adriano lucas - o decano da imprensa portuguesa

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Director do Diário de Coimbra e fundador dos Diários de Aveiro, de Leiria e de Viseu 60 Faz agora 60 anos que Adriano Lucas, após a morte do seu pai, Adriano Viegas da Cunha Lucas, está à frente do Diário de Coim- bra, jornal que completou, em 2010, 80 anos de existência e que hoje integra um grupo de jornais por si fundados : o Diário de Aveiro, que já conta 25 anos de publicação, o Diário de Leiria e o Diário de Viseu. Frontal, em Dezembro de 1950, Adriano Lucas convocou o então director do Diário de Coimbra e todos os colaboradores do jornal para lhes explicar que ninguém gostava mais do Diário de Coim- bra do que ele próprio mas que, como não dispunha das mesmas condições financeiras do que o seu pai, não poderia continuar a pagar o papel. O caminho, anun- ciou, teria de passar por mais empenho de cada um e por um aumento das receitas. O jornal teria de se pagar a si próprio. Assim foi e assim é hoje, neste como nos restantes três jornais porque só assim se garante a total independência das empre- sas jornalísticas. Só assim, como sempre defen- deu Adriano Lucas, se pode fazer um jornal ao serviço dos seus leito- res e não de quaisquer outros inte- resses, incluindo, obviamente, os dos seus proprietários. Por isso mesmo, sempre fez questão de não ser “notícia” e de não aparecer, por tudo e por nada, nas páginas dos seus jornais. O suplemento que hoje editamos é, assim, uma ex- cepção porque é uma homenagem por parte daqueles que consigo aprenderam e que consigo parti- lham os seus ideais e valores e que pretende surpreender o Engenhei- ro Adriano Lucas no assinalar des- ta importante data. São seis décadas em defesa da Liberdade de Impren- sa, da região das Beiras e com parti- cular ênfase de Coimbra, Aveiro, Leiria e Viseu. Já aos cinco anos, Adriano Mário da Cunha Lucas, pelas mãos do seu pai, é presença regular nas instala- ções do Diário de Coimbra, na Av. Sá da Bandeira e no Pátio do Casti- lho. E quando, aos sete anos, vai estudar para o colégio Infante de Sagres, em Lisboa, passa a receber diariamente o Diário de Coimbra. Aos quinze anos, já com o jornal na rua da Sofia, na Baixa de Coimbra, torna-se sócio da empresa. É nessa altura que regressa a Coimbra, para estudar no Colégio S. Pedro e no Liceu D. João III (hoje Liceu José Falcão). Em 1945, aos 19 anos, era então estudante do Instituto Superior Técnico – é nome- ado seu editor (1945). Com a morte de Adria- no Viegas da Cunha Lucas, em 17 de Dezem- bro de 1950, o seu filho, aos 25 anos, fica respon- sável pelo Diário de Coimbra e herda os valores que lhe foram transmitidos pelo pai, muitos deles bem visíveis no que já era o jornal e no que se tornou este grupo de Comunicação Social. A regionaliza- ção, enquanto pro- cesso de efectiva descentralização e transferência de poderes e compe- tências para as várias regiões do país, para que cada comunidade local e regional possa decidir sobre o que mais directamente lhe diz respeito, é uma das suas “bandei- ras” e motivo de vários acutilantes editoriais. «Temos de dar o primei- ro passo. De outro modo, Portugal ficaria bloqueado no centralismo, que todos os “poderosos” preten- dem erradamente manter, quando são donos do poder, ou pensam poder alcançá-lo quando são seus opositores. Que se erradiquem os totalitaristas de Estado», escreveu Adriano Lucas num editorial sobre a regionalização. Também por isso, Adriano Lu- cas decidiu fundar o Diário de Aveiro (em 19 de Junho de 1985), o Diário de Leiria (em 17 de Março de 1987 e que, depois de alguns núme- ros publicados, começou a sair dia- riamente a partir de 13 de Outubro), o Diário de Viseu (em 2 de Junho de 1997), a Rádio Regional de Aveiro (23 de Outubro de 1989) e a FIG – Indús- trias Gráficas SA, onde são impres- sos os diários do grupo e muitos outros jornais regionais. O desen- volvimento das regiões passa, de- fende, por uma Imprensa Regional forte e independente. Devotado defensor da Liberda- de de Imprensa e do manifesto li- beral, Adriano Lucas representou os jornais diários portugueses na comissão que elaborou a Lei da Imprensa, publicada em Feverei- ro de 1975 (durante o período revo- lucionário pós 25 de Abril) a qual, ao garantir a Liberdade de Im- prensa e de Publicação, permitiu a sobrevivência da imprensa inde- pendente e ajudou a consolidar a democracia em Portugal. Foi membro do Conselho de Impren- sa durante toda a sua existência (1975/90) e integrou, ainda, várias associações e organizações que têm como missão a defesa intran- sigente de uma imprensa livre e plural, nomeadamente a ENPA (Associação Europeia de Jornais), a FIEJ (Federação Internacional de Editores de Jornais), mais tarde da WAN-IFRA (Associação Mundial de Jornais e Editoras de Notícias) e a Associação de Imprensa Diária (AID). Foi ainda administrador fundador do CENJOR (Centro Pro- tocolar de Formação de Jornalistas) e da NP – Notícias de Portugal. Sob a sua liderança, o Diário de Coimbra resistiu à ditadura salaza- rista, às tentativas de controlo co- munista, no pós 25 de Abril, e a to- dos os demais que o tentaram con- trolar ou influenciar, garantindo a sua total independência perante os poderes político e económico- monopolista. Assegurou, deste mo- do, a continuidade da sua linha edi- torial como jornal informativo republicano, liberal, defensor da democracia pluralista, da economia de mercado, da integração europeia e da regionalização do país, ao ser- viço de Coimbra e das Beiras, dos seus leitores e anunciantes. Linha editorial essa que é hoje partilhada pelos quatro jornais diários. Todos estes ideais reflectem- -se, ao longo de décadas, nas pági- nas dos quatro jornais (as causas dos mais desfavorecidos que se apoiaram, as petições que foram promovidas em defesa da região, os editoriais descomprometidos com o poder instituído, entre outros exemplos). É, assim, justo afirmar que Adriano Lucas tem um percur- so de coerência e de verticalidade. A região muito lhe deve. Graças à sua acção, Aveiro, Leiria e Viseu passaram a ter, pela primeira vez, jornais diários próprios e Coimbra tem hoje , no Diário de Coimbra, o principal diário regional português e o mais antigo diário que conserva a linha editorial de origem e que se mantém na posse da família do seu fundador. A Imprensa em Portugal pode orgulhar-se de tê-lo como o decano dos seus dirigentes e por isso, para este suplemento, ouvimos alguns dos que com ele estiveram em dife- rentes palcos do mundo da Comu- nicação Social, ao mesmo tempo que recordaremos diversos mo- mentos mais marcantes do grupo de jornais que lidera. l João Luís Campos Director-Adjunto Diário de Coimbra 21 DE JANEIRO DE 2011 NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE anos ao serviço dos leitores, de Coimbra, das Beiras e da Liberdade de Imprensa o decano dos dirigentes da Imprensa ADRIANO LUCAS HOMENAGEM

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Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

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Page 1: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

Director do Diário de Coimbra e fundador dos Diários de Aveiro, de Leiria e de Viseu

60� Faz agora 60 anos que AdrianoLucas, após a morte do seu pai,Adriano Viegas da Cunha Lucas,está à frente do Diário de Coim-bra, jornal que completou, em2010, 80 anos de existência e quehoje integra um grupo de jornaispor si fundados : o Diário deAveiro, que já conta 25 anos depublicação, o Diário de Leiria e oDiário de Viseu.

Frontal, em Dezembro de 1950,Adriano Lucas convocou o entãodirector do Diário de Coimbra etodos os colaboradores do jornalpara lhes explicar que ninguémgostava mais do Diário de Coim-bra do que ele próprio mas que,como não dispunha das mesmascondições financeiras do que oseu pai, não poderia continuar apagar o papel. O caminho, anun-ciou, teria de passar por maisempenho de cada um e por umaumento das receitas. O jornalteria de se pagar a si próprio.Assim foi e assim é hoje, nestecomo nos restantes três jornaisporque só assim se garante atotal independência das empre-sas jornalísticas.

Só assim, como sempre defen-deu Adriano Lucas, se pode fazerum jornal ao serviço dos seus leito-res e não de quaisquer outros inte-resses, incluindo, obviamente, osdos seus proprietários. Por issomesmo, sempre fez questão de nãoser “notícia” e de não aparecer, portudo e por nada, nas páginas dosseus jornais. O suplemento quehoje editamos é, assim, uma ex-cepção porque é uma homenagempor parte daqueles que consigoaprenderam e que consigo parti-lham os seus ideais e valores e quepretende surpreender o Engenhei-ro Adriano Lucas no assinalar des-ta importante data. São seis décadasem defesa da Liberdade de Impren-sa, da região das Beiras e com parti-cular ênfase de Coimbra, Aveiro,Leiria e Viseu.

Já aos cinco anos, Adriano Márioda Cunha Lucas, pelas mãos do seupai, é presença regular nas instala-ções do Diário de Coimbra, na Av.Sá da Bandeira e no Pátio do Casti-lho. E quando, aos sete anos, vaiestudar para o colégio Infante deSagres, em Lisboa, passa a receberdiariamente o Diário de Coimbra.Aos quinze anos, já com o jornal narua da Sofia, na Baixa de Coimbra,torna-se sócio da empresa. É nessaaltura que regressa a Coimbra,

para estudar no Colégio S.Pedro e no Liceu D. João III(hoje Liceu José Falcão). Em1945, aos 19 anos, era entãoestudante do InstitutoSuperior Técnico – é nome-ado seu editor (1945).

Com a morte de Adria-no Viegas da CunhaLucas, em 17 de Dezem-bro de 1950, o seu filho,aos 25 anos, fica respon-sável pelo Diário deCoimbra e herda osvalores que lhe foramtransmitidos pelo pai,muitos deles bem

visíveis no que já erao jornal e no que setornou este grupode ComunicaçãoSocial.

A regionaliza-ção, enquanto pro-

cesso de efectiva descentralização etransferência de poderes e compe-tências para as várias regiões dopaís, para que cada comunidadelocal e regional possa decidir sobreo que mais directamente lhe dizrespeito, é uma das suas “bandei-ras” e motivo de vários acutilanteseditoriais. «Temos de dar o primei-ro passo. De outro modo, Portugalficaria bloqueado no centralismo,que todos os “poderosos” preten-dem erradamente manter, quandosão donos do poder, ou pensampoder alcançá-lo quando são seusopositores. Que se erradiquem ostotalitaristas de Estado», escreveuAdriano Lucas num editorial sobrea regionalização.

Também por isso, Adriano Lu-cas decidiu fundar o Diário deAveiro (em 19 de Junho de 1985), oDiário de Leiria (em 17 de Março de1987 e que, depois de alguns núme-ros publicados, começou a sair dia-riamente a partir de 13 de Outubro),o Diário de Viseu (em 2 de Junho de1997), a Rádio Regional de Aveiro (23de Outubro de 1989) e a FIG – Indús-trias Gráficas SA, onde são impres-sos os diários do grupo e muitosoutros jornais regionais. O desen-volvimento das regiões passa, de-fende, por uma Imprensa Regionalforte e independente.

Devotado defensor da Liberda-de de Imprensa e do manifesto li-beral, Adriano Lucas representouos jornais diários portugueses nacomissão que elaborou a Lei daImprensa, publicada em Feverei-ro de 1975 (durante o período revo-lucionário pós 25 de Abril) a qual,ao garantir a Liberdade de Im-prensa e de Publicação, permitiu asobrevivência da imprensa inde-pendente e ajudou a consolidar ademocracia em Portugal. Foimembro do Conselho de Impren-sa durante toda a sua existência(1975/90) e integrou, ainda, váriasassociações e organizações quetêm como missão a defesa intran-sigente de uma imprensa livre eplural, nomeadamente a ENPA(Associação Europeia de Jornais), aFIEJ (Federação Internacional deEditores de Jornais), mais tarde daWAN-IFRA (Associação Mundial

de Jornais e Editoras de Notícias) ea Associação de Imprensa Diária(AID). Foi ainda administradorfundador do CENJOR (Centro Pro-tocolar de Formação de Jornalistas)e da NP – Notícias de Portugal.

Sob a sua liderança, o Diário deCoimbra resistiu à ditadura salaza-rista, às tentativas de controlo co-munista, no pós 25 de Abril, e a to-dos os demais que o tentaram con-trolar ou influenciar, garantindo asua total independência perante ospoderes político e económico-monopolista. Assegurou, deste mo-do, a continuidade da sua linha edi-torial como jornal informativorepublicano, liberal, defensor dademocracia pluralista, da economiade mercado, da integração europeiae da regionalização do país, ao ser-viço de Coimbra e das Beiras, dosseus leitores e anunciantes. Linhaeditorial essa que é hoje partilhadapelos quatro jornais diários.

Todos estes ideais reflectem- -se, ao longo de décadas, nas pági-nas dos quatro jornais (as causasdos mais desfavorecidos que seapoiaram, as petições que forampromovidas em defesa da região, oseditoriais descomprometidos como poder instituído, entre outrosexemplos). É, assim, justo afirmarque Adriano Lucas tem um percur-so de coerência e de verticalidade.

A região muito lhe deve. Graçasà sua acção, Aveiro, Leiria e Viseupassaram a ter, pela primeira vez,jornais diários próprios e Coimbratem hoje , no Diário de Coimbra, oprincipal diário regional portuguêse o mais antigo diário que conservaa linha editorial de origem e que semantém na posse da família do seufundador.

A Imprensa em Portugal podeorgulhar-se de tê-lo como o decanodos seus dirigentes e por isso, paraeste suplemento, ouvimos algunsdos que com ele estiveram em dife-rentes palcos do mundo da Comu-nicação Social, ao mesmo tempoque recordaremos diversos mo-mentos mais marcantes do grupode jornais que lidera. l

João Luís Campos

Director-Adjunto

DiáriodeCoimbra

21 DE JANEIRO DE 2011

NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE anos

ao serviço dos leitores,de Coimbra, das Beirase da Liberdadede Imprensa

o decano dos dirigentes da ImprensaADRIANO LUCASHOMENAGEM

Page 2: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1930 1930

�7 de Julho de 1945 - a partir destedia e até 4 de Julho de 1946 o Diá-rio de Coimbra não foi para asbancas por decisão governamen-tal. A 29 de Junho de 1945, o Diáriode Coimbra, já com Adriano Lu-cas como seu editor, publicou umartigo sobre o Max do TrapézioVoador, uma música então emvoga. A crónica contava a histó-ria de Max, a grande atracção decirco que esgotava a lotação. En-velhecido, abandonando o trapé-zio, continuou no circo a fazeroutras habilidades. Inconforma-do com a situação, encheu-se debrios e resolveu voltar ao trapé-zio. O circo encheu-se novamen-te. Max não se aguentou nobalanço, caiu e morreu. O mestre

do circo nem sequer compareceuao funeral.

Esta era a história na qual oregime colocou sabor político.Considerou que Max era então oreitor Maximino Correia e que omestre do circo não podia deixarde ser Salazar, devido ao compor-tamento que assumia com quemdeixava de o servir. O artigo foivisado pela censura, e ainda as-sim o Governo aplicou ao Diáriode Coimbra uma pena de sus-pensão de publicação de 20 dias,exigindo também a substituiçãodo director.

Os directores indicados foramsendo recusados como mostraesta carta escrita pelo fundadordo jornal, Adriano Viegas da

Cunha Lucas, ao seu filho, Adria-no Lucas: "Continua a persegui-ção, tôrpe e injusta contra o Diá-rio de Coimbra. Da Censuraderam ordem para o Francisco

Pimentel (indigitado para direc-tor) e o Soares (para editor) apre-sentarem os documentos. E opresidente da Comissão daqui,acrescentava, saber, que seriam

aprovados. O jornal já deveria terreaparecido - e estava isso assen-te - no princípio desta semana.Afinal, telefonaram-me ontemdizendo-me que de Lisboa vieraum novo ofício da Censurainformando que o FranciscoPimentel havia sido rejeitado!Não há direito! Isto já passa deenxovalho e de garotice! Sinto--me revoltado. E vejo-me desa-companhado de quem se pode-ria opôr. Estou a ver que isto jánão poderá acabar em bem". Eacrescentava: "Peço-te que pro-cures o J. P., em Lisboa, para quete informe, de uma vez parasempre, se há a intenção, lá doalto, de acabar de vez com o Diá-rio de Coimbra, rejeitando, siste-

maticamente, toda e qualquerpessoa da minha escolha. É pre-ferível um desengano leal, a con-tinuar esta fantochada!"

Os directores indicados iamsendo recusados e apenas apósum ano de suspensão efectiva epor diligência pessoal de BissayaBarreto, o Governo autorizou oreinício da publicação do Diáriode Coimbra, terminando assim amais grave penalidade aplicada aum diário português.

A par deste artigo sobre o Maxdo Trapézio Voador, o Diário deCoimbra vinha publicando, nacoluna «A Cidade», diversos tex-tos sobre a falta de água, batata,pão e peixe na região. Artigos quenão interessavam ao regime. l

O ENGENHEIRO ADRIANO LU-CAS é um Amigo. E é um Ho-mem Bom. E, como se isso nãobastasse, gosta da Quinta dasLágrimas como eu (para am-bos esta é a casa dele, honraque muito enobrece a minhaFamília). Para mim, tal basta-ria para o louvar. Homensbons que partilham comigobons gostos não são muitos,infelizmente.

Mas além disso ele muitofez pelo País numa vida reche-

ada, apesar de Portugal tantasvezes ser ingrato para os seusmelhores e mais generosos.

Dizia há dias a propósito deoutro Amigo que os portu-gueses só gostam de elogiar osque morreram. Depois damorte qualquer malandro

recebe um conjunto de panegí-ricos, como se o hipotéticoarrependimento final lavassetodas as ignomínias.

No meu caso prefiro honrar osvivos, até para não ter de hipo-critamente louvar os que morre-ram e não merecem encómios.

Adriano Lucas é um Ho-mem com H grande. Um ver-dadeiro aristocrata, no sentidomais nobre da palavra. Al-guém que tem perante todosnós a constante delicadeza deser modesto e a permanentebondade de ter sentido dehumor.

Infelizmente no nosso tem-po não se estudam nem sevalorizam as vidas exempla-res, as pessoas que se soube-ram libertar da lei da Morte.A crise em que vivemos étambém o resultado dessedesinteresse pela Virtude,que desde a Roma Antiga sa-bemos ser o sustentáculo dasliberdades.

Que este pequeno texto sir-va para lembrar a Virtude,através de homem virtuoso. l

� O Diário de Coimbra iniciou a sua publicaçãoefectiva a 24 de Maio de 1930 sob a Direcção da

empresa proprietária do jornal – denominada“Empresa do Diário de Coimbra” e tendo como

editor José de Sousa Varela. A sua sede eraentão nas Escadas de Quebra Costas, n.º27.

� O primeiro “espécimen” do Diário de Coimbra saiu para a rua no dia 24 de Abrilde 1930. Uma quinta-feira. O Editorial inserido na capa explicava a razão deste

projecto outrora tentado mas nunca conseguido: dotar as Beiras e principalmentea cidade de Coimbra – centro intelectual de primeira grandeza e verdadeiro

coração do país – de um jornal destinado a pugnar pelos interesses da“malfadada região”, em cuja extraordinária importância «os poderes públicos

nunca atentaram como deviam» .

