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  • COLEO Educao Especial e Incluso Escolar: Polticas, Saberes e Prticas.

    Srie: Novas Pesquisas e Relatos de experincias

    ATENDIMENTO EDUCACIONAL PARA SURDOS: Tons e Cores da formao continuada de professores ao exerccio profissional

    GEPEPES (Grupo de Estudos e Pesquisa em Polticas e Prticas em Educao Especial)

    EDUFU 2012

  • Organizao Lazara Cristina da Silva Marisa Pinheiro Mouro Wender Faleiro da Silva

    ATENDIMENTO EDUCACIONAL PARA SURDOS: Tons e cores da formao continuada de professores ao exerccio profissional

    GEPEPES (Grupo de Estudos e Pesquisa em Polticas e Prticas em Educao Especial)

    EDUFU 2012

  • PRESIDENTE DA REPBLICA

    Dilma Rousseff

    MINISTRO DA EDUCAO Aluzio Mercadante

    SECRETRIA DE EDUCAO CONTINUADA, ALFABETIZAO, DIVERSIDADE E INCLUSO - SECADI

    Cludia Pereira Dutra

    DIRETORIA DE POLTICAS PEDAGGICAS DE EDUCAO ESPECIAL

    Martinha Clarete Dutra dos Santos

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA - UFU REITOR

    Alfredo Jlio Fernandes Neto

    VICE-REITOR

    Darizon Alves de Andrade

    FACULDADE DE EDUCAO - FACED/UFU DIRETORA

    Marcelo Soares Pereira da Silva

    CENTRO DE ENSINO, PESQUISA, EXTENSO E ATENDIMENTO EM EDUCAO ESPECIAL CEPAE/UFU

    Lzara Cristina da Silva

    REVISO TEXTUAL

    Valdete Aparecida Borges Andrade

    TRADUO E INTERPRETAO DOS VDEOS PARA A LIBRAS

    Flaviane Reis Keli Maria Souza Costa Silva

  • SUMRIO

    Sumrio

    CAPTULO I .............................................................................................................................. 10

    -EDUCAO A DISTNCIA NA LGICA DA MUNDIALIZAO DO CAPITAL: LIMITES E

    POSSIBILIDADES PARA A QUALIFICAO PROFISSIONAL EM SERVIO .................................. 10

    CAPTULO II ................................................................................................................................. 28

    ENSINO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E FORMAO DE PROFESSORES A DISTNCIA ....... 28

    Captulo III ................................................................................................................................... 52

    EDUCAO DE ALUNOS SURDOS NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: LIMITES E POSSIBILIDADES

    NAS ESCOLAS PBLICAS BRASILEIRAS ....................................................................................... 52

    CAPITULO IV ................................................................................................................................ 69

    O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NO PROCESSO DE INCLUSO: EXPERINCIAS

    DE UMA ESCOLA MUNICIPAL ...................................................................................................... 69

    CAPITULO V ................................................................................................................................. 92

    CONTRIBUIES DO CURSO DE APERFEIOAMENTO EM ATENDIMENTO EDUCACIONAL

    ESPECIALIZADO PARA PESSOAS SURDAS: concepes dos cursistas da Turma II, da segunda

    edio do curso. .......................................................................................................................... 92

    CAPITULO VI .............................................................................................................................. 110

    AS VARIVEIS - ESTRUTURA, DILOGO E AUTONOMIA - NA RELAO DIDTICO-

    PEDAGGICA DE CURSO ON-LINE: OTIMIZANDO A FORMAO E POTENCIALIZANDO A

    DISTNCIA TRANSACIONAL ...................................................................................................... 110

    CAPTULO VII ............................................................................................................................. 134

    A POLTICA NACIONAL DE FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES E A EDUCAO

    ESPECIAL: compreendendo a acessibilidade. ............................................................................ 134

    CAPTULO VIII ..................................................................................................................... 147

    PAPEL DA LIBRAS NO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO COMO BASE PARA O LETRAMENTO EM LIBRAS E EM PORTUGUS .............................. 147

    CAPTULO IX .............................................................................................................................. 158

    O SURDO E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIAL. ONDE SE APRENDE A LIBRAS? EM

    AMBIENTE NATURAL OU ARTIFICIAL? ..................................................................................... 158

    CAPITULO X ............................................................................................................................... 175

    FORMAO DE PROFESORES PARA O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: UMA

    NECESSIDADE, UM DIREITO ...................................................................................................... 175

  • APRESENTAO

    A construo de um espao educacional com horizontes inclusivos, demanda a

    modificao de estruturas fsicas e mentais historicamente construdas. Para alm das

    mudanas estruturais da escola, h urgncia na mudana atitudinal e conceitual dos

    profissionais envolvidos no processo de escolarizao. Para tanto, a formao inicial e

    continuada de professores apresenta-se como uma demanda real e urgente.

    Neste sentido, cabe s instituies formadoras assumirem seu papel e

    compromisso social com a garantia de insero nos currculos formativos de temticas

    que ampliem e modifiquem a atuao destes profissionais no sentido de romper com

    modelos classificatrios e excludentes que cerceiam as condies de desenvolvimento e

    aprendizagem das crianas em idade escolar. So muitas as dificuldades encontradas no

    tocante a garantia dos direitos relacionados escolarizao das pessoas com

    deficincias, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao,

    no entanto, a acessibilidade escola e aos seus diversos espaos de convvio coletivo e

    de ensino e aprendizagem (questes relacionadas a acessibilidade arquitetnica), ao

    currculo trabalhado na instituio escolar relacionadas a acessibilidade comunicacional,

    atitudinal e conceitual so desafios que se apresentam a todos.

    Neste sentido, este livro resultado de trabalho de um grupo de profissionais

    preocupadas com a formao docente e a escolarizao das pessoas com deficincias,

    transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotao, membros do

    Grupo de Estudos e Pesquisa em Polticas e Prticas em Educao Especial

    (GEPEPES), nas Linhas de Educao a Distncia e Educao Especial, de Educao de

    Pessoas surdas e Ensino de Lngua Brasileira de Sinais (Libras) e de Polticas e

    Educao Especial.

    O GEPEPES foi criado em 2009 com o objetivo de congregar pesquisadores na

    rea da Educao Especial, para realizao de estudos e pesquisas envolvendo polticas

    pblicas, formao docente, metodologias de ensino, estudo de Lngua Brasileira de

    Sinais, etc., correlacionadas com o processo de escolarizao do publico da educao

    especial. Tem oito linhas, com cinquenta participantes. Sua dinmica de trabalho

    acontece de acordo com a coordenao de cada linha de estudo e pesquisa, constando de

    reunies de trabalho, atividades de grupos de estudos, pesquisas coletivas, cursos de

    formao continuada de professores, cursos de Libras, de interpretes de Libras, de

    Braile, etc. Bienalmente o grupo organiza um evento na rea da educao especial e

  • inclusiva, para fomentar a divulgao de pesquisas, a troca de experincias, atualizao

    das discusses da rea.

    Uma das atividades articuladas envolvendo pesquisadores das trs linhas citadas

    anteriormente a oferta em parceria com o Centro de Ensino, Pesquisa, Extenso e

    atendimento em Educao Especial (Cepae) e a Faculdade de Educao da

    Universidade Federal de Uberlndia (UFU), com a Secretaria de Secretria de Educao

    Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso SECADI do Ministrio da

    Educao, de um curso de Extenso na Rede Nacional de Formao Continuada de

    Professores em Educao Especial o Curso de Aperfeioamento em Atendimento

    Educacional Especializado para alunos Surdos, do qual vem o apoio financeiro para esta

    publicao.

    A participao da UFU por meio do Cepae nas atividades da Rede Nacional de

    Formao Continuada de Professores em Educao Especial teve inicio em 2008, com a

    oferta de um Curso Professor e Surdez: Cruzando Caminhos, produzindo novos

    olhares, que durante os anos de 2008 e 2009 qualificou mil professores de todo o pas

    que atuavam em salas de aula do ensino regular, em parceria com a Universidade

    Aberta do Brasil (UAB). Dessa participao tambm produzimos dois livros um de

    material didtico e outro com resultados de pesquisas envolvendo a experincia

    realizada. Desta participao tambm, surgiu a ideia e a necessidade da criao do

    GEPEPES.

    No ano de 2011, os dois projetos do Cepae/UFU foram aprovados novamente na

    Rede Nacional de Formao Continuada de Professores em Educao Especial com o

    objetivo de capacitar 2.000 professores cada, da rede pblica de ensino regular do

    Brasil, ambos voltados para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas

    escolas regulares, sendo um geral e o outro para estudantes surdos. Neste novo formato

    de cursos, no mais voltados para os professores de salas regulares, mas para a

    formao daqueles que estejam atuando no Atendimento Educacional Especializado

    regulamentado em 2008, pelo Decreto no 6.571, de 17 de setembro de 2008, revogado

    atualmente pelo Decreto N 7.611, de 17 de novembro 2011.

    O Curso de Aperfeioamento em Atendimento Educacional Especializado para

    Alunos Surdos tem por objetivo oferecer formao continuada a distncia, via web, para

    educadores que atendem ou pretendem atender alunos surdos na modalidade de

    Atendimento Educacional Especializado (AEE). A forma de interao e comunicao

    entre tutores e alunos foi efetivada, exclusivamente, no Ambiente Virtual de

  • Aprendizagem (AVA) Moodle. Para a realizao deste curso foi composta uma equipe

    de profissionais que trabalham diariamente na concepo, organizao e

    disponibilizao de atividades no AVA. Todos trabalham com a finalidade de tornar a

    experincia de formao dos cursistas significativa tanto no aspecto profissional quanto

    pessoal. O curso oferece espao online totalmente acessvel com atividades que

    requerem a interao e a troca de ideias, registro e estudos, ferramentas para

    esclarecimentos de dvidas e dificuldades. Cada edio do curso composta por

    cinquenta turmas, com vinte alunos cada, envolvendo uma equipe de cinquenta tutores,

    dezessete professores pesquisadores, um coordenador geral e um de tutoria, alm de

    outros profissionais que atuam no administrativo e apoio tcnico.

