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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA ADNEY ACÁCIO MARTINS SATISFAÇÃO NO TRABALHO: um estudo com trabalhadores em regime de turno de uma empresa de energia elétrica de Santa Catarina Biguaçu 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

ADNEY ACÁCIO MARTINS

SATISFAÇÃO NO TRABALHO : um estudo com trabalhadores em regime de

turno de uma empresa de energia elétrica de Santa Catarina

Biguaçu

2007

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ADNEY ACÁCIO MARTINS

SATISFAÇÃO NO TRABALHO : um estudo com trabalhadores em regime de

turno de uma empresa de energia elétrica de Santa Catarina

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu. Orientadora: MSc. Renata Susan Pereira

Biguaçu

2007

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DE PESQUISA

Psicologia Organizacional

TEMA

Satisfação no Trabalho

TÍTULO DA MONOGRAFIA: SATISFAÇÃO NO TRABALHO: um estudo com

trabalhadores em regime de turno de uma empresa de energia elétrica de Santa Catarina.

ALUNO

Nome: Adney Acácio Martins

Código de Matrícula: 0320230

Centro: Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 6°

ORIENTADOR

Nome: Renata Susan Pereira

Categoria Profissional: Psicóloga CRP-12/03929

Titulação: Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina

Curso: Psicologia

Centro: Biguaçu

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ADNEY ACÁCIO MARTINS

SATISFAÇÃO NO TRABALHO : um estudo com trabalhadores em regime de turno de uma empresa de energia elétrica de Santa Catarina

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Profª. MSc. Renata Susan Pereira

Orientadora

____________________________________________ Profª. MSc. Ilma Borges

Membro da Banca Examinadora

____________________________________________ Profª. MSc. Jaqueline Longo Xikota

Membro da Banca Examinadora

____________________________________________ Profª. MSc. Maria Suzete Salib

Coordenadora de TCC

____________________________________________ Prof. MSc. Almir Pedro Sais

Coordenador do Curso de Psicologia

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AGRADECIMENTOS

Agradeço sinceramente:

A Deus, que me concedeu chegar até aqui por sua bondade indescritível, seja Ele

sempre engradecido.

À minha esposa Tânia Regina, que esteve sempre me apoiando para que eu pudesse

vencer esta etapa.

A meus filhos Anderson, Desirrê e Gabriela, que sofreram eu sei, com minha

ausência.

À minha orientadora Renata, que sempre prontamente forneceu subsídios, indicou

bibliografias e teve paciência comigo, que Deus te abençoe.

À minha irmã Alessandra, que, além de palavras, usou de todos os meios ao seu

alcance para incentivar-me.

A meus pais Acácio e Arlete, pelo apoio sempre presente.

A todos, que, ao passar por mim, proporcionaram-me não só a condição de chegar

até aqui, mas de crescer como ser humano.

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RESUMO

Esta pesquisa aborda a percepção dos trabalhadores que atuam na operação da distribuição de

energia elétrica de uma empresa de energia elétrica, com relação à satisfação no trabalho. É

importante notar que quando as condições de trabalho são recompensadoras, produzem

sentimentos positivos em relação ao trabalho. Já em condições adversas, nas quais se tolhe a

possibilidade de manifestação subjetiva, o indivíduo acaba por desenvolver uma aversão ao

seu trabalho ou ao produto dele. A investigação destas condições constituem-se no escopo

desta pesquisa que tem como objetivo geral caracterizar os fatores do trabalho que atuam na

satisfação do trabalhador em regime de turno na operação da distribuição de energia elétrica.

Assim procurou-se investigar na literatura os fatores que influenciam na satisfação no

trabalho, suas conseqüências, correlatos, a qualidade de vida no trabalho (QVT) e trabalho de

turno com suas influências sobre o trabalhador. Ao investigar as características que

influenciam na satisfação do trabalhador na operação da distribuição utilizou-se a técnica de

pesquisa qualitativa com entrevistas semi-estruturadas onde procurou-se nas falas dos

indivíduos as percepções quanto a satisfação e a insatisfação no trabalho, buscando identificar

quais facetas da satisfação no trabalho estão presentes neste centro de operações. Durante a

pesquisa houve mudanças na organização que se refletiram nos relatos dos indivíduos

entrevistados, em falas que revelaram insatisfação. Entretanto os resultados obtidos revelam

um equilíbrio de temas entre as duas grandes categorias encontradas - satisfação e insatisfação

- assim como nas unidades de analise que envolvem as relações com os colegas,

reconhecimento, salário e segurança no trabalho observou-se que aparecem em ambas as

categorias. Um item que merece destaque é o fato de o horário de turno surgir como um tema

relacionado à satisfação, o que aparece em oposição ao que foi encontrado na literatura

referente ao tema.

Palavras chaves: Satisfação no trabalho; facetas da satisfação; qualidade de vida no trabalho.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1: Distribuição dos entrevistados conforme a faixa etária....................................... 29

Gráfico 2: Distribuição dos entrevistados conforme o grau de escolaridade........................ 30

Gráfico 3: Distribuição dos entrevistados conforme o tempo de empresa e tempo em que

trabalham em regime de turno...............................................................................................

30

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Descrição das categorias e temas de análise....................................................... 33

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

2 OBJETIVOS............................................................................................................... 13

2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................................... 13

2.1.1 Objetivos específicos................................................................................................. 13

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 14

3.1 A SATISFAÇÃO NO TRABALHO.............................................................................. 15

3.1.1Sentir-se satisfeito: percepção do ambiente de trabalho e características

pessoais................................................................................................................................

16

3.1.2 Conseqüências da satisfação no trabalho............................................................... 18

3.1.3 Avaliação da satisfação no trabalho........................................................................ 19

3.1.4 Correlatos da satisfação no trabalho....................................................................... 20

3.1.4.1 Comprometimento organizacional........................................................................... 20

3.1.4.2 Envolvimento com o trabalho.................................................................................. 21

3.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: CONCILIAÇÃO DE

INTERESSES......................................................................................................................

21

3.3 O TRABALHO EM REGIME DE TURNO................................................................. 24

4 MÉTODO.................................................................................................... 29

4.1 COLETA DE DADOS................................................................................................... 29

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DE PESQUISA............................................. 29

4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS......................................................... 31

4.4 ASPECTOS ÉTICOS..................................................................................................... 32

5 RESULTADOS........................................................................................... 33

5.1 ANÁLISE DAS CATEGORIAS SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO........................ 34

5.1.1 Análise dos temas relacionados às relações com os colegas e

clientes.................................................................................................................................

36

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5.1.2 Análise dos temas relacionados às relações com os superiores e a

organização........................................................................................................................

38

5.1.3 Análise dos temas relacionados ao trabalho em si.................................................

5.1.4 Discussão....................................................................................................................

40

50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 52

REFERÊNCIAS............................................................................................. 54

APÊNDICES.................................................................................................. 57

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1 INTRODUÇÃO

O lugar que os profissionais ocupam como diferencial competitivo nas organizações

evidenciou a necessidade de mantê-los satisfeitos e dar condições de desenvolvimento. Não

basta ter pessoas competentes em uma empresa, deve-se, antes, oferecer condições para que

desenvolvam o seu potencial a fim de que se comprometam com a organização e produzam os

resultados almejados. O conhecimento dessas premissas despertou o interesse de analisar a

atuação dos eletricistas da operação de distribuição de energia elétrica e a sua satisfação com

o trabalho (ST).

O trabalho quando possui condições recompensadoras leva a sentimentos positivos

com relação a ele e em condições adversas produz tanto aversão ao trabalho quanto a seu

produto. Isto denota que o trabalho é significado pelos sujeitos podendo produzir satisfação

ou insatisfação de acordo com os sentimentos que o acompanham. Portanto “a Satisfação no

Trabalho [...] é uma variável de atitude que reflete como a pessoa se sente em relação ao

trabalho de forma geral e em seus vários aspectos” (SPECTOR, 2006, p. 221). A ST pode ser

abordada de formas diversas, desde o conteúdo do trabalho, ou os aspectos psicossociais, nos

quais as características das atividades atuam no surgimento da motivação e da ST

(SANT’ANNA; MORAES; KILIMNIK, 2005) até sua expansão para outros contextos. A

satisfação varia entre indivíduos que possuem condições semelhantes de trabalho, o que

significa que existem outros fatores, além destas condições concretas de trabalho que atuam

na satisfação. Essa evidência tem conduzido pesquisadores como Staw e Ross (1985 apud

SPECTOR, 2006) a abordar a Satisfação no Trabalho sob a ótica da personalidade, do

ambiente e, ainda, da interação, que combina fatores de personalidade e ambientais.

Há outra questão importante no estudo da ST: o enfoque global ou por fatores. Um

indivíduo pode se satisfazer com o seu trabalho de modo geral, apesar de não estar contente

com algum aspecto dele. Isso significa que a ST pode ser analisada no todo – enfoque global

– ou ainda sob a ótica dos fatores que a compõem. A análise da ST com base na perspectiva

das facetas ou fatores permite uma observação mais pormenorizada da satisfação. A soma das

facetas, contudo, não representa necessariamente a satisfação global dos indivíduos, embora

seja uma aproximação a esta.

A forma como as pessoas se sentem em relação ao seu trabalho perpassa a sua

atuação nas atividades laborais, bem como a sua percepção dos aspectos do trabalho,

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influenciando, assim, o seu comprometimento, o envolvimento, o absenteísmo, entre outros.

Os aspectos ou facetas do trabalho, segundo Weiss, Dawis, Lofquist e England (1966 apud

SPECTOR, 2006) são: atividade, independência, variedade das tarefas, status social,

supervisão técnica e de Recursos Humanos (RH), valores morais, segurança, serviço social,

autoridade, utilização de habilidades, políticas e práticas da organização, compensações,

avanço na carreira, responsabilidade, criatividade, condições de trabalho, companheiros de

trabalho, reconhecimento e realização.

O regime de turno, outro fator importante na caracterização dos sujeitos desta

pesquisa, influencia nas relações sociais, na saúde e provoca problemas como sono, desgaste

psicológico e fadiga (SPECTOR, 2006). Mesmo possuindo aspectos contraproducentes,

algumas empresas são obrigadas a trabalhar em regime de turno por terem de atuar 24 horas

todos os dias, tais como: bombeiros, hospitais, empresas de vigilância, limpeza, transporte,

energia elétrica, ou porque um turno não é suficiente para atender a necessidade de produção,

o que ocorre nas indústrias.

Esta pesquisa foi definida como qualitativa de cunho exploratório, na qual

investigaram-se os aspectos ou as facetas que estão em evidência na composição da ST em

um grupo específico de profissionais. Seu cunho exploratório deve-se à finalidade de

proporcionar mais informações sobre a ST, bem como maior intimidade com o problema, com

vistas a torná-lo mais explícito.

O objetivo desta pesquisa consiste em caracterizar os fatores que atuam na

satisfação do trabalhador em regime de turno na operação da distribuição de energia

elétrica de uma empresa catarinense. Para tanto, entrevistou-se sete sujeitos com idades que

variam de 31 à 45 anos. Os indivíduos entrevistados possuem, em sua maioria, o ensino

médio ou superior incompleto.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas, a partir de

informações sobre o perfil dos sujeitos, bem como a percepção destes sobre o seu trabalho e a

sua satisfação e insatisfação com o mesmo. análise do conteúdo deu-se mediante a procura

dos sentidos do texto (FRANCO, 1994).

Os depoimentos geraram trinta e cinco temas agrupados em duas grandes categorias:

satisfação e insatisfação. Destes, quatro temas aparecem tanto na categoria satisfação como na

insatisfação.

A relevância social deste estudo está no uso de seus resultados para o grupo em que a

pesquisa se realizou. Estes forneceram subsídios para uma intervenção que possibilite uma

maior satisfação no trabalho e, conseqüentemente, uma melhora na qualidade de vida dos

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trabalhadores da operação da distribuição de energia elétrica, bem como uma contribuição à

cultura organizacional desta empresa.

A relevância científica para a psicologia, encontra-se no fornecimento de subsídios,

baseando-se nas experiências e vivências dos trabalhadores sobre seus cotidianos laborais e

suas situações, contribuindo assim com a literatura disponível na área.

Os resultados obtidos possibilitaram a visualização das questões apresentadas na

bibliografia, como também apresentaram questões novas concernentes à alguns temas.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

� Caracterizar os fatores do trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em regime

de turno na operação da distribuição de energia elétrica de uma empresa catarinense.

2.1.1 Objetivos específicos

a) Identificar, na literatura da Psicologia Organizacional e do Trabalho, os fatores que

compõem a satisfação no trabalho;

b) Distinguir, na literatura da Psicologia Organizacional e do Trabalho, os diversos

aspectos que agem sobre o sujeito no trabalho realizado em regime de turno;

c) Analisar junto aos trabalhadores em regime de turno na operação da distribuição de

energia elétrica a sua satisfação com o trabalho.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O trabalho constitui o ato de transmitir significado à natureza, de transformá-la e

utilizá-la para uma determinada finalidade, implicando certa capacidade de idealização

daquilo que não está presente e existe inicialmente apenas como uma idéia (COSTA, 2006).

