advocaciageral da uniÃo consultoriageral da uniÃo ... · nup: 64536.026088/201519 interessados:...

20
ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIA JURÍDICA JUNTO AO MINISTÉRIO DA DEFESA CGDAM COORDENAÇÃOGERAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO E MILITAR ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO Q, SALA 733, CEP: 70049900, BRASÍLIADF TELEFONE: 613312 4123. EMAIL: [email protected] PARECER n. 00626/2016/CONJURMD/CGU/AGU NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: GABINETE DO COMANDANTE DO EXÉRCITO BRASILEIRO ASSUNTO: Consulta sobre os efeitos jurídicos decorrentes de Licença Especial não gozada e não computada em dobro para efeitos de inatividade. EMENTA: MILITAR. LICENÇA ESPECIAL NÃO GOZADA. ART. 68 DA LEI Nº 6.880/80. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.21510/2001. ENTENDIMENTO SEDIMENTADO EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ARE 721.001RG. DESDOBRAMENTOS. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001RG, fixou seu entendimento no sentido de que é cabível a indenização em pecúnia das férias não gozadas na atividade, bem como de outras parcelas de natureza remuneratória que não possam mais ser usufruídas como, in casu, a licença especial 2. O direito à compensação pecuniária surge a partir do momento em que o militar não poderá mais usufruir dos períodos de licença especiais regularmente adquiridos, seja pelo rompimento do vínculo com a Administração Castrense, seja pela passagem à inatividade, seja pelo seu falecimento. 3. Assim, o direito à compensação pecuniária pelas licenças especiais não gozadas nem computadas em dobro para os fins de inatividade será transferido tanto aos sucessores do militar que tenha falecido no serviço ativo como do militar falecido já na inatividade. 4. Por se tratar de indenização devida ao militar com fundamento na vedação de enriquecimento ilícito pela Administração que não se confunde com o direito à pensão militar transferido aos beneficiários e regulamentado pela Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, ou com qualquer outro direito assegurado aos dependentes do militar pela Lei nº 6.880/80 o direito à compensação pecuniária passa a integrar a herança a ser transmitida aos seus sucessores, herdeiros legítimos ou testamentários, conforme o caso, de acordo com as disposições do Código Civil de 2002. 5. Os sucessores dispõem de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32, contados do falecimento do militar, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob pena de se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempo oportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade pelo militar. 6. A decisão proferida no ARE nº 721001 RG/RJ passa a ser vinculante para os demais Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais e os fundamentos da decisão se tornam vinculantes tanto para os processos futuros quanto para os processos já julgados. Dessa forma, o militar ainda em vida que possua períodos de licença especial adquiridos até 21.12.2000, não gozados nem computados em dobro para os fins de passagem à inatividade, faz jus à indenização pecuniária. 7. Ressaltese, contudo, que o militar inativo ou aquele que tenha rompido vínculo com a Administração Castrense e, portanto, não mais poderá gozar dos períodos de licença nem computálos para a inatividade dispõe de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32, contados da sua passagem para a inatividade ou do rompimento do vínculo com a Administração Castrense, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob pena de se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempo oportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade.

Upload: others

Post on 09-Jun-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

ADVOCACIA­GERAL DA UNIÃOCONSULTORIA­GERAL DA UNIÃO

CONSULTORIA JURÍDICA JUNTO AO MINISTÉRIO DA DEFESACGDAM ­ COORDENAÇÃO­GERAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO E MILITAR

ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO Q, SALA 733, CEP: 70049­900, BRASÍLIA­DF TELEFONE: 61­3312­4123. EMAIL: [email protected]

PARECER n. 00626/2016/CONJUR­MD/CGU/AGU

NUP: 64536.026088/2015­19INTERESSADOS: GABINETE DO COMANDANTE DO EXÉRCITO BRASILEIROASSUNTO: Consulta sobre os efeitos jurídicos decorrentes de Licença Especial não gozada e não computada emdobro para efeitos de inatividade.

EMENTA: MILITAR. LICENÇA ESPECIAL NÃO GOZADA. ART. 68 DA LEI Nº 6.880/80.MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.215­10/2001. ENTENDIMENTO SEDIMENTADO EM SEDEDE REPERCUSSÃO GERAL PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ARE 721.001­RG.DESDOBRAMENTOS.1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG, fixou seu entendimento nosentido de que é cabível a indenização em pecúnia das férias não gozadas na atividade, bemcomo de outras parcelas de natureza remuneratória que não possam mais ser usufruídas ­ como, incasu, a licença especial2. O direito à compensação pecuniária surge a partir do momento em que o militar não poderámais usufruir dos períodos de licença especiais regularmente adquiridos, seja pelo rompimentodo vínculo com a Administração Castrense, seja pela passagem à inatividade, seja pelo seufalecimento.3. Assim, o direito à compensação pecuniária pelas licenças especiais não gozadas nemcomputadas em dobro para os fins de inatividade será transferido tanto aos sucessores do militarque tenha falecido no serviço ativo como do militar falecido já na inatividade.4. Por se tratar de indenização devida ao militar com fundamento na vedação de enriquecimentoilícito pela Administração ­ que não se confunde com o direito à pensão militar transferido aosbeneficiários e regulamentado pela Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, ou com qualquer outrodireito assegurado aos dependentes do militar pela Lei nº 6.880/80 ­ o direito à compensaçãopecuniária passa a integrar a herança a ser transmitida aos seus sucessores, herdeiros legítimos outestamentários, conforme o caso, de acordo com as disposições do Código Civil de 2002.5. Os sucessores dispõem de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32,contados do falecimento do militar, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob penade se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempooportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade pelo militar.6. A decisão proferida no ARE nº 721001 RG/RJ passa a ser vinculante para os demais Tribunais,Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais e os fundamentos da decisão se tornamvinculantes tanto para os processos futuros quanto para os processos já julgados. Dessa forma, omilitar ainda em vida que possua períodos de licença especial adquiridos até 21.12.2000, nãogozados nem computados em dobro para os fins de passagem à inatividade, faz jus à indenizaçãopecuniária.7. Ressalte­se, contudo, que o militar inativo ou aquele que tenha rompido vínculo com aAdministração Castrense­ e, portanto, não mais poderá gozar dos períodos de licença nemcomputá­los para a inatividade ­ dispõe de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decretonº 20.910/32, contados da sua passagem para a inatividade ou do rompimento do vínculo coma Administração Castrense, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob pena de se terpor prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempooportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade.

Page 2: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

Ilmo. Sr. Coordenador­Geral de Direito Administrativo e Militar,

1. RELATÓRIO

1. Trata­se de Processo Administrativo digital decorrente do Ofício nº 117­A2.3/A2/GabCmtEx, de 4 denovembro de 2015, por meio do qual o Gabinete do Comandante do Exército apresenta ao Gabinete do Ministro daDefesa questionamentos acerca dos efeitos jurídicos decorrentes de Licença Especial não gozada e não computada emdobro para efeitos de inatividade. A consulta restou assim versada:

"1.Tendo em vista as inúmeras consultas formuladas no âmbito deste Comando acerca do assuntoem epígrafe, submeto a questão para a apreciação desse Ministério, fazendo as seguintesconsiderações:a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença especial ao militara cada decênio de tempo de efetivo serviço prestado, foi expressamente revogada pela MP nº2.131, de 28 DEZ 00, que após várias reedições passou a viger como MP nº 2.215­10, de 31 AGO01; eb. o art. 33 da referida Medida Provisória, a fim de preservar o direito adquirido dos militares,estabeleceu, in verbis:Art. 33. Os períodos de licença especial, adquiridos até 29 de dezembro de 2000, poderão serusufruídos ou contados em dobro para efeito de inatividade, e nessa situação para todos os efeitoslegais, ou convertidos em pecúnia no caso de falecimento do militar.Parágrafo único. Fica assegurada a remuneração integral ao militar em gozo de licença especial.2. No que toca às possibilidades de usufruir a licença ou contar o referido período em dobro paraefeito de inatividade, não há dúvida. As questões que precisam ser dirimidas são as abaixoelencadas.a. Quando a medida provisória traz a opção de conversão em pecúnia no caso de falecimento demilitar, esse militar deve estar no serviço ativo por ocasião do falecimento ou já pode estar nainatividade, desde que não tenha fruído ou utilizado o período de licença não gozado em dobropara fins de inatividade?b. Essa conversão em pecúnia irá favorecer somente os dependentes dos militares que seencontravam no serviço ativo por ocasião da edição da MP nº 2.131/2000 ou se estenderá aosdependentes dos militares que, à época da edição da medida provisória, já estavam inativos e quenão gozaram a licença quando na ativa nem dela se valeram da contagem em dobro para ainatividade?c. É possível a conversão em pecúnia dos períodos de licença especial adquiridos mas nãogozados nem contados em dobro para passagem à inatividade, em proveito do militar ainda emvida, a exemplo dos entendimentos firmados pelo STF, pelo Conselho Superior da Justiça doTrabalho e pelo Superior Tribunal Militar, no Processo Administrativo nº 331.583/2008, naResolução Administrativa nº 1.491, de 6 DEZ 11e no Processo Administrativo nº 004310/12­DIPES, de 27 FEV 12, respectivamente, ao enfrentarem questão análoga de casos de conversãoem pecúnia de períodos de licença prêmio não gozados e nem contado em dobro para inativaçãorelativo aos seus servidores?3. Do exposto, por tratar­se de assunto comum às Forças Singulares e que, portanto, requertratamento uniforme, solicito a V Exa orientações acerca de como proceder em cada caso acimaapontado."

2. Os autos foram então remetidos à Chefia de Gabinete da Secretaria­Geral desta Pasta em 06.11.2015,de onde foram encaminhados à Secretaria de Organização Institucional ­ SEORI/MD, em 10.11.2015, paraconhecimento e providências, e, na mesma data, à Gerência de Gestão de Pessoas ­ GEPES/DEADI, para ciência,análise e manifestação.

3. A GEPES/DEADI, por meio do Despacho no 467/GEPES/DEADI/SEORI/SG­MD, de 23.05.2016,sugeriu o encaminhamento da consulta a este órgão de assessoramento jurídico. A sugestão foi acatada pelo Despachono 947/DEADI/SEORI/SG­MD, e por força do Despacho nº 58/SEORI/SG­MD os autos digitais vieram a estaCONJUR/MD.

Page 3: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

4. Este órgão de assessoramento jurídico, por sua vez, e através da COTA n. 00179/2016/CONJUR­MD/CGU/AGU, solicitou o pronunciamento das Consultorias Jurídicas­Adjuntas dos Comandos da Marinha, doExército e Aeronáutica bem como de subsídios técnicos da SEORI.

5. O DEORG/MD manifestou­se nos termos da NOTA TÉCNICA N°5/DIREM/DEORG/SEORI/SG/MD/2016 acerca do "direito ao pagamento de indenização relativo aos períodos delicença não fruídos e nem computados em dobro para aposentadoria", sob a óptica aplicável aos Ministros militares doSupremo Tribunal Militar, para concluir pela necessidade de exame e manifestação da Secretaria de Pessoal, Ensino,Saúde e Desporto desta Pasta.

