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ISSN 2176-1396 ADAPTAÇÕES DE ATIVIDADES EXPERIMENTAIS: DO LABORATÓRIO PARA A SALA DE AULA Juliana Maria Telles Matta Avanci 1 - PUCPR Janaína de Castro Brisola 2 - PUCPR Isabela Jasper 3 - PUCPR Mariana Ferreira Francelino 4 - PUCPR Eixo Ensino e Práticas nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Introdução. Uma proposta metodológica para que o aluno se aproprie dos conhecimentos químicos, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Química, é a experimentação. A experimentação deve possibilitar a reflexão crítica e o desenvolvimento cognitivo do aluno, além de integrar a teoria com a prática, consolidando o conhecimento. O presente trabalho, possível através da disciplina de Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), teve como objetivo o planejamento, a adaptação e a aplicação de atividades experimentais que relacionam o tema de corantes naturais com os conteúdos de solubilidade, polaridade, separação de misturas, indicadores de ácido-base e pH. As atividades foram aplicadas no Centro de Educação Aberta, Continuada à Distância Pólo Potty Lazarotto (CuritibaPR). Desenvolvimento. O planejamento e a adaptação das atividades experimentais levaram em consideração a infraestrutura do colégio e o nível de conhecimento dos estudantes em relação aos conteúdos abordados, além do tempo fornecido para a aplicação. Para orientar os alunos durante as atividades, foram elaborados materiais didáticos como um roteiro de procedimento experimental e um material teórico envolvendo os conceitos químicos abordados. Como instrumento de avaliação da aprendizagem, foi elaborado um questionário que foi utilizado antes e após a aplicação das atividades. Resultados e Discussão. Na pré-avaliação, para as questões 1.a), 1.b), 1.c) e 2, a quantidade de acertos foi de 47%, 24%, 41% e 12%, respectivamente; já na avaliação final, para as mesmas questões, a quantidade de acertos foi de 62%, 71%, 71% e 65%, respectivamente. Além da avaliação quantitativa, os alunos 1 Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Farmacêutica e Bioquímica pela UFPR e Estudante de Licenciatura em Química pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected]. 2 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected] 3 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected] 4 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

ADAPTAÇÕES DE ATIVIDADES EXPERIMENTAIS: DO

LABORATÓRIO PARA A SALA DE AULA

Juliana Maria Telles Matta Avanci 1 - PUCPR

Janaína de Castro Brisola2 - PUCPR

Isabela Jasper3 - PUCPR

Mariana Ferreira Francelino4 - PUCPR

Eixo – Ensino e Práticas nas Licenciaturas

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Introdução. Uma proposta metodológica para que o aluno se aproprie dos conhecimentos

químicos, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Química, é a

experimentação. A experimentação deve possibilitar a reflexão crítica e o desenvolvimento

cognitivo do aluno, além de integrar a teoria com a prática, consolidando o conhecimento. O

presente trabalho, possível através da disciplina de Estágio Supervisionado do curso de

Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), teve como

objetivo o planejamento, a adaptação e a aplicação de atividades experimentais que

relacionam o tema de corantes naturais com os conteúdos de solubilidade, polaridade,

separação de misturas, indicadores de ácido-base e pH. As atividades foram aplicadas no

Centro de Educação Aberta, Continuada à Distância Pólo Potty Lazarotto (Curitiba–PR).

Desenvolvimento. O planejamento e a adaptação das atividades experimentais levaram em

consideração a infraestrutura do colégio e o nível de conhecimento dos estudantes em relação

aos conteúdos abordados, além do tempo fornecido para a aplicação. Para orientar os alunos

durante as atividades, foram elaborados materiais didáticos como um roteiro de procedimento

experimental e um material teórico envolvendo os conceitos químicos abordados. Como

instrumento de avaliação da aprendizagem, foi elaborado um questionário que foi utilizado

antes e após a aplicação das atividades. Resultados e Discussão. Na pré-avaliação, para as

questões 1.a), 1.b), 1.c) e 2, a quantidade de acertos foi de 47%, 24%, 41% e 12%,

respectivamente; já na avaliação final, para as mesmas questões, a quantidade de acertos foi

de 62%, 71%, 71% e 65%, respectivamente. Além da avaliação quantitativa, os alunos

