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,; A EVOLUÇAO DA ANALISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL (1961-93) * Carlos Osmar Bertero ** Tania Margarete Mezzomo Keinert A evolução da produção brasileira em Análise Organizacional a partir dos artigos publicados pela RAE no período de 1961-93. The eooluiion of Brazilian Organizational Analysis from articles contents published by RAE between 1961-93. PALAVRAS·CHAVE: Análise Organizacional, teoria organizacional, variáveis orçe- nizacionais, análise de conteú- do, administração brasileira. KEYWOROS: Organizalional Analysis, orga· tiuetionel theory and bens- viour, Brazilian administrat/on and management, organizatio- nal variables, content analysis. , Professor e Chefe do Depar- tamento de Administração Ge- ral e Recursos Humanos da EAESP/FGV '* Professora do Departamento de Administração Geral e Re- cursos Humanos e Pesquisado- ra do Centro de Estudos de Ad- ministração Pública e Governo, ambos da EAESP/FGV. Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 34,n.3, p. 81-90 Mai./Jun. 1994 81

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A EVOLUÇAO DA ANALISEORGANIZACIONAL NO BRASIL(1961-93)

* Carlos Osmar Bertero** Tania Margarete Mezzomo Keinert

A evolução da produção brasileira em Análise Organizacional a partir dosartigos publicados pela RAE no período de 1961-93.

The eooluiion of Brazilian Organizational Analysis from articles contents published byRAE between 1961-93.

PALAVRAS·CHAVE:Análise Organizacional, teoriaorganizacional, variáveis orçe-nizacionais, análise de conteú-do, administração brasileira.

KEYWOROS:Organizalional Analysis, orga·tiuetionel theory and bens-viour, Brazilian administrat/onand management, organizatio-nal variables, content analysis.

, Professor e Chefe do Depar-tamento de Administração Ge-ral e Recursos Humanos daEAESP/FGV

'* Professora do Departamentode Administração Geral e Re-cursos Humanos e Pesquisado-ra do Centro de Estudos de Ad-ministração Pública e Governo,ambos da EAESP/FGV.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 34, n. 3, p. 81-90 Mai./Jun. 1994 81

ARTIGO

o termo Análise Organizacional foiadotado recentemente em diversos círcu-los para englobar o estudo de organiza-ções independentemente das variáveisutilizadas e da ênfase que se coloque.Desta forma, os artigos que foram consi-derados como objeto empírico deste tra-balho 1 tratam de tópicos que, ao longo deaproximadamente quarenta anos, podemtambém ser classificados como referentesà Teoria Organizacional, à Teoria Geralda Administração e ao ComportamentoOrganizacional. Portanto, a expressãoAnálise Organizacional foi adotada por-

que, no mo-mento, é a quenos parece de-signar maisadequadamen-te a área emquestão.

A AnáliseOrganizacionalchega ao Brasiljuntamentecom a Admi-nistração en-quanto ativida-de profissionale preocupaçãoacadêmica. Aprofissionaliza -ção implica emescolarização,

assim, os anos 50 e 60 assistem à abertu-ra de nossos primeiros cursos de Admi-nistração voltados à área pública e em-presarial. Embora seja possível detectarvertentes não-administrativistas emAnálise Organizacional, especialmente osignificativo conjunto de conhecimentosdesignados como Sociologia Organiza-cional, Sociologia Industrial ou Estudossobre Burocracia, estas só se fizeram pre-sentes entre nós em função da Adminis-tração enquanto atividade profissionali-zada e escolarizada.

Enquanto campo de conhecimento ede reflexão, a administração originou-se,como se sabe, em outras sociedades eculturas. O predomínio foi e continuasendo dos Estados Unidos, especialmen-te, senão quase que exclusivamente, noque tange à administração empresarial.A palavra managemeni, um termo prati-camente técnico, adotado quase que uni-

A produção brasileira em AnáliseOrganizacional é divulgadora no

sentido de repetir didaticamente o quefoi produzido lá forai é também

aplicada, à medida que usa conceitosmodernos e retoma experiências

estrangeiras procurando utilizá-laspara analisar, explicar e solucionar

questões administrativas brasileirasi éainda crítica e reflexiva à medida quequestiona e procura invalidar total ouparcialmente perspectivas e soluçõesque são produzidas noutros países.

1. Os autores agradecem a Fer-nando Nino Pinheiro Andrade eLuciana Massaad a importantecolaboração na coleta e proces-samento dos dados.

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versalmente, é claramente uma criaçãonorte-americana. A contribuição euro-péia, especialmente a francesa e a inglesa(e, nos últimos quinze anos, também deoutros países como Canadá, Holanda,Suécia, Itália e Alemanha), deve ser vistacomo bastante influenciada pela produ-ção e pela perspectiva norte-americana,desenvolvendo-se, muitas vezes, comuma postura crítica.

A Análise Organizacional, entre nós,carrega igualmente todas essas marcas.Surgiu a partir de uma influência exclu-sivamente norte-americana no delinea-mento e estabelecimento dos currículosdos cursos de Administração, havendo,só posteriormente, treinamento de pro-fessores em universidades européias.Ainda hoje, a grande maioria dos docen-tes em Administração treinados no exte-rior obteve graus acadêmicos em univer-sidades americanas. Por isso, a AnáliseOrganizacional é contemporânea do lon-go período de hegemonia dos EstadosUnidos em Administração.

