adolescentes e participação política

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Adolescentes e Participação Política

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Page 1: Adolescentes e participação política

Adolescentes e Participação

Política

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“A política, para mim, é uma aliança entre a população e os representantes políticos que elegemos. Ela é importante para a organização do Estado e o convívio social. No passado,

os jovens já gritaram, reivindicaram e lutaram por um espaço na política. Hoje, o que temos de fazer é aprender a unir forças,

qualquer que seja a etnia ou classe social. E nos manifestar em debates, grêmios estudantis e fóruns.”

Tatiane Vasconcellos, 18 anos – Samambaia (DF), estudante da Escola Técnica de Brasília

Você deve estar se perguntando o que significa, afinal de contas, o termo participação política e o que ele tem a ver com a sua vida e com o seu papel como agente de promoção dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos. Pois bem. Ao longo deste fascículo, tentaremos responder isso da forma mais simples possível. Adiantamos, porém, que esse tema é muito importante para todos nós e que política não é coisa somente de engravatados, nem sinônimo de corrupção.

Na primeira parte do fascículo explicaremos a você o que é essa tal política e qual a sua relação com a participação. Em seguida, diremos o que os adolescentes e jovens têm a ver com esses assuntos e quais os espaços de participação existentes, além de darmos dicas de como você pode multiplicar essas informações com seus pares e dicas da postura que um jovem protagonista deve ter!

Mas você não acha que tiramos todos esses assuntos que estão aqui da cartola ou somente da nossa cabeça, não é? Na verdade, este fascículo foi produzido com base na experiência acumulada por organizações não-governamentais que trabalham com adolescentes e jovens, em pesquisas na internet, em livros, guias e cartilhas produzidas. Sem contar a troca de ideias com jovens que fazem política na sua comunidade e na sua vida.

A proposta é que você se aproprie das referências sobre política e participação juvenil contidas neste fascículo, mas que também possa criar outras, levando em consideração as características da sua comunidade e o seu objetivo com este trabalho!

Então, mãos à obra!

ApresentaçãoRGRedaçãoMaria Adrião

RealizaçãoUNICEF – Anna Penido, Silvio Kaloustian, Ana Maria Silva, Denise Bueno

Revista Viração – Paulo Lima, Vivian Ragazzi, Camila Caringe

Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – Ana Teresa de Castro Bonilha, Sandra R. Francisco, Ana Maria Peres Silva

Jovens CEDOCAdemir Franco Paré JuniorCamila dos Santos FrigattoCamila Regina dos SantosEliene Santana CorreiaFelipe Fortunato Rodrigues da SilvaHelber Pereira dos SantosJuliana Camila Santos Celestino Karina Ferreira da CruzMicaela Carolina CyrinoNatiele Souza SantosRafael Neves BiazãoRenata Marley Silva NeriRodrigo Gomes Soares

Revisão TécnicaMônica Santana – Cipó Comunicação InterativaMaria Virgínia de Freitas (Magi) – Ação Educativa

ColaboraçãoThiago Victor – Grupo Vhiver

Revisão de TextoAndréa Vidal

DiagramaçãoVitor MassaoFlávio YamamotoWilliam Haruo

Fotos Arquivo Revista Viração e ONG Bom Parto

IlustraçõesMarcio Baraldi, Natália Forcat e Lentini

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Essa tal política 1

Antes de mais nada, é importante esclarecermos o que entendemos por política, por que a maioria das pessoas ainda a considera como algo chato e muito distante de sua realidade e pensa que fazer política é papel exclusivo dos políticos. Não é bem assim, não.

Tem gente que pensa que política é papo careta, diz respeito apenas ao governo, aos políticos profissionais (deputados, vereadores, prefeitos...). Outros acham que tem a ver com discursos, eleições, partidos ou é coisa de especialista. Na verdade, a política não está fora de nós, não é algo apenas dos políticos. Ela interessa a todos nós, faz parte do nosso dia a dia.

Há mais de 2 mil anos, o filósofo grego Aristóteles já dizia: “Toda pessoa é um ’animal político‘”. E ele não estava brincando. Era papo sério e vale até hoje. Política é toda atividade que as pessoas praticam com o objetivo de influenciar os acontecimentos, o pensamento e, sobretudo, as decisões da sociedade em que vivem. Ela envolve uma tomada de decisão com o objetivo de atender a determinados interesses. Portanto, duas palavras são a chave para compreender política: decisão e interesses.

Quando você decide participar de um movimento com o objetivo de modificar o comportamento dos moradores de seu bairro em relação à limpeza e ao lixo acumulado nas ruas, por exemplo, está fazendo política. Isso porque suas ações irão colaborar para resolver problemas da comunidade, como diminuir os focos de dengue, a ocorrência de enchentes etc.

Além disso, todo mundo tem um forte papel político, às vezes até sem perceber. Na lanchonete ou dentro do ônibus, quando falamos mal ou bem do governo ou de um partido, estamos tentando, digamos, fazer a cabeça dos outros, que, por sua vez, tentarão fazer a de outros. Trocando em miúdos: com isso, estamos

contribuindo para formar a chamada “opinião pública”. Mesmo que ações como essas sejam pequenas, o fato é que, ao praticá-las, estamos fazendo política.

Já deu pra perceber que cidadania e participação têm tudo a ver com política? A origem da palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer “cidade”. Ela foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. Cidadania é um conjunto de direitos e deveres que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de sua gente.

E participar é um dos principais instrumentos na formação de uma atitude democrática. Quem participa ativamente da vida de uma comunidade, de uma cidade, Estado ou país, torna-se sujeito de suas ações, é capaz de fazer críticas, de escolher, de defender seus direitos e também de cumprir melhor os seus deveres.

Muitos jovens fazem isso. Talvez você já esteja fazendo também. Quando muitas pessoas fazem política juntas, fora dos partidos e dos governos, mas com organização e objetivos comuns, chamamos isso de movimento social. Existem jovens em diversos movimentos sociais, alguns criados por eles mesmos, como, por exemplo, o Movimento Passe Livre, que defende um direito garantido na Constituição: o de ir e vir. Essa galera mostra como é possível pensar num jeito diferente de se organizar, de participar politicamente e lutar pela cidadania.