� JOSÉ

MIGUEL

JÚDICE

� Advogado

Homem virtuoso

Em 1945, o Diário de Coimbra sofre a mais gravepenalização imposta a um jornal português

ASSOCIO-ME, com prazer, àhomenagem prestada ao En-genheiro Adriano Lucas.

Embora nos últimos 20anos tenhamos perdido, apouco e pouco, o contacto pes-soal, habituei-me a ver neleum lutador por duas causasem que sempre acreditou enas quais se empenhou, comtenacidade e coragem: a im-portância da implantação de

uma Imprensa regional queabandonasse os cânones anti-gos e enveredasse pelos cami-nhos de um jornalismo maismoderno; e, antes e acima dis-

so, a liberdade de expressãodo pensamento através domeios de comunicação social.

Num caso como noutro,Adriano Lucas conseguiuvencer. Com o Diário deCoimbra, e mais tarde com oDiário de Aveiro, deu o bomexemplo do que era possívelfazer na área dos diários decobertura regional. Na bata-

lha pelo direito a informar e aser informado, esteve semprena primeira fila, tanto atravésda Associação da ImprensaDiária, como no Conselho de

Imprensa, como também naintervenção em várias ins-tâncias, no âmbito da UniãoEuropeia.

Recordar e louvar a actua-ção de Adriano Lucas numsector crucial para a vidademocrática é, por tudo isto,uma iniciativa não apenasjusta, mas também, necessá-ria e oportuna. l

� FRANCISCO

PINTO

BALSEMÃO

� Presidente doGrupo Impresa e Membro daComissão que elaborou a Leida Imprensa

Tenacidade e coragem nas causasda Imprensa Regionale da Liberdade de Expressão

NA BATALHA PELO DIREITOA INFORMARE A SER INFORMADO,ADRIANO LUCAS ESTEVESEMPRE NA PRIMEIRA FILA

ADRIANO LUCASMUITO FEZPELO PAÍSNUMA VIDARECHEADA

A 24 DE ABRIL DE 1930 SAIU O “NÚMERO ZER0” DO DIÁRIO DE COIMBRA O “NÚMERO UM” DO DIÁRIO DE COIMBRA

CHEGOU ÀS BANCAS

Os 80 anos de existência do Diário de Coimbra foram fertéis em momentos que se cruzam com a história da cidade e do país. Vamos, hoje, neste trabalho especial, recordar alguns dos mais marcantes acontecimentos

2 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 3: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1932

«Foi uma situação montadacom algum profissionalis-mo». A afirmação é doProfessor Soares Alves, umdos estudantes queparticipou naquelamanifestação, e para quemo exagero da intervençãopolicial é, no mínimo,estranho. Se a isso se juntaro que se passou com oDiário de Coimbra entende--se que nada aconteceu poracaso nesta noite.«Até andava tudo muitocalmo» pela Academia,recorda Soares Alves, quena altura estava no 5.º anode Matemática. «Osfascistas estão ali a fazeruma peça de teatro». Foi afrase que foi passando elevou à porta do TAGV nãomais de 200 estudantes.Alguém terá tentado forçara entrada e à primeiracarga policial, osestudantes refugiaram-senos Jardins da AAC de

onde lançaram pedras àpolícia que respondeu comtiros para o ar... queficaram marcados nasescadas.Seguiram para uma sala deconvívio onde mais tardechegou o reitor. Ouvidos osestudantes, GouveiaMonteiro decidiu suspendera peça e os estudantesforam para a frente doTAGV ver a sua vitória.Juntaram-se «do lado de láda linha do eléctrico,assistindo à saída de quem

via o teatro e cantando algoparecido com «A pulgasalta, a pulga pica, ora vai--te embora pulga fascista»,recorda Soares Alves.Mas a situação, admite,«foi muito bem cozinha-da». «Sai um indivíduocom ar snob que fica ali aolhar com ar de gozo.Tudo começa a olhar paraele e depois começa adizer adeus. As pessoasdescontrolaram-se,passaram a linha ecorreram para ele. Apolícia responde com umacarga». É então que apolícia atinge o Seiça,mas já numa rua distante(ou na Lourenço AlmeidaAzevedo ou na ruaAlmeida Garret). Ou seja,numa situação perfeita-mente desnecessária.«Não fez sentido. A coisaestava montada»: diz o jáaposentado professoruniversitário.

� O Diário de Coimbra foi, emMaio de 1970, vítima de umaautêntica armadilha pelo Regime.Na sequência de confrontos entreestudantes e polícia, junto ao Tea-tro Académico de Gil Vicente,resultou um ferido grave baleadopela polícia, Fernando Seiça. Po-rém, o presidente da Comissão deCensura de Coimbra (Afonso deJesus Caveiro) telefonou para oDiário de Coimbra e informou oentão chefe da Redacção, Amân-cio Frias, de que o estudante tinhamorrido. A informação era, noentanto, falsa, e logo que o Diáriode Coimbra se apercebeu damentira, numa altura em que ojornal já tinha sido distribuído,afixou diversos placards pelacidade a dar conta da verdade.Alegando que o jornal estava aagir, propositadamente, para per-turbar a ordem pública, a políciaapreendeu todos os exemplaresdas bancas.

Em editorial, no dia seguinte,Adriano Lucas explicou, aos leito-res, como tudo se tinha passadodenunciando, em primeira pági-na, que a notícia foi fornecida porAfonso de Jesus Caveiro. Seguiu--se um inquérito, instaurado porVeiga Simão, que podia ter conse-quências gravíssimas para o jor-nal. «Dada a gravidade da questão,fui falar com o Secretário Nacionalde Informação, dr. César MoreiraBaptista. Disse-lhe o que se tinhapassado. Depois de me ouvir aten-tamente, referiu: Senhor enge-nheiro, se isso se tivesse passadodirectamente consigo, não tinhadúvidas nenhumas da sua versão,mas o que se passou foi entre umfuncionário do seu jornal e umfuncionário do Estado. Temos deaveriguar qual deles falou verdade.Depois de averiguarmos, se vir-mos que a razão está do vosso lado,não tenha dúvidas que publicare-mos um nova Nota Oficiosa a

pedir desculpa e o funcionário doEstado será castigado. Como a ma-téria era extremamente perigosapara o jornal, resolvi ouvir o conse-lho do Dr. Guilherme Pereira daRosa, director do "O Século" e presi-dente do Grémio Nacional da Im-prensa Diária, a cuja direcção eutambém pertencia, como tesourei-ro. Aconselhou-me a pedir umdepoimento escrito a todos osempregados que tinham intervidoou testemunhado o telefonema. Foio que fiz e quando, dois dias de-pois, a Polícia Judiciária procurouaveriguar a origem da notícia falsado falecimento do estudante, depa-rou-se com testemunhos correctose precisos e o caso ficou encerrado.O presidente da Comissão de Cen-sura não foi demitido, mas man-daram-no para outro lugar. A pro-metida Nota Oficiosa do Governo aesclarecer o assunto nunca foi fei-ta. Era assim a Ditadura», contaAdriano Lucas. l

PUDE CONHECER, muito de per-to, Adriano Lucas duranteaqueles meses agitados que seseguiram à posse do primeiroGoverno Provisório e à nomea-ção da Comissão mandatadapara elaborar a Lei de Imprensaque vigoraria praticamente atéà viragem do século.

Essa Comissão conviveu comdois Presidentes da República,

António de Spínola e FranciscoCosta Gomes, dois Primeiros--Ministros, Adelino da PalmaCarlos e Vasco Gonçalves, e vá-rios governantes com o pelouroda Comunicação Social.

Iniciou os seus trabalhos an-tes da crise Palma Carlos,assistiu ao 28 de Setembro eainda experimentou as vicissi-tudes do conturbado arranquede 1975.

Presidida por António SousaFranco, apoiado por Rui Almei-da Mendes, incluiu, entre ouros,Francisco Pinto Balsemão,Pedro Soares e Alberto Ahronsde Carvalho. Num País em ebu-lição - correspondente à con-versão de um golpe de Estadoem revolução - constituiu um

espaço de liberdade, de reflexão,de serenidade pouco vulgar naépoca, num ambiente estranho,meio confuso, meio precário,como era o do Palácio Foz, comsalões dourados e sofás avelu-dados cobertos por panos bran-cos, a fazerem lembrar lençóis.Levando Pedro Soares a dizer,um dia, que lhe fazia recordar oKremlin.

Foi nesse tempo e nesse espa-ço que convivi, meses a fio, comum gentleman, aprumado novestir como no viver, rigoroso,determinado mesmo muitodeterminado, resistente, mas deuma resistência pacífica, argu-mentativa, civilizadíssima.

Representante da imprensadiária, esse grande Senhor nun-

ca deixou de defender o que re-putava essencial para a sobre-vivência e a autonomia dos jor-nais, dos maiores aos maispequenos.

E, ao mesmo tempo, assumiusempre uma postura liberal, deum liberalismo político e eco-nómico tão raro num Portugalque saía de uma ditadura anti-

-liberal para uma indefiniçãodoutrinária, largamente domi-nada por ideias formalmentedemocráticas, mas substan-cialmente dependentes da su-pervisão dos militares de Abrile económica e socialmente an-ti-liberais.

Muitas vezes, dei comigo aadmirar a coragem daquele em-presário, que não era menosquase-jornalista de vocação e

empenho, que parecia vindo doReino Unido, e sonhava comum reformismo que a ditaduraantes e a revolução nascenteentão inviabilizavam, e com umpluralismo democrático e libe-ral que o contexto ameaçavalimitar ou condicionar paraalém do que ele consideravalegítimo.

Acabou a Comissão por che-gar a soluções de compromisso,algumas das quais lhe desagra-davam. E, mais de uma vez, ali-nhámos em pontos importan-tes, ele e Francisco Pinto Balse-mão, em nome das associaçõesdo sector, e eu, pelo PPD.

O que ficaria, contudo, defundamental seria uma amiza-de e uma admiração que eu,jovem de 25 anos, rapidamente

fiquei a nutrir por aqueleD. Quixote da liberdade de im-prensa, do direito à informa-ção, da liberdade real das em-presas jornalísticas, do plura-lismo sem intervenções direc-tas ou indirectas do Estado oudos grandes grupos económi-cos, da imprensa regional e lo-cal, de um País que Lisboa -palco de milhentos aconteci-mentos - amiúde esquecia.

Esse Homem, íntegro no ca-rácter, encantador no trato, cul-to na formação, prático na con-cretização, obstinado nas cau-sas e, inesperadamente, irónicono lidar com factos e pessoas -de uma ironia mais anglo-saxó-nica do que portuguesa - conti-nua felizmente connosco e podeassistir a esta justa celebração. Ea amizade e a admiração de 1975não só permanecem comoaumentaram.

Bem-haja, querido amigo poruma obra, só possível devido àsua ilimitada capacidade desonhar e de realizar! l

� MARCELO

REBELO

DE SOUSA

� ProfessorUniversitário e Membroda Comissão que elaboroua Lei da Imprensa

Um D. Quixote daLiberdade de Imprensa

A armadilha que o Diário de Coimbra ultrapassou

� Se houve causas que se pudessem destacar na vida do Diáriode Coimbra, a saúde e a erradicação da pobreza estariam nos

primeiros lugares. Esta “maneira de estar” de Adriano Lucas foimais uma herança do seu pai. Em 1932, ao largo da Figueira da

Foz, naufragou a traineira “Augusto” que vitimou dezpescadores. A dor e o luto invadiram a cidade e o país.

“Ninguém deixe de acudir àqueles que não têm pão porque a

morte lhes levou os braços que o granjeavam”.“Todos,havemos de concorrer para que a fome seja arredada, por largo

espaço, desses lares”. Nessa edição anunciava-se, para essedia, o “bando precatório”, organizado pelo Diário de Coimbra,

em que grupos de estudantes iriam, “de capas estendidas”,percorrer “toda a cidade, penetrando em todos os bairros” apedir ajuda para a gente do mar. O “bando terminou já noite

cerrada”, conseguindo mais de “oito contos”, congratulava-se ojornal, agradecendo a todas as entidades envolvidas. O Diário

de Coimbra foi depois nomeado presidente da comissão dedistribuição de donativos, e rematava a reportagem do dia da

entrega do dinheiro deste modo: “O Diário de Coimbra valepouco. O pouco que vale põe-no à disposição de tudo quanto

represente benefício para esta linda região da Beira».

ÍNTEGRO NO CARÁCTER, ENCANTADOR NOTRATO, CULTO NA FORMAÇÃO, PRÁTICONA CONCRETIZAÇÃO, OBSTINADO NASCAUSAS E, INESPERADAMENTE, IRÓNICONO LIDAR COM FACTOS E PESSOAS

SOARES ALVES

O DIÁRIO DE COIMBRA MOBILIZOU CIDADÃOS PARA APOIAR OS MAIS DESFAVORECIDOS

Estudante baleado em 1970

321 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 4: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1941 1948

� Com a Revolução de 25Abril de 1974, acabou a Cen-sura e a perseguição políticapromovida pelo regime, masos tempos que se seguiram

foram também muito contur-bados com as tentativas deassalto ao poder por parte dosmovimentos comunistas quetomaram de assalto a maior

parte dos jornais diários etambém tentaram fazer omesmo ao Diário de Coimbra.Em Maio desse ano, o entãochefe de redacção Amâncio

Frias encabeça um movimen-to apoiado por alguns gráficospara tentar sanear e substitu-ir o director do Diário deCoimbra, Álvaro dos SantosMadeira, fazendo passar amensagem que este era fas-cista. Recusam-se a imprimiro jornal enquanto SantosMadeira continuar naqueleposto.

Simultaneamente, nessemesmo dia 12 de Maio, é orga-nizada uma manifestação deextrema esquerda, à porta dojornal, na rua da Sofia. Adria-no Lucas reúne-se com todo opessoal da empresa. Reafirmaque o director não é nem nun-ca foi fascista e propõe a elei-ção de uma comissão compos-ta por Álvaro Corte Real, revi-

sor; José Duarte, tipógrafo;Lino Augusto Vinhal, VítorManuel Alvoeiro Neves eAntónio Alberto dos Santos eSousa, repórteres, «para estu-do, em conjunto com a gerên-cia, de assuntos referentes aotrabalho e ao desenvolvimen-to da empresa e das novaspossibilidades que vieram aser abertas pela abolição da

� A sede do Diário de Coimbra passou para instalações naRua da Sofia, n.º 179. A impressão do jornal era feita folhaa folha, numa máquina plana sem corte de páginas. Cada

folha era impressa e, posteriormente, dobrada,correspondendo a oito páginas do jornal, que tinham de serabertas pelo leitor, a exemplo do que se fazia com os livros

em brochura.

� Encomendadas antes dos EUA entrarem naII Guerra Mundial, a duas Linotype 48 foram

entregues em 1948 no Diário de Coimbra. Vieramfacilitar a composição do jornal, em conjunto com

uma tituleira que fundia os títulos depois decompostas as letras à mão, permitindo títulos novos

todos os dias – o que não era possível anteriormente.

TENHO o privilégio de ter conhe-cido e contactado várias vezescom o Engenheiro AdrianoLucas. E, devo-lhe a visita queprometi ao seu Grupo Editorial eo agradecimento pelas visitasque nos fez aqui no Diário doSul ,em Évora.

Eu só conhecia de nome oEngenheiro Adriano Lucas,quer pela Associação deImprensa Diária (AID), querpelo Diário de Coimbra, ondefoi sucessor de seu pai na direc-ção do privilegiado jornal dacidade do Mondego.

Quando tive ensejo de o ouvirsobre a Comunicação SocialRegional apercebi-me, desdelogo, da sua experiência e dosseus profundos conhecimentosda área da imprensa quer nacio-nal, quer estrangeira.

Quando conheci a regionali-zação do seu grupo em váriascidades do centro do país aperce-bi-me que aquele caminho seriao mais útil para as populações

pela proximidade dos seus diá-rios distritais. Quis imitá-lo masnão fui capaz aqui no Alentejo.

Ao longo dos anos fui tendo aoportunidade de observar adeterminação do Eng.o AdrianoLucas no reforço da qualidadegráfica e de conteúdos dos seusjornais, com referência especialao Diário de Coimbra onde osseus editoriais reflectem os pro-blemas regionais e nacionais.

A sua actividade na AID base-ava-se na sensibilização dospoderes públicos para a valori-zação e prestígio da ImprensaDiária Regional.

Por tudo isto que ao longo davida tem feito pela imprensaportuguesa congratulamo-nos,aqui no Diário do Sul, pelasmerecidas homenagens ao com-panheiro enérgico e prestigiadoque o engenheiro Adriano Lucassimboliza e cuja acção continuaa ser útil para o jornalismo daImprensa Diária Regional.

Bem haja e que tenha longavida. l

� MANUEL M.

PISSARRA

� Director doDiário do Sul

Um profundoconhecedor

Tentativas de assalto ao jornalno período do pós-25 de Abril

A SUA ACÇÃOCONTINUAA SER ÚTILPARA A IMPRENSAREGIONAL

CREIO que vi pela primeira vez oengenheiro Adriano Lucas nadata da posse da comissãonomeada pelo II Governo Cons-titucional, de que ambos fize-mos parte, para elaborar umprojecto de Lei de Imprensa, emAgosto de 1974.

Durante dois meses de fre-quentes reuniões de trabalho,sempre animadas pelo humorirreverente de Marcelo Rebe-lo de Sousa, fui descobrindoum Adriano Lucas diferenteda personalidade aparente-mente austera e fria que apa-rentara à primeira vista.Muitas vezes discordando,outras concordando, depres-sa, no ambiente crescente-mente informal e amigáveldaquela comissão, se foramforjando cumplicidades eamizades que valiam bemmais do que as diferenças deopinião. Percebi também,

naquela época já marcada pordiferentes concepções sobre ofuturo da democracia e dopaís, que Adriano Lucas erafirmemente liberal, profun-damente respeitador dos pon-tos de vista antagónicos e comum britânico fair play.

Quando, em Maio de 1975,entrou em funções o Conselhode Imprensa, aliás gerado pelaLei de Imprensa que ajudara aelaborar, lá estava outra vez oeng. Adriano Lucas, como repre-sentante da Associação daImprensa Diária (AID).

Acompanhei o seu percurso eo seu relevante papel no Conse-lho de Imprensa não apenascomo seu colega - fiz parte doConselho no seu primeiro anode actividade - mas, mais tardecomo estudioso do percursodeste órgão que teria durantedécada e meia um relevantepapel como tribunal moral daimprensa portuguesa.

Para a elaboração deste brevetestemunho, voltei agora a con-sultar o texto do livro que escre-vi em 1985 sobre a primeiradécada de funcionamento doConselho de Imprensa.

Para se ter uma noção da rele-vância do papel de AdrianoLucas, bastará dizer que, no

índice onomástico que elaboreinas páginas finais desse volumede 468 páginas, é ele, entre ascerca de 400 pessoas associadasà actividade daquele conselho,que tem um maior número dereferências - 24.

Creio que Adriano Lucas per-maneceu no Conselho deImprensa até ao final da suaactividade, que coincidiu com acriação da Alta Autoridade paraa Comunicação Social, em 1990.

Não posso recordar o períodoentre 1985 e 1990, que não teste-munhei nem estudei. Mas pos-so e devo aqui relembrar a suaintensa e profícua actividade noperíodo anterior, como membrode várias comissões internas doconselho ou relator de algumasdas suas mais importantes deli-berações. Sempre empenhadona defesa dos valores em queacreditava e fiel ao mandato quetinha como representante dasempresas que editavam publi-cações diárias.

Deixando um retrato dealguém profundamente rigoro-so, que, atrás da sua serena dis-crição, deixava antever umapreciável sentido de humor.

Voltei a encontrá-lo pordiversas vezes no período, entre1995 e 2002, em que ocupei fun-

ções governativas, quer em con-gressos, quer em reuniões, querem outras ocasiões em que àvolta duma mesa de almoço,voltávamos aos temas de sem-pre - a defesa da liberdade deimprensa, o papel da imprensaregional, o reconhecimento dafunção de interesse público queesta presta ao país.

Numa das vezes em quealmoçámos, veio acompanhadodo seu filho Arq. Adriano CalléLucas. Não consigo lembrar-medos temas que debatemos aoalmoço. Recordo-me apenas daveneração, do respeito e do cari-nho que transpareciam emtodos os seus gestos e atitudesdo arquitecto Callé Lucas paracom o seu pai.

Adriano Lucas merece serhomenageado pelo seu inesti-mável contributo para a liberda-de de imprensa e para o fortale-cimento da imprensa regional.Mas o facto de ser essa a recor-dação mais forte desse encontro,talvez mais de dez anos passa-dos, revela bem o que guardo namemória - a de um cidadão quese impõe pela sua verticalidade,pela honradez do seu percurso,pelo respeito e carinho que nu-trem por ele aqueles que melhoro conhecem.l

� ALBERTO

ARONS

DE CARVALHO

� Ex-jornalista,Professor Universitário eMembro da Comissão queelaborou a Lei da Imprensa

Adriano Lucas:coerência e rigor

DIÁRIO DE COIMBRA MUDA-SE PARA A RUA DA SOFIA DUAS LINOTYPE EM TEMPO DE GUERRA

4 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 5: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1950

1975. Naquele ano louco, erapossível escrever que em dia dechuva o sol brilhava, porque averdade não importava, só con-tava o que interessava ao Parti-do. Quem pensava o contrárioera, no mínimo, um burguêsreacionário.

Liberto de uma ditadura, o paísparecia, nos meses que se sucede-ram, à beira de cair noutra. Maltivéramos tempo de festejar aLiberdade e já os recém-revolu-cionários nos perseguiam comdenúncias, saneamentos, grevesinjustificadas que conduziram àruína muitas empresas Nacomunicação social, a instabili-dade laboral, aliada aos conflitosideológicos , foi fatal.

A manipulação da informa-ção, confundida com a propagan-da conduziram ao descrédito daspublicações : algumas chegarama ser queimadas pelos leitorestradicionais. A crise económica efinanceira, a perda da publicida-de , criaram situações insustentá-veis que conduziram ao encerra-

mento de empresas jornalísticase ao desemprego de muitos pro-fissionais.

A Lei de Imprensa, aprovadadepois de muita discussão eperipécias, foi finalmente publi-cada em 26 de Fevereiro e defen-dia que " A liberdade de expres-são do pensamento pela Im-prensa, que se integra no direitofundamental dos cidadãos auma informação livre e pluralis-ta, é essencial à prática da demo-cracia, à defesa da paz e ao pro-gresso político, social e económi-co do país".

Aos jornalistas garantia odireito de informar, a indepen-dência profissional e a sua parti-cipação na orientação da publi-cação jornalística. Aos cidadãosconsagrava o direito de ser infor-mado. E entre os mecanismosprevistos para defesa dessedireito constava a criação de umConselho de Imprensa , compos-to por intervenientes na produ-ção da informação e ao qual oscidadãos tinham acesso directo.

À esquerda vanguardista a Leinão agradou, sendo consideradadesadequada ao processo revo-lucionário em curso.

Pois não tinha o próprio Sin-dicato dos Jornalistas aprovadonuma Assembleia Geral reali-zado em 8 de Outubro, a quan-do da discussão pública do pro-jecto de Lei, que " considerando

os interesses do povo portu-guês e dos povos do mundointeiro(…) os jornais devem-sedefinir como órgãos de comba-te anti-fascista, anti-colonialis-ta e anti-imperialista, colocan-do-se assim intransigentemen-te ao serviço dos interesses edas lutas dos trabalhadores ,operários, camponeses, massaspopulares e explorados " ?

Afim de "limitar o poder docapital sobre a imprensa bur-guesa , considerava-se que " aorientação, superintendência edeterminação do conteúdo dojornal, nomeadamente atravésde poderes mais consequentesdo Conselho de Redacção e doPlenário de empresa, em especialno que se refere à eleição dodirector e da chefia da redacção ".

O ambiente geral não erapropício ao funcionamento doConselho de Imprensa, inspira-do em organismos similareseuropeus , baseados em princí-pios aceites em democraciasestabilizadas. Não obstante , a 7de Maio de 1975 o Conselho deImprensa reuniu , pela primeiravez, na sala dos Espelhos doPalácio Foz onde funcionava aSecretaria de Estado da Comu-nicação Social, sob a presidênciado Juiz Conselheiro HenriqueRamalho Ortigão. O vice-presi-dente era o dr. Francisco Balse-mão, administrador e directordo "Expresso" que tambémrepresentava as empresas jor-nalísticas. O outro representan-te das empresas jornalísticasera o engº Adriano Mário daCunha Lucas, como adminis-

trador e director do "Diário deCoimbra". Os restantes elemen-tos do Conselho incluíam seisjornalistas, eleitos directamentepela classe, dois directores depublicações diárias e não diá-rias e quatro representantescooptados da opinião pública.Foram eles : Prof. Andrade e Sil-va , catedrático da Faculdade deCiências de Lisboa, dr. Henri-que Santa Clara Gomes , advo-gado, dr. Carlos Eurico da Cos-ta, director de Publicidade e dra.Luisa Dacosta , escritora.

Na qualidade de membroscooptados, para representar aopinião pública, vieram a inte-grar o Conselho de Imprensa,entre outros, Vitorino Nemé-sio, Sophia de Mello Breyner,Natália Correia, Ana LuisaJaneira , Augusto Abelaira. Foino Conselho de Imprensaonde cumpri dois mandatos ,em representação dos jornalis-tas, que conheci o eng.ºAdria-no Lucas e com ele tive o prazerde trabalhar. Apesar das nos-sas diferenças, creio que sem-pre votámos juntos.

Recordo-o como um homemgentil e calmo, que chegava pon-tualmente às reuniões, impecá-vel no seu" blazer" azul escuro,bem engravatado, como se a agi-tação dos tempos não perturbas-se a sua ordem interior. Tinhaideias firmes que defendia comvigor mas serenamente. Nuncase exaltava.

E essas ideias eram as de umhomem algo conservador masliberal, podia ser a de um inglês ,um português republicano, um

"patrão de Imprensa", responsá-vel há longos anos por um jor-nal de que era proprietário e deque se orgulhava e com iniciati-va bastante para fundar aindamais três jornais : os Diários deAveiro, Leiria e Viseu. Em Por-tugal, é raro.

Defensor intransigente daImprensa Regional, considerou--a sempre um suporte indispen-sável da Democracia, pelo quenão deveria ser sobrecarregadacom medidas que afectassem asua viabilidade.

Os tempos em que convive-mos no Conselho de Imprensa -ele ficou lá até ao fim - foram difí-ceis. O primeiro caso que oConselho teve de apreciar foi ochamado "caso República "emque o C.I.,após ouvir todas aspartes, concluiu ter havidoviolação da Lei de Imprensa"ao serem destituídos pelaComissão Coordenadora deTrabalhadores o Director eDirector-adjunto do "Repúbli-ca"(…) visto que aqueles sãodesignados pela empresa pro-prietária com voto favoráveldo Conselho de Redacção " e"ao ser destituída a Chefia deredacção pela mesma Comis-são de Trabalhadores ("…) vis-to ser "da competência doDirector a designação do Che-fe de Redacção". Mais tarde, oConselho viria a congratular- -se com a atribuição do Prémio"Pena de Ouro " ao director do"República", dr. Raul Rego , oque na altura representou umacto de coragem.

O Conselho de Imprensa viria

ainda a considerar "ilegal e ilegí-timo "o despedimento dos vinte equatro jornalistas do "Diário deNotícias", sendo director JoséSaramago, declarando este des-pedimento como "atentatório daliberdade de expressa do pensa-mento, salvaguardado pela Leide Imprensa".

São dois casos que aponto, atítulo de exemplo, mas a acção doConselho de Imprensa foi muitomais vasta, pois , além de anali-sar as queixas - e eram muitas -que lhe eram endereçadas, com-petia-lhe dar parecer sobre todasas medidas tomadas pelos Go-vernos relativamente à comuni-cação social, desde os preços dopapel, ao controle das tiragens,aos subsídios aos envios depublicações, às medidas de rees-truturação de Imprensa, etc.

O eng.ºAdriano Lucas foiincansável em todo o tempo queao Conselho prestou o seu valio-so contributo, alicerçado numalonga e rica experiência. E emtodas as suas decisões prevale-ceu sempre uma preocupação: adefesa da liberdade de expressãoe da liberdade de Imprensa.

Facto que não posso deixar deassinalar: os membros do Con-selho de Imprensa trabalharamgratuitamente. Talvez por isso,em 1990 o Conselho foi extinto.Novas entidades foram criadas,compostas por elementos esco-lhidos pelo Poder político e,naturalmente, remuneradas.Mas nenhuma outra estevemais perto e foi mais conhece-dora da realidade que lhe com-petia observar. l

� MARIA

ANTÓNIA

PALLA

� Jornalista,Ex-Membro doConselho de Imprensa

Um homem de ideias firmes

censura, o que vai permitir aoDiário de Coimbra tomar odesenvolvimento que até ago-ra lhe tinha sido impedidopelos condicionalismos soci-ais e políticos do anterior regi-me». Mesmo assim, a recusade impressão mantém-se epara tentar terminar com oimpasse Adriano Lucas solici-ta uma audiência ao coronel

Rafael Durão, recém nomeadocomandante da Região Militarde Coimbra pela Junta de Sal-vação Nacional e pelo Movi-mento das Forças Armadas.

A comissão, Adriano Lucase o seu filho Adriano CalléLucas são recebidos, às 3 horasda madrugada, e Rafael Durão,em pijama e roupão, depois deouvir o que se estava a passar,

foi claro, dizendo que impedira publicação do Diário deCoimbra iria contra o espíritodo 25 de Abril. «Os senhoresvão lá imprimir o Diário deCoimbra, porque se não o fize-rem eu vou lá com a tropa»,afirmou. Salvou, nesse dia, oDiário de Coimbra (o chefe deredacção demitiu-se de pronto)de ser tomado por comunistas

e oportunistas como aconteceucom muitos jornais daquelaépoca e que acabaram porfechar, como sucedeu com oSéculo.

No ano seguinte, aprovei-tando uma altura em queAdriano Lucas estava no es-trangeiro, um grupo de jor-nalistas apoderou-se abusi-vamente da redacção e incluiu,

no Diário de Coimbra,umcomunicado de índole comu-nista, repudiando a eventualimpressão, na gráfica doDiário de Coimbra, do “Jornaldo Caso República”, que co-meçou a ser publicado depoisdo “República”, afecto aoPartido Socialista, ter sidotomado de assalto peloscomunistas. Por indicação do

seu pai, Adriano Callé Lucaschamou a redacção e disseaos jornalistas que estaatitude era intolerável e quemuitos assinantes iam come-çar a devolver os jornais. Oque de facto sucedeu. O jor-nalista que liderou o grupofoi demitido e o jornal reto-mou a sua orientação inde-pendente. l

� Faleceu no dia 17 de Dezembro de 1950 Adriano Viegas daCunha Lucas, fundador do Diário de Coimbra. Nasceu em

Coimbra a 16 de Junho de 1883, liderou o Diário de Coimbradurante 20 anos, desde a sua fundação, em 24 de Maio de

1930, até falecer, tendo-lhe imprimido a orientação editorialque ainda hoje o rege, como jornal republicano independente,defensor de Coimbra e das Beiras.Foi um republicano liberal,

convicto e empenhado, tendo participado na proclamaçãoda República em Coimbra, em 6 de Outubro de 1910. Fez

parte da primeira Comissão Administrativa do Município deCoimbra aclamada pelo povo, que foi presidida por Sidónio Pais

e integrou várias vereações municipais durante a primeiraRepública. Foi um empresário muito activo, participando na

fundação de várias empresas, como foi o caso da Auto-

-Industrial e das Fábricas Triunfo, entre outras.Manteve o jornal independente de todas as pressõesexternas para que este, como referia, não falseasse

nunca a sua missão. Um dos seus lemas, como recordou oDiário de Coimbra na notícia em que é anunciado o falecimentodo seu fundador, era: “caminhar em frente, sempre num ritmoacelerado, em defesa dos interesses da cidade e das Beiras”.

EM 1950 FALECEU O FUNDADOR DO DIÁRIO DE COIMBRA

521 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 6: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1966

NASCI no ano em que o Diáriode Coimbra começou a publi-car-se. Já enquanto estudantelia frequentemente o jornal equando iniciei a minha acti-vidade profissional o Diáriode Coimbra passou a ser deleitura obrigatória. Tornei-memesmo assinante e assimcontinuo.

Desde há 60 anos que o Diá-rio de Coimbra tem a dirigi-lo oEng.º Adriano Lucas, que ga-rantiu a sobrevivência do jornale a sua independência e fez deleum diário de referência, aliás omais antigo diário português amanter-se na titularidade dafamília do fundador.

Adriano Lucas, decano dosdirigentes de imprensa em Por-tugal, fundou outros jornais eempresas e teve um papel degrande destaque, no nosso País enão só, na defesa intransigenteda liberdade de imprensa. Parti-cipou, designadamente, nacomissão que elaborou o projec-to da Lei da Imprensa de 1975 efoi membro do Conselho deImprensa.

Devemos-lhe também inú-meras acções em prol da valori-zação de Coimbra e da sua Regi-ão. A Universidade esteve entreesses objectivos. Eu próprio,durante os mandatos que exercicomo reitor, mantive com ele ecom o Diário de Coimbra fre-quentes, frutuosas e cordiaisrelações.

É, pois, de toda a justiçaexpressar a Adriano Lucas, nestaedição especial do Diário deCoimbra e dos outros três jornaisdiários que fundou, a minha vivae grata homenagem. l

� RUI DE

ALARCÃO

� Professor eantigo Reitor da Universidade de Coimbra

Um diáriode referência

O DIÁRIO DE COIMBRA, jornalassumidamente regionalista,republicano e independente, temdesempenhado um inestimável emeritório papel na promoção deCoimbra e sua Região.

Constitui, de facto, um patri-mónio valioso da Cidade deCoimbra que merece ser reco-nhecido por todos os que se inte-ressam e empenham no progres-so desta comunidade de vizinhosque nele tem tido, quase ininter-ruptamente, ao longo dos seus 80anos de existência, a palavra, avoz e informação, indispensáveisà manutenção de laços de autênti-ca familiaridade entre os Conim-bricenses e, não raras vezes, o

único veículo de comunicação damensagem das suas aspirações, aque a imprensa dita “nacional”dificilmente é sensível.

E o Diário de Coimbra temcumprido esse desígnio comdeterminação, com isenção e semtibiezas, corajosa e duradoura-mente. Recorde-se que, no tempoda ditadura, foi punido com umasemana de suspensão por terpublicado um artigo assinado porBissaya Barreto, em que este criti-cava a postura de alguns seuspares da Universidade paraquem era “mais fácil destruir queconstruir” e concluía tratando-osde “tartufos…”.

Na sua função de órgão decomunicação social, acolhia nou-tros tempos, como acolhe hoje, ascausas de Coimbra promovendoo prestígio das suas instituições ea informação das pessoas.

Para o pleno desempenho des-ta missão, tem sido determinanteo modo de ser e de agir do seuDirector desde há 60 anos, lide-

rando meticulosamente a empre-sa e uma Redacção onde, em fun-ções diversas e, por vezes, em cir-cunstâncias adversas, tive o pri-vilégio de me relacionar com pro-fissionais prestáveis e, especial-mente, jornalistas notáveis quefizeram escola na comunicaçãosocial portuguesa.

Efectivamente o Eng.º Adria-no Lucas, pela sua capacidade decontinuar o legado recebido deseu pai, pela sua personalidade,pelo seu carácter, pela sua verti-calidade e pela sua competênciaempreendedora, é um referenci-al de dedicação às causas deCoimbra. Apesar da sua aparen-te secura intransigente, nas suasobras é marcante o apaixonadoafinco batalhador na defesarigorosa dos valores da sua cida-de e na promoção do seu desen-volvimento.

Mesmo quando, por razões desaúde, se viu obrigado a passaralgum tempo no estrangeiro, assuas preocupações com as ques-

tões da vida da Cidade levavam--no a procurar saber o que por cáacontecia, telefonando e indagan-do para conhecer como poderiapartilhar com a edilidade a cons-trução de soluções para os proble-mas de Coimbra e a reafirmar--nos, com especial gentileza, isen-ção e espírito crítico acutilante, asua disponibilidade desinteressa-da para combater e terçar armaspelas razões colectivas e pela afir-mação de Coimbra no contextoregional e nacional.

Em certas situações, a ajuda doDiário de Coimbra foi, é e conti-nuará a ser decisiva para a criaçãodas melhores soluções para osproblemas da sua e nossa Cidade,e já deu frutos.

Como cidadão de Coimbra epor tudo isto, que sendo muitonão é tudo, obrigado SenhorEng.º Adriano Lucas pelo seulabor. Que para si, para o Diáriode Coimbra e para os seus leito-res, este ano que agora começaseja feliz e próspero.l

� MANUEL

MACHADO

� Ex-presidenteda Câmarade Coimbra

Batalhador na defesa rigorosados valores da sua cidade

�A 7 de Julho de 1974 foi publicadaa primeira edição do “Domingo -O Jornal do Dia” por iniciativa deAdriano Lucas e com a direcção doseu filho Adriano Callé Lucas. “ODomingo” surgiu devido ao factode, em Junho, os ardinas de Lisboae Porto terem resolvido não ven-der jornais ao domingo, impe-dindo que os jornais diários sepublicassem nesse dia. Os ardinaseram acompanhados, nesta suarecusa, pelos gráficos desses jor-nais que assim passavam a termais um dia de folga.

O Diário de Coimbra, na certezade que não conseguiria sobrevivercom despesas de sete dias e recei-tas de seis, transformou a sua edi-ção dominical no semanário“Domingo - O Jornal do Dia” que,com distribuição e venda autóno-mas em cafés e pastelarias, foi,durante quase um ano, o únicojornal que se publicou ao domingoem Portugal.

Volvido este tempo, por deci-são do sindicato dos gráficos,afecto à CGTP, funcionários datipografia do Diário de Coimbra

recusaram fazer a impressão do“Domingo”, que, em resultadodesta circunstância, passou a serimpresso no “Jornal do Comér-cio”, em Lisboa. Após a impres-são de alguns números no “Jor-nal do Comércio”, o mesmosindicato opôs-se, novamente,à impressão do jornal, destafeita naquela gráfica, tendosido, então, o “Domingo” im-presso na União Gráfica, do jor-nal católico “Novidades” e poste-riormente na “Congráfica”. Estespercalços não impediram, noentanto, o “Domingo” de assumirum papel preponderante nopanorama da Imprensa da épocae, mesmo, de ser o veículo privile-giado e, até, único de notíciasque haveriam de determinar a

vida de algumas pessoas dado quemuitos acontecimentos importan-tes ocorreram aos sábados, como o28 de Setembro. O dia seguinte,domingo, 29 de Setembro de 1974,imediatamente depois da mani-festação da Maioria Silenciosa,que tinha por alvo o apoio ao Pre-sidente da República António de

Spínola, terá sido um dos maisdecisivos na vida de váriaspessoas. O “Domingo” publi-

cou uma lista de 150 pessoasque, alegadamente, teriam sido

detidas por terem participadonaquela manifestação. Esta notí-cia, publicada de acordo com asinformações que chegaram aojornal, referia alguns nomes, peloque as pessoas que figuravam nalista, e não tinham sido detidas,tiveram oportunidade de fugirou, pelo contrário, de se entregaràs autoridades. Ao mesmo tempoque noticiava as alegadas deten-ções de inúmeras pessoas, o“Domingo” informava que «emtodas as vias de acesso a Lisboa,grupos de populares e indivíduosafectos ao PCP, PS, MDP/CDE e

MRPP levantaram, ao final datarde de sexta-feira e durante odia de ontem barricadas com ofim de controlar veículos e pesso-as ». Aliás, a publicação desta edi-ção do “Domingo” assumiu parti-cular importância, porque navéspera não se tinha publicadoqualquer jornal diário, por deter-minação do governo. O país viviahoras de expectativa que a faltade jornais diários aumentou, peloque o “Domingo” se transformounum jornal importante, prestan-do um grande serviço ao públicoe à Liberdade de Imprensa. Mui-tos acontecimentos relevantes,aliás, registavam-se ao sábadopara tentar evitar a sua divulga-ção imediata. Uma estratégia queeste jornal permitiu contrariar. l

Domingo O Jornal do Dia

� Em 1966, o Diário de Coimbracompra a primeira máquina rotativa

Koenig & Bauer, com esteriotipia, aosfrades alemães instalados em Gouveia.

Os frades trouxeram a rotativa paraefeitos de evangelização, mas

concluíram que não lhes servia dado o

baixo nível de leitura na região. Para instalar amáquina rotativa nas instalações do Diário deCoimbra foi necessário construir um anexo no

jardim do prédio da Rua da Sofia. A 1 de Janeiro de1967, o Diário de Coimbra passou a ser impresso

nessa nova máquina rotativa cilíndrica mantendo oformato mas com novo cabeçalho.

A PRIMEIRA ROTATIVA

6 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 7: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1974

� «Coimbra, pois, não comofractura mas como continuida-de na luta pela democracia, pelaliberdade, pela paz que é o socia-lismo» - foi assim que Artur Por-tela Filho, em editorial, justificouo facto do “Jornal Novo” estar aser impresso na tipografia doDiário de Coimbra em plenoNovembro de 1975. O “Jornal

Novo” foi fundado no primei-ro semestre de 1975 por ArturPortela Filho (seu primeirodirector) com o objectivo dedar maior solidez à democra-cia portuguesa e de apoiar aafirmação da liberdade deImprensa. Propriedade daNovimprensa, o “Jornal No-vo” tinha como Chefe de Redac-

ção José Sasportes e como edito-res, entre outros, Carlos PintoCoelho, António Mega Ferreira e

Mário Bettencourt Resendes.Nas suas páginas escreve-

ram, nomeadamente,Eduardo Lourenço, José

Augusto França e MarceloRebelo de Sousa.

Em Novembro de 1975, apóstelefonemas de Galiano Pinhei-

ro, director de produção daquelejornal, e de Artur Portela Filho pa-ra Adriano Lucas, o “Jornal Novo”passou a ser impresso na tipogra-fia do Diário de Coimbra devido àproibição de publicação dos jor-nais diários em Lisboa. Com aaparência de Edição Especial, foio único jornal diário que conse-guiu circular em todo o país. Poroutro lado, o Diário de Coimbra,

ao imprimir o “Jornal Novo” nasua tipografia, evidenciou nãoter qualquer receio de eventuaisrepresálias do Conselho daRevolução que determinara aproibição da publicação dos jor-nais em Lisboa. Além do “JornalNovo”, durante os denominados‘dias quentes’ de Novembro de1975, a gráfica do Diário de Coim-bra imprimiu também a “LutaPopular”, jornal do MRPP cujapublicação foi impedida em Lis-boa por decisão dos sindicatosdos gráficos afectos ao PCP. Narealidade, ao proporcionar aimpressão de jornais que, deoutra forma, não conseguiriamchegar aos leitores, o Diário deCoimbra ajudou a colocar nasbancas a informação livre e a con-solidar a liberdade de Imprensa. l

Liberdade de Imprensasempre

A CONJUGAÇÃO destes dois perí-odos de tempo oferece um parti-cular significado: oitenta anos deexistência do Diário de Coim-bra, sessenta anos de Direcçãode Adriano Lucas.

Estamos a falar dos resulta-dos de um trabalho realizadocom profunda dedicação eentrega, de uma vitória sobre ascircunstâncias e o tempo, de umprojecto sem fraquezas.

É certo que Adriano Lucasassumiu responsabilidadesmais gerais, que é participe deci-sivo na elaboração da lei daliberdade de imprensa, quegarantiu para um universo

maior os direitos que o guiarama si próprio e aos quais semprequis ser fiel.

É certo, ainda, que recolheu dasua experiência no mundoempresarial a força e a represen-tatividade que lhe permitiramser, em cada momento, opiniãoautorizada e imprescindível.

Mas a verdade também é quenão precisava, para se afirmar,de estar constantemente prontopara todas as lutas que entendeuessenciais para o seu territóriode eleição.

Seja a região centro e as suasmúltiplas sensibilidades e pro-blemas, seja este caso complexoque Coimbra demonstra ser,tantas vezes desfeiteado pelaacção do governo central.

Adriano Lucas e o Diário deCoimbra foram as vozespúblicas indomáveis, foramagentes mobilizadores, forama denúncia e o grito de revolta,foram o corpo da insatisfaçãogeneralizada.

Dos casos mais antigos, aosactuais temas. Recordo-me detantos na minha já longa exis-tência.

Mas vejo muito próximosdos meus olhos a luta contra aco-incineração, a luta pelo eléc-trico rápido de superfície, a lutapelo Hospital Pediátrico, a lutaa favor da recuperação da voca-ção empresarial de Coimbra, areafirmação do valor da nossaUniversidade.

Ou, de um modo geral, oexpressar da insatisfação clarapela falta de consideração porCoimbra.

Adriano Lucas tem sido a vozda nossa voz.

Obrigado, Eng.o AdrianoLucas. l

� CARLOSENCARNAÇÃO� Ex-presidenteda Câmarade Coimbra

Adriano Lucas tem sido a voz da nossa voz

DESDE os primeiros momen-tos da minha chegada aCoimbra, há precisamente 50anos, o Diário de Coimbra foio meu jornal quase diário.Ele estava em toda a parte,mas, para mim, estava prin-cipalmente nos cafés ondemuitas vezes passava horasseguidas a estudar. Já nessaaltura, o nome do SenhorEngenheiro Adriano Lucasme era familiar.

Os anos foram passando eo hábito de ler o Diário deCoimbra instalou-se. À parteos três anos e quase três mesesde serviço militar em que esti-

ve na região de Lisboa e mes-mo na própria capital, sem-pre tive interesse em ler asnotícias que publicava emrelação com a Universidadeou aquelas que se debruça-vam sobre questões impor-tantes para as minhas preo-cupações de cariz geográfico,fossem elas sobre ambiente,demografia ou economia.

O cunho regionalista que oSenhor Engenheiro imprimiuao seu Diário estimulou muitoa minha curiosidade, mas aindependência que sempreprocurou seguir tornou-meseu admirador.

Por isso, a partir de certomomento, que já nem sei loca-lizar com precisão, tornei-meassinante do Diário de Coim-bra para logo de manhã mepoder actualizar com as notí-cias da Universidade, da cida-de e da região. Não tenhoacompanhado da mesmamaneira o percurso dos Diá-

rios que entretanto fez nascernoutras capitais de distrito,mas, por vezes, acontece ternecessidade de os procurarpara ler peças que me interes-sam em especial na área doambiente.

Ora, é exactamente nestaárea que venho apreciando ocuidado, o equilíbrio, a inteli-gência com que o Diário deCoimbra, sob a sua Direcção,apresenta os temas mais com-plexos e que, por o serem, nãopodem transformar-se emnotícias sensacionalistas.

Parabéns Senhor Enge-nheiro Adriano Lucas - 60anos à frente de um jornaldiário é acontecimento gran-de e não só no nosso país. l

� FERNANDOREBELO� Professor eantigo Reitorda Universidade de Coimbra

Cuidado, equilíbrioe inteligência

FORAM AS VOZESPÚBLICASINDOMÁVEIS,FORAM AGENTESMOBILIZADORES

60 ANOS À FRENTEDE UM DIÁRIO É ACONTECIMENTOGRANDE E NÃOSÓ NO NOSSO PAÍS

� “Voltamos ao assunto do comboio da Lousã e do evitávelacidente da passagem de nível da Arregaça, no dia 24 de Janeiro,

em que foram trucidados quatro jovens desportistas, queregressavam do campo de futebol do União a suas casas,

conforme o Diário de Coimbra largamente noticiou”. A introduçãodo texto, a 1 de Fevereiro de 1974, fazia a “ponte” para a

apresentação de um abaixo-assinado sobre a linha de caminho-

-de-ferro, um problema que afligia a cidade. “Perguntámos hádias: quantas vidas já foram perdidas ? Quem são os culpados?”

Além da Arregaça, os acidentes e os problemas no trânsitoregistavam-se também no Largo da Portagem. Ganhando balanço

na exposição, o jornal assumia que os inconvenientes que ocaminho-deferro da Lousã impunha à cidade de Coimbra são

incomportáveis, são intoleráveis. Coimbra exige a sua substituição

imediata”. O abaixo-assinado acabaria por recolher 15 milassinaturas e seria entregue pelo director do jornal, Adriano

Lucas, ao presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano.Em Maio de 1976, o Diário de Coimbra faz uma exposição sobreeste assunto a Mário Soares, então primeiro-ministro. Em Julhode 1976, contra a vontade da Câmara de Coimbra, a CP decide

que o término da linha da Lousã seria junto ao parque da cidade.

ABAIXO ASSINADO PARA IMPEDIR QUE O COMBOIO ATRAVESSASSE A CIDADE DE COMBRA

721 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 8: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

� Jorge Loureiro

� Antigo Director-Adjunto do Diário

de Coimbra e Director Técnicoda FIG

� Porventura provocado oureforçado pela sua formação téc-nica, licenciatura em Engenha-ria Electrotécnica pelo InstitutoSuperior Técnico, o EngenheiroAdriano Lucas está sempremuito atento ao desenvolvi-mento das novas tecnologias. A

sua visão, olhando sempre maisalém, antecipando o futuro, fezcom que o Diário de Coimbrafosse um dos primeiros jornais,em Portugal e no Mundo, ainformatizar-se.

A informatização do Diário deCoimbra iniciou-se no ano de

1986 e foi feita de uma formamuito rápida pois todos os pro-fissionais envolvidos abraça-ram, pela compreensão da eficá-cia e facilidades permitida peloscomputadores, o projecto dereconversão. As máquinas deescrever foram substituídas,dum dia para o outro, pelos com-putadores portáteis Tandy 102.

Estes equipamentos, trazidospara Portugal pela mão do Enge-nheiro Adriano Lucas que, ime-diatamente, viu neles a ferra-menta apropriada para os jor-nalistas, tinham a dimensão de

uma folha A4 e pesavam uns500 gramas. Tinham o teclado, omonitor de cristais líquidos eum “modem” incorporados,porta paralela para impressora evários programas residentes emmemória: um processador detextos, um programa de comu-nicações, uma folha de cálculo eum programa de agenda. Tinhauma capacidade de armazena-mento que permitia guardar lar-gas dezenas de textos emmemória.

Este computador portátil tor-nou-se o companheiro dos jor-

CONHEÇO o Eng. Adriano Lucasdesde que me conheço a mimpróprio. A circunstância de meuPai, o jornalista José Castilho, tersido Chefe da Redacção do "Diá-rio de Coimbra" durante muitosanos e até à sua morte (em 1969),levou a que eu criasse com estejornal uma relação muito íntima,desde que nasci (já lá vão 61 anos).

A minha admiração pelo Eng.Adriano Lucas começou, aliás,por via indirecta, pelos comen-tários elogiosos que dele fuiouvindo a meu Pai. E essa admi-ração viria a reforçar-se quandoeu próprio comecei a trabalharno "Diário de Coimbra", em tem-po parcial, tinha apenas 16 anose meu Pai entendeu que me fariabem um tirocínio como Revisorde provas em período de fériasescolares, antes de me permitir oacesso à Redacção.

Sempre encarei o Eng. Adria-no Lucas como um "gentleman",na forma de ser e de estar.

Antes do 25 de Abril nuncapactuou com a Ditadura e defen-deu sempre os que, como meuPai e vários outros, a ela tenta-vam opor-se através da escrita,procurando furar as apertadasmalhas da Censura (o que levou,aliás, a que a publicação do "Diá-rio de Coimbra" tivesse sido pro-ibida pelo regime salazaristadurante largos meses, como cas-tigo por opiniões anti-regimeque ousou divulgar).

Nunca o ouvi levantar a voz,mesmo nos momentos mais con-turbados - como os que se segui-ram ao 25 de Abril de 1974, em queele, dando mostras de invulgarcoragem e determinação, fez fren-te a tentativas de controlo do jor-nal vindas de diversos sectorespolíticos, militares e sindicais (edo interior do próprio jornal,onde chegou a ser auto-constituí-da uma daquelas "comissões degestão" ad hoc, que deve ter sido,graças à sua imediata interven-ção, uma das que teve existênciamais efémera - não durou maisque escassas horas).

Honrando a memória e o lega-do de seu Pai, Adriano Viegas daCunha Lucas, sempre pugnoupara que o "Diário de Coimbra"se mantivesse como um jornalrepublicano, no mais puro senti-do do termo: o de defensor dacoisa pública, dos interesses edas necessidades dos cidadãos.Do mesmo modo que manteve,orgulhosamente, uma pioneiravisão estratégica, assumindo-se,no cabeçalho, até hoje, como"Órgão Regionalista das Beiras".

Aliás, o pioneirismo e a ousa-dia de antecipar o futuro, sãooutras das características doEng. Adriano Lucas.

Recordo a sua satisfaçãoquando (era eu ainda miúdo) foiinstalada a primeira rotativapara impressão do jornal, numpavilhão para o efeito construí-do no jardim das instalações daRua da Sofia.

Do mesmo modo que lembroque foi graças a ele que o "Diáriode Coimbra" foi um dos jornaisdo País que mais cedo adoptouas novas tecnologias, com aintrodução da primeira geraçãode computadores.

Defensor intransigente da

liberdade de Imprensa, o Eng.Adriano Lucas teve outros ges-tos marcantes na História daComunicação Social no nossoPaís. Entre esses o de criar umsemanário, intitulado "Domin-go", quando os jornais nacionaisdeixaram de se publicar nessedia da semana, por recusa dosardinas em vendê-los. O"Domingo" visava, sobretudo, opúblico de Lisboa, privado dosoutros jornais, mas era distribu-ído nas principais cidades doPaís, através de postos de vendacriados para o efeito, sobretudocafés e tabacarias. Foi um êxitoenquanto os jornais nacionaisnão retomaram a publicação. Eum projecto que me é particu-larmente querido, uma vez quedurante muito tempo o coorde-nei, indo todos os sábados a Lis-boa para fechar a edição, que eraimpressa na Congráfica.

Outro gesto eloquente foi o deter disponibilizado as instala-ções do "Diário de Coimbra"para a edição do "Jornal Novo",dirigido por Artur Portela Filho,quando este foi boicotado emLisboa.

Do mesmo modo que foi um

dos mentores da criação de umaAgência de Notícias privada, aNP - Notícias de Portugal, quetinha como accionistas diversosjornais de todo o País, e que visa-va opor-se a um certo monolitis-mo e controlo informativo daagência noticiosa pública, entãodesignada por ANI (mais tardeviriam a fundir-se ambas naANOP, hoje LUSA).

A intuição do Eng. AdrianoLucas para a comunicação socialfoi sempre apurada e comple-mentada através de uma per-manente actualização, partici-pando e levando os seus colabo-radores a participar em con-gressos internacionais, tal comoem feiras de equipamentos grá-ficos que se iam realizando nospaíses mais evoluídos.

E os seus conhecimentosmuito beneficiaram as institui-ções de que foi dirigente, como aAssociação da Imprensa Diária(a que presidiu durante muitosanos) e o Conselho de Imprensa(onde foi um dos mentores dacampanha "Ler Jornais é SaberMais", que percorreu as escolasde todo o País, com palestras porjornalistas a sensibilizar profes-

sores e alunos para a leitura dejornais).

Consciente da evolução dacomunicação social, o Eng. Adri-ano Lucas promoveu candida-turas a rádios locais e participouna génese do primeiro canal pri-vado de televisão, a SIC.

Quero ainda salientar umaoutra característica do Eng.Adriano Lucas, no que concerneaos conteúdos dos jornais. Sem-pre foi apologista de que aImpensa deve ter uma relaçãode proximidade com os seus lei-tores, deve defender os seusdireitos, denunciando o que estámal, lutando pelas causas justas.Coerentemente, a secção dosseus jornais que, desde sempre,mais carinho lhe merece, é a quese designa por "Fala o Leitor".

Sempre o ouvi sustentar, paraincómodo de muitos "especialis-tas encartados", que "quem maissabe de jornais são os leitores".

Hoje com um distanciamentoque torna insuspeita a minhaopinião, aqui deixo registada adiscordância: acho que quemmais sabe de jornais, provavel-mente ainda hoje, é o Eng. Adri-ano Lucas! l

� JORGECASTILHO� Jornalista eantigo director--adjunto do Diário de Coimbra

A minha admiração por Adriano Lucas

Informatização do Diário de Coimbra

COMPUTADORES mudaram por completo o mo

� Em 1976, na sequência do encerramento do jornal “Século”, Adriano Lucasescreveu um texto que tinha como título: Alegre - O Assassino do Século. Um

título que deu origem a uma multa de 80 contos apesar do então secretário deestado da Comunicação Social, Manuel Alegre, ter declarado não se

considerar ofendido. Gerou-se uma onda de apoio ao jornal por parte dosleitores. Um deles queria pagar a totalidade da multa mas decidiu-se aceitarapenas até mil escudos de cada leitor. Poucos dias depois pediu-se para não

se enviar mais dinheiro e entregou-se o excedente à Casa do Pobres.

� A 3 de Fevereiro de 1977, o Diário de Coimbraabre uma delegação na Figueira da Foz. Doze anos

mais tarde, a 28 de Junho de 1999, o Diário deCoimbra abre uma nova delegação, desta vez em

Cantanhede. O Diário de Aveiro logo na sua fundação(22 de Janeiro de 1985) abriu uma delegação em

Águeda e, a 24 de Fevereiro de 2000, abriu aDelegação Norte, em S. João da Madeira.

MULTA DE 80 CONTOS GEROU ONDA DE APOIO AS DELEGAÇÕES

1976 1977

8 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 9: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

nalistas. Em qualquer parte doPaís ou do Mundo, onde hou-vesse uma linha telefónica, esta-

va a secretária do jornalista. Esteescrevia os seus textos, ligava oequipamento à linha telefónica(foram feitos uns “crocodilos”para agilizar esta operação deligação à linha telefónica em

quartos de hotel, cafés, residên-cias, etc.) e despejava o materialnum computador central locali-

zado na sede da redacção doDiário de Coimbra, na Rua daSofia, em Coimbra. Este equipa-mento servidor era um TRS-80,com um sistema operativoXenix (Unix), multi-utilizador e

multi-tarefa. O desenvolvimen-to do programa de suporte àscomunicações que, de formaautomática, permitia a colocaçãodos textos, na secção respectivae distinta do jornal, foi desenvol-vido em C-Shell.

Pouco tempo depois foi aban-donada a fotocomposição dostextos, passando a sua formata-ção em colunas a ser feita numprocessador de textos do TRS-80 que, socorrendo-se de umaimpressora laser da Xerox, per-mitia a sua saída em colunas dejornal. Estes documentos for-

matados, em papel, ficavamprontos a entrar na maqueta dapágina do Diário. Posteriormen-te, e com o avançar do desenvol-vimento tecnológico, estes tex-tos passaram a entrar directa-mente para a página, em forma-to digital.

Impulsionado pelo Sr. Enge-nheiro Adriano Lucas foramtambém informatizadas as res-tantes secções do jornal, comprincipal relevância para osanúncios classificados e a ges-tão de assinaturas. Estes pro-gramas originais, embora so-

frendo algumas adaptações,estiveram em operação durantecerca de vinte anos e a sua aná-lise serviu de base para o desen-volvimento do software actual-mente em uso.

Esta automação de processos,agilizando os procedimentos, notratamento da informação, dapublicidade, das assinaturas erestantes serviços, permitiutambém a melhoria e imple-mentação de outros projectoseditoriais do grupo, nomeada-mente o Diário de Aveiro, Diáriode Leiria e Diário de Viseu. l

HÁ 80 ANOS que o Diário deCoimbra faz um percurso semdescarrilar e sempre, todos osdias, até o fim da Linha! É umaparte importante do seu perfil,incluindo-se assim qualitativa-mente no “Património Cultural”e na vida quotidiana da Cidadede Coimbra, abrangendo gradu-almente todas as áreas vizinhas.

Porquê este sucesso? Porquêo Diário de Coimbra cresceuempresarialmente e implemen-tou outros Diários, o de Aveiro, ode Viseu e o de Leiria?

São razões várias e valiosasque passam pelo empenhamen-to organizacional, pelo saberprofissional, por um jornalismode cariz próprio e pelos valoresdos Recursos Humanos que

neste Diário de Coimbra vêmtrabalhando e sucedendo-sedesde há 80 anos.

Todavia, o ponto principal emuito positivo, é em minha opi-nião o perfil ético e defesa devalores que nascem com o fun-dador Adriano Lucas há 80anos e que o seu filho e sucessorSr. Eng. Adriano Lucas vem des-de há 60 anos a saber definircomo matriz deste jornal “Diá-rio de Coimbra”.

O Sr. Eng. Adriano Lucas não

cede às contrariedades e man-tém-se atento na manutençãode uma conduta informativa ede opinião muito respeitada.

A sua experiência de vidaempresarial quando foi Admi-nistrador das Fábricas Triunfo eAuto Industrial faz dele uma“Personalidade” marcante e

mais conhecedora de Coimbra eRegião, não só das áreas econó-micas/empresariais como dasvivências das diferentes áreassociais.

Todas estas experiênciasfazem abrir o seu Diário a diver-gentes opiniões, sabendo, noentanto, o Sr. Eng. AdrianoLucas os limites do bom senso edo interesse público.

São todos estes saberes eexperiência de vida que fazem osuporte desejado ao Diário de

Coimbra e na certeza que portraz do Eng. Adriano Lucas estáuma família continuadora quesabe e saberá defender os prin-cípios que hoje estão em prática.

Por tudo isto congratulo-me efelicito o Diário de Coimbrapelos seus 80 anos de vida esadio jornalismo. l

� ERNESTO

G. VIEIRA

� Empresário

Uma pessoa de princípios e valores

Só os grandes homensfazem obras grandes

NÃO CEDE ÀS CONTRARIEDADESE MANTÉM-SE ATENTONA MANUTENÇÃO DE UMA CONDUTAINFORMATIVA E DE OPINIÃOMUITO RESPEITADA

AS MÁQUINAS DE ESCREVER FORAMSUBSTITUÍDAS, DUM DIA PARA O OUTRO,PELOS COMPUTADORES PORTÁTEIS TANDY102. PASSARAM A SER A SECRETÁRIADOS JORNALISTAS POR TODO O PAÍS

completo o modo de trabalhar

NUNCA como hoje, como nosúltimos tempos, a relevância doquarto poder, da informação, daimprensa foi tão visível, tão con-testada, tão escrutinada.

Assanje está aí para demons-trar como a informação pode porem causa a diplomacia, a organi-zação geoestratégica e como háinformação que vale guerras.

Berlusconi está aí para o tirateimas da relevância do poderda comunicação e de como sepode tirar proveito desse poder.

Ora, com este enquadramen-to só podemos esperar e desejarque quem esteja à frente destepoder seja respeitável, sério,equilibrado, justo, correcto…queseja um homem bom.

E nós, conimbricenses, coim-

brinhas, Beirões, o que se quiser,tivemos o privilégio, no meio detodas as nossas amarguras, detodas as nossas desilusões, decontar com um homem bom.

Adriano Lucas, sempre visio-nário, conseguiu aumentar oque recebeu e conseguiu trans-formar um título, um jornalnum grupo respeitado e incon-tornável na informação.

Adriano Lucas, sempre soli-dário, conseguiu ultrapassar,sem consequências de maior,alterações e convulsões políticas,económicas e sociais fazendojuz às suas capacidades de nego-ciador, de homem ponderado ede líder reconhecido.

Adriano Lucas está ao longode toda a sua vida presente. Pre-sente na fundação de grandesempresas nacionais, presenteno associativismo, presente naobra solidária.

Mas está mais do que presente.Lidera movimentos, lidera multi-dões sempre que está em causa asua cidade, o seu concelho, o seudistrito, a sua região encabeçan-

do movimentos, petições, lutas.Num momento em que o Pre-

sidente da União Europeia refe-riu claramente que a liberdadede expressão era “um princípiosagrado, um valor fundamental”Adriano Lucas conseguiu, sem-pre, que o Diário de Coimbrafosse um espaço de liberdade, dediscussão e que informasse pre-servando a dignidade de todos.

Esse exercício de equilíbrio, derectidão é fácil no mundo globalmas é difícil na paróquia em quetodos nos conhecemos, em quetodos temos linhas cruzadas.

A ACIC sempre, e sempretambém nos últimos anos emque exerço funções directivas,teve no Diário de Coimbra umparceiro, um amigo, crítico por-tanto, um espaço de amplifica-ção das suas ideias.

Tenho a certeza de que asobras não dependem só doshomens mas tenho a certezaque só os grandes homensfazem as obras grandes.

Um sincero abraço ao Eng.Adriano Lucas. l

� PAULO

MENDES

� Presidenteda AssociaçãoComercial e Industrial de Coimbra

� Terminava a era da tipografia. Passava-se ao tempo da fotocomposição e impressão offset. O Diário deCoimbra não conseguiria sobreviver se não passasse a usar a nova tecnologia. Adriano Lucas conseguiu

comprar a máquina rotativa offset Linotype Pacer 36 em Inglaterra, em 1982, por um preço muito reduzidopor força do encerramento de uma gráfica. Depois desta compra, alugou-se um dos armazéns onde se

instalou a FIG, central gráfica então criada por Adriano Lucas para permitir a impressão do Diário de Coimbrae de outros jornais da região. De assinalar que, na mudança, explicou-se aos leitores que não se podia mudar

totalmente de um dia para o outro. Assim, primeiro foi o Domingo (que era, anteriormente, impresso emLisboa), depois o Sábado, que foi impresso em off-set. O processo de adaptação durou semanas.

� Realizou-se, em Lisboa, em1986, no Hotel Ritz, o Congresso

Anual da FIEJ - FederationInternacional des Editeurs desJournaux - com a participação

activa da Associação da ImprensaDiária (AID), na qual Adriano Lucas

pertencia à direcção.

O APARECIMENTO DA FIG - INDÚSTRIAS GRÁFICAS SA FIEJ REÚNE EM PORTUGAL

1981 1986

921 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 10: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

O ENG. ADRIANO LUCAS fun-dou o Diário de Aveiro há 25anos, é verdade passaram 25anos que este diário (dia-a-dia)demonstra que Aveiro tinha etem espaço suficiente para queum órgão de comunicação socialvingue.

A informação livre e indepen-dente com que todos os diassomos contemplados é a marcade excelência deste matutino,filho de uma escola nascida em

Coimbra (nos anos 30 - que fazdeste o diário regional maisantigo do país) e que paulatina-mente foi crescendo, alargando ereplicando a sua fórmula aoutras capitais de distrito comopor exemplo Viseu e Leiria.

Hoje em dia, este grupo, é semdúvida o principal grupo deinformação diária regional noPaís, assegurando aos leitores daregião uma informação diárialocal, que mais ninguém nos traz.

Estamos perante um verda-deiro “case study” que deve seranalisado de vários ângulos,numa perspectiva jornalística,para além dos seus fundadores esucessores deu (e continua a dar)ao país uma série de excelentesprofissionais que ainda hojerespeitam a linha editorial que

norteou a sua fundação e como amantêm bem cimentada naexcelência de conteúdos queproporcionam aos seus leitores,numa perspectiva empresarialporque conseguem num sectorde actividade que tem passadopor grandes convulsões, manterestes 80 anos de vivência salva-guardando a sua independênciaeconómico-financeira e por con-seguinte a excelência atrás des-crita e também a sua perspecti-va social estando sempre dispo-nível para de alguma forma serútil à sociedade onde se integracolocando-se de diversas for-mas à disposição da mesma,ajudando e intervindo de umaforma cívica e desinteressada.

O Diário de Aveiro é semdúvida um matutino de leitura

imprescindível e incontornávelque nos dá a conhecer o dia-a-dia da nossa região, é a compa-nhia da bica da manhã, ondepodemos seguir a par e passo osacontecimentos que marcam aagenda das nossas localidades.Da política ao desporto passan-do pela economia e social, somosinformados todos os dias com asnotícias que colocam actualiza-dos os aveirenses.

Por tudo atrás descrito e mui-to mais que fica por dizer sóposso em meu nome e em nomeda Associação Comercial deAveiro dar os parabéns ao Diá-rio de Aveiro e agradecer pelotrabalho que faz prol da nossaregião e em particular em proldo nosso comércio.

Parabéns. l

� Ivan Silva � Director-adjunto

� O nascimento do Diário deAveiro acontece em 1985 poriniciativa de Adriano Lucas.Alicerçado em valores sólidosda defesa da Regionalização eda República – que herdou doDiário de Coimbra – o Diário

de Aveiro tem consolidado asua posição na defesa de Avei-ro e dos aveirenses, das empre-sas criadoras de postos de tra-balho e de uma economiacimentada na livre iniciativa eno investimento privado, numEstado onde os monopólios detoda a ordem têm de ser debela-dos e numa defesa intransigen-te da Europa e da sua União.

Em 1985, data da altura do nas-cimento do Diário de Aveiro, ocampo deonde colhemos a nossafilosofia de jornal independentedos poderes políticos há muitoque havia brotado nas páginasdo Diário de Coimbra, órgão decomunicação social que é dirigi-do há 60 anos pelo EngenheiroAdriano Lucas. Tal como na suafundação, o Diário de Aveiro éum Jornal virado para os seusLeitores, relatando os reais pro-blemas da nossa Região.

Mas as causas que herdá-mos do Engenheiro AdrianoLucas são diversas. Provavel-mente a maior de todas elas é opapel do Leitor no Diário de

Aveiro. É em torno dos nossosleitores que se constrói o Diá-rio de Aveiro. Foi por influên-cia do Engenheiro AdrianoLucas – e do seu filho, directordo jornal, Arquitecto AdrianoCallé Lucas – que iniciámosuma das secções mais impor-tantes do Jornal: o “Fala o Lei-tor”. Trata-se de um espaçolivre, onde os aveirenses expõ-em os seus problemas e lan-çam alertas de forma respon-sável.

Cimentados nesta filosofiasomos hoje também um Jor-nal virado para as empresas,para os relatos de casos desucesso empresariais que

Diário de Aveiro inicia publicação

1985 19 DE JUNHO

FOI SEMPRE minha convicçãode que os meios de comunica-ção social regionais - imprensae rádio – constituem um factorde desenvolvimento local e dedefesa atenta de interesses evalores da sua região. Meiosindependentes e mais livrespara levantar problemas, cha-mar a atenção para situaçõesconcretas, denunciar desvios,propor caminhos e soluções. Os

governos não democráticos nãofavorecem estes meios e são, emrelação a eles, sempre muitorigorosos nas pressões e nasformas de censura. Mesmo notempo imediato ao 25 de Abrilas perseguições à imprensaregional foram muitas e duras,por se pensar que ela prejudica-ria com as suas denúncias ocaminho da revolução Por issomesmo, quem de tempos lon-gínquos se empenhou em fun-dar e manter jornais e rádioslocais merece a admiração e oelogio de quem dá atenção a

estas coisas e de quem delaspode beneficiar.

A Família Adriano Lucas,avós, filhos e netos é pioneirada promoção dos meios decomunicação social regionais equis sê-lo na sua região de ori-gem, o Centro do país. Assim,Coimbra com um diário desde1930, Aveiro, desde 1985, Leiriadesde 1987 e Viseu desde 1997,são prova de sensibilidade,capacidade, ousadia e persis-tência. Os jornais diários eramjornais das grandes cidades. Naprovíncia lia-se pouco e os meiosde se impor eram escassos.Mas rompem sempre as difi-culdades os que se dispõem aousar, a não desistir e, por fim,vencer. O Engenheiro AdrianoLucas, desde 1950 à frente destatarefa, mostra que assim é.Alargou o horizonte empresa-rial, aperfeiçoou e fundounovos jornais, lutou pela liber-dade da imprensa e colaborouna Lei que a ia reger.

Já estava há anos em Aveiroquando começou o Diário deAveiro. Porque sempre fuihomem de jornais regionaispela minha colaboração e pelaatenção que a vida concretame merece, saudei o novo Diá-rio com muita satisfação eesperança. Conheci de passa-gem o Engenheiro AdrianoLucas por ter presidido, emLisboa, ao casamento de seufilho, hoje com o pai à frentedas empresas. Fico muito con-tente por participar nesta justahomenagem. l

� ANTÓNIOMARCELINO

� Bispo Eméritode Aveiro

� JORGE M.PINHO SILVA

� Presidente daAssociação Comercial de Aveiro

Uma homenagembem merecida

Diário de Aveiro, informação livre e independente

O DIÁRIO DE AVEIRO conquistoupor direito próprio um lugarmerecido no panorama mediáti-co local e regional, ao afirmar-seno quadro de valores, referênciase culturas de proximidade.

Não são seguramente a «aldeia

global» ou a «sociedade em rede»que frustram a relevância daimprensa regional, assumindo-se esta como elemento identitáriopreponderante no desenvolvi-mento da Região de Aveiro e dassuas instituições.

Tem vindo, o Diário de Aveiro,a afirmar-se pela sua «forte terri-toralização, a territorializaçãodos seus públicos, a proximidadeface aos agentes e às instituiçõessociais que dominam esse espa-ço, o conhecimento dos seus lei-tores e das temáticas correntes naopinião pública local.» 1

Nesse compromisso com aRegião e com os leitores, o Diáriode Aveiro tem-se pautado porreconhecidos critérios de liberda-de e independência, matriz fun-dadora deste projecto jornalísti-co, ainda hoje bem vincada nopropósito do seu fundador, EngºAdriano Lucas.

A Universidade de Aveiro,por sua vez, tem encontrado noJornal um verdadeiro interlo-cutor para a promoção do seuprojecto institucional, constitu-indo o Diário de Aveiro, assim,uma reserva de memória da

multifacetada, exigente e sem-pre promissora missão da Uni-versidade.

É esta responsabilidade recí-proca que continuará, decerto,a revelar-se como um estimu-lante desafio para ambos, pre-servando factos, relatando pre-sentes e construindo futurosque irão marcar os novos tem-pos e os novos desafios damodernidade. l

1 V. Faustino P. (2004), A Impren-sa em Portugal: Transformações eTendências, Lisboa,

� MANUELASSUNÇÃO

� Reitor daUniversidade de Aveiro

Liberdade e independência

FAMÍLIA PIONEIRADA PROMOÇÃODOS MEIOS DECOMUNICAÇÃOSOCIAL REGIONAIS

10 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 11: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

� João Paulo Silva� Director-adjunto

� O aparecimentodo Diário de Leiria, no dia 13 deOutubro de 1987, fundado porAdriano Lucas e com a direcção doseu filho Adriano Callé Lucas, deuorigem a um salto da imprensaregional no sentido da sua profis-sionalização. O primeiro númerotinha ido para as bancas a 17 deMarço de 1987 a que se seguiramalguns números até 13 de Outubro,dia em que o Diário de Leiria ini-ciou a sua publicação regular.

A causa do “salto”: a chegadade um modelo herdado do Diário

de Coimbra, profundamente tes-tado e consolidado, enraizado emprincípios como os da defesa daRegionalização e de um jornalis-mo independente.

Com uma equipa de jovenscom vontade de se afirmarem nojornalismo, o Diário de Leiriaassumiu-se como uma autênticaescola de jornalismo. Ainda hoje,a maioria dos jornalistas que tra-balham na região de Leiria, sejana comunicação social nacional,quer regional, tiveram comoescola no início de carreira o jor-nal fundado por Adriano Lucas.

O seu nome fica, portanto, liga-do à história da imprensa em

Leiria, por ter feito aquilo quenunca ninguém antes ousara.

Poderia parecer aos mais cépti-cos uma aposta condenada, masa história tem provado o con-trário. Ao longo dos 23 anos,muitos foram os desafios, a co-meçar pelo de atrair/ formar

leitores para a imprensa regionaldiária, numa região onde atéentão o melhor que se vira foramsemanários. O segredo de Adri-ano Lucas, que a cada dia parecemanter-se mais actual é sim-ples: fazer um jornal dos lei-tores para os leitores. l

A IMPRENSA local desempenhaum papel insubstituível nadefesa da liberdade de expres-são, do pluralismo informativoe de uma cidadania mais cons-ciente e participativa, sendo uminegável factor de desenvolvi-mento regional.

Num momento em que facil-mente se obtêm notícias de todo omundo através de um simplesclique, é curioso verificar a difi-culdade com que nos deparamospara encontrar e conhecer asprincipais novidades políticas,desportivas, sociais e culturais deâmbito local.

É, por isso, de louvar o trabalhoque o Diário de Aveiro tem vindoa desempenhar em prol dodesenvolvimento da Região deAveiro em geral e do seu tecidoeconómico em particular.

Tem sido muito gratificantepara a AIDA que, à semelhançado Diário de Aveiro, assinalatambém em 2011 os seus 25 Anosde existência, poder contar com acolaboração activa do Diário deAveiro nas diversas iniciativasque organiza e constatar a isen-ção e qualidade dos serviçosprestados a toda a comunidade.

A AIDA felicita, assim, o Enge-nheiro Adriano Lucas, fundadordo Diário de Aveiro e da RádioRegional de Aveiro e presidentedo grupo de comunicação socialem que se inserem, pelo óptimotrabalho desenvolvido, frisando

a independência e imparcialida-de da informação publicada, quereflecte os valores pelos quais sepauta no dia-a-dia. Os votos deparabéns são, naturalmente,extensíveis a todos os colabora-dores e em particular à equipa doJornal Diário de Aveiro, pelo bomserviço público prestado que per-mite reforçar a identidade e odesenvolvimento das popula-ções, promovendo a sua coesão,bem como divulgar o dinamismoe vitalidade que caracteriza asempresas da Região de Aveiro. l

� VALDEMAR

COUTINHO� Presidente da AssociaçãoIndustrialdo Distrito de Aveiro

AIDA felicita o Diário de Aveiropelos 25 anos de existência

transformaram a Região deAveiro num dos pólos dedesenvolvimento mais im-portantes do País. A criaçãode um Suplemento semanalde Economia – o DAEcono-mia – é o corolário de umcaminho informativo isento,mas determinado, onde leva-mos até aos nossos Leitores oque de bom se faz num sec-tor fundamental para o cres-cimento de uma das regiõesmais pujantes do País. Avei-ro é também conhecida porser uma região de causasLiberais. Seguindo a tradiçãorepublicana, é nas Páginasdo Diário de Aveiro que

travamos uma constanteluta contra as várias censu-ras que o nosso País vaiconhecendo.

O Diário de Aveiro, o jornalmais lido na sua região, nasceue consolidou-se a partir dadeterminação de um homem:o Engenheiro Adriano Lucas,que tem tido um papel deter-minante para o desenvolvi-mento da Imprensa Regionalem Portugal. Seguindo firme-mente esta linha editorial, oDiário de Aveiro tem conso-lidado a liderança numaregião de assinalável cresci-mento. Sempre ao serviço dosLeitores. l

O início do Diário de Leiria

A LONGEVIDADE de um meio decomunicação é o resultado de umconjunto de factores diversos,desde a sua adequação a umdeterminado mercado, a suaindependência, a qualidade

daqueles que nele trabalham, etc.Mas existe sempre por detrás decada projecto bem sucedido e quesobrevive um ser humano quefaz a diferença, cuja razão de serreside na capacidade de em cadamomento fazer as escolhas cer-tas, mantendo o projecto viável e,se possível, exaltante para todosos que nele participam.

É certamente este o caso do gru-po do Diário de Coimbra, porquenão é um acaso, ou impunemente,

que se festejam 80 anos devida num meio tão difícil e tãocompetitivo como é o dos jor-nais. O que alguma coisa teráa ver com o factor da inovaçãoempresarial e com o facto dojornal inicial ter alargado asua acção e intervenção aoutras capitais de distrito dazona centro, antecipando oque hoje é uma condição desobrevivência das empresas:a optimização dos custos atra-

vés de vários produtos com-plementares.

Estas são algumas dasrazões porque o EngenheiroAdriano Lucas está de para-béns e aproveito para lhedesejar a continuação dosêxitos alcançados por muitosmais anos, certo de que essesucesso contribuirá paramanter em Portugal vivas eactuantes a liberdade e ademocracia. l

UM diário regional em 1930 foi umarrojo. Em 2010, o Diário de Coim-bra assinalou 80 anos, o que é umaprova de competência do grupoque mantém com energia e inde-pendência os diários de Coimbra,Aveiro, Viseu e Leiria, uma rádio euma gráfica.

Depois da luta pela imprensalivre o grupo da família Lucas temem mãos o desafio de desenvolvernegócios clássicos num ambienteonde as ameaças no ambiente dosmedia são grandes.

Sendo um grupo que não está

associado a outros negócios, podecontinuar a usar a vantagem demanter a sua independênciaperante outras forças económicas e(ou) políticas.

O Diário de Leiria completará 24anos em 2011. Claramente maior deidade, e maduro. Parabéns evenham mais 24 anos.

Todos reconhecemos a impor-tância do Diário de Leiria, para aactualização diária de todos nasvertentes social, humana, cultural,política, etc. As empresas têm aquium meio para em pouco tempo sepublicitarem aos seus potenciaisclientes.

Às equipas que todos os diasproduzem os vários títulos ficauma palavra de agradecimento emnome dos leitores que a ACILISrepresenta, e o desejo de superaçãodiária de todas as dificuldades. l

� HENRIQUE

NETO� Empresário

� PAULO SOUSA� Presidente daAssociaçãoComercial deLeiria, Batalha e Porto de Mós

Energia, independênciae competência

É CONHECIDA a influênciano desenvolvimento dotecido económico e socialda chamada Região Centro,nomeadamente em Leiria,dos jornais editados sob aorientação superior doEng. Adriano Lucas quedirige o Diário de Leiria há23 anos e há 60 o Diário deCoimbra o mais antigo jor-nal do Grupo de Imprensaque é hoje consideradocomo o maior do país no

que se refere à ImprensaRegional. Sempre defen-dendo os princípios deisenção e de liberdade e osvalores da democracia e dodesenvolvimento social, osdiários deste grupo decomunicação, constituemuma exemplar referênciada defesa dos valores decidadania e também dodesenvolvimento económi-co regional e nacional.

De parabéns está em par-ticular o Eng. AdrianoLucas a quem a Nerlei e asua Direcção deseja vitali-dade e coragem para podercontinuar a desenvolver arede de informação e deconteúdos divulgados pelosjornais que dirige há tantosanos. l

� JOSÉ

RIBEIRO

VIEIRA� Presidenteda Associação Empresarialda Região de Leiria (NERLEI)

Desenvolvimentoregional e cidadania

Manter viva a liberdade e a democracia

É DE LOUVAR O TRABALHO QUE O DIÁRIODE AVEIRO TEM VINDO A DESEMPENHAREM PROL DO DESENVOLVIMENTO DAREGIÃO DE AVEIRO EM GERAL E DO SEUTECIDO ECONÓMICO EM PARTICULAR

1987 13 DE OUTUBRO

1121 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 12: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1988 1989

RECORDO sobretudo um lídermuito coerente, muito determi-nado e muito seguro das suasconvicções. Não vi no engenhei-ro Adriano Lucas, enquantoDirector do Diário de Coimbra,que o 25 de Abril lhe tivesse cau-sado quaisquer hesitações. Oque defendia antes, defendeudepois. Foi nele que conheci oprimeiro grande defensor daEuropa, o maior defensor daliberdade de imprensa nas suasdiversas dimensões. Confirmeiisso exactamente quer na reuni-ão com o Comandante da RegiãoMilitar do Centro (Rafael Durão)quer no caso República. O pri-meiro, em 1974, foi um movi-mento que visava destituir oentão Director, dr. Santos Ma-deira e que o eng.0 Adriano Lu-cas resolveu de uma forma so-berba: reuniu toda a gente e

ouviu quem quis falar, alegandoas suas razões. O eng. AdrianoLucas ouviu, ouviu e às tantaslimitou-se a agradecer a presen-ça de todos e a recordar-lhes osanos de vida que o dr. SantosMadeira já tinha dedicado aoDiário de Coimbra com infinitalealdade e dedicação. E que sen-do assim, não havendo nadacontra a sua acção e muito afavor, o dr. Santos Madeira iriacontinuar a dirigir o Jornal e aquem assim não quisesse nãorestava outra hipótese que nãofosse ir embora. Saiu o entãoChefe de Redacção.

O segundo facto, em 1975, foitambém uma criancice dos tem-pos de então. Formara-se naempresa uma Comissão de Tra-balhadores, naturalmente do-minada pelas práticas comunis-tas de então. Mas verdadeirocomunista havia apenas um ele-mento, os outros eram recémchegados e por isso mais aposta-dos em mostrar serviço. Em Lis-boa, o jornal “Caso República",que sucedera ao República, foraimpedido de sair também pormotivos políticos. Fomos con-tactados para fazer o Jornal aqui.

Essa Comissão de Trabalhado-res, evocando solidariedade comos seus pares de Lisboa, tomouconta do jornal e publicou umeditorial à revelia da Direcção.Ao mesmo tempo, demoroupropositadamente a resposta equando a deu foi de recusa. Malsabia que nessa altura já o “Ca-so República” estava a ser feitona Gráfica de Coimbra, onde oPadre Valentim, já então Ge-rente, foi enorme em coragem edignidade.

O eng. Adriano Lucas ficounaturalmente muito revoltadocom esta situação e nunca oescondeu nem calou. Tanto maisque para ele a liberdade deimprensa passava por umavalência que lhe foi sempre par-ticularmente cara: a liberdade daempresa, ou seja a liberdade deconstituir empresas editoras deJornais. Não era, para ele, a liber-dade de imprensa, apenas aliberdade de expressão e livrepensamento. Era isso mas tam-bém e sobretudo a liberdade deformar Jornais. Sem eles nãopoderia haver naturalmenteliberdade de expressão. Demodo que impedir um Jornal de

se publicar era para o eng. Adri-ano Lucas arrancar-lhe os fíga-dos. Como se viu noutrosmomentos posteriores queigualmente partilhei com ele: OLuta Popular, do MRPP, tam-bém foi impedido de se publicarem Lisboa e nós fizemos-lhe oJornal aqui durante uns tempos.Também o Jornal Novo, sob adirecção de Artur Portela Filho,teve que fazer as malas e deixarLisboa durante uns dias. Fize-mo-lo aqui.

E se é justo recordar o papeldecisivo que nessas tomadas deposição teve o eng. AdrianoLucas (já então acompanhadomuito de perto pelo seu filhomais velho, o arquitecto Adria-no Callé Lucas), não possoesquecer o papel daqueles traba-lhadores (e muitos foram) queestiveram sempre do lado daempresa .

Nestes 60 anos, a criação daFig e dos restantes diários cor-respondeu a um período de forteafirmação da estrutura do Diá-rio de Coimbra e também a umdos períodos mais férteis em ter-mos de gestão. Terá sido dasalturas em que senti o eng. Adri-

ano Lucas profissionalmentemais feliz. Se a criação de jornaisdiários noutras cidades próxi-mas visava a implantação dogrupo e dotar a região das Beirasde uma certa capacidade de afir-mação informativa, a FIG foi umpasso de gigante em todos osaspectos e muito para além dasvertentes técnicas que pressu-punha. Por um lado, dotava oGrupo de uma capacidade deprodução que o abria, comoabriu, a novas iniciativas edito-riais; por outro lado disponibili-zava no centro do país uma Grá-fica dimensionada para poderresponder às necessidades daaltura em termos de Jornaisregionais, já que muitas outrasgráficas que ainda trabalhavama chumbo não conseguiramacompanhar as mudanças tec-nológicas da altura.

Vamos falar claro e porventu-ra pela primeira e última vezsobre este assunto. O eng. Adria-no Lucas é, em termos de conhe-cimentos e formação a nível deimprensa, um verdadeirogigante. Uma das pessoas dopaís que mais sabe sobre amatéria. E um dos poucos quetem para com os media umarelação de trabalho e de afectoque vai muito para além daperspectiva meramente empre-sarial. Para ele, jornais são negó-cio mas vão muito para alémdisso e cedo se transformam emprojectos de liberdade editorial e

em mensageiros de defesa dosinteresses das comunidadesregionais. São para ser rentáveismas não para comprar Ferrarisà sua custa: o dinheiro que even-tualmente gerem serão reinves-tidos no seu próprio desenvolvi-mento. Mais ainda: os projectoseditoriais dirigidos pelo eng.Adriano Lucas não são nemforam nunca para defender osseus interesses pessoais ouempresariais, dos muitos queteve e tem no país e também emCoimbra. Basta dizer isto: emquase 20 anos que partilhei comele a responsabilidade editorialdos Jornais, na minha condiçãode Chefe de Redacção e DirectorAdjunto, nunca ele, mas nunca,me deu a menor indicação nosentido de defender determina-do ponto de vista que melhorpoderia servir os seus interessesnoutras áreas.

Nunca, mas nunca, me senticondicionado na minha liberda-de de escrita ou de direcção diáriado Jornal por qualquer recomen-dação que me tenha feito nessesentido ou eu me sentisse impe-dido de abordar fosse o que fosse.

Acreditem e aceitem istocomo uma das maiores verda-des da minha vida: foi uma hon-ra e um privilégio ter trabalhadocom e sob as orientações do eng.Adriano Lucas, o homem quemais sabe de imprensa em Por-tugal e dos que mais seriamentese lhe dedicou. l

� LINO VINHAL

� Jornalista eantigo DirectorAdjunto doDiário de Coimbra

O homem que mais sabe de imprensa em Portugal

� Dezembro de 1998. Nos últimos

dias do ano, Elisa Ferreira, minis-

tra do Ambiente do Governo de

António Guterres e que tinha José

Sócrates como secretário de Estado

do Ambiente, anuncia a queima de

resíduos industriais perigosos na

cimenteira de Souselas, em Coim-

bra.

Tal decisão, que colidia com a

estratégia de desenvolvimento da

cidade, não era - e não é - isenta de

riscos, entre os quais os de saúde,

para toda a população de Coimbra,

o que levou o jornal a reagir. A

cidade quer ser “capital da saúde” e

o Governo manda-nos o lixo. “Só

podem estar a brincar connosco”,

insurgia-se o Diário de Coimbra,

na primeira reacção à decisão:

“mais do que o direito de se indi-

gnar, Coimbra tem o dever de se

indignar”. A instalação da cimen-

teira em Souselas, às portas de

uma cidade, já tinha sido alvo de

contestação, pelo que esta decisão

só vinha agravar o problema.

Desde o tempo da fundação, há

80 anos, que o jornal assume, sem-

pre como causa sua, a defesa das

populações e o seu bem-estar,

apoiando-as e auxiliando--as, seja

com contas solidárias ou campa-

nhas perante calamidades, seja

através da informação e do escla-

recimento público. No caso da co-

-incineração, uma decisão política

que afronta a saúde pública e tem

tudo para parecer mais um negó-

cio do que uma solução para os

resíduos nacionais, o Diário de

Coimbra mantém o “direito e o

dever” de contestar e informar.

Portanto, o movimento iniciado

há 12 anos, por iniciativa de Adria-

no Lucas, de que resultou a maior

petição de sempre de incidência

local colocada à Assembleia da

República, continua presente e

atento, mas independente de inici-

ativas político-partidárias, à espe-

ra de bom senso governamental.

Mal foi anunciada a co-incinera-

ção, o jornal ouviu especialistas de

diferente áreas científicas, revelou e

desvendou o processo, publicou

estudos que deram como certa a

debilidade da saúde da população

de Souselas e também dos efeitos

que a queima teria em Coimbra,

dos problemas acrescidos com o

transporte de resíduos, e divulgou

as melhores soluções, caso, por

exemplo, dos CIRVER. Nos primei-

ros contactos de rua percebeu-se o

quanto as pessoas estavam mal

informadas sobre todo este proces-

so ambientalmente perigoso.

De tal exercício de cidadania

resultaria a subscrição de duas

petições - uma do Diário de

Coimbra e outra do Diário de Lei-

ria (contra a queima em Maceira)

- por quase 65 mil pessoas. A do

Diário de Coimbra, entregue pelo

director Adriano Lucas ao presi-

dente da Assembleia da Repúbli-

ca, a 19 de Janeiro, contabilizava

então 52.464 assinaturas, sendo a

maior de sempre por iniciativa

local. A do Diário de Leiria, com

quase 12 mil, foi entregue no mes-

mo dia pelo director Adriano Cal-

lé Lucas.

Em 1999, mais de 60 mil assinaturas contraa co-incineração em Souselas e na Maceira

� Em 1988, o Diário de Coimbra inicia apublicação, aos sábados, de um

suplemento denominado Comércio eAnúncios, que será o percursor de OsClassificados. Entretanto, o Diário de

Coimbra muda as suas instalações paraa Rua Adriano Lucas, mantendo-se na

rua da Sofia um serviço de atendimentopara publicidade e assinaturas.

� Em 1989, na expectativa de desenvolver a informação multimédia, forampreparadas instalações no anexo da rua da Sofia, em Coimbra, destinadas a estúdios

para rádio. O Diário de Coimbra, o Diário de Aveiro e o Diário de Leiria concorreram,respectivamente, a frequências de Coimbra, Aveiro e Leiria. “Apesar de nos ter sidoafirmado que a Comissão Paritária, que apreciou as propostas, tinha aceite todas as

candidaturas que apresentámos, só nos foi concedida a Rádio de Aveiro. Comoposteriormente nos informaram, as outras não nos foram atribuídas por razões

políticas”, escreveu mais tarde Adriano Lucas. A frequência mais potente de Coimbraseria inesperadamente atribuída à 90 FM, ligada ao semanário As Beiras, jornal que não se

editava e que ressurgiu expressamente para este fim, e à Inforgrupo, empresa que estevemais tarde a contas com a Justiça e que foi apoiada por políticos do PSD, partido então noGoverno. Na mesma época, pessoas ligadas ao partido no poder e ao meio empresarial deCoimbra, com o apoio do Governador Civil da altura, tentaram comprar o Diário de Coimbrapara o controlar. A recusa de Adriano Lucas foi clara: «Só admito vender 51 % do Diário de

Coimbra, se adquirir 51 % das empresas que o querem comprar...» Sentiu-se subse-quentemente um claro apoio do poder político à criação de um diário concorrente, comdiversas conivências, em prejuízo do Diário de Coimbra, estratégia que não resultou. O

Diário de Coimbra tem mantido e reforçado a liderança de audiências.

NOVO SUPLEMENTO PODER POLÍTICO DESVIOU AS RÁDIOS

12 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 13: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

AO LONGO de 25 anos, a amizade culti-va-se, o respeito nasce e ganha dimen-são e aprende-se, aprende-se muito,sobretudo quando o mestre é alguémque sabe, e sabe muito, de ImprensaRegional. Foram e são, pois, lições dejornalismo e de vida que tenho vindo asomar e, nalguns casos, só muito maistarde a perceber o seu real significado. Esão muitas.

A primeira prende-se, efectivamente,com uma paixão chamada ImprensaRegional, pela proximidade que cria,pelas causas que pode e deve defender,pela forma activa como pode "interferir"- no bom sentido - com a vida das pesso-as e das comunidades.

"Small is beatifull", dizia muitas vezeso engenheiro Adriano Lucas a propósitodos nossos jornais, por comparação comas muitas dezenas de páginas (agora jánem tanto), que os jornais ditos nacio-nais apresentavam. "Meia hora" é o tem-po chave para se ler um Jornal, sempre

defendeu e os tempos que correm dão--lhe, cada vez mais, razão.

Razão também na necessidade desustentabilidade - o termo é de algumaforma recente, mas o conceito não - eco-nómica de um projecto editorial. Só essaindependência económica garante ascondições necessárias para a prática deum jornalismo sério, objectivo, isento,rigoroso e livre e permite que se fale, comverdade, em Liberdade de Imprensa,uma causa, pela qual sempre pugnou.

Com o engenheiro Adriano Lucas,aprendi, aprendemos todos, que a razãode ser de um jornal são os seus leitores eque o melhor produto editorial do mundopeca por defeito se não for lido. Daí aimportância acrescida que sempre assu-miram, na estratégia de gestão do GrupoDiário de Coimbra, os circuitos de distri-buição, de forma a levar, manhã bemcedo, o Jornal a casa dos leitores. "Sem dis-tribuição um Jornal é como um Ferrariparado no deserto, não serve para nada",afirmava repetidamente, com o seu espí-rito exemplarmente pragmático, parademonstrar, da forma mais simples, apertinência fundamental de garantir queo jornal chegava aos leitores. Chegar e,preferencialmente cedo, transformando--se numa companhia inseparável dopequeno-almoço e, também, numa janelaaberta de oportunidades, para conheci-mento e consulta e, também, necessaria-

mente, para fazer eco de preocupações,para dar conta de situações reais, boas oumenos boas, através do "Fala o Leitor",uma das rúbricas que o senhor engenhei-ro sempre defendeu e acarinhou, no pas-sado e nos dias de hoje, como um espaçode intervenção cívica e de cidadania porexcelência.

Numa época em que a União Europeiaera apenas Comunidade Económica, já onosso director defendia uma Europa dasRegiões, de que hoje se fala, e pugnavapela regionalização do país, numa batalhaque, hoje em dia, se mantém em aberto,com a desconcentração e a descentraliza-ção a serem, cada vez mais, conceitosquase marginais, que ninguém se atreve apôr em prática, mantendo-se um país àsombra da macrocefalia lisboeta. Mas seas regiões (ainda) não vingaram, vingou (edeu frutos), um projecto editorial descen-tralizado e desconcentrado que se afigura,hoje em dia - e já tem 25 anos - como abso-lutamente inovador. Com efeito, ao invésde convergir e aglutinar, como é, hoje emdia, a filosofia dominante dos grupos decomunicação social, Adriano Lucas teve aousadia de inovar e criar um conjunto detítulos, em diferentes distritos, com oobjectivo de melhor servir os interessesdas populações locais de Aveiro, Leiria eViseu. Respeitar as diferenças, manter asidentidades e os valores próprios foi umadas muitas lições que aprendi.

Mas também aprendi - e esse é o senti-do mais profundo da democracia - que oimportante são as pessoas e, mais do queas palavras de circunstância do ministroou de qualquer governante, importasaber os benefícios que a obra, seja ela qualfor, representa para as populações, a ver-

dadeira razão de ser de qualquer empre-endimento com sentido. Este é um jorna-lismo de vanguarda, inovador, de proxi-midade, que o nosso director defende hálargos anos, cujo enfoque está necessaria-mente centrado nas pessoas.

E entre as muitas lições, de jornalismo,de gestão, há uma, que chamaria dehumanidade e de humildade, que mesinto obrigada a referir. "O culpado soueu, sou o maior culpado". Foram inúme-ras as vezes que ouvi o eng. AdrianoLucas fazer esta afirmação e fazê-lo deuma forma séria e consistente, sempreque algo corria menos bem. Não quetivesse uma intervenção directa na situa-ção, mas porque, em seu entender, averdadeira liderança implica uma totalresponsabilidade e, se algo correumenos bem, se alguém falhou ou nãoesteve à altura, isso aconteceu porquequem orientava não o soube fazer naplenitude. E, nesta escala hierárquica,no topo da pirâmide, estava e está o nos-so director, assumindo-se como o pri-meiro "culpado" quando "culpas" havia aatribuir. Também, impõe-se dizê-lo,nunca o ouvi regatear aplausos, e sem-pre o vi a incitar- -nos a apresentar idei-as e sugestões, a promover um diálogofranco, aberto e, sobretudo, crítico,entendendo as nossas opiniões, quantasvezes contrárias às suas, como um valor.

Por tudo isto e por muito mais queaqui não cabe, o meu Bem-haja enge-nheiro Adriano Lucas, com a confis-são que também foi com o senhor queaprendi a usar esta expressão, tão pe-culiar, tão acertada e tão particular-mente beirã. O meu Bem-haja, SenhorEngenheiro.l

� MANUELAVENTURA� Antiga Directora-Adjunta dos Diários deAveiro e de Coimbra e EditoraExecutiva do Diário de Coimbra

Um mestre na artede dar lições

"NESTA DATA de comemoração dos60 anos na direcção do Diário deCoimbra, venho saudar o Engenhei-ro Adriano Lucas pelo seu assinalá-vel percurso em prol da liberdade deimprensa e pelo pioneirismo no lan-çamento de jornais diários regio-nais, obra sempre prosseguida comelevada responsabilidade ética edeontológica.

Conhecido pela sua inteligência,carácter fortíssimo e invulgar fronta-lidade, qualidades que sempre lheapreciei, com uma vida que se con-funde com a história do Diário deCoimbra que dirige de modo indisso-ciável à liberdade de informação e aojornalismo independente que sempredefendeu, o Engenheiro AdrianoLucas é, inequivocamente, uma vozrespeitada no sector da comunicaçãosocial português.

E, para mim, para além de tudo isto,é um querido amigo.

Aqui lhe presto homenagem.l

� MARIADE LURDESMONTEIRO� Antiga Directora-Geral doDiário de Coimbra

Uma vida que seconfunde com ahistória do Diáriode Coimbra

«Tratou-se de um processo

muito estimulante e gratificante»,

recorda Rui Avelar, que na altura

era Director-Adjunto do Diário de

Coimbra. Aquele jornalista desta-

ca, ainda o papel de Adriano Lucas

«na promoção da subscrição do

abaixo-assinado e ao carinho com

que acompanhou a iniciativa. Os

números revelam que, em duas

semanas, cerca de 38 por cento das

pessoas residentes em Coimbra

subscreveram a petição».

Apesar da garantia de que as

petições seriam analisadas em

dois meses, só chegariam ao ple-

nário quase dois anos depois.

Curiosamente, numa sessão em

que se debatia o Estado da Nação e

com meia dúzia de deputados pre-

sentes. Foi, certamente, o melhor e

mais fiel retrato do estado a que

chegara a Nação, com os deputa-

dos a demonstrarem desinteresse

por assuntos vitais para o país.

Mas, também é verdade que por

essa altura as petições já tinham

dado bons e visíveis efeitos. Além de

terem despertado a auto-estima de

Coimbra, a queima fora já suspensa

pelo Parlamento e criada uma

Comissão Científica Independente

para avaliar o processo. Indepen-

dente, mas com honorários pagos

pelo Governo, confirmaria a co-inci-

neração em Souselas, mas trocava

Maceira por Outão, em Setúbal. O

debate sobre a eliminação de resí-

duos nacionais, de todos e não ape-

nas de uma parte, só ocorreu depois

da vitória da Aliança Democrática

nas legislativas de 2002, como o

Governo de Durão Barroso a termi-

nar com o projecto de co-incinera-

ção e a indicar os CIRVER (Centros

Integrados de Recuperação, Valori-

zação e Eliminação de Resíduos)

como a melhor solução.

Em 2005, o PS regressava ao

poder central e, com ele, a co-inci-

neração, ou não fosse José Sócra-

tes o primeiro-ministro. Um polí-

tico que, como dizia, em editorial,

Adriano Lucas, tinha sido o

ministro do "mau ambiente". O

processo está hoje a funcionar em

Souselas, queimando resíduos

industriais perigosos, mas sem

monitorização ou, pelo menos,

dados públicos pormenorizados

da monitorização.

O Diário de Coimbra continua a

pugnar, firmemente, pelo fim da

co-incineração l

Boaventura de Sousa Santos, Fernando Rebelo, Almeida Santos,Adriano Lucas, Joaquim Gonçalves e Adriano Callé Lucas naentrega da petição na Assembleia da República

� A Rádio Regional Aveiro (a emitir na frequência de96.5FM) nasceu a 23 de Outubro de 1989. Integrada no

espírito defendido pelos Diários de Aveiro, Coimbra, Leiria eViseu, a Rádio Regional de Aveiro privilegia a informação

local e regional. Ao longo da emissão, a estação dispõe demúltiplos serviços noticiosos que levam ao ouvinte a

informação em tempo real de tudo o que vai acontecendoem Aveiro, na sua região, no país e no mundo. Defensora

dos interesses de Aveiro e da sua Região, a Rádio Regional

nasceu com o firme propósito de contribuir para o desenvolvimentoda cidade, da região e do País, pugnando pela integração de

Portugal na Europa das Regiões. Esta rádio aveirense oferece aosouvintes várias rubricas informativas e formativas, programas

musicais, onde predomina a música portuguesa e passatemposvariados. Ao fim-de-semana o Desporto local e regional ocupa

grande parte da emissão, levando ao conhecimento dos ouvintestudo o que acontece com os vários clubes da região nas mais

variadas modalidades desportivas.

NASCEU A RÁDIO REGIONAL DE AVEIRO, 96.5FM

1989

1321 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 14: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1990 19941993

A CHEGADA do Eng. AdrianoLucas à direcção do Diário deCoimbra, há 60 anos, marcou o iní-cio de uma nova era de desenvolvi-mento para o nosso jornal, confe-rindo-lhe uma perspectiva dife-rente e inovadora, um novo concei-to de informar que acabou por seestender aos restantes diários exis-tentes fora de Lisboa e Porto.

Dando prioridade fundamen-tal ao noticiário local e regional,entrelaçou, de forma exemplar,essa informação com as realida-des globais. Motivou os especia-listas da região a comentarem osvários acontecimentos e desen-volveu o princípio de que ”o lei-tor é que sabe”, bebendo a suaopinião que, tal como então,muito preza.

Para aplicação e desenvolvi-mento do seu projecto editorial,o Eng. Adriano Lucas compre-endeu a necessidade de adequa-do e indispensável equipamentográfico.

A primeira rotativa

O Diário de Coimbra era impres-so em lentas máquinas de folha, oque impossibilitava a sua entregaatempada aos postos de venda eaos assinantes, neste último casoatravés da distribuição porta-a--porta. A informação perdia-se.O Eng. Adriano Lucas deu, então,o primeiro e grande passo queabriu novos horizontes a toda aImprensa Diária Regional, emPortugal, adquirindo uma rotati-va tipográfica “Koenig & Bauer”,em segunda mão. Na altura, sóhavia máquinas deste tipo emLisboa e no Porto.

Pelas funções que, nesse tem-po, desempenhávamos no jor-nal “O SÉCULO” tivemos opor-tunidade de acompanhar e tes-temunhar o espírito pioneiro doEng. Adriano Lucas. O nossopessoal de manutenção e outrosprofissionais, a seu pedido, des-

locavam-se a Coimbra para re-solver problemas que episodica-mente surgiam. E isto, pela con-sideração que tínhamos peloEng. Adriano Lucas, conhecidopelas suas qualidades e educa-ção. Primeiro, no Grémio Nacio-nal da Imprensa Diária e, de-pois, na Associação da Impren-sa Diária de que fez e faz partedos corpos sociais, sempre gran-jeou amizade e respeito.

Impressão offset a cores e a criação da FIG- Indústrias Gráficas, SA

Posteriormente, em 1982, o Eng.Adriano Lucas que acompanhavaos progressos da técnica, pela suapresença na IFRA, o mais impor-tante organismo internacionaldedicado à indústria gráfica, deci-diu ultrapassar a era do chumbo,instalando a fotocomposição e,consequentemente, uma rotativaoffset, para poder imprimir publi-cidade a cores. Essa máquina,também usada, prestou, duranteanos, inestimáveis serviços.

Na circunstância, e prevendoo futuro, fundou a FIG - Indús-trias Gráficas, SA a fim de dar

apoio gráfico ao Diário deCoimbra e aos restantes jornaisda organização, entretantocriados: Diário de Aveiro, Diá-rio de Leiria e Diário de Viseu.

Uma gestão adequada levouao desenvolvimento da empre-sa, através da introdução dasmais recentes tecnologias e aoenriquecimento do parqueindustrial com máquinas desuperior qualidade, não sóuma moderna rotativa a cores,mas também impressoras defolha para trabalhos comerci-ais e respectivos acabamentos.

A FIG - Indústrias Gráficas, SApassou a prestar serviços deimpressão à maioria dos jornaisda região, que aqui encontram osmétodos próprios para cada caso,bem como um acompanhamen-to personalizado e adaptado àsdiversas circunstâncias.

A coragem de resistir

Antes, e durante os conturbadosanos que se seguiram ao 25 deAbril, quando o comunismorevolucionário e totalitário pro-curava dominar a imprensaportuguesa, acompanhámos o

Eng. Adriano Lucas e os seusfilhos Adriano Callé Lucas eMiguel Callé Lucas, ainda muitojovens, na dura luta que trava-ram contra a tentativa de des-truição do Diário de Coimbra.Fizemos, em conjunto, em Lis-boa, o “Domingo”, que surgiuporque os ardinas tinham deci-dido não vender jornais aodomingo, atitude com que ostipógrafos se solidarizaram.Como o Diário de Coimbra nãopodia sobreviver sem a ediçãodominical, o Eng. AdrianoLucas procurou realizar a suaimpressão em Lisboa, o que nãofoi fácil. Fomos vencendo, pro-gressivamente, as várias difi-culdades que iam surgindo nasdiversas gráficas, até que o bomcenso e a democracia vingaram.

Apoio à liberdadede imprensa

Ainda, por essa altura, o governomilitar proibira a publicação dediários em Lisboa, procurandoamordaçar os jornais que pu-gnavam pela liberdade, nomea-damente o “Jornal Novo”, paladi-no da democracia, num período

de incertezas para Portugal, soba direcção de Artur Portela Filho,e no qual colaborávamos. Tínha-mos de ultrapassar o problema eessa tarefa caiu sobre os nossosombros. Fora de Lisboa, sabía-mos que só o Diário de Coim-bra poderia salvar a situação.Bastou um telefonema e o Eng.Adriano Lucas e seu filho, Arq.Adriano Callé Lucas, com oqual falámos, puseram imedia-tamente as oficinas à disposi-ção do Jornal Novo, o único diá-rio de Lisboa que nunca deixoude sair nesses dias e que eraesperado ansiosamente pelosseus muitos milhares de leito-res. Foi necessária muita cora-gem para estes dois defensoresintransigentes da liberdade deimprensa tomarem, nessa épo-ca, tal atitude.

Por razões do mesmo tipo, ojornal “Luta Popular” e o “Jornaldo Caso República” pediram,posteriormente, idêntico apoioao Diário de Coimbra

Por tudo isto, por toda estaHistória de sessenta anos, temsido um privilégio acompanhar,ao longo do tempo, o Eng. Adria-no Lucas. l

� GALIANO

PINHEIRO

� Antigo Director-Geraldo Diário de Coimbra

�Administrador da FIG�Director-Adjunto

do Diário de Coimbra

O Eng.o Adriano Lucas, o Diário de Coimbrae a Imprensa Diária Regional

�«Após muitos milhões de eurosinvestidos em obras, projectos,estudos, indemnizações e salários,o Governo prepara-se para adiar,ou mesmo cancelar, o projecto doMetro Mondego. Uma decisãotomada escassos meses depois deo mesmo Governo de José Sócra-tes ter promovido o desmantela-mento da linha do comboio daLousã, inutilizando-a. Agora nemcomboio, nem metro. É inaceitá-

vel! Trata-se de uma medida irres-ponsável, e, num país decente,alguém deveria ser acusado e res-ponsabilizado por isso». Começa-va assim o Editorial de AdrianoLucas no dia em que o jornal dis-tribuiu milhares de cópias da peti-ção contra a paralisação das obrasdo Metro Mondego promovidapelo Diário de Coimbra e iniciadapelo jovem Bruno Ferreira.

Em poucos dias recolheram-

-se 8614 assinaturas, entregues noParlamento em 22 de Julho de2010. Já em Outubro, quando ospeticionários foram ouvidos, naAssembleia da República, pelaComissão Parlamentar de ObrasPúblicas, Transportes e Comuni-cações, foram anexas mais 1956assinaturas entretanto recolhidas,ultrapassando assim as 10 miladesões. «Uma vez que as indefi-nições sobre o Metro Mondego se

mantêm, são inaceitáveis os pre-juízos directos na vida de milha-res de pessoas, bem como a inutili-zação da centenária Linha do Ra-mal da Lousã no início do ano coma garantia da sua substituição peloMetro Mondego, quando já eramconhecidas as dificuldades orça-mentais do País. O Governo nãopode, agora, dar o dito pelo nãodito», escreveu Adriano Lucas nacarta dirigida ao presidente daAssembleia da República.

Na sequência da petição, foramchamados ao parlamento os pre-sidentes de Câmara envolvidos eo presidente demissionário da

Metro Mondego. Foram, ainda,pedidos esclarecimentos às CP e àREFER de modo a que o assunto,

que continua sem solução à vista,tenha sido analisado em plenárioa 19 de Janeiro de 2011. l

Em 2010, mais de 10 mil assinaturasna petição, a favor do Metro Mondego, contraa irresponsabilidade do Governo de José Sócrates

� A 19 de Janeiro de 1994, começam a serpublicados os suplementos “Centro Portugal

Política”, “Centro Portugal Desporto”, “CentroPortugal Saúde”, “Centro Portugal Jovem”, “CentroPortugal Motores” e “Centro Portugal Turismo”. A 8

de Fevereiro tem início a publicação do “CentroPortugal Economia”. A 25 de Abril teve início a

publicação periódica de “Centro Portugal Desporto”.

Galiano Pinheiro, Bruno Ferreira, Adriano Callé Lucas, Jaime Gama, Ar-ménio Travassos e o deputado Pedro Farmhouse na entrega da petição

� A 1 de Outubrode 1993 o Diário de

Coimbra introduz, pelaprimeira vez, a cor nas

suas páginas, com umafotografia das obras do

Pólo II da Universidade deCoimbra

� A 8 de Janeiro de 1990,sob a direcção de AdrianoCallé Lucas, é lançado "ODesportivo das Beiras", o

semanário que, àssegundas-feiras, noticiava

os principais acontecimentosdesportivos da região centro.

COR NA PRIMEIRA PÁGINADESPORTIVO DAS BEIRAS CADERNOS “CENTRO DE PORTUGAL”

14 DiáriodeCoimbra21 DE JANEIRO DE 2011 HOMENAGEM

Page 15: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

� Daniela

Homem Pinto� Directora-adjunta

� Informar. Foi com este objecti-vo que há 13 anos nasceu o Diá-rio de Viseu. Um jornal pensadopara a região e com a vontade dese afirmar como uma publicaçãoindependente de qualquer inte-resse. Os primeiros passosforam dados enquanto DiárioRegional de Aveiro e Viseu. Mascedo, o seu fundador, AdrianoLucas, apercebeu-se de que aregião merecia uma informação

alicerçada em valores sólidos ena defesa dos seus interesses. A 2de Junho de 1997, surgiu, então, aprimeira edição do Viseu – Diá-rio Regional, tendo como direc-tor Adriano Callé Lucas. Umaousadia, na opinião de muitos,mas que nos dias de hoje se pro-va ter sido uma aposta ganha.

Dez anos depois de ter surgidonas bancas, o jornal passou adenominar-se Diário de Viseu, nasequência da aquisição de um títu-lo que se encontrava registado comeste nome, mas que nunca se tinhapublicado como jornal diário.

Ontem como hoje, oDiário de Viseu man-tém a mesma linha deorientação editorial -um jornal diário infor-mativo de orientaçãorepublicana e liberal,independente do poderpolítico e do poder eco-nómico monopolista, aoserviço de Viseu e daRegião das Beiras. Umjornal que, como preco-niza o seu fundador,dos Leitores e para osLeitores.