A produção brasileira em Análise Or-ganizacional é divulgadora no sentidode repetir didaticamente o que foi pro-duzido lá fora; é também aplicada, à me-dida que usa conceitos modernos e reto-ma experiências estrangeiras procurandoutilizá-las para analisar, explicar e solu-cionar questões administrativas brasilei-ras; é ainda crítica e reflexiva à medidaque questiona e procura invalidar totalou parcialmente perspectivas e soluçõesque são produzidas noutros países.

O uso de conceitos, teorias e variáveisdas Ciências Sociais pela Análise Organi-zacional vem sendo importante para aprodução brasileira, à medida que o paístem uma tradição de Ciências Sociaisque não é norte-americana e, especial-mente, não é funcionalista. Embora sejapossível encontrar funcionalismo entrenós, ele não surge como o paradigmateórico predominante. O período comque trabalhamos foi significativo para asCiências Sociais como descoberta e am-pla adoção do marxismo para interpreta-ção da realidade social. Por isso, o víncu-lo tão importante entre Análise Organi-zacional e funcionalismo, característicode grande parte da produção norte-ame-ricana e também inglesa, inexistiu noBrasil.

© 1994, Revista de Administração de Empresas I EAESPI FGV, São Paulo, Brasil.

A DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

Se uma primeira divisão pode ser in-troduzida na reação dos que se ocupamda área, ela vai gerar entusiamo entre al-guns que acreditam ter encontrado umnovo instrumento a ser aplicado para ex-plicar a realidade administrativa brasilei-ra e também para aprimorá-la, aproxi-mando-a dos níveis de desempenho dospaíses de onde as idéias são provenien-tes. Outra reação é a de receber a AnáliseOrganizacional, especialmente a produ-zida nos Estados Unidos, com grandecautela, seja pelo enorme distanciamentocultural, econômico e administrativo quenos separa daquele país, seja pela possí-vel "ideologização" das teorias que seacredita não separáveis da posição in-questionável de potência hegemônicados Estados Unidos ao longo da maiorparte do século XX.

Os artigos constantes da RAE - Revistade Administração de Empresas - no períodoque vai de sua fundação, em 1961, até1993, constituíram-se no objeto empíricodo presente estudo.

Nosso objetivo foi realizar uma análi-se histórica, que permitisse identificar -ainda que preliminarmente - as origense a evolução da Análise Organizacionalno Brasil. Trata-se de uma análise de ten-dências, obviamente, não-exaustiva.

A RAE foi considerada representativada produção em Análise Organizacional,não somente pelo importante papel de-sempenhado pelo órgão que a publica -a EAESP /FGV - na consolidação do es-tudo sistemático da Administração,como pela sua longevidade - a maiorsem interrupções, no gênero, no Brasil.

Cabe mencionar que o corte históricoefetuado (pós-60) deve influenciar os re-sultados obtidos, uma vez que, nesse pe-ríodo, o núcleo analítico básico dos estu-dos organizacionais já estava consolida-do (até mesmo desenvolvimentos recen-tes, como a Teoria de Sistemas e o Con-tingencialismo) havendo, inclusive,grande volume de análises críticas àsteorias pioneiras (especialmente à cha-mada Teoria Clássica ou AdministraçãoCientífica).

Neste sentido, o estudo dos primór-dios da Análise Organizacional no Brasi I

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poderia ser enriquece dor, especialmentea partir dos anos 30, quando a emergên-cia do intervencionismo estatal passa ademandar administradores profissionais.Nesse período a Revista do Serviço Público(RSP) constituiu-se no único periódicodo gênero existente no Brasil. Emboracom interrupções no período 1974-1981,a RSP - que existe desde 1937 - foi edita-da até 1989, estando em vias de ter suapublicação reiniciada neste ano, por ini-ciativa da Escola Nacional de Adminis-tração Pública (ENAP).

Um estudo baseado na produçãoem Análise Organiza-cional constante naRevista de Adminis-tração (RA) da USP,e na Revista de Ad-ministração PÚ-blica (RAP),da FGV, podetambém am-pliar o espec-tro de análise -o que serárealizado emetapa poste-rior.

Do total deartigos publicadospela RAE no perío-do em questão, seleciona-mos aqueles referentes à Análise Organi-zacional, no sentido anteriormente expli-citado. Foram classificados, assim, 184artigos.

Nosso objetivo constituiu-se em efe-tuar uma análise de conteúdo destes arti-gos. Para tanto optamos por classificá-losem função de três indicadores:

a escola ou perspectiva teórica utiliza-da pelo autor do texto ao escrevê-lo. Oautor adquire, implícita ou explicita-mente, uma posição? Utiliza instru-mental de análise facilmente atribuívela esta ou àquela escola? Neste item, fo-ram consideradas ainda, além das es-colas tradicionalmente conhecidas naTeoria Geral da Administração, pers-pectivas teóricas recentes, não-consoli-dadas ou emergentes, tais como o Ho-lismo, Teoria Z, Teoria do Caos, Reen-genharia, Qualidade Total etc. Nossoobjetivo foi o de apreender as escolas

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ARTIGO

Teoria Clássica/Administração CientíficaEscola de Relações Humanas

ou perspecti-vas teóricasmais significa-tivas para aprodução bra-sileira expres-sa nos artigospublicadospela RAE;