Essa capacidade simbólica cria o desenvolvimento de conhecimentos que proporciona a auto-

reflexão e transparece a subjetividade do indivíduo no produto final. Assim, “trabalhar é

impor à natureza a nossa face” (CODO; SAMPAIO; HITOMI, 1994, p. 189). Isso denota que

o homem é um ser que se cria pela formação da própria existência por meio do trabalho

(FIGUEIREDO, 1991).

Quando as condições de trabalho são recompensadoras, produzem sentimentos

positivos em relação ao trabalho. Já em condições adversas, nas quais se tolhe a possibilidade

de manifestação subjetiva, o indivíduo acaba por desenvolver uma aversão ao seu trabalho ou

ao produto dele. Todo o trabalho, portanto, possui significados que podem produzir satisfação

quando seguidos por um estado emocional positivo, ou insatisfação quando este prazer não o

acompanha.

A diversidade de significados humanos faz com que os indivíduos reajam de forma

diversa aos estímulos que os rodeiam e pode ser chamada de motivação, “a vontade de

empregar altos níveis de esforço em direção a metas organizacionais, condicionado pela

capacidade do esforço de satisfazer alguma necessidade do indivíduo” (ROBBINS, 1999, p.

109).

Um fator estreitamente ligado à ST é a motivação do sujeito para a realização do seu

trabalho. O movimento humanista propunha, por exemplo, que uma forma de aumentar a

motivação para o trabalho era oferecer condições que promovessem o aumento da satisfação

(KRUMM, 2005). Existem diferentes teorias motivacionais, entre elas a Teoria das

Necessidades de Maslow (FERNANDES, 1996), a qual parte da expressão de que o homem é

voltado ao autodesenvolvimento, a partir do momento que satisfaz suas necessidades básicas,

este irá procurar satisfazer as necessidades consideradas superiores. A teoria Existence,

Relatedness e Growth (ERG), propõe que as necessidades de existência, relacionamento e

crescimento atuam em conjunto motivando o comportamento individual (KRUMM, 2005).

McClelland afirma que há três tipos de necessidades: necessidade de realização, afiliação e a

de poder (GONDIM; SILVA, 2004). A teoria bi fatorial de Herzberg propõe a existência de

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dois fatores: os fatores de higiene1 que atuam diretamente sobre a insatisfação, já os fatores

motivacionais2 operam diretamente sobre a satisfação, nesta teoria, satisfação e insatisfação

tem agentes causadores distintos.

Na teoria das características do cargo de Hackman e Oldham o enriquecimento do

cargo geralmente propicia maior satisfação e motivação. Já na teoria da eqüidade, os

trabalhadores desejam, em comparação com os outros, eqüidade entre o seu esforço e o

resultado do seu trabalho, sendo a percepção subjetiva a determinante da eqüidade e não a

realidade objetiva. A teoria do estabelecimento de metas, por sua vez, fundamenta-se na

hipótese de que metas específicas, conscientes e difíceis favorecem o aumento do

desempenho no cargo. O comprometimento e o desempenho no trabalho altamente motivado

levam à satisfação (KRUMM, 2005).

Apesar da estreita relação entre as teorias motivacionais e a compreensão dos fatores

que promovem a satisfação no trabalho, destaca-se que não será aprofundada a pesquisa sobre

a motivação por ultrapassar o escopo desta pesquisa. Além do que, conforme apresentado

anteriormente, existem diferentes teorias motivacionais e a incursão por esta diversidade

geraria outra pesquisa. Por hora, cabe destacar que a percepção do indivíduo de que sua

contribuição é importante à instituição, bem como o contentamento com as diversas variáveis

do seu trabalho influenciam diretamente na sua motivação. Portanto, a ST é justamente o

sentimento de contentamento com o trabalho derivado da realização dos elementos que

motivam o sujeito para esta atividade.

3.1 A SATISFAÇÃO NO TRABALHO

“A Satisfação no Trabalho [...] é uma variável de atitude que reflete como a pessoa

se sente em relação ao trabalho de forma geral e em seus vários aspectos” (SPECTOR, 2006,

p. 221). A ST pode ser abordada de formas diversas, desde o conteúdo do trabalho, ou os

aspectos psicossociais, nos quais as características das atividades atuam no surgimento da

1Fatores de Higiene relacionam-se ao ambiente de trabalho incluindo supervisão, relações interpessoais, condições físicas de trabalho, salário, política e administração da empresa, os benefícios do emprego e a segurança no cargo. 2Fatores motivacionais relacionam-se ao conteúdo do trabalho e os resultados desse trabalho, incluem a realização, o reconhecimento, o próprio trabalho, a responsabilidade e o progresso.

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motivação e da ST (SANT’ANNA; MORAES; KILIMNIK, 2005) até sua expansão para

outros contextos:

Experiências pessoais no meio organizacional que se irradiam para a vida social do indivíduo, podendo representar um forte indicador de influências do trabalho sobre a doença mental, de relação entre trabalho e vida familiar ou até de interação entre trabalho e vínculos afetivos pessoais (SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004, p. 303).

A satisfação ganha relevância no ambiente de trabalho, devido ao pensamento

corrente entre gerentes e pesquisadores de que a ST influencia a manifestação de

comportamentos considerados importantes para as empresas no intuito de manter o

contingente laboral produtivo, assíduo e estável, denotando o seu cunho econômico.

Um indivíduo pode sentir-se satisfeito com o seu trabalho de modo geral, apesar de não

o estar com algum aspecto dele. Isso significa que a ST pode ser analisada no todo, o que

se denomina de enfoque global, isto é, “trata da satisfação como um sentimento único e

geral em relação ao trabalho” (SPECTOR, 2006, p. 229). Outra possibilidade é

identificá-la sob a ótica de facetas ou fatores que constituem o trabalho como “os

diferentes aspectos do trabalho, como as recompensas, outras pessoas relacionadas a ele

– supervisores e colegas – as condições de trabalho e a natureza do trabalho em si”

(SPECTOR, 2006, p. 229). Expõem-se as circunstâncias para o aparecimento do

comprometimento, que, junto com o envolvimento, é um dos comportamentos desejáveis

na busca da produtividade. A análise da ST com base na perspectiva dos fatores permite

uma observação ampla e pormenorizada da satisfação. A soma da satisfação com os

fatores do trabalho aproxima-se da ST geral.

3.1.1 Sentir-se satisfeito: percepção do ambiente de trabalho e características pessoais

A dúvida sobre quais variáveis estariam implicadas na satisfação do indivíduo tem

conduzido pesquisadores a adotar uma visão diferenciada que aborda a ST sob a ótica da

personalidade, do ambiente ou ainda da interação, que combina fatores de personalidade e

ambientais (SPECTOR, 2006).

Os fatores ambientais que atuam na ST são:

1- Características do trabalho: as características do ambiente, as tarefas e, ainda, os

diversos aspectos da organização influenciam diretamente na ST. Hackman e Oldham (1976

apud SPECTOR, 2006) apresentam cinco fatores relacionados a características do trabalho:

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- Variedade das habilidades: número de habilidades diferentes necessárias para a

realização de um trabalho;

- Identidade da tarefa: realização ou não do trabalho inteiro ou uma parte dele;

- Importância da tarefa: impacto do trabalho em outras pessoas;

- Autonomia: a liberdade de atuação no trabalho dentro do objetivo;

- Feedback no trabalho: o retorno da correção do próprio trabalho.

A complexidade de um trabalho – ou os desafios propostos por ele – de forma geral,

aparece nesta teoria como o resultado da combinação das cinco características individuais do

trabalho e é chamada de abrangência. Quanto maior for a abrangência de um trabalho, maior

será a satisfação do indivíduo.

2- Variáveis de papel: destacam-se duas: a ambigüidade de papel, que indica até

que ponto estão claras, ao funcionário, as tarefas que ele deve executar, e o conflito de papel,

que surge quando existe uma impossibilidade quanto às exigências do trabalho (intrapapel),

ou entre o trabalho e outras feições da vida (extrapapel).

3- Conflito de função: quando as exigências entre trabalho e família estão em

desordem, surge o conflito família/trabalho ou o conflito de função (SPECTOR, 2006).

As organizações que se preocupam com esse conflito têm realizado medidas que

visam auxiliar seus funcionários. Scandura e Lankau (1997 apud SPECTOR, 2006)

encontraram a ST associada ao horário flexível de trabalho para homens e mulheres que

possuíam filhos vivendo com eles e não a identificaram para aqueles que não os tinham.

4- Salário: apesar de estar associado, de alguma forma, à satisfação global, o salário

relaciona-se de forma mais sólida com a faceta da satisfação com o salário. Spector (2006)

afirma que o determinante da satisfação com o salário não diz respeito à quantia em si, mas

sim a justiça com que é distribuído.

Além dos fatores ambientais citados, consideram-se os fatores pessoais na ST.

Estudos realizados por Schneider e Dachler (1978 apud SPECTOR, 2006) indicam que,

devido à sua constância, a ST poderia ser fruto da personalidade. Mesmo em pessoas que

mudaram de emprego ou de função, segundo Staw e Ross (1985 apud SPECTOR, 2006), foi

verificado que a satisfação em um emprego possui correlação com a satisfação no emprego

seguinte. Disso conclui-se que algumas pessoas possuem uma tendência a estarem satisfeitas

com seu trabalho.

Pelo menos dois traços de personalidade têm recebido especial atenção nos estudos

da ST: a Afetividade Negativa (AN) – predisposição de um indivíduo em ter emoções

negativas; e o locus de controle – quanto às pessoas crêem ou não que possuem o controle

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sobre as contingências de suas vidas. As pessoas que acreditam no poder do controle das

contingências apresentam índices maiores de ST. Já as que não crêem nesse poder revelaram

índices menores de ST. Spector (1982 apud SPECTOR, 2006) indicou que a razão da maior

satisfação das pessoas com lócus de controle interno seria o seu desempenho.

Com relação à maturidade, há evidências de que a ST é maior para os trabalhadores

com mais idade. Diversos fatores contribuem nesse sentido, como o maior ajuste com o

trabalho devido à experiência, ou ainda, melhor recompensa e condições de trabalho

(SPECTOR, 2006).

A observação da interação de fatores pessoais – personalidade, gênero, idade, etc. – e

ambientais – condições de trabalho –, bem como a interação de ambos prediz a satisfação

(SPECTOR, 2006).

3.1.2 Conseqüências da satisfação no trabalho

A ST promove alguns comportamentos considerados importantes no ambiente de

trabalho, pois ela marca a predisposição do indivíduo ou grupo em realizar as ações

necessárias para alcançar um objetivo (SCHRÖDER, 1998). Os comportamentos mais

relevantes são: o desempenho no trabalho, a rotatividade e a ausência do funcionário. O foco

do estudo da ST tem se voltado, contudo, para as variáveis ligadas ao funcionário, devido à

relação entre a ST, a saúde e o bem-estar (SPECTOR, 2006).

A relação entre desempenho e ST apresenta, pelo menos, duas explicações distintas,

não prevalecendo uma sobre a outra. A primeira é a de que um funcionário deve estar

satisfeito para então melhorar seu desempenho. A segunda refere-se ao fato de um funcionário

que desempenha bem suas tarefas estar satisfeito devido às recompensas que receberá por essa

atuação.

Um efeito da ST é a redução da rotatividade ou demissão de funcionários.

Funcionários insatisfeitos têm maior probabilidade de pedir demissão do que funcionários

satisfeitos. Verifica-se essa relação pela análise da rotatividade, ou seja, avalia-se a satisfação

do funcionário e, então, espera-se um período, averiguando se o funcionário pede demissão

(SPECTOR, 2006).

Um dos motivos pelo qual não se evidencia uma correlação da ST no âmbito global

com a ausência no trabalho é pelo fato de que uma pessoa pode faltar ao serviço por diversos

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19

motivos. Nesse caso, associa-se a ST indiretamente às causas das ausências, como, por

exemplo, o adoecimento.

A falta de satisfação ou a insatisfação no trabalho pode causar doenças, afetando a

saúde e o bem-estar do trabalhador. Problemas para dormir, dores estomacais, ansiedade e

depressão foram relacionadas à ST (THOMAS; GANSTER, 1995 apud SPECTOR, 2006).

O fato da insatisfação no trabalho influenciar a saúde e o bem-estar do trabalhador

afeta também a qualidade de vida deste. A influência mútua, tendo em vista que as situações

vividas fora do trabalho podem interferir na ST ou vice-versa (WEAVER, 1978 apud

SPECTOR, 2006), é a única hipótese confirmada por estudos (JUDGE; WATANABE, 1993

apud SPECTOR, 2006).

3.1.3 Avaliação da satisfação no trabalho

A ST é geralmente investigada indagando-se as pessoas sobre sua percepção e seu

sentimento acerca de seu trabalho. Revela-se pouco freqüente a solicitação da opinião de

gerentes ou observadores sobre a satisfação dos trabalhadores, pois os gerentes geralmente

sobrevalorizam a ST dos seus subordinados a fim de valorizarem a si mesmos como gerentes.

