actas do i congresso iberoamericano · 2019. 1. 17. · um olhar social para o paciente actas do i...

166
1 Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia Portugal 09 Março de 2015

Upload: others

Post on 24-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia

1

Um olhar social para o paciente

Actas do I Congresso Iberoamericano

de Doenccedilas Raras

Organizaccedilatildeo

Rogeacuterio Lima Barbosa

Siacutelvia Portugal

Nordm 09

Marccedilo de 2015

Propriedade e EdiccedilatildeoProperty and Edition

Centro de Estudos SociaisCentre for Social Studies

Laboratoacuterio AssociadoAssociate Laboratory

Universidade de CoimbraUniversity of Coimbra

wwwcesucpt

Coleacutegio de S Jeroacutenimo Apartado 3087

3000-995 Coimbra - Portugal

E-mail cescontextocesucpt

Tel +351 239 855573 Fax +351 239 855589

Comissatildeo EditorialEditorial Board

Coordenaccedilatildeo GeralGeneral Coordination Siacutelvia Portugal

Coordenaccedilatildeo DebatesDebates Coordination Ana Raquel Matos

ISSN 2182-908X

copy Centro de Estudos Sociais Universidade de Coimbra 2015

2

Agradecimentos

Esta publicaccedilatildeo documenta o I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras (CIADR) Os

agradecimentos destinam-se aquelesas que o tornaram possiacutevel O I CIADR foi o primeiro

evento que conseguiu reunir no Brasil num debate transcontinental e interdisciplinar osas

representantes das associaccedilotildees civis do Ministeacuterio da Sauacutede do poder legislativo

investigadoresas acadeacutemicosas pacientes e cuidadoresas Realizado a partir de uma ideia

que nasceu a par do iniacutecio da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria ndash AMAVI ndash em 2010 devemos o nosso

agradecimento aosagraves pesquisadoresas e profissionais que natildeo medem esforccedilos para realizarem

um bom atendimento ao paciente e em especial a pessoas como a Lauda Santos que foi

incansaacutevel na busca de alternativas para conseguirmos manter o nosso orccedilamento a Sandra

Mota e o querido Joseacute Leda que levam o sorriso e o bom astral por onde passam ao Professor

Natan Monsores que abriu as portas do Departamento de Sauacutede Coletiva da Universidade de

Brasiacutelia para nos oferecer uma sala de reuniatildeo ao Anderson Bertoluzzi ao Mateus Silva e agrave

Mariana Silva que na confianccedila de conseguirem realizar o impossiacutevel organizaram um

batalhatildeo de pessoas para receberem osas participantes do Congresso da melhor maneira

possiacutevel agrave Roberta Milhomem que com toda a paciecircncia conseguiu criar uma identidade

visual que natildeo somente foi perfeita para o Congresso como tambeacutem se transformou numa

figura que representa uniatildeo e trabalho em rede passando a ser utilizada pelo Observatoacuterio de

Doenccedilas Raras da UnB Rede Raras Institucionalmente agradecemos ao Ministeacuterio da Sauacutede

pela confianccedila e interesse na realizaccedilatildeo de um evento com o foco na participaccedilatildeo social agrave

Associaccedilatildeo de Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa e suas associadas pelo apoio com os

recursos necessaacuterios para dar vida a uma ideia ao Centro Universitaacuterio Planalto pelo

acolhimento e disponibilidade de infraestruturas para realizarmos o Congresso e a todas as

Associaccedilotildees que estiveram presentes no evento Tambeacutem agradecemos aosagraves palestrantes que

nos apoiaram fazendo com que o grande volume de trabalhos natildeo fosse impeditivo da

qualidade do Congresso Por fim um especial agradecimento ao amigo Miguel Fontes que com

toda a sua originalidade e paciecircncia conduziu os trabalhos de maneira serena assegurando a

participaccedilatildeo de todosas

3

Comissatildeo Organizadora

Anderson Bertoluzzi

Lauda Santos

Mariana Silva

Mateus Silva

Natan Monsores

Rogeacuterio Lima Barbosa (Coord Geral)

Sandra Motta

Siacutelvia Portugal

Moderadorases

Cristina Cagliari

Martha Carvalho

Natan Monsores

Sandra Motta

Palestrantes

Adriana Ueda

Ana Maria Martins

Ieda Bussmann

Joseacute Eduardo Fogolin

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

Marcelo Neves

Marcos Burle Aguiar

Mara Gabrilli

Maacutercia Ribeiro

Maria Helena Dourado

Maria Joseacute Delgado

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Maacuterio Saporta

Muna Odeh

Natan Monsores

Segolene Aymeacute

Siacutelvia Portugal

Tacircnia Almeida

Viacuterginia Llera

Yan Lee Cam

4

Iacutendice

Rogeacuterio Silva Barbosa e Siacutelvia Portugal

Introduccedilatildeo 7

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

Paulo Henrique Martins

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o cuidado como mediaccedilatildeo 10

Rogeacuterio Lima Barbosa

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de Pacientes Grupos

Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se estaacute falando 20

Siacutelvia Portugal e Joana Alves

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais 34

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

Ana Maria Martins

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a familiares e pacientes com

doenccedilas raras 42

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas raras 45

5

Maacutercia Gonccedilalves Rodrigues

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede 50

Maria Helena de Magalhatildees Dourado

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila Rara 55

Maria Joseacute Delgado Fagundes e Marcela Simotildees

Para um pacto social no capo das Doenccedilas Raras Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis 58

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Atendimento a Doenccedilas Raras no Distrito Federal 67

Maacuterio Andreacute C Saporta

Pesquisa em Doenccedilas Raras Desafios e Perspectivas 72

Tacircnia Maria Francisca Almeida

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras 75

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR

Rogeacuterio Lima Barbosa Sadi Del Roso Maria Joseacute Delgado Leonardo Batista

Marisa Carvalho Joseacute Eduardo Fogolin e Siacutelvia Portugal

Mesa de abertura 81

Joseacute Eduardo Fogolin Maria Joseacute Delgado Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues e

Natan Monsores

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras 89

Yan Lee Kam Virgiacutenia Llera e Segolene Aymeacute

2ordf Mesa O que acontece no mundo 105

6

Marcelo Neves Muna Odeh e Tacircnia Almeida

3ordm Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as tecnologias sociais 112

Maacutercia Ribeiro Mara Gabrilli Ieda Bussman e Maacuterio Saporta

4ordm Mesa Pesquisas no SUS 119

Marcos Burle Aguiar e Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

5ordm Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras 131

Ana Maria Martins Adriana Ueda Siacutelvia Portugal e Maria Helena Dourado

6ordm Mesa A rede de apoio ao paciente 137

Perguntas e respostas

Pergunta para a representante da Interfarma 148

Perguntas para asos representantes de pacientes 149

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede 150

7

Introduccedilatildeo

O I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras ndash I CIADR ndash aconteceu no Brasil no dia 25

de setembro de 2013 em Brasiacutelia O Congresso foi realizado no acircmbito das actividades da

AMAVI ndash Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria Brasil com o apoio do Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra Portugal Sob o tema Um Olhar Social para o Paciente contou com

a participaccedilatildeo de representantes de grandes associaccedilotildees da Europa como a EURORDIS e

EUCERD cientistas dirigentes do poder executivo legislativo representantes das associaccedilotildees

civis e da induacutestria farmacecircutica familiares e pacientes com doenccedilas raras O puacuteblico presente

ultrapassou as 700 pessoas Assim o I CIADR constituiu um marco no campo das Doenccedilas

Raras pelo nuacutemero de pessoas presentes pela sua diversidade mas tambeacutem pela originalidade

no modelo organizativo Registos e fontes diversas mostram que no Brasil os eventos

promovidos neste domiacutenio tinham tido ateacute ao momento tendecircncia para sofrer uma forte

interferecircncia de associaccedilotildees estrangeiras da induacutestria farmacecircutica ou do poder legislativo O

I CIADR foi o primeiro evento intercontinental no Brasil organizado por uma Associaccedilatildeo

brasileira e apartidaacuteria

O I CIADR pretendeu marcar a diferenccedila de dois modos no tipo de participantes e na

abordagem da temaacutetica No primeiro ao conseguir reunir agentes do governo mercado

academia e sociedade civil e sobretudo ao conseguir o apoio de dois atores que possuem

interesses antagoacutenicos no campo das Doenccedilas Raras ndash a Induacutestria Farmacecircutica e o Estado

atraveacutes da participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Na abordagem do tema ao tentar ultrapassar o

tradicional centramento no tratamento cliacutenico e sobretudo medicamentoso O projeto do I

CIADR centra-se na necessidade de criar modelos de cuidado no Sistema de Sauacutede nos quais

o medicamento seja apenas uma via entre outras necessaacuterias para a garantia da qualidade de

vida A proposta eacute que antes do remeacutedio seja a pessoa o centro de todas as atenccedilotildees e

discussotildees sobre as doenccedilas raras

Com este propoacutesito o programa do I CIADR baseou-se em duas linhas de accedilatildeo que marcam

a sua diferenccedila relativamente a outros eventos Em primeiro lugar a procura de um olhar social

e o afastamento de uma perspetiva simbioacutetica entre Doenccedilas Daras e medicamentos oacuterfatildeos que

tem alimentado as atividades de advocacy neste domiacutenio e feito disparar os lucros com a venda

de medicamentos sabendo-se hoje que o aumento anual das receitas com os medicamentos

oacuterfatildeos seraacute ateacute 2020 igual ou maior do que o das provenientes dos medicamentos ldquonatildeo oacuterfatildeosrdquo

Em segundo lugar decorrente da primeira opccedilatildeo enfatizar a necessidade de construir uma

abordagem multidisciplinar do cuidado das Doenccedilas Raras Assim 75 dos palestrantes

posicionavam-se fora da aacuterea meacutedica abrangendo aacutereas diversas como o direito a sociologia

a sauacutede coletiva a biologia o poder legislativo o poder executivo e os movimentos sociais

Com base nesta estrutura o Congresso pretendeu sinalizar que a temaacutetica das Doenccedilas Raras eacute

complexa e natildeo deve manter-se confinada ao diaacutelogo pontual entre alguns atores devendo pelo

contraacuterio ser alvo de debate puacuteblico orientado para o seu enfrentamento numa perspetiva

ampla direcionada para o bem-estar doa paciente

Embora assente nas linhas estruturais traccediladas acima e tendo sido organizado por uma

Associaccedilatildeo o I CIADR procurou reconhecer o papel central que as associaccedilotildees civis

desempenham no atendimento ao paciente com Doenccedilas Daras Desta maneira aleacutem de todos

os debates serem moderados por pessoas ligadas a associaccedilotildees em cada uma das mesas houve

sempre um dirigente associativo A experiecircncia revelou-se rica tanto na troca de informaccedilotildees

como na demonstraccedilatildeo do papel ativo que as associaccedilotildees desempenham

Esta publicaccedilatildeo pretende documentar as propostas acima enunciadas e dar eco agraves vozes

ouvidas no Congresso Todas as pessoas que realizaram uma comunicaccedilatildeo foram convidadas a

escrever um artigo para publicaccedilatildeo neste volume Lidaacutemos tanto com a familiaridade

8

daquelesas para quem a escrita e a publicaccedilatildeo faz parte do trabalho diaacuterio como com a

ansiedade daquelesas que estranharam a proposta O convite foi uma maneira de agradecer o

esforccedilo que as pessoam realizam no seu dia-a-dia para natildeo somente encontrarem forccedilas para

cuidar dos seus ou de si proacuteprios como tambeacutem para ajudar o proacuteximo e defender uma causa

socialmente invisiacutevel Alguns natildeo conseguiram responder ao desafio Natildeo quisemos no

entanto que as suas vozes fossem excluiacutedas Ouvir foi o verbo mais adequado para ilustrar o

que se passou no dia 25 de setembro de 2013 nos trabalhos do I CIADR e tentamos que esta

publicaccedilatildeo traduza esse ambiente vivido Para tanto as comunicaccedilotildees aqui apresentadas

preservam o tom coloquial que permeou todo o congresso

Assim este nuacutemero da Cescontexto organiza-se em quatro partes distintas Na primeira ndash

Um olhar social sobre as doenccedilas raras contributos para a construccedilatildeo de uma agenda ndash

constam trecircs artigos da autoria dos organizadores do Congresso (de Rogeacuterio Lima Barbosa e

de Siacutelvia Portugal em co-autoria com Joana Alves) e de Paulo Henrique Martins Os trecircs textos

pretendem responder aos reptos principais do I CIADR desenvolvendo abordagens que

(re)significam os conceitos de sauacutede doenccedila cuidado e associativismo

Na segunda parte ndash Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras textos dosas

palestrantes do I CIADR ndash encontram-se todos os textos que recebemos das pessoas que

realizaram comunicaccedilotildees no Congresso O conjunto estaacute longe de seguir as caracteriacutesticas

usuais de uma publicaccedilatildeo acadeacutemica e revela a diversidade dosas palestrantes e da sua ligaccedilatildeo

com o campo das doenccedilas raras Destes textos emerge um conjunto de saberes de praacuteticas e de

representaccedilotildees que mostra a complexidade do campo e dos atores que o experienciam Ao

lermos os textos vemos como muitas vezes os papeacuteis se sobrepotildeem doente meacutedicoa familiar

investigadora dirigente membro de associaccedilatildeo especialista burocrata poliacuteticoa jurista As

pessoas que se movem no campo das Doenccedilas Raras assumem variados papeacuteis para o cuidar e

mobilizam-se para uma luta aacuterdua que natildeo cabe nas fronteiras tradicionais das definiccedilotildees

meacutedicas e poliacuteticas

A terceira parte desta publicaccedilatildeo daacute conta daquele que eacute o seu propoacutesito fundamental

documentar o debate que ocorreu no I CIADR Assim em Um Olhar Social para o Paciente

de Doenccedilas Raras transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR transcrevem-se na iacutentegra as

intervenccedilotildees realizadas durante o Congresso As comunicaccedilotildees foram organizadas em seis

mesas temaacuteticas 1ordf) A construccedilatildeo conjunta no campo das doenccedilas raras 2ordf) O que acontece no

mundo 3ordf) A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e tecnologias sociais 4ordf)

Pesquisas no SUS 5ordf) A realidade brasileira para as doenccedilas raras 6ordf) A rede de apoio ao

paciente As comunicaccedilotildees apresentadas datildeo a conhecer reflexotildees experiecircncias exemplos de

boas praacuteticas instituiccedilotildees associaccedilotildees projectos inovaccedilotildees cliacutenicas e sociais

Finalmente a uacuteltima parte ndash Perguntas e respostas ndash transcreve o debate e tambeacutem

perguntas do puacuteblico que foram depois respondidas pelosas participantes por escrito Dado o

elevado nuacutemero de questotildees dirigidas a algumas das pessoas nomeadamente ao representante

do Ministeacuterio da Sauacutede estas foram recolhidas e posteriormente alvo de resposta pelos

envolvidosas A sua transcriccedilatildeo pretende tambeacutem ser uma forma de divulgar e esclarecer as

muitas duacutevidas e anguacutestias que acometem pacientes familiares e profissionais

Rogeacuterio Lima Barbosa

Siacutelvia Portugal

9

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

10

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o

cuidado como mediaccedilatildeo

Paulo Henrique Martins1 Universidade Federal de Pernambuco ndash UFPE

paulohenriquemargmailcom

Diz um ditado popular que as mais belas palavras se tornam inoacutecuas quando deixam de se referir

a uma experiecircncia concreta servindo apenas como moldura para ilustraccedilatildeo de velhos modos de

agir e de pensar Neste texto queremos propor desdobrando esta maacutexima que a inovaccedilatildeo dos

processos de gestatildeo puacuteblica na sauacutede na perspectiva participativa e de integralidade

envolvendo simultaneamente profissionais da sauacutede e usuaacuterios natildeo pode ser garantida apenas

com a recriaccedilatildeo de organogramas e com a adoccedilatildeo de um vocabulaacuterio com apelo participativo

Ao contraacuterio como buscaremos demonstrar a inovaccedilatildeo para ser efetiva tem que considerar

necessariamente o usuaacuterio natildeo como mero objeto da intervenccedilatildeo estatal mas como ator

corresponsaacutevel na accedilatildeo em sauacutede Ou seja sem a adoccedilatildeo de um entendimento mais amplo da

sauacutede na praacutetica capaz de superar o vieacutes assistencialista tradicional ou o vieacutes mercantilista as

reformas em sauacutede perdem sua forccedila renovadora

As anaacutelises empiacutericas que tecircm sido realizadas pelos grupos de pesquisadores da Rede

Multicecircntrica voltadas para a apreciaccedilatildeo do papel do usuaacuterio na avaliaccedilatildeo em sauacutede2 revelam

que a mudanccedila paradigmaacutetica na sauacutede implicando a superaccedilatildeo da abordagem assistencialista

e tecnicista por outra voltada para o cuidado e o acolhimento ainda eacute incerta exigindo novos

entendimentos teoacutericos De fato o futuro da descentralizaccedilatildeo na perspectiva de um cuidado

integral eacute tema que precisa ser mais bem discutido pois a desconexatildeo entre a teoria e a praacutetica

gera incertezas que podem comprometer a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede

Entre as hipoacuteteses que explicam essas incertezas nos avanccedilos do movimento sanitarista na

sauacutede gostariacuteamos de lembrar duas entre vaacuterias outras possiacuteveis de serem relacionadas a saber

a ausecircncia de um programa teoacuterico-praacutetico forte que evidencie o cuidado como metaacutefora e como

mediaccedilatildeo na sauacutede e a desconexatildeo entre as atividades de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo

De fato a perspectiva de avanccedilo do cuidado natildeo como retoacuterica mas como metaacutefora

constitutiva de novas linguagens na sauacutede depende da adoccedilatildeo de um programa teoacuterico-praacutetico

forte que permita entender a praacutetica do cuidado como uma simboacutelica relacional que apenas se

configura quando se estabelece a sinergia discursiva entre o gestor o profissional da sauacutede e o

usuaacuterio Para noacutes este programa teoacuterico-praacutetico forte eacute oferecido pelas teorias do dom e do

reconhecimento numa formulaccedilatildeo chamada dom do reconhecimento na sauacutede a qual se apoia

em duas exigecircncias a do dom como alianccedila entre anocircnimos gerando a esfera puacuteblica e a do

reconhecimento como constructo moral que redefine a perspectiva da sauacutede pela inclusatildeo do

diferente e pela promoccedilatildeo da dignidade independentemente das hierarquias de valorizaccedilatildeo

social

No entanto a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas inovadoras efetivas depende do modo como as

atividades de planejamento gestatildeo e avaliaccedilatildeo das accedilotildees satildeo capazes de se apoiar em accedilotildees

integradas de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo Isto significa que os avanccedilos dos programas

1 Paulo Henrique Martins eacute Professor Titular de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi Presidente da

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Sociologia (ALAS) (2011-2013) eacute Vice-Presidente da Associaccedilatildeo Movimento Anti-

Utilitarista nas Ciecircncias Sociais (MAUSS) e Coordenador do NUCEM (Nuacutecleo de Cidadania e Processos de Mudanccedila) (UFPE) 2 Ver a respeito o livro organizado por Roseni Pinheiro e Paulo Henrique Martins Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do

usuaacuterio abordagem multicecircntrica (Pinheiro e Martins 2009)

11

puacuteblicos nas perspectivas participativa e reflexiva deveriam implicar necessariamente um

diaacutelogo permanente entre a Academia o Serviccedilo Puacuteblico e a Sociedade Civil em torno de

atividades de pesquisa de formaccedilatildeo e de incubaccedilatildeo de experiecircncias sistematizadas No nosso

entender esta segunda hipoacutetese que eacute crucial para o avanccedilo da avaliaccedilatildeo em sauacutede depende

prioritariamente da definiccedilatildeo do programa teoacuterico-praacutetico forte sobre o cuidado como mediaccedilatildeo

da sauacutede pelo dom do reconhecimento como buscaremos desenvolver a seguir

O cuidado como retoacuterica e o cuidado como metaacutefora

Satildeo muitos os sinais que sugerem que a descentralizaccedilatildeo em sauacutede promovida pelo SUS nem

sempre tem significado uma ruptura programaacutetica com a antiga loacutegica hieraacuterquica e funcional

que marca as decisotildees estatais em geral e aquelas no campo da sauacutede em particular Ao

contraacuterio observando-se o funcionamento do sistema de sauacutede percebe-se sem muitas

dificuldades que a inovaccedilatildeo conceitual eacute com frequecircncia esvaziada por uma hierarquia teacutecnica

e vertical de poder [gestor ndash meacutedico(a) ndash enfermeiro(a) ndash agente de sauacutede ndash usuaacuterio(a)] que

esconde mesmo involuntariamente um saber colonizador que inspirou o modelo

hospitalocecircntrico na sauacutede Por outro lado noccedilotildees como a de cuidado satildeo muito importantes

por gerarem um efeito simpaacutetico imediato sobre a opiniatildeo puacuteblica e por constituir em princiacutepio

um dispositivo anticolonial isto eacute que inspira reformas importantes das compreensotildees dos

processos interativos na sauacutede a partir da valorizaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas ateacute entatildeo

marginalizadas e desperdiccediladas

No entanto noccedilotildees como esta e outras usadas no discurso da Atenccedilatildeo Primaacuteria ndash como a

de acolhimento por exemplo ndash podem se tornar meras peccedilas de retoacuterica se natildeo forem

acompanhadas de uma mudanccedila efetiva de compreensatildeo do cuidado como metaacutefora como

mediaccedilatildeo de processos simboacutelicos afetivos pedagoacutegicos poliacuteticos e biofiacutesicos na organizaccedilatildeo

da Sauacutede Coletiva Este comentaacuterio nos leva a outro plano o de saber se as reformas

doutrinaacuterias na sauacutede estatildeo sendo acompanhadas de mudanccedilas efetivas de atitudes na gestatildeo

dos programas nas praacuteticas dos profissionais da sauacutede e na participaccedilatildeo dos usuaacuterios As

mudanccedilas na gestatildeo na perspectiva do cuidado estatildeo incluindo o usuaacuterio como ator qualificado

da construccedilatildeo do cuidado Esta eacute uma pergunta crucial por remeter diretamente a um fato

concreto a saber que no modelo tradicional de gestatildeo na sauacutede o usuaacuterio natildeo eacute interlocutor

legiacutetimo na organizaccedilatildeo do atendimento meacutedico mas apenas um objeto de intervenccedilatildeo

De modo geral a praacutetica do cuidado continua largamente dependente da loacutegica hieraacuterquica

herdada da Cliacutenica Meacutedica moderna que divide tarefas a partir de funccedilotildees estritamente teacutecnicas

que refletem diversos niacuteveis de prestiacutegio social e profissional O termo cuidado perde sua forccedila

metafoacuterica e seu potencial de inovaccedilatildeo institucional e poliacutetica quando permanece prisioneiro da

loacutegica funcionalista produtivista e fragmentaacuteria que ainda rege em certos niacuteveis a organizaccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede no Brasil Esvaziado de seu potencial inovador o cuidado natildeo

oferece contribuiccedilatildeo nem para a formaccedilatildeo de uma esfera puacuteblica participativa que reconheccedila a

dignidade dos atores envolvidos nem para gerar justiccedila igualitaacuteria Nessa leitura conservadora

o termo serve para reforccedilar mecanismos hieraacuterquicos e corporativistas que negam o valor do

usuaacuterio como sujeito ativo e reflexivo da praacutetica de sauacutede

Na praacutetica constata-se que o termo cuidado se oferece a diversas interpretaccedilotildees que natildeo

apontam necessariamente para o sentido do termo care sugerido no debate contemporacircneo3

Analisando-se o desenvolvimento programaacutetico do cuidado natildeo eacute faacutecil fazer esta analogia entre

cuidado e care pois a forccedila do poder hieraacuterquico e funcional tradicional termina

3 Para autoras como Tronto (1993) uma das pioneiras nesta discussatildeo este termo deve apontar necessariamente para uma

atividade geneacuterica que compreende tudo que fazemos para reparar nosso mundo com o objetivo de uma vida com mais

possibilidades de auto-realizaccedilatildeo

12

comprometendo os esforccedilos de reorganizaccedilatildeo das praacuteticas locais em sauacutede Em outras palavras

queremos propor que os avanccedilos na Sauacutede Coletiva e na Atenccedilatildeo Primaacuteria ficam relativamente

comprometidos caso as inovaccedilotildees conceituais que acompanham os esforccedilos de passagem de

um paradigma tradicional de caraacuteter meacutedico-assistencialista para outro contemporacircneo de

promoccedilatildeo e de participaccedilatildeo natildeo se realizarem efetivamente como praacutexis produzida por uma

reflexatildeo envolvendo diferentes atores ndash especialistas militantes ativistas mediadores de rede

e usuaacuterios ndash em torno da produccedilatildeo do bem comum Para sair deste dilema e promover mudanccedilas

nas praacuteticas dos profissionais na perspectiva do cuidado como metaacutefora e como mediaccedilatildeo eacute

importante considerar a possibilidade de requalificaccedilatildeo das teacutecnicas e das rotinas de modo a

permitir que o usuaacuterio ganhe visibilidade como ator solidaacuterio e corresponsaacutevel pelo cuidado

Entre os atores do movimento sanitarista haacute a expectativa de que a palavra cuidado apareccedila

como uma metaacutefora estrateacutegica para o delineamento de um novo modo de fazer a sauacutede

confirmando o ideal do SUS Este modo deveria expressar tanto a ampliaccedilatildeo da ideia de

atendimento meacutedico pela incorporaccedilatildeo de fatores como meio ambiente habitaccedilatildeo entre outros

como pela maior aproximaccedilatildeo entre especialista e o usuaacuterio Com a emergecircncia do cuidado

como dispositivo de mediaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterio na sauacutede natildeo se limitaria

a um mero exerciacutecio prescritivo mas envolveria a participaccedilatildeo solidaacuteria e a responsabilizaccedilatildeo

do usuaacuterio no funcionamento do sistema de sauacutede local Estaacute presente no discurso do cuidado

na sauacutede uma expectativa moral relacionada com a promoccedilatildeo do bem viver refletindo o desejo

da ampliaccedilatildeo conceitual e praacutetica da tradicional relaccedilatildeo ldquomeacutedico x pacienterdquo

Para que a palavra cuidado se revista de sua forccedila metafoacuterica ndash que valoriza os aspectos

simboacutelicos e intersubjetivos ndash e de seu potencial inovador como mediaccedilatildeo ndash que exalta a

integralidade e democratizaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica ndash precisamos todavia de deslocar o olhar sobre

as interaccedilotildees do cotidiano na sauacutede Eacute importante repensar o termo numa perspectiva que

valorize mais as pessoas que os bens que se centre prioritariamente nos valores da confianccedila e

da solidariedade que emanam de uma experiecircncia autorreflexiva e contextualizada como aquela

oferecida pelo dom4 Em particular vamos buscar demonstrar que a possibilidade do cuidado

como praacutexis mediadora e inovadora da accedilatildeo em sauacutede exige que a mesma se apresente como

um sistema particular de dom fundado na corresponsabilidade dos atores envolvidos na criaccedilatildeo

e reproduccedilatildeo de dispositivos de trocas e de reconhecimentos que respeitam a diferenccedila e que

avanccedilam pelas igualdades de direitos de acesso aos direitos da cidadania O dom do

reconhecimento como se discutiraacute a seguir significa a capacidade de perceber o outro como

extensatildeo diferente e igualmente valorizada de si mesmo o que implica accedilotildees sucessivas de

inclusatildeo dignificaccedilatildeo e liberaccedilatildeo desse mesmo outro

Para avanccedilarmos no entendimento do cuidado como mediaccedilatildeo de daacutedivas temos que

aprofundar a discussatildeo das bases da troca solidaacuteria e de suas possibilidades de uso em sistemas

puacuteblicos locais formados pelas interaccedilotildees entre Sociedade Civil e Estado Para essa

demonstraccedilatildeo temos contudo que superar dois problemas um deles eacute o da presenccedila nos

estudos sobre a Sauacutede Coletiva do dualismo metodoloacutegico vivido classicamente pela

sociologia aquele da agecircncia x estrutura que leva necessariamente a se entender a praacutetica

social em geral e aquela do atendimento em sauacutede em particular de modo enviesado e

simplificado Por este vieacutes a praacutetica do atendimento em sauacutede ou eacute vista como resultado dos

esforccedilos e estrateacutegias dos atores em interaccedilatildeo ou eacute vista como produto das regras crenccedilas e

obrigaccedilotildees juriacutedicas e institucionais Para resgatar o cuidado como metaacutefora de mediaccedilatildeo eacute

importante pois superarmos esta limitaccedilatildeo conceitual e entendermos que o cuidado somente

aparece como mediaccedilatildeo da sauacutede quando se assume como dom de reconhecimento como

4 Dom ou daacutediva eacute um sistema de accedilatildeo fundado em prestaccedilotildees ao mesmo tempo livres e obrigatoacuterias que se desenvolvem em

trecircs movimentos o da doaccedilatildeo (de um bem ou serviccedilo material ou simboacutelico) o da recepccedilatildeo e o da retribuiccedilatildeo Marcel Mauss

um dos fundadores da sociologia francesa foi quem primeiramente sistematizou esta teoria (Mauss 2003)

13

veremos a seguir Para isso vamos discutir a importacircncia do dom como programa forte que

ultrapassa os dilemas dualistas entre agecircncia e estrutura e a seguir vamos analisar o dom do

reconhecimento como modelo para o cuidado como praacutexis inovadora

Dom um programa teoacuterico-praacutetico forte para contextualizar a accedilatildeo social

em sauacutede

A daacutediva eacute um sistema teoacuterico e praacutetico original na medida em que a possibilidade de teorizaccedilatildeo

se funda na observaccedilatildeo concreta e imediata das modalidades de relacionamentos e dos fatores

materiais e simboacutelicos objetivos e subjetivos que interferem nos mecanismos de trocas entre

atores individuais e grupais (Cailleacute 2002 Godbout 2007 Martins 2008) A daacutediva renova as

teorias socioloacutegicas ao valorizar a experiecircncia da troca direta entre os indiviacuteduos e grupos

ampliando a significaccedilatildeo do que se troca para o campo do simbolismo por um lado e para a

valorizaccedilatildeo do contexto por outro A daacutediva constitui um programa teoacuterico-praacutetico forte pois

ao se focar diretamente no que circula contribui para a superaccedilatildeo do dilema socioloacutegico acima

lembrado entre agecircncia e estrutura que eacute teoricamente problemaacutetico O dilema dualista

condiciona a anaacutelise da praacutetica social a duas opccedilotildees complicadas uma propotildee que a praacutetica

social eacute produto dos indiviacuteduos interessados a outra que o sistema de obrigaccedilotildees institucionais

eacute que define a praacutetica e que os indiviacuteduos tecircm pouca margem de manobra Ora nem uma nem

outra dessas opccedilotildees permite se entender as exigecircncias teoacutericas do cuidado como mediaccedilatildeo Por

isso a importacircncia da daacutediva como programa forte Ela favorece entender que a qualidade da

troca impacta sobre os lugares e identidades dos indiviacuteduos e grupos de indiviacuteduos em

interaccedilatildeo5

A superaccedilatildeo deste dilema socioloacutegico entre agecircncia e estrutura eacute decisiva no campo das

lutas por reconhecimento na sauacutede para se fazer a criacutetica teoacuterica de dois pressupostos

equivocados Uma delas eacute o de que o saber teacutecnico especializado [meacutedico(a) enfermeiro(a)

agente etc] eacute sempre mais legiacutetimo que o saber comum do usuaacuterio o outro o de que as regras

burocraacuteticas e administrativas satildeo sempre mais eficazes para o bom funcionamento do serviccedilo

puacuteblico em sauacutede que as regras produzidas pelo consenso ou alianccedila gerada pela daacutediva Ora

pelo entendimento do cuidado como estrutura relacional e mediadora estas crenccedilas satildeo revistas

continuamente na proacutepria interaccedilatildeo entre os atores envolvidos permitindo uma transmissatildeo

fluida de informaccedilotildees entre os saberes cientiacuteficos e os saberes praacuteticos equalizando os saberes

na praacutetica No entanto tais saberes hiacutebridos refazem as regras burocraacuteticas para liberar regras

associativas mais flexiacuteveis entre as instituiccedilotildees e indiviacuteduos

A teoria da daacutediva tem grande contribuiccedilatildeo a oferecer agrave renovaccedilatildeo paradigmaacutetica da

Atenccedilatildeo Primaacuteria quando permite entender que o sucesso do cuidado na sauacutede depende

diretamente do modo como o profissional fixa sua atenccedilatildeo no usuaacuterio para inseri-lo num sistema

horizontal de trocas interpessoais aquele do dom ou do sistema tripartite de obrigaccedilotildees

coletivas sistematizado por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre a daacutediva (Mauss 2003) Ao

voltar sua atenccedilatildeo para o usuaacuterio e buscar interagir com o mesmo o profissional imbuiacutedo do

sentido do dom desencadeia um mecanismo de doaccedilotildees (olhar palavra orientaccedilatildeo

medicamento etc) que gera obrigaccedilotildees de solidariedade a todas as partes envolvidas na

5 As abordagens claacutessicas dualistas ndash agecircncia x estrutura ndash valorizam ou o peso da obrigaccedilatildeo estrutural sobre a liberdade

individual ou no lado contraacuterio a liberdade de cada um sobre as injunccedilotildees coletivas Nessas teorias tradicionais dependendo

do enfoque tanto a sociedade aparece como um conjunto de obrigaccedilotildees coletivas como crenccedilas valores e regras (enfatizando

o peso da estrutura) como pode aparecer diferentemente como as capacidades de cada indiviacuteduo de definir racionalmente as

opccedilotildees que mais lhes interessam (enfatizando a importacircncia da liberdade de escolha de cada indiviacuteduo) Por essas interpretaccedilotildees

reducionistas o ser humano se apresenta seja como uma vocaccedilatildeo essencialmente egoiacutesta como propotildee o utilitarismo

mercantilista inglecircs ou no lado contraacuterio como expressatildeo de certa incapacidade de construir utopias libertaacuterias como sugerem

as anaacutelises autoritaacuterias e totalizantes (que podemos propor ser a expressatildeo de certo utilitarismo burocraacutetico)

14

mediaccedilatildeo do cuidar como o demonstrou Lacerda com a sistematizaccedilatildeo do conceito de ldquoredes

de apoio socialrdquo (Lacerda 2010) Na perspectiva da daacutediva o profissional da sauacutede e o usuaacuterio

natildeo satildeo categorias que se excluem No processo de mediaccedilatildeo pelo dom todos os elementos

teacutecnicos afetivos funcionais presentes naquele momento satildeo reconfigurados pela experiecircncia

da troca de bens simboacutelicos e materiais O agente social em cada movimento de realizaccedilatildeo da

accedilatildeo ndash na doaccedilatildeo na recepccedilatildeo ou na retribuiccedilatildeo ndash se defronta com o dilema insoluacutevel de ter

que tomar decisotildees voluntaacuterias ndash ou natildeo ndash dentro de contextos coercitivos que limitam mais ou

menos sua capacidade de agir que eacute ao mesmo tempo livre e obrigatoacuteria

A ecircnfase na praacutetica dos atores revela a complexidade da accedilatildeo social permitindo sair de

modelos abstratos que desconsideram o valor do cotidiano para a organizaccedilatildeo da vida social O

dom do reconhecimento que pretendemos explorar neste texto se realiza mediante a

capacidade do profissional-doador de reconhecer o outro-usuaacuterio para lhe dar visibilidade e

dignidade permitindo que o donataacuterio faccedila por sua vez seu movimento de inclusatildeo e de

reconhecimento No campo da sauacutede propomos que o cuidado apenas aparece como renovaccedilatildeo

paradigmaacutetica e programaacutetica quando ele eacute percebido como uma modalidade de dom a do dom

do reconhecimento Nesta oacutetica o cuidado eacute visto como motivo de reorganizaccedilatildeo dos

significados das trocas e como significante de lugares igualmente reconhecidos como legiacutetimos

por gestores por profissionais da sauacutede e por usuaacuterios

Haacute daacutedivas que podem ser estimuladas para que a accedilatildeo puacuteblica em sauacutede seja organizada

na perspectiva de valorizaccedilatildeo do viacutenculo social ou seja na oacutetica de que o valor social das

pessoas seja considerado como mais importante que os valores dos bens serviccedilos e funccedilotildees

teacutecnicas Optar pelo valor da pessoa significa que a avaliaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica e no caso a accedilatildeo

puacuteblica em sauacutede seja feita natildeo somente a partir de criteacuterios de produtividade econocircmica

financeira e teacutecnica e de desempenho funcional mas sobretudo a partir de criteacuterios de aumento

das forccedilas morais afetivas e psiacutequicas dos indiviacuteduos e dos grupos de pertencimento tanto no

plano da sociedade civil como naquele da accedilatildeo estatal descentralizada E tambeacutem entre as

instacircncias da Ciecircncia e do Mundo da Vida

Entre as daacutedivas que podem ter papel destacado com esta finalidade de permitir uma

mudanccedila qualitativa da loacutegica da avaliaccedilatildeo e dos sentidos da accedilatildeo puacuteblica apoiada no cuidado

como mediaccedilatildeo podemos enunciar dois tipos a daacutediva da alianccedila e a daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima

A alianccedila eacute para Mauss uma categoria central para a fundaccedilatildeo da vida em sociedade No Ensaio

sobre a daacutediva Mauss revela grande preocupaccedilatildeo em explicar os motivos pelos quais as tribos

passam da paz para a guerra e da guerra para a paz O que interrompe o viacutenculo pergunta ele

E no lado contraacuterio o que permite restaurar o viacutenculo A curiosidade do autor eacute procedente na

medida em que na perspectiva do dom o proacuteprio do ser humano natildeo eacute a tendecircncia ao

isolamento e agrave separaccedilatildeo mas ao acordo em torno da instauraccedilatildeo do fenocircmeno social A

intuiccedilatildeo de Mauss nos parece correta na medida em que diferentemente do que pensam os

liberais o pacto social natildeo eacute produto da soma de interesses individuais mas de uma obrigaccedilatildeo

coletiva livremente consentida Esta ambiguidade moral constitutiva do dom ndash obrigaccedilatildeo e

liberdade ndash explica que o fenocircmeno social se impotildee como um movimento coletivo e que o que

chamamos de indiviacuteduo apenas surge no interior de sociedades que admitem a socializaccedilatildeo

como individuaccedilatildeo

Eacute nesta perspectiva pois que podemos falar da daacutediva da alianccedila ou seja da predisposiccedilatildeo

de indiviacuteduos e grupos a se associarem livre e espontaneamente para fundarem a vida social

mediante o benefiacutecio dos presentes dos serviccedilos e hospitalidades das disposiccedilotildees para acolher

reconhecer e dignificar o outro e ndash por que natildeo ndash a si mesmo como sujeito social (que existe

como indiviacuteduo quando se reconhece no espelho do coletivo humano) A daacutediva visa sempre agrave

alianccedila mas pelo termo daacutediva da alianccedila estamos buscando enfatizar a accedilatildeo intencional com

15

relaccedilatildeo ao outro na perspectiva de valorizaacute-lo6 Este dado eacute fundamental para integrar novos

sentidos do cuidado A cada movimento de liberdade produzido por doaccedilotildees conscientes

outros ambivalentes de obrigaccedilatildeo livre e de interesse de retribuir se estabelecem E por esses

movimentos ambivalentes entre liberdade e obrigaccedilatildeo interesse e desinteresse satildeo seladas as

alianccedilas entre sujeitos transformando os inimigos em amigos os excluiacutedos em incluiacutedos o

ldquooutro em proacuteximordquo Nesta perspectiva eacute possiacutevel chamarmos a daacutediva da alianccedila de daacutediva da

generosidade comunitaacuteria pois a predisposiccedilatildeo para se vincular eacute ela mesma um siacutembolo de

generosidade que faz emergir a experiecircncia do cuidar como uma experiecircncia de totalidade

O outro tipo de daacutediva que consideramos importante para se repensar o cuidado como

mediaccedilatildeo eacute aquele da daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima Trata-se de uma modalidade de daacutediva proacutepria

da modernidade revelando a presenccedila de uma figura social inexistente nas sociedades

comunitaacuterias que eacute a do sujeito anocircnimo (Godbout e Cailleacute 1998) O anocircnimo eacute aquele

indiviacuteduo que natildeo se afirma por quaisquer pertencimentos comunitaacuterios particulares que o

distinguem hierarquicamente dos demais mas por uma condiccedilatildeo de invisibilidade social

igualitaacuteria permitida pelo direito reflexivo moderno O anocircnimo apenas surge em sociedades

complexas nas quais o processo de socializaccedilatildeo aparece natildeo somente como processo de coerccedilatildeo

coletiva mas como processo de individualizaccedilatildeo coletiva que eacute revelado pela emergecircncia de

unidades atomizadas e reflexivas que pensam o todo social a partir de experiecircncias singulares

e inovadoras

Pensando no caso da accedilatildeo em sauacutede podemos propor que a esfera puacuteblica em sauacutede resulta

da organizaccedilatildeo de um aparato institucional voltado para inserir o anonimato como condiccedilatildeo das

trocas de bens de sauacutede Certamente neste momento o anocircnimo ganha rosto e passa a ser

protagonista de uma operaccedilatildeo de obrigaccedilotildees muacutetuas que geram reconhecimentos e

visibilidades A socializaccedilatildeo passa a se realizar nas fronteiras do compromisso ciacutevico com o

coletivo e do respeito agrave liberaccedilatildeo das individualidades e a partir de um ato de cuidar que gera

alianccedilas e transformaccedilatildeo necessaacuteria de indiviacuteduos excluiacutedos em atores visiacuteveis da poliacutetica7 O

dom do reconhecimento que discutiremos a seguir surge desta condensaccedilatildeo provocada pela

circulaccedilatildeo da daacutediva em contextos de intensas demandas por visibilidade dignidade e

reconhecimento

Dom do reconhecimento o cuidado como mediaccedilatildeo

A teoria do reconhecimento eacute um constructo teoacuterico que se afirma com os avanccedilos da filosofia

moral contemporacircnea de Taylor (2005) e outros Sua sistematizaccedilatildeo acompanha a criacutetica agraves

teses utilitaristas que reduzem a vida social a pensamentos monoloacutegicos ndash como aquele

economicista que reduz o interesse da troca a uma questatildeo econocircmica ndash visando em paralelo

a resgatar temas como eticidade multiculturalidade e dignidade A articulaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom eacute decisiva para avanccedilarmos na perspectiva do cuidado como mediador

simboacutelico na sauacutede

No campo da sociologia deve-se a Honneth (2003) os meacuteritos de ampliaccedilatildeo do debate para

temas do cotidiano mediante releituras apropriadas de Hegel e dos pragmatistas norte-

6 Este interesse pela associaccedilatildeo lembra (Cailleacute 2002) nos rastros de Mauss ndash mas tambeacutem de Simmel ndash natildeo eacute funcional Esse

interesse eacute paradoxal pois a luta pela alianccedila gera tensotildees permanentes A cada momento da accedilatildeo tripartite ndash do doar do receber

e do retribuir ndash os indiviacuteduos e grupos se defrontam com conflitos de consciecircncia produzidos por determinantes estruturais

pelos quais a cada movimento interessado se opotildee um movimento de desprendimento ou de ldquodesinteressamentordquo (Cailleacute 2006) 7 Avanccedilando nesta discussatildeo podemos igualmente sugerir que o dom da alianccedila num contexto de trocas anocircnimas que

produzem o fenocircmeno do puacuteblico comunitaacuterio e da democracia associativa local tem impacto importante na passagem da

comunidade fechada (eacutetnica corporativa cultural religiosa etc) para a associaccedilatildeo democraacutetica e aberta Isto significa que a

circulaccedilatildeo do dom natildeo se restringe a fortalecer a alianccedila entre os mais proacuteximos (loacutegica comunitaacuteria) mas visa a refazer

permanentemente a alianccedila pela inclusatildeo e reconhecimento de novos agentes sociais marcados pelas diferenccedilas culturais

(gecircnero etnia religiatildeo sexualidade etc) no processo de construccedilatildeo da praacutetica democraacutetica

16

americanos como J Dewey (1991)8 Haacute de se destacar que a discussatildeo moral de Honneth sobre

a vida social natildeo eacute concebida abstratamente mas concretamente a partir do esforccedilo de

entendimento das patologias sociais que afligem os indiviacuteduos na contemporaneidade Para ele

os indiviacuteduos satildeo objetos de violecircncias que atingem a) a autoconfianccedila ainda na infacircncia

comprometendo sua capacidade de amar b) o autorrespeito como cidadatildeo impedindo que lute

adequadamente por seus direitos e c) a autoestima na vida profissional impedindo que

desenvolva a capacidade de se solidarizar com o outro (Honneth 2003) Nesta direccedilatildeo

podemos sugerir que o cuidado natildeo pode emergir como mediaccedilatildeo simboacutelica central de um novo

paradigma em sauacutede caso permaneccedila prisioneiro de visotildees monoloacutegicas como a da cliacutenica

meacutedica moderna ou a da medicina utilitarista que natildeo datildeo conta do fenocircmeno da totalidade do

social

Para que o cuidado apareccedila como care na accedilatildeo primaacuteria eacute necessaacuterio que se amplie o

entendimento da praacutetica cliacutenica para introduzir elementos pedagoacutegicos morais e poliacuteticos que

satildeo justamente oferecidos pela criacutetica teoacuterica do reconhecimento A saiacuteda para tais dificuldades

operacionais eacute o entendimento do valor simboacutelico do reconhecimento na geraccedilatildeo de um tipo de

bem-estar que eacute aquele da visibilidade poliacutetica e da dignidade moral Tal bem-estar natildeo se

restringe agrave dimensatildeo biofiacutesica mas se define e se corporifica com a ampliaccedilatildeo das significaccedilotildees

de solidariedade e de reconhecimento no ldquomundo da vidardquo O bem-estar que alarga as

significaccedilotildees da sauacutede apenas emerge por signos de reconhecimento que circulam como

daacutedivas permitindo formular ritmicamente as praacuteticas os lugares dos atores e os processos de

organizaccedilatildeo das instituiccedilotildees Nesta direccedilatildeo pode-se dizer que a interpretaccedilatildeo do

reconhecimento como simbolismo da accedilatildeo leva necessariamente a uma aproximaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom pois o ato de reconhecer eacute uma daacutediva estruturante primordial

Trazendo esta discussatildeo para o campo da sauacutede eacute possiacutevel afirmar que o cuidado como

simbolismo mediador eacute antes de tudo a doaccedilatildeo de significaccedilotildees como aquelas da visibilidade

poliacutetica e da dignidade moral do outro9 Cailleacute propotildee que os temas morais da confianccedila do

respeito e da estima satildeo redimensionados na praacutetica pela gratidatildeo gerada por uma doaccedilatildeo que

valoriza o outro (dar ao outro como sendo mais importante que meu prazer pessoal em doar) e

uma recepccedilatildeo que valoriza a doaccedilatildeo (receber do outro eacute mais importante que se recusar a

receber) ldquoDar o reconhecimento natildeo eacute apenas identificar ou valorizar eacute tambeacutem e talvez

inicialmente provar e testemunhar nossa gratidatildeordquo (Cailleacute 2008 158) Isto se faz

complementamos na expectativa de que a recepccedilatildeo do gesto valorizador motive o donataacuterio a

agradecer e retribuir um contra-dom em forma de confianccedila solidariedade e responsabilidade

A abertura para o reconhecimento e para a inclusatildeo do Outro-diferente amplia as

experiecircncias de gratidatildeo do donataacuterio daquele que recebe o cuidado Isto eacute no lado da

recepccedilatildeo o impacto do dom do reconhecimento ndash que se funda sobre a alianccedila entre anocircnimos

ndash gera uma obrigaccedilatildeo de gratidatildeo para com o doador o que se traduz em gestos de lealdade

com o social ou de solidariedade com o proacuteximo anocircnimo favorecendo a responsabilizaccedilatildeo

8 Com isso ele avanccedilou na criacutetica moral da tradiccedilatildeo racionalista iluminista rearticulando a relaccedilatildeo entre instrumentalidade e

expressividade nas esferas da socializaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo Esta criacutetica permitiu ao autor explicar que haacute hierarquias

morais desiguais subjacentes agraves praacuteticas sociais e que sem a criacutetica das mesmas eacute impossiacutevel se conceber uma discursividade

organizada em bases igualitaacuterias Tais hierarquias impedem que os indiviacuteduos possam realizar espontaneamente seus potenciais

cognitivos e defender por conseguinte suas capacidades de se apresentar nas esferas coletivas como indiviacuteduos livres e dotados

de forccedila originais de arguiccedilatildeo poliacutetica e cultural 9 Neste sentido a teoria do valor eacute revista ampliada e atualizada pela linguagem simboacutelica sendo o valor social das pessoas

em interaccedilatildeo mais importante que o valor dos bens o valor do usuaacuterio sendo mais importante que aqueles das tecnologias

saberes especializados e medicamentos No caso o reconhecimento passa a ser uma condiccedilatildeo de visibilidade social para o

usuaacuterio e a luta por status ou lugar antecede a luta de classes ou a definiccedilatildeo do direito privado e individual Aqui as teorias de

escolhas racionais e estrateacutegicas se submetem agrave teoria do reconhecimento pois antes de escolherem os homens buscam ser

reconhecidos para poderem reconhecer (escolher) A luta natildeo eacute apenas de valor moral mas de valor de socializaccedilatildeo

(reconhecimento de si do outro e de noacutes)

17

comunitaacuteria e ampliando a legitimidade da poliacutetica puacuteblica Ou seja o sentimento da gratidatildeo

eacute significativo para soldar laccedilos e gerar novas solidariedades e associaccedilotildees E isto eacute visiacutevel no

campo da sauacutede quando se observa o modo de agradecimento dos usuaacuterios quando satildeo

acolhidos pelos profissionais da sauacutede no espiacuterito da daacutediva e do reconhecimento

A articulaccedilatildeo das teorias do dom e do reconhecimento eacute muito profiacutecua ao permitir

entender que a circulaccedilatildeo dos bens da sauacutede (afetos teacutecnicas medicamentos gestos etc) em

contextos de empobrecimento e de exclusatildeo social produz doaccedilotildees de visibilidade e dignidade

que eacute o dom do reconhecimento gerando agradecimentos inclusotildees e participaccedilotildees Pelo dom

do reconhecimento natildeo apenas se faz justiccedila moral aos injusticcedilados mas se abre a perspectiva

de se fazer justiccedila poliacutetica aos oprimidos e abandonados pelos direitos da cidadania

Neste contexto de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do dom do reconhecimento observam-se dois

registros paralelos Num deles a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento ndash envolvendo os grupos

de pertencimento antigos ou novos e os indiviacuteduos que por suas redes de pertencimento

contribuem para remodelar as instituiccedilotildees coletivas ndash amplia o nuacutemero de atores dos processos

de troca e de solidariedade na sauacutede favorecendo o surgimento de uma cidadania democraacutetica

No segundo registro a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento amplia o escopo da accedilatildeo em sauacutede

para outros domiacutenios da vida social e cultural articulando a totalidade dos elementos

constitutivos da cidadania democraacutetica (educaccedilatildeo saneamento trabalho lazer etc) em torno

de um projeto coletivo e puacuteblico do bem viver que exige um ldquosaber fazendordquo Assim a

circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento entre profissionais de sauacutede e usuaacuterios gera com

frequecircncia novos movimentos de dons entre terceiros proacuteximos ou anocircnimos ampliando os

ldquociacuterculos hermenecircuticosrdquo como o provam o surgimento de grupos de cuidados voltados para

as questotildees de gecircnero violecircncia sexualidade entre outros

Claro quando estes processos de dom do reconhecimento satildeo sabotados pela accedilatildeo estatal

ou mercantil a alianccedila entre anocircnimos a favor do viacutenculo social pode se traduzir em

desfiguraccedilatildeo do pacto coletivo com aumento da violecircncia na vida cotidiana e surgimento de

patologias sociais que se refletem no aumento das doenccedilas psicossomaacuteticas Neste caso

pensando com Mauss diriacuteamos que a sociedade passa da paz para a guerra pelo fato de o doador

reconhecido (o Estado os cidadatildeos a Igreja etc) natildeo ser capaz de doar na intensidade

necessaacuteria os bens necessaacuterios ao reconhecimento do donataacuterio levando este a padecer na

incerteza e no desacircnimo

Daacutediva e accedilatildeo puacuteblica no cuidado algumas consideraccedilotildees finais

Para finalizar retomaremos o tema do cuidado que abordamos no iniacutecio deste texto de modo a

fixar algumas reflexotildees sobre os desafios da gestatildeo puacuteblica descentralizada nesses contextos

complexos de organizaccedilatildeo de esferas puacuteblicas locais que se apoiam nas circulaccedilotildees das daacutedivas

de reconhecimento para ampliar as alianccedilas entre anocircnimos Tais daacutedivas satildeo necessaacuterias para

o surgimento dos puacuteblicos democraacuteticos e tambeacutem para mediante este processo de inclusatildeo

social e cultural ampliar as redes de solidariedade e de mediaccedilatildeo social

Podemos propor entatildeo que o cuidado apenas se revela como experiecircncia inovadora na

accedilatildeo em sauacutede quando ele passa a refletir o dom entre anocircnimos a favor da alianccedila comunitaacuteria

e associativa gerando inclusotildees e corrigindo injusticcedilas ndash enfim permitindo que se passe da

guerra para a paz Aqui estaacute a chave para a compreensatildeo do enigma maussiano nos tempos de

modernidades Claro esta reflexatildeo exige necessariamente se pensar o cuidado desde a praacutetica

e desde a teoria ou seja desde o Serviccedilo e a Sociedade Civil e desde a Academia desde a

produccedilatildeo da accedilatildeo que se faz pela intervenccedilatildeo reflexiva sobre o real e desde a reproduccedilatildeo da

accedilatildeo que se faz pela formaccedilatildeo e pela incubaccedilatildeo do real pensado e construiacutedo coletivamente

Neste plano cuidar deixa de ser mera retoacuterica que esconde antigas praacuteticas hieraacuterquicas e

18

funcionais no serviccedilo em sauacutede para designar a experiecircncia concreta e reflexiva da accedilatildeo em

sauacutede que se realiza em trecircs movimentos do doar (como escuta como palavra como

disponibilidade para acolher integralmente ao outro) do receber (como direito inato do ser

humano a viver como possibilidade de agradecer para aparecer e ser incluiacutedo) e do retribuir

(como direito e possibilidade a demonstrar sua presenccedila seu poder sua singularidade dentro

do sistema social)

Esta releitura do cuidado como dom do cuidado abre perspectivas interessantes para se

reavaliar o tema da justiccedila pois esta deixa de ser mera aplicaccedilatildeo de normas coletivamente

sancionadas num territoacuterio nacional para aparecer como accedilatildeo de inclusatildeo social igualitaacuteria dos

diferentes Este entendimento permite sair da ideia do mal-estar da cultura formulada por Freud

na fundaccedilatildeo da psicanaacutelise para se pensar o bem-estar produzido pela poliacutetica do

cuidadorealizada com a consciecircncia do dom do reconhecimento10 Enfim haacute que se apostar no

dom do reconhecimento para se avanccedilar na democratizaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede e do cuidado

como care permitindo passar de um entendimento assistencialista do usuaacuterio dos serviccedilos que

estaacute sempre na posiccedilatildeo do sacrifiacutecio (da condenaccedilatildeo agrave pobreza e ao assistencialismo) para um

entendimento reflexivo e expressivo que libera o usuaacuterio da posiccedilatildeo sacrificial e o insere como

ator corresponsaacutevel na produccedilatildeo da vida cotidiana em contexto de justiccedila igualitaacuteria que integra

as diferenccedilas

Apostar no reconhecimento eacute buscar a diferenccedila no igual no confiar no respeitar no

solidarizar independentemente das diversidades sociais e culturais Tal aposta permite que se

formem culturas poliacuteticas mais saudaacuteveis e inspiradas na justiccedila social igualitaacuteria Essas

culturas satildeo importantes para se pensar os sistemas comunitaacuterios locais que se estabelecem agrave

base do puacuteblico democraacutetico que constitui uma experiecircncia coletiva supraegoacuteica Por isso para

terminar lembramos o filoacutesofo italiano F Fistetti que inspirado em Mauss afirma que cada

cultura conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana obras obras de

arte siacutembolos coacutedigos de comportamento etc (Fistetti 2009 179) Isto significa dizer que se

cada cultura conteacutem o todo cada cultura conteacutem o cuidado como atividade geral de produccedilatildeo

do bem comum ela conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana na

sua singularidade

Assim pensar o cuidado como metaacutefora e mediaccedilatildeo como projeto permanente inspirado

no dom do reconhecimento significa igualmente pensar uma cultura poliacutetica da daacutediva Uma

cultura como sistema de valor de uma esfera puacuteblica participativa que seja gerada por sua vez

por reciprocidades estabelecidas entre os sistemas organizacionais complexos como o Estado

que formula poliacuteticas comuns e o Mundo da Vida onde se formatam as praacuteticas espontacircneas

da vida social e cultural

10 Tal compreensatildeo inovadora do cuidado eacute particularmente pertinente para se pensar as diferenccedilas entre justiccedila nacional ndash

como poliacutetica redistributivista limitada que elimina as diferenccedilas identitaacuterias para promover a integraccedilatildeo comunitaacuteria nacional

ndash e justiccedila global ndash como poliacutetica redistributivista aberta a novos territoacuterios transnacionais que promovem o cuidado como dom

do reconhecimento para aleacutem das fronteiras nacionais Pensar a justiccedila global natildeo como concessatildeo de Estados nacionais na

cena mundial mas como direitos do ser humano ao bem viver (Arendt 2010) como direito ao dom do reconhecimento fundado

na alianccedila entre anocircnimos que vivem a gratidatildeo significa fazer a passagem de poliacuteticas sacrificiais (que sacrificam os diferentes

e os humilhados) para poliacuteticas antissacrificiais baseadas no dom incondicional e na alianccedila que gera o mundo comum e que

libera os diferentes e humilhados

19

Referecircncias bibliograacuteficas

Arendt H (2010) A condiccedilatildeo humana Rio Forense Universitaacuteria

Cailleacute A (2002) Antropologia do dom o terceiro paradigma Petroacutepolis Vozes

Cailleacute A (2006) ldquoO dom entre interesse e desinteressamentordquo in Martins PH Campos

RBC (Org) Polifonia do dom Recife Editora da UFPE 257-284

Cailleacute A (2008) ldquo Reconhecimento e sociologiardquo RBCS 23 66 151-163

Cailleacute A Godbout J (1998) O espiacuterito da daacutediva Rio de Janeiro FGV

Dewey J (1991) The public and its problems Ohio Ohio University Press

Fistetti F (2009) Theacuteories du multiculturalisme un parcours entre philosophie et sciences

sociales Paris La Deacutecouverte

Godbout J (2007) Ce qui circule entre nous donner recevoir rendre Paris Seuil

Honneth A (2003) Luta por reconhecimento a gramaacutetica moral dos conflitos sociais Satildeo

Paulo Editora 34

Martins PH (2008) ldquoDe Levi-Strauss a MAUSS ndash Movimento AntiUtilitarista nas Ciecircncias

Sociaisrdquo RBCS 23 66 105-130

Mauss M (2003) Sociologia e antropologia Satildeo Paulo Cossac amp Naify

Pinheiro R Martins PH (org) (2009) Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do usuaacuterio

abordagem multicecircntrica Rio de Janeiro Cepesc

Taylor C (2005) As fontes do self A construccedilatildeo da identidade moderna Satildeo Paulo Loyola

Tronto J (1993) Moral boundaries A political argument for an ethic of care New York

Routledge

20

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de

Pacientes Grupos Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se

estaacute falando

Rogeacuterio Lima Barbosa1 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra rogeriobarbosacesucpt

Apresentaccedilatildeo

Os estudos que abrangem as doenccedilas raras parecem tomar cada vez mais importacircncia na aacuterea

social Uma das possiacuteveis causas deste crescimento eacute explicada pelo impacto das associaccedilotildees

civis de doenccedilas raras na sociedade Por meio da atuaccedilatildeo destas associaccedilotildees houve um

consideraacutevel avanccedilo nas pesquisas geneacuteticas que culminaram na descoberta de tratamentos

medicamentosos para doenccedilas consideradas incuraacuteveis Tambeacutem foram criados protocolos de

atendimento a familiares e pessoas com doenccedilas raras nos serviccedilos de sauacutede e planos nacionais

de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras para a Uniatildeo Europeia Em qualquer paiacutes toda

accedilatildeo voltada para as doenccedilas raras seja por meio de pesquisas criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas ou

desenvolvimento de tratamentos eacute resultado das atividades das associaccedilotildees civis O contributo

dessas associaccedilotildees para a melhora do atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras e seus

familiares por meio de accedilotildees que impactam a sociedade justifica a atenccedilatildeo para o

desenvolvimento de suas accedilotildees no campo social Contudo aleacutem de perceber o resultado das

atividades na sociedade eacute preciso conhecer as associaccedilotildees a partir das motivaccedilotildees que os seus

integrantes possuem A partir de um olhar para ldquodentrordquo das associaccedilotildees para as pessoas que a

formam eacute possiacutevel encontrar natildeo somente diferentes motivaccedilotildees como tambeacutem estruturas

associativas muito diversas

Se por um lado as pessoas organizam-se em associaccedilotildees que visam tratar de doenccedilas

especiacuteficas como a Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Pacientes com Neurofibromatose -

AMANF por exemplo por outro existem associaccedilotildees que possuem o objetivo de representar

todas as doenccedilas raras em um formato ldquoguarda-chuvardquo2 Tanto em uma como em outra os

dirigentes das associaccedilotildees podem ser os proacuteprios pacientes seus pais ou matildees profissionais da

aacuterea da sauacutede ou qualquer pessoa que tenha interesse no campo das doenccedilas raras Em uma

realidade tatildeo difusa para os dirigentes a produccedilatildeo das ciecircncias sociais que alcanccedila tanto as

associaccedilotildees de doenccedilas especiacuteficas quanto as do modelo ldquoguarda-chuvardquo ldquoabrange vaacuterias

formas ldquoaproximadasrdquo de pacientesrdquo (Epstein 2008) Assim o termo paciente natildeo se restringe

ao doente e possui um sentido alargado que abarca qualquer pessoa que atue em uma

associaccedilatildeo e tenha interesse no desenvolvimento de accedilotildees para a sauacutede Portanto as associaccedilotildees

civis formadas por indiviacuteduos que militam no campo das doenccedilas raras satildeo conhecidas nas

Ciecircncias Sociais como Organizaccedilotildees de Pacientes (PO) em Epstein (2008) Nunes (2007)

Rabeharisoa et al (2008 2012 e 2013) Grupos Consumidores de Sauacutede3 para Allsop et al

1 Rogeacuterio Lima Barbosa eacute Mestre e Doutorando em Sociologia pelo programa Relaccedilotildees de Trabalho Sindicalismo e

Desigualdades Sociais da Faculdade de Economia e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Eacute bolsista da

CAPES processo BEX 10006-133 2 Em relaccedilatildeo aos estudos que analisam as associaccedilotildees civis que possuem o objetivo de representar todas as doenccedilas raras em

um formato de ldquoguarda-chuvardquo as mais citadas satildeo a Eurordis e a AFM ndash Associaccedilatildeo Francesa de Distrofia Muscular 3 Health consumer groups

21

(2004) Associaccedilotildees de Doentes em Filipe (2009) ou Associaccedilotildees de Pacientes para Novas

(2006)4

O frame alargado do paciente5 sinaliza o trabalho em rede que essas associaccedilotildees realizam

Assim como eacute necessaacuterio buscar na rede de contatos as pessoas para formalizarem uma

associaccedilatildeo civil os indiviacuteduos que iniciam a militacircncia pelas doenccedilas raras experimentam jaacute

na busca pelo diagnoacutestico da doenccedila6 a forccedila existente dos laccedilos de sua rede de contatos A

partir de sua rede de contatos os indiviacuteduos conseguem chegar ateacute ao diagnoacutestico ao tratamento

e as melhores formas de cuidado para o doente Assim satildeo os laccedilos existentes na rede que datildeo

condiccedilotildees para a formaccedilatildeo das associaccedilotildees civis e geram as respostas que natildeo foram

encontradas nos processos formais dos sistemas de sauacutede Considerando que o Estado eacute o

responsaacutevel por coordenar os cuidados nos sistemas de sauacutede a sua ausecircncia eacute o gatilho que

despoleta uma seacuterie de accedilotildees individuais que acabam impactando a sociedade

Juntamente com o Estado a Induacutestria FarmacecircuticaBiotecnologia (Induacutestria) a Academia

e as Associaccedilotildees satildeo os principais atores no campo das doenccedilas raras Assim como a associaccedilatildeo

civil surge a partir da falta de informaccedilatildeo promovida pelo Estado a ausecircncia deste daacute condiccedilotildees

para uma forte presenccedila da Induacutestria na coordenaccedilatildeo dos serviccedilos de atendimento agrave populaccedilatildeo

Essa presenccedila acaba por minar o campo das doenccedilas raras com os seus interesses Em particular

as associaccedilotildees do campo das doenccedilas raras como a induacutestria possui um interesse especiacutefico em

influenciaacute-las na produccedilatildeo de accedilotildees que visam a regulamentaccedilatildeo do mercado para as drogas

oacuterfatildes acabam por se estruturarem conforme a relaccedilatildeo que se cria com a induacutestria Se por um

lado existem associaccedilotildees que possuem um modelo de atuaccedilatildeo centrado na ajuda muacutetua

autoajuda e portanto mantendo-se distantes da induacutestria por outro haacute as associaccedilotildees que

optam por um modelo empresarial utilizando as ferramentas das empresas capitalistas como

planejamentos estrateacutegicos relatoacuterios de atividades trabalhadores remunerados CEOs e outras

caracteriacutesticas dessa aacuterea Neste modelo a Eurordis associaccedilatildeo europeia com sede em Franccedila

e as associaccedilotildees de distrofia muscular7 em Franccedila e nos EUA satildeo exemplares A associaccedilatildeo de

distrofia muscular dos EUA eacute a mais antiga Foi criada nos anos 50 e natildeo somente serviu como

modelo para as outras duas como tambeacutem participou da fundaccedilatildeo de ambas As trecircs possuem

o mesmo formato de atuaccedilatildeo Estruturado sobre a batuta da associaccedilatildeo americana essas

associaccedilotildees possuem o advocacy como atividade principal atuando de maneira significativa na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que favoreccedilam os seus interesses que natildeo raros estatildeo

alinhados com o pensamento capitalista8 Os recursos financeiros da Eurordis proveacutem

4 Apesar de compreender a necessidade de se conseguir um ponto de contato ou linha estrutural que possa reunir as diferentes

associaccedilotildees e fortalecer o proacuteprio movimento social a visatildeo sobre o impacto na sociedade impede a percepccedilatildeo sobre as suas

dinacircmicas internas Se existir o entendimento que a oferta do cuidado ou a sua melhoria eacute o ponto central das pessoas que

lidam com as associaccedilotildees voltadas para a melhoria de vida do doente natildeo haacute duacutevidas que eacute o Cuidado que une todas essas

pessoas Assim opto por pensar em Associaccedilotildees de Cuidadores como uma alternativa para identificar as Associaccedilotildees que

atuam no campo da sauacutede Com isso haacute a (re)estruturaccedilatildeo das accedilotildees sobre o cuidado ao mesmo tempo que ressegnifica a

relaccedilatildeo pacientefamiliaresmeacutedicosAo mesmo tempo natildeo impede que essas associaccedilotildees tenham suas particularidades e

diferentes como seraacute abordado adiante 5 Apesar do consenso sobre o termo paciente eacute preciso alertar que aleacutem de dificultar o entendimento sobre as motivaccedilotildees que

impulsionam o ldquopacienterdquo utilizar esse termo em sentido alargado pode gerar problemas mais profundos como a invisibilizaccedilatildeo

do proacuteprio doente Sem desconsiderar que algumas doenccedilas podem impossibilitar a expressatildeo integral do doente a ecircnfase no

paciente alargado pode fazer com que os interesses do doente sejam suplantados por outros que ao fim acabam por

instrumentalizar ele proacuteprio Uma discussatildeo mais profunda sobre esse tema eacute discutido em outros trabalhos nomeadamente

os dedicados ao Modelo Utilitaacuterio do Cuidado ndash MUC 6 De acordo com Faurisson (2000) a dificuldade de encontrar o diagnoacutestico para uma doenccedila rara deve-se a pouca informaccedilatildeo

ou a dispersatildeo de informaccedilotildees existente entre os profissionais de sauacutede e a sociedade 7 wwweurordisorg httpwwwafm-telethoncom httpmdaorg 8 Nos mesmos moldes de sua congecircnere americana desde 1987 a AFM realiza a maratona televisiva AFM-Telethon visando

a angariaccedilatildeo de fundos Com os recursos conseguidos por meio desta maratona a AFM cria entre outros o Genethon Bioprod

o maior laboratoacuterio do mundo na produccedilatildeo de medicamentos para terapias genicas Em 2012 a Genethon torna-se a primeira

organizaccedilatildeo natildeo governamental a receber autorizaccedilatildeo para ser fabricante de produtos farmacecircuticos De acordo com o site da

AFM Com a Geacuteneacutethon BioProd o laboratoacuterio AFM-Telethon tem a maior capacidade de medicamentos para a terapia geacutenica

no mundo Da prova de conceito de desenvolvimento cliacutenico e em conformidade com as Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo (BPF)

22

principalmente da Induacutestria da AFM e da Comissatildeo Europeia Foi uma das principais

responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act na Uniatildeo Europeia e estaacute presente em todos

os assuntos que envolvem as doenccedilas raras na regiatildeo Assim como essa associaccedilatildeo possui

objetivos muito distintos de outras associaccedilotildees que lidam nas aacutereas da sauacutede e ateacute mesmo no

campo das doenccedilas raras enquadraacute-las em uma mesma denominaccedilatildeo como Organizaccedilotildees de

Pacientes parece natildeo ser a melhor opccedilatildeo

Diante de um quadro tatildeo disperso e para um estudo que assuma um posicionamento

diferente daqueles que existem no momento neste trabalho transponho a barreira das

associaccedilotildees e o olhar exclusivo para o resultado das associaccedilotildees na sociedade ou seja para o

seu ldquolado de forardquo A partir do interior das associaccedilotildees como militante dirigente de uma

associaccedilatildeo pai de uma crianccedila com uma doenccedila rara e acadecircmico tento abrir as suas portas

natildeo somente para expor as motivaccedilotildees que encontrei em diferentes pessoas e momentos de

militacircncia como tambeacutem sinalizar que as associaccedilotildees satildeo diferentes na sua proacutepria formaccedilatildeo

e na relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica Desta maneira neste artigo resgato parte de minha

dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada agrave Universidade de Coimbra e estruturada a partir de uma

observaccedilatildeo ldquoauto-etnograacuteficardquo agrave frente de uma associaccedilatildeo de doenccedilas raras a AMAVI9 e

entrevistas com dirigentes de Associaccedilotildees Civis de apoio aos pacientes com Neurofibromatose

uma doenccedila rara

Em busca da motivaccedilatildeo

Novas (2006) com base nos estudos das atividades realizadas pelas associaccedilotildees das doenccedilas

raras de Pseudoxanthoma Elasticum (PXE) e de Canavan nos Estados Unidos afirma que as

atividades destas associaccedilotildees e de outras sob o mesmo cariz alteraccedilatildeo geneacutetica e rara satildeo

baseadas na esperanccedila dos pacientes10 em conseguirem a cura para as doenccedilas A vida dessas

pessoas eacute pautada pela esperanccedila que melhores dias viratildeo Assim as melhorias futuras

dependem da forma como as suas accedilotildees satildeo realizadas no presente ldquoAleacutem disso a esperanccedila eacute

individual e coletiva ela une biografias pessoais esperanccedilas coletivas para um futuro melhor

e os processos sociais econocircmicos e poliacuteticos mais amplos (Novas 2006 291) O autor cunha

o termo ldquoA Economia poliacutetica da esperanccedilardquo11 como uma forma de ativismo que aquelas

associaccedilotildees utilizam para influenciarem e modificarem as biopoliacuteticas12 por meio dos pacientes

que se engajam na promoccedilatildeo da sauacutede bem-estar individual e geral Esses pacientes contribuem

diretamente natildeo soacute para a produccedilatildeo de conhecimento mas tambeacutem para capitalizaccedilatildeo dos

recursos para a biomedicina A partir das atividades realizadas pelas associaccedilotildees o autor

descreve a Economia poliacutetica da esperanccedila em trecircs dimensotildees a) a promoccedilatildeo da sauacutede e bem

estar como um ato poliacutetico que contribui para o aumento do entendimento sobre a doenccedila e faz

com que as associaccedilotildees passem natildeo soacute a influenciar as pesquisas meacutedicas como tambeacutem a

alterar o contexto em que estatildeo inseridas b) o investimento financeiro que as organizaccedilotildees

realizam no desenvolvimento de pesquisas em busca da cura ou tratamento eacute uma forma

que recebeu o Prix Galien France 2012 fortalece sua posiccedilatildeo como liacuteder mundial no domiacutenio das bioterapias para doenccedilas

raras Eacute o primeiro laboratoacuterio de uma associaccedilatildeo civil sem fins lucrativos que obteacutem esse status de estabelecimento

farmacecircutico de acordo com a lei de 22 de Marccedilo de 2011httpwwwafm-telethoncomnewsgenethon-the-french-afm-

telethon-laboratory-becomes-the-first-not-for-profit-to-obtain-authorization-from-ansm-to-be-a-pharmaceutical-

manufacturerhtml 9 Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria wwwamaviorg 10 Relembrando que para esse ator como para outros o paciente natildeo se trata da pessoa doente mas de outros que possuem

contato com a doenccedila Em especiacutefico neste estudo o paciente eacute entendido com osas paismatildees das crianccedilas que sofrem com

essas doenccedilas 11 Traduccedilatildeo livre de Political economy of hope 12 Para biopoliacutetica o autor utiliza os argumentos de Foucault (1978) como o termo para significar a entrada da vida no campo

da poliacutetica

23

especiacutefica de capitalizaccedilatildeo do sangue tecidos e DNA13 c) a esperanccedila que os pacientes

investem na ciecircncia possui uma dimensatildeo normativa uma vez que contribui para a elaboraccedilatildeo

de normas para a forma como as pesquisas devem ser conduzidas e como os benefiacutecios

terapecircuticos e econocircmicos devem ser distribuiacutedos Outra contribuiccedilatildeo do texto eacute o

reconhecimento que grande parte das pessoas que se engajam nos desafios da biomedicina satildeo

brancos da classe meacutedia escolarizados e com grande capacidade de mobilizaccedilatildeo nas redes

sociais seja pessoalmente ou por meio da internet Acresce a essas caracteriacutesticas o fato da

lideranccedila das mulheres ser uma constante14

A perspectiva de Novas eacute interessante porque (1) aponta para as diferentes formas de

atuaccedilatildeo das associaccedilotildees e (2) sinaliza a conflitualidade vivida pelos pacientes quanto realizam

as suas accedilotildees no presente pautadas pelos sentimentos futuros Mas como abordado no iniacutecio

deste artigo possui a limitaccedilatildeo de buscar esquadrinhar o ldquolado de forardquo das associaccedilotildees O

enredo criado pelo autor eacute o mesmo que outros utilizam quando estudam as associaccedilotildees do

campo das doenccedilas raras Conforme Rabeharisoa e colegas

[hellip] uma seacuterie de estudos tecircm-se centrado em como e em quecirc as organizaccedilotildees de paciente os usuaacuterios e

grupos de ativistas intervecircm na criaccedilatildeo e monitoramento das poliacuteticas de sauacutede [] os estudos estatildeo

preocupados principalmente com a representatividade dessas organizaccedilotildees e grupo bem como o seu poder

de lobby vis-agrave-vis junto agraves instituiccedilotildees (Rabeharisoa et al 2013 6)

As associaccedilotildees para doenccedilas raras fundam-se sobre um quadro de falta de informaccedilatildeo

generalizada e os pacientes (pessoas com diagnoacutestico familiares ou outros interessados)

assumem a responsabilidade por conseguirem encontrar por meios proacuteprios o que procuram

O proacuteprio Novas confirma esse entendimento ao fazer um breve relato da constituiccedilatildeo das

associaccedilotildees que fazem parte de seus estudos e ndash ao concluir que o iniacutecio das associaccedilotildees

somente foi possiacutevel pelo envolvimento dos pais das crianccedilas em sua constituiccedilatildeo ndash consolida

a percepccedilatildeo de que a rotina familiar eacute alterada pelo diagnoacutestico da doenccedila O momento do

diagnoacutestico eacute significativo porque apresenta aos pacientes uma realidade que natildeo eacute a deles ou

no melhor dos casos uma que natildeo conseguem entender e os profissionais de sauacutede natildeo

conseguem explicar

[quando a associaccedilatildeo recebe algum contato haacute a preocupaccedilatildeo] se as palavras estatildeo sendo bem usadas porque

eacute muito perigoso eacute muito perigoso como vamos usar as palavras como vamos falar com familiares de

portadores Satildeo pessoas que estatildeo sofrendo muito satildeo pessoas que estatildeo pedindo socorro satildeo pessoas

desesperadas satildeo pessoas completamente fora do meio delas estatildeo sendo satildeo excluiacutedas exclusatildeo total

(Entrevistado 3 sublinhado nosso)

A perspectiva de Novas sobre o desdobramento do sentimento de esperanccedila sobre as accedilotildees

dos paismatildees eacute ateacute certo ponto verdadeiro Contudo sinalizar que esse sentimento eacute

predominante agraves associaccedilotildees que lidam com as doenccedilas consideradas raras reforccedila a visatildeo

poeacutetica predominante e minimiza as proacuteprias dificuldades e carga de medo que recai sobre

aqueles que assumem a responsabilidade por atuar no campo No caso dos pais e matildees o medo

13 Nas duas associaccedilotildees apresentadas pelo autor os fundadores pais e matildees de crianccedilas diagnosticadas com a doenccedila

incentivam a participaccedilatildeo dos pacientes nos procedimentos de doaccedilatildeo de sangue tecidos e DNA para desenvolvimento das

pesquisas Ambas possuem atenccedilatildeo especial na guarda dos dados dos pacientes A associaccedilatildeo de PXE conseguiu posicionar-se

como coordenadora dos esforccedilos entre os diversos pesquisadores laboratoacuterios autoridades e pacientes para o desenvolvimento

da pesquisa e manteacutem o registro dos pacientes com a Associaccedilatildeo A associaccedilatildeo de Canavan estaacute em disputa com os

pesquisadores ldquosobre como os benefiacutecios terapecircuticos e econoacutemicos derivados da pesquisa biomeacutedica devem ser distribuiacutedos

entre aqueles que participaram e contribuiram para a empresa de pesquisa biomeacutedicardquo (Novas 2006 298) A formaccedilatildeo e guarda

de dados dos pacientes visa a constituiccedilatildeo dos Biobancos 14 Essa caracteriacutestica pode ser percebida pela maciccedila presenccedila das mulheres nos encontros de associaccedilotildees em diferentes

contextos conforme citado por um dos entrevistados ldquona carta que eu fiz para vocecirc eu falei assim [O nome de Maria Vitoacuteria

para uma associaccedilatildeo eacute muito importante significa] as Marias de muitas vitoacuterias ou as vitoacuterias das muitas Marias porque satildeo

matildees [a frente das associaccedilotildees] de um modo geral As exceccedilotildees satildeo poucas []rdquo

24

refere-se ao periacuteodo de vida da crianccedila que de maneira repentina se descobre ser menor que o

esperado fazendo com que passem a conviver com um cronoacutemetro imaginaacuterio Atrelado ao

cronocircmetro haacute a preocupaccedilatildeo sobre como seraacute a aceitaccedilatildeo das dificuldades de sua crianccedila pela

sociedade como a crianccedila teraacute suporte na falta de um ou de ambos os responsaacuteveis e como seraacute

a reaccedilatildeo da famiacutelia no momento de necessidade Vencido o medo a coragem eacute o sentimento

que os paismatildees encontram para conseguir buscar as formas de poder ajudar osas seusuas

filhosas e ateacute de iniciar a contestar os profissionais de sauacutede A resignaccedilatildeo combina com a

consciecircncia que apesar de todos os esforccedilos que possam realizar a uacutenica forma de poder ajudar

suas crianccedilas eacute a promoccedilatildeo de sua qualidade de vida E por fim a frustraccedilatildeo e o sentimento de

culpa em imaginar que foram os responsaacuteveis por transmitir a doenccedila em forma de sofrimento

para as suas crianccedilas eacute o sentimento que embala os seus sonos sob a questionamento do

Porquecirc Muitos sentimentos satildeo motivadores para a criaccedilatildeo das associaccedilotildees Seguramente a

esperanccedila eacute um deles contudo natildeo eacute o sentimento prevalecente ou norteador das accedilotildees dos

familiares e pacientes

O argumento de Novas sobre a busca da cura eacute fraacutegil Apesar de citar que as associaccedilotildees

buscam a cura ou o tratamento enfatiza que a busca da cura eacute o fator mobilizador dos esforccedilos

das associaccedilotildees Todavia ao trazermos o entendimento sobre a impossibilidade de cura15 para

as doenccedilas geneacuteticas eacute mais prudente observar que as associaccedilotildees direcionam suas atividades

em busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas dado que os remeacutedios natildeo satildeo

desenvolvidos para a cura mas para impedir o avanccedilo da doenccedila ou paralisar os seus sintomas

Com a atenccedilatildeo em um futuro distante seja pela esperanccedila ou pela busca da cura o texto de

Novas deixa de perceber a atual complexidade que permeia o campo das doenccedilas raras

Por outra perspectiva sobre as formas de organizaccedilatildeo das associaccedilotildees e reconhecendo a

complexidade ausente em Novas o texto de Vololona et al (2012)16 destaca-se como uma

amostra comparativa O texto refere-se a um estudo comparativo entre Franccedila e Portugal sobre

a forma de ativismo que as Organizaccedilotildees de Pacientes desenvolvem nos dois paiacuteses Os autores

fundamentam os argumentos para conceituarem a forma de ativismo colaborativo entre

pacientes e especialistas realizados pelas associaccedilotildees como um ldquoModelo Hiacutebrido Coletivordquo17

(MHC) Esse modelo tem duas caracteriacutesticas a constituiccedilatildeo de comunidades que alinham

pacientes e especialistas na ldquoguerra contra a doenccedilardquo e a combinaccedilatildeo de interesses entre os

especialistas e as POs na produccedilatildeo de conhecimento sobre as doenccedilas O MHC eacute portanto

diferente do modelo em que os pacientes deixam as questotildees de sauacutede como uma aacuterea exclusiva

do saber meacutedico ndash Modelo por Delegaccedilatildeo (MD)18 O texto apresenta as diferentes formas do

MHC e que diferem de um paiacutes para o outro

Em Franccedila o MHC assume quatro formas A primeira refere-se ao desenvolvimento de

mecanismos que auxiliam os pacientes a entender a doenccedila natildeo somente sobre os sintomas e

efeitos mas tambeacutem que tenham condiccedilotildees de se posicionarem em peacute de igualdade com os

profissionais de sauacutede Essa forma de atuaccedilatildeo eacute encontrada no trabalho da Associaccedilatildeo Mineira

de Neurofibromatose ndashAMANF ndash na divulgaccedilatildeo da sua cartilha ldquoAs Manchinhas da Marianardquo19

15 Como jaacute mencionado e corroborado pela Dra Karin Cunha especialista em Neurofibromatose que durante a palestra

realizada no Dia das Doenccedilas Raras em 2011 em Brasiacutelia esclareceu que pela questatildeo geneacutetica envolvida nas doenccedilas raras

ainda natildeo existe cura e continuamos longe de conseguir algo que possa modificar os genes alterados por cada doenccedila 16 The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases in French and Portuguese patientsrsquo organizations

engagement in research 17 Traduccedilatildeo livre de Hybrid Collective Model Apesar de acreditar que o termo mais adequado eacute Modelo Hiacutebrido de Ativismo

por dar um maior entendimento para o leitor a opccedilatildeo do uso literal da traduccedilatildeo pretende mitigar qualquer vieacutes que possa existir

em seu uso 18 Delegation Model 19 Essa cartilha apresenta todos os sintomas da doenccedila por meio de Cartoons de maneira didaacutetica sendo direcionada para os

familiares das crianccedilas Mas pelo cartoon tambeacutem conquista as crianccedilas Quando a minha filha com 5 anos conheceu esse

trabalho passou mais de uma semana com a cartilha para mostraacute-la na escola para famiacutelia e em todas as atividades que

participava Aleacutem da versatildeo impressa estaacute disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

25

Muitas vezes o aprofundamento dos pacientes nos estudos sobre a doenccedila faz com que se

tornem referecircncia para os proacuteprios profissionais de sauacutede

Entatildeo eu me senti eacute lisonjeada porque eles viam todo trabalho que eu fazia porque eu ajudei a ensinar

meacutedico eu ajudei a ajudar paciente [] ateacute os meacutedicos chegam a me procurar [] Eu levava para o Hospital

do Cacircncer estudava eu estudava o meacutedico mas o que estava escrito na literatura [] E a gente comeccedilou a

ver que com ano de 1996 que nem tudo estava escrito na literatura O da [] era um Mas por que Porque

ela tem uma mutaccedilatildeo geneacutetica E essa mutaccedilatildeo geneacutetica eacute diferente ela muda a patologia entendeu [] o

tumor dela jaacute cresceu em 4 meses 12 centiacutemetros taacute O tumor dela natildeo tinha na literatura agora eu acho que

jaacute tem a gente conseguiu ver isso no hospital do cacircncer com pesquisas (Entrevistado 1 sublinhado nosso)

A segunda forma faz referecircncia ao apoio financeiro para a realizaccedilatildeo de pesquisas Este

tipo de apoio eacute construiacutedo e resulta do alinhamento de interesses entre as associaccedilotildees de

pacientes e os grupos de pesquisa No Brasil isso ainda natildeo eacute realidade porque as Associaccedilotildees

natildeo conseguiram desenvolver os meios para garantir os recursos financeiros de maneira regular

A gente natildeo tem dinheiro porque a gente podia pedir para a famiacutelia para os associados 10 reais para cada um

[e ateacute pedimos por algum tempo][] Mas eu cheguei em uma fase que eu pensei natildeo tem condiccedilotildees de pedir

10 reais porque as vezes a pessoa natildeo tem dinheiro para vir aqui em uma reuniatildeo no saacutebado por causa de

dinheiro (Entrevistado 1)

Quem faz parte da associaccedilatildeo Os pobres No maacuteximo classe meacutedia classe meacutedia baixa Quem vai no nosso

centro de referecircncia de neurofibromatose Os pobres classe meacutedia baixa [o rico] senta ali o cara ali do lado

com vitligo outro com lesatildeo de pele outro com natildeo sei o quecirc Ele olha ele assim no banco de madeira

serviccedilo puacuteblico Ou ele vai acreditar em mim que atende ali e fala que ele natildeo precisa fazer ressonacircncia

magneacutetica ou ele vai ao consultoacuterio do neurologista que ele paga 300 reais a consulta mesa de blindex duas

secretaacuterias muacutesica ambiente consulta por natildeo sei o quecirc mesa para poder ver a ressonacircncia jalecatildeo com

siacutembolo aqui de bacana da faculdade Em quem acredita No velhinho laacute do SUS ou no Dr neurologista Aiacute

vocecirc natildeo tem dinheiro nessa associaccedilatildeo porque vocecirc soacute tem pobre laacute Natildeo tem ningueacutem para doar

ningueacutem eacute amigo de empresaacuterio (Entrevistado 2)20

Pessoas com poder aquisitivo baixiacutessimo que quebram seu cofrinho para vir de ocircnibus participar da reuniatildeo

e contar seus problemas e choram tem os fibromas (Entrevistado 3)

A posiccedilatildeo social do paciente tende a influenciar a forma como ele se relaciona com a

associaccedilatildeo Relembrando Novas (2006) as pessoas que participam nas POs satildeo

essencialmente da classe meacutedia e possuem grande poder de mobilizaccedilatildeo Na realidade

brasileira enquanto os indiviacuteduos da classe meacutedia ao envolverem-se com uma associaccedilatildeo

optam por fazer parte da diretoria corpo dirigente ou na fundaccedilatildeo da entidade os indiviacuteduos

que buscam o apoio a orientaccedilatildeo e participam das reuniotildees satildeo na sua maioria oriundos de

classes sociais mais baixas

Em terceiro lugar estaacute a realizaccedilatildeo de accedilotildees para abordagem de novos temas e levar alguns

assuntos para fora do campo restrito da biomedicina Neste formato as associaccedilotildees tendem a

agir de forma transversal e em busca da melhoria do cuidado para o paciente Nesse quadro em

especiacutefico pode-se citar a percepccedilatildeo de um crescimento sobre o debate da vinculaccedilatildeo das

doenccedilas raras com as deficiecircncias Apesar de ser uma tentativa de melhoria real da qualidade

de vida do doente e distante da manipulaccedilatildeo de medicamentos pode natildeo gerar resultados devido

ao proacuteprio contexto do campo da deficiecircncia A vinculaccedilatildeo em si tambeacutem gera um intenso

debate natildeo soacute pela dificuldade de se encontrar um entendimento comum que define o que eacute uma

doenccedila rara como tambeacutem em responder agrave pergunta Se a maioria das doenccedilas raras possuem

20 Essa entrevista abordou a discriminaccedilatildeo das pessoas face aos serviccedilos puacuteblicos O que eacute exposto pelo entrevistado faz parte

dos fundamentos do complexo social-industrial como uma alianccedila entre o Estado e o capital privado no qual os serviccedilos

ofertados pelo Estado satildeo de baixa qualidade ldquoEsta divisatildeo da produccedilatildeo eacute essencial ao capital privado quer porque reserva

para si as produccedilotildees lucrativas quer porque ajuda a perpetuar a ideia de que o Estado eacute incompetente como produtor de

bens e serviccedilosrdquo (Santos e Hespanha 1987 30 sublinhado nosso)

26

causas geneacuteticas e portanto a pessoa nasce com ela qual o momento que poderaacute utilizar o

status da deficiecircncia ao nascer ou somente na manifestaccedilatildeo dos sintomas

A quarta forma refere-se ao envolvimento das POs na produccedilatildeo de conhecimento definiccedilatildeo

de protocolos e procedimentos de pesquisa Para os autores ldquoo quarto modo de envolvimento

entra na caixa preta do complexo mecanismo bioloacutegico e que ainda eacute desconhecido e permanece

por ser exploradordquo (Rabeharisoa et al 2012 16)

Relativamente a Portugal percebeu-se que as associaccedilotildees estatildeo entre o MHC e o MD

Influenciadas pelas accedilotildees da EURORDIS foram criadas duas associaccedilotildees nacionais a APDR

ndash Alianccedila Portuguesa de Doenccedilas Raras ndash e a Rariacutessimas Essa juntamente com outras

associaccedilotildees fundou a FEDRA ndash Federaccedilatildeo Portuguesa de Doenccedilas Raras21 De acordo com

Rabeharisoa et al (2012) uma das razotildees para a fundaccedilatildeo de duas associaccedilotildees com modelos

de accedilatildeo diferentes foi justamente o (des)entendimento sobre a percepccedilatildeo de doenccedilas raras que

fez a APDR dirigir as suas accedilotildees para algo mais proacuteximo ao MHC Aleacutem da diferenccedila na forma

de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees francesas em Portugal o atendimento aos pacientes e familiares

possui o suporte psicoloacutegico e a autoajuda como prioridades Natildeo possuem interesse de

participar em pesquisas ou pelo menos o interesse das associaccedilotildees de doenccedilas raras natildeo difere

da grande maioria das associaccedilotildees que tratam de doenccedilas ldquonatildeo-rarasrdquo

No caso brasileiro a relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica em geral eacute vista como ldquoum

ramo meio perigosordquo (Entrevistado 3) As investidas da induacutestria sobre as associaccedilotildees satildeo

conhecidas por todas as pessoas envolvidas no campo das doenccedilas raras e o seu interesse sobre

as associaccedilotildees natildeo eacute uniforme e muito menos possui os mesmos objetivos O caso da

Neurofibromatose ndash NF eacute exemplar Mesmo natildeo tendo uma medicaccedilatildeo especiacutefica que paralise

os avanccedilos da doenccedila todos os entrevistados afirmaram que haacute uma grande procura da induacutestria

pelos pacientes mas muitas vezes o interesse natildeo estaacute relacionado em ajudar o paciente ou a

busca de informaccedilotildees sobre a doenccedila mas de fazer do paciente um meio para se conseguir as

respostas para outras perguntas

Eacute como se fosse um rato de laboratoacuterio Vocecirc faz um camundongo geneticamente modificado para estudar e

para poder aplicar nos pacientes O rato vocecirc natildeo estaacute interessado nele Estou fazendo uma comparaccedilatildeo

grosseira meio caricatural mas que eacute mais ou menos isso Quer dizer Opa NF1 eacute o modelo estudado de

doenccedila geneacutetica com a cadeia metaboacutelica da reproduccedilatildeo da divisatildeo e multiplicaccedilatildeo celular que se quer

entender para tratar os cacircnceres Soacute que na verdade quando vocecirc abre o mapa dos processos metaboacutelicos

celulares eacute um verdadeiro universo e as proteiacutenas ligadas agrave neurofibromina e agrave mielina satildeo parte desse

processo Entatildeo eles querem dizer assim Olha seraacute que se noacutes controlarmos aqui seraacute que a gente mexe

no cacircncer laacute na ponta Entatildeo eu acho que haacute um interesse dos laboratoacuterios porque eles estatildeo pensando

em outra coisa natildeo estatildeo pensando na doenccedila (Entrevistado 2 sublinhado nosso)

A NF possui um contexto diferente de outras doenccedilas porque natildeo eacute o produto final da

medicaccedilatildeo e por seus sintomas acontecerem de diferentes maneiras a sua manifestaccedilatildeo eacute

motivo de grande discriminaccedilatildeo pela sociedade familiares e ateacute profissionais de sauacutede22

O olhar acorrentado da sociedade para noacutes eacute perturbador Eacute a discriminaccedilatildeo inclusive no meio meacutedico Noacutes

sabemos de casos que a pessoa com a Neurofibromatose chegando no consultoacuterio do SUS o meacutedico colocou

luvas de procedimento porque viu aquela pessoa cheia de neurotumores neurofibromas no rosto foi

colocado luva de procedimento O portador de Neurofibromatose ele eacute excluiacutedo da sociedade a niacutevelhellip em

todos os niacuteveis em todos os segmentos da sociedade (Entrevistado 3 sublinhado nosso)

21 APDR - httpapnptapn httpwwwrarissimaspt httpfedrapt 22 O cuidado que o profissional de sauacutede deve ter ao tratar pacientes que possuem uma situaccedilatildeo fragilizada desde a sua infacircncia

muitas vezes eacute substituiacutedo pela total falta de informaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Um fato contado por uma paciente de NF ex-diretora

da AMAVI eacute que ao recusar o pedido para fazer parte de uma pesquisa o questionamento do meacutedico foi simples direto e

totalmente avesso ao cuidado ldquoMas porquecirc Vai virar um monstro mesmordquo

27

Para o paciente a NF impacta na sua proacutepria identidade Isso faz com que a melhoria da

qualidade de vida seja fundamental nas atividades das associaccedilotildees e a luta contra o preconceito

inclusive para a proacutepria aceitaccedilatildeo da doenccedila pelo paciente faz parte desta melhoria

Em uma outra realidade diferente da NF haacute um grande envolvimento entre as associaccedilotildees

civis e a induacutestria Esse envolvimento eacute percebido notadamente nas associaccedilotildees que lidam com

as doenccedilas que possuem medicamentos especiacuteficos ou que podem desenvolver accedilotildees de

interesse da induacutestria nomeadamente os trabalhos de advocacy Essa disparidade gera uma

situaccedilatildeo perversa As Associaccedilotildees que possuem medicaccedilatildeo especiacutefica mesmo para doenccedilas

consideradas ultra-raras tecircm mais recursos e condiccedilotildees de agir que aquelas onde o nuacutemero de

pacientes eacute maior mas ainda natildeo haacute medicaccedilatildeo disponiacutevel

As associaccedilotildees de pacientes em Portugal conforme o trabalho posicionam-se entre o

caminho do Modelo por Delegaccedilatildeo e o Modelo Hiacutebrido Coletivo porque natildeo utilizam a

integralidade do MD o qual a ideia da coletividade eacute excluiacuteda e nem do MHC que se

caracteriza pela formaccedilatildeo de uma comunidade baseada na combinaccedilatildeo entre competecircncias e

prerrogativas Diferente do que ocorre em Franccedila o MHC em Portugal natildeo estaacute vinculado ao

criteacuterio de raridade e aleacutem disso quando as associaccedilotildees optam por utilizarem este modelo ldquoeles

rejeitam claramente a condiccedilatildeo de rara como um criteacuterio que justifica as suas escolhasrdquo

(Rabeharisoa et al 2012 21)23

De acordo com o disposto o conceito de MHC construiacutedo a partir dos estudos sobre a

forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees civis caracteriza-se pela formaccedilatildeo de comunidades que

promovem a cooperaccedilatildeo entre os pacientes especialistas e associaccedilotildees de pacientes para a

produccedilatildeo de conhecimento e desenvolvimento de pesquisas Eacute portanto uma relaccedilatildeo em que

os pacientes posicionam-se como ldquoexperts pela experiecircnciardquo ou ldquopacientes especialistasrdquo

detentores do poder de influenciar os mecanismos para o melhor tratamento e melhoria da

qualidade de vida

Na Franccedila por exemplo a AFM criada em 1958 participou activamente na investigaccedilatildeo para pocircr fim ao

que chamou de o ciacuterculo vicioso da ignoracircncia e indiferenccedila (Paterson amp Barral 1994 Rabeharisoa amp

Callon 1999 Rabeharisoa amp Callon 2004 ) Ele foi fundamental para a invenccedilatildeo do MHC que se consolidou

ao longo dos anos 1980 e 1990 e na criaccedilatildeo da Alianccedila Francesa Maladies Rares e de EURORDIS Ele

contribuiu para o desenvolvimento de laccedilos fortes tanto em Franccedila como noutros paiacuteses europeus entre a

causa de doenccedilas raras e a criaccedilatildeo do MHC (Rabeharisoa et al 2012 5)

Como as associaccedilotildees de pacientes com doenccedilas raras formam o tecido que define o MHC

e considerando que a proacutepria definiccedilatildeo de doenccedilas raras possui grande influecircncia dessas

associaccedilotildees principalmente da Eurordis eacute interessante observar que haacute motivaccedilotildees que

passaram ao largo do MHC e que geram problemas para os proacuteprios pacientes Um deles eacute a

definiccedilatildeo de doenccedilas raras O criteacuterio estatiacutestico utilizado pela Eurordis (para a Europa eacute

considerara rara aquela doenccedila que alcanccedila 1 em cada 2000 nascidos) eacute um problema ainda a

ser resolvido Ele eacute utilizado como uma ferramenta para conseguir principalmente sensibilizar

o Estado para a necessidade de desenvolver poliacuteticas que favoreccedilam a comercializaccedilatildeo de

medicamentos Somente pela definiccedilatildeo ldquoobjetivardquo da prevalecircncia eacute possiacutevel criar criteacuterios

estatiacutesticos sobre a populaccedilatildeo que podem ser usados em dois sentidos O da singularidade para

demonstrar que a doenccedila natildeo eacute comum e faz com que a realidade vivida pelo doente e seus

familiares seja de difiacutecil conhecimento uma vez que impacta 1 em cada 2000 nascidos e o da

generalidade24 quando haacute a partilha da doenccedila com outros indiviacuteduos que utilizando o mesmo

23 Semelhante ao que aconteceu em Portugal representantes da Fedra e da Rariacutessimas a partir de 2012 comeccedilam a influenciar

as associaccedilotildees que tratam de doenccedilas raras no Brasil E como aconteceu em Portugal essa aproximaccedilatildeo impacta natildeo soacute no

distanciamento entre as associaccedilotildees nacionais como tambeacutem na mudanccedila da forma de atuaccedilatildeo daquelas que se vinculam a

associaccedilatildeo portuguesa passando a assumir um formato muito mais aberto ao mercado e na busca por captaccedilatildeo de pacientes 24 Vololona et al (2012) realizam uma abordagem mais aprofundada sobre singularizaccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

28

dado estatiacutestico chega a 2000 pessoas vivendo com a mesma situaccedilatildeo de exclusatildeo

discriminaccedilatildeo e falta de tratamento Conhecendo portanto o tamanho da populaccedilatildeo eacute faacutecil

chegamos ao total de pessoas afetadas Outro problema refere-se ao paciente alargado Apesar

dos responsaacuteveis pelo doente e outras pessoas poderem ser somados agraves estatiacutesticas por

sofrerem com o diagnoacutestico da doenccedila devido agrave falta de informaccedilatildeo a ideia do paciente

alargado (pais matildees e demais interessados) deve ser refutada uma vez que acoberta aquele que

sofre os sintomas da doenccedila o proacuteprio paciente Com tal refutaccedilatildeo pretende-se voltar a atenccedilatildeo

natildeo somente para o paciente mas tambeacutem identificar a rede de apoio agrave sua volta que tem como

sentimento baacutesico o amor que faz os seus familiares lanccedilarem-se em uma ldquopesquisa na selvardquo

dentro da perspectiva colocada por (Callon e Rabeharisoa 2003) E por fim a identificaccedilatildeo

dos laccedilos que tentam ser captados pelo uso da ideia alargada de paciente deve ser realizada sob

a perspectiva de Epstein (2008) quando declara que opta por dar atenccedilatildeo as conexotildees que essas

associaccedilotildees influenciam e satildeo influenciadas

Eu prefiro seguir tanto os analistas e os atores para cada vez mais pensar fora da caixa de grupos de

pacientes no sentido estrito do termo de forma a desenhar conexotildees bem como contrastes em uma ampla

variedade de casos (Epstein 2008 504)

As formas de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees

As abordagens sobre as Associaccedilotildees Civis que atuam no campo das doenccedilas raras natildeo facilitam

o entendimento sobre a influecircncia que a induacutestria exerce sobre elas Uma das principais

interessadas no desenvolvimento de accedilotildees para a regulamentaccedilatildeo dos medicamentos para

doenccedilas raras a induacutestria possui envolvimento tanto com associaccedilotildees civis e profissionais de

sauacutede quanto com agentes do governo Para atingir o seu puacuteblico e gerar accedilotildees que favoreccedilam

a aprovaccedilatildeo de seus medicamentos frequentemente realizam eventos especiacuteficos para os

medicamentos ldquooacuterfatildeosrdquo25 Assim aleacutem do poder financeiro jaacute conhecido que exercem sobre o

governo e profissionais da sauacutede a grande influecircncia no proacuteprio direcionamento das atividades

das associaccedilotildees civis leva alguns cientistas sociais a questionarem se ldquoas associaccedilotildees de

pacientes satildeo Cavalos de Troia do neoliberalismordquo (Rabeharisoa 2008) Essa pergunta ainda

natildeo possui uma resposta conclusiva mas os caminhos que satildeo traccedilados no campo das doenccedilas

raras por algumas associaccedilotildees sinalizam uma tendecircncia afirmativa para a questatildeo

Aleacutem dos estudos que ainda natildeo conseguem fornecer uma conclusatildeo para o cruzamento de

interesses entre as associaccedilotildees de pacientes e a induacutestria muitos deles atribuem caracteriacutesticas

semelhantes de atuaccedilatildeo para associaccedilotildees que possuem interesses e objetivos muito distintos

reforccedilando a confusatildeo construiacuteda sobre o campo das doenccedilas raras Como o jaacute citado caso do

paciente alargado que faz da proacutepria pessoa que sofre os sintomas da doenccedila um ser invisiacutevel

uma vez que em muitos casos natildeo eacute ouvida e acaba por se tornar uma peccedila adjacente agraves

discussotildees que ao fim e ao cabo o transformam em um ldquoapecircndicerdquo da medicaccedilatildeo

Diante de um quadro generalizante eacute preciso uma nova concepccedilatildeo para as associaccedilotildees civis

de doenccedilas raras de forma a ser possiacutevel clarear os interesses em jogo porque

1 A relaccedilatildeo doenccedila = medicamento26 esconde as necessidades dos pacientes Tendo a

doenccedila rara uma necessidade de acompanhamento multidisciplinar e que impacta em outros

25 O termo oacuterfatildeo eacute utilizado pela induacutestria farmacecircutica para designar os medicamentos destinados para um pequeno nuacutemero

de pessoas Incialmente vistos como produtos natildeo rentaacuteveis nos uacuteltimos a induacutestria apercebeu-se do seu valor de mercado

Atualmente eacute um setor bastante competitivo dominado pelas grandes empresas farmacecircuticas da Europa e dos EUA

destacando-se Shire Sanofi Genzyme e Novartis A rentabilidade desses medicamentos eacute considerada maior que a dos

medicamentos ldquonatildeo-oacuterfatildeosrdquo Como pode ser visto pelo Orphan Drug Report 2013 disponiacutevel nesta reportagem

httpwwwfiercepharmacomspecial-reportstop-20-orphan-drugs-2018 26 Essa relaccedilatildeo eacute fortemente influenciada pela induacutestria farmacecircutica principalmente quando comeccedilam a denominar as doenccedilas

raras como doenccedilas oacuterfatildes Aleacutem dessa formataccedilatildeo deliberada que se extende ateacute o indiacuteduo como para cada pessoa com doenccedila

rara haacute uma rentabilidade atrelada os encontros realizados para as associaccedilotildees de doenccedilas raras independente do paiacutes sempre

29

campos como a construccedilatildeo da identidade luta contra o preconceito e a construccedilatildeo da cidadania

o tratamento medicamentoso eacute apenas uma parte de todo o tratamento

2 O foco nos medicamentos oacuterfatildeos faz do paciente a resposta para o lucro Quando haacute o

trabalho para implementaccedilatildeo de uma poliacutetica especiacutefica baseada em conceitos equivocados os

dados estatiacutesticos de incidecircncia natildeo baseados em estudos estruturados e a concepccedilatildeo de que a

induacutestria natildeo tem interesse em desenvolver remeacutedios para doenccedilas raras faz com que o paciente

se torne no meio pelo qual as empresas alcanccedilam os seus lucros

3 A ideia da simbiose entre o medicamento e a doenccedila oacuterfatilde esconde a pessoa A

desconstruccedilatildeo dessa ideia torna-se urgente para colocar o paciente no centro das discussotildees e

fazer com que sejam produzidas as respostas adequadas agraves necessidades existentes Eacute preciso

olhar a pessoa e natildeo a doenccedila

4 A loacutegica neoliberal de exploraccedilatildeo do homem suplanta as necessidades do cuidado A

utilizaccedilatildeo do termo organizaccedilatildeo refere-se a instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas mais as privadas

que as puacuteblicas que possuem os seus proacuteprios ditames e filosofias de trabalho Sendo a

associaccedilatildeo civil uma reuniatildeo de indiviacuteduos ao chamaacute-las de organizaccedilotildees os laccedilos que satildeo

(re)construiacutedos entre as pessoas quase que diariamente satildeo substituiacutedos pela loacutegica da

hierarquizaccedilatildeo e produccedilatildeo27 A utilizaccedilatildeo do termo associaccedilatildeo deixa evidente que se trata de

uma associaccedilatildeo da sociedade civil delimita o campo para fora da influecircncia do capital e passa

a inverter a loacutegica encontrada por Rabeharisoa e Callon (apud Epstein 2008) quando

perceberam que muitas das associaccedilotildees possuem grandes similaridades com organizaccedilotildees

empresariais

5 A construccedilatildeo de uma identidade do Raro eacute um assalto agrave cidadania Percebe-se que no

Brasil haacute uma intenccedilatildeo de criar a identidade do Raro Desta maneira em muitos discursos e

eventos para a comunidade comeccedilamos a perceber o crescente uso do termo Raroa(s) para

identificar o paciente a famiacutelia e toda a comunidade Tendo como fundamento Giddens (2002)

o eu eacute construiacutedoreconstruiacutedo por processos psicoloacutegicos que ajudam a (re)organizaccedilatildeo do eu

para o futuro As vivecircncias que temos no nosso passado ajudam o nosso posicionamento no

futuro Portanto forccedilar a aceitaccedilatildeo do raro como identidade eacute o mesmo que tirar a pessoa da

construccedilatildeo de um cidadatildeo ativo para inseri-lo numa condiccedilatildeo de diferenccedila exclusatildeo e ainda

centrado na doenccedila

6 Eacute necessaacuterio a apropriaccedilatildeo do Bios pelo social Apesar de todos os assuntos que satildeo

discutidos para esse tipo de associaccedilatildeo ter a forte influecircncia da biotecnologia em todos os

campos (cidadania socialidade valor banco etc) vincular as associaccedilotildees ao Bios sob a

perspectiva de Michel Foucault como a entrada da vida nos campos de saber tende a eliminar

a utilizaccedilatildeo de dados imprecisos como objetivos e consequentemente democratizar os debates

sobre as pesquisas bioloacutegicas

8 A identificaccedilatildeo da influecircncia da Biotecnologia como um assunto transversal A

evidenciaccedilatildeo de uma influecircncia comum e que natildeo seja focada no conceito de raras eacute relevante

para a consciencializaccedilatildeo aleacutem dos nuacutemeros e apoia a convergecircncia das accedilotildees para um campo

de atuaccedilatildeo comum entre todos uma vez que conforme Akrich et al (2008 234) A forma das

satildeo vinculados aos medicamentos oacuterfatildeos Um exemplo eacute o ICORD ndash International Conference on Rare Disease and Orphan

Drugs encontro anual com especialistas de diferentes partes do mundo Nesse sentido tambeacutem haacute o Consoacutercio Internacional

de Pesquisa em Doenccedilas Raras (IRDiRC) iniciado pela Comissatildeo Europeia e o Instituto Nacional para Pesquisa em Sauacutede dos

EUA em abril de 2011 para promover a colaboraccedilatildeo internacional na aacuterea das doenccedilas raras e atingir dois objetivos principais

entregar 200 novas terapias para as doenccedilas raras e os meios para diagnosticar doenccedilas mais raras ateacute o ano de 2020

httpeceuropaeuresearchhealthmedical-researchrare-diseasesirdirc_enhtml 27 O consenso que o termo Organizaccedilatildeo eacute da aacuterea empresarial pode ser colocado agrave prova num teste simples Ao inserir ldquodefine

organizationrdquo em um site de busca como o Google por exemplo o primeiro dicionaacuterio a aparecer eacute ligado aos negoacutecios

(Business Dictionary) Ao fazer o mesmo processo com ldquodefine associationrdquo o primeiro link refere-se a um dicionaacuterio livre

(The Free Dictionary) e o Business Dictionary da pesquisa anterior aparece em nono dos dez links da paacutegina

30

questotildees comuns natildeo eacute autoevidente A partilha de questotildees transversais natildeo existe

naturalmente Elas devem ser definidas trabalhadas e negociadas

A necessidade sobre a melhoria do entendimento do campo das associaccedilotildees de doenccedilas

raras e consequente melhor definiccedilatildeo para a sua atuaccedilatildeo eacute compartilhada por Rabeharisoa et al

(2013) ao proporem o uso do termo Evidecircncia baseada em ativismo para capturar todos os

grupos e ativistas que atuam no campo biomeacutedico O termo ainda pretende abrir o campo de

visatildeo para aleacutem das pesquisas biomeacutedicas e reconhece que a busca pela ldquocurardquo28 natildeo eacute o uacutenico

motivo que orienta os pacientes Desta maneira eacute um avanccedilo em relaccedilatildeo aos trabalhos que

standartizam as atividades das associaccedilotildees e imprimem as mesmas perspectivas para diferentes

contextos

Uma vez que a forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees influencia inclusive a sua relaccedilatildeo com

a induacutestria perceber as atividades para a sociedade com a motivaccedilatildeo como pano de fundo

auxilia-nos a encontrar formas diferentes de accedilatildeo Desta maneira as atividades das associaccedilotildees

podem ser agrupadas em trecircs eixos que aqui denomino como o do advocacy da garantia de vida

e da qualidade de vida Esta tipificaccedilatildeo possui o objetivo de explicitar a diferenciaccedilatildeo entre as

associaccedilotildees e natildeo criar rigidificaccedilotildees para um campo que ainda carece de pesquisas sob uma

perspectiva diferente da que encontramos na atualidade

O eixo do Advocacy possui uma frente voltada para a mobilizaccedilatildeo da comunidade e outra

para a sensibilizaccedilatildeo do Estado Quanto maior a mobilizaccedilatildeo de pessoas para a causa das

doenccedilas raras maior seraacute a possibilidade de sensibilizar os agentes do Estado principalmente

nos poderes legislativo e executivo Considerando que o resultado das atividades relacionadas

com este eixo tem como uacuteltimo resultado a aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act o envolvimento

com a induacutestria eacute muito estreita Nesse eixo as associaccedilotildees utilizam os mesmos mecanismos

da governaccedilatildeo empresarial como a departamentalizaccedilatildeo das funccedilotildees visatildeo empresarial com a

definiccedilatildeo de visatildeo missatildeo valores e planejamento estrateacutegico comunicaccedilatildeo de massa e a

formaccedilatildeo de redes nacionais e internacionais visando a criaccedilatildeo de um problema global O foco

do mercado natildeo estaacute nos projetos que essas associaccedilotildees desenvolvem mas na sua influecircncia

que realizam junto ao Estado Certamente satildeo as associaccedilotildees que atuam neste eixo que

fomentam a duacutevida sobre a validade como cavalos de troacuteia do neoliberalismo Tanto a Eurordis

quanto a AFM possuem o eixo do advocacy como base de accedilatildeo

Na Garantia da vida encontram-se as associaccedilotildees que lidam com doenccedilas fatais ou que

diminuem a expectativa de vida de maneira significativa Dividem-se em a) garantia de vida

pela pesquisa satildeo aquelas que optam por natildeo se alinharem com as associaccedilotildees guarda-chuva

A princiacutepio desenvolvem suas atividades para conhecer a doenccedila Agrave partida comeccedilam pela

procura de cientistas que tenham ou estejam interessados em desenvolver pesquisas sobre a

doenccedila e passam a conhecer todos os sintomas da enfermidade A abrangecircncia de atuaccedilatildeo

depende da quantidade e qualidade de informaccedilotildees disponiacuteveis Por concentrarem as suas accedilotildees

em apenas uma doenccedila a capacidade de mobilizaccedilatildeo torna-se reduzida Contando largamente

com a participaccedilatildeo das mulheres na lideranccedila a relaccedilatildeo com a induacutestria eacute quase nula ou

potencialmente existente quando haacute o interesse no desenvolvimento de medicamento pela

induacutestria b) garantia de vida pelo medicamento satildeo as associaccedilotildees que dependem da

medicaccedilatildeo para a vida do paciente ser garantida ou o avanccedilo da doenccedila ser paralisado

Fortemente influenciadas pelas induacutestrias farmacecircuticas natildeo soacute na constituiccedilatildeo da associaccedilatildeo

como tambeacutem no direcionamento das suas atividades algumas vezes e dependendo da

disposiccedilatildeo dos dirigentes da associaccedilatildeo podem trabalhar como agentes de campo da induacutestria

para conseguir encontrar os pacientes para os seus medicamentos Possuem portanto o maior

28 O reconhecimento que as associaccedilotildees possuem mais motivaccedilotildees que a busca exclusiva pela cura ainda mais por ela natildeo

existir enriquece de maneira significativa a percepccedilatildeo sobre essas associaccedilotildees

31

alinhamento com o modo de produccedilatildeo capitalista na qual o paciente acaba sendo a mais valia

com o seu preccedilo vinculado ao valor do remeacutedio

Finalmente o uacuteltimo eixo eacute o da luta pela qualidade de vida Esse eixo tem a participaccedilatildeo

das associaccedilotildees que tratam com doenccedilas que natildeo possuem risco de morte mas possuem forte

fator de cronicidade com manifestaccedilotildees cliacutenicas evidentes que muitas vezes satildeo motivo de

discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Possuem grande foco na autoajuda e no apoio muacutetuo O

relacionamento com a induacutestria farmacecircutica eacute quase nulo ou de aversatildeo Natildeo por falta de

interesse da induacutestria mas pelo receio das associaccedilotildees serem utilizadas como ratos de

laboratoacuterio As accedilotildees deste eixo estatildeo mais centradas no trabalho com a sociedade e para

mostrar que a doenccedila eacute mais uma questatildeo social que individual

Conclusatildeo

Manter a percepccedilatildeo sobre as associaccedilotildees de doenccedilas raras focalizada nos resultados que

promovem na sociedade sem conhecer os pacientes ou as motivaccedilotildees que levam os pais matildees

ou os militantes a iniciar uma associaccedilatildeo civil eacute prosseguir ou ateacute mesmo incentivar o avanccedilo

do mercado sobre a sauacutede A anaacutelise das associaccedilotildees e a tipificaccedilatildeo de suas atividades

realizadas nesse trabalho baseiam-se conforme exposto por Epstein (2008) na necessidade de

criar uma anaacutelise na perspectiva do ativista em uma visatildeo de dentro do grupo de pacientes

sobre a negociaccedilatildeo vis-agrave-vis com a aacuterea Biomeacutedica Estado e Mercado Ao colocar as

motivaccedilotildees que gerem as associaccedilotildees civis para doenccedilas raras encontra-se uma gama de

interesses que muitas vezes deixam o paciente longe de qualquer discussatildeo A influecircncia da

biotecnologia e seu mercado assume um papel estruturante porque atua justamente na

reconfiguraccedilatildeo da influecircncia da biomedicina e do bios na ldquoredefiniccedilatildeo da vida e da sauacutede como

poliacuteticardquo (Felipe 2009)

Apesar do eixo da biotecnologia ser comum aos trabalhos desenvolvidos por diferentes

cientistas que estudam as associaccedilotildees de doenccedilas raras de partida natildeo haacute aqueles que se

dedicam em escrutinar a dimensatildeo do ldquobiosrdquo das associaccedilotildees Tomando o Bios dentro de uma

perspectiva foucaultiana como a luta pela vida ou melhor dizendo a entrada da vida nos

campos do (bio)poder da (bio)cidadania da (bio)poliacutetica (bio)socialidade e como

reconhecimento de uma forte influecircncia da biotecnologia a assimilaccedilatildeo radical do BIOs para o

contexto das associaccedilotildees pode facilitar o entendimento sobre as forccedilas que as influenciam e os

mecanismos que utilizam para alcanccedilarem os seus objetivos Ao mesmo tempo que reconheccedilo

a necessidade de realizar um estudo sistemaacutetico sobre o BIOs percebo os evidentes ldquosinaisrdquo

(Ginzburg 1989) que satildeo deixados no campo e que me levam a crer na necessidade da tomada

natildeo somente do BIOs como uma questatildeo social mas tambeacutem do termo BIOassociaccedilotildees como

uma necessidade identitaacuteria das associaccedilotildees civis que atuam no campo das doenccedilas raras

Como visto as BIOassociaccedilotildees satildeo criadas como uma resposta a falta de informaccedilotildees que

paismatildees ou pacientes encontram no campo das doenccedilas raras Apesar da esperanccedila em uma

melhoria futura ser uma de suas motivaccedilotildees as BIOassociaccedilotildees possuem como motor de

arranque o medo a coragem a resignaccedilatildeo e a frustraccedilatildeo que as pessoas experimentam quando

satildeo inseridas na realidade de uma doenccedila incuraacutevel Embaladas sob o manto do cuidado os

paismatildees dos pacientes com doenccedilas raras jogam-se em uma verdadeira ldquopesquisa na selvardquo

em busca de informaccedilotildees que podem ajudar as suas crianccedilas Se a informaccedilatildeo eacute mais importante

que o tratamento29 e a sua falta a origem de toda a anguacutestia pessoal que acaba por se tornar

num problema social cabe ao Estado organizar-se para que as suas informaccedilotildees sejam as

29 Durante quatro anos a enquete ldquoEm sua opiniatildeo o que possui o maior impacto negativo A falta de tratamento ou A falta de

informaccedilatildeordquo ficou disponiacutevel no site da AMAVI Durante esse periacuteodo 60 das respostas indicavam que a falta de

informaccedilatildeo gerava um impacto negativo maior que a falta de tratamento

32

primeiras a chegarem ao paciente e demais interessados nas doenccedilas raras Caso contraacuterio a

sua ausecircncia eacute um incentivo para o capital continuar a fazer dos paismatildees e associaccedilotildees

agentes de produccedilatildeo do lucro e de suas crianccedilas e pacientes a mateacuteria-prima para a criaccedilatildeo do

biovalor como colocado por Novas (2006)

A questatildeo das bioassociaccedilotildees eacute definitivamente um problema social Mas natildeo do social

para conseguir gerar os lucros para o capital como vem sendo realizado ateacute ao momento pela

regulamentaccedilatildeo do Orphan Drug Act mas como a necessidade do Estado apoiar as famiacutelias

que convivem com a biomedicina de maneira direta e natildeo por intermediaccedilatildeo do mercado Desta

maneira alinho-me agraves recomendaccedilotildees realizadas por Akrich et al (2008)

Reconhecer a regra das organizaccedilotildees de pacientes na governaccedilatildeo do conhecimento e poliacuteticas de sauacutede faz

das POs os proacuteprios atores no seu proacuteprio direito de produccedilatildeo de conhecimento Centros de pesquisa devem

ser chamados para aprimorar a mediaccedilatildeo entre pacientes e induacutestrias e entre pacientes e pesquisadores Os

procedimentos para definir os patrocinadores devem ser definidos e transparentes

Tambeacutem tendo o medicamento como pano de fundo e para uma visatildeo mais abrangente eacute

necessaacuterio incentivar as pesquisas sociais que como assinalado por Epstein (2008) realizem

estudos comparativos entre a mesma perspectiva em paiacuteses diferentes ou perspectivas diferentes

no mesmo paiacutes30 incentivar a produccedilatildeo cientiacutefica em outros paiacuteses uma vez que grande parte

dos estudos estatildeo concentrados nos EUA e nos paiacuteses do oeste europeu analisar a dinacircmica

entre Movimento e Contramovimento e analisar as diferentes fases de atividades entre

movimentos da sauacutede e sucessivos regimes de doenccedila

Enquanto a preocupaccedilatildeo estiver exclusivamente na accedilatildeo das associaccedilotildees e seus resultados

na sociedade a pessoa que sofre os sintomas da doenccedila continuaraacute sendo invisiacutevel e os

sentimentos de seus familiares e grupos de apoio mais proacuteximos continuaratildeo relegados

Referecircncias Biograacuteficas

Akrich M Nunes JA Rabeharisoa V (2008) Conclusions in The Dynamic of patient

organizations in Europe Paris Presses de lrsquoEacutecole des mines 221-245

Allsop J Jones K Baggott R (2004) Health consumer groups in the UK A new social

movement Sociology of Healty amp Illness 26(6) 737-756

Callon M Rabeharisoa V (2003) Research ldquoin the wildrdquo and the shaping of new social

dentities Technology in Society 25(2) 193-204

Epstein S (2008) Patient Groups and Health Movements in E Hackett O Amsterdamska

M Lynch e J Wajcman The Handbook of Science and Technology Studies Cambridge

Massachusetts MIT Press 499-539

30 Deve-se chamar a atenccedilatildeo para a grande variedade de trabalhos realizados na perspectiva dos estudos entre paiacuteses diferentes

mas europeus ou paiacuteses diferentes e do ldquonorterdquo Muitas accedilotildees estatildeo em andamento em paiacuteses de todos os continentes mas

ainda sem grande interesse dos pesquisadores Haacute o risco de nos paiacuteses da Ameacuterica Latina o modelo europeu ser implantado

na sua totalidade sem considerar as caracteriacutesticas locais Esse argumento eacute reforccedilado quando se percebe que as induacutestrias que

investem nas associaccedilotildees independentes do paiacutes satildeo praticamente as mesmas A globalizaccedilatildeo da doenccedila natildeo pode superar a

regionalizaccedilatildeo dos problemas

33

Faurisson F (2000) Problemaacutetica das doenccedilas raras EURORDIS consultado a 20112012

disponiacutevel em httpwwweurordisorgpt-ptcontento-que-e-uma-doenca-rara

Filipe A M (2009) Actores colectivos e os seus projectos para a sauacutede o caso das

associaccedilotildees de doentes em Portugal ea-journal 1(2) 1-48

Novas C (2006) The Political Economy of Hope Patientsrsquo Organizations Science and

Biovalue BioSocieties 1 289-305

Nunes J A (2006) A pesquisa em sauacutede nas ciecircncias sociais e humanas Tendecircncias

Contemporacircneas Oficina 253 Coimbra Centro de Estudos Sociais da Universidade de

Coimbra

Rabeharisoa V Moreira T Akrich M (2013) Evidence-based activism Patientsrsquo

organisations users and activists groups in knowledge society CSI Working Papers Series

33

Rabeharisoa V et al (2012) The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases

in French and Portuguese patientsrsquo organizationsrsquo engagement in research CSI Working Paper

Series 026

Rabeharisoa V (2008) Experience knowledge and empowement the increasing role of

patient organizations in staging weighting and circulating experience and knowledge in

Akrick M et al The dynamics of patient organizations in Europe Paris Sociales Collection

Sciences 13-34

Santos B S Hespanha P (1987) O Estado a sociedade e as poliacuteticas sociais Revista

Criacutetica de Ciecircncias Sociais 62 13-73

34

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais

Siacutelvia Portugal1 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra spfeucpt Joana Pimentel Alves2 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra joanapimentelalvesgmailcom

Introduccedilatildeo

Este texto parte do princiacutepio que um olhar a partir das redes sociais pode contribuir para a

superaccedilatildeo de (pre)conceitos acerca do cuidado das doenccedilas raras

A associaccedilatildeo de ldquorarordquo a doenccedila levanta problemas especiacuteficos que se constituem em

obstaacuteculos ao cuidado e agrave plena integraccedilatildeo social dosas doentes e das suas famiacutelias (Portugal

2013) As doenccedilas raras satildeo definidas pelo nuacutemero da sua ocorrecircncia pelo significado

estatiacutestico da sua incidecircncia na populaccedilatildeo Fogem portanto agrave norma Eacute o impacto do

significado meacutedico e social de estar fora da norma que marca a vida das pessoas com doenccedilas

raras e das suas famiacutelias Estar fora da norma implica que os diagnoacutesticos tardam os exames

as consultas e as opiniotildees se multiplicam as respostas natildeo satildeo adequadas as necessidades natildeo

satildeo atendidas a urgecircncia do cuidado contrasta com o tempo longo da espera Estar fora da

norma revela-se no corpo implica olhares furtivos contactos evitados oportunidades perdidas

gera estigma cria vidas escondidas quotidianos que giram agrave volta da doenccedila

O desafio eacute fazer com que o desvio da norma estatiacutestica natildeo se traduza em exclusatildeo social

assumindo para tal o princiacutepio da integralidade do cuidado e das necessidades da pessoa com

doenccedila e da sua famiacutelia Neste texto defende-se que um olhar a partir da rede social doa doente

permite responder a esse desafio Esta abordagem ancora-se em dois pressupostos as pessoas

sabem mais sobre a sua doenccedila do que os outros as pessoas satildeo mais do que a doenccedila

Doenccedilas raras e cuidado

Na sua acepccedilatildeo mais comum a noccedilatildeo de cuidado tem algumas proximidades com a definiccedilatildeo

de doenccedila rara O cuidado eacute excepcional episoacutedico pontual resulta de ldquoacidentesrdquo que

suscitam assistecircncia e apoio Esta noccedilatildeo tem obscurecido realidades que precisam de

visibilidade ndash a das pessoas que precisam de cuidados quotidianos continuados e ao longo da

vida e a dosas seusas cuidadoresas

Olhar para estas pessoas e para as suas necessidades obriga a uma construccedilatildeo ampla do

cuidado que reconheccedila que este eacute transversal na vida e no quotidiano de todas as pessoas natildeo

soacute dosas doentes Os desafios satildeo muacuteltiplos 1) reconhecer a vulnerabilidade de todosas noacutes

ao longo do ciclo de vida (Kittay 1999 Tronto 1993) 2) reconhecer que quem eacute cuidado

tambeacutem cuida (Lovell 2013) 3) sair das generalidades concetuais para prestar atenccedilatildeo aos

detalhes da vida (Laugier 2009) 4) construir uma linguagem diferente que ultrapasse os

modelos tradicionais da bio-medicina e da assistecircncia social que compartimentaliza as

1 Siacutelvia Portugal eacute doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas

Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE) 2 Joana Alves eacute Mestre e Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra bolseira da

Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD778392011)

35

necessidades e objectifica os sujeitos A linguagem do cuidado ldquopermite manter o fio da vida

ordinaacuteriardquo (Tronto 1993)

O cuidado eacute complexo e possui muacuteltiplas dimensotildees que mostram a complexidade do

fenoacutemeno e explicam a dificuldade em estabelecer uma definiccedilatildeo consensual (Alves 2011) o

contexto social e poliacutetico a natureza e extensatildeo do cuidado o domiacutenio em que ocorre as

relaccedilotildees entre quem cuida e quem eacute cuidado as razotildees para cuidar A tendecircncia predominante

na definiccedilatildeo de cuidado constroacutei-se em torno da oposiccedilatildeo entre duas vias de prestaccedilatildeo de

cuidados ndash a via formal e a via informal (OECD 2005 European Comission 2010

Triantafillou et al 2010)

O Quadro 1 segue esta distinccedilatildeo para identificar diferentes caracteriacutesticas do cuidado

Quadro 1 ndash Caracteriacutesticas do cuidado formal e informal

No entanto um olhar a partir das pessoas com doenccedilas raras relativiza esta distinccedilatildeo Na

praacutetica o apoio envolve sempre cuidados dos dois tipos mas tambeacutem porque a ldquoraridaderdquo das

doenccedilas torna mais especiacuteficas constantes e diversificadas as necessidades de cuidado o que

pode obrigar a um maior nuacutemero de intervenccedilotildees dos dois tipos e a que essas aconteccedilam com

maior frequecircncia Deste modo o que no quotidiano diferencia estes dois modos de prestaccedilatildeo

de cuidados satildeo o tipo e a intensidade de cuidados prestados que revelam niacuteveis de

36

envolvimento diferenciados entre cuidadoresas formais e informais E sobre isto os estudos

desenvolvidos tecircm sido muito claros quanto mais grave for a situaccedilatildeo de dependecircncia e mais

exigentes forem as necessidades maior eacute o envolvimento da famiacutelia na prestaccedilatildeo de cuidados

(Hooyman et al 1995 Goodhead et al 2007 Glendinning et al 2009 Triantafillou et al

2010 Alves 2011) O caraacutecter ldquorarordquo da doenccedila estende-se agraves respostas formais disponiacuteveis

quanto mais exigente eacute o tipo de apoio menos respostas existem e maior eacute a responsabilizaccedilatildeo

da esfera informal e da famiacutelia

A prestaccedilatildeo formal de cuidados apresenta portanto um quadro de intervenccedilatildeo que revela

escassa capacidade para integrar as especificidades e necessidades individuais produzindo uma

atenccedilatildeo normalizada e normalizadora que dificilmente atende agraves circunstacircncias de vida das

pessoas com doenccedilas raras A atenccedilatildeo da famiacutelia tende a contrariar este modo de agir O cuidado

prestado pela rede familiar parte das necessidades de quem eacute cuidado dando origem a uma

atenccedilatildeo especiacutefica As vidas de quem cuida satildeo construiacutedas na relaccedilatildeo com o outro e na resposta

agraves suas necessidades o que tem consequecircncias nas suas proacuteprias vidas Os impactos do cuidado

satildeo por isso inuacutemeros e em diferentes esferas relaccedilotildees pessoais e familiares trabalho e

emprego sauacutede dinheiro etc

As exigecircncias de um cuidado muito especiacutefico e especializado resultam sempre em

mudanccedilas no quotidiano e nas vidas de quem cuida Uma reestruturaccedilatildeo natildeo soacute ao niacutevel do tipo

e da intensidade das tarefas desenvolvidas como na forma como as pessoas passam a entender

o seu papel Ao entenderem o cuidado e o papel de cuidadoresas como o centro das suas vidas

sobra pouco espaccedilo para outras pessoas ou outras actividades

As suas rotinas tornam-se por isso riacutegidas natildeo soacute pelo tipo de tarefas realizadas mas

tambeacutem pelo ritmo a que as realizam ndash o apoio eacute quotidiano continuado e de longa duraccedilatildeo

Os tempos dos cuidados acabam por se sobrepor aos tempos pessoais dosas cuidadoresas e

isso isola os indiviacuteduos As sociabilidades e os tempos de lazer quando existem satildeo centradas

na famiacutelia Mas o isolamento natildeo se alimenta apenas da falta de tempo das pessoas para outras

coisas que natildeo o cuidado O preconceito para com o desconhecido para com o ldquorarordquo exclui

oa doente e a famiacutelia

Outra das aacutereas da vida de quem cuida mais afetada pelo cuidado eacute o trabalho e o emprego

Os impactos satildeo diversos e as poliacuteticas natildeo tecircm conseguido regulaacute-los revelando-se ineficazes

na proteccedilatildeo dosas trabalhadoresas com filhosas com necessidades de cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo Pela dificuldade em combinar-se o cuidado com o emprego

algunsmas cuidadoresas veem-se excluiacutedos do mercado de trabalho com especial incidecircncia

para as matildees trabalhadoras Quando a pessoa a cuidar exige uma atenccedilatildeo muito particular satildeo

na maioria as mulheres a reduzir o seu horaacuterio de trabalho ou a deixar o seu lugar no mercado

de trabalho formal para se dedicarem a tempo inteiro ao cuidado familiar

Isso eacute sobretudo gravoso dado os custos acrescidos que as famiacutelias das pessoas com

doenccedilas raras tecircm que comportar para proporcionarem as mesmas condiccedilotildees de igualdade de

oportunidades ou para salvaguardarem garantias baacutesicas de dignidade humana a essas pessoas

Estas famiacutelias pagam mais em aacutereas como a sauacutede a educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo etc custos

acrescidos que o niacutevel de apoios pecuniaacuterios atribuiacutedos pelo Estado natildeo permitem colmatar

(Portugal et al 2010)

Para aleacutem dos apoios pecuniaacuterios serem insuficientes tambeacutem o niacutevel das estruturas

especiacuteficas para situaccedilotildees de doenccedila que exigem uma assistecircncia permanente de outra pessoa

fica aqueacutem das necessidades reais As instituiccedilotildees organizam-se de modo a responder agraves

necessidades de todosas o que acaba por excluir todas as pessoas que tecircm necessidades de

atenccedilatildeo muito especializada A desadequaccedilatildeo entre a resposta necessaacuteria e o niacutevel de apoio

recebido leva a que quem cuida acabe muitas vezes por desistir de recorrer aos serviccedilos de

apoio especializado optando por ficar a cuidar muitas vezes a tempo inteiro

37

A sobrecarga de trabalho a estruturaccedilatildeo do quotidiano em torno dos cuidados e o estigma

social produzem efeitos fortes de desgaste fiacutesico e psicoloacutegico Os impactos ao niacutevel da sauacutede

de quem cuida satildeo assim elevados quer ao niacutevel fiacutesico quer ao niacutevel mental formando um ciclo

vicioso com outras dimensotildees acima mencionadas trabalho e sociabilidades Quanto mais

debilitada eacute a sauacutede dos indiviacuteduos maiores dificuldades encontram a outros niacuteveis quanto

mais precaacuterias satildeo as suas condiccedilotildees a niacutevel profissional e relacional mais fraacutegil se torna a sua

sauacutede (Portugal et al 2010)

Assim quando o foco passa a ser na integralidade do indiviacuteduo nas necessidades de quem

cuida e eacute cuidado e na procura da sua satisfaccedilatildeo a distinccedilatildeo entre cuidado formal e informal

parece fazer pouco sentido Uma abordagem a partir da rede de cuidados permite colocar os

sujeitos no centro e identificar as potencialidades e constrangimentos de cada tipo de prestaccedilatildeo

de cuidados

O cuidado um olhar a partir das redes sociais

O conceito de rede social constitui um instrumento analiacutetico que permite olhar para forma e

conteuacutedo das relaccedilotildees sociais ndash os noacutes e os laccedilos os elementos da rede as relaccedilotildees entre eles

os fluxos Partindo de trecircs perguntas simples Quem O quecirc Como Enunciamos questotildees que

permitem construir um olhar social sobre a pessoa que sofre de uma doenccedila rara e as suas

necessidades de cuidado Quem faz parte da rede Quem faz o quecirc Que recursos satildeo

mobilizados Como fazem Que praacuteticas Que normas O que se faz Por que se faz

Quando observamos as trajetoacuterias de vida das pessoas com doenccedilas raras e analisamos a

sua rede social vemos na famiacutelia o principal prestador de cuidados na procura de informaccedilatildeo

na busca de um diagnoacutestico na construccedilatildeo de itineraacuterios terapecircuticos no cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo (Alves 2011 Barbosa 2013) A famiacutelia eacute perene no espaccedilo e

no tempo e os laccedilos de parentesco satildeo sinoacutenimo de confianccedila (Portugal 2014) As relaccedilotildees

familiares oferecem assim garantias de estabilidade e continuidade que amortecem os efeitos

dos percursos cliacutenicos erraacuteticos a que frequentemente as pessoas estatildeo sujeitas

Como acima foi referido observando a rede verificamos que os elementos da famiacutelia satildeo

os atores mais ativos mobilizam recursos materiais e afetivos datildeo resposta a muacuteltiplas

necessidades A rede familiar caracteriza-se pela sua diversidade e plasticidade No interior dos

laccedilos de parentesco circulam fluxos diversos que asseguram o cuidado da pessoa com doenccedila

bens serviccedilos afecto apoio emocional sociabilidade informaccedilatildeo A famiacutelia provem diferentes

recursos que garantem o quotidiano das pessoas na doenccedila e para aleacutem da doenccedila alimentaccedilatildeo

vestuaacuterio habitaccedilatildeo transporte medicaccedilatildeo tratamentos informaccedilatildeo aconselhamento apoio

afectivo mediaccedilatildeo com o sistema de sauacutede e seguranccedila social Os laccedilos familiares revelam uma

elevada capacidade de resposta e de adaptaccedilatildeo agraves necessidades

Assim se o cuidado biomeacutedico tem dificuldades em lidar com as especificidades das

doenccedilas raras o cuidado familiar ao assentar na atenccedilatildeo agrave singularidade permite integrar a

diferenccedila e responder-lhe adequadamente As histoacuterias de cuidado(s) das pessoas com doenccedilas

raras revelam uma constelaccedilatildeo de praacuteticas e de saberes que permitem colocar no centro as

necessidades individuais Conjugando o tradicional e o moderno novas e velhas praacuteticas

saberes leigos e cientiacuteficos vias tecnoloacutegicas fontes formais e informais os exemplos da

aptidatildeo da rede familiar para encontrar soluccedilotildees que garantem o bem-estar dosas doentes satildeo

muacuteltiplos imaginativos e eficazes um alimento que se inclui ou retira da dieta uma teacutecnica

que permite vestir e despir mais raacutepido uma forma mais confortaacutevel de deitar levantar sentar

deslocar um medicamento que alivia uma associaccedilatildeo que ajuda um profissional de sauacutede que

eacute (mais) atento uma escola que natildeo discrimina um local de trabalho com boas praacuteticas um

local de lazer com boas acessibilidades um restaurante que responde a pedidos de dieta

38

O que faz mover as redes sociais Que normas regulam a sua acccedilatildeo Encontramos no

cuidado das doenccedilas raras a normatividade que regula a daacutediva familiar (Portugal 2014) O

cuidado familiar funda-se num sistema de daacutediva e deve ser entendido natildeo como uma seacuterie de

actos unilaterais e descontiacutenuos mas como relaccedilatildeo ldquoo dom natildeo eacute uma coisa mas uma relaccedilatildeo

socialrdquo (Godbout 1992 15) Marcel Mauss em Ensaio sobre a Daacutediva (1988) afirmou a

centralidade da daacutediva nas sociedades arcaicas e a importacircncia do princiacutepio ldquodar receber

retribuirrdquo mas teve dificuldade em reconhecer que a sua existecircncia nas sociedades modernas

fosse aleacutem do estatuto de manifestaccedilatildeo residual do passado No entanto ldquoo dom eacute tatildeo moderno

e contemporacircneo como caracteriacutestico das sociedades arcaicasrdquo (Godbout 1992 20)

Fenoacutemenos como a oferta de prendas a prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas aos idosos e aos

doentes os convites para festas e a hospitalidade o voluntariado a doaccedilatildeo de sangue e de

orgatildeos constituem formas de troca social que natildeo satildeo hoje residuais nem quantitativamente

(dada a sua frequecircncia no quotidiano) nem qualitativamente (dada a sua importacircncia na vida

dos indiviacuteduos) A definiccedilatildeo de daacutediva proposta por Godbout em Lrsquo Esprit du don (1992) e

que Cailleacute retoma (2000) ndash ldquotoda a prestaccedilatildeo de bem ou serviccedilo efectuada sem garantia de

retorno com vista a criar alimentar ou recriar o viacutenculo social entre as pessoasrdquo (Godbout

1992 32 Cailleacute 2000 124) ndash permite mostrar como o dom assim caracterizado como modo

de circulaccedilatildeo dos bens ao serviccedilo do laccedilo social constitui um elemento essencial para a

compreensatildeo do cuidado

Neste contexto o conceito de diacutevida positiva utilizado por Godbout (2000) revela-se

bastante produtivo para analisar a circulaccedilatildeo da daacutediva no interior da famiacutelia mais do que o

conceito de reciprocidade (Portugal 2014) Numa relaccedilatildeo de dom o estado de diacutevida positiva

escapa agrave equivalecircncia e faz com que cada um considere que recebe mais do que daacute embora

esteja sempre disposto a retribuir Elementos materiais afetivos e simboacutelicos misturam-se num

jogo complexo que no entanto natildeo deixa totalmente de lado a reciprocidade Na reciprocidade

familiar por um lado daacutediva e retribuiccedilatildeo fazem circular e equivaler coisas muitos diferentes

por outro lado entre dom e contra-dom o tempo pode correr sem que o ciclo se quebre Natildeo

conta o que se troca nem quando se troca Nesta daacutediva o tempo conta tanto menos quanto

mais se confia no outro Mediada pela afectividade e pela confianccedila a reciprocidade entre

parentes realiza-se muitas vezes agrave ldquoescala de uma vidardquo e transforma a ajuda numa espeacutecie de

ldquocreacutedito a longo prazordquo que natildeo necessita de ser retribuiacuteda no imediato nem de ser simeacutetrica

o contra-dom pode vir muito mais tarde ou mesmo ser destinado a outra pessoa (Finch1989

Deacutechaux 1990 Bawin-Legros 2003 Portugal 2014)

Notas finais

O cuidado das pessoas com doenccedilas raras assenta essencialmente na dedicaccedilatildeo e amor das suas

famiacutelias As histoacuterias das vidas das pessoas com doenccedilas raras das suas famiacutelias dos seus

proacuteximos satildeo admiraacuteveis pelo exemplo que oferecem de luta contra a adversidade As suas

biografias revelam trajetoacuterias extraordinaacuterias de conquista quotidiana de esperanccedila e de vida

contra o desconhecimento o desinteresse o preconceito o desespero Agrave ausecircncia de respostas

e de apoios formais agrave escassa garantia de direitos contrapotildeem-se percursos de vida assentes na

solidariedade e na daacutediva que recusam a derrota (Portugal 2013)

Quando se reivindica apoio e assistecircncia muitas vezes a primeira leitura orienta-se para a

demissatildeo das famiacutelias Ela natildeo podia ser mais erroacutenea As famiacutelias natildeo se querem ver

substituiacutedas no seu papel no entanto para o poderem desempenhar da melhor forma para natildeo

adoecerem conjuntamente com os seus familiares necessitam de condiccedilotildees e de meios para a

prestaccedilatildeo do cuidado Eacute esse o desafio que as poliacuteticas puacuteblicas tecircm que assumir tomar as

famiacutelias como parceiras

39

O conceito de rede pode tambeacutem permitir uma resposta a esse desafio fornecendo

instrumentos para uma intervenccedilatildeo assente na integralidade do cuidado As doenccedilas raras

colocam em accedilatildeo um conjunto de atores (doentes famiacutelias profissionais de sauacutede profissionais

da assistecircncia social associaccedilotildees Estado mercado comunidade) de saberes (leigos e

cientiacuteficos) de praacuteticas (formais e informais) de relaccedilotildees (sociais materiais e simboacutelicas) que

importa conciliar O cuidado em rede eacute um repto agrave articulaccedilatildeo entre atores e recursos que parta

do sujeito para regressar ao sujeito

Referecircncias bibliograacuteficas

Alves Joana (2011) Vidas de Cuidado(s) Uma anaacutelise socioloacutegica do papel dos cuidadores

informais Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de Economia da Universidade

de Coimbra

Barbosa Rogeacuterio Lima (2013) Pele de cordeiro Associativismo e Mercado na produccedilatildeo de

cuidado para as doenccedilas raras Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Bawin-Legros Bernadette (2003) Le nouvel ordre sentimental Agrave quoi sert la famille

aujourdrsquohui Paris Payot

Cailleacute Alain (2000) Anthropologie du don Le tiers paradigme Paris Descleacutee de Brouwer

Deacutechaux Jean-Hugues (1990) ldquoLes eacutechanges eacuteconomiques au sein de la parentegravelerdquo Sociologie

du Travail 1 73-94

European Comission (2010) ldquoCaring and post caring in Europerdquo European Commission

Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwlifeaftercareeudocsOverviewReportFinalSept2010pdf

Finch Janet (1989) Family Obligations and Social Change Cambridge Polity Press

Glendinning Caroline et al (2009) ldquoCare Provision within Families and its Socio-Economic

Impact on Care Providersrdquo University of York Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwyorkacukinstspruresearchpdfEUCarerspdf

Godbout Jacques T (1992) Lrsquoesprit du don Paris Eacuteditions La Deacutecouverte

Godbout Jacques T (2000) Le don la dette et lrsquoidentiteacute Paris La Deacutecouverte

Goodhead Anne McDonald Janet (2007) ldquoInformal Caregivers Literature Review A report

prepared for the National Heath Committeerdquo Wellington Health Services Centre Victoria

University of Wellington Consultado em 24112014 disponiacutevel em

httpnhchealthgovtnzsystemfilesdocumentspublicationsinformal-caregivers-literature-

reviewpdf

40

Hooyman Nancy R Gonyea Judith (1995) Feminist perspetives on family care policies for

gender justice London Sage Publications

Kittay Eva Feder (1999) Loversquos Labor essays on woman equality and dependency New

York Routledge

Laugier Sandra (2009) ldquoLe sujet du care vulnerabiliteacute et expression ordinairerdquo in Pascale

Molinier Sandra Laugier e Patricia Paperman Qursquoest-ce que le care Souci des autres

sensibiliteacute responsabiliteacute Paris Payot 159-200

Lovell Anne (2013) ldquoAller vers ceux qursquoon ne voit pas Maladie mentale et care dans des

circonstances extraordinairesrdquo in Anne Lovell Stefania PandolfoVeena Das e Sandra Laugier

Face aux desastres Paris Ithaque 27-81

Mauss Marcel (1988) Ensaio sobre a daacutediva Lisboa Ediccedilotildees 70

OECD (2005) ldquoLong-term care for older people OECD Study (2001-2004)rdquo OECD

Publishing Consultado a 24112014 disponiacutevel em httpwwwoecdorgelshealth-

systemslong-termcareforolderpeopleoecdstudy2001-2004htm

Portugal Siacutelvia (2014) Famiacutelia e Redes Sociais Ligaccedilotildees fortes na produccedilatildeo de bem-estar

Coimbra Almedina

Portugal Siacutelvia (2013) Para um comeccedilo de reflexatildeo sobre o cuidado das doenccedilas raras in

Cacircmara dos Deputados Romaacuterio Deputado Federal (Ed) Dia Mundial das Doenccedilas Raras

2013 Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Ediccedilotildees Cacircmara 25-28

Portugal Siacutelvia et al (2010) Estudo de Avaliaccedilatildeo dos Custos Financeiros e Sociais da

Deficiecircncia Coimbra Centro de Estudos Sociais

Triantafillou Judy et al (2010) ldquoInformal care in the long-term care system European

Overview Paperrdquo Interlinks Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwweurocentreorgdata1278594816_84909pdf

Tronto Joan (1993) Moral Boundaries A Political Argument for an Ethics of Care NewYork

Routledge

41

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

42

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a

familiares e pacientes com doenccedilas raras

Ana Maria Martins1 Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP anamartinsunifespbr

A minha histoacuteria com as doenccedilas raras comeccedila aos meus nove anos de idade com o nascimento

da minha irmatilde com Siacutendrome de Aspert Provavelmente ter escolhido medicina pediatria e

geneacutetica cliacutenica foram desdobramentos desse fato Realizei meu treinamento em pediatria e a

especializaccedilatildeo em Geneacutetica Cliacutenica na Escola Paulista de Medicina em Satildeo Paulo Fui

responsaacutevel pelo Ambulatoacuterio de Fenilcetonuacuteria da APAE ndash SP (Associaccedilatildeo de Pais e Amigos

dos Excepcionais de Satildeo Paulo) e realizei meu Mestrado em Deficiecircncia fiacutesica e mental em

uma comunidade de Satildeo Paulo O Doutorado foi baseado no acompanhamento de 80 pacientes

com Fenilcetonuacuteria O meu Poacutes-doutorado foi em Pittsburgh-EUA no West Penn Hospital e na

Universidade da Califoacuternia de San Diego em geneacutetica cliacutenica

Em 1997 pela carecircncia de serviccedilos que cuidassem de pacientes com erros inatos do

metabolismo (EIM) e como eu tinha experiecircncia com a Fenilcetonuacuteria por indicaccedilatildeo da minha

universidade iniciei um ambulatoacuterio para esse grupo de doenccedilas A Fenilcetonuacuteria foi a

primeira doenccedila a responder a uma dieta especiacutefica Com potencial para prevenccedilatildeo do grave

retardo mental foi desenvolvido um meacutetodo para diagnosticar a doenccedila no periacuteodo neonatal a

partir do teste de triagem neonatal e assim o tratamento ser precoce Nesse momento nasceu a

possibilidade de tratamento de outros EIM natildeo soacute pela ingestatildeo alimentar como tambeacutem por

medicamento

Na deacutecada de 90 surge a terapia de reposiccedilatildeo da enzima que eacute deficiente em determinadas

doenccedilas o que impulsionou a pesquisa na aacuterea das doenccedilas geneacuteticas criaccedilatildeo de implementos

para o diagnoacutestico de algumas doenccedilas nos paiacuteses em desenvolvimento e a maior divulgaccedilatildeo

entre os meacutedicos que lidam com as doenccedilas geneacuteticas

O ambulatoacuterio de EIM transformou-se no Centro de Referecircncia em Erros Inatos do

Metabolismo (CREIM) e durante 10 anos contou com a colaboraccedilatildeo de cerca de 10

profissionais de sauacutede voluntaacuterios dentre neurologistas nutricionistas psicoacutelogasos

fonoaudioacutelogasos e fisioterapeutas Com o surgimento da terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica

houve a necessidade de encontrar um local para realizaccedilatildeo deste tratamento De iniacutecio tivemos

como parceiro o Instituto do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP utilizando

os leitos de dia para nossosas pacientes receberem medicaccedilatildeo Depois o GRAAC (Grupo de

Apoio agrave Crianccedila com CancecircrInstituto de Oncologia da UNIFESP) tornou-se nosso parceiro

aquando do iniacutecio da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (TRE) para a Mucopolissacaridose do

tipo I

Como os locais para TER eram garantidos por acordos pessoais havia a nossa preocupaccedilatildeo

em perdecirc-los a qualquer momento Essa preocupaccedilatildeo aumentava na medida que a quantidade

de pacientes tambeacutem crescia Os profissionais voluntaacuterios tambeacutem eram fonte de inseguranccedila

porque tambeacutem podiacuteamos perdecirc-los a qualquer momento Impulsionados por este cenaacuterio um

grupo de pessoas ligados ao CREIM decidiu constituir uma organizaccedilatildeo natildeo governamental o

1 Ana Maria Martins eacute professora do Departamento de Pediatria da UNIFESP e Diretora do Centro de Referecircncia em Erros

Inatos do Metabolismo - IGEIM

43

Instituto de Geneacutetica e Erros Inatos do Metabolismo (IGEIM) que veio dar suporte ao

funcionamento do CREIM com instalaccedilotildees adequadas agraves necessidades dos nossos pacientes

Fig 1 - Instalaccedilotildees do IGEIM - Entrada Fig 2 - Instalaccedilotildees do IGEIM ndash Sala de espera

A missatildeo do IGEIM eacute melhorar a qualidade de vida de pessoas com erros inatos do

metabolismo e dos seus familiares por meio do atendimento multidisciplinar com padratildeo

cientiacutefico de excelecircncia As suas aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo a assistecircncia o ensino a pesquisa e a

educaccedilatildeo Atraveacutes do suporte ao CREIM o IGEIM estabelece uma interface com a proacutepria

UNIFESP

Os EIM que satildeo o nosso foco principal de atuaccedilatildeo no momento contam com mais de 700

doenccedilas diferentes e podem ser classificados em trecircs grupos permitindo uma abordagem cliacutenica

praacutetica dos pacientes

Grupo 1 Defeito no metabolismo intermediaacuterio relacionado a ingestatildeo alimentar de

proteiacutena e accediluacutecares levando a quadros de intoxicaccedilatildeo aguda e crocircnica A doenccedila pode se

manifestar jaacute no berccedilaacuterio ou nos primeiros dias meses ou ateacute anos de vida A crianccedila quando

inicia a amamentaccedilatildeo vai receber proteiacutena que eacute formada por aminoaacutecidos Se o paciente tem

uma enzima (substacircncia que possibilita as reaccedilotildees no nosso metabolismo) deficiente em sua

atividade natildeo conseguiraacute metabolizar um ou mais aminoaacutecidos e faraacute quadros agudos que

necessitam de hospitalizaccedilatildeo com diminuiccedilatildeo da glicose do sangue (hipoglicemia) ou acidez

do sangue (acidose metaboacutelica) e outros distuacuterbios que vatildeo comprometer o funcionamento do

metabolismo podendo ateacute levar a morte ou sequelas neuroloacutegicas graves para a crianccedila Se a

deficiecircncia de atividade da enzima natildeo eacute tatildeo grave as manifestaccedilotildees cliacutenicas podem acontecer

mais tarde e podem ser mais leves do que aquelas que se manifestam no berccedilaacuterio O tratamento

precoce neste grupo deve ser instituiacutedo tatildeo logo seja feito o diagnoacutestico que em muitas doenccedilas

eacute feito no teste de triagem neonatal ampliado natildeo disponiacutevel infelizmente para o territoacuterio

nacional A fenilcetonuacuteria tirosinemia homocistinuacuteria aciduacuterias orgacircnicas doenccedila do xarope

de bordo intoleracircncia a galactose e frutose fazem parte deste grupo O tratamento consta de

dietas restritivas naquele(s) aminoaacutecido(s) ou accediluacutecares (galactose ou frutose) o que possibilita

uma sobrevida com qualidade de vida maior desses pacientes

Grupo 2 defeito na produccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo de energia e quadros cliacutenicos variaacuteveis Com

frequecircncia aparece a hipoglicemia porque a glicose eacute a unidade baacutesica de energia do nosso

corpo A mitococircndria eacute uma estrutura dentro da ceacutelula responsaacutevel por produccedilatildeo de energia

para o funcionamento das ceacutelulas O glicogecircnio eacute um pacote de glicose que fica guardado no

fiacutegado com o que sobra de glicose da nossa refeiccedilatildeo e durante o periacuteodo de jejum essa glicose

vai sendo liberada no sangue pela accedilatildeo de uma enzima que quebra o glicogecircnio em moleacuteculas

de glicose O defeito na oxidaccedilatildeo dos aacutecidos graxos (trigliceacuterides) estaacute relacionado a siacutendrome

da morte suacutebita porque quando acaba o glicogecircnio o organismo lanccedila matildeo dos aacutecidos graxos

para gerar energia Defeitos na mitococircndria nos metabolismos do glicogecircnio e dos aacutecidos

44

graxos podem levar a sinais e sintomas graves O tratamento neste grupo utiliza dieta pobre em

carboidrato para diminuir o depoacutesito de glicogecircnio no fiacutegado orientaccedilatildeo para dietas frequentes

evitando jejum prolongado e o uso de algumas vitaminas especiacuteficas (co-fatores) para as

doenccedilas mitocondriais

A suspeita do diagnoacutestico das doenccedilas dos grupos 1 e 2 podem ser realizadas pelo meacutedico

que conhece essas doenccedilas atraveacutes de exames que satildeo realizados na maioria dos serviccedilos

meacutedicos como a glicemia (dosagem da glicose do sangue) e avaliaccedilatildeo da acidez do sangue

(gasometria) O diagnoacutestico eacute confirmado em exames especiacuteficos como o teste de triagem

neonatal ampliado dosagem de aacutecidos orgacircnicos ou cromatografia de aminoaacutecidos

Grupo 3 defeito na siacutentese ou degradaccedilatildeo de moleacuteculas complexas ocorrendo em

estruturas especiacuteficas da ceacutelula lisossomos peroxissomos e retiacuteculo endoplasmaacutetico Os

quadros aqui tambeacutem satildeo variaacuteveis mas com frequecircncia haacute problemas no crescimento retardo

mental aumento do tamanho do fiacutegado eou baccedilo entre outros O tratamento deste grupo de

maior impacto eacute a TRE que quanto mais precoce eacute introduzida melhores satildeo os resultados A

terapia de reduccedilatildeo da produccedilatildeo do substrato que se acumula nas ceacutelulas tem mostrado bons

resultados em algumas doenccedilas

O diagnoacutestico no grupo 3 eacute confirmado atraveacutes de dosagem da atividade da enzima no

sangue mais a presenccedila de substacircncias especiacuteficas na urina raio X da coluna quadril e outros

As caracteriacutesticas de uma paciente com EIM satildeo as mesmas de qualquer paciente com uma

doenccedila rara a famiacutelia faz uma verdadeira peregrinaccedilatildeo por serviccedilos meacutedicos e ou consultoacuterios

haacute falta de informaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede satildeo muitos anos em busca de um diagnoacutestico

e realizaccedilatildeo de muitos exames sem nenhum resultado do problema familiares eou pacientes

com anguacutestia decepccedilatildeo cansaccedilo e muito aacutevidos por informaccedilatildeo sobre problema de sauacutede

Para a mudanccedila desse quadro eacute necessaacuterio gerar informaccedilatildeo para os profissionais de sauacutede

para que saibam identificar uma doenccedila rara e encaminhar para o serviccedilo de referecircncia

disponiacutevel o meacutedico deve buscar o diagnoacutestico do que ele natildeo conhece e fornecer aos

familiares eou paciente informaccedilotildees sobre o prognoacutestico prevenir as graves complicaccedilotildees

fornecer orientaccedilatildeo e fazer aconselhamento geneacutetico O tratamento das doenccedilas raras quando

disponiacutevel tem acesso dificultado por ser de alto custo sendo que o medicamento eacute conseguido

por meio de processos judiciais

O tratamento aleacutem do medicamentoso para ser completo e atender as necessidades dos

pacientes com doenccedilas raras precisa de ser multidisciplinar com profissionais das aacutereas entre

outras de nutriccedilatildeo fonoaudiologia fisioterapia enfermagem terapia ocupacional e psicologia

Assim aumentam as chances de proporcionar a melhoria de qualidade de vida do paciente e

sua famiacutelia

Referecircncia Bibliograacutefica

Saudubray J M Sedel F Walter J H (2006) ldquoClinical approach to tratable inborn

metabolic disesaes an introductionrdquo J Inherit Metab Dis 29 261-274

45

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas

raras

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues1 Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG rodrigueslocgmailcom

A Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Portadores de Neurofibromatose (AMANF) completou 10

anos de existecircncia e este periacuteodo foi repleto de boa vontade desejo de ajudar e esperanccedila de

institucionalizarmos o apoio agraves pessoas com neurofibromatoses Aprendemos muito neste

percurso

Aprendemos que a maioria das pessoas incluindo os profissionais de sauacutede e as autoridades

relacionadas agrave sauacutede puacuteblica desconhecem o que satildeo as neurofibromatoses (NF) As NF

constituem trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros e por acometerem

cerca de 13000 pessoas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas raras (Geller e Bonalumi Filho

2004)

Assim como as demais doenccedilas raras as NF enfrentam um conjunto de dificuldades que

denominamos DOR

D - Desconhecimento cientiacutefico

O - Omissatildeo institucional

R - Representaccedilatildeo social inexistente

Esta combinaccedilatildeo de desinformaccedilatildeo desamparo e desconhecimento pela sociedade resulta

em sofrimento crocircnico e reduccedilatildeo da qualidade de vida para as pessoas com NF e seus familiares

O desconhecimento cientiacutefico

Constitui uma experiecircncia bastante comum agraves pessoas com NF e seus familiares a constataccedilatildeo

de que haacute falta de informaccedilatildeo atualizada sobre NF por parte dos meacutedicosas e outros

profissionais de sauacutede (Souza et al 2009) Eacute claro que natildeo esperamos que todosas osas

meacutedicos conheccedilam os milhares de doenccedilas raras mas gostariacuteamos que diante de uma pessoa

com sinais e sintomas raros osas profissionais da sauacutede admitissem seu desconhecimento

solicitando outras opiniotildees especializadas Esta postura franca auxiliaria a pessoa com NF e sua

famiacutelia assim como permitiria ao proacuteprio profissional da sauacutede crescer cientificamente ao

buscar informaccedilotildees sobre aquilo que desconhece ou encaminhar a pessoa para outros

profissionais ou centros de referecircncia

Neste sentido recomendamos o alerta das pessoas com NF e seus familiares para alguns

sinais sugestivos de que oa profissional da sauacutede estaacute desatualizado quanto agraves NF

1 Quando elea natildeo sabe as grandes diferenccedilas entre os tipos 1 e 2 da NF

2 Quando elea natildeo sabe da existecircncia da Schwannomatose

3 Quando elea confunde a NF com a Doenccedila do Homem Elefante

4 Quando elea quer realizar imediatamente cirurgia quimioterapia ou radioterapia em

tumores benignos das NF apenas porque os tumores ldquoestatildeo laacuterdquo

1 Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues eacute meacutedico e professor titular aposentado na UFMG membro da Associaccedilatildeo Mineira de

Apoio agraves Pessoas com Neurofibromatoses ndash AMANF wwwamanforgbr Coordenador Cliacutenico do Centro de Referecircncia em

Neurofibromatoses pesquisador do CNPQ Eacute pai de uma pessoa com Neurofibromatose do Tipo 1 e Cartunista Para

correspondecircncia Alameda Aacutelvaro Celso 55 - Belo Horizonte MG - CEP 30150-260 Tel (31) 3409 9560 e 3409 9199

46

5 Quando elea usa termos desatualizados como chamar todas as NF de Doenccedila de Von

Recklinghausen

6 Quando elea denomina de forma incorreta os tumores das NF por exemplo chamando

os schwannomas vestibulares bilaterais da NF2 de ldquoneurinomas do acuacutesticordquo ou chamando

um neurofibroma plexiforme da NF1 de ldquohemangiomardquo

7 Principalmente quando elea confunde a impossibilidade de cura com a ausecircncia de

tratamento pois embora as doenccedilas geneacuteticas ainda sejam incuraacuteveis elas tecircm

tratamentos inclusive multidisciplinares os quais prolongam e melhoram a vida das

pessoas acometidas (Ferner 2011)

A omissatildeo institucional

Reconhecendo a impossibilidade de todos osas profissionais da sauacutede possuiacuterem conhecimento

cientiacutefico adequado sobre as doenccedilas raras torna-se evidente a necessidade de centros de

referecircncias em doenccedilas raras para onde as pessoas possam ser encaminhadas sempre que

houver duacutevida quanto ao seu diagnoacutestico No entanto as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela sauacutede

puacuteblica doa meacutedicoa aosagraves governantes federais passando pelos municiacutepios e universidades

colocam em segundo plano as doenccedilas raras porque as consideram de forma isolada preferindo

destinar os recursos para as doenccedilas majoritaacuterias que podem resultar em maior popularidade e

mais votos

Somente quando informadas de que cerca de 3 da populaccedilatildeo satildeo acometidos por doenccedilas

raras que as transformam num conjunto de alguns milhotildees de pessoas eacute que as autoridades se

espantam embora ainda permaneccedilam de matildeos atadas

A representaccedilatildeo social inexistente

A mobilizaccedilatildeo social diante de um desafio coletivo depende do grau de empatia que as pessoas

possuem pela causa em questatildeo eacute preciso conhecer para sentir eacute preciso amar para ajudar No

entanto constatamos que as NF assim como a quase totalidade das doenccedilas raras satildeo

completamente desconhecidas pela sociedade (Cerello 2011) A pergunta mais frequente

sempre que pronunciamos a palavra neurofibromatose eacute ldquoNeuro O quecirc Natildeo deve ser

diferente para a as pessoas com Homocisteinuacuteria Porfiria Siacutendrome do X Fraacutegil Mastocitose

e tantas outrasrdquo

Ao contraacuterio quando algueacutem diz por exemplo ldquoinfarto derrame diabetes cacircncer ou

tuberculoserdquo imediatamente nos vem agrave mente determinada representaccedilatildeo social daquela

doenccedila o que desencadeia nossas reaccedilotildees emocionais especiacuteficas As doenccedilas raras sem

conhecimento puacuteblico natildeo conseguem mobilizar os sentimentos coletivos impossibilitando

uma eventual simpatia e apoio O resultado eacute a solidatildeo

Diante destas mazelas abre-se como alternativa aosagraves acometidosas pelas

neurofibromatoses a uniatildeo e a constituiccedilatildeo de entidades de apoio muacutetuo as quais procuram

assim compensar a falta de informaccedilotildees a solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas e o

atendimento agrave sua sauacutede de forma eficaz Entidades de apoio muacutetuo como a AMANF AMAVI

e tantas outras procuram compensar

A falta de conhecimento dosas profissionais de sauacutede com atendimento pesquisa e

ensino divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees seguras em paacuteginas na internet cartilhas de faacutecil

compreensatildeo por parte de pacientes e familiares realizaccedilatildeo de simpoacutesios palestras para

profissionais da aacuterea de sauacutede escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas

A solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas com reuniotildees e suporte emocional

O preconceito puacuteblico com divulgaccedilatildeo popular e defesa dos direitos sociais

47

A AMANF que se tornou Entidade de Utilidade Puacuteblica Municipal e Federal tem

procurado cumprir estes objetivos Dentre nossas principais conquistas encontra-se a

regularidade de 11 anos consecutivos de nossas reuniotildees mensais porto seguro para todosas

osas associadosas ainda que a frequecircncia dosas associadosas tenha sido oscilante e reduzida

em alguns momentos

Aleacutem disso conseguimos implantar o Centro de Referecircncia em Neurofibromatoses no

Hospital das Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais centro este que vem se

tornando uma referecircncia nacional no cuidado aos pacientes com as diversas doenccedilas reunidas

sob o nome de neurofibromatoses Aleacutem disso conseguimos realizar um Simpoacutesio

Internacional em 2009 e um Simpoacutesio Brasileiro em 2012

Alguns indicadores do nosso trabalho no CRNF satildeo

Atendimento (parceria HC UFMG e Sistema Uacutenico de Sauacutede)

o 800 famiacutelias atendidas e acompanhadas no ambulatoacuterio

o 300 famiacutelias acompanhadas pela internet

o Convecircnio com Centro de Imagem Molecular da FM UFMG

Ensino

o Palestras para cursos de Medicina Psicologia Fonoaudiologia Nutriccedilatildeo Educaccedilatildeo

Fiacutesica Fisioterapia Pedagogia Associaccedilatildeo de Acadecircmicos de Medicina e outros

Pesquisa

o Bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica

o Alunos de mestrado e doutorado

o Participaccedilatildeo em congressos

o Publicaccedilotildees cientiacuteficas

Em 2012 conseguimos a criaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Pesquisa em

Neurofibromatoses quem vem realizando alguns estudos em conjunto e em breve nossos

resultados seratildeo tornados puacuteblicos

Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria de Doenccedilas Raras a vitoacuteria de muitas Marias

Estivemos presentes minha esposa e eu no primeiro congresso Ibero-Americano de Doenccedilas

Raras em Brasiacutelia dia 25 de setembro de 2013 representando a AMANF e o CRNF

O congresso promovido pela Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria de Doenccedilas Raras (AMAVI) foi

um momento dos mais marcantes em nossas vidas A equipe da AMAVI liderada pelo amoroso

Rogeacuterio Lima realizou um trabalho que evidenciou seu entusiasmo humanismo e espiacuterito

democraacutetico na construccedilatildeo deste espaccedilo fundamental para a conquista de direitos cidadatildeos para

as pessoas com doenccedilas raras

Estiveram presentes muitas associaccedilotildees de apoio as quais tecircm sido criadas e conduzidas

com raras exceccedilotildees por mulheres Estas mulheres valorosas podem atender pelos nomes de

Marisa Ieda Martha Adriana Maria Helena Virgiacutenia Tacircnia Mara Siacutelvia Lilian Mocircnica

Thalma Cristina Sandra ou tantos outros mas na verdade todas elas satildeo as nossas Marias

guerreiras Satildeo nossas Marias incansaacuteveis na defesa de filhos ou filhas netos ou netas

porventura acometidosas por uma dentre os milhares de doenccedilas raras E as Marias venceram

mais uma etapa na sua jornada em busca de amor e conhecimento para seus entes queridos

O que foi dito no congresso confirma que estaacute em andamento uma nova maneira de

lutarmos pelas pessoas com doenccedilas pouco compreendidas e que atualmente recebem pouca

atenccedilatildeo da sociedade Temos certeza agora que estamos unidos pelo motivo comum de

48

construirmos redes sociais de apoio a partir do nuacutecleo fundamental das famiacutelias atingidas em

busca de poliacuteticas puacuteblicas destinadas agraves doenccedilas raras

Tivemos a alegria de participar das manifestaccedilotildees realizadas pelas diversas associaccedilotildees

durante o congresso contribuindo cada uma delas com o seu conhecimento especiacutefico para a

construccedilatildeo da compreensatildeo geral das doenccedilas raras Voltamos com a certeza de que precisamos

continuar cuidando das neurofibromatoses nosso dever especiacutefico mas que temos que nos unir

sob esta grande bandeira das doenccedilas raras pois estaremos participando de uma luta de milhotildees

de brasileirosas

E esta uniatildeo precisa ser em torno da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria porque ela jaacute mostrou a sua

capacidade de nos reunir porque ela possui uma face humana ao apresentar a sociedade seu

lindo nome Maria porque ela traz a nossa Vitoacuteria no proacuteprio nome

Devemos fortalecer as entidades de apoio muacutetuo a partir da AMAVI para tentarmos

compensar a falta de conhecimento sobre as doenccedilas raras a solidatildeo das pessoas com doenccedilas

raras o preconceito puacuteblico a omissatildeo institucional e a falta de atendimento especializado

Devemos lutar para a criaccedilatildeo de centros de referecircncias regionais e mecanismos de intercacircmbio

de informaccedilotildees entre eles

Como resultado de nossa participaccedilatildeo no congresso a AMANF aprovou a decisatildeo que

devemos abraccedilar este caminho que devemos aumentar nossa participaccedilatildeo na luta geral das

doenccedilas raras pois isso nos traraacute uniatildeo de forccedilas maior visibilidade conquista de espaccedilo

puacuteblico e avanccedilos nas proacuteprias questotildees das neurofibromatoses

Com a inserccedilatildeo mais ativa da AMANF no campo das doenccedilas raras atraveacutes da AMAVI

creio que haveria a oportunidade de troca de experiecircncias e principalmente um ganho enorme

na construccedilatildeo da nossa humanidade e solidariedade

Base de accedilatildeo fortalecer a rede social das pessoas com NF1

Natildeo haacute duacutevida que se constitui um imenso desafio a mobilizaccedilatildeo da sociedade para

conquistarmos a cidadania para as pessoas com um nuacutemero tatildeo grande de doenccedilas com

caracteriacutesticas proacuteprias Sabemos que eacute preciso agir contra os trecircs fatores comuns a todas as

doenccedilas raras desconhecimento cientiacutefico omissatildeo institucional e representaccedilatildeo social

inexistente Mas natildeo podemos perder de vista o princiacutepio de que as poliacuteticas puacuteblicas somente

tecircm a chance de serem eficazes se levarem em conta a rede social das pessoas acometidas

(Portugal 2011)

Neste sentido em nossa Associaccedilatildeo e em nosso Centro de Referecircncia temos procurado

realizar accedilotildees no sentido de conhecermos melhor e aumentarmos nossa atenccedilatildeo agrave rede social de

cada pessoa acometida por NF Sobre esta base de accedilatildeo esperamos ajudar a reconstruccedilatildeo da

cidadania e maior qualidade de vida para as pessoas com NF

Referecircncias Bibliograacuteficas

Cerello A C (2011) Neurofibromatose tipo 1 sobre o que natildeo se vecirc e o que se sente - Uma

travessia entre a invisibilidade social e o conhecimento sobre a doenccedila Faculdade de

Medicina Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Aplicadas agrave Sauacutede do Adulto Belo

Horizonte UFMG

Ferner RE (2011) ldquoNeurofibromatosis 1rdquo in RE Ferner SM Huson e DG Evans

Neurofibromatosis in Clinical Practice (1 ed) Londres Springer-Verlag London Limited 162

Geller M Bonalumi Filho A (2004) Neurofibromatose cliacutenica geneacutetica e terapecircutica Rio

de Janeiro Guanabara Koogan

49

Portugal S (2011) ldquoDaacutediva famiacutelia e redes sociaisrdquo in S Portugal e P H Martins Cidadania

poliacuteticas puacuteblicas e redes sociais Coimbra Universidade de Coimbra 39-53

Souza JF Toledo LL Ferreira MC Rodrigues LO Rezende NA (2009)

ldquoNeurofibromatose do tipo 1 mais comum e grave do que se imaginardquo Revista da Associaccedilatildeo

Meacutedica Brasileira 55 394-399

50

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ marciagenyahoocombr

Existe toda uma engrenagem de incentivo agrave pesquisa na aacuterea da sauacutede por parte dosas

gestoresas e das agecircncias de fomento Faz parte desta engrenagem a definiccedilatildeo dos temas de

pesquisa condizentes com as necessidades da populaccedilatildeo de modo que os resultados sejam

aplicaacuteveis no SUS As pesquisas financiadas que tecircm como campo de estudo o SUS

contribuem para a integraccedilatildeo dosas pesquisadoresas profissionais de sauacutede e gestoresas aleacutem

de auxiliarem o processo de aprimoramento do sistema O financiamento para as pesquisas em

todo o paiacutes ocorre atraveacutes de Editais que contam com o apoio administrativo do CNPq da

FINEP2 e das Fundaccedilotildees de Amparo agrave Pesquisa de representaccedilatildeo estadual

A definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede (PNCTIS)

somada agrave elaboraccedilatildeo da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sauacutede (ANPPS) levou

ao reforccedilo no orccedilamento do Departamento de Ciecircncia e Tecnologia (Decit) e consequente

aumento no investimento em pesquisa De 2004 a 2007 foram publicados 45 editais em temas

prioritaacuterios para o SUS e apoiados mais de 1200 projetos em Sauacutede Mental Sauacutede dos Povos

Indiacutegenas Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo Dengue e Doenccedilas negligenciadas Desde 2007 o Decit

tem priorizado projetos com potencial de inovaccedilatildeo aleacutem do investimento na disseminaccedilatildeo do

conhecimento resultante das pesquisas Com o objetivo de fortalecer e qualificar accedilotildees em

temas de pesquisa considerados prioritaacuterios para o SUS o Ministeacuterio da Sauacutede investe na

organizaccedilatildeo de Redes de Pesquisadoresas e Estudos Cooperativos Multicecircntricos e de caraacuteter

Nacional Dentre os projetos do Ministeacuterio da Sauacutede gostaria de citar o EPIGEN

(Epidemiologia Geneacutetica) que tem o objetivo de investigar os efeitos conjuntos da arquitetura

geneacutetica e do ambiente na ocorrecircncia de doenccedilas complexas em crianccedilas adultos jovens e

idosos com ecircnfase nas desigualdades sociais Esse projeto eacute pioneiro na aacuterea de epidemiologia

geneacutetica voltada para a sauacutede puacuteblica e sabemos como eacute importante conhecer a dimensatildeo da

frequecircncia das doenccedilas geneacuteticas raras em sua grande maioria

O Programa de Pesquisa para o SUS merece o seguinte destaque gestatildeo compartilhada em

sauacutede (PPSUS) cujos objetivos principais satildeo a) Contribuir para a diminuiccedilatildeo das

desigualdades regionais na aacuterea da ciecircncia e tecnologia em sauacutede b) fortalecer a capacidade de

gestatildeo da poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede nos estados da Federaccedilatildeo e c) descentralizar

recursos em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Este programa conta com a

participaccedilatildeo de todas as unidades federativas e em termos de apoio de 2001 a 2003 foram

financiadas 147 pesquisas e de 2004 a 2007 o financiamento ocorreu para mais de 1000

pesquisas o que denota o crescente incentivo agrave pesquisa no Brasil

Atraveacutes da Portaria Interministerial ndeg 421 de 03032010 eacute criado o Programa de Educaccedilatildeo

pelo Trabalho para a Sauacutede (PET-SAUacuteDE) inspirado no Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) Este programa disponibiliza bolsas para tutores (docentes e

teacutecnico-administrativos das IES) preceptoresas (profissionais de sauacutede que trabalham na rede

puacuteblica) e para estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede Eacute um instrumento de

1 Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro eacute Professora Associada de Geneacutetica Cliacutenica do Departamento de Pediatria da Faculdade de

Medicina da UFRJ Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira da UFRJ

e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ niacutevel 2 2 Financiadora de Estudos e Projetos httpwwwfinepgovbr

51

aprendizagem tutorial de qualificaccedilatildeo em serviccedilos iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas

de estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo em sauacutede Favorece portanto a integraccedilatildeo real dos

profissionais da aacuterea da sauacutede lotados na rede (SUS) dos profissionais das universidades e dos

alunos de graduaccedilatildeo Satildeo os seguintes os editais deste programa que jaacute ocorreram 2009 ndash Sauacutede

da Famiacutelia 2010 ndash Sauacutede da Famiacutelia 2010 ndash Vigilacircncia em Sauacutede 2010 ndash Sauacutede MentalCrack

e 2013 ndash Redes de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teve

participaccedilatildeo expressiva nestes editais de um modo geral O depoimento de um aluno do Curso

de Graduaccedilatildeo de Medicina da UFRJ ilustra bem o significado e abrangecircncia deste programa

ldquodespertou o interesse para o exerciacutecio da Medicina de Famiacutelia como especialidade possiacutevel

de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Em 2012 o PET-SAUacuteDE se juntou ao Programa Nacional de Reorientaccedilatildeo da Formaccedilatildeo

Profissional em Sauacutede (PROacute-Sauacutede) e foi lanccedilado um edital onde a UFRJ participou com

alunosas e profissionais de diversos cursos Medicina Enfermagem Odontologia Psicologia

Serviccedilo Social Farmaacutecia Fonoaudiologia Fisioterapia Nutriccedilatildeo Terapia Ocupacional

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sauacutede Coletiva Com isso foram gerados novos cenaacuterios de praacutetica e

consolidaccedilatildeo de estaacutegios interdisciplinares aleacutem da iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico

Sem duacutevida estes modelos contribuem bastante para o desenvolvimento das pesquisas e

inserccedilatildeo dosas alunosas no cenaacuterio de praacutetica profissional sem deixar de existir a

aprendizagem e o meacutetodo cientiacutefico Seria extremamente interessante podermos contar com um

ldquoPET ndash Doenccedilas Rarasrdquo onde poderia ser abordada toda a linha de atenccedilatildeo e cuidado aos

indiviacuteduos com doenccedilas raras a pesquisa e o aprendizado neste tema pouco ressaltado nos

cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

A Universidade Federal do Rio de Janeiro possui um dos mais tradicionais institutos de

pediatria do paiacutes o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira (IPPMG)

inaugurado em 02 de outubro de 1953 que oferece atendimento em todas as especialidades

pediaacutetricas em todos os niacuteveis de assistecircncia aleacutem de desenvolver ensino pesquisa e extensatildeo

nessa aacuterea A missatildeo do IPPMG eacute cuidar da crianccedila e doa adolescente de forma integral e da

maneira mais abrangente possiacutevel

O IPPMG eacute considerado Centro de Referecircncia para o Ministeacuterio da Sauacutede em Sauacutede da

Crianccedila (Centro de Referecircncia Ceacutesar Pernetta) Centro de Referecircncia em Doenccedila Falciforme e

Centro de Referecircncia para Atendimento Pediaacutetrico dos indiviacuteduos cadastrados no Centro

Nacional de Neurofibromatose Coopera com as Organizaccedilotildees Pan-Americana e Mundial de

Sauacutede (OPAS e OMS) na elaboraccedilatildeo e promoccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede nesta aacuterea Participa

desde 1995 do Programa de Assistecircncia Integral agrave Gestante e Crianccedila Infectadas pelo HIV e eacute

referecircncia para toxoplasmose em gestantes de toda a Aacuterea Programaacutetica 313 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos receacutem-natos expostos agrave toxoplasmose em todo o Municiacutepio do Rio de

Janeiro e referecircncia para siacutefilis congecircnita tambeacutem na Aacuterea Programaacutetica 31 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos pacientes nascidos na Maternidade Escola da UFRJ Na cidade do Rio de

Janeiro eacute a instituiccedilatildeo que presta o maior nuacutemero de atendimentos pediaacutetricos e possui a maior

diversidade de especialidades pediaacutetricas Eacute uma instituiccedilatildeo de perfil abrangente que perpassa

os trecircs niacuteveis de complexidade

a) Unidade de Pacientes Externos com ambulatoacuterios emergecircncia Quimioterapia e

Hospital-Dia Assistecircncia ambulatorial preventiva e curativa em Pediatria Geral e sub-

especialidades pediaacutetricas o Serviccedilo de Emergecircncia Pediaacutetrica permanece aberto 24 horas Satildeo

atendidos em meacutedia por mecircs 10 mil crianccedilas e adolescentes em regime ambulatorial 3300 na

3 A Aacuterea Programaacutetica 31 (AP 31) abrange do bairro de Bonsucesso ateacute Jardim Ameacuterica incluindo a Ilha do Governador na

Zona Norte da cidade As unidades de sauacutede realizam a cobertura assistencial do Complexo do Alematildeo Complexo da Mareacute

Complexo da Penha Parque Royal Dendecirc Morro do Barbante Vigaacuterio Geral e Parada de Lucas

52

Emergecircncia e 600 em pronto-atendimento e realizados 250 procedimentos ciruacutergicos

ambulatoriais

b) Unidade de Pacientes Internos com enfermarias de Pediatria Onco-Hematologia

Unidade de Terapia Intensiva e Cirurgia Pediaacutetrica Satildeo realizadas mensalmente uma meacutedia de

200 internaccedilotildees e 40 cirurgias

c) Serviccedilo de Medicina Transfusional (SMT) Apresenta qualidades diferenciadas por ser

um serviccedilo adequado ao atendimento de pacientes pediaacutetricos com pessoal qualificado para

realizaccedilatildeo de exames especiacuteficos desde a escolha do sangue realizaccedilatildeo de transfusotildees de

componentes e derivados sanguiacuteneos aliquotagem realizaccedilatildeo de procedimentos ambulatoriais

como transfusotildees de substituiccedilatildeo parcial e avaliaccedilatildeo de pacientes em regime de hipertransfusatildeo

Em meacutedia realiza 250 transfusotildees por mecircs Satildeo feitos 1200 exames mensais na sua maioria

imuno-hematoloacutegicos Participa do ensino teoacuterico e praacutetico para alunos dos cursos de Medicina

Biomedicina Farmaacutecia e Biologia

d) Nuacutecleo RDN cuja incumbecircncia eacute a reabilitaccedilatildeo com abordagem interdisciplinar para

a prevenccedilatildeo eou minimizaccedilatildeo de incapacidades em crianccedilas e adolescentes com deficiecircncias

eacute constituiacutedo por seis serviccedilos Fisiatria Fisioterapia Terapia Ocupacional Fonoaudiologia

Psicologia e Pediatria do Desenvolvimento

e) Laboratoacuterio de Anaacutelises Cliacutenicas Citogeneacutetica Biologia Celular e Molecular e

Citometria de Fluxo (os quatro uacuteltimos fazem parte do Nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo

em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente)

Em relaccedilatildeo a financiamento por agecircncias de fomentoos projetos ldquoUnidade de Pesquisa

Cliacutenica em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircnciardquo e ldquoNuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescenterdquo foram agraciados pela FAPERJ e

contribuiacuteram para a estruturaccedilatildeo do Hospital-Dia e implantaccedilatildeo do Nuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente Ressalta-se tambeacutem as formas de obtenccedilatildeo

de recursos atraveacutes dos pesquisadores da instituiccedilatildeo Jovem Cientista do Nosso Estado

(FAPERJ) Bolsa de Produtividade em Pesquisa (CNPq) Auxiacutelio agrave Pesquisa (APQ1FAPERJ)

Edital Universal (CNPq) Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica (FAPERJ) e Bolsas de Iniciaccedilatildeo

Cientiacutefica (FAPERJ CNPq UFRJ)

O Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira

foi fundado em 1969 e desde entatildeo tem participaccedilatildeo ativa na assistecircncia no ensino e mais

recentemente na pesquisa e na extensatildeo Eacute constituiacutedo atualmente por dois docentes do

Departamento de Pediatria e um docente colaborador voluntaacuterio Em 1989 foi fundado o

Laboratoacuterio de Citogeneacutetica que atualmente integra o Nuacutecleo Transdisciplinar de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente com desenvolvimento de novas atividades em biologia

molecular

Dentre as atividades assistenciais realizadas pelo referido serviccedilo destacamos a

investigaccedilatildeo diagnoacutestica aconselhamento geneacutetico e o acompanhamento de siacutendromes

geneacuteticas regularmente aleacutem da realizaccedilatildeo da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (desde 2006)

nas Mucopolissacaridoses e Doenccedila de Fabry aleacutem de ser considerado como Centro de

Referecircncia do Centro Nacional de Neurofibromatose para o atendimento pediaacutetrico Temos

cadastrados ateacute ao momento 3840 pacientes

Os exames complementares necessaacuterios ao diagnoacutestico das doenccedilas geneacuteticas satildeo

realizados no proacuteprio hospital (Laboratoacuterio de Geneacutetica Serviccedilo de Radiologia Laboratoacuterio de

Anaacutelises Cliacutenicas) no Hospital Universitaacuterio Clementino Fraga Filho (HUCFF) ndash UFRJ

(Laboratoacuterio de Patologia Cliacutenica Serviccedilo de Medicina Nuclear) e no Laboratoacuterio de Erros

Inatos do Metabolismo (LABEIM) do Instituto de Quiacutemica Departamento de Bioquiacutemica da

UFRJ

O Laboratoacuterio de Geneacutetica iniciou seu funcionamento em 1989 e atualmente realiza

carioacutetipo convencional e estimulado com brometo de etiacutedio em cultura de linfoacutecitos e

53

fibroblastos cultura de linfoacutecitos da expressatildeo do X-Fraacutegil com a utilizaccedilatildeo de dois meios de

cultura (TC-199 e RPMIFudR) teacutecnicas de Bandeamento-G e C e teacutecnica de FISH

Em relaccedilatildeo ao ensino satildeo recebidos alunos da graduaccedilatildeo da Faculdade de Medicina da

UFRJ atraveacutes da Disciplina de Escolha Condicionada em Geneacutetica Cliacutenica e do Programa de

Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Osas alunosas da poacutes-graduaccedilatildeo que frequentam o serviccedilo satildeo alunosas

de Mestrado e Doutorado que desenvolvem estudos na aacuterea de geneacutetica Residentes de Pediatria

e Especializandos em Geneacutetica Meacutedica

Todos os estudos desenvolvidos estatildeo inseridos na Linha de Pesquisa ldquoEstudo Cliacutenico e

Epidemioloacutegico das Doenccedilas Geneacuteticas na Infacircncia e na Adolescecircnciardquo cadastrada no

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cliacutenica Meacutedica da Faculdade de Medicina da UFRJ (2006)

Merecem destaque os estudos realizados diretamente na Rede Municipal do Rio de Janeiro

ldquoAtenccedilatildeo fisioterapecircutica agrave siacutendrome de Down no Municiacutepio do Rio de Janeirordquo e ldquoFisioterapia

motora na siacutendrome de Downrdquo (aluna de Mestrado e posteriormente de Doutorado Carla

Trevisan Martins Ribeiro) ldquoObservaccedilatildeo do fluxo de pacientes entre as maternidades da SMSRJ

e o Programa de Sauacutede Auditiva do HUCFFrdquo (aluna de Mestrado Priscila Tavares Lima) e

ldquoEstudo da oferta e anaacutelise de programas de reabilitaccedilatildeo para a populaccedilatildeo infanto-juvenil do

Municiacutepio do Rio de Janeirordquo (aluna de Mestrado Liacutevia Borgneth)

Estudos relevantes satildeo desenvolvidos em doenccedilas raras a saber a) Mucopolissacaridoses

antropometria avaliaccedilatildeo postural equiliacutebrio qualidade de vida desenvolvimento puberal b)

Aminoacidopatias niacuteveis de referecircncia no periacuteodo neonatal (carnitina e acilcarnitinas)

deficiecircncia de carnitina livre plasmaacutetica qualidade de vida e desempenho cognitivo na

Fenilcetonuacuteria c) Cromossomopatias caracterizaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de cromossomos

anocircmalos na siacutendrome de Turner implantaccedilatildeo da teacutecnica de FISH e d) Neurofibromatose

antropometria desempenho motor funccedilatildeo auditiva processamento auditivo perfil de pacientes

acompanhados

Ressaltam-se os marcos importantes na histoacuteria das doenccedilas raras que iratildeo auxiliar no

desenvolvimento de pesquisas o ldquoGrupo de Trabalho de Atenccedilatildeo agraves Doenccedilas Raras

(26042012)rdquo que se propocircs a discutir Poliacutetica de Sauacutede Puacuteblica que atenda a demanda dos

indiviacuteduos que tenham doenccedilas raras no acircmbito do SUS e o ldquoPrograma de Fomento agrave Pesquisa

em Sauacutederdquo cuja proposta eacute fomentar estudos para o tratamento de doenccedilas raras e

negligenciadas

Como produtos de todo este investimento em pesquisa cita-se a colaboraccedilatildeo entre

instituiccedilotildees duas das quais tive a oportunidade de fazer parte a) Edital MCTCNPqMS-

SCTIE-DECITMS 0382008 (Avaliaccedilatildeo em Tecnologias em Sauacutede) ndash Estudo de Qualidade de

Vida na Mucopolissacaridose UFRGS UERJ UFF IFFFIOCRUZ e b) Chamada

MCTICNPqMS-SCTIE ndash Decit Ndeg 082013 ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo Permanente para o SUS

e dimensionamento da forccedila de trabalho em sauacutede ndash Competecircncias em Geneacutetica de profissionais

da Atenccedilatildeo Primaacuteria no Brasil UFSCar UFRGS UFAL UESC UNICAMP

Outro produto igualmente importante que eacute capaz de lanccedilar o Brasil no cenaacuterio

internacional eacute o conhecimento gerado atraveacutes da pesquisa cientiacutefica designadamente as

publicaccedilotildees O Brasil responde por 27 da produccedilatildeo cientiacutefica mundial e em relaccedilatildeo agrave

quantidade de artigos publicados passou do 17deg lugar ndash 13846 artigos (2001) para o 13deg lugar

ndash 49664 artigos (2011) Entretanto a qualidade dos artigos publicados (Fator de Impacto) ainda

merece maior atenccedilatildeo Em 2001 ocupava o 31deg lugar e em 2011 o paiacutes passoupara o 40deg lugar4

4 Como exemplos de publicaccedilotildees do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica temos a) Familial study of paracentric inversion in

chromosome 3p British Journal of Medicine and Medical Research v 3 p 760-770 2013 b) The Mental Retardation in

Duchenne Muscular Dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 6-16 2012 c) Analysis of acylcarnitine profiles in

umbilical cord blood and early neonatal period by electrospray ionization tandem mass spectrometry Brazilian Journal of

Medical and Biological Research (Impresso) v 45 p 473-564 2012 d) Dental findings and oral health conditions in patients

with mucopolysaccharidosis a case series Acta Odontologica Scandinavica (Trykt utg) v 1 p 1-11 2012 e) Moderately

54

Somos atores deste processo e como tal devemos manter sua continuidade assim como a

curiosidade para lanccedilar perguntas a cada resposta gerada pelo processo de busca incessante que

eacute a pesquisa

Referecircncias Bibliograacuteficas

Base de dados Scimago Folha de Satildeo Paulo ndash 22042013

Damaso EJR (2013) Anaacutelise da Percepccedilatildeo dos Internos da Faculdade de Medicina da UFRJ

sobre sua Formaccedilatildeo Profissional a partir do Estaacutegio em Sauacutede da Famiacutelia Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Cliacutenica Meacutedica Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro

Damaso EJR et al (2012) ldquoO Projeto de Educaccedilatildeo pelo Trabalho e a Inserccedilatildeo dos

Acadecircmicos de Medicina na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutederdquo Revista Espaccedilo Cientiacutefico Livre 2(8)

37-44

Internet

httpagenciabrasilebccombrnoticia2013-07-22

httpnoticiasterracombrcienciapesquisa

httpportalsaudegovbrportalsaudeprofissional

httpwwwneurolipidosescombrpacientesreportagensmaterias_exclusivas177ministrio-

da-sade-cria-grupo-de-trabalho-de-ateno-s-doenas-raras

progressive Ullrich congenital muscular dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 93-96 2012 f) A novel nonsense

mutation in KDM5CJARID1C gene causing intelectual disability short stature and speech delay Neuroscience Letters (Print)

v 498 p 67-71 2011 g) The National Public Health System and rehabilitation in Brazil Revista Panamericana de Salud

Puacuteblica (Impresa) Pan American Journal of Public Health (Impresa) v 28 p 43-48 2010 h) Differential integrin expression

by T lymphocytes potential role in DMD muscle damage Journal of Neuroimmunology (Print) v 223 p 128-130 2010 i)

Mucopolysaccharidosis I II and VI Brief review and guidelines for treatment Genetics and Molecular Biology (Impresso)

v 33 p 589-604 2010 e j) Plexiform neurofibroma in the ear canal of a patient with Type I Neurofibromatosis Brazilian

Journal of otorhinolaryngology (Online) v 75 p 158-158 2009

55

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila

Rara

Maria Helena de Magalhatildees Dourado1 Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil ndash ANPB hdourado10gmailcom

As associaccedilotildees de apoio aos pacientes com doenccedila rara desempenham um papel fundamental

na vida dessas pessoas em todo o mundo A famiacutelia que tem algueacutem diagnosticado com

alguma doenccedila rara sente a necessidade de contar com alguma entidade voltada

especificamente para a luta em favor do seu familiar e deposita na associaccedilatildeo as esperanccedilas

de vencer as barreiras impostas pela doenccedila quase sempre devastadora e agraves vezes sem

possibilidade de cura

O objetivo deste texto eacute destacar a importacircncia das associaccedilotildees como parte da rede de apoio

ao paciente elencando as suas possiacuteveis formas de atuaccedilatildeo como entidade destinada a trabalhar

pela melhor qualidade de vida das pessoas com doenccedilas raras

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara implica inuacutemeros desafios a vencer transtorna o

ambiente familiar amedronta e conduz a pessoa afetada e sua famiacutelia a uma busca angustiante

das razotildees pelas quais estatildeo destinados a ser raridade bem como dos caminhos a seguir O

sentimento que prevalece no momento do diagnoacutestico eacute o da extrema solidatildeo Por isso torna-

se imperativo compartilhar os sentimentos e as duacutevidas com outras pessoas que estatildeo na mesma

situaccedilatildeo e que passam pelas mesmas anguacutestias A troca que se estabelece entre osas

semelhantes na dor ameniza o sofrimento e fortalece a luta para enfrentar e vencer desafios

Essa eacute a grande motivaccedilatildeo que estimula a criaccedilatildeo das associaccedilotildees de apoio

Ao formarem uma associaccedilatildeo as famiacutelias normalmente buscam natildeo soacute mais informaccedilotildees

e orientaccedilotildees sobre a doenccedila como tambeacutem o fortalecimento para reivindicar direitos As

associaccedilotildees datildeo respaldo agraves reivindicaccedilotildees e congregam todosas aquelesas que se dispotildeem a

trabalhar para que oa paciente seja vistoa como uma cidadatildeoatilde que precisa ter os seus direitos

respeitados A expectativa das famiacutelias que se agregam ao grupo eacute encontrar o apoio nas lutas

por dias melhores o que soacute eacute possiacutevel com a perspectiva de melhor qualidade de vida para os

seus entes queridos

Na caminhada a favor das pessoas com doenccedilas raras as associaccedilotildees fazem parte de uma

grande rede de apoio onde se encontram segmentos da sociedade entre eles osas diversosas

profissionais de sauacutede que tratam da sintomatologia das doenccedilas as instituiccedilotildees de pesquisa

que se dedicam a experimentos e ensaios cliacutenicos com vistas agrave descoberta de medicamentos que

minimizem e ateacute possam curar as doenccedilas os centros de referecircncia voltados para o atendimento

a essesas pacientes e dos seus familiares os laboratoacuterios farmacecircuticos que se responsabilizam

pela produccedilatildeo das terapias e medicamentos destinados agraves doenccedilas e finalmente os oacutergatildeos do

governo que existem para cuidar da sauacutede da populaccedilatildeo do paiacutes

Um dos papeacuteis das associaccedilotildees eacute o de estabelecer as interfaces com os demais componentes

da rede de apoio aoagrave paciente Assim elas conseguem o suporte necessaacuterio agraves demandas das

pessoas que apoiam possibilitando-lhes o acesso a informaccedilotildees orientaccedilotildees meacutedicas e o

1 Maria Helena Dourado eacute vice-presidente da Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil wwwniemannpickbrasilorgbr

wwwniemannpickbrasilblogspotcombr

56

contato com diferentes profissionais como fisioterapeutas nutricionistas fonoaudioacutelogos

psicoacutelogos e educadores Tambeacutem disseminam as informaccedilotildees relativas a pesquisas e ensaios

cliacutenicos para o desenvolvimento de medicamentos atraveacutes do contato constante que mantecircm

com pesquisadoresas ligadosas a essas pesquisas e esses ensaios cliacutenicos Outras formas de

apoio agraves pessoas que convivem com alguma doenccedila rara satildeo a articulaccedilatildeo com os centros de

referecircncias e oacutergatildeos de sauacutede do paiacutes para garantir o atendimento aosagraves pacientes com

seguranccedila e qualidade a manutenccedilatildeo do contato com os laboratoacuterios produtores dos

medicamentos natildeo somente para o momento da falta desses medicamentos como tambeacutem para

conhecer os avanccedilos no desenvolvimento de novas drogas e atuar em conjunto com outras

associaccedilotildees na busca da soluccedilatildeo de problemas relativos ao atendimento das necessidades dosas

pacientes o tratamento igualitaacuterio e continuado das pessoas com doenccedilas raras

Entre as competecircncias das associaccedilotildees de apoio estaacute a de reivindicar os direitos dos

pacientes junto agraves instacircncias governamentais de sauacutede e junto aos segmentos da sociedade para

garantir tratamento igualitaacuterio no atendimento das necessidades dessas pessoas que satildeo raras

no universo mas que satildeo iguais aos seus semelhantes A luta pelo reconhecimento dos direitos

das pessoas com doenccedilas raras eacute constante em todo o mundo principalmente quanto ao acesso

a medicamentos e terapias de alto custo tendo as famiacutelias que ingressar com accedilotildees judiciais

para obterem os tratamentos existentes Para isso as associaccedilotildees tecircm que disponibilizar os

serviccedilos advocatiacutecios de profissionais experientes no assunto e somente por esse meio

conseguem a devida atenccedilatildeo dos governos para as suas demandas

A inexistecircncia de cura para uma doenccedila eacute cruel para quem vive o problema Tambeacutem crueacuteis

satildeo o descaso a falta de compromisso e a desatenccedilatildeo com osas pacientes com doenccedilas raras

que se observam em todo o mundo quando se trata principalmente da relaccedilatildeo paciente -

governo Tudo isso tem como base a falta de compromisso o desconhecimento das doenccedilas e

a falta de informaccedilatildeo Compete agraves associaccedilotildees atuarem com muito empenho para que essas

doenccedilas sejam conhecidas por toda a sociedade

O desconhecimento comeccedila no acircmbito da classe meacutedica e de outros profissionais de sauacutede

que na maioria concluem os seus cursos acadecircmicos sem terem tido a oportunidade de

conhecer e aprofundar conhecimento sobre essas doenccedilas Poucos satildeo osas meacutedicosas que

se dedicam ao trabalho com doenccedilas raras e quando isso acontece eacute muitas vezes porque

tiveram a oportunidade de apoacutes deixarem a academia se depararem com uma paciente com

doenccedila rara e se sentirem interessadosas em contribuir para a melhoria de qualidade de vida

dessea paciente Felizmente esses profissionais existem em todo o mundo

Um dos esforccedilos das associaccedilotildees de apoio para proporcionar a interface dosas pacientes

com osas profissionais de sauacutede bem como com outrosas profissionais que podem ajudar na

melhoria da sua qualidade de vida como educadoresas psicoacutelogosas e assistentes sociais satildeo

os encontros entre as famiacutelias e osas amigosas dessesas pacientes onde se estabelece a inter-

relaccedilatildeo das famiacutelias com osas profissionais para orientaccedilotildees esclarecimento de duacutevidas e

conhecimento das novidades relativas agraves pesquisas realizadas em todo o mundo Eacute fundamental

que esses encontros ocorram pelo menos uma vez por ano

Alguns anos jaacute se foram desde o iniacutecio do trabalho entre as associaccedilotildees de apoio agraves doenccedilas

raras brasileiras que trabalham de matildeos dadas para que osas pacientes tenham os seus direitos

de cidadatildeosatildes garantidos Finalmente em 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil instituiu um

grupo de trabalho com vistas agrave definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para essas doenccedilas

Para essa tomada de decisatildeo do governo brasileiro concorreram tambeacutem solicitaccedilotildees inclusive

de parlamentares que se solidarizaram com a causa das associaccedilotildees Os trabalhos do grupo

instituiacutedo desenvolveram-se durante o ano de 2012 sendo que a implantaccedilatildeo do atendimento

atraveacutes do Sistema Uacutenico de Sauacutede em todo o territoacuterio nacional eacute aguardada com muita

ansiedade por todos a serem beneficiados E se espera que isso aconteccedila ateacute o final de 2013

57

Como referido anteriormente o trabalho isolado de uma associaccedilatildeo de apoio aoagrave paciente

jamais conseguiraacute fluir com relaccedilatildeo agraves questotildees das doenccedilas raras Eacute fundamental a interaccedilatildeo

entre as associaccedilotildees no seu conjunto e em rede com os outros segmentos da sociedade para

fazer com que a sua voz se torne efetivamente audiacutevel pelosas que satildeo responsaacuteveis pela

tomada de decisotildees referentes agraves suas necessidades Estar junto trabalhar junto sempre traz

benefiacutecios para osas pacientes de cada uma delas e quando se trata de doenccedilas raras o tempo

eacute demasiadamente curto para que se protelem accedilotildees e decisotildees

A participaccedilatildeo conjunta das associaccedilotildees brasileiras de apoio aosagraves pacientes com doenccedilas

raras fortaleceu a reivindicaccedilatildeo pela definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas junto ao governo brasileiro

A luta pelos direitos igualitaacuterios para esses pacientes continuaraacute com o acompanhamento da

implantaccedilatildeo dessas poliacuteticas e da funcionalidade de todo o atendimento a ser prestado pelo

governo atraveacutes dos setores puacuteblicos de sauacutede jaacute existentes e da criaccedilatildeo do que for necessaacuterio

para o atendimento pleno

A participaccedilatildeo das associaccedilotildees em eventos como o I Congresso Ibero Americano de

Doenccedilas Raras e em outros similares no Brasil e no exterior consolida a sua importacircncia no

contexto nacional e mundial O tema destacado pelo I Congresso Ibero Americano de Doenccedilas

Raras evidencia a necessidade de se lanccedilar um olhar social para as pessoas com doenccedilas raras

como cidadatildeosatildes

Considerando as associaccedilotildees de pacientes buscar um olhar social para as doenccedilas raras

pressupotildee como referid anteriormente que elas atuem em rede interagindo com os segmentos

sociais e isso se concretiza atraveacutes da divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre as doenccedilas mobilizaccedilatildeo

da sociedade sensibilizaccedilatildeo dos segmentos sociais para a importacircncia da inclusatildeo das pessoas

com doenccedilas raras no sistema de sauacutede no sistema educacional no trabalho quando possiacutevel

e ainda disseminando a ideia de que essa pessoa eacute antes de tudo um ser igual ainda que raro

O sonho de igualdade eacute constante para todosas osas que se sentem excluiacutedosas e soacute a

perseveranccedila eacute capaz de tornar esse sonho realidade Eacute uma luta aacuterdua com caminhos tortuosos

e cheios de desafios mas a vontade de vencer as dificuldades das doenccedilas fortalece e anima

Fundamental eacute entender que o tratamento igualitaacuterio e continuado dentro da sociedade da qual

participam tambeacutem as pessoas com doenccedilas raras eacute imprescindiacutevel por se tratar

prioritariamente de um direito

O importante eacute sensibilizar para conseguir que todos os terrenos se tornem feacuterteis e

receptivos agraves demandas Antes de tudo eacute necessaacuterio entender que pessoas com doenccedilas raras

satildeo iguais aos seus semelhantes As associaccedilotildees de apoio trabalham unidas e com muita

disposiccedilatildeo para que a sociedade se conscientize que ldquoO sonho de igualdade soacute cresce no

respeito pelas diferenccedilasrdquo (Augusto Cury)

58

Para um pacto social no campo das Doenccedilas Raras

Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis

Maria Joseacute Delgado Fagundes1 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA mariadelgadointerfarmaorgbr Marcela Simotildees2 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA marcelasimoesinterfarmaorgbr

Histoacuterico das Doenccedilas Raras Atores desafios do movimento social e

poliacuteticas puacuteblicas

No Brasil estima-se que satildeo 13 milhotildees as pessoas com doenccedilas raras sendo que 75 se

manifestam em crianccedilas e contribuem para a morbidade nos primeiros 18 anos de vida Apesar

disso as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte da agenda das autoridades governamentais

brasileiras ateacute o iniacutecio dos anos 2000

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees de pacientes e movimentos sociais ao redor do mundo foi muito

importante para a mudanccedila desse cenaacuterio pois natildeo apenas deu voz agraves necessidades dessas

pessoas como contribuiu para que as doenccedilas raras fossem consideradas uma questatildeo de sauacutede

puacuteblica ndash ainda que se tenha optado por trataacute-las a princiacutepio pelo vieacutes das doenccedilas geneacuteticas

Essa nova abordagem impulsionou a criaccedilatildeo de inuacutemeros programas oficiais voltados agrave

assistecircncia dessesas pacientes e o advento de incentivos regulatoacuterios e econocircmicos para o

desenvolvimento de drogas destinadas ao tratamento de doenccedilas raras os designados

medicamentos oacuterfatildeos Tambeacutem impeliu o Brasil para esse desenvolvimento permitindo

avanccedilos como a Portaria Nordm 8120093 mas apesar disso o caminho a ser percorrido ainda eacute

bastante longo

Em maior ou menor grau como resultado desse conjunto de medidas das inovaccedilotildees da

medicina e de uma maior conscientizaccedilatildeo por parte da sociedade governos instituiccedilotildees

empresas pacientes e familiares a questatildeo das doenccedilas raras estaacute sendo discutida no paiacutes

trazendo agrave tona questotildees como a proacutepria definiccedilatildeo do conceito de doenccedila rara o preccedilo dos

medicamentos e o seu impacto no sistema de sauacutede

Aleacutem das questotildees anteriormente citadas diversas barreiras dificultam o acesso dosas

pacientes a tratamentos especializados e a medicamentos no paiacutes osas profissionais da aacuterea

carecem de treinamento e capacitaccedilatildeo ndash o que compromete ou retarda o diagnoacutestico dosas

pacientes falta informaccedilatildeo sobre essas doenccedilas para a famiacutelia e apenas 2 das doenccedilas raras

podem beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na evoluccedilatildeo da doenccedila

O principal desafio aos olhos da Interfarma estaacute na equaccedilatildeo de um binocircmio equilibrar a

necessidade de atender adequadamente agraves demandas dosas pacientes com os custos crescentes

do setor decorrentes do progresso cientiacutefico e do avanccedilo tecnoloacutegico Para aleacutem disso

1 Maria Fagundes eacute diretora de Responsabilidade Social e Empresarial da INTERFARMA wwwinterfarmaorgbr 2 Marcela Simotildees eacute Analista de Acesso e Inovaccedilatildeo da INTERFARMA 3 Portaria de geneacutetica no SUS

59

conciliar essas questotildees com os entraves burocraacuteticos a duplicidade de funccedilotildees e uma

infinidade de meandros e exigecircncias que fazem com que o tempo para aprovaccedilatildeo dos protocolos

de pesquisa cliacutenica praticamente inviabilize a participaccedilatildeo brasileira na produccedilatildeo de

medicamentos inclusive aqueles para doenccedilas raras os supramencionados medicamentos

oacuterfatildeos

Cenaacuterio das doenccedilas raras no Brasil e no mundo acesso a tratamentos

medicamentosos e procedimentos tecnoloacutegicos

Prestar assistecircncia adequada aosagraves pacientes com doenccedilas raras significa formular uma poliacutetica

capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e tratamento por um lado

oferta de medicamentos oacuterfatildeos por outro

Na praacutetica esse binocircmio requer a organizaccedilatildeo de uma rede de serviccedilos que mescle

tratamentos e medicamentos de alto teor tecnoloacutegico com procedimentos de baixa

complexidade que possam suprir as principais necessidades dosas pacientes diagnoacutestico

preciso e precoce ndash um dos grandes problemas enfrentados por essas pessoas profissionais

qualificados - haacute um deacuteficit de conhecimento meacutedico e cientiacutefico acerca dessas doenccedilas

infraestrutura condizente com as diferentes necessidades de sauacutede dosas pacientes acesso a

medicamentos e acompanhamento dos tratamentos ministrados

O fato de o Brasil natildeo possuir uma poliacutetica oficial especiacutefica para doenccedilas raras natildeo

significa poreacutem que osas pacientes natildeo recebam cuidados e tratamento Os medicamentos

acabam chegando ateacute elesas na maioria por via judicial E o SUS de uma maneira ou de outra

atende essas pessoas poreacutem de forma fragmentada sem planejamento com grande desperdiacutecio

de recursos puacuteblicos e prejuiacutezo para osas pacientes

Embora possuam diferentes definiccedilotildees e abordagens em torno do tema as poliacuteticas

puacuteblicas desenvolvidas ao redor do mundo tecircm apresentado uma gama de soluccedilotildees para ampliar

o acesso dosas pacientes agrave assistecircncia O desafio eacute consideraacutevel levando-se em conta que 95

das doenccedilas raras natildeo possuem tratamento e dependem de uma rede de cuidados paliativos que

garantam ou melhorem a qualidade de vida dosas pacientes

Na outra ponta do espectro estaacute uma pequena percentagem das doenccedilas raras que dispotildee

de tratamentos medicamentosos capazes de interferir na sua progressatildeo mas o custo elevado

das drogas tem exigido dos governos decisotildees poliacuteticas e procedimentos especiacuteficos para

garantir seu fornecimento contiacutenuo Entre um grupo e outro encontram-se certas modalidades

de doenccedilas raras que podem ser tratadas cirurgicamente ou com medicamentos regulares que

ajudam apenas a atenuar os sintomas

Existem na experiecircncia internacional alguns benchmarkings que merecem ser destacados

como

bull Para agilizar o acesso dos pacientes a medicamentos alguns paiacuteses adotam estrateacutegias

destinadas a facilitar o registro ndash preacute-requisito para a comercializaccedilatildeo

bull Revisatildeo acelerada da documentaccedilatildeo e reduccedilatildeo das exigecircncias em relaccedilatildeo a estudos

cliacutenicos satildeo as praacuteticas mais frequentes

bull Haacute casos que a designaccedilatildeo de droga oacuterfatilde em outros paiacuteses eacute suficiente para a aprovaccedilatildeo

de um medicamento

bull Muitos paiacuteses concedem incentivos agraves empresas fabricantes como reduccedilatildeo de taxas e

exclusividade de mercado em relaccedilatildeo agrave concorrecircncia

bull O modelo de poliacutetica adotado em vaacuterios paiacuteses em relaccedilatildeo aos medicamentos oacuterfatildeos eacute

conforme a particularidade do sistema de sauacutede ndash se eacute puacuteblico ou privado e quem eacute o

pagador majoritaacuterio dos custos

60

Definiccedilatildeo de Drogas Oacuterfatildes

Segundo Garau e Ferrandiz (2009 3 apud Wiest 2010) um produto adquire o status de oacuterfatildeo

quando atende a quatro criteacuterios O primeiro deles eacute o criteacuterio da severidade ou seja todo

medicamento destinado a tratamento de uma doenccedila crocircnica que represente uma ameaccedila de

morte aoagrave paciente e exija que o mesmo se mantenha em tratamento ao longo de toda a sua

vida O segundo eacute o criteacuterio da necessidade natildeo atendida que corresponde agraves doenccedilas cuja

inexistecircncia de meacutetodos satisfatoacuterios de diagnoacutesticos prevenccedilatildeo ou tratamento datildeo a este

faacutermaco a alcunha de oacuterfatildeo O terceiro trata da questatildeo da prevalecircncia que institui que todo

aquele medicamento desenvolvido para o tratamento de doenccedilas atinge uma pequena parcela

da populaccedilatildeo Por fim o quarto criteacuterio corresponde ao retorno financeiro esperado que trata

do medicamento cujas vendas natildeo apresentem expectativa de cobertura dos custos iniciais de

pesquisa e desenvolvimento

Processo de desenvolvimento de um medicamento

Diante dos dados discutidos acima se torna importante discutir o processo de desenvolvimento

de um medicamento Isso porque no caso de drogas oacuterfatildes o alto custo de desenvolvimento dos

mesmos para o tratamento de doenccedilas raras eacute agravado pela dificuldade de conduzir ensaios

cliacutenicos para comprovar o funcionamento de um medicamento ndash sendo este um fator

determinante para a aprovaccedilatildeo e posterior lanccedilamento do produto no mercado ndash numa

populaccedilatildeo pequena de pacientes O problema eacute uma barreira para evidecircncias cientiacuteficas e

portanto deve ser caracterizado como um problema de sauacutede puacuteblica

O processo eacute tecnicamente dividido em cinco fases Segundo WIEST (2010) a fase 1 leva

cerca de 2 anos e corresponde ao periacuteodo no qual identifica-se o produto ou a doenccedila ldquoalvordquo

para conduzir as pesquisas de ordem baacutesica Na fase 2 ocorre a delimitaccedilatildeo do estudo e o iniacutecio

dos ensaios preacute-cliacutenicos nos quais os princiacutepios ativos satildeo testados em animais para verificar a

sua eficaacutecia e seguranccedila Esta fase leva entre 3 e 6 anos para ser desenvolvida A fase 3 leva de

6 a 7 anos e corresponde ao periacuteodo no qual ocorrem os ensaios cliacutenicos ou seja os produtos

passam a ser testados em seres humanos Jaacute na fase 4 que decorre em aproximadamente 2 a 4

anos satildeo verificados os ensaios realizados na fase anterior Caso o resultado tenha sido positivo

a induacutestria farmacecircutica busca o registro e a autorizaccedilatildeo para a comercializaccedilatildeo junto agraves

Fig 1 - Fonte Doenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacional ndash Interfarma 2013

61

autoridades de sauacutede Por fim a fase 5 trata da introduccedilatildeo deste medicamento no mercado

Destaca-se que todo o processo leva em torno de 14 anos o que evidencia a sua complexidade

e a necessidade de um elevado dispecircndio de capital humano e monetaacuterio para a sua conclusatildeo

Na figura 2 eacute possiacutevel visualizar as fases da produccedilatildeo de um medicamento

Eacute possiacutevel afirmar que diante do cenaacuterio descrito acima nos casos das drogas oacuterfatildes o

tempo de produccedilatildeo do medicamento e o nuacutemero restrito de pacientes disponiacuteveis para participar

das fases de estudos cliacutenicos dificultam ainda mais a produccedilatildeo de um medicamento Aleacutem

disso outros entraves como a falta de incentivo governamental para a pesquisa cliacutenica e os

aspectos burocraacuteticos de aprovaccedilatildeo de registros e preccedilos tornam o cenaacuterio ainda mais agravante

para as pessoas com doenccedilas

Entraves agrave Pesquisa Cliacutenica

O Brasil eacute a sexta economia do mundo mas ocupa a 42ordf posiccedilatildeo quando se trata de pesquisa

cliacutenica A pesquisa cliacutenica eacute uma das entradas para novas tecnologias no paiacutes no setor da sauacutede

onde delas dependem potenciais medicamentos contra o cacircncer diabetes doenccedilas

cardiovasculares e AIDS que lideram o ranking dos ensaios

Ainda assim o tempo meacutedio gasto atualmente no Brasil para aprovar um protocolo de

pesquisa cliacutenica varia de um a dois anos o dobro da meacutedia mundial sendo as consequecircncias

muacuteltiplas como por exemplo o Brasil tem sido descartado de ensaios cliacutenicos de menor

duraccedilatildeo devido ao risco de que a autorizaccedilatildeo natildeo saia a tempo e a desistecircncia dos centros

internacionais de pesquisa de realizar em parceria com o Brasil estudos multicecircntricos e

globais que envolvem muitos paiacuteses e prazos preacute-determinados

Figura 2 Fases de produccedilatildeo do medicamento

62

No caso das doenccedilas raras esse cenaacuterio agrava-se esta via de acesso dosas doentes agraves

drogas oacuterfatildes e acompanhamento por um corpo cliacutenico de excelecircncia eacute ainda mais estreito pois

os estudos que envolvem muacuteltiplos paiacuteses e centros tecircm grande peso uma vez que devido agrave

baixa prevalecircncia osas pacientes satildeo recrutadosas em diversas partes do mundo

Para muitosas pacientes que natildeo respondem bem aos tratamentos convencionais a

participaccedilatildeo em um protocolo de pesquisa pode representar a uacuteltima esperanccedila e osas que

dispotildeem de mais recursos tecircm possibilidade de ir ao exterior e participar natildeo sendo este o

cenaacuterio da maioria da populaccedilatildeo brasileira

Por outro lado segundo (Heemstra 2008) devido agrave raridade e ao reduzido mercado

consumidor torna-se difiacutecil caro e arriscado o desenvolvimento de pesquisas que viabilizem a

produccedilatildeo de medicamentos para o seu tratamento fazendo com que esta questatildeo passe a ser

natildeo somente um problema de sauacutede puacuteblica mas econocircmico e social

Enquanto a meacutedia mundial para aprovaccedilatildeo de pesquisas cliacutenicas varia de 3 a 4 meses no

Brasil eacute preciso esperar o triplo do tempo Mas este natildeo eacute o uacutenico desestiacutemulo no paiacutes aos

patrocinadores das pesquisas e ao desenvolvimento de medicamentos oacuterfatildeos Por forccedila de uma

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede os patrocinadores de estudos cliacutenicos devem

Figura 3 Pesquisas acadecircmicas no Brasil

63

continuar a fornecer aos pacientes para o resto de suas vidas o tratamento testado quando

houver algum benefiacutecio aoagrave paciente mesmo sem aprovaccedilatildeo da ANVISA Diante da baixa

incidecircncia das doenccedilas raras esta eacute uma questatildeo problemaacutetica uma vez que o patrocinador teraacute

que fornecer o medicamento gratuitamente para a quase totalidade do seu mercado consumidor

A incerteza e a inseguranccedila dosas empresaacuteriosas diante desse cenaacuterio e da capacidade do

Estado de proteger as inovaccedilotildees tambeacutem reduz o investimento privado em pesquisas no Brasil

A avaliaccedilatildeo de reestruturaccedilatildeo da maacutequina governamental em termos de infraestrutura e

dos processos burocraacuteticos que a envolvem visando a eficiecircncia a eficaacutecia e a efetividade nos

processos se mostram cada vez mais necessaacuterios para estimular a parceria entre governo

universidades e iniciativa privada tatildeo necessaacuteria para a aacuterea da pesquisa cliacutenica no paiacutes

Abaixo eacute possiacutevel ver o cenaacuterio de pesquisa cliacutenica no paiacutes

Figura 4 Pesquisas cliacutenicas

64

Fortalecimento do Movimento Social

Aleacutem dos jaacute explicitados acima o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes eacute um

uacuteltimo ponto que merece destaque Isso porque como jaacute comentado anteriormente a

participaccedilatildeo dos atores sociais no processo eacute sempre fundamental para a inclusatildeo de um

determinado tema na agenda governamental e para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas No caso

das doenccedilas raras isso natildeo foge agrave regra

Segundo (Wiest 2010) na maioria dos Estados democraacuteticos o direito agrave sauacutede eacute

constitucionalmente assegurado sendo atribuiccedilatildeo do governo garantir o acesso igualitaacuterio agrave

populaccedilatildeo O direito de proteccedilatildeo a sauacutede eacute considerado um dos princiacutepios fundamentais dos

Estados modernos

O artigo 251 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos prevecirc que cada cidadatildeoatilde

tem direito agrave sauacutede e agrave assistecircncia meacutedica Assim cabe ao governo assegurar condiccedilotildees para o

desenvolvimento de um tratamento efetivo atraveacutes de medidas que garantam a avaliaccedilatildeo segura

de novas drogas bem como o seu fornecimento e distribuiccedilatildeo junto ao mercado

Aleacutem disso as decisotildees das autoridades devem ser tomadas no intuito de zelar pela sauacutede

puacuteblica sem conflitar com os interesses dos demais agentes do processo poliacutetico

Figura 5 Pesquisa e desenvolvimento de medicamento

65

No Brasil o artigo 196 da Constituiccedilatildeo Federal estaacute expressamente instituiacutedo que eacute papel

do Estado brasileiro prover a populaccedilatildeo com assistecircncia agrave sauacutede o que significa dizer

assistecircncia meacutedica e farmacecircutica e que isso deve ser realizado por meio de medidas

econocircmicas e sociais natildeo podendo haver qualquer forma de discriminaccedilatildeo ou favorecimento a

um setor ou classe social

Pode-se dizer que satildeo parcerias importantes para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo social

as existentes entre os diversos elos de participaccedilatildeo os atores sociais (pacientes cuidadoresas

e organizaccedilotildees sociais) o controle social a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o

diaacutelogo Social

A discussatildeo baacutesica das parcerias estaacute relacionada neste caso ao uso de novas tecnologias

em sauacutede de forma viaacutevel para o sistema de sauacutede como um todo a ponto de assegurar a

universalidade a equidade e a qualidade do atendimento a populaccedilatildeo Desta forma tratamentos

inovadores para doenccedilas raras necessitam de uma abordagem diferenciada por parte dos

tomadores de decisatildeo do sistema puacuteblico de sauacutede

Eacute pertinente ao controle social fiscalizar e colaborar com o aprimoramento das resoluccedilotildees

das agecircncias governamentais e da gestatildeo das tecnologias participar ativamente das decisotildees

que definam ou natildeo o acesso agraves tecnologias com dados reais do paciente ampliar o

conhecimento e opinar nos criteacuterios de escolha para incorporar ou abandonar uma tecnologia

expressar seu posicionamento nas consultas puacuteblicas disponibilizadas na ANVISA e ANS

entre outras formas de participaccedilatildeo social Ressalta-se que o diaacutelogo social eacute um importante

exerciacutecio de negociaccedilatildeo em prol do interesse comum para um resultado de consenso

O Pacto Social para doenccedilas raras deve ter por objetivo aleacutem de oferecer suporte

assistencial aos pacientes e familiares a contribuiccedilatildeo para disseminar o conhecimento e as

informaccedilotildees para oa pacientes o treinamento profissional a promoccedilatildeo de pesquisa o

desenvolvimento de tratamento e por fim realizar o contato entre as diversas organizaccedilotildees de

pacientes

Figura 6 Pacto social para Doenccedilas Raras

66

Conclusatildeo

Em suma existem muitos entraves presentes nesse tema e muitos pontos ainda a serem

discutidos Apesar disso eacute possiacutevel destacar de tudo que foi explicitado os seguintes pontos

bull Eacute importante que se estabeleccedilam poliacuteticas de incentivo ao desenvolvimento de Drogas

Oacuterfatildes (incentivos econocircmicos para pesquisa agilizaccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da nova droga

isenccedilatildeo tributaacuteria definiccedilatildeo de fundos para financiamento de pesquisa produccedilatildeo a partir

da canalizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos e privados etc) Eacute um importante mecanismo para

a induacutestria farmacecircutica produzir novos medicamentos oacuterfatildeos

bull A ampliaccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de pesquisa cliacutenica eacute essencial para

a inovaccedilatildeo e o desenvolvimento de novas tecnologias que melhorem a qualidade de vida

dosas pacientes quando possiacutevel o tratamento medicamentoso

bull A melhoria no recrutamento de pacientes para os ensaios cliacutenicos por meio da

internacionalizaccedilatildeo dos estudos e nichos de mercado inclusive o das doenccedilas raras

deve ser considerada vital e eficiente

bull E o mais importante o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes estaacute

diretamente ligado com o sucesso da estrateacutegia social de garantir um direito

constitucional a sauacutede

Lembramos como setor que o papel da induacutestria farmacecircutica eacute buscar compreender

melhor as doenccedilas e sempre que possiacutevel trazer a perspectiva doa paciente

Aleacutem disso deve buscar participar do processo de formulaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas para

doenccedilas raras dentro dos padrotildees regidos por lei e da forma mais eacutetica possiacutevel Buscar o acesso

agrave informaccedilatildeo diagnoacutestico e melhores tratamentos para osas pacientes visando contribuir e

participar do pacto social para as doenccedilas raras no paiacutes e no mundo

Referecircncias Bibliograacuteficas

Garau M Ferrandiz JM (2009) ldquoAcess mechanisms for orphan drugs a comparative study

of select European countriesrdquo Office of Health Economics 52 1-24

Interfarma (2013) ldquoDoenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacionalrdquo Interfarma

Consultado a 9032014 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbrsite2cadernosDoencas_Raraspdf

Interfarma (2013) ldquoGuia Interfarma 2013rdquo Interfarma Consultado a 9032015 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbruploadsbiblioteca33-guia-interfarma-2013-sitepdf

Wiest R (2010) A Economia das Doenccedilas Raras Teoria Evidecircncias e Poliacuteticas Puacuteblicas

Dissertaccedilatildeo de bacharelado do curso de Ciecircncias Econocircmicas Porto Alegre Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

Heemstra H E et al (2008) ldquoOrphan drug development across Europe bottlenecks and

opportunitiesrdquo Drug Discovery Today 13 15-16 670-676

67

Atendimento a doenccedilas raras no Distrito Federal

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso1 Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal nucleodegeneticadfyahoocombr

Doenccedilas raras - Conceituaccedilatildeo

Existem vaacuterias conceituaccedilotildees para Doenccedilas raras

Na Uniatildeo Europeacuteia (EU) classifica-se como Doenccedila Rara aquela com prevalecircncia inferior

a 5 casos por 10000 habitantes (Domenica et al 2011)

A OMS define doenccedila rara como aquela que afeta 13 pessoas para cada 2000 indiviacuteduos

O Orphan Drug Act (ODA) define doenccedila rara como uma doenccedila que afeta menos que

200000 pessoas no paiacutes (EUA) (De luca 2001)

As doenccedilas raras representam risco para a sobrevivecircncia e satildeo condiccedilotildees cronicamente

debilitantes (Domenica et al 2011) Estima-se que existam entre 6000 a 8000 distintas doenccedilas

raras afetando mais de 6 de toda a populaccedilatildeo A cada semana cinco novas doenccedilas satildeo

descritas 80 das quais satildeo de etiologia geneacutetica (Stakišaitis et al 2007) Portanto essas

condiccedilotildees podem ser consideradas raras quando avaliadas individualmente mas afetam uma

proporccedilatildeo significante da populaccedilatildeo quando consideradas como um grupo uacutenico 30 milhotildees

de europeus e 25 milhotildees de norte americanos (Weely e Leufkens 2004)

Doenccedilas Raras - Impacto populacional

As doenccedilas raras produzem um grande impacto na populaccedilatildeo pois 6 apresenta uma doenccedila

rara que se caracteriza por apresentar uma diversidade de sinais e sintomas muitos deles

comuns a doenccedilas frequentes

Em geral apresentam um caraacuteter crocircnico progressivo muitas vezes degenerativo e

incapacitante Afeta muacuteltiplos sistemas e interfere na qualidade de vida do paciente e familiares

O impacto populacional torna-se tanto maior quanto mais tardio o diagnoacutestico agravado

pelo desconhecimento dos profissionais de sauacutede carecircncia de serviccedilos e centros de referecircncia

em doenccedilas raras no paiacutes (Regulation (EC) Nordm 1412000)

No Brasil como na Ameacuterica Latina 3 a 5 dos receacutem-nascidos (RN) apresentam um

defeito congecircnito O impacto desses defeitos congecircnitos vem aumentando no Brasil e estes jaacute

representam a segunda causa de oacutebito infantil sendo responsaacuteveis por um terccedilo (13) das

internaccedilotildees pediaacutetricas (Horovitz 2005)

Poliacuteticas Puacuteblicas

Uma poliacutetica europeia em doenccedilas raras foi efetivamente regulamentada e colocada em accedilatildeo

em 1999 provendo incentivos para pesquisas desenvolvimento e marketing para drogas oacuterfatildes

com base na experiecircncia dos Estados Unidos

1 Maria Teresinha de Oliveira Cardoso eacute presidente do Departamento de Geneacutetica Cliacutenica do Distrito Federal Chefe do Nuacutecleo

de Geneacutetica da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica do Hospital Central de Brasiacutelia

Coordenadora de Doenccedilas Raras da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal e Professora da Faculdade de Medicina

da Universidade Catoacutelica

68

Em 2008 o Projeto Europeu para o Desenvolvimento do Plano Nacional de Doenccedilas Raras

(EUROPLAN) foi conduzido pela Comissatildeo Europeia A adoccedilatildeo de um plano nacional ocorreu

na Franccedila como Plano Nacional Francecircs liberado em 2011 Outros planos nacionais foram

adotados em diversos paiacuteses europeus incluindo Beacutelgica Bulgaacuteria Repuacuteblica Tcheca

Alemanha Greacutecia Luxemburgo Portugal Romeacutenia e Espanha

A partir de 2013 a Uniatildeo Europeia passou a recomendar que todos os estados membros

desenvolvessem uma estrateacutegia nacional para doenccedilas raras (Weely e Leufkens 2004)

No Brasil uma poliacutetica nacional para Doenccedilas Raras teve iniacutecio oficial com a publicaccedilatildeo

da Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede devendo ser implantada atraveacutes das DIRETRIZES PARA

ATENCcedilAtildeO INTEGRAL AgraveS PESSOAS COM DOENCcedilAS RARAS NO SISTEMA UacuteNICO

DE SAUacuteDE ndash SUS

Esse Projeto Nacional para Doenccedilas Raras deveraacute implementar

Centros de Referecircncia Regionais

Atendimentos Multidisciplinares

Centros de Reabilitaccedilatildeo

Protocolos de Accedilatildeo

Terapias de Apoio

No Distrito Federal (DF) o Nuacutecleo de Geneacutetica representa o primeiro serviccedilo puacuteblico

destinado ao diagnoacutestico tratamento e aconselhamento geneacutetico de crianccedilas e adultos com

Doenccedilas Raras incluindo o Serviccedilo de Triagem Neonatal Ampliada para 27 doenccedilas

metaboacutelicas raras destinado a todas as crianccedilas nascidas no DF

O atendimento agraves Doenccedilas Raras iniciou-se em 1989 como Serviccedilo de Geneacutetica e em 2007

esse Serviccedilo foi oficialmente reconhecido como ldquoNuacutecleo de Geneacuteticardquo composto de uma

Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica e seis pilares destinados ao atendimento e ao diagnoacutestico de

crianccedilas e adultos com doenccedilas geneacuteticas

Como descritos a seguir

1 Imunogeneacutetica para o diagnoacutestico e acompanhamento de casos de Imunodeficiecircncias

primaacuterias

2 Geneacutetica Molecular e Oncogeneacutetica realizando a identificaccedilatildeo de marcadores de

Leucemias por tecnologia molecular (PCR)

3 Citogeneacutetica a Citogeneacutetica Convencional para Cromossomopatias e estudo de

translocaccedilotildees e marcadores cromossocircmicos das Leucemias

4 Geneacutetica Bioquiacutemica abrangendo

a Teste de Triagem Neonatal do Programa Nacional de Triagem Neonatal e do

Programa de Triagem Neonatal Ampliado do Distrito Federal uacutenico no paiacutes em

sistema puacuteblico

b Serviccedilo de Referecircncia de Erros Inatos do Metabolismo destinado ao diagnoacutestico e

tratamento em seus vaacuterios niacuteveis de complexidade de pacientes com Doenccedilas

metaboacutelicas hereditaacuterias

5 Geneacutetica da Reproduccedilatildeo e Medicina Fetal para estudo cromossocircmico de casais

infeacuterteis ou com perdas muacuteltiplas e participaccedilatildeo na equipe de diagnoacutestico preacute-natal das

malformaccedilotildees congecircnitas

6 Geneacutetica Cliacutenica compreende o atendimento nos vaacuterios ambulatoacuterios semanais em trecircs

Hospitais da Rede acompanhamento de crianccedilas internadas em enfermarias UTIs Pediaacutetricas

e UTIs Neonatais perfazendo uma meacutedia de atendimentos mensais de 500 pacientes incluindo

o atendimento de crianccedilas em diferentes faixas etaacuterias e adultos

69

Formaccedilatildeo de recursos humanos

O Nuacutecleo de Geneacutetica tambeacutem se destina ao ensino e capacitaccedilatildeo teacutecnica orientando estagiaacuterios

de aacutereas da Sauacutede internos de graduaccedilatildeo de Medicina e Residentes de Pediatria e em especial

o Programa de Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica

O Nuacutecleo de Geneacutetica eacute uma entidade ligada ao Sistema Puacuteblico de Sauacutede (SUS) que

trabalha em parceria com a Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia e a Universidade de Brasiacutelia em

grandes projetos multicecircntricos de pesquisa em especial no campo do diagnoacutestico avanccedilado

por teacutecnicas moleculares de doenccedilas raras

A participaccedilatildeo em grandes projetos no formato de Redes possibilita o avanccedilo tanto na aacuterea

assistencial de diagnoacutestico e terapecircutica como na qualidade do Ensino

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras do Distrito Federal foi instituiacuteda pelo Diaacuterio Oficial do

Distrito Federal em 4 de marccedilo de 2013 com o objetivo de normatizar e implementar fluxo

de referecircncia e contra-referecircncia dos atendimentos (Fig 1) exames complementares e

confirmatoacuterios de diagnoacutestico interconsultas nos vaacuterios niacuteveis de complexidade (Fig 2)

acesso a terapias especiacuteficas e de apoio a pessoas com doenccedilas raras e seus familiares famiacutelias

e aconselhamento geneacutetico das pessoas com doenccedilas raras e seus familiares

Figura 1 Fluxo de atendimento ambulatorial dos pacientes nos diversos hospitais da rede hospitalar

DO ENCcedil AS RARAS NUGEN

EMERG AMBUL UTIS

Neuropediatria Endocrinopediatria

CardiopediatriaOftalmologia

PsicologaFonoaudiolOdontopedFisioterap

TO

ImagensENM

EcocardiogHormoniosBioquimica

MSMSMolecular

70

Figura 2 Atendimento multidisciplinar dos pacientes no Nugen

Grupos de Doenccedilas Raras jaacute em atendimento sistemaacutetico no Nuacutecleo de

Geneacutetica

bull Dismorfologia (malformaccedilotildees congecircnitas)Cromossomopatias

bull Distuacuterbios de Diferencial Sexual

bull Distuacuterbios do Crescimento

bull Displasias oacutesseas

bull Distuacuterbios de Comportamento

bull Deficiecircncia Intelectual

bull Distuacuterbios do Aprendizado

bull Doenccedilas Metaboacutelicas Hereditaacuterias(EIM)

bull Doenccedilas Neurometaboacutelicas da Infacircncia

bull Doenccedilas Neurodegenerativas

bull Doenccedilas Neuromusculares

bull Imunodeficiecircncias Primaacuterias

bull Siacutendrome de Predisposiccedilatildeo ao Cacircncer

bull Siacutendromes Neurocutacircneas

bull Infertilidade de Casais e Abortamento de Repeticcedilatildeo

71

Perspectivas

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras tem como perspectivas a organizaccedilatildeo de serviccedilos como

Centro Regional de Referecircncia em Doenccedilas Raras Centro de Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica

Ambulatoacuterio Integrado de Doenccedilas Neuromusculares Ambulatoacuterio Integrado de

Imunogeneacutetica e Ambulatoacuterio Integrado de Oncogeneacutetica Tambeacutem visa a formaccedilatildeo de equipes

multidisciplinares parcerias de investigaccedilatildeo diagnoacutestica avanccedilada e grupos de apoio a

pacientes e familiares

Referecircncias bibliograacuteficas

Domenica Taruscio D et al (2011) ldquoRare diseases and orphan drugs Romardquo Ann Ist Super

Sanitagrave 47 1 83-93

De Luca G (2001) ldquoOrphan drugs and patents an attempt to clarify the relationship existing

between these two systemsrdquo Pharmaceutical Policy and Law 3 63-9

Stakišaitis D et al (2007) ldquoAccess to information supporting availability of medicines for

patients suffering from rare diseases looking for possible treatments The EuOrphan Servicerdquo

Medicina (Kaunas) 43(6) 441-446

Van Weely S Leufkens HGH (2004) ldquoOrphan diseasesrdquo in Kaplan W Laing R Priority

medicines for Europe and the world ndash a public health approach to innovation Geneva

WorldHealth Organization 95-100

Horovitz D D G Llerena JrJ C Mattos RA (2005) Birth defects and health strategies in

Brazil an overview Rio de Janeiro Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 21 4

Applegarth DA et al (2000) ldquoIncidence of inborn errors of metabolism in British Columbiardquo

Pediatrics 105 1 1-6

French national plan on rare diseases 2005ndash2008 (2004) Ensuring equity in the access to

diagnosis treatment and provision of care Consultado a 20102013 disponiacutevel em

httpwwweurordisorgIMGpdfEN_french_rare_disease_planpdf

Legislaccedilatildeo

REGULATION (EC) No 1412000 of the European Parliament of the Council of December 16

1999 on Orphan medicinal products OJ L 181-5 2212000

72

Pesquisa em doenccedilas raras Desafios e Perspectivas

Maacuterio Andreacute C Saporta1 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas-Tronco da Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ mariosaportalance-ufrjorg

Apesar de coletivamente afetarem cerca de 8 a 10 da populaccedilatildeo mundial as doenccedilas raras

apresentam individualmente prevalecircncia inferior a 005 ou seja menos de 1 em cada 2000

indiviacuteduos em uma dada populaccedilatildeo Este reduzido nuacutemero de pessoas afetadas oferece desafios

proacuteprios para a pesquisa baacutesica e cliacutenica em doenccedilas raras A ausecircncia de massa criacutetica e forccedila

poliacutetica torna o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras problemaacutetico do ponto de vista

de poliacuteticas de Estado Eacute difiacutecil imaginar que pesquisas em mais de 7000 diferentes

enfermidades poderatildeo ser financiadas exclusivamente por editais de fomento de agecircncias

governamentais Estes editais satildeo de suma importacircncia para o desenvolvimento de pesquisas

nesta aacuterea temaacutetica mas natildeo podem ser a fonte exclusiva de financiamento O pequeno nuacutemero

amostral (nuacutemero de pacientes incluiacutedos em um estudo) tambeacutem dificulta a realizaccedilatildeo de

ensaios cliacutenicos para investigaccedilatildeo de novos tratamentos Neste texto discutiremos alternativas

para a viabilizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras e apresentaremos uma nova tecnologia com

potencial de revolucionar os estudos destas enfermidades em busca de um maior conhecimento

sobre os mecanismos bioloacutegicos envolvidos e possiacuteveis novos tratamentos a reprogramaccedilatildeo

celular

A assistecircncia e a pesquisa em doenccedilas raras satildeo campos continuamente negligenciados no

Brasil dependentes muito mais do interesse especiacutefico de grupos de pesquisas e meacutedicos

integrantes do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) do que de poliacuteticas puacuteblicas propriamente ditas

A necessidade de inclusatildeo das doenccedilas raras no planejamento da gestatildeo do SUS eacute evidente e

urgente Com o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico desta aacuterea nos uacuteltimos anos uma

seacuterie de novos tratamentos para alguns tipos de doenccedilas raras jaacute satildeo uma realidade e alguns

fazem inclusive parte da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS Entretanto a ausecircncia

de centros de referecircncia para o estudo e o acompanhamento de pacientes que podem beneficiar

destes tratamentos dificulta a identificaccedilatildeo destes atrasando ou inviabilizando o tratamento O

correto diagnoacutestico da maioria das doenccedilas raras depende de serviccedilos especializados com

meacutedicos experientes e estrutura laboratorial avanccedilada Eacute portanto necessaacuteria a organizaccedilatildeo de

uma rede de centros de referecircncia em doenccedilas raras com abrangecircncia nacional e integradas

atraveacutes de sistemas de gerenciamento de informaccedilotildees ligados agraves centrais de marcaccedilatildeo do SUS

Desta forma o fluxo de referecircncia e contra-referecircncia de pacientes ocorreria da maneira mais

efetiva possiacutevel agilizando o diagnoacutestico e o manejo de indiviacuteduos com doenccedilas raras Esta

rede poderia ser tambeacutem utilizada para viabilizar a realizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras

ao facilitar a identificaccedilatildeo e a inclusatildeo de pacientes em ensaios cliacutenicos e pesquisas

transacionais

Este tipo de sistema em rede para pesquisa e atendimento em doenccedilas raras natildeo eacute algo

ineacutedito no mundo O National Institutes of Health dos Estados Unidos oacutergatildeo semelhante ao

nosso Ministeacuterio da Sauacutede possui um departamento exclusivo para o estudo e fomento de

pesquisas em doenccedilas raras O escritoacuterio de pesquisas em doenccedilas raras2 organiza o acesso a

informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras e oferece financiamento para a criaccedilatildeo de redes de

1 Maacuterio Saporta eacute meacutedico neurologista atua no serviccedilo de neurologia da Universidade Federal Fluminense eacute poacutes-doutorado

em Neurogeneacutetica e Reprogramaccedilatildeo Celular em Satildeo Francisco ndash EUA 2 Office of Rare Diseases Research httprarediseasesinfonihgov

73

atendimento e pesquisa em tipos especiacuteficos de doenccedilas raras atraveacutes da rede de pesquisa

cliacutenica em doenccedilas raras (Rare Disease Clinical Research Network) Atraveacutes desta iniciativa

grupos de pesquisa especializados em uma doenccedila rara especiacutefica se reuacutenem em uma rede

colaborativa para promover o atendimento regionalizado a pacientes e familiares e viabilizar a

realizaccedilatildeo de pesquisas em alta escala com abrangecircncia nacional Iniciativas similares podem

ser encontradas na Uniatildeo Europeia mas satildeo raras ou inexistentes no Brasil

Aleacutem do financiamento governamental direcionado atraveacutes destas redes especializadas de

pesquisa e atendimento em doenccedilas raras especiacuteficas outra fonte fundamental para a

viabilizaccedilatildeo destas atividades deve vir das associaccedilotildees civis de pacientes e familiares Atraveacutes

de eventos beneficentes atividades de conscientizaccedilatildeo e engajamento da sociedade civil e lobby

poliacutetico as associaccedilotildees de pacientes e familiares tem o poder de captar a atenccedilatildeo da opiniatildeo

puacuteblica e de fontes de fomento tradicionalmente natildeo disponiacuteveis aos centros acadecircmicas no

Brasil como doaccedilotildees de empresas ou individuais Esta obviamente natildeo eacute uma tarefa trivial e

o contato e troca de experiecircncias com associaccedilotildees mais experientes no exterior eacute altamente

recomendaacutevel Exemplos de associaccedilotildees americanas de pacientes e familiares que tecircm sido bem

sucedidas na captaccedilatildeo de recursos e no incentivo a pesquisas em doenccedilas raras neuromusculares

em alta escala incluem a Muscular Dystrophy Association3 e a Charcot-Marie-Tooth

Association5

Em resumo o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras deve se basear na interaccedilatildeo

entre trecircs elementos A relaccedilatildeo entre o governo e os centros acadecircmicos atraveacutes dos editais de

fomento eacute a uacutenica destas interaccedilotildees a ocorrer no Brasil mesmo que de forma insuficiente A

interaccedilatildeo entre as associaccedilotildees de pacientes e familiares e o governo atraveacutes de pressatildeo poliacutetica

e com os centros acadecircmicos atraveacutes da captaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de novos recursos para

pesquisa satildeo duas estrateacutegias subutilizadas no Brasil mas jaacute comeccedilam a gerar importantes

frutos em outros paiacuteses

Na segunda parte deste artigo abordaremos uma nova teacutecnica em biologia celular que

promete revolucionar as pesquisas em doenccedilas raras denominada reprogramaccedilatildeo celular

Como um coacutedigo de software a informaccedilatildeo geneacutetica de uma ceacutelula pode ser editada atraveacutes do

uso de ferramentas de biologia molecular Viacuterus produzidos para carregar informaccedilotildees

geneacuteticas especiacuteficas por exemplo podem realizar esta ediccedilatildeo do coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas

ao infectaacute-las Foi utilizando esta estrateacutegia que o pesquisador japonecircs Shinya Yamanaka

conseguiu ldquoreprogramarrdquo ceacutelulas humanas da pele conhecidas como fibroblastos e fazecirc-las

assumir caracteriacutesticas de ceacutelulas-tronco embrionaacuterias Desde a comunicaccedilatildeo dos resultados de

seu trabalho em 2007 apenas cinco anos se passaram para que Yamanaka fosse reconhecido

com o precircmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2012 A grande revoluccedilatildeo causada pelos

resultados de Yamanaka adveacutem de trecircs caracteriacutesticas das ceacutelulas-tronco reprogramadas Como

ceacutelulas embrionaacuterias estas ceacutelulas podem ser replicadas em laboratoacuterio de forma indefinida

sem sofrer envelhecimento celular Aleacutem disso estas ceacutelulas tambeacutem podem ser transformadas

em todos os tipos celulares presentes em um indiviacuteduo adulto incluindo neurocircnios ceacutelulas do

muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do fiacutegado rim pulmatildeo etc Mas ao contraacuterio das ceacutelulas-tronco

embrionaacuterias as ceacutelulas-tronco reprogramadas podem ser obtidas de indiviacuteduos de qualquer

idade sem a necessidade de destruiccedilatildeo de embriotildees

O verdadeiro trunfo das ceacutelulas reprogramadas que as coloca no topo da piracircmide dos

modelos de estudo em biologia humana atualmente eacute o fato de que elas preservam todas as

caracteriacutesticas geneacuteticas do indiviacuteduo que as originou Desta forma temos agora a possibilidade

de estudar ceacutelulas humanas especiacuteficas de indiviacuteduos acometidos por diferentes doenccedilas

3 MDA ndash mdaorg 4 CMTA ndash wwwcmtausaorg 5 CMTA ndash wwwcmtausaorg

74

mantendo todos os fatores bioloacutegicos associados ao desenvolvimento da doenccedila em questatildeo

Estas caracteriacutesticas das ceacutelulas reprogramadas satildeo de grande importacircncia para o estudo de

doenccedilas raras que satildeo na sua maioria (entre 80 e 90) de origem geneacutetica Outra vantagem da

teacutecnica eacute que podemos estudar tipos celulares antes inacessiacuteveis aos pesquisadores pela

dificuldade em obtecirc-las de pacientes vivos O principal exemplo deste tipo de ceacutelulas satildeo os

neurocircnios componentes do tecido nervoso e presentes no ceacuterebro tronco cerebral e medula

espinhal A retirada de neurocircnios de indiviacuteduos vivos eacute extremamente arriscada natildeo soacute pela

posiccedilatildeo protegida que eles ocupam dentro do cracircnio ou da coluna vertebral mas principalmente

pelo risco de sequelas graves apoacutes sua remoccedilatildeo dos circuitos funcionais a que estatildeo integrados

Neste momento laboratoacuterios do mundo inteiro estatildeo produzindo ceacutelulas-tronco reprogramadas

de indiviacuteduos com diversas doenccedilas raras neuroloacutegicas por exemplo e transformando-as em

neurocircnios para estudar o que haacute de errado nestas ceacutelulas que causa em uacuteltima anaacutelise a doenccedila

do paciente Ainda mais importante estas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para o desenvolvimento

de novos tratamentos

Tomando como exemplo o campo das doenccedilas neuroloacutegicas poucos satildeo os tratamentos

disponiacuteveis no momento que vatildeo aleacutem do controle momentacircneo dos sintomas e ofereccedilam a

chance de cura para os pacientes Isso eacute ainda mais verdade para doenccedilas neurodegenerativas e

neurogeneacuteticas como doenccedila de Charcot-Marie-Tooth Esclerose Lateral Amiotroacutefica (ELA) e

outras formas graves de doenccedilas raras do sistema nervoso O uso da reprogramaccedilatildeo celular para

geraccedilatildeo e estudo de neurocircnios humanos promete modificar este cenaacuterio ao oferecer um modelo

humano para a investigaccedilatildeo em alta escala de tratamentos que atuem nos mecanismos causais

das doenccedilas e natildeo apenas em seus sintomas

A teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular oferece tambeacutem a possibilidade de gerar vaacuterios tipos

celulares de um indiviacuteduo especiacutefico para determinar qual tratamento seraacute mais eficaz ou

ofereceraacute o melhor perfil de seguranccedila para ele Semelhante ao que eacute feito atualmente para

determinar qual o melhor antibioacutetico a ser utilizado para tratar uma infecccedilatildeo quando testa-se

diferentes compostos em culturas de bacteacuteria para identificar qual agente eacute mais eficaz culturas

de neurocircnios poderatildeo ser utilizadas para determinar para um paciente especiacutefico qual

medicaccedilatildeo seraacute mais eficaz para tratar sua doenccedila rara por exemplo Aleacutem disso ceacutelulas

musculares cardiacuteacas derivadas das ceacutelulas-tronco reprogramadas poderatildeo ser utilizadas para

identificar quais destas drogas satildeo seguras ou perigosas de um ponto de vista cardiovascular

Estudos tratando exatamente deste tipo de experimentos vecircm sendo publicados com frequecircncia

na literatura cientiacutefica mundial nos uacuteltimos anos Este uso da reprogramaccedilatildeo celular abre

caminho para um novo paradigma de medicina personalizada particularmente uacutetil no estudo e

tratamento de doenccedilas raras onde o paciente eacute a plataforma de estudo para o desenvolvimento

do seu proacuteprio tratamento

A uacuteltima fronteira a ser alcanccedilada em relaccedilatildeo agraves ceacutelulas reprogramadas eacute o seu uso em

terapia celular Em um futuro natildeo tatildeo distante indiviacuteduos com doenccedilas que levam agrave perda de

tipos celulares especiacuteficos (como eacute o caso de vaacuterias doenccedilas raras degenerativas) poderatildeo ter

ceacutelulas reprogramadas a partir de ceacutelulas da pele ou ateacute mesmo da urina diferenciadas no tipo

celular necessaacuterio e este transplantado no seu organismo Este ano o primeiro estudo cliacutenico

utilizando ceacutelulas derivadas de ceacutelulas reprogramadas recebeu autorizaccedilatildeo do governo japonecircs

para ter iniacutecio Neste estudo pacientes com um tipo de doenccedila da retina chamada degeneraccedilatildeo

macular receberatildeo injeccedilotildees com ceacutelulas derivadas de suas proacuteprias ceacutelulas reprogramadas como

forma de regenerar a retina danificada Seraacute o primeiro de muitos trabalhados aplicando a

teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular no tratamento de doenccedilas humanas

Em resumo avanccedilos na geneacutetica e na biologia celular oferecem um novo paradigma para

a forma de tratar indiviacuteduos direcionando o tratamento natildeo para a doenccedila mas para o paciente

com doenccedila rara

75

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras

Tacircnia Maria Francisca Almeida1 almeidaadvogadaigcombr

Quando me propus falar sobre o tema ldquoA inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas rarasrdquo me

deparei com o fato de que na realidade iria falar sobre ldquoA dificuldade da inclusatildeo juriacutedica de

pessoas com doenccedilas rarasrdquo Isto porque quando se trata de doenccedilas raras temos uma

infinidade de unicidades que transpotildeem o cotidiano o que gera um contra-senso que algueacutem

legisle sobre aquele determinado ponto

Tal fato infelizmente gera a judicialidade tatildeo debatida das doenccedilas raras Apesar de natildeo

ser a soluccedilatildeo ideal pois o ideal seria a existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas que atendessem os

pacientes e seus familiares torna-se a uacutenica soluccedilatildeo para pessoas que necessitam de um

atendimento especial e urgente que muitas das vezes foge do que estaacute previsto na legislaccedilatildeo

E o que fazer quando um paciente por exemplo estaacute em Home Care pelo SUS (o que tambeacutem

geralmente soacute se consegue por liminar) e precisa de uma ldquoventilaccedilatildeo mecacircnica invasivardquo (o

chamado ldquorespiradorrdquo) A pergunta se daacute pelo fato de que o SUS natildeo tem o ldquocoacutedigordquo para tal

item ou seja o ldquorespiradorrdquo natildeo estaacute elencado na lista de aparelhos dispensados pelo SUS E

por este ldquoentraverdquo legal pois a gestatildeo puacuteblica soacute pode agir diante de uma previsibilidade legal

quando o paciente precisa do ldquorespiradorrdquo em casa ele eacute negado E os planos de sauacutede por

conseguinte acompanham a lista do SUS Entatildeo como fazer Particularmente meu filho que

foi diagnosticado com a Siacutendrome de Krabbe aos dois anos e meio apesar de apresentar sinais

desde um mecircs e meio de idade estaacute em Home Care desde que completou um ano de vida Ele

usava um aparelho chamado de bipap que o auxiliava na respiraccedilatildeo por 24 horas Ele fazia

muita apneia e nos uacuteltimos tempos o aparelho bipap natildeo estava segurando as apneias O

fisioterapeuta fez vaacuterios testes e fez um laudo solicitando o ldquorespiradorrdquo Solicitaccedilatildeo feita

ficamos quinze dias aguardando uma posiccedilatildeo do plano que por fim disse natildeo ter o tal coacutedigo

para faturar o ldquorespiradorrdquo O fisioterapeuta fez outro laudo e juntou com mais um laudo meacutedico

sobre a necessidade ldquourgenterdquo de um ldquorespiradorrdquo Mais uma semana aguardando e meu filho

fez uma apneia que quase natildeo conseguimos reverter Ele natildeo se movia mais o oxiacutemetro natildeo lia

os paracircmetros por conta das extremidades dele terem ficado sem perfusatildeo e extremamente

geladas Ou seja vi meu filho praticamente morto Mas ainda natildeo estava previsto por Deus que

aquele seria o dia dele nos deixar e meu filho voltou a respirar depois de muitas manobras com

o ldquoamburdquo e massagens cardiacuteacas Isto aconteceu por volta das 20 horas Passamos a noite inteira

ao lado dele para observar qualquer sinal de uma possiacutevel apneia No dia seguinte pela manhatilde

fui ao Foacuterum da cidade entrei com mais uma liminar Liminar deferida E o ldquorespiradorrdquo estava

na minha casa no final da tarde Como fazer de outro jeito Muitas famiacutelias acabam mantendo

o paciente internado em hospitais por falta de condiccedilotildees legais de manter o paciente em casa

com um ldquorespiradorrdquo mas a conta do Hospital para a Sauacutede Puacuteblica acaba sendo muito maior

que manter o paciente em casa com o ldquorespiradorrdquo Sem falar em outros fatores como o desgaste

do proacuteprio paciente e da famiacutelia em estar longe de casa Economicamente o fato de natildeo

existirem poliacuteticas puacuteblicas em torno do assunto acaba gerando gastos desnecessaacuterios ao

governo e encarecendo o tratamento do paciente

1 Tacircnia Almeida eacute advogada e matildee de Samuel diagnosticado com Siacutendrome de Krabbe

76

Muitas pessoas criticam a judicializaccedilatildeo das doenccedilas raras pois defendem que gera um

custo para o Estado em razatildeo de multas por liminares natildeo cumpridas a tempo para atender a

uma uacutenica pessoa ao passo de que aquela verba poderia estar sendo destinada ao tratamento da

coletividade O problema eacute que para as doenccedilas raras natildeo existe coletividade Muitas vezes o

paciente eacute uacutenico mas dentro das unicidades formam uma populaccedilatildeo jaacute bastante expressiva na

sociedade Se os governantes natildeo acordarem para tal fato vai sim gerar um deacuteficit difiacutecil de

fechar no final do mecircs uma vez que as accedilotildees judiciais vatildeo crescer e talvez esta seja uma das

formas de fazer com que nossos governantes ldquoacordemrdquo para o assunto e comecem a pensar em

soluccedilotildees na esfera legislativa e executiva para que se diminua a resoluccedilatildeo destes problemas na

esfera judicial

Para um melhor entendimento do problema para aqueles que natildeo convivem com uma

doenccedila rara vou expor outros exemplos veriacutedicos

Para o paciente que estaacute em Home Care e necessita de aparelhos ligados por 24 horas na

residecircncia como o ldquorespiradorrdquo oximetro concentrador de ar bomba de infusatildeo aspirador

etc imagine quanto deve ser a conta de energia eleacutetrica desta famiacutelia Um concentrador de ar

por exemplo gasta o mesmo que um ar condicionado e o concentrador de ar que eacute o que

fornece oxigecircnio para o paciente tem que ficar ligado por 24 horas Diante de tal fato a famiacutelia

que antes tinha uma conta de energia eleacutetrica de em meacutedia R$ 15000 (cento e cinquumlenta

reais)mecircs passou a ter uma conta em torno de R$ 160000 (um mil e seiscentos reais)mecircs E

o que fazer quando a renda da famiacutelia natildeo comporta tal gasto Natildeo tem como economizar

energia neste caso porque a famiacutelia natildeo tem como deixar o concentrador de ar ou o ldquorespiradorrdquo

ligado apenas algumas horas por dia Em um caso concreto desta situaccedilatildeo a famiacutelia se dirigiu

ateacute a empresa fornecedora de energia eleacutetrica Light e explicou o problema levou laudos e a

relaccedilatildeo de equipamentos que a crianccedila fazia uso A Companhia de energia eleacutetrica disse que

existe a ldquotarifa socialrdquo onde se pagaria apenas uma taxa Mas para ter direito a ldquotarifa socialrdquo eacute

necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita em algum programa do governo como o bolsa famiacutelia

ou estar recebendo o LOAS pelo INSS Para quem natildeo tem conhecimento a respeito para fazer

parte do bolsa famiacutelia a famiacutelia tem que ser muito pobre e para ter direito ao LOAS a famiacutelia

soacute pode ter renda de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo ou seja a famiacutelia tem que ser extremamente

pobre estar sobrevivendo com menos de frac14 do salaacuterio miacutenimo por mecircs A famiacutelia em questatildeo

recebia um pouco mais de trecircs salaacuterios miacutenimos por mecircs juntando todas as rendas e portanto

natildeo tinha direito a ldquotarifa socialrdquo Soluccedilatildeo dada pela empresa fornecedora de energia eleacutetrica

nenhuma Soluccedilatildeo dada pela famiacutelia que natildeo podia pagar a conta mas tambeacutem natildeo podia ficar

sem luz pois o filho depende de aparelhos para manter-se vivo entrou com liminar para que a

Light natildeo deixasse de fornecer energia eleacutetrica agrave residecircncia em razatildeo de existir pessoa

dependente de aparelhos que satildeo ligados agrave energia eleacutetrica Liminar deferida A conta chega a

famiacutelia paga quando tem condiccedilotildees de pagar porque vem bastante alta e as inadimplecircncias

fazem com que o nome do titular da conta vaacute para o SPCSerasa (que eacute um cadastro de maus

pagadores) mas o filho estaacute coberto pela liminar em razatildeo do direito a vida se sobrepor a

qualquer pagamento de conta

Tal caso nos faz remeter a um dos princiacutepios do Direito que eacute o principio da igualdade

Este principio tem como pilar a afirmaccedilatildeo para se ter igualdade eacute preciso tratar os desiguais

como desiguais e os iguais como iguais Para quem natildeo trabalha ou natildeo tem qualquer vinculo

com o Direito tal frase soa bastante estranha mas basta entender a essecircncia da coisa natildeo tem

como tratar a exceccedilatildeo dentro da formalidade das leis existentes para a sociedade em geral Neste

caso da energia eleacutetrica existe uma exceccedilatildeo para esta famiacutelia Ela natildeo gasta luz porque quer

Ela gasta a luz por necessidade de manter vivo um filho Eacute justa impor para essa famiacutelia a lei

usada para a populaccedilatildeo em geral referente a ldquotarifa socialrdquo E isto eacute soacute um exemplo Percebo

que natildeo haacute como criar leis especiacuteficas para cada exceccedilatildeo relacionada com doenccedilas raras

77

Para que entendam melhor um exemplo de como a lei trata uma exceccedilatildeo especiacutefica eacute o

caso do Coacutedigo de Defesa do Consumidor A lei geral (Coacutedigo de Processo Civil) diz que quem

alega o fato eacute que deve provar ou seja o ocircnus da prova eacute de quem alega No Coacutedigo de Defesa

do Consumidor onde tem o escopo de proteger o consumidor de poliacuteticas desleais em razatildeo

da magnitude e poderio econocircmico das empresas existe a inversatildeo do ocircnus da prova em que o

consumidor alega o fato ocorrido e a empresa eacute quem tem que fazer a prova em contraacuterio se tal

fato natildeo for verdadeiro Neste caso estamos tratando os desiguais como desiguais pois natildeo haacute

como colocar o consumidor e as empresas no mesmo patamar de Direito pois as empresas

sempre sairiam vencedoras

Infelizmente quando falamos em doenccedilas raras ainda natildeo temos qualquer proteccedilatildeo para

tratar as exceccedilotildees que satildeo ldquojogadasrdquo na lei geral e que natildeo atendem as necessidades dos

pacientes e de suas famiacutelias

Outro exemplo bem gritante eacute o caso ocorrido com a ANVISA (Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria) No Estado do Rio de Janeiro existe uma crianccedila com uma doenccedila rara

que depende de um determinado medicamento Existia um laboratoacuterio que fornecia o

medicamento para o governo Ocorre que por se tratar de um ldquomedicamento oacuterfatildeordquo ou seja

aquele que por atender uma populaccedilatildeo miacutenima quando natildeo apenas um paciente na localidade

passa a ser inviaacutevel economicamente para o laboratoacuterio e o laboratoacuterio deixou de fornececirc-lo

A matildee desesperada comeccedilou a buscar ajuda em vaacuterios poacutelos pois o medicamento poderia ateacute

ser importado mas levaria dias para chegar ao Estado em decorrecircncia dos entraves legais pelo

caminho Diante da situaccedilatildeo da crianccedila e os apelos desesperados da matildee outro laboratoacuterio

conhecendo a foacutermula do medicamento se propocircs a fabricaacute-lo e entregaacute-lo agrave famiacutelia ateacute que se

resolvesse de fato os entraves juriacutedicos referentes ao medicamento do exterior Ao tomar

ciecircncia de tal fato a ANVISA multou o laboratoacuterio porque ele natildeo tinha a ldquolicenccedilardquo para

fabricar o medicamento Ou seja sabemos que qualquer laboratoacuterio tem que ter a licenccedila para

fabricar qualquer que seja a foacutermula mas no caso em questatildeo tratava-se da vida de uma crianccedila

que tinha o avanccedilo de uma doenccedila fatal caso ficasse sem o medicamento Legalmente este

laboratoacuterio agiu indevidamente mas como a pessoa que existe por traacutes de um nome em um

CNPJ ela agiu com humanidade Seraacute que se fosse o filho do responsaacutevel pela ANVISA o

laboratoacuterio seria multado Se fosse o filho do Presidente da Repuacuteblica teriam multado o

laboratoacuterio Duvido O laboratoacuterio quase foi fechado e continuou recebendo multas mas natildeo

deixou de fornecer o medicamento para a crianccedila enquanto natildeo se resolveu o problema

Hoje pela falta de Poliacuteticas Publicas que atendam a esta populaccedilatildeo rara o que vemos satildeo

os familiares ou os proacuteprios doentes tendo que buscar soluccedilotildees agraves vezes natildeo solucionaacuteveis

legalmente para atenderem as suas necessidades e agraves de seus entes queridos Com isso

constatamos a criaccedilatildeo de diversas Associaccedilotildees que visam buscar ajuda muacutetua para diversas

necessidades Estas pessoas tentam se associar para que de alguma forma natildeo lutem sozinhas

diante a falta de tudo que se possa imaginar quando se fala de doenccedilas raras falta de

informaccedilatildeo falta de estrutura emocional e financeira falta de meacutedicos que saibam diagnosticar

falta de tratamento devido falta de exames especiacuteficos etc O que notamos eacute que o apoio

emocional encontrado em todas as associaccedilotildees eacute muito importante mas o apoio estrutural fica

difiacutecil de se conseguir senatildeo por vias judiciais

Isto resulta na triste realidade de hospitais que ldquotecircmrdquo que ldquoabrigarrdquo vaacuterios pacientes com

doenccedilas raras simplesmente abandonados pela famiacutelia pelo fato de as mesmas natildeo terem

qualquer estrutura seja emocional ou financeira ou de ambos de abrigar este paciente em casa

Quando crianccedilas geralmente natildeo possuem nem a oportunidade de serem adotadas porque

necessitam de cuidados permanentes e acabam ldquovivendordquo num hospital A falta de informaccedilatildeo

o medo do desconhecido e a total falta de apoio por parte do governo leva a atitudes de

abandono Essa realidade poderia ser minimizada se existisse um miacutenimo de direcionamento e

apoio

78

Quando defendo a criaccedilatildeo de uma secretaria ou oacutergatildeo (ou qualquer nome que queiram

chamar) dentro no Ministeacuterio da Sauacutede que seja voltado exclusivamente para o aspecto das

doenccedilas raras eacute justamente pelo fato de precisarmos de um oacutergatildeo que tenha um norte e seja um

ldquofarolrdquo que direcione os pacientes e as famiacutelias para soluccedilotildees concretas e corretas Hoje quando

uma crianccedila chega com sinais de maus tratos num hospital os meacutedicos satildeo obrigados por lei a

avisar a policia Quando um paciente chega com Dengue ou com tuberculose os meacutedicos tem

que avisar o oacutergatildeo da sauacutede para que exista um controle de tais doenccedilas Isto eacute importante para

se detectar onde existe o problema e criar estudos para resolver a questatildeo de determinada

populaccedilatildeo Com as doenccedilas raras temos que ter este ldquofarolrdquo para que se comecem a criar

estatiacutesticas das diversas siacutendromes que acometem nossa populaccedilatildeo e se possa estudar a melhor

forma de atender os pacientes e familiares Como pensar em poliacutetica puacuteblica se natildeo se sabe nem

a qual ou a quanto da populaccedilatildeo se vai chegar

Outro problema que existe dentro das famiacutelias com algum paciente de doenccedilas raras eacute o

fato que na maioria das vezes algueacutem ter que parar de trabalhar para cuidar do paciente ou

para administrar a rotina que se altera quando se tem um familiar com doenccedila rara No meu

caso por exemplo tenho um filho com doenccedila rara que eacute dependente de ldquorespiradorrdquo e de

oxigecircnio Ele tem enfermagem por 24 horas Meu filho natildeo se move natildeo chora natildeo ri tem

gastrostomia traqueostomia uma vaacutelvula DVP e ainda faz apneia A enfermagem de Home

Care hoje em dia infelizmente ainda deixa muito a desejar quanto ao treinamento de teacutecnicos

de enfermagem para trabalhar com paciente grave Quando chega alguma teacutecnica de

enfermagem nova para ficar no plantatildeo eu natildeo tenho como sair de casa para trabalhar E

quando estou no trabalho e a teacutecnica me liga dizendo ldquoEstaacute com falta de energia eleacutetricardquo eu

largo o trabalho e saio correndo para casa porque tenho que monitorar as baterias dos aparelhos

e manobrar outros que natildeo tecircm bateria para o ldquono breakrdquo Fora quando a teacutecnica liga dizendo

que os batimentos cardiacuteacos estatildeo baixos ou a saturaccedilatildeo estaacute caindo muito Eu largo tudo e saio

correndo para casa Sem contar com as inuacutemeras vezes que ele eacute internado para fazer algum

tipo de procedimento (troca de vaacutelvula colocaccedilatildeo de cateter infecccedilotildees que pega etc) A

ldquosorterdquo eacute que eu trabalho numa empresa puacuteblica e tenho chefes diretos muito compreensivos

com a situaccedilatildeo Se eu estivesse numa empresa privada eu jaacute teria sido mandada embora haacute

muito tempo Eu preciso do emprego pois dele vem o plano de sauacutede do meu filho mas natildeo

sei por quanto tempo ainda seraacute possiacutevel administrar tal situaccedilatildeo Quando o filho de uma pessoa

que tem sua rotina normal tem uma febre geralmente esta pessoa fica em casa e tem um atestado

de acompanhamento para levar o filho ao meacutedico ou ateacute acompanhaacute-lo por alguns dias uma

vez ou outra pois ningueacutem com filho doente tem cabeccedila para ir trabalhar despreocupadamente

O que eu que tenho um filho que necessita de cuidado extremos por vinte e quatro horas faccedilo

Daacute para imaginar como saio de casa para trabalhar Aleacutem de que a rotina da casa muda

completamente Se antes meus outros filhos iam para a escola eu ia trabalhar e no final do dia

todos nos encontravaacutemos novamente Hoje eu preciso administrar as condiccedilotildees para um

teacutecnico de enfermagem ficar na minha casa ininterruptamente ter o atendimento do

fisioterapeuta duas vezes ao dia a fonoaudioacuteloga trecircs vezes por semana a nutricionista o

atendimento semanal da meacutedica e do enfermeiro recebimento de material semanalmente

recebimento de dieta e outras tarefas esporaacutedicas Aleacutem eacute claro de prestar atenccedilatildeo nos sinais

do meu filho pois a meacutedica soacute vem vecirc-lo uma vez por semana e neste meio tempo ele pode ter

febre pode ficar mais secretivo que o normal entre outras coisas Tenho que estar em contato

constante com a meacutedica para tomar as providecircncias necessaacuterias mesmo antes da proacutexima visita

dela e ainda preciso sair de casa para trabalhar Eacute um tanto complicado

Tenho outros exemplos como a de uma famiacutelia que conheci no Hospital na qual a esposa

era funcionaacuteria puacuteblica e o marido trabalhava em uma empresa privada Apesar do salaacuterio do

marido ser maior que o da esposa a famiacutelia ldquooptourdquo pela saiacuteda do marido do emprego para

cuidar da filha acometida por uma doenccedila rara porque a esposa mesmo ganhando menos tinha