6. Já através da NOTA TÉCNICA N° 9/DIREM/DEORG/SEORI/SG/MD/2016, o DEORG/MD assim sepronunciou:

"Nesse sentido, por fim, entende se que:a) com relação ao questionamento "2.a", a Medida Provisória nº 2.215 10, de 2001, ao prever aconversão da licença especial (não usufruída e nem contada em dobro para efeito de inatividade)no caso de falecimento do militar, refere se tanto ao militar ativo, quanto ao militar inativo, nostermos do art. 3º da Lei nº 6.880, de 1980 ;b) no questionamento "2.b", o pagamento da referida pecúnia aos "dependentes do militar" éequivocada, visto que, pela legislação militar em vigor, pagamentos devidos ao militar e dívidascom a União do militar, derivados da sua situação de "militar ativo" ou de "militar inativo", nocaso de seu falecimento, são devidos apenas pelos "beneficiários de pensão militar"; ec) por sua vez, o questionamento "2.c" foi abordado no processo de NUP 00400.000710/2015 11,por intermédio da Nota Técnica nº 5/DIREM/DEORG/SEORI/SG/MD/2016, de 1º de fevereirode 2016 (0023147), mas, importante enfatizar:c.1) não há previsão legal para a conversão dos períodos de licença especial não gozados ou nãocomputados em dobro para a transferência para a inatividade em pecúnia ao militar ativo ou aomilitar inativo;c.2) a licença especial é um direito do militar e ele opta por usufruir o período remunerado oucomputar em dobro o período não gozado para a transferência para a inatividade; ec.3) a União assegura aos beneficiários da pensão militar o direito de converter a licença especialem pecúnia, caso o militar falecido não tenha gozado o período devido e nem computado emdobro,no momento da transferência para a inatividade, evitando, assim, eventuais danosfinanceiros à família do militar."

7. A d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comando da Aeronáutica pronunciou­se na forma do Parecer nº153/2016/CGU/AGU, segundo o qual:

"10. Assim, quanto ao questionamento “a” (Quando a medida provisória traz a opção deconversão em pecúnia no caso de falecimento de militar, esse militar deve estar no serviço ativopor ocasião do falecimento ou já pode estar na inatividade, desde que não tenha fruído ouutilizado o período de licença não gozado em dobro para fins de inatividade?), tem­se que alicença especial foi extinta, mas, aos que faziam jus, nos termos do artigo 33 da MP nº 2.215­10/2001, deve ser, em uma de suas formas, concedida.11. Portanto, para que seja convertida em pecúnia, se mostra prescindível que o militar estivesseno serviço ativo quando do falecimento, podendo ocorrer de já estar na inatividade, desde quepreenchidos os requisitos para obtenção do direito.12. No que concerne ao questionamento “b” (Essa conversão em pecúnia irá favorecer somenteos dependentes dos militares que se encontravam no serviço ativo por ocasião da edição da MPn° 2.131/2000 ou se estenderá aos dependentes dos militares que, à época da edição da medidaprovisória, já estavam inativos e que não gozaram a licença quando na ativa nem dela sevaleram da contagem em dobro para a inatividade?), o artigo 33 delimitou a data até a qualteriam direito ao previsto (“até 29 de dezembro de 2000”).13. Serão beneficiados, então, tanto os dependentes dos militares que estavam no serviço ativoquanto os daqueles que já tinham ingressado na inatividade, desde que tenham preenchido osrequisitos necessários e não tenham utilizado o período de outra forma.14. Por fim, quanto ao último item, “c” (É possível a conversão em pecúnia dos períodos delicença especial adquiridos mas não gozados e nem contados em dobro para passagem à

Page 4: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

inatividade, em proveito do militar ainda em vida, a exemplo dos entendimentos firmados peloSTF, pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho e pelo Superior Tribunal Militar, noProcesso Administrativo n° 331.583/2008, na Resolução Administrativa n° 1.491 de 6 DEZ 11, eno Processo Administrativo n° 004310/12­DIPES, de 27 FEV 12, respectivamente, aoenfrentarem questão análoga de casos de conversão em pecúnia de períodos de licença prêmionão gozados e nem contados em dobro para inativação relativos aos seus servidores?),inicialmente cabe ressaltar que a Resolução Administrativa n° 1.491, de 6 de dezembro de 2011,encontra­se revogada pela de número 1.510, de 9 de abril de 2012, mas que contém, em suma, omesmo teor."

8. A d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comando do Exército manifestou­se acerca do tema através doParecer nº 127/2016/MK/CJACEX/CGU/AGU, assim ementado:

"DIREITO ADMINISTRATIVO. LICENÇA ESPECIAL NÃO GOZADA E NÃO CONTADAEM DOBRO POR OCASIÃO DA PASSAGEM PARA INATIVIDADE. CONVERSÃO EMPECÚNIA.I ­ EXTINÇÃO DO DIREITO À LICENÇA ESPECIAL, COM TUTELA AO DIREITOADQUIRIDO QUANDO DA EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISORIA 2.215­10.II ­ DISCIPLINA RELATIVA À CONVERSÃO EM PECÚNIA AO PRÓPRIO MILITAR EMCERTAS E DETERMINADAS CONDIÇÕES, NOS TERMOS DA DECISÃO DO STF EMSEDE DE REPERCUSSÃO GERAL PARA SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS.III ­ REVISÃO DO PARECER Nº 234/CJCEX, DE 2013."

9. A d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comando da Marinha, por seu turno, enfrentou os questionamentospostos na forma do Estudo Sucinto nº 40­11/2016, para concluir que "o militar ao optar pela LESM ser convertida empecúnia por ocasião do seu falecimento, passou a conferir o direito a seu beneficiário(a) de pensão militar em perceberuma remuneração por mês de LESM não gozada"; que "ao ser extinta a LESM, foram criadas formas para que o militarem atividade dela optasse como bem lhe conviesse, porém, para aqueles que já haviam deixado o serviço ativo e que játinham aproveitado a Licença de qualquer das formas que a lei então vigente previa, não há como retroagir os efeitos daMedida Provisória para conceder pecúnia aos seus futuros beneficiários de pensão, visto que a lei vigora até que outra amodifique ou revogue" e que "converter o tempo adquirido de LESM em pecúnia ao próprio militar que já possui orespectivo percentual de tempo de serviço referente a esse período adquirido e não gozado implantado no seu soldo soba rubrica de 'Adicional de Tempo de Serviço', além de ferir a legislação que rege a espécie, configura­se em verdadeirobis in idem".

10. É, em síntese, o relatório.

2. ANÁLISE

11. Apenas por cautela, antes de adentrarmos no enfrentamento da questão propriamente dito, cumpreregistrar que a análise desta Consultoria Jurídica junto ao Ministério da Defesa será realizada com base apenas nosdocumentos digitais acima referidos e disponibilizados no sistema Sapiens até o momento de elaboração destamanifestação, certificado in fine.

12. A Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, em sua dicção original, tratou da licença especial como aautorização para o afastamento total do serviço, relativa a cada decênio de tempo de efetivo serviço prestado, concedidaao militar que a requeresse, sem implicação em qualquer restrição para a sua carreira (vide art. 68). Ainda de acordocom o Estatuto dos Militares, a licença especial tinha a duração de 6 (seis) meses, e poderia ser gozada de uma só vez;ou, quando solicitado pelo interessado e julgado conveniente pela autoridade competente, poderia ser parcelada em 2(dois) ou 3 (três) meses, sem qualquer interrupção na contagem de tempo de efetivo serviço (vide art. 68, §§1º e 2º, daLei nº 6.880/80). Mais de perto toca à presente consulta o que dispunha o art. 68, §3º, da mesma Lei nº 6.880/80,segundo o qual os períodos de licença especial não­gozados pelo militar seriam computados em dobro para finsexclusivos de contagem de tempo para a passagem à inatividade e, nesta situação, para todos os efeitos legais.

13. O art. 68 da Lei nº 6.880/80 foi expressamente revogado pelo art. 41 da Medida Provisória nº 2.215­10,de 31 de agosto de 2001, que passou a estabelecer nova disciplina sobre o tema. Não obstante, pelo art. 33 da MedidaProvisória nº 2.215­10/2001, permaneceu garantido ao militar que possuísse períodos de licença especial, adquiridos até29 de dezembro de 2000, mas não gozados, a sua fruição ou o seu cômputo em dobro para efeito de inatividade, e nessa

Page 5: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

situação para todos os efeitos legais. Foi, ainda, reconhecida a possibilidade de conversão dos referidos períodos empecúnia no caso de falecimento do militar. Vejamos:

Art. 33. Os períodos de licença especial, adquiridos até 29 de dezembro de 2000, poderão serusufruídos ou contados em dobro para efeito de inatividade, e nessa situação para todos os efeitoslegais, ou convertidos em pecúnia no caso de falecimento do militar.Parágrafo único. Fica assegurada a remuneração integral ao militar em gozo de licença especial.

14. O art. 95 do Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, que regulamenta a Medida Provisória nº 2.215­10/2001, por seu turno, esclarece:

Art. 95. Será devido o valor de uma remuneração para cada mês de licença especial não gozada,caso convertido em pecúnia, conforme disposto no art. 33 da Medida Provisória no 2.215­10, de2001.

15. Fixadas as balizas normativas relativas à licença­especial, antes de analisarmos as questões deduzidasnos autos pelo Comando do Exército, enfrentemos seus precedentes lógicos e seus desdobramentos.

2.1 Da inocorrência de decadência administrativa

16. A questão relativa às implicações do reconhecimento do direito às licenças especiais adquiridas pormilitares até 29 de dezembro de 2000 ­ mas não gozadas oportunamente ­ perpassa, necessariamente, pela elucidação dasua natureza e pela delimitação temporal do seu exercício.

17. No caso específico, o afastamento do serviço por motivo de licença especial constituía direitopotestativo do militar da ativa (vide art. 50, inciso IV, alínea "o", in fine, da Lei nº 6.880/80) que, ao término do períodoaquisitivo, poderia exercê­lo a qualquer tempo enquanto mantivesse o vínculo com a Administração Castrense eindependentemente de qualquer implicação em sua carreira (vide art. 68, da Lei nº 6.880/80). E assim o é porque aAdministração Castrense não pode recusar­se, fora das hipóteses expressamente previstas em na regulamentaçãoespecífica (vide e.g., art. 63, §3º, da Lei nº 6.880/80), a conceder a licença especial regularmente adquiridas pelo militarquando este o requeira.

18. De fato, por natureza, os direitos potestativos constituem uma classe especial de faculdades cujoexercício, mediante a simples declaração de vontade do seu titular, cria um estado de sujeição para terceiros, conformeapregoa a clássica lição de Agnelo Amorim Filho (in Critério científico para distinguir a prescrição da decadência epara identificar as ações imprescritíveis. Revista forense : comemorativa ­ 100 anos. Rio de Janeiro : Forense, 2007. p.99­136, v. 5.).