    Este livro resultado de atividades de pesquisadores do GEPEPES tendo como

    corpus de estudo o Curso de Extenso em Aperfeioamento em Atendimento

    Educacional Especializado para alunos surdos, segunda edio. Encontra-se organizado

    em nove captulos.

    O primeiro captulo Educao a Distncia na Lgica da Mundializao do

    Capital: Limites e Possibilidades para a Qualificao Profissional em Servio os

    autores apresentam a EaD nos seus aspectos histricos, sua relao com a dinmica do

    sistema capitalista, discutindo os sentidos que esta modalidade de ensino vai

    construindo na realidade educacional brasileira, principalmente na formao continuada

    de professores para atuao no Atendimento Educacional Especializado nas escolas

    brasileiras.

    O captulo II Ensino da Lngua Brasileira de Sinais e a Formao a

    Distncia, discute aes alternativas de formao docente, em que as tecnologias da

    informao e da comunicao (TICs), podem se tornar uma ferramenta diferente e

    diversificada para atender s demandas da realidade educacional de um Pas de

    dimenses continentais como o Brasil, relaciona tais tecnologias ao ensino da Lngua de

    Sinais para professores nas escolas pblicas brasileiras tendo como referencia o material

    produzido no Libranet, curso que visa o ensino da Lngua Brasileira de Sinais.

    O Captulo III Educao de Alunos Surdos na Perspectiva Inclusiva: Limites e

    Possibilidades nas Escolas Pblicas Brasileiras tem como objeto de investigao a

    atual poltica de formao docente para a educao especial instituda por meio da

    oferta de cursos de formao continuada para professores na rea da educao

    especial/inclusiva por meio da Rede Nacional de Formao de Professores em Educao

    Especial do Ministrio da Educao, criada em 2008. O foco principal do estudo o

  • Curso de Atendimento Educacional Especializado para surdos oferecido. As autoras

    procuram analisar os limites e as possibilidades encontrados na dinmica do trabalho

    docente, em relao educao de alunos surdos nas escolas pblicas brasileiras, a

    partir das percepes dos professores que participaram de cursos de formao

    continuada na modalidade distncia, pela Plataforma Freire, em especial o curso

    Atendimento Educacional Especializado para Pessoas Surdas - turma I.

    O captulo IV O atendimento educacional especializado no processo de

    incluso: experincias de uma escola municipal, resultado de uma pesquisa qualitativa

    buscou discutir a incluso escolar e o AEE em uma escola municipal de Ituiutaba-MG,

    oferecidos as pessoas com deficincia, transtornos globais do desenvolvimento e altas

    habilidades/superdotao. As autoras procuraram compreender e apreender o

    movimento do AEE nesta escola, conhecer a clientela atendida, compreender como se

    configura o trabalho da equipe e identificar a viso de professores e gesto sobre essa

    proposta, levantando suas concepes, estratgias e prticas para o desenvolvimento de

    competncias no trabalho com essa populao.

    No captulo V, Contribuies do curso de aperfeioamento em Atendimento

    educacional Especializado para pessoas surdas: concepes dos cursistas da turma II

    da segunda edio do referido curso, as autoras apresentam dados de uma pesquisa

    desenvolvida no curso de Pedagogia da Faculdade de Cincias Integradas do Pontal da

    Universidade Federal de Uberlndia (FACIP-UFU) com objetivo analisar as

    contribuies do Curso de Aperfeioamento em Atendimento Educacional

    Especializado para Pessoas Surdas, realizado no ano de 2011 nessa universidade, em

    parceria do Centro Ensino, Pesquisa, Extenso e Atendimento em Educao Especial

    (CEPAE) na formao dos cursistas.

    No captulo VI denominado As variveis estrutura, dilogo e autonomia na

    relao didtico-pedaggica de curso on-line: otimizando a formao e

    potencializando a distancia transacional os autores apresentam uma anlise da relao

    didtico-pedaggica entre professores formadores e tutores do Curso de Atendimento

    Educacional Especializado para Alunos Surdos, ofertado pelo Centro de Ensino,

    Pesquisa, Extenso e Atendimento em Educao Especial CEPAE da Universidade Federal de Uberlndia. Objetivaram descrever e analisar as implicaes da relao

    professor formador-tutor no desenvolvimento e desempenho do aluno em formao desse curso.

  • No VII, captulo A Poltica Nacional de Formao Continuada de Professores e a

    Educao Especial: compreendo a acessibilidade, apresenta resultados de uma pesquisa

    financiada pelas agncias de fomento pesquisa CNPq e Fapemig, que discute a Formao

    Continuada de Professores para o pblico da educao especial, focado no Atendimento

    Educacional Especializado (AEE), dos cursos da Rede Nacional de Formao continuada de

    professores em Educao Especial da SECADI/MEC. Este artigo trata apenas da questo da

    acessibilidade presente nos cursos estudados.

    No oitavo captulo Papel da Libras no Atendimento Educacional Especializado

    como Base Para o Letramento em Libras e em Portugus as autoras abordam aspectos

    de uma experincia de ensino de Portugus escrito para um grupo de dezesseis

    adolescentes surdos que frequentam do sexto ao nono ano do ensino fundamental, em

    uma escola pblica da rede regular. A experincia relatada poder ser implementada em

    espaos de Atendimento Educacional Especializado (AEE).

    O penltimo captulo O surdo e o Atendimento Educacional Especial. Onde se

    aprende a Libras? Em ambiente natural ou artificial? as autoras apresenta uma

    proposta de trabalho de ensino de Libras e de Portugus como segunda lngua

    envolvendo o instrutor surdo, apresentam e discutem as atividades realizadas e suas

    contribuies na aprendizagem do estudante surdo.

    No ltimo captulo, Formao de Professores para o Atendimento Educacional

    Especializado: uma Necessidade, um Direito, a autora apresenta uma discusso sobre o

    processo de melhoria da formao inicial e continuada de professores, favorecendo o

    conhecimento e o aprimoramento das produes realizadas nos ltimos anos, de forma

    contextual geradas pelo momento poltico que vive a educao de modo geral e da

    educao inclusiva de modo especfico.

    O presente material apresenta diferentes olhares e possibilidades de se relacionar

    e compreender os processos de escolarizao em um contexto de educao inclusiva,

    precisamente ao grupo de estudantes surdos, sinalizando para os profissionais da rea

    grande contribuio no sentido de compreender sua realidade e agir sobre a mesma.

    Lzara Cristina da Silva

    Wender Faleiro da Silva

    Marisa Pinheiro Mouro

  • CAPTULO I

    -EDUCAO A DISTNCIA NA LGICA DA MUNDIALIZAO DO CAPITAL: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A QUALIFICAO PROFISSIONAL EM

    SERVIO

    Cinval Filho dos Reis1 Jane Maria dos Santos Reis2

    1. Introduo

    O presente artigo apresenta algumas reflexes acerca da Educao a Distncia

    no Brasil3, sobretudo a partir da dcada de 1990, a partir da qual essa modalidade de

    ensino pde contar com recursos avanados proporcionados pelo desenvolvimento da

    microeletrnica, por sua vez, diretamente articulada s tecnolgicas de informao e

    comunicao. Consequentemente, delimitadas pelo sistema scio econmico vigente,

    inmeras foram e continuam sendo as transformaes em vrias instncias da vida

    social, sobretudo na educacional.

    A EaD confrontou com o modelo tradicional presencial, suscitando grandes

    entraves e debates que movimentam hoje profundas discusses de mbito acadmico,

    em torno da questo da maior eficincia de uma ou de outra modalidade de ensino e

    aprendizagem. Outra questo que gera grandes polmicas sobre o pretenso potencial

    democratizante que vrios autores e rgos institucionais querem delegar EaD, como

    sendo capaz de reduzir a defasagem na formao educacional da nao brasileira

    principalmente daqueles que j se encontram em exerccio profissional e necessitam de

    formao especfica para a execuo de sua funo.

    Dessa maneira, a EaD fruto de um desenvolvimento histrico e como tal deve

    ser analisada face ao atual processo de expanso global da educao, em seus diversos

    nveis e modalidades de ensino. Para isso necessrio atentar para sua interface com os

    desdobramentos das relaes produtivas que passam a emergir a partir da dcada de

    1990, uma vez que so fatores determinantes do processo educacional em debate.

    1 Cientista Social, Mestre em Educao Professor Pesquisador II do Cepae no Curso de Atentdimento Educacional Especializado para alunos surdos. E-mail: [email protected] 2 Cientista Social, Mestre em Educao, Doutoranda em Educao Professora Pesquisadora II do Cepae no Curso de Atendimento Educacional Especializado para alunos surdos. E-mail: [email protected] 3 O termo Educao a Distncia, mencionado neste artigo, utilizando-se a sigla EAD.

  • A partir de ento, foram criados vrios mecanismos legais por parte do governo

    brasileiro, para garantir a expanso da EaD. O principal deles a LDB4 n 9.394/96

    (hoje, aps 15 anos de vigncia, demandando reflexes e ajustes contnuos) que em seus

    artigos 80 e 87 dispe sobre a aplicabilidade da EaD em todos os nveis da estrutura e

    funcionamento do ensino no pas. Para autores como Santos (2008), est imerso na LDB

    um movimento de diversificao e de diferenciao da educao no pas, que est

    vinculado em grande medida s orientaes dos organismos multilaterais. Estes

    organismos enfatizam a flexibilizao dos processos formativos, de modo a atender em

    massa demanda de adaptabilidade dos processos produtivos delineados pela

    articulao global da expanso e mundializao do grande capital e, que por

    consequncia, atende a diferentes interesses pblicos e privados.

    Dessa maneira, objetiva-se problematizar, a partir dos estudos aqui

    desenvolvidos, as reais possibilidades de democratizao da educao via EaD, to

    defendida por vrios rgos governamentais, dentre eles, o MEC5. Mais

    especificamente, pretende-se contextualizar a origem da EaD enquanto metodologia de

    ensino, indagando o porque desta vir adquirindo tamanha expanso em curto espao de

    tempo, em contraposio ao modelo de ensino presencial tradicional com nfase no

    processo de mundializao do capital.

    Por ltimo objetiva-se refletir sobre alguns limites e possibilidades da EAD no

    contexto da atual sociedade globalizada, delineada pelo interesse dos grandes capitais

    internacionais.