Dessa forma, existe a necessidade de encontrarem-se recursos que sejam os mais isentos

possíveis na avaliação da ST.

Muito utilizado por pesquisadores, o Índice Descritivo do Trabalho têm sido

considerado um indicador de satisfação geral no trabalho. Avaliam-se cinco facetas por esta

escala: trabalho, supervisão, salário, colegas de trabalho e oportunidades de promoção.

O Questionário de Satisfação de Minnesota (QSM) possui duas versões que abordam

cerca de 20 facetas3 da ST. Na versão longa – 100 questões –, são avaliados os aspectos do

trabalho. Já na versão curta pondera-se a satisfação intrínseca4 e a extrínseca5, ou satisfação

global.

3 Atividade, independência, variedade, status social, realização, supervisão (RH), reconhecimento, supervisão técnica, avanço, utilização de habilidades, segurança, criatividade, autoridade, valores morais, condições de trabalho, serviço social, políticas e práticas, compensações, responsabilidade e companheiros de trabalho. 4Natureza das atividades e a afetividade das pessoas. 5Aspectos do trabalho.

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20

A Escala de Trabalho em Geral contém 18 itens qualificativos ou frases pequenas

acerca do trabalho utilizando o índice descritivo. Possui boa correlação com as demais escalas

de ST. Trata-se de uma escala comparativamente nova.

3.1.4 Correlatos da satisfação no trabalho

Existem algumas variáveis que, apesar de possuírem uma mútua relação com a ST e

serem influenciadas por ela, são, porém, diferentes.

3.1.4.1 Comprometimento organizacional

Há dois pontos de vista sobre o comprometimento. O primeiro possui três

componentes: a aceitação dos objetivos organizacionais; a disposição para trabalhar com

afinco pela organização; e o desejo de permanecer na organização (MOWDAY; STEERS;

PORTER, 1979 apud SPECTOR, 2006).

O segundo ponto de vista também dispõe de três componentes: o comprometimento

afetivo, por meio do qual o funcionário permanece na empresa por razões emocionais já que o

trabalho forneceu as recompensas que o funcionário esperava; o comprometimento contínuo,

no qual o indivíduo fica vinculado à organização devido à necessidade do salário ou falta de

opção; e ainda o comprometimento normativo, que ocorre quando a pessoa continua no

emprego por considerar ser a atitude certa a realizar devido aos valores individuais e à

sensação de obrigação devida ao empregador (MEYER; ALLEN; SMITH, 1993 apud

SPECTOR, 2006). “Todos os três componentes do comprometimento se correlacionam com a

rotatividade” (HACKETT; BYCIO; HAUSDORF, 1994 apud SPECTOR, 2006, p. 247). O

baixo comprometimento com a organização relaciona-se ao abandono do emprego.

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21

3.1.4.2 Envolvimento com o trabalho

Considerado fundamental no âmbito organizacional por constituir uma vantagem

competitiva para a empresa e para o indivíduo, propicia o desígnio de conduzir as pessoas ao

crescimento pessoal e ao alcance de metas (SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004). Os

antecedentes ou fatores responsáveis pelo envolvimento com o trabalho que se evidenciam

são: as variáveis de personalidade, como fatores pessoais que predispõem uma pessoa a se

envolver com o trabalho; características do cargo, abarcando autonomia e significado das

tarefas, identificação com as tarefas e habilidades exigidas para a realização das tarefas;

característica dos líderes e papéis organizacionais, circunstância em que se evidencia o

apreço e as ocasiões criadas pela administração que propiciam a participação pelos

trabalhadores nas tomadas de decisões e a comunicação.

Ao envolver-se com o trabalho, o indivíduo estabelece laços afetivos que interferem

positivamente na satisfação geral no trabalho e na satisfação com aspectos específicos do

trabalho. Para existir o envolvimento, há outras questões a serem analisadas como a

motivação, por exemplo, que predispõe o indivíduo no ambiente laboral a realizar as

atividades que lhe proporcionaram o retorno esperado e a conseqüente ST.

Assim, para compreender a ST, é preciso considerar o que impulsiona o sujeito no

seu exercício profissional ou ainda o que pode interferir negativamente, segundo a sua

percepção.

3.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO: CONCILIAÇÃO DE INTERESSES

O conceito de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), no Ocidente, não se

desenvolveu como a preocupação com o bem-estar do indivíduo, mas sim devido a uma

inquietação econômica. A competitividade de países como o Japão fez com que

os americanos questionassem o seu modelo de gestão empresarial e começassem a reconhecer que talvez outros países estivessem fazendo algum tipo de gerenciamento diferente, que pudesse ter relação com sua eficácia (NADLER; LAWLER, 1983 apud FERNANDES, 1996, p. 41).

No Brasil, também em conseqüência da globalização e dos programas de qualidade

total, o assunto obteve destaque na década de noventa.

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O conceito de qualidade passou por quatro períodos de desenvolvimento: a inspeção;

o controle estatístico da qualidade; a garantia da qualidade; e a gestão estratégica da qualidade

(BÚRIGO, 1997). Os dois primeiros períodos possuem um enfoque voltado exclusivamente

aos clientes, de cunho taylorista e preocupados com a forma de produção, visando melhorar a

qualidade dos produtos. O terceiro período – garantia da qualidade – desponta com o

necessário envolvimento de todos os membros da organização, pois o conceito de qualidade

torna-se mais abrangente, deixa o âmbito do tecnicismo e aparece como uma nova maneira de

pensar. No quarto período – gestão estratégica da qualidade, a QVT surge como fator

preponderante, pois os processos de melhoria contínua na busca de qualidade nos produtos

necessitam de pessoas que “saibam fazer e acima de tudo, que queiram fazer mais e melhor,

precisando por isto, necessariamente, de empregados satisfeitos” (FERNANDES, 1996, p.

37).

Nasce a consciência de que não basta ter indivíduos capazes em uma empresa, deve-

se antes oferecer condições para que esses indivíduos desenvolvam o seu potencial. O homem

qualificado, comprometido com a organização, produzirá os resultados almejados.

Neste último período do desenvolvimento do conceito de qualidade de vida – Gestão

estratégica da qualidade – a globalização produz impactos sociais e tecnológicos, bem como

fatores de difícil conciliação, o que exige cada vez mais do profissional. Nesse contexto,

conceitos como a QVT começam a ter destaque na busca por indivíduos satisfeitos. Por ser

um termo muito abrangente, aplicado tanto ao âmbito organizacional como fora dele, que

envolve diversos fatores psicossociais, organizacionais e subjetivos, é preciso conceituá-lo:

Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto uma construção social com a marca da relatividade cultural (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, p. 8).

A QVT envolve a construção subjetiva do indivíduo relacionada ao seu trabalho e ao

contexto. É afetada por questões que apontam para as necessidades humanas e aos

comportamentos que dizem respeito ao ambiente laboral tais como variedade, identidade com

a tarefa, retro-informação, entre outros (FERNANDES; GUTIERREZ, 1998 apud LIMONGI-

FRANÇA, 2004).

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A QVT ultrapassa a assepsia ambiental ou o progresso das qualidades anatômicas6 de

trabalho. Guest (1979 apud BÚRIGO, 1997, p. 37) conceitua a QVT como

um processo pelo qual uma organização tente revelar o potencial criativo de seu pessoal, envolvendo-os em decisões que afetam suas vidas no trabalho. Uma característica marcante do processo é que seus objetivos não são apenas extrínsecos, focando melhora da eficiência em si; eles também são intrínsecos no que diz respeito ao que o trabalhador vê como fins de auto-realização e auto-engrandecimento.

Pode-se afirmar ainda que a QVT é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das

organizações, melhorando tanto a satisfação do trabalhador como a produtividade da empresa

(FERNANDES, 1996).

Limongi-França (2004) e Búrigo (1997) mencionam que a falta de conceituação

teórica e técnica, bem como a confusão quanto aos conceitos de QVT acabam por dirigir a

apenas mais um modismo nas empresas. Para que um programa de qualidade não finde em

fracasso, deve-se atuar de maneira intensa na cultura organizacional. Para tanto, é necessária

uma intervenção global, pois atitudes isoladas não bastariam para criar um ambiente propício

ou amadurecido. Qualquer busca por um projeto de qualidade perpassa a QVT como fator

preponderante de engajamento (BÚRIGO, 1997).

Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997) aponta oito categorias conceituais7 que agem

sobre a QVT, as quais, em suma, abordam a disponibilidade de recursos para o crescimento

pessoal do trabalhador, a justiça como esses recursos são disponibilizados e a possibilidade de

equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Outros três modelos de análise de QVT citados por Fernandes (1996) são o de

Wetzley, Wether e Davis e o de Belanger. No de Wetzley (1979), a avaliação da QVT decorre

de quatro identificadores primordiais: econômico: justiça salarial e no tratamento recebido;

político: estabilidade no emprego; psicológico: auto-realização; sociológico: participação

ativa nas decisões, tarefas e responsabilidades na equipe.

O modelo de Werther e Davis (1993 apud FERNANDES, 1996), cujo projeto de

cargos, relacionado à QVT, é influenciado por elementos organizacionais – fluxo e práticas

de trabalho, evitando abordagem mecanicista, elementos ambientais – habilidades e

disponibilidades de empregados, expectativas sociais e elementos comportamentais –

autonomia, variedade, identidade de tarefa e retro informação.

6 Ergonomia. 7 Compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, oportunidades de crescimento, integração social, constitucionalismo, trabalho e espaço total de vida e relevância social do trabalho.

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Há, ainda, o modelo de Belanger (1973 apud FERNANDES, 1996) que analisa a

qualidade de vida nas organizações com os seguintes critérios: o trabalho em si: criatividade,

variabilidade, autonomia, envolvimento e feedback; crescimento profissional e pessoal:

treinamento, oportunidades de crescimento, relacionamento no trabalho e papéis

organizacionais; tarefas com significado: tarefas completas, responsabilidade, recompensas

financeiras/não financeiras e enriquecimento; funções e estruturas abertas: clima de

criatividade e transferência de objetivos.

Os três modelos aproximam-se ao analisar a QVT tanto do ponto de vista do

indivíduo e suas expectativas, como dos aspectos gerais que possam, de alguma forma,

influenciar na construção do indivíduo e suas possibilidades integrais, seja relacionado ao

trabalho ou à sua vida pessoal.

A QVT, envolve fatores de interesses do trabalhador e da empresa para a qual presta

seu serviço. Por isso, a importância de se abordar, a seguir, o trabalho em regime de turno, por

compreender aspectos que envolvem esses interesses e estar diretamente relacionado à QVT.

3.3 O TRABALHO EM REGIME DE TURNO

Mesmo possuindo aspectos negativos, algumas empresas são obrigadas a trabalhar

em regime de turno por terem de atuar 24 horas diariamente, tais como: bombeiros, hospitais,

empresas de vigilância, limpeza, transporte, energia elétrica, ou porque um turno não é

suficiente para atender a necessidade de produção, o que ocorre nas indústrias. As

possibilidades de trabalho em regime de turno são: turnos com o horário fixo, quando o

trabalhador desempenha suas atividades sempre no mesmo horário e em turnos em

revezamento, quando há rotação entre os períodos de trabalho com os turnos sendo alterados.

Além do regime de turno, existem ainda os horários flexíveis, que permitem aos trabalhadores

determinar, ao menos parcialmente, as horas do dia em que irá trabalhar (SPECTOR, 2006), e

a chamada semana curta ou expediente longo, quando se trabalha em expedientes mais longos

em menos dias da semana (KRUMM, 2005).

De forma geral, o trabalhador em regime de turno sofre alterações em sua

cronobiologia8, ou nas suas funções psicológicas e fisiológicas que são sincronizadas por

8 Estrutura temporal interna.

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fatores sociais, alternância de dia/noite, frio/calor, etc. (REGIS FILHO; SELL, 2000),

padecendo com prejuízos multidimensionais (SPECTOR, 2006).

Dentre os sincronizadores, a luz do dia mostra-se como a mais importante, pois

impede a glândula pineal de produzir a melatonina9. À noite, a luz artificial é muito fraca para

agir sobre a glândula pineal, que passa a liberar o hormônio que induz ao sono e atua sobre os

demais ritmos do corpo. Se o nível ideal de melatonina não é produzido, a qualidade do sono

do trabalhador será prejudicada (REGIS FILHO; SELL, 2000).

O trabalho que, por força do turno, altera o horário de sono acaba por lesar o

equilíbrio psicofisiológico dos trabalhadores, pois a qualidade do sono do indivíduo redunda

na qualidade da vigília, prejudicando, no caso de má qualidade do repouso, atividades que

requeiram atenção acentuada. O ciclo repouso/atividade deve estar aliado a uma vida social

estável, evitando o conflito de sincronizadores, visto que o indivíduo tenta ajustar o horário de

turno com os indicadores de tempo – interação com família, lazer, etc. –, ocasionando uma

desordem temporal.

Outros fatores que atuam sobre o trabalhador em regime de turno são: a

temperatura corporal, o desempenho e a carga cognitiva. Dependendo da tarefa e do

indivíduo, o desempenho ou produtividade é menor à noite, exceto nas tarefas que exijam

maior memória de trabalho10, por ser menos dependente do ritmo circadiano endógeno11,

existindo uma relativa rapidez na adaptação ao trabalho noturno.