1. Texto extraído e adaptado da cartilha sobre política elaborada pela Revista Viração na ocasião da I Conferência Nacional de Juventude, realizada em Brasília, em abril de 2008.

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Isto é fazer política:Quando você conversa com seus pais para poder ir àquela festa tão esperada e chegar mais tarde em casa;Quando você negocia com seu amigo o programa de televisão a que assistirão no domingo; Quando você junta a galera da comunidade num mutirão para lavar o muro da escola.

Por que essas são formas de fazer política? Porque nesses casos há duas ou mais partes envolvidas, cada qual com uma vontade, argumentando e negociando entre si para chegar a uma decisão final que seja boa para todos ou pelo menos diminua o conflito;Porque você está participando da tomada de decisões na sua própria casa e fora dela; Porque você está interferindo na sua realidade e na dos outros. Podemos concluir, então, que a política não está ligada somente aos partidos e aos políticos, mas também, entre outras coisas, à forma como nos relacionamos em sociedade. Isso envolve diálogo, escolhas, negociação, defesa de pontos de vista, luta por direitos, cumprimento dos deveres e interferência na realidade.

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Se ligaOs políticos que conhecemos e nos quais votamos, como os vereadores, prefeitos, deputados estaduais, senadores, deputados federais e o presidente da República, fazem a política da forma mais conhecida, porque são representantes escolhidos pelo povo através do voto. Vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores formam o Poder Legislativo e têm o papel de:

1. Fazer novas leis e mudar as antigas;2. Decidir quanto dinheiro dos nossos impostos será gasto em

cada área (Saúde, Transporte, Educação etc.), aprovando o orçamento público;

3. Fiscalizar os outros políticos, por exemplo, por meio das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), que vivem aparecendo na televisão.

Secretários, prefeitos, governadores, ministros e o presidente da República têm um papel um pouco diferente. Eles são responsáveis pela administração e formam o Poder Executivo. Eles devem:

1. Elaborar políticas públicas, programas e serviços públicos; 2. Decidir onde e como gastar o dinheiro de cada área (Cultura,

Meio Ambiente, Assistência Social etc.);3. Representar nossas cidades, estados e países em

negociações dentro e fora do Brasil.

Não se esqueça de que o Poder Executivo, como o próprio nome já diz, executa a política pública com base no que o Poder Legislativo indica.

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Aí vai um exemplo de política pública construída a partir da

mobilização da sociedade: no Brasil, a distribuição gratuita

de métodos contraceptivos (camisinha, pílula etc.) pelos

serviços de saúde e a disponibilização de informações sobre

como e quando usá-los faz parte da política do planejamento

familiar. Essa política pública nasceu de uma necessidade

da população feminina e da participação de pessoas,

principalmente mulheres militantes do Movimento Feminista,

que se organizaram, elaboraram propostas e reivindicaram

esses direitos. Sem as propostas e a pressão que essas

pessoas fizeram, ou seja, sem a participação política, talvez

não tivéssemos essa política em nosso país hoje.

A participação política envolve a organização de pessoas que

lutam em prol de uma causa que já é direito delas mas não

é respeitada, ou de uma causa que desejam transformar em

direito. Um exemplo prático da conquista de direitos foi a luta

do Movimento Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)

em prol do acesso universal aos medicamentos (antirretrovirais)

que tratam a doença. Graças a uma lei sancionada em 1996,

todas as pessoas podem ter acesso gratuito a esses

medicamentos nos serviços de saúde de todo o país.

Pra entender

melhor

Política e participação: uma dupla dinâmica Você já pensou nas muitas coisas de que participa no seu dia a dia? Da aula de matemática, das brincadeiras de rua, do seu time da escola, do almoço de família no domingo, da escolha da roupa que veste etc. Tudo isso é participação mesmo, mas existe outro tipo de participação que vamos destacar aqui: a

participação política. Participar da política é, como vimos, muito mais do que ser um político tradicional. De acordo com o Guia de Atitude, produzido pela galera da Rede Sou de Atitude da Bahia, “Participar politicamente é o poder que o cidadão possui para interferir e contribuir direta ou indiretamente nas decisões políticas que serão tomadas por nossos governantes. É o poder de pressionar os

responsáveis para tomar as decisões, de modo que elas possam beneficiar a todos, ou pelo menos a maioria das pessoas da sociedade”. Nesse sentido, é importante se envolver na construção, no monitoramento, na avaliação e na manutenção ou transformação das políticas públicas, que, muitas vezes, são decididas pelos governantes sem a interferência da população. Políticas públicas é um conjunto de ações que tem como objetivo atender as necessidades da população, tais como saúde, educação, segurança e tudo aquilo que está ligado ao bem-estar dessa população. A política pública é formulada pelo governo com a participação do cidadão.

Um passo importante na construção de políticas públicas que atendam as suas necessidades é votar em candidatos que defendam as causas de seu interesse. Afinal, ele representará você e outros milhares de pessoas que desejam a mesma coisa que você. Por isso é tão importante conhecer melhor o histórico do candidato – quais os seus ideais e bandeiras, se já esteve envolvido em algum

caso de corrupção, qual o seu passado político etc. – para saber se ele lutará e defenderá as questões que você considera importante. Por exemplo, como podemos votar em um candidato que é contra a união civil entre homossexuais, se acreditamos na igualdade de direitos entre todos, independentemente da orientação sexual? O voto é um exemplo que ilustra claramente como a participação política é importante. Mas fique esperto, porque o voto é somente uma das formas de participação. Na página 19 falaremos mais sobre isso.

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Fala, galera!