1 Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Farmacêutica e Bioquímica

pela UFPR e Estudante de Licenciatura em Química pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

E-mail: [email protected]. 2 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:

[email protected] 3 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:

[email protected] 4 Estudante de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:

[email protected]

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também foram avaliados qualitativamente e observou-se bom envolvimento dos alunos

durante a aplicação do projeto. Conclusão. Os resultados obtidos no presente trabalho foram

satisfatórios tanto quantitativamente quanto qualitativamente, demonstrando boa execução do

planejamento, adaptação e aplicação das atividades experimentais.

Palavras-chave: Corantes naturais. Conceitos químicos. Experimentação. Planejamento.

Introdução

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Química, o

conhecimento químico, assim como outros conhecimentos, não é acabado e inquestionável,

mas está em constante modificação devido às necessidades humanas, sendo assim, é

inseparável dos processos sociais, políticos e econômicos (BRASIL, 2008, p.51).

Para que o aluno se aproprie do conhecimento químico, faz-se necessário seu contato

com o objeto de estudo da Química, ou seja, as substâncias e os materiais. Uma proposta

metodológica para tal é a experimentação (BRASIL, 2008, p.52).

De acordo com Bernardelli (2004, p.4), a experimentação deve ser uma forma de

aquisição de dados da realidade, possibilitando reflexão crítica e desenvolvimento cognitivo

do aluno através de seu envolvimento com os conteúdos abordados, tornando viável a

dualidade teoria e prática.

A integração cada vez maior da teoria com a prática torna mais sólida a aprendizagem

de Química, favorecendo a construção do conhecimento químico de modo transversal, ou

seja, interagindo o conteúdo com a realidade vivenciada pelo aluno (BERNARDELLI, 2004,

p.4).

O presente trabalho, realizado através da disciplina de Estágio Supervisionado do

curso de Licenciatura em Química da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR),

teve como objetivo o planejamento, a adaptação e a aplicação de duas atividades

experimentais descritas por Dias e colaboradores (2003, p.28), relacionando o tema de

corantes naturais com os conteúdos de solubilidade, polaridade, separação de misturas,

indicadores de ácido-base e pH.

Segundo Dias e colaboradores (2003, p.28), a cor motiva os alunos na aprendizagem

da Química, uma vez que todas as pessoas possuem cores preferidas observáveis nas roupas e

nos objetos adquiridos.

As atividades práticas desenvolvidas foram aplicadas no Centro de Educação Aberta,

Continuada à Distância Pólo Potty Lazarotto (Curitiba–PR) e envolveram materiais e

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reagentes de baixo custo, de fácil aquisição e presentes no cotidiano, possibilitando a

abordagem dos conteúdos de forma contextualizada.

As atividades foram realizadas de forma demonstrativa, em que os alunos observaram

os fenômenos ocorridos. Segundo Oliveira (2010, p.147), as atividades demonstrativas

ilustram conteúdos abordados em aula, de modo a torna-los mais perceptíveis e a despertar o

interesse do aluno. Além disso, é útil quando são poucos os recursos materiais, não há espaço

apropriado nem tempo suficiente.

O planejamento das atividades envolveu a elaboração de um questionário, que foi

aplicado antes e após as atividades como instrumento de avaliação da aprendizagem, além de

um roteiro de procedimento experimental e de um material teórico. A adaptação envolveu a

substituição de alguns materiais e reagentes, para que a experimentação pudesse ser realizada

em sala de aula.

Desenvolvimento

Dois experimentos são descritos por Dias e colaboradores (2003, p.28): extração de

pigmentos naturais e testes desses pigmentos como indicadores de pH. Esses experimentos

abordam conteúdos de química como solubilidade, polaridade, separação de misturas,

indicadores de ácido-base e pH.

