos de sadomasoquistas.

Melhor seria apreendê-lo por meio

da inquestionável conclusão de que

nenhuma outra sociedade colonial al-

forriava tantos escravos como a Amé-

rica portuguesa. No entanto mesmo

os especialistas que optam por essa

aproximação não retiram da singula-

ridade brasileira algumas importantes

derivações lógicas e empíricas.

Para além da Europa

É bem verdade que José Murilo de

Carvalho alertou para a nossa mes-

tiçagem política, resultado da per-

manente introdução na “civitas” de

traços fundadores do cativeiro. Mas

poucos se dão conta de que a mobili-

dade contida na obtenção de uma car-

ta de liberdade não raro transformava

libertos em proprietários de outros

homens, trazendo à tona linguagens

não exatamente ibéricas e católicas da

servidão. Matrizes escravistas engen-

dradas na África encontravam assim

condições de fi ncar raízes entre nós,

provendo a sujeição e a sua eventu-

al superação de bases legitimadoras

sequer intuídas pela historiografi a.

Piso em águas muito profundas,

reconheço, até porque diferentes

substratos culturais tendem a se in-

serir uns nos outros, formando uma

linguagem plural. Mas se, como é

sugerido por inúmeros estudos, a

esperada aculturação não embotava

por completo os atributos intrinseca-

mente africanos dos desembarcados

nas Américas -razão pela qual, aliás,

eles fugiam mais do que os nascidos

aqui-, não vejo por que se deva redu-

zir a pó a memória dos diversos cati-

veiros prevalecentes na África, sobre-

tudo quando senhores e escravos dali

proviessem.

cultura

Padrões de alforria

Quem pode afi ançar que, ao acor-

darem a libertação da escrava após

a morte de sua proprietária, Maria

Benguela e a forra Antonia Maria

51

1673303_Afirmativa.indd 511673303_Afirmativa.indd 51 10/5/05 10:34:29 AM10/5/05 10:34:29 AM

Page 52: afirmativa9

52

Rebolo não estivessem acionando

dispositivos próprios de sua An-

gola natal em pleno Rio de Janeiro

oitocentista? Onde está escrito que

o longo caminho pelo qual Maria

Cassange e o liberto Carlos da Sil-

va pavimentaram um arranjo seme-

lhante fez tábula rasa das práticas

escravistas das regiões bantu de onde

ambos haviam sido arrancados?

As fontes encobrem os conteú-

dos genuinamente africanos da

linguagem do cativeiro no Brasil,

é certo; mas a exigüidade do co-

nhecimento sobre a dinâmica da

escravidão na África também aju-

da a perpetuar a nossa ignorância.

Os arquivos encontram-se abarro-

tados de cartas de liberdade obtidas

por meio do pagamento monetário

aos senhores, e muitos cativos ofe-

reciam uma espécie de sinal para,

depois, quitar o restante em reite-

radas parcelas mensais ou quinze-

nais. Padrões similares vicejavam

na península Ibérica, mas tam-

bém em vastas regiões africanas.

No califado de Socoto, por exem-

plo, a instituição da “fansa” per-

mitia oferecer ao amo determi-

nada quantia inicial, à qual se

agregavam diversos pagos até a inte-

gralização do valor da autocompra.

Quando Rosa Mina e seu amo Bene-

dito Conrado Mina, afro-ocidentais

de provável origem muçulmana que

habitavam o Rio de Janeiro, com-

binaram que a escrava obteria a sua

alforria mediante um sinal de 400

mil réis e sucessivas prestações, que

paradigma amalgamava o arreglo -o

ibérico ou a “fansa” negro-islamita?

Outros usos comuns no Brasil colo-

nial encontravam paralelo em pres-

crições islâmicas e podem muito bem

ter-nos alcançado tanto por via indi-

reta, por meio da península Ibérica,

quanto por meio da contínua intera-

ção entre senhores e escravos africanos

provenientes de zonas muçulmanas.

Merece destaque a aquisição de di-

reitos por parte da “umm walad”

-o nome árabe da tão conhecida

ama-de-leite-, cuja amamentação

dos fi lhos do senhor podia im-

plicar na sua progressiva inserção

no seio da família do amo e até

mesmo na obtenção da liberdade.

O multiculturalismo implícito a estas

possibilidades aponta para a riqueza

de um passado cuja apreensão não

admite simplifi cações. Serve também

para lembrar ao rodriguiano império

da unanimidade (massas, maiorias,

assembléias e demais) o quanto lo-

gramos nos distanciar de semelhante

estágio em prol de uma sociedade

miscigenada, a condição mais efi caz

de inserção em uma modernida-

de paradoxalmente dilacerada pelo

multiculturalismo que a globalização

velozmente impõe.

cultura

52

1673303_Afirmativa.indd 521673303_Afirmativa.indd 52 10/5/05 10:34:30 AM10/5/05 10:34:30 AM

Page 53: afirmativa9

53

humor

53

1673303_Afirmativa.indd 531673303_Afirmativa.indd 53 10/5/05 10:34:31 AM10/5/05 10:34:31 AM

Page 54: afirmativa9

54

cultura

Por: Elisabete Junqueira, publicitária,

diretora da Companhia de NotíciasB e m

que os

g r a n d e s

chefs gostariam

de ter inventado... Nada

se iguala ao “caruru dos santos”, um

dos melhores banquetes da terra, a

herança da religião dos antigos es-

cravos africanos que penetrou como

nenhuma outra nos lares católicos

brasileiros. É um conjunto variado

de muitas iguarias, que leva o nome

do prato principal, o caruru, prepa-

rado em setembro, em homenagem

aos santos gêmeos católicos Cosme e

Damião. São a mais perfeita síntese

da culinária afro-baiana – comida

feita para divindades, que nós, míse-

ros mortais, espertamente aprende-

mos a apreciar.

Como nas outras manifestações de

sincretismo religioso onde o cristia-

nismo e o candomblé se fundem, os

ibejis, santos gêmeos dos nagôs, são

cultuados na fi gura dos santos gê-

de preceitoaruru

meos cató-

licos. Mas é

certamente por

causa da divina culi-

nária que esse costume, mais

que qualquer outro, excede os limi-

tes religiosos.

Enquanto no Centro-Sul do Brasil

os santos meninos da devoção do

povo brasileiro são homenageados

na forma da distribuição de doces e

confeitos para as crianças, na Bahia

os adultos se banqueteiam, e não só

no dia 27 de setembro, o dia do ca-

lendário religioso dedicado aos dois

santos, mas por todo o mês de se-

tembro, com repeteco em outubro.

O costume é assim: sete meninos

são convidados de honra para abrir

os trabalhos – a lenda diz que ha-

via sete irmãos: Cosme, Damião,

Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e

Talabi. Em seguida, os adultos e de-

mais crianças são servidos pelos an-

fi triões, que fazem prato por prato,

começando pela iguaria de quiabo

picado que dá o nome à celebração e

acrescentando uma variedade infi ni-

ta de acompanhamentos: vatapá, efó,

xinxim de galinha, frigideira de ca-

marão, siri mole, pipoca, amendoim,

farofa de azeite de dendê, cana pi-

cadinha, banana frita, arroz branco,

abará, abóbora, acarajé, milho bran-

co, coco em pequenos pedaços, gali-

nha ao molho pardo e ovo cozido.

Geralmente, a iniciativa parte de

famílias em que nasceram fi lhos gê-

meos, tudo no bom estilo afro-brasi-

leiro, em casas de pobres e de ricos.

Mas o melhor do costume é que, em

cada celebração, os anfi triões deixam,

na panela de caruru, três pequenos

quiabos inteiros, que são servidos ao

acaso aos convidados. Quem é pre-

miado com um desses quiabos herda

a obrigação de oferecer outra festa

igual no ano seguinte, e de convi-

dar todos os presentes. Por suprema

1673303_Afirmativa.indd 541673303_Afirmativa.indd 54 10/5/05 10:34:36 AM10/5/05 10:34:36 AM

Page 55: afirmativa9

Carlos Alberto Vieira, presidente do banco Safra

Jadiel de Oliveira, Embaixador do Ministério das Relações Exteriores/SP e Joana Woo, Presidente Editora Símbolo

cultura

dádiva da providência, nem mesmo

os mais ferrenhos agnósticos ousam

quebrar esse encanto – afi nal, com

santo não se brinca –, multiplicando

cada comemoração por três, numa

virtuosa corrente.

Quanto à origem européia de devo-

ção, os católicos acreditam que em

casa onde existam imagens de São

Cosme e São Damião não entra epi-

demia, feitiço, bruxaria, mau olhado

e espinhela caída.

A vida dos santos gêmeos está mer-

gulhada em lendas. Dizem que eram

árabes e viveram na Silícia, na Ásia

Menor, por volta do ano 283. Pra-

ticavam a medicina e curavam pes-

soas e animais, sem nunca cobrar

nada. Como viveram no auge das

perseguições aos cristãos, eles foram

torturados e degolados por ordem do

imperador romano Diocleciano.

O culto aos dois irmãos é muito

antigo. Há escritos sobre eles desde

o século V. Em certas igrejas, havia

um óleo santo de São Cosme e São

Damião, que tinha o poder de curar

doenças e dar fi lhos às mulheres es-

téreis. E, durante séculos, foram co-

muns na Europa as Irmandades de

Cosme e Damião, que congregavam

os médicos e os cirurgiões.

No Brasil, a devoção trazida pelos

portugueses misturou-se com o cul-

to aos orixás-meninos da tradição

africana, em que são associados aos

rituais de fertilidade.

No candomblé, os ibejis também re-

presentam o aspecto criança de cada

um dos demais orixás. Muitas vezes

aparecem com um irmão menorzi-

nho, o Idowu, que cuida das crianci-

nhas pequenas. Na Bahia, é comum

encontrar em uma capela católica as

imagens dos santos gêmeos, tendo, Carlos Alberto VieiraCarlos Alberto Vieiraao lado, pequenos potinhos dourados

com água e “manjares africanos”.

Voltando para a culinária, a grande

celebração começa desde a véspera,

porque muitas pessoas são envolvi-

das na preparação de cardápio tão

extenso. Cozinheiras e cozinheiros

experientes, sempre acompanhados

por uma horda de aprendizes, empe-

nham-se para oferecer aos comensais

o mais saboroso caruru. Após a esco-

lha de tenros quiabos, bem lavados e

enxutos, eles são cortados em cubi-

nhos (exceto os do preceito). Tam-

bém são selecionados os camarões

secos, o puro azeite da fl or de dendê,

as pimentas e tantos outros temperos

(ver a receita).

Um mês depois, no dia 25 de outu-

bro, as cerimônias se repetem, em-

bora com menor intensidade. Nesse

dia, comemora-se São Crispim e São

Crispiniano, também gêmeos e con-

fundidos na crendice popular com

Cosme e Damião. Por via das dúvi-

das, é melhor reverenciar esses dois

também...

55

residente do banco Safra

Jadiel de Oliveira, Embaixador do Ministério das Relações Exteriores/SP e Joana Woo, Presidente Editora Símbolo

Caruru (para 30 pessoas)

(Receita de Zeno Millet*)

200 quiabos

1 kg camarão seco (graúdo)

4 cebolas brancas grandes

1 maço de cebolinhas verdes

1 maço de coentro

6 tomates maduros

2 pimentões graúdos

8 dentes de alho

1 litro de azeite de dendê

1 litro de leite de coco

1 colher de café de gengibre ralado

Lave bem os quiabos, separe sete in-

teiros e o restante corte em cruz, de

forma que fi quem em cubinhos bem

pequenos, como se tivessem passado

por um processador.

Bata todos os temperos no liquidi-

fi cador, com meia xícara de vinagre.

Triture também o camarão seco.

Misture o tempero triturado com o

camarão e o quiabo em uma panela

grande e coloque o azeite de dendê.

Leve ao fogo.

Deixe cozinhar por aproximadamen-

te 50 minutos, mexendo sempre.

Coloque o leite de coco e continue

mexendo. Após 30 minutos, aproxi-

madamente, estará tudo pronto.

Os sete quiabos conservados inteiros

devem ser destinados aos ibejis.

* Zeno Millet é neto de Mãe Menini-

nha, Iyalorixá do Terreiro do Gantois.

Elisabete Junqueira

1673303_Afirmativa.indd 551673303_Afirmativa.indd 55 10/5/05 10:34:36 AM10/5/05 10:34:36 AM

Page 56: afirmativa9

56

Mundialmente conhecida como

quarto poder, a mídia na era da socie-

dade de informação e da globalização

da economia reforça sua importância

como ferramenta fundamental para

a construção de uma sociedade mais

justa, igualitária, e tem sido objeto

de discussões em importantes fóruns

nacionais e internacionais.

Apesar disso, como escreve Regina

dos Santos, presidente da Sociedade

de Cultura Dombali, no livro Racis-

mos Contemporâneos, “os veículos

de comunicação no Brasil – TVs,

rádios, jornais, revistas, periódicos

em geral e toda a mídia, inclusive o

mais novo fenômeno, que é a inter-

net – reproduzem estereótipos soli-

damente arraigados na mentalidade

nacional. A população negra e afro-

descendente é impedida de se ver re-

fl etida de forma positiva no espelho

da mídia e, quando aparece, sua ima-

gem ganha contornos construídos

pelo imaginário do preconceito ra-

cial, reforçando imagens distorcidas

e estereotipadas de nossa realidade.”

“Essa situação perversa de racismo e

discriminação nos meios e dos meios

de comunicação e na mídia, sobretu-

do na televisão, não é apenas refl exo

de aspectos históricos da prática do

racismo na sociedade brasileira. É,

A invisibilidade do

meios de

comunicação

nos

também, resultado de um conjunto

de fatores de ordem econômica e po-

lítica que, nas últimas décadas, tem

privilegiado somente não negros em

todos os setores da vida econômica,

política e social do país”, continua a

autora.