Figura1 Escolas ou Perspectivas Teóricas

4%

11%

5%

as variáveis or-ganizacionaisanalisadas nosartigos publi-cados pelaRAE. Que Uas-suntos" sãoabordados?Qual a baseempírica dostextos produ-zidos? Tratam-se de variáveiscomportamen-tais ou estru-turais? Rela-cionadas àsabordagenssociológicas,

psicológicas ou políticas? Estas variá-veis foram estabelecidas, inicialmente,a partir daquelas estudadas pelas es-colas ou perspectivas teóricas consoli-dadas, reservando-se um espaço paraaquelas que iriam emergindo da pró-pria investigação. Esta classificação foiefetuada com o objetivo de verificarem que situações, "partes" da empre-sa ou objeto empírico a Análise Orga-nizacional recai;

BehaviorismoEstrutu rali sm o/B urocracia

~---Teoria de SistemasContingencialismoDesenvolvimento OrganizacionalAdministração por ObjetivosCultura OrganizacionalOualidade Total (TOM)Administração ParticipativaTeoria Z-- Mudança OrganizacionalEstratégia EmpresarialAnálises Epistemológicas

os autores referidos com maior fre-qüência pelos que escreveram naRAE. Que referências bibliográficassão comumente utilizadas nos arti-gos? A que autores os escritos da RAEremetem com maior freqüência?Quais os mais utilizados no Brasil?Em que períodos? Com este últimoitem objetivou-se "fechar o cerco" epermitir que a análise de conteúdofosse realizada.

Análise de conteúdoA partir das três categorias classifica-

das - escolas ou posições teóricas, variá-

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veis organizacionais e autores tratados eutilizados - efetuaremos a análise doconteúdo da produção constante dal?AE.

Escolas ou perspectivas teóricasNa figura 1, pode-se observar as esco-

las mais significativas identificadas aolongo do período. Praticamente nenhu-ma "escola" ou perspectiva teórica dei-xou de encontrar representação, indodesde a Administração Científica ouTeoria Clássica até os atuais modismoscomo TQM e Teoria Z. Todavia, a figura2 indica que sete escolas ou perspectivasrespondem pela parte maior da produ-ção e foram predominantes.

O período analisado (1961-93) é indi-cativo das principais preocupações daépoca, especialmente as décadas de 60 e70 quando a análise estrutural de organi-zações, sempre fazendo uso de variáveisderivadas do modelo americano, in-fluenciaram a literatura.

A aplicabilidade acabou em boa parteficando com as escolas designadas porBehaviorismo e Estratégia Empresarial.A razão não surpreende, pois embora se-veramente criticada em diversos círcu-los, especialmente pelos gestaltistas epsicólogos que se distribuem ao redor deum paradigma freudiano, o behavioris-mo ainda oferece ao administrador e aoconsultor que pratica a intervenção orga-nizacional, um instrumento simples e se-guro. Alterar comportamento é algo inte-ligível, concreto e especialmente percep-tível no mundo de organizações e admi-nistradores. Mecanismos de racionaliza-ção, pulsões e motivações enfrentammaiores dificuldades num mundo sem-pre dominado pela mística de resulta-dos, de preferência, rápidos.

A aplicabilidade também se manifes-ta na perspectiva da Estratégia Organi-zacional. A medida que esta é domina-da por resultados, o administrador temna estratégia um grande elemento inte-grador que abraça diversas variáveis ouaspectos da organização. Coisas aparen-temente tão específicas e até distantescomo objetivos, estrutura organizacio-nal, diferenciação vertical, complexida-de estrutural e processos organizacio-nais diversos encontram na estratégiaimportante elo interligador. Isto sem

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mencionar o ambiente organizacionalrelevante das organizações, dimensãofundamental da estratégia.

No período, deve-se ainda destacar olocal consignado a temas que giram emtorno da burocracia, o que não poderiaser diferente. O tema é internacional-mente marcado pela retomada funciona-lista do modelo weberiano, dos quais sãoexemplos trabalhos de Philip Selznick,Robert Merton e Alvin Gouldner. 2 Aindatemos o desenvolvimento da análisecomparativa de organizações, a partir dePeter Blau nos Estados Un id os ' e doGrupo de Aston na Inglaterra." Foi ummomento em que se adotou uma pers-pectiva claramente positivista e um mo-delo de ciência do tipo quantitativocomo a única maneira válida de cons-truir uma ciência das organizações. Mes-mo criticando o modelo de ciência e daepistemologia positivista, não se podedeixar de registrar o que foi a derradeiratentativa de produção de uma ciênciapositiva das organizações.

Estas abordagens não esgotam ainda aperspectiva burocrática. O weberianismopode ser "funcionalizado", como o foinos trabalhos aqui referidos, e tambémpode ser utilizado numa perspectivamarxista ou esquerdizante. A análise or-ganizacional que apresenta organizaçõesenquanto reprodutoras de uma socieda-de de classes, detendo-se em relações depoder enquanto dominação; ou a que en-fatiza formações burocráticas enquantogeradoras de estamentos privilegiados,são claros exemplos da aplicação domarxismo ao modelo burocrático webe-riano. Resta ainda uma fecunda e mar-cante produção brasileira, que se origi-nou possivelmente com o trabalho deMauricio Tragtenberg, baseada no aspec-to "ideológico" da administração clássicae burocrática.

