acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia tide

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93 Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004 A  marcha de absorção de nutrientes, fornece informação sobre a exigên- cia nutricional das plantas em seus di- ferentes estádios fenológicos, sinalizan- do as épocas mais propícias à adição dos nutrientes. Entretanto, a quantidade e a  proporcionalidade dos n utrientes ab sor- vidos pelas plantas são funções de ca- racterísticas intrínsecas do vegetal, como, também, dos fatores externos que condicionam o processo. Numa espécie, a capacidade em retirar os nutrientes do solo e as quantidades requeridas variam não só com a cultivar, mas também com o grau de competição existente. Varia- ções nos fatores ambientais como tem-  peratura e umidade do solo podem afe- tar o conteúdo de nutrientes minerais nas folhas consideravelmente. Esses fatores influenciam tanto a disponibilidade dos nutrientes como a absorção destes pe- las raízes e, conseqüentemente, o cres- GRANGEIRO, L.C.; CECÍLIO FILHO, A.B. Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide.  Horticultura Brasileira, Brasília, v. 22 , n. 1 , p. 93-97 , jan-mar 2004. Acúmulo e exportação de macronutrientes pelo híbrido de melancia Tide Leilson Costa Grangeiro; Arthur Bernardes Cecílio Filho UNESP-FCAV, Depto. Produção Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14.884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected] cimento da parte aérea. Por outro lado, o acúmulo e a distribuição dos nutrien- tes minerais na planta dependem de seu estádio de desenvolvimento (Marschner, 1995; Goto et al. 2001). As curvas de absorção de nutrientes determinadas para algumas espécies de cucurbitáceas têm mostrado comporta- mento bem semelhante, onde o acúmulo de nutrientes segue o mesmo padrão da curva de acúmulo de massa seca, ge- ralmente apresentando três fases distin- tas: na primeira fase a absorção é lenta, seguida de intensa absorção até atingir o ponto máximo, a partir do qual ocorre um pequeno declínio (Tyler e Lorenz, 1964; Prata, 1999; Araújo et al., 2001; Lima, 2001).  Na li teratura brasileira, foi encontra- do apenas um artigo científico (Nasci- mento et al. 1991) relata ndo a marcha de absorção de nutrientes pela melan- cia, utilizando-se a cultivar Fairfax. Entretanto, o mesmo apresenta informa- ções parciais, com o período de avalia- ção realizado até o início de frutificação. Os autores citam que o acúmulo de mas- sa pela cultivar Fairfax foi crescente até 66 dias após a emergência, época essa em que iniciou-se a frutificação. Com relação ao acúmulo de nutrien- tes, nas diferentes partes vegetativas da  planta, Nascimento et al. (1991) cons- tataram que o N, P, K e Mg apresenta- ram maior acúmulo na folha, aos 37 dias após a emergência, enquanto que no caule e nas raízes esses nutrientes tive- ram acúmulo crescente até os 66 dias. A extração de nutrientes pela cultura aos 66 dias foi da ordem de 23; 3; 34; 46 e 8 kg ha -1  de N, P, K, Ca e Mg, respectiva- mente. Zhu et al. (1996), verificaram que a taxa de absorção de nutrientes na cult u- ra da melancia acompanha a taxa de pro- dução de massa seca, atingindo o máxi- RESUMO O objetivo do presente trabalho foi determinar o acúmulo e ex-  portação de macron utrientes pela cult ura da melancia, híbrido Tide. O experimento foi conduzido no município de Borborema – SP. As amostragens de plantas foram realizadas aos 15, 30, 45, 60 e 75 dias após transplantio (DAT), para determinação da massa seca e do acúmulo e exportação dos nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S). O acúmulo de massa seca foi lento até os 30 DAT, intensificando-se a partir deste período e atingindo, no final do ciclo, a contribuição média da  parte vegeta tiva de 31% e d os frutos de 69%. Até 30 DA T, o acúmul o de nutrientes também foi pequeno, não ultrapassando 2% do total. Com a frutificação, houve forte incremento na quantidade de nu- trientes acumulado s. O período de maior demanda para N, Ca e Mg foi de 45 a 60 DAT e para P, K e S de 60 a 75 DA T. Do total acumu- lado, a parte vegetativa foi responsável por 29,6% e os frutos com 70,4%. A ordem decrescente dos nutrientes acumulados pela cultura foi: K>N>Ca>Mg>P>S. Para a produtividade alcançada de 40 t ha -1 observou-se a seguinte exportação de nutrientes pelos frutos: 106,4 kg ha -1  de N, 11,1 kg ha -1  de P, 118,0 kg ha -1  de K, 4,3 kg ha -1  de Ca, 6,8 kg ha -1  de Mg e 6,0 kg ha -1 de S. Palavras-chave: Citrullus lanatus ( Thunb.  ), nutrição de plantas, crescimento. ABSTRACT Accumulation and exportation of macronutrients by watermelon Tide hybrid The objective of this research was to determine under field condition the accumulation and exportation of macronutrients by watermelon plant. The experiment was carried out in the Borborema region, State of São Paulo. The sampl es were taken at the 15, 30, 45, 60 and 75 days after transplanting (DAT), for dry mass determination and accumulati on and exportation of N, P , K, Ca, Mg and S. The dry mass accumulation was slow until 30 DAT, intensifying later with the beginning of the frutification. At the end of the cycle, the average contribution of the vegetative part was of about 31% and of fruits 69%. The accumulation of the nutrients followed the curve of dry mass accumulation. The period of larger demand for the nutrients N, Ca and Mg occured from 45 to 60 DAT and for P, K and S from 60 to 75 DAT. The vegetative part was responsible for 29,6% of the total accumulated and the fruits for 70,4%. The nutrients in decreasing order of accumulation were: K>N>Ca>Mg>P>S. To yield of 40 t ha -1  the exported of nutrients  by frui ts were: 10 6.4 kg ha -1  of N, 11.1 kg ha -1  of P, 118.0 kg ha -1  of K, 4.3 kg ha -1  of Ca, 6.8 kg ha -1  of Mg and 6.0 kg ha -1  of S. Keywords: Citrullus lanatus ( Thunb.), plant nutrition, growth. (Recebido para publicação em 12 de fevereiro de 2003 e aceito em 09 de outubro de 2003)

