adensamento populacional: uma visão sustentável

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Adensamento populacional: uma visão sustentável Nelcivone Soares de Melo é secretário municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável Publicado no Jornal O Popular em 28/12/2013 O Projeto de Lei Complementar (PLC) que pede a desafetação e autoriza a alienação de áreas públicas municipais não tem como finalidade adensar a região do Paço Municipal, como vem sendo propagado. Isso porque as áreas situadas no Parque Lozandes já são, desde a sua aprovação original, destinadas à implantação de grandes equipamentos públicos, a exemplo do próprio Paço. Ao todo, são 18 áreas, oito delas no Parque Lozandes, destinadas também à Assembleia Legislativa, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas dos Municípios, Associação Comercial do Estado de Goiás, habitação coletiva e hotéis. Isso significa que foi prevista a verticalização desse bairro desde sua concepção, o que equivale a uma área adensável do atual Plano Diretor. Portanto, apenas quatro dessas áreas poderão ser alienadas com a possibilidade de construções do setor privado. O que deve ser levado em consideração é que o adensamento é um caminho benéfico para as cidades porque apresenta, entre outras vantagens, redução no consumo energético, a diminuição da emissão de poluentes e melhor mobilidade. Ora, isso é, sim, sustentabilidade! Goiânia tem uma densidade populacional de 1.800 habitantes por quilômetro quadrado, um número muito inferior ao de cidades cujo adensamento é quase dez vezes isso e que têm qualidade de vida superior. Para se ter uma ideia, a cidade de Nova York tem 10.640 habitantes por quilômetro quadrado. Em Barcelona, o número chega a 16 mil e em Seul, capital da Coreia do Sul, há17 mil habitantes por quilômetro quadrado. Em todas estas cidades o adensamento populacional proporciona mais qualidade de vida e uma emissão de gás carbônico muito menor. Um dos índices que mais chamam a atenção é o de Seul que, com densidade populacional quase dez vezes maior que a da capital goiana, emite 3,7

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Page 1: Adensamento populacional: uma visão sustentável

Adensamento populacional: uma visão sustentávelNelcivone Soares de Melo é secretário municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável

Publicado no Jornal O Popular em 28/12/2013

O Projeto de Lei Complementar (PLC) que pede a desafetação e autoriza a alienação de áreas

públicas municipais não tem como finalidade adensar a região do Paço Municipal, como vem

sendo propagado. Isso porque as áreas situadas no Parque Lozandes já são, desde a sua

aprovação original, destinadas à implantação de grandes equipamentos públicos, a exemplo do

próprio Paço.

Ao todo, são 18 áreas, oito delas no Parque Lozandes, destinadas também à Assembleia

Legislativa, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas dos Municípios, Associação

Comercial do Estado de Goiás, habitação coletiva e hotéis. Isso significa que foi prevista a

verticalização desse bairro desde sua concepção, o que equivale a uma área adensável do

atual Plano Diretor. Portanto, apenas quatro dessas áreas poderão ser alienadas com a

possibilidade de construções do setor privado.

O que deve ser levado em consideração é que o adensamento é um caminho benéfico para as

cidades porque apresenta, entre outras vantagens, redução no consumo energético, a

diminuição da emissão de poluentes e melhor mobilidade. Ora, isso é, sim, sustentabilidade!

Goiânia tem uma densidade populacional de 1.800 habitantes por quilômetro quadrado, um

número muito inferior ao de cidades cujo adensamento é quase dez vezes isso e que têm

qualidade de vida superior.

Para se ter uma ideia, a cidade de Nova York tem 10.640 habitantes por quilômetro quadrado.

Em Barcelona, o número chega a 16 mil e em Seul, capital da Coreia do Sul, há17 mil

habitantes por quilômetro quadrado. Em todas estas cidades o adensamento populacional

proporciona mais qualidade de vida e uma emissão de gás carbônico muito menor. Um dos

índices que mais chamam a atenção é o de Seul que, com densidade populacional quase dez

vezes maior que a da capital goiana, emite 3,7 toneladas de gás carbônico por ano por

habitante. Esse índice em Goiânia, cuja densidade é quase dez vezes menor, é de 2,27

toneladas.

Ao propor o PLC, a Prefeitura preocupou-se em definir investimentos nas áreas de mobilidade

e de preservação do meio ambiente como mecanismos de compensação e melhoria da região.

No PLC estão previstos investimentos no sistema viário, como a construção de dois viadutos

na BR-153, um ligando o Parque Lozandes ao Jardim Goiás e outro vinculando o Jardim Novo

Mundo ao Jardim Goiás. Além de um terceiro viaduto, no cruzamento da Avenida Jamel Cecílio

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com a Marginal Botafogo e, ainda, a implantação de um dos maiores parques ambientais de

Goiânia, o Parque do Cerrado, situado também no Parque Lozandes.

O projeto prevê ainda a destinação de recursos para várias obras de infraestrutura e

equipamentos públicos em diversos setores da cidade como implantação dos corredores 85, T-

9, T-7 e 24 de Outubro; construção das sedes das Secretarias Municipais de Educação e

Defesa Social, além da sede da Guarda Civil Metropolitana; construção ou aquisição de um

hospital e duplicação das Avenidas Engler (Região Sul), Governador José Ludovico (Conjunto

Caiçara), da Divisa (Setor Jaó) e Pio Correia Lima (Jardim Mariliza), entre outros.

A Lei 8.767/2009, que dispõe sobre Projeto Diferenciado de Urbanização (PDU), tem como

objetivo ordenar e promover a ocupação dos vazios urbanos e lotes vagos, com a colocação

em prática do Imposto Progressivo, a partir de 2014, sobre os lotes vagos, evitando, assim, a

especulação imobiliária. Ao definir as modalidades do PDU, permitiu-se a utilização desse

instrumento como forma de estabelecer adensamentos diferenciados. Assim, a possibilidade de

uma determinada área receber um PDU requer que sejam observadas as potencialidades e

sua localização. Esse regulamento prevê, ainda, cinco modalidades de PDU com o fim de

compatibilizar a tipologia de ocupação.

Ao encaminhar o PLC 050 à Câmara, a Prefeitura propõe que para as oito áreas do Parque

Lozandes seja permitida a possibilidade de implantação de Projeto Diferenciado de

Urbanização-1 (PDU-I), uma vez que a atual legislação já permite a possibilidade de

implantação até de Projeto Diferenciado de Urbanização-2 (PDU-2). E como o Parque

Lozandes já é um parcelamento adensável, não se pode falar em transformação. O que

precisamos é esclarecer sobre os benefícios que serão trazidos com o projeto e mostrar que

uma administração responsável se preocupa também com o futuro da cidade.