Outras perspectivas como a TeoriaSistêmica, e um conjunto grande de pers-pectivas e nomes, alguns mais efêmeros,outros mais permanentes como APO -Administração por Objetivos -, Admi-nistração Participativa, TQM - Total Qua-lity Management -, Mudança Organiza-cional e as diversas vertentes amalgamá-veis sob o manto do Contingencialismo,também se fazem presentes. Não repre-sentam, todavia, o ponto forte da produ-

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ção analisada. O interessante é que estasdiversas abordagens são predominante-mente aplicadas e voltadas à solução deproblemas organizacionais, mostrando apreferência dos autores pelo teórico aoaplicado. Resta ainda considerar quemuitas destas variáveis (agrupadas na fi-gura 1) são mais recentes, ou seja, fazem-se presentes a partir da década de 80 epor isso não poderiam ainda ter acumu-lado o mesmo volume de artigos de Bu-rocracia, Estruturalismo, Behaviorismo eEstratégia.

Mas a perspectiva que aparece emprimeiro lugar, representando 17°;;, daprodução analisada, é a epistemológica.Entendemos por epistemologia artigosque se ocupam da Análise Organizacio-nal a partir da Teoria do Conhecimentoe da Teoria da Ciência. Esta predileção éindicativa da preferência dos própriosautores e da maneira como percebem ocampo. A perspectiva epistemológica éaquela que permeia os artigos chama-dos críticos ou reflexivos e, entre nós,freqüentemente se considera uma pos-tura acadêmica como sendo necessaria-mente reflexiva ou crítica. Pelo mesmotipo de raciocínio, não seria consideradaacadêmica uma postura aplicada ouprática perantea Análise Orga-nizacional. Ora,o objeto de nos-sa análise, aRAE, foi até omomento umarevista de Ad-ministração quesempre se defi-niu como acadê-mica, chegandoaté mesmo aabrigar, durantea década de 70,produção oriun-da de diversasáreas de Ciên-cias Sociais, àépoca mais ex-postas à repres-são da censura.É apenas noatual momentoque a direção darevista procura

A EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

2. SELZNICK, Philip. Leadershipin administration. New York:Harper and Row, 1957; MER-TON, Robert T. K. Social theoryand social structure. New York:Free Press, 1968; GOULDNER,Alvin. Patterns of industrial bu-reaucracy. New York: FreePress, 1956.

3. BLAU, Peter, SCHOENHERR,R. The structure of organiza-tions. New York: Free Press,1971; BLAU, Peter. The organi-zation of academic work. NewYork: Wileyl Som, 1973.

4. Refere-se ao grupo que atua-va junto à Unidade de Pesquisaem Administração Industrial daUniversidade de Aston, em Bir-minghan, Grã-Bretanha, à qualestavam relacionados D. S.PUGH, D. J. HICKSON, C. R.HININGS, K. N. McDONALD, C.TURNER e T. LUPTON. Dos au-tores, ver A conceptual schemefor organization analysis, Admi-nistrative science quarterly,(ASQ), Ithaca, v. 8, n. 3, Dec.1963 e An empirical taxomomyof structure of work organiza-tions, Administrative sciencequarterly, Ithaca, v. 14, n. 1,1969.

Figura2

Evolução das Escolasou Perspectivas Teóricas

14

12

10

8

6

4

2

o período

61-70 71-80 81-93_ Teoria Clássica/Administração Cientifica_ Behaviorismo_ Estruturalismo/Burocracia

Teoria de Sistemaslfi,'#jjií!Jl Administração por Objetivos

Estratégia Empresarial_ Epistemologia

85

ARTIGO

16 nº de artigos

torná-Ia mais le-gível ao públicoque está fora daacademia e quenutre pela áreaorganizaciona Iuma expectativapuramente a d-ministrativista, oque equivale di-zer, aplicada eprática.

A perspectivaepistemológicaestá longe de sercriação originaldos autores bra-sileiros. Ela exis-te na produçãode outros países,mas não ocupaum percentualtão grande daprodução acadê-mica. Um livromarcante daabordagem epis-temológica como

o de Gibson Burrell e Gareth Morgan.Sociological paradigms and organizationalanalusis, foi publicado em 1979, fez gran-de sucesso e não teve, até o momento,uma segunda edição, permanecendo es-gotado . .'i. É também indicativo da maneira comoautores brasileiros "epistemologizam" aquestão, a forma como enfocam aborda-gens recentes no mundo organizacional,como Análise Cultural de Organizaçõesou Simbolismo Organizacional, não seatendo necessariamente ao conteúdo es-pecífico destas abordagens, mas subme-tendo-as a um crivo epistemológico.Exemplos seriam ocupar-se em indagarse o simbolismo organizacional ampliaefetivamente o conhecimento que pode-mos ter das organizações ou se a análisecultural é ou não uma forma de manipu-lação de símbolos com o objetivo de sub-meter agentes e membros da organiza-ção. Não podemos deixar de registrar aimpressão de que a ênfase em epistemo-logia denota um certo "aristocracismo"cientifico que é exatamente o oposto dopragmatismo da "mão na massa" ouhands OI!.