O reconhecimento dessa realidade

coloca em pauta o debate e a refl e-

xão não somente quanto ao papel

da mídia no processo de inclusão e

exclusão social no Brasil, mas per-

passa também sobre o repensar a es-

trutura de concessões e distribuição

dos meios de comunicação de massa

e dos mecanismos de incentivos pú-

blicos e privados de participação da

sociedade civil organizada, comple-

menta Regina dos Santos.

Apesar de a televisão ser uma conces-

são do Estado, a parcela negra da po-

pulação, entre 46% e 48%, segundo

dados do IBGE, órgão ofi cial de esta-

tística do governo federal, continua à

margem desse meio de comunicação

de massa. Isso contraria os princí-

nossa voz, nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 561673303_Afirmativa.indd 56 10/5/05 10:34:39 AM10/5/05 10:34:39 AM

Page 57: afirmativa9

pios fundamentais da Constituição,

que são a cidadania e a dignidade da

pessoa humana (Art. 1º - I e III) e

contraria também os objetivos fun-

damentais da República Federativa

do Brasil: construir uma sociedade

livre, justa e solidária; promover o

bem de todos, sem preconceitos de

origem, raça, sexo, cor, idade e quais-

quer outras formas de discriminação

(Art. 3º - I, IV).

Essa preocupação com a participa-

ção de negros na comunicação não

é recente. Representantes de entida-

des ligadas ao movimento negro no

Brasil, bem como de outras parcelas

da população, há muito reivindicam

uma maior representatividade nos

meios de comunicação do País.

“A participação dos negros nos meios

de comunicação avançou sob o pon-

to de vista da quantidade. Todavia, o

refl exo desse aumento sobre a quali-

dade dos discursos proferidos a res-

peito do negro pouco nos tem feito

verifi car alterações nos estereótipos,

na forma como as imagens são veicu-

ladas, na intensidade das associações

entre o negro e as coisas negativas”,

considera o professor doutor em

antropologia pela Universidade do

Texas e professor de Antropologia

e Estudos Culturais da Universida-

de Federal Fluminense (UFF), Júlio

César de Tavares.

“A imprensa negra fi cou na penum-

bra, como se fosse pouco signifi cati-

va” - Clóvis Moura.

Para os afro-brasileiros, realmente

muito pouco se avançou de 1915

para cá, ano em que o poeta negro

paulista Deocleciano Nascimento

criava O Menelick. A publicação,

como as demais existentes na épo-

ca, tinha como objetivos, segundo

estudo crítico sobre a Imprensa Ne-

gra, realizado pelo historiador Clóvis

Moura e publicado pela Imprensa

Ofi cial do Estado (ver página 61), re-

fl etir as atividades e anseios da comu-

nidade negra de São Paulo, fortalecer

a cultura negra e, ao contrário dos in-

teresses do colonizador, enaltecer as

virtudes de um povo tachado como

criminoso e marginal. A importância

histórica destas publicações não foi

o sufi ciente para que elas continu-

assem praticamente desconhecidas

da população em geral. “A imprensa

negra fi cou na penumbra, como se

fosse pouco signifi cativa”, escreveu

Clóvis Moura.

Depois de O Menelick, vários outros

jornais foram criados. Inicialmente,

apenas preocupados em divulgar não

só os ideais, mas também os costumes

e a produção intelectual da comuni-

dade negra paulista e, depois, como

forma de ampliar a participação polí-

tica do negro na sociedade. De 1915

a 1963, são listados cerca de 30 pu-

blicações editadas por negros e que

sobreviviam graças à ajuda fi nancei-

ra de integrantes da comunidade. O

último veículo da época editado por

negros paulistas, o Correio d`Ébano,

também não foi poupado pelo regime

militar e teve suas portas fechadas em

1964.

Mais de quarenta anos se passaram

e continuamos lutando para garantir

nossos direitos mais básicos, entre

eles, o de podermos ser representados

adequadamente na mídia brasileira,

com a devida valorização de nossa

história, tradição e costumes. “A efi -

cácia da exclusão e desqualifi cação de

tudo o que não está euro-referido, ou

sem referência euro-americana, cons-

titui-se no mecanismo que produz as

imagens sem valor dos sujeitos não-

cidadãos. A rede midiática, e aqui se

inclui não só os meios eletrônicos,

mas a literatura, a escola e outras tan-

tas mídias esquecidas como tal, é co-

responsável pela produção de uma

imagem colonizada e estereotipada

do negro”, considera o professor da

Universidade Federal Fluminense,

Júlio César de Tavares.

Num ano em que comemoramos

“A imprensa negra fi cou na penumbra, como se fosse pouco signifi cativa” - Clóvis Moura.

nossa voz, nossa vida

57

1673303_Afirmativa.indd 571673303_Afirmativa.indd 57 10/5/05 10:34:40 AM10/5/05 10:34:40 AM

Page 58: afirmativa9

58

117 anos da Abolição da Es-

cravatura, e que foi escolhido

para ser o Ano Nacional da

Promoção da Igualdade Racial,

embora existam várias publica-

ções editadas por entidades do

movimento negro - como esta

nossa Revista Afi rmativa Plu-

ral, da Afrobras, que comemo-

ra dois anos de história, numa

demonstração de luta e garra

para manter-se no mercado

– os afro-brasileiros contam

com apenas uma vendida em

bancas de jornal, distribuída

e reconhecida nacionalmente:

a Revista Raça Brasil. Na cha-

mada mídia eletrônica, temos

o Programa Domingo da Gen-

te, conhecido nacionalmente

e apresentado, há cinco anos,

por Netinho de Paula, na TV

Record, e um ou outro progra-

ma regional em grandes capitais,

dentre os quais se inclui o Negros em

Foco. Produzido pela Afrobras, o

programa – que comemora um ano

no ar em 3 de outubro próximo,

ininterruptamente na RBI–Rede

Brasileira de Integração – tem perfi l

jornalístico e formato inédito, pois é

apresentado por duas jornalistas ne-

gras, e debate, através de entrevistas,

de temas que levam a uma refl exão

objetiva sobre o racismo e a exclusão

no país.

Para o vice-presidente da Editora

Símbolo, Roberto Melo, o lança-

mento da Revista Raça Brasil foi fun-

damental para que o País começasse

a enxergar essa importante parcela da

população composta pelos afro-bra-

várias empresas para contar

o caso da Revista porque eles

fi caram totalmente surpresos

com uma coisa que era óbvia: a

existência de uma classe média

negra, muito bem resolvida do

ponto de vista do poder aquisi-

tivo e que, principalmente, en-

tre as mulheres, se queixavam

por que não havia no mercado

de beleza, produtos voltados

para essa etnia”, lembra o vice-

presidente da Símbolo. Apesar

disso, e do grande sucesso no

lançamento da Revista, cuja

primeira edição atingiu mais

de 250 mil exemplares, não foi

fácil para a Raça se manter no

mercado. Hoje, a publicação

roda com uma tiragem de 50

mil exemplares. “Vendemos

mais no primeiro ano porque

tínhamos informações exclu-

sivas para os negros. Hoje, estas

informações estão em todas as outras

revistas também, e isso é natural.

“O profi ssional de co-

municação deveria ser

treinado em um terreno

da radicalidade ética tão

efi ciente quanto à efi cá-

cia das técnicas que re-

vestem a sua profi ssão”

- Júlio César de Tavares

sileiros. “Sem nenhuma falsa modés-

tia, a participação do negro na mídia

mudou depois do lançamento da

Revista. Estamos a apenas nove anos

do lançamento, mas o que acontecia

naquela época era muito diferente.

Os negros eram invisíveis para a mí-

dia brasileira. Só apareciam no fute-

bol ou no carnaval. Hoje, avançamos

muito nesta questão”, considera ele.

Segundo Roberto Melo, a publicação

da Revista escancarou para os anun-

ciantes que existe um mercado po-

tencial de consumidores negros ávi-

dos por verem atendidos seus desejos

básicos de consumo. “Eu me lembro

de ter participado de reuniões com

nossa voz, nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 581673303_Afirmativa.indd 58 10/5/05 10:34:51 AM10/5/05 10:34:51 AM

Page 59: afirmativa9

59

Mas a Raça está muito bem e está

atingindo um público que é muito

especial”, diz Melo.

“Até recentemente, julgava-se que

o negro representava segmentos de

baixo consumo” - Roberto Duailibi

Essa classe média a que se refere

Roberto Melo, também para o pu-

blicitário Roberto Duailibi, sócio-

fundador da DPZ (Duailibi, Petit

e Zaragoza Propaganda S.A.), uma

das mais tradicionais e conceituadas

agências do mercado publicitário do

País, só foi descoberta há pouco. “É

recente a participação do negro e da

negra, assim como das crianças ne-

gras, na comunicação publicitária.

Até recentemente, olhava-se o ne-

gro apenas como consumidor e, na

busca exagerada de resultados, con-

siderava-se que eles pertenciam, ma-

joritariamente, a segmentos de

baixo consumo. E havia, claro,

preconceito”, admite. Duailibi

lembra, ainda, uma das primei-

ras campanhas da sua agência

que utilizou o conceito da beleza

negra em propaganda, num an-

tigo pôster para a Revista Quatro

Rodas, que promovia o turismo

na Bahia. “Depois, fomos a pri-

meira agência a mostrar um ca-

sal internacional num comercial

da Walita. O marido era negro,

e a esposa, branca. Não funcio-

nou, e acho que cometemos um

erro, já que queríamos mostrar

um casal ‘democrático’ e, no

fundo, estávamos ofendendo as

mulheres negras”, admite.

Na opinião do professor Júlio

César de Tavares, a lógica, quase que

puramente mercantil dos meios de

comunicação, é o entrave que per-

siste e prejudica avanços maiores

com relação à participação do

negro na mídia. “A responsabi-

lidade dos meios de comunica-

ção para o resgate da cidadania

e da auto-estima do povo negro

é estratégica. O problema é que

todo o sistema, por ser altamen-

te competitivo, trabalha muito

com a audiência. A incorpo-

ração de temas e de produções

onde existe uma preocupação

maior com o tema na televisão,

por exemplo, é muito mais ve-

loz nos canais a cabo do que na

TV aberta. Ou seja, o que per-

cebemos é que o processo é tão

ou mais veloz quanto maior for

a qualidade da audiência”, con-

sidera ele.

Para o jornalista e professor de Co-

municação, e diretor-geral da TV

PUC-SP (Pontifícia Universidade

Católica), Gabriel Prioli, não há

como não reconhecer que houve um

aumento expressivo na participação

dos negros na mídia, nos últimos

anos. Um fato que, segundo ele, veio

como conseqüência da pressão da

própria sociedade e do movimento

negro. “Hoje existe uma preocupação

dos autores, especialmente na área da

teledramaturgia, em criar núcleos de

famílias negras. Além disso, mudou

também com relação à participação

dos negros apenas em papéis subal-

ternos”, diz ele, para quem o fi lme

A Negação do Brasil, produzido pelo

cineasta Joel Zito Araújo, contribuiu

bastante para esta mudança de pos-

tura recente. “Ele fez uma crítica

profunda e objetiva sobre a produção

de teledramaturgia no País. E acho

nossa voz, nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 591673303_Afirmativa.indd 59 10/5/05 10:34:58 AM10/5/05 10:34:58 AM

Page 60: afirmativa9

60

que calou forte junto aos autores”,

considera Prioli.

O professor Júlio César de Tavares,

entende ainda que uma intervenção

direta neste campo dos estereótipos e

preconceitos divulgados pelos meios

de comunicação em geral, implicaria

introduzir “cotas anticoloniais”, com

negros que estejam conscientes como

profi ssionais e como atores sociais.

Além disso, o antropólogo acredita

que os profi ssionais de comunica-

ção precisam ter uma boa formação

crítica para que possam compreen-

der o processo de estereótipos e de

desigualdades existente na mídia, de

maneira efetiva. “Se o formador de

opinião é um profi ssional que, inevi-

tavelmente, detém o poder da palavra

e da imagem persuasiva, ele deveria

ser treinado em um terreno da radi-

calidade ética tão efi ciente quanto à

efi cácia das técnicas que revestem a

sua profi ssão. Quero dizer com

isto que as escolas de comuni-

cação precisam trabalhar mais o

aspecto da responsabilidade so-

cial do papel do comunicador,

seja ele jornalista, publicitário,

editor, ou atue em outras esferas

do setor”, declara.

“A TV da Gente terá a nossa

cara. E teremos autonomia para

isso” – Netinho de Paula

Comandando, há cinco anos, o

programa Domingo da Gente, uma

das principais atrações da TV Record

em audiência e faturamento, o apre-

sentador Netinho de Paula será tam-

bém o primeiro negro a dirigir uma

emissora de televisão em canal aberto

do País (ver entrevista na pág. 7). E ele77

garante que a TV da Gente terá um

diferencial fundamental para os ne-

gros e negras que atuam nos meios de

comunicação brasileiros. “A TV tem

que ter capital negro. Ela tem que ter

a nossa cara e temos que ter autono-

mia para fazer isso. É uma TV que é

dirigida por negros. E esta represen-

tatividade nós vamos querer ter em

todos os cargos”, garante Netinho.

O apresentador admite que não há

boa vontade por parte das lideranças

dentro das emissoras com o processo

de inclusão. “Isso não é só um senti-

mento que tenho. Eu estou lá den-

tro. Trabalho lá. Até por isto resolvi

tomar a iniciativa de fazer um canal

de TV. Uma TV dirigida por nós”,

disse. Segundo ele, de dois anos para

cá, há uma predisposição em incluir

negros nos meios de comunicação.

