adriano r. de s. de la fuente

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GLOBALIZAÇÃO, CINEMA E ENSINO: O CURTA-METRAGEM COMO PROPOSTA NA CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS GEOGRÁFICOS Adriano R. De La Fuente Doutorando em Geografia Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Adriany de Ávila Melo Sampaio Doutora em Geografia IG/UFU Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Resumo Considerando que vivemos em uma sociedade digital, em que os meios audiovisuais informam as pessoas a todo instante, no espaço urbano/rural, ou por onde elas circulam, torna-se importante que o educador desenvolva metodologias que estejam de acordo com a realidade e contexto dos educandos, rompendo com o status tradicional e conservador das aulas de geografia. Neste sentido, objetiva-se refletir sobre a construção do conceito "globalização" utilizando o cinema por meio de "curtas" produzido pelos estudantes do ensino regular de uma escola pública do estado de Minas Gerais. Neste aspecto, espera-se que entender os conteúdos geográficos contribuirá para empodeirar os estudantes na leitura da realidade onde estão inseridos. Dos vários resultados observados, considerando a atuação no desenvolvimento dos trabalhos, as equipes conseguiram chegar aos resultados propostos de acordo com os objetivos iniciais. Desse modo, a construção dos projetos, utilizando como cenário a escola, os bairros (centro e periferia), bem como os conflitos e problemas sociais relacionados à temática proposta, foram elementos fundamentais para produção do conhecimento geográfico. Além disso, contribuiu para valorizar os espaços de convivência dos estudantes que, apesar de serem considerados “espaços informais”, representam o lugar de convivência e impressão cultural, econômica, social, política e social e, que precisa ser explorado enquanto espaço de ensino e aprendizagem. Palavras-Chave: Globalização - Cinema - Ensino - Projeto - Geografia Introdução Apesar das inovações observadas nas últimas décadas, a escola do século XXI ainda reclama da excessiva transmissão, geralmente desconexa de crítica, do conhecimento geográfico. Além do mais, “[...] a prática de aula é ainda hoje assim, extremamente fragmentada em itens sem sentido, isoladamente, e no conjunto sem o encadeamento que lhe permitisse ter sentido 1 ”. Desse modo, nossa proposta será potencializar reflexões que possibilite o rompimento dessa lógica hierárquica do professor transmissor e o estudante receptor. Contribuindo com isso, surge a proposta de construção de curta metragem com estudantes do ensino regular sobre a temática globalização, entendendo que […] “o cinema é o campo no qual 1 CALLAI, H. C. A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino? Terra Livre. São Paulo. n. 6, p. 140. 2001.

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Page 1: Adriano R. de S. De La Fuente

GLOBALIZAÇÃO, CINEMA E ENSINO: O CURTA-METRAGEM COMO

PROPOSTA NA CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS GEOGRÁFICOS

Adriano R. De La Fuente

Doutorando em Geografia

Universidade Federal de Uberlândia

[email protected]

Adriany de Ávila Melo Sampaio

Doutora em Geografia IG/UFU

Universidade Federal de Uberlândia

[email protected]

Resumo

Considerando que vivemos em uma sociedade digital, em que os meios audiovisuais informam

as pessoas a todo instante, no espaço urbano/rural, ou por onde elas circulam, torna-se

importante que o educador desenvolva metodologias que estejam de acordo com a realidade e

contexto dos educandos, rompendo com o status tradicional e conservador das aulas de

geografia. Neste sentido, objetiva-se refletir sobre a construção do conceito "globalização"

utilizando o cinema por meio de "curtas" produzido pelos estudantes do ensino regular de uma

escola pública do estado de Minas Gerais. Neste aspecto, espera-se que entender os conteúdos

geográficos contribuirá para empodeirar os estudantes na leitura da realidade onde estão

inseridos. Dos vários resultados observados, considerando a atuação no desenvolvimento dos

trabalhos, as equipes conseguiram chegar aos resultados propostos de acordo com os objetivos

iniciais. Desse modo, a construção dos projetos, utilizando como cenário a escola, os bairros

(centro e periferia), bem como os conflitos e problemas sociais relacionados à temática

proposta, foram elementos fundamentais para produção do conhecimento geográfico. Além

disso, contribuiu para valorizar os espaços de convivência dos estudantes que, apesar de serem

considerados “espaços informais”, representam o lugar de convivência e impressão cultural,

econômica, social, política e social e, que precisa ser explorado enquanto espaço de ensino e

aprendizagem.

Palavras-Chave: Globalização - Cinema - Ensino - Projeto - Geografia

Introdução

Apesar das inovações observadas nas últimas décadas, a escola do século XXI ainda

reclama da excessiva transmissão, geralmente desconexa de crítica, do conhecimento

geográfico. Além do mais, “[...] a prática de aula é ainda hoje assim, extremamente fragmentada

em itens sem sentido, isoladamente, e no conjunto sem o encadeamento que lhe permitisse ter

sentido1”. Desse modo, nossa proposta será potencializar reflexões que possibilite o

rompimento dessa lógica hierárquica do professor transmissor e o estudante receptor.

