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Anais do XI Encontro do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e Inclusão – 22, 23 e 24 de junho de 2015 Florianópolis – CEART/UDESC – ISSN: 2176-1566 28 ADAPTANDO TEXTOS AOS LEITORES DE TELA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Daltro Keenan Junior/Uergs 1 RESUMO O presente texto aborda a experiência do autor com a transcrição e adaptação de textos digitalizados para formato acessível aos leitores de tela usados por pessoas com deficiência visual na utilização de computadores. O motivo para a realização dessa tarefa surgiu a partir do ingresso de discente com baixa visão na instituição em que atuo como docente. Com base no aprendizado informal e autodidata e, por meio de relato, em forma de memorial, descrevo as experiências e aprendizagens resultantes do processo de busca pela promoção da acessibilidade, bem como, na descrição de protocolos de realização destas adaptações. Nas conclusões alerto para a necessidade de um planejamento institucional consciente da presença da pessoa com deficiência e aponto soluções para os problemas encontrados na adaptação dos textos. Palavras-chave: Educação inclusiva. Tecnologia assistiva. Acessibilidade. ABSTRACT The present paper is about the author's experience with the transcription and adaptation of scanned text into an accessible format for screen readers handled by the visually impaired in the use of computers and ICT. The reason for performing this work emerged from the entry of students with low vision in the institution where I work as a teacher. Based on informal and self-taught learning and through reports in the form of memorial I describe the experiences and learning resulted from the search process for the promotion of accessibility as well as in the description of these adaptations achievement protocols. The conclusions warn the need for a conscious institutional planning of the presence of the person with disabilities and point solutions to problems encountered in the adaptation of texts. Keywords: Inclusive education. Assistive technology. Accessibility. Introdução Para um melhor entendimento das proporções e necessidades projetadas pelo desenvolvimento da educação inclusiva e a crescente democratização do

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Anais do XI Encontro do Grupo de Pesquisa Educação, Artes e Inclusão – 22, 23 e 24 de

junho de 2015 Florianópolis – CEART/UDESC – ISSN: 2176-1566

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ADAPTANDO TEXTOS AOS LEITORES DE TELA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Daltro Keenan Junior/Uergs1 RESUMO O presente texto aborda a experiência do autor com a transcrição e adaptação de textos digitalizados para formato acessível aos leitores de tela usados por pessoas com deficiência visual na utilização de computadores. O motivo para a realização dessa tarefa surgiu a partir do ingresso de discente com baixa visão na instituição em que atuo como docente. Com base no aprendizado informal e autodidata e, por meio de relato, em forma de memorial, descrevo as experiências e aprendizagens resultantes do processo de busca pela promoção da acessibilidade, bem como, na descrição de protocolos de realização destas adaptações. Nas conclusões alerto para a necessidade de um planejamento institucional consciente da presença da pessoa com deficiência e aponto soluções para os problemas encontrados na adaptação dos textos.

Palavras-chave: Educação inclusiva. Tecnologia assistiva. Acessibilidade. ABSTRACT The present paper is about the author's experience with the transcription and adaptation of scanned text into an accessible format for screen readers handled by the visually impaired in the use of computers and ICT. The reason for performing this work emerged from the entry of students with low vision in the institution where I work as a teacher. Based on informal and self-taught learning and through reports in the form of memorial I describe the experiences and learning resulted from the search process for the promotion of accessibility as well as in the description of these adaptations achievement protocols. The conclusions warn the need for a conscious institutional planning of the presence of the person with disabilities and point solutions to problems encountered in the adaptation of texts.

Keywords: Inclusive education. Assistive technology. Accessibility.

Introdução

Para um melhor entendimento das proporções e necessidades projetadas

pelo desenvolvimento da educação inclusiva e a crescente democratização do

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ensino na educação básica, fatores estes que têm contribuído para o aumento

significativo do número de matrículas de pessoas com deficiência no ensino

superior, se faz necessário apresentar alguns dados e informações que irão situar o

leitor no atual panorama da educação inclusiva.

Os relatórios do Censo Demográfico de 2010 – Características gerais da

população, religião e pessoas com deficiência - Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2010) contabilizaram, no Brasil, uma população total de

190.755.799 pessoas consideradas como população residente, onde 35.774.392

foram declaradas portadoras de alguma deficiência visual.