19. E nesse ponto comungamos com o entendimento jurisprudencial de há muito sedimentado no âmbito doC. Superior Tribunal de Justiça segundo o qual enquanto mantido o vínculo para com a Administração Castrense, omilitar poderá usufruir o direito às licenças especiais remuneradas, mesmo que adquiridas antes de 29 de dezembro de2000.

20. Colham­se, mutatis mutandis,os seguintes arestos:

"PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTADUAL EMATIVIDADE.LICENÇA­PRÊMIO. DIREITO DE USUFRUIR A QUALQUER TEMPO.PRESCRIÇÃO.INEXISTÊNCIA. DIREITO POTESTATIVO NÃO EXERCIDO. AGRAVOINTERNO DESPROVIDO.I ­ Conforme entendimento desta Corte, a prescrição do direito de pleitear indenizações referentesa licenças­prêmio e férias não gozadas, tem início com o ato de aposentadoria.Conseqüentemente, enquanto mantida a relação com a Administração, o servidor públicopoderá usufruir do gozo da licença­prêmio a qualquer tempo.II ­ A lei outorga ao servidor público que adimpliu os requisitos da licença­prêmio, um direitopotestativo, sendo certo que não há como se cogitar em prescrição, se este direito não foiexercido.

Page 6: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

III ­ Agravo interno desprovido." (AgRg no REsp 872.358/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP,QUINTA TURMA, julgado em 05/12/2006, DJ 05/02/2007, p. 372) (g.n.) "ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA­PRÊMIO. PRESCRIÇÃO. TERMOINICIAL. APOSENTADORIA. PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO.1. Mantida a relação com a Administração, o Servidor Público poderá usufruir do gozo dalicença­prêmio a qualquer tempo.2. Agravo regimental desprovido." (AgRg no Ag 693.715/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ,QUINTA TURMA, DJ 03/04/2006) AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL.POLICIAL MILITAR EXCLUÍDO DA CORPORAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DOCPC. NÃO OCORRÊNCIA. LICENÇA ESPECIAL NÃOGOZADA.INDENIZAÇÃO.PRESCRIÇÃO. INEXISTÊNCIA. LC Nº 53/99. EXAME DE LEILOCAL.IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 280/STF.1. Não há violação do artigo 535 do CPC quando o acórdão utiliza fundamentação suficientepara solucionar a controvérsia, sem incorrer em omissão, contradição ou obscuridade.2. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que o benefício em discussão é umdireito de natureza potestativa, de modo que se o servidor adimpliu os requisitos para o seu gozo,não há como se cogitar em prescrição, se este direito não foi exercido.3. A discussão dos autos fundamenta­se na aLei Complementar 53/90, de modo que o exame dacontrovérsia necessita de apreciação de norma de caráter local, o que é vedado pela Súmula280/STF.4. Agravo regimental improvido.(AgRg no REsp 1110129/MS, Rel. Ministra MARIATHEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2009, DJe 22/02/2010)

21. Tem­se, pois, que os militares que ainda se encontrem na ativa e que possuam períodos de licençasespeciais adquiridos mas não gozadas no momento oportuno, poderão fruí­las enquanto mantiverem o vínculo com aAdministração Castrense ­ i.e., até a sua passagem para a inatividade. A data limite para o exercício do direito, i.e.,para o efetivo gozo das licenças especiais regularmente adquiridas, portanto, é a passagem do militar para a inatividade.

2.2 Da prescrição do direito às licenças especiais remuneradas em relação aos militares da ativa

22. Diversa, contudo, é a situação do militar da ativa que, tendo formulado requerimento administrativo,teve o próprio direito à licença especial denegado por parte da Administração Castrense. Nessa hipótese, o direito foiexercido e a pretensão resistida. Da negativa nasce o direito de ação e o prazo para o seu exercício. O prazoprescricional de 05 (cinco) anos previsto no art. 1º do Decreto nº 20.910, de 06 de janeiro de 1932, deve, portanto, sercomputado da data do ato ou do fato que lhe deu origem ­ i.e., do próprio indeferimento do pedido.

23. No mesmo sentido, mutatis mutandis:

ADMINISTRATIVO ­ LICENÇA PREMIO ­ PRESCRIÇÃO. NÃO HA PRESCRICÃO DEDIREITO A LICENÇA­PREMIO, SE NO CURSO DA RELAÇÃO DE EMPREGO, NÃO FOIDENEGADO PEDIDO DO BENEFICIO.FINDA A RELAÇÃO DE EMPREGO, SEM TALDENEGAÇÃO, O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO É A DATA EM QUE SE ROMPEU OVINCULO.(REsp 13.874/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRATURMA, julgado em 26/08/1992, DJ 05/10/1992, p. 17066) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDORPÚBLICO. LEI Nº 4.355/90. NECESSIDADE DE REQUERIMENTO DA PARTE.NEGATIVADA ADMINISTRAÇÃO. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO.INOCORRÊNCIA.EXAME DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO STF.I ­ O indeferimento do pedido administrativo formulado para a obtenção de direitoabstratamente previsto em lei constitui o termo a quo para a contagem do prazoprescricional a que se refere o art.1º do Dec. nº 20.910/32.II ­ Descabe a manifestação dessa e. Corte quanto à aplicação de dispositivo constitucional, cujaapreciação refoge da competência deste c. Superior Tribunal de Justiça no âmbito do recursoespecial, que se destina precipuamente à uniformização da interpretação da legislação federal

Page 7: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

infraconstitucional.Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 971.931/PI, Rel. MinistroFELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 18/09/2008, DJe 10/11/2008)

24. Em outras palavras, caso seja denegado o próprio direito à licença especial no âmbito de requerimentoadministrativo formulado por militar da ativa em face da Administração Castrense, são­lhe concedidos 05 (cinco) anospara o exercício do direito de ação perante a mesma Administração, contados a partir do indeferimento do pedido.

25. Registre­se, ainda, que a ação eventualmente ajuizada pelo militar visará a garantir­lhe o direito àfruição da licença especial. O direito à indenização pecuniária pela sua não fruição, contudo, continua íntegro, e dele sóse falará em início do prazo prescricional após a passagem do militar para a inatividade, conforme será demonstradologo adiante.

2.3 Da prescrição quanto ao direito à indenização pelas licenças especiais não gozadas

26. Na inatividade, diferentemente, a prescrição há de ser tratada não mais sob a ótica do usufruto daslicenças especiais pelo militar ­ porque este delas não mais poderá gozar ­ mas quanto à compensação a ele devida pelaAdministração Castrense pelo seu impedimento.

27. Assim é que, caso o militar tenha passado à inatividade sem que tenha podido exercer o direito ao gozode licenças especiais remuneradas nem procedido ao cômputo do referido período para os fins exclusivos de contagemdo tempo para passagem à inatividade (vide art. 68, §3º, da Lei nº 6.880/80) o militar inativo fará jus à respectivacompensação pecuniária ­ a ser abordada mais propriamente nas linhas que seguem.

28. E para o exercício do seu direito de ação perante a Administração Castrense o militar inativoigualmente dispõe de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32, contados da sua passagempara a inatividade, e ultrapassados os quais há de se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licençasespeciais não gozadas em tempo oportuno.

29. O tema não é novo e o C. Superior Tribunal de Justiça de há muito consolidou seu entendimento nessesentido:

"ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. FÉRIAS NÃO GOZADAS. INDENIZAÇÃO.CORREÇÃO MONETÁRIA. LEGITIMIDADE DO MUNICÍPIO. PRESCRIÇÃO.O Município possui legitimidade passiva para a ação de servidor da Câmara Municipal,pleiteando a indenização de férias não gozadas, por ocasião da aposentadoria. O termo inicial daprescrição do direito de pleitear a indenização dos períodos de férias não gozadas tem iníciocom o ato de aposentadoria, quando o servidor não poderá mais usufruí­las. Precedentes doSTJ. Recurso especial do Município de São Paulo não conhecido. Recurso especial de FranciscoMoraes conhecido parcialmente." (RESP 36500/SP, Relator Ministro GILSON DIPP, DJ de22/02/1999). (g.n.) ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EMRECURSO ESPECIAL. MILITAR. INATIVO. ART. 535, INC. II, DO CPC.VIOLAÇÃO.AUSÊNCIA. FÉRIAS NÃO GOZADAS. PRESCRIÇÃO. TERMOINICIAL.APOSENTADORIA. ART. 6º, § 1º, DA LINDB.PREQUESTIONAMENTO.AUSÊNCIA.ART. 333, I, DO CPC. VIOLAÇÃO.INOCORRÊNCIA.1. Não houve omissões no julgado, uma vez que o magistrado não está obrigado a responder atodas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente paraproferir a decisão.2. O termo inicial da prescrição do direito de pleitear indenização referente a férias nãogozadas tem início com o ato de aposentadoria. Precedentes.3. No que toca ao art. 6º, § 1º, da LINDB, o acórdão recorrido não emitiu juízo de valor sobre oprincípio da irretroatividade das leis, frustrando­se a exigência constitucional doprequestionamento, pressuposto inafastável que objetiva evitar a supressão de instância.4. A pacífica jurisprudência das Turmas integrantes da Primeira Seção é no sentido dainversão do ônus da prova, considerando que o não afastamento do servidor, abrindo mão de