Contribuindo com isso, surge a proposta de construção de curta metragem com estudantes do

ensino regular sobre a temática globalização, entendendo que […] “o cinema é o campo no qual

1CALLAI, H. C. A Geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino? Terra Livre. São Paulo. n. 6, p. 140.

2001.

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a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma

obra de arte2”.

Nessa perspectiva, considera-se que “um projeto gera situações de aprendizagem ao

mesmo tempo reais e diversificadas. Possibilita, assim, que os educandos, ao decidirem,

opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social, formando-se

como sujeitos culturais3”. Logo, o desenvolvimento de projetos desse tipo na escola torna-se

importante porque “[...] traz para a escola aquilo que ela se nega a ser e que poderia transformá-

la em algo vívido e fundamental: participante ativa da cultura e não repetidora e divulgadora de

conhecimentos massificados, muitas vezes já deteriorados, defasados4”.

Considerando que vivemos em uma sociedade digital, em que os meios audiovisuais

informam as pessoas a todo instante, no espaço urbano, ou por onde elas circulam, torna-se

importante que o educador desenvolva metodologias que estejam de acordo com a realidade e

contexto dos educandos, rompendo com o status tradicional e conservador das aulas de

geografia.

Entender os conteúdos geográficos contribuirá para empodeirar os estudantes na leitura

da realidade onde estão inseridos. Além disso, entender o espaço geográfico possibilita o

exercício da cidadania amplamente discutida na era da globalização.

Ou seja;

[…] as informações chegam de forma muito rápida por meio da televisão, do cinema,

do rádio, do vídeo, do computador, o trabalho pedagógico do professor enriquecer-se-

á se ele utilizar todos esses recursos para a produção de um conhecimento que ajude

o aluno a compreender o mundo em que vive5.

Partimos do pressuposto que “[...] os conteúdos disciplinares não surgem por acaso.

Deveriam ser fruto da interação dos grupos sociais com sua realidade cultural6”. Além disso,

consideramos que “[...] não é possível descartar a presença dos alunos com seus interesses, suas

concepções, sua cultura, principal motivo da existência da escola7”. Isso faz com que as

propostas pedagógicas tenham como norte a construção do conhecimento, partindo das

vivências cotidianas e, consequentemente, do saber prévio dos estudantes.

Para isso, o desenvolvimento de projetos na escola coloca-se como uma das expressões

dessa concepção totalizante, o que permite aos estudantes analisarem os problemas, as situações

e os acontecimentos dentro de um contexto inserido na sua realidade, utilizando a conexão dos

conhecimentos presentes nas disciplinas e as suas experiências sociais, políticas e culturais

cotidianas. Nesse sentido, “[...] o trabalho com projetos permite a compreensão das estruturas

internas de um conteúdo que intencionalmente está sendo ensinado8”.

Ainda de acordo com a autora, a questão que se coloca, no entanto, não é a organização

de projetos, em detrimento dos conteúdos das disciplinas, e sim a construção de práticas

2NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. 4. ed.; 2 reimp. São Paulo: Contexto, 2009. p. 11-12. 3LEITE, L. H.A. Pedagogia de Projetos: intervenção no presente. Presença Pedagógica. v. 2, n. 8. mar./abr. 1996.

p. 28. 4ALMEIDA, M. J. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 2001. p. 48. 5 PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. L; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. 3 ed. São

Paulo: Cortez, 2009. p.263. 6 Leite, 1996, p. 29. 7 Ibidem. 8 FURLAN, A. S. Projeto de estudo em Biogeografia: uma abordagem significativa da construção de projetos. In.

CASTELLAR, S. (Org.). Edu cação geográfica: teorias e práticas docentes. 2. ed., 1° impressão. São Paulo:

Contexto, 2007. p. 9.

Page 3: Adriano R. de S. De La Fuente

pedagógicas centradas na formação global dos alunos. Consequentemente, o conteúdo deixa de

ser um fim em si mesmo e começa a ser meio de ampliar a formação dos alunos e sua interação

com a realidade, de forma crítica e dinâmica. Essa perspectiva foi percebida em todo o processo

de desenvolvimento dos projetos pelos estudantes.

Assim,

[...] Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar significa não

mais repassar conteúdos prontos. Nessa postura, todo conhecimento é construído em

estreita relação com o contexto em que é utilizado, sendo, por isso mesmo, impossível

separar aspectos cognitivos, emocionais e sociais presentes neste processo9.

Entende-se que a perspectiva anunciada pelo desenvolvimento de projetos está inserida

numa relação dialética e integrada entre a teoria e a prática: “Ensinar a Geografia por meio da

linguagem de cinema possibilita aproximar os conteúdos da vida cotidiana do aluno para que

firme os valores sociais e o compromisso com as suas atitudes desde uma escala local à

global10”. Há uma relação de reciprocidade entre o que se vivencia e o que se recebe como

informação para a construção de novos saberes.