Gráfico 1 - População portadora de alguma deficiência visual

Fonte: Elaborado pelo autor

Cabe ressaltar que essa parcela (35.774.392) de pessoas definidas como

“pessoas que enxergam com alguma dificuldade”, ou seja, qualquer pessoa que

utilize alguma correção ótica, como por exemplo, o uso de óculos, ou lentes de

contato e, indiferente do grau ou tipo de déficit de visão, não será tratada aqui como

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pessoa com deficiência visual, utilizarei, portanto, a descrição de pessoa com

deficiência visual definida pelo Decreto 5.296 de 12 de abril de 2004:

[...] a deficiência visual abrange a cegueira e a baixa visão, sendo considerada cegueira quando a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica e baixa visão quando a acuidade visual estiver entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica (BRASIL, 2004).

Sendo assim, um recorte dessa parcela total de pessoas denominadas como

“pessoas com alguma deficiência visual”, descritas no censo de 2010, revela que

506.377 pessoas não enxergam de modo algum, 6.056.533 possuem grande

dificuldade e 29.211.482 enxergam com alguma dificuldade.

Gráfico 2 – Pessoas com alguma deficiência visual

Fonte: elabora pelo autor

Atualmente, o site do IBGE enumera que a projeção para a população

brasileira em junho de 2015 é de aproximadamente 204.364.000 de pessoas.

Fazendo um comparativo entre o número de pessoas com cegueira e baixa visão,

apontadas no censo 2010, que totalizava a soma de 6.562.910, e a projeção atual

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da população da União Federativa do Estado de Santa Catarina, que é de 6.791.403

pessoas, podemos afirmar que, em 2010, o contingente de pessoas com deficiência

no Brasil, era equivalente ao número de cidadãos do estado catarinense.

O contexto inclusivo e a educação superior

Há décadas o Brasil vem debatendo e elaborando marcos legais, políticos e

pedagógicos relacionados à perspectiva inclusiva. Nesse sentido, cabe cada vez

mais aos sistemas de ensino aprimorar suas estratégias político-pedagógicas e de

gestão, a fim de garantir o atendimento especializado em todas as suas

modalidades:

Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado não se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na garantia da igualdade. (BRASIL, 2004, P. 9)

Assim, o Governo Federal e o Ministério de Educação têm implantado uma

série de programas para garantir os princípios de equidade e valorização da

diversidade, da acessibilidade e da igualdade de condições para promover o acesso

e permanência dos educandos deficientes na escola regular e em todas as

modalidades de ensino. A seguir listo alguns desses programas:

- Programa Escola Acessível (2008), que transfere recursos financeiros às

escolas públicas, para a promoção da acessibilidade arquitetônica e aquisição de

equipamentos de tecnologia assistiva2;

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- Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (2005),

atualizadas pelos quites 2012/2013, que disponibiliza recursos destinados ao

Atendimento Educacional Especializado (AEE);

- Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial –

Modalidade a Distância (2007), desenvolve em parceria com as Instituições Públicas

de Educação Superior, formação continuada para professores que atuam nas Salas

de Recursos Multifuncionais;

- Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior (2005), uma parceria

da Secretaria de Educação Especial e a Secretaria de Educação Superior do MEC.

Ações afirmativas, como as cotas para pessoa com deficiência,

disponibilizadas por algumas universidades, também têm promovido o acesso à

educação na modalidade do ensino superior.

No documento intitulado Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), encontramos algumas

orientações sobre inclusão escolar no âmbito do ensino superior:

Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão (BRASIL, 2008, p. 15).

Para Caiado (2013), as pessoas com deficiência têm acessado a modalidade

de ensino superior com maior frequência, “prova disso tem sido o crescente número

de alunos deficientes no ensino superior” (CAIADO, 2013, p.30). São indicativos

desse crescimento da busca pelo acesso à modalidade do ensino superior os dados

apontados no documento - Indicadores Consolidados do Enem 2013 (INEP, 2013),

onde o número de matrículas por tipo de atendimento especial com o critério

cegueira atingiu 993 matrículas, em 2012 e 1.118 matriculas, em 2013, já no critério

baixa visão 7.007 matrículas em 2012 e 8.582 matrículas em 2013. Outro

documento que corrobora com a afirmação de Caiado (2013) é a tabela de

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“Matrículas de Alunos Portadores de Necessidades Especiais nos Cursos de

Graduação Presenciais e a Distância, por Tipo de Necessidade Especial”, disponível

nas Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação, relativas ao Censo

Escolar do Ensino Superior (INEP, 2013), que aponta um total de 3.943 alunos com

cegueira e 6.955 alunos com baixa visão matriculados no Ensino Superior.