Os autores em questão aplicaram essa proposta para alunos do segundo ano do ensino

médio do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, da UERJ. Os próprios

alunos montaram o aparato experimental e realizaram a prática. A aula teve duração de 100

minutos e foi suficiente para a realização das atividades e a explicação dos conceitos

envolvidos.

Os materiais utilizados por esses autores incluíram béqueres de 250 mL, funil

analítico, papel de filtro, bastão de vidro, balança analítica, liquidificador e tubos de ensaio.

Como reagentes foram utilizados legumes (beterraba, cenoura e pimentões verde, amarelo e

vermelho), solventes (água de torneira, álcool comercial, acetona e dicloroetano) e soluções

aquosas de HCl 5% (v/v) e de NaOH 5% (m/v).

Em relação ao procedimento, o preparo dos extratos consistiu em triturar

aproximadamente 25 gramas de legume e adicionar ao triturado aproximadamente 50 mL de

solvente. Essa mistura foi então agitada e, após 15 minutos, filtrada (esse procedimento foi

realizado para cada um dos 5 tipos de legume e para cada um dos 4 solventes).

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Finalizada a etapa de extração do corante, a etapa do emprego do extrato obtido como

indicador de pH consistiu em transferir 5 mL do extrato obtido para 3 tubos de ensaio

numerados. No tubo 1, foi adicionado 1 mL da solução aquosa de HCl e, no tubo 2, 1 mL da

solução aquosa de NaOH. O tubo 3 foi utilizado para comparação.

Testagem e Adaptação dos Experimentos

As atividades experimentais propostas por Dias e colaboradores (2003, p.28) foram

planejadas de forma a adaptá-las à realidade do estudante e ao tempo fornecido para sua

aplicação. A professora de Química do CEAD Pólo Potty Lazzarotto cedeu gentilmente uma

aula de 90 minutos para a aplicação da proposta. Uma vez que o colégio não possui

laboratório com vidrarias, reagentes e equipamentos necessários, a experimentação foi

adaptada para que pudesse ser realizada em sala e com materiais e reagentes encontrados na

cozinha.

Levando-se em consideração que os alunos não tinham conhecimento prévio dos

conceitos químicos envolvidos nas atividades, optou-se por utilizar apenas um legume para

não sobrecarregar os alunos com excesso de informação, o que prejudicaria a qualidade da

aula. A beterraba foi o legume escolhido para as atividades, devido ao teste de polaridade;

com a utilização de solvente apolar, nenhum pigmento da beterraba é extraído, sendo

marcante o aprendizado pelo aspecto visual.

Em relação aos solventes para a extração, decidiu-se por não utilizar a acetona porque

a mesma não é encontrada atualmente no comércio, sendo vendido apenas o removedor de

esmalte à base de acetona, que contém outros componentes químicos; ao invés da utilização

de dicloroetano, optou-se pela utilização da vaselina líquida, já que é apolar e incolor como o

dicloroetano e é facilmente encontrada em farmácia. As soluções aquosas de HCl e de NaOH

foram substituídas por vinagre e limão, ambos de caráter ácido, e por produto de limpeza, de

caráter básico.

Além das adaptações supracitadas, durante a testagem da experimentação, optou-se

por não triturar o legume, uma vez que corta-lo em pequenos pedaços já torna viável a

extração de seus pigmentos. Dessa forma, não foi necessário o uso do liquidificador.

A balança também não foi utilizada; duas beterrabas foram cortadas em três pedaços,

perfazendo seis pedaços de legume. Dois pedaços, por sua vez, foram cortados em pedaços

ainda menores e transferidos para um copo de vidro. Sendo assim, foram necessários três

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copos de vidro para cada um dos três solventes (água, álcool comercial e vaselina líquida).

Para a filtração utilizou-se funil de plástico e filtro de papel para café. Os tubos de ensaio, por

sua vez, foram substituídos por copos transparentes.

Elaboração do Material Didático e Instrumento de Avaliação

Foram elaborados o roteiro do procedimento experimental (Figura 1), o material

teórico (Figura 2) e o questionário (Figura 3) como instrumento de avaliação.

Figura 1 - Roteiro do Procedimento Experimental.

Fonte: As autoras.

