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Patrícia Engel Secco Coleção Terra de Toda Gente Ilustrações Edu A. Engel Um Presente para ADEOLA Origem: Nigéria

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literatura infantil

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Page 1: Adeola 111213062620-phpapp01

Patrícia Engel Secco

Coleção Terra de Toda Gente

Ilustrações

Edu A. Engel

Um Presente para

ADEOLAOrigem: Nigéria

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Conforme a nova ortografia

da língua portuguesa

Ilustrações

Edu A. Engel

Patrícia Engel Secco

Coleção Terra de Toda Gente

Projeto

Coleção Terra de Toda Gente

Projeto Gráfico

Lili Tedde

Revisão

Trisco Comunicação

Coordenação Gráfica e Editorial

Ler é Fundamental Produções e Projetos

Realização

Secco Assessoria Empresarial

Concepção

Patrícia Engel Secco

20.000 exemplares

Setembro de 2008

Editora Boa Companhia

www.projetofeliz.com.br

Fale conosco

[email protected]

Um Presente para AdeolaOrigem: Nigéria

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Ramla e Zola eram tão amigas quanto duas meninas podiam ser. Todos os dias, assim que o sol se levantava, iam juntas até as margens do rio buscar água e voltavam, felizes, para ajudar suas famílias nos afazeres do dia-a-dia.

Ramla e Zola eram filhas de pais caçadores, homens corajosos e honrados na comunidade. Suas mães, gentis e atenciosas, eram sábias e ensinaram a elas tudo o que conheciam.

Quando chegaram à idade de frequentar a escola do vilarejo, as meninas iam juntas e, invariavelmente, sentavam-se na mesma carteira, aprendendo lado a lado o que lhes era ensinado, sobretudo o valor da amizade, da honestidade e do companheirismo.

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O tempo passou e muita coisa aconteceu na pequena vila, mas nada abalou a amizade das duas meninas, que, a cada dia, se torna-vam mais e mais inseparáveis.

Quando elas ficaram moças, prontas para casar e constituir fa-mília, todos os rapazes do lugar se mostraram interessados, mas, infelizmente, a amizade que as unia não permitia que seus corações se abrissem para o amor.

Um belo dia, o chefe da aldeia chamou as duas amigas para uma conversa séria:

− Ramla, Zola, vocês são as moças mais bem preparadas da nossa comunidade. A amizade de vocês encanta a todos nós, mas é chegada a hora da separação. Cada uma de vocês precisa formar sua própria família!

− Sabemos disso, chefe, e esperamos conhecer, em breve, nos-sos futuros maridos − disse Ramla.

− Entretanto, para que possamos ser felizes, precisamos nos casar com dois homens filhos de mesmo pai e mesma mãe e que aceitem morar na mesma casa − completou Zola.

− Desde que nascemos somos amigas inseparáveis, e tudo que uma teve na vida a outra também teve − disse Ramla.

− Por esse motivo, chefe, esperamos ansiosas pelos irmãos que queiram nos desposar − concluiu Zola.

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A notícia se espalhou por todos os lados e logo apareceram dois homens, filhos de mesmo pai e mesma mãe, que moravam na mesma casa e estavam ambos à procura de uma esposa. Os jovens conhece-ram as duas amigas e o casamento foi marcado sem demora.

Uma grande festa selou a união das duas amigas com os dois irmãos. Convidados de todos os cantos compareceram, trazendo presentes muito bonitos, sempre iguais para os dois casais.

Os irmãos também eram caçadores e, como os pais das noivas, homens muito honrados. A

casa em que moravam era grande e arejada. Nela, as amigas pode-riam fazer uma horta, plantar um pomar e até mesmo criar peque-nos animais, como galinhas, porcos e patos. E assim fizeram...

Em alguns meses, a horta provia as novas famílias com verduras frescas, as árvores do pomar floresciam e os ani-

mais cresciam e se multiplicavam.Mas a vida das amigas, sempre tão igual,

começou a ficar diferente: Ramla engravidou e deu à luz um belo menino, que foi chamado de Makeba.