Conversamos com o jovem Thiago Victor, de 21 anos, militante do Movimento Aids de Belo Horizonte, para saber sua opinião sobre participação política e como ele participa:

“O negócio é o seguinte: primeiro participar não tem que ser visto como uma obrigação, mas ser visto como uma forma de protesto, de mudança, de indignação, de ATITUDE! Bem, eu particularmente vou dar aqui um exemplo meu de como participo, beleza? Seguinte, eu tenho HIV há mais ou menos seis anos. De uns três anos pra cá, eu comecei a querer mudar a situação em que eu vivo, sabe como é que é... Eu percebia que a Saúde não tava nem aí pra quem tinha HIV. O pessoal achou que, depois que inventaram o remédio e começaram a distribuir de graça, eles tinham terminado o serviço... Mas não é bem assim não. O remédio salvou e salva ainda nossas vidas, graças a Deus, mas vejam só… por exemplo, quem aí nunca fez uma piadinha sobre aidético na escola com aquele amiguinho lá sempre mais zoado? Mesmo que não tenham feito, já ouviram? E aí, acharam legal? Pois é, quem é soropositivo, que vive com o vírus HIV e deve ter ouvido essa piadinha, no mínimo ficou muito mal e triste. Não precisam ficar assustados não, pois passam por isso também os homossexuais, quando as pessoas viram e falam: ’ô veadinho‘! Acham que é uma brincadeira linda, superengraçada, mas na real isso ofende e muito quem é e não é nada daquilo que a piada diz... Enfim, o que isto tem a ver? Tem a ver que isto estimula e gera o preconceito... Então, percebemos que os remédios eram só a pontinha do iceberg, porque o que mais prejudica mesmo é a doença social do HIV/aids. O preconceito, a discriminação, entre outras coisinhas mais. Depois que eu comecei a perceber isto daí, quis mudar essas coisas. Isso foi só a porta da tragédia, porque depois eu vi que a Saúde não nos atende integralmente. Além disso, ainda não reconhecem os direitos humanos dos soropositivos, que envolvem o acesso a trabalho, a tratamento e muito mais. Aí eu comecei a me tornar o que chamam de ’ativista‘. Mas o que eu comecei a fazer mesmo foi denunciar as infrações que o serviço público faz e fazia, foi denunciar que o acesso ao tratamento da lipodistrofia é precário, pois tem gente que não pode pagar um ônibus pra ir à academia e por isso não

Uma coisa importante a saber é que uma política pública pode deixar de existir ou então não ser implementada como deveria. Por isso, temos de verificar se as ações estão acontecendo ou não. Esse monitoramento é muito importante, pois garante a continuidade e a qualidade da política. Vimos, por exemplo, que o acesso aos medicamentos contra aids é um direito de todos e que devem ser distribuídos gratuitamente pelo SUS. Mas será que eles estão chegando aos serviços de saúde? As pessoas que vivem com o HIV têm facilidade para obtê-los? O Movimento Aids está sempre atento a essas questões, ou seja, está monitorando, acompanhando a execução da política. Caso falte remédio para o tratamento da aids, os movimentos pressionam o governo para que a política seja cumprida e fique cada vez melhor!

Se ligaCriada a partir da pressão popular, a Lei no 9.313/96 – Lei Sarney – Art. 1o garante acesso universal aos medicamentos contra aids. Essa lei possibilitou a portadores do HIV (Vírus da imunodeficiência Humana) e doentes de aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) receber gratuitamente do Sistema Único de Saúde (SUS) toda a medicação necessária ao seu tratamento.

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Pra ouvirMandamos uma música que tem tudo a ver com o tema da participação. Vai ficar pacato vendo o tempo passar pela janela ou partir para a luta e fazer alguma coisa?

Pacato cidadão(Samuel Rosa/Chico Amaral) Pacato cidadão, te chamei a atenção Não foi à toa, não C’est fini la utopia, mas a guerra todo dia Dia a dia não Tracei a vida inteira planos tão incríveis Tramo à luz do sol Apoiado em poesia e em tecnologia Agora à luz do sol Pra que tanta tevê, tanto tempo pra perder Qualquer coisa que se queira saber querer Tudo bem, dissipação de vez em quando é bão Misturar o brasileiro com o alemão Pra que tanta sujeira nas ruas e nos rios Qualquer coisa que se suje tem que limpar Se você gosta dele, diga logo a verdade Sem perder a cabeça, sem perder a amizade Consertar o rádio e o casamento Corre a felicidade no asfalto cinzento Abolir a escravidão do caboclo brasileiro Numa mão educação, na outra dinheiro Pacato cidadão Ô pacato da civilização

faz ginástica, que é fundamental contra a doença. Foi dizer ao governo que os jovens que vivem com HIV sofrem preconceito à beça na escola e por causa disso muitos deixam de estudar e outros acabam se matando. Foi dizer também que os remédios pro HIV, que foram feitos pra adultos, não servem muito para as crianças, entre outras coisas... Mas não parou por aí não. Fui tentando também levar esses assuntos para dentro de programas governamentais, como o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas, que aborda a prevenção das DST/HIV/aids. Depois fui participando de eventos e levando a pauta de como é viver com HIV/aids na juventude, as consequências, do que precisamos, o que conquistamos etc. Essa é a importância do lance, é concretizar as nossas reivindicações, tornar melhor a vida do povo e a nossa também, tornar melhores algumas coisas por aí afora.”

Lipodistrofia é o nome dado às mudanças na

forma do corpo que acontecem em algumas

pessoas em tratamento com coquetel anti-

HIV. Quando a pessoa desenvolve lipodistrofia,

a gordura não se distribui normalmente pelo

corpo. Aumenta a quantidade de gordura

no tórax, na barriga e na parte de cima das

costas (chamada giba) e diminui a quantidade

de gordura no resto do corpo, principalmente

no rosto, nas pernas e nos braços.

Pra entender

melhor

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1� 1�

E os jovens, nisso tudo? A participação dos jovens esteve presente em momentos históricos muito importantes para o nosso país, como a briga para o Brasil se tornar uma República, a resistência à ditadura através do movimento estudantil, a luta pelas Diretas Já, quando reconquistamos o direito ao voto etc. No entanto, os adultos ainda têm grande dificuldade de ver o jovem como um sujeito que tem muito com o que contribuir.