    O estudo aqui proposto foi concretizado por meio de anlises de referncias que

    tratam da questo da EaD no contexto mundializao do capital e das experincias

    vivenciadas no trabalho executado pelos autores6 da presente pesquisa no Centro de

    Ensino, Pesquisa, Extenso e Atendimento em Educao Especial da Faculdade de

    Educao da Universidade Federal de Uberlndia (Cepae/Faced/UFU) em seus

    respectivos cursos e edies via EaD. Alm disso, as reflexes aqui desenvolvidas so

    frutos do Grupo de Estudo e Pesquisa em Polticas Pblicas e Prticas em Educao

    Especial - GEPPEPS formado pela equipe de professores pesquisadores, alunos de

    Iniciao Cientfica, organizado desde 2009. Foram utilizados na pesquisa bibliogrfica,

    desde autores clssicos que nos auxiliam no entendimento e posicionamento crtico da

    4 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. 5 Ministrio da Educao e Cultura. 6 Os autores da pesquisa fazem parte do Cepae enquanto professores pesquisadores nvel II, no Curso de Atendimento Educacional Especializado Alunos surdos.

  • temtica aqui abordada, bem como, atuais trabalhos cientficos de diferentes naturezas,

    que nos auxiliam no aprofundamento do debate acerca da EaD no Brasil.

    2. Contextualizao da EaD com as Mudanas Socioeconmicas Mundiais

    Hoje se vive um momento no qual a Educao vem sendo debatida em vrias

    instncias da vida social. Um dos principais pontos discutidos vem sendo a eficcia dos

    modelos tradicionais de Educao, enquanto capazes de qualificar um cidado com uma

    formao, que possa proporcion-lo uma insero social e no mercado do trabalho. Tais

    interrogaes emergem diante de uma sociedade que chega a uma modernidade (que

    para muitos j designada de ps-modernidade) calcada no que vrios estudiosos

    preconizam como Sociedade Globalizada. Um processo histrico capitalista que se

    desenvolve mais fortemente a partir da Revoluo Industrial, a partir da qual se iniciou

    uma profunda revoluo tecnolgica.

    O processo de globalizao acirrou-se face s crises cclicas do Capital mundial,

    sobretudo, a partir da dcada de 1970 com a crise instaurada pelo modelo de produo

    fordista. Diante dessa questo foi desencadeado na economia mundial um processo de

    transformaes tecnolgicas e financeiras com novas formas de organizao de

    produo e de trabalho. Com isso, segundo Reis (2009), novas estratgias de mercados

    deram incio a um movimento de reestruturao produtiva nos pases capitalistas

    avanados, levando-os a buscarem novas formas de competitividade e concorrncias

    entre mercados.

    A globalizao sob a tica das mudanas socioeconmicas mundiais, se

    desdobra no processo dessa maneira, no fenmeno o qual Chesnais (1996) designa de

    mundializao do capital, cujo uso das tecnologias da informao e da comunicao

    foram claramente delimitados pelo contexto poltico e econmico vigente.

    Assim, contextualmente marcada pelo processo de mundializao do capital,

    emerge no Brasil a expanso do uso das tecnologias informacionais enquanto vias de

    democratizao da educao. nfase na tcnica ou no processo? Tratam-se de

    questes contraditrias, que demandam problematizaes e debates acerca das

    finalidades da acessibilidade e utilizao de tais tecnologias.

    Frutos dessa realidade, os anos posteriores dcada de 1990 at os dias atuais,

    no mbito da educao, foram e continuam sendo marcados pelo significativo

    crescimento e estabelecimento de cursos de EaD que se vm propagando entre as mais

    distintas reas do conhecimento. Cursos que, em consonncia com a lgica globalizante,

  • so caracterizados pela sua curta durao, voltados para as atividades profissionais que

    j se encontram em servio. A exemplo, temos os cursos de Atendimento Educacional

    Especializado (AEE) que, com diferentes nfases na Educao Especial, so voltados

    para a demanda de professores da rede de escolas pblicas que esto em plena atividade

    profissional. No caso da escola pblica, o AEE corresponde a uma ao massiva de

    qualificao de professores, estrategicamente estabelecida pelo governo, por meio do

    Ministrio da Educao, voltada para gerar, com custos e mo-de-obra considerados por

    crticos do sistema reduzidos. Tal o processo formativo cada vez mais recorrente face

    realidade e s necessidades da educao bsica brasileira.

    Para Previtalli e Faria (2007, p.1)

    Como tentativa de responder crise decorrente do padro de acumulao taylorista fordista, a reestruturao do capital impe uma nova ordem produtiva, calcada na flexibilidade, multifuncionalidade, participao e melhoria contnua do trabalhador.

    Esse processo de globalizao, impulsionado pelo grande avano tecnolgico,

    ocorreu de maneira mais contundente na rea das TICs (Tecnologias de Informao e

    Comunicao) propiciado pelo avano da microeletrnica, o que provocou profundas

    mudanas nas formas como os pases se interagem, como as pessoas se aproximam e

    obviamente no processo educacional que hoje, vem se apropriando cada vez mais destes

    instrumentos, enquanto estratgia do processo de ensino e de aprendizagem. A

    tecnologia parte dessa luta e como tal mostra todas as contradies do

    desenvolvimento social. Em certa medida, como ressalta Holloway (1992, p.29), [..] o

    desenvolvimento tecnolgico, assim como outros aspectos do desenvolvimento social

    marcado pela tentativa sempre contraditria do capital de colocar arreios na criatividade

    humana.

    Portanto, modernizao tecnolgica provocou mudanas inimaginveis em

    poucas dcadas, alavancado pelo avano dos processos de industrializao, pelo

    surgimento do paradigma da globalizao e sob a gide da revoluo tecnolgica que

    ampara novos modos de produo. Nesse sentido, Arajo e Viana (2009, p. 01)

    destacam que:

    Cria-se uma nova ordem mundial e internacionalizam-se as economias das naes que passam a investir num novo sistema de produo, agora baseado na parceria, na negociao, na aliana entre as empresas, interligando-se pelo manejo cada vez mais fcil e gil da informao. Transformaes radicais movidas pelas novas formas de

  • produzir e socializar o conhecimento influencia no s a economia mundial, mas, sobretudo redimensionam os paradigmas que orientam a cultura, o trabalho e a educao.

    Nesse contexto a sociedade invadida por essa lgica capitalista mercadolgica

    na qual seus atores so levados a se adaptarem velozmente s exigncias trazidas pelo

    mundo globalizado. Tais exigncias se inserem dentro das empresas e,

    concomitantemente, invadem o cotidiano da vida social das pessoas, provocando

    mudanas profundas em seu dia-a-dia, seja na vida familiar, na condio econmica e,

    principalmente, na esfera do trabalho e da educao.

    A revoluo tecnolgica originou-se e difundiu-se, no por acaso, em um perodo histrico da reestruturao global do capitalismo - para o qual foi uma ferramenta bsica - e, sendo assim, a nova sociedade emergente desse processo de transformao capitalista e tambm informacional, embora apresente variao histrica considervel nos diferentes pases, conforme sua histria, cultura, instituies e relao especfica com o capitalismo global e a tecnologia informacional. (CASTELLS, 1999, pg.31)

    Os trabalhadores, enquanto agentes do mundo do trabalho, que possuem

    somente a fora de trabalho como fonte de sobrevivncia, aderem a essa euforia

    mercadolgica, colocando-se em uma inesgotvel corrida em busca de um perfil

    profissional e social, seja atravs da realizao de cursos tcnicos, graduaes, ou outros

    tipos de cursos, na maioria das vezes, de curta durao e de qualidades questionveis no

    que se refere ao pano de fundo em questo. Conforme afirma Kuenzer (2006, p. 880):

    [...] por fora das polticas pblicas professadas na direo da democratizao, aumenta a incluso em todos os pontos da cadeia, mas precarizam-se os processos educativos, que resultam, em mera oportunidade de certificao, os quais no asseguram nem incluso, nem permanncia.

    Nesse cenrio, a educao vista como um dos elementos fundamentais aliada

    ao capitalismo na conduo de uma maestria racional. Consequentemente, ficam

    garantidos os elementos ideolgicos e cognitivos capazes de sustentar a dinmica que

    garante a manuteno do sistema capitalista, por meio de um discurso pr-dominao.

    Conforme salienta Lucena,

    As pessoas buscam uma (de)formao profissional que os inclua o mais rpido possvel no mercado de trabalho. [...] Essa a mentalidade difundida pela lgica do capital; que faz com que o sistema educacional seja formulado de acordo com os interesses do prprio sistema. Nesse sentido a educao compreendida no como

  • bem social, mas como servio orientado pelas regras do mercado (LUCENA, 2004, p. 197).

    A exigncia em relao formao , desse modo, sinnima de qualificao

    profissional. Assim, os cidados, desde muito cedo, iniciam a sua vida escolar,

    preocupados em se formar visando insero no mercado de trabalho que muda

    constantemente, tendo em vista que os trabalhadores devem estar aptos a atenderem s

    constantes mudanas exigidas pelo mercado consumidor cada vez mais heterogneo,

    haja vista que mundial. Conforme afirma Braverman (1981, p.124):

    O modo capitalista de produo est continuamente se expandindo a novas reas de trabalho, inclusive quelas recentemente criadas pelo avano tecnolgico e o emprego do capital a novas indstrias. Ao mesmo tempo, a habituao dos trabalhadores ao modo capitalista de produo deve ser renovada a cada gerao.

    Nesse sentido presencia-se uma rearticulao nas instituies educacionais ou

    melhor, nos rgos responsveis pelo seu gerenciamento, no sentido de se adequarem a

    essas demandas cclicas. Essa dinmica se sustenta pela voracidade que o trabalhador

    busca uma formao exigida. Tudo isso faz com que o individualismo se acirre ao passo

    que concorrncia entre as empresas transferida para os trabalhadores. Ao mesmo

    tempo, Santos (2008, p.19) diz que

    Emerge dessa reestruturao um falso sentido de transformao social, que agrega novos discursos, que se apresentam apoiados em uma demanda por qualificao tecnolgica e mo-de-obra especializada para justificar processos excludentes como altos ndices de desemprego, trabalhos temporrios e precarizao das condies de trabalho.