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Pela primeira vez a vida de Zola começou a se diferenciar da vida da amiga, mas no fundo de seu coração ela sabia que aquela situação não duraria muito e que, em pouco tempo, também teria uma linda criança para cuidar.

Entretanto, dias e meses se passaram sem que ela engravidas-se. Julgando ser necessário presentear a deusa da fertilidade com algo doce, plantou uma árvore de noz-de-cola em um belo vaso e dela cuidou com todo o carinho possível.

Certa de que a deusa visitava a pequena árvore durante as noi-tes, Zola a regava abundantemente ao entardecer e esperava o sol despontar no horizonte para beber um copo cheio da água que saía do vaso.

A árvore, agradecida pelos bons tratos, logo começou a crescer. De seus galhos brotaram lindas folhas verdes, tão frescas e chei-rosas que chamaram a atenção dos animais que as amigas criavam em casa. Tão logo perceberam a iguaria, os bichos resolveram com ela se deliciar. Não foi preciso mais de uma hora para que a planta fosse transformada em um mero graveto sem graça e quase sem vida, em nada semelhante à formosa arvorezinha de que Zola tanto se orgulhava.

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Zola chorou muito ao ver a árvore destruída. Sua tristeza era tão grande e tão devastadora que Ramla decidiu deixar com ela o pequeno Makeba.

− Tenho certeza de que ele vai animá-la, querida amiga, irmã. Tome conta de meu filho enquanto cuido da horta e alimento as galinhas... − disse Ramla, cheia de carinho.

Entretanto, ocupar-se de Makeba não consolou Zola, que ju-rou não mais sorrir enquanto a árvore de noz-de-cola não brotasse novamente.

A tristeza de Zola deixava todos na casa muito apreensivos, e era simplesmente impossível haver felicidade onde alguém era tão infeliz.

Uma noite, enquanto fazia Makeba adormecer, Ramla trope-çou em seu vestido e, de maneira a não deixar o menino cair de seus braços, acabou por se sentar em uma mesa na qual havia um vaso com água do rio. Ramla e Makeba não se machucaram com o incidente, mas o vaso caiu no chão e acabou por perder o fundo.

Ainda um pouco atordoada com o ocorrido, Ramla recolheu os cacos e, exatamente no momento em que ia jogá-los fora, deparou-se com a pequena árvore, seca e totalmente desfolhada. Foi quando teve uma ideia.

− Zola, querida, olhe só como podemos recuperar a sua árvore!

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− Como? − perguntou Zola.− Muito simples! Vou lhe emprestar o meu vaso de água, do

qual tirei o fundo, e você vai colocá-lo em volta da pequena árvore. Com isso os animais não conseguirão mais alcançar os brotos de suas folhas e ela poderá crescer forte. E você voltará a ser feliz.

Zola ficou muito contente com a solução encontrada por Ramla e não via a hora de continuar com suas oferendas à deusa da ferti-lidade. Cuidar da árvore de noz-de-cola a deixava muito satisfeita, mas ela sabia que só seria feliz quando pudesse gerar uma criança.

Mais uma vez o tempo passou depressa e, no decorrer do ano seguinte, a árvore cresceu forte e vigorosa, longe das bicadas das galinhas, dando muitos e muitos frutos.

As nozes, muito bonitas e vistosas, logo começaram a chamar a atenção dos habitantes da aldeia.

− Você deveria vendê-las − disse um caçador, amigo do marido de Zola. − Conheço um excelente mercador que lhe dará um bom dinheiro por elas.

Dito e feito. As nozes foram vendidas e finalmente, depois de muito tempo, Zola ficou feliz com alguma coisa em sua vida. A deusa da fertilidade não lhe dera um filho ainda, mas com o que ganhava com os frutos de sua árvore, cuidada com tanta dedicação, podia ajudar um pouco o marido nas despesas. Novos objetos fo-ram comprados para a casa e até Makeba foi presenteado com uma linda girafa feita de madeira, graças à árvore de Zola.