Na época da ditadura militar (1964-1984), o governo tentava, a todo custo, fazer a sociedade pensar que os jovens eram bagunceiros, sonhadores e que suas propostas eram um perigo para todos. Essa ideia está na cabeça de muita gente até hoje, e não só por causa do Regime Militar no Brasil, mas de tantos questionamentos e lutas que os jovens já fizeram no mundo todo. Lutas que deixaram muita gente poderosa com medo do que a juventude pode propor. Não levar o jovem a sério é uma forma de tentar desmotivá-lo e evitar as mudanças.

Mesmo assim, os jovens estão se organizando cada vez mais: engajando-se no movimento estudantil (UNE – União Nacional dos Estudantes, UMES – União Municipal dos Estudantes Secundaristas, grêmios etc.);participando de grupos que atuam em espaços de cultura e lazer (grafiteiros, teatro e dança de diferentes estilos, skatistas, bandas musicais);mobilizando-se em torno de uma causa ou campanha (grupos ecológicos, acampamentos internacionais da juventude, campanhas via Internet);atuando em espaços públicos sob a forma de grupos religiosos, como as pastorais;atuando na forma de redes, movimentos e grupos que se organizam na luta pelos direitos das mulheres, dos homossexuais, dos negros etc.

Participação Juvenil e a bandeira dos Direitos Sexuais e Direitos ReprodutivosPor Rafael Neves Biazão, Projeto Tecer o Futuro, São Paulo/SP

A participação juvenil envolve, antes de mais nada, assumir a postura de transformar a realidade a sua volta, provocar mudanças. Muitos jovens têm sonhos e desejos, mas não conseguem achar o melhor caminho para alcançar seus objetivos. Muitas questões que aparecem na vida do jovem estão relacionadas à fase que ele está vivendo, e várias questões não são faladas abertamente na família, na escola ou mesmo na sociedade mais ampla. O jovem que defende a bandeira dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos tem a função de fazer com que esse jovem entenda o que ele está passando, compartilhe seus conhecimentos e lute por uma sociedade melhor.

Jovens atuantes em prol dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos devem esclarecer as dúvidas em relação à sexualidade e, se não souberem fazer isso, indicar quem possa fazê-lo. Se não souberem indicar ninguém, devem correr atrás das respostas. Adolescentes e jovens têm direito a ter atendimento sem discriminação de qualquer tipo, com garantia de privacidade.

Os problemas reais da sociedade estão aí para as pessoas verem. O jovem participativo não tem simplesmente de passar informações sobre esses problemas, e também não está ali para bancar o professor e ensinar ninguém. O importante é colocar os assuntos referentes aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos na roda e fazer com que as pessoas conversem e reflitam sobre seus direitos e os das outras. Ele também tem de tentar envolver outras pessoas, buscando aliar-se a elas para ter mais força para lutar contra os problemas da sociedade, até porque para o jovem é muita responsabilidade dar conta do recado sozinho. Por isso, tem muita gente que precisa ser convocado para essa luta, como o governo, os educadores, os familiares, os legisladores. O jovem é fundamental, mas não tem de estar sozinho em ações como essa. É mais rico e eficaz cada um fazer a sua parte e todo mundo atuar junto.

É importante também que as pessoas que o vejam atuar tenham respeito pelo seu trabalho. E isso deve ser conquistado a partir de uma atuação responsável e democrática. Isso permitirá, entre outras coisas, que a sociedade comece a lhe dar ouvidos. Lembrando,que ele não deve ter a postura do “Eu sou o sabe-tudo”. Deve estar aberto, pois sempre tem algo a aprender.

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Quais as formas de participação?Toda forma de participar vale a pena, e isso está garantido na lei! A Constituição de 1988 estimula o envolvimento da sociedade civil organizada no debate de soluções para problemas que afetam sua realidade local, municipal, estadual e federal.

A gente já falou de algumas formas de participação que acontecem no seu dia a dia, na sua relação com os outros e com o lugar onde você vive. Mas existem outros espaços superimportantes em que você, como jovem, tem direito e dever de participar. Isso sem falar naqueles que você também pode criar.

Se ligaA expressão sociedade civil organizada se refere a todos os movimentos e instituições criados pela vontade de um ou mais grupos de pessoas que buscam estruturar a participação dos cidadãos.

Fala, galera!

Também conversamos com Thiago Victor sobre participação, sobre o que ele acha da participação juvenil. Confira: Rapaziada, ser jovem neste Brasil e neste mundo de hoje é pedreira! Mas como que seria, então, nossa forma de participar? Começaríamos muito bem por aqui ó, fazendo com que esse povo nos levasse mais a sério! Parece brincadeira, mas não é não. Numa mesa-redonda estão discutindo lá alguns adultos (10 ou 20) e alguns jovens (1 ou 2) sobre determinado tema, até que o debatedor pergunta: “Então, jovem, o que tem a dizer sobre isso?”. Uma das primeiras coisas que devem passar na cabeça dos adultos deve ser algo do tipo: “O que esse moleque vai dizer agora? O que ele sabe sobre isso? Por acaso ele é formado em alguma coisa?”. Enfim, coisas assim. Aí, quando você finalmente abre a boca, dizem: “Nossa! Silêncio, o jovem vai falar! Que lindo!”. Mas lógico que existem participações legais por aí, onde somos respeitados de fato. Mas o que eu quero mesmo dizer é que nós, jovens, temos de participar em espaços onde nunca imaginamos participar. Sabem por quê? Porque esses lugares são justamente aqueles onde mais precisamos estar, é claro! Nós nunca nos imaginamos participando de nada, porque nos ensinaram que jovem não participa, jovem escuta! Jovem só obedece! Jovem não discute! Que baboseira é essa?!? Quem disse isso?!? Primeiro, se nós não participarmos, se nós não dissermos o que achamos, não dissermos o que queremos, vai continuar a mesma coisa: um adulto de 39 anos representando os jovens em tal lugar, outro adulto de 50 anos dizendo que nós precisamos daquilo e daquilo outro, uma senhora dizendo que isto é melhor pra nós e que isso não é bom pra nós... Ah! O mais importante! Antes que confundam isto tudo com zorra, não significa que qualquer um também, só por ser jovem, já vai se apossando das coisas. Tudo isto requer preparo, seriedade e trabalho, muito trabalho. Enfim, então qual a diferença que faz a participação juvenil? Toda, meus caros. Porque aí mostramos que nós temos o direito à voz, que temos direito a exigir o melhor pra nós, que podemos, sim, palpitar em “temas de adultos” também, que sabemos o que queremos, o que não queremos, do que a educação precisa, o que nos falta na saúde, o que falta na cidade em termos de cultura e diversão. Caramba, nós podemos!