Neste aspecto, é preciso considerar o seguinte:

Se a leitura do mundo implica um processo permanente de decodificação de

mensagens, de articulação/contextualização das informações, cabe à escola ensinar o

aluno a lê-lo também por meio de outras linguagens e saber lidar com os novos

instrumentos para essa leitura. Assim, a escola constitui lugar de reflexão acerca da

realidade, seja ela local, regional, nacional ou mundial, fornecendo instrumental capaz

de permitir ao aluno a construção de uma visão organizada e articulada de mundo11.

A percepção de mundo expressa pela autora só tem potencial de conhecimento

construído quando submetida ao tratamento adequado, para isso, o professor tem papel

fundamental no processo. No entanto, Furlan alerta para a necessidade de o professor planejar

o projeto inteiro e conduzi-lo sem autoritarismo, em um movimento natural, permitindo a

participação efetiva dos estudantes na construção desse projeto.

É nessa perspectiva que foi apresentada a ideia original da proposta de construção de

uma produção cinematográfica no estilo “curta-metragem” pelos grupos de estudantes, sobre

temática desenvolvida em sala de aula, na disciplina de Geografia.

Material e método

Estiveram envolvidos no projeto de construção dos curtas-metragens, na escola, 200

estudantes distribuídos em grupos de cinco, totalizando aproximadamente 40 projetos. Trata-se

de uma atividade na qual foi possível avaliar as relações do tema retratado, “Globalização”,

com a realidade dos estudantes, coletando uma perspectiva crítica destes, sobre o tema em

análise em cada projeto.

A atividade orientada constituiu-se nas seguintes etapas.

Etapa 1: Organização dos grupos com 5 estudantes aproximadamente

Etapa 2: Indicação de material bibliográfico sobre o tema Globalização e subtemas.

Etapa 3: Distribuição da temática aos grupos previamente selecionados e indicação de lideranças de

grupo (textos científicos sobre os temas).

9 Leite, op. cit., p. 27. 10 MARTINS, L. M. B.; BATISTA, M. dos R. O Ensino de Geografia e a Linguagem de cinema. Anais do

Encontro Interdisciplinar de Educação (ENIEDUC). 2003. p.1. 11 PONTUSCHKA, N. N. et al. op. cit., p. 262.

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Etapa 4: Sugestões de metodologias a serem utilizadas por cada grupo.

Etapa 5: Avaliação do andamento dos projetos com as respectivas lideranças.

Etapa 6: Orientação e sugestões sobre metodologias, temas, entrevistas, filmagens e edição.

Etapa 7: Exibição das produções em sala de aula e pátio da escola.

Etapa 8: Avaliação dos projetos e publicação dos resultados dos respectivos grupos.

Etapa 9: Debate e fechamento sobre os pontos positivos e negativos da proposta, em roda de conversa,

com os grupos participantes.

Etapa 10: Entrega dos relatórios, pelos grupos, sobre o processo de construção dos projetos, em forma

de questionário semiestruturado.

O conceito de Globalização trabalhado durante o desenvolvimento do projeto

possibilitou encadear outras temáticas, o que suscitou que diversos projetos de pesquisa

tivessem um tema de pesquisa inédito (Figura 1).

Figura 1: Temas selecionados pelos grupos para construção da proposta.

Org.: De La Fuente, 2015.

O tema central, Globalização, foi retratado como conteúdo principal, ancorado nas

questões social, ambiental, política, cultural, econômica, científica e tecnológica. Além disso,

outros subtemas foram disponibilizados no intuito de que as equipes fizessem escolhas para o

desenvolvimento de seus respectivos projetos. Dentre estes: migrações, trabalho formal e

informal, meio ambiente, consumo, ciência, comunicação, meios de transporte, lixo e rede

hidrográfica, etc.

Percebeu-se que a problemática escolhida pela equipe determinou o conteúdo a ser

pesquisado pelos elementos do grupo e consequentemente delimitou seu objeto de estudo. É

dessa forma que o aluno inicia um processo de compreensão do seu papel como sujeito ativo

que se utilizará das suas percepções cotidianas para resolver questões do seu tempo. A intenção

é enfocar a formação de “[...] um cidadão que reconheça o mundo em que vive, que se

compreenda como indivíduo social capaz de construir a sua história, a sua sociedade, o seu

espaço, e que consiga ter os mecanismos e os instrumentos para tanto12”.

12 CALLAI, H. C., op. cit., p. 34.

GLOBALIZAÇÃO

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

ECONOMIA E SOCIEDADE

CULTURAPOLÍTICA

MEIO AMBIENTE

Page 5: Adriano R. de S. De La Fuente

Dessa maneira, “[...] é fundamental preparar o aluno para desenvolver o senso crítico

necessário para que possa selecionar e utilizar as informações e não perder-se no dilúvio

informacional13” das redes de comunicação. Além disso, a ideia de possibilitar aos estudantes

uma atuação construtivista direta com os objetos de estudo da realidade foi concretizado, pois

ao perceberem parte da realidade vivida nas entrevistas14 coletadas nas ruas, foi-lhes

possibilitado também entender o que foi proposto e o que pôde ser registrado pelas lentes da

percepção individual e em grupo.