Mas Netinho diz que isso não sig-

nifi ca que o processo melhorou ou

que mudou. “Quando entrei na TV

Record, há cinco anos, imaginei que,

pelo fato de ter sido contratado e de

estar apresentando um programa aos

domingos, os outros canais iam fazer

a mesma coisa. Mas não aconteceu

nada. O que houve foi que nas cam-

panhas publicitárias, hoje, há uma

representatividade maior dos negros.

Mas em outros sentidos eu não vi ne-

nhum avanço”, assinala.

Na realidade, o que se espera de um

País como o nosso, cuja diversidade

é característica largamente difundida

para além dos limites geográfi cos des-

ta Nação – como uma maneira efi caz

de trazer para cá turistas de todos os

cantos do mundo, bem como o de

abrir novos mercados às empresas

brasileiras – é que aqui se pratique,

efetivamente, esta mesma diversida-

de no dia-a-dia de cada um de nós,

brasileiros. Este chamado caldeirão

étnico onde vivemos, principal in-

grediente de um país que é “vendido”

lá fora, não pode continuar sendo,

internamente, o elemento desagre-

gador, que distancia e discrimina. E

a mídia, os meios de comunicação

têm sim, o dever de reproduzir e de

respeitar esta nossa tão maravilhosa

realidade brasileira.

nossa voz, nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 601673303_Afirmativa.indd 60 10/5/05 10:35:02 AM10/5/05 10:35:02 AM

Page 61: afirmativa9

nossa voz, nossa vida

1673303_Afirmativa.indd 611673303_Afirmativa.indd 61 10/5/05 10:35:04 AM10/5/05 10:35:04 AM

Page 62: afirmativa9

62

Por: Maria Célia Malaquias - Psicóloga – Psicodramatista – mestre em

Psicologia Social - PUC - Coordenadora do NAP - Núcleo de Apoio

Psicológico da Unipalmares - [email protected]

O Negro

Ao nascer somos inseridos numa de-

terminada cultura, e iniciamos o pro-

cesso de desenvolvimento que inclui

a aprendizagem dessa cultura. Essa

aprendizagem, que se dá através da in-

teração social, é mediada por diversos

elementos da própria cultura. As fi guras

de autoridade desempenham um papel

importante nessa mediação. Pais, pro-

fessores, e demais pessoas que elegemos

como modelo são nossos interlocutores

nas tentativas de ver e de compreender

o mundo que nos cerca. Nosso universo

cognitivo é compreendido e decodifi -

cado através dos símbolos e signos que

regem o nosso universo.

Não é uma interação passiva, ao contrário

somos os atores principais deste proces-

so. Ao mesmo tempo em que recebemos

um legado, somos também transmisso-

res desse legado. Ou seja, a comunicação

está presente desde os primórdios, como

uma necessidade humana.

Na medida que há um avanço na socie-

dade, surgem formas cada vez mais sofi s-

ticadas de comunicação. É inegável a po-

tência que atingimos com a globalização,

com os recursos tecnológicos que nos per-

mitem estarmos ligados ao universo. No

entanto, observamos que, se por um lado

a comunicação chega a todos os cantos,

por outro lado parte da população não se

vê representada nos chamados veículos de

comunicação de massa.

É de longa data a luta da população

negra para ocupar o seu lugar de des-

taque nos diferentes veículos de comu-

nicação. E, principalmente a luta para

que tais veículos retratem os fatos no

campo da objetividade da informação,

sem tentar convencer o receptor com

mensagens subjetivas.

Infelizmente, por mais que estejamos

atentos, ainda é comum encontrar-

mos, por exemplo, na imprensa falada

e escrita, mensagens carregadas de pre-

conceito e discriminação relativas ao

negro. Muitos de nós já ouvimos inú-

meras referências à “a coisa está preta”,

“nesta sexta-feira negra”. E sabemos do

sofrimento emocional que tais expres-

sões provocam na população negra.

Acreditamos numa imprensa demo-

crática. Desejamos principalmente

que nossas crianças e jovens se vejam

representados em toda a sociedade, em

especial nos grandes, médios e peque-

nos veículos de comunicação. Que a

propaganda que invade nossos lares a

todo instante seja veiculada com pelo

ao menos metade dos atores negros.

Afi nal, somos quase 50% da popula-

ção brasileira, portanto é natural que,

como consumidores, nos vejamos con-

templados. É mais que tardia a hora

do negro aparecer na mídia como pro-

tagonista e não apenas coadjuvante.

Entendemos que a comunicação, no

sentido de dar passagem, de comuni-

car o que é de interesse comum para o

bem comum, possibilita avançarmos

um pouco mais para uma sociedade

mais justa ampliando o nosso campo

de percepção e de transmissão da so-

ciedade com maior participação efeti-

va de todos.

comunicação

1673303_Afirmativa.indd 621673303_Afirmativa.indd 62 10/5/05 10:35:17 AM10/5/05 10:35:17 AM

Page 63: afirmativa9

63

comunicação

A cultura da Por: Maurício Pestana, Cartunista e

Publicitário

www.mauriciopestana.com.br

Recentemente, tese defendida em uma

grande universidade paulista analisou a

“invisibilidade” dos trabalhadores de ma-

nutenção daquela instituição.

A pesquisadora se fez passar durante vários

dias por uma funcionária da faxina e, qual

não foi sua surpresa quando os próprios

colegas de sala de aula não a cumprimen-

tavam, não lhe dirigiam a palavra, sequer

direcionavam-lhe o olhar. Ou seja, ela pas-

sou a ser totalmente “invisível” assim que

mudou de roupa e de função.

Drama parecido vive diariamente os

afro-brasileiros em nosso país, com uma

agravante: a discriminação racial. Não

importa a roupa, a posição social, eco-

nômica, cultural ou acadêmica: sempre

prevalecerá sua “invisibilidade” e a cor

da pele.

Pode ser juiz, advogado, médica, em-

presário, engenheira etc., dependendo

do espaço social que estiver circulando,

fatalmente passará pelo constrangimento

da “invisibilidade” ou, na maioria das ve-

zes, da dupla “invisibilidade” ao ser con-

fundido com um serviçal (sem nenhum

demérito para com esses profi ssionais).

Como mudar essa situação, já que mais

de cem anos se passaram da assinatura da

Lei Áurea e o negro em nosso país ocu-

pa outros postos que não apenas os de

serviçais?

Somos engenheiros, arquitetos, jornalis-

tas, juízes etc.,atuantes na sociedade e na

economia brasileira. Como mudar o olhar

da invisibilidade e da discriminação?

Muitos dirão, sem hesitar, que a saída

passa pela educação. Sem dúvida, mas a

educação de quem? Dos negros que, ao

se prepararem melhor e em maior quan-

tidade, irão começar a ocupar numeri-

camente esses espaços? Ou dos brancos,

que precisam aprender a conviver com

essa nova realidade? Acredito que as duas

alternativas impulsionariam, sim, a deso-

bstrução da “invisibilidade” discrimina-

tória na qual passamos de forma violenta

nesses territórios. Porém, há um aspecto

profundo, enraizado dentro dos detento-

res destes espaços, que precisa ser analisa-

do mais atentamente: o aspecto cultural.

A cultura tem um papel preponderante

na ação das pessoas e a cultura que ainda

permeia esses lugares é arcaica, colonia-

lista, excludente e racista.

Cabe ao conjunto da sociedade um es-

forço muito grande que vise à mudança

desses espaços e desses comportamentos.

Quando falamos em mudança de

comportamento, neste início de sécu-

lo XXI, é impossível não citar o poder

determinante dos meios de comuni-

cação, sobretudo o da televisão. Ela

hoje é a grande formadora de opinião

não só dos que estão atuando cotidia-

namente na vida de nosso país, mas

principalmente nos que construirão

o futuro da nação. Fica aí a pergun-

ta: qual tem sido o papel da televisão

brasileira diante deste quadro? Histo-

ricamente, o de reproduzir a invisibi-

lidade e a discriminação, tão presentes

nesses espaços. Mais do que isso, é a

reprodução dos valores e dos estereó-

tipos embutidos no inconsciente dos

freqüentadores desses locais.

A reprodução é automática e de forma

simples: “Eu escrevo, eu dirijo, eu pau-

to para minha programação em cima

daquilo que eu vejo e do jeito que eu

vejo; se nos espaços em que eu circulo,

a presença do negro é ‘invisível’, logo irei

reproduzir essa ‘invisibilidade’ em minha

programação, seja no jornalismo que di-

rijo, na novela que escrevo e até mesmo

no programa infantil ou feminino que

conduzo”!

Só existem duas saídas para mudar essa

mentalidade e contribuir para pôr fi m a

esses espaços de “invisibilidade” negra:

Uma mídia totalmente negra com canais

de televisão, revistas e jornais negros,

mostrando ao mercado que não somos

“invisíveis”. Evidentemente, neste caso,

seremos acusados de racistas ao avesso. A

outra opção seria uma real democratiza-

ção desses meios de produção de mídia,

com profi ssionais negros e brancos escre-

vendo, dirigindo e reproduzindo espaços

comuns, verdadeiramente democráticos

de visibilidade para todos, sem distinção

e exclusão.

Caso contrário, continuaremos vendo

comerciais de cervejas à beira de cam-

po da periferia brasileira com homens e

mulheres dinamarqueses e nós, negros,

continuaremos também ouvindo, em

algumas recepções, a pergunta: “Você

pode me trazer um uísque?”

1673303_Afirmativa.indd 631673303_Afirmativa.indd 63 10/5/05 10:35:21 AM10/5/05 10:35:21 AM

Page 64: afirmativa9

64

Num passado nada remoto, ao ser

questionado sobre a ausência do ne-

gro em anúncios e comerciais brasi-

leiros, era muito comum ouvir dos

publicitários a resposta nada criativa

de que a propaganda apenas refl etia

a exclusão do mesmo como consu-

midor. Ou seja: “não tenho nada a

bilhõesde reais

Por: Silvino Ferreira Jr.

Publicitário, diretor-presidente

da Atabaque

Qual é a sua parte?ver com isso”. Com o tempo, parece

que se descobriu que o negro come,

toma banho, se veste e, por incrível

que pareça, se diverte. Parece tam-

bém que algumas empresas descobri-

ram que o fato de pôr um negro nos

seus comerciais não suja a sua marca

ou produto. Muito pelo contrário.

Tanto é que algumas marcas já pra-

ticam a suprema ousadia de pôr mais

de um negro, ao mesmo tempo, em

suas peças publicitárias. Isto parece

irreversível, mas para que o principal

objetivo a ser alcançado, a igualda-

de, tenha sucesso, é preciso mudar

o foco e sugerir uma nova pergun-

comunicação

1673303_Afirmativa.indd 641673303_Afirmativa.indd 64 10/5/05 10:35:24 AM10/5/05 10:35:24 AM

Page 65: afirmativa9

65

ta. Por que não existem negros nas

agências de propaganda brasileiras?

Onde estão os diretores de conta, os

diretores de mídia, os diretores de

criação, os redatores, os diretores de

arte e os donos de agência, negros?

E antes que os publicitários venham

a público com uma nova resposta

uniforme, é bom adiantar: dizer que

o que pesa na hora da contratação

é só o talento, não vale, pois basta

um simples telefonema do cliente

dizendo que tem um fi lho talentoso

em casa, para o menino acordar esta-

giário na melhor agência do país. A

verdade é que basta ter no portfólio

um anúncio com a foto de uma linda

negra para que a agência já exiba o

seu álibi, o seu atestado de empresa

sem preconceito. Ali se encerra o seu

compromisso com a diversidade. Se

tiver uma negra na recepção, então...

Mas é preciso mais, muito mais, para

merecer o tal atestado.

O que têm a ver com isso os 15

bilhões acima? 15 bilhões de reais

(sem considerar os descontos ofe-

recidos pelas agências), é o total de

investimentos em mídia no primeiro

semestre de 2005, anunciado pelo

Ibope Monitor. Só a Casas Bahia

aparece com mais de um bilhão. Não

é difícil imaginar que boa parte deste

dinheiro sai dos bolsos de consumi-

dores negros, Afi nal, é nas classes C

e D que esta rede tem o seu público

alvo. E se o assunto é a participação

do negro na mídia, cabe a pergun-

ta: desse montante, que percentual

vai parar em mãos negras? Será que

temos que nos contentar com os ca-

chês pagos às nossas atrizes e mode-

los? Quem se contenta com pouco,

não merece mais que isso. Eu prefi ro

a minha parte em dinheiro.

É tão claro que a Publicidade de-

sempenha um papel importante na

construção da auto-estima e como

formador de opinião (e, pelos acon-

tecimentos recentes, também na

política), que não dá para abdicar

da parte que nos cabe neste latifún-

dio. É preciso exigir mais, pressionar

mais. É assim que as coisas funcio-

nam e a Publicidade está longe de

fugir à regra. E já que as agências

parecem andar sempre a reboque

das mudanças sociais, fazendo sem-

pre o papel de agentes passivos den-

tro desse processo, o mais efi ciente é

pressioná-las via cliente. Quando a

maioria das empresas exigir que os

seus fornecedores tenham compro-

misso com a diversidade étnica e cul-

tural brasileira, veremos surgir uma

nova propaganda brasileira. Uma

propaganda ainda mais criativa e,

acima de tudo, mais justa na divisão

dos seus resultados. Principalmente

os resultados fi nanceiros. Ou vamos

conviver eternamente com ciclos de

discursos hipócritas e respostas sin-

cronizadas?

Fica aqui a sugestão: sempre que

um dono de agência de propaganda

vier lhe falar em justiça, igualdade e

democracia, pergunte quantos ne-

gros ele emprega e quais as funções

que eles exercem. Enquanto aqueles

bilhões a que se refere o título, es-

tiverem indo para as mãos de sem-

pre, qualquer discurso sobre justiça,

igualdade e democracia, acredite: é

propaganda enganosa.

comunicação

Silvino Ferreira Jr.