    Ou seja, convencido pelo discurso da expanso Incluso Educacional e da

    educao especial e seu respectivo projeto estabelecimento nas escolas pblicas

    brasileiras, o professor para se adequar aos imperativos desta ordem mundial, parte em

    uma desenfreada busca por cursos de qualificao profissional que lhes habilite ao

    trabalho na Educao Especial. Indo ao encontro deste movimento, temos a oferta de

    um significativo nmero de vagas destinada formao de professores, que se tratam

    dos cursos em Atendimento Educacional Especializado, ofertados na modalidade a

    distncia, uma vez que a precarizao do trabalho docente, no permite que estes

    profissionais da educao tenham tempo para cursar presencialmente as suas atividades.

    Verifica-se nesse ponto, uma contradio na qual cada vez exige-se mais do

    trabalhador em termos de qualificao, porm, de outro lado, este j no tem controle

  • sobre sua prpria dinmica de trabalho e de estudos. Para Chesnais (1996), tanto a

    educao quanto o trabalho e as respectivas diferenciaes de ambos, so configurados

    de acordo com a dinmica do sistema de produo capitalista, ou seja, de acordo com a

    lgica do capital, que delineia mundialmente tantos os pases centrais, quanto os

    pases perifricos que despertam o seu interesse.

    Nesse contexto, para Santos (2005, p. 3): A educao hoje uma necessidade

    da empresa e, consequentemente, implica em repensar um novo perfil de trabalhador,

    que seja submetido a uma formao que esteja em consonncia com a nova realidade

    produtiva e organizacional do trabalho.

    Dessa maneira, a educao associada ao contexto socioeconmico, no que se

    refere influncia mercadolgica aponta que,

    A produo organizada de conhecimento passou por notvel expanso nas ltimas dcadas, ao esmo tempo que assumiu cada vez mais um cunho comercial como provam as incmodas transies de muitos sistemas universitrios do mundo capitalista avanado de guardies do conhecimento e da sabedoria para produtores subordinados de conhecimento a soldo do capital corporativo. (HARVEY, 1992, p. 151)

    nesse sentido que a EaD vem tomando corpo, pois uma modalidade de

    Educao fruto das transformaes histricas provocadas pelas exigncias cclicas do

    modelo econmico capitalista. A necessidade de ajustar o trabalhador ao trabalho em

    sua forma capitalista de superar a resistncia natural intensificada pelo avano da

    tecnologia mutvel e alternante [...] torna-se um aspecto permanente da sociedade

    capitalista. (BRAVERMAN 1981, p.124).

    Logo, o trabalhador j no pode contar unicamente com o modelo de educao

    presencial tradicional, rgida e que, de certa forma, vem se mostrando inadequada e/ou

    insuficiente para atender s demandas suscitadas pelo momento histrico atual,

    conduzido pelo capitalismo globalizado. Resta, portanto, sair em busca de curtos

    flexveis ao seu trabalho, de modo que, concomitantemente, docncia, possam ser

    efetivados os processos formativos voltados para sua qualificao profissional em

    servio.

    3. A EaD no Contexto Brasileiro

    No Brasil, as primeiras experincias em EaD se deram por meio de cursos via

    correspondncia, tendo ainda o rdio e a televiso como meio de apoio. Uma das

  • instituies pioneiras na Educao a distancia no Brasil o Instituto Universal

    Brasileiro fundado na dcada de 1940, que segundo pesquisas recentes, mostram que

    este instituto j formou mais de 3 milhes e 600 mil alunos em cursos tcnicos ou

    supletivos (CASTELA e GRANETTO, 2008). Ou seja, perceptvel que entre seus

    limites e possibilidades, a EaD se caracteriza, a partir de sua trajetria histrica, como

    modalidade de ensino voltada para o atendimento e qualificao profissional em massa

    nas mais diversas reas.

    Na dcada de 1970, aproveitando-se da ideia de que a TV era uma importante

    ferramenta para disseminar o conhecimento, foi criado pela fundao Roberto Marinho

    juntamente com a Fundao das Indstrias de So Paulo, o Telecurso. Este curso

    consistia em um mtodo de ensino supletivo, de 1 e 2 graus e que tambm oferecia

    ensino profissionalizante. Para seu desenvolvimento e concretizao utiliza-se de um

    modelo de teleducao, com aulas via satlite, complementadas por kits de materiais

    impressos, demarcando a chegada da segunda gerao de EaD no pas. Segundo seus

    fundadores o objetivo maior deste programa seria oferecer oportunidades de

    crescimento profissional e pessoal aos brasileiros.

    J os anos de 1990 foram marcantes por registrar a dcada que se iniciou com

    muitas expectativas, tendo em vista que o Brasil vivia um cenrio poltico mais

    democrtico, respaldado numa maior participao da sociedade civil organizada na

    definio e implementao das polticas sociais. No campo educacional, precisamente

    em maro de 1990 foi realizada a Conferncia Mundial sobre Educao para todos, na

    qual o Brasil era um dos pases signatrios.

    O projeto educao para todos, elaborado na Conferncia em A educao para todos tem como objetivo principal a satisfao das necessidades bsicas de aprendizagem, que compreende dois aspectos fundamentais: os instrumentos essenciais para aprendizagem, como leitura e escrita, expresso oral, clculo e soluo de problemas e os contedos bsicos de aprendizagem, conhecimento e habilidade3s, valores e atitudes. (BRASIL, MEC, 1993, p.73)

    Essa conferncia foi realizada em Jomtien, na Tailndia, onde foram reunidos

    155 pases sob orientao e coordenao de organismos multilaterais como o Banco

    Mundial os quais assumiram um compromisso de centrar esforos na concepo e no

    nvel de educao definidos pela conferncia como prioridade para as dcadas

    seguintes.

  • Em 1993, os ministros da educao dos nove pases mais populosos do mundo,

    inclusive o Brasil, em Nova Delhi, na ndia, assinaram uma Declarao reiterando o

    compromisso assumido em Jomtien, em que os ministros de estado ali presentes

    afirmaram que tinham conscincia de que os pases, por eles representados, abrigavam

    mais da metade da populao mundial, sendo, portanto, de crucial importncia o

    sucesso dos esforos desencadeados nesses pases para alcanar a meta global de

    Educao para todos (SANTOS, 2008, p.60).

    O Brasil implementou vrias aes com o intuito de atender as diretrizes da

    conferncia. Santos (2008) destaca o Plano Decenal de Educao que apresentou os

    dados educacionais brasileiros na poca, demonstrando que cerca de 3,5 milhes de

    crianas na faixa etria de 7 a 14 anos, permaneciam sem oportunidade de acesso ao

    ensino fundamental.

    Nesse cenrio a Educao a distncia se configura como uma estratgia para ampliao dos meios de alcance da educao bsica, atravs dos meios de informao, comunicao e ao social, em apoio s redes escolares locais, incluindo, entre outros, programas de educao aberta e a distncia [...] ao definir as medidas e instrumentos de implementao das aes para universalizao da educao bsica, o Sistema Nacional de Educao a Distancia, que se encontrava em fase de estruturao, apontado como forma de aprimorar e ampliar o programa de capacitao e atualizao dos professores (SANTOS, 2008, p.66).

    Ainda em 1990 a EaD apontava para novos rumos no cenrio brasileiro ao passo

    que passou a ser uma modalidade educativa desenvolvida tambm no ensino superior.

    Como tentativa de institucionalizar tal modalidade no ensino superior foi encaminhado

    ao congresso nacional alguns projetos cujas tramitaes, apesar de no terem sido

    aprovadas corroboraram para a criao do Sistema Nacional de Educao a Distncia

    em 1993 e para a institucionalizao da Universidade Aberta do Brasil em 2005.

    A partir da foram criados instrumentos pela Secretaria de Educao Superior,

    tais como grupos de trabalho, no sentido de sugerirem polticas para Educao

    Continuada e a Distncia no Brasil, inclusive no mbito da Educao Superior

    (BRASIL, MEC, 1994). Tais grupos tinham ainda a funo de elaborar uma proposta do

    consrcio interuniversitrio de Educao Continuada e a Distancia (Brasilead) criado

    por meio do Protocolo de Cooperao n 3/93, celebrado entre MEC, Ministrio das

    Comunicaes, Conselho de Reitores (Crub), Conselho de Secretrios de educao

    (Consed) e Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao (Undime).

  • Santos (2008) chama ateno para um dos muitos pontos convergentes que

    podem ser observados nos documentos que norteiam as diretrizes das polticas nacionais

    e os que configuram a poltica mundial, qual seja a lgica da cooperao e da

    internacionalizao, to recomendada pelos organismos internacionais, especialmente

    nas ltimas dcadas. Isso fica claro no inciso IX do regimento do consrcio Brasilead,

    quando estabelece que tal consrcio,

    Deve buscar a mais ampla cooperao com as universidades estrangeiras, consrcios de educao a distancia e organismos internacionais, privilegiando a colaborao com universidade, centros de educao tecnolgica e organizaes da regio latino americanas. (BRASIL, MEC, 1993, p.3 apud Santos, 2008).

    Um dos instrumentos primordiais para a expanso da EaD no ensino de nvel

    superior no campo da legislao foi a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei n 9394 de

    1996. Alm disso, neste documento, foi expressa pela primeira vez, em uma lei dessa

    natureza, a questo da educao a distncia, instituindo o seu uso em todos os nveis e

    modalidades de ensino no pas.

    Tal prescrio legal, articulada ao processo de reforma da educao superior por meio da adoo do iderio da flexibilizao, diversificao e diferenciao institucional, sinaliza que a EAD, enquanto poltica e estratgia na expanso da educao, especialmente da educao superior, estava sendo gestada no mbito das polticas educativas, como uma modalidade a ser inexoravelmente implementada (SANTOS, 2008, p.64).

    A partir da dcada de 1990, atravs da anlise de alguns fatos e medidas

    institucionalizadas pelo governo brasileiro, de rgos competentes como o MEC e

    outros, fica claro o teor neoliberal do contedo existente nas legislaes criadas na rea

    da educao. Tais documentos foram fortemente influenciados por organismos

    multilaterais mundiais, tais como OCDE Organizao para Coordenao do

    Desenvolvimento Econmico, OMC Organizao Mundial do Comrcio e BM

    Banco Mundial e FMI Fundo Monetrio Internacional, que funcionam como meios

    para expanso e dominao dos pases centrais capitalistas sobre os pases perifricos.