A concepção construtivista “é um referencial útil para a reflexão e tomada de decisões

compartilhadas, que pressupõe o trabalho em equipe de uma escola; como referencial, é ainda

mais útil quando esse trabalho for articulado em torno de grandes decisões que afetam o ensino

e que estão sistematizados nos Projetos Curriculares das Escolas15”.

O projeto enfatizou as circunstâncias da paisagem local16 como arcabouço para que o

“estudante pesquisador” encontrasse as respostas que procurava e que tivesse a consciência de

que iria socializá-las com os demais colegas em sala de aula em momento oportuno. De maneira

geral, isso contribuiu para gerar um conjunto de sentimentos; dentre eles, o de superação,

capacidade de liderança e trabalho coletivo. Em outras palavras, “[...] podemos ajudar nossos

alunos e a nós próprios a entender melhor o espaço local, o nacional e o global e, melhor ainda,

compreender as relações entre essas escalas17”. O projeto de construção do curta metragem

contribuiu para que a dinâmica espacial fosse percebida nestas escalas diversas de abordagem,

seja ao longo das leituras, seja na percepção e identificação dos problemas.

A construção de hipóteses, que se estruturaram como geradoras de problemas, os

potencializou a conhecer para, posteriormente, refletir nas possibilidades de intervenção,

mesmo que esta viesse apenas por meio da indignação explícita nos áudios e imagens

apresentados ou até mesmo nas apresentações em sala de aula.

Nessa perspectiva:

A Geografia, como disciplina escolar, oferece sua contribuição para que alunos e

professores enriqueçam suas representações sociais e seu conhecimento sobre as

múltiplas dimensões da realidade social, natural e histórica, entendendo melhor o

mundo em seu processo ininterrupto de transformação, o momento atual da chamada

mundialização da economia18.

Somou-se a tudo o debate em sala, que permitiu, aos demais colegas, a construção e a

socialização de novos conhecimentos acerca das questões analisadas.

As orientações aos grupos aconteceram geralmente em meio ao período de andamento

das aulas, após os horários de aula e por meio de e-mails e redes sociais. Como professor-

13 PONTUSCHKA, N. N. et. al. op. cit, p. 263. 14 “[...] os alunos são ativos quando abordam os problemas apresentados perguntando a outros, pedindo ajuda a

alguém mais especializado para guiá-los ou servir-lhes de modelo [...]” (MAURI, 2007, p. 89). 15 SOLÉ, I.; COLL, C. Os professores e a concepção construtivista. In: C. COLL.; MARTIN, E.; MAURI, T.;

MIRAS, M.; ONRUBIA, J.; SOLÉ, I.; ZABALA, A. O Construtivismo na sala de aula. 9. ed. São Paulo: Ática,

2006. p. 25. 16 “[...] A discussão teórico-metodológica sobre lugar na ciência geográfica tem sido feita atualmente em três

perspectivas, tendo em comum o objetivo de ultrapassar a ideia desse conceito como simples localização espacial

absoluta” (CAVALCANTI, 1998, p. 89). 17 KAERCHER, N. A. O gato comeu a geografia crítica: alguns obstáculos a ser superado no ensino-

aprendizagem de geografia. PONTUSCHKA, N. N.; OLIVEIRA, A. U. de (Org.). São Paulo: Contexto, 2009. p.

221. 18 PONTUSCHKA, N. N. et. al. op. cit., p. 38.

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orientador, procuramos não interferir demasiadamente na construção das ideias; assim, apenas

direcionando-os para que o objetivo da proposta de cada projeto não ficasse em segundo plano.

Resultados e reflexões

A inclusão da proposta do cinema como ferramenta didático-pedagógica não é uma

proposta inovadora em si, porém representa um desafio pelo grau de planejamento e trabalho

exigido na elaboração, orientação, construção efetiva do projeto e apresentação dos resultados,

de maneira satisfatória, em sala, que se sintetize em conhecimento.

Entretanto, apesar de representar uma tarefa trabalhosa, os resultados são interessantes

e expressivos, pois perpassam o interesse dos estudantes desde os temas e projetos

desenvolvidos até a expectativa destes em relação aos problemas propostos e resultados do

projeto, além do momento, propriamente, da apresentação.

Naturalmente, ocorre uma aproximação entre os alunos e o objeto de pesquisa, o que

contribui para proporcionar certa autonomia do trabalho em grupo, além de possibilitar aos

estudantes considerarem-se protagonistas do próprio conhecimento em suas produções

cinematográficas. Outros fatos, tão importantes quanto, são os desafios de trabalhar com as

diferenças de pensamento dos componentes do grupo e o acesso destes às tecnologias da

informação, ao seu uso adequado e ao debate que elas podem potencializar.

Relatórios das pesquisas desenvolvidas pelos estudantes

O questionário foi estruturado de maneira que os estudantes apresentassem, em forma

de texto, argumentos sobre algumas questões importantes:

I) Quais as dificuldades encontradas pelo grupo durante a execução dos projetos?

II) Percepção do grupo sobre a proposta de trabalho em grupo

III) O que o grupo conseguiu construir como conceito de globalização?