No ano seguinte, a árvore deu ainda mais frutos, e, como a fama de suas nozes tinha se espalhado rapidamente, Zola não pre-cisou fazer nenhum esforço para vendê-las.

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− Desse jeito, querida, em pouco tempo não precisarei mais me arriscar caçando na selva – disse o marido de Zola. – Poderemos viver apenas das suas nozes.

Ramla, que mais uma vez estava grávida, ouviu a conversa do casal e ficou muito preocupada, pois, de qualquer maneira, alguém na casa deveria continuar caçando, e, sem o irmão, seu marido cor-reria perigo. Passou dias procurando uma solução para o problema, mas foi somente quando Zola chegou em casa com um novo vesti-do amarelo – que a deixava simplesmente linda – que Ramla perce-beu o que de fato a incomodava.

“Zola pode agora comprar tudo o que quiser, e eu não!”, pensou.Cheia de ciúme e inveja, decidida a acabar com a alegria da

amiga, Ramla resolveu fazer-lhe um pedido:− Zola, você sabe muito bem quanto sua felicidade é importante

para mim e que desde sempre procurei ajudá-la a atingi-la. Entretan-to, agora preciso que me retribua um favor que um dia lhe fiz...

− Claro, irmã! Você sabe que não há ninguém no mundo mais importante do que você e meu marido, portanto, pode pedir − res-pondeu Zola.

− Bem, o que eu quero é bastante simples: o meu vaso de água sem fundo.

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Zola sacudiu a cabeça sem acreditar no que estava sendo pedido pela amiga e, ao chegar perto de sua esti-mada árvore de cola, percebeu que não poderia atender ao dese-jo de Ramla.

− Mas, amiga, como poderei lhe devolver o vaso? Há anos ele está aqui em torno do caule da minha árvore, e a úni-

ca maneira de tirá-lo é transformá-lo em cacos... É isso que você quer? − perguntou Zola.

− Não, de maneira nenhuma. Quero o vaso como o emprestei, faltando apenas o fundo.

− E o que você vai fazer com ele? Para o que vai lhe servir um vaso sem fundo?

− Pode deixar que disso cuido eu! Agora, por favor, me entre-gue o vaso.

Incrédula, Zola olhou para a amiga, e nem mesmo o pequeno Makeba a seus pés ou o novo bebê em sua barriga a fizeram parecer uma pessoa melhor. Tudo o que Zola conseguia ver naquele mo-mento era uma mulher cheia de ciúme e de inveja.

− Ramla, não faça isso comigo! Você não está vendo que para lhe devolver o vaso eu serei obrigada a cortar a árvore? E o que será de mim sem as maravilhosas nozes-de-cola que esta gentil arvo-

rezinha tem oferecido? Ramla, você tem Makeba para lhe ocupar e logo virá o novo bebê. Não há como

reconsiderar o pedido, pois eu só tenho a minha árvore?

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Sem pestanejar, Ramla respondeu que precisava do vaso, e com urgência. Caso Zola não devolvesse o que era dela até o dia seguin-te, iriam conversar com o chefe da aldeia. E assim aconteceu: as duas foram ter com o mais sábio dos homens.

− Chefe, cabe ao senhor a decisão sobre como eu devo agir: Ramla quer que eu corte minha preciosa árvore para conseguir ter de volta um vaso quebrado e sem fundo que me emprestou há al-guns anos... − começou Zola.

− Não, eu não estou pedindo que corte a árvore! Apenas quero o meu vaso de volta! Se conseguir tirá-lo de onde está, inteiro e sem rachaduras, ficarei satisfeita.

O chefe percebeu claramente que Ramla estava com ciúme de toda a riqueza que os frutos da pequena árvore haviam trazido para Zola, mas, depois de muito pensar, viu que não podia fazer nada além de solicitar que o objeto fosse devolvido a sua dona.