Page 8: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

um direito, é sempre em favor do serviço, porquanto sofre ele um desgaste físico.Precedentes.5. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no AREsp 186.543/BA, Rel. MinistroOG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe 03/12/2013) (g.n.) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDORESTADUAL. POLICIAL MILITAR. PAGAMENTO DE FÉRIAS. PRESCRIÇÃO. TERMOINICIAL. APOSENTADORIA. ART. 535 DO CPC. NÃO VIOLADO. AUSÊNCIA DEPREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃODEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. REVISÃO DO PERCENTUAL ARBITRADO A TÍTULODE HONORÁRIOS. ART. 21 DO CPC. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. (...)4. O termo inicial para contagem do prazo prescricional, nas ações em que se discute o direitoà indenização de férias não gozadas, é a data da aposentadoria. Precedentes. (...) (REsp1322857/BA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/09/2013,DJe 01/10/2013) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. MILITAR. REFORMA. CÔMPUTOEM DOBRO DE FÉRIAS NÃO GOZADAS. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE.1. O Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento, segundo o qual o termo inicial daprescrição do direito de pleitear a indenização referente a férias não gozadas tem início coma impossibilidade de não mais usufruí­las.2. In casu, passando o autor a ser inativo em 26.10.2003, e a ação ordinária proposta em17.1.2007, o direito pleiteado permanece intocável pela prescrição.Agravo regimentalimprovido.(AgRg no AREsp 255.215/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDATURMA, julgado em 06/12/2012, DJe 17/12/2012) (g.n.) ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 126 DOCPC.INEXISTÊNCIA. DEVIDO ENFRENTAMENTO DAS QUESTÕES RECURSAIS.VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.MILITAR.REFORMA. CÔMPUTO EM DOBRO DE FÉRIAS NÃO GOZADAS. PRESCRIÇÃOINEXISTENTE. VERBA HONORÁRIA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. ART. 21 DOCPC.AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. NÃO OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DEDECLARAÇÃO. (...)3. O Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento, segundo o qual o termo inicial daprescrição do direito de pleitear a indenização referente a férias não gozadas tem início coma impossibilidade de não mais usufruí­las.4. In casu, tratando­se o autor ser inativo em 13.7.2001, e a ação ordinária proposta em 16.4.2003,o direito pleiteado permanece intocável pela prescrição.(...).(AgRg no AREsp 185.117/BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDATURMA, julgado em 18/09/2012, DJe 25/09/2012) (grifos da transcrição) (g.n.) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. LICENÇA­PRÊMIO.PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. APOSENTADORIA. PRECEDENTES. AÇÃODECLARATÓRIA. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. 1. O entendimento deste SuperiorTribunal de Justiça é no sentido de que o termo a quo da prescrição do direito de pleitearindenizações referentes a licenças e férias não gozadas é o ato de aposentadoria e, dessa forma,mantida a relação com a Administração, o servidor público poderá usufruir do gozo da licença­prêmio a qualquer tempo, anteriormente à aposentação. 2. Não subsiste a incidência da prescriçãoporquanto a demanda que visa o reconhecimento do direito ao gozo de licenças­prêmio, noponto, tem natureza declaratória. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1.094.291/SP,Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 20.4.2009) "PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR APOSENTADO. FÉRIAS NÃO GOZADAS.CONVERSÃO EM PECÚNIA. CPC, ART. 459, PARÁGRAFO ÚNICO. NULIDADEREQUERIDA PELO RÉU. PRESCRIÇÃO QUE NÃO SE OPEROU.PREQUESTIONAMENTO. EXAME DE PROVAS. RECURSO ESPECIAL. 1. É devido opagamento das férias convertidas em pecúnia em virtude da aposentadoria do servidor, face ànatureza indenizatória de tais verbas. Enriquecimento ilícito da Administração que não seadmite. Precedentes. 2. Somente com a efetiva aposentadoria surgiu, para o autor, o direito de

Page 9: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

reivindicar a conversão das férias não gozadas em pecúnia. Prescrição que não se operou, porajuizada a ação ainda no mesmo ano em que aposentado o servidor. 3. Não estando o julgadorconvencido da extensão do pedido formulado pelo autor, pode reconhecer­lhe o direito,remetendo as partes para a liquidação. O reconhecimento de eventual nulidade, neste âmbito,depende da exclusiva iniciativa do autor, não cabendo ao réu argüi­la. 4. O Recurso Especial nãose presta ao exame de matéria não apreciada pela origem. Prequestionamento que se exige, comocondição de admissibilidade da própria inconformação. 4. "A pretensão de simples reexame deprova não enseja recurso especial" (Súmula 07/STJ). 5. Recurso Especial parcialmente conhecidoe, nesta parte, não provido." (RESP 273799, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 04/12/2000). (g.n.)

2.4 Da possibilidade de cômputo em dobro quando da passagem para a inatidade

30. Como já esclarecido linhas acima, nos termos do art. 33 da Medida Provisória nº 2.215­10/2001, omilitar que possua períodos de licenças especiais não gozados, adquiridos até 29 de dezembro de 2000, poderá usufruí­los ou não ­ nessa última situação, seja por conta do rompimento do vínculo com a Administração, seja pela inatividade.

31. O mencionado art. 33 da Medida Provisória nº 2.215­10/2001 autoriza que tais períodos de licençasespeciais não usufruídos oportunamente possam ser contados em dobro para efeito de inatividade e nessa situação paratodos os efeitos legais. E o eventual cômputo em dobro do período de licença especial não gozada é regido pelalegislação vigente à época em que se dá a passagem do militar para a inatividade, consoante os temperamentos daassentada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual não existe direito adquirido a regime jurídico,desde que assegurada a irredutibilidade de vencimentos.

32. Assim, caso opte o militar, o período de licença especial não gozado poderá ser computado pelo dobro,no momento da sua passagem para a inatividade. Essa é, inclusive, a expressa letra da norma encartada no art. 33 daMedida Provisória nº 2.215­10/2001, cuja vigência foi, inclusive, objeto de reafirmação jurisprudencial. É o que severifica do seguinte julgado:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. TRANSFERENCIA RESERVA REMUNERADA. FÉRIAS ELICENÇA ESPECIAL. CONTAGEM EM DOBRO. PROVENTOS DO GRAU HIERÁRQUICOSUPERIOR. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. RECURSO ADESIVO. JUROS DEMORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 20, § 4º DO CPC. APRECIAÇÃOEQUITATIVA DO JUIZ. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO. APELAÇÃODA UNIÃO NÃO PROVIDA. 1. Conforme jurisprudência pacífica do Superior Tribunal deJustiça sobre a matéria, o termo inicial da prescrição surge com o ato da reserva ou reforma.No presente caso, a parte autora passou para a reserva remunerada em 18/07/2008 e ajuizou aação em 27/08/2009, não havendo que se falar em prescrição, porquanto entre a data da reserva ea do ajuizamento da ação decorreu pouco mais de 01 (um) ano. 2. O art. 36 da MedidaProvisória nº 2.131/2000 (reeditada até a MP nº 2.225/2001) assegura o direito à contagemem dobro das férias não gozadas "adquiridas" até 29.12.2000. Comprovado nos autos que oautor conta com férias adquiridas e não usufruídas até a referida data, assiste­lhe o referidodireito. 3. Apenas o militar transferido para a reserva remunerada, com mais de trinta anos deefetivo exercício, terá direito aos proventos calculados com base na remuneração do grauhierárquico superior, o que é o caso dos autos. 4. Procede o pedido de transferência para a reservacom proventos correspondente ao grau hierárquico superior, tendo em vista que o autor contavacom trinta anos, 01 mês e 24 dias de serviço quando da passagem para a reserva, nos termos daMedida Provisória n. 2.215/2001. 5. Nos termos da jurisprudência atual do STJ, aplicando­se oprincípio da norma vigente ao tempo da prestação, os juros moratórios serão devidos nopercentual de: a) 1% a.m. até a edição da MP 2.180­35/2001, que deu nova redação à Lei9.494/97; b) 0,5% ao mês a partir da vigência da MP 2.180­35/2001, até a edição da Lei11.960/2009; e c) à taxa de juros aplicáveis à caderneta de poupança, a partir da vigência da Lei11.960/2009. Dessa forma, deve ser reformada a sentença, nessa parte, para se adequar aos termosdo voto. 6. Quanto aos honorários, é pacífico o entendimento jurisprudencial de que, nas açõesem que for vencida a Fazenda Pública, ou quando não houver condenação, os honoráriosadvocatícios podem ser fixados de acordo com o valor da causa ou em um valor fixo, de acordocom a apreciação equitativa realizada pelo juízo, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. Não severifica qualquer irregularidade na sentença a quo ao fixar os honorários advocatícios nopercentual de 10% (dez por cento) do valor da condenação. Ademais, o valor pretendido norecurso adesivo se mostra inferior ao determinado na sentença a quo, já que a parte pede 20%

Page 10: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

com base no valor da causa. 7. Recurso adesivo da parte autora parcialmente provido. Apelaçãoda União não provida.(TRF1 AC 2009.34.00.028933­1, JUIZ FEDERAL AILTON SCHRAMMDE ROCHA, TRF1 ­ PRIMEIRA TURMA, e­DJF1 DATA:30/06/2016 PAGINA:.)

33. Por expressa autorização do art. 33 da Medida Provisória nº 2.215­10/2001, o militar que possuaperíodos de licença especial não gozados, adquiridos até 29 de dezembro de 2000, ao passar à inatividade, faz jus aocômputo do tempo em dobro e todos os seus consectários legais, por expressa autorização legal. Assim ­ e ainda quenão constitua objeto específico da presente consulta é necessário esclarecer ­, o militar que, nessa situação, tenhapassado à inatividade sem que lhe tenha sido reconhecido o cômputo em dobro dos períodos de licenças especiais nãogozadas, acompanhadas dos respectivos reflexos legais, faz jus à indenização pecuniária correspondente. Contudo,como assinalado em destaque nas linhas anteriores, o prazo prescricional para que o militar inativo venha a pleitear emjuízo a indenização referente às licenças especiais não gozadas tem início com a impossibilidade de o militar não maisusufruí­las, i.e., conta­se do ato da sua passagem para a inatividade. O militar inativo disporia, portanto, de 05 (cinco)anos, a partir da sua inativação, para perseguir em juízo a reparação pelas licenças especiais não gozadas e nãocomputadas em dobro por ocasião do seu desligamento final das Forças Armadas. O presente esclarecimento, contudo, édeduzido apenas por apreço ao enfrentamento isonômico de todas as hipóteses possíveis, sem que possua maioresimplicações de ordem prática, haja vista que, passados mais de 15 (quinze) anos da revogação do 68 da Lei nº 6.880/80pelo art. 41 da Medida Provisória nº 2.215­10/2001, qualquer pretensão de militar inativado sob a égide do referidodispositivo, ora revogado, estará, s.m.j., fulminada pela prescrição.

2.5 Da possibilidade de conversão em pecúnia

34. O Supremo Tribunal Federal assentou seu entendimento no sentido de que o dever de indenizar oservidor ­ ou o militar, como in casu ­ pelas licenças especiais não gozadas decorre de responsabilidade objetiva, sobpena de locupletamento indevido por parte da Administração Pública.

35. No julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo nº 721.001 RG foi reconhecida a repercussãogeral da questão constitucional relativa à conversão de férias não gozadas, assim como de outros direitos de naturezaremuneratória ­ e, dentre eles, a licença especial, portanto ­ , em indenização pecuniária, por aqueles que não maispodem delas usufruir, fixando­se, nesse sentido, a situação dos inativos, a saber:

Recurso extraordinário com agravo. 2. Administrativo. Servidor Público. 3. Conversão de fériasnão gozadas – bem como outros direitos de natureza remuneratória – em indenização pecuniária,por aqueles que não mais podem delas usufruir. Possibilidade. Vedação do enriquecimento semcausa da Administração. 4. Repercussão Geral reconhecida para reafirmar a jurisprudência destaCorte.(ARE 721001 RG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 28/02/2013,ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL ­ MÉRITO DJe­044 DIVULG 06­03­2013 PUBLIC 07­03­2013)

36. Colham­se, por oportunas, as considerações tecidas pelo Exmo. Sr. Ministro Gilmar Mendes, narelatoria do julgado em referência:

"No caso dos autos, diferentemente, o acórdão recorrido assegurou ao servidor público aconversão de férias não gozadas em pecúnia, em razão da vedação ao locupletamento ilícito porparte da Administração, uma vez que as férias devidas não foram gozadas no momento oportuno,quando o servidor ainda se encontrava em atividade. Assim, com o advento da inatividade, há que se assegurar a conversão em pecúnia de férias ou dequaisquer outros direitos de natureza remuneratória, entre eles a licença­prêmio não gozadas, emface da vedação ao enriquecimento sem causa. Assim, a fundamentação adotada encontra amparo em pacífica jurisprudência do SupremoTribunal Federal, que se firmou no sentido de que é assegurada ao servidor público a conversãode férias não gozadas ou de outros direitos de natureza remuneratória em indenizaçãopecuniária, dada a responsabilidade objetiva da Administração Pública em virtude da vedaçãoao enriquecimento sem causa.(...)