IV) Principal resultados da pesquisa?

V) Resultados além do trabalho de pesquisa?

Perguntados sobre a maior dificuldade do grupo na construção do projeto, percebeu-se

a seguinte porcentagem (Figura 2) nas respostas: Quase 52% dos grupos pesquisados (21)

apontaram como a maior dificuldade reunir-se para o desenvolvimento do projeto,

considerando o fato de grande parte dos estudantes trabalharem durante a semana no período

em que não estão em sala de aula. Esta questão ficou mais evidente nos trabalhos apresentados

pela turma do turno noturno (Grupo 3E).

Outro item relevante foi o uso dos equipamentos eletrônicos (15%). Apesar de grande

parte deles terem um celular que tenha câmera de filmagem, percebeu-se uma dificuldade no

uso desse recurso eletrônico para o tipo de atividade proposta. No entanto, 100% dos projetos

conseguiram apresentar os projetos no formato exigido, apesar de alguns problemas,

principalmente em relação à qualidade dos vídeos e áudio.

Terceiro item informado como obstáculo foi a não-aprovação de imediato das pessoas

nas ruas para as entrevistas e filmagens (13%). Diante do problema, o professor solicitou aos

estudantes a construção de perguntas para posterior orientação antes das entrevistas. A melhoria

na qualidade das perguntas, do enfoque e apresentação do grupo aos entrevistados contribuiu

para que os estudantes conseguissem convencer as pessoas sobre a importância do projeto e,

Page 7: Adriano R. de S. De La Fuente

consequentemente, autorizar a gravação. Porém, houve falta de autorização para eventual

publicação na internet.

Outros itens apontados pelos estudantes foram o planejamento e a edição final, ambos

com 10% dos estudantes afirmando terem problema. Em relação ao planejamento, eles

apontaram a falta de liderança e descompromisso de alguns membros do grupo, e o fato de

alguns trabalharem e não poderem comparecer às reuniões. Sobre a edição final, afirmaram que

tiveram que estudar e procurar softwares que auxiliassem na edição e finalização dos projetos.

Ainda sobre esse assunto, algumas citações dos grupos merecem destaque:

[...] Uma metodologia diferente para aprender Geografia (Grupo A1).

Procuramos apresentar vários recursos e metodologias nas abordagens do conhecimento

geográfico. Dessa maneira, a proposta de utilizar a produção cinematográfica sintetizada no

curta metragem surgiu como um desafio.

[...] Impactante, provocante, pois faz com que os alunos corressem atrás das respostas (Grupo

A2).

Importante aspecto apontado pelo grupo, a citação mostra a importância de trabalhos

como este, pois aponta caminhos, mas não entrega as respostas prontas, o que contribui para

que o estudante reflita sobre o que está aprendendo, vivenciando, de maneira prática, o seu dia-

a-dia na sociedade.

[...] Houve maior apreensão do conhecimento e interação entre o grupo. Desenvolvemos a

criatividade e melhoramos na apresentação (Grupo A3).

O grupo nos apresenta outras várias potencialidades nesse tipo de proposta, ou seja, a

interação entre os estudantes, a criação de uma ideia e o ato de exercitá-la, apresentá-la a outro

Figura 2: Dificuldades apontadas pelos estudantes

Org.: De La Fuente, 2015.

Reunir o grupo52%

Equipamentos eletrônicos

15%

Entrevistas e Filmagens

13%

Planejamento10%

Edição e finalização10%

DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS ESTUDANTES

Page 8: Adriano R. de S. De La Fuente

grupo. Além do conteúdo, os estudantes aprendem outras questões importantes em sua vida

acadêmica e social.

[...] Apesar das dificuldades, gostamos muito da proposta, por ser uma atividade diferente e

conseguirmos compreender melhor e de maneira mais dinâmica o assunto discutido em sala

de aula (Grupo B119).

A ideia foi, realmente, propor atividades que contribuíssem para que os estudantes

entendessem a Geografia em sua dinâmica, ao contrário da Geografia enfadonha que ainda é

praticada em grande parte das escolas brasileiras.

[...] Gostamos da proposta, porém achamos o tempo de execução muito curto para

apresentação de um bom projeto (Grupo B2).

Ficou estabelecido o tempo de 8 minutos para duração dos curtas-metragens e mais 7

minutos para apresentação do grupo sobre a construção do projeto. Reconhecemos que o tempo

foi pouco, porém levamos em consideração o fato de o número de aulas de Geografia por

semana serem apenas duas.

[...] Ajuda bastante no aprendizado, pois você aprende mais quando vivencia a realidade e em

grupo, onde um ajuda o outro (Grupo B3).

Ficou perceptível esse aspecto nas apresentações, ou seja, os estudantes estavam ansiosos para

apresentarem seus trabalhos. Percebeu-se que os mesmos trouxeram muito material do

cotidiano para compartilhar com a turma.

[...] Apesar dos problemas de se reunir em grupo, percebemos que o trabalho de entrevista

ajuda bastante para entendermos sobre o processo de Globalização e a importância da mídia

na atualidade (Grupo C2).