79

estabilidade no emprego ao passo que o marido na empresa privada natildeo tinha qualquer

estabilidade Eacute justo que este encargo de ldquoescolhardquo fique somente nas costas das famiacutelias que

jaacute estatildeo tatildeo fragilizadas com a proacutepria doenccedila Sem contar quando um dos pais (geralmente o

pai) natildeo aguenta ou natildeo aceita a nova realidade e simplesmente deixa o outro sozinho E este

geralmente precisa largar o seu emprego para cuidar do filho doente mas de contra partida

precisa manter o lar e daiacute passa a fazer serviccedilos como bolos salgados e doces caseiros para

vender para a famiacutelia e amigos Chega a ser desumano o indiviacuteduo ldquoarcarrdquo sozinho com este

encargo que faz com muito amor mas sob muito sofrimento e privaccedilatildeo

Existem vaacuterios projetos de lei no Congresso que tratam do que chamamos de ldquoauxiacutelio

acompanhamentordquo Mas esses projetos sempre esbarram em inconstitucionalidades pois geram

despesas para a empresa ou para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para manter

o trabalhador em casa como acompanhante

Quando bato na tecla sobre a importacircncia da existecircncia de uma secretaria voltada para

doenccedilas raras eacute porque teriacuteamos condiccedilotildees de criar comissotildees para estudar tais casos e buscar

soluccedilotildees para estas famiacutelias Apesar de termos boa vontade de alguns parlamentares nota-se

que muitas vezes os mesmos natildeo tecircm conhecimento de campo das necessidades reais das

pessoas com doenccedilas raras A Portaria 9712012 do Ministeacuterio da Sauacutede que trata do programa

ldquoFarmaacutecia Popularrdquo eacute um exemplo disso Uma famiacutelia buscou a liberaccedilatildeo de fraldas

descartaacuteveis pelo Programa ldquoFarmaacutecia Popularrdquo para o filho de quatro anos que eacute acamado

deixou de usar fraldas pediaacutetricas e iniciou o uso de fraldas geriaacutetricas que satildeo muito mais

caras A famiacutelia precisou juntar laudos meacutedicos e tirar o CPF da crianccedila Passou em trecircs

farmaacutecias que participavam do programa e em nenhuma delas conseguiu a liberaccedilatildeo das fraldas

pelo sistema Foi indicado que ligassem para o Ministeacuterio da Sauacutede e depois de muitas ligaccedilotildees

a famiacutelia descobriu que existe o artigo 26 da portaria em seu paraacutegrafo II que cita ldquopara a

dispensaccedilatildeo de fraldas geriaacutetricas para incontinecircncia o paciente deveraacute ter idade igual ou

superior a 60 (sessenta) anosrdquo Pergunta-se seraacute que ao fazerem tal portaria ningueacutem

ldquolembrourdquo que existem crianccedilas adolescentes e ateacute jovens adultos que necessitam de usar

fraldas Isto somente acontece porque as pessoas natildeo ldquovivemrdquo o cotidiano da doenccedila rara

Analisando todos os pontos envolvidos chego agrave conclusatildeo que natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro quando se trata de doenccedila rara Eacute necessaacuterio que se tenha um olhar

mais focado nas especificidades que acometem diretamente a famiacutelia Para construir o

conhecimento sobre essa realidade eacute preciso que as instituiccedilotildees estejam interligadas e tenham

um ponto de referecircncia para direcionar e amparar corretamente o paciente e sua famiacutelia a niacutevel

nacional ou internacional

80

Transcriccedilatildeo da mesa de abertura e comunicaccedilotildees do I CIADR

81

Mesa de abertura

Rogeacuterio Lima1 ndash Bom dia

Primeiro quero agradecer a presenccedila de todos Esse evento existe pelo menos em

pensamento haacute dois anos Percebemos que poderia tomar corpo e ser real se noacutes

participaacutessemos de um movimento de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo E hoje eacute o resultado desse

movimento O movimento eacute dentro da academia desde o comeccedilo noacutes queriacuteamos trazer a

conversa e o diaacutelogo para a academia Natildeo faltou convite para levarmos esse evento para o

Congresso para a CLDF Por opccedilatildeo noacutes procuramos e estamos hoje na Uniplan agradeccedilo

imensamente ao Professor Sadi que foi o primeiro que me estendeu a matildeo e socorro Ofereceu

muito abertamente o Instituto de Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia e quando

chegou ao nuacutemero de 600 inscriccedilotildees foi quando eu comecei a ficar um pouco ansioso E olha

que eu sou o pessimista de todo mundo que estaacute organizando E entatildeo precisaacutevamos correr

para um outro lugar Meus agradecimentos ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

junto com a Uniplan estatildeo oferecendo esse espaccedilo para noacutes

Hoje eacute um dia de muito agradecimento Agradeccedilo a todas as pessoas agradeccedilo a presenccedila

de vocecircs E eu vim pensando que hoje eacute um dia bem marcante Vieram pessoas todas as pessoas

aqui deixaram as suas casas os pacientes que estatildeo aqui as associaccedilotildees de pacientes e

principalmente os alunos que estatildeo aqui hoje Esse evento eacute para sensibilizaacute-los e eu natildeo sei se

a loucura estaacute em noacutes em acreditar que poderia ser feito um evento desse tamanho ou se o

louco eacute quem vecirc as informaccedilotildees que noacutes passaacutemos sobre a realidade que existe e natildeo faz nada

A AMAVI nunca foi soacute eu e muito menos o movimento que hoje faz parte E eu queria

agradecer imensamente toda a diretoria da AMAVI que estaacute aqui hojeSoacute o Warley natildeo

conseguiu estar presente porque tem que cumprir com sua vida laboral Mas a Lauda que eacute

nossa diretora A Flaacutevia nossa assessora de imprensa Entatildeo satildeo essas pessoas que realmente

estatildeo connosco E dentro disso hoje o formato vai ser este Eacute um formato aberto para

incentivar principalmente o diaacutelogo Sempre vai ter espaccedilo para as Associaccedilotildees poderem se

manifestar E por fim eu tambeacutem agradeccedilo a Interfarma e o Ministeacuterio da Sauacutede Agradeccedilo a

todas as pessoas que nos ajudam porque em nome da Interfarma agradecemos a todos os outros

que nos apoiam financeiramente E agradeccedilo muito o Fogolin de estar aqui hoje Acho que

estamos fazendo histoacuteria E seguramente este evento natildeo eacute comum no mundo E ele estaacute sendo

transmitido pela internet Agradeccedilo realmente a todo mundo E nos meus quinze minutos finais

eu gostaria de agradecer muito fortemente aquela pessoa que tem meus quinze minutos e

quando eu penso nela eu penso muito naquele jeito brasiliense de ser que eacute um jeito simples e

um jeito focado no trabalho A gente trabalha a gente fala de vez em quando mas a gente

trabalha Agradeccedilo ao Miguel Miguel vocecirc eacute doutor por John Hopkins e estaacute connosco fazendo

um cerimonial desde sempre Suas orientaccedilotildees sempre foram importantes Muito obrigado

Sadi Del Roso2 ndash Bom dia senhoras e senhores participantes do primeiro encontro sobre

Doenccedilas Raras

Tenho a satisfaccedilatildeo de saudar os participantes desse congresso em nome do Instituto de

Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia Represento a Universidade que eacute por excelecircncia

o local da pesquisa por outro lado a pesquisa eacute absolutamente fundamental para o

conhecimento a respeito de doenccedilas raras Sabe-se que o impulso da pesquisa ocorre entre

1 Presidente da AMAVI e doutorando em Sociologia na Universidade de Coimbra ndash Portugal 2 Professor Titular de Sociologia da Universidade de Brasiacutelia

82

outras razotildees pela pressatildeo social Embora a AIDS natildeo faccedila parte do rol de doenccedilas raras o

movimento Gay e movimentos similares ligados agrave liberdade de escolha sexual realizaram uma

pressatildeo fantaacutestica para a destinaccedilatildeo de verbas para a pesquisa que tem como objeto o controle

da AIDS assim como doutras doenccedilas Participo neste Primeiro Congresso representando o

Instituto de Ciecircncias Sociais Para as Ciecircncias Sociais a dor a doenccedila o sofrimento pessoal e

coletivo satildeo objetos de inegada relevacircncia e pertinecircncia social Noacutes todos que estudamos classes

sociais lutas de classes relaccedilotildees poliacuteticas relaccedilotildees intereacutetnicas trabalho cultura

desenvolvimento econocircmico e problemas sociais semelhantes ficamos abalados ficamos

prostrados de joelhos e ficamos calados impotentes perante as manifestaccedilotildees da dor Perante a

doenccedila perante o sofrimento e ainda mais perante a morte Esses fenocircmenos todos satildeo

fenocircmenos que tecircm a ver com a natureza humana e com a cultura das sociedades e representam

possibilidades de agregaccedilatildeo das pessoas nos grupos sociais Neste sentido as Ciecircncias Sociais

tambeacutem podem contribuir explicitando o sentido da organizaccedilatildeo e dos movimentos sociais na

construccedilatildeo das sociedades democraacuteticas Ao falar de movimentos sociais somos levados aos

grandes movimentos poliacuteticos As Jornadas de junho e julho de 2013 a Primavera Aacuterabe ao

movimento dos jovens rebeldes nos Estados Unidos com o Oculpy Wall Streat aos movimentos

de jovens nos paiacuteses europeus Portugal Espanha Greacutecia e Itaacutelia e outros Tambeacutem podemos

pensar como movimento sociais congregaccedilotildees de pessoas em torno a determinadas causas

entre as quais as doenccedilas raras Gostaria de enfatizar a importacircncia das atividades voluntaacuterias

da participaccedilatildeo espontacircnea ainda que organizadas em movimentos e associaccedilotildees Isto pensando

menos na estrutura e o que eacute mais importante na ideia organizativa As boas causas das doenccedilas

raras despendem destas atitudes coletivas Por uacuteltimo quero confessar que o motivo maior de

minha presenccedila aqui neste primeiro congresso natildeo foi tanto o fato de ser pesquisador em

Ciecircncias Sociais mas um fato muito mais proacuteximo muito mais carne e muito mais sangue

Maria Emiacutelia minha sobrinha de quinze anos eacute portadora de Down e eacute pra ela que eu dedico

essa participaccedilatildeo Maria Emiacutelia este congresso eacute para vocecirc Obrigado

Maria Joseacute Delgado3 ndash Bom dia a todos e a todas

Eu gostaria de agradecer ao Rogeacuterio a oportunidade de estar aqui conversando com vocecircs

e contando um pouco do que eacute a Interfarma que eacute a Associaccedilatildeo das Induacutestrias de Pesquisas e

ela com certeza tem na sua missatildeo a tarefa de fazer o que eacute de produzir o que tem de melhor

de medicamentos mas tambeacutem de compor com aqueles que representam a necessidade do

paciente de compor com o governo de compor com todos os atores que tratam desse tema no

paiacutes As melhores oportunidades e as melhores soluccedilotildees para que o Brasil possa entregar a sua

populaccedilatildeo entregar especialmente a esta populaccedilatildeo de pessoas com doenccedilas raras o que ele

tem de melhor dentro da assistecircncia meacutedica como da assistecircncia farmacecircutica eacute a Interfarma

contribuindo com o SUS Induacutestrias entregando tambeacutem o que tem de melhor que satildeo os

medicamentos Dentro da nossa tarefa na Interfarma eu coordeno alguns trabalhos e dentro

desses o de doenccedilas raras O grupo de doenccedilas raras estaacute sob a minha coordenaccedilatildeo na

Interfarma Entatildeo ao longo desses uacuteltimos anos estamos nos dedicando fortemente ao tema

Temos vaacuterias iniciativas e dentre elas eu acho que os senhores devem ter recebido fizemos

um estudo global para entender como que o mundo trata isso e como seriam as melhores

soluccedilotildees para aplicarmos no Brasil Noacutes trouxemos alguns exemplares estatildeo disponiacuteveis

espero que vocecircs tenham a oportunidade de ler Esse talvez foi o produto que qualificou muito

mais aquilo que noacutes gostariacuteamos de discutir sobre doenccedilas raras e a partir dele noacutes estamos

desdobrando outras accedilotildees ao longo de alguns anos E entre elas estar presente junto sempre

em atividades como este evento Com certeza seraacute um divisor de aacuteguas naquilo que a gente

acha que eacute importante que eacute o paciente o paciente bem assistido um paciente que encontre

3 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

83

respostas que encontre acolhimento e que possa se sentir protegido por aqueles que tecircm a

obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo E eacute neste sentido que eu agradeccedilo ao Rogeacuterio a oportunidade de estar

aqui E principalmente de olhar para cada um de vocecircs e dizer do nosso compromisso Muito

obrigada e bom dia e acho que na sequecircncia a gente conversa mais um pouco Obrigada

Leonardo Batista4 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Leonardo estou na coordenaccedilatildeo de enfermagem juntamente com a Professora

Marisa e exercendo o papel social do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal

representando o magniacutefico reitor Yugo Okida e nosso diretor geral Geraldo Magela eacute que eu

agradeccedilo a presenccedila de cada um de vocecircs na mudanccedila da histoacuteria de poliacuteticas de doenccedilas raras

no Brasil Todos noacutes definimos como raridade aquilo que eacute uacutenico ou de que existem poucos

exemplares no mundo Mas se noacutes pensarmos bem noacutes somos bilhotildees de habitantes no mundo

mas ningueacutem tem a digital igual agrave outra A nossa iacuteris tambeacutem eacute diferenciada Entatildeo quer dizer

pessoal que todos noacutes somos raros Entatildeo ser raro eacute igual e natildeo diferente Agradeccedilo a todos

vocecircs imensamente a colaboraccedilatildeo neste evento e espero que todos participem muito E saibam

que a partir de hoje raridade eacute algo comum entre noacutes Muito obrigado

Marisa Carvalho5 ndash Bom dia a todos

Eu quero recebecirc-los com muita alegria aqui em nome do curso de enfermagem da Uniplan

e para natildeo ficar soacute nas minhas palavras eu gostaria de mostrar algumas imagens que eu

preparei Como o Professor bem colocou a homenagem agrave sobrinha dele eu quero fazer uma

homenagem agrave minha filha tambeacutem O nome da minha filha era Baacuterbara ela faleceu tem trecircs

anos com vinte anos portadora da Siacutendrome Prader Willi E aiacute eu soacute queria compartilhar

alguma coisa porque quando a gente fala em doenccedilas raras acontece uma outra coisa tambeacutem

raro eacute o conhecimento que se tem adequado para tratar para se lidar Natildeo soacute com o paciente

mas com a famiacutelia em si Sobre Prader Willi eu tenho um pouco de conhecimento mas

sobretudo muita vivecircncia Entatildeo eacute uma doenccedila cromossocircmica ela atinge o cromossomo quinze

e em decorrecircncia dessa alteraccedilatildeo alguns sinais satildeo evidenciados como peacutes e matildeos pequenos

e a crianccedila desenvolve uma obesidade moacuterbida O metabolismo dela eacute diminuiacutedo e haacute uma

hiperfagia ou seja ela come muito O hipotaacutelamo o centro da fome natildeo funciona como se vecirc

na maioria das pessoas entatildeo ela sente fome o tempo todo E como o metabolismo eacute

diminuiacutedo ela desenvolve obesidade moacuterbida Uma hipotonia ela natildeo sabia sugar a

mamadeira Minha filha natildeo soube o que eacute sugar um peito por causa Se eu me emocionar

vocecircs descontam um pouquinhohellip Entatildeo as dificuldades que noacutes passaacutemos inicialmente foi

por desconhecimento Soacute que a vivecircncia e o amor foram assim decisivos para que uma

vivecircncia uma vida a qualidade de vida fosse estabelecida Entatildeo a dificuldade de

aprendizagem e fala a instabilidade emocional a alteraccedilatildeo hormonal a baixa estatura as matildeos

e peacutes pequenos a pele eacute mais clara satildeo alguns sinais que depois eu vou disponibilizar mas eacute

tudo isso que os livros trazem Falam sobre a Prader Willi mas o que eacute que os livros natildeo falam

Eacute o que a vivecircncia nos ensina Se a gente vecirc essa figura aqui o que nos reporta essa imagem

O que nos achamos que eacute Coca-Cola neacute Esse eacute o grande problema os roacutetulos que noacutes

colocamos O grande problema das famiacutelias que tecircm crianccedilas com doenccedilas raras e das proacuteprias

crianccedilas satildeo os roacutetulos que a sociedade coloca As pessoas olham de fora e pensam

ldquoCoitadosrdquo As pessoas olham de fora e pensam ldquoNatildeo tem perspectiva de vidardquo E natildeo eacute

assim natildeo deve ser assim E com isso vecircm os preconceitos Acham que as pessoas satildeo infelizes

4 Coordenador do Curso de Enfermagem e representante do Reitor do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash

UNIPLAN 5 Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash UNIPLAN

84

ou que podem ter menos qualidade de vida por apresentar uma diferenccedila Eacute como o Professor

bem colocou o Professor Leonardo quem de noacutes eacute igual ao outro Entatildeo a falta de

conhecimento que a gente que eu observei particularmente nos profissionais de sauacutede na

eacutepoca que a Baacuterbara nasceu foi muito grande Foi uma dificuldade muito grande que eu

enfrentei Porque como natildeo conseguia amamentar os profissionais de sauacutede as pessoas que eu

conhecia achavam que eu natildeo queria amamentar por uma questatildeo esteacutetica e a coisa que eu mais

queria era amamentar a minha filha mas ela natildeo conseguia sugar O fato de ela natildeo exercitar o

maxilar implicou que a fala dela foi diferenciada Tudo isso contribuiu para que somente depois

de as pessoas conhecerem ela percebiam o que era ter uma crianccedila especial E ela falava assim

ldquoMamatildee eu sou especialrdquo E eu falava ldquoMinha filha vocecirc eacute muito especialrdquo Deus nos

capacitou para gerar outras vidas entatildeo natildeo devemos tratar os filhos pelo que seus corpos

apresentam mas pelo que eles essencialmente satildeo filhos E eacute assim que o portador de doenccedila

rara e sua famiacutelia querem ser tratados como pessoas que tecircm direitos que tecircm desejos que

tecircm sonhos e que querem ir adiante Aqui estaacute a Baacuterbara com um aninho toda charmosa

Aqui ela jaacute brincava com a mamadeira porque sugar mesmo ela natildeo conseguia sugar era

tudo na colherzinha Aqui ela eacute aquela de oacuteculos laacute em cima Estaacute no meio das primas e das

irmatildes

Eu lembro que quando eu engravidei da Baacuterbara uma professora minha da faculdade falou

ldquoVocecirc eacute louca Vocecirc jaacute teve uma filha sindrocircmica e vocecirc vai ter mais filhosrdquo E eu falei

Professora se eu tiver todos os filhos sindrocircmicos eles vatildeo ser amados do mesmo jeitordquo

Aqui ela mexendo no computador Tinha o computador dela

85

Aqui por volta de seis ou sete anos

E depois a beleza de uma vida estaacute no modo como ela eacute vivida aqui fazendo pose para

foto Aqui com as duas outras irmatildes fazendo careta e fazendo careta para o mau humor

fazendo careta para o preconceito fazendo careta para a falta de conhecimento para a falta de

perspectiva para a vida eacute para isso que elas fazem careta

Eudeixo esta mensagem para vocecircs Todos noacutes almejamos grandes vitoacuterias todavia Deus

nos ensina atraveacutes de seus anjos que as verdadeiras vitoacuterias satildeo os desafios diaacuterios que se

apresentam diante de noacutes e nos ensinam o que eacute ser feliz para que ao final do dia possamos ser

gratos e saber que somos vitoriosos Sabe o que eacute a vitoacuteria diaacuteria Eacute todo dia de manhatilde quando

amanhece vocecirc olhar no berccedilo para ver se o seu bebecirc se movimentou Essa era a minha vitoacuteria

diaacuteria porque do jeito que eu colocava a Baacuterbara para dormir ela amanhecia o dia que ela

amanhecia de lado era uma alegria Que bom ela estaacute reagindo E aiacute eu deixo aqui a foto da

minha Baacuterbara como uma grande vitoriosa que me ensinou muito E eu espero que esse

congresso porque hoje eacute um marco na vida de muitas pessoas natildeo soacute em termos de

aprendizagem mas em termos de vivecircncia de palavras que seratildeo ditas Que se abra o

conhecimento que se abra o entendimento o coraccedilatildeo Para a gente saber tratar bem de quem

merece todo o nosso respeito Obrigada a vocecircs

86

Joseacute Eduardo Fogolin6 ndash Bom dia a todos bom dia a todas Em especial bom dia e um

grande abraccedilo ao Rogeacuterio Lima um grande parceiro que durante esses dois anos eu tive uma

oportunidade o grande prazer de aproximar cada vez mais Natildeo apenas um grande conhecedor

sobre aquilo que a gente vem discutindo mas uma pessoa que dentro das nossas pequenas

diferenccedilas mas dentro da nossa construccedilatildeo com quem mais aprendi natildeo apenas como membro

e gestor do Ministeacuterio da Sauacutede mas como pessoa

Agradeccedilo tambeacutem agrave Dra Siacutelvia representando a Universidade de Coimbra agrave Dra Maria

Joseacute da Interfarma e em especial ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

representam a Uniplan

Queria deixar um abraccedilo aos meus companheiros do grupo teacutecnico que a gente vem

trabalhando em especial ao Professor Marcos Aguiar a todos os demais em nome deles

represento todos os meus colegas Pois bem eu vejo hoje aqui Rogeacuterio essa plateia e esse

plenaacuterio repleto de pessoas repleto de representantes tanto do berccedilo acadecircmico como

representantes de toda a sociedade E a cada ano que a gente vem acompanhando e discutindo

cada vez mais a atenccedilatildeo a famiacutelias e a pessoas com doenccedilas raras a gente percebe que cada vez

que a gente participa dos eventos a gente vecirc uma participaccedilatildeo cada vez mais expressiva e este

eacute o grande fundamento

Durante todo este periacuteodo e dada a oportunidade que noacutes tivemos para nos debruccedilarmos

cada vez mais em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo e agrave avaliaccedilatildeo do quanto natildeo somente o Sistema Uacutenico de

Sauacutede mas todos os sistemas de sauacutede natildeo apenas no Brasil mas no Mundo haacute uma diacutevida

eterna em relaccedilatildeo ao cuidado e ao cuidar das pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras Para que a

gente tenha uma relaccedilatildeo equacircnime igualitaacuteria a gente tem que partir do princiacutepio de natildeo

igualdade para atingir plenamente a igualdade de direitos O Sistema Uacutenico de Sauacutede tem

muitos desafios a serem conquistados no paiacutes mas eacute o uacutenico sistema que ousou dar atenccedilatildeo de

sauacutede igualitaacuteria e universal Esse eacute o nosso grande desafio E mais desafiador ainda eacute nos

debruccedilarmos em oferecer uma igualdade de direitos a todas as pessoas com doenccedilas raras e

suas famiacutelias que buscam e ateacute entatildeo natildeo tiveram acolhida necessaacuteria e principalmente natildeo

apenas o tratamento que natildeo eacute este o ponto fundamental mas o acolhimento e a informaccedilatildeo

que perpassa a necessidade primeira de todo o cuidado e informaccedilatildeo a estes usuaacuterios

O que eu tenho a dizer eacute que pela formaccedilatildeo que tenho na aacuterea de sauacutede pela cadeira que

passei durante todos os dez anos de minha vida iniciais da minha formaccedilatildeo em sauacutede muito

pouco se passou em informaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras Falo a partir de um Centro

Acadecircmico pela formaccedilatildeo que tive dentro da Universidade de Satildeo Paulo como meacutedico e

depois como especialista e posso declararque muito pouco se passou e muito pouco se passa

do conhecimento natildeo apenas sobre as doenccedilas mas principalmente de como acolher as

famiacutelias e pessoas com doenccedilas raras A gente sabe que o campo das doenccedilas raras estaacute pouco

permeado principalmente em profissionais da aacuterea sauacutede mas muito pouco ainda em relaccedilatildeo

agraves informaccedilotildees que possam chegar nas casas nas pessoas e familiares com doenccedilas raras Eacute

nesse sentido que noacutes queremos com a poliacutetica nos debruccedilarmos na discussatildeo das doenccedilas

raras e natildeo apenas na questatildeo teacutecnica cientiacutefica e este Congresso tem um nome fundamental

Porque o Primeiro Congresso Ibero-americano ele traz um olhar social para o paciente E esse

olhar social para o paciente ele traz e carreia um olhar fundamental do que eacute cuidar junto a uma

pessoa e familiar com doenccedila rara Trago ainda uma palavra do ministro Alexandre Padilha

que desde o comeccedilo desde 2012 que a gente vem discutindo o ministro Padilha sentou comigo

e falou ldquoFogolin de todas as estrateacutegias e de todas as poliacuteticas que a gente discute uma que eacute

fundamental que a gente tem uma diacutevida eterna eacute a atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas rarasrdquo Eu

fico emocionado porque dois anos da minha vida eu passei aprendendo com vocecircs Peccedilo

desculpa pela minha emoccedilatildeo Porque haacute dois anos que a gente discute no grupo teacutecnico (GT)

6 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede

87

Eu conheci os pacientes eu conheci as famiacutelias e eu aprendi com vocecircs Aprendi muito A cada

noite cada dificuldade que a gente teve nesse GT eu transbordo aqui Porque fazer poliacutetica

puacuteblica natildeo eacute difiacutecil difiacutecil eacute transpor as dificuldades que se colocam muitas vezes para as

pessoas Mas eu posso dizer aqui a vocecircs que de todo o meu trabalho discutir doenccedilas raras e

discutir as pessoas com doenccedilas raras posso estar daqui alguns anos em qualquer lugar eacute isso

eu levo para mim

Eu estou muito emocionado porque entrar aqui e olhar para cada um de vocecircshellip Eacute preciso

que vocecircs saibam que as Associaccedilotildees tecircm um papel fundamental nas poliacuteticas puacuteblicas O grupo

teacutecnico que noacutes formaacutemos no Ministeacuterio foi um grupo que tinha especialista tinha gestor mas

o que realmente fez a diferenccedila foi a participaccedilatildeo de associaccedilotildees e usuaacuterios Sem este olhar

que eacute o olhar social verdadeiro noacutes natildeo seriacuteamos verdadeiramente representativos E se o

Sistema Uacutenico de Sauacutede traz que a representatividade faz parte da poliacutetica esta foi e seraacute a

primeira poliacutetica realizada construiacuteda participativamente Esse eacute um ponto de partida

Haacute dois anos noacutes construiacutemos dois documentos fundamentais que foram para consulta

puacuteblica que foram finalizados e o Ministeacuterio da Sauacutede olhando a importacircncia que tecircm as

associaccedilotildees e usuaacuterios natildeo os quis levar para a pactuaccedilatildeo porque ainda tem muita associaccedilatildeo

e usuaacuterio para participar E o grupo teve uma responsabilidade de elaborar um documento e

apresentar agora no dia 23 de outubro para um grupo teacutecnico ampliadopara dizer que o

Ministeacuterio da Sauacutede pode levar para pactuar E documento comeccedila uma nova paacutegina Este eacute um

documento que institui uma poliacutetica integral

Ontem tive a oportunidade no Conselho Nacional de Secretaacuterios Estaduais de Sauacutede de

iniciar a discussatildeo de que existe uma avidez por parte dos gestores de que esta poliacutetica integral

natildeo perpasse apenas o tratamento mas que perpasse fundamentalmente a informaccedilatildeo a

orientaccedilatildeo e o acolhimento Porque natildeo trataremos de doenccedilas mas acolheremos as pessoas e

familiares com doenccedilas raras Eacute uma poliacutetica desafiadora mas que ao longo do tempo faz

crescer mais ainda as pessoas que tecircm a obrigaccedilatildeo de colocaacute-la em vigor de realizaacute-la

Eu fico muito contente em estar aqui e a cada evento sobre doenccedilas raras que eu vou cada

rosto cada criacutetica faz cada vez mais repensar as doenccedilas raras e natildeo soacute Refletir sobre doenccedilas

raras foi um divisor de aacuteguas fundamental para refletir toda a poliacutetica puacuteblica A doenccedila rara

modifica natildeo apenas uma pessoa mas o modo como a gente observa a necessidade das poliacuteticas

puacuteblicas

Muito obrigado

Siacutelvia Portugal7 ndash Bom dia a todas e a todos

Natildeo quero alongar-me jaacute que sou a uacuteltima soacute quero dizer que eacute com muito prazer e tambeacutem

com muita emoccedilatildeo que estou aqui a representar o Centro de Estudos Sociais da Universidade

de Coimbra que se associou desde o iniacutecio a esta ideia a esta vontade do Rogeacuterio em organizar

este Primeiro Congresso Ibero-americano de Doenccedilas Raras

O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra o CES eacute um Centro de Ciecircncias

Sociais e Humanidades um centro que aposta da interdisciplinaridade na

transdisciplinariedade que estaacute aberto a uma ecologia dos saberes como diz o nosso Director

Boaventura de Sousa Santos Eacute um Centro aberto ao mundo aberto aos saberes aberto agraves

pessoas Eacute um centro que aposta na interdisciplinaridade e na colaboraccedilatildeo e portanto o nosso

lugar eacute estar onde estaacute quem precisa de noacutes e quem quer colaborar connosco O CES eacute um

centro de investigaccedilatildeo aberto agrave comunidade aberto agrave sociedade civil aberto agrave iniciativa aberto

agraves propostas dos nossos estudantes nos quais o Rogeacuterio se inclui brilhantemente Eacute por isso

7 Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos

Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE)

88

que eu viajei do outro lado do oceano com muito gosto com muito prazer para estar aqui hoje

convosco

Queria desejar um bom dia de trabalhos e queria dizer que estes trabalhos se tudo correr

bem e acho que vai correr bem seratildeo publicados numa publicaccedilatildeo do CES que se chama

CESContexto uma publicaccedilatildeo relativamente nova que eu estou a coordenar juntamente com

duas colegas Existe uma linha que se chama Debates que serve justamente para dar voz a estes

tipo de eventos O que eu e o Rogeacuterio pretendemos fazer eacute recolher as falas de toda a gente e

poder publicaacute-las porque seraacute bom ter um documento nas matildeos que prove que noacutes estivemos

aqui

Muito obrigada por esta oportunidade dada ao CES de poder colaborar com este evento

89

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras

Joseacute Eduardo Fogolin1 ndash Bom mais uma vez bom dia a todos

A gente tem quinze minutos eu acredito que o importante aleacutem da apresentaccedilatildeo eacute

justamente essa possibilidade do debate e da discussatildeo A apresentaccedilatildeo eacute um pouco longa e eu

gostaria de pegar principalmente os pontos que satildeo fundamentais na estrateacutegia Antes de mais

nada e dada a participaccedilatildeo de representantes de outros paiacuteses como Estados Unidos Portugal

Argentina e Franccedila queria colocar soacute um pouco o que eacute o nosso Sistema Uacutenico de Sauacutede

O Brasil eacute o uacutenico paiacutes do mundo com mais de cem milhotildees de habitantes Natildeo falo

duzentos que eacute a nossa populaccedilatildeo mas mais de cem um paiacutes que ousou uma poliacutetica puacuteblica

universal constituinte uma lei magna a Constituiccedilatildeo Federal que traz como direito ldquoa sauacutederdquo

O direito agrave sauacutede haacute 22 anos passou a permear esse processo que eacute fundamental para que

a gente possacobrar e exigir E essa eacute a dialeacutetica A gente cobra sabendo que tem um potencial

de melhoria Para termos a noccedilatildeo da dimensatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede por ano mais de

32 bilhotildees de procedimentos satildeo realizados nesse sistema mais de 500 milhotildees de consultas

de especialidade por ano e mais de um milhatildeo de internaccedilotildees por mecircs

Eacute importante dizer que temos muitos desafios natildeo apenas pela caracteriacutestica continental

mas por uma diversidade fundamental caracteriacutestica do Brasil que eacute a diversidade entre as

pessoas A diversidade regional a diversidade de cultura e a diversidade principalmente de

como cuidar Um exemplo na atenccedilatildeo agrave sauacutede das pessoas dos povos indiacutegenas noacutes temos

como caracteriacutesticas realizar atendimento diferenciado porque ser igual eacute justamente poder

ofertar a diferenccedila de cuidado Mas mais do que isso quanto aos nuacutemeros o Brasil tambeacutem eacute

responsaacutevel pelo maior nuacutemero de transplante de oacutergatildeos puacuteblicos do mundo

Esses satildeo os nossos desafios Desafios que trouxeram todos para pensar estrateacutegias para

cuidar estrateacutegias de ofertar uma poliacutetica fundamental e integral dentro desse sistema de como

cuidar natildeo apenas as pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras mas tambeacutem como induzir que os

profissionais de sauacutede tenham natildeo apenas o conhecimento mas que mudem fundamentalmente

a forma de como pensam e abordam o cuidado de pessoas com doenccedilas raras A mudanccedila da

estrateacutegia dessa poliacutetica natildeo eacute apenas trazer a poliacutetica e implementaacute-la eacute em especial mudar o

paradigma de como cuidar Um paradigma que dentro do sistema ao longo do periacuteodo fez

emergir o modelo de se fazer sauacutede o modelo correto de se fazer e atender as pessoasNatildeo eacute

apenas caracteriacutestica do Brasil mas de todos os paiacuteses o facto de ter prevalecido uma sauacutede

centrada na medicina centrada no papel do meacutedico centrada no papel do tratamento como

resultado Eacute importante e faz parte do processo mas cuidar eacute muito mais do que um processo

especiacutefico de tratar num consultoacuterio Cuidar eacute muito mais do que fazer um diagnoacutestico Cuidar

eacute entender de todo um processo e isso significa mudanccedila de um modelo

Eacute importante que todos saibam qual o caminho que estamos seguindo em relaccedilatildeo ao modelo

de gestatildeo da sauacutede Historicamente o Sistema Uacutenico de Sauacutede foi tanto do ponto de vista de

construccedilatildeo de poliacutetica como do ponto de vista de financiamento pautado por procedimentos

Isso historicamente ocasionou essa conduta de se tratar e de se financiar a sauacutede atraveacutes de

procedimentos ou seja um usuaacuterio do sistema quando chegava ao hospital passava por uma

combinaccedilatildeo de procedimentos A mudanccedila desse modelo de gestatildeo eacute o que o Ministeacuterio da

Sauacutede em conjunto com os outros atores desse sistema ndash secretaacuterios estaduais de sauacutede

secretaacuterios municipais representativos do CONASS2 e CONASEMS3 ndash vem discutindo A

1 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede 2 Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede - httpwwwconassorgbr 3 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sauacutede - httpwwwconasemsorgbr

90

mudanccedila de como instituir poliacutetica puacuteblica natildeo apenas baseada em procedimentos em um

pacote de exames s em um pacote de financiamento mas como integrar de facto a organizaccedilatildeo

desse sistema de sauacutede E noacutes trouxemos o novo modelo que natildeo eacute novo mas nova a forma de

se organizar atraveacutes de accedilotildees e serviccedilos numa rede de atenccedilatildeo a sauacutede Isto jaacute estava descrito

na lei 8080 nos regimentos que fazem do Sistema Uacutenico de Sauacutede um sistema e organizaccedilatildeo

Mas a aplicabilidade e a organizaccedilatildeo desse sistema em rede essa mudanccedila eacute o grande desafio

do sistema E o que eacute essa rede Toda a estrateacutegia e poliacutetica que o Ministeacuterio institui satildeo

pautadas na loacutegica da construccedilatildeo da rede tanto na organizaccedilatildeo no seu planejamento como no

seu financiamento e cuidado Eacute atraveacutes desse arranjo organizativo que os serviccedilos dos

estabelecimentos de sauacutede devem se organizar para que as accedilotildees sejam feitas dentro de um

cuidado continuado dentro de uma loacutegica de diferentes tendecircncias tecnoloacutegicas integradas por

apoio teacutecnico Ou seja dentro dessa rede cada um deve ter um papel fundamental para que seja

de fato organizada uma rede de atenccedilatildeo

O usuaacuterio desse sistema independente d a poliacutetica no acircmbito da rede de atenccedilatildeo deve ser

encontrado e natildeo procurar o cuidado Mas deve ser encontrado atraveacutes de uma rede integral

em que cada ponto da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada do posto de sauacutede ao hospital o

usuaacuterio encontre um cuidado contiacutenuo numa rede integrada

O que eu coloco como caracteriacutestica fundamental eacute justamente isso a rede implica uma

relaccedilatildeo horizontal Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras o cuidado que existioa quando se alcanccedilava

estava em centros especiacuteficos fossem de pesquisa ou grandes centros muito distantes de um

cuidado e um acolhimento adequado Mas aatenccedilatildeo em sauacutede mais proacutexima de qualquer usuaacuterio

sempre seraacute a Atenccedilatildeo Baacutesica independente da necessidade e da complexidade do cuidado E

se noacutes formos discutir as doenccedilas raras a atenccedilatildeo baacutesica faz parte do cuidado porque eacute ali que

funciona a porta de entrada seja da gestante seja do usuaacuterio na fase inicial Portanto eacute

fundamental que a informaccedilatildeo e o cuidado de doenccedila rara tambeacutem chegue para que tenhamos

principalmente um diagnoacutestico que se quer um diagnoacutestico precoce a orientaccedilatildeo adequada

em cada porta de entrada desse Sistema Uacutenico de Sauacutede Aleacutem disso essa rede eacute centrada na

necessidade e natildeo apenas na oferta porque o sistema trouxe ateacute entatildeo sempre uma oferta que

recorta justamente essa demanda Torna-se importante natildeo apenas financiar a poliacutetica puacuteblica

mas organizar e planejar uma poliacutetica puacuteblica em relaccedilatildeo com as necessidades de um dado

territoacuterio para aiacute comeccedilamos a organizar o processo

De acordo com a OMS doenccedila rara eacute aquela doenccedila que afeta ateacute sessenta e cinco pessoas

por cem mil pessoas proporccedilatildeo de 13 a cada 2 mil Essa definiccedilatildeo natildeo eacute homogecircnea em todos

os paiacuteses e noacutes colocamos em consulta puacuteblica essa definiccedilatildeo para iniciar o processo Daqui a

dois anos noacutes poderemos assim mudar a definiccedilatildeo porque a poliacutetica eacute dinacircmica mas

justamente acomete 6 a 8 da populaccedilatildeo Se noacutes fossemos pensar como muitas vezes ldquoNatildeo

poliacutetica puacuteblica se faz em cima de epidemiologiardquo natildeo estariacuteamos aqui hoje ateacute porque embora

ela seja individualmente rara constitui um grupo muito significativo da populaccedilatildeo Esse era um

ponto que eu queria discutir quando comeccedilamos com esse grupo teacutecnico formado por

especialistas representantes de associaccedilotildees e gestores essencialmente do Ministeacuterio da Sauacutede

mais concretamente por onde vamos traccedilar uma poliacutetica Noacutes temos quase mais de oito mil

doenccedilas conhecidas nuacutemero que cada vez mais vai aumentar em relaccedilatildeo ao nuacutemero de doenccedilas

raras Como eacute que podemos comeccedilar a discutir essa estrateacutegia

Seeu for pensar no tratamento medicamentoso e fazer uma poliacutetica para quem trata apenas

com medicamento somente 100 doenccedilas raras hojetecircm um tratamento medicamentoso Ou

seja eu deixaria de fora 7900 doenccedilas Eacute importante eacute fundamental mas uma poliacutetica integral

muito mais importante porque eu natildeo faccedilo cuidado apenas com medicamento eu faccedilo o

cuidado com integralidade com diagnoacutestico com habilitaccedilatildeo com reabilitaccedilatildeo com discussatildeo

de caso ecom outros fatores

91

Quando esse grupo foi formado noacutes tiacutenhamos trecircs prioridades primeiro instituir uma

poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras no Sistema Uacutenico de Sauacutede

segundo elaborar dois documentos norteadores o grupo tinha esse papel e ao fim desta

elaboraccedilatildeo noacutes temos que colocar em consulta puacuteblica dois documentos norteadores um de

diretrizes ao cuidado e o outro de normas para habilitaccedilatildeo dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede

de serviccedilos e centros de doenccedilas raras terceiro a inclusatildeo de procedimentos porque a poliacutetica

de integralidade do cuidado perpassa os serviccedilos de acesso por necessidade de diagnoacutestico por

habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo e muitas vezes por tratamento medicamentoso

Natildeo se exclui da poliacutetica a necessidade de tratamento medicamentoso Mas a gente tem

que propor ao Sistema respaldado no diagnoacutestico Entatildeo faz parte da poliacutetica a incorporaccedilatildeo

de novos exames Novos exames estatildeo sendo discutidos em uma comissatildeo estatildeo na comissatildeo

nacional de incorporaccedilatildeo de tecnologia no Sistema Uacutenico de Sauacutede que eacute uma lei federal para

a incorporaccedilatildeo de toda tecnologia no SUS Essa discussatildeo fizemos paralelamente porque tem

todo um processo de aprovaccedilatildeo e jaacute vimos discutindo a poliacutetica dentro do sistema A poliacutetica

envolve desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada incluindo a questatildeo do aconselhamento

geneacutetico ateacute a habilitaccedilatildeo e instruccedilatildeo de centros de serviccedilos em doenccedilas raras

O que pautou a estrateacutegia da poliacutetica

Alguns eixos estruturantes passam por ver o lado macro desse cuidado Nessa poliacutetica noacutes

temos dois eixos fundamentais doenccedilas raras de origem geneacutetica e doenccedilas raras de origem

natildeo geneacutetica Dentro de doenccedilas raras de origem geneacutetica temos um eixo vinculado a anomalias

congecircnitas outro a deficiecircncia intelectual e outro a erros inatos de metabolismo Haacute outro grupo

maior de doenccedilas raras que satildeo de origem natildeo geneacutetica perpasso infecciosos inflamatoacuterios e

autoimunes Isso balizou o quecirc Fundamentalmente para traccedilarmos a linha dos eixos em que

assentaria o cuidado para que a gente pudesse pensar como seria organizado o sistema atraveacutes

de uma rede e como eacute que a atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras integraria o processo

nessa rede de atenccedilatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes de poliacuteticas habilita os serviccedilos e os centos especializados

em doenccedilas raras Hoje existem determinados serviccedilos que prestam cuidado a uma ou mais

doenccedilas para um eixo ou mais eixos de cuidado dependendo da sua complexidade Mas mais

do que isso a poliacutetica tem um poder de induccedilatildeo jaacute que ela induz todo um processo desde a

formaccedilatildeo que eacute fundamental e natildeo eacute a formaccedilatildeo do especialista do geneticista mas de pessoas

e profissionais vinculados ao cuidado tanto da aacuterea meacutedica como natildeo meacutedica

A poliacutetica tem dois documentos norteadores que foram colocados em consulta puacuteblica No

dia 23 de outubro noacutes faremos uma reuniatildeo ampliada Porquecirc essa reuniatildeo ampliada

Justamente quando noacutes elaboraacutemos o grupo noacutes o grupo Ministeacuterio da Sauacutede representantes

e gestores representantes de especialidades associaccedilotildees constituiacutemos um nuacutecleo duro e esse

nuacutecleo tem a responsabilidade de construir a proposta inicial Porque para chancelar o processo

noacutes precisamos de uma aprovaccedilatildeo e de uma discussatildeo maior por isso eacute que desde o primeiro

dia noacutes construiacutemos os dois documentos a) Como habilitar serviccedilos e centros de atenccedilatildeo

especializada em atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras e as diretrizes para cada um dos pontos

de atenccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada e o centro de serviccedilos em especialidades

b) Qual o papel de cada um no cuidado na atenccedilatildeo das pessoas com doenccedilas raras

Habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo cuidado continuado necessidades adicionais natildeo apenas o

tratamento especiacutefico da doenccedila rara mas o contexto integral desse cuidado eacute a nossa proposta

E aiacute noacutes falamos ldquoNo uacuteltimo dia quando a gente for para a pactuaccedilatildeo ao niacutevel de sistema

uacutenico CONASS CONASEM e a tripartite noacutes faremos o GT ampliado para mostrar que esse

eacute o processordquo E entatildeo teremos a posiccedilatildeo criacutetica de todos

Jaacute tivemos a consulta puacuteblica Foi a consulta puacuteblica nesse Ministeacuterio que teve a maior

participaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo Foram mais de 180 contribuiccedilotildees Foi um trabalho aacuterduo do grupo

de trabalho que se dividiu em trecircs grandes grupos para consolidar a consulta puacuteblica e

92

finalizamos os documentos que seratildeo apresentados na reuniatildeo ampliada Aprovado nesta

reuniatildeo no mecircs 11 a gente faz a discussatildeo na plenaacuteria da CONITEC4 de incorporaccedilatildeo

tecnoloacutegica e ainda no mecircs 11 eu vou agrave comissatildeo intergestora tripartite para pactuar e aiacute sim

a gente passa para a histoacuteria do Sistema Uacutenico de Sauacutede uma poliacutetica integral uma uacutenica

poliacutetica integral que perde de poucas no mundo de atenccedilatildeo integral de pessoas com doenccedilas

raras Uma poliacutetica que vai do cuidado para o acolhimento e o diagnoacutestico do aconselhamento

ateacute a necessidade de medicamentos baseada no protocolo cliacutenico Foi um trabalho ndash e eu me

emocionei na fala porque quem participou sabe e eu agradeccedilo a cada um desses colegas o

Rogeacuterio Prof Marcos Sidney a Martha e a todos em nome deles ndash que realmente a gente

pensou da base agrave atenccedilatildeo especializada Aleacutem desse trabalho a gente vai ter que modificar

muito porque a poliacutetica puacuteblica eacute dinacircmica O grande desafio agora eacute que cada um pactue na

tripartite que a gente vaacute para o territoacuterio e induza a implementaccedilatildeo desse processo e que

monitore a implementaccedilatildeo desse processo

Se estamos fazendo poliacutetica puacuteblica esta tem que ser feita tambeacutem com a academia com

o gestor com as pessoas Somente dessa forma a gente vai conseguir implementar e mudar a

realidade

Muito obrigado e eu fico a disposiccedilatildeo para discussatildeo

Maria Joseacute Delgado5 ndash Bom dia

Eu vou comeccedilar a apresentaccedilatildeo mostrando um filme Eacute um filme raacutepido Eu pedi que o

Rogeacuterio me desse essa licenccedila para que vocecircs conhecessem um pouco mais da Interfarma de

uma maneira um pouco mais interessante do que eu ficar falando de nuacutemeros ficar falando de

percentuais Depois a gente vai entrar numa outra parte da apresentaccedilatildeo em que eu trago alguns

nuacutemeros de pesquisa e alguns dados referentes ao desenvolvimento dos produtos

Bom somente para contar um pouquinho do que noacutes fazemos e como noacutes fazemos

Principalmente o que noacutes fazemos eacute estar junto Estar fazendo junto tambeacutem eacute uma meta e eacute

uma necessidade que a Interfarma tem na sua gestatildeo Por isso pedimos tanto ao Ministeacuterio da

Sauacutede para participar do grupo que esteve pensando a proposta de poliacutetica Naquele momento

natildeo foi oportuno mas no dia 23 com certez noacutes estaremos juntos estaremos conversando

estaremos tentando alinhar tambeacutem algo daquelas contribuiccedilotildees que noacutes jaacute envimos que o

Fogolin conhece e que todo o mundo conhece

O Rogeacuterio me pediu para que eu traccedilasse um cenaacuterio em relaccedilatildeo a quecirc e como noacutes

investimos como noacutes desenvolvemos os produtos como satildeo os dados e quais satildeo esses dados

Mas antes desses dados eu vou tentar desenhar um cenaacuterio que eu acho que vocecircs conhecem

Ateacute os anos 80 as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte das agendas governamentais o

que pode ser encontrado em estudos que demonstram isso A partir dessa data dessa deacutecada

vaacuterios esforccedilos vaacuterias estrateacutegias foram sendo implementadas para que esse pudesse ser um

tema e um tema que fosse visto com mais dedicaccedilatildeo cada vez mais pensando em soluccedilotildees para

o cenaacuterio que se apresentava

No Brasil como o Fogolin jaacute falou estimam-se treze milhotildees de pessoas com doenccedilas raras

e destas 75 se manifestam-se em crianccedilas Esse eacute o indicador que talvez mais nos comova e

eacute o indicador que talvez mais nos mova a fazer o que fazemos E contribui ainda para maior

morbidade nos primeiros 18 anos de vida que tambeacutem eacute um dado que nos impulsiona a tentar

dar soluccedilotildees e a tentar trazer benefiacutecios ou longevidade com qualidade para essas pessoas

No Brasil assim como no mundo quem movimentou e colocou essa agenda dentro do

governo foram as associaccedilotildees de pacientes os estudos tambeacutem demonstram isso As

4 Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) 5 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

93

associaccedilotildees satildeo aquelas que estatildeo levando o tema e fazendo o tema acontecer Entatildeo eacute

importante que vocecircs continuem nesse ritmo e continuem fazendo cada vez mais o

posicionamento da necessidade e o posicionamento do interesse de cada um de vocecircs E essa

nova abordagem vinda das associaccedilotildees de pacientes tambeacutem trouxe para o Brasil vaacuterios

avanccedilos do que se iniciou em 2000 mas apenas em 2009 foi formalizada e publicada pelo

Ministeacuterio da sauacutede a Portaria 81 Conhecemos todo o esforccedilo e reconhecemos o esforccedilo para

que isso tivesse sido feito e que agora entra numa outra fase de execuccedilatildeo

A poliacutetica que agora estaacute desenhada e que propotildee um desenho talvez seja exequiacutevel sendo

que a anterior a portaria 81 natildeo era A gente sabe que eacute um caminho longo que eacute um caminho

recente da deacutecada de 80 e que temos que andar muito Diversas barreiras dificultam o acesso

dos pacientes a tratamentos especializados desde a assistecircncia ateacute medicamentos Os

profissionais da aacuterea carecem de capacitaccedilatildeo para natildeo comprometer ou retardar o diagnoacutestico

Eacute angustiante chegar em um serviccedilo de assistecircncia seja unidade baacutesica seja um hospital e

aquele que vai te atender olhar para vocecirc e fica talvez mais inseguro do que vocecirc mesmo que

foi buscar alguma soluccedilatildeo para a sua situaccedilatildeo de sauacutede A capacitaccedilatildeo e treinamento dos

profissionais eacute um alvo que deve estar dentro da discussatildeo do que estaacute em construccedilatildeo Falta de

informaccedilatildeo sobre as doenccedilas para as famiacutelias eacute angustiante Eacute uma afliccedilatildeo muito grande o que

fazer como fazer o que tem depois de ter diagnosticado para onde ir como dar soluccedilatildeo a

essa situaccedilatildeo que eacute muito complexa

Apenas 2 das doenccedilas pode beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na

sua evoluccedilatildeo Estamos falando de um percentual muito pequeno e que pesa todo o esforccedilo de

pesquisa e desenvolvimento mas por ser tatildeo recente o setor ainda carece de mais investimento

e de mais pesquisas E quando eu falo dessa agonia de chegar numa unidade baacutesica eu falo natildeo

na teoria eu falo tambeacutem porque eu sou uma usuaacuteria do serviccedilo de sauacutede os meus filhos satildeo

os meus netos satildeo Antes de tudo eu como uma cidadatilde me angustia e eacute realmente uma

constataccedilatildeo da vida real porque aqui ningueacutem estaacute dizendo de hipoacutetese ou de situaccedilatildeo que natildeo

conheccedila realmente Como eacute o cenaacuterio de desenvolvimento de pesquisa no Brasil Quando eu

digo que ele natildeo possui robustez eacute porque noacutes natildeo temos a robustez que o paiacutes merece e que a

populaccedilatildeo e que a proacutepria academia tambeacutem precisam Noacutes somos mais ou menos o deacutecimo

terceiro paiacutes em produccedilatildeo Noacutes somos em pesquisa e artigos cientiacuteficos o deacutecimo terceiro no

mundo Noacutes somos muito bons a produzir artigos cientiacuteficos mas no ranking mundial de

depoacutesito de patentes que se faz o registro quando haacute uma descoberta quando haacute possibilidade

de um novo produto noacutes estamos no vigeacutesimo quarto lugar E o paiacutes perde a oportunidade de

inovaccedilatildeo noacutes fizemos um estudo com os nossos associados com quinze empresas noacutes

perdemos por conta de tramitaccedilatildeo burocraacutetica nas vaacuterias instacircncias que satildeo necessaacuterias passar

um processo e o projeto de pesquisa Noacutes perdemos uma quantidade importante de estudos e

chegamos a estimar um prejuiacutezo de 2500 pacientes aproximadamente E vamos perder mais

alguns inclusive para produtos oncoloacutegicos de hepatite C problemas importantes tambeacutem de

sauacutede puacuteblica A pesquisa cliacutenica movimenta cerca de 40 bilhotildees de investimento no mundo e

no Brasil satildeo investidos pouco mais de 139 milhotildees de doacutelares A participaccedilatildeo do Brasil em

estudos cliacutenicos no mundo representa 15 e atinge a deacutecima quarta posiccedilatildeo O tempo gasto

com a pesquisa cliacutenica no Brasil estaacute entre 10 a 14 meses enquanto que a meacutedia mundial eacute de

4 a 6 meses E o que acontece no quadro anterior demora tanto para aprovar que noacutes natildeo

conseguimos nem fazer e nem participar das pesquisas mundiais

A nossa populaccedilatildeo que tem um perfil epidemioloacutegico que tem uma caracteriacutestica

especiacutefica muitas vezes a gente natildeo consegue participar dos estudos multicecircntricos Tem um

dado interessante quando falamos de doenccedilas cardiovasculares que satildeo doenccedilas

tradicionalmente em maior nuacutemero e cuidadas haacute muito mais tempo temos um indicador de

para cada 24 euros gastos no desenvolvimento de todos os novos medicamentos 89 satildeo

economizados em internaccedilatildeo e outros serviccedilos de sauacutede

94

Entatildeo pensando na pesquisa no desenvolvimento e no impacto financeiro dentro do

processo da elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas sabemos que existe uma limitaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

mas a gente entende tambeacutem que eacute preciso encontrar as soluccedilotildees para uma medida para que

esse orccedilamento possa ser elaacutestico e atender a necessidade de um conjunto de pessoas

A induacutestria farmacecircutica gastou em 2011 aproximadamente 130 bilhotildees de doacutelares e

foram lanccedilados aproximadamente 35 novos produtos farmacecircuticos dentre os mais de 3200

compostos em desenvolvimento Entre 2007 e 2011 noacutes temos um decliacutenio de pesquisa que

caiu para 149 e o custo meacutedio do desenvolvimento de um medicamento gira em torno de 13

bilhotildees de doacutelares Noacutes temos 460 medicamentos que estatildeo sendo desenvolvidos para doenccedilas

raras e que a gente espera que muitos deles possam chegar ao mercado

Essa eacute uma curva de tempo como que comeccedila laacute na pesquisa baacutesica que o Fogolin estaacute

dizendo aqui do financiamento do incentivo ao financiamento a pesquisa baacutesica e qual eacute o

percurso que se tem para chegar ateacute que o produto chegue ao balcatildeo ao mercado eacute o processo

e eacute o trajeto da bancada ao mercado

95

E isso vai levar mais ou menos entre dez a quinze anos para se desenvolver um

medicamento ou uma vacina nova e somente um a cada dez mil compostos chega ateacute os

pacientes Vamos investir num esforccedilo que eacute super importante e tem que acontecer mesmo

porque noacutes temos aquele deacuteficit de pesquisa O nosso investimento eacute pouco mas tem essa linha

e essa trajetoacuteria de desenvolvimento Tem que ter muito investimento para que tenhamos

inovaccedilotildees sendo disponibilizadas

Deixo soacute algumas consideraccedilotildees finais que eu acho importante deixar na agenda O Brasil

natildeo discute medicamentos oacuterfatildeos como um tema macro Ele eacute discutido dentro das poliacuteticas

puacuteblicas O medicamento oacuterfatildeo que vai cuidar de doenccedilas raras negligenciadas

principalmente precisa duma pauta especiacutefica Precisamos fortalecer a assistecircncia meacutedica e

farmacecircutica e isso com certeza depende dos grupos de defesa e das associaccedilotildees de pacientes

Noacutes precisamos de parcerias para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo Esse modelo deve

envolver o governo as associaccedilotildees de pacientes as representaccedilotildees do seguimento produtivo

do Conselho Federal de Medicina de farmaacutecia e todos aqueles que fazem parte do paiacutes satildeo

aqueles que moram aqui e aqueles que querem que isso daqui desenvolva e que esse paiacutes avance

cada vez mais Os pacientes e a responsabilidade social das empresas tambeacutem tem a sua missatildeo

importante O diaacutelogo social tambeacutem eacute importante e ele existe para negociaccedilatildeo em prol do

interesse comum Na verdade o que precisamos eacute que a voz desse conjunto de pessoas possa

estabelecer um impacto social para as doenccedilas raras que eacute uma provocaccedilatildeo que eu faccedilo e que

eu deixo aqui no encerramento da minha fala

As vozes satildeo necessaacuterias elas existem cada vez mais elas tecircm que ter forccedila para dizer o

que precisam mas para isso noacutes precisamos estabelecer um impacto social e dizer para onde

noacutes queremos ir e como noacutes vamos Isso foram assuntos que noacutes fizemos foram temas de

movimentos com que noacutes trabalhamos A publicaccedilatildeo6 que vocecircs receberam teve como objetivo

qualificar o nosso debate e a meta era ocupar o espaccedilo que eacute devido agraves doenccedilas raras na agenda

do paiacutes

Noacutes fizemos um seminaacuterio grande em marccedilo e esses satildeo resultados do seminaacuterio Noacutes

fizemos publicaccedilotildees que atingiram mais de um milhatildeo de pessoas difundindo otema dizendo

6 Doenccedilas Raras contribuiccedilotildees para uma poliacutetica nacional disponiacutevel em wwwinterfarmaorgbr

96

que existem doenccedilas raras que eacute preciso discutir e que eacute preciso avanccedilar Aqui satildeo dados que a

gente sabe que estatildeo nesse estudo e dentro desse fortalecimento das accedilotildees eu acho que o mais

importante eacute que a gente precisa continuar discutindo contribuir sistematicamente para o debate

deste complexo cenaacuterio entender e construir junto as saiacutedas Por uacuteltimo e jaacute que o evento eacute

uma parceria com Coimbra eu queria deixar aqui a boa fala do Professor Boaventura que diz

que devemos ldquoLutar pela igualdade quando a diferenccedila nos discrimina e lutar pela diferenccedila

sempre que a igualdade nos descaracterizerdquo

Muito obrigada Rogeacuterio Muito obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocecircs Fico

agrave disposiccedilatildeo para qualquer intervenccedilatildeo

Luiz Oswaldo Rodrigues7 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues Quem deveria estar aqui hoje era o Sr

Paulo Roberto Ferreira Couto que eacute o presidente da AMANF Eu sou um dos membros da

associaccedilatildeo Eu e minha esposa Thalma estamos aqui e temos uma filha com Neurofibromatose

(NF) do tipo I Tambeacutem sou meacutedico e haacute dez anos encontramos outro meacutedico com o filho com

NF tambeacutem Entatildeo noacutes criamos o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas na

Universidade Federal de Minas Gerais

Eu estou aqui falando em nome da Associaccedilatildeo Mineira de Apoio as Pessoas com NF -

AMANF e estou falando em nome do Centro de Referecircncia tambeacutem

Eu quero agradecer ao Rogeacuterio particularmente pelo convite pessoal em nome da nossa

Associaccedilatildeo e eacute uma satisfaccedilatildeo estar aqui nesta mesa com Dr Joseacute Eduardo Fogolin com a Dra

Maria Joseacute e com o Prof Dr Natan Monsores participando desse debate

A primeira pergunta que a nossa Associaccedilatildeo se fez foi se noacutes somos uma doenccedila rara

Como vocecircs jaacute viram na palestra do Professor Maacuterio ontem na audiecircncia puacuteblica a gente fica

agraves vezes na duacutevida se nos encontramos entre as doenccedilas raras Natildeo haacute um consenso como noacutes

aprendemos com o Dr Saporta ontem natildeo haacute um consenso e satildeo 80 mil brasileiros mais ou

menos tanto quanto a doenccedila de charcot-marie-tooth Temos uma populaccedilatildeo bastante grande

daacute para encher um estaacutedio de futebol com o nuacutemero de pessoas que tem NF Isso eacute raro Pelos

criteacuterios internacionais essa eacute uma doenccedila daquelas com frequecircncia rara portando estamos

dentro das doenccedilas raras Elas satildeo trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros

e apesar desse nuacutemero de pessoas acometidas elas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas

raras

As NFs padecem de dificuldades semelhantes agraves demais doenccedilas raras as quais noacutes

denominamos DOR Uma sigla que noacutes fizemos pra designar essa dificuldade comum que noacutes

temos entre todas as doenccedilas raras Que seria isso D - de desconhecimento cientiacutefico por parte

dos profissionais de sauacutede ou as vezes por todos O - de omissatildeo institucional que a gente fica

feliz de saber que aqui tem um representante do Ministeacuterio e que existem comitecircs trabalhando

e que estatildeo tentando superar isso mas ainda eacute uma dificuldade a omissatildeo institucional E

finalmente R - representaccedilatildeo social inexistente O que quer dizer isso Quando vocecirc fala a

palavra NF por exemplo mas poderia ser Niemann-pick ou qualquer outra dessas doenccedilas

que vocecircs compartilham conosco que noacutes compartilhamos nesse Congresso nesse evento as

pessoas natildeo sabem o que significa

A psicoacuteloga Alessandra Cerello fez uma dissertaccedilatildeo de mestrado8 mostrando que as

pessoas natildeo sabem o que eacute NF profissionais de sauacutede ou as famiacutelias A sociedade natildeo sabe E

quando vocecirc natildeo sabe o que uma coisa significa vocecirc natildeo tem emoccedilatildeo sobre ela entatildeo a falta

de emoccedilatildeo faz com que vocecirc natildeo se incomode com aquela pessoa vocecirc natildeo estabelece uma

7 Diretor Teacutecnico da Associaccedilatildeo Mineira de Neurofibromatose 8 Disponiacutevel em httpwwwbibliotecadigitalufmgbrdspacebitstreamhandle1843BUOS-

8N2FVWdisserta__o_alessandra_cerellopdfsequence=1

97

relaccedilatildeo de empatia vocecirc natildeo estabelece uma conexatildeo humana de pessoa para pessoa Entatildeo a

maior parte das doenccedilas raras ou se natildeo todas tem essa dificuldade Para dar um exemplo eu

fiquei muito feliz quando o Rogeacuterio denominou a Associaccedilatildeo de Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria

porque Maria Vitoacuteria tem o rosto noacutes pensamos que existe uma pessoa por traacutes deste nome

dessa associaccedilatildeo Isso eacute fundamental dar rosto agraves pessoas

aacute no Centro de Referecircncia noacutes temos algumas queixas das pessoas que nos procuram e vou falar

de NF mas possivelmente vocecircs vatildeo identificar essas dificuldades em outras doenccedilas Por

exemplo a atitude acadecircmica excessivamente acadecircmica dos profissionais da sauacutede os

meacutedicos particularmente que tratam os pacientes de uma forma fria num tubo de ensaio A

pressa no atendimento vejam esse meacutedico ele tem quantos reloacutegios que ele tem que dar conta

ao mesmo tempo para um paciente soacute Ele tem vaacuterios reloacutegios eacute uma pressa uma coisa atraacutes

da outra entatildeo a pressa natildeo permite que vocecirc olhe para o paciente e diga assim Eu natildeo sei o

que vocecirc tem eu preciso de estudar eu preciso de consultar um colega eu preciso de fazer uma

interconsulta para gente poder saber o que vocecirc temA pressa natildeo nos permite fazer isso

A indiferenccedila eacute como se agraves vezes no caso da NF por exemplo muitos pacientes apresentam

lesotildees cutacircneas e quem desconhece a doenccedila natildeo sabe se elas satildeo contagiosas ou natildeo e a atitude

espontacircnea humana e natural eacute o medo do desconhecido medo de pegar aquela doenccedila entatildeo

haacute um isolamento Muitos pacientes com NF dizem assim Doutor nenhum meacutedico nunca

tocou em mim nunca encostou a minha pele Olha de longe e tira retrato Ou a doenccedila eacute

retratada apenas pelo seu lado patoloacutegico pela patologia pela lacircmina da bioacutepsia Entatildeo o

meacutedico olha para o paciente mas o que ele vecirc natildeo eacute uma pessoa ele vecirc a lacircmina ele vecirc a

anatomia a doenccedila ele natildeo vecirc o ser humano que estaacute ali diante dele Essa eacute outra queixa Os

pacientes satildeo voluntaacuterios em pesquisa e depois satildeo abandonados Eles participam como

voluntaacuterios oferecem o seu sangue o seu suor as suas laacutegrimas o seu tecido para o estudo e

depois eles satildeo ignorados natildeo recebem nenhum retorno Agraves vezes natildeo precisa ter um

medicamento pronto mas basta ter um Olha obrigado fizemos isso publicamos aquilo etc

Os planos de sauacutede tambeacutem jaacute que os planos de sauacutede costumam ser armadilhas para os

pacientes Os que tecircm SUS contam com as dificuldades de reparticcedilatildeo do dinheiro puacuteblico para

as doenccedilas os que natildeo tecircm os que tecircm dinheiro particular satildeo explorados pelos meacutedicos que

vatildeo de especialista em especialista O dermatologista pede para o neurocirurgiatildeo o neuro pede

para outro profissional E os planos de sauacutede ficam indiferentes a essas doenccedilas raras na

maioria das vezes

Vocecircs estatildeo vendo uma cartilha9 que estaacute em distribuiccedilatildeo no Brasil com o apoio da

Unimed de Belo Horizonte - um dos planos que tem apoiado o nosso Centro de Referecircncia A

Interfarma falou agora haacute pouco em nome da induacutestria farmacecircutica mas uma grande

9 As Manchinhas da Mariana Disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

98

preocupaccedilatildeo que noacutes temos eacute que noacutes sabemos que a induacutestria caminha para um lado e que eacute

preciso ter um remo muito forte aqui para segurar o barquinho da eacutetica para que a induacutestria natildeo

arraste a eacutetica na sua potecircncia econocircmica e no seu poder de fogo Finalmente a proacutepria

tecnologia eacute um grande problema veja soacute o que o Doutor estaacute procurando nesses exames O

paciente

Entatildeo tem gente que faz tanto exame que cai na matildeo da tecnologia quando a medicina

tecnoloacutegica excessivamente tecnoloacutegica vocecirc faz tanto exame que vocecirc se perde Agraves vezes os

pacientes chegam com pacotes de exames Eu tive um paciente uma vez que chegou com um

pacote de 45kg de exame segurando o pacote para me mostrar Aiacute eu disse Natildeo vamos te

examinar primeiro e depois eu vejo os exames

Entatildeo com estas questotildees em mente como enfrentar a DOR Eu acho que satildeo as

entidadesde pacientes com alguma doenccedila de familiares de pessoas portadores das mais

diversas doenccedilas que tecircm que se apoderar do seu proacuteprio corpo da sua pessoa da sua sauacutede

acreditar que cada um de noacutes eacute maior do que a sua doenccedila e assumir o poder sobre o seu corpo

assumir o poder sobre a sua sauacutede Esse eacute o projeto das associaccedilotildees Esta eacute uma das reuniotildees

da AMANF Noacutes temos aqui o fundador da AMANF o Andreacute noacutes temos o Nilton e a Andreacuteia

que satildeo pais de portador tambeacutem a Alessandra eu e a Thalma a minha filha o Paulo Couto

que eacute o nosso presidente que deveria estar aqui hoje e por motivos de sauacutede natildeo pode estar

presente

99

Essa entidade tenta enfrentar a DOR procurando aumentar o conhecimento sobre a doenccedila o

conhecimento puacuteblico o conhecimento dos profissionais de sauacutede fazendo palestras em

faculdades em hospitais em cliacutenicas em escolas onde for necessaacuterio noacutes vamos fazer

palestras diminuir a solidatildeo das pessoas que tecircm essas doenccedilas raras porque muitas vezes

mesmo com NF falam assim Eu nunca tinha visto algueacutem como eu Saber que existe outro

como vocecirc jaacute ajuda a sair um pouco da solidatildeo E vencer o preconceito puacuteblico com a

divulgaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo Noacutes criamos a AMANF haacute dez anos totalmente com trabalho

voluntaacuterio e nossas principais conquistas satildeo reuniotildees mensais divulgaccedilatildeo temos uma paacutegina

na internet cartilhas educativas Uma dasnossas cartilhas estaacute na segunda ediccedilatildeo agora

atualizada e pode ser baixada gratuitamente da internet Essa cartilha jaacute estaacute sendo usada haacute

alguns anos e ela jaacute foi traduzida para o inglecircs dos Estados Unidos e estaacute sendo usada do estado

de Utah

A paacutegina na internet de 2008 a 2012 recebeu 25414 visitas de vaacuterias partes do mundo mas

principalmente do estado de Minas Gerais O nosso endereccedilo para quem quiser acessar eacute

wwwamanforgbr

Fizemos dois simpoacutesios o primeiro foi em 2009 e no Segundo Simpoacutesio Internacional de

NF contamos com a presenccedila do Prof Visconti do Prof Riccardi que eacute o pioneiro em NF

segunda fase da existecircncia das doenccedilas de 78 para caacute e o Dr Bruce Korf O Korf e o Visconti

fazem parte da equipe que descobriu os genes da doenccedila O segundo evento que noacutes

promovemos foi o Terceiro Simpoacutesio Brasileiro em NF no ano passado em comemoraccedilatildeo aos

dez anos da nossa entidade Aqui eacute a faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas

Gerais - UFMG onde fica localizado o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas

na faculdade de Medicina em Belo Horizonte

100

O atendimento eacute totalmente pelo SUS Noacutes temos 700 famiacutelias atendidas e acompanhadas

no ambulatoacuterio ateacute agora Hoje jaacute satildeo mais de 700 200 famiacutelias aproximadamente

acompanhadas pela internet Eu envio o laudo para os meacutedicos das famiacutelias e noacutes

acompanhamos agrave distacircncia

Temos um convecircnio com o Centro de Imagem Molecular onde podemos fazer exames de

imagem dos pacientes Temos ensino para medicina psicologia fonoaudiologia e nutriccedilatildeo

pessoas que fazem mestrado e poacutes-graduaccedilatildeo e doutorado connosco E temos pesquisas

bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica alunos de mestrado e doutorado participaccedilatildeo em congressos

publicaccedilotildees cientiacuteficas

O ano passado noacutes criamos a Sociedade Brasileira de Pesquisa em NF que estaacute comeccedilando

a funcionar o nosso primeiro artigo deve sair em breve um artigo coletivo

Apresentei algumas realizaccedilotildees mas gostaria de falar que a nossa entidade quando

discutimos a nossa participaccedilatildeo na AMAVI nas doenccedilas raras teve um certo medo e que medo

eacute esse Eacute porque aqui noacutes temos uma displasia da tiacutebia que eacute um dos sinais felizmente natildeo

muito comum 2 dos pacientes com NF1 apresenta

Eacute um dos sinais tiacutepicos da doenccedila que eacute uma displasia com uma pseudo-artrose uma

fratura espontacircnea da tiacutebia de uma crianccedila Ela nasce assim Esta foto serve para mostrar que

por mais que a gente tenha vontade de ajudar existem limites proacuteprios Nossa Associaccedilatildeo tem

101

muita dificuldade em reunir tem muita dificuldade para arranjar recursos financeiros entatildeo

essa luta de participaccedilatildeo natildeo eacute faacutecil No primeiro momento noacutes tivemos receio ateacute de nos

integrarmos nas doenccedilas raras a luta geral das doenccedilas raras mas hoje ndash e eu vou falar agora

particularmente em nome do centro de referecircncia em NF ndash noacutes estamos convencidos de que

somente sobre esse grande guarda-chuva das doenccedilas raras eacute que noacutes podemos fazer alguma

coisa em conjunto e dar uma representaccedilatildeo social a essas doenccedilas Noacutes acreditamos hoje que

podemos ajudar e podemos ser ajudados nesse processo dentro da grande luta que estaacute sendo

travada e hoje aqui eacute um momento histoacuterico e fantaacutestico e eu quero agradecer mais uma vez

a oportunidade

Obrigado

Natan Monsores10 ndash Bom dia a todos

Eu vou ser bem sucinto na minha apresentaccedilatildeo Na verdade eacute muito mais de uma demanda

trazida a noacutes pelo Rogeacuterio e por algumas Associaccedilotildees do que fazer uma exposiccedilatildeo cientifica

uma exposiccedilatildeo teacutecnica Em grande parte das falas a gente ouve a informaccedilatildeo aparecendo como

elemento central a necessidade de comunicar a necessidade de informar a necessidade de

trazer ao puacuteblico informaccedilotildees sobre doenccedilas raras A necessidade eacute transversal e perpassa todas

as falas que ouvimos e que eu tenho ouvido esses uacuteltimos anos sobre doenccedilas raras

Seguindo essa loacutegica eu vou aproveitar mais esse momento para fazer um lanccedilamento O

Rogeacuterio me pediu que a gente trouxesse essa ferramenta que tem sido construiacuteda

colaborativamente com o Rogeacuterio e com as Associaccedilotildees trazer para apresentar a vocecircs e fazer

um pedido um grande pedido a todas as Associaccedilotildees aqui presentes aos profissionais de sauacutede

e a todas as pessoas interessadas no tema de doenccedilas raras As discussotildees que temos na Caacutetedra

de Bioeacutetica no departamento de Sauacutede coletiva na UnB e eu tenho a oportunidade de ter aqui

alguns professores da Universidade de Brasiacutelia como a Professora Muna e o Professor Claacuteudio

que desde o comeccedilo tecircm participado destas iniciativas dentro da Universidade de Brasiacutelia Eu

queria apresentar para vocecircs a proposta do observatoacuterio de doenccedilas raras Eacute a proposta de

construccedilatildeo de uma rede que estamos chamando de Rede Raras Uma rede de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras com produccedilatildeo cientiacutefica brasileira com informaccedilotildees

oriundas das Associaccedilotildees de pacientes dos profissionais de sauacutede para que a gente consiga

mesmo que num vislumbre do futuro alcanccedilar o trabalho que tem sido feito pela EURORDIS

Entatildeo quais satildeo as metas desse observatoacuterio sobre as doenccedilas raras Reunir pesquisadores no

campo de doenccedilas raras a fim de agregar expertises nesse campo

A gente sabe que desde a deacutecada de 90 pesquisas sobre doenccedilas raras e medicamentos

oacuterfatildeos tecircm sido feitas no mundo inteiro e aqui no Brasil esse evento esse fenocircmeno eacute muito

recente como jaacute foi comentado aqui Temos a segunda meta que eacute formar pesquisadores no

campo de sauacutede coletiva A nossa intenccedilatildeo natildeo eacute formar geneticistas meacutedicos especialistas eacute

formar profissionais de campos o mais variados possiacuteveis Serviccedilo Social Nutriccedilatildeo Psicologia

Sociologia Antropologia entre outros que tenham o interesse de trabalhar com esse tema e ver

as questotildees sociais as questotildees fundamentais ao campo das doenccedilas raras A terceira meta desse

observatoacuterio eacute fomentar a pesquisa em trecircs aacutereas principais que satildeo aacutereas que pertencem ao

campo de sauacutede coletiva ou que pelo menos perpassam o campo da sauacutede coletiva A primeira

eacute fomentar a pesquisa epidemioloacutegica que decirc subsiacutedio agraves poliacuteticas puacuteblicas em doenccedilas raras

Mesmo sem informaccedilatildeo epidemioloacutegica jaacute estamos aqui discutindo Se natildeo tivermos a pesquisa

epidemioloacutegica para qualificar toda a discussatildeo qualificar o pensamento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas especiacuteficas para patologias especiacuteficas ou entatildeo para doenccedilas raras no geral natildeo

vamos conseguir Sem essas informaccedilotildees natildeo teremos vislumbres muito interessantes ou muito

10 Professor do Departamento de Sauacutede Coletiva e do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Bioeacutetica da UnB

102

promissores sobre o que pode ser feito em termos de investimentos em sauacutede alocaccedilatildeo de

recursos especiacuteficos entre outras coisas

Outra meta eacute a produccedilatildeo de informaccedilatildeo qualificada como eu jaacute falei aqui no iniacutecio Boa

parte da reclamaccedilatildeo das Associaccedilotildees e dos profissionais de sauacutede eacute a falta de informaccedilatildeo E por

que natildeo centralizar essa produccedilatildeo

Por fim promover a reflexatildeo bioeacutetica sobre o tema Jaacute foi comentado aqui tambeacutem que as

questotildees eacuteticas satildeo fundamentais nas relaccedilotildees entre as ssociaccedilotildees de pacientes a Induacutestria

Farmacecircutica o Governo e a Comunidade Cientiacutefica E tambeacutem eacute importante que essa

discussatildeo seja fomentada com liberdade e com responsabilidade entre todos os parceiros

Agregar e organizar a produccedilatildeo brasileira em doenccedilas raras A informaccedilatildeo as produccedilotildees

cientiacuteficas que a gente tem no Brasil hoje estatildeo fragmentadas em repositoacuterios de teses em

dissertaccedilotildees no Scielo em alguns outros repositoacuterios institucionais que satildeo da academia ndash satildeo

feitos na academia para a academia estaacute dentro da universidade para a universidade com

linguagem voltada para o campo da ciecircncia E por que natildeo trazer essa informaccedilatildeo fazer

comentaacuterios fazer uma discussatildeo sobre essa informaccedilatildeo num lugar centralizado

E por fim e talvez seja a missatildeo mais importante do observatoacuterio eacute apoiar as Associaccedilotildees

de pacientes e os demais interlocutores interessados nessa discussatildeo de doenccedilas raras

Trago em primeira matildeo uma iniciativa ainda embrionaacuteria Eacute rudimentar Ainda estamos

trabalhando com a equipe de Tecnologia da Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e vamos

precisar do apoio das Associaccedilotildees da induacutestria farmacecircutica e do Ministeacuterio da Sauacutede para

consolidar essa iniciativa Falar em rede rede de uma pessoa rede de uma associaccedilatildeo rede de

um grupo soacute natildeo eacute falar de rede Rede natildeo eacute isso Entatildeo eu Professor Natan da caacutetedra de

bioeacutetica da Universidade de Brasiacutelia a AMAVI natildeo tem a intenccedilatildeo de montar uma rede nesse

sentido Uma rede centralizadora na qual as Associaccedilotildees ououtros interlocutores soacute se

aproximam e a gente fica mandando ordenando e organizando natildeo eacute a nossa intenccedilatildeo Muito

menos fazer essa rede descentralizada na qual a gente tem conversas pontuais entre alguns

grupos e mesmo assim com uma hierarquia com algueacutem centralizando esse processo A nossa

visatildeo de rede assenta numa construccedilatildeo distribuiacuteda a rede do coletivo rede que tem poder na

matildeo de ningueacutem na matildeo de nenhuma associaccedilatildeo sem disputas poliacuteticas sem ideologias

partidaacuterias sem qualquer perspectiva que desagregue Falar de poder falar de empoderamento

no caso de redes eacute passar o poder passar a construccedilatildeo dessa noccedilatildeo de rede dessa noccedilatildeo de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo para as matildeos de quem eacute de direito que satildeo as Associaccedilotildees satildeo as

pessoas com doenccedilas raras

Natildeo cabe agrave Universidade natildeo cabe ao Ministeacuterio da Sauacutede natildeo cabe agrave Induacutestria

Farmacecircutica pautar as Associaccedilotildees com aquilo que pensam ser mais importante pelo

contraacuterio as Associaccedilotildees eacute quem devem dizer a esses interlocutores aquilo que eacute necessaacuterio a

informaccedilatildeo que querem que tipo de construccedilatildeo de conhecimento cientifico e de conhecimento

sobre doenccedilas raras precisam

Haacute quatro elementos que vatildeo ser principais na consolidaccedilatildeo da Rede Raras Primeiro o

Clustering ou seja deixar que a organizaccedilatildeo dessa rede apareccedila por si soacute deixar que vocecircs

das Associaccedilotildees de pacientes vocecircs aqui que se interessam pelo tema de doenccedilas raras que

vocecircs tragam elementos informaccedilatildeo e discussotildees para esse universo e espaccedilo que vamos

construir colaborativamente A segunda coisa importante eacute o Swarming que eacute permitir que essa

Rede se auto conduza Noacutes da Universidade de Brasiacutelia natildeo temos o menor interesse em

centralizar essas informaccedilotildees nos nossos repositoacuterios acadecircmicos NatildeoA gente quer que essa

informaccedilatildeo seja publicada partilhada e produzida por vocecircs e para vocecircs Cloning noacutes

queremos que os ramos dessa rede surjam espontaneamente Noacutes queremos que as associaccedilotildees

venham espontaneamente participar desse processo ajudem a construir essa Rede E por fim

o Crunching quanto maior a interatividade nessa Rede quando maior a troca de informaccedilatildeo

quanto maior a troca de expertises dessa futura Rede Raras mais forte ela vai ficar mais firme

103

os noacutes e as relaccedilotildees dessa rede vatildeo se estabelecer Essa eacute a noccedilatildeo de rede social que trazemos

aqui e que seraacute a base da Rede Raras Social natildeo eacute soacute um conjunto de pessoas mas eacute a interaccedilatildeo

entre essas pessoas

A construccedilatildeo de uma rede social somente existe se as associaccedilotildees de pacientes e as pessoas

interagirem Redes sociais tambeacutem natildeo satildeo somente ferramentas natildeo satildeo soacute o espaccedilo natildeo satildeo

soacute repositoacuterios satildeo pessoas interagindo Portanto natildeo adianta colocarmos um espaccedilo criar um

Facebook cover um Orkut cover ou alguma coisa parecida se eu natildeo tenho as pessoas

agregadas Redes sociais satildeo redes de comunicaccedilatildeo natildeo somente de informaccedilatildeo Eu natildeo posso

pretender que essa Rede Raras seja apenas um repositoacuterio de produccedilatildeo cientiacutefica Ela tem que

ser comentada por vocecircs tem que ser criticada por vocecircs ela tem que ser construiacuteda

conjuntamente Redes sociais satildeo ambientes de interaccedilatildeo natildeo somente de participaccedilatildeo Se

criarmos esse espaccedilo e ele ficar morto na internet perdido na internet isso natildeo vai fazer o

menor sentido Pedimos que as associaccedilotildees participem interajam Conhecimento eacute relaccedilatildeo

social Quando eu falo de rede social o conhecimento soacute emerge dessas interaccedilotildees Se eu falar

como eu jaacute falei aqui no iniacutecio que a Universidade de Brasiacutelia tem a pretensatildeo de agregar de

controlar essa rede eu estarei indo contra os princiacutepios de formaccedilatildeo de qualquer rede social

Porquecirc Porque eacute uma medida de natildeo rede Se eu concentrar essa rede na Universidade de

Brasiacutelia significa que eu tirei o poder de vocecircs que eu tirei o poder das Associaccedilotildees de

Pacientes de construir aquilo que elas querem aquilo que eacute a informaccedilatildeo necessaacuteria Entatildeo essa

perspectiva mais global eacute a ideia que trazemos agrave Rede Raras

Em suma eacute uma rede social online baseada em software livre com informaccedilatildeo livre

disponiacutevel para todos Cada interessado pode criar e moderar o seu proacuteprio espaccedilo esse espaccedilo

promove a formaccedilatildeo de grupos de blogs de paacuteginas envio de arquivos criaccedilatildeo de book

marcas links para as associaccedilotildees de vocecircs E ainda tem o microblog para comunicaccedilatildeo interna

de quem quiser participar dessa rede Essa aqui eacute a carinha da ferramenta A ferramenta bruta

Ela prevecirc espaccedilos especiacuteficos que devem ser preenchidos pelas associaccedilotildees A nossa eacute um

espaccedilo muito semelhante Quem frequenta Facebook quem frequenta Google Plus quem jaacute

frequentou Orkut vai conseguir se achar aqui sem nenhum problema Eacute uma rede um foacuterum

um grupo de discussatildeo Eacute um sistema que agrega diversas ferramentas Eacute possiacutevel criar perfisAgrave

medida que as pessoas agregarem informaccedilotildees conteuacutedos conhecimentos e forem

compartilhando as informaccedilotildees que tecircm sobre doenccedilas raras essa rede vai crescendo vai

agregando valor Por isso que eu faccedilo um apelo para vocecircs Eu natildeo estou preocupado em fazer

uma apresentaccedilatildeo muito acadecircmica Eacute mais um apelo eacute mais um chamado A gente precisa dos

104

Netweavers Quem que satildeo os Netweavers Satildeo as pessoas que articulam essa rede que estatildeo

trazendo esses elementos trazendo informaccedilatildeo11

Qual que eacute a nossa meta O representante da EURORDIS falou haacute pouco que eles possuem

essa rede em funcionamento na Europa que agrega participantes tambeacutem dos Estados Unidos

do Canadaacute da NORD12 e da CORD13 Como estamos usando o sistema Elgg que eacute todo

modular a nossa ideia eacute um dia aqui no Brasil termos uma rede de colaboraccedilatildeo nos moldes da

Rare Conect

O que temos nessa rede (wwwrareconnectorg) Tem informaccedilotildees trazidas pelos

pacientes tem informaccedilotildees trazidas pelos especialistas tem a contribuiccedilatildeo muacutetua entre

associaccedilotildees de pacientes Eacute esse espaccedilo livre onde as informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras seratildeo

produzidas onde a comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras vai ser feita onde as pessoas poderatildeo

buscar informaccedilotildees sobre as suas proacuteprias condiccedilotildees Eu vou encerrar por aqui Vou deixar o

endereccedilo e vou deixar aqui o apelo para vocecircs Na construccedilatildeo desse congresso fizemos muitas

discussotildees sobre como a gente iria conduzir essa questatildeo da rede dessa possibilidade futura

Mas eu queria fazer um apelo que as associaccedilotildees de pacientes aqui representadas fizessem pelo

menos a tentativa de explorar o espaccedilo dar sugestotildees ver as dificuldades de acesso para que a

gente consiga avanccedilar para uma rede como a Rare Connect

Obrigado gente e desculpem a informalidade

11 http16441147224fsrederaras 12 National Organization for Rare Disease wwwrarediseaseorg 13 Canadian Organization for Rare Disorders wwwraredisordersca

105

2ordf Mesa O que acontece no mundo

Yann Lee1 ndash Eacute um grande prazer estar com vocecircs

Pediram que eu apresentasse a Organizaccedilatildeo Europeia para Doenccedilas Raras e como tentamos

fazer o cuidado dos pacientes

Quem somos noacutes

EURORDIS eacute uma organizaccedilatildeo natildeo governamental dirigida para os pacientes A nossa

missatildeo eacute construir uma forte comunidade Europeia entre as Associaccedilotildees de pacientes e

diretamente ou indiretamente lutar contra o espaccedilo de doenccedilas raras na vida desses pacientes e

de suas famiacutelias Como vocecircs jaacute sabem haacute mais ou menos trinta milhotildees de pessoas que vivem

na Europa e satildeo afetadas por doenccedilas raras Quando noacutes falamos da Europa falamos em

quarenta e oito paiacuteses compondo esse conjunto A EURORDIS foi fundada em 1997 tem mais

de quinze anos e atualmente temos quase 600 organizaccedilotildees de pacientes e associaccedilotildees Estamos

em 54 paiacuteses ateacute fora da Europa em alguns casos e tambeacutem em 38 paiacuteses europeus Dentro da

nossa organizaccedilatildeo temos duas redes Uma chamada Alianccedilas Nacionais que eacute composta por 30

alianccedilas nacionais Tambeacutem temos 44 federaccedilotildees europeias Cada uma aborda um grupo ou

uma doenccedila rara ou um grupo de doenccedilas raras Juntos noacutes representamos mais de 4000

doenccedilas raras Para fazer as nossas atividades temos uma equipe de 26 pessoas em escritoacuterios

de Bruxelas e Barcelona e 130 voluntaacuterios Estes provavelmente satildeo a parte que eu mais me

orgulho porque satildeo eles que ajudam nas nossas atividades e na construccedilatildeo da nossa

comunidade

Uma das nossas formas de compor esta comunidade eacute organizando uma reuniatildeo anual de

membros que eacute uma reuniatildeo de dois dias com vaacuterios workshops e oficinas de capacitaccedilatildeo que

tentam envolver o maacuteximo possiacutevel de pacientes e famiacutelia de pacientes Noacutes comeccedilamos em

Barcelona em 2014 em Berlim e em 2015 seraacute em Madrid Organizamos esta reuniatildeo dedicada

aos pacientes agraves famiacutelias dos pacientes e levaacutemos os criadores de poliacuteticas puacuteblicas e

palestrantes

A conferecircncia europeia de doenccedilas raras acontece a cada dois anos com todos os parceiros

dessa organizaccedilatildeo As Conferecircncias comeccedilaram em 2001 em Copenhagen em 2012 em

Bruxelas e seraacute ano que vem em Berlim do dia oito a dez de maio E esta reuniatildeo tem mais

ou menos 700 participantes da Europa Tambeacutem construiacutemos a nossa comunidade atraveacutes

desse conselho de alianccedilas nacionais ligado agraves Doenccedilas Raras Noacutes temos um Conselho que

inclui vaacuterias alianccedilas Uma grande parceria acontece em Toronto e na Ameacuterica Latina aleacutem de

Taiwan e do JapatildeoTemos uma parceria especiacutefica entre a EURORDIS e a National

Organization for Rare Disorders nos EUA onde fazemos progressivamente parcerias em

atividades especiacuteficas

Este trabalho de alianccedilas nacionais trabalha especificamente no conceito que vocecircs jaacute

conhecem e noacutes tentamos trabalhar com uma estrateacutegia de accedilotildees e tambeacutem trabalhamos criando

planos nacionais para as doenccedilas raras Essa eacute nossa meta Outra rede principal com a qual

trabalhamos eacute a rede de Federaccedilotildees Europeias Satildeo 44 federaccedilotildees que fazem pesquisas

trabalhos em rede e centros de especializaccedilatildeo para estudar cada uma das doenccedilas raras Tambeacutem

trabalhamos com legislaccedilatildeo para os pacientes Coletamos informaccedilotildees e fazemos nossa rede

atraveacutes de algumas ferramentas Temos um site em sete liacutenguas diferentes que inclui portuguecircs

Temos muitas publicaccedilotildees em portuguecircs e provavelmente podem ser acessadas em todo o

Brasil Tambeacutem temos o site em espanhol e em inglecircs com bastante informaccedilatildeo Mas nas

1 Presidente da Europe Rare Diseases ndash EURORDIS (via skype)

106

outras liacutenguas tambeacutem temos bastante informaccedilatildeo traduzida Tambeacutem temos um email feito

nos sete idiomas incluindo portuguecircs Temos publicaccedilotildees documentos e brochuras e tudo

pode ser encontrado numa sessatildeo digital no site Noacutes temos um blog internacional mas mais

importante que isso noacutes temos comunidades online para os pacientes onde eles podem se

conectar ndash ldquoWe Are Connectrdquo

As principais conquistas ateacute agora tecircm sido para contribuir com a adoccedilatildeo de uma

regulaccedilatildeo na Uniatildeo Europeia direcionada agraves doenccedilas raras e para o desenvolvimento de

tecnologia para as doenccedilas raras na Europa Tambeacutem participamos de um documento sobre o

uso pediaacutetrico de produtos medicinais no acircmbito das doenccedilas raras em 2006 e em 2007 num

tratado de terapia avanccedilada meacutedica nessa aacuterea

Em 2012 trabalhamos um documento sobre os direitos dos pacientes que eacute transfronteiriccedilo

e abrange os direitos dos pacientes na Europa Tambeacutem contribuiacutemos para a adoccedilatildeodo uso de

um texto fundador que ajuda a formular a Poliacutetica Europeia sobre Doenccedilas Raras Hoje

trabalhamos muito de perto com vocecircs no desenvolvimento das poliacuteticas que estatildeo sendo

implementadas e criadas no Brasil E estamos trabalhando em conjunto como parceiros

Uma coisa muito importante para vocecircs do Brasil eacute que em conjunto com as legislaccedilotildees

noacutes tambeacutem estamos promovendo a doenccedila rara como prioridade na agenda poliacutetica em termos

de accedilotildees De 2007 a 2013 noacutes tivemos 500 milhotildees de euros dedicados agrave pesquisa atraveacutes da

promoccedilatildeo das doenccedilas raras Realmente eacute um crescimento muito grande no investimento e eu

acredito que no Brasil vocecircs tambeacutem querem ter essa mesma abordagem entre os principais

estados e a Federaccedilatildeo Nacional a niacutevel nacional Essa articulaccedilatildeo seria muito beneacutefica para

todos vocecircs O dia das doenccedilas raras acontece no uacuteltimo dia de fevereiro todos os anos porque

o dia das doenccedilas raras geralmente ou eacute dia 28 ou eacute dia 29 de fevereiro Foi criado no ano de

2008 pela EURORDIS junto com as suas Alianccedilas Nacionais Eu diria que esta foi nossa maior

contribuiccedilatildeo para a comunidade Vocecircs do Brasil satildeo muito participativos e a vossa influecircncia

providenciando diferentes ferramentas conteuacutedos mensagens viacutedeos e ideias apoiam as

discussotildees que ocorrem entre as Alianccedilas Nacionais

Na Ameacuterica do Norte nos Estados Unidos tambeacutem coordenamos alguns eventos desde o

ano de 2009 com os nossos parceiros No ano de 2013 tivemos uma participaccedilatildeo de 70 paiacuteses

no dia das doenccedilas raras Noacutes temos seis anos de experiecircncia em relaccedilatildeo a esse dia especiacutefico

das doenccedilas raras e a cada ano promovendo assuntos diferentes mas promovendo sempre o

cuidado por exemplo ldquoCuidado do Paciente - um Assunto Puacuteblicordquo ldquoPesquisa para os pacientes

- um assunto raro mais igual igual mas mais forterdquo Estamos focando este assunto de uma forma

local mas tambeacutem internacionalmente

Todos noacutes podemos melhorar a qualidade do cuidado dos pacientes com doenccedilas raras

Gostaria de concluir com aludindo ao poder das Associaccedilotildees de pacientes primeiramente

na pesquisa no diagnoacutestico no cuidado e no plano nacional A voz empoderada das

Organizaccedilotildees dos pacientes atraveacutes da anaacutelise natildeo somente baseada em anedotas ou

testemunhos eacute muito importante sobretudo o seu papel nas pesquisas atraveacutes da coleta de

dados Aleacutem disso estas organizaccedilotildees tecircm sido muito importantes no diagnoacutestico As

sssociaccedilotildees podem providenciar apoio financeiro agraves pesquisas e ajudar na criaccedilatildeo de uma

abordagem transacional

Tambeacutem temos observado junto com os colegas acadecircmicos que quando as organizaccedilotildees

de pacientes trabalham juntas e satildeo muito ativas na pesquisa e daqui resultauma rede que estaacute

crescendo e tudo isto satildeo fatores chave para o sucesso para promover mais a pesquisa cientiacutefica

e para gerar mais conhecimento na aacuterea Para dar um exemplo as organizaccedilotildees de pacientes

participam em diferentes redes de pesquisa elas participam em redes de pesquisa muito

teacutecnicas como terapia gecircnica ou a rede de pesquisa cliacutenica na Europa mas tambeacutem em projetos

especiacuteficos sobre doenccedilas raras concretas Com base nessas pesquisas nessas abordagens que

as Associaccedilotildees trazem sobre os pacientes e sobre as atividades de pesquisa noacutes podemos

107

promover documentos ajudar a criar as associaccedilotildees a formular poliacutetica de pesquisa Por

exemplo por que pesquisar doenccedilas raras Esta eacute uma aacuterea a que as associaccedilotildees podem dar

muito apoio

No ano passado noacutes organizamos uma pesquisa que contou com a participaccedilatildeo de 3000

pacientes e pais E por causa do levantamento que foi feito noacutes geraacutemos e publicaacutemos e a

primeira Declaraccedilatildeo Conjunta entre associaccedilotildees Uma declaraccedilatildeo de 10 chaves principais para

os pacientes de doenccedilas raras baseada em pesquisas em terapias mas que serve tambeacutem para

o apoio de serviccedilos de sauacutede Isso tem contribuiacutedo por exemplo para a elaboraccedilatildeo de uma

recomendaccedilatildeo europeia feita por uma comissatildeo de especialistas em doenccedilas raras Atraveacutes

deste exemplo vocecircs podem observar como os pacientes tecircm contribuiacutedo como parceiros junto

com os seus colegas acadecircmicos E natildeo soacute contribuindo como agentes de pesquisa mas

tambeacutem ajudando a formular uma poliacutetica e um processo

Noacutes tambeacutem temos trabalhado com cuidado e diagnoacutestico Fazemos levantamento junto

dos pacientes sobre o acesso ao cuidado e coletamos muita informaccedilatildeo para ser usada no nosso

trabalho de advocacy O fato de 25 dos pacientes terem dito que que estavam esperando entre

cinco a trinta anos desde os seus primeiros sintomas para conseguirem um diagnoacutestico eacute muito

seacuterio e sugere uma intervenccedilatildeo meacutedica incorreta ou ateacute cirurgias incorretas Este eacute um dado

muito interessante O resultado dessa pesquisa foi publicado num livro que pode ser baixado

no site e se chama ldquoA voz de doze mil pacientesrdquo Isto daacute uma ideia clara de alguns pontos

ligados ao diagnoacutestico e cuidado Esse livro tem sido muito importante para a formulaccedilatildeo de

uma poliacutetica europeia da Uniatildeo Europeia mas tambeacutem para as poliacuteticas nacionais

Eacute importante a anaacutelise da situaccedilatildeo para ver qual eacute a realidade das necessidades e quais satildeo

as prioridades Os pacientes satildeo quem tem uma visatildeo a longo prazo porque eles e as famiacutelias

realizam o cuidado dessas doenccedilas raras a tempo integral Eles possuem uma visatildeo muito mais

longo prazo do que os outros parceiros E isso provavelmente eacute uma das principais

contribuiccedilotildees dos pacientespara criar uma nova poliacutetica para o futuro Esta eacute a importacircncia de

envolver os pacientes no processo

A EURORDIS eacute o principal parceiro na organizaccedilatildeo de seminaacuterios nacionais e

internacionais sobre doenccedilas raras usando a metodologia e as melhores praacuteticas para conduzir

tais seminaacuterios Para que tudo isso possa acontecer de uma forma consistente e cooperativa os

pacientes tem oito representantesA participaccedilatildeo o empoderamento do paciente acontece a niacutevel

nacional internacional e para o desenvolvimento de poliacuteticas e realizaccedilatildeo de pesquisas

Sobre o desenvolvimento de medicamentos noacutes tambeacutem participamos ativamente em

diferentes comitecircs cientiacuteficos como o comitecirc para produtos pediaacutetricos o comitecirc para

medicamentos oacuterfatildeos e o comitecirc para terapias avanccediladas Aleacutem desta participaccedilatildeo em comitecircs

de medicamentos tambeacutem participamos no Consoacutercio internacional de pesquisa em doenccedilas

raras que foi estabelecido em diversos paiacuteses do mundo e que tem firmes objetivos

Convidamos vocecircs a participarem no proacuteximo dia de doenccedilas raras Se juntem a noacutes para

o melhor cuidado a doenccedilas raras

Muito obrigado

Virgiacutenia Llera2 ndash Em primeiro lugar muito obrigada Eacute uma honra estar no Brasil e com

vocecircs uma vez mais

Desde 2007 a Geiser que eacute a Organizaccedilatildeo latino-americana de doenccedilas raras trabalha com

os companheiros e colegas do Brasil Eu quero agradecer muito ao Rogeacuterio porque estou

realmente muito impressionada e contente pelo progresso que teve a AMAVI

2 Fundacion Geiser

108

A Geiser nasceu em 2002 na Argentina e agora estamos trabalhando em todo o continente

Temos delegados no Chile no Uruguai no Peru no Panamaacute no Brasil na Repuacuteblica

Dominicana no Equador no Meacutexico e tambeacutem em Washington Ao longo destes anos temos

gerado conhecimento acerca do que acontece em nosso continente Entatildeo por quecirc falar de

Ameacuterica Latina se jaacute temos bastantes problemas para pensar soacute aqui no Brasil Por quecirc

complicar

Eu na verdade acredito que tenho este papel o papel de complicar sobretudo o Ministeacuterio

da Sauacutede de cada um dos paiacuteses Na verdade ainda tem muito para fazer e se natildeo existe a

possibilidade de unir natildeo eacute possiacutevel gerar soluccedilotildees estrateacutegicas viaacuteveis a meacutedio e longo prazo

para as doenccedilas raras Para essas doenccedilas a medida para ser exitosa deve sair do niacutevel nacional

e gerar uma uniatildeo mais alargada

O que temos de positivo na Ameacuterica Latina eacute a proposta de trabalhar em conjunto com

todos os paiacuteses Em primeiro lugar temos a importante populaccedilatildeo de 600 milhotildees de habitantes

e temos um contexto paciacutefico ateacute ao momento As barreiras entre linguagens satildeo mais faacuteceis

Eu os entendo quando falam em portuguecircs e vocecircs me entendem E assim somos muito felizes

porque na realidade podemos facilmente nos entender pelo menos nos aspectos mais baacutesicos

Temos uma histoacuteria comum temos a possibilidade de argumentar possibilidades Temos

tambeacutem nossos desafios econocircmicos digamos que os desafios econocircmicos do Brasil

considerando que tem uma populaccedilatildeo muito maior satildeo similares aos demais paiacuteses latino-

americanos Tambeacutem temos paiacuteses que estatildeo liderando economicamente um protagonismo

internacional Temos a possibilidade de integrar estas iniciativas regionais a meacutedio e longo

prazo Lamento natildeo temos um levantamento seacuterio dos recursos jaacute existentes na Ameacuterica Latina

como por exemplo a EUROCAT3 na Europa Muitas das maacutes formaccedilotildees craniofaciais satildeo

doenccedilas raras Natildeo todas mas cerca de 80 de todas as doenccedilas raras satildeo geneacuteticase dependem

de muitos fatores que tecircm a ver com o ambiente e que natildeo podemos deixar todavia de estudar

Temostrabalhos epidemioloacutegicos em doenccedilas raras designadamentesobre o levantamento

de recursos exigidos para entender quais satildeo os recursos de que se necessita para saber quais

as combinaccedilotildees desses recursos exigidose ainda para fazer um levantamento das caracteriacutesticas

por nacionalidade e necessidades da populaccedilatildeo

Finalmente a Geiser como uma instituiccedilatildeo possui metas para alcanccedilar os seus objetivos

e uma delas eacute gerar relaccedilotildees institucionais entre os niacuteveis nacionais regionais e internacionais

Para alguns estudiosos dos 500 milhotildees de habitantes que temos na Ameacuterica Latina 218

milhotildees precisam de seguranccedila social Existe uma deficiecircncia na quantia financeira utilizada

pela Ameacuterica Latina e Caribe em 2008 Isso foi estimado em 73 milhotildees de doacutelares que

equivalem a 23 do gasto nacional em sauacutede para bens e serviccedilos nos Estado Unidos

A Ameacuterica Latina natildeo investe em sauacutede isto se falarmos de posiccedilatildeo poliacutetica e temos que

comeccedilar pensando que a sauacutede deve ser uma prioridade da naccedilatildeo 78 dos gastos correspondem

a mais ou menos sete doacutelares e meio E existe um problema importante a fragmentaccedilatildeo na

lideranccedila na persistecircncia da inequidades em sauacutede o que quer dizer que natildeo pode ser tratado

do mesmo jeito algueacutem que vive em qualquer capital de qualquer paiacutes Latino Americano e

algueacutem que vive no interior desses paiacuteses

92 dos paiacuteses da Ameacuterica Latina tem trabalhado em protocolos necessaacuterios para as

medicinas essenciais Na verdade isso varia entre 30 a 46 para cobrir 650 medicamentos e natildeo

estamos falando dos oacuterfatildeos mas dos medicamentos no total para cuidados essenciais

Finalmente a expiraccedilatildeo de algumas patentes nos Estados Unidos permitiu a introduccedilatildeo de

algumas patentes de biotecnologia no Brasil em 4 e na China com 24 Este slide mostra

onde se vecirc a inversatildeo que a Ameacuterica Latina tem feito em investigaccedilatildeo

3 httpwwweurocat-networkeu

109

Embora o Brasil esteja melhor em termos de patentes e investigaccedilatildeo na realidade estamos

muito longe de poder gerar uma visatildeo estrateacutegica que possua investigaccedilotildees seacuterias e nos

permitam estar em outra posiccedilatildeo

Temos atualmente quatro paiacuteses com leis nacionais sobre doenccedilas raras Argentina

Colocircmbia Equador e Peru Quero dizer que este primeiro passo eacute muito importante que

estamos muito contentes Assumimos isto como um resultado de 11 anos em que a Geiser vem

trabalhando no continente

O que significa ter uma lei sobre doenccedilas raras E por que isso eacute tatildeo importante Porque

essas situaccedilotildees sociais almejam um documento de nacionalidade e identidade o que significa

que institucionalmente existem entidades legais para serem reclamadas Se natildeo existem leis

em um paiacutes a proacutepria denominaccedilatildeo desde a instituiccedilatildeo nacional do que satildeo as enfermidades

raras fica difiacutecil de entender Por outro lado todas estas leis incluem a definiccedilatildeo a produccedilatildeo

de registros os programas educacionais os reembolsos os serviccedilos de sauacutede a informaccedilatildeo e a

inclusatildeo social embora de forma variaacutevel

Quais satildeo os problemas entre essas leis e outras que poderiacuteamos analisar Em primeiro

lugar os conceitos das leis nacionais surgidas entre os diversos paiacuteses satildeo diferentes Criou-se

uma barreira interna para depois gerar projetos comuns e planos estrateacutegicos em conjunto As

leis nacionais natildeo possuem relaccedilatildeo Eu tenho feito parte do conselho assessor da uacutenica lei

provincial desse regulamento que basicamente busca ter registros que cumpram com as

instacircncias internacionais Na Ameacuterica Latina satildeo poucos os paiacuteses que tecircm as enfermidades

raras definidas sobretudo aqueles com maior populaccedilatildeo Aleacutem disso os dados que podemos

obter acerca do gasto econocircmico de cada paiacutes com enfermidades raras natildeo eacute acessiacutevel Natildeo haacute

inclusatildeo e quando haacute como eacute o caso por exemplo de algumas leis natildeo eacute clara a participaccedilatildeo

dos pacientes

Quero mostrar rapidamente a posiccedilatildeo dos pacientes como membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Avaliaccedilotildees Tecnoloacutegicas em Sauacutede Sou parte de um grupo de cidadatildeos que

fiz uma Ementa internacional que natildeo tem validade sem ter alguns indicadores Participaram

14 paiacuteses da Ameacuterica Latina Na realidade os participantes foram na maioria pacientes mas

tambeacutem cuidadores e alguns profissionais Estes dados revelam que Entre 13e 44 estatildeo muito

inconformados e soacute entre um e 33 estavam satisfeitos e muito satisfeitos Este cenaacuterio soacute

muda se considerarmos aqui paiacuteses como a Austraacutelia e o Canadaacute

O que eacute que os pacientes dizem ser mais difiacutecil para eles Ou que eacute mais importante para

eles em termos de identificaccedilatildeo

63 disse que tem dificuldade em identificar um meacutedico 59 em conseguir um

diagnoacutestico 53 em aprender acerca de sua enfermidade e 52 em encontrar um tratamento

Portanto o tratamento natildeo estaacute no iniacutecio jaacute que 47 afirma ainda ter dificuldade em encontrar

um grupo de suporte Eacute portanto necessaacuterio que seja gerado suporte e cresccedilam os grupos

suporte

Quanto aos medicamentos oacuterfatildeos o Governo de diferentes paiacuteses da Ameacuterica Latina

tampouco tem legislaccedilatildeo clara acerca do que satildeo medicamentos oacuterfatildeos pelo que eacute muito

importante chegar a acordos nesse sentido A proposta eacute diferente daquela que se implanta

atualmente no Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil A proposta da Organizaccedilatildeo Panamericana de

sauacutede eacute que existam oacutergatildeos centralizados para a negociaccedilatildeo e para a descentralizaccedilatildeo dos

recursos para o cuidado Torna-se importante senatildeo fundamental que exista um organismo que

seja especiacutefico das enfermidades raras

Em relaccedilatildeo aos pacientes todas as enfermidades crocircnicas estatildeo mal cobertas portanto eacute

necessaacuterio que surja um espaccedilo especiacutefico para as enfermidades raras porque senatildeo vatildeo ficar

imersos em patologias ou em problemas mais frequentes como as enfermidades crocircnicas

desvinculando-se de suas caracteriacutesticas proacuteprias

110

Estas satildeo as propostas da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede em relaccedilatildeo aos medicamentos

oacuterfatildeos e as conclusotildees satildeo que na realidade as enfermidades raras e os medicamentos oacuterfatildeos

satildeo um problema de grande importacircncia que implicam um impacto econocircmico importante para

toda a populaccedilatildeo Existe uma separaccedilatildeo entre o Governo e as necessidades da populaccedilatildeo eas

Associaccedilotildees Latinoamericanas precisam ser mais visiacuteveis A Ameacuterica Latina precisa de planos

masters e natildeo soacute de accedilotildees pontuais que podem ser muito boas muito positivas sinal que temos

que aprender a trabalhar juntos e de uma maneira inteligente

Obrigada

Segolene Aymeacute4 ndash Primeiro eu gostaria de parabenizaacute-los pelo evento Na Europa a nossa

experiecircncia comeccedilou cautelosamente haacute 15 anos atraacutes

Eu vou abordar as soluccedilotildees que noacutes encontraacutemos e o quanto elas satildeo apropriadas para as

doenccedilas raras sendo assim um bom caminho para vocecircs seguirem

O nosso estatuto de drogas oacuterfatildes eacute de haacute 15 anos atraacutes mas claro que as drogas oacuterfatildes satildeo

apenas um elemento da poliacutetica Eacute necessaacuterio os pacientes terem acesso agraves drogas quando elas

satildeo desenvolvidas mas soacute 400 doenccedilas raras tecircm drogas O que eacute realmente importante eacute ter

publicaccedilotildees aprovadas porque o sistema tem que se adaptar agraves especificidades das doenccedilas

raras Nisto eu concordo com a apresentaccedilatildeo do Ministeacuterio que diz natildeo precisar de um

departamento oficial para as doenccedilas raras Na verdade precisam da sua implementaccedilatildeo oficial

e o sistema em geral eacute que tem que se adaptar agraves doenccedilas raras

Noacutes temos um programa para pensar como organizar o sistema e a primeira decisatildeo foi

melhorar os ambientes ambiente dos pacientes ambiente das enfermidades das poliacuteticas

promover informaccedilotildees principalmente pela internet A primeira coisa feita na Europa foi o

estabelecimento de um espaccedilo que na verdade era um site que estaacute tambeacutem em portuguecircs e eacute

muito visitado por pessoas do Brasil E este fez grandes diferenccedilas porque ali estatildeo informaccedilotildees

sobre deficiecircncias pacientes e os pacientes acessam os dados que abordam a deficiecircncia A

segunda coisa que fizemos foi montar um Network para sinalizar para os especialistas e cliacutenicos

que queriacuteamos especialistas colaborando na geraccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes que incluem

vaacuterias corporaccedilotildees natildeo apenas com um paiacutes mas com os outros paiacuteses Entatildeo esta foi uma

decisatildeo muito relevante

Hoje em dia os hospitais fazem os diagnoacutesticos baseados na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras mas essa classificaccedilatildeo de doenccedilas raras natildeo inclui as maacutes formaccedilotildees

craniofaciais Entatildeo se as doenccedilas craniofaciais natildeo constarem na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras essas doenccedilas tornam-se invisiacuteveis Assim na publicaccedilatildeo seguinte da

classificaccedilatildeo de Doenccedilas raras as doenccedilas craniofaciais passaram a estar incluiacutedas Esta foi uma

vitoacuteria Noacutes estabelecemos um Comitecirc de peritos em doenccedilas craniofaciais e eu quero insistir

nisso porque acho que eacute importante vocecircs saberem isso eacute uma organizaccedilatildeo social onde as

pessoas se expressam dizem as suas necessidades onde a voz do povo eacute ativa Mas vocecircs natildeo

podem fazer isso se natildeo tiverem os peritos e cliacutenicos com vocecircs neste caminho Neste comitecirc

que temos na Europa noacutes temos mais de 50 e todos eles possuem voz e representam todo

mundo Na Franccedila somos mais avanccedilados em alguma aacutereas embora os japoneses sejam

melhores em outras aacutereas mas isso eacute fascinante e podemos copiar o que eacute trabalhado em outros

paiacuteses

Noacutes colocamos muita energia na promoccedilatildeo do network entre os paiacuteses sobre as doenccedilas

raras Conseguimos convencer os Estados Unidos a fazerem parte da Associaccedilatildeo Internacional

de Doenccedilas Raras e eu torccedilo para que o Brasil faccedila parte tambeacutem jaacute que estou convidando Esta

eacute uma iniciativa onde os paiacuteses discutem prioridades Temos uma plataforma para registrar e

encontrar as doenccedilas raras e este eacute um futuro muito bonito Noacutes podemos mensurar o efeito de

4 EU Committee of Experts of Rare Diseases ndash EUCERD

111

todas estas iniciativas porque temos incentivos das induacutestrias Noacutes podemos dizer que nada

disso teria acontecido se natildeo tiveacutessemos trabalhado com as Organizaccedilotildees promovido o network

para construccedilatildeo das poliacuteticas e junto com os Ministeacuterios natildeo tiveacutessemos uma uacutenica voz

expressando o que a sociedade civil queria Entatildeo por favor faccedilam com que as organizaccedilotildees

trabalhem juntas

Em vaacuterios paiacuteses tivemos de instalar uma organizaccedilatildeo para os pacientes com doenccedilas raras

e estabelecer o contato com os Ministeacuterios da Sauacutede E fizemos um acordo Em dezembro noacutes

fechaacutemos algo que obriga os paiacuteses a terem um plano para doenccedilas raras Eacute claro que alguns

paiacuteses tecircm um plano mas natildeo o colocam em praacutetica o que mostra que o plano eacute pouco efetivo

mas tambeacutem haacute paiacuteses com estrateacutegias muito boas

Eacute preciso a que todos os meacutedicos e pacientes saibam onde estaacute a expertise Eacute muito

gratificante e difiacutecil de organizar isto tudo mas noacutes sabemos o trabalho que tivemos e os erros

que cometemos Se vocecircs estiverem interessados temos este relatoacuterio do que recomendamos

e eu estarei pronta a ajudar Noacutes temos documentos de qualidade para definir quatildeo expert eacute cada

centro Noacutes temos os laudos dos laboratoacuterios e aqui podemos ver os nuacutemeros com as doenccedilas

que foram testadas neste paiacutes e em paiacuteses natildeo europeus outros testes Entatildeo se vocecircs

escolherem doenccedilas craniofaciais vocecircs tecircm um leque de atividades e que assim noacutes podemos

colaborar Precisamos de mais corporaccedilotildees e melhores informaccedilotildees sobre doenccedilas raras Noacutes

oferecemos um site em sete liacutenguas Por favor usem este site O Brasil participa com o network

e tem acesso a todas as informaccedilotildees deste site e ele daacute conselhos sobre gastos organizaccedilatildeo

laboratoacuterios registros e isso eacute muito vaacutelido para as visitas do Brasil e noacutes temos cerca de 2000

visitas por dia

Noacutes disponibilizamos todos estes documentos no site que vocecircs podem usarTemos a lista

de doenccedilas raras em portuguecircs e isto eacute muito valioso para que possam mostrar para os

Ministeacuterios mas tem vaacuterios outros documentos

Concluindo eu posso dizer que eacute possiacutevel ter um impacto real sobre as poliacuteticas como noacutes

temos feito na Europa Com certeza a dinacircmica vai ser nacional porque eacute onde a poliacutetica vai

ser encontrada mas assim como jaacute disseram vocecircs podem contribuir para a evoluccedilatildeo

internacional porque muitas das colaboraccedilotildees satildeo testadas internacionalmente E insistam em

networks e organizaccedilotildees e usem a nossa experiecircncia e encontrem vosso caminho Porque com

certeza cada paiacutes eacute especiacutefico

Obrigada

112

3ordf Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as

tecnologias sociais

Marcelo Neves1 ndash A questatildeo que eu vou tratar aqui eacute sobre o problema de inclusatildeo juriacutedica

porque a questatildeo que noacutes estamos tratando eacute a questatildeo de acesso aos benefiacutecios sociais e acesso

a direitos Neste sentido o problema das doenccedilas raras passa por uma questatildeo de inclusatildeo social

e inclusatildeo juriacutedica Eacute claro que haacute as formas diversas de exclusatildeo a exclusatildeo que eacute fundada

economicamente em que a pessoa natildeo tem as condiccedilotildees de acesso agrave economia agrave sauacutede e agrave

educaccedilatildeo por fatores econocircmicos mas natildeo eacute soacute essa a forma de exclusatildeo embora tatildeo comum

na Ameacuterica Latina

Haacute a forma de exclusatildeo que decorre da falta do reconhecimento do outro como pessoa e

isso pode levar agrave exclusatildeo na medida em que se generaliza institucionalmente e natildeo fica apenas

numa esfera limitada privada Eacute aiacute que noacutes temos a exclusatildeo decorrente na negaccedilatildeo do

reconhecimento eacutetnico do reconhecimento do gecircnero exclusatildeo de grupos eacutetnicos da mulher

por opccedilatildeo sexual tambeacutem contra os homossexuais e ateacute mesmo decorrente de caracteriacutesticas

regionais

Uma dessas exclusotildees decorrente da falta de reconhecimento eacute aquela que atinge as pessoas

com deficiecircncias isso implica falta de acesso a benefiacutecios sociais e tambeacutem a falta de acesso a

direitos fundamentais Nesse plano natildeo se trata apenas de poliacuteticas de poliacuteticas gerais sociais

gerais mas de poliacuteticas especiais inclusive accedilotildees afirmativas pois estas no seu caraacuteter

compensatoacuterio natildeo satildeo contraacuterias agrave igualdade pelo contraacuterio possibilitam o exerciacutecio e a

efetivaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade Para que haja inclusatildeo na aacuterea da sauacutede noacutes temos que

considerar o direito agrave sauacutede como um direito determinado Natildeo se trata de um direito civil

individualista que se realiza adjucatoriamente de uma maneira isolada como a defesa da

propriedade da liberdade de expressatildeo e da liberdade de consciecircncia Estes satildeo direitos

especificamente civis as chamadas liberdades negativas Aqui se trata de um direito agrave

prestaccedilatildeo do Estado aos direitos sociais

Os direitos sociais embora possam ser exercidos individualmente natildeo satildeo direitos

tipicamente individuais eles pressupotildeem toda uma estrutura social atuando a favor do

respectivo indiviacuteduo e neste sentido o direito agrave sauacutede eacute entendido como direito social Mas na

soluccedilatildeo dos problemas especialmente no caso de doenccedilas raras e considerando o direito agrave

sauacutede garantido universalmente e integralmente pela Constituiccedilatildeo noacutes temos dois caminhos no

Brasil Um eacute a soluccedilatildeo judicial O modelo que seria uma exceccedilatildeo excepcionaliacutessima passa a ser

a regra e neste momento que o modelo judicial que eacute muito mais adequado para as demandas

de direito civil passa a ser a regra noacutes temos um desastre no modelo de Sauacutede Puacuteblica Quer

dizer porque o judiciaacuterio natildeo estaacute pareado para resolver e oferecer poliacuteticas puacuteblicas ele decide

em cada caso concreto muitas vezes distorcendo todo o sistema de sauacutede com muitas vezes

indenizaccedilotildees ou pagamentos de tratamentos milionaacuterios para pessoas de classes mais elevadas

destruindo toda a poliacutetica municipal preventiva na aacuterea social como ocorreu nos municiacutepios

Esse modelo natildeo eacute um modelo que possa ser considerado consequente O que precisamos eacute que

o judiciaacuterio fique no pano de fundo secundaacuterio O que precisamos eacute de poliacuteticas puacuteblicas

fundadas na legislaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo pelo executivo A legislaccedilatildeo tambeacutem eacute uma ilusatildeo

porque assim a gente cai no simbolismo na legislaccedilatildeo simboacutelica Vocecirc cria uma lei e sai todo

mundo feliz daqui criaram a lei tal criaram a convenccedilatildeo da pessoa deficiente Isso em si mesmo

1 Professor Titular de Direito puacuteblico da UnB

113

eacute muito pouco porque a legislaccedilatildeo muitas vezes eacute feita para acalmar os acircnimos e para eleger

os poliacuteticos na proacutexima eleiccedilatildeo A isto se chama legislaccedilatildeo simboacutelica pois natildeo se criam as

condiccedilotildees para a sua efetividade A mesma coisa acontece com a nossa Constituiccedilatildeo que em

grande parte eacute uma constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica jaacute que ela tem pouca eficaacutecia praacutetica em

vaacuterios dos seus dispositivos

Natildeo se trata entatildeo apenas de legislaccedilatildeo Tem que haver uma complementaccedilatildeo da poliacutetica

por um executivo que esteja disposto a realocar recursos neste sentido Noacutes precisamos de

transformaccedilotildees profundas na relaccedilatildeo com a sauacutede Evidentemente a relaccedilatildeo entre o legislativo

e o executivo nas poliacuteticas puacuteblicas natildeo daraacute certo se natildeo existir uma sociedade civil altamente

articulada principalmente no oferecimento de informaccedilatildeo e que possa pressionar os poderes

puacuteblicos Natildeo soacute oferecer elementos cognitivos elementos informacionais e modelos para

soluccedilatildeo do problema mas tambeacutem pressionar os poderes puacuteblicos

E quanto as doenccedilas raras

O Professor Maacuterio Saporta ontem falou de mais de 7000 doenccedilas raras e isso implica

custos altos na aacuterea de pesquisa Para enfrentar isso noacutes temos a sociedade civil evidentemente

Tecircm que existir redes de informaccedilotildees mas precisamos de pesquisas nos centros de pesquisa

das Universidades pesquisas intensas que precisam de financiamento E evidentemente

decorrente destas pesquisas noacutes poderemos ter unidades de sauacutede puacuteblica para diagnoacutestico e

tratamento Mas sem essa base que eacute cariacutessima de pesquisa como acentuou ontem o Professor

noacutes natildeo teremos condiccedilotildees de possibilitar modelos adequados de sauacutede puacuteblica e tambeacutem de

classificaccedilatildeo de medicamentos a entrar numa eventual futura lista do SUS N esse sentido isto

eacute algo caro

Um deputado ontem falava o deputado Pestana muito preparado ldquose eu dou muito

dinheiro para doenccedilas raras eu vou prejudicar o saneamento baacutesico o caraacuteter preventivo das

esquistossomoses dessas doenccedilas mais populares que atingem em massa a populaccedilatildeordquo Me

parece no entanto que eacute enganosa a ideia dele

Na sauacutede puacuteblica os recursos devem ser racionalizados e a racionalizaccedilatildeo de recursos natildeo

eacute tirar de uma aacuterea da sauacutede para pocircr na outra Eacute realmente realocar dinheiro que estaacute em

mordomias governamentais em gastos que paiacuteses desenvolvidos como a Escandinaacutevia a

Alemanha que tem um bom Sistema Puacuteblico de sauacutede natildeo existem Quer dizer o poliacutetico vai

de metrocirc para o Parlamento natildeo tem carro para poliacutetico carro para ministro do supremo eles

andam com seu taacutexi pagando com seu dinheiro Os custos de mordomias e a corrupccedilatildeo dentro

do proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede a alta corrupccedilatildeo prejudicam a falta de recursos na sauacutede Natildeo

se trata de tirar dinheiro daquela massa de excluiacutedos da sauacutede para trazer para as doenccedilas raras

Natildeo se trata disso se trata de realocar recursos que natildeo servem ao desenvolvimento do Brasil

mas sim a satisfaccedilatildeo de elites e de elites que satildeo privilegiadas ou sobreintegradas que estatildeo

acima da lei e estatildeo acima da proacutepria Constituiccedilatildeo Neste sentido eacute fundamental portanto a

reduccedilatildeo com gastos desnecessaacuterios e combate agrave corrupccedilatildeo para que noacutes tenhamos poliacuteticas

seacuterias e consequentes de acesso agrave sauacutede especialmente para as doenccedilas raras

Para terminar se trata da pessoa e natildeo da doenccedila rara eacute a pessoa com deficiecircncia e a

pessoa implica a natildeo animalizaccedilatildeo do outro a natildeo tratar o outro como mera corporeidade mas

tratar o outro como algueacutem que eacute reconhecido socialmente produtor de sentido e com

sentimentos Neste sentido eu concluo afirmando que todo o trabalho articulado entre

sociedade civil o legislativo e o executivo implica algo que eacute a afirmaccedilatildeo da pessoa com doenccedila

como incluiacuteda integralmente como pessoa partindo evidentemente do princiacutepio Constitucional

da dignidade da pessoa humana

Muito obrigado

114

Muna Odeh2 ndash Boa tarde

O tema em questatildeo refere-se a tecnologias sociais Eu vou fazer uma introduccedilatildeo sobre o

que satildeo as tecnologias sociais qual eacute o cenaacuterio no contexto do Brasil e vou situar em que sentido

eu vejo a experiecircncia especiacutefica da AMAVI e como ela reflete ou como ela representa

caracteriacutesticas de uma tecnologia social E por fim o que isso significa

Eu gostaria de chamar a atenccedilatildeo de vocecircs que estiveram aqui hoje de manhatilde para um dado

que foi recorrente nas apresentaccedilotildees Tanto no contexto do Brasil como no cenaacuterio

internacional a questatildeo eacute o foco o papel e a importacircncia central dos movimentos sociais neste

cenaacuterio e qual eacute o impacto disso Eu vou tambeacutem assinalar que eu fiz uma extraccedilatildeo de muitas

das correspondecircncias que eu tenho recebido do Rogeacuterio representando a AMAVI e atraveacutes

disto vou mostrar como eu analiso a situaccedilatildeo desta Associaccedilatildeo

A AMAVI se identifica como organizaccedilatildeo natildeo governamental apartidaacuteria natildeo religiosa

com foco no fomento de atividades realizadas aos pacientes com doenccedilas raras de maneira

articulada e integrada com parceiros e demais interessados e fundaccedilatildeo agrave data de 26 de marccedilo

de 2011

A 9 de fevereiro de 2011 exatamente eu recebi no e-mail do departamento da UnB de

Sauacutede Coletiva uma correspondecircncia do Rogeacuterio que eacute o presidente da AMAVI comunicando

sobre a AMAVI e o trabalho que eles estatildeo fazendo sobre doenccedilas raras Eu respondi a ele no

mesmo dia e a partir daiacute comeccedilou nosso relacionamento e mais especificamente o meu

conhecimento desse trabalho Eu estou tomando a AMAVI como exemplo porque poderiam

ser outros movimentos sociais mas ocorre que eu estou analisando o contexto dessa associaccedilatildeo

em particular Ela se propotildee como finalidades promover a Assistecircncia Social contato entre

indiviacuteduos e alianccedilas com grupos nacionais e internacionais O leque eacute bem amplo orientar e

defender os direitos representar e defender os direitos dos pacientes Ela eacute ainda de caraacuteter

voluntaacuterio A questatildeo do conhecimento que vimos hoje de manhatilde eacute uma das questotildees

fundamentais em todo esse cenaacuterio Em termos de missatildeo a AMAVI diz que a missatildeo eacute acolher

e orientar os familiares e pacientes de doenccedilas raras por meio de accedilotildees de integralizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo dos diversos seguimentos da sociedade E a visatildeo eacute ser reconhecida pelos diversos

seguimentos da sociedade como importante fomentadora da discussatildeo sobre doenccedilas raras

Alguns clipes algumas notiacutecias que se encontram na paacutegina da AMAVI falam das realizaccedilotildees

ainda de 2011 e do crescimento do interesse das pessoas e da participaccedilatildeo tambeacutem destas

pessoas Interessa-me o olhar estrateacutegico a maneira que vai se identificando a atuaccedilatildeo da

AMAVI se baseando nas necessidades na formaccedilatildeo conhecimento capacitaccedilatildeo garantia de

direitos suporte construccedilatildeo de conhecimentos mobilizaccedilatildeo atendimento ao suporte assim

como a lista de todas as vertentes os pacientes as associaccedilotildees o Estado a academia a

sociedade a Induacutestria traccedilando as accedilotildees que satildeo precisas e como isso se articula com a AMAVI

e com o movimento

A minha proposta com esta fala e eacute tentativa mesmo eacute de propor o conjunto de

conhecimentos o conjunto de vivecircncias de experiecircncias que as Associaccedilotildees civis como a

AMAVI representam como tecnologias sociais

O que satildeo tecnologias sociais entatildeo Eu vou trabalhar com duas definiccedilotildees que existem

aqui no contexto do Brasil A primeira eacute da fundaccedilatildeo Banco do Brasil que eacute a mais conhecida

e que diz ldquoUma tecnologia social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representam efetivas soluccedilotildees de

transformaccedilatildeo socialrdquo Um exemplo claacutessico vou sair agora da questatildeo das doenccedilas raras mas

eacute preciso abrir um pouco o leque para entender quando se fala das tecnologias sociais o modelo

Omodelo claacutessico por exemplo eacute o soro caseiro de que todo mundo jaacute ouviu falar Sabiam que

2 Professora do Departamento de Sauacutede Coletiva da UnB

115

era uma tecnologia social baseada em conhecimento quase milenar Veio da Iacutendia e se espalhou

pelo mundo atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede De qualquer modo o soro caseiro eacute

classificado como uma tecnologia social e consiste na mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que

combate a desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil Outro exemplo satildeo as cisternas de

placas muito usadas nas regiotildees de seca no Brasil

As tecnologias sociais podem assim aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento tecnico-cientiacutefico Importa que sejam efetivas e reaplicaacuteveis propiciando

desenvolvimento social em escala

Retomando a questatildeo do soro caseiro em 197071 na fronteira entre o Paquistatildeo e o

Bangladesch que era Paquistatildeo houve uma guerra civil Laacute se implementou uma experiecircncia

muito bem sucedida que vingou depois tonando-se um exemplo de sucesso Apesar da

inexistente infraestrutura de hospitais e de cliacutenicas conseguiram atraveacutes do soro caseiro

trabalhar e superar problemas seacuterios que estavam acontecendo com a populaccedilatildeo porque era

uma regiatildeo que tambeacutem sofria muito de coacutelera

Vocecircs conhecem a figura do Mahatma Gandhi

Entatildeo fala-se da tecnologia como sendo uma abordagem uma metodologia um modo de

vivenciar e de trabalhar o problema uma problemaacutetica Mas no caso de Gandhi a roca de fiar

como siacutembolo de resistecircncia contra a presenccedila britacircnica na eacutepoca eacute um exemplo de tecnologia

social

Outra definiccedilatildeo no contexto do Brasil eacute a do Instituto de Tecnologia Social o ITS que diz

que ldquoo conjunto de teacutecnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas ou aplicadas na

interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo apropriadas por ela que representam soluccedilotildees para a inclusatildeo social

e melhoria para as condiccedilotildees de vidardquo

A ideia aplicar ou passar esse conjunto de conhecimento de experiecircncia de know how que

foi construiacutedo e trabalhar para que taal seja reaplicado em outros contextos e em outras

experiecircncias

O que qualifica entatildeo uma tecnologia social Ela busca as soluccedilotildees leva em conta as

tradiccedilotildees do contexto a peculiaridade daquele contexto em que ocorrem saberes locais e o

poder natural da regiatildeo Ela natildeo se define apenas pelo impacto dos resultados ela tece o

conjunto dos relacionamentos a disseminaccedilatildeo das informaccedilotildees do conhecimento das partes

envolvidas e a transformaccedilatildeo da realidade das pessoas De fato as experiecircncias que foram

trazidas realmente objetivam essa questatildeo da inclusatildeo da cidadania e a questatildeo da

transformaccedilatildeo da sociedade

Tacircnia Almeida3 ndash Boa tarde a todos

Eu quero apresentar para vocecircs o Samuel O Samuel eacute meu filho e tem quatro anos Com

um mecircs e meio ele entrou no hospital ningueacutem sabia o que el tinha Depois de dois anos e meio

ele foi diagnosticado com Siacutendrome de Crab Crab eacute uma doenccedila rara degenerativa natildeo tem

cura natildeo tem tratamento soacute paliativos e para deixaacute-lo estaacutevel Ele ouve e presta atenccedilatildeo no que

a gente fala Entatildeo eacute isso eu queria apenas apresentar o Samuel a vocecircs porque como um

palestrante falou hoje aqui muita gente natildeo conhece e natildeo tem noccedilatildeo do que eacute uma doenccedila

rara A gente conhece a Neurofibromatose o Siacutendrome de Down mas outras coisas especiacuteficas

natildeo conhecemos E eu tive isso muito presente quando meu filho fez trecircs anos Eu resolvi dar

uma festinha de aniversaacuterio para ele Um colega meu que sabia da situaccedilatildeo dele das vaacuterias

internaccedilotildees e que estava sempre presente com a gente conversando falando mas que nunca

tinha visto o Samuel no aniversaacuterio dele esse colega chegou laacute ele falou Tacircnia eu natildeo sei o

que eu faccedilo agora com o presente do Samuel E aiacute eu disse Porquecirc E ele Porque o que

3 Matildee de paciente e advogada

116

eu comprei para ele acho que natildeo eacute devido E eu Natildeo se vocecirc comprou para ele eacute dele

Quando eu abri era um estojinho de pintura onde a crianccedila mexia e tal Quer dizer por mais

que ele soubesse da situaccedilatildeo do Samuel ele natildeo tinha a visatildeo de como seria o Samuel

Eu natildeo sou palestrante sou a matildee do Samuel entatildeo se eu gaguejar ningueacutem vai achar estaacute

Eu vim para falar na mesa dobre Inclusatildeo Juriacutedica de Pessoas com Doenccedilas Raras mas na

realidade eu queria falar sobre a dificuldade da inclusatildeo juriacutedica a realidade da famiacutelia que

passa por isso com alguns exemplos

Eu coloquei ali ldquoTacircnia Maria matildee de Samuelrdquo porque apesar de advogar apesar de

participar de uma Associaccedilatildeo de consumidores ANACOTRA apesar de ser funcionaacuteria

puacuteblica apesar de Teacutecnica em Enfermagem para cuidar do Samuel hoje eu sou conhecida

apenas como ldquoa Tacircnia matildee do Samuelrdquo E hoje estou aqui como tal

O objetivo da minha apresentaccedilatildeo eacute mostrar o que jaacute foi bastante falado aqui que natildeo

existem poliacuteticas puacuteblicas que atendam as famiacutelias com portadores de doenccedilas raras E isso

deixou de ser uma questatildeo discutida no executivo e no legislativo para ser uma questatildeo

discutida no judiciaacuterio porque eacute a uacutenica saiacuteda que noacutes encontramos buscar liminares para

atender as nossas necessidades Como fazer com um filho que precisa sair do Bipap para ir para

o respirador mas o plano de sauacutede ou o SUS natildeo tem cadastrado o coacutedigo do respirador para

dar para Home Care

Meu filho hoje estaacute em Home Care entatildeo natildeo funciona Vocecirc fica laacute esperando e nada

acontece Ateacute incluir o coacutedigo do respirador para ser atendido ningueacutem atende E vocecirc eacute

colocado de forma generalista Vocecirc tem aquele hall e se vocecirc natildeo estiver incluiacutedo exatamente

naquele hall vocecirc natildeo eacute atendido Entatildeo apesar de natildeo ser o ideal hoje a uacutenica forma de

conseguirmos alguma coisa eacute atraveacutes do judiciaacuterio eacute atraveacutes de liminares atraveacutes de accedilotildees que

a proacutepria famiacutelia vai buscar Eacute a falta de apoio estrutural aleacutem da emocional

Noacutes hoje temos vaacuterias Associaccedilotildees que vecircm tratar o paciente vecircm buscar o paciente e

graccedilas a Deus noacutes temos a AMAVI e outras Associaccedilotildees que nos daacute esse apoio Mas a falta de

estrutura em si eacute uma coisa que talvez muita gente natildeo tem noccedilatildeo Alguns exemplos reais

algueacutem jaacute imaginou a conta de luz de quem tem um filho em casa precisando 24 horas por dia

Acho que jamais passou pela cabeccedila de algueacutem Por exemplo a Light tem a questatildeo da tarifa

social mas para vocecirc se incluir na tarifa social vocecirc tem que ser ou beneficiado do Loas ou do

Bolsa Famiacutelia Para vocecirc ser beneficiaacuterio do Loas ou do Bolsa Famiacutelia vocecirc tem que ser muito

pobre ou seja soacute ter um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia Graccedilas a Deus eu natildeo estou dentro

desse um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia eacute um pouquinho mais mas enfim natildeo fui inclusa

na tarifa social Entatildeo eu natildeo tenho como economizar energia eu natildeo tenho como ligar o ar

condicionado por duas horas deixar o ambiente fechado para refrescar o ar Meu filho precisa

de respirador 24 horas de um concentrador de oxigecircnio 24 horas e eu natildeo tenho como desligar

fora os outros aparelhos Entatildeo eacute uma coisa que ficou para encargo dessa famiacutelia porque

juridicamente isso natildeo eacute tratado

Outro exemplo que eu costumo dar eacute a ANVISA4 Noacutes tivemos um representante aqui que

jaacute foi da ANVISA e noacutes temos o exemplo no Rio de Janeiro duma crianccedila que precisava de

um determinado remeacutedio para a doenccedila natildeo evoluir e o distribuidor por ser um medicamento

oacuterfatildeo o distribuidor parou ou seja por ser um medicamento que natildeo estava sendo viaacutevel Para

importar esse medicamento demorava dois meses para chegar aqui e as burocracias enfim No

desespero a matildee conseguiu um laboratoacuterio que soubesse da foacutermula do remeacutedio e fizesse o

remeacutedio e entregasse para crianccedila A ANVISA multou o laboratoacuterio e quase fechou esse

laboratoacuterio porque ele natildeo tinha licenccedila de fato para fabricar o remeacutedio Esta eacute outra situaccedilatildeo

que juridicamente natildeo tem amparo nenhum

4 httpportalanvisagovbrwpsportalanvisahome

117

Auxiacutelio e acompanhamento eacute outro exemplo No Congresso existem inuacutemeros projetos de

lei em andamento sobre auxiacutelio e acompanhamento auxiacutelio de acompanhantes O que eacute o

auxiacutelio ao acompanhamento Vou dar o exemplo de uma matildee do Rio de Janeiro tambeacutem filho

uacutenico considerado milagre Conseguiu verba para viajar para o Hospital de Doenccedilas

Mitocondriais de Milatildeo ou seja ela conseguiu verbas natildeo foi o Governo que deu Ningueacutem

ajudou De acordo com o especialista da unidade italiana o problema de Harry estaacute na carecircncia

que seu organismo tem para produzir energia A Secretaria de Sauacutede alega que a natildeo

distribuiccedilatildeo do leite que ele precisa ndash porque ele precisa de um leite especial ndash eacute culpa do

distribuidor poreacutem ainda de acordo com a matildee o alimento eacute encontrado agrave venda na internet

em algumas farmaacutecias do Rio de Janeiro Este ano os amigos tecircm se virado para comprar as

latas de leite que duram apenas dois dias e custam R$17800 Ela fica pensando nas pessoas que

natildeo tem nenhuma condiccedilatildeo de comprar o leite Ela eacute ex-professora e tradutora atualmente

passa dia e noite soacute cuidando do filho que dorme cerca de cinco horas alternadas por dia tendo

como preocupaccedilatildeo maior o horaacuterio da alimentaccedilatildeo do menino que satildeo marcadas no despertador

a cada duas horas Ele natildeo come arroz feijatildeo verduras e outras coisas somente o leite O meu

maior medo eacute que se alimente fora do prazo porque corre o risco de enfraquecimento e

consequentemente de morte suacutebita Ningueacutem imagina que isso possa existir natildeo eacute

Conversei pessoalmente e essa matildee me relatou Tacircnia antigamente eu vivia no salto de

terninho andando para laacute e para caacute no meu trabalho Hoje eu vendo chocolate caseiro em casa

porque eu preciso cuidar do meu filho

Ningueacutem olha para isso ningueacutem enxerga isso Eu tento trabalhar tento estudar mas

assim eu tenho patrotildees muito legais e por trabalhar em uma empresa puacuteblica consigo adiantar

licenccedilas precircmio e feacuterias Acho que eu natildeo vou tirar feacuterias por uns dez anos ateacute porque meu

filho ficou internado um ano no hospital e eu fui tirando tudo que eu tinha direito mas natildeo

larguei ele laacute O pessoal fala assim Ah mas vocecirc pode deixar com algueacutem Como deixar

algueacutem Outro dia em uma das uacuteltimas internaccedilotildees dele ndash ele tambeacutem toma um leite especiacutefico

que ele tem problema de amocircnia e natildeo pode ingerir muita proteiacutena ndash quando eu olhei eu sei a

quantidade do frasco de leite e quando eu olhei estava cheio e ai eu falei Gente estaacute errado

isso daqui Quando eu fui ver o leite era de outra crianccedila Caramba a pessoa tem que estar

ligada e se eu natildeo estivesse ali Ele teria tomado o leite que poderia levaacute-lo a oacutebito porque

natildeo era o leite que ele pode tomar

Eacute muito importante essa questatildeo Quando se quer atingir a famiacutelia que se olhe esse aspecto

da famiacutelia poder cuidar do paciente Iisso vai esbarrar numa seacuterie de inconstitucionalidades

porque vai cair na questatildeo de quem paga a conta e vamos ver o que a gente consegue Soluccedilotildees

Quem sou eu para dar soluccedilotildees para um problema tatildeo complexo mas satildeo pontos que a gente

tenta jogar para ver se algueacutem escuta e tenta ouvir um pouco das nossas necessidades No direito

noacutes falamos muito sobre princiacutepio da igualdade que para ser atingido a gente precisa tratar os

desiguais como desiguais Eacute aquela velha histoacuteria do exemplo que eu dei da Light As pessoas

que passam por esse problema natildeo estatildeo inseridas no contexto que a Light coloca de tarifa

social entatildeo tem que ser tratada de uma forma diferente infelizmente Natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro seria necessaacuterio que existisse uma verba destinada a atender

individualmente caso a caso dentro do grupo de casos

Eu fiquei muito feliz ontem ao saber na audiecircncia puacuteblica a que noacutes assistimos ao saber

que Eduardo Suplicy estaacute tentando destinar trinta por cento da verba do Ministeacuterio da Sauacutede

para a causa das doenccedilas raras Jaacute eacute alguma coisa Algueacutem estaacute jogando alguma coisa no ar

Assim como a tentativa de que as Instituiccedilotildees sejam interligadas para direcionar corretamente

pacientes seja a niacutevel nacional como internacional Isso eu tambeacutem fiquei sabendo hoje sobre

a Rede Raras o queque acabou vindo ao encontro a uma sugestatildeo que eu queria dar aqui mas

a gente fica feliz em saber que tem outras pessoas tambeacutem pensando junto com a gente e

tentando buscar soluccedilotildees

118

Todos noacutes temos de ter a consciecircncia de que qualquer um de noacutes ou algueacutem que nos eacute

proacuteximo pode ser acometido por alguma doenccedila rara de uma hora para outra portanto a luta

por mudanccedila tem que ser de todos

O Ministeacuterio da Sauacutede falou sobre a natildeo criaccedilatildeo da Secretaria de Doenccedilas Raras no

Ministeacuterio da Sauacutede Esse eacute um modelo que existe nos Estados Unidos e hoje eu sinto falta de

ter um foco para aonde eu possa me dirigir Porque se uma crianccedila eacute espancada chego ao

hospital o meacutedico informa ao oacutergatildeo responsaacutevel que a crianccedila foi espancada se chega uma

crianccedila com dengue ele eacute obrigado a informar que chegou uma pessoa com dengue se chega

uma crianccedila com a pessoa tendo alguma caracteriacutestica sindrocircmica tambeacutem deveria ter um oacutergatildeo

a quem ele pudesse informar ateacute para procurar informaccedilatildeo Eacute tanta falta a de informaccedilatildeo Vocecirc

natildeo tem um Centro para chegar e perguntar ldquoO que eacute isso Eu vou pra onde a partir daquirdquo

Eu natildeo conheccedilo Associaccedilatildeo aqui no Brasil da doenccedila de Crab eu natildeo sei onde ir buscar

informaccedilatildeo Devia existir uma secretaria de doenccedilas raras dentro do Ministeacuterio da Sauacutede Seria

ndashnatildeo sei se chama de secretaria ou se chama de outra coisa ndash mas seria um centro de

informaccedilotildees para ir buscar estatiacutesticas Eu acho que isso eacute importante para que as pessoas que

os proacuteprios meacutedicos pudessem se informar sobre as caracteriacutesticas da doenccedila expactativa de

tratamento laacute fora medicaccedilatildeo e tratamentos protocolozados Enfim seria um norte para a

partir daiacute as pessoas poderem seguir

Muito obrigado pela oportunidade

119

4ordf Mesa Pesquisas no SUS

Maacutercia Ribeiro1 ndash Boa tarde a todos

Eu gostaria de agradecer o fato de poder estar aqui falando de um tema tatildeo interessante

mas que realmente ainda necessita de uma seacuterie de atitudes para que seja mais pleno

Eu queria comeccedilar com toda a engrenagem que existe que move essa pesquisa dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Ela eacute ministrada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

como eacute o nosso caso que trabalhamos com a sauacutede Com a definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede somadas as accedilotildees da Agecircncia Nacional de

Prioridades de pesquisa em Sauacutede noacutes tivemos um incremento nas verbas que vatildeo para o

departamento de ciecircncia e tecnologia e consequentemente um maior investimento em

pesquisas onde se revelam aacutereas estrateacutegicas necessaacuterias para a sauacutede puacuteblica

Dentro dessa engrenagem existe eacute importante definir esses temas de pesquisa condizentes

com as necessidades da populaccedilatildeo Quando a gente fala em populaccedilatildeo se pensa num numeraacuterio

muito extenso mas por que natildeo tambeacutem condizente com as necessidades das pessoas que tecircm

doenccedilas raras das pessoas que tecircm doenccedilas geneacuteticas Por que natildeo Isso tudo eacute muito bacana

porque facilita e promove a integraccedilatildeo dos pesquisadores dos profissionais de sauacutede e tambeacutem

dos gestores E sem duacutevida alguma auxilia no processo de aprimoramento do Sistema Uacutenico

de Sauacutede

As formas de fomento satildeo conhecidas por quem estaacute na aacuterea Eacute muito importante a

participaccedilatildeo do CNPq2 e das agecircncias que amparam a pesquisa Como sou carioca vou citar a

FAPERJ3 A ideia da promoccedilatildeo dessas pesquisas que satildeo resultados aplicaacuteveis no SUS tecircm a

ver com a inovaccedilatildeo ou seja que elas tragam um potencial de inovaccedilatildeo na aacuterea de tecnologia

em sauacutede Isso natildeo quer dizer que eacute soacute uma aacuterea dura que eacute soacute laboratoacuterio ou exame Natildeo Eacute a

aacuterea do soft tambeacutem que eacute aplicada ali no dia a dia do atendimento do acolhimento dos

pacientes Eu queria destacar o PPSUS4 que eacute um programa de pesquisa para o SUS e gestatildeo

compartilhada em sauacutede Quando ele foi criado ele era especiacutefico para alguns Estados era

separado atualmente ele eacute nacional Existem propostas esse eacute um edital que eacute aberto todo o

ano Satildeo feitas propostas do Brasil inteiro e satildeo escolhidos alguns estudos que seratildeo

financiados

Os objetivos do PPSUS satildeo o de contribuir para diminuiccedilatildeo das desigualdades regionais

em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e agrave tecnologia em sauacutede fortalecer a capacidade de gestatildeo poliacutetica

cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede e tambeacutem descentralizar os recursos quer dizer se espalhar

por toda a naccedilatildeo em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Com isso entramos em

uma forma que natildeo tem como escapar que eacute a criaccedilatildeo das redes de pesquisa Essas redes vatildeo

propiciar aos pesquisadores um encontro com outros pesquisadores com outras realidades o

trabalhar junto a equipe multidisciplinar que eacute super importante

Jaacute foi mencionada aqui a Rede Raras Isso eacute de extrema importacircncia ateacute para que noacutes

conheccedilamos com o que estamos trabalhando Natildeo daacute para produzir conhecimento sozinho Satildeo

os estudos de cooperaccedilatildeo os estudos multicecircntricos e os de caraacuteter nacional que importam

porque o enfoque aqui eacute o Brasil eacute nacional Com isso noacutes podemos fortalecer e qualificar Noacutes

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ 2 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico httpwwwcnpqbr 3 Fundaccedilatildeo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro httpwwwfaperjbr 4 Programa de Pesquisa para o SUS

120

natildeo o Ministeacuterio as accedilotildees em termos de pesquisa consideradas prioritaacuterias para o SUS E jaacute

existe uma modalidade que se chama EpiGen que eacute em epidemiologia geneacutetica

Pelo pouco que eu conheccedilo eu acho que ela ainda natildeo estaacute em funcionamento porque

existem vaacuterias modalidades mas eu acho que esta ainda natildeo estaacute Eu acho que vale a pena eacute

um dever de casa para todo mundo procurar saber e procurar pensar em desenvolver alguma

coisa que vem muito de encontro com aquilo que tem sido falado desde ontem

Eu gostaria de ressaltar um outro ponto que eu considero bastante interessante e muito

importante O Ministeacuterio tem uma poliacutetica indutiva Essa poliacutetica de programa de educaccedilatildeo para

o trabalho e do trabalho para o Pet Sauacutede foram muito interessantes porque foram criados

editais onde instituiccedilotildees de ensino participam em conjunto com os municiacutepios e Estados na

reuniatildeo de profissionais das universidades das instituiccedilotildees de ensino dos profissionais que

trabalham na rede puacuteblica e dos alunos dessas universidades Os alunos passaram a partir de

projetos a frequentar a rede de atendimento com orientaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo do preceptor que

trabalha na rede sob orientaccedilatildeo do tutor que eacute quem trabalha na universidade

Na verdade ela foi criada em 2009 mas depois a portaria foi substituiacuteda por uma de 2010

A ideia foi fomentar a formaccedilatildeo de grupos cuja aprendizagem eacute tutorial em aacutereas estrateacutegicas

para o SUS Ela funciona como instrumento de qualificaccedilatildeo em serviccedilo e isso eacute bastante

importante de iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas para o estudante de graduaccedilatildeo na aacuterea

de sauacutede Eu listei os Pet Sauacutede todos baseados em projetos Satildeo projetos de pesquisa onde essa

pesquisa eacute feita na rede ou seja no SUS com a orientaccedilatildeo do preceptor de quem trabalha ali

e o professor ou teacutecnico administrativo da universidade Existem dois Pets em sauacutede da famiacutelia

um em vigilacircncia um em sauacutede mental e o uacuteltimo em redes de atenccedilatildeo em sauacutede

Eu trouxe uma parte de um depoimento de uma aluna que participou do Pet Sauacutede da

famiacutelia onde ela diz ldquo despertou o interesse para o exerciacutecio da medicina de famiacutelia como

especialidade possiacutevel de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Eacute realmente uma fala que combina muito com o que jaacute foi dito Vamos para rede vamos

explorar tudo o que eacute possiacutevel explorar no sentido de fornecer conhecimento de aprender como

que estaacute acontecendo laacute de realmente poder ajudar E natildeo sei se vocecircs perceberam mas pareceu

haver um Gap mas natildeo no ano de 2012 o Pet Sauacutede se juntou ao Proacute-Sauacutede que eacute o Programa

Nacional de Reorientaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede5 A UFRJ tambeacutem se candidatou

e aqui tem uma lista dos cursos que participaram quer dizer no momento estatildeo participando

ainda desse edital Quantos alunos satildeo lanccedilados quantas bolsas satildeo oferecidas Eacute bolsa para o

aluno bolsa para o tutor e para o preceptor Com isso satildeo criados novos cenaacuterios de praacutetica Os

alunos tecircm a possibilidade de uma iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico e tambeacutem verificaccedilatildeo da

realidade e ao lado dele outros alunos de outros cursos trazendo a consolidaccedilatildeo dos estaacutegios

interdisciplinares

Eacute um programa bastante interessante e eu fiquei pensando ldquoPor que natildeo um Pet de Doenccedilas

raras Por que natildeordquo Eu acho que isso seria bastante interessante

Eu venho do Instituto de Puericultura e Pediatria Marta Gon e Gesteira e eu queria situar

esse hospital da UFRJ uma unidade hospitalar secundaacuteria e terciaacuteria dentro da histoacuteria da

pesquisa O nosso Instituto estaacute fazendo 60 anos no mecircs de outubro Conta com a pediatria geral

e diversas especialidades pediaacutetricas tem o serviccedilo especiacutefico de medicina transfusional tem o

nuacutecleo RDN que eacute de reabilitaccedilatildeo e ele eacute um centro de referecircncia para algumas doenccedilas aqui

jaacute listadas Com certeza muito do que noacutes somos hoje noacutes conseguimos atraveacutes de fomento

Eu trouxe dois exemplos que conseguimos atraveacutes do Ministeacuterio e tambeacutem da FAPERJ que foi

a criaccedilatildeo da Unidade de Pesquisa Cliacutenicas em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircncia

que eacute do projeto do Hospital Dia e o nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo em Sauacutede da

Crianccedila e do adolescente onde noacutes envolvemos laboratoacuterio de geneacutetica citologia molecular e

5 httpwwwprosaudeorg

121

a biometria de fluxo Essas pessoas que trabalham docentes ou teacutecnico administrativos tecircm

tambeacutem a oportunidade de contribuir um pouco com um fomento individual como jovem

cientista bolsa de pro-atividade em pesquisa auxiacutelio agrave pesquisa edital universal o TCT6 da

FAPERJ e a bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Tudo isso a gente vecirc que vai juntando que vai num

crescente que eacute muito interessante e todo mundo tem a ganhar

O meu serviccedilo de geneacutetica meacutedica foi fundado em 1969 Em 1989 foi criado o laboratoacuterio

de geneacutetica Em 2006 eu ganhei uma linha de pesquisa como docente da poacutes-graduaccedilatildeo dentro

da geneacutetica Em 2006 tambeacutem comeccedilou a terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica e atualmente noacutes

temos no banco de dados 840 pacientes cadastrados

O programa de poacutes-graduaccedilatildeo em cliacutenica meacutedica que eacute o programa do qual eu faccedilo parte

tem essa oportunidade de com esses alunos todos que noacutes recebemos realizar pesquisas

diversas

Uma aluna minha que fez inicialmente o mestrado sobre o tema ldquoFisioterapia Motora na

Siacutendrome de Downrdquo depois ela fez o doutorado sobre Atenccedilatildeo Fisioterapecircutica a Siacutendrome de

Down e ela foi para rede Outra aluna minha Priscila trabalhou com sauacutede auditiva Outra uma

aluna neste momento que verificando qual eacute a oferta de reabilitaccedilatildeo no municiacutepio do Rio de

Janeiro Isto para ressaltar a importante ocorrecircncia do grupo de trabalho de atenccedilatildeo agraves doenccedilas

raras e tambeacutem porque acabou de se falar aqui no programa de fomento agrave pesquisa em sauacutede

Isso daacute uma visatildeo pelo menos para noacutes bastante positiva e mais otimista

Sobre as publicaccedilotildees o Brasil cresceu na quantidade de publicaccedilotildees mas a qualidade natildeo

acompanhou e noacutes que submetemos artigos sabemos a dificuldade que eacute ter um paper publicado

numa revista que tenha um fator de impacto alto

Meu muito obrigado porque nada disso teria acontecido sem esse grupinho que estaacute por

traacutes de mim meus pacientes

Mara Gabrilli7 ndash Bom primeiro eacute uma honra para mim poder vir aqui e falar desse tema

que eacute tatildeo caro para todos noacutes

Eu hoje fiquei muito feliz na comissatildeo de seguridade social e da famiacutelia porque o Deputado

Perondi fez a leitura do projeto de lei de autoria do Deputado Marccedilal Filho que cria a poliacutetica

puacuteblica para doenccedilas raras e dispensaccedilatildeo de medicamentos para doenccedilas raras

Na hora que eu entrei o senhor estava falando que natildeo adianta fazer lei soacute a gente sabe que

em nenhum seguimento e em nenhum assunto fazer soacute a lei resolve Aaqui no Brasil a leieacute soacute

uma parte de todo o trabalho Desde que fui Vereadora sinto muito isso que aleacutem de fazer lei

a gente tem que entrar no universo do executivo para que a lei seja exequiacutevel e se consiga

cumprir essa lei Depois de feita a lei a gente tem que ficar no executivo trabalhando e

principalmente levando informaccedilatildeo

Eu tendo uma deficiecircncia eu quebrei o pescoccedilo e perdi os movimentos do pescoccedilo para

baixo e eu venho aprendendo nesse caminho que a minha funccedilatildeo muitas vezes eacute pedagoacutegica

Eacute uma funccedilatildeo de levar informaccedilatildeo de ensinar e eu acho que muito muito do que a gente tem

hoje foi agrave custa da peregrinaccedilatildeo e do sofrimento de muitas famiacutelias e do conteuacutedo que as

associaccedilotildees puderam trazer para o governo de alguma forma O pouquiacutessimo que tem eacute por

conta de vocecircs Eu acho que vocecircs merecem uma salva de palmas de vocecircs mesmos

Eacute tanto preconceito que a gente tem que ultrapassar na questatildeo das doenccedilas raras Desde o

ocorrido com um menino haacute semana atraacutes que tem epidermoacutelise bolhosa e que passou por um

constrangimento muito desagradaacutevel na Gol8 por conta de falta de informaccedilatildeo daqueles que

estavam dentro da companhia aeacuterea e dentro da aeronave Eu tenho certeza que natildeo eacute o

6 Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica 7 Deputada Federal 8 Gol Linhas Aeacutereas

122

pensamento do presidente da companhia mas falta de informaccedilatildeo Para a informaccedilatildeo conseguir

chegar em todas as pontas demora eacute trabalhoso A gente tem que ficar fazendo seminaacuterio

workshop levando informaccedilatildeo Por isso eu fico muito feliz de ter junto comigo e com vocecircs

parlamentares que vecircm trabalhando para isso

O livro que o Deputado Romaacuterio lanccedilou ontem eacute de extrema importacircncia o projeto de lei

do Dep Marccedilal eacute de extrema importacircncia Tem o projeto de lei do Dep Jean Willis que tambeacutem

eacute de extrema importacircncia e natildeo adianta vocecircs eacute que trazem a demanda Eu pedi vistas do

projeto de lei do Dep Marccedilal e eu pedir vistas para que serve Para poder aprimorar o projeto

de alguma forma

Esse projeto estaacute disponiacutevel e o seu aprimoramento tem que vir de vocecircs Para que vocecircs

saibam que esse projeto estaacute disponiacutevel no site da Cacircmara para que vocecircs leiam E vocecircs satildeo

os maiores conhecedores de toda a dureza do processo de conseguir e principalmente de natildeo

conseguir as coisas Eacute importante que vocecircs tenham conhecimento desse projeto que jaacute tem

qualidade mas que talvez tenha alguma coisa que a gente ainda natildeo pensou

Eacute impressionante porque nos Estados Unidos desde 83 jaacute se existe uma poliacutetica puacuteblica

para doenccedilas raras Eu estava vendo aqui que ateacute na Colocircmbia tem poliacutetica puacuteblica para doenccedilas

raras E a gente estaacute aqui ainda engatinhando nessa questatildeo Soacute que tudo bem a gente tem

doenccedilas em que existem poucas pesquisas cientiacuteficas tem doenccedilas que jaacute tecircm bastante pesquisa

cientiacutefica mas poucos resultados existem doenccedilas que realmente natildeo tem cura mas o que

importa eacute o hoje e a gente tem que aprender a viver Ter uma vida com qualidade natildeo importa

ateacute quando

Acho que esta eacute uma outra questatildeo que a gente vai ter que trabalhar dentro do Ministeacuterio

dentro do Governo dentro da Sociedade que eacute acabar com o preconceito e que o importante eacute

poder ter estrutura para viver bem Uma forma de fazer isso e eu natildeo consigo natildeo deixar de

falar eacute a possibilidade de vocecirc ter um cuidador E isso eu posso falar com bastante maestria

sobre a diferenccedila que faz Por exemplo se eu natildeo tivesse a Gil para ficar segurando o microfone

para mim eu natildeo poderia ser deputada e natildeo poderia fazer absolutamente nada eu natildeo ia sair

da cama Faz muita diferenccedila Natildeo importa a gravidade da situaccedilatildeo da pessoa Se for uma

severidade muito grande de limitaccedilatildeo faz diferenccedila e se for pouca tambeacutem faz muita diferenccedila

E a gente sabe que nas famiacutelias brasileiras algueacutem paacutera de trabalhar para que possa cuidar

dessa pessoa que tem uma doenccedila rara Com isso a renda da famiacutelia diminui a despesa aumenta

e vira um inferno um cenaacuterio muito dramaacutetico Eacute claro que se a gente tem essa ajudinha faz

uma diferenccedila muito grande Agraves vezes as pessoas me perguntam poxa mas natildeo eacute difiacutecil vocecirc

ter a sua liberdade tolhida porque precisa de algueacutem 24 horas por dia Eu tenho muita gratidatildeo

por poder ter algueacutem ao meu lado 24 horas por dia E ter essa pessoa eacute o contraacuterio eacute ter

autonomia e liberdade de ir e vir de viver e de poder ser a primeira deputada tetrapleacutegica desse

paiacutes Eacute oacutebvio que eu fiz dois projetos de lei pensando nisso que o Governo tem que fornecer

cuidador agraves pessoas que tecircm uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade mas tambeacutem tecircm que oferecer

uma espeacutecie de bolsa cuidador para aqueles que satildeo contribuintes e que podem ter essa bolsa

O cuidador pode ser ateacute um familiar mas pode ser uma outra pessoa e eacute uma forma da gente

conseguir apesar de viver com qualidade

Eu queria contar isso para vocecircs para vocecircs me ajudarem a lutar por isso porque com

certeza vai ter muita importacircncia A gente vecirc por exemplo a falta de informaccedilatildeo Vocecirc pega

a hipertensatildeo arterial pulmonar a gente tem oito medicamentos que jaacute satildeo aprovados pela

ANVISA mas soacute dois deles satildeo distribuiacutedos e tem dispensaccedilatildeo pelo SUS E a gente sabe de

casos absurdos de pessoas que acabam morrendo por natildeo terem conseguido o acesso ao

medicamento e hoje existem vaacuterios medicamentos

A gente precisa muito dessa poliacutetica puacuteblica que vai ordenar e vai facilitar muito para o

Ministeacuterio da Sauacutede a questatildeo das demandas judiciais Porque a demanda judicial existe porque

123

a publicaccedilatildeo a poliacutetica puacuteblica natildeo existe Se a gente consegue sanar determinadas questotildees a

gente evolui

Eu estava vendoo governador Geraldo Alckmin que eacute o governador do meu Estado que eacute

uma pessoa que eu admiro mas eu fiquei super chateada porque ele vetou no Estado de Satildeo

Paulo a poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras E por quecirc Porque ele natildeo tem dinheiro para

medicaccedilatildeo oacuterfatilde ele natildeo tem recurso- Mas isso eacute um problema dele ele que se vire que ache

esse recurso porque as pessoas tem urgecircncia nisso

Eu acho que haacute tanto recurso mal utilizado Temos que forccedilar a barra para que o recurso

seja bem utilizado e com certeza se o Brasil soubesse utilizar bem todos os seus recursos a

gente natildeo estaria passando a dificuldade que a gente passa no dia a dia por conta das doenccedilas

raras

Tem uma coisa com que eu fico nervosa Eacute uma frase que a gente vive ouvindo que vem

laacute do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo a equipamento e a medicamentos que eacute aquela frase

fatiacutedica Natildeo temos evidecircncias cientiacuteficas nacionais suficientes para dizer que esse remeacutedio

funciona Enquanto isso as pessoas vatildeo esperando E satildeo vaacuterios equipamentos e medicamentos

que a gente vem trabalhando Quando eu falo a gente sou eu e a minha equipe Eacute que a gente

ouve essa afirmaccedilatildeo e a gente natildeo possui evidecircncias cientiacuteficas nacionais porque natildeo tem o

equipamento aqui mas a gente tem evidecircncias cientiacuteficas internacionais Por exemplo um

trabalho que a gente vem fazendo haacute quase trecircs anos eacute o de tentar incorporar o COFF ASIST

que eacute um equipamento importantiacutessimo para ajudar as pessoas a tossir Eu por exemplo tenho

dificuldade de tossir Tem muitas doenccedilas neurodegenerativas que trazem paralisias e

dificuldade de tossir e a pessoa quando natildeo consegue tossir e eliminar secreccedilatildeo vai ficar com

uma pneumonia vai ter uma infecccedilatildeo pulmonar vai parar no hospital vai parar na UTI e ela

fica muito mais cara para o governo Um equipamento que aparentemente parece ser caro ele

sai muito mais barato porque o governo vai economizar em leitos de UTI e sobre isso jaacute tem

evidecircncias cientiacuteficas no mundo inteiro Eacute esse tipo de informaccedilatildeo de exemplos que eu acho

que a gente natildeo pode parar de insistir e de ter esperanccedila e de ficar levando para o Ministeacuterio

para tentar convencer

Simples pessoas que usam cadeiras de rodas por exemplo se todas tivessem a

possibilidade de ter uma almofada com uma tecnologia de gomos de ar como eacute a almofada em

que eu estou sentada ningueacutem teria escaras Isso as pessoas ateacute estranham dentro de hospitais

porque eacute como se fosse uma condiccedilatildeo sine qua non vocecirc ficar hospitalizado ou ficar muito

sentado e ter escaras mas natildeo eacute Natildeo necessariamente

Esta eacute uma almofada cariacutessima mas tratar escara e ter a pessoa totalmente fora de

circulaccedilatildeo durante meses por conta de uma ferida eacute muito mais caro para o governo Entatildeo

muitas vezes a poliacutetica puacuteblica essa que natildeo existe chega a ser ldquoburrardquo porque ela vecirc as coisas

de uma forma invertida Porque se a gente consegue fazer as dispensaccedilotildees dos equipamentos

medicamentos ter um atendimento mais adequado levar conhecimentohellip Nossos meacutedicos natildeo

tecircm como disciplina obrigatoacuteria doenccedila rara na faculdade e aiacute o que acontece Onde isso vai

refletir Vai refletir no diagnoacutestico precoce80 das doenccedilas raras tecircm cunho geneacutetico e sem

esse diagnoacutestico precoce a sauacutede e a qualidade de vida ficam totalmente comprometidas

Entatildeo o que eacute isso Olha onde estaacute onde habita a gecircnese o iniacutecio do problema Na

faculdade de medicina A gente natildeo tem na faculdade de Medicina como disciplina obrigatoacuteria

a reabilitaccedilatildeo E olha o nuacutemero de pessoas com deficiecircncia que precisam de reabilitaccedilatildeo no

nosso paiacutes e eacute essa reabilitaccedilatildeo pode trazecirc-lo de volta ao trabalho de volta agrave cidadania e tal natildeo

acontece por uma lacuna que existe nas disciplinas de medicina E posso disser tambeacutem que

acessibilidade natildeo eacute disciplina obrigatoacuteria na faculdade de arquitetura e engenharia e por isso

temos um paiacutes tatildeo inacessiacutevel onde eacute tatildeo difiacutecil o ir e vir de pessoas que tecircm alguma limitaccedilatildeo

de movimento Nas calccediladas brasileiras que natildeo tecircm limitaccedilatildeo nenhuma de movimento as

124

mulheres de salto alto sofrem os homens distraiacutedos sofrem e todo mundo sofre com a falta de

acessibilidade

A gente tem uma lista de doenccedilas raras que jaacute satildeo atendidas pelo SUS vocecircs jaacute devem

estar cansados de saber porque satildeo mais de 6000 doenccedilas raras e a lista tem apenas 18 doenccedilas

ictioses hereditaacuterias hipoparatireoidismo insuficiecircncia adrenal primaacuteria que eacute a doenccedila de

Adson hiperplasia adrenal congecircnita hipotireoidismo congecircnito angioederma deficiecircncia de

hormocircnio do crescimento que eacute hipopituitarismo Siacutendrome de Tanner fibrose ciacutestica que haacute

manifestaccedilotildees pulmonares fibrose ciacutestica de insuficiecircncia pancreaacutetica miastemias graves

doenccedila celiacuteaca esclerose multipla doenccedila de Cron fenilcetonuacuteria doenccedila de Gaucher doenccedila

de Wilson e osteogenese imperfecta Infelizmente satildeo soacute essas as doenccedilas que satildeo atendidas

pelo SUS

Eu natildeo vim trazer palavra de ldquonatildeo esperanccedilardquo Temos muito trabalho a fazer e conto com

vocecircs para isso Vocecircs satildeo os principais guerreiros Eu vi com muito otimismo a audiecircncia

puacuteblica que foi realizada em abril pelo Ministeacuterio da Sauacutede que visa a Poliacutetica Nacional de

Diretrizes de atenccedilatildeo integral para pessoas com doenccedilas raras na rede puacuteblica prevenccedilatildeo

tratamento multidisciplinar e reabilitaccedilatildeo Mas natildeo pode ficar no papel como a Portaria 81 de

atenccedilatildeo em geneacutetica Eu acho que paralelamente a tudo que a gente precisa de doenccedila rara a

gente precisa de investimento em pesquisa cientiacutefica para doenccedila rara E isso eacute outro lado que

a gente vem trabalhando tambeacutem o deputado Romaacuterio tem um projeto de lei que eu sou a

relatora que eacute um projeto que desburocratiza a importaccedilatildeo de insumos para laboratoacuterios de

pesquisa Parece uma coisa muito complexa mas a gente quer eacute cura para doenccedilas rarasAs

pesquisas brasileiras satildeo muito lentas muitas vezes e na maioria das vezes o que os

pesquisadores pedem natildeo eacute recurso eles pedem condiccedilotildees para que consigam fazer as

pesquisas para que eles consigam importar reagentes por exemplo Nos Estados Unidos vocecirc

encomenda um reagente de manhatilde e agrave tarde ele estaacute no laboratoacuterio Aqui fica dois trecircs meses

preso no aeroporto e muitas vezes satildeo produtos pereciacuteveis que na hora que consegue retirar

jaacute estaacute estragado Eacuteisso que mais prejudica a pesquisa cientiacutefica no Brasil

Esse projeto estaacute na comissatildeo de seguridade social e famiacutelia para ser votado e quem sabe

eacute mais um incremento mais uma accedilatildeo para gente trabalhar em prol das doenccedilas raras para

poder ter a esperanccedila de contar com a pesquisa cientiacutefica no Brasil que eacute um paiacutes que tem

pesquisadores de alta competecircncia mas onde eacute tudo tatildeo engessado e dificultoso que muitas

vezes a nossa pesquisa natildeo desponta Eu acho que ela eacute competitiva com pesquisas no mundo

inteiro e que o Brasil tem chances inclusive de contribuir para a pesquisa em outros paiacuteses

Agora o Brasil atraveacutes de uma resoluccedilatildeo da ANVISA vai poder participar de estudos em fase

trecircs para medicamentos de uso compassivo Isso vai ser muito bom aqui no Brasil para a

pesquisa cliacutenica com pacientes porque eu vejo muitos pacientes de ELA que ficam em contato

com pacientes de outros paiacuteses que estatildeo sempre participando de protocolos de uso de

medicamentos novos E eu natildeo sei se haacute uma auto sugestatildeo ou natildeo mas estatildeo sempre

melhorando Os brasileiros natildeo podiam participar disso porque natildeo era aprovado no Brasil e

agora isso foi aprovado e a gente vai poder participar

Tambeacutem temos que ficar trazendo estiacutemulo para os nossos pesquisadores e para os nossos

laboratoacuterios para que possamos participar desse uso compassivo de medicamentos em fase trecircs

Eu vou continuar aqui e qualquer duacutevida qualquer coisa que vocecircs queiram me falar eu estou

a disposiccedilatildeo

Obrigada

Entatildeo acabo de receber uma pergunta e vou responder A pessoa pergunta que legislaccedilatildeo

existe hoje para famiacutelias que precisam de cuidadores ou home care e natildeo tecircm condiccedilotildees

financeiras

Na verdade de cuidador natildeo tem uma legislaccedilatildeo tem os projetos de lei que eu protocolei

Um na assistecircncia social para quem realmente natildeo tem recurso para pagar e outro na

125

previdecircncia para aquele que eacute contribuinte e pode vir a receber esse auxiacutelio cuidador para ele

mesmo pagar a algueacutem que pode ser um familiar ou um outro profissional Agora o que existe

na previdecircncia eacute um acreacutescimo de 25 para o segurado contribuinte que precise de uma

assistente pessoal Isso funciona para quem tem deficiecircncia severa doenccedilas raras e idosos

tambeacutem Hoje ainda natildeo existe esse tipo de lei que garanta o cuidador Existe uma portaria do

Ministeacuterio da Sauacutede que garante assistecircncia domiciliar e nessa portaria estatildeo cobertas vaacuterias

doenccedilas Poreacutem ela exclui o ventilador invasivo Muitas pessoas com distrofia muscular com

amiotrofia espinhal progressiva com esclerose lateral amiotroacutefica precisam de um respirador

volumeacutetrico para ficar 24 horas por dia na maacutequina Quem usa respiraccedilatildeo mecacircnica 24 horas

por dia precisa desse equipamento Esse equipamento estaacute excluiacutedo da portaria de atendimento

domiciliar Entatildeo eacute outro olhar que vem do lado do avesso porque o que que acontece Laacute em

fortaleza a Sra Faacutetima que tem um filho com amiotrofia espinhal progressiva fez uma

revoluccedilatildeo laacute e conseguiu tirar da UTI sete crianccedilas que como o filho dela tem AMP e estatildeo

morando em casa com muito mais qualidade de vida Hoje a gente natildeo consegue levar todas as

crianccedilas com amiotrofia que estatildeo na UTI para casa porque a gente tem essa portaria que natildeo

permite que ela funcione para quem usa respiraccedilatildeo invasiva E isso eacute um outro trabalho

Eu fui laacute e entreguei na matildeo do Ministro e tanto ele quanto a equipe dele me garantiu que

ateacute o fim do ano vai sair da portaria essa exclusatildeo da respiraccedilatildeo volumeacutetrica Eacute mais uma

inversatildeo de valores porquecirc Porque uma pessoa dentro da UTI custa 3300 reais por dia

enquanto que o atendimento domiciliar custa 272 reais por dia Olha a diferenccedila Eacute muito mais

saudaacutevel eacute muito mais humano eacute mais felicidade para pessoa que tem a doenccedila Entatildeo a gente

tem sim atendimento domiciliar mas precisa melhorar

Ieda Bussman9 ndash Boa tarde

Eacute com grande alegria que vejo acontecer hoje um dos grandes projetos do Rogeacuterio Desde

o iniacutecio da AMAVI ele desejava e planejava esse congresso Mais uma vez parabeacutens Rogeacuterio

Eu ainda espero ver um outro

Tambeacutem eacute grande a alegria de assistir agrave comprovaccedilatildeo de que a uniatildeo faz a forccedila Noacute

estamos hoje aqui reunidas diversas associaccedilotildees e vimos sendo merecedores de um olhar

especial finalmente pela parte do governo A uniatildeo tambeacutem do governo dos meacutedicos

pesquisadores e da induacutestria farmacecircutica

Ao aceitar o convite para proferir como paciente algumas palavras nesse Congresso

aceitei tambeacutem a sugestatildeo de que fosse sobre as pesquisas e os pacientes A importacircncia das

pesquisas para os pacientes o envolvimento dos pacientes nas pesquisas e a responsabilidade

dos pesquisadores para com os pacientes Natildeo haacute como negar a importacircncia das pesquisas para

os pacientes pois eacute por meio dela que se adquire o conhecimento a que se chega a investigaccedilatildeo

tratamento prevenccedilatildeo e finalmente eu espero a cura pelo menos de algumas doenccedilas

Enquanto natildeo chega a cura a qualidade de vida e a atenccedilatildeo que todos merecem

Com a uniatildeo novamente a uniatildeo dos cientistas das vaacuterias aacutereas a gente vem chegando a

grandes avanccedilos Na parte das doenccedilas raras muito aconteceu apoacutes o sequenciamento do

genoma humano As terapias celulares tirando outras terapias tambeacutem mas as terapias

celulares a princiacutepio com ceacutelulas tronco embrionaacuterias satildeo a partir de ceacutelulas adultas regredidas

ateacute agrave condiccedilatildeo semelhante agrave das ceacutelulas embrionaacuterias Terapias gecircnicas quando eacute a inserccedilatildeo de

um gene que funcional vai corrigir um gene mutado da proacutepria porfiria de que eu sou paciente

por exemplo Jaacute temos terapia geneacutetica ou gecircnica em andamento Haacute outras como

neuromodulaccedilatildeo nanotecnologia aplicada agrave sauacutede em que satildeo usadas nanopartiacuteculas em

9 Presidente da Associaccedilatildeo Brasileira de Porfiacuteria

126

medicamentos transplantes e contrastesA pesquisa realmente eacute muito importante para noacutes os

pacientes Eacute a porta que se abre para a cura

Eu estive olhando vaacuterias notiacutecias recentes que satildeo pouquiacutessimas e eu selecionei algumas

Satildeo notiacutecias boas que enchem a gente de esperanccedila Para mim qualquer coisinha qualquer

luzinha sobre uma cura um medicamento jaacute eacute uma coisa muito importante E eu acredito eu

acho que natildeo eacute hoje nem amanhatilde mas a gente vai chegar a muita coisa boa Todos os dias

temos notiacutecias mas ainda haacute muita coisa para ser descoberta Nada eacute possiacutevel sem a

participaccedilatildeo dos pacientes

Uma notiacutecia eacute que pesquisadores identificaram mecanismos e possiacuteveis medicamentos para

tumores da neurofibromatose notiacutecia de 2008 Outra eacute sobre a Siacutendrome de Down onde foram

usadas ceacutelulas tronco pluripotentes de uma pessoa com Siacutendrome de Down e foi inativada a

coacutepia extra do cromossoma 21 inserindo nela o gene Essa notiacutecia eacute recente de setembro Outra

eacute que cientistas usam o HIV para cura da leucodistrofia metapromatica e Siacutendrome de Willliams

Aldreans Consta aqui que foi usado como vetor viral do viacuterus da AIDS Essa aqui eacute da porfiria

que eu jaacute comentei antes e eacute um estudo que vem sendo feito desde 2007 na Universidade

Navarra na Espanha que eacute uma terapia para tratar a porfiria plurintermitente que eacute a porfiria

da qual eu sou portadora Jaacute foram realizadas as fases um e dois Natildeo eacute faacutecil Desde 2007 e noacutes

estamos em 2012

Existem muitas muitas notiacutecias Eu selecionei aqui algumas boas e mais tarde eu vou falar

de algumas natildeo tatildeo boas

Para falar do envolvimento dos pacientes nas pesquisas a gente se pergunta seria possiacutevel

que os novos tratamentos fosses testados apenas em cobaias Natildeo seria possiacutevel Quer dizer

satildeo feitos primeiro os testes em laboratoacuterios depois em cobaias mas como eacute um tratamento

para seres humanos ele tem que ser testado em humanos se natildeo natildeo vai valer E no caso das

doenccedilas raras mas natildeo soacute das doenccedilas raras os pacientes em geral tecircm muita preocupaccedilatildeo em

participar das pesquisas No caso das doenccedilas raras eacute mais difiacutecil ainda porque satildeo raras as

pessoas aiacute fica muito mais difiacutecil

Os fatos ruins que eu estou falando satildeo experiecircncias do passado que ficaram como marca

e ajudaram as pessoas a ter esse receio de participar das pesquisas Sob o regime Nazista

durante a Segunda Guerra Mundial cobaias humanas participaram contra a vontade de

experiecircncias Os meacutedicos apoacutes o teacutermino da Guerra foram julgados pelo julgamento de

Nuremberg O Governo dos Estados Unidos financiou experimentos na Guatemala de 1946 a

1948 para determinar se a penicilina era uacutetil contra doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis Os

experimentos natildeo foram publicados e soacute foram divulgados em 2010 depois que uma professora

da Universidade os encontrou por acaso Outra experiecircncia draacutestica tambeacutem aconteceu com 600

negros saudaacuteveis e natildeo saudaacuteveis que foram acompanhados por cientistas durante 40 anos na

observaccedilatildeo da progressatildeo natural da siacutefilis sem tratamento algum A pesquisa foi suspensa apoacutes

denuacutencia do caso por um membro da equipe O Jardineiro Fiel que acho que todo mundo jaacute

conhece a histoacuteria o livro fala de um processo contra a induacutestria farmacecircutica que teria

realizado testes ilegais com pessoas na Nigeacuteria e nos testes constava que era para impedir a

disseminaccedilatildeo da AIDS Distribuiacuteam medicamentos gratuitamente e na verdade eram

medicamentos para testar um novo medicamento contra tuberculose e que tinha graves efeitos

colaterais Para que as pesquisas pudessem ter continuidade e as pessoas estivessem dispostas

a participar sem ter o medo e diante de uma justiccedila social foi necessaacuterio criar regras e coacutedigos

de eacutetica

Os Coacutedigos de Eacutetica jaacute existiam desde Hipoacutecrates Declaraccedilatildeo de Direitos dos Homens

declaraccedilatildeo de Genebra declaraccedilatildeo de Useink e suas atualizaccedilotildees Os princiacutepios baacutesicos das

pesquisas com seres humanos estatildeo na Resoluccedilatildeo 196 de 1996 do Conselho Nacional de Sauacutede

Atualmente parece que houve alguma coisinha mais mas os princiacutepios continuam os mesmos

respeito a dignidade e autonomia ponderaccedilatildeo entre riscos e benefiacutecios da pesquisa garantia de

127

que danos previsiacuteveis seratildeo evitados e igual consideraccedilatildeo entre os interesses envolvidos O

voluntaacuterio da pesquisa ele deve saber tudo o que vai acontecer na pesquisa antes de se decidir

qual a importacircncia da pesquisa o que os pesquisadores querem descobrir como aconteceraacute a

pesquisa que tipos de riscos e benefiacutecios existem se existem outras alternativas aleacutem dessa

como seraacute a assistecircncia meacutedica hospitalar sendo necessaacuteria quem faraacute o acompanhamento

quem seraacute o responsaacutevel pela pesquisa e como entrar em contato com eles 10

O participante tem direito a esclarecimento sobre a pesquisa em que estaacute participando a

qualquer momento desejado ele tem direito agrave privacidade e anonimato a respeito de suas

decisotildees haacutebitos e crenccedilas informaccedilotildees sobre o andamento e resultado exclusividade a

contribuiccedilatildeo dele deve ser usada apenas para aquele projeto que ele autorizou tratamento e

indenizaccedilatildeo para complicaccedilotildees previstas A garantia do respeito aos direitos se faz atraveacutes do

preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido Crianccedilas

adolescentes e portadores de doenccedila mental tecircm o direito de serem informados ateacute onde forem

capazes de compreender e natildeo devem ser forccedilados a aceitar a participaccedilatildeo seratildeo assistidos

pelos pais ou responsaacuteveis legais que assinaratildeo o TCLE Natildeo deveraacute haver discriminaccedilatildeo entre

sexo idade raccedila etnia religiatildeo pobreza analfabetismo ou qualquer outro motivo Para evitar

que pessoas sejam pagas pela participaccedilatildeo em estudos e pesquisas eacute proibido o recebimento de

dinheiro presentes objetos ou favores Todo o estudo deve ser indiciado e aprovado pelo

comitecirc de eacutetica em pesquisa da instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado e em algumas situaccedilotildees deve

ser aprovado pela CONEP11

Muito obrigado pela atenccedilatildeo

Maacuterio Saporta12 - Boa tarde a todos

Eu vou rapidamente agradecer agrave AMAVI pelo convite

Eu represento um dos trecircs braccedilos que eu acredito que formam o movimento proacuteprio de

doenccedilas raras Eu estou aqui representando a Universidade a pesquisa Noacutes temos pacientes e

familiares noacutes temos o governo aqui tambeacutem Entatildeo todos os elementos estatildeo aiacute juntos para

conseguir desenvolver o campo das doenccedilas raras O que eu vou apresentar hoje eacute o trabalho

que a gente desenvolve na UFRJ no laboratoacuterio nacional de ceacutelulas tronco13 e essa teacutecnica

nova chamada reproduccedilatildeo celular Eu quero mostrar para vocecircs o que ela pode oferecer em

relaccedilatildeo agrave pesquisa para novos tratamentos em doenccedilas raras Eu natildeo vou me concentrar aqui no

uso de ceacutelulas tronco que esse eacute um campo que a gente chama de terapia celular Eacute um campo

que ainda estaacute em desenvolvimento e que eu acho que provavelmente vai gerar frutos bem

mais tarde que o campo da reprogramaccedilatildeo celular Entatildeo o que eu quero falar durante esses 10

a 15 minutos eacute um pouco sobre pesquisa em doenccedilas raras focando no uso da reprogramaccedilatildeo

celular Vou explicar para vocecircs o que eacute reprogramaccedilatildeo celular e como ela pode ser usada no

estudo das doenccedilas raras E vou terminar falando um pouquinho tambeacutem do que eu conversei

com a plateia ontem na audiecircncia como fomentar como investir como financiar pesquisas em

doenccedilas raras

As doenccedilas raras individualmente satildeo raras mas coletivamente satildeo significativas em

relaccedilatildeo agrave frequecircncia delas em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo geral Eacute importante dizer que ela tem um

vieacutes ainda mais importante que acomete preferencialmente crianccedilas e isso com certeza gera

um senso de urgecircncia ainda maior em relaccedilatildeo agrave busca por tratamentos das doenccedilas raras 95

delas natildeo possui nenhum tipo de tratamento aprovado

10 Informaccedilotildees retiradas de um folder do Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ldquoVoluntaacuterio em pesquisa informe-

se para decidirrdquo 11 Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa httpconselhosaudegovbrweb_comissoesconepindexhtml 12 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas Tronco ndash UFRJ 13 httpwwwlance-ufrjorg

128

O que satildeo Ceacutelulas Tronco e o que satildeo Ceacutelulas Pluripotentes Ceacutelulas Pluripotentes satildeo

ceacutelulas que podem se transformar em qualquer outra ceacutelula do organismo humano Entatildeo com

essas ceacutelulas se a gente manipular quimicamente e de maneira especiacutefica a gente pode criar

tipos de ceacutelulas especiacuteficas Por exemplo se eu quero estudar uma doenccedila neuroloacutegica eu posso

criar neurocircnios a partir dessa ceacutelula se eu quiser estudar uma doenccedila cardiacuteaca eu posso criar

ceacutelulas do coraccedilatildeo para o estudo in vitro no laboratoacuterio em busca de novos tratamentos Elas

satildeo ceacutelulas com um potencial enorme para se estudar uma doenccedila porque a gente pode ser

extremamente especiacutefico usando uma ceacutelula humana que eacute um diferencial em relaccedilatildeo a

modelos animais

Para entender a programaccedilatildeo celular vamos fazer um paralelo com a informaacutetica que eacute uma

coisa que todo mundo usa no dia a dia Nossas ceacutelulas tecircm o que a gente chama de coacutedigo

geneacutetico e que funciona como a programaccedilatildeo de um computador Como na programaccedilatildeo de um

computador a gente pode usar ferramentas da geneacutetica para modificar esse coacutedigo essa

programaccedilatildeo Se a gente pegar por exemplo uma ceacutelula da pele que eacute faacutecil da gente tirar ou

ateacute da urina que eacute mais faacutecil ainda que eacute soacute coletar a amostra da urina e separar essas ceacutelulas

noacutes podemos introduzir alguns genes nessas ceacutelulas e fazer com que se reprogramem ou seja

mude a programaccedilatildeo a maneira com que o DNA dela eacute expresso e essas ceacutelulas se tornam

entatildeo como se fossem ceacutelulas tronco embrionaacuterias ou seja ceacutelulas que tecircm o potencial de virar

qualquer outro tipo celular que a gente queira estudar E daiacute a gente consegue mais uma vez

usando o estiacutemulo quiacutemico correto transformar essas ceacutelulas no tipo celular que a gente quer

estudar

Eu sou Neurologista estudo uma doenccedila rara neurogeneacutetica a doenccedila de Charcot-Marie-

Tooth Para mim especificamente eacute interessante estudar os neurocircnios e as ceacutelulas de Schwann

para outros pesquisadores vai ser outros tipos celulares mas a tecnologia se aplica do mesmo

jeito Desde a descriccedilatildeo dessa nova tecnologia em 2007 uma enormidade de doenccedilas a maioria

delas geneacuteticas e raras jaacute foram modeladas dessa maneira usando essa tecnologia

Soacute para mostrar a potencialidade dessa tecnologia com ela a gente consegue modelar natildeo

soacute a doenccedila mas o doente Podemos pegar um paciente e estudar especificamente naquele

paciente como a doenccedila se manifesta nas suas ceacutelulas E o que a gente pretende fazer mais para

frente eacute usar essa mesma plataforma para procurar medicamentos e substacircncias que possam

corrigir essa anormalidade celular Esse aqui eacute um exemplo com Um dos primeiros trabalhos

com reprogramaccedilatildeo celular foi um paciente com atrofia muscular espinhal de que os

pesquisadores reproduziram ceacutelulas Satildeo ceacutelulas IPS ou ceacutelulas de Pluripotecircncia Induzida de

um paciente com AME14 e da matildee dele que natildeo tinha a mutaccedilatildeo e isto mostrou que as ceacutelulas

desses pacientes se comportavam de maneiras diferentes Especificamente vocecircs conseguem

ver aqui15 que o azul eacute o nuacutecleo de uma ceacutelula e essas setas estatildeo apontando para uns pontinhos

verdes dentro desse nuacutecleo Essas ceacutelulas normalmente em pessoas natildeo afetadas pela AME

possuem esses pontinhos e eacute esperado que elas tenham isso Em pacientes com a Atrofia

Muscular Espinhal esses pontinhos desaparecem e isso tem repercussatildeo pela doenccedila eacute causado

pela doenccedila Os pesquisadores usaram isso como uma maneira de buscar tratamento Entatildeo eles

colocaram essas ceacutelulas numa placa e jogaram diferentes medicamentos e viram quais

medicamentos poderiam fazer com que esses pontinhos reaparecessem e com isso eles acharam

alguns medicamentos que podem potencialmente ter um efeito de tratamento para esse paciente

Isso daqui natildeo eacute obviamente um produto pronto Ah esse medicamento vai funcionar com

grande certeza mas eacute um grande avanccedilo por ser uma ceacutelula humana e do paciente ao inveacutes

de se fazer essa primeira testagem por exemplo em animais O que a gente tem identificado e

o que a gente espera mostrar em mais trabalhos eacute que essa tecnologia vai conseguir encurtar o

14 Atrofia Muscular Espinhal 15 Slide 8

129

tempo em que a gente identifica uma droga passa para um estudo animal e para um estudo

cliacutenico E natildeo eacute soacute encurtar o tempo mas aumentar a chance de que aquele primeiro achado

positivo venha a se confirmar num estudo cliacutenico mais para frente O que acontece muito em

doenccedila rara eacute a gente achar uma medicaccedilatildeo que funciona super bem em camundongo e quando

vai testar no ser humano natildeo funciona nada Utilizando o modelo humano de preacute-testagem de

drogas ou de medicamentos a gente espera conseguir aumentar nossa chance de acerto

Esse eacute o modelo que a gente estaacute desenvolvendo no nosso laboratoacuterio A gente coleta

amostra de pacientes tanto de pele quanto de urina faz aquela manipulaccedilatildeo geneacutetica mexe laacute

no coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas e faz elas virarem ceacutelulas IPS ou ceacutelulas tronco induzidas A

diferenccedila no tipo celular que a gente quer estudar no nosso caso satildeo neurocircnios E outra coisa

que a gente tambeacutem pode fazer eacute usar outros tipos celulares que tambeacutem vatildeo servir para dizer

para a gente se a droga eacute segura do ponto de vista cardiacuteaco e do ponto de vista renal para que

essa droga tenha o miacutenimo de toxicidade possiacutevel quando ela for para um ensaio cliacutenico Essa

identificaccedilatildeo de drogas vai voltar para o paciente como um estudo cliacutenico primeiro e

eventualmente uma terapia Obviamente todo mundo deve estar pensando Entatildeo porque que

natildeo usa essas ceacutelulas para terapia celular e injetar essas ceacutelulas no pacienterdquo Com certeza esse

eacute um objetivo para o futuro e o futuro natildeo estaacute tatildeo distante A gente jaacute tem um estudo

comeccedilando no Japatildeo em que essas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para tratar um tipo de

degeneraccedilatildeo retiniana quer dizer doenccedila oftalmoloacutegica e a gente imagina que esse vai ser o

caminho natural das coisas Mas a gente ainda aposta que identificar drogas medicamentos vai

ser mais raacutepido e vai surtir efeitos e resultados para os pacientes mais raacutepido que a terapia

celular que eacute uma coisa que a gente ainda precisa aprender muito sobre o como que essas

ceacutelulas se comportam no organismo humano

Esse aqui eacute o robocirc A gente tem um parecido no laboratoacuterio O que ele faz basicamente eacute

pegar uma placa com ceacutelulas e enfiar no microscoacutepio para fazer a leitura dessas placas tirar e

colocar de novo E com isso a gente pode fazer uma triagem de 3000 7000 mudanccedilas diferentes

durante uma noite enquanto a gente estaacute em casa dormindo por exemplo para voltar no

laboratoacuterio no dia seguinte e jaacute ter todos os dados para serem analisado E parece coisa de ficccedilatildeo

cientiacutefica mas jaacute tem um estudo utilizando essa plataforma que eu estou descrevendo aqui e

que foi capaz de identificar algumas substacircncias que no caso de pacientes com Esclerose Lateral

Amiotroacutefica reduzia a perda neuronal a perda de neurocircnios que eacute uma caracteriacutestica da doenccedila

Entatildeo o que eles fizeram foi colocar neurocircnios de pacientes com Esclerose Lateral Amiotroacutefica

e observaram que essas ceacutelulas morriam mais rapidamente em cultura que as ceacutelulas de

pacientes natildeo afetados e conseguiram identificar medicamentos que reduziam a velocidade com

que essa morte acontecia

Identificando potenciais candidatos a ensaios cliacutenicos em esclerose lateral amiotroacutefica

Aqui eacute o exemplo de como a gente pode fazer desses candidatos que a gente identifica como o

potencial tratamento para alguma medicaccedilatildeo eacute seguro do ponto de vista por exemplo

cardioloacutegico Eu quero que vocecircs observem essa regiatildeo da placa Tem uma regiatildeo da placa que

estaacute batendo ritmicamente Essa placa eacute uma placa com muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do muacutesculo

cardiacuteaco Ela estaacute reproduzindo em uma placa de cultura o funcionamento de um coraccedilatildeo e

com isso a gente consegue fazer um eletrocardiograma dessa placa Agrave medida que a gente joga

diferentes compostos daacute para notar se estaacute havendo alguma alteraccedilatildeo desse funcionamento

cardiacuteaco E essa eacute uma maneira de se tentar identificar se uma droga tem efeito ruim no caso

efeito de toxicidade para o coraccedilatildeo e se sim ela jaacute natildeo seria usada no ensaio cliacutenico

A minha experiecircncia eacute com a doenccedila de Charcot-Marie-Tooth (CMT) que eacute uma

neuropatia hereditaacuteria uma doenccedila neurogeneacutetica que estaacute junto com a neurofibromatose

como as duas doenccedilas geneacuteticas mais comuns a afetar pacientes no mundo Eacute uma doenccedila que

natildeo eacute fatal mas que causa muita debilidade e muita incapacidade por degeneraccedilatildeo de nervos e

de muacutesculos E o nosso interesse aleacutem desse fator humano oacutebvio eacute que ela oferece um modelo

130

para a gente estudar nosso sistema nervoso Entatildeo cada gene mutado que causa a CMT eacute um

gene que estaacute associado a uma funccedilatildeo do neurocircnio ou da ceacutelula de Schwann que satildeo ceacutelulas do

sistema nervoso perifeacuterico Estudando a CMT a gente tambeacutem estaacute estudando como nosso

sistema nervoso funciona e como a gente pode tratar natildeo soacute a CMT mas outras doenccedilas

neuroloacutegicas raras e tambeacutem comuns

Durante o meu Poacutes Doutorado eu fiquei cinco anos nos Estados Unidos e dois anos eu

dediquei para produzir essas ceacutelulas reprogramadas essas ceacutelulas IPS de pacientes com

Charcot-Marie-Tooth e a gente conseguiu fazer isso com 14 pacientes e agora temos um

projeto tanto aqui no Brasil como laacute fora para expandir esse banco de ceacutelulas para serem usadas

natildeo soacute em pesquisa de como uma doenccedila funciona mas tambeacutem de como tratar essa doenccedila

O que a gente pode fazer para estimular as pesquisas em doenccedilas raras

Obviamente a gente precisa de dinheiro A elaboraccedilatildeo de editais de fomento das agecircncias

governamentais eacute fundamental para que a gente tenha a capacidade de comprar insumos e

produzir ciecircncia aqui no Brasil Mas mais importante que isso noacutes precisamos de redes de

colaboraccedilatildeo entre centros de excelecircncia ao redor do Brasil porque uma andorinha soacute natildeo faz

veratildeo e isso eacute verdade para qualquer coisa inclusive para a ciecircncia A gente precisa de gente

boa que saiba ver um paciente e saiba estudar a doenccedila desse paciente Noacutes temos quefortalecer

ndash e acho que o dia de hoje eacute tudo sobre isso ndash fortalecer o papel das associaccedilotildees de pacientes e

familiares no fomento de pesquisa em doenccedilas raras E uma coisa que a Deputada Mara jaacute

comentou eacute viabilizar mecanismos que tornem a nossa pesquisa mais competitiva que eacute

facilitar a entrada de insumos aqui no Brasil

Este eacute o modelo de apoio que eu mencionei no comeccedilo Estatildeo assistecircncia pesquisa e apoio

pacientes governo meacutedicos e pesquisadores E a conclusatildeo que todo mundo chega eacute essa que

paciente com doenccedila rara precisa de pesquisa e atendimento especializado Noacutes precisamos da

participaccedilatildeo do governo dos pacientes familiares meio acadecircmico fomento agrave pesquisa jaacute que

essas novas tecnologias que eu apresentei aqui hoje prometem revolucionar o estudo das

doenccedilas raras e aumentar a velocidade de descoberta de novos medicamentos Este eacute o nosso

grupo o grupo do professor Steven Hans da UFRJ de que eu faccedilo parte e eu agradeccedilo a atenccedilatildeo

de vocecircs aqui hoje

Obrigado

131

5ordf Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras

Marcos Burle Aguiar1 ndash Inicialmente eu gostaria de agradecer agrave AMAVI especialmente

ao Rogeacuterio que me convidou para participar desse evento que eacute um evento que trata de um

assunto pelo qual eu sou realmente apaixonado

Euvou abordar aqui dois aspectos da poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras no

acircmbito do SUS Vou abordar primeiro as caracteriacutesticas dessa poliacutetica e segundo a

implantaccedilatildeo da mesma e os problemas que a gente tem nesta implantaccedilatildeo

Qual foi a origem dessa poliacutetica Foi exatamente a semana internacional de doenccedilas raras

do ano passado e coincidentemente exatamente naquele dia foi lanccedilado na Inglaterra o seu

projeto para doenccedilas raras uma consulta que deve ter se encerrado a 31 de dezembro do ano

passado E isso eacute uma coisa muito interessante porque a Inglaterra jaacute tinha uma experiecircncia

muito grande em diagnosticar em tratar as doenccedilas raras mas eles tentam transformar isso num

projeto mais denso

O que a gente tinha ateacute a criaccedilatildeo desse grupo Na verdade a gente natildeo tinha nenhuma

poliacutetica como continuamos sem tecirc-la hoje natildeo eacute verdade E a gente tinha muitas

reinvindicaccedilotildees de demandas judiciais Vocecircs sabem mais do que eu que a poliacutetica de doenccedila

rara estaacute sendo criada pelos juiacutezes e natildeo pelo legislador do Ministeacuterio da Sauacutede A gente tinha

pacientes e associaccedilotildees mal atendidos e o que eacute pior eacute que isso natildeo permitia ganhos reais

ganhos no sentido de que cada decisatildeo beneficiava um paciente ou um grupo de pacientes E

essas iniciativas soacute tinham efeitos locais e imediatos a longo prazo elas eram ineficazes

O que a gente poderia fazer nesse grupo e esse debate passou no iniacutecio do grupo que era o

seguinte A gente vai fazer uma poliacutetica baseada apenas na divulgaccedilatildeo de educaccedilatildeo nas doenccedilas

raras Se a gente fizesse isso o que noacutes fariacuteamos Basicamente copiar o que os paiacuteses

desenvolvidos jaacute fizeram A gente ia pegar em muita coisa do orphanet2 coisa de muito boa

qualidade que a gente ia divulgar mas para fazer isso natildeo precisava de um grupo de trabalho

Se a gente trabalhasse tambeacutem numa poliacutetica baseada apenas no diagnoacutestico dessas doenccedilas

quem ia tratar esses pacientes E aqui eu digo tratamento como um todo natildeo eacute tratamento

medicamentoso apenas eacute o tratamento da pessoa Se a gente fosse fazer uma poliacutetica baseada

nas demandas judiciais mais comuns a gente ia tambeacutem fazer uma colcha de retalho Se a gente

fosse fazer uma poliacutetica baseada no tratamento de doenccedilas raras a gente ia atender mais ou

menos um e meio por cento das doenccedilas ou seja um grande nuacutemero de doenccedilas importantes

um grande nuacutemero de pacientes ficaria de fora Mas por outro lado a gente tinha que

compreender que a gente natildeo partia do zero vocecirc tinha no Brasil inuacutemeras Associaccedilotildees de

apoio as doenccedilas raras tanto com doenccedilas geneacuteticas e natildeo geneacuteticas que acumulavam

experiecircncia Essa experiecircncia que vocecircs tecircm hoje eacute importante para noacutes A gente tinha diversos

serviccedilos de geneacutetica no Brasil e isso mostrava para gente de que era necessaacuterio o quecirc Uma

poliacutetica abrangente Que significasse um passo inicial mas que previsse o seu desdobramento

E uma das preocupaccedilotildees da gente era aproveitar toda e qualquer iniciativa Se existe um lugar

em que tem um grupo pequeno uma Associaccedilatildeo que lida com uma doenccedila x a gente natildeo vai

proibir porque aquele grupo natildeo tem capacidade Aquele grupo vai poder existir e a gente vai

ver um jeito de como aproveitar a sua experiecircncia a longo prazo

A gente deveria entatildeo ter uma poliacutetica que permitisse essa organizaccedilatildeo e associar os

serviccedilos de geneacutetica que trabalham com doenccedilas raras e as associaccedilotildees numa poliacutetica uacutenica

1 Representante do Ministeacuterio da Sauacutede no Grupo de Trabalho para criaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras 2 httpwwworphanetconsorcgi-binindexphp

132

Entatildeo a gente de uma certa forma de um ponto de vista ateacute mais da idade separou as doenccedilas

geneacuteticas das natildeo geneacuteticas Noacutes tiacutenhamos naquela eacutepoca 81 serviccedilos de geneacutetica mais de

metade situados no Sudeste mas todas as regiotildees do Brasil tinham pelo menos algum centro de

geneacutetica ou serviccedilo de geneacutetica Aleacutem disso existia a niacutevel do governo federal uma seacuterie de

programas tambeacutem voltados para doenccedilas raras O programa Viver sem limites com a sua rede

de deficientes os centros especializados de reabilitaccedilatildeo o transporte sanitaacuterio para tentar

abordar a questatildeo do transporte desses pacientes que tecircm dificuldade programa de recuperaccedilatildeo

da audiccedilatildeo programa de recuperaccedilatildeo da visatildeo coordenaccedilatildeo geral de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo

que eacute importante porque um conjunto grande das doenccedilas raras de natureza metaboacutelica depende

principalmente disso e tambeacutem a gente tinha grupos de definiccedilatildeo de protocolos

Vejam soacute satildeo todos programas novos que estavam comeccedilando e que natildeo tinha sentido

natildeo procurar natildeo se integrar com eles todos Na verdade a gente procura na poliacutetica o quecirc

Envolver tanto a atenccedilatildeo baacutesica quanto a atenccedilatildeo domiciliar a atenccedilatildeo especializada tanto a

niacutevel ambulatorial quanto a niacutevel hospitalar os centro especializados em reabilitaccedilatildeo que estatildeo

sendo criados no paiacutes e todos os centros jaacute existentes no paiacutes que lidassem com isso

O que a gente fez Primeiro a gente dividiu em dois grupos de doenccedilas as doenccedilas

geneacuteticas e as natildeo geneacuteticas Cada grupo tem trecircs eixos As doenccedilas geneacuteticas eixo das

anomalias congecircnitas deficiecircncia intelectual e erro inato do metabolismo As doenccedilas natildeo

geneacuteticas doenccedilas infecciosas auto imunes e auto inflamatoacuterias E ficou muito claro para noacutes

que principalmente na aacuterea das doenccedilas natildeo geneacuteticas essa separaccedilatildeo por grupo eacute mais difiacutecil

e que fica aberto para vocecircs criarem outros eixos outros serviccedilos e centros especializados

Para cada eixo satildeo definidos protocolos e quem ler a poliacutetica vai ver isso A gente tem

quais satildeo as funccedilotildees da atenccedilatildeo baacutesica os criteacuterios de encaminhamento da atenccedilatildeo baacutesica por

centro especializado e as interfaces que satildeo recomendadas Na atenccedilatildeo especializada as

funccedilotildees os procedimentos que ela pode realizar os criteacuterios de encaminhamento para

devoluccedilatildeo e o apoio diagnoacutestico tanto especiacutefico quanto geral

A atenccedilatildeo especializada seria a responsaacutevel por accedilotildees diagnoacutesticas e terapecircuticas de

indiviacuteduos com ou sob risco de doenccedilas raras Noacutes seguimos dois grandes setores o setor da

atenccedilatildeo especializada em doenccedilas raras e aqui esse serviccedilo pode atender apenas uma doenccedila

ou um grupo de doenccedilas de um mesmo eixo e os centros de referecircncias de doenccedilas raras que

satildeo centros mais complexos onde ele atende um grupo maior dois eixos dois setores daqueles

eixos ou mais do que isso

O que foi definido Portas de entrada O papel da atenccedilatildeo baacutesica o papel da meacutedia e alta

complexidade e isso tem que ter uma relaccedilatildeo tanto com o hospital como maternidade porque

o paciente com doenccedila rara natildeo vem soacute do ambulatoacuterio ou da atenccedilatildeo baacutesica ele pode vir do

berccedilaacuterio quando teve o diagnoacutestico de doenccedila rara da enfermaria ou de um CTI Aleacutem disso

deve-se fazer o treinamento de profissionais de sauacutede elaborar protocolos realizar pesquisa e

divulgar doenccedilas raras Aqui numa associaccedilatildeo estreita com as Associaccedilotildees Civis

O que a gente constata depois disso Que a gente propocircs uma poliacutetica integral criou-se

uma poliacutetica nova no SUS Cada conquista a gente entende que ela tem que representar um

avanccedilo e ela tem que estar aberta a modificaccedilotildees Ela natildeo vai estar focada apenas na

divulgaccedilatildeo nem no diagnoacutestico nem nas demandas judiciais e nem apenas no tratamento Ela

estaraacute centrada no acolhimento do paciente e no atendimento integral a esse paciente incluindo

a prevenccedilatildeo da doenccedila o tratamento etc Ela deve estar ligada tambeacutem ao conhecimento agrave

pesquisa e agrave divulgaccedilatildeo

A poliacutetica deve envolver todo o SUS tanto atenccedilatildeo baacutesica e especializada Ela tem vaacuterias

portas de entrada assegura interface assegura tratamento hospitalar de urgecircncia e ciruacutergico

assegura reabilitaccedilatildeo terapia ocupacional fonoaudiologia e outras especialidades de apoio

Aleacutem disso e esse eacute um ponto importante ela procura ampliar os testes geneacuteticos no SUS Natildeo

133

sei se vocecircs sabem mas o SUS hoje soacute reconhece carioacutetipo e a gente tem uma seacuterie de outros

exames que estatildeo defasados inclusive a nossa medicina suplementar natildeo cobre todos

Quais satildeo as questotildees atuais A primeira questatildeo eacute a seguinte a poliacutetica estaacute pronta A

poliacutetica vai vingar Porque todo mundo todo brasileiro sabe que a gente tem lei que vinga e

tem lei que natildeo vinga Tem lei que vai agrave praacutetica e tem lei que natildeo vai E o que eacute que a gente tem

que dizer para que essa poliacutetica vingue

A primeira questatildeo eacute que a poliacutetica natildeo estaacute pronta ela eacute soacute um primeiro passo Ela tenta

estruturar as linhas gerais de como vai se desenvolver o atendimento agraves pessoas com doenccedilas

raras no acircmbito do SUS A partir dele vocecirc pode construir um caminho longo e seguro E cada

conquista deve significar o quecirc Um avanccedilo consolidado das Associaccedilotildees Trata-se de uma

poliacutetica aberta sujeita portanto a desdobramentos Bem e aiacute vem a parte mais importante que

eacute o papel de vocecircs a poliacutetica vai vingar Quais satildeo os proacuteximos passos Olha para essa poliacutetica

vingar a gente tem duas coisas que satildeo fundamentais Primeiro o reconhecimento dos exames

de diagnoacutestico Se a gente faz a poliacutetica e natildeo tem exame de diagnoacutestico a gente natildeo tem

poliacutetica e a comissatildeo da tripartite eacute que vai colocar isso Mas eacute necessaacuterio o quecirc A adesatildeo dos

vaacuterios municiacutepios eacute esclarecer os gestores porque eacute preciso que o gestor saiba que noacutes natildeo

criamos doentes novos e nem doenccedilas novas noacutes estamos abordando e organizando doenccedilas

que jaacute existem que estatildeo no SUS o tempo inteiro de um lado para o outro gastando tempo

sofrendo e muitas vezes tendo o dinheiro gasto de uma forma desorganizada certo Entatildeo para

essa poliacutetica vingar o papel fundamental eacute de vocecircs isso porquecirc Porque o SUS tem base no

municiacutepio e natildeo adianta o Ministeacuterio da Sauacutede aprovar a poliacutetica porque se ela natildeo tiver um

apoio um financiamento e o municiacutepio natildeo aderir natildeo vai haver poliacutetica Isso jaacute aconteceu com

a poliacutetica de geneacutetica no SUS

Entatildeo eacute o seguinte qual eacute o papel de vocecircs Ou vocecircs organizam os gestores a niacutevel

municipal para poder valer e fazer com que o municiacutepio adira agrave poliacutetica ou a poliacutetica natildeo vai

existir Poliacutetica natildeo cai do ceacuteu eu fiz movimento estudantil na eacutepoca da ditadura e existia um

ditado que era assim ldquoLiberdade natildeo se pede conquista-serdquo Eu digo pra vocecircs essa poliacutetica

natildeo pode ser pedida ela tem de ser conquistada E satildeo as associaccedilotildees que vatildeo ter que pressionar

natildeo soacute o Ministeacuterio da Sauacutede mas as Secretarias estaduais e municipais de sauacutede para que ela

funcione senatildeo natildeo adianta Entatildeo a gente precisa estar unida ter uma visatildeo de conjunto e

acima de tudo ser perseverante

Obrigado

Maria Teresinha de Oliveira Cardos3 - Boa tarde a todos

Eu quero parabenizar a organizaccedilatildeo do Congresso por esse evento que eacute o primeiro em

Brasiacutelia Eu acho extremamente importante Agradecer ao Rogeacuterio o convite de estar aqui com

vocecircs conversar com vocecircs mostrando como funciona a rede puacuteblica de sauacutede no atendimento

de doenccedilas raras que eacute um trabalho que noacutes estamos fazendo haacute 20 anos dentro do Distrito

Federal Eacute o nosso dia a dia e a cada dia com maior nuacutemero de indiviacuteduos Hoje noacutes jaacute temos

oito geneticistas temos nossos residentes que estatildeo aqui Dr Rose Dra Romina Dr Gerson

que satildeo os novos geneticistas que se agregaram ao serviccedilo E para mim eacute extremamente

prazeroso estar aqui falando com vocecircs poder contar um pouco dessa histoacuteria e oferecer o

serviccedilo a vocecircs

Tem vaacuterias definiccedilotildees de doenccedilas raras noacutes jaacute vimos vaacuterias nesse congresso Para a Uniatildeo

Europeia por exemplo satildeo cinco casos para cada 10 mil habitantes Para os Estado Unidos eacute

menos de 200 mil pessoas no paiacutes e para a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede 13 a cada 2000

indiviacuteduos De qualquer jeito elas satildeo doenccedilas mesmo que natildeo muito raras agraves vezes um para

3 Coordenadora do nuacutecleo de doenccedilas raras da Secretaria de Estado da Sauacutede do Distrito Federal

134

2000 e outras satildeo um para 40000 ou 50000 Todas elas para o indiviacuteduo e para a famiacutelia satildeo

uacutenicas Por isso que eacute importante que a gente rebata essa definiccedilatildeo para mostrar que tem vaacuterios

trabalhos a niacutevel mundial mostrando isso

Qual que eacute o impacto populacional dessas doenccedilas

Cerca de 6 da populaccedilatildeo apresenta uma doenccedila rara entatildeo natildeo eacute tatildeo raro assim num

contexto global Todas elas se caracterizam por uma diversidade de sintomas e algumas a

maioria delas tem muitas manifestaccedilotildees que satildeo comuns a doenccedilas natildeo raras

Para a classe meacutedica que natildeo tem uma formaccedilatildeo baacutesica na graduaccedilatildeo de doenccedilas raras o

paciente realmente passa sem diagnosticar Tem um caraacuteter crocircnico progressivo em geral satildeo

incapacitantes a grande parte delas afeta muacuteltiplos sistemas e afeta loacutegico a qualidade de vida

dos familiares e do paciente em si Entatildeo ela tem um impacto social muito grande Entatildeo dessas

6000 a 8000 doenccedilas raras que jaacute estatildeo catalogadas e que jaacute estatildeo estabelecidas 80 tem uma

etiologia geneacutetica ndash vocecircs viram no trabalho anterior do Dr Marcos que o Ministeacuterio da Sauacutede

separou entre geneacuteticas e natildeo geneacuteticas ndash soacute que naquele bolo das natildeo geneacuteticas tambeacutem tem o

dedinho da geneacutetica porque as doenccedilas autoimunes as doenccedilas auto inflamatoacuterias elas tambeacutem

tecircm um componente geneacutetico da mesma forma que muitas doenccedilas infecciosas elas tecircm alguns

pacientes que tecircm maior predisposiccedilatildeo a doenccedilas infecciosas do que outros pacientes entatildeo

sobra o quecirc Mais os processos de acidentes que satildeo adquiridos coisas de acidentes de

trabalho acidentes de tracircnsito que vatildeo dar doenccedilas que natildeo tem nenhum componente geneacutetico

Tem trabalhos mostrando que cinco novas doenccedilas estatildeo sendo descritas a cada mecircs e a

cada semana Natildeo eacute que as doenccedilas estatildeo aparecendo elas estatildeo sendo identificadas em sua

etiopatogenia ou em sua etiologia geneacutetica 65 delas tem uma expressatildeo grave e 66 tem

trabalhos mostrando uma incidecircncia maior de 70 se manifestam antes dos dois anos de idade

10 vatildeo se manifestar entre um e cinco anos 12 entre cinco e quinze anos 35 delas vatildeo a

oacutebito no primeiro ano entatildeo eacute uma causa de mortalidade infantil elevada e 33 tem um certo

grau de limitaccedilatildeo Em todas elas o indiviacuteduo nasce com a predisposiccedilatildeo geneacutetica Quer dizer

com a mensagem ali truncada Ela vai se manifestar dependendo de cada tipo de patologia

numa eacutepoca da vida soacute que a maioria delas se manifesta ateacute aos dois anos de idade Ainda

falando do impacto populacional a gente vecirc que tanto eacute maior esse impacto quando tardio o

diagnoacutestico Por quecirc Porque ela se torna mais incapacitante e eacute menos um ser uacutetil socialmente

aleacutem do impacto familiar que eacute muito grande agravado pela carecircncia de Centros de referecircncia

No nosso serviccedilo e no Brasil elas podem ser divididas ndash e foi mais ou menos o que o Dr

Marcos apresentou para vocecircs que dentro das doenccedilas raras 3 a 5 dos receacutem nascidos nascem

com anomalia congecircnita ndash em dois grupos aqueles que tecircm anomalias congecircnitas e aqueles que

nascem perfeitos do ponto de vista de exame fiacutesico e morfoloacutegico ao nascimento mas vatildeo

apresentar uma alteraccedilatildeo metaboacutelica posterior

Entatildeo noacutes temos o grupo das anomalias congecircnitas que representa 3 a 5 na populaccedilatildeo

que eacute a segunda causa de oacutebito infantil no Brasil jaacute que a primeira eacute a infecciosa e um terccedilo

das internaccedilotildees pediaacutetricas se devem a crianccedilas com defeitos congecircnitos No nosso serviccedilo

aqui em Brasiacutelia noacutes temos um serviccedilo totalmente em rede SUS pode ser que o SUS natildeo tenha

os seus Centros de Referecircncia mas noacutes jaacute existimos haacute duas deacutecadas desde 1990 com o serviccedilo

de geneacutetica totalmente inserido do SUS Ele eacute plenamente SUS Loacutegico que tem parceria com

as Universidades Eu sou professora da Universidade Catoacutelica mas o Serviccedilo em si eacute um

serviccedilo da Rede Puacuteblica de Sauacutede do Distrito Federal

Os erros inatos do metabolismo que eacute o segundo grupo de pacientes ocorrem com a

frequecircncia se for somar no total de um para 1500 para 2000 receacutem-nascidos um percentual

alto de oacutebito ocorre no primeiro ano de vida decorrente dessas doenccedilas metaboacutelicas Entatildeo ele

natildeo tem defeitos ele tem alteraccedilotildees nos seus ciclos bioquiacutemicos Sequelas graves neuroloacutegicas

que podem ocorrer quando natildeo tratadas um exemplo delas eacute a fenilcetonuacuteria que eacute muito bem

135

conhecida de vocecircs E a triagem neonatal ampliada eacute um instrumento de atenccedilatildeo primaacuteria

porque ela eacute preventiva ela faz o diagnoacutestico antes da manifestaccedilatildeo cliacutenica

No Distrito Federal noacutes jaacute temos essa rede de triagem neonatal ampliada funcionando desde

2012 2011 e ela eacute totalmente inserida no SUS com 27 doenccedilas triadas pela triagem neonatal

ampliada

Aqui eu vou mostrar para vocecircs como funciona o nosso fluxo de atendimento dos pacientes

dentro da rede SUS no Distrito Federal no Nuacutecleo de Geneacutetica nos hospitais da rede Os

pacientes podem chegar via as Unidades Baacutesicas de Sauacutede grande parte desses pacientes satildeo

encaminhados das unidades baacutesicas noacutes temos uma rede muito grande de hospitais unidades

baacutesicas hospital primaacuterio secundaacuterio e terciaacuterio dentro da rede elas vecircm das cliacutenicas de

pediatria ou das UTIs emergecircncias e das cliacutenicas especializadas Entatildeo elas satildeo encaminhadas

dos vaacuterios graus de complexidade e elas vatildeo ser distribuiacutedas nos ambulatoacuterios no Nuacutecleo de

Geneacutetica que tem no HMIB4 no ambulatoacuterio geral o ambulatoacuterio de neonatal e tem o

ambulatoacuterio de erro inato do metabolismo No hospital da crianccedila eacute um hospital especializado

e noacutes estamos montando laacute aleacutem das doenccedilas neurogeneacuteticas monogeneacuteticas oncogeneacuteticas e

as endocrinopatias noacutes estamos criando agora o centro de referecircncias em infusatildeo e terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica

No hospital de apoio noacutes temos a triagem neonatal e todo o grupo multidisciplinar

dedicado a triagem neonatal e ao tratamento dos casos positivos e no Hospital de Base aleacutem

dos internos noacutes temos a geneacutetica dos adultos que natildeo pode ser deixado de fora Entatildeo eles

satildeo encaminhados baseados na especialidade na idade e no tipo de doenccedila As doenccedilas raras

estatildeo inseridas dentro do Nuacutecleo haacute 20 anos como doenccedilas geneacuteticas vindo desses vaacuterios locais

que depois satildeo encaminhadas agraves equipes multidisciplinares que trabalham em parceria com a

gente a neuropediatria a endocrinologia a cardiologia a oftalmologia a nefrologia todas

essas especialidades dependendo da necessidade do paciente Temos um grupo de apoio com

fonoaudioacutelogos psicoacutelogos odontologistas e a nutricionistas que trabalha com parceria direta

com a gente no ambulatoacuterio e aleacutem dos exames de imagem que fazem parte do diagnoacutestico

confirmatoacuterio

A coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras foi criada pela Secretaria de Sauacutede agora em marccedilo de

2013 tudo isso em diaacuterio oficial Entatildeo eacute tudo reconhecido oficialmente para exatamente

coordenar o fluxo de referecircncia e contra referecircncia desses pacientes implementar os exames a

facilitaccedilatildeo de ter consultas e o acesso a terapias especiacuteficas em que globalize o paciente e a

famiacutelia Eacute o Projeto Nacional de Doenccedilas Raras e eacute isso que estaacute no Ministeacuterio da Sauacutede e que

na verdade a gente vai colaborar para que isso seja realmente implementado com a ajuda de

vocecircs

As perspectivas para o centro para a coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras eacute exatamente tornar-se

um centro de reposiccedilatildeo enzimaacutetica um laboratoacuterio de neuromuscular integrado com as equipes

de apoio monogeneacutetica e as parcerias de investigaccedilatildeo e diagnoacutestico

Noacutes temos aqui a Dra Juliana que tambeacutem eacute da UnB e faz um trabalho de pesquisa Noacutes

jaacute temos vaacuterios projetos com a UnB a Dra Juliana eacute capitatilde nessas pesquisas em relaccedilatildeo as

doenccedilas dismorfoloacutegicas diagnoacutestico molecular dessas doenccedilas

Na Universidade Catoacutelica noacutes temos um grupo estudando displasias oacutesseas erros inatos do

metabolismo e um grande projeto que centralizou o nuacutecleo de geneacutetica da UnB e da

Universidade catoacutelica numa grande rede de investigaccedilatildeo diagnoacutestica das doenccedilas geneacuteticas em

geral principalmente dismorfoloacutegicas Entatildeo a gente tem todo esse arcabouccedilo noacutes temos

residecircncia temos a parte de pesquisa e temos os ambulatoacuterios de cliacutenica Eacute um centro completo

integrado de investigaccedilatildeo das doenccedilas raras

4 Hospital Materno Infantil de Brasiacutelia

136

Aqui estaacute o nosso site5 o nosso email que eacute do nuacutecleo de geneacutetica estaacute o telefone os

telefones do serviccedilo de geneacutetica do hospital de apoio

Eu quero agradecer vocecircs por terem me escutado e a gente daqui para a frente vai caminhar

junto para que essa coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras no Distrito Federal faccedila parte de todo esse

processo de integraccedilatildeo social do paciente

5 saudedfgovbr nucleodegeneticadfyahoocombr

137

6ordf Mesa A rede de apoio ao paciente

Ana Maria Martins1 - Boa tarde a todos e a todas

Eu agradeccedilo ao Rogeacuterio por ter lembrado de mim para poder falar para vocecircs

Eu sou pediatra de formaccedilatildeoe depois especializado em geneacutetica cliacutenica e venho me

dedicando a essas doenccedilas jaacute haacute algum tempo

Na verdade o meu primeiro contato com doenccedila rara foi quando eu tinha nove anos de

idade Eu tenho uma irmatilde que nasceu com uma doenccedila rara Entatildeo esse foi o meu primeiro

contato e logicamente eu me envolvi muito porque eu tinha nove anos Eu era uma irmatilde assim

muito ansiosa Eu queria uma irmatilde pequena para poder ainda brincar e ela acabou precisando

fazer vaacuterias cirurgias Quer dizer eacute uma doenccedila bem complexa estaacute comigo haacute 49 anos Ela ia

fazer uma cirurgia com um mecircs e meio de vida e mamatildee tinha medo que ela natildeo voltasse da

cirurgia porque os meacutedicos disseram que era muito grave Uma cirurgia na cabeccedila naquela

eacutepoca era um pouco mais complicado E eu fui ao hospital para me despedir dela e entrei numa

sala que tinha muitas crianccedilas neuroloacutegicas para cirurgia muito hidrocefalia e eu falei para

minha matildee quando eu sai de laacute que eu ia crescer e ia realmente cuidar desse tipo de paciente

Entatildeo minha histoacuteria vem de haacute muito tempo E eu fui para a escola paulista de medicina laacute

eu fiz minha residecircncia em pediatria depois logo da residecircncia eu comecei a especializaccedilatildeo em

geneacutetica cliacutenica e comecei a tomar conta ndashporque a escola tinha uma cooperaccedilatildeo com a APAE2

de Satildeo Paulo ndash comecei a tomar conta dos pacientes com fenilcetonuacuteria Fui na APAE durante

sete anos como voluntaacuteria e atendendo esses pacientes Acabei fazendo meu doutorado em

fenilcetonuacuteria e na verdade esse foi o meu grande contato com as doenccedilas e os erros inatos do

metabolismo Fiz o meu poacutes-doutorado dentro da aacuterea de geneacutetica geral e natildeo do metabolismo

e em 1997 pela necessidade de se criar um serviccedilo que cuidasse desse grupo de pacientes a

gente acabou abrindo um centro de referecircncia em erro inato do metabolismo Em 1999 eu

comecei a fazer tratamento da doenccedila de Gaucher e aiacute comeccedilou a surgir um problema porque

eu dividia o ambulatoacuterio com o pessoal da dismorfologia Eu atendia segunda e quarta

trabalhava o dia todo e o pessoal da dismorfologia terccedilas e quintas Sexta era o dia das reuniotildees

cientiacuteficas Eu comecei a ter um problema que era local para fazer o tratamento que eacute

endovenoso dessas doenccedilas Em 2005 por essa necessidade a gente foi impulsionado a abrir

uma ONG que se chama Instituto de Geneacutetica e Erro Inato de Metabolismo Essa ONG existe

para dar suporte para ao ambulatoacuterio que eacute o CREIM3 que eacute o de erro inato de metabolismo

do SUS e da Universidade Federal de Satildeo Paulo

E o que satildeo essas doenccedilas

Satildeo todas doenccedilas geneacuteticas hereditaacuterias satildeo mais de 700 doenccedilas hoje Como toda a

doenccedila rara tem sintomas parecidos com doenccedilas mais frequentes e isso acaba dificultando o

diagnoacutestico

50 dessas doenccedilas tem tratamento Desse grupo de metabolismo um nuacutemero bastante

importante e a uacutenica coisa que eu posso dizer para o meacutedico para o profissional de sauacutede eacute que

toda vez que ele tem um caso um paciente com um quadro cliacutenico ou agudo que ele natildeo entende

o que estaacute acontecendo ele tem que pensar em erro inato ou em uma doenccedila rara Esta eacute a

caracteriacutestica Se manifesta diferente daquilo que eacute a maioria do conhecimento do meacutedico ou

do profissional de sauacutede e a gente natildeo tem essa dedicaccedilatildeo na Universidade

1 Universidade Federal de Satildeo Paulo 2 Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais 3 Centro de Referecircncia em Erros Inatos do Metabolismo httpwwwunifespbrcentroscreim

138

Entatildeo tudo depende aqui dessa nossa constituiccedilatildeo geneacutetica 80 das doenccedilas raras satildeo de

origem geneacutetica e aquelas que satildeo ambientais muitas vezes tecircm um papel de alguma

predisposiccedilatildeo que pode tornar a doenccedila mais grave E tudo vem da nossa formaccedilatildeo dos cerca

de 25000 genes que vieram do nosso pai e que se juntaram com 25000 da nossa matildee e formaram

um ser humano com 25000 pares de genes Isso vai determinar com quem a gente parece dentro

da nossa famiacutelia como a gente funciona e como eacute que eacute o nosso metabolismo

Da mesma forma aqui eu comeccedilo um pouco essa histoacuteria essa minha histoacuteria com o erro

inato de metabolismo Quando eu comecei quando eu abri o ambulatoacuterio era uma manhatilde por

semana no ano seguinte que foi em 98 jaacute era dois dias Nesse primeiro ano foi uma coisa

muito difiacutecil porque eram pacientes muito diferentes que vinham e eu nunca tinha atendido

eles os erros inatos do metabolismo todos juntos eu conhecia um ou outro E aiacute a gente ficou

meio perdido o primeiro ano foi um ano bastante difiacutecil Se trabalhava muito estudava muito

para entender o que era aquilo Aiacute a gente encontrou a informaccedilatildeo que mostrava uma

classificaccedilatildeo que pegava aquelas 700 doenccedilas e dividia em trecircs grupos E esse primeiro grupo

estaacute relacionado com a ingestatildeo de proteiacutena e accediluacutecar Eacute um grupo que se manifesta muito cedo

porque a crianccedila nasce e ela vai mamar e aiacute comeccedilam a acontecer os problemas porque ela tem

problema no metabolismo para proteiacutena ou o accediluacutecar Esse grupo relacionado a produccedilatildeo de

energia essa energia que manteacutem a gente de peacute manteacutem a gente vivo e que eacute uma energia

importante ou que nos mantm funcionando mesmo dormindo ou em jejum

Eacutesse grupo de doenccedilas vai aparecer em jejum prolongado E essas doenccedilas esses exames

que estatildeo em laranja eacute o que a grande maioria dos hospitais faz mas com algumas dificuldades

Os que estatildeo em azul satildeo os que a gente natildeo faz e aiacute a gente vai depender de algumas parcerias

ou de alguns favores porque satildeo exames que natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

O terceiro grupo eacute completamente diferente do outro grupo inclusive a investigaccedilatildeo Satildeo

doenccedilas onde o acuacutemulo eacute de uma moleacutecula maior Os pacientes vatildeo ter alteraccedilotildees visiacuteveis um

fiacutegado e um baccedilo grande uma estatura pequena um fundo de olho alterado uma alteraccedilatildeo na

coacuternea que vai dar uma opacidade de coacuternea Entatildeo eu vou ter situaccedilotildees de um depoacutesito e esse

depoacutesito pode ateacute ser visiacutevel

Muito importante nesse grupo satildeo as doenccedilas lisossocircmicas Elas trouxeram a terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica que teve um papel muito importante principalmente nos paiacuteses em

desenvolvimento porque acabou trazendo um desenvolvimento maior para as doenccedilas

geneacuteticas Porque aqui comeccedilou um estiacutemulo em relaccedilatildeo agrave diagnoacutestico As coisas comeccedilaram

a melhorar ateacute a informaccedilatildeo para os meacutedicos de maneira geral por conta desse tratamento A

gente tem alguns pacientes um grupo que eacute bastante conhecido jaacute encontrei umas amigas aqui

de associaccedilotildees de pacientes com mucopolissacaridose

O que que nos fez abrir essa ONG esse CREIM ou buscar esse tipo de tratamento

Eu jaacute tinha uma experiecircncia que vinha da APAE de Satildeo Paulo que era assistir e participar

das discurssotildees do atendimento multidisciplinar que eacute muito diferente do que a gente tem na

universidade Na residecircncia de pediatria eu natildeo via o atendimento multidisciplinar As pessoas

natildeo estavam juntas atendendo e conversando a respeito daquela situaccedilatildeo E aiacute eu comecei a

perceber que os pacientes quando eles chegam eles jaacute fizeram uma peregrinaccedilatildeo muito grande

por muitos serviccedilos meacutedicos ou consultoacuterios meacutedicos que tecircm uma falta de informaccedilatildeo muito

grande Todos os profissionais de sauacutede natildeo soacute dos meacutedicos todos de maneira geral Ficaram

muitos anos em busca do diagnoacutestico os que chegam para mim Tem paciente adulto que chega

com 45 anos Quando a gente consegue fazer o diagnoacutestico que ele procura desde os oito anos

de idade jaacute tem um atraso muito grande Eacute uma anguacutestia vocecirc ter um problema de sauacutede seacuterio

e descobrir o que eacute que eacute aquilo Muitos exames geralmente chegam com um pacote de exames

sem resultado ainda sem fechar aquele diagnoacutestico Anguacutestia muito grande decepcionados e

obviamente muito cansados Agraves vezes eles ateacute chegam bravos com o serviccedilo porque aquele eacute

o que ele chegou agora entatildeo agora ele vai descontar naquele laacute Tem essa questatildeo E muito

139

aacutevidos para ter informaccedilatildeo sobre aquele problema que estaacute na famiacutelia dele ou nele ou estaacute em

algueacutem da famiacutelia

Quando eu comecei a trabalhar em 97 a gente tinha alguns voluntaacuterios fono e fisioterapeuta

que iam trabalhar com a gente Isso sempre te agonia um pouco porque natildeo te daacute uma seguranccedila

de que o serviccedilo vai se manter mas ele funcionou assim ateacute 2005 Em 2005 quando a gente

abriu a ONG a gente alugou uma casa e passou a pagar a alguns profissionais para ficarem com

a gente soacute a atender os nossos pacientes A nutricionista a fono que trata dos problemas natildeo

soacute de fala mas daqueles que tem dificuldade para engolir A disfagia eacute muito frequente no meu

ambulatoacuterio a fisioterapia a psicologia e eacute aquilo que a gente conseguiu ateacute hoje de

multidisciplinar

O diagnoacutestico a gente ainda tem muita dificuldade Melhorou em relaccedilatildeo ao que era em 97

mas ainda tem por falta de recursos A maioria dos exames natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

entatildeo a gente acaba dependendo de alguns favores

O tratamento tem ainda muitas dificuldades Vocecircs jaacute cansaram de ouvir mas a

judicializaccedilatildeo atrasa muito a introduccedilatildeo do tratamento Muitas vezes chega e natildeo daacute tempo

Entatildeo realmente eacute uma anguacutestia para quem trabalha laacute na linha da frente com o paciente

A gente divulga muito a informaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos erros inatos do metabolismo temos

algumas publicaccedilotildees fizemos um livro de dietas Como no Brasil a gente natildeo tinha muita coisa

onde ir buscar esse tipo de informaccedilatildeo e a nossa missatildeo eacute ter um atendimento multidisciplinar

de excelecircncia para melhorar a qualidade de vida tanto do paciente como de seus familiares

fizemos esse livro E foi aiacute que a gente percebeu que realmente existia um deacuteficit muito grande

porque na verdade quem melhora a qualidade de vida do paciente satildeo os outros profissionais

de sauacutede natildeo o meacutedico O meacutedico faz diagnoacutestico mas quem melhora a qualidade de vida eacute a

fisioterapia eacute a nutriccedilatildeo sem duacutevida nenhuma e por isso eles satildeo tatildeo necessaacuterios e eacute nisso que

a gente acredita

As doenccedilas raras a gente pode falar agora no geral o que precisam

Informaccedilatildeo do profissional de sauacutede para que ele saiba identificar aquela doenccedila rara para

que aquele que estaacute laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede possa dizer Nossa isso daqui deve ser

uma doenccedila rara E aiacute ele encaminha porque senatildeo a gente natildeo vai sair de onde estaacute vamos

ter centros de referecircncia e natildeo vai ter como encaminhar porque ele natildeo identifica que aquilo eacute

uma doenccedila rara que essa situaccedilatildeo eacute uma doenccedila rara Se ele identificar ele encaminha para o

local disponiacutevel O meacutedico primeiro ele tem que querer descobrir o diagnoacutestico daquilo que

ele natildeo conhece porque ele natildeo sabe o que eacute mas ele tem que ter esse impulso de querer

descobrir Hoje se ele natildeo sabe ele fala para o paciente Natildeo precisa mais vir aqui porque eu

natildeo sei o que o seu filho tem ou Eu natildeo sei o que vocecirc tem e isso eacute uma coisa que natildeo pode

mais acontecer Ele vai ter que se envolver tambeacutem com as doenccedilas raras Ele vai ter que querer

descobrir o diagnoacutestico e a gente descobre estudando indo agrave internet conversando com os

colegas fazendo discussatildeo de caso quer dizer essa ferramenta de informaccedilatildeo ela tem que

chegar laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede O prognoacutestico a gente soacute vai poder falar para famiacutelia

E como eacute que vai ser o futuro

Se eu tiver o diagnoacutestico aiacute eu posso prevenir graves complicaccedilotildees posso fazer

aconselhamento geneacutetico posso fazer maiores orientaccedilotildees agrave famiacutelia Essa questatildeo do

diagnoacutestico eacute fundamental para vocecirc incluir esse indiviacuteduo dentro dessa rede de atendimento

A gente tem um 0800 e email para profissionais de sauacutede para gente ajudar nessa parte de

orientaccedilatildeo com relaccedilatildeo a conduzir um paciente que ele suspeite de erro inato de metabolismo

que eu acho que eacute o que vai precisar para as doenccedilas raras uma linha que a pessoa possa entrar

em contato e ter orientaccedilatildeo

Obrigada

140

Adriana Ueda4 - Boa tarde e obrigada

Hoje a gente jaacute falou de absolutamente de tudo a respeito de doenccedila rara poliacutetica puacuteblica

e tudo mais u tenho que contar a minha histoacuteria e explicar porque que eu vim parar aqui hoje

Meu menino nasceu e com o tempo natildeo se desenvolvia da forma que era esperado que uma

crianccedila se desenvolvesse normalmente Fomos a um neuropediatra que nos encaminhou para

o IGEIM justamente porque ele falou Natildeo eacute nada do que eu conheccedilo entatildeo vou suspeitar de

um erro inato de metabolismo ou uma doenccedila rara iniciando primeiro a pesquisa com o erro

inato de metabolismo

Foram feitos alguns exames A Dra Ana Maria ateacute era uma das meacutedicas que atendiam o

Guilherme Houve alguma alteraccedilatildeozinha e ele ficou com o diagnoacutestico de intoleracircncia a

proteiacutena lisinuacuterica Fez uma dieta restritiva de proteiacutena durante um ano que natildeo adiantou nada

o menino quase morreu perdeu ciacutelios sobrancelha unha porque ela era restritiva de proteiacutena

Retiramos aquela dieta e fomos procurar outra coisa

Acidentalmente no Hospital das Cliacutenicas de Satildeo Paulo uma meacutedica olhou e falou Nossa

que menino bonito o que ele tem Eu respondi ldquonatildeo seirdquo e Ele tem cara de ser Angelman

Ali foi a primeira vez que eu ouvi falar nessa Siacutendrome

Passei em outro meacutedico que olhou o eletro dele e falou Ah eletro de Angelman Fui para

outro geneticista e ele falou Eacute Algelman manda para o genoma para fazer o exame Fizemos

os exames para Siacutendrome de Angelman e deu negativo Mas como saiu o diagnoacutestico cliacutenico

de Angelman foi para Angelman e ficamos cuidado de Angelman ateacute que oito anos depois que

foi o tempo que demorou para conseguir trazer os reagentes para o Brasil porque por causa da

demora do Processo da ANVISA natildeo conseguia trazer esses reagentes Levou oito anos

Fecharam o diagnoacutestico fizeram o sequenciamento molecular e realmente o Gordo ndash o

Guilherme que eu chamo de Gordo ndash tem a Siacutendrome de Angelman na modalidade mutaccedilatildeo

Eacute uma crianccedila que tem uma Siacutendrome que se vocecirc der uma olhada ele vai parecer com inuacutemeras

outras Siacutendromes e porquecirc a dificuldade

Aleacutem de ser rara ela aparece com um monte de outra coisa Ele tem deficiecircncia intelectual

severa atraso psicomotor grave ausecircncia de fala problema de marcha falta de equiliacutebrio

ataxia deacuteficit de atenccedilatildeo hiperatividade hipermotricidade crises convulsivas epilepsia

espectro autista que varia de um leve a severo hipopigmentaccedilatildeo de pele e cabelos dificuldade

para dormir ndash e dificuldade para dormir significa que ele dorme trecircs horas por noite ndash

hipersensibilidade ao calor temperatura luz e exposiccedilatildeo solar estrabismo isotroacutepico

movimento aleatoacuterio de matildeos e microcefalia

Depois disso daqui vocecirc fala assim Quanta crianccedila tem com essa mesma caracteriacutestica

Tem inuacutemeras Siacutendrome de West os proacuteprios autistas o autista tiacutepico tem muita coisa aiacute

entatildeo eacute muito difiacutecil o meacutedico conseguir ir ali na cabeccedila e acertar Eu consegui depois de muitos

anos de luta E assim como eu tive todos esses anos de luta eu tive a sorte de ter apoio de pai e

de matildee que ficavam cuidando dele enquanto eu ficava passando email para o mundo inteiro

Tinha o meu carro que eu podia levar ele para todos os lados podia fazer os exames eu podia

pagar alguns exames com exceccedilatildeo do exame especiacutefico de sequenciamento molecular que estaacute

custando por volta de 17 mil reais e esse eu natildeo tinha dinheiro para pagar Eu soacute consegui fazer

porque foi um exame para a tese de poacutes-doutorado de uma meacutedica pesquisadora do genoma

que usou a verba do CNPQ dela porque senatildeo eu tambeacutem natildeo teria feito esse exame e outras

tantas pessoas com outras tantas crianccedilas com Siacutendromes raras tambeacutem natildeo vatildeo conseguir e

vatildeo ficar soacute com o diagnoacutestico cliacutenico porque elas natildeo tem condiccedilotildees de bancar um exame

desses

4 Instituto Canguru

141

Depois de estar envolvida com tudo isso eu vi a dificuldade que outras matildees tinham

Porque talvez natildeo tivesse o mesmo desembaraccedilo que eu tive ou natildeo tinham as mesmas

oportunidades entatildeo o que que eu fiz Eu comecei a entrar em contato com outras matildees com a

Siacutendrome de Angelman e montei na eacutepoca era o Orkut montei uma Associaccedilatildeo e tudo o mais

Soacute que o negoacutecio foi crescendo demais e eu falei Eu agora natildeo quero mais ficar soacute com a

Siacutendrome de Angelman Aiacute recebi o convite para ser presidente do Instituto Canguru que natildeo

eacute uma Associaccedilatildeo de pacientes eacute uma associaccedilatildeo para pacientes com erros inatos do

metabolismo e doenccedilas raras

Entatildeo o que aconteceu laacute no Instituto Canguru

Se aparece para mim algueacutem falando de homicistinuacuteria loacutegico que eacuteSimonee jaacute entro em

contado direto com ela Porfiria eacute a Dona Ieda neurofibromatose eacute a Lilian Entatildeo a gente jaacute

faz o encaminhamento e quando natildeo tem ningueacutem e quando natildeo tem associaccedilatildeo vai para

dentro da bolsa do Canguru e aiacute a gente abraccedila aquilo e vai atraacutes daquela doenccedila Fazemos

principalmente o serviccedilo de judicializaccedilatildeo para obtenccedilatildeo de medicamentos que eacute aquela coisa

que haacute 12 anos atraacutes que eacute o tempo que o Canguru temnatildeo se fazia era muito difiacutecil vocecirc

tinha que contratar

As associaccedilotildees natildeo estavam preparadas para lidar com esse tipo de problema que eacute o das

doenccedilas raras Agora no Instituto Canguru a gente jaacute estaacute passando para um outro enfoque

Agente jaacute estaacute pegando as deficiecircncias de uma forma geral porquecirc Porque todas as doenccedilas

raras podem causar deficiecircncia intelectual visual fiacutesica Oleque eacute gigantesco E qual eacute a

importacircncia das Associaccedilotildees de termos eventos como este

Vocecirc fica sabendo que a amiga da sua prima tem uma crianccedila que tem um problema assim

Vocecirc pode natildeo lembrar do nome da Siacutendrome de Angelman vocecirc pode natildeo lembrar do nome

da crianccedila o meu nome mas vocecirc vai lembrar de algueacutem que alguma vez contou uma histoacuteria

parecida dessa busca e de ir atraacutes e de natildeo conseguir o diagnoacutestico e aiacute vocecirc vai poder indicar

algueacutem e falar assim Olha tem o Rogeacuterio da AMAVI que vai de repente entrar em contato

com a Adriana daquela outrahellip bom a mulher do cabelo roxo Eacute para isso que as associaccedilotildees

estatildeo aqui A gente estaacute aqui para unir Entatildeo se bate em mim uma coisa que natildeo eacute minha eu

encaminho ela eacute quem sabe as outras e noacutes temos muita forccedila nisso E doenccedilas raras elas satildeo

raras mas se juntar todos noacutes noacutes somos muitos e a gente tem que cada vez se unir mais Vou

contar uma histoacuteria soacute para terminar Na eacutepoca que eu montei a associaccedilatildeo da Siacutendrome de

Angelman a minha vice-presidente era do Rio de Janeiro e laacute no Rio de Janeiro eles tecircm uma

certa facilidade com matildeo de obra para diaristas e ela tinha uma diarista que jaacute estava com ela

laacute coisa de sete anos coisa assim e uma amiga dela arrumou um emprego perto da casa da

minha vice-presidente Bem no primeiro dia ela falou para a amiga Vamos embora para casa

juntas eu passo aiacute Ela passou na casa da patroa da colega e falou Vamos embora e ela

respondeu Natildeo posso o filho da patroa estaacute passando mal e a mulher estaacute desesperada Taacute

ok mas o que eacute Eu natildeo sei eacute o meu primeiro dia acho que eu sou peacute frio neacute Bom nisso

entra a mulher trazendo o menino o menino se debatendo tendo uma crise convulsiva Como

essa diarista jaacute tinha experiecircncia com o filho da minha vice-presidente ela tomou a posiccedilatildeo

acalmou ajudou a matildee e tudo o mais Portanto satildeo esses casos que acontecem no dia a dia e a

informaccedilatildeo sobre a doenccedila rara pode vir de lugares que nem imaginamos Eacute preciso ficarmos

atentos Obrigado

Siacutelvia Portugal5 ndash Quando fui convidada para escrever o texto sobre doenccedilas raras procurei

nos dicionaacuterios as definiccedilotildees do que eacute raro Retomo aqui algumas questotildees do texto para pensar

um pouco sobre quais satildeo os problemas de alguns dos olhares sobre o raro e quais satildeo os

5 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

142

desafios que ele coloca E portanto isto que jaacute foi aqui falado muitas vezes esta ideia do raro

com que noacutes poucas vezes nos confrontamos eacute de fato o problema

Falou-se muito de poliacuteticas puacuteblicas e como eacute que noacutes compatibilizamos uma poliacutetica que

tem que ser universal que tem que garantir tudo para todos com a questatildeo que natildeo eacute especiacutefica

soacute das doenccedilas raras mas que aqui assume um caraacuteter fundamental que eacute cada caso eacute um caso

Esta eacute uma dificuldade grande para as poliacuteticas e portanto o desafio eacute este eacute conseguirmos

simultaneamente garantir o universal e o singular E portanto isso nos faz olhar para a questatildeo

da integralidade da pessoa e do cuidado

Outra questatildeo importante eacute esta ideia de que o raro eacute o que foge agrave norma e o fugir agrave norma

nas nossas sociedades eacute dramaacutetico Noacutes somos sociedades cada vez mais normalizadas e os

impactos meacutedicos que foram aqui falados sobretudo os sociais resultam tambeacutem do fugir agrave

norma Tudo isto jaacute foi aqui falado a questatildeo dos diagnoacutesticos a questatildeo das relaccedilotildees sociais

o estigma fortiacutessimo que enfrentam estas pessoas e estas famiacutelias no cotidiano ao longo da

vida sistematicamente Se a doenccedila eacute rara a exclusatildeo social eacute de fato muito muito frequente

Depois este problema dos nuacutemeros e esta ideia de ldquonatildeo sei quantos por cento ser 100 na nossa

casardquo eacute de fato muito expressiva do que eacute doenccedila rara Mas a questatildeo da minoria natildeo eacute

meramente estatiacutestica ela faz com que a capacidade de pressatildeo seja de fato minoritaacuteria e

portanto isso eacute pretexto para o desinteresse o desconhecimento ndash dos governos da academia

da populaccedilatildeo em geral daqueles para quem o 100 estaacute muito longe da sua casa E os desafios

tambeacutem jaacute foram aqui sobejamente identificados investigar conhecer investir informar

divulgar e conhecer as doenccedilas Esta ideia que eacute a ideia deste seminaacuterio de um olhar social

Conhecer essas pessoas eacute essencial natildeo eacute soacute importante conhecermos as doenccedilas

obviamente que eacute conhecendo as doenccedilas que podemos melhorar a qualidade de vida das

pessoas mas saber quem satildeo essas pessoas como eacute que elas vivem quantas satildeo quem satildeo elas

como vivem quais satildeo as suas condiccedilotildees de vida quais satildeo as suas relaccedilotildees sociais quais satildeo

os apoios que elas tecircm quais satildeo os apoios que elas natildeo tecircm Isto eacute fundamental para melhorar

a qualidade de vida dessas pessoas e para combater o estigma a que a maioria delas estaacute sujeita

E esta ideia do raramente do raro enquanto adveacuterbio eacute para mim o que eacute mais dramaacutetico nesta

situaccedilatildeo Eacute o fato de as pessoas serem muito pouco ouvidas ou seja raramente a voz dos

pacientes a voz e as vozes das famiacutelias satildeo ouvidas seja pelos poliacuteticos seja pelos acadecircmicos

seja pelos profissionais do campo Muitas vezes e foram aqui os cartoons do professor Luiz

Oswaldo reveladores disso muitas vezes o olhar ou o ouvir natildeo eacute exatamente um olhar e um

ouvir eacute algo que eacute distante natildeo eacute proacuteximo natildeo eacute afetivo E o ouvir eacute ter como princiacutepio que as

pessoas sabem mais sobre a doenccedila do que muitas vezes eacute conhecido pelos outros e este

exemplo da diarista foi fenomenal Ou seja quem convive diariamente com a doenccedila os

proacuteprios ou aqueles que estatildeo proacuteximos sabem mais sobre aquela doenccedila e sobre aquela pessoa

viver aquela doenccedila do que um meacutedico que dispensa 10 a 15 minutos num consultoacuterio

Agora eu imagino o que eacute uma matildee ou um pai chegar a um consultoacuterio meacutedico e dizer o

diagnoacutestico que foi feito pela diarista como ouvimo haacute pouco Obviamente que haacute bons

exemplos em todas as profissotildees mas de fato as praacuteticas meacutedicas eacute disso que estamos aqui a

falar e a colocaccedilatildeo do Prof Luiz Osvaldo mostrou bem isso os profissionais meacutedicos estatildeo

muito pouco disponiacuteveis para ouvir outras vozes sobretudo para reconhecer o conhecimento

dessas vozes E natildeo eacute soacute saber que as pessoas sabem sobre as suas doenccedilas eacute tambeacutem pensar

que aquelas pessoas satildeo mais do que a doenccedila ou seja o diagnoacutestico jaacute foi aqui sobejamente

visto eacute fundamental mas as pessoas quando vivem com uma doenccedila quando vivem com o

diagnoacutestico continuam tendo vida para aleacutem desse diagnoacutestico Satildeo filhos satildeo matildees satildeo pais

satildeo avoacutes satildeo parentes satildeo amigos satildeo vizinhos gostam de trabalhar ou gostariam de trabalhar

de conviver de sair de ter momentos de prazer Por isso eacute tatildeo importante conhecer-las como

eacute importante conhecer a sua doenccedila aquilo que elas vivem e aquilo que elas natildeo vivem por

causa da sua doenccedila

143

Eu acho que um olhar que permite pelo menos refletir sobre esses problemas eacute de fato um

olhar a partir do cuidado e a partir das redes E tal como a definiccedilatildeo de raro enfrenta problemas

a definiccedilatildeo de cuidado tambeacutem enfrenta problemas ou seja a definiccedilatildeo generalizada do que eacute

o cuidado e esta ideia de que cuidar eacute algo pontual ou seja temos um problema e entatildeo

cuidamos e resolvemos ou entatildeo que o cuidado eacute assistecircncia eacute apoio eacute tratamento e eacute o

essencial o que foi mais falado aqui E isso tem a ver com o quecirc

Tem a ver com esta ideologia da independecircncia da autonomia que vigora nas nossas

sociedades nas quais noacutes temos que ser independentes uns dos outros natildeo podemos depender

uns dos outros E essa noccedilatildeo do cuidado como algo pontual e que noacutes soacute precisamos muito

episodicamente obscurece invisibiliza as necessidades das pessoas que precisam do cuidado a

tempo inteiro cotidiano prolongado ao longo da sua vida E portanto uma forma de combater

esta ideia do cuidado eacute exatamente reconhecer que todos noacutes somos dependentes uns dos outros

todos noacutes somos vulneraacuteveis e reconhecer tambeacutem que quem eacute cuidado quem precisa de

cuidados tambeacutem cuida de si proacuteprio Muitas vezes noacutes esquecemos disso As pessoas tambeacutem

satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado administram medicaccedilatildeo procuram informaccedilatildeo dialogam

com os meacutedicos discutem com os meacutedicos apresentam outras perspectivas e portanto cuidam

tambeacutem de si proacuteprias e satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado

O cuidado eacute absolutamente central e transversal na vida de todos natildeo soacute daqueles que satildeo

doentes tambeacutem dos outros noacutes todos Noacutes todos precisamos de algueacutem que nos alimente que

nos vista que nos transporte etc E o cuidado tem todas essas dimensotildees o conhecimento os

saberes saber olhar para uma pessoa e saber que ela tem um determinado tipo de doenccedila e natildeo

eacute preciso ser meacutedico para se ver isso As praacuteticas o que eu faccedilo no cotidiano como eacute que eu

alimento como eacute que eu visto como eacute que eu administro a medicaccedilatildeo onde eacute que eu vou quem

eacute que estaacute envolvido nisto as relaccedilotildees e os significados E estas dimensotildees tornam difiacutecil uma

definiccedilatildeo consensual

Eu trabalho com uma estudante de Doutoramento a Joana Alves que trabalha sobre isto

Ela fez uma tese de mestrado e estaacute a fazer uma tese de doutorado sobre o cuidado e ela trabalha

muito sobre esta noccedilatildeo do cuidado tentando combater exatamente esta divisatildeo entre os

cuidados formais e os cuidados informais

O que eu queria passar aqui era a necessidade de desconstruir essa dicotomia

formalinformal O que eu penso que pode de fato estilhaccedilar essa separaccedilatildeo entre os

profissionais e os outros eacute um olhar a partir das redes ou seja um olhar a partir do sujeito da

pessoa doente da sua famiacutelia focando na integralidade da pessoa na integralidade das suas

necessidades E um olhar a partir da rede permite colocar o sujeito no centro O conceito de

Rede Social eacute um instrumento analiacutetico que permite olhar para a realidade social a partir de

duas dimensotildees a forma das relaccedilotildees sociais quais eacute que satildeo as relaccedilotildees e o conteuacutedo das

relaccedilotildees o que eacute que circula no interior das relaccedilotildees os noacutes e os laccedilos ou seja os membros das

redes e os laccedilos que os unem E assim basta experimentar fazer trecircs questotildees simples quem

o quecirc e como Ou seja olhar para uma pessoa e pensar Quem satildeo os membros da sua rede

Eacute a matildee eacute o pai eacute uma tia satildeo os parentes satildeo os amigos satildeo os vizinhos eacute o meacutedico que

meacutedico eacute esse Que especialista Que psicoacutelogo Quem satildeo os membros da rede E depois O

que ela precisa O quecirc Quais satildeo os recursos que eacute preciso mobilizar Informaccedilatildeo apoio nas

tarefas cotidianas Medicaccedilatildeo O que for E entatildeo vamos ver Quem eacute que faz o quecirc E quem

eacute melhor a fazer o quecirc Eu natildeo diria que as diaristas satildeo melhores que os meacutedicos em fazer

diagnoacutesticos acho que isso deve ser caso uacutenico mas olhar muitas coisas que as pessoas da rede

informal fazem melhor do que os meacutedicos E portanto eacute isso que eacute olhar a partir das redes

O trabalho que tenho desenvolvido natildeo eacute especificamente sobre as doenccedilas raras mas

sobre a deficiecircncia e tambeacutem sobre a doenccedila mental mostra que quando noacutes olhamos para esta

rede quando noacutes olhamos para a prestaccedilatildeo de cuidados a famiacutelia estaacute sempre na primeira linha

Afamiacutelia eacute sempre a primeira a principal cuidadora a famiacutelia permanece no espaccedilo e no tempo

144

Como tal o Sistema de Sauacutede as poliacuteticas puacuteblicas os profissionais tecircm a obrigaccedilatildeo de tratar

as famiacutelias e os pacientes como parceiros

A rede eacute um instrumento analiacutetico mas eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo ou seja

colocar as pessoas no centro significa construir uma rede de cuidado O que eacute essencial na rede

eacute essa ideia de natildeo haver uma hierarquia de poderes dos saberes serem todos eles reconhecidos

e conheciacuteveis por todos aqueles que participam na rede E o saber tem que circular e as praacuteticas

tem que ser partilhadas E aqui eu pareccedilo que sou a grande defensora das famiacutelias e que estou

sempre a colocar os olhos nos profissionais que natildeo cumprem seu papel mas muitas vezes as

famiacutelias tambeacutem natildeo partilham com os profissionais de sauacutede tudo aquilo que fazem tudo

aquilo que procuram e escondem muitas vezes Como sabem que a hegemonia do modelo

meacutedico eacute muito forte por exemplo procuram terapias alternativas e tendem a esconder isso

dos profissionais de sauacutede o que muitas vezes tambeacutem complica e prejudica os itineraacuterios

terapecircuticos

Para terminar acabo voltando agrave definiccedilatildeo de raro essa ideia do raro como extraordinaacuterio

Eu acho que o dia de hoje foi um exemplo disso Isso eu jaacute sabia porque haacute muitos anos que

ouccedilo histoacuteria de famiacutelias cuidadoras e de fato as histoacuterias das famiacutelias e dos doentes com

doenccedilas raras Satildeo histoacuterias extraordinaacuterias que nos ensinam a viver num mundo que eacute

diferente que eacute um mundo de solidariedade que eacute um mundo de daacutediva e essa eacute uma realidade

que todos deviacuteamos conhecer e que a sociedade devia conhecer E este eacute de fato um desafio

para o futuro eacute perceber o que haacute de bom neste tipo de cuidado integraacute-lo no cuidado e nas

poliacuteticas puacuteblicas

Ouvi aqui hoje as posiccedilotildees acerca das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil e elas parecem

corresponder a isso tudo No fundo o meu olhar natildeo foi muito diferente do do representante

do Ministeacuterio da Sauacutede no iniacutecio da manhatilde Soacute que eu devo dizer uma coisa o desenho das

poliacuteticas eacute muito diferente daquilo que eacute a praacutetica das poliacuteticas e portanto o grande desafio

para o futuro natildeo eacute o desenho da sua poliacutetica que de fato parece muito boa e que integra

muitos desses princiacutepios que eu aqui enunciei mas o desafio para a poliacutetica puacuteblica no Brasil

como em qualquer outro lugar (noacutes em Portugal temos poliacuteticas fantaacutesticas que depois colapsam

por praacuteticas que as pervertem) eacute o risco da recusa de partilha de praacuteticas de saberes que no

fundo por questotildees que muitas vezes satildeo questotildees de poder que natildeo fazem sentido pervertem

as poliacuteticas e deixam de colocar as pessoas no centro Muito obrigada por esta oportunidade e

por este fantaacutestico dia de debate e partilha

Maria Helena6 - Boa noite

Eu quero agradecer inicialmente ao Rogeacuterio por esta oportunidade de estar aqui

representando a associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil e num evento que jaacute eacute exitoso mesmo antes

de acontecer Imagina depois de ter acontecido o que eacute que ele natildeo vai ser

A minha apresentaccedilatildeo aqui hoje estaacute voltada para o apoio das Associaccedilotildees de pacientes

na Rede de apoio ao paciente Eu estou representando a Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil que

eacute uma associaccedilatildeo de apoio a familiares e amigos de pacientes com Niemann Pick uma doenccedila

ultra rara que afeta uma pessoa em 120 mil no mundo Os objetivos da minha apresentaccedilatildeo satildeo

destacar na rede de apoio ao paciente as associaccedilotildees de familiares e amigos evidenciando a

importacircncia das associaccedilotildees no apoio para os pacientes e elencar possiacuteveis formas de apoio

porque satildeo inuacutemeras as formas de apoio e eu vou elencar aqui apenas algumas possiacuteveis

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara eacute arrasador para o paciente e sua famiacutelia todos noacutes

sabemos disso Todo o mundo que tem uma pessoa com doenccedila rara na famiacutelia ao receber um

diagnoacutestico muda todo o seu trajeto toda a sua caminhada Noacutes somos parte de um mundo de

raridades somos muitos raros no mundo pelo que vencer desafios passa a ser imperativo mas

6 Associaccedilatildeo de Niemann Pick Brasil

145

sem sombra de duacutevidas eacute uma coisa amedrontadora Soacute o amor e a feacute podem tornar os caminhos

menos tortuosos e isso a gente vecirc em todas as associaccedilotildees de apoio onde impera o amor onde

impera a feacute antes de mais nada a feacute e depois o amor porque soacute assim a gente consegue lidar

com as doenccedilas soacute assim a gente consegue caminhar

Na rede de apoios eu aqui desenhei uma rede que eacute aberta ela natildeo estaacute fechada de forma

nenhuma mas eu coloquei aqui alguns pontos de apoio e destaquei as associaccedilotildees de pacientes

Entatildeo todos esses pontos se relacionam eles interagem Noacutes temos as associaccedilotildees de apoio

que interagem com as instituiccedilotildees de pesquisa que interagem com profissionais de sauacutede que

interagem com o governo que interagem com o centro de referecircncia e que interagem com os

laboratoacuterios farmacecircuticos

O que leva algueacutem a buscar o apoio de uma associaccedilatildeo de pacientes

O diagnoacutestico Eacute aiacute que a pessoa consciente de um diagnoacutestico de doenccedila rara se vecirc num

mundo completamente novo e se pergunta Onde eu estou para onde eu vou e o que eacute que eu

quero achar Eacute aiacute que comeccedila a busca por iguais pessoas que tecircm e padecem da mesma

situaccedilatildeo e que podem compartilhar alguma coisa trocar experiecircncias e dar apoio muacutetuo

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara motiva na pessoa inicialmente um sentimento de

solidatildeo A pessoa se acha sozinha no mundo depois tem duacutevidas sobre a doenccedila e surgem as

necessidades de troca de experiecircncias porque cada um quer saber o que o outro tem como eacute

que ele age como eacute que ele faz e entatildeo quer trocar quer interagir quer compartilhar e por

fim a busca de informaccedilotildees porque as doenccedilas raras de modo geral natildeo tecircm informaccedilotildees

disponiacuteveis Quando descobrimos que existe uma doenccedila rara na famiacutelia a primeira coisa que

se faz eacute cair na internet e buscar informaccedilatildeo Quem pode traduz textos internacionais quem

natildeo pode vai atraacutes de quem possa dar alguma informaccedilatildeo de trocar alguma experiecircncia de

fazer alguma coisa

Qual eacute a expectativa do paciente eda famiacutelia com relaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo de apoio Apoio nas

dificuldades e desafios luta por dias melhores quer dizer lutar junto por dias melhores e unir

esforccedilos para vencer a caminhada que eacute difiacutecil

A associaccedilatildeo pode possibilitar ao paciente o acesso atratamentos e eu vou explicar como

reivindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes interface com associaccedilotildees congecircneres e busca de um

olhar social sobre o paciente

Entatildeo como eacute que as associaccedilotildees vatildeo atuar considerando esses aspectos

O acesso aos profissionais de sauacutede acontece quando a associaccedilatildeo congrega os

profissionais de sauacutede que tratam da doenccedila congrega em encontros procura saber onde eles

estatildeo e presta informaccedilotildees sobre a existecircncia daqueles meacutedicos daqueles profissionais

fisioterapeutas fonoaudioacutelogos nutricionista e toda a gama de profissionais de sauacutede que se

dediquem ao tratamento das doenccedilas raras Estimulando a interaccedilatildeo entre os profissionais de

sauacutede e pacientes o que eacute muito importante essa inter-relaccedilatildeo acontece nos encontros

promovidos pelas associaccedilotildees nos seminaacuterios porque aiacute satildeo trazidos os profissionais de sauacutede

para informar muito mais ainda sobre as doenccedilas para trocar experiecircncias para saber aprender

tambeacutem com as famiacutelias e esta eacute uma inter-relaccedilatildeo fundamental que as associaccedilotildees sempre

procuram fazer

Como eacute que as associaccedilotildees conseguem que os pacientes tenham acesso aos tratamentos

Evidentemente que a associaccedilatildeo natildeo vai possibilitar tratamentos porque natildeo tem condiccedilatildeo

de fazer isso a maioria Pelo menos a maioria mas tem condiccedilatildeo de saber quais satildeo os

tratamentos que existem de informar sobre eles para que os pacientes busquem esses

tratamentos e prestam muita atenccedilatildeo para o progresso que existe nos tratamentos da doenccedila

porque a cada dia aparece uma coisinha nova que vai se acrescentando que vai trazendo

alguma novidade e que pode realmente mudar em alguma coisa a vida daquele paciente

Reinvindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes como a associaccedilatildeo reivindica esses direitos

146

Atuando junto agraves instituiccedilotildees puacuteblicas em defesa da paridade de tratamento dos pacientes

defendendo os direitos dos pacientes ao atendimento atraveacutes dos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede

reivindicando os direitos de participaccedilatildeo na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas relativas a doenccedilas

raras Atuando em conjunto com as instituiccedilotildees congecircneres como a gente estaacute fazendo aqui

hoje junto ao governo todo mundo aqui buscando o mesmo objetivo de conseguir a definiccedilatildeo

e a aplicaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas na busca do atendimento igualitaacuterio e continuado para todos

os pacientes com doenccedilas raras

Na realidade eacute um atendimento que tem que ser igual para todo o mundo e continuado natildeo

eacute uma coisa que vai acontecer hoje nesse governo e depois no proacuteximo governo acabou

ningueacutem mais estaacute fazendo nada e fica por aiacute Tem que ser uma coisa igual e contiacutenua

continuada E finalmente disponibilizando assistecircncia juriacutedica aos pacientes uma coisa

tambeacutem importante porque infelizmente os medicamentos de alto custo precisam de

judicializaccedilatildeo

As Associaccedilotildees tem que estar preparadas tecircm que ter no miacutenimo uma assessoria juriacutedica

que possa reivindicar esse direito dos pacientes E a interface com as associaccedilotildees congecircneres

se faz pelo fortalecimento das iniciativas e articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees no paiacutes e no mundo

A gente procura saber o que estaacute acontecendo aqui no paiacutes o que as nossas ldquoirmatildesrdquo fazem aqui

e o que acontece no mundo De que forma tambeacutem a gente pode buscar beber do saber do

universo O que a gente pode trazer para o nosso cotidiano Apoiar eventos relativos a doenccedilas

raras no Brasil e em outros paiacuteses tambeacutem eacute uma atribuiccedilatildeo eacute uma coisa que noacutes podemos

fazer

Finalmente noacutes temos a busca de um olhar social para o paciente que eacute o tema um olhar

social para o paciente A gente tem essa busca quando a gente investe na consolidaccedilatildeo do

conhecimento sobre a doenccedila na sociedade quando a gente informa a sociedade sobre a doenccedila

para que a sociedade possa responder conhecendo o paciente conhecendo a pessoa que tem a

doenccedila rara Fortalecendo as accedilotildees da sociedade civil em defesa dos interesses do paciente

buscando apoio e solidariedade de todos os segmentos sociais sensibilizando a sociedade para

a necessidade de inclusatildeo do paciente com doenccedila rara Inclusatildeo na escola inclusatildeo em todos

aspectos da vida do ser humano em sociedade E lutando para que o paciente com doenccedila rara

seja considerado um ser igual ainda que raro

Isso daqui eacute fundamental igualdade para todos mesmo sendo um ser raro para todas as

pessoas com doenccedilas raras Eu quero dizer que admiro esse pensamento Gosto do que se diz

aqui porque acredito que eacute por aiacute que a gente tem que andar ldquoO sonho de igualdade soacute cresce

no terreno do respeito pelas diferenccedilasrdquo Este eacute um pensamento de Augusto Cury e eacute aquilo que

sintetiza a nossa missatildeo como associaccedilatildeo Aigualdade soacute cresce no terreno do respeito as

diferenccedilas

Obrigada

147

Perguntas e Respostas do I CIADR

148

Pergunta para a representante da Interfarma

Qual o custo dos medicamentos para Doenccedilas Raras O SUS cobre os custos

Maria Joseacute Delgado1 - Prestar assistecircncia adequada aos pacientes com doenccedilas raras significa

formular uma poliacutetica capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e

tratamentos por um lado e oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo outro O fato do Brasil natildeo

possuir uma poliacutetica puacuteblica especiacutefica para doenccedilas raras natildeo significa que os pacientes natildeo

recebam cuidados e tratamentos Os medicamentos acabam chegando ateacute eles por via judicial

na maioria das vezes E o SUS de uma maneira ou de outra atende essas pessoas poreacutem de

forma fragmentada sem planejamento com grandes desperdiacutecios de recursos puacuteblicos e

prejuiacutezos para os pacientes

A oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo SUS depende da sua incorporaccedilatildeo em um protocolo

cliacutenico que por sua vez depende de uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica de viabilidade Poreacutem

os criteacuterios empregados pelo Governo para avaliar a disponibilizaccedilatildeo de medicamentos oacuterfatildeos

pelo sistema puacuteblico ndash baseados em custo-efetividade ndash tecircm na maioria dos casos excluiacutedo os

pacientes da possibilidade de obter este tipo de tratamento

A legislaccedilatildeo brasileira estabelece que os medicamentos destinados a doenccedilas de baixa

prevalecircncia sejam analisados para efeitos de incorporaccedilatildeo no SUS pelos mesmos paracircmetros

usados para os de grande prevalecircncia Satildeo levados em conta quesitos como eficaacutecia do

tratamento e impacto de custos em comparaccedilatildeo com outros medicamentos de mesma natureza

Se na teoria esses paracircmetros satildeo justificaacuteveis para planejar e priorizar os gastos puacuteblicos

na praacutetica tecircm funcionado como um enorme obstaacuteculo para os pacientes com doenccedilas raras A

baixa prevalecircncia das doenccedilas natildeo possibilita que os testes cliacutenicos de comprovaccedilatildeo de eficaacutecia

dos medicamentos oacuterfatildeos tenham a mesma duraccedilatildeo e nuacutemero de pacientes envolvidos que os

de grande prevalecircncia

Por se destinarem a poucas pessoas e natildeo terem seu custo de desenvolvimento diluiacutedo entre

grandes grupos populacionais os medicamentos oacuterfatildeos acabam sendo mais caros que os

convencionais Aleacutem disso a maioria dessas drogas natildeo conta com outro medicamento com a

mesma funccedilatildeo que permita a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise comparativa de custo-efetividade como

determina a legislaccedilatildeo

Para tentar romper esse ciacuterculo vicioso que dificulta o acesso aos medicamentos oacuterfatildeos

muitos pacientes tecircm recorrido agrave justiccedila com consideraacutevel impacto financeiro para o poder

puacuteblico Uma medida do problema estaacute no fato de o Ministeacuterio da Sauacutede ter desembolsado

apenas em 2011 R$ 167 milhotildees para atender 433 accedilotildees judiciais que determinavam a compra

de remeacutedios para pessoas com doenccedilas raras

De acordo com o estudo da Interfarma para facilitar o acesso dos pacientes agraves drogas oacuterfatildes

e evitar os custos elevados decorrentes da judicializaccedilatildeo seria necessaacuterio ajustar os paracircmetros

de anaacutelise agraves particularidades das doenccedilas raras substituindo os criteacuterios de custo-efetividade

por outros mais adequados como o da efetividade cliacutenica

A falta de uma poliacutetica oficial para doenccedilas raras tem transformado a vida dos pacientes

em uma excruciante corrida de obstaacuteculos seja no tocante a cuidados e tratamento seja em

relaccedilatildeo a medicamentos estes uacuteltimos sujeitos a inuacutemeros entraves regulatoacuterios que dificultam

a sua entrada no mercado e no SUS

1 mariadelgadointerfarmaorgbr

149

Perguntas para asos representantes de pacientes

Em tudo que vocecirc falou entra a grande dificuldade das famiacutelias para cuidar de suas crianccedilas

especiais A assistecircncia domiciliar (home care) eacute a grande chave para tudo isso uma equipe

multidisciplinar que venha atender esses pacientes em casa com qualidade de assistencia e

humanizaccedilatildeo do cuidado Hoje soacute existe isso na assistecircncia privada O que podemos fazer

para implantar isso no SUS

Beatriz (fisiotrapeuta)