Page 11: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

Ante o exposto, manifesto­me pelo reconhecimento da repercussão geral da matéria debatida nospresentes autos para reafirmar a jurisprudência desta Corte, no sentido de que é devida aconversão de férias não gozadas bem como de outros direitos de natureza remuneratória emindenização pecuniária por aqueles que não mais podem delas usufruir, seja por conta dorompimento do vínculo com a Administração, seja pela inatividade, em virtude da vedação aoenriquecimento sem causa da Administração; consequentemente, conheço do agravo, desde já,para negar provimento ao recurso extraordinário (art. 544, § 4º, II, b, do CPC)." (ARE 721001 RG,Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 28/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICOREPERCUSSÃO GERAL ­ MÉRITO DJe­044 DIVULG 06­03­2013 PUBLIC 07­03­2013 )(grifos nossos)

37. Diga­se, ainda, que, por haver sido reconhecida repercussão geral ao tema analisado por ocasião dojulgamento da ARE nº 721001 RG/RJ, o qual foi processado sob o regime dos recursos extraordinários múltiplos, adecisão proferida pelo E. Supremo Tribunal passa a transcender os interesses subjetivos envolvidos naquele casoespecífico e adquire nuances de defesa da ordem constitucional objetiva. Quer isso significar que a decisão, tomada emabstrato segundo esse critério, resolverá a questão em tese e passará a orientar as decisões dos demais Tribunais,Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais quando da apreciação de controvérsia idêntica. É o que prescreve o art.543­B do Código de Processo Civil. Assim, a decisão proferida pelo E. Supremo Tribunal Federal no ARE nº 721001RG/RJ passa a ser vinculante para os demais Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais e osfundamentos da decisão se tornam vinculantes tanto para os processos futuros quanto para os processos já julgados.

38. A aplicabilidade entendimento sufragado por ocasião do julgamento do ARE nº 721001 RG/RJ emrelação às férias não gozadas às licenças especiais não gozadas foi reconhecida pelo mesmo E. Supremo TribunalFederal, como se colhe do recente aresto trazido à colação e que em tudo se amolda à situação dos autos:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSOEXTRAORDINÁRIO. LICENÇAS ESPECIAIS NÃO GOZADAS. SERVIDOR MILITARINATIVO. INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG, sob arelatoria do Ministro Gilmar Mendes, concluiu que cabe indenização em pecúnia das fériasnão gozadas na atividade, bem como de parcelas de natureza remuneratória que não possammais ser usufruídas, como é o caso do terço constitucional, assentando a vedação deenriquecimento ilícito pela Administração. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.(RE927491 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 26/08/2016,PROCESSO ELETRÔNICO DJe­200 DIVULG 19­09­2016 PUBLIC 20­09­2016) (grifosnossos)

39. De volta à questão de mérito discutida nos presentes autos, tem­se que o tema não é novo, e foiapreciado, inclusive, no âmbito do C. Superior Tribunal de Justiça. Ao reafirmar sua jurisprudência e em consonânciacom o entendimento pacificado do E. Supremo Tribunal Federal, o Colendo Sodalício pontuou:

RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973.APLICABILIDADE.ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONVERSÃO EM PECÚNIA DA LICENÇA­PRÊMIO NÃO GOZADA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO QUE VEDA O ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA ADMINISTRAÇÃO.I ­ Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicionalimpugnado. Assim sendo, in casu, aplica­se o Código de Processo Civil de 1973.II. O acórdão recorrido encontra­se em harmonia como a jurisprudência desta Corte,segundo a qual é cabível a conversão em pecúnia da licença­prêmio não gozada e nãocontada em dobro para aposentadoria, independentemente de requerimento administrativo,sob pena de configuração do enriquecimento ilícito da Administração.III. Negado provimento ao Recurso Especial.(REsp 1588856/PB, Rel. Ministra REGINAHELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/05/2016, DJe 27/05/2016) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDORPÚBLICO.ADMINISTRATIVO. FÉRIAS VENCIDAS E NÃO GOZADAS. VEDAÇÃO AOENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INDENIZAÇÃO

Page 12: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

DEVIDA A SERVIDORES ATIVOS E INATIVOS. PRECEDENTES DO STF. AGRAVOREGIMENTAL NÃO PROVIDO.1. Conforme a orientação jurisprudencial do SupremoTribunal Federal, o servidor público tem direito à indenização por férias não gozadasindependentemente dele estar em atividade ou aposentado.2. Agravo regimental não provido.(AgRg no AREsp 827.300/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDATURMA, julgado em 03/03/2016, DJe 10/03/2016) ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSOESPECIAL.SERVIDOR PÚBLICO. COBRANÇA DE FÉRIAS VENCIDAS E NÃOGOZADAS. NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL QUE SEINICIA NO ATO DA APOSENTADORIA. INDENIZAÇÃO DEVIDA A SERVIDORESATIVOS E INATIVOS.AGRAVO REGIMENTAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRODESPROVIDO.1. O colendo Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de quetanto o Servidor aposentado quanto o ainda em atividade fazem jus à indenização por férias nãogozada, uma vez que deixaram de usufruir, no período adequado, seu direito a férias por vontadeda própria Administração.2. A própria Administração optou em privar o Servidor por períodosuperior ao permitido na legislação estadual do gozo de suas férias anuais, comprometendo suasaúde e desvirtuando a finalidade do instituto. Assim, embora ainda se possa desfrutar do direito,não se pode negar que a saúde física, psíquica e mental do Servidor ficou afetada, sobretudo pelaquantidade de períodos acumulados em prol da Administração, devendo, portanto, serindenizado.3. Conforme orientação jurisprudencial desta Corte Superior, não tendo aAdministração negado expressamente o direito pleiteado pelo Servidor, o termo inicial do prazoprescricional para pleitear férias não gozadas se inicia somente por ocasião da aposentadoria,mesmo que ele ainda se encontre em atividade.4. Agravo Regimental do ESTADO DO RIO DEJANEIRO desprovido.(AgRg no AREsp 509.554/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIAFILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/10/2015, DJe 26/10/2015) "EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. QUESTÃO RELATIVA À INDENIZAÇÃO DE FÉRIAS.OMISSÃO CONFIGURAÇÃO. VÍCIO SANADA. EFEITOS INFRINGENTES.NECESSIDADE. ACÓRDÃO FUNDADO NA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADODE INDENIZAR O SERVIDOR QUE NÃO GOZOU DAS FÉRIAS NA ATIVA. PRINCÍPIO DALEGALIDADE AFASTADO. 1. O acórdão proferido pelo Tribunal de origem foi expresso emreconhecer o direito do Recorrente à indenização relativa às férias não gozadas, sendo certo que aquestão foi devidamente aventada nas contra­razões ao recurso especial, o que impõe oconhecimento da questão por esta Corte Superior de Justiça. 2. Deve ser afastado a aplicação doPrincípio da Legalidade, no tocante à indenização de férias não gozadas, em razão doalicerce constitucional do direito às férias anuais, a teor do art. 7º, inciso XVII, c.c. art. 39, §4º, da Constituição Federal, bem como da responsabilidade civil do Estado. 3. Estando oacórdão recorrido fundado na responsabilidade civil do estado de indenizar o servidor pelasférias não gozadas, não cabe a esta Corte Superior de Justiça, em sede de recurso especial,verificar a existência dos pressupostos da referida responsabilidade, devendo o acórdão recorridoser mantido. 4. Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes." (STJ, EDcl no REsp248.164/SC, 5.ª Turma, Rel.ª Min.ª LAURITA VAZ, DJ de 22/05/2006.) (grifos nossos)

40. Apenas por cautela, cumpre registrar a existência de decisões judiciais, igualmente no âmbito do E.Supremo Tribunal Federal que assegurariam também ao servidor da ativa ­ ou, in casu, ao militar da ativa ­ o direito àindenização pecuniária pelas licenças especiais não gozadas oportunamente.

41. É o que se infere dos julgados trazidos à colação:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. FÉRIAS NÃO GOZADAS PORVONTADE DA ADMINISTRAÇÃO. INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. VEDAÇÃO AOENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. REPERCUSSÃO GERAL. RECONHECIMENTO.CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGAPROVIMENTO. I ­ O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG/RJ, Rel.Min. Gilmar Mendes, reconheceu a repercussão geral do tema em debate e reafirmou ajurisprudência da Corte no sentido de que é assegurada ao servidor público a conversão de fériasnão gozadas em indenização pecuniária, haja vista a responsabilidade objetiva da Administração

Page 13: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

Pública em virtude da vedação ao enriquecimento sem causa. II ­ O direito à indenização dasférias não gozadas aplica­se, indistintamente, tanto ao servidor aposentado quanto ao ativo.Precedentes. III ­ Agravo regimental a que se nega provimento.(ARE 726.491 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 26/11/2013, PROCESSOELETRÔNICO DJe­241 DIVULG 06­12­2013 PUBLIC 09­12­2013) (grifos nossos) Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Servidor público. Férias nãogozadas. Indenização pecuniária. Possibilidade. Vedação ao enriquecimento ilícito.Inaplicabilidade da ADI 227 ao caso concreto. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.(ARE 715042 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em13/11/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe­238 DIVULG 04­12­2012 PUBLIC 05­12­2012)

42. No âmbito do ARE 726.491 AgR/RJ, o tema foi expressamente enfrentado pelo Exmo. Min. RelatorRicardo Lewandowsky nos seguintes termos, em grifos que não constam do original:

"Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG/RJ, Rel. Min.Gilmar Mendes, reconheceu a repercussão geral do tema em debate e reafirmou a jurisprudênciada Corte no sentido de que é assegurada ao servidor público a conversão de férias não gozadasem indenização pecuniária, haja vista a responsabilidade objetiva da Administração Pública emvirtude da vedação ao enriquecimento sem causa. Registre­se, ademais, que não prospera a alegação de que o referido entendimento seriaaplicável unicamente aos servidores inativos. Conforme jurisprudência desta Corte, o direitoà indenização das férias não gozadas aplica­se, indistintamente, tanto ao servidor aposentadoquanto ao ativo. Nesse sentido, transcrevo ementas de julgados de ambas as Turmas desta Corteem que a discussão do direito à indenização pelas férias não gozadas refere­se a servidorespúblicos da ativa: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITOADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. FÉRIAS NÃOGOZADAS. INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO EMCONSONÂNCIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE.1. As razões deduzidas no presente recurso não são capazes dedesconstituir os fundamentos doacórdão recorrido. A controvérsia suscitada nestes autos, já foi debatida por ambas as Turmas doSupremo Tribunal Federal.2. O fundamento de ofensa ao princípio da legalidade não encontra guarida, pois o estadorecorrido não pode se valer do argumento de ausência de lei prevendo a conversão de férias nãogozadas em pecúnia para eximir­se do pagamento do direito laboral constitucionalmenteassegurado.3. In casu, o acórdão originariamente recorrido assentou: 'Servidor público. Férias não gozadas acritério da administração. Prova. Pecúnia indenizatória. Pretensão a verba indenizatória emdecorrência de férias não gozadas. Se o servidor fez prova de que não usufruiu férias por vontadeda administração pública, impõe­se o pagamento da indenização, sob pena de enriquecimentoilícito. Direito amparado no artigo 7º, inciso XVII, c/c art. 39, § 3º, da Constituição da Repúblicae no principio geral do direito que veda o enriquecimento ilícito. Prescrição parcial das parcelasque não se verifica. Posto isso, VOTO pelo CONHECIMENTO e IMPROVIMENTO DORECURSO.'4. Agravo a que se NEGA PROVIMENTO” (ARE 709.825­ AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux,Primeira Turma). “Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Servidor público. Férias nãogozadas. Indenização pecuniária. Possibilidade. Vedação ao enriquecimento sem causa.Inaplicabilidade da ADI 227. 3. Agravo regimental a que se nega provimento” (ARE 719.384­AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma). No mesmo sentido, cito, em situações semelhantes, os seguintes precedentes: ARE 719.395­AgR/RJ e ARE 715.042­AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes; ARE 698.641­AgR/RJ e ARE701.078­AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia; ARE 662.624­AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux."

Page 14: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

43. Ressalte­se, contudo, que o direito à indenização surge apenas para aqueles que das licenças especiaisnão podem mais usufruir. Assim, numa interpretação a contrario sensu do entendimento jurisprudencial, caso o servidorou o militar possa usufruir das licenças especiais não gozadas oportunamente, não fará jus à indenização pecuniária.Colham­se, mutatis mutandis, mas elucidativo, o seguinte aresto:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSOESPECIAL. MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. CONVERSÃO DE FÉRIASNÃO GOZADAS EM PECÚNIA. POSSIBILIDADE. TAXATIVIDADE DOS DIREITOSASSEGURADOS AOS MEMBROS DO PARQUET. INOVAÇÃO DAS RAZÕESRECURSAIS.PROVIMENTO NEGADO.1. Conforme a pacífica jurisprudência desta Corte, éadequada a via do mandado de segurança contra ato administrativo que impede a conversão deférias não gozadas em pecúnia. Afastamento das Súmulas n. 269 e 271 do STF.2. Em regime derepercussão geral, decidiu o Supremo Tribunal Federal que é devida a conversão de férias nãogozadas, bem como de outros direitos de natureza remuneratória, em indenização pecuniária poraqueles que não mais podem delas usufruir.3. Hipótese em que a Lei Complementar Estadual n.13/1991 (Estatuto do Ministério Público do Estado do Maranhão) veda a acumulação de fériaspor mais de dois períodos. Se o membro do parquet, por expressa previsão legal, está impedidode usufruir tal benefício, autorizada está a sua conversão em pecúnia. Precedente.4. É vedadoà parte inovar as razões do recurso especial em sede de agravo regimental, tendo em vista oprincípio da preclusão consumativa.5. Agravo regimental não provido.(AgRg no REsp1176349/MA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em02/02/2016, DJe 15/02/2016) (grifos nossos) EMENTA CÍVEL. MILITAR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. LICENÇAESPECIAL NÃO GOZADA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DAPARTE RÉ. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.1. Pedido de condenação da União aopagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 30.348,00. Alega o autor queingressou no Exército Brasileiro em 02.02.1987 e passou para a reserva não remunerada em06.08.2007, quando foi empossado no cargo de Advogado da União de 2ª Categoria. Sustenta terdireito à licença especial remunerada não gozada, pelo período de seis meses. Requer que aUnião seja condenada a lhe pagar indenização, no valor de seis remunerações de primeiro­tenente do Exército, uma vez que não houve o gozo da referida licença especial.2. Conformeconsignado na sentença: EVANDRO LUIZ RODRIGUES, propôs a presente demanda em face daUNIÃO FEDERAL, objetivando a indenização por danos materiais, em razão de licença especialnão gozada.Devidamente citada, a União Federal pugnando pela improcedência do pedido.É orelatório. Decido.Com efeito, pretende o autor a condenação da União Federal à indenização pordanos materiais, no valor de R$ 30.348,00, correspondente a seis remunerações de Primeiro­Tenente do Exército, em razão de licença especial não gozada.A licença especial vinhadisciplinada no artigo 68 da Lei nº 6.880/80, que em sua redação original dispunha que:Art. 68.Licença especial é a autorização para o afastamento total do serviço, relativa a cada decênio detempo de efetivo serviço prestado, concedida ao militar que a requeira, sem que implique emqualquer restrição para a sua carreira. § 1º A licença especial tem a duração de 6 (seis) meses, a sergozada de uma só vez; quando solicitado pelo interessado e julgado conveniente pela autoridadecompetente, poderá ser parcelada em 2 (dois) ou 3 (três) meses. § 2º O período de licença especialnão interrompe a contagem de tempo de efetivo serviço. § 3° Os períodos de licença especialnão­gozados pelo militar são computados em dobro para fins exclusivos de contagem de tempopara a passagem à inatividade e, nesta situação, para todos os efeitos legais. § 4º A licençaespecial não é prejudicada pelo gozo anterior de qualquer licença para tratamento de saúde e paraque sejam cumpridos atos de serviço, bem como não anula o direito àquelas licenças. § 5º Umavez concedida a licença especial, o militar será exonerado do cargo ou dispensado do exercíciodas funções que exercer e ficará à disposição do órgão de pessoal da respectiva Força Armada,adido à Organização Militar onde servir.No entanto, a licença especial foi revogada pela MedidaProvisória nº 2.215­10/2001 estabelecendo em seu artigo 33 que:Art. 33. Os períodos de licençaespecial, adquiridos até 29 de dezembro de 2000, poderão ser usufruídos ou contados em dobropara efeito de inatividade, e nessa situação para todos os efeitos legais, ou convertidos empecúnia no caso de falecimento do militar.Parágrafo único. Fica assegurada a remuneraçãointegral ao militar em gozo de licença especial.Da análise dos autos, verifico que o autor foiincorporado no serviço militar em 02/02/1987, passando para a reserva não remunerada em06/08/2007, em razão de ingresso no cargo de Advogado da União de 2ª Categoria.Observo

Page 15: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

que o autor tinha preenchido os requisitos legais para a concessão da licença especial até29/12/2000, tendo optado em outubro de 2001, para que o período de licença especial fossereservado para gozo futuro e, caso não fosse usufruído, houvesse a contagem em dobro porocasião da reserva remunerada, conforme se verifica à fl.29 do arquivo pet_provas.Considerando que o autor passou para a reserva não remunerada sem que tenha gozado alicença especial de 06 (seis) meses a que tinha direito adquirido e não sendo possível ocômputo em dobro do tempo para efeito de inatividade, resta configurado dano a serindenizado, sob pena de enriquecimento sem causa por parte da Administração.Ademais, nãoé razoável que a licença especial seja convertida em pecúnia em caso de óbito do militar eque, em caso de passagem à reserva não remunerada, não possa o militar usufruir de umdireito adquirido ao longo de dez anos de trabalho.Nesse sentido, colaciono seguintesacórdãos:(...)Por fim, entendo que a indenização deve corresponder a seis remunerações dePrimeiro Tenente do Exército, devendo ser considerado o valor da remuneração vigente à épocaem que o autor passou à reserva não remunerada, corrigido monetariamente desde então. Deacordo com a Lei nº 11.359/06, a remuneração de Primeiro­Tenente vigente em 06 de agosto de2007 era de R$ 3.447,00 (três mil, quatrocentos e quarenta e sete reais), fazendo o autor jus àindenização por danos materiais no valor de R$ 24.836,47 (vinte e quatro mil, oitocentos e trintae seis reais e quarenta e sete centavos), conforme apurado pela Contadoria Judicial.Diante doexposto, julgo parcialmente procedente o pedido, condenando a União Federal a indenização pordanos materiais no valor de R$ 24.836,47 (vinte e quatro mil, oitocentos e trinta e seis reais equarenta e sete centavos).Ressalto que os cálculos para a fixação dos valores acima foramelaborados pela Contadoria desse Juizado Especial Federal, com base na Resolução nº 134, de21/12/2010, do Conselho da Justiça Federal (publicada no DOU, de 23/12/2010), passando a serpartes integrantes da presente sentença.Sem custas processuais ou honorários de advogado nestainstância judicial, nos termos do artigo 55, caput, da Lei federal nº 9.099/1995, combinado com oartigo 1º da Lei federal nº 10.259/2001.Publique­se. Registre­se. Intimem­se.3. Recurso da União:sustenta que, após ter completado o primeiro decênio, o autor permaneceu por mais de dez anosno Exército, período em que poderia ter usufruído de sua licença. Salienta que, tendo em vistaque o autor não requereu a licença e tomou posse em cargo público diverso por deliberaçãoprópria, não faz jus à indenização.4. De acordo com a certidão de situação militar emitida em09.12.2007, o autor foi 1º Tenente do Exército, matriculado em 02.02.1987 e licenciado em06.08.2007. Apesar de ter completado dez anos de serviços prestados em 1997, quando estava emvigor a Lei 6.880/80, o autor optou por não gozar a licença especial, reservando­a para gozofuturo ou para contagem em dobro quando da passagem para a reserva remunerada. Em06.08.2007 o autor passou para a reserva não remunerada sem ter gozado a licença especial deseis meses a que fazia jus. Dessa forma, tem direito à indenização referente aos seis meses delicença especial não gozada, segundo consignado na sentença, sendo irrelevante, ao contrário doalegado pela recorrente, a razão pela qual não usufruiu a licença em tela.5. Em caso semelhante, oE. TRF da 3ª Região assim decidiu: AGRAVO LEGAL. ART. 557. CABIMENTO.CONVERSÃO EM PECÚNIA. LICENÇA ESPECIAL NÃO GOZADA. VERBAHONORÁRIA. Plenamente cabível a decisão monocrática na presente ação, pois, segundo o art.557 , § 1º, do CPC, não há necessidade de a jurisprudência ser unânime ou de existir súmula dosTribunais Superiores a respeito. Prescrição afastada. Como servidor do Tribunal RegionalEleitoral adquiriu o direito à licença­prêmio. Não tendo oportunidade de gozá­la, faz jus àconversão em pecúnia sob pena de configuração de enriquecimento sem causa da Administração,uma vez que já teria completado o lapso de tempo necessário como servidor público federal.Mantida a verba honorária. Agravo legal a que se nega provimento. (grifo meu) (APELREEX00210658420084036100, decisão de 23.08.2011, Relator Desembargador Federal JoséLunardelli)6. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 7. Recorrente condenada aopagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação, limitados a06 (seis) salários mínimos. 8. É o voto.II ACÓRDÃODecide a Décima Primeira Turma Recursaldo Juizado Especial Federal Cível da Terceira Região ­ Seção Judiciária de São Paulo, porunanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Juíza Federal Relatora.Participaram do julgamento os Excelentíssimos Juízes Federais Luciana Melchiori Bezerra, PauloCezar Neves Junior e Fernando Henrique Corrêa Custodio.São Paulo, 17 de março de 2016.(TERMO Nr: 9301033757/2016PROCESSO Nr: 0033408­23.2010.4.03.6301 AUTUADO EM23/07/2010ASSUNTO: 010201 ­ DANO MORAL E/OU MATERIAL ­ RESPONSABILIDADEOBJETIVACLASSE: 16 ­ RECURSO INOMINADORECTE: UNIAO FEDERAL(AGU)ADVOGADO(A)/DEFENSOR(A) PÚBLICO(A): SP999999 ­ SEM ADVOGADORECDO: EVANDRO LUIZ RODRIGUESADVOGADO(A): SP096287 ­ HALEN HELY SILVA