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c) Espaços de participação política e social na comunidade Grupos religiosos Grupos comunitários (p. ex.: associações de bairro)Organizações não-governamentais Grupos culturais Conselhos de gestão comunitária (como o da Unidade de Saúde)

d) Espaços de participação política institucional Partidos políticosConselhos Municipais, Estaduais e Nacionais de Políticas Públicas (saúde, educação, assistência social, juventude)Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente Conferências municipais, estaduais e nacionais de diversas áreas, como da juventude, da saúde e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros)

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Se ligaConferência é um encontro no qual se discutem os caminhos das políticas públicas, com a participação do governo e da sociedade civil através de votação. As conferências podem ser municipais, estaduais ou nacionais. Um marco recente para os jovens foi a realização, em abril de 2008, da I Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Foi uma grande conversa, com gente de todo o país – principalmente jovens que militam nos mais diversos movimentos sociais –, sobre os desafios e as soluções necessários para melhorar a vida da juventude brasileira. Foi solicitado ao poder público, pelos próprios jovens, que se crie oportunidades para garantir o que é direito da juventude, como educação e saúde de qualidade, trabalho, moradia, locomoção na cidade, expressão cultural e artística.

a) Participação eleitoral pelo voto

b) Espaços de participação política e social na escola

Grêmio estudantilConselho escolarRepresentante de sala

•••

Grêmio estudantil é a entidade que representa os alunos

dentro da escola. Ela é criada e administrada pelos

estudantes, que decidem o que deve ser feito. O Grêmio

pode organizar atividades culturais (saraus, shows, peças

teatrais), festas, atividades educacionais (feiras de ciências,

gincanas de conhecimentos, oficinas), políticas (eleição de

representantes de classe, assembleias com os estudantes

para pensar nos problemas da escola, reunião com a

direção), esportivas (clube do xadrez, campeonato de

futebol, Olimpíadas), de comunicação (mural, blog,

jornal), além de ações sociais (campanhas de arrecadação

de alimentos, atividades em uma ONG, coleta

seletiva de lixo) e políticas.

Pra entender

melhor

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Se liga Assim como os movimentos sociais, as redes são outra forma de as pessoas se organizarem para lutar por um objetivo comum. A rede é responsável pelo compartilhamento de ideias entre pessoas e/ou grupos que têm interesses, valores e objetivos em comum. Existem várias maneiras de as redes se organizarem e empreenderem suas ações. Em tempos de Internet e tecnologia, as formas de articulação e encontros para discutir os temas são variadas e criativas.

e) Movimentos sociaisMovimento NegroMovimento Aids Movimento de Juventude (que existem diversos segmentos)Movimento LGBTMovimento Feminista etc.

f) Redes e fórunsRede Nacional de Jovens Vivendo com HIVMAB (Movimento de Adolescentes Brasileiros) Rede Sou de AtitudeRede de Jovens pelo Enfrentamento ao Abuso e Exploração SexualRejuma – Rede Juventude e Meio AmbienteFonajune – Fórum Nacional de Juventude Negra

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Tá na mãoClic louco

No site da UNE (www.une.org.br), em UBES on line, você pode baixar

gratuitamente arquivos com leis e modelos de documentos para montar

seu grêmio, além de encontrar dicas para criar e manter sua entidade.

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O que são os Conselhos de Gestão Comunitária?

Os Conselhos de Gestão Comunitária tem como um de seus principais objetivos integrar as pessoas da comunidade na decisão e no acompanhamento de ações desenvolvidas por instituições existentes na comunidade. É o caso, por exemplo, do Conselho Escolar, que conta com a participação dos profissionais de Educação, da direção da escola, dos alunos, dos pais ou responsáveis pelos alunos, dos professores e da comunidade local – juntos eles elaboram o projeto político-pedagógico (planejamento de ações anual) e acompanham as atividades realizadas na escola.

Os Conselhos Escolares também são um espaço fundamental para pautar os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Por isso, é importante que:

a escola promova espaços informativos e de debate sobre a saúde sexual e saúde reprodutiva com o envolvimento dos professores, alunos e pais;o debate sobre saúde sexual e saúde reprodutiva faça parte do projeto político-pedagógico, que envolve a participação de toda a comunidade escolar;as atividades educativas realizadas pelas escolas sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos sejam contínuas, ou seja, que aconteçam ao longo do ano, inclusive por meio de eventos extra sala de aula.

O que são os Conselhos de Políticas Públicas?

Também conhecidos como Conselhos Gestores, os Conselhos de Políticas Públicas sugiram no início da década de 1990 por pressão dos movimentos sociais (mais uma vez, os movimentos sociais fizeram a diferença!). A mobilização partiu dos envolvidos com a saúde pública e as organizações que lutavam pelos direitos das crianças e adolescentes e pela participação da sociedade civil na gestão das políticas públicas. Eles queriam um espaço onde a sociedade civil e o governo discutissem as políticas públicas conjuntamente: governo + cidadãos organizados.

Os Conselhos de Políticas Públicas têm o papel de monitorar as políticas públicas em diversas áreas, como saúde, educação, assistência social etc. Eles existem nos municípios, nos estados e em nível nacional, com o objetivo de saber se as políticas estão acontecendo de fato, se o dinheiro está sendo empregado de forma adequada, se as necessidades da população estão sendo atendidas etc.