1673303_Afirmativa.indd 651673303_Afirmativa.indd 65 10/5/05 10:35:25 AM10/5/05 10:35:25 AM

Page 66: afirmativa9

66

Eunice Prudente:

Integral, Cidadania e Vida Plena”, e foi

a partir daí que descobriu juridicamente

a inefi cácia da Lei 1.390 – Afonso Ari-

nos, pelo fato de estar capitulado como

contravenção e não como crime, como

diz a Constituição de 1988: “racismo é

crime imprescritível e inafi ançável e, para

chegar a essa conclusão, enfrentei estudos

históricos, sociológicos, antropológicos,

criminológicos, para dizer que racismo é

crime”. “Ser diretora de um órgão como

o Procon é uma grande responsabilidade.

Fui indicada pelo jurista brasileiro afro-

descendente dr. Hédio Silva Junior, secre-

tário da Justiça e da Defesa da Cidadania

do Estado de São Paulo. É uma funda-

ção de proteção e defesa do consumidor,

e dirigi-la é um desafi o signifi cativo”,

comenta Eunice que ainda acumula as

studo etrabalho

perfil

funções de professora de Direito e Ciên-

cia Política da USP, Conselheira da Seção

Paulista dos Advogados do Brasil (OAB-

SP) e vice-diretora da Escola Superior de

Advocacia da OAB/SP.

Para alcançar posições tão relevantes,

foi necessário que ela investisse em si

mesma, ciente de sua condição de mu-

lher negra. Seu avô, Antônio do Car-

mo, foi integrante da frente negra no

passado. Seus pais se conheceram no

JOC (Juventude Operária Católica)

– movimento de jovens. Movimento

que sua tia, Ana Florêncio de Jesus

Romão, hoje falecida, foi presidente da

sede do Estado de São Paulo. “Minha

tia também recebeu uma homenagem

na gestão da ex-prefeita de São Pau-

lo, Luíza Erundina, que batizou uma

De

origem hu-

milde, seus familiares sempre parti-

ciparam de movimentos anti-raciais e

desde cedo fi zeram questão que Eu-

nice Aparecida de Jesus Prudente co-

nhecesse a realidade do Brasil quanto

ao tema preconceito e educação. Atu-

al Diretora-Executiva da Fundação

Procon-SP, Eunice formou-se em Di-

reito pela Universidade de São Paulo

em 1972, especializou-se na mesma

faculdade em Direito Municipal em

1973, Direito Agrário, Cadastro e

Tributação, em 1975. Obteve o título

de mestrado e de doutorado pela mes-

ma faculdade, com a Dissertação “Pre-

conceito Racial e Igualdade Jurídica no

Brasil” e à tese “Direito à Personalidade

1673303_Afirmativa.indd 661673303_Afirmativa.indd 66 10/5/05 10:35:27 AM10/5/05 10:35:27 AM

Page 67: afirmativa9

67

escola Municipal com o seu nome”,

conta orgulhosa. Outro feito de Ana

foi fundar a Casa da Cultura Afro-

Brasileira, instituição na qual Eunice

Aparecida se apresentou em público

pela primeira vez ao fazer comentários

do livro “Casa Grande e Senzala”, do

escritor Gilberto Freire.

“Sou da época em que as pessoas sa-

íam da escola particular para estudar

em escolas públicas porque o ensino

era incomparável. Tive aulas de la-

tim, inglês, francês, português, lite-

ratura portuguesa e literatura bra-

sileira, além de outras disciplinas”,

comenta Eunice sobre a qualidade

do ensino das escolas públicas. Ela

nunca estudou em escolas particula-

res e foi com esse nível de aprendiza-

do que entrou para a Universidade

de São Paulo (USP), onde passou

para os cursos de Direito e História,

que cursou durante um ano e de-

pois optou apenas para continuar no

curso de Direito. “Era natural, fazia

escola pública e depois ia para uma

universidade pública, era uma reali-

dade diferente da atual; não precisa-

va fazer cursinhos”.

Eunice conseguiu seu primeiro em-

prego através de um concurso públi-

co para a Universidade de São Paulo,

onde estudava. “Na minha época, era

gritante como é até hoje, a discrimi-

nação racial no mercado de trabalho.

Me lembro quando ia fazer testes, di-

zia que tinha ido muito bem e minhas

amigas muito mal, mas mesmo assim

elas passavam e eu não. Só que meus

pais me educaram, e educar é infor-

mar aos fi lhos. Na minha casa nunca

acreditamos que o Brasil era uma de-

mocracia racial. Muito pelo contrário,

meus pais sempre deixaram claro que

eu iria enfrentar esse tipo de discrimi-

nação”, frisou.

Eunice Prudente atingiu dimensões

históricas, não só pela sua atuação aca-

dêmica, mas também pela profi ssional.

Ciente de sua condição de mulher ne-

gra de procedência humilde, não seria

empecilho sufi ciente para se graduar e

se especializar. “O estudo e trabalho

são os maiores fatores de estímulo para

que alguém rompa o bloqueio e consi-

ga os seus objetivos”, fi nalizou.

perfil

Eunice Prudente

1673303_Afirmativa.indd 671673303_Afirmativa.indd 67 10/5/05 10:35:27 AM10/5/05 10:35:27 AM

Page 68: afirmativa9

ações afirmativas

68

ações afirmativas

Este artigo pretende abordar alguns as-

pectos importantes que diferenciam a

FAZP dos demais cursos superiores de

São Paulo que, só de Administração de

Empresas, são mais de 100.

Seu ineditismo está na escolha do foco:

a população de afro-descendentes, cujas

contribuições à economia, história e pa-

drões de cultura brasileiros são muito

importantes e ainda não foram estudadas

com a profundidade necessária, sendo este

estudo uma das prioridades da Faculdade.

O recorte temático que apresenta em seu

currículo situa o processo de aprendiza-

gem considerando padrões e necessida-

des regionais. Os itinerários formativos

da Unipalmares partem das teorias gerais

(conteúdos e conceitos formadores das

áreas em estudo) e chega à leitura da pro-

blemática local e regional e, principalmen-

te, do papel que os negros representaram

na construção sócio-política e econômica

da região. Não se esgota neste contexto,

busca a partir destas raízes históricas pros-

pectar as necessidades futuras para mudar

os padrões de inclusão social.

A formação em seus cursos superiores –

Administração já autorizado – e Comu-

nicação Social, Informática e Tecnologia

em Transportes em fase de aprovação,

prepara efetivamente profi ssionais com

competências para usar o instrumental

teórico, aplicando-o às especifi cidades do

mercado de trabalho regional e das pes-

onhecendo aPor: Cristina Jorge – diretora da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares

quisas científi cas voltadas às demandas

tecnológicas da região sudeste do país,

cujos desafi os nas áreas dos negócios,

comunicação, ciências da informação e

transportes são específi cos.

A Faculdade Zumbi dos Palmares e o Ins-

tituto Afrobrasileiro de Ensino Superior

– IABES, instituição mantenedora, têm

como missão atuar no ensino superior do

município de São Paulo, desenvolvendo

os aspectos culturais, sociais, econômicos

e políticos da sociedade afro-descendente

local, regional e nacional, contribuindo

para a melhoria de sua qualidade de vida.

A Faculdade nasceu com a missão de

tornar concretas as ações afi rmativas

propostas pela sociedade e pelo Governo

brasileiro que, em boa hora, vêm iniciar

a discussão para pôr fi m às desigualdades

raciais ainda presentes na sociedade e,

desta forma, possibilitar maior inserção e

interação da população afro-descendente

com o meio em que vive.

Os cursos superiores da Unipalmares

incluem em seus conteúdos programá-

ticos o estudo das relações étnico-raciais

e o tratamento de questões temáticas

relativas aos afro-descendentes, dentre

as quais destacamos: História da África

e dos Africanos, História dos Negros

no Brasil, Padrões da Cultura Negra no

Brasil, Papel do Negro na Formação da

Sociedade Nacional (economia, política

e formação social).

Estes temas, que compõem a Educação

em Relações Étnico-Raciais, são tratados

tanto nas disciplinas curriculares (Socio-

logia, Ética e Cidadania, por exemplo)

como nas Complementares (Coral, Ca-

poeira, Literatura, Música e Poesia Afro-

brasileira). Da mesma forma, os projetos

de Iniciação Científi ca, práticas investi-

gativas e de extensão têm sempre um eixo

ligado à afrobrasilidade.

Podemos afi rmar que a missão da Uni-

palmares/IADES antecipa-se ao Parecer

CP/CNE 3/2004, que em seu Artigo

1º, § 1º determina: “As Instituições de

Ensino Superior incluirão nos conteúdos

de disciplinas e atividades curriculares

dos cursos que ministram, a Educação

das Relações Étnico-Raciais, bem como

o tratamento de questões e temáticas que

dizem respeito ao afro-descendentes...”

além de representar um passo adiante em

relação à política das cotas.

Tudo isto é apenas o começo. Em breve,

estaremos falando sobre os novos cursos,

as perspectivas de crescimento e as metas

a serem alcançadas até o fi nal da década.

Unipalmares

educação

68

1673303_Afirmativa.indd 681673303_Afirmativa.indd 68 10/5/05 10:35:29 AM10/5/05 10:35:29 AM

Page 69: afirmativa9

69

Embora constituam 48% da população, se-

gundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro

de Geografi a e Estatística, os negros corres-

pondem a apenas 1% dos que ocupam pos-

tos estratégicos do mercado de trabalho. O

salário médio pago aos trabalhadores negros

equivale à metade do salário dos trabalha-

dores brancos e estes também têm 30% a

mais de chances de conseguir emprego, e o

dobro de chances de manter a qualidade de

vida das suas famílias, do que os negros.

Com o objetivo de mudar estes dados e

transformar o mercado de trabalho atu-

al com soluções estruturais, incentivando

a diversidade no meio corporativo e a in-

clusão de afro-descendente em postos de

trabalho mais reconhecidos, a Universida-

de da Cidadania Zumbi dos Palmares está

lançando seu mais novo projeto: o Núcleo

Afro Work.

“A visão do projeto Afro Work é contribuir k

para a melhoria da qualidade de vida dos

nipalmares lança

Núcleo

Afro Work

Alunos do Projeto Itaú/Unipalmares

na Zumbi

1673303_Afirmativa.indd 691673303_Afirmativa.indd 69 10/5/05 10:35:31 AM10/5/05 10:35:31 AM

Page 70: afirmativa9

70

jovens afro-descendentes, fomen-

tando assim a ascensão socio-econô-

mica deste segmento populacional.

Formar jovens executivos negros e

disponibilizar, para o mercado de

trabalho, profi ssionais qualifi cados

e com perfi l compatível às exigên-

cias das empresas e das vagas exis-

tentes. Pretende contribuir com

a criação de clima organizacional

propício à inclusão da diversidade.

Facilitar para as empresas, de todos

os setores da economia, o processo

de captação, seleção e contratação

de profi ssionais afro-descendentes

bem-formados”, informa Samanta

Germano Ferreira, responsável pelo

Núcleo Afro Work, que busca parce-

rias com empresas preocupadas com

a diversidade no ambiente corpora-

tivo e que possam oferecer vagas de

estágio e de trabalho.”

“O Afro Work será um pólo de infor-k

mações, que centraliza e desenvolve

pesquisas e estatísticas, cases, con-ss

ceitos, investe no conhecimento do

mercado de trabalho focado na diver-

sidade”, ressalta Samanta, e informa

que os projetos desenvolvidos pelo

Núcleo são modelados conforme as

necessidades e o cenário de cada or-

ganização. O Núcleo Afro Work apre-k

senta em sua estrutura duas vertentes

de trabalho e prestação de serviços:

Afro Work University e Gestão da Di-

versidade.

O Afro Work University é um de-y

partamento voltado exclusivamente

à preparação dos estudantes para

o mercado de trabalho e pretende

mobilizar a sociedade, as empresas

na Zumbi

e os estudantes

à integração no

processo de oferta

de emprego justo

e igualitário por

parte do merca-

do, em troca da

prestação de ser-

viços de qualida-

de pelos alunos

da Unipalmares.

O projeto atin-

girá jovens brasi-

leiros, afro-des-

cendentes, alunos

da Unipalmares e

bolsistas da Afro-

bras, que estão em

outras faculdades.

Isto representa

cerca de 1.500

jovens, distribuí-

dos entre alunos

de graduação e de

universidades par-

ceiras (bolsistas Afrobras). Se consi-

derarmos o público potencial, este

número poderá facilmente chegar

aos 5.000, em um período de dois

anos, destaca Samanta.

O projeto Afro Work University re-y

alizará parceria com empresas de

gestão de pessoal, bem como dire-

tamente com empresas que estejam

interessadas em desenvolver proje-

tos focados na diversidade corpora-

tiva. Assim, focará suas atividades

baseadas nas defi ciências dos alu-

nos oferecendo, por exemplo, testes

vocacionais, testes de conhecimen-

to técnico, cursos de informática,

inglês, marketing pessoal, cursos

de redação, neurolingüística, ex-

pressão, técnicas de apresentação e

gerenciamento comportamental. O

Projeto Gestão de Diversidades visa s

um mercado de trabalho mais jus-

to, onde todos possam desenvolver

sua função independentemente da

raça, credo ou classe social. Um

mercado de trabalho mais hege-

mônico, que respeite as diferen-

ças culturais. Neste sentido, prevê

uma consultoria responsável pelo

desenvolvimento e implementação

de projetos em empresas, explica

Samanta.