2372

O material teórico abordou os conteúdos químicos envolvidos com uma linguagem

simples e objetiva conforme Figura 2.

Figura 2 – Material teórico abordando os conceitos químicos envolvidos nos experimentos.

Fonte: As autoras.

O questionário elaborado foi do tipo misto, ou seja, continha questões abertas e

questões fechadas. As questões abertas permitem a utilização de linguagem própria por parte

do estudante, além de estimulá-lo a escrever o que realmente conhece sobre o assunto, sem ser

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influenciado por uma resposta pré-estabelecida, como no caso de questões fechadas. Porém,

nesse tipo de questão, o estudante deverá ter habilidade de escrita e de construção do

raciocínio (CHAER et al., 2011, p.262).

Segundo Gil (1999, apud CHAER et al., 2011, p.262), as questões devem ser claras,

concretas e concisas, levando em consideração o nível de conhecimento do estudante e

possibilitando uma única interpretação. Além disso, as questões não devem sugerir respostas.

O questionário elaborado, conforme Figura 3, continha 2 questões, sendo que a

questão 1 foi subdividida em itens (a, b, c) e abordou o tema de pH, e a questão 2 abordou o

tema de solubilidade.

Figura 3 – Questionário.

Fonte: As autoras.

2374

As duas questões foram precedidas por textos que contextualizaram os conteúdos. O

texto que precedeu a questão 1 abordou a importância do pH como parâmetro físico-químico

de controle de qualidade e de classificação da água pelo Conselho Nacional do Meio

Ambiente (CONAMA). Já o texto que precedeu a questão 2 abordou sobre a solubilidade

como parâmetro físico-químico de grande importância na concepção de fármacos e na

previsão do destino ambiental de contaminantes e poluentes.

Aplicação das Atividades Experimentais

Primeiramente os estudantes foram avaliados em relação aos seus conhecimentos

prévios, não adquiridos no colégio, através do questionário.

Uma vez que a equipe decidiu preparar os extratos em sala para que os alunos

observassem a filtração, etapa marcante que caracteriza a diferença de polaridade entre os

solventes, a beterraba foi previamente descascada, cortada em cubos pequenos e dividida em

3 frascos de vidro. Em sala de aula, em cada um desses frascos, foi adicionado o respectivo

solvente (água de torneira, álcool comercial ou vaselina líquida). O tempo de extração dos

pigmentos foi o tempo necessário para que os alunos resolvessem a avaliação (15 a 20

minutos).

Na sequência, as avaliações foram recolhidas e o processo de extração foi explicado.

Para uma maior interação com a turma, a filtração de cada um dos 3 extratos foi realizada por

um aluno voluntário. Após as filtrações, os alunos observaram que a coloração roxa da

beterraba “tingiu” apenas a água e o álcool, mas a vaselina continuou incolor. Nesse momento

perguntou-se aos estudantes como se explicava o fato de a vaselina continuar incolor.

Após algumas tentativas, um dos estudantes comentou sobre a solubilidade do corante

da beterraba apenas na água e no álcool. A partir de então, o material teórico elaborado pela

equipe foi distribuído aos alunos e explicou-se sobre a polaridade dos solventes.

Em geral, moléculas apolares são solúveis em solventes apolares, enquanto moléculas

de alta polaridade são solúveis em solventes polares (MARTINS et al., 2013, p.1248). Como

descrito anteriormente, a betanina corresponde a 75-95% dos pigmentos da beterraba e é seu

principal cromóforo (DIAS et al., 2003, p.29).

Uma vez que a betanina se solubilizou em água e em etanol, ambos solventes polares,

pode-se concluir que esse pigmento é polar. Segundo Rocha (2001, p.35), quando uma das

moléculas possui um átomo eletronegativo com par de elétrons não compartilhado e a outra

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molécula possui um átomo eletronegativo que carrega um hidrogênio ácido, essas interagem

através de ligações de hidrogênio.