Infelizmente, a maioria das pessoas ainda desconhece a existência dos Conselhos de Políticas Públicas, o que enfraquece a participação do povo nesses espaços, que são canais superimportantes de diálogo com o governo. É fundamental que elas percebam que a participação nesses conselhos é um direito, porque é participando dessas instâncias que conseguimos fiscalizar as ações do poder público.

Agora que você já sabe do que se trata, divulgue essa informação aos quatro cantos do mundo. Afinal, todos têm o direito de conhecer e participar!

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Outro Conselho de Gestão Comunitária é o Conselho de Gestão da Unidade de Saúde, espaço igualmente estratégico para pautar os direitos sexuais e direitos reprodutivos. E como se chega lá? Você pode levantar essa bandeira e discutir pontos como:

a importância do atendimento de qualidade aos adolescentes e jovens que vão à unidade; a desburocratização da distribuição dos métodos contraceptivos, em especial do preservativo, para adolescentes e jovens;situações de preconceito e discriminação que possam surgir nas unidades, no atendimento aos adolescentes e jovens, em especial às mães adolescentes, aos que vivem com o vírus HIV e aos homossexuais;a importância de criar espaços específicos para os adolescentes e jovens dentro das unidades de saúde, como grupos educativos que discutam as questões da sexualidade, do corpo, da saúde sexual e reprodutiva;a criação de estratégias de envolvimento dos pais adolescentes no planejamento familiar.

Se liga Você sabia que, desde 2003, os Ministérios da Saúde e da Educação, o UNICEF, a UNESCO e o UNFPA firmaram uma parceria para desenvolver nas escolas de todo o país debates sobre sexualidade, prevenção das DST/aids, saúde reprodutiva, relações de gênero, diversidade sexual, entre outros temas? Dessa parceria surgiu o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), que tem como objetivos:

contribuir para a redução da infecção pelo HIV/DST e dos índices de evasão escolar causada pela gravidez na adolescência (ou juvenil) na população de 10 a 24 anos;estimular a participação dos jovens nos espaços de formulação e execução de políticas públicas de prevenção das DST/aids;instituir a cultura de prevenção nas escolas e na comunidade.

Além disso, o SPE traz um elemento inovador, que é a disponibilização de preservativos nas escolas, combinada com atividades educativas sobre sexualidade. Ou seja, além de falar e de refletir sobre a prevenção das DST e da aids e temas afins, você também tem o direito, caso queira, de pegar a camisinha na escola!

Para maiores informações acesse:www.aids.gov.brwww.mec.gov.br

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1. Na práticaEntre as questões que vocês irão levantar no grupo, existe uma que é importante para todos nós, agentes de promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos: o acesso gratuito e universal ao preservativo, sem constrangimentos para os adolescentes e jovens, em quantidade razoável.

Então, vamos à prática! Faltou camisinha no serviço de saúde da sua comunidade. O que fazer?

Passo 1 – Diagnóstico da situação: Antes de qualquer coisa, é bom entender o porquê da falta da camisinha. Converse com o responsável pela Unidade de Saúde para que ele informe por que não há preservativos disponíveis. Pode ser por falta de organização do próprio serviço de saúde, porque a entrega atrasou ou até mesmo porque o governo ainda não enviou as camisinhas. De qualquer forma, a Unidade de Saúde é a responsável legal por essa distribuição.

Passo 2 – Mobilização: Nesse momento, é possível agir de duas maneiras: Unir-se à Unidade de Saúde lutando junto com ela para garantir os preservativos; ouMobilizar-se, de preferência junto com outras pessoas e grupos.

Um caminho interessante é o de colocar a boca no trombone. Isso mesmo! Mobilize seus colegas e a comunidade sobre o caso. Faça cartazes, manifestações em frente a Unidade de Saúde etc. O importante é não ficar parado.

Outra alternativa é buscar outras instâncias responsáveis, no caso a Secretaria de Saúde do seu município. Identifique se nesta secretaria existe Programa Municipal de DST/Aids — que coordena a política de DST/Aids do seu município — pois é este o órgão principal responsável, dentro da Secretaria de Saúde, pela distribuição das camisinhas para as Unidades Básicas de Saúde.

Algumas formas de fazerNesta seção damos duas sugestões de como fazer a diferença na luta pelos direitos sexuais e direitos reprodutivos de adolescentes e jovens. Uma delas é um exemplo prático de como organizar uma ação de advocacy; a outra é sobre como multiplicar os conceitos e ideias trabalhadas ao longo deste fascículo com seus pares através da realização de oficinas.

Fomos procurar o que é advocacy e encontramos

uma definição legal no Guia de Atitude, da Rede Sou

de Atitude: o termo vem do inglês, mas tem origem

lá no latim, a partir da junção ad + vox. A ideia seria

a de “dar voz a uma pessoa ou a uma causa”. Assim,

advocacy consiste no apoio aos direitos de pessoas

ou causas, ampliando seu espaço de expressão

e trabalhando pela promoção e pela defesa

de seus direitos. É também chamada

de incidência política.

Pra entender

melhor

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2. Fazendo oficinas

Oficina 1 – Jovens e participaçãoObjetivosRefletir sobre a relação juventude–participaçãoPontuar os espaços e as formas de participação juvenil

Tempo: 1 hora e 30 minutosMaterial: Papel craft e pincéis atômicos

Sugestões para o encaminhamento da oficina:Distribua os participantes em quatro grupos e peça que debatam sobre Participação Juvenil a partir do roteiro. (anexo). Peça que os grupos elejam um coordenador para, posteriormente, apresentar o que foi refletido e discutido;Negocie com o grupo o tempo de duração dessa atividade;Esclareça que a apresentação poderá ser feita na forma de painel, dramatização, música etc.

Pontos para a discussão

Como o jovem é encarado pela sociedade? Todas as instituições sociais encaram o jovem do mesmo modo? Se há diferenças, quais são elas?Há diferenças na forma como a sociedade percebe o homem jovem e a mulher jovem? Os jovens participam das decisões e ocupam de fato os lugares de poder? Se não, por quê? Os jovens estão preocupados em desenvolver ações de luta sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos? Jovem é igual em “todo lugar” ou existem diferenças? Se existem, quais são elas?Como vocês percebem a atuação juvenil nos diferentes espaços, como a sua comunidade, as escolas etc.?