A questão de se reunir em grupo ficou evidenciada no gráfico apresentado

anteriormente; percebe-se, porém, que, muitas vezes, há uma falta de organização em relação

ao tempo disponível. Nesse sentido, foi trabalhada a necessidade de utilizarem finais de semana

para executarem os projetos, fato que foi seguido por grande número dos grupos de trabalho

que estavam com problemas.

[...] O projeto foi trabalhoso, houve necessidade de muita dedicação. Porém, é melhor, pois

aprendemos muito. Bem melhor do que os trabalhos de pesquisa que a maioria dos outros

professores passam para gente, pesquisa de internet. (Grupo C3).

A fala do grupo remete a um problema que hoje está muito presente na sala de aula: muitos

trabalhos copiados da internet são avaliados como se fossem de autoria do estudante. A

produção cinematográfica poderá contribuir para que o estudante se preocupe em estudar o

tema, em detrimento da simples cópia.

Assim, “a aprendizagem contribui para o desenvolvimento na medida em que aprender

não é copiar ou reproduzir a realidade. Para a concepção construtivista, aprendemos quando

somos capazes de elaborar uma representação sobre um projeto da realidade ou conteúdo que

pretendemos aprender”20.

[...] Achamos bastante interessante a ideia de fazer um curta-metragem, pois desperta maior

dedicação dos alunos com a Geografia. (Grupo C4).

O grupo evidenciou a necessidade de uma Geografia que tenha sentido na vida do estudante.

19 Refere-se à sala B do terceiro ano regular - grupo 1. 20 SOLÉ; COLL., op. cit., p. 19.

Page 9: Adriano R. de S. De La Fuente

[...] Estimula a gente a buscar o conhecimento; com as entrevistas, identificamos novas ideias

e, consequentemente, conhecemos o que as pessoas na sociedade pensam sobre o assunto

pesquisado. (Grupo D1).

O grupo acentua a importância do diálogo nas entrevistas e a construção do conhecimento pelo

próprio grupo sobre o assunto.

[...] Contribui para que o aluno busque construir seu próprio conhecimento sobre o assunto,

pois precisa apresentar para o grupo. (Grupo E1).

A citação enfatiza a importância da responsabilidade dos membros de um grupo. A maioria

destes apresentou determinado planejamento no decorrer das reuniões.

[...] Difícil. Foi essencial e evidente o desenvolvimento do grupo nesse tipo de trabalho (Grupo

E2).

O fato de o trabalho apresentar alguma dificuldade não se tornou obstáculo para que

este grupo percebesse, como essencial, o desenvolvimento do próprio grupo, principalmente

quanto ao trabalho coletivo.

Perguntados sobre qual a percepção do grupo sobre propostas de trabalho em grupo

como a apresentada pelo professor, os grupos demonstraram satisfação com o formato da

proposta. No total de 40 trabalhos, 64% afirmaram que a proposta foi excelente. Outros 26%

disseram ser bom esse tipo de trabalho e outros 10% manifestaram normalidade sobre a

proposta. Apesar de existirem grupos que afirmaram e pontuaram sobre a dificuldade no

processo de construção da produção, não houve nenhum grupo que apontou o projeto como

proposta ruim (Figura 3).

Ao serem perguntados sobre o que o grupo construiu de conhecimento, obtivemos

diversas respostas. Dentre estas, e depois de selecionadas as que não se repetiram, produziu-se

Figura 3: Sobre a Proposta de Pesquisa

Org.: De La Fuente, 2015.

Excelente64%

Bom26%

Normal10% Ruim

0%

SOBRE A PROPOSTA DE PESQUISA

Page 10: Adriano R. de S. De La Fuente

o seguinte quadro a respeito do conhecimento construído pelos grupos em referência ao tema-

problema, “Globalização”, proposto (Figura 4).

Figura 4: Construção de conceitos sobre o termo Globalização pelos estudantes.

Org.: De La Fuente, 2015.

Por meio das respostas dos grupos, percebemos que a proposta inicial do projeto

foi concretizada com êxito, considerando os resultados das produções de “curta-metragem”

apresentadas e da construção do conceito Globalização como tema central da proposta.

Neste contexto, marcado pela infinidade de informações, foi possível identificar

uma diversidade de linguagens. Segundo Pontuschka,21 esta sociedade da informação é

resultado da revolução tecnológica. No entanto, a autora ainda completa que esse contexto não

tem garantido uma inserção dos indivíduos na sociedade, pois as informações são

descontextualizadas e fragmentadas. Soma-se a essa questão um fluxo constante e distinto da

informação que dificulta considerá-la na categoria do conhecimento.

Sobre os principais resultados da pesquisa, os grupos mencionaram alguns: cooperação

entre os membros do grupo, pretendendo se chegar a um objetivo comum, que seria finalizar o

21PONTUSCHKA, N. N. et al. op. cit.

Conhecimento construído pelos grupos sobre o conceito de Globalização

A Globalização é um processo de integração entre economias, sociedades, culturas e

políticas. Processo que une mercados de diferentes nações, onde pessoas e mercadorias se

aproximam cada vez mais.