    Se at meados anteriores dcada de 1990, os cursos na modalidade distncia

    no Brasil eram propagados por meio das correspondncias e da televiso, deste

    momento em diante, com a intensa expanso da internet enquanto cone principal das

    novas tecnologias da informao, foi se configurando em solos brasileiros, a poltica

    nacional de educao a distncia, que a partir das orientaes dos organismos

  • internacionais para a educao de pases perifricos como o em questo, trouxe em seu

    bojo novas formas e contedos a diferentes cursos, dentre eles o de qualificao

    profissional para professores da rede pblica. O marco destas mudanas est expresso

    pela LDB de 1996 (BRASIL, 1996), especificamente em seu artigo 80, que trata do

    respaldo estatal no que concerne aos programas de ensino distncia.

    A nfase neste contexto a reconfigurao do Estado, na qual o sistema

    capitalista se configura pela orientao destes organismos internacionais do capital. Por

    um lado, se instala nessa perspectiva, o Estado mnimo, que vem se distanciando de seu

    papel de proventor das necessidades e bens sociais de sua nao. Por outro lado, com

    essa ausncia do Estado, juntamente com o discurso da mundializao do capital

    (quebra de fronteiras e homogeneizao da sociedade), as inovaes tecnolgicas

    servem de justificava enquanto vias de uma pseudodemocratizao da educao. Com a

    predominncia do livre mercado, os acordos firmados pelos organismos internacionais

    correspondem, juntamente com a mundializao do capital, sustentao e firmamento

    do capital financeiro e internacional.

    Revela-se ento, o foco na tcnica e/ou no progresso tcnico enquanto

    possibilidade de superar os dilemas e as contradies na educao. Consequncias deste

    processo so os cursos de formao continuada para o Atendimento Educacional

    Especializado, que via EaD, promovem processos formativos dos professores da

    educao bsica brasileira. Por conseguinte, estas demandas se desaguaram nas

    universidades pblicas brasileiras, responsabilizadas pela operacionalizao destes

    cursos. Com isso, os profissionais envolvidos em projetos de elaborao, montagem e

    manuteno de cursos voltados para o aperfeioamento de professores como estes, se

    esbarram nas contradies do sistema: de um lado o debate terico e crtico, primando

    pela qualidade do curso e de outro, a realidade precria da infraestrutura na qual se

    sustentam os referidos projetos: tanto a equipe dos cursos, quanto os professores que

    buscam qualificao, no usufruem dos elementos bsicos para a efetivao desta

    proposta (problemas com a internet, com o acesso s mquinas, enfim, com a relao

    entre si e as tecnologias informacionais).

    O processo de expanso da educao superior no Brasil, nessa tica, [...] sob a

    gide da diversificao e diferenciao das instituies superiores, se coloca como

    dinmica crucial e base legal para ampliao das oportunidades educacionais.

    (SANTOS, 2008, p.15). Esse discurso ganha fora no processo de reforma do Estado e

    do sistema educativo no Brasil, de modo que a EaD passa a ser uma modalidade

  • educativa amplamente recomendada pelos organismos multilaterais, e que, a partir da

    dcada de 1990, encontrou campo frtil de desenvolvimento no Estado Brasileiro.

    Nessa perspectiva, para Oliveira (2004, p. 1129):

    As reformas da dcada de 1990 tiveram como principal eixo a educao para a equidade social [...] Passa a ser imperativo dos sistemas escolares formar os indivduos para a empregabilidade, j que a educao geral tomada como requisito indispensvel ao emprego formal e regulamentado, ao mesmo tempo em que deveria desempenhar papel preponderante na conduo de polticas sociais de cunho compensatrio, que visem a conteno da pobreza.

    Na viso de Santos (2008) deve se cuidar para no perder de vista a educao

    como processo ideolgico de reestruturao do mundo do trabalho, reestruturao esta

    que v e educao como instrumento fundamental para a manuteno e revigoramento

    do sistema capitalista. Outro marco, datado em 2001, corresponde ao Plano Nacional

    de Educao, que trouxe em seu texto, a associao da educao distncia, oferta de

    ensino fundamental e mdio para as camadas mais pobres da populao (jovens e

    adultos insuficientemente escolarizados).

    De acordo com Frigotto (1999, p.20):

    A compreenso do cenrio em que esse o movimento de expanso da educao, se desencadeia se justifica, pois analisar as articulaes e aes desencadeadas para a expanso global da educao, sobretudo da educao superior, requer o entendimento do cenrio poltico, econmico e social em que esse processo se desenvolve, uma vez que sua lgica compe uma totalidade e como tal, no deve ser pensada isoladamente, e sim como expresso de projetos que em disputa articulam determinados interesses e desarticulam outros, mediante suas aes no campo da construo da realidade, dos valores e atitudes.

    Alguns autores, como Guimares (2008) defende que essas mudanas no campo

    da Educao a Distncia suscitam diversas vantagens. Uma das principais, diz respeito

    flexibilidade de horrio, que permite que o aluno flexibilize seu tempo de estudo, de

    acordo com o que mais lhe convier, podendo adequar o processo de estudos ao seu

    horrio e no vice versa.

    Outra questo vista como positiva refere-se a uma maior autonomia no estudo,

    que faz com que o aluno possa dedicar mais tempo aos assuntos que mais lhe

    interessem, sendo o principal responsvel pela sua evoluo no aprendizado.

  • No menos importante surge questo do espao, ao ponto que permite que

    alunos que se encontram distantes fisicamente das escolas e universidades tenham

    acesso aos cursos desejados.

    Quanto aos materiais didticos, possuem caractersticas mais modernas,

    desenvolvidos especificamente para a EaD. Destaca-se o uso intensivo de elementos

    multimdia, como vdeo, udio, computao grfica e outros. Embasada nessas

    caractersticas, Guimares (2008) confere EaD um potencial de democratizao do

    acesso educao e avano no processo de ensino-aprendizagem.

    Entretanto, existem outras correntes de pensamento que defendem que a EaD,

    diferentemente de ajudar a democratizar o ensino, atua exatamente de forma contrria.

    Uma vez que a grande maioria da populao no tem acesso s novas tecnologias,

    qualquer elemento que valorize esses meios, sem disponibiliz-los para todos, estaria

    contribuindo para o aumento da desigualdade.

    4. Ead e os Sentidos da Qualificao Profissional em Servio

    A pergunta que no se cala a seguinte: o que h de novo na EaD? Uma vez que

    se trata de algo to antigo, no que se situa a novidade? Do ponto de vista aqui

    desenvolvido, a novidade da EaD se situa nos instrumentos e/ou tcnicas os quais essa

    modalidade de ensino utiliza para se sustentar nos dias atuais, mediantes aos

    imperativos do capital e as demandas de qualificao profissional. Nesse sentido, a EaD

    na era da mundializao do capital adquiriu destaque ao se aliar com a internet um

    poderoso elemento da comunicao da sociedade atual.

    Neste contexto do capital em que a flexibilizao uma palavra de ordem, tal

    princpio se adentrou no cotidiano formativo do professor, neste caso a flexibilidade,

    esta no seu turno de trabalho, no horrio de realizao das atividades, nas condies

    materiais para realizao do curso o que varia de aluno para aluno. No tocante ao tempo

    para realizao do estudo, a flexibilidade no se aplica, pois estes requerem disciplina e

    tempo para estudos, registros e realizao de atividades avaliativas. Logo, a EaD no

    pode ser articulada no-presena, uma vez, que o tempo necessrio para qualquer

    processo de ensino e de aprendizagem. O que necessita ficar claro que a EaD, como as

    outras modalidades de ensino exige a presena virtual, que deixa de ser fsica.

    Alm disso, em termos pormenores, uma vez que evidente o que a EaD tem de

    novo, possvel estabelecer um outro questionamento: quais as finalidades esto em

    questo? Qual a finalidade da EaD?

  • A finalidade justamente pensar na utilizao da internet enquanto tcnica

    fundamentadora da EAD nos dias atuais. Consequentemente, a configurao dessas

    tcnicas e outras mais estrategicamente utilizadas na modalidade de ensino em destaque

    esto associadas s inovaes tecnolgicas que brotam das contradies da sociedade

    atual processo este que vem notavelmente intensificar a mundializao do capital.

    De um lado temos as inovaes tecnolgicas como vias condutoras ao processo

    de democratizao do conhecimento e, por outro, contraditoriamente, redes

    informacionais inacessveis a muitos trabalhadores da educao, mas significativamente

    alcanveis pelas regies que so estrategicamente viveis para o capital. Por

    conseguinte, numa percepo superficializada da tica dominante, na qual se prega a

    homogeneizao do espao, a rede social se descaracteriza pelo fato de se fazer

    firmemente presente embora, muitas vezes, de maneira implcita, a continuidade da

    diferena e da hierarquia de classes sociais.

    Revela-se neste sentido, a tendncia ideolgica arraigada na dimenso

    educacional, uma vez que questes bsicas, ao serem filtradas pela lgica do sistema,

    so discursivamente derivadas da eficincia e da eficcia, enquanto que a essncia

    aparentemente descentralizada se afasta do sentido, da finalidade dessa modalidade de

    educao.

    Sob a gide do discurso globalizante, busca-se o progresso tcnico enquanto

    finalidade. Desse modo, um dos procedimentos se situa nos financiamentos pblicos de

    polticas educacionais para os setores emergenciais: no caso da Educao Especial,

    projetos de qualificao docente de professores para atuarem nesta rea. O uso das

    novas tecnologias da informao e da comunicao, atravs da Educao Distncia

    voltada para a qualificao em servio de professores, considerado, portanto, uma

    estratgia essencial para a Educao Especial no pas. Trata-se de um processo longo e

    complexo quando pensado desde os cursos at a efetivao do seu processo formativo

    no cho das escolas pblicas por aqueles que foram qualificados.