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Você também pode escrever uma carta para jornais ou revistas de circulação local ou nacional relatando o fato. Não se esqueça de exigir que se tomem providências, caso contrário, corre-se o perigo de isso não dar em nada. Passo 3 – Parcerias: Você não está sozinho nessa! Você pode procurar o Fórum ONG/Aids de seu Estado, instância que reúne Organizações Não-governamentais (ONGs) que trabalham com as DST/HIV/aids e é responsável, dentre outras coisas, por fazer o monitoramento das políticas públicas em HIV/aids junto ao governo. Esses Fóruns têm um contato muito próximo com as Coordenações Estaduais e Municipais de DST/aids, órgãos das Secretarias de Saúde responsáveis pela política de DST/aids estadual e municipal, respectivamente.

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Oficina 2 – Na luta pelos direitos sexuais e direitos reprodutivosObjetivoDiscutir a participação dos adolescentes e jovens na construção de uma sociedade mais justa que respeite os direitos sexuais e os direitos reprodutivos.

Tempo: 2 horas

Sugestões para o encaminhamento da oficinaEsclareça para aos participantes o que são os direitos sexuais e os direitos reprodutivos (ver Fascículo Temático); Divida Distribua os participantes em quatro grupos; Solicite que cada grupo discuta as questões “Como eu e a sociedade encaramos os direitos sexuais e os direitos reprodutivos?” e “Como posso contribuir para que os direitos sexuais e direitos reprodutivos sejam respeitados?”, considerando:

a) Minha relação comigo mesmo; b) Minha relação com a família; c) Minha relação com a comunidade;d) Minha relação com a sociedade;e) Minha relação com a escola.

Quando os grupos tiverem terminado a discussão, peça que apresentem suas conclusões de maneira criativa (por meio de dança, dramatização, música, mímica etc.). Não se esqueça de determinar o tempo de cada apresentação.

Após todas as apresentações, inicie o debate, considerando os seguintes pontos: Quais os sentimentos despertados na atividade? Você já tinha parado para pensar sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos?Como podemos pautar esses direitos no nosso dia a dia? Por que a luta por esses direitos é importante? Por que é importante o envolvimento dos jovens nessa luta?

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ANEXORoteiro para debate

O que entendemos por participação?Como os jovens participam dos mais diferentes espaços: família, escola, serviço de saúde, instituições religiosas etc.?Como os jovens podem participar politicamente da defesa dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos? Quais são os espaços mais comuns de participação dos jovens? Essa participação pode acontecer de forma mais efetiva? Se sim, como? Existem ações importantes lideradas por jovens? Quais?Entre os movimentos que vocês conhecem, quais são liderados por jovens?

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a contribuir para a melhoria da comunidade. Ou seja, pensar em estratégias adequadas ao público é fundamental.

5. Perseverança — este é outro item que nunca, nunca pode ser abandonado. Às vezes, as coisas não acontecem como planejado, porque dependemos da ação de outras pessoas e instituições. Mas é preciso manter-se firme e centrado. Por isso, nunca deixe os ideais para trás e busque sempre aqueles que podem fortalecê-lo e dar-lhe novo fôlego.

6. Atitude — a atitude é outro ingrediente que não pode faltar. De nada adianta ficar só reclamando e falando dos problemas. Saber o que quer, correr atrás e ser firme nas colocações são atitudes que fazem a mudança.

7. Falar e aprender a ouvir também são fundamentais. Afinal de contas, ouvir o que o outro tem a dizer e argumentar sobre seu ponto de vista é estratégico numa negociação e aspecto importante no fazer político.

Postura do jovem participativo É importante que aqueles que desejam ou sentem necessidade de pôr a mão na massa, de ir à luta, de mudar as coisas com firmeza e tornar melhor a própria vida e a dos outros adotem determinada postura. Essa postura exige algumas habilidades, que listamos abaixo. Lógico que você não precisa ter todas essas habilidades, até porque, na prática, a gente descobre e aprende que também é capaz de fazer as coisas do nosso jeito, sem precisar seguir normas estabelecidas. Mas aí vai o recado:

1. Conhecer e revelar a realidade para ter consistência — primeiramente você tem de conhecer aquilo que quer mudar e as coisas que se relacionam com isso, revelando a situação ou o problema à sociedade. Precisa saber direitinho com o que e com quem está lidando. Por isso é tão importante conhecer mais e mais sobre a causa pela qual está lutando! Para isso, precisa ler livros e jornais, saber quais são as leis que estão em votação, conhecer os movimentos sociais que estão no mesmo barco, as políticas públicas elaboradas pelo governo e tentar fazer parte de algum conselho.

2. Ser propositivo — ficar somente no discurso e não propor alternativas para o problema apresentado adianta muito pouco. Por isso, levante o maior número de informações e pense em estratégias para solucioná-lo.

3. Capacidade de articulação — quanto mais aliados, melhor! Afinal, a união faz a força. Aí entram a articulação política e o estabelecimento de parcerias. A gente tenta por uma porta e não dá, tenta por outra e não dá, vai tentando, tentando, tentando, até que uma hora dá. Temos que ter os pés em todos os lugares, parceiros em todos os cantos. Adultos, outros jovens, o governo, ONGs, a mídia etc.

4. Capacidade de convencimento — convencer o outro de certo assunto envolve duas coisas: primeiro, quem é essa pessoa ou público que você quer convencer? Segundo, que discurso você fará? Uma coisa é convencer seu amigo a se envolver nas ações da sua comunidade; outra é convencer um vereador

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Se ligaParticipar da luta por uma causa social envolve duas coisas muito importantes: organização e espírito para trabalhar com pessoas diferentes e em grupo. Afinal, uma andorinha só não faz verão.