Tacircnia Almeida2 - Na realidade Beatriz hoje tambeacutem temos ldquodisponiacutevelrdquo este atendimento

pelo SUS O problema eacute que natildeo se tem estrutura e pela cabeccedila quadrada de nossos

governantes que entendem que uma Home Care eacute cara acabam colocando mil dificuldades

para levar este paciente para casa Independente disto o sistema de Home Care no Brasil ainda

estaacute muito aqueacutem de ser um serviccedilo de excelecircncia

No meu caso eu prefiro mil vezes que meu filho esteja em casa com Home Care mas eacute

muito despreparo de teacutecnicos de enfermagem e da proacutepria equipe multidisciplinar Quem tem

o paciente em casa tem que ser muito criterioso com quem vai deixar trabalhar com o paciente

Um plano de sauacutede paga por visita a um fisioterapeuta no Rio de Janeiro o valor de R$ 1800

Geralmente o bom fisioterapeuta natildeo quer sair das UTIs para vir receber R$ 1800 por visita

de paciente Eacute tudo muito sucateado e daiacute acabamos natildeo tendo bons profissionais e ateacute escassez

dos mesmos para o atendimento domiciliar

Considerando que 75 das doenccedilas raras acometem crianccedilas e geralmente satildeo

incapacitantes vocecirc acha importante a existecircncia de um serviccedilo com assistencia

especializada em pediatria

Anna Beatriz (fisioterapeuta Prime Home Care)

Tacircnia Almeida - Com certeza eacute importante mas o problema eacute a falta de estrutura para viabilizar

isto Hoje o governo investe na sauacutede de base ou seja projeto ldquosauacutede da famiacuteliardquo Eacute legal Eacute

legal mas esses meacutedicos da base que deveriam conseguir identificar uma crianccedila sindrocircmica

natildeo tem capacitaccedilatildeo para tal infelizmente Fora a escassez de meacutedicos pediatras que estamos

tendo A maioria soacute quer seguir carreiras como otorrino cirurgia esteacutetica Pediatra Obstetra

Estatildeo em extinccedilatildeo

2 almeidaadvogadaigcombr

150

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede

Ficou notoacuterio o interesse na construccedilatildeo dessa nova poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras no SUS Eu queria saber seesta nova poliacutetica puacuteblica leva e incorpora os

determinantes sociais e determinantes de sauacutede na construccedilatildeo da mesma

Aluno da Universidade de Brasiacutelia Campus Ceilacircndia

Joseacute Eduardo Fogolin1 - Para a Comissatildeo Nacional sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede

(CNDSS) os DSS satildeo os fatores sociais econocircmicos culturais eacutetnico-raciais psicoloacutegicos e

comportamentais que influenciam a ocorrecircncia de problemas de sauacutede e seus fatores de risco

na populaccedilatildeo Cerca de 80 das doenccedilas raras satildeo causadas por fatores geneacuteticos e 20 por

fatores natildeo geneacuteticos As doenccedilas geneacuteticas apresentam uma interaccedilatildeo grande com os fatores

ambientais Assim os determinantes e condicionantes sociais da sauacutede satildeo considerados na

Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS jaacute que tecircm papel

importante nas causas centrais daquelas doenccedilas

Como seraacute organizado o cuidado com os pacientes tendo em vista que as doenccedilas raras satildeo

agrupadas por caracteriacutesticas em comum mas os sintomas e prognoacutesticos satildeo diferenciados

Clara (estudante de medicina)

Joseacute Eduardo Fogolin - Conforme a Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS que estaacute sendo construiacuteda a organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo deve seguir a loacutegica de

cuidados produzindo sauacutede de forma sistecircmica por meio de processos dinacircmicos voltados ao

fluxo de assistecircncia ao usuaacuterio A assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em seu campo de

necessidades vistas de forma ampla

No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede

A atenccedilatildeo aos familiares e pacientes com DR deveraacute garantir

- Estruturaccedilatildeo da atenccedilatildeo de forma integrada e coordenada em todos os niacuteveis desde a

prevenccedilatildeo acolhimento diagnoacutestico tratamento (baseado em protocolos cliacutenicos e diretrizes

terapecircuticas) suporte e apoio ateacute a resoluccedilatildeo seguimento e reabilitaccedilatildeo

- Acesso a recursos diagnoacutesticos e terapecircuticos

- Acesso agrave informaccedilatildeo e ao cuidado

- Aconselhamento geneacutetico quando indicado

Os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras seratildeo

componentes da Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede na Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no SUS e deveratildeo oferecer assistecircncia especializada e integral prestada por

equipe multidisciplinar Seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas

aos indiviacuteduos com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares de acordo

com os seguintes eixos assistenciais I - Anomalias Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual

associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas

ou com risco de desenvolvecirc-las

Assim a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas dentro

desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios do SUS

da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as necessidades

1 joseeduardosaudegovbr

151

de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Tendo em vista a divisatildeo dos eixos de complexidade como eacute feita a triagem para a

classificaccedilatildeo desses eixos (sabendo das dificuldades de diagnoacutestico) Como ocorre a

capacitaccedilatildeo dos profissionais para o acolhimento desses pacientes

Marcelo ndash estudante de enfermagem

Joseacute Eduardo Fogolin - Juntamente com a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas

com Doenccedilas Raras deveratildeo ser incorporados no SUS a depender de parecer favoraacutevel da

Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS (CONITEC) 15 novos

procedimentos aleacutem do Aconselhamento Geneacutetico Esses procedimentos permitiratildeo o correto

diagnoacutestico das doenccedilas raras e o tratamento adequado de acordo com os serviccedilos

disponibilizados pelo SUS A capacitaccedilatildeo dos profissionais seraacute feita pela divulgaccedilatildeo de

materiais instrutivos entre os profissionais da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada

maternidades e outros

Na medida em que nem todas as doenccedilas raras estatildeo incluiacutedas nos eixos estruturantes

definidos existem doenccedilas que sequer conhecemos a etiologia profissionais de atenccedilatildeo

baacutesica que natildeo conhecem obrigatoriamente a etiologia das doenccedilas raras e e que teratildeo

dificuldade em fazer o encaminhamento natildeo estatildeo se criando barreiras adicionais de acesso

ao paciente ao se definir diferentes eixos estruturantes para qualificaccedilatildeo de centros de

atenccedilatildeo especializada

Simone (tcherniakovskysalxncom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Tendo em vista o princiacutepio da Universalidade a Poliacutetica de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS natildeo restringe os tipos de doenccedilas a serem

atendidas isto eacute todos os usuaacuterios devem ser acolhidos independente de sua doenccedila

O nuacutemero exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que existam entre 6000 e

8000 tipos diferentes de DR 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos as demais advecircm de

causas ambientais infecciosas imunoloacutegicas entre outras Sendo assim natildeo seria possiacutevel

organizar a atenccedilatildeo por doenccedilas sendo entatildeo organizada por eixos assistenciais I - Anomalias

Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do

Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas ou com risco de desenvolvecirc-las

Desta forma a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas

dentro desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios

do SUS da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as

necessidades de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Para aleacutem de sua doenccedila a

atenccedilatildeo integral deveraacute considerar em primeiro lugar o sujeito que entre suas necessidades

possui a de cuidado em sauacutede em funccedilatildeo de sua doenccedila Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Para isso o SUS jaacute tem propiciado processos de formaccedilatildeo mais ampla para melhorar em

primeiro lugar o acolhimento a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e o respeito agraves diferenccedilas Aleacutem disso

os profissionais de sauacutede deveratildeo ser incluiacutedos em processos de formaccedilatildeo especiacutefica sobre a

poliacutetica em questatildeo como forma de garantir a identificaccedilatildeo de possiacuteveis doenccedilas raras na

atenccedilatildeo baacutesica fazendo-se os encaminhamentos adequados

152

Foi mencionada a incorporaccedilatildeo de remeacutedios para a poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras Haacute tambeacutem alguma vertente que prevecirc processos terapecircuticos

multifuncionais que saia do baacutesico

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS a assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em suas necessidades vistas de forma

ampla No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer assistecircncia

especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e Centros seratildeo

responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos com doenccedilas

raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto a Poliacutetica natildeo se restringe agrave medicaccedilatildeo Ela prevecirc atenccedilatildeo integral com equipe

multidisciplinar conforme as necessidades do usuaacuterio

Como ter acesso aos documentos da Poliacutetica Puacuteblica e como poder participar do Grupo de

Trabalho

Anna Carolina F da Rocha (portadora de epidermoacutelise bolhosa ndash APPEB ndash Associaccedilatildeo

de Portadores de Epidermoacutelise Bolhosa annarochagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Os documentos formulados pelo Grupo de Trabalho em Doenccedilas

Raras foram colocados em Consulta Puacuteblica no dia 10 de abril de 2013 (Consulta Puacuteblica nordm

07) e estatildeo disponiacuteveis na internet na paacutegina da Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SASMS) O

acesso pode ser feito por meio do link2

Infelizmente a reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado sobre a Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras ocorreu no dia 23 de outubro de 2013 De

qualquer forma representantes de diversas associaccedilotildees estiveram presentes na reuniatildeo e

representaram natildeo soacute as suas respectivas associaccedilotildees mas todos os pacientes e demais

associaccedilotildees muito bem

Como estaacute a articulaccedilatildeo deste GT com o Conselho Nacional de Sauacutede na elaboraccedilatildeo desta

Poliacutetica

Tacircnia Dornellas (Associaccedilatildeo Brasileira dos Portadores de Charcot ndash Marie ndash Tooth)

Joseacute Eduardo Fogolin - A discussatildeo e pactuaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras seratildeo feitas com a Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT)

conforme preconizado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei 8080 de 19 de setembro de 1990)

Por que natildeo tem nutricionista especializada no grupo O que estaacute sendo feito para as doenccedilas

metaboacutelicas para as quais a dieta eacute o tratamento

Joseacute Eduardo Fogolin - O grupo que elaborou os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras foi composto por teacutecnicos do Ministeacuterio da

Sauacutede meacutedicos especialistas e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras Como seria

inviaacutevel a participaccedilatildeo de um nuacutemero maior de pessoas em todas as reuniotildees surgiu a

2 httpportalsaudegovbrportalarquivospdfcp07_re_retificado30dpdf

153

necessidade da reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado cujos membros foram indicados pelos

membros titulares do Grupo de Trabalho original

Vale ressaltar que nutricionistas poderatildeo estar presentes na equipe complementar dos

Serviccedilos Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras de acordo com as

necessidades do cuidado Na equipe miacutenima assistencial dos Centros de Referecircncia em Doenccedilas

Raras que atenderem ao Eixo III ndashErros Inatos do Metabolismo ndash sua presenccedila eacute indispensaacutevel

Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas cujo tratamento eacute a foacutermula nutricional o Ministeacuterio da Sauacutede

publicou a Portaria nordm 850 de 3 de maio de 2012 instituindo um Grupo de Trabalho (GT) com

a finalidade de orientar quanto agrave estruturaccedilatildeo de serviccedilos para Terapia Nutricional ambulatorial

e domiciliar no acircmbito do SUS De acordo com o Art 2ordm dessa portaria o GT apresentou agrave

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SAS) orientaccedilotildees quanto agrave disponibilizaccedilatildeo de foacutermulas

nutricionais especiais destacando-se o Grupo de Dispensaccedilatildeo Permanente ndash Erros Inatos do

Metabolismo Foi encaminhado Parecer Teacutecnico Cientiacutefico agrave CONITEC (Comissatildeo Nacional

de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS) solicitando o fornecimento da foacutermula alimentar

necessaacuteria a pacientes com homocistinuacuteria e o processo estaacute em avaliaccedilatildeo quanto ao impacto

financeiro que essa iraacute causar ao SUS De forma geral os resultados das discussotildees do GT

apontam a necessidade de organizaccedilatildeo de serviccedilos estruturados baseados em Protocolos

Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas (PCDT) nos estados e municiacutepios como passo inicial para

consolidaccedilatildeo de um fluxo de triagem diagnoacutestico tratamento dispensaccedilatildeo de produtos e

acompanhamento desses pacientes na rede puacuteblica de sauacutede ao niacutevel domiciliar e ambulatorial

Vocecirc tem data para iniciar o Protocolo ou seja o atendimento no SUS Vocecirc sabe que

continuam morrendo pacientes por falta do protocolo para atendimento e a demora em

conseguir medicamento feito famiacutelias estarem doentes E com isso a fila cresce nos hospitais

Maacutercia (Associaccedilatildeo Baiana de Mucopolissacaridose samarcia1gmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede tem consciecircncia do sofrimento dessas pessoas

e famiacutelias e natildeo eacute indiferente a esta situaccedilatildeo Por este motivo criou o Grupo de Trabalho para

elaborar a poliacutetica para pessoas com Doenccedilas Raras

Os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras submetidos agrave Consulta Puacuteblica foram discutidos pelo Grupo de Trabalho Ampliado da

referida poliacutetica no dia 23 de outubro de 2013 e as contribuiccedilotildees seratildeo consolidadas pelo

Ministeacuterio da Sauacutede Em seguida devem ser discutidos no Grupo de Trabalho de Atenccedilatildeo da

Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em novembro e no mesmo mecircs devem ser pactuados

na CIT Depois de concluiacutedo esse processo seraacute publicada a portaria que institui a Poliacutetica

Como o Senhor pode trabalhar junto a Conitec para acelerar a criaccedilatildeo de PCDTS

(Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas) para doenccedilas raras

Roberto Larreta

Joseacute Edurado Fogolin - A Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC)

encaminha continuamente demandas para incorporaccedilatildeo de tecnologias e elaboraccedilatildeo de

protocolos no SUS para a CONITEC aleacutem da incorporaccedilatildeo de novos exames na tabela do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Relativo agraves doenccedilas raras a CGMAC jaacute solicitou a inclusatildeo de 15

procedimentos para apoio diagnoacutestico a essas doenccedilas aleacutem do aconselhamento geneacutetico Jaacute a

solicitaccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de PCDT pode ser feita pela CGMAC (como vem sendo feita) e pela

sociedade interessada (maiores informaccedilotildees no siacutetio eletrocircnico)3

3 httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfmid_area=1611

154

Entende-se que se trata de um processo que seraacute continuamente ampliado com a

implantaccedilatildeo da poliacutetica

Para contemplar o apoio diagnoacutestico especiacutefico da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras atualmente encontra-se em anaacutelise na CONITEC a solicitaccedilatildeo de

incorporaccedilatildeo dos seguintes procedimentos

1 Identificaccedilatildeo de gliciacutedios urinaacuterios por cromatografia (camada delgada)

2 Identificaccedilatildeo de glicosaminoglicanos urinaacuterios por cromatografia em camada delgada

eletroforese e dosagem quantitativa

3 Identificaccedilatildeo de oligossacariacutedeos e Sialoligossacariacutedeos por cromatografia (camada

delgada)

4 Focalizaccedilatildeo Isoeleacutetrica da Transferrina

5 Dosagem quantitativa de carnitina perfil de acilcarnitinas

6 Dosagem quantitativa de aminoaacutecidos para diagnoacutestico de Erros Inatos do Metabolismo

7 Dosagem quantitativa de aacutecidos orgacircnicos para o diagnoacutestico de erros inatos do

metabolismo

8 Ensaios enzimaacuteticos no plasma leucoacutecitos e tecidos para erros inatos do metabolismo

9 Ensaios enzimaacuteticos em eritroacutecitos para erros inatos do metabolismo

10 Ensaios enzimaacuteticos em tecido cultivado para erros inatos do metabolismo

11 Anaacutelise de DNA pela teacutecnica De Southern Blot

12 Anaacutelise de DNA por MLPA

13 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeorearranjos por PCRQPCRPCR sensiacutevel a metilaccedilatildeoQPCR

sensiacutevel agrave metilaccedilatildeo

14 Identificaccedilatildeo de Alteraccedilatildeo Cromossocircmica Submicroscoacutepica por Array-Cg

15 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeo por sequenciamento por amplicon ateacute 500 pares de bases

16 Aconselhamento Geneacutetico

Como resultado dessa articulaccedilatildeo jaacute existe tratamento protocolado para as seguintes

doenccedilas Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e

Polimiosite Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido

Distonias Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de

Parkinson Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral

Amiotroacutefica Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal

Congecircnita Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

O Doutor ressaltou em sua fala a falta de disciplinas acadecircmicas no decorrer de sua

graduaccedilatildeo Eu estudante de Sauacutede Coletiva da Universidade de Brasiacutelia tambeacutem sinto essa

falta Em sua opiniatildeo qual a importacircncia dos alunos que estudam o SUS terem em sua

graduaccedilatildeo aulas que orientem e informem sobre doenccedilas raras e seus desafios no SUS

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) doenccedila rara

eacute aquela que afeta ateacute 65 a cada 100 000 indiviacuteduos (ou 13 a cada 2000 indiviacuteduos) O nuacutemero

exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que exista entre 6000 e 8000 doenccedilas sendo

que 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos e as demais advecircm de causas ambientais

infecciosas imunoloacutegicas dentre outras Muito embora algumas sejam individualmente raras

como um grupo elas acometem um percentual significativo da populaccedilatildeo o que resulta em um

problema de sauacutede relevante Por isso eacute tatildeo importante o estudo acerca das doenccedilas raras nas

graduaccedilotildees e poacutes-graduaccedilotildees na aacuterea de sauacutede bem como os desafios enfrentados diariamente

pelos profissionais de sauacutede e pacientes no SUS

155

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Sabendo que os profissionais de sauacutede pouco conhecem sobre as distrofias musculares que

acometem uma a cada 2000 pessoas e que no ranking das doenccedilas que mais matam ficam

em segundo lugar tendo como primeira causa as doenccedilas do coraccedilatildeo e perdendo para o

cacircncer noacutes pais lutamos pela conscientizaccedilatildeo da sociedade da classe meacutedica e poliacutetica

pelo apoio agraves pesquisas tratamentos instituiccedilotildees e direitos O que estaacute sendo feito para

conscientizar a classe meacutedica sobre doenccedilas raras

Tenho como experiecircncia pessoal na rede Sarah aqui de Brasiacutelia que eacute considerada

referecircncia no Brasil a ausecircncia de uma equipe capacitada e informada sobre as distrofias

musculares Quero ressaltar que sou filha de meacutedico

(ouroaninhagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - A capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros Aleacutem disso a Poliacutetica

pretende garantir que o atendimento seja feito por equipes multidisciplinares como forma de

melhor acolher e humanizar o cuidado a esses pacientes para que sejam atendidos em suas

necessidades

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Atenccedilatildeo MS ou SUS A questatildeo das poliacuteticas de sauacutede voltadas para formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede no contexto prevenccedilatildeo Existem perspectivas em formaccedilatildeo de

profissionais de Educaccedilatildeo Fiacutesica para essas aacutereas de doenccedilas raras Teriacuteamos acesso a essas

Poliacuteticas

Professora Germana (UNIP e UNIPLAN germanabrouzadayahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede entende que a formaccedilatildeo dos profissionais de

Educaccedilatildeo Fiacutesica bem como dos demais profissionais da sauacutede para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras eacute fundamental para uma assistecircncia agrave sauacutede integral incluindo medidas de

prevenccedilatildeo Eacute esperado que a implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras induza ao processo formativo e agrave inclusatildeo dos referidos

profissionais da rede de atenccedilatildeo agrave sauacutede e em especial ao cuidado das pessoas com doenccedilas

raras

Cabe informar que a capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros

Com o desenvolvimento da Poliacutetica de Doenccedilas Raras esta questatildeo poderaacute ser melhor

abordada e acreditamos que esses profissionais poderatildeo ser incorporados

Vale destacar no acircmbito de atuaccedilatildeo dos profissionais envolvidos nas praacuteticas de atividade

fiacutesica que o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o Programa Academia da Sauacutede na Atenccedilatildeo Baacutesica

Esse programa visa contribuir para a promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo a partir da implantaccedilatildeo

de espaccedilos puacuteblicos construiacutedos com infraestrutura equipamentos e profissionais qualificados

para o desenvolvimento de praacuteticas corporais orientaccedilatildeo de atividade fiacutesica promoccedilatildeo de accedilotildees

de seguranccedila alimentar e nutricional e de educaccedilatildeo alimentar bem como outras temaacuteticas que

envolvam a realidade local aleacutem de praacuteticas artiacutesticas e culturais (teatro muacutesica pintura e

156

artesanato) Os polos do programa satildeo parte integrante da atenccedilatildeo baacutesica compondo mais um

ponto de atenccedilatildeo agrave sauacutede A organizaccedilatildeo e o planejamento dos polos satildeo coordenados pela

atenccedilatildeo baacutesica e devem ser articulados com os demais pontos de atenccedilatildeo agrave sauacutede aleacutem de

estarem vinculados a um Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia (NASF) ou a uma Unidade

Baacutesica de Sauacutede (UBS)

Existe a possibilidade das entidades de apoio muacutetuo atuarem na capacitaccedilatildeo dos

profissionais da rede jaacute que as entidades tecircm tido ecircxito nas accedilotildees desenvolvidas Como

fazer

Marcelo Dunas (graduando em enfermagem - marceloslima10yahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - As entidades e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras

podem buscar estabelecer parcerias com as Secretarias Municipais e Estaduais de Sauacutede para

contribuir nos processos de formaccedilatildeo planejados pelos gestores locais

O desenvolvimento da poliacutetica dependeraacute muito dos diversos Estados e Municiacutepios ela

teraacute peculiaridades regionais Natildeo eacute o objetivo criar mecanismos riacutegidos mas flexiacuteveis e

amplos

Em princiacutepio a atuaccedilatildeo das entidades de apoio muacutetuo na capacitaccedilatildeo dos profissionais de

sauacutede natildeo eacute impossiacutevel os profissionais vinculados a essas associaccedilotildees com experiecircncia

comprovada na aacuterea poderatildeo atuar na capacitaccedilatildeo desde que em acordo com os demais

profissionais dos Municiacutepios e Estados e sob a orientaccedilatildeo das Secretarias Municipais e

Estaduais de Sauacutede Para tal as associaccedilotildees poderatildeo estabelecer parcerias com suas Secretarias

de Sauacutede a depender dos mecanismos locais de estabelecimento dessas parcerias

Assim a resposta completa a esta pergunta seraacute variaacutevel e dependente da evoluccedilatildeo da

Poliacutetica nos diversos locais

Que tipo de incentivo o Ministeacuterio pretende dar para Estados e Municiacutepios que

implementarem uma Poliacutetica direcionada agraves doenccedilas raras Tem dinheiro novo Estaacute sendo

discutido financiamento

(Mardones ndash Belford Roxo ndash RJ)

Joseacute Eduardo Fogolin - As poliacuteticas puacuteblicas instituiacutedas pelo Ministeacuterio da Sauacutede contam com

estrutura e financiamento Este Ministeacuterio alocaraacute recursos adicionais para as accedilotildees da Poliacutetica

Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras de acordo com a Portaria a ser

publicada do mesmo modo que ocorre com suas demais poliacuteticas de sauacutede

Vale ressaltar que o Ministeacuterio da Sauacutede jaacute repassa recursos relativos ao cuidado das

pessoas com doenccedilas raras pois hoje elas satildeo atendidas pela rede de sauacutede bem como novos

recursos alocados pela implementaccedilatildeo da Rede de Atenccedilatildeo agrave Pessoa com Deficiecircncia e Rede

Cegonha Toda articulaccedilatildeo e pactuaccedilatildeo acontece em seus respectivos colegiados intergestores

regional e bipartite

Dr Fogolin dentro da Poliacutetica de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede existe projeto de levantar o nuacutemero de

doentes ou famiacutelias portadoras de CADA doenccedila rara Sou da UPADHABH e natildeo temos a

menor ideia de quantas famiacutelias portadoras existem no Brasil portadoras de Huntington

(mirandaediliayahoocom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Como natildeo seria possiacutevel organizar as diretrizes abordando as doenccedilas

raras de forma individual devido ao grande nuacutemero de doenccedilas a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras estaacute sendo organizada na forma de eixos estruturantes

157

que permitem classificar as doenccedilas raras de acordo com suas caracteriacutesticas comuns com a

finalidade de maximizar os benefiacutecios aos usuaacuterios

O Ministeacuterio da Sauacutede sabe da importacircncia de se conhecer a incidecircncia e a prevalecircncia das

doenccedilas especialmente as raras que natildeo possuem esse tipo de dados na literatura cientiacutefica No

entanto um desafio encontrado eacute o fato de vaacuterias das doenccedilas raras natildeo possuiacuterem coacutedigo

especiacutefico na Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas (CID-10) sendo informadas sob coacutedigos

gerais Eacute esse sistema de classificaccedilatildeo que eacute informado pelo profissional de sauacutede que atende

o paciente que permite que o Ministeacuterio da Sauacutede conheccedila o nuacutemero de pacientes com

determinada doenccedila atendidos na rede do SUS

Aleacutem disso eacute necessaacuterio observar a Lei nordm 8080 de 19 de setembro de 1990 Lei Orgacircnica

da Sauacutede no que diz respeito agrave informaccedilatildeo sobre a sauacutede dos pacientes O Art 7ordm V estabelece

que accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede e os serviccedilos privados contratados ou conveniados que

integram o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) deveratildeo obedecer ao princiacutepio do direito agrave

informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutede Isso garante que o paciente tenha acesso a

informaccedilotildees sobre sua sauacutede e que elas natildeo sejam divulgadas a terceiros a natildeo ser com

autorizaccedilatildeo do paciente

Quais os locais de tratamento em Brasiacutelia para as pessoas com doenccedilas raras

Thamyres Ferreira ( Teacutecnica em Enfermagem)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem de

27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Cumpre informar que com a publicaccedilatildeo da Portaria da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras o gestor de sauacutede do Distrito Federal teraacute autonomia

para solicitar a habilitaccedilatildeo no termos da referida Portaria dos serviccedilos mencionados e de

158

demais serviccedilos que julgar necessaacuterios para o atendimento agrave sauacutede das pessoas com doenccedilas

raras

Tenho dois filhos com distrofia muscular (distrofia muscular de Steinert) Nos sentimos um

pouco sem apoio pois sabemos que a siacutendrome por enquanto natildeo tem cura mas devem ser

tratadas as doenccedilas que satildeo desencadeadas em funccedilatildeo da siacutendrome Soacute que quando

procuramos o especialista ele fica meio perdido Aqui em Brasiacutelia eu encontro pelo hospital

puacuteblico profissionais (neurologista ortopedistas otorrino gastroenterologista) que

entendam como um todo e que podemos tambeacutem ter acesso

Nadir

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem

de 27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de Contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Como paciente sinto falta de um olhar mais cuidadoso Muitos profissionais ficam focados

no tratamento com remeacutedios Quais seriam os objetivos relacionados ao olhar humanizado

dos envolvidos Isso deveria ser parte do perfil da formaccedilatildeo dos estudantes

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Com certeza a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em sauacutede deve fazer parte da

formaccedilatildeo dos profissionais desde a universidade No que diz respeito aos profissionais do SUS

as poliacuteticas relativas agrave formaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional e agrave educaccedilatildeo permanente dos

trabalhadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) eacute responsabilidade do Departamento de Gestatildeo

da Educaccedilatildeo na Sauacutede (DegesSGTES) que tem atuado em parceria com estados municiacutepios e

159

instituiccedilotildees formadoras no desenvolvimento de processos de formaccedilatildeo e de uma poliacutetica

nacional de educaccedilatildeo permanente

No que diz respeito agrave humanizaccedilatildeo do cuidado a Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (PNH)

do Ministeacuterio da Sauacutede busca colocar em praacutetica os princiacutepios do SUS no cotidiano dos serviccedilos

de sauacutede produzindo mudanccedilas nos modos de gerir e cuidar

Formaccedilatildeo eacute intervenccedilatildeo e intervenccedilatildeo eacute mudanccedila Atraveacutes de cursos e oficinas de

formaccedilatildeointervenccedilatildeo e a partir da discussatildeo dos processos de trabalho as diretrizes e

dispositivos da Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo satildeo vivenciados e reinventados no cotidiano

dos serviccedilos de sauacutede Em todo o Brasil os trabalhadores satildeo formados teacutecnica e politicamente

e reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH pois satildeo os construtores de novas

realidades em sauacutede e poderatildeo se tornar os futuros formadores da PNH em suas localidades A

PNH investe em diversos materiais de formaccedilatildeo como cartilhas documento base e outras

publicaccedilotildees4

No que se refere especificamente agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS as diretrizes e normas de habilitaccedilatildeo de serviccedilos e centros estatildeo sendo pensados

na perspectiva de garantir o acolhimento cuidado humanizado e acesso agrave informaccedilatildeo aos

usuaacuterios e seus familiares por meio da garantia de equipes multidisciplinares e formaccedilatildeo dos

profissionais

Quais as medidas que o Ministeacuterio da Sauacutede pode tomar quanto a Profissionais que preacute-

determinam o diagnoacutestico sem exames e condicionam o paciente a morte e tentam convencer

a famiacutelia dessa verdadeQuando se recorre ao Ministeacuterio da Sauacutede para intervir junto ao

SUS em casos urgentes o Ministeacuterio daacute um retorno soacute alguns meses depois Que chances

um paciente com doenccedilas raras tem quando os profissionais mesmo apoacutes o diagnoacutestico nada

fazem para ter um miacutenimo de conhecimento sobre a doenccedila para natildeo incorrer em erros

baacutesicos

Marla (Tia de paciente com acidemia glutaacuterica II)

Joseacute Eduardo Fogolin - O SUS tem alguns mecanismos de controle social e canais de denuacutencia

dos quais os usuaacuterios podem se utilizar tais como os Conselhos Municipais e Estaduais de

Sauacutede e as Ouvidorias Aleacutem disso o SUS eacute um sistema descentralizado composto pelos trecircs

niacuteveis de gestatildeo municipal estadual e federal Nesse sentido os usuaacuterios devem recorrer agraves

Secretarias Municipais de Sauacutede para efetivar suas reclamaccedilotildees denuacutencias sugestotildees e

contribuiccedilotildees A busca pelas Secretarias Municipais por estes gestores estarem mais proacuteximos

dos usuaacuterios e conhecerem a realidade local facilita e agiliza a resoluccedilatildeo dos problemas locais

Acredita-se que a melhor forma de fazer isso de forma organizada e efetiva eacute por meio da

participaccedilatildeo dos usuaacuterios e seus familiares nas instacircncias de controle social tais como os

Conselhos de Sauacutede seja diretamente ou por meio de suas associaccedilotildees

Quanto agrave postura dos profissionais acredita-se que com a implantaccedilatildeo da Poliacutetica de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras haveraacute uma melhoria no atendimento

proporcionada pela organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e inclusatildeo de aspectos tais como possibilidade da

realizaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos tratamentos protocolados melhor articulaccedilatildeo da rede

disponibilizaccedilatildeo de materiais informativos e formativos e outras modalidades de formaccedilatildeo dos

profissionais

4 Publicaccedilotildees disponiacuteveis em httpbvsmssaudegovbrbvshumanizacaopub_destaquesphp

160

Em se tratando de inserccedilatildeo de tecnologias no SUS qual a previsatildeo de inserccedilatildeo do Cough

Assist na Portaria MS 1370 (Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria a Pacientes com Doenccedilas

Neuromusculares)

Maria Clara (Associaccedilatildeo Carioca de Distrofia Muscular clarinhampbacadimcombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Portaria GMMS nordm 1370 de 3 de julho de 2008 que institui o

Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria Natildeo Invasiva aos Portadores de Doenccedilas

Neuromusculares foi regulamentada pela Portaria SAS nordm 370 de 4 de julho de 2008 Esta

uacuteltima estabelece o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no Programa e as indicaccedilotildees

cliacutenicas para a utilizaccedilatildeo de ventilaccedilatildeo natildeo invasiva em pacientes portadores de doenccedilas

neuromusculares Atualmente o Cough Assist natildeo estaacute incluiacutedo nos procedimentos da Portaria

370 essa incorporaccedilatildeo ainda estaacute sendo analisada internamente

Como ficaratildeo os pacientes com doenccedilas raras dependentes de ventilaccedilatildeo mecacircnica e

assistecircncia domiciliar

Faacutetima Braga (Presidente da Abrame fatima-abramehotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Atualmente esses pacientes satildeo amparados pelas seguintes Portarias

Portaria GMMS nordm 13702008 (institui o programa de assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos

portadores de doenccedilas neuromusculares) Portaria SASMS nordm 3702008 (estabelece na forma

do anexo i desta portaria o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no programa de

assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos portadores de doenccedilas neuromusculares) e Portaria

GMMS nordm 9632013 (Redefine a Atenccedilatildeo Domiciliar no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede)

No entanto o Ministeacuterio da Sauacutede por meio da articulaccedilatildeo entre a Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia

e Alta Complexidade Coordenaccedilatildeo-Geral de Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia e Coordenaccedilatildeo-

Geral de Atenccedilatildeo Domiciliar estaacute revendo as portarias relativas agrave assistecircncia ventilatoacuteria

Qual a dificuldade de se criar uma Secretaria de Doenccedilas Raras dentro do Ministeacuterio da

Sauacutede onde se poderia centralizar as demandas

Tacircnia (matildee de paciente)

Joseacute Eduardo Fogolin - A criaccedilatildeo de uma Secretaria de Doenccedilas Raras na estrutura do

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo garante a efetiva implementaccedilatildeo da Poliacutetica nos municiacutepios O que se

busca eacute a inclusatildeo da atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras na rede de sauacutede tanto para

atendimento baacutesico quanto especializado Para isso eacute fundamental a articulaccedilatildeo de todas as

aacutereas e natildeo a fragmentaccedilatildeo O SUS deve estar preparado para atender a todos os usuaacuterios

independente de sua necessidade de sauacutede A criaccedilatildeo de unidades especiacuteficas e isoladas seria

um retrocesso pois natildeo se pretende implantar unidades ou instituiccedilotildees totais mas sim garantir

o direito dos usuaacuterios com doenccedilas raras de serem integrados na rede e ter suas necessidades

de sauacutede atendidas Desta forma a loacutegica de articulaccedilatildeo em rede deve ser pensada desde a

estrutura interna no Ministeacuterio da Sauacutede ateacute os serviccedilos que compotildee a rede de sauacutede nos

municiacutepios como forma de otimizar os atendimentos e garantir o direito dos usuaacuterios

Considerando que 75 das doenccedilas raras se manifestam em crianccedilas e satildeo incapacitantes

o que o senhor acha da existecircncia de uma empresa de assistecircncia especializada em pediatria

Ana Beatriz (Fisioterapeuta da Prime Home)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS

estaacute sendo construiacuteda com a participaccedilatildeo da sociedade por meio das contribuiccedilotildees agrave Consulta

Puacuteblica e com participaccedilatildeo de especialistas usuaacuterios e seus familiares por meio de suas

161

associaccedilotildees As diretrizes da referida poliacutetica incluem o acolhimento e cuidado que deve ser

disponibilizado desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave especializada Na atenccedilatildeo especializada seratildeo

propostos Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como

componentes estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer

assistecircncia especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e

Centros seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos

com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto natildeo se inclui na Poliacutetica a contrataccedilatildeo de empresas de assistecircncia especializada

em pediatria uma vez que a atenccedilatildeo nessa aacuterea deveraacute estar incluiacuteda na rede e serviccedilos

propostos

Eu tenho curiosidade sobre o teste do pezinho Ateacute que ponto ele pode ajudar no diagnoacutestico

de doenccedilas raras Quais as doenccedilas raras podem ser detectadas

Edna Santana Santos (edsantanasantoshotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O teste do pezinho obrigatoacuterio no paiacutes eacute apenas a primeira etapa de

qualquer programa de triagem neonatal Eacute uma accedilatildeo preventiva que permite fazer o diagnoacutestico

de doenccedilas a tempo de se interferir na evoluccedilatildeo delas por meio do tratamento precoce

especiacutefico permitindo a diminuiccedilatildeo ou a eliminaccedilatildeo das sequelas a elas associadas

O teste implica na coleta de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebecirc na idade ideal

do 3ordm ao 5ordm dia de vida e possibilita o diagnoacutestico de certas doenccedilas geneacuteticas endocrinoloacutegicas

e doenccedilas metaboacutelicas que natildeo apresentam evidecircncias cliacutenicas ao nascimento Pode ser feito

em hospitais maternidades ou nos postos de sauacutede

O Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministeacuterio da Sauacutede tem a missatildeo de

promover implantar e implementar a poliacutetica de triagem neonatal para doenccedilas geneacuteticas

metaboacutelicas e congecircnitas no acircmbito do SUS visando o acesso universal integral e equacircnime

com foco na prevenccedilatildeo na intervenccedilatildeo precoce e no acompanhamento permanente das pessoas

com as doenccedilas incluiacutedas no Programa Nacional de Triagem Neonatal

As doenccedilas detectadas pelo teste do pezinho realizado na rede puacuteblica satildeo

Fenilcetonuacuteria Doenccedila geneacutetica que envolve falha no metabolismo das proteiacutenas ingeridas

Se natildeo tratada leva a lesotildees graves e irreversiacuteveis no sistema nervoso central (inclusive a

deficiecircncia intelectual) e o seu tratamento precoce pode prevenir estas sequelas

Hipotireoidismo Congecircnito Eacute um distuacuterbio causado pela produccedilatildeo deficiente de hormocircnios

da tireoacuteide que pode provocar lesatildeo grave e irreversiacutevel levando agrave deficiecircncia intelectual Se

instituiacutedo bem cedo o tratamento eacute eficaz e pode evitar estas sequelas

Hemoglobinopatias A doenccedila falciforme eacute a principal delas provocada por uma alteraccedilatildeo

na hemoglobina As complicaccedilotildees cliacutenicas satildeo tratadas com medidas profilaacuteticas antibioacuteticos

aacutecido foacutelico analgeacutesicos oxigenaccedilatildeo hipertransfusatildeo e uso de hidroxiureia

Fibrose Ciacutestica Eacute uma doenccedila geneacutetica tambeacutem conhecida como mucoviscidose cuja

alteraccedilatildeo leva a uma insuficiecircncia pancreaacutetica e faz com que se produza um muco espesso nos

brocircnquios e nos pulmotildees facilitando infecccedilotildees de repeticcedilatildeo e causando problemas respiratoacuterios

e digestivos entre outros

Deficiecircncia de Biotinidase doenccedila geneacutetica que consiste na deficiecircncia da enzima

biotinidase envolvida no metabolismo da vitamina B6 (biotina) Provoca nos quadros mais

graves convulsotildees retardo mental e lesotildees de pele O diagnoacutestico eacute difiacutecil a partir de sinais

cliacutenicos que satildeo poucos caracteriacutesticos

Hiperplasia Adrenal Congecircnita engloba um grupo de siacutendromes caracterizadas por defeitos

hereditaacuterios em diferentes passos enzimaacuteticos na biossiacutentese do cortisol Em meninas essas

162

alteraccedilotildees podem levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos ndash como pelos e

aumento do clitoacuteris ndash e em ambos os sexos pode levar a uma perda acentuada de sal e ao oacutebito

Qual o caminho mais adequado que uma associaccedilatildeo pode ou deve percorrer em procura de

ajuda para suspender uma portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que retira a distribuiccedilatildeo de uma

medicaccedilatildeo fundamental para pacientes com Deficiecircncia de BH4

Graccedila Afonso ( Safe Brasil)

Joseacute Eduardo Fogolin - Caso a autora da pergunta esteja se referindo agrave Portaria nordm 38 de 6 de

agosto de 2013 que torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no

tratamento da hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS

esclarece-se que

A CONITEC em sua 14ordf reuniatildeo ordinaacuteria realizada no dia 4 de abril de 2013 recomendou

a natildeo incorporaccedilatildeo no SUS da sapropterina para o tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA)

com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4) A Comissatildeo considerou que os estudos a

maioria de baixa qualidade metodoloacutegica natildeo conseguiram comprovar a superioridade do

tratamento principalmente no que diz respeito agrave ausecircncia de dados especiacuteficos para o subgrupo

com deficiecircncia de BH4 Assim os membros da CONITEC presentes na 15ordf reuniatildeo do plenaacuterio

do dia 09052013 deliberaram por unanimidade natildeo recomendar a sapropterina para o

tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA) com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4)5

Tendo em vista o Relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da CONITEC foi publicada a portaria

conforme coacutepia abaixo

PORTARIA Nordm 38 DE 6 DE AGOSTO DE 2013

Torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

O SECRETAacuteRIO DE CIEcircNCIA TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATEacuteGICOS DO

MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE no uso de suas atribuiccedilotildees legais e com base nos termos dos art 20

e art 23 do Decreto 7646 de 21 de dezembro de 2011 resolve

Art 1ordm Fica natildeo incorporado o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no acircmbito no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)

Art 2ordm O relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de

Tecnologias no SUS (CONITEC) sobre essa tecnologia estaraacute disponiacutevel no endereccedilo

eletrocircnico httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfm id_ area=1611

Art 3ordm A mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela CONITEC caso

sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise efetuada

Art 4ordm Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA

Conforme a Portaria a mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela

CONITEC caso sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise

efetuada Desta forma uma associaccedilatildeo pode realizar essa solicitaccedilatildeo apresentando esses fatos

5 O Relatoacuterio da CONITEC estaacute disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfRelatorio_Sapropterina_FINALpdf

163

O Senhor falou das grandiosas perspectivas em relaccedilatildeo agrave atenccedilatildeo baacutesica e especializada no

SUS para pessoas com doenccedilas raras Atualmente constata-se um verdadeiro sucateamento

do SUS com falta de equipamentos baacutesicos para diagnoacutestico materiais e profissionais Quais

as providecircncias que estatildeo sendo tomadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede na praacutetica e a curto prazo

para mudar essa realidade

Riane Nataacutelia (Professora e fisioterapeuta Coordenadora das Aacutereas cliacutenicas da APAED -

Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais e Deficientes rianenataacuteliagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Em relaccedilatildeo agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras tema da palestra proferida em 26 de abril de 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu um

Grupo de Trabalho organizado pelo Departamento de Atenccedilatildeo EspecializadaCoordenaccedilatildeo de

Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC) contando com a participaccedilatildeo de representantes de

SociedadesEspecialistas e Associaccedilotildees de Apoio agraves Pessoas com Doenccedilas Raras (entre elas a

AMAVI) para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no acircmbito do SUS

A partir das discussotildees do Grupo de Trabalho (GT) o Ministeacuterio da Sauacutede colocou em

Consulta Puacuteblica ndeg 07 de 10 de abril de 2013 os seguintes documentos ldquoNormas para

Habilitaccedilatildeo de Serviccedilos de atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

no Sistema Uacutenico de Sauacutederdquo e ldquoDiretrizes para Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUSrdquo A consulta puacuteblica ficou disponiacutevel para o envio

de contribuiccedilotildees aos textos citados ateacute ao dia 9 de junho de 2013

As contribuiccedilotildees advindas da Consulta Puacuteblica foram consolidadas e o documento foi

discutido em reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado (GTA) da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras realizada no dia 23 de outubro de 2013 Sendo assim

as contribuiccedilotildees do GTA seratildeo avaliadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede e o documento final seraacute

levado para discussatildeo e posterior pactuaccedilatildeo na Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em

novembro

Essa Poliacutetica pretende compatibilizar o cuidado integral (promoccedilatildeo prevenccedilatildeo tratamento

e reabilitaccedilatildeo) em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional e atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede As doenccedilas raras

seratildeo classificadas em sua natureza como de origem geneacutetica e de origem natildeo geneacutetica Desta

forma foram elencados quatro eixos de DR sendo os trecircs primeiros compostos por DR de

origem geneacutetica e o uacuteltimo formado por DR de origem natildeo geneacutetica

I- Anomalias Congecircnitas

II- Deficiecircncia Intelectual

III- Doenccedilas Metaboacutelicas

IV- Doenccedilas Raras de Natureza natildeo Geneacutetica

a) Infecciosas

b) Inflamatoacuterias

c) Autoimunes

Na atenccedilatildeo especializada os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e os Centros de Referecircncia

em Doenccedilas Raras ofereceratildeo atenccedilatildeo diagnoacutestica e terapecircutica especiacutefica para uma ou mais

doenccedilas raras em caraacuteter multidisciplinar de acordo com os eixos assistenciais acima

especificados

Para o diagnoacutestico das doenccedilas raras no acircmbito dessa Poliacutetica seraacute necessaacuteria incorporaccedilatildeo

de novos procedimentos no SUS A proposta eacute a criaccedilatildeo de trecircs procedimentos principais com

finalidade diagnoacutestica de acordo com os eixos estruturantes e um procedimento relativo ao

aconselhamento geneacutetico Para cada procedimento principal com finalidade diagnoacutestica seraacute

permitida a execuccedilatildeo de um rol de exames (procedimentos secundaacuterios)Os procedimentos

164

orientaratildeo os Gestores do SUS quanto ao encaminhamento dos pacientes para os Centros de

Referecircncias ou Serviccedilo Especializado no SUS estabelecendo os criteacuterios diagnoacutesticos miacutenimos

para o encaminhamento

A inclusatildeo dos referidos exames dependem do parecer da CONITEC previsto para

novembro de 2013

Atualmente o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) jaacute disponibiliza tratamentos protocolados

(Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas - PCDT) para as seguintes doenccedilas rarasgeneacuteticas

Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e Polimiosite

Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido Distonias

Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de Parkinson

Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral Amiotroacutefica

Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal Congecircnita

Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

Consideraccedilatildeo Foi mencionada a humanizaccedilatildeo de todos os profissionais mas haacute tambeacutem

uma intenccedilatildeo em encorajar tratamentos como por exemplo hidroterapias que natildeo satildeo

oferecidas Sabemos que os pacientes apresentam melhora ateacute mesmo socialmente mas

sinto uma certa negligecircncia O que pode mudar com a atuaccedilatildeo das Associaccedilotildees

Joseacute Eduardo Fogolin - Eacute preciso lembrar que as doenccedilas raras com tratamento baseado em

drogas representam apenas uma pequena fraccedilatildeo das doenccedilas raras de modo que uma assistecircncia

puramente farmacecircutica beneficiaria um nuacutemero limitado de pessoas com esse tipo de doenccedila

Natildeo soacute os tratamentos medicamentosos satildeo importantes para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras mas tambeacutem os tratamentos psicoloacutegicos fonoaudioloacutegicos fisioteraacutepicos entre

outros

Um dos objetivos da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

eacute estabelecer um cuidado integral com accedilotildees de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo diagnoacutestico tratamento

e reabilitaccedilatildeo em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede relacionados a

doenccedilas raras Isso deveraacute ser oferecido pela rede de assistecircncia do SUS incluindo os Serviccedilos

Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

As associaccedilotildees podem participar ativamente do controle social nos municiacutepios por meio do

diaacutelogo com os gestores locais e participaccedilatildeo em conselhos de sauacutede Essa participaccedilatildeo de

forma organizada eacute fundamental para aprimorar e garantir a implementaccedilatildeo contiacutenua da

poliacutetica

A Cescontexto eacute uma publicaccedilatildeo online de resultados de

investigaccedilatildeo e de eventos cientiacuteficos realizados pelo Centro de

Estudos Sociais (CES) ou em que o CES foi parceiro A

Cescontexto tem duas linhas de ediccedilatildeo com orientaccedilotildees

distintas a linha ldquoEstudosrdquo que se destina agrave publicaccedilatildeo de

relatoacuterios de investigaccedilatildeo e a linha ldquoDebatesrdquo orientada para a

memoacuteria escrita de eventos

Page 2: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia

Propriedade e EdiccedilatildeoProperty and Edition

Centro de Estudos SociaisCentre for Social Studies

Laboratoacuterio AssociadoAssociate Laboratory

Universidade de CoimbraUniversity of Coimbra

wwwcesucpt

Coleacutegio de S Jeroacutenimo Apartado 3087

3000-995 Coimbra - Portugal

E-mail cescontextocesucpt

Tel +351 239 855573 Fax +351 239 855589

Comissatildeo EditorialEditorial Board

Coordenaccedilatildeo GeralGeneral Coordination Siacutelvia Portugal

Coordenaccedilatildeo DebatesDebates Coordination Ana Raquel Matos

ISSN 2182-908X

copy Centro de Estudos Sociais Universidade de Coimbra 2015

2

Agradecimentos

Esta publicaccedilatildeo documenta o I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras (CIADR) Os

agradecimentos destinam-se aquelesas que o tornaram possiacutevel O I CIADR foi o primeiro

evento que conseguiu reunir no Brasil num debate transcontinental e interdisciplinar osas

representantes das associaccedilotildees civis do Ministeacuterio da Sauacutede do poder legislativo

investigadoresas acadeacutemicosas pacientes e cuidadoresas Realizado a partir de uma ideia

que nasceu a par do iniacutecio da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria ndash AMAVI ndash em 2010 devemos o nosso

agradecimento aosagraves pesquisadoresas e profissionais que natildeo medem esforccedilos para realizarem

um bom atendimento ao paciente e em especial a pessoas como a Lauda Santos que foi

incansaacutevel na busca de alternativas para conseguirmos manter o nosso orccedilamento a Sandra

Mota e o querido Joseacute Leda que levam o sorriso e o bom astral por onde passam ao Professor

Natan Monsores que abriu as portas do Departamento de Sauacutede Coletiva da Universidade de

Brasiacutelia para nos oferecer uma sala de reuniatildeo ao Anderson Bertoluzzi ao Mateus Silva e agrave

Mariana Silva que na confianccedila de conseguirem realizar o impossiacutevel organizaram um

batalhatildeo de pessoas para receberem osas participantes do Congresso da melhor maneira

possiacutevel agrave Roberta Milhomem que com toda a paciecircncia conseguiu criar uma identidade

visual que natildeo somente foi perfeita para o Congresso como tambeacutem se transformou numa

figura que representa uniatildeo e trabalho em rede passando a ser utilizada pelo Observatoacuterio de

Doenccedilas Raras da UnB Rede Raras Institucionalmente agradecemos ao Ministeacuterio da Sauacutede

pela confianccedila e interesse na realizaccedilatildeo de um evento com o foco na participaccedilatildeo social agrave

Associaccedilatildeo de Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa e suas associadas pelo apoio com os

recursos necessaacuterios para dar vida a uma ideia ao Centro Universitaacuterio Planalto pelo

acolhimento e disponibilidade de infraestruturas para realizarmos o Congresso e a todas as

Associaccedilotildees que estiveram presentes no evento Tambeacutem agradecemos aosagraves palestrantes que

nos apoiaram fazendo com que o grande volume de trabalhos natildeo fosse impeditivo da

qualidade do Congresso Por fim um especial agradecimento ao amigo Miguel Fontes que com

toda a sua originalidade e paciecircncia conduziu os trabalhos de maneira serena assegurando a

participaccedilatildeo de todosas

3

Comissatildeo Organizadora

Anderson Bertoluzzi

Lauda Santos

Mariana Silva

Mateus Silva

Natan Monsores

Rogeacuterio Lima Barbosa (Coord Geral)

Sandra Motta

Siacutelvia Portugal

Moderadorases

Cristina Cagliari

Martha Carvalho

Natan Monsores

Sandra Motta

Palestrantes

Adriana Ueda

Ana Maria Martins

Ieda Bussmann

Joseacute Eduardo Fogolin

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

Marcelo Neves

Marcos Burle Aguiar

Mara Gabrilli

Maacutercia Ribeiro

Maria Helena Dourado

Maria Joseacute Delgado

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Maacuterio Saporta

Muna Odeh

Natan Monsores

Segolene Aymeacute

Siacutelvia Portugal

Tacircnia Almeida

Viacuterginia Llera

Yan Lee Cam

4

Iacutendice

Rogeacuterio Silva Barbosa e Siacutelvia Portugal

Introduccedilatildeo 7

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

Paulo Henrique Martins

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o cuidado como mediaccedilatildeo 10

Rogeacuterio Lima Barbosa

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de Pacientes Grupos

Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se estaacute falando 20

Siacutelvia Portugal e Joana Alves

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais 34

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

Ana Maria Martins

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a familiares e pacientes com

doenccedilas raras 42

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas raras 45

5

Maacutercia Gonccedilalves Rodrigues

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede 50

Maria Helena de Magalhatildees Dourado

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila Rara 55

Maria Joseacute Delgado Fagundes e Marcela Simotildees

Para um pacto social no capo das Doenccedilas Raras Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis 58

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Atendimento a Doenccedilas Raras no Distrito Federal 67

Maacuterio Andreacute C Saporta

Pesquisa em Doenccedilas Raras Desafios e Perspectivas 72

Tacircnia Maria Francisca Almeida

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras 75

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR

Rogeacuterio Lima Barbosa Sadi Del Roso Maria Joseacute Delgado Leonardo Batista

Marisa Carvalho Joseacute Eduardo Fogolin e Siacutelvia Portugal

Mesa de abertura 81

Joseacute Eduardo Fogolin Maria Joseacute Delgado Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues e

Natan Monsores

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras 89

Yan Lee Kam Virgiacutenia Llera e Segolene Aymeacute

2ordf Mesa O que acontece no mundo 105

6

Marcelo Neves Muna Odeh e Tacircnia Almeida

3ordm Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as tecnologias sociais 112

Maacutercia Ribeiro Mara Gabrilli Ieda Bussman e Maacuterio Saporta

4ordm Mesa Pesquisas no SUS 119

Marcos Burle Aguiar e Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

5ordm Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras 131

Ana Maria Martins Adriana Ueda Siacutelvia Portugal e Maria Helena Dourado

6ordm Mesa A rede de apoio ao paciente 137

Perguntas e respostas

Pergunta para a representante da Interfarma 148

Perguntas para asos representantes de pacientes 149

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede 150

7

Introduccedilatildeo

O I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras ndash I CIADR ndash aconteceu no Brasil no dia 25

de setembro de 2013 em Brasiacutelia O Congresso foi realizado no acircmbito das actividades da

AMAVI ndash Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria Brasil com o apoio do Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra Portugal Sob o tema Um Olhar Social para o Paciente contou com

a participaccedilatildeo de representantes de grandes associaccedilotildees da Europa como a EURORDIS e

EUCERD cientistas dirigentes do poder executivo legislativo representantes das associaccedilotildees

civis e da induacutestria farmacecircutica familiares e pacientes com doenccedilas raras O puacuteblico presente

ultrapassou as 700 pessoas Assim o I CIADR constituiu um marco no campo das Doenccedilas

Raras pelo nuacutemero de pessoas presentes pela sua diversidade mas tambeacutem pela originalidade

no modelo organizativo Registos e fontes diversas mostram que no Brasil os eventos

promovidos neste domiacutenio tinham tido ateacute ao momento tendecircncia para sofrer uma forte

interferecircncia de associaccedilotildees estrangeiras da induacutestria farmacecircutica ou do poder legislativo O

I CIADR foi o primeiro evento intercontinental no Brasil organizado por uma Associaccedilatildeo

brasileira e apartidaacuteria

O I CIADR pretendeu marcar a diferenccedila de dois modos no tipo de participantes e na

abordagem da temaacutetica No primeiro ao conseguir reunir agentes do governo mercado

academia e sociedade civil e sobretudo ao conseguir o apoio de dois atores que possuem

interesses antagoacutenicos no campo das Doenccedilas Raras ndash a Induacutestria Farmacecircutica e o Estado

atraveacutes da participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Na abordagem do tema ao tentar ultrapassar o

tradicional centramento no tratamento cliacutenico e sobretudo medicamentoso O projeto do I

CIADR centra-se na necessidade de criar modelos de cuidado no Sistema de Sauacutede nos quais

o medicamento seja apenas uma via entre outras necessaacuterias para a garantia da qualidade de

vida A proposta eacute que antes do remeacutedio seja a pessoa o centro de todas as atenccedilotildees e

discussotildees sobre as doenccedilas raras

Com este propoacutesito o programa do I CIADR baseou-se em duas linhas de accedilatildeo que marcam

a sua diferenccedila relativamente a outros eventos Em primeiro lugar a procura de um olhar social

e o afastamento de uma perspetiva simbioacutetica entre Doenccedilas Daras e medicamentos oacuterfatildeos que

tem alimentado as atividades de advocacy neste domiacutenio e feito disparar os lucros com a venda

de medicamentos sabendo-se hoje que o aumento anual das receitas com os medicamentos

oacuterfatildeos seraacute ateacute 2020 igual ou maior do que o das provenientes dos medicamentos ldquonatildeo oacuterfatildeosrdquo

Em segundo lugar decorrente da primeira opccedilatildeo enfatizar a necessidade de construir uma

abordagem multidisciplinar do cuidado das Doenccedilas Raras Assim 75 dos palestrantes

posicionavam-se fora da aacuterea meacutedica abrangendo aacutereas diversas como o direito a sociologia

a sauacutede coletiva a biologia o poder legislativo o poder executivo e os movimentos sociais

Com base nesta estrutura o Congresso pretendeu sinalizar que a temaacutetica das Doenccedilas Raras eacute

complexa e natildeo deve manter-se confinada ao diaacutelogo pontual entre alguns atores devendo pelo

contraacuterio ser alvo de debate puacuteblico orientado para o seu enfrentamento numa perspetiva

ampla direcionada para o bem-estar doa paciente

Embora assente nas linhas estruturais traccediladas acima e tendo sido organizado por uma

Associaccedilatildeo o I CIADR procurou reconhecer o papel central que as associaccedilotildees civis

desempenham no atendimento ao paciente com Doenccedilas Daras Desta maneira aleacutem de todos

os debates serem moderados por pessoas ligadas a associaccedilotildees em cada uma das mesas houve

sempre um dirigente associativo A experiecircncia revelou-se rica tanto na troca de informaccedilotildees

como na demonstraccedilatildeo do papel ativo que as associaccedilotildees desempenham

Esta publicaccedilatildeo pretende documentar as propostas acima enunciadas e dar eco agraves vozes

ouvidas no Congresso Todas as pessoas que realizaram uma comunicaccedilatildeo foram convidadas a

escrever um artigo para publicaccedilatildeo neste volume Lidaacutemos tanto com a familiaridade

8

daquelesas para quem a escrita e a publicaccedilatildeo faz parte do trabalho diaacuterio como com a

ansiedade daquelesas que estranharam a proposta O convite foi uma maneira de agradecer o

esforccedilo que as pessoam realizam no seu dia-a-dia para natildeo somente encontrarem forccedilas para

cuidar dos seus ou de si proacuteprios como tambeacutem para ajudar o proacuteximo e defender uma causa

socialmente invisiacutevel Alguns natildeo conseguiram responder ao desafio Natildeo quisemos no

entanto que as suas vozes fossem excluiacutedas Ouvir foi o verbo mais adequado para ilustrar o

que se passou no dia 25 de setembro de 2013 nos trabalhos do I CIADR e tentamos que esta

publicaccedilatildeo traduza esse ambiente vivido Para tanto as comunicaccedilotildees aqui apresentadas

preservam o tom coloquial que permeou todo o congresso

Assim este nuacutemero da Cescontexto organiza-se em quatro partes distintas Na primeira ndash

Um olhar social sobre as doenccedilas raras contributos para a construccedilatildeo de uma agenda ndash

constam trecircs artigos da autoria dos organizadores do Congresso (de Rogeacuterio Lima Barbosa e

de Siacutelvia Portugal em co-autoria com Joana Alves) e de Paulo Henrique Martins Os trecircs textos

pretendem responder aos reptos principais do I CIADR desenvolvendo abordagens que

(re)significam os conceitos de sauacutede doenccedila cuidado e associativismo

Na segunda parte ndash Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras textos dosas

palestrantes do I CIADR ndash encontram-se todos os textos que recebemos das pessoas que

realizaram comunicaccedilotildees no Congresso O conjunto estaacute longe de seguir as caracteriacutesticas

usuais de uma publicaccedilatildeo acadeacutemica e revela a diversidade dosas palestrantes e da sua ligaccedilatildeo

com o campo das doenccedilas raras Destes textos emerge um conjunto de saberes de praacuteticas e de

representaccedilotildees que mostra a complexidade do campo e dos atores que o experienciam Ao

lermos os textos vemos como muitas vezes os papeacuteis se sobrepotildeem doente meacutedicoa familiar

investigadora dirigente membro de associaccedilatildeo especialista burocrata poliacuteticoa jurista As

pessoas que se movem no campo das Doenccedilas Raras assumem variados papeacuteis para o cuidar e

mobilizam-se para uma luta aacuterdua que natildeo cabe nas fronteiras tradicionais das definiccedilotildees

meacutedicas e poliacuteticas

A terceira parte desta publicaccedilatildeo daacute conta daquele que eacute o seu propoacutesito fundamental

documentar o debate que ocorreu no I CIADR Assim em Um Olhar Social para o Paciente

de Doenccedilas Raras transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR transcrevem-se na iacutentegra as

intervenccedilotildees realizadas durante o Congresso As comunicaccedilotildees foram organizadas em seis

mesas temaacuteticas 1ordf) A construccedilatildeo conjunta no campo das doenccedilas raras 2ordf) O que acontece no

mundo 3ordf) A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e tecnologias sociais 4ordf)

Pesquisas no SUS 5ordf) A realidade brasileira para as doenccedilas raras 6ordf) A rede de apoio ao

paciente As comunicaccedilotildees apresentadas datildeo a conhecer reflexotildees experiecircncias exemplos de

boas praacuteticas instituiccedilotildees associaccedilotildees projectos inovaccedilotildees cliacutenicas e sociais

Finalmente a uacuteltima parte ndash Perguntas e respostas ndash transcreve o debate e tambeacutem

perguntas do puacuteblico que foram depois respondidas pelosas participantes por escrito Dado o

elevado nuacutemero de questotildees dirigidas a algumas das pessoas nomeadamente ao representante

do Ministeacuterio da Sauacutede estas foram recolhidas e posteriormente alvo de resposta pelos

envolvidosas A sua transcriccedilatildeo pretende tambeacutem ser uma forma de divulgar e esclarecer as

muitas duacutevidas e anguacutestias que acometem pacientes familiares e profissionais

Rogeacuterio Lima Barbosa

Siacutelvia Portugal

9

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

10

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o

cuidado como mediaccedilatildeo

Paulo Henrique Martins1 Universidade Federal de Pernambuco ndash UFPE

paulohenriquemargmailcom

Diz um ditado popular que as mais belas palavras se tornam inoacutecuas quando deixam de se referir

a uma experiecircncia concreta servindo apenas como moldura para ilustraccedilatildeo de velhos modos de

agir e de pensar Neste texto queremos propor desdobrando esta maacutexima que a inovaccedilatildeo dos

processos de gestatildeo puacuteblica na sauacutede na perspectiva participativa e de integralidade

envolvendo simultaneamente profissionais da sauacutede e usuaacuterios natildeo pode ser garantida apenas

com a recriaccedilatildeo de organogramas e com a adoccedilatildeo de um vocabulaacuterio com apelo participativo

Ao contraacuterio como buscaremos demonstrar a inovaccedilatildeo para ser efetiva tem que considerar

necessariamente o usuaacuterio natildeo como mero objeto da intervenccedilatildeo estatal mas como ator

corresponsaacutevel na accedilatildeo em sauacutede Ou seja sem a adoccedilatildeo de um entendimento mais amplo da

sauacutede na praacutetica capaz de superar o vieacutes assistencialista tradicional ou o vieacutes mercantilista as

reformas em sauacutede perdem sua forccedila renovadora

As anaacutelises empiacutericas que tecircm sido realizadas pelos grupos de pesquisadores da Rede

Multicecircntrica voltadas para a apreciaccedilatildeo do papel do usuaacuterio na avaliaccedilatildeo em sauacutede2 revelam

que a mudanccedila paradigmaacutetica na sauacutede implicando a superaccedilatildeo da abordagem assistencialista

e tecnicista por outra voltada para o cuidado e o acolhimento ainda eacute incerta exigindo novos

entendimentos teoacutericos De fato o futuro da descentralizaccedilatildeo na perspectiva de um cuidado

integral eacute tema que precisa ser mais bem discutido pois a desconexatildeo entre a teoria e a praacutetica

gera incertezas que podem comprometer a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede

Entre as hipoacuteteses que explicam essas incertezas nos avanccedilos do movimento sanitarista na

sauacutede gostariacuteamos de lembrar duas entre vaacuterias outras possiacuteveis de serem relacionadas a saber

a ausecircncia de um programa teoacuterico-praacutetico forte que evidencie o cuidado como metaacutefora e como

mediaccedilatildeo na sauacutede e a desconexatildeo entre as atividades de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo

De fato a perspectiva de avanccedilo do cuidado natildeo como retoacuterica mas como metaacutefora

constitutiva de novas linguagens na sauacutede depende da adoccedilatildeo de um programa teoacuterico-praacutetico

forte que permita entender a praacutetica do cuidado como uma simboacutelica relacional que apenas se

configura quando se estabelece a sinergia discursiva entre o gestor o profissional da sauacutede e o

usuaacuterio Para noacutes este programa teoacuterico-praacutetico forte eacute oferecido pelas teorias do dom e do

reconhecimento numa formulaccedilatildeo chamada dom do reconhecimento na sauacutede a qual se apoia

em duas exigecircncias a do dom como alianccedila entre anocircnimos gerando a esfera puacuteblica e a do

reconhecimento como constructo moral que redefine a perspectiva da sauacutede pela inclusatildeo do

diferente e pela promoccedilatildeo da dignidade independentemente das hierarquias de valorizaccedilatildeo

social

No entanto a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas inovadoras efetivas depende do modo como as

atividades de planejamento gestatildeo e avaliaccedilatildeo das accedilotildees satildeo capazes de se apoiar em accedilotildees

integradas de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo Isto significa que os avanccedilos dos programas

1 Paulo Henrique Martins eacute Professor Titular de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi Presidente da

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Sociologia (ALAS) (2011-2013) eacute Vice-Presidente da Associaccedilatildeo Movimento Anti-

Utilitarista nas Ciecircncias Sociais (MAUSS) e Coordenador do NUCEM (Nuacutecleo de Cidadania e Processos de Mudanccedila) (UFPE) 2 Ver a respeito o livro organizado por Roseni Pinheiro e Paulo Henrique Martins Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do

usuaacuterio abordagem multicecircntrica (Pinheiro e Martins 2009)

11

puacuteblicos nas perspectivas participativa e reflexiva deveriam implicar necessariamente um

diaacutelogo permanente entre a Academia o Serviccedilo Puacuteblico e a Sociedade Civil em torno de

atividades de pesquisa de formaccedilatildeo e de incubaccedilatildeo de experiecircncias sistematizadas No nosso

entender esta segunda hipoacutetese que eacute crucial para o avanccedilo da avaliaccedilatildeo em sauacutede depende

prioritariamente da definiccedilatildeo do programa teoacuterico-praacutetico forte sobre o cuidado como mediaccedilatildeo

da sauacutede pelo dom do reconhecimento como buscaremos desenvolver a seguir

O cuidado como retoacuterica e o cuidado como metaacutefora

Satildeo muitos os sinais que sugerem que a descentralizaccedilatildeo em sauacutede promovida pelo SUS nem

sempre tem significado uma ruptura programaacutetica com a antiga loacutegica hieraacuterquica e funcional

que marca as decisotildees estatais em geral e aquelas no campo da sauacutede em particular Ao

contraacuterio observando-se o funcionamento do sistema de sauacutede percebe-se sem muitas

dificuldades que a inovaccedilatildeo conceitual eacute com frequecircncia esvaziada por uma hierarquia teacutecnica

e vertical de poder [gestor ndash meacutedico(a) ndash enfermeiro(a) ndash agente de sauacutede ndash usuaacuterio(a)] que

esconde mesmo involuntariamente um saber colonizador que inspirou o modelo

hospitalocecircntrico na sauacutede Por outro lado noccedilotildees como a de cuidado satildeo muito importantes

por gerarem um efeito simpaacutetico imediato sobre a opiniatildeo puacuteblica e por constituir em princiacutepio

um dispositivo anticolonial isto eacute que inspira reformas importantes das compreensotildees dos

processos interativos na sauacutede a partir da valorizaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas ateacute entatildeo

marginalizadas e desperdiccediladas

No entanto noccedilotildees como esta e outras usadas no discurso da Atenccedilatildeo Primaacuteria ndash como a

de acolhimento por exemplo ndash podem se tornar meras peccedilas de retoacuterica se natildeo forem

acompanhadas de uma mudanccedila efetiva de compreensatildeo do cuidado como metaacutefora como

mediaccedilatildeo de processos simboacutelicos afetivos pedagoacutegicos poliacuteticos e biofiacutesicos na organizaccedilatildeo

da Sauacutede Coletiva Este comentaacuterio nos leva a outro plano o de saber se as reformas

doutrinaacuterias na sauacutede estatildeo sendo acompanhadas de mudanccedilas efetivas de atitudes na gestatildeo

dos programas nas praacuteticas dos profissionais da sauacutede e na participaccedilatildeo dos usuaacuterios As

mudanccedilas na gestatildeo na perspectiva do cuidado estatildeo incluindo o usuaacuterio como ator qualificado

da construccedilatildeo do cuidado Esta eacute uma pergunta crucial por remeter diretamente a um fato

concreto a saber que no modelo tradicional de gestatildeo na sauacutede o usuaacuterio natildeo eacute interlocutor

legiacutetimo na organizaccedilatildeo do atendimento meacutedico mas apenas um objeto de intervenccedilatildeo

De modo geral a praacutetica do cuidado continua largamente dependente da loacutegica hieraacuterquica

herdada da Cliacutenica Meacutedica moderna que divide tarefas a partir de funccedilotildees estritamente teacutecnicas

que refletem diversos niacuteveis de prestiacutegio social e profissional O termo cuidado perde sua forccedila

metafoacuterica e seu potencial de inovaccedilatildeo institucional e poliacutetica quando permanece prisioneiro da

loacutegica funcionalista produtivista e fragmentaacuteria que ainda rege em certos niacuteveis a organizaccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede no Brasil Esvaziado de seu potencial inovador o cuidado natildeo

oferece contribuiccedilatildeo nem para a formaccedilatildeo de uma esfera puacuteblica participativa que reconheccedila a

dignidade dos atores envolvidos nem para gerar justiccedila igualitaacuteria Nessa leitura conservadora

o termo serve para reforccedilar mecanismos hieraacuterquicos e corporativistas que negam o valor do

usuaacuterio como sujeito ativo e reflexivo da praacutetica de sauacutede

Na praacutetica constata-se que o termo cuidado se oferece a diversas interpretaccedilotildees que natildeo

apontam necessariamente para o sentido do termo care sugerido no debate contemporacircneo3

Analisando-se o desenvolvimento programaacutetico do cuidado natildeo eacute faacutecil fazer esta analogia entre

cuidado e care pois a forccedila do poder hieraacuterquico e funcional tradicional termina

3 Para autoras como Tronto (1993) uma das pioneiras nesta discussatildeo este termo deve apontar necessariamente para uma

atividade geneacuterica que compreende tudo que fazemos para reparar nosso mundo com o objetivo de uma vida com mais

possibilidades de auto-realizaccedilatildeo

12

comprometendo os esforccedilos de reorganizaccedilatildeo das praacuteticas locais em sauacutede Em outras palavras

queremos propor que os avanccedilos na Sauacutede Coletiva e na Atenccedilatildeo Primaacuteria ficam relativamente

comprometidos caso as inovaccedilotildees conceituais que acompanham os esforccedilos de passagem de

um paradigma tradicional de caraacuteter meacutedico-assistencialista para outro contemporacircneo de

promoccedilatildeo e de participaccedilatildeo natildeo se realizarem efetivamente como praacutexis produzida por uma

reflexatildeo envolvendo diferentes atores ndash especialistas militantes ativistas mediadores de rede

e usuaacuterios ndash em torno da produccedilatildeo do bem comum Para sair deste dilema e promover mudanccedilas

nas praacuteticas dos profissionais na perspectiva do cuidado como metaacutefora e como mediaccedilatildeo eacute

importante considerar a possibilidade de requalificaccedilatildeo das teacutecnicas e das rotinas de modo a

permitir que o usuaacuterio ganhe visibilidade como ator solidaacuterio e corresponsaacutevel pelo cuidado

Entre os atores do movimento sanitarista haacute a expectativa de que a palavra cuidado apareccedila

como uma metaacutefora estrateacutegica para o delineamento de um novo modo de fazer a sauacutede

confirmando o ideal do SUS Este modo deveria expressar tanto a ampliaccedilatildeo da ideia de

atendimento meacutedico pela incorporaccedilatildeo de fatores como meio ambiente habitaccedilatildeo entre outros

como pela maior aproximaccedilatildeo entre especialista e o usuaacuterio Com a emergecircncia do cuidado

como dispositivo de mediaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterio na sauacutede natildeo se limitaria

a um mero exerciacutecio prescritivo mas envolveria a participaccedilatildeo solidaacuteria e a responsabilizaccedilatildeo

do usuaacuterio no funcionamento do sistema de sauacutede local Estaacute presente no discurso do cuidado

na sauacutede uma expectativa moral relacionada com a promoccedilatildeo do bem viver refletindo o desejo

da ampliaccedilatildeo conceitual e praacutetica da tradicional relaccedilatildeo ldquomeacutedico x pacienterdquo

Para que a palavra cuidado se revista de sua forccedila metafoacuterica ndash que valoriza os aspectos

simboacutelicos e intersubjetivos ndash e de seu potencial inovador como mediaccedilatildeo ndash que exalta a

integralidade e democratizaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica ndash precisamos todavia de deslocar o olhar sobre

as interaccedilotildees do cotidiano na sauacutede Eacute importante repensar o termo numa perspectiva que

valorize mais as pessoas que os bens que se centre prioritariamente nos valores da confianccedila e

da solidariedade que emanam de uma experiecircncia autorreflexiva e contextualizada como aquela

oferecida pelo dom4 Em particular vamos buscar demonstrar que a possibilidade do cuidado

como praacutexis mediadora e inovadora da accedilatildeo em sauacutede exige que a mesma se apresente como

um sistema particular de dom fundado na corresponsabilidade dos atores envolvidos na criaccedilatildeo

e reproduccedilatildeo de dispositivos de trocas e de reconhecimentos que respeitam a diferenccedila e que

avanccedilam pelas igualdades de direitos de acesso aos direitos da cidadania O dom do

reconhecimento como se discutiraacute a seguir significa a capacidade de perceber o outro como

extensatildeo diferente e igualmente valorizada de si mesmo o que implica accedilotildees sucessivas de

inclusatildeo dignificaccedilatildeo e liberaccedilatildeo desse mesmo outro

Para avanccedilarmos no entendimento do cuidado como mediaccedilatildeo de daacutedivas temos que

aprofundar a discussatildeo das bases da troca solidaacuteria e de suas possibilidades de uso em sistemas

puacuteblicos locais formados pelas interaccedilotildees entre Sociedade Civil e Estado Para essa

demonstraccedilatildeo temos contudo que superar dois problemas um deles eacute o da presenccedila nos

estudos sobre a Sauacutede Coletiva do dualismo metodoloacutegico vivido classicamente pela

sociologia aquele da agecircncia x estrutura que leva necessariamente a se entender a praacutetica

social em geral e aquela do atendimento em sauacutede em particular de modo enviesado e

simplificado Por este vieacutes a praacutetica do atendimento em sauacutede ou eacute vista como resultado dos

esforccedilos e estrateacutegias dos atores em interaccedilatildeo ou eacute vista como produto das regras crenccedilas e

obrigaccedilotildees juriacutedicas e institucionais Para resgatar o cuidado como metaacutefora de mediaccedilatildeo eacute

importante pois superarmos esta limitaccedilatildeo conceitual e entendermos que o cuidado somente

aparece como mediaccedilatildeo da sauacutede quando se assume como dom de reconhecimento como

4 Dom ou daacutediva eacute um sistema de accedilatildeo fundado em prestaccedilotildees ao mesmo tempo livres e obrigatoacuterias que se desenvolvem em

trecircs movimentos o da doaccedilatildeo (de um bem ou serviccedilo material ou simboacutelico) o da recepccedilatildeo e o da retribuiccedilatildeo Marcel Mauss

um dos fundadores da sociologia francesa foi quem primeiramente sistematizou esta teoria (Mauss 2003)

13

veremos a seguir Para isso vamos discutir a importacircncia do dom como programa forte que

ultrapassa os dilemas dualistas entre agecircncia e estrutura e a seguir vamos analisar o dom do

reconhecimento como modelo para o cuidado como praacutexis inovadora

Dom um programa teoacuterico-praacutetico forte para contextualizar a accedilatildeo social

em sauacutede

A daacutediva eacute um sistema teoacuterico e praacutetico original na medida em que a possibilidade de teorizaccedilatildeo

se funda na observaccedilatildeo concreta e imediata das modalidades de relacionamentos e dos fatores

materiais e simboacutelicos objetivos e subjetivos que interferem nos mecanismos de trocas entre

atores individuais e grupais (Cailleacute 2002 Godbout 2007 Martins 2008) A daacutediva renova as

teorias socioloacutegicas ao valorizar a experiecircncia da troca direta entre os indiviacuteduos e grupos

ampliando a significaccedilatildeo do que se troca para o campo do simbolismo por um lado e para a

valorizaccedilatildeo do contexto por outro A daacutediva constitui um programa teoacuterico-praacutetico forte pois

ao se focar diretamente no que circula contribui para a superaccedilatildeo do dilema socioloacutegico acima

lembrado entre agecircncia e estrutura que eacute teoricamente problemaacutetico O dilema dualista

condiciona a anaacutelise da praacutetica social a duas opccedilotildees complicadas uma propotildee que a praacutetica

social eacute produto dos indiviacuteduos interessados a outra que o sistema de obrigaccedilotildees institucionais

eacute que define a praacutetica e que os indiviacuteduos tecircm pouca margem de manobra Ora nem uma nem

outra dessas opccedilotildees permite se entender as exigecircncias teoacutericas do cuidado como mediaccedilatildeo Por

isso a importacircncia da daacutediva como programa forte Ela favorece entender que a qualidade da

troca impacta sobre os lugares e identidades dos indiviacuteduos e grupos de indiviacuteduos em

interaccedilatildeo5

A superaccedilatildeo deste dilema socioloacutegico entre agecircncia e estrutura eacute decisiva no campo das

lutas por reconhecimento na sauacutede para se fazer a criacutetica teoacuterica de dois pressupostos

equivocados Uma delas eacute o de que o saber teacutecnico especializado [meacutedico(a) enfermeiro(a)

agente etc] eacute sempre mais legiacutetimo que o saber comum do usuaacuterio o outro o de que as regras

burocraacuteticas e administrativas satildeo sempre mais eficazes para o bom funcionamento do serviccedilo

puacuteblico em sauacutede que as regras produzidas pelo consenso ou alianccedila gerada pela daacutediva Ora

pelo entendimento do cuidado como estrutura relacional e mediadora estas crenccedilas satildeo revistas

continuamente na proacutepria interaccedilatildeo entre os atores envolvidos permitindo uma transmissatildeo

fluida de informaccedilotildees entre os saberes cientiacuteficos e os saberes praacuteticos equalizando os saberes

na praacutetica No entanto tais saberes hiacutebridos refazem as regras burocraacuteticas para liberar regras

associativas mais flexiacuteveis entre as instituiccedilotildees e indiviacuteduos

A teoria da daacutediva tem grande contribuiccedilatildeo a oferecer agrave renovaccedilatildeo paradigmaacutetica da

Atenccedilatildeo Primaacuteria quando permite entender que o sucesso do cuidado na sauacutede depende

diretamente do modo como o profissional fixa sua atenccedilatildeo no usuaacuterio para inseri-lo num sistema

horizontal de trocas interpessoais aquele do dom ou do sistema tripartite de obrigaccedilotildees

coletivas sistematizado por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre a daacutediva (Mauss 2003) Ao

voltar sua atenccedilatildeo para o usuaacuterio e buscar interagir com o mesmo o profissional imbuiacutedo do

sentido do dom desencadeia um mecanismo de doaccedilotildees (olhar palavra orientaccedilatildeo

medicamento etc) que gera obrigaccedilotildees de solidariedade a todas as partes envolvidas na

5 As abordagens claacutessicas dualistas ndash agecircncia x estrutura ndash valorizam ou o peso da obrigaccedilatildeo estrutural sobre a liberdade

individual ou no lado contraacuterio a liberdade de cada um sobre as injunccedilotildees coletivas Nessas teorias tradicionais dependendo

do enfoque tanto a sociedade aparece como um conjunto de obrigaccedilotildees coletivas como crenccedilas valores e regras (enfatizando

o peso da estrutura) como pode aparecer diferentemente como as capacidades de cada indiviacuteduo de definir racionalmente as

opccedilotildees que mais lhes interessam (enfatizando a importacircncia da liberdade de escolha de cada indiviacuteduo) Por essas interpretaccedilotildees

reducionistas o ser humano se apresenta seja como uma vocaccedilatildeo essencialmente egoiacutesta como propotildee o utilitarismo

mercantilista inglecircs ou no lado contraacuterio como expressatildeo de certa incapacidade de construir utopias libertaacuterias como sugerem

as anaacutelises autoritaacuterias e totalizantes (que podemos propor ser a expressatildeo de certo utilitarismo burocraacutetico)

14

mediaccedilatildeo do cuidar como o demonstrou Lacerda com a sistematizaccedilatildeo do conceito de ldquoredes

de apoio socialrdquo (Lacerda 2010) Na perspectiva da daacutediva o profissional da sauacutede e o usuaacuterio

natildeo satildeo categorias que se excluem No processo de mediaccedilatildeo pelo dom todos os elementos

teacutecnicos afetivos funcionais presentes naquele momento satildeo reconfigurados pela experiecircncia

da troca de bens simboacutelicos e materiais O agente social em cada movimento de realizaccedilatildeo da

accedilatildeo ndash na doaccedilatildeo na recepccedilatildeo ou na retribuiccedilatildeo ndash se defronta com o dilema insoluacutevel de ter

que tomar decisotildees voluntaacuterias ndash ou natildeo ndash dentro de contextos coercitivos que limitam mais ou

menos sua capacidade de agir que eacute ao mesmo tempo livre e obrigatoacuteria

A ecircnfase na praacutetica dos atores revela a complexidade da accedilatildeo social permitindo sair de

modelos abstratos que desconsideram o valor do cotidiano para a organizaccedilatildeo da vida social O

dom do reconhecimento que pretendemos explorar neste texto se realiza mediante a

capacidade do profissional-doador de reconhecer o outro-usuaacuterio para lhe dar visibilidade e

dignidade permitindo que o donataacuterio faccedila por sua vez seu movimento de inclusatildeo e de

reconhecimento No campo da sauacutede propomos que o cuidado apenas aparece como renovaccedilatildeo

paradigmaacutetica e programaacutetica quando ele eacute percebido como uma modalidade de dom a do dom

do reconhecimento Nesta oacutetica o cuidado eacute visto como motivo de reorganizaccedilatildeo dos

significados das trocas e como significante de lugares igualmente reconhecidos como legiacutetimos

por gestores por profissionais da sauacutede e por usuaacuterios

Haacute daacutedivas que podem ser estimuladas para que a accedilatildeo puacuteblica em sauacutede seja organizada

na perspectiva de valorizaccedilatildeo do viacutenculo social ou seja na oacutetica de que o valor social das

pessoas seja considerado como mais importante que os valores dos bens serviccedilos e funccedilotildees

teacutecnicas Optar pelo valor da pessoa significa que a avaliaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica e no caso a accedilatildeo

puacuteblica em sauacutede seja feita natildeo somente a partir de criteacuterios de produtividade econocircmica

financeira e teacutecnica e de desempenho funcional mas sobretudo a partir de criteacuterios de aumento

das forccedilas morais afetivas e psiacutequicas dos indiviacuteduos e dos grupos de pertencimento tanto no

plano da sociedade civil como naquele da accedilatildeo estatal descentralizada E tambeacutem entre as

instacircncias da Ciecircncia e do Mundo da Vida

Entre as daacutedivas que podem ter papel destacado com esta finalidade de permitir uma

mudanccedila qualitativa da loacutegica da avaliaccedilatildeo e dos sentidos da accedilatildeo puacuteblica apoiada no cuidado

como mediaccedilatildeo podemos enunciar dois tipos a daacutediva da alianccedila e a daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima

A alianccedila eacute para Mauss uma categoria central para a fundaccedilatildeo da vida em sociedade No Ensaio

sobre a daacutediva Mauss revela grande preocupaccedilatildeo em explicar os motivos pelos quais as tribos

passam da paz para a guerra e da guerra para a paz O que interrompe o viacutenculo pergunta ele

E no lado contraacuterio o que permite restaurar o viacutenculo A curiosidade do autor eacute procedente na

medida em que na perspectiva do dom o proacuteprio do ser humano natildeo eacute a tendecircncia ao

isolamento e agrave separaccedilatildeo mas ao acordo em torno da instauraccedilatildeo do fenocircmeno social A

intuiccedilatildeo de Mauss nos parece correta na medida em que diferentemente do que pensam os

liberais o pacto social natildeo eacute produto da soma de interesses individuais mas de uma obrigaccedilatildeo

coletiva livremente consentida Esta ambiguidade moral constitutiva do dom ndash obrigaccedilatildeo e

liberdade ndash explica que o fenocircmeno social se impotildee como um movimento coletivo e que o que

chamamos de indiviacuteduo apenas surge no interior de sociedades que admitem a socializaccedilatildeo

como individuaccedilatildeo

Eacute nesta perspectiva pois que podemos falar da daacutediva da alianccedila ou seja da predisposiccedilatildeo

de indiviacuteduos e grupos a se associarem livre e espontaneamente para fundarem a vida social

mediante o benefiacutecio dos presentes dos serviccedilos e hospitalidades das disposiccedilotildees para acolher

reconhecer e dignificar o outro e ndash por que natildeo ndash a si mesmo como sujeito social (que existe

como indiviacuteduo quando se reconhece no espelho do coletivo humano) A daacutediva visa sempre agrave

alianccedila mas pelo termo daacutediva da alianccedila estamos buscando enfatizar a accedilatildeo intencional com

15

relaccedilatildeo ao outro na perspectiva de valorizaacute-lo6 Este dado eacute fundamental para integrar novos

sentidos do cuidado A cada movimento de liberdade produzido por doaccedilotildees conscientes

outros ambivalentes de obrigaccedilatildeo livre e de interesse de retribuir se estabelecem E por esses

movimentos ambivalentes entre liberdade e obrigaccedilatildeo interesse e desinteresse satildeo seladas as

alianccedilas entre sujeitos transformando os inimigos em amigos os excluiacutedos em incluiacutedos o

ldquooutro em proacuteximordquo Nesta perspectiva eacute possiacutevel chamarmos a daacutediva da alianccedila de daacutediva da

generosidade comunitaacuteria pois a predisposiccedilatildeo para se vincular eacute ela mesma um siacutembolo de

generosidade que faz emergir a experiecircncia do cuidar como uma experiecircncia de totalidade

O outro tipo de daacutediva que consideramos importante para se repensar o cuidado como

mediaccedilatildeo eacute aquele da daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima Trata-se de uma modalidade de daacutediva proacutepria

da modernidade revelando a presenccedila de uma figura social inexistente nas sociedades

comunitaacuterias que eacute a do sujeito anocircnimo (Godbout e Cailleacute 1998) O anocircnimo eacute aquele

indiviacuteduo que natildeo se afirma por quaisquer pertencimentos comunitaacuterios particulares que o

distinguem hierarquicamente dos demais mas por uma condiccedilatildeo de invisibilidade social

igualitaacuteria permitida pelo direito reflexivo moderno O anocircnimo apenas surge em sociedades

complexas nas quais o processo de socializaccedilatildeo aparece natildeo somente como processo de coerccedilatildeo

coletiva mas como processo de individualizaccedilatildeo coletiva que eacute revelado pela emergecircncia de

unidades atomizadas e reflexivas que pensam o todo social a partir de experiecircncias singulares

e inovadoras

Pensando no caso da accedilatildeo em sauacutede podemos propor que a esfera puacuteblica em sauacutede resulta

da organizaccedilatildeo de um aparato institucional voltado para inserir o anonimato como condiccedilatildeo das

trocas de bens de sauacutede Certamente neste momento o anocircnimo ganha rosto e passa a ser

protagonista de uma operaccedilatildeo de obrigaccedilotildees muacutetuas que geram reconhecimentos e

visibilidades A socializaccedilatildeo passa a se realizar nas fronteiras do compromisso ciacutevico com o

coletivo e do respeito agrave liberaccedilatildeo das individualidades e a partir de um ato de cuidar que gera

alianccedilas e transformaccedilatildeo necessaacuteria de indiviacuteduos excluiacutedos em atores visiacuteveis da poliacutetica7 O

dom do reconhecimento que discutiremos a seguir surge desta condensaccedilatildeo provocada pela

circulaccedilatildeo da daacutediva em contextos de intensas demandas por visibilidade dignidade e

reconhecimento

Dom do reconhecimento o cuidado como mediaccedilatildeo

A teoria do reconhecimento eacute um constructo teoacuterico que se afirma com os avanccedilos da filosofia

moral contemporacircnea de Taylor (2005) e outros Sua sistematizaccedilatildeo acompanha a criacutetica agraves

teses utilitaristas que reduzem a vida social a pensamentos monoloacutegicos ndash como aquele

economicista que reduz o interesse da troca a uma questatildeo econocircmica ndash visando em paralelo

a resgatar temas como eticidade multiculturalidade e dignidade A articulaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom eacute decisiva para avanccedilarmos na perspectiva do cuidado como mediador

simboacutelico na sauacutede

No campo da sociologia deve-se a Honneth (2003) os meacuteritos de ampliaccedilatildeo do debate para

temas do cotidiano mediante releituras apropriadas de Hegel e dos pragmatistas norte-

6 Este interesse pela associaccedilatildeo lembra (Cailleacute 2002) nos rastros de Mauss ndash mas tambeacutem de Simmel ndash natildeo eacute funcional Esse

interesse eacute paradoxal pois a luta pela alianccedila gera tensotildees permanentes A cada momento da accedilatildeo tripartite ndash do doar do receber

e do retribuir ndash os indiviacuteduos e grupos se defrontam com conflitos de consciecircncia produzidos por determinantes estruturais

pelos quais a cada movimento interessado se opotildee um movimento de desprendimento ou de ldquodesinteressamentordquo (Cailleacute 2006) 7 Avanccedilando nesta discussatildeo podemos igualmente sugerir que o dom da alianccedila num contexto de trocas anocircnimas que

produzem o fenocircmeno do puacuteblico comunitaacuterio e da democracia associativa local tem impacto importante na passagem da

comunidade fechada (eacutetnica corporativa cultural religiosa etc) para a associaccedilatildeo democraacutetica e aberta Isto significa que a

circulaccedilatildeo do dom natildeo se restringe a fortalecer a alianccedila entre os mais proacuteximos (loacutegica comunitaacuteria) mas visa a refazer

permanentemente a alianccedila pela inclusatildeo e reconhecimento de novos agentes sociais marcados pelas diferenccedilas culturais

(gecircnero etnia religiatildeo sexualidade etc) no processo de construccedilatildeo da praacutetica democraacutetica

16

americanos como J Dewey (1991)8 Haacute de se destacar que a discussatildeo moral de Honneth sobre

a vida social natildeo eacute concebida abstratamente mas concretamente a partir do esforccedilo de

entendimento das patologias sociais que afligem os indiviacuteduos na contemporaneidade Para ele

os indiviacuteduos satildeo objetos de violecircncias que atingem a) a autoconfianccedila ainda na infacircncia

comprometendo sua capacidade de amar b) o autorrespeito como cidadatildeo impedindo que lute

adequadamente por seus direitos e c) a autoestima na vida profissional impedindo que

desenvolva a capacidade de se solidarizar com o outro (Honneth 2003) Nesta direccedilatildeo

podemos sugerir que o cuidado natildeo pode emergir como mediaccedilatildeo simboacutelica central de um novo

paradigma em sauacutede caso permaneccedila prisioneiro de visotildees monoloacutegicas como a da cliacutenica

meacutedica moderna ou a da medicina utilitarista que natildeo datildeo conta do fenocircmeno da totalidade do

social

Para que o cuidado apareccedila como care na accedilatildeo primaacuteria eacute necessaacuterio que se amplie o

entendimento da praacutetica cliacutenica para introduzir elementos pedagoacutegicos morais e poliacuteticos que

satildeo justamente oferecidos pela criacutetica teoacuterica do reconhecimento A saiacuteda para tais dificuldades

operacionais eacute o entendimento do valor simboacutelico do reconhecimento na geraccedilatildeo de um tipo de

bem-estar que eacute aquele da visibilidade poliacutetica e da dignidade moral Tal bem-estar natildeo se

restringe agrave dimensatildeo biofiacutesica mas se define e se corporifica com a ampliaccedilatildeo das significaccedilotildees

de solidariedade e de reconhecimento no ldquomundo da vidardquo O bem-estar que alarga as

significaccedilotildees da sauacutede apenas emerge por signos de reconhecimento que circulam como

daacutedivas permitindo formular ritmicamente as praacuteticas os lugares dos atores e os processos de

organizaccedilatildeo das instituiccedilotildees Nesta direccedilatildeo pode-se dizer que a interpretaccedilatildeo do

reconhecimento como simbolismo da accedilatildeo leva necessariamente a uma aproximaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom pois o ato de reconhecer eacute uma daacutediva estruturante primordial

Trazendo esta discussatildeo para o campo da sauacutede eacute possiacutevel afirmar que o cuidado como

simbolismo mediador eacute antes de tudo a doaccedilatildeo de significaccedilotildees como aquelas da visibilidade

poliacutetica e da dignidade moral do outro9 Cailleacute propotildee que os temas morais da confianccedila do

respeito e da estima satildeo redimensionados na praacutetica pela gratidatildeo gerada por uma doaccedilatildeo que

valoriza o outro (dar ao outro como sendo mais importante que meu prazer pessoal em doar) e

uma recepccedilatildeo que valoriza a doaccedilatildeo (receber do outro eacute mais importante que se recusar a

receber) ldquoDar o reconhecimento natildeo eacute apenas identificar ou valorizar eacute tambeacutem e talvez

inicialmente provar e testemunhar nossa gratidatildeordquo (Cailleacute 2008 158) Isto se faz

complementamos na expectativa de que a recepccedilatildeo do gesto valorizador motive o donataacuterio a

agradecer e retribuir um contra-dom em forma de confianccedila solidariedade e responsabilidade

A abertura para o reconhecimento e para a inclusatildeo do Outro-diferente amplia as

experiecircncias de gratidatildeo do donataacuterio daquele que recebe o cuidado Isto eacute no lado da

recepccedilatildeo o impacto do dom do reconhecimento ndash que se funda sobre a alianccedila entre anocircnimos

ndash gera uma obrigaccedilatildeo de gratidatildeo para com o doador o que se traduz em gestos de lealdade

com o social ou de solidariedade com o proacuteximo anocircnimo favorecendo a responsabilizaccedilatildeo

8 Com isso ele avanccedilou na criacutetica moral da tradiccedilatildeo racionalista iluminista rearticulando a relaccedilatildeo entre instrumentalidade e

expressividade nas esferas da socializaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo Esta criacutetica permitiu ao autor explicar que haacute hierarquias

morais desiguais subjacentes agraves praacuteticas sociais e que sem a criacutetica das mesmas eacute impossiacutevel se conceber uma discursividade

organizada em bases igualitaacuterias Tais hierarquias impedem que os indiviacuteduos possam realizar espontaneamente seus potenciais

cognitivos e defender por conseguinte suas capacidades de se apresentar nas esferas coletivas como indiviacuteduos livres e dotados

de forccedila originais de arguiccedilatildeo poliacutetica e cultural 9 Neste sentido a teoria do valor eacute revista ampliada e atualizada pela linguagem simboacutelica sendo o valor social das pessoas

em interaccedilatildeo mais importante que o valor dos bens o valor do usuaacuterio sendo mais importante que aqueles das tecnologias

saberes especializados e medicamentos No caso o reconhecimento passa a ser uma condiccedilatildeo de visibilidade social para o

usuaacuterio e a luta por status ou lugar antecede a luta de classes ou a definiccedilatildeo do direito privado e individual Aqui as teorias de

escolhas racionais e estrateacutegicas se submetem agrave teoria do reconhecimento pois antes de escolherem os homens buscam ser

reconhecidos para poderem reconhecer (escolher) A luta natildeo eacute apenas de valor moral mas de valor de socializaccedilatildeo

(reconhecimento de si do outro e de noacutes)

17

comunitaacuteria e ampliando a legitimidade da poliacutetica puacuteblica Ou seja o sentimento da gratidatildeo

eacute significativo para soldar laccedilos e gerar novas solidariedades e associaccedilotildees E isto eacute visiacutevel no

campo da sauacutede quando se observa o modo de agradecimento dos usuaacuterios quando satildeo

acolhidos pelos profissionais da sauacutede no espiacuterito da daacutediva e do reconhecimento

A articulaccedilatildeo das teorias do dom e do reconhecimento eacute muito profiacutecua ao permitir

entender que a circulaccedilatildeo dos bens da sauacutede (afetos teacutecnicas medicamentos gestos etc) em

contextos de empobrecimento e de exclusatildeo social produz doaccedilotildees de visibilidade e dignidade

que eacute o dom do reconhecimento gerando agradecimentos inclusotildees e participaccedilotildees Pelo dom

do reconhecimento natildeo apenas se faz justiccedila moral aos injusticcedilados mas se abre a perspectiva

de se fazer justiccedila poliacutetica aos oprimidos e abandonados pelos direitos da cidadania

Neste contexto de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do dom do reconhecimento observam-se dois

registros paralelos Num deles a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento ndash envolvendo os grupos

de pertencimento antigos ou novos e os indiviacuteduos que por suas redes de pertencimento

contribuem para remodelar as instituiccedilotildees coletivas ndash amplia o nuacutemero de atores dos processos

de troca e de solidariedade na sauacutede favorecendo o surgimento de uma cidadania democraacutetica

No segundo registro a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento amplia o escopo da accedilatildeo em sauacutede

para outros domiacutenios da vida social e cultural articulando a totalidade dos elementos

constitutivos da cidadania democraacutetica (educaccedilatildeo saneamento trabalho lazer etc) em torno

de um projeto coletivo e puacuteblico do bem viver que exige um ldquosaber fazendordquo Assim a

circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento entre profissionais de sauacutede e usuaacuterios gera com

frequecircncia novos movimentos de dons entre terceiros proacuteximos ou anocircnimos ampliando os

ldquociacuterculos hermenecircuticosrdquo como o provam o surgimento de grupos de cuidados voltados para

as questotildees de gecircnero violecircncia sexualidade entre outros

Claro quando estes processos de dom do reconhecimento satildeo sabotados pela accedilatildeo estatal

ou mercantil a alianccedila entre anocircnimos a favor do viacutenculo social pode se traduzir em

desfiguraccedilatildeo do pacto coletivo com aumento da violecircncia na vida cotidiana e surgimento de

patologias sociais que se refletem no aumento das doenccedilas psicossomaacuteticas Neste caso

pensando com Mauss diriacuteamos que a sociedade passa da paz para a guerra pelo fato de o doador

reconhecido (o Estado os cidadatildeos a Igreja etc) natildeo ser capaz de doar na intensidade

necessaacuteria os bens necessaacuterios ao reconhecimento do donataacuterio levando este a padecer na

incerteza e no desacircnimo

Daacutediva e accedilatildeo puacuteblica no cuidado algumas consideraccedilotildees finais

Para finalizar retomaremos o tema do cuidado que abordamos no iniacutecio deste texto de modo a

fixar algumas reflexotildees sobre os desafios da gestatildeo puacuteblica descentralizada nesses contextos

complexos de organizaccedilatildeo de esferas puacuteblicas locais que se apoiam nas circulaccedilotildees das daacutedivas

de reconhecimento para ampliar as alianccedilas entre anocircnimos Tais daacutedivas satildeo necessaacuterias para

o surgimento dos puacuteblicos democraacuteticos e tambeacutem para mediante este processo de inclusatildeo

social e cultural ampliar as redes de solidariedade e de mediaccedilatildeo social

Podemos propor entatildeo que o cuidado apenas se revela como experiecircncia inovadora na

accedilatildeo em sauacutede quando ele passa a refletir o dom entre anocircnimos a favor da alianccedila comunitaacuteria

e associativa gerando inclusotildees e corrigindo injusticcedilas ndash enfim permitindo que se passe da

guerra para a paz Aqui estaacute a chave para a compreensatildeo do enigma maussiano nos tempos de

modernidades Claro esta reflexatildeo exige necessariamente se pensar o cuidado desde a praacutetica

e desde a teoria ou seja desde o Serviccedilo e a Sociedade Civil e desde a Academia desde a

produccedilatildeo da accedilatildeo que se faz pela intervenccedilatildeo reflexiva sobre o real e desde a reproduccedilatildeo da

accedilatildeo que se faz pela formaccedilatildeo e pela incubaccedilatildeo do real pensado e construiacutedo coletivamente

Neste plano cuidar deixa de ser mera retoacuterica que esconde antigas praacuteticas hieraacuterquicas e

18

funcionais no serviccedilo em sauacutede para designar a experiecircncia concreta e reflexiva da accedilatildeo em

sauacutede que se realiza em trecircs movimentos do doar (como escuta como palavra como

disponibilidade para acolher integralmente ao outro) do receber (como direito inato do ser

humano a viver como possibilidade de agradecer para aparecer e ser incluiacutedo) e do retribuir

(como direito e possibilidade a demonstrar sua presenccedila seu poder sua singularidade dentro

do sistema social)

Esta releitura do cuidado como dom do cuidado abre perspectivas interessantes para se

reavaliar o tema da justiccedila pois esta deixa de ser mera aplicaccedilatildeo de normas coletivamente

sancionadas num territoacuterio nacional para aparecer como accedilatildeo de inclusatildeo social igualitaacuteria dos

diferentes Este entendimento permite sair da ideia do mal-estar da cultura formulada por Freud

na fundaccedilatildeo da psicanaacutelise para se pensar o bem-estar produzido pela poliacutetica do

cuidadorealizada com a consciecircncia do dom do reconhecimento10 Enfim haacute que se apostar no

dom do reconhecimento para se avanccedilar na democratizaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede e do cuidado

como care permitindo passar de um entendimento assistencialista do usuaacuterio dos serviccedilos que

estaacute sempre na posiccedilatildeo do sacrifiacutecio (da condenaccedilatildeo agrave pobreza e ao assistencialismo) para um

entendimento reflexivo e expressivo que libera o usuaacuterio da posiccedilatildeo sacrificial e o insere como

ator corresponsaacutevel na produccedilatildeo da vida cotidiana em contexto de justiccedila igualitaacuteria que integra

as diferenccedilas

Apostar no reconhecimento eacute buscar a diferenccedila no igual no confiar no respeitar no

solidarizar independentemente das diversidades sociais e culturais Tal aposta permite que se

formem culturas poliacuteticas mais saudaacuteveis e inspiradas na justiccedila social igualitaacuteria Essas

culturas satildeo importantes para se pensar os sistemas comunitaacuterios locais que se estabelecem agrave

base do puacuteblico democraacutetico que constitui uma experiecircncia coletiva supraegoacuteica Por isso para

terminar lembramos o filoacutesofo italiano F Fistetti que inspirado em Mauss afirma que cada

cultura conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana obras obras de

arte siacutembolos coacutedigos de comportamento etc (Fistetti 2009 179) Isto significa dizer que se

cada cultura conteacutem o todo cada cultura conteacutem o cuidado como atividade geral de produccedilatildeo

do bem comum ela conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana na

sua singularidade

Assim pensar o cuidado como metaacutefora e mediaccedilatildeo como projeto permanente inspirado

no dom do reconhecimento significa igualmente pensar uma cultura poliacutetica da daacutediva Uma

cultura como sistema de valor de uma esfera puacuteblica participativa que seja gerada por sua vez

por reciprocidades estabelecidas entre os sistemas organizacionais complexos como o Estado

que formula poliacuteticas comuns e o Mundo da Vida onde se formatam as praacuteticas espontacircneas

da vida social e cultural

10 Tal compreensatildeo inovadora do cuidado eacute particularmente pertinente para se pensar as diferenccedilas entre justiccedila nacional ndash

como poliacutetica redistributivista limitada que elimina as diferenccedilas identitaacuterias para promover a integraccedilatildeo comunitaacuteria nacional

ndash e justiccedila global ndash como poliacutetica redistributivista aberta a novos territoacuterios transnacionais que promovem o cuidado como dom

do reconhecimento para aleacutem das fronteiras nacionais Pensar a justiccedila global natildeo como concessatildeo de Estados nacionais na

cena mundial mas como direitos do ser humano ao bem viver (Arendt 2010) como direito ao dom do reconhecimento fundado

na alianccedila entre anocircnimos que vivem a gratidatildeo significa fazer a passagem de poliacuteticas sacrificiais (que sacrificam os diferentes

e os humilhados) para poliacuteticas antissacrificiais baseadas no dom incondicional e na alianccedila que gera o mundo comum e que

libera os diferentes e humilhados

19

Referecircncias bibliograacuteficas

Arendt H (2010) A condiccedilatildeo humana Rio Forense Universitaacuteria

Cailleacute A (2002) Antropologia do dom o terceiro paradigma Petroacutepolis Vozes

Cailleacute A (2006) ldquoO dom entre interesse e desinteressamentordquo in Martins PH Campos

RBC (Org) Polifonia do dom Recife Editora da UFPE 257-284

Cailleacute A (2008) ldquo Reconhecimento e sociologiardquo RBCS 23 66 151-163

Cailleacute A Godbout J (1998) O espiacuterito da daacutediva Rio de Janeiro FGV

Dewey J (1991) The public and its problems Ohio Ohio University Press

Fistetti F (2009) Theacuteories du multiculturalisme un parcours entre philosophie et sciences

sociales Paris La Deacutecouverte

Godbout J (2007) Ce qui circule entre nous donner recevoir rendre Paris Seuil

Honneth A (2003) Luta por reconhecimento a gramaacutetica moral dos conflitos sociais Satildeo

Paulo Editora 34

Martins PH (2008) ldquoDe Levi-Strauss a MAUSS ndash Movimento AntiUtilitarista nas Ciecircncias

Sociaisrdquo RBCS 23 66 105-130

Mauss M (2003) Sociologia e antropologia Satildeo Paulo Cossac amp Naify

Pinheiro R Martins PH (org) (2009) Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do usuaacuterio

abordagem multicecircntrica Rio de Janeiro Cepesc

Taylor C (2005) As fontes do self A construccedilatildeo da identidade moderna Satildeo Paulo Loyola

Tronto J (1993) Moral boundaries A political argument for an ethic of care New York

Routledge

20

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de

Pacientes Grupos Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se

estaacute falando

Rogeacuterio Lima Barbosa1 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra rogeriobarbosacesucpt

Apresentaccedilatildeo

Os estudos que abrangem as doenccedilas raras parecem tomar cada vez mais importacircncia na aacuterea

social Uma das possiacuteveis causas deste crescimento eacute explicada pelo impacto das associaccedilotildees

civis de doenccedilas raras na sociedade Por meio da atuaccedilatildeo destas associaccedilotildees houve um

consideraacutevel avanccedilo nas pesquisas geneacuteticas que culminaram na descoberta de tratamentos

medicamentosos para doenccedilas consideradas incuraacuteveis Tambeacutem foram criados protocolos de

atendimento a familiares e pessoas com doenccedilas raras nos serviccedilos de sauacutede e planos nacionais

de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras para a Uniatildeo Europeia Em qualquer paiacutes toda

accedilatildeo voltada para as doenccedilas raras seja por meio de pesquisas criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas ou

desenvolvimento de tratamentos eacute resultado das atividades das associaccedilotildees civis O contributo

dessas associaccedilotildees para a melhora do atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras e seus

familiares por meio de accedilotildees que impactam a sociedade justifica a atenccedilatildeo para o

desenvolvimento de suas accedilotildees no campo social Contudo aleacutem de perceber o resultado das

atividades na sociedade eacute preciso conhecer as associaccedilotildees a partir das motivaccedilotildees que os seus

integrantes possuem A partir de um olhar para ldquodentrordquo das associaccedilotildees para as pessoas que a

formam eacute possiacutevel encontrar natildeo somente diferentes motivaccedilotildees como tambeacutem estruturas

associativas muito diversas

Se por um lado as pessoas organizam-se em associaccedilotildees que visam tratar de doenccedilas

especiacuteficas como a Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Pacientes com Neurofibromatose -

AMANF por exemplo por outro existem associaccedilotildees que possuem o objetivo de representar

todas as doenccedilas raras em um formato ldquoguarda-chuvardquo2 Tanto em uma como em outra os

dirigentes das associaccedilotildees podem ser os proacuteprios pacientes seus pais ou matildees profissionais da

aacuterea da sauacutede ou qualquer pessoa que tenha interesse no campo das doenccedilas raras Em uma

realidade tatildeo difusa para os dirigentes a produccedilatildeo das ciecircncias sociais que alcanccedila tanto as

associaccedilotildees de doenccedilas especiacuteficas quanto as do modelo ldquoguarda-chuvardquo ldquoabrange vaacuterias

formas ldquoaproximadasrdquo de pacientesrdquo (Epstein 2008) Assim o termo paciente natildeo se restringe

ao doente e possui um sentido alargado que abarca qualquer pessoa que atue em uma

associaccedilatildeo e tenha interesse no desenvolvimento de accedilotildees para a sauacutede Portanto as associaccedilotildees

civis formadas por indiviacuteduos que militam no campo das doenccedilas raras satildeo conhecidas nas

Ciecircncias Sociais como Organizaccedilotildees de Pacientes (PO) em Epstein (2008) Nunes (2007)

Rabeharisoa et al (2008 2012 e 2013) Grupos Consumidores de Sauacutede3 para Allsop et al

1 Rogeacuterio Lima Barbosa eacute Mestre e Doutorando em Sociologia pelo programa Relaccedilotildees de Trabalho Sindicalismo e

Desigualdades Sociais da Faculdade de Economia e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Eacute bolsista da

CAPES processo BEX 10006-133 2 Em relaccedilatildeo aos estudos que analisam as associaccedilotildees civis que possuem o objetivo de representar todas as doenccedilas raras em

um formato de ldquoguarda-chuvardquo as mais citadas satildeo a Eurordis e a AFM ndash Associaccedilatildeo Francesa de Distrofia Muscular 3 Health consumer groups

21

(2004) Associaccedilotildees de Doentes em Filipe (2009) ou Associaccedilotildees de Pacientes para Novas

(2006)4

O frame alargado do paciente5 sinaliza o trabalho em rede que essas associaccedilotildees realizam

Assim como eacute necessaacuterio buscar na rede de contatos as pessoas para formalizarem uma

associaccedilatildeo civil os indiviacuteduos que iniciam a militacircncia pelas doenccedilas raras experimentam jaacute

na busca pelo diagnoacutestico da doenccedila6 a forccedila existente dos laccedilos de sua rede de contatos A

partir de sua rede de contatos os indiviacuteduos conseguem chegar ateacute ao diagnoacutestico ao tratamento

e as melhores formas de cuidado para o doente Assim satildeo os laccedilos existentes na rede que datildeo

condiccedilotildees para a formaccedilatildeo das associaccedilotildees civis e geram as respostas que natildeo foram

encontradas nos processos formais dos sistemas de sauacutede Considerando que o Estado eacute o

responsaacutevel por coordenar os cuidados nos sistemas de sauacutede a sua ausecircncia eacute o gatilho que

despoleta uma seacuterie de accedilotildees individuais que acabam impactando a sociedade

Juntamente com o Estado a Induacutestria FarmacecircuticaBiotecnologia (Induacutestria) a Academia

e as Associaccedilotildees satildeo os principais atores no campo das doenccedilas raras Assim como a associaccedilatildeo

civil surge a partir da falta de informaccedilatildeo promovida pelo Estado a ausecircncia deste daacute condiccedilotildees

para uma forte presenccedila da Induacutestria na coordenaccedilatildeo dos serviccedilos de atendimento agrave populaccedilatildeo

Essa presenccedila acaba por minar o campo das doenccedilas raras com os seus interesses Em particular

as associaccedilotildees do campo das doenccedilas raras como a induacutestria possui um interesse especiacutefico em

influenciaacute-las na produccedilatildeo de accedilotildees que visam a regulamentaccedilatildeo do mercado para as drogas

oacuterfatildes acabam por se estruturarem conforme a relaccedilatildeo que se cria com a induacutestria Se por um

lado existem associaccedilotildees que possuem um modelo de atuaccedilatildeo centrado na ajuda muacutetua

autoajuda e portanto mantendo-se distantes da induacutestria por outro haacute as associaccedilotildees que

optam por um modelo empresarial utilizando as ferramentas das empresas capitalistas como

planejamentos estrateacutegicos relatoacuterios de atividades trabalhadores remunerados CEOs e outras

caracteriacutesticas dessa aacuterea Neste modelo a Eurordis associaccedilatildeo europeia com sede em Franccedila

e as associaccedilotildees de distrofia muscular7 em Franccedila e nos EUA satildeo exemplares A associaccedilatildeo de

distrofia muscular dos EUA eacute a mais antiga Foi criada nos anos 50 e natildeo somente serviu como

modelo para as outras duas como tambeacutem participou da fundaccedilatildeo de ambas As trecircs possuem

o mesmo formato de atuaccedilatildeo Estruturado sobre a batuta da associaccedilatildeo americana essas

associaccedilotildees possuem o advocacy como atividade principal atuando de maneira significativa na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que favoreccedilam os seus interesses que natildeo raros estatildeo

alinhados com o pensamento capitalista8 Os recursos financeiros da Eurordis proveacutem

4 Apesar de compreender a necessidade de se conseguir um ponto de contato ou linha estrutural que possa reunir as diferentes

associaccedilotildees e fortalecer o proacuteprio movimento social a visatildeo sobre o impacto na sociedade impede a percepccedilatildeo sobre as suas

dinacircmicas internas Se existir o entendimento que a oferta do cuidado ou a sua melhoria eacute o ponto central das pessoas que

lidam com as associaccedilotildees voltadas para a melhoria de vida do doente natildeo haacute duacutevidas que eacute o Cuidado que une todas essas

pessoas Assim opto por pensar em Associaccedilotildees de Cuidadores como uma alternativa para identificar as Associaccedilotildees que

atuam no campo da sauacutede Com isso haacute a (re)estruturaccedilatildeo das accedilotildees sobre o cuidado ao mesmo tempo que ressegnifica a

relaccedilatildeo pacientefamiliaresmeacutedicosAo mesmo tempo natildeo impede que essas associaccedilotildees tenham suas particularidades e

diferentes como seraacute abordado adiante 5 Apesar do consenso sobre o termo paciente eacute preciso alertar que aleacutem de dificultar o entendimento sobre as motivaccedilotildees que

impulsionam o ldquopacienterdquo utilizar esse termo em sentido alargado pode gerar problemas mais profundos como a invisibilizaccedilatildeo

do proacuteprio doente Sem desconsiderar que algumas doenccedilas podem impossibilitar a expressatildeo integral do doente a ecircnfase no

paciente alargado pode fazer com que os interesses do doente sejam suplantados por outros que ao fim acabam por

instrumentalizar ele proacuteprio Uma discussatildeo mais profunda sobre esse tema eacute discutido em outros trabalhos nomeadamente

os dedicados ao Modelo Utilitaacuterio do Cuidado ndash MUC 6 De acordo com Faurisson (2000) a dificuldade de encontrar o diagnoacutestico para uma doenccedila rara deve-se a pouca informaccedilatildeo

ou a dispersatildeo de informaccedilotildees existente entre os profissionais de sauacutede e a sociedade 7 wwweurordisorg httpwwwafm-telethoncom httpmdaorg 8 Nos mesmos moldes de sua congecircnere americana desde 1987 a AFM realiza a maratona televisiva AFM-Telethon visando

a angariaccedilatildeo de fundos Com os recursos conseguidos por meio desta maratona a AFM cria entre outros o Genethon Bioprod

o maior laboratoacuterio do mundo na produccedilatildeo de medicamentos para terapias genicas Em 2012 a Genethon torna-se a primeira

organizaccedilatildeo natildeo governamental a receber autorizaccedilatildeo para ser fabricante de produtos farmacecircuticos De acordo com o site da

AFM Com a Geacuteneacutethon BioProd o laboratoacuterio AFM-Telethon tem a maior capacidade de medicamentos para a terapia geacutenica

no mundo Da prova de conceito de desenvolvimento cliacutenico e em conformidade com as Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo (BPF)

22

principalmente da Induacutestria da AFM e da Comissatildeo Europeia Foi uma das principais

responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act na Uniatildeo Europeia e estaacute presente em todos

os assuntos que envolvem as doenccedilas raras na regiatildeo Assim como essa associaccedilatildeo possui

objetivos muito distintos de outras associaccedilotildees que lidam nas aacutereas da sauacutede e ateacute mesmo no

campo das doenccedilas raras enquadraacute-las em uma mesma denominaccedilatildeo como Organizaccedilotildees de

Pacientes parece natildeo ser a melhor opccedilatildeo

Diante de um quadro tatildeo disperso e para um estudo que assuma um posicionamento

diferente daqueles que existem no momento neste trabalho transponho a barreira das

associaccedilotildees e o olhar exclusivo para o resultado das associaccedilotildees na sociedade ou seja para o

seu ldquolado de forardquo A partir do interior das associaccedilotildees como militante dirigente de uma

associaccedilatildeo pai de uma crianccedila com uma doenccedila rara e acadecircmico tento abrir as suas portas

natildeo somente para expor as motivaccedilotildees que encontrei em diferentes pessoas e momentos de

militacircncia como tambeacutem sinalizar que as associaccedilotildees satildeo diferentes na sua proacutepria formaccedilatildeo

e na relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica Desta maneira neste artigo resgato parte de minha

dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada agrave Universidade de Coimbra e estruturada a partir de uma

observaccedilatildeo ldquoauto-etnograacuteficardquo agrave frente de uma associaccedilatildeo de doenccedilas raras a AMAVI9 e

entrevistas com dirigentes de Associaccedilotildees Civis de apoio aos pacientes com Neurofibromatose

uma doenccedila rara

Em busca da motivaccedilatildeo

Novas (2006) com base nos estudos das atividades realizadas pelas associaccedilotildees das doenccedilas

raras de Pseudoxanthoma Elasticum (PXE) e de Canavan nos Estados Unidos afirma que as

atividades destas associaccedilotildees e de outras sob o mesmo cariz alteraccedilatildeo geneacutetica e rara satildeo

baseadas na esperanccedila dos pacientes10 em conseguirem a cura para as doenccedilas A vida dessas

pessoas eacute pautada pela esperanccedila que melhores dias viratildeo Assim as melhorias futuras

dependem da forma como as suas accedilotildees satildeo realizadas no presente ldquoAleacutem disso a esperanccedila eacute

individual e coletiva ela une biografias pessoais esperanccedilas coletivas para um futuro melhor

e os processos sociais econocircmicos e poliacuteticos mais amplos (Novas 2006 291) O autor cunha

o termo ldquoA Economia poliacutetica da esperanccedilardquo11 como uma forma de ativismo que aquelas

associaccedilotildees utilizam para influenciarem e modificarem as biopoliacuteticas12 por meio dos pacientes

que se engajam na promoccedilatildeo da sauacutede bem-estar individual e geral Esses pacientes contribuem

diretamente natildeo soacute para a produccedilatildeo de conhecimento mas tambeacutem para capitalizaccedilatildeo dos

recursos para a biomedicina A partir das atividades realizadas pelas associaccedilotildees o autor

descreve a Economia poliacutetica da esperanccedila em trecircs dimensotildees a) a promoccedilatildeo da sauacutede e bem

estar como um ato poliacutetico que contribui para o aumento do entendimento sobre a doenccedila e faz

com que as associaccedilotildees passem natildeo soacute a influenciar as pesquisas meacutedicas como tambeacutem a

alterar o contexto em que estatildeo inseridas b) o investimento financeiro que as organizaccedilotildees

realizam no desenvolvimento de pesquisas em busca da cura ou tratamento eacute uma forma

que recebeu o Prix Galien France 2012 fortalece sua posiccedilatildeo como liacuteder mundial no domiacutenio das bioterapias para doenccedilas

raras Eacute o primeiro laboratoacuterio de uma associaccedilatildeo civil sem fins lucrativos que obteacutem esse status de estabelecimento

farmacecircutico de acordo com a lei de 22 de Marccedilo de 2011httpwwwafm-telethoncomnewsgenethon-the-french-afm-

telethon-laboratory-becomes-the-first-not-for-profit-to-obtain-authorization-from-ansm-to-be-a-pharmaceutical-

manufacturerhtml 9 Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria wwwamaviorg 10 Relembrando que para esse ator como para outros o paciente natildeo se trata da pessoa doente mas de outros que possuem

contato com a doenccedila Em especiacutefico neste estudo o paciente eacute entendido com osas paismatildees das crianccedilas que sofrem com

essas doenccedilas 11 Traduccedilatildeo livre de Political economy of hope 12 Para biopoliacutetica o autor utiliza os argumentos de Foucault (1978) como o termo para significar a entrada da vida no campo

da poliacutetica

23

especiacutefica de capitalizaccedilatildeo do sangue tecidos e DNA13 c) a esperanccedila que os pacientes

investem na ciecircncia possui uma dimensatildeo normativa uma vez que contribui para a elaboraccedilatildeo

de normas para a forma como as pesquisas devem ser conduzidas e como os benefiacutecios

terapecircuticos e econocircmicos devem ser distribuiacutedos Outra contribuiccedilatildeo do texto eacute o

reconhecimento que grande parte das pessoas que se engajam nos desafios da biomedicina satildeo

brancos da classe meacutedia escolarizados e com grande capacidade de mobilizaccedilatildeo nas redes

sociais seja pessoalmente ou por meio da internet Acresce a essas caracteriacutesticas o fato da

lideranccedila das mulheres ser uma constante14

A perspectiva de Novas eacute interessante porque (1) aponta para as diferentes formas de

atuaccedilatildeo das associaccedilotildees e (2) sinaliza a conflitualidade vivida pelos pacientes quanto realizam

as suas accedilotildees no presente pautadas pelos sentimentos futuros Mas como abordado no iniacutecio

deste artigo possui a limitaccedilatildeo de buscar esquadrinhar o ldquolado de forardquo das associaccedilotildees O

enredo criado pelo autor eacute o mesmo que outros utilizam quando estudam as associaccedilotildees do

campo das doenccedilas raras Conforme Rabeharisoa e colegas

[hellip] uma seacuterie de estudos tecircm-se centrado em como e em quecirc as organizaccedilotildees de paciente os usuaacuterios e

grupos de ativistas intervecircm na criaccedilatildeo e monitoramento das poliacuteticas de sauacutede [] os estudos estatildeo

preocupados principalmente com a representatividade dessas organizaccedilotildees e grupo bem como o seu poder

de lobby vis-agrave-vis junto agraves instituiccedilotildees (Rabeharisoa et al 2013 6)

As associaccedilotildees para doenccedilas raras fundam-se sobre um quadro de falta de informaccedilatildeo

generalizada e os pacientes (pessoas com diagnoacutestico familiares ou outros interessados)

assumem a responsabilidade por conseguirem encontrar por meios proacuteprios o que procuram

O proacuteprio Novas confirma esse entendimento ao fazer um breve relato da constituiccedilatildeo das

associaccedilotildees que fazem parte de seus estudos e ndash ao concluir que o iniacutecio das associaccedilotildees

somente foi possiacutevel pelo envolvimento dos pais das crianccedilas em sua constituiccedilatildeo ndash consolida

a percepccedilatildeo de que a rotina familiar eacute alterada pelo diagnoacutestico da doenccedila O momento do

diagnoacutestico eacute significativo porque apresenta aos pacientes uma realidade que natildeo eacute a deles ou

no melhor dos casos uma que natildeo conseguem entender e os profissionais de sauacutede natildeo

conseguem explicar

[quando a associaccedilatildeo recebe algum contato haacute a preocupaccedilatildeo] se as palavras estatildeo sendo bem usadas porque

eacute muito perigoso eacute muito perigoso como vamos usar as palavras como vamos falar com familiares de

portadores Satildeo pessoas que estatildeo sofrendo muito satildeo pessoas que estatildeo pedindo socorro satildeo pessoas

desesperadas satildeo pessoas completamente fora do meio delas estatildeo sendo satildeo excluiacutedas exclusatildeo total

(Entrevistado 3 sublinhado nosso)

A perspectiva de Novas sobre o desdobramento do sentimento de esperanccedila sobre as accedilotildees

dos paismatildees eacute ateacute certo ponto verdadeiro Contudo sinalizar que esse sentimento eacute

predominante agraves associaccedilotildees que lidam com as doenccedilas consideradas raras reforccedila a visatildeo

poeacutetica predominante e minimiza as proacuteprias dificuldades e carga de medo que recai sobre

aqueles que assumem a responsabilidade por atuar no campo No caso dos pais e matildees o medo

13 Nas duas associaccedilotildees apresentadas pelo autor os fundadores pais e matildees de crianccedilas diagnosticadas com a doenccedila

incentivam a participaccedilatildeo dos pacientes nos procedimentos de doaccedilatildeo de sangue tecidos e DNA para desenvolvimento das

pesquisas Ambas possuem atenccedilatildeo especial na guarda dos dados dos pacientes A associaccedilatildeo de PXE conseguiu posicionar-se

como coordenadora dos esforccedilos entre os diversos pesquisadores laboratoacuterios autoridades e pacientes para o desenvolvimento

da pesquisa e manteacutem o registro dos pacientes com a Associaccedilatildeo A associaccedilatildeo de Canavan estaacute em disputa com os

pesquisadores ldquosobre como os benefiacutecios terapecircuticos e econoacutemicos derivados da pesquisa biomeacutedica devem ser distribuiacutedos

entre aqueles que participaram e contribuiram para a empresa de pesquisa biomeacutedicardquo (Novas 2006 298) A formaccedilatildeo e guarda

de dados dos pacientes visa a constituiccedilatildeo dos Biobancos 14 Essa caracteriacutestica pode ser percebida pela maciccedila presenccedila das mulheres nos encontros de associaccedilotildees em diferentes

contextos conforme citado por um dos entrevistados ldquona carta que eu fiz para vocecirc eu falei assim [O nome de Maria Vitoacuteria

para uma associaccedilatildeo eacute muito importante significa] as Marias de muitas vitoacuterias ou as vitoacuterias das muitas Marias porque satildeo

matildees [a frente das associaccedilotildees] de um modo geral As exceccedilotildees satildeo poucas []rdquo

24

refere-se ao periacuteodo de vida da crianccedila que de maneira repentina se descobre ser menor que o

esperado fazendo com que passem a conviver com um cronoacutemetro imaginaacuterio Atrelado ao

cronocircmetro haacute a preocupaccedilatildeo sobre como seraacute a aceitaccedilatildeo das dificuldades de sua crianccedila pela

sociedade como a crianccedila teraacute suporte na falta de um ou de ambos os responsaacuteveis e como seraacute

a reaccedilatildeo da famiacutelia no momento de necessidade Vencido o medo a coragem eacute o sentimento

que os paismatildees encontram para conseguir buscar as formas de poder ajudar osas seusuas

filhosas e ateacute de iniciar a contestar os profissionais de sauacutede A resignaccedilatildeo combina com a

consciecircncia que apesar de todos os esforccedilos que possam realizar a uacutenica forma de poder ajudar

suas crianccedilas eacute a promoccedilatildeo de sua qualidade de vida E por fim a frustraccedilatildeo e o sentimento de

culpa em imaginar que foram os responsaacuteveis por transmitir a doenccedila em forma de sofrimento

para as suas crianccedilas eacute o sentimento que embala os seus sonos sob a questionamento do

Porquecirc Muitos sentimentos satildeo motivadores para a criaccedilatildeo das associaccedilotildees Seguramente a

esperanccedila eacute um deles contudo natildeo eacute o sentimento prevalecente ou norteador das accedilotildees dos

familiares e pacientes

O argumento de Novas sobre a busca da cura eacute fraacutegil Apesar de citar que as associaccedilotildees

buscam a cura ou o tratamento enfatiza que a busca da cura eacute o fator mobilizador dos esforccedilos

das associaccedilotildees Todavia ao trazermos o entendimento sobre a impossibilidade de cura15 para

as doenccedilas geneacuteticas eacute mais prudente observar que as associaccedilotildees direcionam suas atividades

em busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas dado que os remeacutedios natildeo satildeo

desenvolvidos para a cura mas para impedir o avanccedilo da doenccedila ou paralisar os seus sintomas

Com a atenccedilatildeo em um futuro distante seja pela esperanccedila ou pela busca da cura o texto de

Novas deixa de perceber a atual complexidade que permeia o campo das doenccedilas raras

Por outra perspectiva sobre as formas de organizaccedilatildeo das associaccedilotildees e reconhecendo a

complexidade ausente em Novas o texto de Vololona et al (2012)16 destaca-se como uma

amostra comparativa O texto refere-se a um estudo comparativo entre Franccedila e Portugal sobre

a forma de ativismo que as Organizaccedilotildees de Pacientes desenvolvem nos dois paiacuteses Os autores

fundamentam os argumentos para conceituarem a forma de ativismo colaborativo entre

pacientes e especialistas realizados pelas associaccedilotildees como um ldquoModelo Hiacutebrido Coletivordquo17

(MHC) Esse modelo tem duas caracteriacutesticas a constituiccedilatildeo de comunidades que alinham

pacientes e especialistas na ldquoguerra contra a doenccedilardquo e a combinaccedilatildeo de interesses entre os

especialistas e as POs na produccedilatildeo de conhecimento sobre as doenccedilas O MHC eacute portanto

diferente do modelo em que os pacientes deixam as questotildees de sauacutede como uma aacuterea exclusiva

do saber meacutedico ndash Modelo por Delegaccedilatildeo (MD)18 O texto apresenta as diferentes formas do

MHC e que diferem de um paiacutes para o outro

Em Franccedila o MHC assume quatro formas A primeira refere-se ao desenvolvimento de

mecanismos que auxiliam os pacientes a entender a doenccedila natildeo somente sobre os sintomas e

efeitos mas tambeacutem que tenham condiccedilotildees de se posicionarem em peacute de igualdade com os

profissionais de sauacutede Essa forma de atuaccedilatildeo eacute encontrada no trabalho da Associaccedilatildeo Mineira

de Neurofibromatose ndashAMANF ndash na divulgaccedilatildeo da sua cartilha ldquoAs Manchinhas da Marianardquo19

15 Como jaacute mencionado e corroborado pela Dra Karin Cunha especialista em Neurofibromatose que durante a palestra

realizada no Dia das Doenccedilas Raras em 2011 em Brasiacutelia esclareceu que pela questatildeo geneacutetica envolvida nas doenccedilas raras

ainda natildeo existe cura e continuamos longe de conseguir algo que possa modificar os genes alterados por cada doenccedila 16 The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases in French and Portuguese patientsrsquo organizations

engagement in research 17 Traduccedilatildeo livre de Hybrid Collective Model Apesar de acreditar que o termo mais adequado eacute Modelo Hiacutebrido de Ativismo

por dar um maior entendimento para o leitor a opccedilatildeo do uso literal da traduccedilatildeo pretende mitigar qualquer vieacutes que possa existir

em seu uso 18 Delegation Model 19 Essa cartilha apresenta todos os sintomas da doenccedila por meio de Cartoons de maneira didaacutetica sendo direcionada para os

familiares das crianccedilas Mas pelo cartoon tambeacutem conquista as crianccedilas Quando a minha filha com 5 anos conheceu esse

trabalho passou mais de uma semana com a cartilha para mostraacute-la na escola para famiacutelia e em todas as atividades que

participava Aleacutem da versatildeo impressa estaacute disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

25

Muitas vezes o aprofundamento dos pacientes nos estudos sobre a doenccedila faz com que se

tornem referecircncia para os proacuteprios profissionais de sauacutede

Entatildeo eu me senti eacute lisonjeada porque eles viam todo trabalho que eu fazia porque eu ajudei a ensinar

meacutedico eu ajudei a ajudar paciente [] ateacute os meacutedicos chegam a me procurar [] Eu levava para o Hospital

do Cacircncer estudava eu estudava o meacutedico mas o que estava escrito na literatura [] E a gente comeccedilou a

ver que com ano de 1996 que nem tudo estava escrito na literatura O da [] era um Mas por que Porque

ela tem uma mutaccedilatildeo geneacutetica E essa mutaccedilatildeo geneacutetica eacute diferente ela muda a patologia entendeu [] o

tumor dela jaacute cresceu em 4 meses 12 centiacutemetros taacute O tumor dela natildeo tinha na literatura agora eu acho que

jaacute tem a gente conseguiu ver isso no hospital do cacircncer com pesquisas (Entrevistado 1 sublinhado nosso)

A segunda forma faz referecircncia ao apoio financeiro para a realizaccedilatildeo de pesquisas Este

tipo de apoio eacute construiacutedo e resulta do alinhamento de interesses entre as associaccedilotildees de

pacientes e os grupos de pesquisa No Brasil isso ainda natildeo eacute realidade porque as Associaccedilotildees

natildeo conseguiram desenvolver os meios para garantir os recursos financeiros de maneira regular

A gente natildeo tem dinheiro porque a gente podia pedir para a famiacutelia para os associados 10 reais para cada um

[e ateacute pedimos por algum tempo][] Mas eu cheguei em uma fase que eu pensei natildeo tem condiccedilotildees de pedir

10 reais porque as vezes a pessoa natildeo tem dinheiro para vir aqui em uma reuniatildeo no saacutebado por causa de

dinheiro (Entrevistado 1)

Quem faz parte da associaccedilatildeo Os pobres No maacuteximo classe meacutedia classe meacutedia baixa Quem vai no nosso

centro de referecircncia de neurofibromatose Os pobres classe meacutedia baixa [o rico] senta ali o cara ali do lado

com vitligo outro com lesatildeo de pele outro com natildeo sei o quecirc Ele olha ele assim no banco de madeira

serviccedilo puacuteblico Ou ele vai acreditar em mim que atende ali e fala que ele natildeo precisa fazer ressonacircncia

magneacutetica ou ele vai ao consultoacuterio do neurologista que ele paga 300 reais a consulta mesa de blindex duas

secretaacuterias muacutesica ambiente consulta por natildeo sei o quecirc mesa para poder ver a ressonacircncia jalecatildeo com

siacutembolo aqui de bacana da faculdade Em quem acredita No velhinho laacute do SUS ou no Dr neurologista Aiacute

vocecirc natildeo tem dinheiro nessa associaccedilatildeo porque vocecirc soacute tem pobre laacute Natildeo tem ningueacutem para doar

ningueacutem eacute amigo de empresaacuterio (Entrevistado 2)20

Pessoas com poder aquisitivo baixiacutessimo que quebram seu cofrinho para vir de ocircnibus participar da reuniatildeo

e contar seus problemas e choram tem os fibromas (Entrevistado 3)

A posiccedilatildeo social do paciente tende a influenciar a forma como ele se relaciona com a

associaccedilatildeo Relembrando Novas (2006) as pessoas que participam nas POs satildeo

essencialmente da classe meacutedia e possuem grande poder de mobilizaccedilatildeo Na realidade

brasileira enquanto os indiviacuteduos da classe meacutedia ao envolverem-se com uma associaccedilatildeo

optam por fazer parte da diretoria corpo dirigente ou na fundaccedilatildeo da entidade os indiviacuteduos

que buscam o apoio a orientaccedilatildeo e participam das reuniotildees satildeo na sua maioria oriundos de

classes sociais mais baixas

Em terceiro lugar estaacute a realizaccedilatildeo de accedilotildees para abordagem de novos temas e levar alguns

assuntos para fora do campo restrito da biomedicina Neste formato as associaccedilotildees tendem a

agir de forma transversal e em busca da melhoria do cuidado para o paciente Nesse quadro em

especiacutefico pode-se citar a percepccedilatildeo de um crescimento sobre o debate da vinculaccedilatildeo das

doenccedilas raras com as deficiecircncias Apesar de ser uma tentativa de melhoria real da qualidade

de vida do doente e distante da manipulaccedilatildeo de medicamentos pode natildeo gerar resultados devido

ao proacuteprio contexto do campo da deficiecircncia A vinculaccedilatildeo em si tambeacutem gera um intenso

debate natildeo soacute pela dificuldade de se encontrar um entendimento comum que define o que eacute uma

doenccedila rara como tambeacutem em responder agrave pergunta Se a maioria das doenccedilas raras possuem

20 Essa entrevista abordou a discriminaccedilatildeo das pessoas face aos serviccedilos puacuteblicos O que eacute exposto pelo entrevistado faz parte

dos fundamentos do complexo social-industrial como uma alianccedila entre o Estado e o capital privado no qual os serviccedilos

ofertados pelo Estado satildeo de baixa qualidade ldquoEsta divisatildeo da produccedilatildeo eacute essencial ao capital privado quer porque reserva

para si as produccedilotildees lucrativas quer porque ajuda a perpetuar a ideia de que o Estado eacute incompetente como produtor de

bens e serviccedilosrdquo (Santos e Hespanha 1987 30 sublinhado nosso)

26

causas geneacuteticas e portanto a pessoa nasce com ela qual o momento que poderaacute utilizar o

status da deficiecircncia ao nascer ou somente na manifestaccedilatildeo dos sintomas

A quarta forma refere-se ao envolvimento das POs na produccedilatildeo de conhecimento definiccedilatildeo

de protocolos e procedimentos de pesquisa Para os autores ldquoo quarto modo de envolvimento

entra na caixa preta do complexo mecanismo bioloacutegico e que ainda eacute desconhecido e permanece

por ser exploradordquo (Rabeharisoa et al 2012 16)

Relativamente a Portugal percebeu-se que as associaccedilotildees estatildeo entre o MHC e o MD

Influenciadas pelas accedilotildees da EURORDIS foram criadas duas associaccedilotildees nacionais a APDR

ndash Alianccedila Portuguesa de Doenccedilas Raras ndash e a Rariacutessimas Essa juntamente com outras

associaccedilotildees fundou a FEDRA ndash Federaccedilatildeo Portuguesa de Doenccedilas Raras21 De acordo com

Rabeharisoa et al (2012) uma das razotildees para a fundaccedilatildeo de duas associaccedilotildees com modelos

de accedilatildeo diferentes foi justamente o (des)entendimento sobre a percepccedilatildeo de doenccedilas raras que

fez a APDR dirigir as suas accedilotildees para algo mais proacuteximo ao MHC Aleacutem da diferenccedila na forma

de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees francesas em Portugal o atendimento aos pacientes e familiares

possui o suporte psicoloacutegico e a autoajuda como prioridades Natildeo possuem interesse de

participar em pesquisas ou pelo menos o interesse das associaccedilotildees de doenccedilas raras natildeo difere

da grande maioria das associaccedilotildees que tratam de doenccedilas ldquonatildeo-rarasrdquo

No caso brasileiro a relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica em geral eacute vista como ldquoum

ramo meio perigosordquo (Entrevistado 3) As investidas da induacutestria sobre as associaccedilotildees satildeo

conhecidas por todas as pessoas envolvidas no campo das doenccedilas raras e o seu interesse sobre

as associaccedilotildees natildeo eacute uniforme e muito menos possui os mesmos objetivos O caso da

Neurofibromatose ndash NF eacute exemplar Mesmo natildeo tendo uma medicaccedilatildeo especiacutefica que paralise

os avanccedilos da doenccedila todos os entrevistados afirmaram que haacute uma grande procura da induacutestria

pelos pacientes mas muitas vezes o interesse natildeo estaacute relacionado em ajudar o paciente ou a

busca de informaccedilotildees sobre a doenccedila mas de fazer do paciente um meio para se conseguir as

respostas para outras perguntas

Eacute como se fosse um rato de laboratoacuterio Vocecirc faz um camundongo geneticamente modificado para estudar e

para poder aplicar nos pacientes O rato vocecirc natildeo estaacute interessado nele Estou fazendo uma comparaccedilatildeo

grosseira meio caricatural mas que eacute mais ou menos isso Quer dizer Opa NF1 eacute o modelo estudado de

doenccedila geneacutetica com a cadeia metaboacutelica da reproduccedilatildeo da divisatildeo e multiplicaccedilatildeo celular que se quer

entender para tratar os cacircnceres Soacute que na verdade quando vocecirc abre o mapa dos processos metaboacutelicos

celulares eacute um verdadeiro universo e as proteiacutenas ligadas agrave neurofibromina e agrave mielina satildeo parte desse

processo Entatildeo eles querem dizer assim Olha seraacute que se noacutes controlarmos aqui seraacute que a gente mexe

no cacircncer laacute na ponta Entatildeo eu acho que haacute um interesse dos laboratoacuterios porque eles estatildeo pensando

em outra coisa natildeo estatildeo pensando na doenccedila (Entrevistado 2 sublinhado nosso)

A NF possui um contexto diferente de outras doenccedilas porque natildeo eacute o produto final da

medicaccedilatildeo e por seus sintomas acontecerem de diferentes maneiras a sua manifestaccedilatildeo eacute

motivo de grande discriminaccedilatildeo pela sociedade familiares e ateacute profissionais de sauacutede22

O olhar acorrentado da sociedade para noacutes eacute perturbador Eacute a discriminaccedilatildeo inclusive no meio meacutedico Noacutes

sabemos de casos que a pessoa com a Neurofibromatose chegando no consultoacuterio do SUS o meacutedico colocou

luvas de procedimento porque viu aquela pessoa cheia de neurotumores neurofibromas no rosto foi

colocado luva de procedimento O portador de Neurofibromatose ele eacute excluiacutedo da sociedade a niacutevelhellip em

todos os niacuteveis em todos os segmentos da sociedade (Entrevistado 3 sublinhado nosso)

21 APDR - httpapnptapn httpwwwrarissimaspt httpfedrapt 22 O cuidado que o profissional de sauacutede deve ter ao tratar pacientes que possuem uma situaccedilatildeo fragilizada desde a sua infacircncia

muitas vezes eacute substituiacutedo pela total falta de informaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Um fato contado por uma paciente de NF ex-diretora

da AMAVI eacute que ao recusar o pedido para fazer parte de uma pesquisa o questionamento do meacutedico foi simples direto e

totalmente avesso ao cuidado ldquoMas porquecirc Vai virar um monstro mesmordquo

27

Para o paciente a NF impacta na sua proacutepria identidade Isso faz com que a melhoria da

qualidade de vida seja fundamental nas atividades das associaccedilotildees e a luta contra o preconceito

inclusive para a proacutepria aceitaccedilatildeo da doenccedila pelo paciente faz parte desta melhoria

Em uma outra realidade diferente da NF haacute um grande envolvimento entre as associaccedilotildees

civis e a induacutestria Esse envolvimento eacute percebido notadamente nas associaccedilotildees que lidam com

as doenccedilas que possuem medicamentos especiacuteficos ou que podem desenvolver accedilotildees de

interesse da induacutestria nomeadamente os trabalhos de advocacy Essa disparidade gera uma

situaccedilatildeo perversa As Associaccedilotildees que possuem medicaccedilatildeo especiacutefica mesmo para doenccedilas

consideradas ultra-raras tecircm mais recursos e condiccedilotildees de agir que aquelas onde o nuacutemero de

pacientes eacute maior mas ainda natildeo haacute medicaccedilatildeo disponiacutevel

As associaccedilotildees de pacientes em Portugal conforme o trabalho posicionam-se entre o

caminho do Modelo por Delegaccedilatildeo e o Modelo Hiacutebrido Coletivo porque natildeo utilizam a

integralidade do MD o qual a ideia da coletividade eacute excluiacuteda e nem do MHC que se

caracteriza pela formaccedilatildeo de uma comunidade baseada na combinaccedilatildeo entre competecircncias e

prerrogativas Diferente do que ocorre em Franccedila o MHC em Portugal natildeo estaacute vinculado ao

criteacuterio de raridade e aleacutem disso quando as associaccedilotildees optam por utilizarem este modelo ldquoeles

rejeitam claramente a condiccedilatildeo de rara como um criteacuterio que justifica as suas escolhasrdquo

(Rabeharisoa et al 2012 21)23

De acordo com o disposto o conceito de MHC construiacutedo a partir dos estudos sobre a

forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees civis caracteriza-se pela formaccedilatildeo de comunidades que

promovem a cooperaccedilatildeo entre os pacientes especialistas e associaccedilotildees de pacientes para a

produccedilatildeo de conhecimento e desenvolvimento de pesquisas Eacute portanto uma relaccedilatildeo em que

os pacientes posicionam-se como ldquoexperts pela experiecircnciardquo ou ldquopacientes especialistasrdquo

detentores do poder de influenciar os mecanismos para o melhor tratamento e melhoria da

qualidade de vida

Na Franccedila por exemplo a AFM criada em 1958 participou activamente na investigaccedilatildeo para pocircr fim ao

que chamou de o ciacuterculo vicioso da ignoracircncia e indiferenccedila (Paterson amp Barral 1994 Rabeharisoa amp

Callon 1999 Rabeharisoa amp Callon 2004 ) Ele foi fundamental para a invenccedilatildeo do MHC que se consolidou

ao longo dos anos 1980 e 1990 e na criaccedilatildeo da Alianccedila Francesa Maladies Rares e de EURORDIS Ele

contribuiu para o desenvolvimento de laccedilos fortes tanto em Franccedila como noutros paiacuteses europeus entre a

causa de doenccedilas raras e a criaccedilatildeo do MHC (Rabeharisoa et al 2012 5)

Como as associaccedilotildees de pacientes com doenccedilas raras formam o tecido que define o MHC

e considerando que a proacutepria definiccedilatildeo de doenccedilas raras possui grande influecircncia dessas

associaccedilotildees principalmente da Eurordis eacute interessante observar que haacute motivaccedilotildees que

passaram ao largo do MHC e que geram problemas para os proacuteprios pacientes Um deles eacute a

definiccedilatildeo de doenccedilas raras O criteacuterio estatiacutestico utilizado pela Eurordis (para a Europa eacute

considerara rara aquela doenccedila que alcanccedila 1 em cada 2000 nascidos) eacute um problema ainda a

ser resolvido Ele eacute utilizado como uma ferramenta para conseguir principalmente sensibilizar

o Estado para a necessidade de desenvolver poliacuteticas que favoreccedilam a comercializaccedilatildeo de

medicamentos Somente pela definiccedilatildeo ldquoobjetivardquo da prevalecircncia eacute possiacutevel criar criteacuterios

estatiacutesticos sobre a populaccedilatildeo que podem ser usados em dois sentidos O da singularidade para

demonstrar que a doenccedila natildeo eacute comum e faz com que a realidade vivida pelo doente e seus

familiares seja de difiacutecil conhecimento uma vez que impacta 1 em cada 2000 nascidos e o da

generalidade24 quando haacute a partilha da doenccedila com outros indiviacuteduos que utilizando o mesmo

23 Semelhante ao que aconteceu em Portugal representantes da Fedra e da Rariacutessimas a partir de 2012 comeccedilam a influenciar

as associaccedilotildees que tratam de doenccedilas raras no Brasil E como aconteceu em Portugal essa aproximaccedilatildeo impacta natildeo soacute no

distanciamento entre as associaccedilotildees nacionais como tambeacutem na mudanccedila da forma de atuaccedilatildeo daquelas que se vinculam a

associaccedilatildeo portuguesa passando a assumir um formato muito mais aberto ao mercado e na busca por captaccedilatildeo de pacientes 24 Vololona et al (2012) realizam uma abordagem mais aprofundada sobre singularizaccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

28

dado estatiacutestico chega a 2000 pessoas vivendo com a mesma situaccedilatildeo de exclusatildeo

discriminaccedilatildeo e falta de tratamento Conhecendo portanto o tamanho da populaccedilatildeo eacute faacutecil

chegamos ao total de pessoas afetadas Outro problema refere-se ao paciente alargado Apesar

dos responsaacuteveis pelo doente e outras pessoas poderem ser somados agraves estatiacutesticas por

sofrerem com o diagnoacutestico da doenccedila devido agrave falta de informaccedilatildeo a ideia do paciente

alargado (pais matildees e demais interessados) deve ser refutada uma vez que acoberta aquele que

sofre os sintomas da doenccedila o proacuteprio paciente Com tal refutaccedilatildeo pretende-se voltar a atenccedilatildeo

natildeo somente para o paciente mas tambeacutem identificar a rede de apoio agrave sua volta que tem como

sentimento baacutesico o amor que faz os seus familiares lanccedilarem-se em uma ldquopesquisa na selvardquo

dentro da perspectiva colocada por (Callon e Rabeharisoa 2003) E por fim a identificaccedilatildeo

dos laccedilos que tentam ser captados pelo uso da ideia alargada de paciente deve ser realizada sob

a perspectiva de Epstein (2008) quando declara que opta por dar atenccedilatildeo as conexotildees que essas

associaccedilotildees influenciam e satildeo influenciadas

Eu prefiro seguir tanto os analistas e os atores para cada vez mais pensar fora da caixa de grupos de

pacientes no sentido estrito do termo de forma a desenhar conexotildees bem como contrastes em uma ampla

variedade de casos (Epstein 2008 504)

As formas de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees

As abordagens sobre as Associaccedilotildees Civis que atuam no campo das doenccedilas raras natildeo facilitam

o entendimento sobre a influecircncia que a induacutestria exerce sobre elas Uma das principais

interessadas no desenvolvimento de accedilotildees para a regulamentaccedilatildeo dos medicamentos para

doenccedilas raras a induacutestria possui envolvimento tanto com associaccedilotildees civis e profissionais de

sauacutede quanto com agentes do governo Para atingir o seu puacuteblico e gerar accedilotildees que favoreccedilam

a aprovaccedilatildeo de seus medicamentos frequentemente realizam eventos especiacuteficos para os

medicamentos ldquooacuterfatildeosrdquo25 Assim aleacutem do poder financeiro jaacute conhecido que exercem sobre o

governo e profissionais da sauacutede a grande influecircncia no proacuteprio direcionamento das atividades

das associaccedilotildees civis leva alguns cientistas sociais a questionarem se ldquoas associaccedilotildees de

pacientes satildeo Cavalos de Troia do neoliberalismordquo (Rabeharisoa 2008) Essa pergunta ainda

natildeo possui uma resposta conclusiva mas os caminhos que satildeo traccedilados no campo das doenccedilas

raras por algumas associaccedilotildees sinalizam uma tendecircncia afirmativa para a questatildeo

Aleacutem dos estudos que ainda natildeo conseguem fornecer uma conclusatildeo para o cruzamento de

interesses entre as associaccedilotildees de pacientes e a induacutestria muitos deles atribuem caracteriacutesticas

semelhantes de atuaccedilatildeo para associaccedilotildees que possuem interesses e objetivos muito distintos

reforccedilando a confusatildeo construiacuteda sobre o campo das doenccedilas raras Como o jaacute citado caso do

paciente alargado que faz da proacutepria pessoa que sofre os sintomas da doenccedila um ser invisiacutevel

uma vez que em muitos casos natildeo eacute ouvida e acaba por se tornar uma peccedila adjacente agraves

discussotildees que ao fim e ao cabo o transformam em um ldquoapecircndicerdquo da medicaccedilatildeo

Diante de um quadro generalizante eacute preciso uma nova concepccedilatildeo para as associaccedilotildees civis

de doenccedilas raras de forma a ser possiacutevel clarear os interesses em jogo porque

1 A relaccedilatildeo doenccedila = medicamento26 esconde as necessidades dos pacientes Tendo a

doenccedila rara uma necessidade de acompanhamento multidisciplinar e que impacta em outros

25 O termo oacuterfatildeo eacute utilizado pela induacutestria farmacecircutica para designar os medicamentos destinados para um pequeno nuacutemero

de pessoas Incialmente vistos como produtos natildeo rentaacuteveis nos uacuteltimos a induacutestria apercebeu-se do seu valor de mercado

Atualmente eacute um setor bastante competitivo dominado pelas grandes empresas farmacecircuticas da Europa e dos EUA

destacando-se Shire Sanofi Genzyme e Novartis A rentabilidade desses medicamentos eacute considerada maior que a dos

medicamentos ldquonatildeo-oacuterfatildeosrdquo Como pode ser visto pelo Orphan Drug Report 2013 disponiacutevel nesta reportagem

httpwwwfiercepharmacomspecial-reportstop-20-orphan-drugs-2018 26 Essa relaccedilatildeo eacute fortemente influenciada pela induacutestria farmacecircutica principalmente quando comeccedilam a denominar as doenccedilas

raras como doenccedilas oacuterfatildes Aleacutem dessa formataccedilatildeo deliberada que se extende ateacute o indiacuteduo como para cada pessoa com doenccedila

rara haacute uma rentabilidade atrelada os encontros realizados para as associaccedilotildees de doenccedilas raras independente do paiacutes sempre

29

campos como a construccedilatildeo da identidade luta contra o preconceito e a construccedilatildeo da cidadania

o tratamento medicamentoso eacute apenas uma parte de todo o tratamento

2 O foco nos medicamentos oacuterfatildeos faz do paciente a resposta para o lucro Quando haacute o

trabalho para implementaccedilatildeo de uma poliacutetica especiacutefica baseada em conceitos equivocados os

dados estatiacutesticos de incidecircncia natildeo baseados em estudos estruturados e a concepccedilatildeo de que a

induacutestria natildeo tem interesse em desenvolver remeacutedios para doenccedilas raras faz com que o paciente

se torne no meio pelo qual as empresas alcanccedilam os seus lucros

3 A ideia da simbiose entre o medicamento e a doenccedila oacuterfatilde esconde a pessoa A

desconstruccedilatildeo dessa ideia torna-se urgente para colocar o paciente no centro das discussotildees e

fazer com que sejam produzidas as respostas adequadas agraves necessidades existentes Eacute preciso

olhar a pessoa e natildeo a doenccedila

4 A loacutegica neoliberal de exploraccedilatildeo do homem suplanta as necessidades do cuidado A

utilizaccedilatildeo do termo organizaccedilatildeo refere-se a instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas mais as privadas

que as puacuteblicas que possuem os seus proacuteprios ditames e filosofias de trabalho Sendo a

associaccedilatildeo civil uma reuniatildeo de indiviacuteduos ao chamaacute-las de organizaccedilotildees os laccedilos que satildeo

(re)construiacutedos entre as pessoas quase que diariamente satildeo substituiacutedos pela loacutegica da

hierarquizaccedilatildeo e produccedilatildeo27 A utilizaccedilatildeo do termo associaccedilatildeo deixa evidente que se trata de

uma associaccedilatildeo da sociedade civil delimita o campo para fora da influecircncia do capital e passa

a inverter a loacutegica encontrada por Rabeharisoa e Callon (apud Epstein 2008) quando

perceberam que muitas das associaccedilotildees possuem grandes similaridades com organizaccedilotildees

empresariais

5 A construccedilatildeo de uma identidade do Raro eacute um assalto agrave cidadania Percebe-se que no

Brasil haacute uma intenccedilatildeo de criar a identidade do Raro Desta maneira em muitos discursos e

eventos para a comunidade comeccedilamos a perceber o crescente uso do termo Raroa(s) para

identificar o paciente a famiacutelia e toda a comunidade Tendo como fundamento Giddens (2002)

o eu eacute construiacutedoreconstruiacutedo por processos psicoloacutegicos que ajudam a (re)organizaccedilatildeo do eu

para o futuro As vivecircncias que temos no nosso passado ajudam o nosso posicionamento no

futuro Portanto forccedilar a aceitaccedilatildeo do raro como identidade eacute o mesmo que tirar a pessoa da

construccedilatildeo de um cidadatildeo ativo para inseri-lo numa condiccedilatildeo de diferenccedila exclusatildeo e ainda

centrado na doenccedila

6 Eacute necessaacuterio a apropriaccedilatildeo do Bios pelo social Apesar de todos os assuntos que satildeo

discutidos para esse tipo de associaccedilatildeo ter a forte influecircncia da biotecnologia em todos os

campos (cidadania socialidade valor banco etc) vincular as associaccedilotildees ao Bios sob a

perspectiva de Michel Foucault como a entrada da vida nos campos de saber tende a eliminar

a utilizaccedilatildeo de dados imprecisos como objetivos e consequentemente democratizar os debates

sobre as pesquisas bioloacutegicas

8 A identificaccedilatildeo da influecircncia da Biotecnologia como um assunto transversal A

evidenciaccedilatildeo de uma influecircncia comum e que natildeo seja focada no conceito de raras eacute relevante

para a consciencializaccedilatildeo aleacutem dos nuacutemeros e apoia a convergecircncia das accedilotildees para um campo

de atuaccedilatildeo comum entre todos uma vez que conforme Akrich et al (2008 234) A forma das

satildeo vinculados aos medicamentos oacuterfatildeos Um exemplo eacute o ICORD ndash International Conference on Rare Disease and Orphan

Drugs encontro anual com especialistas de diferentes partes do mundo Nesse sentido tambeacutem haacute o Consoacutercio Internacional

de Pesquisa em Doenccedilas Raras (IRDiRC) iniciado pela Comissatildeo Europeia e o Instituto Nacional para Pesquisa em Sauacutede dos

EUA em abril de 2011 para promover a colaboraccedilatildeo internacional na aacuterea das doenccedilas raras e atingir dois objetivos principais

entregar 200 novas terapias para as doenccedilas raras e os meios para diagnosticar doenccedilas mais raras ateacute o ano de 2020

httpeceuropaeuresearchhealthmedical-researchrare-diseasesirdirc_enhtml 27 O consenso que o termo Organizaccedilatildeo eacute da aacuterea empresarial pode ser colocado agrave prova num teste simples Ao inserir ldquodefine

organizationrdquo em um site de busca como o Google por exemplo o primeiro dicionaacuterio a aparecer eacute ligado aos negoacutecios

(Business Dictionary) Ao fazer o mesmo processo com ldquodefine associationrdquo o primeiro link refere-se a um dicionaacuterio livre

(The Free Dictionary) e o Business Dictionary da pesquisa anterior aparece em nono dos dez links da paacutegina

30

questotildees comuns natildeo eacute autoevidente A partilha de questotildees transversais natildeo existe

naturalmente Elas devem ser definidas trabalhadas e negociadas

A necessidade sobre a melhoria do entendimento do campo das associaccedilotildees de doenccedilas

raras e consequente melhor definiccedilatildeo para a sua atuaccedilatildeo eacute compartilhada por Rabeharisoa et al

(2013) ao proporem o uso do termo Evidecircncia baseada em ativismo para capturar todos os

grupos e ativistas que atuam no campo biomeacutedico O termo ainda pretende abrir o campo de

visatildeo para aleacutem das pesquisas biomeacutedicas e reconhece que a busca pela ldquocurardquo28 natildeo eacute o uacutenico

motivo que orienta os pacientes Desta maneira eacute um avanccedilo em relaccedilatildeo aos trabalhos que

standartizam as atividades das associaccedilotildees e imprimem as mesmas perspectivas para diferentes

contextos

Uma vez que a forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees influencia inclusive a sua relaccedilatildeo com

a induacutestria perceber as atividades para a sociedade com a motivaccedilatildeo como pano de fundo

auxilia-nos a encontrar formas diferentes de accedilatildeo Desta maneira as atividades das associaccedilotildees

podem ser agrupadas em trecircs eixos que aqui denomino como o do advocacy da garantia de vida

e da qualidade de vida Esta tipificaccedilatildeo possui o objetivo de explicitar a diferenciaccedilatildeo entre as

associaccedilotildees e natildeo criar rigidificaccedilotildees para um campo que ainda carece de pesquisas sob uma

perspectiva diferente da que encontramos na atualidade

O eixo do Advocacy possui uma frente voltada para a mobilizaccedilatildeo da comunidade e outra

para a sensibilizaccedilatildeo do Estado Quanto maior a mobilizaccedilatildeo de pessoas para a causa das

doenccedilas raras maior seraacute a possibilidade de sensibilizar os agentes do Estado principalmente

nos poderes legislativo e executivo Considerando que o resultado das atividades relacionadas

com este eixo tem como uacuteltimo resultado a aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act o envolvimento

com a induacutestria eacute muito estreita Nesse eixo as associaccedilotildees utilizam os mesmos mecanismos

da governaccedilatildeo empresarial como a departamentalizaccedilatildeo das funccedilotildees visatildeo empresarial com a

definiccedilatildeo de visatildeo missatildeo valores e planejamento estrateacutegico comunicaccedilatildeo de massa e a

formaccedilatildeo de redes nacionais e internacionais visando a criaccedilatildeo de um problema global O foco

do mercado natildeo estaacute nos projetos que essas associaccedilotildees desenvolvem mas na sua influecircncia

que realizam junto ao Estado Certamente satildeo as associaccedilotildees que atuam neste eixo que

fomentam a duacutevida sobre a validade como cavalos de troacuteia do neoliberalismo Tanto a Eurordis

quanto a AFM possuem o eixo do advocacy como base de accedilatildeo

Na Garantia da vida encontram-se as associaccedilotildees que lidam com doenccedilas fatais ou que

diminuem a expectativa de vida de maneira significativa Dividem-se em a) garantia de vida

pela pesquisa satildeo aquelas que optam por natildeo se alinharem com as associaccedilotildees guarda-chuva

A princiacutepio desenvolvem suas atividades para conhecer a doenccedila Agrave partida comeccedilam pela

procura de cientistas que tenham ou estejam interessados em desenvolver pesquisas sobre a

doenccedila e passam a conhecer todos os sintomas da enfermidade A abrangecircncia de atuaccedilatildeo

depende da quantidade e qualidade de informaccedilotildees disponiacuteveis Por concentrarem as suas accedilotildees

em apenas uma doenccedila a capacidade de mobilizaccedilatildeo torna-se reduzida Contando largamente

com a participaccedilatildeo das mulheres na lideranccedila a relaccedilatildeo com a induacutestria eacute quase nula ou

potencialmente existente quando haacute o interesse no desenvolvimento de medicamento pela

induacutestria b) garantia de vida pelo medicamento satildeo as associaccedilotildees que dependem da

medicaccedilatildeo para a vida do paciente ser garantida ou o avanccedilo da doenccedila ser paralisado

Fortemente influenciadas pelas induacutestrias farmacecircuticas natildeo soacute na constituiccedilatildeo da associaccedilatildeo

como tambeacutem no direcionamento das suas atividades algumas vezes e dependendo da

disposiccedilatildeo dos dirigentes da associaccedilatildeo podem trabalhar como agentes de campo da induacutestria

para conseguir encontrar os pacientes para os seus medicamentos Possuem portanto o maior

28 O reconhecimento que as associaccedilotildees possuem mais motivaccedilotildees que a busca exclusiva pela cura ainda mais por ela natildeo

existir enriquece de maneira significativa a percepccedilatildeo sobre essas associaccedilotildees

31

alinhamento com o modo de produccedilatildeo capitalista na qual o paciente acaba sendo a mais valia

com o seu preccedilo vinculado ao valor do remeacutedio

Finalmente o uacuteltimo eixo eacute o da luta pela qualidade de vida Esse eixo tem a participaccedilatildeo

das associaccedilotildees que tratam com doenccedilas que natildeo possuem risco de morte mas possuem forte

fator de cronicidade com manifestaccedilotildees cliacutenicas evidentes que muitas vezes satildeo motivo de

discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Possuem grande foco na autoajuda e no apoio muacutetuo O

relacionamento com a induacutestria farmacecircutica eacute quase nulo ou de aversatildeo Natildeo por falta de

interesse da induacutestria mas pelo receio das associaccedilotildees serem utilizadas como ratos de

laboratoacuterio As accedilotildees deste eixo estatildeo mais centradas no trabalho com a sociedade e para

mostrar que a doenccedila eacute mais uma questatildeo social que individual

Conclusatildeo

Manter a percepccedilatildeo sobre as associaccedilotildees de doenccedilas raras focalizada nos resultados que

promovem na sociedade sem conhecer os pacientes ou as motivaccedilotildees que levam os pais matildees

ou os militantes a iniciar uma associaccedilatildeo civil eacute prosseguir ou ateacute mesmo incentivar o avanccedilo

do mercado sobre a sauacutede A anaacutelise das associaccedilotildees e a tipificaccedilatildeo de suas atividades

realizadas nesse trabalho baseiam-se conforme exposto por Epstein (2008) na necessidade de

criar uma anaacutelise na perspectiva do ativista em uma visatildeo de dentro do grupo de pacientes

sobre a negociaccedilatildeo vis-agrave-vis com a aacuterea Biomeacutedica Estado e Mercado Ao colocar as

motivaccedilotildees que gerem as associaccedilotildees civis para doenccedilas raras encontra-se uma gama de

interesses que muitas vezes deixam o paciente longe de qualquer discussatildeo A influecircncia da

biotecnologia e seu mercado assume um papel estruturante porque atua justamente na

reconfiguraccedilatildeo da influecircncia da biomedicina e do bios na ldquoredefiniccedilatildeo da vida e da sauacutede como

poliacuteticardquo (Felipe 2009)

Apesar do eixo da biotecnologia ser comum aos trabalhos desenvolvidos por diferentes

cientistas que estudam as associaccedilotildees de doenccedilas raras de partida natildeo haacute aqueles que se

dedicam em escrutinar a dimensatildeo do ldquobiosrdquo das associaccedilotildees Tomando o Bios dentro de uma

perspectiva foucaultiana como a luta pela vida ou melhor dizendo a entrada da vida nos

campos do (bio)poder da (bio)cidadania da (bio)poliacutetica (bio)socialidade e como

reconhecimento de uma forte influecircncia da biotecnologia a assimilaccedilatildeo radical do BIOs para o

contexto das associaccedilotildees pode facilitar o entendimento sobre as forccedilas que as influenciam e os

mecanismos que utilizam para alcanccedilarem os seus objetivos Ao mesmo tempo que reconheccedilo

a necessidade de realizar um estudo sistemaacutetico sobre o BIOs percebo os evidentes ldquosinaisrdquo

(Ginzburg 1989) que satildeo deixados no campo e que me levam a crer na necessidade da tomada

natildeo somente do BIOs como uma questatildeo social mas tambeacutem do termo BIOassociaccedilotildees como

uma necessidade identitaacuteria das associaccedilotildees civis que atuam no campo das doenccedilas raras

Como visto as BIOassociaccedilotildees satildeo criadas como uma resposta a falta de informaccedilotildees que

paismatildees ou pacientes encontram no campo das doenccedilas raras Apesar da esperanccedila em uma

melhoria futura ser uma de suas motivaccedilotildees as BIOassociaccedilotildees possuem como motor de

arranque o medo a coragem a resignaccedilatildeo e a frustraccedilatildeo que as pessoas experimentam quando

satildeo inseridas na realidade de uma doenccedila incuraacutevel Embaladas sob o manto do cuidado os

paismatildees dos pacientes com doenccedilas raras jogam-se em uma verdadeira ldquopesquisa na selvardquo

em busca de informaccedilotildees que podem ajudar as suas crianccedilas Se a informaccedilatildeo eacute mais importante

que o tratamento29 e a sua falta a origem de toda a anguacutestia pessoal que acaba por se tornar

num problema social cabe ao Estado organizar-se para que as suas informaccedilotildees sejam as

29 Durante quatro anos a enquete ldquoEm sua opiniatildeo o que possui o maior impacto negativo A falta de tratamento ou A falta de

informaccedilatildeordquo ficou disponiacutevel no site da AMAVI Durante esse periacuteodo 60 das respostas indicavam que a falta de

informaccedilatildeo gerava um impacto negativo maior que a falta de tratamento

32

primeiras a chegarem ao paciente e demais interessados nas doenccedilas raras Caso contraacuterio a

sua ausecircncia eacute um incentivo para o capital continuar a fazer dos paismatildees e associaccedilotildees

agentes de produccedilatildeo do lucro e de suas crianccedilas e pacientes a mateacuteria-prima para a criaccedilatildeo do

biovalor como colocado por Novas (2006)

A questatildeo das bioassociaccedilotildees eacute definitivamente um problema social Mas natildeo do social

para conseguir gerar os lucros para o capital como vem sendo realizado ateacute ao momento pela

regulamentaccedilatildeo do Orphan Drug Act mas como a necessidade do Estado apoiar as famiacutelias

que convivem com a biomedicina de maneira direta e natildeo por intermediaccedilatildeo do mercado Desta

maneira alinho-me agraves recomendaccedilotildees realizadas por Akrich et al (2008)

Reconhecer a regra das organizaccedilotildees de pacientes na governaccedilatildeo do conhecimento e poliacuteticas de sauacutede faz

das POs os proacuteprios atores no seu proacuteprio direito de produccedilatildeo de conhecimento Centros de pesquisa devem

ser chamados para aprimorar a mediaccedilatildeo entre pacientes e induacutestrias e entre pacientes e pesquisadores Os

procedimentos para definir os patrocinadores devem ser definidos e transparentes

Tambeacutem tendo o medicamento como pano de fundo e para uma visatildeo mais abrangente eacute

necessaacuterio incentivar as pesquisas sociais que como assinalado por Epstein (2008) realizem

estudos comparativos entre a mesma perspectiva em paiacuteses diferentes ou perspectivas diferentes

no mesmo paiacutes30 incentivar a produccedilatildeo cientiacutefica em outros paiacuteses uma vez que grande parte

dos estudos estatildeo concentrados nos EUA e nos paiacuteses do oeste europeu analisar a dinacircmica

entre Movimento e Contramovimento e analisar as diferentes fases de atividades entre

movimentos da sauacutede e sucessivos regimes de doenccedila

Enquanto a preocupaccedilatildeo estiver exclusivamente na accedilatildeo das associaccedilotildees e seus resultados

na sociedade a pessoa que sofre os sintomas da doenccedila continuaraacute sendo invisiacutevel e os

sentimentos de seus familiares e grupos de apoio mais proacuteximos continuaratildeo relegados

Referecircncias Biograacuteficas

Akrich M Nunes JA Rabeharisoa V (2008) Conclusions in The Dynamic of patient

organizations in Europe Paris Presses de lrsquoEacutecole des mines 221-245

Allsop J Jones K Baggott R (2004) Health consumer groups in the UK A new social

movement Sociology of Healty amp Illness 26(6) 737-756

Callon M Rabeharisoa V (2003) Research ldquoin the wildrdquo and the shaping of new social

dentities Technology in Society 25(2) 193-204

Epstein S (2008) Patient Groups and Health Movements in E Hackett O Amsterdamska

M Lynch e J Wajcman The Handbook of Science and Technology Studies Cambridge

Massachusetts MIT Press 499-539

30 Deve-se chamar a atenccedilatildeo para a grande variedade de trabalhos realizados na perspectiva dos estudos entre paiacuteses diferentes

mas europeus ou paiacuteses diferentes e do ldquonorterdquo Muitas accedilotildees estatildeo em andamento em paiacuteses de todos os continentes mas

ainda sem grande interesse dos pesquisadores Haacute o risco de nos paiacuteses da Ameacuterica Latina o modelo europeu ser implantado

na sua totalidade sem considerar as caracteriacutesticas locais Esse argumento eacute reforccedilado quando se percebe que as induacutestrias que

investem nas associaccedilotildees independentes do paiacutes satildeo praticamente as mesmas A globalizaccedilatildeo da doenccedila natildeo pode superar a

regionalizaccedilatildeo dos problemas

33

Faurisson F (2000) Problemaacutetica das doenccedilas raras EURORDIS consultado a 20112012

disponiacutevel em httpwwweurordisorgpt-ptcontento-que-e-uma-doenca-rara

Filipe A M (2009) Actores colectivos e os seus projectos para a sauacutede o caso das

associaccedilotildees de doentes em Portugal ea-journal 1(2) 1-48

Novas C (2006) The Political Economy of Hope Patientsrsquo Organizations Science and

Biovalue BioSocieties 1 289-305

Nunes J A (2006) A pesquisa em sauacutede nas ciecircncias sociais e humanas Tendecircncias

Contemporacircneas Oficina 253 Coimbra Centro de Estudos Sociais da Universidade de

Coimbra

Rabeharisoa V Moreira T Akrich M (2013) Evidence-based activism Patientsrsquo

organisations users and activists groups in knowledge society CSI Working Papers Series

33

Rabeharisoa V et al (2012) The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases

in French and Portuguese patientsrsquo organizationsrsquo engagement in research CSI Working Paper

Series 026

Rabeharisoa V (2008) Experience knowledge and empowement the increasing role of

patient organizations in staging weighting and circulating experience and knowledge in

Akrick M et al The dynamics of patient organizations in Europe Paris Sociales Collection

Sciences 13-34

Santos B S Hespanha P (1987) O Estado a sociedade e as poliacuteticas sociais Revista

Criacutetica de Ciecircncias Sociais 62 13-73

34

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais

Siacutelvia Portugal1 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra spfeucpt Joana Pimentel Alves2 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra joanapimentelalvesgmailcom

Introduccedilatildeo

Este texto parte do princiacutepio que um olhar a partir das redes sociais pode contribuir para a

superaccedilatildeo de (pre)conceitos acerca do cuidado das doenccedilas raras

A associaccedilatildeo de ldquorarordquo a doenccedila levanta problemas especiacuteficos que se constituem em

obstaacuteculos ao cuidado e agrave plena integraccedilatildeo social dosas doentes e das suas famiacutelias (Portugal

2013) As doenccedilas raras satildeo definidas pelo nuacutemero da sua ocorrecircncia pelo significado

estatiacutestico da sua incidecircncia na populaccedilatildeo Fogem portanto agrave norma Eacute o impacto do

significado meacutedico e social de estar fora da norma que marca a vida das pessoas com doenccedilas

raras e das suas famiacutelias Estar fora da norma implica que os diagnoacutesticos tardam os exames

as consultas e as opiniotildees se multiplicam as respostas natildeo satildeo adequadas as necessidades natildeo

satildeo atendidas a urgecircncia do cuidado contrasta com o tempo longo da espera Estar fora da

norma revela-se no corpo implica olhares furtivos contactos evitados oportunidades perdidas

gera estigma cria vidas escondidas quotidianos que giram agrave volta da doenccedila

O desafio eacute fazer com que o desvio da norma estatiacutestica natildeo se traduza em exclusatildeo social

assumindo para tal o princiacutepio da integralidade do cuidado e das necessidades da pessoa com

doenccedila e da sua famiacutelia Neste texto defende-se que um olhar a partir da rede social doa doente

permite responder a esse desafio Esta abordagem ancora-se em dois pressupostos as pessoas

sabem mais sobre a sua doenccedila do que os outros as pessoas satildeo mais do que a doenccedila

Doenccedilas raras e cuidado

Na sua acepccedilatildeo mais comum a noccedilatildeo de cuidado tem algumas proximidades com a definiccedilatildeo

de doenccedila rara O cuidado eacute excepcional episoacutedico pontual resulta de ldquoacidentesrdquo que

suscitam assistecircncia e apoio Esta noccedilatildeo tem obscurecido realidades que precisam de

visibilidade ndash a das pessoas que precisam de cuidados quotidianos continuados e ao longo da

vida e a dosas seusas cuidadoresas

Olhar para estas pessoas e para as suas necessidades obriga a uma construccedilatildeo ampla do

cuidado que reconheccedila que este eacute transversal na vida e no quotidiano de todas as pessoas natildeo

soacute dosas doentes Os desafios satildeo muacuteltiplos 1) reconhecer a vulnerabilidade de todosas noacutes

ao longo do ciclo de vida (Kittay 1999 Tronto 1993) 2) reconhecer que quem eacute cuidado

tambeacutem cuida (Lovell 2013) 3) sair das generalidades concetuais para prestar atenccedilatildeo aos

detalhes da vida (Laugier 2009) 4) construir uma linguagem diferente que ultrapasse os

modelos tradicionais da bio-medicina e da assistecircncia social que compartimentaliza as

1 Siacutelvia Portugal eacute doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas

Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE) 2 Joana Alves eacute Mestre e Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra bolseira da

Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD778392011)

35

necessidades e objectifica os sujeitos A linguagem do cuidado ldquopermite manter o fio da vida

ordinaacuteriardquo (Tronto 1993)

O cuidado eacute complexo e possui muacuteltiplas dimensotildees que mostram a complexidade do

fenoacutemeno e explicam a dificuldade em estabelecer uma definiccedilatildeo consensual (Alves 2011) o

contexto social e poliacutetico a natureza e extensatildeo do cuidado o domiacutenio em que ocorre as

relaccedilotildees entre quem cuida e quem eacute cuidado as razotildees para cuidar A tendecircncia predominante

na definiccedilatildeo de cuidado constroacutei-se em torno da oposiccedilatildeo entre duas vias de prestaccedilatildeo de

cuidados ndash a via formal e a via informal (OECD 2005 European Comission 2010

Triantafillou et al 2010)

O Quadro 1 segue esta distinccedilatildeo para identificar diferentes caracteriacutesticas do cuidado

Quadro 1 ndash Caracteriacutesticas do cuidado formal e informal

No entanto um olhar a partir das pessoas com doenccedilas raras relativiza esta distinccedilatildeo Na

praacutetica o apoio envolve sempre cuidados dos dois tipos mas tambeacutem porque a ldquoraridaderdquo das

doenccedilas torna mais especiacuteficas constantes e diversificadas as necessidades de cuidado o que

pode obrigar a um maior nuacutemero de intervenccedilotildees dos dois tipos e a que essas aconteccedilam com

maior frequecircncia Deste modo o que no quotidiano diferencia estes dois modos de prestaccedilatildeo

de cuidados satildeo o tipo e a intensidade de cuidados prestados que revelam niacuteveis de

36

envolvimento diferenciados entre cuidadoresas formais e informais E sobre isto os estudos

desenvolvidos tecircm sido muito claros quanto mais grave for a situaccedilatildeo de dependecircncia e mais

exigentes forem as necessidades maior eacute o envolvimento da famiacutelia na prestaccedilatildeo de cuidados

(Hooyman et al 1995 Goodhead et al 2007 Glendinning et al 2009 Triantafillou et al

2010 Alves 2011) O caraacutecter ldquorarordquo da doenccedila estende-se agraves respostas formais disponiacuteveis

quanto mais exigente eacute o tipo de apoio menos respostas existem e maior eacute a responsabilizaccedilatildeo

da esfera informal e da famiacutelia

A prestaccedilatildeo formal de cuidados apresenta portanto um quadro de intervenccedilatildeo que revela

escassa capacidade para integrar as especificidades e necessidades individuais produzindo uma

atenccedilatildeo normalizada e normalizadora que dificilmente atende agraves circunstacircncias de vida das

pessoas com doenccedilas raras A atenccedilatildeo da famiacutelia tende a contrariar este modo de agir O cuidado

prestado pela rede familiar parte das necessidades de quem eacute cuidado dando origem a uma

atenccedilatildeo especiacutefica As vidas de quem cuida satildeo construiacutedas na relaccedilatildeo com o outro e na resposta

agraves suas necessidades o que tem consequecircncias nas suas proacuteprias vidas Os impactos do cuidado

satildeo por isso inuacutemeros e em diferentes esferas relaccedilotildees pessoais e familiares trabalho e

emprego sauacutede dinheiro etc

As exigecircncias de um cuidado muito especiacutefico e especializado resultam sempre em

mudanccedilas no quotidiano e nas vidas de quem cuida Uma reestruturaccedilatildeo natildeo soacute ao niacutevel do tipo

e da intensidade das tarefas desenvolvidas como na forma como as pessoas passam a entender

o seu papel Ao entenderem o cuidado e o papel de cuidadoresas como o centro das suas vidas

sobra pouco espaccedilo para outras pessoas ou outras actividades

As suas rotinas tornam-se por isso riacutegidas natildeo soacute pelo tipo de tarefas realizadas mas

tambeacutem pelo ritmo a que as realizam ndash o apoio eacute quotidiano continuado e de longa duraccedilatildeo

Os tempos dos cuidados acabam por se sobrepor aos tempos pessoais dosas cuidadoresas e

isso isola os indiviacuteduos As sociabilidades e os tempos de lazer quando existem satildeo centradas

na famiacutelia Mas o isolamento natildeo se alimenta apenas da falta de tempo das pessoas para outras

coisas que natildeo o cuidado O preconceito para com o desconhecido para com o ldquorarordquo exclui

oa doente e a famiacutelia

Outra das aacutereas da vida de quem cuida mais afetada pelo cuidado eacute o trabalho e o emprego

Os impactos satildeo diversos e as poliacuteticas natildeo tecircm conseguido regulaacute-los revelando-se ineficazes

na proteccedilatildeo dosas trabalhadoresas com filhosas com necessidades de cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo Pela dificuldade em combinar-se o cuidado com o emprego

algunsmas cuidadoresas veem-se excluiacutedos do mercado de trabalho com especial incidecircncia

para as matildees trabalhadoras Quando a pessoa a cuidar exige uma atenccedilatildeo muito particular satildeo

na maioria as mulheres a reduzir o seu horaacuterio de trabalho ou a deixar o seu lugar no mercado

de trabalho formal para se dedicarem a tempo inteiro ao cuidado familiar

Isso eacute sobretudo gravoso dado os custos acrescidos que as famiacutelias das pessoas com

doenccedilas raras tecircm que comportar para proporcionarem as mesmas condiccedilotildees de igualdade de

oportunidades ou para salvaguardarem garantias baacutesicas de dignidade humana a essas pessoas

Estas famiacutelias pagam mais em aacutereas como a sauacutede a educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo etc custos

acrescidos que o niacutevel de apoios pecuniaacuterios atribuiacutedos pelo Estado natildeo permitem colmatar

(Portugal et al 2010)

Para aleacutem dos apoios pecuniaacuterios serem insuficientes tambeacutem o niacutevel das estruturas

especiacuteficas para situaccedilotildees de doenccedila que exigem uma assistecircncia permanente de outra pessoa

fica aqueacutem das necessidades reais As instituiccedilotildees organizam-se de modo a responder agraves

necessidades de todosas o que acaba por excluir todas as pessoas que tecircm necessidades de

atenccedilatildeo muito especializada A desadequaccedilatildeo entre a resposta necessaacuteria e o niacutevel de apoio

recebido leva a que quem cuida acabe muitas vezes por desistir de recorrer aos serviccedilos de

apoio especializado optando por ficar a cuidar muitas vezes a tempo inteiro

37

A sobrecarga de trabalho a estruturaccedilatildeo do quotidiano em torno dos cuidados e o estigma

social produzem efeitos fortes de desgaste fiacutesico e psicoloacutegico Os impactos ao niacutevel da sauacutede

de quem cuida satildeo assim elevados quer ao niacutevel fiacutesico quer ao niacutevel mental formando um ciclo

vicioso com outras dimensotildees acima mencionadas trabalho e sociabilidades Quanto mais

debilitada eacute a sauacutede dos indiviacuteduos maiores dificuldades encontram a outros niacuteveis quanto

mais precaacuterias satildeo as suas condiccedilotildees a niacutevel profissional e relacional mais fraacutegil se torna a sua

sauacutede (Portugal et al 2010)

Assim quando o foco passa a ser na integralidade do indiviacuteduo nas necessidades de quem

cuida e eacute cuidado e na procura da sua satisfaccedilatildeo a distinccedilatildeo entre cuidado formal e informal

parece fazer pouco sentido Uma abordagem a partir da rede de cuidados permite colocar os

sujeitos no centro e identificar as potencialidades e constrangimentos de cada tipo de prestaccedilatildeo

de cuidados

O cuidado um olhar a partir das redes sociais

O conceito de rede social constitui um instrumento analiacutetico que permite olhar para forma e

conteuacutedo das relaccedilotildees sociais ndash os noacutes e os laccedilos os elementos da rede as relaccedilotildees entre eles

os fluxos Partindo de trecircs perguntas simples Quem O quecirc Como Enunciamos questotildees que

permitem construir um olhar social sobre a pessoa que sofre de uma doenccedila rara e as suas

necessidades de cuidado Quem faz parte da rede Quem faz o quecirc Que recursos satildeo

mobilizados Como fazem Que praacuteticas Que normas O que se faz Por que se faz

Quando observamos as trajetoacuterias de vida das pessoas com doenccedilas raras e analisamos a

sua rede social vemos na famiacutelia o principal prestador de cuidados na procura de informaccedilatildeo

na busca de um diagnoacutestico na construccedilatildeo de itineraacuterios terapecircuticos no cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo (Alves 2011 Barbosa 2013) A famiacutelia eacute perene no espaccedilo e

no tempo e os laccedilos de parentesco satildeo sinoacutenimo de confianccedila (Portugal 2014) As relaccedilotildees

familiares oferecem assim garantias de estabilidade e continuidade que amortecem os efeitos

dos percursos cliacutenicos erraacuteticos a que frequentemente as pessoas estatildeo sujeitas

Como acima foi referido observando a rede verificamos que os elementos da famiacutelia satildeo

os atores mais ativos mobilizam recursos materiais e afetivos datildeo resposta a muacuteltiplas

necessidades A rede familiar caracteriza-se pela sua diversidade e plasticidade No interior dos

laccedilos de parentesco circulam fluxos diversos que asseguram o cuidado da pessoa com doenccedila

bens serviccedilos afecto apoio emocional sociabilidade informaccedilatildeo A famiacutelia provem diferentes

recursos que garantem o quotidiano das pessoas na doenccedila e para aleacutem da doenccedila alimentaccedilatildeo

vestuaacuterio habitaccedilatildeo transporte medicaccedilatildeo tratamentos informaccedilatildeo aconselhamento apoio

afectivo mediaccedilatildeo com o sistema de sauacutede e seguranccedila social Os laccedilos familiares revelam uma

elevada capacidade de resposta e de adaptaccedilatildeo agraves necessidades

Assim se o cuidado biomeacutedico tem dificuldades em lidar com as especificidades das

doenccedilas raras o cuidado familiar ao assentar na atenccedilatildeo agrave singularidade permite integrar a

diferenccedila e responder-lhe adequadamente As histoacuterias de cuidado(s) das pessoas com doenccedilas

raras revelam uma constelaccedilatildeo de praacuteticas e de saberes que permitem colocar no centro as

necessidades individuais Conjugando o tradicional e o moderno novas e velhas praacuteticas

saberes leigos e cientiacuteficos vias tecnoloacutegicas fontes formais e informais os exemplos da

aptidatildeo da rede familiar para encontrar soluccedilotildees que garantem o bem-estar dosas doentes satildeo

muacuteltiplos imaginativos e eficazes um alimento que se inclui ou retira da dieta uma teacutecnica

que permite vestir e despir mais raacutepido uma forma mais confortaacutevel de deitar levantar sentar

deslocar um medicamento que alivia uma associaccedilatildeo que ajuda um profissional de sauacutede que

eacute (mais) atento uma escola que natildeo discrimina um local de trabalho com boas praacuteticas um

local de lazer com boas acessibilidades um restaurante que responde a pedidos de dieta

38

O que faz mover as redes sociais Que normas regulam a sua acccedilatildeo Encontramos no

cuidado das doenccedilas raras a normatividade que regula a daacutediva familiar (Portugal 2014) O

cuidado familiar funda-se num sistema de daacutediva e deve ser entendido natildeo como uma seacuterie de

actos unilaterais e descontiacutenuos mas como relaccedilatildeo ldquoo dom natildeo eacute uma coisa mas uma relaccedilatildeo

socialrdquo (Godbout 1992 15) Marcel Mauss em Ensaio sobre a Daacutediva (1988) afirmou a

centralidade da daacutediva nas sociedades arcaicas e a importacircncia do princiacutepio ldquodar receber

retribuirrdquo mas teve dificuldade em reconhecer que a sua existecircncia nas sociedades modernas

fosse aleacutem do estatuto de manifestaccedilatildeo residual do passado No entanto ldquoo dom eacute tatildeo moderno

e contemporacircneo como caracteriacutestico das sociedades arcaicasrdquo (Godbout 1992 20)

Fenoacutemenos como a oferta de prendas a prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas aos idosos e aos

doentes os convites para festas e a hospitalidade o voluntariado a doaccedilatildeo de sangue e de

orgatildeos constituem formas de troca social que natildeo satildeo hoje residuais nem quantitativamente

(dada a sua frequecircncia no quotidiano) nem qualitativamente (dada a sua importacircncia na vida

dos indiviacuteduos) A definiccedilatildeo de daacutediva proposta por Godbout em Lrsquo Esprit du don (1992) e

que Cailleacute retoma (2000) ndash ldquotoda a prestaccedilatildeo de bem ou serviccedilo efectuada sem garantia de

retorno com vista a criar alimentar ou recriar o viacutenculo social entre as pessoasrdquo (Godbout

1992 32 Cailleacute 2000 124) ndash permite mostrar como o dom assim caracterizado como modo

de circulaccedilatildeo dos bens ao serviccedilo do laccedilo social constitui um elemento essencial para a

compreensatildeo do cuidado

Neste contexto o conceito de diacutevida positiva utilizado por Godbout (2000) revela-se

bastante produtivo para analisar a circulaccedilatildeo da daacutediva no interior da famiacutelia mais do que o

conceito de reciprocidade (Portugal 2014) Numa relaccedilatildeo de dom o estado de diacutevida positiva

escapa agrave equivalecircncia e faz com que cada um considere que recebe mais do que daacute embora

esteja sempre disposto a retribuir Elementos materiais afetivos e simboacutelicos misturam-se num

jogo complexo que no entanto natildeo deixa totalmente de lado a reciprocidade Na reciprocidade

familiar por um lado daacutediva e retribuiccedilatildeo fazem circular e equivaler coisas muitos diferentes

por outro lado entre dom e contra-dom o tempo pode correr sem que o ciclo se quebre Natildeo

conta o que se troca nem quando se troca Nesta daacutediva o tempo conta tanto menos quanto

mais se confia no outro Mediada pela afectividade e pela confianccedila a reciprocidade entre

parentes realiza-se muitas vezes agrave ldquoescala de uma vidardquo e transforma a ajuda numa espeacutecie de

ldquocreacutedito a longo prazordquo que natildeo necessita de ser retribuiacuteda no imediato nem de ser simeacutetrica

o contra-dom pode vir muito mais tarde ou mesmo ser destinado a outra pessoa (Finch1989

Deacutechaux 1990 Bawin-Legros 2003 Portugal 2014)

Notas finais

O cuidado das pessoas com doenccedilas raras assenta essencialmente na dedicaccedilatildeo e amor das suas

famiacutelias As histoacuterias das vidas das pessoas com doenccedilas raras das suas famiacutelias dos seus

proacuteximos satildeo admiraacuteveis pelo exemplo que oferecem de luta contra a adversidade As suas

biografias revelam trajetoacuterias extraordinaacuterias de conquista quotidiana de esperanccedila e de vida

contra o desconhecimento o desinteresse o preconceito o desespero Agrave ausecircncia de respostas

e de apoios formais agrave escassa garantia de direitos contrapotildeem-se percursos de vida assentes na

solidariedade e na daacutediva que recusam a derrota (Portugal 2013)

Quando se reivindica apoio e assistecircncia muitas vezes a primeira leitura orienta-se para a

demissatildeo das famiacutelias Ela natildeo podia ser mais erroacutenea As famiacutelias natildeo se querem ver

substituiacutedas no seu papel no entanto para o poderem desempenhar da melhor forma para natildeo

adoecerem conjuntamente com os seus familiares necessitam de condiccedilotildees e de meios para a

prestaccedilatildeo do cuidado Eacute esse o desafio que as poliacuteticas puacuteblicas tecircm que assumir tomar as

famiacutelias como parceiras

39

O conceito de rede pode tambeacutem permitir uma resposta a esse desafio fornecendo

instrumentos para uma intervenccedilatildeo assente na integralidade do cuidado As doenccedilas raras

colocam em accedilatildeo um conjunto de atores (doentes famiacutelias profissionais de sauacutede profissionais

da assistecircncia social associaccedilotildees Estado mercado comunidade) de saberes (leigos e

cientiacuteficos) de praacuteticas (formais e informais) de relaccedilotildees (sociais materiais e simboacutelicas) que

importa conciliar O cuidado em rede eacute um repto agrave articulaccedilatildeo entre atores e recursos que parta

do sujeito para regressar ao sujeito

Referecircncias bibliograacuteficas

Alves Joana (2011) Vidas de Cuidado(s) Uma anaacutelise socioloacutegica do papel dos cuidadores

informais Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de Economia da Universidade

de Coimbra

Barbosa Rogeacuterio Lima (2013) Pele de cordeiro Associativismo e Mercado na produccedilatildeo de

cuidado para as doenccedilas raras Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Bawin-Legros Bernadette (2003) Le nouvel ordre sentimental Agrave quoi sert la famille

aujourdrsquohui Paris Payot

Cailleacute Alain (2000) Anthropologie du don Le tiers paradigme Paris Descleacutee de Brouwer

Deacutechaux Jean-Hugues (1990) ldquoLes eacutechanges eacuteconomiques au sein de la parentegravelerdquo Sociologie

du Travail 1 73-94

European Comission (2010) ldquoCaring and post caring in Europerdquo European Commission

Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwlifeaftercareeudocsOverviewReportFinalSept2010pdf

Finch Janet (1989) Family Obligations and Social Change Cambridge Polity Press

Glendinning Caroline et al (2009) ldquoCare Provision within Families and its Socio-Economic

Impact on Care Providersrdquo University of York Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwyorkacukinstspruresearchpdfEUCarerspdf

Godbout Jacques T (1992) Lrsquoesprit du don Paris Eacuteditions La Deacutecouverte

Godbout Jacques T (2000) Le don la dette et lrsquoidentiteacute Paris La Deacutecouverte

Goodhead Anne McDonald Janet (2007) ldquoInformal Caregivers Literature Review A report

prepared for the National Heath Committeerdquo Wellington Health Services Centre Victoria

University of Wellington Consultado em 24112014 disponiacutevel em

httpnhchealthgovtnzsystemfilesdocumentspublicationsinformal-caregivers-literature-

reviewpdf

40

Hooyman Nancy R Gonyea Judith (1995) Feminist perspetives on family care policies for

gender justice London Sage Publications

Kittay Eva Feder (1999) Loversquos Labor essays on woman equality and dependency New

York Routledge

Laugier Sandra (2009) ldquoLe sujet du care vulnerabiliteacute et expression ordinairerdquo in Pascale

Molinier Sandra Laugier e Patricia Paperman Qursquoest-ce que le care Souci des autres

sensibiliteacute responsabiliteacute Paris Payot 159-200

Lovell Anne (2013) ldquoAller vers ceux qursquoon ne voit pas Maladie mentale et care dans des

circonstances extraordinairesrdquo in Anne Lovell Stefania PandolfoVeena Das e Sandra Laugier

Face aux desastres Paris Ithaque 27-81

Mauss Marcel (1988) Ensaio sobre a daacutediva Lisboa Ediccedilotildees 70

OECD (2005) ldquoLong-term care for older people OECD Study (2001-2004)rdquo OECD

Publishing Consultado a 24112014 disponiacutevel em httpwwwoecdorgelshealth-

systemslong-termcareforolderpeopleoecdstudy2001-2004htm

Portugal Siacutelvia (2014) Famiacutelia e Redes Sociais Ligaccedilotildees fortes na produccedilatildeo de bem-estar

Coimbra Almedina

Portugal Siacutelvia (2013) Para um comeccedilo de reflexatildeo sobre o cuidado das doenccedilas raras in

Cacircmara dos Deputados Romaacuterio Deputado Federal (Ed) Dia Mundial das Doenccedilas Raras

2013 Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Ediccedilotildees Cacircmara 25-28

Portugal Siacutelvia et al (2010) Estudo de Avaliaccedilatildeo dos Custos Financeiros e Sociais da

Deficiecircncia Coimbra Centro de Estudos Sociais

Triantafillou Judy et al (2010) ldquoInformal care in the long-term care system European

Overview Paperrdquo Interlinks Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwweurocentreorgdata1278594816_84909pdf

Tronto Joan (1993) Moral Boundaries A Political Argument for an Ethics of Care NewYork

Routledge

41

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

42

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a

familiares e pacientes com doenccedilas raras

Ana Maria Martins1 Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP anamartinsunifespbr

A minha histoacuteria com as doenccedilas raras comeccedila aos meus nove anos de idade com o nascimento

da minha irmatilde com Siacutendrome de Aspert Provavelmente ter escolhido medicina pediatria e

geneacutetica cliacutenica foram desdobramentos desse fato Realizei meu treinamento em pediatria e a

especializaccedilatildeo em Geneacutetica Cliacutenica na Escola Paulista de Medicina em Satildeo Paulo Fui

responsaacutevel pelo Ambulatoacuterio de Fenilcetonuacuteria da APAE ndash SP (Associaccedilatildeo de Pais e Amigos

dos Excepcionais de Satildeo Paulo) e realizei meu Mestrado em Deficiecircncia fiacutesica e mental em

uma comunidade de Satildeo Paulo O Doutorado foi baseado no acompanhamento de 80 pacientes

com Fenilcetonuacuteria O meu Poacutes-doutorado foi em Pittsburgh-EUA no West Penn Hospital e na

Universidade da Califoacuternia de San Diego em geneacutetica cliacutenica

Em 1997 pela carecircncia de serviccedilos que cuidassem de pacientes com erros inatos do

metabolismo (EIM) e como eu tinha experiecircncia com a Fenilcetonuacuteria por indicaccedilatildeo da minha

universidade iniciei um ambulatoacuterio para esse grupo de doenccedilas A Fenilcetonuacuteria foi a

primeira doenccedila a responder a uma dieta especiacutefica Com potencial para prevenccedilatildeo do grave

retardo mental foi desenvolvido um meacutetodo para diagnosticar a doenccedila no periacuteodo neonatal a

partir do teste de triagem neonatal e assim o tratamento ser precoce Nesse momento nasceu a

possibilidade de tratamento de outros EIM natildeo soacute pela ingestatildeo alimentar como tambeacutem por

medicamento

Na deacutecada de 90 surge a terapia de reposiccedilatildeo da enzima que eacute deficiente em determinadas

doenccedilas o que impulsionou a pesquisa na aacuterea das doenccedilas geneacuteticas criaccedilatildeo de implementos

para o diagnoacutestico de algumas doenccedilas nos paiacuteses em desenvolvimento e a maior divulgaccedilatildeo

entre os meacutedicos que lidam com as doenccedilas geneacuteticas

O ambulatoacuterio de EIM transformou-se no Centro de Referecircncia em Erros Inatos do

Metabolismo (CREIM) e durante 10 anos contou com a colaboraccedilatildeo de cerca de 10

profissionais de sauacutede voluntaacuterios dentre neurologistas nutricionistas psicoacutelogasos

fonoaudioacutelogasos e fisioterapeutas Com o surgimento da terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica

houve a necessidade de encontrar um local para realizaccedilatildeo deste tratamento De iniacutecio tivemos

como parceiro o Instituto do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP utilizando

os leitos de dia para nossosas pacientes receberem medicaccedilatildeo Depois o GRAAC (Grupo de

Apoio agrave Crianccedila com CancecircrInstituto de Oncologia da UNIFESP) tornou-se nosso parceiro

aquando do iniacutecio da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (TRE) para a Mucopolissacaridose do

tipo I

Como os locais para TER eram garantidos por acordos pessoais havia a nossa preocupaccedilatildeo

em perdecirc-los a qualquer momento Essa preocupaccedilatildeo aumentava na medida que a quantidade

de pacientes tambeacutem crescia Os profissionais voluntaacuterios tambeacutem eram fonte de inseguranccedila

porque tambeacutem podiacuteamos perdecirc-los a qualquer momento Impulsionados por este cenaacuterio um

grupo de pessoas ligados ao CREIM decidiu constituir uma organizaccedilatildeo natildeo governamental o

1 Ana Maria Martins eacute professora do Departamento de Pediatria da UNIFESP e Diretora do Centro de Referecircncia em Erros

Inatos do Metabolismo - IGEIM

43

Instituto de Geneacutetica e Erros Inatos do Metabolismo (IGEIM) que veio dar suporte ao

funcionamento do CREIM com instalaccedilotildees adequadas agraves necessidades dos nossos pacientes

Fig 1 - Instalaccedilotildees do IGEIM - Entrada Fig 2 - Instalaccedilotildees do IGEIM ndash Sala de espera

A missatildeo do IGEIM eacute melhorar a qualidade de vida de pessoas com erros inatos do

metabolismo e dos seus familiares por meio do atendimento multidisciplinar com padratildeo

cientiacutefico de excelecircncia As suas aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo a assistecircncia o ensino a pesquisa e a

educaccedilatildeo Atraveacutes do suporte ao CREIM o IGEIM estabelece uma interface com a proacutepria

UNIFESP

Os EIM que satildeo o nosso foco principal de atuaccedilatildeo no momento contam com mais de 700

doenccedilas diferentes e podem ser classificados em trecircs grupos permitindo uma abordagem cliacutenica

praacutetica dos pacientes

Grupo 1 Defeito no metabolismo intermediaacuterio relacionado a ingestatildeo alimentar de

proteiacutena e accediluacutecares levando a quadros de intoxicaccedilatildeo aguda e crocircnica A doenccedila pode se

manifestar jaacute no berccedilaacuterio ou nos primeiros dias meses ou ateacute anos de vida A crianccedila quando

inicia a amamentaccedilatildeo vai receber proteiacutena que eacute formada por aminoaacutecidos Se o paciente tem

uma enzima (substacircncia que possibilita as reaccedilotildees no nosso metabolismo) deficiente em sua

atividade natildeo conseguiraacute metabolizar um ou mais aminoaacutecidos e faraacute quadros agudos que

necessitam de hospitalizaccedilatildeo com diminuiccedilatildeo da glicose do sangue (hipoglicemia) ou acidez

do sangue (acidose metaboacutelica) e outros distuacuterbios que vatildeo comprometer o funcionamento do

metabolismo podendo ateacute levar a morte ou sequelas neuroloacutegicas graves para a crianccedila Se a

deficiecircncia de atividade da enzima natildeo eacute tatildeo grave as manifestaccedilotildees cliacutenicas podem acontecer

mais tarde e podem ser mais leves do que aquelas que se manifestam no berccedilaacuterio O tratamento

precoce neste grupo deve ser instituiacutedo tatildeo logo seja feito o diagnoacutestico que em muitas doenccedilas

eacute feito no teste de triagem neonatal ampliado natildeo disponiacutevel infelizmente para o territoacuterio

nacional A fenilcetonuacuteria tirosinemia homocistinuacuteria aciduacuterias orgacircnicas doenccedila do xarope

de bordo intoleracircncia a galactose e frutose fazem parte deste grupo O tratamento consta de

dietas restritivas naquele(s) aminoaacutecido(s) ou accediluacutecares (galactose ou frutose) o que possibilita

uma sobrevida com qualidade de vida maior desses pacientes

Grupo 2 defeito na produccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo de energia e quadros cliacutenicos variaacuteveis Com

frequecircncia aparece a hipoglicemia porque a glicose eacute a unidade baacutesica de energia do nosso

corpo A mitococircndria eacute uma estrutura dentro da ceacutelula responsaacutevel por produccedilatildeo de energia

para o funcionamento das ceacutelulas O glicogecircnio eacute um pacote de glicose que fica guardado no

fiacutegado com o que sobra de glicose da nossa refeiccedilatildeo e durante o periacuteodo de jejum essa glicose

vai sendo liberada no sangue pela accedilatildeo de uma enzima que quebra o glicogecircnio em moleacuteculas

de glicose O defeito na oxidaccedilatildeo dos aacutecidos graxos (trigliceacuterides) estaacute relacionado a siacutendrome

da morte suacutebita porque quando acaba o glicogecircnio o organismo lanccedila matildeo dos aacutecidos graxos

para gerar energia Defeitos na mitococircndria nos metabolismos do glicogecircnio e dos aacutecidos

44

graxos podem levar a sinais e sintomas graves O tratamento neste grupo utiliza dieta pobre em

carboidrato para diminuir o depoacutesito de glicogecircnio no fiacutegado orientaccedilatildeo para dietas frequentes

evitando jejum prolongado e o uso de algumas vitaminas especiacuteficas (co-fatores) para as

doenccedilas mitocondriais

A suspeita do diagnoacutestico das doenccedilas dos grupos 1 e 2 podem ser realizadas pelo meacutedico

que conhece essas doenccedilas atraveacutes de exames que satildeo realizados na maioria dos serviccedilos

meacutedicos como a glicemia (dosagem da glicose do sangue) e avaliaccedilatildeo da acidez do sangue

(gasometria) O diagnoacutestico eacute confirmado em exames especiacuteficos como o teste de triagem

neonatal ampliado dosagem de aacutecidos orgacircnicos ou cromatografia de aminoaacutecidos

Grupo 3 defeito na siacutentese ou degradaccedilatildeo de moleacuteculas complexas ocorrendo em

estruturas especiacuteficas da ceacutelula lisossomos peroxissomos e retiacuteculo endoplasmaacutetico Os

quadros aqui tambeacutem satildeo variaacuteveis mas com frequecircncia haacute problemas no crescimento retardo

mental aumento do tamanho do fiacutegado eou baccedilo entre outros O tratamento deste grupo de

maior impacto eacute a TRE que quanto mais precoce eacute introduzida melhores satildeo os resultados A

terapia de reduccedilatildeo da produccedilatildeo do substrato que se acumula nas ceacutelulas tem mostrado bons

resultados em algumas doenccedilas

O diagnoacutestico no grupo 3 eacute confirmado atraveacutes de dosagem da atividade da enzima no

sangue mais a presenccedila de substacircncias especiacuteficas na urina raio X da coluna quadril e outros

As caracteriacutesticas de uma paciente com EIM satildeo as mesmas de qualquer paciente com uma

doenccedila rara a famiacutelia faz uma verdadeira peregrinaccedilatildeo por serviccedilos meacutedicos e ou consultoacuterios

haacute falta de informaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede satildeo muitos anos em busca de um diagnoacutestico

e realizaccedilatildeo de muitos exames sem nenhum resultado do problema familiares eou pacientes

com anguacutestia decepccedilatildeo cansaccedilo e muito aacutevidos por informaccedilatildeo sobre problema de sauacutede

Para a mudanccedila desse quadro eacute necessaacuterio gerar informaccedilatildeo para os profissionais de sauacutede

para que saibam identificar uma doenccedila rara e encaminhar para o serviccedilo de referecircncia

disponiacutevel o meacutedico deve buscar o diagnoacutestico do que ele natildeo conhece e fornecer aos

familiares eou paciente informaccedilotildees sobre o prognoacutestico prevenir as graves complicaccedilotildees

fornecer orientaccedilatildeo e fazer aconselhamento geneacutetico O tratamento das doenccedilas raras quando

disponiacutevel tem acesso dificultado por ser de alto custo sendo que o medicamento eacute conseguido

por meio de processos judiciais

O tratamento aleacutem do medicamentoso para ser completo e atender as necessidades dos

pacientes com doenccedilas raras precisa de ser multidisciplinar com profissionais das aacutereas entre

outras de nutriccedilatildeo fonoaudiologia fisioterapia enfermagem terapia ocupacional e psicologia

Assim aumentam as chances de proporcionar a melhoria de qualidade de vida do paciente e

sua famiacutelia

Referecircncia Bibliograacutefica

Saudubray J M Sedel F Walter J H (2006) ldquoClinical approach to tratable inborn

metabolic disesaes an introductionrdquo J Inherit Metab Dis 29 261-274

45

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas

raras

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues1 Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG rodrigueslocgmailcom

A Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Portadores de Neurofibromatose (AMANF) completou 10

anos de existecircncia e este periacuteodo foi repleto de boa vontade desejo de ajudar e esperanccedila de

institucionalizarmos o apoio agraves pessoas com neurofibromatoses Aprendemos muito neste

percurso

Aprendemos que a maioria das pessoas incluindo os profissionais de sauacutede e as autoridades

relacionadas agrave sauacutede puacuteblica desconhecem o que satildeo as neurofibromatoses (NF) As NF

constituem trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros e por acometerem

cerca de 13000 pessoas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas raras (Geller e Bonalumi Filho

2004)

Assim como as demais doenccedilas raras as NF enfrentam um conjunto de dificuldades que

denominamos DOR

D - Desconhecimento cientiacutefico

O - Omissatildeo institucional

R - Representaccedilatildeo social inexistente

Esta combinaccedilatildeo de desinformaccedilatildeo desamparo e desconhecimento pela sociedade resulta

em sofrimento crocircnico e reduccedilatildeo da qualidade de vida para as pessoas com NF e seus familiares

O desconhecimento cientiacutefico

Constitui uma experiecircncia bastante comum agraves pessoas com NF e seus familiares a constataccedilatildeo

de que haacute falta de informaccedilatildeo atualizada sobre NF por parte dos meacutedicosas e outros

profissionais de sauacutede (Souza et al 2009) Eacute claro que natildeo esperamos que todosas osas

meacutedicos conheccedilam os milhares de doenccedilas raras mas gostariacuteamos que diante de uma pessoa

com sinais e sintomas raros osas profissionais da sauacutede admitissem seu desconhecimento

solicitando outras opiniotildees especializadas Esta postura franca auxiliaria a pessoa com NF e sua

famiacutelia assim como permitiria ao proacuteprio profissional da sauacutede crescer cientificamente ao

buscar informaccedilotildees sobre aquilo que desconhece ou encaminhar a pessoa para outros

profissionais ou centros de referecircncia

Neste sentido recomendamos o alerta das pessoas com NF e seus familiares para alguns

sinais sugestivos de que oa profissional da sauacutede estaacute desatualizado quanto agraves NF

1 Quando elea natildeo sabe as grandes diferenccedilas entre os tipos 1 e 2 da NF

2 Quando elea natildeo sabe da existecircncia da Schwannomatose

3 Quando elea confunde a NF com a Doenccedila do Homem Elefante

4 Quando elea quer realizar imediatamente cirurgia quimioterapia ou radioterapia em

tumores benignos das NF apenas porque os tumores ldquoestatildeo laacuterdquo

1 Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues eacute meacutedico e professor titular aposentado na UFMG membro da Associaccedilatildeo Mineira de

Apoio agraves Pessoas com Neurofibromatoses ndash AMANF wwwamanforgbr Coordenador Cliacutenico do Centro de Referecircncia em

Neurofibromatoses pesquisador do CNPQ Eacute pai de uma pessoa com Neurofibromatose do Tipo 1 e Cartunista Para

correspondecircncia Alameda Aacutelvaro Celso 55 - Belo Horizonte MG - CEP 30150-260 Tel (31) 3409 9560 e 3409 9199

46

5 Quando elea usa termos desatualizados como chamar todas as NF de Doenccedila de Von

Recklinghausen

6 Quando elea denomina de forma incorreta os tumores das NF por exemplo chamando

os schwannomas vestibulares bilaterais da NF2 de ldquoneurinomas do acuacutesticordquo ou chamando

um neurofibroma plexiforme da NF1 de ldquohemangiomardquo

7 Principalmente quando elea confunde a impossibilidade de cura com a ausecircncia de

tratamento pois embora as doenccedilas geneacuteticas ainda sejam incuraacuteveis elas tecircm

tratamentos inclusive multidisciplinares os quais prolongam e melhoram a vida das

pessoas acometidas (Ferner 2011)

A omissatildeo institucional

Reconhecendo a impossibilidade de todos osas profissionais da sauacutede possuiacuterem conhecimento

cientiacutefico adequado sobre as doenccedilas raras torna-se evidente a necessidade de centros de

referecircncias em doenccedilas raras para onde as pessoas possam ser encaminhadas sempre que

houver duacutevida quanto ao seu diagnoacutestico No entanto as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela sauacutede

puacuteblica doa meacutedicoa aosagraves governantes federais passando pelos municiacutepios e universidades

colocam em segundo plano as doenccedilas raras porque as consideram de forma isolada preferindo

destinar os recursos para as doenccedilas majoritaacuterias que podem resultar em maior popularidade e

mais votos

Somente quando informadas de que cerca de 3 da populaccedilatildeo satildeo acometidos por doenccedilas

raras que as transformam num conjunto de alguns milhotildees de pessoas eacute que as autoridades se

espantam embora ainda permaneccedilam de matildeos atadas

A representaccedilatildeo social inexistente

A mobilizaccedilatildeo social diante de um desafio coletivo depende do grau de empatia que as pessoas

possuem pela causa em questatildeo eacute preciso conhecer para sentir eacute preciso amar para ajudar No

entanto constatamos que as NF assim como a quase totalidade das doenccedilas raras satildeo

completamente desconhecidas pela sociedade (Cerello 2011) A pergunta mais frequente

sempre que pronunciamos a palavra neurofibromatose eacute ldquoNeuro O quecirc Natildeo deve ser

diferente para a as pessoas com Homocisteinuacuteria Porfiria Siacutendrome do X Fraacutegil Mastocitose

e tantas outrasrdquo

Ao contraacuterio quando algueacutem diz por exemplo ldquoinfarto derrame diabetes cacircncer ou

tuberculoserdquo imediatamente nos vem agrave mente determinada representaccedilatildeo social daquela

doenccedila o que desencadeia nossas reaccedilotildees emocionais especiacuteficas As doenccedilas raras sem

conhecimento puacuteblico natildeo conseguem mobilizar os sentimentos coletivos impossibilitando

uma eventual simpatia e apoio O resultado eacute a solidatildeo

Diante destas mazelas abre-se como alternativa aosagraves acometidosas pelas

neurofibromatoses a uniatildeo e a constituiccedilatildeo de entidades de apoio muacutetuo as quais procuram

assim compensar a falta de informaccedilotildees a solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas e o

atendimento agrave sua sauacutede de forma eficaz Entidades de apoio muacutetuo como a AMANF AMAVI

e tantas outras procuram compensar

A falta de conhecimento dosas profissionais de sauacutede com atendimento pesquisa e

ensino divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees seguras em paacuteginas na internet cartilhas de faacutecil

compreensatildeo por parte de pacientes e familiares realizaccedilatildeo de simpoacutesios palestras para

profissionais da aacuterea de sauacutede escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas

A solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas com reuniotildees e suporte emocional

O preconceito puacuteblico com divulgaccedilatildeo popular e defesa dos direitos sociais

47

A AMANF que se tornou Entidade de Utilidade Puacuteblica Municipal e Federal tem

procurado cumprir estes objetivos Dentre nossas principais conquistas encontra-se a

regularidade de 11 anos consecutivos de nossas reuniotildees mensais porto seguro para todosas

osas associadosas ainda que a frequecircncia dosas associadosas tenha sido oscilante e reduzida

em alguns momentos

Aleacutem disso conseguimos implantar o Centro de Referecircncia em Neurofibromatoses no

Hospital das Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais centro este que vem se

tornando uma referecircncia nacional no cuidado aos pacientes com as diversas doenccedilas reunidas

sob o nome de neurofibromatoses Aleacutem disso conseguimos realizar um Simpoacutesio

Internacional em 2009 e um Simpoacutesio Brasileiro em 2012

Alguns indicadores do nosso trabalho no CRNF satildeo

Atendimento (parceria HC UFMG e Sistema Uacutenico de Sauacutede)

o 800 famiacutelias atendidas e acompanhadas no ambulatoacuterio

o 300 famiacutelias acompanhadas pela internet

o Convecircnio com Centro de Imagem Molecular da FM UFMG

Ensino

o Palestras para cursos de Medicina Psicologia Fonoaudiologia Nutriccedilatildeo Educaccedilatildeo

Fiacutesica Fisioterapia Pedagogia Associaccedilatildeo de Acadecircmicos de Medicina e outros

Pesquisa

o Bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica

o Alunos de mestrado e doutorado

o Participaccedilatildeo em congressos

o Publicaccedilotildees cientiacuteficas

Em 2012 conseguimos a criaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Pesquisa em

Neurofibromatoses quem vem realizando alguns estudos em conjunto e em breve nossos

resultados seratildeo tornados puacuteblicos

Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria de Doenccedilas Raras a vitoacuteria de muitas Marias

Estivemos presentes minha esposa e eu no primeiro congresso Ibero-Americano de Doenccedilas

Raras em Brasiacutelia dia 25 de setembro de 2013 representando a AMANF e o CRNF

O congresso promovido pela Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria de Doenccedilas Raras (AMAVI) foi

um momento dos mais marcantes em nossas vidas A equipe da AMAVI liderada pelo amoroso

Rogeacuterio Lima realizou um trabalho que evidenciou seu entusiasmo humanismo e espiacuterito

democraacutetico na construccedilatildeo deste espaccedilo fundamental para a conquista de direitos cidadatildeos para

as pessoas com doenccedilas raras

Estiveram presentes muitas associaccedilotildees de apoio as quais tecircm sido criadas e conduzidas

com raras exceccedilotildees por mulheres Estas mulheres valorosas podem atender pelos nomes de

Marisa Ieda Martha Adriana Maria Helena Virgiacutenia Tacircnia Mara Siacutelvia Lilian Mocircnica

Thalma Cristina Sandra ou tantos outros mas na verdade todas elas satildeo as nossas Marias

guerreiras Satildeo nossas Marias incansaacuteveis na defesa de filhos ou filhas netos ou netas

porventura acometidosas por uma dentre os milhares de doenccedilas raras E as Marias venceram

mais uma etapa na sua jornada em busca de amor e conhecimento para seus entes queridos

O que foi dito no congresso confirma que estaacute em andamento uma nova maneira de

lutarmos pelas pessoas com doenccedilas pouco compreendidas e que atualmente recebem pouca

atenccedilatildeo da sociedade Temos certeza agora que estamos unidos pelo motivo comum de

48

construirmos redes sociais de apoio a partir do nuacutecleo fundamental das famiacutelias atingidas em

busca de poliacuteticas puacuteblicas destinadas agraves doenccedilas raras

Tivemos a alegria de participar das manifestaccedilotildees realizadas pelas diversas associaccedilotildees

durante o congresso contribuindo cada uma delas com o seu conhecimento especiacutefico para a

construccedilatildeo da compreensatildeo geral das doenccedilas raras Voltamos com a certeza de que precisamos

continuar cuidando das neurofibromatoses nosso dever especiacutefico mas que temos que nos unir

sob esta grande bandeira das doenccedilas raras pois estaremos participando de uma luta de milhotildees

de brasileirosas

E esta uniatildeo precisa ser em torno da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria porque ela jaacute mostrou a sua

capacidade de nos reunir porque ela possui uma face humana ao apresentar a sociedade seu

lindo nome Maria porque ela traz a nossa Vitoacuteria no proacuteprio nome

Devemos fortalecer as entidades de apoio muacutetuo a partir da AMAVI para tentarmos

compensar a falta de conhecimento sobre as doenccedilas raras a solidatildeo das pessoas com doenccedilas

raras o preconceito puacuteblico a omissatildeo institucional e a falta de atendimento especializado

Devemos lutar para a criaccedilatildeo de centros de referecircncias regionais e mecanismos de intercacircmbio

de informaccedilotildees entre eles

Como resultado de nossa participaccedilatildeo no congresso a AMANF aprovou a decisatildeo que

devemos abraccedilar este caminho que devemos aumentar nossa participaccedilatildeo na luta geral das

doenccedilas raras pois isso nos traraacute uniatildeo de forccedilas maior visibilidade conquista de espaccedilo

puacuteblico e avanccedilos nas proacuteprias questotildees das neurofibromatoses

Com a inserccedilatildeo mais ativa da AMANF no campo das doenccedilas raras atraveacutes da AMAVI

creio que haveria a oportunidade de troca de experiecircncias e principalmente um ganho enorme

na construccedilatildeo da nossa humanidade e solidariedade

Base de accedilatildeo fortalecer a rede social das pessoas com NF1

Natildeo haacute duacutevida que se constitui um imenso desafio a mobilizaccedilatildeo da sociedade para

conquistarmos a cidadania para as pessoas com um nuacutemero tatildeo grande de doenccedilas com

caracteriacutesticas proacuteprias Sabemos que eacute preciso agir contra os trecircs fatores comuns a todas as

doenccedilas raras desconhecimento cientiacutefico omissatildeo institucional e representaccedilatildeo social

inexistente Mas natildeo podemos perder de vista o princiacutepio de que as poliacuteticas puacuteblicas somente

tecircm a chance de serem eficazes se levarem em conta a rede social das pessoas acometidas

(Portugal 2011)

Neste sentido em nossa Associaccedilatildeo e em nosso Centro de Referecircncia temos procurado

realizar accedilotildees no sentido de conhecermos melhor e aumentarmos nossa atenccedilatildeo agrave rede social de

cada pessoa acometida por NF Sobre esta base de accedilatildeo esperamos ajudar a reconstruccedilatildeo da

cidadania e maior qualidade de vida para as pessoas com NF

Referecircncias Bibliograacuteficas

Cerello A C (2011) Neurofibromatose tipo 1 sobre o que natildeo se vecirc e o que se sente - Uma

travessia entre a invisibilidade social e o conhecimento sobre a doenccedila Faculdade de

Medicina Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Aplicadas agrave Sauacutede do Adulto Belo

Horizonte UFMG

Ferner RE (2011) ldquoNeurofibromatosis 1rdquo in RE Ferner SM Huson e DG Evans

Neurofibromatosis in Clinical Practice (1 ed) Londres Springer-Verlag London Limited 162

Geller M Bonalumi Filho A (2004) Neurofibromatose cliacutenica geneacutetica e terapecircutica Rio

de Janeiro Guanabara Koogan

49

Portugal S (2011) ldquoDaacutediva famiacutelia e redes sociaisrdquo in S Portugal e P H Martins Cidadania

poliacuteticas puacuteblicas e redes sociais Coimbra Universidade de Coimbra 39-53

Souza JF Toledo LL Ferreira MC Rodrigues LO Rezende NA (2009)

ldquoNeurofibromatose do tipo 1 mais comum e grave do que se imaginardquo Revista da Associaccedilatildeo

Meacutedica Brasileira 55 394-399

50

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ marciagenyahoocombr

Existe toda uma engrenagem de incentivo agrave pesquisa na aacuterea da sauacutede por parte dosas

gestoresas e das agecircncias de fomento Faz parte desta engrenagem a definiccedilatildeo dos temas de

pesquisa condizentes com as necessidades da populaccedilatildeo de modo que os resultados sejam

aplicaacuteveis no SUS As pesquisas financiadas que tecircm como campo de estudo o SUS

contribuem para a integraccedilatildeo dosas pesquisadoresas profissionais de sauacutede e gestoresas aleacutem

de auxiliarem o processo de aprimoramento do sistema O financiamento para as pesquisas em

todo o paiacutes ocorre atraveacutes de Editais que contam com o apoio administrativo do CNPq da

FINEP2 e das Fundaccedilotildees de Amparo agrave Pesquisa de representaccedilatildeo estadual

A definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede (PNCTIS)

somada agrave elaboraccedilatildeo da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sauacutede (ANPPS) levou

ao reforccedilo no orccedilamento do Departamento de Ciecircncia e Tecnologia (Decit) e consequente

aumento no investimento em pesquisa De 2004 a 2007 foram publicados 45 editais em temas

prioritaacuterios para o SUS e apoiados mais de 1200 projetos em Sauacutede Mental Sauacutede dos Povos

Indiacutegenas Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo Dengue e Doenccedilas negligenciadas Desde 2007 o Decit

tem priorizado projetos com potencial de inovaccedilatildeo aleacutem do investimento na disseminaccedilatildeo do

conhecimento resultante das pesquisas Com o objetivo de fortalecer e qualificar accedilotildees em

temas de pesquisa considerados prioritaacuterios para o SUS o Ministeacuterio da Sauacutede investe na

organizaccedilatildeo de Redes de Pesquisadoresas e Estudos Cooperativos Multicecircntricos e de caraacuteter

Nacional Dentre os projetos do Ministeacuterio da Sauacutede gostaria de citar o EPIGEN

(Epidemiologia Geneacutetica) que tem o objetivo de investigar os efeitos conjuntos da arquitetura

geneacutetica e do ambiente na ocorrecircncia de doenccedilas complexas em crianccedilas adultos jovens e

idosos com ecircnfase nas desigualdades sociais Esse projeto eacute pioneiro na aacuterea de epidemiologia

geneacutetica voltada para a sauacutede puacuteblica e sabemos como eacute importante conhecer a dimensatildeo da

frequecircncia das doenccedilas geneacuteticas raras em sua grande maioria

O Programa de Pesquisa para o SUS merece o seguinte destaque gestatildeo compartilhada em

sauacutede (PPSUS) cujos objetivos principais satildeo a) Contribuir para a diminuiccedilatildeo das

desigualdades regionais na aacuterea da ciecircncia e tecnologia em sauacutede b) fortalecer a capacidade de

gestatildeo da poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede nos estados da Federaccedilatildeo e c) descentralizar

recursos em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Este programa conta com a

participaccedilatildeo de todas as unidades federativas e em termos de apoio de 2001 a 2003 foram

financiadas 147 pesquisas e de 2004 a 2007 o financiamento ocorreu para mais de 1000

pesquisas o que denota o crescente incentivo agrave pesquisa no Brasil

Atraveacutes da Portaria Interministerial ndeg 421 de 03032010 eacute criado o Programa de Educaccedilatildeo

pelo Trabalho para a Sauacutede (PET-SAUacuteDE) inspirado no Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) Este programa disponibiliza bolsas para tutores (docentes e

teacutecnico-administrativos das IES) preceptoresas (profissionais de sauacutede que trabalham na rede

puacuteblica) e para estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede Eacute um instrumento de

1 Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro eacute Professora Associada de Geneacutetica Cliacutenica do Departamento de Pediatria da Faculdade de

Medicina da UFRJ Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira da UFRJ

e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ niacutevel 2 2 Financiadora de Estudos e Projetos httpwwwfinepgovbr

51

aprendizagem tutorial de qualificaccedilatildeo em serviccedilos iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas

de estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo em sauacutede Favorece portanto a integraccedilatildeo real dos

profissionais da aacuterea da sauacutede lotados na rede (SUS) dos profissionais das universidades e dos

alunos de graduaccedilatildeo Satildeo os seguintes os editais deste programa que jaacute ocorreram 2009 ndash Sauacutede

da Famiacutelia 2010 ndash Sauacutede da Famiacutelia 2010 ndash Vigilacircncia em Sauacutede 2010 ndash Sauacutede MentalCrack

e 2013 ndash Redes de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teve

participaccedilatildeo expressiva nestes editais de um modo geral O depoimento de um aluno do Curso

de Graduaccedilatildeo de Medicina da UFRJ ilustra bem o significado e abrangecircncia deste programa

ldquodespertou o interesse para o exerciacutecio da Medicina de Famiacutelia como especialidade possiacutevel

de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Em 2012 o PET-SAUacuteDE se juntou ao Programa Nacional de Reorientaccedilatildeo da Formaccedilatildeo

Profissional em Sauacutede (PROacute-Sauacutede) e foi lanccedilado um edital onde a UFRJ participou com

alunosas e profissionais de diversos cursos Medicina Enfermagem Odontologia Psicologia

Serviccedilo Social Farmaacutecia Fonoaudiologia Fisioterapia Nutriccedilatildeo Terapia Ocupacional

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sauacutede Coletiva Com isso foram gerados novos cenaacuterios de praacutetica e

consolidaccedilatildeo de estaacutegios interdisciplinares aleacutem da iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico

Sem duacutevida estes modelos contribuem bastante para o desenvolvimento das pesquisas e

inserccedilatildeo dosas alunosas no cenaacuterio de praacutetica profissional sem deixar de existir a

aprendizagem e o meacutetodo cientiacutefico Seria extremamente interessante podermos contar com um

ldquoPET ndash Doenccedilas Rarasrdquo onde poderia ser abordada toda a linha de atenccedilatildeo e cuidado aos

indiviacuteduos com doenccedilas raras a pesquisa e o aprendizado neste tema pouco ressaltado nos

cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

A Universidade Federal do Rio de Janeiro possui um dos mais tradicionais institutos de

pediatria do paiacutes o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira (IPPMG)

inaugurado em 02 de outubro de 1953 que oferece atendimento em todas as especialidades

pediaacutetricas em todos os niacuteveis de assistecircncia aleacutem de desenvolver ensino pesquisa e extensatildeo

nessa aacuterea A missatildeo do IPPMG eacute cuidar da crianccedila e doa adolescente de forma integral e da

maneira mais abrangente possiacutevel

O IPPMG eacute considerado Centro de Referecircncia para o Ministeacuterio da Sauacutede em Sauacutede da

Crianccedila (Centro de Referecircncia Ceacutesar Pernetta) Centro de Referecircncia em Doenccedila Falciforme e

Centro de Referecircncia para Atendimento Pediaacutetrico dos indiviacuteduos cadastrados no Centro

Nacional de Neurofibromatose Coopera com as Organizaccedilotildees Pan-Americana e Mundial de

Sauacutede (OPAS e OMS) na elaboraccedilatildeo e promoccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede nesta aacuterea Participa

desde 1995 do Programa de Assistecircncia Integral agrave Gestante e Crianccedila Infectadas pelo HIV e eacute

referecircncia para toxoplasmose em gestantes de toda a Aacuterea Programaacutetica 313 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos receacutem-natos expostos agrave toxoplasmose em todo o Municiacutepio do Rio de

Janeiro e referecircncia para siacutefilis congecircnita tambeacutem na Aacuterea Programaacutetica 31 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos pacientes nascidos na Maternidade Escola da UFRJ Na cidade do Rio de

Janeiro eacute a instituiccedilatildeo que presta o maior nuacutemero de atendimentos pediaacutetricos e possui a maior

diversidade de especialidades pediaacutetricas Eacute uma instituiccedilatildeo de perfil abrangente que perpassa

os trecircs niacuteveis de complexidade

a) Unidade de Pacientes Externos com ambulatoacuterios emergecircncia Quimioterapia e

Hospital-Dia Assistecircncia ambulatorial preventiva e curativa em Pediatria Geral e sub-

especialidades pediaacutetricas o Serviccedilo de Emergecircncia Pediaacutetrica permanece aberto 24 horas Satildeo

atendidos em meacutedia por mecircs 10 mil crianccedilas e adolescentes em regime ambulatorial 3300 na

3 A Aacuterea Programaacutetica 31 (AP 31) abrange do bairro de Bonsucesso ateacute Jardim Ameacuterica incluindo a Ilha do Governador na

Zona Norte da cidade As unidades de sauacutede realizam a cobertura assistencial do Complexo do Alematildeo Complexo da Mareacute

Complexo da Penha Parque Royal Dendecirc Morro do Barbante Vigaacuterio Geral e Parada de Lucas

52

Emergecircncia e 600 em pronto-atendimento e realizados 250 procedimentos ciruacutergicos

ambulatoriais

b) Unidade de Pacientes Internos com enfermarias de Pediatria Onco-Hematologia

Unidade de Terapia Intensiva e Cirurgia Pediaacutetrica Satildeo realizadas mensalmente uma meacutedia de

200 internaccedilotildees e 40 cirurgias

c) Serviccedilo de Medicina Transfusional (SMT) Apresenta qualidades diferenciadas por ser

um serviccedilo adequado ao atendimento de pacientes pediaacutetricos com pessoal qualificado para

realizaccedilatildeo de exames especiacuteficos desde a escolha do sangue realizaccedilatildeo de transfusotildees de

componentes e derivados sanguiacuteneos aliquotagem realizaccedilatildeo de procedimentos ambulatoriais

como transfusotildees de substituiccedilatildeo parcial e avaliaccedilatildeo de pacientes em regime de hipertransfusatildeo

Em meacutedia realiza 250 transfusotildees por mecircs Satildeo feitos 1200 exames mensais na sua maioria

imuno-hematoloacutegicos Participa do ensino teoacuterico e praacutetico para alunos dos cursos de Medicina

Biomedicina Farmaacutecia e Biologia

d) Nuacutecleo RDN cuja incumbecircncia eacute a reabilitaccedilatildeo com abordagem interdisciplinar para

a prevenccedilatildeo eou minimizaccedilatildeo de incapacidades em crianccedilas e adolescentes com deficiecircncias

eacute constituiacutedo por seis serviccedilos Fisiatria Fisioterapia Terapia Ocupacional Fonoaudiologia

Psicologia e Pediatria do Desenvolvimento

e) Laboratoacuterio de Anaacutelises Cliacutenicas Citogeneacutetica Biologia Celular e Molecular e

Citometria de Fluxo (os quatro uacuteltimos fazem parte do Nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo

em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente)

Em relaccedilatildeo a financiamento por agecircncias de fomentoos projetos ldquoUnidade de Pesquisa

Cliacutenica em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircnciardquo e ldquoNuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescenterdquo foram agraciados pela FAPERJ e

contribuiacuteram para a estruturaccedilatildeo do Hospital-Dia e implantaccedilatildeo do Nuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente Ressalta-se tambeacutem as formas de obtenccedilatildeo

de recursos atraveacutes dos pesquisadores da instituiccedilatildeo Jovem Cientista do Nosso Estado

(FAPERJ) Bolsa de Produtividade em Pesquisa (CNPq) Auxiacutelio agrave Pesquisa (APQ1FAPERJ)

Edital Universal (CNPq) Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica (FAPERJ) e Bolsas de Iniciaccedilatildeo

Cientiacutefica (FAPERJ CNPq UFRJ)

O Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira

foi fundado em 1969 e desde entatildeo tem participaccedilatildeo ativa na assistecircncia no ensino e mais

recentemente na pesquisa e na extensatildeo Eacute constituiacutedo atualmente por dois docentes do

Departamento de Pediatria e um docente colaborador voluntaacuterio Em 1989 foi fundado o

Laboratoacuterio de Citogeneacutetica que atualmente integra o Nuacutecleo Transdisciplinar de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente com desenvolvimento de novas atividades em biologia

molecular

Dentre as atividades assistenciais realizadas pelo referido serviccedilo destacamos a

investigaccedilatildeo diagnoacutestica aconselhamento geneacutetico e o acompanhamento de siacutendromes

geneacuteticas regularmente aleacutem da realizaccedilatildeo da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (desde 2006)

nas Mucopolissacaridoses e Doenccedila de Fabry aleacutem de ser considerado como Centro de

Referecircncia do Centro Nacional de Neurofibromatose para o atendimento pediaacutetrico Temos

cadastrados ateacute ao momento 3840 pacientes

Os exames complementares necessaacuterios ao diagnoacutestico das doenccedilas geneacuteticas satildeo

realizados no proacuteprio hospital (Laboratoacuterio de Geneacutetica Serviccedilo de Radiologia Laboratoacuterio de

Anaacutelises Cliacutenicas) no Hospital Universitaacuterio Clementino Fraga Filho (HUCFF) ndash UFRJ

(Laboratoacuterio de Patologia Cliacutenica Serviccedilo de Medicina Nuclear) e no Laboratoacuterio de Erros

Inatos do Metabolismo (LABEIM) do Instituto de Quiacutemica Departamento de Bioquiacutemica da

UFRJ

O Laboratoacuterio de Geneacutetica iniciou seu funcionamento em 1989 e atualmente realiza

carioacutetipo convencional e estimulado com brometo de etiacutedio em cultura de linfoacutecitos e

53

fibroblastos cultura de linfoacutecitos da expressatildeo do X-Fraacutegil com a utilizaccedilatildeo de dois meios de

cultura (TC-199 e RPMIFudR) teacutecnicas de Bandeamento-G e C e teacutecnica de FISH

Em relaccedilatildeo ao ensino satildeo recebidos alunos da graduaccedilatildeo da Faculdade de Medicina da

UFRJ atraveacutes da Disciplina de Escolha Condicionada em Geneacutetica Cliacutenica e do Programa de

Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Osas alunosas da poacutes-graduaccedilatildeo que frequentam o serviccedilo satildeo alunosas

de Mestrado e Doutorado que desenvolvem estudos na aacuterea de geneacutetica Residentes de Pediatria

e Especializandos em Geneacutetica Meacutedica

Todos os estudos desenvolvidos estatildeo inseridos na Linha de Pesquisa ldquoEstudo Cliacutenico e

Epidemioloacutegico das Doenccedilas Geneacuteticas na Infacircncia e na Adolescecircnciardquo cadastrada no

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cliacutenica Meacutedica da Faculdade de Medicina da UFRJ (2006)

Merecem destaque os estudos realizados diretamente na Rede Municipal do Rio de Janeiro

ldquoAtenccedilatildeo fisioterapecircutica agrave siacutendrome de Down no Municiacutepio do Rio de Janeirordquo e ldquoFisioterapia

motora na siacutendrome de Downrdquo (aluna de Mestrado e posteriormente de Doutorado Carla

Trevisan Martins Ribeiro) ldquoObservaccedilatildeo do fluxo de pacientes entre as maternidades da SMSRJ

e o Programa de Sauacutede Auditiva do HUCFFrdquo (aluna de Mestrado Priscila Tavares Lima) e

ldquoEstudo da oferta e anaacutelise de programas de reabilitaccedilatildeo para a populaccedilatildeo infanto-juvenil do

Municiacutepio do Rio de Janeirordquo (aluna de Mestrado Liacutevia Borgneth)

Estudos relevantes satildeo desenvolvidos em doenccedilas raras a saber a) Mucopolissacaridoses

antropometria avaliaccedilatildeo postural equiliacutebrio qualidade de vida desenvolvimento puberal b)

Aminoacidopatias niacuteveis de referecircncia no periacuteodo neonatal (carnitina e acilcarnitinas)

deficiecircncia de carnitina livre plasmaacutetica qualidade de vida e desempenho cognitivo na

Fenilcetonuacuteria c) Cromossomopatias caracterizaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de cromossomos

anocircmalos na siacutendrome de Turner implantaccedilatildeo da teacutecnica de FISH e d) Neurofibromatose

antropometria desempenho motor funccedilatildeo auditiva processamento auditivo perfil de pacientes

acompanhados

Ressaltam-se os marcos importantes na histoacuteria das doenccedilas raras que iratildeo auxiliar no

desenvolvimento de pesquisas o ldquoGrupo de Trabalho de Atenccedilatildeo agraves Doenccedilas Raras

(26042012)rdquo que se propocircs a discutir Poliacutetica de Sauacutede Puacuteblica que atenda a demanda dos

indiviacuteduos que tenham doenccedilas raras no acircmbito do SUS e o ldquoPrograma de Fomento agrave Pesquisa

em Sauacutederdquo cuja proposta eacute fomentar estudos para o tratamento de doenccedilas raras e

negligenciadas

Como produtos de todo este investimento em pesquisa cita-se a colaboraccedilatildeo entre

instituiccedilotildees duas das quais tive a oportunidade de fazer parte a) Edital MCTCNPqMS-

SCTIE-DECITMS 0382008 (Avaliaccedilatildeo em Tecnologias em Sauacutede) ndash Estudo de Qualidade de

Vida na Mucopolissacaridose UFRGS UERJ UFF IFFFIOCRUZ e b) Chamada

MCTICNPqMS-SCTIE ndash Decit Ndeg 082013 ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo Permanente para o SUS

e dimensionamento da forccedila de trabalho em sauacutede ndash Competecircncias em Geneacutetica de profissionais

da Atenccedilatildeo Primaacuteria no Brasil UFSCar UFRGS UFAL UESC UNICAMP

Outro produto igualmente importante que eacute capaz de lanccedilar o Brasil no cenaacuterio

internacional eacute o conhecimento gerado atraveacutes da pesquisa cientiacutefica designadamente as

publicaccedilotildees O Brasil responde por 27 da produccedilatildeo cientiacutefica mundial e em relaccedilatildeo agrave

quantidade de artigos publicados passou do 17deg lugar ndash 13846 artigos (2001) para o 13deg lugar

ndash 49664 artigos (2011) Entretanto a qualidade dos artigos publicados (Fator de Impacto) ainda

merece maior atenccedilatildeo Em 2001 ocupava o 31deg lugar e em 2011 o paiacutes passoupara o 40deg lugar4

4 Como exemplos de publicaccedilotildees do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica temos a) Familial study of paracentric inversion in

chromosome 3p British Journal of Medicine and Medical Research v 3 p 760-770 2013 b) The Mental Retardation in

Duchenne Muscular Dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 6-16 2012 c) Analysis of acylcarnitine profiles in

umbilical cord blood and early neonatal period by electrospray ionization tandem mass spectrometry Brazilian Journal of

Medical and Biological Research (Impresso) v 45 p 473-564 2012 d) Dental findings and oral health conditions in patients

with mucopolysaccharidosis a case series Acta Odontologica Scandinavica (Trykt utg) v 1 p 1-11 2012 e) Moderately

54

Somos atores deste processo e como tal devemos manter sua continuidade assim como a

curiosidade para lanccedilar perguntas a cada resposta gerada pelo processo de busca incessante que

eacute a pesquisa

Referecircncias Bibliograacuteficas

Base de dados Scimago Folha de Satildeo Paulo ndash 22042013

Damaso EJR (2013) Anaacutelise da Percepccedilatildeo dos Internos da Faculdade de Medicina da UFRJ

sobre sua Formaccedilatildeo Profissional a partir do Estaacutegio em Sauacutede da Famiacutelia Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Cliacutenica Meacutedica Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro

Damaso EJR et al (2012) ldquoO Projeto de Educaccedilatildeo pelo Trabalho e a Inserccedilatildeo dos

Acadecircmicos de Medicina na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutederdquo Revista Espaccedilo Cientiacutefico Livre 2(8)

37-44

Internet

httpagenciabrasilebccombrnoticia2013-07-22

httpnoticiasterracombrcienciapesquisa

httpportalsaudegovbrportalsaudeprofissional

httpwwwneurolipidosescombrpacientesreportagensmaterias_exclusivas177ministrio-

da-sade-cria-grupo-de-trabalho-de-ateno-s-doenas-raras

progressive Ullrich congenital muscular dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 93-96 2012 f) A novel nonsense

mutation in KDM5CJARID1C gene causing intelectual disability short stature and speech delay Neuroscience Letters (Print)

v 498 p 67-71 2011 g) The National Public Health System and rehabilitation in Brazil Revista Panamericana de Salud

Puacuteblica (Impresa) Pan American Journal of Public Health (Impresa) v 28 p 43-48 2010 h) Differential integrin expression

by T lymphocytes potential role in DMD muscle damage Journal of Neuroimmunology (Print) v 223 p 128-130 2010 i)

Mucopolysaccharidosis I II and VI Brief review and guidelines for treatment Genetics and Molecular Biology (Impresso)

v 33 p 589-604 2010 e j) Plexiform neurofibroma in the ear canal of a patient with Type I Neurofibromatosis Brazilian

Journal of otorhinolaryngology (Online) v 75 p 158-158 2009

55

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila

Rara

Maria Helena de Magalhatildees Dourado1 Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil ndash ANPB hdourado10gmailcom

As associaccedilotildees de apoio aos pacientes com doenccedila rara desempenham um papel fundamental

na vida dessas pessoas em todo o mundo A famiacutelia que tem algueacutem diagnosticado com

alguma doenccedila rara sente a necessidade de contar com alguma entidade voltada

especificamente para a luta em favor do seu familiar e deposita na associaccedilatildeo as esperanccedilas

de vencer as barreiras impostas pela doenccedila quase sempre devastadora e agraves vezes sem

possibilidade de cura

O objetivo deste texto eacute destacar a importacircncia das associaccedilotildees como parte da rede de apoio

ao paciente elencando as suas possiacuteveis formas de atuaccedilatildeo como entidade destinada a trabalhar

pela melhor qualidade de vida das pessoas com doenccedilas raras

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara implica inuacutemeros desafios a vencer transtorna o

ambiente familiar amedronta e conduz a pessoa afetada e sua famiacutelia a uma busca angustiante

das razotildees pelas quais estatildeo destinados a ser raridade bem como dos caminhos a seguir O

sentimento que prevalece no momento do diagnoacutestico eacute o da extrema solidatildeo Por isso torna-

se imperativo compartilhar os sentimentos e as duacutevidas com outras pessoas que estatildeo na mesma

situaccedilatildeo e que passam pelas mesmas anguacutestias A troca que se estabelece entre osas

semelhantes na dor ameniza o sofrimento e fortalece a luta para enfrentar e vencer desafios

Essa eacute a grande motivaccedilatildeo que estimula a criaccedilatildeo das associaccedilotildees de apoio

Ao formarem uma associaccedilatildeo as famiacutelias normalmente buscam natildeo soacute mais informaccedilotildees

e orientaccedilotildees sobre a doenccedila como tambeacutem o fortalecimento para reivindicar direitos As

associaccedilotildees datildeo respaldo agraves reivindicaccedilotildees e congregam todosas aquelesas que se dispotildeem a

trabalhar para que oa paciente seja vistoa como uma cidadatildeoatilde que precisa ter os seus direitos

respeitados A expectativa das famiacutelias que se agregam ao grupo eacute encontrar o apoio nas lutas

por dias melhores o que soacute eacute possiacutevel com a perspectiva de melhor qualidade de vida para os

seus entes queridos

Na caminhada a favor das pessoas com doenccedilas raras as associaccedilotildees fazem parte de uma

grande rede de apoio onde se encontram segmentos da sociedade entre eles osas diversosas

profissionais de sauacutede que tratam da sintomatologia das doenccedilas as instituiccedilotildees de pesquisa

que se dedicam a experimentos e ensaios cliacutenicos com vistas agrave descoberta de medicamentos que

minimizem e ateacute possam curar as doenccedilas os centros de referecircncia voltados para o atendimento

a essesas pacientes e dos seus familiares os laboratoacuterios farmacecircuticos que se responsabilizam

pela produccedilatildeo das terapias e medicamentos destinados agraves doenccedilas e finalmente os oacutergatildeos do

governo que existem para cuidar da sauacutede da populaccedilatildeo do paiacutes

Um dos papeacuteis das associaccedilotildees eacute o de estabelecer as interfaces com os demais componentes

da rede de apoio aoagrave paciente Assim elas conseguem o suporte necessaacuterio agraves demandas das

pessoas que apoiam possibilitando-lhes o acesso a informaccedilotildees orientaccedilotildees meacutedicas e o

1 Maria Helena Dourado eacute vice-presidente da Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil wwwniemannpickbrasilorgbr

wwwniemannpickbrasilblogspotcombr

56

contato com diferentes profissionais como fisioterapeutas nutricionistas fonoaudioacutelogos

psicoacutelogos e educadores Tambeacutem disseminam as informaccedilotildees relativas a pesquisas e ensaios

cliacutenicos para o desenvolvimento de medicamentos atraveacutes do contato constante que mantecircm

com pesquisadoresas ligadosas a essas pesquisas e esses ensaios cliacutenicos Outras formas de

apoio agraves pessoas que convivem com alguma doenccedila rara satildeo a articulaccedilatildeo com os centros de

referecircncias e oacutergatildeos de sauacutede do paiacutes para garantir o atendimento aosagraves pacientes com

seguranccedila e qualidade a manutenccedilatildeo do contato com os laboratoacuterios produtores dos

medicamentos natildeo somente para o momento da falta desses medicamentos como tambeacutem para

conhecer os avanccedilos no desenvolvimento de novas drogas e atuar em conjunto com outras

associaccedilotildees na busca da soluccedilatildeo de problemas relativos ao atendimento das necessidades dosas

pacientes o tratamento igualitaacuterio e continuado das pessoas com doenccedilas raras

Entre as competecircncias das associaccedilotildees de apoio estaacute a de reivindicar os direitos dos

pacientes junto agraves instacircncias governamentais de sauacutede e junto aos segmentos da sociedade para

garantir tratamento igualitaacuterio no atendimento das necessidades dessas pessoas que satildeo raras

no universo mas que satildeo iguais aos seus semelhantes A luta pelo reconhecimento dos direitos

das pessoas com doenccedilas raras eacute constante em todo o mundo principalmente quanto ao acesso

a medicamentos e terapias de alto custo tendo as famiacutelias que ingressar com accedilotildees judiciais

para obterem os tratamentos existentes Para isso as associaccedilotildees tecircm que disponibilizar os

serviccedilos advocatiacutecios de profissionais experientes no assunto e somente por esse meio

conseguem a devida atenccedilatildeo dos governos para as suas demandas

A inexistecircncia de cura para uma doenccedila eacute cruel para quem vive o problema Tambeacutem crueacuteis

satildeo o descaso a falta de compromisso e a desatenccedilatildeo com osas pacientes com doenccedilas raras

que se observam em todo o mundo quando se trata principalmente da relaccedilatildeo paciente -

governo Tudo isso tem como base a falta de compromisso o desconhecimento das doenccedilas e

a falta de informaccedilatildeo Compete agraves associaccedilotildees atuarem com muito empenho para que essas

doenccedilas sejam conhecidas por toda a sociedade

O desconhecimento comeccedila no acircmbito da classe meacutedica e de outros profissionais de sauacutede

que na maioria concluem os seus cursos acadecircmicos sem terem tido a oportunidade de

conhecer e aprofundar conhecimento sobre essas doenccedilas Poucos satildeo osas meacutedicosas que

se dedicam ao trabalho com doenccedilas raras e quando isso acontece eacute muitas vezes porque

tiveram a oportunidade de apoacutes deixarem a academia se depararem com uma paciente com

doenccedila rara e se sentirem interessadosas em contribuir para a melhoria de qualidade de vida

dessea paciente Felizmente esses profissionais existem em todo o mundo

Um dos esforccedilos das associaccedilotildees de apoio para proporcionar a interface dosas pacientes

com osas profissionais de sauacutede bem como com outrosas profissionais que podem ajudar na

melhoria da sua qualidade de vida como educadoresas psicoacutelogosas e assistentes sociais satildeo

os encontros entre as famiacutelias e osas amigosas dessesas pacientes onde se estabelece a inter-

relaccedilatildeo das famiacutelias com osas profissionais para orientaccedilotildees esclarecimento de duacutevidas e

conhecimento das novidades relativas agraves pesquisas realizadas em todo o mundo Eacute fundamental

que esses encontros ocorram pelo menos uma vez por ano

Alguns anos jaacute se foram desde o iniacutecio do trabalho entre as associaccedilotildees de apoio agraves doenccedilas

raras brasileiras que trabalham de matildeos dadas para que osas pacientes tenham os seus direitos

de cidadatildeosatildes garantidos Finalmente em 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil instituiu um

grupo de trabalho com vistas agrave definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para essas doenccedilas

Para essa tomada de decisatildeo do governo brasileiro concorreram tambeacutem solicitaccedilotildees inclusive

de parlamentares que se solidarizaram com a causa das associaccedilotildees Os trabalhos do grupo

instituiacutedo desenvolveram-se durante o ano de 2012 sendo que a implantaccedilatildeo do atendimento

atraveacutes do Sistema Uacutenico de Sauacutede em todo o territoacuterio nacional eacute aguardada com muita

ansiedade por todos a serem beneficiados E se espera que isso aconteccedila ateacute o final de 2013

57

Como referido anteriormente o trabalho isolado de uma associaccedilatildeo de apoio aoagrave paciente

jamais conseguiraacute fluir com relaccedilatildeo agraves questotildees das doenccedilas raras Eacute fundamental a interaccedilatildeo

entre as associaccedilotildees no seu conjunto e em rede com os outros segmentos da sociedade para

fazer com que a sua voz se torne efetivamente audiacutevel pelosas que satildeo responsaacuteveis pela

tomada de decisotildees referentes agraves suas necessidades Estar junto trabalhar junto sempre traz

benefiacutecios para osas pacientes de cada uma delas e quando se trata de doenccedilas raras o tempo

eacute demasiadamente curto para que se protelem accedilotildees e decisotildees

A participaccedilatildeo conjunta das associaccedilotildees brasileiras de apoio aosagraves pacientes com doenccedilas

raras fortaleceu a reivindicaccedilatildeo pela definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas junto ao governo brasileiro

A luta pelos direitos igualitaacuterios para esses pacientes continuaraacute com o acompanhamento da

implantaccedilatildeo dessas poliacuteticas e da funcionalidade de todo o atendimento a ser prestado pelo

governo atraveacutes dos setores puacuteblicos de sauacutede jaacute existentes e da criaccedilatildeo do que for necessaacuterio

para o atendimento pleno

A participaccedilatildeo das associaccedilotildees em eventos como o I Congresso Ibero Americano de

Doenccedilas Raras e em outros similares no Brasil e no exterior consolida a sua importacircncia no

contexto nacional e mundial O tema destacado pelo I Congresso Ibero Americano de Doenccedilas

Raras evidencia a necessidade de se lanccedilar um olhar social para as pessoas com doenccedilas raras

como cidadatildeosatildes

Considerando as associaccedilotildees de pacientes buscar um olhar social para as doenccedilas raras

pressupotildee como referid anteriormente que elas atuem em rede interagindo com os segmentos

sociais e isso se concretiza atraveacutes da divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre as doenccedilas mobilizaccedilatildeo

da sociedade sensibilizaccedilatildeo dos segmentos sociais para a importacircncia da inclusatildeo das pessoas

com doenccedilas raras no sistema de sauacutede no sistema educacional no trabalho quando possiacutevel

e ainda disseminando a ideia de que essa pessoa eacute antes de tudo um ser igual ainda que raro

O sonho de igualdade eacute constante para todosas osas que se sentem excluiacutedosas e soacute a

perseveranccedila eacute capaz de tornar esse sonho realidade Eacute uma luta aacuterdua com caminhos tortuosos

e cheios de desafios mas a vontade de vencer as dificuldades das doenccedilas fortalece e anima

Fundamental eacute entender que o tratamento igualitaacuterio e continuado dentro da sociedade da qual

participam tambeacutem as pessoas com doenccedilas raras eacute imprescindiacutevel por se tratar

prioritariamente de um direito

O importante eacute sensibilizar para conseguir que todos os terrenos se tornem feacuterteis e

receptivos agraves demandas Antes de tudo eacute necessaacuterio entender que pessoas com doenccedilas raras

satildeo iguais aos seus semelhantes As associaccedilotildees de apoio trabalham unidas e com muita

disposiccedilatildeo para que a sociedade se conscientize que ldquoO sonho de igualdade soacute cresce no

respeito pelas diferenccedilasrdquo (Augusto Cury)

58

Para um pacto social no campo das Doenccedilas Raras

Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis

Maria Joseacute Delgado Fagundes1 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA mariadelgadointerfarmaorgbr Marcela Simotildees2 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA marcelasimoesinterfarmaorgbr

Histoacuterico das Doenccedilas Raras Atores desafios do movimento social e

poliacuteticas puacuteblicas

No Brasil estima-se que satildeo 13 milhotildees as pessoas com doenccedilas raras sendo que 75 se

manifestam em crianccedilas e contribuem para a morbidade nos primeiros 18 anos de vida Apesar

disso as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte da agenda das autoridades governamentais

brasileiras ateacute o iniacutecio dos anos 2000

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees de pacientes e movimentos sociais ao redor do mundo foi muito

importante para a mudanccedila desse cenaacuterio pois natildeo apenas deu voz agraves necessidades dessas

pessoas como contribuiu para que as doenccedilas raras fossem consideradas uma questatildeo de sauacutede

puacuteblica ndash ainda que se tenha optado por trataacute-las a princiacutepio pelo vieacutes das doenccedilas geneacuteticas

Essa nova abordagem impulsionou a criaccedilatildeo de inuacutemeros programas oficiais voltados agrave

assistecircncia dessesas pacientes e o advento de incentivos regulatoacuterios e econocircmicos para o

desenvolvimento de drogas destinadas ao tratamento de doenccedilas raras os designados

medicamentos oacuterfatildeos Tambeacutem impeliu o Brasil para esse desenvolvimento permitindo

avanccedilos como a Portaria Nordm 8120093 mas apesar disso o caminho a ser percorrido ainda eacute

bastante longo

Em maior ou menor grau como resultado desse conjunto de medidas das inovaccedilotildees da

medicina e de uma maior conscientizaccedilatildeo por parte da sociedade governos instituiccedilotildees

empresas pacientes e familiares a questatildeo das doenccedilas raras estaacute sendo discutida no paiacutes

trazendo agrave tona questotildees como a proacutepria definiccedilatildeo do conceito de doenccedila rara o preccedilo dos

medicamentos e o seu impacto no sistema de sauacutede

Aleacutem das questotildees anteriormente citadas diversas barreiras dificultam o acesso dosas

pacientes a tratamentos especializados e a medicamentos no paiacutes osas profissionais da aacuterea

carecem de treinamento e capacitaccedilatildeo ndash o que compromete ou retarda o diagnoacutestico dosas

pacientes falta informaccedilatildeo sobre essas doenccedilas para a famiacutelia e apenas 2 das doenccedilas raras

podem beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na evoluccedilatildeo da doenccedila

O principal desafio aos olhos da Interfarma estaacute na equaccedilatildeo de um binocircmio equilibrar a

necessidade de atender adequadamente agraves demandas dosas pacientes com os custos crescentes

do setor decorrentes do progresso cientiacutefico e do avanccedilo tecnoloacutegico Para aleacutem disso

1 Maria Fagundes eacute diretora de Responsabilidade Social e Empresarial da INTERFARMA wwwinterfarmaorgbr 2 Marcela Simotildees eacute Analista de Acesso e Inovaccedilatildeo da INTERFARMA 3 Portaria de geneacutetica no SUS

59

conciliar essas questotildees com os entraves burocraacuteticos a duplicidade de funccedilotildees e uma

infinidade de meandros e exigecircncias que fazem com que o tempo para aprovaccedilatildeo dos protocolos

de pesquisa cliacutenica praticamente inviabilize a participaccedilatildeo brasileira na produccedilatildeo de

medicamentos inclusive aqueles para doenccedilas raras os supramencionados medicamentos

oacuterfatildeos

Cenaacuterio das doenccedilas raras no Brasil e no mundo acesso a tratamentos

medicamentosos e procedimentos tecnoloacutegicos

Prestar assistecircncia adequada aosagraves pacientes com doenccedilas raras significa formular uma poliacutetica

capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e tratamento por um lado

oferta de medicamentos oacuterfatildeos por outro

Na praacutetica esse binocircmio requer a organizaccedilatildeo de uma rede de serviccedilos que mescle

tratamentos e medicamentos de alto teor tecnoloacutegico com procedimentos de baixa

complexidade que possam suprir as principais necessidades dosas pacientes diagnoacutestico

preciso e precoce ndash um dos grandes problemas enfrentados por essas pessoas profissionais

qualificados - haacute um deacuteficit de conhecimento meacutedico e cientiacutefico acerca dessas doenccedilas

infraestrutura condizente com as diferentes necessidades de sauacutede dosas pacientes acesso a

medicamentos e acompanhamento dos tratamentos ministrados

O fato de o Brasil natildeo possuir uma poliacutetica oficial especiacutefica para doenccedilas raras natildeo

significa poreacutem que osas pacientes natildeo recebam cuidados e tratamento Os medicamentos

acabam chegando ateacute elesas na maioria por via judicial E o SUS de uma maneira ou de outra

atende essas pessoas poreacutem de forma fragmentada sem planejamento com grande desperdiacutecio

de recursos puacuteblicos e prejuiacutezo para osas pacientes

Embora possuam diferentes definiccedilotildees e abordagens em torno do tema as poliacuteticas

puacuteblicas desenvolvidas ao redor do mundo tecircm apresentado uma gama de soluccedilotildees para ampliar

o acesso dosas pacientes agrave assistecircncia O desafio eacute consideraacutevel levando-se em conta que 95

das doenccedilas raras natildeo possuem tratamento e dependem de uma rede de cuidados paliativos que

garantam ou melhorem a qualidade de vida dosas pacientes

Na outra ponta do espectro estaacute uma pequena percentagem das doenccedilas raras que dispotildee

de tratamentos medicamentosos capazes de interferir na sua progressatildeo mas o custo elevado

das drogas tem exigido dos governos decisotildees poliacuteticas e procedimentos especiacuteficos para

garantir seu fornecimento contiacutenuo Entre um grupo e outro encontram-se certas modalidades

de doenccedilas raras que podem ser tratadas cirurgicamente ou com medicamentos regulares que

ajudam apenas a atenuar os sintomas

Existem na experiecircncia internacional alguns benchmarkings que merecem ser destacados

como

bull Para agilizar o acesso dos pacientes a medicamentos alguns paiacuteses adotam estrateacutegias

destinadas a facilitar o registro ndash preacute-requisito para a comercializaccedilatildeo

bull Revisatildeo acelerada da documentaccedilatildeo e reduccedilatildeo das exigecircncias em relaccedilatildeo a estudos

cliacutenicos satildeo as praacuteticas mais frequentes

bull Haacute casos que a designaccedilatildeo de droga oacuterfatilde em outros paiacuteses eacute suficiente para a aprovaccedilatildeo

de um medicamento

bull Muitos paiacuteses concedem incentivos agraves empresas fabricantes como reduccedilatildeo de taxas e

exclusividade de mercado em relaccedilatildeo agrave concorrecircncia

bull O modelo de poliacutetica adotado em vaacuterios paiacuteses em relaccedilatildeo aos medicamentos oacuterfatildeos eacute

conforme a particularidade do sistema de sauacutede ndash se eacute puacuteblico ou privado e quem eacute o

pagador majoritaacuterio dos custos

60

Definiccedilatildeo de Drogas Oacuterfatildes

Segundo Garau e Ferrandiz (2009 3 apud Wiest 2010) um produto adquire o status de oacuterfatildeo

quando atende a quatro criteacuterios O primeiro deles eacute o criteacuterio da severidade ou seja todo

medicamento destinado a tratamento de uma doenccedila crocircnica que represente uma ameaccedila de

morte aoagrave paciente e exija que o mesmo se mantenha em tratamento ao longo de toda a sua

vida O segundo eacute o criteacuterio da necessidade natildeo atendida que corresponde agraves doenccedilas cuja

inexistecircncia de meacutetodos satisfatoacuterios de diagnoacutesticos prevenccedilatildeo ou tratamento datildeo a este

faacutermaco a alcunha de oacuterfatildeo O terceiro trata da questatildeo da prevalecircncia que institui que todo

aquele medicamento desenvolvido para o tratamento de doenccedilas atinge uma pequena parcela

da populaccedilatildeo Por fim o quarto criteacuterio corresponde ao retorno financeiro esperado que trata

do medicamento cujas vendas natildeo apresentem expectativa de cobertura dos custos iniciais de

pesquisa e desenvolvimento

Processo de desenvolvimento de um medicamento

Diante dos dados discutidos acima se torna importante discutir o processo de desenvolvimento

de um medicamento Isso porque no caso de drogas oacuterfatildes o alto custo de desenvolvimento dos

mesmos para o tratamento de doenccedilas raras eacute agravado pela dificuldade de conduzir ensaios

cliacutenicos para comprovar o funcionamento de um medicamento ndash sendo este um fator

determinante para a aprovaccedilatildeo e posterior lanccedilamento do produto no mercado ndash numa

populaccedilatildeo pequena de pacientes O problema eacute uma barreira para evidecircncias cientiacuteficas e

portanto deve ser caracterizado como um problema de sauacutede puacuteblica

O processo eacute tecnicamente dividido em cinco fases Segundo WIEST (2010) a fase 1 leva

cerca de 2 anos e corresponde ao periacuteodo no qual identifica-se o produto ou a doenccedila ldquoalvordquo

para conduzir as pesquisas de ordem baacutesica Na fase 2 ocorre a delimitaccedilatildeo do estudo e o iniacutecio

dos ensaios preacute-cliacutenicos nos quais os princiacutepios ativos satildeo testados em animais para verificar a

sua eficaacutecia e seguranccedila Esta fase leva entre 3 e 6 anos para ser desenvolvida A fase 3 leva de

6 a 7 anos e corresponde ao periacuteodo no qual ocorrem os ensaios cliacutenicos ou seja os produtos

passam a ser testados em seres humanos Jaacute na fase 4 que decorre em aproximadamente 2 a 4

anos satildeo verificados os ensaios realizados na fase anterior Caso o resultado tenha sido positivo

a induacutestria farmacecircutica busca o registro e a autorizaccedilatildeo para a comercializaccedilatildeo junto agraves

Fig 1 - Fonte Doenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacional ndash Interfarma 2013

61

autoridades de sauacutede Por fim a fase 5 trata da introduccedilatildeo deste medicamento no mercado

Destaca-se que todo o processo leva em torno de 14 anos o que evidencia a sua complexidade

e a necessidade de um elevado dispecircndio de capital humano e monetaacuterio para a sua conclusatildeo

Na figura 2 eacute possiacutevel visualizar as fases da produccedilatildeo de um medicamento

Eacute possiacutevel afirmar que diante do cenaacuterio descrito acima nos casos das drogas oacuterfatildes o

tempo de produccedilatildeo do medicamento e o nuacutemero restrito de pacientes disponiacuteveis para participar

das fases de estudos cliacutenicos dificultam ainda mais a produccedilatildeo de um medicamento Aleacutem

disso outros entraves como a falta de incentivo governamental para a pesquisa cliacutenica e os

aspectos burocraacuteticos de aprovaccedilatildeo de registros e preccedilos tornam o cenaacuterio ainda mais agravante

para as pessoas com doenccedilas

Entraves agrave Pesquisa Cliacutenica

O Brasil eacute a sexta economia do mundo mas ocupa a 42ordf posiccedilatildeo quando se trata de pesquisa

cliacutenica A pesquisa cliacutenica eacute uma das entradas para novas tecnologias no paiacutes no setor da sauacutede

onde delas dependem potenciais medicamentos contra o cacircncer diabetes doenccedilas

cardiovasculares e AIDS que lideram o ranking dos ensaios

Ainda assim o tempo meacutedio gasto atualmente no Brasil para aprovar um protocolo de

pesquisa cliacutenica varia de um a dois anos o dobro da meacutedia mundial sendo as consequecircncias

muacuteltiplas como por exemplo o Brasil tem sido descartado de ensaios cliacutenicos de menor

duraccedilatildeo devido ao risco de que a autorizaccedilatildeo natildeo saia a tempo e a desistecircncia dos centros

internacionais de pesquisa de realizar em parceria com o Brasil estudos multicecircntricos e

globais que envolvem muitos paiacuteses e prazos preacute-determinados

Figura 2 Fases de produccedilatildeo do medicamento

62

No caso das doenccedilas raras esse cenaacuterio agrava-se esta via de acesso dosas doentes agraves

drogas oacuterfatildes e acompanhamento por um corpo cliacutenico de excelecircncia eacute ainda mais estreito pois

os estudos que envolvem muacuteltiplos paiacuteses e centros tecircm grande peso uma vez que devido agrave

baixa prevalecircncia osas pacientes satildeo recrutadosas em diversas partes do mundo

Para muitosas pacientes que natildeo respondem bem aos tratamentos convencionais a

participaccedilatildeo em um protocolo de pesquisa pode representar a uacuteltima esperanccedila e osas que

dispotildeem de mais recursos tecircm possibilidade de ir ao exterior e participar natildeo sendo este o

cenaacuterio da maioria da populaccedilatildeo brasileira

Por outro lado segundo (Heemstra 2008) devido agrave raridade e ao reduzido mercado

consumidor torna-se difiacutecil caro e arriscado o desenvolvimento de pesquisas que viabilizem a

produccedilatildeo de medicamentos para o seu tratamento fazendo com que esta questatildeo passe a ser

natildeo somente um problema de sauacutede puacuteblica mas econocircmico e social

Enquanto a meacutedia mundial para aprovaccedilatildeo de pesquisas cliacutenicas varia de 3 a 4 meses no

Brasil eacute preciso esperar o triplo do tempo Mas este natildeo eacute o uacutenico desestiacutemulo no paiacutes aos

patrocinadores das pesquisas e ao desenvolvimento de medicamentos oacuterfatildeos Por forccedila de uma

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede os patrocinadores de estudos cliacutenicos devem

Figura 3 Pesquisas acadecircmicas no Brasil

63

continuar a fornecer aos pacientes para o resto de suas vidas o tratamento testado quando

houver algum benefiacutecio aoagrave paciente mesmo sem aprovaccedilatildeo da ANVISA Diante da baixa

incidecircncia das doenccedilas raras esta eacute uma questatildeo problemaacutetica uma vez que o patrocinador teraacute

que fornecer o medicamento gratuitamente para a quase totalidade do seu mercado consumidor

A incerteza e a inseguranccedila dosas empresaacuteriosas diante desse cenaacuterio e da capacidade do

Estado de proteger as inovaccedilotildees tambeacutem reduz o investimento privado em pesquisas no Brasil

A avaliaccedilatildeo de reestruturaccedilatildeo da maacutequina governamental em termos de infraestrutura e

dos processos burocraacuteticos que a envolvem visando a eficiecircncia a eficaacutecia e a efetividade nos

processos se mostram cada vez mais necessaacuterios para estimular a parceria entre governo

universidades e iniciativa privada tatildeo necessaacuteria para a aacuterea da pesquisa cliacutenica no paiacutes

Abaixo eacute possiacutevel ver o cenaacuterio de pesquisa cliacutenica no paiacutes

Figura 4 Pesquisas cliacutenicas

64

Fortalecimento do Movimento Social

Aleacutem dos jaacute explicitados acima o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes eacute um

uacuteltimo ponto que merece destaque Isso porque como jaacute comentado anteriormente a

participaccedilatildeo dos atores sociais no processo eacute sempre fundamental para a inclusatildeo de um

determinado tema na agenda governamental e para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas No caso

das doenccedilas raras isso natildeo foge agrave regra

Segundo (Wiest 2010) na maioria dos Estados democraacuteticos o direito agrave sauacutede eacute

constitucionalmente assegurado sendo atribuiccedilatildeo do governo garantir o acesso igualitaacuterio agrave

populaccedilatildeo O direito de proteccedilatildeo a sauacutede eacute considerado um dos princiacutepios fundamentais dos

Estados modernos

O artigo 251 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos prevecirc que cada cidadatildeoatilde

tem direito agrave sauacutede e agrave assistecircncia meacutedica Assim cabe ao governo assegurar condiccedilotildees para o

desenvolvimento de um tratamento efetivo atraveacutes de medidas que garantam a avaliaccedilatildeo segura

de novas drogas bem como o seu fornecimento e distribuiccedilatildeo junto ao mercado

Aleacutem disso as decisotildees das autoridades devem ser tomadas no intuito de zelar pela sauacutede

puacuteblica sem conflitar com os interesses dos demais agentes do processo poliacutetico

Figura 5 Pesquisa e desenvolvimento de medicamento

65

No Brasil o artigo 196 da Constituiccedilatildeo Federal estaacute expressamente instituiacutedo que eacute papel

do Estado brasileiro prover a populaccedilatildeo com assistecircncia agrave sauacutede o que significa dizer

assistecircncia meacutedica e farmacecircutica e que isso deve ser realizado por meio de medidas

econocircmicas e sociais natildeo podendo haver qualquer forma de discriminaccedilatildeo ou favorecimento a

um setor ou classe social

Pode-se dizer que satildeo parcerias importantes para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo social

as existentes entre os diversos elos de participaccedilatildeo os atores sociais (pacientes cuidadoresas

e organizaccedilotildees sociais) o controle social a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o

diaacutelogo Social

A discussatildeo baacutesica das parcerias estaacute relacionada neste caso ao uso de novas tecnologias

em sauacutede de forma viaacutevel para o sistema de sauacutede como um todo a ponto de assegurar a

universalidade a equidade e a qualidade do atendimento a populaccedilatildeo Desta forma tratamentos

inovadores para doenccedilas raras necessitam de uma abordagem diferenciada por parte dos

tomadores de decisatildeo do sistema puacuteblico de sauacutede

Eacute pertinente ao controle social fiscalizar e colaborar com o aprimoramento das resoluccedilotildees

das agecircncias governamentais e da gestatildeo das tecnologias participar ativamente das decisotildees

que definam ou natildeo o acesso agraves tecnologias com dados reais do paciente ampliar o

conhecimento e opinar nos criteacuterios de escolha para incorporar ou abandonar uma tecnologia

expressar seu posicionamento nas consultas puacuteblicas disponibilizadas na ANVISA e ANS

entre outras formas de participaccedilatildeo social Ressalta-se que o diaacutelogo social eacute um importante

exerciacutecio de negociaccedilatildeo em prol do interesse comum para um resultado de consenso

O Pacto Social para doenccedilas raras deve ter por objetivo aleacutem de oferecer suporte

assistencial aos pacientes e familiares a contribuiccedilatildeo para disseminar o conhecimento e as

informaccedilotildees para oa pacientes o treinamento profissional a promoccedilatildeo de pesquisa o

desenvolvimento de tratamento e por fim realizar o contato entre as diversas organizaccedilotildees de

pacientes

Figura 6 Pacto social para Doenccedilas Raras

66

Conclusatildeo

Em suma existem muitos entraves presentes nesse tema e muitos pontos ainda a serem

discutidos Apesar disso eacute possiacutevel destacar de tudo que foi explicitado os seguintes pontos

bull Eacute importante que se estabeleccedilam poliacuteticas de incentivo ao desenvolvimento de Drogas

Oacuterfatildes (incentivos econocircmicos para pesquisa agilizaccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da nova droga

isenccedilatildeo tributaacuteria definiccedilatildeo de fundos para financiamento de pesquisa produccedilatildeo a partir

da canalizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos e privados etc) Eacute um importante mecanismo para

a induacutestria farmacecircutica produzir novos medicamentos oacuterfatildeos

bull A ampliaccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de pesquisa cliacutenica eacute essencial para

a inovaccedilatildeo e o desenvolvimento de novas tecnologias que melhorem a qualidade de vida

dosas pacientes quando possiacutevel o tratamento medicamentoso

bull A melhoria no recrutamento de pacientes para os ensaios cliacutenicos por meio da

internacionalizaccedilatildeo dos estudos e nichos de mercado inclusive o das doenccedilas raras

deve ser considerada vital e eficiente

bull E o mais importante o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes estaacute

diretamente ligado com o sucesso da estrateacutegia social de garantir um direito

constitucional a sauacutede

Lembramos como setor que o papel da induacutestria farmacecircutica eacute buscar compreender

melhor as doenccedilas e sempre que possiacutevel trazer a perspectiva doa paciente