Abaixo, gráfico que ilustra o vertical crescimento do acesso da pessoa com

deficiência na Educação Superior.

Gráfico 3 - Censo Escolar da Educação Superior MEC/INEP (2013)

Há de se ressaltar que existem casos de pessoas com deficiência que

ingressam no ensino superior e, por motivos de agravamento da doença, falta de

oferta de material didático-pedagógico adaptado e de profissionais com formação

em atendimento especializado, ausência de salas multifuncionais e de tecnologias

assistivas, barreiras atitudinais geradas por colegas e professores, falta de

mobilidade urbana e acessibilidade aos espaços acadêmicos como a biblioteca,

entre outros, acabam por não concluir seus estudos nesta modalidade.

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Memorial como Metodologia

Para descrever o relato das experiências com a adaptação do material

didático-pedagógico e musical, destinados a discente com baixa visão e, realizado

com a finalidade de dar acesso aos conteúdos abordados nas disciplinas do curso

de música, será aqui utilizado, como metodologia, o Memorial. Este formato é muito

comum na área da Educação, podendo ser direcionado à descrição da formação,

onde professores ou licenciandos em formação continuada descrevem e tecem

reflexões sobre sua própria prática, com o objetivo de aperfeiçoar/aprofundar seus

conhecimentos na construção de uma identidade profissional própria. Os autores

Freire e Linhares apontam que o memorial:

Na medida em que apresenta suas impressões sobre o aprendido e sua correlação com o cotidiano profissional, o aluno/professor através da ação-reflexão-ação retira da experiência de sua própria vida os fundamentos para uma ação constante de reformulação da identidade do professor e dos seus saberes. Como num exercício constante e solitário, de auto-análise, o memorial lhe permite compreender as “circunstâncias” em que constrói sua identidade e avalia sua participação no processo de aprendizagem e no cotidiano da prática docente. (FREIRE; LINHARES, 2009, p. 12)

Portanto, é através das experiências vividas e de suas ações e reações na

minha prática docente, seguidas de reflexões e reformulações de novas estratégias

que irão fundamentar as próximas ações e reações, em um ciclo de crescimento e

aperfeiçoamento constantes, que a seguir descrevo com um breve memorial, uma

aproximação com a inclusão e promoção da acessibilidade.

Meu contato com a educação especial

Há alguns anos tenho trabalhado diretamente com ensino da música, em

especial, na área da prática instrumental direcionada ao violão. Atuei por quase 20

anos em uma conceituada fundação de artes do interior do Estado do Rio Grande do

Sul, atualmente, me dedico à docência em um curso de Licenciatura em Música de

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uma IES pública estadual. Nessa trajetória, tenho observado a intensificação dos

debates sobre inclusão educacional e a crescente inserção de alunos com

deficiências, no contexto dos espaços de educação musical. No ano de 2012, a IES

em que atuo como professor recebeu o ingresso de uma aluna com baixa visão. A

falta de um núcleo ou laboratório de produção de acessibilidade nesta instituição,

bem como, minha inexperiência com a educação especial, não foram encarados

como entrave para a inclusão dessa educanda. Além disso, também percebi que,

como eu, a maioria dos professores tinha pouca ou nenhuma experiência com a

educação de pessoas com cegueira ou baixa visão.

Para Ropoli (2010), “opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no

despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente, distancia o professor

da possibilidade de se formar e de se transformar pela experiência.” (ROPOLI, 2010,

p.15). Dessa forma, se adiam projetos do ensino comum e especial focados na

inserção das diferenças nas escolas. Ainda, segundo González (2009), “o destino

marca nossas vidas com sua força, impõe-se, atravessa nossa existência como uma

flecha, sem que possamos impedi-lo (se pudéssemos não seria destino)”

(GONZÁLEZ, 2009, p. 12).