Não se sabe ainda, conforme Regis Filho e Sell (2000), se o trabalho em turno causa

morbidez psiquiátrica ou se existe uma auto-seleção em que trabalhadores com um

determinado perfil psicológico acabam migrando para essa forma de organização do trabalho.

No entanto, há evidências de que os indivíduos submetidos a esse tipo de organização

temporal do trabalho possuem maior incidência de níveis altos de estresse, ansiedade,

depressão e aumento do neuroticismo12, existindo a probabilidade de predisponentes

individuais.

Além dos transtornos psicológicos, devem-se considerar os distúrbios alimentares.

Embora o trabalhador mude os seus horários para se adaptar ao seu turno de trabalho, o ritmo

9É um neuro-hormônio produzido pela glândula pineal e, acredita-se, apresenta como principal função regular o sono. 10 Memória de curto prazo. 11 Ritmo interno, auto-sustentado por grupos de células localizadas dentro do cérebro, os centros do chamado "relógio biológico” (ASSOCIAÇÃO, 2007). 12 O neuroticismo refere-se ao nível crônico de desajustamento e instabilidade emocional. As pessoas passam a experienciar padrões emocionais associados a um desconforto psicológico causado por aflições, angústias e sofrimentos (MCCRAE; JOHN, 1992 apud AVILA; STEIN, 2006).

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circadiano, porém, não se altera ou se altera parcialmente, ocasionando um aumento das

disfunções gastroduodenais, agravado pela mudança nos hábitos alimentares, realizando mais

lanches fora de hora e possuindo menos apetite do que os trabalhadores diurnos. Além disso,

a estabilidade do ciclo de repouso e atividade, se não respeitada, altera a fisiologia do

organismo, causando problemas gástricos pela alteração do horário de refeições – enzimas

produzidas dentro do sincronismo do corpo atacam o próprio sistema digestivo.

Existe a hipótese de a doença cardiovascular estar ligada a trabalho noturno e de

turno, devido ao aumento do estresse provocado pela dessincronização interna, mudanças

sociais e comportamentais como fumo, álcool, dieta, etc. Além disso, o ritmo circadiano e o

ritmo de atividades são prováveis determinantes no nível de pressão arterial circadiana. A

amplitude do ritmo circadiano torna-se menor, aparentemente, devido à adaptação, e é afetada

pela idade, hábitos de sono, tipo de trabalho de turno, fatores fisiológicos e traços de

personalidade (REGIS FILHO; SELL, 2000).

O trabalho noturno tem apresentado maior número de acidentes do que em outros

turnos. Ambientes mais tranqüilos, maior autonomia e confiança freqüentemente investida nas

equipes do turno da noite são explicações possíveis. Acredita-se haver um relaxamento nos

cuidados relacionados à segurança devido a esses fatores, sem, contudo, deixar-se de

considerar a fadiga como fator relevante na incidência de acidentes de trabalho (REGIS

FILHO; SELL, 2000).

Quanto às motivações que levam os indivíduos a optarem pelo trabalho em turnos, a

literatura cita o salário mais elevado ou a falta de opção profissional. Evidencia-se uma maior

percepção negativa com relação ao trabalho daqueles que desempenham suas atividades em

regime de turno, sendo que os casos de abandono desse tipo de organização temporal do

trabalho o fizeram devido à saúde.

Outro aspecto recorrente na literatura é a desorganização gradual das relações sociais

entre os trabalhadores noturnos e em turnos. A falta de tempo qualitativo e quantitativo gasto

em família e lazer configura-se como agravante dessa situação (KEATING; SILVA; SILVA,

1996). Essa desordem é ainda maior quando as folgas em turnos rotativos não coincidem com

os finais de semana e feriados.

Por fim, cabe citar a síndrome da má-adaptação ao trabalho em turnos, a qual não

deve ser confundida com a alteração circadiana. Essa síndrome, menos severa e mais

presente, tem uma sintomatologia mais suave, pois o indivíduo nunca consegue adaptar-se, já

que não há o ajuste dos ritmos circadianos à nova organização temporal do trabalho e, ao

invés de habituar-se, acaba criando uma intolerância progressiva, agravando-se com a idade.

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Muitas vezes, os pacientes são tratados por sua sintomatologia trazendo alívio temporário,

mas, retornando ao trabalho de turno ou noturno, continua o risco de incapacitação ou até

mesmo de morte por acidente. Em razão do desconhecimento da síndrome, o trabalhador é

mal compreendido pelos gerentes, colegas e família deteriorando-se toda a sua rede de

vínculos e permanecendo dependente do seu emprego (REGIS FILHO; SELL, 2000).

Em suma, a literatura destaca que o trabalhador em regime de turno está subordinado

a uma série de estímulos que interferem subjetiva e objetivamente quanto à satisfação com o

seu trabalho e a qualidade de vida. Existem, também, indicativos de que alguns indivíduos

adaptam-se melhor a esse tipo de trabalho estando, portanto, menos sujeitos às conseqüências

negativas do regime de trabalho. Vale ressaltar que a literatura abordada indica apenas

aspectos negativos e prejudiciais a saúde bio-psico-social relacionados ao trabalho noturno ou

de turno.

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4 MÉTODO

Esta pesquisa foi definida como qualitativa de cunho exploratório. Seu objetivo era

investigar os aspectos ou as facetas que estão em evidência na composição da ST em um

grupo específico de profissionais. Seu cunho exploratório deve-se à finalidade de

proporcionar mais informações sobre a ST, bem como maior intimidade com o problema, com

vista a torná-lo mais explícito.

O grupo com o qual se fez a pesquisa é composto por profissionais que trabalham em

regime de turno na divisão de operação da distribuição de energia, no cargo de eletricista, na

região da Grande Florianópolis. A amostra constituiu-se em, aproximadamente, dez por cento

do grupo pesquisado, que oscila na quantidade de integrantes devido à aposentadoria de

alguns indivíduos e a entrada de novos integrantes na área.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o cargo possui a

seguinte descrição:

Descrição sumária: Planejam, constroem, instalam, ampliam e reparam redes e linhas elétricas de alta e baixa tensão, linhas e redes de telecomunicação, rede de comunicação de dados e linhas de transmissão de energia de tração de veículos. Instalam equipamentos e localizam defeitos. O trabalho é realizado sob supervisão permanente de supervisores, técnicos e engenheiros.

Condições gerais de exercício: Algumas atividades podem ser exercidas a céu-aberto, em subterrâneos, em grandes alturas. Os trabalhadores podem estar sujeitos à umidade, poluição, variação de temperatura e a riscos decorrentes do trabalho com eletricidade. São empregados por companhias de energia, de telecomunicações e de transporte coletivo e, eventualmente, por fabricantes de equipamentos dessas áreas, em serviços de assistência técnica (BRASIL, 2006).

4.1 COLETA DE DADOS

Após os primeiros contatos formais com a gerência da divisão de operação da

distribuição, foram sorteados sete eletricistas que constam no quadro de funcionários da

divisão e convidados pessoalmente pelo pesquisador a participar deste estudo. Os sujeitos da

lista de trabalhadores do setor foram numerados e, posteriormente, sorteados. O pesquisador

procurou particularmente cada um dos sujeitos. Destes, um preferiu não participar. Apesar de

não verbalizar que não queria participar das entrevistas, agiu de forma evasiva às abordagens

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para a mesma. Após realização de outro sorteio, o indivíduo que revelou-se resistente à

abordagem foi substituído.

Os demais participantes que aceitaram participar da pesquisa foram informados dos

objetivos da mesma, do uso dos resultados e conscientizados de que a participação seria

voluntária, podendo desistir a qualquer tempo e possuindo a identidade preservada, além do

que, não receberiam pagamento algum pelo envolvimento na investigação.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas, das quais

se coletaram informações sobre o perfil dos sujeitos, além dos aspectos que lhe traziam

satisfação e insatisfação no trabalho (Apêndice A).

Durante o período de vinte e nove dias, no horário de trabalho dos sujeitos, as

entrevistas foram realizadas. Devido à ocorrência de emergências, duas entrevistas tiveram de

ser aplicadas em horários diferentes dos agendados. Todas as entrevistas foram realizadas em

uma sala reservada e equipada com mesa, cadeiras e um computador munido de dispositivo de

gravação para esse fim.

Procedeu-se à transcrição das entrevistas imediatamente após a sua aplicação.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DE PESQUISA

Os sujeitos participantes da pesquisa pertencem ao centro de operação da distribuição

de energia elétrica. Foram coletados os dados dos entrevistados, caracterizando-os por idade,

escolaridade, tempo na empresa e tempo em que trabalham em regime de turno. Os gráficos, a

seguir, identificam os dados coletados.

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30

2

1

4

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

31-35 36-40 41-45

Faixa Etária

Núm

ero

de

Ent

revi

sta

dos

oo

Gráfico 1: Distribuição dos entrevistados conforme a faixa etária

Quanto à idade dos entrevistados, esta varia entre 30 e 45 anos. A faixa etária mais

freqüente é de 41 a 45 anos de idade.

1 1

2

1

2

0

0,5

1

1,5

2

2,5

Fundamental Nível médio Técnico nível médio Tecnólogo Superior incompleto

Escolaridade

Fre

qüên

cia

Gráfico 2: Distribuição dos entrevistados conforme o grau de escolaridade

Observa-se, quanto à escolaridade, variação do fundamental ao nível superior

incompleto. A escolaridade mais freqüente é a de técnico de nível médio e superior

incompleto.

No que tange a esta informação sobre a escolaridade, destaca-se que surgiu, nos

relatos, insatisfação relacionada à dificuldade dos trabalhadores prosseguir em seus estudos.

Além de frustração por parar de estudar e dificuldade de conciliar o horário escolar com o de

trabalho.

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0

2

1 11

2

0

1 1 1 1

0

0,5

1

1,5

2

2,5

Menos de 1ano

1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos

Anos

Fre

qüên

cia

Tempo na empresa Tempo no regime turno

Gráfico 3: Distribuição dos entrevistados conforme o tempo de empresa e tempo em que trabalham em regime de turno

Quanto aos anos em que os sujeitos trabalham na empresa, observa-se também

variação. Um dos entrevistados trabalhava a menos de um ano na empresa, ao passo que outro

está na organização há mais de 26 anos. A maior ocorrência se evidenciou na faixa de tempo

de 16 a 20 anos. Quanto ao tempo em que os sujeitos trabalham em regime de turno, verifica-

se oscilação de menos de um ano a 26 anos, sendo a faixa de tempo mais freqüente entre 1 e 5

anos de atividade.

4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

Utilizou-se a técnica de análise de conteúdo para a análise de dados, na qual avaliou-

se as causas e os antecedentes do discurso e as condições em que ele se realizou através da

comparação direta com a bibliografia pesquisada (RICHARDSON, 1999). As respostas dos

indivíduos foram gravadas, transcritas e, posteriormente, analisadas e categorizadas com o

objetivo descrever sistematicamente a substância das comunicações (MARCONI;

LAKATOS, 2006). As entrevistas passaram por um processo de codificação, que, segundo

Richardson (1999), é um tratamento por meio do qual se juntam as partes que concedem uma

significação do conteúdo da entrevista, respeitando os critérios de objetividade,

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sistematização e generalização, observando-se duas etapas fundamentais: determinação de

unidades de registro e definição de categorias de análise.

Na análise das entrevistas, delimitaram-se trinta e cinco temas (unidades de análise),

que foram agrupados em duas grandes categorias – satisfação e insatisfação.

4.4 ASPECTOS ÉTICOS

Os indivíduos foram informados quanto às questões éticas, observando-se o disposto

no Código de Ética Profissional do Psicólogo, artigos 9º e 16º, bem com a resolução do

Conselho Federal de Psicologia nº 016/2000. Destacando-se:

• Esclarecimento dos objetivos da pesquisa para os sujeitos e para a organização,

bem como do uso das informações;

• Garantia de anonimato de pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse

manifesto destes, art. 16 alínea “c”;

• Segurança de participação voluntária mediante consentimento livre e

esclarecido (Apêndice B);

• Não remuneração para a participação na pesquisa;

• Garantia de acesso das pessoas, grupos ou organizações aos resultados das

pesquisas ou estudos, após seu encerramento.

Todos os esclarecimentos e garantias acima descritos visaram respeitar os sujeitos de

pesquisa em sua integridade física, psíquica e social, a organização em que esta investigação

se realizou, bem como cumprir com as normas do exercício profissional em Psicologia. Além

das normas internas à profissão de psicólogo, seguem-se também os princípios previstos na

Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde. Portanto, em cumprimento a esta

Resolução, não constam em anexo as transcrições das entrevistas realizadas para assegurar a

confidencialidade e a não estigmatização dos participantes.