Aleacutem disso deve buscar participar do processo de formulaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas para

doenccedilas raras dentro dos padrotildees regidos por lei e da forma mais eacutetica possiacutevel Buscar o acesso

agrave informaccedilatildeo diagnoacutestico e melhores tratamentos para osas pacientes visando contribuir e

participar do pacto social para as doenccedilas raras no paiacutes e no mundo

Referecircncias Bibliograacuteficas

Garau M Ferrandiz JM (2009) ldquoAcess mechanisms for orphan drugs a comparative study

of select European countriesrdquo Office of Health Economics 52 1-24

Interfarma (2013) ldquoDoenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacionalrdquo Interfarma

Consultado a 9032014 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbrsite2cadernosDoencas_Raraspdf

Interfarma (2013) ldquoGuia Interfarma 2013rdquo Interfarma Consultado a 9032015 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbruploadsbiblioteca33-guia-interfarma-2013-sitepdf

Wiest R (2010) A Economia das Doenccedilas Raras Teoria Evidecircncias e Poliacuteticas Puacuteblicas

Dissertaccedilatildeo de bacharelado do curso de Ciecircncias Econocircmicas Porto Alegre Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

Heemstra H E et al (2008) ldquoOrphan drug development across Europe bottlenecks and

opportunitiesrdquo Drug Discovery Today 13 15-16 670-676

67

Atendimento a doenccedilas raras no Distrito Federal

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso1 Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal nucleodegeneticadfyahoocombr

Doenccedilas raras - Conceituaccedilatildeo

Existem vaacuterias conceituaccedilotildees para Doenccedilas raras

Na Uniatildeo Europeacuteia (EU) classifica-se como Doenccedila Rara aquela com prevalecircncia inferior

a 5 casos por 10000 habitantes (Domenica et al 2011)

A OMS define doenccedila rara como aquela que afeta 13 pessoas para cada 2000 indiviacuteduos

O Orphan Drug Act (ODA) define doenccedila rara como uma doenccedila que afeta menos que

200000 pessoas no paiacutes (EUA) (De luca 2001)

As doenccedilas raras representam risco para a sobrevivecircncia e satildeo condiccedilotildees cronicamente

debilitantes (Domenica et al 2011) Estima-se que existam entre 6000 a 8000 distintas doenccedilas

raras afetando mais de 6 de toda a populaccedilatildeo A cada semana cinco novas doenccedilas satildeo

descritas 80 das quais satildeo de etiologia geneacutetica (Stakišaitis et al 2007) Portanto essas

condiccedilotildees podem ser consideradas raras quando avaliadas individualmente mas afetam uma

proporccedilatildeo significante da populaccedilatildeo quando consideradas como um grupo uacutenico 30 milhotildees

de europeus e 25 milhotildees de norte americanos (Weely e Leufkens 2004)

Doenccedilas Raras - Impacto populacional

As doenccedilas raras produzem um grande impacto na populaccedilatildeo pois 6 apresenta uma doenccedila

rara que se caracteriza por apresentar uma diversidade de sinais e sintomas muitos deles

comuns a doenccedilas frequentes

Em geral apresentam um caraacuteter crocircnico progressivo muitas vezes degenerativo e

incapacitante Afeta muacuteltiplos sistemas e interfere na qualidade de vida do paciente e familiares

O impacto populacional torna-se tanto maior quanto mais tardio o diagnoacutestico agravado

pelo desconhecimento dos profissionais de sauacutede carecircncia de serviccedilos e centros de referecircncia

em doenccedilas raras no paiacutes (Regulation (EC) Nordm 1412000)

No Brasil como na Ameacuterica Latina 3 a 5 dos receacutem-nascidos (RN) apresentam um

defeito congecircnito O impacto desses defeitos congecircnitos vem aumentando no Brasil e estes jaacute

representam a segunda causa de oacutebito infantil sendo responsaacuteveis por um terccedilo (13) das

internaccedilotildees pediaacutetricas (Horovitz 2005)

Poliacuteticas Puacuteblicas

Uma poliacutetica europeia em doenccedilas raras foi efetivamente regulamentada e colocada em accedilatildeo

em 1999 provendo incentivos para pesquisas desenvolvimento e marketing para drogas oacuterfatildes

com base na experiecircncia dos Estados Unidos

1 Maria Teresinha de Oliveira Cardoso eacute presidente do Departamento de Geneacutetica Cliacutenica do Distrito Federal Chefe do Nuacutecleo

de Geneacutetica da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica do Hospital Central de Brasiacutelia

Coordenadora de Doenccedilas Raras da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal e Professora da Faculdade de Medicina

da Universidade Catoacutelica

68

Em 2008 o Projeto Europeu para o Desenvolvimento do Plano Nacional de Doenccedilas Raras

(EUROPLAN) foi conduzido pela Comissatildeo Europeia A adoccedilatildeo de um plano nacional ocorreu

na Franccedila como Plano Nacional Francecircs liberado em 2011 Outros planos nacionais foram

adotados em diversos paiacuteses europeus incluindo Beacutelgica Bulgaacuteria Repuacuteblica Tcheca

Alemanha Greacutecia Luxemburgo Portugal Romeacutenia e Espanha

A partir de 2013 a Uniatildeo Europeia passou a recomendar que todos os estados membros

desenvolvessem uma estrateacutegia nacional para doenccedilas raras (Weely e Leufkens 2004)

No Brasil uma poliacutetica nacional para Doenccedilas Raras teve iniacutecio oficial com a publicaccedilatildeo

da Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede devendo ser implantada atraveacutes das DIRETRIZES PARA

ATENCcedilAtildeO INTEGRAL AgraveS PESSOAS COM DOENCcedilAS RARAS NO SISTEMA UacuteNICO

DE SAUacuteDE ndash SUS

Esse Projeto Nacional para Doenccedilas Raras deveraacute implementar

Centros de Referecircncia Regionais

Atendimentos Multidisciplinares

Centros de Reabilitaccedilatildeo

Protocolos de Accedilatildeo

Terapias de Apoio

No Distrito Federal (DF) o Nuacutecleo de Geneacutetica representa o primeiro serviccedilo puacuteblico

destinado ao diagnoacutestico tratamento e aconselhamento geneacutetico de crianccedilas e adultos com

Doenccedilas Raras incluindo o Serviccedilo de Triagem Neonatal Ampliada para 27 doenccedilas

metaboacutelicas raras destinado a todas as crianccedilas nascidas no DF

O atendimento agraves Doenccedilas Raras iniciou-se em 1989 como Serviccedilo de Geneacutetica e em 2007

esse Serviccedilo foi oficialmente reconhecido como ldquoNuacutecleo de Geneacuteticardquo composto de uma

Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica e seis pilares destinados ao atendimento e ao diagnoacutestico de

crianccedilas e adultos com doenccedilas geneacuteticas

Como descritos a seguir

1 Imunogeneacutetica para o diagnoacutestico e acompanhamento de casos de Imunodeficiecircncias

primaacuterias

2 Geneacutetica Molecular e Oncogeneacutetica realizando a identificaccedilatildeo de marcadores de

Leucemias por tecnologia molecular (PCR)

3 Citogeneacutetica a Citogeneacutetica Convencional para Cromossomopatias e estudo de

translocaccedilotildees e marcadores cromossocircmicos das Leucemias

4 Geneacutetica Bioquiacutemica abrangendo

a Teste de Triagem Neonatal do Programa Nacional de Triagem Neonatal e do

Programa de Triagem Neonatal Ampliado do Distrito Federal uacutenico no paiacutes em

sistema puacuteblico

b Serviccedilo de Referecircncia de Erros Inatos do Metabolismo destinado ao diagnoacutestico e

tratamento em seus vaacuterios niacuteveis de complexidade de pacientes com Doenccedilas

metaboacutelicas hereditaacuterias

5 Geneacutetica da Reproduccedilatildeo e Medicina Fetal para estudo cromossocircmico de casais

infeacuterteis ou com perdas muacuteltiplas e participaccedilatildeo na equipe de diagnoacutestico preacute-natal das

malformaccedilotildees congecircnitas

6 Geneacutetica Cliacutenica compreende o atendimento nos vaacuterios ambulatoacuterios semanais em trecircs

Hospitais da Rede acompanhamento de crianccedilas internadas em enfermarias UTIs Pediaacutetricas

e UTIs Neonatais perfazendo uma meacutedia de atendimentos mensais de 500 pacientes incluindo

o atendimento de crianccedilas em diferentes faixas etaacuterias e adultos

69

Formaccedilatildeo de recursos humanos

O Nuacutecleo de Geneacutetica tambeacutem se destina ao ensino e capacitaccedilatildeo teacutecnica orientando estagiaacuterios

de aacutereas da Sauacutede internos de graduaccedilatildeo de Medicina e Residentes de Pediatria e em especial

o Programa de Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica

O Nuacutecleo de Geneacutetica eacute uma entidade ligada ao Sistema Puacuteblico de Sauacutede (SUS) que

trabalha em parceria com a Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia e a Universidade de Brasiacutelia em

grandes projetos multicecircntricos de pesquisa em especial no campo do diagnoacutestico avanccedilado

por teacutecnicas moleculares de doenccedilas raras

A participaccedilatildeo em grandes projetos no formato de Redes possibilita o avanccedilo tanto na aacuterea

assistencial de diagnoacutestico e terapecircutica como na qualidade do Ensino

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras do Distrito Federal foi instituiacuteda pelo Diaacuterio Oficial do

Distrito Federal em 4 de marccedilo de 2013 com o objetivo de normatizar e implementar fluxo

de referecircncia e contra-referecircncia dos atendimentos (Fig 1) exames complementares e

confirmatoacuterios de diagnoacutestico interconsultas nos vaacuterios niacuteveis de complexidade (Fig 2)

acesso a terapias especiacuteficas e de apoio a pessoas com doenccedilas raras e seus familiares famiacutelias

e aconselhamento geneacutetico das pessoas com doenccedilas raras e seus familiares

Figura 1 Fluxo de atendimento ambulatorial dos pacientes nos diversos hospitais da rede hospitalar

DO ENCcedil AS RARAS NUGEN

EMERG AMBUL UTIS

Neuropediatria Endocrinopediatria

CardiopediatriaOftalmologia

PsicologaFonoaudiolOdontopedFisioterap

TO

ImagensENM

EcocardiogHormoniosBioquimica

MSMSMolecular

70

Figura 2 Atendimento multidisciplinar dos pacientes no Nugen

Grupos de Doenccedilas Raras jaacute em atendimento sistemaacutetico no Nuacutecleo de

Geneacutetica

bull Dismorfologia (malformaccedilotildees congecircnitas)Cromossomopatias

bull Distuacuterbios de Diferencial Sexual

bull Distuacuterbios do Crescimento

bull Displasias oacutesseas

bull Distuacuterbios de Comportamento

bull Deficiecircncia Intelectual

bull Distuacuterbios do Aprendizado

bull Doenccedilas Metaboacutelicas Hereditaacuterias(EIM)

bull Doenccedilas Neurometaboacutelicas da Infacircncia

bull Doenccedilas Neurodegenerativas

bull Doenccedilas Neuromusculares

bull Imunodeficiecircncias Primaacuterias

bull Siacutendrome de Predisposiccedilatildeo ao Cacircncer

bull Siacutendromes Neurocutacircneas

bull Infertilidade de Casais e Abortamento de Repeticcedilatildeo

71

Perspectivas

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras tem como perspectivas a organizaccedilatildeo de serviccedilos como

Centro Regional de Referecircncia em Doenccedilas Raras Centro de Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica

Ambulatoacuterio Integrado de Doenccedilas Neuromusculares Ambulatoacuterio Integrado de

Imunogeneacutetica e Ambulatoacuterio Integrado de Oncogeneacutetica Tambeacutem visa a formaccedilatildeo de equipes

multidisciplinares parcerias de investigaccedilatildeo diagnoacutestica avanccedilada e grupos de apoio a

pacientes e familiares

Referecircncias bibliograacuteficas

Domenica Taruscio D et al (2011) ldquoRare diseases and orphan drugs Romardquo Ann Ist Super

Sanitagrave 47 1 83-93

De Luca G (2001) ldquoOrphan drugs and patents an attempt to clarify the relationship existing

between these two systemsrdquo Pharmaceutical Policy and Law 3 63-9

Stakišaitis D et al (2007) ldquoAccess to information supporting availability of medicines for

patients suffering from rare diseases looking for possible treatments The EuOrphan Servicerdquo

Medicina (Kaunas) 43(6) 441-446

Van Weely S Leufkens HGH (2004) ldquoOrphan diseasesrdquo in Kaplan W Laing R Priority

medicines for Europe and the world ndash a public health approach to innovation Geneva

WorldHealth Organization 95-100

Horovitz D D G Llerena JrJ C Mattos RA (2005) Birth defects and health strategies in

Brazil an overview Rio de Janeiro Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 21 4

Applegarth DA et al (2000) ldquoIncidence of inborn errors of metabolism in British Columbiardquo

Pediatrics 105 1 1-6

French national plan on rare diseases 2005ndash2008 (2004) Ensuring equity in the access to

diagnosis treatment and provision of care Consultado a 20102013 disponiacutevel em

httpwwweurordisorgIMGpdfEN_french_rare_disease_planpdf

Legislaccedilatildeo

REGULATION (EC) No 1412000 of the European Parliament of the Council of December 16

1999 on Orphan medicinal products OJ L 181-5 2212000

72

Pesquisa em doenccedilas raras Desafios e Perspectivas

Maacuterio Andreacute C Saporta1 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas-Tronco da Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ mariosaportalance-ufrjorg

Apesar de coletivamente afetarem cerca de 8 a 10 da populaccedilatildeo mundial as doenccedilas raras

apresentam individualmente prevalecircncia inferior a 005 ou seja menos de 1 em cada 2000

indiviacuteduos em uma dada populaccedilatildeo Este reduzido nuacutemero de pessoas afetadas oferece desafios

proacuteprios para a pesquisa baacutesica e cliacutenica em doenccedilas raras A ausecircncia de massa criacutetica e forccedila

poliacutetica torna o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras problemaacutetico do ponto de vista

de poliacuteticas de Estado Eacute difiacutecil imaginar que pesquisas em mais de 7000 diferentes

enfermidades poderatildeo ser financiadas exclusivamente por editais de fomento de agecircncias

governamentais Estes editais satildeo de suma importacircncia para o desenvolvimento de pesquisas

nesta aacuterea temaacutetica mas natildeo podem ser a fonte exclusiva de financiamento O pequeno nuacutemero

amostral (nuacutemero de pacientes incluiacutedos em um estudo) tambeacutem dificulta a realizaccedilatildeo de

ensaios cliacutenicos para investigaccedilatildeo de novos tratamentos Neste texto discutiremos alternativas

para a viabilizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras e apresentaremos uma nova tecnologia com

potencial de revolucionar os estudos destas enfermidades em busca de um maior conhecimento

sobre os mecanismos bioloacutegicos envolvidos e possiacuteveis novos tratamentos a reprogramaccedilatildeo

celular

A assistecircncia e a pesquisa em doenccedilas raras satildeo campos continuamente negligenciados no

Brasil dependentes muito mais do interesse especiacutefico de grupos de pesquisas e meacutedicos

integrantes do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) do que de poliacuteticas puacuteblicas propriamente ditas

A necessidade de inclusatildeo das doenccedilas raras no planejamento da gestatildeo do SUS eacute evidente e

urgente Com o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico desta aacuterea nos uacuteltimos anos uma

seacuterie de novos tratamentos para alguns tipos de doenccedilas raras jaacute satildeo uma realidade e alguns

fazem inclusive parte da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS Entretanto a ausecircncia

de centros de referecircncia para o estudo e o acompanhamento de pacientes que podem beneficiar

destes tratamentos dificulta a identificaccedilatildeo destes atrasando ou inviabilizando o tratamento O

correto diagnoacutestico da maioria das doenccedilas raras depende de serviccedilos especializados com

meacutedicos experientes e estrutura laboratorial avanccedilada Eacute portanto necessaacuteria a organizaccedilatildeo de

uma rede de centros de referecircncia em doenccedilas raras com abrangecircncia nacional e integradas

atraveacutes de sistemas de gerenciamento de informaccedilotildees ligados agraves centrais de marcaccedilatildeo do SUS

Desta forma o fluxo de referecircncia e contra-referecircncia de pacientes ocorreria da maneira mais

efetiva possiacutevel agilizando o diagnoacutestico e o manejo de indiviacuteduos com doenccedilas raras Esta

rede poderia ser tambeacutem utilizada para viabilizar a realizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras

ao facilitar a identificaccedilatildeo e a inclusatildeo de pacientes em ensaios cliacutenicos e pesquisas

transacionais

Este tipo de sistema em rede para pesquisa e atendimento em doenccedilas raras natildeo eacute algo

ineacutedito no mundo O National Institutes of Health dos Estados Unidos oacutergatildeo semelhante ao

nosso Ministeacuterio da Sauacutede possui um departamento exclusivo para o estudo e fomento de

pesquisas em doenccedilas raras O escritoacuterio de pesquisas em doenccedilas raras2 organiza o acesso a

informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras e oferece financiamento para a criaccedilatildeo de redes de

1 Maacuterio Saporta eacute meacutedico neurologista atua no serviccedilo de neurologia da Universidade Federal Fluminense eacute poacutes-doutorado

em Neurogeneacutetica e Reprogramaccedilatildeo Celular em Satildeo Francisco ndash EUA 2 Office of Rare Diseases Research httprarediseasesinfonihgov

73

atendimento e pesquisa em tipos especiacuteficos de doenccedilas raras atraveacutes da rede de pesquisa

cliacutenica em doenccedilas raras (Rare Disease Clinical Research Network) Atraveacutes desta iniciativa

grupos de pesquisa especializados em uma doenccedila rara especiacutefica se reuacutenem em uma rede

colaborativa para promover o atendimento regionalizado a pacientes e familiares e viabilizar a

realizaccedilatildeo de pesquisas em alta escala com abrangecircncia nacional Iniciativas similares podem

ser encontradas na Uniatildeo Europeia mas satildeo raras ou inexistentes no Brasil

Aleacutem do financiamento governamental direcionado atraveacutes destas redes especializadas de

pesquisa e atendimento em doenccedilas raras especiacuteficas outra fonte fundamental para a

viabilizaccedilatildeo destas atividades deve vir das associaccedilotildees civis de pacientes e familiares Atraveacutes

de eventos beneficentes atividades de conscientizaccedilatildeo e engajamento da sociedade civil e lobby

poliacutetico as associaccedilotildees de pacientes e familiares tem o poder de captar a atenccedilatildeo da opiniatildeo

puacuteblica e de fontes de fomento tradicionalmente natildeo disponiacuteveis aos centros acadecircmicas no

Brasil como doaccedilotildees de empresas ou individuais Esta obviamente natildeo eacute uma tarefa trivial e

o contato e troca de experiecircncias com associaccedilotildees mais experientes no exterior eacute altamente

recomendaacutevel Exemplos de associaccedilotildees americanas de pacientes e familiares que tecircm sido bem

sucedidas na captaccedilatildeo de recursos e no incentivo a pesquisas em doenccedilas raras neuromusculares

em alta escala incluem a Muscular Dystrophy Association3 e a Charcot-Marie-Tooth

Association5

Em resumo o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras deve se basear na interaccedilatildeo

entre trecircs elementos A relaccedilatildeo entre o governo e os centros acadecircmicos atraveacutes dos editais de

fomento eacute a uacutenica destas interaccedilotildees a ocorrer no Brasil mesmo que de forma insuficiente A

interaccedilatildeo entre as associaccedilotildees de pacientes e familiares e o governo atraveacutes de pressatildeo poliacutetica

e com os centros acadecircmicos atraveacutes da captaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de novos recursos para

pesquisa satildeo duas estrateacutegias subutilizadas no Brasil mas jaacute comeccedilam a gerar importantes

frutos em outros paiacuteses

Na segunda parte deste artigo abordaremos uma nova teacutecnica em biologia celular que

promete revolucionar as pesquisas em doenccedilas raras denominada reprogramaccedilatildeo celular

Como um coacutedigo de software a informaccedilatildeo geneacutetica de uma ceacutelula pode ser editada atraveacutes do

uso de ferramentas de biologia molecular Viacuterus produzidos para carregar informaccedilotildees

geneacuteticas especiacuteficas por exemplo podem realizar esta ediccedilatildeo do coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas

ao infectaacute-las Foi utilizando esta estrateacutegia que o pesquisador japonecircs Shinya Yamanaka

conseguiu ldquoreprogramarrdquo ceacutelulas humanas da pele conhecidas como fibroblastos e fazecirc-las

assumir caracteriacutesticas de ceacutelulas-tronco embrionaacuterias Desde a comunicaccedilatildeo dos resultados de

seu trabalho em 2007 apenas cinco anos se passaram para que Yamanaka fosse reconhecido

com o precircmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2012 A grande revoluccedilatildeo causada pelos

resultados de Yamanaka adveacutem de trecircs caracteriacutesticas das ceacutelulas-tronco reprogramadas Como

ceacutelulas embrionaacuterias estas ceacutelulas podem ser replicadas em laboratoacuterio de forma indefinida

sem sofrer envelhecimento celular Aleacutem disso estas ceacutelulas tambeacutem podem ser transformadas

em todos os tipos celulares presentes em um indiviacuteduo adulto incluindo neurocircnios ceacutelulas do

muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do fiacutegado rim pulmatildeo etc Mas ao contraacuterio das ceacutelulas-tronco

embrionaacuterias as ceacutelulas-tronco reprogramadas podem ser obtidas de indiviacuteduos de qualquer

idade sem a necessidade de destruiccedilatildeo de embriotildees

O verdadeiro trunfo das ceacutelulas reprogramadas que as coloca no topo da piracircmide dos

modelos de estudo em biologia humana atualmente eacute o fato de que elas preservam todas as

caracteriacutesticas geneacuteticas do indiviacuteduo que as originou Desta forma temos agora a possibilidade

de estudar ceacutelulas humanas especiacuteficas de indiviacuteduos acometidos por diferentes doenccedilas

3 MDA ndash mdaorg 4 CMTA ndash wwwcmtausaorg 5 CMTA ndash wwwcmtausaorg

74

mantendo todos os fatores bioloacutegicos associados ao desenvolvimento da doenccedila em questatildeo

Estas caracteriacutesticas das ceacutelulas reprogramadas satildeo de grande importacircncia para o estudo de

doenccedilas raras que satildeo na sua maioria (entre 80 e 90) de origem geneacutetica Outra vantagem da

teacutecnica eacute que podemos estudar tipos celulares antes inacessiacuteveis aos pesquisadores pela

dificuldade em obtecirc-las de pacientes vivos O principal exemplo deste tipo de ceacutelulas satildeo os

neurocircnios componentes do tecido nervoso e presentes no ceacuterebro tronco cerebral e medula

espinhal A retirada de neurocircnios de indiviacuteduos vivos eacute extremamente arriscada natildeo soacute pela

posiccedilatildeo protegida que eles ocupam dentro do cracircnio ou da coluna vertebral mas principalmente

pelo risco de sequelas graves apoacutes sua remoccedilatildeo dos circuitos funcionais a que estatildeo integrados

Neste momento laboratoacuterios do mundo inteiro estatildeo produzindo ceacutelulas-tronco reprogramadas

de indiviacuteduos com diversas doenccedilas raras neuroloacutegicas por exemplo e transformando-as em

neurocircnios para estudar o que haacute de errado nestas ceacutelulas que causa em uacuteltima anaacutelise a doenccedila

do paciente Ainda mais importante estas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para o desenvolvimento

de novos tratamentos

Tomando como exemplo o campo das doenccedilas neuroloacutegicas poucos satildeo os tratamentos

disponiacuteveis no momento que vatildeo aleacutem do controle momentacircneo dos sintomas e ofereccedilam a

chance de cura para os pacientes Isso eacute ainda mais verdade para doenccedilas neurodegenerativas e

neurogeneacuteticas como doenccedila de Charcot-Marie-Tooth Esclerose Lateral Amiotroacutefica (ELA) e

outras formas graves de doenccedilas raras do sistema nervoso O uso da reprogramaccedilatildeo celular para

geraccedilatildeo e estudo de neurocircnios humanos promete modificar este cenaacuterio ao oferecer um modelo

humano para a investigaccedilatildeo em alta escala de tratamentos que atuem nos mecanismos causais

das doenccedilas e natildeo apenas em seus sintomas

A teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular oferece tambeacutem a possibilidade de gerar vaacuterios tipos

celulares de um indiviacuteduo especiacutefico para determinar qual tratamento seraacute mais eficaz ou

ofereceraacute o melhor perfil de seguranccedila para ele Semelhante ao que eacute feito atualmente para

determinar qual o melhor antibioacutetico a ser utilizado para tratar uma infecccedilatildeo quando testa-se

diferentes compostos em culturas de bacteacuteria para identificar qual agente eacute mais eficaz culturas

de neurocircnios poderatildeo ser utilizadas para determinar para um paciente especiacutefico qual

medicaccedilatildeo seraacute mais eficaz para tratar sua doenccedila rara por exemplo Aleacutem disso ceacutelulas

musculares cardiacuteacas derivadas das ceacutelulas-tronco reprogramadas poderatildeo ser utilizadas para

identificar quais destas drogas satildeo seguras ou perigosas de um ponto de vista cardiovascular

Estudos tratando exatamente deste tipo de experimentos vecircm sendo publicados com frequecircncia

na literatura cientiacutefica mundial nos uacuteltimos anos Este uso da reprogramaccedilatildeo celular abre

caminho para um novo paradigma de medicina personalizada particularmente uacutetil no estudo e

tratamento de doenccedilas raras onde o paciente eacute a plataforma de estudo para o desenvolvimento

do seu proacuteprio tratamento

A uacuteltima fronteira a ser alcanccedilada em relaccedilatildeo agraves ceacutelulas reprogramadas eacute o seu uso em

terapia celular Em um futuro natildeo tatildeo distante indiviacuteduos com doenccedilas que levam agrave perda de

tipos celulares especiacuteficos (como eacute o caso de vaacuterias doenccedilas raras degenerativas) poderatildeo ter

ceacutelulas reprogramadas a partir de ceacutelulas da pele ou ateacute mesmo da urina diferenciadas no tipo

celular necessaacuterio e este transplantado no seu organismo Este ano o primeiro estudo cliacutenico

utilizando ceacutelulas derivadas de ceacutelulas reprogramadas recebeu autorizaccedilatildeo do governo japonecircs

para ter iniacutecio Neste estudo pacientes com um tipo de doenccedila da retina chamada degeneraccedilatildeo

macular receberatildeo injeccedilotildees com ceacutelulas derivadas de suas proacuteprias ceacutelulas reprogramadas como

forma de regenerar a retina danificada Seraacute o primeiro de muitos trabalhados aplicando a

teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular no tratamento de doenccedilas humanas

Em resumo avanccedilos na geneacutetica e na biologia celular oferecem um novo paradigma para

a forma de tratar indiviacuteduos direcionando o tratamento natildeo para a doenccedila mas para o paciente

com doenccedila rara

75

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras

Tacircnia Maria Francisca Almeida1 almeidaadvogadaigcombr

Quando me propus falar sobre o tema ldquoA inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas rarasrdquo me

deparei com o fato de que na realidade iria falar sobre ldquoA dificuldade da inclusatildeo juriacutedica de

pessoas com doenccedilas rarasrdquo Isto porque quando se trata de doenccedilas raras temos uma

infinidade de unicidades que transpotildeem o cotidiano o que gera um contra-senso que algueacutem

legisle sobre aquele determinado ponto

Tal fato infelizmente gera a judicialidade tatildeo debatida das doenccedilas raras Apesar de natildeo

ser a soluccedilatildeo ideal pois o ideal seria a existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas que atendessem os

pacientes e seus familiares torna-se a uacutenica soluccedilatildeo para pessoas que necessitam de um

atendimento especial e urgente que muitas das vezes foge do que estaacute previsto na legislaccedilatildeo

E o que fazer quando um paciente por exemplo estaacute em Home Care pelo SUS (o que tambeacutem

geralmente soacute se consegue por liminar) e precisa de uma ldquoventilaccedilatildeo mecacircnica invasivardquo (o

chamado ldquorespiradorrdquo) A pergunta se daacute pelo fato de que o SUS natildeo tem o ldquocoacutedigordquo para tal

item ou seja o ldquorespiradorrdquo natildeo estaacute elencado na lista de aparelhos dispensados pelo SUS E

por este ldquoentraverdquo legal pois a gestatildeo puacuteblica soacute pode agir diante de uma previsibilidade legal

quando o paciente precisa do ldquorespiradorrdquo em casa ele eacute negado E os planos de sauacutede por

conseguinte acompanham a lista do SUS Entatildeo como fazer Particularmente meu filho que

foi diagnosticado com a Siacutendrome de Krabbe aos dois anos e meio apesar de apresentar sinais

desde um mecircs e meio de idade estaacute em Home Care desde que completou um ano de vida Ele

usava um aparelho chamado de bipap que o auxiliava na respiraccedilatildeo por 24 horas Ele fazia

muita apneia e nos uacuteltimos tempos o aparelho bipap natildeo estava segurando as apneias O

fisioterapeuta fez vaacuterios testes e fez um laudo solicitando o ldquorespiradorrdquo Solicitaccedilatildeo feita

ficamos quinze dias aguardando uma posiccedilatildeo do plano que por fim disse natildeo ter o tal coacutedigo

para faturar o ldquorespiradorrdquo O fisioterapeuta fez outro laudo e juntou com mais um laudo meacutedico

sobre a necessidade ldquourgenterdquo de um ldquorespiradorrdquo Mais uma semana aguardando e meu filho

fez uma apneia que quase natildeo conseguimos reverter Ele natildeo se movia mais o oxiacutemetro natildeo lia

os paracircmetros por conta das extremidades dele terem ficado sem perfusatildeo e extremamente

geladas Ou seja vi meu filho praticamente morto Mas ainda natildeo estava previsto por Deus que

aquele seria o dia dele nos deixar e meu filho voltou a respirar depois de muitas manobras com

o ldquoamburdquo e massagens cardiacuteacas Isto aconteceu por volta das 20 horas Passamos a noite inteira

ao lado dele para observar qualquer sinal de uma possiacutevel apneia No dia seguinte pela manhatilde

fui ao Foacuterum da cidade entrei com mais uma liminar Liminar deferida E o ldquorespiradorrdquo estava

na minha casa no final da tarde Como fazer de outro jeito Muitas famiacutelias acabam mantendo

o paciente internado em hospitais por falta de condiccedilotildees legais de manter o paciente em casa

com um ldquorespiradorrdquo mas a conta do Hospital para a Sauacutede Puacuteblica acaba sendo muito maior

que manter o paciente em casa com o ldquorespiradorrdquo Sem falar em outros fatores como o desgaste

do proacuteprio paciente e da famiacutelia em estar longe de casa Economicamente o fato de natildeo

existirem poliacuteticas puacuteblicas em torno do assunto acaba gerando gastos desnecessaacuterios ao

governo e encarecendo o tratamento do paciente

1 Tacircnia Almeida eacute advogada e matildee de Samuel diagnosticado com Siacutendrome de Krabbe

76

Muitas pessoas criticam a judicializaccedilatildeo das doenccedilas raras pois defendem que gera um

custo para o Estado em razatildeo de multas por liminares natildeo cumpridas a tempo para atender a

uma uacutenica pessoa ao passo de que aquela verba poderia estar sendo destinada ao tratamento da

coletividade O problema eacute que para as doenccedilas raras natildeo existe coletividade Muitas vezes o

paciente eacute uacutenico mas dentro das unicidades formam uma populaccedilatildeo jaacute bastante expressiva na

sociedade Se os governantes natildeo acordarem para tal fato vai sim gerar um deacuteficit difiacutecil de

fechar no final do mecircs uma vez que as accedilotildees judiciais vatildeo crescer e talvez esta seja uma das

formas de fazer com que nossos governantes ldquoacordemrdquo para o assunto e comecem a pensar em

soluccedilotildees na esfera legislativa e executiva para que se diminua a resoluccedilatildeo destes problemas na

esfera judicial

Para um melhor entendimento do problema para aqueles que natildeo convivem com uma

doenccedila rara vou expor outros exemplos veriacutedicos

Para o paciente que estaacute em Home Care e necessita de aparelhos ligados por 24 horas na

residecircncia como o ldquorespiradorrdquo oximetro concentrador de ar bomba de infusatildeo aspirador

etc imagine quanto deve ser a conta de energia eleacutetrica desta famiacutelia Um concentrador de ar

por exemplo gasta o mesmo que um ar condicionado e o concentrador de ar que eacute o que

fornece oxigecircnio para o paciente tem que ficar ligado por 24 horas Diante de tal fato a famiacutelia

que antes tinha uma conta de energia eleacutetrica de em meacutedia R$ 15000 (cento e cinquumlenta

reais)mecircs passou a ter uma conta em torno de R$ 160000 (um mil e seiscentos reais)mecircs E

o que fazer quando a renda da famiacutelia natildeo comporta tal gasto Natildeo tem como economizar

energia neste caso porque a famiacutelia natildeo tem como deixar o concentrador de ar ou o ldquorespiradorrdquo

ligado apenas algumas horas por dia Em um caso concreto desta situaccedilatildeo a famiacutelia se dirigiu

ateacute a empresa fornecedora de energia eleacutetrica Light e explicou o problema levou laudos e a

relaccedilatildeo de equipamentos que a crianccedila fazia uso A Companhia de energia eleacutetrica disse que

existe a ldquotarifa socialrdquo onde se pagaria apenas uma taxa Mas para ter direito a ldquotarifa socialrdquo eacute

necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita em algum programa do governo como o bolsa famiacutelia

ou estar recebendo o LOAS pelo INSS Para quem natildeo tem conhecimento a respeito para fazer

parte do bolsa famiacutelia a famiacutelia tem que ser muito pobre e para ter direito ao LOAS a famiacutelia

soacute pode ter renda de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo ou seja a famiacutelia tem que ser extremamente

pobre estar sobrevivendo com menos de frac14 do salaacuterio miacutenimo por mecircs A famiacutelia em questatildeo

recebia um pouco mais de trecircs salaacuterios miacutenimos por mecircs juntando todas as rendas e portanto

natildeo tinha direito a ldquotarifa socialrdquo Soluccedilatildeo dada pela empresa fornecedora de energia eleacutetrica

nenhuma Soluccedilatildeo dada pela famiacutelia que natildeo podia pagar a conta mas tambeacutem natildeo podia ficar

sem luz pois o filho depende de aparelhos para manter-se vivo entrou com liminar para que a

Light natildeo deixasse de fornecer energia eleacutetrica agrave residecircncia em razatildeo de existir pessoa

dependente de aparelhos que satildeo ligados agrave energia eleacutetrica Liminar deferida A conta chega a

famiacutelia paga quando tem condiccedilotildees de pagar porque vem bastante alta e as inadimplecircncias

fazem com que o nome do titular da conta vaacute para o SPCSerasa (que eacute um cadastro de maus

pagadores) mas o filho estaacute coberto pela liminar em razatildeo do direito a vida se sobrepor a

qualquer pagamento de conta

Tal caso nos faz remeter a um dos princiacutepios do Direito que eacute o principio da igualdade

Este principio tem como pilar a afirmaccedilatildeo para se ter igualdade eacute preciso tratar os desiguais

como desiguais e os iguais como iguais Para quem natildeo trabalha ou natildeo tem qualquer vinculo

com o Direito tal frase soa bastante estranha mas basta entender a essecircncia da coisa natildeo tem

como tratar a exceccedilatildeo dentro da formalidade das leis existentes para a sociedade em geral Neste

caso da energia eleacutetrica existe uma exceccedilatildeo para esta famiacutelia Ela natildeo gasta luz porque quer

Ela gasta a luz por necessidade de manter vivo um filho Eacute justa impor para essa famiacutelia a lei

usada para a populaccedilatildeo em geral referente a ldquotarifa socialrdquo E isto eacute soacute um exemplo Percebo

que natildeo haacute como criar leis especiacuteficas para cada exceccedilatildeo relacionada com doenccedilas raras

77

Para que entendam melhor um exemplo de como a lei trata uma exceccedilatildeo especiacutefica eacute o

caso do Coacutedigo de Defesa do Consumidor A lei geral (Coacutedigo de Processo Civil) diz que quem

alega o fato eacute que deve provar ou seja o ocircnus da prova eacute de quem alega No Coacutedigo de Defesa

do Consumidor onde tem o escopo de proteger o consumidor de poliacuteticas desleais em razatildeo

da magnitude e poderio econocircmico das empresas existe a inversatildeo do ocircnus da prova em que o

consumidor alega o fato ocorrido e a empresa eacute quem tem que fazer a prova em contraacuterio se tal

fato natildeo for verdadeiro Neste caso estamos tratando os desiguais como desiguais pois natildeo haacute

como colocar o consumidor e as empresas no mesmo patamar de Direito pois as empresas

sempre sairiam vencedoras

Infelizmente quando falamos em doenccedilas raras ainda natildeo temos qualquer proteccedilatildeo para

tratar as exceccedilotildees que satildeo ldquojogadasrdquo na lei geral e que natildeo atendem as necessidades dos

pacientes e de suas famiacutelias

Outro exemplo bem gritante eacute o caso ocorrido com a ANVISA (Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria) No Estado do Rio de Janeiro existe uma crianccedila com uma doenccedila rara

que depende de um determinado medicamento Existia um laboratoacuterio que fornecia o

medicamento para o governo Ocorre que por se tratar de um ldquomedicamento oacuterfatildeordquo ou seja

aquele que por atender uma populaccedilatildeo miacutenima quando natildeo apenas um paciente na localidade

passa a ser inviaacutevel economicamente para o laboratoacuterio e o laboratoacuterio deixou de fornececirc-lo

A matildee desesperada comeccedilou a buscar ajuda em vaacuterios poacutelos pois o medicamento poderia ateacute

ser importado mas levaria dias para chegar ao Estado em decorrecircncia dos entraves legais pelo

caminho Diante da situaccedilatildeo da crianccedila e os apelos desesperados da matildee outro laboratoacuterio

conhecendo a foacutermula do medicamento se propocircs a fabricaacute-lo e entregaacute-lo agrave famiacutelia ateacute que se

resolvesse de fato os entraves juriacutedicos referentes ao medicamento do exterior Ao tomar

ciecircncia de tal fato a ANVISA multou o laboratoacuterio porque ele natildeo tinha a ldquolicenccedilardquo para

fabricar o medicamento Ou seja sabemos que qualquer laboratoacuterio tem que ter a licenccedila para

fabricar qualquer que seja a foacutermula mas no caso em questatildeo tratava-se da vida de uma crianccedila

que tinha o avanccedilo de uma doenccedila fatal caso ficasse sem o medicamento Legalmente este

laboratoacuterio agiu indevidamente mas como a pessoa que existe por traacutes de um nome em um

CNPJ ela agiu com humanidade Seraacute que se fosse o filho do responsaacutevel pela ANVISA o

laboratoacuterio seria multado Se fosse o filho do Presidente da Repuacuteblica teriam multado o

laboratoacuterio Duvido O laboratoacuterio quase foi fechado e continuou recebendo multas mas natildeo

deixou de fornecer o medicamento para a crianccedila enquanto natildeo se resolveu o problema

Hoje pela falta de Poliacuteticas Publicas que atendam a esta populaccedilatildeo rara o que vemos satildeo

os familiares ou os proacuteprios doentes tendo que buscar soluccedilotildees agraves vezes natildeo solucionaacuteveis

legalmente para atenderem as suas necessidades e agraves de seus entes queridos Com isso

constatamos a criaccedilatildeo de diversas Associaccedilotildees que visam buscar ajuda muacutetua para diversas

necessidades Estas pessoas tentam se associar para que de alguma forma natildeo lutem sozinhas

diante a falta de tudo que se possa imaginar quando se fala de doenccedilas raras falta de

informaccedilatildeo falta de estrutura emocional e financeira falta de meacutedicos que saibam diagnosticar

falta de tratamento devido falta de exames especiacuteficos etc O que notamos eacute que o apoio

emocional encontrado em todas as associaccedilotildees eacute muito importante mas o apoio estrutural fica

difiacutecil de se conseguir senatildeo por vias judiciais

Isto resulta na triste realidade de hospitais que ldquotecircmrdquo que ldquoabrigarrdquo vaacuterios pacientes com

doenccedilas raras simplesmente abandonados pela famiacutelia pelo fato de as mesmas natildeo terem

qualquer estrutura seja emocional ou financeira ou de ambos de abrigar este paciente em casa

Quando crianccedilas geralmente natildeo possuem nem a oportunidade de serem adotadas porque

necessitam de cuidados permanentes e acabam ldquovivendordquo num hospital A falta de informaccedilatildeo

o medo do desconhecido e a total falta de apoio por parte do governo leva a atitudes de

abandono Essa realidade poderia ser minimizada se existisse um miacutenimo de direcionamento e

apoio

78

Quando defendo a criaccedilatildeo de uma secretaria ou oacutergatildeo (ou qualquer nome que queiram

chamar) dentro no Ministeacuterio da Sauacutede que seja voltado exclusivamente para o aspecto das

doenccedilas raras eacute justamente pelo fato de precisarmos de um oacutergatildeo que tenha um norte e seja um

ldquofarolrdquo que direcione os pacientes e as famiacutelias para soluccedilotildees concretas e corretas Hoje quando

uma crianccedila chega com sinais de maus tratos num hospital os meacutedicos satildeo obrigados por lei a

avisar a policia Quando um paciente chega com Dengue ou com tuberculose os meacutedicos tem

que avisar o oacutergatildeo da sauacutede para que exista um controle de tais doenccedilas Isto eacute importante para

se detectar onde existe o problema e criar estudos para resolver a questatildeo de determinada

populaccedilatildeo Com as doenccedilas raras temos que ter este ldquofarolrdquo para que se comecem a criar

estatiacutesticas das diversas siacutendromes que acometem nossa populaccedilatildeo e se possa estudar a melhor

forma de atender os pacientes e familiares Como pensar em poliacutetica puacuteblica se natildeo se sabe nem

a qual ou a quanto da populaccedilatildeo se vai chegar

Outro problema que existe dentro das famiacutelias com algum paciente de doenccedilas raras eacute o

fato que na maioria das vezes algueacutem ter que parar de trabalhar para cuidar do paciente ou

para administrar a rotina que se altera quando se tem um familiar com doenccedila rara No meu

caso por exemplo tenho um filho com doenccedila rara que eacute dependente de ldquorespiradorrdquo e de

oxigecircnio Ele tem enfermagem por 24 horas Meu filho natildeo se move natildeo chora natildeo ri tem

gastrostomia traqueostomia uma vaacutelvula DVP e ainda faz apneia A enfermagem de Home

Care hoje em dia infelizmente ainda deixa muito a desejar quanto ao treinamento de teacutecnicos

de enfermagem para trabalhar com paciente grave Quando chega alguma teacutecnica de

enfermagem nova para ficar no plantatildeo eu natildeo tenho como sair de casa para trabalhar E

quando estou no trabalho e a teacutecnica me liga dizendo ldquoEstaacute com falta de energia eleacutetricardquo eu

largo o trabalho e saio correndo para casa porque tenho que monitorar as baterias dos aparelhos

e manobrar outros que natildeo tecircm bateria para o ldquono breakrdquo Fora quando a teacutecnica liga dizendo

que os batimentos cardiacuteacos estatildeo baixos ou a saturaccedilatildeo estaacute caindo muito Eu largo tudo e saio

correndo para casa Sem contar com as inuacutemeras vezes que ele eacute internado para fazer algum

tipo de procedimento (troca de vaacutelvula colocaccedilatildeo de cateter infecccedilotildees que pega etc) A

ldquosorterdquo eacute que eu trabalho numa empresa puacuteblica e tenho chefes diretos muito compreensivos

com a situaccedilatildeo Se eu estivesse numa empresa privada eu jaacute teria sido mandada embora haacute

muito tempo Eu preciso do emprego pois dele vem o plano de sauacutede do meu filho mas natildeo

sei por quanto tempo ainda seraacute possiacutevel administrar tal situaccedilatildeo Quando o filho de uma pessoa

que tem sua rotina normal tem uma febre geralmente esta pessoa fica em casa e tem um atestado

de acompanhamento para levar o filho ao meacutedico ou ateacute acompanhaacute-lo por alguns dias uma

vez ou outra pois ningueacutem com filho doente tem cabeccedila para ir trabalhar despreocupadamente

O que eu que tenho um filho que necessita de cuidado extremos por vinte e quatro horas faccedilo

Daacute para imaginar como saio de casa para trabalhar Aleacutem de que a rotina da casa muda

completamente Se antes meus outros filhos iam para a escola eu ia trabalhar e no final do dia

todos nos encontravaacutemos novamente Hoje eu preciso administrar as condiccedilotildees para um

teacutecnico de enfermagem ficar na minha casa ininterruptamente ter o atendimento do

fisioterapeuta duas vezes ao dia a fonoaudioacuteloga trecircs vezes por semana a nutricionista o

atendimento semanal da meacutedica e do enfermeiro recebimento de material semanalmente

recebimento de dieta e outras tarefas esporaacutedicas Aleacutem eacute claro de prestar atenccedilatildeo nos sinais

do meu filho pois a meacutedica soacute vem vecirc-lo uma vez por semana e neste meio tempo ele pode ter

febre pode ficar mais secretivo que o normal entre outras coisas Tenho que estar em contato

constante com a meacutedica para tomar as providecircncias necessaacuterias mesmo antes da proacutexima visita

dela e ainda preciso sair de casa para trabalhar Eacute um tanto complicado

Tenho outros exemplos como a de uma famiacutelia que conheci no Hospital na qual a esposa

era funcionaacuteria puacuteblica e o marido trabalhava em uma empresa privada Apesar do salaacuterio do

marido ser maior que o da esposa a famiacutelia ldquooptourdquo pela saiacuteda do marido do emprego para

cuidar da filha acometida por uma doenccedila rara porque a esposa mesmo ganhando menos tinha

79

estabilidade no emprego ao passo que o marido na empresa privada natildeo tinha qualquer

estabilidade Eacute justo que este encargo de ldquoescolhardquo fique somente nas costas das famiacutelias que

jaacute estatildeo tatildeo fragilizadas com a proacutepria doenccedila Sem contar quando um dos pais (geralmente o

pai) natildeo aguenta ou natildeo aceita a nova realidade e simplesmente deixa o outro sozinho E este

geralmente precisa largar o seu emprego para cuidar do filho doente mas de contra partida

precisa manter o lar e daiacute passa a fazer serviccedilos como bolos salgados e doces caseiros para

vender para a famiacutelia e amigos Chega a ser desumano o indiviacuteduo ldquoarcarrdquo sozinho com este

encargo que faz com muito amor mas sob muito sofrimento e privaccedilatildeo

Existem vaacuterios projetos de lei no Congresso que tratam do que chamamos de ldquoauxiacutelio

acompanhamentordquo Mas esses projetos sempre esbarram em inconstitucionalidades pois geram

despesas para a empresa ou para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para manter

o trabalhador em casa como acompanhante

Quando bato na tecla sobre a importacircncia da existecircncia de uma secretaria voltada para

doenccedilas raras eacute porque teriacuteamos condiccedilotildees de criar comissotildees para estudar tais casos e buscar

soluccedilotildees para estas famiacutelias Apesar de termos boa vontade de alguns parlamentares nota-se

que muitas vezes os mesmos natildeo tecircm conhecimento de campo das necessidades reais das

pessoas com doenccedilas raras A Portaria 9712012 do Ministeacuterio da Sauacutede que trata do programa

ldquoFarmaacutecia Popularrdquo eacute um exemplo disso Uma famiacutelia buscou a liberaccedilatildeo de fraldas

descartaacuteveis pelo Programa ldquoFarmaacutecia Popularrdquo para o filho de quatro anos que eacute acamado

deixou de usar fraldas pediaacutetricas e iniciou o uso de fraldas geriaacutetricas que satildeo muito mais

caras A famiacutelia precisou juntar laudos meacutedicos e tirar o CPF da crianccedila Passou em trecircs

farmaacutecias que participavam do programa e em nenhuma delas conseguiu a liberaccedilatildeo das fraldas

pelo sistema Foi indicado que ligassem para o Ministeacuterio da Sauacutede e depois de muitas ligaccedilotildees

a famiacutelia descobriu que existe o artigo 26 da portaria em seu paraacutegrafo II que cita ldquopara a

dispensaccedilatildeo de fraldas geriaacutetricas para incontinecircncia o paciente deveraacute ter idade igual ou

superior a 60 (sessenta) anosrdquo Pergunta-se seraacute que ao fazerem tal portaria ningueacutem

ldquolembrourdquo que existem crianccedilas adolescentes e ateacute jovens adultos que necessitam de usar

fraldas Isto somente acontece porque as pessoas natildeo ldquovivemrdquo o cotidiano da doenccedila rara

Analisando todos os pontos envolvidos chego agrave conclusatildeo que natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro quando se trata de doenccedila rara Eacute necessaacuterio que se tenha um olhar

mais focado nas especificidades que acometem diretamente a famiacutelia Para construir o

conhecimento sobre essa realidade eacute preciso que as instituiccedilotildees estejam interligadas e tenham

um ponto de referecircncia para direcionar e amparar corretamente o paciente e sua famiacutelia a niacutevel

nacional ou internacional

80

Transcriccedilatildeo da mesa de abertura e comunicaccedilotildees do I CIADR

81

Mesa de abertura

Rogeacuterio Lima1 ndash Bom dia

Primeiro quero agradecer a presenccedila de todos Esse evento existe pelo menos em

pensamento haacute dois anos Percebemos que poderia tomar corpo e ser real se noacutes

participaacutessemos de um movimento de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo E hoje eacute o resultado desse

movimento O movimento eacute dentro da academia desde o comeccedilo noacutes queriacuteamos trazer a

conversa e o diaacutelogo para a academia Natildeo faltou convite para levarmos esse evento para o

Congresso para a CLDF Por opccedilatildeo noacutes procuramos e estamos hoje na Uniplan agradeccedilo

imensamente ao Professor Sadi que foi o primeiro que me estendeu a matildeo e socorro Ofereceu

muito abertamente o Instituto de Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia e quando

chegou ao nuacutemero de 600 inscriccedilotildees foi quando eu comecei a ficar um pouco ansioso E olha

que eu sou o pessimista de todo mundo que estaacute organizando E entatildeo precisaacutevamos correr

para um outro lugar Meus agradecimentos ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

junto com a Uniplan estatildeo oferecendo esse espaccedilo para noacutes

Hoje eacute um dia de muito agradecimento Agradeccedilo a todas as pessoas agradeccedilo a presenccedila

de vocecircs E eu vim pensando que hoje eacute um dia bem marcante Vieram pessoas todas as pessoas

aqui deixaram as suas casas os pacientes que estatildeo aqui as associaccedilotildees de pacientes e

principalmente os alunos que estatildeo aqui hoje Esse evento eacute para sensibilizaacute-los e eu natildeo sei se

a loucura estaacute em noacutes em acreditar que poderia ser feito um evento desse tamanho ou se o

louco eacute quem vecirc as informaccedilotildees que noacutes passaacutemos sobre a realidade que existe e natildeo faz nada

A AMAVI nunca foi soacute eu e muito menos o movimento que hoje faz parte E eu queria

agradecer imensamente toda a diretoria da AMAVI que estaacute aqui hojeSoacute o Warley natildeo

conseguiu estar presente porque tem que cumprir com sua vida laboral Mas a Lauda que eacute

nossa diretora A Flaacutevia nossa assessora de imprensa Entatildeo satildeo essas pessoas que realmente

estatildeo connosco E dentro disso hoje o formato vai ser este Eacute um formato aberto para

incentivar principalmente o diaacutelogo Sempre vai ter espaccedilo para as Associaccedilotildees poderem se

manifestar E por fim eu tambeacutem agradeccedilo a Interfarma e o Ministeacuterio da Sauacutede Agradeccedilo a

todas as pessoas que nos ajudam porque em nome da Interfarma agradecemos a todos os outros

que nos apoiam financeiramente E agradeccedilo muito o Fogolin de estar aqui hoje Acho que

estamos fazendo histoacuteria E seguramente este evento natildeo eacute comum no mundo E ele estaacute sendo

transmitido pela internet Agradeccedilo realmente a todo mundo E nos meus quinze minutos finais

eu gostaria de agradecer muito fortemente aquela pessoa que tem meus quinze minutos e

quando eu penso nela eu penso muito naquele jeito brasiliense de ser que eacute um jeito simples e

um jeito focado no trabalho A gente trabalha a gente fala de vez em quando mas a gente

trabalha Agradeccedilo ao Miguel Miguel vocecirc eacute doutor por John Hopkins e estaacute connosco fazendo

um cerimonial desde sempre Suas orientaccedilotildees sempre foram importantes Muito obrigado

Sadi Del Roso2 ndash Bom dia senhoras e senhores participantes do primeiro encontro sobre

Doenccedilas Raras

Tenho a satisfaccedilatildeo de saudar os participantes desse congresso em nome do Instituto de

Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia Represento a Universidade que eacute por excelecircncia

o local da pesquisa por outro lado a pesquisa eacute absolutamente fundamental para o

conhecimento a respeito de doenccedilas raras Sabe-se que o impulso da pesquisa ocorre entre

1 Presidente da AMAVI e doutorando em Sociologia na Universidade de Coimbra ndash Portugal 2 Professor Titular de Sociologia da Universidade de Brasiacutelia

82

outras razotildees pela pressatildeo social Embora a AIDS natildeo faccedila parte do rol de doenccedilas raras o

movimento Gay e movimentos similares ligados agrave liberdade de escolha sexual realizaram uma

pressatildeo fantaacutestica para a destinaccedilatildeo de verbas para a pesquisa que tem como objeto o controle

da AIDS assim como doutras doenccedilas Participo neste Primeiro Congresso representando o

Instituto de Ciecircncias Sociais Para as Ciecircncias Sociais a dor a doenccedila o sofrimento pessoal e

coletivo satildeo objetos de inegada relevacircncia e pertinecircncia social Noacutes todos que estudamos classes

sociais lutas de classes relaccedilotildees poliacuteticas relaccedilotildees intereacutetnicas trabalho cultura

desenvolvimento econocircmico e problemas sociais semelhantes ficamos abalados ficamos

prostrados de joelhos e ficamos calados impotentes perante as manifestaccedilotildees da dor Perante a

doenccedila perante o sofrimento e ainda mais perante a morte Esses fenocircmenos todos satildeo

fenocircmenos que tecircm a ver com a natureza humana e com a cultura das sociedades e representam

possibilidades de agregaccedilatildeo das pessoas nos grupos sociais Neste sentido as Ciecircncias Sociais

tambeacutem podem contribuir explicitando o sentido da organizaccedilatildeo e dos movimentos sociais na

construccedilatildeo das sociedades democraacuteticas Ao falar de movimentos sociais somos levados aos

grandes movimentos poliacuteticos As Jornadas de junho e julho de 2013 a Primavera Aacuterabe ao

movimento dos jovens rebeldes nos Estados Unidos com o Oculpy Wall Streat aos movimentos

de jovens nos paiacuteses europeus Portugal Espanha Greacutecia e Itaacutelia e outros Tambeacutem podemos

pensar como movimento sociais congregaccedilotildees de pessoas em torno a determinadas causas

entre as quais as doenccedilas raras Gostaria de enfatizar a importacircncia das atividades voluntaacuterias

da participaccedilatildeo espontacircnea ainda que organizadas em movimentos e associaccedilotildees Isto pensando

menos na estrutura e o que eacute mais importante na ideia organizativa As boas causas das doenccedilas

raras despendem destas atitudes coletivas Por uacuteltimo quero confessar que o motivo maior de

minha presenccedila aqui neste primeiro congresso natildeo foi tanto o fato de ser pesquisador em

Ciecircncias Sociais mas um fato muito mais proacuteximo muito mais carne e muito mais sangue

Maria Emiacutelia minha sobrinha de quinze anos eacute portadora de Down e eacute pra ela que eu dedico

essa participaccedilatildeo Maria Emiacutelia este congresso eacute para vocecirc Obrigado

Maria Joseacute Delgado3 ndash Bom dia a todos e a todas

Eu gostaria de agradecer ao Rogeacuterio a oportunidade de estar aqui conversando com vocecircs

e contando um pouco do que eacute a Interfarma que eacute a Associaccedilatildeo das Induacutestrias de Pesquisas e

ela com certeza tem na sua missatildeo a tarefa de fazer o que eacute de produzir o que tem de melhor

de medicamentos mas tambeacutem de compor com aqueles que representam a necessidade do

paciente de compor com o governo de compor com todos os atores que tratam desse tema no

paiacutes As melhores oportunidades e as melhores soluccedilotildees para que o Brasil possa entregar a sua

populaccedilatildeo entregar especialmente a esta populaccedilatildeo de pessoas com doenccedilas raras o que ele

tem de melhor dentro da assistecircncia meacutedica como da assistecircncia farmacecircutica eacute a Interfarma

contribuindo com o SUS Induacutestrias entregando tambeacutem o que tem de melhor que satildeo os

medicamentos Dentro da nossa tarefa na Interfarma eu coordeno alguns trabalhos e dentro

desses o de doenccedilas raras O grupo de doenccedilas raras estaacute sob a minha coordenaccedilatildeo na

Interfarma Entatildeo ao longo desses uacuteltimos anos estamos nos dedicando fortemente ao tema

Temos vaacuterias iniciativas e dentre elas eu acho que os senhores devem ter recebido fizemos

um estudo global para entender como que o mundo trata isso e como seriam as melhores

soluccedilotildees para aplicarmos no Brasil Noacutes trouxemos alguns exemplares estatildeo disponiacuteveis

espero que vocecircs tenham a oportunidade de ler Esse talvez foi o produto que qualificou muito

mais aquilo que noacutes gostariacuteamos de discutir sobre doenccedilas raras e a partir dele noacutes estamos

desdobrando outras accedilotildees ao longo de alguns anos E entre elas estar presente junto sempre

em atividades como este evento Com certeza seraacute um divisor de aacuteguas naquilo que a gente

acha que eacute importante que eacute o paciente o paciente bem assistido um paciente que encontre

3 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

83

respostas que encontre acolhimento e que possa se sentir protegido por aqueles que tecircm a

obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo E eacute neste sentido que eu agradeccedilo ao Rogeacuterio a oportunidade de estar

aqui E principalmente de olhar para cada um de vocecircs e dizer do nosso compromisso Muito

obrigada e bom dia e acho que na sequecircncia a gente conversa mais um pouco Obrigada

Leonardo Batista4 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Leonardo estou na coordenaccedilatildeo de enfermagem juntamente com a Professora

Marisa e exercendo o papel social do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal

representando o magniacutefico reitor Yugo Okida e nosso diretor geral Geraldo Magela eacute que eu

agradeccedilo a presenccedila de cada um de vocecircs na mudanccedila da histoacuteria de poliacuteticas de doenccedilas raras

no Brasil Todos noacutes definimos como raridade aquilo que eacute uacutenico ou de que existem poucos

exemplares no mundo Mas se noacutes pensarmos bem noacutes somos bilhotildees de habitantes no mundo

mas ningueacutem tem a digital igual agrave outra A nossa iacuteris tambeacutem eacute diferenciada Entatildeo quer dizer

pessoal que todos noacutes somos raros Entatildeo ser raro eacute igual e natildeo diferente Agradeccedilo a todos

vocecircs imensamente a colaboraccedilatildeo neste evento e espero que todos participem muito E saibam

que a partir de hoje raridade eacute algo comum entre noacutes Muito obrigado

Marisa Carvalho5 ndash Bom dia a todos

Eu quero recebecirc-los com muita alegria aqui em nome do curso de enfermagem da Uniplan

e para natildeo ficar soacute nas minhas palavras eu gostaria de mostrar algumas imagens que eu

preparei Como o Professor bem colocou a homenagem agrave sobrinha dele eu quero fazer uma

homenagem agrave minha filha tambeacutem O nome da minha filha era Baacuterbara ela faleceu tem trecircs

anos com vinte anos portadora da Siacutendrome Prader Willi E aiacute eu soacute queria compartilhar

alguma coisa porque quando a gente fala em doenccedilas raras acontece uma outra coisa tambeacutem

raro eacute o conhecimento que se tem adequado para tratar para se lidar Natildeo soacute com o paciente

mas com a famiacutelia em si Sobre Prader Willi eu tenho um pouco de conhecimento mas

sobretudo muita vivecircncia Entatildeo eacute uma doenccedila cromossocircmica ela atinge o cromossomo quinze

e em decorrecircncia dessa alteraccedilatildeo alguns sinais satildeo evidenciados como peacutes e matildeos pequenos

e a crianccedila desenvolve uma obesidade moacuterbida O metabolismo dela eacute diminuiacutedo e haacute uma

hiperfagia ou seja ela come muito O hipotaacutelamo o centro da fome natildeo funciona como se vecirc

na maioria das pessoas entatildeo ela sente fome o tempo todo E como o metabolismo eacute

diminuiacutedo ela desenvolve obesidade moacuterbida Uma hipotonia ela natildeo sabia sugar a

mamadeira Minha filha natildeo soube o que eacute sugar um peito por causa Se eu me emocionar

vocecircs descontam um pouquinhohellip Entatildeo as dificuldades que noacutes passaacutemos inicialmente foi

por desconhecimento Soacute que a vivecircncia e o amor foram assim decisivos para que uma

vivecircncia uma vida a qualidade de vida fosse estabelecida Entatildeo a dificuldade de

aprendizagem e fala a instabilidade emocional a alteraccedilatildeo hormonal a baixa estatura as matildeos

e peacutes pequenos a pele eacute mais clara satildeo alguns sinais que depois eu vou disponibilizar mas eacute

tudo isso que os livros trazem Falam sobre a Prader Willi mas o que eacute que os livros natildeo falam

Eacute o que a vivecircncia nos ensina Se a gente vecirc essa figura aqui o que nos reporta essa imagem

O que nos achamos que eacute Coca-Cola neacute Esse eacute o grande problema os roacutetulos que noacutes

colocamos O grande problema das famiacutelias que tecircm crianccedilas com doenccedilas raras e das proacuteprias

crianccedilas satildeo os roacutetulos que a sociedade coloca As pessoas olham de fora e pensam

ldquoCoitadosrdquo As pessoas olham de fora e pensam ldquoNatildeo tem perspectiva de vidardquo E natildeo eacute

assim natildeo deve ser assim E com isso vecircm os preconceitos Acham que as pessoas satildeo infelizes

4 Coordenador do Curso de Enfermagem e representante do Reitor do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash

UNIPLAN 5 Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash UNIPLAN

84

ou que podem ter menos qualidade de vida por apresentar uma diferenccedila Eacute como o Professor

bem colocou o Professor Leonardo quem de noacutes eacute igual ao outro Entatildeo a falta de

conhecimento que a gente que eu observei particularmente nos profissionais de sauacutede na

eacutepoca que a Baacuterbara nasceu foi muito grande Foi uma dificuldade muito grande que eu

enfrentei Porque como natildeo conseguia amamentar os profissionais de sauacutede as pessoas que eu

conhecia achavam que eu natildeo queria amamentar por uma questatildeo esteacutetica e a coisa que eu mais

queria era amamentar a minha filha mas ela natildeo conseguia sugar O fato de ela natildeo exercitar o

maxilar implicou que a fala dela foi diferenciada Tudo isso contribuiu para que somente depois

de as pessoas conhecerem ela percebiam o que era ter uma crianccedila especial E ela falava assim

ldquoMamatildee eu sou especialrdquo E eu falava ldquoMinha filha vocecirc eacute muito especialrdquo Deus nos

capacitou para gerar outras vidas entatildeo natildeo devemos tratar os filhos pelo que seus corpos

apresentam mas pelo que eles essencialmente satildeo filhos E eacute assim que o portador de doenccedila

rara e sua famiacutelia querem ser tratados como pessoas que tecircm direitos que tecircm desejos que

tecircm sonhos e que querem ir adiante Aqui estaacute a Baacuterbara com um aninho toda charmosa

Aqui ela jaacute brincava com a mamadeira porque sugar mesmo ela natildeo conseguia sugar era

tudo na colherzinha Aqui ela eacute aquela de oacuteculos laacute em cima Estaacute no meio das primas e das

irmatildes

Eu lembro que quando eu engravidei da Baacuterbara uma professora minha da faculdade falou

ldquoVocecirc eacute louca Vocecirc jaacute teve uma filha sindrocircmica e vocecirc vai ter mais filhosrdquo E eu falei

Professora se eu tiver todos os filhos sindrocircmicos eles vatildeo ser amados do mesmo jeitordquo

Aqui ela mexendo no computador Tinha o computador dela

85

Aqui por volta de seis ou sete anos

E depois a beleza de uma vida estaacute no modo como ela eacute vivida aqui fazendo pose para

foto Aqui com as duas outras irmatildes fazendo careta e fazendo careta para o mau humor

fazendo careta para o preconceito fazendo careta para a falta de conhecimento para a falta de

perspectiva para a vida eacute para isso que elas fazem careta

Eudeixo esta mensagem para vocecircs Todos noacutes almejamos grandes vitoacuterias todavia Deus

nos ensina atraveacutes de seus anjos que as verdadeiras vitoacuterias satildeo os desafios diaacuterios que se

apresentam diante de noacutes e nos ensinam o que eacute ser feliz para que ao final do dia possamos ser

gratos e saber que somos vitoriosos Sabe o que eacute a vitoacuteria diaacuteria Eacute todo dia de manhatilde quando

amanhece vocecirc olhar no berccedilo para ver se o seu bebecirc se movimentou Essa era a minha vitoacuteria

diaacuteria porque do jeito que eu colocava a Baacuterbara para dormir ela amanhecia o dia que ela

amanhecia de lado era uma alegria Que bom ela estaacute reagindo E aiacute eu deixo aqui a foto da

minha Baacuterbara como uma grande vitoriosa que me ensinou muito E eu espero que esse

congresso porque hoje eacute um marco na vida de muitas pessoas natildeo soacute em termos de

aprendizagem mas em termos de vivecircncia de palavras que seratildeo ditas Que se abra o

conhecimento que se abra o entendimento o coraccedilatildeo Para a gente saber tratar bem de quem

merece todo o nosso respeito Obrigada a vocecircs

86

Joseacute Eduardo Fogolin6 ndash Bom dia a todos bom dia a todas Em especial bom dia e um

grande abraccedilo ao Rogeacuterio Lima um grande parceiro que durante esses dois anos eu tive uma

oportunidade o grande prazer de aproximar cada vez mais Natildeo apenas um grande conhecedor

sobre aquilo que a gente vem discutindo mas uma pessoa que dentro das nossas pequenas

diferenccedilas mas dentro da nossa construccedilatildeo com quem mais aprendi natildeo apenas como membro

e gestor do Ministeacuterio da Sauacutede mas como pessoa

Agradeccedilo tambeacutem agrave Dra Siacutelvia representando a Universidade de Coimbra agrave Dra Maria

Joseacute da Interfarma e em especial ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

representam a Uniplan

Queria deixar um abraccedilo aos meus companheiros do grupo teacutecnico que a gente vem

trabalhando em especial ao Professor Marcos Aguiar a todos os demais em nome deles

represento todos os meus colegas Pois bem eu vejo hoje aqui Rogeacuterio essa plateia e esse

plenaacuterio repleto de pessoas repleto de representantes tanto do berccedilo acadecircmico como

representantes de toda a sociedade E a cada ano que a gente vem acompanhando e discutindo

cada vez mais a atenccedilatildeo a famiacutelias e a pessoas com doenccedilas raras a gente percebe que cada vez

que a gente participa dos eventos a gente vecirc uma participaccedilatildeo cada vez mais expressiva e este

eacute o grande fundamento

Durante todo este periacuteodo e dada a oportunidade que noacutes tivemos para nos debruccedilarmos

cada vez mais em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo e agrave avaliaccedilatildeo do quanto natildeo somente o Sistema Uacutenico de

Sauacutede mas todos os sistemas de sauacutede natildeo apenas no Brasil mas no Mundo haacute uma diacutevida

eterna em relaccedilatildeo ao cuidado e ao cuidar das pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras Para que a

gente tenha uma relaccedilatildeo equacircnime igualitaacuteria a gente tem que partir do princiacutepio de natildeo

igualdade para atingir plenamente a igualdade de direitos O Sistema Uacutenico de Sauacutede tem

muitos desafios a serem conquistados no paiacutes mas eacute o uacutenico sistema que ousou dar atenccedilatildeo de

sauacutede igualitaacuteria e universal Esse eacute o nosso grande desafio E mais desafiador ainda eacute nos

debruccedilarmos em oferecer uma igualdade de direitos a todas as pessoas com doenccedilas raras e

suas famiacutelias que buscam e ateacute entatildeo natildeo tiveram acolhida necessaacuteria e principalmente natildeo

apenas o tratamento que natildeo eacute este o ponto fundamental mas o acolhimento e a informaccedilatildeo

que perpassa a necessidade primeira de todo o cuidado e informaccedilatildeo a estes usuaacuterios

O que eu tenho a dizer eacute que pela formaccedilatildeo que tenho na aacuterea de sauacutede pela cadeira que

passei durante todos os dez anos de minha vida iniciais da minha formaccedilatildeo em sauacutede muito

pouco se passou em informaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras Falo a partir de um Centro

Acadecircmico pela formaccedilatildeo que tive dentro da Universidade de Satildeo Paulo como meacutedico e

depois como especialista e posso declararque muito pouco se passou e muito pouco se passa

do conhecimento natildeo apenas sobre as doenccedilas mas principalmente de como acolher as

famiacutelias e pessoas com doenccedilas raras A gente sabe que o campo das doenccedilas raras estaacute pouco

permeado principalmente em profissionais da aacuterea sauacutede mas muito pouco ainda em relaccedilatildeo

agraves informaccedilotildees que possam chegar nas casas nas pessoas e familiares com doenccedilas raras Eacute

nesse sentido que noacutes queremos com a poliacutetica nos debruccedilarmos na discussatildeo das doenccedilas

raras e natildeo apenas na questatildeo teacutecnica cientiacutefica e este Congresso tem um nome fundamental

Porque o Primeiro Congresso Ibero-americano ele traz um olhar social para o paciente E esse

olhar social para o paciente ele traz e carreia um olhar fundamental do que eacute cuidar junto a uma

pessoa e familiar com doenccedila rara Trago ainda uma palavra do ministro Alexandre Padilha

que desde o comeccedilo desde 2012 que a gente vem discutindo o ministro Padilha sentou comigo

e falou ldquoFogolin de todas as estrateacutegias e de todas as poliacuteticas que a gente discute uma que eacute

fundamental que a gente tem uma diacutevida eterna eacute a atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas rarasrdquo Eu

fico emocionado porque dois anos da minha vida eu passei aprendendo com vocecircs Peccedilo

desculpa pela minha emoccedilatildeo Porque haacute dois anos que a gente discute no grupo teacutecnico (GT)

6 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede

87

Eu conheci os pacientes eu conheci as famiacutelias e eu aprendi com vocecircs Aprendi muito A cada

noite cada dificuldade que a gente teve nesse GT eu transbordo aqui Porque fazer poliacutetica

puacuteblica natildeo eacute difiacutecil difiacutecil eacute transpor as dificuldades que se colocam muitas vezes para as

pessoas Mas eu posso dizer aqui a vocecircs que de todo o meu trabalho discutir doenccedilas raras e

discutir as pessoas com doenccedilas raras posso estar daqui alguns anos em qualquer lugar eacute isso

eu levo para mim

Eu estou muito emocionado porque entrar aqui e olhar para cada um de vocecircshellip Eacute preciso

que vocecircs saibam que as Associaccedilotildees tecircm um papel fundamental nas poliacuteticas puacuteblicas O grupo

teacutecnico que noacutes formaacutemos no Ministeacuterio foi um grupo que tinha especialista tinha gestor mas

o que realmente fez a diferenccedila foi a participaccedilatildeo de associaccedilotildees e usuaacuterios Sem este olhar

que eacute o olhar social verdadeiro noacutes natildeo seriacuteamos verdadeiramente representativos E se o

Sistema Uacutenico de Sauacutede traz que a representatividade faz parte da poliacutetica esta foi e seraacute a

primeira poliacutetica realizada construiacuteda participativamente Esse eacute um ponto de partida

Haacute dois anos noacutes construiacutemos dois documentos fundamentais que foram para consulta

puacuteblica que foram finalizados e o Ministeacuterio da Sauacutede olhando a importacircncia que tecircm as

associaccedilotildees e usuaacuterios natildeo os quis levar para a pactuaccedilatildeo porque ainda tem muita associaccedilatildeo

e usuaacuterio para participar E o grupo teve uma responsabilidade de elaborar um documento e

apresentar agora no dia 23 de outubro para um grupo teacutecnico ampliadopara dizer que o

Ministeacuterio da Sauacutede pode levar para pactuar E documento comeccedila uma nova paacutegina Este eacute um

documento que institui uma poliacutetica integral

Ontem tive a oportunidade no Conselho Nacional de Secretaacuterios Estaduais de Sauacutede de

iniciar a discussatildeo de que existe uma avidez por parte dos gestores de que esta poliacutetica integral

natildeo perpasse apenas o tratamento mas que perpasse fundamentalmente a informaccedilatildeo a

orientaccedilatildeo e o acolhimento Porque natildeo trataremos de doenccedilas mas acolheremos as pessoas e

familiares com doenccedilas raras Eacute uma poliacutetica desafiadora mas que ao longo do tempo faz

crescer mais ainda as pessoas que tecircm a obrigaccedilatildeo de colocaacute-la em vigor de realizaacute-la

Eu fico muito contente em estar aqui e a cada evento sobre doenccedilas raras que eu vou cada

rosto cada criacutetica faz cada vez mais repensar as doenccedilas raras e natildeo soacute Refletir sobre doenccedilas

raras foi um divisor de aacuteguas fundamental para refletir toda a poliacutetica puacuteblica A doenccedila rara

modifica natildeo apenas uma pessoa mas o modo como a gente observa a necessidade das poliacuteticas

puacuteblicas

Muito obrigado

Siacutelvia Portugal7 ndash Bom dia a todas e a todos

Natildeo quero alongar-me jaacute que sou a uacuteltima soacute quero dizer que eacute com muito prazer e tambeacutem

com muita emoccedilatildeo que estou aqui a representar o Centro de Estudos Sociais da Universidade

de Coimbra que se associou desde o iniacutecio a esta ideia a esta vontade do Rogeacuterio em organizar

este Primeiro Congresso Ibero-americano de Doenccedilas Raras

O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra o CES eacute um Centro de Ciecircncias

Sociais e Humanidades um centro que aposta da interdisciplinaridade na

transdisciplinariedade que estaacute aberto a uma ecologia dos saberes como diz o nosso Director

Boaventura de Sousa Santos Eacute um Centro aberto ao mundo aberto aos saberes aberto agraves

pessoas Eacute um centro que aposta na interdisciplinaridade e na colaboraccedilatildeo e portanto o nosso

lugar eacute estar onde estaacute quem precisa de noacutes e quem quer colaborar connosco O CES eacute um

centro de investigaccedilatildeo aberto agrave comunidade aberto agrave sociedade civil aberto agrave iniciativa aberto

agraves propostas dos nossos estudantes nos quais o Rogeacuterio se inclui brilhantemente Eacute por isso

7 Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos

Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE)

88

que eu viajei do outro lado do oceano com muito gosto com muito prazer para estar aqui hoje

convosco

Queria desejar um bom dia de trabalhos e queria dizer que estes trabalhos se tudo correr

bem e acho que vai correr bem seratildeo publicados numa publicaccedilatildeo do CES que se chama

CESContexto uma publicaccedilatildeo relativamente nova que eu estou a coordenar juntamente com

duas colegas Existe uma linha que se chama Debates que serve justamente para dar voz a estes

tipo de eventos O que eu e o Rogeacuterio pretendemos fazer eacute recolher as falas de toda a gente e

poder publicaacute-las porque seraacute bom ter um documento nas matildeos que prove que noacutes estivemos

aqui

Muito obrigada por esta oportunidade dada ao CES de poder colaborar com este evento

89

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras

Joseacute Eduardo Fogolin1 ndash Bom mais uma vez bom dia a todos

A gente tem quinze minutos eu acredito que o importante aleacutem da apresentaccedilatildeo eacute

justamente essa possibilidade do debate e da discussatildeo A apresentaccedilatildeo eacute um pouco longa e eu

gostaria de pegar principalmente os pontos que satildeo fundamentais na estrateacutegia Antes de mais

nada e dada a participaccedilatildeo de representantes de outros paiacuteses como Estados Unidos Portugal

Argentina e Franccedila queria colocar soacute um pouco o que eacute o nosso Sistema Uacutenico de Sauacutede

O Brasil eacute o uacutenico paiacutes do mundo com mais de cem milhotildees de habitantes Natildeo falo

duzentos que eacute a nossa populaccedilatildeo mas mais de cem um paiacutes que ousou uma poliacutetica puacuteblica

universal constituinte uma lei magna a Constituiccedilatildeo Federal que traz como direito ldquoa sauacutederdquo

O direito agrave sauacutede haacute 22 anos passou a permear esse processo que eacute fundamental para que

a gente possacobrar e exigir E essa eacute a dialeacutetica A gente cobra sabendo que tem um potencial

de melhoria Para termos a noccedilatildeo da dimensatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede por ano mais de

32 bilhotildees de procedimentos satildeo realizados nesse sistema mais de 500 milhotildees de consultas

de especialidade por ano e mais de um milhatildeo de internaccedilotildees por mecircs

Eacute importante dizer que temos muitos desafios natildeo apenas pela caracteriacutestica continental

mas por uma diversidade fundamental caracteriacutestica do Brasil que eacute a diversidade entre as

pessoas A diversidade regional a diversidade de cultura e a diversidade principalmente de

como cuidar Um exemplo na atenccedilatildeo agrave sauacutede das pessoas dos povos indiacutegenas noacutes temos

como caracteriacutesticas realizar atendimento diferenciado porque ser igual eacute justamente poder

ofertar a diferenccedila de cuidado Mas mais do que isso quanto aos nuacutemeros o Brasil tambeacutem eacute

responsaacutevel pelo maior nuacutemero de transplante de oacutergatildeos puacuteblicos do mundo

Esses satildeo os nossos desafios Desafios que trouxeram todos para pensar estrateacutegias para

cuidar estrateacutegias de ofertar uma poliacutetica fundamental e integral dentro desse sistema de como

cuidar natildeo apenas as pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras mas tambeacutem como induzir que os

profissionais de sauacutede tenham natildeo apenas o conhecimento mas que mudem fundamentalmente

a forma de como pensam e abordam o cuidado de pessoas com doenccedilas raras A mudanccedila da

estrateacutegia dessa poliacutetica natildeo eacute apenas trazer a poliacutetica e implementaacute-la eacute em especial mudar o

paradigma de como cuidar Um paradigma que dentro do sistema ao longo do periacuteodo fez

emergir o modelo de se fazer sauacutede o modelo correto de se fazer e atender as pessoasNatildeo eacute

apenas caracteriacutestica do Brasil mas de todos os paiacuteses o facto de ter prevalecido uma sauacutede

centrada na medicina centrada no papel do meacutedico centrada no papel do tratamento como

resultado Eacute importante e faz parte do processo mas cuidar eacute muito mais do que um processo

especiacutefico de tratar num consultoacuterio Cuidar eacute muito mais do que fazer um diagnoacutestico Cuidar

eacute entender de todo um processo e isso significa mudanccedila de um modelo

Eacute importante que todos saibam qual o caminho que estamos seguindo em relaccedilatildeo ao modelo

de gestatildeo da sauacutede Historicamente o Sistema Uacutenico de Sauacutede foi tanto do ponto de vista de

construccedilatildeo de poliacutetica como do ponto de vista de financiamento pautado por procedimentos

Isso historicamente ocasionou essa conduta de se tratar e de se financiar a sauacutede atraveacutes de

procedimentos ou seja um usuaacuterio do sistema quando chegava ao hospital passava por uma

combinaccedilatildeo de procedimentos A mudanccedila desse modelo de gestatildeo eacute o que o Ministeacuterio da

Sauacutede em conjunto com os outros atores desse sistema ndash secretaacuterios estaduais de sauacutede

secretaacuterios municipais representativos do CONASS2 e CONASEMS3 ndash vem discutindo A

1 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede 2 Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede - httpwwwconassorgbr 3 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sauacutede - httpwwwconasemsorgbr

90

mudanccedila de como instituir poliacutetica puacuteblica natildeo apenas baseada em procedimentos em um

pacote de exames s em um pacote de financiamento mas como integrar de facto a organizaccedilatildeo

desse sistema de sauacutede E noacutes trouxemos o novo modelo que natildeo eacute novo mas nova a forma de

se organizar atraveacutes de accedilotildees e serviccedilos numa rede de atenccedilatildeo a sauacutede Isto jaacute estava descrito

na lei 8080 nos regimentos que fazem do Sistema Uacutenico de Sauacutede um sistema e organizaccedilatildeo

Mas a aplicabilidade e a organizaccedilatildeo desse sistema em rede essa mudanccedila eacute o grande desafio

do sistema E o que eacute essa rede Toda a estrateacutegia e poliacutetica que o Ministeacuterio institui satildeo

pautadas na loacutegica da construccedilatildeo da rede tanto na organizaccedilatildeo no seu planejamento como no

seu financiamento e cuidado Eacute atraveacutes desse arranjo organizativo que os serviccedilos dos

estabelecimentos de sauacutede devem se organizar para que as accedilotildees sejam feitas dentro de um

cuidado continuado dentro de uma loacutegica de diferentes tendecircncias tecnoloacutegicas integradas por

apoio teacutecnico Ou seja dentro dessa rede cada um deve ter um papel fundamental para que seja

de fato organizada uma rede de atenccedilatildeo

O usuaacuterio desse sistema independente d a poliacutetica no acircmbito da rede de atenccedilatildeo deve ser

encontrado e natildeo procurar o cuidado Mas deve ser encontrado atraveacutes de uma rede integral

em que cada ponto da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada do posto de sauacutede ao hospital o

usuaacuterio encontre um cuidado contiacutenuo numa rede integrada

O que eu coloco como caracteriacutestica fundamental eacute justamente isso a rede implica uma

relaccedilatildeo horizontal Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras o cuidado que existioa quando se alcanccedilava

estava em centros especiacuteficos fossem de pesquisa ou grandes centros muito distantes de um

cuidado e um acolhimento adequado Mas aatenccedilatildeo em sauacutede mais proacutexima de qualquer usuaacuterio

sempre seraacute a Atenccedilatildeo Baacutesica independente da necessidade e da complexidade do cuidado E

se noacutes formos discutir as doenccedilas raras a atenccedilatildeo baacutesica faz parte do cuidado porque eacute ali que

funciona a porta de entrada seja da gestante seja do usuaacuterio na fase inicial Portanto eacute

fundamental que a informaccedilatildeo e o cuidado de doenccedila rara tambeacutem chegue para que tenhamos

principalmente um diagnoacutestico que se quer um diagnoacutestico precoce a orientaccedilatildeo adequada

em cada porta de entrada desse Sistema Uacutenico de Sauacutede Aleacutem disso essa rede eacute centrada na

necessidade e natildeo apenas na oferta porque o sistema trouxe ateacute entatildeo sempre uma oferta que

recorta justamente essa demanda Torna-se importante natildeo apenas financiar a poliacutetica puacuteblica

mas organizar e planejar uma poliacutetica puacuteblica em relaccedilatildeo com as necessidades de um dado

territoacuterio para aiacute comeccedilamos a organizar o processo

De acordo com a OMS doenccedila rara eacute aquela doenccedila que afeta ateacute sessenta e cinco pessoas

por cem mil pessoas proporccedilatildeo de 13 a cada 2 mil Essa definiccedilatildeo natildeo eacute homogecircnea em todos

os paiacuteses e noacutes colocamos em consulta puacuteblica essa definiccedilatildeo para iniciar o processo Daqui a

dois anos noacutes poderemos assim mudar a definiccedilatildeo porque a poliacutetica eacute dinacircmica mas

justamente acomete 6 a 8 da populaccedilatildeo Se noacutes fossemos pensar como muitas vezes ldquoNatildeo

poliacutetica puacuteblica se faz em cima de epidemiologiardquo natildeo estariacuteamos aqui hoje ateacute porque embora

ela seja individualmente rara constitui um grupo muito significativo da populaccedilatildeo Esse era um

ponto que eu queria discutir quando comeccedilamos com esse grupo teacutecnico formado por

especialistas representantes de associaccedilotildees e gestores essencialmente do Ministeacuterio da Sauacutede

mais concretamente por onde vamos traccedilar uma poliacutetica Noacutes temos quase mais de oito mil

doenccedilas conhecidas nuacutemero que cada vez mais vai aumentar em relaccedilatildeo ao nuacutemero de doenccedilas

raras Como eacute que podemos comeccedilar a discutir essa estrateacutegia

Seeu for pensar no tratamento medicamentoso e fazer uma poliacutetica para quem trata apenas

com medicamento somente 100 doenccedilas raras hojetecircm um tratamento medicamentoso Ou

seja eu deixaria de fora 7900 doenccedilas Eacute importante eacute fundamental mas uma poliacutetica integral

muito mais importante porque eu natildeo faccedilo cuidado apenas com medicamento eu faccedilo o

cuidado com integralidade com diagnoacutestico com habilitaccedilatildeo com reabilitaccedilatildeo com discussatildeo

de caso ecom outros fatores

91

Quando esse grupo foi formado noacutes tiacutenhamos trecircs prioridades primeiro instituir uma

poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras no Sistema Uacutenico de Sauacutede

segundo elaborar dois documentos norteadores o grupo tinha esse papel e ao fim desta

elaboraccedilatildeo noacutes temos que colocar em consulta puacuteblica dois documentos norteadores um de

diretrizes ao cuidado e o outro de normas para habilitaccedilatildeo dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede

de serviccedilos e centros de doenccedilas raras terceiro a inclusatildeo de procedimentos porque a poliacutetica

de integralidade do cuidado perpassa os serviccedilos de acesso por necessidade de diagnoacutestico por

habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo e muitas vezes por tratamento medicamentoso

Natildeo se exclui da poliacutetica a necessidade de tratamento medicamentoso Mas a gente tem

que propor ao Sistema respaldado no diagnoacutestico Entatildeo faz parte da poliacutetica a incorporaccedilatildeo

de novos exames Novos exames estatildeo sendo discutidos em uma comissatildeo estatildeo na comissatildeo

nacional de incorporaccedilatildeo de tecnologia no Sistema Uacutenico de Sauacutede que eacute uma lei federal para

a incorporaccedilatildeo de toda tecnologia no SUS Essa discussatildeo fizemos paralelamente porque tem

todo um processo de aprovaccedilatildeo e jaacute vimos discutindo a poliacutetica dentro do sistema A poliacutetica

envolve desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada incluindo a questatildeo do aconselhamento

geneacutetico ateacute a habilitaccedilatildeo e instruccedilatildeo de centros de serviccedilos em doenccedilas raras

O que pautou a estrateacutegia da poliacutetica

Alguns eixos estruturantes passam por ver o lado macro desse cuidado Nessa poliacutetica noacutes

temos dois eixos fundamentais doenccedilas raras de origem geneacutetica e doenccedilas raras de origem

natildeo geneacutetica Dentro de doenccedilas raras de origem geneacutetica temos um eixo vinculado a anomalias

congecircnitas outro a deficiecircncia intelectual e outro a erros inatos de metabolismo Haacute outro grupo

maior de doenccedilas raras que satildeo de origem natildeo geneacutetica perpasso infecciosos inflamatoacuterios e

autoimunes Isso balizou o quecirc Fundamentalmente para traccedilarmos a linha dos eixos em que

assentaria o cuidado para que a gente pudesse pensar como seria organizado o sistema atraveacutes

de uma rede e como eacute que a atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras integraria o processo

nessa rede de atenccedilatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes de poliacuteticas habilita os serviccedilos e os centos especializados

em doenccedilas raras Hoje existem determinados serviccedilos que prestam cuidado a uma ou mais

doenccedilas para um eixo ou mais eixos de cuidado dependendo da sua complexidade Mas mais

do que isso a poliacutetica tem um poder de induccedilatildeo jaacute que ela induz todo um processo desde a

formaccedilatildeo que eacute fundamental e natildeo eacute a formaccedilatildeo do especialista do geneticista mas de pessoas

e profissionais vinculados ao cuidado tanto da aacuterea meacutedica como natildeo meacutedica

A poliacutetica tem dois documentos norteadores que foram colocados em consulta puacuteblica No

dia 23 de outubro noacutes faremos uma reuniatildeo ampliada Porquecirc essa reuniatildeo ampliada

Justamente quando noacutes elaboraacutemos o grupo noacutes o grupo Ministeacuterio da Sauacutede representantes

e gestores representantes de especialidades associaccedilotildees constituiacutemos um nuacutecleo duro e esse

nuacutecleo tem a responsabilidade de construir a proposta inicial Porque para chancelar o processo

noacutes precisamos de uma aprovaccedilatildeo e de uma discussatildeo maior por isso eacute que desde o primeiro

dia noacutes construiacutemos os dois documentos a) Como habilitar serviccedilos e centros de atenccedilatildeo

especializada em atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras e as diretrizes para cada um dos pontos

de atenccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada e o centro de serviccedilos em especialidades

b) Qual o papel de cada um no cuidado na atenccedilatildeo das pessoas com doenccedilas raras

Habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo cuidado continuado necessidades adicionais natildeo apenas o

tratamento especiacutefico da doenccedila rara mas o contexto integral desse cuidado eacute a nossa proposta

E aiacute noacutes falamos ldquoNo uacuteltimo dia quando a gente for para a pactuaccedilatildeo ao niacutevel de sistema

uacutenico CONASS CONASEM e a tripartite noacutes faremos o GT ampliado para mostrar que esse

eacute o processordquo E entatildeo teremos a posiccedilatildeo criacutetica de todos

Jaacute tivemos a consulta puacuteblica Foi a consulta puacuteblica nesse Ministeacuterio que teve a maior

participaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo Foram mais de 180 contribuiccedilotildees Foi um trabalho aacuterduo do grupo

de trabalho que se dividiu em trecircs grandes grupos para consolidar a consulta puacuteblica e

92

finalizamos os documentos que seratildeo apresentados na reuniatildeo ampliada Aprovado nesta

reuniatildeo no mecircs 11 a gente faz a discussatildeo na plenaacuteria da CONITEC4 de incorporaccedilatildeo

tecnoloacutegica e ainda no mecircs 11 eu vou agrave comissatildeo intergestora tripartite para pactuar e aiacute sim

a gente passa para a histoacuteria do Sistema Uacutenico de Sauacutede uma poliacutetica integral uma uacutenica

poliacutetica integral que perde de poucas no mundo de atenccedilatildeo integral de pessoas com doenccedilas

raras Uma poliacutetica que vai do cuidado para o acolhimento e o diagnoacutestico do aconselhamento

ateacute a necessidade de medicamentos baseada no protocolo cliacutenico Foi um trabalho ndash e eu me

emocionei na fala porque quem participou sabe e eu agradeccedilo a cada um desses colegas o

Rogeacuterio Prof Marcos Sidney a Martha e a todos em nome deles ndash que realmente a gente

pensou da base agrave atenccedilatildeo especializada Aleacutem desse trabalho a gente vai ter que modificar

muito porque a poliacutetica puacuteblica eacute dinacircmica O grande desafio agora eacute que cada um pactue na

tripartite que a gente vaacute para o territoacuterio e induza a implementaccedilatildeo desse processo e que

monitore a implementaccedilatildeo desse processo

Se estamos fazendo poliacutetica puacuteblica esta tem que ser feita tambeacutem com a academia com

o gestor com as pessoas Somente dessa forma a gente vai conseguir implementar e mudar a

realidade

Muito obrigado e eu fico a disposiccedilatildeo para discussatildeo

Maria Joseacute Delgado5 ndash Bom dia

Eu vou comeccedilar a apresentaccedilatildeo mostrando um filme Eacute um filme raacutepido Eu pedi que o

Rogeacuterio me desse essa licenccedila para que vocecircs conhecessem um pouco mais da Interfarma de

uma maneira um pouco mais interessante do que eu ficar falando de nuacutemeros ficar falando de

percentuais Depois a gente vai entrar numa outra parte da apresentaccedilatildeo em que eu trago alguns

nuacutemeros de pesquisa e alguns dados referentes ao desenvolvimento dos produtos

Bom somente para contar um pouquinho do que noacutes fazemos e como noacutes fazemos

Principalmente o que noacutes fazemos eacute estar junto Estar fazendo junto tambeacutem eacute uma meta e eacute

uma necessidade que a Interfarma tem na sua gestatildeo Por isso pedimos tanto ao Ministeacuterio da

Sauacutede para participar do grupo que esteve pensando a proposta de poliacutetica Naquele momento

natildeo foi oportuno mas no dia 23 com certez noacutes estaremos juntos estaremos conversando

estaremos tentando alinhar tambeacutem algo daquelas contribuiccedilotildees que noacutes jaacute envimos que o

Fogolin conhece e que todo o mundo conhece

O Rogeacuterio me pediu para que eu traccedilasse um cenaacuterio em relaccedilatildeo a quecirc e como noacutes

investimos como noacutes desenvolvemos os produtos como satildeo os dados e quais satildeo esses dados

Mas antes desses dados eu vou tentar desenhar um cenaacuterio que eu acho que vocecircs conhecem

Ateacute os anos 80 as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte das agendas governamentais o

que pode ser encontrado em estudos que demonstram isso A partir dessa data dessa deacutecada

vaacuterios esforccedilos vaacuterias estrateacutegias foram sendo implementadas para que esse pudesse ser um

tema e um tema que fosse visto com mais dedicaccedilatildeo cada vez mais pensando em soluccedilotildees para

o cenaacuterio que se apresentava

No Brasil como o Fogolin jaacute falou estimam-se treze milhotildees de pessoas com doenccedilas raras

e destas 75 se manifestam-se em crianccedilas Esse eacute o indicador que talvez mais nos comova e

eacute o indicador que talvez mais nos mova a fazer o que fazemos E contribui ainda para maior

morbidade nos primeiros 18 anos de vida que tambeacutem eacute um dado que nos impulsiona a tentar

dar soluccedilotildees e a tentar trazer benefiacutecios ou longevidade com qualidade para essas pessoas

No Brasil assim como no mundo quem movimentou e colocou essa agenda dentro do

governo foram as associaccedilotildees de pacientes os estudos tambeacutem demonstram isso As

4 Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) 5 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

93

associaccedilotildees satildeo aquelas que estatildeo levando o tema e fazendo o tema acontecer Entatildeo eacute

importante que vocecircs continuem nesse ritmo e continuem fazendo cada vez mais o

posicionamento da necessidade e o posicionamento do interesse de cada um de vocecircs E essa

nova abordagem vinda das associaccedilotildees de pacientes tambeacutem trouxe para o Brasil vaacuterios

avanccedilos do que se iniciou em 2000 mas apenas em 2009 foi formalizada e publicada pelo

Ministeacuterio da sauacutede a Portaria 81 Conhecemos todo o esforccedilo e reconhecemos o esforccedilo para

que isso tivesse sido feito e que agora entra numa outra fase de execuccedilatildeo

A poliacutetica que agora estaacute desenhada e que propotildee um desenho talvez seja exequiacutevel sendo

que a anterior a portaria 81 natildeo era A gente sabe que eacute um caminho longo que eacute um caminho

recente da deacutecada de 80 e que temos que andar muito Diversas barreiras dificultam o acesso

dos pacientes a tratamentos especializados desde a assistecircncia ateacute medicamentos Os

profissionais da aacuterea carecem de capacitaccedilatildeo para natildeo comprometer ou retardar o diagnoacutestico

Eacute angustiante chegar em um serviccedilo de assistecircncia seja unidade baacutesica seja um hospital e

aquele que vai te atender olhar para vocecirc e fica talvez mais inseguro do que vocecirc mesmo que

foi buscar alguma soluccedilatildeo para a sua situaccedilatildeo de sauacutede A capacitaccedilatildeo e treinamento dos

profissionais eacute um alvo que deve estar dentro da discussatildeo do que estaacute em construccedilatildeo Falta de

informaccedilatildeo sobre as doenccedilas para as famiacutelias eacute angustiante Eacute uma afliccedilatildeo muito grande o que

fazer como fazer o que tem depois de ter diagnosticado para onde ir como dar soluccedilatildeo a

essa situaccedilatildeo que eacute muito complexa

Apenas 2 das doenccedilas pode beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na

sua evoluccedilatildeo Estamos falando de um percentual muito pequeno e que pesa todo o esforccedilo de

pesquisa e desenvolvimento mas por ser tatildeo recente o setor ainda carece de mais investimento

e de mais pesquisas E quando eu falo dessa agonia de chegar numa unidade baacutesica eu falo natildeo

na teoria eu falo tambeacutem porque eu sou uma usuaacuteria do serviccedilo de sauacutede os meus filhos satildeo

os meus netos satildeo Antes de tudo eu como uma cidadatilde me angustia e eacute realmente uma

constataccedilatildeo da vida real porque aqui ningueacutem estaacute dizendo de hipoacutetese ou de situaccedilatildeo que natildeo

conheccedila realmente Como eacute o cenaacuterio de desenvolvimento de pesquisa no Brasil Quando eu

digo que ele natildeo possui robustez eacute porque noacutes natildeo temos a robustez que o paiacutes merece e que a

populaccedilatildeo e que a proacutepria academia tambeacutem precisam Noacutes somos mais ou menos o deacutecimo

terceiro paiacutes em produccedilatildeo Noacutes somos em pesquisa e artigos cientiacuteficos o deacutecimo terceiro no

mundo Noacutes somos muito bons a produzir artigos cientiacuteficos mas no ranking mundial de

depoacutesito de patentes que se faz o registro quando haacute uma descoberta quando haacute possibilidade

de um novo produto noacutes estamos no vigeacutesimo quarto lugar E o paiacutes perde a oportunidade de

inovaccedilatildeo noacutes fizemos um estudo com os nossos associados com quinze empresas noacutes

perdemos por conta de tramitaccedilatildeo burocraacutetica nas vaacuterias instacircncias que satildeo necessaacuterias passar

um processo e o projeto de pesquisa Noacutes perdemos uma quantidade importante de estudos e

chegamos a estimar um prejuiacutezo de 2500 pacientes aproximadamente E vamos perder mais

alguns inclusive para produtos oncoloacutegicos de hepatite C problemas importantes tambeacutem de

sauacutede puacuteblica A pesquisa cliacutenica movimenta cerca de 40 bilhotildees de investimento no mundo e

no Brasil satildeo investidos pouco mais de 139 milhotildees de doacutelares A participaccedilatildeo do Brasil em

estudos cliacutenicos no mundo representa 15 e atinge a deacutecima quarta posiccedilatildeo O tempo gasto

com a pesquisa cliacutenica no Brasil estaacute entre 10 a 14 meses enquanto que a meacutedia mundial eacute de

4 a 6 meses E o que acontece no quadro anterior demora tanto para aprovar que noacutes natildeo

conseguimos nem fazer e nem participar das pesquisas mundiais

A nossa populaccedilatildeo que tem um perfil epidemioloacutegico que tem uma caracteriacutestica

especiacutefica muitas vezes a gente natildeo consegue participar dos estudos multicecircntricos Tem um

dado interessante quando falamos de doenccedilas cardiovasculares que satildeo doenccedilas

tradicionalmente em maior nuacutemero e cuidadas haacute muito mais tempo temos um indicador de

para cada 24 euros gastos no desenvolvimento de todos os novos medicamentos 89 satildeo

economizados em internaccedilatildeo e outros serviccedilos de sauacutede

94

Entatildeo pensando na pesquisa no desenvolvimento e no impacto financeiro dentro do

processo da elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas sabemos que existe uma limitaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

mas a gente entende tambeacutem que eacute preciso encontrar as soluccedilotildees para uma medida para que

esse orccedilamento possa ser elaacutestico e atender a necessidade de um conjunto de pessoas

A induacutestria farmacecircutica gastou em 2011 aproximadamente 130 bilhotildees de doacutelares e

foram lanccedilados aproximadamente 35 novos produtos farmacecircuticos dentre os mais de 3200

compostos em desenvolvimento Entre 2007 e 2011 noacutes temos um decliacutenio de pesquisa que

caiu para 149 e o custo meacutedio do desenvolvimento de um medicamento gira em torno de 13

bilhotildees de doacutelares Noacutes temos 460 medicamentos que estatildeo sendo desenvolvidos para doenccedilas

raras e que a gente espera que muitos deles possam chegar ao mercado

Essa eacute uma curva de tempo como que comeccedila laacute na pesquisa baacutesica que o Fogolin estaacute

dizendo aqui do financiamento do incentivo ao financiamento a pesquisa baacutesica e qual eacute o

percurso que se tem para chegar ateacute que o produto chegue ao balcatildeo ao mercado eacute o processo

e eacute o trajeto da bancada ao mercado

95

E isso vai levar mais ou menos entre dez a quinze anos para se desenvolver um

medicamento ou uma vacina nova e somente um a cada dez mil compostos chega ateacute os

pacientes Vamos investir num esforccedilo que eacute super importante e tem que acontecer mesmo

porque noacutes temos aquele deacuteficit de pesquisa O nosso investimento eacute pouco mas tem essa linha

e essa trajetoacuteria de desenvolvimento Tem que ter muito investimento para que tenhamos

inovaccedilotildees sendo disponibilizadas

Deixo soacute algumas consideraccedilotildees finais que eu acho importante deixar na agenda O Brasil

natildeo discute medicamentos oacuterfatildeos como um tema macro Ele eacute discutido dentro das poliacuteticas

puacuteblicas O medicamento oacuterfatildeo que vai cuidar de doenccedilas raras negligenciadas

principalmente precisa duma pauta especiacutefica Precisamos fortalecer a assistecircncia meacutedica e

farmacecircutica e isso com certeza depende dos grupos de defesa e das associaccedilotildees de pacientes

Noacutes precisamos de parcerias para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo Esse modelo deve

envolver o governo as associaccedilotildees de pacientes as representaccedilotildees do seguimento produtivo

do Conselho Federal de Medicina de farmaacutecia e todos aqueles que fazem parte do paiacutes satildeo

aqueles que moram aqui e aqueles que querem que isso daqui desenvolva e que esse paiacutes avance

cada vez mais Os pacientes e a responsabilidade social das empresas tambeacutem tem a sua missatildeo

importante O diaacutelogo social tambeacutem eacute importante e ele existe para negociaccedilatildeo em prol do

interesse comum Na verdade o que precisamos eacute que a voz desse conjunto de pessoas possa

estabelecer um impacto social para as doenccedilas raras que eacute uma provocaccedilatildeo que eu faccedilo e que

eu deixo aqui no encerramento da minha fala

As vozes satildeo necessaacuterias elas existem cada vez mais elas tecircm que ter forccedila para dizer o

que precisam mas para isso noacutes precisamos estabelecer um impacto social e dizer para onde

noacutes queremos ir e como noacutes vamos Isso foram assuntos que noacutes fizemos foram temas de

movimentos com que noacutes trabalhamos A publicaccedilatildeo6 que vocecircs receberam teve como objetivo

qualificar o nosso debate e a meta era ocupar o espaccedilo que eacute devido agraves doenccedilas raras na agenda

do paiacutes

Noacutes fizemos um seminaacuterio grande em marccedilo e esses satildeo resultados do seminaacuterio Noacutes

fizemos publicaccedilotildees que atingiram mais de um milhatildeo de pessoas difundindo otema dizendo

6 Doenccedilas Raras contribuiccedilotildees para uma poliacutetica nacional disponiacutevel em wwwinterfarmaorgbr

96

que existem doenccedilas raras que eacute preciso discutir e que eacute preciso avanccedilar Aqui satildeo dados que a

gente sabe que estatildeo nesse estudo e dentro desse fortalecimento das accedilotildees eu acho que o mais

importante eacute que a gente precisa continuar discutindo contribuir sistematicamente para o debate

deste complexo cenaacuterio entender e construir junto as saiacutedas Por uacuteltimo e jaacute que o evento eacute

uma parceria com Coimbra eu queria deixar aqui a boa fala do Professor Boaventura que diz

que devemos ldquoLutar pela igualdade quando a diferenccedila nos discrimina e lutar pela diferenccedila

sempre que a igualdade nos descaracterizerdquo

Muito obrigada Rogeacuterio Muito obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocecircs Fico

agrave disposiccedilatildeo para qualquer intervenccedilatildeo

Luiz Oswaldo Rodrigues7 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues Quem deveria estar aqui hoje era o Sr

Paulo Roberto Ferreira Couto que eacute o presidente da AMANF Eu sou um dos membros da

associaccedilatildeo Eu e minha esposa Thalma estamos aqui e temos uma filha com Neurofibromatose

(NF) do tipo I Tambeacutem sou meacutedico e haacute dez anos encontramos outro meacutedico com o filho com

NF tambeacutem Entatildeo noacutes criamos o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas na

Universidade Federal de Minas Gerais

Eu estou aqui falando em nome da Associaccedilatildeo Mineira de Apoio as Pessoas com NF -

AMANF e estou falando em nome do Centro de Referecircncia tambeacutem

Eu quero agradecer ao Rogeacuterio particularmente pelo convite pessoal em nome da nossa

Associaccedilatildeo e eacute uma satisfaccedilatildeo estar aqui nesta mesa com Dr Joseacute Eduardo Fogolin com a Dra

Maria Joseacute e com o Prof Dr Natan Monsores participando desse debate

A primeira pergunta que a nossa Associaccedilatildeo se fez foi se noacutes somos uma doenccedila rara

Como vocecircs jaacute viram na palestra do Professor Maacuterio ontem na audiecircncia puacuteblica a gente fica

agraves vezes na duacutevida se nos encontramos entre as doenccedilas raras Natildeo haacute um consenso como noacutes

aprendemos com o Dr Saporta ontem natildeo haacute um consenso e satildeo 80 mil brasileiros mais ou

menos tanto quanto a doenccedila de charcot-marie-tooth Temos uma populaccedilatildeo bastante grande

daacute para encher um estaacutedio de futebol com o nuacutemero de pessoas que tem NF Isso eacute raro Pelos

criteacuterios internacionais essa eacute uma doenccedila daquelas com frequecircncia rara portando estamos

dentro das doenccedilas raras Elas satildeo trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros

e apesar desse nuacutemero de pessoas acometidas elas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas

raras

As NFs padecem de dificuldades semelhantes agraves demais doenccedilas raras as quais noacutes

denominamos DOR Uma sigla que noacutes fizemos pra designar essa dificuldade comum que noacutes

temos entre todas as doenccedilas raras Que seria isso D - de desconhecimento cientiacutefico por parte

dos profissionais de sauacutede ou as vezes por todos O - de omissatildeo institucional que a gente fica

feliz de saber que aqui tem um representante do Ministeacuterio e que existem comitecircs trabalhando

e que estatildeo tentando superar isso mas ainda eacute uma dificuldade a omissatildeo institucional E

finalmente R - representaccedilatildeo social inexistente O que quer dizer isso Quando vocecirc fala a

palavra NF por exemplo mas poderia ser Niemann-pick ou qualquer outra dessas doenccedilas

que vocecircs compartilham conosco que noacutes compartilhamos nesse Congresso nesse evento as

pessoas natildeo sabem o que significa

A psicoacuteloga Alessandra Cerello fez uma dissertaccedilatildeo de mestrado8 mostrando que as

pessoas natildeo sabem o que eacute NF profissionais de sauacutede ou as famiacutelias A sociedade natildeo sabe E

quando vocecirc natildeo sabe o que uma coisa significa vocecirc natildeo tem emoccedilatildeo sobre ela entatildeo a falta

de emoccedilatildeo faz com que vocecirc natildeo se incomode com aquela pessoa vocecirc natildeo estabelece uma

7 Diretor Teacutecnico da Associaccedilatildeo Mineira de Neurofibromatose 8 Disponiacutevel em httpwwwbibliotecadigitalufmgbrdspacebitstreamhandle1843BUOS-

8N2FVWdisserta__o_alessandra_cerellopdfsequence=1

97

relaccedilatildeo de empatia vocecirc natildeo estabelece uma conexatildeo humana de pessoa para pessoa Entatildeo a

maior parte das doenccedilas raras ou se natildeo todas tem essa dificuldade Para dar um exemplo eu

fiquei muito feliz quando o Rogeacuterio denominou a Associaccedilatildeo de Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria

porque Maria Vitoacuteria tem o rosto noacutes pensamos que existe uma pessoa por traacutes deste nome

dessa associaccedilatildeo Isso eacute fundamental dar rosto agraves pessoas

aacute no Centro de Referecircncia noacutes temos algumas queixas das pessoas que nos procuram e vou falar

de NF mas possivelmente vocecircs vatildeo identificar essas dificuldades em outras doenccedilas Por

exemplo a atitude acadecircmica excessivamente acadecircmica dos profissionais da sauacutede os

meacutedicos particularmente que tratam os pacientes de uma forma fria num tubo de ensaio A

pressa no atendimento vejam esse meacutedico ele tem quantos reloacutegios que ele tem que dar conta

ao mesmo tempo para um paciente soacute Ele tem vaacuterios reloacutegios eacute uma pressa uma coisa atraacutes

da outra entatildeo a pressa natildeo permite que vocecirc olhe para o paciente e diga assim Eu natildeo sei o

que vocecirc tem eu preciso de estudar eu preciso de consultar um colega eu preciso de fazer uma

interconsulta para gente poder saber o que vocecirc temA pressa natildeo nos permite fazer isso

A indiferenccedila eacute como se agraves vezes no caso da NF por exemplo muitos pacientes apresentam

lesotildees cutacircneas e quem desconhece a doenccedila natildeo sabe se elas satildeo contagiosas ou natildeo e a atitude

espontacircnea humana e natural eacute o medo do desconhecido medo de pegar aquela doenccedila entatildeo

haacute um isolamento Muitos pacientes com NF dizem assim Doutor nenhum meacutedico nunca

tocou em mim nunca encostou a minha pele Olha de longe e tira retrato Ou a doenccedila eacute

retratada apenas pelo seu lado patoloacutegico pela patologia pela lacircmina da bioacutepsia Entatildeo o

meacutedico olha para o paciente mas o que ele vecirc natildeo eacute uma pessoa ele vecirc a lacircmina ele vecirc a

anatomia a doenccedila ele natildeo vecirc o ser humano que estaacute ali diante dele Essa eacute outra queixa Os

pacientes satildeo voluntaacuterios em pesquisa e depois satildeo abandonados Eles participam como

voluntaacuterios oferecem o seu sangue o seu suor as suas laacutegrimas o seu tecido para o estudo e

depois eles satildeo ignorados natildeo recebem nenhum retorno Agraves vezes natildeo precisa ter um

medicamento pronto mas basta ter um Olha obrigado fizemos isso publicamos aquilo etc

Os planos de sauacutede tambeacutem jaacute que os planos de sauacutede costumam ser armadilhas para os

pacientes Os que tecircm SUS contam com as dificuldades de reparticcedilatildeo do dinheiro puacuteblico para

as doenccedilas os que natildeo tecircm os que tecircm dinheiro particular satildeo explorados pelos meacutedicos que

vatildeo de especialista em especialista O dermatologista pede para o neurocirurgiatildeo o neuro pede

para outro profissional E os planos de sauacutede ficam indiferentes a essas doenccedilas raras na

maioria das vezes

Vocecircs estatildeo vendo uma cartilha9 que estaacute em distribuiccedilatildeo no Brasil com o apoio da

Unimed de Belo Horizonte - um dos planos que tem apoiado o nosso Centro de Referecircncia A

Interfarma falou agora haacute pouco em nome da induacutestria farmacecircutica mas uma grande

9 As Manchinhas da Mariana Disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

98

preocupaccedilatildeo que noacutes temos eacute que noacutes sabemos que a induacutestria caminha para um lado e que eacute

preciso ter um remo muito forte aqui para segurar o barquinho da eacutetica para que a induacutestria natildeo

arraste a eacutetica na sua potecircncia econocircmica e no seu poder de fogo Finalmente a proacutepria

tecnologia eacute um grande problema veja soacute o que o Doutor estaacute procurando nesses exames O

paciente

Entatildeo tem gente que faz tanto exame que cai na matildeo da tecnologia quando a medicina

tecnoloacutegica excessivamente tecnoloacutegica vocecirc faz tanto exame que vocecirc se perde Agraves vezes os

pacientes chegam com pacotes de exames Eu tive um paciente uma vez que chegou com um

pacote de 45kg de exame segurando o pacote para me mostrar Aiacute eu disse Natildeo vamos te

examinar primeiro e depois eu vejo os exames

Entatildeo com estas questotildees em mente como enfrentar a DOR Eu acho que satildeo as

entidadesde pacientes com alguma doenccedila de familiares de pessoas portadores das mais

diversas doenccedilas que tecircm que se apoderar do seu proacuteprio corpo da sua pessoa da sua sauacutede

acreditar que cada um de noacutes eacute maior do que a sua doenccedila e assumir o poder sobre o seu corpo

assumir o poder sobre a sua sauacutede Esse eacute o projeto das associaccedilotildees Esta eacute uma das reuniotildees

da AMANF Noacutes temos aqui o fundador da AMANF o Andreacute noacutes temos o Nilton e a Andreacuteia

que satildeo pais de portador tambeacutem a Alessandra eu e a Thalma a minha filha o Paulo Couto

que eacute o nosso presidente que deveria estar aqui hoje e por motivos de sauacutede natildeo pode estar

presente

99

Essa entidade tenta enfrentar a DOR procurando aumentar o conhecimento sobre a doenccedila o

conhecimento puacuteblico o conhecimento dos profissionais de sauacutede fazendo palestras em

faculdades em hospitais em cliacutenicas em escolas onde for necessaacuterio noacutes vamos fazer

palestras diminuir a solidatildeo das pessoas que tecircm essas doenccedilas raras porque muitas vezes

mesmo com NF falam assim Eu nunca tinha visto algueacutem como eu Saber que existe outro

como vocecirc jaacute ajuda a sair um pouco da solidatildeo E vencer o preconceito puacuteblico com a

divulgaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo Noacutes criamos a AMANF haacute dez anos totalmente com trabalho

voluntaacuterio e nossas principais conquistas satildeo reuniotildees mensais divulgaccedilatildeo temos uma paacutegina

na internet cartilhas educativas Uma dasnossas cartilhas estaacute na segunda ediccedilatildeo agora

atualizada e pode ser baixada gratuitamente da internet Essa cartilha jaacute estaacute sendo usada haacute

alguns anos e ela jaacute foi traduzida para o inglecircs dos Estados Unidos e estaacute sendo usada do estado

de Utah

A paacutegina na internet de 2008 a 2012 recebeu 25414 visitas de vaacuterias partes do mundo mas

principalmente do estado de Minas Gerais O nosso endereccedilo para quem quiser acessar eacute

wwwamanforgbr

Fizemos dois simpoacutesios o primeiro foi em 2009 e no Segundo Simpoacutesio Internacional de

NF contamos com a presenccedila do Prof Visconti do Prof Riccardi que eacute o pioneiro em NF

segunda fase da existecircncia das doenccedilas de 78 para caacute e o Dr Bruce Korf O Korf e o Visconti

fazem parte da equipe que descobriu os genes da doenccedila O segundo evento que noacutes

promovemos foi o Terceiro Simpoacutesio Brasileiro em NF no ano passado em comemoraccedilatildeo aos

dez anos da nossa entidade Aqui eacute a faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas

Gerais - UFMG onde fica localizado o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas

na faculdade de Medicina em Belo Horizonte

100

O atendimento eacute totalmente pelo SUS Noacutes temos 700 famiacutelias atendidas e acompanhadas

no ambulatoacuterio ateacute agora Hoje jaacute satildeo mais de 700 200 famiacutelias aproximadamente

acompanhadas pela internet Eu envio o laudo para os meacutedicos das famiacutelias e noacutes

acompanhamos agrave distacircncia

Temos um convecircnio com o Centro de Imagem Molecular onde podemos fazer exames de

imagem dos pacientes Temos ensino para medicina psicologia fonoaudiologia e nutriccedilatildeo

pessoas que fazem mestrado e poacutes-graduaccedilatildeo e doutorado connosco E temos pesquisas

bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica alunos de mestrado e doutorado participaccedilatildeo em congressos

publicaccedilotildees cientiacuteficas

O ano passado noacutes criamos a Sociedade Brasileira de Pesquisa em NF que estaacute comeccedilando

a funcionar o nosso primeiro artigo deve sair em breve um artigo coletivo

Apresentei algumas realizaccedilotildees mas gostaria de falar que a nossa entidade quando

discutimos a nossa participaccedilatildeo na AMAVI nas doenccedilas raras teve um certo medo e que medo

eacute esse Eacute porque aqui noacutes temos uma displasia da tiacutebia que eacute um dos sinais felizmente natildeo

muito comum 2 dos pacientes com NF1 apresenta

Eacute um dos sinais tiacutepicos da doenccedila que eacute uma displasia com uma pseudo-artrose uma

fratura espontacircnea da tiacutebia de uma crianccedila Ela nasce assim Esta foto serve para mostrar que

por mais que a gente tenha vontade de ajudar existem limites proacuteprios Nossa Associaccedilatildeo tem

101

muita dificuldade em reunir tem muita dificuldade para arranjar recursos financeiros entatildeo

essa luta de participaccedilatildeo natildeo eacute faacutecil No primeiro momento noacutes tivemos receio ateacute de nos

integrarmos nas doenccedilas raras a luta geral das doenccedilas raras mas hoje ndash e eu vou falar agora

particularmente em nome do centro de referecircncia em NF ndash noacutes estamos convencidos de que

somente sobre esse grande guarda-chuva das doenccedilas raras eacute que noacutes podemos fazer alguma

coisa em conjunto e dar uma representaccedilatildeo social a essas doenccedilas Noacutes acreditamos hoje que

podemos ajudar e podemos ser ajudados nesse processo dentro da grande luta que estaacute sendo

travada e hoje aqui eacute um momento histoacuterico e fantaacutestico e eu quero agradecer mais uma vez

a oportunidade

Obrigado

Natan Monsores10 ndash Bom dia a todos

Eu vou ser bem sucinto na minha apresentaccedilatildeo Na verdade eacute muito mais de uma demanda

trazida a noacutes pelo Rogeacuterio e por algumas Associaccedilotildees do que fazer uma exposiccedilatildeo cientifica

uma exposiccedilatildeo teacutecnica Em grande parte das falas a gente ouve a informaccedilatildeo aparecendo como

elemento central a necessidade de comunicar a necessidade de informar a necessidade de

trazer ao puacuteblico informaccedilotildees sobre doenccedilas raras A necessidade eacute transversal e perpassa todas

as falas que ouvimos e que eu tenho ouvido esses uacuteltimos anos sobre doenccedilas raras

Seguindo essa loacutegica eu vou aproveitar mais esse momento para fazer um lanccedilamento O

Rogeacuterio me pediu que a gente trouxesse essa ferramenta que tem sido construiacuteda

colaborativamente com o Rogeacuterio e com as Associaccedilotildees trazer para apresentar a vocecircs e fazer

um pedido um grande pedido a todas as Associaccedilotildees aqui presentes aos profissionais de sauacutede

e a todas as pessoas interessadas no tema de doenccedilas raras As discussotildees que temos na Caacutetedra

de Bioeacutetica no departamento de Sauacutede coletiva na UnB e eu tenho a oportunidade de ter aqui

alguns professores da Universidade de Brasiacutelia como a Professora Muna e o Professor Claacuteudio

que desde o comeccedilo tecircm participado destas iniciativas dentro da Universidade de Brasiacutelia Eu

queria apresentar para vocecircs a proposta do observatoacuterio de doenccedilas raras Eacute a proposta de

construccedilatildeo de uma rede que estamos chamando de Rede Raras Uma rede de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras com produccedilatildeo cientiacutefica brasileira com informaccedilotildees

oriundas das Associaccedilotildees de pacientes dos profissionais de sauacutede para que a gente consiga

mesmo que num vislumbre do futuro alcanccedilar o trabalho que tem sido feito pela EURORDIS

Entatildeo quais satildeo as metas desse observatoacuterio sobre as doenccedilas raras Reunir pesquisadores no

campo de doenccedilas raras a fim de agregar expertises nesse campo

A gente sabe que desde a deacutecada de 90 pesquisas sobre doenccedilas raras e medicamentos

oacuterfatildeos tecircm sido feitas no mundo inteiro e aqui no Brasil esse evento esse fenocircmeno eacute muito

recente como jaacute foi comentado aqui Temos a segunda meta que eacute formar pesquisadores no

campo de sauacutede coletiva A nossa intenccedilatildeo natildeo eacute formar geneticistas meacutedicos especialistas eacute

formar profissionais de campos o mais variados possiacuteveis Serviccedilo Social Nutriccedilatildeo Psicologia

Sociologia Antropologia entre outros que tenham o interesse de trabalhar com esse tema e ver

as questotildees sociais as questotildees fundamentais ao campo das doenccedilas raras A terceira meta desse

observatoacuterio eacute fomentar a pesquisa em trecircs aacutereas principais que satildeo aacutereas que pertencem ao

campo de sauacutede coletiva ou que pelo menos perpassam o campo da sauacutede coletiva A primeira

eacute fomentar a pesquisa epidemioloacutegica que decirc subsiacutedio agraves poliacuteticas puacuteblicas em doenccedilas raras

Mesmo sem informaccedilatildeo epidemioloacutegica jaacute estamos aqui discutindo Se natildeo tivermos a pesquisa

epidemioloacutegica para qualificar toda a discussatildeo qualificar o pensamento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas especiacuteficas para patologias especiacuteficas ou entatildeo para doenccedilas raras no geral natildeo

vamos conseguir Sem essas informaccedilotildees natildeo teremos vislumbres muito interessantes ou muito

10 Professor do Departamento de Sauacutede Coletiva e do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Bioeacutetica da UnB

102

promissores sobre o que pode ser feito em termos de investimentos em sauacutede alocaccedilatildeo de

recursos especiacuteficos entre outras coisas

Outra meta eacute a produccedilatildeo de informaccedilatildeo qualificada como eu jaacute falei aqui no iniacutecio Boa

parte da reclamaccedilatildeo das Associaccedilotildees e dos profissionais de sauacutede eacute a falta de informaccedilatildeo E por

que natildeo centralizar essa produccedilatildeo

Por fim promover a reflexatildeo bioeacutetica sobre o tema Jaacute foi comentado aqui tambeacutem que as

questotildees eacuteticas satildeo fundamentais nas relaccedilotildees entre as ssociaccedilotildees de pacientes a Induacutestria

Farmacecircutica o Governo e a Comunidade Cientiacutefica E tambeacutem eacute importante que essa

discussatildeo seja fomentada com liberdade e com responsabilidade entre todos os parceiros

Agregar e organizar a produccedilatildeo brasileira em doenccedilas raras A informaccedilatildeo as produccedilotildees

cientiacuteficas que a gente tem no Brasil hoje estatildeo fragmentadas em repositoacuterios de teses em

dissertaccedilotildees no Scielo em alguns outros repositoacuterios institucionais que satildeo da academia ndash satildeo

feitos na academia para a academia estaacute dentro da universidade para a universidade com

linguagem voltada para o campo da ciecircncia E por que natildeo trazer essa informaccedilatildeo fazer

comentaacuterios fazer uma discussatildeo sobre essa informaccedilatildeo num lugar centralizado

E por fim e talvez seja a missatildeo mais importante do observatoacuterio eacute apoiar as Associaccedilotildees

de pacientes e os demais interlocutores interessados nessa discussatildeo de doenccedilas raras

Trago em primeira matildeo uma iniciativa ainda embrionaacuteria Eacute rudimentar Ainda estamos

trabalhando com a equipe de Tecnologia da Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e vamos

precisar do apoio das Associaccedilotildees da induacutestria farmacecircutica e do Ministeacuterio da Sauacutede para

consolidar essa iniciativa Falar em rede rede de uma pessoa rede de uma associaccedilatildeo rede de

um grupo soacute natildeo eacute falar de rede Rede natildeo eacute isso Entatildeo eu Professor Natan da caacutetedra de

bioeacutetica da Universidade de Brasiacutelia a AMAVI natildeo tem a intenccedilatildeo de montar uma rede nesse

sentido Uma rede centralizadora na qual as Associaccedilotildees ououtros interlocutores soacute se

aproximam e a gente fica mandando ordenando e organizando natildeo eacute a nossa intenccedilatildeo Muito

menos fazer essa rede descentralizada na qual a gente tem conversas pontuais entre alguns

grupos e mesmo assim com uma hierarquia com algueacutem centralizando esse processo A nossa

visatildeo de rede assenta numa construccedilatildeo distribuiacuteda a rede do coletivo rede que tem poder na

matildeo de ningueacutem na matildeo de nenhuma associaccedilatildeo sem disputas poliacuteticas sem ideologias

partidaacuterias sem qualquer perspectiva que desagregue Falar de poder falar de empoderamento

no caso de redes eacute passar o poder passar a construccedilatildeo dessa noccedilatildeo de rede dessa noccedilatildeo de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo para as matildeos de quem eacute de direito que satildeo as Associaccedilotildees satildeo as

pessoas com doenccedilas raras

Natildeo cabe agrave Universidade natildeo cabe ao Ministeacuterio da Sauacutede natildeo cabe agrave Induacutestria

Farmacecircutica pautar as Associaccedilotildees com aquilo que pensam ser mais importante pelo

contraacuterio as Associaccedilotildees eacute quem devem dizer a esses interlocutores aquilo que eacute necessaacuterio a

informaccedilatildeo que querem que tipo de construccedilatildeo de conhecimento cientifico e de conhecimento

sobre doenccedilas raras precisam

Haacute quatro elementos que vatildeo ser principais na consolidaccedilatildeo da Rede Raras Primeiro o

Clustering ou seja deixar que a organizaccedilatildeo dessa rede apareccedila por si soacute deixar que vocecircs

das Associaccedilotildees de pacientes vocecircs aqui que se interessam pelo tema de doenccedilas raras que

vocecircs tragam elementos informaccedilatildeo e discussotildees para esse universo e espaccedilo que vamos

construir colaborativamente A segunda coisa importante eacute o Swarming que eacute permitir que essa

Rede se auto conduza Noacutes da Universidade de Brasiacutelia natildeo temos o menor interesse em

centralizar essas informaccedilotildees nos nossos repositoacuterios acadecircmicos NatildeoA gente quer que essa

informaccedilatildeo seja publicada partilhada e produzida por vocecircs e para vocecircs Cloning noacutes

queremos que os ramos dessa rede surjam espontaneamente Noacutes queremos que as associaccedilotildees

venham espontaneamente participar desse processo ajudem a construir essa Rede E por fim

o Crunching quanto maior a interatividade nessa Rede quando maior a troca de informaccedilatildeo

quanto maior a troca de expertises dessa futura Rede Raras mais forte ela vai ficar mais firme

103

os noacutes e as relaccedilotildees dessa rede vatildeo se estabelecer Essa eacute a noccedilatildeo de rede social que trazemos

aqui e que seraacute a base da Rede Raras Social natildeo eacute soacute um conjunto de pessoas mas eacute a interaccedilatildeo

entre essas pessoas

A construccedilatildeo de uma rede social somente existe se as associaccedilotildees de pacientes e as pessoas

interagirem Redes sociais tambeacutem natildeo satildeo somente ferramentas natildeo satildeo soacute o espaccedilo natildeo satildeo

soacute repositoacuterios satildeo pessoas interagindo Portanto natildeo adianta colocarmos um espaccedilo criar um

Facebook cover um Orkut cover ou alguma coisa parecida se eu natildeo tenho as pessoas

agregadas Redes sociais satildeo redes de comunicaccedilatildeo natildeo somente de informaccedilatildeo Eu natildeo posso

pretender que essa Rede Raras seja apenas um repositoacuterio de produccedilatildeo cientiacutefica Ela tem que

ser comentada por vocecircs tem que ser criticada por vocecircs ela tem que ser construiacuteda

conjuntamente Redes sociais satildeo ambientes de interaccedilatildeo natildeo somente de participaccedilatildeo Se

criarmos esse espaccedilo e ele ficar morto na internet perdido na internet isso natildeo vai fazer o

menor sentido Pedimos que as associaccedilotildees participem interajam Conhecimento eacute relaccedilatildeo

social Quando eu falo de rede social o conhecimento soacute emerge dessas interaccedilotildees Se eu falar

como eu jaacute falei aqui no iniacutecio que a Universidade de Brasiacutelia tem a pretensatildeo de agregar de

controlar essa rede eu estarei indo contra os princiacutepios de formaccedilatildeo de qualquer rede social

Porquecirc Porque eacute uma medida de natildeo rede Se eu concentrar essa rede na Universidade de

Brasiacutelia significa que eu tirei o poder de vocecircs que eu tirei o poder das Associaccedilotildees de

Pacientes de construir aquilo que elas querem aquilo que eacute a informaccedilatildeo necessaacuteria Entatildeo essa

perspectiva mais global eacute a ideia que trazemos agrave Rede Raras

Em suma eacute uma rede social online baseada em software livre com informaccedilatildeo livre

disponiacutevel para todos Cada interessado pode criar e moderar o seu proacuteprio espaccedilo esse espaccedilo

promove a formaccedilatildeo de grupos de blogs de paacuteginas envio de arquivos criaccedilatildeo de book

marcas links para as associaccedilotildees de vocecircs E ainda tem o microblog para comunicaccedilatildeo interna

de quem quiser participar dessa rede Essa aqui eacute a carinha da ferramenta A ferramenta bruta

Ela prevecirc espaccedilos especiacuteficos que devem ser preenchidos pelas associaccedilotildees A nossa eacute um

espaccedilo muito semelhante Quem frequenta Facebook quem frequenta Google Plus quem jaacute

frequentou Orkut vai conseguir se achar aqui sem nenhum problema Eacute uma rede um foacuterum

um grupo de discussatildeo Eacute um sistema que agrega diversas ferramentas Eacute possiacutevel criar perfisAgrave

medida que as pessoas agregarem informaccedilotildees conteuacutedos conhecimentos e forem

compartilhando as informaccedilotildees que tecircm sobre doenccedilas raras essa rede vai crescendo vai

agregando valor Por isso que eu faccedilo um apelo para vocecircs Eu natildeo estou preocupado em fazer

uma apresentaccedilatildeo muito acadecircmica Eacute mais um apelo eacute mais um chamado A gente precisa dos

104

Netweavers Quem que satildeo os Netweavers Satildeo as pessoas que articulam essa rede que estatildeo

trazendo esses elementos trazendo informaccedilatildeo11

Qual que eacute a nossa meta O representante da EURORDIS falou haacute pouco que eles possuem

essa rede em funcionamento na Europa que agrega participantes tambeacutem dos Estados Unidos

do Canadaacute da NORD12 e da CORD13 Como estamos usando o sistema Elgg que eacute todo

modular a nossa ideia eacute um dia aqui no Brasil termos uma rede de colaboraccedilatildeo nos moldes da

Rare Conect

O que temos nessa rede (wwwrareconnectorg) Tem informaccedilotildees trazidas pelos

pacientes tem informaccedilotildees trazidas pelos especialistas tem a contribuiccedilatildeo muacutetua entre

associaccedilotildees de pacientes Eacute esse espaccedilo livre onde as informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras seratildeo

produzidas onde a comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras vai ser feita onde as pessoas poderatildeo

buscar informaccedilotildees sobre as suas proacuteprias condiccedilotildees Eu vou encerrar por aqui Vou deixar o

endereccedilo e vou deixar aqui o apelo para vocecircs Na construccedilatildeo desse congresso fizemos muitas

discussotildees sobre como a gente iria conduzir essa questatildeo da rede dessa possibilidade futura

Mas eu queria fazer um apelo que as associaccedilotildees de pacientes aqui representadas fizessem pelo

menos a tentativa de explorar o espaccedilo dar sugestotildees ver as dificuldades de acesso para que a

gente consiga avanccedilar para uma rede como a Rare Connect

Obrigado gente e desculpem a informalidade

11 http16441147224fsrederaras 12 National Organization for Rare Disease wwwrarediseaseorg 13 Canadian Organization for Rare Disorders wwwraredisordersca

105

2ordf Mesa O que acontece no mundo

Yann Lee1 ndash Eacute um grande prazer estar com vocecircs

Pediram que eu apresentasse a Organizaccedilatildeo Europeia para Doenccedilas Raras e como tentamos

fazer o cuidado dos pacientes

Quem somos noacutes

EURORDIS eacute uma organizaccedilatildeo natildeo governamental dirigida para os pacientes A nossa

missatildeo eacute construir uma forte comunidade Europeia entre as Associaccedilotildees de pacientes e

diretamente ou indiretamente lutar contra o espaccedilo de doenccedilas raras na vida desses pacientes e

de suas famiacutelias Como vocecircs jaacute sabem haacute mais ou menos trinta milhotildees de pessoas que vivem

na Europa e satildeo afetadas por doenccedilas raras Quando noacutes falamos da Europa falamos em

quarenta e oito paiacuteses compondo esse conjunto A EURORDIS foi fundada em 1997 tem mais

de quinze anos e atualmente temos quase 600 organizaccedilotildees de pacientes e associaccedilotildees Estamos

em 54 paiacuteses ateacute fora da Europa em alguns casos e tambeacutem em 38 paiacuteses europeus Dentro da

nossa organizaccedilatildeo temos duas redes Uma chamada Alianccedilas Nacionais que eacute composta por 30

alianccedilas nacionais Tambeacutem temos 44 federaccedilotildees europeias Cada uma aborda um grupo ou

uma doenccedila rara ou um grupo de doenccedilas raras Juntos noacutes representamos mais de 4000

doenccedilas raras Para fazer as nossas atividades temos uma equipe de 26 pessoas em escritoacuterios

de Bruxelas e Barcelona e 130 voluntaacuterios Estes provavelmente satildeo a parte que eu mais me

orgulho porque satildeo eles que ajudam nas nossas atividades e na construccedilatildeo da nossa

comunidade

Uma das nossas formas de compor esta comunidade eacute organizando uma reuniatildeo anual de

membros que eacute uma reuniatildeo de dois dias com vaacuterios workshops e oficinas de capacitaccedilatildeo que

tentam envolver o maacuteximo possiacutevel de pacientes e famiacutelia de pacientes Noacutes comeccedilamos em

Barcelona em 2014 em Berlim e em 2015 seraacute em Madrid Organizamos esta reuniatildeo dedicada

aos pacientes agraves famiacutelias dos pacientes e levaacutemos os criadores de poliacuteticas puacuteblicas e

palestrantes

A conferecircncia europeia de doenccedilas raras acontece a cada dois anos com todos os parceiros

dessa organizaccedilatildeo As Conferecircncias comeccedilaram em 2001 em Copenhagen em 2012 em

Bruxelas e seraacute ano que vem em Berlim do dia oito a dez de maio E esta reuniatildeo tem mais

ou menos 700 participantes da Europa Tambeacutem construiacutemos a nossa comunidade atraveacutes

desse conselho de alianccedilas nacionais ligado agraves Doenccedilas Raras Noacutes temos um Conselho que

inclui vaacuterias alianccedilas Uma grande parceria acontece em Toronto e na Ameacuterica Latina aleacutem de

Taiwan e do JapatildeoTemos uma parceria especiacutefica entre a EURORDIS e a National

Organization for Rare Disorders nos EUA onde fazemos progressivamente parcerias em

atividades especiacuteficas

Este trabalho de alianccedilas nacionais trabalha especificamente no conceito que vocecircs jaacute

conhecem e noacutes tentamos trabalhar com uma estrateacutegia de accedilotildees e tambeacutem trabalhamos criando

planos nacionais para as doenccedilas raras Essa eacute nossa meta Outra rede principal com a qual

trabalhamos eacute a rede de Federaccedilotildees Europeias Satildeo 44 federaccedilotildees que fazem pesquisas

trabalhos em rede e centros de especializaccedilatildeo para estudar cada uma das doenccedilas raras Tambeacutem

trabalhamos com legislaccedilatildeo para os pacientes Coletamos informaccedilotildees e fazemos nossa rede

atraveacutes de algumas ferramentas Temos um site em sete liacutenguas diferentes que inclui portuguecircs

Temos muitas publicaccedilotildees em portuguecircs e provavelmente podem ser acessadas em todo o

Brasil Tambeacutem temos o site em espanhol e em inglecircs com bastante informaccedilatildeo Mas nas

1 Presidente da Europe Rare Diseases ndash EURORDIS (via skype)

106

outras liacutenguas tambeacutem temos bastante informaccedilatildeo traduzida Tambeacutem temos um email feito

nos sete idiomas incluindo portuguecircs Temos publicaccedilotildees documentos e brochuras e tudo

pode ser encontrado numa sessatildeo digital no site Noacutes temos um blog internacional mas mais

importante que isso noacutes temos comunidades online para os pacientes onde eles podem se

conectar ndash ldquoWe Are Connectrdquo

As principais conquistas ateacute agora tecircm sido para contribuir com a adoccedilatildeo de uma

regulaccedilatildeo na Uniatildeo Europeia direcionada agraves doenccedilas raras e para o desenvolvimento de

tecnologia para as doenccedilas raras na Europa Tambeacutem participamos de um documento sobre o

uso pediaacutetrico de produtos medicinais no acircmbito das doenccedilas raras em 2006 e em 2007 num

tratado de terapia avanccedilada meacutedica nessa aacuterea

Em 2012 trabalhamos um documento sobre os direitos dos pacientes que eacute transfronteiriccedilo

e abrange os direitos dos pacientes na Europa Tambeacutem contribuiacutemos para a adoccedilatildeodo uso de

um texto fundador que ajuda a formular a Poliacutetica Europeia sobre Doenccedilas Raras Hoje

trabalhamos muito de perto com vocecircs no desenvolvimento das poliacuteticas que estatildeo sendo

implementadas e criadas no Brasil E estamos trabalhando em conjunto como parceiros

Uma coisa muito importante para vocecircs do Brasil eacute que em conjunto com as legislaccedilotildees

noacutes tambeacutem estamos promovendo a doenccedila rara como prioridade na agenda poliacutetica em termos

de accedilotildees De 2007 a 2013 noacutes tivemos 500 milhotildees de euros dedicados agrave pesquisa atraveacutes da

promoccedilatildeo das doenccedilas raras Realmente eacute um crescimento muito grande no investimento e eu

acredito que no Brasil vocecircs tambeacutem querem ter essa mesma abordagem entre os principais

estados e a Federaccedilatildeo Nacional a niacutevel nacional Essa articulaccedilatildeo seria muito beneacutefica para

todos vocecircs O dia das doenccedilas raras acontece no uacuteltimo dia de fevereiro todos os anos porque

o dia das doenccedilas raras geralmente ou eacute dia 28 ou eacute dia 29 de fevereiro Foi criado no ano de

2008 pela EURORDIS junto com as suas Alianccedilas Nacionais Eu diria que esta foi nossa maior

contribuiccedilatildeo para a comunidade Vocecircs do Brasil satildeo muito participativos e a vossa influecircncia

providenciando diferentes ferramentas conteuacutedos mensagens viacutedeos e ideias apoiam as

discussotildees que ocorrem entre as Alianccedilas Nacionais

Na Ameacuterica do Norte nos Estados Unidos tambeacutem coordenamos alguns eventos desde o

ano de 2009 com os nossos parceiros No ano de 2013 tivemos uma participaccedilatildeo de 70 paiacuteses

no dia das doenccedilas raras Noacutes temos seis anos de experiecircncia em relaccedilatildeo a esse dia especiacutefico

das doenccedilas raras e a cada ano promovendo assuntos diferentes mas promovendo sempre o

cuidado por exemplo ldquoCuidado do Paciente - um Assunto Puacuteblicordquo ldquoPesquisa para os pacientes

- um assunto raro mais igual igual mas mais forterdquo Estamos focando este assunto de uma forma

local mas tambeacutem internacionalmente

Todos noacutes podemos melhorar a qualidade do cuidado dos pacientes com doenccedilas raras

Gostaria de concluir com aludindo ao poder das Associaccedilotildees de pacientes primeiramente

na pesquisa no diagnoacutestico no cuidado e no plano nacional A voz empoderada das

Organizaccedilotildees dos pacientes atraveacutes da anaacutelise natildeo somente baseada em anedotas ou

testemunhos eacute muito importante sobretudo o seu papel nas pesquisas atraveacutes da coleta de

dados Aleacutem disso estas organizaccedilotildees tecircm sido muito importantes no diagnoacutestico As

sssociaccedilotildees podem providenciar apoio financeiro agraves pesquisas e ajudar na criaccedilatildeo de uma

abordagem transacional

Tambeacutem temos observado junto com os colegas acadecircmicos que quando as organizaccedilotildees

de pacientes trabalham juntas e satildeo muito ativas na pesquisa e daqui resultauma rede que estaacute

crescendo e tudo isto satildeo fatores chave para o sucesso para promover mais a pesquisa cientiacutefica

e para gerar mais conhecimento na aacuterea Para dar um exemplo as organizaccedilotildees de pacientes

participam em diferentes redes de pesquisa elas participam em redes de pesquisa muito

teacutecnicas como terapia gecircnica ou a rede de pesquisa cliacutenica na Europa mas tambeacutem em projetos

especiacuteficos sobre doenccedilas raras concretas Com base nessas pesquisas nessas abordagens que

as Associaccedilotildees trazem sobre os pacientes e sobre as atividades de pesquisa noacutes podemos

107

promover documentos ajudar a criar as associaccedilotildees a formular poliacutetica de pesquisa Por

exemplo por que pesquisar doenccedilas raras Esta eacute uma aacuterea a que as associaccedilotildees podem dar

muito apoio

No ano passado noacutes organizamos uma pesquisa que contou com a participaccedilatildeo de 3000

pacientes e pais E por causa do levantamento que foi feito noacutes geraacutemos e publicaacutemos e a

primeira Declaraccedilatildeo Conjunta entre associaccedilotildees Uma declaraccedilatildeo de 10 chaves principais para

os pacientes de doenccedilas raras baseada em pesquisas em terapias mas que serve tambeacutem para

o apoio de serviccedilos de sauacutede Isso tem contribuiacutedo por exemplo para a elaboraccedilatildeo de uma

recomendaccedilatildeo europeia feita por uma comissatildeo de especialistas em doenccedilas raras Atraveacutes

deste exemplo vocecircs podem observar como os pacientes tecircm contribuiacutedo como parceiros junto

com os seus colegas acadecircmicos E natildeo soacute contribuindo como agentes de pesquisa mas

tambeacutem ajudando a formular uma poliacutetica e um processo

Noacutes tambeacutem temos trabalhado com cuidado e diagnoacutestico Fazemos levantamento junto

dos pacientes sobre o acesso ao cuidado e coletamos muita informaccedilatildeo para ser usada no nosso

trabalho de advocacy O fato de 25 dos pacientes terem dito que que estavam esperando entre

cinco a trinta anos desde os seus primeiros sintomas para conseguirem um diagnoacutestico eacute muito

seacuterio e sugere uma intervenccedilatildeo meacutedica incorreta ou ateacute cirurgias incorretas Este eacute um dado

muito interessante O resultado dessa pesquisa foi publicado num livro que pode ser baixado

no site e se chama ldquoA voz de doze mil pacientesrdquo Isto daacute uma ideia clara de alguns pontos

ligados ao diagnoacutestico e cuidado Esse livro tem sido muito importante para a formulaccedilatildeo de

uma poliacutetica europeia da Uniatildeo Europeia mas tambeacutem para as poliacuteticas nacionais

Eacute importante a anaacutelise da situaccedilatildeo para ver qual eacute a realidade das necessidades e quais satildeo

as prioridades Os pacientes satildeo quem tem uma visatildeo a longo prazo porque eles e as famiacutelias

realizam o cuidado dessas doenccedilas raras a tempo integral Eles possuem uma visatildeo muito mais

longo prazo do que os outros parceiros E isso provavelmente eacute uma das principais

contribuiccedilotildees dos pacientespara criar uma nova poliacutetica para o futuro Esta eacute a importacircncia de

envolver os pacientes no processo

A EURORDIS eacute o principal parceiro na organizaccedilatildeo de seminaacuterios nacionais e

internacionais sobre doenccedilas raras usando a metodologia e as melhores praacuteticas para conduzir

tais seminaacuterios Para que tudo isso possa acontecer de uma forma consistente e cooperativa os

pacientes tem oito representantesA participaccedilatildeo o empoderamento do paciente acontece a niacutevel

nacional internacional e para o desenvolvimento de poliacuteticas e realizaccedilatildeo de pesquisas

Sobre o desenvolvimento de medicamentos noacutes tambeacutem participamos ativamente em

diferentes comitecircs cientiacuteficos como o comitecirc para produtos pediaacutetricos o comitecirc para

medicamentos oacuterfatildeos e o comitecirc para terapias avanccediladas Aleacutem desta participaccedilatildeo em comitecircs

de medicamentos tambeacutem participamos no Consoacutercio internacional de pesquisa em doenccedilas

raras que foi estabelecido em diversos paiacuteses do mundo e que tem firmes objetivos

Convidamos vocecircs a participarem no proacuteximo dia de doenccedilas raras Se juntem a noacutes para

o melhor cuidado a doenccedilas raras

Muito obrigado

Virgiacutenia Llera2 ndash Em primeiro lugar muito obrigada Eacute uma honra estar no Brasil e com

vocecircs uma vez mais

Desde 2007 a Geiser que eacute a Organizaccedilatildeo latino-americana de doenccedilas raras trabalha com

os companheiros e colegas do Brasil Eu quero agradecer muito ao Rogeacuterio porque estou

realmente muito impressionada e contente pelo progresso que teve a AMAVI

2 Fundacion Geiser

108

A Geiser nasceu em 2002 na Argentina e agora estamos trabalhando em todo o continente

Temos delegados no Chile no Uruguai no Peru no Panamaacute no Brasil na Repuacuteblica

Dominicana no Equador no Meacutexico e tambeacutem em Washington Ao longo destes anos temos

gerado conhecimento acerca do que acontece em nosso continente Entatildeo por quecirc falar de

Ameacuterica Latina se jaacute temos bastantes problemas para pensar soacute aqui no Brasil Por quecirc

complicar

Eu na verdade acredito que tenho este papel o papel de complicar sobretudo o Ministeacuterio

da Sauacutede de cada um dos paiacuteses Na verdade ainda tem muito para fazer e se natildeo existe a

possibilidade de unir natildeo eacute possiacutevel gerar soluccedilotildees estrateacutegicas viaacuteveis a meacutedio e longo prazo

para as doenccedilas raras Para essas doenccedilas a medida para ser exitosa deve sair do niacutevel nacional

e gerar uma uniatildeo mais alargada

O que temos de positivo na Ameacuterica Latina eacute a proposta de trabalhar em conjunto com

todos os paiacuteses Em primeiro lugar temos a importante populaccedilatildeo de 600 milhotildees de habitantes

e temos um contexto paciacutefico ateacute ao momento As barreiras entre linguagens satildeo mais faacuteceis

Eu os entendo quando falam em portuguecircs e vocecircs me entendem E assim somos muito felizes

porque na realidade podemos facilmente nos entender pelo menos nos aspectos mais baacutesicos

Temos uma histoacuteria comum temos a possibilidade de argumentar possibilidades Temos

tambeacutem nossos desafios econocircmicos digamos que os desafios econocircmicos do Brasil

considerando que tem uma populaccedilatildeo muito maior satildeo similares aos demais paiacuteses latino-

americanos Tambeacutem temos paiacuteses que estatildeo liderando economicamente um protagonismo

internacional Temos a possibilidade de integrar estas iniciativas regionais a meacutedio e longo

prazo Lamento natildeo temos um levantamento seacuterio dos recursos jaacute existentes na Ameacuterica Latina

como por exemplo a EUROCAT3 na Europa Muitas das maacutes formaccedilotildees craniofaciais satildeo

doenccedilas raras Natildeo todas mas cerca de 80 de todas as doenccedilas raras satildeo geneacuteticase dependem

de muitos fatores que tecircm a ver com o ambiente e que natildeo podemos deixar todavia de estudar

Temostrabalhos epidemioloacutegicos em doenccedilas raras designadamentesobre o levantamento

de recursos exigidos para entender quais satildeo os recursos de que se necessita para saber quais

as combinaccedilotildees desses recursos exigidose ainda para fazer um levantamento das caracteriacutesticas

por nacionalidade e necessidades da populaccedilatildeo

Finalmente a Geiser como uma instituiccedilatildeo possui metas para alcanccedilar os seus objetivos

e uma delas eacute gerar relaccedilotildees institucionais entre os niacuteveis nacionais regionais e internacionais

Para alguns estudiosos dos 500 milhotildees de habitantes que temos na Ameacuterica Latina 218

milhotildees precisam de seguranccedila social Existe uma deficiecircncia na quantia financeira utilizada

pela Ameacuterica Latina e Caribe em 2008 Isso foi estimado em 73 milhotildees de doacutelares que

equivalem a 23 do gasto nacional em sauacutede para bens e serviccedilos nos Estado Unidos

A Ameacuterica Latina natildeo investe em sauacutede isto se falarmos de posiccedilatildeo poliacutetica e temos que

comeccedilar pensando que a sauacutede deve ser uma prioridade da naccedilatildeo 78 dos gastos correspondem

a mais ou menos sete doacutelares e meio E existe um problema importante a fragmentaccedilatildeo na

lideranccedila na persistecircncia da inequidades em sauacutede o que quer dizer que natildeo pode ser tratado

do mesmo jeito algueacutem que vive em qualquer capital de qualquer paiacutes Latino Americano e

algueacutem que vive no interior desses paiacuteses

92 dos paiacuteses da Ameacuterica Latina tem trabalhado em protocolos necessaacuterios para as

medicinas essenciais Na verdade isso varia entre 30 a 46 para cobrir 650 medicamentos e natildeo

estamos falando dos oacuterfatildeos mas dos medicamentos no total para cuidados essenciais

Finalmente a expiraccedilatildeo de algumas patentes nos Estados Unidos permitiu a introduccedilatildeo de

algumas patentes de biotecnologia no Brasil em 4 e na China com 24 Este slide mostra

onde se vecirc a inversatildeo que a Ameacuterica Latina tem feito em investigaccedilatildeo

3 httpwwweurocat-networkeu

109

Embora o Brasil esteja melhor em termos de patentes e investigaccedilatildeo na realidade estamos

muito longe de poder gerar uma visatildeo estrateacutegica que possua investigaccedilotildees seacuterias e nos

permitam estar em outra posiccedilatildeo

Temos atualmente quatro paiacuteses com leis nacionais sobre doenccedilas raras Argentina

Colocircmbia Equador e Peru Quero dizer que este primeiro passo eacute muito importante que

estamos muito contentes Assumimos isto como um resultado de 11 anos em que a Geiser vem

trabalhando no continente

O que significa ter uma lei sobre doenccedilas raras E por que isso eacute tatildeo importante Porque

essas situaccedilotildees sociais almejam um documento de nacionalidade e identidade o que significa

que institucionalmente existem entidades legais para serem reclamadas Se natildeo existem leis

em um paiacutes a proacutepria denominaccedilatildeo desde a instituiccedilatildeo nacional do que satildeo as enfermidades

raras fica difiacutecil de entender Por outro lado todas estas leis incluem a definiccedilatildeo a produccedilatildeo

de registros os programas educacionais os reembolsos os serviccedilos de sauacutede a informaccedilatildeo e a

inclusatildeo social embora de forma variaacutevel

Quais satildeo os problemas entre essas leis e outras que poderiacuteamos analisar Em primeiro

lugar os conceitos das leis nacionais surgidas entre os diversos paiacuteses satildeo diferentes Criou-se

uma barreira interna para depois gerar projetos comuns e planos estrateacutegicos em conjunto As

leis nacionais natildeo possuem relaccedilatildeo Eu tenho feito parte do conselho assessor da uacutenica lei

provincial desse regulamento que basicamente busca ter registros que cumpram com as

instacircncias internacionais Na Ameacuterica Latina satildeo poucos os paiacuteses que tecircm as enfermidades

raras definidas sobretudo aqueles com maior populaccedilatildeo Aleacutem disso os dados que podemos

obter acerca do gasto econocircmico de cada paiacutes com enfermidades raras natildeo eacute acessiacutevel Natildeo haacute

inclusatildeo e quando haacute como eacute o caso por exemplo de algumas leis natildeo eacute clara a participaccedilatildeo

dos pacientes

Quero mostrar rapidamente a posiccedilatildeo dos pacientes como membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Avaliaccedilotildees Tecnoloacutegicas em Sauacutede Sou parte de um grupo de cidadatildeos que

fiz uma Ementa internacional que natildeo tem validade sem ter alguns indicadores Participaram

14 paiacuteses da Ameacuterica Latina Na realidade os participantes foram na maioria pacientes mas

tambeacutem cuidadores e alguns profissionais Estes dados revelam que Entre 13e 44 estatildeo muito

inconformados e soacute entre um e 33 estavam satisfeitos e muito satisfeitos Este cenaacuterio soacute

muda se considerarmos aqui paiacuteses como a Austraacutelia e o Canadaacute

O que eacute que os pacientes dizem ser mais difiacutecil para eles Ou que eacute mais importante para

eles em termos de identificaccedilatildeo

63 disse que tem dificuldade em identificar um meacutedico 59 em conseguir um

diagnoacutestico 53 em aprender acerca de sua enfermidade e 52 em encontrar um tratamento

Portanto o tratamento natildeo estaacute no iniacutecio jaacute que 47 afirma ainda ter dificuldade em encontrar

um grupo de suporte Eacute portanto necessaacuterio que seja gerado suporte e cresccedilam os grupos

suporte

Quanto aos medicamentos oacuterfatildeos o Governo de diferentes paiacuteses da Ameacuterica Latina

tampouco tem legislaccedilatildeo clara acerca do que satildeo medicamentos oacuterfatildeos pelo que eacute muito

importante chegar a acordos nesse sentido A proposta eacute diferente daquela que se implanta

atualmente no Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil A proposta da Organizaccedilatildeo Panamericana de

sauacutede eacute que existam oacutergatildeos centralizados para a negociaccedilatildeo e para a descentralizaccedilatildeo dos

recursos para o cuidado Torna-se importante senatildeo fundamental que exista um organismo que

seja especiacutefico das enfermidades raras

Em relaccedilatildeo aos pacientes todas as enfermidades crocircnicas estatildeo mal cobertas portanto eacute

necessaacuterio que surja um espaccedilo especiacutefico para as enfermidades raras porque senatildeo vatildeo ficar

imersos em patologias ou em problemas mais frequentes como as enfermidades crocircnicas

desvinculando-se de suas caracteriacutesticas proacuteprias

110

Estas satildeo as propostas da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede em relaccedilatildeo aos medicamentos

oacuterfatildeos e as conclusotildees satildeo que na realidade as enfermidades raras e os medicamentos oacuterfatildeos

satildeo um problema de grande importacircncia que implicam um impacto econocircmico importante para

toda a populaccedilatildeo Existe uma separaccedilatildeo entre o Governo e as necessidades da populaccedilatildeo eas

Associaccedilotildees Latinoamericanas precisam ser mais visiacuteveis A Ameacuterica Latina precisa de planos

masters e natildeo soacute de accedilotildees pontuais que podem ser muito boas muito positivas sinal que temos

que aprender a trabalhar juntos e de uma maneira inteligente

Obrigada

Segolene Aymeacute4 ndash Primeiro eu gostaria de parabenizaacute-los pelo evento Na Europa a nossa

experiecircncia comeccedilou cautelosamente haacute 15 anos atraacutes

Eu vou abordar as soluccedilotildees que noacutes encontraacutemos e o quanto elas satildeo apropriadas para as

doenccedilas raras sendo assim um bom caminho para vocecircs seguirem

O nosso estatuto de drogas oacuterfatildes eacute de haacute 15 anos atraacutes mas claro que as drogas oacuterfatildes satildeo

apenas um elemento da poliacutetica Eacute necessaacuterio os pacientes terem acesso agraves drogas quando elas

satildeo desenvolvidas mas soacute 400 doenccedilas raras tecircm drogas O que eacute realmente importante eacute ter

publicaccedilotildees aprovadas porque o sistema tem que se adaptar agraves especificidades das doenccedilas

raras Nisto eu concordo com a apresentaccedilatildeo do Ministeacuterio que diz natildeo precisar de um

departamento oficial para as doenccedilas raras Na verdade precisam da sua implementaccedilatildeo oficial

e o sistema em geral eacute que tem que se adaptar agraves doenccedilas raras

Noacutes temos um programa para pensar como organizar o sistema e a primeira decisatildeo foi

melhorar os ambientes ambiente dos pacientes ambiente das enfermidades das poliacuteticas

promover informaccedilotildees principalmente pela internet A primeira coisa feita na Europa foi o

estabelecimento de um espaccedilo que na verdade era um site que estaacute tambeacutem em portuguecircs e eacute

muito visitado por pessoas do Brasil E este fez grandes diferenccedilas porque ali estatildeo informaccedilotildees

sobre deficiecircncias pacientes e os pacientes acessam os dados que abordam a deficiecircncia A

segunda coisa que fizemos foi montar um Network para sinalizar para os especialistas e cliacutenicos

que queriacuteamos especialistas colaborando na geraccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes que incluem

vaacuterias corporaccedilotildees natildeo apenas com um paiacutes mas com os outros paiacuteses Entatildeo esta foi uma

decisatildeo muito relevante

Hoje em dia os hospitais fazem os diagnoacutesticos baseados na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras mas essa classificaccedilatildeo de doenccedilas raras natildeo inclui as maacutes formaccedilotildees

craniofaciais Entatildeo se as doenccedilas craniofaciais natildeo constarem na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras essas doenccedilas tornam-se invisiacuteveis Assim na publicaccedilatildeo seguinte da

classificaccedilatildeo de Doenccedilas raras as doenccedilas craniofaciais passaram a estar incluiacutedas Esta foi uma

vitoacuteria Noacutes estabelecemos um Comitecirc de peritos em doenccedilas craniofaciais e eu quero insistir

nisso porque acho que eacute importante vocecircs saberem isso eacute uma organizaccedilatildeo social onde as

pessoas se expressam dizem as suas necessidades onde a voz do povo eacute ativa Mas vocecircs natildeo

podem fazer isso se natildeo tiverem os peritos e cliacutenicos com vocecircs neste caminho Neste comitecirc

que temos na Europa noacutes temos mais de 50 e todos eles possuem voz e representam todo

mundo Na Franccedila somos mais avanccedilados em alguma aacutereas embora os japoneses sejam

melhores em outras aacutereas mas isso eacute fascinante e podemos copiar o que eacute trabalhado em outros

paiacuteses

Noacutes colocamos muita energia na promoccedilatildeo do network entre os paiacuteses sobre as doenccedilas

raras Conseguimos convencer os Estados Unidos a fazerem parte da Associaccedilatildeo Internacional

de Doenccedilas Raras e eu torccedilo para que o Brasil faccedila parte tambeacutem jaacute que estou convidando Esta

eacute uma iniciativa onde os paiacuteses discutem prioridades Temos uma plataforma para registrar e

encontrar as doenccedilas raras e este eacute um futuro muito bonito Noacutes podemos mensurar o efeito de

4 EU Committee of Experts of Rare Diseases ndash EUCERD

111

todas estas iniciativas porque temos incentivos das induacutestrias Noacutes podemos dizer que nada

disso teria acontecido se natildeo tiveacutessemos trabalhado com as Organizaccedilotildees promovido o network

para construccedilatildeo das poliacuteticas e junto com os Ministeacuterios natildeo tiveacutessemos uma uacutenica voz

expressando o que a sociedade civil queria Entatildeo por favor faccedilam com que as organizaccedilotildees

trabalhem juntas

Em vaacuterios paiacuteses tivemos de instalar uma organizaccedilatildeo para os pacientes com doenccedilas raras

e estabelecer o contato com os Ministeacuterios da Sauacutede E fizemos um acordo Em dezembro noacutes

fechaacutemos algo que obriga os paiacuteses a terem um plano para doenccedilas raras Eacute claro que alguns

paiacuteses tecircm um plano mas natildeo o colocam em praacutetica o que mostra que o plano eacute pouco efetivo

mas tambeacutem haacute paiacuteses com estrateacutegias muito boas

Eacute preciso a que todos os meacutedicos e pacientes saibam onde estaacute a expertise Eacute muito

gratificante e difiacutecil de organizar isto tudo mas noacutes sabemos o trabalho que tivemos e os erros

que cometemos Se vocecircs estiverem interessados temos este relatoacuterio do que recomendamos

e eu estarei pronta a ajudar Noacutes temos documentos de qualidade para definir quatildeo expert eacute cada

centro Noacutes temos os laudos dos laboratoacuterios e aqui podemos ver os nuacutemeros com as doenccedilas

que foram testadas neste paiacutes e em paiacuteses natildeo europeus outros testes Entatildeo se vocecircs

escolherem doenccedilas craniofaciais vocecircs tecircm um leque de atividades e que assim noacutes podemos

colaborar Precisamos de mais corporaccedilotildees e melhores informaccedilotildees sobre doenccedilas raras Noacutes

oferecemos um site em sete liacutenguas Por favor usem este site O Brasil participa com o network

e tem acesso a todas as informaccedilotildees deste site e ele daacute conselhos sobre gastos organizaccedilatildeo

laboratoacuterios registros e isso eacute muito vaacutelido para as visitas do Brasil e noacutes temos cerca de 2000

visitas por dia

Noacutes disponibilizamos todos estes documentos no site que vocecircs podem usarTemos a lista

de doenccedilas raras em portuguecircs e isto eacute muito valioso para que possam mostrar para os

Ministeacuterios mas tem vaacuterios outros documentos

Concluindo eu posso dizer que eacute possiacutevel ter um impacto real sobre as poliacuteticas como noacutes

temos feito na Europa Com certeza a dinacircmica vai ser nacional porque eacute onde a poliacutetica vai

ser encontrada mas assim como jaacute disseram vocecircs podem contribuir para a evoluccedilatildeo

internacional porque muitas das colaboraccedilotildees satildeo testadas internacionalmente E insistam em

networks e organizaccedilotildees e usem a nossa experiecircncia e encontrem vosso caminho Porque com

certeza cada paiacutes eacute especiacutefico

Obrigada

112

3ordf Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as

tecnologias sociais

Marcelo Neves1 ndash A questatildeo que eu vou tratar aqui eacute sobre o problema de inclusatildeo juriacutedica

porque a questatildeo que noacutes estamos tratando eacute a questatildeo de acesso aos benefiacutecios sociais e acesso

a direitos Neste sentido o problema das doenccedilas raras passa por uma questatildeo de inclusatildeo social

e inclusatildeo juriacutedica Eacute claro que haacute as formas diversas de exclusatildeo a exclusatildeo que eacute fundada

economicamente em que a pessoa natildeo tem as condiccedilotildees de acesso agrave economia agrave sauacutede e agrave

educaccedilatildeo por fatores econocircmicos mas natildeo eacute soacute essa a forma de exclusatildeo embora tatildeo comum

na Ameacuterica Latina

Haacute a forma de exclusatildeo que decorre da falta do reconhecimento do outro como pessoa e

isso pode levar agrave exclusatildeo na medida em que se generaliza institucionalmente e natildeo fica apenas

numa esfera limitada privada Eacute aiacute que noacutes temos a exclusatildeo decorrente na negaccedilatildeo do

reconhecimento eacutetnico do reconhecimento do gecircnero exclusatildeo de grupos eacutetnicos da mulher

por opccedilatildeo sexual tambeacutem contra os homossexuais e ateacute mesmo decorrente de caracteriacutesticas

regionais

Uma dessas exclusotildees decorrente da falta de reconhecimento eacute aquela que atinge as pessoas

com deficiecircncias isso implica falta de acesso a benefiacutecios sociais e tambeacutem a falta de acesso a

direitos fundamentais Nesse plano natildeo se trata apenas de poliacuteticas de poliacuteticas gerais sociais

gerais mas de poliacuteticas especiais inclusive accedilotildees afirmativas pois estas no seu caraacuteter

compensatoacuterio natildeo satildeo contraacuterias agrave igualdade pelo contraacuterio possibilitam o exerciacutecio e a

efetivaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade Para que haja inclusatildeo na aacuterea da sauacutede noacutes temos que

considerar o direito agrave sauacutede como um direito determinado Natildeo se trata de um direito civil

individualista que se realiza adjucatoriamente de uma maneira isolada como a defesa da

propriedade da liberdade de expressatildeo e da liberdade de consciecircncia Estes satildeo direitos

especificamente civis as chamadas liberdades negativas Aqui se trata de um direito agrave

prestaccedilatildeo do Estado aos direitos sociais

Os direitos sociais embora possam ser exercidos individualmente natildeo satildeo direitos

tipicamente individuais eles pressupotildeem toda uma estrutura social atuando a favor do

respectivo indiviacuteduo e neste sentido o direito agrave sauacutede eacute entendido como direito social Mas na

soluccedilatildeo dos problemas especialmente no caso de doenccedilas raras e considerando o direito agrave

sauacutede garantido universalmente e integralmente pela Constituiccedilatildeo noacutes temos dois caminhos no

Brasil Um eacute a soluccedilatildeo judicial O modelo que seria uma exceccedilatildeo excepcionaliacutessima passa a ser

a regra e neste momento que o modelo judicial que eacute muito mais adequado para as demandas

de direito civil passa a ser a regra noacutes temos um desastre no modelo de Sauacutede Puacuteblica Quer

dizer porque o judiciaacuterio natildeo estaacute pareado para resolver e oferecer poliacuteticas puacuteblicas ele decide

em cada caso concreto muitas vezes distorcendo todo o sistema de sauacutede com muitas vezes

indenizaccedilotildees ou pagamentos de tratamentos milionaacuterios para pessoas de classes mais elevadas

destruindo toda a poliacutetica municipal preventiva na aacuterea social como ocorreu nos municiacutepios

Esse modelo natildeo eacute um modelo que possa ser considerado consequente O que precisamos eacute que

o judiciaacuterio fique no pano de fundo secundaacuterio O que precisamos eacute de poliacuteticas puacuteblicas

fundadas na legislaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo pelo executivo A legislaccedilatildeo tambeacutem eacute uma ilusatildeo

porque assim a gente cai no simbolismo na legislaccedilatildeo simboacutelica Vocecirc cria uma lei e sai todo

mundo feliz daqui criaram a lei tal criaram a convenccedilatildeo da pessoa deficiente Isso em si mesmo

1 Professor Titular de Direito puacuteblico da UnB

113

eacute muito pouco porque a legislaccedilatildeo muitas vezes eacute feita para acalmar os acircnimos e para eleger

os poliacuteticos na proacutexima eleiccedilatildeo A isto se chama legislaccedilatildeo simboacutelica pois natildeo se criam as

condiccedilotildees para a sua efetividade A mesma coisa acontece com a nossa Constituiccedilatildeo que em

grande parte eacute uma constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica jaacute que ela tem pouca eficaacutecia praacutetica em

vaacuterios dos seus dispositivos

Natildeo se trata entatildeo apenas de legislaccedilatildeo Tem que haver uma complementaccedilatildeo da poliacutetica

por um executivo que esteja disposto a realocar recursos neste sentido Noacutes precisamos de

transformaccedilotildees profundas na relaccedilatildeo com a sauacutede Evidentemente a relaccedilatildeo entre o legislativo

e o executivo nas poliacuteticas puacuteblicas natildeo daraacute certo se natildeo existir uma sociedade civil altamente

articulada principalmente no oferecimento de informaccedilatildeo e que possa pressionar os poderes

puacuteblicos Natildeo soacute oferecer elementos cognitivos elementos informacionais e modelos para

soluccedilatildeo do problema mas tambeacutem pressionar os poderes puacuteblicos

E quanto as doenccedilas raras

O Professor Maacuterio Saporta ontem falou de mais de 7000 doenccedilas raras e isso implica

custos altos na aacuterea de pesquisa Para enfrentar isso noacutes temos a sociedade civil evidentemente

Tecircm que existir redes de informaccedilotildees mas precisamos de pesquisas nos centros de pesquisa

das Universidades pesquisas intensas que precisam de financiamento E evidentemente

decorrente destas pesquisas noacutes poderemos ter unidades de sauacutede puacuteblica para diagnoacutestico e

tratamento Mas sem essa base que eacute cariacutessima de pesquisa como acentuou ontem o Professor

noacutes natildeo teremos condiccedilotildees de possibilitar modelos adequados de sauacutede puacuteblica e tambeacutem de

classificaccedilatildeo de medicamentos a entrar numa eventual futura lista do SUS N esse sentido isto

eacute algo caro

Um deputado ontem falava o deputado Pestana muito preparado ldquose eu dou muito

dinheiro para doenccedilas raras eu vou prejudicar o saneamento baacutesico o caraacuteter preventivo das

esquistossomoses dessas doenccedilas mais populares que atingem em massa a populaccedilatildeordquo Me

parece no entanto que eacute enganosa a ideia dele

Na sauacutede puacuteblica os recursos devem ser racionalizados e a racionalizaccedilatildeo de recursos natildeo

eacute tirar de uma aacuterea da sauacutede para pocircr na outra Eacute realmente realocar dinheiro que estaacute em

mordomias governamentais em gastos que paiacuteses desenvolvidos como a Escandinaacutevia a

Alemanha que tem um bom Sistema Puacuteblico de sauacutede natildeo existem Quer dizer o poliacutetico vai

de metrocirc para o Parlamento natildeo tem carro para poliacutetico carro para ministro do supremo eles

andam com seu taacutexi pagando com seu dinheiro Os custos de mordomias e a corrupccedilatildeo dentro

do proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede a alta corrupccedilatildeo prejudicam a falta de recursos na sauacutede Natildeo

se trata de tirar dinheiro daquela massa de excluiacutedos da sauacutede para trazer para as doenccedilas raras

Natildeo se trata disso se trata de realocar recursos que natildeo servem ao desenvolvimento do Brasil

mas sim a satisfaccedilatildeo de elites e de elites que satildeo privilegiadas ou sobreintegradas que estatildeo

acima da lei e estatildeo acima da proacutepria Constituiccedilatildeo Neste sentido eacute fundamental portanto a

reduccedilatildeo com gastos desnecessaacuterios e combate agrave corrupccedilatildeo para que noacutes tenhamos poliacuteticas

seacuterias e consequentes de acesso agrave sauacutede especialmente para as doenccedilas raras

Para terminar se trata da pessoa e natildeo da doenccedila rara eacute a pessoa com deficiecircncia e a

pessoa implica a natildeo animalizaccedilatildeo do outro a natildeo tratar o outro como mera corporeidade mas

tratar o outro como algueacutem que eacute reconhecido socialmente produtor de sentido e com

sentimentos Neste sentido eu concluo afirmando que todo o trabalho articulado entre

sociedade civil o legislativo e o executivo implica algo que eacute a afirmaccedilatildeo da pessoa com doenccedila

como incluiacuteda integralmente como pessoa partindo evidentemente do princiacutepio Constitucional

da dignidade da pessoa humana

Muito obrigado

114

Muna Odeh2 ndash Boa tarde

O tema em questatildeo refere-se a tecnologias sociais Eu vou fazer uma introduccedilatildeo sobre o

que satildeo as tecnologias sociais qual eacute o cenaacuterio no contexto do Brasil e vou situar em que sentido

eu vejo a experiecircncia especiacutefica da AMAVI e como ela reflete ou como ela representa

caracteriacutesticas de uma tecnologia social E por fim o que isso significa

Eu gostaria de chamar a atenccedilatildeo de vocecircs que estiveram aqui hoje de manhatilde para um dado

que foi recorrente nas apresentaccedilotildees Tanto no contexto do Brasil como no cenaacuterio

internacional a questatildeo eacute o foco o papel e a importacircncia central dos movimentos sociais neste

cenaacuterio e qual eacute o impacto disso Eu vou tambeacutem assinalar que eu fiz uma extraccedilatildeo de muitas

das correspondecircncias que eu tenho recebido do Rogeacuterio representando a AMAVI e atraveacutes

disto vou mostrar como eu analiso a situaccedilatildeo desta Associaccedilatildeo

A AMAVI se identifica como organizaccedilatildeo natildeo governamental apartidaacuteria natildeo religiosa

com foco no fomento de atividades realizadas aos pacientes com doenccedilas raras de maneira

articulada e integrada com parceiros e demais interessados e fundaccedilatildeo agrave data de 26 de marccedilo

de 2011

A 9 de fevereiro de 2011 exatamente eu recebi no e-mail do departamento da UnB de

Sauacutede Coletiva uma correspondecircncia do Rogeacuterio que eacute o presidente da AMAVI comunicando

sobre a AMAVI e o trabalho que eles estatildeo fazendo sobre doenccedilas raras Eu respondi a ele no

mesmo dia e a partir daiacute comeccedilou nosso relacionamento e mais especificamente o meu

conhecimento desse trabalho Eu estou tomando a AMAVI como exemplo porque poderiam

ser outros movimentos sociais mas ocorre que eu estou analisando o contexto dessa associaccedilatildeo

em particular Ela se propotildee como finalidades promover a Assistecircncia Social contato entre

indiviacuteduos e alianccedilas com grupos nacionais e internacionais O leque eacute bem amplo orientar e

defender os direitos representar e defender os direitos dos pacientes Ela eacute ainda de caraacuteter

voluntaacuterio A questatildeo do conhecimento que vimos hoje de manhatilde eacute uma das questotildees

fundamentais em todo esse cenaacuterio Em termos de missatildeo a AMAVI diz que a missatildeo eacute acolher

e orientar os familiares e pacientes de doenccedilas raras por meio de accedilotildees de integralizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo dos diversos seguimentos da sociedade E a visatildeo eacute ser reconhecida pelos diversos

seguimentos da sociedade como importante fomentadora da discussatildeo sobre doenccedilas raras

Alguns clipes algumas notiacutecias que se encontram na paacutegina da AMAVI falam das realizaccedilotildees

ainda de 2011 e do crescimento do interesse das pessoas e da participaccedilatildeo tambeacutem destas

pessoas Interessa-me o olhar estrateacutegico a maneira que vai se identificando a atuaccedilatildeo da

AMAVI se baseando nas necessidades na formaccedilatildeo conhecimento capacitaccedilatildeo garantia de

direitos suporte construccedilatildeo de conhecimentos mobilizaccedilatildeo atendimento ao suporte assim

como a lista de todas as vertentes os pacientes as associaccedilotildees o Estado a academia a

sociedade a Induacutestria traccedilando as accedilotildees que satildeo precisas e como isso se articula com a AMAVI

e com o movimento

A minha proposta com esta fala e eacute tentativa mesmo eacute de propor o conjunto de

conhecimentos o conjunto de vivecircncias de experiecircncias que as Associaccedilotildees civis como a

AMAVI representam como tecnologias sociais

O que satildeo tecnologias sociais entatildeo Eu vou trabalhar com duas definiccedilotildees que existem

aqui no contexto do Brasil A primeira eacute da fundaccedilatildeo Banco do Brasil que eacute a mais conhecida

e que diz ldquoUma tecnologia social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representam efetivas soluccedilotildees de

transformaccedilatildeo socialrdquo Um exemplo claacutessico vou sair agora da questatildeo das doenccedilas raras mas

eacute preciso abrir um pouco o leque para entender quando se fala das tecnologias sociais o modelo

Omodelo claacutessico por exemplo eacute o soro caseiro de que todo mundo jaacute ouviu falar Sabiam que

2 Professora do Departamento de Sauacutede Coletiva da UnB

115

era uma tecnologia social baseada em conhecimento quase milenar Veio da Iacutendia e se espalhou

pelo mundo atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede De qualquer modo o soro caseiro eacute

classificado como uma tecnologia social e consiste na mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que

combate a desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil Outro exemplo satildeo as cisternas de

placas muito usadas nas regiotildees de seca no Brasil

As tecnologias sociais podem assim aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento tecnico-cientiacutefico Importa que sejam efetivas e reaplicaacuteveis propiciando

desenvolvimento social em escala

Retomando a questatildeo do soro caseiro em 197071 na fronteira entre o Paquistatildeo e o

Bangladesch que era Paquistatildeo houve uma guerra civil Laacute se implementou uma experiecircncia

muito bem sucedida que vingou depois tonando-se um exemplo de sucesso Apesar da

inexistente infraestrutura de hospitais e de cliacutenicas conseguiram atraveacutes do soro caseiro

trabalhar e superar problemas seacuterios que estavam acontecendo com a populaccedilatildeo porque era

uma regiatildeo que tambeacutem sofria muito de coacutelera

Vocecircs conhecem a figura do Mahatma Gandhi

Entatildeo fala-se da tecnologia como sendo uma abordagem uma metodologia um modo de

vivenciar e de trabalhar o problema uma problemaacutetica Mas no caso de Gandhi a roca de fiar

como siacutembolo de resistecircncia contra a presenccedila britacircnica na eacutepoca eacute um exemplo de tecnologia

social

Outra definiccedilatildeo no contexto do Brasil eacute a do Instituto de Tecnologia Social o ITS que diz

que ldquoo conjunto de teacutecnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas ou aplicadas na

interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo apropriadas por ela que representam soluccedilotildees para a inclusatildeo social

e melhoria para as condiccedilotildees de vidardquo

A ideia aplicar ou passar esse conjunto de conhecimento de experiecircncia de know how que

foi construiacutedo e trabalhar para que taal seja reaplicado em outros contextos e em outras

experiecircncias

O que qualifica entatildeo uma tecnologia social Ela busca as soluccedilotildees leva em conta as

tradiccedilotildees do contexto a peculiaridade daquele contexto em que ocorrem saberes locais e o

poder natural da regiatildeo Ela natildeo se define apenas pelo impacto dos resultados ela tece o

conjunto dos relacionamentos a disseminaccedilatildeo das informaccedilotildees do conhecimento das partes

envolvidas e a transformaccedilatildeo da realidade das pessoas De fato as experiecircncias que foram

trazidas realmente objetivam essa questatildeo da inclusatildeo da cidadania e a questatildeo da

transformaccedilatildeo da sociedade

Tacircnia Almeida3 ndash Boa tarde a todos

Eu quero apresentar para vocecircs o Samuel O Samuel eacute meu filho e tem quatro anos Com

um mecircs e meio ele entrou no hospital ningueacutem sabia o que el tinha Depois de dois anos e meio

ele foi diagnosticado com Siacutendrome de Crab Crab eacute uma doenccedila rara degenerativa natildeo tem

cura natildeo tem tratamento soacute paliativos e para deixaacute-lo estaacutevel Ele ouve e presta atenccedilatildeo no que

a gente fala Entatildeo eacute isso eu queria apenas apresentar o Samuel a vocecircs porque como um

palestrante falou hoje aqui muita gente natildeo conhece e natildeo tem noccedilatildeo do que eacute uma doenccedila

rara A gente conhece a Neurofibromatose o Siacutendrome de Down mas outras coisas especiacuteficas

natildeo conhecemos E eu tive isso muito presente quando meu filho fez trecircs anos Eu resolvi dar

uma festinha de aniversaacuterio para ele Um colega meu que sabia da situaccedilatildeo dele das vaacuterias

internaccedilotildees e que estava sempre presente com a gente conversando falando mas que nunca

tinha visto o Samuel no aniversaacuterio dele esse colega chegou laacute ele falou Tacircnia eu natildeo sei o

que eu faccedilo agora com o presente do Samuel E aiacute eu disse Porquecirc E ele Porque o que

3 Matildee de paciente e advogada

116

eu comprei para ele acho que natildeo eacute devido E eu Natildeo se vocecirc comprou para ele eacute dele

Quando eu abri era um estojinho de pintura onde a crianccedila mexia e tal Quer dizer por mais

que ele soubesse da situaccedilatildeo do Samuel ele natildeo tinha a visatildeo de como seria o Samuel

Eu natildeo sou palestrante sou a matildee do Samuel entatildeo se eu gaguejar ningueacutem vai achar estaacute

Eu vim para falar na mesa dobre Inclusatildeo Juriacutedica de Pessoas com Doenccedilas Raras mas na

realidade eu queria falar sobre a dificuldade da inclusatildeo juriacutedica a realidade da famiacutelia que

passa por isso com alguns exemplos

Eu coloquei ali ldquoTacircnia Maria matildee de Samuelrdquo porque apesar de advogar apesar de

participar de uma Associaccedilatildeo de consumidores ANACOTRA apesar de ser funcionaacuteria

puacuteblica apesar de Teacutecnica em Enfermagem para cuidar do Samuel hoje eu sou conhecida

apenas como ldquoa Tacircnia matildee do Samuelrdquo E hoje estou aqui como tal

O objetivo da minha apresentaccedilatildeo eacute mostrar o que jaacute foi bastante falado aqui que natildeo

existem poliacuteticas puacuteblicas que atendam as famiacutelias com portadores de doenccedilas raras E isso

deixou de ser uma questatildeo discutida no executivo e no legislativo para ser uma questatildeo

discutida no judiciaacuterio porque eacute a uacutenica saiacuteda que noacutes encontramos buscar liminares para

atender as nossas necessidades Como fazer com um filho que precisa sair do Bipap para ir para

o respirador mas o plano de sauacutede ou o SUS natildeo tem cadastrado o coacutedigo do respirador para

dar para Home Care

Meu filho hoje estaacute em Home Care entatildeo natildeo funciona Vocecirc fica laacute esperando e nada

acontece Ateacute incluir o coacutedigo do respirador para ser atendido ningueacutem atende E vocecirc eacute

colocado de forma generalista Vocecirc tem aquele hall e se vocecirc natildeo estiver incluiacutedo exatamente

naquele hall vocecirc natildeo eacute atendido Entatildeo apesar de natildeo ser o ideal hoje a uacutenica forma de

conseguirmos alguma coisa eacute atraveacutes do judiciaacuterio eacute atraveacutes de liminares atraveacutes de accedilotildees que

a proacutepria famiacutelia vai buscar Eacute a falta de apoio estrutural aleacutem da emocional

Noacutes hoje temos vaacuterias Associaccedilotildees que vecircm tratar o paciente vecircm buscar o paciente e

graccedilas a Deus noacutes temos a AMAVI e outras Associaccedilotildees que nos daacute esse apoio Mas a falta de

estrutura em si eacute uma coisa que talvez muita gente natildeo tem noccedilatildeo Alguns exemplos reais

algueacutem jaacute imaginou a conta de luz de quem tem um filho em casa precisando 24 horas por dia

Acho que jamais passou pela cabeccedila de algueacutem Por exemplo a Light tem a questatildeo da tarifa

social mas para vocecirc se incluir na tarifa social vocecirc tem que ser ou beneficiado do Loas ou do

Bolsa Famiacutelia Para vocecirc ser beneficiaacuterio do Loas ou do Bolsa Famiacutelia vocecirc tem que ser muito

pobre ou seja soacute ter um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia Graccedilas a Deus eu natildeo estou dentro

desse um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia eacute um pouquinho mais mas enfim natildeo fui inclusa

na tarifa social Entatildeo eu natildeo tenho como economizar energia eu natildeo tenho como ligar o ar

condicionado por duas horas deixar o ambiente fechado para refrescar o ar Meu filho precisa

de respirador 24 horas de um concentrador de oxigecircnio 24 horas e eu natildeo tenho como desligar

fora os outros aparelhos Entatildeo eacute uma coisa que ficou para encargo dessa famiacutelia porque

juridicamente isso natildeo eacute tratado

Outro exemplo que eu costumo dar eacute a ANVISA4 Noacutes tivemos um representante aqui que

jaacute foi da ANVISA e noacutes temos o exemplo no Rio de Janeiro duma crianccedila que precisava de

um determinado remeacutedio para a doenccedila natildeo evoluir e o distribuidor por ser um medicamento

oacuterfatildeo o distribuidor parou ou seja por ser um medicamento que natildeo estava sendo viaacutevel Para

importar esse medicamento demorava dois meses para chegar aqui e as burocracias enfim No

desespero a matildee conseguiu um laboratoacuterio que soubesse da foacutermula do remeacutedio e fizesse o

remeacutedio e entregasse para crianccedila A ANVISA multou o laboratoacuterio e quase fechou esse

laboratoacuterio porque ele natildeo tinha licenccedila de fato para fabricar o remeacutedio Esta eacute outra situaccedilatildeo

que juridicamente natildeo tem amparo nenhum

4 httpportalanvisagovbrwpsportalanvisahome

117

Auxiacutelio e acompanhamento eacute outro exemplo No Congresso existem inuacutemeros projetos de

lei em andamento sobre auxiacutelio e acompanhamento auxiacutelio de acompanhantes O que eacute o

auxiacutelio ao acompanhamento Vou dar o exemplo de uma matildee do Rio de Janeiro tambeacutem filho

uacutenico considerado milagre Conseguiu verba para viajar para o Hospital de Doenccedilas

Mitocondriais de Milatildeo ou seja ela conseguiu verbas natildeo foi o Governo que deu Ningueacutem

ajudou De acordo com o especialista da unidade italiana o problema de Harry estaacute na carecircncia

que seu organismo tem para produzir energia A Secretaria de Sauacutede alega que a natildeo

distribuiccedilatildeo do leite que ele precisa ndash porque ele precisa de um leite especial ndash eacute culpa do

distribuidor poreacutem ainda de acordo com a matildee o alimento eacute encontrado agrave venda na internet

em algumas farmaacutecias do Rio de Janeiro Este ano os amigos tecircm se virado para comprar as

latas de leite que duram apenas dois dias e custam R$17800 Ela fica pensando nas pessoas que

natildeo tem nenhuma condiccedilatildeo de comprar o leite Ela eacute ex-professora e tradutora atualmente

passa dia e noite soacute cuidando do filho que dorme cerca de cinco horas alternadas por dia tendo

como preocupaccedilatildeo maior o horaacuterio da alimentaccedilatildeo do menino que satildeo marcadas no despertador

a cada duas horas Ele natildeo come arroz feijatildeo verduras e outras coisas somente o leite O meu

maior medo eacute que se alimente fora do prazo porque corre o risco de enfraquecimento e

consequentemente de morte suacutebita Ningueacutem imagina que isso possa existir natildeo eacute

Conversei pessoalmente e essa matildee me relatou Tacircnia antigamente eu vivia no salto de

terninho andando para laacute e para caacute no meu trabalho Hoje eu vendo chocolate caseiro em casa

porque eu preciso cuidar do meu filho

Ningueacutem olha para isso ningueacutem enxerga isso Eu tento trabalhar tento estudar mas

assim eu tenho patrotildees muito legais e por trabalhar em uma empresa puacuteblica consigo adiantar

licenccedilas precircmio e feacuterias Acho que eu natildeo vou tirar feacuterias por uns dez anos ateacute porque meu

filho ficou internado um ano no hospital e eu fui tirando tudo que eu tinha direito mas natildeo

larguei ele laacute O pessoal fala assim Ah mas vocecirc pode deixar com algueacutem Como deixar

algueacutem Outro dia em uma das uacuteltimas internaccedilotildees dele ndash ele tambeacutem toma um leite especiacutefico

que ele tem problema de amocircnia e natildeo pode ingerir muita proteiacutena ndash quando eu olhei eu sei a

quantidade do frasco de leite e quando eu olhei estava cheio e ai eu falei Gente estaacute errado

isso daqui Quando eu fui ver o leite era de outra crianccedila Caramba a pessoa tem que estar

ligada e se eu natildeo estivesse ali Ele teria tomado o leite que poderia levaacute-lo a oacutebito porque

natildeo era o leite que ele pode tomar

Eacute muito importante essa questatildeo Quando se quer atingir a famiacutelia que se olhe esse aspecto

da famiacutelia poder cuidar do paciente Iisso vai esbarrar numa seacuterie de inconstitucionalidades

porque vai cair na questatildeo de quem paga a conta e vamos ver o que a gente consegue Soluccedilotildees

Quem sou eu para dar soluccedilotildees para um problema tatildeo complexo mas satildeo pontos que a gente

tenta jogar para ver se algueacutem escuta e tenta ouvir um pouco das nossas necessidades No direito

noacutes falamos muito sobre princiacutepio da igualdade que para ser atingido a gente precisa tratar os

desiguais como desiguais Eacute aquela velha histoacuteria do exemplo que eu dei da Light As pessoas

que passam por esse problema natildeo estatildeo inseridas no contexto que a Light coloca de tarifa

social entatildeo tem que ser tratada de uma forma diferente infelizmente Natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro seria necessaacuterio que existisse uma verba destinada a atender

individualmente caso a caso dentro do grupo de casos

Eu fiquei muito feliz ontem ao saber na audiecircncia puacuteblica a que noacutes assistimos ao saber

que Eduardo Suplicy estaacute tentando destinar trinta por cento da verba do Ministeacuterio da Sauacutede

para a causa das doenccedilas raras Jaacute eacute alguma coisa Algueacutem estaacute jogando alguma coisa no ar

Assim como a tentativa de que as Instituiccedilotildees sejam interligadas para direcionar corretamente

pacientes seja a niacutevel nacional como internacional Isso eu tambeacutem fiquei sabendo hoje sobre

a Rede Raras o queque acabou vindo ao encontro a uma sugestatildeo que eu queria dar aqui mas

a gente fica feliz em saber que tem outras pessoas tambeacutem pensando junto com a gente e

tentando buscar soluccedilotildees

118

Todos noacutes temos de ter a consciecircncia de que qualquer um de noacutes ou algueacutem que nos eacute

proacuteximo pode ser acometido por alguma doenccedila rara de uma hora para outra portanto a luta

por mudanccedila tem que ser de todos

O Ministeacuterio da Sauacutede falou sobre a natildeo criaccedilatildeo da Secretaria de Doenccedilas Raras no

Ministeacuterio da Sauacutede Esse eacute um modelo que existe nos Estados Unidos e hoje eu sinto falta de

ter um foco para aonde eu possa me dirigir Porque se uma crianccedila eacute espancada chego ao

hospital o meacutedico informa ao oacutergatildeo responsaacutevel que a crianccedila foi espancada se chega uma

crianccedila com dengue ele eacute obrigado a informar que chegou uma pessoa com dengue se chega

uma crianccedila com a pessoa tendo alguma caracteriacutestica sindrocircmica tambeacutem deveria ter um oacutergatildeo

a quem ele pudesse informar ateacute para procurar informaccedilatildeo Eacute tanta falta a de informaccedilatildeo Vocecirc

natildeo tem um Centro para chegar e perguntar ldquoO que eacute isso Eu vou pra onde a partir daquirdquo

Eu natildeo conheccedilo Associaccedilatildeo aqui no Brasil da doenccedila de Crab eu natildeo sei onde ir buscar

informaccedilatildeo Devia existir uma secretaria de doenccedilas raras dentro do Ministeacuterio da Sauacutede Seria

ndashnatildeo sei se chama de secretaria ou se chama de outra coisa ndash mas seria um centro de

informaccedilotildees para ir buscar estatiacutesticas Eu acho que isso eacute importante para que as pessoas que

os proacuteprios meacutedicos pudessem se informar sobre as caracteriacutesticas da doenccedila expactativa de

tratamento laacute fora medicaccedilatildeo e tratamentos protocolozados Enfim seria um norte para a

partir daiacute as pessoas poderem seguir

Muito obrigado pela oportunidade

119

4ordf Mesa Pesquisas no SUS

Maacutercia Ribeiro1 ndash Boa tarde a todos

Eu gostaria de agradecer o fato de poder estar aqui falando de um tema tatildeo interessante

mas que realmente ainda necessita de uma seacuterie de atitudes para que seja mais pleno

Eu queria comeccedilar com toda a engrenagem que existe que move essa pesquisa dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Ela eacute ministrada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

como eacute o nosso caso que trabalhamos com a sauacutede Com a definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede somadas as accedilotildees da Agecircncia Nacional de

Prioridades de pesquisa em Sauacutede noacutes tivemos um incremento nas verbas que vatildeo para o

departamento de ciecircncia e tecnologia e consequentemente um maior investimento em

pesquisas onde se revelam aacutereas estrateacutegicas necessaacuterias para a sauacutede puacuteblica

Dentro dessa engrenagem existe eacute importante definir esses temas de pesquisa condizentes

com as necessidades da populaccedilatildeo Quando a gente fala em populaccedilatildeo se pensa num numeraacuterio

muito extenso mas por que natildeo tambeacutem condizente com as necessidades das pessoas que tecircm

doenccedilas raras das pessoas que tecircm doenccedilas geneacuteticas Por que natildeo Isso tudo eacute muito bacana

porque facilita e promove a integraccedilatildeo dos pesquisadores dos profissionais de sauacutede e tambeacutem

dos gestores E sem duacutevida alguma auxilia no processo de aprimoramento do Sistema Uacutenico

de Sauacutede

As formas de fomento satildeo conhecidas por quem estaacute na aacuterea Eacute muito importante a

participaccedilatildeo do CNPq2 e das agecircncias que amparam a pesquisa Como sou carioca vou citar a

FAPERJ3 A ideia da promoccedilatildeo dessas pesquisas que satildeo resultados aplicaacuteveis no SUS tecircm a

ver com a inovaccedilatildeo ou seja que elas tragam um potencial de inovaccedilatildeo na aacuterea de tecnologia

em sauacutede Isso natildeo quer dizer que eacute soacute uma aacuterea dura que eacute soacute laboratoacuterio ou exame Natildeo Eacute a

aacuterea do soft tambeacutem que eacute aplicada ali no dia a dia do atendimento do acolhimento dos

pacientes Eu queria destacar o PPSUS4 que eacute um programa de pesquisa para o SUS e gestatildeo

compartilhada em sauacutede Quando ele foi criado ele era especiacutefico para alguns Estados era

separado atualmente ele eacute nacional Existem propostas esse eacute um edital que eacute aberto todo o

ano Satildeo feitas propostas do Brasil inteiro e satildeo escolhidos alguns estudos que seratildeo

financiados

Os objetivos do PPSUS satildeo o de contribuir para diminuiccedilatildeo das desigualdades regionais

em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e agrave tecnologia em sauacutede fortalecer a capacidade de gestatildeo poliacutetica

cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede e tambeacutem descentralizar os recursos quer dizer se espalhar

por toda a naccedilatildeo em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Com isso entramos em

uma forma que natildeo tem como escapar que eacute a criaccedilatildeo das redes de pesquisa Essas redes vatildeo

propiciar aos pesquisadores um encontro com outros pesquisadores com outras realidades o

trabalhar junto a equipe multidisciplinar que eacute super importante

Jaacute foi mencionada aqui a Rede Raras Isso eacute de extrema importacircncia ateacute para que noacutes

conheccedilamos com o que estamos trabalhando Natildeo daacute para produzir conhecimento sozinho Satildeo

os estudos de cooperaccedilatildeo os estudos multicecircntricos e os de caraacuteter nacional que importam

porque o enfoque aqui eacute o Brasil eacute nacional Com isso noacutes podemos fortalecer e qualificar Noacutes

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ 2 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico httpwwwcnpqbr 3 Fundaccedilatildeo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro httpwwwfaperjbr 4 Programa de Pesquisa para o SUS

120

natildeo o Ministeacuterio as accedilotildees em termos de pesquisa consideradas prioritaacuterias para o SUS E jaacute

existe uma modalidade que se chama EpiGen que eacute em epidemiologia geneacutetica

Pelo pouco que eu conheccedilo eu acho que ela ainda natildeo estaacute em funcionamento porque

existem vaacuterias modalidades mas eu acho que esta ainda natildeo estaacute Eu acho que vale a pena eacute

um dever de casa para todo mundo procurar saber e procurar pensar em desenvolver alguma

coisa que vem muito de encontro com aquilo que tem sido falado desde ontem

Eu gostaria de ressaltar um outro ponto que eu considero bastante interessante e muito

importante O Ministeacuterio tem uma poliacutetica indutiva Essa poliacutetica de programa de educaccedilatildeo para

o trabalho e do trabalho para o Pet Sauacutede foram muito interessantes porque foram criados

editais onde instituiccedilotildees de ensino participam em conjunto com os municiacutepios e Estados na

reuniatildeo de profissionais das universidades das instituiccedilotildees de ensino dos profissionais que

trabalham na rede puacuteblica e dos alunos dessas universidades Os alunos passaram a partir de

projetos a frequentar a rede de atendimento com orientaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo do preceptor que

trabalha na rede sob orientaccedilatildeo do tutor que eacute quem trabalha na universidade

Na verdade ela foi criada em 2009 mas depois a portaria foi substituiacuteda por uma de 2010

A ideia foi fomentar a formaccedilatildeo de grupos cuja aprendizagem eacute tutorial em aacutereas estrateacutegicas

para o SUS Ela funciona como instrumento de qualificaccedilatildeo em serviccedilo e isso eacute bastante

importante de iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas para o estudante de graduaccedilatildeo na aacuterea

de sauacutede Eu listei os Pet Sauacutede todos baseados em projetos Satildeo projetos de pesquisa onde essa

pesquisa eacute feita na rede ou seja no SUS com a orientaccedilatildeo do preceptor de quem trabalha ali

e o professor ou teacutecnico administrativo da universidade Existem dois Pets em sauacutede da famiacutelia

um em vigilacircncia um em sauacutede mental e o uacuteltimo em redes de atenccedilatildeo em sauacutede

Eu trouxe uma parte de um depoimento de uma aluna que participou do Pet Sauacutede da

famiacutelia onde ela diz ldquo despertou o interesse para o exerciacutecio da medicina de famiacutelia como

especialidade possiacutevel de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Eacute realmente uma fala que combina muito com o que jaacute foi dito Vamos para rede vamos

explorar tudo o que eacute possiacutevel explorar no sentido de fornecer conhecimento de aprender como

que estaacute acontecendo laacute de realmente poder ajudar E natildeo sei se vocecircs perceberam mas pareceu

haver um Gap mas natildeo no ano de 2012 o Pet Sauacutede se juntou ao Proacute-Sauacutede que eacute o Programa

Nacional de Reorientaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede5 A UFRJ tambeacutem se candidatou

e aqui tem uma lista dos cursos que participaram quer dizer no momento estatildeo participando

ainda desse edital Quantos alunos satildeo lanccedilados quantas bolsas satildeo oferecidas Eacute bolsa para o

aluno bolsa para o tutor e para o preceptor Com isso satildeo criados novos cenaacuterios de praacutetica Os

alunos tecircm a possibilidade de uma iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico e tambeacutem verificaccedilatildeo da

realidade e ao lado dele outros alunos de outros cursos trazendo a consolidaccedilatildeo dos estaacutegios

interdisciplinares

Eacute um programa bastante interessante e eu fiquei pensando ldquoPor que natildeo um Pet de Doenccedilas

raras Por que natildeordquo Eu acho que isso seria bastante interessante

Eu venho do Instituto de Puericultura e Pediatria Marta Gon e Gesteira e eu queria situar

esse hospital da UFRJ uma unidade hospitalar secundaacuteria e terciaacuteria dentro da histoacuteria da

pesquisa O nosso Instituto estaacute fazendo 60 anos no mecircs de outubro Conta com a pediatria geral

e diversas especialidades pediaacutetricas tem o serviccedilo especiacutefico de medicina transfusional tem o

nuacutecleo RDN que eacute de reabilitaccedilatildeo e ele eacute um centro de referecircncia para algumas doenccedilas aqui

jaacute listadas Com certeza muito do que noacutes somos hoje noacutes conseguimos atraveacutes de fomento

Eu trouxe dois exemplos que conseguimos atraveacutes do Ministeacuterio e tambeacutem da FAPERJ que foi

a criaccedilatildeo da Unidade de Pesquisa Cliacutenicas em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircncia

que eacute do projeto do Hospital Dia e o nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo em Sauacutede da

Crianccedila e do adolescente onde noacutes envolvemos laboratoacuterio de geneacutetica citologia molecular e

5 httpwwwprosaudeorg

121

a biometria de fluxo Essas pessoas que trabalham docentes ou teacutecnico administrativos tecircm

tambeacutem a oportunidade de contribuir um pouco com um fomento individual como jovem

cientista bolsa de pro-atividade em pesquisa auxiacutelio agrave pesquisa edital universal o TCT6 da

FAPERJ e a bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Tudo isso a gente vecirc que vai juntando que vai num

crescente que eacute muito interessante e todo mundo tem a ganhar

O meu serviccedilo de geneacutetica meacutedica foi fundado em 1969 Em 1989 foi criado o laboratoacuterio

de geneacutetica Em 2006 eu ganhei uma linha de pesquisa como docente da poacutes-graduaccedilatildeo dentro

da geneacutetica Em 2006 tambeacutem comeccedilou a terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica e atualmente noacutes

temos no banco de dados 840 pacientes cadastrados

O programa de poacutes-graduaccedilatildeo em cliacutenica meacutedica que eacute o programa do qual eu faccedilo parte

tem essa oportunidade de com esses alunos todos que noacutes recebemos realizar pesquisas

diversas

Uma aluna minha que fez inicialmente o mestrado sobre o tema ldquoFisioterapia Motora na

Siacutendrome de Downrdquo depois ela fez o doutorado sobre Atenccedilatildeo Fisioterapecircutica a Siacutendrome de

Down e ela foi para rede Outra aluna minha Priscila trabalhou com sauacutede auditiva Outra uma

aluna neste momento que verificando qual eacute a oferta de reabilitaccedilatildeo no municiacutepio do Rio de

Janeiro Isto para ressaltar a importante ocorrecircncia do grupo de trabalho de atenccedilatildeo agraves doenccedilas

raras e tambeacutem porque acabou de se falar aqui no programa de fomento agrave pesquisa em sauacutede

Isso daacute uma visatildeo pelo menos para noacutes bastante positiva e mais otimista

Sobre as publicaccedilotildees o Brasil cresceu na quantidade de publicaccedilotildees mas a qualidade natildeo

acompanhou e noacutes que submetemos artigos sabemos a dificuldade que eacute ter um paper publicado

numa revista que tenha um fator de impacto alto

Meu muito obrigado porque nada disso teria acontecido sem esse grupinho que estaacute por

traacutes de mim meus pacientes

Mara Gabrilli7 ndash Bom primeiro eacute uma honra para mim poder vir aqui e falar desse tema

que eacute tatildeo caro para todos noacutes

Eu hoje fiquei muito feliz na comissatildeo de seguridade social e da famiacutelia porque o Deputado

Perondi fez a leitura do projeto de lei de autoria do Deputado Marccedilal Filho que cria a poliacutetica

puacuteblica para doenccedilas raras e dispensaccedilatildeo de medicamentos para doenccedilas raras

Na hora que eu entrei o senhor estava falando que natildeo adianta fazer lei soacute a gente sabe que

em nenhum seguimento e em nenhum assunto fazer soacute a lei resolve Aaqui no Brasil a leieacute soacute

uma parte de todo o trabalho Desde que fui Vereadora sinto muito isso que aleacutem de fazer lei

a gente tem que entrar no universo do executivo para que a lei seja exequiacutevel e se consiga

cumprir essa lei Depois de feita a lei a gente tem que ficar no executivo trabalhando e

principalmente levando informaccedilatildeo

Eu tendo uma deficiecircncia eu quebrei o pescoccedilo e perdi os movimentos do pescoccedilo para

baixo e eu venho aprendendo nesse caminho que a minha funccedilatildeo muitas vezes eacute pedagoacutegica

Eacute uma funccedilatildeo de levar informaccedilatildeo de ensinar e eu acho que muito muito do que a gente tem

hoje foi agrave custa da peregrinaccedilatildeo e do sofrimento de muitas famiacutelias e do conteuacutedo que as

associaccedilotildees puderam trazer para o governo de alguma forma O pouquiacutessimo que tem eacute por

conta de vocecircs Eu acho que vocecircs merecem uma salva de palmas de vocecircs mesmos

Eacute tanto preconceito que a gente tem que ultrapassar na questatildeo das doenccedilas raras Desde o

ocorrido com um menino haacute semana atraacutes que tem epidermoacutelise bolhosa e que passou por um

constrangimento muito desagradaacutevel na Gol8 por conta de falta de informaccedilatildeo daqueles que

estavam dentro da companhia aeacuterea e dentro da aeronave Eu tenho certeza que natildeo eacute o

6 Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica 7 Deputada Federal 8 Gol Linhas Aeacutereas

122

pensamento do presidente da companhia mas falta de informaccedilatildeo Para a informaccedilatildeo conseguir

chegar em todas as pontas demora eacute trabalhoso A gente tem que ficar fazendo seminaacuterio

workshop levando informaccedilatildeo Por isso eu fico muito feliz de ter junto comigo e com vocecircs

parlamentares que vecircm trabalhando para isso

O livro que o Deputado Romaacuterio lanccedilou ontem eacute de extrema importacircncia o projeto de lei

do Dep Marccedilal eacute de extrema importacircncia Tem o projeto de lei do Dep Jean Willis que tambeacutem

eacute de extrema importacircncia e natildeo adianta vocecircs eacute que trazem a demanda Eu pedi vistas do

projeto de lei do Dep Marccedilal e eu pedir vistas para que serve Para poder aprimorar o projeto

de alguma forma

Esse projeto estaacute disponiacutevel e o seu aprimoramento tem que vir de vocecircs Para que vocecircs

saibam que esse projeto estaacute disponiacutevel no site da Cacircmara para que vocecircs leiam E vocecircs satildeo

os maiores conhecedores de toda a dureza do processo de conseguir e principalmente de natildeo

conseguir as coisas Eacute importante que vocecircs tenham conhecimento desse projeto que jaacute tem

qualidade mas que talvez tenha alguma coisa que a gente ainda natildeo pensou

Eacute impressionante porque nos Estados Unidos desde 83 jaacute se existe uma poliacutetica puacuteblica

para doenccedilas raras Eu estava vendo aqui que ateacute na Colocircmbia tem poliacutetica puacuteblica para doenccedilas

raras E a gente estaacute aqui ainda engatinhando nessa questatildeo Soacute que tudo bem a gente tem

doenccedilas em que existem poucas pesquisas cientiacuteficas tem doenccedilas que jaacute tecircm bastante pesquisa

cientiacutefica mas poucos resultados existem doenccedilas que realmente natildeo tem cura mas o que

importa eacute o hoje e a gente tem que aprender a viver Ter uma vida com qualidade natildeo importa

ateacute quando

Acho que esta eacute uma outra questatildeo que a gente vai ter que trabalhar dentro do Ministeacuterio

dentro do Governo dentro da Sociedade que eacute acabar com o preconceito e que o importante eacute

poder ter estrutura para viver bem Uma forma de fazer isso e eu natildeo consigo natildeo deixar de

falar eacute a possibilidade de vocecirc ter um cuidador E isso eu posso falar com bastante maestria

sobre a diferenccedila que faz Por exemplo se eu natildeo tivesse a Gil para ficar segurando o microfone

para mim eu natildeo poderia ser deputada e natildeo poderia fazer absolutamente nada eu natildeo ia sair

da cama Faz muita diferenccedila Natildeo importa a gravidade da situaccedilatildeo da pessoa Se for uma

severidade muito grande de limitaccedilatildeo faz diferenccedila e se for pouca tambeacutem faz muita diferenccedila

E a gente sabe que nas famiacutelias brasileiras algueacutem paacutera de trabalhar para que possa cuidar

dessa pessoa que tem uma doenccedila rara Com isso a renda da famiacutelia diminui a despesa aumenta

e vira um inferno um cenaacuterio muito dramaacutetico Eacute claro que se a gente tem essa ajudinha faz

uma diferenccedila muito grande Agraves vezes as pessoas me perguntam poxa mas natildeo eacute difiacutecil vocecirc

ter a sua liberdade tolhida porque precisa de algueacutem 24 horas por dia Eu tenho muita gratidatildeo

por poder ter algueacutem ao meu lado 24 horas por dia E ter essa pessoa eacute o contraacuterio eacute ter

autonomia e liberdade de ir e vir de viver e de poder ser a primeira deputada tetrapleacutegica desse

paiacutes Eacute oacutebvio que eu fiz dois projetos de lei pensando nisso que o Governo tem que fornecer

cuidador agraves pessoas que tecircm uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade mas tambeacutem tecircm que oferecer

uma espeacutecie de bolsa cuidador para aqueles que satildeo contribuintes e que podem ter essa bolsa

O cuidador pode ser ateacute um familiar mas pode ser uma outra pessoa e eacute uma forma da gente

conseguir apesar de viver com qualidade

Eu queria contar isso para vocecircs para vocecircs me ajudarem a lutar por isso porque com

certeza vai ter muita importacircncia A gente vecirc por exemplo a falta de informaccedilatildeo Vocecirc pega

a hipertensatildeo arterial pulmonar a gente tem oito medicamentos que jaacute satildeo aprovados pela

ANVISA mas soacute dois deles satildeo distribuiacutedos e tem dispensaccedilatildeo pelo SUS E a gente sabe de

casos absurdos de pessoas que acabam morrendo por natildeo terem conseguido o acesso ao

medicamento e hoje existem vaacuterios medicamentos

A gente precisa muito dessa poliacutetica puacuteblica que vai ordenar e vai facilitar muito para o

Ministeacuterio da Sauacutede a questatildeo das demandas judiciais Porque a demanda judicial existe porque

123

a publicaccedilatildeo a poliacutetica puacuteblica natildeo existe Se a gente consegue sanar determinadas questotildees a

gente evolui

Eu estava vendoo governador Geraldo Alckmin que eacute o governador do meu Estado que eacute

uma pessoa que eu admiro mas eu fiquei super chateada porque ele vetou no Estado de Satildeo

Paulo a poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras E por quecirc Porque ele natildeo tem dinheiro para

medicaccedilatildeo oacuterfatilde ele natildeo tem recurso- Mas isso eacute um problema dele ele que se vire que ache

esse recurso porque as pessoas tem urgecircncia nisso

Eu acho que haacute tanto recurso mal utilizado Temos que forccedilar a barra para que o recurso

seja bem utilizado e com certeza se o Brasil soubesse utilizar bem todos os seus recursos a

gente natildeo estaria passando a dificuldade que a gente passa no dia a dia por conta das doenccedilas

raras

Tem uma coisa com que eu fico nervosa Eacute uma frase que a gente vive ouvindo que vem

laacute do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo a equipamento e a medicamentos que eacute aquela frase

fatiacutedica Natildeo temos evidecircncias cientiacuteficas nacionais suficientes para dizer que esse remeacutedio

funciona Enquanto isso as pessoas vatildeo esperando E satildeo vaacuterios equipamentos e medicamentos

que a gente vem trabalhando Quando eu falo a gente sou eu e a minha equipe Eacute que a gente

ouve essa afirmaccedilatildeo e a gente natildeo possui evidecircncias cientiacuteficas nacionais porque natildeo tem o

equipamento aqui mas a gente tem evidecircncias cientiacuteficas internacionais Por exemplo um

trabalho que a gente vem fazendo haacute quase trecircs anos eacute o de tentar incorporar o COFF ASIST

que eacute um equipamento importantiacutessimo para ajudar as pessoas a tossir Eu por exemplo tenho

dificuldade de tossir Tem muitas doenccedilas neurodegenerativas que trazem paralisias e

dificuldade de tossir e a pessoa quando natildeo consegue tossir e eliminar secreccedilatildeo vai ficar com

uma pneumonia vai ter uma infecccedilatildeo pulmonar vai parar no hospital vai parar na UTI e ela

fica muito mais cara para o governo Um equipamento que aparentemente parece ser caro ele

sai muito mais barato porque o governo vai economizar em leitos de UTI e sobre isso jaacute tem

evidecircncias cientiacuteficas no mundo inteiro Eacute esse tipo de informaccedilatildeo de exemplos que eu acho

que a gente natildeo pode parar de insistir e de ter esperanccedila e de ficar levando para o Ministeacuterio

para tentar convencer

Simples pessoas que usam cadeiras de rodas por exemplo se todas tivessem a

possibilidade de ter uma almofada com uma tecnologia de gomos de ar como eacute a almofada em

que eu estou sentada ningueacutem teria escaras Isso as pessoas ateacute estranham dentro de hospitais

porque eacute como se fosse uma condiccedilatildeo sine qua non vocecirc ficar hospitalizado ou ficar muito

sentado e ter escaras mas natildeo eacute Natildeo necessariamente

Esta eacute uma almofada cariacutessima mas tratar escara e ter a pessoa totalmente fora de

circulaccedilatildeo durante meses por conta de uma ferida eacute muito mais caro para o governo Entatildeo

muitas vezes a poliacutetica puacuteblica essa que natildeo existe chega a ser ldquoburrardquo porque ela vecirc as coisas

de uma forma invertida Porque se a gente consegue fazer as dispensaccedilotildees dos equipamentos

medicamentos ter um atendimento mais adequado levar conhecimentohellip Nossos meacutedicos natildeo

tecircm como disciplina obrigatoacuteria doenccedila rara na faculdade e aiacute o que acontece Onde isso vai

refletir Vai refletir no diagnoacutestico precoce80 das doenccedilas raras tecircm cunho geneacutetico e sem

esse diagnoacutestico precoce a sauacutede e a qualidade de vida ficam totalmente comprometidas

Entatildeo o que eacute isso Olha onde estaacute onde habita a gecircnese o iniacutecio do problema Na

faculdade de medicina A gente natildeo tem na faculdade de Medicina como disciplina obrigatoacuteria

a reabilitaccedilatildeo E olha o nuacutemero de pessoas com deficiecircncia que precisam de reabilitaccedilatildeo no

nosso paiacutes e eacute essa reabilitaccedilatildeo pode trazecirc-lo de volta ao trabalho de volta agrave cidadania e tal natildeo

acontece por uma lacuna que existe nas disciplinas de medicina E posso disser tambeacutem que

acessibilidade natildeo eacute disciplina obrigatoacuteria na faculdade de arquitetura e engenharia e por isso

temos um paiacutes tatildeo inacessiacutevel onde eacute tatildeo difiacutecil o ir e vir de pessoas que tecircm alguma limitaccedilatildeo

de movimento Nas calccediladas brasileiras que natildeo tecircm limitaccedilatildeo nenhuma de movimento as

124

mulheres de salto alto sofrem os homens distraiacutedos sofrem e todo mundo sofre com a falta de

acessibilidade

A gente tem uma lista de doenccedilas raras que jaacute satildeo atendidas pelo SUS vocecircs jaacute devem

estar cansados de saber porque satildeo mais de 6000 doenccedilas raras e a lista tem apenas 18 doenccedilas

ictioses hereditaacuterias hipoparatireoidismo insuficiecircncia adrenal primaacuteria que eacute a doenccedila de

Adson hiperplasia adrenal congecircnita hipotireoidismo congecircnito angioederma deficiecircncia de

hormocircnio do crescimento que eacute hipopituitarismo Siacutendrome de Tanner fibrose ciacutestica que haacute

manifestaccedilotildees pulmonares fibrose ciacutestica de insuficiecircncia pancreaacutetica miastemias graves

doenccedila celiacuteaca esclerose multipla doenccedila de Cron fenilcetonuacuteria doenccedila de Gaucher doenccedila

de Wilson e osteogenese imperfecta Infelizmente satildeo soacute essas as doenccedilas que satildeo atendidas

pelo SUS

Eu natildeo vim trazer palavra de ldquonatildeo esperanccedilardquo Temos muito trabalho a fazer e conto com

vocecircs para isso Vocecircs satildeo os principais guerreiros Eu vi com muito otimismo a audiecircncia

puacuteblica que foi realizada em abril pelo Ministeacuterio da Sauacutede que visa a Poliacutetica Nacional de

Diretrizes de atenccedilatildeo integral para pessoas com doenccedilas raras na rede puacuteblica prevenccedilatildeo

tratamento multidisciplinar e reabilitaccedilatildeo Mas natildeo pode ficar no papel como a Portaria 81 de

atenccedilatildeo em geneacutetica Eu acho que paralelamente a tudo que a gente precisa de doenccedila rara a

gente precisa de investimento em pesquisa cientiacutefica para doenccedila rara E isso eacute outro lado que

a gente vem trabalhando tambeacutem o deputado Romaacuterio tem um projeto de lei que eu sou a

relatora que eacute um projeto que desburocratiza a importaccedilatildeo de insumos para laboratoacuterios de

pesquisa Parece uma coisa muito complexa mas a gente quer eacute cura para doenccedilas rarasAs

pesquisas brasileiras satildeo muito lentas muitas vezes e na maioria das vezes o que os

pesquisadores pedem natildeo eacute recurso eles pedem condiccedilotildees para que consigam fazer as

pesquisas para que eles consigam importar reagentes por exemplo Nos Estados Unidos vocecirc

encomenda um reagente de manhatilde e agrave tarde ele estaacute no laboratoacuterio Aqui fica dois trecircs meses

preso no aeroporto e muitas vezes satildeo produtos pereciacuteveis que na hora que consegue retirar

jaacute estaacute estragado Eacuteisso que mais prejudica a pesquisa cientiacutefica no Brasil

Esse projeto estaacute na comissatildeo de seguridade social e famiacutelia para ser votado e quem sabe

eacute mais um incremento mais uma accedilatildeo para gente trabalhar em prol das doenccedilas raras para

poder ter a esperanccedila de contar com a pesquisa cientiacutefica no Brasil que eacute um paiacutes que tem

pesquisadores de alta competecircncia mas onde eacute tudo tatildeo engessado e dificultoso que muitas

vezes a nossa pesquisa natildeo desponta Eu acho que ela eacute competitiva com pesquisas no mundo

inteiro e que o Brasil tem chances inclusive de contribuir para a pesquisa em outros paiacuteses

Agora o Brasil atraveacutes de uma resoluccedilatildeo da ANVISA vai poder participar de estudos em fase

trecircs para medicamentos de uso compassivo Isso vai ser muito bom aqui no Brasil para a

pesquisa cliacutenica com pacientes porque eu vejo muitos pacientes de ELA que ficam em contato

com pacientes de outros paiacuteses que estatildeo sempre participando de protocolos de uso de

medicamentos novos E eu natildeo sei se haacute uma auto sugestatildeo ou natildeo mas estatildeo sempre

melhorando Os brasileiros natildeo podiam participar disso porque natildeo era aprovado no Brasil e

agora isso foi aprovado e a gente vai poder participar

Tambeacutem temos que ficar trazendo estiacutemulo para os nossos pesquisadores e para os nossos

laboratoacuterios para que possamos participar desse uso compassivo de medicamentos em fase trecircs

Eu vou continuar aqui e qualquer duacutevida qualquer coisa que vocecircs queiram me falar eu estou

a disposiccedilatildeo

Obrigada

Entatildeo acabo de receber uma pergunta e vou responder A pessoa pergunta que legislaccedilatildeo

existe hoje para famiacutelias que precisam de cuidadores ou home care e natildeo tecircm condiccedilotildees

financeiras

Na verdade de cuidador natildeo tem uma legislaccedilatildeo tem os projetos de lei que eu protocolei

Um na assistecircncia social para quem realmente natildeo tem recurso para pagar e outro na

125

previdecircncia para aquele que eacute contribuinte e pode vir a receber esse auxiacutelio cuidador para ele

mesmo pagar a algueacutem que pode ser um familiar ou um outro profissional Agora o que existe

na previdecircncia eacute um acreacutescimo de 25 para o segurado contribuinte que precise de uma

assistente pessoal Isso funciona para quem tem deficiecircncia severa doenccedilas raras e idosos

tambeacutem Hoje ainda natildeo existe esse tipo de lei que garanta o cuidador Existe uma portaria do

Ministeacuterio da Sauacutede que garante assistecircncia domiciliar e nessa portaria estatildeo cobertas vaacuterias

doenccedilas Poreacutem ela exclui o ventilador invasivo Muitas pessoas com distrofia muscular com

amiotrofia espinhal progressiva com esclerose lateral amiotroacutefica precisam de um respirador

volumeacutetrico para ficar 24 horas por dia na maacutequina Quem usa respiraccedilatildeo mecacircnica 24 horas

por dia precisa desse equipamento Esse equipamento estaacute excluiacutedo da portaria de atendimento

domiciliar Entatildeo eacute outro olhar que vem do lado do avesso porque o que que acontece Laacute em

fortaleza a Sra Faacutetima que tem um filho com amiotrofia espinhal progressiva fez uma

revoluccedilatildeo laacute e conseguiu tirar da UTI sete crianccedilas que como o filho dela tem AMP e estatildeo

morando em casa com muito mais qualidade de vida Hoje a gente natildeo consegue levar todas as

crianccedilas com amiotrofia que estatildeo na UTI para casa porque a gente tem essa portaria que natildeo

permite que ela funcione para quem usa respiraccedilatildeo invasiva E isso eacute um outro trabalho

Eu fui laacute e entreguei na matildeo do Ministro e tanto ele quanto a equipe dele me garantiu que

ateacute o fim do ano vai sair da portaria essa exclusatildeo da respiraccedilatildeo volumeacutetrica Eacute mais uma

inversatildeo de valores porquecirc Porque uma pessoa dentro da UTI custa 3300 reais por dia

enquanto que o atendimento domiciliar custa 272 reais por dia Olha a diferenccedila Eacute muito mais

saudaacutevel eacute muito mais humano eacute mais felicidade para pessoa que tem a doenccedila Entatildeo a gente

tem sim atendimento domiciliar mas precisa melhorar

Ieda Bussman9 ndash Boa tarde

Eacute com grande alegria que vejo acontecer hoje um dos grandes projetos do Rogeacuterio Desde

o iniacutecio da AMAVI ele desejava e planejava esse congresso Mais uma vez parabeacutens Rogeacuterio

Eu ainda espero ver um outro

Tambeacutem eacute grande a alegria de assistir agrave comprovaccedilatildeo de que a uniatildeo faz a forccedila Noacute

estamos hoje aqui reunidas diversas associaccedilotildees e vimos sendo merecedores de um olhar

especial finalmente pela parte do governo A uniatildeo tambeacutem do governo dos meacutedicos

pesquisadores e da induacutestria farmacecircutica

Ao aceitar o convite para proferir como paciente algumas palavras nesse Congresso

aceitei tambeacutem a sugestatildeo de que fosse sobre as pesquisas e os pacientes A importacircncia das

pesquisas para os pacientes o envolvimento dos pacientes nas pesquisas e a responsabilidade

dos pesquisadores para com os pacientes Natildeo haacute como negar a importacircncia das pesquisas para

os pacientes pois eacute por meio dela que se adquire o conhecimento a que se chega a investigaccedilatildeo

tratamento prevenccedilatildeo e finalmente eu espero a cura pelo menos de algumas doenccedilas

Enquanto natildeo chega a cura a qualidade de vida e a atenccedilatildeo que todos merecem

Com a uniatildeo novamente a uniatildeo dos cientistas das vaacuterias aacutereas a gente vem chegando a

grandes avanccedilos Na parte das doenccedilas raras muito aconteceu apoacutes o sequenciamento do

genoma humano As terapias celulares tirando outras terapias tambeacutem mas as terapias

celulares a princiacutepio com ceacutelulas tronco embrionaacuterias satildeo a partir de ceacutelulas adultas regredidas

ateacute agrave condiccedilatildeo semelhante agrave das ceacutelulas embrionaacuterias Terapias gecircnicas quando eacute a inserccedilatildeo de

um gene que funcional vai corrigir um gene mutado da proacutepria porfiria de que eu sou paciente

por exemplo Jaacute temos terapia geneacutetica ou gecircnica em andamento Haacute outras como

neuromodulaccedilatildeo nanotecnologia aplicada agrave sauacutede em que satildeo usadas nanopartiacuteculas em

9 Presidente da Associaccedilatildeo Brasileira de Porfiacuteria

126

medicamentos transplantes e contrastesA pesquisa realmente eacute muito importante para noacutes os

pacientes Eacute a porta que se abre para a cura

Eu estive olhando vaacuterias notiacutecias recentes que satildeo pouquiacutessimas e eu selecionei algumas

Satildeo notiacutecias boas que enchem a gente de esperanccedila Para mim qualquer coisinha qualquer

luzinha sobre uma cura um medicamento jaacute eacute uma coisa muito importante E eu acredito eu

acho que natildeo eacute hoje nem amanhatilde mas a gente vai chegar a muita coisa boa Todos os dias

temos notiacutecias mas ainda haacute muita coisa para ser descoberta Nada eacute possiacutevel sem a

participaccedilatildeo dos pacientes

Uma notiacutecia eacute que pesquisadores identificaram mecanismos e possiacuteveis medicamentos para

tumores da neurofibromatose notiacutecia de 2008 Outra eacute sobre a Siacutendrome de Down onde foram

usadas ceacutelulas tronco pluripotentes de uma pessoa com Siacutendrome de Down e foi inativada a

coacutepia extra do cromossoma 21 inserindo nela o gene Essa notiacutecia eacute recente de setembro Outra

eacute que cientistas usam o HIV para cura da leucodistrofia metapromatica e Siacutendrome de Willliams

Aldreans Consta aqui que foi usado como vetor viral do viacuterus da AIDS Essa aqui eacute da porfiria

que eu jaacute comentei antes e eacute um estudo que vem sendo feito desde 2007 na Universidade

Navarra na Espanha que eacute uma terapia para tratar a porfiria plurintermitente que eacute a porfiria

da qual eu sou portadora Jaacute foram realizadas as fases um e dois Natildeo eacute faacutecil Desde 2007 e noacutes

estamos em 2012

Existem muitas muitas notiacutecias Eu selecionei aqui algumas boas e mais tarde eu vou falar

de algumas natildeo tatildeo boas

Para falar do envolvimento dos pacientes nas pesquisas a gente se pergunta seria possiacutevel

que os novos tratamentos fosses testados apenas em cobaias Natildeo seria possiacutevel Quer dizer

satildeo feitos primeiro os testes em laboratoacuterios depois em cobaias mas como eacute um tratamento

para seres humanos ele tem que ser testado em humanos se natildeo natildeo vai valer E no caso das

doenccedilas raras mas natildeo soacute das doenccedilas raras os pacientes em geral tecircm muita preocupaccedilatildeo em

participar das pesquisas No caso das doenccedilas raras eacute mais difiacutecil ainda porque satildeo raras as

pessoas aiacute fica muito mais difiacutecil

Os fatos ruins que eu estou falando satildeo experiecircncias do passado que ficaram como marca

e ajudaram as pessoas a ter esse receio de participar das pesquisas Sob o regime Nazista

durante a Segunda Guerra Mundial cobaias humanas participaram contra a vontade de

experiecircncias Os meacutedicos apoacutes o teacutermino da Guerra foram julgados pelo julgamento de

Nuremberg O Governo dos Estados Unidos financiou experimentos na Guatemala de 1946 a

1948 para determinar se a penicilina era uacutetil contra doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis Os

experimentos natildeo foram publicados e soacute foram divulgados em 2010 depois que uma professora

da Universidade os encontrou por acaso Outra experiecircncia draacutestica tambeacutem aconteceu com 600

negros saudaacuteveis e natildeo saudaacuteveis que foram acompanhados por cientistas durante 40 anos na

observaccedilatildeo da progressatildeo natural da siacutefilis sem tratamento algum A pesquisa foi suspensa apoacutes

denuacutencia do caso por um membro da equipe O Jardineiro Fiel que acho que todo mundo jaacute

conhece a histoacuteria o livro fala de um processo contra a induacutestria farmacecircutica que teria

realizado testes ilegais com pessoas na Nigeacuteria e nos testes constava que era para impedir a

disseminaccedilatildeo da AIDS Distribuiacuteam medicamentos gratuitamente e na verdade eram

medicamentos para testar um novo medicamento contra tuberculose e que tinha graves efeitos

colaterais Para que as pesquisas pudessem ter continuidade e as pessoas estivessem dispostas

a participar sem ter o medo e diante de uma justiccedila social foi necessaacuterio criar regras e coacutedigos

de eacutetica

Os Coacutedigos de Eacutetica jaacute existiam desde Hipoacutecrates Declaraccedilatildeo de Direitos dos Homens

declaraccedilatildeo de Genebra declaraccedilatildeo de Useink e suas atualizaccedilotildees Os princiacutepios baacutesicos das

pesquisas com seres humanos estatildeo na Resoluccedilatildeo 196 de 1996 do Conselho Nacional de Sauacutede

Atualmente parece que houve alguma coisinha mais mas os princiacutepios continuam os mesmos

respeito a dignidade e autonomia ponderaccedilatildeo entre riscos e benefiacutecios da pesquisa garantia de

127

que danos previsiacuteveis seratildeo evitados e igual consideraccedilatildeo entre os interesses envolvidos O

voluntaacuterio da pesquisa ele deve saber tudo o que vai acontecer na pesquisa antes de se decidir

qual a importacircncia da pesquisa o que os pesquisadores querem descobrir como aconteceraacute a

pesquisa que tipos de riscos e benefiacutecios existem se existem outras alternativas aleacutem dessa

como seraacute a assistecircncia meacutedica hospitalar sendo necessaacuteria quem faraacute o acompanhamento

quem seraacute o responsaacutevel pela pesquisa e como entrar em contato com eles 10

O participante tem direito a esclarecimento sobre a pesquisa em que estaacute participando a

qualquer momento desejado ele tem direito agrave privacidade e anonimato a respeito de suas

decisotildees haacutebitos e crenccedilas informaccedilotildees sobre o andamento e resultado exclusividade a

contribuiccedilatildeo dele deve ser usada apenas para aquele projeto que ele autorizou tratamento e

indenizaccedilatildeo para complicaccedilotildees previstas A garantia do respeito aos direitos se faz atraveacutes do

preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido Crianccedilas

adolescentes e portadores de doenccedila mental tecircm o direito de serem informados ateacute onde forem

capazes de compreender e natildeo devem ser forccedilados a aceitar a participaccedilatildeo seratildeo assistidos

pelos pais ou responsaacuteveis legais que assinaratildeo o TCLE Natildeo deveraacute haver discriminaccedilatildeo entre

sexo idade raccedila etnia religiatildeo pobreza analfabetismo ou qualquer outro motivo Para evitar

que pessoas sejam pagas pela participaccedilatildeo em estudos e pesquisas eacute proibido o recebimento de

dinheiro presentes objetos ou favores Todo o estudo deve ser indiciado e aprovado pelo

comitecirc de eacutetica em pesquisa da instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado e em algumas situaccedilotildees deve

ser aprovado pela CONEP11

Muito obrigado pela atenccedilatildeo

Maacuterio Saporta12 - Boa tarde a todos

Eu vou rapidamente agradecer agrave AMAVI pelo convite

Eu represento um dos trecircs braccedilos que eu acredito que formam o movimento proacuteprio de

doenccedilas raras Eu estou aqui representando a Universidade a pesquisa Noacutes temos pacientes e

familiares noacutes temos o governo aqui tambeacutem Entatildeo todos os elementos estatildeo aiacute juntos para

conseguir desenvolver o campo das doenccedilas raras O que eu vou apresentar hoje eacute o trabalho

que a gente desenvolve na UFRJ no laboratoacuterio nacional de ceacutelulas tronco13 e essa teacutecnica

nova chamada reproduccedilatildeo celular Eu quero mostrar para vocecircs o que ela pode oferecer em

relaccedilatildeo agrave pesquisa para novos tratamentos em doenccedilas raras Eu natildeo vou me concentrar aqui no

uso de ceacutelulas tronco que esse eacute um campo que a gente chama de terapia celular Eacute um campo

que ainda estaacute em desenvolvimento e que eu acho que provavelmente vai gerar frutos bem

mais tarde que o campo da reprogramaccedilatildeo celular Entatildeo o que eu quero falar durante esses 10

a 15 minutos eacute um pouco sobre pesquisa em doenccedilas raras focando no uso da reprogramaccedilatildeo

celular Vou explicar para vocecircs o que eacute reprogramaccedilatildeo celular e como ela pode ser usada no

estudo das doenccedilas raras E vou terminar falando um pouquinho tambeacutem do que eu conversei

com a plateia ontem na audiecircncia como fomentar como investir como financiar pesquisas em

doenccedilas raras

As doenccedilas raras individualmente satildeo raras mas coletivamente satildeo significativas em

relaccedilatildeo agrave frequecircncia delas em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo geral Eacute importante dizer que ela tem um

vieacutes ainda mais importante que acomete preferencialmente crianccedilas e isso com certeza gera

um senso de urgecircncia ainda maior em relaccedilatildeo agrave busca por tratamentos das doenccedilas raras 95

delas natildeo possui nenhum tipo de tratamento aprovado

10 Informaccedilotildees retiradas de um folder do Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ldquoVoluntaacuterio em pesquisa informe-

se para decidirrdquo 11 Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa httpconselhosaudegovbrweb_comissoesconepindexhtml 12 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas Tronco ndash UFRJ 13 httpwwwlance-ufrjorg

128

O que satildeo Ceacutelulas Tronco e o que satildeo Ceacutelulas Pluripotentes Ceacutelulas Pluripotentes satildeo

ceacutelulas que podem se transformar em qualquer outra ceacutelula do organismo humano Entatildeo com

essas ceacutelulas se a gente manipular quimicamente e de maneira especiacutefica a gente pode criar

tipos de ceacutelulas especiacuteficas Por exemplo se eu quero estudar uma doenccedila neuroloacutegica eu posso

criar neurocircnios a partir dessa ceacutelula se eu quiser estudar uma doenccedila cardiacuteaca eu posso criar

ceacutelulas do coraccedilatildeo para o estudo in vitro no laboratoacuterio em busca de novos tratamentos Elas

satildeo ceacutelulas com um potencial enorme para se estudar uma doenccedila porque a gente pode ser

extremamente especiacutefico usando uma ceacutelula humana que eacute um diferencial em relaccedilatildeo a

modelos animais

Para entender a programaccedilatildeo celular vamos fazer um paralelo com a informaacutetica que eacute uma

coisa que todo mundo usa no dia a dia Nossas ceacutelulas tecircm o que a gente chama de coacutedigo

geneacutetico e que funciona como a programaccedilatildeo de um computador Como na programaccedilatildeo de um

computador a gente pode usar ferramentas da geneacutetica para modificar esse coacutedigo essa

programaccedilatildeo Se a gente pegar por exemplo uma ceacutelula da pele que eacute faacutecil da gente tirar ou

ateacute da urina que eacute mais faacutecil ainda que eacute soacute coletar a amostra da urina e separar essas ceacutelulas

noacutes podemos introduzir alguns genes nessas ceacutelulas e fazer com que se reprogramem ou seja

mude a programaccedilatildeo a maneira com que o DNA dela eacute expresso e essas ceacutelulas se tornam

entatildeo como se fossem ceacutelulas tronco embrionaacuterias ou seja ceacutelulas que tecircm o potencial de virar

qualquer outro tipo celular que a gente queira estudar E daiacute a gente consegue mais uma vez

usando o estiacutemulo quiacutemico correto transformar essas ceacutelulas no tipo celular que a gente quer

estudar

Eu sou Neurologista estudo uma doenccedila rara neurogeneacutetica a doenccedila de Charcot-Marie-

Tooth Para mim especificamente eacute interessante estudar os neurocircnios e as ceacutelulas de Schwann

para outros pesquisadores vai ser outros tipos celulares mas a tecnologia se aplica do mesmo

jeito Desde a descriccedilatildeo dessa nova tecnologia em 2007 uma enormidade de doenccedilas a maioria

delas geneacuteticas e raras jaacute foram modeladas dessa maneira usando essa tecnologia

Soacute para mostrar a potencialidade dessa tecnologia com ela a gente consegue modelar natildeo

soacute a doenccedila mas o doente Podemos pegar um paciente e estudar especificamente naquele

paciente como a doenccedila se manifesta nas suas ceacutelulas E o que a gente pretende fazer mais para

frente eacute usar essa mesma plataforma para procurar medicamentos e substacircncias que possam

corrigir essa anormalidade celular Esse aqui eacute um exemplo com Um dos primeiros trabalhos

com reprogramaccedilatildeo celular foi um paciente com atrofia muscular espinhal de que os

pesquisadores reproduziram ceacutelulas Satildeo ceacutelulas IPS ou ceacutelulas de Pluripotecircncia Induzida de

um paciente com AME14 e da matildee dele que natildeo tinha a mutaccedilatildeo e isto mostrou que as ceacutelulas

desses pacientes se comportavam de maneiras diferentes Especificamente vocecircs conseguem

ver aqui15 que o azul eacute o nuacutecleo de uma ceacutelula e essas setas estatildeo apontando para uns pontinhos

verdes dentro desse nuacutecleo Essas ceacutelulas normalmente em pessoas natildeo afetadas pela AME

possuem esses pontinhos e eacute esperado que elas tenham isso Em pacientes com a Atrofia

Muscular Espinhal esses pontinhos desaparecem e isso tem repercussatildeo pela doenccedila eacute causado

pela doenccedila Os pesquisadores usaram isso como uma maneira de buscar tratamento Entatildeo eles

colocaram essas ceacutelulas numa placa e jogaram diferentes medicamentos e viram quais

medicamentos poderiam fazer com que esses pontinhos reaparecessem e com isso eles acharam

alguns medicamentos que podem potencialmente ter um efeito de tratamento para esse paciente

Isso daqui natildeo eacute obviamente um produto pronto Ah esse medicamento vai funcionar com

grande certeza mas eacute um grande avanccedilo por ser uma ceacutelula humana e do paciente ao inveacutes

de se fazer essa primeira testagem por exemplo em animais O que a gente tem identificado e

o que a gente espera mostrar em mais trabalhos eacute que essa tecnologia vai conseguir encurtar o

14 Atrofia Muscular Espinhal 15 Slide 8

129

tempo em que a gente identifica uma droga passa para um estudo animal e para um estudo

cliacutenico E natildeo eacute soacute encurtar o tempo mas aumentar a chance de que aquele primeiro achado

positivo venha a se confirmar num estudo cliacutenico mais para frente O que acontece muito em

doenccedila rara eacute a gente achar uma medicaccedilatildeo que funciona super bem em camundongo e quando

vai testar no ser humano natildeo funciona nada Utilizando o modelo humano de preacute-testagem de

drogas ou de medicamentos a gente espera conseguir aumentar nossa chance de acerto

Esse eacute o modelo que a gente estaacute desenvolvendo no nosso laboratoacuterio A gente coleta

amostra de pacientes tanto de pele quanto de urina faz aquela manipulaccedilatildeo geneacutetica mexe laacute

no coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas e faz elas virarem ceacutelulas IPS ou ceacutelulas tronco induzidas A

diferenccedila no tipo celular que a gente quer estudar no nosso caso satildeo neurocircnios E outra coisa

que a gente tambeacutem pode fazer eacute usar outros tipos celulares que tambeacutem vatildeo servir para dizer

para a gente se a droga eacute segura do ponto de vista cardiacuteaco e do ponto de vista renal para que

essa droga tenha o miacutenimo de toxicidade possiacutevel quando ela for para um ensaio cliacutenico Essa

identificaccedilatildeo de drogas vai voltar para o paciente como um estudo cliacutenico primeiro e

eventualmente uma terapia Obviamente todo mundo deve estar pensando Entatildeo porque que

natildeo usa essas ceacutelulas para terapia celular e injetar essas ceacutelulas no pacienterdquo Com certeza esse

eacute um objetivo para o futuro e o futuro natildeo estaacute tatildeo distante A gente jaacute tem um estudo

comeccedilando no Japatildeo em que essas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para tratar um tipo de

degeneraccedilatildeo retiniana quer dizer doenccedila oftalmoloacutegica e a gente imagina que esse vai ser o

caminho natural das coisas Mas a gente ainda aposta que identificar drogas medicamentos vai

ser mais raacutepido e vai surtir efeitos e resultados para os pacientes mais raacutepido que a terapia

celular que eacute uma coisa que a gente ainda precisa aprender muito sobre o como que essas

ceacutelulas se comportam no organismo humano

Esse aqui eacute o robocirc A gente tem um parecido no laboratoacuterio O que ele faz basicamente eacute

pegar uma placa com ceacutelulas e enfiar no microscoacutepio para fazer a leitura dessas placas tirar e

colocar de novo E com isso a gente pode fazer uma triagem de 3000 7000 mudanccedilas diferentes

durante uma noite enquanto a gente estaacute em casa dormindo por exemplo para voltar no

laboratoacuterio no dia seguinte e jaacute ter todos os dados para serem analisado E parece coisa de ficccedilatildeo

cientiacutefica mas jaacute tem um estudo utilizando essa plataforma que eu estou descrevendo aqui e

que foi capaz de identificar algumas substacircncias que no caso de pacientes com Esclerose Lateral

Amiotroacutefica reduzia a perda neuronal a perda de neurocircnios que eacute uma caracteriacutestica da doenccedila

Entatildeo o que eles fizeram foi colocar neurocircnios de pacientes com Esclerose Lateral Amiotroacutefica

e observaram que essas ceacutelulas morriam mais rapidamente em cultura que as ceacutelulas de

pacientes natildeo afetados e conseguiram identificar medicamentos que reduziam a velocidade com

que essa morte acontecia

Identificando potenciais candidatos a ensaios cliacutenicos em esclerose lateral amiotroacutefica

Aqui eacute o exemplo de como a gente pode fazer desses candidatos que a gente identifica como o

potencial tratamento para alguma medicaccedilatildeo eacute seguro do ponto de vista por exemplo

cardioloacutegico Eu quero que vocecircs observem essa regiatildeo da placa Tem uma regiatildeo da placa que

estaacute batendo ritmicamente Essa placa eacute uma placa com muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do muacutesculo

cardiacuteaco Ela estaacute reproduzindo em uma placa de cultura o funcionamento de um coraccedilatildeo e

com isso a gente consegue fazer um eletrocardiograma dessa placa Agrave medida que a gente joga

diferentes compostos daacute para notar se estaacute havendo alguma alteraccedilatildeo desse funcionamento

cardiacuteaco E essa eacute uma maneira de se tentar identificar se uma droga tem efeito ruim no caso

efeito de toxicidade para o coraccedilatildeo e se sim ela jaacute natildeo seria usada no ensaio cliacutenico

A minha experiecircncia eacute com a doenccedila de Charcot-Marie-Tooth (CMT) que eacute uma

neuropatia hereditaacuteria uma doenccedila neurogeneacutetica que estaacute junto com a neurofibromatose

como as duas doenccedilas geneacuteticas mais comuns a afetar pacientes no mundo Eacute uma doenccedila que

natildeo eacute fatal mas que causa muita debilidade e muita incapacidade por degeneraccedilatildeo de nervos e

de muacutesculos E o nosso interesse aleacutem desse fator humano oacutebvio eacute que ela oferece um modelo

130

para a gente estudar nosso sistema nervoso Entatildeo cada gene mutado que causa a CMT eacute um

gene que estaacute associado a uma funccedilatildeo do neurocircnio ou da ceacutelula de Schwann que satildeo ceacutelulas do

sistema nervoso perifeacuterico Estudando a CMT a gente tambeacutem estaacute estudando como nosso

sistema nervoso funciona e como a gente pode tratar natildeo soacute a CMT mas outras doenccedilas

neuroloacutegicas raras e tambeacutem comuns

Durante o meu Poacutes Doutorado eu fiquei cinco anos nos Estados Unidos e dois anos eu

dediquei para produzir essas ceacutelulas reprogramadas essas ceacutelulas IPS de pacientes com

Charcot-Marie-Tooth e a gente conseguiu fazer isso com 14 pacientes e agora temos um

projeto tanto aqui no Brasil como laacute fora para expandir esse banco de ceacutelulas para serem usadas

natildeo soacute em pesquisa de como uma doenccedila funciona mas tambeacutem de como tratar essa doenccedila

O que a gente pode fazer para estimular as pesquisas em doenccedilas raras

Obviamente a gente precisa de dinheiro A elaboraccedilatildeo de editais de fomento das agecircncias

governamentais eacute fundamental para que a gente tenha a capacidade de comprar insumos e

produzir ciecircncia aqui no Brasil Mas mais importante que isso noacutes precisamos de redes de

colaboraccedilatildeo entre centros de excelecircncia ao redor do Brasil porque uma andorinha soacute natildeo faz

veratildeo e isso eacute verdade para qualquer coisa inclusive para a ciecircncia A gente precisa de gente

boa que saiba ver um paciente e saiba estudar a doenccedila desse paciente Noacutes temos quefortalecer

ndash e acho que o dia de hoje eacute tudo sobre isso ndash fortalecer o papel das associaccedilotildees de pacientes e

familiares no fomento de pesquisa em doenccedilas raras E uma coisa que a Deputada Mara jaacute

comentou eacute viabilizar mecanismos que tornem a nossa pesquisa mais competitiva que eacute

facilitar a entrada de insumos aqui no Brasil

Este eacute o modelo de apoio que eu mencionei no comeccedilo Estatildeo assistecircncia pesquisa e apoio

pacientes governo meacutedicos e pesquisadores E a conclusatildeo que todo mundo chega eacute essa que

paciente com doenccedila rara precisa de pesquisa e atendimento especializado Noacutes precisamos da

participaccedilatildeo do governo dos pacientes familiares meio acadecircmico fomento agrave pesquisa jaacute que

essas novas tecnologias que eu apresentei aqui hoje prometem revolucionar o estudo das

doenccedilas raras e aumentar a velocidade de descoberta de novos medicamentos Este eacute o nosso

grupo o grupo do professor Steven Hans da UFRJ de que eu faccedilo parte e eu agradeccedilo a atenccedilatildeo

de vocecircs aqui hoje

Obrigado

131

5ordf Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras

Marcos Burle Aguiar1 ndash Inicialmente eu gostaria de agradecer agrave AMAVI especialmente

ao Rogeacuterio que me convidou para participar desse evento que eacute um evento que trata de um

assunto pelo qual eu sou realmente apaixonado

Euvou abordar aqui dois aspectos da poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras no

acircmbito do SUS Vou abordar primeiro as caracteriacutesticas dessa poliacutetica e segundo a

implantaccedilatildeo da mesma e os problemas que a gente tem nesta implantaccedilatildeo

Qual foi a origem dessa poliacutetica Foi exatamente a semana internacional de doenccedilas raras

do ano passado e coincidentemente exatamente naquele dia foi lanccedilado na Inglaterra o seu

projeto para doenccedilas raras uma consulta que deve ter se encerrado a 31 de dezembro do ano

passado E isso eacute uma coisa muito interessante porque a Inglaterra jaacute tinha uma experiecircncia

muito grande em diagnosticar em tratar as doenccedilas raras mas eles tentam transformar isso num

projeto mais denso

O que a gente tinha ateacute a criaccedilatildeo desse grupo Na verdade a gente natildeo tinha nenhuma

poliacutetica como continuamos sem tecirc-la hoje natildeo eacute verdade E a gente tinha muitas

reinvindicaccedilotildees de demandas judiciais Vocecircs sabem mais do que eu que a poliacutetica de doenccedila

rara estaacute sendo criada pelos juiacutezes e natildeo pelo legislador do Ministeacuterio da Sauacutede A gente tinha

pacientes e associaccedilotildees mal atendidos e o que eacute pior eacute que isso natildeo permitia ganhos reais

ganhos no sentido de que cada decisatildeo beneficiava um paciente ou um grupo de pacientes E

essas iniciativas soacute tinham efeitos locais e imediatos a longo prazo elas eram ineficazes

O que a gente poderia fazer nesse grupo e esse debate passou no iniacutecio do grupo que era o

seguinte A gente vai fazer uma poliacutetica baseada apenas na divulgaccedilatildeo de educaccedilatildeo nas doenccedilas

raras Se a gente fizesse isso o que noacutes fariacuteamos Basicamente copiar o que os paiacuteses

desenvolvidos jaacute fizeram A gente ia pegar em muita coisa do orphanet2 coisa de muito boa

qualidade que a gente ia divulgar mas para fazer isso natildeo precisava de um grupo de trabalho

Se a gente trabalhasse tambeacutem numa poliacutetica baseada apenas no diagnoacutestico dessas doenccedilas

quem ia tratar esses pacientes E aqui eu digo tratamento como um todo natildeo eacute tratamento

medicamentoso apenas eacute o tratamento da pessoa Se a gente fosse fazer uma poliacutetica baseada

nas demandas judiciais mais comuns a gente ia tambeacutem fazer uma colcha de retalho Se a gente

fosse fazer uma poliacutetica baseada no tratamento de doenccedilas raras a gente ia atender mais ou

menos um e meio por cento das doenccedilas ou seja um grande nuacutemero de doenccedilas importantes

um grande nuacutemero de pacientes ficaria de fora Mas por outro lado a gente tinha que

compreender que a gente natildeo partia do zero vocecirc tinha no Brasil inuacutemeras Associaccedilotildees de

apoio as doenccedilas raras tanto com doenccedilas geneacuteticas e natildeo geneacuteticas que acumulavam

experiecircncia Essa experiecircncia que vocecircs tecircm hoje eacute importante para noacutes A gente tinha diversos

serviccedilos de geneacutetica no Brasil e isso mostrava para gente de que era necessaacuterio o quecirc Uma

poliacutetica abrangente Que significasse um passo inicial mas que previsse o seu desdobramento

E uma das preocupaccedilotildees da gente era aproveitar toda e qualquer iniciativa Se existe um lugar

em que tem um grupo pequeno uma Associaccedilatildeo que lida com uma doenccedila x a gente natildeo vai

proibir porque aquele grupo natildeo tem capacidade Aquele grupo vai poder existir e a gente vai

ver um jeito de como aproveitar a sua experiecircncia a longo prazo

A gente deveria entatildeo ter uma poliacutetica que permitisse essa organizaccedilatildeo e associar os

serviccedilos de geneacutetica que trabalham com doenccedilas raras e as associaccedilotildees numa poliacutetica uacutenica

1 Representante do Ministeacuterio da Sauacutede no Grupo de Trabalho para criaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras 2 httpwwworphanetconsorcgi-binindexphp

132

Entatildeo a gente de uma certa forma de um ponto de vista ateacute mais da idade separou as doenccedilas

geneacuteticas das natildeo geneacuteticas Noacutes tiacutenhamos naquela eacutepoca 81 serviccedilos de geneacutetica mais de

metade situados no Sudeste mas todas as regiotildees do Brasil tinham pelo menos algum centro de

geneacutetica ou serviccedilo de geneacutetica Aleacutem disso existia a niacutevel do governo federal uma seacuterie de

programas tambeacutem voltados para doenccedilas raras O programa Viver sem limites com a sua rede

de deficientes os centros especializados de reabilitaccedilatildeo o transporte sanitaacuterio para tentar

abordar a questatildeo do transporte desses pacientes que tecircm dificuldade programa de recuperaccedilatildeo

da audiccedilatildeo programa de recuperaccedilatildeo da visatildeo coordenaccedilatildeo geral de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo

que eacute importante porque um conjunto grande das doenccedilas raras de natureza metaboacutelica depende

principalmente disso e tambeacutem a gente tinha grupos de definiccedilatildeo de protocolos

Vejam soacute satildeo todos programas novos que estavam comeccedilando e que natildeo tinha sentido

natildeo procurar natildeo se integrar com eles todos Na verdade a gente procura na poliacutetica o quecirc

Envolver tanto a atenccedilatildeo baacutesica quanto a atenccedilatildeo domiciliar a atenccedilatildeo especializada tanto a

niacutevel ambulatorial quanto a niacutevel hospitalar os centro especializados em reabilitaccedilatildeo que estatildeo

sendo criados no paiacutes e todos os centros jaacute existentes no paiacutes que lidassem com isso

O que a gente fez Primeiro a gente dividiu em dois grupos de doenccedilas as doenccedilas

geneacuteticas e as natildeo geneacuteticas Cada grupo tem trecircs eixos As doenccedilas geneacuteticas eixo das

anomalias congecircnitas deficiecircncia intelectual e erro inato do metabolismo As doenccedilas natildeo

geneacuteticas doenccedilas infecciosas auto imunes e auto inflamatoacuterias E ficou muito claro para noacutes

que principalmente na aacuterea das doenccedilas natildeo geneacuteticas essa separaccedilatildeo por grupo eacute mais difiacutecil

e que fica aberto para vocecircs criarem outros eixos outros serviccedilos e centros especializados

Para cada eixo satildeo definidos protocolos e quem ler a poliacutetica vai ver isso A gente tem

quais satildeo as funccedilotildees da atenccedilatildeo baacutesica os criteacuterios de encaminhamento da atenccedilatildeo baacutesica por

centro especializado e as interfaces que satildeo recomendadas Na atenccedilatildeo especializada as

funccedilotildees os procedimentos que ela pode realizar os criteacuterios de encaminhamento para

devoluccedilatildeo e o apoio diagnoacutestico tanto especiacutefico quanto geral

A atenccedilatildeo especializada seria a responsaacutevel por accedilotildees diagnoacutesticas e terapecircuticas de

indiviacuteduos com ou sob risco de doenccedilas raras Noacutes seguimos dois grandes setores o setor da

atenccedilatildeo especializada em doenccedilas raras e aqui esse serviccedilo pode atender apenas uma doenccedila

ou um grupo de doenccedilas de um mesmo eixo e os centros de referecircncias de doenccedilas raras que

satildeo centros mais complexos onde ele atende um grupo maior dois eixos dois setores daqueles

eixos ou mais do que isso

O que foi definido Portas de entrada O papel da atenccedilatildeo baacutesica o papel da meacutedia e alta

complexidade e isso tem que ter uma relaccedilatildeo tanto com o hospital como maternidade porque

o paciente com doenccedila rara natildeo vem soacute do ambulatoacuterio ou da atenccedilatildeo baacutesica ele pode vir do

berccedilaacuterio quando teve o diagnoacutestico de doenccedila rara da enfermaria ou de um CTI Aleacutem disso

deve-se fazer o treinamento de profissionais de sauacutede elaborar protocolos realizar pesquisa e

divulgar doenccedilas raras Aqui numa associaccedilatildeo estreita com as Associaccedilotildees Civis

O que a gente constata depois disso Que a gente propocircs uma poliacutetica integral criou-se

uma poliacutetica nova no SUS Cada conquista a gente entende que ela tem que representar um

avanccedilo e ela tem que estar aberta a modificaccedilotildees Ela natildeo vai estar focada apenas na

divulgaccedilatildeo nem no diagnoacutestico nem nas demandas judiciais e nem apenas no tratamento Ela

estaraacute centrada no acolhimento do paciente e no atendimento integral a esse paciente incluindo

a prevenccedilatildeo da doenccedila o tratamento etc Ela deve estar ligada tambeacutem ao conhecimento agrave

pesquisa e agrave divulgaccedilatildeo

A poliacutetica deve envolver todo o SUS tanto atenccedilatildeo baacutesica e especializada Ela tem vaacuterias

portas de entrada assegura interface assegura tratamento hospitalar de urgecircncia e ciruacutergico

assegura reabilitaccedilatildeo terapia ocupacional fonoaudiologia e outras especialidades de apoio

Aleacutem disso e esse eacute um ponto importante ela procura ampliar os testes geneacuteticos no SUS Natildeo

133

sei se vocecircs sabem mas o SUS hoje soacute reconhece carioacutetipo e a gente tem uma seacuterie de outros

exames que estatildeo defasados inclusive a nossa medicina suplementar natildeo cobre todos

Quais satildeo as questotildees atuais A primeira questatildeo eacute a seguinte a poliacutetica estaacute pronta A

poliacutetica vai vingar Porque todo mundo todo brasileiro sabe que a gente tem lei que vinga e

tem lei que natildeo vinga Tem lei que vai agrave praacutetica e tem lei que natildeo vai E o que eacute que a gente tem

que dizer para que essa poliacutetica vingue

A primeira questatildeo eacute que a poliacutetica natildeo estaacute pronta ela eacute soacute um primeiro passo Ela tenta

estruturar as linhas gerais de como vai se desenvolver o atendimento agraves pessoas com doenccedilas

raras no acircmbito do SUS A partir dele vocecirc pode construir um caminho longo e seguro E cada

conquista deve significar o quecirc Um avanccedilo consolidado das Associaccedilotildees Trata-se de uma

poliacutetica aberta sujeita portanto a desdobramentos Bem e aiacute vem a parte mais importante que

eacute o papel de vocecircs a poliacutetica vai vingar Quais satildeo os proacuteximos passos Olha para essa poliacutetica

vingar a gente tem duas coisas que satildeo fundamentais Primeiro o reconhecimento dos exames

de diagnoacutestico Se a gente faz a poliacutetica e natildeo tem exame de diagnoacutestico a gente natildeo tem

poliacutetica e a comissatildeo da tripartite eacute que vai colocar isso Mas eacute necessaacuterio o quecirc A adesatildeo dos

vaacuterios municiacutepios eacute esclarecer os gestores porque eacute preciso que o gestor saiba que noacutes natildeo

criamos doentes novos e nem doenccedilas novas noacutes estamos abordando e organizando doenccedilas

que jaacute existem que estatildeo no SUS o tempo inteiro de um lado para o outro gastando tempo

sofrendo e muitas vezes tendo o dinheiro gasto de uma forma desorganizada certo Entatildeo para

essa poliacutetica vingar o papel fundamental eacute de vocecircs isso porquecirc Porque o SUS tem base no

municiacutepio e natildeo adianta o Ministeacuterio da Sauacutede aprovar a poliacutetica porque se ela natildeo tiver um

apoio um financiamento e o municiacutepio natildeo aderir natildeo vai haver poliacutetica Isso jaacute aconteceu com

a poliacutetica de geneacutetica no SUS

Entatildeo eacute o seguinte qual eacute o papel de vocecircs Ou vocecircs organizam os gestores a niacutevel

municipal para poder valer e fazer com que o municiacutepio adira agrave poliacutetica ou a poliacutetica natildeo vai

existir Poliacutetica natildeo cai do ceacuteu eu fiz movimento estudantil na eacutepoca da ditadura e existia um

ditado que era assim ldquoLiberdade natildeo se pede conquista-serdquo Eu digo pra vocecircs essa poliacutetica

natildeo pode ser pedida ela tem de ser conquistada E satildeo as associaccedilotildees que vatildeo ter que pressionar

natildeo soacute o Ministeacuterio da Sauacutede mas as Secretarias estaduais e municipais de sauacutede para que ela

funcione senatildeo natildeo adianta Entatildeo a gente precisa estar unida ter uma visatildeo de conjunto e

acima de tudo ser perseverante

Obrigado

Maria Teresinha de Oliveira Cardos3 - Boa tarde a todos

Eu quero parabenizar a organizaccedilatildeo do Congresso por esse evento que eacute o primeiro em

Brasiacutelia Eu acho extremamente importante Agradecer ao Rogeacuterio o convite de estar aqui com

vocecircs conversar com vocecircs mostrando como funciona a rede puacuteblica de sauacutede no atendimento

de doenccedilas raras que eacute um trabalho que noacutes estamos fazendo haacute 20 anos dentro do Distrito

Federal Eacute o nosso dia a dia e a cada dia com maior nuacutemero de indiviacuteduos Hoje noacutes jaacute temos

oito geneticistas temos nossos residentes que estatildeo aqui Dr Rose Dra Romina Dr Gerson

que satildeo os novos geneticistas que se agregaram ao serviccedilo E para mim eacute extremamente

prazeroso estar aqui falando com vocecircs poder contar um pouco dessa histoacuteria e oferecer o

serviccedilo a vocecircs

Tem vaacuterias definiccedilotildees de doenccedilas raras noacutes jaacute vimos vaacuterias nesse congresso Para a Uniatildeo

Europeia por exemplo satildeo cinco casos para cada 10 mil habitantes Para os Estado Unidos eacute

menos de 200 mil pessoas no paiacutes e para a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede 13 a cada 2000

indiviacuteduos De qualquer jeito elas satildeo doenccedilas mesmo que natildeo muito raras agraves vezes um para

3 Coordenadora do nuacutecleo de doenccedilas raras da Secretaria de Estado da Sauacutede do Distrito Federal

134

2000 e outras satildeo um para 40000 ou 50000 Todas elas para o indiviacuteduo e para a famiacutelia satildeo

uacutenicas Por isso que eacute importante que a gente rebata essa definiccedilatildeo para mostrar que tem vaacuterios

trabalhos a niacutevel mundial mostrando isso

Qual que eacute o impacto populacional dessas doenccedilas

Cerca de 6 da populaccedilatildeo apresenta uma doenccedila rara entatildeo natildeo eacute tatildeo raro assim num

contexto global Todas elas se caracterizam por uma diversidade de sintomas e algumas a

maioria delas tem muitas manifestaccedilotildees que satildeo comuns a doenccedilas natildeo raras

Para a classe meacutedica que natildeo tem uma formaccedilatildeo baacutesica na graduaccedilatildeo de doenccedilas raras o

paciente realmente passa sem diagnosticar Tem um caraacuteter crocircnico progressivo em geral satildeo

incapacitantes a grande parte delas afeta muacuteltiplos sistemas e afeta loacutegico a qualidade de vida

dos familiares e do paciente em si Entatildeo ela tem um impacto social muito grande Entatildeo dessas

6000 a 8000 doenccedilas raras que jaacute estatildeo catalogadas e que jaacute estatildeo estabelecidas 80 tem uma

etiologia geneacutetica ndash vocecircs viram no trabalho anterior do Dr Marcos que o Ministeacuterio da Sauacutede

separou entre geneacuteticas e natildeo geneacuteticas ndash soacute que naquele bolo das natildeo geneacuteticas tambeacutem tem o

dedinho da geneacutetica porque as doenccedilas autoimunes as doenccedilas auto inflamatoacuterias elas tambeacutem

tecircm um componente geneacutetico da mesma forma que muitas doenccedilas infecciosas elas tecircm alguns

pacientes que tecircm maior predisposiccedilatildeo a doenccedilas infecciosas do que outros pacientes entatildeo

sobra o quecirc Mais os processos de acidentes que satildeo adquiridos coisas de acidentes de

trabalho acidentes de tracircnsito que vatildeo dar doenccedilas que natildeo tem nenhum componente geneacutetico

Tem trabalhos mostrando que cinco novas doenccedilas estatildeo sendo descritas a cada mecircs e a

cada semana Natildeo eacute que as doenccedilas estatildeo aparecendo elas estatildeo sendo identificadas em sua

etiopatogenia ou em sua etiologia geneacutetica 65 delas tem uma expressatildeo grave e 66 tem

trabalhos mostrando uma incidecircncia maior de 70 se manifestam antes dos dois anos de idade

10 vatildeo se manifestar entre um e cinco anos 12 entre cinco e quinze anos 35 delas vatildeo a

oacutebito no primeiro ano entatildeo eacute uma causa de mortalidade infantil elevada e 33 tem um certo

grau de limitaccedilatildeo Em todas elas o indiviacuteduo nasce com a predisposiccedilatildeo geneacutetica Quer dizer

com a mensagem ali truncada Ela vai se manifestar dependendo de cada tipo de patologia

numa eacutepoca da vida soacute que a maioria delas se manifesta ateacute aos dois anos de idade Ainda

falando do impacto populacional a gente vecirc que tanto eacute maior esse impacto quando tardio o

diagnoacutestico Por quecirc Porque ela se torna mais incapacitante e eacute menos um ser uacutetil socialmente

aleacutem do impacto familiar que eacute muito grande agravado pela carecircncia de Centros de referecircncia

No nosso serviccedilo e no Brasil elas podem ser divididas ndash e foi mais ou menos o que o Dr

Marcos apresentou para vocecircs que dentro das doenccedilas raras 3 a 5 dos receacutem nascidos nascem

com anomalia congecircnita ndash em dois grupos aqueles que tecircm anomalias congecircnitas e aqueles que

nascem perfeitos do ponto de vista de exame fiacutesico e morfoloacutegico ao nascimento mas vatildeo

apresentar uma alteraccedilatildeo metaboacutelica posterior

Entatildeo noacutes temos o grupo das anomalias congecircnitas que representa 3 a 5 na populaccedilatildeo

que eacute a segunda causa de oacutebito infantil no Brasil jaacute que a primeira eacute a infecciosa e um terccedilo

das internaccedilotildees pediaacutetricas se devem a crianccedilas com defeitos congecircnitos No nosso serviccedilo

aqui em Brasiacutelia noacutes temos um serviccedilo totalmente em rede SUS pode ser que o SUS natildeo tenha

os seus Centros de Referecircncia mas noacutes jaacute existimos haacute duas deacutecadas desde 1990 com o serviccedilo

de geneacutetica totalmente inserido do SUS Ele eacute plenamente SUS Loacutegico que tem parceria com

as Universidades Eu sou professora da Universidade Catoacutelica mas o Serviccedilo em si eacute um

serviccedilo da Rede Puacuteblica de Sauacutede do Distrito Federal

Os erros inatos do metabolismo que eacute o segundo grupo de pacientes ocorrem com a

frequecircncia se for somar no total de um para 1500 para 2000 receacutem-nascidos um percentual

alto de oacutebito ocorre no primeiro ano de vida decorrente dessas doenccedilas metaboacutelicas Entatildeo ele

natildeo tem defeitos ele tem alteraccedilotildees nos seus ciclos bioquiacutemicos Sequelas graves neuroloacutegicas

que podem ocorrer quando natildeo tratadas um exemplo delas eacute a fenilcetonuacuteria que eacute muito bem

135

conhecida de vocecircs E a triagem neonatal ampliada eacute um instrumento de atenccedilatildeo primaacuteria

porque ela eacute preventiva ela faz o diagnoacutestico antes da manifestaccedilatildeo cliacutenica

No Distrito Federal noacutes jaacute temos essa rede de triagem neonatal ampliada funcionando desde

2012 2011 e ela eacute totalmente inserida no SUS com 27 doenccedilas triadas pela triagem neonatal

ampliada

Aqui eu vou mostrar para vocecircs como funciona o nosso fluxo de atendimento dos pacientes

dentro da rede SUS no Distrito Federal no Nuacutecleo de Geneacutetica nos hospitais da rede Os

pacientes podem chegar via as Unidades Baacutesicas de Sauacutede grande parte desses pacientes satildeo

encaminhados das unidades baacutesicas noacutes temos uma rede muito grande de hospitais unidades

baacutesicas hospital primaacuterio secundaacuterio e terciaacuterio dentro da rede elas vecircm das cliacutenicas de

pediatria ou das UTIs emergecircncias e das cliacutenicas especializadas Entatildeo elas satildeo encaminhadas

dos vaacuterios graus de complexidade e elas vatildeo ser distribuiacutedas nos ambulatoacuterios no Nuacutecleo de

Geneacutetica que tem no HMIB4 no ambulatoacuterio geral o ambulatoacuterio de neonatal e tem o

ambulatoacuterio de erro inato do metabolismo No hospital da crianccedila eacute um hospital especializado

e noacutes estamos montando laacute aleacutem das doenccedilas neurogeneacuteticas monogeneacuteticas oncogeneacuteticas e

as endocrinopatias noacutes estamos criando agora o centro de referecircncias em infusatildeo e terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica

No hospital de apoio noacutes temos a triagem neonatal e todo o grupo multidisciplinar

dedicado a triagem neonatal e ao tratamento dos casos positivos e no Hospital de Base aleacutem

dos internos noacutes temos a geneacutetica dos adultos que natildeo pode ser deixado de fora Entatildeo eles

satildeo encaminhados baseados na especialidade na idade e no tipo de doenccedila As doenccedilas raras

estatildeo inseridas dentro do Nuacutecleo haacute 20 anos como doenccedilas geneacuteticas vindo desses vaacuterios locais

que depois satildeo encaminhadas agraves equipes multidisciplinares que trabalham em parceria com a

gente a neuropediatria a endocrinologia a cardiologia a oftalmologia a nefrologia todas

essas especialidades dependendo da necessidade do paciente Temos um grupo de apoio com

fonoaudioacutelogos psicoacutelogos odontologistas e a nutricionistas que trabalha com parceria direta

com a gente no ambulatoacuterio e aleacutem dos exames de imagem que fazem parte do diagnoacutestico

confirmatoacuterio

A coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras foi criada pela Secretaria de Sauacutede agora em marccedilo de

2013 tudo isso em diaacuterio oficial Entatildeo eacute tudo reconhecido oficialmente para exatamente

coordenar o fluxo de referecircncia e contra referecircncia desses pacientes implementar os exames a

facilitaccedilatildeo de ter consultas e o acesso a terapias especiacuteficas em que globalize o paciente e a

famiacutelia Eacute o Projeto Nacional de Doenccedilas Raras e eacute isso que estaacute no Ministeacuterio da Sauacutede e que

na verdade a gente vai colaborar para que isso seja realmente implementado com a ajuda de

vocecircs

As perspectivas para o centro para a coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras eacute exatamente tornar-se

um centro de reposiccedilatildeo enzimaacutetica um laboratoacuterio de neuromuscular integrado com as equipes

de apoio monogeneacutetica e as parcerias de investigaccedilatildeo e diagnoacutestico

Noacutes temos aqui a Dra Juliana que tambeacutem eacute da UnB e faz um trabalho de pesquisa Noacutes

jaacute temos vaacuterios projetos com a UnB a Dra Juliana eacute capitatilde nessas pesquisas em relaccedilatildeo as

doenccedilas dismorfoloacutegicas diagnoacutestico molecular dessas doenccedilas

Na Universidade Catoacutelica noacutes temos um grupo estudando displasias oacutesseas erros inatos do

metabolismo e um grande projeto que centralizou o nuacutecleo de geneacutetica da UnB e da

Universidade catoacutelica numa grande rede de investigaccedilatildeo diagnoacutestica das doenccedilas geneacuteticas em

geral principalmente dismorfoloacutegicas Entatildeo a gente tem todo esse arcabouccedilo noacutes temos

residecircncia temos a parte de pesquisa e temos os ambulatoacuterios de cliacutenica Eacute um centro completo

integrado de investigaccedilatildeo das doenccedilas raras

4 Hospital Materno Infantil de Brasiacutelia

136

Aqui estaacute o nosso site5 o nosso email que eacute do nuacutecleo de geneacutetica estaacute o telefone os

telefones do serviccedilo de geneacutetica do hospital de apoio

Eu quero agradecer vocecircs por terem me escutado e a gente daqui para a frente vai caminhar

junto para que essa coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras no Distrito Federal faccedila parte de todo esse

processo de integraccedilatildeo social do paciente

5 saudedfgovbr nucleodegeneticadfyahoocombr

137

6ordf Mesa A rede de apoio ao paciente

Ana Maria Martins1 - Boa tarde a todos e a todas

Eu agradeccedilo ao Rogeacuterio por ter lembrado de mim para poder falar para vocecircs

Eu sou pediatra de formaccedilatildeoe depois especializado em geneacutetica cliacutenica e venho me

dedicando a essas doenccedilas jaacute haacute algum tempo

Na verdade o meu primeiro contato com doenccedila rara foi quando eu tinha nove anos de

idade Eu tenho uma irmatilde que nasceu com uma doenccedila rara Entatildeo esse foi o meu primeiro

contato e logicamente eu me envolvi muito porque eu tinha nove anos Eu era uma irmatilde assim

muito ansiosa Eu queria uma irmatilde pequena para poder ainda brincar e ela acabou precisando

fazer vaacuterias cirurgias Quer dizer eacute uma doenccedila bem complexa estaacute comigo haacute 49 anos Ela ia

fazer uma cirurgia com um mecircs e meio de vida e mamatildee tinha medo que ela natildeo voltasse da

cirurgia porque os meacutedicos disseram que era muito grave Uma cirurgia na cabeccedila naquela

eacutepoca era um pouco mais complicado E eu fui ao hospital para me despedir dela e entrei numa

sala que tinha muitas crianccedilas neuroloacutegicas para cirurgia muito hidrocefalia e eu falei para

minha matildee quando eu sai de laacute que eu ia crescer e ia realmente cuidar desse tipo de paciente

Entatildeo minha histoacuteria vem de haacute muito tempo E eu fui para a escola paulista de medicina laacute

eu fiz minha residecircncia em pediatria depois logo da residecircncia eu comecei a especializaccedilatildeo em

geneacutetica cliacutenica e comecei a tomar conta ndashporque a escola tinha uma cooperaccedilatildeo com a APAE2

de Satildeo Paulo ndash comecei a tomar conta dos pacientes com fenilcetonuacuteria Fui na APAE durante

sete anos como voluntaacuteria e atendendo esses pacientes Acabei fazendo meu doutorado em

fenilcetonuacuteria e na verdade esse foi o meu grande contato com as doenccedilas e os erros inatos do

metabolismo Fiz o meu poacutes-doutorado dentro da aacuterea de geneacutetica geral e natildeo do metabolismo

e em 1997 pela necessidade de se criar um serviccedilo que cuidasse desse grupo de pacientes a

gente acabou abrindo um centro de referecircncia em erro inato do metabolismo Em 1999 eu

comecei a fazer tratamento da doenccedila de Gaucher e aiacute comeccedilou a surgir um problema porque

eu dividia o ambulatoacuterio com o pessoal da dismorfologia Eu atendia segunda e quarta

trabalhava o dia todo e o pessoal da dismorfologia terccedilas e quintas Sexta era o dia das reuniotildees

cientiacuteficas Eu comecei a ter um problema que era local para fazer o tratamento que eacute

endovenoso dessas doenccedilas Em 2005 por essa necessidade a gente foi impulsionado a abrir

uma ONG que se chama Instituto de Geneacutetica e Erro Inato de Metabolismo Essa ONG existe

para dar suporte para ao ambulatoacuterio que eacute o CREIM3 que eacute o de erro inato de metabolismo

do SUS e da Universidade Federal de Satildeo Paulo

E o que satildeo essas doenccedilas

Satildeo todas doenccedilas geneacuteticas hereditaacuterias satildeo mais de 700 doenccedilas hoje Como toda a

doenccedila rara tem sintomas parecidos com doenccedilas mais frequentes e isso acaba dificultando o

diagnoacutestico

50 dessas doenccedilas tem tratamento Desse grupo de metabolismo um nuacutemero bastante

importante e a uacutenica coisa que eu posso dizer para o meacutedico para o profissional de sauacutede eacute que

toda vez que ele tem um caso um paciente com um quadro cliacutenico ou agudo que ele natildeo entende

o que estaacute acontecendo ele tem que pensar em erro inato ou em uma doenccedila rara Esta eacute a

caracteriacutestica Se manifesta diferente daquilo que eacute a maioria do conhecimento do meacutedico ou

do profissional de sauacutede e a gente natildeo tem essa dedicaccedilatildeo na Universidade