A vaselina, por sua vez, é uma mistura de hidrocarbonetos. O átomo de carbono faz

ligações apolares ao se ligar a outros átomos de carbono, formando a espinha dorsal da

molécula, e também formando ligações com átomos de hidrogênio, presentes em quase todas

as moléculas orgânicas. As ligações carbono-hidrogênio são relativamente apolares, já que o

carbono e hidrogênio apresentam pequena diferença de eletronegatividade (MARTINS et al.,

2013, p.1249).

As moléculas apolares podem interagir através da força de dispersão de London, que

surge quando uma molécula perturba a densidade eletrônica da outra formando dipolos

momentâneos. Essa interação, apesar de ser fraca, possui efeito cumulativo e varia de maneira

proporcional ao número de contatos moleculares presentes na molécula (ROCHA, 2001,

p.35). Dessa forma, a betanina não se solubilizou em vaselina já que esse solvente não é capaz

de formar ligações de hidrogênio com o pigmento.

A partir da obtenção dos extratos, pôde-se dar continuidade à atividade experimental.

Em copo plástico transparente adicionou-se vinagre, produto de limpeza ou limão,

respectivamente. Nesse instante, perguntou-se aos estudantes quais desses produtos eram

ácidos ou básicos. Um deles respondeu que o vinagre e o limão eram azedos e, portanto

ácidos.

Na sequência, explicou-se que o ácido acético (vinagre) e o ácido cítrico (limão),

quando em solução, liberam íons hidrogênio e aumentam o grau de acidez do meio. Em

relação aos produtos de limpeza, a maioria deles contém hidróxido de amônio, base que, em

solução, libera íons hidroxila, aumentando o grau de alcalinidade do meio.

Um aluno voluntário adicionou o extrato aquoso de beterraba em cada um dos copos.

O vinagre e o limão adquiriram coloração rosa, e o produto de limpeza adquiriu coloração

lilás. Os estudantes foram então incentivados a questionar o que havia ocorrido. A betanina,

pigmento extraído da beterraba, funciona como um indicador ácido-base uma vez que

converte-se em isobetanina em meio ácido, e é hidrolisada em ciclodopa-5-o-glicosídio e

ácido betâmico em meio alcalino (DIAS et al., 2003, p.29).

Após a aplicação das atividades experimentais, os alunos foram novamente avaliados

com a utilização do mesmo questionário. A aplicação das atividades pode ser visualizada na

Figura 4.

2376

Figura 4. Aplicação das atividades experimentais.

Fonte: As autoras.

Resultados e Discussão

O conhecimento dos estudantes foi avaliado antes e após a aplicação das atividades

experimentais através de um questionário composto por 2 questões, sendo que a questão 1

(subdividida em itens a, b, c) abordou o tema de pH e, a questão 2 abordou o tema de

solubilidade. As duas questões foram precedidas por textos que contextualizam os conteúdos.

Aproximadamente 20 estudantes se encontravam na sala, porém apenas 17 deles participaram

da avaliação inicial e da avaliação final.

O “TEXTO 1” trata da importância do pH na classificação das águas pelo CONAMA

(Conselho Nacional do Meio Ambiente). A maioria dos estudantes utilizou o texto para

responder a questão 1.a) “O que você entende por pH?” Porém, os mesmos interpretaram o

pH, de acordo com a primeira frase do texto “O pH é uma medida do grau de acidez ou

alcalinidade da água, sendo 7 o pH neutro”, como uma propriedade pertencente apenas à

água. Na avaliação inicial, 47% das respostas eram corretas.

Durante a atividade, explicou-se aos alunos que o texto trata do pH como um dos

parâmetros físico-químicos do controle de qualidade da água, mas que esse parâmetro

também é utilizado no controle de qualidade de medicamentos, cosméticos, produtos de

higiene, saneantes e produtos alimentícios. Além disso, os estudantes visualizaram na

atividade prática de pH, através da mudança de coloração do meio, tanto a acidez do limão e

2377

do vinagre, quanto a basicidade do produto de limpeza. Na avaliação final, 62% das respostas

eram corretas.