1673303_Afirmativa.indd 701673303_Afirmativa.indd 70 10/5/05 10:35:36 AM10/5/05 10:35:36 AM

Page 71: afirmativa9

71

Mais um importante e emocionante pedaço da

história dos negros de nosso País foi escrito no mês

passado, na sede da Universidade da Cidadania

Zumbi dos Palmares. Em sua primeira visita a en-

tidade, o prefeito de New Orleans, Clarence Ray

Nagin, se emocionou ao entrar no

auditório da entidade e confessou

que aquele foi o primeiro momen-

to em que se sentiu em casa depois

que chegou ao Brasil. “Estou aqui há

quatro dias. Me encontrei com em-

presários, fui ao Rio de Janeiro e vim

para São Paulo. Mas estava sofrendo

porque não via onde estavam nossos

irmãos negros. Agora que estou aqui,

vendo todos vocês, depois de ouvir este co-

ral maravilhoso, apesar de cansado, sei que

terei energia pra ver o que vocês estão fazen-

do e também para falar um pouco de mim”,

disse aos alunos que lotaram o auditório da

Zumbi dos Palmares, ao lado de outras per-

sonalidades convidadas para participar do

encontro.

Filho de família humilde, C. Ray Nagin,

exerce seu terceiro ano de mandato como

prefeito de New Orleans, cidade onde nasceu

e que faz parte do Estado de Louisiana

(EUA). Nagin contou aos presentes que

teve uma infância pobre ao lado de

seus pais e que, assim como os alunos

da Zumbi dos Palmares, formou-se

numa Universidade do Estado de

Alabama, só para negros, e que

estava apenas começando. “O que

vocês estão iniciando aqui me lem-

bra muito a universidade que cursei

no Alabama”, falou ele. Defenden-

do a união incondicional dos negros

de todos as nações do mundo, C. Ray

Nagin ensinou que todos devem ter em

mente alguns pontos fundamentais para

que possam vencer a luta contra o preconceito

e para que se tornem cidadãos plenos em qualquer

país do mundo. Entre estes pontos, Nagin destacou a luta por

educação de qualidade e o incentivo ao empreendedorismo.

“Não devemos ser dependentes de ninguém. Precisamos ge-

rar nossos próprios negócios para que possamos dar empregos

aos negros que, com uma situação fi nanceira melhor, poderão

apoiar os projetos necessários para o nosso povo”.

na Zumbi

1673303_Afirmativa.indd 711673303_Afirmativa.indd 71 10/5/05 10:35:44 AM10/5/05 10:35:44 AM

Page 72: afirmativa9

72

Os alunos do primeiro ano de Ad-

ministração da Unipalmares tiveram

uma aula diferente, logo após o re-

torno das férias. A convite da enti-

dade, o deputado estadual do PC do

B/SP, Nivaldo Santana, ministrou

uma palestra aos alunos sobre Admi-

nistração Pública.

Deputado estadual pelo terceiro

mandato, Nivaldo Santana que foi,

Deputado Nivaldo Santana ministra palestra para alunos da Zumbi

O Núcleo de Artes da Unipalmares

realiza, com a curadoria de Tom Ru-

thz, a Exposição Novos Talentos, no

período de 15 de setembro a 15 de

outubro/2005.

A novidade da exposição é que ela

terá a participação dos alunos do

professor e artista plástico Tom Ru-

thz e de alunos de professores de ar-

tes convidados. Todos os anos, Tom

Exposição Novos Talentos no Núcleo de Artes

Ruthz, também aluno da Unipalma-

res, realiza curadoria dos salões de

Novos Talentos e neste ano ocorrerá

na Unipalmares.

O objetivo da exposição “Novos

Talentos” é mostrar ao público a

importância da arte na vida do ser

humano e também dar oportunida-

de aos alunos para mostrarem o seu

talento entre pincéis, telas, tintas etc.

O tema da mostra é livre e contará

por muitos anos, sindicalista, hoje é

um dos parlamentares que direciona

seu trabalho para a luta em defesa da

igualdade racial. “Estou muito conten-

te e honrado pelo convite”, disse ele aos

alunos, que receberam uma verdadeira

aula sobre o desenvolvimento brasilei-

ro dos anos 30 até os dias atuais, bem

como noções sobre o papel do Estado

e o mercado nacional.

Foto do fotógrafo Elson Vilela, aluno da Unipalmares

com diferentes técnicas, do acadêmi-

co ao contemporâneo.

Os alunos que mais se destacarem com

suas obras, serão outorgados com prê-

mios de Medalhas de Ouro, Prata e

Bronze, segundo a comissão julgadora.

Alguns alunos que estarão na mostra:

Elson Vilela, Sylvia Palmer, Neide

Mosquete, Marilda, Ângela Raquel e

Rozely ZakZuk, entre outros.

Bonecos que estarão em exposição, da artesã Nigigleide Santos

na Zumbi

1673303_Afirmativa.indd 721673303_Afirmativa.indd 72 10/5/05 10:35:47 AM10/5/05 10:35:47 AM

Page 73: afirmativa9

73

na Zumbi

Gabriel Chalita

A Unipalmares, a Câmara Latino-

americana de Doutores e a Câmara

Brasileira de Cultura prestaram uma

homenagem póstuma ao professor Dr.

Silvio Luiz de Oliveira, Doutor em

Ciências, Pós-Graduado em Ciências

Sociais bacharel em Comunicação So-

Homenagem ao prof. Dr. Silvio Luiz de Oliveira

cial – Jornalismo e

Relações Públicas.

Estiveram presentes

à cerimônia, a viúva

Maria Aparecida de

Oliveira, as fi lhas e

as netas, os amigos

Maria Regina Ado-

glio Neto, presiden-

te da Câmara Bra-

sileira de Doutores

(CBD), Jacob Da-

ghlian, Vice-presi-

dente internacional

da Câmara Latino-americana de Douto-

res e presidente da Câmara Brasileira de

Cultura e Benedito Cabral de Medeiros

Filho, também da CBD.

Durante a homenagem, a viúva Ma-

ria Aparecida, doou todo o acervo de

livros e pesquisas do Dr. Sílvio para a

Unipalmares. “Gostaria de fazer uma ho-

menagem em vida para ele, mas não foi

possível. Estou doando de braços abertos,

tenho certeza que vocês receberão do mes-

mo jeito”, falou Maria Aparecida, entre-

gando o acervo para a Diretora da Unipal-

mares, professora Cristina Jorge, que disse

se sentir honrada em colocar na biblioteca

da Unipalmares, prestigiados trabalhos.

O professor Silvio Luiz desempenhou

vasta gama de atividades como docen-

te do departamento de Metodologia do

Ensino na Faculdade de Educação da

USP – Magistério Indígena, Professor

Titular da UNIB- Universidade Ibira-

puera, Vice-Presidente da Câmara Lati-

no-Americana de Doutores, Consultor

das Nações Unidas para as questões dos

povos indígenas no Brasil. Realizou estu-

dos e conferências nos Estados Unidos e

na Alemanha.

O professor de história e senador pelo

Estado da Geórgia (Estados Unidos),

Vincent Fort, visitou a Unipalmares pela

segunda vez. A primeira foi em maio do

ano passado, com uma comitiva forma-

da por 30 pessoas, entre alunos e profes-

sores de universidades norte-americanas

voltadas para negros. O senador disse

estar impressionado com os avanços e

com o crescimento da Unipalmares em

apenas um ano.

Fort reafi rmou sua intenção em ajudar

a universidade, como na última visita,

quando disse que, “não somos afro-

americanos nem afro-brasileiros. Somos

todos irmãos”. Ele também falou do

novo prédio e em quais projetos pre-G b i l Ch lil

Senador Vincent Fort visita Unipalmares pela segunda veztende ajudar a universidade. “Toda a

estrutura do prédio está maravilhosa e

existem três coisas que devem ser foca-

das em nosso trabalho, como os livros

para a biblioteca, onde pretendo estar

auxiliando no desenvolvimento. Outro

ponto importante que pretendo ajudar é

o intercâmbio de alunos da Zumbi e fa-

zer com que os nossos alunos aprendam

a língua portuguesa, para fi car mais fácil

o entrosamento entre eles”.

Durante o encontro, Fort se compro-

meteu a complementar a biblioteca da

instituição e disse que pretende retornar

em dezembro com mais uma comitiva

de estudantes das universidades voltadas

para negros dos Estados Unidos.

1673303_Afirmativa.indd 731673303_Afirmativa.indd 73 10/5/05 10:35:57 AM10/5/05 10:35:57 AM

Page 74: afirmativa9

74

Depois de cinco meses de aulas, o

Projeto Guri Pólo Unipalmares fez

sua primeira apresentação para os

pais, alunos e convidados da Uni-

palmares. Foram 74 crianças que

se apresentaram com os professores ma-

estros Daniel César Martins, José Luiz

Braz, Luis Eduardo e Ubiratan Marques,

que ministram aulas de violino, viola,

violoncelo, contrabaixo acústico, trompe-

te, trombone, saxofone, clarinete, fl auta

transversal, percussão e canto coral.

O diferencial desse pólo, é que os alu-

nos aprendem a tocar instrumentos de

origens africanas, assim como músicas

daquele continente, o que não tem nos

outros pólos, explica Edimara Alexan-

dre Rosa Galvão, a nova coordenadora

do Projeto Guri na Unipalmares.

O Projeto nasceu em 1995, na Secretaria

da Cultura do Estado de São Paulo, den-

tro de um preceito social de igualdades

de condições para

todas as crianças e

adolescentes que

vivem em lugares

culturalmente ca-

rentes. A propos-

ta também é de

propiciar acesso

ao aprendizado

musical, uma vez

que não faz parte

do currículo das

escolas públicas de

rojeto Guri Pólo

ensino fundamental e médio o curso de

música. Hoje são 108 pólos e mais de 12

mil crianças nesse projeto.

Os pais estavam todos orgulhosos e

agradeceram à professora Cristina Jor-

ge, diretora da Unipalmares, a opor-

tunidade de seus fi lhos estudarem e

aprenderem instrumentos tão diversos.

A professora Cristina observou em seu

pronunciamento, que o pólo Zumbi es-

tava representando realmente um “qui-

lombo”, pois crianças de diversas etnias

e países da América Latina estão tendo

a oportunidade de estudarem.

Unipalmaresfaz sua primeira apresentação

na Zumbi

1673303_Afirmativa.indd 741673303_Afirmativa.indd 74 10/5/05 10:36:00 AM10/5/05 10:36:00 AM

Page 75: afirmativa9

75

na Zumbi

Na Semana da Consciência Negra, a

Afrobras - Sociedade Afro-Brasileira

de Desenvolvimento Sócio Cultural

e a Universidade da Cidadania Zum-

bi dos Palmares, realizarão a Confe-

rência Internacional: O Futuro do

Negro no século 21. O grande even-

to ocorrerá entre os dias 16, 17 e 18

de novembro próximo. A proposta

é reunir, para uma refl exão, forma-

dores de opinião, políticos, pesqui-

sadores e profi ssionais, e colocar em

análise o futuro do negro no século

21, abrangendo os seguintes tópicos:

Mercado de Trabalho; Participação

Política; Ações Afi rmativas; Visibili-

dade Social e Educação.

Dentro deste vasto tema, será discu-

tida a diversidade na área corporati-

va, as iniciativas para o desenvolvi-

mento da diversidade e inclusão dos

afro-descendentes no mercado de

trabalho. O tema visa a discussão de

ações, resultados e experiências entre

conferencistas e o público presentes

para a construção de novos paradig-

Conferência Internacional:

mas sobre estes assuntos,

ao concentrar, em um mes-

mo local, especialistas, conhecedores

e visionários do tema. A conferência

aproveitará a oportunidade para ex-

pandir as ações do processo de inclu-

são, além de propagar e uniformizar

a linguagem e o conhecimento sobre

o mesmo.

Para a Conferência Internacional: O

Futuro do Negro no século 21 estão

convidados, entre outros, a jornalis-

ta Miriam Leitão; o presidente do

Banco Bradesco e da Federação Bra-

sileira de Bancos (Febraban), Márcio

Cypriano; Fernando Tadeu Perez,

vice-presidente de RH do Banco

Itaú; Abram Szajman, presidente da

Federação do Comércio do Estado

de São Paulo; Paulo Skaf, presidente

da Federação das Indústrias do Esta-

do de São Paulo; Luís Marinho, mi-

nistro do Trabalho; Marco Aurélio

Mello, ministro do Supremo Tribu-

nal Federal; Ricardo Henriques, do

IPEA; Eduardo Guardia, secretário

de Finanças do Estado de São Paulo;

Arthur Diegues Vasconcelos Filho,

diretor-executivo da Amcham – Câ-

mara de Comércio Brasil Estados

Unidos; Otavio Brito, vice-procu-

rador Geral do Ministério Público

Federal do Trabalho, e Hédio Silva

Jr., secretário da Justiça e Cidadania

do Estado de São Paulo.

São Parceiros da Conferência In-

ternacional: O Futuro do Negro no

século 21: Sesc/Senac, Fundação

Roberto Marinho, Canal Futura,

Amcham – Câmara de Comércio

Brasil Estados Unidos, Consula-

do dos Estados Unidos, Fiesp, Fe-

comercio, Febraban, Secretaria de

Justiça e Cidadania do Estado de

São Paulo, Secretaria de Cultura do

Estado de São Paulo, SP Turis, re-

vista Afi rmativa Plural e programa

Negros em Foco.

O Futuro do

no século

Negro

1673303_Afirmativa.indd 751673303_Afirmativa.indd 75 10/5/05 10:36:03 AM10/5/05 10:36:03 AM

Page 76: afirmativa9

76

O dia 15 de agosto de 2005 será

lembrado por israelenses e palesti-

nos como uma data histórica. Não é

a primeira vez que Israel se retira de

uma área ocupada após um confl ito

violento; após os acordos de paz com

o Egito, a península do Sinai foi de-

volvida e a cidade de Yamit destruída

pelos israelenses.

Com a Jordânia foram feitos acertos

fronteiriços e do Líbano o Exército

israelense se retirou depois de dé-

cadas de uma ocupação que durava

desde a incursão em direção ao rio

Litani em 1978.