1 Universidade Federal de Satildeo Paulo 2 Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais 3 Centro de Referecircncia em Erros Inatos do Metabolismo httpwwwunifespbrcentroscreim

138

Entatildeo tudo depende aqui dessa nossa constituiccedilatildeo geneacutetica 80 das doenccedilas raras satildeo de

origem geneacutetica e aquelas que satildeo ambientais muitas vezes tecircm um papel de alguma

predisposiccedilatildeo que pode tornar a doenccedila mais grave E tudo vem da nossa formaccedilatildeo dos cerca

de 25000 genes que vieram do nosso pai e que se juntaram com 25000 da nossa matildee e formaram

um ser humano com 25000 pares de genes Isso vai determinar com quem a gente parece dentro

da nossa famiacutelia como a gente funciona e como eacute que eacute o nosso metabolismo

Da mesma forma aqui eu comeccedilo um pouco essa histoacuteria essa minha histoacuteria com o erro

inato de metabolismo Quando eu comecei quando eu abri o ambulatoacuterio era uma manhatilde por

semana no ano seguinte que foi em 98 jaacute era dois dias Nesse primeiro ano foi uma coisa

muito difiacutecil porque eram pacientes muito diferentes que vinham e eu nunca tinha atendido

eles os erros inatos do metabolismo todos juntos eu conhecia um ou outro E aiacute a gente ficou

meio perdido o primeiro ano foi um ano bastante difiacutecil Se trabalhava muito estudava muito

para entender o que era aquilo Aiacute a gente encontrou a informaccedilatildeo que mostrava uma

classificaccedilatildeo que pegava aquelas 700 doenccedilas e dividia em trecircs grupos E esse primeiro grupo

estaacute relacionado com a ingestatildeo de proteiacutena e accediluacutecar Eacute um grupo que se manifesta muito cedo

porque a crianccedila nasce e ela vai mamar e aiacute comeccedilam a acontecer os problemas porque ela tem

problema no metabolismo para proteiacutena ou o accediluacutecar Esse grupo relacionado a produccedilatildeo de

energia essa energia que manteacutem a gente de peacute manteacutem a gente vivo e que eacute uma energia

importante ou que nos mantm funcionando mesmo dormindo ou em jejum

Eacutesse grupo de doenccedilas vai aparecer em jejum prolongado E essas doenccedilas esses exames

que estatildeo em laranja eacute o que a grande maioria dos hospitais faz mas com algumas dificuldades

Os que estatildeo em azul satildeo os que a gente natildeo faz e aiacute a gente vai depender de algumas parcerias

ou de alguns favores porque satildeo exames que natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

O terceiro grupo eacute completamente diferente do outro grupo inclusive a investigaccedilatildeo Satildeo

doenccedilas onde o acuacutemulo eacute de uma moleacutecula maior Os pacientes vatildeo ter alteraccedilotildees visiacuteveis um

fiacutegado e um baccedilo grande uma estatura pequena um fundo de olho alterado uma alteraccedilatildeo na

coacuternea que vai dar uma opacidade de coacuternea Entatildeo eu vou ter situaccedilotildees de um depoacutesito e esse

depoacutesito pode ateacute ser visiacutevel

Muito importante nesse grupo satildeo as doenccedilas lisossocircmicas Elas trouxeram a terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica que teve um papel muito importante principalmente nos paiacuteses em

desenvolvimento porque acabou trazendo um desenvolvimento maior para as doenccedilas

geneacuteticas Porque aqui comeccedilou um estiacutemulo em relaccedilatildeo agrave diagnoacutestico As coisas comeccedilaram

a melhorar ateacute a informaccedilatildeo para os meacutedicos de maneira geral por conta desse tratamento A

gente tem alguns pacientes um grupo que eacute bastante conhecido jaacute encontrei umas amigas aqui

de associaccedilotildees de pacientes com mucopolissacaridose

O que que nos fez abrir essa ONG esse CREIM ou buscar esse tipo de tratamento

Eu jaacute tinha uma experiecircncia que vinha da APAE de Satildeo Paulo que era assistir e participar

das discurssotildees do atendimento multidisciplinar que eacute muito diferente do que a gente tem na

universidade Na residecircncia de pediatria eu natildeo via o atendimento multidisciplinar As pessoas

natildeo estavam juntas atendendo e conversando a respeito daquela situaccedilatildeo E aiacute eu comecei a

perceber que os pacientes quando eles chegam eles jaacute fizeram uma peregrinaccedilatildeo muito grande

por muitos serviccedilos meacutedicos ou consultoacuterios meacutedicos que tecircm uma falta de informaccedilatildeo muito

grande Todos os profissionais de sauacutede natildeo soacute dos meacutedicos todos de maneira geral Ficaram

muitos anos em busca do diagnoacutestico os que chegam para mim Tem paciente adulto que chega

com 45 anos Quando a gente consegue fazer o diagnoacutestico que ele procura desde os oito anos

de idade jaacute tem um atraso muito grande Eacute uma anguacutestia vocecirc ter um problema de sauacutede seacuterio

e descobrir o que eacute que eacute aquilo Muitos exames geralmente chegam com um pacote de exames

sem resultado ainda sem fechar aquele diagnoacutestico Anguacutestia muito grande decepcionados e

obviamente muito cansados Agraves vezes eles ateacute chegam bravos com o serviccedilo porque aquele eacute

o que ele chegou agora entatildeo agora ele vai descontar naquele laacute Tem essa questatildeo E muito

139

aacutevidos para ter informaccedilatildeo sobre aquele problema que estaacute na famiacutelia dele ou nele ou estaacute em

algueacutem da famiacutelia

Quando eu comecei a trabalhar em 97 a gente tinha alguns voluntaacuterios fono e fisioterapeuta

que iam trabalhar com a gente Isso sempre te agonia um pouco porque natildeo te daacute uma seguranccedila

de que o serviccedilo vai se manter mas ele funcionou assim ateacute 2005 Em 2005 quando a gente

abriu a ONG a gente alugou uma casa e passou a pagar a alguns profissionais para ficarem com

a gente soacute a atender os nossos pacientes A nutricionista a fono que trata dos problemas natildeo

soacute de fala mas daqueles que tem dificuldade para engolir A disfagia eacute muito frequente no meu

ambulatoacuterio a fisioterapia a psicologia e eacute aquilo que a gente conseguiu ateacute hoje de

multidisciplinar

O diagnoacutestico a gente ainda tem muita dificuldade Melhorou em relaccedilatildeo ao que era em 97

mas ainda tem por falta de recursos A maioria dos exames natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

entatildeo a gente acaba dependendo de alguns favores

O tratamento tem ainda muitas dificuldades Vocecircs jaacute cansaram de ouvir mas a

judicializaccedilatildeo atrasa muito a introduccedilatildeo do tratamento Muitas vezes chega e natildeo daacute tempo

Entatildeo realmente eacute uma anguacutestia para quem trabalha laacute na linha da frente com o paciente

A gente divulga muito a informaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos erros inatos do metabolismo temos

algumas publicaccedilotildees fizemos um livro de dietas Como no Brasil a gente natildeo tinha muita coisa

onde ir buscar esse tipo de informaccedilatildeo e a nossa missatildeo eacute ter um atendimento multidisciplinar

de excelecircncia para melhorar a qualidade de vida tanto do paciente como de seus familiares

fizemos esse livro E foi aiacute que a gente percebeu que realmente existia um deacuteficit muito grande

porque na verdade quem melhora a qualidade de vida do paciente satildeo os outros profissionais

de sauacutede natildeo o meacutedico O meacutedico faz diagnoacutestico mas quem melhora a qualidade de vida eacute a

fisioterapia eacute a nutriccedilatildeo sem duacutevida nenhuma e por isso eles satildeo tatildeo necessaacuterios e eacute nisso que

a gente acredita

As doenccedilas raras a gente pode falar agora no geral o que precisam

Informaccedilatildeo do profissional de sauacutede para que ele saiba identificar aquela doenccedila rara para

que aquele que estaacute laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede possa dizer Nossa isso daqui deve ser

uma doenccedila rara E aiacute ele encaminha porque senatildeo a gente natildeo vai sair de onde estaacute vamos

ter centros de referecircncia e natildeo vai ter como encaminhar porque ele natildeo identifica que aquilo eacute

uma doenccedila rara que essa situaccedilatildeo eacute uma doenccedila rara Se ele identificar ele encaminha para o

local disponiacutevel O meacutedico primeiro ele tem que querer descobrir o diagnoacutestico daquilo que

ele natildeo conhece porque ele natildeo sabe o que eacute mas ele tem que ter esse impulso de querer

descobrir Hoje se ele natildeo sabe ele fala para o paciente Natildeo precisa mais vir aqui porque eu

natildeo sei o que o seu filho tem ou Eu natildeo sei o que vocecirc tem e isso eacute uma coisa que natildeo pode

mais acontecer Ele vai ter que se envolver tambeacutem com as doenccedilas raras Ele vai ter que querer

descobrir o diagnoacutestico e a gente descobre estudando indo agrave internet conversando com os

colegas fazendo discussatildeo de caso quer dizer essa ferramenta de informaccedilatildeo ela tem que

chegar laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede O prognoacutestico a gente soacute vai poder falar para famiacutelia

E como eacute que vai ser o futuro

Se eu tiver o diagnoacutestico aiacute eu posso prevenir graves complicaccedilotildees posso fazer

aconselhamento geneacutetico posso fazer maiores orientaccedilotildees agrave famiacutelia Essa questatildeo do

diagnoacutestico eacute fundamental para vocecirc incluir esse indiviacuteduo dentro dessa rede de atendimento

A gente tem um 0800 e email para profissionais de sauacutede para gente ajudar nessa parte de

orientaccedilatildeo com relaccedilatildeo a conduzir um paciente que ele suspeite de erro inato de metabolismo

que eu acho que eacute o que vai precisar para as doenccedilas raras uma linha que a pessoa possa entrar

em contato e ter orientaccedilatildeo

Obrigada

140

Adriana Ueda4 - Boa tarde e obrigada

Hoje a gente jaacute falou de absolutamente de tudo a respeito de doenccedila rara poliacutetica puacuteblica

e tudo mais u tenho que contar a minha histoacuteria e explicar porque que eu vim parar aqui hoje

Meu menino nasceu e com o tempo natildeo se desenvolvia da forma que era esperado que uma

crianccedila se desenvolvesse normalmente Fomos a um neuropediatra que nos encaminhou para

o IGEIM justamente porque ele falou Natildeo eacute nada do que eu conheccedilo entatildeo vou suspeitar de

um erro inato de metabolismo ou uma doenccedila rara iniciando primeiro a pesquisa com o erro

inato de metabolismo

Foram feitos alguns exames A Dra Ana Maria ateacute era uma das meacutedicas que atendiam o

Guilherme Houve alguma alteraccedilatildeozinha e ele ficou com o diagnoacutestico de intoleracircncia a

proteiacutena lisinuacuterica Fez uma dieta restritiva de proteiacutena durante um ano que natildeo adiantou nada

o menino quase morreu perdeu ciacutelios sobrancelha unha porque ela era restritiva de proteiacutena

Retiramos aquela dieta e fomos procurar outra coisa

Acidentalmente no Hospital das Cliacutenicas de Satildeo Paulo uma meacutedica olhou e falou Nossa

que menino bonito o que ele tem Eu respondi ldquonatildeo seirdquo e Ele tem cara de ser Angelman

Ali foi a primeira vez que eu ouvi falar nessa Siacutendrome

Passei em outro meacutedico que olhou o eletro dele e falou Ah eletro de Angelman Fui para

outro geneticista e ele falou Eacute Algelman manda para o genoma para fazer o exame Fizemos

os exames para Siacutendrome de Angelman e deu negativo Mas como saiu o diagnoacutestico cliacutenico

de Angelman foi para Angelman e ficamos cuidado de Angelman ateacute que oito anos depois que

foi o tempo que demorou para conseguir trazer os reagentes para o Brasil porque por causa da

demora do Processo da ANVISA natildeo conseguia trazer esses reagentes Levou oito anos

Fecharam o diagnoacutestico fizeram o sequenciamento molecular e realmente o Gordo ndash o

Guilherme que eu chamo de Gordo ndash tem a Siacutendrome de Angelman na modalidade mutaccedilatildeo

Eacute uma crianccedila que tem uma Siacutendrome que se vocecirc der uma olhada ele vai parecer com inuacutemeras

outras Siacutendromes e porquecirc a dificuldade

Aleacutem de ser rara ela aparece com um monte de outra coisa Ele tem deficiecircncia intelectual

severa atraso psicomotor grave ausecircncia de fala problema de marcha falta de equiliacutebrio

ataxia deacuteficit de atenccedilatildeo hiperatividade hipermotricidade crises convulsivas epilepsia

espectro autista que varia de um leve a severo hipopigmentaccedilatildeo de pele e cabelos dificuldade

para dormir ndash e dificuldade para dormir significa que ele dorme trecircs horas por noite ndash

hipersensibilidade ao calor temperatura luz e exposiccedilatildeo solar estrabismo isotroacutepico

movimento aleatoacuterio de matildeos e microcefalia

Depois disso daqui vocecirc fala assim Quanta crianccedila tem com essa mesma caracteriacutestica

Tem inuacutemeras Siacutendrome de West os proacuteprios autistas o autista tiacutepico tem muita coisa aiacute

entatildeo eacute muito difiacutecil o meacutedico conseguir ir ali na cabeccedila e acertar Eu consegui depois de muitos

anos de luta E assim como eu tive todos esses anos de luta eu tive a sorte de ter apoio de pai e

de matildee que ficavam cuidando dele enquanto eu ficava passando email para o mundo inteiro

Tinha o meu carro que eu podia levar ele para todos os lados podia fazer os exames eu podia

pagar alguns exames com exceccedilatildeo do exame especiacutefico de sequenciamento molecular que estaacute

custando por volta de 17 mil reais e esse eu natildeo tinha dinheiro para pagar Eu soacute consegui fazer

porque foi um exame para a tese de poacutes-doutorado de uma meacutedica pesquisadora do genoma

que usou a verba do CNPQ dela porque senatildeo eu tambeacutem natildeo teria feito esse exame e outras

tantas pessoas com outras tantas crianccedilas com Siacutendromes raras tambeacutem natildeo vatildeo conseguir e

vatildeo ficar soacute com o diagnoacutestico cliacutenico porque elas natildeo tem condiccedilotildees de bancar um exame

desses

4 Instituto Canguru

141

Depois de estar envolvida com tudo isso eu vi a dificuldade que outras matildees tinham

Porque talvez natildeo tivesse o mesmo desembaraccedilo que eu tive ou natildeo tinham as mesmas

oportunidades entatildeo o que que eu fiz Eu comecei a entrar em contato com outras matildees com a

Siacutendrome de Angelman e montei na eacutepoca era o Orkut montei uma Associaccedilatildeo e tudo o mais

Soacute que o negoacutecio foi crescendo demais e eu falei Eu agora natildeo quero mais ficar soacute com a

Siacutendrome de Angelman Aiacute recebi o convite para ser presidente do Instituto Canguru que natildeo

eacute uma Associaccedilatildeo de pacientes eacute uma associaccedilatildeo para pacientes com erros inatos do

metabolismo e doenccedilas raras

Entatildeo o que aconteceu laacute no Instituto Canguru

Se aparece para mim algueacutem falando de homicistinuacuteria loacutegico que eacuteSimonee jaacute entro em

contado direto com ela Porfiria eacute a Dona Ieda neurofibromatose eacute a Lilian Entatildeo a gente jaacute

faz o encaminhamento e quando natildeo tem ningueacutem e quando natildeo tem associaccedilatildeo vai para

dentro da bolsa do Canguru e aiacute a gente abraccedila aquilo e vai atraacutes daquela doenccedila Fazemos

principalmente o serviccedilo de judicializaccedilatildeo para obtenccedilatildeo de medicamentos que eacute aquela coisa

que haacute 12 anos atraacutes que eacute o tempo que o Canguru temnatildeo se fazia era muito difiacutecil vocecirc

tinha que contratar

As associaccedilotildees natildeo estavam preparadas para lidar com esse tipo de problema que eacute o das

doenccedilas raras Agora no Instituto Canguru a gente jaacute estaacute passando para um outro enfoque

Agente jaacute estaacute pegando as deficiecircncias de uma forma geral porquecirc Porque todas as doenccedilas

raras podem causar deficiecircncia intelectual visual fiacutesica Oleque eacute gigantesco E qual eacute a

importacircncia das Associaccedilotildees de termos eventos como este

Vocecirc fica sabendo que a amiga da sua prima tem uma crianccedila que tem um problema assim

Vocecirc pode natildeo lembrar do nome da Siacutendrome de Angelman vocecirc pode natildeo lembrar do nome

da crianccedila o meu nome mas vocecirc vai lembrar de algueacutem que alguma vez contou uma histoacuteria

parecida dessa busca e de ir atraacutes e de natildeo conseguir o diagnoacutestico e aiacute vocecirc vai poder indicar

algueacutem e falar assim Olha tem o Rogeacuterio da AMAVI que vai de repente entrar em contato

com a Adriana daquela outrahellip bom a mulher do cabelo roxo Eacute para isso que as associaccedilotildees

estatildeo aqui A gente estaacute aqui para unir Entatildeo se bate em mim uma coisa que natildeo eacute minha eu

encaminho ela eacute quem sabe as outras e noacutes temos muita forccedila nisso E doenccedilas raras elas satildeo

raras mas se juntar todos noacutes noacutes somos muitos e a gente tem que cada vez se unir mais Vou

contar uma histoacuteria soacute para terminar Na eacutepoca que eu montei a associaccedilatildeo da Siacutendrome de

Angelman a minha vice-presidente era do Rio de Janeiro e laacute no Rio de Janeiro eles tecircm uma

certa facilidade com matildeo de obra para diaristas e ela tinha uma diarista que jaacute estava com ela

laacute coisa de sete anos coisa assim e uma amiga dela arrumou um emprego perto da casa da

minha vice-presidente Bem no primeiro dia ela falou para a amiga Vamos embora para casa

juntas eu passo aiacute Ela passou na casa da patroa da colega e falou Vamos embora e ela

respondeu Natildeo posso o filho da patroa estaacute passando mal e a mulher estaacute desesperada Taacute

ok mas o que eacute Eu natildeo sei eacute o meu primeiro dia acho que eu sou peacute frio neacute Bom nisso

entra a mulher trazendo o menino o menino se debatendo tendo uma crise convulsiva Como

essa diarista jaacute tinha experiecircncia com o filho da minha vice-presidente ela tomou a posiccedilatildeo

acalmou ajudou a matildee e tudo o mais Portanto satildeo esses casos que acontecem no dia a dia e a

informaccedilatildeo sobre a doenccedila rara pode vir de lugares que nem imaginamos Eacute preciso ficarmos

atentos Obrigado

Siacutelvia Portugal5 ndash Quando fui convidada para escrever o texto sobre doenccedilas raras procurei

nos dicionaacuterios as definiccedilotildees do que eacute raro Retomo aqui algumas questotildees do texto para pensar

um pouco sobre quais satildeo os problemas de alguns dos olhares sobre o raro e quais satildeo os

5 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

142

desafios que ele coloca E portanto isto que jaacute foi aqui falado muitas vezes esta ideia do raro

com que noacutes poucas vezes nos confrontamos eacute de fato o problema

Falou-se muito de poliacuteticas puacuteblicas e como eacute que noacutes compatibilizamos uma poliacutetica que

tem que ser universal que tem que garantir tudo para todos com a questatildeo que natildeo eacute especiacutefica

soacute das doenccedilas raras mas que aqui assume um caraacuteter fundamental que eacute cada caso eacute um caso

Esta eacute uma dificuldade grande para as poliacuteticas e portanto o desafio eacute este eacute conseguirmos

simultaneamente garantir o universal e o singular E portanto isso nos faz olhar para a questatildeo

da integralidade da pessoa e do cuidado

Outra questatildeo importante eacute esta ideia de que o raro eacute o que foge agrave norma e o fugir agrave norma

nas nossas sociedades eacute dramaacutetico Noacutes somos sociedades cada vez mais normalizadas e os

impactos meacutedicos que foram aqui falados sobretudo os sociais resultam tambeacutem do fugir agrave

norma Tudo isto jaacute foi aqui falado a questatildeo dos diagnoacutesticos a questatildeo das relaccedilotildees sociais

o estigma fortiacutessimo que enfrentam estas pessoas e estas famiacutelias no cotidiano ao longo da

vida sistematicamente Se a doenccedila eacute rara a exclusatildeo social eacute de fato muito muito frequente

Depois este problema dos nuacutemeros e esta ideia de ldquonatildeo sei quantos por cento ser 100 na nossa

casardquo eacute de fato muito expressiva do que eacute doenccedila rara Mas a questatildeo da minoria natildeo eacute

meramente estatiacutestica ela faz com que a capacidade de pressatildeo seja de fato minoritaacuteria e

portanto isso eacute pretexto para o desinteresse o desconhecimento ndash dos governos da academia

da populaccedilatildeo em geral daqueles para quem o 100 estaacute muito longe da sua casa E os desafios

tambeacutem jaacute foram aqui sobejamente identificados investigar conhecer investir informar

divulgar e conhecer as doenccedilas Esta ideia que eacute a ideia deste seminaacuterio de um olhar social

Conhecer essas pessoas eacute essencial natildeo eacute soacute importante conhecermos as doenccedilas

obviamente que eacute conhecendo as doenccedilas que podemos melhorar a qualidade de vida das

pessoas mas saber quem satildeo essas pessoas como eacute que elas vivem quantas satildeo quem satildeo elas

como vivem quais satildeo as suas condiccedilotildees de vida quais satildeo as suas relaccedilotildees sociais quais satildeo

os apoios que elas tecircm quais satildeo os apoios que elas natildeo tecircm Isto eacute fundamental para melhorar

a qualidade de vida dessas pessoas e para combater o estigma a que a maioria delas estaacute sujeita

E esta ideia do raramente do raro enquanto adveacuterbio eacute para mim o que eacute mais dramaacutetico nesta

situaccedilatildeo Eacute o fato de as pessoas serem muito pouco ouvidas ou seja raramente a voz dos

pacientes a voz e as vozes das famiacutelias satildeo ouvidas seja pelos poliacuteticos seja pelos acadecircmicos

seja pelos profissionais do campo Muitas vezes e foram aqui os cartoons do professor Luiz

Oswaldo reveladores disso muitas vezes o olhar ou o ouvir natildeo eacute exatamente um olhar e um

ouvir eacute algo que eacute distante natildeo eacute proacuteximo natildeo eacute afetivo E o ouvir eacute ter como princiacutepio que as

pessoas sabem mais sobre a doenccedila do que muitas vezes eacute conhecido pelos outros e este

exemplo da diarista foi fenomenal Ou seja quem convive diariamente com a doenccedila os

proacuteprios ou aqueles que estatildeo proacuteximos sabem mais sobre aquela doenccedila e sobre aquela pessoa

viver aquela doenccedila do que um meacutedico que dispensa 10 a 15 minutos num consultoacuterio

Agora eu imagino o que eacute uma matildee ou um pai chegar a um consultoacuterio meacutedico e dizer o

diagnoacutestico que foi feito pela diarista como ouvimo haacute pouco Obviamente que haacute bons

exemplos em todas as profissotildees mas de fato as praacuteticas meacutedicas eacute disso que estamos aqui a

falar e a colocaccedilatildeo do Prof Luiz Osvaldo mostrou bem isso os profissionais meacutedicos estatildeo

muito pouco disponiacuteveis para ouvir outras vozes sobretudo para reconhecer o conhecimento

dessas vozes E natildeo eacute soacute saber que as pessoas sabem sobre as suas doenccedilas eacute tambeacutem pensar

que aquelas pessoas satildeo mais do que a doenccedila ou seja o diagnoacutestico jaacute foi aqui sobejamente

visto eacute fundamental mas as pessoas quando vivem com uma doenccedila quando vivem com o

diagnoacutestico continuam tendo vida para aleacutem desse diagnoacutestico Satildeo filhos satildeo matildees satildeo pais

satildeo avoacutes satildeo parentes satildeo amigos satildeo vizinhos gostam de trabalhar ou gostariam de trabalhar

de conviver de sair de ter momentos de prazer Por isso eacute tatildeo importante conhecer-las como

eacute importante conhecer a sua doenccedila aquilo que elas vivem e aquilo que elas natildeo vivem por

causa da sua doenccedila

143

Eu acho que um olhar que permite pelo menos refletir sobre esses problemas eacute de fato um

olhar a partir do cuidado e a partir das redes E tal como a definiccedilatildeo de raro enfrenta problemas

a definiccedilatildeo de cuidado tambeacutem enfrenta problemas ou seja a definiccedilatildeo generalizada do que eacute

o cuidado e esta ideia de que cuidar eacute algo pontual ou seja temos um problema e entatildeo

cuidamos e resolvemos ou entatildeo que o cuidado eacute assistecircncia eacute apoio eacute tratamento e eacute o

essencial o que foi mais falado aqui E isso tem a ver com o quecirc

Tem a ver com esta ideologia da independecircncia da autonomia que vigora nas nossas

sociedades nas quais noacutes temos que ser independentes uns dos outros natildeo podemos depender

uns dos outros E essa noccedilatildeo do cuidado como algo pontual e que noacutes soacute precisamos muito

episodicamente obscurece invisibiliza as necessidades das pessoas que precisam do cuidado a

tempo inteiro cotidiano prolongado ao longo da sua vida E portanto uma forma de combater

esta ideia do cuidado eacute exatamente reconhecer que todos noacutes somos dependentes uns dos outros

todos noacutes somos vulneraacuteveis e reconhecer tambeacutem que quem eacute cuidado quem precisa de

cuidados tambeacutem cuida de si proacuteprio Muitas vezes noacutes esquecemos disso As pessoas tambeacutem

satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado administram medicaccedilatildeo procuram informaccedilatildeo dialogam

com os meacutedicos discutem com os meacutedicos apresentam outras perspectivas e portanto cuidam

tambeacutem de si proacuteprias e satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado

O cuidado eacute absolutamente central e transversal na vida de todos natildeo soacute daqueles que satildeo

doentes tambeacutem dos outros noacutes todos Noacutes todos precisamos de algueacutem que nos alimente que

nos vista que nos transporte etc E o cuidado tem todas essas dimensotildees o conhecimento os

saberes saber olhar para uma pessoa e saber que ela tem um determinado tipo de doenccedila e natildeo

eacute preciso ser meacutedico para se ver isso As praacuteticas o que eu faccedilo no cotidiano como eacute que eu

alimento como eacute que eu visto como eacute que eu administro a medicaccedilatildeo onde eacute que eu vou quem

eacute que estaacute envolvido nisto as relaccedilotildees e os significados E estas dimensotildees tornam difiacutecil uma

definiccedilatildeo consensual

Eu trabalho com uma estudante de Doutoramento a Joana Alves que trabalha sobre isto

Ela fez uma tese de mestrado e estaacute a fazer uma tese de doutorado sobre o cuidado e ela trabalha

muito sobre esta noccedilatildeo do cuidado tentando combater exatamente esta divisatildeo entre os

cuidados formais e os cuidados informais

O que eu queria passar aqui era a necessidade de desconstruir essa dicotomia

formalinformal O que eu penso que pode de fato estilhaccedilar essa separaccedilatildeo entre os

profissionais e os outros eacute um olhar a partir das redes ou seja um olhar a partir do sujeito da

pessoa doente da sua famiacutelia focando na integralidade da pessoa na integralidade das suas

necessidades E um olhar a partir da rede permite colocar o sujeito no centro O conceito de

Rede Social eacute um instrumento analiacutetico que permite olhar para a realidade social a partir de

duas dimensotildees a forma das relaccedilotildees sociais quais eacute que satildeo as relaccedilotildees e o conteuacutedo das

relaccedilotildees o que eacute que circula no interior das relaccedilotildees os noacutes e os laccedilos ou seja os membros das

redes e os laccedilos que os unem E assim basta experimentar fazer trecircs questotildees simples quem

o quecirc e como Ou seja olhar para uma pessoa e pensar Quem satildeo os membros da sua rede

Eacute a matildee eacute o pai eacute uma tia satildeo os parentes satildeo os amigos satildeo os vizinhos eacute o meacutedico que

meacutedico eacute esse Que especialista Que psicoacutelogo Quem satildeo os membros da rede E depois O

que ela precisa O quecirc Quais satildeo os recursos que eacute preciso mobilizar Informaccedilatildeo apoio nas

tarefas cotidianas Medicaccedilatildeo O que for E entatildeo vamos ver Quem eacute que faz o quecirc E quem

eacute melhor a fazer o quecirc Eu natildeo diria que as diaristas satildeo melhores que os meacutedicos em fazer

diagnoacutesticos acho que isso deve ser caso uacutenico mas olhar muitas coisas que as pessoas da rede

informal fazem melhor do que os meacutedicos E portanto eacute isso que eacute olhar a partir das redes

O trabalho que tenho desenvolvido natildeo eacute especificamente sobre as doenccedilas raras mas

sobre a deficiecircncia e tambeacutem sobre a doenccedila mental mostra que quando noacutes olhamos para esta

rede quando noacutes olhamos para a prestaccedilatildeo de cuidados a famiacutelia estaacute sempre na primeira linha

Afamiacutelia eacute sempre a primeira a principal cuidadora a famiacutelia permanece no espaccedilo e no tempo

144

Como tal o Sistema de Sauacutede as poliacuteticas puacuteblicas os profissionais tecircm a obrigaccedilatildeo de tratar

as famiacutelias e os pacientes como parceiros

A rede eacute um instrumento analiacutetico mas eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo ou seja

colocar as pessoas no centro significa construir uma rede de cuidado O que eacute essencial na rede

eacute essa ideia de natildeo haver uma hierarquia de poderes dos saberes serem todos eles reconhecidos

e conheciacuteveis por todos aqueles que participam na rede E o saber tem que circular e as praacuteticas

tem que ser partilhadas E aqui eu pareccedilo que sou a grande defensora das famiacutelias e que estou

sempre a colocar os olhos nos profissionais que natildeo cumprem seu papel mas muitas vezes as

famiacutelias tambeacutem natildeo partilham com os profissionais de sauacutede tudo aquilo que fazem tudo

aquilo que procuram e escondem muitas vezes Como sabem que a hegemonia do modelo

meacutedico eacute muito forte por exemplo procuram terapias alternativas e tendem a esconder isso

dos profissionais de sauacutede o que muitas vezes tambeacutem complica e prejudica os itineraacuterios

terapecircuticos

Para terminar acabo voltando agrave definiccedilatildeo de raro essa ideia do raro como extraordinaacuterio

Eu acho que o dia de hoje foi um exemplo disso Isso eu jaacute sabia porque haacute muitos anos que

ouccedilo histoacuteria de famiacutelias cuidadoras e de fato as histoacuterias das famiacutelias e dos doentes com

doenccedilas raras Satildeo histoacuterias extraordinaacuterias que nos ensinam a viver num mundo que eacute

diferente que eacute um mundo de solidariedade que eacute um mundo de daacutediva e essa eacute uma realidade

que todos deviacuteamos conhecer e que a sociedade devia conhecer E este eacute de fato um desafio

para o futuro eacute perceber o que haacute de bom neste tipo de cuidado integraacute-lo no cuidado e nas

poliacuteticas puacuteblicas

Ouvi aqui hoje as posiccedilotildees acerca das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil e elas parecem

corresponder a isso tudo No fundo o meu olhar natildeo foi muito diferente do do representante

do Ministeacuterio da Sauacutede no iniacutecio da manhatilde Soacute que eu devo dizer uma coisa o desenho das

poliacuteticas eacute muito diferente daquilo que eacute a praacutetica das poliacuteticas e portanto o grande desafio

para o futuro natildeo eacute o desenho da sua poliacutetica que de fato parece muito boa e que integra

muitos desses princiacutepios que eu aqui enunciei mas o desafio para a poliacutetica puacuteblica no Brasil

como em qualquer outro lugar (noacutes em Portugal temos poliacuteticas fantaacutesticas que depois colapsam

por praacuteticas que as pervertem) eacute o risco da recusa de partilha de praacuteticas de saberes que no

fundo por questotildees que muitas vezes satildeo questotildees de poder que natildeo fazem sentido pervertem

as poliacuteticas e deixam de colocar as pessoas no centro Muito obrigada por esta oportunidade e

por este fantaacutestico dia de debate e partilha

Maria Helena6 - Boa noite

Eu quero agradecer inicialmente ao Rogeacuterio por esta oportunidade de estar aqui

representando a associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil e num evento que jaacute eacute exitoso mesmo antes

de acontecer Imagina depois de ter acontecido o que eacute que ele natildeo vai ser

A minha apresentaccedilatildeo aqui hoje estaacute voltada para o apoio das Associaccedilotildees de pacientes

na Rede de apoio ao paciente Eu estou representando a Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil que

eacute uma associaccedilatildeo de apoio a familiares e amigos de pacientes com Niemann Pick uma doenccedila

ultra rara que afeta uma pessoa em 120 mil no mundo Os objetivos da minha apresentaccedilatildeo satildeo

destacar na rede de apoio ao paciente as associaccedilotildees de familiares e amigos evidenciando a

importacircncia das associaccedilotildees no apoio para os pacientes e elencar possiacuteveis formas de apoio

porque satildeo inuacutemeras as formas de apoio e eu vou elencar aqui apenas algumas possiacuteveis

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara eacute arrasador para o paciente e sua famiacutelia todos noacutes

sabemos disso Todo o mundo que tem uma pessoa com doenccedila rara na famiacutelia ao receber um

diagnoacutestico muda todo o seu trajeto toda a sua caminhada Noacutes somos parte de um mundo de

raridades somos muitos raros no mundo pelo que vencer desafios passa a ser imperativo mas

6 Associaccedilatildeo de Niemann Pick Brasil

145

sem sombra de duacutevidas eacute uma coisa amedrontadora Soacute o amor e a feacute podem tornar os caminhos

menos tortuosos e isso a gente vecirc em todas as associaccedilotildees de apoio onde impera o amor onde

impera a feacute antes de mais nada a feacute e depois o amor porque soacute assim a gente consegue lidar

com as doenccedilas soacute assim a gente consegue caminhar

Na rede de apoios eu aqui desenhei uma rede que eacute aberta ela natildeo estaacute fechada de forma

nenhuma mas eu coloquei aqui alguns pontos de apoio e destaquei as associaccedilotildees de pacientes

Entatildeo todos esses pontos se relacionam eles interagem Noacutes temos as associaccedilotildees de apoio

que interagem com as instituiccedilotildees de pesquisa que interagem com profissionais de sauacutede que

interagem com o governo que interagem com o centro de referecircncia e que interagem com os

laboratoacuterios farmacecircuticos

O que leva algueacutem a buscar o apoio de uma associaccedilatildeo de pacientes

O diagnoacutestico Eacute aiacute que a pessoa consciente de um diagnoacutestico de doenccedila rara se vecirc num

mundo completamente novo e se pergunta Onde eu estou para onde eu vou e o que eacute que eu

quero achar Eacute aiacute que comeccedila a busca por iguais pessoas que tecircm e padecem da mesma

situaccedilatildeo e que podem compartilhar alguma coisa trocar experiecircncias e dar apoio muacutetuo

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara motiva na pessoa inicialmente um sentimento de

solidatildeo A pessoa se acha sozinha no mundo depois tem duacutevidas sobre a doenccedila e surgem as

necessidades de troca de experiecircncias porque cada um quer saber o que o outro tem como eacute

que ele age como eacute que ele faz e entatildeo quer trocar quer interagir quer compartilhar e por

fim a busca de informaccedilotildees porque as doenccedilas raras de modo geral natildeo tecircm informaccedilotildees

disponiacuteveis Quando descobrimos que existe uma doenccedila rara na famiacutelia a primeira coisa que

se faz eacute cair na internet e buscar informaccedilatildeo Quem pode traduz textos internacionais quem

natildeo pode vai atraacutes de quem possa dar alguma informaccedilatildeo de trocar alguma experiecircncia de

fazer alguma coisa

Qual eacute a expectativa do paciente eda famiacutelia com relaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo de apoio Apoio nas

dificuldades e desafios luta por dias melhores quer dizer lutar junto por dias melhores e unir

esforccedilos para vencer a caminhada que eacute difiacutecil

A associaccedilatildeo pode possibilitar ao paciente o acesso atratamentos e eu vou explicar como

reivindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes interface com associaccedilotildees congecircneres e busca de um

olhar social sobre o paciente

Entatildeo como eacute que as associaccedilotildees vatildeo atuar considerando esses aspectos

O acesso aos profissionais de sauacutede acontece quando a associaccedilatildeo congrega os

profissionais de sauacutede que tratam da doenccedila congrega em encontros procura saber onde eles

estatildeo e presta informaccedilotildees sobre a existecircncia daqueles meacutedicos daqueles profissionais

fisioterapeutas fonoaudioacutelogos nutricionista e toda a gama de profissionais de sauacutede que se

dediquem ao tratamento das doenccedilas raras Estimulando a interaccedilatildeo entre os profissionais de

sauacutede e pacientes o que eacute muito importante essa inter-relaccedilatildeo acontece nos encontros

promovidos pelas associaccedilotildees nos seminaacuterios porque aiacute satildeo trazidos os profissionais de sauacutede

para informar muito mais ainda sobre as doenccedilas para trocar experiecircncias para saber aprender

tambeacutem com as famiacutelias e esta eacute uma inter-relaccedilatildeo fundamental que as associaccedilotildees sempre

procuram fazer

Como eacute que as associaccedilotildees conseguem que os pacientes tenham acesso aos tratamentos

Evidentemente que a associaccedilatildeo natildeo vai possibilitar tratamentos porque natildeo tem condiccedilatildeo

de fazer isso a maioria Pelo menos a maioria mas tem condiccedilatildeo de saber quais satildeo os

tratamentos que existem de informar sobre eles para que os pacientes busquem esses

tratamentos e prestam muita atenccedilatildeo para o progresso que existe nos tratamentos da doenccedila

porque a cada dia aparece uma coisinha nova que vai se acrescentando que vai trazendo

alguma novidade e que pode realmente mudar em alguma coisa a vida daquele paciente

Reinvindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes como a associaccedilatildeo reivindica esses direitos

146

Atuando junto agraves instituiccedilotildees puacuteblicas em defesa da paridade de tratamento dos pacientes

defendendo os direitos dos pacientes ao atendimento atraveacutes dos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede

reivindicando os direitos de participaccedilatildeo na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas relativas a doenccedilas

raras Atuando em conjunto com as instituiccedilotildees congecircneres como a gente estaacute fazendo aqui

hoje junto ao governo todo mundo aqui buscando o mesmo objetivo de conseguir a definiccedilatildeo

e a aplicaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas na busca do atendimento igualitaacuterio e continuado para todos

os pacientes com doenccedilas raras

Na realidade eacute um atendimento que tem que ser igual para todo o mundo e continuado natildeo

eacute uma coisa que vai acontecer hoje nesse governo e depois no proacuteximo governo acabou

ningueacutem mais estaacute fazendo nada e fica por aiacute Tem que ser uma coisa igual e contiacutenua

continuada E finalmente disponibilizando assistecircncia juriacutedica aos pacientes uma coisa

tambeacutem importante porque infelizmente os medicamentos de alto custo precisam de

judicializaccedilatildeo

As Associaccedilotildees tem que estar preparadas tecircm que ter no miacutenimo uma assessoria juriacutedica

que possa reivindicar esse direito dos pacientes E a interface com as associaccedilotildees congecircneres

se faz pelo fortalecimento das iniciativas e articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees no paiacutes e no mundo

A gente procura saber o que estaacute acontecendo aqui no paiacutes o que as nossas ldquoirmatildesrdquo fazem aqui

e o que acontece no mundo De que forma tambeacutem a gente pode buscar beber do saber do

universo O que a gente pode trazer para o nosso cotidiano Apoiar eventos relativos a doenccedilas

raras no Brasil e em outros paiacuteses tambeacutem eacute uma atribuiccedilatildeo eacute uma coisa que noacutes podemos

fazer

Finalmente noacutes temos a busca de um olhar social para o paciente que eacute o tema um olhar

social para o paciente A gente tem essa busca quando a gente investe na consolidaccedilatildeo do

conhecimento sobre a doenccedila na sociedade quando a gente informa a sociedade sobre a doenccedila

para que a sociedade possa responder conhecendo o paciente conhecendo a pessoa que tem a

doenccedila rara Fortalecendo as accedilotildees da sociedade civil em defesa dos interesses do paciente

buscando apoio e solidariedade de todos os segmentos sociais sensibilizando a sociedade para

a necessidade de inclusatildeo do paciente com doenccedila rara Inclusatildeo na escola inclusatildeo em todos

aspectos da vida do ser humano em sociedade E lutando para que o paciente com doenccedila rara

seja considerado um ser igual ainda que raro

Isso daqui eacute fundamental igualdade para todos mesmo sendo um ser raro para todas as

pessoas com doenccedilas raras Eu quero dizer que admiro esse pensamento Gosto do que se diz

aqui porque acredito que eacute por aiacute que a gente tem que andar ldquoO sonho de igualdade soacute cresce

no terreno do respeito pelas diferenccedilasrdquo Este eacute um pensamento de Augusto Cury e eacute aquilo que

sintetiza a nossa missatildeo como associaccedilatildeo Aigualdade soacute cresce no terreno do respeito as

diferenccedilas

Obrigada

147

Perguntas e Respostas do I CIADR

148

Pergunta para a representante da Interfarma

Qual o custo dos medicamentos para Doenccedilas Raras O SUS cobre os custos

Maria Joseacute Delgado1 - Prestar assistecircncia adequada aos pacientes com doenccedilas raras significa

formular uma poliacutetica capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e

tratamentos por um lado e oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo outro O fato do Brasil natildeo

possuir uma poliacutetica puacuteblica especiacutefica para doenccedilas raras natildeo significa que os pacientes natildeo

recebam cuidados e tratamentos Os medicamentos acabam chegando ateacute eles por via judicial

na maioria das vezes E o SUS de uma maneira ou de outra atende essas pessoas poreacutem de

forma fragmentada sem planejamento com grandes desperdiacutecios de recursos puacuteblicos e

prejuiacutezos para os pacientes

A oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo SUS depende da sua incorporaccedilatildeo em um protocolo

cliacutenico que por sua vez depende de uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica de viabilidade Poreacutem

os criteacuterios empregados pelo Governo para avaliar a disponibilizaccedilatildeo de medicamentos oacuterfatildeos

pelo sistema puacuteblico ndash baseados em custo-efetividade ndash tecircm na maioria dos casos excluiacutedo os

pacientes da possibilidade de obter este tipo de tratamento

A legislaccedilatildeo brasileira estabelece que os medicamentos destinados a doenccedilas de baixa

prevalecircncia sejam analisados para efeitos de incorporaccedilatildeo no SUS pelos mesmos paracircmetros

usados para os de grande prevalecircncia Satildeo levados em conta quesitos como eficaacutecia do

tratamento e impacto de custos em comparaccedilatildeo com outros medicamentos de mesma natureza

Se na teoria esses paracircmetros satildeo justificaacuteveis para planejar e priorizar os gastos puacuteblicos

na praacutetica tecircm funcionado como um enorme obstaacuteculo para os pacientes com doenccedilas raras A

baixa prevalecircncia das doenccedilas natildeo possibilita que os testes cliacutenicos de comprovaccedilatildeo de eficaacutecia

dos medicamentos oacuterfatildeos tenham a mesma duraccedilatildeo e nuacutemero de pacientes envolvidos que os

de grande prevalecircncia

Por se destinarem a poucas pessoas e natildeo terem seu custo de desenvolvimento diluiacutedo entre

grandes grupos populacionais os medicamentos oacuterfatildeos acabam sendo mais caros que os

convencionais Aleacutem disso a maioria dessas drogas natildeo conta com outro medicamento com a

mesma funccedilatildeo que permita a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise comparativa de custo-efetividade como

determina a legislaccedilatildeo

Para tentar romper esse ciacuterculo vicioso que dificulta o acesso aos medicamentos oacuterfatildeos

muitos pacientes tecircm recorrido agrave justiccedila com consideraacutevel impacto financeiro para o poder

puacuteblico Uma medida do problema estaacute no fato de o Ministeacuterio da Sauacutede ter desembolsado

apenas em 2011 R$ 167 milhotildees para atender 433 accedilotildees judiciais que determinavam a compra

de remeacutedios para pessoas com doenccedilas raras

De acordo com o estudo da Interfarma para facilitar o acesso dos pacientes agraves drogas oacuterfatildes

e evitar os custos elevados decorrentes da judicializaccedilatildeo seria necessaacuterio ajustar os paracircmetros

de anaacutelise agraves particularidades das doenccedilas raras substituindo os criteacuterios de custo-efetividade

por outros mais adequados como o da efetividade cliacutenica

A falta de uma poliacutetica oficial para doenccedilas raras tem transformado a vida dos pacientes

em uma excruciante corrida de obstaacuteculos seja no tocante a cuidados e tratamento seja em

relaccedilatildeo a medicamentos estes uacuteltimos sujeitos a inuacutemeros entraves regulatoacuterios que dificultam

a sua entrada no mercado e no SUS

1 mariadelgadointerfarmaorgbr

149

Perguntas para asos representantes de pacientes

Em tudo que vocecirc falou entra a grande dificuldade das famiacutelias para cuidar de suas crianccedilas

especiais A assistecircncia domiciliar (home care) eacute a grande chave para tudo isso uma equipe

multidisciplinar que venha atender esses pacientes em casa com qualidade de assistencia e

humanizaccedilatildeo do cuidado Hoje soacute existe isso na assistecircncia privada O que podemos fazer

para implantar isso no SUS

Beatriz (fisiotrapeuta)

Tacircnia Almeida2 - Na realidade Beatriz hoje tambeacutem temos ldquodisponiacutevelrdquo este atendimento

pelo SUS O problema eacute que natildeo se tem estrutura e pela cabeccedila quadrada de nossos

governantes que entendem que uma Home Care eacute cara acabam colocando mil dificuldades

para levar este paciente para casa Independente disto o sistema de Home Care no Brasil ainda

estaacute muito aqueacutem de ser um serviccedilo de excelecircncia

No meu caso eu prefiro mil vezes que meu filho esteja em casa com Home Care mas eacute

muito despreparo de teacutecnicos de enfermagem e da proacutepria equipe multidisciplinar Quem tem

o paciente em casa tem que ser muito criterioso com quem vai deixar trabalhar com o paciente

Um plano de sauacutede paga por visita a um fisioterapeuta no Rio de Janeiro o valor de R$ 1800

Geralmente o bom fisioterapeuta natildeo quer sair das UTIs para vir receber R$ 1800 por visita

de paciente Eacute tudo muito sucateado e daiacute acabamos natildeo tendo bons profissionais e ateacute escassez

dos mesmos para o atendimento domiciliar

Considerando que 75 das doenccedilas raras acometem crianccedilas e geralmente satildeo

incapacitantes vocecirc acha importante a existecircncia de um serviccedilo com assistencia

especializada em pediatria

Anna Beatriz (fisioterapeuta Prime Home Care)

Tacircnia Almeida - Com certeza eacute importante mas o problema eacute a falta de estrutura para viabilizar

isto Hoje o governo investe na sauacutede de base ou seja projeto ldquosauacutede da famiacuteliardquo Eacute legal Eacute

legal mas esses meacutedicos da base que deveriam conseguir identificar uma crianccedila sindrocircmica

natildeo tem capacitaccedilatildeo para tal infelizmente Fora a escassez de meacutedicos pediatras que estamos

tendo A maioria soacute quer seguir carreiras como otorrino cirurgia esteacutetica Pediatra Obstetra

Estatildeo em extinccedilatildeo

2 almeidaadvogadaigcombr

150

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede

Ficou notoacuterio o interesse na construccedilatildeo dessa nova poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras no SUS Eu queria saber seesta nova poliacutetica puacuteblica leva e incorpora os

determinantes sociais e determinantes de sauacutede na construccedilatildeo da mesma

Aluno da Universidade de Brasiacutelia Campus Ceilacircndia

Joseacute Eduardo Fogolin1 - Para a Comissatildeo Nacional sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede

(CNDSS) os DSS satildeo os fatores sociais econocircmicos culturais eacutetnico-raciais psicoloacutegicos e

comportamentais que influenciam a ocorrecircncia de problemas de sauacutede e seus fatores de risco

na populaccedilatildeo Cerca de 80 das doenccedilas raras satildeo causadas por fatores geneacuteticos e 20 por

fatores natildeo geneacuteticos As doenccedilas geneacuteticas apresentam uma interaccedilatildeo grande com os fatores

ambientais Assim os determinantes e condicionantes sociais da sauacutede satildeo considerados na

Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS jaacute que tecircm papel

importante nas causas centrais daquelas doenccedilas

Como seraacute organizado o cuidado com os pacientes tendo em vista que as doenccedilas raras satildeo

agrupadas por caracteriacutesticas em comum mas os sintomas e prognoacutesticos satildeo diferenciados

Clara (estudante de medicina)

Joseacute Eduardo Fogolin - Conforme a Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS que estaacute sendo construiacuteda a organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo deve seguir a loacutegica de

cuidados produzindo sauacutede de forma sistecircmica por meio de processos dinacircmicos voltados ao

fluxo de assistecircncia ao usuaacuterio A assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em seu campo de

necessidades vistas de forma ampla

No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede

A atenccedilatildeo aos familiares e pacientes com DR deveraacute garantir

- Estruturaccedilatildeo da atenccedilatildeo de forma integrada e coordenada em todos os niacuteveis desde a

prevenccedilatildeo acolhimento diagnoacutestico tratamento (baseado em protocolos cliacutenicos e diretrizes

terapecircuticas) suporte e apoio ateacute a resoluccedilatildeo seguimento e reabilitaccedilatildeo

- Acesso a recursos diagnoacutesticos e terapecircuticos

- Acesso agrave informaccedilatildeo e ao cuidado

- Aconselhamento geneacutetico quando indicado

Os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras seratildeo

componentes da Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede na Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no SUS e deveratildeo oferecer assistecircncia especializada e integral prestada por

equipe multidisciplinar Seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas

aos indiviacuteduos com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares de acordo

com os seguintes eixos assistenciais I - Anomalias Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual

associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas

ou com risco de desenvolvecirc-las

Assim a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas dentro

desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios do SUS

da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as necessidades

1 joseeduardosaudegovbr

151

de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Tendo em vista a divisatildeo dos eixos de complexidade como eacute feita a triagem para a

classificaccedilatildeo desses eixos (sabendo das dificuldades de diagnoacutestico) Como ocorre a

capacitaccedilatildeo dos profissionais para o acolhimento desses pacientes

Marcelo ndash estudante de enfermagem

Joseacute Eduardo Fogolin - Juntamente com a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas

com Doenccedilas Raras deveratildeo ser incorporados no SUS a depender de parecer favoraacutevel da

Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS (CONITEC) 15 novos

procedimentos aleacutem do Aconselhamento Geneacutetico Esses procedimentos permitiratildeo o correto

diagnoacutestico das doenccedilas raras e o tratamento adequado de acordo com os serviccedilos

disponibilizados pelo SUS A capacitaccedilatildeo dos profissionais seraacute feita pela divulgaccedilatildeo de

materiais instrutivos entre os profissionais da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada

maternidades e outros

Na medida em que nem todas as doenccedilas raras estatildeo incluiacutedas nos eixos estruturantes

definidos existem doenccedilas que sequer conhecemos a etiologia profissionais de atenccedilatildeo

baacutesica que natildeo conhecem obrigatoriamente a etiologia das doenccedilas raras e e que teratildeo

dificuldade em fazer o encaminhamento natildeo estatildeo se criando barreiras adicionais de acesso

ao paciente ao se definir diferentes eixos estruturantes para qualificaccedilatildeo de centros de

atenccedilatildeo especializada

Simone (tcherniakovskysalxncom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Tendo em vista o princiacutepio da Universalidade a Poliacutetica de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS natildeo restringe os tipos de doenccedilas a serem

atendidas isto eacute todos os usuaacuterios devem ser acolhidos independente de sua doenccedila

O nuacutemero exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que existam entre 6000 e

8000 tipos diferentes de DR 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos as demais advecircm de

causas ambientais infecciosas imunoloacutegicas entre outras Sendo assim natildeo seria possiacutevel

organizar a atenccedilatildeo por doenccedilas sendo entatildeo organizada por eixos assistenciais I - Anomalias

Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do

Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas ou com risco de desenvolvecirc-las

Desta forma a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas

dentro desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios

do SUS da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as

necessidades de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Para aleacutem de sua doenccedila a

atenccedilatildeo integral deveraacute considerar em primeiro lugar o sujeito que entre suas necessidades

possui a de cuidado em sauacutede em funccedilatildeo de sua doenccedila Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Para isso o SUS jaacute tem propiciado processos de formaccedilatildeo mais ampla para melhorar em

primeiro lugar o acolhimento a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e o respeito agraves diferenccedilas Aleacutem disso

os profissionais de sauacutede deveratildeo ser incluiacutedos em processos de formaccedilatildeo especiacutefica sobre a

poliacutetica em questatildeo como forma de garantir a identificaccedilatildeo de possiacuteveis doenccedilas raras na

atenccedilatildeo baacutesica fazendo-se os encaminhamentos adequados

152

Foi mencionada a incorporaccedilatildeo de remeacutedios para a poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras Haacute tambeacutem alguma vertente que prevecirc processos terapecircuticos

multifuncionais que saia do baacutesico

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS a assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em suas necessidades vistas de forma

ampla No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer assistecircncia

especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e Centros seratildeo

responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos com doenccedilas

raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto a Poliacutetica natildeo se restringe agrave medicaccedilatildeo Ela prevecirc atenccedilatildeo integral com equipe

multidisciplinar conforme as necessidades do usuaacuterio

Como ter acesso aos documentos da Poliacutetica Puacuteblica e como poder participar do Grupo de

Trabalho

Anna Carolina F da Rocha (portadora de epidermoacutelise bolhosa ndash APPEB ndash Associaccedilatildeo

de Portadores de Epidermoacutelise Bolhosa annarochagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Os documentos formulados pelo Grupo de Trabalho em Doenccedilas

Raras foram colocados em Consulta Puacuteblica no dia 10 de abril de 2013 (Consulta Puacuteblica nordm

07) e estatildeo disponiacuteveis na internet na paacutegina da Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SASMS) O

acesso pode ser feito por meio do link2

Infelizmente a reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado sobre a Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras ocorreu no dia 23 de outubro de 2013 De

qualquer forma representantes de diversas associaccedilotildees estiveram presentes na reuniatildeo e

representaram natildeo soacute as suas respectivas associaccedilotildees mas todos os pacientes e demais

associaccedilotildees muito bem

Como estaacute a articulaccedilatildeo deste GT com o Conselho Nacional de Sauacutede na elaboraccedilatildeo desta

Poliacutetica

Tacircnia Dornellas (Associaccedilatildeo Brasileira dos Portadores de Charcot ndash Marie ndash Tooth)

Joseacute Eduardo Fogolin - A discussatildeo e pactuaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras seratildeo feitas com a Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT)

conforme preconizado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei 8080 de 19 de setembro de 1990)

Por que natildeo tem nutricionista especializada no grupo O que estaacute sendo feito para as doenccedilas

metaboacutelicas para as quais a dieta eacute o tratamento

Joseacute Eduardo Fogolin - O grupo que elaborou os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras foi composto por teacutecnicos do Ministeacuterio da

Sauacutede meacutedicos especialistas e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras Como seria

inviaacutevel a participaccedilatildeo de um nuacutemero maior de pessoas em todas as reuniotildees surgiu a

2 httpportalsaudegovbrportalarquivospdfcp07_re_retificado30dpdf

153

necessidade da reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado cujos membros foram indicados pelos

membros titulares do Grupo de Trabalho original

Vale ressaltar que nutricionistas poderatildeo estar presentes na equipe complementar dos

Serviccedilos Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras de acordo com as

necessidades do cuidado Na equipe miacutenima assistencial dos Centros de Referecircncia em Doenccedilas

Raras que atenderem ao Eixo III ndashErros Inatos do Metabolismo ndash sua presenccedila eacute indispensaacutevel

Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas cujo tratamento eacute a foacutermula nutricional o Ministeacuterio da Sauacutede

publicou a Portaria nordm 850 de 3 de maio de 2012 instituindo um Grupo de Trabalho (GT) com

a finalidade de orientar quanto agrave estruturaccedilatildeo de serviccedilos para Terapia Nutricional ambulatorial

e domiciliar no acircmbito do SUS De acordo com o Art 2ordm dessa portaria o GT apresentou agrave

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SAS) orientaccedilotildees quanto agrave disponibilizaccedilatildeo de foacutermulas

nutricionais especiais destacando-se o Grupo de Dispensaccedilatildeo Permanente ndash Erros Inatos do

Metabolismo Foi encaminhado Parecer Teacutecnico Cientiacutefico agrave CONITEC (Comissatildeo Nacional

de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS) solicitando o fornecimento da foacutermula alimentar

necessaacuteria a pacientes com homocistinuacuteria e o processo estaacute em avaliaccedilatildeo quanto ao impacto

financeiro que essa iraacute causar ao SUS De forma geral os resultados das discussotildees do GT

apontam a necessidade de organizaccedilatildeo de serviccedilos estruturados baseados em Protocolos

Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas (PCDT) nos estados e municiacutepios como passo inicial para

consolidaccedilatildeo de um fluxo de triagem diagnoacutestico tratamento dispensaccedilatildeo de produtos e

acompanhamento desses pacientes na rede puacuteblica de sauacutede ao niacutevel domiciliar e ambulatorial

Vocecirc tem data para iniciar o Protocolo ou seja o atendimento no SUS Vocecirc sabe que

continuam morrendo pacientes por falta do protocolo para atendimento e a demora em

conseguir medicamento feito famiacutelias estarem doentes E com isso a fila cresce nos hospitais

Maacutercia (Associaccedilatildeo Baiana de Mucopolissacaridose samarcia1gmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede tem consciecircncia do sofrimento dessas pessoas

e famiacutelias e natildeo eacute indiferente a esta situaccedilatildeo Por este motivo criou o Grupo de Trabalho para

elaborar a poliacutetica para pessoas com Doenccedilas Raras

Os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras submetidos agrave Consulta Puacuteblica foram discutidos pelo Grupo de Trabalho Ampliado da

referida poliacutetica no dia 23 de outubro de 2013 e as contribuiccedilotildees seratildeo consolidadas pelo

Ministeacuterio da Sauacutede Em seguida devem ser discutidos no Grupo de Trabalho de Atenccedilatildeo da

Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em novembro e no mesmo mecircs devem ser pactuados

na CIT Depois de concluiacutedo esse processo seraacute publicada a portaria que institui a Poliacutetica

Como o Senhor pode trabalhar junto a Conitec para acelerar a criaccedilatildeo de PCDTS

(Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas) para doenccedilas raras

Roberto Larreta

Joseacute Edurado Fogolin - A Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC)

encaminha continuamente demandas para incorporaccedilatildeo de tecnologias e elaboraccedilatildeo de

protocolos no SUS para a CONITEC aleacutem da incorporaccedilatildeo de novos exames na tabela do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Relativo agraves doenccedilas raras a CGMAC jaacute solicitou a inclusatildeo de 15

procedimentos para apoio diagnoacutestico a essas doenccedilas aleacutem do aconselhamento geneacutetico Jaacute a

solicitaccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de PCDT pode ser feita pela CGMAC (como vem sendo feita) e pela

sociedade interessada (maiores informaccedilotildees no siacutetio eletrocircnico)3

3 httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfmid_area=1611

154

Entende-se que se trata de um processo que seraacute continuamente ampliado com a

implantaccedilatildeo da poliacutetica

Para contemplar o apoio diagnoacutestico especiacutefico da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras atualmente encontra-se em anaacutelise na CONITEC a solicitaccedilatildeo de

incorporaccedilatildeo dos seguintes procedimentos

1 Identificaccedilatildeo de gliciacutedios urinaacuterios por cromatografia (camada delgada)

2 Identificaccedilatildeo de glicosaminoglicanos urinaacuterios por cromatografia em camada delgada

eletroforese e dosagem quantitativa

3 Identificaccedilatildeo de oligossacariacutedeos e Sialoligossacariacutedeos por cromatografia (camada

delgada)

4 Focalizaccedilatildeo Isoeleacutetrica da Transferrina

5 Dosagem quantitativa de carnitina perfil de acilcarnitinas

6 Dosagem quantitativa de aminoaacutecidos para diagnoacutestico de Erros Inatos do Metabolismo

7 Dosagem quantitativa de aacutecidos orgacircnicos para o diagnoacutestico de erros inatos do

metabolismo

8 Ensaios enzimaacuteticos no plasma leucoacutecitos e tecidos para erros inatos do metabolismo

9 Ensaios enzimaacuteticos em eritroacutecitos para erros inatos do metabolismo

10 Ensaios enzimaacuteticos em tecido cultivado para erros inatos do metabolismo

11 Anaacutelise de DNA pela teacutecnica De Southern Blot

12 Anaacutelise de DNA por MLPA

13 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeorearranjos por PCRQPCRPCR sensiacutevel a metilaccedilatildeoQPCR

sensiacutevel agrave metilaccedilatildeo

14 Identificaccedilatildeo de Alteraccedilatildeo Cromossocircmica Submicroscoacutepica por Array-Cg

15 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeo por sequenciamento por amplicon ateacute 500 pares de bases

16 Aconselhamento Geneacutetico

Como resultado dessa articulaccedilatildeo jaacute existe tratamento protocolado para as seguintes

doenccedilas Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e

Polimiosite Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido

Distonias Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de

Parkinson Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral

Amiotroacutefica Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal

Congecircnita Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

O Doutor ressaltou em sua fala a falta de disciplinas acadecircmicas no decorrer de sua

graduaccedilatildeo Eu estudante de Sauacutede Coletiva da Universidade de Brasiacutelia tambeacutem sinto essa

falta Em sua opiniatildeo qual a importacircncia dos alunos que estudam o SUS terem em sua

graduaccedilatildeo aulas que orientem e informem sobre doenccedilas raras e seus desafios no SUS

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) doenccedila rara

eacute aquela que afeta ateacute 65 a cada 100 000 indiviacuteduos (ou 13 a cada 2000 indiviacuteduos) O nuacutemero

exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que exista entre 6000 e 8000 doenccedilas sendo

que 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos e as demais advecircm de causas ambientais

infecciosas imunoloacutegicas dentre outras Muito embora algumas sejam individualmente raras

como um grupo elas acometem um percentual significativo da populaccedilatildeo o que resulta em um

problema de sauacutede relevante Por isso eacute tatildeo importante o estudo acerca das doenccedilas raras nas

graduaccedilotildees e poacutes-graduaccedilotildees na aacuterea de sauacutede bem como os desafios enfrentados diariamente

pelos profissionais de sauacutede e pacientes no SUS

155

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Sabendo que os profissionais de sauacutede pouco conhecem sobre as distrofias musculares que

acometem uma a cada 2000 pessoas e que no ranking das doenccedilas que mais matam ficam

em segundo lugar tendo como primeira causa as doenccedilas do coraccedilatildeo e perdendo para o

cacircncer noacutes pais lutamos pela conscientizaccedilatildeo da sociedade da classe meacutedica e poliacutetica

pelo apoio agraves pesquisas tratamentos instituiccedilotildees e direitos O que estaacute sendo feito para

conscientizar a classe meacutedica sobre doenccedilas raras

Tenho como experiecircncia pessoal na rede Sarah aqui de Brasiacutelia que eacute considerada

referecircncia no Brasil a ausecircncia de uma equipe capacitada e informada sobre as distrofias

musculares Quero ressaltar que sou filha de meacutedico

(ouroaninhagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - A capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros Aleacutem disso a Poliacutetica

pretende garantir que o atendimento seja feito por equipes multidisciplinares como forma de

melhor acolher e humanizar o cuidado a esses pacientes para que sejam atendidos em suas

necessidades

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Atenccedilatildeo MS ou SUS A questatildeo das poliacuteticas de sauacutede voltadas para formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede no contexto prevenccedilatildeo Existem perspectivas em formaccedilatildeo de

profissionais de Educaccedilatildeo Fiacutesica para essas aacutereas de doenccedilas raras Teriacuteamos acesso a essas

Poliacuteticas

Professora Germana (UNIP e UNIPLAN germanabrouzadayahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede entende que a formaccedilatildeo dos profissionais de

Educaccedilatildeo Fiacutesica bem como dos demais profissionais da sauacutede para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras eacute fundamental para uma assistecircncia agrave sauacutede integral incluindo medidas de

prevenccedilatildeo Eacute esperado que a implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras induza ao processo formativo e agrave inclusatildeo dos referidos

profissionais da rede de atenccedilatildeo agrave sauacutede e em especial ao cuidado das pessoas com doenccedilas

raras

Cabe informar que a capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros

Com o desenvolvimento da Poliacutetica de Doenccedilas Raras esta questatildeo poderaacute ser melhor

abordada e acreditamos que esses profissionais poderatildeo ser incorporados

Vale destacar no acircmbito de atuaccedilatildeo dos profissionais envolvidos nas praacuteticas de atividade

fiacutesica que o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o Programa Academia da Sauacutede na Atenccedilatildeo Baacutesica

Esse programa visa contribuir para a promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo a partir da implantaccedilatildeo

de espaccedilos puacuteblicos construiacutedos com infraestrutura equipamentos e profissionais qualificados

para o desenvolvimento de praacuteticas corporais orientaccedilatildeo de atividade fiacutesica promoccedilatildeo de accedilotildees

de seguranccedila alimentar e nutricional e de educaccedilatildeo alimentar bem como outras temaacuteticas que

envolvam a realidade local aleacutem de praacuteticas artiacutesticas e culturais (teatro muacutesica pintura e

156

artesanato) Os polos do programa satildeo parte integrante da atenccedilatildeo baacutesica compondo mais um

ponto de atenccedilatildeo agrave sauacutede A organizaccedilatildeo e o planejamento dos polos satildeo coordenados pela

atenccedilatildeo baacutesica e devem ser articulados com os demais pontos de atenccedilatildeo agrave sauacutede aleacutem de

estarem vinculados a um Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia (NASF) ou a uma Unidade

Baacutesica de Sauacutede (UBS)

Existe a possibilidade das entidades de apoio muacutetuo atuarem na capacitaccedilatildeo dos

profissionais da rede jaacute que as entidades tecircm tido ecircxito nas accedilotildees desenvolvidas Como

fazer

Marcelo Dunas (graduando em enfermagem - marceloslima10yahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - As entidades e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras

podem buscar estabelecer parcerias com as Secretarias Municipais e Estaduais de Sauacutede para

contribuir nos processos de formaccedilatildeo planejados pelos gestores locais

O desenvolvimento da poliacutetica dependeraacute muito dos diversos Estados e Municiacutepios ela

teraacute peculiaridades regionais Natildeo eacute o objetivo criar mecanismos riacutegidos mas flexiacuteveis e

amplos

Em princiacutepio a atuaccedilatildeo das entidades de apoio muacutetuo na capacitaccedilatildeo dos profissionais de

sauacutede natildeo eacute impossiacutevel os profissionais vinculados a essas associaccedilotildees com experiecircncia

comprovada na aacuterea poderatildeo atuar na capacitaccedilatildeo desde que em acordo com os demais

profissionais dos Municiacutepios e Estados e sob a orientaccedilatildeo das Secretarias Municipais e

Estaduais de Sauacutede Para tal as associaccedilotildees poderatildeo estabelecer parcerias com suas Secretarias

de Sauacutede a depender dos mecanismos locais de estabelecimento dessas parcerias

Assim a resposta completa a esta pergunta seraacute variaacutevel e dependente da evoluccedilatildeo da

Poliacutetica nos diversos locais

Que tipo de incentivo o Ministeacuterio pretende dar para Estados e Municiacutepios que

implementarem uma Poliacutetica direcionada agraves doenccedilas raras Tem dinheiro novo Estaacute sendo

discutido financiamento

(Mardones ndash Belford Roxo ndash RJ)

Joseacute Eduardo Fogolin - As poliacuteticas puacuteblicas instituiacutedas pelo Ministeacuterio da Sauacutede contam com

estrutura e financiamento Este Ministeacuterio alocaraacute recursos adicionais para as accedilotildees da Poliacutetica

Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras de acordo com a Portaria a ser

publicada do mesmo modo que ocorre com suas demais poliacuteticas de sauacutede

Vale ressaltar que o Ministeacuterio da Sauacutede jaacute repassa recursos relativos ao cuidado das

pessoas com doenccedilas raras pois hoje elas satildeo atendidas pela rede de sauacutede bem como novos

recursos alocados pela implementaccedilatildeo da Rede de Atenccedilatildeo agrave Pessoa com Deficiecircncia e Rede

Cegonha Toda articulaccedilatildeo e pactuaccedilatildeo acontece em seus respectivos colegiados intergestores

regional e bipartite

Dr Fogolin dentro da Poliacutetica de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede existe projeto de levantar o nuacutemero de

doentes ou famiacutelias portadoras de CADA doenccedila rara Sou da UPADHABH e natildeo temos a

menor ideia de quantas famiacutelias portadoras existem no Brasil portadoras de Huntington

(mirandaediliayahoocom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Como natildeo seria possiacutevel organizar as diretrizes abordando as doenccedilas

raras de forma individual devido ao grande nuacutemero de doenccedilas a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras estaacute sendo organizada na forma de eixos estruturantes

157

que permitem classificar as doenccedilas raras de acordo com suas caracteriacutesticas comuns com a

finalidade de maximizar os benefiacutecios aos usuaacuterios

O Ministeacuterio da Sauacutede sabe da importacircncia de se conhecer a incidecircncia e a prevalecircncia das

doenccedilas especialmente as raras que natildeo possuem esse tipo de dados na literatura cientiacutefica No

entanto um desafio encontrado eacute o fato de vaacuterias das doenccedilas raras natildeo possuiacuterem coacutedigo

especiacutefico na Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas (CID-10) sendo informadas sob coacutedigos

gerais Eacute esse sistema de classificaccedilatildeo que eacute informado pelo profissional de sauacutede que atende

o paciente que permite que o Ministeacuterio da Sauacutede conheccedila o nuacutemero de pacientes com

determinada doenccedila atendidos na rede do SUS

Aleacutem disso eacute necessaacuterio observar a Lei nordm 8080 de 19 de setembro de 1990 Lei Orgacircnica

da Sauacutede no que diz respeito agrave informaccedilatildeo sobre a sauacutede dos pacientes O Art 7ordm V estabelece

que accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede e os serviccedilos privados contratados ou conveniados que

integram o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) deveratildeo obedecer ao princiacutepio do direito agrave

informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutede Isso garante que o paciente tenha acesso a

informaccedilotildees sobre sua sauacutede e que elas natildeo sejam divulgadas a terceiros a natildeo ser com

autorizaccedilatildeo do paciente

Quais os locais de tratamento em Brasiacutelia para as pessoas com doenccedilas raras

Thamyres Ferreira ( Teacutecnica em Enfermagem)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem de

27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Cumpre informar que com a publicaccedilatildeo da Portaria da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras o gestor de sauacutede do Distrito Federal teraacute autonomia

para solicitar a habilitaccedilatildeo no termos da referida Portaria dos serviccedilos mencionados e de

158

demais serviccedilos que julgar necessaacuterios para o atendimento agrave sauacutede das pessoas com doenccedilas

raras

Tenho dois filhos com distrofia muscular (distrofia muscular de Steinert) Nos sentimos um

pouco sem apoio pois sabemos que a siacutendrome por enquanto natildeo tem cura mas devem ser

tratadas as doenccedilas que satildeo desencadeadas em funccedilatildeo da siacutendrome Soacute que quando

procuramos o especialista ele fica meio perdido Aqui em Brasiacutelia eu encontro pelo hospital

puacuteblico profissionais (neurologista ortopedistas otorrino gastroenterologista) que

entendam como um todo e que podemos tambeacutem ter acesso

Nadir

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem

de 27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de Contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Como paciente sinto falta de um olhar mais cuidadoso Muitos profissionais ficam focados

no tratamento com remeacutedios Quais seriam os objetivos relacionados ao olhar humanizado

dos envolvidos Isso deveria ser parte do perfil da formaccedilatildeo dos estudantes

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Com certeza a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em sauacutede deve fazer parte da

formaccedilatildeo dos profissionais desde a universidade No que diz respeito aos profissionais do SUS

as poliacuteticas relativas agrave formaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional e agrave educaccedilatildeo permanente dos

trabalhadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) eacute responsabilidade do Departamento de Gestatildeo

da Educaccedilatildeo na Sauacutede (DegesSGTES) que tem atuado em parceria com estados municiacutepios e

159

instituiccedilotildees formadoras no desenvolvimento de processos de formaccedilatildeo e de uma poliacutetica

nacional de educaccedilatildeo permanente

No que diz respeito agrave humanizaccedilatildeo do cuidado a Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (PNH)

do Ministeacuterio da Sauacutede busca colocar em praacutetica os princiacutepios do SUS no cotidiano dos serviccedilos

de sauacutede produzindo mudanccedilas nos modos de gerir e cuidar

Formaccedilatildeo eacute intervenccedilatildeo e intervenccedilatildeo eacute mudanccedila Atraveacutes de cursos e oficinas de

formaccedilatildeointervenccedilatildeo e a partir da discussatildeo dos processos de trabalho as diretrizes e

dispositivos da Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo satildeo vivenciados e reinventados no cotidiano

dos serviccedilos de sauacutede Em todo o Brasil os trabalhadores satildeo formados teacutecnica e politicamente

e reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH pois satildeo os construtores de novas

realidades em sauacutede e poderatildeo se tornar os futuros formadores da PNH em suas localidades A

PNH investe em diversos materiais de formaccedilatildeo como cartilhas documento base e outras

publicaccedilotildees4

No que se refere especificamente agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS as diretrizes e normas de habilitaccedilatildeo de serviccedilos e centros estatildeo sendo pensados

na perspectiva de garantir o acolhimento cuidado humanizado e acesso agrave informaccedilatildeo aos

usuaacuterios e seus familiares por meio da garantia de equipes multidisciplinares e formaccedilatildeo dos

profissionais

Quais as medidas que o Ministeacuterio da Sauacutede pode tomar quanto a Profissionais que preacute-

determinam o diagnoacutestico sem exames e condicionam o paciente a morte e tentam convencer

a famiacutelia dessa verdadeQuando se recorre ao Ministeacuterio da Sauacutede para intervir junto ao

SUS em casos urgentes o Ministeacuterio daacute um retorno soacute alguns meses depois Que chances

um paciente com doenccedilas raras tem quando os profissionais mesmo apoacutes o diagnoacutestico nada

fazem para ter um miacutenimo de conhecimento sobre a doenccedila para natildeo incorrer em erros

baacutesicos

Marla (Tia de paciente com acidemia glutaacuterica II)

Joseacute Eduardo Fogolin - O SUS tem alguns mecanismos de controle social e canais de denuacutencia

dos quais os usuaacuterios podem se utilizar tais como os Conselhos Municipais e Estaduais de

Sauacutede e as Ouvidorias Aleacutem disso o SUS eacute um sistema descentralizado composto pelos trecircs

niacuteveis de gestatildeo municipal estadual e federal Nesse sentido os usuaacuterios devem recorrer agraves

Secretarias Municipais de Sauacutede para efetivar suas reclamaccedilotildees denuacutencias sugestotildees e

contribuiccedilotildees A busca pelas Secretarias Municipais por estes gestores estarem mais proacuteximos

dos usuaacuterios e conhecerem a realidade local facilita e agiliza a resoluccedilatildeo dos problemas locais

Acredita-se que a melhor forma de fazer isso de forma organizada e efetiva eacute por meio da

participaccedilatildeo dos usuaacuterios e seus familiares nas instacircncias de controle social tais como os

Conselhos de Sauacutede seja diretamente ou por meio de suas associaccedilotildees

Quanto agrave postura dos profissionais acredita-se que com a implantaccedilatildeo da Poliacutetica de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras haveraacute uma melhoria no atendimento

proporcionada pela organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e inclusatildeo de aspectos tais como possibilidade da

realizaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos tratamentos protocolados melhor articulaccedilatildeo da rede

disponibilizaccedilatildeo de materiais informativos e formativos e outras modalidades de formaccedilatildeo dos

profissionais

4 Publicaccedilotildees disponiacuteveis em httpbvsmssaudegovbrbvshumanizacaopub_destaquesphp

160

Em se tratando de inserccedilatildeo de tecnologias no SUS qual a previsatildeo de inserccedilatildeo do Cough

Assist na Portaria MS 1370 (Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria a Pacientes com Doenccedilas

Neuromusculares)

Maria Clara (Associaccedilatildeo Carioca de Distrofia Muscular clarinhampbacadimcombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Portaria GMMS nordm 1370 de 3 de julho de 2008 que institui o

Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria Natildeo Invasiva aos Portadores de Doenccedilas

Neuromusculares foi regulamentada pela Portaria SAS nordm 370 de 4 de julho de 2008 Esta

uacuteltima estabelece o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no Programa e as indicaccedilotildees

cliacutenicas para a utilizaccedilatildeo de ventilaccedilatildeo natildeo invasiva em pacientes portadores de doenccedilas

neuromusculares Atualmente o Cough Assist natildeo estaacute incluiacutedo nos procedimentos da Portaria

370 essa incorporaccedilatildeo ainda estaacute sendo analisada internamente

Como ficaratildeo os pacientes com doenccedilas raras dependentes de ventilaccedilatildeo mecacircnica e

assistecircncia domiciliar

Faacutetima Braga (Presidente da Abrame fatima-abramehotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Atualmente esses pacientes satildeo amparados pelas seguintes Portarias

Portaria GMMS nordm 13702008 (institui o programa de assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos

portadores de doenccedilas neuromusculares) Portaria SASMS nordm 3702008 (estabelece na forma

do anexo i desta portaria o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no programa de

assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos portadores de doenccedilas neuromusculares) e Portaria

GMMS nordm 9632013 (Redefine a Atenccedilatildeo Domiciliar no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede)

No entanto o Ministeacuterio da Sauacutede por meio da articulaccedilatildeo entre a Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia

e Alta Complexidade Coordenaccedilatildeo-Geral de Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia e Coordenaccedilatildeo-

Geral de Atenccedilatildeo Domiciliar estaacute revendo as portarias relativas agrave assistecircncia ventilatoacuteria

Qual a dificuldade de se criar uma Secretaria de Doenccedilas Raras dentro do Ministeacuterio da

Sauacutede onde se poderia centralizar as demandas

Tacircnia (matildee de paciente)

Joseacute Eduardo Fogolin - A criaccedilatildeo de uma Secretaria de Doenccedilas Raras na estrutura do

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo garante a efetiva implementaccedilatildeo da Poliacutetica nos municiacutepios O que se

busca eacute a inclusatildeo da atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras na rede de sauacutede tanto para

atendimento baacutesico quanto especializado Para isso eacute fundamental a articulaccedilatildeo de todas as

aacutereas e natildeo a fragmentaccedilatildeo O SUS deve estar preparado para atender a todos os usuaacuterios

independente de sua necessidade de sauacutede A criaccedilatildeo de unidades especiacuteficas e isoladas seria

um retrocesso pois natildeo se pretende implantar unidades ou instituiccedilotildees totais mas sim garantir

o direito dos usuaacuterios com doenccedilas raras de serem integrados na rede e ter suas necessidades

de sauacutede atendidas Desta forma a loacutegica de articulaccedilatildeo em rede deve ser pensada desde a

estrutura interna no Ministeacuterio da Sauacutede ateacute os serviccedilos que compotildee a rede de sauacutede nos

municiacutepios como forma de otimizar os atendimentos e garantir o direito dos usuaacuterios

Considerando que 75 das doenccedilas raras se manifestam em crianccedilas e satildeo incapacitantes

o que o senhor acha da existecircncia de uma empresa de assistecircncia especializada em pediatria

Ana Beatriz (Fisioterapeuta da Prime Home)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS

estaacute sendo construiacuteda com a participaccedilatildeo da sociedade por meio das contribuiccedilotildees agrave Consulta

Puacuteblica e com participaccedilatildeo de especialistas usuaacuterios e seus familiares por meio de suas

161

associaccedilotildees As diretrizes da referida poliacutetica incluem o acolhimento e cuidado que deve ser

disponibilizado desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave especializada Na atenccedilatildeo especializada seratildeo

propostos Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como

componentes estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer

assistecircncia especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e

Centros seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos

com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto natildeo se inclui na Poliacutetica a contrataccedilatildeo de empresas de assistecircncia especializada

em pediatria uma vez que a atenccedilatildeo nessa aacuterea deveraacute estar incluiacuteda na rede e serviccedilos

propostos

Eu tenho curiosidade sobre o teste do pezinho Ateacute que ponto ele pode ajudar no diagnoacutestico

de doenccedilas raras Quais as doenccedilas raras podem ser detectadas

Edna Santana Santos (edsantanasantoshotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O teste do pezinho obrigatoacuterio no paiacutes eacute apenas a primeira etapa de

qualquer programa de triagem neonatal Eacute uma accedilatildeo preventiva que permite fazer o diagnoacutestico

de doenccedilas a tempo de se interferir na evoluccedilatildeo delas por meio do tratamento precoce

especiacutefico permitindo a diminuiccedilatildeo ou a eliminaccedilatildeo das sequelas a elas associadas

O teste implica na coleta de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebecirc na idade ideal

do 3ordm ao 5ordm dia de vida e possibilita o diagnoacutestico de certas doenccedilas geneacuteticas endocrinoloacutegicas

e doenccedilas metaboacutelicas que natildeo apresentam evidecircncias cliacutenicas ao nascimento Pode ser feito

em hospitais maternidades ou nos postos de sauacutede

O Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministeacuterio da Sauacutede tem a missatildeo de

promover implantar e implementar a poliacutetica de triagem neonatal para doenccedilas geneacuteticas

metaboacutelicas e congecircnitas no acircmbito do SUS visando o acesso universal integral e equacircnime

com foco na prevenccedilatildeo na intervenccedilatildeo precoce e no acompanhamento permanente das pessoas

com as doenccedilas incluiacutedas no Programa Nacional de Triagem Neonatal

As doenccedilas detectadas pelo teste do pezinho realizado na rede puacuteblica satildeo

Fenilcetonuacuteria Doenccedila geneacutetica que envolve falha no metabolismo das proteiacutenas ingeridas

Se natildeo tratada leva a lesotildees graves e irreversiacuteveis no sistema nervoso central (inclusive a

deficiecircncia intelectual) e o seu tratamento precoce pode prevenir estas sequelas

Hipotireoidismo Congecircnito Eacute um distuacuterbio causado pela produccedilatildeo deficiente de hormocircnios

da tireoacuteide que pode provocar lesatildeo grave e irreversiacutevel levando agrave deficiecircncia intelectual Se

instituiacutedo bem cedo o tratamento eacute eficaz e pode evitar estas sequelas

Hemoglobinopatias A doenccedila falciforme eacute a principal delas provocada por uma alteraccedilatildeo

na hemoglobina As complicaccedilotildees cliacutenicas satildeo tratadas com medidas profilaacuteticas antibioacuteticos

aacutecido foacutelico analgeacutesicos oxigenaccedilatildeo hipertransfusatildeo e uso de hidroxiureia

Fibrose Ciacutestica Eacute uma doenccedila geneacutetica tambeacutem conhecida como mucoviscidose cuja

alteraccedilatildeo leva a uma insuficiecircncia pancreaacutetica e faz com que se produza um muco espesso nos

brocircnquios e nos pulmotildees facilitando infecccedilotildees de repeticcedilatildeo e causando problemas respiratoacuterios

e digestivos entre outros

Deficiecircncia de Biotinidase doenccedila geneacutetica que consiste na deficiecircncia da enzima

biotinidase envolvida no metabolismo da vitamina B6 (biotina) Provoca nos quadros mais

graves convulsotildees retardo mental e lesotildees de pele O diagnoacutestico eacute difiacutecil a partir de sinais

cliacutenicos que satildeo poucos caracteriacutesticos

Hiperplasia Adrenal Congecircnita engloba um grupo de siacutendromes caracterizadas por defeitos

hereditaacuterios em diferentes passos enzimaacuteticos na biossiacutentese do cortisol Em meninas essas

162

alteraccedilotildees podem levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos ndash como pelos e

aumento do clitoacuteris ndash e em ambos os sexos pode levar a uma perda acentuada de sal e ao oacutebito

Qual o caminho mais adequado que uma associaccedilatildeo pode ou deve percorrer em procura de

ajuda para suspender uma portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que retira a distribuiccedilatildeo de uma

medicaccedilatildeo fundamental para pacientes com Deficiecircncia de BH4

Graccedila Afonso ( Safe Brasil)

Joseacute Eduardo Fogolin - Caso a autora da pergunta esteja se referindo agrave Portaria nordm 38 de 6 de

agosto de 2013 que torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no

tratamento da hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS

esclarece-se que

A CONITEC em sua 14ordf reuniatildeo ordinaacuteria realizada no dia 4 de abril de 2013 recomendou

a natildeo incorporaccedilatildeo no SUS da sapropterina para o tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA)

com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4) A Comissatildeo considerou que os estudos a

maioria de baixa qualidade metodoloacutegica natildeo conseguiram comprovar a superioridade do

tratamento principalmente no que diz respeito agrave ausecircncia de dados especiacuteficos para o subgrupo

com deficiecircncia de BH4 Assim os membros da CONITEC presentes na 15ordf reuniatildeo do plenaacuterio

do dia 09052013 deliberaram por unanimidade natildeo recomendar a sapropterina para o

tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA) com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4)5

Tendo em vista o Relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da CONITEC foi publicada a portaria

conforme coacutepia abaixo

PORTARIA Nordm 38 DE 6 DE AGOSTO DE 2013

Torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

O SECRETAacuteRIO DE CIEcircNCIA TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATEacuteGICOS DO

MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE no uso de suas atribuiccedilotildees legais e com base nos termos dos art 20

e art 23 do Decreto 7646 de 21 de dezembro de 2011 resolve

Art 1ordm Fica natildeo incorporado o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no acircmbito no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)

Art 2ordm O relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de

Tecnologias no SUS (CONITEC) sobre essa tecnologia estaraacute disponiacutevel no endereccedilo

eletrocircnico httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfm id_ area=1611

Art 3ordm A mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela CONITEC caso

sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise efetuada

Art 4ordm Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA

Conforme a Portaria a mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela

CONITEC caso sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise

efetuada Desta forma uma associaccedilatildeo pode realizar essa solicitaccedilatildeo apresentando esses fatos

5 O Relatoacuterio da CONITEC estaacute disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfRelatorio_Sapropterina_FINALpdf

163

O Senhor falou das grandiosas perspectivas em relaccedilatildeo agrave atenccedilatildeo baacutesica e especializada no

SUS para pessoas com doenccedilas raras Atualmente constata-se um verdadeiro sucateamento

do SUS com falta de equipamentos baacutesicos para diagnoacutestico materiais e profissionais Quais

as providecircncias que estatildeo sendo tomadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede na praacutetica e a curto prazo

para mudar essa realidade

Riane Nataacutelia (Professora e fisioterapeuta Coordenadora das Aacutereas cliacutenicas da APAED -

Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais e Deficientes rianenataacuteliagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Em relaccedilatildeo agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras tema da palestra proferida em 26 de abril de 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu um

Grupo de Trabalho organizado pelo Departamento de Atenccedilatildeo EspecializadaCoordenaccedilatildeo de

Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC) contando com a participaccedilatildeo de representantes de

SociedadesEspecialistas e Associaccedilotildees de Apoio agraves Pessoas com Doenccedilas Raras (entre elas a

AMAVI) para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no acircmbito do SUS

A partir das discussotildees do Grupo de Trabalho (GT) o Ministeacuterio da Sauacutede colocou em

Consulta Puacuteblica ndeg 07 de 10 de abril de 2013 os seguintes documentos ldquoNormas para

Habilitaccedilatildeo de Serviccedilos de atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

no Sistema Uacutenico de Sauacutederdquo e ldquoDiretrizes para Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUSrdquo A consulta puacuteblica ficou disponiacutevel para o envio

de contribuiccedilotildees aos textos citados ateacute ao dia 9 de junho de 2013

As contribuiccedilotildees advindas da Consulta Puacuteblica foram consolidadas e o documento foi

discutido em reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado (GTA) da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras realizada no dia 23 de outubro de 2013 Sendo assim

as contribuiccedilotildees do GTA seratildeo avaliadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede e o documento final seraacute

levado para discussatildeo e posterior pactuaccedilatildeo na Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em

novembro

Essa Poliacutetica pretende compatibilizar o cuidado integral (promoccedilatildeo prevenccedilatildeo tratamento

e reabilitaccedilatildeo) em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional e atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede As doenccedilas raras

seratildeo classificadas em sua natureza como de origem geneacutetica e de origem natildeo geneacutetica Desta

forma foram elencados quatro eixos de DR sendo os trecircs primeiros compostos por DR de

origem geneacutetica e o uacuteltimo formado por DR de origem natildeo geneacutetica

I- Anomalias Congecircnitas

II- Deficiecircncia Intelectual

III- Doenccedilas Metaboacutelicas

IV- Doenccedilas Raras de Natureza natildeo Geneacutetica

a) Infecciosas

b) Inflamatoacuterias

c) Autoimunes

Na atenccedilatildeo especializada os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e os Centros de Referecircncia

em Doenccedilas Raras ofereceratildeo atenccedilatildeo diagnoacutestica e terapecircutica especiacutefica para uma ou mais

doenccedilas raras em caraacuteter multidisciplinar de acordo com os eixos assistenciais acima

especificados

Para o diagnoacutestico das doenccedilas raras no acircmbito dessa Poliacutetica seraacute necessaacuteria incorporaccedilatildeo

de novos procedimentos no SUS A proposta eacute a criaccedilatildeo de trecircs procedimentos principais com

finalidade diagnoacutestica de acordo com os eixos estruturantes e um procedimento relativo ao

aconselhamento geneacutetico Para cada procedimento principal com finalidade diagnoacutestica seraacute

permitida a execuccedilatildeo de um rol de exames (procedimentos secundaacuterios)Os procedimentos

164

orientaratildeo os Gestores do SUS quanto ao encaminhamento dos pacientes para os Centros de

Referecircncias ou Serviccedilo Especializado no SUS estabelecendo os criteacuterios diagnoacutesticos miacutenimos

para o encaminhamento

A inclusatildeo dos referidos exames dependem do parecer da CONITEC previsto para

novembro de 2013

Atualmente o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) jaacute disponibiliza tratamentos protocolados

(Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas - PCDT) para as seguintes doenccedilas rarasgeneacuteticas

Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e Polimiosite

Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido Distonias

Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de Parkinson

Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral Amiotroacutefica

Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal Congecircnita

Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

Consideraccedilatildeo Foi mencionada a humanizaccedilatildeo de todos os profissionais mas haacute tambeacutem

uma intenccedilatildeo em encorajar tratamentos como por exemplo hidroterapias que natildeo satildeo

oferecidas Sabemos que os pacientes apresentam melhora ateacute mesmo socialmente mas

sinto uma certa negligecircncia O que pode mudar com a atuaccedilatildeo das Associaccedilotildees

Joseacute Eduardo Fogolin - Eacute preciso lembrar que as doenccedilas raras com tratamento baseado em

drogas representam apenas uma pequena fraccedilatildeo das doenccedilas raras de modo que uma assistecircncia

puramente farmacecircutica beneficiaria um nuacutemero limitado de pessoas com esse tipo de doenccedila

Natildeo soacute os tratamentos medicamentosos satildeo importantes para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras mas tambeacutem os tratamentos psicoloacutegicos fonoaudioloacutegicos fisioteraacutepicos entre

outros

Um dos objetivos da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

eacute estabelecer um cuidado integral com accedilotildees de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo diagnoacutestico tratamento

e reabilitaccedilatildeo em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede relacionados a

doenccedilas raras Isso deveraacute ser oferecido pela rede de assistecircncia do SUS incluindo os Serviccedilos

Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

As associaccedilotildees podem participar ativamente do controle social nos municiacutepios por meio do

diaacutelogo com os gestores locais e participaccedilatildeo em conselhos de sauacutede Essa participaccedilatildeo de

forma organizada eacute fundamental para aprimorar e garantir a implementaccedilatildeo contiacutenua da

poliacutetica

A Cescontexto eacute uma publicaccedilatildeo online de resultados de

investigaccedilatildeo e de eventos cientiacuteficos realizados pelo Centro de

Estudos Sociais (CES) ou em que o CES foi parceiro A

Cescontexto tem duas linhas de ediccedilatildeo com orientaccedilotildees

distintas a linha ldquoEstudosrdquo que se destina agrave publicaccedilatildeo de

relatoacuterios de investigaccedilatildeo e a linha ldquoDebatesrdquo orientada para a

memoacuteria escrita de eventos

Page 3: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia

2

Agradecimentos

Esta publicaccedilatildeo documenta o I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras (CIADR) Os

agradecimentos destinam-se aquelesas que o tornaram possiacutevel O I CIADR foi o primeiro

evento que conseguiu reunir no Brasil num debate transcontinental e interdisciplinar osas

representantes das associaccedilotildees civis do Ministeacuterio da Sauacutede do poder legislativo

investigadoresas acadeacutemicosas pacientes e cuidadoresas Realizado a partir de uma ideia

que nasceu a par do iniacutecio da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria ndash AMAVI ndash em 2010 devemos o nosso

agradecimento aosagraves pesquisadoresas e profissionais que natildeo medem esforccedilos para realizarem

um bom atendimento ao paciente e em especial a pessoas como a Lauda Santos que foi

incansaacutevel na busca de alternativas para conseguirmos manter o nosso orccedilamento a Sandra

Mota e o querido Joseacute Leda que levam o sorriso e o bom astral por onde passam ao Professor

Natan Monsores que abriu as portas do Departamento de Sauacutede Coletiva da Universidade de

Brasiacutelia para nos oferecer uma sala de reuniatildeo ao Anderson Bertoluzzi ao Mateus Silva e agrave

Mariana Silva que na confianccedila de conseguirem realizar o impossiacutevel organizaram um

batalhatildeo de pessoas para receberem osas participantes do Congresso da melhor maneira

possiacutevel agrave Roberta Milhomem que com toda a paciecircncia conseguiu criar uma identidade

visual que natildeo somente foi perfeita para o Congresso como tambeacutem se transformou numa

figura que representa uniatildeo e trabalho em rede passando a ser utilizada pelo Observatoacuterio de

Doenccedilas Raras da UnB Rede Raras Institucionalmente agradecemos ao Ministeacuterio da Sauacutede

pela confianccedila e interesse na realizaccedilatildeo de um evento com o foco na participaccedilatildeo social agrave

Associaccedilatildeo de Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa e suas associadas pelo apoio com os

recursos necessaacuterios para dar vida a uma ideia ao Centro Universitaacuterio Planalto pelo

acolhimento e disponibilidade de infraestruturas para realizarmos o Congresso e a todas as

Associaccedilotildees que estiveram presentes no evento Tambeacutem agradecemos aosagraves palestrantes que

nos apoiaram fazendo com que o grande volume de trabalhos natildeo fosse impeditivo da

qualidade do Congresso Por fim um especial agradecimento ao amigo Miguel Fontes que com

toda a sua originalidade e paciecircncia conduziu os trabalhos de maneira serena assegurando a

participaccedilatildeo de todosas

3

Comissatildeo Organizadora

Anderson Bertoluzzi

Lauda Santos

Mariana Silva

Mateus Silva

Natan Monsores

Rogeacuterio Lima Barbosa (Coord Geral)

Sandra Motta

Siacutelvia Portugal

Moderadorases

Cristina Cagliari

Martha Carvalho

Natan Monsores

Sandra Motta

Palestrantes

Adriana Ueda

Ana Maria Martins

Ieda Bussmann

Joseacute Eduardo Fogolin

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

Marcelo Neves

Marcos Burle Aguiar

Mara Gabrilli

Maacutercia Ribeiro

Maria Helena Dourado

Maria Joseacute Delgado

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Maacuterio Saporta

Muna Odeh

Natan Monsores

Segolene Aymeacute

Siacutelvia Portugal

Tacircnia Almeida

Viacuterginia Llera

Yan Lee Cam

4

Iacutendice

Rogeacuterio Silva Barbosa e Siacutelvia Portugal

Introduccedilatildeo 7

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

Paulo Henrique Martins

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o cuidado como mediaccedilatildeo 10

Rogeacuterio Lima Barbosa

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de Pacientes Grupos

Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se estaacute falando 20

Siacutelvia Portugal e Joana Alves

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais 34

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

Ana Maria Martins

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a familiares e pacientes com

doenccedilas raras 42

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas raras 45

5

Maacutercia Gonccedilalves Rodrigues

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede 50

Maria Helena de Magalhatildees Dourado

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila Rara 55

Maria Joseacute Delgado Fagundes e Marcela Simotildees

Para um pacto social no capo das Doenccedilas Raras Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis 58

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Atendimento a Doenccedilas Raras no Distrito Federal 67

Maacuterio Andreacute C Saporta

Pesquisa em Doenccedilas Raras Desafios e Perspectivas 72

Tacircnia Maria Francisca Almeida

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras 75

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR

Rogeacuterio Lima Barbosa Sadi Del Roso Maria Joseacute Delgado Leonardo Batista

Marisa Carvalho Joseacute Eduardo Fogolin e Siacutelvia Portugal

Mesa de abertura 81

Joseacute Eduardo Fogolin Maria Joseacute Delgado Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues e

Natan Monsores

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras 89

Yan Lee Kam Virgiacutenia Llera e Segolene Aymeacute

2ordf Mesa O que acontece no mundo 105

6

Marcelo Neves Muna Odeh e Tacircnia Almeida

3ordm Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as tecnologias sociais 112

Maacutercia Ribeiro Mara Gabrilli Ieda Bussman e Maacuterio Saporta

4ordm Mesa Pesquisas no SUS 119

Marcos Burle Aguiar e Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

5ordm Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras 131

Ana Maria Martins Adriana Ueda Siacutelvia Portugal e Maria Helena Dourado

6ordm Mesa A rede de apoio ao paciente 137

Perguntas e respostas

Pergunta para a representante da Interfarma 148

Perguntas para asos representantes de pacientes 149

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede 150

7

Introduccedilatildeo

O I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras ndash I CIADR ndash aconteceu no Brasil no dia 25

de setembro de 2013 em Brasiacutelia O Congresso foi realizado no acircmbito das actividades da

AMAVI ndash Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria Brasil com o apoio do Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra Portugal Sob o tema Um Olhar Social para o Paciente contou com

a participaccedilatildeo de representantes de grandes associaccedilotildees da Europa como a EURORDIS e

EUCERD cientistas dirigentes do poder executivo legislativo representantes das associaccedilotildees

civis e da induacutestria farmacecircutica familiares e pacientes com doenccedilas raras O puacuteblico presente

ultrapassou as 700 pessoas Assim o I CIADR constituiu um marco no campo das Doenccedilas

Raras pelo nuacutemero de pessoas presentes pela sua diversidade mas tambeacutem pela originalidade

no modelo organizativo Registos e fontes diversas mostram que no Brasil os eventos

promovidos neste domiacutenio tinham tido ateacute ao momento tendecircncia para sofrer uma forte

interferecircncia de associaccedilotildees estrangeiras da induacutestria farmacecircutica ou do poder legislativo O

I CIADR foi o primeiro evento intercontinental no Brasil organizado por uma Associaccedilatildeo

brasileira e apartidaacuteria

O I CIADR pretendeu marcar a diferenccedila de dois modos no tipo de participantes e na

abordagem da temaacutetica No primeiro ao conseguir reunir agentes do governo mercado

academia e sociedade civil e sobretudo ao conseguir o apoio de dois atores que possuem

interesses antagoacutenicos no campo das Doenccedilas Raras ndash a Induacutestria Farmacecircutica e o Estado

atraveacutes da participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Na abordagem do tema ao tentar ultrapassar o

tradicional centramento no tratamento cliacutenico e sobretudo medicamentoso O projeto do I

CIADR centra-se na necessidade de criar modelos de cuidado no Sistema de Sauacutede nos quais

o medicamento seja apenas uma via entre outras necessaacuterias para a garantia da qualidade de

vida A proposta eacute que antes do remeacutedio seja a pessoa o centro de todas as atenccedilotildees e

discussotildees sobre as doenccedilas raras

Com este propoacutesito o programa do I CIADR baseou-se em duas linhas de accedilatildeo que marcam

a sua diferenccedila relativamente a outros eventos Em primeiro lugar a procura de um olhar social

e o afastamento de uma perspetiva simbioacutetica entre Doenccedilas Daras e medicamentos oacuterfatildeos que

tem alimentado as atividades de advocacy neste domiacutenio e feito disparar os lucros com a venda

de medicamentos sabendo-se hoje que o aumento anual das receitas com os medicamentos

oacuterfatildeos seraacute ateacute 2020 igual ou maior do que o das provenientes dos medicamentos ldquonatildeo oacuterfatildeosrdquo

Em segundo lugar decorrente da primeira opccedilatildeo enfatizar a necessidade de construir uma

abordagem multidisciplinar do cuidado das Doenccedilas Raras Assim 75 dos palestrantes

posicionavam-se fora da aacuterea meacutedica abrangendo aacutereas diversas como o direito a sociologia

a sauacutede coletiva a biologia o poder legislativo o poder executivo e os movimentos sociais

Com base nesta estrutura o Congresso pretendeu sinalizar que a temaacutetica das Doenccedilas Raras eacute

complexa e natildeo deve manter-se confinada ao diaacutelogo pontual entre alguns atores devendo pelo

contraacuterio ser alvo de debate puacuteblico orientado para o seu enfrentamento numa perspetiva

ampla direcionada para o bem-estar doa paciente

Embora assente nas linhas estruturais traccediladas acima e tendo sido organizado por uma

Associaccedilatildeo o I CIADR procurou reconhecer o papel central que as associaccedilotildees civis

desempenham no atendimento ao paciente com Doenccedilas Daras Desta maneira aleacutem de todos

os debates serem moderados por pessoas ligadas a associaccedilotildees em cada uma das mesas houve

sempre um dirigente associativo A experiecircncia revelou-se rica tanto na troca de informaccedilotildees

como na demonstraccedilatildeo do papel ativo que as associaccedilotildees desempenham

Esta publicaccedilatildeo pretende documentar as propostas acima enunciadas e dar eco agraves vozes

ouvidas no Congresso Todas as pessoas que realizaram uma comunicaccedilatildeo foram convidadas a

escrever um artigo para publicaccedilatildeo neste volume Lidaacutemos tanto com a familiaridade

8

daquelesas para quem a escrita e a publicaccedilatildeo faz parte do trabalho diaacuterio como com a

ansiedade daquelesas que estranharam a proposta O convite foi uma maneira de agradecer o

esforccedilo que as pessoam realizam no seu dia-a-dia para natildeo somente encontrarem forccedilas para

cuidar dos seus ou de si proacuteprios como tambeacutem para ajudar o proacuteximo e defender uma causa

socialmente invisiacutevel Alguns natildeo conseguiram responder ao desafio Natildeo quisemos no

entanto que as suas vozes fossem excluiacutedas Ouvir foi o verbo mais adequado para ilustrar o

que se passou no dia 25 de setembro de 2013 nos trabalhos do I CIADR e tentamos que esta

publicaccedilatildeo traduza esse ambiente vivido Para tanto as comunicaccedilotildees aqui apresentadas

preservam o tom coloquial que permeou todo o congresso

Assim este nuacutemero da Cescontexto organiza-se em quatro partes distintas Na primeira ndash

Um olhar social sobre as doenccedilas raras contributos para a construccedilatildeo de uma agenda ndash

constam trecircs artigos da autoria dos organizadores do Congresso (de Rogeacuterio Lima Barbosa e

de Siacutelvia Portugal em co-autoria com Joana Alves) e de Paulo Henrique Martins Os trecircs textos

pretendem responder aos reptos principais do I CIADR desenvolvendo abordagens que

(re)significam os conceitos de sauacutede doenccedila cuidado e associativismo

Na segunda parte ndash Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras textos dosas

palestrantes do I CIADR ndash encontram-se todos os textos que recebemos das pessoas que

realizaram comunicaccedilotildees no Congresso O conjunto estaacute longe de seguir as caracteriacutesticas

usuais de uma publicaccedilatildeo acadeacutemica e revela a diversidade dosas palestrantes e da sua ligaccedilatildeo

com o campo das doenccedilas raras Destes textos emerge um conjunto de saberes de praacuteticas e de

representaccedilotildees que mostra a complexidade do campo e dos atores que o experienciam Ao

lermos os textos vemos como muitas vezes os papeacuteis se sobrepotildeem doente meacutedicoa familiar

investigadora dirigente membro de associaccedilatildeo especialista burocrata poliacuteticoa jurista As

pessoas que se movem no campo das Doenccedilas Raras assumem variados papeacuteis para o cuidar e

mobilizam-se para uma luta aacuterdua que natildeo cabe nas fronteiras tradicionais das definiccedilotildees

meacutedicas e poliacuteticas

A terceira parte desta publicaccedilatildeo daacute conta daquele que eacute o seu propoacutesito fundamental

documentar o debate que ocorreu no I CIADR Assim em Um Olhar Social para o Paciente

de Doenccedilas Raras transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR transcrevem-se na iacutentegra as

intervenccedilotildees realizadas durante o Congresso As comunicaccedilotildees foram organizadas em seis

mesas temaacuteticas 1ordf) A construccedilatildeo conjunta no campo das doenccedilas raras 2ordf) O que acontece no

mundo 3ordf) A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e tecnologias sociais 4ordf)

Pesquisas no SUS 5ordf) A realidade brasileira para as doenccedilas raras 6ordf) A rede de apoio ao

paciente As comunicaccedilotildees apresentadas datildeo a conhecer reflexotildees experiecircncias exemplos de

boas praacuteticas instituiccedilotildees associaccedilotildees projectos inovaccedilotildees cliacutenicas e sociais

Finalmente a uacuteltima parte ndash Perguntas e respostas ndash transcreve o debate e tambeacutem

perguntas do puacuteblico que foram depois respondidas pelosas participantes por escrito Dado o

elevado nuacutemero de questotildees dirigidas a algumas das pessoas nomeadamente ao representante

do Ministeacuterio da Sauacutede estas foram recolhidas e posteriormente alvo de resposta pelos

envolvidosas A sua transcriccedilatildeo pretende tambeacutem ser uma forma de divulgar e esclarecer as

muitas duacutevidas e anguacutestias que acometem pacientes familiares e profissionais

Rogeacuterio Lima Barbosa

Siacutelvia Portugal

9

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

10

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o

cuidado como mediaccedilatildeo

Paulo Henrique Martins1 Universidade Federal de Pernambuco ndash UFPE

paulohenriquemargmailcom

Diz um ditado popular que as mais belas palavras se tornam inoacutecuas quando deixam de se referir

a uma experiecircncia concreta servindo apenas como moldura para ilustraccedilatildeo de velhos modos de

agir e de pensar Neste texto queremos propor desdobrando esta maacutexima que a inovaccedilatildeo dos

processos de gestatildeo puacuteblica na sauacutede na perspectiva participativa e de integralidade

envolvendo simultaneamente profissionais da sauacutede e usuaacuterios natildeo pode ser garantida apenas

com a recriaccedilatildeo de organogramas e com a adoccedilatildeo de um vocabulaacuterio com apelo participativo

Ao contraacuterio como buscaremos demonstrar a inovaccedilatildeo para ser efetiva tem que considerar

necessariamente o usuaacuterio natildeo como mero objeto da intervenccedilatildeo estatal mas como ator

corresponsaacutevel na accedilatildeo em sauacutede Ou seja sem a adoccedilatildeo de um entendimento mais amplo da

sauacutede na praacutetica capaz de superar o vieacutes assistencialista tradicional ou o vieacutes mercantilista as

reformas em sauacutede perdem sua forccedila renovadora

As anaacutelises empiacutericas que tecircm sido realizadas pelos grupos de pesquisadores da Rede

Multicecircntrica voltadas para a apreciaccedilatildeo do papel do usuaacuterio na avaliaccedilatildeo em sauacutede2 revelam

que a mudanccedila paradigmaacutetica na sauacutede implicando a superaccedilatildeo da abordagem assistencialista

e tecnicista por outra voltada para o cuidado e o acolhimento ainda eacute incerta exigindo novos

entendimentos teoacutericos De fato o futuro da descentralizaccedilatildeo na perspectiva de um cuidado

integral eacute tema que precisa ser mais bem discutido pois a desconexatildeo entre a teoria e a praacutetica

gera incertezas que podem comprometer a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede

Entre as hipoacuteteses que explicam essas incertezas nos avanccedilos do movimento sanitarista na

sauacutede gostariacuteamos de lembrar duas entre vaacuterias outras possiacuteveis de serem relacionadas a saber

a ausecircncia de um programa teoacuterico-praacutetico forte que evidencie o cuidado como metaacutefora e como

mediaccedilatildeo na sauacutede e a desconexatildeo entre as atividades de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo

De fato a perspectiva de avanccedilo do cuidado natildeo como retoacuterica mas como metaacutefora

constitutiva de novas linguagens na sauacutede depende da adoccedilatildeo de um programa teoacuterico-praacutetico

forte que permita entender a praacutetica do cuidado como uma simboacutelica relacional que apenas se

configura quando se estabelece a sinergia discursiva entre o gestor o profissional da sauacutede e o

usuaacuterio Para noacutes este programa teoacuterico-praacutetico forte eacute oferecido pelas teorias do dom e do

reconhecimento numa formulaccedilatildeo chamada dom do reconhecimento na sauacutede a qual se apoia

em duas exigecircncias a do dom como alianccedila entre anocircnimos gerando a esfera puacuteblica e a do

reconhecimento como constructo moral que redefine a perspectiva da sauacutede pela inclusatildeo do

diferente e pela promoccedilatildeo da dignidade independentemente das hierarquias de valorizaccedilatildeo

social

No entanto a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas inovadoras efetivas depende do modo como as

atividades de planejamento gestatildeo e avaliaccedilatildeo das accedilotildees satildeo capazes de se apoiar em accedilotildees

integradas de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo Isto significa que os avanccedilos dos programas

1 Paulo Henrique Martins eacute Professor Titular de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi Presidente da

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Sociologia (ALAS) (2011-2013) eacute Vice-Presidente da Associaccedilatildeo Movimento Anti-

Utilitarista nas Ciecircncias Sociais (MAUSS) e Coordenador do NUCEM (Nuacutecleo de Cidadania e Processos de Mudanccedila) (UFPE) 2 Ver a respeito o livro organizado por Roseni Pinheiro e Paulo Henrique Martins Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do

usuaacuterio abordagem multicecircntrica (Pinheiro e Martins 2009)

11

puacuteblicos nas perspectivas participativa e reflexiva deveriam implicar necessariamente um

diaacutelogo permanente entre a Academia o Serviccedilo Puacuteblico e a Sociedade Civil em torno de

atividades de pesquisa de formaccedilatildeo e de incubaccedilatildeo de experiecircncias sistematizadas No nosso

entender esta segunda hipoacutetese que eacute crucial para o avanccedilo da avaliaccedilatildeo em sauacutede depende

prioritariamente da definiccedilatildeo do programa teoacuterico-praacutetico forte sobre o cuidado como mediaccedilatildeo

da sauacutede pelo dom do reconhecimento como buscaremos desenvolver a seguir

O cuidado como retoacuterica e o cuidado como metaacutefora

Satildeo muitos os sinais que sugerem que a descentralizaccedilatildeo em sauacutede promovida pelo SUS nem

sempre tem significado uma ruptura programaacutetica com a antiga loacutegica hieraacuterquica e funcional

que marca as decisotildees estatais em geral e aquelas no campo da sauacutede em particular Ao

contraacuterio observando-se o funcionamento do sistema de sauacutede percebe-se sem muitas

dificuldades que a inovaccedilatildeo conceitual eacute com frequecircncia esvaziada por uma hierarquia teacutecnica

e vertical de poder [gestor ndash meacutedico(a) ndash enfermeiro(a) ndash agente de sauacutede ndash usuaacuterio(a)] que

esconde mesmo involuntariamente um saber colonizador que inspirou o modelo

hospitalocecircntrico na sauacutede Por outro lado noccedilotildees como a de cuidado satildeo muito importantes

por gerarem um efeito simpaacutetico imediato sobre a opiniatildeo puacuteblica e por constituir em princiacutepio

um dispositivo anticolonial isto eacute que inspira reformas importantes das compreensotildees dos

processos interativos na sauacutede a partir da valorizaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas ateacute entatildeo

marginalizadas e desperdiccediladas

No entanto noccedilotildees como esta e outras usadas no discurso da Atenccedilatildeo Primaacuteria ndash como a

de acolhimento por exemplo ndash podem se tornar meras peccedilas de retoacuterica se natildeo forem

acompanhadas de uma mudanccedila efetiva de compreensatildeo do cuidado como metaacutefora como

mediaccedilatildeo de processos simboacutelicos afetivos pedagoacutegicos poliacuteticos e biofiacutesicos na organizaccedilatildeo

da Sauacutede Coletiva Este comentaacuterio nos leva a outro plano o de saber se as reformas

doutrinaacuterias na sauacutede estatildeo sendo acompanhadas de mudanccedilas efetivas de atitudes na gestatildeo

dos programas nas praacuteticas dos profissionais da sauacutede e na participaccedilatildeo dos usuaacuterios As

mudanccedilas na gestatildeo na perspectiva do cuidado estatildeo incluindo o usuaacuterio como ator qualificado

da construccedilatildeo do cuidado Esta eacute uma pergunta crucial por remeter diretamente a um fato

concreto a saber que no modelo tradicional de gestatildeo na sauacutede o usuaacuterio natildeo eacute interlocutor

legiacutetimo na organizaccedilatildeo do atendimento meacutedico mas apenas um objeto de intervenccedilatildeo

De modo geral a praacutetica do cuidado continua largamente dependente da loacutegica hieraacuterquica

herdada da Cliacutenica Meacutedica moderna que divide tarefas a partir de funccedilotildees estritamente teacutecnicas

que refletem diversos niacuteveis de prestiacutegio social e profissional O termo cuidado perde sua forccedila

metafoacuterica e seu potencial de inovaccedilatildeo institucional e poliacutetica quando permanece prisioneiro da

loacutegica funcionalista produtivista e fragmentaacuteria que ainda rege em certos niacuteveis a organizaccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede no Brasil Esvaziado de seu potencial inovador o cuidado natildeo

oferece contribuiccedilatildeo nem para a formaccedilatildeo de uma esfera puacuteblica participativa que reconheccedila a

dignidade dos atores envolvidos nem para gerar justiccedila igualitaacuteria Nessa leitura conservadora

o termo serve para reforccedilar mecanismos hieraacuterquicos e corporativistas que negam o valor do

usuaacuterio como sujeito ativo e reflexivo da praacutetica de sauacutede

Na praacutetica constata-se que o termo cuidado se oferece a diversas interpretaccedilotildees que natildeo

apontam necessariamente para o sentido do termo care sugerido no debate contemporacircneo3

Analisando-se o desenvolvimento programaacutetico do cuidado natildeo eacute faacutecil fazer esta analogia entre

cuidado e care pois a forccedila do poder hieraacuterquico e funcional tradicional termina

3 Para autoras como Tronto (1993) uma das pioneiras nesta discussatildeo este termo deve apontar necessariamente para uma

atividade geneacuterica que compreende tudo que fazemos para reparar nosso mundo com o objetivo de uma vida com mais

possibilidades de auto-realizaccedilatildeo

12

comprometendo os esforccedilos de reorganizaccedilatildeo das praacuteticas locais em sauacutede Em outras palavras

queremos propor que os avanccedilos na Sauacutede Coletiva e na Atenccedilatildeo Primaacuteria ficam relativamente

comprometidos caso as inovaccedilotildees conceituais que acompanham os esforccedilos de passagem de

um paradigma tradicional de caraacuteter meacutedico-assistencialista para outro contemporacircneo de

promoccedilatildeo e de participaccedilatildeo natildeo se realizarem efetivamente como praacutexis produzida por uma

reflexatildeo envolvendo diferentes atores ndash especialistas militantes ativistas mediadores de rede

e usuaacuterios ndash em torno da produccedilatildeo do bem comum Para sair deste dilema e promover mudanccedilas

nas praacuteticas dos profissionais na perspectiva do cuidado como metaacutefora e como mediaccedilatildeo eacute

importante considerar a possibilidade de requalificaccedilatildeo das teacutecnicas e das rotinas de modo a

permitir que o usuaacuterio ganhe visibilidade como ator solidaacuterio e corresponsaacutevel pelo cuidado

Entre os atores do movimento sanitarista haacute a expectativa de que a palavra cuidado apareccedila

como uma metaacutefora estrateacutegica para o delineamento de um novo modo de fazer a sauacutede

confirmando o ideal do SUS Este modo deveria expressar tanto a ampliaccedilatildeo da ideia de

atendimento meacutedico pela incorporaccedilatildeo de fatores como meio ambiente habitaccedilatildeo entre outros

como pela maior aproximaccedilatildeo entre especialista e o usuaacuterio Com a emergecircncia do cuidado

como dispositivo de mediaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterio na sauacutede natildeo se limitaria

a um mero exerciacutecio prescritivo mas envolveria a participaccedilatildeo solidaacuteria e a responsabilizaccedilatildeo

do usuaacuterio no funcionamento do sistema de sauacutede local Estaacute presente no discurso do cuidado

na sauacutede uma expectativa moral relacionada com a promoccedilatildeo do bem viver refletindo o desejo

da ampliaccedilatildeo conceitual e praacutetica da tradicional relaccedilatildeo ldquomeacutedico x pacienterdquo

Para que a palavra cuidado se revista de sua forccedila metafoacuterica ndash que valoriza os aspectos

simboacutelicos e intersubjetivos ndash e de seu potencial inovador como mediaccedilatildeo ndash que exalta a

integralidade e democratizaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica ndash precisamos todavia de deslocar o olhar sobre

as interaccedilotildees do cotidiano na sauacutede Eacute importante repensar o termo numa perspectiva que

valorize mais as pessoas que os bens que se centre prioritariamente nos valores da confianccedila e

da solidariedade que emanam de uma experiecircncia autorreflexiva e contextualizada como aquela

oferecida pelo dom4 Em particular vamos buscar demonstrar que a possibilidade do cuidado

como praacutexis mediadora e inovadora da accedilatildeo em sauacutede exige que a mesma se apresente como

um sistema particular de dom fundado na corresponsabilidade dos atores envolvidos na criaccedilatildeo

e reproduccedilatildeo de dispositivos de trocas e de reconhecimentos que respeitam a diferenccedila e que

avanccedilam pelas igualdades de direitos de acesso aos direitos da cidadania O dom do

reconhecimento como se discutiraacute a seguir significa a capacidade de perceber o outro como

extensatildeo diferente e igualmente valorizada de si mesmo o que implica accedilotildees sucessivas de

inclusatildeo dignificaccedilatildeo e liberaccedilatildeo desse mesmo outro

Para avanccedilarmos no entendimento do cuidado como mediaccedilatildeo de daacutedivas temos que

aprofundar a discussatildeo das bases da troca solidaacuteria e de suas possibilidades de uso em sistemas

puacuteblicos locais formados pelas interaccedilotildees entre Sociedade Civil e Estado Para essa

demonstraccedilatildeo temos contudo que superar dois problemas um deles eacute o da presenccedila nos

estudos sobre a Sauacutede Coletiva do dualismo metodoloacutegico vivido classicamente pela

sociologia aquele da agecircncia x estrutura que leva necessariamente a se entender a praacutetica

social em geral e aquela do atendimento em sauacutede em particular de modo enviesado e

simplificado Por este vieacutes a praacutetica do atendimento em sauacutede ou eacute vista como resultado dos

esforccedilos e estrateacutegias dos atores em interaccedilatildeo ou eacute vista como produto das regras crenccedilas e

obrigaccedilotildees juriacutedicas e institucionais Para resgatar o cuidado como metaacutefora de mediaccedilatildeo eacute

importante pois superarmos esta limitaccedilatildeo conceitual e entendermos que o cuidado somente

aparece como mediaccedilatildeo da sauacutede quando se assume como dom de reconhecimento como

4 Dom ou daacutediva eacute um sistema de accedilatildeo fundado em prestaccedilotildees ao mesmo tempo livres e obrigatoacuterias que se desenvolvem em

trecircs movimentos o da doaccedilatildeo (de um bem ou serviccedilo material ou simboacutelico) o da recepccedilatildeo e o da retribuiccedilatildeo Marcel Mauss

um dos fundadores da sociologia francesa foi quem primeiramente sistematizou esta teoria (Mauss 2003)

13

veremos a seguir Para isso vamos discutir a importacircncia do dom como programa forte que

ultrapassa os dilemas dualistas entre agecircncia e estrutura e a seguir vamos analisar o dom do

reconhecimento como modelo para o cuidado como praacutexis inovadora

Dom um programa teoacuterico-praacutetico forte para contextualizar a accedilatildeo social

em sauacutede

A daacutediva eacute um sistema teoacuterico e praacutetico original na medida em que a possibilidade de teorizaccedilatildeo

se funda na observaccedilatildeo concreta e imediata das modalidades de relacionamentos e dos fatores

materiais e simboacutelicos objetivos e subjetivos que interferem nos mecanismos de trocas entre

atores individuais e grupais (Cailleacute 2002 Godbout 2007 Martins 2008) A daacutediva renova as

teorias socioloacutegicas ao valorizar a experiecircncia da troca direta entre os indiviacuteduos e grupos

ampliando a significaccedilatildeo do que se troca para o campo do simbolismo por um lado e para a

valorizaccedilatildeo do contexto por outro A daacutediva constitui um programa teoacuterico-praacutetico forte pois

ao se focar diretamente no que circula contribui para a superaccedilatildeo do dilema socioloacutegico acima

lembrado entre agecircncia e estrutura que eacute teoricamente problemaacutetico O dilema dualista

condiciona a anaacutelise da praacutetica social a duas opccedilotildees complicadas uma propotildee que a praacutetica

social eacute produto dos indiviacuteduos interessados a outra que o sistema de obrigaccedilotildees institucionais

eacute que define a praacutetica e que os indiviacuteduos tecircm pouca margem de manobra Ora nem uma nem

outra dessas opccedilotildees permite se entender as exigecircncias teoacutericas do cuidado como mediaccedilatildeo Por

isso a importacircncia da daacutediva como programa forte Ela favorece entender que a qualidade da

troca impacta sobre os lugares e identidades dos indiviacuteduos e grupos de indiviacuteduos em

interaccedilatildeo5

A superaccedilatildeo deste dilema socioloacutegico entre agecircncia e estrutura eacute decisiva no campo das

lutas por reconhecimento na sauacutede para se fazer a criacutetica teoacuterica de dois pressupostos

equivocados Uma delas eacute o de que o saber teacutecnico especializado [meacutedico(a) enfermeiro(a)

agente etc] eacute sempre mais legiacutetimo que o saber comum do usuaacuterio o outro o de que as regras

burocraacuteticas e administrativas satildeo sempre mais eficazes para o bom funcionamento do serviccedilo

puacuteblico em sauacutede que as regras produzidas pelo consenso ou alianccedila gerada pela daacutediva Ora

pelo entendimento do cuidado como estrutura relacional e mediadora estas crenccedilas satildeo revistas

continuamente na proacutepria interaccedilatildeo entre os atores envolvidos permitindo uma transmissatildeo

fluida de informaccedilotildees entre os saberes cientiacuteficos e os saberes praacuteticos equalizando os saberes

na praacutetica No entanto tais saberes hiacutebridos refazem as regras burocraacuteticas para liberar regras

associativas mais flexiacuteveis entre as instituiccedilotildees e indiviacuteduos

A teoria da daacutediva tem grande contribuiccedilatildeo a oferecer agrave renovaccedilatildeo paradigmaacutetica da

Atenccedilatildeo Primaacuteria quando permite entender que o sucesso do cuidado na sauacutede depende

diretamente do modo como o profissional fixa sua atenccedilatildeo no usuaacuterio para inseri-lo num sistema

horizontal de trocas interpessoais aquele do dom ou do sistema tripartite de obrigaccedilotildees

coletivas sistematizado por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre a daacutediva (Mauss 2003) Ao

voltar sua atenccedilatildeo para o usuaacuterio e buscar interagir com o mesmo o profissional imbuiacutedo do

sentido do dom desencadeia um mecanismo de doaccedilotildees (olhar palavra orientaccedilatildeo

medicamento etc) que gera obrigaccedilotildees de solidariedade a todas as partes envolvidas na

5 As abordagens claacutessicas dualistas ndash agecircncia x estrutura ndash valorizam ou o peso da obrigaccedilatildeo estrutural sobre a liberdade

individual ou no lado contraacuterio a liberdade de cada um sobre as injunccedilotildees coletivas Nessas teorias tradicionais dependendo

do enfoque tanto a sociedade aparece como um conjunto de obrigaccedilotildees coletivas como crenccedilas valores e regras (enfatizando

o peso da estrutura) como pode aparecer diferentemente como as capacidades de cada indiviacuteduo de definir racionalmente as

opccedilotildees que mais lhes interessam (enfatizando a importacircncia da liberdade de escolha de cada indiviacuteduo) Por essas interpretaccedilotildees

reducionistas o ser humano se apresenta seja como uma vocaccedilatildeo essencialmente egoiacutesta como propotildee o utilitarismo

mercantilista inglecircs ou no lado contraacuterio como expressatildeo de certa incapacidade de construir utopias libertaacuterias como sugerem

as anaacutelises autoritaacuterias e totalizantes (que podemos propor ser a expressatildeo de certo utilitarismo burocraacutetico)

14

mediaccedilatildeo do cuidar como o demonstrou Lacerda com a sistematizaccedilatildeo do conceito de ldquoredes

de apoio socialrdquo (Lacerda 2010) Na perspectiva da daacutediva o profissional da sauacutede e o usuaacuterio

natildeo satildeo categorias que se excluem No processo de mediaccedilatildeo pelo dom todos os elementos

teacutecnicos afetivos funcionais presentes naquele momento satildeo reconfigurados pela experiecircncia

da troca de bens simboacutelicos e materiais O agente social em cada movimento de realizaccedilatildeo da

accedilatildeo ndash na doaccedilatildeo na recepccedilatildeo ou na retribuiccedilatildeo ndash se defronta com o dilema insoluacutevel de ter

que tomar decisotildees voluntaacuterias ndash ou natildeo ndash dentro de contextos coercitivos que limitam mais ou

menos sua capacidade de agir que eacute ao mesmo tempo livre e obrigatoacuteria

A ecircnfase na praacutetica dos atores revela a complexidade da accedilatildeo social permitindo sair de

modelos abstratos que desconsideram o valor do cotidiano para a organizaccedilatildeo da vida social O

dom do reconhecimento que pretendemos explorar neste texto se realiza mediante a

capacidade do profissional-doador de reconhecer o outro-usuaacuterio para lhe dar visibilidade e

dignidade permitindo que o donataacuterio faccedila por sua vez seu movimento de inclusatildeo e de

reconhecimento No campo da sauacutede propomos que o cuidado apenas aparece como renovaccedilatildeo

paradigmaacutetica e programaacutetica quando ele eacute percebido como uma modalidade de dom a do dom

do reconhecimento Nesta oacutetica o cuidado eacute visto como motivo de reorganizaccedilatildeo dos

significados das trocas e como significante de lugares igualmente reconhecidos como legiacutetimos

por gestores por profissionais da sauacutede e por usuaacuterios

Haacute daacutedivas que podem ser estimuladas para que a accedilatildeo puacuteblica em sauacutede seja organizada

na perspectiva de valorizaccedilatildeo do viacutenculo social ou seja na oacutetica de que o valor social das

pessoas seja considerado como mais importante que os valores dos bens serviccedilos e funccedilotildees

teacutecnicas Optar pelo valor da pessoa significa que a avaliaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica e no caso a accedilatildeo

puacuteblica em sauacutede seja feita natildeo somente a partir de criteacuterios de produtividade econocircmica

financeira e teacutecnica e de desempenho funcional mas sobretudo a partir de criteacuterios de aumento

das forccedilas morais afetivas e psiacutequicas dos indiviacuteduos e dos grupos de pertencimento tanto no

plano da sociedade civil como naquele da accedilatildeo estatal descentralizada E tambeacutem entre as

instacircncias da Ciecircncia e do Mundo da Vida

Entre as daacutedivas que podem ter papel destacado com esta finalidade de permitir uma

mudanccedila qualitativa da loacutegica da avaliaccedilatildeo e dos sentidos da accedilatildeo puacuteblica apoiada no cuidado

como mediaccedilatildeo podemos enunciar dois tipos a daacutediva da alianccedila e a daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima

A alianccedila eacute para Mauss uma categoria central para a fundaccedilatildeo da vida em sociedade No Ensaio

sobre a daacutediva Mauss revela grande preocupaccedilatildeo em explicar os motivos pelos quais as tribos

passam da paz para a guerra e da guerra para a paz O que interrompe o viacutenculo pergunta ele

E no lado contraacuterio o que permite restaurar o viacutenculo A curiosidade do autor eacute procedente na

medida em que na perspectiva do dom o proacuteprio do ser humano natildeo eacute a tendecircncia ao

isolamento e agrave separaccedilatildeo mas ao acordo em torno da instauraccedilatildeo do fenocircmeno social A

intuiccedilatildeo de Mauss nos parece correta na medida em que diferentemente do que pensam os

liberais o pacto social natildeo eacute produto da soma de interesses individuais mas de uma obrigaccedilatildeo

coletiva livremente consentida Esta ambiguidade moral constitutiva do dom ndash obrigaccedilatildeo e

liberdade ndash explica que o fenocircmeno social se impotildee como um movimento coletivo e que o que

chamamos de indiviacuteduo apenas surge no interior de sociedades que admitem a socializaccedilatildeo

como individuaccedilatildeo

Eacute nesta perspectiva pois que podemos falar da daacutediva da alianccedila ou seja da predisposiccedilatildeo

de indiviacuteduos e grupos a se associarem livre e espontaneamente para fundarem a vida social

mediante o benefiacutecio dos presentes dos serviccedilos e hospitalidades das disposiccedilotildees para acolher

reconhecer e dignificar o outro e ndash por que natildeo ndash a si mesmo como sujeito social (que existe

como indiviacuteduo quando se reconhece no espelho do coletivo humano) A daacutediva visa sempre agrave

alianccedila mas pelo termo daacutediva da alianccedila estamos buscando enfatizar a accedilatildeo intencional com

15

relaccedilatildeo ao outro na perspectiva de valorizaacute-lo6 Este dado eacute fundamental para integrar novos

sentidos do cuidado A cada movimento de liberdade produzido por doaccedilotildees conscientes

outros ambivalentes de obrigaccedilatildeo livre e de interesse de retribuir se estabelecem E por esses

movimentos ambivalentes entre liberdade e obrigaccedilatildeo interesse e desinteresse satildeo seladas as

alianccedilas entre sujeitos transformando os inimigos em amigos os excluiacutedos em incluiacutedos o

ldquooutro em proacuteximordquo Nesta perspectiva eacute possiacutevel chamarmos a daacutediva da alianccedila de daacutediva da

generosidade comunitaacuteria pois a predisposiccedilatildeo para se vincular eacute ela mesma um siacutembolo de

generosidade que faz emergir a experiecircncia do cuidar como uma experiecircncia de totalidade

O outro tipo de daacutediva que consideramos importante para se repensar o cuidado como

mediaccedilatildeo eacute aquele da daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima Trata-se de uma modalidade de daacutediva proacutepria

da modernidade revelando a presenccedila de uma figura social inexistente nas sociedades

comunitaacuterias que eacute a do sujeito anocircnimo (Godbout e Cailleacute 1998) O anocircnimo eacute aquele

indiviacuteduo que natildeo se afirma por quaisquer pertencimentos comunitaacuterios particulares que o

distinguem hierarquicamente dos demais mas por uma condiccedilatildeo de invisibilidade social

igualitaacuteria permitida pelo direito reflexivo moderno O anocircnimo apenas surge em sociedades

complexas nas quais o processo de socializaccedilatildeo aparece natildeo somente como processo de coerccedilatildeo

coletiva mas como processo de individualizaccedilatildeo coletiva que eacute revelado pela emergecircncia de

unidades atomizadas e reflexivas que pensam o todo social a partir de experiecircncias singulares

e inovadoras

Pensando no caso da accedilatildeo em sauacutede podemos propor que a esfera puacuteblica em sauacutede resulta

da organizaccedilatildeo de um aparato institucional voltado para inserir o anonimato como condiccedilatildeo das

trocas de bens de sauacutede Certamente neste momento o anocircnimo ganha rosto e passa a ser

protagonista de uma operaccedilatildeo de obrigaccedilotildees muacutetuas que geram reconhecimentos e

visibilidades A socializaccedilatildeo passa a se realizar nas fronteiras do compromisso ciacutevico com o

coletivo e do respeito agrave liberaccedilatildeo das individualidades e a partir de um ato de cuidar que gera

alianccedilas e transformaccedilatildeo necessaacuteria de indiviacuteduos excluiacutedos em atores visiacuteveis da poliacutetica7 O

dom do reconhecimento que discutiremos a seguir surge desta condensaccedilatildeo provocada pela

circulaccedilatildeo da daacutediva em contextos de intensas demandas por visibilidade dignidade e

reconhecimento

Dom do reconhecimento o cuidado como mediaccedilatildeo

A teoria do reconhecimento eacute um constructo teoacuterico que se afirma com os avanccedilos da filosofia

moral contemporacircnea de Taylor (2005) e outros Sua sistematizaccedilatildeo acompanha a criacutetica agraves

teses utilitaristas que reduzem a vida social a pensamentos monoloacutegicos ndash como aquele

economicista que reduz o interesse da troca a uma questatildeo econocircmica ndash visando em paralelo

a resgatar temas como eticidade multiculturalidade e dignidade A articulaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom eacute decisiva para avanccedilarmos na perspectiva do cuidado como mediador

simboacutelico na sauacutede

No campo da sociologia deve-se a Honneth (2003) os meacuteritos de ampliaccedilatildeo do debate para

temas do cotidiano mediante releituras apropriadas de Hegel e dos pragmatistas norte-

6 Este interesse pela associaccedilatildeo lembra (Cailleacute 2002) nos rastros de Mauss ndash mas tambeacutem de Simmel ndash natildeo eacute funcional Esse

interesse eacute paradoxal pois a luta pela alianccedila gera tensotildees permanentes A cada momento da accedilatildeo tripartite ndash do doar do receber

e do retribuir ndash os indiviacuteduos e grupos se defrontam com conflitos de consciecircncia produzidos por determinantes estruturais

pelos quais a cada movimento interessado se opotildee um movimento de desprendimento ou de ldquodesinteressamentordquo (Cailleacute 2006) 7 Avanccedilando nesta discussatildeo podemos igualmente sugerir que o dom da alianccedila num contexto de trocas anocircnimas que

produzem o fenocircmeno do puacuteblico comunitaacuterio e da democracia associativa local tem impacto importante na passagem da

comunidade fechada (eacutetnica corporativa cultural religiosa etc) para a associaccedilatildeo democraacutetica e aberta Isto significa que a

circulaccedilatildeo do dom natildeo se restringe a fortalecer a alianccedila entre os mais proacuteximos (loacutegica comunitaacuteria) mas visa a refazer

permanentemente a alianccedila pela inclusatildeo e reconhecimento de novos agentes sociais marcados pelas diferenccedilas culturais

(gecircnero etnia religiatildeo sexualidade etc) no processo de construccedilatildeo da praacutetica democraacutetica

16

americanos como J Dewey (1991)8 Haacute de se destacar que a discussatildeo moral de Honneth sobre

a vida social natildeo eacute concebida abstratamente mas concretamente a partir do esforccedilo de

entendimento das patologias sociais que afligem os indiviacuteduos na contemporaneidade Para ele

os indiviacuteduos satildeo objetos de violecircncias que atingem a) a autoconfianccedila ainda na infacircncia

comprometendo sua capacidade de amar b) o autorrespeito como cidadatildeo impedindo que lute

adequadamente por seus direitos e c) a autoestima na vida profissional impedindo que

desenvolva a capacidade de se solidarizar com o outro (Honneth 2003) Nesta direccedilatildeo

podemos sugerir que o cuidado natildeo pode emergir como mediaccedilatildeo simboacutelica central de um novo

paradigma em sauacutede caso permaneccedila prisioneiro de visotildees monoloacutegicas como a da cliacutenica

meacutedica moderna ou a da medicina utilitarista que natildeo datildeo conta do fenocircmeno da totalidade do

social

Para que o cuidado apareccedila como care na accedilatildeo primaacuteria eacute necessaacuterio que se amplie o

entendimento da praacutetica cliacutenica para introduzir elementos pedagoacutegicos morais e poliacuteticos que

satildeo justamente oferecidos pela criacutetica teoacuterica do reconhecimento A saiacuteda para tais dificuldades

operacionais eacute o entendimento do valor simboacutelico do reconhecimento na geraccedilatildeo de um tipo de

bem-estar que eacute aquele da visibilidade poliacutetica e da dignidade moral Tal bem-estar natildeo se

restringe agrave dimensatildeo biofiacutesica mas se define e se corporifica com a ampliaccedilatildeo das significaccedilotildees

de solidariedade e de reconhecimento no ldquomundo da vidardquo O bem-estar que alarga as

significaccedilotildees da sauacutede apenas emerge por signos de reconhecimento que circulam como

daacutedivas permitindo formular ritmicamente as praacuteticas os lugares dos atores e os processos de

organizaccedilatildeo das instituiccedilotildees Nesta direccedilatildeo pode-se dizer que a interpretaccedilatildeo do

reconhecimento como simbolismo da accedilatildeo leva necessariamente a uma aproximaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom pois o ato de reconhecer eacute uma daacutediva estruturante primordial

Trazendo esta discussatildeo para o campo da sauacutede eacute possiacutevel afirmar que o cuidado como

simbolismo mediador eacute antes de tudo a doaccedilatildeo de significaccedilotildees como aquelas da visibilidade

poliacutetica e da dignidade moral do outro9 Cailleacute propotildee que os temas morais da confianccedila do

respeito e da estima satildeo redimensionados na praacutetica pela gratidatildeo gerada por uma doaccedilatildeo que

valoriza o outro (dar ao outro como sendo mais importante que meu prazer pessoal em doar) e

uma recepccedilatildeo que valoriza a doaccedilatildeo (receber do outro eacute mais importante que se recusar a

receber) ldquoDar o reconhecimento natildeo eacute apenas identificar ou valorizar eacute tambeacutem e talvez

inicialmente provar e testemunhar nossa gratidatildeordquo (Cailleacute 2008 158) Isto se faz

complementamos na expectativa de que a recepccedilatildeo do gesto valorizador motive o donataacuterio a

agradecer e retribuir um contra-dom em forma de confianccedila solidariedade e responsabilidade

A abertura para o reconhecimento e para a inclusatildeo do Outro-diferente amplia as

experiecircncias de gratidatildeo do donataacuterio daquele que recebe o cuidado Isto eacute no lado da

recepccedilatildeo o impacto do dom do reconhecimento ndash que se funda sobre a alianccedila entre anocircnimos

ndash gera uma obrigaccedilatildeo de gratidatildeo para com o doador o que se traduz em gestos de lealdade

com o social ou de solidariedade com o proacuteximo anocircnimo favorecendo a responsabilizaccedilatildeo

8 Com isso ele avanccedilou na criacutetica moral da tradiccedilatildeo racionalista iluminista rearticulando a relaccedilatildeo entre instrumentalidade e

expressividade nas esferas da socializaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo Esta criacutetica permitiu ao autor explicar que haacute hierarquias

morais desiguais subjacentes agraves praacuteticas sociais e que sem a criacutetica das mesmas eacute impossiacutevel se conceber uma discursividade

organizada em bases igualitaacuterias Tais hierarquias impedem que os indiviacuteduos possam realizar espontaneamente seus potenciais

cognitivos e defender por conseguinte suas capacidades de se apresentar nas esferas coletivas como indiviacuteduos livres e dotados

de forccedila originais de arguiccedilatildeo poliacutetica e cultural 9 Neste sentido a teoria do valor eacute revista ampliada e atualizada pela linguagem simboacutelica sendo o valor social das pessoas

em interaccedilatildeo mais importante que o valor dos bens o valor do usuaacuterio sendo mais importante que aqueles das tecnologias

saberes especializados e medicamentos No caso o reconhecimento passa a ser uma condiccedilatildeo de visibilidade social para o

usuaacuterio e a luta por status ou lugar antecede a luta de classes ou a definiccedilatildeo do direito privado e individual Aqui as teorias de

escolhas racionais e estrateacutegicas se submetem agrave teoria do reconhecimento pois antes de escolherem os homens buscam ser

reconhecidos para poderem reconhecer (escolher) A luta natildeo eacute apenas de valor moral mas de valor de socializaccedilatildeo

(reconhecimento de si do outro e de noacutes)

17

comunitaacuteria e ampliando a legitimidade da poliacutetica puacuteblica Ou seja o sentimento da gratidatildeo

eacute significativo para soldar laccedilos e gerar novas solidariedades e associaccedilotildees E isto eacute visiacutevel no

campo da sauacutede quando se observa o modo de agradecimento dos usuaacuterios quando satildeo

acolhidos pelos profissionais da sauacutede no espiacuterito da daacutediva e do reconhecimento

A articulaccedilatildeo das teorias do dom e do reconhecimento eacute muito profiacutecua ao permitir

entender que a circulaccedilatildeo dos bens da sauacutede (afetos teacutecnicas medicamentos gestos etc) em

contextos de empobrecimento e de exclusatildeo social produz doaccedilotildees de visibilidade e dignidade

que eacute o dom do reconhecimento gerando agradecimentos inclusotildees e participaccedilotildees Pelo dom

do reconhecimento natildeo apenas se faz justiccedila moral aos injusticcedilados mas se abre a perspectiva

de se fazer justiccedila poliacutetica aos oprimidos e abandonados pelos direitos da cidadania

Neste contexto de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do dom do reconhecimento observam-se dois

registros paralelos Num deles a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento ndash envolvendo os grupos

de pertencimento antigos ou novos e os indiviacuteduos que por suas redes de pertencimento

contribuem para remodelar as instituiccedilotildees coletivas ndash amplia o nuacutemero de atores dos processos

de troca e de solidariedade na sauacutede favorecendo o surgimento de uma cidadania democraacutetica

No segundo registro a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento amplia o escopo da accedilatildeo em sauacutede

para outros domiacutenios da vida social e cultural articulando a totalidade dos elementos

constitutivos da cidadania democraacutetica (educaccedilatildeo saneamento trabalho lazer etc) em torno

de um projeto coletivo e puacuteblico do bem viver que exige um ldquosaber fazendordquo Assim a

circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento entre profissionais de sauacutede e usuaacuterios gera com

frequecircncia novos movimentos de dons entre terceiros proacuteximos ou anocircnimos ampliando os

ldquociacuterculos hermenecircuticosrdquo como o provam o surgimento de grupos de cuidados voltados para

as questotildees de gecircnero violecircncia sexualidade entre outros

Claro quando estes processos de dom do reconhecimento satildeo sabotados pela accedilatildeo estatal

ou mercantil a alianccedila entre anocircnimos a favor do viacutenculo social pode se traduzir em

desfiguraccedilatildeo do pacto coletivo com aumento da violecircncia na vida cotidiana e surgimento de

patologias sociais que se refletem no aumento das doenccedilas psicossomaacuteticas Neste caso

pensando com Mauss diriacuteamos que a sociedade passa da paz para a guerra pelo fato de o doador

reconhecido (o Estado os cidadatildeos a Igreja etc) natildeo ser capaz de doar na intensidade

necessaacuteria os bens necessaacuterios ao reconhecimento do donataacuterio levando este a padecer na

incerteza e no desacircnimo

Daacutediva e accedilatildeo puacuteblica no cuidado algumas consideraccedilotildees finais

Para finalizar retomaremos o tema do cuidado que abordamos no iniacutecio deste texto de modo a

fixar algumas reflexotildees sobre os desafios da gestatildeo puacuteblica descentralizada nesses contextos

complexos de organizaccedilatildeo de esferas puacuteblicas locais que se apoiam nas circulaccedilotildees das daacutedivas

de reconhecimento para ampliar as alianccedilas entre anocircnimos Tais daacutedivas satildeo necessaacuterias para

o surgimento dos puacuteblicos democraacuteticos e tambeacutem para mediante este processo de inclusatildeo

social e cultural ampliar as redes de solidariedade e de mediaccedilatildeo social

Podemos propor entatildeo que o cuidado apenas se revela como experiecircncia inovadora na

accedilatildeo em sauacutede quando ele passa a refletir o dom entre anocircnimos a favor da alianccedila comunitaacuteria

e associativa gerando inclusotildees e corrigindo injusticcedilas ndash enfim permitindo que se passe da

guerra para a paz Aqui estaacute a chave para a compreensatildeo do enigma maussiano nos tempos de

modernidades Claro esta reflexatildeo exige necessariamente se pensar o cuidado desde a praacutetica

e desde a teoria ou seja desde o Serviccedilo e a Sociedade Civil e desde a Academia desde a

produccedilatildeo da accedilatildeo que se faz pela intervenccedilatildeo reflexiva sobre o real e desde a reproduccedilatildeo da

accedilatildeo que se faz pela formaccedilatildeo e pela incubaccedilatildeo do real pensado e construiacutedo coletivamente

Neste plano cuidar deixa de ser mera retoacuterica que esconde antigas praacuteticas hieraacuterquicas e

18

funcionais no serviccedilo em sauacutede para designar a experiecircncia concreta e reflexiva da accedilatildeo em

sauacutede que se realiza em trecircs movimentos do doar (como escuta como palavra como

disponibilidade para acolher integralmente ao outro) do receber (como direito inato do ser

humano a viver como possibilidade de agradecer para aparecer e ser incluiacutedo) e do retribuir

(como direito e possibilidade a demonstrar sua presenccedila seu poder sua singularidade dentro

do sistema social)

Esta releitura do cuidado como dom do cuidado abre perspectivas interessantes para se

reavaliar o tema da justiccedila pois esta deixa de ser mera aplicaccedilatildeo de normas coletivamente

sancionadas num territoacuterio nacional para aparecer como accedilatildeo de inclusatildeo social igualitaacuteria dos

diferentes Este entendimento permite sair da ideia do mal-estar da cultura formulada por Freud

na fundaccedilatildeo da psicanaacutelise para se pensar o bem-estar produzido pela poliacutetica do

cuidadorealizada com a consciecircncia do dom do reconhecimento10 Enfim haacute que se apostar no

dom do reconhecimento para se avanccedilar na democratizaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede e do cuidado

como care permitindo passar de um entendimento assistencialista do usuaacuterio dos serviccedilos que

estaacute sempre na posiccedilatildeo do sacrifiacutecio (da condenaccedilatildeo agrave pobreza e ao assistencialismo) para um

entendimento reflexivo e expressivo que libera o usuaacuterio da posiccedilatildeo sacrificial e o insere como

ator corresponsaacutevel na produccedilatildeo da vida cotidiana em contexto de justiccedila igualitaacuteria que integra

as diferenccedilas

Apostar no reconhecimento eacute buscar a diferenccedila no igual no confiar no respeitar no

solidarizar independentemente das diversidades sociais e culturais Tal aposta permite que se

formem culturas poliacuteticas mais saudaacuteveis e inspiradas na justiccedila social igualitaacuteria Essas

culturas satildeo importantes para se pensar os sistemas comunitaacuterios locais que se estabelecem agrave

base do puacuteblico democraacutetico que constitui uma experiecircncia coletiva supraegoacuteica Por isso para

terminar lembramos o filoacutesofo italiano F Fistetti que inspirado em Mauss afirma que cada

cultura conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana obras obras de

arte siacutembolos coacutedigos de comportamento etc (Fistetti 2009 179) Isto significa dizer que se

cada cultura conteacutem o todo cada cultura conteacutem o cuidado como atividade geral de produccedilatildeo

do bem comum ela conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana na

sua singularidade

Assim pensar o cuidado como metaacutefora e mediaccedilatildeo como projeto permanente inspirado

no dom do reconhecimento significa igualmente pensar uma cultura poliacutetica da daacutediva Uma

cultura como sistema de valor de uma esfera puacuteblica participativa que seja gerada por sua vez

por reciprocidades estabelecidas entre os sistemas organizacionais complexos como o Estado

que formula poliacuteticas comuns e o Mundo da Vida onde se formatam as praacuteticas espontacircneas

da vida social e cultural

10 Tal compreensatildeo inovadora do cuidado eacute particularmente pertinente para se pensar as diferenccedilas entre justiccedila nacional ndash

como poliacutetica redistributivista limitada que elimina as diferenccedilas identitaacuterias para promover a integraccedilatildeo comunitaacuteria nacional

ndash e justiccedila global ndash como poliacutetica redistributivista aberta a novos territoacuterios transnacionais que promovem o cuidado como dom

do reconhecimento para aleacutem das fronteiras nacionais Pensar a justiccedila global natildeo como concessatildeo de Estados nacionais na

cena mundial mas como direitos do ser humano ao bem viver (Arendt 2010) como direito ao dom do reconhecimento fundado

na alianccedila entre anocircnimos que vivem a gratidatildeo significa fazer a passagem de poliacuteticas sacrificiais (que sacrificam os diferentes

e os humilhados) para poliacuteticas antissacrificiais baseadas no dom incondicional e na alianccedila que gera o mundo comum e que

libera os diferentes e humilhados

19

Referecircncias bibliograacuteficas

Arendt H (2010) A condiccedilatildeo humana Rio Forense Universitaacuteria

Cailleacute A (2002) Antropologia do dom o terceiro paradigma Petroacutepolis Vozes

Cailleacute A (2006) ldquoO dom entre interesse e desinteressamentordquo in Martins PH Campos

RBC (Org) Polifonia do dom Recife Editora da UFPE 257-284

Cailleacute A (2008) ldquo Reconhecimento e sociologiardquo RBCS 23 66 151-163

Cailleacute A Godbout J (1998) O espiacuterito da daacutediva Rio de Janeiro FGV

Dewey J (1991) The public and its problems Ohio Ohio University Press

Fistetti F (2009) Theacuteories du multiculturalisme un parcours entre philosophie et sciences

sociales Paris La Deacutecouverte

Godbout J (2007) Ce qui circule entre nous donner recevoir rendre Paris Seuil

Honneth A (2003) Luta por reconhecimento a gramaacutetica moral dos conflitos sociais Satildeo

Paulo Editora 34

Martins PH (2008) ldquoDe Levi-Strauss a MAUSS ndash Movimento AntiUtilitarista nas Ciecircncias

Sociaisrdquo RBCS 23 66 105-130

Mauss M (2003) Sociologia e antropologia Satildeo Paulo Cossac amp Naify

Pinheiro R Martins PH (org) (2009) Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do usuaacuterio

abordagem multicecircntrica Rio de Janeiro Cepesc

Taylor C (2005) As fontes do self A construccedilatildeo da identidade moderna Satildeo Paulo Loyola

Tronto J (1993) Moral boundaries A political argument for an ethic of care New York

Routledge

20

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de

Pacientes Grupos Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se

estaacute falando

Rogeacuterio Lima Barbosa1 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra rogeriobarbosacesucpt

Apresentaccedilatildeo

Os estudos que abrangem as doenccedilas raras parecem tomar cada vez mais importacircncia na aacuterea

social Uma das possiacuteveis causas deste crescimento eacute explicada pelo impacto das associaccedilotildees

civis de doenccedilas raras na sociedade Por meio da atuaccedilatildeo destas associaccedilotildees houve um

consideraacutevel avanccedilo nas pesquisas geneacuteticas que culminaram na descoberta de tratamentos

medicamentosos para doenccedilas consideradas incuraacuteveis Tambeacutem foram criados protocolos de

atendimento a familiares e pessoas com doenccedilas raras nos serviccedilos de sauacutede e planos nacionais

de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras para a Uniatildeo Europeia Em qualquer paiacutes toda

accedilatildeo voltada para as doenccedilas raras seja por meio de pesquisas criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas ou

desenvolvimento de tratamentos eacute resultado das atividades das associaccedilotildees civis O contributo

dessas associaccedilotildees para a melhora do atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras e seus

familiares por meio de accedilotildees que impactam a sociedade justifica a atenccedilatildeo para o

desenvolvimento de suas accedilotildees no campo social Contudo aleacutem de perceber o resultado das

atividades na sociedade eacute preciso conhecer as associaccedilotildees a partir das motivaccedilotildees que os seus

integrantes possuem A partir de um olhar para ldquodentrordquo das associaccedilotildees para as pessoas que a

formam eacute possiacutevel encontrar natildeo somente diferentes motivaccedilotildees como tambeacutem estruturas

associativas muito diversas

Se por um lado as pessoas organizam-se em associaccedilotildees que visam tratar de doenccedilas

especiacuteficas como a Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Pacientes com Neurofibromatose -

AMANF por exemplo por outro existem associaccedilotildees que possuem o objetivo de representar

todas as doenccedilas raras em um formato ldquoguarda-chuvardquo2 Tanto em uma como em outra os

dirigentes das associaccedilotildees podem ser os proacuteprios pacientes seus pais ou matildees profissionais da

aacuterea da sauacutede ou qualquer pessoa que tenha interesse no campo das doenccedilas raras Em uma

realidade tatildeo difusa para os dirigentes a produccedilatildeo das ciecircncias sociais que alcanccedila tanto as

associaccedilotildees de doenccedilas especiacuteficas quanto as do modelo ldquoguarda-chuvardquo ldquoabrange vaacuterias

formas ldquoaproximadasrdquo de pacientesrdquo (Epstein 2008) Assim o termo paciente natildeo se restringe

ao doente e possui um sentido alargado que abarca qualquer pessoa que atue em uma

associaccedilatildeo e tenha interesse no desenvolvimento de accedilotildees para a sauacutede Portanto as associaccedilotildees

civis formadas por indiviacuteduos que militam no campo das doenccedilas raras satildeo conhecidas nas

Ciecircncias Sociais como Organizaccedilotildees de Pacientes (PO) em Epstein (2008) Nunes (2007)

Rabeharisoa et al (2008 2012 e 2013) Grupos Consumidores de Sauacutede3 para Allsop et al

1 Rogeacuterio Lima Barbosa eacute Mestre e Doutorando em Sociologia pelo programa Relaccedilotildees de Trabalho Sindicalismo e

Desigualdades Sociais da Faculdade de Economia e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Eacute bolsista da

CAPES processo BEX 10006-133 2 Em relaccedilatildeo aos estudos que analisam as associaccedilotildees civis que possuem o objetivo de representar todas as doenccedilas raras em

um formato de ldquoguarda-chuvardquo as mais citadas satildeo a Eurordis e a AFM ndash Associaccedilatildeo Francesa de Distrofia Muscular 3 Health consumer groups

21

(2004) Associaccedilotildees de Doentes em Filipe (2009) ou Associaccedilotildees de Pacientes para Novas

(2006)4

O frame alargado do paciente5 sinaliza o trabalho em rede que essas associaccedilotildees realizam

Assim como eacute necessaacuterio buscar na rede de contatos as pessoas para formalizarem uma

associaccedilatildeo civil os indiviacuteduos que iniciam a militacircncia pelas doenccedilas raras experimentam jaacute

na busca pelo diagnoacutestico da doenccedila6 a forccedila existente dos laccedilos de sua rede de contatos A

partir de sua rede de contatos os indiviacuteduos conseguem chegar ateacute ao diagnoacutestico ao tratamento

e as melhores formas de cuidado para o doente Assim satildeo os laccedilos existentes na rede que datildeo

condiccedilotildees para a formaccedilatildeo das associaccedilotildees civis e geram as respostas que natildeo foram

encontradas nos processos formais dos sistemas de sauacutede Considerando que o Estado eacute o

responsaacutevel por coordenar os cuidados nos sistemas de sauacutede a sua ausecircncia eacute o gatilho que

despoleta uma seacuterie de accedilotildees individuais que acabam impactando a sociedade

Juntamente com o Estado a Induacutestria FarmacecircuticaBiotecnologia (Induacutestria) a Academia

e as Associaccedilotildees satildeo os principais atores no campo das doenccedilas raras Assim como a associaccedilatildeo

civil surge a partir da falta de informaccedilatildeo promovida pelo Estado a ausecircncia deste daacute condiccedilotildees

para uma forte presenccedila da Induacutestria na coordenaccedilatildeo dos serviccedilos de atendimento agrave populaccedilatildeo

Essa presenccedila acaba por minar o campo das doenccedilas raras com os seus interesses Em particular

as associaccedilotildees do campo das doenccedilas raras como a induacutestria possui um interesse especiacutefico em

influenciaacute-las na produccedilatildeo de accedilotildees que visam a regulamentaccedilatildeo do mercado para as drogas

oacuterfatildes acabam por se estruturarem conforme a relaccedilatildeo que se cria com a induacutestria Se por um

lado existem associaccedilotildees que possuem um modelo de atuaccedilatildeo centrado na ajuda muacutetua

autoajuda e portanto mantendo-se distantes da induacutestria por outro haacute as associaccedilotildees que

optam por um modelo empresarial utilizando as ferramentas das empresas capitalistas como

planejamentos estrateacutegicos relatoacuterios de atividades trabalhadores remunerados CEOs e outras

caracteriacutesticas dessa aacuterea Neste modelo a Eurordis associaccedilatildeo europeia com sede em Franccedila

e as associaccedilotildees de distrofia muscular7 em Franccedila e nos EUA satildeo exemplares A associaccedilatildeo de

distrofia muscular dos EUA eacute a mais antiga Foi criada nos anos 50 e natildeo somente serviu como

modelo para as outras duas como tambeacutem participou da fundaccedilatildeo de ambas As trecircs possuem

o mesmo formato de atuaccedilatildeo Estruturado sobre a batuta da associaccedilatildeo americana essas

associaccedilotildees possuem o advocacy como atividade principal atuando de maneira significativa na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que favoreccedilam os seus interesses que natildeo raros estatildeo

alinhados com o pensamento capitalista8 Os recursos financeiros da Eurordis proveacutem

4 Apesar de compreender a necessidade de se conseguir um ponto de contato ou linha estrutural que possa reunir as diferentes

associaccedilotildees e fortalecer o proacuteprio movimento social a visatildeo sobre o impacto na sociedade impede a percepccedilatildeo sobre as suas

dinacircmicas internas Se existir o entendimento que a oferta do cuidado ou a sua melhoria eacute o ponto central das pessoas que

lidam com as associaccedilotildees voltadas para a melhoria de vida do doente natildeo haacute duacutevidas que eacute o Cuidado que une todas essas

pessoas Assim opto por pensar em Associaccedilotildees de Cuidadores como uma alternativa para identificar as Associaccedilotildees que

atuam no campo da sauacutede Com isso haacute a (re)estruturaccedilatildeo das accedilotildees sobre o cuidado ao mesmo tempo que ressegnifica a

relaccedilatildeo pacientefamiliaresmeacutedicosAo mesmo tempo natildeo impede que essas associaccedilotildees tenham suas particularidades e

diferentes como seraacute abordado adiante 5 Apesar do consenso sobre o termo paciente eacute preciso alertar que aleacutem de dificultar o entendimento sobre as motivaccedilotildees que

impulsionam o ldquopacienterdquo utilizar esse termo em sentido alargado pode gerar problemas mais profundos como a invisibilizaccedilatildeo

do proacuteprio doente Sem desconsiderar que algumas doenccedilas podem impossibilitar a expressatildeo integral do doente a ecircnfase no

paciente alargado pode fazer com que os interesses do doente sejam suplantados por outros que ao fim acabam por

instrumentalizar ele proacuteprio Uma discussatildeo mais profunda sobre esse tema eacute discutido em outros trabalhos nomeadamente

os dedicados ao Modelo Utilitaacuterio do Cuidado ndash MUC 6 De acordo com Faurisson (2000) a dificuldade de encontrar o diagnoacutestico para uma doenccedila rara deve-se a pouca informaccedilatildeo

ou a dispersatildeo de informaccedilotildees existente entre os profissionais de sauacutede e a sociedade 7 wwweurordisorg httpwwwafm-telethoncom httpmdaorg 8 Nos mesmos moldes de sua congecircnere americana desde 1987 a AFM realiza a maratona televisiva AFM-Telethon visando

a angariaccedilatildeo de fundos Com os recursos conseguidos por meio desta maratona a AFM cria entre outros o Genethon Bioprod

o maior laboratoacuterio do mundo na produccedilatildeo de medicamentos para terapias genicas Em 2012 a Genethon torna-se a primeira

organizaccedilatildeo natildeo governamental a receber autorizaccedilatildeo para ser fabricante de produtos farmacecircuticos De acordo com o site da

AFM Com a Geacuteneacutethon BioProd o laboratoacuterio AFM-Telethon tem a maior capacidade de medicamentos para a terapia geacutenica

no mundo Da prova de conceito de desenvolvimento cliacutenico e em conformidade com as Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo (BPF)

22

principalmente da Induacutestria da AFM e da Comissatildeo Europeia Foi uma das principais

responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act na Uniatildeo Europeia e estaacute presente em todos

os assuntos que envolvem as doenccedilas raras na regiatildeo Assim como essa associaccedilatildeo possui

objetivos muito distintos de outras associaccedilotildees que lidam nas aacutereas da sauacutede e ateacute mesmo no

campo das doenccedilas raras enquadraacute-las em uma mesma denominaccedilatildeo como Organizaccedilotildees de

Pacientes parece natildeo ser a melhor opccedilatildeo

Diante de um quadro tatildeo disperso e para um estudo que assuma um posicionamento

diferente daqueles que existem no momento neste trabalho transponho a barreira das

associaccedilotildees e o olhar exclusivo para o resultado das associaccedilotildees na sociedade ou seja para o

seu ldquolado de forardquo A partir do interior das associaccedilotildees como militante dirigente de uma

associaccedilatildeo pai de uma crianccedila com uma doenccedila rara e acadecircmico tento abrir as suas portas

natildeo somente para expor as motivaccedilotildees que encontrei em diferentes pessoas e momentos de

militacircncia como tambeacutem sinalizar que as associaccedilotildees satildeo diferentes na sua proacutepria formaccedilatildeo

e na relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica Desta maneira neste artigo resgato parte de minha

dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada agrave Universidade de Coimbra e estruturada a partir de uma

observaccedilatildeo ldquoauto-etnograacuteficardquo agrave frente de uma associaccedilatildeo de doenccedilas raras a AMAVI9 e

entrevistas com dirigentes de Associaccedilotildees Civis de apoio aos pacientes com Neurofibromatose

uma doenccedila rara

Em busca da motivaccedilatildeo

Novas (2006) com base nos estudos das atividades realizadas pelas associaccedilotildees das doenccedilas

raras de Pseudoxanthoma Elasticum (PXE) e de Canavan nos Estados Unidos afirma que as

atividades destas associaccedilotildees e de outras sob o mesmo cariz alteraccedilatildeo geneacutetica e rara satildeo

baseadas na esperanccedila dos pacientes10 em conseguirem a cura para as doenccedilas A vida dessas

pessoas eacute pautada pela esperanccedila que melhores dias viratildeo Assim as melhorias futuras

dependem da forma como as suas accedilotildees satildeo realizadas no presente ldquoAleacutem disso a esperanccedila eacute

individual e coletiva ela une biografias pessoais esperanccedilas coletivas para um futuro melhor

e os processos sociais econocircmicos e poliacuteticos mais amplos (Novas 2006 291) O autor cunha

o termo ldquoA Economia poliacutetica da esperanccedilardquo11 como uma forma de ativismo que aquelas

associaccedilotildees utilizam para influenciarem e modificarem as biopoliacuteticas12 por meio dos pacientes

que se engajam na promoccedilatildeo da sauacutede bem-estar individual e geral Esses pacientes contribuem

diretamente natildeo soacute para a produccedilatildeo de conhecimento mas tambeacutem para capitalizaccedilatildeo dos

recursos para a biomedicina A partir das atividades realizadas pelas associaccedilotildees o autor

descreve a Economia poliacutetica da esperanccedila em trecircs dimensotildees a) a promoccedilatildeo da sauacutede e bem

estar como um ato poliacutetico que contribui para o aumento do entendimento sobre a doenccedila e faz

com que as associaccedilotildees passem natildeo soacute a influenciar as pesquisas meacutedicas como tambeacutem a

alterar o contexto em que estatildeo inseridas b) o investimento financeiro que as organizaccedilotildees

realizam no desenvolvimento de pesquisas em busca da cura ou tratamento eacute uma forma

que recebeu o Prix Galien France 2012 fortalece sua posiccedilatildeo como liacuteder mundial no domiacutenio das bioterapias para doenccedilas

raras Eacute o primeiro laboratoacuterio de uma associaccedilatildeo civil sem fins lucrativos que obteacutem esse status de estabelecimento

farmacecircutico de acordo com a lei de 22 de Marccedilo de 2011httpwwwafm-telethoncomnewsgenethon-the-french-afm-

telethon-laboratory-becomes-the-first-not-for-profit-to-obtain-authorization-from-ansm-to-be-a-pharmaceutical-

manufacturerhtml 9 Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria wwwamaviorg 10 Relembrando que para esse ator como para outros o paciente natildeo se trata da pessoa doente mas de outros que possuem

contato com a doenccedila Em especiacutefico neste estudo o paciente eacute entendido com osas paismatildees das crianccedilas que sofrem com

essas doenccedilas 11 Traduccedilatildeo livre de Political economy of hope 12 Para biopoliacutetica o autor utiliza os argumentos de Foucault (1978) como o termo para significar a entrada da vida no campo

da poliacutetica

23

especiacutefica de capitalizaccedilatildeo do sangue tecidos e DNA13 c) a esperanccedila que os pacientes

investem na ciecircncia possui uma dimensatildeo normativa uma vez que contribui para a elaboraccedilatildeo

de normas para a forma como as pesquisas devem ser conduzidas e como os benefiacutecios

terapecircuticos e econocircmicos devem ser distribuiacutedos Outra contribuiccedilatildeo do texto eacute o

reconhecimento que grande parte das pessoas que se engajam nos desafios da biomedicina satildeo

brancos da classe meacutedia escolarizados e com grande capacidade de mobilizaccedilatildeo nas redes

sociais seja pessoalmente ou por meio da internet Acresce a essas caracteriacutesticas o fato da

lideranccedila das mulheres ser uma constante14

A perspectiva de Novas eacute interessante porque (1) aponta para as diferentes formas de

atuaccedilatildeo das associaccedilotildees e (2) sinaliza a conflitualidade vivida pelos pacientes quanto realizam

as suas accedilotildees no presente pautadas pelos sentimentos futuros Mas como abordado no iniacutecio

deste artigo possui a limitaccedilatildeo de buscar esquadrinhar o ldquolado de forardquo das associaccedilotildees O

enredo criado pelo autor eacute o mesmo que outros utilizam quando estudam as associaccedilotildees do

campo das doenccedilas raras Conforme Rabeharisoa e colegas

[hellip] uma seacuterie de estudos tecircm-se centrado em como e em quecirc as organizaccedilotildees de paciente os usuaacuterios e

grupos de ativistas intervecircm na criaccedilatildeo e monitoramento das poliacuteticas de sauacutede [] os estudos estatildeo

preocupados principalmente com a representatividade dessas organizaccedilotildees e grupo bem como o seu poder

de lobby vis-agrave-vis junto agraves instituiccedilotildees (Rabeharisoa et al 2013 6)

As associaccedilotildees para doenccedilas raras fundam-se sobre um quadro de falta de informaccedilatildeo

generalizada e os pacientes (pessoas com diagnoacutestico familiares ou outros interessados)

assumem a responsabilidade por conseguirem encontrar por meios proacuteprios o que procuram

O proacuteprio Novas confirma esse entendimento ao fazer um breve relato da constituiccedilatildeo das

associaccedilotildees que fazem parte de seus estudos e ndash ao concluir que o iniacutecio das associaccedilotildees

somente foi possiacutevel pelo envolvimento dos pais das crianccedilas em sua constituiccedilatildeo ndash consolida

a percepccedilatildeo de que a rotina familiar eacute alterada pelo diagnoacutestico da doenccedila O momento do

diagnoacutestico eacute significativo porque apresenta aos pacientes uma realidade que natildeo eacute a deles ou

no melhor dos casos uma que natildeo conseguem entender e os profissionais de sauacutede natildeo

conseguem explicar

[quando a associaccedilatildeo recebe algum contato haacute a preocupaccedilatildeo] se as palavras estatildeo sendo bem usadas porque

eacute muito perigoso eacute muito perigoso como vamos usar as palavras como vamos falar com familiares de

portadores Satildeo pessoas que estatildeo sofrendo muito satildeo pessoas que estatildeo pedindo socorro satildeo pessoas

desesperadas satildeo pessoas completamente fora do meio delas estatildeo sendo satildeo excluiacutedas exclusatildeo total

(Entrevistado 3 sublinhado nosso)

A perspectiva de Novas sobre o desdobramento do sentimento de esperanccedila sobre as accedilotildees

dos paismatildees eacute ateacute certo ponto verdadeiro Contudo sinalizar que esse sentimento eacute

predominante agraves associaccedilotildees que lidam com as doenccedilas consideradas raras reforccedila a visatildeo

poeacutetica predominante e minimiza as proacuteprias dificuldades e carga de medo que recai sobre

aqueles que assumem a responsabilidade por atuar no campo No caso dos pais e matildees o medo

13 Nas duas associaccedilotildees apresentadas pelo autor os fundadores pais e matildees de crianccedilas diagnosticadas com a doenccedila

incentivam a participaccedilatildeo dos pacientes nos procedimentos de doaccedilatildeo de sangue tecidos e DNA para desenvolvimento das

pesquisas Ambas possuem atenccedilatildeo especial na guarda dos dados dos pacientes A associaccedilatildeo de PXE conseguiu posicionar-se

como coordenadora dos esforccedilos entre os diversos pesquisadores laboratoacuterios autoridades e pacientes para o desenvolvimento

da pesquisa e manteacutem o registro dos pacientes com a Associaccedilatildeo A associaccedilatildeo de Canavan estaacute em disputa com os

pesquisadores ldquosobre como os benefiacutecios terapecircuticos e econoacutemicos derivados da pesquisa biomeacutedica devem ser distribuiacutedos

entre aqueles que participaram e contribuiram para a empresa de pesquisa biomeacutedicardquo (Novas 2006 298) A formaccedilatildeo e guarda

de dados dos pacientes visa a constituiccedilatildeo dos Biobancos 14 Essa caracteriacutestica pode ser percebida pela maciccedila presenccedila das mulheres nos encontros de associaccedilotildees em diferentes

contextos conforme citado por um dos entrevistados ldquona carta que eu fiz para vocecirc eu falei assim [O nome de Maria Vitoacuteria

para uma associaccedilatildeo eacute muito importante significa] as Marias de muitas vitoacuterias ou as vitoacuterias das muitas Marias porque satildeo

matildees [a frente das associaccedilotildees] de um modo geral As exceccedilotildees satildeo poucas []rdquo

24

refere-se ao periacuteodo de vida da crianccedila que de maneira repentina se descobre ser menor que o

esperado fazendo com que passem a conviver com um cronoacutemetro imaginaacuterio Atrelado ao

cronocircmetro haacute a preocupaccedilatildeo sobre como seraacute a aceitaccedilatildeo das dificuldades de sua crianccedila pela

sociedade como a crianccedila teraacute suporte na falta de um ou de ambos os responsaacuteveis e como seraacute

a reaccedilatildeo da famiacutelia no momento de necessidade Vencido o medo a coragem eacute o sentimento

que os paismatildees encontram para conseguir buscar as formas de poder ajudar osas seusuas

filhosas e ateacute de iniciar a contestar os profissionais de sauacutede A resignaccedilatildeo combina com a

consciecircncia que apesar de todos os esforccedilos que possam realizar a uacutenica forma de poder ajudar

suas crianccedilas eacute a promoccedilatildeo de sua qualidade de vida E por fim a frustraccedilatildeo e o sentimento de

culpa em imaginar que foram os responsaacuteveis por transmitir a doenccedila em forma de sofrimento

para as suas crianccedilas eacute o sentimento que embala os seus sonos sob a questionamento do

Porquecirc Muitos sentimentos satildeo motivadores para a criaccedilatildeo das associaccedilotildees Seguramente a

esperanccedila eacute um deles contudo natildeo eacute o sentimento prevalecente ou norteador das accedilotildees dos

familiares e pacientes

O argumento de Novas sobre a busca da cura eacute fraacutegil Apesar de citar que as associaccedilotildees

buscam a cura ou o tratamento enfatiza que a busca da cura eacute o fator mobilizador dos esforccedilos

das associaccedilotildees Todavia ao trazermos o entendimento sobre a impossibilidade de cura15 para

as doenccedilas geneacuteticas eacute mais prudente observar que as associaccedilotildees direcionam suas atividades

em busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas dado que os remeacutedios natildeo satildeo

desenvolvidos para a cura mas para impedir o avanccedilo da doenccedila ou paralisar os seus sintomas

Com a atenccedilatildeo em um futuro distante seja pela esperanccedila ou pela busca da cura o texto de

Novas deixa de perceber a atual complexidade que permeia o campo das doenccedilas raras

Por outra perspectiva sobre as formas de organizaccedilatildeo das associaccedilotildees e reconhecendo a

complexidade ausente em Novas o texto de Vololona et al (2012)16 destaca-se como uma

amostra comparativa O texto refere-se a um estudo comparativo entre Franccedila e Portugal sobre

a forma de ativismo que as Organizaccedilotildees de Pacientes desenvolvem nos dois paiacuteses Os autores

fundamentam os argumentos para conceituarem a forma de ativismo colaborativo entre

pacientes e especialistas realizados pelas associaccedilotildees como um ldquoModelo Hiacutebrido Coletivordquo17

(MHC) Esse modelo tem duas caracteriacutesticas a constituiccedilatildeo de comunidades que alinham

pacientes e especialistas na ldquoguerra contra a doenccedilardquo e a combinaccedilatildeo de interesses entre os

especialistas e as POs na produccedilatildeo de conhecimento sobre as doenccedilas O MHC eacute portanto

diferente do modelo em que os pacientes deixam as questotildees de sauacutede como uma aacuterea exclusiva

do saber meacutedico ndash Modelo por Delegaccedilatildeo (MD)18 O texto apresenta as diferentes formas do

MHC e que diferem de um paiacutes para o outro

Em Franccedila o MHC assume quatro formas A primeira refere-se ao desenvolvimento de

mecanismos que auxiliam os pacientes a entender a doenccedila natildeo somente sobre os sintomas e

efeitos mas tambeacutem que tenham condiccedilotildees de se posicionarem em peacute de igualdade com os

profissionais de sauacutede Essa forma de atuaccedilatildeo eacute encontrada no trabalho da Associaccedilatildeo Mineira

de Neurofibromatose ndashAMANF ndash na divulgaccedilatildeo da sua cartilha ldquoAs Manchinhas da Marianardquo19

15 Como jaacute mencionado e corroborado pela Dra Karin Cunha especialista em Neurofibromatose que durante a palestra

realizada no Dia das Doenccedilas Raras em 2011 em Brasiacutelia esclareceu que pela questatildeo geneacutetica envolvida nas doenccedilas raras

ainda natildeo existe cura e continuamos longe de conseguir algo que possa modificar os genes alterados por cada doenccedila 16 The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases in French and Portuguese patientsrsquo organizations

engagement in research 17 Traduccedilatildeo livre de Hybrid Collective Model Apesar de acreditar que o termo mais adequado eacute Modelo Hiacutebrido de Ativismo

por dar um maior entendimento para o leitor a opccedilatildeo do uso literal da traduccedilatildeo pretende mitigar qualquer vieacutes que possa existir

em seu uso 18 Delegation Model 19 Essa cartilha apresenta todos os sintomas da doenccedila por meio de Cartoons de maneira didaacutetica sendo direcionada para os

familiares das crianccedilas Mas pelo cartoon tambeacutem conquista as crianccedilas Quando a minha filha com 5 anos conheceu esse

trabalho passou mais de uma semana com a cartilha para mostraacute-la na escola para famiacutelia e em todas as atividades que

participava Aleacutem da versatildeo impressa estaacute disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

25

Muitas vezes o aprofundamento dos pacientes nos estudos sobre a doenccedila faz com que se

tornem referecircncia para os proacuteprios profissionais de sauacutede

Entatildeo eu me senti eacute lisonjeada porque eles viam todo trabalho que eu fazia porque eu ajudei a ensinar

meacutedico eu ajudei a ajudar paciente [] ateacute os meacutedicos chegam a me procurar [] Eu levava para o Hospital

do Cacircncer estudava eu estudava o meacutedico mas o que estava escrito na literatura [] E a gente comeccedilou a

ver que com ano de 1996 que nem tudo estava escrito na literatura O da [] era um Mas por que Porque

ela tem uma mutaccedilatildeo geneacutetica E essa mutaccedilatildeo geneacutetica eacute diferente ela muda a patologia entendeu [] o

tumor dela jaacute cresceu em 4 meses 12 centiacutemetros taacute O tumor dela natildeo tinha na literatura agora eu acho que

jaacute tem a gente conseguiu ver isso no hospital do cacircncer com pesquisas (Entrevistado 1 sublinhado nosso)

A segunda forma faz referecircncia ao apoio financeiro para a realizaccedilatildeo de pesquisas Este

tipo de apoio eacute construiacutedo e resulta do alinhamento de interesses entre as associaccedilotildees de

pacientes e os grupos de pesquisa No Brasil isso ainda natildeo eacute realidade porque as Associaccedilotildees

natildeo conseguiram desenvolver os meios para garantir os recursos financeiros de maneira regular

A gente natildeo tem dinheiro porque a gente podia pedir para a famiacutelia para os associados 10 reais para cada um

[e ateacute pedimos por algum tempo][] Mas eu cheguei em uma fase que eu pensei natildeo tem condiccedilotildees de pedir

10 reais porque as vezes a pessoa natildeo tem dinheiro para vir aqui em uma reuniatildeo no saacutebado por causa de

dinheiro (Entrevistado 1)

Quem faz parte da associaccedilatildeo Os pobres No maacuteximo classe meacutedia classe meacutedia baixa Quem vai no nosso

centro de referecircncia de neurofibromatose Os pobres classe meacutedia baixa [o rico] senta ali o cara ali do lado

com vitligo outro com lesatildeo de pele outro com natildeo sei o quecirc Ele olha ele assim no banco de madeira

serviccedilo puacuteblico Ou ele vai acreditar em mim que atende ali e fala que ele natildeo precisa fazer ressonacircncia

magneacutetica ou ele vai ao consultoacuterio do neurologista que ele paga 300 reais a consulta mesa de blindex duas

secretaacuterias muacutesica ambiente consulta por natildeo sei o quecirc mesa para poder ver a ressonacircncia jalecatildeo com

siacutembolo aqui de bacana da faculdade Em quem acredita No velhinho laacute do SUS ou no Dr neurologista Aiacute

vocecirc natildeo tem dinheiro nessa associaccedilatildeo porque vocecirc soacute tem pobre laacute Natildeo tem ningueacutem para doar

ningueacutem eacute amigo de empresaacuterio (Entrevistado 2)20

Pessoas com poder aquisitivo baixiacutessimo que quebram seu cofrinho para vir de ocircnibus participar da reuniatildeo

e contar seus problemas e choram tem os fibromas (Entrevistado 3)

A posiccedilatildeo social do paciente tende a influenciar a forma como ele se relaciona com a

associaccedilatildeo Relembrando Novas (2006) as pessoas que participam nas POs satildeo

essencialmente da classe meacutedia e possuem grande poder de mobilizaccedilatildeo Na realidade

brasileira enquanto os indiviacuteduos da classe meacutedia ao envolverem-se com uma associaccedilatildeo

optam por fazer parte da diretoria corpo dirigente ou na fundaccedilatildeo da entidade os indiviacuteduos

que buscam o apoio a orientaccedilatildeo e participam das reuniotildees satildeo na sua maioria oriundos de

classes sociais mais baixas

Em terceiro lugar estaacute a realizaccedilatildeo de accedilotildees para abordagem de novos temas e levar alguns

assuntos para fora do campo restrito da biomedicina Neste formato as associaccedilotildees tendem a

agir de forma transversal e em busca da melhoria do cuidado para o paciente Nesse quadro em

especiacutefico pode-se citar a percepccedilatildeo de um crescimento sobre o debate da vinculaccedilatildeo das

doenccedilas raras com as deficiecircncias Apesar de ser uma tentativa de melhoria real da qualidade

de vida do doente e distante da manipulaccedilatildeo de medicamentos pode natildeo gerar resultados devido

ao proacuteprio contexto do campo da deficiecircncia A vinculaccedilatildeo em si tambeacutem gera um intenso

debate natildeo soacute pela dificuldade de se encontrar um entendimento comum que define o que eacute uma

doenccedila rara como tambeacutem em responder agrave pergunta Se a maioria das doenccedilas raras possuem

20 Essa entrevista abordou a discriminaccedilatildeo das pessoas face aos serviccedilos puacuteblicos O que eacute exposto pelo entrevistado faz parte

dos fundamentos do complexo social-industrial como uma alianccedila entre o Estado e o capital privado no qual os serviccedilos

ofertados pelo Estado satildeo de baixa qualidade ldquoEsta divisatildeo da produccedilatildeo eacute essencial ao capital privado quer porque reserva

para si as produccedilotildees lucrativas quer porque ajuda a perpetuar a ideia de que o Estado eacute incompetente como produtor de

bens e serviccedilosrdquo (Santos e Hespanha 1987 30 sublinhado nosso)

26

causas geneacuteticas e portanto a pessoa nasce com ela qual o momento que poderaacute utilizar o

status da deficiecircncia ao nascer ou somente na manifestaccedilatildeo dos sintomas

A quarta forma refere-se ao envolvimento das POs na produccedilatildeo de conhecimento definiccedilatildeo

de protocolos e procedimentos de pesquisa Para os autores ldquoo quarto modo de envolvimento

entra na caixa preta do complexo mecanismo bioloacutegico e que ainda eacute desconhecido e permanece

por ser exploradordquo (Rabeharisoa et al 2012 16)

Relativamente a Portugal percebeu-se que as associaccedilotildees estatildeo entre o MHC e o MD

Influenciadas pelas accedilotildees da EURORDIS foram criadas duas associaccedilotildees nacionais a APDR

ndash Alianccedila Portuguesa de Doenccedilas Raras ndash e a Rariacutessimas Essa juntamente com outras

associaccedilotildees fundou a FEDRA ndash Federaccedilatildeo Portuguesa de Doenccedilas Raras21 De acordo com

Rabeharisoa et al (2012) uma das razotildees para a fundaccedilatildeo de duas associaccedilotildees com modelos

de accedilatildeo diferentes foi justamente o (des)entendimento sobre a percepccedilatildeo de doenccedilas raras que

fez a APDR dirigir as suas accedilotildees para algo mais proacuteximo ao MHC Aleacutem da diferenccedila na forma

de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees francesas em Portugal o atendimento aos pacientes e familiares

possui o suporte psicoloacutegico e a autoajuda como prioridades Natildeo possuem interesse de

participar em pesquisas ou pelo menos o interesse das associaccedilotildees de doenccedilas raras natildeo difere

da grande maioria das associaccedilotildees que tratam de doenccedilas ldquonatildeo-rarasrdquo

No caso brasileiro a relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica em geral eacute vista como ldquoum

ramo meio perigosordquo (Entrevistado 3) As investidas da induacutestria sobre as associaccedilotildees satildeo

conhecidas por todas as pessoas envolvidas no campo das doenccedilas raras e o seu interesse sobre

as associaccedilotildees natildeo eacute uniforme e muito menos possui os mesmos objetivos O caso da

Neurofibromatose ndash NF eacute exemplar Mesmo natildeo tendo uma medicaccedilatildeo especiacutefica que paralise

os avanccedilos da doenccedila todos os entrevistados afirmaram que haacute uma grande procura da induacutestria

pelos pacientes mas muitas vezes o interesse natildeo estaacute relacionado em ajudar o paciente ou a

busca de informaccedilotildees sobre a doenccedila mas de fazer do paciente um meio para se conseguir as

respostas para outras perguntas

Eacute como se fosse um rato de laboratoacuterio Vocecirc faz um camundongo geneticamente modificado para estudar e

para poder aplicar nos pacientes O rato vocecirc natildeo estaacute interessado nele Estou fazendo uma comparaccedilatildeo

grosseira meio caricatural mas que eacute mais ou menos isso Quer dizer Opa NF1 eacute o modelo estudado de

doenccedila geneacutetica com a cadeia metaboacutelica da reproduccedilatildeo da divisatildeo e multiplicaccedilatildeo celular que se quer

entender para tratar os cacircnceres Soacute que na verdade quando vocecirc abre o mapa dos processos metaboacutelicos

celulares eacute um verdadeiro universo e as proteiacutenas ligadas agrave neurofibromina e agrave mielina satildeo parte desse

processo Entatildeo eles querem dizer assim Olha seraacute que se noacutes controlarmos aqui seraacute que a gente mexe

no cacircncer laacute na ponta Entatildeo eu acho que haacute um interesse dos laboratoacuterios porque eles estatildeo pensando

em outra coisa natildeo estatildeo pensando na doenccedila (Entrevistado 2 sublinhado nosso)

A NF possui um contexto diferente de outras doenccedilas porque natildeo eacute o produto final da

medicaccedilatildeo e por seus sintomas acontecerem de diferentes maneiras a sua manifestaccedilatildeo eacute

motivo de grande discriminaccedilatildeo pela sociedade familiares e ateacute profissionais de sauacutede22

O olhar acorrentado da sociedade para noacutes eacute perturbador Eacute a discriminaccedilatildeo inclusive no meio meacutedico Noacutes

sabemos de casos que a pessoa com a Neurofibromatose chegando no consultoacuterio do SUS o meacutedico colocou

luvas de procedimento porque viu aquela pessoa cheia de neurotumores neurofibromas no rosto foi

colocado luva de procedimento O portador de Neurofibromatose ele eacute excluiacutedo da sociedade a niacutevelhellip em

todos os niacuteveis em todos os segmentos da sociedade (Entrevistado 3 sublinhado nosso)

21 APDR - httpapnptapn httpwwwrarissimaspt httpfedrapt 22 O cuidado que o profissional de sauacutede deve ter ao tratar pacientes que possuem uma situaccedilatildeo fragilizada desde a sua infacircncia

muitas vezes eacute substituiacutedo pela total falta de informaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Um fato contado por uma paciente de NF ex-diretora

da AMAVI eacute que ao recusar o pedido para fazer parte de uma pesquisa o questionamento do meacutedico foi simples direto e

totalmente avesso ao cuidado ldquoMas porquecirc Vai virar um monstro mesmordquo

27

Para o paciente a NF impacta na sua proacutepria identidade Isso faz com que a melhoria da

qualidade de vida seja fundamental nas atividades das associaccedilotildees e a luta contra o preconceito

inclusive para a proacutepria aceitaccedilatildeo da doenccedila pelo paciente faz parte desta melhoria

Em uma outra realidade diferente da NF haacute um grande envolvimento entre as associaccedilotildees

civis e a induacutestria Esse envolvimento eacute percebido notadamente nas associaccedilotildees que lidam com

as doenccedilas que possuem medicamentos especiacuteficos ou que podem desenvolver accedilotildees de

interesse da induacutestria nomeadamente os trabalhos de advocacy Essa disparidade gera uma

situaccedilatildeo perversa As Associaccedilotildees que possuem medicaccedilatildeo especiacutefica mesmo para doenccedilas

consideradas ultra-raras tecircm mais recursos e condiccedilotildees de agir que aquelas onde o nuacutemero de

pacientes eacute maior mas ainda natildeo haacute medicaccedilatildeo disponiacutevel

As associaccedilotildees de pacientes em Portugal conforme o trabalho posicionam-se entre o

caminho do Modelo por Delegaccedilatildeo e o Modelo Hiacutebrido Coletivo porque natildeo utilizam a

integralidade do MD o qual a ideia da coletividade eacute excluiacuteda e nem do MHC que se

caracteriza pela formaccedilatildeo de uma comunidade baseada na combinaccedilatildeo entre competecircncias e

prerrogativas Diferente do que ocorre em Franccedila o MHC em Portugal natildeo estaacute vinculado ao

criteacuterio de raridade e aleacutem disso quando as associaccedilotildees optam por utilizarem este modelo ldquoeles

rejeitam claramente a condiccedilatildeo de rara como um criteacuterio que justifica as suas escolhasrdquo

(Rabeharisoa et al 2012 21)23

De acordo com o disposto o conceito de MHC construiacutedo a partir dos estudos sobre a

forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees civis caracteriza-se pela formaccedilatildeo de comunidades que

promovem a cooperaccedilatildeo entre os pacientes especialistas e associaccedilotildees de pacientes para a

produccedilatildeo de conhecimento e desenvolvimento de pesquisas Eacute portanto uma relaccedilatildeo em que

os pacientes posicionam-se como ldquoexperts pela experiecircnciardquo ou ldquopacientes especialistasrdquo

detentores do poder de influenciar os mecanismos para o melhor tratamento e melhoria da

qualidade de vida

Na Franccedila por exemplo a AFM criada em 1958 participou activamente na investigaccedilatildeo para pocircr fim ao

que chamou de o ciacuterculo vicioso da ignoracircncia e indiferenccedila (Paterson amp Barral 1994 Rabeharisoa amp

Callon 1999 Rabeharisoa amp Callon 2004 ) Ele foi fundamental para a invenccedilatildeo do MHC que se consolidou

ao longo dos anos 1980 e 1990 e na criaccedilatildeo da Alianccedila Francesa Maladies Rares e de EURORDIS Ele

contribuiu para o desenvolvimento de laccedilos fortes tanto em Franccedila como noutros paiacuteses europeus entre a

causa de doenccedilas raras e a criaccedilatildeo do MHC (Rabeharisoa et al 2012 5)

Como as associaccedilotildees de pacientes com doenccedilas raras formam o tecido que define o MHC

e considerando que a proacutepria definiccedilatildeo de doenccedilas raras possui grande influecircncia dessas

associaccedilotildees principalmente da Eurordis eacute interessante observar que haacute motivaccedilotildees que

passaram ao largo do MHC e que geram problemas para os proacuteprios pacientes Um deles eacute a

definiccedilatildeo de doenccedilas raras O criteacuterio estatiacutestico utilizado pela Eurordis (para a Europa eacute

considerara rara aquela doenccedila que alcanccedila 1 em cada 2000 nascidos) eacute um problema ainda a

ser resolvido Ele eacute utilizado como uma ferramenta para conseguir principalmente sensibilizar

o Estado para a necessidade de desenvolver poliacuteticas que favoreccedilam a comercializaccedilatildeo de

medicamentos Somente pela definiccedilatildeo ldquoobjetivardquo da prevalecircncia eacute possiacutevel criar criteacuterios

estatiacutesticos sobre a populaccedilatildeo que podem ser usados em dois sentidos O da singularidade para

demonstrar que a doenccedila natildeo eacute comum e faz com que a realidade vivida pelo doente e seus

familiares seja de difiacutecil conhecimento uma vez que impacta 1 em cada 2000 nascidos e o da

generalidade24 quando haacute a partilha da doenccedila com outros indiviacuteduos que utilizando o mesmo

23 Semelhante ao que aconteceu em Portugal representantes da Fedra e da Rariacutessimas a partir de 2012 comeccedilam a influenciar

as associaccedilotildees que tratam de doenccedilas raras no Brasil E como aconteceu em Portugal essa aproximaccedilatildeo impacta natildeo soacute no

distanciamento entre as associaccedilotildees nacionais como tambeacutem na mudanccedila da forma de atuaccedilatildeo daquelas que se vinculam a

associaccedilatildeo portuguesa passando a assumir um formato muito mais aberto ao mercado e na busca por captaccedilatildeo de pacientes 24 Vololona et al (2012) realizam uma abordagem mais aprofundada sobre singularizaccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

28

dado estatiacutestico chega a 2000 pessoas vivendo com a mesma situaccedilatildeo de exclusatildeo

discriminaccedilatildeo e falta de tratamento Conhecendo portanto o tamanho da populaccedilatildeo eacute faacutecil

chegamos ao total de pessoas afetadas Outro problema refere-se ao paciente alargado Apesar

dos responsaacuteveis pelo doente e outras pessoas poderem ser somados agraves estatiacutesticas por

sofrerem com o diagnoacutestico da doenccedila devido agrave falta de informaccedilatildeo a ideia do paciente

alargado (pais matildees e demais interessados) deve ser refutada uma vez que acoberta aquele que

sofre os sintomas da doenccedila o proacuteprio paciente Com tal refutaccedilatildeo pretende-se voltar a atenccedilatildeo

natildeo somente para o paciente mas tambeacutem identificar a rede de apoio agrave sua volta que tem como

sentimento baacutesico o amor que faz os seus familiares lanccedilarem-se em uma ldquopesquisa na selvardquo

dentro da perspectiva colocada por (Callon e Rabeharisoa 2003) E por fim a identificaccedilatildeo

dos laccedilos que tentam ser captados pelo uso da ideia alargada de paciente deve ser realizada sob

a perspectiva de Epstein (2008) quando declara que opta por dar atenccedilatildeo as conexotildees que essas

associaccedilotildees influenciam e satildeo influenciadas

Eu prefiro seguir tanto os analistas e os atores para cada vez mais pensar fora da caixa de grupos de

pacientes no sentido estrito do termo de forma a desenhar conexotildees bem como contrastes em uma ampla

variedade de casos (Epstein 2008 504)

As formas de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees

As abordagens sobre as Associaccedilotildees Civis que atuam no campo das doenccedilas raras natildeo facilitam

o entendimento sobre a influecircncia que a induacutestria exerce sobre elas Uma das principais

interessadas no desenvolvimento de accedilotildees para a regulamentaccedilatildeo dos medicamentos para

doenccedilas raras a induacutestria possui envolvimento tanto com associaccedilotildees civis e profissionais de

sauacutede quanto com agentes do governo Para atingir o seu puacuteblico e gerar accedilotildees que favoreccedilam

a aprovaccedilatildeo de seus medicamentos frequentemente realizam eventos especiacuteficos para os

medicamentos ldquooacuterfatildeosrdquo25 Assim aleacutem do poder financeiro jaacute conhecido que exercem sobre o

governo e profissionais da sauacutede a grande influecircncia no proacuteprio direcionamento das atividades

das associaccedilotildees civis leva alguns cientistas sociais a questionarem se ldquoas associaccedilotildees de

pacientes satildeo Cavalos de Troia do neoliberalismordquo (Rabeharisoa 2008) Essa pergunta ainda

natildeo possui uma resposta conclusiva mas os caminhos que satildeo traccedilados no campo das doenccedilas

raras por algumas associaccedilotildees sinalizam uma tendecircncia afirmativa para a questatildeo

Aleacutem dos estudos que ainda natildeo conseguem fornecer uma conclusatildeo para o cruzamento de

interesses entre as associaccedilotildees de pacientes e a induacutestria muitos deles atribuem caracteriacutesticas

semelhantes de atuaccedilatildeo para associaccedilotildees que possuem interesses e objetivos muito distintos

reforccedilando a confusatildeo construiacuteda sobre o campo das doenccedilas raras Como o jaacute citado caso do

paciente alargado que faz da proacutepria pessoa que sofre os sintomas da doenccedila um ser invisiacutevel

uma vez que em muitos casos natildeo eacute ouvida e acaba por se tornar uma peccedila adjacente agraves

discussotildees que ao fim e ao cabo o transformam em um ldquoapecircndicerdquo da medicaccedilatildeo

Diante de um quadro generalizante eacute preciso uma nova concepccedilatildeo para as associaccedilotildees civis

de doenccedilas raras de forma a ser possiacutevel clarear os interesses em jogo porque

1 A relaccedilatildeo doenccedila = medicamento26 esconde as necessidades dos pacientes Tendo a

doenccedila rara uma necessidade de acompanhamento multidisciplinar e que impacta em outros

25 O termo oacuterfatildeo eacute utilizado pela induacutestria farmacecircutica para designar os medicamentos destinados para um pequeno nuacutemero

de pessoas Incialmente vistos como produtos natildeo rentaacuteveis nos uacuteltimos a induacutestria apercebeu-se do seu valor de mercado

Atualmente eacute um setor bastante competitivo dominado pelas grandes empresas farmacecircuticas da Europa e dos EUA

destacando-se Shire Sanofi Genzyme e Novartis A rentabilidade desses medicamentos eacute considerada maior que a dos

medicamentos ldquonatildeo-oacuterfatildeosrdquo Como pode ser visto pelo Orphan Drug Report 2013 disponiacutevel nesta reportagem

httpwwwfiercepharmacomspecial-reportstop-20-orphan-drugs-2018 26 Essa relaccedilatildeo eacute fortemente influenciada pela induacutestria farmacecircutica principalmente quando comeccedilam a denominar as doenccedilas

raras como doenccedilas oacuterfatildes Aleacutem dessa formataccedilatildeo deliberada que se extende ateacute o indiacuteduo como para cada pessoa com doenccedila

rara haacute uma rentabilidade atrelada os encontros realizados para as associaccedilotildees de doenccedilas raras independente do paiacutes sempre

29

campos como a construccedilatildeo da identidade luta contra o preconceito e a construccedilatildeo da cidadania

o tratamento medicamentoso eacute apenas uma parte de todo o tratamento

2 O foco nos medicamentos oacuterfatildeos faz do paciente a resposta para o lucro Quando haacute o

trabalho para implementaccedilatildeo de uma poliacutetica especiacutefica baseada em conceitos equivocados os

dados estatiacutesticos de incidecircncia natildeo baseados em estudos estruturados e a concepccedilatildeo de que a

induacutestria natildeo tem interesse em desenvolver remeacutedios para doenccedilas raras faz com que o paciente

se torne no meio pelo qual as empresas alcanccedilam os seus lucros

3 A ideia da simbiose entre o medicamento e a doenccedila oacuterfatilde esconde a pessoa A

desconstruccedilatildeo dessa ideia torna-se urgente para colocar o paciente no centro das discussotildees e

fazer com que sejam produzidas as respostas adequadas agraves necessidades existentes Eacute preciso

olhar a pessoa e natildeo a doenccedila

4 A loacutegica neoliberal de exploraccedilatildeo do homem suplanta as necessidades do cuidado A

utilizaccedilatildeo do termo organizaccedilatildeo refere-se a instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas mais as privadas

que as puacuteblicas que possuem os seus proacuteprios ditames e filosofias de trabalho Sendo a

associaccedilatildeo civil uma reuniatildeo de indiviacuteduos ao chamaacute-las de organizaccedilotildees os laccedilos que satildeo

(re)construiacutedos entre as pessoas quase que diariamente satildeo substituiacutedos pela loacutegica da

hierarquizaccedilatildeo e produccedilatildeo27 A utilizaccedilatildeo do termo associaccedilatildeo deixa evidente que se trata de

uma associaccedilatildeo da sociedade civil delimita o campo para fora da influecircncia do capital e passa

a inverter a loacutegica encontrada por Rabeharisoa e Callon (apud Epstein 2008) quando

perceberam que muitas das associaccedilotildees possuem grandes similaridades com organizaccedilotildees

empresariais

5 A construccedilatildeo de uma identidade do Raro eacute um assalto agrave cidadania Percebe-se que no

Brasil haacute uma intenccedilatildeo de criar a identidade do Raro Desta maneira em muitos discursos e

eventos para a comunidade comeccedilamos a perceber o crescente uso do termo Raroa(s) para

identificar o paciente a famiacutelia e toda a comunidade Tendo como fundamento Giddens (2002)

o eu eacute construiacutedoreconstruiacutedo por processos psicoloacutegicos que ajudam a (re)organizaccedilatildeo do eu

para o futuro As vivecircncias que temos no nosso passado ajudam o nosso posicionamento no

futuro Portanto forccedilar a aceitaccedilatildeo do raro como identidade eacute o mesmo que tirar a pessoa da

construccedilatildeo de um cidadatildeo ativo para inseri-lo numa condiccedilatildeo de diferenccedila exclusatildeo e ainda

centrado na doenccedila

6 Eacute necessaacuterio a apropriaccedilatildeo do Bios pelo social Apesar de todos os assuntos que satildeo

discutidos para esse tipo de associaccedilatildeo ter a forte influecircncia da biotecnologia em todos os

campos (cidadania socialidade valor banco etc) vincular as associaccedilotildees ao Bios sob a

perspectiva de Michel Foucault como a entrada da vida nos campos de saber tende a eliminar

a utilizaccedilatildeo de dados imprecisos como objetivos e consequentemente democratizar os debates

sobre as pesquisas bioloacutegicas

8 A identificaccedilatildeo da influecircncia da Biotecnologia como um assunto transversal A

evidenciaccedilatildeo de uma influecircncia comum e que natildeo seja focada no conceito de raras eacute relevante

para a consciencializaccedilatildeo aleacutem dos nuacutemeros e apoia a convergecircncia das accedilotildees para um campo

de atuaccedilatildeo comum entre todos uma vez que conforme Akrich et al (2008 234) A forma das

satildeo vinculados aos medicamentos oacuterfatildeos Um exemplo eacute o ICORD ndash International Conference on Rare Disease and Orphan

Drugs encontro anual com especialistas de diferentes partes do mundo Nesse sentido tambeacutem haacute o Consoacutercio Internacional

de Pesquisa em Doenccedilas Raras (IRDiRC) iniciado pela Comissatildeo Europeia e o Instituto Nacional para Pesquisa em Sauacutede dos

EUA em abril de 2011 para promover a colaboraccedilatildeo internacional na aacuterea das doenccedilas raras e atingir dois objetivos principais

entregar 200 novas terapias para as doenccedilas raras e os meios para diagnosticar doenccedilas mais raras ateacute o ano de 2020

httpeceuropaeuresearchhealthmedical-researchrare-diseasesirdirc_enhtml 27 O consenso que o termo Organizaccedilatildeo eacute da aacuterea empresarial pode ser colocado agrave prova num teste simples Ao inserir ldquodefine

organizationrdquo em um site de busca como o Google por exemplo o primeiro dicionaacuterio a aparecer eacute ligado aos negoacutecios

(Business Dictionary) Ao fazer o mesmo processo com ldquodefine associationrdquo o primeiro link refere-se a um dicionaacuterio livre

(The Free Dictionary) e o Business Dictionary da pesquisa anterior aparece em nono dos dez links da paacutegina

30

questotildees comuns natildeo eacute autoevidente A partilha de questotildees transversais natildeo existe

naturalmente Elas devem ser definidas trabalhadas e negociadas

A necessidade sobre a melhoria do entendimento do campo das associaccedilotildees de doenccedilas

raras e consequente melhor definiccedilatildeo para a sua atuaccedilatildeo eacute compartilhada por Rabeharisoa et al

(2013) ao proporem o uso do termo Evidecircncia baseada em ativismo para capturar todos os

grupos e ativistas que atuam no campo biomeacutedico O termo ainda pretende abrir o campo de

visatildeo para aleacutem das pesquisas biomeacutedicas e reconhece que a busca pela ldquocurardquo28 natildeo eacute o uacutenico

motivo que orienta os pacientes Desta maneira eacute um avanccedilo em relaccedilatildeo aos trabalhos que

standartizam as atividades das associaccedilotildees e imprimem as mesmas perspectivas para diferentes

contextos

Uma vez que a forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees influencia inclusive a sua relaccedilatildeo com

a induacutestria perceber as atividades para a sociedade com a motivaccedilatildeo como pano de fundo

auxilia-nos a encontrar formas diferentes de accedilatildeo Desta maneira as atividades das associaccedilotildees

podem ser agrupadas em trecircs eixos que aqui denomino como o do advocacy da garantia de vida

e da qualidade de vida Esta tipificaccedilatildeo possui o objetivo de explicitar a diferenciaccedilatildeo entre as

associaccedilotildees e natildeo criar rigidificaccedilotildees para um campo que ainda carece de pesquisas sob uma

perspectiva diferente da que encontramos na atualidade

O eixo do Advocacy possui uma frente voltada para a mobilizaccedilatildeo da comunidade e outra

para a sensibilizaccedilatildeo do Estado Quanto maior a mobilizaccedilatildeo de pessoas para a causa das

doenccedilas raras maior seraacute a possibilidade de sensibilizar os agentes do Estado principalmente

nos poderes legislativo e executivo Considerando que o resultado das atividades relacionadas

com este eixo tem como uacuteltimo resultado a aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act o envolvimento

com a induacutestria eacute muito estreita Nesse eixo as associaccedilotildees utilizam os mesmos mecanismos

da governaccedilatildeo empresarial como a departamentalizaccedilatildeo das funccedilotildees visatildeo empresarial com a

definiccedilatildeo de visatildeo missatildeo valores e planejamento estrateacutegico comunicaccedilatildeo de massa e a

formaccedilatildeo de redes nacionais e internacionais visando a criaccedilatildeo de um problema global O foco

do mercado natildeo estaacute nos projetos que essas associaccedilotildees desenvolvem mas na sua influecircncia

que realizam junto ao Estado Certamente satildeo as associaccedilotildees que atuam neste eixo que

fomentam a duacutevida sobre a validade como cavalos de troacuteia do neoliberalismo Tanto a Eurordis

quanto a AFM possuem o eixo do advocacy como base de accedilatildeo

Na Garantia da vida encontram-se as associaccedilotildees que lidam com doenccedilas fatais ou que

diminuem a expectativa de vida de maneira significativa Dividem-se em a) garantia de vida

pela pesquisa satildeo aquelas que optam por natildeo se alinharem com as associaccedilotildees guarda-chuva

A princiacutepio desenvolvem suas atividades para conhecer a doenccedila Agrave partida comeccedilam pela

procura de cientistas que tenham ou estejam interessados em desenvolver pesquisas sobre a

doenccedila e passam a conhecer todos os sintomas da enfermidade A abrangecircncia de atuaccedilatildeo

depende da quantidade e qualidade de informaccedilotildees disponiacuteveis Por concentrarem as suas accedilotildees

em apenas uma doenccedila a capacidade de mobilizaccedilatildeo torna-se reduzida Contando largamente

com a participaccedilatildeo das mulheres na lideranccedila a relaccedilatildeo com a induacutestria eacute quase nula ou

potencialmente existente quando haacute o interesse no desenvolvimento de medicamento pela

induacutestria b) garantia de vida pelo medicamento satildeo as associaccedilotildees que dependem da

medicaccedilatildeo para a vida do paciente ser garantida ou o avanccedilo da doenccedila ser paralisado

Fortemente influenciadas pelas induacutestrias farmacecircuticas natildeo soacute na constituiccedilatildeo da associaccedilatildeo

como tambeacutem no direcionamento das suas atividades algumas vezes e dependendo da

disposiccedilatildeo dos dirigentes da associaccedilatildeo podem trabalhar como agentes de campo da induacutestria

para conseguir encontrar os pacientes para os seus medicamentos Possuem portanto o maior

28 O reconhecimento que as associaccedilotildees possuem mais motivaccedilotildees que a busca exclusiva pela cura ainda mais por ela natildeo

existir enriquece de maneira significativa a percepccedilatildeo sobre essas associaccedilotildees

31

alinhamento com o modo de produccedilatildeo capitalista na qual o paciente acaba sendo a mais valia

com o seu preccedilo vinculado ao valor do remeacutedio

Finalmente o uacuteltimo eixo eacute o da luta pela qualidade de vida Esse eixo tem a participaccedilatildeo

das associaccedilotildees que tratam com doenccedilas que natildeo possuem risco de morte mas possuem forte

fator de cronicidade com manifestaccedilotildees cliacutenicas evidentes que muitas vezes satildeo motivo de

discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Possuem grande foco na autoajuda e no apoio muacutetuo O

relacionamento com a induacutestria farmacecircutica eacute quase nulo ou de aversatildeo Natildeo por falta de

interesse da induacutestria mas pelo receio das associaccedilotildees serem utilizadas como ratos de

laboratoacuterio As accedilotildees deste eixo estatildeo mais centradas no trabalho com a sociedade e para

mostrar que a doenccedila eacute mais uma questatildeo social que individual

Conclusatildeo

Manter a percepccedilatildeo sobre as associaccedilotildees de doenccedilas raras focalizada nos resultados que

promovem na sociedade sem conhecer os pacientes ou as motivaccedilotildees que levam os pais matildees

ou os militantes a iniciar uma associaccedilatildeo civil eacute prosseguir ou ateacute mesmo incentivar o avanccedilo

do mercado sobre a sauacutede A anaacutelise das associaccedilotildees e a tipificaccedilatildeo de suas atividades

realizadas nesse trabalho baseiam-se conforme exposto por Epstein (2008) na necessidade de

criar uma anaacutelise na perspectiva do ativista em uma visatildeo de dentro do grupo de pacientes

sobre a negociaccedilatildeo vis-agrave-vis com a aacuterea Biomeacutedica Estado e Mercado Ao colocar as

motivaccedilotildees que gerem as associaccedilotildees civis para doenccedilas raras encontra-se uma gama de

interesses que muitas vezes deixam o paciente longe de qualquer discussatildeo A influecircncia da

biotecnologia e seu mercado assume um papel estruturante porque atua justamente na

reconfiguraccedilatildeo da influecircncia da biomedicina e do bios na ldquoredefiniccedilatildeo da vida e da sauacutede como

poliacuteticardquo (Felipe 2009)

Apesar do eixo da biotecnologia ser comum aos trabalhos desenvolvidos por diferentes

cientistas que estudam as associaccedilotildees de doenccedilas raras de partida natildeo haacute aqueles que se

dedicam em escrutinar a dimensatildeo do ldquobiosrdquo das associaccedilotildees Tomando o Bios dentro de uma

perspectiva foucaultiana como a luta pela vida ou melhor dizendo a entrada da vida nos

campos do (bio)poder da (bio)cidadania da (bio)poliacutetica (bio)socialidade e como

reconhecimento de uma forte influecircncia da biotecnologia a assimilaccedilatildeo radical do BIOs para o

contexto das associaccedilotildees pode facilitar o entendimento sobre as forccedilas que as influenciam e os

mecanismos que utilizam para alcanccedilarem os seus objetivos Ao mesmo tempo que reconheccedilo

a necessidade de realizar um estudo sistemaacutetico sobre o BIOs percebo os evidentes ldquosinaisrdquo

(Ginzburg 1989) que satildeo deixados no campo e que me levam a crer na necessidade da tomada

natildeo somente do BIOs como uma questatildeo social mas tambeacutem do termo BIOassociaccedilotildees como

uma necessidade identitaacuteria das associaccedilotildees civis que atuam no campo das doenccedilas raras

Como visto as BIOassociaccedilotildees satildeo criadas como uma resposta a falta de informaccedilotildees que

paismatildees ou pacientes encontram no campo das doenccedilas raras Apesar da esperanccedila em uma

melhoria futura ser uma de suas motivaccedilotildees as BIOassociaccedilotildees possuem como motor de

arranque o medo a coragem a resignaccedilatildeo e a frustraccedilatildeo que as pessoas experimentam quando

satildeo inseridas na realidade de uma doenccedila incuraacutevel Embaladas sob o manto do cuidado os

paismatildees dos pacientes com doenccedilas raras jogam-se em uma verdadeira ldquopesquisa na selvardquo

em busca de informaccedilotildees que podem ajudar as suas crianccedilas Se a informaccedilatildeo eacute mais importante

que o tratamento29 e a sua falta a origem de toda a anguacutestia pessoal que acaba por se tornar

num problema social cabe ao Estado organizar-se para que as suas informaccedilotildees sejam as

29 Durante quatro anos a enquete ldquoEm sua opiniatildeo o que possui o maior impacto negativo A falta de tratamento ou A falta de

informaccedilatildeordquo ficou disponiacutevel no site da AMAVI Durante esse periacuteodo 60 das respostas indicavam que a falta de

informaccedilatildeo gerava um impacto negativo maior que a falta de tratamento

32

primeiras a chegarem ao paciente e demais interessados nas doenccedilas raras Caso contraacuterio a

sua ausecircncia eacute um incentivo para o capital continuar a fazer dos paismatildees e associaccedilotildees

agentes de produccedilatildeo do lucro e de suas crianccedilas e pacientes a mateacuteria-prima para a criaccedilatildeo do

biovalor como colocado por Novas (2006)

A questatildeo das bioassociaccedilotildees eacute definitivamente um problema social Mas natildeo do social

para conseguir gerar os lucros para o capital como vem sendo realizado ateacute ao momento pela

regulamentaccedilatildeo do Orphan Drug Act mas como a necessidade do Estado apoiar as famiacutelias

que convivem com a biomedicina de maneira direta e natildeo por intermediaccedilatildeo do mercado Desta

maneira alinho-me agraves recomendaccedilotildees realizadas por Akrich et al (2008)

Reconhecer a regra das organizaccedilotildees de pacientes na governaccedilatildeo do conhecimento e poliacuteticas de sauacutede faz

das POs os proacuteprios atores no seu proacuteprio direito de produccedilatildeo de conhecimento Centros de pesquisa devem

ser chamados para aprimorar a mediaccedilatildeo entre pacientes e induacutestrias e entre pacientes e pesquisadores Os

procedimentos para definir os patrocinadores devem ser definidos e transparentes

Tambeacutem tendo o medicamento como pano de fundo e para uma visatildeo mais abrangente eacute

necessaacuterio incentivar as pesquisas sociais que como assinalado por Epstein (2008) realizem

estudos comparativos entre a mesma perspectiva em paiacuteses diferentes ou perspectivas diferentes

no mesmo paiacutes30 incentivar a produccedilatildeo cientiacutefica em outros paiacuteses uma vez que grande parte

dos estudos estatildeo concentrados nos EUA e nos paiacuteses do oeste europeu analisar a dinacircmica

entre Movimento e Contramovimento e analisar as diferentes fases de atividades entre

movimentos da sauacutede e sucessivos regimes de doenccedila

Enquanto a preocupaccedilatildeo estiver exclusivamente na accedilatildeo das associaccedilotildees e seus resultados

na sociedade a pessoa que sofre os sintomas da doenccedila continuaraacute sendo invisiacutevel e os

sentimentos de seus familiares e grupos de apoio mais proacuteximos continuaratildeo relegados

Referecircncias Biograacuteficas

Akrich M Nunes JA Rabeharisoa V (2008) Conclusions in The Dynamic of patient

organizations in Europe Paris Presses de lrsquoEacutecole des mines 221-245

Allsop J Jones K Baggott R (2004) Health consumer groups in the UK A new social

movement Sociology of Healty amp Illness 26(6) 737-756

Callon M Rabeharisoa V (2003) Research ldquoin the wildrdquo and the shaping of new social

dentities Technology in Society 25(2) 193-204

Epstein S (2008) Patient Groups and Health Movements in E Hackett O Amsterdamska

M Lynch e J Wajcman The Handbook of Science and Technology Studies Cambridge

Massachusetts MIT Press 499-539

30 Deve-se chamar a atenccedilatildeo para a grande variedade de trabalhos realizados na perspectiva dos estudos entre paiacuteses diferentes

mas europeus ou paiacuteses diferentes e do ldquonorterdquo Muitas accedilotildees estatildeo em andamento em paiacuteses de todos os continentes mas

ainda sem grande interesse dos pesquisadores Haacute o risco de nos paiacuteses da Ameacuterica Latina o modelo europeu ser implantado

na sua totalidade sem considerar as caracteriacutesticas locais Esse argumento eacute reforccedilado quando se percebe que as induacutestrias que

investem nas associaccedilotildees independentes do paiacutes satildeo praticamente as mesmas A globalizaccedilatildeo da doenccedila natildeo pode superar a

regionalizaccedilatildeo dos problemas

33

Faurisson F (2000) Problemaacutetica das doenccedilas raras EURORDIS consultado a 20112012

disponiacutevel em httpwwweurordisorgpt-ptcontento-que-e-uma-doenca-rara

Filipe A M (2009) Actores colectivos e os seus projectos para a sauacutede o caso das

associaccedilotildees de doentes em Portugal ea-journal 1(2) 1-48

Novas C (2006) The Political Economy of Hope Patientsrsquo Organizations Science and

Biovalue BioSocieties 1 289-305

Nunes J A (2006) A pesquisa em sauacutede nas ciecircncias sociais e humanas Tendecircncias

Contemporacircneas Oficina 253 Coimbra Centro de Estudos Sociais da Universidade de

Coimbra

Rabeharisoa V Moreira T Akrich M (2013) Evidence-based activism Patientsrsquo

organisations users and activists groups in knowledge society CSI Working Papers Series

33

Rabeharisoa V et al (2012) The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases

in French and Portuguese patientsrsquo organizationsrsquo engagement in research CSI Working Paper

Series 026

Rabeharisoa V (2008) Experience knowledge and empowement the increasing role of

patient organizations in staging weighting and circulating experience and knowledge in

Akrick M et al The dynamics of patient organizations in Europe Paris Sociales Collection

Sciences 13-34

Santos B S Hespanha P (1987) O Estado a sociedade e as poliacuteticas sociais Revista

Criacutetica de Ciecircncias Sociais 62 13-73

34

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais

Siacutelvia Portugal1 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra spfeucpt Joana Pimentel Alves2 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra joanapimentelalvesgmailcom

Introduccedilatildeo

Este texto parte do princiacutepio que um olhar a partir das redes sociais pode contribuir para a

superaccedilatildeo de (pre)conceitos acerca do cuidado das doenccedilas raras

A associaccedilatildeo de ldquorarordquo a doenccedila levanta problemas especiacuteficos que se constituem em

obstaacuteculos ao cuidado e agrave plena integraccedilatildeo social dosas doentes e das suas famiacutelias (Portugal

2013) As doenccedilas raras satildeo definidas pelo nuacutemero da sua ocorrecircncia pelo significado

estatiacutestico da sua incidecircncia na populaccedilatildeo Fogem portanto agrave norma Eacute o impacto do

significado meacutedico e social de estar fora da norma que marca a vida das pessoas com doenccedilas

raras e das suas famiacutelias Estar fora da norma implica que os diagnoacutesticos tardam os exames

as consultas e as opiniotildees se multiplicam as respostas natildeo satildeo adequadas as necessidades natildeo

satildeo atendidas a urgecircncia do cuidado contrasta com o tempo longo da espera Estar fora da

norma revela-se no corpo implica olhares furtivos contactos evitados oportunidades perdidas

gera estigma cria vidas escondidas quotidianos que giram agrave volta da doenccedila

O desafio eacute fazer com que o desvio da norma estatiacutestica natildeo se traduza em exclusatildeo social

assumindo para tal o princiacutepio da integralidade do cuidado e das necessidades da pessoa com

doenccedila e da sua famiacutelia Neste texto defende-se que um olhar a partir da rede social doa doente

permite responder a esse desafio Esta abordagem ancora-se em dois pressupostos as pessoas

sabem mais sobre a sua doenccedila do que os outros as pessoas satildeo mais do que a doenccedila

Doenccedilas raras e cuidado

Na sua acepccedilatildeo mais comum a noccedilatildeo de cuidado tem algumas proximidades com a definiccedilatildeo

de doenccedila rara O cuidado eacute excepcional episoacutedico pontual resulta de ldquoacidentesrdquo que

suscitam assistecircncia e apoio Esta noccedilatildeo tem obscurecido realidades que precisam de

visibilidade ndash a das pessoas que precisam de cuidados quotidianos continuados e ao longo da

vida e a dosas seusas cuidadoresas

Olhar para estas pessoas e para as suas necessidades obriga a uma construccedilatildeo ampla do

cuidado que reconheccedila que este eacute transversal na vida e no quotidiano de todas as pessoas natildeo

soacute dosas doentes Os desafios satildeo muacuteltiplos 1) reconhecer a vulnerabilidade de todosas noacutes

ao longo do ciclo de vida (Kittay 1999 Tronto 1993) 2) reconhecer que quem eacute cuidado

tambeacutem cuida (Lovell 2013) 3) sair das generalidades concetuais para prestar atenccedilatildeo aos

detalhes da vida (Laugier 2009) 4) construir uma linguagem diferente que ultrapasse os

modelos tradicionais da bio-medicina e da assistecircncia social que compartimentaliza as

1 Siacutelvia Portugal eacute doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas

Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE) 2 Joana Alves eacute Mestre e Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra bolseira da

Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD778392011)

35

necessidades e objectifica os sujeitos A linguagem do cuidado ldquopermite manter o fio da vida

ordinaacuteriardquo (Tronto 1993)

O cuidado eacute complexo e possui muacuteltiplas dimensotildees que mostram a complexidade do

fenoacutemeno e explicam a dificuldade em estabelecer uma definiccedilatildeo consensual (Alves 2011) o

contexto social e poliacutetico a natureza e extensatildeo do cuidado o domiacutenio em que ocorre as

relaccedilotildees entre quem cuida e quem eacute cuidado as razotildees para cuidar A tendecircncia predominante

na definiccedilatildeo de cuidado constroacutei-se em torno da oposiccedilatildeo entre duas vias de prestaccedilatildeo de

cuidados ndash a via formal e a via informal (OECD 2005 European Comission 2010

Triantafillou et al 2010)

O Quadro 1 segue esta distinccedilatildeo para identificar diferentes caracteriacutesticas do cuidado

Quadro 1 ndash Caracteriacutesticas do cuidado formal e informal

No entanto um olhar a partir das pessoas com doenccedilas raras relativiza esta distinccedilatildeo Na

praacutetica o apoio envolve sempre cuidados dos dois tipos mas tambeacutem porque a ldquoraridaderdquo das

doenccedilas torna mais especiacuteficas constantes e diversificadas as necessidades de cuidado o que

pode obrigar a um maior nuacutemero de intervenccedilotildees dos dois tipos e a que essas aconteccedilam com

maior frequecircncia Deste modo o que no quotidiano diferencia estes dois modos de prestaccedilatildeo

de cuidados satildeo o tipo e a intensidade de cuidados prestados que revelam niacuteveis de

36

envolvimento diferenciados entre cuidadoresas formais e informais E sobre isto os estudos

desenvolvidos tecircm sido muito claros quanto mais grave for a situaccedilatildeo de dependecircncia e mais

exigentes forem as necessidades maior eacute o envolvimento da famiacutelia na prestaccedilatildeo de cuidados

(Hooyman et al 1995 Goodhead et al 2007 Glendinning et al 2009 Triantafillou et al

2010 Alves 2011) O caraacutecter ldquorarordquo da doenccedila estende-se agraves respostas formais disponiacuteveis

quanto mais exigente eacute o tipo de apoio menos respostas existem e maior eacute a responsabilizaccedilatildeo

da esfera informal e da famiacutelia

A prestaccedilatildeo formal de cuidados apresenta portanto um quadro de intervenccedilatildeo que revela

escassa capacidade para integrar as especificidades e necessidades individuais produzindo uma

atenccedilatildeo normalizada e normalizadora que dificilmente atende agraves circunstacircncias de vida das

pessoas com doenccedilas raras A atenccedilatildeo da famiacutelia tende a contrariar este modo de agir O cuidado

prestado pela rede familiar parte das necessidades de quem eacute cuidado dando origem a uma

atenccedilatildeo especiacutefica As vidas de quem cuida satildeo construiacutedas na relaccedilatildeo com o outro e na resposta

agraves suas necessidades o que tem consequecircncias nas suas proacuteprias vidas Os impactos do cuidado

satildeo por isso inuacutemeros e em diferentes esferas relaccedilotildees pessoais e familiares trabalho e

emprego sauacutede dinheiro etc

As exigecircncias de um cuidado muito especiacutefico e especializado resultam sempre em

mudanccedilas no quotidiano e nas vidas de quem cuida Uma reestruturaccedilatildeo natildeo soacute ao niacutevel do tipo

e da intensidade das tarefas desenvolvidas como na forma como as pessoas passam a entender

o seu papel Ao entenderem o cuidado e o papel de cuidadoresas como o centro das suas vidas

sobra pouco espaccedilo para outras pessoas ou outras actividades

As suas rotinas tornam-se por isso riacutegidas natildeo soacute pelo tipo de tarefas realizadas mas

tambeacutem pelo ritmo a que as realizam ndash o apoio eacute quotidiano continuado e de longa duraccedilatildeo

Os tempos dos cuidados acabam por se sobrepor aos tempos pessoais dosas cuidadoresas e

isso isola os indiviacuteduos As sociabilidades e os tempos de lazer quando existem satildeo centradas

na famiacutelia Mas o isolamento natildeo se alimenta apenas da falta de tempo das pessoas para outras

coisas que natildeo o cuidado O preconceito para com o desconhecido para com o ldquorarordquo exclui

oa doente e a famiacutelia

Outra das aacutereas da vida de quem cuida mais afetada pelo cuidado eacute o trabalho e o emprego

Os impactos satildeo diversos e as poliacuteticas natildeo tecircm conseguido regulaacute-los revelando-se ineficazes

na proteccedilatildeo dosas trabalhadoresas com filhosas com necessidades de cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo Pela dificuldade em combinar-se o cuidado com o emprego

algunsmas cuidadoresas veem-se excluiacutedos do mercado de trabalho com especial incidecircncia

para as matildees trabalhadoras Quando a pessoa a cuidar exige uma atenccedilatildeo muito particular satildeo

na maioria as mulheres a reduzir o seu horaacuterio de trabalho ou a deixar o seu lugar no mercado

de trabalho formal para se dedicarem a tempo inteiro ao cuidado familiar

Isso eacute sobretudo gravoso dado os custos acrescidos que as famiacutelias das pessoas com

doenccedilas raras tecircm que comportar para proporcionarem as mesmas condiccedilotildees de igualdade de

oportunidades ou para salvaguardarem garantias baacutesicas de dignidade humana a essas pessoas

Estas famiacutelias pagam mais em aacutereas como a sauacutede a educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo etc custos

acrescidos que o niacutevel de apoios pecuniaacuterios atribuiacutedos pelo Estado natildeo permitem colmatar

(Portugal et al 2010)

Para aleacutem dos apoios pecuniaacuterios serem insuficientes tambeacutem o niacutevel das estruturas

especiacuteficas para situaccedilotildees de doenccedila que exigem uma assistecircncia permanente de outra pessoa

fica aqueacutem das necessidades reais As instituiccedilotildees organizam-se de modo a responder agraves

necessidades de todosas o que acaba por excluir todas as pessoas que tecircm necessidades de

atenccedilatildeo muito especializada A desadequaccedilatildeo entre a resposta necessaacuteria e o niacutevel de apoio

recebido leva a que quem cuida acabe muitas vezes por desistir de recorrer aos serviccedilos de

apoio especializado optando por ficar a cuidar muitas vezes a tempo inteiro

37

A sobrecarga de trabalho a estruturaccedilatildeo do quotidiano em torno dos cuidados e o estigma

social produzem efeitos fortes de desgaste fiacutesico e psicoloacutegico Os impactos ao niacutevel da sauacutede

de quem cuida satildeo assim elevados quer ao niacutevel fiacutesico quer ao niacutevel mental formando um ciclo

vicioso com outras dimensotildees acima mencionadas trabalho e sociabilidades Quanto mais

debilitada eacute a sauacutede dos indiviacuteduos maiores dificuldades encontram a outros niacuteveis quanto

mais precaacuterias satildeo as suas condiccedilotildees a niacutevel profissional e relacional mais fraacutegil se torna a sua

sauacutede (Portugal et al 2010)

Assim quando o foco passa a ser na integralidade do indiviacuteduo nas necessidades de quem

cuida e eacute cuidado e na procura da sua satisfaccedilatildeo a distinccedilatildeo entre cuidado formal e informal

parece fazer pouco sentido Uma abordagem a partir da rede de cuidados permite colocar os

sujeitos no centro e identificar as potencialidades e constrangimentos de cada tipo de prestaccedilatildeo

de cuidados

O cuidado um olhar a partir das redes sociais

O conceito de rede social constitui um instrumento analiacutetico que permite olhar para forma e

conteuacutedo das relaccedilotildees sociais ndash os noacutes e os laccedilos os elementos da rede as relaccedilotildees entre eles

os fluxos Partindo de trecircs perguntas simples Quem O quecirc Como Enunciamos questotildees que

permitem construir um olhar social sobre a pessoa que sofre de uma doenccedila rara e as suas

necessidades de cuidado Quem faz parte da rede Quem faz o quecirc Que recursos satildeo

mobilizados Como fazem Que praacuteticas Que normas O que se faz Por que se faz

Quando observamos as trajetoacuterias de vida das pessoas com doenccedilas raras e analisamos a

sua rede social vemos na famiacutelia o principal prestador de cuidados na procura de informaccedilatildeo

na busca de um diagnoacutestico na construccedilatildeo de itineraacuterios terapecircuticos no cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo (Alves 2011 Barbosa 2013) A famiacutelia eacute perene no espaccedilo e

no tempo e os laccedilos de parentesco satildeo sinoacutenimo de confianccedila (Portugal 2014) As relaccedilotildees

familiares oferecem assim garantias de estabilidade e continuidade que amortecem os efeitos

dos percursos cliacutenicos erraacuteticos a que frequentemente as pessoas estatildeo sujeitas

Como acima foi referido observando a rede verificamos que os elementos da famiacutelia satildeo

os atores mais ativos mobilizam recursos materiais e afetivos datildeo resposta a muacuteltiplas

necessidades A rede familiar caracteriza-se pela sua diversidade e plasticidade No interior dos

laccedilos de parentesco circulam fluxos diversos que asseguram o cuidado da pessoa com doenccedila

bens serviccedilos afecto apoio emocional sociabilidade informaccedilatildeo A famiacutelia provem diferentes

recursos que garantem o quotidiano das pessoas na doenccedila e para aleacutem da doenccedila alimentaccedilatildeo

vestuaacuterio habitaccedilatildeo transporte medicaccedilatildeo tratamentos informaccedilatildeo aconselhamento apoio

afectivo mediaccedilatildeo com o sistema de sauacutede e seguranccedila social Os laccedilos familiares revelam uma

elevada capacidade de resposta e de adaptaccedilatildeo agraves necessidades

Assim se o cuidado biomeacutedico tem dificuldades em lidar com as especificidades das

doenccedilas raras o cuidado familiar ao assentar na atenccedilatildeo agrave singularidade permite integrar a

diferenccedila e responder-lhe adequadamente As histoacuterias de cuidado(s) das pessoas com doenccedilas

raras revelam uma constelaccedilatildeo de praacuteticas e de saberes que permitem colocar no centro as

necessidades individuais Conjugando o tradicional e o moderno novas e velhas praacuteticas

saberes leigos e cientiacuteficos vias tecnoloacutegicas fontes formais e informais os exemplos da

aptidatildeo da rede familiar para encontrar soluccedilotildees que garantem o bem-estar dosas doentes satildeo

muacuteltiplos imaginativos e eficazes um alimento que se inclui ou retira da dieta uma teacutecnica

que permite vestir e despir mais raacutepido uma forma mais confortaacutevel de deitar levantar sentar

deslocar um medicamento que alivia uma associaccedilatildeo que ajuda um profissional de sauacutede que

eacute (mais) atento uma escola que natildeo discrimina um local de trabalho com boas praacuteticas um

local de lazer com boas acessibilidades um restaurante que responde a pedidos de dieta

38

O que faz mover as redes sociais Que normas regulam a sua acccedilatildeo Encontramos no

cuidado das doenccedilas raras a normatividade que regula a daacutediva familiar (Portugal 2014) O

cuidado familiar funda-se num sistema de daacutediva e deve ser entendido natildeo como uma seacuterie de

actos unilaterais e descontiacutenuos mas como relaccedilatildeo ldquoo dom natildeo eacute uma coisa mas uma relaccedilatildeo

socialrdquo (Godbout 1992 15) Marcel Mauss em Ensaio sobre a Daacutediva (1988) afirmou a

centralidade da daacutediva nas sociedades arcaicas e a importacircncia do princiacutepio ldquodar receber

retribuirrdquo mas teve dificuldade em reconhecer que a sua existecircncia nas sociedades modernas

fosse aleacutem do estatuto de manifestaccedilatildeo residual do passado No entanto ldquoo dom eacute tatildeo moderno

e contemporacircneo como caracteriacutestico das sociedades arcaicasrdquo (Godbout 1992 20)

Fenoacutemenos como a oferta de prendas a prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas aos idosos e aos

doentes os convites para festas e a hospitalidade o voluntariado a doaccedilatildeo de sangue e de

orgatildeos constituem formas de troca social que natildeo satildeo hoje residuais nem quantitativamente

(dada a sua frequecircncia no quotidiano) nem qualitativamente (dada a sua importacircncia na vida

dos indiviacuteduos) A definiccedilatildeo de daacutediva proposta por Godbout em Lrsquo Esprit du don (1992) e

que Cailleacute retoma (2000) ndash ldquotoda a prestaccedilatildeo de bem ou serviccedilo efectuada sem garantia de

retorno com vista a criar alimentar ou recriar o viacutenculo social entre as pessoasrdquo (Godbout

1992 32 Cailleacute 2000 124) ndash permite mostrar como o dom assim caracterizado como modo

de circulaccedilatildeo dos bens ao serviccedilo do laccedilo social constitui um elemento essencial para a

compreensatildeo do cuidado

Neste contexto o conceito de diacutevida positiva utilizado por Godbout (2000) revela-se

bastante produtivo para analisar a circulaccedilatildeo da daacutediva no interior da famiacutelia mais do que o

conceito de reciprocidade (Portugal 2014) Numa relaccedilatildeo de dom o estado de diacutevida positiva

escapa agrave equivalecircncia e faz com que cada um considere que recebe mais do que daacute embora

esteja sempre disposto a retribuir Elementos materiais afetivos e simboacutelicos misturam-se num

jogo complexo que no entanto natildeo deixa totalmente de lado a reciprocidade Na reciprocidade

familiar por um lado daacutediva e retribuiccedilatildeo fazem circular e equivaler coisas muitos diferentes

por outro lado entre dom e contra-dom o tempo pode correr sem que o ciclo se quebre Natildeo

conta o que se troca nem quando se troca Nesta daacutediva o tempo conta tanto menos quanto

mais se confia no outro Mediada pela afectividade e pela confianccedila a reciprocidade entre

parentes realiza-se muitas vezes agrave ldquoescala de uma vidardquo e transforma a ajuda numa espeacutecie de

ldquocreacutedito a longo prazordquo que natildeo necessita de ser retribuiacuteda no imediato nem de ser simeacutetrica

o contra-dom pode vir muito mais tarde ou mesmo ser destinado a outra pessoa (Finch1989

Deacutechaux 1990 Bawin-Legros 2003 Portugal 2014)

Notas finais

O cuidado das pessoas com doenccedilas raras assenta essencialmente na dedicaccedilatildeo e amor das suas

famiacutelias As histoacuterias das vidas das pessoas com doenccedilas raras das suas famiacutelias dos seus

proacuteximos satildeo admiraacuteveis pelo exemplo que oferecem de luta contra a adversidade As suas

biografias revelam trajetoacuterias extraordinaacuterias de conquista quotidiana de esperanccedila e de vida

contra o desconhecimento o desinteresse o preconceito o desespero Agrave ausecircncia de respostas

e de apoios formais agrave escassa garantia de direitos contrapotildeem-se percursos de vida assentes na

solidariedade e na daacutediva que recusam a derrota (Portugal 2013)

Quando se reivindica apoio e assistecircncia muitas vezes a primeira leitura orienta-se para a

demissatildeo das famiacutelias Ela natildeo podia ser mais erroacutenea As famiacutelias natildeo se querem ver

substituiacutedas no seu papel no entanto para o poderem desempenhar da melhor forma para natildeo

adoecerem conjuntamente com os seus familiares necessitam de condiccedilotildees e de meios para a

prestaccedilatildeo do cuidado Eacute esse o desafio que as poliacuteticas puacuteblicas tecircm que assumir tomar as

famiacutelias como parceiras

39

O conceito de rede pode tambeacutem permitir uma resposta a esse desafio fornecendo

instrumentos para uma intervenccedilatildeo assente na integralidade do cuidado As doenccedilas raras

colocam em accedilatildeo um conjunto de atores (doentes famiacutelias profissionais de sauacutede profissionais

da assistecircncia social associaccedilotildees Estado mercado comunidade) de saberes (leigos e

cientiacuteficos) de praacuteticas (formais e informais) de relaccedilotildees (sociais materiais e simboacutelicas) que

importa conciliar O cuidado em rede eacute um repto agrave articulaccedilatildeo entre atores e recursos que parta

do sujeito para regressar ao sujeito

Referecircncias bibliograacuteficas

Alves Joana (2011) Vidas de Cuidado(s) Uma anaacutelise socioloacutegica do papel dos cuidadores

informais Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de Economia da Universidade

de Coimbra

Barbosa Rogeacuterio Lima (2013) Pele de cordeiro Associativismo e Mercado na produccedilatildeo de

cuidado para as doenccedilas raras Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Bawin-Legros Bernadette (2003) Le nouvel ordre sentimental Agrave quoi sert la famille

aujourdrsquohui Paris Payot

Cailleacute Alain (2000) Anthropologie du don Le tiers paradigme Paris Descleacutee de Brouwer

Deacutechaux Jean-Hugues (1990) ldquoLes eacutechanges eacuteconomiques au sein de la parentegravelerdquo Sociologie

du Travail 1 73-94

European Comission (2010) ldquoCaring and post caring in Europerdquo European Commission

Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwlifeaftercareeudocsOverviewReportFinalSept2010pdf

Finch Janet (1989) Family Obligations and Social Change Cambridge Polity Press

Glendinning Caroline et al (2009) ldquoCare Provision within Families and its Socio-Economic

Impact on Care Providersrdquo University of York Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwyorkacukinstspruresearchpdfEUCarerspdf

Godbout Jacques T (1992) Lrsquoesprit du don Paris Eacuteditions La Deacutecouverte

Godbout Jacques T (2000) Le don la dette et lrsquoidentiteacute Paris La Deacutecouverte

Goodhead Anne McDonald Janet (2007) ldquoInformal Caregivers Literature Review A report

prepared for the National Heath Committeerdquo Wellington Health Services Centre Victoria

University of Wellington Consultado em 24112014 disponiacutevel em

httpnhchealthgovtnzsystemfilesdocumentspublicationsinformal-caregivers-literature-

reviewpdf

40

Hooyman Nancy R Gonyea Judith (1995) Feminist perspetives on family care policies for

gender justice London Sage Publications

Kittay Eva Feder (1999) Loversquos Labor essays on woman equality and dependency New

York Routledge

Laugier Sandra (2009) ldquoLe sujet du care vulnerabiliteacute et expression ordinairerdquo in Pascale

Molinier Sandra Laugier e Patricia Paperman Qursquoest-ce que le care Souci des autres

sensibiliteacute responsabiliteacute Paris Payot 159-200

Lovell Anne (2013) ldquoAller vers ceux qursquoon ne voit pas Maladie mentale et care dans des

circonstances extraordinairesrdquo in Anne Lovell Stefania PandolfoVeena Das e Sandra Laugier

Face aux desastres Paris Ithaque 27-81

Mauss Marcel (1988) Ensaio sobre a daacutediva Lisboa Ediccedilotildees 70

OECD (2005) ldquoLong-term care for older people OECD Study (2001-2004)rdquo OECD

Publishing Consultado a 24112014 disponiacutevel em httpwwwoecdorgelshealth-

systemslong-termcareforolderpeopleoecdstudy2001-2004htm

Portugal Siacutelvia (2014) Famiacutelia e Redes Sociais Ligaccedilotildees fortes na produccedilatildeo de bem-estar

Coimbra Almedina

Portugal Siacutelvia (2013) Para um comeccedilo de reflexatildeo sobre o cuidado das doenccedilas raras in

Cacircmara dos Deputados Romaacuterio Deputado Federal (Ed) Dia Mundial das Doenccedilas Raras

2013 Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Ediccedilotildees Cacircmara 25-28

Portugal Siacutelvia et al (2010) Estudo de Avaliaccedilatildeo dos Custos Financeiros e Sociais da

Deficiecircncia Coimbra Centro de Estudos Sociais

Triantafillou Judy et al (2010) ldquoInformal care in the long-term care system European

Overview Paperrdquo Interlinks Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwweurocentreorgdata1278594816_84909pdf

Tronto Joan (1993) Moral Boundaries A Political Argument for an Ethics of Care NewYork

Routledge

41

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

42

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a

familiares e pacientes com doenccedilas raras

Ana Maria Martins1 Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP anamartinsunifespbr

A minha histoacuteria com as doenccedilas raras comeccedila aos meus nove anos de idade com o nascimento

da minha irmatilde com Siacutendrome de Aspert Provavelmente ter escolhido medicina pediatria e

geneacutetica cliacutenica foram desdobramentos desse fato Realizei meu treinamento em pediatria e a

especializaccedilatildeo em Geneacutetica Cliacutenica na Escola Paulista de Medicina em Satildeo Paulo Fui

responsaacutevel pelo Ambulatoacuterio de Fenilcetonuacuteria da APAE ndash SP (Associaccedilatildeo de Pais e Amigos

dos Excepcionais de Satildeo Paulo) e realizei meu Mestrado em Deficiecircncia fiacutesica e mental em

uma comunidade de Satildeo Paulo O Doutorado foi baseado no acompanhamento de 80 pacientes

com Fenilcetonuacuteria O meu Poacutes-doutorado foi em Pittsburgh-EUA no West Penn Hospital e na

Universidade da Califoacuternia de San Diego em geneacutetica cliacutenica

Em 1997 pela carecircncia de serviccedilos que cuidassem de pacientes com erros inatos do

metabolismo (EIM) e como eu tinha experiecircncia com a Fenilcetonuacuteria por indicaccedilatildeo da minha

universidade iniciei um ambulatoacuterio para esse grupo de doenccedilas A Fenilcetonuacuteria foi a

primeira doenccedila a responder a uma dieta especiacutefica Com potencial para prevenccedilatildeo do grave

retardo mental foi desenvolvido um meacutetodo para diagnosticar a doenccedila no periacuteodo neonatal a

partir do teste de triagem neonatal e assim o tratamento ser precoce Nesse momento nasceu a

possibilidade de tratamento de outros EIM natildeo soacute pela ingestatildeo alimentar como tambeacutem por

medicamento

Na deacutecada de 90 surge a terapia de reposiccedilatildeo da enzima que eacute deficiente em determinadas

doenccedilas o que impulsionou a pesquisa na aacuterea das doenccedilas geneacuteticas criaccedilatildeo de implementos

para o diagnoacutestico de algumas doenccedilas nos paiacuteses em desenvolvimento e a maior divulgaccedilatildeo

entre os meacutedicos que lidam com as doenccedilas geneacuteticas

O ambulatoacuterio de EIM transformou-se no Centro de Referecircncia em Erros Inatos do

Metabolismo (CREIM) e durante 10 anos contou com a colaboraccedilatildeo de cerca de 10

profissionais de sauacutede voluntaacuterios dentre neurologistas nutricionistas psicoacutelogasos

fonoaudioacutelogasos e fisioterapeutas Com o surgimento da terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica

houve a necessidade de encontrar um local para realizaccedilatildeo deste tratamento De iniacutecio tivemos

como parceiro o Instituto do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP utilizando

os leitos de dia para nossosas pacientes receberem medicaccedilatildeo Depois o GRAAC (Grupo de

Apoio agrave Crianccedila com CancecircrInstituto de Oncologia da UNIFESP) tornou-se nosso parceiro

aquando do iniacutecio da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (TRE) para a Mucopolissacaridose do

tipo I

Como os locais para TER eram garantidos por acordos pessoais havia a nossa preocupaccedilatildeo

em perdecirc-los a qualquer momento Essa preocupaccedilatildeo aumentava na medida que a quantidade

de pacientes tambeacutem crescia Os profissionais voluntaacuterios tambeacutem eram fonte de inseguranccedila

porque tambeacutem podiacuteamos perdecirc-los a qualquer momento Impulsionados por este cenaacuterio um

grupo de pessoas ligados ao CREIM decidiu constituir uma organizaccedilatildeo natildeo governamental o

1 Ana Maria Martins eacute professora do Departamento de Pediatria da UNIFESP e Diretora do Centro de Referecircncia em Erros

Inatos do Metabolismo - IGEIM

43

Instituto de Geneacutetica e Erros Inatos do Metabolismo (IGEIM) que veio dar suporte ao

funcionamento do CREIM com instalaccedilotildees adequadas agraves necessidades dos nossos pacientes

Fig 1 - Instalaccedilotildees do IGEIM - Entrada Fig 2 - Instalaccedilotildees do IGEIM ndash Sala de espera

A missatildeo do IGEIM eacute melhorar a qualidade de vida de pessoas com erros inatos do

metabolismo e dos seus familiares por meio do atendimento multidisciplinar com padratildeo

cientiacutefico de excelecircncia As suas aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo a assistecircncia o ensino a pesquisa e a

educaccedilatildeo Atraveacutes do suporte ao CREIM o IGEIM estabelece uma interface com a proacutepria

UNIFESP

Os EIM que satildeo o nosso foco principal de atuaccedilatildeo no momento contam com mais de 700

doenccedilas diferentes e podem ser classificados em trecircs grupos permitindo uma abordagem cliacutenica

praacutetica dos pacientes

Grupo 1 Defeito no metabolismo intermediaacuterio relacionado a ingestatildeo alimentar de

proteiacutena e accediluacutecares levando a quadros de intoxicaccedilatildeo aguda e crocircnica A doenccedila pode se

manifestar jaacute no berccedilaacuterio ou nos primeiros dias meses ou ateacute anos de vida A crianccedila quando

inicia a amamentaccedilatildeo vai receber proteiacutena que eacute formada por aminoaacutecidos Se o paciente tem

uma enzima (substacircncia que possibilita as reaccedilotildees no nosso metabolismo) deficiente em sua

atividade natildeo conseguiraacute metabolizar um ou mais aminoaacutecidos e faraacute quadros agudos que

necessitam de hospitalizaccedilatildeo com diminuiccedilatildeo da glicose do sangue (hipoglicemia) ou acidez

do sangue (acidose metaboacutelica) e outros distuacuterbios que vatildeo comprometer o funcionamento do

metabolismo podendo ateacute levar a morte ou sequelas neuroloacutegicas graves para a crianccedila Se a

deficiecircncia de atividade da enzima natildeo eacute tatildeo grave as manifestaccedilotildees cliacutenicas podem acontecer

mais tarde e podem ser mais leves do que aquelas que se manifestam no berccedilaacuterio O tratamento

precoce neste grupo deve ser instituiacutedo tatildeo logo seja feito o diagnoacutestico que em muitas doenccedilas

eacute feito no teste de triagem neonatal ampliado natildeo disponiacutevel infelizmente para o territoacuterio

nacional A fenilcetonuacuteria tirosinemia homocistinuacuteria aciduacuterias orgacircnicas doenccedila do xarope

de bordo intoleracircncia a galactose e frutose fazem parte deste grupo O tratamento consta de

dietas restritivas naquele(s) aminoaacutecido(s) ou accediluacutecares (galactose ou frutose) o que possibilita

uma sobrevida com qualidade de vida maior desses pacientes

Grupo 2 defeito na produccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo de energia e quadros cliacutenicos variaacuteveis Com

frequecircncia aparece a hipoglicemia porque a glicose eacute a unidade baacutesica de energia do nosso

corpo A mitococircndria eacute uma estrutura dentro da ceacutelula responsaacutevel por produccedilatildeo de energia

para o funcionamento das ceacutelulas O glicogecircnio eacute um pacote de glicose que fica guardado no

fiacutegado com o que sobra de glicose da nossa refeiccedilatildeo e durante o periacuteodo de jejum essa glicose

vai sendo liberada no sangue pela accedilatildeo de uma enzima que quebra o glicogecircnio em moleacuteculas

de glicose O defeito na oxidaccedilatildeo dos aacutecidos graxos (trigliceacuterides) estaacute relacionado a siacutendrome

da morte suacutebita porque quando acaba o glicogecircnio o organismo lanccedila matildeo dos aacutecidos graxos

para gerar energia Defeitos na mitococircndria nos metabolismos do glicogecircnio e dos aacutecidos

44

graxos podem levar a sinais e sintomas graves O tratamento neste grupo utiliza dieta pobre em

carboidrato para diminuir o depoacutesito de glicogecircnio no fiacutegado orientaccedilatildeo para dietas frequentes

evitando jejum prolongado e o uso de algumas vitaminas especiacuteficas (co-fatores) para as

doenccedilas mitocondriais

A suspeita do diagnoacutestico das doenccedilas dos grupos 1 e 2 podem ser realizadas pelo meacutedico

que conhece essas doenccedilas atraveacutes de exames que satildeo realizados na maioria dos serviccedilos

meacutedicos como a glicemia (dosagem da glicose do sangue) e avaliaccedilatildeo da acidez do sangue

(gasometria) O diagnoacutestico eacute confirmado em exames especiacuteficos como o teste de triagem

neonatal ampliado dosagem de aacutecidos orgacircnicos ou cromatografia de aminoaacutecidos

Grupo 3 defeito na siacutentese ou degradaccedilatildeo de moleacuteculas complexas ocorrendo em

estruturas especiacuteficas da ceacutelula lisossomos peroxissomos e retiacuteculo endoplasmaacutetico Os

quadros aqui tambeacutem satildeo variaacuteveis mas com frequecircncia haacute problemas no crescimento retardo

mental aumento do tamanho do fiacutegado eou baccedilo entre outros O tratamento deste grupo de

maior impacto eacute a TRE que quanto mais precoce eacute introduzida melhores satildeo os resultados A

terapia de reduccedilatildeo da produccedilatildeo do substrato que se acumula nas ceacutelulas tem mostrado bons

resultados em algumas doenccedilas

O diagnoacutestico no grupo 3 eacute confirmado atraveacutes de dosagem da atividade da enzima no

sangue mais a presenccedila de substacircncias especiacuteficas na urina raio X da coluna quadril e outros

As caracteriacutesticas de uma paciente com EIM satildeo as mesmas de qualquer paciente com uma

doenccedila rara a famiacutelia faz uma verdadeira peregrinaccedilatildeo por serviccedilos meacutedicos e ou consultoacuterios

haacute falta de informaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede satildeo muitos anos em busca de um diagnoacutestico

e realizaccedilatildeo de muitos exames sem nenhum resultado do problema familiares eou pacientes

com anguacutestia decepccedilatildeo cansaccedilo e muito aacutevidos por informaccedilatildeo sobre problema de sauacutede

Para a mudanccedila desse quadro eacute necessaacuterio gerar informaccedilatildeo para os profissionais de sauacutede

para que saibam identificar uma doenccedila rara e encaminhar para o serviccedilo de referecircncia

disponiacutevel o meacutedico deve buscar o diagnoacutestico do que ele natildeo conhece e fornecer aos

familiares eou paciente informaccedilotildees sobre o prognoacutestico prevenir as graves complicaccedilotildees

fornecer orientaccedilatildeo e fazer aconselhamento geneacutetico O tratamento das doenccedilas raras quando

disponiacutevel tem acesso dificultado por ser de alto custo sendo que o medicamento eacute conseguido

por meio de processos judiciais

O tratamento aleacutem do medicamentoso para ser completo e atender as necessidades dos

pacientes com doenccedilas raras precisa de ser multidisciplinar com profissionais das aacutereas entre

outras de nutriccedilatildeo fonoaudiologia fisioterapia enfermagem terapia ocupacional e psicologia

Assim aumentam as chances de proporcionar a melhoria de qualidade de vida do paciente e

sua famiacutelia

Referecircncia Bibliograacutefica

Saudubray J M Sedel F Walter J H (2006) ldquoClinical approach to tratable inborn

metabolic disesaes an introductionrdquo J Inherit Metab Dis 29 261-274

45

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas

raras

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues1 Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG rodrigueslocgmailcom

A Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Portadores de Neurofibromatose (AMANF) completou 10

anos de existecircncia e este periacuteodo foi repleto de boa vontade desejo de ajudar e esperanccedila de

institucionalizarmos o apoio agraves pessoas com neurofibromatoses Aprendemos muito neste

percurso

Aprendemos que a maioria das pessoas incluindo os profissionais de sauacutede e as autoridades

relacionadas agrave sauacutede puacuteblica desconhecem o que satildeo as neurofibromatoses (NF) As NF

constituem trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros e por acometerem

cerca de 13000 pessoas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas raras (Geller e Bonalumi Filho

2004)

Assim como as demais doenccedilas raras as NF enfrentam um conjunto de dificuldades que

denominamos DOR

D - Desconhecimento cientiacutefico

O - Omissatildeo institucional

R - Representaccedilatildeo social inexistente

Esta combinaccedilatildeo de desinformaccedilatildeo desamparo e desconhecimento pela sociedade resulta

em sofrimento crocircnico e reduccedilatildeo da qualidade de vida para as pessoas com NF e seus familiares

O desconhecimento cientiacutefico

Constitui uma experiecircncia bastante comum agraves pessoas com NF e seus familiares a constataccedilatildeo

de que haacute falta de informaccedilatildeo atualizada sobre NF por parte dos meacutedicosas e outros

profissionais de sauacutede (Souza et al 2009) Eacute claro que natildeo esperamos que todosas osas

meacutedicos conheccedilam os milhares de doenccedilas raras mas gostariacuteamos que diante de uma pessoa

com sinais e sintomas raros osas profissionais da sauacutede admitissem seu desconhecimento

solicitando outras opiniotildees especializadas Esta postura franca auxiliaria a pessoa com NF e sua

famiacutelia assim como permitiria ao proacuteprio profissional da sauacutede crescer cientificamente ao

buscar informaccedilotildees sobre aquilo que desconhece ou encaminhar a pessoa para outros

profissionais ou centros de referecircncia

Neste sentido recomendamos o alerta das pessoas com NF e seus familiares para alguns

sinais sugestivos de que oa profissional da sauacutede estaacute desatualizado quanto agraves NF

1 Quando elea natildeo sabe as grandes diferenccedilas entre os tipos 1 e 2 da NF

2 Quando elea natildeo sabe da existecircncia da Schwannomatose

3 Quando elea confunde a NF com a Doenccedila do Homem Elefante

4 Quando elea quer realizar imediatamente cirurgia quimioterapia ou radioterapia em

tumores benignos das NF apenas porque os tumores ldquoestatildeo laacuterdquo

1 Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues eacute meacutedico e professor titular aposentado na UFMG membro da Associaccedilatildeo Mineira de

Apoio agraves Pessoas com Neurofibromatoses ndash AMANF wwwamanforgbr Coordenador Cliacutenico do Centro de Referecircncia em

Neurofibromatoses pesquisador do CNPQ Eacute pai de uma pessoa com Neurofibromatose do Tipo 1 e Cartunista Para

correspondecircncia Alameda Aacutelvaro Celso 55 - Belo Horizonte MG - CEP 30150-260 Tel (31) 3409 9560 e 3409 9199

46

5 Quando elea usa termos desatualizados como chamar todas as NF de Doenccedila de Von

Recklinghausen

6 Quando elea denomina de forma incorreta os tumores das NF por exemplo chamando

os schwannomas vestibulares bilaterais da NF2 de ldquoneurinomas do acuacutesticordquo ou chamando

um neurofibroma plexiforme da NF1 de ldquohemangiomardquo

7 Principalmente quando elea confunde a impossibilidade de cura com a ausecircncia de

tratamento pois embora as doenccedilas geneacuteticas ainda sejam incuraacuteveis elas tecircm

tratamentos inclusive multidisciplinares os quais prolongam e melhoram a vida das

pessoas acometidas (Ferner 2011)

A omissatildeo institucional

Reconhecendo a impossibilidade de todos osas profissionais da sauacutede possuiacuterem conhecimento

cientiacutefico adequado sobre as doenccedilas raras torna-se evidente a necessidade de centros de

referecircncias em doenccedilas raras para onde as pessoas possam ser encaminhadas sempre que

houver duacutevida quanto ao seu diagnoacutestico No entanto as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela sauacutede

puacuteblica doa meacutedicoa aosagraves governantes federais passando pelos municiacutepios e universidades

colocam em segundo plano as doenccedilas raras porque as consideram de forma isolada preferindo

destinar os recursos para as doenccedilas majoritaacuterias que podem resultar em maior popularidade e

mais votos

Somente quando informadas de que cerca de 3 da populaccedilatildeo satildeo acometidos por doenccedilas

raras que as transformam num conjunto de alguns milhotildees de pessoas eacute que as autoridades se

espantam embora ainda permaneccedilam de matildeos atadas

A representaccedilatildeo social inexistente

A mobilizaccedilatildeo social diante de um desafio coletivo depende do grau de empatia que as pessoas

possuem pela causa em questatildeo eacute preciso conhecer para sentir eacute preciso amar para ajudar No

entanto constatamos que as NF assim como a quase totalidade das doenccedilas raras satildeo

completamente desconhecidas pela sociedade (Cerello 2011) A pergunta mais frequente

sempre que pronunciamos a palavra neurofibromatose eacute ldquoNeuro O quecirc Natildeo deve ser

diferente para a as pessoas com Homocisteinuacuteria Porfiria Siacutendrome do X Fraacutegil Mastocitose

e tantas outrasrdquo

Ao contraacuterio quando algueacutem diz por exemplo ldquoinfarto derrame diabetes cacircncer ou

tuberculoserdquo imediatamente nos vem agrave mente determinada representaccedilatildeo social daquela

doenccedila o que desencadeia nossas reaccedilotildees emocionais especiacuteficas As doenccedilas raras sem

conhecimento puacuteblico natildeo conseguem mobilizar os sentimentos coletivos impossibilitando

uma eventual simpatia e apoio O resultado eacute a solidatildeo

Diante destas mazelas abre-se como alternativa aosagraves acometidosas pelas

neurofibromatoses a uniatildeo e a constituiccedilatildeo de entidades de apoio muacutetuo as quais procuram

assim compensar a falta de informaccedilotildees a solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas e o

atendimento agrave sua sauacutede de forma eficaz Entidades de apoio muacutetuo como a AMANF AMAVI

e tantas outras procuram compensar

A falta de conhecimento dosas profissionais de sauacutede com atendimento pesquisa e

ensino divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees seguras em paacuteginas na internet cartilhas de faacutecil

compreensatildeo por parte de pacientes e familiares realizaccedilatildeo de simpoacutesios palestras para

profissionais da aacuterea de sauacutede escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas

A solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas com reuniotildees e suporte emocional

O preconceito puacuteblico com divulgaccedilatildeo popular e defesa dos direitos sociais

47

A AMANF que se tornou Entidade de Utilidade Puacuteblica Municipal e Federal tem

procurado cumprir estes objetivos Dentre nossas principais conquistas encontra-se a

regularidade de 11 anos consecutivos de nossas reuniotildees mensais porto seguro para todosas

osas associadosas ainda que a frequecircncia dosas associadosas tenha sido oscilante e reduzida

em alguns momentos

Aleacutem disso conseguimos implantar o Centro de Referecircncia em Neurofibromatoses no

Hospital das Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais centro este que vem se

tornando uma referecircncia nacional no cuidado aos pacientes com as diversas doenccedilas reunidas

sob o nome de neurofibromatoses Aleacutem disso conseguimos realizar um Simpoacutesio

Internacional em 2009 e um Simpoacutesio Brasileiro em 2012

Alguns indicadores do nosso trabalho no CRNF satildeo

Atendimento (parceria HC UFMG e Sistema Uacutenico de Sauacutede)

o 800 famiacutelias atendidas e acompanhadas no ambulatoacuterio

o 300 famiacutelias acompanhadas pela internet

o Convecircnio com Centro de Imagem Molecular da FM UFMG

Ensino

o Palestras para cursos de Medicina Psicologia Fonoaudiologia Nutriccedilatildeo Educaccedilatildeo

Fiacutesica Fisioterapia Pedagogia Associaccedilatildeo de Acadecircmicos de Medicina e outros

Pesquisa

o Bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica

o Alunos de mestrado e doutorado

o Participaccedilatildeo em congressos

o Publicaccedilotildees cientiacuteficas

Em 2012 conseguimos a criaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Pesquisa em

Neurofibromatoses quem vem realizando alguns estudos em conjunto e em breve nossos

resultados seratildeo tornados puacuteblicos

Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria de Doenccedilas Raras a vitoacuteria de muitas Marias

Estivemos presentes minha esposa e eu no primeiro congresso Ibero-Americano de Doenccedilas

Raras em Brasiacutelia dia 25 de setembro de 2013 representando a AMANF e o CRNF

O congresso promovido pela Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria de Doenccedilas Raras (AMAVI) foi

um momento dos mais marcantes em nossas vidas A equipe da AMAVI liderada pelo amoroso

Rogeacuterio Lima realizou um trabalho que evidenciou seu entusiasmo humanismo e espiacuterito

democraacutetico na construccedilatildeo deste espaccedilo fundamental para a conquista de direitos cidadatildeos para

as pessoas com doenccedilas raras

Estiveram presentes muitas associaccedilotildees de apoio as quais tecircm sido criadas e conduzidas

com raras exceccedilotildees por mulheres Estas mulheres valorosas podem atender pelos nomes de

Marisa Ieda Martha Adriana Maria Helena Virgiacutenia Tacircnia Mara Siacutelvia Lilian Mocircnica

Thalma Cristina Sandra ou tantos outros mas na verdade todas elas satildeo as nossas Marias

guerreiras Satildeo nossas Marias incansaacuteveis na defesa de filhos ou filhas netos ou netas

porventura acometidosas por uma dentre os milhares de doenccedilas raras E as Marias venceram

mais uma etapa na sua jornada em busca de amor e conhecimento para seus entes queridos

O que foi dito no congresso confirma que estaacute em andamento uma nova maneira de

lutarmos pelas pessoas com doenccedilas pouco compreendidas e que atualmente recebem pouca

atenccedilatildeo da sociedade Temos certeza agora que estamos unidos pelo motivo comum de

48

construirmos redes sociais de apoio a partir do nuacutecleo fundamental das famiacutelias atingidas em

busca de poliacuteticas puacuteblicas destinadas agraves doenccedilas raras

Tivemos a alegria de participar das manifestaccedilotildees realizadas pelas diversas associaccedilotildees

durante o congresso contribuindo cada uma delas com o seu conhecimento especiacutefico para a

construccedilatildeo da compreensatildeo geral das doenccedilas raras Voltamos com a certeza de que precisamos

continuar cuidando das neurofibromatoses nosso dever especiacutefico mas que temos que nos unir

sob esta grande bandeira das doenccedilas raras pois estaremos participando de uma luta de milhotildees

de brasileirosas

E esta uniatildeo precisa ser em torno da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria porque ela jaacute mostrou a sua

capacidade de nos reunir porque ela possui uma face humana ao apresentar a sociedade seu

lindo nome Maria porque ela traz a nossa Vitoacuteria no proacuteprio nome

Devemos fortalecer as entidades de apoio muacutetuo a partir da AMAVI para tentarmos

compensar a falta de conhecimento sobre as doenccedilas raras a solidatildeo das pessoas com doenccedilas

raras o preconceito puacuteblico a omissatildeo institucional e a falta de atendimento especializado

Devemos lutar para a criaccedilatildeo de centros de referecircncias regionais e mecanismos de intercacircmbio

de informaccedilotildees entre eles

Como resultado de nossa participaccedilatildeo no congresso a AMANF aprovou a decisatildeo que

devemos abraccedilar este caminho que devemos aumentar nossa participaccedilatildeo na luta geral das

doenccedilas raras pois isso nos traraacute uniatildeo de forccedilas maior visibilidade conquista de espaccedilo

puacuteblico e avanccedilos nas proacuteprias questotildees das neurofibromatoses

Com a inserccedilatildeo mais ativa da AMANF no campo das doenccedilas raras atraveacutes da AMAVI

creio que haveria a oportunidade de troca de experiecircncias e principalmente um ganho enorme

na construccedilatildeo da nossa humanidade e solidariedade

Base de accedilatildeo fortalecer a rede social das pessoas com NF1

Natildeo haacute duacutevida que se constitui um imenso desafio a mobilizaccedilatildeo da sociedade para

conquistarmos a cidadania para as pessoas com um nuacutemero tatildeo grande de doenccedilas com

caracteriacutesticas proacuteprias Sabemos que eacute preciso agir contra os trecircs fatores comuns a todas as

doenccedilas raras desconhecimento cientiacutefico omissatildeo institucional e representaccedilatildeo social

inexistente Mas natildeo podemos perder de vista o princiacutepio de que as poliacuteticas puacuteblicas somente

tecircm a chance de serem eficazes se levarem em conta a rede social das pessoas acometidas

(Portugal 2011)

Neste sentido em nossa Associaccedilatildeo e em nosso Centro de Referecircncia temos procurado

realizar accedilotildees no sentido de conhecermos melhor e aumentarmos nossa atenccedilatildeo agrave rede social de

cada pessoa acometida por NF Sobre esta base de accedilatildeo esperamos ajudar a reconstruccedilatildeo da

cidadania e maior qualidade de vida para as pessoas com NF

Referecircncias Bibliograacuteficas

Cerello A C (2011) Neurofibromatose tipo 1 sobre o que natildeo se vecirc e o que se sente - Uma

travessia entre a invisibilidade social e o conhecimento sobre a doenccedila Faculdade de

Medicina Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Aplicadas agrave Sauacutede do Adulto Belo

Horizonte UFMG

Ferner RE (2011) ldquoNeurofibromatosis 1rdquo in RE Ferner SM Huson e DG Evans

Neurofibromatosis in Clinical Practice (1 ed) Londres Springer-Verlag London Limited 162

Geller M Bonalumi Filho A (2004) Neurofibromatose cliacutenica geneacutetica e terapecircutica Rio

de Janeiro Guanabara Koogan

49

Portugal S (2011) ldquoDaacutediva famiacutelia e redes sociaisrdquo in S Portugal e P H Martins Cidadania

poliacuteticas puacuteblicas e redes sociais Coimbra Universidade de Coimbra 39-53

Souza JF Toledo LL Ferreira MC Rodrigues LO Rezende NA (2009)

ldquoNeurofibromatose do tipo 1 mais comum e grave do que se imaginardquo Revista da Associaccedilatildeo

Meacutedica Brasileira 55 394-399

50

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ marciagenyahoocombr

Existe toda uma engrenagem de incentivo agrave pesquisa na aacuterea da sauacutede por parte dosas

gestoresas e das agecircncias de fomento Faz parte desta engrenagem a definiccedilatildeo dos temas de

pesquisa condizentes com as necessidades da populaccedilatildeo de modo que os resultados sejam

aplicaacuteveis no SUS As pesquisas financiadas que tecircm como campo de estudo o SUS

contribuem para a integraccedilatildeo dosas pesquisadoresas profissionais de sauacutede e gestoresas aleacutem

de auxiliarem o processo de aprimoramento do sistema O financiamento para as pesquisas em

todo o paiacutes ocorre atraveacutes de Editais que contam com o apoio administrativo do CNPq da

FINEP2 e das Fundaccedilotildees de Amparo agrave Pesquisa de representaccedilatildeo estadual

A definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede (PNCTIS)

somada agrave elaboraccedilatildeo da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sauacutede (ANPPS) levou

ao reforccedilo no orccedilamento do Departamento de Ciecircncia e Tecnologia (Decit) e consequente

aumento no investimento em pesquisa De 2004 a 2007 foram publicados 45 editais em temas

prioritaacuterios para o SUS e apoiados mais de 1200 projetos em Sauacutede Mental Sauacutede dos Povos

Indiacutegenas Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo Dengue e Doenccedilas negligenciadas Desde 2007 o Decit

tem priorizado projetos com potencial de inovaccedilatildeo aleacutem do investimento na disseminaccedilatildeo do

conhecimento resultante das pesquisas Com o objetivo de fortalecer e qualificar accedilotildees em

temas de pesquisa considerados prioritaacuterios para o SUS o Ministeacuterio da Sauacutede investe na

organizaccedilatildeo de Redes de Pesquisadoresas e Estudos Cooperativos Multicecircntricos e de caraacuteter

Nacional Dentre os projetos do Ministeacuterio da Sauacutede gostaria de citar o EPIGEN

(Epidemiologia Geneacutetica) que tem o objetivo de investigar os efeitos conjuntos da arquitetura

geneacutetica e do ambiente na ocorrecircncia de doenccedilas complexas em crianccedilas adultos jovens e

idosos com ecircnfase nas desigualdades sociais Esse projeto eacute pioneiro na aacuterea de epidemiologia

geneacutetica voltada para a sauacutede puacuteblica e sabemos como eacute importante conhecer a dimensatildeo da

frequecircncia das doenccedilas geneacuteticas raras em sua grande maioria

O Programa de Pesquisa para o SUS merece o seguinte destaque gestatildeo compartilhada em

sauacutede (PPSUS) cujos objetivos principais satildeo a) Contribuir para a diminuiccedilatildeo das

desigualdades regionais na aacuterea da ciecircncia e tecnologia em sauacutede b) fortalecer a capacidade de

gestatildeo da poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede nos estados da Federaccedilatildeo e c) descentralizar

recursos em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Este programa conta com a

participaccedilatildeo de todas as unidades federativas e em termos de apoio de 2001 a 2003 foram

financiadas 147 pesquisas e de 2004 a 2007 o financiamento ocorreu para mais de 1000

pesquisas o que denota o crescente incentivo agrave pesquisa no Brasil

Atraveacutes da Portaria Interministerial ndeg 421 de 03032010 eacute criado o Programa de Educaccedilatildeo

pelo Trabalho para a Sauacutede (PET-SAUacuteDE) inspirado no Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) Este programa disponibiliza bolsas para tutores (docentes e

teacutecnico-administrativos das IES) preceptoresas (profissionais de sauacutede que trabalham na rede

puacuteblica) e para estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede Eacute um instrumento de

1 Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro eacute Professora Associada de Geneacutetica Cliacutenica do Departamento de Pediatria da Faculdade de

Medicina da UFRJ Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira da UFRJ

e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ niacutevel 2 2 Financiadora de Estudos e Projetos httpwwwfinepgovbr

51

aprendizagem tutorial de qualificaccedilatildeo em serviccedilos iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas

de estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo em sauacutede Favorece portanto a integraccedilatildeo real dos

profissionais da aacuterea da sauacutede lotados na rede (SUS) dos profissionais das universidades e dos

alunos de graduaccedilatildeo Satildeo os seguintes os editais deste programa que jaacute ocorreram 2009 ndash Sauacutede

da Famiacutelia 2010 ndash Sauacutede da Famiacutelia 2010 ndash Vigilacircncia em Sauacutede 2010 ndash Sauacutede MentalCrack

e 2013 ndash Redes de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teve

participaccedilatildeo expressiva nestes editais de um modo geral O depoimento de um aluno do Curso

de Graduaccedilatildeo de Medicina da UFRJ ilustra bem o significado e abrangecircncia deste programa

ldquodespertou o interesse para o exerciacutecio da Medicina de Famiacutelia como especialidade possiacutevel

de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Em 2012 o PET-SAUacuteDE se juntou ao Programa Nacional de Reorientaccedilatildeo da Formaccedilatildeo

Profissional em Sauacutede (PROacute-Sauacutede) e foi lanccedilado um edital onde a UFRJ participou com

alunosas e profissionais de diversos cursos Medicina Enfermagem Odontologia Psicologia

Serviccedilo Social Farmaacutecia Fonoaudiologia Fisioterapia Nutriccedilatildeo Terapia Ocupacional

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sauacutede Coletiva Com isso foram gerados novos cenaacuterios de praacutetica e

consolidaccedilatildeo de estaacutegios interdisciplinares aleacutem da iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico

Sem duacutevida estes modelos contribuem bastante para o desenvolvimento das pesquisas e

inserccedilatildeo dosas alunosas no cenaacuterio de praacutetica profissional sem deixar de existir a

aprendizagem e o meacutetodo cientiacutefico Seria extremamente interessante podermos contar com um

ldquoPET ndash Doenccedilas Rarasrdquo onde poderia ser abordada toda a linha de atenccedilatildeo e cuidado aos

indiviacuteduos com doenccedilas raras a pesquisa e o aprendizado neste tema pouco ressaltado nos

cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

A Universidade Federal do Rio de Janeiro possui um dos mais tradicionais institutos de

pediatria do paiacutes o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira (IPPMG)

inaugurado em 02 de outubro de 1953 que oferece atendimento em todas as especialidades

pediaacutetricas em todos os niacuteveis de assistecircncia aleacutem de desenvolver ensino pesquisa e extensatildeo

nessa aacuterea A missatildeo do IPPMG eacute cuidar da crianccedila e doa adolescente de forma integral e da

maneira mais abrangente possiacutevel

O IPPMG eacute considerado Centro de Referecircncia para o Ministeacuterio da Sauacutede em Sauacutede da

Crianccedila (Centro de Referecircncia Ceacutesar Pernetta) Centro de Referecircncia em Doenccedila Falciforme e

Centro de Referecircncia para Atendimento Pediaacutetrico dos indiviacuteduos cadastrados no Centro

Nacional de Neurofibromatose Coopera com as Organizaccedilotildees Pan-Americana e Mundial de

Sauacutede (OPAS e OMS) na elaboraccedilatildeo e promoccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede nesta aacuterea Participa

desde 1995 do Programa de Assistecircncia Integral agrave Gestante e Crianccedila Infectadas pelo HIV e eacute

referecircncia para toxoplasmose em gestantes de toda a Aacuterea Programaacutetica 313 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos receacutem-natos expostos agrave toxoplasmose em todo o Municiacutepio do Rio de

Janeiro e referecircncia para siacutefilis congecircnita tambeacutem na Aacuterea Programaacutetica 31 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos pacientes nascidos na Maternidade Escola da UFRJ Na cidade do Rio de

Janeiro eacute a instituiccedilatildeo que presta o maior nuacutemero de atendimentos pediaacutetricos e possui a maior

diversidade de especialidades pediaacutetricas Eacute uma instituiccedilatildeo de perfil abrangente que perpassa

os trecircs niacuteveis de complexidade

a) Unidade de Pacientes Externos com ambulatoacuterios emergecircncia Quimioterapia e

Hospital-Dia Assistecircncia ambulatorial preventiva e curativa em Pediatria Geral e sub-

especialidades pediaacutetricas o Serviccedilo de Emergecircncia Pediaacutetrica permanece aberto 24 horas Satildeo

atendidos em meacutedia por mecircs 10 mil crianccedilas e adolescentes em regime ambulatorial 3300 na

3 A Aacuterea Programaacutetica 31 (AP 31) abrange do bairro de Bonsucesso ateacute Jardim Ameacuterica incluindo a Ilha do Governador na

Zona Norte da cidade As unidades de sauacutede realizam a cobertura assistencial do Complexo do Alematildeo Complexo da Mareacute

Complexo da Penha Parque Royal Dendecirc Morro do Barbante Vigaacuterio Geral e Parada de Lucas

52

Emergecircncia e 600 em pronto-atendimento e realizados 250 procedimentos ciruacutergicos

ambulatoriais

b) Unidade de Pacientes Internos com enfermarias de Pediatria Onco-Hematologia

Unidade de Terapia Intensiva e Cirurgia Pediaacutetrica Satildeo realizadas mensalmente uma meacutedia de

200 internaccedilotildees e 40 cirurgias

c) Serviccedilo de Medicina Transfusional (SMT) Apresenta qualidades diferenciadas por ser

um serviccedilo adequado ao atendimento de pacientes pediaacutetricos com pessoal qualificado para

realizaccedilatildeo de exames especiacuteficos desde a escolha do sangue realizaccedilatildeo de transfusotildees de

componentes e derivados sanguiacuteneos aliquotagem realizaccedilatildeo de procedimentos ambulatoriais

como transfusotildees de substituiccedilatildeo parcial e avaliaccedilatildeo de pacientes em regime de hipertransfusatildeo

Em meacutedia realiza 250 transfusotildees por mecircs Satildeo feitos 1200 exames mensais na sua maioria

imuno-hematoloacutegicos Participa do ensino teoacuterico e praacutetico para alunos dos cursos de Medicina

Biomedicina Farmaacutecia e Biologia

d) Nuacutecleo RDN cuja incumbecircncia eacute a reabilitaccedilatildeo com abordagem interdisciplinar para

a prevenccedilatildeo eou minimizaccedilatildeo de incapacidades em crianccedilas e adolescentes com deficiecircncias

eacute constituiacutedo por seis serviccedilos Fisiatria Fisioterapia Terapia Ocupacional Fonoaudiologia

Psicologia e Pediatria do Desenvolvimento

e) Laboratoacuterio de Anaacutelises Cliacutenicas Citogeneacutetica Biologia Celular e Molecular e

Citometria de Fluxo (os quatro uacuteltimos fazem parte do Nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo

em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente)

Em relaccedilatildeo a financiamento por agecircncias de fomentoos projetos ldquoUnidade de Pesquisa

Cliacutenica em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircnciardquo e ldquoNuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescenterdquo foram agraciados pela FAPERJ e

contribuiacuteram para a estruturaccedilatildeo do Hospital-Dia e implantaccedilatildeo do Nuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente Ressalta-se tambeacutem as formas de obtenccedilatildeo

de recursos atraveacutes dos pesquisadores da instituiccedilatildeo Jovem Cientista do Nosso Estado

(FAPERJ) Bolsa de Produtividade em Pesquisa (CNPq) Auxiacutelio agrave Pesquisa (APQ1FAPERJ)

Edital Universal (CNPq) Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica (FAPERJ) e Bolsas de Iniciaccedilatildeo

Cientiacutefica (FAPERJ CNPq UFRJ)

O Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira

foi fundado em 1969 e desde entatildeo tem participaccedilatildeo ativa na assistecircncia no ensino e mais

recentemente na pesquisa e na extensatildeo Eacute constituiacutedo atualmente por dois docentes do

Departamento de Pediatria e um docente colaborador voluntaacuterio Em 1989 foi fundado o

Laboratoacuterio de Citogeneacutetica que atualmente integra o Nuacutecleo Transdisciplinar de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente com desenvolvimento de novas atividades em biologia

molecular

Dentre as atividades assistenciais realizadas pelo referido serviccedilo destacamos a

investigaccedilatildeo diagnoacutestica aconselhamento geneacutetico e o acompanhamento de siacutendromes

geneacuteticas regularmente aleacutem da realizaccedilatildeo da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (desde 2006)

nas Mucopolissacaridoses e Doenccedila de Fabry aleacutem de ser considerado como Centro de

Referecircncia do Centro Nacional de Neurofibromatose para o atendimento pediaacutetrico Temos

cadastrados ateacute ao momento 3840 pacientes

Os exames complementares necessaacuterios ao diagnoacutestico das doenccedilas geneacuteticas satildeo

realizados no proacuteprio hospital (Laboratoacuterio de Geneacutetica Serviccedilo de Radiologia Laboratoacuterio de

Anaacutelises Cliacutenicas) no Hospital Universitaacuterio Clementino Fraga Filho (HUCFF) ndash UFRJ

(Laboratoacuterio de Patologia Cliacutenica Serviccedilo de Medicina Nuclear) e no Laboratoacuterio de Erros

Inatos do Metabolismo (LABEIM) do Instituto de Quiacutemica Departamento de Bioquiacutemica da

UFRJ

O Laboratoacuterio de Geneacutetica iniciou seu funcionamento em 1989 e atualmente realiza

carioacutetipo convencional e estimulado com brometo de etiacutedio em cultura de linfoacutecitos e

53

fibroblastos cultura de linfoacutecitos da expressatildeo do X-Fraacutegil com a utilizaccedilatildeo de dois meios de

cultura (TC-199 e RPMIFudR) teacutecnicas de Bandeamento-G e C e teacutecnica de FISH

Em relaccedilatildeo ao ensino satildeo recebidos alunos da graduaccedilatildeo da Faculdade de Medicina da

UFRJ atraveacutes da Disciplina de Escolha Condicionada em Geneacutetica Cliacutenica e do Programa de

Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Osas alunosas da poacutes-graduaccedilatildeo que frequentam o serviccedilo satildeo alunosas

de Mestrado e Doutorado que desenvolvem estudos na aacuterea de geneacutetica Residentes de Pediatria

e Especializandos em Geneacutetica Meacutedica

Todos os estudos desenvolvidos estatildeo inseridos na Linha de Pesquisa ldquoEstudo Cliacutenico e

Epidemioloacutegico das Doenccedilas Geneacuteticas na Infacircncia e na Adolescecircnciardquo cadastrada no

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cliacutenica Meacutedica da Faculdade de Medicina da UFRJ (2006)

Merecem destaque os estudos realizados diretamente na Rede Municipal do Rio de Janeiro

ldquoAtenccedilatildeo fisioterapecircutica agrave siacutendrome de Down no Municiacutepio do Rio de Janeirordquo e ldquoFisioterapia

motora na siacutendrome de Downrdquo (aluna de Mestrado e posteriormente de Doutorado Carla

Trevisan Martins Ribeiro) ldquoObservaccedilatildeo do fluxo de pacientes entre as maternidades da SMSRJ

e o Programa de Sauacutede Auditiva do HUCFFrdquo (aluna de Mestrado Priscila Tavares Lima) e

ldquoEstudo da oferta e anaacutelise de programas de reabilitaccedilatildeo para a populaccedilatildeo infanto-juvenil do

Municiacutepio do Rio de Janeirordquo (aluna de Mestrado Liacutevia Borgneth)

Estudos relevantes satildeo desenvolvidos em doenccedilas raras a saber a) Mucopolissacaridoses

antropometria avaliaccedilatildeo postural equiliacutebrio qualidade de vida desenvolvimento puberal b)

Aminoacidopatias niacuteveis de referecircncia no periacuteodo neonatal (carnitina e acilcarnitinas)

deficiecircncia de carnitina livre plasmaacutetica qualidade de vida e desempenho cognitivo na

Fenilcetonuacuteria c) Cromossomopatias caracterizaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de cromossomos

anocircmalos na siacutendrome de Turner implantaccedilatildeo da teacutecnica de FISH e d) Neurofibromatose

antropometria desempenho motor funccedilatildeo auditiva processamento auditivo perfil de pacientes

acompanhados

Ressaltam-se os marcos importantes na histoacuteria das doenccedilas raras que iratildeo auxiliar no

desenvolvimento de pesquisas o ldquoGrupo de Trabalho de Atenccedilatildeo agraves Doenccedilas Raras

(26042012)rdquo que se propocircs a discutir Poliacutetica de Sauacutede Puacuteblica que atenda a demanda dos

indiviacuteduos que tenham doenccedilas raras no acircmbito do SUS e o ldquoPrograma de Fomento agrave Pesquisa

em Sauacutederdquo cuja proposta eacute fomentar estudos para o tratamento de doenccedilas raras e

negligenciadas

Como produtos de todo este investimento em pesquisa cita-se a colaboraccedilatildeo entre

instituiccedilotildees duas das quais tive a oportunidade de fazer parte a) Edital MCTCNPqMS-

SCTIE-DECITMS 0382008 (Avaliaccedilatildeo em Tecnologias em Sauacutede) ndash Estudo de Qualidade de

Vida na Mucopolissacaridose UFRGS UERJ UFF IFFFIOCRUZ e b) Chamada

MCTICNPqMS-SCTIE ndash Decit Ndeg 082013 ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo Permanente para o SUS

e dimensionamento da forccedila de trabalho em sauacutede ndash Competecircncias em Geneacutetica de profissionais

da Atenccedilatildeo Primaacuteria no Brasil UFSCar UFRGS UFAL UESC UNICAMP

Outro produto igualmente importante que eacute capaz de lanccedilar o Brasil no cenaacuterio

internacional eacute o conhecimento gerado atraveacutes da pesquisa cientiacutefica designadamente as

publicaccedilotildees O Brasil responde por 27 da produccedilatildeo cientiacutefica mundial e em relaccedilatildeo agrave

quantidade de artigos publicados passou do 17deg lugar ndash 13846 artigos (2001) para o 13deg lugar

ndash 49664 artigos (2011) Entretanto a qualidade dos artigos publicados (Fator de Impacto) ainda

merece maior atenccedilatildeo Em 2001 ocupava o 31deg lugar e em 2011 o paiacutes passoupara o 40deg lugar4

4 Como exemplos de publicaccedilotildees do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica temos a) Familial study of paracentric inversion in

chromosome 3p British Journal of Medicine and Medical Research v 3 p 760-770 2013 b) The Mental Retardation in

Duchenne Muscular Dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 6-16 2012 c) Analysis of acylcarnitine profiles in

umbilical cord blood and early neonatal period by electrospray ionization tandem mass spectrometry Brazilian Journal of

Medical and Biological Research (Impresso) v 45 p 473-564 2012 d) Dental findings and oral health conditions in patients

with mucopolysaccharidosis a case series Acta Odontologica Scandinavica (Trykt utg) v 1 p 1-11 2012 e) Moderately

54

Somos atores deste processo e como tal devemos manter sua continuidade assim como a

curiosidade para lanccedilar perguntas a cada resposta gerada pelo processo de busca incessante que

eacute a pesquisa

Referecircncias Bibliograacuteficas

Base de dados Scimago Folha de Satildeo Paulo ndash 22042013

Damaso EJR (2013) Anaacutelise da Percepccedilatildeo dos Internos da Faculdade de Medicina da UFRJ

sobre sua Formaccedilatildeo Profissional a partir do Estaacutegio em Sauacutede da Famiacutelia Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Cliacutenica Meacutedica Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro

Damaso EJR et al (2012) ldquoO Projeto de Educaccedilatildeo pelo Trabalho e a Inserccedilatildeo dos

Acadecircmicos de Medicina na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutederdquo Revista Espaccedilo Cientiacutefico Livre 2(8)

37-44

Internet

httpagenciabrasilebccombrnoticia2013-07-22

httpnoticiasterracombrcienciapesquisa

httpportalsaudegovbrportalsaudeprofissional

httpwwwneurolipidosescombrpacientesreportagensmaterias_exclusivas177ministrio-

da-sade-cria-grupo-de-trabalho-de-ateno-s-doenas-raras

progressive Ullrich congenital muscular dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 93-96 2012 f) A novel nonsense

mutation in KDM5CJARID1C gene causing intelectual disability short stature and speech delay Neuroscience Letters (Print)

v 498 p 67-71 2011 g) The National Public Health System and rehabilitation in Brazil Revista Panamericana de Salud

Puacuteblica (Impresa) Pan American Journal of Public Health (Impresa) v 28 p 43-48 2010 h) Differential integrin expression

by T lymphocytes potential role in DMD muscle damage Journal of Neuroimmunology (Print) v 223 p 128-130 2010 i)

Mucopolysaccharidosis I II and VI Brief review and guidelines for treatment Genetics and Molecular Biology (Impresso)

v 33 p 589-604 2010 e j) Plexiform neurofibroma in the ear canal of a patient with Type I Neurofibromatosis Brazilian

Journal of otorhinolaryngology (Online) v 75 p 158-158 2009

55

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila

Rara

Maria Helena de Magalhatildees Dourado1 Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil ndash ANPB hdourado10gmailcom

As associaccedilotildees de apoio aos pacientes com doenccedila rara desempenham um papel fundamental

na vida dessas pessoas em todo o mundo A famiacutelia que tem algueacutem diagnosticado com

alguma doenccedila rara sente a necessidade de contar com alguma entidade voltada

especificamente para a luta em favor do seu familiar e deposita na associaccedilatildeo as esperanccedilas

de vencer as barreiras impostas pela doenccedila quase sempre devastadora e agraves vezes sem

possibilidade de cura

O objetivo deste texto eacute destacar a importacircncia das associaccedilotildees como parte da rede de apoio

ao paciente elencando as suas possiacuteveis formas de atuaccedilatildeo como entidade destinada a trabalhar

pela melhor qualidade de vida das pessoas com doenccedilas raras

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara implica inuacutemeros desafios a vencer transtorna o

ambiente familiar amedronta e conduz a pessoa afetada e sua famiacutelia a uma busca angustiante

das razotildees pelas quais estatildeo destinados a ser raridade bem como dos caminhos a seguir O

sentimento que prevalece no momento do diagnoacutestico eacute o da extrema solidatildeo Por isso torna-

se imperativo compartilhar os sentimentos e as duacutevidas com outras pessoas que estatildeo na mesma

situaccedilatildeo e que passam pelas mesmas anguacutestias A troca que se estabelece entre osas

semelhantes na dor ameniza o sofrimento e fortalece a luta para enfrentar e vencer desafios

Essa eacute a grande motivaccedilatildeo que estimula a criaccedilatildeo das associaccedilotildees de apoio

Ao formarem uma associaccedilatildeo as famiacutelias normalmente buscam natildeo soacute mais informaccedilotildees

e orientaccedilotildees sobre a doenccedila como tambeacutem o fortalecimento para reivindicar direitos As

associaccedilotildees datildeo respaldo agraves reivindicaccedilotildees e congregam todosas aquelesas que se dispotildeem a

trabalhar para que oa paciente seja vistoa como uma cidadatildeoatilde que precisa ter os seus direitos

respeitados A expectativa das famiacutelias que se agregam ao grupo eacute encontrar o apoio nas lutas

por dias melhores o que soacute eacute possiacutevel com a perspectiva de melhor qualidade de vida para os

seus entes queridos

Na caminhada a favor das pessoas com doenccedilas raras as associaccedilotildees fazem parte de uma

grande rede de apoio onde se encontram segmentos da sociedade entre eles osas diversosas

profissionais de sauacutede que tratam da sintomatologia das doenccedilas as instituiccedilotildees de pesquisa

que se dedicam a experimentos e ensaios cliacutenicos com vistas agrave descoberta de medicamentos que

minimizem e ateacute possam curar as doenccedilas os centros de referecircncia voltados para o atendimento

a essesas pacientes e dos seus familiares os laboratoacuterios farmacecircuticos que se responsabilizam

pela produccedilatildeo das terapias e medicamentos destinados agraves doenccedilas e finalmente os oacutergatildeos do

governo que existem para cuidar da sauacutede da populaccedilatildeo do paiacutes

Um dos papeacuteis das associaccedilotildees eacute o de estabelecer as interfaces com os demais componentes

da rede de apoio aoagrave paciente Assim elas conseguem o suporte necessaacuterio agraves demandas das

pessoas que apoiam possibilitando-lhes o acesso a informaccedilotildees orientaccedilotildees meacutedicas e o

1 Maria Helena Dourado eacute vice-presidente da Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil wwwniemannpickbrasilorgbr

wwwniemannpickbrasilblogspotcombr

56

contato com diferentes profissionais como fisioterapeutas nutricionistas fonoaudioacutelogos

psicoacutelogos e educadores Tambeacutem disseminam as informaccedilotildees relativas a pesquisas e ensaios

cliacutenicos para o desenvolvimento de medicamentos atraveacutes do contato constante que mantecircm

com pesquisadoresas ligadosas a essas pesquisas e esses ensaios cliacutenicos Outras formas de

apoio agraves pessoas que convivem com alguma doenccedila rara satildeo a articulaccedilatildeo com os centros de

referecircncias e oacutergatildeos de sauacutede do paiacutes para garantir o atendimento aosagraves pacientes com

seguranccedila e qualidade a manutenccedilatildeo do contato com os laboratoacuterios produtores dos

medicamentos natildeo somente para o momento da falta desses medicamentos como tambeacutem para

conhecer os avanccedilos no desenvolvimento de novas drogas e atuar em conjunto com outras

associaccedilotildees na busca da soluccedilatildeo de problemas relativos ao atendimento das necessidades dosas

pacientes o tratamento igualitaacuterio e continuado das pessoas com doenccedilas raras

Entre as competecircncias das associaccedilotildees de apoio estaacute a de reivindicar os direitos dos

pacientes junto agraves instacircncias governamentais de sauacutede e junto aos segmentos da sociedade para

garantir tratamento igualitaacuterio no atendimento das necessidades dessas pessoas que satildeo raras

no universo mas que satildeo iguais aos seus semelhantes A luta pelo reconhecimento dos direitos

das pessoas com doenccedilas raras eacute constante em todo o mundo principalmente quanto ao acesso

a medicamentos e terapias de alto custo tendo as famiacutelias que ingressar com accedilotildees judiciais

para obterem os tratamentos existentes Para isso as associaccedilotildees tecircm que disponibilizar os

serviccedilos advocatiacutecios de profissionais experientes no assunto e somente por esse meio

conseguem a devida atenccedilatildeo dos governos para as suas demandas

A inexistecircncia de cura para uma doenccedila eacute cruel para quem vive o problema Tambeacutem crueacuteis

satildeo o descaso a falta de compromisso e a desatenccedilatildeo com osas pacientes com doenccedilas raras

que se observam em todo o mundo quando se trata principalmente da relaccedilatildeo paciente -

governo Tudo isso tem como base a falta de compromisso o desconhecimento das doenccedilas e

a falta de informaccedilatildeo Compete agraves associaccedilotildees atuarem com muito empenho para que essas

doenccedilas sejam conhecidas por toda a sociedade

O desconhecimento comeccedila no acircmbito da classe meacutedica e de outros profissionais de sauacutede

que na maioria concluem os seus cursos acadecircmicos sem terem tido a oportunidade de

conhecer e aprofundar conhecimento sobre essas doenccedilas Poucos satildeo osas meacutedicosas que

se dedicam ao trabalho com doenccedilas raras e quando isso acontece eacute muitas vezes porque

tiveram a oportunidade de apoacutes deixarem a academia se depararem com uma paciente com

doenccedila rara e se sentirem interessadosas em contribuir para a melhoria de qualidade de vida

dessea paciente Felizmente esses profissionais existem em todo o mundo

Um dos esforccedilos das associaccedilotildees de apoio para proporcionar a interface dosas pacientes

com osas profissionais de sauacutede bem como com outrosas profissionais que podem ajudar na

melhoria da sua qualidade de vida como educadoresas psicoacutelogosas e assistentes sociais satildeo

os encontros entre as famiacutelias e osas amigosas dessesas pacientes onde se estabelece a inter-

relaccedilatildeo das famiacutelias com osas profissionais para orientaccedilotildees esclarecimento de duacutevidas e

conhecimento das novidades relativas agraves pesquisas realizadas em todo o mundo Eacute fundamental

que esses encontros ocorram pelo menos uma vez por ano

Alguns anos jaacute se foram desde o iniacutecio do trabalho entre as associaccedilotildees de apoio agraves doenccedilas

raras brasileiras que trabalham de matildeos dadas para que osas pacientes tenham os seus direitos

de cidadatildeosatildes garantidos Finalmente em 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil instituiu um

grupo de trabalho com vistas agrave definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para essas doenccedilas

Para essa tomada de decisatildeo do governo brasileiro concorreram tambeacutem solicitaccedilotildees inclusive

de parlamentares que se solidarizaram com a causa das associaccedilotildees Os trabalhos do grupo

instituiacutedo desenvolveram-se durante o ano de 2012 sendo que a implantaccedilatildeo do atendimento

atraveacutes do Sistema Uacutenico de Sauacutede em todo o territoacuterio nacional eacute aguardada com muita

ansiedade por todos a serem beneficiados E se espera que isso aconteccedila ateacute o final de 2013

57

Como referido anteriormente o trabalho isolado de uma associaccedilatildeo de apoio aoagrave paciente

jamais conseguiraacute fluir com relaccedilatildeo agraves questotildees das doenccedilas raras Eacute fundamental a interaccedilatildeo

entre as associaccedilotildees no seu conjunto e em rede com os outros segmentos da sociedade para

fazer com que a sua voz se torne efetivamente audiacutevel pelosas que satildeo responsaacuteveis pela

tomada de decisotildees referentes agraves suas necessidades Estar junto trabalhar junto sempre traz

benefiacutecios para osas pacientes de cada uma delas e quando se trata de doenccedilas raras o tempo

eacute demasiadamente curto para que se protelem accedilotildees e decisotildees

A participaccedilatildeo conjunta das associaccedilotildees brasileiras de apoio aosagraves pacientes com doenccedilas

raras fortaleceu a reivindicaccedilatildeo pela definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas junto ao governo brasileiro

A luta pelos direitos igualitaacuterios para esses pacientes continuaraacute com o acompanhamento da

implantaccedilatildeo dessas poliacuteticas e da funcionalidade de todo o atendimento a ser prestado pelo

governo atraveacutes dos setores puacuteblicos de sauacutede jaacute existentes e da criaccedilatildeo do que for necessaacuterio

para o atendimento pleno

A participaccedilatildeo das associaccedilotildees em eventos como o I Congresso Ibero Americano de

Doenccedilas Raras e em outros similares no Brasil e no exterior consolida a sua importacircncia no

contexto nacional e mundial O tema destacado pelo I Congresso Ibero Americano de Doenccedilas

Raras evidencia a necessidade de se lanccedilar um olhar social para as pessoas com doenccedilas raras

como cidadatildeosatildes

Considerando as associaccedilotildees de pacientes buscar um olhar social para as doenccedilas raras

pressupotildee como referid anteriormente que elas atuem em rede interagindo com os segmentos

sociais e isso se concretiza atraveacutes da divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre as doenccedilas mobilizaccedilatildeo

da sociedade sensibilizaccedilatildeo dos segmentos sociais para a importacircncia da inclusatildeo das pessoas

com doenccedilas raras no sistema de sauacutede no sistema educacional no trabalho quando possiacutevel

e ainda disseminando a ideia de que essa pessoa eacute antes de tudo um ser igual ainda que raro

O sonho de igualdade eacute constante para todosas osas que se sentem excluiacutedosas e soacute a

perseveranccedila eacute capaz de tornar esse sonho realidade Eacute uma luta aacuterdua com caminhos tortuosos

e cheios de desafios mas a vontade de vencer as dificuldades das doenccedilas fortalece e anima

Fundamental eacute entender que o tratamento igualitaacuterio e continuado dentro da sociedade da qual

participam tambeacutem as pessoas com doenccedilas raras eacute imprescindiacutevel por se tratar

prioritariamente de um direito

O importante eacute sensibilizar para conseguir que todos os terrenos se tornem feacuterteis e

receptivos agraves demandas Antes de tudo eacute necessaacuterio entender que pessoas com doenccedilas raras

satildeo iguais aos seus semelhantes As associaccedilotildees de apoio trabalham unidas e com muita

disposiccedilatildeo para que a sociedade se conscientize que ldquoO sonho de igualdade soacute cresce no

respeito pelas diferenccedilasrdquo (Augusto Cury)

58

Para um pacto social no campo das Doenccedilas Raras

Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis

Maria Joseacute Delgado Fagundes1 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA mariadelgadointerfarmaorgbr Marcela Simotildees2 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA marcelasimoesinterfarmaorgbr

Histoacuterico das Doenccedilas Raras Atores desafios do movimento social e

poliacuteticas puacuteblicas

No Brasil estima-se que satildeo 13 milhotildees as pessoas com doenccedilas raras sendo que 75 se

manifestam em crianccedilas e contribuem para a morbidade nos primeiros 18 anos de vida Apesar

disso as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte da agenda das autoridades governamentais

brasileiras ateacute o iniacutecio dos anos 2000

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees de pacientes e movimentos sociais ao redor do mundo foi muito

importante para a mudanccedila desse cenaacuterio pois natildeo apenas deu voz agraves necessidades dessas

pessoas como contribuiu para que as doenccedilas raras fossem consideradas uma questatildeo de sauacutede

puacuteblica ndash ainda que se tenha optado por trataacute-las a princiacutepio pelo vieacutes das doenccedilas geneacuteticas

Essa nova abordagem impulsionou a criaccedilatildeo de inuacutemeros programas oficiais voltados agrave

assistecircncia dessesas pacientes e o advento de incentivos regulatoacuterios e econocircmicos para o

desenvolvimento de drogas destinadas ao tratamento de doenccedilas raras os designados

medicamentos oacuterfatildeos Tambeacutem impeliu o Brasil para esse desenvolvimento permitindo

avanccedilos como a Portaria Nordm 8120093 mas apesar disso o caminho a ser percorrido ainda eacute

bastante longo

Em maior ou menor grau como resultado desse conjunto de medidas das inovaccedilotildees da

medicina e de uma maior conscientizaccedilatildeo por parte da sociedade governos instituiccedilotildees

empresas pacientes e familiares a questatildeo das doenccedilas raras estaacute sendo discutida no paiacutes

trazendo agrave tona questotildees como a proacutepria definiccedilatildeo do conceito de doenccedila rara o preccedilo dos

medicamentos e o seu impacto no sistema de sauacutede

Aleacutem das questotildees anteriormente citadas diversas barreiras dificultam o acesso dosas

pacientes a tratamentos especializados e a medicamentos no paiacutes osas profissionais da aacuterea

carecem de treinamento e capacitaccedilatildeo ndash o que compromete ou retarda o diagnoacutestico dosas

pacientes falta informaccedilatildeo sobre essas doenccedilas para a famiacutelia e apenas 2 das doenccedilas raras

podem beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na evoluccedilatildeo da doenccedila

O principal desafio aos olhos da Interfarma estaacute na equaccedilatildeo de um binocircmio equilibrar a

necessidade de atender adequadamente agraves demandas dosas pacientes com os custos crescentes

do setor decorrentes do progresso cientiacutefico e do avanccedilo tecnoloacutegico Para aleacutem disso

1 Maria Fagundes eacute diretora de Responsabilidade Social e Empresarial da INTERFARMA wwwinterfarmaorgbr 2 Marcela Simotildees eacute Analista de Acesso e Inovaccedilatildeo da INTERFARMA 3 Portaria de geneacutetica no SUS

59

conciliar essas questotildees com os entraves burocraacuteticos a duplicidade de funccedilotildees e uma

infinidade de meandros e exigecircncias que fazem com que o tempo para aprovaccedilatildeo dos protocolos

de pesquisa cliacutenica praticamente inviabilize a participaccedilatildeo brasileira na produccedilatildeo de

medicamentos inclusive aqueles para doenccedilas raras os supramencionados medicamentos

oacuterfatildeos

Cenaacuterio das doenccedilas raras no Brasil e no mundo acesso a tratamentos

medicamentosos e procedimentos tecnoloacutegicos

Prestar assistecircncia adequada aosagraves pacientes com doenccedilas raras significa formular uma poliacutetica

capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e tratamento por um lado

oferta de medicamentos oacuterfatildeos por outro

Na praacutetica esse binocircmio requer a organizaccedilatildeo de uma rede de serviccedilos que mescle

tratamentos e medicamentos de alto teor tecnoloacutegico com procedimentos de baixa

complexidade que possam suprir as principais necessidades dosas pacientes diagnoacutestico

preciso e precoce ndash um dos grandes problemas enfrentados por essas pessoas profissionais

qualificados - haacute um deacuteficit de conhecimento meacutedico e cientiacutefico acerca dessas doenccedilas

infraestrutura condizente com as diferentes necessidades de sauacutede dosas pacientes acesso a

medicamentos e acompanhamento dos tratamentos ministrados

O fato de o Brasil natildeo possuir uma poliacutetica oficial especiacutefica para doenccedilas raras natildeo

significa poreacutem que osas pacientes natildeo recebam cuidados e tratamento Os medicamentos

acabam chegando ateacute elesas na maioria por via judicial E o SUS de uma maneira ou de outra

atende essas pessoas poreacutem de forma fragmentada sem planejamento com grande desperdiacutecio

de recursos puacuteblicos e prejuiacutezo para osas pacientes

Embora possuam diferentes definiccedilotildees e abordagens em torno do tema as poliacuteticas

puacuteblicas desenvolvidas ao redor do mundo tecircm apresentado uma gama de soluccedilotildees para ampliar

o acesso dosas pacientes agrave assistecircncia O desafio eacute consideraacutevel levando-se em conta que 95

das doenccedilas raras natildeo possuem tratamento e dependem de uma rede de cuidados paliativos que

garantam ou melhorem a qualidade de vida dosas pacientes

Na outra ponta do espectro estaacute uma pequena percentagem das doenccedilas raras que dispotildee

de tratamentos medicamentosos capazes de interferir na sua progressatildeo mas o custo elevado

das drogas tem exigido dos governos decisotildees poliacuteticas e procedimentos especiacuteficos para

garantir seu fornecimento contiacutenuo Entre um grupo e outro encontram-se certas modalidades

de doenccedilas raras que podem ser tratadas cirurgicamente ou com medicamentos regulares que

ajudam apenas a atenuar os sintomas

Existem na experiecircncia internacional alguns benchmarkings que merecem ser destacados

como

bull Para agilizar o acesso dos pacientes a medicamentos alguns paiacuteses adotam estrateacutegias

destinadas a facilitar o registro ndash preacute-requisito para a comercializaccedilatildeo

bull Revisatildeo acelerada da documentaccedilatildeo e reduccedilatildeo das exigecircncias em relaccedilatildeo a estudos

cliacutenicos satildeo as praacuteticas mais frequentes

bull Haacute casos que a designaccedilatildeo de droga oacuterfatilde em outros paiacuteses eacute suficiente para a aprovaccedilatildeo

de um medicamento

bull Muitos paiacuteses concedem incentivos agraves empresas fabricantes como reduccedilatildeo de taxas e

exclusividade de mercado em relaccedilatildeo agrave concorrecircncia

bull O modelo de poliacutetica adotado em vaacuterios paiacuteses em relaccedilatildeo aos medicamentos oacuterfatildeos eacute

conforme a particularidade do sistema de sauacutede ndash se eacute puacuteblico ou privado e quem eacute o

pagador majoritaacuterio dos custos

60

Definiccedilatildeo de Drogas Oacuterfatildes

Segundo Garau e Ferrandiz (2009 3 apud Wiest 2010) um produto adquire o status de oacuterfatildeo

quando atende a quatro criteacuterios O primeiro deles eacute o criteacuterio da severidade ou seja todo

medicamento destinado a tratamento de uma doenccedila crocircnica que represente uma ameaccedila de

morte aoagrave paciente e exija que o mesmo se mantenha em tratamento ao longo de toda a sua

vida O segundo eacute o criteacuterio da necessidade natildeo atendida que corresponde agraves doenccedilas cuja

inexistecircncia de meacutetodos satisfatoacuterios de diagnoacutesticos prevenccedilatildeo ou tratamento datildeo a este

faacutermaco a alcunha de oacuterfatildeo O terceiro trata da questatildeo da prevalecircncia que institui que todo

aquele medicamento desenvolvido para o tratamento de doenccedilas atinge uma pequena parcela

da populaccedilatildeo Por fim o quarto criteacuterio corresponde ao retorno financeiro esperado que trata

do medicamento cujas vendas natildeo apresentem expectativa de cobertura dos custos iniciais de

pesquisa e desenvolvimento

Processo de desenvolvimento de um medicamento

Diante dos dados discutidos acima se torna importante discutir o processo de desenvolvimento

de um medicamento Isso porque no caso de drogas oacuterfatildes o alto custo de desenvolvimento dos

mesmos para o tratamento de doenccedilas raras eacute agravado pela dificuldade de conduzir ensaios

cliacutenicos para comprovar o funcionamento de um medicamento ndash sendo este um fator

determinante para a aprovaccedilatildeo e posterior lanccedilamento do produto no mercado ndash numa

populaccedilatildeo pequena de pacientes O problema eacute uma barreira para evidecircncias cientiacuteficas e

portanto deve ser caracterizado como um problema de sauacutede puacuteblica

O processo eacute tecnicamente dividido em cinco fases Segundo WIEST (2010) a fase 1 leva

cerca de 2 anos e corresponde ao periacuteodo no qual identifica-se o produto ou a doenccedila ldquoalvordquo

para conduzir as pesquisas de ordem baacutesica Na fase 2 ocorre a delimitaccedilatildeo do estudo e o iniacutecio

dos ensaios preacute-cliacutenicos nos quais os princiacutepios ativos satildeo testados em animais para verificar a

sua eficaacutecia e seguranccedila Esta fase leva entre 3 e 6 anos para ser desenvolvida A fase 3 leva de

6 a 7 anos e corresponde ao periacuteodo no qual ocorrem os ensaios cliacutenicos ou seja os produtos

passam a ser testados em seres humanos Jaacute na fase 4 que decorre em aproximadamente 2 a 4

anos satildeo verificados os ensaios realizados na fase anterior Caso o resultado tenha sido positivo

a induacutestria farmacecircutica busca o registro e a autorizaccedilatildeo para a comercializaccedilatildeo junto agraves

Fig 1 - Fonte Doenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacional ndash Interfarma 2013

61

autoridades de sauacutede Por fim a fase 5 trata da introduccedilatildeo deste medicamento no mercado

Destaca-se que todo o processo leva em torno de 14 anos o que evidencia a sua complexidade

e a necessidade de um elevado dispecircndio de capital humano e monetaacuterio para a sua conclusatildeo

Na figura 2 eacute possiacutevel visualizar as fases da produccedilatildeo de um medicamento

Eacute possiacutevel afirmar que diante do cenaacuterio descrito acima nos casos das drogas oacuterfatildes o

tempo de produccedilatildeo do medicamento e o nuacutemero restrito de pacientes disponiacuteveis para participar

das fases de estudos cliacutenicos dificultam ainda mais a produccedilatildeo de um medicamento Aleacutem

disso outros entraves como a falta de incentivo governamental para a pesquisa cliacutenica e os

aspectos burocraacuteticos de aprovaccedilatildeo de registros e preccedilos tornam o cenaacuterio ainda mais agravante

para as pessoas com doenccedilas

Entraves agrave Pesquisa Cliacutenica

O Brasil eacute a sexta economia do mundo mas ocupa a 42ordf posiccedilatildeo quando se trata de pesquisa

cliacutenica A pesquisa cliacutenica eacute uma das entradas para novas tecnologias no paiacutes no setor da sauacutede

onde delas dependem potenciais medicamentos contra o cacircncer diabetes doenccedilas

cardiovasculares e AIDS que lideram o ranking dos ensaios

Ainda assim o tempo meacutedio gasto atualmente no Brasil para aprovar um protocolo de

pesquisa cliacutenica varia de um a dois anos o dobro da meacutedia mundial sendo as consequecircncias

muacuteltiplas como por exemplo o Brasil tem sido descartado de ensaios cliacutenicos de menor

duraccedilatildeo devido ao risco de que a autorizaccedilatildeo natildeo saia a tempo e a desistecircncia dos centros

internacionais de pesquisa de realizar em parceria com o Brasil estudos multicecircntricos e

globais que envolvem muitos paiacuteses e prazos preacute-determinados

Figura 2 Fases de produccedilatildeo do medicamento

62

No caso das doenccedilas raras esse cenaacuterio agrava-se esta via de acesso dosas doentes agraves

drogas oacuterfatildes e acompanhamento por um corpo cliacutenico de excelecircncia eacute ainda mais estreito pois

os estudos que envolvem muacuteltiplos paiacuteses e centros tecircm grande peso uma vez que devido agrave

baixa prevalecircncia osas pacientes satildeo recrutadosas em diversas partes do mundo

Para muitosas pacientes que natildeo respondem bem aos tratamentos convencionais a

participaccedilatildeo em um protocolo de pesquisa pode representar a uacuteltima esperanccedila e osas que

dispotildeem de mais recursos tecircm possibilidade de ir ao exterior e participar natildeo sendo este o

cenaacuterio da maioria da populaccedilatildeo brasileira

Por outro lado segundo (Heemstra 2008) devido agrave raridade e ao reduzido mercado

consumidor torna-se difiacutecil caro e arriscado o desenvolvimento de pesquisas que viabilizem a

produccedilatildeo de medicamentos para o seu tratamento fazendo com que esta questatildeo passe a ser

natildeo somente um problema de sauacutede puacuteblica mas econocircmico e social

Enquanto a meacutedia mundial para aprovaccedilatildeo de pesquisas cliacutenicas varia de 3 a 4 meses no

Brasil eacute preciso esperar o triplo do tempo Mas este natildeo eacute o uacutenico desestiacutemulo no paiacutes aos

patrocinadores das pesquisas e ao desenvolvimento de medicamentos oacuterfatildeos Por forccedila de uma

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede os patrocinadores de estudos cliacutenicos devem

Figura 3 Pesquisas acadecircmicas no Brasil

63

continuar a fornecer aos pacientes para o resto de suas vidas o tratamento testado quando

houver algum benefiacutecio aoagrave paciente mesmo sem aprovaccedilatildeo da ANVISA Diante da baixa

incidecircncia das doenccedilas raras esta eacute uma questatildeo problemaacutetica uma vez que o patrocinador teraacute

que fornecer o medicamento gratuitamente para a quase totalidade do seu mercado consumidor

A incerteza e a inseguranccedila dosas empresaacuteriosas diante desse cenaacuterio e da capacidade do

Estado de proteger as inovaccedilotildees tambeacutem reduz o investimento privado em pesquisas no Brasil

A avaliaccedilatildeo de reestruturaccedilatildeo da maacutequina governamental em termos de infraestrutura e

dos processos burocraacuteticos que a envolvem visando a eficiecircncia a eficaacutecia e a efetividade nos

processos se mostram cada vez mais necessaacuterios para estimular a parceria entre governo

universidades e iniciativa privada tatildeo necessaacuteria para a aacuterea da pesquisa cliacutenica no paiacutes

Abaixo eacute possiacutevel ver o cenaacuterio de pesquisa cliacutenica no paiacutes

Figura 4 Pesquisas cliacutenicas

64

Fortalecimento do Movimento Social

Aleacutem dos jaacute explicitados acima o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes eacute um

uacuteltimo ponto que merece destaque Isso porque como jaacute comentado anteriormente a

participaccedilatildeo dos atores sociais no processo eacute sempre fundamental para a inclusatildeo de um

determinado tema na agenda governamental e para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas No caso

das doenccedilas raras isso natildeo foge agrave regra

Segundo (Wiest 2010) na maioria dos Estados democraacuteticos o direito agrave sauacutede eacute

constitucionalmente assegurado sendo atribuiccedilatildeo do governo garantir o acesso igualitaacuterio agrave

populaccedilatildeo O direito de proteccedilatildeo a sauacutede eacute considerado um dos princiacutepios fundamentais dos

Estados modernos

O artigo 251 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos prevecirc que cada cidadatildeoatilde

tem direito agrave sauacutede e agrave assistecircncia meacutedica Assim cabe ao governo assegurar condiccedilotildees para o

desenvolvimento de um tratamento efetivo atraveacutes de medidas que garantam a avaliaccedilatildeo segura

de novas drogas bem como o seu fornecimento e distribuiccedilatildeo junto ao mercado

Aleacutem disso as decisotildees das autoridades devem ser tomadas no intuito de zelar pela sauacutede

puacuteblica sem conflitar com os interesses dos demais agentes do processo poliacutetico

Figura 5 Pesquisa e desenvolvimento de medicamento

65

No Brasil o artigo 196 da Constituiccedilatildeo Federal estaacute expressamente instituiacutedo que eacute papel

do Estado brasileiro prover a populaccedilatildeo com assistecircncia agrave sauacutede o que significa dizer

assistecircncia meacutedica e farmacecircutica e que isso deve ser realizado por meio de medidas

econocircmicas e sociais natildeo podendo haver qualquer forma de discriminaccedilatildeo ou favorecimento a

um setor ou classe social

Pode-se dizer que satildeo parcerias importantes para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo social

as existentes entre os diversos elos de participaccedilatildeo os atores sociais (pacientes cuidadoresas

e organizaccedilotildees sociais) o controle social a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o

diaacutelogo Social

A discussatildeo baacutesica das parcerias estaacute relacionada neste caso ao uso de novas tecnologias

em sauacutede de forma viaacutevel para o sistema de sauacutede como um todo a ponto de assegurar a

universalidade a equidade e a qualidade do atendimento a populaccedilatildeo Desta forma tratamentos

inovadores para doenccedilas raras necessitam de uma abordagem diferenciada por parte dos

tomadores de decisatildeo do sistema puacuteblico de sauacutede

Eacute pertinente ao controle social fiscalizar e colaborar com o aprimoramento das resoluccedilotildees

das agecircncias governamentais e da gestatildeo das tecnologias participar ativamente das decisotildees

que definam ou natildeo o acesso agraves tecnologias com dados reais do paciente ampliar o

conhecimento e opinar nos criteacuterios de escolha para incorporar ou abandonar uma tecnologia

expressar seu posicionamento nas consultas puacuteblicas disponibilizadas na ANVISA e ANS

entre outras formas de participaccedilatildeo social Ressalta-se que o diaacutelogo social eacute um importante

exerciacutecio de negociaccedilatildeo em prol do interesse comum para um resultado de consenso

O Pacto Social para doenccedilas raras deve ter por objetivo aleacutem de oferecer suporte

assistencial aos pacientes e familiares a contribuiccedilatildeo para disseminar o conhecimento e as

informaccedilotildees para oa pacientes o treinamento profissional a promoccedilatildeo de pesquisa o

desenvolvimento de tratamento e por fim realizar o contato entre as diversas organizaccedilotildees de

pacientes

Figura 6 Pacto social para Doenccedilas Raras

66

Conclusatildeo

Em suma existem muitos entraves presentes nesse tema e muitos pontos ainda a serem

discutidos Apesar disso eacute possiacutevel destacar de tudo que foi explicitado os seguintes pontos

bull Eacute importante que se estabeleccedilam poliacuteticas de incentivo ao desenvolvimento de Drogas

Oacuterfatildes (incentivos econocircmicos para pesquisa agilizaccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da nova droga

isenccedilatildeo tributaacuteria definiccedilatildeo de fundos para financiamento de pesquisa produccedilatildeo a partir

da canalizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos e privados etc) Eacute um importante mecanismo para

a induacutestria farmacecircutica produzir novos medicamentos oacuterfatildeos

bull A ampliaccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de pesquisa cliacutenica eacute essencial para

a inovaccedilatildeo e o desenvolvimento de novas tecnologias que melhorem a qualidade de vida

dosas pacientes quando possiacutevel o tratamento medicamentoso

bull A melhoria no recrutamento de pacientes para os ensaios cliacutenicos por meio da

internacionalizaccedilatildeo dos estudos e nichos de mercado inclusive o das doenccedilas raras

deve ser considerada vital e eficiente

bull E o mais importante o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes estaacute

diretamente ligado com o sucesso da estrateacutegia social de garantir um direito

constitucional a sauacutede

Lembramos como setor que o papel da induacutestria farmacecircutica eacute buscar compreender

melhor as doenccedilas e sempre que possiacutevel trazer a perspectiva doa paciente

Aleacutem disso deve buscar participar do processo de formulaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas para

doenccedilas raras dentro dos padrotildees regidos por lei e da forma mais eacutetica possiacutevel Buscar o acesso

agrave informaccedilatildeo diagnoacutestico e melhores tratamentos para osas pacientes visando contribuir e

participar do pacto social para as doenccedilas raras no paiacutes e no mundo

Referecircncias Bibliograacuteficas

Garau M Ferrandiz JM (2009) ldquoAcess mechanisms for orphan drugs a comparative study

of select European countriesrdquo Office of Health Economics 52 1-24

Interfarma (2013) ldquoDoenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacionalrdquo Interfarma

Consultado a 9032014 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbrsite2cadernosDoencas_Raraspdf

Interfarma (2013) ldquoGuia Interfarma 2013rdquo Interfarma Consultado a 9032015 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbruploadsbiblioteca33-guia-interfarma-2013-sitepdf

Wiest R (2010) A Economia das Doenccedilas Raras Teoria Evidecircncias e Poliacuteticas Puacuteblicas

Dissertaccedilatildeo de bacharelado do curso de Ciecircncias Econocircmicas Porto Alegre Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

Heemstra H E et al (2008) ldquoOrphan drug development across Europe bottlenecks and

opportunitiesrdquo Drug Discovery Today 13 15-16 670-676

67

Atendimento a doenccedilas raras no Distrito Federal

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso1 Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal nucleodegeneticadfyahoocombr

Doenccedilas raras - Conceituaccedilatildeo

Existem vaacuterias conceituaccedilotildees para Doenccedilas raras

Na Uniatildeo Europeacuteia (EU) classifica-se como Doenccedila Rara aquela com prevalecircncia inferior

a 5 casos por 10000 habitantes (Domenica et al 2011)

A OMS define doenccedila rara como aquela que afeta 13 pessoas para cada 2000 indiviacuteduos

O Orphan Drug Act (ODA) define doenccedila rara como uma doenccedila que afeta menos que

200000 pessoas no paiacutes (EUA) (De luca 2001)

As doenccedilas raras representam risco para a sobrevivecircncia e satildeo condiccedilotildees cronicamente

debilitantes (Domenica et al 2011) Estima-se que existam entre 6000 a 8000 distintas doenccedilas

raras afetando mais de 6 de toda a populaccedilatildeo A cada semana cinco novas doenccedilas satildeo

descritas 80 das quais satildeo de etiologia geneacutetica (Stakišaitis et al 2007) Portanto essas

condiccedilotildees podem ser consideradas raras quando avaliadas individualmente mas afetam uma

proporccedilatildeo significante da populaccedilatildeo quando consideradas como um grupo uacutenico 30 milhotildees

de europeus e 25 milhotildees de norte americanos (Weely e Leufkens 2004)

Doenccedilas Raras - Impacto populacional

As doenccedilas raras produzem um grande impacto na populaccedilatildeo pois 6 apresenta uma doenccedila

rara que se caracteriza por apresentar uma diversidade de sinais e sintomas muitos deles

comuns a doenccedilas frequentes

Em geral apresentam um caraacuteter crocircnico progressivo muitas vezes degenerativo e

incapacitante Afeta muacuteltiplos sistemas e interfere na qualidade de vida do paciente e familiares

O impacto populacional torna-se tanto maior quanto mais tardio o diagnoacutestico agravado

pelo desconhecimento dos profissionais de sauacutede carecircncia de serviccedilos e centros de referecircncia

em doenccedilas raras no paiacutes (Regulation (EC) Nordm 1412000)

No Brasil como na Ameacuterica Latina 3 a 5 dos receacutem-nascidos (RN) apresentam um

defeito congecircnito O impacto desses defeitos congecircnitos vem aumentando no Brasil e estes jaacute

representam a segunda causa de oacutebito infantil sendo responsaacuteveis por um terccedilo (13) das

internaccedilotildees pediaacutetricas (Horovitz 2005)

Poliacuteticas Puacuteblicas

Uma poliacutetica europeia em doenccedilas raras foi efetivamente regulamentada e colocada em accedilatildeo

em 1999 provendo incentivos para pesquisas desenvolvimento e marketing para drogas oacuterfatildes

com base na experiecircncia dos Estados Unidos

1 Maria Teresinha de Oliveira Cardoso eacute presidente do Departamento de Geneacutetica Cliacutenica do Distrito Federal Chefe do Nuacutecleo

de Geneacutetica da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica do Hospital Central de Brasiacutelia

Coordenadora de Doenccedilas Raras da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal e Professora da Faculdade de Medicina

da Universidade Catoacutelica

68

Em 2008 o Projeto Europeu para o Desenvolvimento do Plano Nacional de Doenccedilas Raras

(EUROPLAN) foi conduzido pela Comissatildeo Europeia A adoccedilatildeo de um plano nacional ocorreu

na Franccedila como Plano Nacional Francecircs liberado em 2011 Outros planos nacionais foram

adotados em diversos paiacuteses europeus incluindo Beacutelgica Bulgaacuteria Repuacuteblica Tcheca

Alemanha Greacutecia Luxemburgo Portugal Romeacutenia e Espanha

A partir de 2013 a Uniatildeo Europeia passou a recomendar que todos os estados membros

desenvolvessem uma estrateacutegia nacional para doenccedilas raras (Weely e Leufkens 2004)

No Brasil uma poliacutetica nacional para Doenccedilas Raras teve iniacutecio oficial com a publicaccedilatildeo

da Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede devendo ser implantada atraveacutes das DIRETRIZES PARA

ATENCcedilAtildeO INTEGRAL AgraveS PESSOAS COM DOENCcedilAS RARAS NO SISTEMA UacuteNICO

DE SAUacuteDE ndash SUS

Esse Projeto Nacional para Doenccedilas Raras deveraacute implementar

Centros de Referecircncia Regionais

Atendimentos Multidisciplinares

Centros de Reabilitaccedilatildeo

Protocolos de Accedilatildeo

Terapias de Apoio

No Distrito Federal (DF) o Nuacutecleo de Geneacutetica representa o primeiro serviccedilo puacuteblico

destinado ao diagnoacutestico tratamento e aconselhamento geneacutetico de crianccedilas e adultos com

Doenccedilas Raras incluindo o Serviccedilo de Triagem Neonatal Ampliada para 27 doenccedilas

metaboacutelicas raras destinado a todas as crianccedilas nascidas no DF

O atendimento agraves Doenccedilas Raras iniciou-se em 1989 como Serviccedilo de Geneacutetica e em 2007

esse Serviccedilo foi oficialmente reconhecido como ldquoNuacutecleo de Geneacuteticardquo composto de uma

Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica e seis pilares destinados ao atendimento e ao diagnoacutestico de

crianccedilas e adultos com doenccedilas geneacuteticas

Como descritos a seguir

1 Imunogeneacutetica para o diagnoacutestico e acompanhamento de casos de Imunodeficiecircncias

primaacuterias

2 Geneacutetica Molecular e Oncogeneacutetica realizando a identificaccedilatildeo de marcadores de

Leucemias por tecnologia molecular (PCR)

3 Citogeneacutetica a Citogeneacutetica Convencional para Cromossomopatias e estudo de

translocaccedilotildees e marcadores cromossocircmicos das Leucemias

4 Geneacutetica Bioquiacutemica abrangendo

a Teste de Triagem Neonatal do Programa Nacional de Triagem Neonatal e do

Programa de Triagem Neonatal Ampliado do Distrito Federal uacutenico no paiacutes em

sistema puacuteblico

b Serviccedilo de Referecircncia de Erros Inatos do Metabolismo destinado ao diagnoacutestico e

tratamento em seus vaacuterios niacuteveis de complexidade de pacientes com Doenccedilas

metaboacutelicas hereditaacuterias

5 Geneacutetica da Reproduccedilatildeo e Medicina Fetal para estudo cromossocircmico de casais

infeacuterteis ou com perdas muacuteltiplas e participaccedilatildeo na equipe de diagnoacutestico preacute-natal das

malformaccedilotildees congecircnitas

6 Geneacutetica Cliacutenica compreende o atendimento nos vaacuterios ambulatoacuterios semanais em trecircs

Hospitais da Rede acompanhamento de crianccedilas internadas em enfermarias UTIs Pediaacutetricas

e UTIs Neonatais perfazendo uma meacutedia de atendimentos mensais de 500 pacientes incluindo

o atendimento de crianccedilas em diferentes faixas etaacuterias e adultos

69

Formaccedilatildeo de recursos humanos

O Nuacutecleo de Geneacutetica tambeacutem se destina ao ensino e capacitaccedilatildeo teacutecnica orientando estagiaacuterios

de aacutereas da Sauacutede internos de graduaccedilatildeo de Medicina e Residentes de Pediatria e em especial

o Programa de Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica

O Nuacutecleo de Geneacutetica eacute uma entidade ligada ao Sistema Puacuteblico de Sauacutede (SUS) que

trabalha em parceria com a Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia e a Universidade de Brasiacutelia em

grandes projetos multicecircntricos de pesquisa em especial no campo do diagnoacutestico avanccedilado

por teacutecnicas moleculares de doenccedilas raras

A participaccedilatildeo em grandes projetos no formato de Redes possibilita o avanccedilo tanto na aacuterea

assistencial de diagnoacutestico e terapecircutica como na qualidade do Ensino

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras do Distrito Federal foi instituiacuteda pelo Diaacuterio Oficial do

Distrito Federal em 4 de marccedilo de 2013 com o objetivo de normatizar e implementar fluxo

de referecircncia e contra-referecircncia dos atendimentos (Fig 1) exames complementares e

confirmatoacuterios de diagnoacutestico interconsultas nos vaacuterios niacuteveis de complexidade (Fig 2)

acesso a terapias especiacuteficas e de apoio a pessoas com doenccedilas raras e seus familiares famiacutelias

e aconselhamento geneacutetico das pessoas com doenccedilas raras e seus familiares

Figura 1 Fluxo de atendimento ambulatorial dos pacientes nos diversos hospitais da rede hospitalar

DO ENCcedil AS RARAS NUGEN

EMERG AMBUL UTIS

Neuropediatria Endocrinopediatria

CardiopediatriaOftalmologia

PsicologaFonoaudiolOdontopedFisioterap

TO

ImagensENM

EcocardiogHormoniosBioquimica

MSMSMolecular

70

Figura 2 Atendimento multidisciplinar dos pacientes no Nugen

Grupos de Doenccedilas Raras jaacute em atendimento sistemaacutetico no Nuacutecleo de

Geneacutetica

bull Dismorfologia (malformaccedilotildees congecircnitas)Cromossomopatias

bull Distuacuterbios de Diferencial Sexual

bull Distuacuterbios do Crescimento

bull Displasias oacutesseas

bull Distuacuterbios de Comportamento

bull Deficiecircncia Intelectual

bull Distuacuterbios do Aprendizado

bull Doenccedilas Metaboacutelicas Hereditaacuterias(EIM)

bull Doenccedilas Neurometaboacutelicas da Infacircncia

bull Doenccedilas Neurodegenerativas

bull Doenccedilas Neuromusculares

bull Imunodeficiecircncias Primaacuterias

bull Siacutendrome de Predisposiccedilatildeo ao Cacircncer

bull Siacutendromes Neurocutacircneas

bull Infertilidade de Casais e Abortamento de Repeticcedilatildeo

71

Perspectivas

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras tem como perspectivas a organizaccedilatildeo de serviccedilos como

Centro Regional de Referecircncia em Doenccedilas Raras Centro de Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica

Ambulatoacuterio Integrado de Doenccedilas Neuromusculares Ambulatoacuterio Integrado de

Imunogeneacutetica e Ambulatoacuterio Integrado de Oncogeneacutetica Tambeacutem visa a formaccedilatildeo de equipes

multidisciplinares parcerias de investigaccedilatildeo diagnoacutestica avanccedilada e grupos de apoio a

pacientes e familiares

Referecircncias bibliograacuteficas

Domenica Taruscio D et al (2011) ldquoRare diseases and orphan drugs Romardquo Ann Ist Super

Sanitagrave 47 1 83-93

De Luca G (2001) ldquoOrphan drugs and patents an attempt to clarify the relationship existing

between these two systemsrdquo Pharmaceutical Policy and Law 3 63-9

Stakišaitis D et al (2007) ldquoAccess to information supporting availability of medicines for

patients suffering from rare diseases looking for possible treatments The EuOrphan Servicerdquo

Medicina (Kaunas) 43(6) 441-446

Van Weely S Leufkens HGH (2004) ldquoOrphan diseasesrdquo in Kaplan W Laing R Priority

medicines for Europe and the world ndash a public health approach to innovation Geneva

WorldHealth Organization 95-100

Horovitz D D G Llerena JrJ C Mattos RA (2005) Birth defects and health strategies in

Brazil an overview Rio de Janeiro Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 21 4

Applegarth DA et al (2000) ldquoIncidence of inborn errors of metabolism in British Columbiardquo

Pediatrics 105 1 1-6

French national plan on rare diseases 2005ndash2008 (2004) Ensuring equity in the access to

diagnosis treatment and provision of care Consultado a 20102013 disponiacutevel em

httpwwweurordisorgIMGpdfEN_french_rare_disease_planpdf

Legislaccedilatildeo

REGULATION (EC) No 1412000 of the European Parliament of the Council of December 16

1999 on Orphan medicinal products OJ L 181-5 2212000

72

Pesquisa em doenccedilas raras Desafios e Perspectivas

Maacuterio Andreacute C Saporta1 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas-Tronco da Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ mariosaportalance-ufrjorg

Apesar de coletivamente afetarem cerca de 8 a 10 da populaccedilatildeo mundial as doenccedilas raras

apresentam individualmente prevalecircncia inferior a 005 ou seja menos de 1 em cada 2000

indiviacuteduos em uma dada populaccedilatildeo Este reduzido nuacutemero de pessoas afetadas oferece desafios

proacuteprios para a pesquisa baacutesica e cliacutenica em doenccedilas raras A ausecircncia de massa criacutetica e forccedila

poliacutetica torna o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras problemaacutetico do ponto de vista

de poliacuteticas de Estado Eacute difiacutecil imaginar que pesquisas em mais de 7000 diferentes

enfermidades poderatildeo ser financiadas exclusivamente por editais de fomento de agecircncias

governamentais Estes editais satildeo de suma importacircncia para o desenvolvimento de pesquisas

nesta aacuterea temaacutetica mas natildeo podem ser a fonte exclusiva de financiamento O pequeno nuacutemero

amostral (nuacutemero de pacientes incluiacutedos em um estudo) tambeacutem dificulta a realizaccedilatildeo de

ensaios cliacutenicos para investigaccedilatildeo de novos tratamentos Neste texto discutiremos alternativas

para a viabilizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras e apresentaremos uma nova tecnologia com

potencial de revolucionar os estudos destas enfermidades em busca de um maior conhecimento

sobre os mecanismos bioloacutegicos envolvidos e possiacuteveis novos tratamentos a reprogramaccedilatildeo

celular

A assistecircncia e a pesquisa em doenccedilas raras satildeo campos continuamente negligenciados no

Brasil dependentes muito mais do interesse especiacutefico de grupos de pesquisas e meacutedicos

integrantes do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) do que de poliacuteticas puacuteblicas propriamente ditas

A necessidade de inclusatildeo das doenccedilas raras no planejamento da gestatildeo do SUS eacute evidente e

urgente Com o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico desta aacuterea nos uacuteltimos anos uma

seacuterie de novos tratamentos para alguns tipos de doenccedilas raras jaacute satildeo uma realidade e alguns

fazem inclusive parte da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS Entretanto a ausecircncia

de centros de referecircncia para o estudo e o acompanhamento de pacientes que podem beneficiar

destes tratamentos dificulta a identificaccedilatildeo destes atrasando ou inviabilizando o tratamento O

correto diagnoacutestico da maioria das doenccedilas raras depende de serviccedilos especializados com

meacutedicos experientes e estrutura laboratorial avanccedilada Eacute portanto necessaacuteria a organizaccedilatildeo de

uma rede de centros de referecircncia em doenccedilas raras com abrangecircncia nacional e integradas

atraveacutes de sistemas de gerenciamento de informaccedilotildees ligados agraves centrais de marcaccedilatildeo do SUS

Desta forma o fluxo de referecircncia e contra-referecircncia de pacientes ocorreria da maneira mais

efetiva possiacutevel agilizando o diagnoacutestico e o manejo de indiviacuteduos com doenccedilas raras Esta

rede poderia ser tambeacutem utilizada para viabilizar a realizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras

ao facilitar a identificaccedilatildeo e a inclusatildeo de pacientes em ensaios cliacutenicos e pesquisas

transacionais

Este tipo de sistema em rede para pesquisa e atendimento em doenccedilas raras natildeo eacute algo

ineacutedito no mundo O National Institutes of Health dos Estados Unidos oacutergatildeo semelhante ao

nosso Ministeacuterio da Sauacutede possui um departamento exclusivo para o estudo e fomento de

pesquisas em doenccedilas raras O escritoacuterio de pesquisas em doenccedilas raras2 organiza o acesso a

informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras e oferece financiamento para a criaccedilatildeo de redes de

1 Maacuterio Saporta eacute meacutedico neurologista atua no serviccedilo de neurologia da Universidade Federal Fluminense eacute poacutes-doutorado

em Neurogeneacutetica e Reprogramaccedilatildeo Celular em Satildeo Francisco ndash EUA 2 Office of Rare Diseases Research httprarediseasesinfonihgov

73

atendimento e pesquisa em tipos especiacuteficos de doenccedilas raras atraveacutes da rede de pesquisa

cliacutenica em doenccedilas raras (Rare Disease Clinical Research Network) Atraveacutes desta iniciativa

grupos de pesquisa especializados em uma doenccedila rara especiacutefica se reuacutenem em uma rede

colaborativa para promover o atendimento regionalizado a pacientes e familiares e viabilizar a

realizaccedilatildeo de pesquisas em alta escala com abrangecircncia nacional Iniciativas similares podem

ser encontradas na Uniatildeo Europeia mas satildeo raras ou inexistentes no Brasil

Aleacutem do financiamento governamental direcionado atraveacutes destas redes especializadas de

pesquisa e atendimento em doenccedilas raras especiacuteficas outra fonte fundamental para a

viabilizaccedilatildeo destas atividades deve vir das associaccedilotildees civis de pacientes e familiares Atraveacutes

de eventos beneficentes atividades de conscientizaccedilatildeo e engajamento da sociedade civil e lobby

poliacutetico as associaccedilotildees de pacientes e familiares tem o poder de captar a atenccedilatildeo da opiniatildeo

puacuteblica e de fontes de fomento tradicionalmente natildeo disponiacuteveis aos centros acadecircmicas no

Brasil como doaccedilotildees de empresas ou individuais Esta obviamente natildeo eacute uma tarefa trivial e

o contato e troca de experiecircncias com associaccedilotildees mais experientes no exterior eacute altamente

recomendaacutevel Exemplos de associaccedilotildees americanas de pacientes e familiares que tecircm sido bem

sucedidas na captaccedilatildeo de recursos e no incentivo a pesquisas em doenccedilas raras neuromusculares

em alta escala incluem a Muscular Dystrophy Association3 e a Charcot-Marie-Tooth

Association5

Em resumo o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras deve se basear na interaccedilatildeo

entre trecircs elementos A relaccedilatildeo entre o governo e os centros acadecircmicos atraveacutes dos editais de

fomento eacute a uacutenica destas interaccedilotildees a ocorrer no Brasil mesmo que de forma insuficiente A

interaccedilatildeo entre as associaccedilotildees de pacientes e familiares e o governo atraveacutes de pressatildeo poliacutetica

e com os centros acadecircmicos atraveacutes da captaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de novos recursos para

pesquisa satildeo duas estrateacutegias subutilizadas no Brasil mas jaacute comeccedilam a gerar importantes

frutos em outros paiacuteses

Na segunda parte deste artigo abordaremos uma nova teacutecnica em biologia celular que

promete revolucionar as pesquisas em doenccedilas raras denominada reprogramaccedilatildeo celular

Como um coacutedigo de software a informaccedilatildeo geneacutetica de uma ceacutelula pode ser editada atraveacutes do

uso de ferramentas de biologia molecular Viacuterus produzidos para carregar informaccedilotildees

geneacuteticas especiacuteficas por exemplo podem realizar esta ediccedilatildeo do coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas

ao infectaacute-las Foi utilizando esta estrateacutegia que o pesquisador japonecircs Shinya Yamanaka

conseguiu ldquoreprogramarrdquo ceacutelulas humanas da pele conhecidas como fibroblastos e fazecirc-las

assumir caracteriacutesticas de ceacutelulas-tronco embrionaacuterias Desde a comunicaccedilatildeo dos resultados de

seu trabalho em 2007 apenas cinco anos se passaram para que Yamanaka fosse reconhecido

com o precircmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2012 A grande revoluccedilatildeo causada pelos

resultados de Yamanaka adveacutem de trecircs caracteriacutesticas das ceacutelulas-tronco reprogramadas Como

ceacutelulas embrionaacuterias estas ceacutelulas podem ser replicadas em laboratoacuterio de forma indefinida

sem sofrer envelhecimento celular Aleacutem disso estas ceacutelulas tambeacutem podem ser transformadas

em todos os tipos celulares presentes em um indiviacuteduo adulto incluindo neurocircnios ceacutelulas do

muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do fiacutegado rim pulmatildeo etc Mas ao contraacuterio das ceacutelulas-tronco

embrionaacuterias as ceacutelulas-tronco reprogramadas podem ser obtidas de indiviacuteduos de qualquer

idade sem a necessidade de destruiccedilatildeo de embriotildees

O verdadeiro trunfo das ceacutelulas reprogramadas que as coloca no topo da piracircmide dos

modelos de estudo em biologia humana atualmente eacute o fato de que elas preservam todas as

caracteriacutesticas geneacuteticas do indiviacuteduo que as originou Desta forma temos agora a possibilidade

de estudar ceacutelulas humanas especiacuteficas de indiviacuteduos acometidos por diferentes doenccedilas

3 MDA ndash mdaorg 4 CMTA ndash wwwcmtausaorg 5 CMTA ndash wwwcmtausaorg

74

mantendo todos os fatores bioloacutegicos associados ao desenvolvimento da doenccedila em questatildeo

Estas caracteriacutesticas das ceacutelulas reprogramadas satildeo de grande importacircncia para o estudo de

doenccedilas raras que satildeo na sua maioria (entre 80 e 90) de origem geneacutetica Outra vantagem da

teacutecnica eacute que podemos estudar tipos celulares antes inacessiacuteveis aos pesquisadores pela

dificuldade em obtecirc-las de pacientes vivos O principal exemplo deste tipo de ceacutelulas satildeo os

neurocircnios componentes do tecido nervoso e presentes no ceacuterebro tronco cerebral e medula

espinhal A retirada de neurocircnios de indiviacuteduos vivos eacute extremamente arriscada natildeo soacute pela

posiccedilatildeo protegida que eles ocupam dentro do cracircnio ou da coluna vertebral mas principalmente

pelo risco de sequelas graves apoacutes sua remoccedilatildeo dos circuitos funcionais a que estatildeo integrados

Neste momento laboratoacuterios do mundo inteiro estatildeo produzindo ceacutelulas-tronco reprogramadas

de indiviacuteduos com diversas doenccedilas raras neuroloacutegicas por exemplo e transformando-as em

neurocircnios para estudar o que haacute de errado nestas ceacutelulas que causa em uacuteltima anaacutelise a doenccedila

do paciente Ainda mais importante estas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para o desenvolvimento

de novos tratamentos

Tomando como exemplo o campo das doenccedilas neuroloacutegicas poucos satildeo os tratamentos

disponiacuteveis no momento que vatildeo aleacutem do controle momentacircneo dos sintomas e ofereccedilam a

chance de cura para os pacientes Isso eacute ainda mais verdade para doenccedilas neurodegenerativas e

neurogeneacuteticas como doenccedila de Charcot-Marie-Tooth Esclerose Lateral Amiotroacutefica (ELA) e

outras formas graves de doenccedilas raras do sistema nervoso O uso da reprogramaccedilatildeo celular para

geraccedilatildeo e estudo de neurocircnios humanos promete modificar este cenaacuterio ao oferecer um modelo

humano para a investigaccedilatildeo em alta escala de tratamentos que atuem nos mecanismos causais

das doenccedilas e natildeo apenas em seus sintomas

A teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular oferece tambeacutem a possibilidade de gerar vaacuterios tipos

celulares de um indiviacuteduo especiacutefico para determinar qual tratamento seraacute mais eficaz ou

ofereceraacute o melhor perfil de seguranccedila para ele Semelhante ao que eacute feito atualmente para

determinar qual o melhor antibioacutetico a ser utilizado para tratar uma infecccedilatildeo quando testa-se

diferentes compostos em culturas de bacteacuteria para identificar qual agente eacute mais eficaz culturas

de neurocircnios poderatildeo ser utilizadas para determinar para um paciente especiacutefico qual

medicaccedilatildeo seraacute mais eficaz para tratar sua doenccedila rara por exemplo Aleacutem disso ceacutelulas

musculares cardiacuteacas derivadas das ceacutelulas-tronco reprogramadas poderatildeo ser utilizadas para

identificar quais destas drogas satildeo seguras ou perigosas de um ponto de vista cardiovascular

Estudos tratando exatamente deste tipo de experimentos vecircm sendo publicados com frequecircncia

na literatura cientiacutefica mundial nos uacuteltimos anos Este uso da reprogramaccedilatildeo celular abre

caminho para um novo paradigma de medicina personalizada particularmente uacutetil no estudo e

tratamento de doenccedilas raras onde o paciente eacute a plataforma de estudo para o desenvolvimento

do seu proacuteprio tratamento

A uacuteltima fronteira a ser alcanccedilada em relaccedilatildeo agraves ceacutelulas reprogramadas eacute o seu uso em

terapia celular Em um futuro natildeo tatildeo distante indiviacuteduos com doenccedilas que levam agrave perda de

tipos celulares especiacuteficos (como eacute o caso de vaacuterias doenccedilas raras degenerativas) poderatildeo ter

ceacutelulas reprogramadas a partir de ceacutelulas da pele ou ateacute mesmo da urina diferenciadas no tipo

celular necessaacuterio e este transplantado no seu organismo Este ano o primeiro estudo cliacutenico

utilizando ceacutelulas derivadas de ceacutelulas reprogramadas recebeu autorizaccedilatildeo do governo japonecircs

para ter iniacutecio Neste estudo pacientes com um tipo de doenccedila da retina chamada degeneraccedilatildeo

macular receberatildeo injeccedilotildees com ceacutelulas derivadas de suas proacuteprias ceacutelulas reprogramadas como

forma de regenerar a retina danificada Seraacute o primeiro de muitos trabalhados aplicando a

teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular no tratamento de doenccedilas humanas

Em resumo avanccedilos na geneacutetica e na biologia celular oferecem um novo paradigma para

a forma de tratar indiviacuteduos direcionando o tratamento natildeo para a doenccedila mas para o paciente

com doenccedila rara

75

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras

Tacircnia Maria Francisca Almeida1 almeidaadvogadaigcombr

Quando me propus falar sobre o tema ldquoA inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas rarasrdquo me

deparei com o fato de que na realidade iria falar sobre ldquoA dificuldade da inclusatildeo juriacutedica de

pessoas com doenccedilas rarasrdquo Isto porque quando se trata de doenccedilas raras temos uma

infinidade de unicidades que transpotildeem o cotidiano o que gera um contra-senso que algueacutem

legisle sobre aquele determinado ponto

Tal fato infelizmente gera a judicialidade tatildeo debatida das doenccedilas raras Apesar de natildeo

ser a soluccedilatildeo ideal pois o ideal seria a existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas que atendessem os

pacientes e seus familiares torna-se a uacutenica soluccedilatildeo para pessoas que necessitam de um

atendimento especial e urgente que muitas das vezes foge do que estaacute previsto na legislaccedilatildeo

E o que fazer quando um paciente por exemplo estaacute em Home Care pelo SUS (o que tambeacutem

geralmente soacute se consegue por liminar) e precisa de uma ldquoventilaccedilatildeo mecacircnica invasivardquo (o

chamado ldquorespiradorrdquo) A pergunta se daacute pelo fato de que o SUS natildeo tem o ldquocoacutedigordquo para tal

item ou seja o ldquorespiradorrdquo natildeo estaacute elencado na lista de aparelhos dispensados pelo SUS E

por este ldquoentraverdquo legal pois a gestatildeo puacuteblica soacute pode agir diante de uma previsibilidade legal

quando o paciente precisa do ldquorespiradorrdquo em casa ele eacute negado E os planos de sauacutede por

conseguinte acompanham a lista do SUS Entatildeo como fazer Particularmente meu filho que

foi diagnosticado com a Siacutendrome de Krabbe aos dois anos e meio apesar de apresentar sinais

desde um mecircs e meio de idade estaacute em Home Care desde que completou um ano de vida Ele

usava um aparelho chamado de bipap que o auxiliava na respiraccedilatildeo por 24 horas Ele fazia

muita apneia e nos uacuteltimos tempos o aparelho bipap natildeo estava segurando as apneias O

fisioterapeuta fez vaacuterios testes e fez um laudo solicitando o ldquorespiradorrdquo Solicitaccedilatildeo feita

ficamos quinze dias aguardando uma posiccedilatildeo do plano que por fim disse natildeo ter o tal coacutedigo

para faturar o ldquorespiradorrdquo O fisioterapeuta fez outro laudo e juntou com mais um laudo meacutedico

sobre a necessidade ldquourgenterdquo de um ldquorespiradorrdquo Mais uma semana aguardando e meu filho

fez uma apneia que quase natildeo conseguimos reverter Ele natildeo se movia mais o oxiacutemetro natildeo lia

os paracircmetros por conta das extremidades dele terem ficado sem perfusatildeo e extremamente

geladas Ou seja vi meu filho praticamente morto Mas ainda natildeo estava previsto por Deus que

aquele seria o dia dele nos deixar e meu filho voltou a respirar depois de muitas manobras com

o ldquoamburdquo e massagens cardiacuteacas Isto aconteceu por volta das 20 horas Passamos a noite inteira

ao lado dele para observar qualquer sinal de uma possiacutevel apneia No dia seguinte pela manhatilde

fui ao Foacuterum da cidade entrei com mais uma liminar Liminar deferida E o ldquorespiradorrdquo estava

na minha casa no final da tarde Como fazer de outro jeito Muitas famiacutelias acabam mantendo

o paciente internado em hospitais por falta de condiccedilotildees legais de manter o paciente em casa

com um ldquorespiradorrdquo mas a conta do Hospital para a Sauacutede Puacuteblica acaba sendo muito maior

que manter o paciente em casa com o ldquorespiradorrdquo Sem falar em outros fatores como o desgaste

do proacuteprio paciente e da famiacutelia em estar longe de casa Economicamente o fato de natildeo

existirem poliacuteticas puacuteblicas em torno do assunto acaba gerando gastos desnecessaacuterios ao

governo e encarecendo o tratamento do paciente

1 Tacircnia Almeida eacute advogada e matildee de Samuel diagnosticado com Siacutendrome de Krabbe

76

Muitas pessoas criticam a judicializaccedilatildeo das doenccedilas raras pois defendem que gera um

custo para o Estado em razatildeo de multas por liminares natildeo cumpridas a tempo para atender a

uma uacutenica pessoa ao passo de que aquela verba poderia estar sendo destinada ao tratamento da

coletividade O problema eacute que para as doenccedilas raras natildeo existe coletividade Muitas vezes o

paciente eacute uacutenico mas dentro das unicidades formam uma populaccedilatildeo jaacute bastante expressiva na

sociedade Se os governantes natildeo acordarem para tal fato vai sim gerar um deacuteficit difiacutecil de

fechar no final do mecircs uma vez que as accedilotildees judiciais vatildeo crescer e talvez esta seja uma das

formas de fazer com que nossos governantes ldquoacordemrdquo para o assunto e comecem a pensar em

soluccedilotildees na esfera legislativa e executiva para que se diminua a resoluccedilatildeo destes problemas na

esfera judicial

Para um melhor entendimento do problema para aqueles que natildeo convivem com uma

doenccedila rara vou expor outros exemplos veriacutedicos

Para o paciente que estaacute em Home Care e necessita de aparelhos ligados por 24 horas na

residecircncia como o ldquorespiradorrdquo oximetro concentrador de ar bomba de infusatildeo aspirador

etc imagine quanto deve ser a conta de energia eleacutetrica desta famiacutelia Um concentrador de ar

por exemplo gasta o mesmo que um ar condicionado e o concentrador de ar que eacute o que

fornece oxigecircnio para o paciente tem que ficar ligado por 24 horas Diante de tal fato a famiacutelia

que antes tinha uma conta de energia eleacutetrica de em meacutedia R$ 15000 (cento e cinquumlenta

reais)mecircs passou a ter uma conta em torno de R$ 160000 (um mil e seiscentos reais)mecircs E

o que fazer quando a renda da famiacutelia natildeo comporta tal gasto Natildeo tem como economizar

energia neste caso porque a famiacutelia natildeo tem como deixar o concentrador de ar ou o ldquorespiradorrdquo

ligado apenas algumas horas por dia Em um caso concreto desta situaccedilatildeo a famiacutelia se dirigiu

ateacute a empresa fornecedora de energia eleacutetrica Light e explicou o problema levou laudos e a

relaccedilatildeo de equipamentos que a crianccedila fazia uso A Companhia de energia eleacutetrica disse que

existe a ldquotarifa socialrdquo onde se pagaria apenas uma taxa Mas para ter direito a ldquotarifa socialrdquo eacute

necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita em algum programa do governo como o bolsa famiacutelia

ou estar recebendo o LOAS pelo INSS Para quem natildeo tem conhecimento a respeito para fazer

parte do bolsa famiacutelia a famiacutelia tem que ser muito pobre e para ter direito ao LOAS a famiacutelia

soacute pode ter renda de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo ou seja a famiacutelia tem que ser extremamente

pobre estar sobrevivendo com menos de frac14 do salaacuterio miacutenimo por mecircs A famiacutelia em questatildeo

recebia um pouco mais de trecircs salaacuterios miacutenimos por mecircs juntando todas as rendas e portanto

natildeo tinha direito a ldquotarifa socialrdquo Soluccedilatildeo dada pela empresa fornecedora de energia eleacutetrica

nenhuma Soluccedilatildeo dada pela famiacutelia que natildeo podia pagar a conta mas tambeacutem natildeo podia ficar

sem luz pois o filho depende de aparelhos para manter-se vivo entrou com liminar para que a

Light natildeo deixasse de fornecer energia eleacutetrica agrave residecircncia em razatildeo de existir pessoa

dependente de aparelhos que satildeo ligados agrave energia eleacutetrica Liminar deferida A conta chega a

famiacutelia paga quando tem condiccedilotildees de pagar porque vem bastante alta e as inadimplecircncias

fazem com que o nome do titular da conta vaacute para o SPCSerasa (que eacute um cadastro de maus

pagadores) mas o filho estaacute coberto pela liminar em razatildeo do direito a vida se sobrepor a

qualquer pagamento de conta

Tal caso nos faz remeter a um dos princiacutepios do Direito que eacute o principio da igualdade

Este principio tem como pilar a afirmaccedilatildeo para se ter igualdade eacute preciso tratar os desiguais

como desiguais e os iguais como iguais Para quem natildeo trabalha ou natildeo tem qualquer vinculo

com o Direito tal frase soa bastante estranha mas basta entender a essecircncia da coisa natildeo tem

como tratar a exceccedilatildeo dentro da formalidade das leis existentes para a sociedade em geral Neste

caso da energia eleacutetrica existe uma exceccedilatildeo para esta famiacutelia Ela natildeo gasta luz porque quer

Ela gasta a luz por necessidade de manter vivo um filho Eacute justa impor para essa famiacutelia a lei

usada para a populaccedilatildeo em geral referente a ldquotarifa socialrdquo E isto eacute soacute um exemplo Percebo

que natildeo haacute como criar leis especiacuteficas para cada exceccedilatildeo relacionada com doenccedilas raras

77

Para que entendam melhor um exemplo de como a lei trata uma exceccedilatildeo especiacutefica eacute o

caso do Coacutedigo de Defesa do Consumidor A lei geral (Coacutedigo de Processo Civil) diz que quem

alega o fato eacute que deve provar ou seja o ocircnus da prova eacute de quem alega No Coacutedigo de Defesa

do Consumidor onde tem o escopo de proteger o consumidor de poliacuteticas desleais em razatildeo

da magnitude e poderio econocircmico das empresas existe a inversatildeo do ocircnus da prova em que o

consumidor alega o fato ocorrido e a empresa eacute quem tem que fazer a prova em contraacuterio se tal

fato natildeo for verdadeiro Neste caso estamos tratando os desiguais como desiguais pois natildeo haacute

como colocar o consumidor e as empresas no mesmo patamar de Direito pois as empresas

sempre sairiam vencedoras

Infelizmente quando falamos em doenccedilas raras ainda natildeo temos qualquer proteccedilatildeo para

tratar as exceccedilotildees que satildeo ldquojogadasrdquo na lei geral e que natildeo atendem as necessidades dos

pacientes e de suas famiacutelias

Outro exemplo bem gritante eacute o caso ocorrido com a ANVISA (Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria) No Estado do Rio de Janeiro existe uma crianccedila com uma doenccedila rara

que depende de um determinado medicamento Existia um laboratoacuterio que fornecia o

medicamento para o governo Ocorre que por se tratar de um ldquomedicamento oacuterfatildeordquo ou seja

aquele que por atender uma populaccedilatildeo miacutenima quando natildeo apenas um paciente na localidade

passa a ser inviaacutevel economicamente para o laboratoacuterio e o laboratoacuterio deixou de fornececirc-lo

A matildee desesperada comeccedilou a buscar ajuda em vaacuterios poacutelos pois o medicamento poderia ateacute

ser importado mas levaria dias para chegar ao Estado em decorrecircncia dos entraves legais pelo

caminho Diante da situaccedilatildeo da crianccedila e os apelos desesperados da matildee outro laboratoacuterio

conhecendo a foacutermula do medicamento se propocircs a fabricaacute-lo e entregaacute-lo agrave famiacutelia ateacute que se

resolvesse de fato os entraves juriacutedicos referentes ao medicamento do exterior Ao tomar

ciecircncia de tal fato a ANVISA multou o laboratoacuterio porque ele natildeo tinha a ldquolicenccedilardquo para

fabricar o medicamento Ou seja sabemos que qualquer laboratoacuterio tem que ter a licenccedila para

fabricar qualquer que seja a foacutermula mas no caso em questatildeo tratava-se da vida de uma crianccedila

que tinha o avanccedilo de uma doenccedila fatal caso ficasse sem o medicamento Legalmente este

laboratoacuterio agiu indevidamente mas como a pessoa que existe por traacutes de um nome em um

CNPJ ela agiu com humanidade Seraacute que se fosse o filho do responsaacutevel pela ANVISA o

laboratoacuterio seria multado Se fosse o filho do Presidente da Repuacuteblica teriam multado o

laboratoacuterio Duvido O laboratoacuterio quase foi fechado e continuou recebendo multas mas natildeo

deixou de fornecer o medicamento para a crianccedila enquanto natildeo se resolveu o problema

Hoje pela falta de Poliacuteticas Publicas que atendam a esta populaccedilatildeo rara o que vemos satildeo

os familiares ou os proacuteprios doentes tendo que buscar soluccedilotildees agraves vezes natildeo solucionaacuteveis

legalmente para atenderem as suas necessidades e agraves de seus entes queridos Com isso

constatamos a criaccedilatildeo de diversas Associaccedilotildees que visam buscar ajuda muacutetua para diversas

necessidades Estas pessoas tentam se associar para que de alguma forma natildeo lutem sozinhas

diante a falta de tudo que se possa imaginar quando se fala de doenccedilas raras falta de

informaccedilatildeo falta de estrutura emocional e financeira falta de meacutedicos que saibam diagnosticar

falta de tratamento devido falta de exames especiacuteficos etc O que notamos eacute que o apoio

emocional encontrado em todas as associaccedilotildees eacute muito importante mas o apoio estrutural fica

difiacutecil de se conseguir senatildeo por vias judiciais

Isto resulta na triste realidade de hospitais que ldquotecircmrdquo que ldquoabrigarrdquo vaacuterios pacientes com

doenccedilas raras simplesmente abandonados pela famiacutelia pelo fato de as mesmas natildeo terem

qualquer estrutura seja emocional ou financeira ou de ambos de abrigar este paciente em casa

Quando crianccedilas geralmente natildeo possuem nem a oportunidade de serem adotadas porque

necessitam de cuidados permanentes e acabam ldquovivendordquo num hospital A falta de informaccedilatildeo

o medo do desconhecido e a total falta de apoio por parte do governo leva a atitudes de

abandono Essa realidade poderia ser minimizada se existisse um miacutenimo de direcionamento e

apoio

78

Quando defendo a criaccedilatildeo de uma secretaria ou oacutergatildeo (ou qualquer nome que queiram

chamar) dentro no Ministeacuterio da Sauacutede que seja voltado exclusivamente para o aspecto das

doenccedilas raras eacute justamente pelo fato de precisarmos de um oacutergatildeo que tenha um norte e seja um

ldquofarolrdquo que direcione os pacientes e as famiacutelias para soluccedilotildees concretas e corretas Hoje quando

uma crianccedila chega com sinais de maus tratos num hospital os meacutedicos satildeo obrigados por lei a

avisar a policia Quando um paciente chega com Dengue ou com tuberculose os meacutedicos tem

que avisar o oacutergatildeo da sauacutede para que exista um controle de tais doenccedilas Isto eacute importante para

se detectar onde existe o problema e criar estudos para resolver a questatildeo de determinada

populaccedilatildeo Com as doenccedilas raras temos que ter este ldquofarolrdquo para que se comecem a criar

estatiacutesticas das diversas siacutendromes que acometem nossa populaccedilatildeo e se possa estudar a melhor

forma de atender os pacientes e familiares Como pensar em poliacutetica puacuteblica se natildeo se sabe nem

a qual ou a quanto da populaccedilatildeo se vai chegar

Outro problema que existe dentro das famiacutelias com algum paciente de doenccedilas raras eacute o

fato que na maioria das vezes algueacutem ter que parar de trabalhar para cuidar do paciente ou

para administrar a rotina que se altera quando se tem um familiar com doenccedila rara No meu

caso por exemplo tenho um filho com doenccedila rara que eacute dependente de ldquorespiradorrdquo e de

oxigecircnio Ele tem enfermagem por 24 horas Meu filho natildeo se move natildeo chora natildeo ri tem

gastrostomia traqueostomia uma vaacutelvula DVP e ainda faz apneia A enfermagem de Home

Care hoje em dia infelizmente ainda deixa muito a desejar quanto ao treinamento de teacutecnicos

de enfermagem para trabalhar com paciente grave Quando chega alguma teacutecnica de

enfermagem nova para ficar no plantatildeo eu natildeo tenho como sair de casa para trabalhar E

quando estou no trabalho e a teacutecnica me liga dizendo ldquoEstaacute com falta de energia eleacutetricardquo eu

largo o trabalho e saio correndo para casa porque tenho que monitorar as baterias dos aparelhos

e manobrar outros que natildeo tecircm bateria para o ldquono breakrdquo Fora quando a teacutecnica liga dizendo

que os batimentos cardiacuteacos estatildeo baixos ou a saturaccedilatildeo estaacute caindo muito Eu largo tudo e saio

correndo para casa Sem contar com as inuacutemeras vezes que ele eacute internado para fazer algum

tipo de procedimento (troca de vaacutelvula colocaccedilatildeo de cateter infecccedilotildees que pega etc) A

ldquosorterdquo eacute que eu trabalho numa empresa puacuteblica e tenho chefes diretos muito compreensivos

com a situaccedilatildeo Se eu estivesse numa empresa privada eu jaacute teria sido mandada embora haacute

muito tempo Eu preciso do emprego pois dele vem o plano de sauacutede do meu filho mas natildeo

sei por quanto tempo ainda seraacute possiacutevel administrar tal situaccedilatildeo Quando o filho de uma pessoa

que tem sua rotina normal tem uma febre geralmente esta pessoa fica em casa e tem um atestado

de acompanhamento para levar o filho ao meacutedico ou ateacute acompanhaacute-lo por alguns dias uma

vez ou outra pois ningueacutem com filho doente tem cabeccedila para ir trabalhar despreocupadamente

O que eu que tenho um filho que necessita de cuidado extremos por vinte e quatro horas faccedilo

Daacute para imaginar como saio de casa para trabalhar Aleacutem de que a rotina da casa muda

completamente Se antes meus outros filhos iam para a escola eu ia trabalhar e no final do dia

todos nos encontravaacutemos novamente Hoje eu preciso administrar as condiccedilotildees para um

teacutecnico de enfermagem ficar na minha casa ininterruptamente ter o atendimento do

fisioterapeuta duas vezes ao dia a fonoaudioacuteloga trecircs vezes por semana a nutricionista o

atendimento semanal da meacutedica e do enfermeiro recebimento de material semanalmente

recebimento de dieta e outras tarefas esporaacutedicas Aleacutem eacute claro de prestar atenccedilatildeo nos sinais

do meu filho pois a meacutedica soacute vem vecirc-lo uma vez por semana e neste meio tempo ele pode ter

febre pode ficar mais secretivo que o normal entre outras coisas Tenho que estar em contato

constante com a meacutedica para tomar as providecircncias necessaacuterias mesmo antes da proacutexima visita

dela e ainda preciso sair de casa para trabalhar Eacute um tanto complicado

Tenho outros exemplos como a de uma famiacutelia que conheci no Hospital na qual a esposa

era funcionaacuteria puacuteblica e o marido trabalhava em uma empresa privada Apesar do salaacuterio do

marido ser maior que o da esposa a famiacutelia ldquooptourdquo pela saiacuteda do marido do emprego para

cuidar da filha acometida por uma doenccedila rara porque a esposa mesmo ganhando menos tinha

79

estabilidade no emprego ao passo que o marido na empresa privada natildeo tinha qualquer

estabilidade Eacute justo que este encargo de ldquoescolhardquo fique somente nas costas das famiacutelias que

jaacute estatildeo tatildeo fragilizadas com a proacutepria doenccedila Sem contar quando um dos pais (geralmente o

pai) natildeo aguenta ou natildeo aceita a nova realidade e simplesmente deixa o outro sozinho E este

geralmente precisa largar o seu emprego para cuidar do filho doente mas de contra partida

precisa manter o lar e daiacute passa a fazer serviccedilos como bolos salgados e doces caseiros para

vender para a famiacutelia e amigos Chega a ser desumano o indiviacuteduo ldquoarcarrdquo sozinho com este

encargo que faz com muito amor mas sob muito sofrimento e privaccedilatildeo

Existem vaacuterios projetos de lei no Congresso que tratam do que chamamos de ldquoauxiacutelio

acompanhamentordquo Mas esses projetos sempre esbarram em inconstitucionalidades pois geram

despesas para a empresa ou para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para manter

o trabalhador em casa como acompanhante

Quando bato na tecla sobre a importacircncia da existecircncia de uma secretaria voltada para

doenccedilas raras eacute porque teriacuteamos condiccedilotildees de criar comissotildees para estudar tais casos e buscar

soluccedilotildees para estas famiacutelias Apesar de termos boa vontade de alguns parlamentares nota-se

que muitas vezes os mesmos natildeo tecircm conhecimento de campo das necessidades reais das

pessoas com doenccedilas raras A Portaria 9712012 do Ministeacuterio da Sauacutede que trata do programa

ldquoFarmaacutecia Popularrdquo eacute um exemplo disso Uma famiacutelia buscou a liberaccedilatildeo de fraldas

descartaacuteveis pelo Programa ldquoFarmaacutecia Popularrdquo para o filho de quatro anos que eacute acamado

deixou de usar fraldas pediaacutetricas e iniciou o uso de fraldas geriaacutetricas que satildeo muito mais

caras A famiacutelia precisou juntar laudos meacutedicos e tirar o CPF da crianccedila Passou em trecircs

farmaacutecias que participavam do programa e em nenhuma delas conseguiu a liberaccedilatildeo das fraldas

pelo sistema Foi indicado que ligassem para o Ministeacuterio da Sauacutede e depois de muitas ligaccedilotildees

a famiacutelia descobriu que existe o artigo 26 da portaria em seu paraacutegrafo II que cita ldquopara a

dispensaccedilatildeo de fraldas geriaacutetricas para incontinecircncia o paciente deveraacute ter idade igual ou

superior a 60 (sessenta) anosrdquo Pergunta-se seraacute que ao fazerem tal portaria ningueacutem

ldquolembrourdquo que existem crianccedilas adolescentes e ateacute jovens adultos que necessitam de usar

fraldas Isto somente acontece porque as pessoas natildeo ldquovivemrdquo o cotidiano da doenccedila rara

Analisando todos os pontos envolvidos chego agrave conclusatildeo que natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro quando se trata de doenccedila rara Eacute necessaacuterio que se tenha um olhar

mais focado nas especificidades que acometem diretamente a famiacutelia Para construir o

conhecimento sobre essa realidade eacute preciso que as instituiccedilotildees estejam interligadas e tenham

um ponto de referecircncia para direcionar e amparar corretamente o paciente e sua famiacutelia a niacutevel

nacional ou internacional

80

Transcriccedilatildeo da mesa de abertura e comunicaccedilotildees do I CIADR

81

Mesa de abertura

Rogeacuterio Lima1 ndash Bom dia

Primeiro quero agradecer a presenccedila de todos Esse evento existe pelo menos em

pensamento haacute dois anos Percebemos que poderia tomar corpo e ser real se noacutes

participaacutessemos de um movimento de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo E hoje eacute o resultado desse

movimento O movimento eacute dentro da academia desde o comeccedilo noacutes queriacuteamos trazer a

conversa e o diaacutelogo para a academia Natildeo faltou convite para levarmos esse evento para o

Congresso para a CLDF Por opccedilatildeo noacutes procuramos e estamos hoje na Uniplan agradeccedilo

imensamente ao Professor Sadi que foi o primeiro que me estendeu a matildeo e socorro Ofereceu

muito abertamente o Instituto de Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia e quando

chegou ao nuacutemero de 600 inscriccedilotildees foi quando eu comecei a ficar um pouco ansioso E olha

que eu sou o pessimista de todo mundo que estaacute organizando E entatildeo precisaacutevamos correr

para um outro lugar Meus agradecimentos ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

junto com a Uniplan estatildeo oferecendo esse espaccedilo para noacutes

Hoje eacute um dia de muito agradecimento Agradeccedilo a todas as pessoas agradeccedilo a presenccedila

de vocecircs E eu vim pensando que hoje eacute um dia bem marcante Vieram pessoas todas as pessoas

aqui deixaram as suas casas os pacientes que estatildeo aqui as associaccedilotildees de pacientes e

principalmente os alunos que estatildeo aqui hoje Esse evento eacute para sensibilizaacute-los e eu natildeo sei se

a loucura estaacute em noacutes em acreditar que poderia ser feito um evento desse tamanho ou se o

louco eacute quem vecirc as informaccedilotildees que noacutes passaacutemos sobre a realidade que existe e natildeo faz nada

A AMAVI nunca foi soacute eu e muito menos o movimento que hoje faz parte E eu queria

agradecer imensamente toda a diretoria da AMAVI que estaacute aqui hojeSoacute o Warley natildeo

conseguiu estar presente porque tem que cumprir com sua vida laboral Mas a Lauda que eacute

nossa diretora A Flaacutevia nossa assessora de imprensa Entatildeo satildeo essas pessoas que realmente

estatildeo connosco E dentro disso hoje o formato vai ser este Eacute um formato aberto para

incentivar principalmente o diaacutelogo Sempre vai ter espaccedilo para as Associaccedilotildees poderem se

manifestar E por fim eu tambeacutem agradeccedilo a Interfarma e o Ministeacuterio da Sauacutede Agradeccedilo a

todas as pessoas que nos ajudam porque em nome da Interfarma agradecemos a todos os outros

que nos apoiam financeiramente E agradeccedilo muito o Fogolin de estar aqui hoje Acho que

estamos fazendo histoacuteria E seguramente este evento natildeo eacute comum no mundo E ele estaacute sendo

transmitido pela internet Agradeccedilo realmente a todo mundo E nos meus quinze minutos finais

eu gostaria de agradecer muito fortemente aquela pessoa que tem meus quinze minutos e

quando eu penso nela eu penso muito naquele jeito brasiliense de ser que eacute um jeito simples e

um jeito focado no trabalho A gente trabalha a gente fala de vez em quando mas a gente

trabalha Agradeccedilo ao Miguel Miguel vocecirc eacute doutor por John Hopkins e estaacute connosco fazendo

um cerimonial desde sempre Suas orientaccedilotildees sempre foram importantes Muito obrigado

Sadi Del Roso2 ndash Bom dia senhoras e senhores participantes do primeiro encontro sobre

Doenccedilas Raras

Tenho a satisfaccedilatildeo de saudar os participantes desse congresso em nome do Instituto de

Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia Represento a Universidade que eacute por excelecircncia

o local da pesquisa por outro lado a pesquisa eacute absolutamente fundamental para o

conhecimento a respeito de doenccedilas raras Sabe-se que o impulso da pesquisa ocorre entre

1 Presidente da AMAVI e doutorando em Sociologia na Universidade de Coimbra ndash Portugal 2 Professor Titular de Sociologia da Universidade de Brasiacutelia

82

outras razotildees pela pressatildeo social Embora a AIDS natildeo faccedila parte do rol de doenccedilas raras o

movimento Gay e movimentos similares ligados agrave liberdade de escolha sexual realizaram uma

pressatildeo fantaacutestica para a destinaccedilatildeo de verbas para a pesquisa que tem como objeto o controle

da AIDS assim como doutras doenccedilas Participo neste Primeiro Congresso representando o

Instituto de Ciecircncias Sociais Para as Ciecircncias Sociais a dor a doenccedila o sofrimento pessoal e

coletivo satildeo objetos de inegada relevacircncia e pertinecircncia social Noacutes todos que estudamos classes

sociais lutas de classes relaccedilotildees poliacuteticas relaccedilotildees intereacutetnicas trabalho cultura

desenvolvimento econocircmico e problemas sociais semelhantes ficamos abalados ficamos

prostrados de joelhos e ficamos calados impotentes perante as manifestaccedilotildees da dor Perante a

doenccedila perante o sofrimento e ainda mais perante a morte Esses fenocircmenos todos satildeo

fenocircmenos que tecircm a ver com a natureza humana e com a cultura das sociedades e representam

possibilidades de agregaccedilatildeo das pessoas nos grupos sociais Neste sentido as Ciecircncias Sociais

tambeacutem podem contribuir explicitando o sentido da organizaccedilatildeo e dos movimentos sociais na

construccedilatildeo das sociedades democraacuteticas Ao falar de movimentos sociais somos levados aos

grandes movimentos poliacuteticos As Jornadas de junho e julho de 2013 a Primavera Aacuterabe ao

movimento dos jovens rebeldes nos Estados Unidos com o Oculpy Wall Streat aos movimentos

de jovens nos paiacuteses europeus Portugal Espanha Greacutecia e Itaacutelia e outros Tambeacutem podemos

pensar como movimento sociais congregaccedilotildees de pessoas em torno a determinadas causas

entre as quais as doenccedilas raras Gostaria de enfatizar a importacircncia das atividades voluntaacuterias

da participaccedilatildeo espontacircnea ainda que organizadas em movimentos e associaccedilotildees Isto pensando

menos na estrutura e o que eacute mais importante na ideia organizativa As boas causas das doenccedilas

raras despendem destas atitudes coletivas Por uacuteltimo quero confessar que o motivo maior de

minha presenccedila aqui neste primeiro congresso natildeo foi tanto o fato de ser pesquisador em

Ciecircncias Sociais mas um fato muito mais proacuteximo muito mais carne e muito mais sangue

Maria Emiacutelia minha sobrinha de quinze anos eacute portadora de Down e eacute pra ela que eu dedico

essa participaccedilatildeo Maria Emiacutelia este congresso eacute para vocecirc Obrigado

Maria Joseacute Delgado3 ndash Bom dia a todos e a todas

Eu gostaria de agradecer ao Rogeacuterio a oportunidade de estar aqui conversando com vocecircs

e contando um pouco do que eacute a Interfarma que eacute a Associaccedilatildeo das Induacutestrias de Pesquisas e

ela com certeza tem na sua missatildeo a tarefa de fazer o que eacute de produzir o que tem de melhor

de medicamentos mas tambeacutem de compor com aqueles que representam a necessidade do

paciente de compor com o governo de compor com todos os atores que tratam desse tema no

paiacutes As melhores oportunidades e as melhores soluccedilotildees para que o Brasil possa entregar a sua

populaccedilatildeo entregar especialmente a esta populaccedilatildeo de pessoas com doenccedilas raras o que ele

tem de melhor dentro da assistecircncia meacutedica como da assistecircncia farmacecircutica eacute a Interfarma

contribuindo com o SUS Induacutestrias entregando tambeacutem o que tem de melhor que satildeo os

medicamentos Dentro da nossa tarefa na Interfarma eu coordeno alguns trabalhos e dentro

desses o de doenccedilas raras O grupo de doenccedilas raras estaacute sob a minha coordenaccedilatildeo na

Interfarma Entatildeo ao longo desses uacuteltimos anos estamos nos dedicando fortemente ao tema

Temos vaacuterias iniciativas e dentre elas eu acho que os senhores devem ter recebido fizemos

um estudo global para entender como que o mundo trata isso e como seriam as melhores

soluccedilotildees para aplicarmos no Brasil Noacutes trouxemos alguns exemplares estatildeo disponiacuteveis

espero que vocecircs tenham a oportunidade de ler Esse talvez foi o produto que qualificou muito

mais aquilo que noacutes gostariacuteamos de discutir sobre doenccedilas raras e a partir dele noacutes estamos

desdobrando outras accedilotildees ao longo de alguns anos E entre elas estar presente junto sempre

em atividades como este evento Com certeza seraacute um divisor de aacuteguas naquilo que a gente

acha que eacute importante que eacute o paciente o paciente bem assistido um paciente que encontre

3 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

83

respostas que encontre acolhimento e que possa se sentir protegido por aqueles que tecircm a

obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo E eacute neste sentido que eu agradeccedilo ao Rogeacuterio a oportunidade de estar

aqui E principalmente de olhar para cada um de vocecircs e dizer do nosso compromisso Muito

obrigada e bom dia e acho que na sequecircncia a gente conversa mais um pouco Obrigada

Leonardo Batista4 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Leonardo estou na coordenaccedilatildeo de enfermagem juntamente com a Professora

Marisa e exercendo o papel social do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal

representando o magniacutefico reitor Yugo Okida e nosso diretor geral Geraldo Magela eacute que eu

agradeccedilo a presenccedila de cada um de vocecircs na mudanccedila da histoacuteria de poliacuteticas de doenccedilas raras

no Brasil Todos noacutes definimos como raridade aquilo que eacute uacutenico ou de que existem poucos

exemplares no mundo Mas se noacutes pensarmos bem noacutes somos bilhotildees de habitantes no mundo

mas ningueacutem tem a digital igual agrave outra A nossa iacuteris tambeacutem eacute diferenciada Entatildeo quer dizer

pessoal que todos noacutes somos raros Entatildeo ser raro eacute igual e natildeo diferente Agradeccedilo a todos

vocecircs imensamente a colaboraccedilatildeo neste evento e espero que todos participem muito E saibam

que a partir de hoje raridade eacute algo comum entre noacutes Muito obrigado

Marisa Carvalho5 ndash Bom dia a todos

Eu quero recebecirc-los com muita alegria aqui em nome do curso de enfermagem da Uniplan

e para natildeo ficar soacute nas minhas palavras eu gostaria de mostrar algumas imagens que eu

preparei Como o Professor bem colocou a homenagem agrave sobrinha dele eu quero fazer uma

homenagem agrave minha filha tambeacutem O nome da minha filha era Baacuterbara ela faleceu tem trecircs

anos com vinte anos portadora da Siacutendrome Prader Willi E aiacute eu soacute queria compartilhar

alguma coisa porque quando a gente fala em doenccedilas raras acontece uma outra coisa tambeacutem

raro eacute o conhecimento que se tem adequado para tratar para se lidar Natildeo soacute com o paciente

mas com a famiacutelia em si Sobre Prader Willi eu tenho um pouco de conhecimento mas

sobretudo muita vivecircncia Entatildeo eacute uma doenccedila cromossocircmica ela atinge o cromossomo quinze

e em decorrecircncia dessa alteraccedilatildeo alguns sinais satildeo evidenciados como peacutes e matildeos pequenos

e a crianccedila desenvolve uma obesidade moacuterbida O metabolismo dela eacute diminuiacutedo e haacute uma

hiperfagia ou seja ela come muito O hipotaacutelamo o centro da fome natildeo funciona como se vecirc

na maioria das pessoas entatildeo ela sente fome o tempo todo E como o metabolismo eacute

diminuiacutedo ela desenvolve obesidade moacuterbida Uma hipotonia ela natildeo sabia sugar a

mamadeira Minha filha natildeo soube o que eacute sugar um peito por causa Se eu me emocionar

vocecircs descontam um pouquinhohellip Entatildeo as dificuldades que noacutes passaacutemos inicialmente foi

por desconhecimento Soacute que a vivecircncia e o amor foram assim decisivos para que uma

vivecircncia uma vida a qualidade de vida fosse estabelecida Entatildeo a dificuldade de

aprendizagem e fala a instabilidade emocional a alteraccedilatildeo hormonal a baixa estatura as matildeos

e peacutes pequenos a pele eacute mais clara satildeo alguns sinais que depois eu vou disponibilizar mas eacute

tudo isso que os livros trazem Falam sobre a Prader Willi mas o que eacute que os livros natildeo falam

Eacute o que a vivecircncia nos ensina Se a gente vecirc essa figura aqui o que nos reporta essa imagem

O que nos achamos que eacute Coca-Cola neacute Esse eacute o grande problema os roacutetulos que noacutes

colocamos O grande problema das famiacutelias que tecircm crianccedilas com doenccedilas raras e das proacuteprias

crianccedilas satildeo os roacutetulos que a sociedade coloca As pessoas olham de fora e pensam

ldquoCoitadosrdquo As pessoas olham de fora e pensam ldquoNatildeo tem perspectiva de vidardquo E natildeo eacute

assim natildeo deve ser assim E com isso vecircm os preconceitos Acham que as pessoas satildeo infelizes

4 Coordenador do Curso de Enfermagem e representante do Reitor do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash

UNIPLAN 5 Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash UNIPLAN

84

ou que podem ter menos qualidade de vida por apresentar uma diferenccedila Eacute como o Professor

bem colocou o Professor Leonardo quem de noacutes eacute igual ao outro Entatildeo a falta de

conhecimento que a gente que eu observei particularmente nos profissionais de sauacutede na

eacutepoca que a Baacuterbara nasceu foi muito grande Foi uma dificuldade muito grande que eu

enfrentei Porque como natildeo conseguia amamentar os profissionais de sauacutede as pessoas que eu

conhecia achavam que eu natildeo queria amamentar por uma questatildeo esteacutetica e a coisa que eu mais

queria era amamentar a minha filha mas ela natildeo conseguia sugar O fato de ela natildeo exercitar o

maxilar implicou que a fala dela foi diferenciada Tudo isso contribuiu para que somente depois

de as pessoas conhecerem ela percebiam o que era ter uma crianccedila especial E ela falava assim

ldquoMamatildee eu sou especialrdquo E eu falava ldquoMinha filha vocecirc eacute muito especialrdquo Deus nos

capacitou para gerar outras vidas entatildeo natildeo devemos tratar os filhos pelo que seus corpos

apresentam mas pelo que eles essencialmente satildeo filhos E eacute assim que o portador de doenccedila

rara e sua famiacutelia querem ser tratados como pessoas que tecircm direitos que tecircm desejos que

tecircm sonhos e que querem ir adiante Aqui estaacute a Baacuterbara com um aninho toda charmosa

Aqui ela jaacute brincava com a mamadeira porque sugar mesmo ela natildeo conseguia sugar era

tudo na colherzinha Aqui ela eacute aquela de oacuteculos laacute em cima Estaacute no meio das primas e das

irmatildes

Eu lembro que quando eu engravidei da Baacuterbara uma professora minha da faculdade falou

ldquoVocecirc eacute louca Vocecirc jaacute teve uma filha sindrocircmica e vocecirc vai ter mais filhosrdquo E eu falei

Professora se eu tiver todos os filhos sindrocircmicos eles vatildeo ser amados do mesmo jeitordquo

Aqui ela mexendo no computador Tinha o computador dela

85

Aqui por volta de seis ou sete anos

E depois a beleza de uma vida estaacute no modo como ela eacute vivida aqui fazendo pose para

foto Aqui com as duas outras irmatildes fazendo careta e fazendo careta para o mau humor

fazendo careta para o preconceito fazendo careta para a falta de conhecimento para a falta de

perspectiva para a vida eacute para isso que elas fazem careta

Eudeixo esta mensagem para vocecircs Todos noacutes almejamos grandes vitoacuterias todavia Deus

nos ensina atraveacutes de seus anjos que as verdadeiras vitoacuterias satildeo os desafios diaacuterios que se

apresentam diante de noacutes e nos ensinam o que eacute ser feliz para que ao final do dia possamos ser

gratos e saber que somos vitoriosos Sabe o que eacute a vitoacuteria diaacuteria Eacute todo dia de manhatilde quando

amanhece vocecirc olhar no berccedilo para ver se o seu bebecirc se movimentou Essa era a minha vitoacuteria

diaacuteria porque do jeito que eu colocava a Baacuterbara para dormir ela amanhecia o dia que ela

amanhecia de lado era uma alegria Que bom ela estaacute reagindo E aiacute eu deixo aqui a foto da

minha Baacuterbara como uma grande vitoriosa que me ensinou muito E eu espero que esse

congresso porque hoje eacute um marco na vida de muitas pessoas natildeo soacute em termos de

aprendizagem mas em termos de vivecircncia de palavras que seratildeo ditas Que se abra o

conhecimento que se abra o entendimento o coraccedilatildeo Para a gente saber tratar bem de quem

merece todo o nosso respeito Obrigada a vocecircs

86

Joseacute Eduardo Fogolin6 ndash Bom dia a todos bom dia a todas Em especial bom dia e um

grande abraccedilo ao Rogeacuterio Lima um grande parceiro que durante esses dois anos eu tive uma

oportunidade o grande prazer de aproximar cada vez mais Natildeo apenas um grande conhecedor

sobre aquilo que a gente vem discutindo mas uma pessoa que dentro das nossas pequenas

diferenccedilas mas dentro da nossa construccedilatildeo com quem mais aprendi natildeo apenas como membro

e gestor do Ministeacuterio da Sauacutede mas como pessoa

Agradeccedilo tambeacutem agrave Dra Siacutelvia representando a Universidade de Coimbra agrave Dra Maria

Joseacute da Interfarma e em especial ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

representam a Uniplan

Queria deixar um abraccedilo aos meus companheiros do grupo teacutecnico que a gente vem

trabalhando em especial ao Professor Marcos Aguiar a todos os demais em nome deles

represento todos os meus colegas Pois bem eu vejo hoje aqui Rogeacuterio essa plateia e esse

plenaacuterio repleto de pessoas repleto de representantes tanto do berccedilo acadecircmico como

representantes de toda a sociedade E a cada ano que a gente vem acompanhando e discutindo

cada vez mais a atenccedilatildeo a famiacutelias e a pessoas com doenccedilas raras a gente percebe que cada vez

que a gente participa dos eventos a gente vecirc uma participaccedilatildeo cada vez mais expressiva e este

eacute o grande fundamento

Durante todo este periacuteodo e dada a oportunidade que noacutes tivemos para nos debruccedilarmos

cada vez mais em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo e agrave avaliaccedilatildeo do quanto natildeo somente o Sistema Uacutenico de

Sauacutede mas todos os sistemas de sauacutede natildeo apenas no Brasil mas no Mundo haacute uma diacutevida

eterna em relaccedilatildeo ao cuidado e ao cuidar das pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras Para que a

gente tenha uma relaccedilatildeo equacircnime igualitaacuteria a gente tem que partir do princiacutepio de natildeo

igualdade para atingir plenamente a igualdade de direitos O Sistema Uacutenico de Sauacutede tem

muitos desafios a serem conquistados no paiacutes mas eacute o uacutenico sistema que ousou dar atenccedilatildeo de

sauacutede igualitaacuteria e universal Esse eacute o nosso grande desafio E mais desafiador ainda eacute nos

debruccedilarmos em oferecer uma igualdade de direitos a todas as pessoas com doenccedilas raras e

suas famiacutelias que buscam e ateacute entatildeo natildeo tiveram acolhida necessaacuteria e principalmente natildeo

apenas o tratamento que natildeo eacute este o ponto fundamental mas o acolhimento e a informaccedilatildeo

que perpassa a necessidade primeira de todo o cuidado e informaccedilatildeo a estes usuaacuterios

O que eu tenho a dizer eacute que pela formaccedilatildeo que tenho na aacuterea de sauacutede pela cadeira que

passei durante todos os dez anos de minha vida iniciais da minha formaccedilatildeo em sauacutede muito

pouco se passou em informaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras Falo a partir de um Centro

Acadecircmico pela formaccedilatildeo que tive dentro da Universidade de Satildeo Paulo como meacutedico e

depois como especialista e posso declararque muito pouco se passou e muito pouco se passa

do conhecimento natildeo apenas sobre as doenccedilas mas principalmente de como acolher as

famiacutelias e pessoas com doenccedilas raras A gente sabe que o campo das doenccedilas raras estaacute pouco

permeado principalmente em profissionais da aacuterea sauacutede mas muito pouco ainda em relaccedilatildeo

agraves informaccedilotildees que possam chegar nas casas nas pessoas e familiares com doenccedilas raras Eacute

nesse sentido que noacutes queremos com a poliacutetica nos debruccedilarmos na discussatildeo das doenccedilas

raras e natildeo apenas na questatildeo teacutecnica cientiacutefica e este Congresso tem um nome fundamental

Porque o Primeiro Congresso Ibero-americano ele traz um olhar social para o paciente E esse

olhar social para o paciente ele traz e carreia um olhar fundamental do que eacute cuidar junto a uma

pessoa e familiar com doenccedila rara Trago ainda uma palavra do ministro Alexandre Padilha

que desde o comeccedilo desde 2012 que a gente vem discutindo o ministro Padilha sentou comigo

e falou ldquoFogolin de todas as estrateacutegias e de todas as poliacuteticas que a gente discute uma que eacute

fundamental que a gente tem uma diacutevida eterna eacute a atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas rarasrdquo Eu

fico emocionado porque dois anos da minha vida eu passei aprendendo com vocecircs Peccedilo

desculpa pela minha emoccedilatildeo Porque haacute dois anos que a gente discute no grupo teacutecnico (GT)

6 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede

87

Eu conheci os pacientes eu conheci as famiacutelias e eu aprendi com vocecircs Aprendi muito A cada

noite cada dificuldade que a gente teve nesse GT eu transbordo aqui Porque fazer poliacutetica

puacuteblica natildeo eacute difiacutecil difiacutecil eacute transpor as dificuldades que se colocam muitas vezes para as

pessoas Mas eu posso dizer aqui a vocecircs que de todo o meu trabalho discutir doenccedilas raras e

discutir as pessoas com doenccedilas raras posso estar daqui alguns anos em qualquer lugar eacute isso

eu levo para mim

Eu estou muito emocionado porque entrar aqui e olhar para cada um de vocecircshellip Eacute preciso

que vocecircs saibam que as Associaccedilotildees tecircm um papel fundamental nas poliacuteticas puacuteblicas O grupo

teacutecnico que noacutes formaacutemos no Ministeacuterio foi um grupo que tinha especialista tinha gestor mas

o que realmente fez a diferenccedila foi a participaccedilatildeo de associaccedilotildees e usuaacuterios Sem este olhar

que eacute o olhar social verdadeiro noacutes natildeo seriacuteamos verdadeiramente representativos E se o

Sistema Uacutenico de Sauacutede traz que a representatividade faz parte da poliacutetica esta foi e seraacute a

primeira poliacutetica realizada construiacuteda participativamente Esse eacute um ponto de partida

Haacute dois anos noacutes construiacutemos dois documentos fundamentais que foram para consulta

puacuteblica que foram finalizados e o Ministeacuterio da Sauacutede olhando a importacircncia que tecircm as

associaccedilotildees e usuaacuterios natildeo os quis levar para a pactuaccedilatildeo porque ainda tem muita associaccedilatildeo

e usuaacuterio para participar E o grupo teve uma responsabilidade de elaborar um documento e

apresentar agora no dia 23 de outubro para um grupo teacutecnico ampliadopara dizer que o

Ministeacuterio da Sauacutede pode levar para pactuar E documento comeccedila uma nova paacutegina Este eacute um

documento que institui uma poliacutetica integral

Ontem tive a oportunidade no Conselho Nacional de Secretaacuterios Estaduais de Sauacutede de

iniciar a discussatildeo de que existe uma avidez por parte dos gestores de que esta poliacutetica integral

natildeo perpasse apenas o tratamento mas que perpasse fundamentalmente a informaccedilatildeo a

orientaccedilatildeo e o acolhimento Porque natildeo trataremos de doenccedilas mas acolheremos as pessoas e

familiares com doenccedilas raras Eacute uma poliacutetica desafiadora mas que ao longo do tempo faz

crescer mais ainda as pessoas que tecircm a obrigaccedilatildeo de colocaacute-la em vigor de realizaacute-la

Eu fico muito contente em estar aqui e a cada evento sobre doenccedilas raras que eu vou cada

rosto cada criacutetica faz cada vez mais repensar as doenccedilas raras e natildeo soacute Refletir sobre doenccedilas

raras foi um divisor de aacuteguas fundamental para refletir toda a poliacutetica puacuteblica A doenccedila rara

modifica natildeo apenas uma pessoa mas o modo como a gente observa a necessidade das poliacuteticas

puacuteblicas

Muito obrigado

Siacutelvia Portugal7 ndash Bom dia a todas e a todos

Natildeo quero alongar-me jaacute que sou a uacuteltima soacute quero dizer que eacute com muito prazer e tambeacutem

com muita emoccedilatildeo que estou aqui a representar o Centro de Estudos Sociais da Universidade

de Coimbra que se associou desde o iniacutecio a esta ideia a esta vontade do Rogeacuterio em organizar

este Primeiro Congresso Ibero-americano de Doenccedilas Raras

O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra o CES eacute um Centro de Ciecircncias

Sociais e Humanidades um centro que aposta da interdisciplinaridade na

transdisciplinariedade que estaacute aberto a uma ecologia dos saberes como diz o nosso Director

Boaventura de Sousa Santos Eacute um Centro aberto ao mundo aberto aos saberes aberto agraves

pessoas Eacute um centro que aposta na interdisciplinaridade e na colaboraccedilatildeo e portanto o nosso

lugar eacute estar onde estaacute quem precisa de noacutes e quem quer colaborar connosco O CES eacute um

centro de investigaccedilatildeo aberto agrave comunidade aberto agrave sociedade civil aberto agrave iniciativa aberto

agraves propostas dos nossos estudantes nos quais o Rogeacuterio se inclui brilhantemente Eacute por isso

7 Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos

Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE)

88

que eu viajei do outro lado do oceano com muito gosto com muito prazer para estar aqui hoje

convosco

Queria desejar um bom dia de trabalhos e queria dizer que estes trabalhos se tudo correr

bem e acho que vai correr bem seratildeo publicados numa publicaccedilatildeo do CES que se chama

CESContexto uma publicaccedilatildeo relativamente nova que eu estou a coordenar juntamente com

duas colegas Existe uma linha que se chama Debates que serve justamente para dar voz a estes

tipo de eventos O que eu e o Rogeacuterio pretendemos fazer eacute recolher as falas de toda a gente e

poder publicaacute-las porque seraacute bom ter um documento nas matildeos que prove que noacutes estivemos

aqui

Muito obrigada por esta oportunidade dada ao CES de poder colaborar com este evento

89

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras

Joseacute Eduardo Fogolin1 ndash Bom mais uma vez bom dia a todos

A gente tem quinze minutos eu acredito que o importante aleacutem da apresentaccedilatildeo eacute

justamente essa possibilidade do debate e da discussatildeo A apresentaccedilatildeo eacute um pouco longa e eu

gostaria de pegar principalmente os pontos que satildeo fundamentais na estrateacutegia Antes de mais

nada e dada a participaccedilatildeo de representantes de outros paiacuteses como Estados Unidos Portugal

Argentina e Franccedila queria colocar soacute um pouco o que eacute o nosso Sistema Uacutenico de Sauacutede

O Brasil eacute o uacutenico paiacutes do mundo com mais de cem milhotildees de habitantes Natildeo falo

duzentos que eacute a nossa populaccedilatildeo mas mais de cem um paiacutes que ousou uma poliacutetica puacuteblica

universal constituinte uma lei magna a Constituiccedilatildeo Federal que traz como direito ldquoa sauacutederdquo

O direito agrave sauacutede haacute 22 anos passou a permear esse processo que eacute fundamental para que

a gente possacobrar e exigir E essa eacute a dialeacutetica A gente cobra sabendo que tem um potencial

de melhoria Para termos a noccedilatildeo da dimensatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede por ano mais de

32 bilhotildees de procedimentos satildeo realizados nesse sistema mais de 500 milhotildees de consultas

de especialidade por ano e mais de um milhatildeo de internaccedilotildees por mecircs

Eacute importante dizer que temos muitos desafios natildeo apenas pela caracteriacutestica continental

mas por uma diversidade fundamental caracteriacutestica do Brasil que eacute a diversidade entre as

pessoas A diversidade regional a diversidade de cultura e a diversidade principalmente de

como cuidar Um exemplo na atenccedilatildeo agrave sauacutede das pessoas dos povos indiacutegenas noacutes temos

como caracteriacutesticas realizar atendimento diferenciado porque ser igual eacute justamente poder

ofertar a diferenccedila de cuidado Mas mais do que isso quanto aos nuacutemeros o Brasil tambeacutem eacute

responsaacutevel pelo maior nuacutemero de transplante de oacutergatildeos puacuteblicos do mundo

Esses satildeo os nossos desafios Desafios que trouxeram todos para pensar estrateacutegias para

cuidar estrateacutegias de ofertar uma poliacutetica fundamental e integral dentro desse sistema de como

cuidar natildeo apenas as pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras mas tambeacutem como induzir que os

profissionais de sauacutede tenham natildeo apenas o conhecimento mas que mudem fundamentalmente

a forma de como pensam e abordam o cuidado de pessoas com doenccedilas raras A mudanccedila da

estrateacutegia dessa poliacutetica natildeo eacute apenas trazer a poliacutetica e implementaacute-la eacute em especial mudar o

paradigma de como cuidar Um paradigma que dentro do sistema ao longo do periacuteodo fez

emergir o modelo de se fazer sauacutede o modelo correto de se fazer e atender as pessoasNatildeo eacute

apenas caracteriacutestica do Brasil mas de todos os paiacuteses o facto de ter prevalecido uma sauacutede

centrada na medicina centrada no papel do meacutedico centrada no papel do tratamento como

resultado Eacute importante e faz parte do processo mas cuidar eacute muito mais do que um processo

especiacutefico de tratar num consultoacuterio Cuidar eacute muito mais do que fazer um diagnoacutestico Cuidar

eacute entender de todo um processo e isso significa mudanccedila de um modelo

Eacute importante que todos saibam qual o caminho que estamos seguindo em relaccedilatildeo ao modelo

de gestatildeo da sauacutede Historicamente o Sistema Uacutenico de Sauacutede foi tanto do ponto de vista de

construccedilatildeo de poliacutetica como do ponto de vista de financiamento pautado por procedimentos

Isso historicamente ocasionou essa conduta de se tratar e de se financiar a sauacutede atraveacutes de

procedimentos ou seja um usuaacuterio do sistema quando chegava ao hospital passava por uma

combinaccedilatildeo de procedimentos A mudanccedila desse modelo de gestatildeo eacute o que o Ministeacuterio da

Sauacutede em conjunto com os outros atores desse sistema ndash secretaacuterios estaduais de sauacutede

secretaacuterios municipais representativos do CONASS2 e CONASEMS3 ndash vem discutindo A

1 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede 2 Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede - httpwwwconassorgbr 3 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sauacutede - httpwwwconasemsorgbr

90

mudanccedila de como instituir poliacutetica puacuteblica natildeo apenas baseada em procedimentos em um

pacote de exames s em um pacote de financiamento mas como integrar de facto a organizaccedilatildeo

desse sistema de sauacutede E noacutes trouxemos o novo modelo que natildeo eacute novo mas nova a forma de

se organizar atraveacutes de accedilotildees e serviccedilos numa rede de atenccedilatildeo a sauacutede Isto jaacute estava descrito

na lei 8080 nos regimentos que fazem do Sistema Uacutenico de Sauacutede um sistema e organizaccedilatildeo

Mas a aplicabilidade e a organizaccedilatildeo desse sistema em rede essa mudanccedila eacute o grande desafio

do sistema E o que eacute essa rede Toda a estrateacutegia e poliacutetica que o Ministeacuterio institui satildeo

pautadas na loacutegica da construccedilatildeo da rede tanto na organizaccedilatildeo no seu planejamento como no

seu financiamento e cuidado Eacute atraveacutes desse arranjo organizativo que os serviccedilos dos

estabelecimentos de sauacutede devem se organizar para que as accedilotildees sejam feitas dentro de um

cuidado continuado dentro de uma loacutegica de diferentes tendecircncias tecnoloacutegicas integradas por

apoio teacutecnico Ou seja dentro dessa rede cada um deve ter um papel fundamental para que seja

de fato organizada uma rede de atenccedilatildeo

O usuaacuterio desse sistema independente d a poliacutetica no acircmbito da rede de atenccedilatildeo deve ser

encontrado e natildeo procurar o cuidado Mas deve ser encontrado atraveacutes de uma rede integral

em que cada ponto da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada do posto de sauacutede ao hospital o

usuaacuterio encontre um cuidado contiacutenuo numa rede integrada

O que eu coloco como caracteriacutestica fundamental eacute justamente isso a rede implica uma

relaccedilatildeo horizontal Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras o cuidado que existioa quando se alcanccedilava

estava em centros especiacuteficos fossem de pesquisa ou grandes centros muito distantes de um

cuidado e um acolhimento adequado Mas aatenccedilatildeo em sauacutede mais proacutexima de qualquer usuaacuterio

sempre seraacute a Atenccedilatildeo Baacutesica independente da necessidade e da complexidade do cuidado E

se noacutes formos discutir as doenccedilas raras a atenccedilatildeo baacutesica faz parte do cuidado porque eacute ali que

funciona a porta de entrada seja da gestante seja do usuaacuterio na fase inicial Portanto eacute

fundamental que a informaccedilatildeo e o cuidado de doenccedila rara tambeacutem chegue para que tenhamos

principalmente um diagnoacutestico que se quer um diagnoacutestico precoce a orientaccedilatildeo adequada

em cada porta de entrada desse Sistema Uacutenico de Sauacutede Aleacutem disso essa rede eacute centrada na

necessidade e natildeo apenas na oferta porque o sistema trouxe ateacute entatildeo sempre uma oferta que

recorta justamente essa demanda Torna-se importante natildeo apenas financiar a poliacutetica puacuteblica

mas organizar e planejar uma poliacutetica puacuteblica em relaccedilatildeo com as necessidades de um dado

territoacuterio para aiacute comeccedilamos a organizar o processo

De acordo com a OMS doenccedila rara eacute aquela doenccedila que afeta ateacute sessenta e cinco pessoas

por cem mil pessoas proporccedilatildeo de 13 a cada 2 mil Essa definiccedilatildeo natildeo eacute homogecircnea em todos

os paiacuteses e noacutes colocamos em consulta puacuteblica essa definiccedilatildeo para iniciar o processo Daqui a

dois anos noacutes poderemos assim mudar a definiccedilatildeo porque a poliacutetica eacute dinacircmica mas

justamente acomete 6 a 8 da populaccedilatildeo Se noacutes fossemos pensar como muitas vezes ldquoNatildeo

poliacutetica puacuteblica se faz em cima de epidemiologiardquo natildeo estariacuteamos aqui hoje ateacute porque embora

ela seja individualmente rara constitui um grupo muito significativo da populaccedilatildeo Esse era um

ponto que eu queria discutir quando comeccedilamos com esse grupo teacutecnico formado por

especialistas representantes de associaccedilotildees e gestores essencialmente do Ministeacuterio da Sauacutede

mais concretamente por onde vamos traccedilar uma poliacutetica Noacutes temos quase mais de oito mil

doenccedilas conhecidas nuacutemero que cada vez mais vai aumentar em relaccedilatildeo ao nuacutemero de doenccedilas

raras Como eacute que podemos comeccedilar a discutir essa estrateacutegia

Seeu for pensar no tratamento medicamentoso e fazer uma poliacutetica para quem trata apenas

com medicamento somente 100 doenccedilas raras hojetecircm um tratamento medicamentoso Ou

seja eu deixaria de fora 7900 doenccedilas Eacute importante eacute fundamental mas uma poliacutetica integral

muito mais importante porque eu natildeo faccedilo cuidado apenas com medicamento eu faccedilo o

cuidado com integralidade com diagnoacutestico com habilitaccedilatildeo com reabilitaccedilatildeo com discussatildeo

de caso ecom outros fatores

91

Quando esse grupo foi formado noacutes tiacutenhamos trecircs prioridades primeiro instituir uma

poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras no Sistema Uacutenico de Sauacutede

segundo elaborar dois documentos norteadores o grupo tinha esse papel e ao fim desta

elaboraccedilatildeo noacutes temos que colocar em consulta puacuteblica dois documentos norteadores um de

diretrizes ao cuidado e o outro de normas para habilitaccedilatildeo dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede

de serviccedilos e centros de doenccedilas raras terceiro a inclusatildeo de procedimentos porque a poliacutetica

de integralidade do cuidado perpassa os serviccedilos de acesso por necessidade de diagnoacutestico por

habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo e muitas vezes por tratamento medicamentoso

Natildeo se exclui da poliacutetica a necessidade de tratamento medicamentoso Mas a gente tem

que propor ao Sistema respaldado no diagnoacutestico Entatildeo faz parte da poliacutetica a incorporaccedilatildeo

de novos exames Novos exames estatildeo sendo discutidos em uma comissatildeo estatildeo na comissatildeo

nacional de incorporaccedilatildeo de tecnologia no Sistema Uacutenico de Sauacutede que eacute uma lei federal para

a incorporaccedilatildeo de toda tecnologia no SUS Essa discussatildeo fizemos paralelamente porque tem

todo um processo de aprovaccedilatildeo e jaacute vimos discutindo a poliacutetica dentro do sistema A poliacutetica

envolve desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada incluindo a questatildeo do aconselhamento

geneacutetico ateacute a habilitaccedilatildeo e instruccedilatildeo de centros de serviccedilos em doenccedilas raras

O que pautou a estrateacutegia da poliacutetica

Alguns eixos estruturantes passam por ver o lado macro desse cuidado Nessa poliacutetica noacutes

temos dois eixos fundamentais doenccedilas raras de origem geneacutetica e doenccedilas raras de origem

natildeo geneacutetica Dentro de doenccedilas raras de origem geneacutetica temos um eixo vinculado a anomalias

congecircnitas outro a deficiecircncia intelectual e outro a erros inatos de metabolismo Haacute outro grupo

maior de doenccedilas raras que satildeo de origem natildeo geneacutetica perpasso infecciosos inflamatoacuterios e

autoimunes Isso balizou o quecirc Fundamentalmente para traccedilarmos a linha dos eixos em que

assentaria o cuidado para que a gente pudesse pensar como seria organizado o sistema atraveacutes

de uma rede e como eacute que a atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras integraria o processo

nessa rede de atenccedilatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes de poliacuteticas habilita os serviccedilos e os centos especializados

em doenccedilas raras Hoje existem determinados serviccedilos que prestam cuidado a uma ou mais

doenccedilas para um eixo ou mais eixos de cuidado dependendo da sua complexidade Mas mais

do que isso a poliacutetica tem um poder de induccedilatildeo jaacute que ela induz todo um processo desde a

formaccedilatildeo que eacute fundamental e natildeo eacute a formaccedilatildeo do especialista do geneticista mas de pessoas

e profissionais vinculados ao cuidado tanto da aacuterea meacutedica como natildeo meacutedica

A poliacutetica tem dois documentos norteadores que foram colocados em consulta puacuteblica No

dia 23 de outubro noacutes faremos uma reuniatildeo ampliada Porquecirc essa reuniatildeo ampliada

Justamente quando noacutes elaboraacutemos o grupo noacutes o grupo Ministeacuterio da Sauacutede representantes

e gestores representantes de especialidades associaccedilotildees constituiacutemos um nuacutecleo duro e esse

nuacutecleo tem a responsabilidade de construir a proposta inicial Porque para chancelar o processo

noacutes precisamos de uma aprovaccedilatildeo e de uma discussatildeo maior por isso eacute que desde o primeiro

dia noacutes construiacutemos os dois documentos a) Como habilitar serviccedilos e centros de atenccedilatildeo

especializada em atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras e as diretrizes para cada um dos pontos

de atenccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada e o centro de serviccedilos em especialidades

b) Qual o papel de cada um no cuidado na atenccedilatildeo das pessoas com doenccedilas raras

Habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo cuidado continuado necessidades adicionais natildeo apenas o

tratamento especiacutefico da doenccedila rara mas o contexto integral desse cuidado eacute a nossa proposta

E aiacute noacutes falamos ldquoNo uacuteltimo dia quando a gente for para a pactuaccedilatildeo ao niacutevel de sistema

uacutenico CONASS CONASEM e a tripartite noacutes faremos o GT ampliado para mostrar que esse

eacute o processordquo E entatildeo teremos a posiccedilatildeo criacutetica de todos

Jaacute tivemos a consulta puacuteblica Foi a consulta puacuteblica nesse Ministeacuterio que teve a maior

participaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo Foram mais de 180 contribuiccedilotildees Foi um trabalho aacuterduo do grupo

de trabalho que se dividiu em trecircs grandes grupos para consolidar a consulta puacuteblica e

92

finalizamos os documentos que seratildeo apresentados na reuniatildeo ampliada Aprovado nesta

reuniatildeo no mecircs 11 a gente faz a discussatildeo na plenaacuteria da CONITEC4 de incorporaccedilatildeo

tecnoloacutegica e ainda no mecircs 11 eu vou agrave comissatildeo intergestora tripartite para pactuar e aiacute sim

a gente passa para a histoacuteria do Sistema Uacutenico de Sauacutede uma poliacutetica integral uma uacutenica

poliacutetica integral que perde de poucas no mundo de atenccedilatildeo integral de pessoas com doenccedilas

raras Uma poliacutetica que vai do cuidado para o acolhimento e o diagnoacutestico do aconselhamento

ateacute a necessidade de medicamentos baseada no protocolo cliacutenico Foi um trabalho ndash e eu me

emocionei na fala porque quem participou sabe e eu agradeccedilo a cada um desses colegas o

Rogeacuterio Prof Marcos Sidney a Martha e a todos em nome deles ndash que realmente a gente

pensou da base agrave atenccedilatildeo especializada Aleacutem desse trabalho a gente vai ter que modificar

muito porque a poliacutetica puacuteblica eacute dinacircmica O grande desafio agora eacute que cada um pactue na

tripartite que a gente vaacute para o territoacuterio e induza a implementaccedilatildeo desse processo e que

monitore a implementaccedilatildeo desse processo

Se estamos fazendo poliacutetica puacuteblica esta tem que ser feita tambeacutem com a academia com

o gestor com as pessoas Somente dessa forma a gente vai conseguir implementar e mudar a

realidade

Muito obrigado e eu fico a disposiccedilatildeo para discussatildeo

Maria Joseacute Delgado5 ndash Bom dia

Eu vou comeccedilar a apresentaccedilatildeo mostrando um filme Eacute um filme raacutepido Eu pedi que o

Rogeacuterio me desse essa licenccedila para que vocecircs conhecessem um pouco mais da Interfarma de

uma maneira um pouco mais interessante do que eu ficar falando de nuacutemeros ficar falando de

percentuais Depois a gente vai entrar numa outra parte da apresentaccedilatildeo em que eu trago alguns

nuacutemeros de pesquisa e alguns dados referentes ao desenvolvimento dos produtos

Bom somente para contar um pouquinho do que noacutes fazemos e como noacutes fazemos

Principalmente o que noacutes fazemos eacute estar junto Estar fazendo junto tambeacutem eacute uma meta e eacute

uma necessidade que a Interfarma tem na sua gestatildeo Por isso pedimos tanto ao Ministeacuterio da

Sauacutede para participar do grupo que esteve pensando a proposta de poliacutetica Naquele momento

natildeo foi oportuno mas no dia 23 com certez noacutes estaremos juntos estaremos conversando

estaremos tentando alinhar tambeacutem algo daquelas contribuiccedilotildees que noacutes jaacute envimos que o

Fogolin conhece e que todo o mundo conhece

O Rogeacuterio me pediu para que eu traccedilasse um cenaacuterio em relaccedilatildeo a quecirc e como noacutes

investimos como noacutes desenvolvemos os produtos como satildeo os dados e quais satildeo esses dados

Mas antes desses dados eu vou tentar desenhar um cenaacuterio que eu acho que vocecircs conhecem

Ateacute os anos 80 as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte das agendas governamentais o

que pode ser encontrado em estudos que demonstram isso A partir dessa data dessa deacutecada

vaacuterios esforccedilos vaacuterias estrateacutegias foram sendo implementadas para que esse pudesse ser um

tema e um tema que fosse visto com mais dedicaccedilatildeo cada vez mais pensando em soluccedilotildees para

o cenaacuterio que se apresentava

No Brasil como o Fogolin jaacute falou estimam-se treze milhotildees de pessoas com doenccedilas raras

e destas 75 se manifestam-se em crianccedilas Esse eacute o indicador que talvez mais nos comova e

eacute o indicador que talvez mais nos mova a fazer o que fazemos E contribui ainda para maior

morbidade nos primeiros 18 anos de vida que tambeacutem eacute um dado que nos impulsiona a tentar

dar soluccedilotildees e a tentar trazer benefiacutecios ou longevidade com qualidade para essas pessoas

No Brasil assim como no mundo quem movimentou e colocou essa agenda dentro do

governo foram as associaccedilotildees de pacientes os estudos tambeacutem demonstram isso As

4 Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) 5 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

93

associaccedilotildees satildeo aquelas que estatildeo levando o tema e fazendo o tema acontecer Entatildeo eacute

importante que vocecircs continuem nesse ritmo e continuem fazendo cada vez mais o

posicionamento da necessidade e o posicionamento do interesse de cada um de vocecircs E essa

nova abordagem vinda das associaccedilotildees de pacientes tambeacutem trouxe para o Brasil vaacuterios

avanccedilos do que se iniciou em 2000 mas apenas em 2009 foi formalizada e publicada pelo

Ministeacuterio da sauacutede a Portaria 81 Conhecemos todo o esforccedilo e reconhecemos o esforccedilo para

que isso tivesse sido feito e que agora entra numa outra fase de execuccedilatildeo

A poliacutetica que agora estaacute desenhada e que propotildee um desenho talvez seja exequiacutevel sendo

que a anterior a portaria 81 natildeo era A gente sabe que eacute um caminho longo que eacute um caminho

recente da deacutecada de 80 e que temos que andar muito Diversas barreiras dificultam o acesso

dos pacientes a tratamentos especializados desde a assistecircncia ateacute medicamentos Os

profissionais da aacuterea carecem de capacitaccedilatildeo para natildeo comprometer ou retardar o diagnoacutestico

Eacute angustiante chegar em um serviccedilo de assistecircncia seja unidade baacutesica seja um hospital e

aquele que vai te atender olhar para vocecirc e fica talvez mais inseguro do que vocecirc mesmo que

foi buscar alguma soluccedilatildeo para a sua situaccedilatildeo de sauacutede A capacitaccedilatildeo e treinamento dos

profissionais eacute um alvo que deve estar dentro da discussatildeo do que estaacute em construccedilatildeo Falta de

informaccedilatildeo sobre as doenccedilas para as famiacutelias eacute angustiante Eacute uma afliccedilatildeo muito grande o que

fazer como fazer o que tem depois de ter diagnosticado para onde ir como dar soluccedilatildeo a

essa situaccedilatildeo que eacute muito complexa

Apenas 2 das doenccedilas pode beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na

sua evoluccedilatildeo Estamos falando de um percentual muito pequeno e que pesa todo o esforccedilo de

pesquisa e desenvolvimento mas por ser tatildeo recente o setor ainda carece de mais investimento

e de mais pesquisas E quando eu falo dessa agonia de chegar numa unidade baacutesica eu falo natildeo

na teoria eu falo tambeacutem porque eu sou uma usuaacuteria do serviccedilo de sauacutede os meus filhos satildeo

os meus netos satildeo Antes de tudo eu como uma cidadatilde me angustia e eacute realmente uma

constataccedilatildeo da vida real porque aqui ningueacutem estaacute dizendo de hipoacutetese ou de situaccedilatildeo que natildeo

conheccedila realmente Como eacute o cenaacuterio de desenvolvimento de pesquisa no Brasil Quando eu

digo que ele natildeo possui robustez eacute porque noacutes natildeo temos a robustez que o paiacutes merece e que a

populaccedilatildeo e que a proacutepria academia tambeacutem precisam Noacutes somos mais ou menos o deacutecimo

terceiro paiacutes em produccedilatildeo Noacutes somos em pesquisa e artigos cientiacuteficos o deacutecimo terceiro no

mundo Noacutes somos muito bons a produzir artigos cientiacuteficos mas no ranking mundial de

depoacutesito de patentes que se faz o registro quando haacute uma descoberta quando haacute possibilidade

de um novo produto noacutes estamos no vigeacutesimo quarto lugar E o paiacutes perde a oportunidade de

inovaccedilatildeo noacutes fizemos um estudo com os nossos associados com quinze empresas noacutes

perdemos por conta de tramitaccedilatildeo burocraacutetica nas vaacuterias instacircncias que satildeo necessaacuterias passar

um processo e o projeto de pesquisa Noacutes perdemos uma quantidade importante de estudos e

chegamos a estimar um prejuiacutezo de 2500 pacientes aproximadamente E vamos perder mais

alguns inclusive para produtos oncoloacutegicos de hepatite C problemas importantes tambeacutem de

sauacutede puacuteblica A pesquisa cliacutenica movimenta cerca de 40 bilhotildees de investimento no mundo e

no Brasil satildeo investidos pouco mais de 139 milhotildees de doacutelares A participaccedilatildeo do Brasil em

estudos cliacutenicos no mundo representa 15 e atinge a deacutecima quarta posiccedilatildeo O tempo gasto

com a pesquisa cliacutenica no Brasil estaacute entre 10 a 14 meses enquanto que a meacutedia mundial eacute de

4 a 6 meses E o que acontece no quadro anterior demora tanto para aprovar que noacutes natildeo

conseguimos nem fazer e nem participar das pesquisas mundiais

A nossa populaccedilatildeo que tem um perfil epidemioloacutegico que tem uma caracteriacutestica

especiacutefica muitas vezes a gente natildeo consegue participar dos estudos multicecircntricos Tem um

dado interessante quando falamos de doenccedilas cardiovasculares que satildeo doenccedilas

tradicionalmente em maior nuacutemero e cuidadas haacute muito mais tempo temos um indicador de

para cada 24 euros gastos no desenvolvimento de todos os novos medicamentos 89 satildeo

economizados em internaccedilatildeo e outros serviccedilos de sauacutede

94

Entatildeo pensando na pesquisa no desenvolvimento e no impacto financeiro dentro do

processo da elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas sabemos que existe uma limitaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

mas a gente entende tambeacutem que eacute preciso encontrar as soluccedilotildees para uma medida para que

esse orccedilamento possa ser elaacutestico e atender a necessidade de um conjunto de pessoas

A induacutestria farmacecircutica gastou em 2011 aproximadamente 130 bilhotildees de doacutelares e

foram lanccedilados aproximadamente 35 novos produtos farmacecircuticos dentre os mais de 3200

compostos em desenvolvimento Entre 2007 e 2011 noacutes temos um decliacutenio de pesquisa que

caiu para 149 e o custo meacutedio do desenvolvimento de um medicamento gira em torno de 13

bilhotildees de doacutelares Noacutes temos 460 medicamentos que estatildeo sendo desenvolvidos para doenccedilas

raras e que a gente espera que muitos deles possam chegar ao mercado

Essa eacute uma curva de tempo como que comeccedila laacute na pesquisa baacutesica que o Fogolin estaacute

dizendo aqui do financiamento do incentivo ao financiamento a pesquisa baacutesica e qual eacute o

percurso que se tem para chegar ateacute que o produto chegue ao balcatildeo ao mercado eacute o processo

e eacute o trajeto da bancada ao mercado

95

E isso vai levar mais ou menos entre dez a quinze anos para se desenvolver um

medicamento ou uma vacina nova e somente um a cada dez mil compostos chega ateacute os

pacientes Vamos investir num esforccedilo que eacute super importante e tem que acontecer mesmo

porque noacutes temos aquele deacuteficit de pesquisa O nosso investimento eacute pouco mas tem essa linha

e essa trajetoacuteria de desenvolvimento Tem que ter muito investimento para que tenhamos

inovaccedilotildees sendo disponibilizadas

Deixo soacute algumas consideraccedilotildees finais que eu acho importante deixar na agenda O Brasil

natildeo discute medicamentos oacuterfatildeos como um tema macro Ele eacute discutido dentro das poliacuteticas

puacuteblicas O medicamento oacuterfatildeo que vai cuidar de doenccedilas raras negligenciadas

principalmente precisa duma pauta especiacutefica Precisamos fortalecer a assistecircncia meacutedica e

farmacecircutica e isso com certeza depende dos grupos de defesa e das associaccedilotildees de pacientes

Noacutes precisamos de parcerias para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo Esse modelo deve

envolver o governo as associaccedilotildees de pacientes as representaccedilotildees do seguimento produtivo

do Conselho Federal de Medicina de farmaacutecia e todos aqueles que fazem parte do paiacutes satildeo

aqueles que moram aqui e aqueles que querem que isso daqui desenvolva e que esse paiacutes avance

cada vez mais Os pacientes e a responsabilidade social das empresas tambeacutem tem a sua missatildeo

importante O diaacutelogo social tambeacutem eacute importante e ele existe para negociaccedilatildeo em prol do

interesse comum Na verdade o que precisamos eacute que a voz desse conjunto de pessoas possa

estabelecer um impacto social para as doenccedilas raras que eacute uma provocaccedilatildeo que eu faccedilo e que

eu deixo aqui no encerramento da minha fala

As vozes satildeo necessaacuterias elas existem cada vez mais elas tecircm que ter forccedila para dizer o

que precisam mas para isso noacutes precisamos estabelecer um impacto social e dizer para onde

noacutes queremos ir e como noacutes vamos Isso foram assuntos que noacutes fizemos foram temas de

movimentos com que noacutes trabalhamos A publicaccedilatildeo6 que vocecircs receberam teve como objetivo

qualificar o nosso debate e a meta era ocupar o espaccedilo que eacute devido agraves doenccedilas raras na agenda

do paiacutes

Noacutes fizemos um seminaacuterio grande em marccedilo e esses satildeo resultados do seminaacuterio Noacutes

fizemos publicaccedilotildees que atingiram mais de um milhatildeo de pessoas difundindo otema dizendo

6 Doenccedilas Raras contribuiccedilotildees para uma poliacutetica nacional disponiacutevel em wwwinterfarmaorgbr

96

que existem doenccedilas raras que eacute preciso discutir e que eacute preciso avanccedilar Aqui satildeo dados que a

gente sabe que estatildeo nesse estudo e dentro desse fortalecimento das accedilotildees eu acho que o mais

importante eacute que a gente precisa continuar discutindo contribuir sistematicamente para o debate

deste complexo cenaacuterio entender e construir junto as saiacutedas Por uacuteltimo e jaacute que o evento eacute

uma parceria com Coimbra eu queria deixar aqui a boa fala do Professor Boaventura que diz

que devemos ldquoLutar pela igualdade quando a diferenccedila nos discrimina e lutar pela diferenccedila

sempre que a igualdade nos descaracterizerdquo

Muito obrigada Rogeacuterio Muito obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocecircs Fico

agrave disposiccedilatildeo para qualquer intervenccedilatildeo

Luiz Oswaldo Rodrigues7 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues Quem deveria estar aqui hoje era o Sr

Paulo Roberto Ferreira Couto que eacute o presidente da AMANF Eu sou um dos membros da

associaccedilatildeo Eu e minha esposa Thalma estamos aqui e temos uma filha com Neurofibromatose

(NF) do tipo I Tambeacutem sou meacutedico e haacute dez anos encontramos outro meacutedico com o filho com

NF tambeacutem Entatildeo noacutes criamos o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas na

Universidade Federal de Minas Gerais

Eu estou aqui falando em nome da Associaccedilatildeo Mineira de Apoio as Pessoas com NF -

AMANF e estou falando em nome do Centro de Referecircncia tambeacutem

Eu quero agradecer ao Rogeacuterio particularmente pelo convite pessoal em nome da nossa

Associaccedilatildeo e eacute uma satisfaccedilatildeo estar aqui nesta mesa com Dr Joseacute Eduardo Fogolin com a Dra

Maria Joseacute e com o Prof Dr Natan Monsores participando desse debate

A primeira pergunta que a nossa Associaccedilatildeo se fez foi se noacutes somos uma doenccedila rara

Como vocecircs jaacute viram na palestra do Professor Maacuterio ontem na audiecircncia puacuteblica a gente fica

agraves vezes na duacutevida se nos encontramos entre as doenccedilas raras Natildeo haacute um consenso como noacutes

aprendemos com o Dr Saporta ontem natildeo haacute um consenso e satildeo 80 mil brasileiros mais ou

menos tanto quanto a doenccedila de charcot-marie-tooth Temos uma populaccedilatildeo bastante grande

daacute para encher um estaacutedio de futebol com o nuacutemero de pessoas que tem NF Isso eacute raro Pelos

criteacuterios internacionais essa eacute uma doenccedila daquelas com frequecircncia rara portando estamos

dentro das doenccedilas raras Elas satildeo trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros

e apesar desse nuacutemero de pessoas acometidas elas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas

raras

As NFs padecem de dificuldades semelhantes agraves demais doenccedilas raras as quais noacutes

denominamos DOR Uma sigla que noacutes fizemos pra designar essa dificuldade comum que noacutes

temos entre todas as doenccedilas raras Que seria isso D - de desconhecimento cientiacutefico por parte

dos profissionais de sauacutede ou as vezes por todos O - de omissatildeo institucional que a gente fica

feliz de saber que aqui tem um representante do Ministeacuterio e que existem comitecircs trabalhando

e que estatildeo tentando superar isso mas ainda eacute uma dificuldade a omissatildeo institucional E

finalmente R - representaccedilatildeo social inexistente O que quer dizer isso Quando vocecirc fala a

palavra NF por exemplo mas poderia ser Niemann-pick ou qualquer outra dessas doenccedilas

que vocecircs compartilham conosco que noacutes compartilhamos nesse Congresso nesse evento as

pessoas natildeo sabem o que significa

A psicoacuteloga Alessandra Cerello fez uma dissertaccedilatildeo de mestrado8 mostrando que as

pessoas natildeo sabem o que eacute NF profissionais de sauacutede ou as famiacutelias A sociedade natildeo sabe E

quando vocecirc natildeo sabe o que uma coisa significa vocecirc natildeo tem emoccedilatildeo sobre ela entatildeo a falta

de emoccedilatildeo faz com que vocecirc natildeo se incomode com aquela pessoa vocecirc natildeo estabelece uma

7 Diretor Teacutecnico da Associaccedilatildeo Mineira de Neurofibromatose 8 Disponiacutevel em httpwwwbibliotecadigitalufmgbrdspacebitstreamhandle1843BUOS-

8N2FVWdisserta__o_alessandra_cerellopdfsequence=1

97

relaccedilatildeo de empatia vocecirc natildeo estabelece uma conexatildeo humana de pessoa para pessoa Entatildeo a

maior parte das doenccedilas raras ou se natildeo todas tem essa dificuldade Para dar um exemplo eu

fiquei muito feliz quando o Rogeacuterio denominou a Associaccedilatildeo de Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria

porque Maria Vitoacuteria tem o rosto noacutes pensamos que existe uma pessoa por traacutes deste nome

dessa associaccedilatildeo Isso eacute fundamental dar rosto agraves pessoas

aacute no Centro de Referecircncia noacutes temos algumas queixas das pessoas que nos procuram e vou falar

de NF mas possivelmente vocecircs vatildeo identificar essas dificuldades em outras doenccedilas Por

exemplo a atitude acadecircmica excessivamente acadecircmica dos profissionais da sauacutede os

meacutedicos particularmente que tratam os pacientes de uma forma fria num tubo de ensaio A

pressa no atendimento vejam esse meacutedico ele tem quantos reloacutegios que ele tem que dar conta

ao mesmo tempo para um paciente soacute Ele tem vaacuterios reloacutegios eacute uma pressa uma coisa atraacutes

da outra entatildeo a pressa natildeo permite que vocecirc olhe para o paciente e diga assim Eu natildeo sei o

que vocecirc tem eu preciso de estudar eu preciso de consultar um colega eu preciso de fazer uma

interconsulta para gente poder saber o que vocecirc temA pressa natildeo nos permite fazer isso

A indiferenccedila eacute como se agraves vezes no caso da NF por exemplo muitos pacientes apresentam

lesotildees cutacircneas e quem desconhece a doenccedila natildeo sabe se elas satildeo contagiosas ou natildeo e a atitude

espontacircnea humana e natural eacute o medo do desconhecido medo de pegar aquela doenccedila entatildeo

haacute um isolamento Muitos pacientes com NF dizem assim Doutor nenhum meacutedico nunca

tocou em mim nunca encostou a minha pele Olha de longe e tira retrato Ou a doenccedila eacute

retratada apenas pelo seu lado patoloacutegico pela patologia pela lacircmina da bioacutepsia Entatildeo o

meacutedico olha para o paciente mas o que ele vecirc natildeo eacute uma pessoa ele vecirc a lacircmina ele vecirc a

anatomia a doenccedila ele natildeo vecirc o ser humano que estaacute ali diante dele Essa eacute outra queixa Os

pacientes satildeo voluntaacuterios em pesquisa e depois satildeo abandonados Eles participam como

voluntaacuterios oferecem o seu sangue o seu suor as suas laacutegrimas o seu tecido para o estudo e

depois eles satildeo ignorados natildeo recebem nenhum retorno Agraves vezes natildeo precisa ter um

medicamento pronto mas basta ter um Olha obrigado fizemos isso publicamos aquilo etc

Os planos de sauacutede tambeacutem jaacute que os planos de sauacutede costumam ser armadilhas para os

pacientes Os que tecircm SUS contam com as dificuldades de reparticcedilatildeo do dinheiro puacuteblico para

as doenccedilas os que natildeo tecircm os que tecircm dinheiro particular satildeo explorados pelos meacutedicos que

vatildeo de especialista em especialista O dermatologista pede para o neurocirurgiatildeo o neuro pede

para outro profissional E os planos de sauacutede ficam indiferentes a essas doenccedilas raras na

maioria das vezes

Vocecircs estatildeo vendo uma cartilha9 que estaacute em distribuiccedilatildeo no Brasil com o apoio da

Unimed de Belo Horizonte - um dos planos que tem apoiado o nosso Centro de Referecircncia A

Interfarma falou agora haacute pouco em nome da induacutestria farmacecircutica mas uma grande

9 As Manchinhas da Mariana Disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

98

preocupaccedilatildeo que noacutes temos eacute que noacutes sabemos que a induacutestria caminha para um lado e que eacute

preciso ter um remo muito forte aqui para segurar o barquinho da eacutetica para que a induacutestria natildeo

arraste a eacutetica na sua potecircncia econocircmica e no seu poder de fogo Finalmente a proacutepria

tecnologia eacute um grande problema veja soacute o que o Doutor estaacute procurando nesses exames O

paciente

Entatildeo tem gente que faz tanto exame que cai na matildeo da tecnologia quando a medicina

tecnoloacutegica excessivamente tecnoloacutegica vocecirc faz tanto exame que vocecirc se perde Agraves vezes os

pacientes chegam com pacotes de exames Eu tive um paciente uma vez que chegou com um

pacote de 45kg de exame segurando o pacote para me mostrar Aiacute eu disse Natildeo vamos te

examinar primeiro e depois eu vejo os exames

Entatildeo com estas questotildees em mente como enfrentar a DOR Eu acho que satildeo as

entidadesde pacientes com alguma doenccedila de familiares de pessoas portadores das mais

diversas doenccedilas que tecircm que se apoderar do seu proacuteprio corpo da sua pessoa da sua sauacutede

acreditar que cada um de noacutes eacute maior do que a sua doenccedila e assumir o poder sobre o seu corpo

assumir o poder sobre a sua sauacutede Esse eacute o projeto das associaccedilotildees Esta eacute uma das reuniotildees

da AMANF Noacutes temos aqui o fundador da AMANF o Andreacute noacutes temos o Nilton e a Andreacuteia

que satildeo pais de portador tambeacutem a Alessandra eu e a Thalma a minha filha o Paulo Couto

que eacute o nosso presidente que deveria estar aqui hoje e por motivos de sauacutede natildeo pode estar

presente

99

Essa entidade tenta enfrentar a DOR procurando aumentar o conhecimento sobre a doenccedila o

conhecimento puacuteblico o conhecimento dos profissionais de sauacutede fazendo palestras em

faculdades em hospitais em cliacutenicas em escolas onde for necessaacuterio noacutes vamos fazer

palestras diminuir a solidatildeo das pessoas que tecircm essas doenccedilas raras porque muitas vezes

mesmo com NF falam assim Eu nunca tinha visto algueacutem como eu Saber que existe outro

como vocecirc jaacute ajuda a sair um pouco da solidatildeo E vencer o preconceito puacuteblico com a

divulgaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo Noacutes criamos a AMANF haacute dez anos totalmente com trabalho

voluntaacuterio e nossas principais conquistas satildeo reuniotildees mensais divulgaccedilatildeo temos uma paacutegina

na internet cartilhas educativas Uma dasnossas cartilhas estaacute na segunda ediccedilatildeo agora

atualizada e pode ser baixada gratuitamente da internet Essa cartilha jaacute estaacute sendo usada haacute

alguns anos e ela jaacute foi traduzida para o inglecircs dos Estados Unidos e estaacute sendo usada do estado

de Utah

A paacutegina na internet de 2008 a 2012 recebeu 25414 visitas de vaacuterias partes do mundo mas

principalmente do estado de Minas Gerais O nosso endereccedilo para quem quiser acessar eacute

wwwamanforgbr

Fizemos dois simpoacutesios o primeiro foi em 2009 e no Segundo Simpoacutesio Internacional de

NF contamos com a presenccedila do Prof Visconti do Prof Riccardi que eacute o pioneiro em NF

segunda fase da existecircncia das doenccedilas de 78 para caacute e o Dr Bruce Korf O Korf e o Visconti

fazem parte da equipe que descobriu os genes da doenccedila O segundo evento que noacutes

promovemos foi o Terceiro Simpoacutesio Brasileiro em NF no ano passado em comemoraccedilatildeo aos

dez anos da nossa entidade Aqui eacute a faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas

Gerais - UFMG onde fica localizado o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas

na faculdade de Medicina em Belo Horizonte

100

O atendimento eacute totalmente pelo SUS Noacutes temos 700 famiacutelias atendidas e acompanhadas

no ambulatoacuterio ateacute agora Hoje jaacute satildeo mais de 700 200 famiacutelias aproximadamente

acompanhadas pela internet Eu envio o laudo para os meacutedicos das famiacutelias e noacutes

acompanhamos agrave distacircncia

Temos um convecircnio com o Centro de Imagem Molecular onde podemos fazer exames de

imagem dos pacientes Temos ensino para medicina psicologia fonoaudiologia e nutriccedilatildeo

pessoas que fazem mestrado e poacutes-graduaccedilatildeo e doutorado connosco E temos pesquisas

bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica alunos de mestrado e doutorado participaccedilatildeo em congressos

publicaccedilotildees cientiacuteficas

O ano passado noacutes criamos a Sociedade Brasileira de Pesquisa em NF que estaacute comeccedilando

a funcionar o nosso primeiro artigo deve sair em breve um artigo coletivo

Apresentei algumas realizaccedilotildees mas gostaria de falar que a nossa entidade quando

discutimos a nossa participaccedilatildeo na AMAVI nas doenccedilas raras teve um certo medo e que medo

eacute esse Eacute porque aqui noacutes temos uma displasia da tiacutebia que eacute um dos sinais felizmente natildeo

muito comum 2 dos pacientes com NF1 apresenta

Eacute um dos sinais tiacutepicos da doenccedila que eacute uma displasia com uma pseudo-artrose uma

fratura espontacircnea da tiacutebia de uma crianccedila Ela nasce assim Esta foto serve para mostrar que

por mais que a gente tenha vontade de ajudar existem limites proacuteprios Nossa Associaccedilatildeo tem

101

muita dificuldade em reunir tem muita dificuldade para arranjar recursos financeiros entatildeo

essa luta de participaccedilatildeo natildeo eacute faacutecil No primeiro momento noacutes tivemos receio ateacute de nos

integrarmos nas doenccedilas raras a luta geral das doenccedilas raras mas hoje ndash e eu vou falar agora

particularmente em nome do centro de referecircncia em NF ndash noacutes estamos convencidos de que

somente sobre esse grande guarda-chuva das doenccedilas raras eacute que noacutes podemos fazer alguma

coisa em conjunto e dar uma representaccedilatildeo social a essas doenccedilas Noacutes acreditamos hoje que

podemos ajudar e podemos ser ajudados nesse processo dentro da grande luta que estaacute sendo

travada e hoje aqui eacute um momento histoacuterico e fantaacutestico e eu quero agradecer mais uma vez

a oportunidade

Obrigado

Natan Monsores10 ndash Bom dia a todos

Eu vou ser bem sucinto na minha apresentaccedilatildeo Na verdade eacute muito mais de uma demanda

trazida a noacutes pelo Rogeacuterio e por algumas Associaccedilotildees do que fazer uma exposiccedilatildeo cientifica

uma exposiccedilatildeo teacutecnica Em grande parte das falas a gente ouve a informaccedilatildeo aparecendo como

elemento central a necessidade de comunicar a necessidade de informar a necessidade de

trazer ao puacuteblico informaccedilotildees sobre doenccedilas raras A necessidade eacute transversal e perpassa todas

as falas que ouvimos e que eu tenho ouvido esses uacuteltimos anos sobre doenccedilas raras

Seguindo essa loacutegica eu vou aproveitar mais esse momento para fazer um lanccedilamento O

Rogeacuterio me pediu que a gente trouxesse essa ferramenta que tem sido construiacuteda

colaborativamente com o Rogeacuterio e com as Associaccedilotildees trazer para apresentar a vocecircs e fazer

um pedido um grande pedido a todas as Associaccedilotildees aqui presentes aos profissionais de sauacutede

e a todas as pessoas interessadas no tema de doenccedilas raras As discussotildees que temos na Caacutetedra

de Bioeacutetica no departamento de Sauacutede coletiva na UnB e eu tenho a oportunidade de ter aqui

alguns professores da Universidade de Brasiacutelia como a Professora Muna e o Professor Claacuteudio

que desde o comeccedilo tecircm participado destas iniciativas dentro da Universidade de Brasiacutelia Eu

queria apresentar para vocecircs a proposta do observatoacuterio de doenccedilas raras Eacute a proposta de

construccedilatildeo de uma rede que estamos chamando de Rede Raras Uma rede de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras com produccedilatildeo cientiacutefica brasileira com informaccedilotildees

oriundas das Associaccedilotildees de pacientes dos profissionais de sauacutede para que a gente consiga

mesmo que num vislumbre do futuro alcanccedilar o trabalho que tem sido feito pela EURORDIS

Entatildeo quais satildeo as metas desse observatoacuterio sobre as doenccedilas raras Reunir pesquisadores no

campo de doenccedilas raras a fim de agregar expertises nesse campo

A gente sabe que desde a deacutecada de 90 pesquisas sobre doenccedilas raras e medicamentos

oacuterfatildeos tecircm sido feitas no mundo inteiro e aqui no Brasil esse evento esse fenocircmeno eacute muito

recente como jaacute foi comentado aqui Temos a segunda meta que eacute formar pesquisadores no

campo de sauacutede coletiva A nossa intenccedilatildeo natildeo eacute formar geneticistas meacutedicos especialistas eacute

formar profissionais de campos o mais variados possiacuteveis Serviccedilo Social Nutriccedilatildeo Psicologia

Sociologia Antropologia entre outros que tenham o interesse de trabalhar com esse tema e ver

as questotildees sociais as questotildees fundamentais ao campo das doenccedilas raras A terceira meta desse

observatoacuterio eacute fomentar a pesquisa em trecircs aacutereas principais que satildeo aacutereas que pertencem ao

campo de sauacutede coletiva ou que pelo menos perpassam o campo da sauacutede coletiva A primeira

eacute fomentar a pesquisa epidemioloacutegica que decirc subsiacutedio agraves poliacuteticas puacuteblicas em doenccedilas raras

Mesmo sem informaccedilatildeo epidemioloacutegica jaacute estamos aqui discutindo Se natildeo tivermos a pesquisa

epidemioloacutegica para qualificar toda a discussatildeo qualificar o pensamento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas especiacuteficas para patologias especiacuteficas ou entatildeo para doenccedilas raras no geral natildeo

vamos conseguir Sem essas informaccedilotildees natildeo teremos vislumbres muito interessantes ou muito

10 Professor do Departamento de Sauacutede Coletiva e do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Bioeacutetica da UnB

102

promissores sobre o que pode ser feito em termos de investimentos em sauacutede alocaccedilatildeo de

recursos especiacuteficos entre outras coisas

Outra meta eacute a produccedilatildeo de informaccedilatildeo qualificada como eu jaacute falei aqui no iniacutecio Boa

parte da reclamaccedilatildeo das Associaccedilotildees e dos profissionais de sauacutede eacute a falta de informaccedilatildeo E por

que natildeo centralizar essa produccedilatildeo

Por fim promover a reflexatildeo bioeacutetica sobre o tema Jaacute foi comentado aqui tambeacutem que as

questotildees eacuteticas satildeo fundamentais nas relaccedilotildees entre as ssociaccedilotildees de pacientes a Induacutestria

Farmacecircutica o Governo e a Comunidade Cientiacutefica E tambeacutem eacute importante que essa

discussatildeo seja fomentada com liberdade e com responsabilidade entre todos os parceiros

Agregar e organizar a produccedilatildeo brasileira em doenccedilas raras A informaccedilatildeo as produccedilotildees

cientiacuteficas que a gente tem no Brasil hoje estatildeo fragmentadas em repositoacuterios de teses em

dissertaccedilotildees no Scielo em alguns outros repositoacuterios institucionais que satildeo da academia ndash satildeo

feitos na academia para a academia estaacute dentro da universidade para a universidade com

linguagem voltada para o campo da ciecircncia E por que natildeo trazer essa informaccedilatildeo fazer

comentaacuterios fazer uma discussatildeo sobre essa informaccedilatildeo num lugar centralizado

E por fim e talvez seja a missatildeo mais importante do observatoacuterio eacute apoiar as Associaccedilotildees

de pacientes e os demais interlocutores interessados nessa discussatildeo de doenccedilas raras

Trago em primeira matildeo uma iniciativa ainda embrionaacuteria Eacute rudimentar Ainda estamos

trabalhando com a equipe de Tecnologia da Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e vamos

precisar do apoio das Associaccedilotildees da induacutestria farmacecircutica e do Ministeacuterio da Sauacutede para

consolidar essa iniciativa Falar em rede rede de uma pessoa rede de uma associaccedilatildeo rede de

um grupo soacute natildeo eacute falar de rede Rede natildeo eacute isso Entatildeo eu Professor Natan da caacutetedra de

bioeacutetica da Universidade de Brasiacutelia a AMAVI natildeo tem a intenccedilatildeo de montar uma rede nesse

sentido Uma rede centralizadora na qual as Associaccedilotildees ououtros interlocutores soacute se

aproximam e a gente fica mandando ordenando e organizando natildeo eacute a nossa intenccedilatildeo Muito

menos fazer essa rede descentralizada na qual a gente tem conversas pontuais entre alguns

grupos e mesmo assim com uma hierarquia com algueacutem centralizando esse processo A nossa

visatildeo de rede assenta numa construccedilatildeo distribuiacuteda a rede do coletivo rede que tem poder na

matildeo de ningueacutem na matildeo de nenhuma associaccedilatildeo sem disputas poliacuteticas sem ideologias

partidaacuterias sem qualquer perspectiva que desagregue Falar de poder falar de empoderamento

no caso de redes eacute passar o poder passar a construccedilatildeo dessa noccedilatildeo de rede dessa noccedilatildeo de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo para as matildeos de quem eacute de direito que satildeo as Associaccedilotildees satildeo as

pessoas com doenccedilas raras

Natildeo cabe agrave Universidade natildeo cabe ao Ministeacuterio da Sauacutede natildeo cabe agrave Induacutestria

Farmacecircutica pautar as Associaccedilotildees com aquilo que pensam ser mais importante pelo

contraacuterio as Associaccedilotildees eacute quem devem dizer a esses interlocutores aquilo que eacute necessaacuterio a

informaccedilatildeo que querem que tipo de construccedilatildeo de conhecimento cientifico e de conhecimento

sobre doenccedilas raras precisam

Haacute quatro elementos que vatildeo ser principais na consolidaccedilatildeo da Rede Raras Primeiro o

Clustering ou seja deixar que a organizaccedilatildeo dessa rede apareccedila por si soacute deixar que vocecircs

das Associaccedilotildees de pacientes vocecircs aqui que se interessam pelo tema de doenccedilas raras que

vocecircs tragam elementos informaccedilatildeo e discussotildees para esse universo e espaccedilo que vamos

construir colaborativamente A segunda coisa importante eacute o Swarming que eacute permitir que essa

Rede se auto conduza Noacutes da Universidade de Brasiacutelia natildeo temos o menor interesse em

centralizar essas informaccedilotildees nos nossos repositoacuterios acadecircmicos NatildeoA gente quer que essa

informaccedilatildeo seja publicada partilhada e produzida por vocecircs e para vocecircs Cloning noacutes

queremos que os ramos dessa rede surjam espontaneamente Noacutes queremos que as associaccedilotildees

venham espontaneamente participar desse processo ajudem a construir essa Rede E por fim

o Crunching quanto maior a interatividade nessa Rede quando maior a troca de informaccedilatildeo

quanto maior a troca de expertises dessa futura Rede Raras mais forte ela vai ficar mais firme

103

os noacutes e as relaccedilotildees dessa rede vatildeo se estabelecer Essa eacute a noccedilatildeo de rede social que trazemos

aqui e que seraacute a base da Rede Raras Social natildeo eacute soacute um conjunto de pessoas mas eacute a interaccedilatildeo

entre essas pessoas

A construccedilatildeo de uma rede social somente existe se as associaccedilotildees de pacientes e as pessoas

interagirem Redes sociais tambeacutem natildeo satildeo somente ferramentas natildeo satildeo soacute o espaccedilo natildeo satildeo

soacute repositoacuterios satildeo pessoas interagindo Portanto natildeo adianta colocarmos um espaccedilo criar um

Facebook cover um Orkut cover ou alguma coisa parecida se eu natildeo tenho as pessoas

agregadas Redes sociais satildeo redes de comunicaccedilatildeo natildeo somente de informaccedilatildeo Eu natildeo posso

pretender que essa Rede Raras seja apenas um repositoacuterio de produccedilatildeo cientiacutefica Ela tem que

ser comentada por vocecircs tem que ser criticada por vocecircs ela tem que ser construiacuteda

conjuntamente Redes sociais satildeo ambientes de interaccedilatildeo natildeo somente de participaccedilatildeo Se

criarmos esse espaccedilo e ele ficar morto na internet perdido na internet isso natildeo vai fazer o

menor sentido Pedimos que as associaccedilotildees participem interajam Conhecimento eacute relaccedilatildeo

social Quando eu falo de rede social o conhecimento soacute emerge dessas interaccedilotildees Se eu falar

como eu jaacute falei aqui no iniacutecio que a Universidade de Brasiacutelia tem a pretensatildeo de agregar de

controlar essa rede eu estarei indo contra os princiacutepios de formaccedilatildeo de qualquer rede social

Porquecirc Porque eacute uma medida de natildeo rede Se eu concentrar essa rede na Universidade de

Brasiacutelia significa que eu tirei o poder de vocecircs que eu tirei o poder das Associaccedilotildees de

Pacientes de construir aquilo que elas querem aquilo que eacute a informaccedilatildeo necessaacuteria Entatildeo essa

perspectiva mais global eacute a ideia que trazemos agrave Rede Raras

Em suma eacute uma rede social online baseada em software livre com informaccedilatildeo livre

disponiacutevel para todos Cada interessado pode criar e moderar o seu proacuteprio espaccedilo esse espaccedilo

promove a formaccedilatildeo de grupos de blogs de paacuteginas envio de arquivos criaccedilatildeo de book

marcas links para as associaccedilotildees de vocecircs E ainda tem o microblog para comunicaccedilatildeo interna

de quem quiser participar dessa rede Essa aqui eacute a carinha da ferramenta A ferramenta bruta

Ela prevecirc espaccedilos especiacuteficos que devem ser preenchidos pelas associaccedilotildees A nossa eacute um

espaccedilo muito semelhante Quem frequenta Facebook quem frequenta Google Plus quem jaacute

frequentou Orkut vai conseguir se achar aqui sem nenhum problema Eacute uma rede um foacuterum

um grupo de discussatildeo Eacute um sistema que agrega diversas ferramentas Eacute possiacutevel criar perfisAgrave

medida que as pessoas agregarem informaccedilotildees conteuacutedos conhecimentos e forem

compartilhando as informaccedilotildees que tecircm sobre doenccedilas raras essa rede vai crescendo vai

agregando valor Por isso que eu faccedilo um apelo para vocecircs Eu natildeo estou preocupado em fazer

uma apresentaccedilatildeo muito acadecircmica Eacute mais um apelo eacute mais um chamado A gente precisa dos

104

Netweavers Quem que satildeo os Netweavers Satildeo as pessoas que articulam essa rede que estatildeo

trazendo esses elementos trazendo informaccedilatildeo11

Qual que eacute a nossa meta O representante da EURORDIS falou haacute pouco que eles possuem

essa rede em funcionamento na Europa que agrega participantes tambeacutem dos Estados Unidos

do Canadaacute da NORD12 e da CORD13 Como estamos usando o sistema Elgg que eacute todo

modular a nossa ideia eacute um dia aqui no Brasil termos uma rede de colaboraccedilatildeo nos moldes da

Rare Conect

O que temos nessa rede (wwwrareconnectorg) Tem informaccedilotildees trazidas pelos

pacientes tem informaccedilotildees trazidas pelos especialistas tem a contribuiccedilatildeo muacutetua entre

associaccedilotildees de pacientes Eacute esse espaccedilo livre onde as informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras seratildeo

produzidas onde a comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras vai ser feita onde as pessoas poderatildeo

buscar informaccedilotildees sobre as suas proacuteprias condiccedilotildees Eu vou encerrar por aqui Vou deixar o

endereccedilo e vou deixar aqui o apelo para vocecircs Na construccedilatildeo desse congresso fizemos muitas

discussotildees sobre como a gente iria conduzir essa questatildeo da rede dessa possibilidade futura

Mas eu queria fazer um apelo que as associaccedilotildees de pacientes aqui representadas fizessem pelo

menos a tentativa de explorar o espaccedilo dar sugestotildees ver as dificuldades de acesso para que a

gente consiga avanccedilar para uma rede como a Rare Connect

Obrigado gente e desculpem a informalidade

11 http16441147224fsrederaras 12 National Organization for Rare Disease wwwrarediseaseorg 13 Canadian Organization for Rare Disorders wwwraredisordersca

105

2ordf Mesa O que acontece no mundo

Yann Lee1 ndash Eacute um grande prazer estar com vocecircs

Pediram que eu apresentasse a Organizaccedilatildeo Europeia para Doenccedilas Raras e como tentamos

fazer o cuidado dos pacientes

Quem somos noacutes

EURORDIS eacute uma organizaccedilatildeo natildeo governamental dirigida para os pacientes A nossa

missatildeo eacute construir uma forte comunidade Europeia entre as Associaccedilotildees de pacientes e

diretamente ou indiretamente lutar contra o espaccedilo de doenccedilas raras na vida desses pacientes e

de suas famiacutelias Como vocecircs jaacute sabem haacute mais ou menos trinta milhotildees de pessoas que vivem

na Europa e satildeo afetadas por doenccedilas raras Quando noacutes falamos da Europa falamos em

quarenta e oito paiacuteses compondo esse conjunto A EURORDIS foi fundada em 1997 tem mais

de quinze anos e atualmente temos quase 600 organizaccedilotildees de pacientes e associaccedilotildees Estamos

em 54 paiacuteses ateacute fora da Europa em alguns casos e tambeacutem em 38 paiacuteses europeus Dentro da

nossa organizaccedilatildeo temos duas redes Uma chamada Alianccedilas Nacionais que eacute composta por 30

alianccedilas nacionais Tambeacutem temos 44 federaccedilotildees europeias Cada uma aborda um grupo ou

uma doenccedila rara ou um grupo de doenccedilas raras Juntos noacutes representamos mais de 4000

doenccedilas raras Para fazer as nossas atividades temos uma equipe de 26 pessoas em escritoacuterios

de Bruxelas e Barcelona e 130 voluntaacuterios Estes provavelmente satildeo a parte que eu mais me

orgulho porque satildeo eles que ajudam nas nossas atividades e na construccedilatildeo da nossa

comunidade

Uma das nossas formas de compor esta comunidade eacute organizando uma reuniatildeo anual de

membros que eacute uma reuniatildeo de dois dias com vaacuterios workshops e oficinas de capacitaccedilatildeo que

tentam envolver o maacuteximo possiacutevel de pacientes e famiacutelia de pacientes Noacutes comeccedilamos em

Barcelona em 2014 em Berlim e em 2015 seraacute em Madrid Organizamos esta reuniatildeo dedicada

aos pacientes agraves famiacutelias dos pacientes e levaacutemos os criadores de poliacuteticas puacuteblicas e

palestrantes

A conferecircncia europeia de doenccedilas raras acontece a cada dois anos com todos os parceiros

dessa organizaccedilatildeo As Conferecircncias comeccedilaram em 2001 em Copenhagen em 2012 em

Bruxelas e seraacute ano que vem em Berlim do dia oito a dez de maio E esta reuniatildeo tem mais

ou menos 700 participantes da Europa Tambeacutem construiacutemos a nossa comunidade atraveacutes

desse conselho de alianccedilas nacionais ligado agraves Doenccedilas Raras Noacutes temos um Conselho que

inclui vaacuterias alianccedilas Uma grande parceria acontece em Toronto e na Ameacuterica Latina aleacutem de

Taiwan e do JapatildeoTemos uma parceria especiacutefica entre a EURORDIS e a National

Organization for Rare Disorders nos EUA onde fazemos progressivamente parcerias em

atividades especiacuteficas

Este trabalho de alianccedilas nacionais trabalha especificamente no conceito que vocecircs jaacute

conhecem e noacutes tentamos trabalhar com uma estrateacutegia de accedilotildees e tambeacutem trabalhamos criando

planos nacionais para as doenccedilas raras Essa eacute nossa meta Outra rede principal com a qual

trabalhamos eacute a rede de Federaccedilotildees Europeias Satildeo 44 federaccedilotildees que fazem pesquisas

trabalhos em rede e centros de especializaccedilatildeo para estudar cada uma das doenccedilas raras Tambeacutem

trabalhamos com legislaccedilatildeo para os pacientes Coletamos informaccedilotildees e fazemos nossa rede

atraveacutes de algumas ferramentas Temos um site em sete liacutenguas diferentes que inclui portuguecircs

Temos muitas publicaccedilotildees em portuguecircs e provavelmente podem ser acessadas em todo o

Brasil Tambeacutem temos o site em espanhol e em inglecircs com bastante informaccedilatildeo Mas nas

1 Presidente da Europe Rare Diseases ndash EURORDIS (via skype)

106

outras liacutenguas tambeacutem temos bastante informaccedilatildeo traduzida Tambeacutem temos um email feito

nos sete idiomas incluindo portuguecircs Temos publicaccedilotildees documentos e brochuras e tudo

pode ser encontrado numa sessatildeo digital no site Noacutes temos um blog internacional mas mais

importante que isso noacutes temos comunidades online para os pacientes onde eles podem se

conectar ndash ldquoWe Are Connectrdquo

As principais conquistas ateacute agora tecircm sido para contribuir com a adoccedilatildeo de uma

regulaccedilatildeo na Uniatildeo Europeia direcionada agraves doenccedilas raras e para o desenvolvimento de

tecnologia para as doenccedilas raras na Europa Tambeacutem participamos de um documento sobre o

uso pediaacutetrico de produtos medicinais no acircmbito das doenccedilas raras em 2006 e em 2007 num

tratado de terapia avanccedilada meacutedica nessa aacuterea

Em 2012 trabalhamos um documento sobre os direitos dos pacientes que eacute transfronteiriccedilo

e abrange os direitos dos pacientes na Europa Tambeacutem contribuiacutemos para a adoccedilatildeodo uso de

um texto fundador que ajuda a formular a Poliacutetica Europeia sobre Doenccedilas Raras Hoje

trabalhamos muito de perto com vocecircs no desenvolvimento das poliacuteticas que estatildeo sendo

implementadas e criadas no Brasil E estamos trabalhando em conjunto como parceiros

Uma coisa muito importante para vocecircs do Brasil eacute que em conjunto com as legislaccedilotildees

noacutes tambeacutem estamos promovendo a doenccedila rara como prioridade na agenda poliacutetica em termos

de accedilotildees De 2007 a 2013 noacutes tivemos 500 milhotildees de euros dedicados agrave pesquisa atraveacutes da

promoccedilatildeo das doenccedilas raras Realmente eacute um crescimento muito grande no investimento e eu

acredito que no Brasil vocecircs tambeacutem querem ter essa mesma abordagem entre os principais

estados e a Federaccedilatildeo Nacional a niacutevel nacional Essa articulaccedilatildeo seria muito beneacutefica para

todos vocecircs O dia das doenccedilas raras acontece no uacuteltimo dia de fevereiro todos os anos porque

o dia das doenccedilas raras geralmente ou eacute dia 28 ou eacute dia 29 de fevereiro Foi criado no ano de

2008 pela EURORDIS junto com as suas Alianccedilas Nacionais Eu diria que esta foi nossa maior

contribuiccedilatildeo para a comunidade Vocecircs do Brasil satildeo muito participativos e a vossa influecircncia

providenciando diferentes ferramentas conteuacutedos mensagens viacutedeos e ideias apoiam as

discussotildees que ocorrem entre as Alianccedilas Nacionais

Na Ameacuterica do Norte nos Estados Unidos tambeacutem coordenamos alguns eventos desde o

ano de 2009 com os nossos parceiros No ano de 2013 tivemos uma participaccedilatildeo de 70 paiacuteses

no dia das doenccedilas raras Noacutes temos seis anos de experiecircncia em relaccedilatildeo a esse dia especiacutefico

das doenccedilas raras e a cada ano promovendo assuntos diferentes mas promovendo sempre o

cuidado por exemplo ldquoCuidado do Paciente - um Assunto Puacuteblicordquo ldquoPesquisa para os pacientes

- um assunto raro mais igual igual mas mais forterdquo Estamos focando este assunto de uma forma

local mas tambeacutem internacionalmente

Todos noacutes podemos melhorar a qualidade do cuidado dos pacientes com doenccedilas raras

Gostaria de concluir com aludindo ao poder das Associaccedilotildees de pacientes primeiramente

na pesquisa no diagnoacutestico no cuidado e no plano nacional A voz empoderada das

Organizaccedilotildees dos pacientes atraveacutes da anaacutelise natildeo somente baseada em anedotas ou

testemunhos eacute muito importante sobretudo o seu papel nas pesquisas atraveacutes da coleta de

dados Aleacutem disso estas organizaccedilotildees tecircm sido muito importantes no diagnoacutestico As

sssociaccedilotildees podem providenciar apoio financeiro agraves pesquisas e ajudar na criaccedilatildeo de uma

abordagem transacional

Tambeacutem temos observado junto com os colegas acadecircmicos que quando as organizaccedilotildees

de pacientes trabalham juntas e satildeo muito ativas na pesquisa e daqui resultauma rede que estaacute

crescendo e tudo isto satildeo fatores chave para o sucesso para promover mais a pesquisa cientiacutefica

e para gerar mais conhecimento na aacuterea Para dar um exemplo as organizaccedilotildees de pacientes

participam em diferentes redes de pesquisa elas participam em redes de pesquisa muito

teacutecnicas como terapia gecircnica ou a rede de pesquisa cliacutenica na Europa mas tambeacutem em projetos

especiacuteficos sobre doenccedilas raras concretas Com base nessas pesquisas nessas abordagens que

as Associaccedilotildees trazem sobre os pacientes e sobre as atividades de pesquisa noacutes podemos

107

promover documentos ajudar a criar as associaccedilotildees a formular poliacutetica de pesquisa Por

exemplo por que pesquisar doenccedilas raras Esta eacute uma aacuterea a que as associaccedilotildees podem dar

muito apoio

No ano passado noacutes organizamos uma pesquisa que contou com a participaccedilatildeo de 3000

pacientes e pais E por causa do levantamento que foi feito noacutes geraacutemos e publicaacutemos e a

primeira Declaraccedilatildeo Conjunta entre associaccedilotildees Uma declaraccedilatildeo de 10 chaves principais para

os pacientes de doenccedilas raras baseada em pesquisas em terapias mas que serve tambeacutem para

o apoio de serviccedilos de sauacutede Isso tem contribuiacutedo por exemplo para a elaboraccedilatildeo de uma

recomendaccedilatildeo europeia feita por uma comissatildeo de especialistas em doenccedilas raras Atraveacutes

deste exemplo vocecircs podem observar como os pacientes tecircm contribuiacutedo como parceiros junto

com os seus colegas acadecircmicos E natildeo soacute contribuindo como agentes de pesquisa mas

tambeacutem ajudando a formular uma poliacutetica e um processo

Noacutes tambeacutem temos trabalhado com cuidado e diagnoacutestico Fazemos levantamento junto

dos pacientes sobre o acesso ao cuidado e coletamos muita informaccedilatildeo para ser usada no nosso

trabalho de advocacy O fato de 25 dos pacientes terem dito que que estavam esperando entre

cinco a trinta anos desde os seus primeiros sintomas para conseguirem um diagnoacutestico eacute muito

seacuterio e sugere uma intervenccedilatildeo meacutedica incorreta ou ateacute cirurgias incorretas Este eacute um dado

muito interessante O resultado dessa pesquisa foi publicado num livro que pode ser baixado

no site e se chama ldquoA voz de doze mil pacientesrdquo Isto daacute uma ideia clara de alguns pontos

ligados ao diagnoacutestico e cuidado Esse livro tem sido muito importante para a formulaccedilatildeo de

uma poliacutetica europeia da Uniatildeo Europeia mas tambeacutem para as poliacuteticas nacionais

Eacute importante a anaacutelise da situaccedilatildeo para ver qual eacute a realidade das necessidades e quais satildeo

as prioridades Os pacientes satildeo quem tem uma visatildeo a longo prazo porque eles e as famiacutelias

realizam o cuidado dessas doenccedilas raras a tempo integral Eles possuem uma visatildeo muito mais

longo prazo do que os outros parceiros E isso provavelmente eacute uma das principais

contribuiccedilotildees dos pacientespara criar uma nova poliacutetica para o futuro Esta eacute a importacircncia de

envolver os pacientes no processo

A EURORDIS eacute o principal parceiro na organizaccedilatildeo de seminaacuterios nacionais e

internacionais sobre doenccedilas raras usando a metodologia e as melhores praacuteticas para conduzir

tais seminaacuterios Para que tudo isso possa acontecer de uma forma consistente e cooperativa os

pacientes tem oito representantesA participaccedilatildeo o empoderamento do paciente acontece a niacutevel

nacional internacional e para o desenvolvimento de poliacuteticas e realizaccedilatildeo de pesquisas

Sobre o desenvolvimento de medicamentos noacutes tambeacutem participamos ativamente em

diferentes comitecircs cientiacuteficos como o comitecirc para produtos pediaacutetricos o comitecirc para

medicamentos oacuterfatildeos e o comitecirc para terapias avanccediladas Aleacutem desta participaccedilatildeo em comitecircs

de medicamentos tambeacutem participamos no Consoacutercio internacional de pesquisa em doenccedilas

raras que foi estabelecido em diversos paiacuteses do mundo e que tem firmes objetivos

Convidamos vocecircs a participarem no proacuteximo dia de doenccedilas raras Se juntem a noacutes para

o melhor cuidado a doenccedilas raras

Muito obrigado

Virgiacutenia Llera2 ndash Em primeiro lugar muito obrigada Eacute uma honra estar no Brasil e com

vocecircs uma vez mais

Desde 2007 a Geiser que eacute a Organizaccedilatildeo latino-americana de doenccedilas raras trabalha com

os companheiros e colegas do Brasil Eu quero agradecer muito ao Rogeacuterio porque estou

realmente muito impressionada e contente pelo progresso que teve a AMAVI

2 Fundacion Geiser

108

A Geiser nasceu em 2002 na Argentina e agora estamos trabalhando em todo o continente

Temos delegados no Chile no Uruguai no Peru no Panamaacute no Brasil na Repuacuteblica

Dominicana no Equador no Meacutexico e tambeacutem em Washington Ao longo destes anos temos

gerado conhecimento acerca do que acontece em nosso continente Entatildeo por quecirc falar de

Ameacuterica Latina se jaacute temos bastantes problemas para pensar soacute aqui no Brasil Por quecirc

complicar

Eu na verdade acredito que tenho este papel o papel de complicar sobretudo o Ministeacuterio

da Sauacutede de cada um dos paiacuteses Na verdade ainda tem muito para fazer e se natildeo existe a

possibilidade de unir natildeo eacute possiacutevel gerar soluccedilotildees estrateacutegicas viaacuteveis a meacutedio e longo prazo

para as doenccedilas raras Para essas doenccedilas a medida para ser exitosa deve sair do niacutevel nacional

e gerar uma uniatildeo mais alargada

O que temos de positivo na Ameacuterica Latina eacute a proposta de trabalhar em conjunto com

todos os paiacuteses Em primeiro lugar temos a importante populaccedilatildeo de 600 milhotildees de habitantes

e temos um contexto paciacutefico ateacute ao momento As barreiras entre linguagens satildeo mais faacuteceis

Eu os entendo quando falam em portuguecircs e vocecircs me entendem E assim somos muito felizes

porque na realidade podemos facilmente nos entender pelo menos nos aspectos mais baacutesicos

Temos uma histoacuteria comum temos a possibilidade de argumentar possibilidades Temos

tambeacutem nossos desafios econocircmicos digamos que os desafios econocircmicos do Brasil

considerando que tem uma populaccedilatildeo muito maior satildeo similares aos demais paiacuteses latino-

americanos Tambeacutem temos paiacuteses que estatildeo liderando economicamente um protagonismo

internacional Temos a possibilidade de integrar estas iniciativas regionais a meacutedio e longo

prazo Lamento natildeo temos um levantamento seacuterio dos recursos jaacute existentes na Ameacuterica Latina

como por exemplo a EUROCAT3 na Europa Muitas das maacutes formaccedilotildees craniofaciais satildeo

doenccedilas raras Natildeo todas mas cerca de 80 de todas as doenccedilas raras satildeo geneacuteticase dependem

de muitos fatores que tecircm a ver com o ambiente e que natildeo podemos deixar todavia de estudar

Temostrabalhos epidemioloacutegicos em doenccedilas raras designadamentesobre o levantamento

de recursos exigidos para entender quais satildeo os recursos de que se necessita para saber quais

as combinaccedilotildees desses recursos exigidose ainda para fazer um levantamento das caracteriacutesticas

por nacionalidade e necessidades da populaccedilatildeo

Finalmente a Geiser como uma instituiccedilatildeo possui metas para alcanccedilar os seus objetivos

e uma delas eacute gerar relaccedilotildees institucionais entre os niacuteveis nacionais regionais e internacionais

Para alguns estudiosos dos 500 milhotildees de habitantes que temos na Ameacuterica Latina 218

milhotildees precisam de seguranccedila social Existe uma deficiecircncia na quantia financeira utilizada

pela Ameacuterica Latina e Caribe em 2008 Isso foi estimado em 73 milhotildees de doacutelares que

equivalem a 23 do gasto nacional em sauacutede para bens e serviccedilos nos Estado Unidos

A Ameacuterica Latina natildeo investe em sauacutede isto se falarmos de posiccedilatildeo poliacutetica e temos que

comeccedilar pensando que a sauacutede deve ser uma prioridade da naccedilatildeo 78 dos gastos correspondem

a mais ou menos sete doacutelares e meio E existe um problema importante a fragmentaccedilatildeo na

lideranccedila na persistecircncia da inequidades em sauacutede o que quer dizer que natildeo pode ser tratado

do mesmo jeito algueacutem que vive em qualquer capital de qualquer paiacutes Latino Americano e

algueacutem que vive no interior desses paiacuteses

92 dos paiacuteses da Ameacuterica Latina tem trabalhado em protocolos necessaacuterios para as

medicinas essenciais Na verdade isso varia entre 30 a 46 para cobrir 650 medicamentos e natildeo

estamos falando dos oacuterfatildeos mas dos medicamentos no total para cuidados essenciais

Finalmente a expiraccedilatildeo de algumas patentes nos Estados Unidos permitiu a introduccedilatildeo de

algumas patentes de biotecnologia no Brasil em 4 e na China com 24 Este slide mostra

onde se vecirc a inversatildeo que a Ameacuterica Latina tem feito em investigaccedilatildeo

3 httpwwweurocat-networkeu

109

Embora o Brasil esteja melhor em termos de patentes e investigaccedilatildeo na realidade estamos

muito longe de poder gerar uma visatildeo estrateacutegica que possua investigaccedilotildees seacuterias e nos

permitam estar em outra posiccedilatildeo

Temos atualmente quatro paiacuteses com leis nacionais sobre doenccedilas raras Argentina

Colocircmbia Equador e Peru Quero dizer que este primeiro passo eacute muito importante que

estamos muito contentes Assumimos isto como um resultado de 11 anos em que a Geiser vem

trabalhando no continente

O que significa ter uma lei sobre doenccedilas raras E por que isso eacute tatildeo importante Porque

essas situaccedilotildees sociais almejam um documento de nacionalidade e identidade o que significa

que institucionalmente existem entidades legais para serem reclamadas Se natildeo existem leis

em um paiacutes a proacutepria denominaccedilatildeo desde a instituiccedilatildeo nacional do que satildeo as enfermidades

raras fica difiacutecil de entender Por outro lado todas estas leis incluem a definiccedilatildeo a produccedilatildeo

de registros os programas educacionais os reembolsos os serviccedilos de sauacutede a informaccedilatildeo e a

inclusatildeo social embora de forma variaacutevel

Quais satildeo os problemas entre essas leis e outras que poderiacuteamos analisar Em primeiro

lugar os conceitos das leis nacionais surgidas entre os diversos paiacuteses satildeo diferentes Criou-se

uma barreira interna para depois gerar projetos comuns e planos estrateacutegicos em conjunto As

leis nacionais natildeo possuem relaccedilatildeo Eu tenho feito parte do conselho assessor da uacutenica lei

provincial desse regulamento que basicamente busca ter registros que cumpram com as

instacircncias internacionais Na Ameacuterica Latina satildeo poucos os paiacuteses que tecircm as enfermidades

raras definidas sobretudo aqueles com maior populaccedilatildeo Aleacutem disso os dados que podemos

obter acerca do gasto econocircmico de cada paiacutes com enfermidades raras natildeo eacute acessiacutevel Natildeo haacute

inclusatildeo e quando haacute como eacute o caso por exemplo de algumas leis natildeo eacute clara a participaccedilatildeo

dos pacientes

Quero mostrar rapidamente a posiccedilatildeo dos pacientes como membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Avaliaccedilotildees Tecnoloacutegicas em Sauacutede Sou parte de um grupo de cidadatildeos que

fiz uma Ementa internacional que natildeo tem validade sem ter alguns indicadores Participaram

14 paiacuteses da Ameacuterica Latina Na realidade os participantes foram na maioria pacientes mas

tambeacutem cuidadores e alguns profissionais Estes dados revelam que Entre 13e 44 estatildeo muito

inconformados e soacute entre um e 33 estavam satisfeitos e muito satisfeitos Este cenaacuterio soacute

muda se considerarmos aqui paiacuteses como a Austraacutelia e o Canadaacute

O que eacute que os pacientes dizem ser mais difiacutecil para eles Ou que eacute mais importante para

eles em termos de identificaccedilatildeo

63 disse que tem dificuldade em identificar um meacutedico 59 em conseguir um

diagnoacutestico 53 em aprender acerca de sua enfermidade e 52 em encontrar um tratamento

Portanto o tratamento natildeo estaacute no iniacutecio jaacute que 47 afirma ainda ter dificuldade em encontrar

um grupo de suporte Eacute portanto necessaacuterio que seja gerado suporte e cresccedilam os grupos

suporte

Quanto aos medicamentos oacuterfatildeos o Governo de diferentes paiacuteses da Ameacuterica Latina

tampouco tem legislaccedilatildeo clara acerca do que satildeo medicamentos oacuterfatildeos pelo que eacute muito

importante chegar a acordos nesse sentido A proposta eacute diferente daquela que se implanta

atualmente no Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil A proposta da Organizaccedilatildeo Panamericana de

sauacutede eacute que existam oacutergatildeos centralizados para a negociaccedilatildeo e para a descentralizaccedilatildeo dos

recursos para o cuidado Torna-se importante senatildeo fundamental que exista um organismo que

seja especiacutefico das enfermidades raras

Em relaccedilatildeo aos pacientes todas as enfermidades crocircnicas estatildeo mal cobertas portanto eacute

necessaacuterio que surja um espaccedilo especiacutefico para as enfermidades raras porque senatildeo vatildeo ficar

imersos em patologias ou em problemas mais frequentes como as enfermidades crocircnicas

desvinculando-se de suas caracteriacutesticas proacuteprias

110

Estas satildeo as propostas da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede em relaccedilatildeo aos medicamentos

oacuterfatildeos e as conclusotildees satildeo que na realidade as enfermidades raras e os medicamentos oacuterfatildeos

satildeo um problema de grande importacircncia que implicam um impacto econocircmico importante para

toda a populaccedilatildeo Existe uma separaccedilatildeo entre o Governo e as necessidades da populaccedilatildeo eas

Associaccedilotildees Latinoamericanas precisam ser mais visiacuteveis A Ameacuterica Latina precisa de planos

masters e natildeo soacute de accedilotildees pontuais que podem ser muito boas muito positivas sinal que temos

que aprender a trabalhar juntos e de uma maneira inteligente

Obrigada

Segolene Aymeacute4 ndash Primeiro eu gostaria de parabenizaacute-los pelo evento Na Europa a nossa

experiecircncia comeccedilou cautelosamente haacute 15 anos atraacutes

Eu vou abordar as soluccedilotildees que noacutes encontraacutemos e o quanto elas satildeo apropriadas para as

doenccedilas raras sendo assim um bom caminho para vocecircs seguirem

O nosso estatuto de drogas oacuterfatildes eacute de haacute 15 anos atraacutes mas claro que as drogas oacuterfatildes satildeo

apenas um elemento da poliacutetica Eacute necessaacuterio os pacientes terem acesso agraves drogas quando elas

satildeo desenvolvidas mas soacute 400 doenccedilas raras tecircm drogas O que eacute realmente importante eacute ter

publicaccedilotildees aprovadas porque o sistema tem que se adaptar agraves especificidades das doenccedilas

raras Nisto eu concordo com a apresentaccedilatildeo do Ministeacuterio que diz natildeo precisar de um

departamento oficial para as doenccedilas raras Na verdade precisam da sua implementaccedilatildeo oficial

e o sistema em geral eacute que tem que se adaptar agraves doenccedilas raras

Noacutes temos um programa para pensar como organizar o sistema e a primeira decisatildeo foi

melhorar os ambientes ambiente dos pacientes ambiente das enfermidades das poliacuteticas

promover informaccedilotildees principalmente pela internet A primeira coisa feita na Europa foi o

estabelecimento de um espaccedilo que na verdade era um site que estaacute tambeacutem em portuguecircs e eacute

muito visitado por pessoas do Brasil E este fez grandes diferenccedilas porque ali estatildeo informaccedilotildees

sobre deficiecircncias pacientes e os pacientes acessam os dados que abordam a deficiecircncia A

segunda coisa que fizemos foi montar um Network para sinalizar para os especialistas e cliacutenicos

que queriacuteamos especialistas colaborando na geraccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes que incluem

vaacuterias corporaccedilotildees natildeo apenas com um paiacutes mas com os outros paiacuteses Entatildeo esta foi uma

decisatildeo muito relevante

Hoje em dia os hospitais fazem os diagnoacutesticos baseados na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras mas essa classificaccedilatildeo de doenccedilas raras natildeo inclui as maacutes formaccedilotildees

craniofaciais Entatildeo se as doenccedilas craniofaciais natildeo constarem na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras essas doenccedilas tornam-se invisiacuteveis Assim na publicaccedilatildeo seguinte da

classificaccedilatildeo de Doenccedilas raras as doenccedilas craniofaciais passaram a estar incluiacutedas Esta foi uma

vitoacuteria Noacutes estabelecemos um Comitecirc de peritos em doenccedilas craniofaciais e eu quero insistir

nisso porque acho que eacute importante vocecircs saberem isso eacute uma organizaccedilatildeo social onde as

pessoas se expressam dizem as suas necessidades onde a voz do povo eacute ativa Mas vocecircs natildeo

podem fazer isso se natildeo tiverem os peritos e cliacutenicos com vocecircs neste caminho Neste comitecirc

que temos na Europa noacutes temos mais de 50 e todos eles possuem voz e representam todo

mundo Na Franccedila somos mais avanccedilados em alguma aacutereas embora os japoneses sejam

melhores em outras aacutereas mas isso eacute fascinante e podemos copiar o que eacute trabalhado em outros

paiacuteses

Noacutes colocamos muita energia na promoccedilatildeo do network entre os paiacuteses sobre as doenccedilas

raras Conseguimos convencer os Estados Unidos a fazerem parte da Associaccedilatildeo Internacional

de Doenccedilas Raras e eu torccedilo para que o Brasil faccedila parte tambeacutem jaacute que estou convidando Esta

eacute uma iniciativa onde os paiacuteses discutem prioridades Temos uma plataforma para registrar e

encontrar as doenccedilas raras e este eacute um futuro muito bonito Noacutes podemos mensurar o efeito de

4 EU Committee of Experts of Rare Diseases ndash EUCERD

111

todas estas iniciativas porque temos incentivos das induacutestrias Noacutes podemos dizer que nada

disso teria acontecido se natildeo tiveacutessemos trabalhado com as Organizaccedilotildees promovido o network

para construccedilatildeo das poliacuteticas e junto com os Ministeacuterios natildeo tiveacutessemos uma uacutenica voz

expressando o que a sociedade civil queria Entatildeo por favor faccedilam com que as organizaccedilotildees

trabalhem juntas

Em vaacuterios paiacuteses tivemos de instalar uma organizaccedilatildeo para os pacientes com doenccedilas raras

e estabelecer o contato com os Ministeacuterios da Sauacutede E fizemos um acordo Em dezembro noacutes

fechaacutemos algo que obriga os paiacuteses a terem um plano para doenccedilas raras Eacute claro que alguns

paiacuteses tecircm um plano mas natildeo o colocam em praacutetica o que mostra que o plano eacute pouco efetivo

mas tambeacutem haacute paiacuteses com estrateacutegias muito boas

Eacute preciso a que todos os meacutedicos e pacientes saibam onde estaacute a expertise Eacute muito

gratificante e difiacutecil de organizar isto tudo mas noacutes sabemos o trabalho que tivemos e os erros

que cometemos Se vocecircs estiverem interessados temos este relatoacuterio do que recomendamos

e eu estarei pronta a ajudar Noacutes temos documentos de qualidade para definir quatildeo expert eacute cada

centro Noacutes temos os laudos dos laboratoacuterios e aqui podemos ver os nuacutemeros com as doenccedilas

que foram testadas neste paiacutes e em paiacuteses natildeo europeus outros testes Entatildeo se vocecircs

escolherem doenccedilas craniofaciais vocecircs tecircm um leque de atividades e que assim noacutes podemos

colaborar Precisamos de mais corporaccedilotildees e melhores informaccedilotildees sobre doenccedilas raras Noacutes

oferecemos um site em sete liacutenguas Por favor usem este site O Brasil participa com o network

e tem acesso a todas as informaccedilotildees deste site e ele daacute conselhos sobre gastos organizaccedilatildeo

laboratoacuterios registros e isso eacute muito vaacutelido para as visitas do Brasil e noacutes temos cerca de 2000

visitas por dia

Noacutes disponibilizamos todos estes documentos no site que vocecircs podem usarTemos a lista

de doenccedilas raras em portuguecircs e isto eacute muito valioso para que possam mostrar para os

Ministeacuterios mas tem vaacuterios outros documentos

Concluindo eu posso dizer que eacute possiacutevel ter um impacto real sobre as poliacuteticas como noacutes

temos feito na Europa Com certeza a dinacircmica vai ser nacional porque eacute onde a poliacutetica vai

ser encontrada mas assim como jaacute disseram vocecircs podem contribuir para a evoluccedilatildeo

internacional porque muitas das colaboraccedilotildees satildeo testadas internacionalmente E insistam em

networks e organizaccedilotildees e usem a nossa experiecircncia e encontrem vosso caminho Porque com

certeza cada paiacutes eacute especiacutefico

Obrigada

112

3ordf Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as

tecnologias sociais

Marcelo Neves1 ndash A questatildeo que eu vou tratar aqui eacute sobre o problema de inclusatildeo juriacutedica

porque a questatildeo que noacutes estamos tratando eacute a questatildeo de acesso aos benefiacutecios sociais e acesso

a direitos Neste sentido o problema das doenccedilas raras passa por uma questatildeo de inclusatildeo social

e inclusatildeo juriacutedica Eacute claro que haacute as formas diversas de exclusatildeo a exclusatildeo que eacute fundada

economicamente em que a pessoa natildeo tem as condiccedilotildees de acesso agrave economia agrave sauacutede e agrave

educaccedilatildeo por fatores econocircmicos mas natildeo eacute soacute essa a forma de exclusatildeo embora tatildeo comum

na Ameacuterica Latina

Haacute a forma de exclusatildeo que decorre da falta do reconhecimento do outro como pessoa e

isso pode levar agrave exclusatildeo na medida em que se generaliza institucionalmente e natildeo fica apenas

numa esfera limitada privada Eacute aiacute que noacutes temos a exclusatildeo decorrente na negaccedilatildeo do

reconhecimento eacutetnico do reconhecimento do gecircnero exclusatildeo de grupos eacutetnicos da mulher

por opccedilatildeo sexual tambeacutem contra os homossexuais e ateacute mesmo decorrente de caracteriacutesticas

regionais

Uma dessas exclusotildees decorrente da falta de reconhecimento eacute aquela que atinge as pessoas

com deficiecircncias isso implica falta de acesso a benefiacutecios sociais e tambeacutem a falta de acesso a

direitos fundamentais Nesse plano natildeo se trata apenas de poliacuteticas de poliacuteticas gerais sociais

gerais mas de poliacuteticas especiais inclusive accedilotildees afirmativas pois estas no seu caraacuteter

compensatoacuterio natildeo satildeo contraacuterias agrave igualdade pelo contraacuterio possibilitam o exerciacutecio e a

efetivaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade Para que haja inclusatildeo na aacuterea da sauacutede noacutes temos que

considerar o direito agrave sauacutede como um direito determinado Natildeo se trata de um direito civil

individualista que se realiza adjucatoriamente de uma maneira isolada como a defesa da

propriedade da liberdade de expressatildeo e da liberdade de consciecircncia Estes satildeo direitos

especificamente civis as chamadas liberdades negativas Aqui se trata de um direito agrave

prestaccedilatildeo do Estado aos direitos sociais

Os direitos sociais embora possam ser exercidos individualmente natildeo satildeo direitos

tipicamente individuais eles pressupotildeem toda uma estrutura social atuando a favor do

respectivo indiviacuteduo e neste sentido o direito agrave sauacutede eacute entendido como direito social Mas na

soluccedilatildeo dos problemas especialmente no caso de doenccedilas raras e considerando o direito agrave

sauacutede garantido universalmente e integralmente pela Constituiccedilatildeo noacutes temos dois caminhos no

Brasil Um eacute a soluccedilatildeo judicial O modelo que seria uma exceccedilatildeo excepcionaliacutessima passa a ser

a regra e neste momento que o modelo judicial que eacute muito mais adequado para as demandas

de direito civil passa a ser a regra noacutes temos um desastre no modelo de Sauacutede Puacuteblica Quer

dizer porque o judiciaacuterio natildeo estaacute pareado para resolver e oferecer poliacuteticas puacuteblicas ele decide

em cada caso concreto muitas vezes distorcendo todo o sistema de sauacutede com muitas vezes

indenizaccedilotildees ou pagamentos de tratamentos milionaacuterios para pessoas de classes mais elevadas

destruindo toda a poliacutetica municipal preventiva na aacuterea social como ocorreu nos municiacutepios

Esse modelo natildeo eacute um modelo que possa ser considerado consequente O que precisamos eacute que

o judiciaacuterio fique no pano de fundo secundaacuterio O que precisamos eacute de poliacuteticas puacuteblicas

fundadas na legislaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo pelo executivo A legislaccedilatildeo tambeacutem eacute uma ilusatildeo

porque assim a gente cai no simbolismo na legislaccedilatildeo simboacutelica Vocecirc cria uma lei e sai todo

mundo feliz daqui criaram a lei tal criaram a convenccedilatildeo da pessoa deficiente Isso em si mesmo

1 Professor Titular de Direito puacuteblico da UnB

113

eacute muito pouco porque a legislaccedilatildeo muitas vezes eacute feita para acalmar os acircnimos e para eleger

os poliacuteticos na proacutexima eleiccedilatildeo A isto se chama legislaccedilatildeo simboacutelica pois natildeo se criam as

condiccedilotildees para a sua efetividade A mesma coisa acontece com a nossa Constituiccedilatildeo que em

grande parte eacute uma constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica jaacute que ela tem pouca eficaacutecia praacutetica em

vaacuterios dos seus dispositivos

Natildeo se trata entatildeo apenas de legislaccedilatildeo Tem que haver uma complementaccedilatildeo da poliacutetica

por um executivo que esteja disposto a realocar recursos neste sentido Noacutes precisamos de

transformaccedilotildees profundas na relaccedilatildeo com a sauacutede Evidentemente a relaccedilatildeo entre o legislativo

e o executivo nas poliacuteticas puacuteblicas natildeo daraacute certo se natildeo existir uma sociedade civil altamente

articulada principalmente no oferecimento de informaccedilatildeo e que possa pressionar os poderes

puacuteblicos Natildeo soacute oferecer elementos cognitivos elementos informacionais e modelos para

soluccedilatildeo do problema mas tambeacutem pressionar os poderes puacuteblicos

E quanto as doenccedilas raras

O Professor Maacuterio Saporta ontem falou de mais de 7000 doenccedilas raras e isso implica

custos altos na aacuterea de pesquisa Para enfrentar isso noacutes temos a sociedade civil evidentemente

Tecircm que existir redes de informaccedilotildees mas precisamos de pesquisas nos centros de pesquisa

das Universidades pesquisas intensas que precisam de financiamento E evidentemente

decorrente destas pesquisas noacutes poderemos ter unidades de sauacutede puacuteblica para diagnoacutestico e

tratamento Mas sem essa base que eacute cariacutessima de pesquisa como acentuou ontem o Professor

noacutes natildeo teremos condiccedilotildees de possibilitar modelos adequados de sauacutede puacuteblica e tambeacutem de

classificaccedilatildeo de medicamentos a entrar numa eventual futura lista do SUS N esse sentido isto

eacute algo caro

Um deputado ontem falava o deputado Pestana muito preparado ldquose eu dou muito

dinheiro para doenccedilas raras eu vou prejudicar o saneamento baacutesico o caraacuteter preventivo das

esquistossomoses dessas doenccedilas mais populares que atingem em massa a populaccedilatildeordquo Me

parece no entanto que eacute enganosa a ideia dele

Na sauacutede puacuteblica os recursos devem ser racionalizados e a racionalizaccedilatildeo de recursos natildeo

eacute tirar de uma aacuterea da sauacutede para pocircr na outra Eacute realmente realocar dinheiro que estaacute em

mordomias governamentais em gastos que paiacuteses desenvolvidos como a Escandinaacutevia a

Alemanha que tem um bom Sistema Puacuteblico de sauacutede natildeo existem Quer dizer o poliacutetico vai

de metrocirc para o Parlamento natildeo tem carro para poliacutetico carro para ministro do supremo eles

andam com seu taacutexi pagando com seu dinheiro Os custos de mordomias e a corrupccedilatildeo dentro

do proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede a alta corrupccedilatildeo prejudicam a falta de recursos na sauacutede Natildeo

se trata de tirar dinheiro daquela massa de excluiacutedos da sauacutede para trazer para as doenccedilas raras

Natildeo se trata disso se trata de realocar recursos que natildeo servem ao desenvolvimento do Brasil

mas sim a satisfaccedilatildeo de elites e de elites que satildeo privilegiadas ou sobreintegradas que estatildeo

acima da lei e estatildeo acima da proacutepria Constituiccedilatildeo Neste sentido eacute fundamental portanto a

reduccedilatildeo com gastos desnecessaacuterios e combate agrave corrupccedilatildeo para que noacutes tenhamos poliacuteticas

seacuterias e consequentes de acesso agrave sauacutede especialmente para as doenccedilas raras

Para terminar se trata da pessoa e natildeo da doenccedila rara eacute a pessoa com deficiecircncia e a

pessoa implica a natildeo animalizaccedilatildeo do outro a natildeo tratar o outro como mera corporeidade mas

tratar o outro como algueacutem que eacute reconhecido socialmente produtor de sentido e com

sentimentos Neste sentido eu concluo afirmando que todo o trabalho articulado entre

sociedade civil o legislativo e o executivo implica algo que eacute a afirmaccedilatildeo da pessoa com doenccedila

como incluiacuteda integralmente como pessoa partindo evidentemente do princiacutepio Constitucional

da dignidade da pessoa humana

Muito obrigado

114

Muna Odeh2 ndash Boa tarde

O tema em questatildeo refere-se a tecnologias sociais Eu vou fazer uma introduccedilatildeo sobre o

que satildeo as tecnologias sociais qual eacute o cenaacuterio no contexto do Brasil e vou situar em que sentido

eu vejo a experiecircncia especiacutefica da AMAVI e como ela reflete ou como ela representa

caracteriacutesticas de uma tecnologia social E por fim o que isso significa

Eu gostaria de chamar a atenccedilatildeo de vocecircs que estiveram aqui hoje de manhatilde para um dado

que foi recorrente nas apresentaccedilotildees Tanto no contexto do Brasil como no cenaacuterio

internacional a questatildeo eacute o foco o papel e a importacircncia central dos movimentos sociais neste

cenaacuterio e qual eacute o impacto disso Eu vou tambeacutem assinalar que eu fiz uma extraccedilatildeo de muitas

das correspondecircncias que eu tenho recebido do Rogeacuterio representando a AMAVI e atraveacutes

disto vou mostrar como eu analiso a situaccedilatildeo desta Associaccedilatildeo

A AMAVI se identifica como organizaccedilatildeo natildeo governamental apartidaacuteria natildeo religiosa

com foco no fomento de atividades realizadas aos pacientes com doenccedilas raras de maneira

articulada e integrada com parceiros e demais interessados e fundaccedilatildeo agrave data de 26 de marccedilo

de 2011

A 9 de fevereiro de 2011 exatamente eu recebi no e-mail do departamento da UnB de

Sauacutede Coletiva uma correspondecircncia do Rogeacuterio que eacute o presidente da AMAVI comunicando

sobre a AMAVI e o trabalho que eles estatildeo fazendo sobre doenccedilas raras Eu respondi a ele no

mesmo dia e a partir daiacute comeccedilou nosso relacionamento e mais especificamente o meu

conhecimento desse trabalho Eu estou tomando a AMAVI como exemplo porque poderiam

ser outros movimentos sociais mas ocorre que eu estou analisando o contexto dessa associaccedilatildeo

em particular Ela se propotildee como finalidades promover a Assistecircncia Social contato entre

indiviacuteduos e alianccedilas com grupos nacionais e internacionais O leque eacute bem amplo orientar e

defender os direitos representar e defender os direitos dos pacientes Ela eacute ainda de caraacuteter

voluntaacuterio A questatildeo do conhecimento que vimos hoje de manhatilde eacute uma das questotildees

fundamentais em todo esse cenaacuterio Em termos de missatildeo a AMAVI diz que a missatildeo eacute acolher

e orientar os familiares e pacientes de doenccedilas raras por meio de accedilotildees de integralizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo dos diversos seguimentos da sociedade E a visatildeo eacute ser reconhecida pelos diversos

seguimentos da sociedade como importante fomentadora da discussatildeo sobre doenccedilas raras

Alguns clipes algumas notiacutecias que se encontram na paacutegina da AMAVI falam das realizaccedilotildees

ainda de 2011 e do crescimento do interesse das pessoas e da participaccedilatildeo tambeacutem destas

pessoas Interessa-me o olhar estrateacutegico a maneira que vai se identificando a atuaccedilatildeo da

AMAVI se baseando nas necessidades na formaccedilatildeo conhecimento capacitaccedilatildeo garantia de

direitos suporte construccedilatildeo de conhecimentos mobilizaccedilatildeo atendimento ao suporte assim

como a lista de todas as vertentes os pacientes as associaccedilotildees o Estado a academia a

sociedade a Induacutestria traccedilando as accedilotildees que satildeo precisas e como isso se articula com a AMAVI

e com o movimento

A minha proposta com esta fala e eacute tentativa mesmo eacute de propor o conjunto de

conhecimentos o conjunto de vivecircncias de experiecircncias que as Associaccedilotildees civis como a

AMAVI representam como tecnologias sociais

O que satildeo tecnologias sociais entatildeo Eu vou trabalhar com duas definiccedilotildees que existem

aqui no contexto do Brasil A primeira eacute da fundaccedilatildeo Banco do Brasil que eacute a mais conhecida

e que diz ldquoUma tecnologia social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representam efetivas soluccedilotildees de

transformaccedilatildeo socialrdquo Um exemplo claacutessico vou sair agora da questatildeo das doenccedilas raras mas

eacute preciso abrir um pouco o leque para entender quando se fala das tecnologias sociais o modelo

Omodelo claacutessico por exemplo eacute o soro caseiro de que todo mundo jaacute ouviu falar Sabiam que

2 Professora do Departamento de Sauacutede Coletiva da UnB

115

era uma tecnologia social baseada em conhecimento quase milenar Veio da Iacutendia e se espalhou

pelo mundo atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede De qualquer modo o soro caseiro eacute

classificado como uma tecnologia social e consiste na mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que

combate a desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil Outro exemplo satildeo as cisternas de

placas muito usadas nas regiotildees de seca no Brasil

As tecnologias sociais podem assim aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento tecnico-cientiacutefico Importa que sejam efetivas e reaplicaacuteveis propiciando

desenvolvimento social em escala

Retomando a questatildeo do soro caseiro em 197071 na fronteira entre o Paquistatildeo e o

Bangladesch que era Paquistatildeo houve uma guerra civil Laacute se implementou uma experiecircncia

muito bem sucedida que vingou depois tonando-se um exemplo de sucesso Apesar da

inexistente infraestrutura de hospitais e de cliacutenicas conseguiram atraveacutes do soro caseiro

trabalhar e superar problemas seacuterios que estavam acontecendo com a populaccedilatildeo porque era

uma regiatildeo que tambeacutem sofria muito de coacutelera

Vocecircs conhecem a figura do Mahatma Gandhi

Entatildeo fala-se da tecnologia como sendo uma abordagem uma metodologia um modo de

vivenciar e de trabalhar o problema uma problemaacutetica Mas no caso de Gandhi a roca de fiar

como siacutembolo de resistecircncia contra a presenccedila britacircnica na eacutepoca eacute um exemplo de tecnologia

social

Outra definiccedilatildeo no contexto do Brasil eacute a do Instituto de Tecnologia Social o ITS que diz

que ldquoo conjunto de teacutecnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas ou aplicadas na

interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo apropriadas por ela que representam soluccedilotildees para a inclusatildeo social

e melhoria para as condiccedilotildees de vidardquo

A ideia aplicar ou passar esse conjunto de conhecimento de experiecircncia de know how que

foi construiacutedo e trabalhar para que taal seja reaplicado em outros contextos e em outras

experiecircncias

O que qualifica entatildeo uma tecnologia social Ela busca as soluccedilotildees leva em conta as

tradiccedilotildees do contexto a peculiaridade daquele contexto em que ocorrem saberes locais e o

poder natural da regiatildeo Ela natildeo se define apenas pelo impacto dos resultados ela tece o

conjunto dos relacionamentos a disseminaccedilatildeo das informaccedilotildees do conhecimento das partes

envolvidas e a transformaccedilatildeo da realidade das pessoas De fato as experiecircncias que foram

trazidas realmente objetivam essa questatildeo da inclusatildeo da cidadania e a questatildeo da

transformaccedilatildeo da sociedade

Tacircnia Almeida3 ndash Boa tarde a todos

Eu quero apresentar para vocecircs o Samuel O Samuel eacute meu filho e tem quatro anos Com

um mecircs e meio ele entrou no hospital ningueacutem sabia o que el tinha Depois de dois anos e meio

ele foi diagnosticado com Siacutendrome de Crab Crab eacute uma doenccedila rara degenerativa natildeo tem

cura natildeo tem tratamento soacute paliativos e para deixaacute-lo estaacutevel Ele ouve e presta atenccedilatildeo no que

a gente fala Entatildeo eacute isso eu queria apenas apresentar o Samuel a vocecircs porque como um

palestrante falou hoje aqui muita gente natildeo conhece e natildeo tem noccedilatildeo do que eacute uma doenccedila

rara A gente conhece a Neurofibromatose o Siacutendrome de Down mas outras coisas especiacuteficas

natildeo conhecemos E eu tive isso muito presente quando meu filho fez trecircs anos Eu resolvi dar

uma festinha de aniversaacuterio para ele Um colega meu que sabia da situaccedilatildeo dele das vaacuterias

internaccedilotildees e que estava sempre presente com a gente conversando falando mas que nunca

tinha visto o Samuel no aniversaacuterio dele esse colega chegou laacute ele falou Tacircnia eu natildeo sei o

que eu faccedilo agora com o presente do Samuel E aiacute eu disse Porquecirc E ele Porque o que

3 Matildee de paciente e advogada

116

eu comprei para ele acho que natildeo eacute devido E eu Natildeo se vocecirc comprou para ele eacute dele

Quando eu abri era um estojinho de pintura onde a crianccedila mexia e tal Quer dizer por mais

que ele soubesse da situaccedilatildeo do Samuel ele natildeo tinha a visatildeo de como seria o Samuel

Eu natildeo sou palestrante sou a matildee do Samuel entatildeo se eu gaguejar ningueacutem vai achar estaacute

Eu vim para falar na mesa dobre Inclusatildeo Juriacutedica de Pessoas com Doenccedilas Raras mas na

realidade eu queria falar sobre a dificuldade da inclusatildeo juriacutedica a realidade da famiacutelia que

passa por isso com alguns exemplos

Eu coloquei ali ldquoTacircnia Maria matildee de Samuelrdquo porque apesar de advogar apesar de

participar de uma Associaccedilatildeo de consumidores ANACOTRA apesar de ser funcionaacuteria

puacuteblica apesar de Teacutecnica em Enfermagem para cuidar do Samuel hoje eu sou conhecida

apenas como ldquoa Tacircnia matildee do Samuelrdquo E hoje estou aqui como tal

O objetivo da minha apresentaccedilatildeo eacute mostrar o que jaacute foi bastante falado aqui que natildeo

existem poliacuteticas puacuteblicas que atendam as famiacutelias com portadores de doenccedilas raras E isso

deixou de ser uma questatildeo discutida no executivo e no legislativo para ser uma questatildeo

discutida no judiciaacuterio porque eacute a uacutenica saiacuteda que noacutes encontramos buscar liminares para

atender as nossas necessidades Como fazer com um filho que precisa sair do Bipap para ir para

o respirador mas o plano de sauacutede ou o SUS natildeo tem cadastrado o coacutedigo do respirador para

dar para Home Care

Meu filho hoje estaacute em Home Care entatildeo natildeo funciona Vocecirc fica laacute esperando e nada

acontece Ateacute incluir o coacutedigo do respirador para ser atendido ningueacutem atende E vocecirc eacute

colocado de forma generalista Vocecirc tem aquele hall e se vocecirc natildeo estiver incluiacutedo exatamente

naquele hall vocecirc natildeo eacute atendido Entatildeo apesar de natildeo ser o ideal hoje a uacutenica forma de

conseguirmos alguma coisa eacute atraveacutes do judiciaacuterio eacute atraveacutes de liminares atraveacutes de accedilotildees que

a proacutepria famiacutelia vai buscar Eacute a falta de apoio estrutural aleacutem da emocional

Noacutes hoje temos vaacuterias Associaccedilotildees que vecircm tratar o paciente vecircm buscar o paciente e

graccedilas a Deus noacutes temos a AMAVI e outras Associaccedilotildees que nos daacute esse apoio Mas a falta de

estrutura em si eacute uma coisa que talvez muita gente natildeo tem noccedilatildeo Alguns exemplos reais

algueacutem jaacute imaginou a conta de luz de quem tem um filho em casa precisando 24 horas por dia

Acho que jamais passou pela cabeccedila de algueacutem Por exemplo a Light tem a questatildeo da tarifa

social mas para vocecirc se incluir na tarifa social vocecirc tem que ser ou beneficiado do Loas ou do

Bolsa Famiacutelia Para vocecirc ser beneficiaacuterio do Loas ou do Bolsa Famiacutelia vocecirc tem que ser muito

pobre ou seja soacute ter um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia Graccedilas a Deus eu natildeo estou dentro

desse um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia eacute um pouquinho mais mas enfim natildeo fui inclusa

na tarifa social Entatildeo eu natildeo tenho como economizar energia eu natildeo tenho como ligar o ar

condicionado por duas horas deixar o ambiente fechado para refrescar o ar Meu filho precisa

de respirador 24 horas de um concentrador de oxigecircnio 24 horas e eu natildeo tenho como desligar

fora os outros aparelhos Entatildeo eacute uma coisa que ficou para encargo dessa famiacutelia porque

juridicamente isso natildeo eacute tratado

Outro exemplo que eu costumo dar eacute a ANVISA4 Noacutes tivemos um representante aqui que

jaacute foi da ANVISA e noacutes temos o exemplo no Rio de Janeiro duma crianccedila que precisava de

um determinado remeacutedio para a doenccedila natildeo evoluir e o distribuidor por ser um medicamento

oacuterfatildeo o distribuidor parou ou seja por ser um medicamento que natildeo estava sendo viaacutevel Para

importar esse medicamento demorava dois meses para chegar aqui e as burocracias enfim No

desespero a matildee conseguiu um laboratoacuterio que soubesse da foacutermula do remeacutedio e fizesse o

remeacutedio e entregasse para crianccedila A ANVISA multou o laboratoacuterio e quase fechou esse

laboratoacuterio porque ele natildeo tinha licenccedila de fato para fabricar o remeacutedio Esta eacute outra situaccedilatildeo

que juridicamente natildeo tem amparo nenhum

4 httpportalanvisagovbrwpsportalanvisahome

117

Auxiacutelio e acompanhamento eacute outro exemplo No Congresso existem inuacutemeros projetos de

lei em andamento sobre auxiacutelio e acompanhamento auxiacutelio de acompanhantes O que eacute o

auxiacutelio ao acompanhamento Vou dar o exemplo de uma matildee do Rio de Janeiro tambeacutem filho

uacutenico considerado milagre Conseguiu verba para viajar para o Hospital de Doenccedilas

Mitocondriais de Milatildeo ou seja ela conseguiu verbas natildeo foi o Governo que deu Ningueacutem

ajudou De acordo com o especialista da unidade italiana o problema de Harry estaacute na carecircncia

que seu organismo tem para produzir energia A Secretaria de Sauacutede alega que a natildeo

distribuiccedilatildeo do leite que ele precisa ndash porque ele precisa de um leite especial ndash eacute culpa do

distribuidor poreacutem ainda de acordo com a matildee o alimento eacute encontrado agrave venda na internet

em algumas farmaacutecias do Rio de Janeiro Este ano os amigos tecircm se virado para comprar as

latas de leite que duram apenas dois dias e custam R$17800 Ela fica pensando nas pessoas que

natildeo tem nenhuma condiccedilatildeo de comprar o leite Ela eacute ex-professora e tradutora atualmente

passa dia e noite soacute cuidando do filho que dorme cerca de cinco horas alternadas por dia tendo

como preocupaccedilatildeo maior o horaacuterio da alimentaccedilatildeo do menino que satildeo marcadas no despertador

a cada duas horas Ele natildeo come arroz feijatildeo verduras e outras coisas somente o leite O meu

maior medo eacute que se alimente fora do prazo porque corre o risco de enfraquecimento e

consequentemente de morte suacutebita Ningueacutem imagina que isso possa existir natildeo eacute

Conversei pessoalmente e essa matildee me relatou Tacircnia antigamente eu vivia no salto de

terninho andando para laacute e para caacute no meu trabalho Hoje eu vendo chocolate caseiro em casa

porque eu preciso cuidar do meu filho

Ningueacutem olha para isso ningueacutem enxerga isso Eu tento trabalhar tento estudar mas

assim eu tenho patrotildees muito legais e por trabalhar em uma empresa puacuteblica consigo adiantar

licenccedilas precircmio e feacuterias Acho que eu natildeo vou tirar feacuterias por uns dez anos ateacute porque meu

filho ficou internado um ano no hospital e eu fui tirando tudo que eu tinha direito mas natildeo

larguei ele laacute O pessoal fala assim Ah mas vocecirc pode deixar com algueacutem Como deixar

algueacutem Outro dia em uma das uacuteltimas internaccedilotildees dele ndash ele tambeacutem toma um leite especiacutefico

que ele tem problema de amocircnia e natildeo pode ingerir muita proteiacutena ndash quando eu olhei eu sei a

quantidade do frasco de leite e quando eu olhei estava cheio e ai eu falei Gente estaacute errado

isso daqui Quando eu fui ver o leite era de outra crianccedila Caramba a pessoa tem que estar

ligada e se eu natildeo estivesse ali Ele teria tomado o leite que poderia levaacute-lo a oacutebito porque

natildeo era o leite que ele pode tomar

Eacute muito importante essa questatildeo Quando se quer atingir a famiacutelia que se olhe esse aspecto

da famiacutelia poder cuidar do paciente Iisso vai esbarrar numa seacuterie de inconstitucionalidades

porque vai cair na questatildeo de quem paga a conta e vamos ver o que a gente consegue Soluccedilotildees

Quem sou eu para dar soluccedilotildees para um problema tatildeo complexo mas satildeo pontos que a gente

tenta jogar para ver se algueacutem escuta e tenta ouvir um pouco das nossas necessidades No direito

noacutes falamos muito sobre princiacutepio da igualdade que para ser atingido a gente precisa tratar os

desiguais como desiguais Eacute aquela velha histoacuteria do exemplo que eu dei da Light As pessoas

que passam por esse problema natildeo estatildeo inseridas no contexto que a Light coloca de tarifa

social entatildeo tem que ser tratada de uma forma diferente infelizmente Natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro seria necessaacuterio que existisse uma verba destinada a atender

individualmente caso a caso dentro do grupo de casos

Eu fiquei muito feliz ontem ao saber na audiecircncia puacuteblica a que noacutes assistimos ao saber

que Eduardo Suplicy estaacute tentando destinar trinta por cento da verba do Ministeacuterio da Sauacutede

para a causa das doenccedilas raras Jaacute eacute alguma coisa Algueacutem estaacute jogando alguma coisa no ar

Assim como a tentativa de que as Instituiccedilotildees sejam interligadas para direcionar corretamente

pacientes seja a niacutevel nacional como internacional Isso eu tambeacutem fiquei sabendo hoje sobre

a Rede Raras o queque acabou vindo ao encontro a uma sugestatildeo que eu queria dar aqui mas

a gente fica feliz em saber que tem outras pessoas tambeacutem pensando junto com a gente e

tentando buscar soluccedilotildees

118

Todos noacutes temos de ter a consciecircncia de que qualquer um de noacutes ou algueacutem que nos eacute

proacuteximo pode ser acometido por alguma doenccedila rara de uma hora para outra portanto a luta

por mudanccedila tem que ser de todos

O Ministeacuterio da Sauacutede falou sobre a natildeo criaccedilatildeo da Secretaria de Doenccedilas Raras no

Ministeacuterio da Sauacutede Esse eacute um modelo que existe nos Estados Unidos e hoje eu sinto falta de

ter um foco para aonde eu possa me dirigir Porque se uma crianccedila eacute espancada chego ao

hospital o meacutedico informa ao oacutergatildeo responsaacutevel que a crianccedila foi espancada se chega uma

crianccedila com dengue ele eacute obrigado a informar que chegou uma pessoa com dengue se chega

uma crianccedila com a pessoa tendo alguma caracteriacutestica sindrocircmica tambeacutem deveria ter um oacutergatildeo

a quem ele pudesse informar ateacute para procurar informaccedilatildeo Eacute tanta falta a de informaccedilatildeo Vocecirc

natildeo tem um Centro para chegar e perguntar ldquoO que eacute isso Eu vou pra onde a partir daquirdquo

Eu natildeo conheccedilo Associaccedilatildeo aqui no Brasil da doenccedila de Crab eu natildeo sei onde ir buscar

informaccedilatildeo Devia existir uma secretaria de doenccedilas raras dentro do Ministeacuterio da Sauacutede Seria

ndashnatildeo sei se chama de secretaria ou se chama de outra coisa ndash mas seria um centro de

informaccedilotildees para ir buscar estatiacutesticas Eu acho que isso eacute importante para que as pessoas que

os proacuteprios meacutedicos pudessem se informar sobre as caracteriacutesticas da doenccedila expactativa de

tratamento laacute fora medicaccedilatildeo e tratamentos protocolozados Enfim seria um norte para a

partir daiacute as pessoas poderem seguir

Muito obrigado pela oportunidade

119

4ordf Mesa Pesquisas no SUS

Maacutercia Ribeiro1 ndash Boa tarde a todos

Eu gostaria de agradecer o fato de poder estar aqui falando de um tema tatildeo interessante

mas que realmente ainda necessita de uma seacuterie de atitudes para que seja mais pleno

Eu queria comeccedilar com toda a engrenagem que existe que move essa pesquisa dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Ela eacute ministrada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

como eacute o nosso caso que trabalhamos com a sauacutede Com a definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede somadas as accedilotildees da Agecircncia Nacional de

Prioridades de pesquisa em Sauacutede noacutes tivemos um incremento nas verbas que vatildeo para o

departamento de ciecircncia e tecnologia e consequentemente um maior investimento em

pesquisas onde se revelam aacutereas estrateacutegicas necessaacuterias para a sauacutede puacuteblica

Dentro dessa engrenagem existe eacute importante definir esses temas de pesquisa condizentes

com as necessidades da populaccedilatildeo Quando a gente fala em populaccedilatildeo se pensa num numeraacuterio

muito extenso mas por que natildeo tambeacutem condizente com as necessidades das pessoas que tecircm

doenccedilas raras das pessoas que tecircm doenccedilas geneacuteticas Por que natildeo Isso tudo eacute muito bacana

porque facilita e promove a integraccedilatildeo dos pesquisadores dos profissionais de sauacutede e tambeacutem

dos gestores E sem duacutevida alguma auxilia no processo de aprimoramento do Sistema Uacutenico

de Sauacutede

As formas de fomento satildeo conhecidas por quem estaacute na aacuterea Eacute muito importante a

participaccedilatildeo do CNPq2 e das agecircncias que amparam a pesquisa Como sou carioca vou citar a

FAPERJ3 A ideia da promoccedilatildeo dessas pesquisas que satildeo resultados aplicaacuteveis no SUS tecircm a

ver com a inovaccedilatildeo ou seja que elas tragam um potencial de inovaccedilatildeo na aacuterea de tecnologia

em sauacutede Isso natildeo quer dizer que eacute soacute uma aacuterea dura que eacute soacute laboratoacuterio ou exame Natildeo Eacute a

aacuterea do soft tambeacutem que eacute aplicada ali no dia a dia do atendimento do acolhimento dos

pacientes Eu queria destacar o PPSUS4 que eacute um programa de pesquisa para o SUS e gestatildeo

compartilhada em sauacutede Quando ele foi criado ele era especiacutefico para alguns Estados era

separado atualmente ele eacute nacional Existem propostas esse eacute um edital que eacute aberto todo o

ano Satildeo feitas propostas do Brasil inteiro e satildeo escolhidos alguns estudos que seratildeo

financiados

Os objetivos do PPSUS satildeo o de contribuir para diminuiccedilatildeo das desigualdades regionais

em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e agrave tecnologia em sauacutede fortalecer a capacidade de gestatildeo poliacutetica

cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede e tambeacutem descentralizar os recursos quer dizer se espalhar

por toda a naccedilatildeo em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Com isso entramos em

uma forma que natildeo tem como escapar que eacute a criaccedilatildeo das redes de pesquisa Essas redes vatildeo

propiciar aos pesquisadores um encontro com outros pesquisadores com outras realidades o

trabalhar junto a equipe multidisciplinar que eacute super importante

Jaacute foi mencionada aqui a Rede Raras Isso eacute de extrema importacircncia ateacute para que noacutes

conheccedilamos com o que estamos trabalhando Natildeo daacute para produzir conhecimento sozinho Satildeo

os estudos de cooperaccedilatildeo os estudos multicecircntricos e os de caraacuteter nacional que importam

porque o enfoque aqui eacute o Brasil eacute nacional Com isso noacutes podemos fortalecer e qualificar Noacutes

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ 2 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico httpwwwcnpqbr 3 Fundaccedilatildeo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro httpwwwfaperjbr 4 Programa de Pesquisa para o SUS

120

natildeo o Ministeacuterio as accedilotildees em termos de pesquisa consideradas prioritaacuterias para o SUS E jaacute

existe uma modalidade que se chama EpiGen que eacute em epidemiologia geneacutetica

Pelo pouco que eu conheccedilo eu acho que ela ainda natildeo estaacute em funcionamento porque

existem vaacuterias modalidades mas eu acho que esta ainda natildeo estaacute Eu acho que vale a pena eacute

um dever de casa para todo mundo procurar saber e procurar pensar em desenvolver alguma

coisa que vem muito de encontro com aquilo que tem sido falado desde ontem

Eu gostaria de ressaltar um outro ponto que eu considero bastante interessante e muito

importante O Ministeacuterio tem uma poliacutetica indutiva Essa poliacutetica de programa de educaccedilatildeo para

o trabalho e do trabalho para o Pet Sauacutede foram muito interessantes porque foram criados

editais onde instituiccedilotildees de ensino participam em conjunto com os municiacutepios e Estados na

reuniatildeo de profissionais das universidades das instituiccedilotildees de ensino dos profissionais que

trabalham na rede puacuteblica e dos alunos dessas universidades Os alunos passaram a partir de

projetos a frequentar a rede de atendimento com orientaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo do preceptor que

trabalha na rede sob orientaccedilatildeo do tutor que eacute quem trabalha na universidade

Na verdade ela foi criada em 2009 mas depois a portaria foi substituiacuteda por uma de 2010

A ideia foi fomentar a formaccedilatildeo de grupos cuja aprendizagem eacute tutorial em aacutereas estrateacutegicas

para o SUS Ela funciona como instrumento de qualificaccedilatildeo em serviccedilo e isso eacute bastante

importante de iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas para o estudante de graduaccedilatildeo na aacuterea

de sauacutede Eu listei os Pet Sauacutede todos baseados em projetos Satildeo projetos de pesquisa onde essa

pesquisa eacute feita na rede ou seja no SUS com a orientaccedilatildeo do preceptor de quem trabalha ali

e o professor ou teacutecnico administrativo da universidade Existem dois Pets em sauacutede da famiacutelia

um em vigilacircncia um em sauacutede mental e o uacuteltimo em redes de atenccedilatildeo em sauacutede

Eu trouxe uma parte de um depoimento de uma aluna que participou do Pet Sauacutede da

famiacutelia onde ela diz ldquo despertou o interesse para o exerciacutecio da medicina de famiacutelia como

especialidade possiacutevel de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Eacute realmente uma fala que combina muito com o que jaacute foi dito Vamos para rede vamos

explorar tudo o que eacute possiacutevel explorar no sentido de fornecer conhecimento de aprender como

que estaacute acontecendo laacute de realmente poder ajudar E natildeo sei se vocecircs perceberam mas pareceu

haver um Gap mas natildeo no ano de 2012 o Pet Sauacutede se juntou ao Proacute-Sauacutede que eacute o Programa

Nacional de Reorientaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede5 A UFRJ tambeacutem se candidatou

e aqui tem uma lista dos cursos que participaram quer dizer no momento estatildeo participando

ainda desse edital Quantos alunos satildeo lanccedilados quantas bolsas satildeo oferecidas Eacute bolsa para o

aluno bolsa para o tutor e para o preceptor Com isso satildeo criados novos cenaacuterios de praacutetica Os

alunos tecircm a possibilidade de uma iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico e tambeacutem verificaccedilatildeo da

realidade e ao lado dele outros alunos de outros cursos trazendo a consolidaccedilatildeo dos estaacutegios

interdisciplinares

Eacute um programa bastante interessante e eu fiquei pensando ldquoPor que natildeo um Pet de Doenccedilas

raras Por que natildeordquo Eu acho que isso seria bastante interessante

Eu venho do Instituto de Puericultura e Pediatria Marta Gon e Gesteira e eu queria situar

esse hospital da UFRJ uma unidade hospitalar secundaacuteria e terciaacuteria dentro da histoacuteria da

pesquisa O nosso Instituto estaacute fazendo 60 anos no mecircs de outubro Conta com a pediatria geral

e diversas especialidades pediaacutetricas tem o serviccedilo especiacutefico de medicina transfusional tem o

nuacutecleo RDN que eacute de reabilitaccedilatildeo e ele eacute um centro de referecircncia para algumas doenccedilas aqui

jaacute listadas Com certeza muito do que noacutes somos hoje noacutes conseguimos atraveacutes de fomento

Eu trouxe dois exemplos que conseguimos atraveacutes do Ministeacuterio e tambeacutem da FAPERJ que foi

a criaccedilatildeo da Unidade de Pesquisa Cliacutenicas em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircncia

que eacute do projeto do Hospital Dia e o nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo em Sauacutede da

Crianccedila e do adolescente onde noacutes envolvemos laboratoacuterio de geneacutetica citologia molecular e

5 httpwwwprosaudeorg

121

a biometria de fluxo Essas pessoas que trabalham docentes ou teacutecnico administrativos tecircm

tambeacutem a oportunidade de contribuir um pouco com um fomento individual como jovem

cientista bolsa de pro-atividade em pesquisa auxiacutelio agrave pesquisa edital universal o TCT6 da

FAPERJ e a bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Tudo isso a gente vecirc que vai juntando que vai num

crescente que eacute muito interessante e todo mundo tem a ganhar

O meu serviccedilo de geneacutetica meacutedica foi fundado em 1969 Em 1989 foi criado o laboratoacuterio

de geneacutetica Em 2006 eu ganhei uma linha de pesquisa como docente da poacutes-graduaccedilatildeo dentro

da geneacutetica Em 2006 tambeacutem comeccedilou a terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica e atualmente noacutes

temos no banco de dados 840 pacientes cadastrados

O programa de poacutes-graduaccedilatildeo em cliacutenica meacutedica que eacute o programa do qual eu faccedilo parte

tem essa oportunidade de com esses alunos todos que noacutes recebemos realizar pesquisas

diversas

Uma aluna minha que fez inicialmente o mestrado sobre o tema ldquoFisioterapia Motora na

Siacutendrome de Downrdquo depois ela fez o doutorado sobre Atenccedilatildeo Fisioterapecircutica a Siacutendrome de

Down e ela foi para rede Outra aluna minha Priscila trabalhou com sauacutede auditiva Outra uma

aluna neste momento que verificando qual eacute a oferta de reabilitaccedilatildeo no municiacutepio do Rio de

Janeiro Isto para ressaltar a importante ocorrecircncia do grupo de trabalho de atenccedilatildeo agraves doenccedilas

raras e tambeacutem porque acabou de se falar aqui no programa de fomento agrave pesquisa em sauacutede

Isso daacute uma visatildeo pelo menos para noacutes bastante positiva e mais otimista

Sobre as publicaccedilotildees o Brasil cresceu na quantidade de publicaccedilotildees mas a qualidade natildeo

acompanhou e noacutes que submetemos artigos sabemos a dificuldade que eacute ter um paper publicado

numa revista que tenha um fator de impacto alto

Meu muito obrigado porque nada disso teria acontecido sem esse grupinho que estaacute por

traacutes de mim meus pacientes

Mara Gabrilli7 ndash Bom primeiro eacute uma honra para mim poder vir aqui e falar desse tema

que eacute tatildeo caro para todos noacutes

Eu hoje fiquei muito feliz na comissatildeo de seguridade social e da famiacutelia porque o Deputado

Perondi fez a leitura do projeto de lei de autoria do Deputado Marccedilal Filho que cria a poliacutetica

puacuteblica para doenccedilas raras e dispensaccedilatildeo de medicamentos para doenccedilas raras

Na hora que eu entrei o senhor estava falando que natildeo adianta fazer lei soacute a gente sabe que

em nenhum seguimento e em nenhum assunto fazer soacute a lei resolve Aaqui no Brasil a leieacute soacute

uma parte de todo o trabalho Desde que fui Vereadora sinto muito isso que aleacutem de fazer lei

a gente tem que entrar no universo do executivo para que a lei seja exequiacutevel e se consiga

cumprir essa lei Depois de feita a lei a gente tem que ficar no executivo trabalhando e

principalmente levando informaccedilatildeo

Eu tendo uma deficiecircncia eu quebrei o pescoccedilo e perdi os movimentos do pescoccedilo para

baixo e eu venho aprendendo nesse caminho que a minha funccedilatildeo muitas vezes eacute pedagoacutegica

Eacute uma funccedilatildeo de levar informaccedilatildeo de ensinar e eu acho que muito muito do que a gente tem

hoje foi agrave custa da peregrinaccedilatildeo e do sofrimento de muitas famiacutelias e do conteuacutedo que as

associaccedilotildees puderam trazer para o governo de alguma forma O pouquiacutessimo que tem eacute por

conta de vocecircs Eu acho que vocecircs merecem uma salva de palmas de vocecircs mesmos

Eacute tanto preconceito que a gente tem que ultrapassar na questatildeo das doenccedilas raras Desde o

ocorrido com um menino haacute semana atraacutes que tem epidermoacutelise bolhosa e que passou por um

constrangimento muito desagradaacutevel na Gol8 por conta de falta de informaccedilatildeo daqueles que

estavam dentro da companhia aeacuterea e dentro da aeronave Eu tenho certeza que natildeo eacute o

6 Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica 7 Deputada Federal 8 Gol Linhas Aeacutereas

122

pensamento do presidente da companhia mas falta de informaccedilatildeo Para a informaccedilatildeo conseguir

chegar em todas as pontas demora eacute trabalhoso A gente tem que ficar fazendo seminaacuterio

workshop levando informaccedilatildeo Por isso eu fico muito feliz de ter junto comigo e com vocecircs

parlamentares que vecircm trabalhando para isso

O livro que o Deputado Romaacuterio lanccedilou ontem eacute de extrema importacircncia o projeto de lei

do Dep Marccedilal eacute de extrema importacircncia Tem o projeto de lei do Dep Jean Willis que tambeacutem

eacute de extrema importacircncia e natildeo adianta vocecircs eacute que trazem a demanda Eu pedi vistas do

projeto de lei do Dep Marccedilal e eu pedir vistas para que serve Para poder aprimorar o projeto

de alguma forma

Esse projeto estaacute disponiacutevel e o seu aprimoramento tem que vir de vocecircs Para que vocecircs

saibam que esse projeto estaacute disponiacutevel no site da Cacircmara para que vocecircs leiam E vocecircs satildeo

os maiores conhecedores de toda a dureza do processo de conseguir e principalmente de natildeo

conseguir as coisas Eacute importante que vocecircs tenham conhecimento desse projeto que jaacute tem

qualidade mas que talvez tenha alguma coisa que a gente ainda natildeo pensou

Eacute impressionante porque nos Estados Unidos desde 83 jaacute se existe uma poliacutetica puacuteblica

para doenccedilas raras Eu estava vendo aqui que ateacute na Colocircmbia tem poliacutetica puacuteblica para doenccedilas

raras E a gente estaacute aqui ainda engatinhando nessa questatildeo Soacute que tudo bem a gente tem

doenccedilas em que existem poucas pesquisas cientiacuteficas tem doenccedilas que jaacute tecircm bastante pesquisa

cientiacutefica mas poucos resultados existem doenccedilas que realmente natildeo tem cura mas o que

importa eacute o hoje e a gente tem que aprender a viver Ter uma vida com qualidade natildeo importa

ateacute quando

Acho que esta eacute uma outra questatildeo que a gente vai ter que trabalhar dentro do Ministeacuterio

dentro do Governo dentro da Sociedade que eacute acabar com o preconceito e que o importante eacute

poder ter estrutura para viver bem Uma forma de fazer isso e eu natildeo consigo natildeo deixar de

falar eacute a possibilidade de vocecirc ter um cuidador E isso eu posso falar com bastante maestria

sobre a diferenccedila que faz Por exemplo se eu natildeo tivesse a Gil para ficar segurando o microfone

para mim eu natildeo poderia ser deputada e natildeo poderia fazer absolutamente nada eu natildeo ia sair

da cama Faz muita diferenccedila Natildeo importa a gravidade da situaccedilatildeo da pessoa Se for uma

severidade muito grande de limitaccedilatildeo faz diferenccedila e se for pouca tambeacutem faz muita diferenccedila

E a gente sabe que nas famiacutelias brasileiras algueacutem paacutera de trabalhar para que possa cuidar

dessa pessoa que tem uma doenccedila rara Com isso a renda da famiacutelia diminui a despesa aumenta

e vira um inferno um cenaacuterio muito dramaacutetico Eacute claro que se a gente tem essa ajudinha faz

uma diferenccedila muito grande Agraves vezes as pessoas me perguntam poxa mas natildeo eacute difiacutecil vocecirc

ter a sua liberdade tolhida porque precisa de algueacutem 24 horas por dia Eu tenho muita gratidatildeo

por poder ter algueacutem ao meu lado 24 horas por dia E ter essa pessoa eacute o contraacuterio eacute ter

autonomia e liberdade de ir e vir de viver e de poder ser a primeira deputada tetrapleacutegica desse

paiacutes Eacute oacutebvio que eu fiz dois projetos de lei pensando nisso que o Governo tem que fornecer

cuidador agraves pessoas que tecircm uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade mas tambeacutem tecircm que oferecer

uma espeacutecie de bolsa cuidador para aqueles que satildeo contribuintes e que podem ter essa bolsa

O cuidador pode ser ateacute um familiar mas pode ser uma outra pessoa e eacute uma forma da gente

conseguir apesar de viver com qualidade

Eu queria contar isso para vocecircs para vocecircs me ajudarem a lutar por isso porque com

certeza vai ter muita importacircncia A gente vecirc por exemplo a falta de informaccedilatildeo Vocecirc pega

a hipertensatildeo arterial pulmonar a gente tem oito medicamentos que jaacute satildeo aprovados pela

ANVISA mas soacute dois deles satildeo distribuiacutedos e tem dispensaccedilatildeo pelo SUS E a gente sabe de

casos absurdos de pessoas que acabam morrendo por natildeo terem conseguido o acesso ao

medicamento e hoje existem vaacuterios medicamentos

A gente precisa muito dessa poliacutetica puacuteblica que vai ordenar e vai facilitar muito para o

Ministeacuterio da Sauacutede a questatildeo das demandas judiciais Porque a demanda judicial existe porque

123

a publicaccedilatildeo a poliacutetica puacuteblica natildeo existe Se a gente consegue sanar determinadas questotildees a

gente evolui

Eu estava vendoo governador Geraldo Alckmin que eacute o governador do meu Estado que eacute

uma pessoa que eu admiro mas eu fiquei super chateada porque ele vetou no Estado de Satildeo

Paulo a poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras E por quecirc Porque ele natildeo tem dinheiro para

medicaccedilatildeo oacuterfatilde ele natildeo tem recurso- Mas isso eacute um problema dele ele que se vire que ache

esse recurso porque as pessoas tem urgecircncia nisso

Eu acho que haacute tanto recurso mal utilizado Temos que forccedilar a barra para que o recurso

seja bem utilizado e com certeza se o Brasil soubesse utilizar bem todos os seus recursos a

gente natildeo estaria passando a dificuldade que a gente passa no dia a dia por conta das doenccedilas

raras

Tem uma coisa com que eu fico nervosa Eacute uma frase que a gente vive ouvindo que vem

laacute do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo a equipamento e a medicamentos que eacute aquela frase

fatiacutedica Natildeo temos evidecircncias cientiacuteficas nacionais suficientes para dizer que esse remeacutedio

funciona Enquanto isso as pessoas vatildeo esperando E satildeo vaacuterios equipamentos e medicamentos

que a gente vem trabalhando Quando eu falo a gente sou eu e a minha equipe Eacute que a gente

ouve essa afirmaccedilatildeo e a gente natildeo possui evidecircncias cientiacuteficas nacionais porque natildeo tem o

equipamento aqui mas a gente tem evidecircncias cientiacuteficas internacionais Por exemplo um

trabalho que a gente vem fazendo haacute quase trecircs anos eacute o de tentar incorporar o COFF ASIST

que eacute um equipamento importantiacutessimo para ajudar as pessoas a tossir Eu por exemplo tenho

dificuldade de tossir Tem muitas doenccedilas neurodegenerativas que trazem paralisias e

dificuldade de tossir e a pessoa quando natildeo consegue tossir e eliminar secreccedilatildeo vai ficar com

uma pneumonia vai ter uma infecccedilatildeo pulmonar vai parar no hospital vai parar na UTI e ela

fica muito mais cara para o governo Um equipamento que aparentemente parece ser caro ele

sai muito mais barato porque o governo vai economizar em leitos de UTI e sobre isso jaacute tem

evidecircncias cientiacuteficas no mundo inteiro Eacute esse tipo de informaccedilatildeo de exemplos que eu acho

que a gente natildeo pode parar de insistir e de ter esperanccedila e de ficar levando para o Ministeacuterio

para tentar convencer

Simples pessoas que usam cadeiras de rodas por exemplo se todas tivessem a

possibilidade de ter uma almofada com uma tecnologia de gomos de ar como eacute a almofada em

que eu estou sentada ningueacutem teria escaras Isso as pessoas ateacute estranham dentro de hospitais

porque eacute como se fosse uma condiccedilatildeo sine qua non vocecirc ficar hospitalizado ou ficar muito

sentado e ter escaras mas natildeo eacute Natildeo necessariamente

Esta eacute uma almofada cariacutessima mas tratar escara e ter a pessoa totalmente fora de

circulaccedilatildeo durante meses por conta de uma ferida eacute muito mais caro para o governo Entatildeo

muitas vezes a poliacutetica puacuteblica essa que natildeo existe chega a ser ldquoburrardquo porque ela vecirc as coisas

de uma forma invertida Porque se a gente consegue fazer as dispensaccedilotildees dos equipamentos

medicamentos ter um atendimento mais adequado levar conhecimentohellip Nossos meacutedicos natildeo

tecircm como disciplina obrigatoacuteria doenccedila rara na faculdade e aiacute o que acontece Onde isso vai

refletir Vai refletir no diagnoacutestico precoce80 das doenccedilas raras tecircm cunho geneacutetico e sem

esse diagnoacutestico precoce a sauacutede e a qualidade de vida ficam totalmente comprometidas

Entatildeo o que eacute isso Olha onde estaacute onde habita a gecircnese o iniacutecio do problema Na

faculdade de medicina A gente natildeo tem na faculdade de Medicina como disciplina obrigatoacuteria

a reabilitaccedilatildeo E olha o nuacutemero de pessoas com deficiecircncia que precisam de reabilitaccedilatildeo no

nosso paiacutes e eacute essa reabilitaccedilatildeo pode trazecirc-lo de volta ao trabalho de volta agrave cidadania e tal natildeo

acontece por uma lacuna que existe nas disciplinas de medicina E posso disser tambeacutem que

acessibilidade natildeo eacute disciplina obrigatoacuteria na faculdade de arquitetura e engenharia e por isso

temos um paiacutes tatildeo inacessiacutevel onde eacute tatildeo difiacutecil o ir e vir de pessoas que tecircm alguma limitaccedilatildeo

de movimento Nas calccediladas brasileiras que natildeo tecircm limitaccedilatildeo nenhuma de movimento as

124

mulheres de salto alto sofrem os homens distraiacutedos sofrem e todo mundo sofre com a falta de

acessibilidade

A gente tem uma lista de doenccedilas raras que jaacute satildeo atendidas pelo SUS vocecircs jaacute devem

estar cansados de saber porque satildeo mais de 6000 doenccedilas raras e a lista tem apenas 18 doenccedilas

ictioses hereditaacuterias hipoparatireoidismo insuficiecircncia adrenal primaacuteria que eacute a doenccedila de

Adson hiperplasia adrenal congecircnita hipotireoidismo congecircnito angioederma deficiecircncia de

hormocircnio do crescimento que eacute hipopituitarismo Siacutendrome de Tanner fibrose ciacutestica que haacute

manifestaccedilotildees pulmonares fibrose ciacutestica de insuficiecircncia pancreaacutetica miastemias graves

doenccedila celiacuteaca esclerose multipla doenccedila de Cron fenilcetonuacuteria doenccedila de Gaucher doenccedila

de Wilson e osteogenese imperfecta Infelizmente satildeo soacute essas as doenccedilas que satildeo atendidas

pelo SUS

Eu natildeo vim trazer palavra de ldquonatildeo esperanccedilardquo Temos muito trabalho a fazer e conto com

vocecircs para isso Vocecircs satildeo os principais guerreiros Eu vi com muito otimismo a audiecircncia

puacuteblica que foi realizada em abril pelo Ministeacuterio da Sauacutede que visa a Poliacutetica Nacional de

Diretrizes de atenccedilatildeo integral para pessoas com doenccedilas raras na rede puacuteblica prevenccedilatildeo

tratamento multidisciplinar e reabilitaccedilatildeo Mas natildeo pode ficar no papel como a Portaria 81 de

atenccedilatildeo em geneacutetica Eu acho que paralelamente a tudo que a gente precisa de doenccedila rara a

gente precisa de investimento em pesquisa cientiacutefica para doenccedila rara E isso eacute outro lado que

a gente vem trabalhando tambeacutem o deputado Romaacuterio tem um projeto de lei que eu sou a

relatora que eacute um projeto que desburocratiza a importaccedilatildeo de insumos para laboratoacuterios de

pesquisa Parece uma coisa muito complexa mas a gente quer eacute cura para doenccedilas rarasAs

pesquisas brasileiras satildeo muito lentas muitas vezes e na maioria das vezes o que os

pesquisadores pedem natildeo eacute recurso eles pedem condiccedilotildees para que consigam fazer as

pesquisas para que eles consigam importar reagentes por exemplo Nos Estados Unidos vocecirc

encomenda um reagente de manhatilde e agrave tarde ele estaacute no laboratoacuterio Aqui fica dois trecircs meses

preso no aeroporto e muitas vezes satildeo produtos pereciacuteveis que na hora que consegue retirar

jaacute estaacute estragado Eacuteisso que mais prejudica a pesquisa cientiacutefica no Brasil

Esse projeto estaacute na comissatildeo de seguridade social e famiacutelia para ser votado e quem sabe

eacute mais um incremento mais uma accedilatildeo para gente trabalhar em prol das doenccedilas raras para

poder ter a esperanccedila de contar com a pesquisa cientiacutefica no Brasil que eacute um paiacutes que tem

pesquisadores de alta competecircncia mas onde eacute tudo tatildeo engessado e dificultoso que muitas

vezes a nossa pesquisa natildeo desponta Eu acho que ela eacute competitiva com pesquisas no mundo

inteiro e que o Brasil tem chances inclusive de contribuir para a pesquisa em outros paiacuteses

Agora o Brasil atraveacutes de uma resoluccedilatildeo da ANVISA vai poder participar de estudos em fase

trecircs para medicamentos de uso compassivo Isso vai ser muito bom aqui no Brasil para a

pesquisa cliacutenica com pacientes porque eu vejo muitos pacientes de ELA que ficam em contato

com pacientes de outros paiacuteses que estatildeo sempre participando de protocolos de uso de

medicamentos novos E eu natildeo sei se haacute uma auto sugestatildeo ou natildeo mas estatildeo sempre

melhorando Os brasileiros natildeo podiam participar disso porque natildeo era aprovado no Brasil e

agora isso foi aprovado e a gente vai poder participar

Tambeacutem temos que ficar trazendo estiacutemulo para os nossos pesquisadores e para os nossos

laboratoacuterios para que possamos participar desse uso compassivo de medicamentos em fase trecircs

Eu vou continuar aqui e qualquer duacutevida qualquer coisa que vocecircs queiram me falar eu estou

a disposiccedilatildeo

Obrigada

Entatildeo acabo de receber uma pergunta e vou responder A pessoa pergunta que legislaccedilatildeo

existe hoje para famiacutelias que precisam de cuidadores ou home care e natildeo tecircm condiccedilotildees

financeiras

Na verdade de cuidador natildeo tem uma legislaccedilatildeo tem os projetos de lei que eu protocolei

Um na assistecircncia social para quem realmente natildeo tem recurso para pagar e outro na

125

previdecircncia para aquele que eacute contribuinte e pode vir a receber esse auxiacutelio cuidador para ele

mesmo pagar a algueacutem que pode ser um familiar ou um outro profissional Agora o que existe

na previdecircncia eacute um acreacutescimo de 25 para o segurado contribuinte que precise de uma

assistente pessoal Isso funciona para quem tem deficiecircncia severa doenccedilas raras e idosos

tambeacutem Hoje ainda natildeo existe esse tipo de lei que garanta o cuidador Existe uma portaria do

Ministeacuterio da Sauacutede que garante assistecircncia domiciliar e nessa portaria estatildeo cobertas vaacuterias

doenccedilas Poreacutem ela exclui o ventilador invasivo Muitas pessoas com distrofia muscular com

amiotrofia espinhal progressiva com esclerose lateral amiotroacutefica precisam de um respirador

volumeacutetrico para ficar 24 horas por dia na maacutequina Quem usa respiraccedilatildeo mecacircnica 24 horas

por dia precisa desse equipamento Esse equipamento estaacute excluiacutedo da portaria de atendimento

domiciliar Entatildeo eacute outro olhar que vem do lado do avesso porque o que que acontece Laacute em

fortaleza a Sra Faacutetima que tem um filho com amiotrofia espinhal progressiva fez uma

revoluccedilatildeo laacute e conseguiu tirar da UTI sete crianccedilas que como o filho dela tem AMP e estatildeo

morando em casa com muito mais qualidade de vida Hoje a gente natildeo consegue levar todas as

crianccedilas com amiotrofia que estatildeo na UTI para casa porque a gente tem essa portaria que natildeo

permite que ela funcione para quem usa respiraccedilatildeo invasiva E isso eacute um outro trabalho

Eu fui laacute e entreguei na matildeo do Ministro e tanto ele quanto a equipe dele me garantiu que

ateacute o fim do ano vai sair da portaria essa exclusatildeo da respiraccedilatildeo volumeacutetrica Eacute mais uma

inversatildeo de valores porquecirc Porque uma pessoa dentro da UTI custa 3300 reais por dia

enquanto que o atendimento domiciliar custa 272 reais por dia Olha a diferenccedila Eacute muito mais

saudaacutevel eacute muito mais humano eacute mais felicidade para pessoa que tem a doenccedila Entatildeo a gente

tem sim atendimento domiciliar mas precisa melhorar

Ieda Bussman9 ndash Boa tarde

Eacute com grande alegria que vejo acontecer hoje um dos grandes projetos do Rogeacuterio Desde

o iniacutecio da AMAVI ele desejava e planejava esse congresso Mais uma vez parabeacutens Rogeacuterio

Eu ainda espero ver um outro

Tambeacutem eacute grande a alegria de assistir agrave comprovaccedilatildeo de que a uniatildeo faz a forccedila Noacute

estamos hoje aqui reunidas diversas associaccedilotildees e vimos sendo merecedores de um olhar

especial finalmente pela parte do governo A uniatildeo tambeacutem do governo dos meacutedicos

pesquisadores e da induacutestria farmacecircutica

Ao aceitar o convite para proferir como paciente algumas palavras nesse Congresso

aceitei tambeacutem a sugestatildeo de que fosse sobre as pesquisas e os pacientes A importacircncia das

pesquisas para os pacientes o envolvimento dos pacientes nas pesquisas e a responsabilidade

dos pesquisadores para com os pacientes Natildeo haacute como negar a importacircncia das pesquisas para

os pacientes pois eacute por meio dela que se adquire o conhecimento a que se chega a investigaccedilatildeo

tratamento prevenccedilatildeo e finalmente eu espero a cura pelo menos de algumas doenccedilas

Enquanto natildeo chega a cura a qualidade de vida e a atenccedilatildeo que todos merecem

Com a uniatildeo novamente a uniatildeo dos cientistas das vaacuterias aacutereas a gente vem chegando a

grandes avanccedilos Na parte das doenccedilas raras muito aconteceu apoacutes o sequenciamento do

genoma humano As terapias celulares tirando outras terapias tambeacutem mas as terapias

celulares a princiacutepio com ceacutelulas tronco embrionaacuterias satildeo a partir de ceacutelulas adultas regredidas

ateacute agrave condiccedilatildeo semelhante agrave das ceacutelulas embrionaacuterias Terapias gecircnicas quando eacute a inserccedilatildeo de

um gene que funcional vai corrigir um gene mutado da proacutepria porfiria de que eu sou paciente

por exemplo Jaacute temos terapia geneacutetica ou gecircnica em andamento Haacute outras como

neuromodulaccedilatildeo nanotecnologia aplicada agrave sauacutede em que satildeo usadas nanopartiacuteculas em

9 Presidente da Associaccedilatildeo Brasileira de Porfiacuteria

126

medicamentos transplantes e contrastesA pesquisa realmente eacute muito importante para noacutes os

pacientes Eacute a porta que se abre para a cura

Eu estive olhando vaacuterias notiacutecias recentes que satildeo pouquiacutessimas e eu selecionei algumas

Satildeo notiacutecias boas que enchem a gente de esperanccedila Para mim qualquer coisinha qualquer

luzinha sobre uma cura um medicamento jaacute eacute uma coisa muito importante E eu acredito eu

acho que natildeo eacute hoje nem amanhatilde mas a gente vai chegar a muita coisa boa Todos os dias

temos notiacutecias mas ainda haacute muita coisa para ser descoberta Nada eacute possiacutevel sem a

participaccedilatildeo dos pacientes

Uma notiacutecia eacute que pesquisadores identificaram mecanismos e possiacuteveis medicamentos para

tumores da neurofibromatose notiacutecia de 2008 Outra eacute sobre a Siacutendrome de Down onde foram

usadas ceacutelulas tronco pluripotentes de uma pessoa com Siacutendrome de Down e foi inativada a

coacutepia extra do cromossoma 21 inserindo nela o gene Essa notiacutecia eacute recente de setembro Outra

eacute que cientistas usam o HIV para cura da leucodistrofia metapromatica e Siacutendrome de Willliams

Aldreans Consta aqui que foi usado como vetor viral do viacuterus da AIDS Essa aqui eacute da porfiria

que eu jaacute comentei antes e eacute um estudo que vem sendo feito desde 2007 na Universidade

Navarra na Espanha que eacute uma terapia para tratar a porfiria plurintermitente que eacute a porfiria

da qual eu sou portadora Jaacute foram realizadas as fases um e dois Natildeo eacute faacutecil Desde 2007 e noacutes

estamos em 2012

Existem muitas muitas notiacutecias Eu selecionei aqui algumas boas e mais tarde eu vou falar

de algumas natildeo tatildeo boas

Para falar do envolvimento dos pacientes nas pesquisas a gente se pergunta seria possiacutevel

que os novos tratamentos fosses testados apenas em cobaias Natildeo seria possiacutevel Quer dizer

satildeo feitos primeiro os testes em laboratoacuterios depois em cobaias mas como eacute um tratamento

para seres humanos ele tem que ser testado em humanos se natildeo natildeo vai valer E no caso das

doenccedilas raras mas natildeo soacute das doenccedilas raras os pacientes em geral tecircm muita preocupaccedilatildeo em

participar das pesquisas No caso das doenccedilas raras eacute mais difiacutecil ainda porque satildeo raras as

pessoas aiacute fica muito mais difiacutecil

Os fatos ruins que eu estou falando satildeo experiecircncias do passado que ficaram como marca

e ajudaram as pessoas a ter esse receio de participar das pesquisas Sob o regime Nazista

durante a Segunda Guerra Mundial cobaias humanas participaram contra a vontade de

experiecircncias Os meacutedicos apoacutes o teacutermino da Guerra foram julgados pelo julgamento de

Nuremberg O Governo dos Estados Unidos financiou experimentos na Guatemala de 1946 a