Em relação à questão 1.b) “O que são indicadores ácido-base?”, na avaliação inicial,

apenas 24% das respostas eram corretas. Após a atividade prática do emprego do extrato

aquoso de beterraba como indicador ácido-base e da explicação sobre a modificação da

estrutura da betanina em função do pH, as respostas corretas, na avaliação final, totalizaram

71%.

Na avaliação inicial, as respostas corretas para a questão 1, item ‘c’ totalizaram 41%.

A maioria dos alunos errou a seguinte afirmativa: “A concentração de íons H+ na clara de

ovo é maior do que na saliva”. Já na avaliação final, após a explicação sobre ácidos e bases e

sobre a interpretação da escala de pH, desenhada no quadro negro, as respostas corretas

totalizaram 71%.

Os estudantes tiveram maior dificuldade em responder a questão 2, já que não tinham

conhecimento aprofundado ou nenhum conhecimento sobre a influência da polaridade na

solubilidade das moléculas. Na avaliação inicial, apenas 29% das respostas eram corretas.

Para a explicação da solubilidade das substâncias, desenhou-se um esquema que

demonstrava as misturas homogêneas água-etanol e querosene-gasolina e a mistura

heterogênea gasolina-água, além das estruturas moleculares dessas substâncias em questão.

Enquanto que a vaselina, assim como a gasolina e o querosene, constitui uma mistura

de hidrocarbonetos e é um solvente apolar, a água e o etanol são solventes polares pela

presença de um átomo eletronegativo (oxigênio), ligado a um átomo de hidrogênio e pelo fato

de que a presença de apenas 2 átomos de carbono na estrutura do etanol não compromete sua

polaridade, diferentemente de álcoois com cadeia carbônica maior.

Dessa forma, concluiu-se que o pigmento da beterraba é polar porque se solubilizou

em água e etanol e não se solubilizou em vaselina líquida. Após a explicação, as respostas

corretas na avaliação final, totalizaram 65%. Os resultados estão resumidos na Tabela 1.

Tabela 1 – Dados obtidos através da análise dos questionários.

Questões Avaliação inicial

acertos (%)

Avaliação final

acertos (%)

Questão 1.a) 47 62

Questão 1.b) 24 71

Questão 1.c) 41 71

Questão 2 12 65

Fonte: As autoras.

2378

Conclusão

Para uma aula oferecer qualidade de ensino e favorecer o aprendizado significativo é

necessário planejamento através da análise do contexto escolar e da faixa etária e nivelamento

dos estudantes. Além disso, é necessário experiência, pois somente assim, o professor

consegue visualizar os obstáculos de sua prática pedagógica.

Para que a prática pedagógica seja reflexiva, a mesma deve levar o estudante a

questionar o porquê da importância de conhecer determinado conceito químico e como esse

mesmo conceito pode explicar determinado fenômeno.

A atividade experimental realizada favorece a aprendizagem significativa ao utilizar

como ferramenta de ensino as mudanças de coloração, tanto na extração com diferentes

solventes quanto no emprego do extrato como indicador ácido-base. Essa ferramenta visual

foi especialmente importante devido à presença de dois alunos com surdez que também

participaram das atividades.

Além disso, ao adequar os experimentos com reagentes encontrados no comércio, os

mesmos puderam ser realizados em sala de aula, não sendo necessário o laboratório. Dessa

forma, qualquer escola, independente de sua infraestrutura, pode oferecer um ensino que

estimule a curiosidade e o encantamento do estudante pela química, bastando apenas

criatividade.

Os resultados obtidos no presente trabalho foram satisfatórios tanto quantitativamente

quanto qualitativamente, demonstrando boa execução do planejamento, adaptação e aplicação

das atividades experimentais.

REFERÊNCIAS

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para o ensino de química. In: CONVENÇÃO BRASIL LATINO AMERICANA,

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DIAS, Marcelo Vizeu; GUIMARÃES, Pedro Ivo C. G; MERÇON, Fábio. Corantes naturais:

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OLIVEIRA, Jane Raquel Silva de. Contribuições e abordagens das atividades experimentais

no ensino de ciências: reunindo elementos para a prática docente. Acta Scientiae, v.12, n.1,

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