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5 RESULTADOS

Dentro dos objetivos propostos nesta pesquisa que são caracterizar os fatores do

trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em regime de turno na operação da

distribuição de energia elétrica de uma empresa catarinense, identificar na literatura da

Psicologia Organizacional e do Trabalho os fatores que compõem a satisfação no trabalho,

distinguir na literatura da Psicologia Organizacional e do Trabalho os diversos aspectos que

agem sobre o sujeito no trabalho realizado em regime de turno e analisar junto aos

trabalhadores em regime de turno na operação da distribuição de energia elétrica a sua

satisfação com o trabalho, a análise dos depoimentos obtidos com as entrevistas produziu

trinta e cinco temas que foram agrupados em duas grandes categorias: satisfação e

insatisfação no trabalho.

Agrupados sob a categoria satisfação, apareceram dezenove temas: relações com os

colegas, horário de turno, envolvimento com o trabalho, reconhecimento do cliente externo,

possibilidade de crescimento, reconhecimento dos companheiros, reconhecimento da chefia,

participação no trabalho, relacionamento com o superior hierárquico, ambiente físico,

exercício das competências, salário, variedade nas tarefas/complexidade do trabalho, saúde,

relevância social do trabalho, capacitação, estabilidade, segurança no trabalho e condições de

trabalho.

Na categoria insatisfação foram identificados dezesseis temas: falta de recursos

humanos e materiais, atitudes no trabalho, autoritarismo e falta de participação nas decisões,

rotatividade gerencial, dificuldade em conciliar horário de trabalho e estudo, falta de

reconhecimento pela organização, dificuldades para a realização do serviço, impossibilidade

de desenvolver carreira, inexistência de feedback da chefia, comentários inconvenientes,

relação com os colegas de trabalho, insegurança, salário, falta de eqüidade, cansaço e agressão

dos clientes.

Observam-se, na Tabela 1, a seguir, os 35 temas arrolados pela análise das

entrevistas em duas grandes categorias:

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Tabela 1: Descrição das categorias e temas de análise CATEGORIA UNIDADES DE ANÁLISE SATISFAÇÃO

- RELAÇÕES COM OS COLEGAS; - HORÁRIO DE TURNO; - ENVOLVIMENTO COM O TRABALHO; - RECONHECIMENTO DO CLIENTE EXTERNO; - POSSIBILIDADE DE CRESCIMENTO; - RECONHECIMENTO DOS COMPANHEIROS; - RECONHECIMENTO DA CHEFIA; - PARTICIPAÇÃO NO TRABALHO; - RELACIONAMENTO COM O SUPERIOR HIERÁRQUICO; - AMBIENTE FÍSICO; - EXERCÍCIO DAS COMPETÊNCIAS; - SALÁRIO; - VARIEDADE NAS TAREFAS; - SAÚDE; - RELEVÂNCIA SOCIAL DO TRABALHO; - CAPACITAÇÃO; - ESTABILIDADE; - SEGURANÇA NO TRABALHO; - CONDIÇÕES DE TRABALHO.

INSATISFAÇÃO

- FALTA DE RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS; - ATITUDES NO TRABALHO; - AUTORITARISMO E FALTA DE PARTICIPAÇÃO NAS DECISÕES; - ROTATIVIDADE GERENCIAL; - DIFICULDADE EM CONCILIAR HORÁRIO DE TRABALHO E ESTUDO; - FALTA DE RECONHECIMENTO PELA ORGANIZAÇÃO; - DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DO SERVIÇO; - IMPOSSIBILIDADE DE DESENVOLVER CARREIRA; - INEXISTÊNCIA DE FEEDBACK DA CHEFIA; - COMENTÁRIOS INCONVENIENTES; - RELAÇÃO COM OS COLEGAS DE TRABALHO; - INSEGURANÇA; - SALÁRIO; - FALTA DE EQÜIDADE; - CANSAÇO; - AGRESSÃO DE CLIENTES.

Fonte: Análise de conteúdo das entrevistas conforme metodologia proposta por Franco(1994).

5.1 ANÁLISE DAS CATEGORIAS SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO

Para caracterizar os fatores do trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em

regime de turno na operação da distribuição da empresa em estudo, os dados discutidos não

envolveram critérios quantitativos em sua abordagem. Conforme Richardson (1999, p. 99),

os fundamentos da entrevista em profundidade estão na convicção de que as pessoas envolvidas em um fenômeno têm pontos de vista ou opiniões que só podem ser descobertos pela pesquisa qualitativa. Portanto o que importa é a qualidade das informações, não o número de entrevistados que compartilha a informação.

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Os depoimentos dos trabalhadores revelam a sua subjetividade ou aquilo que

percebem com relação ao seu trabalho e que influencia diretamente sobre os sentimentos dos

trabalhadores relacionados ao mesmo. Isto é condizente com o conceito relativo à satisfação

do trabalhador. “A satisfação no trabalho [...] é uma variável de atitude que reflete como a

pessoa se sente em relação ao trabalho de forma geral e em seus vários aspectos” (SPECTOR,

2006, p. 221). Identificar esses fatores constitui um trabalho árduo visto que a capacidade

simbólica faz com que o homem imprima suas particularidades naquilo que produz (CODO;

SAMPAIO; HITOMI, 1994).

Desta forma, levando-se em consideração as percepções dos trabalhadores encontrou-

se um equilíbrio entre os temas que revelam as causas da satisfação e aqueles que expõem a

insatisfação, ocorrendo, entretanto, maior intensidade nas falas dos entrevistados nos temas

relacionados à satisfação.

Na categoria satisfação no trabalho, destaca-se o tema “relações com os colegas” que

apareceu em seis das sete entrevistas realizadas. Na seqüência, surgiram os temas

“reconhecimento do cliente externo”, “relacionamento com o superior hierárquico”,

“envolvimento com o trabalho” e “exercício das competências”. Todos esses temas

apareceram de forma individual em cinco das sete entrevistas, seguidos de “reconhecimento

da chefia” e “relevância social do trabalho”, cada qual se mostrando em quatro entrevistas. Os

temas “participação no trabalho”, “variedade nas tarefas” e “segurança no trabalho” foram

expostos em três entrevistas. Apresentou-se, ainda, cada um em duas entrevistas, os temas

“horário de turno”, “reconhecimento dos companheiros”, “ambiente físico”, “saúde”,

“estabilidade” e “condições de trabalho”. Os temas “possibilidade de crescimento”, “salário”

e “capacitação” foram mencionados em uma entrevista cada.

Na categoria insatisfação no trabalho, evidenciou-se em seis entrevistas o tema “falta

de recursos humanos e materiais”, seguido de “relação com os colegas de trabalho”, que

ocorreu em cinco entrevistas, “autoritarismo e falta de participação nas decisões” e “cansaço”

que apareceram em quatro entrevistas cada. Os temas “falta de reconhecimento pela

organização” e “dificuldade para a realização do serviço” surgiram cada um em três

entrevistas. Com ocorrência em duas entrevistas, foram mencionados os temas “comentários

inconvenientes”, “agressão dos clientes” e “falta de equidade”. Os temas “atitudes no

trabalho”, “rotatividade gerencial”, “dificuldade em conciliar horário de trabalho e estudo”,

“impossibilidade de desenvolver carreira”, “inexistência de feedback da chefia”, “falta de

segurança” e “salário” ocorreram em uma entrevista cada.

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5.1.1 Análise dos temas relacionados aos colegas de trabalho e clientes: relacionamento

interpessoal e o reconhecimento do outro.

O tema relações com os colegas é o mais comum no relato dos entrevistados quando

remetem à ST, embora apareça também na categoria insatisfação. Quanto à satisfação, este

tema surge com depoimentos que destacam os laços de amizade no trabalho, a disposição para

trabalhar em grupo, não ter inimigos e o bom ambiente de trabalho, como confirmado nos

depoimentos abaixo.

Hoje eu tenho assim, muita amizade dentro da empresa, muitas amizades fortes principalmente dentro da minha área e local de trabalho.

Eu adoro trabalhar em turma. Eu gosto de bastante pessoas ao meu redor. Quando eu saio com o caminhão, assim quando a gente faz o serviço com cinco, seis. Vem mais um pessoal para ajudar, aquilo me dá mais ânimo, pra mim ainda.

Mas eu me sinto bem porque eu não tenho inimigo.

[…] satisfação também passa por isso de tu teres um bom ambiente que te incentiva a vir trabalhar.

[…] encontrar um ambiente de trabalho gostoso.

Quanto à insatisfação, o tema relações com os colegas distinguiu-se com falas que

apontam a divisão no grupo, receio dos colegas de trabalho, problemas de ordem pessoal,

rejeição e pré-julgamento:

Tem divisão, sim [...] O grupo tem divisão. Não é um grupo assim completamente unido.

[…] a gente sentia um pouco, talvez, medo deles [dos companheiros de trabalho mais antigos].

[…] problema de ordem pessoal entre os amigos que estão ali, os colegas de trabalho.

A gente foi meio que, não rejeitado, mas foi meio que deixado de lado um pouco pra entrar naquele grupo um grupo meio fechado ainda.

[…] eu sou muito pré-julgado por acharem que eu tenho uma vida diferenciada financeiramente.

O tema “relações com os colegas” surge em conexão com os relacionamentos

interpessoais de Herzberg (apud KRUMM, 2005), e estão relacionados entre os fatores de

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higiene13. Apesar de estar associado à satisfação a “relação com os colegas” surge na teoria de

Herzberg como fator sem o qual, poderá surgir a insatisfação.

O tema reconhecimento dos companheiros surge relacionado à satisfação. As falas

reportam para o reconhecimento de amigos e pessoas com quem trabalham, como se

evidencia nos depoimentos: “[…] hoje o que me dá satisfação é o reconhecimento que eu

tenho de alguns amigos. [...] esse reconhecimento que você me perguntou anteriormente eu

encontro ele aqui nas pessoas com quem eu trabalho”.

Promovedor de satisfação, esse tema coaduna com um dos fatores motivacionais -

reconhecimento - propostos por Herzberg, o qual, se presente, proporciona satisfação no

trabalho.

Além do reconhecimento dos companheiros, outro tema que se destaca é o

reconhecimento do cliente externo. Os depoimentos dos indivíduos agrupados sob esse tema

reportam ao bem-estar do consumidor, o reconhecimento do cliente e os comentários

elogiosos da clientela.

[…] satisfação está, às vezes em ver o sorriso de um consumidor, ele te agradecer pelo serviço, né? Ele falar que a empresa é uma empresa pública e ainda apresenta serviços satisfatórios.

[…] o reconhecimento do beneficiário, no nosso caso, hoje, o cliente.

[…] situações que me dão prazer são essas, quando o consumidor reconhece.

O meu reconhecimento dentro da empresa, ele acontece lá fora, quando as pessoas para quem eu presto serviço dizem: ‘Pô, que legal isso que vocês fizeram, que agilidade no atendimento’. O reconhecimento que eu tenho é esse.

O reconhecimento constitui-se em um dos fatores motivacionais14 que, segundo

Herzberg, atuam na satisfação no trabalho.

Reporta-se à satisfação e relaciona-se ao cliente o tema relevância social do

trabalho. Nas entrevistas aparecem diversos relatos sobre o auxílio às pessoas com baixo

poder aquisitivo e idosos. Este tema é corroborado nos relatos dos entrevistados:

E era um casal de velhinhos em que a gente ia ter que deixar eles sem luz se a gente fosse seguir o procedimento. Era um problema na instalação dentro da casa desses velhinhos, bem velhinhos mesmo. Então a gente viu que não tinha nenhuma condição de resolver aquilo por serem pobres. Aí a gente decidiu que ia entrar dentro do forro dos velhinhos […] para a gente tentar resolver o problema para eles, e a gente conseguiu […], e no final, o velhinho veio com cinco reais, bem amassadinho pra dar pra gente. Claro que a gente não aceitou aquilo dele, né?

13 Fatores de Higiene relacionam-se ao ambiente de trabalho incluindo supervisão, relações interpessoais, condições físicas de trabalho, salário, política e administração da empresa, os benefícios do emprego e a segurança no cargo. 14 Fatores motivacionais relacionam-se ao conteúdo do trabalho e os resultados desse trabalho, incluem a realização, o reconhecimento, o próprio trabalho, responsabilidade e o progresso.

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A gente atendeu um cliente no morro do Avaí, uma senhora de idade […] Ela não queria ligar a luz porque tinha presenciado anteriormente que tinha pegado fogo na casa, a luz dela começou a oscilar […] E o gostoso é que quando a gente terminou o trabalho, fomos lá testamos para ela. Ela não queria acender a luz, ligamos o chuveiro [...] Não é o nosso trabalho, mas é uma questão, penso eu, social.

A relevância social do trabalho, de acordo com Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997),

é uma das oito categorias conceituais que agem sobre a qualidade de vida no trabalho e,

portanto, é constituinte da ST. Este tema também envolve os fatores autonomia - liberdade de

atuação no trabalho dentro do objetivo - e importância da tarefa - impacto do trabalho na vida

de outras pessoas -. Ambas são componentes das características do trabalho e estão entre os

fatores que compõem a ST.

O cliente aparece também relacionado à insatisfação no tema agressão. Nesse

aspecto, revela-se a insatisfação dos trabalhadores com discursos que apontam para as

agressões verbais e reclamações durante o trabalho executado.