Dentro dos meus limites, tenho dado apoio a esta educanda no que concerne

à adaptação de materiais didáticos ampliados ou digitalizados, acessibilidade virtual

e criação do grupo de estudo sobre Braille e Musicografia Braille. Segundo a

Declaração de Salamanca (1994), os programas de estudos devem ser adaptados

às necessidades dos alunos e não o contrário, sendo que os que apresentarem

necessidades educativas especiais devem receber apoio adicional no programa

regular de estudos, ao invés de seguir um programa de estudos diferente.

Considerando-se que o sistema visual detecta e integra de forma instantânea

e imediata grande parte dos estímulos no ambiente e, opera inclusive nas relações

de comunicação não verbal, em pessoas desprovidas deste sentido ou com níveis

muito baixos desta capacidade, perceberemos que:

Esses alunos recebem e organizam a informação no processo de apropriação do conhecimento e construção da realidade em um contexto

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impregnado de padrões de referências e experiências eminentemente visuais que os coloca em situação de desvantagem. Por isso, necessitam de um ambiente estimulador, de mediadores e condições favoráveis à exploração de seu referencial perceptivo particular. [...] Devem ser tratados como qualquer educando no que se refere aos direitos, deveres, normas, regulamentos, combinados, disciplina e demais aspectos da vida escolar. (BRASIL, 2007, p 14)

Para propiciar o acesso aos materiais didáticos à aluna com baixa visão,

foram instalados e configurados, nos computadores do laboratório de informática da

instituição de ensino, o software NVDA3 conhecido como “leitor de tela” e um

sistema operacional chamado DOSVOX4, que contém uma suíte de aplicativos

destinados à pessoa com deficiência visual. Além disso, pesquisei sobre a

funcionalidade e possibilidades oferecidas pelos programas de OCR (Optical

Character Recognition), e derivado destes, os OMR (Optical Music Recognition),

utilizados na transcrição dos textos e partituras “em tinta” (expressão utilizada por

pessoas cegas para descrever os livros que não são em escrita Braille), usados nas

leituras de determinados componentes curriculares. Esses softwares também são

usados na extração de textos em formato digital, da extensão PDF para o formato

digital com extensão TXT, ou para possíveis ampliações dos textos.

Contudo, ao longo do processo de adaptação desses textos tenho me

deparado com algumas questões:

- A maioria dos textos e livros que fazem parte da bibliografia obrigatória de

todas as disciplinas do curso não é acessível aos softwares de leitura de texto

usados por pessoas com deficiência visual.

- Não há um conhecimento, por parte dos professores, sobre os formatos de

textos que são acessíveis aos leitores de tela, entre eles, imagens, tabelas e textos

em formato PDF.

- Inexiste um protocolo para a realização de digitalização de textos pautada

na acessibilidade digital.

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Para melhor entendimento dos apontamentos citados acima serão mostrados

alguns exemplos encontrados no processo de adaptação dos textos e apontadas

possíveis soluções, quando estes resultados não são satisfatórios.

Um fato muito comum é a apresentação do texto no formato PDF, oriundo de

um escaneamento em forma de imagens que são posteriormente convertidas para o

formato PDF, resultando em um arquivo de grande tamanho em Megabytes. Para

estes arquivos o leitor de tela emitirá a seguinte mensagem: “Mensagem do NVDA

para texto em imagem: NVDA Alerta, documento vazio este documento parece estar

vazio pode ser uma imagem digitalizada que necessita de OCR ou um documento

danificado” (NVDA).

Um usuário avançado que possua um plugin de OCR instalado em seu leitor

de tela pode realizar a tarefa emitida pelo NVDA, mas ainda necessitará de um

revisor que lerá o texto à procura de imperfeições geradas no momento da extração

do texto e na conversão para o formato TXT realizado de forma automatizada pelo

OCR. A seguir, um exemplo de trecho de um texto já convertido pelo OCR do

formato PDF (a partir de imagens) para o formato TXT:

Figura 1 - Conversão automatizada realizada por OCR

Fonte: elaborado pelo autor

Outro problema é encontrado quando o texto é protegido pelo autor. Neste

caso, o leitor de tela emitirá o seguinte aviso: “Mensagem do NVDA para texto

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protegido pelo autor: falha de proteção, o autor definiu as configurações de

segurança deste documento de forma a impedir o acesso.” (NVDA). Assim, será

necessário “quebrar” a chave embutida pelo autor do texto, deixando claro que, só

será realizada essa operação com o intuito de tornar o texto acessível, não sendo

utilizado para fazer cópias parciais ou totais do texto protegido.