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  • 93Hortic. bras., v. 22, n. 1, jan.-mar. 2004

    A marcha de absoro de nutrientes,fornece informao sobre a exign-cia nutricional das plantas em seus di-ferentes estdios fenolgicos, sinalizan-do as pocas mais propcias adio dosnutrientes.

    Entretanto, a quantidade e aproporcionalidade dos nutrientes absor-vidos pelas plantas so funes de ca-ractersticas intrnsecas do vegetal,como, tambm, dos fatores externos quecondicionam o processo. Numa espcie,a capacidade em retirar os nutrientes dosolo e as quantidades requeridas variamno s com a cultivar, mas tambm como grau de competio existente. Varia-es nos fatores ambientais como tem-peratura e umidade do solo podem afe-tar o contedo de nutrientes minerais nasfolhas consideravelmente. Esses fatoresinfluenciam tanto a disponibilidade dosnutrientes como a absoro destes pe-las razes e, conseqentemente, o cres-

    GRANGEIRO, L.C.; CECLIO FILHO, A.B. Acmulo e exportao de macronutrientes pelo hbrido de melancia Tide. Horticultura Brasileira, Braslia, v.22 , n. 1 , p. 93-97 , jan-mar 2004.

    Acmulo e exportao de macronutrientes pelo hbrido de melancia TideLeilson Costa Grangeiro; Arthur Bernardes Ceclio FilhoUNESP-FCAV, Depto. Produo Vegetal, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14.884-900 Jaboticabal-SP; E-mail:[email protected]

    cimento da parte area. Por outro lado,o acmulo e a distribuio dos nutrien-tes minerais na planta dependem de seuestdio de desenvolvimento (Marschner,1995; Goto et al. 2001).

    As curvas de absoro de nutrientesdeterminadas para algumas espcies decucurbitceas tm mostrado comporta-mento bem semelhante, onde o acmulode nutrientes segue o mesmo padro dacurva de acmulo de massa seca, ge-ralmente apresentando trs fases distin-tas: na primeira fase a absoro lenta,seguida de intensa absoro at atingiro ponto mximo, a partir do qual ocorreum pequeno declnio (Tyler e Lorenz,1964; Prata, 1999; Arajo et al., 2001;Lima, 2001).

    Na literatura brasileira, foi encontra-do apenas um artigo cientfico (Nasci-mento et al. 1991) relatando a marchade absoro de nutrientes pela melan-cia, utilizando-se a cultivar Fairfax.