[…] o cliente não ficou satisfeito, ele achou que era um absurdo. Que você tinha que ter na hora, pra repor na hora. Como era um pouco distante, ele deve ter ficado aí umas duas horas sem energia. Enquanto a gente não ligou a casa dele, ele nos tratou super mal. Então é difícil você trabalhar às vezes mexendo na rede, a rede ligada, com alguém embaixo dizendo [...] Falando contra a empresa, contra você. Dizendo que ‘vocês não fazem nada’, ‘é tudo assim mesmo’. Então isso desagrada.

Às vezes, tem aquele cara que vem e fica incomodando e questionando, reclamando.

Este tema relaciona-se também com a teoria bifatorial de Herzberg, em especial ao

fator de higiene relações interpessoais, contribuindo para a existência de insatisfação.

5.1.2 Análise dos temas relacionados às relações com o superior hierárquico e a

organização

Revelou-se também com igual densidade de afirmações o tema relacionamento com

o superior hierárquico. Quando questionados a respeito desse tema, as falas dos

trabalhadores conduzem para a facilidade de comunicação com o superior hierárquico, o bom

atendimento pelos superiores e o tratamento recebido destes.

Nós estamos vivendo anos de ouro. Nossa supervisão é um funcionário de carreira, de carreira, digo, carreira operacional. Ele sabe exatamente o que ele está gerenciando. Então nós temos livre acesso para conversar, trocar idéias, reclamar, sugerir. Então quanto a isto, este momento está muito bom.

[…] eu vou ao meu supervisor e sou bem atendido pra caramba, eu vou ao meu chefe e sou bem atendido. Até já pedi coisa para o meu administrador e já fui

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atendido. Então eu não tenho nada a questionar, graças a Deus. Eu falei supervisores e empresa também. Eu adoro a empresa que eu trabalho.

Meu supervisor é um cara humano.

[…] a chefia com quem eu trabalho hoje dá essa abertura.

Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997) afirma que a ausência de preconceitos e

igualdade – ausência de estratificação de forma plena; mobilidade – oportunidades de

movimentação de idéias ou valores sociais no local de trabalho constituem-se na integração

social, que é uma das oito categorias conceituais que agem sobre a qualidade de vida no

trabalho, antecedendo, portanto, a ST.

Essa categoria conceitual confirma o tema relacionamento com o superior

hierárquico como favorecedor da satisfação. Herzberg (apud KRUMM, 2005), também

aborda esta temática ao destacar as relações interpessoais, como um dos fatores de higiene,

isto é, fator que quando presente reduz a insatisfação no trabalho.

Relacionado à satisfação, destaca-se o tema reconhecimento da chefia. Destacam-

se, quanto a esse tema, as declarações elogiosas da chefia, o agradecimento e a participação

nos lucros da empresa.

[…] teve aquele furacão Catarina em Criciúma, teve um lance que o diretor de distribuição, foram duas turmas de caminhão daqui, e ele falou para o pessoal de lá, agora essa droga anda porque o pessoal do plantão da capital veio. Esse pessoal é bom. Isso aí motiva a pessoa.

[…] a gente tem assim o apoio e o agradecimento da chefia sim, mas em âmbito geral no grupo.

[…] a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), acho que isso é um reconhecimento também.

Esse tema surge como favorecedor da satisfação, com base em Herzberg, que afirma

ser o reconhecimento um dos fatores motivacionais.

Outra teoria associada a este tema é a participação nos lucros e resultados que abarca

o fator salário que é, segundo Spector (2006), um dos componentes da ST.

Aparece associado à insatisfação o tema inexistência de feedback da chefia. Quanto

a esse tema, os registros indicam a falta de orientação acerca do serviço e a inexistência de

feedback individual.

Às vezes, você fica meio sem rumo assim nesse sentido, e alguém tem que dizer para você.

Você não tem quem diga para você ‘não isso aqui não é assim, faz assim’. Esse feedback essa coisa direta eu não vejo na chefia, vejo com relação ao grupo, só que aí é uma coisa meio abrangente, né?

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Esse tema integra as características do trabalho15 citadas por Spector (2006) e aponta

para resposta ou retorno pela chefia da correção do próprio trabalho.

O reconhecimento, ou sua falta, também surge associado à insatisfação no tema falta

de reconhecimento pela organização com verbalizações que revelam a falta de

reconhecimento da chefia, desvalorização do merecimento à progressão salarial e não

reconhecer o que é bom - os acertos dos funcionários -. Destacam-se as seguintes falas:

Se nós ganhamos elogios, é só da chefia imediata nossa.

[…] é primordial e às vezes é esquecido por parte da empresa e até por parte dos teus comandados é [...] A parte de você ser reconhecido também pela parte da chefia.

Aí tinha aquele rótulo da turma que trabalha em área de risco. Ah, já ganha trinta por cento. Aí o plano de cargos sempre foi baixo.

[…] que não exercita o reconhecimento do que é bom.

Apesar de o reconhecimento constar entre os fatores motivacionais de Herzberg, que

estando ausentes proporcionarão menor satisfação, aqui surge como fator de insatisfação o

que confronta a teoria de Herzberg neste fator. Essa insatisfação surge relacionada não à

chefia imediata, mas à política da organização.

5.1.3 Análise dos temas relacionados ao trabalho em si

Salienta-se, também, o tema envolvimento com o trabalho, a partir do qual

aparecem depoimentos que apontam para a necessidade de resolução urgente das ocorrências,

cumprimento de horário e conhecimento do trabalho a ser executado.

Trabalhamos em uma área fim da empresa, que não dá pra ti parar pra discutir pra depois fazer. Se tem problemas, mesmo assim tu tens que primeiro executar pra depois discutir os problemas. Primeiro executa. Não tem como tu deixar desenergizada toda uma comunidade, pra sair, pra resolver outros problemas.

Eu procuro em primeiro lugar cumprir o meu horário. Como eu já comentei, procuro sair mais cedo para não chegar atrasado, nunca faltei ao trabalho. Procuro não faltar.

[…] eu venho para o serviço, sei o que vou fazer.

O envolvimento é considerado fundamental no âmbito organizacional por constituir

uma vantagem competitiva para a empresa e para o indivíduo, propicia conduzir as pessoas ao

15 Variedade das habilidades, identidade da tarefa, importância da tarefa, autonomia e feedback no trabalho. A combinação destas cinco características do trabalho é chamada abrangência.

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crescimento pessoal e ao alcance de metas (SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004). Ao

envolver-se com o trabalho, o indivíduo estabelece laços afetivos que interferem

positivamente na satisfação geral no trabalho e na satisfação com aspectos específicos do

trabalho.

O tema variedade das tarefas abarca depoimentos que se referem a realização de

coisas novas.

Todo dia tem novidade, tem coisas novas. Então eu me sinto bem motivado.

Sempre a solução já é na hora ali.

Até porque o nosso serviço é um serviço que envolve risco e a gente tem que estar sempre, ou na maioria das vezes, muito concentrado.

[…] não saio aleatoriamente, procuro já ir analisando.

Os relatos acerca desse tema reportam aos desafios propostos pelo trabalho e

apontam para a variedade de habilidades. Estas se relacionam com os fatores ambientais que

são componentes da satisfação do trabalho (HACKMAN; OLDHAM, 1976 apud SPECTOR,

2006).

O exercício das competências é outro tema associado à satisfação.

[…] aqui eu estou executando aquilo que realmente eu aprendi.

Então, fazer o teu trabalho e fazer o melhor possível. Porque se tu não fizeres isso tu vai ficar sempre com a tua consciência: será que aquele trabalho, aquela conexão eu fiz bem feito? Não vai dar problema? Vai ter que retornar um colega lá e refazer aquele teu trabalho?

[…] mas na verdade você já tem uma pré-análise daquele serviço.

Soma-se ao tema anterior - variedade das tarefas - o exercício da competência

profissional. Tanto a complexidade das tarefas quanto o exercício da competência profissional

aparecem como fatores que desencadeiam o sentimento de satisfação com a atividade

desenvolvida. Em uma das falas acima citadas, aparece também a responsabilidade da tarefa.

O trabalho aparece como desafiador - “todo dia têm novidade”, “a solução já é na hora” -, de

muita responsabilidade - “é um serviço que envolve risco”, “fazer o teu trabalho, fazer o

melhor possível” -, e, portanto exige conhecimentos, habilidades e atitudes, o que significa o

exercício da competência profissional. O uso dessas habilidades também surge na fala que

reproduz a participação do trabalhador na organização do próprio trabalho (HACKMAN;

HOLDHAM, 1976 apud SPECTOR, 2006).

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O tema participação no trabalho aparece associado à satisfação. Sob este tema os

enunciados reportam à possibilidade de interferência dos trabalhadores nos processos do

trabalho realizado.

Nós temos esse espaço para chegar, sentar, conversar, falar sobre segurança, equipamentos, viaturas, métodos de trabalho. Conseguimos até falar do nosso trabalho na rua, dos trabalhos que muitas vezes são riscos.

[…] é você verificar que todo o processo que você está envolvido, que você faz parte dele.

Se eu estou motivado, se eu estou de bem com a vida, se aquela decisão que foi tomada pela empresa, eu ajudei a participar, eu acho que esse respaldo a empresa terá da melhor forma.

A participação no trabalho associado à satisfação reporta para as categorias

conceituais que agem sobre a qualidade de vida no trabalho de Walton (1973 apud BÚRIGO,

1997), em especial a integração social e, portanto, agem sobre a ST. A integração social16 é a

ausência de quadros hierárquicos íngremes e possui indicadores que reportam à sua

ocorrência. Dentre esses indicadores a mobilidade – oportunidades de movimentação de

idéias ou valores sociais no local de trabalho se reportam a este tema. Também, relaciona-se

com os antecedentes que compõem a ST, em especial, o fator “características do trabalho”,

como identidade da tarefa, ou seja, a realização ou não do trabalho inteiro ou uma parte dele.

A identidade da tarefa é relatada nas falas dos indivíduos e reporta a satisfação dos mesmos a

sua participação no planejamento e execução das atividades (HACKMAN; OLDHAM, 1976

apud SPECTOR, 2006).

Relacionado à insatisfação, surge o autoritarismo e a falta de participação nas

decisões. Esse tema gerou depoimentos que revelam a imposição de ordens sem a

preocupação com o funcionário, perseguição, criação de situações desagradáveis, não

participação dos funcionários nas decisões e piora nas relações com atitudes arbitrárias.

Nós já tivemos momentos negros, em que simplesmente se olha para baixo e diz: lá são meus peões e isso não existe mais no mercado.

E na época negra, esquece. O funcionário esta aí para trabalhar. Não importa a repetição, não importa o risco, o que importa é que o sistema tem que funcionar.

Que é essa questão de uma chefia, onde ela cria tantas situações desagradáveis que acaba existindo esse clima desagradável para o desempenho da tua atividade.

[…] chefia que toma decisões onde não privilegia as pessoas que estão envolvidas, ou não dão oportunidade para essas pessoas emitirem a sua opinião ou darem idéias.

16 Possui os seguintes indicadores: ausência de preconceitos; igualdade – ausência de estratificação de forma plena; mobilidade – oportunidades de movimentação de idéias ou valores sociais no local de trabalho; relacionamento – ajuda socioemocional e respeito mútuo; senso comunitário – companheirismo e coletivismo que exacerbem o local de trabalho.

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Eu acho que se isso acontecer aqui vai repercutir nos processos, no dia a dia das pessoas. E hoje a gente já está sentindo isso. Hoje que eu digo, hoje. Nesse dia de hoje. A partir dessa semana, esses encaminhamentos como foi falado, referente a essas mudanças.

O tema autoritarismo e falta de participação nas decisões está associado à autonomia.

Para Hackman e Oldham (1976 apud SPECTOR, 2006), diz respeito à liberdade de atuação

no trabalho dentro do objetivo. Esse tema fere as categorias conceituais de Walton (1973 apud

BÚRIGO, 1997) integração social, no indicador mobilidade, por reportar à falta de

movimentação de idéias ou valores sociais no local de trabalho, e constitucionalismo, quando

não são cumpridos os direitos dos empregados na instituição, contribuindo para a insatisfação

dos trabalhadores por prejudicarem a QVT.

O fator salário aparece associado à satisfação, bem como a insatisfação: “[…] não

tenho do que reclamar. Principalmente na parte financeira.” “[...] o salário na empresa está

um pouco abaixo da expectativa […]”

O tema salário é um dos componentes da ST segundo Spector(2006). O que

determina a satisfação com o salário não diz respeito à quantia em si, mas à justiça com que

ele é distribuído. Aparecem também relacionados com os fatores de higiene de Herzberg

(apud KRUMM, 2005), os quais, quando presentes, contribuem para minimizar a insatisfação.

A compensação justa e adequada (WALTON, 1973 apud BÚRIGO, 1997), indica quanto o

salário é justo e o pagamento adequado à atividade realizada, e possui como identificadores:

justiça na compensação – atendimento por meio da remuneração das necessidades pessoais

do trabalhador; proporcionalidade entre os salários – justiça na remuneração entre os demais

membros da organização e os demais profissionais do mercado de trabalho.