Evolução das VariáveisOrganizacionais

14

12

10

8

6

o~~--------~--------~~61-70-ll)g 71-80 81-93

Estrutura OrganizacionalProcesso DecisórioMissão/Metas/Objetivos OrganizacionaisRecursos HumanosMotivaçãoAmbiente OrganizacionalTecnologia

5. BURREL, G., MORGAN, G.Sociological paradigms and ot-ganizational analisys. Londres:Heinemann Educational Books,1979.

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Variáveis organizacionaisA escolha de variáveis organizacio-

nais, tratadas pelos autores ao longo dos32 anos de análise da RAE, manifesta ocuidado em escolher variáveis que efeti-vamente foram consideradas importan-tes para o conhecimento das organiza-ções pelas diversas escolas ou perspecti-vas teóricas. É portanto inevitável queuma abordagem organizacional usandoa Sociologia acabasse por privilegiar va-riáveis tipicamente funcionalistas, já queeste foi o paradigma sociológico predo-minante. Portanto, diferenciação hori-zontal, diferenciação vertical e complexi-dade são necessariamente escolhidas enão luta de classes, hegemonia e domi-nação. Igualmente quando se trata deprocessos e comportamento humano emcontextos organizacionais, as variáveisvem preferencialmente do Behaviorismoe de setores da Psicologia - como social eclínica - e apenas secundariamente deoutras escolas psicológicas, da Psicologiaexperimental ou diferencial.

As sete variáveis mais tratadas são en-contradas separadas das demais de me-nor freqüência de tratamento na figura 3.São elas, em ordem decrescente: estrutu-ra organizacional, processo decisório,objetivos/metas/missão, recursos huma-nos, motivação, ambiente organizacionale tecnologia.

O conjunto de variáveis mais aborda-das é indicativo de que a Análise Orga-nizacional utilizou variáveis de duas dis-ciplinas, a Sociologia e a Psicologia, etambém da "perspectiva" estratégica dasorganizações. Estrutura organizaciona I éuma dimensão típica e fundamental deuma perspectiva que utiliza tanto variá-veis weberianas como do funcionalismo.Tecnologia é também uma variável quepode ser vista como tendo sido incorpo-rada em explicações de estrutura organi-zacional, embora em si mesma possa in-dicar presença do Contingencialismo.Motivação e recursos humanos consti-tuem a presença de variáveis e tópicosque têm origem na Psicologia. A desig-nação RII inclui também artigos que li-dam com questões de liderança, pequenogrupo e dinâmica grupal, tópicos típicosda Psicologia Social.

Missão, metas e objetivos organizacio-nais são considerados típicos da perspcc-

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tiva estratégica e o mesmo também podeser dito da variável ambiente organiza-cional. Embora esta variável tambémpossa ser indicativa de uma abordagemde sistemas abertos, a perspectiva estra-tégica tem na interação entre a organiza-ção e o seu meio ambiente o seu pontoprincipal, à medida que a estratégia or-ganizacional pode ser entendida como aviabilização de uma determinada organi-zação em seu meio ambiente, pela esco-lha de objetivos ou metas.

E temos a variável processo decisórioque engloba diversas variáveis e discipli-nas. O processo decisório pode ser trata-do com ênfase em variáveis de Sociolo-gia Política ou de Ciência Política, comoo poder e seu exercício. Pode ser vistocomo processo interativo que envolveconflito, cooperação e negociação. Podeser visto ainda de uma perspectiva quan-tificada e matematizada (é o caso das de-cision sciences), onde o que serve de fun-damento é o conceito econômico de oti-mização ou maximização. Embora todasessas considerações sejam cabíveis,quando se trata de processo decisório emAnálise Organizacional para uma boaparte do período estudado, o que sedeve considerar é a presença da chama-da "escola do processo decisório", queteve sua base no Carnegie Mellon Insti-tute e que corporifica a contribuição deHerbert Simon à Análise das Organiza-ções. A abordagem que Simon faz doprocesso decisório é interdisciplinar àmedida que lida com variáveis psicológi-cas, econômicas e matemáticas. Mas oque deu originalidade e identidade à teo-ria do processo decisório em Simon foi oseu conceito de "racionalidade limitada"(bounded rationality), pelo qual se afastamas possibilidades de otimização, que se-ria o domínio da racionalidade ilimitadae se adota o modelo satisficing, ou seja,da melhor decisão possível, dadas todasas limitações cognitivas que atingem asdecisões ."

O fato de comentarmos mais detida-mente as sete variáveis principais nãosignifica que tenham sido as únicas abor-dadas ou utilizadas pelos autores. A fi-gura 4 contém uma lista bem mais exten-sa das variáveis e indica que os autoresse inteiraram de praticamente todos oscaminhos e desenvolvimentos da Análi-

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A DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL...

se Organizacional ao longo do períodoestudado.

Os autores mais freqüentemente refe-ridos e utilizados pelos que redigiram osartigos utilizados neste trabalho são osque efetivamente tiveram presença mar-cante na Análise Organizacional duranteos anos 60 e 70. A figura 5 contém umalistagem e representação gráfica maisampla, enquanto a figura 6 contém ossete autores mais freqüentes. É fácil hojeidentificar as razões de algumas presen-ças. A da dupla Katz e Kahn é devida ex-clusivamente ao seu texto The SocialPsychology of Organízations, publicado em1965 e traduzido para o português noinício dos anos 70.7 Tal foi a popularida-de do livro entre nós que chegou a sereditado pelo MEC - Ministério da Edu-cação e Cultura - através de um progra-ma então existente de livros didáticospara o terceiro grau. O livro chegou a serconsiderado o texto fundamental sobre aabordagem sistêmica de organizações esua rápida difu-são o tornou lei-tura e referênciaobrigatórias a to-dos que atuavamna área.