Todos estes territórios já fi zeram

parte do sonho israelense de criar

uma grande Israel, ocupando o ter-

ritório nas duas margens do Jordão.

Para isto, entretanto, teria sido ne-

cessária uma população muito mais

numerosa, que somente teria surgi-

do de uma imigração em massa da

diáspora judaica. Sem população

sufi ciente mesmo para o limitado

objetivo de fronteiras que se esten-

dessem do Mediterrâneo ao Jordão,

Ariel Sharon (premiê de Israel) e

seu governo --mas não seu partido-

- fi nalmente renderam-se à evidên-

cia de que Israel perderia a corrida

demográfi ca e deixaria de ser um

Estado democrático, ou um Esta-

do judeu, se optasse por incorporar

Por: Samuel Feldberg, doutor em Ciência Política pela USP, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (Gacint) da

USP e professor das Faculdades Integradas Rio Branco.

aída de Gaza,opção estratégica ou retirada sob fogo palestino?

os milhões de árabes que governou

desde a guerra de 1967.

A faixa de Gaza representa o melhor

exemplo desta aberração: com uma

população árabe de quase 1,3 milhão

de habitantes, grande parte vivendo

em condições miseráveis, abriga em

seu seio em torno de 8.000 judeus is-

raelenses, que demandam mais de 15

mil soldados para sua proteção.

A idéia que levou a seu assentamento

estava ligada a uma outra era: uma

era de confl ito com o Egito, em que

a faixa de Gaza representava uma

barreira ao avanço de um possível

ataque egípcio em direção ao cen-

tro do país. E uma era anterior à era

plural

1673303_Afirmativa.indd 761673303_Afirmativa.indd 76 10/5/05 10:36:03 AM10/5/05 10:36:03 AM

Page 77: afirmativa9

77

balística, que se inaugurou com os

foguetes Scud de Saddam Hussein

durante a Guerra do Golfo (1991).

Uma vez retirados os colonos que

reconhecem a validade do processo

democrático, a seqüência dos acon-

tecimentos determinará também o

futuro das relações entre israelenses e

palestinos. Por um lado, a Autoridade

Nacional Palestina (ANP) tem de ga-

rantir que a legítima expressão de jú-

bilo por parte dos palestinos não seja

acompanhada de demonstrações de

força, que os israelenses não tolerarão.

O governo de Sharon está tentando

transmitir à população israelense a

confi ança de que o plano de retirada

unilateral está sendo implementado

somente após a derrota da segunda

Intifada [revolta palestina contra a

ocupação israelense, iniciada em se-

tembro de 2000].

Mas a ameaça de violência vem tam-

bém dos radicais israelenses; ainda

que os colonos estabelecidos em Gaza

sejam menos religiosos e menos radi-

cais que seus colegas da Margem Oci-

dental (onde a existência dos princi-

pais locais sagrados para o judaísmo

atraiu uma imigração fundamenta-

lista e militante, especialmente dos

Estados Unidos), existe uma minoria

importante que se recusa a abando-

nar o território onde construíram

suas casas, criaram seus fi lhos e em

muitos casos enterraram seus mortos.

Importantes perguntas ainda pai-

ram no ar: após

a retirada, o que

acontecerá nas

relações entre

palestinos e isra-

elenses? Se não

houver violência,

poderão os pales-

tinos demandar

a próxima fase

do processo, o

início da retirada

de grande parte

da população ju-

daica da Margem

Ocidental? Que

atitude terão os

Estados Unidos frente à continuidade

das obras nos assentamentos ao redor

de Jerusalém? A cerca que está sendo

construída determinará a futura fron-

teira demográfi ca entre Israel e uma

entidade palestina (eventualmente

um Estado)? Que tipo de relações

se desenvolverão entre o governo de

Sharon e um governo de Mahmoud

Abbas [presidente da ANP]?

Os palestinos não terão de enfrentar

poucas difi culdades. Primeiramen-

te, a manutenção de um cessar fogo

entre os radicais palestinos e Israel já

será uma vitória, permitindo a retira-

da de Gaza com relativa tranqüilida-

de. Mas uma vez tomada a posse do

território, a ANP terá de demonstrar

sua capacidade administrativa --Isra-

el exigirá da ANP o fi nal dos aten-

tados terroristas, do contrabando de

armas através da fronteira egípcia e

da corrupção que até hoje impediu

o avanço da sociedade palestina.

Se os israelenses exigirem a obtenção

de segurança absoluta para retoma-

rem as negociações, estas estarão des-

de já abortadas.

A combinação de pressão externa

por parte dos EUA e interna por

parte dos partidos membros da co-

alizão que exigem a continuidade

do processo de paz, terá de ser sufi -

ciente para opor-se à força daqueles

que acreditam que, uma vez livres de

Gaza os israelenses poderão concen-

trar-se na consolidação de seu con-

trole sobre os territórios da Margem

Ocidental.

plural

1673303_Afirmativa.indd 771673303_Afirmativa.indd 77 10/5/05 10:36:03 AM10/5/05 10:36:03 AM

Page 78: afirmativa9

78

A inevitável miscigena-

ção humana constitui-se

num fato de proporções glo-

bais. Vários estudiosos afi rmam

que, cada vez mais, diminui no

planeta o conceito de raça pura. Um

exemplo dessa constatação vem dos

Estados Unidos da América, que cria-

ram um item no seu censo para con-

templar os mestiços que compõem

signifi cativa parcela da população

norte-americana. Por isso, a pergun-

ta que lancei no artigo “O Abolicio-

nista Divino”, na página 149 de meu

livro Crônicas & Entre-

vistas. Desde a monera,

quem não é miscigenado

neste mundo? Aqui no Brasil,

essa realidade não é outra: a Fo-

lha de S.Paulo publicou, em abril

de 2000, o resultado de pesquisas

miscigenação do mundo é inevitável

Por: José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor, é Diretor-

Presidente da Legião da Boa Vontade.

plural

1673303_Afirmativa.indd 781673303_Afirmativa.indd 78 10/5/05 10:36:04 AM10/5/05 10:36:04 AM

Page 79: afirmativa9

79

plural

feitas a partir do DNA, abrangendo

200 homens e mulheres brancos, de

diferentes regiões e origens. O estu-

do concluiu que, num grupo de 100

pessoas brancas, somente 39 têm

exclusiva linhagem européia. Os de-

mais indivíduos carregam a marca da

miscigenação: 33% de índios e 28%

de africanos.

Mesmo a Europa teve, em várias

ocasiões de sua história, toda ordem

de imigrantes, escravos e invasores

a exemplo dos hunos, povo da Ásia

Central, que invadiu o continente

sob a liderança de Átila, em mea-

dos do Século V, infl igindo graves

derrotas e submetendo a tributo os

e Roma e de Cons-

além de devastar a

avessar a Germânia,

surgiria, séculos de-

r (1889-1945), que,

falsa idéia de raça

a, chacinou milhões

, ciganos, eslavos e

fi cientes. Teriam fi -

cado os invasores

dos territórios

germânicos em

estado perma-

nente de castida-

de? Ou deixaram

lá a marca étnica

em decorrência

do cruzamen-

to inter-racial,

após tantos sé-

culos diluído?

Lembremo-nos da famosa “mancha

mongólica”.

Vai fi car difícil abrir mão da Huma-

nidade, como parece que alguns ra-

dicalmente pretendiam fazer com a

nova globalização: mais produtos e

menos operários produzindo.

Marcante lição é a da União Euro-

péia, com seus arroubos de xenofo-

bia, menos para turistas... Ela está

constatando a contingência de ter de

“importar” gente, ainda que, em cer-

tos casos, por curtos períodos, para

realizar serviços de que os seus nati-

vos dolicocéfalos não mais querem

saber e para suprir as necessidades

de uma população que está envelhe-

cendo. Alguns já vivem arrepiados

com os “perigos” da mistura étnica.

Contudo, empresários e políticos já

sentem como fatalidade histórica a

presença dos “estrangeiros”, princi-

palmente os de pele diversa.

Não há como indefi nidamente im-

pedir que revoluções sociais e raciais

dessa grandeza se realizem.

Na atualidade, de certa forma vemos

repetir-se, em direção inversa, mas

talvez de maneira mais dolorosa, o

fenômeno da imigração. Antes a

onda era da Europa e da Ásia para

a América. Resumindo: italianos, ja-

poneses, alemães, judeus, árabes, ibé-

ricos, para a do Norte e a do Sul, so-

mando-se irlandeses e chineses para a

Setentrional. E não desembarcaram

aqui e lá, na imensa maioria, como

senhores, porém como servidores

braçais. Pelo sacrifício e suado labor,

subiram ao topo.

Recordo-me de uma afi rmação do

fi lósofo do Positivismo, Augusto

Comte (1798-1857), cujo pensa-

mento tanta infl uência exerceu sobre

os fundadores da República Brasilei-

ra, a começar por Benjamin Cons-

tant (1836-1891):

— O Homem se agita e a Humanida-

de o conduz.

É isso aí. Ufa!

Hoje, os imigrantes, legais ou não,

também largam seus países, deixan-

do tradições e amores para trás, por

necessidade premente.

Não há como indefi nidamente impedir as revoluções sociais e raciais

1673303_Afirmativa.indd 791673303_Afirmativa.indd 79 10/5/05 10:36:04 AM10/5/05 10:36:04 AM

Page 80: afirmativa9

80

N o caso norte-americano, pros-

segue a chegada ininterrup-

ta, superando as barreiras que lhes

são antepostas, de “hispânicos”, em

grande quantidade mexicanos, que,

com o passar do tempo, estão crian-

do status. Milhões já podem votar.

E o número não é pequeno, e não

cessa de crescer, até mesmo por força

de sua alta taxa de natalidade. Há,

igualmente, a presença dos cuba-

nos, em Miami. Tornaram-se, por

lá, uma força ponderável. Em Nova

York, conforme as notícias divulga-

das em 2000, 40% de seus habitan-

tes vieram de 167 países e falam 116

idiomas. Ufa! Realmente, o criador

do Comtismo estava certo.

“O mundo irá misturar-se como o

oceano”

D urante uma fase de minha

vida, estudei no Colégio São

Francisco de Sales, da Ordem de

Dom Bosco. Mas o tempo foi sufi -

ciente para tornar-me um dos muitos

admiradores do respeitado educador

de Turim. Erigiu uma pedagogia em

notável benefício para os seus be-

ricchini, jovens largados na vida na

Itália pobre, que se unifi cava sob a

batuta da astúcia diplomática (será

redundância?) do Conde de Cavour

(1810-1861), da pertinácia de Ma-

zzini (1805-1872), do espírito aguer-

rido de Garibaldi (1807-1882).

D izia o ilustre taumaturgo nas-

cido em Becchi:

— Um grandioso acon tecimento se está

preparando no céu para fazer pasmar

as gentes. (...) Far-se-á uma grande re-

forma entre todas as nações, e o mundo

irá misturar-se como um oceano.

Para os que me leram até aqui, por-

ventura com um sorriso de condescen-

dência, exponho este alertamento de

Cícero (106-43 a.C), orador e político

romano, a respeito de que nem as co-

munidades mais requintadas e cultas

desprezam o dom da profecia. Além

disso, no campo laico, economistas fa-

zem previsões que não se concretizam,

analistas vaticinam reações da socieda-

de e se equivocam. E, se entrarmos no

campo do esporte, então...

O Brasil é uma grei globalizante

V olvendo os olhos para o meu

País, a nossa pátria, cheia de ge-

rações de “imigrantes” esperançosos

de que fi nalmente sejam integrados

no melhor do seu tecido social, con-

fi rma-se a evidência de que possui

um dos melhores povos do Planeta,

e com características privilegiadas,

em virtude de sua extraordinária

miscigenação. É uma grei... globa-

lizante...

Pietro Ubaldi (1886-1972), fi lósofo

italiano, aqui chegado no princípio

da década de 1950, soube ver o que

outros começam a perceber agora:

— O Brasil é a terra clássica da fusão

de raças, é o melting-pot em que tudo

se mistura. E sabemos que a natu reza

se regenera na fusão de tipos diversos,

ao passo que o princípio racista isola-

cionista é antivital. (...)

A pesar da inópia à espera de ser

defi nitivamente exorcizada, na

Terra de Santa Cruz subsiste a gran-

deza que lhe tem permitido manter o

milagre expresso na sua unidade ge-

ográfi ca, idiomática e na capacidade

de sobreviver.

Ah! A extrema violência de hoje?!

Será que a culpa é do povo ou da sen-

zala que não foi de todo desmontada?

É agora da globalização? Antes foi de

quê? Com a palavra, o matemático

germânico Leibnitz (1646-1716):

— Sempre tive por certo que, se refor-

mássemos a educação da mocidade,

consegui ríamos modifi car a linhagem

humana.

M as em que bases? Hitler tam-

bém queria modifi cá-la... O

escritor francês Montaigne (1533-

1592) nos oferece a resposta:

— Cuidamos apenas de encher a me-

mória, e deixamos vazios o entendi-

mento e a consciência.

Isto é, além de instruir, urge espiritu-

alizar, iniciando pelos adultos o de-

safi o maior... Alguém já disse que o

Brasil precisa descobrir o Brasil.

plural

1673303_Afirmativa.indd 801673303_Afirmativa.indd 80 10/5/05 10:36:06 AM10/5/05 10:36:06 AM

Page 81: afirmativa9

81

1673303_Afirmativa.indd 811673303_Afirmativa.indd 81 10/5/05 10:36:07 AM10/5/05 10:36:07 AM

Page 82: afirmativa9

ações afirmativas

82

ações afirmativas

Já se passaram 60 anos desde a explo-

são das bombas atômicas sobre Hi-

roshima e Nagasaki. A última guerra

no Japão não só arrasou essas duas ci-

dades, como também muitos outros

núcleos urbanos. Refl etindo sobre a

última guerra, o Japão tem buscado

com sinceridade a paz mundial: nos-

so país adotou uma Constituição que

renuncia à guerra e fez uma opção

fi rme pela via pacífi ca, associando-se

às Nações Unidas em 1956 e, com

isso, reintegrando-se à comunidade

internacional.