    Entretanto, o mesmo apresenta informa-es parciais, com o perodo de avalia-o realizado at o incio de frutificao.Os autores citam que o acmulo de mas-sa pela cultivar Fairfax foi crescente at66 dias aps a emergncia, poca essaem que iniciou-se a frutificao.

    Com relao ao acmulo de nutrien-tes, nas diferentes partes vegetativas daplanta, Nascimento et al. (1991) cons-tataram que o N, P, K e Mg apresenta-ram maior acmulo na folha, aos 37 diasaps a emergncia, enquanto que nocaule e nas razes esses nutrientes tive-ram acmulo crescente at os 66 dias. Aextrao de nutrientes pela cultura aos66 dias foi da ordem de 23; 3; 34; 46 e 8kg ha-1 de N, P, K, Ca e Mg, respectiva-mente.

    Zhu et al. (1996), verificaram que ataxa de absoro de nutrientes na cultu-ra da melancia acompanha a taxa de pro-duo de massa seca, atingindo o mxi-

    RESUMOO objetivo do presente trabalho foi determinar o acmulo e ex-

    portao de macronutrientes pela cultura da melancia, hbrido Tide.O experimento foi conduzido no municpio de Borborema SP. Asamostragens de plantas foram realizadas aos 15, 30, 45, 60 e 75 diasaps transplantio (DAT), para determinao da massa seca e doacmulo e exportao dos nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S). O acmulode massa seca foi lento at os 30 DAT, intensificando-se a partirdeste perodo e atingindo, no final do ciclo, a contribuio mdia daparte vegetativa de 31% e dos frutos de 69%. At 30 DAT, o acmulode nutrientes tambm foi pequeno, no ultrapassando 2% do total.Com a frutificao, houve forte incremento na quantidade de nu-trientes acumulados. O perodo de maior demanda para N, Ca e Mgfoi de 45 a 60 DAT e para P, K e S de 60 a 75 DAT. Do total acumu-lado, a parte vegetativa foi responsvel por 29,6% e os frutos com70,4%. A ordem decrescente dos nutrientes acumulados pela culturafoi: K>N>Ca>Mg>P>S. Para a produtividade alcanada de 40 t ha-1observou-se a seguinte exportao de nutrientes pelos frutos: 106,4kg ha-1 de N, 11,1 kg ha-1 de P, 118,0 kg ha-1 de K, 4,3 kg ha-1 de Ca,6,8 kg ha-1 de Mg e 6,0 kg ha-1 de S.

    Palavras-chave: Citrullus lanatus (Thunb.), nutrio de plantas,crescimento.

    ABSTRACTAccumulation and exportation of macronutrients by

    watermelon Tide hybrid

    The objective of this research was to determine under fieldcondition the accumulation and exportation of macronutrients bywatermelon plant. The experiment was carried out in the Borboremaregion, State of So Paulo. The samples were taken at the 15, 30,45, 60 and 75 days after transplanting (DAT), for dry massdetermination and accumulation and exportation of N, P, K, Ca, Mgand S. The dry mass accumulation was slow until 30 DAT,intensifying later with the beginning of the frutification. At the endof the cycle, the average contribution of the vegetative part was ofabout 31% and of fruits 69%. The accumulation of the nutrientsfollowed the curve of dry mass accumulation. The period of largerdemand for the nutrients N, Ca and Mg occured from 45 to 60 DATand for P, K and S from 60 to 75 DAT. The vegetative part wasresponsible for 29,6% of the total accumulated and the fruits for70,4%. The nutrients in decreasing order of accumulation were:K>N>Ca>Mg>P>S. To yield of 40 t ha-1 the exported of nutrientsby fruits were: 106.4 kg ha-1 of N, 11.1 kg ha-1 of P, 118.0 kg ha-1 ofK, 4.3 kg ha-1 of Ca, 6.8 kg ha-1 of Mg and 6.0 kg ha-1 of S.

    Keywords: Citrullus lanatus (Thunb.), plant nutrition, growth.

    (Recebido para publicao em 12 de fevereiro de 2003 e aceito em 09 de outubro de 2003)

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    mo na poca do desenvolvimento dosfrutos, quando, ento, comea a dimi-nuir. Lopez-Cantarero et al. (1992) ve-rificaram diferena entre cultivares demelancia para quantidade e teores denutrientes na folha, sendo observadasdiferenas de aproximadamente 100%nos teores entre as cultivares.