A presença dePeter Blau não sedeu pelas suasmelhores obras,o que é lastimá-vel. Não foramos trabalhos deBlau sobre Análi-se Organizacio-nal Comparada(The structure oforganizations, Theorganization ofacademic work)

Autores referidos

que marcaramsua presença en-tre os autores re-feridos, mas umtexto introdutó-rio, realizado emparceria com W.Richard Scott eintitulado Formalorganizaiions." O

6. SIMON, Herbert. Administra-tive behavior. New York: MacMillan, 1947; __ o The newscience management decision.New York: Harper, 1960.

7. KATZ, O., KAHN, P. L. Thesocial psycology of organiza-tions. New York: John W. Cey,1965.

8. BLAU, P.. SCOTT,W. R. For-mai organizations, San Francis-co: Chaudler, 1962.

Variáveis Organizacionais

9%

Autoridade/Chefia_ Conflito/Cooperação

LiderançaTreinamento

_ Comunicação/Sistema de InformaçõesControle

_ Planelamento.Planejamento EstratégicoMudança OrganizacionalPoder/DominaçãoProcesso Decisório

_ Motivação~!'.~~TecnologiaII1II Ambiente Organizacional

Missão/Metas e Objetivos Organizacionais_ Recursos Humanos_ Estrutura Organizacional

6%

7%

87

ARTIGO

9. DRUCKER,P. The practice ofmanagement. New York: Harperand Row, 1954, traduzido parao português como Prática daadministração de empresas.São Paulo: Pioneira, 1981; _An introductory view of mana-gement, 1973, traduzido para oportuguês como Introdução àAdministração. São Paulo: Pio-neira, 1984; __ Innovationand entrepreneurship, 1985,traduzido para o portuguêscomo Inovação e espírito em-preendedor. São Paulo: Pionei-ra, 1987: __ Managing for thetuture. New York: Truman TalleyBooks-Duttom, 1992; __ Thepost capitalist society, Oxford:Buterworth-Heinemann, 1993.

10. ARGYRIS, Chris. Persona-lity and organization. New York:Harper and Row, 1957; Integra-ting the individual and the orga-nization, NewYork: John Willey,1964; _ ....Organizational lear-ning: a theory of action pets-pective, Reading: MA:Addison-Wesley, 1978; __ Overco-ming organizational defenses,Allyn and Bacon, 1990; traduzi-do para o português como En-frentando defesas empresariais:facilitando a aprendizagem or-ganizacional, Rio de Janeiro:Campus. 1992.

11. BURNS, T., STALKER,G. M.The management of tnnovstion.Londres: Tavistock, 1961.

12. LAWRENCE.P, LORSCH,JOrganizational environment.Boston: Harvard BusinessSchool Press, 1967.

13. WOODWARD, Joan. Indus-trial organization: theory andpractice. London: Oxford Uni-versity Press, 1965.

14. McGREGOR, D. The humanside of enterprise. New York:Me Graw Hill. 1966.

15. ETZIONI, A. A comparativeanalysis of comp/ex organizatio-na/, New York: Free Press,1961; THOMPSON, J. D. O(ga-nizations in action, New York:McGraw Hill, 1967.

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livro foi publicado no início dos anos 60e traduzido para o português pouco de-pois, tendo se tornado muito difundidocomo uma introdução à Análise Organi-zacional numa perspectiva funcionalistae comparativa.

A lista inclui dois "sobreviventes":Chris Argyris e Peter Drucker, que já es-tavam presentes nos anos 60 e 70, conti-nuam escrevendo e influenciando a Aná-lise Organizacional nos anos 90. Ambossão exemplos de longevidade aliada àcapacidade de se manterem atuantesnum campo tão sujeito a modismos,onde autores e idéias são freqüentemen-te entronizados para rapidamente seremesquecidos. Para que pudessem ser so-breviventes, Argyris e Drucker se ocupa-ram de coisas diferentes em períodos di-versos. O Peter Drucker dos anos 60 e 70se popularizou e adquiriu influênciaatravés de seu famoso e muito difundidoThe practice of management, publicado nofinal da década de 50 e o seu famoso Anintroduciorv view of managemeni, publica-do em meados dos anos 70. Estes doistextos eram do tipo abrangente e genera-lista, () que fez de Drucker quase o protó-tipo do guru da Teoria Geral da Admi-nistração. Os seus textos dos anos 80 e osdois últimos, nesta década, já se dirigema tópicos diferentes, mantendo um estiloensaístico ou de coletânea de pequenosartigos. Entre eles estão lnnouation andentrepreneurship, Managing for lhe [uture eThe post capitatist society. 9