As condições de trabalho também foram mencionadas como um fator associado à

satisfação. Nesse tema, aparecem discursos que evidenciam o “todo” e a facilidade de

negociação.

Satisfação no trabalho posso entender como um conjunto, é um todo. Seria o ambiente físico, a tarefa em si exercida, executada, o valor remunerado pelo que é feito. Seriam assim alguns componentes que valem dizer o que seria esse todo, né?

Esse é outro ponto marcante. Até então eu nem funcionário era e eu consegui negociar com a empresa. Isso foi muito marcante. Eu estou muito agradecido, a chefia sabe disso. Um problema particular meu, eu não pude acessar a empresa naquela data proposta, mas a gente negociou posteriormente a isso e estamos na empresa. Isso são os pontos que vão somando, a gente é bem recebido, consegue resolver um problema. É por isso que eu trabalho, não é demagogia, em gratidão a isso.

As condições de trabalho conduzem à manutenção da saúde e bem-estar do indivíduo

repercutindo na satisfação no trabalho por interferir na QVT. Este tema evidencia a satisfação

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e o bem-estar pelo respeito da empresa em relação às limitações do empregado o que denota o

constitucionalismo. Outra categoria relacionada com esse tema são as condições de trabalho,

que envolvem “diversos fatores” mencionados na fala dos trabalhadores. Ressaltam-se os

seguintes indicadores: jornada de trabalho – horas trabalhadas e sua relação com as

atividades realizadas; saúde ocupacional – bem-estar físico e mental do indivíduo;

salubridade - condições ambientais que favoreçam a saúde; recursos materiais - qualidade e

disponibilidade de ferramentas e materiais disponíveis para a realização do trabalho. Tanto o

constitucionalismo como as condições de trabalho são pertencentes às categorias conceituais17

que agem sobre a qualidade de vida e, portanto, que atuam sobre a ST. (WALTON, 1973

apud BÚRIGO, 1997)

O tema ambiente físico aparece associado à satisfação com relatos que frisam o

conforto, espaço físico e facilidades relacionadas ao ambiente.

[…] o conforto que nós temos hoje.

Nós temos um espaço físico que à medida que a empresa pode, a administração pode ela nos favorece.

Ou que ela não pode, tipo seria: vamos imaginar assim que nós temos na nossa área uma televisão de 54’, hoje quem compra é o próprio grupo.

Ali nós temos um ambiente, falando do ambiente físico, é bom.

E aqui tem essa peculiaridade de você ter lá um lugar para você dormir, tem uma TV a cabo, uma cozinha bem estruturada.

Chama a atenção que as condições, às vezes, são criadas pelos próprios

trabalhadores, que investem em seu bem-estar no local de trabalho, indo além das condições

fornecidas pela empresa. Isto aponta para a satisfação dos indivíduos no centro de operação da

distribuição. Revela com isso, a existência de laços afetivos que interferem positivamente na

satisfação geral no trabalho e na satisfação com aspectos específicos do trabalho, pois não

existiria investimento em algo que gera insatisfação.

O tema falta de recursos humanos e materiais, surge de relatos que revelaram falta

de equipamentos, de materiais, de gerenciamento de forma geral, desaparecimento de

equipamentos, falta de médico e assistente social.

[..]. problemas administrativos, falta de equipamento. A gente trabalha com as adversidades do dia a dia e tem que encarar o trabalho de modo normal, não tem como ver dificuldades.

17 Categorias conceituais: compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, oportunidades de crescimento, integração social, constitucionalismo, trabalho e espaço total de vida e relevância social do trabalho

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Mas você ir sempre atender um problema, visualizar a solução, saber da possibilidade de solução e aquilo não ser feito, também frustra a gente.

[…] às vezes, falta algum material.

Por que eu não admito o seguinte. Nós vamos agora é partir para a crítica mesmo. Não admito uma empresa como esta não ter uma Assistente Social.

Nós não temos nem mais assistência médica. É o fim da picada.

A fala “você ir sempre atender um problema, visualizar a solução, saber da

possibilidade de solução e aquilo não ser feito, também frustra a gente” revela a dificuldade

em conciliar as exigências do trabalho com outros aspectos que ultrapassam as possibilidades

momentâneas do indivíduo e revelam, quanto a esse tema, o conflito de papel. As condições

físicas de trabalho aparecem nas adversidades do trabalho mencionadas e reportam ao

surgimento de insatisfação (HERZBERG, apud KRUMM, 2005). A ausência de recursos -

sejam materiais necessários para a execução do serviço ou falta de profissionais habilitados -

reporta à menor qualidade de vida no trabalho e aponta para a insatisfação dos indivíduos.

A “falta de recursos humanos e materiais” consiste na categoria condições de

trabalho (WALTON, 1973 apud BÚRIGO, 1997), uma das categorias conceituais.

Ainda, relativo à insatisfação, o tema dificuldades para a realização do serviço foi

definido à partir de depoimentos que relatam a falta de condições, ou a não resolução de

problemas, como se observa nos seguintes depoimentos:

Por mais que você trabalhou e não deu certo, você volta assim um pouco desanimado.

[…] nem sempre você realiza um serviço bem feito, não que você não queira fazer, mas às vezes as condições, enfim todo o processo faz com que você às vezes não possa satisfazer totalmente o cliente, ou aquela pessoa.

A impossibilidade de chegar a uma solução de continuidade do serviço por fatores

que extrapolam as condições do indivíduo conduz os trabalhadores à insatisfação. Esta

impossibilidade quanto às exigências do trabalho aponta para o conflito de papel, que é o

aparecimento de uma impossibilidade quanto às exigências do trabalho (SPECTOR, 2006).

Destaca-se o fato de o tema horário de turno apresentar-se como um aspecto

causador de satisfação. Aparece associado ao trabalho de turno a possibilidade de descanso,

maior tempo para a organização pessoal e familiar e a adaptação ao modo de organização do

trabalho.

Não é um horário estressante, te priva algumas vezes de alguns eventos particulares que seriam finais de semana e feriados. Mas em descanso, de se recompor para nova atividade e um novo dia, é tranqüilo.

Eu hoje com esse meu horário de revezamento eu consigo ter uma pequena empresa, consigo criar filhos, consigo estudar e consigo ser marido.

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[…] optei por vir para o SPOD devido ao mesmo regime de trabalho, turno de revezamento, que era onde a gente construiu certo patamar, uma vida em cima daquilo ali, então [...] Hoje fica até meio difícil mudar para o horário comercial. Se tiver que mudar, vai ter que se adaptar né? Mas ainda é a preferência pelo turno de revezamento.

Diferentemente do que apresenta a literatura que associa o trabalho em turno apenas

aos seus aspectos negativos, os entrevistados revelaram satisfação com esse modo de

organização temporal do trabalho.

Segundo os depoimentos dos entrevistados, estes procuram o horário de turno, não

por falta de opção, mas devido à organização do trabalho possibilitar outras atividades e

ocupações.

Ressalte-se que o tema segurança no trabalho surge relacionado tanto à satisfação

quanto à insatisfação. Associado à satisfação, o tema segurança no trabalho revela discursos

que enfatizam a tranqüilidade por realizar o serviço sem arriscar a vida dos outros, trabalho

sem pressão, preocupação com a própria vida e com a dos companheiros.

Se eu não tiver cem por cento daquilo que eu vou executar, se ficar um por cento de dúvida eu não vou fazer. Porque aquele um por cento não deixa eu ir pra casa tranqüilo.

Que a gente tem uma responsabilidade imensa lá fora. Então eu quando entro na caminhonete eu estou pensando na vida da gente também, do meu parceiro, e também do usuário, porque pode estar [...] A gente pode tomar uma atitude ali e prejudicar alguém. Segurança.

[…] você consegue fazer a sua atividade, no nosso caso com segurança, sem pressão com relação a tempo.

Relacionado à insatisfação, esse tema aparece como falta de segurança, revelando

insatisfação com a não observação da segurança: “[…] a gente via que a segurança não era

executada. [...] A empresa dá o material e exige. O pessoal às vezes não se conscientizava que

aquilo era importante, o nosso serviço, não dá uma segunda chance”.

Outro tema associado à satisfação no centro de operação da distribuição é a

estabilidade, isto é, segurança no emprego, garantias e orgulho em trabalhar na empresa.

Ah, pra mim só cruzar o portão da empresa já tá bom, já estou me realizando, tô feliz.

Independente de chuva, sol, vento, turno. Cada dia que eu venho, eu me satisfaço em dizer que sou funcionário da empresa.

Queria entrar em uma empresa segura, que eu pudesse traçar um horizonte e me enxergar lá na frente.

Como empresa pública, na conjuntura Brasil ela te traz garantias, segurança.

[…] uma empresa que eu tenho orgulho e sempre quis estar aqui.

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Eu me sinto bem, quando eu falo que trabalho na empresa eu me sinto bem. As pessoas sabem [...] Elas sentem [...] Eu sinto nas pessoas que elas dizem, não, pô tu trabalhas numa boa empresa.

Nas falas citadas aparece a possibilidade de traçar objetivos que encontrem suporte na política

da empresa, como “Queria entrar em uma empresa segura, que eu pudesse traçar um horizonte

e me enxergar lá na frente” e “Como empresa pública, na conjuntura Brasil ela te traz

garantias, segurança”. Além disso, transparece a satisfação com o fato de atuar em uma

grande empresa. Isto aparece em falas como “Ah, pra mim só cruzar o portão da empresa já tá

bom, já estou me realizando, tô feliz” e “[…] uma empresa que eu tenho orgulho e sempre

quis estar aqui.” Este tema reporta, portanto, à um dos quatro identificadores primordiais18 da

qualidade de vida no trabalho de Wetzley (1979), o identificador político.

O tema saúde também foi mencionado relacionado à satisfação, com discursos que

caracterizam a saúde em casa e no trabalho, como conseqüência deste. Esse aspecto corrobora

com o que Weaver (1978 apud SPECTOR, 2006) afirma acerca da existência de influência

mútua, na qual se verificam situações vividas fora do trabalho que podem influenciar a ST ou

vice-versa: “Saúde, acordando para vir trabalhar. Isso é tudo para mim.” e “A Satisfação no

trabalho pra mim é saúde em casa”.

Além do tema saúde, a capacitação aparece vinculada à categoria satisfação e

mostra-se relacionada a treinamento: “Eu acho que passa por essa questão de treinamento.”

Este tema em particular, assim como no tema possibilidade de crescimento, vincula-se a

oportunidade de crescimento (WALTON, 1973 apud BÚRIGO, 1997). Identifica-se essa

categoria pela valorização do potencial dos sujeitos e a possibilidade de manifestação e

expansão deste. A possibilidade de desenvolver carreira na empresa, o crescimento pessoal,

programas de capacitação pessoal e integração pessoal indicam o aparecimento desta

categoria conceitual. A possibilidade de crescimento surge como tema relacionado à

satisfação indicando a possibilidade de crescer na vida pessoal de forma geral: “Ela não só

somou financeiramente como social. Ela [empresa] foi uma ascensão na minha vida com

certeza.”

Por outro lado, na categoria insatisfação, torna-se visível o tema impossibilidade de

desenvolver carreira relacionada à falta de oportunidade de crescimento dentro da empresa.

Destacam-se as seguintes falas:

18 Econômico: justiça salarial e no tratamento recebido; político: estabilidade no emprego; psicológico: auto-realização; sociológico: participação ativa nas decisões, tarefas e responsabilidades na equipe.

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A gente fica assim um pouco triste por não ter, por mais que se esforce não poder galgar alguma coisa melhor dentro da empresa […] Não adianta você hoje estudar se formar, ser um doutor dentro da empresa. Você vai ter que prestar concurso. Hoje é a regra.

Às vezes o cara lá fora tá melhor preparado do que você para aquela prova. Comigo aconteceu isso, prestei o último concurso para a empresa e não passei, também porque não estava bem preparado, porque no turno de revezamento a gente trabalha bastante. Então talvez se a empresa não tivesse esse modelo você teria como mostrar o seu valor dentro da empresa.

Este tema revela que apesar de a empresa promover a capacitação, como foi

mencionado no tema capacitação, e permitir ascensão social e financeira, ela não fornece as

condições necessárias para a progressão vertical, ou seja, a progressão para cargos superiores

na hierarquia da organização.

O tema falta de eqüidade aparece associado à insatisfação. Destaca-se, nesse tema, a

fala relacionada à desigualdade nas escalas de horas extras.

[…] é a questão das horas extras. Questionam, pô, deu mais horas pra um não deu pro outro, tem regalia nisso e não tem naquilo. Então eu acho que isso é um elemento desagregador. Acho que isso não deve existir. Porque quando isso existe passa a existir a famosa panelinha, que a gente já sabe como é.

Transpareceu nas falas a falta de igualdade nas ações que beneficiam os funcionários,

principalmente no que se relaciona ao salário. Este fato aponta para a percepção dos

trabalhadores de que não há equidade no tratamento da chefia para com os indivíduos. Esse

tema relaciona-se à teoria da eqüidade, segundo a qual os trabalhadores desejam, em

comparação com os outros, eqüidade entre seu esforço e o resultado do seu trabalho, sendo a

percepção subjetiva determinante da eqüidade e não a realidade concreta. Adams (apud

KRUMM, 2005) sugere que a desigualdade desencadeia estratégias de enfrentamento na

tentativa de restabelecer a eqüidade.