    5. Consideraes Finais

    A problematizao das questes aqui debatidas possui sua essncia na

    modernizao e adequao da educao escolar nova ordem mundial, que por sua vez,

    requer dos profissionais da educao a adequao da sua formao profissional, ordem

    do capital.

  • O que ocorre que, a chegada das tecnologias da informao na educao se

    reduziu modalidade de educao distncia direcionada, enfaticamente, s classes

    sociais mais pobres da populao brasileira e qualificao em servio de professores.

    Ou seja, uma das evidncias est na formao de professores distncia, que conduz

    certificao em massa. Tanto que o prprio curso de Atendimento Educacional

    Especializado para alunos surdos, oferecido pelo Cepae/Faced/UFU, consiste na oferta

    de aperfeioamento profissional com a oferta 1.000 vagas, por edio, para professores

    de qualquer canto do pas.

    Logo, uma das armadilhas desta formao de professores consiste no

    distanciamento da agregao de novas possibilidades aos processos pedaggicos e

    aproximao s estratgias de substituio tecnolgica voltada para a certificao

    profissional.

    perceptvel, portanto, que a EaD no Brasil, sob a tica do sistema capitalista de

    produo, se apresentou educao enquanto acesso globalizao econmica e

    sociedade da informao. Consequentemente, a referida modalidade de ensino se

    estabeleceu enquanto estratgia de ampliao do acesso educao, com novas

    dimenses de espao e de tempo, visando a formao dos professores em exerccio e a

    certificao em larga escala.

    Alm disso, os professores desempregados so culpados pelos ditames

    neoliberais, por serem individualmente incapazes pela sua no adaptao s demandas

    do mercado de trabalho informatizado. Ora, em sua essncia, v-se que a raiz do

    problema no est nas novas tecnologias da informao enquanto causadoras do

    desemprego, mas na lgica do capital que se faz cada vez mais presente na sociedade

    atual, com tentativas cada vez mais opressoras contra o trabalho vivo. Entretanto, tal

    opresso mascarada pelo o discurso inclusivo que em profundidade, tem como

    objetivo maior captar a subjetividade dos indivduos imersos neste contexto. Soma-se a

    isso considerando que a mundializao financeira, juntamente com as tecnologias

    atualizadas, trazerem consigo a excluso de um significativo nmero de trabalhadores.

    Paralelamente democratizao da educao informatizada, esto os

    interesses do capital em obter lucratividade com esta modalidade de ensino, a partir dos

    avanos tecnolgicos que lhe permitem avanar ao avistar novos mercados

    consumidores.

  • Os professores, nesta dinmica, so meros possuidores de uma formao flexvel

    e devem ser capazes de utilizar as novas tecnologias da informao o que carrega

    consigo o risco de reduzir a educao a mero treinamento.

    necessria cautela com a pseudo homogeneizao do espao pregada pela

    era da globalizao: o ritmo de acumulao do capital desigual e se desdobra em

    profunda concentrao de produo e consumo com isso a prpria estrutura

    tecnolgica diferenciada, pois no a mesma, uma vez que est presente apenas nos

    espaos que interessam ao capital.

    Alm disso, h outra indagao: qual o acesso e o tipo de tecnologia? Eis uma

    das contradies que constituem desdobramentos do prprio sistema capitalista vigente:

    a EaD destinada, a partir das polticas educacionais, queles economicamente

    desfavorecidos, visando a eficcia de levar a estes indivduos, o acesso aos processos

    educativos. Entretanto, quais as condies reais, em termos tecnolgicos e estruturais,

    que os mesmos possuem de concretizar e finalizar seus cursos?

    Os professores em servio, desse modo, so impulsionados, pela prpria lgica

    do sistema, a se adequarem s demandas de trabalho, em virtude que o prprio

    sistema de avaliao de desempenho docente implantando de diversas formas, nas

    distintas esferas da rede pblica (municipal, estadual e federal) transforma tais

    demandas em necessidades de qualificao profissional que requerem o uso

    competente da tecnologia. A nfase que estes cursos de formaes ocorram via EaD se

    justifica pelo fato de que os organismos internacionais, aliados aos imperativos da

    mundializao do capital, somente liberam financiamento que seja articulado s novas

    tecnologias da informao.

    Neste contexto, mesmo que os referidos cursos que compem a Rede Nacional

    de Formao continuada de Professores em Educao Especial sejam financiados pelo

    Ministrio da Educao, na prtica os professores precisam agregar um mnimo de

    competncias e condies financeiras para agruparem as condies necessrias para sua

    realizao. Portanto, a EaD precisa ser pensada com cautela sob a gide de no se

    transformar em mais uma ferramenta de expropriao da fora de trabalho dos

    profissionais da Educao e demais cidados.

    6. Referncias Bibliogrficas

    ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 2. ed. So Paulo, SP: Cortez; Campinas, SP: Unicamp, 1995.

  • ______. Adeus ao Trabalho? : ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 8 ed. Campinas, SP: Cortez Editora, 2002a.

    ______. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmao e a negao do trabalho. 6 ed So Paulo, SP: Boitempo Editorial, 2002b. 258 p.

    ______. Neoliberalismo, Trabalho e Sindicatos: Reestruturao Produtiva na Inglaterra e no Brasil. So Paulo: Boitempo Editorial, 1997. 129 p.

    ARAJO, M. J.Z, VIANA, S. M. A. Possibilidades Aportadas Pela Educao a Distancia. Disponvel em: http://www.webartigos.com/articles/24518/1/POSSIBILIDADES-APORTADAS-PELA-EDUCACAO-A-DISTANCIA/pagina1.html. Acesso em: 26/01/2010.

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  • CAPTULO II

    ENSINO DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E FORMAO DE PROFESSORES A DISTNCIA

    Marisa Pinheiro Mouro 7 Arlete Aparecida Bertoldo Miranda8

    1. Introduo

    O atual contexto educacional das pessoas surdas demonstra que, aps dcadas de

    discursos e prticas educacionais de reabilitao e normalizao, nos ltimos anos,

    houveram avanos significativos no campo de pesquisas e produo de materiais para a

    melhoria das condies de incluso do surdo na sociedade e na escola (DORZIAT,

    1999; FERNANDES, 2003; QUADROS 2004; S, 2006). notvel o crescimento da

    conscincia desse grupo em busca do reconhecimento da sua identidade, cultura e

    direitos.

    Um importante marco dessas conquistas a oficializao da Lngua Brasileira de

    Sinais (Libras) por meio da Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002, que torna a Libras a

    segunda lngua oficial do Pas. Alm disso, a regulamentao do Decreto n. 5.626, no

    final de 2005, determina a incluso desta lngua como disciplina curricular obrigatria

    nos cursos de formao de professores em nvel mdio e superior.

    Essas conquistas precisam ser traduzidas em aes que permitam aos surdos o

    acesso a uma educao de qualidade. Logo, so necessrias, mais do que adaptaes

    curriculares, mas a efetivao de rupturas ideolgicas e a mudana da prxis

    pedaggica, bem como a transformao do currculo bsico presente na formao

    docente. No entanto, apenas ter a conscincia da transformao no suficiente para

    habilitar os professores e instrumentaliz-los para agir na prtica. Para isso, acreditamos

    serem necessrios investimentos na formao acadmica inicial e continuada desses

    profissionais, para que eles consigam desempenhar o seu trabalho junto aos aprendizes

    surdos, munidos de conhecimentos tericos e prticos, a comear pelo aprendizado da

    Lngua de Sinais. Estas transformaes precisam conduzir a uma ao docente que

    respeite e trabalhe com as diferenas dos surdos com base nas suas especificidades

    7 Professora da Faculdade de Educao da Universidade Federal de Uberlndia, mestre em Educao. 8 Professora doutora da Faculdade de Educao e do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal de Uberlndia/MG, orientadora do trabalho.

  • lingusticas, identitrias e socioculturais, determinadas por uma cultura e por uma

    experincia viso-gestual e no mediante uma viso fsico-biolgica (SKLIAR, 1998).

    Partindo do princpio de que a Libras a lngua materna dos surdos brasileiros,

    entendemos que h uma necessidade urgente de torn-la acessvel aos profissionais da

    educao que atuam com pessoas surdas, salientando que a comunicao uma

    condio bsica para qualquer processo de ensino e aprendizagem. Consideramos ento,

    que o movimento de divulgao e ensino dessa lngua poder contribuir com a

    comunidade surda na garantia de uma participao mais efetiva na sociedade e o acesso

    a uma educao de qualidade a todos os seus membros.

    Nesse contexto que este trabalho comea a se estruturar. Procuramos nos aliar

    realidade atual pautada na busca de apoio ao trabalho educacional e de aes

    alternativas de formao docente, em que as tecnologias da informao e da

    comunicao (TICs), podem se tornar uma ferramenta alternativa e diversificada para

    atender s demandas da realidade educacional de um Pas de dimenses continentais

    como o Brasil. Moran (2007), destaca que uma parte significativa dessa formao est

    relacionada ao uso da Educao a Distncia (EaD) como forma de atingir novos

    pblicos e desenvolver novas estratgias de ensino.

    As tecnologias relacionadas incluso de pessoas surdas esto presentes em

    muitas iniciativas que vm sendo desenvolvidas para difundir a Libras no Brasil, o que

    tem repercutido positivamente na educao dos surdos brasileiros, tais como: Capovilla

    & Raphael (2001); Dicionrio Digital de Libras MEC/Seesp (2002); Misseno &

    Carvalho (2003); Lira (2003); Coradine (2002); Costa (2002).

    Sendo assim, em 2006, uma empresa9 da cidade de Uberlndia-MG deu incio ao

    desenvolvimento do Librasnet: curso para o ensino da Lngua Brasileira de Sinais via

    web10. Este curso seria o primeiro na modalidade a distncia, mediado pela internet,

    para ensinar a Libras de forma contextualizada, utilizando a linguagem HTML

    (HyperText Markup Language) e recursos de animao em duas dimenses.

    Posteriormente, este curso foi inserido no projeto Professor e Surdez: cruzando

    caminhos, produzindo novos olhares11, elaborado pela Universidade Federal de

    9 Este curso foi desenvolvido pela empresa Arajo e Arajo Ltda que utiliza o nome fantasia Meg@info. Esta uma empresa de base tecnolgica, localizada em Uberlndia, Minas Gerais. Home-Page: www.megainfo.inf.br 10 A autora do presente artigo participou durante toda a elaborao do curso Librasnet como Pedagoga e roteirista das Lies do curso. 11 Este projeto foi elaborado pela autora deste trabalho juntamente com a Prof Lzara Cristina da Silva, da Faculdade de Educao da UFU.