1948 para determinar se a penicilina era uacutetil contra doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis Os

experimentos natildeo foram publicados e soacute foram divulgados em 2010 depois que uma professora

da Universidade os encontrou por acaso Outra experiecircncia draacutestica tambeacutem aconteceu com 600

negros saudaacuteveis e natildeo saudaacuteveis que foram acompanhados por cientistas durante 40 anos na

observaccedilatildeo da progressatildeo natural da siacutefilis sem tratamento algum A pesquisa foi suspensa apoacutes

denuacutencia do caso por um membro da equipe O Jardineiro Fiel que acho que todo mundo jaacute

conhece a histoacuteria o livro fala de um processo contra a induacutestria farmacecircutica que teria

realizado testes ilegais com pessoas na Nigeacuteria e nos testes constava que era para impedir a

disseminaccedilatildeo da AIDS Distribuiacuteam medicamentos gratuitamente e na verdade eram

medicamentos para testar um novo medicamento contra tuberculose e que tinha graves efeitos

colaterais Para que as pesquisas pudessem ter continuidade e as pessoas estivessem dispostas

a participar sem ter o medo e diante de uma justiccedila social foi necessaacuterio criar regras e coacutedigos

de eacutetica

Os Coacutedigos de Eacutetica jaacute existiam desde Hipoacutecrates Declaraccedilatildeo de Direitos dos Homens

declaraccedilatildeo de Genebra declaraccedilatildeo de Useink e suas atualizaccedilotildees Os princiacutepios baacutesicos das

pesquisas com seres humanos estatildeo na Resoluccedilatildeo 196 de 1996 do Conselho Nacional de Sauacutede

Atualmente parece que houve alguma coisinha mais mas os princiacutepios continuam os mesmos

respeito a dignidade e autonomia ponderaccedilatildeo entre riscos e benefiacutecios da pesquisa garantia de

127

que danos previsiacuteveis seratildeo evitados e igual consideraccedilatildeo entre os interesses envolvidos O

voluntaacuterio da pesquisa ele deve saber tudo o que vai acontecer na pesquisa antes de se decidir

qual a importacircncia da pesquisa o que os pesquisadores querem descobrir como aconteceraacute a

pesquisa que tipos de riscos e benefiacutecios existem se existem outras alternativas aleacutem dessa

como seraacute a assistecircncia meacutedica hospitalar sendo necessaacuteria quem faraacute o acompanhamento

quem seraacute o responsaacutevel pela pesquisa e como entrar em contato com eles 10

O participante tem direito a esclarecimento sobre a pesquisa em que estaacute participando a

qualquer momento desejado ele tem direito agrave privacidade e anonimato a respeito de suas

decisotildees haacutebitos e crenccedilas informaccedilotildees sobre o andamento e resultado exclusividade a

contribuiccedilatildeo dele deve ser usada apenas para aquele projeto que ele autorizou tratamento e

indenizaccedilatildeo para complicaccedilotildees previstas A garantia do respeito aos direitos se faz atraveacutes do

preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido Crianccedilas

adolescentes e portadores de doenccedila mental tecircm o direito de serem informados ateacute onde forem

capazes de compreender e natildeo devem ser forccedilados a aceitar a participaccedilatildeo seratildeo assistidos

pelos pais ou responsaacuteveis legais que assinaratildeo o TCLE Natildeo deveraacute haver discriminaccedilatildeo entre

sexo idade raccedila etnia religiatildeo pobreza analfabetismo ou qualquer outro motivo Para evitar

que pessoas sejam pagas pela participaccedilatildeo em estudos e pesquisas eacute proibido o recebimento de

dinheiro presentes objetos ou favores Todo o estudo deve ser indiciado e aprovado pelo

comitecirc de eacutetica em pesquisa da instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado e em algumas situaccedilotildees deve

ser aprovado pela CONEP11

Muito obrigado pela atenccedilatildeo

Maacuterio Saporta12 - Boa tarde a todos

Eu vou rapidamente agradecer agrave AMAVI pelo convite

Eu represento um dos trecircs braccedilos que eu acredito que formam o movimento proacuteprio de

doenccedilas raras Eu estou aqui representando a Universidade a pesquisa Noacutes temos pacientes e

familiares noacutes temos o governo aqui tambeacutem Entatildeo todos os elementos estatildeo aiacute juntos para

conseguir desenvolver o campo das doenccedilas raras O que eu vou apresentar hoje eacute o trabalho

que a gente desenvolve na UFRJ no laboratoacuterio nacional de ceacutelulas tronco13 e essa teacutecnica

nova chamada reproduccedilatildeo celular Eu quero mostrar para vocecircs o que ela pode oferecer em

relaccedilatildeo agrave pesquisa para novos tratamentos em doenccedilas raras Eu natildeo vou me concentrar aqui no

uso de ceacutelulas tronco que esse eacute um campo que a gente chama de terapia celular Eacute um campo

que ainda estaacute em desenvolvimento e que eu acho que provavelmente vai gerar frutos bem

mais tarde que o campo da reprogramaccedilatildeo celular Entatildeo o que eu quero falar durante esses 10

a 15 minutos eacute um pouco sobre pesquisa em doenccedilas raras focando no uso da reprogramaccedilatildeo

celular Vou explicar para vocecircs o que eacute reprogramaccedilatildeo celular e como ela pode ser usada no

estudo das doenccedilas raras E vou terminar falando um pouquinho tambeacutem do que eu conversei

com a plateia ontem na audiecircncia como fomentar como investir como financiar pesquisas em

doenccedilas raras

As doenccedilas raras individualmente satildeo raras mas coletivamente satildeo significativas em

relaccedilatildeo agrave frequecircncia delas em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo geral Eacute importante dizer que ela tem um

vieacutes ainda mais importante que acomete preferencialmente crianccedilas e isso com certeza gera

um senso de urgecircncia ainda maior em relaccedilatildeo agrave busca por tratamentos das doenccedilas raras 95

delas natildeo possui nenhum tipo de tratamento aprovado

10 Informaccedilotildees retiradas de um folder do Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ldquoVoluntaacuterio em pesquisa informe-

se para decidirrdquo 11 Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa httpconselhosaudegovbrweb_comissoesconepindexhtml 12 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas Tronco ndash UFRJ 13 httpwwwlance-ufrjorg

128

O que satildeo Ceacutelulas Tronco e o que satildeo Ceacutelulas Pluripotentes Ceacutelulas Pluripotentes satildeo

ceacutelulas que podem se transformar em qualquer outra ceacutelula do organismo humano Entatildeo com

essas ceacutelulas se a gente manipular quimicamente e de maneira especiacutefica a gente pode criar

tipos de ceacutelulas especiacuteficas Por exemplo se eu quero estudar uma doenccedila neuroloacutegica eu posso

criar neurocircnios a partir dessa ceacutelula se eu quiser estudar uma doenccedila cardiacuteaca eu posso criar

ceacutelulas do coraccedilatildeo para o estudo in vitro no laboratoacuterio em busca de novos tratamentos Elas

satildeo ceacutelulas com um potencial enorme para se estudar uma doenccedila porque a gente pode ser

extremamente especiacutefico usando uma ceacutelula humana que eacute um diferencial em relaccedilatildeo a

modelos animais

Para entender a programaccedilatildeo celular vamos fazer um paralelo com a informaacutetica que eacute uma

coisa que todo mundo usa no dia a dia Nossas ceacutelulas tecircm o que a gente chama de coacutedigo

geneacutetico e que funciona como a programaccedilatildeo de um computador Como na programaccedilatildeo de um

computador a gente pode usar ferramentas da geneacutetica para modificar esse coacutedigo essa

programaccedilatildeo Se a gente pegar por exemplo uma ceacutelula da pele que eacute faacutecil da gente tirar ou

ateacute da urina que eacute mais faacutecil ainda que eacute soacute coletar a amostra da urina e separar essas ceacutelulas

noacutes podemos introduzir alguns genes nessas ceacutelulas e fazer com que se reprogramem ou seja

mude a programaccedilatildeo a maneira com que o DNA dela eacute expresso e essas ceacutelulas se tornam

entatildeo como se fossem ceacutelulas tronco embrionaacuterias ou seja ceacutelulas que tecircm o potencial de virar

qualquer outro tipo celular que a gente queira estudar E daiacute a gente consegue mais uma vez

usando o estiacutemulo quiacutemico correto transformar essas ceacutelulas no tipo celular que a gente quer

estudar

Eu sou Neurologista estudo uma doenccedila rara neurogeneacutetica a doenccedila de Charcot-Marie-

Tooth Para mim especificamente eacute interessante estudar os neurocircnios e as ceacutelulas de Schwann

para outros pesquisadores vai ser outros tipos celulares mas a tecnologia se aplica do mesmo

jeito Desde a descriccedilatildeo dessa nova tecnologia em 2007 uma enormidade de doenccedilas a maioria

delas geneacuteticas e raras jaacute foram modeladas dessa maneira usando essa tecnologia

Soacute para mostrar a potencialidade dessa tecnologia com ela a gente consegue modelar natildeo

soacute a doenccedila mas o doente Podemos pegar um paciente e estudar especificamente naquele

paciente como a doenccedila se manifesta nas suas ceacutelulas E o que a gente pretende fazer mais para

frente eacute usar essa mesma plataforma para procurar medicamentos e substacircncias que possam

corrigir essa anormalidade celular Esse aqui eacute um exemplo com Um dos primeiros trabalhos

com reprogramaccedilatildeo celular foi um paciente com atrofia muscular espinhal de que os

pesquisadores reproduziram ceacutelulas Satildeo ceacutelulas IPS ou ceacutelulas de Pluripotecircncia Induzida de

um paciente com AME14 e da matildee dele que natildeo tinha a mutaccedilatildeo e isto mostrou que as ceacutelulas

desses pacientes se comportavam de maneiras diferentes Especificamente vocecircs conseguem

ver aqui15 que o azul eacute o nuacutecleo de uma ceacutelula e essas setas estatildeo apontando para uns pontinhos

verdes dentro desse nuacutecleo Essas ceacutelulas normalmente em pessoas natildeo afetadas pela AME

possuem esses pontinhos e eacute esperado que elas tenham isso Em pacientes com a Atrofia

Muscular Espinhal esses pontinhos desaparecem e isso tem repercussatildeo pela doenccedila eacute causado

pela doenccedila Os pesquisadores usaram isso como uma maneira de buscar tratamento Entatildeo eles

colocaram essas ceacutelulas numa placa e jogaram diferentes medicamentos e viram quais

medicamentos poderiam fazer com que esses pontinhos reaparecessem e com isso eles acharam

alguns medicamentos que podem potencialmente ter um efeito de tratamento para esse paciente

Isso daqui natildeo eacute obviamente um produto pronto Ah esse medicamento vai funcionar com

grande certeza mas eacute um grande avanccedilo por ser uma ceacutelula humana e do paciente ao inveacutes

de se fazer essa primeira testagem por exemplo em animais O que a gente tem identificado e

o que a gente espera mostrar em mais trabalhos eacute que essa tecnologia vai conseguir encurtar o

14 Atrofia Muscular Espinhal 15 Slide 8

129

tempo em que a gente identifica uma droga passa para um estudo animal e para um estudo

cliacutenico E natildeo eacute soacute encurtar o tempo mas aumentar a chance de que aquele primeiro achado

positivo venha a se confirmar num estudo cliacutenico mais para frente O que acontece muito em

doenccedila rara eacute a gente achar uma medicaccedilatildeo que funciona super bem em camundongo e quando

vai testar no ser humano natildeo funciona nada Utilizando o modelo humano de preacute-testagem de

drogas ou de medicamentos a gente espera conseguir aumentar nossa chance de acerto

Esse eacute o modelo que a gente estaacute desenvolvendo no nosso laboratoacuterio A gente coleta

amostra de pacientes tanto de pele quanto de urina faz aquela manipulaccedilatildeo geneacutetica mexe laacute

no coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas e faz elas virarem ceacutelulas IPS ou ceacutelulas tronco induzidas A

diferenccedila no tipo celular que a gente quer estudar no nosso caso satildeo neurocircnios E outra coisa

que a gente tambeacutem pode fazer eacute usar outros tipos celulares que tambeacutem vatildeo servir para dizer

para a gente se a droga eacute segura do ponto de vista cardiacuteaco e do ponto de vista renal para que

essa droga tenha o miacutenimo de toxicidade possiacutevel quando ela for para um ensaio cliacutenico Essa

identificaccedilatildeo de drogas vai voltar para o paciente como um estudo cliacutenico primeiro e

eventualmente uma terapia Obviamente todo mundo deve estar pensando Entatildeo porque que

natildeo usa essas ceacutelulas para terapia celular e injetar essas ceacutelulas no pacienterdquo Com certeza esse

eacute um objetivo para o futuro e o futuro natildeo estaacute tatildeo distante A gente jaacute tem um estudo

comeccedilando no Japatildeo em que essas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para tratar um tipo de

degeneraccedilatildeo retiniana quer dizer doenccedila oftalmoloacutegica e a gente imagina que esse vai ser o

caminho natural das coisas Mas a gente ainda aposta que identificar drogas medicamentos vai

ser mais raacutepido e vai surtir efeitos e resultados para os pacientes mais raacutepido que a terapia

celular que eacute uma coisa que a gente ainda precisa aprender muito sobre o como que essas

ceacutelulas se comportam no organismo humano

Esse aqui eacute o robocirc A gente tem um parecido no laboratoacuterio O que ele faz basicamente eacute

pegar uma placa com ceacutelulas e enfiar no microscoacutepio para fazer a leitura dessas placas tirar e

colocar de novo E com isso a gente pode fazer uma triagem de 3000 7000 mudanccedilas diferentes

durante uma noite enquanto a gente estaacute em casa dormindo por exemplo para voltar no

laboratoacuterio no dia seguinte e jaacute ter todos os dados para serem analisado E parece coisa de ficccedilatildeo

cientiacutefica mas jaacute tem um estudo utilizando essa plataforma que eu estou descrevendo aqui e

que foi capaz de identificar algumas substacircncias que no caso de pacientes com Esclerose Lateral

Amiotroacutefica reduzia a perda neuronal a perda de neurocircnios que eacute uma caracteriacutestica da doenccedila

Entatildeo o que eles fizeram foi colocar neurocircnios de pacientes com Esclerose Lateral Amiotroacutefica

e observaram que essas ceacutelulas morriam mais rapidamente em cultura que as ceacutelulas de

pacientes natildeo afetados e conseguiram identificar medicamentos que reduziam a velocidade com

que essa morte acontecia

Identificando potenciais candidatos a ensaios cliacutenicos em esclerose lateral amiotroacutefica

Aqui eacute o exemplo de como a gente pode fazer desses candidatos que a gente identifica como o

potencial tratamento para alguma medicaccedilatildeo eacute seguro do ponto de vista por exemplo

cardioloacutegico Eu quero que vocecircs observem essa regiatildeo da placa Tem uma regiatildeo da placa que

estaacute batendo ritmicamente Essa placa eacute uma placa com muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do muacutesculo

cardiacuteaco Ela estaacute reproduzindo em uma placa de cultura o funcionamento de um coraccedilatildeo e

com isso a gente consegue fazer um eletrocardiograma dessa placa Agrave medida que a gente joga

diferentes compostos daacute para notar se estaacute havendo alguma alteraccedilatildeo desse funcionamento

cardiacuteaco E essa eacute uma maneira de se tentar identificar se uma droga tem efeito ruim no caso

efeito de toxicidade para o coraccedilatildeo e se sim ela jaacute natildeo seria usada no ensaio cliacutenico

A minha experiecircncia eacute com a doenccedila de Charcot-Marie-Tooth (CMT) que eacute uma

neuropatia hereditaacuteria uma doenccedila neurogeneacutetica que estaacute junto com a neurofibromatose

como as duas doenccedilas geneacuteticas mais comuns a afetar pacientes no mundo Eacute uma doenccedila que

natildeo eacute fatal mas que causa muita debilidade e muita incapacidade por degeneraccedilatildeo de nervos e

de muacutesculos E o nosso interesse aleacutem desse fator humano oacutebvio eacute que ela oferece um modelo

130

para a gente estudar nosso sistema nervoso Entatildeo cada gene mutado que causa a CMT eacute um

gene que estaacute associado a uma funccedilatildeo do neurocircnio ou da ceacutelula de Schwann que satildeo ceacutelulas do

sistema nervoso perifeacuterico Estudando a CMT a gente tambeacutem estaacute estudando como nosso

sistema nervoso funciona e como a gente pode tratar natildeo soacute a CMT mas outras doenccedilas

neuroloacutegicas raras e tambeacutem comuns

Durante o meu Poacutes Doutorado eu fiquei cinco anos nos Estados Unidos e dois anos eu

dediquei para produzir essas ceacutelulas reprogramadas essas ceacutelulas IPS de pacientes com

Charcot-Marie-Tooth e a gente conseguiu fazer isso com 14 pacientes e agora temos um

projeto tanto aqui no Brasil como laacute fora para expandir esse banco de ceacutelulas para serem usadas

natildeo soacute em pesquisa de como uma doenccedila funciona mas tambeacutem de como tratar essa doenccedila

O que a gente pode fazer para estimular as pesquisas em doenccedilas raras

Obviamente a gente precisa de dinheiro A elaboraccedilatildeo de editais de fomento das agecircncias

governamentais eacute fundamental para que a gente tenha a capacidade de comprar insumos e

produzir ciecircncia aqui no Brasil Mas mais importante que isso noacutes precisamos de redes de

colaboraccedilatildeo entre centros de excelecircncia ao redor do Brasil porque uma andorinha soacute natildeo faz

veratildeo e isso eacute verdade para qualquer coisa inclusive para a ciecircncia A gente precisa de gente

boa que saiba ver um paciente e saiba estudar a doenccedila desse paciente Noacutes temos quefortalecer

ndash e acho que o dia de hoje eacute tudo sobre isso ndash fortalecer o papel das associaccedilotildees de pacientes e

familiares no fomento de pesquisa em doenccedilas raras E uma coisa que a Deputada Mara jaacute

comentou eacute viabilizar mecanismos que tornem a nossa pesquisa mais competitiva que eacute

facilitar a entrada de insumos aqui no Brasil

Este eacute o modelo de apoio que eu mencionei no comeccedilo Estatildeo assistecircncia pesquisa e apoio

pacientes governo meacutedicos e pesquisadores E a conclusatildeo que todo mundo chega eacute essa que

paciente com doenccedila rara precisa de pesquisa e atendimento especializado Noacutes precisamos da

participaccedilatildeo do governo dos pacientes familiares meio acadecircmico fomento agrave pesquisa jaacute que

essas novas tecnologias que eu apresentei aqui hoje prometem revolucionar o estudo das

doenccedilas raras e aumentar a velocidade de descoberta de novos medicamentos Este eacute o nosso

grupo o grupo do professor Steven Hans da UFRJ de que eu faccedilo parte e eu agradeccedilo a atenccedilatildeo

de vocecircs aqui hoje

Obrigado

131

5ordf Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras

Marcos Burle Aguiar1 ndash Inicialmente eu gostaria de agradecer agrave AMAVI especialmente

ao Rogeacuterio que me convidou para participar desse evento que eacute um evento que trata de um

assunto pelo qual eu sou realmente apaixonado

Euvou abordar aqui dois aspectos da poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras no

acircmbito do SUS Vou abordar primeiro as caracteriacutesticas dessa poliacutetica e segundo a

implantaccedilatildeo da mesma e os problemas que a gente tem nesta implantaccedilatildeo

Qual foi a origem dessa poliacutetica Foi exatamente a semana internacional de doenccedilas raras

do ano passado e coincidentemente exatamente naquele dia foi lanccedilado na Inglaterra o seu

projeto para doenccedilas raras uma consulta que deve ter se encerrado a 31 de dezembro do ano

passado E isso eacute uma coisa muito interessante porque a Inglaterra jaacute tinha uma experiecircncia

muito grande em diagnosticar em tratar as doenccedilas raras mas eles tentam transformar isso num

projeto mais denso

O que a gente tinha ateacute a criaccedilatildeo desse grupo Na verdade a gente natildeo tinha nenhuma

poliacutetica como continuamos sem tecirc-la hoje natildeo eacute verdade E a gente tinha muitas

reinvindicaccedilotildees de demandas judiciais Vocecircs sabem mais do que eu que a poliacutetica de doenccedila

rara estaacute sendo criada pelos juiacutezes e natildeo pelo legislador do Ministeacuterio da Sauacutede A gente tinha

pacientes e associaccedilotildees mal atendidos e o que eacute pior eacute que isso natildeo permitia ganhos reais

ganhos no sentido de que cada decisatildeo beneficiava um paciente ou um grupo de pacientes E

essas iniciativas soacute tinham efeitos locais e imediatos a longo prazo elas eram ineficazes

O que a gente poderia fazer nesse grupo e esse debate passou no iniacutecio do grupo que era o

seguinte A gente vai fazer uma poliacutetica baseada apenas na divulgaccedilatildeo de educaccedilatildeo nas doenccedilas

raras Se a gente fizesse isso o que noacutes fariacuteamos Basicamente copiar o que os paiacuteses

desenvolvidos jaacute fizeram A gente ia pegar em muita coisa do orphanet2 coisa de muito boa

qualidade que a gente ia divulgar mas para fazer isso natildeo precisava de um grupo de trabalho

Se a gente trabalhasse tambeacutem numa poliacutetica baseada apenas no diagnoacutestico dessas doenccedilas

quem ia tratar esses pacientes E aqui eu digo tratamento como um todo natildeo eacute tratamento

medicamentoso apenas eacute o tratamento da pessoa Se a gente fosse fazer uma poliacutetica baseada

nas demandas judiciais mais comuns a gente ia tambeacutem fazer uma colcha de retalho Se a gente

fosse fazer uma poliacutetica baseada no tratamento de doenccedilas raras a gente ia atender mais ou

menos um e meio por cento das doenccedilas ou seja um grande nuacutemero de doenccedilas importantes

um grande nuacutemero de pacientes ficaria de fora Mas por outro lado a gente tinha que

compreender que a gente natildeo partia do zero vocecirc tinha no Brasil inuacutemeras Associaccedilotildees de

apoio as doenccedilas raras tanto com doenccedilas geneacuteticas e natildeo geneacuteticas que acumulavam

experiecircncia Essa experiecircncia que vocecircs tecircm hoje eacute importante para noacutes A gente tinha diversos

serviccedilos de geneacutetica no Brasil e isso mostrava para gente de que era necessaacuterio o quecirc Uma

poliacutetica abrangente Que significasse um passo inicial mas que previsse o seu desdobramento

E uma das preocupaccedilotildees da gente era aproveitar toda e qualquer iniciativa Se existe um lugar

em que tem um grupo pequeno uma Associaccedilatildeo que lida com uma doenccedila x a gente natildeo vai

proibir porque aquele grupo natildeo tem capacidade Aquele grupo vai poder existir e a gente vai

ver um jeito de como aproveitar a sua experiecircncia a longo prazo

A gente deveria entatildeo ter uma poliacutetica que permitisse essa organizaccedilatildeo e associar os

serviccedilos de geneacutetica que trabalham com doenccedilas raras e as associaccedilotildees numa poliacutetica uacutenica

1 Representante do Ministeacuterio da Sauacutede no Grupo de Trabalho para criaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras 2 httpwwworphanetconsorcgi-binindexphp

132

Entatildeo a gente de uma certa forma de um ponto de vista ateacute mais da idade separou as doenccedilas

geneacuteticas das natildeo geneacuteticas Noacutes tiacutenhamos naquela eacutepoca 81 serviccedilos de geneacutetica mais de

metade situados no Sudeste mas todas as regiotildees do Brasil tinham pelo menos algum centro de

geneacutetica ou serviccedilo de geneacutetica Aleacutem disso existia a niacutevel do governo federal uma seacuterie de

programas tambeacutem voltados para doenccedilas raras O programa Viver sem limites com a sua rede

de deficientes os centros especializados de reabilitaccedilatildeo o transporte sanitaacuterio para tentar

abordar a questatildeo do transporte desses pacientes que tecircm dificuldade programa de recuperaccedilatildeo

da audiccedilatildeo programa de recuperaccedilatildeo da visatildeo coordenaccedilatildeo geral de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo

que eacute importante porque um conjunto grande das doenccedilas raras de natureza metaboacutelica depende

principalmente disso e tambeacutem a gente tinha grupos de definiccedilatildeo de protocolos

Vejam soacute satildeo todos programas novos que estavam comeccedilando e que natildeo tinha sentido

natildeo procurar natildeo se integrar com eles todos Na verdade a gente procura na poliacutetica o quecirc

Envolver tanto a atenccedilatildeo baacutesica quanto a atenccedilatildeo domiciliar a atenccedilatildeo especializada tanto a

niacutevel ambulatorial quanto a niacutevel hospitalar os centro especializados em reabilitaccedilatildeo que estatildeo

sendo criados no paiacutes e todos os centros jaacute existentes no paiacutes que lidassem com isso

O que a gente fez Primeiro a gente dividiu em dois grupos de doenccedilas as doenccedilas

geneacuteticas e as natildeo geneacuteticas Cada grupo tem trecircs eixos As doenccedilas geneacuteticas eixo das

anomalias congecircnitas deficiecircncia intelectual e erro inato do metabolismo As doenccedilas natildeo

geneacuteticas doenccedilas infecciosas auto imunes e auto inflamatoacuterias E ficou muito claro para noacutes

que principalmente na aacuterea das doenccedilas natildeo geneacuteticas essa separaccedilatildeo por grupo eacute mais difiacutecil

e que fica aberto para vocecircs criarem outros eixos outros serviccedilos e centros especializados

Para cada eixo satildeo definidos protocolos e quem ler a poliacutetica vai ver isso A gente tem

quais satildeo as funccedilotildees da atenccedilatildeo baacutesica os criteacuterios de encaminhamento da atenccedilatildeo baacutesica por

centro especializado e as interfaces que satildeo recomendadas Na atenccedilatildeo especializada as

funccedilotildees os procedimentos que ela pode realizar os criteacuterios de encaminhamento para

devoluccedilatildeo e o apoio diagnoacutestico tanto especiacutefico quanto geral

A atenccedilatildeo especializada seria a responsaacutevel por accedilotildees diagnoacutesticas e terapecircuticas de

indiviacuteduos com ou sob risco de doenccedilas raras Noacutes seguimos dois grandes setores o setor da

atenccedilatildeo especializada em doenccedilas raras e aqui esse serviccedilo pode atender apenas uma doenccedila

ou um grupo de doenccedilas de um mesmo eixo e os centros de referecircncias de doenccedilas raras que

satildeo centros mais complexos onde ele atende um grupo maior dois eixos dois setores daqueles

eixos ou mais do que isso

O que foi definido Portas de entrada O papel da atenccedilatildeo baacutesica o papel da meacutedia e alta

complexidade e isso tem que ter uma relaccedilatildeo tanto com o hospital como maternidade porque

o paciente com doenccedila rara natildeo vem soacute do ambulatoacuterio ou da atenccedilatildeo baacutesica ele pode vir do

berccedilaacuterio quando teve o diagnoacutestico de doenccedila rara da enfermaria ou de um CTI Aleacutem disso

deve-se fazer o treinamento de profissionais de sauacutede elaborar protocolos realizar pesquisa e

divulgar doenccedilas raras Aqui numa associaccedilatildeo estreita com as Associaccedilotildees Civis

O que a gente constata depois disso Que a gente propocircs uma poliacutetica integral criou-se

uma poliacutetica nova no SUS Cada conquista a gente entende que ela tem que representar um

avanccedilo e ela tem que estar aberta a modificaccedilotildees Ela natildeo vai estar focada apenas na

divulgaccedilatildeo nem no diagnoacutestico nem nas demandas judiciais e nem apenas no tratamento Ela

estaraacute centrada no acolhimento do paciente e no atendimento integral a esse paciente incluindo

a prevenccedilatildeo da doenccedila o tratamento etc Ela deve estar ligada tambeacutem ao conhecimento agrave

pesquisa e agrave divulgaccedilatildeo

A poliacutetica deve envolver todo o SUS tanto atenccedilatildeo baacutesica e especializada Ela tem vaacuterias

portas de entrada assegura interface assegura tratamento hospitalar de urgecircncia e ciruacutergico

assegura reabilitaccedilatildeo terapia ocupacional fonoaudiologia e outras especialidades de apoio

Aleacutem disso e esse eacute um ponto importante ela procura ampliar os testes geneacuteticos no SUS Natildeo

133

sei se vocecircs sabem mas o SUS hoje soacute reconhece carioacutetipo e a gente tem uma seacuterie de outros

exames que estatildeo defasados inclusive a nossa medicina suplementar natildeo cobre todos

Quais satildeo as questotildees atuais A primeira questatildeo eacute a seguinte a poliacutetica estaacute pronta A

poliacutetica vai vingar Porque todo mundo todo brasileiro sabe que a gente tem lei que vinga e

tem lei que natildeo vinga Tem lei que vai agrave praacutetica e tem lei que natildeo vai E o que eacute que a gente tem

que dizer para que essa poliacutetica vingue

A primeira questatildeo eacute que a poliacutetica natildeo estaacute pronta ela eacute soacute um primeiro passo Ela tenta

estruturar as linhas gerais de como vai se desenvolver o atendimento agraves pessoas com doenccedilas

raras no acircmbito do SUS A partir dele vocecirc pode construir um caminho longo e seguro E cada

conquista deve significar o quecirc Um avanccedilo consolidado das Associaccedilotildees Trata-se de uma

poliacutetica aberta sujeita portanto a desdobramentos Bem e aiacute vem a parte mais importante que

eacute o papel de vocecircs a poliacutetica vai vingar Quais satildeo os proacuteximos passos Olha para essa poliacutetica

vingar a gente tem duas coisas que satildeo fundamentais Primeiro o reconhecimento dos exames

de diagnoacutestico Se a gente faz a poliacutetica e natildeo tem exame de diagnoacutestico a gente natildeo tem

poliacutetica e a comissatildeo da tripartite eacute que vai colocar isso Mas eacute necessaacuterio o quecirc A adesatildeo dos

vaacuterios municiacutepios eacute esclarecer os gestores porque eacute preciso que o gestor saiba que noacutes natildeo

criamos doentes novos e nem doenccedilas novas noacutes estamos abordando e organizando doenccedilas

que jaacute existem que estatildeo no SUS o tempo inteiro de um lado para o outro gastando tempo

sofrendo e muitas vezes tendo o dinheiro gasto de uma forma desorganizada certo Entatildeo para

essa poliacutetica vingar o papel fundamental eacute de vocecircs isso porquecirc Porque o SUS tem base no

municiacutepio e natildeo adianta o Ministeacuterio da Sauacutede aprovar a poliacutetica porque se ela natildeo tiver um

apoio um financiamento e o municiacutepio natildeo aderir natildeo vai haver poliacutetica Isso jaacute aconteceu com

a poliacutetica de geneacutetica no SUS

Entatildeo eacute o seguinte qual eacute o papel de vocecircs Ou vocecircs organizam os gestores a niacutevel

municipal para poder valer e fazer com que o municiacutepio adira agrave poliacutetica ou a poliacutetica natildeo vai

existir Poliacutetica natildeo cai do ceacuteu eu fiz movimento estudantil na eacutepoca da ditadura e existia um

ditado que era assim ldquoLiberdade natildeo se pede conquista-serdquo Eu digo pra vocecircs essa poliacutetica

natildeo pode ser pedida ela tem de ser conquistada E satildeo as associaccedilotildees que vatildeo ter que pressionar

natildeo soacute o Ministeacuterio da Sauacutede mas as Secretarias estaduais e municipais de sauacutede para que ela

funcione senatildeo natildeo adianta Entatildeo a gente precisa estar unida ter uma visatildeo de conjunto e

acima de tudo ser perseverante

Obrigado

Maria Teresinha de Oliveira Cardos3 - Boa tarde a todos

Eu quero parabenizar a organizaccedilatildeo do Congresso por esse evento que eacute o primeiro em

Brasiacutelia Eu acho extremamente importante Agradecer ao Rogeacuterio o convite de estar aqui com

vocecircs conversar com vocecircs mostrando como funciona a rede puacuteblica de sauacutede no atendimento

de doenccedilas raras que eacute um trabalho que noacutes estamos fazendo haacute 20 anos dentro do Distrito

Federal Eacute o nosso dia a dia e a cada dia com maior nuacutemero de indiviacuteduos Hoje noacutes jaacute temos

oito geneticistas temos nossos residentes que estatildeo aqui Dr Rose Dra Romina Dr Gerson

que satildeo os novos geneticistas que se agregaram ao serviccedilo E para mim eacute extremamente

prazeroso estar aqui falando com vocecircs poder contar um pouco dessa histoacuteria e oferecer o

serviccedilo a vocecircs

Tem vaacuterias definiccedilotildees de doenccedilas raras noacutes jaacute vimos vaacuterias nesse congresso Para a Uniatildeo

Europeia por exemplo satildeo cinco casos para cada 10 mil habitantes Para os Estado Unidos eacute

menos de 200 mil pessoas no paiacutes e para a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede 13 a cada 2000

indiviacuteduos De qualquer jeito elas satildeo doenccedilas mesmo que natildeo muito raras agraves vezes um para

3 Coordenadora do nuacutecleo de doenccedilas raras da Secretaria de Estado da Sauacutede do Distrito Federal

134

2000 e outras satildeo um para 40000 ou 50000 Todas elas para o indiviacuteduo e para a famiacutelia satildeo

uacutenicas Por isso que eacute importante que a gente rebata essa definiccedilatildeo para mostrar que tem vaacuterios

trabalhos a niacutevel mundial mostrando isso

Qual que eacute o impacto populacional dessas doenccedilas

Cerca de 6 da populaccedilatildeo apresenta uma doenccedila rara entatildeo natildeo eacute tatildeo raro assim num

contexto global Todas elas se caracterizam por uma diversidade de sintomas e algumas a

maioria delas tem muitas manifestaccedilotildees que satildeo comuns a doenccedilas natildeo raras

Para a classe meacutedica que natildeo tem uma formaccedilatildeo baacutesica na graduaccedilatildeo de doenccedilas raras o

paciente realmente passa sem diagnosticar Tem um caraacuteter crocircnico progressivo em geral satildeo

incapacitantes a grande parte delas afeta muacuteltiplos sistemas e afeta loacutegico a qualidade de vida

dos familiares e do paciente em si Entatildeo ela tem um impacto social muito grande Entatildeo dessas

6000 a 8000 doenccedilas raras que jaacute estatildeo catalogadas e que jaacute estatildeo estabelecidas 80 tem uma

etiologia geneacutetica ndash vocecircs viram no trabalho anterior do Dr Marcos que o Ministeacuterio da Sauacutede

separou entre geneacuteticas e natildeo geneacuteticas ndash soacute que naquele bolo das natildeo geneacuteticas tambeacutem tem o

dedinho da geneacutetica porque as doenccedilas autoimunes as doenccedilas auto inflamatoacuterias elas tambeacutem

tecircm um componente geneacutetico da mesma forma que muitas doenccedilas infecciosas elas tecircm alguns

pacientes que tecircm maior predisposiccedilatildeo a doenccedilas infecciosas do que outros pacientes entatildeo

sobra o quecirc Mais os processos de acidentes que satildeo adquiridos coisas de acidentes de

trabalho acidentes de tracircnsito que vatildeo dar doenccedilas que natildeo tem nenhum componente geneacutetico

Tem trabalhos mostrando que cinco novas doenccedilas estatildeo sendo descritas a cada mecircs e a

cada semana Natildeo eacute que as doenccedilas estatildeo aparecendo elas estatildeo sendo identificadas em sua

etiopatogenia ou em sua etiologia geneacutetica 65 delas tem uma expressatildeo grave e 66 tem

trabalhos mostrando uma incidecircncia maior de 70 se manifestam antes dos dois anos de idade

10 vatildeo se manifestar entre um e cinco anos 12 entre cinco e quinze anos 35 delas vatildeo a

oacutebito no primeiro ano entatildeo eacute uma causa de mortalidade infantil elevada e 33 tem um certo

grau de limitaccedilatildeo Em todas elas o indiviacuteduo nasce com a predisposiccedilatildeo geneacutetica Quer dizer

com a mensagem ali truncada Ela vai se manifestar dependendo de cada tipo de patologia

numa eacutepoca da vida soacute que a maioria delas se manifesta ateacute aos dois anos de idade Ainda

falando do impacto populacional a gente vecirc que tanto eacute maior esse impacto quando tardio o

diagnoacutestico Por quecirc Porque ela se torna mais incapacitante e eacute menos um ser uacutetil socialmente

aleacutem do impacto familiar que eacute muito grande agravado pela carecircncia de Centros de referecircncia

No nosso serviccedilo e no Brasil elas podem ser divididas ndash e foi mais ou menos o que o Dr

Marcos apresentou para vocecircs que dentro das doenccedilas raras 3 a 5 dos receacutem nascidos nascem

com anomalia congecircnita ndash em dois grupos aqueles que tecircm anomalias congecircnitas e aqueles que

nascem perfeitos do ponto de vista de exame fiacutesico e morfoloacutegico ao nascimento mas vatildeo

apresentar uma alteraccedilatildeo metaboacutelica posterior

Entatildeo noacutes temos o grupo das anomalias congecircnitas que representa 3 a 5 na populaccedilatildeo

que eacute a segunda causa de oacutebito infantil no Brasil jaacute que a primeira eacute a infecciosa e um terccedilo

das internaccedilotildees pediaacutetricas se devem a crianccedilas com defeitos congecircnitos No nosso serviccedilo

aqui em Brasiacutelia noacutes temos um serviccedilo totalmente em rede SUS pode ser que o SUS natildeo tenha

os seus Centros de Referecircncia mas noacutes jaacute existimos haacute duas deacutecadas desde 1990 com o serviccedilo

de geneacutetica totalmente inserido do SUS Ele eacute plenamente SUS Loacutegico que tem parceria com

as Universidades Eu sou professora da Universidade Catoacutelica mas o Serviccedilo em si eacute um

serviccedilo da Rede Puacuteblica de Sauacutede do Distrito Federal

Os erros inatos do metabolismo que eacute o segundo grupo de pacientes ocorrem com a

frequecircncia se for somar no total de um para 1500 para 2000 receacutem-nascidos um percentual

alto de oacutebito ocorre no primeiro ano de vida decorrente dessas doenccedilas metaboacutelicas Entatildeo ele

natildeo tem defeitos ele tem alteraccedilotildees nos seus ciclos bioquiacutemicos Sequelas graves neuroloacutegicas

que podem ocorrer quando natildeo tratadas um exemplo delas eacute a fenilcetonuacuteria que eacute muito bem

135

conhecida de vocecircs E a triagem neonatal ampliada eacute um instrumento de atenccedilatildeo primaacuteria

porque ela eacute preventiva ela faz o diagnoacutestico antes da manifestaccedilatildeo cliacutenica

No Distrito Federal noacutes jaacute temos essa rede de triagem neonatal ampliada funcionando desde

2012 2011 e ela eacute totalmente inserida no SUS com 27 doenccedilas triadas pela triagem neonatal

ampliada

Aqui eu vou mostrar para vocecircs como funciona o nosso fluxo de atendimento dos pacientes

dentro da rede SUS no Distrito Federal no Nuacutecleo de Geneacutetica nos hospitais da rede Os

pacientes podem chegar via as Unidades Baacutesicas de Sauacutede grande parte desses pacientes satildeo

encaminhados das unidades baacutesicas noacutes temos uma rede muito grande de hospitais unidades

baacutesicas hospital primaacuterio secundaacuterio e terciaacuterio dentro da rede elas vecircm das cliacutenicas de

pediatria ou das UTIs emergecircncias e das cliacutenicas especializadas Entatildeo elas satildeo encaminhadas

dos vaacuterios graus de complexidade e elas vatildeo ser distribuiacutedas nos ambulatoacuterios no Nuacutecleo de

Geneacutetica que tem no HMIB4 no ambulatoacuterio geral o ambulatoacuterio de neonatal e tem o

ambulatoacuterio de erro inato do metabolismo No hospital da crianccedila eacute um hospital especializado

e noacutes estamos montando laacute aleacutem das doenccedilas neurogeneacuteticas monogeneacuteticas oncogeneacuteticas e

as endocrinopatias noacutes estamos criando agora o centro de referecircncias em infusatildeo e terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica

No hospital de apoio noacutes temos a triagem neonatal e todo o grupo multidisciplinar

dedicado a triagem neonatal e ao tratamento dos casos positivos e no Hospital de Base aleacutem

dos internos noacutes temos a geneacutetica dos adultos que natildeo pode ser deixado de fora Entatildeo eles

satildeo encaminhados baseados na especialidade na idade e no tipo de doenccedila As doenccedilas raras

estatildeo inseridas dentro do Nuacutecleo haacute 20 anos como doenccedilas geneacuteticas vindo desses vaacuterios locais

que depois satildeo encaminhadas agraves equipes multidisciplinares que trabalham em parceria com a

gente a neuropediatria a endocrinologia a cardiologia a oftalmologia a nefrologia todas

essas especialidades dependendo da necessidade do paciente Temos um grupo de apoio com

fonoaudioacutelogos psicoacutelogos odontologistas e a nutricionistas que trabalha com parceria direta

com a gente no ambulatoacuterio e aleacutem dos exames de imagem que fazem parte do diagnoacutestico

confirmatoacuterio

A coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras foi criada pela Secretaria de Sauacutede agora em marccedilo de

2013 tudo isso em diaacuterio oficial Entatildeo eacute tudo reconhecido oficialmente para exatamente

coordenar o fluxo de referecircncia e contra referecircncia desses pacientes implementar os exames a

facilitaccedilatildeo de ter consultas e o acesso a terapias especiacuteficas em que globalize o paciente e a

famiacutelia Eacute o Projeto Nacional de Doenccedilas Raras e eacute isso que estaacute no Ministeacuterio da Sauacutede e que

na verdade a gente vai colaborar para que isso seja realmente implementado com a ajuda de

vocecircs

As perspectivas para o centro para a coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras eacute exatamente tornar-se

um centro de reposiccedilatildeo enzimaacutetica um laboratoacuterio de neuromuscular integrado com as equipes

de apoio monogeneacutetica e as parcerias de investigaccedilatildeo e diagnoacutestico

Noacutes temos aqui a Dra Juliana que tambeacutem eacute da UnB e faz um trabalho de pesquisa Noacutes

jaacute temos vaacuterios projetos com a UnB a Dra Juliana eacute capitatilde nessas pesquisas em relaccedilatildeo as

doenccedilas dismorfoloacutegicas diagnoacutestico molecular dessas doenccedilas

Na Universidade Catoacutelica noacutes temos um grupo estudando displasias oacutesseas erros inatos do

metabolismo e um grande projeto que centralizou o nuacutecleo de geneacutetica da UnB e da

Universidade catoacutelica numa grande rede de investigaccedilatildeo diagnoacutestica das doenccedilas geneacuteticas em

geral principalmente dismorfoloacutegicas Entatildeo a gente tem todo esse arcabouccedilo noacutes temos

residecircncia temos a parte de pesquisa e temos os ambulatoacuterios de cliacutenica Eacute um centro completo

integrado de investigaccedilatildeo das doenccedilas raras

4 Hospital Materno Infantil de Brasiacutelia

136

Aqui estaacute o nosso site5 o nosso email que eacute do nuacutecleo de geneacutetica estaacute o telefone os

telefones do serviccedilo de geneacutetica do hospital de apoio

Eu quero agradecer vocecircs por terem me escutado e a gente daqui para a frente vai caminhar

junto para que essa coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras no Distrito Federal faccedila parte de todo esse

processo de integraccedilatildeo social do paciente

5 saudedfgovbr nucleodegeneticadfyahoocombr

137

6ordf Mesa A rede de apoio ao paciente

Ana Maria Martins1 - Boa tarde a todos e a todas

Eu agradeccedilo ao Rogeacuterio por ter lembrado de mim para poder falar para vocecircs

Eu sou pediatra de formaccedilatildeoe depois especializado em geneacutetica cliacutenica e venho me

dedicando a essas doenccedilas jaacute haacute algum tempo

Na verdade o meu primeiro contato com doenccedila rara foi quando eu tinha nove anos de

idade Eu tenho uma irmatilde que nasceu com uma doenccedila rara Entatildeo esse foi o meu primeiro

contato e logicamente eu me envolvi muito porque eu tinha nove anos Eu era uma irmatilde assim

muito ansiosa Eu queria uma irmatilde pequena para poder ainda brincar e ela acabou precisando

fazer vaacuterias cirurgias Quer dizer eacute uma doenccedila bem complexa estaacute comigo haacute 49 anos Ela ia

fazer uma cirurgia com um mecircs e meio de vida e mamatildee tinha medo que ela natildeo voltasse da

cirurgia porque os meacutedicos disseram que era muito grave Uma cirurgia na cabeccedila naquela

eacutepoca era um pouco mais complicado E eu fui ao hospital para me despedir dela e entrei numa

sala que tinha muitas crianccedilas neuroloacutegicas para cirurgia muito hidrocefalia e eu falei para

minha matildee quando eu sai de laacute que eu ia crescer e ia realmente cuidar desse tipo de paciente

Entatildeo minha histoacuteria vem de haacute muito tempo E eu fui para a escola paulista de medicina laacute

eu fiz minha residecircncia em pediatria depois logo da residecircncia eu comecei a especializaccedilatildeo em

geneacutetica cliacutenica e comecei a tomar conta ndashporque a escola tinha uma cooperaccedilatildeo com a APAE2

de Satildeo Paulo ndash comecei a tomar conta dos pacientes com fenilcetonuacuteria Fui na APAE durante

sete anos como voluntaacuteria e atendendo esses pacientes Acabei fazendo meu doutorado em

fenilcetonuacuteria e na verdade esse foi o meu grande contato com as doenccedilas e os erros inatos do

metabolismo Fiz o meu poacutes-doutorado dentro da aacuterea de geneacutetica geral e natildeo do metabolismo

e em 1997 pela necessidade de se criar um serviccedilo que cuidasse desse grupo de pacientes a

gente acabou abrindo um centro de referecircncia em erro inato do metabolismo Em 1999 eu

comecei a fazer tratamento da doenccedila de Gaucher e aiacute comeccedilou a surgir um problema porque

eu dividia o ambulatoacuterio com o pessoal da dismorfologia Eu atendia segunda e quarta

trabalhava o dia todo e o pessoal da dismorfologia terccedilas e quintas Sexta era o dia das reuniotildees

cientiacuteficas Eu comecei a ter um problema que era local para fazer o tratamento que eacute

endovenoso dessas doenccedilas Em 2005 por essa necessidade a gente foi impulsionado a abrir

uma ONG que se chama Instituto de Geneacutetica e Erro Inato de Metabolismo Essa ONG existe

para dar suporte para ao ambulatoacuterio que eacute o CREIM3 que eacute o de erro inato de metabolismo

do SUS e da Universidade Federal de Satildeo Paulo

E o que satildeo essas doenccedilas

Satildeo todas doenccedilas geneacuteticas hereditaacuterias satildeo mais de 700 doenccedilas hoje Como toda a

doenccedila rara tem sintomas parecidos com doenccedilas mais frequentes e isso acaba dificultando o

diagnoacutestico

50 dessas doenccedilas tem tratamento Desse grupo de metabolismo um nuacutemero bastante

importante e a uacutenica coisa que eu posso dizer para o meacutedico para o profissional de sauacutede eacute que

toda vez que ele tem um caso um paciente com um quadro cliacutenico ou agudo que ele natildeo entende

o que estaacute acontecendo ele tem que pensar em erro inato ou em uma doenccedila rara Esta eacute a

caracteriacutestica Se manifesta diferente daquilo que eacute a maioria do conhecimento do meacutedico ou

do profissional de sauacutede e a gente natildeo tem essa dedicaccedilatildeo na Universidade

1 Universidade Federal de Satildeo Paulo 2 Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais 3 Centro de Referecircncia em Erros Inatos do Metabolismo httpwwwunifespbrcentroscreim

138

Entatildeo tudo depende aqui dessa nossa constituiccedilatildeo geneacutetica 80 das doenccedilas raras satildeo de

origem geneacutetica e aquelas que satildeo ambientais muitas vezes tecircm um papel de alguma

predisposiccedilatildeo que pode tornar a doenccedila mais grave E tudo vem da nossa formaccedilatildeo dos cerca

de 25000 genes que vieram do nosso pai e que se juntaram com 25000 da nossa matildee e formaram

um ser humano com 25000 pares de genes Isso vai determinar com quem a gente parece dentro

da nossa famiacutelia como a gente funciona e como eacute que eacute o nosso metabolismo

Da mesma forma aqui eu comeccedilo um pouco essa histoacuteria essa minha histoacuteria com o erro

inato de metabolismo Quando eu comecei quando eu abri o ambulatoacuterio era uma manhatilde por

semana no ano seguinte que foi em 98 jaacute era dois dias Nesse primeiro ano foi uma coisa

muito difiacutecil porque eram pacientes muito diferentes que vinham e eu nunca tinha atendido

eles os erros inatos do metabolismo todos juntos eu conhecia um ou outro E aiacute a gente ficou

meio perdido o primeiro ano foi um ano bastante difiacutecil Se trabalhava muito estudava muito

para entender o que era aquilo Aiacute a gente encontrou a informaccedilatildeo que mostrava uma

classificaccedilatildeo que pegava aquelas 700 doenccedilas e dividia em trecircs grupos E esse primeiro grupo

estaacute relacionado com a ingestatildeo de proteiacutena e accediluacutecar Eacute um grupo que se manifesta muito cedo

porque a crianccedila nasce e ela vai mamar e aiacute comeccedilam a acontecer os problemas porque ela tem

problema no metabolismo para proteiacutena ou o accediluacutecar Esse grupo relacionado a produccedilatildeo de

energia essa energia que manteacutem a gente de peacute manteacutem a gente vivo e que eacute uma energia

importante ou que nos mantm funcionando mesmo dormindo ou em jejum

Eacutesse grupo de doenccedilas vai aparecer em jejum prolongado E essas doenccedilas esses exames

que estatildeo em laranja eacute o que a grande maioria dos hospitais faz mas com algumas dificuldades

Os que estatildeo em azul satildeo os que a gente natildeo faz e aiacute a gente vai depender de algumas parcerias

ou de alguns favores porque satildeo exames que natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

O terceiro grupo eacute completamente diferente do outro grupo inclusive a investigaccedilatildeo Satildeo

doenccedilas onde o acuacutemulo eacute de uma moleacutecula maior Os pacientes vatildeo ter alteraccedilotildees visiacuteveis um

fiacutegado e um baccedilo grande uma estatura pequena um fundo de olho alterado uma alteraccedilatildeo na

coacuternea que vai dar uma opacidade de coacuternea Entatildeo eu vou ter situaccedilotildees de um depoacutesito e esse

depoacutesito pode ateacute ser visiacutevel

Muito importante nesse grupo satildeo as doenccedilas lisossocircmicas Elas trouxeram a terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica que teve um papel muito importante principalmente nos paiacuteses em

desenvolvimento porque acabou trazendo um desenvolvimento maior para as doenccedilas

geneacuteticas Porque aqui comeccedilou um estiacutemulo em relaccedilatildeo agrave diagnoacutestico As coisas comeccedilaram

a melhorar ateacute a informaccedilatildeo para os meacutedicos de maneira geral por conta desse tratamento A

gente tem alguns pacientes um grupo que eacute bastante conhecido jaacute encontrei umas amigas aqui

de associaccedilotildees de pacientes com mucopolissacaridose

O que que nos fez abrir essa ONG esse CREIM ou buscar esse tipo de tratamento

Eu jaacute tinha uma experiecircncia que vinha da APAE de Satildeo Paulo que era assistir e participar

das discurssotildees do atendimento multidisciplinar que eacute muito diferente do que a gente tem na

universidade Na residecircncia de pediatria eu natildeo via o atendimento multidisciplinar As pessoas

natildeo estavam juntas atendendo e conversando a respeito daquela situaccedilatildeo E aiacute eu comecei a

perceber que os pacientes quando eles chegam eles jaacute fizeram uma peregrinaccedilatildeo muito grande

por muitos serviccedilos meacutedicos ou consultoacuterios meacutedicos que tecircm uma falta de informaccedilatildeo muito

grande Todos os profissionais de sauacutede natildeo soacute dos meacutedicos todos de maneira geral Ficaram

muitos anos em busca do diagnoacutestico os que chegam para mim Tem paciente adulto que chega

com 45 anos Quando a gente consegue fazer o diagnoacutestico que ele procura desde os oito anos

de idade jaacute tem um atraso muito grande Eacute uma anguacutestia vocecirc ter um problema de sauacutede seacuterio

e descobrir o que eacute que eacute aquilo Muitos exames geralmente chegam com um pacote de exames

sem resultado ainda sem fechar aquele diagnoacutestico Anguacutestia muito grande decepcionados e

obviamente muito cansados Agraves vezes eles ateacute chegam bravos com o serviccedilo porque aquele eacute

o que ele chegou agora entatildeo agora ele vai descontar naquele laacute Tem essa questatildeo E muito

139

aacutevidos para ter informaccedilatildeo sobre aquele problema que estaacute na famiacutelia dele ou nele ou estaacute em

algueacutem da famiacutelia

Quando eu comecei a trabalhar em 97 a gente tinha alguns voluntaacuterios fono e fisioterapeuta

que iam trabalhar com a gente Isso sempre te agonia um pouco porque natildeo te daacute uma seguranccedila

de que o serviccedilo vai se manter mas ele funcionou assim ateacute 2005 Em 2005 quando a gente

abriu a ONG a gente alugou uma casa e passou a pagar a alguns profissionais para ficarem com

a gente soacute a atender os nossos pacientes A nutricionista a fono que trata dos problemas natildeo

soacute de fala mas daqueles que tem dificuldade para engolir A disfagia eacute muito frequente no meu

ambulatoacuterio a fisioterapia a psicologia e eacute aquilo que a gente conseguiu ateacute hoje de

multidisciplinar

O diagnoacutestico a gente ainda tem muita dificuldade Melhorou em relaccedilatildeo ao que era em 97

mas ainda tem por falta de recursos A maioria dos exames natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

entatildeo a gente acaba dependendo de alguns favores

O tratamento tem ainda muitas dificuldades Vocecircs jaacute cansaram de ouvir mas a

judicializaccedilatildeo atrasa muito a introduccedilatildeo do tratamento Muitas vezes chega e natildeo daacute tempo

Entatildeo realmente eacute uma anguacutestia para quem trabalha laacute na linha da frente com o paciente

A gente divulga muito a informaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos erros inatos do metabolismo temos

algumas publicaccedilotildees fizemos um livro de dietas Como no Brasil a gente natildeo tinha muita coisa

onde ir buscar esse tipo de informaccedilatildeo e a nossa missatildeo eacute ter um atendimento multidisciplinar

de excelecircncia para melhorar a qualidade de vida tanto do paciente como de seus familiares

fizemos esse livro E foi aiacute que a gente percebeu que realmente existia um deacuteficit muito grande

porque na verdade quem melhora a qualidade de vida do paciente satildeo os outros profissionais

de sauacutede natildeo o meacutedico O meacutedico faz diagnoacutestico mas quem melhora a qualidade de vida eacute a

fisioterapia eacute a nutriccedilatildeo sem duacutevida nenhuma e por isso eles satildeo tatildeo necessaacuterios e eacute nisso que

a gente acredita

As doenccedilas raras a gente pode falar agora no geral o que precisam

Informaccedilatildeo do profissional de sauacutede para que ele saiba identificar aquela doenccedila rara para

que aquele que estaacute laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede possa dizer Nossa isso daqui deve ser

uma doenccedila rara E aiacute ele encaminha porque senatildeo a gente natildeo vai sair de onde estaacute vamos

ter centros de referecircncia e natildeo vai ter como encaminhar porque ele natildeo identifica que aquilo eacute

uma doenccedila rara que essa situaccedilatildeo eacute uma doenccedila rara Se ele identificar ele encaminha para o

local disponiacutevel O meacutedico primeiro ele tem que querer descobrir o diagnoacutestico daquilo que

ele natildeo conhece porque ele natildeo sabe o que eacute mas ele tem que ter esse impulso de querer

descobrir Hoje se ele natildeo sabe ele fala para o paciente Natildeo precisa mais vir aqui porque eu

natildeo sei o que o seu filho tem ou Eu natildeo sei o que vocecirc tem e isso eacute uma coisa que natildeo pode

mais acontecer Ele vai ter que se envolver tambeacutem com as doenccedilas raras Ele vai ter que querer

descobrir o diagnoacutestico e a gente descobre estudando indo agrave internet conversando com os

colegas fazendo discussatildeo de caso quer dizer essa ferramenta de informaccedilatildeo ela tem que

chegar laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede O prognoacutestico a gente soacute vai poder falar para famiacutelia

E como eacute que vai ser o futuro

Se eu tiver o diagnoacutestico aiacute eu posso prevenir graves complicaccedilotildees posso fazer

aconselhamento geneacutetico posso fazer maiores orientaccedilotildees agrave famiacutelia Essa questatildeo do

diagnoacutestico eacute fundamental para vocecirc incluir esse indiviacuteduo dentro dessa rede de atendimento

A gente tem um 0800 e email para profissionais de sauacutede para gente ajudar nessa parte de

orientaccedilatildeo com relaccedilatildeo a conduzir um paciente que ele suspeite de erro inato de metabolismo

que eu acho que eacute o que vai precisar para as doenccedilas raras uma linha que a pessoa possa entrar

em contato e ter orientaccedilatildeo

Obrigada

140

Adriana Ueda4 - Boa tarde e obrigada

Hoje a gente jaacute falou de absolutamente de tudo a respeito de doenccedila rara poliacutetica puacuteblica

e tudo mais u tenho que contar a minha histoacuteria e explicar porque que eu vim parar aqui hoje

Meu menino nasceu e com o tempo natildeo se desenvolvia da forma que era esperado que uma

crianccedila se desenvolvesse normalmente Fomos a um neuropediatra que nos encaminhou para

o IGEIM justamente porque ele falou Natildeo eacute nada do que eu conheccedilo entatildeo vou suspeitar de

um erro inato de metabolismo ou uma doenccedila rara iniciando primeiro a pesquisa com o erro

inato de metabolismo

Foram feitos alguns exames A Dra Ana Maria ateacute era uma das meacutedicas que atendiam o

Guilherme Houve alguma alteraccedilatildeozinha e ele ficou com o diagnoacutestico de intoleracircncia a

proteiacutena lisinuacuterica Fez uma dieta restritiva de proteiacutena durante um ano que natildeo adiantou nada

o menino quase morreu perdeu ciacutelios sobrancelha unha porque ela era restritiva de proteiacutena

Retiramos aquela dieta e fomos procurar outra coisa

Acidentalmente no Hospital das Cliacutenicas de Satildeo Paulo uma meacutedica olhou e falou Nossa

que menino bonito o que ele tem Eu respondi ldquonatildeo seirdquo e Ele tem cara de ser Angelman

Ali foi a primeira vez que eu ouvi falar nessa Siacutendrome

Passei em outro meacutedico que olhou o eletro dele e falou Ah eletro de Angelman Fui para

outro geneticista e ele falou Eacute Algelman manda para o genoma para fazer o exame Fizemos

os exames para Siacutendrome de Angelman e deu negativo Mas como saiu o diagnoacutestico cliacutenico

de Angelman foi para Angelman e ficamos cuidado de Angelman ateacute que oito anos depois que

foi o tempo que demorou para conseguir trazer os reagentes para o Brasil porque por causa da

demora do Processo da ANVISA natildeo conseguia trazer esses reagentes Levou oito anos

Fecharam o diagnoacutestico fizeram o sequenciamento molecular e realmente o Gordo ndash o

Guilherme que eu chamo de Gordo ndash tem a Siacutendrome de Angelman na modalidade mutaccedilatildeo

Eacute uma crianccedila que tem uma Siacutendrome que se vocecirc der uma olhada ele vai parecer com inuacutemeras

outras Siacutendromes e porquecirc a dificuldade

Aleacutem de ser rara ela aparece com um monte de outra coisa Ele tem deficiecircncia intelectual

severa atraso psicomotor grave ausecircncia de fala problema de marcha falta de equiliacutebrio

ataxia deacuteficit de atenccedilatildeo hiperatividade hipermotricidade crises convulsivas epilepsia

espectro autista que varia de um leve a severo hipopigmentaccedilatildeo de pele e cabelos dificuldade

para dormir ndash e dificuldade para dormir significa que ele dorme trecircs horas por noite ndash

hipersensibilidade ao calor temperatura luz e exposiccedilatildeo solar estrabismo isotroacutepico

movimento aleatoacuterio de matildeos e microcefalia

Depois disso daqui vocecirc fala assim Quanta crianccedila tem com essa mesma caracteriacutestica

Tem inuacutemeras Siacutendrome de West os proacuteprios autistas o autista tiacutepico tem muita coisa aiacute

entatildeo eacute muito difiacutecil o meacutedico conseguir ir ali na cabeccedila e acertar Eu consegui depois de muitos

anos de luta E assim como eu tive todos esses anos de luta eu tive a sorte de ter apoio de pai e

de matildee que ficavam cuidando dele enquanto eu ficava passando email para o mundo inteiro

Tinha o meu carro que eu podia levar ele para todos os lados podia fazer os exames eu podia

pagar alguns exames com exceccedilatildeo do exame especiacutefico de sequenciamento molecular que estaacute

custando por volta de 17 mil reais e esse eu natildeo tinha dinheiro para pagar Eu soacute consegui fazer

porque foi um exame para a tese de poacutes-doutorado de uma meacutedica pesquisadora do genoma

que usou a verba do CNPQ dela porque senatildeo eu tambeacutem natildeo teria feito esse exame e outras

tantas pessoas com outras tantas crianccedilas com Siacutendromes raras tambeacutem natildeo vatildeo conseguir e

vatildeo ficar soacute com o diagnoacutestico cliacutenico porque elas natildeo tem condiccedilotildees de bancar um exame

desses

4 Instituto Canguru

141

Depois de estar envolvida com tudo isso eu vi a dificuldade que outras matildees tinham

Porque talvez natildeo tivesse o mesmo desembaraccedilo que eu tive ou natildeo tinham as mesmas

oportunidades entatildeo o que que eu fiz Eu comecei a entrar em contato com outras matildees com a

Siacutendrome de Angelman e montei na eacutepoca era o Orkut montei uma Associaccedilatildeo e tudo o mais

Soacute que o negoacutecio foi crescendo demais e eu falei Eu agora natildeo quero mais ficar soacute com a

Siacutendrome de Angelman Aiacute recebi o convite para ser presidente do Instituto Canguru que natildeo

eacute uma Associaccedilatildeo de pacientes eacute uma associaccedilatildeo para pacientes com erros inatos do

metabolismo e doenccedilas raras

Entatildeo o que aconteceu laacute no Instituto Canguru

Se aparece para mim algueacutem falando de homicistinuacuteria loacutegico que eacuteSimonee jaacute entro em

contado direto com ela Porfiria eacute a Dona Ieda neurofibromatose eacute a Lilian Entatildeo a gente jaacute

faz o encaminhamento e quando natildeo tem ningueacutem e quando natildeo tem associaccedilatildeo vai para

dentro da bolsa do Canguru e aiacute a gente abraccedila aquilo e vai atraacutes daquela doenccedila Fazemos

principalmente o serviccedilo de judicializaccedilatildeo para obtenccedilatildeo de medicamentos que eacute aquela coisa

que haacute 12 anos atraacutes que eacute o tempo que o Canguru temnatildeo se fazia era muito difiacutecil vocecirc

tinha que contratar

As associaccedilotildees natildeo estavam preparadas para lidar com esse tipo de problema que eacute o das

doenccedilas raras Agora no Instituto Canguru a gente jaacute estaacute passando para um outro enfoque

Agente jaacute estaacute pegando as deficiecircncias de uma forma geral porquecirc Porque todas as doenccedilas

raras podem causar deficiecircncia intelectual visual fiacutesica Oleque eacute gigantesco E qual eacute a

importacircncia das Associaccedilotildees de termos eventos como este

Vocecirc fica sabendo que a amiga da sua prima tem uma crianccedila que tem um problema assim

Vocecirc pode natildeo lembrar do nome da Siacutendrome de Angelman vocecirc pode natildeo lembrar do nome

da crianccedila o meu nome mas vocecirc vai lembrar de algueacutem que alguma vez contou uma histoacuteria

parecida dessa busca e de ir atraacutes e de natildeo conseguir o diagnoacutestico e aiacute vocecirc vai poder indicar

algueacutem e falar assim Olha tem o Rogeacuterio da AMAVI que vai de repente entrar em contato

com a Adriana daquela outrahellip bom a mulher do cabelo roxo Eacute para isso que as associaccedilotildees

estatildeo aqui A gente estaacute aqui para unir Entatildeo se bate em mim uma coisa que natildeo eacute minha eu

encaminho ela eacute quem sabe as outras e noacutes temos muita forccedila nisso E doenccedilas raras elas satildeo

raras mas se juntar todos noacutes noacutes somos muitos e a gente tem que cada vez se unir mais Vou

contar uma histoacuteria soacute para terminar Na eacutepoca que eu montei a associaccedilatildeo da Siacutendrome de

Angelman a minha vice-presidente era do Rio de Janeiro e laacute no Rio de Janeiro eles tecircm uma

certa facilidade com matildeo de obra para diaristas e ela tinha uma diarista que jaacute estava com ela

laacute coisa de sete anos coisa assim e uma amiga dela arrumou um emprego perto da casa da

minha vice-presidente Bem no primeiro dia ela falou para a amiga Vamos embora para casa

juntas eu passo aiacute Ela passou na casa da patroa da colega e falou Vamos embora e ela

respondeu Natildeo posso o filho da patroa estaacute passando mal e a mulher estaacute desesperada Taacute

ok mas o que eacute Eu natildeo sei eacute o meu primeiro dia acho que eu sou peacute frio neacute Bom nisso

entra a mulher trazendo o menino o menino se debatendo tendo uma crise convulsiva Como

essa diarista jaacute tinha experiecircncia com o filho da minha vice-presidente ela tomou a posiccedilatildeo

acalmou ajudou a matildee e tudo o mais Portanto satildeo esses casos que acontecem no dia a dia e a

informaccedilatildeo sobre a doenccedila rara pode vir de lugares que nem imaginamos Eacute preciso ficarmos

atentos Obrigado

Siacutelvia Portugal5 ndash Quando fui convidada para escrever o texto sobre doenccedilas raras procurei

nos dicionaacuterios as definiccedilotildees do que eacute raro Retomo aqui algumas questotildees do texto para pensar

um pouco sobre quais satildeo os problemas de alguns dos olhares sobre o raro e quais satildeo os

5 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

142

desafios que ele coloca E portanto isto que jaacute foi aqui falado muitas vezes esta ideia do raro

com que noacutes poucas vezes nos confrontamos eacute de fato o problema

Falou-se muito de poliacuteticas puacuteblicas e como eacute que noacutes compatibilizamos uma poliacutetica que

tem que ser universal que tem que garantir tudo para todos com a questatildeo que natildeo eacute especiacutefica

soacute das doenccedilas raras mas que aqui assume um caraacuteter fundamental que eacute cada caso eacute um caso

Esta eacute uma dificuldade grande para as poliacuteticas e portanto o desafio eacute este eacute conseguirmos

simultaneamente garantir o universal e o singular E portanto isso nos faz olhar para a questatildeo

da integralidade da pessoa e do cuidado

Outra questatildeo importante eacute esta ideia de que o raro eacute o que foge agrave norma e o fugir agrave norma

nas nossas sociedades eacute dramaacutetico Noacutes somos sociedades cada vez mais normalizadas e os

impactos meacutedicos que foram aqui falados sobretudo os sociais resultam tambeacutem do fugir agrave

norma Tudo isto jaacute foi aqui falado a questatildeo dos diagnoacutesticos a questatildeo das relaccedilotildees sociais

o estigma fortiacutessimo que enfrentam estas pessoas e estas famiacutelias no cotidiano ao longo da

vida sistematicamente Se a doenccedila eacute rara a exclusatildeo social eacute de fato muito muito frequente

Depois este problema dos nuacutemeros e esta ideia de ldquonatildeo sei quantos por cento ser 100 na nossa

casardquo eacute de fato muito expressiva do que eacute doenccedila rara Mas a questatildeo da minoria natildeo eacute

meramente estatiacutestica ela faz com que a capacidade de pressatildeo seja de fato minoritaacuteria e

portanto isso eacute pretexto para o desinteresse o desconhecimento ndash dos governos da academia

da populaccedilatildeo em geral daqueles para quem o 100 estaacute muito longe da sua casa E os desafios

tambeacutem jaacute foram aqui sobejamente identificados investigar conhecer investir informar

divulgar e conhecer as doenccedilas Esta ideia que eacute a ideia deste seminaacuterio de um olhar social

Conhecer essas pessoas eacute essencial natildeo eacute soacute importante conhecermos as doenccedilas

obviamente que eacute conhecendo as doenccedilas que podemos melhorar a qualidade de vida das

pessoas mas saber quem satildeo essas pessoas como eacute que elas vivem quantas satildeo quem satildeo elas

como vivem quais satildeo as suas condiccedilotildees de vida quais satildeo as suas relaccedilotildees sociais quais satildeo

os apoios que elas tecircm quais satildeo os apoios que elas natildeo tecircm Isto eacute fundamental para melhorar

a qualidade de vida dessas pessoas e para combater o estigma a que a maioria delas estaacute sujeita

E esta ideia do raramente do raro enquanto adveacuterbio eacute para mim o que eacute mais dramaacutetico nesta

situaccedilatildeo Eacute o fato de as pessoas serem muito pouco ouvidas ou seja raramente a voz dos

pacientes a voz e as vozes das famiacutelias satildeo ouvidas seja pelos poliacuteticos seja pelos acadecircmicos

seja pelos profissionais do campo Muitas vezes e foram aqui os cartoons do professor Luiz

Oswaldo reveladores disso muitas vezes o olhar ou o ouvir natildeo eacute exatamente um olhar e um

ouvir eacute algo que eacute distante natildeo eacute proacuteximo natildeo eacute afetivo E o ouvir eacute ter como princiacutepio que as

pessoas sabem mais sobre a doenccedila do que muitas vezes eacute conhecido pelos outros e este

exemplo da diarista foi fenomenal Ou seja quem convive diariamente com a doenccedila os

proacuteprios ou aqueles que estatildeo proacuteximos sabem mais sobre aquela doenccedila e sobre aquela pessoa

viver aquela doenccedila do que um meacutedico que dispensa 10 a 15 minutos num consultoacuterio

Agora eu imagino o que eacute uma matildee ou um pai chegar a um consultoacuterio meacutedico e dizer o

diagnoacutestico que foi feito pela diarista como ouvimo haacute pouco Obviamente que haacute bons

exemplos em todas as profissotildees mas de fato as praacuteticas meacutedicas eacute disso que estamos aqui a

falar e a colocaccedilatildeo do Prof Luiz Osvaldo mostrou bem isso os profissionais meacutedicos estatildeo

muito pouco disponiacuteveis para ouvir outras vozes sobretudo para reconhecer o conhecimento

dessas vozes E natildeo eacute soacute saber que as pessoas sabem sobre as suas doenccedilas eacute tambeacutem pensar

que aquelas pessoas satildeo mais do que a doenccedila ou seja o diagnoacutestico jaacute foi aqui sobejamente

visto eacute fundamental mas as pessoas quando vivem com uma doenccedila quando vivem com o

diagnoacutestico continuam tendo vida para aleacutem desse diagnoacutestico Satildeo filhos satildeo matildees satildeo pais

satildeo avoacutes satildeo parentes satildeo amigos satildeo vizinhos gostam de trabalhar ou gostariam de trabalhar

de conviver de sair de ter momentos de prazer Por isso eacute tatildeo importante conhecer-las como

eacute importante conhecer a sua doenccedila aquilo que elas vivem e aquilo que elas natildeo vivem por

causa da sua doenccedila

143

Eu acho que um olhar que permite pelo menos refletir sobre esses problemas eacute de fato um

olhar a partir do cuidado e a partir das redes E tal como a definiccedilatildeo de raro enfrenta problemas

a definiccedilatildeo de cuidado tambeacutem enfrenta problemas ou seja a definiccedilatildeo generalizada do que eacute

o cuidado e esta ideia de que cuidar eacute algo pontual ou seja temos um problema e entatildeo

cuidamos e resolvemos ou entatildeo que o cuidado eacute assistecircncia eacute apoio eacute tratamento e eacute o

essencial o que foi mais falado aqui E isso tem a ver com o quecirc

Tem a ver com esta ideologia da independecircncia da autonomia que vigora nas nossas

sociedades nas quais noacutes temos que ser independentes uns dos outros natildeo podemos depender

uns dos outros E essa noccedilatildeo do cuidado como algo pontual e que noacutes soacute precisamos muito

episodicamente obscurece invisibiliza as necessidades das pessoas que precisam do cuidado a

tempo inteiro cotidiano prolongado ao longo da sua vida E portanto uma forma de combater

esta ideia do cuidado eacute exatamente reconhecer que todos noacutes somos dependentes uns dos outros

todos noacutes somos vulneraacuteveis e reconhecer tambeacutem que quem eacute cuidado quem precisa de

cuidados tambeacutem cuida de si proacuteprio Muitas vezes noacutes esquecemos disso As pessoas tambeacutem

satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado administram medicaccedilatildeo procuram informaccedilatildeo dialogam

com os meacutedicos discutem com os meacutedicos apresentam outras perspectivas e portanto cuidam

tambeacutem de si proacuteprias e satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado

O cuidado eacute absolutamente central e transversal na vida de todos natildeo soacute daqueles que satildeo

doentes tambeacutem dos outros noacutes todos Noacutes todos precisamos de algueacutem que nos alimente que

nos vista que nos transporte etc E o cuidado tem todas essas dimensotildees o conhecimento os

saberes saber olhar para uma pessoa e saber que ela tem um determinado tipo de doenccedila e natildeo

eacute preciso ser meacutedico para se ver isso As praacuteticas o que eu faccedilo no cotidiano como eacute que eu

alimento como eacute que eu visto como eacute que eu administro a medicaccedilatildeo onde eacute que eu vou quem

eacute que estaacute envolvido nisto as relaccedilotildees e os significados E estas dimensotildees tornam difiacutecil uma

definiccedilatildeo consensual

Eu trabalho com uma estudante de Doutoramento a Joana Alves que trabalha sobre isto

Ela fez uma tese de mestrado e estaacute a fazer uma tese de doutorado sobre o cuidado e ela trabalha

muito sobre esta noccedilatildeo do cuidado tentando combater exatamente esta divisatildeo entre os

cuidados formais e os cuidados informais

O que eu queria passar aqui era a necessidade de desconstruir essa dicotomia

formalinformal O que eu penso que pode de fato estilhaccedilar essa separaccedilatildeo entre os

profissionais e os outros eacute um olhar a partir das redes ou seja um olhar a partir do sujeito da

pessoa doente da sua famiacutelia focando na integralidade da pessoa na integralidade das suas

necessidades E um olhar a partir da rede permite colocar o sujeito no centro O conceito de

Rede Social eacute um instrumento analiacutetico que permite olhar para a realidade social a partir de

duas dimensotildees a forma das relaccedilotildees sociais quais eacute que satildeo as relaccedilotildees e o conteuacutedo das

relaccedilotildees o que eacute que circula no interior das relaccedilotildees os noacutes e os laccedilos ou seja os membros das

redes e os laccedilos que os unem E assim basta experimentar fazer trecircs questotildees simples quem

o quecirc e como Ou seja olhar para uma pessoa e pensar Quem satildeo os membros da sua rede

Eacute a matildee eacute o pai eacute uma tia satildeo os parentes satildeo os amigos satildeo os vizinhos eacute o meacutedico que

meacutedico eacute esse Que especialista Que psicoacutelogo Quem satildeo os membros da rede E depois O

que ela precisa O quecirc Quais satildeo os recursos que eacute preciso mobilizar Informaccedilatildeo apoio nas

tarefas cotidianas Medicaccedilatildeo O que for E entatildeo vamos ver Quem eacute que faz o quecirc E quem

eacute melhor a fazer o quecirc Eu natildeo diria que as diaristas satildeo melhores que os meacutedicos em fazer

diagnoacutesticos acho que isso deve ser caso uacutenico mas olhar muitas coisas que as pessoas da rede

informal fazem melhor do que os meacutedicos E portanto eacute isso que eacute olhar a partir das redes

O trabalho que tenho desenvolvido natildeo eacute especificamente sobre as doenccedilas raras mas

sobre a deficiecircncia e tambeacutem sobre a doenccedila mental mostra que quando noacutes olhamos para esta

rede quando noacutes olhamos para a prestaccedilatildeo de cuidados a famiacutelia estaacute sempre na primeira linha

Afamiacutelia eacute sempre a primeira a principal cuidadora a famiacutelia permanece no espaccedilo e no tempo

144

Como tal o Sistema de Sauacutede as poliacuteticas puacuteblicas os profissionais tecircm a obrigaccedilatildeo de tratar

as famiacutelias e os pacientes como parceiros

A rede eacute um instrumento analiacutetico mas eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo ou seja

colocar as pessoas no centro significa construir uma rede de cuidado O que eacute essencial na rede

eacute essa ideia de natildeo haver uma hierarquia de poderes dos saberes serem todos eles reconhecidos

e conheciacuteveis por todos aqueles que participam na rede E o saber tem que circular e as praacuteticas

tem que ser partilhadas E aqui eu pareccedilo que sou a grande defensora das famiacutelias e que estou

sempre a colocar os olhos nos profissionais que natildeo cumprem seu papel mas muitas vezes as

famiacutelias tambeacutem natildeo partilham com os profissionais de sauacutede tudo aquilo que fazem tudo

aquilo que procuram e escondem muitas vezes Como sabem que a hegemonia do modelo

meacutedico eacute muito forte por exemplo procuram terapias alternativas e tendem a esconder isso

dos profissionais de sauacutede o que muitas vezes tambeacutem complica e prejudica os itineraacuterios

terapecircuticos

Para terminar acabo voltando agrave definiccedilatildeo de raro essa ideia do raro como extraordinaacuterio

Eu acho que o dia de hoje foi um exemplo disso Isso eu jaacute sabia porque haacute muitos anos que

ouccedilo histoacuteria de famiacutelias cuidadoras e de fato as histoacuterias das famiacutelias e dos doentes com

doenccedilas raras Satildeo histoacuterias extraordinaacuterias que nos ensinam a viver num mundo que eacute

diferente que eacute um mundo de solidariedade que eacute um mundo de daacutediva e essa eacute uma realidade

que todos deviacuteamos conhecer e que a sociedade devia conhecer E este eacute de fato um desafio

para o futuro eacute perceber o que haacute de bom neste tipo de cuidado integraacute-lo no cuidado e nas

poliacuteticas puacuteblicas

Ouvi aqui hoje as posiccedilotildees acerca das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil e elas parecem

corresponder a isso tudo No fundo o meu olhar natildeo foi muito diferente do do representante

do Ministeacuterio da Sauacutede no iniacutecio da manhatilde Soacute que eu devo dizer uma coisa o desenho das

poliacuteticas eacute muito diferente daquilo que eacute a praacutetica das poliacuteticas e portanto o grande desafio

para o futuro natildeo eacute o desenho da sua poliacutetica que de fato parece muito boa e que integra

muitos desses princiacutepios que eu aqui enunciei mas o desafio para a poliacutetica puacuteblica no Brasil

como em qualquer outro lugar (noacutes em Portugal temos poliacuteticas fantaacutesticas que depois colapsam

por praacuteticas que as pervertem) eacute o risco da recusa de partilha de praacuteticas de saberes que no

fundo por questotildees que muitas vezes satildeo questotildees de poder que natildeo fazem sentido pervertem

as poliacuteticas e deixam de colocar as pessoas no centro Muito obrigada por esta oportunidade e

por este fantaacutestico dia de debate e partilha

Maria Helena6 - Boa noite

Eu quero agradecer inicialmente ao Rogeacuterio por esta oportunidade de estar aqui

representando a associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil e num evento que jaacute eacute exitoso mesmo antes

de acontecer Imagina depois de ter acontecido o que eacute que ele natildeo vai ser

A minha apresentaccedilatildeo aqui hoje estaacute voltada para o apoio das Associaccedilotildees de pacientes

na Rede de apoio ao paciente Eu estou representando a Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil que

eacute uma associaccedilatildeo de apoio a familiares e amigos de pacientes com Niemann Pick uma doenccedila

ultra rara que afeta uma pessoa em 120 mil no mundo Os objetivos da minha apresentaccedilatildeo satildeo

destacar na rede de apoio ao paciente as associaccedilotildees de familiares e amigos evidenciando a

importacircncia das associaccedilotildees no apoio para os pacientes e elencar possiacuteveis formas de apoio

porque satildeo inuacutemeras as formas de apoio e eu vou elencar aqui apenas algumas possiacuteveis

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara eacute arrasador para o paciente e sua famiacutelia todos noacutes

sabemos disso Todo o mundo que tem uma pessoa com doenccedila rara na famiacutelia ao receber um

diagnoacutestico muda todo o seu trajeto toda a sua caminhada Noacutes somos parte de um mundo de

raridades somos muitos raros no mundo pelo que vencer desafios passa a ser imperativo mas

6 Associaccedilatildeo de Niemann Pick Brasil

145

sem sombra de duacutevidas eacute uma coisa amedrontadora Soacute o amor e a feacute podem tornar os caminhos

menos tortuosos e isso a gente vecirc em todas as associaccedilotildees de apoio onde impera o amor onde

impera a feacute antes de mais nada a feacute e depois o amor porque soacute assim a gente consegue lidar

com as doenccedilas soacute assim a gente consegue caminhar

Na rede de apoios eu aqui desenhei uma rede que eacute aberta ela natildeo estaacute fechada de forma

nenhuma mas eu coloquei aqui alguns pontos de apoio e destaquei as associaccedilotildees de pacientes

Entatildeo todos esses pontos se relacionam eles interagem Noacutes temos as associaccedilotildees de apoio

que interagem com as instituiccedilotildees de pesquisa que interagem com profissionais de sauacutede que

interagem com o governo que interagem com o centro de referecircncia e que interagem com os

laboratoacuterios farmacecircuticos

O que leva algueacutem a buscar o apoio de uma associaccedilatildeo de pacientes

O diagnoacutestico Eacute aiacute que a pessoa consciente de um diagnoacutestico de doenccedila rara se vecirc num

mundo completamente novo e se pergunta Onde eu estou para onde eu vou e o que eacute que eu

quero achar Eacute aiacute que comeccedila a busca por iguais pessoas que tecircm e padecem da mesma

situaccedilatildeo e que podem compartilhar alguma coisa trocar experiecircncias e dar apoio muacutetuo

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara motiva na pessoa inicialmente um sentimento de

solidatildeo A pessoa se acha sozinha no mundo depois tem duacutevidas sobre a doenccedila e surgem as

necessidades de troca de experiecircncias porque cada um quer saber o que o outro tem como eacute

que ele age como eacute que ele faz e entatildeo quer trocar quer interagir quer compartilhar e por

fim a busca de informaccedilotildees porque as doenccedilas raras de modo geral natildeo tecircm informaccedilotildees

disponiacuteveis Quando descobrimos que existe uma doenccedila rara na famiacutelia a primeira coisa que

se faz eacute cair na internet e buscar informaccedilatildeo Quem pode traduz textos internacionais quem

natildeo pode vai atraacutes de quem possa dar alguma informaccedilatildeo de trocar alguma experiecircncia de

fazer alguma coisa

Qual eacute a expectativa do paciente eda famiacutelia com relaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo de apoio Apoio nas

dificuldades e desafios luta por dias melhores quer dizer lutar junto por dias melhores e unir

esforccedilos para vencer a caminhada que eacute difiacutecil

A associaccedilatildeo pode possibilitar ao paciente o acesso atratamentos e eu vou explicar como

reivindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes interface com associaccedilotildees congecircneres e busca de um

olhar social sobre o paciente

Entatildeo como eacute que as associaccedilotildees vatildeo atuar considerando esses aspectos

O acesso aos profissionais de sauacutede acontece quando a associaccedilatildeo congrega os

profissionais de sauacutede que tratam da doenccedila congrega em encontros procura saber onde eles

estatildeo e presta informaccedilotildees sobre a existecircncia daqueles meacutedicos daqueles profissionais

fisioterapeutas fonoaudioacutelogos nutricionista e toda a gama de profissionais de sauacutede que se

dediquem ao tratamento das doenccedilas raras Estimulando a interaccedilatildeo entre os profissionais de

sauacutede e pacientes o que eacute muito importante essa inter-relaccedilatildeo acontece nos encontros

promovidos pelas associaccedilotildees nos seminaacuterios porque aiacute satildeo trazidos os profissionais de sauacutede

para informar muito mais ainda sobre as doenccedilas para trocar experiecircncias para saber aprender

tambeacutem com as famiacutelias e esta eacute uma inter-relaccedilatildeo fundamental que as associaccedilotildees sempre

procuram fazer

Como eacute que as associaccedilotildees conseguem que os pacientes tenham acesso aos tratamentos

Evidentemente que a associaccedilatildeo natildeo vai possibilitar tratamentos porque natildeo tem condiccedilatildeo

de fazer isso a maioria Pelo menos a maioria mas tem condiccedilatildeo de saber quais satildeo os

tratamentos que existem de informar sobre eles para que os pacientes busquem esses

tratamentos e prestam muita atenccedilatildeo para o progresso que existe nos tratamentos da doenccedila

porque a cada dia aparece uma coisinha nova que vai se acrescentando que vai trazendo

alguma novidade e que pode realmente mudar em alguma coisa a vida daquele paciente

Reinvindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes como a associaccedilatildeo reivindica esses direitos

146

Atuando junto agraves instituiccedilotildees puacuteblicas em defesa da paridade de tratamento dos pacientes

defendendo os direitos dos pacientes ao atendimento atraveacutes dos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede

reivindicando os direitos de participaccedilatildeo na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas relativas a doenccedilas

raras Atuando em conjunto com as instituiccedilotildees congecircneres como a gente estaacute fazendo aqui

hoje junto ao governo todo mundo aqui buscando o mesmo objetivo de conseguir a definiccedilatildeo

e a aplicaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas na busca do atendimento igualitaacuterio e continuado para todos

os pacientes com doenccedilas raras

Na realidade eacute um atendimento que tem que ser igual para todo o mundo e continuado natildeo

eacute uma coisa que vai acontecer hoje nesse governo e depois no proacuteximo governo acabou

ningueacutem mais estaacute fazendo nada e fica por aiacute Tem que ser uma coisa igual e contiacutenua

continuada E finalmente disponibilizando assistecircncia juriacutedica aos pacientes uma coisa

tambeacutem importante porque infelizmente os medicamentos de alto custo precisam de

judicializaccedilatildeo

As Associaccedilotildees tem que estar preparadas tecircm que ter no miacutenimo uma assessoria juriacutedica

que possa reivindicar esse direito dos pacientes E a interface com as associaccedilotildees congecircneres

se faz pelo fortalecimento das iniciativas e articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees no paiacutes e no mundo

A gente procura saber o que estaacute acontecendo aqui no paiacutes o que as nossas ldquoirmatildesrdquo fazem aqui

e o que acontece no mundo De que forma tambeacutem a gente pode buscar beber do saber do

universo O que a gente pode trazer para o nosso cotidiano Apoiar eventos relativos a doenccedilas

raras no Brasil e em outros paiacuteses tambeacutem eacute uma atribuiccedilatildeo eacute uma coisa que noacutes podemos

fazer

Finalmente noacutes temos a busca de um olhar social para o paciente que eacute o tema um olhar

social para o paciente A gente tem essa busca quando a gente investe na consolidaccedilatildeo do

conhecimento sobre a doenccedila na sociedade quando a gente informa a sociedade sobre a doenccedila

para que a sociedade possa responder conhecendo o paciente conhecendo a pessoa que tem a

doenccedila rara Fortalecendo as accedilotildees da sociedade civil em defesa dos interesses do paciente

buscando apoio e solidariedade de todos os segmentos sociais sensibilizando a sociedade para

a necessidade de inclusatildeo do paciente com doenccedila rara Inclusatildeo na escola inclusatildeo em todos

aspectos da vida do ser humano em sociedade E lutando para que o paciente com doenccedila rara

seja considerado um ser igual ainda que raro

Isso daqui eacute fundamental igualdade para todos mesmo sendo um ser raro para todas as

pessoas com doenccedilas raras Eu quero dizer que admiro esse pensamento Gosto do que se diz

aqui porque acredito que eacute por aiacute que a gente tem que andar ldquoO sonho de igualdade soacute cresce

no terreno do respeito pelas diferenccedilasrdquo Este eacute um pensamento de Augusto Cury e eacute aquilo que

sintetiza a nossa missatildeo como associaccedilatildeo Aigualdade soacute cresce no terreno do respeito as

diferenccedilas

Obrigada

147

Perguntas e Respostas do I CIADR

148

Pergunta para a representante da Interfarma

Qual o custo dos medicamentos para Doenccedilas Raras O SUS cobre os custos

Maria Joseacute Delgado1 - Prestar assistecircncia adequada aos pacientes com doenccedilas raras significa

formular uma poliacutetica capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e

tratamentos por um lado e oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo outro O fato do Brasil natildeo

possuir uma poliacutetica puacuteblica especiacutefica para doenccedilas raras natildeo significa que os pacientes natildeo

recebam cuidados e tratamentos Os medicamentos acabam chegando ateacute eles por via judicial

na maioria das vezes E o SUS de uma maneira ou de outra atende essas pessoas poreacutem de

forma fragmentada sem planejamento com grandes desperdiacutecios de recursos puacuteblicos e

prejuiacutezos para os pacientes

A oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo SUS depende da sua incorporaccedilatildeo em um protocolo

cliacutenico que por sua vez depende de uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica de viabilidade Poreacutem

os criteacuterios empregados pelo Governo para avaliar a disponibilizaccedilatildeo de medicamentos oacuterfatildeos

pelo sistema puacuteblico ndash baseados em custo-efetividade ndash tecircm na maioria dos casos excluiacutedo os

pacientes da possibilidade de obter este tipo de tratamento

A legislaccedilatildeo brasileira estabelece que os medicamentos destinados a doenccedilas de baixa

prevalecircncia sejam analisados para efeitos de incorporaccedilatildeo no SUS pelos mesmos paracircmetros

usados para os de grande prevalecircncia Satildeo levados em conta quesitos como eficaacutecia do

tratamento e impacto de custos em comparaccedilatildeo com outros medicamentos de mesma natureza

Se na teoria esses paracircmetros satildeo justificaacuteveis para planejar e priorizar os gastos puacuteblicos

na praacutetica tecircm funcionado como um enorme obstaacuteculo para os pacientes com doenccedilas raras A

baixa prevalecircncia das doenccedilas natildeo possibilita que os testes cliacutenicos de comprovaccedilatildeo de eficaacutecia

dos medicamentos oacuterfatildeos tenham a mesma duraccedilatildeo e nuacutemero de pacientes envolvidos que os

de grande prevalecircncia

Por se destinarem a poucas pessoas e natildeo terem seu custo de desenvolvimento diluiacutedo entre

grandes grupos populacionais os medicamentos oacuterfatildeos acabam sendo mais caros que os

convencionais Aleacutem disso a maioria dessas drogas natildeo conta com outro medicamento com a

mesma funccedilatildeo que permita a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise comparativa de custo-efetividade como

determina a legislaccedilatildeo

Para tentar romper esse ciacuterculo vicioso que dificulta o acesso aos medicamentos oacuterfatildeos

muitos pacientes tecircm recorrido agrave justiccedila com consideraacutevel impacto financeiro para o poder

puacuteblico Uma medida do problema estaacute no fato de o Ministeacuterio da Sauacutede ter desembolsado

apenas em 2011 R$ 167 milhotildees para atender 433 accedilotildees judiciais que determinavam a compra

de remeacutedios para pessoas com doenccedilas raras

De acordo com o estudo da Interfarma para facilitar o acesso dos pacientes agraves drogas oacuterfatildes

e evitar os custos elevados decorrentes da judicializaccedilatildeo seria necessaacuterio ajustar os paracircmetros

de anaacutelise agraves particularidades das doenccedilas raras substituindo os criteacuterios de custo-efetividade

por outros mais adequados como o da efetividade cliacutenica

A falta de uma poliacutetica oficial para doenccedilas raras tem transformado a vida dos pacientes

em uma excruciante corrida de obstaacuteculos seja no tocante a cuidados e tratamento seja em

relaccedilatildeo a medicamentos estes uacuteltimos sujeitos a inuacutemeros entraves regulatoacuterios que dificultam

a sua entrada no mercado e no SUS

1 mariadelgadointerfarmaorgbr

149

Perguntas para asos representantes de pacientes

Em tudo que vocecirc falou entra a grande dificuldade das famiacutelias para cuidar de suas crianccedilas

especiais A assistecircncia domiciliar (home care) eacute a grande chave para tudo isso uma equipe

multidisciplinar que venha atender esses pacientes em casa com qualidade de assistencia e

humanizaccedilatildeo do cuidado Hoje soacute existe isso na assistecircncia privada O que podemos fazer

para implantar isso no SUS

Beatriz (fisiotrapeuta)

Tacircnia Almeida2 - Na realidade Beatriz hoje tambeacutem temos ldquodisponiacutevelrdquo este atendimento

pelo SUS O problema eacute que natildeo se tem estrutura e pela cabeccedila quadrada de nossos

governantes que entendem que uma Home Care eacute cara acabam colocando mil dificuldades

para levar este paciente para casa Independente disto o sistema de Home Care no Brasil ainda

estaacute muito aqueacutem de ser um serviccedilo de excelecircncia

No meu caso eu prefiro mil vezes que meu filho esteja em casa com Home Care mas eacute

muito despreparo de teacutecnicos de enfermagem e da proacutepria equipe multidisciplinar Quem tem

o paciente em casa tem que ser muito criterioso com quem vai deixar trabalhar com o paciente

Um plano de sauacutede paga por visita a um fisioterapeuta no Rio de Janeiro o valor de R$ 1800

Geralmente o bom fisioterapeuta natildeo quer sair das UTIs para vir receber R$ 1800 por visita

de paciente Eacute tudo muito sucateado e daiacute acabamos natildeo tendo bons profissionais e ateacute escassez

dos mesmos para o atendimento domiciliar

Considerando que 75 das doenccedilas raras acometem crianccedilas e geralmente satildeo

incapacitantes vocecirc acha importante a existecircncia de um serviccedilo com assistencia

especializada em pediatria

Anna Beatriz (fisioterapeuta Prime Home Care)

Tacircnia Almeida - Com certeza eacute importante mas o problema eacute a falta de estrutura para viabilizar

isto Hoje o governo investe na sauacutede de base ou seja projeto ldquosauacutede da famiacuteliardquo Eacute legal Eacute

legal mas esses meacutedicos da base que deveriam conseguir identificar uma crianccedila sindrocircmica

natildeo tem capacitaccedilatildeo para tal infelizmente Fora a escassez de meacutedicos pediatras que estamos

tendo A maioria soacute quer seguir carreiras como otorrino cirurgia esteacutetica Pediatra Obstetra

Estatildeo em extinccedilatildeo

2 almeidaadvogadaigcombr

150

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede

Ficou notoacuterio o interesse na construccedilatildeo dessa nova poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras no SUS Eu queria saber seesta nova poliacutetica puacuteblica leva e incorpora os

determinantes sociais e determinantes de sauacutede na construccedilatildeo da mesma

Aluno da Universidade de Brasiacutelia Campus Ceilacircndia

Joseacute Eduardo Fogolin1 - Para a Comissatildeo Nacional sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede

(CNDSS) os DSS satildeo os fatores sociais econocircmicos culturais eacutetnico-raciais psicoloacutegicos e

comportamentais que influenciam a ocorrecircncia de problemas de sauacutede e seus fatores de risco

na populaccedilatildeo Cerca de 80 das doenccedilas raras satildeo causadas por fatores geneacuteticos e 20 por

fatores natildeo geneacuteticos As doenccedilas geneacuteticas apresentam uma interaccedilatildeo grande com os fatores

ambientais Assim os determinantes e condicionantes sociais da sauacutede satildeo considerados na

Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS jaacute que tecircm papel

importante nas causas centrais daquelas doenccedilas

Como seraacute organizado o cuidado com os pacientes tendo em vista que as doenccedilas raras satildeo

agrupadas por caracteriacutesticas em comum mas os sintomas e prognoacutesticos satildeo diferenciados

Clara (estudante de medicina)

Joseacute Eduardo Fogolin - Conforme a Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS que estaacute sendo construiacuteda a organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo deve seguir a loacutegica de

cuidados produzindo sauacutede de forma sistecircmica por meio de processos dinacircmicos voltados ao

fluxo de assistecircncia ao usuaacuterio A assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em seu campo de

necessidades vistas de forma ampla

No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede

A atenccedilatildeo aos familiares e pacientes com DR deveraacute garantir

- Estruturaccedilatildeo da atenccedilatildeo de forma integrada e coordenada em todos os niacuteveis desde a

prevenccedilatildeo acolhimento diagnoacutestico tratamento (baseado em protocolos cliacutenicos e diretrizes

terapecircuticas) suporte e apoio ateacute a resoluccedilatildeo seguimento e reabilitaccedilatildeo

- Acesso a recursos diagnoacutesticos e terapecircuticos

- Acesso agrave informaccedilatildeo e ao cuidado

- Aconselhamento geneacutetico quando indicado

Os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras seratildeo

componentes da Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede na Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no SUS e deveratildeo oferecer assistecircncia especializada e integral prestada por

equipe multidisciplinar Seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas

aos indiviacuteduos com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares de acordo

com os seguintes eixos assistenciais I - Anomalias Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual

associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas

ou com risco de desenvolvecirc-las

Assim a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas dentro

desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios do SUS

da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as necessidades

1 joseeduardosaudegovbr

151

de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Tendo em vista a divisatildeo dos eixos de complexidade como eacute feita a triagem para a

classificaccedilatildeo desses eixos (sabendo das dificuldades de diagnoacutestico) Como ocorre a

capacitaccedilatildeo dos profissionais para o acolhimento desses pacientes

Marcelo ndash estudante de enfermagem

Joseacute Eduardo Fogolin - Juntamente com a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas

com Doenccedilas Raras deveratildeo ser incorporados no SUS a depender de parecer favoraacutevel da

Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS (CONITEC) 15 novos

procedimentos aleacutem do Aconselhamento Geneacutetico Esses procedimentos permitiratildeo o correto

diagnoacutestico das doenccedilas raras e o tratamento adequado de acordo com os serviccedilos

disponibilizados pelo SUS A capacitaccedilatildeo dos profissionais seraacute feita pela divulgaccedilatildeo de

materiais instrutivos entre os profissionais da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada

maternidades e outros

Na medida em que nem todas as doenccedilas raras estatildeo incluiacutedas nos eixos estruturantes

definidos existem doenccedilas que sequer conhecemos a etiologia profissionais de atenccedilatildeo

baacutesica que natildeo conhecem obrigatoriamente a etiologia das doenccedilas raras e e que teratildeo

dificuldade em fazer o encaminhamento natildeo estatildeo se criando barreiras adicionais de acesso

ao paciente ao se definir diferentes eixos estruturantes para qualificaccedilatildeo de centros de

atenccedilatildeo especializada

Simone (tcherniakovskysalxncom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Tendo em vista o princiacutepio da Universalidade a Poliacutetica de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS natildeo restringe os tipos de doenccedilas a serem

atendidas isto eacute todos os usuaacuterios devem ser acolhidos independente de sua doenccedila

O nuacutemero exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que existam entre 6000 e

8000 tipos diferentes de DR 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos as demais advecircm de

causas ambientais infecciosas imunoloacutegicas entre outras Sendo assim natildeo seria possiacutevel

organizar a atenccedilatildeo por doenccedilas sendo entatildeo organizada por eixos assistenciais I - Anomalias

Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do

Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas ou com risco de desenvolvecirc-las

Desta forma a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas

dentro desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios

do SUS da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as

necessidades de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Para aleacutem de sua doenccedila a

atenccedilatildeo integral deveraacute considerar em primeiro lugar o sujeito que entre suas necessidades

possui a de cuidado em sauacutede em funccedilatildeo de sua doenccedila Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Para isso o SUS jaacute tem propiciado processos de formaccedilatildeo mais ampla para melhorar em

primeiro lugar o acolhimento a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e o respeito agraves diferenccedilas Aleacutem disso

os profissionais de sauacutede deveratildeo ser incluiacutedos em processos de formaccedilatildeo especiacutefica sobre a

poliacutetica em questatildeo como forma de garantir a identificaccedilatildeo de possiacuteveis doenccedilas raras na

atenccedilatildeo baacutesica fazendo-se os encaminhamentos adequados

152

Foi mencionada a incorporaccedilatildeo de remeacutedios para a poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras Haacute tambeacutem alguma vertente que prevecirc processos terapecircuticos

multifuncionais que saia do baacutesico

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS a assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em suas necessidades vistas de forma

ampla No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer assistecircncia

especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e Centros seratildeo

responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos com doenccedilas

raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto a Poliacutetica natildeo se restringe agrave medicaccedilatildeo Ela prevecirc atenccedilatildeo integral com equipe

multidisciplinar conforme as necessidades do usuaacuterio

Como ter acesso aos documentos da Poliacutetica Puacuteblica e como poder participar do Grupo de

Trabalho

Anna Carolina F da Rocha (portadora de epidermoacutelise bolhosa ndash APPEB ndash Associaccedilatildeo

de Portadores de Epidermoacutelise Bolhosa annarochagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Os documentos formulados pelo Grupo de Trabalho em Doenccedilas

Raras foram colocados em Consulta Puacuteblica no dia 10 de abril de 2013 (Consulta Puacuteblica nordm

07) e estatildeo disponiacuteveis na internet na paacutegina da Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SASMS) O

acesso pode ser feito por meio do link2

Infelizmente a reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado sobre a Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras ocorreu no dia 23 de outubro de 2013 De

qualquer forma representantes de diversas associaccedilotildees estiveram presentes na reuniatildeo e

representaram natildeo soacute as suas respectivas associaccedilotildees mas todos os pacientes e demais

associaccedilotildees muito bem

Como estaacute a articulaccedilatildeo deste GT com o Conselho Nacional de Sauacutede na elaboraccedilatildeo desta

Poliacutetica

Tacircnia Dornellas (Associaccedilatildeo Brasileira dos Portadores de Charcot ndash Marie ndash Tooth)

Joseacute Eduardo Fogolin - A discussatildeo e pactuaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras seratildeo feitas com a Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT)

conforme preconizado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei 8080 de 19 de setembro de 1990)

Por que natildeo tem nutricionista especializada no grupo O que estaacute sendo feito para as doenccedilas

metaboacutelicas para as quais a dieta eacute o tratamento

Joseacute Eduardo Fogolin - O grupo que elaborou os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras foi composto por teacutecnicos do Ministeacuterio da

Sauacutede meacutedicos especialistas e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras Como seria

inviaacutevel a participaccedilatildeo de um nuacutemero maior de pessoas em todas as reuniotildees surgiu a

2 httpportalsaudegovbrportalarquivospdfcp07_re_retificado30dpdf

153

necessidade da reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado cujos membros foram indicados pelos

membros titulares do Grupo de Trabalho original

Vale ressaltar que nutricionistas poderatildeo estar presentes na equipe complementar dos

Serviccedilos Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras de acordo com as

necessidades do cuidado Na equipe miacutenima assistencial dos Centros de Referecircncia em Doenccedilas

Raras que atenderem ao Eixo III ndashErros Inatos do Metabolismo ndash sua presenccedila eacute indispensaacutevel

Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas cujo tratamento eacute a foacutermula nutricional o Ministeacuterio da Sauacutede

publicou a Portaria nordm 850 de 3 de maio de 2012 instituindo um Grupo de Trabalho (GT) com

a finalidade de orientar quanto agrave estruturaccedilatildeo de serviccedilos para Terapia Nutricional ambulatorial

e domiciliar no acircmbito do SUS De acordo com o Art 2ordm dessa portaria o GT apresentou agrave

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SAS) orientaccedilotildees quanto agrave disponibilizaccedilatildeo de foacutermulas

nutricionais especiais destacando-se o Grupo de Dispensaccedilatildeo Permanente ndash Erros Inatos do

Metabolismo Foi encaminhado Parecer Teacutecnico Cientiacutefico agrave CONITEC (Comissatildeo Nacional

de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS) solicitando o fornecimento da foacutermula alimentar

necessaacuteria a pacientes com homocistinuacuteria e o processo estaacute em avaliaccedilatildeo quanto ao impacto

financeiro que essa iraacute causar ao SUS De forma geral os resultados das discussotildees do GT

apontam a necessidade de organizaccedilatildeo de serviccedilos estruturados baseados em Protocolos

Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas (PCDT) nos estados e municiacutepios como passo inicial para

consolidaccedilatildeo de um fluxo de triagem diagnoacutestico tratamento dispensaccedilatildeo de produtos e

acompanhamento desses pacientes na rede puacuteblica de sauacutede ao niacutevel domiciliar e ambulatorial

Vocecirc tem data para iniciar o Protocolo ou seja o atendimento no SUS Vocecirc sabe que

continuam morrendo pacientes por falta do protocolo para atendimento e a demora em

conseguir medicamento feito famiacutelias estarem doentes E com isso a fila cresce nos hospitais

Maacutercia (Associaccedilatildeo Baiana de Mucopolissacaridose samarcia1gmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede tem consciecircncia do sofrimento dessas pessoas

e famiacutelias e natildeo eacute indiferente a esta situaccedilatildeo Por este motivo criou o Grupo de Trabalho para

elaborar a poliacutetica para pessoas com Doenccedilas Raras

Os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras submetidos agrave Consulta Puacuteblica foram discutidos pelo Grupo de Trabalho Ampliado da

referida poliacutetica no dia 23 de outubro de 2013 e as contribuiccedilotildees seratildeo consolidadas pelo

Ministeacuterio da Sauacutede Em seguida devem ser discutidos no Grupo de Trabalho de Atenccedilatildeo da

Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em novembro e no mesmo mecircs devem ser pactuados

na CIT Depois de concluiacutedo esse processo seraacute publicada a portaria que institui a Poliacutetica

Como o Senhor pode trabalhar junto a Conitec para acelerar a criaccedilatildeo de PCDTS

(Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas) para doenccedilas raras

Roberto Larreta

Joseacute Edurado Fogolin - A Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC)

encaminha continuamente demandas para incorporaccedilatildeo de tecnologias e elaboraccedilatildeo de

protocolos no SUS para a CONITEC aleacutem da incorporaccedilatildeo de novos exames na tabela do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Relativo agraves doenccedilas raras a CGMAC jaacute solicitou a inclusatildeo de 15

procedimentos para apoio diagnoacutestico a essas doenccedilas aleacutem do aconselhamento geneacutetico Jaacute a

solicitaccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de PCDT pode ser feita pela CGMAC (como vem sendo feita) e pela

sociedade interessada (maiores informaccedilotildees no siacutetio eletrocircnico)3

3 httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfmid_area=1611

154

Entende-se que se trata de um processo que seraacute continuamente ampliado com a

implantaccedilatildeo da poliacutetica

Para contemplar o apoio diagnoacutestico especiacutefico da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras atualmente encontra-se em anaacutelise na CONITEC a solicitaccedilatildeo de

incorporaccedilatildeo dos seguintes procedimentos

1 Identificaccedilatildeo de gliciacutedios urinaacuterios por cromatografia (camada delgada)

2 Identificaccedilatildeo de glicosaminoglicanos urinaacuterios por cromatografia em camada delgada

eletroforese e dosagem quantitativa

3 Identificaccedilatildeo de oligossacariacutedeos e Sialoligossacariacutedeos por cromatografia (camada

delgada)

4 Focalizaccedilatildeo Isoeleacutetrica da Transferrina

5 Dosagem quantitativa de carnitina perfil de acilcarnitinas

6 Dosagem quantitativa de aminoaacutecidos para diagnoacutestico de Erros Inatos do Metabolismo

7 Dosagem quantitativa de aacutecidos orgacircnicos para o diagnoacutestico de erros inatos do

metabolismo

8 Ensaios enzimaacuteticos no plasma leucoacutecitos e tecidos para erros inatos do metabolismo

9 Ensaios enzimaacuteticos em eritroacutecitos para erros inatos do metabolismo

10 Ensaios enzimaacuteticos em tecido cultivado para erros inatos do metabolismo

11 Anaacutelise de DNA pela teacutecnica De Southern Blot

12 Anaacutelise de DNA por MLPA

13 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeorearranjos por PCRQPCRPCR sensiacutevel a metilaccedilatildeoQPCR

sensiacutevel agrave metilaccedilatildeo

14 Identificaccedilatildeo de Alteraccedilatildeo Cromossocircmica Submicroscoacutepica por Array-Cg

15 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeo por sequenciamento por amplicon ateacute 500 pares de bases

16 Aconselhamento Geneacutetico

Como resultado dessa articulaccedilatildeo jaacute existe tratamento protocolado para as seguintes

doenccedilas Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e

Polimiosite Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido

Distonias Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de

Parkinson Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral

Amiotroacutefica Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal

Congecircnita Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

O Doutor ressaltou em sua fala a falta de disciplinas acadecircmicas no decorrer de sua

graduaccedilatildeo Eu estudante de Sauacutede Coletiva da Universidade de Brasiacutelia tambeacutem sinto essa

falta Em sua opiniatildeo qual a importacircncia dos alunos que estudam o SUS terem em sua

graduaccedilatildeo aulas que orientem e informem sobre doenccedilas raras e seus desafios no SUS

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) doenccedila rara

eacute aquela que afeta ateacute 65 a cada 100 000 indiviacuteduos (ou 13 a cada 2000 indiviacuteduos) O nuacutemero

exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que exista entre 6000 e 8000 doenccedilas sendo

que 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos e as demais advecircm de causas ambientais

infecciosas imunoloacutegicas dentre outras Muito embora algumas sejam individualmente raras

como um grupo elas acometem um percentual significativo da populaccedilatildeo o que resulta em um

problema de sauacutede relevante Por isso eacute tatildeo importante o estudo acerca das doenccedilas raras nas

graduaccedilotildees e poacutes-graduaccedilotildees na aacuterea de sauacutede bem como os desafios enfrentados diariamente

pelos profissionais de sauacutede e pacientes no SUS

155

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Sabendo que os profissionais de sauacutede pouco conhecem sobre as distrofias musculares que

acometem uma a cada 2000 pessoas e que no ranking das doenccedilas que mais matam ficam

em segundo lugar tendo como primeira causa as doenccedilas do coraccedilatildeo e perdendo para o

cacircncer noacutes pais lutamos pela conscientizaccedilatildeo da sociedade da classe meacutedica e poliacutetica

pelo apoio agraves pesquisas tratamentos instituiccedilotildees e direitos O que estaacute sendo feito para

conscientizar a classe meacutedica sobre doenccedilas raras

Tenho como experiecircncia pessoal na rede Sarah aqui de Brasiacutelia que eacute considerada

referecircncia no Brasil a ausecircncia de uma equipe capacitada e informada sobre as distrofias

musculares Quero ressaltar que sou filha de meacutedico

(ouroaninhagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - A capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros Aleacutem disso a Poliacutetica

pretende garantir que o atendimento seja feito por equipes multidisciplinares como forma de

melhor acolher e humanizar o cuidado a esses pacientes para que sejam atendidos em suas

necessidades

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Atenccedilatildeo MS ou SUS A questatildeo das poliacuteticas de sauacutede voltadas para formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede no contexto prevenccedilatildeo Existem perspectivas em formaccedilatildeo de

profissionais de Educaccedilatildeo Fiacutesica para essas aacutereas de doenccedilas raras Teriacuteamos acesso a essas

Poliacuteticas

Professora Germana (UNIP e UNIPLAN germanabrouzadayahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede entende que a formaccedilatildeo dos profissionais de

Educaccedilatildeo Fiacutesica bem como dos demais profissionais da sauacutede para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras eacute fundamental para uma assistecircncia agrave sauacutede integral incluindo medidas de

prevenccedilatildeo Eacute esperado que a implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras induza ao processo formativo e agrave inclusatildeo dos referidos

profissionais da rede de atenccedilatildeo agrave sauacutede e em especial ao cuidado das pessoas com doenccedilas

raras

Cabe informar que a capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros

Com o desenvolvimento da Poliacutetica de Doenccedilas Raras esta questatildeo poderaacute ser melhor

abordada e acreditamos que esses profissionais poderatildeo ser incorporados

Vale destacar no acircmbito de atuaccedilatildeo dos profissionais envolvidos nas praacuteticas de atividade

fiacutesica que o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o Programa Academia da Sauacutede na Atenccedilatildeo Baacutesica

Esse programa visa contribuir para a promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo a partir da implantaccedilatildeo

de espaccedilos puacuteblicos construiacutedos com infraestrutura equipamentos e profissionais qualificados

para o desenvolvimento de praacuteticas corporais orientaccedilatildeo de atividade fiacutesica promoccedilatildeo de accedilotildees

de seguranccedila alimentar e nutricional e de educaccedilatildeo alimentar bem como outras temaacuteticas que

envolvam a realidade local aleacutem de praacuteticas artiacutesticas e culturais (teatro muacutesica pintura e

156

artesanato) Os polos do programa satildeo parte integrante da atenccedilatildeo baacutesica compondo mais um

ponto de atenccedilatildeo agrave sauacutede A organizaccedilatildeo e o planejamento dos polos satildeo coordenados pela

atenccedilatildeo baacutesica e devem ser articulados com os demais pontos de atenccedilatildeo agrave sauacutede aleacutem de

estarem vinculados a um Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia (NASF) ou a uma Unidade

Baacutesica de Sauacutede (UBS)

Existe a possibilidade das entidades de apoio muacutetuo atuarem na capacitaccedilatildeo dos

profissionais da rede jaacute que as entidades tecircm tido ecircxito nas accedilotildees desenvolvidas Como

fazer

Marcelo Dunas (graduando em enfermagem - marceloslima10yahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - As entidades e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras

podem buscar estabelecer parcerias com as Secretarias Municipais e Estaduais de Sauacutede para

contribuir nos processos de formaccedilatildeo planejados pelos gestores locais

O desenvolvimento da poliacutetica dependeraacute muito dos diversos Estados e Municiacutepios ela

teraacute peculiaridades regionais Natildeo eacute o objetivo criar mecanismos riacutegidos mas flexiacuteveis e

amplos

Em princiacutepio a atuaccedilatildeo das entidades de apoio muacutetuo na capacitaccedilatildeo dos profissionais de

sauacutede natildeo eacute impossiacutevel os profissionais vinculados a essas associaccedilotildees com experiecircncia

comprovada na aacuterea poderatildeo atuar na capacitaccedilatildeo desde que em acordo com os demais

profissionais dos Municiacutepios e Estados e sob a orientaccedilatildeo das Secretarias Municipais e

Estaduais de Sauacutede Para tal as associaccedilotildees poderatildeo estabelecer parcerias com suas Secretarias

de Sauacutede a depender dos mecanismos locais de estabelecimento dessas parcerias

Assim a resposta completa a esta pergunta seraacute variaacutevel e dependente da evoluccedilatildeo da

Poliacutetica nos diversos locais

Que tipo de incentivo o Ministeacuterio pretende dar para Estados e Municiacutepios que

implementarem uma Poliacutetica direcionada agraves doenccedilas raras Tem dinheiro novo Estaacute sendo

discutido financiamento

(Mardones ndash Belford Roxo ndash RJ)

Joseacute Eduardo Fogolin - As poliacuteticas puacuteblicas instituiacutedas pelo Ministeacuterio da Sauacutede contam com

estrutura e financiamento Este Ministeacuterio alocaraacute recursos adicionais para as accedilotildees da Poliacutetica

Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras de acordo com a Portaria a ser

publicada do mesmo modo que ocorre com suas demais poliacuteticas de sauacutede

Vale ressaltar que o Ministeacuterio da Sauacutede jaacute repassa recursos relativos ao cuidado das

pessoas com doenccedilas raras pois hoje elas satildeo atendidas pela rede de sauacutede bem como novos

recursos alocados pela implementaccedilatildeo da Rede de Atenccedilatildeo agrave Pessoa com Deficiecircncia e Rede

Cegonha Toda articulaccedilatildeo e pactuaccedilatildeo acontece em seus respectivos colegiados intergestores

regional e bipartite

Dr Fogolin dentro da Poliacutetica de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede existe projeto de levantar o nuacutemero de

doentes ou famiacutelias portadoras de CADA doenccedila rara Sou da UPADHABH e natildeo temos a

menor ideia de quantas famiacutelias portadoras existem no Brasil portadoras de Huntington

(mirandaediliayahoocom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Como natildeo seria possiacutevel organizar as diretrizes abordando as doenccedilas

raras de forma individual devido ao grande nuacutemero de doenccedilas a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras estaacute sendo organizada na forma de eixos estruturantes

157

que permitem classificar as doenccedilas raras de acordo com suas caracteriacutesticas comuns com a

finalidade de maximizar os benefiacutecios aos usuaacuterios

O Ministeacuterio da Sauacutede sabe da importacircncia de se conhecer a incidecircncia e a prevalecircncia das

doenccedilas especialmente as raras que natildeo possuem esse tipo de dados na literatura cientiacutefica No

entanto um desafio encontrado eacute o fato de vaacuterias das doenccedilas raras natildeo possuiacuterem coacutedigo

especiacutefico na Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas (CID-10) sendo informadas sob coacutedigos

gerais Eacute esse sistema de classificaccedilatildeo que eacute informado pelo profissional de sauacutede que atende

o paciente que permite que o Ministeacuterio da Sauacutede conheccedila o nuacutemero de pacientes com

determinada doenccedila atendidos na rede do SUS

Aleacutem disso eacute necessaacuterio observar a Lei nordm 8080 de 19 de setembro de 1990 Lei Orgacircnica

da Sauacutede no que diz respeito agrave informaccedilatildeo sobre a sauacutede dos pacientes O Art 7ordm V estabelece

que accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede e os serviccedilos privados contratados ou conveniados que

integram o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) deveratildeo obedecer ao princiacutepio do direito agrave

informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutede Isso garante que o paciente tenha acesso a

informaccedilotildees sobre sua sauacutede e que elas natildeo sejam divulgadas a terceiros a natildeo ser com

autorizaccedilatildeo do paciente

Quais os locais de tratamento em Brasiacutelia para as pessoas com doenccedilas raras

Thamyres Ferreira ( Teacutecnica em Enfermagem)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem de

27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Cumpre informar que com a publicaccedilatildeo da Portaria da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras o gestor de sauacutede do Distrito Federal teraacute autonomia

para solicitar a habilitaccedilatildeo no termos da referida Portaria dos serviccedilos mencionados e de

158

demais serviccedilos que julgar necessaacuterios para o atendimento agrave sauacutede das pessoas com doenccedilas

raras

Tenho dois filhos com distrofia muscular (distrofia muscular de Steinert) Nos sentimos um

pouco sem apoio pois sabemos que a siacutendrome por enquanto natildeo tem cura mas devem ser

tratadas as doenccedilas que satildeo desencadeadas em funccedilatildeo da siacutendrome Soacute que quando

procuramos o especialista ele fica meio perdido Aqui em Brasiacutelia eu encontro pelo hospital

puacuteblico profissionais (neurologista ortopedistas otorrino gastroenterologista) que

entendam como um todo e que podemos tambeacutem ter acesso

Nadir

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem

de 27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de Contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Como paciente sinto falta de um olhar mais cuidadoso Muitos profissionais ficam focados

no tratamento com remeacutedios Quais seriam os objetivos relacionados ao olhar humanizado

dos envolvidos Isso deveria ser parte do perfil da formaccedilatildeo dos estudantes

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Com certeza a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em sauacutede deve fazer parte da

formaccedilatildeo dos profissionais desde a universidade No que diz respeito aos profissionais do SUS

as poliacuteticas relativas agrave formaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional e agrave educaccedilatildeo permanente dos

trabalhadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) eacute responsabilidade do Departamento de Gestatildeo

da Educaccedilatildeo na Sauacutede (DegesSGTES) que tem atuado em parceria com estados municiacutepios e

159

instituiccedilotildees formadoras no desenvolvimento de processos de formaccedilatildeo e de uma poliacutetica

nacional de educaccedilatildeo permanente

No que diz respeito agrave humanizaccedilatildeo do cuidado a Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (PNH)

do Ministeacuterio da Sauacutede busca colocar em praacutetica os princiacutepios do SUS no cotidiano dos serviccedilos

de sauacutede produzindo mudanccedilas nos modos de gerir e cuidar

Formaccedilatildeo eacute intervenccedilatildeo e intervenccedilatildeo eacute mudanccedila Atraveacutes de cursos e oficinas de

formaccedilatildeointervenccedilatildeo e a partir da discussatildeo dos processos de trabalho as diretrizes e

dispositivos da Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo satildeo vivenciados e reinventados no cotidiano

dos serviccedilos de sauacutede Em todo o Brasil os trabalhadores satildeo formados teacutecnica e politicamente

e reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH pois satildeo os construtores de novas

realidades em sauacutede e poderatildeo se tornar os futuros formadores da PNH em suas localidades A

PNH investe em diversos materiais de formaccedilatildeo como cartilhas documento base e outras

publicaccedilotildees4

No que se refere especificamente agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS as diretrizes e normas de habilitaccedilatildeo de serviccedilos e centros estatildeo sendo pensados

na perspectiva de garantir o acolhimento cuidado humanizado e acesso agrave informaccedilatildeo aos

usuaacuterios e seus familiares por meio da garantia de equipes multidisciplinares e formaccedilatildeo dos

profissionais

Quais as medidas que o Ministeacuterio da Sauacutede pode tomar quanto a Profissionais que preacute-

determinam o diagnoacutestico sem exames e condicionam o paciente a morte e tentam convencer

a famiacutelia dessa verdadeQuando se recorre ao Ministeacuterio da Sauacutede para intervir junto ao

SUS em casos urgentes o Ministeacuterio daacute um retorno soacute alguns meses depois Que chances

um paciente com doenccedilas raras tem quando os profissionais mesmo apoacutes o diagnoacutestico nada

fazem para ter um miacutenimo de conhecimento sobre a doenccedila para natildeo incorrer em erros

baacutesicos

Marla (Tia de paciente com acidemia glutaacuterica II)

Joseacute Eduardo Fogolin - O SUS tem alguns mecanismos de controle social e canais de denuacutencia

dos quais os usuaacuterios podem se utilizar tais como os Conselhos Municipais e Estaduais de

Sauacutede e as Ouvidorias Aleacutem disso o SUS eacute um sistema descentralizado composto pelos trecircs

niacuteveis de gestatildeo municipal estadual e federal Nesse sentido os usuaacuterios devem recorrer agraves

Secretarias Municipais de Sauacutede para efetivar suas reclamaccedilotildees denuacutencias sugestotildees e

contribuiccedilotildees A busca pelas Secretarias Municipais por estes gestores estarem mais proacuteximos

dos usuaacuterios e conhecerem a realidade local facilita e agiliza a resoluccedilatildeo dos problemas locais

Acredita-se que a melhor forma de fazer isso de forma organizada e efetiva eacute por meio da

participaccedilatildeo dos usuaacuterios e seus familiares nas instacircncias de controle social tais como os

Conselhos de Sauacutede seja diretamente ou por meio de suas associaccedilotildees

Quanto agrave postura dos profissionais acredita-se que com a implantaccedilatildeo da Poliacutetica de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras haveraacute uma melhoria no atendimento

proporcionada pela organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e inclusatildeo de aspectos tais como possibilidade da

realizaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos tratamentos protocolados melhor articulaccedilatildeo da rede

disponibilizaccedilatildeo de materiais informativos e formativos e outras modalidades de formaccedilatildeo dos

profissionais

4 Publicaccedilotildees disponiacuteveis em httpbvsmssaudegovbrbvshumanizacaopub_destaquesphp

160

Em se tratando de inserccedilatildeo de tecnologias no SUS qual a previsatildeo de inserccedilatildeo do Cough

Assist na Portaria MS 1370 (Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria a Pacientes com Doenccedilas

Neuromusculares)

Maria Clara (Associaccedilatildeo Carioca de Distrofia Muscular clarinhampbacadimcombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Portaria GMMS nordm 1370 de 3 de julho de 2008 que institui o

Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria Natildeo Invasiva aos Portadores de Doenccedilas

Neuromusculares foi regulamentada pela Portaria SAS nordm 370 de 4 de julho de 2008 Esta

uacuteltima estabelece o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no Programa e as indicaccedilotildees

cliacutenicas para a utilizaccedilatildeo de ventilaccedilatildeo natildeo invasiva em pacientes portadores de doenccedilas

neuromusculares Atualmente o Cough Assist natildeo estaacute incluiacutedo nos procedimentos da Portaria

370 essa incorporaccedilatildeo ainda estaacute sendo analisada internamente

Como ficaratildeo os pacientes com doenccedilas raras dependentes de ventilaccedilatildeo mecacircnica e

assistecircncia domiciliar

Faacutetima Braga (Presidente da Abrame fatima-abramehotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Atualmente esses pacientes satildeo amparados pelas seguintes Portarias

Portaria GMMS nordm 13702008 (institui o programa de assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos

portadores de doenccedilas neuromusculares) Portaria SASMS nordm 3702008 (estabelece na forma

do anexo i desta portaria o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no programa de

assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos portadores de doenccedilas neuromusculares) e Portaria

GMMS nordm 9632013 (Redefine a Atenccedilatildeo Domiciliar no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede)

No entanto o Ministeacuterio da Sauacutede por meio da articulaccedilatildeo entre a Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia

e Alta Complexidade Coordenaccedilatildeo-Geral de Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia e Coordenaccedilatildeo-

Geral de Atenccedilatildeo Domiciliar estaacute revendo as portarias relativas agrave assistecircncia ventilatoacuteria

Qual a dificuldade de se criar uma Secretaria de Doenccedilas Raras dentro do Ministeacuterio da

Sauacutede onde se poderia centralizar as demandas

Tacircnia (matildee de paciente)

Joseacute Eduardo Fogolin - A criaccedilatildeo de uma Secretaria de Doenccedilas Raras na estrutura do

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo garante a efetiva implementaccedilatildeo da Poliacutetica nos municiacutepios O que se

busca eacute a inclusatildeo da atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras na rede de sauacutede tanto para

atendimento baacutesico quanto especializado Para isso eacute fundamental a articulaccedilatildeo de todas as

aacutereas e natildeo a fragmentaccedilatildeo O SUS deve estar preparado para atender a todos os usuaacuterios

independente de sua necessidade de sauacutede A criaccedilatildeo de unidades especiacuteficas e isoladas seria

um retrocesso pois natildeo se pretende implantar unidades ou instituiccedilotildees totais mas sim garantir

o direito dos usuaacuterios com doenccedilas raras de serem integrados na rede e ter suas necessidades

de sauacutede atendidas Desta forma a loacutegica de articulaccedilatildeo em rede deve ser pensada desde a

estrutura interna no Ministeacuterio da Sauacutede ateacute os serviccedilos que compotildee a rede de sauacutede nos

municiacutepios como forma de otimizar os atendimentos e garantir o direito dos usuaacuterios

Considerando que 75 das doenccedilas raras se manifestam em crianccedilas e satildeo incapacitantes

o que o senhor acha da existecircncia de uma empresa de assistecircncia especializada em pediatria

Ana Beatriz (Fisioterapeuta da Prime Home)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS

estaacute sendo construiacuteda com a participaccedilatildeo da sociedade por meio das contribuiccedilotildees agrave Consulta

Puacuteblica e com participaccedilatildeo de especialistas usuaacuterios e seus familiares por meio de suas

161

associaccedilotildees As diretrizes da referida poliacutetica incluem o acolhimento e cuidado que deve ser

disponibilizado desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave especializada Na atenccedilatildeo especializada seratildeo

propostos Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como

componentes estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer

assistecircncia especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e

Centros seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos

com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto natildeo se inclui na Poliacutetica a contrataccedilatildeo de empresas de assistecircncia especializada

em pediatria uma vez que a atenccedilatildeo nessa aacuterea deveraacute estar incluiacuteda na rede e serviccedilos

propostos

Eu tenho curiosidade sobre o teste do pezinho Ateacute que ponto ele pode ajudar no diagnoacutestico

de doenccedilas raras Quais as doenccedilas raras podem ser detectadas

Edna Santana Santos (edsantanasantoshotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O teste do pezinho obrigatoacuterio no paiacutes eacute apenas a primeira etapa de

qualquer programa de triagem neonatal Eacute uma accedilatildeo preventiva que permite fazer o diagnoacutestico

de doenccedilas a tempo de se interferir na evoluccedilatildeo delas por meio do tratamento precoce

especiacutefico permitindo a diminuiccedilatildeo ou a eliminaccedilatildeo das sequelas a elas associadas

O teste implica na coleta de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebecirc na idade ideal

do 3ordm ao 5ordm dia de vida e possibilita o diagnoacutestico de certas doenccedilas geneacuteticas endocrinoloacutegicas

e doenccedilas metaboacutelicas que natildeo apresentam evidecircncias cliacutenicas ao nascimento Pode ser feito

em hospitais maternidades ou nos postos de sauacutede

O Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministeacuterio da Sauacutede tem a missatildeo de

promover implantar e implementar a poliacutetica de triagem neonatal para doenccedilas geneacuteticas

metaboacutelicas e congecircnitas no acircmbito do SUS visando o acesso universal integral e equacircnime

com foco na prevenccedilatildeo na intervenccedilatildeo precoce e no acompanhamento permanente das pessoas

com as doenccedilas incluiacutedas no Programa Nacional de Triagem Neonatal

As doenccedilas detectadas pelo teste do pezinho realizado na rede puacuteblica satildeo

Fenilcetonuacuteria Doenccedila geneacutetica que envolve falha no metabolismo das proteiacutenas ingeridas

Se natildeo tratada leva a lesotildees graves e irreversiacuteveis no sistema nervoso central (inclusive a

deficiecircncia intelectual) e o seu tratamento precoce pode prevenir estas sequelas

Hipotireoidismo Congecircnito Eacute um distuacuterbio causado pela produccedilatildeo deficiente de hormocircnios

da tireoacuteide que pode provocar lesatildeo grave e irreversiacutevel levando agrave deficiecircncia intelectual Se

instituiacutedo bem cedo o tratamento eacute eficaz e pode evitar estas sequelas

Hemoglobinopatias A doenccedila falciforme eacute a principal delas provocada por uma alteraccedilatildeo

na hemoglobina As complicaccedilotildees cliacutenicas satildeo tratadas com medidas profilaacuteticas antibioacuteticos

aacutecido foacutelico analgeacutesicos oxigenaccedilatildeo hipertransfusatildeo e uso de hidroxiureia

Fibrose Ciacutestica Eacute uma doenccedila geneacutetica tambeacutem conhecida como mucoviscidose cuja

alteraccedilatildeo leva a uma insuficiecircncia pancreaacutetica e faz com que se produza um muco espesso nos

brocircnquios e nos pulmotildees facilitando infecccedilotildees de repeticcedilatildeo e causando problemas respiratoacuterios

e digestivos entre outros

Deficiecircncia de Biotinidase doenccedila geneacutetica que consiste na deficiecircncia da enzima

biotinidase envolvida no metabolismo da vitamina B6 (biotina) Provoca nos quadros mais

graves convulsotildees retardo mental e lesotildees de pele O diagnoacutestico eacute difiacutecil a partir de sinais

cliacutenicos que satildeo poucos caracteriacutesticos

Hiperplasia Adrenal Congecircnita engloba um grupo de siacutendromes caracterizadas por defeitos

hereditaacuterios em diferentes passos enzimaacuteticos na biossiacutentese do cortisol Em meninas essas

162

alteraccedilotildees podem levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos ndash como pelos e

aumento do clitoacuteris ndash e em ambos os sexos pode levar a uma perda acentuada de sal e ao oacutebito

Qual o caminho mais adequado que uma associaccedilatildeo pode ou deve percorrer em procura de

ajuda para suspender uma portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que retira a distribuiccedilatildeo de uma

medicaccedilatildeo fundamental para pacientes com Deficiecircncia de BH4

Graccedila Afonso ( Safe Brasil)

Joseacute Eduardo Fogolin - Caso a autora da pergunta esteja se referindo agrave Portaria nordm 38 de 6 de

agosto de 2013 que torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no

tratamento da hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS

esclarece-se que

A CONITEC em sua 14ordf reuniatildeo ordinaacuteria realizada no dia 4 de abril de 2013 recomendou

a natildeo incorporaccedilatildeo no SUS da sapropterina para o tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA)

com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4) A Comissatildeo considerou que os estudos a

maioria de baixa qualidade metodoloacutegica natildeo conseguiram comprovar a superioridade do

tratamento principalmente no que diz respeito agrave ausecircncia de dados especiacuteficos para o subgrupo

com deficiecircncia de BH4 Assim os membros da CONITEC presentes na 15ordf reuniatildeo do plenaacuterio

do dia 09052013 deliberaram por unanimidade natildeo recomendar a sapropterina para o

tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA) com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4)5

Tendo em vista o Relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da CONITEC foi publicada a portaria

conforme coacutepia abaixo

PORTARIA Nordm 38 DE 6 DE AGOSTO DE 2013

Torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

O SECRETAacuteRIO DE CIEcircNCIA TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATEacuteGICOS DO

MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE no uso de suas atribuiccedilotildees legais e com base nos termos dos art 20

e art 23 do Decreto 7646 de 21 de dezembro de 2011 resolve

Art 1ordm Fica natildeo incorporado o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no acircmbito no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)

Art 2ordm O relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de

Tecnologias no SUS (CONITEC) sobre essa tecnologia estaraacute disponiacutevel no endereccedilo

eletrocircnico httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfm id_ area=1611

Art 3ordm A mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela CONITEC caso

sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise efetuada

Art 4ordm Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA

Conforme a Portaria a mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela

CONITEC caso sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise

efetuada Desta forma uma associaccedilatildeo pode realizar essa solicitaccedilatildeo apresentando esses fatos

5 O Relatoacuterio da CONITEC estaacute disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfRelatorio_Sapropterina_FINALpdf

163

O Senhor falou das grandiosas perspectivas em relaccedilatildeo agrave atenccedilatildeo baacutesica e especializada no

SUS para pessoas com doenccedilas raras Atualmente constata-se um verdadeiro sucateamento

do SUS com falta de equipamentos baacutesicos para diagnoacutestico materiais e profissionais Quais

as providecircncias que estatildeo sendo tomadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede na praacutetica e a curto prazo

para mudar essa realidade

Riane Nataacutelia (Professora e fisioterapeuta Coordenadora das Aacutereas cliacutenicas da APAED -

Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais e Deficientes rianenataacuteliagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Em relaccedilatildeo agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras tema da palestra proferida em 26 de abril de 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu um

Grupo de Trabalho organizado pelo Departamento de Atenccedilatildeo EspecializadaCoordenaccedilatildeo de

Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC) contando com a participaccedilatildeo de representantes de

SociedadesEspecialistas e Associaccedilotildees de Apoio agraves Pessoas com Doenccedilas Raras (entre elas a

AMAVI) para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no acircmbito do SUS

A partir das discussotildees do Grupo de Trabalho (GT) o Ministeacuterio da Sauacutede colocou em

Consulta Puacuteblica ndeg 07 de 10 de abril de 2013 os seguintes documentos ldquoNormas para

Habilitaccedilatildeo de Serviccedilos de atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

no Sistema Uacutenico de Sauacutederdquo e ldquoDiretrizes para Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUSrdquo A consulta puacuteblica ficou disponiacutevel para o envio

de contribuiccedilotildees aos textos citados ateacute ao dia 9 de junho de 2013

As contribuiccedilotildees advindas da Consulta Puacuteblica foram consolidadas e o documento foi

discutido em reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado (GTA) da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras realizada no dia 23 de outubro de 2013 Sendo assim

as contribuiccedilotildees do GTA seratildeo avaliadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede e o documento final seraacute

levado para discussatildeo e posterior pactuaccedilatildeo na Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em

novembro

Essa Poliacutetica pretende compatibilizar o cuidado integral (promoccedilatildeo prevenccedilatildeo tratamento

e reabilitaccedilatildeo) em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional e atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede As doenccedilas raras

seratildeo classificadas em sua natureza como de origem geneacutetica e de origem natildeo geneacutetica Desta

forma foram elencados quatro eixos de DR sendo os trecircs primeiros compostos por DR de

origem geneacutetica e o uacuteltimo formado por DR de origem natildeo geneacutetica

I- Anomalias Congecircnitas

II- Deficiecircncia Intelectual

III- Doenccedilas Metaboacutelicas

IV- Doenccedilas Raras de Natureza natildeo Geneacutetica

a) Infecciosas

b) Inflamatoacuterias

c) Autoimunes

Na atenccedilatildeo especializada os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e os Centros de Referecircncia

em Doenccedilas Raras ofereceratildeo atenccedilatildeo diagnoacutestica e terapecircutica especiacutefica para uma ou mais

doenccedilas raras em caraacuteter multidisciplinar de acordo com os eixos assistenciais acima

especificados

Para o diagnoacutestico das doenccedilas raras no acircmbito dessa Poliacutetica seraacute necessaacuteria incorporaccedilatildeo

de novos procedimentos no SUS A proposta eacute a criaccedilatildeo de trecircs procedimentos principais com

finalidade diagnoacutestica de acordo com os eixos estruturantes e um procedimento relativo ao

aconselhamento geneacutetico Para cada procedimento principal com finalidade diagnoacutestica seraacute

permitida a execuccedilatildeo de um rol de exames (procedimentos secundaacuterios)Os procedimentos

164

orientaratildeo os Gestores do SUS quanto ao encaminhamento dos pacientes para os Centros de

Referecircncias ou Serviccedilo Especializado no SUS estabelecendo os criteacuterios diagnoacutesticos miacutenimos

para o encaminhamento

A inclusatildeo dos referidos exames dependem do parecer da CONITEC previsto para

novembro de 2013

Atualmente o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) jaacute disponibiliza tratamentos protocolados

(Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas - PCDT) para as seguintes doenccedilas rarasgeneacuteticas

Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e Polimiosite

Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido Distonias

Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de Parkinson

Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral Amiotroacutefica

Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal Congecircnita

Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

Consideraccedilatildeo Foi mencionada a humanizaccedilatildeo de todos os profissionais mas haacute tambeacutem

uma intenccedilatildeo em encorajar tratamentos como por exemplo hidroterapias que natildeo satildeo

oferecidas Sabemos que os pacientes apresentam melhora ateacute mesmo socialmente mas

sinto uma certa negligecircncia O que pode mudar com a atuaccedilatildeo das Associaccedilotildees

Joseacute Eduardo Fogolin - Eacute preciso lembrar que as doenccedilas raras com tratamento baseado em

drogas representam apenas uma pequena fraccedilatildeo das doenccedilas raras de modo que uma assistecircncia

puramente farmacecircutica beneficiaria um nuacutemero limitado de pessoas com esse tipo de doenccedila

Natildeo soacute os tratamentos medicamentosos satildeo importantes para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras mas tambeacutem os tratamentos psicoloacutegicos fonoaudioloacutegicos fisioteraacutepicos entre

outros

Um dos objetivos da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

eacute estabelecer um cuidado integral com accedilotildees de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo diagnoacutestico tratamento

e reabilitaccedilatildeo em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede relacionados a

doenccedilas raras Isso deveraacute ser oferecido pela rede de assistecircncia do SUS incluindo os Serviccedilos

Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

As associaccedilotildees podem participar ativamente do controle social nos municiacutepios por meio do

diaacutelogo com os gestores locais e participaccedilatildeo em conselhos de sauacutede Essa participaccedilatildeo de

forma organizada eacute fundamental para aprimorar e garantir a implementaccedilatildeo contiacutenua da

poliacutetica

A Cescontexto eacute uma publicaccedilatildeo online de resultados de

investigaccedilatildeo e de eventos cientiacuteficos realizados pelo Centro de

Estudos Sociais (CES) ou em que o CES foi parceiro A

Cescontexto tem duas linhas de ediccedilatildeo com orientaccedilotildees

distintas a linha ldquoEstudosrdquo que se destina agrave publicaccedilatildeo de

relatoacuterios de investigaccedilatildeo e a linha ldquoDebatesrdquo orientada para a

memoacuteria escrita de eventos

Page 4: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia

3

Comissatildeo Organizadora

Anderson Bertoluzzi

Lauda Santos

Mariana Silva

Mateus Silva

Natan Monsores

Rogeacuterio Lima Barbosa (Coord Geral)

Sandra Motta

Siacutelvia Portugal

Moderadorases

Cristina Cagliari

Martha Carvalho

Natan Monsores

Sandra Motta

Palestrantes

Adriana Ueda

Ana Maria Martins

Ieda Bussmann

Joseacute Eduardo Fogolin

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

Marcelo Neves

Marcos Burle Aguiar

Mara Gabrilli

Maacutercia Ribeiro

Maria Helena Dourado

Maria Joseacute Delgado

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Maacuterio Saporta

Muna Odeh

Natan Monsores

Segolene Aymeacute

Siacutelvia Portugal

Tacircnia Almeida

Viacuterginia Llera

Yan Lee Cam

4

Iacutendice

Rogeacuterio Silva Barbosa e Siacutelvia Portugal

Introduccedilatildeo 7

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

Paulo Henrique Martins

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o cuidado como mediaccedilatildeo 10

Rogeacuterio Lima Barbosa

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de Pacientes Grupos

Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se estaacute falando 20

Siacutelvia Portugal e Joana Alves

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais 34

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

Ana Maria Martins

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a familiares e pacientes com

doenccedilas raras 42

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas raras 45

5

Maacutercia Gonccedilalves Rodrigues

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede 50

Maria Helena de Magalhatildees Dourado

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila Rara 55

Maria Joseacute Delgado Fagundes e Marcela Simotildees

Para um pacto social no capo das Doenccedilas Raras Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis 58

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

Atendimento a Doenccedilas Raras no Distrito Federal 67

Maacuterio Andreacute C Saporta

Pesquisa em Doenccedilas Raras Desafios e Perspectivas 72

Tacircnia Maria Francisca Almeida

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras 75

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR

Rogeacuterio Lima Barbosa Sadi Del Roso Maria Joseacute Delgado Leonardo Batista

Marisa Carvalho Joseacute Eduardo Fogolin e Siacutelvia Portugal

Mesa de abertura 81

Joseacute Eduardo Fogolin Maria Joseacute Delgado Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues e

Natan Monsores

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras 89

Yan Lee Kam Virgiacutenia Llera e Segolene Aymeacute

2ordf Mesa O que acontece no mundo 105

6

Marcelo Neves Muna Odeh e Tacircnia Almeida

3ordm Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as tecnologias sociais 112

Maacutercia Ribeiro Mara Gabrilli Ieda Bussman e Maacuterio Saporta

4ordm Mesa Pesquisas no SUS 119

Marcos Burle Aguiar e Maria Teresinha de Oliveira Cardoso

5ordm Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras 131

Ana Maria Martins Adriana Ueda Siacutelvia Portugal e Maria Helena Dourado

6ordm Mesa A rede de apoio ao paciente 137

Perguntas e respostas

Pergunta para a representante da Interfarma 148

Perguntas para asos representantes de pacientes 149

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede 150

7

Introduccedilatildeo

O I Congresso Iberoamericano de Doenccedilas Raras ndash I CIADR ndash aconteceu no Brasil no dia 25

de setembro de 2013 em Brasiacutelia O Congresso foi realizado no acircmbito das actividades da

AMAVI ndash Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria Brasil com o apoio do Centro de Estudos Sociais da

Universidade de Coimbra Portugal Sob o tema Um Olhar Social para o Paciente contou com

a participaccedilatildeo de representantes de grandes associaccedilotildees da Europa como a EURORDIS e

EUCERD cientistas dirigentes do poder executivo legislativo representantes das associaccedilotildees

civis e da induacutestria farmacecircutica familiares e pacientes com doenccedilas raras O puacuteblico presente

ultrapassou as 700 pessoas Assim o I CIADR constituiu um marco no campo das Doenccedilas

Raras pelo nuacutemero de pessoas presentes pela sua diversidade mas tambeacutem pela originalidade

no modelo organizativo Registos e fontes diversas mostram que no Brasil os eventos

promovidos neste domiacutenio tinham tido ateacute ao momento tendecircncia para sofrer uma forte

interferecircncia de associaccedilotildees estrangeiras da induacutestria farmacecircutica ou do poder legislativo O

I CIADR foi o primeiro evento intercontinental no Brasil organizado por uma Associaccedilatildeo

brasileira e apartidaacuteria

O I CIADR pretendeu marcar a diferenccedila de dois modos no tipo de participantes e na

abordagem da temaacutetica No primeiro ao conseguir reunir agentes do governo mercado

academia e sociedade civil e sobretudo ao conseguir o apoio de dois atores que possuem

interesses antagoacutenicos no campo das Doenccedilas Raras ndash a Induacutestria Farmacecircutica e o Estado

atraveacutes da participaccedilatildeo do Ministeacuterio da Sauacutede Na abordagem do tema ao tentar ultrapassar o

tradicional centramento no tratamento cliacutenico e sobretudo medicamentoso O projeto do I

CIADR centra-se na necessidade de criar modelos de cuidado no Sistema de Sauacutede nos quais

o medicamento seja apenas uma via entre outras necessaacuterias para a garantia da qualidade de

vida A proposta eacute que antes do remeacutedio seja a pessoa o centro de todas as atenccedilotildees e

discussotildees sobre as doenccedilas raras

Com este propoacutesito o programa do I CIADR baseou-se em duas linhas de accedilatildeo que marcam

a sua diferenccedila relativamente a outros eventos Em primeiro lugar a procura de um olhar social

e o afastamento de uma perspetiva simbioacutetica entre Doenccedilas Daras e medicamentos oacuterfatildeos que

tem alimentado as atividades de advocacy neste domiacutenio e feito disparar os lucros com a venda

de medicamentos sabendo-se hoje que o aumento anual das receitas com os medicamentos

oacuterfatildeos seraacute ateacute 2020 igual ou maior do que o das provenientes dos medicamentos ldquonatildeo oacuterfatildeosrdquo

Em segundo lugar decorrente da primeira opccedilatildeo enfatizar a necessidade de construir uma

abordagem multidisciplinar do cuidado das Doenccedilas Raras Assim 75 dos palestrantes

posicionavam-se fora da aacuterea meacutedica abrangendo aacutereas diversas como o direito a sociologia

a sauacutede coletiva a biologia o poder legislativo o poder executivo e os movimentos sociais

Com base nesta estrutura o Congresso pretendeu sinalizar que a temaacutetica das Doenccedilas Raras eacute

complexa e natildeo deve manter-se confinada ao diaacutelogo pontual entre alguns atores devendo pelo

contraacuterio ser alvo de debate puacuteblico orientado para o seu enfrentamento numa perspetiva

ampla direcionada para o bem-estar doa paciente

Embora assente nas linhas estruturais traccediladas acima e tendo sido organizado por uma

Associaccedilatildeo o I CIADR procurou reconhecer o papel central que as associaccedilotildees civis

desempenham no atendimento ao paciente com Doenccedilas Daras Desta maneira aleacutem de todos

os debates serem moderados por pessoas ligadas a associaccedilotildees em cada uma das mesas houve

sempre um dirigente associativo A experiecircncia revelou-se rica tanto na troca de informaccedilotildees

como na demonstraccedilatildeo do papel ativo que as associaccedilotildees desempenham

Esta publicaccedilatildeo pretende documentar as propostas acima enunciadas e dar eco agraves vozes

ouvidas no Congresso Todas as pessoas que realizaram uma comunicaccedilatildeo foram convidadas a

escrever um artigo para publicaccedilatildeo neste volume Lidaacutemos tanto com a familiaridade

8

daquelesas para quem a escrita e a publicaccedilatildeo faz parte do trabalho diaacuterio como com a

ansiedade daquelesas que estranharam a proposta O convite foi uma maneira de agradecer o

esforccedilo que as pessoam realizam no seu dia-a-dia para natildeo somente encontrarem forccedilas para

cuidar dos seus ou de si proacuteprios como tambeacutem para ajudar o proacuteximo e defender uma causa

socialmente invisiacutevel Alguns natildeo conseguiram responder ao desafio Natildeo quisemos no

entanto que as suas vozes fossem excluiacutedas Ouvir foi o verbo mais adequado para ilustrar o

que se passou no dia 25 de setembro de 2013 nos trabalhos do I CIADR e tentamos que esta

publicaccedilatildeo traduza esse ambiente vivido Para tanto as comunicaccedilotildees aqui apresentadas

preservam o tom coloquial que permeou todo o congresso

Assim este nuacutemero da Cescontexto organiza-se em quatro partes distintas Na primeira ndash

Um olhar social sobre as doenccedilas raras contributos para a construccedilatildeo de uma agenda ndash

constam trecircs artigos da autoria dos organizadores do Congresso (de Rogeacuterio Lima Barbosa e

de Siacutelvia Portugal em co-autoria com Joana Alves) e de Paulo Henrique Martins Os trecircs textos

pretendem responder aos reptos principais do I CIADR desenvolvendo abordagens que

(re)significam os conceitos de sauacutede doenccedila cuidado e associativismo

Na segunda parte ndash Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras textos dosas

palestrantes do I CIADR ndash encontram-se todos os textos que recebemos das pessoas que

realizaram comunicaccedilotildees no Congresso O conjunto estaacute longe de seguir as caracteriacutesticas

usuais de uma publicaccedilatildeo acadeacutemica e revela a diversidade dosas palestrantes e da sua ligaccedilatildeo

com o campo das doenccedilas raras Destes textos emerge um conjunto de saberes de praacuteticas e de

representaccedilotildees que mostra a complexidade do campo e dos atores que o experienciam Ao

lermos os textos vemos como muitas vezes os papeacuteis se sobrepotildeem doente meacutedicoa familiar

investigadora dirigente membro de associaccedilatildeo especialista burocrata poliacuteticoa jurista As

pessoas que se movem no campo das Doenccedilas Raras assumem variados papeacuteis para o cuidar e

mobilizam-se para uma luta aacuterdua que natildeo cabe nas fronteiras tradicionais das definiccedilotildees

meacutedicas e poliacuteticas

A terceira parte desta publicaccedilatildeo daacute conta daquele que eacute o seu propoacutesito fundamental

documentar o debate que ocorreu no I CIADR Assim em Um Olhar Social para o Paciente

de Doenccedilas Raras transcriccedilatildeo das intervenccedilotildees do I CIADR transcrevem-se na iacutentegra as

intervenccedilotildees realizadas durante o Congresso As comunicaccedilotildees foram organizadas em seis

mesas temaacuteticas 1ordf) A construccedilatildeo conjunta no campo das doenccedilas raras 2ordf) O que acontece no

mundo 3ordf) A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e tecnologias sociais 4ordf)

Pesquisas no SUS 5ordf) A realidade brasileira para as doenccedilas raras 6ordf) A rede de apoio ao

paciente As comunicaccedilotildees apresentadas datildeo a conhecer reflexotildees experiecircncias exemplos de

boas praacuteticas instituiccedilotildees associaccedilotildees projectos inovaccedilotildees cliacutenicas e sociais

Finalmente a uacuteltima parte ndash Perguntas e respostas ndash transcreve o debate e tambeacutem

perguntas do puacuteblico que foram depois respondidas pelosas participantes por escrito Dado o

elevado nuacutemero de questotildees dirigidas a algumas das pessoas nomeadamente ao representante

do Ministeacuterio da Sauacutede estas foram recolhidas e posteriormente alvo de resposta pelos

envolvidosas A sua transcriccedilatildeo pretende tambeacutem ser uma forma de divulgar e esclarecer as

muitas duacutevidas e anguacutestias que acometem pacientes familiares e profissionais

Rogeacuterio Lima Barbosa

Siacutelvia Portugal

9

Um olhar social sobre as doenccedilas raras

contributos para a construccedilatildeo de uma agenda

10

Dom do reconhecimento e sauacutede elementos para entender o

cuidado como mediaccedilatildeo

Paulo Henrique Martins1 Universidade Federal de Pernambuco ndash UFPE

paulohenriquemargmailcom

Diz um ditado popular que as mais belas palavras se tornam inoacutecuas quando deixam de se referir

a uma experiecircncia concreta servindo apenas como moldura para ilustraccedilatildeo de velhos modos de

agir e de pensar Neste texto queremos propor desdobrando esta maacutexima que a inovaccedilatildeo dos

processos de gestatildeo puacuteblica na sauacutede na perspectiva participativa e de integralidade

envolvendo simultaneamente profissionais da sauacutede e usuaacuterios natildeo pode ser garantida apenas

com a recriaccedilatildeo de organogramas e com a adoccedilatildeo de um vocabulaacuterio com apelo participativo

Ao contraacuterio como buscaremos demonstrar a inovaccedilatildeo para ser efetiva tem que considerar

necessariamente o usuaacuterio natildeo como mero objeto da intervenccedilatildeo estatal mas como ator

corresponsaacutevel na accedilatildeo em sauacutede Ou seja sem a adoccedilatildeo de um entendimento mais amplo da

sauacutede na praacutetica capaz de superar o vieacutes assistencialista tradicional ou o vieacutes mercantilista as

reformas em sauacutede perdem sua forccedila renovadora

As anaacutelises empiacutericas que tecircm sido realizadas pelos grupos de pesquisadores da Rede

Multicecircntrica voltadas para a apreciaccedilatildeo do papel do usuaacuterio na avaliaccedilatildeo em sauacutede2 revelam

que a mudanccedila paradigmaacutetica na sauacutede implicando a superaccedilatildeo da abordagem assistencialista

e tecnicista por outra voltada para o cuidado e o acolhimento ainda eacute incerta exigindo novos

entendimentos teoacutericos De fato o futuro da descentralizaccedilatildeo na perspectiva de um cuidado

integral eacute tema que precisa ser mais bem discutido pois a desconexatildeo entre a teoria e a praacutetica

gera incertezas que podem comprometer a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede

Entre as hipoacuteteses que explicam essas incertezas nos avanccedilos do movimento sanitarista na

sauacutede gostariacuteamos de lembrar duas entre vaacuterias outras possiacuteveis de serem relacionadas a saber

a ausecircncia de um programa teoacuterico-praacutetico forte que evidencie o cuidado como metaacutefora e como

mediaccedilatildeo na sauacutede e a desconexatildeo entre as atividades de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo

De fato a perspectiva de avanccedilo do cuidado natildeo como retoacuterica mas como metaacutefora

constitutiva de novas linguagens na sauacutede depende da adoccedilatildeo de um programa teoacuterico-praacutetico

forte que permita entender a praacutetica do cuidado como uma simboacutelica relacional que apenas se

configura quando se estabelece a sinergia discursiva entre o gestor o profissional da sauacutede e o

usuaacuterio Para noacutes este programa teoacuterico-praacutetico forte eacute oferecido pelas teorias do dom e do

reconhecimento numa formulaccedilatildeo chamada dom do reconhecimento na sauacutede a qual se apoia

em duas exigecircncias a do dom como alianccedila entre anocircnimos gerando a esfera puacuteblica e a do

reconhecimento como constructo moral que redefine a perspectiva da sauacutede pela inclusatildeo do

diferente e pela promoccedilatildeo da dignidade independentemente das hierarquias de valorizaccedilatildeo

social

No entanto a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas inovadoras efetivas depende do modo como as

atividades de planejamento gestatildeo e avaliaccedilatildeo das accedilotildees satildeo capazes de se apoiar em accedilotildees

integradas de pesquisa formaccedilatildeo e incubaccedilatildeo Isto significa que os avanccedilos dos programas

1 Paulo Henrique Martins eacute Professor Titular de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi Presidente da

Associaccedilatildeo Latino-Americana de Sociologia (ALAS) (2011-2013) eacute Vice-Presidente da Associaccedilatildeo Movimento Anti-

Utilitarista nas Ciecircncias Sociais (MAUSS) e Coordenador do NUCEM (Nuacutecleo de Cidadania e Processos de Mudanccedila) (UFPE) 2 Ver a respeito o livro organizado por Roseni Pinheiro e Paulo Henrique Martins Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do

usuaacuterio abordagem multicecircntrica (Pinheiro e Martins 2009)

11

puacuteblicos nas perspectivas participativa e reflexiva deveriam implicar necessariamente um

diaacutelogo permanente entre a Academia o Serviccedilo Puacuteblico e a Sociedade Civil em torno de

atividades de pesquisa de formaccedilatildeo e de incubaccedilatildeo de experiecircncias sistematizadas No nosso

entender esta segunda hipoacutetese que eacute crucial para o avanccedilo da avaliaccedilatildeo em sauacutede depende

prioritariamente da definiccedilatildeo do programa teoacuterico-praacutetico forte sobre o cuidado como mediaccedilatildeo

da sauacutede pelo dom do reconhecimento como buscaremos desenvolver a seguir

O cuidado como retoacuterica e o cuidado como metaacutefora

Satildeo muitos os sinais que sugerem que a descentralizaccedilatildeo em sauacutede promovida pelo SUS nem

sempre tem significado uma ruptura programaacutetica com a antiga loacutegica hieraacuterquica e funcional

que marca as decisotildees estatais em geral e aquelas no campo da sauacutede em particular Ao

contraacuterio observando-se o funcionamento do sistema de sauacutede percebe-se sem muitas

dificuldades que a inovaccedilatildeo conceitual eacute com frequecircncia esvaziada por uma hierarquia teacutecnica

e vertical de poder [gestor ndash meacutedico(a) ndash enfermeiro(a) ndash agente de sauacutede ndash usuaacuterio(a)] que

esconde mesmo involuntariamente um saber colonizador que inspirou o modelo

hospitalocecircntrico na sauacutede Por outro lado noccedilotildees como a de cuidado satildeo muito importantes

por gerarem um efeito simpaacutetico imediato sobre a opiniatildeo puacuteblica e por constituir em princiacutepio

um dispositivo anticolonial isto eacute que inspira reformas importantes das compreensotildees dos

processos interativos na sauacutede a partir da valorizaccedilatildeo dos saberes e praacuteticas ateacute entatildeo

marginalizadas e desperdiccediladas

No entanto noccedilotildees como esta e outras usadas no discurso da Atenccedilatildeo Primaacuteria ndash como a

de acolhimento por exemplo ndash podem se tornar meras peccedilas de retoacuterica se natildeo forem

acompanhadas de uma mudanccedila efetiva de compreensatildeo do cuidado como metaacutefora como

mediaccedilatildeo de processos simboacutelicos afetivos pedagoacutegicos poliacuteticos e biofiacutesicos na organizaccedilatildeo

da Sauacutede Coletiva Este comentaacuterio nos leva a outro plano o de saber se as reformas

doutrinaacuterias na sauacutede estatildeo sendo acompanhadas de mudanccedilas efetivas de atitudes na gestatildeo

dos programas nas praacuteticas dos profissionais da sauacutede e na participaccedilatildeo dos usuaacuterios As

mudanccedilas na gestatildeo na perspectiva do cuidado estatildeo incluindo o usuaacuterio como ator qualificado

da construccedilatildeo do cuidado Esta eacute uma pergunta crucial por remeter diretamente a um fato

concreto a saber que no modelo tradicional de gestatildeo na sauacutede o usuaacuterio natildeo eacute interlocutor

legiacutetimo na organizaccedilatildeo do atendimento meacutedico mas apenas um objeto de intervenccedilatildeo

De modo geral a praacutetica do cuidado continua largamente dependente da loacutegica hieraacuterquica

herdada da Cliacutenica Meacutedica moderna que divide tarefas a partir de funccedilotildees estritamente teacutecnicas

que refletem diversos niacuteveis de prestiacutegio social e profissional O termo cuidado perde sua forccedila

metafoacuterica e seu potencial de inovaccedilatildeo institucional e poliacutetica quando permanece prisioneiro da

loacutegica funcionalista produtivista e fragmentaacuteria que ainda rege em certos niacuteveis a organizaccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas em sauacutede no Brasil Esvaziado de seu potencial inovador o cuidado natildeo

oferece contribuiccedilatildeo nem para a formaccedilatildeo de uma esfera puacuteblica participativa que reconheccedila a

dignidade dos atores envolvidos nem para gerar justiccedila igualitaacuteria Nessa leitura conservadora

o termo serve para reforccedilar mecanismos hieraacuterquicos e corporativistas que negam o valor do

usuaacuterio como sujeito ativo e reflexivo da praacutetica de sauacutede

Na praacutetica constata-se que o termo cuidado se oferece a diversas interpretaccedilotildees que natildeo

apontam necessariamente para o sentido do termo care sugerido no debate contemporacircneo3

Analisando-se o desenvolvimento programaacutetico do cuidado natildeo eacute faacutecil fazer esta analogia entre

cuidado e care pois a forccedila do poder hieraacuterquico e funcional tradicional termina

3 Para autoras como Tronto (1993) uma das pioneiras nesta discussatildeo este termo deve apontar necessariamente para uma

atividade geneacuterica que compreende tudo que fazemos para reparar nosso mundo com o objetivo de uma vida com mais

possibilidades de auto-realizaccedilatildeo

12

comprometendo os esforccedilos de reorganizaccedilatildeo das praacuteticas locais em sauacutede Em outras palavras

queremos propor que os avanccedilos na Sauacutede Coletiva e na Atenccedilatildeo Primaacuteria ficam relativamente

comprometidos caso as inovaccedilotildees conceituais que acompanham os esforccedilos de passagem de

um paradigma tradicional de caraacuteter meacutedico-assistencialista para outro contemporacircneo de

promoccedilatildeo e de participaccedilatildeo natildeo se realizarem efetivamente como praacutexis produzida por uma

reflexatildeo envolvendo diferentes atores ndash especialistas militantes ativistas mediadores de rede

e usuaacuterios ndash em torno da produccedilatildeo do bem comum Para sair deste dilema e promover mudanccedilas

nas praacuteticas dos profissionais na perspectiva do cuidado como metaacutefora e como mediaccedilatildeo eacute

importante considerar a possibilidade de requalificaccedilatildeo das teacutecnicas e das rotinas de modo a

permitir que o usuaacuterio ganhe visibilidade como ator solidaacuterio e corresponsaacutevel pelo cuidado

Entre os atores do movimento sanitarista haacute a expectativa de que a palavra cuidado apareccedila

como uma metaacutefora estrateacutegica para o delineamento de um novo modo de fazer a sauacutede

confirmando o ideal do SUS Este modo deveria expressar tanto a ampliaccedilatildeo da ideia de

atendimento meacutedico pela incorporaccedilatildeo de fatores como meio ambiente habitaccedilatildeo entre outros

como pela maior aproximaccedilatildeo entre especialista e o usuaacuterio Com a emergecircncia do cuidado

como dispositivo de mediaccedilatildeo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterio na sauacutede natildeo se limitaria

a um mero exerciacutecio prescritivo mas envolveria a participaccedilatildeo solidaacuteria e a responsabilizaccedilatildeo

do usuaacuterio no funcionamento do sistema de sauacutede local Estaacute presente no discurso do cuidado

na sauacutede uma expectativa moral relacionada com a promoccedilatildeo do bem viver refletindo o desejo

da ampliaccedilatildeo conceitual e praacutetica da tradicional relaccedilatildeo ldquomeacutedico x pacienterdquo

Para que a palavra cuidado se revista de sua forccedila metafoacuterica ndash que valoriza os aspectos

simboacutelicos e intersubjetivos ndash e de seu potencial inovador como mediaccedilatildeo ndash que exalta a

integralidade e democratizaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica ndash precisamos todavia de deslocar o olhar sobre

as interaccedilotildees do cotidiano na sauacutede Eacute importante repensar o termo numa perspectiva que

valorize mais as pessoas que os bens que se centre prioritariamente nos valores da confianccedila e

da solidariedade que emanam de uma experiecircncia autorreflexiva e contextualizada como aquela

oferecida pelo dom4 Em particular vamos buscar demonstrar que a possibilidade do cuidado

como praacutexis mediadora e inovadora da accedilatildeo em sauacutede exige que a mesma se apresente como

um sistema particular de dom fundado na corresponsabilidade dos atores envolvidos na criaccedilatildeo

e reproduccedilatildeo de dispositivos de trocas e de reconhecimentos que respeitam a diferenccedila e que

avanccedilam pelas igualdades de direitos de acesso aos direitos da cidadania O dom do

reconhecimento como se discutiraacute a seguir significa a capacidade de perceber o outro como

extensatildeo diferente e igualmente valorizada de si mesmo o que implica accedilotildees sucessivas de

inclusatildeo dignificaccedilatildeo e liberaccedilatildeo desse mesmo outro

Para avanccedilarmos no entendimento do cuidado como mediaccedilatildeo de daacutedivas temos que

aprofundar a discussatildeo das bases da troca solidaacuteria e de suas possibilidades de uso em sistemas

puacuteblicos locais formados pelas interaccedilotildees entre Sociedade Civil e Estado Para essa

demonstraccedilatildeo temos contudo que superar dois problemas um deles eacute o da presenccedila nos

estudos sobre a Sauacutede Coletiva do dualismo metodoloacutegico vivido classicamente pela

sociologia aquele da agecircncia x estrutura que leva necessariamente a se entender a praacutetica

social em geral e aquela do atendimento em sauacutede em particular de modo enviesado e

simplificado Por este vieacutes a praacutetica do atendimento em sauacutede ou eacute vista como resultado dos

esforccedilos e estrateacutegias dos atores em interaccedilatildeo ou eacute vista como produto das regras crenccedilas e

obrigaccedilotildees juriacutedicas e institucionais Para resgatar o cuidado como metaacutefora de mediaccedilatildeo eacute

importante pois superarmos esta limitaccedilatildeo conceitual e entendermos que o cuidado somente

aparece como mediaccedilatildeo da sauacutede quando se assume como dom de reconhecimento como

4 Dom ou daacutediva eacute um sistema de accedilatildeo fundado em prestaccedilotildees ao mesmo tempo livres e obrigatoacuterias que se desenvolvem em

trecircs movimentos o da doaccedilatildeo (de um bem ou serviccedilo material ou simboacutelico) o da recepccedilatildeo e o da retribuiccedilatildeo Marcel Mauss

um dos fundadores da sociologia francesa foi quem primeiramente sistematizou esta teoria (Mauss 2003)

13

veremos a seguir Para isso vamos discutir a importacircncia do dom como programa forte que

ultrapassa os dilemas dualistas entre agecircncia e estrutura e a seguir vamos analisar o dom do

reconhecimento como modelo para o cuidado como praacutexis inovadora

Dom um programa teoacuterico-praacutetico forte para contextualizar a accedilatildeo social

em sauacutede

A daacutediva eacute um sistema teoacuterico e praacutetico original na medida em que a possibilidade de teorizaccedilatildeo

se funda na observaccedilatildeo concreta e imediata das modalidades de relacionamentos e dos fatores

materiais e simboacutelicos objetivos e subjetivos que interferem nos mecanismos de trocas entre

atores individuais e grupais (Cailleacute 2002 Godbout 2007 Martins 2008) A daacutediva renova as

teorias socioloacutegicas ao valorizar a experiecircncia da troca direta entre os indiviacuteduos e grupos

ampliando a significaccedilatildeo do que se troca para o campo do simbolismo por um lado e para a

valorizaccedilatildeo do contexto por outro A daacutediva constitui um programa teoacuterico-praacutetico forte pois

ao se focar diretamente no que circula contribui para a superaccedilatildeo do dilema socioloacutegico acima

lembrado entre agecircncia e estrutura que eacute teoricamente problemaacutetico O dilema dualista

condiciona a anaacutelise da praacutetica social a duas opccedilotildees complicadas uma propotildee que a praacutetica

social eacute produto dos indiviacuteduos interessados a outra que o sistema de obrigaccedilotildees institucionais

eacute que define a praacutetica e que os indiviacuteduos tecircm pouca margem de manobra Ora nem uma nem

outra dessas opccedilotildees permite se entender as exigecircncias teoacutericas do cuidado como mediaccedilatildeo Por

isso a importacircncia da daacutediva como programa forte Ela favorece entender que a qualidade da

troca impacta sobre os lugares e identidades dos indiviacuteduos e grupos de indiviacuteduos em

interaccedilatildeo5

A superaccedilatildeo deste dilema socioloacutegico entre agecircncia e estrutura eacute decisiva no campo das

lutas por reconhecimento na sauacutede para se fazer a criacutetica teoacuterica de dois pressupostos

equivocados Uma delas eacute o de que o saber teacutecnico especializado [meacutedico(a) enfermeiro(a)

agente etc] eacute sempre mais legiacutetimo que o saber comum do usuaacuterio o outro o de que as regras

burocraacuteticas e administrativas satildeo sempre mais eficazes para o bom funcionamento do serviccedilo

puacuteblico em sauacutede que as regras produzidas pelo consenso ou alianccedila gerada pela daacutediva Ora

pelo entendimento do cuidado como estrutura relacional e mediadora estas crenccedilas satildeo revistas

continuamente na proacutepria interaccedilatildeo entre os atores envolvidos permitindo uma transmissatildeo

fluida de informaccedilotildees entre os saberes cientiacuteficos e os saberes praacuteticos equalizando os saberes

na praacutetica No entanto tais saberes hiacutebridos refazem as regras burocraacuteticas para liberar regras

associativas mais flexiacuteveis entre as instituiccedilotildees e indiviacuteduos

A teoria da daacutediva tem grande contribuiccedilatildeo a oferecer agrave renovaccedilatildeo paradigmaacutetica da

Atenccedilatildeo Primaacuteria quando permite entender que o sucesso do cuidado na sauacutede depende

diretamente do modo como o profissional fixa sua atenccedilatildeo no usuaacuterio para inseri-lo num sistema

horizontal de trocas interpessoais aquele do dom ou do sistema tripartite de obrigaccedilotildees

coletivas sistematizado por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre a daacutediva (Mauss 2003) Ao

voltar sua atenccedilatildeo para o usuaacuterio e buscar interagir com o mesmo o profissional imbuiacutedo do

sentido do dom desencadeia um mecanismo de doaccedilotildees (olhar palavra orientaccedilatildeo

medicamento etc) que gera obrigaccedilotildees de solidariedade a todas as partes envolvidas na

5 As abordagens claacutessicas dualistas ndash agecircncia x estrutura ndash valorizam ou o peso da obrigaccedilatildeo estrutural sobre a liberdade

individual ou no lado contraacuterio a liberdade de cada um sobre as injunccedilotildees coletivas Nessas teorias tradicionais dependendo

do enfoque tanto a sociedade aparece como um conjunto de obrigaccedilotildees coletivas como crenccedilas valores e regras (enfatizando

o peso da estrutura) como pode aparecer diferentemente como as capacidades de cada indiviacuteduo de definir racionalmente as

opccedilotildees que mais lhes interessam (enfatizando a importacircncia da liberdade de escolha de cada indiviacuteduo) Por essas interpretaccedilotildees

reducionistas o ser humano se apresenta seja como uma vocaccedilatildeo essencialmente egoiacutesta como propotildee o utilitarismo

mercantilista inglecircs ou no lado contraacuterio como expressatildeo de certa incapacidade de construir utopias libertaacuterias como sugerem

as anaacutelises autoritaacuterias e totalizantes (que podemos propor ser a expressatildeo de certo utilitarismo burocraacutetico)

14

mediaccedilatildeo do cuidar como o demonstrou Lacerda com a sistematizaccedilatildeo do conceito de ldquoredes

de apoio socialrdquo (Lacerda 2010) Na perspectiva da daacutediva o profissional da sauacutede e o usuaacuterio

natildeo satildeo categorias que se excluem No processo de mediaccedilatildeo pelo dom todos os elementos

teacutecnicos afetivos funcionais presentes naquele momento satildeo reconfigurados pela experiecircncia

da troca de bens simboacutelicos e materiais O agente social em cada movimento de realizaccedilatildeo da

accedilatildeo ndash na doaccedilatildeo na recepccedilatildeo ou na retribuiccedilatildeo ndash se defronta com o dilema insoluacutevel de ter

que tomar decisotildees voluntaacuterias ndash ou natildeo ndash dentro de contextos coercitivos que limitam mais ou

menos sua capacidade de agir que eacute ao mesmo tempo livre e obrigatoacuteria

A ecircnfase na praacutetica dos atores revela a complexidade da accedilatildeo social permitindo sair de

modelos abstratos que desconsideram o valor do cotidiano para a organizaccedilatildeo da vida social O

dom do reconhecimento que pretendemos explorar neste texto se realiza mediante a

capacidade do profissional-doador de reconhecer o outro-usuaacuterio para lhe dar visibilidade e

dignidade permitindo que o donataacuterio faccedila por sua vez seu movimento de inclusatildeo e de

reconhecimento No campo da sauacutede propomos que o cuidado apenas aparece como renovaccedilatildeo

paradigmaacutetica e programaacutetica quando ele eacute percebido como uma modalidade de dom a do dom

do reconhecimento Nesta oacutetica o cuidado eacute visto como motivo de reorganizaccedilatildeo dos

significados das trocas e como significante de lugares igualmente reconhecidos como legiacutetimos

por gestores por profissionais da sauacutede e por usuaacuterios

Haacute daacutedivas que podem ser estimuladas para que a accedilatildeo puacuteblica em sauacutede seja organizada

na perspectiva de valorizaccedilatildeo do viacutenculo social ou seja na oacutetica de que o valor social das

pessoas seja considerado como mais importante que os valores dos bens serviccedilos e funccedilotildees

teacutecnicas Optar pelo valor da pessoa significa que a avaliaccedilatildeo da accedilatildeo puacuteblica e no caso a accedilatildeo

puacuteblica em sauacutede seja feita natildeo somente a partir de criteacuterios de produtividade econocircmica

financeira e teacutecnica e de desempenho funcional mas sobretudo a partir de criteacuterios de aumento

das forccedilas morais afetivas e psiacutequicas dos indiviacuteduos e dos grupos de pertencimento tanto no

plano da sociedade civil como naquele da accedilatildeo estatal descentralizada E tambeacutem entre as

instacircncias da Ciecircncia e do Mundo da Vida

Entre as daacutedivas que podem ter papel destacado com esta finalidade de permitir uma

mudanccedila qualitativa da loacutegica da avaliaccedilatildeo e dos sentidos da accedilatildeo puacuteblica apoiada no cuidado

como mediaccedilatildeo podemos enunciar dois tipos a daacutediva da alianccedila e a daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima

A alianccedila eacute para Mauss uma categoria central para a fundaccedilatildeo da vida em sociedade No Ensaio

sobre a daacutediva Mauss revela grande preocupaccedilatildeo em explicar os motivos pelos quais as tribos

passam da paz para a guerra e da guerra para a paz O que interrompe o viacutenculo pergunta ele

E no lado contraacuterio o que permite restaurar o viacutenculo A curiosidade do autor eacute procedente na

medida em que na perspectiva do dom o proacuteprio do ser humano natildeo eacute a tendecircncia ao

isolamento e agrave separaccedilatildeo mas ao acordo em torno da instauraccedilatildeo do fenocircmeno social A

intuiccedilatildeo de Mauss nos parece correta na medida em que diferentemente do que pensam os

liberais o pacto social natildeo eacute produto da soma de interesses individuais mas de uma obrigaccedilatildeo

coletiva livremente consentida Esta ambiguidade moral constitutiva do dom ndash obrigaccedilatildeo e

liberdade ndash explica que o fenocircmeno social se impotildee como um movimento coletivo e que o que

chamamos de indiviacuteduo apenas surge no interior de sociedades que admitem a socializaccedilatildeo

como individuaccedilatildeo

Eacute nesta perspectiva pois que podemos falar da daacutediva da alianccedila ou seja da predisposiccedilatildeo

de indiviacuteduos e grupos a se associarem livre e espontaneamente para fundarem a vida social

mediante o benefiacutecio dos presentes dos serviccedilos e hospitalidades das disposiccedilotildees para acolher

reconhecer e dignificar o outro e ndash por que natildeo ndash a si mesmo como sujeito social (que existe

como indiviacuteduo quando se reconhece no espelho do coletivo humano) A daacutediva visa sempre agrave

alianccedila mas pelo termo daacutediva da alianccedila estamos buscando enfatizar a accedilatildeo intencional com

15

relaccedilatildeo ao outro na perspectiva de valorizaacute-lo6 Este dado eacute fundamental para integrar novos

sentidos do cuidado A cada movimento de liberdade produzido por doaccedilotildees conscientes

outros ambivalentes de obrigaccedilatildeo livre e de interesse de retribuir se estabelecem E por esses

movimentos ambivalentes entre liberdade e obrigaccedilatildeo interesse e desinteresse satildeo seladas as

alianccedilas entre sujeitos transformando os inimigos em amigos os excluiacutedos em incluiacutedos o

ldquooutro em proacuteximordquo Nesta perspectiva eacute possiacutevel chamarmos a daacutediva da alianccedila de daacutediva da

generosidade comunitaacuteria pois a predisposiccedilatildeo para se vincular eacute ela mesma um siacutembolo de

generosidade que faz emergir a experiecircncia do cuidar como uma experiecircncia de totalidade

O outro tipo de daacutediva que consideramos importante para se repensar o cuidado como

mediaccedilatildeo eacute aquele da daacutediva-doaccedilatildeo anocircnima Trata-se de uma modalidade de daacutediva proacutepria

da modernidade revelando a presenccedila de uma figura social inexistente nas sociedades

comunitaacuterias que eacute a do sujeito anocircnimo (Godbout e Cailleacute 1998) O anocircnimo eacute aquele

indiviacuteduo que natildeo se afirma por quaisquer pertencimentos comunitaacuterios particulares que o

distinguem hierarquicamente dos demais mas por uma condiccedilatildeo de invisibilidade social

igualitaacuteria permitida pelo direito reflexivo moderno O anocircnimo apenas surge em sociedades

complexas nas quais o processo de socializaccedilatildeo aparece natildeo somente como processo de coerccedilatildeo

coletiva mas como processo de individualizaccedilatildeo coletiva que eacute revelado pela emergecircncia de

unidades atomizadas e reflexivas que pensam o todo social a partir de experiecircncias singulares

e inovadoras

Pensando no caso da accedilatildeo em sauacutede podemos propor que a esfera puacuteblica em sauacutede resulta

da organizaccedilatildeo de um aparato institucional voltado para inserir o anonimato como condiccedilatildeo das

trocas de bens de sauacutede Certamente neste momento o anocircnimo ganha rosto e passa a ser

protagonista de uma operaccedilatildeo de obrigaccedilotildees muacutetuas que geram reconhecimentos e

visibilidades A socializaccedilatildeo passa a se realizar nas fronteiras do compromisso ciacutevico com o

coletivo e do respeito agrave liberaccedilatildeo das individualidades e a partir de um ato de cuidar que gera

alianccedilas e transformaccedilatildeo necessaacuteria de indiviacuteduos excluiacutedos em atores visiacuteveis da poliacutetica7 O

dom do reconhecimento que discutiremos a seguir surge desta condensaccedilatildeo provocada pela

circulaccedilatildeo da daacutediva em contextos de intensas demandas por visibilidade dignidade e

reconhecimento

Dom do reconhecimento o cuidado como mediaccedilatildeo

A teoria do reconhecimento eacute um constructo teoacuterico que se afirma com os avanccedilos da filosofia

moral contemporacircnea de Taylor (2005) e outros Sua sistematizaccedilatildeo acompanha a criacutetica agraves

teses utilitaristas que reduzem a vida social a pensamentos monoloacutegicos ndash como aquele

economicista que reduz o interesse da troca a uma questatildeo econocircmica ndash visando em paralelo

a resgatar temas como eticidade multiculturalidade e dignidade A articulaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom eacute decisiva para avanccedilarmos na perspectiva do cuidado como mediador

simboacutelico na sauacutede

No campo da sociologia deve-se a Honneth (2003) os meacuteritos de ampliaccedilatildeo do debate para

temas do cotidiano mediante releituras apropriadas de Hegel e dos pragmatistas norte-

6 Este interesse pela associaccedilatildeo lembra (Cailleacute 2002) nos rastros de Mauss ndash mas tambeacutem de Simmel ndash natildeo eacute funcional Esse

interesse eacute paradoxal pois a luta pela alianccedila gera tensotildees permanentes A cada momento da accedilatildeo tripartite ndash do doar do receber

e do retribuir ndash os indiviacuteduos e grupos se defrontam com conflitos de consciecircncia produzidos por determinantes estruturais

pelos quais a cada movimento interessado se opotildee um movimento de desprendimento ou de ldquodesinteressamentordquo (Cailleacute 2006) 7 Avanccedilando nesta discussatildeo podemos igualmente sugerir que o dom da alianccedila num contexto de trocas anocircnimas que

produzem o fenocircmeno do puacuteblico comunitaacuterio e da democracia associativa local tem impacto importante na passagem da

comunidade fechada (eacutetnica corporativa cultural religiosa etc) para a associaccedilatildeo democraacutetica e aberta Isto significa que a

circulaccedilatildeo do dom natildeo se restringe a fortalecer a alianccedila entre os mais proacuteximos (loacutegica comunitaacuteria) mas visa a refazer

permanentemente a alianccedila pela inclusatildeo e reconhecimento de novos agentes sociais marcados pelas diferenccedilas culturais

(gecircnero etnia religiatildeo sexualidade etc) no processo de construccedilatildeo da praacutetica democraacutetica

16

americanos como J Dewey (1991)8 Haacute de se destacar que a discussatildeo moral de Honneth sobre

a vida social natildeo eacute concebida abstratamente mas concretamente a partir do esforccedilo de

entendimento das patologias sociais que afligem os indiviacuteduos na contemporaneidade Para ele

os indiviacuteduos satildeo objetos de violecircncias que atingem a) a autoconfianccedila ainda na infacircncia

comprometendo sua capacidade de amar b) o autorrespeito como cidadatildeo impedindo que lute

adequadamente por seus direitos e c) a autoestima na vida profissional impedindo que

desenvolva a capacidade de se solidarizar com o outro (Honneth 2003) Nesta direccedilatildeo

podemos sugerir que o cuidado natildeo pode emergir como mediaccedilatildeo simboacutelica central de um novo

paradigma em sauacutede caso permaneccedila prisioneiro de visotildees monoloacutegicas como a da cliacutenica

meacutedica moderna ou a da medicina utilitarista que natildeo datildeo conta do fenocircmeno da totalidade do

social

Para que o cuidado apareccedila como care na accedilatildeo primaacuteria eacute necessaacuterio que se amplie o

entendimento da praacutetica cliacutenica para introduzir elementos pedagoacutegicos morais e poliacuteticos que

satildeo justamente oferecidos pela criacutetica teoacuterica do reconhecimento A saiacuteda para tais dificuldades

operacionais eacute o entendimento do valor simboacutelico do reconhecimento na geraccedilatildeo de um tipo de

bem-estar que eacute aquele da visibilidade poliacutetica e da dignidade moral Tal bem-estar natildeo se

restringe agrave dimensatildeo biofiacutesica mas se define e se corporifica com a ampliaccedilatildeo das significaccedilotildees

de solidariedade e de reconhecimento no ldquomundo da vidardquo O bem-estar que alarga as

significaccedilotildees da sauacutede apenas emerge por signos de reconhecimento que circulam como

daacutedivas permitindo formular ritmicamente as praacuteticas os lugares dos atores e os processos de

organizaccedilatildeo das instituiccedilotildees Nesta direccedilatildeo pode-se dizer que a interpretaccedilatildeo do

reconhecimento como simbolismo da accedilatildeo leva necessariamente a uma aproximaccedilatildeo entre

reconhecimento e dom pois o ato de reconhecer eacute uma daacutediva estruturante primordial

Trazendo esta discussatildeo para o campo da sauacutede eacute possiacutevel afirmar que o cuidado como

simbolismo mediador eacute antes de tudo a doaccedilatildeo de significaccedilotildees como aquelas da visibilidade

poliacutetica e da dignidade moral do outro9 Cailleacute propotildee que os temas morais da confianccedila do

respeito e da estima satildeo redimensionados na praacutetica pela gratidatildeo gerada por uma doaccedilatildeo que

valoriza o outro (dar ao outro como sendo mais importante que meu prazer pessoal em doar) e

uma recepccedilatildeo que valoriza a doaccedilatildeo (receber do outro eacute mais importante que se recusar a

receber) ldquoDar o reconhecimento natildeo eacute apenas identificar ou valorizar eacute tambeacutem e talvez

inicialmente provar e testemunhar nossa gratidatildeordquo (Cailleacute 2008 158) Isto se faz

complementamos na expectativa de que a recepccedilatildeo do gesto valorizador motive o donataacuterio a

agradecer e retribuir um contra-dom em forma de confianccedila solidariedade e responsabilidade

A abertura para o reconhecimento e para a inclusatildeo do Outro-diferente amplia as

experiecircncias de gratidatildeo do donataacuterio daquele que recebe o cuidado Isto eacute no lado da

recepccedilatildeo o impacto do dom do reconhecimento ndash que se funda sobre a alianccedila entre anocircnimos

ndash gera uma obrigaccedilatildeo de gratidatildeo para com o doador o que se traduz em gestos de lealdade

com o social ou de solidariedade com o proacuteximo anocircnimo favorecendo a responsabilizaccedilatildeo

8 Com isso ele avanccedilou na criacutetica moral da tradiccedilatildeo racionalista iluminista rearticulando a relaccedilatildeo entre instrumentalidade e

expressividade nas esferas da socializaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo Esta criacutetica permitiu ao autor explicar que haacute hierarquias

morais desiguais subjacentes agraves praacuteticas sociais e que sem a criacutetica das mesmas eacute impossiacutevel se conceber uma discursividade

organizada em bases igualitaacuterias Tais hierarquias impedem que os indiviacuteduos possam realizar espontaneamente seus potenciais

cognitivos e defender por conseguinte suas capacidades de se apresentar nas esferas coletivas como indiviacuteduos livres e dotados

de forccedila originais de arguiccedilatildeo poliacutetica e cultural 9 Neste sentido a teoria do valor eacute revista ampliada e atualizada pela linguagem simboacutelica sendo o valor social das pessoas

em interaccedilatildeo mais importante que o valor dos bens o valor do usuaacuterio sendo mais importante que aqueles das tecnologias

saberes especializados e medicamentos No caso o reconhecimento passa a ser uma condiccedilatildeo de visibilidade social para o

usuaacuterio e a luta por status ou lugar antecede a luta de classes ou a definiccedilatildeo do direito privado e individual Aqui as teorias de

escolhas racionais e estrateacutegicas se submetem agrave teoria do reconhecimento pois antes de escolherem os homens buscam ser

reconhecidos para poderem reconhecer (escolher) A luta natildeo eacute apenas de valor moral mas de valor de socializaccedilatildeo

(reconhecimento de si do outro e de noacutes)

17

comunitaacuteria e ampliando a legitimidade da poliacutetica puacuteblica Ou seja o sentimento da gratidatildeo

eacute significativo para soldar laccedilos e gerar novas solidariedades e associaccedilotildees E isto eacute visiacutevel no

campo da sauacutede quando se observa o modo de agradecimento dos usuaacuterios quando satildeo

acolhidos pelos profissionais da sauacutede no espiacuterito da daacutediva e do reconhecimento

A articulaccedilatildeo das teorias do dom e do reconhecimento eacute muito profiacutecua ao permitir

entender que a circulaccedilatildeo dos bens da sauacutede (afetos teacutecnicas medicamentos gestos etc) em

contextos de empobrecimento e de exclusatildeo social produz doaccedilotildees de visibilidade e dignidade

que eacute o dom do reconhecimento gerando agradecimentos inclusotildees e participaccedilotildees Pelo dom

do reconhecimento natildeo apenas se faz justiccedila moral aos injusticcedilados mas se abre a perspectiva

de se fazer justiccedila poliacutetica aos oprimidos e abandonados pelos direitos da cidadania

Neste contexto de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo do dom do reconhecimento observam-se dois

registros paralelos Num deles a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento ndash envolvendo os grupos

de pertencimento antigos ou novos e os indiviacuteduos que por suas redes de pertencimento

contribuem para remodelar as instituiccedilotildees coletivas ndash amplia o nuacutemero de atores dos processos

de troca e de solidariedade na sauacutede favorecendo o surgimento de uma cidadania democraacutetica

No segundo registro a circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento amplia o escopo da accedilatildeo em sauacutede

para outros domiacutenios da vida social e cultural articulando a totalidade dos elementos

constitutivos da cidadania democraacutetica (educaccedilatildeo saneamento trabalho lazer etc) em torno

de um projeto coletivo e puacuteblico do bem viver que exige um ldquosaber fazendordquo Assim a

circulaccedilatildeo do dom do reconhecimento entre profissionais de sauacutede e usuaacuterios gera com

frequecircncia novos movimentos de dons entre terceiros proacuteximos ou anocircnimos ampliando os

ldquociacuterculos hermenecircuticosrdquo como o provam o surgimento de grupos de cuidados voltados para

as questotildees de gecircnero violecircncia sexualidade entre outros

Claro quando estes processos de dom do reconhecimento satildeo sabotados pela accedilatildeo estatal

ou mercantil a alianccedila entre anocircnimos a favor do viacutenculo social pode se traduzir em

desfiguraccedilatildeo do pacto coletivo com aumento da violecircncia na vida cotidiana e surgimento de

patologias sociais que se refletem no aumento das doenccedilas psicossomaacuteticas Neste caso

pensando com Mauss diriacuteamos que a sociedade passa da paz para a guerra pelo fato de o doador

reconhecido (o Estado os cidadatildeos a Igreja etc) natildeo ser capaz de doar na intensidade

necessaacuteria os bens necessaacuterios ao reconhecimento do donataacuterio levando este a padecer na

incerteza e no desacircnimo

Daacutediva e accedilatildeo puacuteblica no cuidado algumas consideraccedilotildees finais

Para finalizar retomaremos o tema do cuidado que abordamos no iniacutecio deste texto de modo a

fixar algumas reflexotildees sobre os desafios da gestatildeo puacuteblica descentralizada nesses contextos

complexos de organizaccedilatildeo de esferas puacuteblicas locais que se apoiam nas circulaccedilotildees das daacutedivas

de reconhecimento para ampliar as alianccedilas entre anocircnimos Tais daacutedivas satildeo necessaacuterias para

o surgimento dos puacuteblicos democraacuteticos e tambeacutem para mediante este processo de inclusatildeo

social e cultural ampliar as redes de solidariedade e de mediaccedilatildeo social

Podemos propor entatildeo que o cuidado apenas se revela como experiecircncia inovadora na

accedilatildeo em sauacutede quando ele passa a refletir o dom entre anocircnimos a favor da alianccedila comunitaacuteria

e associativa gerando inclusotildees e corrigindo injusticcedilas ndash enfim permitindo que se passe da

guerra para a paz Aqui estaacute a chave para a compreensatildeo do enigma maussiano nos tempos de

modernidades Claro esta reflexatildeo exige necessariamente se pensar o cuidado desde a praacutetica

e desde a teoria ou seja desde o Serviccedilo e a Sociedade Civil e desde a Academia desde a

produccedilatildeo da accedilatildeo que se faz pela intervenccedilatildeo reflexiva sobre o real e desde a reproduccedilatildeo da

accedilatildeo que se faz pela formaccedilatildeo e pela incubaccedilatildeo do real pensado e construiacutedo coletivamente

Neste plano cuidar deixa de ser mera retoacuterica que esconde antigas praacuteticas hieraacuterquicas e

18

funcionais no serviccedilo em sauacutede para designar a experiecircncia concreta e reflexiva da accedilatildeo em

sauacutede que se realiza em trecircs movimentos do doar (como escuta como palavra como

disponibilidade para acolher integralmente ao outro) do receber (como direito inato do ser

humano a viver como possibilidade de agradecer para aparecer e ser incluiacutedo) e do retribuir

(como direito e possibilidade a demonstrar sua presenccedila seu poder sua singularidade dentro

do sistema social)

Esta releitura do cuidado como dom do cuidado abre perspectivas interessantes para se

reavaliar o tema da justiccedila pois esta deixa de ser mera aplicaccedilatildeo de normas coletivamente

sancionadas num territoacuterio nacional para aparecer como accedilatildeo de inclusatildeo social igualitaacuteria dos

diferentes Este entendimento permite sair da ideia do mal-estar da cultura formulada por Freud

na fundaccedilatildeo da psicanaacutelise para se pensar o bem-estar produzido pela poliacutetica do

cuidadorealizada com a consciecircncia do dom do reconhecimento10 Enfim haacute que se apostar no

dom do reconhecimento para se avanccedilar na democratizaccedilatildeo das accedilotildees em sauacutede e do cuidado

como care permitindo passar de um entendimento assistencialista do usuaacuterio dos serviccedilos que

estaacute sempre na posiccedilatildeo do sacrifiacutecio (da condenaccedilatildeo agrave pobreza e ao assistencialismo) para um

entendimento reflexivo e expressivo que libera o usuaacuterio da posiccedilatildeo sacrificial e o insere como

ator corresponsaacutevel na produccedilatildeo da vida cotidiana em contexto de justiccedila igualitaacuteria que integra

as diferenccedilas

Apostar no reconhecimento eacute buscar a diferenccedila no igual no confiar no respeitar no

solidarizar independentemente das diversidades sociais e culturais Tal aposta permite que se

formem culturas poliacuteticas mais saudaacuteveis e inspiradas na justiccedila social igualitaacuteria Essas

culturas satildeo importantes para se pensar os sistemas comunitaacuterios locais que se estabelecem agrave

base do puacuteblico democraacutetico que constitui uma experiecircncia coletiva supraegoacuteica Por isso para

terminar lembramos o filoacutesofo italiano F Fistetti que inspirado em Mauss afirma que cada

cultura conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana obras obras de

arte siacutembolos coacutedigos de comportamento etc (Fistetti 2009 179) Isto significa dizer que se

cada cultura conteacutem o todo cada cultura conteacutem o cuidado como atividade geral de produccedilatildeo

do bem comum ela conteacutem o dom de alguma coisa que compreende a pluralidade humana na

sua singularidade

Assim pensar o cuidado como metaacutefora e mediaccedilatildeo como projeto permanente inspirado

no dom do reconhecimento significa igualmente pensar uma cultura poliacutetica da daacutediva Uma

cultura como sistema de valor de uma esfera puacuteblica participativa que seja gerada por sua vez

por reciprocidades estabelecidas entre os sistemas organizacionais complexos como o Estado

que formula poliacuteticas comuns e o Mundo da Vida onde se formatam as praacuteticas espontacircneas

da vida social e cultural

10 Tal compreensatildeo inovadora do cuidado eacute particularmente pertinente para se pensar as diferenccedilas entre justiccedila nacional ndash

como poliacutetica redistributivista limitada que elimina as diferenccedilas identitaacuterias para promover a integraccedilatildeo comunitaacuteria nacional

ndash e justiccedila global ndash como poliacutetica redistributivista aberta a novos territoacuterios transnacionais que promovem o cuidado como dom

do reconhecimento para aleacutem das fronteiras nacionais Pensar a justiccedila global natildeo como concessatildeo de Estados nacionais na

cena mundial mas como direitos do ser humano ao bem viver (Arendt 2010) como direito ao dom do reconhecimento fundado

na alianccedila entre anocircnimos que vivem a gratidatildeo significa fazer a passagem de poliacuteticas sacrificiais (que sacrificam os diferentes

e os humilhados) para poliacuteticas antissacrificiais baseadas no dom incondicional e na alianccedila que gera o mundo comum e que

libera os diferentes e humilhados

19

Referecircncias bibliograacuteficas

Arendt H (2010) A condiccedilatildeo humana Rio Forense Universitaacuteria

Cailleacute A (2002) Antropologia do dom o terceiro paradigma Petroacutepolis Vozes

Cailleacute A (2006) ldquoO dom entre interesse e desinteressamentordquo in Martins PH Campos

RBC (Org) Polifonia do dom Recife Editora da UFPE 257-284

Cailleacute A (2008) ldquo Reconhecimento e sociologiardquo RBCS 23 66 151-163

Cailleacute A Godbout J (1998) O espiacuterito da daacutediva Rio de Janeiro FGV

Dewey J (1991) The public and its problems Ohio Ohio University Press

Fistetti F (2009) Theacuteories du multiculturalisme un parcours entre philosophie et sciences

sociales Paris La Deacutecouverte

Godbout J (2007) Ce qui circule entre nous donner recevoir rendre Paris Seuil

Honneth A (2003) Luta por reconhecimento a gramaacutetica moral dos conflitos sociais Satildeo

Paulo Editora 34

Martins PH (2008) ldquoDe Levi-Strauss a MAUSS ndash Movimento AntiUtilitarista nas Ciecircncias

Sociaisrdquo RBCS 23 66 105-130

Mauss M (2003) Sociologia e antropologia Satildeo Paulo Cossac amp Naify

Pinheiro R Martins PH (org) (2009) Avaliaccedilatildeo em sauacutede na perspectiva do usuaacuterio

abordagem multicecircntrica Rio de Janeiro Cepesc

Taylor C (2005) As fontes do self A construccedilatildeo da identidade moderna Satildeo Paulo Loyola

Tronto J (1993) Moral boundaries A political argument for an ethic of care New York

Routledge

20

Associaccedilotildees de Pacientes Associaccedilotildees de Doentes Organizaccedilotildees de

Pacientes Grupos Consumidores de Sauacutede afinal sobre o que se

estaacute falando

Rogeacuterio Lima Barbosa1 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra rogeriobarbosacesucpt

Apresentaccedilatildeo

Os estudos que abrangem as doenccedilas raras parecem tomar cada vez mais importacircncia na aacuterea

social Uma das possiacuteveis causas deste crescimento eacute explicada pelo impacto das associaccedilotildees

civis de doenccedilas raras na sociedade Por meio da atuaccedilatildeo destas associaccedilotildees houve um

consideraacutevel avanccedilo nas pesquisas geneacuteticas que culminaram na descoberta de tratamentos

medicamentosos para doenccedilas consideradas incuraacuteveis Tambeacutem foram criados protocolos de

atendimento a familiares e pessoas com doenccedilas raras nos serviccedilos de sauacutede e planos nacionais

de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras para a Uniatildeo Europeia Em qualquer paiacutes toda

accedilatildeo voltada para as doenccedilas raras seja por meio de pesquisas criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas ou

desenvolvimento de tratamentos eacute resultado das atividades das associaccedilotildees civis O contributo

dessas associaccedilotildees para a melhora do atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras e seus

familiares por meio de accedilotildees que impactam a sociedade justifica a atenccedilatildeo para o

desenvolvimento de suas accedilotildees no campo social Contudo aleacutem de perceber o resultado das

atividades na sociedade eacute preciso conhecer as associaccedilotildees a partir das motivaccedilotildees que os seus

integrantes possuem A partir de um olhar para ldquodentrordquo das associaccedilotildees para as pessoas que a

formam eacute possiacutevel encontrar natildeo somente diferentes motivaccedilotildees como tambeacutem estruturas

associativas muito diversas

Se por um lado as pessoas organizam-se em associaccedilotildees que visam tratar de doenccedilas

especiacuteficas como a Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Pacientes com Neurofibromatose -

AMANF por exemplo por outro existem associaccedilotildees que possuem o objetivo de representar

todas as doenccedilas raras em um formato ldquoguarda-chuvardquo2 Tanto em uma como em outra os

dirigentes das associaccedilotildees podem ser os proacuteprios pacientes seus pais ou matildees profissionais da

aacuterea da sauacutede ou qualquer pessoa que tenha interesse no campo das doenccedilas raras Em uma

realidade tatildeo difusa para os dirigentes a produccedilatildeo das ciecircncias sociais que alcanccedila tanto as

associaccedilotildees de doenccedilas especiacuteficas quanto as do modelo ldquoguarda-chuvardquo ldquoabrange vaacuterias

formas ldquoaproximadasrdquo de pacientesrdquo (Epstein 2008) Assim o termo paciente natildeo se restringe

ao doente e possui um sentido alargado que abarca qualquer pessoa que atue em uma

associaccedilatildeo e tenha interesse no desenvolvimento de accedilotildees para a sauacutede Portanto as associaccedilotildees

civis formadas por indiviacuteduos que militam no campo das doenccedilas raras satildeo conhecidas nas

Ciecircncias Sociais como Organizaccedilotildees de Pacientes (PO) em Epstein (2008) Nunes (2007)

Rabeharisoa et al (2008 2012 e 2013) Grupos Consumidores de Sauacutede3 para Allsop et al

1 Rogeacuterio Lima Barbosa eacute Mestre e Doutorando em Sociologia pelo programa Relaccedilotildees de Trabalho Sindicalismo e

Desigualdades Sociais da Faculdade de Economia e do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Eacute bolsista da

CAPES processo BEX 10006-133 2 Em relaccedilatildeo aos estudos que analisam as associaccedilotildees civis que possuem o objetivo de representar todas as doenccedilas raras em

um formato de ldquoguarda-chuvardquo as mais citadas satildeo a Eurordis e a AFM ndash Associaccedilatildeo Francesa de Distrofia Muscular 3 Health consumer groups

21

(2004) Associaccedilotildees de Doentes em Filipe (2009) ou Associaccedilotildees de Pacientes para Novas

(2006)4

O frame alargado do paciente5 sinaliza o trabalho em rede que essas associaccedilotildees realizam

Assim como eacute necessaacuterio buscar na rede de contatos as pessoas para formalizarem uma

associaccedilatildeo civil os indiviacuteduos que iniciam a militacircncia pelas doenccedilas raras experimentam jaacute

na busca pelo diagnoacutestico da doenccedila6 a forccedila existente dos laccedilos de sua rede de contatos A

partir de sua rede de contatos os indiviacuteduos conseguem chegar ateacute ao diagnoacutestico ao tratamento

e as melhores formas de cuidado para o doente Assim satildeo os laccedilos existentes na rede que datildeo

condiccedilotildees para a formaccedilatildeo das associaccedilotildees civis e geram as respostas que natildeo foram

encontradas nos processos formais dos sistemas de sauacutede Considerando que o Estado eacute o

responsaacutevel por coordenar os cuidados nos sistemas de sauacutede a sua ausecircncia eacute o gatilho que

despoleta uma seacuterie de accedilotildees individuais que acabam impactando a sociedade

Juntamente com o Estado a Induacutestria FarmacecircuticaBiotecnologia (Induacutestria) a Academia

e as Associaccedilotildees satildeo os principais atores no campo das doenccedilas raras Assim como a associaccedilatildeo

civil surge a partir da falta de informaccedilatildeo promovida pelo Estado a ausecircncia deste daacute condiccedilotildees

para uma forte presenccedila da Induacutestria na coordenaccedilatildeo dos serviccedilos de atendimento agrave populaccedilatildeo

Essa presenccedila acaba por minar o campo das doenccedilas raras com os seus interesses Em particular

as associaccedilotildees do campo das doenccedilas raras como a induacutestria possui um interesse especiacutefico em

influenciaacute-las na produccedilatildeo de accedilotildees que visam a regulamentaccedilatildeo do mercado para as drogas

oacuterfatildes acabam por se estruturarem conforme a relaccedilatildeo que se cria com a induacutestria Se por um

lado existem associaccedilotildees que possuem um modelo de atuaccedilatildeo centrado na ajuda muacutetua

autoajuda e portanto mantendo-se distantes da induacutestria por outro haacute as associaccedilotildees que

optam por um modelo empresarial utilizando as ferramentas das empresas capitalistas como

planejamentos estrateacutegicos relatoacuterios de atividades trabalhadores remunerados CEOs e outras

caracteriacutesticas dessa aacuterea Neste modelo a Eurordis associaccedilatildeo europeia com sede em Franccedila

e as associaccedilotildees de distrofia muscular7 em Franccedila e nos EUA satildeo exemplares A associaccedilatildeo de

distrofia muscular dos EUA eacute a mais antiga Foi criada nos anos 50 e natildeo somente serviu como

modelo para as outras duas como tambeacutem participou da fundaccedilatildeo de ambas As trecircs possuem

o mesmo formato de atuaccedilatildeo Estruturado sobre a batuta da associaccedilatildeo americana essas

associaccedilotildees possuem o advocacy como atividade principal atuando de maneira significativa na

formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que favoreccedilam os seus interesses que natildeo raros estatildeo

alinhados com o pensamento capitalista8 Os recursos financeiros da Eurordis proveacutem

4 Apesar de compreender a necessidade de se conseguir um ponto de contato ou linha estrutural que possa reunir as diferentes

associaccedilotildees e fortalecer o proacuteprio movimento social a visatildeo sobre o impacto na sociedade impede a percepccedilatildeo sobre as suas

dinacircmicas internas Se existir o entendimento que a oferta do cuidado ou a sua melhoria eacute o ponto central das pessoas que

lidam com as associaccedilotildees voltadas para a melhoria de vida do doente natildeo haacute duacutevidas que eacute o Cuidado que une todas essas

pessoas Assim opto por pensar em Associaccedilotildees de Cuidadores como uma alternativa para identificar as Associaccedilotildees que

atuam no campo da sauacutede Com isso haacute a (re)estruturaccedilatildeo das accedilotildees sobre o cuidado ao mesmo tempo que ressegnifica a

relaccedilatildeo pacientefamiliaresmeacutedicosAo mesmo tempo natildeo impede que essas associaccedilotildees tenham suas particularidades e

diferentes como seraacute abordado adiante 5 Apesar do consenso sobre o termo paciente eacute preciso alertar que aleacutem de dificultar o entendimento sobre as motivaccedilotildees que

impulsionam o ldquopacienterdquo utilizar esse termo em sentido alargado pode gerar problemas mais profundos como a invisibilizaccedilatildeo

do proacuteprio doente Sem desconsiderar que algumas doenccedilas podem impossibilitar a expressatildeo integral do doente a ecircnfase no

paciente alargado pode fazer com que os interesses do doente sejam suplantados por outros que ao fim acabam por

instrumentalizar ele proacuteprio Uma discussatildeo mais profunda sobre esse tema eacute discutido em outros trabalhos nomeadamente

os dedicados ao Modelo Utilitaacuterio do Cuidado ndash MUC 6 De acordo com Faurisson (2000) a dificuldade de encontrar o diagnoacutestico para uma doenccedila rara deve-se a pouca informaccedilatildeo

ou a dispersatildeo de informaccedilotildees existente entre os profissionais de sauacutede e a sociedade 7 wwweurordisorg httpwwwafm-telethoncom httpmdaorg 8 Nos mesmos moldes de sua congecircnere americana desde 1987 a AFM realiza a maratona televisiva AFM-Telethon visando

a angariaccedilatildeo de fundos Com os recursos conseguidos por meio desta maratona a AFM cria entre outros o Genethon Bioprod

o maior laboratoacuterio do mundo na produccedilatildeo de medicamentos para terapias genicas Em 2012 a Genethon torna-se a primeira

organizaccedilatildeo natildeo governamental a receber autorizaccedilatildeo para ser fabricante de produtos farmacecircuticos De acordo com o site da

AFM Com a Geacuteneacutethon BioProd o laboratoacuterio AFM-Telethon tem a maior capacidade de medicamentos para a terapia geacutenica

no mundo Da prova de conceito de desenvolvimento cliacutenico e em conformidade com as Boas Praacuteticas de Fabricaccedilatildeo (BPF)

22

principalmente da Induacutestria da AFM e da Comissatildeo Europeia Foi uma das principais

responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act na Uniatildeo Europeia e estaacute presente em todos

os assuntos que envolvem as doenccedilas raras na regiatildeo Assim como essa associaccedilatildeo possui

objetivos muito distintos de outras associaccedilotildees que lidam nas aacutereas da sauacutede e ateacute mesmo no

campo das doenccedilas raras enquadraacute-las em uma mesma denominaccedilatildeo como Organizaccedilotildees de

Pacientes parece natildeo ser a melhor opccedilatildeo

Diante de um quadro tatildeo disperso e para um estudo que assuma um posicionamento

diferente daqueles que existem no momento neste trabalho transponho a barreira das

associaccedilotildees e o olhar exclusivo para o resultado das associaccedilotildees na sociedade ou seja para o

seu ldquolado de forardquo A partir do interior das associaccedilotildees como militante dirigente de uma

associaccedilatildeo pai de uma crianccedila com uma doenccedila rara e acadecircmico tento abrir as suas portas

natildeo somente para expor as motivaccedilotildees que encontrei em diferentes pessoas e momentos de

militacircncia como tambeacutem sinalizar que as associaccedilotildees satildeo diferentes na sua proacutepria formaccedilatildeo

e na relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica Desta maneira neste artigo resgato parte de minha

dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada agrave Universidade de Coimbra e estruturada a partir de uma

observaccedilatildeo ldquoauto-etnograacuteficardquo agrave frente de uma associaccedilatildeo de doenccedilas raras a AMAVI9 e

entrevistas com dirigentes de Associaccedilotildees Civis de apoio aos pacientes com Neurofibromatose

uma doenccedila rara

Em busca da motivaccedilatildeo

Novas (2006) com base nos estudos das atividades realizadas pelas associaccedilotildees das doenccedilas

raras de Pseudoxanthoma Elasticum (PXE) e de Canavan nos Estados Unidos afirma que as

atividades destas associaccedilotildees e de outras sob o mesmo cariz alteraccedilatildeo geneacutetica e rara satildeo

baseadas na esperanccedila dos pacientes10 em conseguirem a cura para as doenccedilas A vida dessas

pessoas eacute pautada pela esperanccedila que melhores dias viratildeo Assim as melhorias futuras

dependem da forma como as suas accedilotildees satildeo realizadas no presente ldquoAleacutem disso a esperanccedila eacute

individual e coletiva ela une biografias pessoais esperanccedilas coletivas para um futuro melhor

e os processos sociais econocircmicos e poliacuteticos mais amplos (Novas 2006 291) O autor cunha

o termo ldquoA Economia poliacutetica da esperanccedilardquo11 como uma forma de ativismo que aquelas

associaccedilotildees utilizam para influenciarem e modificarem as biopoliacuteticas12 por meio dos pacientes

que se engajam na promoccedilatildeo da sauacutede bem-estar individual e geral Esses pacientes contribuem

diretamente natildeo soacute para a produccedilatildeo de conhecimento mas tambeacutem para capitalizaccedilatildeo dos

recursos para a biomedicina A partir das atividades realizadas pelas associaccedilotildees o autor

descreve a Economia poliacutetica da esperanccedila em trecircs dimensotildees a) a promoccedilatildeo da sauacutede e bem

estar como um ato poliacutetico que contribui para o aumento do entendimento sobre a doenccedila e faz

com que as associaccedilotildees passem natildeo soacute a influenciar as pesquisas meacutedicas como tambeacutem a

alterar o contexto em que estatildeo inseridas b) o investimento financeiro que as organizaccedilotildees

realizam no desenvolvimento de pesquisas em busca da cura ou tratamento eacute uma forma

que recebeu o Prix Galien France 2012 fortalece sua posiccedilatildeo como liacuteder mundial no domiacutenio das bioterapias para doenccedilas

raras Eacute o primeiro laboratoacuterio de uma associaccedilatildeo civil sem fins lucrativos que obteacutem esse status de estabelecimento

farmacecircutico de acordo com a lei de 22 de Marccedilo de 2011httpwwwafm-telethoncomnewsgenethon-the-french-afm-

telethon-laboratory-becomes-the-first-not-for-profit-to-obtain-authorization-from-ansm-to-be-a-pharmaceutical-

manufacturerhtml 9 Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria wwwamaviorg 10 Relembrando que para esse ator como para outros o paciente natildeo se trata da pessoa doente mas de outros que possuem

contato com a doenccedila Em especiacutefico neste estudo o paciente eacute entendido com osas paismatildees das crianccedilas que sofrem com

essas doenccedilas 11 Traduccedilatildeo livre de Political economy of hope 12 Para biopoliacutetica o autor utiliza os argumentos de Foucault (1978) como o termo para significar a entrada da vida no campo

da poliacutetica

23

especiacutefica de capitalizaccedilatildeo do sangue tecidos e DNA13 c) a esperanccedila que os pacientes

investem na ciecircncia possui uma dimensatildeo normativa uma vez que contribui para a elaboraccedilatildeo

de normas para a forma como as pesquisas devem ser conduzidas e como os benefiacutecios

terapecircuticos e econocircmicos devem ser distribuiacutedos Outra contribuiccedilatildeo do texto eacute o

reconhecimento que grande parte das pessoas que se engajam nos desafios da biomedicina satildeo

brancos da classe meacutedia escolarizados e com grande capacidade de mobilizaccedilatildeo nas redes

sociais seja pessoalmente ou por meio da internet Acresce a essas caracteriacutesticas o fato da

lideranccedila das mulheres ser uma constante14

A perspectiva de Novas eacute interessante porque (1) aponta para as diferentes formas de

atuaccedilatildeo das associaccedilotildees e (2) sinaliza a conflitualidade vivida pelos pacientes quanto realizam

as suas accedilotildees no presente pautadas pelos sentimentos futuros Mas como abordado no iniacutecio

deste artigo possui a limitaccedilatildeo de buscar esquadrinhar o ldquolado de forardquo das associaccedilotildees O

enredo criado pelo autor eacute o mesmo que outros utilizam quando estudam as associaccedilotildees do

campo das doenccedilas raras Conforme Rabeharisoa e colegas

[hellip] uma seacuterie de estudos tecircm-se centrado em como e em quecirc as organizaccedilotildees de paciente os usuaacuterios e

grupos de ativistas intervecircm na criaccedilatildeo e monitoramento das poliacuteticas de sauacutede [] os estudos estatildeo

preocupados principalmente com a representatividade dessas organizaccedilotildees e grupo bem como o seu poder

de lobby vis-agrave-vis junto agraves instituiccedilotildees (Rabeharisoa et al 2013 6)

As associaccedilotildees para doenccedilas raras fundam-se sobre um quadro de falta de informaccedilatildeo

generalizada e os pacientes (pessoas com diagnoacutestico familiares ou outros interessados)

assumem a responsabilidade por conseguirem encontrar por meios proacuteprios o que procuram

O proacuteprio Novas confirma esse entendimento ao fazer um breve relato da constituiccedilatildeo das

associaccedilotildees que fazem parte de seus estudos e ndash ao concluir que o iniacutecio das associaccedilotildees

somente foi possiacutevel pelo envolvimento dos pais das crianccedilas em sua constituiccedilatildeo ndash consolida

a percepccedilatildeo de que a rotina familiar eacute alterada pelo diagnoacutestico da doenccedila O momento do

diagnoacutestico eacute significativo porque apresenta aos pacientes uma realidade que natildeo eacute a deles ou

no melhor dos casos uma que natildeo conseguem entender e os profissionais de sauacutede natildeo

conseguem explicar

[quando a associaccedilatildeo recebe algum contato haacute a preocupaccedilatildeo] se as palavras estatildeo sendo bem usadas porque

eacute muito perigoso eacute muito perigoso como vamos usar as palavras como vamos falar com familiares de

portadores Satildeo pessoas que estatildeo sofrendo muito satildeo pessoas que estatildeo pedindo socorro satildeo pessoas

desesperadas satildeo pessoas completamente fora do meio delas estatildeo sendo satildeo excluiacutedas exclusatildeo total

(Entrevistado 3 sublinhado nosso)

A perspectiva de Novas sobre o desdobramento do sentimento de esperanccedila sobre as accedilotildees

dos paismatildees eacute ateacute certo ponto verdadeiro Contudo sinalizar que esse sentimento eacute

predominante agraves associaccedilotildees que lidam com as doenccedilas consideradas raras reforccedila a visatildeo

poeacutetica predominante e minimiza as proacuteprias dificuldades e carga de medo que recai sobre

aqueles que assumem a responsabilidade por atuar no campo No caso dos pais e matildees o medo

13 Nas duas associaccedilotildees apresentadas pelo autor os fundadores pais e matildees de crianccedilas diagnosticadas com a doenccedila

incentivam a participaccedilatildeo dos pacientes nos procedimentos de doaccedilatildeo de sangue tecidos e DNA para desenvolvimento das

pesquisas Ambas possuem atenccedilatildeo especial na guarda dos dados dos pacientes A associaccedilatildeo de PXE conseguiu posicionar-se

como coordenadora dos esforccedilos entre os diversos pesquisadores laboratoacuterios autoridades e pacientes para o desenvolvimento

da pesquisa e manteacutem o registro dos pacientes com a Associaccedilatildeo A associaccedilatildeo de Canavan estaacute em disputa com os

pesquisadores ldquosobre como os benefiacutecios terapecircuticos e econoacutemicos derivados da pesquisa biomeacutedica devem ser distribuiacutedos

entre aqueles que participaram e contribuiram para a empresa de pesquisa biomeacutedicardquo (Novas 2006 298) A formaccedilatildeo e guarda

de dados dos pacientes visa a constituiccedilatildeo dos Biobancos 14 Essa caracteriacutestica pode ser percebida pela maciccedila presenccedila das mulheres nos encontros de associaccedilotildees em diferentes

contextos conforme citado por um dos entrevistados ldquona carta que eu fiz para vocecirc eu falei assim [O nome de Maria Vitoacuteria

para uma associaccedilatildeo eacute muito importante significa] as Marias de muitas vitoacuterias ou as vitoacuterias das muitas Marias porque satildeo

matildees [a frente das associaccedilotildees] de um modo geral As exceccedilotildees satildeo poucas []rdquo

24

refere-se ao periacuteodo de vida da crianccedila que de maneira repentina se descobre ser menor que o

esperado fazendo com que passem a conviver com um cronoacutemetro imaginaacuterio Atrelado ao

cronocircmetro haacute a preocupaccedilatildeo sobre como seraacute a aceitaccedilatildeo das dificuldades de sua crianccedila pela

sociedade como a crianccedila teraacute suporte na falta de um ou de ambos os responsaacuteveis e como seraacute

a reaccedilatildeo da famiacutelia no momento de necessidade Vencido o medo a coragem eacute o sentimento

que os paismatildees encontram para conseguir buscar as formas de poder ajudar osas seusuas

filhosas e ateacute de iniciar a contestar os profissionais de sauacutede A resignaccedilatildeo combina com a

consciecircncia que apesar de todos os esforccedilos que possam realizar a uacutenica forma de poder ajudar

suas crianccedilas eacute a promoccedilatildeo de sua qualidade de vida E por fim a frustraccedilatildeo e o sentimento de

culpa em imaginar que foram os responsaacuteveis por transmitir a doenccedila em forma de sofrimento

para as suas crianccedilas eacute o sentimento que embala os seus sonos sob a questionamento do

Porquecirc Muitos sentimentos satildeo motivadores para a criaccedilatildeo das associaccedilotildees Seguramente a

esperanccedila eacute um deles contudo natildeo eacute o sentimento prevalecente ou norteador das accedilotildees dos

familiares e pacientes

O argumento de Novas sobre a busca da cura eacute fraacutegil Apesar de citar que as associaccedilotildees

buscam a cura ou o tratamento enfatiza que a busca da cura eacute o fator mobilizador dos esforccedilos

das associaccedilotildees Todavia ao trazermos o entendimento sobre a impossibilidade de cura15 para

as doenccedilas geneacuteticas eacute mais prudente observar que as associaccedilotildees direcionam suas atividades

em busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas dado que os remeacutedios natildeo satildeo

desenvolvidos para a cura mas para impedir o avanccedilo da doenccedila ou paralisar os seus sintomas

Com a atenccedilatildeo em um futuro distante seja pela esperanccedila ou pela busca da cura o texto de

Novas deixa de perceber a atual complexidade que permeia o campo das doenccedilas raras

Por outra perspectiva sobre as formas de organizaccedilatildeo das associaccedilotildees e reconhecendo a

complexidade ausente em Novas o texto de Vololona et al (2012)16 destaca-se como uma

amostra comparativa O texto refere-se a um estudo comparativo entre Franccedila e Portugal sobre

a forma de ativismo que as Organizaccedilotildees de Pacientes desenvolvem nos dois paiacuteses Os autores

fundamentam os argumentos para conceituarem a forma de ativismo colaborativo entre

pacientes e especialistas realizados pelas associaccedilotildees como um ldquoModelo Hiacutebrido Coletivordquo17

(MHC) Esse modelo tem duas caracteriacutesticas a constituiccedilatildeo de comunidades que alinham

pacientes e especialistas na ldquoguerra contra a doenccedilardquo e a combinaccedilatildeo de interesses entre os

especialistas e as POs na produccedilatildeo de conhecimento sobre as doenccedilas O MHC eacute portanto

diferente do modelo em que os pacientes deixam as questotildees de sauacutede como uma aacuterea exclusiva

do saber meacutedico ndash Modelo por Delegaccedilatildeo (MD)18 O texto apresenta as diferentes formas do

MHC e que diferem de um paiacutes para o outro

Em Franccedila o MHC assume quatro formas A primeira refere-se ao desenvolvimento de

mecanismos que auxiliam os pacientes a entender a doenccedila natildeo somente sobre os sintomas e

efeitos mas tambeacutem que tenham condiccedilotildees de se posicionarem em peacute de igualdade com os

profissionais de sauacutede Essa forma de atuaccedilatildeo eacute encontrada no trabalho da Associaccedilatildeo Mineira

de Neurofibromatose ndashAMANF ndash na divulgaccedilatildeo da sua cartilha ldquoAs Manchinhas da Marianardquo19

15 Como jaacute mencionado e corroborado pela Dra Karin Cunha especialista em Neurofibromatose que durante a palestra

realizada no Dia das Doenccedilas Raras em 2011 em Brasiacutelia esclareceu que pela questatildeo geneacutetica envolvida nas doenccedilas raras

ainda natildeo existe cura e continuamos longe de conseguir algo que possa modificar os genes alterados por cada doenccedila 16 The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases in French and Portuguese patientsrsquo organizations

engagement in research 17 Traduccedilatildeo livre de Hybrid Collective Model Apesar de acreditar que o termo mais adequado eacute Modelo Hiacutebrido de Ativismo

por dar um maior entendimento para o leitor a opccedilatildeo do uso literal da traduccedilatildeo pretende mitigar qualquer vieacutes que possa existir

em seu uso 18 Delegation Model 19 Essa cartilha apresenta todos os sintomas da doenccedila por meio de Cartoons de maneira didaacutetica sendo direcionada para os

familiares das crianccedilas Mas pelo cartoon tambeacutem conquista as crianccedilas Quando a minha filha com 5 anos conheceu esse

trabalho passou mais de uma semana com a cartilha para mostraacute-la na escola para famiacutelia e em todas as atividades que

participava Aleacutem da versatildeo impressa estaacute disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

25

Muitas vezes o aprofundamento dos pacientes nos estudos sobre a doenccedila faz com que se

tornem referecircncia para os proacuteprios profissionais de sauacutede

Entatildeo eu me senti eacute lisonjeada porque eles viam todo trabalho que eu fazia porque eu ajudei a ensinar

meacutedico eu ajudei a ajudar paciente [] ateacute os meacutedicos chegam a me procurar [] Eu levava para o Hospital

do Cacircncer estudava eu estudava o meacutedico mas o que estava escrito na literatura [] E a gente comeccedilou a

ver que com ano de 1996 que nem tudo estava escrito na literatura O da [] era um Mas por que Porque

ela tem uma mutaccedilatildeo geneacutetica E essa mutaccedilatildeo geneacutetica eacute diferente ela muda a patologia entendeu [] o

tumor dela jaacute cresceu em 4 meses 12 centiacutemetros taacute O tumor dela natildeo tinha na literatura agora eu acho que

jaacute tem a gente conseguiu ver isso no hospital do cacircncer com pesquisas (Entrevistado 1 sublinhado nosso)

A segunda forma faz referecircncia ao apoio financeiro para a realizaccedilatildeo de pesquisas Este

tipo de apoio eacute construiacutedo e resulta do alinhamento de interesses entre as associaccedilotildees de

pacientes e os grupos de pesquisa No Brasil isso ainda natildeo eacute realidade porque as Associaccedilotildees

natildeo conseguiram desenvolver os meios para garantir os recursos financeiros de maneira regular

A gente natildeo tem dinheiro porque a gente podia pedir para a famiacutelia para os associados 10 reais para cada um

[e ateacute pedimos por algum tempo][] Mas eu cheguei em uma fase que eu pensei natildeo tem condiccedilotildees de pedir

10 reais porque as vezes a pessoa natildeo tem dinheiro para vir aqui em uma reuniatildeo no saacutebado por causa de

dinheiro (Entrevistado 1)

Quem faz parte da associaccedilatildeo Os pobres No maacuteximo classe meacutedia classe meacutedia baixa Quem vai no nosso

centro de referecircncia de neurofibromatose Os pobres classe meacutedia baixa [o rico] senta ali o cara ali do lado

com vitligo outro com lesatildeo de pele outro com natildeo sei o quecirc Ele olha ele assim no banco de madeira

serviccedilo puacuteblico Ou ele vai acreditar em mim que atende ali e fala que ele natildeo precisa fazer ressonacircncia

magneacutetica ou ele vai ao consultoacuterio do neurologista que ele paga 300 reais a consulta mesa de blindex duas

secretaacuterias muacutesica ambiente consulta por natildeo sei o quecirc mesa para poder ver a ressonacircncia jalecatildeo com

siacutembolo aqui de bacana da faculdade Em quem acredita No velhinho laacute do SUS ou no Dr neurologista Aiacute

vocecirc natildeo tem dinheiro nessa associaccedilatildeo porque vocecirc soacute tem pobre laacute Natildeo tem ningueacutem para doar

ningueacutem eacute amigo de empresaacuterio (Entrevistado 2)20

Pessoas com poder aquisitivo baixiacutessimo que quebram seu cofrinho para vir de ocircnibus participar da reuniatildeo

e contar seus problemas e choram tem os fibromas (Entrevistado 3)

A posiccedilatildeo social do paciente tende a influenciar a forma como ele se relaciona com a

associaccedilatildeo Relembrando Novas (2006) as pessoas que participam nas POs satildeo

essencialmente da classe meacutedia e possuem grande poder de mobilizaccedilatildeo Na realidade

brasileira enquanto os indiviacuteduos da classe meacutedia ao envolverem-se com uma associaccedilatildeo

optam por fazer parte da diretoria corpo dirigente ou na fundaccedilatildeo da entidade os indiviacuteduos

que buscam o apoio a orientaccedilatildeo e participam das reuniotildees satildeo na sua maioria oriundos de

classes sociais mais baixas

Em terceiro lugar estaacute a realizaccedilatildeo de accedilotildees para abordagem de novos temas e levar alguns

assuntos para fora do campo restrito da biomedicina Neste formato as associaccedilotildees tendem a

agir de forma transversal e em busca da melhoria do cuidado para o paciente Nesse quadro em

especiacutefico pode-se citar a percepccedilatildeo de um crescimento sobre o debate da vinculaccedilatildeo das

doenccedilas raras com as deficiecircncias Apesar de ser uma tentativa de melhoria real da qualidade

de vida do doente e distante da manipulaccedilatildeo de medicamentos pode natildeo gerar resultados devido

ao proacuteprio contexto do campo da deficiecircncia A vinculaccedilatildeo em si tambeacutem gera um intenso

debate natildeo soacute pela dificuldade de se encontrar um entendimento comum que define o que eacute uma

doenccedila rara como tambeacutem em responder agrave pergunta Se a maioria das doenccedilas raras possuem

20 Essa entrevista abordou a discriminaccedilatildeo das pessoas face aos serviccedilos puacuteblicos O que eacute exposto pelo entrevistado faz parte

dos fundamentos do complexo social-industrial como uma alianccedila entre o Estado e o capital privado no qual os serviccedilos

ofertados pelo Estado satildeo de baixa qualidade ldquoEsta divisatildeo da produccedilatildeo eacute essencial ao capital privado quer porque reserva

para si as produccedilotildees lucrativas quer porque ajuda a perpetuar a ideia de que o Estado eacute incompetente como produtor de

bens e serviccedilosrdquo (Santos e Hespanha 1987 30 sublinhado nosso)

26

causas geneacuteticas e portanto a pessoa nasce com ela qual o momento que poderaacute utilizar o

status da deficiecircncia ao nascer ou somente na manifestaccedilatildeo dos sintomas

A quarta forma refere-se ao envolvimento das POs na produccedilatildeo de conhecimento definiccedilatildeo

de protocolos e procedimentos de pesquisa Para os autores ldquoo quarto modo de envolvimento

entra na caixa preta do complexo mecanismo bioloacutegico e que ainda eacute desconhecido e permanece

por ser exploradordquo (Rabeharisoa et al 2012 16)

Relativamente a Portugal percebeu-se que as associaccedilotildees estatildeo entre o MHC e o MD

Influenciadas pelas accedilotildees da EURORDIS foram criadas duas associaccedilotildees nacionais a APDR

ndash Alianccedila Portuguesa de Doenccedilas Raras ndash e a Rariacutessimas Essa juntamente com outras

associaccedilotildees fundou a FEDRA ndash Federaccedilatildeo Portuguesa de Doenccedilas Raras21 De acordo com

Rabeharisoa et al (2012) uma das razotildees para a fundaccedilatildeo de duas associaccedilotildees com modelos

de accedilatildeo diferentes foi justamente o (des)entendimento sobre a percepccedilatildeo de doenccedilas raras que

fez a APDR dirigir as suas accedilotildees para algo mais proacuteximo ao MHC Aleacutem da diferenccedila na forma

de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees francesas em Portugal o atendimento aos pacientes e familiares

possui o suporte psicoloacutegico e a autoajuda como prioridades Natildeo possuem interesse de

participar em pesquisas ou pelo menos o interesse das associaccedilotildees de doenccedilas raras natildeo difere

da grande maioria das associaccedilotildees que tratam de doenccedilas ldquonatildeo-rarasrdquo

No caso brasileiro a relaccedilatildeo com a induacutestria farmacecircutica em geral eacute vista como ldquoum

ramo meio perigosordquo (Entrevistado 3) As investidas da induacutestria sobre as associaccedilotildees satildeo

conhecidas por todas as pessoas envolvidas no campo das doenccedilas raras e o seu interesse sobre

as associaccedilotildees natildeo eacute uniforme e muito menos possui os mesmos objetivos O caso da

Neurofibromatose ndash NF eacute exemplar Mesmo natildeo tendo uma medicaccedilatildeo especiacutefica que paralise

os avanccedilos da doenccedila todos os entrevistados afirmaram que haacute uma grande procura da induacutestria

pelos pacientes mas muitas vezes o interesse natildeo estaacute relacionado em ajudar o paciente ou a

busca de informaccedilotildees sobre a doenccedila mas de fazer do paciente um meio para se conseguir as

respostas para outras perguntas

Eacute como se fosse um rato de laboratoacuterio Vocecirc faz um camundongo geneticamente modificado para estudar e

para poder aplicar nos pacientes O rato vocecirc natildeo estaacute interessado nele Estou fazendo uma comparaccedilatildeo

grosseira meio caricatural mas que eacute mais ou menos isso Quer dizer Opa NF1 eacute o modelo estudado de

doenccedila geneacutetica com a cadeia metaboacutelica da reproduccedilatildeo da divisatildeo e multiplicaccedilatildeo celular que se quer

entender para tratar os cacircnceres Soacute que na verdade quando vocecirc abre o mapa dos processos metaboacutelicos

celulares eacute um verdadeiro universo e as proteiacutenas ligadas agrave neurofibromina e agrave mielina satildeo parte desse

processo Entatildeo eles querem dizer assim Olha seraacute que se noacutes controlarmos aqui seraacute que a gente mexe

no cacircncer laacute na ponta Entatildeo eu acho que haacute um interesse dos laboratoacuterios porque eles estatildeo pensando

em outra coisa natildeo estatildeo pensando na doenccedila (Entrevistado 2 sublinhado nosso)

A NF possui um contexto diferente de outras doenccedilas porque natildeo eacute o produto final da

medicaccedilatildeo e por seus sintomas acontecerem de diferentes maneiras a sua manifestaccedilatildeo eacute

motivo de grande discriminaccedilatildeo pela sociedade familiares e ateacute profissionais de sauacutede22

O olhar acorrentado da sociedade para noacutes eacute perturbador Eacute a discriminaccedilatildeo inclusive no meio meacutedico Noacutes

sabemos de casos que a pessoa com a Neurofibromatose chegando no consultoacuterio do SUS o meacutedico colocou

luvas de procedimento porque viu aquela pessoa cheia de neurotumores neurofibromas no rosto foi

colocado luva de procedimento O portador de Neurofibromatose ele eacute excluiacutedo da sociedade a niacutevelhellip em

todos os niacuteveis em todos os segmentos da sociedade (Entrevistado 3 sublinhado nosso)

21 APDR - httpapnptapn httpwwwrarissimaspt httpfedrapt 22 O cuidado que o profissional de sauacutede deve ter ao tratar pacientes que possuem uma situaccedilatildeo fragilizada desde a sua infacircncia

muitas vezes eacute substituiacutedo pela total falta de informaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Um fato contado por uma paciente de NF ex-diretora

da AMAVI eacute que ao recusar o pedido para fazer parte de uma pesquisa o questionamento do meacutedico foi simples direto e

totalmente avesso ao cuidado ldquoMas porquecirc Vai virar um monstro mesmordquo

27

Para o paciente a NF impacta na sua proacutepria identidade Isso faz com que a melhoria da

qualidade de vida seja fundamental nas atividades das associaccedilotildees e a luta contra o preconceito

inclusive para a proacutepria aceitaccedilatildeo da doenccedila pelo paciente faz parte desta melhoria

Em uma outra realidade diferente da NF haacute um grande envolvimento entre as associaccedilotildees

civis e a induacutestria Esse envolvimento eacute percebido notadamente nas associaccedilotildees que lidam com

as doenccedilas que possuem medicamentos especiacuteficos ou que podem desenvolver accedilotildees de

interesse da induacutestria nomeadamente os trabalhos de advocacy Essa disparidade gera uma

situaccedilatildeo perversa As Associaccedilotildees que possuem medicaccedilatildeo especiacutefica mesmo para doenccedilas

consideradas ultra-raras tecircm mais recursos e condiccedilotildees de agir que aquelas onde o nuacutemero de

pacientes eacute maior mas ainda natildeo haacute medicaccedilatildeo disponiacutevel

As associaccedilotildees de pacientes em Portugal conforme o trabalho posicionam-se entre o

caminho do Modelo por Delegaccedilatildeo e o Modelo Hiacutebrido Coletivo porque natildeo utilizam a

integralidade do MD o qual a ideia da coletividade eacute excluiacuteda e nem do MHC que se

caracteriza pela formaccedilatildeo de uma comunidade baseada na combinaccedilatildeo entre competecircncias e

prerrogativas Diferente do que ocorre em Franccedila o MHC em Portugal natildeo estaacute vinculado ao

criteacuterio de raridade e aleacutem disso quando as associaccedilotildees optam por utilizarem este modelo ldquoeles

rejeitam claramente a condiccedilatildeo de rara como um criteacuterio que justifica as suas escolhasrdquo

(Rabeharisoa et al 2012 21)23

De acordo com o disposto o conceito de MHC construiacutedo a partir dos estudos sobre a

forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees civis caracteriza-se pela formaccedilatildeo de comunidades que

promovem a cooperaccedilatildeo entre os pacientes especialistas e associaccedilotildees de pacientes para a

produccedilatildeo de conhecimento e desenvolvimento de pesquisas Eacute portanto uma relaccedilatildeo em que

os pacientes posicionam-se como ldquoexperts pela experiecircnciardquo ou ldquopacientes especialistasrdquo

detentores do poder de influenciar os mecanismos para o melhor tratamento e melhoria da

qualidade de vida

Na Franccedila por exemplo a AFM criada em 1958 participou activamente na investigaccedilatildeo para pocircr fim ao

que chamou de o ciacuterculo vicioso da ignoracircncia e indiferenccedila (Paterson amp Barral 1994 Rabeharisoa amp

Callon 1999 Rabeharisoa amp Callon 2004 ) Ele foi fundamental para a invenccedilatildeo do MHC que se consolidou

ao longo dos anos 1980 e 1990 e na criaccedilatildeo da Alianccedila Francesa Maladies Rares e de EURORDIS Ele

contribuiu para o desenvolvimento de laccedilos fortes tanto em Franccedila como noutros paiacuteses europeus entre a

causa de doenccedilas raras e a criaccedilatildeo do MHC (Rabeharisoa et al 2012 5)

Como as associaccedilotildees de pacientes com doenccedilas raras formam o tecido que define o MHC

e considerando que a proacutepria definiccedilatildeo de doenccedilas raras possui grande influecircncia dessas

associaccedilotildees principalmente da Eurordis eacute interessante observar que haacute motivaccedilotildees que

passaram ao largo do MHC e que geram problemas para os proacuteprios pacientes Um deles eacute a

definiccedilatildeo de doenccedilas raras O criteacuterio estatiacutestico utilizado pela Eurordis (para a Europa eacute

considerara rara aquela doenccedila que alcanccedila 1 em cada 2000 nascidos) eacute um problema ainda a

ser resolvido Ele eacute utilizado como uma ferramenta para conseguir principalmente sensibilizar

o Estado para a necessidade de desenvolver poliacuteticas que favoreccedilam a comercializaccedilatildeo de

medicamentos Somente pela definiccedilatildeo ldquoobjetivardquo da prevalecircncia eacute possiacutevel criar criteacuterios

estatiacutesticos sobre a populaccedilatildeo que podem ser usados em dois sentidos O da singularidade para

demonstrar que a doenccedila natildeo eacute comum e faz com que a realidade vivida pelo doente e seus

familiares seja de difiacutecil conhecimento uma vez que impacta 1 em cada 2000 nascidos e o da

generalidade24 quando haacute a partilha da doenccedila com outros indiviacuteduos que utilizando o mesmo

23 Semelhante ao que aconteceu em Portugal representantes da Fedra e da Rariacutessimas a partir de 2012 comeccedilam a influenciar

as associaccedilotildees que tratam de doenccedilas raras no Brasil E como aconteceu em Portugal essa aproximaccedilatildeo impacta natildeo soacute no

distanciamento entre as associaccedilotildees nacionais como tambeacutem na mudanccedila da forma de atuaccedilatildeo daquelas que se vinculam a

associaccedilatildeo portuguesa passando a assumir um formato muito mais aberto ao mercado e na busca por captaccedilatildeo de pacientes 24 Vololona et al (2012) realizam uma abordagem mais aprofundada sobre singularizaccedilatildeo e generalizaccedilatildeo

28

dado estatiacutestico chega a 2000 pessoas vivendo com a mesma situaccedilatildeo de exclusatildeo

discriminaccedilatildeo e falta de tratamento Conhecendo portanto o tamanho da populaccedilatildeo eacute faacutecil

chegamos ao total de pessoas afetadas Outro problema refere-se ao paciente alargado Apesar

dos responsaacuteveis pelo doente e outras pessoas poderem ser somados agraves estatiacutesticas por

sofrerem com o diagnoacutestico da doenccedila devido agrave falta de informaccedilatildeo a ideia do paciente

alargado (pais matildees e demais interessados) deve ser refutada uma vez que acoberta aquele que

sofre os sintomas da doenccedila o proacuteprio paciente Com tal refutaccedilatildeo pretende-se voltar a atenccedilatildeo

natildeo somente para o paciente mas tambeacutem identificar a rede de apoio agrave sua volta que tem como

sentimento baacutesico o amor que faz os seus familiares lanccedilarem-se em uma ldquopesquisa na selvardquo

dentro da perspectiva colocada por (Callon e Rabeharisoa 2003) E por fim a identificaccedilatildeo

dos laccedilos que tentam ser captados pelo uso da ideia alargada de paciente deve ser realizada sob

a perspectiva de Epstein (2008) quando declara que opta por dar atenccedilatildeo as conexotildees que essas

associaccedilotildees influenciam e satildeo influenciadas

Eu prefiro seguir tanto os analistas e os atores para cada vez mais pensar fora da caixa de grupos de

pacientes no sentido estrito do termo de forma a desenhar conexotildees bem como contrastes em uma ampla

variedade de casos (Epstein 2008 504)

As formas de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees

As abordagens sobre as Associaccedilotildees Civis que atuam no campo das doenccedilas raras natildeo facilitam

o entendimento sobre a influecircncia que a induacutestria exerce sobre elas Uma das principais

interessadas no desenvolvimento de accedilotildees para a regulamentaccedilatildeo dos medicamentos para

doenccedilas raras a induacutestria possui envolvimento tanto com associaccedilotildees civis e profissionais de

sauacutede quanto com agentes do governo Para atingir o seu puacuteblico e gerar accedilotildees que favoreccedilam

a aprovaccedilatildeo de seus medicamentos frequentemente realizam eventos especiacuteficos para os

medicamentos ldquooacuterfatildeosrdquo25 Assim aleacutem do poder financeiro jaacute conhecido que exercem sobre o

governo e profissionais da sauacutede a grande influecircncia no proacuteprio direcionamento das atividades

das associaccedilotildees civis leva alguns cientistas sociais a questionarem se ldquoas associaccedilotildees de

pacientes satildeo Cavalos de Troia do neoliberalismordquo (Rabeharisoa 2008) Essa pergunta ainda

natildeo possui uma resposta conclusiva mas os caminhos que satildeo traccedilados no campo das doenccedilas

raras por algumas associaccedilotildees sinalizam uma tendecircncia afirmativa para a questatildeo

Aleacutem dos estudos que ainda natildeo conseguem fornecer uma conclusatildeo para o cruzamento de

interesses entre as associaccedilotildees de pacientes e a induacutestria muitos deles atribuem caracteriacutesticas

semelhantes de atuaccedilatildeo para associaccedilotildees que possuem interesses e objetivos muito distintos

reforccedilando a confusatildeo construiacuteda sobre o campo das doenccedilas raras Como o jaacute citado caso do

paciente alargado que faz da proacutepria pessoa que sofre os sintomas da doenccedila um ser invisiacutevel

uma vez que em muitos casos natildeo eacute ouvida e acaba por se tornar uma peccedila adjacente agraves

discussotildees que ao fim e ao cabo o transformam em um ldquoapecircndicerdquo da medicaccedilatildeo

Diante de um quadro generalizante eacute preciso uma nova concepccedilatildeo para as associaccedilotildees civis

de doenccedilas raras de forma a ser possiacutevel clarear os interesses em jogo porque

1 A relaccedilatildeo doenccedila = medicamento26 esconde as necessidades dos pacientes Tendo a

doenccedila rara uma necessidade de acompanhamento multidisciplinar e que impacta em outros

25 O termo oacuterfatildeo eacute utilizado pela induacutestria farmacecircutica para designar os medicamentos destinados para um pequeno nuacutemero

de pessoas Incialmente vistos como produtos natildeo rentaacuteveis nos uacuteltimos a induacutestria apercebeu-se do seu valor de mercado

Atualmente eacute um setor bastante competitivo dominado pelas grandes empresas farmacecircuticas da Europa e dos EUA

destacando-se Shire Sanofi Genzyme e Novartis A rentabilidade desses medicamentos eacute considerada maior que a dos

medicamentos ldquonatildeo-oacuterfatildeosrdquo Como pode ser visto pelo Orphan Drug Report 2013 disponiacutevel nesta reportagem

httpwwwfiercepharmacomspecial-reportstop-20-orphan-drugs-2018 26 Essa relaccedilatildeo eacute fortemente influenciada pela induacutestria farmacecircutica principalmente quando comeccedilam a denominar as doenccedilas

raras como doenccedilas oacuterfatildes Aleacutem dessa formataccedilatildeo deliberada que se extende ateacute o indiacuteduo como para cada pessoa com doenccedila

rara haacute uma rentabilidade atrelada os encontros realizados para as associaccedilotildees de doenccedilas raras independente do paiacutes sempre

29

campos como a construccedilatildeo da identidade luta contra o preconceito e a construccedilatildeo da cidadania

o tratamento medicamentoso eacute apenas uma parte de todo o tratamento

2 O foco nos medicamentos oacuterfatildeos faz do paciente a resposta para o lucro Quando haacute o

trabalho para implementaccedilatildeo de uma poliacutetica especiacutefica baseada em conceitos equivocados os

dados estatiacutesticos de incidecircncia natildeo baseados em estudos estruturados e a concepccedilatildeo de que a

induacutestria natildeo tem interesse em desenvolver remeacutedios para doenccedilas raras faz com que o paciente

se torne no meio pelo qual as empresas alcanccedilam os seus lucros

3 A ideia da simbiose entre o medicamento e a doenccedila oacuterfatilde esconde a pessoa A

desconstruccedilatildeo dessa ideia torna-se urgente para colocar o paciente no centro das discussotildees e

fazer com que sejam produzidas as respostas adequadas agraves necessidades existentes Eacute preciso

olhar a pessoa e natildeo a doenccedila

4 A loacutegica neoliberal de exploraccedilatildeo do homem suplanta as necessidades do cuidado A

utilizaccedilatildeo do termo organizaccedilatildeo refere-se a instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas mais as privadas

que as puacuteblicas que possuem os seus proacuteprios ditames e filosofias de trabalho Sendo a

associaccedilatildeo civil uma reuniatildeo de indiviacuteduos ao chamaacute-las de organizaccedilotildees os laccedilos que satildeo

(re)construiacutedos entre as pessoas quase que diariamente satildeo substituiacutedos pela loacutegica da

hierarquizaccedilatildeo e produccedilatildeo27 A utilizaccedilatildeo do termo associaccedilatildeo deixa evidente que se trata de

uma associaccedilatildeo da sociedade civil delimita o campo para fora da influecircncia do capital e passa

a inverter a loacutegica encontrada por Rabeharisoa e Callon (apud Epstein 2008) quando

perceberam que muitas das associaccedilotildees possuem grandes similaridades com organizaccedilotildees

empresariais

5 A construccedilatildeo de uma identidade do Raro eacute um assalto agrave cidadania Percebe-se que no

Brasil haacute uma intenccedilatildeo de criar a identidade do Raro Desta maneira em muitos discursos e

eventos para a comunidade comeccedilamos a perceber o crescente uso do termo Raroa(s) para

identificar o paciente a famiacutelia e toda a comunidade Tendo como fundamento Giddens (2002)

o eu eacute construiacutedoreconstruiacutedo por processos psicoloacutegicos que ajudam a (re)organizaccedilatildeo do eu

para o futuro As vivecircncias que temos no nosso passado ajudam o nosso posicionamento no

futuro Portanto forccedilar a aceitaccedilatildeo do raro como identidade eacute o mesmo que tirar a pessoa da

construccedilatildeo de um cidadatildeo ativo para inseri-lo numa condiccedilatildeo de diferenccedila exclusatildeo e ainda

centrado na doenccedila

6 Eacute necessaacuterio a apropriaccedilatildeo do Bios pelo social Apesar de todos os assuntos que satildeo

discutidos para esse tipo de associaccedilatildeo ter a forte influecircncia da biotecnologia em todos os

campos (cidadania socialidade valor banco etc) vincular as associaccedilotildees ao Bios sob a

perspectiva de Michel Foucault como a entrada da vida nos campos de saber tende a eliminar

a utilizaccedilatildeo de dados imprecisos como objetivos e consequentemente democratizar os debates

sobre as pesquisas bioloacutegicas

8 A identificaccedilatildeo da influecircncia da Biotecnologia como um assunto transversal A

evidenciaccedilatildeo de uma influecircncia comum e que natildeo seja focada no conceito de raras eacute relevante

para a consciencializaccedilatildeo aleacutem dos nuacutemeros e apoia a convergecircncia das accedilotildees para um campo

de atuaccedilatildeo comum entre todos uma vez que conforme Akrich et al (2008 234) A forma das

satildeo vinculados aos medicamentos oacuterfatildeos Um exemplo eacute o ICORD ndash International Conference on Rare Disease and Orphan

Drugs encontro anual com especialistas de diferentes partes do mundo Nesse sentido tambeacutem haacute o Consoacutercio Internacional

de Pesquisa em Doenccedilas Raras (IRDiRC) iniciado pela Comissatildeo Europeia e o Instituto Nacional para Pesquisa em Sauacutede dos

EUA em abril de 2011 para promover a colaboraccedilatildeo internacional na aacuterea das doenccedilas raras e atingir dois objetivos principais

entregar 200 novas terapias para as doenccedilas raras e os meios para diagnosticar doenccedilas mais raras ateacute o ano de 2020

httpeceuropaeuresearchhealthmedical-researchrare-diseasesirdirc_enhtml 27 O consenso que o termo Organizaccedilatildeo eacute da aacuterea empresarial pode ser colocado agrave prova num teste simples Ao inserir ldquodefine

organizationrdquo em um site de busca como o Google por exemplo o primeiro dicionaacuterio a aparecer eacute ligado aos negoacutecios

(Business Dictionary) Ao fazer o mesmo processo com ldquodefine associationrdquo o primeiro link refere-se a um dicionaacuterio livre

(The Free Dictionary) e o Business Dictionary da pesquisa anterior aparece em nono dos dez links da paacutegina

30

questotildees comuns natildeo eacute autoevidente A partilha de questotildees transversais natildeo existe

naturalmente Elas devem ser definidas trabalhadas e negociadas

A necessidade sobre a melhoria do entendimento do campo das associaccedilotildees de doenccedilas

raras e consequente melhor definiccedilatildeo para a sua atuaccedilatildeo eacute compartilhada por Rabeharisoa et al

(2013) ao proporem o uso do termo Evidecircncia baseada em ativismo para capturar todos os

grupos e ativistas que atuam no campo biomeacutedico O termo ainda pretende abrir o campo de

visatildeo para aleacutem das pesquisas biomeacutedicas e reconhece que a busca pela ldquocurardquo28 natildeo eacute o uacutenico

motivo que orienta os pacientes Desta maneira eacute um avanccedilo em relaccedilatildeo aos trabalhos que

standartizam as atividades das associaccedilotildees e imprimem as mesmas perspectivas para diferentes

contextos

Uma vez que a forma de atuaccedilatildeo das associaccedilotildees influencia inclusive a sua relaccedilatildeo com

a induacutestria perceber as atividades para a sociedade com a motivaccedilatildeo como pano de fundo

auxilia-nos a encontrar formas diferentes de accedilatildeo Desta maneira as atividades das associaccedilotildees

podem ser agrupadas em trecircs eixos que aqui denomino como o do advocacy da garantia de vida

e da qualidade de vida Esta tipificaccedilatildeo possui o objetivo de explicitar a diferenciaccedilatildeo entre as

associaccedilotildees e natildeo criar rigidificaccedilotildees para um campo que ainda carece de pesquisas sob uma

perspectiva diferente da que encontramos na atualidade

O eixo do Advocacy possui uma frente voltada para a mobilizaccedilatildeo da comunidade e outra

para a sensibilizaccedilatildeo do Estado Quanto maior a mobilizaccedilatildeo de pessoas para a causa das

doenccedilas raras maior seraacute a possibilidade de sensibilizar os agentes do Estado principalmente

nos poderes legislativo e executivo Considerando que o resultado das atividades relacionadas

com este eixo tem como uacuteltimo resultado a aprovaccedilatildeo do Orphan Drug Act o envolvimento

com a induacutestria eacute muito estreita Nesse eixo as associaccedilotildees utilizam os mesmos mecanismos

da governaccedilatildeo empresarial como a departamentalizaccedilatildeo das funccedilotildees visatildeo empresarial com a

definiccedilatildeo de visatildeo missatildeo valores e planejamento estrateacutegico comunicaccedilatildeo de massa e a

formaccedilatildeo de redes nacionais e internacionais visando a criaccedilatildeo de um problema global O foco

do mercado natildeo estaacute nos projetos que essas associaccedilotildees desenvolvem mas na sua influecircncia

que realizam junto ao Estado Certamente satildeo as associaccedilotildees que atuam neste eixo que

fomentam a duacutevida sobre a validade como cavalos de troacuteia do neoliberalismo Tanto a Eurordis

quanto a AFM possuem o eixo do advocacy como base de accedilatildeo

Na Garantia da vida encontram-se as associaccedilotildees que lidam com doenccedilas fatais ou que

diminuem a expectativa de vida de maneira significativa Dividem-se em a) garantia de vida

pela pesquisa satildeo aquelas que optam por natildeo se alinharem com as associaccedilotildees guarda-chuva

A princiacutepio desenvolvem suas atividades para conhecer a doenccedila Agrave partida comeccedilam pela

procura de cientistas que tenham ou estejam interessados em desenvolver pesquisas sobre a

doenccedila e passam a conhecer todos os sintomas da enfermidade A abrangecircncia de atuaccedilatildeo

depende da quantidade e qualidade de informaccedilotildees disponiacuteveis Por concentrarem as suas accedilotildees

em apenas uma doenccedila a capacidade de mobilizaccedilatildeo torna-se reduzida Contando largamente

com a participaccedilatildeo das mulheres na lideranccedila a relaccedilatildeo com a induacutestria eacute quase nula ou

potencialmente existente quando haacute o interesse no desenvolvimento de medicamento pela

induacutestria b) garantia de vida pelo medicamento satildeo as associaccedilotildees que dependem da

medicaccedilatildeo para a vida do paciente ser garantida ou o avanccedilo da doenccedila ser paralisado

Fortemente influenciadas pelas induacutestrias farmacecircuticas natildeo soacute na constituiccedilatildeo da associaccedilatildeo

como tambeacutem no direcionamento das suas atividades algumas vezes e dependendo da

disposiccedilatildeo dos dirigentes da associaccedilatildeo podem trabalhar como agentes de campo da induacutestria

para conseguir encontrar os pacientes para os seus medicamentos Possuem portanto o maior

28 O reconhecimento que as associaccedilotildees possuem mais motivaccedilotildees que a busca exclusiva pela cura ainda mais por ela natildeo

existir enriquece de maneira significativa a percepccedilatildeo sobre essas associaccedilotildees

31

alinhamento com o modo de produccedilatildeo capitalista na qual o paciente acaba sendo a mais valia

com o seu preccedilo vinculado ao valor do remeacutedio

Finalmente o uacuteltimo eixo eacute o da luta pela qualidade de vida Esse eixo tem a participaccedilatildeo

das associaccedilotildees que tratam com doenccedilas que natildeo possuem risco de morte mas possuem forte

fator de cronicidade com manifestaccedilotildees cliacutenicas evidentes que muitas vezes satildeo motivo de

discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Possuem grande foco na autoajuda e no apoio muacutetuo O

relacionamento com a induacutestria farmacecircutica eacute quase nulo ou de aversatildeo Natildeo por falta de

interesse da induacutestria mas pelo receio das associaccedilotildees serem utilizadas como ratos de

laboratoacuterio As accedilotildees deste eixo estatildeo mais centradas no trabalho com a sociedade e para

mostrar que a doenccedila eacute mais uma questatildeo social que individual

Conclusatildeo

Manter a percepccedilatildeo sobre as associaccedilotildees de doenccedilas raras focalizada nos resultados que

promovem na sociedade sem conhecer os pacientes ou as motivaccedilotildees que levam os pais matildees

ou os militantes a iniciar uma associaccedilatildeo civil eacute prosseguir ou ateacute mesmo incentivar o avanccedilo

do mercado sobre a sauacutede A anaacutelise das associaccedilotildees e a tipificaccedilatildeo de suas atividades

realizadas nesse trabalho baseiam-se conforme exposto por Epstein (2008) na necessidade de

criar uma anaacutelise na perspectiva do ativista em uma visatildeo de dentro do grupo de pacientes

sobre a negociaccedilatildeo vis-agrave-vis com a aacuterea Biomeacutedica Estado e Mercado Ao colocar as

motivaccedilotildees que gerem as associaccedilotildees civis para doenccedilas raras encontra-se uma gama de

interesses que muitas vezes deixam o paciente longe de qualquer discussatildeo A influecircncia da

biotecnologia e seu mercado assume um papel estruturante porque atua justamente na

reconfiguraccedilatildeo da influecircncia da biomedicina e do bios na ldquoredefiniccedilatildeo da vida e da sauacutede como

poliacuteticardquo (Felipe 2009)

Apesar do eixo da biotecnologia ser comum aos trabalhos desenvolvidos por diferentes

cientistas que estudam as associaccedilotildees de doenccedilas raras de partida natildeo haacute aqueles que se

dedicam em escrutinar a dimensatildeo do ldquobiosrdquo das associaccedilotildees Tomando o Bios dentro de uma

perspectiva foucaultiana como a luta pela vida ou melhor dizendo a entrada da vida nos

campos do (bio)poder da (bio)cidadania da (bio)poliacutetica (bio)socialidade e como

reconhecimento de uma forte influecircncia da biotecnologia a assimilaccedilatildeo radical do BIOs para o

contexto das associaccedilotildees pode facilitar o entendimento sobre as forccedilas que as influenciam e os

mecanismos que utilizam para alcanccedilarem os seus objetivos Ao mesmo tempo que reconheccedilo

a necessidade de realizar um estudo sistemaacutetico sobre o BIOs percebo os evidentes ldquosinaisrdquo

(Ginzburg 1989) que satildeo deixados no campo e que me levam a crer na necessidade da tomada

natildeo somente do BIOs como uma questatildeo social mas tambeacutem do termo BIOassociaccedilotildees como

uma necessidade identitaacuteria das associaccedilotildees civis que atuam no campo das doenccedilas raras

Como visto as BIOassociaccedilotildees satildeo criadas como uma resposta a falta de informaccedilotildees que

paismatildees ou pacientes encontram no campo das doenccedilas raras Apesar da esperanccedila em uma

melhoria futura ser uma de suas motivaccedilotildees as BIOassociaccedilotildees possuem como motor de

arranque o medo a coragem a resignaccedilatildeo e a frustraccedilatildeo que as pessoas experimentam quando

satildeo inseridas na realidade de uma doenccedila incuraacutevel Embaladas sob o manto do cuidado os

paismatildees dos pacientes com doenccedilas raras jogam-se em uma verdadeira ldquopesquisa na selvardquo

em busca de informaccedilotildees que podem ajudar as suas crianccedilas Se a informaccedilatildeo eacute mais importante

que o tratamento29 e a sua falta a origem de toda a anguacutestia pessoal que acaba por se tornar

num problema social cabe ao Estado organizar-se para que as suas informaccedilotildees sejam as

29 Durante quatro anos a enquete ldquoEm sua opiniatildeo o que possui o maior impacto negativo A falta de tratamento ou A falta de

informaccedilatildeordquo ficou disponiacutevel no site da AMAVI Durante esse periacuteodo 60 das respostas indicavam que a falta de

informaccedilatildeo gerava um impacto negativo maior que a falta de tratamento

32

primeiras a chegarem ao paciente e demais interessados nas doenccedilas raras Caso contraacuterio a

sua ausecircncia eacute um incentivo para o capital continuar a fazer dos paismatildees e associaccedilotildees

agentes de produccedilatildeo do lucro e de suas crianccedilas e pacientes a mateacuteria-prima para a criaccedilatildeo do

biovalor como colocado por Novas (2006)

A questatildeo das bioassociaccedilotildees eacute definitivamente um problema social Mas natildeo do social

para conseguir gerar os lucros para o capital como vem sendo realizado ateacute ao momento pela

regulamentaccedilatildeo do Orphan Drug Act mas como a necessidade do Estado apoiar as famiacutelias

que convivem com a biomedicina de maneira direta e natildeo por intermediaccedilatildeo do mercado Desta

maneira alinho-me agraves recomendaccedilotildees realizadas por Akrich et al (2008)

Reconhecer a regra das organizaccedilotildees de pacientes na governaccedilatildeo do conhecimento e poliacuteticas de sauacutede faz

das POs os proacuteprios atores no seu proacuteprio direito de produccedilatildeo de conhecimento Centros de pesquisa devem

ser chamados para aprimorar a mediaccedilatildeo entre pacientes e induacutestrias e entre pacientes e pesquisadores Os

procedimentos para definir os patrocinadores devem ser definidos e transparentes

Tambeacutem tendo o medicamento como pano de fundo e para uma visatildeo mais abrangente eacute

necessaacuterio incentivar as pesquisas sociais que como assinalado por Epstein (2008) realizem

estudos comparativos entre a mesma perspectiva em paiacuteses diferentes ou perspectivas diferentes

no mesmo paiacutes30 incentivar a produccedilatildeo cientiacutefica em outros paiacuteses uma vez que grande parte

dos estudos estatildeo concentrados nos EUA e nos paiacuteses do oeste europeu analisar a dinacircmica

entre Movimento e Contramovimento e analisar as diferentes fases de atividades entre

movimentos da sauacutede e sucessivos regimes de doenccedila

Enquanto a preocupaccedilatildeo estiver exclusivamente na accedilatildeo das associaccedilotildees e seus resultados

na sociedade a pessoa que sofre os sintomas da doenccedila continuaraacute sendo invisiacutevel e os

sentimentos de seus familiares e grupos de apoio mais proacuteximos continuaratildeo relegados

Referecircncias Biograacuteficas

Akrich M Nunes JA Rabeharisoa V (2008) Conclusions in The Dynamic of patient

organizations in Europe Paris Presses de lrsquoEacutecole des mines 221-245

Allsop J Jones K Baggott R (2004) Health consumer groups in the UK A new social

movement Sociology of Healty amp Illness 26(6) 737-756

Callon M Rabeharisoa V (2003) Research ldquoin the wildrdquo and the shaping of new social

dentities Technology in Society 25(2) 193-204

Epstein S (2008) Patient Groups and Health Movements in E Hackett O Amsterdamska

M Lynch e J Wajcman The Handbook of Science and Technology Studies Cambridge

Massachusetts MIT Press 499-539

30 Deve-se chamar a atenccedilatildeo para a grande variedade de trabalhos realizados na perspectiva dos estudos entre paiacuteses diferentes

mas europeus ou paiacuteses diferentes e do ldquonorterdquo Muitas accedilotildees estatildeo em andamento em paiacuteses de todos os continentes mas

ainda sem grande interesse dos pesquisadores Haacute o risco de nos paiacuteses da Ameacuterica Latina o modelo europeu ser implantado

na sua totalidade sem considerar as caracteriacutesticas locais Esse argumento eacute reforccedilado quando se percebe que as induacutestrias que

investem nas associaccedilotildees independentes do paiacutes satildeo praticamente as mesmas A globalizaccedilatildeo da doenccedila natildeo pode superar a

regionalizaccedilatildeo dos problemas

33

Faurisson F (2000) Problemaacutetica das doenccedilas raras EURORDIS consultado a 20112012

disponiacutevel em httpwwweurordisorgpt-ptcontento-que-e-uma-doenca-rara

Filipe A M (2009) Actores colectivos e os seus projectos para a sauacutede o caso das

associaccedilotildees de doentes em Portugal ea-journal 1(2) 1-48

Novas C (2006) The Political Economy of Hope Patientsrsquo Organizations Science and

Biovalue BioSocieties 1 289-305

Nunes J A (2006) A pesquisa em sauacutede nas ciecircncias sociais e humanas Tendecircncias

Contemporacircneas Oficina 253 Coimbra Centro de Estudos Sociais da Universidade de

Coimbra

Rabeharisoa V Moreira T Akrich M (2013) Evidence-based activism Patientsrsquo

organisations users and activists groups in knowledge society CSI Working Papers Series

33

Rabeharisoa V et al (2012) The dynamics of causes and conditions the rareness of diseases

in French and Portuguese patientsrsquo organizationsrsquo engagement in research CSI Working Paper

Series 026

Rabeharisoa V (2008) Experience knowledge and empowement the increasing role of

patient organizations in staging weighting and circulating experience and knowledge in

Akrick M et al The dynamics of patient organizations in Europe Paris Sociales Collection

Sciences 13-34

Santos B S Hespanha P (1987) O Estado a sociedade e as poliacuteticas sociais Revista

Criacutetica de Ciecircncias Sociais 62 13-73

34

Doenccedilas raras e cuidado um olhar a partir das redes sociais

Siacutelvia Portugal1 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra spfeucpt Joana Pimentel Alves2 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra joanapimentelalvesgmailcom

Introduccedilatildeo

Este texto parte do princiacutepio que um olhar a partir das redes sociais pode contribuir para a

superaccedilatildeo de (pre)conceitos acerca do cuidado das doenccedilas raras

A associaccedilatildeo de ldquorarordquo a doenccedila levanta problemas especiacuteficos que se constituem em

obstaacuteculos ao cuidado e agrave plena integraccedilatildeo social dosas doentes e das suas famiacutelias (Portugal

2013) As doenccedilas raras satildeo definidas pelo nuacutemero da sua ocorrecircncia pelo significado

estatiacutestico da sua incidecircncia na populaccedilatildeo Fogem portanto agrave norma Eacute o impacto do

significado meacutedico e social de estar fora da norma que marca a vida das pessoas com doenccedilas

raras e das suas famiacutelias Estar fora da norma implica que os diagnoacutesticos tardam os exames

as consultas e as opiniotildees se multiplicam as respostas natildeo satildeo adequadas as necessidades natildeo

satildeo atendidas a urgecircncia do cuidado contrasta com o tempo longo da espera Estar fora da

norma revela-se no corpo implica olhares furtivos contactos evitados oportunidades perdidas

gera estigma cria vidas escondidas quotidianos que giram agrave volta da doenccedila

O desafio eacute fazer com que o desvio da norma estatiacutestica natildeo se traduza em exclusatildeo social

assumindo para tal o princiacutepio da integralidade do cuidado e das necessidades da pessoa com

doenccedila e da sua famiacutelia Neste texto defende-se que um olhar a partir da rede social doa doente

permite responder a esse desafio Esta abordagem ancora-se em dois pressupostos as pessoas

sabem mais sobre a sua doenccedila do que os outros as pessoas satildeo mais do que a doenccedila

Doenccedilas raras e cuidado

Na sua acepccedilatildeo mais comum a noccedilatildeo de cuidado tem algumas proximidades com a definiccedilatildeo

de doenccedila rara O cuidado eacute excepcional episoacutedico pontual resulta de ldquoacidentesrdquo que

suscitam assistecircncia e apoio Esta noccedilatildeo tem obscurecido realidades que precisam de

visibilidade ndash a das pessoas que precisam de cuidados quotidianos continuados e ao longo da

vida e a dosas seusas cuidadoresas

Olhar para estas pessoas e para as suas necessidades obriga a uma construccedilatildeo ampla do

cuidado que reconheccedila que este eacute transversal na vida e no quotidiano de todas as pessoas natildeo

soacute dosas doentes Os desafios satildeo muacuteltiplos 1) reconhecer a vulnerabilidade de todosas noacutes

ao longo do ciclo de vida (Kittay 1999 Tronto 1993) 2) reconhecer que quem eacute cuidado

tambeacutem cuida (Lovell 2013) 3) sair das generalidades concetuais para prestar atenccedilatildeo aos

detalhes da vida (Laugier 2009) 4) construir uma linguagem diferente que ultrapasse os

modelos tradicionais da bio-medicina e da assistecircncia social que compartimentaliza as

1 Siacutelvia Portugal eacute doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da

Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas

Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE) 2 Joana Alves eacute Mestre e Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra bolseira da

Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia (SFRHBD778392011)

35

necessidades e objectifica os sujeitos A linguagem do cuidado ldquopermite manter o fio da vida

ordinaacuteriardquo (Tronto 1993)

O cuidado eacute complexo e possui muacuteltiplas dimensotildees que mostram a complexidade do

fenoacutemeno e explicam a dificuldade em estabelecer uma definiccedilatildeo consensual (Alves 2011) o

contexto social e poliacutetico a natureza e extensatildeo do cuidado o domiacutenio em que ocorre as

relaccedilotildees entre quem cuida e quem eacute cuidado as razotildees para cuidar A tendecircncia predominante

na definiccedilatildeo de cuidado constroacutei-se em torno da oposiccedilatildeo entre duas vias de prestaccedilatildeo de

cuidados ndash a via formal e a via informal (OECD 2005 European Comission 2010

Triantafillou et al 2010)

O Quadro 1 segue esta distinccedilatildeo para identificar diferentes caracteriacutesticas do cuidado

Quadro 1 ndash Caracteriacutesticas do cuidado formal e informal

No entanto um olhar a partir das pessoas com doenccedilas raras relativiza esta distinccedilatildeo Na

praacutetica o apoio envolve sempre cuidados dos dois tipos mas tambeacutem porque a ldquoraridaderdquo das

doenccedilas torna mais especiacuteficas constantes e diversificadas as necessidades de cuidado o que

pode obrigar a um maior nuacutemero de intervenccedilotildees dos dois tipos e a que essas aconteccedilam com

maior frequecircncia Deste modo o que no quotidiano diferencia estes dois modos de prestaccedilatildeo

de cuidados satildeo o tipo e a intensidade de cuidados prestados que revelam niacuteveis de

36

envolvimento diferenciados entre cuidadoresas formais e informais E sobre isto os estudos

desenvolvidos tecircm sido muito claros quanto mais grave for a situaccedilatildeo de dependecircncia e mais

exigentes forem as necessidades maior eacute o envolvimento da famiacutelia na prestaccedilatildeo de cuidados

(Hooyman et al 1995 Goodhead et al 2007 Glendinning et al 2009 Triantafillou et al

2010 Alves 2011) O caraacutecter ldquorarordquo da doenccedila estende-se agraves respostas formais disponiacuteveis

quanto mais exigente eacute o tipo de apoio menos respostas existem e maior eacute a responsabilizaccedilatildeo

da esfera informal e da famiacutelia

A prestaccedilatildeo formal de cuidados apresenta portanto um quadro de intervenccedilatildeo que revela

escassa capacidade para integrar as especificidades e necessidades individuais produzindo uma

atenccedilatildeo normalizada e normalizadora que dificilmente atende agraves circunstacircncias de vida das

pessoas com doenccedilas raras A atenccedilatildeo da famiacutelia tende a contrariar este modo de agir O cuidado

prestado pela rede familiar parte das necessidades de quem eacute cuidado dando origem a uma

atenccedilatildeo especiacutefica As vidas de quem cuida satildeo construiacutedas na relaccedilatildeo com o outro e na resposta

agraves suas necessidades o que tem consequecircncias nas suas proacuteprias vidas Os impactos do cuidado

satildeo por isso inuacutemeros e em diferentes esferas relaccedilotildees pessoais e familiares trabalho e

emprego sauacutede dinheiro etc

As exigecircncias de um cuidado muito especiacutefico e especializado resultam sempre em

mudanccedilas no quotidiano e nas vidas de quem cuida Uma reestruturaccedilatildeo natildeo soacute ao niacutevel do tipo

e da intensidade das tarefas desenvolvidas como na forma como as pessoas passam a entender

o seu papel Ao entenderem o cuidado e o papel de cuidadoresas como o centro das suas vidas

sobra pouco espaccedilo para outras pessoas ou outras actividades

As suas rotinas tornam-se por isso riacutegidas natildeo soacute pelo tipo de tarefas realizadas mas

tambeacutem pelo ritmo a que as realizam ndash o apoio eacute quotidiano continuado e de longa duraccedilatildeo

Os tempos dos cuidados acabam por se sobrepor aos tempos pessoais dosas cuidadoresas e

isso isola os indiviacuteduos As sociabilidades e os tempos de lazer quando existem satildeo centradas

na famiacutelia Mas o isolamento natildeo se alimenta apenas da falta de tempo das pessoas para outras

coisas que natildeo o cuidado O preconceito para com o desconhecido para com o ldquorarordquo exclui

oa doente e a famiacutelia

Outra das aacutereas da vida de quem cuida mais afetada pelo cuidado eacute o trabalho e o emprego

Os impactos satildeo diversos e as poliacuteticas natildeo tecircm conseguido regulaacute-los revelando-se ineficazes

na proteccedilatildeo dosas trabalhadoresas com filhosas com necessidades de cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo Pela dificuldade em combinar-se o cuidado com o emprego

algunsmas cuidadoresas veem-se excluiacutedos do mercado de trabalho com especial incidecircncia

para as matildees trabalhadoras Quando a pessoa a cuidar exige uma atenccedilatildeo muito particular satildeo

na maioria as mulheres a reduzir o seu horaacuterio de trabalho ou a deixar o seu lugar no mercado

de trabalho formal para se dedicarem a tempo inteiro ao cuidado familiar

Isso eacute sobretudo gravoso dado os custos acrescidos que as famiacutelias das pessoas com

doenccedilas raras tecircm que comportar para proporcionarem as mesmas condiccedilotildees de igualdade de

oportunidades ou para salvaguardarem garantias baacutesicas de dignidade humana a essas pessoas

Estas famiacutelias pagam mais em aacutereas como a sauacutede a educaccedilatildeo alimentaccedilatildeo etc custos

acrescidos que o niacutevel de apoios pecuniaacuterios atribuiacutedos pelo Estado natildeo permitem colmatar

(Portugal et al 2010)

Para aleacutem dos apoios pecuniaacuterios serem insuficientes tambeacutem o niacutevel das estruturas

especiacuteficas para situaccedilotildees de doenccedila que exigem uma assistecircncia permanente de outra pessoa

fica aqueacutem das necessidades reais As instituiccedilotildees organizam-se de modo a responder agraves

necessidades de todosas o que acaba por excluir todas as pessoas que tecircm necessidades de

atenccedilatildeo muito especializada A desadequaccedilatildeo entre a resposta necessaacuteria e o niacutevel de apoio

recebido leva a que quem cuida acabe muitas vezes por desistir de recorrer aos serviccedilos de

apoio especializado optando por ficar a cuidar muitas vezes a tempo inteiro

37

A sobrecarga de trabalho a estruturaccedilatildeo do quotidiano em torno dos cuidados e o estigma

social produzem efeitos fortes de desgaste fiacutesico e psicoloacutegico Os impactos ao niacutevel da sauacutede

de quem cuida satildeo assim elevados quer ao niacutevel fiacutesico quer ao niacutevel mental formando um ciclo

vicioso com outras dimensotildees acima mencionadas trabalho e sociabilidades Quanto mais

debilitada eacute a sauacutede dos indiviacuteduos maiores dificuldades encontram a outros niacuteveis quanto

mais precaacuterias satildeo as suas condiccedilotildees a niacutevel profissional e relacional mais fraacutegil se torna a sua

sauacutede (Portugal et al 2010)