    Diante do exposto, e objetivandoobter informaes sobre as quantidadesde macronutrientes requeridos pelamelancieira, bem como as pocas desuas maiores demandas desenvolveu-seo presente trabalho para determinar oacmulo e a exportao de nutrientespela cultura da melancia, hbrido Tide,um dos mais cultivados na regio deBorborema-SP.

    MATERIAL E MTODOS

    O experimento foi conduzido emrea comercial, localizada no municpiode Borborema SP, no perodo de ou-tubro a dezembro de 2001. O solo clas-sificado como Argissolo Vermelho-Amarelo distrfico textura mdia(Embrapa, 1999). Da rea experimen-tal foram retiradas amostras de solo, cujaanlise qumica revelou os seguintesresultados: pH (CaCl2) = 4,2; M.O.= 11g dm-3; P (resina) = 2,0 mg dm-3; K =1,1 mmolc dm-3; Ca = 7,0 mmolc dm-3;

    Mg = 3,0 mmolc dm-3; SB = 11,1

    mmolcdm-3 T = 39,1 e V = 28%.

    O preparo do solo constou de araoseguida de gradagem, onde foi distribu-do 2,1 t ha-1 de calcrio dolomtico, sen-do sua incorporao feita por gradagem,45 dias antes do transplantio. Aplicou-se, como adubao de plantio, 680 kgha-1 da formulao 04-30-10. A aduba-o de cobertura foi realizada com 330kg ha-1 da formulao 20-00-20, parce-lada aos 10, 21 e 35 dias apstransplantio.

    A partir dos 20 dias apstransplantio, foram aplicados semanal-mente, junto com os defensivos, os se-guintes adubos foliares (por 100 L degua): 200 mL do produto comercialcontendo Mg (6%); 200 mL da formu-lao 8% Ca e 0,5% B e 200 mL da for-mulao comercial composto por: 3%S; Zn 3%; 2% Mn; 0,5% B e 0,1% Mo.A pluviometria ocorrida durante o cicloda cultura foi de 436 mm, no havendocomplementao com irrigao.

    A semeadura foi realizada em ban-dejas de poliestireno expandido para 200mudas em 03/09/2001, utilizando-sesubstrato comercial. O transplantio foirealizado aos 30 dias aps a semeadura,quando as mudas apresentavam 2 folhasdefinitivas, no espaamento 3,0 x 1,7 m.Utilizou-se o hbrido Tide. As coletas

    de plantas foram realizadas aos 15, 30,45, 60 e 75 dias aps o transplantio. Nasduas primeiras coletas foram amostradas16 plantas competitivas e nas demaisavaliaes foram coletadas 8 plantas.Aps cada coleta, as plantas foramfracionadas em caule + folha e frutos,lavadas e colocadas em estufa com cir-culao forada de ar temperatura de65 C. Aps a secagem, o material foimodo, para determinao dos teores dosnutrientes N, P, K, Ca, Mg e S confor-me metodologias descritas por Batagliaet al. (1983).

    Os dados de massa seca e doacmulo de macronutrientes foram sub-metidos a anlise de regresso, para de-terminao das equaes.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    O aparecimento das flores ocorreuentre 25 e 30 dias aps o transplantio eo incio de frutificao entre 35 e 40dias. A produtividade verificada foi de40 t ha-1, bem superior a mdia no Esta-do de So Paulo no ano de 2000 (27t ha-1)(Camargo Filho e Mazzei, 2002), sendoque as condies climticas efitossanitrias durante o ciclo de culti-vo favoreceram o bom rendimento dacultura.

    O crescimento da planta de melan-cia, expresso pelo acmulo de massaseca ao longo do ciclo, foi lento at 30dias aps transplantio (DAT), intensifi-cando-se a partir deste. A partevegetativa, representada pelas folhas ecaule, teve maior participao na massaseca total at cerca de 63 dias, quandocorrespondeu a 52% (Figura 1).

    No perodo compreendido entre 40e 60 DAT, a taxa de incremento de mas-sa seca da parte area foi de 17,2 g plan-ta-1 dia-1, superior aos 5,5 g planta-1 dia-1observados no perodo seguinte (60 a 75DAT) e tambm maior que os 13,8 gplanta-1 dia-1 obtidos no perodo de 30 a40 DAT.