Figura 2 - Exemplo de documento protegido

Fonte: Elaborado pelo autor

Conclusões

Durante o apoio à aluna com deficiência visual, tenho observado que os

espaços virtuais de e-mail, portal do aluno e site institucional, bem como, os espaços

físicos são de baixa acessibilidade. Alerto para a necessidade de um planejamento

coletivo e contínuo, e na avaliação de atividades promovida no ambiente físico da

instituição, cito um exemplo de planejamento que não considerou a presença dessa

aluna com deficiência visual que se locomove com o auxílio de uma bengala. Para

exemplificar, as dificuldades de locomoção, em um determinado momento do

semestre escolar houve a realização de uma instalação de artes visuais, que

transpassou fios de linha em um dos corredores de livre acesso do prédio da

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instituição, não alertando esta aluna da existência desses fios no caminho do

laboratório de informática.

Pela experiência acumulada mediante as adaptações realizadas, concluo que

o formato de escaneamento do livro ou texto (xerox) direto para o formato em PDF,

e não em imagem e depois em PDF, evita os problemas abordados anteriormente.

Quanto maior for a qualidade no processo de escaneamento, que é denominada

pela quantidade de dpi5 utilizada nesse processo, melhor será o resultado da

extração do texto, o que evitará um número excessivo de erros e eliminará a

necessidade de um revisor do texto, gerando assim, uma maior autonomia para

pessoa com deficiência visual. Muitos outros problemas são gerados pela utilização

de tabelas e imagens nos textos acadêmicos, e que, provavelmente, demandaria na

escrita de um novo artigo para abordar estes conteúdos. Meu intuito foi dar um

panorama mais geral dos problemas básicos encontrados na adaptação de textos

aos leitores de tela usados por pessoas com deficiência visual e os aprendizados

adquiridos nesse processo.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS/UDESC), sob orientação da Profª Drª Regina Finck Schambeck. 2 A tecnologia assistiva é qualquer item, equipamento ou aplicativo, seja adquirido comercialmente ou por encomenda, modificado ou personalizado, que é usado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais de uma pessoa com deficiência. (ROBITAILLE, 2010, p. 5, tradução nossa). 3 (NonVisual Desktop Access). Disponível em: http://www.nvaccess.org/ 4 Disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/ 5 Pontos por polegada (em inglês dots per inch, dpi) é uma medida de densidade relacionada à composição de imagens, também chamada de "resolução de imagem" ou simplesmente "resolução". De maneira geral, quanto maior o número de pontos por polegada, mais detalhada e bem definida é a imagem. Referências

BRASIL. Decreto n° 5.296 de 2 de Dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica [...]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em: 20 maio de 2015.

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______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Atendimento educacional especializado: deficiência visual. Brasília: MEC/SEESP, 2007.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria n° 555/2007, prorrogada pela Portaria n° 948/2007, entregue ao Ministério da Educação em 07 de janeiro de 2008. Brasília, 2008.

CAIADO, K. R. M. Aluno deficiente visual na escola: lembranças e depoimentos. Campinas-SP: Autores Associados, 2003.

FREIRE, V. P.; LINHARES, R. N. O memorial como prática avaliativa na formação de professores em EAD. Debates em Educação, vol.1, n. 1 jan./jun. 2009. Disponível em: http://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/viewArticle/32 Acessado em: 02 de jun. de 2015.

GONZÁLES, F. Deficiência e arte. In: LOURO, Viviane (Org). Arte e Responsabilidade Social: inclusão pelo teatro e pela música. Santo André: TDT Artes, 2009.

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ROBITAILLE, S. The illustrated guide to assistive tecnology and devices: tools and gadgets for living Independenty. New York: Demos Medical Publishing, 2010.

ROPOLI, E. A. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva / Edilene Aparecida Ropoli... [et.al.]. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]: Universidade Federal do Ceará, 2010.

UNESCO - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Declaração de Salamanca e suas Linhas de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília, DF, 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16761&Itemid=1123> Acesso em: 30 de maio de 2015. Daltro Keenan Junior Bacharel em Música com Habilitação em violão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestrando em Educação Musical pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Santa Catarina – UDESC/CEART – PPGMUS. Atualmente é professor auxiliar

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na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – Uergs, no Curso de Graduação em Música: Licenciatura.