Conforme prometido, Zola acatou a decisão do mais sábio dos homens e, no dia seguinte, cortou o caule de sua tão amada árvore para entregar o vaso sem fundo a Ramla.

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Sem a árvore para ocupar seu tempo, Zola resolveu mostrar que ainda continuava amando a amiga e, a partir daquele dia, cui-dou de Makeba como quem cuida do próprio filho. O que foi óti-mo, pois, uma semana após receber de volta seu vaso sem fundo, Ramla deu à luz uma linda menina, que foi chamada de Adeola.

Adeola era só sorrisos e, logo em seus primeiros dias de vida, conquistou a todos em sua casa e em sua comunidade. Não havia quem não gostasse da menina. Ela recebeu muitos presentes de boas-vindas, entre eles um lindo colar de ouro maciço ofertado por Zola. Ele havia sido feito pelos melhores artesãos do continente, sem ne-nhuma emenda, nenhuma solda.

− Mas que colar lindo, Zola! Não posso aceitá-lo de jeito ne-nhum, pois nunca poderei lhe retribuir o presente. Como você sabe, não temos muitos recursos − disse Ramla, encabulada.

− Então, que não seja por isso! Tome-o como um empréstimo, mas deixe a menina usar o ornamento. O ouro só fará realçar sua beleza e sua graça. Ah! E não se preocupe: o colar é uma peça in-teiriça, ou seja, nunca vai machucar a pequena Adeola.

Certa de que sua filha não teria outra oportunidade na vida de usar um colar de ouro tão lindo, Ramla aceitou de bom grado o empréstimo.

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Passaram-se dias, semanas, meses, anos e, durante esse tempo, as amigas viveram como em seu tempo de meninas. Como não ti-nha filhos, Zola ajudava Ramla com os pequenos e era tratada por eles como uma segunda mãe.

Com o tempo, Adeola cresceu e se tornou uma linda menina, ainda mais sorridente e mais adorada pela aldeia inteira. Quando ela completou dez anos, a comunidade se juntou e decidiu oferecer-lhe uma festa, a mais bonita de todos os tempos.

Feliz e sem caber em si de contentamento, Ramla foi conversar com Zola sobre qual presente dar à filha.

− Não tenho bens, não tenho posses. Não sei como presentear minha doce Adeola... − disse pensativa.

− Pois eu sei bem o que vou dar a ela − falou Zola, segura de si. − Há anos espero por este momento.

Certa de que a amiga ofereceria à filha o colar de ouro que ha-via tanto tempo a menina trazia ao pescoço, Ramla abriu o maior dos sorrisos do mundo.

− E qual seria esse presente, querida amiga?− Vou mandar fazer para Adeola uma linda coroa, mas para

isso preciso do colar, que servirá de base.

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A princípio a reação de Ramla foi de pura felicidade, pois que mais poderia querer sua linda criança além de uma bela e valiosa coroa? Entretanto, alguns segundos mais tarde, Makeba e Adeola entraram pela porta, e imediatamente Ramla viu a armadilha que aquele presente significava.

O colar que Adeola ganhara quando criança nunca mais havia sido retirado de seu pescoço, e, com o passar dos anos, tornara-se impossível removê-lo. A cabeça da menina tinha crescido e, para devolver o colar à amiga, somente cortando a peça.

− Amiga querida, mas que ideia! Adeola não precisa de uma coroa, não se preocupe.

− Eu me preocupo, sim, Ramla. Quero dar à menina o presen-te que ela merece, e esse presente será uma coroa de ouro, montada sobre o colar. Já marquei um encontro com os artesãos e preciso levar para eles o colar, sem nenhum dano e totalmente preservado.

Ramla não sabia o que dizer, muito menos o que fazer. Sentiu o chão sumir debaixo de seus pés e desejou, mais do que nunca, que tudo não passasse de um mal-entendido. Como poderia ela devolver a Zola o colar de ouro sem cortar o pescoço de sua amada filha?