    Aps 63 dias do transplantio, verifi-cou-se tendncia de estabilizao deacmulo de massa seca da parte area eforte elevao da taxa de acmulo demassa seca de frutos, que atingiu cercade 42 g planta-1 dia-1 no perodo final decrescimento dos mesmos. Esta alteraode fora de drenos na planta, acontecida

    Figura 1. Acmulo de massa seca na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) emplanta de melancia hbrido Tide. Borborema SP, 2001.

    L. C. Grangeiro e A. B. Ceclio Filho

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    com o ingresso da mesma no processoreprodutivo, proporciona maiortranslocao de carboidratos e outroscompostos das folhas para os frutos,como decorrncia da predominncia dafase reprodutiva sobre a fase vegetativa(Marschner, 1995). Neste experimento,no final do ciclo, a participao da par-te vegetativa foi de 31% e a dos frutosde 69% da massa seca total acumuladapela melancieira.

    Outros experimentos realizados commeloeiro, mostraram padro de cresci-mento similar ao verificado neste tra-balho com melancia. Lima (2001) estu-dando diversos hbridos de melo, veri-ficou que a parte vegetativa (folha +caule) contribua no final do ciclo com25 a 40% da massa seca total da planta,enquanto os frutos com 60 a 75%.Sanchez et al. (1998), tambm, obtive-ram resultados semelhantes, tendo aparte vegetativa do meloeiro participa-do com 27,5% e os frutos com 72,5%da massa seca total.

    A taxa de absoro dos nutrientespelas plantas de melancia foi baixa nosprimeiros 30 DAT, coincidindo com operodo de menor acmulo de massa seca(Figura 2). Maior incremento na absor-o aconteceu aps a frutificao, sendoque a cultura da melancia acumulou nosltimos 30 dias de ciclo 88, 76, 82, 77,78 e 87% do total acumulado de N, P, K,Ca, Mg e S, respectivamente.

    Embora as espcies apresentem di-ferenas com relao demanda e po-cas de maiores exigncias por nutrien-tes, trabalhos realizados com melo porBelfort (1986), Prata (1999) e Lima(2001), conduzidos em diferentes locais,cultivares e sistemas de produo, mos-traram uma curva padro de acmulo demassa seca e de nutrientes, mais lento nosprimeiros 30 dias do ciclo e com maio-res demandas aps o incio dafrutificao. Ainda que a seqncia deexigncia nutricional no tenha sido amesma entre os trabalhos anteriormentecitados, o clcio foi bastante exigido pe-las plantas estudadas. Resultados simi-lares foram obtidos em pepino (Solis etal., 1982) e abobrinha (Arajo, et al.2001).

    A partir dos 60 DAT, verificou-seuma reduo nos acmulos de N, P e Ke uma estabilizao nos acmulos de Ca,

    Mg e S na parte vegetativa (Figura 2).Devido ao elevado acmulo de massaseca pelos frutos, estabelecendo umacorrespondente demanda por nutrientes,pode-se inferir, a partir das curvas deacmulo (Figura 2) que houve fortetranslocao de N, P e K das folhas paraos frutos. Resultados semelhantes foramverificados por Del Rio et al. (1994),em diversas cultivares de melancia,quando observaram reduo dos teoresde N, P e K nas folhas com o desenvol-vimento dos frutos; de modo semelhan-te Arajo et al. (2001) verificaram re-duo no acmulo de P, K, Ca e Mg naparte vegetativa de abobrinha durante afrutificao.

    O potssio foi o nutriente mais ab-sorvido pelo hbrido de melancia Tide,com acmulo mximo de 155,5 kg ha-1,tendo a maior demanda deste elementoocorrido no perodo de 60 a 75 DAT(Figura 2). Este resultado concorda similar ao de vrios outros trabalhos, osquais versam sobre exigncianutricional em cucurbitceas. Vrios tra-balhos mostram incrementos significa-tivos na produtividade e qualidade dosfrutos de melancia obtidos com aduba-o potssica (Sundstrom e Carter,1983; Deswal e Patil, 1984; Zeng eJiang, 1989; Simonne et al., 1992). Opotssio, embora no faa parte de ne-nhum composto orgnico, desempenha

    Acmulo e exportao de macronutrientes pelo hbrido de melancia Tide

    Figura 2. Acmulo de nitrognio (A), fsforo (B), potssio (C), clcio (D), magnsio (E) eenxofre (F), na parte vegetativa (Y1), frutos (Y2) e total (Y3) em melancia, hbrido Tide.Borborema-SP, 2001.

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    importantes funes na planta como nafotossntesse, ativao enzimtica, snte-se de protenas e transporte de carboidra-tos entre outros e portanto, fundamen-tal ao crescimento e produo da planta(Marschner, 1995; Taiz e Zeiger, 1998).

    O nitrognio foi o segundo nutrien-te mais absorvido, apresentando maiordemanda no perodo de 45 a 60 DAT(Figura 2), poca que coincidiu com ogrande desenvolvimento da parte area;o seu acmulo mximo foi de 138,8 kgha-1. Em melo, tambm, a absoromxima de nitrognio coincidiu com afase de maior acmulo de massa seca(Belfort, 1986).

    O clcio, terceiro nutriente mais ab-sorvido pela planta, mas neste caso,atingindo o acmulo mximo de 25,3 kgha-1 no final do ciclo. A maior demandaocorreu no perodo de 45 a 60 DAT (Fi-gura 2). Diferentemente dos nutrientescitados anteriormente, entretanto, a partevegetativa acumulou maior quantidadede clcio, sendo responsvel por 83%,enquanto os frutos por apenas 17% dototal acumulado. Este padro de distri-buio do Ca em favor das folhas ,portanto, resultado de ser transportadoquase que exclusivamente pelo xilemae conduzido principalmente pela corren-te transpiratria. De acordo com HO etal. (1987) e HO (1989), menos de 15%da gua para enchimento do fruto pro-veniente do xilema e, deste forma, oaporte de Ca para o fruto muito pe-queno. Outro fator que pode agravaressa situao a competio entre K eCa que se faz tambm, dentro da planta(Malavolta et al. 1997). O maior fluxode potssio para o fruto de melanciaconcorre para diminuir a presena declcio. Resultado semelhante foi verifi-cado em outras hortalias como tomate(Gargantini e Blanco, 1963), morango (Souza, 1976) e melo (Sanchez et al.,1998). Segundo Trani et al. (1993), oclcio um dos mais importante nutrien-tes para as cucurbitceas, estando omesmo associado com a formao deflores perfeitas, a qualidade do fruto e aprodutividade. Outro aspecto tambmbastante estudado a relao do clciocom a incidncia de podrido apical (oufundo preto), comum nessa famlia,principalmente em melancia (Cirulli eCiccarese, 1981).

    Os macronutrientes absorvidos emmenores quantidades pelas plantas demelancia foram Mg, P e S, com acmulosde 16,6; 13,5 e 9,1 kg ha-1, respectiva-mente. As maiores demandas para Mgocorreram no perodo de 45 a 60 DAT epara P e S nos 60 a 75 DAT (Figura 2).

    O magnsio, semelhante ao ocorri-do com o clcio, apresentou maioracmulo nas folhas; muito provavel-mente, por fazer parte da molcula declorofila. De acordo com Marschner(1995) dependendo do status de Mgna planta, de 6 a 25% do magnsio totalpode estar ligado molcula de clorofi-la, enquanto, outros 5 a 10% ligados pectatos na parede celular ou deposita-do como sal solvel no vacolo.

    No momento da colheita, 75 dias apso transplantio, os frutos correspondiam a69% da massa seca da planta. Do total dosnutrientes acumulados pela melancieira,os frutos participaram com 77% do N,82% do P, 76% do K, 17% do Ca, 41% doMg e 65% do S. Os nutrientes N, P, K e Sportanto, acumulam-se preferencialmen-te nos frutos, enquanto Ca e Mg na partevegetativa. As quantidades totais de N, P,K, Ca, Mg e S exportadas pelos frutos fo-ram 106,4; 11,1; 118,0; 4,3; 6,8 e 6,0 kgha-1, respectivamente.

    As quantidades de macronutrientesexportadas pelos frutos, portanto, repre-sentam importante componente de per-das de nutrientes do solo, que deveroser restitudos, enquanto os nutrientescontidos na parte area podem ser incor-porados ao solo dentro de um programade reaproveitamento de restos culturais.

    AGRADECIMENTOS

    FAPESP pelo auxlio financeiroconcedido, processo n 2000/01797-0,para a realizao deste trabalho e aSyngenta Seeds Ltda. na pessoa do Eng.Agro. Aparecido Alecio Schiavon Jnior.

    LITERATURA CITADA

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