Identificamos a importância da mídia na Globalização, acelerando os processos de consumo,

etc.

A Globalização não tem apenas aspectos positivos, mas aspectos negativos significativos,

como o consumismo exagerado, que gera grande quantidade de lixo.

Entendemos que Globalização é o que interliga o mundo, conecta-nos com pessoas de outros

países por meio das redes sociais e também se relaciona ao consumo, blocos econômicos e

à tecnologia.

O processo de Globalização está cada vez mais presente e fortemente envolvido em nosso

dia-a-dia.

A Globalização é um processo complexo para uma conceituação fechada, porém esse

processo tem modificado o mundo, com vantagens, como, por exemplo, as invenções

científicas, e desvantagens, como a questão do desemprego, a miséria, a desigualdade social,

etc.

A Globalização trouxe diversos aspectos positivos, como a tecnologia, porém trouxe também

a competitividade entre empresas e pessoas, excluindo as pessoas com pouco estudo.

A Globalização proporciona integração dos países na sociedade, na política e nos

acontecimentos gerais.

A Globalização tem seus pontos positivos e negativos: ao mesmo tempo em que nos beneficia,

traz vários pontos que excluem, prejudicam pessoas e o Meio Ambiente.

Percebemos um conceito amplo de difícil definição.

A Globalização é toda relação envolvendo pessoas, tecnologia, cultura, finanças e comércio,

em escala global.

Entendemos como parte da comunidade pesquisada está totalmente alheia ao processo de

Globalização, principalmente pessoas acima dos quarenta anos.

Entendemos a Globalização como um processo em que estão envolvidos: pessoas,

tecnologias e mercadorias numa escala cada vez mais ampliada.

Globalização está em tudo que fazemos, em todas as atividades humanas.

Page 11: Adriano R. de S. De La Fuente

trabalho; a eleição de um líder de grupo, mecanismo utilizado para um diálogo mais rápido nas

orientações com o professor-orientador; a importância do planejamento, a fim de se conseguir

cumprir os prazos estabelecidos; e, por fim, a construção do conhecimento pelo grupo sobre o

tema pesquisado.

De acordo com os grupos, nos itens supracitados, “conhecimento” representou 70% dos

resultados das pesquisas realizadas. Outros (13%) afirmam que conseguiram desenvolver os

seus projetos pelo fato de ter havido uma cooperação entre os membros do grupo. Demais

grupos apontam para a presença do líder (10%) e o planejamento (7%) como itens importantes

nos resultados alcançados (Figura 5).

Em relação ao conhecimento adquirido, algumas citações são fundamentais para

entendermos o pensamento de alguns estudantes e seus respectivos grupos:

[...] Entendemos perfeitamente a relação entre Globalização e Migração, bem como os fatores

geradores e as consequências desse movimento na vida das pessoas nos dias atuais (Grupo

B1).

O grupo pontua sobre o movimento de migração na atualidade como resultado do processo de

Globalização.

[...] Sem dúvida, entendemos mais sobre o sistema no qual estamos vivenciando e suas relações

com a sociedade. Aprendemos e repassamos aos nossos colegas em sala de aula por meio da

apresentação, isso é o mais interessante (Grupo C2).

O grupo aponta itens interessantes em sua citação. Primeiro, seria a construção do

conhecimento sobre o tema proposto e a relação deste com a sociedade na qual estão inseridos.

Segundo, o fato de terem a preocupação de apresentar esse conhecimento aos colegas, o que

provoca a necessidade de aprofundamento de estudo.

Conhecimento70%

Planejamento7%

Liderança10%

Cooperação13%

PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA

Figura 5: Principais resultados da pesquisa

Org.: De La Fuente, 2015.

Page 12: Adriano R. de S. De La Fuente

[...] O grupo vivenciou as diferenças sociais, percebendo que a Globalização trouxe muitas

inovações, mas também muitos desempregados pela inserção da tecnologia na indústria

(Grupo D4).

O processo de Globalização vem proporcionando uma inserção maior das economias nacionais

nos mercados mundiais. Isso contribui para que ocorra um acirramento nas disputas de

mercados em nome de novas mercadorias, preços e, consequentemente, lucros. Com isso, há

um número crescente de desempregados pelo mundo, sobretudo nos países emergentes e

subdesenvolvidos.

[...] Verificamos que a maioria das pessoas não sabem muito sobre o conceito e o que o

processo de Globalização tem a ver com suas vidas. Entrevistamos muitas pessoas que estavam

desempregadas e não sabiam falar nada sobre o assunto e sua atual condição (Grupo E1).

Ao sair às ruas em busca de respostas, os estudantes conviveram com diversos pensamentos. A

conclusão do respectivo grupo é que as pessoas, mesmo desempregadas, não entendem o

motivo de estarem nesta situação. Nesse aspecto, o grupo evidencia a total falta de entendimento

do conceito pelo recorte dos entrevistados. Percebeu-se que, além da construção dos conceitos,

os estudantes foram capazes de se organizarem de maneira clara e crítica, relacionando o tema

“Globalização” com os subtemas propostos.