Veja a seguir algumas dicas básicas de como o seu grupo pode se organizar para lutar por uma causa:

Ter claro qual o objetivo do grupo, ou seja, que causa une seus integrantes;Procurar outras pessoas ou grupos que estejam trabalhando com a mesma causa;Definir com o grupo o que pode ser feito para atingir esse objetivo;Organizar as atividades sempre de acordo com os limites de cada integrante;Acompanhar/monitorar as atividades que o grupo realiza; Ocupar os espaços de garantia de direitos, como os Conselhos de Políticas Públicas; Divulgar o trabalho realizado para que outros o conheçam e se unam, fortalecendo ainda mais a causa.

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Tá na Mão Livros imperdíveis

Ciência Política — Textos Introdutórios, de Áurea Petersen, Eduardo Corsetti,

Elizabeth Maria Kieling Pedroso e Maria Alayde Albite Ulrich (Editora

Mundo Jovem)

O que é política, de Wolfgang Leo Maar (Editora Brasiliense)

Diálogo nacional para uma política pública de juventude, do IBASE (acesso

no internet no link: www.ibase.br/userimages/dialogo_juv_final21.pdf)

Política: quem manda, por que manda, como manda, de João Ubaldo

Ribeiro (Editora Nova Fronteira)

O Poder Jovem, de Arthur José Poerner (BooLink)

Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (Editora José Olympio)

Rumo à estação Finlandia, de Edmund Wilson (Editora Companhia de Bolso)

Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway (Editora Livros do Brasil)

Filmes da hora

Rádio Favela — Direção de Helvécio Ratton, 2002.

Conta a história de quatro jovens, Jorge, Brau, Roque e Zequiel,

que vivem em uma favela em Belo Horizonte e tem um sonho

em comum: montar uma rádio. O filme retrata os problemas e as

alegrias desses jovens durante o desenvolvimento dessa rádio.

Entreatos — Direção de João Moreira Salles, 2004.

O documentário revela os bastidores de um momento histórico —

de 25 de setembro a 27 de outubro de 2002, a equipe de filmagem

acompanhou passo a passo a campanha de Luís Inácio Lula

da Silva para a presidência da República através de material

exclusivo, como conversas privadas, reuniões estratégicas,

telefonemas, traslados, gravações de pronunciamentos e

programas eleitorais.

EduKators — Direção de Hans Weingartner, 2004.

Conta a história de um grupo de jovens amigos moradores de

Berlim, Alemanha, que se reúnem para invadir as casas de pessoas

ricas e deixar mensagens contra o capitalismo.

Quase dois irmãos — Direção de Lúcia Murat, 2005.

O filme é baseado na história de duas personagens, Miguel, jovem

intelectual de classe média preso político na Ilha Grande e hoje

deputado federal, e Jorge, filho de um sambista que, de pequeno

assaltante, se transformou num dos líderes do Comando Vermelho.

Retrata a história política do Brasil nos últimos 50 anos, contada

através da música popular, o ponto de ligação entre essas duas

personagens e seus mundos.

Em nome do Pai — Direção de Jim Sherida, 1993.

Nesse filme baseado na história real de Gerry Conlon, um pequeno

delinquente é confundido com um terrorista do IRA e apontado

injustamente como um dos responsáveis por um atentado a

bomba. Gerry é forçado a confessar sua participação no crime, e a

investigação acaba incriminando também seu pai. Condenado, ele

tenta provar sua inocência e limpar o nome do pai, contando com a

ajuda de uma empenhada advogada.

Olga — Direção de Jayme Monjardim, 2004.

O filme retrata a vida e os ideais da militante comunista Olga

Benário Prestes, indo de sua infância burguesa na Alemanha a sua

morte numa das câmaras de gás de Hitler. Uma grande história de

Tá na Mão

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amor e intolerância.

Guias

Guia de Atitude, Rede Sou de Atitude, 2008. O material sistematiza as

práticas da Rede Sou de Atitude, que monitora políticas públicas de

infância, adolescência e juventude, ao longo de quatro anos. Você

pode baixar esse material no site www.soudeatitude.org.br.

Na web

Juventude e Ação Política — www.jap.org.br

Grupo Interagir — www.interagir.org.br

Rede Sou de Atitude — www.soudeatitude.org.br

Movimento Mundial de Jovens pela Democracia — www.ymd.youthlink.org

Falando em política — www.interagir.org.br/politica

Parlamento Latino-americano — www.parlatino.org

União Nacional do Estudantes — www.une.org.br

Rede Jovens do Nordeste — www.rjne.blogger.com.br

Dia Global do Voluntariado Jovem — www.diaglobal.org.br

Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral — www.lei9840.org.br

Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia —

www.institutoagora.org.br

Fórum Social Mundial — www.fsm.org.br

Fórum Nacional de Juventude Negra — www.enjune.com.br

Tá na Mão Este material foi testado com adolescentes das comunidades de Heliópolis e Cantinho do Céu em São Paulo. Valeu Galera!

Rafael Reis de Almeida Daniel Nunes Pereira Rafael Soares de Oliveira Leonardo Belo da Silva Eduardo Portela Brenda Passos Santos Daniel da Silva dos Santos

Mayara Cintia L. Vieira Wellington Wesley Luiz Alessandra dos Anjos Fabiola Batista

Cantinho do Céu

Vanessa Da Conceição Liliane dos Santos Mendes Ellen Cristina Nascimento Nogueira Luciane Morais Francileide Oliveira Jéssica Aparecida Almeida Costa Lucas Gomes Daniella de Sousa Cardoso Andréia Sabino Estevão Henrique Barbosa Jéssica de Sousa Marques Maxwell Rodrigues Mendes Johnny Nogueira de Souza Ana Carolina Rodrigues de Almeida

Felipe Tavares Pessoa John Leno da Silva Vieria Andreza dos Santos Silva Kayone Caroline da Silva Bruna Alves Campos Crione de Sousa Ribeiro Fernando Antônio Raiane Myrele C. dos Santos Aleni Rodrigues Débora de S. P. dos Santos Gessiára de Sousa Augusto E. de C. R. da Silva Henrique S. Vitorio

Heliópolis

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Parcerias

Iniciativa