  • Uberlndia (UFU), por meio do Centro de Ensino, Pesquisa, Extenso e Atendimento

    em Educao Especial (Cepae) e aprovado pelo Ministrio da Educao (MEC) e

    Secretaria de Educao Especial (Seesp), no segundo semestre de 2007 para compor a

    rede de formao continuada de professores em educao especial, na modalidade a

    distncia. A proposta consistia na oferta de um curso a distncia, mediado pela internet,

    para a formao de 500 professores da rede pblica, de vinte cidades do Brasil, em

    carter de extenso. Como parte prtica, o projeto utilizaria o Librasnet para o

    apresentao da Libras, pois este j se encontrava totalmente concludo pela empresa

    supracitada, parceira da UFU desde 2006.

    Surgiu ento, a questo que norteou este estudo: O curso Librasnet poderia

    contribuir como uma ferramenta para a formao continuada de professores a distncia

    destinados educao de pessoas surdas?

    Dessa maneira, demarcamos como objetivo principal da pesquisa investigar e

    analisar as contribuies do curso Librasnet, realizado na modalidade a distncia, por

    meio da internet, como ferramenta para a formao continuada de professores da rede

    pblica de ensino de dezessete municpios do Brasil, que atuavam ou desejavam atuar

    com a educao de pessoas surdas. Apresentaram-se como objetivos especficos:

    realizar um levantamento do perfil dos participantes;

    identificar as principais dificuldades e/ou facilidades encontradas pelos

    alunos na realizao do curso Librasnet;

    verificar a utilizao das ferramentas de comunicao como: frum, bate-

    papo, correio eletrnico, mural e enquete e

    mapear a avaliao final dos participantes em relao ao curso.

    De uma maneira geral, pretendemos com este estudo contribuir com a formao

    de professores que atuam ou desejam atuar com aprendizes surdos, por meio da difuso

    da Libras e do oferecimento de um espao para a reflexo e a discusso, junto aos

    profissionais da educao de vrias regies do Pas. Cabe ressaltar que este estudo no

    tem a finalidade de substituir a aquisio do uso social da Libras por meio do contato

    com a comunidade surda, mas, sim, oferecer um espao alternativo para a formao

    continuada de professores.

    2. Descortinando os Horizontes sobre a Educao dos Surdos

  • Atualmente, as polticas pblicas brasileiras apresentam grandes avanos no que

    diz respeito compreenso das diferenas implicadas na educao de pessoas surdas.

    Diferentemente da maior parte da histria da educao desse grupo de pessoas, no qual

    a abordagem clnico-teraputica (SKLIAR, 1998), de carter medicalizador, buscava

    normaliz-las como nica forma capaz de integr-las sociedade, hoje, este grupo de

    pessoas luta pelo respeito a sua identidade e cultura, buscando a sua independncia

    social, econmica e pessoal.

    No Brasil, podemos perceber as conquistas das pessoas surdas, na realidade

    atual, pautada na proposta educativa Bilngue. Quadros (2004) defende que o

    Bilinguismo uma proposta de ensino que considera a Lngua de Sinais como lngua

    natural da criana surda, ou seja, como sua primeira lngua, que deve ser aprendida o

    mais cedo possvel, e a lngua portuguesa escrita, como lngua de acesso ao

    conhecimento, que deve ser ensinada a partir da Lngua de Sinais.

    Tal abordagem depende da presena de professores bilngues que tenham

    domnio das duas lnguas envolvidas, utilizando cada uma em diferentes momentos. A

    utilizao da proposta bilngue no apenas a traduo de uma lngua para outra, pois a

    Lngua Portuguesa e a Lngua de Sinais tm bases originrias distintas, princpios e

    regras gramaticais diferenciadas: a Libras tem uma modalidade viso-gestual e a Lngua

    Portuguesa, oral-auditiva. Alm disso, ao abrir espao para a Lngua de Sinais como

    primeira lngua de instruo, preciso entender que os surdos tm uma cultura prpria,

    que deve ser reconhecida e respeitada.

    preciso ressaltar que as pessoas surdas12 tm a Lngua de Sinais, como lngua

    natural de comunicao e por meio dessa que a maioria dos surdos tece as suas

    relaes com o mundo. Assim, o desenvolvimento de uma Lngua de Sinais, cuja

    aquisio se processa de maneira natural ao sujeito surdo, ser a base para a aquisio

    de uma segunda lngua, pois esta lhe dar as condies necessrias para o

    desenvolvimento de sua cognio, de sua autoestima e de sua identidade.

    A Lngua de Sinais, utilizada pela comunidade surda brasileira, foi reconhecida

    oficialmente pela Lei Federal n. 10.436, de 24 de abril de 2002, como Lngua Brasileira

    de Sinais (Libras). A referida lei, em seu Art. 1, pargrafo nico define a Libras como

    A forma de comunicao e expresso, em que o sistema lingustico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical prpria, constitui um

    12 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (Censo IBGE, 2000), existem, no Brasil, cerca de 5,7 milhes de pessoas com algum grau de perda auditiva

  • sistema lingustico de transmisso de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

    De acordo com Ferreira Brito (1997), a Libras dotada de uma gramtica

    organizada a partir de elementos constitutivos das palavras e de um lxico (o conjunto

    das palavras da lngua) que se estruturam com base em mecanismos morfolgicos,

    sintticos e semnticos. Estes possibilitam a produo de um nmero infinito de

    construes por meio de um nmero finito de regras.

    Com relao a sua Estrutura Sinttica, Strobel e Fernandes (1998, p. 15)

    esclarecem que a Libras no pode ser estudada tendo como base a Lngua Portuguesa,

    porque esta tem uma gramtica diferenciada, independente da lngua oral, que tambm

    composta pelos nveis lingusticos: fonolgico, morfolgico, sinttico e semntico. A

    ordem dos sinais na construo de um enunciado obedece a regras prprias, que

    refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com base em sua percepo visual-

    espacial da realidade

    Libras: IDADE VOC (expresso facial de interrogao)

    Portugus: Quantos anos voc tem?

    Libras: FLOR EU-DAR MULHER^BENO (verbo direcional)

    Portugus: Eu dei a flor para a mame.

    Os dados publicados pelo MEC e Seesp (2006), referentes Evoluo da

    educao especial no Brasil, revelam que entre os anos de 2003 a 2005, o nmero de

    alunos surdos matriculados na educao bsica e em instituies de ensino superior vem

    crescendo a cada ano no Brasil. No entanto, os dados apontam uma substancial

    diferena entre o nmero de alunos surdos presentes na educao bsica em contraste

    com o nmero de alunos que conseguem ingressar no ensino superior.

    A incluso de alunos surdos nas escolas regulares tem ressoado em uma srie de

    desafios socioeducacionais, dentre os quais, podemos destacar a adaptao do espao

    fsico da escola, das metodologias de ensino e da formao inicial e continuada dos

    professores, ressaltando que no basta apenas que estes aprendam a Libras, mas, sim,

    aprendam em seus cursos de formao, como desenvolver uma prtica de ensino e

    aprendizagem que considere as necessidades de aprendizes surdos.

    Na viso de S (2006), quando se opta por utilizar a Libras como primeira lngua

    no processo educativo dos surdos, necessita-se entender que tal postura altera toda a

    organizao escolar: os objetivos pedaggicos, as prticas de ensino e aprendizagem e a

    participao da comunidade surda no processo escolar.

  • No que concerne proposta educativa bilngue, embora a reconhecendo como a

    que mais respeita as diferenas das pessoas surdas, ainda h uma srie de questes de

    cunho poltico-pedaggico que merecem reflexo e necessitam de uma reestruturao

    dentro das escolas onde os surdos esto includos.

    Entendemos que o professor, ao desenvolver suas atividades curriculares

    voltadas para o ensino do aluno surdo, precisa realiz-las utilizando a Libras, pois,

    segundo a Lei n. 10.436/2002 e o Decreto n. 5626/2005, esse grupo de estudantes

    tem o direito de se comunicar, aprender e ser avaliado na sua primeira lngua a

    Libras. Neste caso, acreditamos na necessidade da existncia de professores

    bilngues atuantes na escolarizao desses alunos. Nessa perspectiva, no h

    preocupao em negar as diferenas, mas fazer com que o surdo assuma o seu papel

    como cidado brasileiro, em condies de participar ativamente da sociedade,

    considerando as suas peculiaridades na incluso social e prxis escolar.

    Neste sentindo, essencial a transformao do currculo e da formao docente,

    contribuindo para que o espao escolar seja capaz de propiciar um ambiente de

    construo do conhecimento que respeite as diferenas lingusticas, identitrias e

    especificidades culturais das pessoas surdas. A incluso que aqui se almeja aquela que

    compreende o acesso igualitrio ao contedo curricular, garantindo aos surdos, no

    somente o acesso a educao, mas a sua permanncia escolar e progresso nos estudos.

    3. Elos entre as Tecnologias da Informao e Comunicao e a Divulgao da

    Libras

    Atualmente, a utilizao de cursos na modalidade a distncia, tem repercutido na

    formao de professores, que buscam espaos diversificados de estudo, reflexo e

    discusses tericas/metodolgicas, aliada ao aumento das exigncias do governo

    brasileiro, nos ltimos anos, pela certificao e ampliao da formao profissional, que

    se depara com a defasagem nas condies de formao docente no Pas.

    Esta modalidade de educao vem alcanando, cada vez mais, uma posio de

    destaque no Brasil, sendo vista por muitos como um instrumento de democratizao do

    acesso informao, proporcionando a participao e o acesso de pessoas excludas dos

    processos educacionais, por questes de horrio, localizao de moradia ou falta de

    recursos materiais entre outras causas (BELLONI, 2006; MORAN, 2007; KENSKI,

    2009).