Perguntados sobre o que de mais positivo o grupo conseguiu alcançar com este trabalho

de pesquisa, houve diversas respostas, as quais estão sintetizadas no gráfico a seguir (Figura 6):

A pesquisa com os grupos apontou que 35% destes consideram que a produção

cinematográfica potencializa uma relação prática dos conceitos geográficos vistos em sala de

aula. Vejamos este exemplo: [...] Foi percebido pelo grupo, de maneira prática, as exigências

do mercado de trabalho na atualidade, após entrevista gravada com desempregados em uma

fila de emprego, conclui o grupo A8.

Figura 6: Conclusões dos grupos sobre a proposta

Org.: De La Fuente, 2015.

Aprimoramento da atividade em

equipe20%

Entendimento da realidade

25%

Relação prática dos conceitos

35%

Importância desse tipo de pesquisa

20%

CONCLUSÕES DOS GRUPOS SOBRE A PROPOSTA

Page 13: Adriano R. de S. De La Fuente

Outros grupos (25%) perceberam que esse tipo de metodologia possibilita um

entendimento maior da realidade. Ou seja, [...] Aprendemos, por meio de relatos da população,

sobre algumas vantagens e desvantagens da Globalização na sociedade, como desemprego,

questões ambientais e violência urbana. Nesse sentido, fica evidente que, ao se envolverem

com a população, os estudantes começam a entender que fazem parte de um grupo seleto que

está na escola e, por isso, tem uma responsabilidade maior em relação a conhecer o seu contexto

e suas relações.

Outros grupos (20%) explicam que a produção cinematográfica evidencia a importância

da pesquisa. O grupo D5 faz a seguinte afirmação [...] A experiência de fazer esse tipo de

trabalho nos ajuda a entender a importância da pesquisa, o que poderá nos auxiliar na

Universidade. A citação reforça o papel do professor na sala de aula como um elo importante

no processo de ensino e aprendizagem escolar.

Por último, outros grupos (20%) afirmam que esse tipo de metodologia auxilia no

aprimoramento da atividade em equipe. A citação feita pelo grupo E6 sintetiza esse pensamento

de maneira evidente: [...] Aprendemos a respeitar as diferenças, a entender sobre o conteúdo

proposto, além de ser receptivo à diversidade de pontos de vistas sobre o assunto.

Considerações finais

Considerando a atuação no desenvolvimento dos trabalhos, as equipes conseguiram

chegar aos resultados propostos de acordo com os objetivos iniciais.

A construção dos projetos, utilizando como cenário a escola, os bairros (centro e

periferia), bem como os conflitos e problemas sociais relacionados à temática proposta, foram

elementos fundamentais para produção do conhecimento geográfico e com enfoque na

dinâmica geográfica. Além disso, contribuiu para valorizar os espaços de convivência dos

estudantes que, apesar de serem considerados “espaços informais”, representam o locus de

convivência e impressão cultural, econômica, social, política e social e que necessita ser

explorado.

Entende-se, desse modo, que “pensar uma prática pedagógica a partir dos projetos traz

mudanças significativas para o processo de ensino/aprendizagem22”. Com esse raciocínio é

possível compreender que a proposta contribuiu sobremaneira para o processo de ensino e

aprendizagem do conteúdo proposto. Além do mais, a formação dos estudantes,

necessariamente, precisa ser entendida como um processo globalizado e complexo, que tenha

como premissa entender a realidade daqueles.

Por fim, quatro mitos puderam ser desmistificados com o desenvolvimento destes projetos de

pesquisa na escola com os estudantes do ensino regular. São eles:

I) A necessidade de procurar um horário extraclasse para o desenvolvimento dos trabalhos;

II) O fato de, necessariamente, ser um trabalho que precisa envolver grande número de

professores da escola;

III) Há necessidade de vultosos investimentos financeiros e técnicos;

IV) Grande quantidade de alunos (200, em nosso caso) dificulta a orientação e,

consequentemente, os grupos tendem a desistir ou a não obter os resultados previstos na

proposta inicial.

22 LEITE, op. cit., p. 29.

Page 14: Adriano R. de S. De La Fuente

São questões que, muitas vezes, podem contribuir para inviabilizar o desenvolvimento de

projetos desse tipo na escola – o fato é que foi possível comprovar que é possível.

Evidentemente, trabalhar com projeto também não é uma tarefa das mais simples, porém a

abordagem diz respeito a um método23.

Por fim, entendemos a urgência de uma educação fundamentada e coerente, com

respaldo na vida em sociedade, o que será essencial na formação dos estudantes e

consequentemente cidadãos mais atuantes. O desenvolvimento de projetos pode contribuir

sobremaneira para que se tenha êxito na proposta de ensinar uma Geografia que tenha

significados para o estudante, sobretudo os advindos das camadas menos privilegiadas da

sociedade. Além disso, projetos potencializam uma reformulação na maneira de ensinar e

aprender Geografia, proporcionando domínio da leitura do espaço geográfico por meio da

observação crítica da paisagem.

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2006.

23 FURLAN, op. cit.