Page 16: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

REDISTRIBUIÇÃO POR SORTEIO EM 15/02/2014 08:02:00JUIZ(A) FEDERAL: LUCIANAMELCHIORI BEZERRA I ­ VOTO­)

44. Faz­se necessário esclarecer que somente faz jus à indenização pecuniária o militar inativo que nãopôde computar em dobro os períodos de licença especial não gozados por ocasião de sua passagem para a inatividade,sob pena de lhe ser concedida dupla indenização sob um mesmo fundamento de fato. Colha­se, e.g., o seguinte julgado:

"EMENTA .ADMINISTRATIVO. MILITAR. FÉRIAS NÃO­GOZADAS ­ CONTAGEM EMDOBRO PARA A RESERVA REMUNERADA OU RECEBIMENTO EM PECÚNIA. DIREITOADQUIRIDO. SENTENÇA ­ LIMITES.1. O período de férias não­gozadas pelo militar deve ser convertido em tempo de serviço emdobro para a inatividade. Cabendo o direito ao cômputo em dobro, descabe ao militar receberem valores o benefício.2. Cabe ao juiz julgar dentro do limite que lhe é dado conhecer da ação, descabível prolação desentença além dos limites propostos. (art. 460, CPC). (TRF4, AC 0000674­43.2008.404.7115/RS,TERCEIRA TURMA, Relatora MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, D.E., 10/02/2011). (grifos nossos) AGRAVO RETIDO. APELAÇÕES. PROCESSO CIVIL.ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROVA TESTEMUNHAL. INDEFERIMENTO.CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. HABILITAÇÃO COMO MERGULHADORAUTÔNOMO. ADICIONAL DE COMPENSAÇÃO ORGÂNICA. PEDIDO DE CONVERSÃODE FÉRIAS E DE LICENÇA ESPECIAL EM PECÚNIA. REMUNERAÇÃO COMPROVENTOS CORRESPONDENTES AO GRAU HIERÁRQUICO SUPERIOR.IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 34 DA MP Nº 2.215­10/2001. DANO MORAL.INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO. 1. Os documentos acostados aos autos pelas partes ao longodo processo são suficientes ao julgamento do feito, não tendo a prova testemunhal requerida pelaparte autora o condão de influenciar no deslinde da controvérsia judicial. Se o magistradoentendeu ser desnecessária a produção de prova testemunhal em razão de já existirem nos autosprovas documentais suficientes para a formação de seu convencimento e para o deslinde dacontrovérsia, não há que se falar em cerceamento de defesa (Precedente: STJ ­ AgRg no AREsp nº434.929. Relator: Ministro Luiz Felipe Salomão. Órgão julgador: 4ª Turma, DJe 07/02/2014). 2.O fato de o militar ter recebido instrução mínima para desempenhar, como encargo colateral, afunção de mergulhador em viagem de instrução não dispensa o preenchimento dos requisitosprevistos na Portaria nº 68/ComOpNav, de 20/08/2002 para fins de qualificação em mergulhoautônomo, que impõe a aprovação em curso do Sistema de Ensino Naval (SEN), Ministrado peloCentro de Instrução e Adestramento Almirante Áttila Monteiro Aché (CIAMA) e o cumprimentodo Plano de Provas ou Plano de Exercícios pertinentes. 3. O artigo 34 da MP nº 2.215­10/2001assegurou apenas aos militares que, até 29 de dezembro de 2000, tivessem completado osrequisitos para se transferir para a inatividade o direito à percepção de remuneraçãocorrespondente ao grau hierárquico superior ou melhoria dessa remuneração, razão pela qual opedido não possui amparo legal válido, na medida em que o autor somente completou osrequisitos para se transferir para a inatividade após o referido marco temporal 4. A folha dealterações do autor não informa período de férias proporcionais não gozado. Pelo contrário, osdocumentos acostados aos autos comprovam que as férias proporcionais dos anos de 2004 e 2005foram pagas no ajuste de contas realizado por ocasião da transferência do militar para a reservaremunerada. 5. O período de licença especial computado como tempo de serviço para fins detransferência para a reserva remunerada não pode ser convertido em pecúnia, conformedispõe o artigo 33 da MP nº 2.215­10/2001. 6. Tendo em vista que não foi praticado nenhum atoilícito ou abusivo pela Administração Militar e considerando ainda que não é possível imputar àUnião Federal a responsabilidade pelos compromissos de ordem financeira assumidos pelo autorem valores superiores aos que recebia na ativa, com base na mera expectativa [frustrada] quepossuía de perceber benefícios mais vantajosos do que os que efetivamente tinha direito, não hánenhum dano a ser ressarcido. 7. Negado provimento ao agravo retido interposto pela parteautora. Negado provimento aos recursos de apelação. Sentença mantida. (TRF 2 AC200751010317914AC ­ APELAÇÃO CIVEL ­ 555965, QUINTA TURMA ESPECIALIZADA,Relator Des. Fed. FLAVIO DE OLIVEIRA LUCAS E­DJF2R ­ Data::07/08/2014)

45. Nesse ponto, rogamos todas a vênias para tecer esclarecimentos à afirmação da d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comando da Marinha, que, na forma do Estudo Sucinto nº 40­11/2016, afirma ser indevido "converter o

Page 17: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

tempo adquirido de LESM em pecúnia ao próprio militar que já possui o respectivo percentual de tempo de serviçoreferente a esse período adquirido e não gozado implantado no seu soldo sob a rubrica de 'Adicional de Tempo deServiço', além de ferir a legislação que rege a espécie, configura­se em verdadeiro bis in idem".

46. Não se está a apregoar a possibilidade de incidência de dois benefícios em decorrência de um mesmofato gerador. O que se está a asseverar na presente manifestação é que ao militar é assegurada pelo art. 33 da MedidaProvisória nº 2.215­10/2001 tríplice possibilidade:

OUa) o militar usufrui, na ativa, os períodos de licença especial adquiridos anteriormente a22.12.2001 ­ e, nesse caso, não fará jus ao seu cômputo em dobro acrescido dos consectárioslegais (cf. art. 33 e art. 30 da MP nº 2.215­10/2001) nem à sua conversão em pecúnia;OUb) o militar não usufrui os referidos períodos e, então, poderá computá­los em dobro por ocasiãode sua passagem para a inatividade, e nessa situação para todos os efeitos legais (cf. art. 33 e art.30 da MP nº 2.215­10/2001), sem possibilidade, contudo, de conversão dos mesmos períodosem pecúnia;OUc) o militar não usufrui os períodos de licença especial adquiridos anteriormente a 22.12.2001,não os computa em dobro por ocasião de sua passagem para a inatividade ­ e, nesse cenário,portanto, não os computa para quaisquer outros efeitos legais decorrentes (cf. e.g., art. 33 e art. 30da MP nº 2.215­10/2001) ­ para, então, fazer jus à recomposição pecuniária assegurada peloSupremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do ARE nº 721001 RG/RJ.

47. Avancemos. Ainda de acordo com o entendimento do C. Superior Tribunal de Justiça, porquereconhecida a ilicitude do ato da Administração Pública que afasta do militar o usufruto ao direito, e inexistindo regralegal que estipule o valor a ser indenizado, o quantum indenizatório deveria corresponder àquilo que o militar deixou deauferir à época devida, vale dizer, deverá o militar ser indenizado com o a remuneração respectiva (vide art. 95 doDecreto nº 4.307/2002) à base de seu valor histórico, corrigido monetariamente. É o que se infere dos seguintesjulgados:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICOESTADUAL. INDENIZAÇÃO POR FÉRIAS NÃO GOZADAS. NÃO INCIDÊNCIA DASSÚMULAS 269 E 271 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIODA LEGALIDADE. DIREITO EXPRESSAMENTE PREVISTO NA CONSTITUIÇÃOFEDERAL. PAGAMENTO EM DOBRO COM BASE NO ART. 137 DA CLT. NÃOCABIMENTO. RELAÇÃO ENTRE SERVIDORES E A ADMINISTRAÇÃO.NATUREZAESTATUTÁRIA. QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALORES QUE O SERVIDOR DEIXOUDE AUFERIR À ÉPOCA, CORRIGIDO MONETARIAMENTE.1. A impetração do mandado desegurança contra ato administrativo que indefere pedido de indenização por férias não gozadasnão configura sua utilização como substituto de ação de cobrança.Precedente da CorteEspecial.2. O direito de férias do trabalhador tem alicerce constitucionalmente fincado nos arts.7º, inciso XVII, e 39, § 4º, da Constituição Federal. Assim, não usufruídas no período legalmenteprevisto, em face do interesse público, exsurge o direito do servidor à "indenização pelas fériasnão gozadas", independentemente de previsão legal, em razão da responsabilidade civil objetivado Estado, estabelecida no art. 37, § 6.º, da Constituição Federal, sob pena de restar configuradoo locupletamento ilícito da Administração. Precedentes do STJ e do STF.3. Mostra­se descabidoo pleito de pagamento em dobro das verbas pleiteadas, com base nas disposições contidas no art.137 da Consolidação das Leis do Trabalho ­ CLT, na medida em que elas não se aplicam aosservidores públicos e a Administração, cuja relação é de natureza estatutária.4. O montantedevido a título da "indenização por férias não gozadas" deve corresponder ao quantum que oservidor, à época, deixou de auferir por força do ato impugnado, corrigidomonetariamente.5. Recurso ordinário em mandado de segurança conhecido e parcialmenteprovido.(RMS 31.157/PB, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em13/12/2011, DJe 01/02/2012) (grifos nossos) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.DECADÊNCIA. NÃO­CONFIGURAÇÃO. ATO OMISSIVO CONTINUADO. EFEITOSPATRIMONIAIS. SÚMULAS N.os 269 E 271 DA SUPREMA CORTE. NÃO­INCIDÊNCIA NA

Page 18: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

HIPÓTESE. PRECEDENTES. INOVAÇÃO. DESCABIMENTO. 1. Restando caracterizada aconduta omissiva continuada, como ocorre na hipótese, o prazo decadencial previsto no art. 18da Lei n.º 1.533/51 se renova continuamente. 2. Conforme recente orientação da eg. TerceiraSeção desta Corte Superior de Justiça, tem o servidor público direito de receber os vencimentosque deixou de auferir por ato ilegal ou abusivo , retroagindo os efeitos patrimoniais à data daprática do ato impugnado. Inaplicabilidade dos enunciados n.os 269 e 271 da Súmula doSupremo Tribunal Federal. Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido." (AgRg no REsp933.837/PE, 5.ª Turma, Rel.ª Min.ª LAURITA VAZ, DJe de 03/11/2008.)