  • No se pode negar, atualmente, que a disseminao da informao, aliada ao uso

    das mdias educativas, tem colocado recursos como o computador, a internet e o vdeo a

    servio da educao e, que se aliar a estas tecnologias, no oferecimento de cursos de

    formao de professores, pode se tornar uma ferramenta alternativa e diversificada para

    atender s demandas da realidade educacional de um Pas de dimenses continentais

    como o Brasil.

    notria a questo da necessidade de formao especializada dos professores

    para atuar com aprendizes surdos dentro de uma sociedade globalizada, multicultural,

    tecnolgica e em ritmo de atualizao constante. Oriundos de uma formao aligeirada

    e superficial, que no consegue atender s especificidades comuns no cotidiano escolar,

    os professores que atuam com alunos surdos, na maioria das vezes, buscam cursos de

    formao pelo seu prprio interesse e/ou aprendem a trabalhar com a diferena desse

    aluno no prprio contato na sala de aula.

    Sendo assim, o desenvolvimento de recursos didticos, cursos, softwares,

    ambientes de aprendizagem, entre outros, tem oferecido diversas oportunidades de

    formao continuada e, at mesmo, para consulta e utilizao por parte dos profissionais

    que atuam com pessoas surdas. Hoje, diversos sites e ambientes disponveis na internet

    dispem de contedos, propostas e recursos para auxiliar o professor na prxis escolar.

    No entanto, apesar da existncia desses materiais e/ou ambientes virtuais, estes, em sua

    maioria, apresentam o contedo de forma descontextualizada, ou encontram-se em fase

    de concluso, em decorrncia, sobretudo, dos altos cursos de produo e escassez de

    profissionais qualificados (CORADINE, 2002; COSTA, 2002; MISSENO &

    CARVALHO, 2003; LIRA, 2003).

    Em meio ao contexto, vimos que muitos materiais e estratgias vm sendo

    produzidos em prol da difuso da Libras e da incluso do surdo. Porm, esse cenrio

    ainda revela algumas limitaes, alm de se restringir, muitas vezes, a materiais

    impressos, o que dificulta a sua circulao, dada s dimenses geogrficas deste Pas.

    Outro fator limitante a compreenso da complexidade da Libras, que utiliza

    movimentos gestuais e espaciais, que dificilmente pode ser esclarecido por meio de

    materiais impressos.

    Pelos motivos supracitados, surgiu a necessidade de desenvolver um curso de

    Libras a distncia para ser utilizado como uma ferramenta complementar de ensino e

    aprendizagem. Considerando, tambm, a necessidade de aprendizagem da Libras, por

    parte dos professores, familiares e demais pessoas que se relacionam com os surdos,

  • desenvolver um curso para a divulgao dessa lngua, mediado pela internet, poderia

    disseminar de forma abrangente o uso dessa comunicao e, lev-la at as regies do

    Pas que no tenham uma pessoa habilitada para ensin-la.

    Sendo assim, em 2006, uma empresa da cidade de Uberlndia-MG deu incio ao

    desenvolvimento do Librasnet: curso para o ensino da Lngua Brasileira de Sinais via

    web. Este, contou com o apoio financiador do Conselho Nacional de Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e o trabalho de uma equipe multidisciplinar, composta

    por uma professora de Libras, usuria da Libras, seis web designers, dois

    programadores, uma coordenadora pedaggica13, um analista de sistema, assessoria

    pedaggica da Faculdade de Educao (Faced) da UFU e, tambm, com a validao do

    curso, por meio da parceria com a Associao de Surdos de Uberlndia (Asul).

    O curso foi desenvolvido para ser ministrado na modalidade a distncia, por

    meio de uma plataforma de ensino intitulada toLearn14. Na sua montagem foi utilizada a

    linguagem HTML (HyperText Markup Language) e recursos de animao em duas

    dimenses (2D), produzidas com o suporte do software Corel DRAW X e animadas com

    o programa Adobe Flash CS3 Professional 8.

    O Librasnet foi desenvolvido com base em metodologia de ensino

    contextualizada (FELIPE & MONTEIRO, 2001), iniciando a apresentao do contedo

    pela comunicao bsica, tal como a prpria identidade das pessoas, suas caractersticas

    fsicas, sua histria, sua famlia, entre muitas outras situaes de comunicao e

    relacionamento cotidiano. Seu ambiente de aprendizagem foi elaborado para um pblico

    leigo e poderia ser utilizado, tambm, por pessoas usurias da lngua interessadas em

    conhecer recursos diversificados.

    Nesse propsito, os contedos do curso foram escolhidos para serem

    apresentados nas atividades cotidianas do personagem Eduardo Dudu, uma criana

    surda de dez anos de idade, narrador central da histria. Os dilogos acontecem entre os

    personagens da famlia do Dudu: sua me Ana, seu pai Jos Carlos Zeca e sua irm

    Marina, todos eles ouvintes, que utilizam a Libras para se comunicarem com o Dudu em

    diversas situaes e ambientes onde a histria se contextualiza. 13 As principais atividades desenvolvidas por mim no projeto foram: criar as histrias cotidianas na qual se davam o ensino da Libras, transform-las em storyboards a serem desenvolvidos pela equipe de designers, apresentar e discutir com a Associao de surdos de Uberlndia e demais pessoas envolvidas o contedo do curso, criar as atividades interativas, jogos, testes de mltipla escolha e dissertativos etc. 14 Plataforma de gesto de cursos ministrados a distncia, com a mediao da internet. Desenvolvida em linguagem de programao Java, utiliza a arquitetura Java2 Platform Enterprise Edition (J2EE), servidor de aplicaes Java para web (TomCat) e um sistema de gerenciamento de banco de dados (MySQL).

  • A equipe do projeto elaborou e seguiu um processo de desenvolvimento, em

    etapas, para a criao das lies do curso. O incio dessa estruturao comeava com a

    equipe pedaggica, por meio da elaborao do Storyboard15 das lies, seu roteiro,

    atividades interativas, dicionrio, entre outros. Aps o desenho das configuraes de

    mos necessrias para a montagem do sinal, era realizada a sua animao e,

    posteriormente, a organizao de todos os sinais na estrutura da frasal da Libras. Por

    ltimo, a professora de Libras realizava as correes juntamente com a equipe

    pedaggica, e a lio era apresentada Asul para avaliao e correo.

    Durante todo o curso, constante a utilizao de imagens associadas

    apresentao de um novo sinal ou contexto, assim como os dilogos entre os

    personagens. Para isso, o curso considera as diferenas estruturais prprias da Libras,

    distintas da estrutura da Lngua Portuguesa, que se baseia na construo Sujeito-Verbo-

    Objeto. Na Libras, a frase, geralmente, tem uma sequncia frasal topicalizada. Exemplo:

    Portugus: Hoje meu amigo vem visitar a minha casa, Libras: AMIGO VISITAR

    CASA MEU HOJE (STROBEL & FERNANDES, 1998; QUADROS, 2004).

    Figura 1 - Interface do ambiente de aprendizagem

    Fonte: Ambiente de aprendizagem do curso Librasnet Jan. 2009

    Os sinais apresentados no curso correspondem comunicao do dia-a-dia, tais

    como: verbos; pronomes, adjetivos; sentimentos, expresses faciais, mveis, objetos,

    eletrodomsticos, roupas, cores, lugares, ambiente escolar, alimentos, corpo humano,

    higiene, doenas, remdios, cidade, profisses, noes de tempo, nmeros, alfabeto,

    documentos pessoais, famlia, entre outros. No entanto, estes no esto agrupados em

    15 Storyboard uma ferramenta para criao de roteiros, contada em quadros. Lembra uma histria em quadrinhos sem bales. uma etapa na visualizao de algo que ser realizado em outro meio. Disponvel em: Acesso em: 14. set. 2008.

  • categorias, mas encontram-se contextualizados em vrias situaes cotidianas. Sendo

    assim, o contedo programtico do curso Librasnet abrange 1.000 sinais distribudos em

    nove lies: Apresentao do curso; Lio 1 - Voc tem uma identidade; Lio 2 - Voc

    tem uma histria; Lio 3 - A famlia e o trabalho; Lio 4 - Minha casa: A sala e o

    banheiro; Lio 5 - Minha casa: O quarto e as cores; Lio 6 - Minha casa: A cozinha e

    os alimentos; Lio 7 - A escola: A sala de aula do Dudu; Lio 8 - A Escola: A sala de

    aula do Dudu - Parte II; Lio 9 - As frias da famlia.

    A plataforma onde o curso hospedado permite a gesto e o acompanhamento

    do aluno, disponibilizando um conjunto de estratgias pedaggicas que facilitam a sua

    aprendizagem, tais como o dicionrio da lio, o alfabeto manual; as atividades do

    aprenda brincando, os testes de verificao, o voc sabia? e os sinais parecidos.

    Alm disso, a plataforma conta com as ferramentas bsicas de comunicao e interao,

    tais como: frum, bate-papo, correio-eletrnico, enquete, anotaes, biblioteca, mural,

    relatrios de atividades, entre outros, que facilitam a troca de informaes entre o aluno

    e o professor/tutor e o suporte durante o curso.

    Dessa maneira, descritas as peculiaridades do Ambiente Virtual de

    Aprendizagem (AVA) proposto no curso Librasnet, assim como as suas estratgias

    pedaggicas, adentra-se em um momento crucial: o oferecimento do curso. Desta

    maneira, definimos como campo de investigao e coleta de dados o curso Professor e

    surdez, cruzando caminhos, produzindo novos olhares, oferecido pela UFU, por meio

    do Cepae e da Pr-reitoria de Extenso, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex),

    pertecente ao Programa de Formao Continuada de Professores em Educao Especial,

    na modalidade a distncia, do MEC e da Seesp em parceria com a Universidade Aberta

    do Brasil (UAB).

    Tal projeto foi contemplado no segundo semestre de 2007, por meio do edital n.

    11 de 22 de agosto, por meio do qual a Seesp tornou pblico o resultado da fase II do

    edital n. 6 do processo de seleo para o programa de formao continuada de

    professores na educao especial. Foram contemplados para a participao no curso a

    50016 professores da rede pblica de ensino de 20 municpios do Pas, em carter de

    extenso (120 horas), sendo eles: Araci BA; Araguari MG; Congonhas MG;

    Derrubadas RS; Erer CE; Ibat SP; Ipame