Ao somar o empenho de sua popu-

lação à assistência internacional, o

Japão alcançou um progresso econô-

mico inimaginável há 60 anos. O de-

senvolvimento do país no pós-guer-

ra concretizou-se graças ao esforço

pertinaz do povo japonês, mas só foi

possibilitado, de fato, com a coopera-

ção da comunidade internacional. O

Japão jamais se esquecerá disso, con-

forme declarou o primeiro-ministro

Koizumi em seu discurso durante a

reunião de cúpula Ásia-África, em 22

de Abril último.

Sem perder de vista essa experiência,

nas últimas seis décadas o Japão tem,

na condição de nação amante da paz,

desenvolvido uma diplomacia que

valoriza ao máximo a cooperação in-

ternacional como meio de contribuir

para a paz e estabilidade e a prospe-

ridade mundial. Respeitar e dar as-

sistência aos esforços dos países no

combate à pobreza e pelo desenvol-

vimento, constitui um dos principais

pilares dessa diplomacia.

Por dez anos a partir de 1991, o Ja-

pão manteve-se na posição de maior

doador mundial. No último decênio,

contribuiu com um quinto da Assis-

tência Ofi cial para o Desenvolvimen-

to (ODA, na sigla em Inglês) global.

Nos últimos 51 anos, concedeu apro-

ximadamente 230 bilhões de dólares

a 185 países e regiões como ODA.

Para o Brasil, até o presente, o Japão

já destinou 1,9 bilhões de dólares na

forma de cooperação para o cresci-

mento econômico e para o bem-estar

da população.

bomba atômica

anos após a

Por: Takahiko Horimura, Embaixador

extraordinário e plenipotenciário

do Japão no Brasil

plural

82

1673303_Afirmativa.indd 821673303_Afirmativa.indd 82 10/5/05 10:36:09 AM10/5/05 10:36:09 AM

Page 83: afirmativa9

83

plural

Essa assistência tem como pro-

pósito contribuir para a paz e

o desenvolvimento da comu-

nidade internacional. Por isso

mesmo, a ODA é conceitua-

da sob a condição de não ser

usada para fi ns militares e não

contribuir para a escala de

confl itos internacionais.

Na última reunião da cúpula

do G8 em Gleneagles, Escó-

cia, um dos principais itens

na pauta de discussões foi a

África, ao lado da mudança

climática. O Japão divulgou, então,

o aumento da assistência para o de-

senvolvimento africano, incluindo

a duplicação da ODA para aquele

continente nos próximos três anos.

O Japão pretende, com essas iniciati-

vas, reforçar sua contribuição para a

paz e o desenvolvimento verdadeiro

do mundo no século 21.

Fundamentado na idéia de que a

paz, aliada à estabilidade, constitui o

alicerce do desenvolvimento econô-

mico, nosso país prioriza a constru-

ção de um mundo pacifi co. Como

única vitima de ataques nucleares,

queremos salientar o nosso esforço

pela eliminação das armas atômicas,

sustentando os três princípios não-

nucleares: não possuir, não produzir

e não permitir a entrada dessas armas

no território nacional.

Para alcançar tão cedo quanto pos-

sível um mundo pacífi co e seguro,

livre das armas nucleares, o Japão

exerce um esforço diplomático tenaz

pelo desarmamento e não prolifera-

ção, trabalhando para a consolidação

do regime do Tratado de Não-Proli-

feração (NPT), para a urgente entra-

da em vigor do Tratado para a Proi-

bição Completa para a prevenção do

terrorismo.

A fi m de contribuir para a construção

e manutenção da paz mundial e para

a reconstrução humanitária, o Japão

participou das forças de paz da ONU

no Camboja, Moçambique, Timor

Leste e Colinas de Golã. Desde No-

vembro de 2001, as forças japonesas

de autodefesa realizam atividades

de cooperação e assistência a navios

americanos e britânicos, entre

outros, no oceano Indico, em

missões de combate ao ter-

ror. Além dessas atividades, as

forças de autodefesa do Japão

prestam assistência à recons-

trução humanitária do Iraque

desde dezembro de 2003.

Num momento em que o

mundo se globaliza e busca

uma nova ordem internacio-

nal, o Japão prepara-se para

desenvolver uma cooperação

internacional abrangente, for-

talecendo a solidariedade entre os

países.

Nas ocasiões da visita do primeiro

ministro Koizumi ao Brasil, em se-

tembro passado, e da visita do pre-

sidente Luiz Inácio Lula da Silva ao

Japão, em maio último, os dois líde-

res concordaram em revigorar as re-

lações bilaterais, como parceiros glo-

bais. As possíveis áreas de cooperação

incluem a reforma da ONU, OMC

(Organização Mundial do Comér-

cio), meio ambiente, desarmamento

e não proliferação, desenvolvimento,

cooperação técnico-científi ca e inter-

câmbio cultural.

Espera-se que os dois países aprofun-

dem ainda mais a cooperação para

o desenvolvimento mundial, bem

como para a paz e a estabilidade da

comunidade internacional.

83

1673303_Afirmativa.indd 831673303_Afirmativa.indd 83 10/5/05 10:36:10 AM10/5/05 10:36:10 AM

Page 84: afirmativa9

84

Vamos convir, dar por assente que

deter o status de ser humano signi-

fi que a faculdade de se perceber em

interação com a realidade. Seja a rea-

lidade que vige do nosso lado de fora,

seja a que se dá no lado de dentro de

nós mesmos.

2.

Vamos também aceitar que

essa aptidão para perceber o

real como algo distinto do sujeito

que percebe tenha por matriz o cé-

rebro humano. O cérebro, sim, mas

com esta diferenciação: quando ele

interage planejadamente, predispon-

do-se à escolha dos mais adequados

meios para o alcance de um determi-

nado fi m a que se propôs, o nome

que se lhe assenta é o de “inteligên-

cia”, “intelecto”, “mente”, enfi m. Já

quando o cérebro interage com o real

sem nada planejar ou analisar ou me-

todizar, aí o nome que ele toma é o

de “sentimento”, “alma”, “coração”.

3.

Pronto! Eis as duas básicas

dimensões do cérebro hu-

elo que faltaPor: Carlos Ayres Britto, ministro do Supremo Tribunal Federal e doutor

em Direito Constitucional pela PUC de São Paulo.

mano. A dicotomia do intelecto e do

sentimento, ou da mente e do coração,

ou da inteligência e da alma. (pouco

importa a combinação de nomes).

Dicotomia que vai responder por ex-

pressões como estas: fulano de tal é um

homem de inteligência. Um intelectu-

al. Um operador mental. Ou, bem o

oposto, sicrano é uma pessoa de alma.

Um sentimental. Um homem de cora-

ção. E tudo a pressupor essa verdadeira

usina de incessantes estímulos que é o

cérebro de cada um de nós.

4.

Foi assim vendo as coisas,

acredito, que Pascal ajuizou

a frase tão cotidianamente repetida:

“O coração tem razões que a própria

razão desconhece”. A traduzir que o

cérebro-sentimento intui com verda-

des que o cérebro-intelecto não con-

segue descobrir de todo. Caso típico

do amor, da paz, da justiça, Deus, e

tantos outros fenômenos que de al-

guma forma escapam às coordenadas

da mente.

5.

É isso mesmo. O que a mente

pode é pensar, e pelo pensa-

mento conhecer algumas verdades.

Já o sentimento, este seguramente

não pensa. O que ele sabe fazer é in-

tuir, e pela intuição também conectar

com a realidade. Atrelar-se a ela por

uma forma direta. De estalo. Como

num salto ou por efeito de um in-

sight. Ali, não. Ali a inteligência

opera passo a passo, metodicamente,

analiticamente ou por aproximações

sucessivas. Muito mais de forma pas-

teurizada do que in natura. Como

num processo. Donde se falar que a

maneira puramente racional de co-

nhecer é indireta ou especulativa. Por

isso mesmo que implica demonstra-

ção, prova, descrição.

6.

Diga-se mais: como o inte-

lecto somente pode conhecer

por forma indireta, ele não se fun-

de jamais com o objeto cognoscí-

vel. Fica do lado externo do objeto.

Friamente. À distância. Olhando

opinião

1673303_Afirmativa.indd 841673303_Afirmativa.indd 84 10/5/05 10:36:11 AM10/5/05 10:36:11 AM

Page 85: afirmativa9

85

para a coisa investigada

e explicando-lhe profes-

soralmente os contornos.

Ao inverso do que sucede

com o sentimento. Este

incide de chapa sobre o

real. Apanha a realidade

num súbito de percepção,

mas com tal envolvimen-

to psicológico, tamanha

carga de “empatia”, que se

confunde com a própria

coisa apanhada. Como

que por osmose. Sem ter

como descrever aquilo

em que se transfundiu ou

de cuja natureza passou

a fazer parte num dado

momento. Fenômeno

que bem pode se enxergar

nesta sentença de Sartre:

“no amor, um mais um é

igual a um”.

7.

Pois bem, a nin-

guém é dado igno-

rar que o modo rigorosa-

mente lógico de interação

com o real desfruta de

maior prestígio social.

A História tem feito da

mente o carro-chefe do

sentimento, na pressu-

posição de que este anuvia aquela.

A pura racionalidade (fala-se) é que

melhor organiza a convivência po-

lítica e promove o contínuo avanço

da ciência, da tecnologia e dos mais

sofi sticados métodos de trabalho.

Sua primazia sobre o sentimento

vale como um atestado formal de

evolução intelectual, especialização

profi ssional e requintado padrão

de civilidade. Em seu nome é que a

cultura ocidental chegou à máxima

cartesiana do “penso, logo existo”

(século XVII), para no século ime-

diato fazer da Revolução Francesa

o defi nitivo marco da imposição de

limites aos governantes. Do império

da lei. Da declaração dos direitos e

garantias do indivíduo perante o Es-

tado (a liberdade à frente).

8.

Tudo isso é fato. Tudo isso

é inegável, por constituir a

mente um tão imprescindível quan-

to poderoso mecanismo de trabalho.

Mas não parece menos verdadeiro

que a mente sozinha é incapaz de dar

conta do recado, quando se trata de

passar da exaltação retórica dos valo-

Carlos Ayres Britto

opinião

1673303_Afirmativa.indd 851673303_Afirmativa.indd 85 10/5/05 10:36:11 AM10/5/05 10:36:11 AM

Page 86: afirmativa9

86

res para o plano da empírica vivên-

cia deles. E essa é a questão central.

Questão realmente central, porque

nessa passagem do discurso para a

prática dos valores é que se tem ve-

rifi cado uma lacuna, um hiato, um

descompasso que outra coisa não

traduz senão a falta de um necessá-

rio elo na corrente evolucionista da

humanidade: o elo do sentimento. O

anel do coração. O halo da alma.

9.

Com efeito, pense-se no valor

da justiça. No ideal do justo.

Esse que talvez seja o mais profundo

anseio dos homens em sociedade. O

bem maior a ser coletivamente alcan-

çado. Um bem tão imprescindível à

comunhão humana que se faz de

valor fundante do Direito. Fonte e

ao mesmo tempo a embocadura do

Direito que se veicula pelo conjunto

de leis de todo povo soberano. Mais

até, valor que empresta seu nome a

um dos Poderes elementares do Es-

tado (o Judiciário, comumente cha-

mado de “a Justiça”). Precisamente o

Poder que afere a compatibilidade ou

não da conduta das pessoas públicas

e privadas com aquela totalidade or-

gânica de leis. Pense-se. Pense-se, e a

que entendimento se chega?

10.

Resposta: chega-se ao

entendimento de que o

justo à distância, que é o justo abs-

trato ou em tese, esse não é tão difícil

de alcançar. Ele existe objetivamente

nas referidas leis (como dizia Kelsen,

“a lei é um padrão objetivo de justi-

ça”). Leis que são feitas por obra do

intelecto. Por empreitada mental. A

pura lógica a formatar e combinar o

conjunto de valores que se embebem

da compreensão societária da justiça,

numa determinada quadra histórica.

Exatamente como sucedeu com a pro-

mulgação da Constituição brasileira

de 1988, esse repositório dos mais ex-

celsos princípios de justa convivência

política (“soberania popular”, “cida-

dania”, “dignidade da pessoa huma-

na”, “valores sociais do trabalho e da

livre iniciativa”, “pluralismo político”,

“impessoalidade”, “moralidade”, “pu-

blicidade”, “efi ciência”, etc.).

11.

Não é esse o gargalo do

Direito, portanto. Esta-

mos muito bem servidos em termos de

justiça abstrata. Contamos com um ex-

celente ponto de partida e o problema

não pode estar, claro, nessa ótima linha

de largada da Ordem Jurídica brasilei-

ra. O problema reside é no ponto de

chegada, isto sim, e esse ponto jurídico

de chegada é o justo em concreto. O

justo em carne-e-osso, a se dar no âma-

go de cada litigioso processo judicial.

Pois é no empírico dissentir das partes

processuais que juízes e tribunais se

dão conta de que a vida vivida é muito

mais novidadeira do que a vida pensa-

da pelos legisladores.

12.