48. Enfatize­se, por fim, que as conclusões alcançadas na presente manifestação apenas refletem raciocínioconstruído em tese, na apreciação de arquétipos, modelos hipotéticos e abstratos, de modo que a confirmação dapossibilidade de aproveitamento dos períodos de licenças especiais eventualmente adquiridos antes de 29 de dezembrode 2000 há de ser realizada em cada caso concreto, mediante a apreciação de todo o arcabouço probatório que o militarinteressado possa coligir perante a Administração Militar.

49. A partir das premissas acima delineadas, enfrentemos, então, os questionamentos postos pelo Comandodo Exército:

a. Quando a medida provisória traz a opção de conversão em pecúnia no caso de falecimentode militar, esse militar deve estar no serviço ativo por ocasião do falecimento ou já pode estarna inatividade, desde que não tenha fruído ou utilizado o período de licença não gozado emdobro para fins de inatividade?Resposta: O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG, fixou seuentendimento no sentido de que é cabível a indenização em pecúnia das férias não gozadas naatividade, bem como de outras parcelas de natureza remuneratória que não possam mais serusufruídas ­ como, in casu, a licença especial.O direito à compensação pecuniária surge, pois, a partir do momento em que o militar não poderámais usufruir dos períodos de licença especiais regularmente adquiridos, seja pelo rompimentodo vínculo com a Administração Castrense, seja pela passagem à inatividade, seja pelo seufalecimento.Assim, o direito à compensação pecuniária pelas licenças especiais não gozadas nem computadasem dobro para os fins de inatividade será transferido tanto aos sucessores do militar que tenhafalecido no serviço ativo como do militar falecido já na inatividade. b. Essa conversão em pecúnia irá favorecer somente os dependentes dos militares que seencontravam no serviço ativo por ocasião da edição da MP nº 2.131/2000 ou se estenderá aosdependentes dos militares que, à época da edição da medida provisória, já estavam inativos eque não gozaram a licença quando na ativa nem dela se valeram da contagem em dobro paraa inatividade?Resposta: Como esclarecido acima, assim os sucessores do militar que tenha falecido no serviçoativo como os do militar falecido já na inatividade fazem jus à indenização pecuniária pelaslicenças especiais não gozadas pelo militar nem computadas em dobro para os fins de suapassagem para a inatividade.Destaque­se que, por se tratar de indenização devida ao militar com fundamento na vedação deenriquecimento ilícito pela Administração ­ que não se confunde com o direito à pensão militartransferido aos beneficiários e regulamentado pela Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, ou comqualquer outro direito assegurado aos dependentes do militar pela Lei nº 6.880/80 ­ o direito àcompensação pecuniária passa a integrar a herança a ser transmitida aos seus sucessores,herdeiros legítimos ou testamentários, conforme o caso, de acordo com as disposições doCódigo Civil de 2002. Com todas as vênias devidas, ousamos discordar, nesse ponto, doentendimento da d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comando do Exército (vide item 26 doParecer nº 127/2016/MK/CJACEx/CGU/AGU), da d. Consultoria Jurídica­Adjunta ao Comandoda Marinha (vide f. 04 do Estudo Sucinto nº 40­11/2016) e da Aeronáutica (vide, supra, item 13do Parecer nº 153/2016/CGU/AGU).Advirta­se, todavia, que os sucessores dispõem de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º doDecreto nº 20.910/32, contados do falecimento do militar, para perseguir o direito àcompensação pecuniária. Ultrapassado o quinquênio, há de se ter por prescrita sua pretensão àindenização pelas licenças especiais não gozadas em tempo oportuno nem computadas em dobropara os fins de passagem à inatividade pelo militar.

Page 19: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

c. É possível a conversão em pecúnia dos períodos de licença especial adquiridos mas nãogozados nem contados em dobro para passagem à inatividade, em proveito do militar aindaem vida, a exemplo dos entendimentos firmados pelo STF, pelo Conselho Superior da Justiçado Trabalho e pelo Superior Tribunal Militar, no Processo Administrativo nº 331.583/2008,na Resolução Administrativa nº 1.491, de 6 DEZ 11e no Processo Administrativo nº004310/12­DIPES, de 27 FEV 12, respectivamente, ao enfrentarem questão análoga de casosde conversão em pecúnia de períodos de licença prêmio não gozados e nem contado em dobropara inativação relativo aos seus servidores?Resposta: Sim. Como acima mencionado, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE721.001­RG, fixou seu entendimento no sentido de que é cabível a indenização em pecúnia dasférias não gozadas na atividade, bem como de outras parcelas de natureza remuneratória que nãopossam mais ser usufruídas ­ como, in casu, a licença especial.A decisão proferida no ARE nº 721001 RG/RJ passa a ser vinculante para os demais Tribunais,Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais e os fundamentos da decisão se tornamvinculantes tanto para os processos futuros quanto para os processos já julgados. Dessa forma, omilitar ainda em vida que possua períodos de licença especial adquiridos até 21.12.2000, nãogozados nem computados em dobro para os fins de passagem à inatividade, faz jus à indenizaçãopecuniária.Ressalte­se, contudo, que o militar inativo ou aquele que tenha rompido vínculo com aAdministração Castrense­ e, portanto, não mais poderá gozar dos períodos de licença nemcomputá­los para a inatividade ­ dispõe de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decretonº 20.910/32, contados da sua passagem para a inatividade ou do rompimento do vínculo coma Administração Castrense, para perseguir o direito à compensação pecuniária. Ultrapassado oquinquênio, há de se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais nãogozadas em tempo oportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade.

3. CONCLUSÃO

50. Por todo o exposto, sugere­se o encaminhamento da presente manifestação ao Gabinete do Ministro daDefesa, apresentando­se como entendimento deste órgão de assessoramento jurídico o que segue:

a) o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 721.001­RG, fixou seu entendimento nosentido de que é cabível a indenização em pecúnia das férias não gozadas na atividade, bemcomo de outras parcelas de natureza remuneratória que não possam mais ser usufruídas ­ como, incasu, a licença especial;b) o direito à compensação pecuniária surge, pois, a partir do momento em que o militar nãopoderá mais usufruir dos períodos de licença especiais regularmente adquiridos, seja pelorompimento do vínculo com a Administração Castrense, seja pela passagem à inatividade, sejapelo seu falecimento;c) assim, o direito à compensação pecuniária pelas licenças especiais não gozadas nemcomputadas em dobro para os fins de inatividade será transferido tanto aos sucessores do militarque tenha falecido no serviço ativo como do militar falecido já na inatividade;d) por se tratar de indenização devida ao militar com fundamento na vedação de enriquecimentoilícito pela Administração ­ que não se confunde com o direito à pensão militar transferido aosbeneficiários e regulamentado pela Lei nº 3.765, de 4 de maio de 1960, ou com qualquer outrodireito assegurado aos dependentes do militar pela Lei nº 6.880/80 ­ o direito à compensaçãopecuniária passa a integrar a herança a ser transmitida aos seus sucessores, herdeiros legítimos outestamentários, conforme o caso, de acordo com as disposições do Código Civil de 2002;e) os sucessores dispõem de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32,contados do falecimento do militar, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob penade se ter por prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempooportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade pelo militar;f) a decisão proferida no ARE nº 721001 RG/RJ passa a ser vinculante para os demais Tribunais,Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais e os fundamentos da decisão se tornamvinculantes tanto para os processos futuros quanto para os processos já julgados. Dessa forma, omilitar ainda em vida que possua períodos de licença especial adquiridos até 21.12.2000, nãogozados nem computados em dobro para os fins de passagem à inatividade, faz jus à indenizaçãopecuniária;

Page 20: ADVOCACIAGERAL DA UNIÃO CONSULTORIAGERAL DA UNIÃO ... · NUP: 64536.026088/201519 INTERESSADOS: ... a. o art. 68 da Lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980, que previa a concessão de licença

g) ressalte­se, contudo, que o militar inativo ou aquele que tenha rompido vínculo com aAdministração Castrense­ e, portanto, não mais poderá gozar dos períodos de licença nemcomputá­los para a inatividade ­ dispõe de 05 (cinco) anos, ainda nos termos do art. 1º do Decretonº 20.910/32, contados da sua passagem para a inatividade ou do rompimento do vínculo coma Administração Castrense, para perseguir o direito à compensação pecuniária, sob pena de se terpor prescrita sua pretensão à indenização pelas licenças especiais não gozadas em tempooportuno nem computadas em dobro para os fins de passagem à inatividade.

À consideração superior. Brasília, 04 de outubro de 2016.

LÍVIA MARIA VASCONCELOS DE MIRANDAADVOGADA DA UNIÃO

Atenção, a consulta ao processo eletrônico está disponível em http://sapiens.agu.gov.br mediante ofornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 64536026088201519 e da chave de acesso 5ba865c1

Documento assinado eletronicamente por BRUNO CORREIA CARDOSO, de acordo com os normativos legaisaplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 11528401 no endereço eletrônicohttp://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário (a): BRUNO CORREIA CARDOSO. Data e Hora: 04­10­2016 16:34. Número de Série: 13193459. Emissor: Autoridade Certificadora SERPRORFBv4.

Documento assinado eletronicamente por LIVIA MARIA VASCONCELOS DE MIRANDA, de acordo com osnormativos legais aplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 11528401 noendereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário (a): LIVIA MARIA VASCONCELOSDE MIRANDA. Data e Hora: 04­10­2016 16:32. Número de Série: 5843905146916213341. Emissor: AC CAIXA PF v2.

Documento assinado eletronicamente por IDERVANIO DA SILVA COSTA, de acordo com os normativos legaisaplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o código 11528401 no endereço eletrônicohttp://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário (a): IDERVANIO DA SILVA COSTA. Data e Hora: 05­10­2016 14:45. Número de Série: 13191425. Emissor: Autoridade Certificadora SERPRORFBv4.