Ramla pediu que as crianças fossem brincar do lado de fora e, assim que saíram, perguntou à amiga:

− Zola, você não sabe que para devolver-lhe o colar precisarei tirar a vida de Adeola? Você não a ama?

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− Claro que amo Adeola, assim como amo Makeba e amo você, querida amiga. Mas tenho de solicitar que me dê de volta o colar. Afinal, ele lhe foi oferecido apenas como empréstimo. Aliás, não estou lhe pedindo que corte o pescoço de sua filha, apenas que me devolva o colar. Para isso, você pode fazer o que quiser...

E Ramla viu como única saída de novo consultar o mais sábio dos homens. Da última vez que haviam feito isso, o chefe da aldeia tinha decidido em seu favor. Provavelmente faria o mesmo agora.

− Chefe, cabe ao senhor a decisão sobre como eu devo agir: Zola quer de volta o colar de ouro que Adeola usa. Mas para devol-vê-lo precisarei sacrificar minha criança.

O chefe ponderou por alguns minutos e, mais rápido do que se poderia esperar, chegou a uma decisão sobre o impasse:

− Ramla, há alguns anos você, por ciúme e inveja, tirou de Zola uma pequena árvore que nos oferecia as melhores nozes-de--cola que existiam no mundo. Fez com que ela cortasse seu caule, pois queria de volta um vaso quebrado e sem utilidade. Hoje, pre-ciso decidir a favor de Zola e, por mais que eu preze sua querida filha, não tenho como agir de maneira diferente. Você deverá de-volver o colar.

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A decisão do chefe perecia injusta, mas sem pensar duas vezes ele resolveu transformar o acontecido em uma lição de vida, chamando a aldeia toda para presenciar a execução da menina.

Adeola e Makeba não se deram conta do que estava acontecendo e, cha-mados pela mãe, entraram felizes e sorri-dentes em uma praça lotada de pessoas.

De um lado Ramla chorava compulsi-vamente e, de outro, Zola sorria, vitoriosa.

− A vingança é um prato que se come frio − diziam algumas pessoas na multidão.

− Olho por olho, dente por dente. É assim que se faz justiça − diziam outros.

− Ri melhor quem ri por último − chegavam a falar uns poucos. A verdade, no entanto, é que todos assistiam horrorizados a uma cena total-mente impensável, pois Zola amava muito as crianças de Ramla.

Um carrasco segurava uma espada e es-tava pronto para executar a menina no ins-tante em que o chefe ordenasse. E este as-sim o fez, na mesma hora em que Ramla olhou dentro de seus olhos e disse:

− Por favor, eu lhe suplico, chefe.

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Mas para o sábio a decisão estava tomada e, sem forças nem coragem para ver o que viria a acontecer, ele fechou os olhos e abai-xou a cabeça.

Foi justamente nesse momento que Zola levantou os braços e, segurando a espada do carrasco, disse:

− Não quero que a justiça seja feita dessa forma. Um erro não justifica o outro, e não acho que o mal deva ser punido com o mal. Se continuarmos a agir assim, estaremos unindo forças para

aumentar a maldade e o desentendimento, não para acabar com eles. Adeola, minha querida, eu lhe darei a mais linda das coroas de ouro, pois é este o significado de seu nome: coroada. Mas que fique claro, desde já, que tanto a coroa como o colar são presentes que lhe dou com todo o amor e carinho.

A aldeia inteira pôs-se a aplaudir e todos que ali estavam começaram a chorar e a se abraçar, inclusive Ramla e Zola, que, por sinal, vivem até hoje na mesma casa, casadas com filhos de mesmo pai e de mesma mãe.

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Aliás, é preciso que se conte aqui, Zola finalmente engravi-dou e deu à luz um lindo menino chamado Abayomi. Desde então, pode-se dizer que todos vivem felizes.