As audiências atestam avalidade do caminho tri-lhado até aqui. Nos últimos13 anos, o Diário de Viseutem-se expandido e afir-mado como o jornal commaiores índices de leiturana região - que têm vindosempre a crescer.

Por isso, reafirma o com-promisso de estar cada vezmais atentos ao pulsar soci-al, cultural, económico, polí-tico e desportivo da cidade eda região. E, sobretudo, adefender, com intransigên-cia, a região em que estáinserido, muitas vezesesquecida por um poderpolítico cada vez mais cos-mopolita e centralista. l

Diário de Viseu inicia a publicação

NA QUALIDADE de Presiden-te da Associação Comercialdo Distrito de Viseu, tem-mesido dada a grata oportuni-dade de contactar de pertonão só com o Diário de Viseu

como com o seu fundador, oEngenheiro Adriano Lucas.Os jornais que dirige, e emparticular o Diário de Viseu,são hoje uma referência nopanorama da Comunicação

Social Local, cada vez maisimportante na veiculação dainformação que verdadeira-mente interessa aos leitoreslocais e regionais e que nemsempre encontra o eco devi-do na Comunicação SocialNacional.

É, por isso, cada vez maisimportante acarinhar, todosnós, leitores, assinantes, res-ponsáveis locais de todos os

quadrantes, as publicaçõesque ao publicitarem, fazemjuz ao trabalho que desenvol-vemos, aos esforços queencetamos, às lutas que tra-vamos.

Apresentando as minhasfelicitações ao Grupo, aoEngenheiro Adriano Lucas,e ao Diário de Viseu, pelotrabalho desenvolvido aolongo de todos estes anos,

faço votos para que conti-nue esse importante e ne-cessário trabalho, em prolda Região, da Cidade e doCidadão eleitor, por muitosmais anos. l

AS INSTITUIÇÕES são a imagemdas Pessoas que as dirigem e nelatrabalham, uma frase que muitasvezes se utiliza e que encaixa naperfeição quando nos referimosao Grupo Editorial Diário deCoimbra, Aveiro, Leiria e Viseu.

Adriano Lucas é hoje uma per-sonalidade reconhecida pelo seupercurso independente, de rigor,coragem e sentido estratégico,soube dar boa continuidade aotrabalho do seu Pai e implantar àescala da Região Centro o maiorgrupo de informação que marcaos distritos onde actua bem comoo contexto nacional.

O meu primeiro contacto com

o Diário de Coimbra verifica-sequando estudei na cidade dosestudantes de 1981 a 86, o dia nemcomeçava bem sem a sua leituramatinal, algumas vezes tardia.

Mais tarde, como Presidenteda Associação Industrial de Viseue como Presidente do ConselhoEmpresarial do Centro, assisto aonascimento dos Diários de Viseu,Aveiro e Leiria que permitemuma cobertura à Escala da RegiãoCentro, permitindo afirmar estaNova Centralidade.

A afirmação duma Região faz--se com uma estratégia comum,com uma actuação em rede dosprincipais agentes mas, se nãotiver grupos de informação quelhe dêem suporte, os resultados aatingir serão menos relevantes;

estes quatro Jornais Diários per-mitiram atingir este objectivo.

O aparecimento do DiárioRegional de Viseu permitiusuprir uma lacuna existente nanossa Cidade e no Distrito, ter-mos acesso a informação diáriaescrita; este percurso de 13 anos éuma realidade de que nos orgu-lhamos, Viseu já não sabe viversem o seu Jornal Diário.

É justo, pois, prestar homena-gem ao Fundador, Adriano Vie-gas da Cunha Lucas e ao dignosucessor Engenheiro AdrianoLucas, bem como a toda a suaequipa, jornalistas e demais pes-soal. A vidade de Viseu, o Distritode Viseu e a Região Centro, muitolhes devem, o meu Bem-haja pelorelevante serviço, quando secompletam 13 anos do Diário deViseu e 80 anos do Diário deCoimbra. Estou certo que são pro-jectos que se consolidaram e terãoimaginação para acompanhar ostempos que se adivinham, difíceismas estimulantes. l

EXISTE uma relação funda-mental entre a comunicaçãosocial, o talento e o progresso. Aliberdade de imprensa é umdos requisitos fundamentaispara o progresso económico epara a construção de uma soci-edade civil forte. A informaçãopara ser informação tem de serisenta, rigorosa, verdadeira ecom qualidade linguística.

A comunicação social temde conseguir mobilizar otalento individual e colectivopara as causas com sentido. Acomunicação social deve pro-mover o nível intelectual e deconhecimento de cada um,contribuindo para o enrique-

cimento dos seus valores e tor-nando as suas decisões maissustentadas e melhores. Umcidadão completo é um cida-dão bem informado, que sabeescolher e decidir, que senteque tem a responsabilidadesocial individual de pôr o seutalento ao serviço de todos.

A comunicação social ajuda acriar e desenvolver o “músculo”crítico e identidade de uma regi-

ão ou país, dando uma razão deser e uma motivação aos cida-dãos para se envolverem nascausas que promovem o seudesenvolvimento. A comunica-ção social deve ser uma das ala-vancas da competitividaderegional e nacional, atraindo efixando o talento e promoven-

do as causas com sentido demissão. Estas são aquelas cau-sas de longo prazo, construti-vas, que partem de dentro, quecriam a motivação para amudança de que tanto necessi-tamos.

Estes são, em linhas gerais,os compromissos que deve tera comunicação social. Pensoque apenas perduram no mer-cado as empresas com com-

promisso com valores, quetêm um sentido de missão nasua actividade. O Diário deViseu e o seu grupo têm assu-mido este compromisso. Porisso têm contribuído para oprogresso regional. Por issocontinuam a merecer a confi-ança de todos nós. l

� GUALTER

JORGE LOPES

MIRANDEZ

� Presidente da Direcção da Associação Comercialdo Distrito de Viseu

� JOÃO COTTA

� Presidente daAssociaçãoEmpresarial da Região de Viseu

� ANTÓNIO

ALMEIDA

HENRIQUES

� Ex-Presidente do ConselhoEmpresarial do Centro

Felicitações Diário de Viseu

Liberdade de imprensa éfundamental para o progresso

Um percurso de rigor, corageme sentido estratégico

APENAS PERDURAM AS EMPRESAS COMCOMPROMISSO COM VALORES, QUE TÊMSENTIDO DE MISSÃO NA SUA ACTIVIDADE O DIÁRIO DE VISEU E O SEU GRUPO TÊMASSUMIDO ESTE COMPROMISSO

ESTE PERCURSODE 13 ANOS É UMAREALIDADEDE QUE NOSORGULHAMOS

FAÇO VOTOS PARAQUE CONTINUEESSE IMPORTANTETRABALHO EMPROL DA REGIÃO

1997 2 DE JUNHO

1521 DE JANEIRO DE 2011

DiáriodeCoimbraHOMENAGEM

Page 16: Adriano Lucas - O decano da imprensa portuguesa

1997 2001

ESCREVER sobre o Eng.o AdrianoLucas, focando a sua força de traba-lho, a dinâmica e inovação queimprimiu aos projectos que elabo-rou e a que deu viabilidade e sus-tentabilidade, bem como à coragemque assumiu em momentos queimpunham determinação e acçãona defesa da liberdade, e, ainda, aocarácter e personalidade que bali-zam a sua vida e a sua postura nasociedade, sem esquecer o incon-formismo que o acompanha aovalorizar e dignificar a Coimbrados seus encantos e que mora noseu coração, é tarefa difícil e quaseou mesmo impossível.

Difícil, porque traduzir emletra de forma um percursovivencial prenhe de iniciativasempresariais, repleto de empre-endedorismo e cheio de incon-testada dedicação às causas eaos valores em que se empe-nhou, é, praticamente, inviável,dada a multiplicidade de atitu-des e acções que vinculam a suaexistência.

Impossível ou quase, porqueescrever sobre Adriano Lucasimplica "trabalhar" um texto comtantas e tantas virtualidades ecapacidades da pessoa em referên-cia e com tantos motivos paradesenvolver e oferecer ao conheci-mento dos leitores que, por maiorque seja a pesquisa e talentosa aelaboração dos pergaminhos que omolduram, algo ficará por registare muito escapará ao universo deelementos que justificam análise,interpretação e redacção transpa-rente e elucidativa desse trabalho.

Por isso, com hipóteses de subes-

timar o seu exemplo e valor nadimensão que o sustenta, regista-mos, em quatro pontos de reflexão,o que interiorizámos e validamosdo Eng.o Adriano Lucas, aquilo queamealhámos em mais de três déca-das que mantemos numa relaçãode amizade e respeito mútuo.

Amizade e comunicabilidadesão características peculiares quelhe sobram. Quem conhece ou viera entabular diálogo com AdrianoLucas nota, imediatamente, queestá perante uma pessoa de nobrehumildade, aberta a todos os estra-tos sociais e níveis culturais e eco-nómicos, sem olvidar os políticos ereligiosos, que não rejeita ou abortaa conversa, somente por estar comalguém com predicados, cultura eideários diferentes, superiores e oudiminutos em relação a ele. Tal ati-tude não faz parte do seu modo devida, não existe neste homem deCoimbra, neste empresário desucesso e nesta figura de elevadacultura e de fácil comunicação.

Adriano Lucas com o seu sorrisoentreaberto e a expressiva maneirade comunicar e cativar, semeia inte-resse de audição e dilata confiançano diálogo, princípios abonatóriosde quem conhece os homens, asociedade e o mundo. As barreirasvirtuais dissipam-se e as ideias flu-em, as opiniões são recíprocas e opensamento extravasa e exercita-seno desenrolar da conversa. Torna--se difícil, por vezes, suspender odiálogo, pois a amabilidade e o con-texto do assunto ou assuntos nãodesejam terminá-lo.

Homem de cultura e andarilhodo mundo permite-lhe manteruma notória capacidade de com-

preensão, um espírito arguto e umapluralidade de conhecimentos, quedão aso a uma convergência desaberes que lhe facultam a possibi-lidade de tecer os mais variadoscomentários, discutir os maisintrincados problemas, apontarfórmulas de os sanar, oferecer men-sagens culturais de diferentes civili-zações e povos, que conhece, querpela leitura e apreensão de conteú-dos dos livros, quer pela presençanos países que visita. Podemos ape-lidá-lo, neste aspecto, de andarilhodo mundo, porque tem sido umasalutar paixão viajar e cultivar-se.O pendor de viajante e de "descobri-dor" confere-lhe prerrogativasextraordinárias para ver "in loco" asexperiências tecnológicas e científi-cas manifestadas nas regiões visita-das, as diversas técnicas e estilosdas grandes obras de arte, a monu-mentalidade, a riqueza e diversida-de do património cultural e natural,as diferentes sensibilidades huma-nas, a maneira de viver em comu-nidade, as tradições e os hábitos daspessoas, sem esquecer como traba-lham, estudam e produzem.

Quantas vezes nos telefonou decidades e lugares que o fascinarame que vieram engrossar o álbumdas suas memórias e conhecimen-tos e aumentar a matéria primapara os seus diálogos com os ami-gos e ou conhecidos. Dominandoalguns idiomas mais facilmentecaptou amizades e melhor adquiriunovos saberes.

Empresário de sucesso é oresultado do carisma que mora nasua pessoa e que o mobiliza paragrandes empreendimentos einvestimentos. Dotado de inques-

tionável determinação em inovar eromper barreiras de conformis-mo, abraça salutares ambições quefirmam os êxitos que assinalam oseu projecto de vida.

Na sua persistente e nobilitanteacção de empresário de sucesso eligado a diversos ramos industriais,obteve ganhos sociais e económicosque contribuíram inequivocamentepara a criação de amizades, de confi-ança inovadora, aumentando pos-tos de trabalho, ajudando ao desen-volvimento regional e nacional, for-mação de quadros e afirmação eprestígio das empresas em que seenvolveu, designadamente as Fábri-cas Triunfo e a Auto-Industrial.

Mas, a Comunicação Socialconstitui, no nosso entendimento,a coroa de glória que o acompanhae que marca, também, a sua impe-tuosidade empresarial e de liber-dade. Fundador, há 80 anos, doDiário de Coimbra, com a assun-ção de responsabilidade total des-de há 60 anos, mantém viva eactuante uma publicação queregista desde o primeiro número amesma linha editorial, vinculadana independência e na autonomiade produção. Um jornal que é omais antigo diário do país, queultrapassou as diferentes situa-ções de dificuldade, onde o sistemapolítico do antigo regime e do iní-cio do actual puseram à prova acoragem e a determinação deAdriano Lucas (recordamos os nú-meros censurados e a fundação,pós 25 de Abril, do "Domingo").Obteve sempre êxitos na suainquebrantável acção de justiça eliberdade, factores que não deixa-ram cair a sua sobrevivência e via-

bilidade e nem conspurcar osvalores de independência e liber-dade de imprensa

Por isso, o Diário de Coimbra fazparte da família de milhares de lei-tores, de Coimbra e do país, dando--lhe, diariamente, os bons dias,informando do que aconteceu nomundo e ajudando a completar asua formação.

E, Adriano Lucas, naquele seupendular empreendorismo, fun-dou, posteriormente, os Diários deAveiro, Leiria e Viseu, instalandoum equipamento moderno em quese imprimem, além dos seus jor-nais, muitos jornais regionais: FIG-Indústrias Gráficas, S.A. Projectosde notável envergadura que resul-taram de uma visão tentacular queextravasa o comum sentimentoempresarial de acomodação aoexistente.

Mas, se esta qualidade intrínse-ca e dinamismo exemplar bastas-sem para o colocar num pedestalde referência nacional e mesmointernacional, impõe-se salva-guardar o lugar de decano dos diri-gentes da Imprensa em Portugal,de paladino da liberdade e da inde-pendência da Comunicação Social,sendo um dos mentores que ela-borou a Lei de Imprensa em 1975.Lutador sem desânimos, venceuas afrontas que foram movidas aoseu jornal, antes e pós 25 de Abril,conseguindo assegurar o editorialde independência e respeitar anormal edição do Diário, fundan-do com o mesmo estatuto o"Domingo".

Membro do Conselho de Im-prensa portuguesa e de diversosorganismos nacionais e internacio-nais que balizam essa liberdade eindependência na pluralidade deopinião e de ideários, AdrianoLucas é um Senhor e Mestre daComunicação Social.

Defensor de Coimbra em toda a

dimensão da sua valorização edivulgação, Adriano Lucas é umdos filhos predilectos da sua cida-de, cidadão que manifesta, sempre,o seu amor a Coimbra. A cidade etambém a região fazem parte doseu currículo de entusiasmo eacção bairrista, propósitos queintegram a sua alma de beirão.Jamais enjeitou essa relação,jamais olvidou os momentos difí-ceis que prejudicaram a cidade,colocando o seu órgão de comuni-cação e a sua escrita e palavra nadefesa dos valores que entendeuserem os mais justos. Lançou obrado de alerta, de crítica e ou deaplauso nas situações e nosmomentos que exigiram essapostura.

Recordamos, por exemplo, a co--incineração em Souselas, o Metrode superfície (a luta continua), porserem atitudes mais recentes, masregistemos a construção dos Hos-pitais da Universidade, as campa-nhas de ajuda aos pescadores daFigueira da Foz em altura de nau-frágio, aos pobres e a instituiçõessociais, a denúncia veemente deatentados à cidade, como a destrui-ção da Alta, e ainda a defesa deoutros bens e empreendimentos deCoimbra e da região.

O Diário de Coimbra, o seu jor-nal, tem sido uma tribuna abertaque Coimbra possui e que utilizaem circunstâncias de necessidadee de defesa, e o Eng.o AdrianoLucas, homem de causas e lídimorepresentante de uma valiosariqueza pessoal sustentada naliberdade e na força da justiça.

E, se o Diário de Coimbra abraçae reflecte no nome o pulsar da cida-de, Adriano Lucas comunga dessetítulo, desde há 80 anos, inteira eincondicionalmente, evidencian-do, todos os dias, o fervor que nelehabita e lhe inunda o coração e aalma de conimbricense. l

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� MÁRIONUNES� Historiador

Adriano Lucas: um homem de causas, defensor da liberdade

É UM “marco” na minha vidapoder ter aceite, em 2004, o desafiodo Eng. Adriano Lucas para inte-grar a Direcção do Diário de Coim-bra. Já outras vezes e por ocasiões

esse momento esteve para aconte-cer, mas foi em 2004 que aceitei odesafio da minha vida, tendo, atéaí, olhado com a atenção e a proxi-midade possível o caminho que oDiário de Coimbra trilhava.

Desde essa data, foi um nuncamais parar de colher os ensina-mentos de um mestre de quem seaprende a gostar no primeiro con-tacto, um Homem de afectos, masagarrado às suas convicções e de

quem se percebe logo que muitotem para partilhar sobre a vida e avida na Imprensa.

É uma honra, no presente, serum dos escolhidos como pessoade confiança para dirigir esteprojecto e também poder dar omeu contributo aos Diário deLeiria e Viseu, projectos ondeaprendi com o líder a colocar omeu carinho pessoal e pelosquais já me encontro encantado.

Bem haja Eng. Adriano Lucaspelas insistentes lições sobreHumanismo, relações pessoais eforma de estar na Imprensa regi-onal, em cada encontro de Sábadoonde todos ficamos a saber umpouco mais. Estes momentos sãouma verdadeira lição de vida,para todos os que têm a oportuni-dade de o ouvir de forma clara,mas persistente, aquilo que são osseus ideais e valores para aImprensa.

O que mais nos marca e queadoptamos como cartilha neste pro-jecto é que os Jornais só existem por-

que há leitores e que os leitores são arazão da nossa existência.

Esse sentido de liberdade, derepublicano e regionalista convic-to é o maior legado com que todosaqui vivemos e damos continuida-de e que vejo já assumido pela suafamília. Só assim compreendendoque este projecto continue desde1930 no seio da mesma família,indo já na sua terceira geração.

A qualidade da informação a quenos habituou a procurar dá-nos anós e aos nossos leitores a confiançade aqui continuarmos na procurado melhor para os melhores leito-

res, assinantes e anunciantes.A lição de que este é um produto

que só vale a pena fazer, desde quecom paixão e independência dospoderes políticos e económicos, eque para ter a sua missão cumpri-da chegue a casa de cada assinanteno início de cada manhã, é dosmelhores ensinamentos nestesmeus anos de convívio nesta suacasa. É um “marco” no caminhoda minha realização pessoal eprofissional, o seu convite parafazer parte deste projecto.

Obrigado pelo desafio que paramim representa diariamente. l

� ARMÉNIOTRAVASSOS

� Director-Geraldo Diário de Coimbra

Um marco

� Em 2001, a FIG adquiriu uma novarotativa de jornais (GOSS Comunity) que

passou a permitir uma excelentequalidade de impressão, especialmente na

cor. No ano anterior entrara emfuncionamento uma outra máquina

rotativa (MAN) para impressão de revistas.

� Em 1997, em homenagem a Adriano Viegas da CunhaLucas, fundador do Diário de Coimbra, a Câmara Municipalde Coimbra deliberou atribuir o seu nome à rua onde estáinstalado o Diário de Coimbra, que passou a designar-se

Rua Adriano Lucas. Na foto, o então presidente daCâmara, Manuel Machado, Adriano Lucas e o seu neto

Adriano Soares de Oliveira Callé Lucas.

RUA ADRIANO LUCAS, EM COIMBRA NOVAS ROTATIVAS NA FIG