Os depoimentos revelaram o tema rotatividade gerencial relacionado à política

partidária:

O que eu chamo de tempo negro, é voltado para a tua pergunta assim de ter acesso, ter liberdade, poder te sentar e conversar o dia a dia. Isso seriam os tempos negros. E quando tudo isso aconteceu? É tudo em função de uma empresa política que nós estamos, pública. Como há uma renovação a cada eleição há um novo time de gerenciamento com novas idéias, com novos perfis.

Apesar desse tema não aparecer de forma intensa, este depoimento transparece o

pensamento de que pelo fato de ser uma empresa pública não há continuidade gerencial. Não

se privilegia a continuidade da administração e sim a mudança política do cargo. Este tema se

relaciona com os fatores de higiene de Herzberg (apud KRUMM, 2005), em especial com a

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supervisão. A não contemplação desse tema cria ambiente propício para o surgimento da

insatisfação.

O tema comentários inconvenientes aparece relacionado à insatisfação. Remete às

falas que denunciam o “leva e traz”, falar mal do companheiro e conversas infrutíferas,

confirmados pelos seguintes discursos:

Um leva e traz. Tem hora que a gente tem que analisar a pessoa e guardar com a gente, e essa pessoa ainda espalha.

[…] quando entrei na sala pra pegar o material, essa pessoa tava... Depois saindo da sala, ele falou com essa pessoa que ele [...] Assim normal. Essa situação que eu passei me desagradou e a gente fica chateado, né?

Só o que, às vezes, me desagrada é ficar participando dessas conversas, e eu, às vezes, tenho que ficar omisso. Fico omisso, porque eu já sei qual é a [...] Já conheço qual é a falação do outro lado. Então eu fico omisso, algumas vezes eu fico omisso, outras vezes nem tanto.

Sintoniza-se esse tema com a relação com os colegas quando associado à

insatisfação, pois revela aspectos relacionados à divisão no grupo e às dificuldades de

relacionamentos.

Associado, também, à insatisfação, aparece o tema atitudes no trabalho com

discurso que evidencia a insatisfação quanto às pessoas não estarem dispostas à solução de

problemas. Confirma essa atitude a seguinte verbalização: “[…] as pessoas não estarem

abertas para solucionar problemas. Isso me desagrada.”

Quando questionados acerca do tema cansaço, associam-no à insatisfação no

trabalho. Esse tema evidencia-se em discursos que relatam o cansaço e excesso de horas

extras.

Cansado [...] O nosso serviço também é cansativo.

Então, eu hoje trabalho em uma área que a média de horas extras está em média de sessenta a oitenta horas homem. E isso é um desconforto […]

Agora imagina que você pegou o trabalho às vinte e duas horas, você trabalhou das vinte e duas as seis da manha, na chuva, nosso trabalho é externo. Na chuva, no frio sem parar ininterruptamente. Às vezes, até molhado com sono.

Os aspectos mencionados nas falas dos indivíduos reportam à um regime de trabalho

exigente quando associado às horas extras em demasia e às condições adversas do trabalho

relacionado às condições climáticas. Segundo Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997), essas

condições agem sobre a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), em especial as condições de

trabalho. Os indicadores: jornada de trabalho – horas trabalhadas e sua relação com as

atividades realizadas e salubridade – condições ambientais que favoreçam a saúde são

relacionadas a este tema e são anteriores à ST.

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5.1.4 Discussão

Observa-se que, apesar de existir um equilíbrio entre as categorias satisfação e

insatisfação, há uma maior intensidade nos discursos relacionados à satisfação.

Os temas relações com os colegas, reconhecimento, salário e segurança no trabalho,

aparecem associados tanto à satisfação como à insatisfação. Destes, relações com os colegas e

salário são fatores considerados por Herzberg como fatores de higiene - profiláticos da

insatisfação - e, contudo, aparecem com falas que evidenciam tanto a satisfação como a

insatisfação. De igual forma o tema reconhecimento é relacionado entre os fatores

motivacionais por Herzberg - causadores de satisfação - e, contudo nesta pesquisa surgiu

como causador de satisfação e insatisfação.

De forma geral apareceram os fatores de higiene19 relações interpessoais em dois

temas associados à satisfação - relações com os colegas e relacionamento com o superior

hierárquico - e em três à insatisfação - relações com os colegas, agressão e comentários

inconvenientes - . O fator condições físicas de trabalho foi mencionado em dois temas

relacionados à insatisfação e um tema concernente à satisfação e o fator supervisão foi

exposto uma vez relacionado à insatisfação

Na análise dos dados, também foi evidenciada a associação com as categorias

conceituais20 de Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997), que agem sobre a QVT. Dessas

categorias, condições de trabalho surgiram em quatro temas, integração social incidiu em três

temas, ocorrendo uma vez associada ao constitucionalismo. A categoria oportunidade de

crescimento foi manifesta em dois temas, destes associa-se uma vez com trabalho e espaço

total de vida. As categorias conceituais relevância social do trabalho, compensação justa e

adequada e uso e desenvolvimento de capacidades ocorreram em um tema cada.

Evidencia-se, também, na análise, o vínculo dos dados com os fatores ambientais que

antecedem a satisfação no trabalho, mencionados por Spector (2006). Além do fator salário

que apareceu uma vez relacionado à satisfação e outra à insatisfação, as características do

trabalho (HACKMAN e OLDHAM, 1976 apud SPECTOR, 2006) incidiram em cinco temas

19 Fatores de higiene relacionam-se ao ambiente de trabalho incluindo supervisão, relações interpessoais, condições físicas de trabalho, salário, política e administração da empresa, os benefícios do emprego e a segurança no cargo. 21 Compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, oportunidades de crescimento, integração social, constitucionalismo, trabalho e espaço total de vida, relevância social do trabalho.

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- relevância social do trabalho, inexistência de feedback da chefia, variedade das tarefas, o

exercício das competências e a participação no trabalho - , ocorrendo em três vinculados à

satisfação.

Spector (2006) destaca que a combinação das cinco características do trabalho –

variedade de habilidades, identidade da tarefa, importância da tarefa, autonomia e feedback

no trabalho – denomina-se abrangência. Assim, quanto maior a abrangência de um trabalho,

maior será a satisfação do indivíduo. Das características citadas pelo autor, todas aparecem

nos depoimentos dos trabalhadores, quais sejam: variedade de habilidades, importância da

tarefa e identidade da tarefa associadas à satisfação, e a falta de feedback no trabalho e

autonomia associados à insatisfação.

Vale ressaltar o tema “envolvimento” que possui uma mútua relação com a ST e é

influenciado por ela. No tema ambiente físico ressalta-se o vínculo afetivo com o trabalho,

onde os trabalhadores investem o seu próprio salário no ambiente de trabalho.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa revelou a importância de se considerar,

concomitantemente à satisfação, os fatores que a ela estão ligados e contribuem para a

percepção do indivíduo com relação ao seu bem-estar no trabalho – satisfação no trabalho –.

Esta investigação mostrou que, apesar dos temas relativos à satisfação aparecerem com mais

freqüência no centro de operação de distribuição em estudo, existem fatores que favorecem o

surgimento da insatisfação, os quais evidenciam que muito ainda pode ser feito nesta área.

A elaboração desta pesquisa levou em consideração aspectos metodológicos

científicos para caracterizar os fatores do trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em

regime de turno na operação da distribuição de energia elétrica de uma empresa catarinense,

colocando a lume um recorte da satisfação e, conseqüentemente, insatisfação, dos

trabalhadores que atuam neste centro de operações.

Existem, para isso, recursos teóricos e ferramentas que podem ser utilizadas nesse

sentido, auxiliando no aumento da satisfação e da produtividade dos trabalhadores do centro

de operação de distribuição.

Está implícito nesta pesquisa o aprendizado que ocorre no desenrolar das atividades

inerentes à mesma e que trouxeram ao pesquisador uma perspectiva com relação ao futuro

profissional.

No que tange à possibilidade de generalização dos resultados encontrados aplicando-

os em outros centros de operação de distribuição de energia elétrica, deve-se ter cautela, dado

o momento específico de reestruturação pelo qual a área estudada estava passando. Essa

reestruturação envolveu, até esta análise, a intenção e posterior mudança de parte dos

trabalhadores que estavam atuando em regime de turno para outro tipo de organização

temporal do trabalho, além de um eventual corte das horas extras realizadas.

Dentro do objetivo geral proposto ao início desta pesquisa, qual seja, caracterizar os

fatores do trabalho que atuavam na satisfação do trabalhador em regime de turno na operação

da distribuição de energia elétrica de uma empresa catarinense e o tempo exíguo em que esta

investigação foi realizada, surgiu duas grandes categorias: a satisfação e a insatisfação no

trabalho. Nestas categorias evidenciou-se fatores como o relacionamento interpessoal, o

reconhecimento, a relevância social do trabalho, a variedade das tarefas, o horário de turno,

salário, segurança no trabalho e as condições de trabalho. Estes aparecem com intensidade nos

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relatos dos trabalhadores revelando a sua condição de gerador de satisfação entre os

indivíduos da operação da distribuição. Deve-se salientar que este trabalho não abarcou os

fatores de personalidade da satisfação no trabalho e sim os fatores ambientais. Levar em

consideração os fatores de personalidade mudaria o foco desta pesquisa que se relaciona com

os fatores do trabalho, e se voltaria para o indivíduo, pois, algumas pessoas possuem uma

tendência a estarem satisfeitas com seu trabalho como característica de personalidade.

A associação com as categorias conceituais de Walton (1973 apud BÚRIGO, 1997)

confirma a importância da QVT na ocorrência da satisfação no trabalho. A compreensão e o

contentamento do trabalhador com os fatores relacionados entre si conduzem os indivíduos

nas relações de trabalho, por meio do melhor uso das competências, bem como do

estabelecimento de um ambiente capaz de fomentá-las, as quais denotam a importância da

qualidade de vida que este indivíduo possui no trabalho.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A Perfil dos sujeitos:

• Estado civil;

• Sexo;

• Idade;

• Escolaridade;

• Tempo de serviço na organização;

• Percurso profissional.

Roteiro da entrevista:

1. O que é satisfação no trabalho para você?

2. De forma geral, você se sente recompensado/reconhecido em relação ao seu

trabalho?

3. Como você avalia a sua disposição quando sai de casa para vir ao trabalho?

4.Como você se percebe quando pensa nas atividades que irá realizar no trabalho?

5. Em geral como você se sente após um dia de trabalho?

6. Quais as particularidades que mais lhe agradam no seu trabalho? Você poderia

descrever uma situação vivida no trabalho que tenha lhe deixado satisfeito?

7. Há algo que lhe desagrada no seu trabalho? Você já passou por alguma situação,

no trabalho, que lhe deixou insatisfeito/ desmotivado?

8. Como você avalia seu desempenho quando comparado com as expectativas da

empresa? Você recebe retorno sobre seu desempenho no trabalho?

9. Existe abertura na empresa para você e seus colegas apresentarem idéias e

sugestões? Elas são ouvidas ou acolhidas?

10. Como é a relação entre os colegas de trabalho?

11. Como é a relação com seu superior imediato? Todos são tratados de maneira

igual pela chefia?

12. Quando iniciou seu trabalho qual/quais fatores lhe causaram a sensação de

satisfação? E atualmente?

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,................................................................................................................................,

declaro que estou ciente de que ao responder a esta entrevista, estarei participando, na

qualidade de colaborador, do levantamento de dados para a compreensão dos fatores do

trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em regime de turno na operação da

distribuição, o qual corresponde ao trabalho de conclusão de curso do Curso de Psicologia da

UNIVALI – Biguaçu. Esta atividade está sendo realizada pelo discente Adney Acácio

Martins, sob a orientação da professora/pesquisadora Renata Susan Pereira, com o objetivo de

caracterizar os fatores do trabalho que atuam na satisfação do trabalhador em regime de turno

na operação da distribuição, investigando, para tal, a sua satisfação com o trabalho. Como

instrumento para coleta de dados será utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada com o

auxílio de um gravador. Declaro ainda que terei garantido o anonimato. As informações aqui

levantadas não serão utilizadas para outro fim que não o proposto neste termo de

consentimento. Sei que tenho plena liberdade para recusar-me a participar da pesquisa ou

retirar o consentimento, a qualquer tempo e sem prejuízo, penalização ou represália, e a

garantia de ter os esclarecimentos que forem necessários a qualquer tempo.

Biguaçu, ___ /___/ 2007.

Acadêmico: Adney Acácio Martins

Fone: (48) 3271-8341 – e-mail: [email protected]

Professora responsável: Renata Susan Pereira CRP 12/03929

Fone: (48) 3279-9714 – e-mail: [email protected]

Acadêmico: _________________________________________

Adney Acácio Martins Assinatura (de acordo do colaborador): ________________________________________ Fone: