adolescentes em conflito com a lei e família: um estudo de...

13
Contextos Clínicos, 6(2):144-156, julho-dezembro 2013 © 2013 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2013.62.07 Resumo. Este estudo realizou uma revisão sistemática da literatura a m de conhecer o estado da arte sobre o tema “Família e adolescente em conito com a lei” no período de 2007 a 2012. Foram selecionados resumos de peri- ódicos cientícos nacionais e internacionais, indexados nas bases de dados Bireme (Index Psi. Revistas Técnico-Cientícas, PePsic, SciELO, LILACS, Me- dline) através de combinações de descritores. Um total de 162 trabalhos foi localizado a partir dos seguintes critérios: está dentro do período de análise, nos idiomas inglês, espanhol e português e sem duplicidade. Destes, apenas 35 artigos faziam menção à temática família e foram analisados na íntegra. Observou-se um predomínio de estudos internacionais, empíricos e de ca- ráter quantitativo. A partir da análise, foram identicados três eixos temá- ticos que versavam sobre: características do funcionamento e da dinâmica familiar de adolescentes em conito com a lei; a percepção dos adolescentes acerca de suas famílias; e metodologias de avaliação e de intervenção volta- das à família. Os resultados revelaram que é inviável pensar na prática de atendimento ao adolescente infrator sem englobar sua família com a mesma ênfase, bem como, se tem vericado uma prática recorrente de culpabiliza- ção da família pela situação de infração do lho, sendo vista apenas como fator de risco. Palavras-chave: adolescente em conito com a lei, família, revisão sistemática. Abstract. This study conducted a systematic literature review to ascertain the state of the art on the theme “Family and delinquent adolescents” in the period 2007-2012. National and international scientic journals abstracts indexed in Bireme databases (Index Psi. Revistas Técnico-Cientícas, PePsic, SciELO, LILACS, Medline) were selected through dierent combinations of descriptors. A total of 162 studies were located using the following criteria: Adolescentes em conflito com a lei e família: um estudo de revisão sistemática da literatura Delinquent adolescents and family: A systematic review of the literature Mykaella Cristina Antunes Nunes Universidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil. Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos). [email protected] Anne Graça de Sousa Andrade Universidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil. Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos). Universidade Estadual do Ceará. Rua José Furtado, s/n, 63700-000, Crateús, CE, Brasil. [email protected] Normanda Araujo de Morais Universidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil. Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos). [email protected]

Upload: truongtram

Post on 16-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Contextos Clnicos, 6(2):144-156, julho-dezembro 2013 2013 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2013.62.07

Resumo. Este estudo realizou uma reviso sistemtica da literatura a fi m de conhecer o estado da arte sobre o tema Famlia e adolescente em confl ito com a lei no perodo de 2007 a 2012. Foram selecionados resumos de peri-dicos cientfi cos nacionais e internacionais, indexados nas bases de dados Bireme (Index Psi. Revistas Tcnico-Cientfi cas, PePsic, SciELO, LILACS, Me-dline) atravs de combinaes de descritores. Um total de 162 trabalhos foi localizado a partir dos seguintes critrios: est dentro do perodo de anlise, nos idiomas ingls, espanhol e portugus e sem duplicidade. Destes, apenas 35 artigos faziam meno temtica famlia e foram analisados na ntegra. Observou-se um predomnio de estudos internacionais, empricos e de ca-rter quantitativo. A partir da anlise, foram identifi cados trs eixos tem-ticos que versavam sobre: caractersticas do funcionamento e da dinmica familiar de adolescentes em confl ito com a lei; a percepo dos adolescentes acerca de suas famlias; e metodologias de avaliao e de interveno volta-das famlia. Os resultados revelaram que invivel pensar na prtica de atendimento ao adolescente infrator sem englobar sua famlia com a mesma nfase, bem como, se tem verifi cado uma prtica recorrente de culpabiliza-o da famlia pela situao de infrao do fi lho, sendo vista apenas como fator de risco.

Palavras-chave: adolescente em confl ito com a lei, famlia, reviso sistemtica.

Abstract. This study conducted a systematic literature review to ascertain the state of the art on the theme Family and delinquent adolescents in the period 2007-2012. National and international scientifi c journals abstracts indexed in Bireme databases (Index Psi. Revistas Tcnico-Cientfi cas, PePsic, SciELO, LILACS, Medline) were selected through diff erent combinations of descriptors. A total of 162 studies were located using the following criteria:

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

Delinquent adolescents and family: A systematic review of the literature

Mykaella Cristina Antunes NunesUniversidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil.

Laboratrio de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, famlia e comunidade (Lesplexos)[email protected]

Anne Graa de Sousa AndradeUniversidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil.

Laboratrio de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, famlia e comunidade (Lesplexos).Universidade Estadual do Cear. Rua Jos Furtado, s/n, 63700-000, Crates, CE, Brasil.

[email protected]

Normanda Araujo de MoraisUniversidade de Fortaleza. Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, 60811-905, Fortaleza, CE, Brasil.

Laboratrio de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, famlia e comunidade (Lesplexos)[email protected]

145Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

Introduo

No Brasil, a populao infanto-juvenil um dos segmentos populacionais mais pre-judicados pelos problemas socioeconmicos (Cruz-Neto e Moreira, 1998). A desigualdade econmica e social brasileira dificulta o pleno crescimento e o desenvolvimento de milhes de adolescentes, que se veem privados de opor-tunidades de incluso social em seu contexto comunitrio, vivendo em moradias inadequa-das e merc de diversas problemticas, como: restries severas ao consumo de bens e servi-os; estigmas e preconceitos; falta de qualidade no ensino; relaes familiares e interpessoais fragilizadas; e violncia em todas as esferas de convivncia (Assis e Constantino, 2005).

Dados preliminares do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsti-ca (IBGE, 2010), indicam que quatro em cada dez brasileiros (40%) que vivem na misria so meninas e meninos de at 14 anos. D epois das crianas, o segundo grupo etrio com maior percentual de pessoas vivendo em fa-mlias pobres so os adolescentes. O nmero de adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos de idade que vivem em famlias com renda inferior a salrio mnimo per capita 7,9 milhes. Isso significa dizer que 38% dos ado-lescentes brasileiros esto em condio de po-breza (UNICEF, 2011).

Tal fato associado a outros problemas so-ciais reflete no crescente ndice de violncia e criminalidade que tem atingido principalmen-te a populao jovem. Sabe-se que, compara-do ao ano de 2009, houve um aumento de 763 adolescentes (aumento equivalente a 4,5%) que estavam cumprindo medidas de restrio e privao de liberdade no ano de 2010. Em no-vembro de 2010, havia 17.703 adolescentes em restrio e privao de liberdade, sendo 12.041

em internao; 3.934 em internao provisria e 1.728 em medida de semiliberdade. Tambm se indica que 12 estados brasileiros aumenta-ram o nmero de adolescentes nas unidades socioeducativas, enquanto, em 15 estados, esse nmero diminuiu. Na regio norte, os estados que apresentaram aumento foram PA e TO; na regio nordeste, AL, BA, CE, MA; na regio centro-oeste, DF e MS, na sudeste, ES, RJ e SP e, na regio sul, o PR. Em nmero absoluto, o maior crescimento deu-se no Estado de So Paulo, sendo de 588 adolescentes (Secretaria de Direitos Humanos, 2011).

Faz-se importante destacar que o cresci-mento da infrao praticada por jovens no um fenmeno isolado e nem especfico do Brasil. Em diversos pases do mundo, com di-ferentes nveis de desigualdade econmica e social, possvel verificar igual preocupao com o envolvimento de jovens envolvidos com infraes. As causas apontadas sugerem uma reflexo ampla acerca do tema: so econmi-cas, culturais, polticas e psicolgicas (Assis e Constantino, 2005).

Entre os fatores de risco que esto relacio-nados entrada no mundo infrator, a literatu-ra tem apontado algumas variveis importan-tes, como: elevada vulnerabilidade; tendncia excluso social; situaes de negligncia e abandono; pobreza; criminalidade e violncia na famlia, na escola, na comunidade e na socie-dade em geral; e abuso de substncias psicoa-tivas. Tambm tm sido apontadas como fator de risco algumas caractersticas biolgicas e psicolgicas, tais como ter danos neurolgicos sutis, impulsividade, hiperatividade, prec-rio controle diante de frustraes, deficincia de ateno e incapacidade de planejamento e fixao de metas, baixos nveis de intelign-cia, etc; apresentar problemas escolares e ser jovem do sexo masculino (Gallo e Williams,2005; Davoglio e Gauer, 2011).

it is within the period of analysis, it is writt en in English, Spanish and Portu-guese and without duplicity. From the group, only 35 articles mentioned the family theme, and they were analyzed in full. There was a predominance of international studies with an empirical and a quantitative character. From the analysis three themes were identifi ed: characteristics and functioning of delinquent adolescents family dynamics; adolescents perception about their families, and methodologies for assessment and intervention aimed at the family. The results revealed that it is necessary to consider the practice of assisting the off ending adolescent with the same emphasis given to his/her family. The results also revealed that it has been a common practice to blame the family for the childs off ense.

Key words: delinquent adolescents, family, systematic review.

146Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

Com isso, o cometimento de um ato infra-cional no explicado pela presena isolada de um fator adverso, mas sim, atravs da com-plexa cadeia de eventos da trajetria do jovem (Costa e Assis, 2006), que pode refletir a frgil condio da infncia e da juventude no cen-rio mundial. Os atos infracionais cometidos por adolescentes constituem um fenmeno comple-xo em virtude das mltiplas causas envolvidas. Por isso, requer uma viso mais integral, que possa considerar aspectos da pessoa e dos seus diferentes contextos de inser o, especialmente a famlia (Nardi e DellAglio, 2012), tendo em vista que o envolvimento com o ato infracional corresponde apenas a um dentre outros agra-vos que compem o quadro de vulnerabilidade dos jovens (Costa e Assis, 2006).

A fim de assistir aos jovens em conflito com a lei de forma a minimizar vulnerabilidades e riscos sociais e de responsabiliz-los pelo ato infracional, o Estatuto da Criana e do Ado-lescente (ECA) desenvolveu medidas socioe-ducativas. Estas devem desempenhar um pa-pel de apoio social ao adolescente em conflito com a lei, oferecendo um efeito protetivo que remeta ao desenvolvimento da capacidade de enfrentamento de adversidades.

De acordo com o Estatuto da Criana e do Adolescente (Governo do Estado do Cear, 2012), na ocorrncia dos atos infracionais, so aplicadas medidas socioeducativas. Utiliza-se o termo atos infracionais para designar os delitos cometidos por adolescentes e a estes podem ser aplicadas medidas que variam des-de a advertncia at a internao, levando-se em conta a severidade do ato infracional co-metido e as condies do adolescente em cum-pri-la. Essas medidas podem ser cum pridas tanto em liberdade, como no caso da adver-tncia, da prestao de servios comunidade (PSC) e da liberdade assistida (LA), como em regime de internao ou em meio fechado por um perodo mximo de trs anos.

No que se refere s medidas socioeduca-tivas, a PSC consiste na realizao de tarefas gratuitas de interesse geral, considerando a aptido do adolescente, por perodo no ex-cedente a seis meses e com carga horria de oito horas semanais junto a entidades assis-tenciais, hospitais, escolas e outros estabeleci-mentos congneres, bem como em programas comunitrios ou governamentais. A medida de LA, por sua vez, deve ser adotada sempre que o ato infracional for reincidido. Trata-se de uma medida centrada no atendimento per-sonalizado, a qual deve envolver o auxlio de

educadores sociais, garantindo a socializao do adolescente, a manuteno dos vnculos familiares e comunitrios, a escolarizao e a insero no mercado de trabalho ou em cur-sos profissionalizantes (Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2006).

A diferenciao, pelo poder judicirio, quanto escolha de aplicao de medidas de LA ou PSC, perpassa pela anlise do contex-to familiar do adolescente. A exclusividade da PSC mais adequada a situaes em que os atos infracionais so considerados mais leves e as relaes familiares esto preserva-das, ou seja, o adolescente que cometeu algum delito ainda possui vnculos familiares. Nos casos mais graves de infraes ou quando os adolescentes encontram-se desvinculados de suas famlias, o juiz opta pela LA (Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2006).

A famlia entendida como uma instituio de controle social e lcus de socializao tem sido um foco privilegiado de estudos, tanto no que tange s suas novas configuraes, quan-to por sua importncia no desenvolvimento humano, inclusive do adolescente (Lanza e Taylor, 2010; Van der Laan et al. 2010). Segundo Minuchin (1982), a famlia um sistema aberto em transformao, isto , constantemente re-cebe e envia inputs do meio extrafamiliar e se adapta s diferentes exigncias dos estdios de desenvolvimento que enfrenta. Tambm com-preende um todo relacional inserida sempre em um contexto social mais amplo, mas con-tendo subsistemas (pai-me, pais-adolescente, adolescente-irmos) nos quais o adolescente exerce influncia e influenciado (Vascon-cellos, 2002).

As relaes estabelecidas dentro da famlia tero implicaes nas condutas sociais futuras dos jovens e adultos. Nesse sentido, que a literatura tem sugerido que a famlia pode se constituir como um importante fator de risco ou proteo para os atos infracionais adoles-centes, dependendo de suas caractersticas, sua dinmica e seu funcionamento (Feij e As-sis, 2004; Nardi e DellAglio, 2012). Por vezes, as famlias desses adolescentes vivenciam uma situao de desestruturao social, em que, em funo disso, muitas delas acabam perdendo sua capacidade de oferecer proteo, suporte afetivo e regulao social adequada (Nardi e Dellaglio, 2012).

A realidade de muitos adolescentes em conflito com a lei evidencia a ausncia de figu-ras representativas na famlia alm de incon-sistncia de vnculos familiares (Costa e Assis,

147Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

2006). Em termos gerais, as famlias de jovens envolvidos em infraes tendem a ser caracte-rizadas como potenciais fatores de risco, reve-lando extremo grau de fragilidade, por vrias situaes: precria situao socioeconmica; deficiente superviso por separao dos pais; ausncia da me do lar devido ao trabalho ou distanciamento da figura paterna; mortes e doenas rotineiras na famlia; relacionamentos marcados por agresses fsicas e emocionais, precrio dilogo intrafamiliar e dificuldades em impor disciplina (Assis e Constantino, 2005). Diante de tal contexto, seria importante que os servios de proteo alcanassem no apenas o adolescente, mas seu contexto rela-cional prximo, de modo a aumentar as pos-sibilidades de o adolescente, sua famlia e sua comunidade lidarem com os riscos potenciais, como desemprego, fome, dificuldade escolar, criminalidade, etc. (Costa e Assis, 2006).

A famlia, o grupo de pares e a escola constituem os principais sistemas em que tal adolescente est inserido (Costa et al., 2007). Porm, para esse estudo, elegeu-se como foco o sistema famlia do adolescente em conflito com a lei. Buscou-se realizar, assim, uma revi-so sistemtica da literatura acerca dos artigos publicados na base de dados BIREME sobre o tema adolescentes em conflito com a lei e fam-lia no perodo compreendido entre 2007 e 2012. O objetivo mapear o estado da arte a respei-to do assunto, dando destaque s publicaes que tratem dos dois temas e buscando levantar ano de publicao dos artigos, origem, mto-do utilizado, objetivos e principais resultados encontrados. Atravs do levantamento de tais estudos e da anlise de suas principais contri-buies, busca-se contribuir para a prtica de profissionais de diversos contextos (jurdico, social, da sade e clnico) envolvidos de uma forma ou de outra no atendimento a adoles-centes em conflito com a lei. Entende-se que tal proposta rica de contedo pela prpria com-plexidade do tema, que faz pensar que esse fenmeno atual e pode vir a demandar uma ajuda em qualquer espao profissional.

Mtodo

Trata-se de um estudo de reviso sistemti-ca da literatura. As revises sistemticas de li-teratura buscam sintetizar evidncias externas entre mltiplos estudos identificados e analisa-dos com base em critrios adequados e proce-dimentos explcitos e transparentes de forma que o leitor possa identificar as caractersticas

reais dos estudos revisados. Tambm na ope-racionalizao dessa reviso, importante seguir as etapas: seleo da questo temtica, estabelecimento dos critrios para a seleo da amostra, anlise e interpretao dos resultados e apresentao da reviso (Pereira, 2010).

Procedimento

Este estudo objetivou vislumbrar o estado da arte acerca do tema Famlia de adolescen-tes em conflito com a lei a fim de obter uma abrangncia da literatura cientfica sobre o tema. Para isso, a anlise dos artigos compre-endeu a consulta base de dados BIREME, a qual inclui: Index Psi, Revistas Tcnico-Cientfi-cas, PePsic, SciELO, LILACS e Medline. A revi-so levou em considerao o perodo de 2007 a 2012 por pretender realizar um levantamen-to dos estudos mais recentes acerca do tema. No processo de pesquisa, utilizaram-se os se-guintes descritores: Adolescente em conflito com a lei x famlia; Adolescente infrator x fa-mlia e Delinquncia juvenil x famlia a fim de se abarcar o mximo possvel de estudos.

Aps o levantamento das publicaes, os resumos foram lidos e analisados segundo os critrios de incluso/excluso estabelecidos. Como critrios de incluso, destacam-se: arti-gos publicados apenas em peridicos indexa-dos; trabalhos publicados nos idiomas ingls, espanhol e portugus; e, ainda, trabalhos em-pricos e tericos acerca do tema. Os resumos condizentes com os critrios adotados foram selecionados, partindo-se da para a busca dos trabalhos completos. Os artigos foram analisa-dos de acordo com ano de publicao, origem, mtodo, objetivos e principais resultados en-contrados.

No que se refere aos critrios de excluso, foram recusados diversos tipos de trabalhos, tais como dissertaes, teses, resenhas, livros e captulos de livros. A fim de buscar apenas trabalhos submetidos a um processo rigoro-so de avaliao, to necessrio para garantir a qualidade da produo cientfica, foram selecionados apenas artigos publicados em peridicos indexados. Foram excludas, ain-da, publicaes distantes do tema (por exem-plo: porte de armas na infncia e adolescn-cia, comportamento delinquente em crianas com TDAH, associaes de testosterona livre e ambiente familiar com comportamentos delinquentes em adolescentes, entre outras), visto o foco ser a famlia dos adolescentes em conflito com a lei. Tambm foram excludos

148Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

trabalhos que abordavam a temtica famlia de modo secundrio, valorizando-se outras nfases, tais como: a construo do relatrio psicossocial por profissionais que atuam com jovens em conflito com a lei; discursos insti-tucionais referentes aos adolescentes infrato-res; a pobreza como um fator de risco para a delinquncia juvenil; e abuso de substncias psicoativas e ato infracional. Por ltimo, os artigos duplicados foram contabilizados ape-nas uma vez. Ao fim da anlise dos critrios, restaram 35 artigos para o estudo, como se pode observar na Figura 1.

Resultados e discusso

A partir dos descritores elencados, foram identificados 162 artigos cientficos indexados no perodo de 2007 a 2012. Destes, apenas 35 artigos foram selecionados a partir dos crit-rios de incluso/excluso, formando, assim, o corpus de anlise do presente artigo.

A Tabela 1 apresenta dados gerais acerca da caracterizao dos estudos (origem, tipo e

delineamento utilizado). Dos estudos selecio-nados para a anlise, 23 (66%) eram de origem internacional e 12 (34%) eram de origem nacio-nal, predominando estudos empricos (n = 34; 97%). Dentre os estudos empricos, a maioria (n = 17; 49%) era quantitativa; 14 deles (40%) usaram mtodo qualitativo para sua realizao e apenas 4 (11%) empregaram multimtodos, ou seja, conciliaram as estratgias quantitativa e qualitativa de coleta e anlise de dados.

Comparando-se os estudos nacionais e in-ternacionais, verifica-se que, no Brasil, h uma tendncia publicao maior de artigos qua-litativos (n = 7; 58%), ao passo que os artigos internacionais tendem a ser eminentemente quantitativos (n = 14; 61%). Sobre o ano de pu-blicao, verificou-se a predominncia de ar-tigos nos anos 2007 (n = 9, 26%) e 2010 (n =9, 26%), com o mesmo nmero de artigos. Em menor quantidade, apareceram os anos 2011 (n =4, 11%) e 2012 (n = 1, 3%) como se pode observar na Figura 2.

Os estudos versavam principalmente so-bre as caractersticas do funcionamento e da

Figura 1. Percurso metodolgico de seleo dos artigos.Figure 1. Methodological approach for the selection of articles.

149Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

dinmica familiar de adolescentes em conflito com a lei (n = 24; 61,6%) e sobre a percepo dos adolescentes acerca de suas famlias (n = 9; 23%). Em terceiro lugar, apareceram alguns artigos que estavam preocupados em apresen-tar metodologias de avaliao e interveno voltadas famlia (n = 6; 15,4%). Sobre o pri-meiro ponto (funcionamento e dinmica fami-liar de adolescentes em conflito com a lei), foi frequente a contextualizao de aspectos da dinmica familiar que estivessem funcionan-do como fator de risco para o comportamento infrator do adolescente. Na classificao aqui proposta, quatro artigos contemplaram tanto a primeira quanto a segunda categoria, tendo sido contabilizados nas duas.

Desta forma, a partir da anlise dos estu-dos, foram identificados trs eixos temticos que versavam sobre: (i) caractersticas do fun-cionamento e da dinmica familiar de adoles-centes em conflito com a lei; (ii) a percepo dos adolescentes acerca de suas famlias; e, (iii) metodologias de avaliao e interveno vol-tadas famlia, os quais so representados na Figura 3.

A respeito das caractersticas do funcio-namento e da dinmica familiar de adolescentes em conflito com a lei, verificou-se que os estu-dos ressaltaram a existncia de fragilidades nas famlias (Lanza e Taylor, 2010; Nardi e DellAglio, 2012; Van der Laan et al., 2010). Es-sas fragilidades acarretam dificuldades para a vinculao entre o jovem e a famlia, resul-tando em um enfraquecimento do controle so-bre o comportamento do adolescente. Nesses

casos, os pais exercem um tipo de disciplina relaxada (Nardi e DellAglio, 2012), uma vez que evitam colocar limites e estabelecer con-tingncias para comportamentos inadequados e antissociais de seus filhos. Nessas relaes, os pais tm dificuldade em exercer o papel de protetores, no sentido de supervisionar os fi-lhos e fornecer a eles suporte e apoio emocio-nal. A falta de monitoramento parental, por-tanto, pode constituir-se em um grave fator de risco para o envolvimento com grupos infra-tores, atividades antissociais e uso de substn-cias (Nardi e Dellaglio, 2012).

Em consonncia com os achados de Nar-di e DellAglio (2012), Pacheco e Hutz (2009) verificaram, num estudo com adolescentes infratores e no infratores, que a evitao de os pais enfrentarem os filhos, a incapacidade ou a falta de alternativas para lidarem com o comportamento do jovem, ou a ausncia de in-teresse em se envolverem com situaes que podem ser geradoras de conflito foram estra-tgias muito empregadas pelos pais do Gru-po Infrator. No intervir ou atribuir a outras pessoas ou a institui es a responsabilidade de interferir no comportamento dos adoles-centes foram estratgias que se constituram em preditoras do comportamento infrator, es-tando presentes em maior nvel no grupo de pais dos adolescentes infratores. Nesse grupo, tambm esteve presente a punio fsica em-pregada tanto pela me quanto pelo pai, pois os pais tinham a crena de que o processo de disciplina e de socializao dos filhos passa necessariamente pelo uso de punies fsicas e verbais, pois muitas vezes eles prprios foram educados dessa forma. Por outro lado, as mes dos adolescentes no infratores utilizavam mais a estratgia de castigo ou privao de privilgio material, considerada como uma estra tgia que pode diminuir a probabilidade de comportamentos inadequados ou preve-nir sua ocorrncia. Ao assim agir, tais mes contribuam mais efetivamente para o desen-volvimento dos seus filhos se comparadas s mes de adolescentes infratores, uma vez que se trata de uma estratgia que coloca o adoles-cente em contato com as consequncias de seu comportamento, mostrando-se mais efetiva no controle e no reforo da conduta adequa-da. Deste modo, monitorar os filhos e exercer certa autoridade sobre eles, mantendo uma hierarquia adequada, constitui-se em um fator de proteo importante a ser estimulado no interior das famlias (Nardi e Dellaglio, 2012; Pacheco e Hutz, 2009).

Categorias de anlise f (%)

OrigemInternacional 23 (66%)Nacional 12 (34%)

Tipo de estudoEmprico 34 (97%)Terico 1 (3%)

MtodoQuantitativo 17 (49%)Qualitativo 14 (40%)Multimtodos 4 (11%)

Tabela 1. Caracterizao dos artigos analisa-dos quanto origem, ao tipo de estudo e ao mtodo utilizado.Table 1. Characterization of the articles analyzed as to the origin, the type of study and the method used.

150Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

Num estudo realizado com adolescentes espanhis em que se procurou investigar as re-laes entre as medidas de comunicao, con-trole psicolgico e apoio parental e medidas de comportamento antissocial e delinquente em uma amostra de 641 adolescentes, observou-se que o controle psicolgico materno funciona-va para adolescentes do sexo feminino como um fator de propenso a comportamentos antissociais e delinquentes. Em outra direo, verificou-se que o apoio maternal funcionava para adolescentes do sexo masculino como um fator que diminua o risco de comportamento antissocial. Dessa forma, demonstrou-se que a relao adolescente-me pode tanto ser um fa-tor de risco ou de proteo no comportamento delinquente (Torrene e Vazsonyi, 2008). J em outro estudo, verificou-se que o baixo apoio re-cebido pela famlia fator de risco para o com-

portamento infrator nas meninas, enquanto, nos meninos, tanto o baixo apoio recebido da famlia quanto a associao com pares fator de risco para o envolvimento em atos infracio-nais (Krohn et al., 2009).

Alm dessas, outras caractersticas foram observadas na dinmica familiar desses jo-vens, como: (i) baixa coeso entre os membros das famlias dos jovens; (ii) hierarquia nos extremos - aparecia principalmente como bai-xa, na qual nenhum contro le exercido sobre o jovem, e como alta, na qual exercido um controle exacerbado sobre o adolescente; (iii) a distncia ou at mesmo a ausncia da figu-ra paterna na maioria dos casos estudados e a presena de um relacionamento difcil com a figura paterna; (iv) evidncias de conflitos entre o casal ou entre os pais e os filhos (Nardi e DellAglio, 2012); (v) evidncias de relaes

Figura 2. Caracterizao dos artigos analisados quanto ao ano de publicao.Figure 2. Characterization of the articles analyzed for the year of publication.

Figura 3. Representao dos eixos temticos conforme frequncia nos artigos.Figure 3. Representation of themes as often in articles.

151Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

conflituosas e pouco afetivas; (vi) a presena de um membro da famlia que tambm tives-se apresentado comportamentos antissociais; (Nardi e DellAglio, 2012; Pacheco e Hutz, 2009); e (vii) predomnio de relaes insatisfa-trias e de problemas de comunicao devido aos conflitos no resolvidos na famlia (Bran-co et al., 2008; Nardi e Dellaglio, 2012; Ronis e Borduin, 2007).

Tambm, em tais contextos familiares, tem se observado dificuldades socioeconmicas entre as famlias e desemprego juvenil, sendo apontada a pobreza como um fator que, asso-ciado ao estresse familiar, fragilizaria a fam-lia para responder adequadamente aos pro-blemas e s necessidades dos filhos (Rioseco et al., 2009). Isso explica o fato de as vivncias de rituais (lazeres, comemoraes, reunies de famlia, entre outros) serem muitas vezes comprometidas, visto a ocorrncia de fatos se-guidos, a urgncia do momento, no havendo tempo para a famlia processar psicologica-mente os acontecimentos. Alm disso, o tempo dos membros da famlia no sincronizado, havendo sempre uma prevalncia dos tempos individuais sobre o familiar, impedindo a re-alizao de rituais conjuntos e a vivncia dos processos de pertencimento e identificao (Penso e Sudbrack, 2009). Tambm nesse sis-tema familiar, os adolescentes, de um modo geral, apresentam dificuldade de se abrir com a famlia, de falar das suas dificuldades e de pedir ajuda a ela (Branco et al., 2008).

Num estudo realizado por Pacheco e Hutz (2009), constatou-se que, ao comparar dois grupos de adolescentes, sendo um infrator e o outro no, o primeiro apresentou maior fre-quncia tanto no uso de drogas quanto no que se refere ao cometimento de delitos por algum familiar. Os familiares mais referidos por usa-rem dro gas foram o pai, os tios e os irmos (em ordem decrescente). J os mais mencionados por cometerem delitos foram os irmos, os pri-mos e os tios, tambm em ordem decrescente. O uso de drogas comum a esse pblico, pois, para muitos deles, a drogadio ajuda a lidar com situaes de violncia e vulnerabilida-de familiar e social, funcionando como defe-sa frente realidade excludente e opressora, alm de facilitar a expresso de contedos no comunicados no mbito familiar, decorrentes de situaes mal resolvidas (Castro e Gua-reshi, 2008; Cruz et al., 2010; Priuli e Moraes, 2007; Rowe, 2010; Davoglio e Gauer, 2011).

Em outro estudo com adolescentes infrato-res e no infratores, observou-se que 27% dos

adolescentes infratores, no momento de sua de-teno, viviam com outro familiar, em vez dos pais, sendo que, no grupo controle, esse per-centual caiu para 4%. Tambm entre os no in-fratores, verificou-se que esses referiam sentir-se queridos ou apoiados por ambos os pais em 72% dos casos, enquanto o grupo de infratores referiam sentir-se assim em apenas 51% dos casos. Percebeu-se ainda que a mdia de filhos foi maior para o grupo de adolescentes infrato-res (5,2 versus 4,7) (Rioseco et al., 2009). J nos achados de Davoglio e Gauer (2011), observou-se que a maioria dos adolescentes pesquisados (78,2%) residia com ambos ou pelo menos com um dos pais quando praticou o ato infracional, sendo que dados similares foram obtidos em outras pesquisas com adolescentes em priva-o de liberdade (Priuli e Moraes, 2007). Esses resultados, por um lado, alertam para o fato de que o conflito com a lei no precisa se associar situao de rua ou ausncia familiar no pla-no fsico e, por outro, remetem importncia da qualidade dos vnculos afetivos familiares, em que a presena parental deve estender-se aos aspectos subjetivos que envolvem cuidado efetivo, acolhimento e proteo.

A respeito da percepo dos adolescentes em conflito com a lei sobre sua famlia, percebeu-se que, ao passo que esses falavam sobre sua per-cepo acerca da famlia, os dados corrobora-vam caractersticas da dinmica familiar que j foram mencionadas na primeira categoria aqui analisada (Branco et al., 2008; Kim, 2008; Penso e Sudbrack, 2009; Priuli e Moraes, 2007; Zappe e Dias, 2012). A partir do discurso desses ado-lescentes, foi revelada a presena de violncia (extra e intrafamiliar) nas suas trajetrias de vida. Tal violncia tendeu a ocorrer de forma precoce na vida dos adolescentes (desde que eles eram crianas), e o pai foi apontado como principal agressor. Sugere-se, assim, que a presena de violncia domstica um fator de risco para a delinquncia (Priuli e Moraes, 2007). Outro aspecto importante que se verifi-cou nos estudos a supervalorizao da figura materna na vida dos adolescentes que come-teram atos infracionais (Zappe e Dias, 2012). Para estes, a importncia da famlia centrava-se na figura da me, estando o pai num lugar de relacionamento distante ou ausente (Bran-co et al., 2008; Penso e Sudbrack, 2009; Zappe e Dias, 2012).

Tambm se verificou que, muitas vezes, es-ses adolescentes se percebem como no perten-centes s suas famlias. O adolescente no en-contra continncia afetiva junto aos pais ou aos

152Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

avs que o acolheram. Com isso, tem a sensao de permanecer no seio familiar sem pertencer famlia, sem um sentido de intimidade com ela, sem um lugar e tendo que ser responsvel por si mesmo e, em muitos casos, por sua famlia (Penso e Sudbrack, 2009). Alm disso, vivem em estado de pobreza e dificuldades econmi-cas, que o fazem ser apenas mais um no seio da famlia e da sociedade a ter necessidades ps-quicas, fsicas e sociais virtualmente invisveis a essas instncias (Novaes et al., 2009).

O sentimento de no pertencimento ten-de a ser descrito nos contextos familiares em que o desenvolvimento dos adolescentes foi marcado por desencontros temporais, desde o seu nascimento, entre as suas necessidades e aquilo que suas famlias, especialmente seus pais, puderam lhes oferecer, comprometendo o seu desenvolvimento. H casos em que o adolescente nasce antes do tempo, sendo seus pais muito jovens e num estgio de namoro de adolescentes (mesmo quando vivem juntos), estando ainda muito ligados aos seus pais (fa-mlia de origem); e casos em que o adolescente nasce muito depois dos irmos, no havendo mais nos pais, principalmente na me, uma disposio para ter filhos. Em ambas situa-es, as crianas nasceram no tempo familiar errado, queimando etapas do ciclo de vida familiar, e no foram frutos de um desejo pa-terno e/ou materno (Penso e Sudbrack, 2009).

Nascidos fora do tempo familiar, sem pa-pis especficos na famlia, buscam alvio para essa crise no grupo de pares, seja pelo uso de drogas e/ou cometimento de atos infracionais, denunciando a dependncia de contexto, agra-vada pela falta de oportunidades diferentes de incluso social (Penso e Sudbrack, 2009). A in-fluncia dos pares na iniciativa do ato infracio-nal um fator que se repete no discurso dos jo-vens, alegando ser essa parceria somente para o uso de drogas e para a prtica de atos delin-quentes e no nos momentos de dificuldade. A famlia, nesse contexto, j se encontra afas-tada do convvio com o adolescente (Branco et al., 2008; Priuli e Moraes, 2007; Rioseco et al., 2009; Ronis e Borduin, 2007).

Alm disso, foi mencionada a influncia dos discursos miditicos, da sociedade con-tempornea e dos profissionais que trabalham na rea na percepo dos adolescentes sobre a influncia do funcionamento familiar no comportamento infrator. Nesse sentido, indi-cou-se que cada vez mais comum os jovens responsabilizarem a famlia pelos males que lhes acontecem, de tanto escutarem daquelas

instncias (mdia, sociedade e profissionais da rea) que uma famlia desestruturada ou pais com problemas gerariam adolescentes usurios de drogas ilcitas, revoltados, violen-tos, transgressores e, por fim, autores de atos infracionais (Castro e Guareshi, 2008).

Por ltimo, durante o processo de anlise, emergiram tambm estudos que tratavam so-bre metodologias de avaliao e interveno volta-das famlia de adolescentes em conflito com a lei (Costa et al., 2007; Formiga, 2010; Kim e Kim, 2007; Keiley, 2007; Mutter et al., 2008; Rowe, 2010). Num estudo realizado por Kim e Kim (2007), props-se desenvolver uma escala para avaliar as famlias de crianas e adolescentes coreanos. Esta tinha como obje-tivo discriminar ou predizer comportamen-tos delinquentes entre crianas e adolescentes coreanos e adolescentes imigrantes coreanos cuja dinmica familiar tivesse caractersticas disfuncionais. Ao fim do estudo, ressaltou-se a necessidade de se desenvolver instrumentos culturalmente sensveis para avaliar a dinmi-ca familiar e as funes da famlia e tambm se ressaltou a importncia de os profissionais de sade incorporar, em sua prtica profissional, a famlia em seus planos de interveno com adolescentes em conflito com a lei.

Alm desse, outros estudos propuseram mtodos de avaliao familiar. Formiga (2010) props um modelo de avaliao que tinha como pretenso investigar a influncia da fa-mlia e da escola no surgimento de condutas desviantes nos adolescentes, tendo compro-vando a influncia que tem a famlia na fi-gura do pai e da me - e a escola na figura do professor na inibio das condutas deli-tivas pelos adolescentes. J Rowe (2010) pro-ps um mtodo de avaliao familiar que teve como objetivo investigar os mltiplos fatores de risco, inclusive a famlia, em adolescentes que usam substncias psicoativas e cometem algum ato infracional. Ao contrrio de outros mtodos de investigao, este props uma anlise mais abrangente do fenmeno no se focando apenas no adolescente e uso de subs-tncias psicoativas.

Quanto aos estudos que diziam respeito interveno com as famlias dos jovens infra-tores, num primeiro estudo, foram apontadas atividades teraputicas grupais para as fam-lias de adolescentes infratores e para os pr-prios adolescentes no perodo em que esses ainda estavam em regime de internao devi-do ao ato infracional. Essa metodologia com durao de seis meses foi organizada com o

153Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

fim de desenvolver um acompanhamento de qualidade s famlias e aos adolescentes; redu-zir a reincidncia de adolescentes privados de liberdade; promover mudanas nos padres interacionais das famlias; e criar uma rede de apoio entre as famlias a fim de que elas pr-prias pudessem ser fonte de ajuda umas para as outras. Nos grupos, eram abordadas ques-tes relacionadas liberao do adolescente da instituio, adolescncia e ao ato infracio-nal, entre outras questes. Ao ser feita avalia-o posterior ao acompanhamento dessas fa-mlias, observou-se uma taxa de reincidncia com relao internao de apenas 44% em comparao com a norma nacional de 65-85%. Tambm se constatou diminuio no uso de l-cool e outras drogas por parte dos adolescen-tes durante o perodo de acompanhamento e o aumento do apego aos pais, especialmente s mes (Keiley, 2007). No estudo realizado por Mutter et al. (2008), tambm com os ado-lescente e suas famlias, verificou-se, ao fim do acompanhamento, tanto mudanas no com-portamento dos adolescentes como em suas concepes de mundo.

Alm desses, Costa et al. (2007) propuse-ram um mtodo de interveno s famlias de adolescentes em conflito com a lei. Esse teve como propsito realizar um atendimento de forma pontual famlia do adolescente infra-tor a partir da compreenso sistmica desta e em apenas uma sesso. Tal metodologia tinha como objetivo gerar informao acerca das ca-ractersticas psicossociais da clientela atendida, resgatar vnculos parentais, significar o ato in-fracional e reativar as potencialidades e a criati-vidade da famlia, possibilitando novas formas de lidar com os problemas protagonizados pelo adolescente. Ao fim do atendimento, gera-va-se um documento que procurava sublinhar os recursos de que dispunham o adolescente e sua famlia para solucionar a crise. Tambm era usado como referncia por juzes e promotores durante as audincias/oitivas, que contavam com a participao de um dos profissionais presentes na avaliao familiar.

De todos os estudos, importante ressaltar que o envolvimento do adolescente em atos infracionais deve ser interpretado como uma tentativa inadequada de assinalar de forma dramtica que os problemas enfrentados pela famlia, nesse momento do ciclo de vida fa-miliar, no podem mais ser resolvidos pelas regras familiares habituais. Nesse sentido, o ato infracional ocupa a funo de comunicar as dificuldades vividas no interior da famlia

em um movimento de agir fora do ambiente familiar o que no se pode falar no seu interior (Penso e Sudbrack, 2009). Deste modo, o ado-lescente representa apenas uma parte do siste-ma familiar e reflete a organizao do sistema de que faz parte, ao mesmo tempo em que o alimenta atravs dos seus comportamentos.

Essas famlias, mesmo que apresentem defi-cincias nos graus de constncia, diferenciao e flexibilidade e mesmo que no possibilitem um desenvolvimento considerado adequado de seus filhos, possuem uma organizao do sistema familiar (Penso e Sudbrack, 2009) que recebe influncias de outros sistemas mais amplos, por exemplo, a esfera governamental. Para tanto, precisa ser includa nos processos de atendimento das instncias pblicas de sade, de assistncia e outras polticas. A pro-blemtica do adolescente em conflito com a lei envolve questes do desenvolvimento hu-mano, o que sugere a necessidade de atuaes preventivas envolvendo crianas, jovens, fa-mlias e a comunidade, aspectos constituintes de uma rede social.