Chris Argyris iniciou sua carreira ocu-pando-se de uma interface nevrálgica esempre fecunda, tanto para o pesquisa-dor como para o executivo e consultor.Trata-se das relações entre indivíduo eorganização. A exploração deste tópiconorteou a produção intelectual do autordurante os anos 60 e parte dos anos 70.Foi () período em que se fez mais presen-te também no material publicado naRAE. Argyris é utilizado especialmentepara realçar uma organização virtual-mente opressiva, castradora e asfixiante,e indivíduos em graus diversos de des-valimento e indefensabilidade. As for-mas individuais de reação à ameaça or-ganizacional, que podem ir da indiferen-ça à adesão compulsiva, abrem caminhopara a motivação, o envolvimento e no-vos estilos de gestão. Argyris foi, desde o

1n1c1O,um autor interessante e estimu-lante que motivou tanto autores voltadosa conflitos entre dimensões individuais eorganizacionais, como profissionais derecursos humanos .10

O Argyris das décadas de 80 e 90, semperder a coerência com o que fez ante-riormente, passa a tratar de mudança or-ganizacional e individual. São estas duaspreocupações que continuam responden-do pela atualidade de Argyris no mo-mento, e que o tornam interessante, nãosó no mundo da mudança organizacio-nal, do treinamento e desenvolvimentode recursos humanos, como igualmenteatuante na área educacional.

Retomando os autores contidos na fi-gura 5, podemos agrupar alguns comoPaul Lawrence e Jay Lorsch, Joan Wood-ward, Tom Burns e G. M. Stalker, à contada abordagem contingencial. Os primei-ros foram Tom Bums e G. M. Stalker,com o seu The managemeni of innooation,entre nós mais citado que lido, mas quefoi a largada para a "perspectiva" con-tingencial.H O trabalho de P. Lawrence eJ. Lorsch, Organizational cnuironmeni - ihemanagemeni of integraiion and dijferentia-iion.í? e a monografia de J. Woodward,Industrial organization, tiveram impactodecisivo nos anos 70.13

A presença de Douglas McGregor édevida exclusivamente às suas famosasTeoria X e Teoria Y, apresentadas no Thehuman side (~f enierprise, uma colocaçãoque é um pouco tardia da Escola das Re-lações Humanas, porém precursora dosestilos participativos de gestão .14

Os nomes de A. Etzioni e J. D. Thornp-son podem ser remetidos ao estruturalis-mo, através de dois textos: A compara tiveanalysis af complex organizations e Organi-zations in aciion, respectivamente. 15 Am-bos tiveram seu momento e seu espaçode influência, particularmente nos anos70. Foram presenças e perspectivas quepraticamente desapareceram ao longodos anos 80.

A grande evidência presente na produ-ção brasileira, acumulada ao longo demais de trinta anos, é que continua-mos consumidores, repetidores e di-vulgadores de idéias produzidas alhu-

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res; no caso, com predominância daprodução norte-americana. Acredita-mos que não se trata de característicaexclusiva da produção brasileira.Pode-se sugerir que, se investigaçãosemelhante fosse conduzida sobre aprodução de países europeus comoFrança, Itália, Alemanha e Áustria,provavelmente se encontraria o mes-mo forte impacto da produção norte-americana. Os assuntos tratados tam-bém indicam que os estudos brasilei-ros seguem a tendência do momentonos países onde as idéias se originam,o que acarreta também a presença dosdiversos modismos que se sucedem naprodução da área.

A produção é predominantemente aca-dêmica, tanto na temática, como no es-tilo e na abordagem. Não poderia serdiferente, já que a RAE é um periódicoacadêmico. Se olharmos para periódi-cos claramente profissionais e dirigi-dos a um público de Administraçãoque não é acadêmico, como é o caso darevista quinzenal Exame, constatare-mos que matérias de Análise Organi-zacional são muito raras e, quando in-seridas, o são de forma light e semprevinculada a problemas da prática ad-ministrativa. O fato de a Análise Orga-nizacional ter chegado ao país junta-mente com o ensino escolarizado deAdministração e o seu caráter de bus-ca de um espaço científico para a refle-xão, sobre a prática administrativa, ex-plicam a predominância de um tomacadêmico. A decorrência é que a par-te da produção brasileira voltada e en-volvida com aplicabilidade é reduzida.Pode-se mesmo afirmar que a maioriados autores têm por Administraçãoum interesse que exclui a gestão, cen-trando-se em reflexão, crítica e elabo-ração teórica.

A produção nacional é de reduzidaoriginalidade, o que é perceptível pe-los autores mais freqüentemente refe-ridos, quase todos norte-americanos epelas variáveis versadas no materialproduzido, também integrantes de es-colas ou conjuntos teóricos desenvol-vidos fora do país. Esta não é caracte-rística exclusiva da Análise Organiza-

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A EVOLUÇÃO DA ANÁLISE ORGANIZACIONAL NO BRASIL..