É aí que se faz necessário

o uso do coração. Para

que o intérprete seja capaz de enxer-

gar nos dispositivos da Constituição

e das leis em geral algo de normativa-

mente novo. Novo, não por inexistir

anteriormente; porém por escapar

às lentes do intelecto. É exprimir:

uma nesga ou uma franja que seja

da normatividade agasalhadora do

justo-concreto já estava lá no Orde-

namento Jurídico. Mas por falta de

aguçado sentimento de justiça mate-

rial, telúrico senso de justiça real do

operador jurídico, a norma não se

deu a ele por completo. Ou então o

modo de retrabalhar valores já posi-

tivados, mas em estado de empírico

tensionamento, não encontrou espa-

ço anímico para acontecer.

13.

O que é preciso, então, é

continuar a fazer uso do

intelecto. Mas sem fechá-lo para a

aceitação de outras esferas da percep-

ção humana. Sem bloqueá-lo para o

reconhecimento de outras possibili-

dades de captura da realidade, a se

historicizar de modo paralelo a ele.

Não do lado de dentro, mas do lado

de fora dele mesmo. Equivale a dizer:

o que é preciso é somar. Somar or-

ganicamente. Somar sinergicamente

os dois elementares centros huma-

nos de interação com a natureza e

a sociedade, que são, justamente, o

intelecto e o coração. Isto para que

se alcance o patamar da plenitude do

ser que observa, estuda, manipula ou

simplesmente contempla as coisas.

14.

Enfi m, ser inteiro é o fi at

lux. No Direito, na Po-

lítica, na Economia, na Ética. Mas

ser inteiro no mínimo que se faça, na

antevisão de que a realidade não se

dá de todo a quem de todo não se dá

a ela (“A vida só se dá pra quem se

deu”, já dizia Vinícius de Moraes, em

conhecida letra de música). Pois sem

afetividade não há efetividade dos

valores que dão sentido à experiência

humana. Que o diga a presente crise

das instituições político-partidárias

brasileiras, tão marcada por homens

que parecem pensar demais e sentir

de menos.

opinião

1673303_Afirmativa.indd 861673303_Afirmativa.indd 86 10/5/05 10:36:13 AM10/5/05 10:36:13 AM

Page 87: afirmativa9

87

O Troféu Raça Negra, que ocorre

anualmente no Dia da Consciên-

cia Negra, em 20 de novembro e

que tem como objetivo homena-

gear e reconhecer o trabalho de

pessoas realmente comprome-

tidas com a causa do negro no

Brasil, está crescendo ano a ano

e um dia já não é sufi ciente para

comemorá-lo. Este ano, o Troféu

será o auge da Semana da Cons-

ciência Negra em São Paulo, que

se transformará na capital da raça

negra no Brasil.

Na semana de 16 a 20 de novem-

bro, haverá uma programação

extensa de discussões e debates

sobre a temática do negro, que

abrangerá problemas e buscará solu-

ções, diz Ruth Lopes, vice-presidente

da Afrobras e coordenadora do even-

to. “Teremos conferências, seminá-

rios e uma gama de shows e eventos

com artistas negros, com muita mú-

sica, culinária, dança etc. Tudo isso

será possível por causa da parceria

com o Sesc/Senac, que disponibiliza-

rá seus palcos e estruturas para que

roféu

esses eventos sejam um sucesso”, in-

forma Ruth.

Na entrega do Troféu, a exemplo do

ano passado, haverá a entrega em Ho-

menagem Póstuma e a comissão or-

ganizadora do Troféu escolheu, nada

mais, nada menos, que Cartola e Cle-

mentina de Jesus. Nilcemar Nogueira,

neta de Cartola, e Ubirajara Correa da

Silva, o Bira de Jesus, já confi rmaram

suas presenças para receber o “Oscar”

da comunidade negra.

Outros que já fecharam suas agendas

para a entrega do Troféu são Alcione,

Camila Pitanga, Sérgio Loroza, Hé-

lio de La Peña, Maurício Gonçalves,

Léo Maia, Del Garcês e Margareth

Menezes, juntando-se a Luiz Melo-

dia, Isabel Fillardis, Rocco Pitanga e

Paula Lima, avisa Ruth.

Outra novidade do Troféu é a che-

gada de Neilda Fabiano, uma per-

sonalidade que sempre trabalhou

pela cultura e inclusão do negro na

sociedade brasileira como um todo,

e um forte nome que se junta à Co-

missão do Troféu.

E os patrocinadores e apoiadores

continuam chegando. O Boticário

fechou uma cota do evento e tam-

bém estará maquiando os convida-

dos VIPs do troféu. O Boticário vem

somar com outros patrocinadores:

Nossa Caixa e Camisaria Colombo.

Os parceiros que já assinam o evento

são Ministério da Cultura, Fundação

Roberto Marinho, Governo do Esta-

do de São Paulo, Sesc/Senac, Canal

Futura, Consulado dos Estados Uni-

dos, Fundação Cultural Palmares,

Amcham – Câmara de Comércio

Brasil Estados Unidos, Secretaria de

Justiça e Cidadania do Estado de São

Paulo, Secretaria de Cultura do Es-

tado de São Paulo, SP Turis, revista

Afi rmativa Plural, revista Raça e pro-

grama Negros em Foco.

Raça Negra 2005

troféu

87

1673303_Afirmativa.indd 871673303_Afirmativa.indd 87 10/5/05 10:36:13 AM10/5/05 10:36:13 AM

Page 88: afirmativa9

88

troféu

Ronnie Marruda

“É uma honra enorme ser indicado para receber o Troféu

Raça Negra. Não só pela satisfação pessoal, mas por enten-

der o reconhecimento de um trabalho feito com amor e se-

riedade, assim como o trabalho realizado pela ONG Afro-

bras e pela Revista Afi rmativa Plural.”

Alcione

“Fico honrada em participar do Troféu Raça Negra 2005;

parabenizo a Afrobras pela iniciativa.”

Emílio Santiago

“Fico feliz em saber que minha arte toca o coração das

pessoas.”

1673303_Afirmativa.indd 881673303_Afirmativa.indd 88 10/5/05 10:36:15 AM10/5/05 10:36:15 AM

Page 89: afirmativa9

89

troféu

Thais Araújo

“Acho muito legal. Uma instituição que vi começar, que

continua trabalhando e que, a cada ano, cresce cada vez

mais. É a única Instituição que faz algo pela Raça Negra.

Quanto ao Troféu, me sinto honrada em ser indicada.”

Isabel Fillardis

“É lisonjeador ser indicada para um prêmio. Isto quer di-

zer que estão observando nosso trabalho. Fico muito feliz

pelo fato do prêmio ter a minha cor e de quem o julga,

provavelmente, ter minha cor também.”

Margarete Menezes

“É com enorme satisfação e alegria que recebo pelo segun-

do ano a indicação ao Troféu Raça Negra, na categoria me-

lhor cantora. Um evento que vem por incentivar a cultura

do nosso país, reconhecendo o talento dos artistas afro-des-

cendentes em suas diversas formas de manifestações cultu-

rais. Um grande beijo da Maga.”

1673303_Afirmativa.indd 891673303_Afirmativa.indd 89 10/5/05 10:36:32 AM10/5/05 10:36:32 AM

Page 90: afirmativa9

90

Dudu Nobre

“Ser indicado para o prêmio Troféu Raça Negra, é a certeza

do reconhecimento de todo o meu trabalho. Fico muito

orgulhoso! Estou muito feliz por terem lembrado de mim

pela segunda vez. Agradeço ao Troféu Raça Negra por todo

esse carinho.” AraKetu

“A liberdade de uma nação é a soma da liberdade de cada

cidadão.”

Jéssica Sodré

“Estou superfeliz por ter sido indicada; assisti o ano passa-

do e fi quei com muita vontade de estar naquele palco, de

ganhar o Troféu Raça Negra.”

troféu

1673303_Afirmativa.indd 901673303_Afirmativa.indd 90 10/5/05 10:36:43 AM10/5/05 10:36:43 AM

Page 91: afirmativa9

91

Adriana Alves

“Acho bem bacana, é um superincentivo para nós, atores.

Receber o Troféu ‘é uma emoção, coração acelera’, mas é

uma sensação ótima” (quando recebi o ano passado por atriz

revelação)”.

Daiane dos Santos“Fico muito feliz por terem lembrado de mim pela segun-

da vez. Agradeço ao Troféu Raça Negra por todo este ca-

rinho.”

Rappin Hood

“Sinto satisfação. Esse troféu é um incentivo para conti-

nuar trabalhando. Todo negro, no Brasil, é o espelho da

raça negra.”

Romeu Evaristo

“Um troféu que une a raça negra. Quer seja no humor

ou na dramaturgia, é um dos maiores troféus que um ator

pode ganhar. A arte é uma coisa da raça.”

troféu

1673303_Afirmativa.indd 911673303_Afirmativa.indd 91 10/5/05 10:36:54 AM10/5/05 10:36:54 AM

Page 92: afirmativa9

ações afirmativas

92

ações afirmativaspalavra do presidente

No mês de agosto último, honrosa-

mente, colocamos nossa melhor rou-

pa para mais uma noite de gala que

tem sido freqüente na querida Uni-

palmares.

E o motivo era para recepcionar mais

uma grande personalidade norte ame-

ricana que, assim como as anteriores,

teve motivos de sobra para atravessa-

rem o Atlântico e com sua presença

trazer o conforto, a solidariedade e o

apoio inestimável aos jovens alunos e

professores.

Orgulhosos e felizes recebemos o Exce-

lentíssimo Prefeito da Cidade de New

Orleans/EUA, Clarence Ray Nagin,

esposa, dois fi lhos adolescentes e sua

comitiva de 11 pessoas, composta de

Secretários, Assessores e Empresários.

No auditório João Carlos Di Gênio,

após ser elegantemente recepciona-

do pelo nosso prestigiado Coral, sua

Excelência, visivelmente emocionado

assumiu o púlpito e efetuou uma bo-

nita narrativa de sua trajetória pessoal

e, voltando para a platéia de alunos

com o dedo em riste e voz embarga-

da, destacou de forma imperativa:

“... todos os obstáculos e opressões ao

longo da nossa trajetória histórica não

foram e não serão capazes de impedir

que o superemos e que continuemos

caminhando ao encontro da justiça,

liberdade e do tratamento igualitário,

valores insuprimíveis de todo o ser

humano. Todo cidadão negro tem a

obrigação e o dever de continuar na

construção desse caminho, pois este

foi o melhor legado de nossos ante-

passados. E, as armas contemporâneas

dessa luta hoje são o domínio do co-

nhecimento. Portanto, não fujam de

suas responsabilidades e não desistam

nunca, pois os negros de qualquer par-

te do mundo precisam de seu sucesso

e estarão torcendo fervorosamente para

que esse dia chegue logo e, acreditem,

nada será capaz de impedir que seus so-

nhos e desejos tornem-se realidade.”

Ainda embriagados de euforia e per-

didos na tentativa de compreender a

real extensão da implacável sentença,

tomamos conhecimento dias depois

da tragédia que se abateu sobre as

pessoas das quais Nagin é o magistra-

do. Entre a perplexidade e o espanto,

estáticos, acompanhamos a funesta

desgraça que tomou de assalto nossos

irmãos do norte.

Solapados e destruídos pela força das

águas produzidas pelo Furacão Katri-

na, o povo de New Orleans vaga sem

rumo, enquanto procuram entender

como a natureza pode tratá-los com

tanto desprezo. Logo New Orleans

que, na sua essência e cultura, é uma

oferenda diuturna a todos os Deuses.

A alegria e a felicidade que encontra-

mos e deliciamos juntos no palco da

Zumbi, rapidamente se transformou

em tristeza, dor e inconformismo

diante do rastro devastador do Katri-

na, na volta ao seu lar.

Há um longo caminho a ser percor-

rido na volta à normalidade. E para

todas as dores atrozes que estão e

continuarão sendo submetidos nossos

irmãos do norte caberá a nós brasilei-

ros, cerrar fi leiras na sentença do ma-

gistrado da nossa noite de gala.

Excelentíssimo Senhor Prefeito Na-

gin, acredite, nada e nem o Katrina

será capaz de impedir que os sonhos

e os desejos do povo de New Orle-

ans sejam reconstruídos, alcançados e

mantidos.

Este é o nosso sincero e mais fervoroso

desejo.

atrina não será capazO

Por: José Vicente, presidente da Afrobras e reitor da Universidade da

Cidadania Zumbi dos Palmares

92

1673303_Afirmativa.indd 921673303_Afirmativa.indd 92 10/5/05 10:37:03 AM10/5/05 10:37:03 AM

Page 93: afirmativa9

ações afirmativas

93

ações afirmativas

www.camisariacolombo.com.br*No cartão Colombo Aura. Parcela mínima de R$ 25,00. Crédito sujeito à aprovação.Promoção válida de 19/08/05 a 30/09/05 ou até o final do estoque, exceto para Florianópolis e Cuiabá.

CalçasDe 59,95 Por 39,95TernoDe 149,95 Por 99,95CamisasDe 49,95 Por 29,95

Terno(tropical risca de giz)

De 299,95 Por 179,95Camisas

De 59,95 Por 39,95Malhas

De 149,95 Por 69,95Jaquetas

De 199,95 Por 99,95Jaqueta de couro

De 399,95 Por 259,95Camisas Chamoix(couro)

De 399,95 Por 259,95Kaban

De 149,00 Por 99,95

Ref: 0897

Ref: 2950/2930

Ref: 0915/0916/0920/0905/0921/0922/0923/0925/0930

Ref: 0799

Ref: 0799

Ref: 1515/1616

Ref: 0898

Ref: 0901/0904

Ref: 1002

Ref: 0011/0012/0069/0075/0079/0096

Tudo em até

12Xsem juros*

1673303_Afirmativa.indd 931673303_Afirmativa.indd 93 10/5/05 10:37:05 AM10/5/05 10:37:05 AM

Page 94: afirmativa9

94

ações afirmativas

1673303_Afirmativa.indd 941673303_Afirmativa.indd 94 10/5/05 10:37:05 AM10/5/05 10:37:05 AM