Diante disto, refora-se a importncia de aes voltadas no s para os jovens autores de ato infracional como tambm para suas fam-lias (Nardi e DellAglio, 2012; Pacheco e Hutz, 2009). Programas de interveno para um ado-lescente em conflito com a lei, por melhor que sejam, podem ter seu efeito minimi zado se esse jovem viver em um ambiente pouco afe-tivo, com a ausncia de seus pais ou com seu distanciamento, ou ainda com a utilizao de prticas educativas inadequadas. Tambm importante reforar vnculos com figuras que podem se constituir em fonte de apoio e exer-cer um papel de proteo para um desenvol-vimento saudvel destes adolescentes (Nardi e DellAglio, 2012). Por ltimo, ressalta-se a importncia do resgate de uma figura paterna mais valorizada e presente para estes internos. O acompanhamento dessas famlias poderia auxiliar no s no resgate paterno, mas, mais do que isso, na melhoria do funcionamento fa-miliar global desses jovens (Branco et al., 2008)

Consideraes fi nais

Este estudo pretendeu realizar uma reviso sistemtica da literatura acerca da temtica adolescente em conflito com a lei e famlia na base de dados BIREME durante o perodo de 2007 a 2012 e tomando-se tanto artigos nacio-nais quanto internacionais. A partir da anli-se dos artigos, foram identificados trs eixos

154Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

temticos, sendo: caractersticas do funciona-mento e da dinmica familiar de adolescentes em conflito com a lei; a percepo dos adoles-centes acerca de suas famlias; e, metodologias de avaliao e interveno voltadas famlia.

Acredita-se ser invivel pensar na prtica de atendimento ao adolescente em conflito com a lei sem englobar sua famlia com a mes-ma nfase. Entende-se que o comportamento infrator aprendido nas interaes sociais e fa-miliares em meio s relaes coercitivas entre os membros da famlia, cuja expresso mais comum so as atitudes agressivas de enfrenta-mento e descumprimento de regras entre pais e filhos respectivamente. Alm da marca da coero, nos estilos parentais, so precrias as habilidades emocionais, o acolhimento afetivo, assim como suas prticas de monitoramento e disciplina, facilitando o desenvolvimento de atitudes antissociais, pois o que impera nesses lares so relacionamentos hostis e a neglign-cia (Carvalho e Gomide, 2005).

Por considerar que a famlia e o adolescen-te infrator possuem relao indissocivel no que compete ao entendimento do surgimento da delinquncia adolescente que se deve va-lorizar uma prtica de atendimento que con-temple tanto o adolescente quanto sua famlia. A famlia do adolescente em conflito com a lei tem uma forte influncia tanto na aquisio e na manuteno dos comportamentos infrato-res como na extino de tal comportamento ou no desenvolvimento de habilidades pr-sociais (Carvalho e Gomide, 2005). por isso que o tratamento dispensado aos adolescentes e suas famlias durante o cumprimento das medidas socioeducativas e o apoio familiar dispensado durante e aps a finalizao do atendimento so medidas que tm significativo potencial de preveno reincidncia (Assis e Constantino, 2005) e, portanto, devem tais prticas serem desenvolvidas e estimuladas a fim de que mu-danas nas estruturas das famlias minimizem os riscos para o comportamento infrator, forta-leam as relaes entre os membros da famlia e possibilitem novas inseres na sociedade.

Tambm no contexto do adolescente em conflito com a lei, tem-se verificado uma prti-ca recorrente de culpabilizao da famlia pela situao de infrao do filho, principalmente com relao s famlias mais vulnerveis so-cialmente e que apresentam uma organizao familiar desestruturada, contrapondo-se ideia de existncia de um modelo ideal de fa-mlia, adequado aos padres morais e sociais (Sartrio e Rosa, 2010). importante destacar

que antes de pertencer a tal famlia, esses ado-lescentes so provenientes de uma sociedade desigual, que os exclui dos direitos cidada-nia, sade educao, cultura e ao lazer e os inclui num sistema de criminalidade, de violncia, de privao de liberdade, por vezes sem as garantias educativas e sem o devido acompanhamento para a insero social (Sar-trio e Rosa, 2010), impossibilitando, pela se-gunda vez, esses jovens de constiturem-se en-quanto cidados de direitos iguais aos demais.

Ainda relevante destacar que a anlise dos estudos evidenciou uma importante in-fluncia da famlia, como um fator de risco para a delinquncia nos adolescentes, contex-tualizando os estilos parentais (presena de coero, agresso, autoritarismo, pouco afeto, falhas no monitoramento e no controle dos fi-lhos, etc.) e a dinmica e o funcionamento fa-miliar (presena de violncia, criminalidade, famlias numerosas, pai ausente, etc.) como propensores do comportamento antissocial, ao passo que as capacidades protetivas dessas famlias foram menos abordadas.

Referncias

ASSIS, S.G.; CONSTANTINO, P. 2005. Perspectivas de preveno da infrao juvenil masculina. Ci-ncia & Sade Coletiva, 10(1):81-90.

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000100014BRANCO, B.M.; WAGNER, A.; DEMARCHI, K.A.

2008. Adolescentes infratores: Rede social e fun-cionamento familiar. Psicologia: Reflexo e Crtica, 21(1):125-132.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722008000100016CARVALHO, M.C.N. de; GOMIDE, P.I.C. 2005.

Prticas educativas parentais em famlias de adolescentes em conflito com a lei; Parental edu-cational practices in families whose adolescen-tes presente law problems. Estudos de Psicologia, 22(3):263-275.

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2005000300005CASTRO, A.L.S.; GUARESCHI, P. 2008. Da priva-

o da dignidade social privao da liberdade individual. Psicologia & Sociedade, 20(2):200-207.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822008000200007COSTA, C.R.B.S.F.; ASSIS, S.G. 2006. Fatores pro-

tetivos a adolescentes em conflito com a lei no contexto socioeducativo. Psicologia & Sociedade, 18(3):74-81.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822006000300011COSTA, L.F.; GUIMARES, F.L.; PESSINA, L.M.;

SUDBRACK, M.F.O. 2007. Single session work: interveno nica com a famlia e adolescente em conflito com a lei. Revista brasileira de cres-cimento e desenvolvimento humano, 17(3):104-113.

CRUZ, L.R. da; WELZBACHER, A.I.; FREITAS, C.L.S. de; COSTA, L.X.S. da; LORINI, R.A. 2010. Medidas socioeducativas em meio aberto no

155Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Mykaella Cristina Antunes Nunes, Anne Graa de Sousa Andrade, Normanda Araujo de Morais

municpio de Santa Cruz do Sul/RS: entre as diretrizes legais e as polticas sociais pblicas. Pesquisas e Prticas Psicossociais, 5(1):112-119.

CRUZ-NETO, O.; MOREIRA, M.R. 1998. Trabalho infanto-juvenil: motivaes, aspectos legais e repercusso social. Cadernos de Sade Pblica, 14(2):437-441.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1998000200029DAVOGLIO, T.R.; GAUER, G.J.C. 2011. Adoles-

centes em conflito com a lei: aspectos sociode-mogrficos de uma amostra em medida socio-educativa com privao de liberdade. Contextos Clnicos, 4(1):42-52.

http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2011.41.05FEIJO, M.C.; ASSIS S.G. 2004. O contexto de exclu-

so social e de vulnerabilidade de jovens infra-tores e de suas famlias. Estudos de Psicologia, 9(1):157-166.

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2004000100017FORMIGA, N. 2010. Pares socionormativos e con-

dutas desviantes: testagem de um modelo teri-co. Barbari, 32:28-43.

GALLO, A.E.; WILLIAMS, L.C.A. 2005. Adolescen-tes em conflito com a lei: uma reviso dos fato-res de risco para a conduta infracional. Psicolo-gia: Teoria e Prtica, 7(1):81-95.

GOVERNO DO ESTADO DO CEAR. 2012. Estatu-to da Criana e do Adolescente (ECA). Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social. Fortaleza, Agncia de Desenvolvimento Econmico e So-cial - ADES, 215 p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ES-TATSTICA (IBGE). 2010. Sntese de indicadores sociais: uma anlise das condies de vida da popula-o brasileira. Coordenao de Populao e Indi-cadores Sociais. Rio de Janeiro, IBGE.

KEILEY, M.K. 2007. Multiple-family group inter-vention for incarcerated adolescents and their families: a pilot project. Journal of marital and fa-mily therapy, 33(1):106-124.

http://dx.doi.org/10.1111/j.1752-0606.2007.00009.xKIM, H.S.; KIM, H.S. 2008. The impact of family

violence, family functioning, and parental par-tner dynamics on Korean juvenile delinquency. Child Psychiatry Human Development, 39(4):439-453. http://dx.doi.org/10.1007/s10578-008-0099-4

KIM, H.-S.; KIM, H.-S. 2007. Development of a fami-ly dynamic environment Scale for Korean ado-lescents. Public Health Nursing, 24(4):372-381.

http://dx.doi.org/10.1111/j.1525-1446.2007.00646.xKROHN, M.D.; HALL, G.P.; LIZOTTE, A.J. 2009.

Family transitions and later delinquency and drug use. Journal of youth and adolescence, 38(3):466-480.

http://dx.doi.org/10.1007/s10964-008-9366-8LANZA, H.I.; TAYLOR, R.D. 2010. Parenting in

moderation: family routine moderates the rela-tion between school disengagement and delin-quent behaviors among African American ado-lescents. Cultural Diversity and Ethnic Minority Psychology, 16(4):540-547.

http://dx.doi.org/10.1037/a0021369MINUCHIN, S. 1982. Famlias: funcionamento e trata-

mento. Porto Alegre, Artes Mdicas, 240 p.

MUTTER, R.; SHEMMINGS, D.; DUGMORE, P.; HYARE, M. 2008. Family group conferences in youth justice. Health & Social Care in the Commu-nity, 1(3):62-270.

NARDI, F.L.; DELLAGLIO, D.D. 2012. Adolescen-tes em Conflito com a Lei: Percepes sobre a Famlia. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 28(2):181-191.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722012000200006NOVAES, J. V.; VILHENA, J. de; MOREIRA, A.C.G.;

ZAMORA, M.H. 2009. As crianas que ningum quer: a clnica psicanaltica em uma instituio de portas abertas. Arquivos brasileiros de Psicolo-gia, 61(1):16-29.

PACHECO, J.T.B.; HUTZ, C. 2009. Variveis fami-liares preditoras do comportamento anti-social em adolescentes autores de atos infracionais. Psicologia: Teoria e pesquisa, 25:213-219.

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722009000200009PENSO, M.A.; SUDBRACK, M.F.O. 2009. O filho

fora do tempo: atos infracionais, uso de drogas e construo identitria. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 61(1):1-15.

PEREIRA, M.M.B. 2010. Editorial II: sobre a reviso sistemtica e a meta-anlise na rea da fluncia. Revistas Cientficas de Amrica Latina y El Cari-be. 12(1):1-176.

PRIULI, R.M.A.; MORAES, M.S. 2007. Adolescentes em conflito com a lei. Cincia & Sade Coletiva, 12(5):1185-1192.

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232007000500015RIOSECO, S.P.; VICENTE, P.B.; SALDIVIA, S.B.;

FELIX, S.C.; MELIPILLN, R.A.; RUBI, P.G. 2009. Prevalncia de transtornos psiquitricos en adolescentes infractores de ley: Estudio ca-so-control. Revista Chilena de Neuro-psiquiatria, 47(3):190-200.

http://dx.doi.org/10.4067/S0717-92272009000300003RONIS, S.T.; BORDUIN, C.M. 2007. Individual, fa-

mily, peer, and academic characteristics of male juvenile sexual offenders. Journal of abnormal child psychology, 35(2):153-163.

http://dx.doi.org/10.1007/s10802-006-9058-3ROWE, C.L. 2010. Multidimensional family therapy:

addressing co-occurring substance abuse and other problems among adolescents with comprehen-sive family-based treatment. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 19(3):563-576.

http://dx.doi.org/10.1016/j.chc.2010.03.008SARTRIO, A.T.; ROSA, E.M. 2010. Novos paradig-

mas e velhos discursos: analisando processos de adolescentes em conflito com a lei. Servio Social & Sociedade, 103:554-575.

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. 2011. Levantamento Nacional do Atendimento Socioeduca-tivo ao Adolescente em Conflito com a Lei. Subse-cretaria de Promoo dos Direitos da Criana e do Adolescente. Braslia, Secretaria de Direitos Humanos, 36 p.

SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMA-NOS. 2006. Sistema Nacional de Atendimento Socio-educativo (SINASE). Braslia, CONANDA, 100 p.

TORRENTE. G.; VAZSONYI, A.T. 2008. The sa-lience of the family in antissocial and delinquent

156Contextos Clnicos, vol. 6, n. 2, julho-dezembro 2013

Adolescentes em conflito com a lei e famlia: um estudo de reviso sistemtica da literatura

behaviors among Spanish adolescents. Journal of Genetic Psychology, 169(2):187-197.

http://dx.doi.org/10.3200/GNTP.169.2.187-198UNICEF. 2011. O direito de ser adolescente: Oportu-

nidade para reduzir vulnerabilidades e superar de-sigualdades. Braslia, Fundo das Naes Unidas para a Infncia, 182 p.

VAN DER LAAN, A.M.; VEENSTRA, R.; BOGA-ERTS, S.; VERHULST, F.C.; ORMEL, J. 2010. Serious, minor, and non-delinquents in early adolescence: the impact of cumulative risk and promotive factors. The TRAILS study. Journal of Abnormal Child Psychology, 38(3):339-351.

http://dx.doi.org/10.1007/s10802-009-9368-3

VASCONCELOS, M.J.E. de. 2002. Pensamento sist-mico: o novo paradigma da cincia. Campinas, Pa-pirus, 93p.

ZAPPE, J.G.; DIAS, A.C.G. 2012. Violncia e fragili-dades nas relaes familiares: refletindo sobre a situao de adolescentes em conflito com a lei. Estudos de Psicologia, 17(3):389-395.

http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2012000300006

Submetido: 10/06/2013Aceito: 25/09/2013