cional, pois omesmo pode-ria ser dito depraticamentetodas as áreasde conheci-mento. NasCiências So-ciais e tambémnas geociên-cias, exatas ebiológicas, amesma ten-dência é en-contrada. Talse deve à pró-pria maneiracomo a ciênciaé produzida eà enorme con-centração dacapacidadecientífica emnúmero reduzido de países. Atual-mente o eixo Estados Unidos, EuropaOcidental e Japão respondem por cer-ca de 90% da produção científicamundial. Neste modo de organizaçãodo mundo e da produção científica ospaíses que constituem o eixo referidosão estabelecedores de paradigmasque os demais centros e autores, loca-lizados fora do eixo, tendem a adotare seguir. A questão é que sendo o co-nhecimento científico, em princípio esem aprofundar aqui discussão deproblema tão complexo, dotado deuniversalidade, a sua validade permi-tiria sua utilização para conhecer, ana-lisar e gerar aplicações em todas as la-titudes e não apenas no eixo em quesão produzidas. A afirmação da uni-versalidade é aceita em geociências,exatas e biológicas. Mas quando che-gamos às ciências humanas e sociaislevanta-se a questão do relativismocultural e temporal. E a área de Análi-se Organizacional recebe também estetipo de advertência por parte de al-guns autores. São as sempre ouvidascautelas contra o que vem da Europa eda América do Norte em nome da es-pecificidade brasileira e de que, por-tanto, é necessária uma Teoria Admi-nistrativa Brasileira. Esta posição foientre nós primeira e claramente de-

Figura5 Autores mais citados

6%

8%

5% 7%

ARGYRIS LORSHBLAU - McGREGOR- BURNS scorrDRUCKER - SIMON- ETZIONI TAYLORKAHN - THOMPSONKATZ WEBER•• LAWRENCE - WOODWARD

5%

8%

89

ARTIGO

Figura6

Evolução das ReferênciasBibliográficas

fendida porGuerreiro Ra-mos, mas nun-ca deixou deencontrar sim-patizantes quecontinuam in-sistindo naproposta. Pa-rece-nos quepouco se avan-çou além da-quilo que o ve-lho mestrepropôs e, por-tanto, não po-demos dizerque logramosproduzir umaAnálise Orga-nizacional Al-ternativa à quenos veio daAmérica doNorte e da Eu-

10 nº de citações

9

8

7

6

5

4

3

2

o61-70

_ ARGYRIS

•• BLAU'{;,,~ DRUCKER

KAHN

período

71-80 81-93

KATZMcGREGOR

_ SIMON

TAYLORropa, mas con-tinuamos a cri-ticar a adequa-

ção das teorias produzidas no eixocentral à nossa realidade. A maioriados autores, que certamente não ad-vogam a produção de uma AnáliseOrganizacional especificamente brasi-leira, usando tranqüilamente idéias evariáveis produzidas alhures, tambémnão tem utilizado estas mesmas variá-veis para aprofundar o conhecimentoorganizacional, fazendo uso de orga-nizações brasileiras. É uma literaturararamente apoiada em pesquisa empí-rica, que divulga, elabora e critica emtorno dos paradigmas gerados no ex-terior. O quadro talvez se altere seconsiderarmos a produção que vem seacumulando em alguns fóruns, comonos Encontros Anuais da ANPAD(Associação Nacional de Programasde Pós-Graduação em Administra-ção), tIue nos parece representativa eexpressiva de um universo mais am-plo de estudiosos de Análise Organi-zacional. Clóvis Machado da Silva eoutros, por exemplo, procuram anali-sar a Teoria Organizacional de umaperspectiva crítica, desafiando o de-senvolvimento de uma análise mais

16. MACHADO. C., CARNEIRODA CUNHA. V., AMBONI, M. o-ganizaçàes: O Estado da Arte daProdução Acadêmica no Brasil.Anais da ANPAD. Belo Horizon-te, 1990.

90

voltada, metodológica e empiricamen-te, às organizações brasileiras. 16

Considerando-se o impacto que o mar-xismo teve sobre as ciências sociais bra-sileiras durante os anos 60 e 70, chegan-do a ser quase que exclusivo, especial-mente na versão paramarxista latino-americana da Teoria da Dependência, édigna de menção a ausência de artigosem Análise Organizacional que adotas-sem uma posição marxista ou "radical"no sentido ang lo-saxônico do termo.Embora a Administração seja classifica-da como ciência social aplicada, os ad-ministradores não parecem ter sido tãosensíveis ao paradigma marxista pre-dominante. Também não se encontraprodução que seja do paradigma inter-pretacionista durante os anos 60 e 70 emesmo durante quase toda a década de80; começando a surgir apenas recente-mente. É inegavelmente mais umacomprovação do predomínio do fun-cionalismo e também de alguma defa-sagem entre o surgimento da literaturainterpretacionista, especialmente naEuropa, e sua divulgação entre nós.

A última observação diz respeito aostermos que emergiram ao longo dosanos 80 e que incluem tópicos predo-minantemente acadêmicos como gêne-ro, simbolismo e cultura organizacio-nal, e outros mais voltados à aplicabili-dade como Reengenharia, Qualidadede Vida no Trabalho, Downsizing e Or-ganizaiional Flatiening. Eles já vão sen-do encontrados na produção do finalda década passada e nos três últimosanos analisados. A manutenção dastendências anteriores de pouca origina-lidade e de retomada de variáveis quesão originárias dos Estados Unidos eda Europa levariam a que se previsseuma ênfase maior na aplicabilidade eno declínio de artigos puramente refle-xivos, particularmente dos que foramcolocados sob a variável epistemológi-ca. Se não houver redução destes, pelomenos se pode esperar um aumento detemas vinculados à aplicabilidade, àmedida que a Análise Organizacional,a partir da década passada, passou aconferir maior espaço a uma perspecti-va gerencia lista.

Artigo recebido pela Redação da RAE em abril/94, avaliado e aprovado para publicação em maio/94.