Assim quando o foco passa a ser na integralidade do indiviacuteduo nas necessidades de quem

cuida e eacute cuidado e na procura da sua satisfaccedilatildeo a distinccedilatildeo entre cuidado formal e informal

parece fazer pouco sentido Uma abordagem a partir da rede de cuidados permite colocar os

sujeitos no centro e identificar as potencialidades e constrangimentos de cada tipo de prestaccedilatildeo

de cuidados

O cuidado um olhar a partir das redes sociais

O conceito de rede social constitui um instrumento analiacutetico que permite olhar para forma e

conteuacutedo das relaccedilotildees sociais ndash os noacutes e os laccedilos os elementos da rede as relaccedilotildees entre eles

os fluxos Partindo de trecircs perguntas simples Quem O quecirc Como Enunciamos questotildees que

permitem construir um olhar social sobre a pessoa que sofre de uma doenccedila rara e as suas

necessidades de cuidado Quem faz parte da rede Quem faz o quecirc Que recursos satildeo

mobilizados Como fazem Que praacuteticas Que normas O que se faz Por que se faz

Quando observamos as trajetoacuterias de vida das pessoas com doenccedilas raras e analisamos a

sua rede social vemos na famiacutelia o principal prestador de cuidados na procura de informaccedilatildeo

na busca de um diagnoacutestico na construccedilatildeo de itineraacuterios terapecircuticos no cuidado quotidiano

permanente e de longa duraccedilatildeo (Alves 2011 Barbosa 2013) A famiacutelia eacute perene no espaccedilo e

no tempo e os laccedilos de parentesco satildeo sinoacutenimo de confianccedila (Portugal 2014) As relaccedilotildees

familiares oferecem assim garantias de estabilidade e continuidade que amortecem os efeitos

dos percursos cliacutenicos erraacuteticos a que frequentemente as pessoas estatildeo sujeitas

Como acima foi referido observando a rede verificamos que os elementos da famiacutelia satildeo

os atores mais ativos mobilizam recursos materiais e afetivos datildeo resposta a muacuteltiplas

necessidades A rede familiar caracteriza-se pela sua diversidade e plasticidade No interior dos

laccedilos de parentesco circulam fluxos diversos que asseguram o cuidado da pessoa com doenccedila

bens serviccedilos afecto apoio emocional sociabilidade informaccedilatildeo A famiacutelia provem diferentes

recursos que garantem o quotidiano das pessoas na doenccedila e para aleacutem da doenccedila alimentaccedilatildeo

vestuaacuterio habitaccedilatildeo transporte medicaccedilatildeo tratamentos informaccedilatildeo aconselhamento apoio

afectivo mediaccedilatildeo com o sistema de sauacutede e seguranccedila social Os laccedilos familiares revelam uma

elevada capacidade de resposta e de adaptaccedilatildeo agraves necessidades

Assim se o cuidado biomeacutedico tem dificuldades em lidar com as especificidades das

doenccedilas raras o cuidado familiar ao assentar na atenccedilatildeo agrave singularidade permite integrar a

diferenccedila e responder-lhe adequadamente As histoacuterias de cuidado(s) das pessoas com doenccedilas

raras revelam uma constelaccedilatildeo de praacuteticas e de saberes que permitem colocar no centro as

necessidades individuais Conjugando o tradicional e o moderno novas e velhas praacuteticas

saberes leigos e cientiacuteficos vias tecnoloacutegicas fontes formais e informais os exemplos da

aptidatildeo da rede familiar para encontrar soluccedilotildees que garantem o bem-estar dosas doentes satildeo

muacuteltiplos imaginativos e eficazes um alimento que se inclui ou retira da dieta uma teacutecnica

que permite vestir e despir mais raacutepido uma forma mais confortaacutevel de deitar levantar sentar

deslocar um medicamento que alivia uma associaccedilatildeo que ajuda um profissional de sauacutede que

eacute (mais) atento uma escola que natildeo discrimina um local de trabalho com boas praacuteticas um

local de lazer com boas acessibilidades um restaurante que responde a pedidos de dieta

38

O que faz mover as redes sociais Que normas regulam a sua acccedilatildeo Encontramos no

cuidado das doenccedilas raras a normatividade que regula a daacutediva familiar (Portugal 2014) O

cuidado familiar funda-se num sistema de daacutediva e deve ser entendido natildeo como uma seacuterie de

actos unilaterais e descontiacutenuos mas como relaccedilatildeo ldquoo dom natildeo eacute uma coisa mas uma relaccedilatildeo

socialrdquo (Godbout 1992 15) Marcel Mauss em Ensaio sobre a Daacutediva (1988) afirmou a

centralidade da daacutediva nas sociedades arcaicas e a importacircncia do princiacutepio ldquodar receber

retribuirrdquo mas teve dificuldade em reconhecer que a sua existecircncia nas sociedades modernas

fosse aleacutem do estatuto de manifestaccedilatildeo residual do passado No entanto ldquoo dom eacute tatildeo moderno

e contemporacircneo como caracteriacutestico das sociedades arcaicasrdquo (Godbout 1992 20)

Fenoacutemenos como a oferta de prendas a prestaccedilatildeo de cuidados agraves crianccedilas aos idosos e aos

doentes os convites para festas e a hospitalidade o voluntariado a doaccedilatildeo de sangue e de

orgatildeos constituem formas de troca social que natildeo satildeo hoje residuais nem quantitativamente

(dada a sua frequecircncia no quotidiano) nem qualitativamente (dada a sua importacircncia na vida

dos indiviacuteduos) A definiccedilatildeo de daacutediva proposta por Godbout em Lrsquo Esprit du don (1992) e

que Cailleacute retoma (2000) ndash ldquotoda a prestaccedilatildeo de bem ou serviccedilo efectuada sem garantia de

retorno com vista a criar alimentar ou recriar o viacutenculo social entre as pessoasrdquo (Godbout

1992 32 Cailleacute 2000 124) ndash permite mostrar como o dom assim caracterizado como modo

de circulaccedilatildeo dos bens ao serviccedilo do laccedilo social constitui um elemento essencial para a

compreensatildeo do cuidado

Neste contexto o conceito de diacutevida positiva utilizado por Godbout (2000) revela-se

bastante produtivo para analisar a circulaccedilatildeo da daacutediva no interior da famiacutelia mais do que o

conceito de reciprocidade (Portugal 2014) Numa relaccedilatildeo de dom o estado de diacutevida positiva

escapa agrave equivalecircncia e faz com que cada um considere que recebe mais do que daacute embora

esteja sempre disposto a retribuir Elementos materiais afetivos e simboacutelicos misturam-se num

jogo complexo que no entanto natildeo deixa totalmente de lado a reciprocidade Na reciprocidade

familiar por um lado daacutediva e retribuiccedilatildeo fazem circular e equivaler coisas muitos diferentes

por outro lado entre dom e contra-dom o tempo pode correr sem que o ciclo se quebre Natildeo

conta o que se troca nem quando se troca Nesta daacutediva o tempo conta tanto menos quanto

mais se confia no outro Mediada pela afectividade e pela confianccedila a reciprocidade entre

parentes realiza-se muitas vezes agrave ldquoescala de uma vidardquo e transforma a ajuda numa espeacutecie de

ldquocreacutedito a longo prazordquo que natildeo necessita de ser retribuiacuteda no imediato nem de ser simeacutetrica

o contra-dom pode vir muito mais tarde ou mesmo ser destinado a outra pessoa (Finch1989

Deacutechaux 1990 Bawin-Legros 2003 Portugal 2014)

Notas finais

O cuidado das pessoas com doenccedilas raras assenta essencialmente na dedicaccedilatildeo e amor das suas

famiacutelias As histoacuterias das vidas das pessoas com doenccedilas raras das suas famiacutelias dos seus

proacuteximos satildeo admiraacuteveis pelo exemplo que oferecem de luta contra a adversidade As suas

biografias revelam trajetoacuterias extraordinaacuterias de conquista quotidiana de esperanccedila e de vida

contra o desconhecimento o desinteresse o preconceito o desespero Agrave ausecircncia de respostas

e de apoios formais agrave escassa garantia de direitos contrapotildeem-se percursos de vida assentes na

solidariedade e na daacutediva que recusam a derrota (Portugal 2013)

Quando se reivindica apoio e assistecircncia muitas vezes a primeira leitura orienta-se para a

demissatildeo das famiacutelias Ela natildeo podia ser mais erroacutenea As famiacutelias natildeo se querem ver

substituiacutedas no seu papel no entanto para o poderem desempenhar da melhor forma para natildeo

adoecerem conjuntamente com os seus familiares necessitam de condiccedilotildees e de meios para a

prestaccedilatildeo do cuidado Eacute esse o desafio que as poliacuteticas puacuteblicas tecircm que assumir tomar as

famiacutelias como parceiras

39

O conceito de rede pode tambeacutem permitir uma resposta a esse desafio fornecendo

instrumentos para uma intervenccedilatildeo assente na integralidade do cuidado As doenccedilas raras

colocam em accedilatildeo um conjunto de atores (doentes famiacutelias profissionais de sauacutede profissionais

da assistecircncia social associaccedilotildees Estado mercado comunidade) de saberes (leigos e

cientiacuteficos) de praacuteticas (formais e informais) de relaccedilotildees (sociais materiais e simboacutelicas) que

importa conciliar O cuidado em rede eacute um repto agrave articulaccedilatildeo entre atores e recursos que parta

do sujeito para regressar ao sujeito

Referecircncias bibliograacuteficas

Alves Joana (2011) Vidas de Cuidado(s) Uma anaacutelise socioloacutegica do papel dos cuidadores

informais Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de Economia da Universidade

de Coimbra

Barbosa Rogeacuterio Lima (2013) Pele de cordeiro Associativismo e Mercado na produccedilatildeo de

cuidado para as doenccedilas raras Tese de Mestrado em Sociologia Coimbra Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Bawin-Legros Bernadette (2003) Le nouvel ordre sentimental Agrave quoi sert la famille

aujourdrsquohui Paris Payot

Cailleacute Alain (2000) Anthropologie du don Le tiers paradigme Paris Descleacutee de Brouwer

Deacutechaux Jean-Hugues (1990) ldquoLes eacutechanges eacuteconomiques au sein de la parentegravelerdquo Sociologie

du Travail 1 73-94

European Comission (2010) ldquoCaring and post caring in Europerdquo European Commission

Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwlifeaftercareeudocsOverviewReportFinalSept2010pdf

Finch Janet (1989) Family Obligations and Social Change Cambridge Polity Press

Glendinning Caroline et al (2009) ldquoCare Provision within Families and its Socio-Economic

Impact on Care Providersrdquo University of York Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwwyorkacukinstspruresearchpdfEUCarerspdf

Godbout Jacques T (1992) Lrsquoesprit du don Paris Eacuteditions La Deacutecouverte

Godbout Jacques T (2000) Le don la dette et lrsquoidentiteacute Paris La Deacutecouverte

Goodhead Anne McDonald Janet (2007) ldquoInformal Caregivers Literature Review A report

prepared for the National Heath Committeerdquo Wellington Health Services Centre Victoria

University of Wellington Consultado em 24112014 disponiacutevel em

httpnhchealthgovtnzsystemfilesdocumentspublicationsinformal-caregivers-literature-

reviewpdf

40

Hooyman Nancy R Gonyea Judith (1995) Feminist perspetives on family care policies for

gender justice London Sage Publications

Kittay Eva Feder (1999) Loversquos Labor essays on woman equality and dependency New

York Routledge

Laugier Sandra (2009) ldquoLe sujet du care vulnerabiliteacute et expression ordinairerdquo in Pascale

Molinier Sandra Laugier e Patricia Paperman Qursquoest-ce que le care Souci des autres

sensibiliteacute responsabiliteacute Paris Payot 159-200

Lovell Anne (2013) ldquoAller vers ceux qursquoon ne voit pas Maladie mentale et care dans des

circonstances extraordinairesrdquo in Anne Lovell Stefania PandolfoVeena Das e Sandra Laugier

Face aux desastres Paris Ithaque 27-81

Mauss Marcel (1988) Ensaio sobre a daacutediva Lisboa Ediccedilotildees 70

OECD (2005) ldquoLong-term care for older people OECD Study (2001-2004)rdquo OECD

Publishing Consultado a 24112014 disponiacutevel em httpwwwoecdorgelshealth-

systemslong-termcareforolderpeopleoecdstudy2001-2004htm

Portugal Siacutelvia (2014) Famiacutelia e Redes Sociais Ligaccedilotildees fortes na produccedilatildeo de bem-estar

Coimbra Almedina

Portugal Siacutelvia (2013) Para um comeccedilo de reflexatildeo sobre o cuidado das doenccedilas raras in

Cacircmara dos Deputados Romaacuterio Deputado Federal (Ed) Dia Mundial das Doenccedilas Raras

2013 Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Ediccedilotildees Cacircmara 25-28

Portugal Siacutelvia et al (2010) Estudo de Avaliaccedilatildeo dos Custos Financeiros e Sociais da

Deficiecircncia Coimbra Centro de Estudos Sociais

Triantafillou Judy et al (2010) ldquoInformal care in the long-term care system European

Overview Paperrdquo Interlinks Consultado a 24112014 disponiacutevel em

httpwwweurocentreorgdata1278594816_84909pdf

Tronto Joan (1993) Moral Boundaries A Political Argument for an Ethics of Care NewYork

Routledge

41

Um Olhar Social para o Paciente de Doenccedilas Raras

textos dosas palestrantes do I CIADR

42

Rede de Apoio ao Paciente - Modelo de cuidado e acessibilidade a

familiares e pacientes com doenccedilas raras

Ana Maria Martins1 Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP anamartinsunifespbr

A minha histoacuteria com as doenccedilas raras comeccedila aos meus nove anos de idade com o nascimento

da minha irmatilde com Siacutendrome de Aspert Provavelmente ter escolhido medicina pediatria e

geneacutetica cliacutenica foram desdobramentos desse fato Realizei meu treinamento em pediatria e a

especializaccedilatildeo em Geneacutetica Cliacutenica na Escola Paulista de Medicina em Satildeo Paulo Fui

responsaacutevel pelo Ambulatoacuterio de Fenilcetonuacuteria da APAE ndash SP (Associaccedilatildeo de Pais e Amigos

dos Excepcionais de Satildeo Paulo) e realizei meu Mestrado em Deficiecircncia fiacutesica e mental em

uma comunidade de Satildeo Paulo O Doutorado foi baseado no acompanhamento de 80 pacientes

com Fenilcetonuacuteria O meu Poacutes-doutorado foi em Pittsburgh-EUA no West Penn Hospital e na

Universidade da Califoacuternia de San Diego em geneacutetica cliacutenica

Em 1997 pela carecircncia de serviccedilos que cuidassem de pacientes com erros inatos do

metabolismo (EIM) e como eu tinha experiecircncia com a Fenilcetonuacuteria por indicaccedilatildeo da minha

universidade iniciei um ambulatoacuterio para esse grupo de doenccedilas A Fenilcetonuacuteria foi a

primeira doenccedila a responder a uma dieta especiacutefica Com potencial para prevenccedilatildeo do grave

retardo mental foi desenvolvido um meacutetodo para diagnosticar a doenccedila no periacuteodo neonatal a

partir do teste de triagem neonatal e assim o tratamento ser precoce Nesse momento nasceu a

possibilidade de tratamento de outros EIM natildeo soacute pela ingestatildeo alimentar como tambeacutem por

medicamento

Na deacutecada de 90 surge a terapia de reposiccedilatildeo da enzima que eacute deficiente em determinadas

doenccedilas o que impulsionou a pesquisa na aacuterea das doenccedilas geneacuteticas criaccedilatildeo de implementos

para o diagnoacutestico de algumas doenccedilas nos paiacuteses em desenvolvimento e a maior divulgaccedilatildeo

entre os meacutedicos que lidam com as doenccedilas geneacuteticas

O ambulatoacuterio de EIM transformou-se no Centro de Referecircncia em Erros Inatos do

Metabolismo (CREIM) e durante 10 anos contou com a colaboraccedilatildeo de cerca de 10

profissionais de sauacutede voluntaacuterios dentre neurologistas nutricionistas psicoacutelogasos

fonoaudioacutelogasos e fisioterapeutas Com o surgimento da terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica

houve a necessidade de encontrar um local para realizaccedilatildeo deste tratamento De iniacutecio tivemos

como parceiro o Instituto do Sono do Departamento de Psicobiologia da UNIFESP utilizando

os leitos de dia para nossosas pacientes receberem medicaccedilatildeo Depois o GRAAC (Grupo de

Apoio agrave Crianccedila com CancecircrInstituto de Oncologia da UNIFESP) tornou-se nosso parceiro

aquando do iniacutecio da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (TRE) para a Mucopolissacaridose do

tipo I

Como os locais para TER eram garantidos por acordos pessoais havia a nossa preocupaccedilatildeo

em perdecirc-los a qualquer momento Essa preocupaccedilatildeo aumentava na medida que a quantidade

de pacientes tambeacutem crescia Os profissionais voluntaacuterios tambeacutem eram fonte de inseguranccedila

porque tambeacutem podiacuteamos perdecirc-los a qualquer momento Impulsionados por este cenaacuterio um

grupo de pessoas ligados ao CREIM decidiu constituir uma organizaccedilatildeo natildeo governamental o

1 Ana Maria Martins eacute professora do Departamento de Pediatria da UNIFESP e Diretora do Centro de Referecircncia em Erros

Inatos do Metabolismo - IGEIM

43

Instituto de Geneacutetica e Erros Inatos do Metabolismo (IGEIM) que veio dar suporte ao

funcionamento do CREIM com instalaccedilotildees adequadas agraves necessidades dos nossos pacientes

Fig 1 - Instalaccedilotildees do IGEIM - Entrada Fig 2 - Instalaccedilotildees do IGEIM ndash Sala de espera

A missatildeo do IGEIM eacute melhorar a qualidade de vida de pessoas com erros inatos do

metabolismo e dos seus familiares por meio do atendimento multidisciplinar com padratildeo

cientiacutefico de excelecircncia As suas aacutereas de atuaccedilatildeo satildeo a assistecircncia o ensino a pesquisa e a

educaccedilatildeo Atraveacutes do suporte ao CREIM o IGEIM estabelece uma interface com a proacutepria

UNIFESP

Os EIM que satildeo o nosso foco principal de atuaccedilatildeo no momento contam com mais de 700

doenccedilas diferentes e podem ser classificados em trecircs grupos permitindo uma abordagem cliacutenica

praacutetica dos pacientes

Grupo 1 Defeito no metabolismo intermediaacuterio relacionado a ingestatildeo alimentar de

proteiacutena e accediluacutecares levando a quadros de intoxicaccedilatildeo aguda e crocircnica A doenccedila pode se

manifestar jaacute no berccedilaacuterio ou nos primeiros dias meses ou ateacute anos de vida A crianccedila quando

inicia a amamentaccedilatildeo vai receber proteiacutena que eacute formada por aminoaacutecidos Se o paciente tem

uma enzima (substacircncia que possibilita as reaccedilotildees no nosso metabolismo) deficiente em sua

atividade natildeo conseguiraacute metabolizar um ou mais aminoaacutecidos e faraacute quadros agudos que

necessitam de hospitalizaccedilatildeo com diminuiccedilatildeo da glicose do sangue (hipoglicemia) ou acidez

do sangue (acidose metaboacutelica) e outros distuacuterbios que vatildeo comprometer o funcionamento do

metabolismo podendo ateacute levar a morte ou sequelas neuroloacutegicas graves para a crianccedila Se a

deficiecircncia de atividade da enzima natildeo eacute tatildeo grave as manifestaccedilotildees cliacutenicas podem acontecer

mais tarde e podem ser mais leves do que aquelas que se manifestam no berccedilaacuterio O tratamento

precoce neste grupo deve ser instituiacutedo tatildeo logo seja feito o diagnoacutestico que em muitas doenccedilas

eacute feito no teste de triagem neonatal ampliado natildeo disponiacutevel infelizmente para o territoacuterio

nacional A fenilcetonuacuteria tirosinemia homocistinuacuteria aciduacuterias orgacircnicas doenccedila do xarope

de bordo intoleracircncia a galactose e frutose fazem parte deste grupo O tratamento consta de

dietas restritivas naquele(s) aminoaacutecido(s) ou accediluacutecares (galactose ou frutose) o que possibilita

uma sobrevida com qualidade de vida maior desses pacientes

Grupo 2 defeito na produccedilatildeo ou utilizaccedilatildeo de energia e quadros cliacutenicos variaacuteveis Com

frequecircncia aparece a hipoglicemia porque a glicose eacute a unidade baacutesica de energia do nosso

corpo A mitococircndria eacute uma estrutura dentro da ceacutelula responsaacutevel por produccedilatildeo de energia

para o funcionamento das ceacutelulas O glicogecircnio eacute um pacote de glicose que fica guardado no

fiacutegado com o que sobra de glicose da nossa refeiccedilatildeo e durante o periacuteodo de jejum essa glicose

vai sendo liberada no sangue pela accedilatildeo de uma enzima que quebra o glicogecircnio em moleacuteculas

de glicose O defeito na oxidaccedilatildeo dos aacutecidos graxos (trigliceacuterides) estaacute relacionado a siacutendrome

da morte suacutebita porque quando acaba o glicogecircnio o organismo lanccedila matildeo dos aacutecidos graxos

para gerar energia Defeitos na mitococircndria nos metabolismos do glicogecircnio e dos aacutecidos

44

graxos podem levar a sinais e sintomas graves O tratamento neste grupo utiliza dieta pobre em

carboidrato para diminuir o depoacutesito de glicogecircnio no fiacutegado orientaccedilatildeo para dietas frequentes

evitando jejum prolongado e o uso de algumas vitaminas especiacuteficas (co-fatores) para as

doenccedilas mitocondriais

A suspeita do diagnoacutestico das doenccedilas dos grupos 1 e 2 podem ser realizadas pelo meacutedico

que conhece essas doenccedilas atraveacutes de exames que satildeo realizados na maioria dos serviccedilos

meacutedicos como a glicemia (dosagem da glicose do sangue) e avaliaccedilatildeo da acidez do sangue

(gasometria) O diagnoacutestico eacute confirmado em exames especiacuteficos como o teste de triagem

neonatal ampliado dosagem de aacutecidos orgacircnicos ou cromatografia de aminoaacutecidos

Grupo 3 defeito na siacutentese ou degradaccedilatildeo de moleacuteculas complexas ocorrendo em

estruturas especiacuteficas da ceacutelula lisossomos peroxissomos e retiacuteculo endoplasmaacutetico Os

quadros aqui tambeacutem satildeo variaacuteveis mas com frequecircncia haacute problemas no crescimento retardo

mental aumento do tamanho do fiacutegado eou baccedilo entre outros O tratamento deste grupo de

maior impacto eacute a TRE que quanto mais precoce eacute introduzida melhores satildeo os resultados A

terapia de reduccedilatildeo da produccedilatildeo do substrato que se acumula nas ceacutelulas tem mostrado bons

resultados em algumas doenccedilas

O diagnoacutestico no grupo 3 eacute confirmado atraveacutes de dosagem da atividade da enzima no

sangue mais a presenccedila de substacircncias especiacuteficas na urina raio X da coluna quadril e outros

As caracteriacutesticas de uma paciente com EIM satildeo as mesmas de qualquer paciente com uma

doenccedila rara a famiacutelia faz uma verdadeira peregrinaccedilatildeo por serviccedilos meacutedicos e ou consultoacuterios

haacute falta de informaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede satildeo muitos anos em busca de um diagnoacutestico

e realizaccedilatildeo de muitos exames sem nenhum resultado do problema familiares eou pacientes

com anguacutestia decepccedilatildeo cansaccedilo e muito aacutevidos por informaccedilatildeo sobre problema de sauacutede

Para a mudanccedila desse quadro eacute necessaacuterio gerar informaccedilatildeo para os profissionais de sauacutede

para que saibam identificar uma doenccedila rara e encaminhar para o serviccedilo de referecircncia

disponiacutevel o meacutedico deve buscar o diagnoacutestico do que ele natildeo conhece e fornecer aos

familiares eou paciente informaccedilotildees sobre o prognoacutestico prevenir as graves complicaccedilotildees

fornecer orientaccedilatildeo e fazer aconselhamento geneacutetico O tratamento das doenccedilas raras quando

disponiacutevel tem acesso dificultado por ser de alto custo sendo que o medicamento eacute conseguido

por meio de processos judiciais

O tratamento aleacutem do medicamentoso para ser completo e atender as necessidades dos

pacientes com doenccedilas raras precisa de ser multidisciplinar com profissionais das aacutereas entre

outras de nutriccedilatildeo fonoaudiologia fisioterapia enfermagem terapia ocupacional e psicologia

Assim aumentam as chances de proporcionar a melhoria de qualidade de vida do paciente e

sua famiacutelia

Referecircncia Bibliograacutefica

Saudubray J M Sedel F Walter J H (2006) ldquoClinical approach to tratable inborn

metabolic disesaes an introductionrdquo J Inherit Metab Dis 29 261-274

45

As pessoas com neurofibromatoses na luta de todos com doenccedilas

raras

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues1 Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG rodrigueslocgmailcom

A Associaccedilatildeo Mineira de Apoio aos Portadores de Neurofibromatose (AMANF) completou 10

anos de existecircncia e este periacuteodo foi repleto de boa vontade desejo de ajudar e esperanccedila de

institucionalizarmos o apoio agraves pessoas com neurofibromatoses Aprendemos muito neste

percurso

Aprendemos que a maioria das pessoas incluindo os profissionais de sauacutede e as autoridades

relacionadas agrave sauacutede puacuteblica desconhecem o que satildeo as neurofibromatoses (NF) As NF

constituem trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros e por acometerem

cerca de 13000 pessoas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas raras (Geller e Bonalumi Filho

2004)

Assim como as demais doenccedilas raras as NF enfrentam um conjunto de dificuldades que

denominamos DOR

D - Desconhecimento cientiacutefico

O - Omissatildeo institucional

R - Representaccedilatildeo social inexistente

Esta combinaccedilatildeo de desinformaccedilatildeo desamparo e desconhecimento pela sociedade resulta

em sofrimento crocircnico e reduccedilatildeo da qualidade de vida para as pessoas com NF e seus familiares

O desconhecimento cientiacutefico

Constitui uma experiecircncia bastante comum agraves pessoas com NF e seus familiares a constataccedilatildeo

de que haacute falta de informaccedilatildeo atualizada sobre NF por parte dos meacutedicosas e outros

profissionais de sauacutede (Souza et al 2009) Eacute claro que natildeo esperamos que todosas osas

meacutedicos conheccedilam os milhares de doenccedilas raras mas gostariacuteamos que diante de uma pessoa

com sinais e sintomas raros osas profissionais da sauacutede admitissem seu desconhecimento

solicitando outras opiniotildees especializadas Esta postura franca auxiliaria a pessoa com NF e sua

famiacutelia assim como permitiria ao proacuteprio profissional da sauacutede crescer cientificamente ao

buscar informaccedilotildees sobre aquilo que desconhece ou encaminhar a pessoa para outros

profissionais ou centros de referecircncia

Neste sentido recomendamos o alerta das pessoas com NF e seus familiares para alguns

sinais sugestivos de que oa profissional da sauacutede estaacute desatualizado quanto agraves NF

1 Quando elea natildeo sabe as grandes diferenccedilas entre os tipos 1 e 2 da NF

2 Quando elea natildeo sabe da existecircncia da Schwannomatose

3 Quando elea confunde a NF com a Doenccedila do Homem Elefante

4 Quando elea quer realizar imediatamente cirurgia quimioterapia ou radioterapia em

tumores benignos das NF apenas porque os tumores ldquoestatildeo laacuterdquo

1 Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues eacute meacutedico e professor titular aposentado na UFMG membro da Associaccedilatildeo Mineira de

Apoio agraves Pessoas com Neurofibromatoses ndash AMANF wwwamanforgbr Coordenador Cliacutenico do Centro de Referecircncia em

Neurofibromatoses pesquisador do CNPQ Eacute pai de uma pessoa com Neurofibromatose do Tipo 1 e Cartunista Para

correspondecircncia Alameda Aacutelvaro Celso 55 - Belo Horizonte MG - CEP 30150-260 Tel (31) 3409 9560 e 3409 9199

46

5 Quando elea usa termos desatualizados como chamar todas as NF de Doenccedila de Von

Recklinghausen

6 Quando elea denomina de forma incorreta os tumores das NF por exemplo chamando

os schwannomas vestibulares bilaterais da NF2 de ldquoneurinomas do acuacutesticordquo ou chamando

um neurofibroma plexiforme da NF1 de ldquohemangiomardquo

7 Principalmente quando elea confunde a impossibilidade de cura com a ausecircncia de

tratamento pois embora as doenccedilas geneacuteticas ainda sejam incuraacuteveis elas tecircm

tratamentos inclusive multidisciplinares os quais prolongam e melhoram a vida das

pessoas acometidas (Ferner 2011)

A omissatildeo institucional

Reconhecendo a impossibilidade de todos osas profissionais da sauacutede possuiacuterem conhecimento

cientiacutefico adequado sobre as doenccedilas raras torna-se evidente a necessidade de centros de

referecircncias em doenccedilas raras para onde as pessoas possam ser encaminhadas sempre que

houver duacutevida quanto ao seu diagnoacutestico No entanto as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela sauacutede

puacuteblica doa meacutedicoa aosagraves governantes federais passando pelos municiacutepios e universidades

colocam em segundo plano as doenccedilas raras porque as consideram de forma isolada preferindo

destinar os recursos para as doenccedilas majoritaacuterias que podem resultar em maior popularidade e

mais votos

Somente quando informadas de que cerca de 3 da populaccedilatildeo satildeo acometidos por doenccedilas

raras que as transformam num conjunto de alguns milhotildees de pessoas eacute que as autoridades se

espantam embora ainda permaneccedilam de matildeos atadas

A representaccedilatildeo social inexistente

A mobilizaccedilatildeo social diante de um desafio coletivo depende do grau de empatia que as pessoas

possuem pela causa em questatildeo eacute preciso conhecer para sentir eacute preciso amar para ajudar No

entanto constatamos que as NF assim como a quase totalidade das doenccedilas raras satildeo

completamente desconhecidas pela sociedade (Cerello 2011) A pergunta mais frequente

sempre que pronunciamos a palavra neurofibromatose eacute ldquoNeuro O quecirc Natildeo deve ser

diferente para a as pessoas com Homocisteinuacuteria Porfiria Siacutendrome do X Fraacutegil Mastocitose

e tantas outrasrdquo

Ao contraacuterio quando algueacutem diz por exemplo ldquoinfarto derrame diabetes cacircncer ou

tuberculoserdquo imediatamente nos vem agrave mente determinada representaccedilatildeo social daquela

doenccedila o que desencadeia nossas reaccedilotildees emocionais especiacuteficas As doenccedilas raras sem

conhecimento puacuteblico natildeo conseguem mobilizar os sentimentos coletivos impossibilitando

uma eventual simpatia e apoio O resultado eacute a solidatildeo

Diante destas mazelas abre-se como alternativa aosagraves acometidosas pelas

neurofibromatoses a uniatildeo e a constituiccedilatildeo de entidades de apoio muacutetuo as quais procuram

assim compensar a falta de informaccedilotildees a solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas e o

atendimento agrave sua sauacutede de forma eficaz Entidades de apoio muacutetuo como a AMANF AMAVI

e tantas outras procuram compensar

A falta de conhecimento dosas profissionais de sauacutede com atendimento pesquisa e

ensino divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees seguras em paacuteginas na internet cartilhas de faacutecil

compreensatildeo por parte de pacientes e familiares realizaccedilatildeo de simpoacutesios palestras para

profissionais da aacuterea de sauacutede escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas

A solidatildeo das pessoas portadoras das doenccedilas com reuniotildees e suporte emocional

O preconceito puacuteblico com divulgaccedilatildeo popular e defesa dos direitos sociais

47

A AMANF que se tornou Entidade de Utilidade Puacuteblica Municipal e Federal tem

procurado cumprir estes objetivos Dentre nossas principais conquistas encontra-se a

regularidade de 11 anos consecutivos de nossas reuniotildees mensais porto seguro para todosas

osas associadosas ainda que a frequecircncia dosas associadosas tenha sido oscilante e reduzida

em alguns momentos

Aleacutem disso conseguimos implantar o Centro de Referecircncia em Neurofibromatoses no

Hospital das Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais centro este que vem se

tornando uma referecircncia nacional no cuidado aos pacientes com as diversas doenccedilas reunidas

sob o nome de neurofibromatoses Aleacutem disso conseguimos realizar um Simpoacutesio

Internacional em 2009 e um Simpoacutesio Brasileiro em 2012

Alguns indicadores do nosso trabalho no CRNF satildeo

Atendimento (parceria HC UFMG e Sistema Uacutenico de Sauacutede)

o 800 famiacutelias atendidas e acompanhadas no ambulatoacuterio

o 300 famiacutelias acompanhadas pela internet

o Convecircnio com Centro de Imagem Molecular da FM UFMG

Ensino

o Palestras para cursos de Medicina Psicologia Fonoaudiologia Nutriccedilatildeo Educaccedilatildeo

Fiacutesica Fisioterapia Pedagogia Associaccedilatildeo de Acadecircmicos de Medicina e outros

Pesquisa

o Bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica

o Alunos de mestrado e doutorado

o Participaccedilatildeo em congressos

o Publicaccedilotildees cientiacuteficas

Em 2012 conseguimos a criaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Pesquisa em

Neurofibromatoses quem vem realizando alguns estudos em conjunto e em breve nossos

resultados seratildeo tornados puacuteblicos

Associaccedilatildeo Maria Vitoacuteria de Doenccedilas Raras a vitoacuteria de muitas Marias

Estivemos presentes minha esposa e eu no primeiro congresso Ibero-Americano de Doenccedilas

Raras em Brasiacutelia dia 25 de setembro de 2013 representando a AMANF e o CRNF

O congresso promovido pela Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria de Doenccedilas Raras (AMAVI) foi

um momento dos mais marcantes em nossas vidas A equipe da AMAVI liderada pelo amoroso

Rogeacuterio Lima realizou um trabalho que evidenciou seu entusiasmo humanismo e espiacuterito

democraacutetico na construccedilatildeo deste espaccedilo fundamental para a conquista de direitos cidadatildeos para

as pessoas com doenccedilas raras

Estiveram presentes muitas associaccedilotildees de apoio as quais tecircm sido criadas e conduzidas

com raras exceccedilotildees por mulheres Estas mulheres valorosas podem atender pelos nomes de

Marisa Ieda Martha Adriana Maria Helena Virgiacutenia Tacircnia Mara Siacutelvia Lilian Mocircnica

Thalma Cristina Sandra ou tantos outros mas na verdade todas elas satildeo as nossas Marias

guerreiras Satildeo nossas Marias incansaacuteveis na defesa de filhos ou filhas netos ou netas

porventura acometidosas por uma dentre os milhares de doenccedilas raras E as Marias venceram

mais uma etapa na sua jornada em busca de amor e conhecimento para seus entes queridos

O que foi dito no congresso confirma que estaacute em andamento uma nova maneira de

lutarmos pelas pessoas com doenccedilas pouco compreendidas e que atualmente recebem pouca

atenccedilatildeo da sociedade Temos certeza agora que estamos unidos pelo motivo comum de

48

construirmos redes sociais de apoio a partir do nuacutecleo fundamental das famiacutelias atingidas em

busca de poliacuteticas puacuteblicas destinadas agraves doenccedilas raras

Tivemos a alegria de participar das manifestaccedilotildees realizadas pelas diversas associaccedilotildees

durante o congresso contribuindo cada uma delas com o seu conhecimento especiacutefico para a

construccedilatildeo da compreensatildeo geral das doenccedilas raras Voltamos com a certeza de que precisamos

continuar cuidando das neurofibromatoses nosso dever especiacutefico mas que temos que nos unir

sob esta grande bandeira das doenccedilas raras pois estaremos participando de uma luta de milhotildees

de brasileirosas

E esta uniatildeo precisa ser em torno da Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria porque ela jaacute mostrou a sua

capacidade de nos reunir porque ela possui uma face humana ao apresentar a sociedade seu

lindo nome Maria porque ela traz a nossa Vitoacuteria no proacuteprio nome

Devemos fortalecer as entidades de apoio muacutetuo a partir da AMAVI para tentarmos

compensar a falta de conhecimento sobre as doenccedilas raras a solidatildeo das pessoas com doenccedilas

raras o preconceito puacuteblico a omissatildeo institucional e a falta de atendimento especializado

Devemos lutar para a criaccedilatildeo de centros de referecircncias regionais e mecanismos de intercacircmbio

de informaccedilotildees entre eles

Como resultado de nossa participaccedilatildeo no congresso a AMANF aprovou a decisatildeo que

devemos abraccedilar este caminho que devemos aumentar nossa participaccedilatildeo na luta geral das

doenccedilas raras pois isso nos traraacute uniatildeo de forccedilas maior visibilidade conquista de espaccedilo

puacuteblico e avanccedilos nas proacuteprias questotildees das neurofibromatoses

Com a inserccedilatildeo mais ativa da AMANF no campo das doenccedilas raras atraveacutes da AMAVI

creio que haveria a oportunidade de troca de experiecircncias e principalmente um ganho enorme

na construccedilatildeo da nossa humanidade e solidariedade

Base de accedilatildeo fortalecer a rede social das pessoas com NF1

Natildeo haacute duacutevida que se constitui um imenso desafio a mobilizaccedilatildeo da sociedade para

conquistarmos a cidadania para as pessoas com um nuacutemero tatildeo grande de doenccedilas com

caracteriacutesticas proacuteprias Sabemos que eacute preciso agir contra os trecircs fatores comuns a todas as

doenccedilas raras desconhecimento cientiacutefico omissatildeo institucional e representaccedilatildeo social

inexistente Mas natildeo podemos perder de vista o princiacutepio de que as poliacuteticas puacuteblicas somente

tecircm a chance de serem eficazes se levarem em conta a rede social das pessoas acometidas

(Portugal 2011)

Neste sentido em nossa Associaccedilatildeo e em nosso Centro de Referecircncia temos procurado

realizar accedilotildees no sentido de conhecermos melhor e aumentarmos nossa atenccedilatildeo agrave rede social de

cada pessoa acometida por NF Sobre esta base de accedilatildeo esperamos ajudar a reconstruccedilatildeo da

cidadania e maior qualidade de vida para as pessoas com NF

Referecircncias Bibliograacuteficas

Cerello A C (2011) Neurofibromatose tipo 1 sobre o que natildeo se vecirc e o que se sente - Uma

travessia entre a invisibilidade social e o conhecimento sobre a doenccedila Faculdade de

Medicina Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Ciecircncias Aplicadas agrave Sauacutede do Adulto Belo

Horizonte UFMG

Ferner RE (2011) ldquoNeurofibromatosis 1rdquo in RE Ferner SM Huson e DG Evans

Neurofibromatosis in Clinical Practice (1 ed) Londres Springer-Verlag London Limited 162

Geller M Bonalumi Filho A (2004) Neurofibromatose cliacutenica geneacutetica e terapecircutica Rio

de Janeiro Guanabara Koogan

49

Portugal S (2011) ldquoDaacutediva famiacutelia e redes sociaisrdquo in S Portugal e P H Martins Cidadania

poliacuteticas puacuteblicas e redes sociais Coimbra Universidade de Coimbra 39-53

Souza JF Toledo LL Ferreira MC Rodrigues LO Rezende NA (2009)

ldquoNeurofibromatose do tipo 1 mais comum e grave do que se imaginardquo Revista da Associaccedilatildeo

Meacutedica Brasileira 55 394-399

50

Pesquisa Universitaacuteria e o Sistema Uacutenico de Sauacutede

Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ marciagenyahoocombr

Existe toda uma engrenagem de incentivo agrave pesquisa na aacuterea da sauacutede por parte dosas

gestoresas e das agecircncias de fomento Faz parte desta engrenagem a definiccedilatildeo dos temas de

pesquisa condizentes com as necessidades da populaccedilatildeo de modo que os resultados sejam

aplicaacuteveis no SUS As pesquisas financiadas que tecircm como campo de estudo o SUS

contribuem para a integraccedilatildeo dosas pesquisadoresas profissionais de sauacutede e gestoresas aleacutem

de auxiliarem o processo de aprimoramento do sistema O financiamento para as pesquisas em

todo o paiacutes ocorre atraveacutes de Editais que contam com o apoio administrativo do CNPq da

FINEP2 e das Fundaccedilotildees de Amparo agrave Pesquisa de representaccedilatildeo estadual

A definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede (PNCTIS)

somada agrave elaboraccedilatildeo da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sauacutede (ANPPS) levou

ao reforccedilo no orccedilamento do Departamento de Ciecircncia e Tecnologia (Decit) e consequente

aumento no investimento em pesquisa De 2004 a 2007 foram publicados 45 editais em temas

prioritaacuterios para o SUS e apoiados mais de 1200 projetos em Sauacutede Mental Sauacutede dos Povos

Indiacutegenas Alimentaccedilatildeo e Nutriccedilatildeo Dengue e Doenccedilas negligenciadas Desde 2007 o Decit

tem priorizado projetos com potencial de inovaccedilatildeo aleacutem do investimento na disseminaccedilatildeo do

conhecimento resultante das pesquisas Com o objetivo de fortalecer e qualificar accedilotildees em

temas de pesquisa considerados prioritaacuterios para o SUS o Ministeacuterio da Sauacutede investe na

organizaccedilatildeo de Redes de Pesquisadoresas e Estudos Cooperativos Multicecircntricos e de caraacuteter

Nacional Dentre os projetos do Ministeacuterio da Sauacutede gostaria de citar o EPIGEN

(Epidemiologia Geneacutetica) que tem o objetivo de investigar os efeitos conjuntos da arquitetura

geneacutetica e do ambiente na ocorrecircncia de doenccedilas complexas em crianccedilas adultos jovens e

idosos com ecircnfase nas desigualdades sociais Esse projeto eacute pioneiro na aacuterea de epidemiologia

geneacutetica voltada para a sauacutede puacuteblica e sabemos como eacute importante conhecer a dimensatildeo da

frequecircncia das doenccedilas geneacuteticas raras em sua grande maioria

O Programa de Pesquisa para o SUS merece o seguinte destaque gestatildeo compartilhada em

sauacutede (PPSUS) cujos objetivos principais satildeo a) Contribuir para a diminuiccedilatildeo das

desigualdades regionais na aacuterea da ciecircncia e tecnologia em sauacutede b) fortalecer a capacidade de

gestatildeo da poliacutetica cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede nos estados da Federaccedilatildeo e c) descentralizar

recursos em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Este programa conta com a

participaccedilatildeo de todas as unidades federativas e em termos de apoio de 2001 a 2003 foram

financiadas 147 pesquisas e de 2004 a 2007 o financiamento ocorreu para mais de 1000

pesquisas o que denota o crescente incentivo agrave pesquisa no Brasil

Atraveacutes da Portaria Interministerial ndeg 421 de 03032010 eacute criado o Programa de Educaccedilatildeo

pelo Trabalho para a Sauacutede (PET-SAUacuteDE) inspirado no Programa de Educaccedilatildeo Tutorial (PET

do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) Este programa disponibiliza bolsas para tutores (docentes e

teacutecnico-administrativos das IES) preceptoresas (profissionais de sauacutede que trabalham na rede

puacuteblica) e para estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede Eacute um instrumento de

1 Maacutercia Gonccedilalves Ribeiro eacute Professora Associada de Geneacutetica Cliacutenica do Departamento de Pediatria da Faculdade de

Medicina da UFRJ Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira da UFRJ

e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ niacutevel 2 2 Financiadora de Estudos e Projetos httpwwwfinepgovbr

51

aprendizagem tutorial de qualificaccedilatildeo em serviccedilos iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas

de estudantes dos cursos de graduaccedilatildeo em sauacutede Favorece portanto a integraccedilatildeo real dos

profissionais da aacuterea da sauacutede lotados na rede (SUS) dos profissionais das universidades e dos

alunos de graduaccedilatildeo Satildeo os seguintes os editais deste programa que jaacute ocorreram 2009 ndash Sauacutede

da Famiacutelia 2010 ndash Sauacutede da Famiacutelia 2010 ndash Vigilacircncia em Sauacutede 2010 ndash Sauacutede MentalCrack

e 2013 ndash Redes de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teve

participaccedilatildeo expressiva nestes editais de um modo geral O depoimento de um aluno do Curso

de Graduaccedilatildeo de Medicina da UFRJ ilustra bem o significado e abrangecircncia deste programa

ldquodespertou o interesse para o exerciacutecio da Medicina de Famiacutelia como especialidade possiacutevel

de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Em 2012 o PET-SAUacuteDE se juntou ao Programa Nacional de Reorientaccedilatildeo da Formaccedilatildeo

Profissional em Sauacutede (PROacute-Sauacutede) e foi lanccedilado um edital onde a UFRJ participou com

alunosas e profissionais de diversos cursos Medicina Enfermagem Odontologia Psicologia

Serviccedilo Social Farmaacutecia Fonoaudiologia Fisioterapia Nutriccedilatildeo Terapia Ocupacional

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sauacutede Coletiva Com isso foram gerados novos cenaacuterios de praacutetica e

consolidaccedilatildeo de estaacutegios interdisciplinares aleacutem da iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico

Sem duacutevida estes modelos contribuem bastante para o desenvolvimento das pesquisas e

inserccedilatildeo dosas alunosas no cenaacuterio de praacutetica profissional sem deixar de existir a

aprendizagem e o meacutetodo cientiacutefico Seria extremamente interessante podermos contar com um

ldquoPET ndash Doenccedilas Rarasrdquo onde poderia ser abordada toda a linha de atenccedilatildeo e cuidado aos

indiviacuteduos com doenccedilas raras a pesquisa e o aprendizado neste tema pouco ressaltado nos

cursos de graduaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede

A Universidade Federal do Rio de Janeiro possui um dos mais tradicionais institutos de

pediatria do paiacutes o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira (IPPMG)

inaugurado em 02 de outubro de 1953 que oferece atendimento em todas as especialidades

pediaacutetricas em todos os niacuteveis de assistecircncia aleacutem de desenvolver ensino pesquisa e extensatildeo

nessa aacuterea A missatildeo do IPPMG eacute cuidar da crianccedila e doa adolescente de forma integral e da

maneira mais abrangente possiacutevel

O IPPMG eacute considerado Centro de Referecircncia para o Ministeacuterio da Sauacutede em Sauacutede da

Crianccedila (Centro de Referecircncia Ceacutesar Pernetta) Centro de Referecircncia em Doenccedila Falciforme e

Centro de Referecircncia para Atendimento Pediaacutetrico dos indiviacuteduos cadastrados no Centro

Nacional de Neurofibromatose Coopera com as Organizaccedilotildees Pan-Americana e Mundial de

Sauacutede (OPAS e OMS) na elaboraccedilatildeo e promoccedilatildeo de poliacuteticas de sauacutede nesta aacuterea Participa

desde 1995 do Programa de Assistecircncia Integral agrave Gestante e Crianccedila Infectadas pelo HIV e eacute

referecircncia para toxoplasmose em gestantes de toda a Aacuterea Programaacutetica 313 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos receacutem-natos expostos agrave toxoplasmose em todo o Municiacutepio do Rio de

Janeiro e referecircncia para siacutefilis congecircnita tambeacutem na Aacuterea Programaacutetica 31 do Municiacutepio do

Rio de Janeiro e dos pacientes nascidos na Maternidade Escola da UFRJ Na cidade do Rio de

Janeiro eacute a instituiccedilatildeo que presta o maior nuacutemero de atendimentos pediaacutetricos e possui a maior

diversidade de especialidades pediaacutetricas Eacute uma instituiccedilatildeo de perfil abrangente que perpassa

os trecircs niacuteveis de complexidade

a) Unidade de Pacientes Externos com ambulatoacuterios emergecircncia Quimioterapia e

Hospital-Dia Assistecircncia ambulatorial preventiva e curativa em Pediatria Geral e sub-

especialidades pediaacutetricas o Serviccedilo de Emergecircncia Pediaacutetrica permanece aberto 24 horas Satildeo

atendidos em meacutedia por mecircs 10 mil crianccedilas e adolescentes em regime ambulatorial 3300 na

3 A Aacuterea Programaacutetica 31 (AP 31) abrange do bairro de Bonsucesso ateacute Jardim Ameacuterica incluindo a Ilha do Governador na

Zona Norte da cidade As unidades de sauacutede realizam a cobertura assistencial do Complexo do Alematildeo Complexo da Mareacute

Complexo da Penha Parque Royal Dendecirc Morro do Barbante Vigaacuterio Geral e Parada de Lucas

52

Emergecircncia e 600 em pronto-atendimento e realizados 250 procedimentos ciruacutergicos

ambulatoriais

b) Unidade de Pacientes Internos com enfermarias de Pediatria Onco-Hematologia

Unidade de Terapia Intensiva e Cirurgia Pediaacutetrica Satildeo realizadas mensalmente uma meacutedia de

200 internaccedilotildees e 40 cirurgias

c) Serviccedilo de Medicina Transfusional (SMT) Apresenta qualidades diferenciadas por ser

um serviccedilo adequado ao atendimento de pacientes pediaacutetricos com pessoal qualificado para

realizaccedilatildeo de exames especiacuteficos desde a escolha do sangue realizaccedilatildeo de transfusotildees de

componentes e derivados sanguiacuteneos aliquotagem realizaccedilatildeo de procedimentos ambulatoriais

como transfusotildees de substituiccedilatildeo parcial e avaliaccedilatildeo de pacientes em regime de hipertransfusatildeo

Em meacutedia realiza 250 transfusotildees por mecircs Satildeo feitos 1200 exames mensais na sua maioria

imuno-hematoloacutegicos Participa do ensino teoacuterico e praacutetico para alunos dos cursos de Medicina

Biomedicina Farmaacutecia e Biologia

d) Nuacutecleo RDN cuja incumbecircncia eacute a reabilitaccedilatildeo com abordagem interdisciplinar para

a prevenccedilatildeo eou minimizaccedilatildeo de incapacidades em crianccedilas e adolescentes com deficiecircncias

eacute constituiacutedo por seis serviccedilos Fisiatria Fisioterapia Terapia Ocupacional Fonoaudiologia

Psicologia e Pediatria do Desenvolvimento

e) Laboratoacuterio de Anaacutelises Cliacutenicas Citogeneacutetica Biologia Celular e Molecular e

Citometria de Fluxo (os quatro uacuteltimos fazem parte do Nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo

em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente)

Em relaccedilatildeo a financiamento por agecircncias de fomentoos projetos ldquoUnidade de Pesquisa

Cliacutenica em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircnciardquo e ldquoNuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescenterdquo foram agraciados pela FAPERJ e

contribuiacuteram para a estruturaccedilatildeo do Hospital-Dia e implantaccedilatildeo do Nuacutecleo Transdisciplinar de

Investigaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente Ressalta-se tambeacutem as formas de obtenccedilatildeo

de recursos atraveacutes dos pesquisadores da instituiccedilatildeo Jovem Cientista do Nosso Estado

(FAPERJ) Bolsa de Produtividade em Pesquisa (CNPq) Auxiacutelio agrave Pesquisa (APQ1FAPERJ)

Edital Universal (CNPq) Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica (FAPERJ) e Bolsas de Iniciaccedilatildeo

Cientiacutefica (FAPERJ CNPq UFRJ)

O Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagatildeo Gesteira

foi fundado em 1969 e desde entatildeo tem participaccedilatildeo ativa na assistecircncia no ensino e mais

recentemente na pesquisa e na extensatildeo Eacute constituiacutedo atualmente por dois docentes do

Departamento de Pediatria e um docente colaborador voluntaacuterio Em 1989 foi fundado o

Laboratoacuterio de Citogeneacutetica que atualmente integra o Nuacutecleo Transdisciplinar de Atenccedilatildeo agrave

Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente com desenvolvimento de novas atividades em biologia

molecular

Dentre as atividades assistenciais realizadas pelo referido serviccedilo destacamos a

investigaccedilatildeo diagnoacutestica aconselhamento geneacutetico e o acompanhamento de siacutendromes

geneacuteticas regularmente aleacutem da realizaccedilatildeo da Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica (desde 2006)

nas Mucopolissacaridoses e Doenccedila de Fabry aleacutem de ser considerado como Centro de

Referecircncia do Centro Nacional de Neurofibromatose para o atendimento pediaacutetrico Temos

cadastrados ateacute ao momento 3840 pacientes

Os exames complementares necessaacuterios ao diagnoacutestico das doenccedilas geneacuteticas satildeo

realizados no proacuteprio hospital (Laboratoacuterio de Geneacutetica Serviccedilo de Radiologia Laboratoacuterio de

Anaacutelises Cliacutenicas) no Hospital Universitaacuterio Clementino Fraga Filho (HUCFF) ndash UFRJ

(Laboratoacuterio de Patologia Cliacutenica Serviccedilo de Medicina Nuclear) e no Laboratoacuterio de Erros

Inatos do Metabolismo (LABEIM) do Instituto de Quiacutemica Departamento de Bioquiacutemica da

UFRJ

O Laboratoacuterio de Geneacutetica iniciou seu funcionamento em 1989 e atualmente realiza

carioacutetipo convencional e estimulado com brometo de etiacutedio em cultura de linfoacutecitos e

53

fibroblastos cultura de linfoacutecitos da expressatildeo do X-Fraacutegil com a utilizaccedilatildeo de dois meios de

cultura (TC-199 e RPMIFudR) teacutecnicas de Bandeamento-G e C e teacutecnica de FISH

Em relaccedilatildeo ao ensino satildeo recebidos alunos da graduaccedilatildeo da Faculdade de Medicina da

UFRJ atraveacutes da Disciplina de Escolha Condicionada em Geneacutetica Cliacutenica e do Programa de

Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica Osas alunosas da poacutes-graduaccedilatildeo que frequentam o serviccedilo satildeo alunosas

de Mestrado e Doutorado que desenvolvem estudos na aacuterea de geneacutetica Residentes de Pediatria

e Especializandos em Geneacutetica Meacutedica

Todos os estudos desenvolvidos estatildeo inseridos na Linha de Pesquisa ldquoEstudo Cliacutenico e

Epidemioloacutegico das Doenccedilas Geneacuteticas na Infacircncia e na Adolescecircnciardquo cadastrada no

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Cliacutenica Meacutedica da Faculdade de Medicina da UFRJ (2006)

Merecem destaque os estudos realizados diretamente na Rede Municipal do Rio de Janeiro

ldquoAtenccedilatildeo fisioterapecircutica agrave siacutendrome de Down no Municiacutepio do Rio de Janeirordquo e ldquoFisioterapia

motora na siacutendrome de Downrdquo (aluna de Mestrado e posteriormente de Doutorado Carla

Trevisan Martins Ribeiro) ldquoObservaccedilatildeo do fluxo de pacientes entre as maternidades da SMSRJ

e o Programa de Sauacutede Auditiva do HUCFFrdquo (aluna de Mestrado Priscila Tavares Lima) e

ldquoEstudo da oferta e anaacutelise de programas de reabilitaccedilatildeo para a populaccedilatildeo infanto-juvenil do

Municiacutepio do Rio de Janeirordquo (aluna de Mestrado Liacutevia Borgneth)

Estudos relevantes satildeo desenvolvidos em doenccedilas raras a saber a) Mucopolissacaridoses

antropometria avaliaccedilatildeo postural equiliacutebrio qualidade de vida desenvolvimento puberal b)

Aminoacidopatias niacuteveis de referecircncia no periacuteodo neonatal (carnitina e acilcarnitinas)

deficiecircncia de carnitina livre plasmaacutetica qualidade de vida e desempenho cognitivo na

Fenilcetonuacuteria c) Cromossomopatias caracterizaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de cromossomos

anocircmalos na siacutendrome de Turner implantaccedilatildeo da teacutecnica de FISH e d) Neurofibromatose

antropometria desempenho motor funccedilatildeo auditiva processamento auditivo perfil de pacientes

acompanhados

Ressaltam-se os marcos importantes na histoacuteria das doenccedilas raras que iratildeo auxiliar no

desenvolvimento de pesquisas o ldquoGrupo de Trabalho de Atenccedilatildeo agraves Doenccedilas Raras

(26042012)rdquo que se propocircs a discutir Poliacutetica de Sauacutede Puacuteblica que atenda a demanda dos

indiviacuteduos que tenham doenccedilas raras no acircmbito do SUS e o ldquoPrograma de Fomento agrave Pesquisa

em Sauacutederdquo cuja proposta eacute fomentar estudos para o tratamento de doenccedilas raras e

negligenciadas

Como produtos de todo este investimento em pesquisa cita-se a colaboraccedilatildeo entre

instituiccedilotildees duas das quais tive a oportunidade de fazer parte a) Edital MCTCNPqMS-

SCTIE-DECITMS 0382008 (Avaliaccedilatildeo em Tecnologias em Sauacutede) ndash Estudo de Qualidade de

Vida na Mucopolissacaridose UFRGS UERJ UFF IFFFIOCRUZ e b) Chamada

MCTICNPqMS-SCTIE ndash Decit Ndeg 082013 ndash Pesquisa em Educaccedilatildeo Permanente para o SUS

e dimensionamento da forccedila de trabalho em sauacutede ndash Competecircncias em Geneacutetica de profissionais

da Atenccedilatildeo Primaacuteria no Brasil UFSCar UFRGS UFAL UESC UNICAMP

Outro produto igualmente importante que eacute capaz de lanccedilar o Brasil no cenaacuterio

internacional eacute o conhecimento gerado atraveacutes da pesquisa cientiacutefica designadamente as

publicaccedilotildees O Brasil responde por 27 da produccedilatildeo cientiacutefica mundial e em relaccedilatildeo agrave

quantidade de artigos publicados passou do 17deg lugar ndash 13846 artigos (2001) para o 13deg lugar

ndash 49664 artigos (2011) Entretanto a qualidade dos artigos publicados (Fator de Impacto) ainda

merece maior atenccedilatildeo Em 2001 ocupava o 31deg lugar e em 2011 o paiacutes passoupara o 40deg lugar4

4 Como exemplos de publicaccedilotildees do Serviccedilo de Geneacutetica Meacutedica temos a) Familial study of paracentric inversion in

chromosome 3p British Journal of Medicine and Medical Research v 3 p 760-770 2013 b) The Mental Retardation in

Duchenne Muscular Dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 6-16 2012 c) Analysis of acylcarnitine profiles in

umbilical cord blood and early neonatal period by electrospray ionization tandem mass spectrometry Brazilian Journal of

Medical and Biological Research (Impresso) v 45 p 473-564 2012 d) Dental findings and oral health conditions in patients

with mucopolysaccharidosis a case series Acta Odontologica Scandinavica (Trykt utg) v 1 p 1-11 2012 e) Moderately

54

Somos atores deste processo e como tal devemos manter sua continuidade assim como a

curiosidade para lanccedilar perguntas a cada resposta gerada pelo processo de busca incessante que

eacute a pesquisa

Referecircncias Bibliograacuteficas

Base de dados Scimago Folha de Satildeo Paulo ndash 22042013

Damaso EJR (2013) Anaacutelise da Percepccedilatildeo dos Internos da Faculdade de Medicina da UFRJ

sobre sua Formaccedilatildeo Profissional a partir do Estaacutegio em Sauacutede da Famiacutelia Dissertaccedilatildeo de

Mestrado em Cliacutenica Meacutedica Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro

Damaso EJR et al (2012) ldquoO Projeto de Educaccedilatildeo pelo Trabalho e a Inserccedilatildeo dos

Acadecircmicos de Medicina na Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutederdquo Revista Espaccedilo Cientiacutefico Livre 2(8)

37-44

Internet

httpagenciabrasilebccombrnoticia2013-07-22

httpnoticiasterracombrcienciapesquisa

httpportalsaudegovbrportalsaudeprofissional

httpwwwneurolipidosescombrpacientesreportagensmaterias_exclusivas177ministrio-

da-sade-cria-grupo-de-trabalho-de-ateno-s-doenas-raras

progressive Ullrich congenital muscular dystrophy Jornal de Pediatria (Impresso) v 88 p 93-96 2012 f) A novel nonsense

mutation in KDM5CJARID1C gene causing intelectual disability short stature and speech delay Neuroscience Letters (Print)

v 498 p 67-71 2011 g) The National Public Health System and rehabilitation in Brazil Revista Panamericana de Salud

Puacuteblica (Impresa) Pan American Journal of Public Health (Impresa) v 28 p 43-48 2010 h) Differential integrin expression

by T lymphocytes potential role in DMD muscle damage Journal of Neuroimmunology (Print) v 223 p 128-130 2010 i)

Mucopolysaccharidosis I II and VI Brief review and guidelines for treatment Genetics and Molecular Biology (Impresso)

v 33 p 589-604 2010 e j) Plexiform neurofibroma in the ear canal of a patient with Type I Neurofibromatosis Brazilian

Journal of otorhinolaryngology (Online) v 75 p 158-158 2009

55

O Papel das Associaccedilotildees na Rede de Apoio ao Paciente com Doenccedila

Rara

Maria Helena de Magalhatildees Dourado1 Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil ndash ANPB hdourado10gmailcom

As associaccedilotildees de apoio aos pacientes com doenccedila rara desempenham um papel fundamental

na vida dessas pessoas em todo o mundo A famiacutelia que tem algueacutem diagnosticado com

alguma doenccedila rara sente a necessidade de contar com alguma entidade voltada

especificamente para a luta em favor do seu familiar e deposita na associaccedilatildeo as esperanccedilas

de vencer as barreiras impostas pela doenccedila quase sempre devastadora e agraves vezes sem

possibilidade de cura

O objetivo deste texto eacute destacar a importacircncia das associaccedilotildees como parte da rede de apoio

ao paciente elencando as suas possiacuteveis formas de atuaccedilatildeo como entidade destinada a trabalhar

pela melhor qualidade de vida das pessoas com doenccedilas raras

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara implica inuacutemeros desafios a vencer transtorna o

ambiente familiar amedronta e conduz a pessoa afetada e sua famiacutelia a uma busca angustiante

das razotildees pelas quais estatildeo destinados a ser raridade bem como dos caminhos a seguir O

sentimento que prevalece no momento do diagnoacutestico eacute o da extrema solidatildeo Por isso torna-

se imperativo compartilhar os sentimentos e as duacutevidas com outras pessoas que estatildeo na mesma

situaccedilatildeo e que passam pelas mesmas anguacutestias A troca que se estabelece entre osas

semelhantes na dor ameniza o sofrimento e fortalece a luta para enfrentar e vencer desafios

Essa eacute a grande motivaccedilatildeo que estimula a criaccedilatildeo das associaccedilotildees de apoio

Ao formarem uma associaccedilatildeo as famiacutelias normalmente buscam natildeo soacute mais informaccedilotildees

e orientaccedilotildees sobre a doenccedila como tambeacutem o fortalecimento para reivindicar direitos As

associaccedilotildees datildeo respaldo agraves reivindicaccedilotildees e congregam todosas aquelesas que se dispotildeem a

trabalhar para que oa paciente seja vistoa como uma cidadatildeoatilde que precisa ter os seus direitos

respeitados A expectativa das famiacutelias que se agregam ao grupo eacute encontrar o apoio nas lutas

por dias melhores o que soacute eacute possiacutevel com a perspectiva de melhor qualidade de vida para os

seus entes queridos

Na caminhada a favor das pessoas com doenccedilas raras as associaccedilotildees fazem parte de uma

grande rede de apoio onde se encontram segmentos da sociedade entre eles osas diversosas

profissionais de sauacutede que tratam da sintomatologia das doenccedilas as instituiccedilotildees de pesquisa

que se dedicam a experimentos e ensaios cliacutenicos com vistas agrave descoberta de medicamentos que

minimizem e ateacute possam curar as doenccedilas os centros de referecircncia voltados para o atendimento

a essesas pacientes e dos seus familiares os laboratoacuterios farmacecircuticos que se responsabilizam

pela produccedilatildeo das terapias e medicamentos destinados agraves doenccedilas e finalmente os oacutergatildeos do

governo que existem para cuidar da sauacutede da populaccedilatildeo do paiacutes

Um dos papeacuteis das associaccedilotildees eacute o de estabelecer as interfaces com os demais componentes

da rede de apoio aoagrave paciente Assim elas conseguem o suporte necessaacuterio agraves demandas das

pessoas que apoiam possibilitando-lhes o acesso a informaccedilotildees orientaccedilotildees meacutedicas e o

1 Maria Helena Dourado eacute vice-presidente da Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil wwwniemannpickbrasilorgbr

wwwniemannpickbrasilblogspotcombr

56

contato com diferentes profissionais como fisioterapeutas nutricionistas fonoaudioacutelogos

psicoacutelogos e educadores Tambeacutem disseminam as informaccedilotildees relativas a pesquisas e ensaios

cliacutenicos para o desenvolvimento de medicamentos atraveacutes do contato constante que mantecircm

com pesquisadoresas ligadosas a essas pesquisas e esses ensaios cliacutenicos Outras formas de

apoio agraves pessoas que convivem com alguma doenccedila rara satildeo a articulaccedilatildeo com os centros de

referecircncias e oacutergatildeos de sauacutede do paiacutes para garantir o atendimento aosagraves pacientes com

seguranccedila e qualidade a manutenccedilatildeo do contato com os laboratoacuterios produtores dos

medicamentos natildeo somente para o momento da falta desses medicamentos como tambeacutem para

conhecer os avanccedilos no desenvolvimento de novas drogas e atuar em conjunto com outras

associaccedilotildees na busca da soluccedilatildeo de problemas relativos ao atendimento das necessidades dosas

pacientes o tratamento igualitaacuterio e continuado das pessoas com doenccedilas raras

Entre as competecircncias das associaccedilotildees de apoio estaacute a de reivindicar os direitos dos

pacientes junto agraves instacircncias governamentais de sauacutede e junto aos segmentos da sociedade para

garantir tratamento igualitaacuterio no atendimento das necessidades dessas pessoas que satildeo raras

no universo mas que satildeo iguais aos seus semelhantes A luta pelo reconhecimento dos direitos

das pessoas com doenccedilas raras eacute constante em todo o mundo principalmente quanto ao acesso

a medicamentos e terapias de alto custo tendo as famiacutelias que ingressar com accedilotildees judiciais

para obterem os tratamentos existentes Para isso as associaccedilotildees tecircm que disponibilizar os

serviccedilos advocatiacutecios de profissionais experientes no assunto e somente por esse meio

conseguem a devida atenccedilatildeo dos governos para as suas demandas

A inexistecircncia de cura para uma doenccedila eacute cruel para quem vive o problema Tambeacutem crueacuteis

satildeo o descaso a falta de compromisso e a desatenccedilatildeo com osas pacientes com doenccedilas raras

que se observam em todo o mundo quando se trata principalmente da relaccedilatildeo paciente -

governo Tudo isso tem como base a falta de compromisso o desconhecimento das doenccedilas e

a falta de informaccedilatildeo Compete agraves associaccedilotildees atuarem com muito empenho para que essas

doenccedilas sejam conhecidas por toda a sociedade

O desconhecimento comeccedila no acircmbito da classe meacutedica e de outros profissionais de sauacutede

que na maioria concluem os seus cursos acadecircmicos sem terem tido a oportunidade de

conhecer e aprofundar conhecimento sobre essas doenccedilas Poucos satildeo osas meacutedicosas que

se dedicam ao trabalho com doenccedilas raras e quando isso acontece eacute muitas vezes porque

tiveram a oportunidade de apoacutes deixarem a academia se depararem com uma paciente com

doenccedila rara e se sentirem interessadosas em contribuir para a melhoria de qualidade de vida

dessea paciente Felizmente esses profissionais existem em todo o mundo

Um dos esforccedilos das associaccedilotildees de apoio para proporcionar a interface dosas pacientes

com osas profissionais de sauacutede bem como com outrosas profissionais que podem ajudar na

melhoria da sua qualidade de vida como educadoresas psicoacutelogosas e assistentes sociais satildeo

os encontros entre as famiacutelias e osas amigosas dessesas pacientes onde se estabelece a inter-

relaccedilatildeo das famiacutelias com osas profissionais para orientaccedilotildees esclarecimento de duacutevidas e

conhecimento das novidades relativas agraves pesquisas realizadas em todo o mundo Eacute fundamental

que esses encontros ocorram pelo menos uma vez por ano

Alguns anos jaacute se foram desde o iniacutecio do trabalho entre as associaccedilotildees de apoio agraves doenccedilas

raras brasileiras que trabalham de matildeos dadas para que osas pacientes tenham os seus direitos

de cidadatildeosatildes garantidos Finalmente em 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil instituiu um

grupo de trabalho com vistas agrave definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para essas doenccedilas

Para essa tomada de decisatildeo do governo brasileiro concorreram tambeacutem solicitaccedilotildees inclusive

de parlamentares que se solidarizaram com a causa das associaccedilotildees Os trabalhos do grupo

instituiacutedo desenvolveram-se durante o ano de 2012 sendo que a implantaccedilatildeo do atendimento

atraveacutes do Sistema Uacutenico de Sauacutede em todo o territoacuterio nacional eacute aguardada com muita

ansiedade por todos a serem beneficiados E se espera que isso aconteccedila ateacute o final de 2013

57

Como referido anteriormente o trabalho isolado de uma associaccedilatildeo de apoio aoagrave paciente

jamais conseguiraacute fluir com relaccedilatildeo agraves questotildees das doenccedilas raras Eacute fundamental a interaccedilatildeo

entre as associaccedilotildees no seu conjunto e em rede com os outros segmentos da sociedade para

fazer com que a sua voz se torne efetivamente audiacutevel pelosas que satildeo responsaacuteveis pela

tomada de decisotildees referentes agraves suas necessidades Estar junto trabalhar junto sempre traz

benefiacutecios para osas pacientes de cada uma delas e quando se trata de doenccedilas raras o tempo

eacute demasiadamente curto para que se protelem accedilotildees e decisotildees

A participaccedilatildeo conjunta das associaccedilotildees brasileiras de apoio aosagraves pacientes com doenccedilas

raras fortaleceu a reivindicaccedilatildeo pela definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas junto ao governo brasileiro

A luta pelos direitos igualitaacuterios para esses pacientes continuaraacute com o acompanhamento da

implantaccedilatildeo dessas poliacuteticas e da funcionalidade de todo o atendimento a ser prestado pelo

governo atraveacutes dos setores puacuteblicos de sauacutede jaacute existentes e da criaccedilatildeo do que for necessaacuterio

para o atendimento pleno

A participaccedilatildeo das associaccedilotildees em eventos como o I Congresso Ibero Americano de

Doenccedilas Raras e em outros similares no Brasil e no exterior consolida a sua importacircncia no

contexto nacional e mundial O tema destacado pelo I Congresso Ibero Americano de Doenccedilas

Raras evidencia a necessidade de se lanccedilar um olhar social para as pessoas com doenccedilas raras

como cidadatildeosatildes

Considerando as associaccedilotildees de pacientes buscar um olhar social para as doenccedilas raras

pressupotildee como referid anteriormente que elas atuem em rede interagindo com os segmentos

sociais e isso se concretiza atraveacutes da divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees sobre as doenccedilas mobilizaccedilatildeo

da sociedade sensibilizaccedilatildeo dos segmentos sociais para a importacircncia da inclusatildeo das pessoas

com doenccedilas raras no sistema de sauacutede no sistema educacional no trabalho quando possiacutevel

e ainda disseminando a ideia de que essa pessoa eacute antes de tudo um ser igual ainda que raro

O sonho de igualdade eacute constante para todosas osas que se sentem excluiacutedosas e soacute a

perseveranccedila eacute capaz de tornar esse sonho realidade Eacute uma luta aacuterdua com caminhos tortuosos

e cheios de desafios mas a vontade de vencer as dificuldades das doenccedilas fortalece e anima

Fundamental eacute entender que o tratamento igualitaacuterio e continuado dentro da sociedade da qual

participam tambeacutem as pessoas com doenccedilas raras eacute imprescindiacutevel por se tratar

prioritariamente de um direito

O importante eacute sensibilizar para conseguir que todos os terrenos se tornem feacuterteis e

receptivos agraves demandas Antes de tudo eacute necessaacuterio entender que pessoas com doenccedilas raras

satildeo iguais aos seus semelhantes As associaccedilotildees de apoio trabalham unidas e com muita

disposiccedilatildeo para que a sociedade se conscientize que ldquoO sonho de igualdade soacute cresce no

respeito pelas diferenccedilasrdquo (Augusto Cury)

58

Para um pacto social no campo das Doenccedilas Raras

Mercado Pesquisa e Associaccedilotildees Civis

Maria Joseacute Delgado Fagundes1 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA mariadelgadointerfarmaorgbr Marcela Simotildees2 Associaccedilatildeo da Induacutestria Farmacecircutica de Pesquisa ndash INTERFARMA marcelasimoesinterfarmaorgbr

Histoacuterico das Doenccedilas Raras Atores desafios do movimento social e

poliacuteticas puacuteblicas

No Brasil estima-se que satildeo 13 milhotildees as pessoas com doenccedilas raras sendo que 75 se

manifestam em crianccedilas e contribuem para a morbidade nos primeiros 18 anos de vida Apesar

disso as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte da agenda das autoridades governamentais

brasileiras ateacute o iniacutecio dos anos 2000

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees de pacientes e movimentos sociais ao redor do mundo foi muito

importante para a mudanccedila desse cenaacuterio pois natildeo apenas deu voz agraves necessidades dessas

pessoas como contribuiu para que as doenccedilas raras fossem consideradas uma questatildeo de sauacutede

puacuteblica ndash ainda que se tenha optado por trataacute-las a princiacutepio pelo vieacutes das doenccedilas geneacuteticas

Essa nova abordagem impulsionou a criaccedilatildeo de inuacutemeros programas oficiais voltados agrave

assistecircncia dessesas pacientes e o advento de incentivos regulatoacuterios e econocircmicos para o

desenvolvimento de drogas destinadas ao tratamento de doenccedilas raras os designados

medicamentos oacuterfatildeos Tambeacutem impeliu o Brasil para esse desenvolvimento permitindo

avanccedilos como a Portaria Nordm 8120093 mas apesar disso o caminho a ser percorrido ainda eacute

bastante longo

Em maior ou menor grau como resultado desse conjunto de medidas das inovaccedilotildees da

medicina e de uma maior conscientizaccedilatildeo por parte da sociedade governos instituiccedilotildees

empresas pacientes e familiares a questatildeo das doenccedilas raras estaacute sendo discutida no paiacutes

trazendo agrave tona questotildees como a proacutepria definiccedilatildeo do conceito de doenccedila rara o preccedilo dos

medicamentos e o seu impacto no sistema de sauacutede

Aleacutem das questotildees anteriormente citadas diversas barreiras dificultam o acesso dosas

pacientes a tratamentos especializados e a medicamentos no paiacutes osas profissionais da aacuterea

carecem de treinamento e capacitaccedilatildeo ndash o que compromete ou retarda o diagnoacutestico dosas

pacientes falta informaccedilatildeo sobre essas doenccedilas para a famiacutelia e apenas 2 das doenccedilas raras

podem beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na evoluccedilatildeo da doenccedila

O principal desafio aos olhos da Interfarma estaacute na equaccedilatildeo de um binocircmio equilibrar a

necessidade de atender adequadamente agraves demandas dosas pacientes com os custos crescentes

do setor decorrentes do progresso cientiacutefico e do avanccedilo tecnoloacutegico Para aleacutem disso

1 Maria Fagundes eacute diretora de Responsabilidade Social e Empresarial da INTERFARMA wwwinterfarmaorgbr 2 Marcela Simotildees eacute Analista de Acesso e Inovaccedilatildeo da INTERFARMA 3 Portaria de geneacutetica no SUS

59

conciliar essas questotildees com os entraves burocraacuteticos a duplicidade de funccedilotildees e uma

infinidade de meandros e exigecircncias que fazem com que o tempo para aprovaccedilatildeo dos protocolos

de pesquisa cliacutenica praticamente inviabilize a participaccedilatildeo brasileira na produccedilatildeo de

medicamentos inclusive aqueles para doenccedilas raras os supramencionados medicamentos

oacuterfatildeos

Cenaacuterio das doenccedilas raras no Brasil e no mundo acesso a tratamentos

medicamentosos e procedimentos tecnoloacutegicos

Prestar assistecircncia adequada aosagraves pacientes com doenccedilas raras significa formular uma poliacutetica

capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e tratamento por um lado

oferta de medicamentos oacuterfatildeos por outro

Na praacutetica esse binocircmio requer a organizaccedilatildeo de uma rede de serviccedilos que mescle

tratamentos e medicamentos de alto teor tecnoloacutegico com procedimentos de baixa

complexidade que possam suprir as principais necessidades dosas pacientes diagnoacutestico

preciso e precoce ndash um dos grandes problemas enfrentados por essas pessoas profissionais

qualificados - haacute um deacuteficit de conhecimento meacutedico e cientiacutefico acerca dessas doenccedilas

infraestrutura condizente com as diferentes necessidades de sauacutede dosas pacientes acesso a

medicamentos e acompanhamento dos tratamentos ministrados

O fato de o Brasil natildeo possuir uma poliacutetica oficial especiacutefica para doenccedilas raras natildeo

significa poreacutem que osas pacientes natildeo recebam cuidados e tratamento Os medicamentos

acabam chegando ateacute elesas na maioria por via judicial E o SUS de uma maneira ou de outra

atende essas pessoas poreacutem de forma fragmentada sem planejamento com grande desperdiacutecio

de recursos puacuteblicos e prejuiacutezo para osas pacientes

Embora possuam diferentes definiccedilotildees e abordagens em torno do tema as poliacuteticas

puacuteblicas desenvolvidas ao redor do mundo tecircm apresentado uma gama de soluccedilotildees para ampliar

o acesso dosas pacientes agrave assistecircncia O desafio eacute consideraacutevel levando-se em conta que 95

das doenccedilas raras natildeo possuem tratamento e dependem de uma rede de cuidados paliativos que

garantam ou melhorem a qualidade de vida dosas pacientes

Na outra ponta do espectro estaacute uma pequena percentagem das doenccedilas raras que dispotildee

de tratamentos medicamentosos capazes de interferir na sua progressatildeo mas o custo elevado

das drogas tem exigido dos governos decisotildees poliacuteticas e procedimentos especiacuteficos para

garantir seu fornecimento contiacutenuo Entre um grupo e outro encontram-se certas modalidades

de doenccedilas raras que podem ser tratadas cirurgicamente ou com medicamentos regulares que

ajudam apenas a atenuar os sintomas

Existem na experiecircncia internacional alguns benchmarkings que merecem ser destacados

como

bull Para agilizar o acesso dos pacientes a medicamentos alguns paiacuteses adotam estrateacutegias

destinadas a facilitar o registro ndash preacute-requisito para a comercializaccedilatildeo

bull Revisatildeo acelerada da documentaccedilatildeo e reduccedilatildeo das exigecircncias em relaccedilatildeo a estudos

cliacutenicos satildeo as praacuteticas mais frequentes

bull Haacute casos que a designaccedilatildeo de droga oacuterfatilde em outros paiacuteses eacute suficiente para a aprovaccedilatildeo

de um medicamento

bull Muitos paiacuteses concedem incentivos agraves empresas fabricantes como reduccedilatildeo de taxas e

exclusividade de mercado em relaccedilatildeo agrave concorrecircncia

bull O modelo de poliacutetica adotado em vaacuterios paiacuteses em relaccedilatildeo aos medicamentos oacuterfatildeos eacute

conforme a particularidade do sistema de sauacutede ndash se eacute puacuteblico ou privado e quem eacute o

pagador majoritaacuterio dos custos

60

Definiccedilatildeo de Drogas Oacuterfatildes

Segundo Garau e Ferrandiz (2009 3 apud Wiest 2010) um produto adquire o status de oacuterfatildeo

quando atende a quatro criteacuterios O primeiro deles eacute o criteacuterio da severidade ou seja todo

medicamento destinado a tratamento de uma doenccedila crocircnica que represente uma ameaccedila de

morte aoagrave paciente e exija que o mesmo se mantenha em tratamento ao longo de toda a sua

vida O segundo eacute o criteacuterio da necessidade natildeo atendida que corresponde agraves doenccedilas cuja

inexistecircncia de meacutetodos satisfatoacuterios de diagnoacutesticos prevenccedilatildeo ou tratamento datildeo a este

faacutermaco a alcunha de oacuterfatildeo O terceiro trata da questatildeo da prevalecircncia que institui que todo

aquele medicamento desenvolvido para o tratamento de doenccedilas atinge uma pequena parcela

da populaccedilatildeo Por fim o quarto criteacuterio corresponde ao retorno financeiro esperado que trata

do medicamento cujas vendas natildeo apresentem expectativa de cobertura dos custos iniciais de

pesquisa e desenvolvimento

Processo de desenvolvimento de um medicamento

Diante dos dados discutidos acima se torna importante discutir o processo de desenvolvimento

de um medicamento Isso porque no caso de drogas oacuterfatildes o alto custo de desenvolvimento dos

mesmos para o tratamento de doenccedilas raras eacute agravado pela dificuldade de conduzir ensaios

cliacutenicos para comprovar o funcionamento de um medicamento ndash sendo este um fator

determinante para a aprovaccedilatildeo e posterior lanccedilamento do produto no mercado ndash numa

populaccedilatildeo pequena de pacientes O problema eacute uma barreira para evidecircncias cientiacuteficas e

portanto deve ser caracterizado como um problema de sauacutede puacuteblica

O processo eacute tecnicamente dividido em cinco fases Segundo WIEST (2010) a fase 1 leva

cerca de 2 anos e corresponde ao periacuteodo no qual identifica-se o produto ou a doenccedila ldquoalvordquo

para conduzir as pesquisas de ordem baacutesica Na fase 2 ocorre a delimitaccedilatildeo do estudo e o iniacutecio

dos ensaios preacute-cliacutenicos nos quais os princiacutepios ativos satildeo testados em animais para verificar a

sua eficaacutecia e seguranccedila Esta fase leva entre 3 e 6 anos para ser desenvolvida A fase 3 leva de

6 a 7 anos e corresponde ao periacuteodo no qual ocorrem os ensaios cliacutenicos ou seja os produtos

passam a ser testados em seres humanos Jaacute na fase 4 que decorre em aproximadamente 2 a 4

anos satildeo verificados os ensaios realizados na fase anterior Caso o resultado tenha sido positivo

a induacutestria farmacecircutica busca o registro e a autorizaccedilatildeo para a comercializaccedilatildeo junto agraves

Fig 1 - Fonte Doenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacional ndash Interfarma 2013

61

autoridades de sauacutede Por fim a fase 5 trata da introduccedilatildeo deste medicamento no mercado

Destaca-se que todo o processo leva em torno de 14 anos o que evidencia a sua complexidade

e a necessidade de um elevado dispecircndio de capital humano e monetaacuterio para a sua conclusatildeo

Na figura 2 eacute possiacutevel visualizar as fases da produccedilatildeo de um medicamento

Eacute possiacutevel afirmar que diante do cenaacuterio descrito acima nos casos das drogas oacuterfatildes o

tempo de produccedilatildeo do medicamento e o nuacutemero restrito de pacientes disponiacuteveis para participar

das fases de estudos cliacutenicos dificultam ainda mais a produccedilatildeo de um medicamento Aleacutem

disso outros entraves como a falta de incentivo governamental para a pesquisa cliacutenica e os

aspectos burocraacuteticos de aprovaccedilatildeo de registros e preccedilos tornam o cenaacuterio ainda mais agravante

para as pessoas com doenccedilas

Entraves agrave Pesquisa Cliacutenica

O Brasil eacute a sexta economia do mundo mas ocupa a 42ordf posiccedilatildeo quando se trata de pesquisa

cliacutenica A pesquisa cliacutenica eacute uma das entradas para novas tecnologias no paiacutes no setor da sauacutede

onde delas dependem potenciais medicamentos contra o cacircncer diabetes doenccedilas

cardiovasculares e AIDS que lideram o ranking dos ensaios

Ainda assim o tempo meacutedio gasto atualmente no Brasil para aprovar um protocolo de

pesquisa cliacutenica varia de um a dois anos o dobro da meacutedia mundial sendo as consequecircncias

muacuteltiplas como por exemplo o Brasil tem sido descartado de ensaios cliacutenicos de menor

duraccedilatildeo devido ao risco de que a autorizaccedilatildeo natildeo saia a tempo e a desistecircncia dos centros

internacionais de pesquisa de realizar em parceria com o Brasil estudos multicecircntricos e

globais que envolvem muitos paiacuteses e prazos preacute-determinados

Figura 2 Fases de produccedilatildeo do medicamento

62

No caso das doenccedilas raras esse cenaacuterio agrava-se esta via de acesso dosas doentes agraves

drogas oacuterfatildes e acompanhamento por um corpo cliacutenico de excelecircncia eacute ainda mais estreito pois

os estudos que envolvem muacuteltiplos paiacuteses e centros tecircm grande peso uma vez que devido agrave

baixa prevalecircncia osas pacientes satildeo recrutadosas em diversas partes do mundo

Para muitosas pacientes que natildeo respondem bem aos tratamentos convencionais a

participaccedilatildeo em um protocolo de pesquisa pode representar a uacuteltima esperanccedila e osas que

dispotildeem de mais recursos tecircm possibilidade de ir ao exterior e participar natildeo sendo este o

cenaacuterio da maioria da populaccedilatildeo brasileira

Por outro lado segundo (Heemstra 2008) devido agrave raridade e ao reduzido mercado

consumidor torna-se difiacutecil caro e arriscado o desenvolvimento de pesquisas que viabilizem a

produccedilatildeo de medicamentos para o seu tratamento fazendo com que esta questatildeo passe a ser

natildeo somente um problema de sauacutede puacuteblica mas econocircmico e social

Enquanto a meacutedia mundial para aprovaccedilatildeo de pesquisas cliacutenicas varia de 3 a 4 meses no

Brasil eacute preciso esperar o triplo do tempo Mas este natildeo eacute o uacutenico desestiacutemulo no paiacutes aos

patrocinadores das pesquisas e ao desenvolvimento de medicamentos oacuterfatildeos Por forccedila de uma

resoluccedilatildeo do Conselho Nacional de Sauacutede os patrocinadores de estudos cliacutenicos devem

Figura 3 Pesquisas acadecircmicas no Brasil

63

continuar a fornecer aos pacientes para o resto de suas vidas o tratamento testado quando

houver algum benefiacutecio aoagrave paciente mesmo sem aprovaccedilatildeo da ANVISA Diante da baixa

incidecircncia das doenccedilas raras esta eacute uma questatildeo problemaacutetica uma vez que o patrocinador teraacute

que fornecer o medicamento gratuitamente para a quase totalidade do seu mercado consumidor

A incerteza e a inseguranccedila dosas empresaacuteriosas diante desse cenaacuterio e da capacidade do

Estado de proteger as inovaccedilotildees tambeacutem reduz o investimento privado em pesquisas no Brasil

A avaliaccedilatildeo de reestruturaccedilatildeo da maacutequina governamental em termos de infraestrutura e

dos processos burocraacuteticos que a envolvem visando a eficiecircncia a eficaacutecia e a efetividade nos

processos se mostram cada vez mais necessaacuterios para estimular a parceria entre governo

universidades e iniciativa privada tatildeo necessaacuteria para a aacuterea da pesquisa cliacutenica no paiacutes

Abaixo eacute possiacutevel ver o cenaacuterio de pesquisa cliacutenica no paiacutes

Figura 4 Pesquisas cliacutenicas

64

Fortalecimento do Movimento Social

Aleacutem dos jaacute explicitados acima o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes eacute um

uacuteltimo ponto que merece destaque Isso porque como jaacute comentado anteriormente a

participaccedilatildeo dos atores sociais no processo eacute sempre fundamental para a inclusatildeo de um

determinado tema na agenda governamental e para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas No caso

das doenccedilas raras isso natildeo foge agrave regra

Segundo (Wiest 2010) na maioria dos Estados democraacuteticos o direito agrave sauacutede eacute

constitucionalmente assegurado sendo atribuiccedilatildeo do governo garantir o acesso igualitaacuterio agrave

populaccedilatildeo O direito de proteccedilatildeo a sauacutede eacute considerado um dos princiacutepios fundamentais dos

Estados modernos

O artigo 251 da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos prevecirc que cada cidadatildeoatilde

tem direito agrave sauacutede e agrave assistecircncia meacutedica Assim cabe ao governo assegurar condiccedilotildees para o

desenvolvimento de um tratamento efetivo atraveacutes de medidas que garantam a avaliaccedilatildeo segura

de novas drogas bem como o seu fornecimento e distribuiccedilatildeo junto ao mercado

Aleacutem disso as decisotildees das autoridades devem ser tomadas no intuito de zelar pela sauacutede

puacuteblica sem conflitar com os interesses dos demais agentes do processo poliacutetico

Figura 5 Pesquisa e desenvolvimento de medicamento

65

No Brasil o artigo 196 da Constituiccedilatildeo Federal estaacute expressamente instituiacutedo que eacute papel

do Estado brasileiro prover a populaccedilatildeo com assistecircncia agrave sauacutede o que significa dizer

assistecircncia meacutedica e farmacecircutica e que isso deve ser realizado por meio de medidas

econocircmicas e sociais natildeo podendo haver qualquer forma de discriminaccedilatildeo ou favorecimento a

um setor ou classe social

Pode-se dizer que satildeo parcerias importantes para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo social

as existentes entre os diversos elos de participaccedilatildeo os atores sociais (pacientes cuidadoresas

e organizaccedilotildees sociais) o controle social a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e o

diaacutelogo Social

A discussatildeo baacutesica das parcerias estaacute relacionada neste caso ao uso de novas tecnologias

em sauacutede de forma viaacutevel para o sistema de sauacutede como um todo a ponto de assegurar a

universalidade a equidade e a qualidade do atendimento a populaccedilatildeo Desta forma tratamentos

inovadores para doenccedilas raras necessitam de uma abordagem diferenciada por parte dos

tomadores de decisatildeo do sistema puacuteblico de sauacutede

Eacute pertinente ao controle social fiscalizar e colaborar com o aprimoramento das resoluccedilotildees

das agecircncias governamentais e da gestatildeo das tecnologias participar ativamente das decisotildees

que definam ou natildeo o acesso agraves tecnologias com dados reais do paciente ampliar o

conhecimento e opinar nos criteacuterios de escolha para incorporar ou abandonar uma tecnologia

expressar seu posicionamento nas consultas puacuteblicas disponibilizadas na ANVISA e ANS

entre outras formas de participaccedilatildeo social Ressalta-se que o diaacutelogo social eacute um importante

exerciacutecio de negociaccedilatildeo em prol do interesse comum para um resultado de consenso

O Pacto Social para doenccedilas raras deve ter por objetivo aleacutem de oferecer suporte

assistencial aos pacientes e familiares a contribuiccedilatildeo para disseminar o conhecimento e as

informaccedilotildees para oa pacientes o treinamento profissional a promoccedilatildeo de pesquisa o

desenvolvimento de tratamento e por fim realizar o contato entre as diversas organizaccedilotildees de

pacientes

Figura 6 Pacto social para Doenccedilas Raras

66

Conclusatildeo

Em suma existem muitos entraves presentes nesse tema e muitos pontos ainda a serem

discutidos Apesar disso eacute possiacutevel destacar de tudo que foi explicitado os seguintes pontos

bull Eacute importante que se estabeleccedilam poliacuteticas de incentivo ao desenvolvimento de Drogas

Oacuterfatildes (incentivos econocircmicos para pesquisa agilizaccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da nova droga

isenccedilatildeo tributaacuteria definiccedilatildeo de fundos para financiamento de pesquisa produccedilatildeo a partir

da canalizaccedilatildeo de recursos puacuteblicos e privados etc) Eacute um importante mecanismo para

a induacutestria farmacecircutica produzir novos medicamentos oacuterfatildeos

bull A ampliaccedilatildeo de parcerias puacuteblico-privadas na aacuterea de pesquisa cliacutenica eacute essencial para

a inovaccedilatildeo e o desenvolvimento de novas tecnologias que melhorem a qualidade de vida

dosas pacientes quando possiacutevel o tratamento medicamentoso

bull A melhoria no recrutamento de pacientes para os ensaios cliacutenicos por meio da

internacionalizaccedilatildeo dos estudos e nichos de mercado inclusive o das doenccedilas raras

deve ser considerada vital e eficiente

bull E o mais importante o fortalecimento dos grupos de defesa dosas pacientes estaacute

diretamente ligado com o sucesso da estrateacutegia social de garantir um direito

constitucional a sauacutede

Lembramos como setor que o papel da induacutestria farmacecircutica eacute buscar compreender

melhor as doenccedilas e sempre que possiacutevel trazer a perspectiva doa paciente

Aleacutem disso deve buscar participar do processo de formulaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas para

doenccedilas raras dentro dos padrotildees regidos por lei e da forma mais eacutetica possiacutevel Buscar o acesso

agrave informaccedilatildeo diagnoacutestico e melhores tratamentos para osas pacientes visando contribuir e

participar do pacto social para as doenccedilas raras no paiacutes e no mundo

Referecircncias Bibliograacuteficas

Garau M Ferrandiz JM (2009) ldquoAcess mechanisms for orphan drugs a comparative study

of select European countriesrdquo Office of Health Economics 52 1-24

Interfarma (2013) ldquoDoenccedilas Raras Contribuiccedilotildees para uma Poliacutetica Nacionalrdquo Interfarma

Consultado a 9032014 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbrsite2cadernosDoencas_Raraspdf

Interfarma (2013) ldquoGuia Interfarma 2013rdquo Interfarma Consultado a 9032015 disponiacutevel em

httpwwwinterfarmaorgbruploadsbiblioteca33-guia-interfarma-2013-sitepdf

Wiest R (2010) A Economia das Doenccedilas Raras Teoria Evidecircncias e Poliacuteticas Puacuteblicas

Dissertaccedilatildeo de bacharelado do curso de Ciecircncias Econocircmicas Porto Alegre Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

Heemstra H E et al (2008) ldquoOrphan drug development across Europe bottlenecks and

opportunitiesrdquo Drug Discovery Today 13 15-16 670-676

67

Atendimento a doenccedilas raras no Distrito Federal

Maria Teresinha de Oliveira Cardoso1 Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal nucleodegeneticadfyahoocombr

Doenccedilas raras - Conceituaccedilatildeo

Existem vaacuterias conceituaccedilotildees para Doenccedilas raras

Na Uniatildeo Europeacuteia (EU) classifica-se como Doenccedila Rara aquela com prevalecircncia inferior

a 5 casos por 10000 habitantes (Domenica et al 2011)

A OMS define doenccedila rara como aquela que afeta 13 pessoas para cada 2000 indiviacuteduos

O Orphan Drug Act (ODA) define doenccedila rara como uma doenccedila que afeta menos que

200000 pessoas no paiacutes (EUA) (De luca 2001)

As doenccedilas raras representam risco para a sobrevivecircncia e satildeo condiccedilotildees cronicamente

debilitantes (Domenica et al 2011) Estima-se que existam entre 6000 a 8000 distintas doenccedilas

raras afetando mais de 6 de toda a populaccedilatildeo A cada semana cinco novas doenccedilas satildeo

descritas 80 das quais satildeo de etiologia geneacutetica (Stakišaitis et al 2007) Portanto essas

condiccedilotildees podem ser consideradas raras quando avaliadas individualmente mas afetam uma

proporccedilatildeo significante da populaccedilatildeo quando consideradas como um grupo uacutenico 30 milhotildees

de europeus e 25 milhotildees de norte americanos (Weely e Leufkens 2004)

Doenccedilas Raras - Impacto populacional

As doenccedilas raras produzem um grande impacto na populaccedilatildeo pois 6 apresenta uma doenccedila

rara que se caracteriza por apresentar uma diversidade de sinais e sintomas muitos deles

comuns a doenccedilas frequentes

Em geral apresentam um caraacuteter crocircnico progressivo muitas vezes degenerativo e

incapacitante Afeta muacuteltiplos sistemas e interfere na qualidade de vida do paciente e familiares

O impacto populacional torna-se tanto maior quanto mais tardio o diagnoacutestico agravado

pelo desconhecimento dos profissionais de sauacutede carecircncia de serviccedilos e centros de referecircncia

em doenccedilas raras no paiacutes (Regulation (EC) Nordm 1412000)

No Brasil como na Ameacuterica Latina 3 a 5 dos receacutem-nascidos (RN) apresentam um

defeito congecircnito O impacto desses defeitos congecircnitos vem aumentando no Brasil e estes jaacute

representam a segunda causa de oacutebito infantil sendo responsaacuteveis por um terccedilo (13) das

internaccedilotildees pediaacutetricas (Horovitz 2005)

Poliacuteticas Puacuteblicas

Uma poliacutetica europeia em doenccedilas raras foi efetivamente regulamentada e colocada em accedilatildeo

em 1999 provendo incentivos para pesquisas desenvolvimento e marketing para drogas oacuterfatildes

com base na experiecircncia dos Estados Unidos

1 Maria Teresinha de Oliveira Cardoso eacute presidente do Departamento de Geneacutetica Cliacutenica do Distrito Federal Chefe do Nuacutecleo

de Geneacutetica da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal Chefe do Serviccedilo de Geneacutetica do Hospital Central de Brasiacutelia

Coordenadora de Doenccedilas Raras da Secretaria de Estado de Sauacutede do Distrito Federal e Professora da Faculdade de Medicina

da Universidade Catoacutelica

68

Em 2008 o Projeto Europeu para o Desenvolvimento do Plano Nacional de Doenccedilas Raras

(EUROPLAN) foi conduzido pela Comissatildeo Europeia A adoccedilatildeo de um plano nacional ocorreu

na Franccedila como Plano Nacional Francecircs liberado em 2011 Outros planos nacionais foram

adotados em diversos paiacuteses europeus incluindo Beacutelgica Bulgaacuteria Repuacuteblica Tcheca

Alemanha Greacutecia Luxemburgo Portugal Romeacutenia e Espanha

A partir de 2013 a Uniatildeo Europeia passou a recomendar que todos os estados membros

desenvolvessem uma estrateacutegia nacional para doenccedilas raras (Weely e Leufkens 2004)

No Brasil uma poliacutetica nacional para Doenccedilas Raras teve iniacutecio oficial com a publicaccedilatildeo

da Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede devendo ser implantada atraveacutes das DIRETRIZES PARA

ATENCcedilAtildeO INTEGRAL AgraveS PESSOAS COM DOENCcedilAS RARAS NO SISTEMA UacuteNICO

DE SAUacuteDE ndash SUS

Esse Projeto Nacional para Doenccedilas Raras deveraacute implementar

Centros de Referecircncia Regionais

Atendimentos Multidisciplinares

Centros de Reabilitaccedilatildeo

Protocolos de Accedilatildeo

Terapias de Apoio

No Distrito Federal (DF) o Nuacutecleo de Geneacutetica representa o primeiro serviccedilo puacuteblico

destinado ao diagnoacutestico tratamento e aconselhamento geneacutetico de crianccedilas e adultos com

Doenccedilas Raras incluindo o Serviccedilo de Triagem Neonatal Ampliada para 27 doenccedilas

metaboacutelicas raras destinado a todas as crianccedilas nascidas no DF

O atendimento agraves Doenccedilas Raras iniciou-se em 1989 como Serviccedilo de Geneacutetica e em 2007

esse Serviccedilo foi oficialmente reconhecido como ldquoNuacutecleo de Geneacuteticardquo composto de uma

Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica e seis pilares destinados ao atendimento e ao diagnoacutestico de

crianccedilas e adultos com doenccedilas geneacuteticas

Como descritos a seguir

1 Imunogeneacutetica para o diagnoacutestico e acompanhamento de casos de Imunodeficiecircncias

primaacuterias

2 Geneacutetica Molecular e Oncogeneacutetica realizando a identificaccedilatildeo de marcadores de

Leucemias por tecnologia molecular (PCR)

3 Citogeneacutetica a Citogeneacutetica Convencional para Cromossomopatias e estudo de

translocaccedilotildees e marcadores cromossocircmicos das Leucemias

4 Geneacutetica Bioquiacutemica abrangendo

a Teste de Triagem Neonatal do Programa Nacional de Triagem Neonatal e do

Programa de Triagem Neonatal Ampliado do Distrito Federal uacutenico no paiacutes em

sistema puacuteblico

b Serviccedilo de Referecircncia de Erros Inatos do Metabolismo destinado ao diagnoacutestico e

tratamento em seus vaacuterios niacuteveis de complexidade de pacientes com Doenccedilas

metaboacutelicas hereditaacuterias

5 Geneacutetica da Reproduccedilatildeo e Medicina Fetal para estudo cromossocircmico de casais

infeacuterteis ou com perdas muacuteltiplas e participaccedilatildeo na equipe de diagnoacutestico preacute-natal das

malformaccedilotildees congecircnitas

6 Geneacutetica Cliacutenica compreende o atendimento nos vaacuterios ambulatoacuterios semanais em trecircs

Hospitais da Rede acompanhamento de crianccedilas internadas em enfermarias UTIs Pediaacutetricas

e UTIs Neonatais perfazendo uma meacutedia de atendimentos mensais de 500 pacientes incluindo

o atendimento de crianccedilas em diferentes faixas etaacuterias e adultos

69

Formaccedilatildeo de recursos humanos

O Nuacutecleo de Geneacutetica tambeacutem se destina ao ensino e capacitaccedilatildeo teacutecnica orientando estagiaacuterios

de aacutereas da Sauacutede internos de graduaccedilatildeo de Medicina e Residentes de Pediatria e em especial

o Programa de Residecircncia em Geneacutetica Meacutedica

O Nuacutecleo de Geneacutetica eacute uma entidade ligada ao Sistema Puacuteblico de Sauacutede (SUS) que

trabalha em parceria com a Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia e a Universidade de Brasiacutelia em

grandes projetos multicecircntricos de pesquisa em especial no campo do diagnoacutestico avanccedilado

por teacutecnicas moleculares de doenccedilas raras

A participaccedilatildeo em grandes projetos no formato de Redes possibilita o avanccedilo tanto na aacuterea

assistencial de diagnoacutestico e terapecircutica como na qualidade do Ensino

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras do Distrito Federal foi instituiacuteda pelo Diaacuterio Oficial do

Distrito Federal em 4 de marccedilo de 2013 com o objetivo de normatizar e implementar fluxo

de referecircncia e contra-referecircncia dos atendimentos (Fig 1) exames complementares e

confirmatoacuterios de diagnoacutestico interconsultas nos vaacuterios niacuteveis de complexidade (Fig 2)

acesso a terapias especiacuteficas e de apoio a pessoas com doenccedilas raras e seus familiares famiacutelias

e aconselhamento geneacutetico das pessoas com doenccedilas raras e seus familiares

Figura 1 Fluxo de atendimento ambulatorial dos pacientes nos diversos hospitais da rede hospitalar

DO ENCcedil AS RARAS NUGEN

EMERG AMBUL UTIS

Neuropediatria Endocrinopediatria

CardiopediatriaOftalmologia

PsicologaFonoaudiolOdontopedFisioterap

TO

ImagensENM

EcocardiogHormoniosBioquimica

MSMSMolecular

70

Figura 2 Atendimento multidisciplinar dos pacientes no Nugen

Grupos de Doenccedilas Raras jaacute em atendimento sistemaacutetico no Nuacutecleo de

Geneacutetica

bull Dismorfologia (malformaccedilotildees congecircnitas)Cromossomopatias

bull Distuacuterbios de Diferencial Sexual

bull Distuacuterbios do Crescimento

bull Displasias oacutesseas

bull Distuacuterbios de Comportamento

bull Deficiecircncia Intelectual

bull Distuacuterbios do Aprendizado

bull Doenccedilas Metaboacutelicas Hereditaacuterias(EIM)

bull Doenccedilas Neurometaboacutelicas da Infacircncia

bull Doenccedilas Neurodegenerativas

bull Doenccedilas Neuromusculares

bull Imunodeficiecircncias Primaacuterias

bull Siacutendrome de Predisposiccedilatildeo ao Cacircncer

bull Siacutendromes Neurocutacircneas

bull Infertilidade de Casais e Abortamento de Repeticcedilatildeo

71

Perspectivas

A Coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras tem como perspectivas a organizaccedilatildeo de serviccedilos como

Centro Regional de Referecircncia em Doenccedilas Raras Centro de Terapia de Reposiccedilatildeo Enzimaacutetica

Ambulatoacuterio Integrado de Doenccedilas Neuromusculares Ambulatoacuterio Integrado de

Imunogeneacutetica e Ambulatoacuterio Integrado de Oncogeneacutetica Tambeacutem visa a formaccedilatildeo de equipes

multidisciplinares parcerias de investigaccedilatildeo diagnoacutestica avanccedilada e grupos de apoio a

pacientes e familiares

Referecircncias bibliograacuteficas

Domenica Taruscio D et al (2011) ldquoRare diseases and orphan drugs Romardquo Ann Ist Super

Sanitagrave 47 1 83-93

De Luca G (2001) ldquoOrphan drugs and patents an attempt to clarify the relationship existing

between these two systemsrdquo Pharmaceutical Policy and Law 3 63-9

Stakišaitis D et al (2007) ldquoAccess to information supporting availability of medicines for

patients suffering from rare diseases looking for possible treatments The EuOrphan Servicerdquo

Medicina (Kaunas) 43(6) 441-446

Van Weely S Leufkens HGH (2004) ldquoOrphan diseasesrdquo in Kaplan W Laing R Priority

medicines for Europe and the world ndash a public health approach to innovation Geneva

WorldHealth Organization 95-100

Horovitz D D G Llerena JrJ C Mattos RA (2005) Birth defects and health strategies in

Brazil an overview Rio de Janeiro Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 21 4

Applegarth DA et al (2000) ldquoIncidence of inborn errors of metabolism in British Columbiardquo

Pediatrics 105 1 1-6

French national plan on rare diseases 2005ndash2008 (2004) Ensuring equity in the access to

diagnosis treatment and provision of care Consultado a 20102013 disponiacutevel em

httpwwweurordisorgIMGpdfEN_french_rare_disease_planpdf

Legislaccedilatildeo

REGULATION (EC) No 1412000 of the European Parliament of the Council of December 16

1999 on Orphan medicinal products OJ L 181-5 2212000

72

Pesquisa em doenccedilas raras Desafios e Perspectivas

Maacuterio Andreacute C Saporta1 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas-Tronco da Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ mariosaportalance-ufrjorg

Apesar de coletivamente afetarem cerca de 8 a 10 da populaccedilatildeo mundial as doenccedilas raras

apresentam individualmente prevalecircncia inferior a 005 ou seja menos de 1 em cada 2000

indiviacuteduos em uma dada populaccedilatildeo Este reduzido nuacutemero de pessoas afetadas oferece desafios

proacuteprios para a pesquisa baacutesica e cliacutenica em doenccedilas raras A ausecircncia de massa criacutetica e forccedila

poliacutetica torna o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras problemaacutetico do ponto de vista

de poliacuteticas de Estado Eacute difiacutecil imaginar que pesquisas em mais de 7000 diferentes

enfermidades poderatildeo ser financiadas exclusivamente por editais de fomento de agecircncias

governamentais Estes editais satildeo de suma importacircncia para o desenvolvimento de pesquisas

nesta aacuterea temaacutetica mas natildeo podem ser a fonte exclusiva de financiamento O pequeno nuacutemero

amostral (nuacutemero de pacientes incluiacutedos em um estudo) tambeacutem dificulta a realizaccedilatildeo de

ensaios cliacutenicos para investigaccedilatildeo de novos tratamentos Neste texto discutiremos alternativas

para a viabilizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras e apresentaremos uma nova tecnologia com

potencial de revolucionar os estudos destas enfermidades em busca de um maior conhecimento

sobre os mecanismos bioloacutegicos envolvidos e possiacuteveis novos tratamentos a reprogramaccedilatildeo

celular

A assistecircncia e a pesquisa em doenccedilas raras satildeo campos continuamente negligenciados no

Brasil dependentes muito mais do interesse especiacutefico de grupos de pesquisas e meacutedicos

integrantes do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) do que de poliacuteticas puacuteblicas propriamente ditas

A necessidade de inclusatildeo das doenccedilas raras no planejamento da gestatildeo do SUS eacute evidente e

urgente Com o desenvolvimento tecnoloacutegico e cientiacutefico desta aacuterea nos uacuteltimos anos uma

seacuterie de novos tratamentos para alguns tipos de doenccedilas raras jaacute satildeo uma realidade e alguns

fazem inclusive parte da lista de medicamentos oferecidos pelo SUS Entretanto a ausecircncia

de centros de referecircncia para o estudo e o acompanhamento de pacientes que podem beneficiar

destes tratamentos dificulta a identificaccedilatildeo destes atrasando ou inviabilizando o tratamento O

correto diagnoacutestico da maioria das doenccedilas raras depende de serviccedilos especializados com

meacutedicos experientes e estrutura laboratorial avanccedilada Eacute portanto necessaacuteria a organizaccedilatildeo de

uma rede de centros de referecircncia em doenccedilas raras com abrangecircncia nacional e integradas

atraveacutes de sistemas de gerenciamento de informaccedilotildees ligados agraves centrais de marcaccedilatildeo do SUS

Desta forma o fluxo de referecircncia e contra-referecircncia de pacientes ocorreria da maneira mais

efetiva possiacutevel agilizando o diagnoacutestico e o manejo de indiviacuteduos com doenccedilas raras Esta

rede poderia ser tambeacutem utilizada para viabilizar a realizaccedilatildeo de pesquisas em doenccedilas raras

ao facilitar a identificaccedilatildeo e a inclusatildeo de pacientes em ensaios cliacutenicos e pesquisas

transacionais

Este tipo de sistema em rede para pesquisa e atendimento em doenccedilas raras natildeo eacute algo

ineacutedito no mundo O National Institutes of Health dos Estados Unidos oacutergatildeo semelhante ao

nosso Ministeacuterio da Sauacutede possui um departamento exclusivo para o estudo e fomento de

pesquisas em doenccedilas raras O escritoacuterio de pesquisas em doenccedilas raras2 organiza o acesso a

informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras e oferece financiamento para a criaccedilatildeo de redes de

1 Maacuterio Saporta eacute meacutedico neurologista atua no serviccedilo de neurologia da Universidade Federal Fluminense eacute poacutes-doutorado

em Neurogeneacutetica e Reprogramaccedilatildeo Celular em Satildeo Francisco ndash EUA 2 Office of Rare Diseases Research httprarediseasesinfonihgov

73

atendimento e pesquisa em tipos especiacuteficos de doenccedilas raras atraveacutes da rede de pesquisa

cliacutenica em doenccedilas raras (Rare Disease Clinical Research Network) Atraveacutes desta iniciativa

grupos de pesquisa especializados em uma doenccedila rara especiacutefica se reuacutenem em uma rede

colaborativa para promover o atendimento regionalizado a pacientes e familiares e viabilizar a

realizaccedilatildeo de pesquisas em alta escala com abrangecircncia nacional Iniciativas similares podem

ser encontradas na Uniatildeo Europeia mas satildeo raras ou inexistentes no Brasil

Aleacutem do financiamento governamental direcionado atraveacutes destas redes especializadas de

pesquisa e atendimento em doenccedilas raras especiacuteficas outra fonte fundamental para a

viabilizaccedilatildeo destas atividades deve vir das associaccedilotildees civis de pacientes e familiares Atraveacutes

de eventos beneficentes atividades de conscientizaccedilatildeo e engajamento da sociedade civil e lobby

poliacutetico as associaccedilotildees de pacientes e familiares tem o poder de captar a atenccedilatildeo da opiniatildeo

puacuteblica e de fontes de fomento tradicionalmente natildeo disponiacuteveis aos centros acadecircmicas no

Brasil como doaccedilotildees de empresas ou individuais Esta obviamente natildeo eacute uma tarefa trivial e

o contato e troca de experiecircncias com associaccedilotildees mais experientes no exterior eacute altamente

recomendaacutevel Exemplos de associaccedilotildees americanas de pacientes e familiares que tecircm sido bem

sucedidas na captaccedilatildeo de recursos e no incentivo a pesquisas em doenccedilas raras neuromusculares

em alta escala incluem a Muscular Dystrophy Association3 e a Charcot-Marie-Tooth

Association5

Em resumo o financiamento de pesquisas em doenccedilas raras deve se basear na interaccedilatildeo

entre trecircs elementos A relaccedilatildeo entre o governo e os centros acadecircmicos atraveacutes dos editais de

fomento eacute a uacutenica destas interaccedilotildees a ocorrer no Brasil mesmo que de forma insuficiente A

interaccedilatildeo entre as associaccedilotildees de pacientes e familiares e o governo atraveacutes de pressatildeo poliacutetica

e com os centros acadecircmicos atraveacutes da captaccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de novos recursos para

pesquisa satildeo duas estrateacutegias subutilizadas no Brasil mas jaacute comeccedilam a gerar importantes

frutos em outros paiacuteses

Na segunda parte deste artigo abordaremos uma nova teacutecnica em biologia celular que

promete revolucionar as pesquisas em doenccedilas raras denominada reprogramaccedilatildeo celular

Como um coacutedigo de software a informaccedilatildeo geneacutetica de uma ceacutelula pode ser editada atraveacutes do

uso de ferramentas de biologia molecular Viacuterus produzidos para carregar informaccedilotildees

geneacuteticas especiacuteficas por exemplo podem realizar esta ediccedilatildeo do coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas

ao infectaacute-las Foi utilizando esta estrateacutegia que o pesquisador japonecircs Shinya Yamanaka

conseguiu ldquoreprogramarrdquo ceacutelulas humanas da pele conhecidas como fibroblastos e fazecirc-las

assumir caracteriacutesticas de ceacutelulas-tronco embrionaacuterias Desde a comunicaccedilatildeo dos resultados de

seu trabalho em 2007 apenas cinco anos se passaram para que Yamanaka fosse reconhecido

com o precircmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2012 A grande revoluccedilatildeo causada pelos

resultados de Yamanaka adveacutem de trecircs caracteriacutesticas das ceacutelulas-tronco reprogramadas Como

ceacutelulas embrionaacuterias estas ceacutelulas podem ser replicadas em laboratoacuterio de forma indefinida

sem sofrer envelhecimento celular Aleacutem disso estas ceacutelulas tambeacutem podem ser transformadas

em todos os tipos celulares presentes em um indiviacuteduo adulto incluindo neurocircnios ceacutelulas do

muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do fiacutegado rim pulmatildeo etc Mas ao contraacuterio das ceacutelulas-tronco

embrionaacuterias as ceacutelulas-tronco reprogramadas podem ser obtidas de indiviacuteduos de qualquer

idade sem a necessidade de destruiccedilatildeo de embriotildees

O verdadeiro trunfo das ceacutelulas reprogramadas que as coloca no topo da piracircmide dos

modelos de estudo em biologia humana atualmente eacute o fato de que elas preservam todas as

caracteriacutesticas geneacuteticas do indiviacuteduo que as originou Desta forma temos agora a possibilidade

de estudar ceacutelulas humanas especiacuteficas de indiviacuteduos acometidos por diferentes doenccedilas

3 MDA ndash mdaorg 4 CMTA ndash wwwcmtausaorg 5 CMTA ndash wwwcmtausaorg

74

mantendo todos os fatores bioloacutegicos associados ao desenvolvimento da doenccedila em questatildeo

Estas caracteriacutesticas das ceacutelulas reprogramadas satildeo de grande importacircncia para o estudo de

doenccedilas raras que satildeo na sua maioria (entre 80 e 90) de origem geneacutetica Outra vantagem da

teacutecnica eacute que podemos estudar tipos celulares antes inacessiacuteveis aos pesquisadores pela

dificuldade em obtecirc-las de pacientes vivos O principal exemplo deste tipo de ceacutelulas satildeo os

neurocircnios componentes do tecido nervoso e presentes no ceacuterebro tronco cerebral e medula

espinhal A retirada de neurocircnios de indiviacuteduos vivos eacute extremamente arriscada natildeo soacute pela

posiccedilatildeo protegida que eles ocupam dentro do cracircnio ou da coluna vertebral mas principalmente

pelo risco de sequelas graves apoacutes sua remoccedilatildeo dos circuitos funcionais a que estatildeo integrados

Neste momento laboratoacuterios do mundo inteiro estatildeo produzindo ceacutelulas-tronco reprogramadas

de indiviacuteduos com diversas doenccedilas raras neuroloacutegicas por exemplo e transformando-as em

neurocircnios para estudar o que haacute de errado nestas ceacutelulas que causa em uacuteltima anaacutelise a doenccedila

do paciente Ainda mais importante estas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para o desenvolvimento

de novos tratamentos

Tomando como exemplo o campo das doenccedilas neuroloacutegicas poucos satildeo os tratamentos

disponiacuteveis no momento que vatildeo aleacutem do controle momentacircneo dos sintomas e ofereccedilam a

chance de cura para os pacientes Isso eacute ainda mais verdade para doenccedilas neurodegenerativas e

neurogeneacuteticas como doenccedila de Charcot-Marie-Tooth Esclerose Lateral Amiotroacutefica (ELA) e

outras formas graves de doenccedilas raras do sistema nervoso O uso da reprogramaccedilatildeo celular para

geraccedilatildeo e estudo de neurocircnios humanos promete modificar este cenaacuterio ao oferecer um modelo

humano para a investigaccedilatildeo em alta escala de tratamentos que atuem nos mecanismos causais

das doenccedilas e natildeo apenas em seus sintomas

A teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular oferece tambeacutem a possibilidade de gerar vaacuterios tipos

celulares de um indiviacuteduo especiacutefico para determinar qual tratamento seraacute mais eficaz ou

ofereceraacute o melhor perfil de seguranccedila para ele Semelhante ao que eacute feito atualmente para

determinar qual o melhor antibioacutetico a ser utilizado para tratar uma infecccedilatildeo quando testa-se

diferentes compostos em culturas de bacteacuteria para identificar qual agente eacute mais eficaz culturas

de neurocircnios poderatildeo ser utilizadas para determinar para um paciente especiacutefico qual

medicaccedilatildeo seraacute mais eficaz para tratar sua doenccedila rara por exemplo Aleacutem disso ceacutelulas

musculares cardiacuteacas derivadas das ceacutelulas-tronco reprogramadas poderatildeo ser utilizadas para

identificar quais destas drogas satildeo seguras ou perigosas de um ponto de vista cardiovascular

Estudos tratando exatamente deste tipo de experimentos vecircm sendo publicados com frequecircncia

na literatura cientiacutefica mundial nos uacuteltimos anos Este uso da reprogramaccedilatildeo celular abre

caminho para um novo paradigma de medicina personalizada particularmente uacutetil no estudo e

tratamento de doenccedilas raras onde o paciente eacute a plataforma de estudo para o desenvolvimento

do seu proacuteprio tratamento

A uacuteltima fronteira a ser alcanccedilada em relaccedilatildeo agraves ceacutelulas reprogramadas eacute o seu uso em

terapia celular Em um futuro natildeo tatildeo distante indiviacuteduos com doenccedilas que levam agrave perda de

tipos celulares especiacuteficos (como eacute o caso de vaacuterias doenccedilas raras degenerativas) poderatildeo ter

ceacutelulas reprogramadas a partir de ceacutelulas da pele ou ateacute mesmo da urina diferenciadas no tipo

celular necessaacuterio e este transplantado no seu organismo Este ano o primeiro estudo cliacutenico

utilizando ceacutelulas derivadas de ceacutelulas reprogramadas recebeu autorizaccedilatildeo do governo japonecircs

para ter iniacutecio Neste estudo pacientes com um tipo de doenccedila da retina chamada degeneraccedilatildeo

macular receberatildeo injeccedilotildees com ceacutelulas derivadas de suas proacuteprias ceacutelulas reprogramadas como

forma de regenerar a retina danificada Seraacute o primeiro de muitos trabalhados aplicando a

teacutecnica de reprogramaccedilatildeo celular no tratamento de doenccedilas humanas

Em resumo avanccedilos na geneacutetica e na biologia celular oferecem um novo paradigma para

a forma de tratar indiviacuteduos direcionando o tratamento natildeo para a doenccedila mas para o paciente

com doenccedila rara

75

A inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas raras

Tacircnia Maria Francisca Almeida1 almeidaadvogadaigcombr

Quando me propus falar sobre o tema ldquoA inclusatildeo juriacutedica de pessoas com doenccedilas rarasrdquo me

deparei com o fato de que na realidade iria falar sobre ldquoA dificuldade da inclusatildeo juriacutedica de

pessoas com doenccedilas rarasrdquo Isto porque quando se trata de doenccedilas raras temos uma

infinidade de unicidades que transpotildeem o cotidiano o que gera um contra-senso que algueacutem

legisle sobre aquele determinado ponto

Tal fato infelizmente gera a judicialidade tatildeo debatida das doenccedilas raras Apesar de natildeo

ser a soluccedilatildeo ideal pois o ideal seria a existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas que atendessem os

pacientes e seus familiares torna-se a uacutenica soluccedilatildeo para pessoas que necessitam de um

atendimento especial e urgente que muitas das vezes foge do que estaacute previsto na legislaccedilatildeo

E o que fazer quando um paciente por exemplo estaacute em Home Care pelo SUS (o que tambeacutem

geralmente soacute se consegue por liminar) e precisa de uma ldquoventilaccedilatildeo mecacircnica invasivardquo (o

chamado ldquorespiradorrdquo) A pergunta se daacute pelo fato de que o SUS natildeo tem o ldquocoacutedigordquo para tal

item ou seja o ldquorespiradorrdquo natildeo estaacute elencado na lista de aparelhos dispensados pelo SUS E

por este ldquoentraverdquo legal pois a gestatildeo puacuteblica soacute pode agir diante de uma previsibilidade legal

quando o paciente precisa do ldquorespiradorrdquo em casa ele eacute negado E os planos de sauacutede por

conseguinte acompanham a lista do SUS Entatildeo como fazer Particularmente meu filho que

foi diagnosticado com a Siacutendrome de Krabbe aos dois anos e meio apesar de apresentar sinais

desde um mecircs e meio de idade estaacute em Home Care desde que completou um ano de vida Ele

usava um aparelho chamado de bipap que o auxiliava na respiraccedilatildeo por 24 horas Ele fazia

muita apneia e nos uacuteltimos tempos o aparelho bipap natildeo estava segurando as apneias O

fisioterapeuta fez vaacuterios testes e fez um laudo solicitando o ldquorespiradorrdquo Solicitaccedilatildeo feita

ficamos quinze dias aguardando uma posiccedilatildeo do plano que por fim disse natildeo ter o tal coacutedigo

para faturar o ldquorespiradorrdquo O fisioterapeuta fez outro laudo e juntou com mais um laudo meacutedico

sobre a necessidade ldquourgenterdquo de um ldquorespiradorrdquo Mais uma semana aguardando e meu filho

fez uma apneia que quase natildeo conseguimos reverter Ele natildeo se movia mais o oxiacutemetro natildeo lia

os paracircmetros por conta das extremidades dele terem ficado sem perfusatildeo e extremamente

geladas Ou seja vi meu filho praticamente morto Mas ainda natildeo estava previsto por Deus que

aquele seria o dia dele nos deixar e meu filho voltou a respirar depois de muitas manobras com

o ldquoamburdquo e massagens cardiacuteacas Isto aconteceu por volta das 20 horas Passamos a noite inteira

ao lado dele para observar qualquer sinal de uma possiacutevel apneia No dia seguinte pela manhatilde

fui ao Foacuterum da cidade entrei com mais uma liminar Liminar deferida E o ldquorespiradorrdquo estava

na minha casa no final da tarde Como fazer de outro jeito Muitas famiacutelias acabam mantendo

o paciente internado em hospitais por falta de condiccedilotildees legais de manter o paciente em casa

com um ldquorespiradorrdquo mas a conta do Hospital para a Sauacutede Puacuteblica acaba sendo muito maior

que manter o paciente em casa com o ldquorespiradorrdquo Sem falar em outros fatores como o desgaste

do proacuteprio paciente e da famiacutelia em estar longe de casa Economicamente o fato de natildeo

existirem poliacuteticas puacuteblicas em torno do assunto acaba gerando gastos desnecessaacuterios ao

governo e encarecendo o tratamento do paciente

1 Tacircnia Almeida eacute advogada e matildee de Samuel diagnosticado com Siacutendrome de Krabbe

76

Muitas pessoas criticam a judicializaccedilatildeo das doenccedilas raras pois defendem que gera um

custo para o Estado em razatildeo de multas por liminares natildeo cumpridas a tempo para atender a

uma uacutenica pessoa ao passo de que aquela verba poderia estar sendo destinada ao tratamento da

coletividade O problema eacute que para as doenccedilas raras natildeo existe coletividade Muitas vezes o

paciente eacute uacutenico mas dentro das unicidades formam uma populaccedilatildeo jaacute bastante expressiva na

sociedade Se os governantes natildeo acordarem para tal fato vai sim gerar um deacuteficit difiacutecil de

fechar no final do mecircs uma vez que as accedilotildees judiciais vatildeo crescer e talvez esta seja uma das

formas de fazer com que nossos governantes ldquoacordemrdquo para o assunto e comecem a pensar em

soluccedilotildees na esfera legislativa e executiva para que se diminua a resoluccedilatildeo destes problemas na

esfera judicial

Para um melhor entendimento do problema para aqueles que natildeo convivem com uma

doenccedila rara vou expor outros exemplos veriacutedicos

Para o paciente que estaacute em Home Care e necessita de aparelhos ligados por 24 horas na

residecircncia como o ldquorespiradorrdquo oximetro concentrador de ar bomba de infusatildeo aspirador

etc imagine quanto deve ser a conta de energia eleacutetrica desta famiacutelia Um concentrador de ar

por exemplo gasta o mesmo que um ar condicionado e o concentrador de ar que eacute o que

fornece oxigecircnio para o paciente tem que ficar ligado por 24 horas Diante de tal fato a famiacutelia

que antes tinha uma conta de energia eleacutetrica de em meacutedia R$ 15000 (cento e cinquumlenta

reais)mecircs passou a ter uma conta em torno de R$ 160000 (um mil e seiscentos reais)mecircs E

o que fazer quando a renda da famiacutelia natildeo comporta tal gasto Natildeo tem como economizar

energia neste caso porque a famiacutelia natildeo tem como deixar o concentrador de ar ou o ldquorespiradorrdquo

ligado apenas algumas horas por dia Em um caso concreto desta situaccedilatildeo a famiacutelia se dirigiu

ateacute a empresa fornecedora de energia eleacutetrica Light e explicou o problema levou laudos e a

relaccedilatildeo de equipamentos que a crianccedila fazia uso A Companhia de energia eleacutetrica disse que

existe a ldquotarifa socialrdquo onde se pagaria apenas uma taxa Mas para ter direito a ldquotarifa socialrdquo eacute

necessaacuterio que a famiacutelia esteja inscrita em algum programa do governo como o bolsa famiacutelia

ou estar recebendo o LOAS pelo INSS Para quem natildeo tem conhecimento a respeito para fazer

parte do bolsa famiacutelia a famiacutelia tem que ser muito pobre e para ter direito ao LOAS a famiacutelia

soacute pode ter renda de ateacute frac14 do salaacuterio miacutenimo ou seja a famiacutelia tem que ser extremamente

pobre estar sobrevivendo com menos de frac14 do salaacuterio miacutenimo por mecircs A famiacutelia em questatildeo

recebia um pouco mais de trecircs salaacuterios miacutenimos por mecircs juntando todas as rendas e portanto

natildeo tinha direito a ldquotarifa socialrdquo Soluccedilatildeo dada pela empresa fornecedora de energia eleacutetrica

nenhuma Soluccedilatildeo dada pela famiacutelia que natildeo podia pagar a conta mas tambeacutem natildeo podia ficar

sem luz pois o filho depende de aparelhos para manter-se vivo entrou com liminar para que a

Light natildeo deixasse de fornecer energia eleacutetrica agrave residecircncia em razatildeo de existir pessoa

dependente de aparelhos que satildeo ligados agrave energia eleacutetrica Liminar deferida A conta chega a

famiacutelia paga quando tem condiccedilotildees de pagar porque vem bastante alta e as inadimplecircncias

fazem com que o nome do titular da conta vaacute para o SPCSerasa (que eacute um cadastro de maus

pagadores) mas o filho estaacute coberto pela liminar em razatildeo do direito a vida se sobrepor a

qualquer pagamento de conta

Tal caso nos faz remeter a um dos princiacutepios do Direito que eacute o principio da igualdade

Este principio tem como pilar a afirmaccedilatildeo para se ter igualdade eacute preciso tratar os desiguais

como desiguais e os iguais como iguais Para quem natildeo trabalha ou natildeo tem qualquer vinculo

com o Direito tal frase soa bastante estranha mas basta entender a essecircncia da coisa natildeo tem

como tratar a exceccedilatildeo dentro da formalidade das leis existentes para a sociedade em geral Neste

caso da energia eleacutetrica existe uma exceccedilatildeo para esta famiacutelia Ela natildeo gasta luz porque quer

Ela gasta a luz por necessidade de manter vivo um filho Eacute justa impor para essa famiacutelia a lei

usada para a populaccedilatildeo em geral referente a ldquotarifa socialrdquo E isto eacute soacute um exemplo Percebo

que natildeo haacute como criar leis especiacuteficas para cada exceccedilatildeo relacionada com doenccedilas raras

77

Para que entendam melhor um exemplo de como a lei trata uma exceccedilatildeo especiacutefica eacute o

caso do Coacutedigo de Defesa do Consumidor A lei geral (Coacutedigo de Processo Civil) diz que quem

alega o fato eacute que deve provar ou seja o ocircnus da prova eacute de quem alega No Coacutedigo de Defesa

do Consumidor onde tem o escopo de proteger o consumidor de poliacuteticas desleais em razatildeo

da magnitude e poderio econocircmico das empresas existe a inversatildeo do ocircnus da prova em que o

consumidor alega o fato ocorrido e a empresa eacute quem tem que fazer a prova em contraacuterio se tal

fato natildeo for verdadeiro Neste caso estamos tratando os desiguais como desiguais pois natildeo haacute

como colocar o consumidor e as empresas no mesmo patamar de Direito pois as empresas

sempre sairiam vencedoras

Infelizmente quando falamos em doenccedilas raras ainda natildeo temos qualquer proteccedilatildeo para

tratar as exceccedilotildees que satildeo ldquojogadasrdquo na lei geral e que natildeo atendem as necessidades dos

pacientes e de suas famiacutelias

Outro exemplo bem gritante eacute o caso ocorrido com a ANVISA (Agecircncia Nacional de

Vigilacircncia Sanitaacuteria) No Estado do Rio de Janeiro existe uma crianccedila com uma doenccedila rara

que depende de um determinado medicamento Existia um laboratoacuterio que fornecia o

medicamento para o governo Ocorre que por se tratar de um ldquomedicamento oacuterfatildeordquo ou seja

aquele que por atender uma populaccedilatildeo miacutenima quando natildeo apenas um paciente na localidade

passa a ser inviaacutevel economicamente para o laboratoacuterio e o laboratoacuterio deixou de fornececirc-lo

A matildee desesperada comeccedilou a buscar ajuda em vaacuterios poacutelos pois o medicamento poderia ateacute

ser importado mas levaria dias para chegar ao Estado em decorrecircncia dos entraves legais pelo

caminho Diante da situaccedilatildeo da crianccedila e os apelos desesperados da matildee outro laboratoacuterio

conhecendo a foacutermula do medicamento se propocircs a fabricaacute-lo e entregaacute-lo agrave famiacutelia ateacute que se

resolvesse de fato os entraves juriacutedicos referentes ao medicamento do exterior Ao tomar

ciecircncia de tal fato a ANVISA multou o laboratoacuterio porque ele natildeo tinha a ldquolicenccedilardquo para

fabricar o medicamento Ou seja sabemos que qualquer laboratoacuterio tem que ter a licenccedila para

fabricar qualquer que seja a foacutermula mas no caso em questatildeo tratava-se da vida de uma crianccedila

que tinha o avanccedilo de uma doenccedila fatal caso ficasse sem o medicamento Legalmente este

laboratoacuterio agiu indevidamente mas como a pessoa que existe por traacutes de um nome em um

CNPJ ela agiu com humanidade Seraacute que se fosse o filho do responsaacutevel pela ANVISA o

laboratoacuterio seria multado Se fosse o filho do Presidente da Repuacuteblica teriam multado o

laboratoacuterio Duvido O laboratoacuterio quase foi fechado e continuou recebendo multas mas natildeo

deixou de fornecer o medicamento para a crianccedila enquanto natildeo se resolveu o problema

Hoje pela falta de Poliacuteticas Publicas que atendam a esta populaccedilatildeo rara o que vemos satildeo

os familiares ou os proacuteprios doentes tendo que buscar soluccedilotildees agraves vezes natildeo solucionaacuteveis

legalmente para atenderem as suas necessidades e agraves de seus entes queridos Com isso

constatamos a criaccedilatildeo de diversas Associaccedilotildees que visam buscar ajuda muacutetua para diversas

necessidades Estas pessoas tentam se associar para que de alguma forma natildeo lutem sozinhas

diante a falta de tudo que se possa imaginar quando se fala de doenccedilas raras falta de

informaccedilatildeo falta de estrutura emocional e financeira falta de meacutedicos que saibam diagnosticar

falta de tratamento devido falta de exames especiacuteficos etc O que notamos eacute que o apoio

emocional encontrado em todas as associaccedilotildees eacute muito importante mas o apoio estrutural fica

difiacutecil de se conseguir senatildeo por vias judiciais

Isto resulta na triste realidade de hospitais que ldquotecircmrdquo que ldquoabrigarrdquo vaacuterios pacientes com

doenccedilas raras simplesmente abandonados pela famiacutelia pelo fato de as mesmas natildeo terem

qualquer estrutura seja emocional ou financeira ou de ambos de abrigar este paciente em casa

Quando crianccedilas geralmente natildeo possuem nem a oportunidade de serem adotadas porque

necessitam de cuidados permanentes e acabam ldquovivendordquo num hospital A falta de informaccedilatildeo

o medo do desconhecido e a total falta de apoio por parte do governo leva a atitudes de

abandono Essa realidade poderia ser minimizada se existisse um miacutenimo de direcionamento e

apoio

78

Quando defendo a criaccedilatildeo de uma secretaria ou oacutergatildeo (ou qualquer nome que queiram

chamar) dentro no Ministeacuterio da Sauacutede que seja voltado exclusivamente para o aspecto das

doenccedilas raras eacute justamente pelo fato de precisarmos de um oacutergatildeo que tenha um norte e seja um

ldquofarolrdquo que direcione os pacientes e as famiacutelias para soluccedilotildees concretas e corretas Hoje quando

uma crianccedila chega com sinais de maus tratos num hospital os meacutedicos satildeo obrigados por lei a

avisar a policia Quando um paciente chega com Dengue ou com tuberculose os meacutedicos tem

que avisar o oacutergatildeo da sauacutede para que exista um controle de tais doenccedilas Isto eacute importante para

se detectar onde existe o problema e criar estudos para resolver a questatildeo de determinada

populaccedilatildeo Com as doenccedilas raras temos que ter este ldquofarolrdquo para que se comecem a criar

estatiacutesticas das diversas siacutendromes que acometem nossa populaccedilatildeo e se possa estudar a melhor

forma de atender os pacientes e familiares Como pensar em poliacutetica puacuteblica se natildeo se sabe nem

a qual ou a quanto da populaccedilatildeo se vai chegar

Outro problema que existe dentro das famiacutelias com algum paciente de doenccedilas raras eacute o

fato que na maioria das vezes algueacutem ter que parar de trabalhar para cuidar do paciente ou

para administrar a rotina que se altera quando se tem um familiar com doenccedila rara No meu

caso por exemplo tenho um filho com doenccedila rara que eacute dependente de ldquorespiradorrdquo e de

oxigecircnio Ele tem enfermagem por 24 horas Meu filho natildeo se move natildeo chora natildeo ri tem

gastrostomia traqueostomia uma vaacutelvula DVP e ainda faz apneia A enfermagem de Home

Care hoje em dia infelizmente ainda deixa muito a desejar quanto ao treinamento de teacutecnicos

de enfermagem para trabalhar com paciente grave Quando chega alguma teacutecnica de

enfermagem nova para ficar no plantatildeo eu natildeo tenho como sair de casa para trabalhar E

quando estou no trabalho e a teacutecnica me liga dizendo ldquoEstaacute com falta de energia eleacutetricardquo eu

largo o trabalho e saio correndo para casa porque tenho que monitorar as baterias dos aparelhos

e manobrar outros que natildeo tecircm bateria para o ldquono breakrdquo Fora quando a teacutecnica liga dizendo

que os batimentos cardiacuteacos estatildeo baixos ou a saturaccedilatildeo estaacute caindo muito Eu largo tudo e saio

correndo para casa Sem contar com as inuacutemeras vezes que ele eacute internado para fazer algum

tipo de procedimento (troca de vaacutelvula colocaccedilatildeo de cateter infecccedilotildees que pega etc) A

ldquosorterdquo eacute que eu trabalho numa empresa puacuteblica e tenho chefes diretos muito compreensivos

com a situaccedilatildeo Se eu estivesse numa empresa privada eu jaacute teria sido mandada embora haacute

muito tempo Eu preciso do emprego pois dele vem o plano de sauacutede do meu filho mas natildeo

sei por quanto tempo ainda seraacute possiacutevel administrar tal situaccedilatildeo Quando o filho de uma pessoa

que tem sua rotina normal tem uma febre geralmente esta pessoa fica em casa e tem um atestado

de acompanhamento para levar o filho ao meacutedico ou ateacute acompanhaacute-lo por alguns dias uma

vez ou outra pois ningueacutem com filho doente tem cabeccedila para ir trabalhar despreocupadamente

O que eu que tenho um filho que necessita de cuidado extremos por vinte e quatro horas faccedilo

Daacute para imaginar como saio de casa para trabalhar Aleacutem de que a rotina da casa muda

completamente Se antes meus outros filhos iam para a escola eu ia trabalhar e no final do dia

todos nos encontravaacutemos novamente Hoje eu preciso administrar as condiccedilotildees para um

teacutecnico de enfermagem ficar na minha casa ininterruptamente ter o atendimento do

fisioterapeuta duas vezes ao dia a fonoaudioacuteloga trecircs vezes por semana a nutricionista o

atendimento semanal da meacutedica e do enfermeiro recebimento de material semanalmente

recebimento de dieta e outras tarefas esporaacutedicas Aleacutem eacute claro de prestar atenccedilatildeo nos sinais

do meu filho pois a meacutedica soacute vem vecirc-lo uma vez por semana e neste meio tempo ele pode ter

febre pode ficar mais secretivo que o normal entre outras coisas Tenho que estar em contato

constante com a meacutedica para tomar as providecircncias necessaacuterias mesmo antes da proacutexima visita

dela e ainda preciso sair de casa para trabalhar Eacute um tanto complicado

Tenho outros exemplos como a de uma famiacutelia que conheci no Hospital na qual a esposa

era funcionaacuteria puacuteblica e o marido trabalhava em uma empresa privada Apesar do salaacuterio do

marido ser maior que o da esposa a famiacutelia ldquooptourdquo pela saiacuteda do marido do emprego para

cuidar da filha acometida por uma doenccedila rara porque a esposa mesmo ganhando menos tinha

79

estabilidade no emprego ao passo que o marido na empresa privada natildeo tinha qualquer

estabilidade Eacute justo que este encargo de ldquoescolhardquo fique somente nas costas das famiacutelias que

jaacute estatildeo tatildeo fragilizadas com a proacutepria doenccedila Sem contar quando um dos pais (geralmente o

pai) natildeo aguenta ou natildeo aceita a nova realidade e simplesmente deixa o outro sozinho E este

geralmente precisa largar o seu emprego para cuidar do filho doente mas de contra partida

precisa manter o lar e daiacute passa a fazer serviccedilos como bolos salgados e doces caseiros para

vender para a famiacutelia e amigos Chega a ser desumano o indiviacuteduo ldquoarcarrdquo sozinho com este

encargo que faz com muito amor mas sob muito sofrimento e privaccedilatildeo

Existem vaacuterios projetos de lei no Congresso que tratam do que chamamos de ldquoauxiacutelio

acompanhamentordquo Mas esses projetos sempre esbarram em inconstitucionalidades pois geram

despesas para a empresa ou para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) para manter

o trabalhador em casa como acompanhante

Quando bato na tecla sobre a importacircncia da existecircncia de uma secretaria voltada para

doenccedilas raras eacute porque teriacuteamos condiccedilotildees de criar comissotildees para estudar tais casos e buscar

soluccedilotildees para estas famiacutelias Apesar de termos boa vontade de alguns parlamentares nota-se

que muitas vezes os mesmos natildeo tecircm conhecimento de campo das necessidades reais das

pessoas com doenccedilas raras A Portaria 9712012 do Ministeacuterio da Sauacutede que trata do programa

ldquoFarmaacutecia Popularrdquo eacute um exemplo disso Uma famiacutelia buscou a liberaccedilatildeo de fraldas

descartaacuteveis pelo Programa ldquoFarmaacutecia Popularrdquo para o filho de quatro anos que eacute acamado

deixou de usar fraldas pediaacutetricas e iniciou o uso de fraldas geriaacutetricas que satildeo muito mais

caras A famiacutelia precisou juntar laudos meacutedicos e tirar o CPF da crianccedila Passou em trecircs

farmaacutecias que participavam do programa e em nenhuma delas conseguiu a liberaccedilatildeo das fraldas

pelo sistema Foi indicado que ligassem para o Ministeacuterio da Sauacutede e depois de muitas ligaccedilotildees

a famiacutelia descobriu que existe o artigo 26 da portaria em seu paraacutegrafo II que cita ldquopara a

dispensaccedilatildeo de fraldas geriaacutetricas para incontinecircncia o paciente deveraacute ter idade igual ou

superior a 60 (sessenta) anosrdquo Pergunta-se seraacute que ao fazerem tal portaria ningueacutem

ldquolembrourdquo que existem crianccedilas adolescentes e ateacute jovens adultos que necessitam de usar

fraldas Isto somente acontece porque as pessoas natildeo ldquovivemrdquo o cotidiano da doenccedila rara

Analisando todos os pontos envolvidos chego agrave conclusatildeo que natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro quando se trata de doenccedila rara Eacute necessaacuterio que se tenha um olhar

mais focado nas especificidades que acometem diretamente a famiacutelia Para construir o

conhecimento sobre essa realidade eacute preciso que as instituiccedilotildees estejam interligadas e tenham

um ponto de referecircncia para direcionar e amparar corretamente o paciente e sua famiacutelia a niacutevel

nacional ou internacional

80

Transcriccedilatildeo da mesa de abertura e comunicaccedilotildees do I CIADR

81

Mesa de abertura

Rogeacuterio Lima1 ndash Bom dia

Primeiro quero agradecer a presenccedila de todos Esse evento existe pelo menos em

pensamento haacute dois anos Percebemos que poderia tomar corpo e ser real se noacutes

participaacutessemos de um movimento de sensibilizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo E hoje eacute o resultado desse

movimento O movimento eacute dentro da academia desde o comeccedilo noacutes queriacuteamos trazer a

conversa e o diaacutelogo para a academia Natildeo faltou convite para levarmos esse evento para o

Congresso para a CLDF Por opccedilatildeo noacutes procuramos e estamos hoje na Uniplan agradeccedilo

imensamente ao Professor Sadi que foi o primeiro que me estendeu a matildeo e socorro Ofereceu

muito abertamente o Instituto de Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia e quando

chegou ao nuacutemero de 600 inscriccedilotildees foi quando eu comecei a ficar um pouco ansioso E olha

que eu sou o pessimista de todo mundo que estaacute organizando E entatildeo precisaacutevamos correr

para um outro lugar Meus agradecimentos ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

junto com a Uniplan estatildeo oferecendo esse espaccedilo para noacutes

Hoje eacute um dia de muito agradecimento Agradeccedilo a todas as pessoas agradeccedilo a presenccedila

de vocecircs E eu vim pensando que hoje eacute um dia bem marcante Vieram pessoas todas as pessoas

aqui deixaram as suas casas os pacientes que estatildeo aqui as associaccedilotildees de pacientes e

principalmente os alunos que estatildeo aqui hoje Esse evento eacute para sensibilizaacute-los e eu natildeo sei se

a loucura estaacute em noacutes em acreditar que poderia ser feito um evento desse tamanho ou se o

louco eacute quem vecirc as informaccedilotildees que noacutes passaacutemos sobre a realidade que existe e natildeo faz nada

A AMAVI nunca foi soacute eu e muito menos o movimento que hoje faz parte E eu queria

agradecer imensamente toda a diretoria da AMAVI que estaacute aqui hojeSoacute o Warley natildeo

conseguiu estar presente porque tem que cumprir com sua vida laboral Mas a Lauda que eacute

nossa diretora A Flaacutevia nossa assessora de imprensa Entatildeo satildeo essas pessoas que realmente

estatildeo connosco E dentro disso hoje o formato vai ser este Eacute um formato aberto para

incentivar principalmente o diaacutelogo Sempre vai ter espaccedilo para as Associaccedilotildees poderem se

manifestar E por fim eu tambeacutem agradeccedilo a Interfarma e o Ministeacuterio da Sauacutede Agradeccedilo a

todas as pessoas que nos ajudam porque em nome da Interfarma agradecemos a todos os outros

que nos apoiam financeiramente E agradeccedilo muito o Fogolin de estar aqui hoje Acho que

estamos fazendo histoacuteria E seguramente este evento natildeo eacute comum no mundo E ele estaacute sendo

transmitido pela internet Agradeccedilo realmente a todo mundo E nos meus quinze minutos finais

eu gostaria de agradecer muito fortemente aquela pessoa que tem meus quinze minutos e

quando eu penso nela eu penso muito naquele jeito brasiliense de ser que eacute um jeito simples e

um jeito focado no trabalho A gente trabalha a gente fala de vez em quando mas a gente

trabalha Agradeccedilo ao Miguel Miguel vocecirc eacute doutor por John Hopkins e estaacute connosco fazendo

um cerimonial desde sempre Suas orientaccedilotildees sempre foram importantes Muito obrigado

Sadi Del Roso2 ndash Bom dia senhoras e senhores participantes do primeiro encontro sobre

Doenccedilas Raras

Tenho a satisfaccedilatildeo de saudar os participantes desse congresso em nome do Instituto de

Ciecircncias Sociais da Universidade de Brasiacutelia Represento a Universidade que eacute por excelecircncia

o local da pesquisa por outro lado a pesquisa eacute absolutamente fundamental para o

conhecimento a respeito de doenccedilas raras Sabe-se que o impulso da pesquisa ocorre entre

1 Presidente da AMAVI e doutorando em Sociologia na Universidade de Coimbra ndash Portugal 2 Professor Titular de Sociologia da Universidade de Brasiacutelia

82

outras razotildees pela pressatildeo social Embora a AIDS natildeo faccedila parte do rol de doenccedilas raras o

movimento Gay e movimentos similares ligados agrave liberdade de escolha sexual realizaram uma

pressatildeo fantaacutestica para a destinaccedilatildeo de verbas para a pesquisa que tem como objeto o controle

da AIDS assim como doutras doenccedilas Participo neste Primeiro Congresso representando o

Instituto de Ciecircncias Sociais Para as Ciecircncias Sociais a dor a doenccedila o sofrimento pessoal e

coletivo satildeo objetos de inegada relevacircncia e pertinecircncia social Noacutes todos que estudamos classes

sociais lutas de classes relaccedilotildees poliacuteticas relaccedilotildees intereacutetnicas trabalho cultura

desenvolvimento econocircmico e problemas sociais semelhantes ficamos abalados ficamos

prostrados de joelhos e ficamos calados impotentes perante as manifestaccedilotildees da dor Perante a

doenccedila perante o sofrimento e ainda mais perante a morte Esses fenocircmenos todos satildeo

fenocircmenos que tecircm a ver com a natureza humana e com a cultura das sociedades e representam

possibilidades de agregaccedilatildeo das pessoas nos grupos sociais Neste sentido as Ciecircncias Sociais

tambeacutem podem contribuir explicitando o sentido da organizaccedilatildeo e dos movimentos sociais na

construccedilatildeo das sociedades democraacuteticas Ao falar de movimentos sociais somos levados aos

grandes movimentos poliacuteticos As Jornadas de junho e julho de 2013 a Primavera Aacuterabe ao

movimento dos jovens rebeldes nos Estados Unidos com o Oculpy Wall Streat aos movimentos

de jovens nos paiacuteses europeus Portugal Espanha Greacutecia e Itaacutelia e outros Tambeacutem podemos

pensar como movimento sociais congregaccedilotildees de pessoas em torno a determinadas causas

entre as quais as doenccedilas raras Gostaria de enfatizar a importacircncia das atividades voluntaacuterias

da participaccedilatildeo espontacircnea ainda que organizadas em movimentos e associaccedilotildees Isto pensando

menos na estrutura e o que eacute mais importante na ideia organizativa As boas causas das doenccedilas

raras despendem destas atitudes coletivas Por uacuteltimo quero confessar que o motivo maior de

minha presenccedila aqui neste primeiro congresso natildeo foi tanto o fato de ser pesquisador em

Ciecircncias Sociais mas um fato muito mais proacuteximo muito mais carne e muito mais sangue

Maria Emiacutelia minha sobrinha de quinze anos eacute portadora de Down e eacute pra ela que eu dedico

essa participaccedilatildeo Maria Emiacutelia este congresso eacute para vocecirc Obrigado

Maria Joseacute Delgado3 ndash Bom dia a todos e a todas

Eu gostaria de agradecer ao Rogeacuterio a oportunidade de estar aqui conversando com vocecircs

e contando um pouco do que eacute a Interfarma que eacute a Associaccedilatildeo das Induacutestrias de Pesquisas e

ela com certeza tem na sua missatildeo a tarefa de fazer o que eacute de produzir o que tem de melhor

de medicamentos mas tambeacutem de compor com aqueles que representam a necessidade do

paciente de compor com o governo de compor com todos os atores que tratam desse tema no

paiacutes As melhores oportunidades e as melhores soluccedilotildees para que o Brasil possa entregar a sua

populaccedilatildeo entregar especialmente a esta populaccedilatildeo de pessoas com doenccedilas raras o que ele

tem de melhor dentro da assistecircncia meacutedica como da assistecircncia farmacecircutica eacute a Interfarma

contribuindo com o SUS Induacutestrias entregando tambeacutem o que tem de melhor que satildeo os

medicamentos Dentro da nossa tarefa na Interfarma eu coordeno alguns trabalhos e dentro

desses o de doenccedilas raras O grupo de doenccedilas raras estaacute sob a minha coordenaccedilatildeo na

Interfarma Entatildeo ao longo desses uacuteltimos anos estamos nos dedicando fortemente ao tema

Temos vaacuterias iniciativas e dentre elas eu acho que os senhores devem ter recebido fizemos

um estudo global para entender como que o mundo trata isso e como seriam as melhores

soluccedilotildees para aplicarmos no Brasil Noacutes trouxemos alguns exemplares estatildeo disponiacuteveis

espero que vocecircs tenham a oportunidade de ler Esse talvez foi o produto que qualificou muito

mais aquilo que noacutes gostariacuteamos de discutir sobre doenccedilas raras e a partir dele noacutes estamos

desdobrando outras accedilotildees ao longo de alguns anos E entre elas estar presente junto sempre

em atividades como este evento Com certeza seraacute um divisor de aacuteguas naquilo que a gente

acha que eacute importante que eacute o paciente o paciente bem assistido um paciente que encontre

3 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

83

respostas que encontre acolhimento e que possa se sentir protegido por aqueles que tecircm a

obrigaccedilatildeo de fazecirc-lo E eacute neste sentido que eu agradeccedilo ao Rogeacuterio a oportunidade de estar

aqui E principalmente de olhar para cada um de vocecircs e dizer do nosso compromisso Muito

obrigada e bom dia e acho que na sequecircncia a gente conversa mais um pouco Obrigada

Leonardo Batista4 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Leonardo estou na coordenaccedilatildeo de enfermagem juntamente com a Professora

Marisa e exercendo o papel social do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal

representando o magniacutefico reitor Yugo Okida e nosso diretor geral Geraldo Magela eacute que eu

agradeccedilo a presenccedila de cada um de vocecircs na mudanccedila da histoacuteria de poliacuteticas de doenccedilas raras

no Brasil Todos noacutes definimos como raridade aquilo que eacute uacutenico ou de que existem poucos

exemplares no mundo Mas se noacutes pensarmos bem noacutes somos bilhotildees de habitantes no mundo

mas ningueacutem tem a digital igual agrave outra A nossa iacuteris tambeacutem eacute diferenciada Entatildeo quer dizer

pessoal que todos noacutes somos raros Entatildeo ser raro eacute igual e natildeo diferente Agradeccedilo a todos

vocecircs imensamente a colaboraccedilatildeo neste evento e espero que todos participem muito E saibam

que a partir de hoje raridade eacute algo comum entre noacutes Muito obrigado

Marisa Carvalho5 ndash Bom dia a todos

Eu quero recebecirc-los com muita alegria aqui em nome do curso de enfermagem da Uniplan

e para natildeo ficar soacute nas minhas palavras eu gostaria de mostrar algumas imagens que eu

preparei Como o Professor bem colocou a homenagem agrave sobrinha dele eu quero fazer uma

homenagem agrave minha filha tambeacutem O nome da minha filha era Baacuterbara ela faleceu tem trecircs

anos com vinte anos portadora da Siacutendrome Prader Willi E aiacute eu soacute queria compartilhar

alguma coisa porque quando a gente fala em doenccedilas raras acontece uma outra coisa tambeacutem

raro eacute o conhecimento que se tem adequado para tratar para se lidar Natildeo soacute com o paciente

mas com a famiacutelia em si Sobre Prader Willi eu tenho um pouco de conhecimento mas

sobretudo muita vivecircncia Entatildeo eacute uma doenccedila cromossocircmica ela atinge o cromossomo quinze

e em decorrecircncia dessa alteraccedilatildeo alguns sinais satildeo evidenciados como peacutes e matildeos pequenos

e a crianccedila desenvolve uma obesidade moacuterbida O metabolismo dela eacute diminuiacutedo e haacute uma

hiperfagia ou seja ela come muito O hipotaacutelamo o centro da fome natildeo funciona como se vecirc

na maioria das pessoas entatildeo ela sente fome o tempo todo E como o metabolismo eacute

diminuiacutedo ela desenvolve obesidade moacuterbida Uma hipotonia ela natildeo sabia sugar a

mamadeira Minha filha natildeo soube o que eacute sugar um peito por causa Se eu me emocionar

vocecircs descontam um pouquinhohellip Entatildeo as dificuldades que noacutes passaacutemos inicialmente foi

por desconhecimento Soacute que a vivecircncia e o amor foram assim decisivos para que uma

vivecircncia uma vida a qualidade de vida fosse estabelecida Entatildeo a dificuldade de

aprendizagem e fala a instabilidade emocional a alteraccedilatildeo hormonal a baixa estatura as matildeos

e peacutes pequenos a pele eacute mais clara satildeo alguns sinais que depois eu vou disponibilizar mas eacute

tudo isso que os livros trazem Falam sobre a Prader Willi mas o que eacute que os livros natildeo falam

Eacute o que a vivecircncia nos ensina Se a gente vecirc essa figura aqui o que nos reporta essa imagem

O que nos achamos que eacute Coca-Cola neacute Esse eacute o grande problema os roacutetulos que noacutes

colocamos O grande problema das famiacutelias que tecircm crianccedilas com doenccedilas raras e das proacuteprias

crianccedilas satildeo os roacutetulos que a sociedade coloca As pessoas olham de fora e pensam

ldquoCoitadosrdquo As pessoas olham de fora e pensam ldquoNatildeo tem perspectiva de vidardquo E natildeo eacute

assim natildeo deve ser assim E com isso vecircm os preconceitos Acham que as pessoas satildeo infelizes

4 Coordenador do Curso de Enfermagem e representante do Reitor do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash

UNIPLAN 5 Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro Universitaacuterio Planalto do Distrito Federal ndash UNIPLAN

84

ou que podem ter menos qualidade de vida por apresentar uma diferenccedila Eacute como o Professor

bem colocou o Professor Leonardo quem de noacutes eacute igual ao outro Entatildeo a falta de

conhecimento que a gente que eu observei particularmente nos profissionais de sauacutede na

eacutepoca que a Baacuterbara nasceu foi muito grande Foi uma dificuldade muito grande que eu

enfrentei Porque como natildeo conseguia amamentar os profissionais de sauacutede as pessoas que eu

conhecia achavam que eu natildeo queria amamentar por uma questatildeo esteacutetica e a coisa que eu mais

queria era amamentar a minha filha mas ela natildeo conseguia sugar O fato de ela natildeo exercitar o

maxilar implicou que a fala dela foi diferenciada Tudo isso contribuiu para que somente depois

de as pessoas conhecerem ela percebiam o que era ter uma crianccedila especial E ela falava assim

ldquoMamatildee eu sou especialrdquo E eu falava ldquoMinha filha vocecirc eacute muito especialrdquo Deus nos

capacitou para gerar outras vidas entatildeo natildeo devemos tratar os filhos pelo que seus corpos

apresentam mas pelo que eles essencialmente satildeo filhos E eacute assim que o portador de doenccedila

rara e sua famiacutelia querem ser tratados como pessoas que tecircm direitos que tecircm desejos que

tecircm sonhos e que querem ir adiante Aqui estaacute a Baacuterbara com um aninho toda charmosa

Aqui ela jaacute brincava com a mamadeira porque sugar mesmo ela natildeo conseguia sugar era

tudo na colherzinha Aqui ela eacute aquela de oacuteculos laacute em cima Estaacute no meio das primas e das

irmatildes

Eu lembro que quando eu engravidei da Baacuterbara uma professora minha da faculdade falou

ldquoVocecirc eacute louca Vocecirc jaacute teve uma filha sindrocircmica e vocecirc vai ter mais filhosrdquo E eu falei

Professora se eu tiver todos os filhos sindrocircmicos eles vatildeo ser amados do mesmo jeitordquo

Aqui ela mexendo no computador Tinha o computador dela

85

Aqui por volta de seis ou sete anos

E depois a beleza de uma vida estaacute no modo como ela eacute vivida aqui fazendo pose para

foto Aqui com as duas outras irmatildes fazendo careta e fazendo careta para o mau humor

fazendo careta para o preconceito fazendo careta para a falta de conhecimento para a falta de

perspectiva para a vida eacute para isso que elas fazem careta

Eudeixo esta mensagem para vocecircs Todos noacutes almejamos grandes vitoacuterias todavia Deus

nos ensina atraveacutes de seus anjos que as verdadeiras vitoacuterias satildeo os desafios diaacuterios que se

apresentam diante de noacutes e nos ensinam o que eacute ser feliz para que ao final do dia possamos ser

gratos e saber que somos vitoriosos Sabe o que eacute a vitoacuteria diaacuteria Eacute todo dia de manhatilde quando

amanhece vocecirc olhar no berccedilo para ver se o seu bebecirc se movimentou Essa era a minha vitoacuteria

diaacuteria porque do jeito que eu colocava a Baacuterbara para dormir ela amanhecia o dia que ela

amanhecia de lado era uma alegria Que bom ela estaacute reagindo E aiacute eu deixo aqui a foto da

minha Baacuterbara como uma grande vitoriosa que me ensinou muito E eu espero que esse

congresso porque hoje eacute um marco na vida de muitas pessoas natildeo soacute em termos de

aprendizagem mas em termos de vivecircncia de palavras que seratildeo ditas Que se abra o

conhecimento que se abra o entendimento o coraccedilatildeo Para a gente saber tratar bem de quem

merece todo o nosso respeito Obrigada a vocecircs

86

Joseacute Eduardo Fogolin6 ndash Bom dia a todos bom dia a todas Em especial bom dia e um

grande abraccedilo ao Rogeacuterio Lima um grande parceiro que durante esses dois anos eu tive uma

oportunidade o grande prazer de aproximar cada vez mais Natildeo apenas um grande conhecedor

sobre aquilo que a gente vem discutindo mas uma pessoa que dentro das nossas pequenas

diferenccedilas mas dentro da nossa construccedilatildeo com quem mais aprendi natildeo apenas como membro

e gestor do Ministeacuterio da Sauacutede mas como pessoa

Agradeccedilo tambeacutem agrave Dra Siacutelvia representando a Universidade de Coimbra agrave Dra Maria

Joseacute da Interfarma e em especial ao Professor Leonardo e agrave Professora Marisa que

representam a Uniplan

Queria deixar um abraccedilo aos meus companheiros do grupo teacutecnico que a gente vem

trabalhando em especial ao Professor Marcos Aguiar a todos os demais em nome deles

represento todos os meus colegas Pois bem eu vejo hoje aqui Rogeacuterio essa plateia e esse

plenaacuterio repleto de pessoas repleto de representantes tanto do berccedilo acadecircmico como

representantes de toda a sociedade E a cada ano que a gente vem acompanhando e discutindo

cada vez mais a atenccedilatildeo a famiacutelias e a pessoas com doenccedilas raras a gente percebe que cada vez

que a gente participa dos eventos a gente vecirc uma participaccedilatildeo cada vez mais expressiva e este

eacute o grande fundamento

Durante todo este periacuteodo e dada a oportunidade que noacutes tivemos para nos debruccedilarmos

cada vez mais em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo e agrave avaliaccedilatildeo do quanto natildeo somente o Sistema Uacutenico de

Sauacutede mas todos os sistemas de sauacutede natildeo apenas no Brasil mas no Mundo haacute uma diacutevida

eterna em relaccedilatildeo ao cuidado e ao cuidar das pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras Para que a

gente tenha uma relaccedilatildeo equacircnime igualitaacuteria a gente tem que partir do princiacutepio de natildeo

igualdade para atingir plenamente a igualdade de direitos O Sistema Uacutenico de Sauacutede tem

muitos desafios a serem conquistados no paiacutes mas eacute o uacutenico sistema que ousou dar atenccedilatildeo de

sauacutede igualitaacuteria e universal Esse eacute o nosso grande desafio E mais desafiador ainda eacute nos

debruccedilarmos em oferecer uma igualdade de direitos a todas as pessoas com doenccedilas raras e

suas famiacutelias que buscam e ateacute entatildeo natildeo tiveram acolhida necessaacuteria e principalmente natildeo

apenas o tratamento que natildeo eacute este o ponto fundamental mas o acolhimento e a informaccedilatildeo

que perpassa a necessidade primeira de todo o cuidado e informaccedilatildeo a estes usuaacuterios

O que eu tenho a dizer eacute que pela formaccedilatildeo que tenho na aacuterea de sauacutede pela cadeira que

passei durante todos os dez anos de minha vida iniciais da minha formaccedilatildeo em sauacutede muito

pouco se passou em informaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras Falo a partir de um Centro

Acadecircmico pela formaccedilatildeo que tive dentro da Universidade de Satildeo Paulo como meacutedico e

depois como especialista e posso declararque muito pouco se passou e muito pouco se passa

do conhecimento natildeo apenas sobre as doenccedilas mas principalmente de como acolher as

famiacutelias e pessoas com doenccedilas raras A gente sabe que o campo das doenccedilas raras estaacute pouco

permeado principalmente em profissionais da aacuterea sauacutede mas muito pouco ainda em relaccedilatildeo

agraves informaccedilotildees que possam chegar nas casas nas pessoas e familiares com doenccedilas raras Eacute

nesse sentido que noacutes queremos com a poliacutetica nos debruccedilarmos na discussatildeo das doenccedilas

raras e natildeo apenas na questatildeo teacutecnica cientiacutefica e este Congresso tem um nome fundamental

Porque o Primeiro Congresso Ibero-americano ele traz um olhar social para o paciente E esse

olhar social para o paciente ele traz e carreia um olhar fundamental do que eacute cuidar junto a uma

pessoa e familiar com doenccedila rara Trago ainda uma palavra do ministro Alexandre Padilha

que desde o comeccedilo desde 2012 que a gente vem discutindo o ministro Padilha sentou comigo

e falou ldquoFogolin de todas as estrateacutegias e de todas as poliacuteticas que a gente discute uma que eacute

fundamental que a gente tem uma diacutevida eterna eacute a atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas rarasrdquo Eu

fico emocionado porque dois anos da minha vida eu passei aprendendo com vocecircs Peccedilo

desculpa pela minha emoccedilatildeo Porque haacute dois anos que a gente discute no grupo teacutecnico (GT)

6 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede

87

Eu conheci os pacientes eu conheci as famiacutelias e eu aprendi com vocecircs Aprendi muito A cada

noite cada dificuldade que a gente teve nesse GT eu transbordo aqui Porque fazer poliacutetica

puacuteblica natildeo eacute difiacutecil difiacutecil eacute transpor as dificuldades que se colocam muitas vezes para as

pessoas Mas eu posso dizer aqui a vocecircs que de todo o meu trabalho discutir doenccedilas raras e

discutir as pessoas com doenccedilas raras posso estar daqui alguns anos em qualquer lugar eacute isso

eu levo para mim

Eu estou muito emocionado porque entrar aqui e olhar para cada um de vocecircshellip Eacute preciso

que vocecircs saibam que as Associaccedilotildees tecircm um papel fundamental nas poliacuteticas puacuteblicas O grupo

teacutecnico que noacutes formaacutemos no Ministeacuterio foi um grupo que tinha especialista tinha gestor mas

o que realmente fez a diferenccedila foi a participaccedilatildeo de associaccedilotildees e usuaacuterios Sem este olhar

que eacute o olhar social verdadeiro noacutes natildeo seriacuteamos verdadeiramente representativos E se o

Sistema Uacutenico de Sauacutede traz que a representatividade faz parte da poliacutetica esta foi e seraacute a

primeira poliacutetica realizada construiacuteda participativamente Esse eacute um ponto de partida

Haacute dois anos noacutes construiacutemos dois documentos fundamentais que foram para consulta

puacuteblica que foram finalizados e o Ministeacuterio da Sauacutede olhando a importacircncia que tecircm as

associaccedilotildees e usuaacuterios natildeo os quis levar para a pactuaccedilatildeo porque ainda tem muita associaccedilatildeo

e usuaacuterio para participar E o grupo teve uma responsabilidade de elaborar um documento e

apresentar agora no dia 23 de outubro para um grupo teacutecnico ampliadopara dizer que o

Ministeacuterio da Sauacutede pode levar para pactuar E documento comeccedila uma nova paacutegina Este eacute um

documento que institui uma poliacutetica integral

Ontem tive a oportunidade no Conselho Nacional de Secretaacuterios Estaduais de Sauacutede de

iniciar a discussatildeo de que existe uma avidez por parte dos gestores de que esta poliacutetica integral

natildeo perpasse apenas o tratamento mas que perpasse fundamentalmente a informaccedilatildeo a

orientaccedilatildeo e o acolhimento Porque natildeo trataremos de doenccedilas mas acolheremos as pessoas e

familiares com doenccedilas raras Eacute uma poliacutetica desafiadora mas que ao longo do tempo faz

crescer mais ainda as pessoas que tecircm a obrigaccedilatildeo de colocaacute-la em vigor de realizaacute-la

Eu fico muito contente em estar aqui e a cada evento sobre doenccedilas raras que eu vou cada

rosto cada criacutetica faz cada vez mais repensar as doenccedilas raras e natildeo soacute Refletir sobre doenccedilas

raras foi um divisor de aacuteguas fundamental para refletir toda a poliacutetica puacuteblica A doenccedila rara

modifica natildeo apenas uma pessoa mas o modo como a gente observa a necessidade das poliacuteticas

puacuteblicas

Muito obrigado

Siacutelvia Portugal7 ndash Bom dia a todas e a todos

Natildeo quero alongar-me jaacute que sou a uacuteltima soacute quero dizer que eacute com muito prazer e tambeacutem

com muita emoccedilatildeo que estou aqui a representar o Centro de Estudos Sociais da Universidade

de Coimbra que se associou desde o iniacutecio a esta ideia a esta vontade do Rogeacuterio em organizar

este Primeiro Congresso Ibero-americano de Doenccedilas Raras

O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra o CES eacute um Centro de Ciecircncias

Sociais e Humanidades um centro que aposta da interdisciplinaridade na

transdisciplinariedade que estaacute aberto a uma ecologia dos saberes como diz o nosso Director

Boaventura de Sousa Santos Eacute um Centro aberto ao mundo aberto aos saberes aberto agraves

pessoas Eacute um centro que aposta na interdisciplinaridade e na colaboraccedilatildeo e portanto o nosso

lugar eacute estar onde estaacute quem precisa de noacutes e quem quer colaborar connosco O CES eacute um

centro de investigaccedilatildeo aberto agrave comunidade aberto agrave sociedade civil aberto agrave iniciativa aberto

agraves propostas dos nossos estudantes nos quais o Rogeacuterio se inclui brilhantemente Eacute por isso

7 Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) Investigadora do Centro de Estudos

Sociais (CES) no Nuacutecleo de Estudos sobre Poliacuteticas Sociais Trabalho e Desigualdades (POSTRADE)

88

que eu viajei do outro lado do oceano com muito gosto com muito prazer para estar aqui hoje

convosco

Queria desejar um bom dia de trabalhos e queria dizer que estes trabalhos se tudo correr

bem e acho que vai correr bem seratildeo publicados numa publicaccedilatildeo do CES que se chama

CESContexto uma publicaccedilatildeo relativamente nova que eu estou a coordenar juntamente com

duas colegas Existe uma linha que se chama Debates que serve justamente para dar voz a estes

tipo de eventos O que eu e o Rogeacuterio pretendemos fazer eacute recolher as falas de toda a gente e

poder publicaacute-las porque seraacute bom ter um documento nas matildeos que prove que noacutes estivemos

aqui

Muito obrigada por esta oportunidade dada ao CES de poder colaborar com este evento

89

1ordf Mesa A Construccedilatildeo Conjunta no Campo das Doenccedilas Raras

Joseacute Eduardo Fogolin1 ndash Bom mais uma vez bom dia a todos

A gente tem quinze minutos eu acredito que o importante aleacutem da apresentaccedilatildeo eacute

justamente essa possibilidade do debate e da discussatildeo A apresentaccedilatildeo eacute um pouco longa e eu

gostaria de pegar principalmente os pontos que satildeo fundamentais na estrateacutegia Antes de mais

nada e dada a participaccedilatildeo de representantes de outros paiacuteses como Estados Unidos Portugal

Argentina e Franccedila queria colocar soacute um pouco o que eacute o nosso Sistema Uacutenico de Sauacutede

O Brasil eacute o uacutenico paiacutes do mundo com mais de cem milhotildees de habitantes Natildeo falo

duzentos que eacute a nossa populaccedilatildeo mas mais de cem um paiacutes que ousou uma poliacutetica puacuteblica

universal constituinte uma lei magna a Constituiccedilatildeo Federal que traz como direito ldquoa sauacutederdquo

O direito agrave sauacutede haacute 22 anos passou a permear esse processo que eacute fundamental para que

a gente possacobrar e exigir E essa eacute a dialeacutetica A gente cobra sabendo que tem um potencial

de melhoria Para termos a noccedilatildeo da dimensatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede por ano mais de

32 bilhotildees de procedimentos satildeo realizados nesse sistema mais de 500 milhotildees de consultas

de especialidade por ano e mais de um milhatildeo de internaccedilotildees por mecircs

Eacute importante dizer que temos muitos desafios natildeo apenas pela caracteriacutestica continental

mas por uma diversidade fundamental caracteriacutestica do Brasil que eacute a diversidade entre as

pessoas A diversidade regional a diversidade de cultura e a diversidade principalmente de

como cuidar Um exemplo na atenccedilatildeo agrave sauacutede das pessoas dos povos indiacutegenas noacutes temos

como caracteriacutesticas realizar atendimento diferenciado porque ser igual eacute justamente poder

ofertar a diferenccedila de cuidado Mas mais do que isso quanto aos nuacutemeros o Brasil tambeacutem eacute

responsaacutevel pelo maior nuacutemero de transplante de oacutergatildeos puacuteblicos do mundo

Esses satildeo os nossos desafios Desafios que trouxeram todos para pensar estrateacutegias para

cuidar estrateacutegias de ofertar uma poliacutetica fundamental e integral dentro desse sistema de como

cuidar natildeo apenas as pessoas e famiacutelias com doenccedilas raras mas tambeacutem como induzir que os

profissionais de sauacutede tenham natildeo apenas o conhecimento mas que mudem fundamentalmente

a forma de como pensam e abordam o cuidado de pessoas com doenccedilas raras A mudanccedila da

estrateacutegia dessa poliacutetica natildeo eacute apenas trazer a poliacutetica e implementaacute-la eacute em especial mudar o

paradigma de como cuidar Um paradigma que dentro do sistema ao longo do periacuteodo fez

emergir o modelo de se fazer sauacutede o modelo correto de se fazer e atender as pessoasNatildeo eacute

apenas caracteriacutestica do Brasil mas de todos os paiacuteses o facto de ter prevalecido uma sauacutede

centrada na medicina centrada no papel do meacutedico centrada no papel do tratamento como

resultado Eacute importante e faz parte do processo mas cuidar eacute muito mais do que um processo

especiacutefico de tratar num consultoacuterio Cuidar eacute muito mais do que fazer um diagnoacutestico Cuidar

eacute entender de todo um processo e isso significa mudanccedila de um modelo

Eacute importante que todos saibam qual o caminho que estamos seguindo em relaccedilatildeo ao modelo

de gestatildeo da sauacutede Historicamente o Sistema Uacutenico de Sauacutede foi tanto do ponto de vista de

construccedilatildeo de poliacutetica como do ponto de vista de financiamento pautado por procedimentos

Isso historicamente ocasionou essa conduta de se tratar e de se financiar a sauacutede atraveacutes de

procedimentos ou seja um usuaacuterio do sistema quando chegava ao hospital passava por uma

combinaccedilatildeo de procedimentos A mudanccedila desse modelo de gestatildeo eacute o que o Ministeacuterio da

Sauacutede em conjunto com os outros atores desse sistema ndash secretaacuterios estaduais de sauacutede

secretaacuterios municipais representativos do CONASS2 e CONASEMS3 ndash vem discutindo A

1 Coordenador Nacional de Meacutedia e Alta Complexidade do Ministeacuterio da Sauacutede 2 Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede - httpwwwconassorgbr 3 Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sauacutede - httpwwwconasemsorgbr

90

mudanccedila de como instituir poliacutetica puacuteblica natildeo apenas baseada em procedimentos em um

pacote de exames s em um pacote de financiamento mas como integrar de facto a organizaccedilatildeo

desse sistema de sauacutede E noacutes trouxemos o novo modelo que natildeo eacute novo mas nova a forma de

se organizar atraveacutes de accedilotildees e serviccedilos numa rede de atenccedilatildeo a sauacutede Isto jaacute estava descrito

na lei 8080 nos regimentos que fazem do Sistema Uacutenico de Sauacutede um sistema e organizaccedilatildeo

Mas a aplicabilidade e a organizaccedilatildeo desse sistema em rede essa mudanccedila eacute o grande desafio

do sistema E o que eacute essa rede Toda a estrateacutegia e poliacutetica que o Ministeacuterio institui satildeo

pautadas na loacutegica da construccedilatildeo da rede tanto na organizaccedilatildeo no seu planejamento como no

seu financiamento e cuidado Eacute atraveacutes desse arranjo organizativo que os serviccedilos dos

estabelecimentos de sauacutede devem se organizar para que as accedilotildees sejam feitas dentro de um

cuidado continuado dentro de uma loacutegica de diferentes tendecircncias tecnoloacutegicas integradas por

apoio teacutecnico Ou seja dentro dessa rede cada um deve ter um papel fundamental para que seja

de fato organizada uma rede de atenccedilatildeo

O usuaacuterio desse sistema independente d a poliacutetica no acircmbito da rede de atenccedilatildeo deve ser

encontrado e natildeo procurar o cuidado Mas deve ser encontrado atraveacutes de uma rede integral

em que cada ponto da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada do posto de sauacutede ao hospital o

usuaacuterio encontre um cuidado contiacutenuo numa rede integrada

O que eu coloco como caracteriacutestica fundamental eacute justamente isso a rede implica uma

relaccedilatildeo horizontal Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas raras o cuidado que existioa quando se alcanccedilava

estava em centros especiacuteficos fossem de pesquisa ou grandes centros muito distantes de um

cuidado e um acolhimento adequado Mas aatenccedilatildeo em sauacutede mais proacutexima de qualquer usuaacuterio

sempre seraacute a Atenccedilatildeo Baacutesica independente da necessidade e da complexidade do cuidado E

se noacutes formos discutir as doenccedilas raras a atenccedilatildeo baacutesica faz parte do cuidado porque eacute ali que

funciona a porta de entrada seja da gestante seja do usuaacuterio na fase inicial Portanto eacute

fundamental que a informaccedilatildeo e o cuidado de doenccedila rara tambeacutem chegue para que tenhamos

principalmente um diagnoacutestico que se quer um diagnoacutestico precoce a orientaccedilatildeo adequada

em cada porta de entrada desse Sistema Uacutenico de Sauacutede Aleacutem disso essa rede eacute centrada na

necessidade e natildeo apenas na oferta porque o sistema trouxe ateacute entatildeo sempre uma oferta que

recorta justamente essa demanda Torna-se importante natildeo apenas financiar a poliacutetica puacuteblica

mas organizar e planejar uma poliacutetica puacuteblica em relaccedilatildeo com as necessidades de um dado

territoacuterio para aiacute comeccedilamos a organizar o processo

De acordo com a OMS doenccedila rara eacute aquela doenccedila que afeta ateacute sessenta e cinco pessoas

por cem mil pessoas proporccedilatildeo de 13 a cada 2 mil Essa definiccedilatildeo natildeo eacute homogecircnea em todos

os paiacuteses e noacutes colocamos em consulta puacuteblica essa definiccedilatildeo para iniciar o processo Daqui a

dois anos noacutes poderemos assim mudar a definiccedilatildeo porque a poliacutetica eacute dinacircmica mas

justamente acomete 6 a 8 da populaccedilatildeo Se noacutes fossemos pensar como muitas vezes ldquoNatildeo

poliacutetica puacuteblica se faz em cima de epidemiologiardquo natildeo estariacuteamos aqui hoje ateacute porque embora

ela seja individualmente rara constitui um grupo muito significativo da populaccedilatildeo Esse era um

ponto que eu queria discutir quando comeccedilamos com esse grupo teacutecnico formado por

especialistas representantes de associaccedilotildees e gestores essencialmente do Ministeacuterio da Sauacutede

mais concretamente por onde vamos traccedilar uma poliacutetica Noacutes temos quase mais de oito mil

doenccedilas conhecidas nuacutemero que cada vez mais vai aumentar em relaccedilatildeo ao nuacutemero de doenccedilas

raras Como eacute que podemos comeccedilar a discutir essa estrateacutegia

Seeu for pensar no tratamento medicamentoso e fazer uma poliacutetica para quem trata apenas

com medicamento somente 100 doenccedilas raras hojetecircm um tratamento medicamentoso Ou

seja eu deixaria de fora 7900 doenccedilas Eacute importante eacute fundamental mas uma poliacutetica integral

muito mais importante porque eu natildeo faccedilo cuidado apenas com medicamento eu faccedilo o

cuidado com integralidade com diagnoacutestico com habilitaccedilatildeo com reabilitaccedilatildeo com discussatildeo

de caso ecom outros fatores

91

Quando esse grupo foi formado noacutes tiacutenhamos trecircs prioridades primeiro instituir uma

poliacutetica nacional de atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras no Sistema Uacutenico de Sauacutede

segundo elaborar dois documentos norteadores o grupo tinha esse papel e ao fim desta

elaboraccedilatildeo noacutes temos que colocar em consulta puacuteblica dois documentos norteadores um de

diretrizes ao cuidado e o outro de normas para habilitaccedilatildeo dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede

de serviccedilos e centros de doenccedilas raras terceiro a inclusatildeo de procedimentos porque a poliacutetica

de integralidade do cuidado perpassa os serviccedilos de acesso por necessidade de diagnoacutestico por

habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo e muitas vezes por tratamento medicamentoso

Natildeo se exclui da poliacutetica a necessidade de tratamento medicamentoso Mas a gente tem

que propor ao Sistema respaldado no diagnoacutestico Entatildeo faz parte da poliacutetica a incorporaccedilatildeo

de novos exames Novos exames estatildeo sendo discutidos em uma comissatildeo estatildeo na comissatildeo

nacional de incorporaccedilatildeo de tecnologia no Sistema Uacutenico de Sauacutede que eacute uma lei federal para

a incorporaccedilatildeo de toda tecnologia no SUS Essa discussatildeo fizemos paralelamente porque tem

todo um processo de aprovaccedilatildeo e jaacute vimos discutindo a poliacutetica dentro do sistema A poliacutetica

envolve desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada incluindo a questatildeo do aconselhamento

geneacutetico ateacute a habilitaccedilatildeo e instruccedilatildeo de centros de serviccedilos em doenccedilas raras

O que pautou a estrateacutegia da poliacutetica

Alguns eixos estruturantes passam por ver o lado macro desse cuidado Nessa poliacutetica noacutes

temos dois eixos fundamentais doenccedilas raras de origem geneacutetica e doenccedilas raras de origem

natildeo geneacutetica Dentro de doenccedilas raras de origem geneacutetica temos um eixo vinculado a anomalias

congecircnitas outro a deficiecircncia intelectual e outro a erros inatos de metabolismo Haacute outro grupo

maior de doenccedilas raras que satildeo de origem natildeo geneacutetica perpasso infecciosos inflamatoacuterios e

autoimunes Isso balizou o quecirc Fundamentalmente para traccedilarmos a linha dos eixos em que

assentaria o cuidado para que a gente pudesse pensar como seria organizado o sistema atraveacutes

de uma rede e como eacute que a atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras integraria o processo

nessa rede de atenccedilatildeo

O Ministeacuterio da Sauacutede atraveacutes de poliacuteticas habilita os serviccedilos e os centos especializados

em doenccedilas raras Hoje existem determinados serviccedilos que prestam cuidado a uma ou mais

doenccedilas para um eixo ou mais eixos de cuidado dependendo da sua complexidade Mas mais

do que isso a poliacutetica tem um poder de induccedilatildeo jaacute que ela induz todo um processo desde a

formaccedilatildeo que eacute fundamental e natildeo eacute a formaccedilatildeo do especialista do geneticista mas de pessoas

e profissionais vinculados ao cuidado tanto da aacuterea meacutedica como natildeo meacutedica

A poliacutetica tem dois documentos norteadores que foram colocados em consulta puacuteblica No

dia 23 de outubro noacutes faremos uma reuniatildeo ampliada Porquecirc essa reuniatildeo ampliada

Justamente quando noacutes elaboraacutemos o grupo noacutes o grupo Ministeacuterio da Sauacutede representantes

e gestores representantes de especialidades associaccedilotildees constituiacutemos um nuacutecleo duro e esse

nuacutecleo tem a responsabilidade de construir a proposta inicial Porque para chancelar o processo

noacutes precisamos de uma aprovaccedilatildeo e de uma discussatildeo maior por isso eacute que desde o primeiro

dia noacutes construiacutemos os dois documentos a) Como habilitar serviccedilos e centros de atenccedilatildeo

especializada em atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras e as diretrizes para cada um dos pontos

de atenccedilatildeo da atenccedilatildeo baacutesica agrave atenccedilatildeo especializada e o centro de serviccedilos em especialidades

b) Qual o papel de cada um no cuidado na atenccedilatildeo das pessoas com doenccedilas raras

Habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo cuidado continuado necessidades adicionais natildeo apenas o

tratamento especiacutefico da doenccedila rara mas o contexto integral desse cuidado eacute a nossa proposta

E aiacute noacutes falamos ldquoNo uacuteltimo dia quando a gente for para a pactuaccedilatildeo ao niacutevel de sistema

uacutenico CONASS CONASEM e a tripartite noacutes faremos o GT ampliado para mostrar que esse

eacute o processordquo E entatildeo teremos a posiccedilatildeo criacutetica de todos

Jaacute tivemos a consulta puacuteblica Foi a consulta puacuteblica nesse Ministeacuterio que teve a maior

participaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo Foram mais de 180 contribuiccedilotildees Foi um trabalho aacuterduo do grupo

de trabalho que se dividiu em trecircs grandes grupos para consolidar a consulta puacuteblica e

92

finalizamos os documentos que seratildeo apresentados na reuniatildeo ampliada Aprovado nesta

reuniatildeo no mecircs 11 a gente faz a discussatildeo na plenaacuteria da CONITEC4 de incorporaccedilatildeo

tecnoloacutegica e ainda no mecircs 11 eu vou agrave comissatildeo intergestora tripartite para pactuar e aiacute sim

a gente passa para a histoacuteria do Sistema Uacutenico de Sauacutede uma poliacutetica integral uma uacutenica

poliacutetica integral que perde de poucas no mundo de atenccedilatildeo integral de pessoas com doenccedilas

raras Uma poliacutetica que vai do cuidado para o acolhimento e o diagnoacutestico do aconselhamento

ateacute a necessidade de medicamentos baseada no protocolo cliacutenico Foi um trabalho ndash e eu me

emocionei na fala porque quem participou sabe e eu agradeccedilo a cada um desses colegas o

Rogeacuterio Prof Marcos Sidney a Martha e a todos em nome deles ndash que realmente a gente

pensou da base agrave atenccedilatildeo especializada Aleacutem desse trabalho a gente vai ter que modificar

muito porque a poliacutetica puacuteblica eacute dinacircmica O grande desafio agora eacute que cada um pactue na

tripartite que a gente vaacute para o territoacuterio e induza a implementaccedilatildeo desse processo e que

monitore a implementaccedilatildeo desse processo

Se estamos fazendo poliacutetica puacuteblica esta tem que ser feita tambeacutem com a academia com

o gestor com as pessoas Somente dessa forma a gente vai conseguir implementar e mudar a

realidade

Muito obrigado e eu fico a disposiccedilatildeo para discussatildeo

Maria Joseacute Delgado5 ndash Bom dia

Eu vou comeccedilar a apresentaccedilatildeo mostrando um filme Eacute um filme raacutepido Eu pedi que o

Rogeacuterio me desse essa licenccedila para que vocecircs conhecessem um pouco mais da Interfarma de

uma maneira um pouco mais interessante do que eu ficar falando de nuacutemeros ficar falando de

percentuais Depois a gente vai entrar numa outra parte da apresentaccedilatildeo em que eu trago alguns

nuacutemeros de pesquisa e alguns dados referentes ao desenvolvimento dos produtos

Bom somente para contar um pouquinho do que noacutes fazemos e como noacutes fazemos

Principalmente o que noacutes fazemos eacute estar junto Estar fazendo junto tambeacutem eacute uma meta e eacute

uma necessidade que a Interfarma tem na sua gestatildeo Por isso pedimos tanto ao Ministeacuterio da

Sauacutede para participar do grupo que esteve pensando a proposta de poliacutetica Naquele momento

natildeo foi oportuno mas no dia 23 com certez noacutes estaremos juntos estaremos conversando

estaremos tentando alinhar tambeacutem algo daquelas contribuiccedilotildees que noacutes jaacute envimos que o

Fogolin conhece e que todo o mundo conhece

O Rogeacuterio me pediu para que eu traccedilasse um cenaacuterio em relaccedilatildeo a quecirc e como noacutes

investimos como noacutes desenvolvemos os produtos como satildeo os dados e quais satildeo esses dados

Mas antes desses dados eu vou tentar desenhar um cenaacuterio que eu acho que vocecircs conhecem

Ateacute os anos 80 as pessoas com doenccedilas raras natildeo faziam parte das agendas governamentais o

que pode ser encontrado em estudos que demonstram isso A partir dessa data dessa deacutecada

vaacuterios esforccedilos vaacuterias estrateacutegias foram sendo implementadas para que esse pudesse ser um

tema e um tema que fosse visto com mais dedicaccedilatildeo cada vez mais pensando em soluccedilotildees para

o cenaacuterio que se apresentava

No Brasil como o Fogolin jaacute falou estimam-se treze milhotildees de pessoas com doenccedilas raras

e destas 75 se manifestam-se em crianccedilas Esse eacute o indicador que talvez mais nos comova e

eacute o indicador que talvez mais nos mova a fazer o que fazemos E contribui ainda para maior

morbidade nos primeiros 18 anos de vida que tambeacutem eacute um dado que nos impulsiona a tentar

dar soluccedilotildees e a tentar trazer benefiacutecios ou longevidade com qualidade para essas pessoas

No Brasil assim como no mundo quem movimentou e colocou essa agenda dentro do

governo foram as associaccedilotildees de pacientes os estudos tambeacutem demonstram isso As

4 Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) 5 Diretora de Inovaccedilatildeo e Responsabilidade Social da Interfarma

93

associaccedilotildees satildeo aquelas que estatildeo levando o tema e fazendo o tema acontecer Entatildeo eacute

importante que vocecircs continuem nesse ritmo e continuem fazendo cada vez mais o

posicionamento da necessidade e o posicionamento do interesse de cada um de vocecircs E essa

nova abordagem vinda das associaccedilotildees de pacientes tambeacutem trouxe para o Brasil vaacuterios

avanccedilos do que se iniciou em 2000 mas apenas em 2009 foi formalizada e publicada pelo

Ministeacuterio da sauacutede a Portaria 81 Conhecemos todo o esforccedilo e reconhecemos o esforccedilo para

que isso tivesse sido feito e que agora entra numa outra fase de execuccedilatildeo

A poliacutetica que agora estaacute desenhada e que propotildee um desenho talvez seja exequiacutevel sendo

que a anterior a portaria 81 natildeo era A gente sabe que eacute um caminho longo que eacute um caminho

recente da deacutecada de 80 e que temos que andar muito Diversas barreiras dificultam o acesso

dos pacientes a tratamentos especializados desde a assistecircncia ateacute medicamentos Os

profissionais da aacuterea carecem de capacitaccedilatildeo para natildeo comprometer ou retardar o diagnoacutestico

Eacute angustiante chegar em um serviccedilo de assistecircncia seja unidade baacutesica seja um hospital e

aquele que vai te atender olhar para vocecirc e fica talvez mais inseguro do que vocecirc mesmo que

foi buscar alguma soluccedilatildeo para a sua situaccedilatildeo de sauacutede A capacitaccedilatildeo e treinamento dos

profissionais eacute um alvo que deve estar dentro da discussatildeo do que estaacute em construccedilatildeo Falta de

informaccedilatildeo sobre as doenccedilas para as famiacutelias eacute angustiante Eacute uma afliccedilatildeo muito grande o que

fazer como fazer o que tem depois de ter diagnosticado para onde ir como dar soluccedilatildeo a

essa situaccedilatildeo que eacute muito complexa

Apenas 2 das doenccedilas pode beneficiar de medicamentos oacuterfatildeos capazes de interferir na

sua evoluccedilatildeo Estamos falando de um percentual muito pequeno e que pesa todo o esforccedilo de

pesquisa e desenvolvimento mas por ser tatildeo recente o setor ainda carece de mais investimento

e de mais pesquisas E quando eu falo dessa agonia de chegar numa unidade baacutesica eu falo natildeo

na teoria eu falo tambeacutem porque eu sou uma usuaacuteria do serviccedilo de sauacutede os meus filhos satildeo

os meus netos satildeo Antes de tudo eu como uma cidadatilde me angustia e eacute realmente uma

constataccedilatildeo da vida real porque aqui ningueacutem estaacute dizendo de hipoacutetese ou de situaccedilatildeo que natildeo

conheccedila realmente Como eacute o cenaacuterio de desenvolvimento de pesquisa no Brasil Quando eu

digo que ele natildeo possui robustez eacute porque noacutes natildeo temos a robustez que o paiacutes merece e que a

populaccedilatildeo e que a proacutepria academia tambeacutem precisam Noacutes somos mais ou menos o deacutecimo

terceiro paiacutes em produccedilatildeo Noacutes somos em pesquisa e artigos cientiacuteficos o deacutecimo terceiro no

mundo Noacutes somos muito bons a produzir artigos cientiacuteficos mas no ranking mundial de

depoacutesito de patentes que se faz o registro quando haacute uma descoberta quando haacute possibilidade

de um novo produto noacutes estamos no vigeacutesimo quarto lugar E o paiacutes perde a oportunidade de

inovaccedilatildeo noacutes fizemos um estudo com os nossos associados com quinze empresas noacutes

perdemos por conta de tramitaccedilatildeo burocraacutetica nas vaacuterias instacircncias que satildeo necessaacuterias passar

um processo e o projeto de pesquisa Noacutes perdemos uma quantidade importante de estudos e

chegamos a estimar um prejuiacutezo de 2500 pacientes aproximadamente E vamos perder mais

alguns inclusive para produtos oncoloacutegicos de hepatite C problemas importantes tambeacutem de

sauacutede puacuteblica A pesquisa cliacutenica movimenta cerca de 40 bilhotildees de investimento no mundo e

no Brasil satildeo investidos pouco mais de 139 milhotildees de doacutelares A participaccedilatildeo do Brasil em

estudos cliacutenicos no mundo representa 15 e atinge a deacutecima quarta posiccedilatildeo O tempo gasto

com a pesquisa cliacutenica no Brasil estaacute entre 10 a 14 meses enquanto que a meacutedia mundial eacute de

4 a 6 meses E o que acontece no quadro anterior demora tanto para aprovar que noacutes natildeo

conseguimos nem fazer e nem participar das pesquisas mundiais

A nossa populaccedilatildeo que tem um perfil epidemioloacutegico que tem uma caracteriacutestica

especiacutefica muitas vezes a gente natildeo consegue participar dos estudos multicecircntricos Tem um

dado interessante quando falamos de doenccedilas cardiovasculares que satildeo doenccedilas

tradicionalmente em maior nuacutemero e cuidadas haacute muito mais tempo temos um indicador de

para cada 24 euros gastos no desenvolvimento de todos os novos medicamentos 89 satildeo

economizados em internaccedilatildeo e outros serviccedilos de sauacutede

94

Entatildeo pensando na pesquisa no desenvolvimento e no impacto financeiro dentro do

processo da elaboraccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas sabemos que existe uma limitaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

mas a gente entende tambeacutem que eacute preciso encontrar as soluccedilotildees para uma medida para que

esse orccedilamento possa ser elaacutestico e atender a necessidade de um conjunto de pessoas

A induacutestria farmacecircutica gastou em 2011 aproximadamente 130 bilhotildees de doacutelares e

foram lanccedilados aproximadamente 35 novos produtos farmacecircuticos dentre os mais de 3200

compostos em desenvolvimento Entre 2007 e 2011 noacutes temos um decliacutenio de pesquisa que

caiu para 149 e o custo meacutedio do desenvolvimento de um medicamento gira em torno de 13

bilhotildees de doacutelares Noacutes temos 460 medicamentos que estatildeo sendo desenvolvidos para doenccedilas

raras e que a gente espera que muitos deles possam chegar ao mercado

Essa eacute uma curva de tempo como que comeccedila laacute na pesquisa baacutesica que o Fogolin estaacute

dizendo aqui do financiamento do incentivo ao financiamento a pesquisa baacutesica e qual eacute o

percurso que se tem para chegar ateacute que o produto chegue ao balcatildeo ao mercado eacute o processo

e eacute o trajeto da bancada ao mercado

95

E isso vai levar mais ou menos entre dez a quinze anos para se desenvolver um

medicamento ou uma vacina nova e somente um a cada dez mil compostos chega ateacute os

pacientes Vamos investir num esforccedilo que eacute super importante e tem que acontecer mesmo

porque noacutes temos aquele deacuteficit de pesquisa O nosso investimento eacute pouco mas tem essa linha

e essa trajetoacuteria de desenvolvimento Tem que ter muito investimento para que tenhamos

inovaccedilotildees sendo disponibilizadas

Deixo soacute algumas consideraccedilotildees finais que eu acho importante deixar na agenda O Brasil

natildeo discute medicamentos oacuterfatildeos como um tema macro Ele eacute discutido dentro das poliacuteticas

puacuteblicas O medicamento oacuterfatildeo que vai cuidar de doenccedilas raras negligenciadas

principalmente precisa duma pauta especiacutefica Precisamos fortalecer a assistecircncia meacutedica e

farmacecircutica e isso com certeza depende dos grupos de defesa e das associaccedilotildees de pacientes

Noacutes precisamos de parcerias para um modelo fortalecido de atuaccedilatildeo Esse modelo deve

envolver o governo as associaccedilotildees de pacientes as representaccedilotildees do seguimento produtivo

do Conselho Federal de Medicina de farmaacutecia e todos aqueles que fazem parte do paiacutes satildeo

aqueles que moram aqui e aqueles que querem que isso daqui desenvolva e que esse paiacutes avance

cada vez mais Os pacientes e a responsabilidade social das empresas tambeacutem tem a sua missatildeo

importante O diaacutelogo social tambeacutem eacute importante e ele existe para negociaccedilatildeo em prol do

interesse comum Na verdade o que precisamos eacute que a voz desse conjunto de pessoas possa

estabelecer um impacto social para as doenccedilas raras que eacute uma provocaccedilatildeo que eu faccedilo e que

eu deixo aqui no encerramento da minha fala

As vozes satildeo necessaacuterias elas existem cada vez mais elas tecircm que ter forccedila para dizer o

que precisam mas para isso noacutes precisamos estabelecer um impacto social e dizer para onde

noacutes queremos ir e como noacutes vamos Isso foram assuntos que noacutes fizemos foram temas de

movimentos com que noacutes trabalhamos A publicaccedilatildeo6 que vocecircs receberam teve como objetivo

qualificar o nosso debate e a meta era ocupar o espaccedilo que eacute devido agraves doenccedilas raras na agenda

do paiacutes

Noacutes fizemos um seminaacuterio grande em marccedilo e esses satildeo resultados do seminaacuterio Noacutes

fizemos publicaccedilotildees que atingiram mais de um milhatildeo de pessoas difundindo otema dizendo

6 Doenccedilas Raras contribuiccedilotildees para uma poliacutetica nacional disponiacutevel em wwwinterfarmaorgbr

96

que existem doenccedilas raras que eacute preciso discutir e que eacute preciso avanccedilar Aqui satildeo dados que a

gente sabe que estatildeo nesse estudo e dentro desse fortalecimento das accedilotildees eu acho que o mais

importante eacute que a gente precisa continuar discutindo contribuir sistematicamente para o debate

deste complexo cenaacuterio entender e construir junto as saiacutedas Por uacuteltimo e jaacute que o evento eacute

uma parceria com Coimbra eu queria deixar aqui a boa fala do Professor Boaventura que diz

que devemos ldquoLutar pela igualdade quando a diferenccedila nos discrimina e lutar pela diferenccedila

sempre que a igualdade nos descaracterizerdquo

Muito obrigada Rogeacuterio Muito obrigada pela oportunidade de estar aqui com vocecircs Fico

agrave disposiccedilatildeo para qualquer intervenccedilatildeo

Luiz Oswaldo Rodrigues7 ndash Bom dia a todos

Meu nome eacute Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues Quem deveria estar aqui hoje era o Sr

Paulo Roberto Ferreira Couto que eacute o presidente da AMANF Eu sou um dos membros da

associaccedilatildeo Eu e minha esposa Thalma estamos aqui e temos uma filha com Neurofibromatose

(NF) do tipo I Tambeacutem sou meacutedico e haacute dez anos encontramos outro meacutedico com o filho com

NF tambeacutem Entatildeo noacutes criamos o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas na

Universidade Federal de Minas Gerais

Eu estou aqui falando em nome da Associaccedilatildeo Mineira de Apoio as Pessoas com NF -

AMANF e estou falando em nome do Centro de Referecircncia tambeacutem

Eu quero agradecer ao Rogeacuterio particularmente pelo convite pessoal em nome da nossa

Associaccedilatildeo e eacute uma satisfaccedilatildeo estar aqui nesta mesa com Dr Joseacute Eduardo Fogolin com a Dra

Maria Joseacute e com o Prof Dr Natan Monsores participando desse debate

A primeira pergunta que a nossa Associaccedilatildeo se fez foi se noacutes somos uma doenccedila rara

Como vocecircs jaacute viram na palestra do Professor Maacuterio ontem na audiecircncia puacuteblica a gente fica

agraves vezes na duacutevida se nos encontramos entre as doenccedilas raras Natildeo haacute um consenso como noacutes

aprendemos com o Dr Saporta ontem natildeo haacute um consenso e satildeo 80 mil brasileiros mais ou

menos tanto quanto a doenccedila de charcot-marie-tooth Temos uma populaccedilatildeo bastante grande

daacute para encher um estaacutedio de futebol com o nuacutemero de pessoas que tem NF Isso eacute raro Pelos

criteacuterios internacionais essa eacute uma doenccedila daquelas com frequecircncia rara portando estamos

dentro das doenccedilas raras Elas satildeo trecircs doenccedilas geneacuteticas que afetam cerca de 80 mil brasileiros

e apesar desse nuacutemero de pessoas acometidas elas satildeo tecnicamente consideradas doenccedilas

raras

As NFs padecem de dificuldades semelhantes agraves demais doenccedilas raras as quais noacutes

denominamos DOR Uma sigla que noacutes fizemos pra designar essa dificuldade comum que noacutes

temos entre todas as doenccedilas raras Que seria isso D - de desconhecimento cientiacutefico por parte

dos profissionais de sauacutede ou as vezes por todos O - de omissatildeo institucional que a gente fica

feliz de saber que aqui tem um representante do Ministeacuterio e que existem comitecircs trabalhando

e que estatildeo tentando superar isso mas ainda eacute uma dificuldade a omissatildeo institucional E

finalmente R - representaccedilatildeo social inexistente O que quer dizer isso Quando vocecirc fala a

palavra NF por exemplo mas poderia ser Niemann-pick ou qualquer outra dessas doenccedilas

que vocecircs compartilham conosco que noacutes compartilhamos nesse Congresso nesse evento as

pessoas natildeo sabem o que significa

A psicoacuteloga Alessandra Cerello fez uma dissertaccedilatildeo de mestrado8 mostrando que as

pessoas natildeo sabem o que eacute NF profissionais de sauacutede ou as famiacutelias A sociedade natildeo sabe E

quando vocecirc natildeo sabe o que uma coisa significa vocecirc natildeo tem emoccedilatildeo sobre ela entatildeo a falta

de emoccedilatildeo faz com que vocecirc natildeo se incomode com aquela pessoa vocecirc natildeo estabelece uma

7 Diretor Teacutecnico da Associaccedilatildeo Mineira de Neurofibromatose 8 Disponiacutevel em httpwwwbibliotecadigitalufmgbrdspacebitstreamhandle1843BUOS-

8N2FVWdisserta__o_alessandra_cerellopdfsequence=1

97

relaccedilatildeo de empatia vocecirc natildeo estabelece uma conexatildeo humana de pessoa para pessoa Entatildeo a

maior parte das doenccedilas raras ou se natildeo todas tem essa dificuldade Para dar um exemplo eu

fiquei muito feliz quando o Rogeacuterio denominou a Associaccedilatildeo de Associaccedilatildeo MariaVitoacuteria

porque Maria Vitoacuteria tem o rosto noacutes pensamos que existe uma pessoa por traacutes deste nome

dessa associaccedilatildeo Isso eacute fundamental dar rosto agraves pessoas

aacute no Centro de Referecircncia noacutes temos algumas queixas das pessoas que nos procuram e vou falar

de NF mas possivelmente vocecircs vatildeo identificar essas dificuldades em outras doenccedilas Por

exemplo a atitude acadecircmica excessivamente acadecircmica dos profissionais da sauacutede os

meacutedicos particularmente que tratam os pacientes de uma forma fria num tubo de ensaio A

pressa no atendimento vejam esse meacutedico ele tem quantos reloacutegios que ele tem que dar conta

ao mesmo tempo para um paciente soacute Ele tem vaacuterios reloacutegios eacute uma pressa uma coisa atraacutes

da outra entatildeo a pressa natildeo permite que vocecirc olhe para o paciente e diga assim Eu natildeo sei o

que vocecirc tem eu preciso de estudar eu preciso de consultar um colega eu preciso de fazer uma

interconsulta para gente poder saber o que vocecirc temA pressa natildeo nos permite fazer isso

A indiferenccedila eacute como se agraves vezes no caso da NF por exemplo muitos pacientes apresentam

lesotildees cutacircneas e quem desconhece a doenccedila natildeo sabe se elas satildeo contagiosas ou natildeo e a atitude

espontacircnea humana e natural eacute o medo do desconhecido medo de pegar aquela doenccedila entatildeo

haacute um isolamento Muitos pacientes com NF dizem assim Doutor nenhum meacutedico nunca

tocou em mim nunca encostou a minha pele Olha de longe e tira retrato Ou a doenccedila eacute

retratada apenas pelo seu lado patoloacutegico pela patologia pela lacircmina da bioacutepsia Entatildeo o

meacutedico olha para o paciente mas o que ele vecirc natildeo eacute uma pessoa ele vecirc a lacircmina ele vecirc a

anatomia a doenccedila ele natildeo vecirc o ser humano que estaacute ali diante dele Essa eacute outra queixa Os

pacientes satildeo voluntaacuterios em pesquisa e depois satildeo abandonados Eles participam como

voluntaacuterios oferecem o seu sangue o seu suor as suas laacutegrimas o seu tecido para o estudo e

depois eles satildeo ignorados natildeo recebem nenhum retorno Agraves vezes natildeo precisa ter um

medicamento pronto mas basta ter um Olha obrigado fizemos isso publicamos aquilo etc

Os planos de sauacutede tambeacutem jaacute que os planos de sauacutede costumam ser armadilhas para os

pacientes Os que tecircm SUS contam com as dificuldades de reparticcedilatildeo do dinheiro puacuteblico para

as doenccedilas os que natildeo tecircm os que tecircm dinheiro particular satildeo explorados pelos meacutedicos que

vatildeo de especialista em especialista O dermatologista pede para o neurocirurgiatildeo o neuro pede

para outro profissional E os planos de sauacutede ficam indiferentes a essas doenccedilas raras na

maioria das vezes

Vocecircs estatildeo vendo uma cartilha9 que estaacute em distribuiccedilatildeo no Brasil com o apoio da

Unimed de Belo Horizonte - um dos planos que tem apoiado o nosso Centro de Referecircncia A

Interfarma falou agora haacute pouco em nome da induacutestria farmacecircutica mas uma grande

9 As Manchinhas da Mariana Disponiacutevel em httpwwwamanforgbrCartilhaPacientesMai2011pdf

98

preocupaccedilatildeo que noacutes temos eacute que noacutes sabemos que a induacutestria caminha para um lado e que eacute

preciso ter um remo muito forte aqui para segurar o barquinho da eacutetica para que a induacutestria natildeo

arraste a eacutetica na sua potecircncia econocircmica e no seu poder de fogo Finalmente a proacutepria

tecnologia eacute um grande problema veja soacute o que o Doutor estaacute procurando nesses exames O

paciente

Entatildeo tem gente que faz tanto exame que cai na matildeo da tecnologia quando a medicina

tecnoloacutegica excessivamente tecnoloacutegica vocecirc faz tanto exame que vocecirc se perde Agraves vezes os

pacientes chegam com pacotes de exames Eu tive um paciente uma vez que chegou com um

pacote de 45kg de exame segurando o pacote para me mostrar Aiacute eu disse Natildeo vamos te

examinar primeiro e depois eu vejo os exames

Entatildeo com estas questotildees em mente como enfrentar a DOR Eu acho que satildeo as

entidadesde pacientes com alguma doenccedila de familiares de pessoas portadores das mais

diversas doenccedilas que tecircm que se apoderar do seu proacuteprio corpo da sua pessoa da sua sauacutede

acreditar que cada um de noacutes eacute maior do que a sua doenccedila e assumir o poder sobre o seu corpo

assumir o poder sobre a sua sauacutede Esse eacute o projeto das associaccedilotildees Esta eacute uma das reuniotildees

da AMANF Noacutes temos aqui o fundador da AMANF o Andreacute noacutes temos o Nilton e a Andreacuteia

que satildeo pais de portador tambeacutem a Alessandra eu e a Thalma a minha filha o Paulo Couto

que eacute o nosso presidente que deveria estar aqui hoje e por motivos de sauacutede natildeo pode estar

presente

99

Essa entidade tenta enfrentar a DOR procurando aumentar o conhecimento sobre a doenccedila o

conhecimento puacuteblico o conhecimento dos profissionais de sauacutede fazendo palestras em

faculdades em hospitais em cliacutenicas em escolas onde for necessaacuterio noacutes vamos fazer

palestras diminuir a solidatildeo das pessoas que tecircm essas doenccedilas raras porque muitas vezes

mesmo com NF falam assim Eu nunca tinha visto algueacutem como eu Saber que existe outro

como vocecirc jaacute ajuda a sair um pouco da solidatildeo E vencer o preconceito puacuteblico com a

divulgaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo Noacutes criamos a AMANF haacute dez anos totalmente com trabalho

voluntaacuterio e nossas principais conquistas satildeo reuniotildees mensais divulgaccedilatildeo temos uma paacutegina

na internet cartilhas educativas Uma dasnossas cartilhas estaacute na segunda ediccedilatildeo agora

atualizada e pode ser baixada gratuitamente da internet Essa cartilha jaacute estaacute sendo usada haacute

alguns anos e ela jaacute foi traduzida para o inglecircs dos Estados Unidos e estaacute sendo usada do estado

de Utah

A paacutegina na internet de 2008 a 2012 recebeu 25414 visitas de vaacuterias partes do mundo mas

principalmente do estado de Minas Gerais O nosso endereccedilo para quem quiser acessar eacute

wwwamanforgbr

Fizemos dois simpoacutesios o primeiro foi em 2009 e no Segundo Simpoacutesio Internacional de

NF contamos com a presenccedila do Prof Visconti do Prof Riccardi que eacute o pioneiro em NF

segunda fase da existecircncia das doenccedilas de 78 para caacute e o Dr Bruce Korf O Korf e o Visconti

fazem parte da equipe que descobriu os genes da doenccedila O segundo evento que noacutes

promovemos foi o Terceiro Simpoacutesio Brasileiro em NF no ano passado em comemoraccedilatildeo aos

dez anos da nossa entidade Aqui eacute a faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas

Gerais - UFMG onde fica localizado o Centro de Referecircncia em NF no Hospital das Cliacutenicas

na faculdade de Medicina em Belo Horizonte

100

O atendimento eacute totalmente pelo SUS Noacutes temos 700 famiacutelias atendidas e acompanhadas

no ambulatoacuterio ateacute agora Hoje jaacute satildeo mais de 700 200 famiacutelias aproximadamente

acompanhadas pela internet Eu envio o laudo para os meacutedicos das famiacutelias e noacutes

acompanhamos agrave distacircncia

Temos um convecircnio com o Centro de Imagem Molecular onde podemos fazer exames de

imagem dos pacientes Temos ensino para medicina psicologia fonoaudiologia e nutriccedilatildeo

pessoas que fazem mestrado e poacutes-graduaccedilatildeo e doutorado connosco E temos pesquisas

bolsistas de iniciaccedilatildeo cientiacutefica alunos de mestrado e doutorado participaccedilatildeo em congressos

publicaccedilotildees cientiacuteficas

O ano passado noacutes criamos a Sociedade Brasileira de Pesquisa em NF que estaacute comeccedilando

a funcionar o nosso primeiro artigo deve sair em breve um artigo coletivo

Apresentei algumas realizaccedilotildees mas gostaria de falar que a nossa entidade quando

discutimos a nossa participaccedilatildeo na AMAVI nas doenccedilas raras teve um certo medo e que medo

eacute esse Eacute porque aqui noacutes temos uma displasia da tiacutebia que eacute um dos sinais felizmente natildeo

muito comum 2 dos pacientes com NF1 apresenta

Eacute um dos sinais tiacutepicos da doenccedila que eacute uma displasia com uma pseudo-artrose uma

fratura espontacircnea da tiacutebia de uma crianccedila Ela nasce assim Esta foto serve para mostrar que

por mais que a gente tenha vontade de ajudar existem limites proacuteprios Nossa Associaccedilatildeo tem

101

muita dificuldade em reunir tem muita dificuldade para arranjar recursos financeiros entatildeo

essa luta de participaccedilatildeo natildeo eacute faacutecil No primeiro momento noacutes tivemos receio ateacute de nos

integrarmos nas doenccedilas raras a luta geral das doenccedilas raras mas hoje ndash e eu vou falar agora

particularmente em nome do centro de referecircncia em NF ndash noacutes estamos convencidos de que

somente sobre esse grande guarda-chuva das doenccedilas raras eacute que noacutes podemos fazer alguma

coisa em conjunto e dar uma representaccedilatildeo social a essas doenccedilas Noacutes acreditamos hoje que

podemos ajudar e podemos ser ajudados nesse processo dentro da grande luta que estaacute sendo

travada e hoje aqui eacute um momento histoacuterico e fantaacutestico e eu quero agradecer mais uma vez

a oportunidade

Obrigado

Natan Monsores10 ndash Bom dia a todos

Eu vou ser bem sucinto na minha apresentaccedilatildeo Na verdade eacute muito mais de uma demanda

trazida a noacutes pelo Rogeacuterio e por algumas Associaccedilotildees do que fazer uma exposiccedilatildeo cientifica

uma exposiccedilatildeo teacutecnica Em grande parte das falas a gente ouve a informaccedilatildeo aparecendo como

elemento central a necessidade de comunicar a necessidade de informar a necessidade de

trazer ao puacuteblico informaccedilotildees sobre doenccedilas raras A necessidade eacute transversal e perpassa todas

as falas que ouvimos e que eu tenho ouvido esses uacuteltimos anos sobre doenccedilas raras

Seguindo essa loacutegica eu vou aproveitar mais esse momento para fazer um lanccedilamento O

Rogeacuterio me pediu que a gente trouxesse essa ferramenta que tem sido construiacuteda

colaborativamente com o Rogeacuterio e com as Associaccedilotildees trazer para apresentar a vocecircs e fazer

um pedido um grande pedido a todas as Associaccedilotildees aqui presentes aos profissionais de sauacutede

e a todas as pessoas interessadas no tema de doenccedilas raras As discussotildees que temos na Caacutetedra

de Bioeacutetica no departamento de Sauacutede coletiva na UnB e eu tenho a oportunidade de ter aqui

alguns professores da Universidade de Brasiacutelia como a Professora Muna e o Professor Claacuteudio

que desde o comeccedilo tecircm participado destas iniciativas dentro da Universidade de Brasiacutelia Eu

queria apresentar para vocecircs a proposta do observatoacuterio de doenccedilas raras Eacute a proposta de

construccedilatildeo de uma rede que estamos chamando de Rede Raras Uma rede de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras com produccedilatildeo cientiacutefica brasileira com informaccedilotildees

oriundas das Associaccedilotildees de pacientes dos profissionais de sauacutede para que a gente consiga

mesmo que num vislumbre do futuro alcanccedilar o trabalho que tem sido feito pela EURORDIS

Entatildeo quais satildeo as metas desse observatoacuterio sobre as doenccedilas raras Reunir pesquisadores no

campo de doenccedilas raras a fim de agregar expertises nesse campo

A gente sabe que desde a deacutecada de 90 pesquisas sobre doenccedilas raras e medicamentos

oacuterfatildeos tecircm sido feitas no mundo inteiro e aqui no Brasil esse evento esse fenocircmeno eacute muito

recente como jaacute foi comentado aqui Temos a segunda meta que eacute formar pesquisadores no

campo de sauacutede coletiva A nossa intenccedilatildeo natildeo eacute formar geneticistas meacutedicos especialistas eacute

formar profissionais de campos o mais variados possiacuteveis Serviccedilo Social Nutriccedilatildeo Psicologia

Sociologia Antropologia entre outros que tenham o interesse de trabalhar com esse tema e ver

as questotildees sociais as questotildees fundamentais ao campo das doenccedilas raras A terceira meta desse

observatoacuterio eacute fomentar a pesquisa em trecircs aacutereas principais que satildeo aacutereas que pertencem ao

campo de sauacutede coletiva ou que pelo menos perpassam o campo da sauacutede coletiva A primeira

eacute fomentar a pesquisa epidemioloacutegica que decirc subsiacutedio agraves poliacuteticas puacuteblicas em doenccedilas raras

Mesmo sem informaccedilatildeo epidemioloacutegica jaacute estamos aqui discutindo Se natildeo tivermos a pesquisa

epidemioloacutegica para qualificar toda a discussatildeo qualificar o pensamento de formulaccedilatildeo de

poliacuteticas especiacuteficas para patologias especiacuteficas ou entatildeo para doenccedilas raras no geral natildeo

vamos conseguir Sem essas informaccedilotildees natildeo teremos vislumbres muito interessantes ou muito

10 Professor do Departamento de Sauacutede Coletiva e do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Bioeacutetica da UnB

102

promissores sobre o que pode ser feito em termos de investimentos em sauacutede alocaccedilatildeo de

recursos especiacuteficos entre outras coisas

Outra meta eacute a produccedilatildeo de informaccedilatildeo qualificada como eu jaacute falei aqui no iniacutecio Boa

parte da reclamaccedilatildeo das Associaccedilotildees e dos profissionais de sauacutede eacute a falta de informaccedilatildeo E por

que natildeo centralizar essa produccedilatildeo

Por fim promover a reflexatildeo bioeacutetica sobre o tema Jaacute foi comentado aqui tambeacutem que as

questotildees eacuteticas satildeo fundamentais nas relaccedilotildees entre as ssociaccedilotildees de pacientes a Induacutestria

Farmacecircutica o Governo e a Comunidade Cientiacutefica E tambeacutem eacute importante que essa

discussatildeo seja fomentada com liberdade e com responsabilidade entre todos os parceiros

Agregar e organizar a produccedilatildeo brasileira em doenccedilas raras A informaccedilatildeo as produccedilotildees

cientiacuteficas que a gente tem no Brasil hoje estatildeo fragmentadas em repositoacuterios de teses em

dissertaccedilotildees no Scielo em alguns outros repositoacuterios institucionais que satildeo da academia ndash satildeo

feitos na academia para a academia estaacute dentro da universidade para a universidade com

linguagem voltada para o campo da ciecircncia E por que natildeo trazer essa informaccedilatildeo fazer

comentaacuterios fazer uma discussatildeo sobre essa informaccedilatildeo num lugar centralizado

E por fim e talvez seja a missatildeo mais importante do observatoacuterio eacute apoiar as Associaccedilotildees

de pacientes e os demais interlocutores interessados nessa discussatildeo de doenccedilas raras

Trago em primeira matildeo uma iniciativa ainda embrionaacuteria Eacute rudimentar Ainda estamos

trabalhando com a equipe de Tecnologia da Informaccedilatildeo da Universidade de Brasiacutelia e vamos

precisar do apoio das Associaccedilotildees da induacutestria farmacecircutica e do Ministeacuterio da Sauacutede para

consolidar essa iniciativa Falar em rede rede de uma pessoa rede de uma associaccedilatildeo rede de

um grupo soacute natildeo eacute falar de rede Rede natildeo eacute isso Entatildeo eu Professor Natan da caacutetedra de

bioeacutetica da Universidade de Brasiacutelia a AMAVI natildeo tem a intenccedilatildeo de montar uma rede nesse

sentido Uma rede centralizadora na qual as Associaccedilotildees ououtros interlocutores soacute se

aproximam e a gente fica mandando ordenando e organizando natildeo eacute a nossa intenccedilatildeo Muito

menos fazer essa rede descentralizada na qual a gente tem conversas pontuais entre alguns

grupos e mesmo assim com uma hierarquia com algueacutem centralizando esse processo A nossa

visatildeo de rede assenta numa construccedilatildeo distribuiacuteda a rede do coletivo rede que tem poder na

matildeo de ningueacutem na matildeo de nenhuma associaccedilatildeo sem disputas poliacuteticas sem ideologias

partidaacuterias sem qualquer perspectiva que desagregue Falar de poder falar de empoderamento

no caso de redes eacute passar o poder passar a construccedilatildeo dessa noccedilatildeo de rede dessa noccedilatildeo de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo para as matildeos de quem eacute de direito que satildeo as Associaccedilotildees satildeo as

pessoas com doenccedilas raras

Natildeo cabe agrave Universidade natildeo cabe ao Ministeacuterio da Sauacutede natildeo cabe agrave Induacutestria

Farmacecircutica pautar as Associaccedilotildees com aquilo que pensam ser mais importante pelo

contraacuterio as Associaccedilotildees eacute quem devem dizer a esses interlocutores aquilo que eacute necessaacuterio a

informaccedilatildeo que querem que tipo de construccedilatildeo de conhecimento cientifico e de conhecimento

sobre doenccedilas raras precisam

Haacute quatro elementos que vatildeo ser principais na consolidaccedilatildeo da Rede Raras Primeiro o

Clustering ou seja deixar que a organizaccedilatildeo dessa rede apareccedila por si soacute deixar que vocecircs

das Associaccedilotildees de pacientes vocecircs aqui que se interessam pelo tema de doenccedilas raras que

vocecircs tragam elementos informaccedilatildeo e discussotildees para esse universo e espaccedilo que vamos

construir colaborativamente A segunda coisa importante eacute o Swarming que eacute permitir que essa

Rede se auto conduza Noacutes da Universidade de Brasiacutelia natildeo temos o menor interesse em

centralizar essas informaccedilotildees nos nossos repositoacuterios acadecircmicos NatildeoA gente quer que essa

informaccedilatildeo seja publicada partilhada e produzida por vocecircs e para vocecircs Cloning noacutes

queremos que os ramos dessa rede surjam espontaneamente Noacutes queremos que as associaccedilotildees

venham espontaneamente participar desse processo ajudem a construir essa Rede E por fim

o Crunching quanto maior a interatividade nessa Rede quando maior a troca de informaccedilatildeo

quanto maior a troca de expertises dessa futura Rede Raras mais forte ela vai ficar mais firme

103

os noacutes e as relaccedilotildees dessa rede vatildeo se estabelecer Essa eacute a noccedilatildeo de rede social que trazemos

aqui e que seraacute a base da Rede Raras Social natildeo eacute soacute um conjunto de pessoas mas eacute a interaccedilatildeo

entre essas pessoas

A construccedilatildeo de uma rede social somente existe se as associaccedilotildees de pacientes e as pessoas

interagirem Redes sociais tambeacutem natildeo satildeo somente ferramentas natildeo satildeo soacute o espaccedilo natildeo satildeo

soacute repositoacuterios satildeo pessoas interagindo Portanto natildeo adianta colocarmos um espaccedilo criar um

Facebook cover um Orkut cover ou alguma coisa parecida se eu natildeo tenho as pessoas

agregadas Redes sociais satildeo redes de comunicaccedilatildeo natildeo somente de informaccedilatildeo Eu natildeo posso

pretender que essa Rede Raras seja apenas um repositoacuterio de produccedilatildeo cientiacutefica Ela tem que

ser comentada por vocecircs tem que ser criticada por vocecircs ela tem que ser construiacuteda

conjuntamente Redes sociais satildeo ambientes de interaccedilatildeo natildeo somente de participaccedilatildeo Se

criarmos esse espaccedilo e ele ficar morto na internet perdido na internet isso natildeo vai fazer o

menor sentido Pedimos que as associaccedilotildees participem interajam Conhecimento eacute relaccedilatildeo

social Quando eu falo de rede social o conhecimento soacute emerge dessas interaccedilotildees Se eu falar

como eu jaacute falei aqui no iniacutecio que a Universidade de Brasiacutelia tem a pretensatildeo de agregar de

controlar essa rede eu estarei indo contra os princiacutepios de formaccedilatildeo de qualquer rede social

Porquecirc Porque eacute uma medida de natildeo rede Se eu concentrar essa rede na Universidade de

Brasiacutelia significa que eu tirei o poder de vocecircs que eu tirei o poder das Associaccedilotildees de

Pacientes de construir aquilo que elas querem aquilo que eacute a informaccedilatildeo necessaacuteria Entatildeo essa

perspectiva mais global eacute a ideia que trazemos agrave Rede Raras

Em suma eacute uma rede social online baseada em software livre com informaccedilatildeo livre

disponiacutevel para todos Cada interessado pode criar e moderar o seu proacuteprio espaccedilo esse espaccedilo

promove a formaccedilatildeo de grupos de blogs de paacuteginas envio de arquivos criaccedilatildeo de book

marcas links para as associaccedilotildees de vocecircs E ainda tem o microblog para comunicaccedilatildeo interna

de quem quiser participar dessa rede Essa aqui eacute a carinha da ferramenta A ferramenta bruta

Ela prevecirc espaccedilos especiacuteficos que devem ser preenchidos pelas associaccedilotildees A nossa eacute um

espaccedilo muito semelhante Quem frequenta Facebook quem frequenta Google Plus quem jaacute

frequentou Orkut vai conseguir se achar aqui sem nenhum problema Eacute uma rede um foacuterum

um grupo de discussatildeo Eacute um sistema que agrega diversas ferramentas Eacute possiacutevel criar perfisAgrave

medida que as pessoas agregarem informaccedilotildees conteuacutedos conhecimentos e forem

compartilhando as informaccedilotildees que tecircm sobre doenccedilas raras essa rede vai crescendo vai

agregando valor Por isso que eu faccedilo um apelo para vocecircs Eu natildeo estou preocupado em fazer

uma apresentaccedilatildeo muito acadecircmica Eacute mais um apelo eacute mais um chamado A gente precisa dos

104

Netweavers Quem que satildeo os Netweavers Satildeo as pessoas que articulam essa rede que estatildeo

trazendo esses elementos trazendo informaccedilatildeo11

Qual que eacute a nossa meta O representante da EURORDIS falou haacute pouco que eles possuem

essa rede em funcionamento na Europa que agrega participantes tambeacutem dos Estados Unidos

do Canadaacute da NORD12 e da CORD13 Como estamos usando o sistema Elgg que eacute todo

modular a nossa ideia eacute um dia aqui no Brasil termos uma rede de colaboraccedilatildeo nos moldes da

Rare Conect

O que temos nessa rede (wwwrareconnectorg) Tem informaccedilotildees trazidas pelos

pacientes tem informaccedilotildees trazidas pelos especialistas tem a contribuiccedilatildeo muacutetua entre

associaccedilotildees de pacientes Eacute esse espaccedilo livre onde as informaccedilotildees sobre as doenccedilas raras seratildeo

produzidas onde a comunicaccedilatildeo sobre doenccedilas raras vai ser feita onde as pessoas poderatildeo

buscar informaccedilotildees sobre as suas proacuteprias condiccedilotildees Eu vou encerrar por aqui Vou deixar o

endereccedilo e vou deixar aqui o apelo para vocecircs Na construccedilatildeo desse congresso fizemos muitas

discussotildees sobre como a gente iria conduzir essa questatildeo da rede dessa possibilidade futura

Mas eu queria fazer um apelo que as associaccedilotildees de pacientes aqui representadas fizessem pelo

menos a tentativa de explorar o espaccedilo dar sugestotildees ver as dificuldades de acesso para que a

gente consiga avanccedilar para uma rede como a Rare Connect

Obrigado gente e desculpem a informalidade

11 http16441147224fsrederaras 12 National Organization for Rare Disease wwwrarediseaseorg 13 Canadian Organization for Rare Disorders wwwraredisordersca

105

2ordf Mesa O que acontece no mundo

Yann Lee1 ndash Eacute um grande prazer estar com vocecircs

Pediram que eu apresentasse a Organizaccedilatildeo Europeia para Doenccedilas Raras e como tentamos

fazer o cuidado dos pacientes

Quem somos noacutes

EURORDIS eacute uma organizaccedilatildeo natildeo governamental dirigida para os pacientes A nossa

missatildeo eacute construir uma forte comunidade Europeia entre as Associaccedilotildees de pacientes e

diretamente ou indiretamente lutar contra o espaccedilo de doenccedilas raras na vida desses pacientes e

de suas famiacutelias Como vocecircs jaacute sabem haacute mais ou menos trinta milhotildees de pessoas que vivem

na Europa e satildeo afetadas por doenccedilas raras Quando noacutes falamos da Europa falamos em

quarenta e oito paiacuteses compondo esse conjunto A EURORDIS foi fundada em 1997 tem mais

de quinze anos e atualmente temos quase 600 organizaccedilotildees de pacientes e associaccedilotildees Estamos

em 54 paiacuteses ateacute fora da Europa em alguns casos e tambeacutem em 38 paiacuteses europeus Dentro da

nossa organizaccedilatildeo temos duas redes Uma chamada Alianccedilas Nacionais que eacute composta por 30

alianccedilas nacionais Tambeacutem temos 44 federaccedilotildees europeias Cada uma aborda um grupo ou

uma doenccedila rara ou um grupo de doenccedilas raras Juntos noacutes representamos mais de 4000

doenccedilas raras Para fazer as nossas atividades temos uma equipe de 26 pessoas em escritoacuterios

de Bruxelas e Barcelona e 130 voluntaacuterios Estes provavelmente satildeo a parte que eu mais me

orgulho porque satildeo eles que ajudam nas nossas atividades e na construccedilatildeo da nossa

comunidade

Uma das nossas formas de compor esta comunidade eacute organizando uma reuniatildeo anual de

membros que eacute uma reuniatildeo de dois dias com vaacuterios workshops e oficinas de capacitaccedilatildeo que

tentam envolver o maacuteximo possiacutevel de pacientes e famiacutelia de pacientes Noacutes comeccedilamos em

Barcelona em 2014 em Berlim e em 2015 seraacute em Madrid Organizamos esta reuniatildeo dedicada

aos pacientes agraves famiacutelias dos pacientes e levaacutemos os criadores de poliacuteticas puacuteblicas e

palestrantes

A conferecircncia europeia de doenccedilas raras acontece a cada dois anos com todos os parceiros

dessa organizaccedilatildeo As Conferecircncias comeccedilaram em 2001 em Copenhagen em 2012 em

Bruxelas e seraacute ano que vem em Berlim do dia oito a dez de maio E esta reuniatildeo tem mais

ou menos 700 participantes da Europa Tambeacutem construiacutemos a nossa comunidade atraveacutes

desse conselho de alianccedilas nacionais ligado agraves Doenccedilas Raras Noacutes temos um Conselho que

inclui vaacuterias alianccedilas Uma grande parceria acontece em Toronto e na Ameacuterica Latina aleacutem de

Taiwan e do JapatildeoTemos uma parceria especiacutefica entre a EURORDIS e a National

Organization for Rare Disorders nos EUA onde fazemos progressivamente parcerias em

atividades especiacuteficas

Este trabalho de alianccedilas nacionais trabalha especificamente no conceito que vocecircs jaacute

conhecem e noacutes tentamos trabalhar com uma estrateacutegia de accedilotildees e tambeacutem trabalhamos criando

planos nacionais para as doenccedilas raras Essa eacute nossa meta Outra rede principal com a qual

trabalhamos eacute a rede de Federaccedilotildees Europeias Satildeo 44 federaccedilotildees que fazem pesquisas

trabalhos em rede e centros de especializaccedilatildeo para estudar cada uma das doenccedilas raras Tambeacutem

trabalhamos com legislaccedilatildeo para os pacientes Coletamos informaccedilotildees e fazemos nossa rede

atraveacutes de algumas ferramentas Temos um site em sete liacutenguas diferentes que inclui portuguecircs

Temos muitas publicaccedilotildees em portuguecircs e provavelmente podem ser acessadas em todo o

Brasil Tambeacutem temos o site em espanhol e em inglecircs com bastante informaccedilatildeo Mas nas

1 Presidente da Europe Rare Diseases ndash EURORDIS (via skype)

106

outras liacutenguas tambeacutem temos bastante informaccedilatildeo traduzida Tambeacutem temos um email feito

nos sete idiomas incluindo portuguecircs Temos publicaccedilotildees documentos e brochuras e tudo

pode ser encontrado numa sessatildeo digital no site Noacutes temos um blog internacional mas mais

importante que isso noacutes temos comunidades online para os pacientes onde eles podem se

conectar ndash ldquoWe Are Connectrdquo

As principais conquistas ateacute agora tecircm sido para contribuir com a adoccedilatildeo de uma

regulaccedilatildeo na Uniatildeo Europeia direcionada agraves doenccedilas raras e para o desenvolvimento de

tecnologia para as doenccedilas raras na Europa Tambeacutem participamos de um documento sobre o

uso pediaacutetrico de produtos medicinais no acircmbito das doenccedilas raras em 2006 e em 2007 num

tratado de terapia avanccedilada meacutedica nessa aacuterea

Em 2012 trabalhamos um documento sobre os direitos dos pacientes que eacute transfronteiriccedilo

e abrange os direitos dos pacientes na Europa Tambeacutem contribuiacutemos para a adoccedilatildeodo uso de

um texto fundador que ajuda a formular a Poliacutetica Europeia sobre Doenccedilas Raras Hoje

trabalhamos muito de perto com vocecircs no desenvolvimento das poliacuteticas que estatildeo sendo

implementadas e criadas no Brasil E estamos trabalhando em conjunto como parceiros

Uma coisa muito importante para vocecircs do Brasil eacute que em conjunto com as legislaccedilotildees

noacutes tambeacutem estamos promovendo a doenccedila rara como prioridade na agenda poliacutetica em termos

de accedilotildees De 2007 a 2013 noacutes tivemos 500 milhotildees de euros dedicados agrave pesquisa atraveacutes da

promoccedilatildeo das doenccedilas raras Realmente eacute um crescimento muito grande no investimento e eu

acredito que no Brasil vocecircs tambeacutem querem ter essa mesma abordagem entre os principais

estados e a Federaccedilatildeo Nacional a niacutevel nacional Essa articulaccedilatildeo seria muito beneacutefica para

todos vocecircs O dia das doenccedilas raras acontece no uacuteltimo dia de fevereiro todos os anos porque

o dia das doenccedilas raras geralmente ou eacute dia 28 ou eacute dia 29 de fevereiro Foi criado no ano de

2008 pela EURORDIS junto com as suas Alianccedilas Nacionais Eu diria que esta foi nossa maior

contribuiccedilatildeo para a comunidade Vocecircs do Brasil satildeo muito participativos e a vossa influecircncia

providenciando diferentes ferramentas conteuacutedos mensagens viacutedeos e ideias apoiam as

discussotildees que ocorrem entre as Alianccedilas Nacionais

Na Ameacuterica do Norte nos Estados Unidos tambeacutem coordenamos alguns eventos desde o

ano de 2009 com os nossos parceiros No ano de 2013 tivemos uma participaccedilatildeo de 70 paiacuteses

no dia das doenccedilas raras Noacutes temos seis anos de experiecircncia em relaccedilatildeo a esse dia especiacutefico

das doenccedilas raras e a cada ano promovendo assuntos diferentes mas promovendo sempre o

cuidado por exemplo ldquoCuidado do Paciente - um Assunto Puacuteblicordquo ldquoPesquisa para os pacientes

- um assunto raro mais igual igual mas mais forterdquo Estamos focando este assunto de uma forma

local mas tambeacutem internacionalmente

Todos noacutes podemos melhorar a qualidade do cuidado dos pacientes com doenccedilas raras

Gostaria de concluir com aludindo ao poder das Associaccedilotildees de pacientes primeiramente

na pesquisa no diagnoacutestico no cuidado e no plano nacional A voz empoderada das

Organizaccedilotildees dos pacientes atraveacutes da anaacutelise natildeo somente baseada em anedotas ou

testemunhos eacute muito importante sobretudo o seu papel nas pesquisas atraveacutes da coleta de

dados Aleacutem disso estas organizaccedilotildees tecircm sido muito importantes no diagnoacutestico As

sssociaccedilotildees podem providenciar apoio financeiro agraves pesquisas e ajudar na criaccedilatildeo de uma

abordagem transacional

Tambeacutem temos observado junto com os colegas acadecircmicos que quando as organizaccedilotildees

de pacientes trabalham juntas e satildeo muito ativas na pesquisa e daqui resultauma rede que estaacute

crescendo e tudo isto satildeo fatores chave para o sucesso para promover mais a pesquisa cientiacutefica

e para gerar mais conhecimento na aacuterea Para dar um exemplo as organizaccedilotildees de pacientes

participam em diferentes redes de pesquisa elas participam em redes de pesquisa muito

teacutecnicas como terapia gecircnica ou a rede de pesquisa cliacutenica na Europa mas tambeacutem em projetos

especiacuteficos sobre doenccedilas raras concretas Com base nessas pesquisas nessas abordagens que

as Associaccedilotildees trazem sobre os pacientes e sobre as atividades de pesquisa noacutes podemos

107

promover documentos ajudar a criar as associaccedilotildees a formular poliacutetica de pesquisa Por

exemplo por que pesquisar doenccedilas raras Esta eacute uma aacuterea a que as associaccedilotildees podem dar

muito apoio

No ano passado noacutes organizamos uma pesquisa que contou com a participaccedilatildeo de 3000

pacientes e pais E por causa do levantamento que foi feito noacutes geraacutemos e publicaacutemos e a

primeira Declaraccedilatildeo Conjunta entre associaccedilotildees Uma declaraccedilatildeo de 10 chaves principais para

os pacientes de doenccedilas raras baseada em pesquisas em terapias mas que serve tambeacutem para

o apoio de serviccedilos de sauacutede Isso tem contribuiacutedo por exemplo para a elaboraccedilatildeo de uma

recomendaccedilatildeo europeia feita por uma comissatildeo de especialistas em doenccedilas raras Atraveacutes

deste exemplo vocecircs podem observar como os pacientes tecircm contribuiacutedo como parceiros junto

com os seus colegas acadecircmicos E natildeo soacute contribuindo como agentes de pesquisa mas

tambeacutem ajudando a formular uma poliacutetica e um processo

Noacutes tambeacutem temos trabalhado com cuidado e diagnoacutestico Fazemos levantamento junto

dos pacientes sobre o acesso ao cuidado e coletamos muita informaccedilatildeo para ser usada no nosso

trabalho de advocacy O fato de 25 dos pacientes terem dito que que estavam esperando entre

cinco a trinta anos desde os seus primeiros sintomas para conseguirem um diagnoacutestico eacute muito

seacuterio e sugere uma intervenccedilatildeo meacutedica incorreta ou ateacute cirurgias incorretas Este eacute um dado

muito interessante O resultado dessa pesquisa foi publicado num livro que pode ser baixado

no site e se chama ldquoA voz de doze mil pacientesrdquo Isto daacute uma ideia clara de alguns pontos

ligados ao diagnoacutestico e cuidado Esse livro tem sido muito importante para a formulaccedilatildeo de

uma poliacutetica europeia da Uniatildeo Europeia mas tambeacutem para as poliacuteticas nacionais

Eacute importante a anaacutelise da situaccedilatildeo para ver qual eacute a realidade das necessidades e quais satildeo

as prioridades Os pacientes satildeo quem tem uma visatildeo a longo prazo porque eles e as famiacutelias

realizam o cuidado dessas doenccedilas raras a tempo integral Eles possuem uma visatildeo muito mais

longo prazo do que os outros parceiros E isso provavelmente eacute uma das principais

contribuiccedilotildees dos pacientespara criar uma nova poliacutetica para o futuro Esta eacute a importacircncia de

envolver os pacientes no processo

A EURORDIS eacute o principal parceiro na organizaccedilatildeo de seminaacuterios nacionais e

internacionais sobre doenccedilas raras usando a metodologia e as melhores praacuteticas para conduzir

tais seminaacuterios Para que tudo isso possa acontecer de uma forma consistente e cooperativa os

pacientes tem oito representantesA participaccedilatildeo o empoderamento do paciente acontece a niacutevel

nacional internacional e para o desenvolvimento de poliacuteticas e realizaccedilatildeo de pesquisas

Sobre o desenvolvimento de medicamentos noacutes tambeacutem participamos ativamente em

diferentes comitecircs cientiacuteficos como o comitecirc para produtos pediaacutetricos o comitecirc para

medicamentos oacuterfatildeos e o comitecirc para terapias avanccediladas Aleacutem desta participaccedilatildeo em comitecircs

de medicamentos tambeacutem participamos no Consoacutercio internacional de pesquisa em doenccedilas

raras que foi estabelecido em diversos paiacuteses do mundo e que tem firmes objetivos

Convidamos vocecircs a participarem no proacuteximo dia de doenccedilas raras Se juntem a noacutes para

o melhor cuidado a doenccedilas raras

Muito obrigado

Virgiacutenia Llera2 ndash Em primeiro lugar muito obrigada Eacute uma honra estar no Brasil e com

vocecircs uma vez mais

Desde 2007 a Geiser que eacute a Organizaccedilatildeo latino-americana de doenccedilas raras trabalha com

os companheiros e colegas do Brasil Eu quero agradecer muito ao Rogeacuterio porque estou

realmente muito impressionada e contente pelo progresso que teve a AMAVI

2 Fundacion Geiser

108

A Geiser nasceu em 2002 na Argentina e agora estamos trabalhando em todo o continente

Temos delegados no Chile no Uruguai no Peru no Panamaacute no Brasil na Repuacuteblica

Dominicana no Equador no Meacutexico e tambeacutem em Washington Ao longo destes anos temos

gerado conhecimento acerca do que acontece em nosso continente Entatildeo por quecirc falar de

Ameacuterica Latina se jaacute temos bastantes problemas para pensar soacute aqui no Brasil Por quecirc

complicar

Eu na verdade acredito que tenho este papel o papel de complicar sobretudo o Ministeacuterio

da Sauacutede de cada um dos paiacuteses Na verdade ainda tem muito para fazer e se natildeo existe a

possibilidade de unir natildeo eacute possiacutevel gerar soluccedilotildees estrateacutegicas viaacuteveis a meacutedio e longo prazo

para as doenccedilas raras Para essas doenccedilas a medida para ser exitosa deve sair do niacutevel nacional

e gerar uma uniatildeo mais alargada

O que temos de positivo na Ameacuterica Latina eacute a proposta de trabalhar em conjunto com

todos os paiacuteses Em primeiro lugar temos a importante populaccedilatildeo de 600 milhotildees de habitantes

e temos um contexto paciacutefico ateacute ao momento As barreiras entre linguagens satildeo mais faacuteceis

Eu os entendo quando falam em portuguecircs e vocecircs me entendem E assim somos muito felizes

porque na realidade podemos facilmente nos entender pelo menos nos aspectos mais baacutesicos

Temos uma histoacuteria comum temos a possibilidade de argumentar possibilidades Temos

tambeacutem nossos desafios econocircmicos digamos que os desafios econocircmicos do Brasil

considerando que tem uma populaccedilatildeo muito maior satildeo similares aos demais paiacuteses latino-

americanos Tambeacutem temos paiacuteses que estatildeo liderando economicamente um protagonismo

internacional Temos a possibilidade de integrar estas iniciativas regionais a meacutedio e longo

prazo Lamento natildeo temos um levantamento seacuterio dos recursos jaacute existentes na Ameacuterica Latina

como por exemplo a EUROCAT3 na Europa Muitas das maacutes formaccedilotildees craniofaciais satildeo

doenccedilas raras Natildeo todas mas cerca de 80 de todas as doenccedilas raras satildeo geneacuteticase dependem

de muitos fatores que tecircm a ver com o ambiente e que natildeo podemos deixar todavia de estudar

Temostrabalhos epidemioloacutegicos em doenccedilas raras designadamentesobre o levantamento

de recursos exigidos para entender quais satildeo os recursos de que se necessita para saber quais

as combinaccedilotildees desses recursos exigidose ainda para fazer um levantamento das caracteriacutesticas

por nacionalidade e necessidades da populaccedilatildeo

Finalmente a Geiser como uma instituiccedilatildeo possui metas para alcanccedilar os seus objetivos

e uma delas eacute gerar relaccedilotildees institucionais entre os niacuteveis nacionais regionais e internacionais

Para alguns estudiosos dos 500 milhotildees de habitantes que temos na Ameacuterica Latina 218

milhotildees precisam de seguranccedila social Existe uma deficiecircncia na quantia financeira utilizada

pela Ameacuterica Latina e Caribe em 2008 Isso foi estimado em 73 milhotildees de doacutelares que

equivalem a 23 do gasto nacional em sauacutede para bens e serviccedilos nos Estado Unidos

A Ameacuterica Latina natildeo investe em sauacutede isto se falarmos de posiccedilatildeo poliacutetica e temos que

comeccedilar pensando que a sauacutede deve ser uma prioridade da naccedilatildeo 78 dos gastos correspondem

a mais ou menos sete doacutelares e meio E existe um problema importante a fragmentaccedilatildeo na

lideranccedila na persistecircncia da inequidades em sauacutede o que quer dizer que natildeo pode ser tratado

do mesmo jeito algueacutem que vive em qualquer capital de qualquer paiacutes Latino Americano e

algueacutem que vive no interior desses paiacuteses

92 dos paiacuteses da Ameacuterica Latina tem trabalhado em protocolos necessaacuterios para as

medicinas essenciais Na verdade isso varia entre 30 a 46 para cobrir 650 medicamentos e natildeo

estamos falando dos oacuterfatildeos mas dos medicamentos no total para cuidados essenciais

Finalmente a expiraccedilatildeo de algumas patentes nos Estados Unidos permitiu a introduccedilatildeo de

algumas patentes de biotecnologia no Brasil em 4 e na China com 24 Este slide mostra

onde se vecirc a inversatildeo que a Ameacuterica Latina tem feito em investigaccedilatildeo

3 httpwwweurocat-networkeu

109

Embora o Brasil esteja melhor em termos de patentes e investigaccedilatildeo na realidade estamos

muito longe de poder gerar uma visatildeo estrateacutegica que possua investigaccedilotildees seacuterias e nos

permitam estar em outra posiccedilatildeo

Temos atualmente quatro paiacuteses com leis nacionais sobre doenccedilas raras Argentina

Colocircmbia Equador e Peru Quero dizer que este primeiro passo eacute muito importante que

estamos muito contentes Assumimos isto como um resultado de 11 anos em que a Geiser vem

trabalhando no continente

O que significa ter uma lei sobre doenccedilas raras E por que isso eacute tatildeo importante Porque

essas situaccedilotildees sociais almejam um documento de nacionalidade e identidade o que significa

que institucionalmente existem entidades legais para serem reclamadas Se natildeo existem leis

em um paiacutes a proacutepria denominaccedilatildeo desde a instituiccedilatildeo nacional do que satildeo as enfermidades

raras fica difiacutecil de entender Por outro lado todas estas leis incluem a definiccedilatildeo a produccedilatildeo

de registros os programas educacionais os reembolsos os serviccedilos de sauacutede a informaccedilatildeo e a

inclusatildeo social embora de forma variaacutevel

Quais satildeo os problemas entre essas leis e outras que poderiacuteamos analisar Em primeiro

lugar os conceitos das leis nacionais surgidas entre os diversos paiacuteses satildeo diferentes Criou-se

uma barreira interna para depois gerar projetos comuns e planos estrateacutegicos em conjunto As

leis nacionais natildeo possuem relaccedilatildeo Eu tenho feito parte do conselho assessor da uacutenica lei

provincial desse regulamento que basicamente busca ter registros que cumpram com as

instacircncias internacionais Na Ameacuterica Latina satildeo poucos os paiacuteses que tecircm as enfermidades

raras definidas sobretudo aqueles com maior populaccedilatildeo Aleacutem disso os dados que podemos

obter acerca do gasto econocircmico de cada paiacutes com enfermidades raras natildeo eacute acessiacutevel Natildeo haacute

inclusatildeo e quando haacute como eacute o caso por exemplo de algumas leis natildeo eacute clara a participaccedilatildeo

dos pacientes

Quero mostrar rapidamente a posiccedilatildeo dos pacientes como membro da Associaccedilatildeo

Internacional de Avaliaccedilotildees Tecnoloacutegicas em Sauacutede Sou parte de um grupo de cidadatildeos que

fiz uma Ementa internacional que natildeo tem validade sem ter alguns indicadores Participaram

14 paiacuteses da Ameacuterica Latina Na realidade os participantes foram na maioria pacientes mas

tambeacutem cuidadores e alguns profissionais Estes dados revelam que Entre 13e 44 estatildeo muito

inconformados e soacute entre um e 33 estavam satisfeitos e muito satisfeitos Este cenaacuterio soacute

muda se considerarmos aqui paiacuteses como a Austraacutelia e o Canadaacute

O que eacute que os pacientes dizem ser mais difiacutecil para eles Ou que eacute mais importante para

eles em termos de identificaccedilatildeo

63 disse que tem dificuldade em identificar um meacutedico 59 em conseguir um

diagnoacutestico 53 em aprender acerca de sua enfermidade e 52 em encontrar um tratamento

Portanto o tratamento natildeo estaacute no iniacutecio jaacute que 47 afirma ainda ter dificuldade em encontrar

um grupo de suporte Eacute portanto necessaacuterio que seja gerado suporte e cresccedilam os grupos

suporte

Quanto aos medicamentos oacuterfatildeos o Governo de diferentes paiacuteses da Ameacuterica Latina

tampouco tem legislaccedilatildeo clara acerca do que satildeo medicamentos oacuterfatildeos pelo que eacute muito

importante chegar a acordos nesse sentido A proposta eacute diferente daquela que se implanta

atualmente no Ministeacuterio da Sauacutede do Brasil A proposta da Organizaccedilatildeo Panamericana de

sauacutede eacute que existam oacutergatildeos centralizados para a negociaccedilatildeo e para a descentralizaccedilatildeo dos

recursos para o cuidado Torna-se importante senatildeo fundamental que exista um organismo que

seja especiacutefico das enfermidades raras

Em relaccedilatildeo aos pacientes todas as enfermidades crocircnicas estatildeo mal cobertas portanto eacute

necessaacuterio que surja um espaccedilo especiacutefico para as enfermidades raras porque senatildeo vatildeo ficar

imersos em patologias ou em problemas mais frequentes como as enfermidades crocircnicas

desvinculando-se de suas caracteriacutesticas proacuteprias

110

Estas satildeo as propostas da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede em relaccedilatildeo aos medicamentos

oacuterfatildeos e as conclusotildees satildeo que na realidade as enfermidades raras e os medicamentos oacuterfatildeos

satildeo um problema de grande importacircncia que implicam um impacto econocircmico importante para

toda a populaccedilatildeo Existe uma separaccedilatildeo entre o Governo e as necessidades da populaccedilatildeo eas

Associaccedilotildees Latinoamericanas precisam ser mais visiacuteveis A Ameacuterica Latina precisa de planos

masters e natildeo soacute de accedilotildees pontuais que podem ser muito boas muito positivas sinal que temos

que aprender a trabalhar juntos e de uma maneira inteligente

Obrigada

Segolene Aymeacute4 ndash Primeiro eu gostaria de parabenizaacute-los pelo evento Na Europa a nossa

experiecircncia comeccedilou cautelosamente haacute 15 anos atraacutes

Eu vou abordar as soluccedilotildees que noacutes encontraacutemos e o quanto elas satildeo apropriadas para as

doenccedilas raras sendo assim um bom caminho para vocecircs seguirem

O nosso estatuto de drogas oacuterfatildes eacute de haacute 15 anos atraacutes mas claro que as drogas oacuterfatildes satildeo

apenas um elemento da poliacutetica Eacute necessaacuterio os pacientes terem acesso agraves drogas quando elas

satildeo desenvolvidas mas soacute 400 doenccedilas raras tecircm drogas O que eacute realmente importante eacute ter

publicaccedilotildees aprovadas porque o sistema tem que se adaptar agraves especificidades das doenccedilas

raras Nisto eu concordo com a apresentaccedilatildeo do Ministeacuterio que diz natildeo precisar de um

departamento oficial para as doenccedilas raras Na verdade precisam da sua implementaccedilatildeo oficial

e o sistema em geral eacute que tem que se adaptar agraves doenccedilas raras

Noacutes temos um programa para pensar como organizar o sistema e a primeira decisatildeo foi

melhorar os ambientes ambiente dos pacientes ambiente das enfermidades das poliacuteticas

promover informaccedilotildees principalmente pela internet A primeira coisa feita na Europa foi o

estabelecimento de um espaccedilo que na verdade era um site que estaacute tambeacutem em portuguecircs e eacute

muito visitado por pessoas do Brasil E este fez grandes diferenccedilas porque ali estatildeo informaccedilotildees

sobre deficiecircncias pacientes e os pacientes acessam os dados que abordam a deficiecircncia A

segunda coisa que fizemos foi montar um Network para sinalizar para os especialistas e cliacutenicos

que queriacuteamos especialistas colaborando na geraccedilatildeo de informaccedilotildees relevantes que incluem

vaacuterias corporaccedilotildees natildeo apenas com um paiacutes mas com os outros paiacuteses Entatildeo esta foi uma

decisatildeo muito relevante

Hoje em dia os hospitais fazem os diagnoacutesticos baseados na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras mas essa classificaccedilatildeo de doenccedilas raras natildeo inclui as maacutes formaccedilotildees

craniofaciais Entatildeo se as doenccedilas craniofaciais natildeo constarem na classificaccedilatildeo internacional de

doenccedilas raras essas doenccedilas tornam-se invisiacuteveis Assim na publicaccedilatildeo seguinte da

classificaccedilatildeo de Doenccedilas raras as doenccedilas craniofaciais passaram a estar incluiacutedas Esta foi uma

vitoacuteria Noacutes estabelecemos um Comitecirc de peritos em doenccedilas craniofaciais e eu quero insistir

nisso porque acho que eacute importante vocecircs saberem isso eacute uma organizaccedilatildeo social onde as

pessoas se expressam dizem as suas necessidades onde a voz do povo eacute ativa Mas vocecircs natildeo

podem fazer isso se natildeo tiverem os peritos e cliacutenicos com vocecircs neste caminho Neste comitecirc

que temos na Europa noacutes temos mais de 50 e todos eles possuem voz e representam todo

mundo Na Franccedila somos mais avanccedilados em alguma aacutereas embora os japoneses sejam

melhores em outras aacutereas mas isso eacute fascinante e podemos copiar o que eacute trabalhado em outros

paiacuteses

Noacutes colocamos muita energia na promoccedilatildeo do network entre os paiacuteses sobre as doenccedilas

raras Conseguimos convencer os Estados Unidos a fazerem parte da Associaccedilatildeo Internacional

de Doenccedilas Raras e eu torccedilo para que o Brasil faccedila parte tambeacutem jaacute que estou convidando Esta

eacute uma iniciativa onde os paiacuteses discutem prioridades Temos uma plataforma para registrar e

encontrar as doenccedilas raras e este eacute um futuro muito bonito Noacutes podemos mensurar o efeito de

4 EU Committee of Experts of Rare Diseases ndash EUCERD

111

todas estas iniciativas porque temos incentivos das induacutestrias Noacutes podemos dizer que nada

disso teria acontecido se natildeo tiveacutessemos trabalhado com as Organizaccedilotildees promovido o network

para construccedilatildeo das poliacuteticas e junto com os Ministeacuterios natildeo tiveacutessemos uma uacutenica voz

expressando o que a sociedade civil queria Entatildeo por favor faccedilam com que as organizaccedilotildees

trabalhem juntas

Em vaacuterios paiacuteses tivemos de instalar uma organizaccedilatildeo para os pacientes com doenccedilas raras

e estabelecer o contato com os Ministeacuterios da Sauacutede E fizemos um acordo Em dezembro noacutes

fechaacutemos algo que obriga os paiacuteses a terem um plano para doenccedilas raras Eacute claro que alguns

paiacuteses tecircm um plano mas natildeo o colocam em praacutetica o que mostra que o plano eacute pouco efetivo

mas tambeacutem haacute paiacuteses com estrateacutegias muito boas

Eacute preciso a que todos os meacutedicos e pacientes saibam onde estaacute a expertise Eacute muito

gratificante e difiacutecil de organizar isto tudo mas noacutes sabemos o trabalho que tivemos e os erros

que cometemos Se vocecircs estiverem interessados temos este relatoacuterio do que recomendamos

e eu estarei pronta a ajudar Noacutes temos documentos de qualidade para definir quatildeo expert eacute cada

centro Noacutes temos os laudos dos laboratoacuterios e aqui podemos ver os nuacutemeros com as doenccedilas

que foram testadas neste paiacutes e em paiacuteses natildeo europeus outros testes Entatildeo se vocecircs

escolherem doenccedilas craniofaciais vocecircs tecircm um leque de atividades e que assim noacutes podemos

colaborar Precisamos de mais corporaccedilotildees e melhores informaccedilotildees sobre doenccedilas raras Noacutes

oferecemos um site em sete liacutenguas Por favor usem este site O Brasil participa com o network

e tem acesso a todas as informaccedilotildees deste site e ele daacute conselhos sobre gastos organizaccedilatildeo

laboratoacuterios registros e isso eacute muito vaacutelido para as visitas do Brasil e noacutes temos cerca de 2000

visitas por dia

Noacutes disponibilizamos todos estes documentos no site que vocecircs podem usarTemos a lista

de doenccedilas raras em portuguecircs e isto eacute muito valioso para que possam mostrar para os

Ministeacuterios mas tem vaacuterios outros documentos

Concluindo eu posso dizer que eacute possiacutevel ter um impacto real sobre as poliacuteticas como noacutes

temos feito na Europa Com certeza a dinacircmica vai ser nacional porque eacute onde a poliacutetica vai

ser encontrada mas assim como jaacute disseram vocecircs podem contribuir para a evoluccedilatildeo

internacional porque muitas das colaboraccedilotildees satildeo testadas internacionalmente E insistam em

networks e organizaccedilotildees e usem a nossa experiecircncia e encontrem vosso caminho Porque com

certeza cada paiacutes eacute especiacutefico

Obrigada

112

3ordf Mesa A inclusatildeo juriacutedica das pessoas com doenccedilas raras e as

tecnologias sociais

Marcelo Neves1 ndash A questatildeo que eu vou tratar aqui eacute sobre o problema de inclusatildeo juriacutedica

porque a questatildeo que noacutes estamos tratando eacute a questatildeo de acesso aos benefiacutecios sociais e acesso

a direitos Neste sentido o problema das doenccedilas raras passa por uma questatildeo de inclusatildeo social

e inclusatildeo juriacutedica Eacute claro que haacute as formas diversas de exclusatildeo a exclusatildeo que eacute fundada

economicamente em que a pessoa natildeo tem as condiccedilotildees de acesso agrave economia agrave sauacutede e agrave

educaccedilatildeo por fatores econocircmicos mas natildeo eacute soacute essa a forma de exclusatildeo embora tatildeo comum

na Ameacuterica Latina

Haacute a forma de exclusatildeo que decorre da falta do reconhecimento do outro como pessoa e

isso pode levar agrave exclusatildeo na medida em que se generaliza institucionalmente e natildeo fica apenas

numa esfera limitada privada Eacute aiacute que noacutes temos a exclusatildeo decorrente na negaccedilatildeo do

reconhecimento eacutetnico do reconhecimento do gecircnero exclusatildeo de grupos eacutetnicos da mulher

por opccedilatildeo sexual tambeacutem contra os homossexuais e ateacute mesmo decorrente de caracteriacutesticas

regionais

Uma dessas exclusotildees decorrente da falta de reconhecimento eacute aquela que atinge as pessoas

com deficiecircncias isso implica falta de acesso a benefiacutecios sociais e tambeacutem a falta de acesso a

direitos fundamentais Nesse plano natildeo se trata apenas de poliacuteticas de poliacuteticas gerais sociais

gerais mas de poliacuteticas especiais inclusive accedilotildees afirmativas pois estas no seu caraacuteter

compensatoacuterio natildeo satildeo contraacuterias agrave igualdade pelo contraacuterio possibilitam o exerciacutecio e a

efetivaccedilatildeo do princiacutepio da igualdade Para que haja inclusatildeo na aacuterea da sauacutede noacutes temos que

considerar o direito agrave sauacutede como um direito determinado Natildeo se trata de um direito civil

individualista que se realiza adjucatoriamente de uma maneira isolada como a defesa da

propriedade da liberdade de expressatildeo e da liberdade de consciecircncia Estes satildeo direitos

especificamente civis as chamadas liberdades negativas Aqui se trata de um direito agrave

prestaccedilatildeo do Estado aos direitos sociais

Os direitos sociais embora possam ser exercidos individualmente natildeo satildeo direitos

tipicamente individuais eles pressupotildeem toda uma estrutura social atuando a favor do

respectivo indiviacuteduo e neste sentido o direito agrave sauacutede eacute entendido como direito social Mas na

soluccedilatildeo dos problemas especialmente no caso de doenccedilas raras e considerando o direito agrave

sauacutede garantido universalmente e integralmente pela Constituiccedilatildeo noacutes temos dois caminhos no

Brasil Um eacute a soluccedilatildeo judicial O modelo que seria uma exceccedilatildeo excepcionaliacutessima passa a ser

a regra e neste momento que o modelo judicial que eacute muito mais adequado para as demandas

de direito civil passa a ser a regra noacutes temos um desastre no modelo de Sauacutede Puacuteblica Quer

dizer porque o judiciaacuterio natildeo estaacute pareado para resolver e oferecer poliacuteticas puacuteblicas ele decide

em cada caso concreto muitas vezes distorcendo todo o sistema de sauacutede com muitas vezes

indenizaccedilotildees ou pagamentos de tratamentos milionaacuterios para pessoas de classes mais elevadas

destruindo toda a poliacutetica municipal preventiva na aacuterea social como ocorreu nos municiacutepios

Esse modelo natildeo eacute um modelo que possa ser considerado consequente O que precisamos eacute que

o judiciaacuterio fique no pano de fundo secundaacuterio O que precisamos eacute de poliacuteticas puacuteblicas

fundadas na legislaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo pelo executivo A legislaccedilatildeo tambeacutem eacute uma ilusatildeo

porque assim a gente cai no simbolismo na legislaccedilatildeo simboacutelica Vocecirc cria uma lei e sai todo

mundo feliz daqui criaram a lei tal criaram a convenccedilatildeo da pessoa deficiente Isso em si mesmo

1 Professor Titular de Direito puacuteblico da UnB

113

eacute muito pouco porque a legislaccedilatildeo muitas vezes eacute feita para acalmar os acircnimos e para eleger

os poliacuteticos na proacutexima eleiccedilatildeo A isto se chama legislaccedilatildeo simboacutelica pois natildeo se criam as

condiccedilotildees para a sua efetividade A mesma coisa acontece com a nossa Constituiccedilatildeo que em

grande parte eacute uma constitucionalizaccedilatildeo simboacutelica jaacute que ela tem pouca eficaacutecia praacutetica em

vaacuterios dos seus dispositivos

Natildeo se trata entatildeo apenas de legislaccedilatildeo Tem que haver uma complementaccedilatildeo da poliacutetica

por um executivo que esteja disposto a realocar recursos neste sentido Noacutes precisamos de

transformaccedilotildees profundas na relaccedilatildeo com a sauacutede Evidentemente a relaccedilatildeo entre o legislativo

e o executivo nas poliacuteticas puacuteblicas natildeo daraacute certo se natildeo existir uma sociedade civil altamente

articulada principalmente no oferecimento de informaccedilatildeo e que possa pressionar os poderes

puacuteblicos Natildeo soacute oferecer elementos cognitivos elementos informacionais e modelos para

soluccedilatildeo do problema mas tambeacutem pressionar os poderes puacuteblicos

E quanto as doenccedilas raras

O Professor Maacuterio Saporta ontem falou de mais de 7000 doenccedilas raras e isso implica

custos altos na aacuterea de pesquisa Para enfrentar isso noacutes temos a sociedade civil evidentemente

Tecircm que existir redes de informaccedilotildees mas precisamos de pesquisas nos centros de pesquisa

das Universidades pesquisas intensas que precisam de financiamento E evidentemente

decorrente destas pesquisas noacutes poderemos ter unidades de sauacutede puacuteblica para diagnoacutestico e

tratamento Mas sem essa base que eacute cariacutessima de pesquisa como acentuou ontem o Professor

noacutes natildeo teremos condiccedilotildees de possibilitar modelos adequados de sauacutede puacuteblica e tambeacutem de

classificaccedilatildeo de medicamentos a entrar numa eventual futura lista do SUS N esse sentido isto

eacute algo caro

Um deputado ontem falava o deputado Pestana muito preparado ldquose eu dou muito

dinheiro para doenccedilas raras eu vou prejudicar o saneamento baacutesico o caraacuteter preventivo das

esquistossomoses dessas doenccedilas mais populares que atingem em massa a populaccedilatildeordquo Me

parece no entanto que eacute enganosa a ideia dele

Na sauacutede puacuteblica os recursos devem ser racionalizados e a racionalizaccedilatildeo de recursos natildeo

eacute tirar de uma aacuterea da sauacutede para pocircr na outra Eacute realmente realocar dinheiro que estaacute em

mordomias governamentais em gastos que paiacuteses desenvolvidos como a Escandinaacutevia a

Alemanha que tem um bom Sistema Puacuteblico de sauacutede natildeo existem Quer dizer o poliacutetico vai

de metrocirc para o Parlamento natildeo tem carro para poliacutetico carro para ministro do supremo eles

andam com seu taacutexi pagando com seu dinheiro Os custos de mordomias e a corrupccedilatildeo dentro

do proacuteprio Ministeacuterio da Sauacutede a alta corrupccedilatildeo prejudicam a falta de recursos na sauacutede Natildeo

se trata de tirar dinheiro daquela massa de excluiacutedos da sauacutede para trazer para as doenccedilas raras

Natildeo se trata disso se trata de realocar recursos que natildeo servem ao desenvolvimento do Brasil

mas sim a satisfaccedilatildeo de elites e de elites que satildeo privilegiadas ou sobreintegradas que estatildeo

acima da lei e estatildeo acima da proacutepria Constituiccedilatildeo Neste sentido eacute fundamental portanto a

reduccedilatildeo com gastos desnecessaacuterios e combate agrave corrupccedilatildeo para que noacutes tenhamos poliacuteticas

seacuterias e consequentes de acesso agrave sauacutede especialmente para as doenccedilas raras

Para terminar se trata da pessoa e natildeo da doenccedila rara eacute a pessoa com deficiecircncia e a

pessoa implica a natildeo animalizaccedilatildeo do outro a natildeo tratar o outro como mera corporeidade mas

tratar o outro como algueacutem que eacute reconhecido socialmente produtor de sentido e com

sentimentos Neste sentido eu concluo afirmando que todo o trabalho articulado entre

sociedade civil o legislativo e o executivo implica algo que eacute a afirmaccedilatildeo da pessoa com doenccedila

como incluiacuteda integralmente como pessoa partindo evidentemente do princiacutepio Constitucional

da dignidade da pessoa humana

Muito obrigado

114

Muna Odeh2 ndash Boa tarde

O tema em questatildeo refere-se a tecnologias sociais Eu vou fazer uma introduccedilatildeo sobre o

que satildeo as tecnologias sociais qual eacute o cenaacuterio no contexto do Brasil e vou situar em que sentido

eu vejo a experiecircncia especiacutefica da AMAVI e como ela reflete ou como ela representa

caracteriacutesticas de uma tecnologia social E por fim o que isso significa

Eu gostaria de chamar a atenccedilatildeo de vocecircs que estiveram aqui hoje de manhatilde para um dado

que foi recorrente nas apresentaccedilotildees Tanto no contexto do Brasil como no cenaacuterio

internacional a questatildeo eacute o foco o papel e a importacircncia central dos movimentos sociais neste

cenaacuterio e qual eacute o impacto disso Eu vou tambeacutem assinalar que eu fiz uma extraccedilatildeo de muitas

das correspondecircncias que eu tenho recebido do Rogeacuterio representando a AMAVI e atraveacutes

disto vou mostrar como eu analiso a situaccedilatildeo desta Associaccedilatildeo

A AMAVI se identifica como organizaccedilatildeo natildeo governamental apartidaacuteria natildeo religiosa

com foco no fomento de atividades realizadas aos pacientes com doenccedilas raras de maneira

articulada e integrada com parceiros e demais interessados e fundaccedilatildeo agrave data de 26 de marccedilo

de 2011

A 9 de fevereiro de 2011 exatamente eu recebi no e-mail do departamento da UnB de

Sauacutede Coletiva uma correspondecircncia do Rogeacuterio que eacute o presidente da AMAVI comunicando

sobre a AMAVI e o trabalho que eles estatildeo fazendo sobre doenccedilas raras Eu respondi a ele no

mesmo dia e a partir daiacute comeccedilou nosso relacionamento e mais especificamente o meu

conhecimento desse trabalho Eu estou tomando a AMAVI como exemplo porque poderiam

ser outros movimentos sociais mas ocorre que eu estou analisando o contexto dessa associaccedilatildeo

em particular Ela se propotildee como finalidades promover a Assistecircncia Social contato entre

indiviacuteduos e alianccedilas com grupos nacionais e internacionais O leque eacute bem amplo orientar e

defender os direitos representar e defender os direitos dos pacientes Ela eacute ainda de caraacuteter

voluntaacuterio A questatildeo do conhecimento que vimos hoje de manhatilde eacute uma das questotildees

fundamentais em todo esse cenaacuterio Em termos de missatildeo a AMAVI diz que a missatildeo eacute acolher

e orientar os familiares e pacientes de doenccedilas raras por meio de accedilotildees de integralizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo dos diversos seguimentos da sociedade E a visatildeo eacute ser reconhecida pelos diversos

seguimentos da sociedade como importante fomentadora da discussatildeo sobre doenccedilas raras

Alguns clipes algumas notiacutecias que se encontram na paacutegina da AMAVI falam das realizaccedilotildees

ainda de 2011 e do crescimento do interesse das pessoas e da participaccedilatildeo tambeacutem destas

pessoas Interessa-me o olhar estrateacutegico a maneira que vai se identificando a atuaccedilatildeo da

AMAVI se baseando nas necessidades na formaccedilatildeo conhecimento capacitaccedilatildeo garantia de

direitos suporte construccedilatildeo de conhecimentos mobilizaccedilatildeo atendimento ao suporte assim

como a lista de todas as vertentes os pacientes as associaccedilotildees o Estado a academia a

sociedade a Induacutestria traccedilando as accedilotildees que satildeo precisas e como isso se articula com a AMAVI

e com o movimento

A minha proposta com esta fala e eacute tentativa mesmo eacute de propor o conjunto de

conhecimentos o conjunto de vivecircncias de experiecircncias que as Associaccedilotildees civis como a

AMAVI representam como tecnologias sociais

O que satildeo tecnologias sociais entatildeo Eu vou trabalhar com duas definiccedilotildees que existem

aqui no contexto do Brasil A primeira eacute da fundaccedilatildeo Banco do Brasil que eacute a mais conhecida

e que diz ldquoUma tecnologia social compreende produtos teacutecnicas ou metodologias reaplicaacuteveis

desenvolvidas na interaccedilatildeo com a comunidade e que representam efetivas soluccedilotildees de

transformaccedilatildeo socialrdquo Um exemplo claacutessico vou sair agora da questatildeo das doenccedilas raras mas

eacute preciso abrir um pouco o leque para entender quando se fala das tecnologias sociais o modelo

Omodelo claacutessico por exemplo eacute o soro caseiro de que todo mundo jaacute ouviu falar Sabiam que

2 Professora do Departamento de Sauacutede Coletiva da UnB

115

era uma tecnologia social baseada em conhecimento quase milenar Veio da Iacutendia e se espalhou

pelo mundo atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede De qualquer modo o soro caseiro eacute

classificado como uma tecnologia social e consiste na mistura de aacutegua accediluacutecar e sal que

combate a desidrataccedilatildeo e reduz a mortalidade infantil Outro exemplo satildeo as cisternas de

placas muito usadas nas regiotildees de seca no Brasil

As tecnologias sociais podem assim aliar saber popular organizaccedilatildeo social e

conhecimento tecnico-cientiacutefico Importa que sejam efetivas e reaplicaacuteveis propiciando

desenvolvimento social em escala

Retomando a questatildeo do soro caseiro em 197071 na fronteira entre o Paquistatildeo e o

Bangladesch que era Paquistatildeo houve uma guerra civil Laacute se implementou uma experiecircncia

muito bem sucedida que vingou depois tonando-se um exemplo de sucesso Apesar da

inexistente infraestrutura de hospitais e de cliacutenicas conseguiram atraveacutes do soro caseiro

trabalhar e superar problemas seacuterios que estavam acontecendo com a populaccedilatildeo porque era

uma regiatildeo que tambeacutem sofria muito de coacutelera

Vocecircs conhecem a figura do Mahatma Gandhi

Entatildeo fala-se da tecnologia como sendo uma abordagem uma metodologia um modo de

vivenciar e de trabalhar o problema uma problemaacutetica Mas no caso de Gandhi a roca de fiar

como siacutembolo de resistecircncia contra a presenccedila britacircnica na eacutepoca eacute um exemplo de tecnologia

social

Outra definiccedilatildeo no contexto do Brasil eacute a do Instituto de Tecnologia Social o ITS que diz

que ldquoo conjunto de teacutecnicas e metodologias transformadoras desenvolvidas ou aplicadas na

interaccedilatildeo com a populaccedilatildeo apropriadas por ela que representam soluccedilotildees para a inclusatildeo social

e melhoria para as condiccedilotildees de vidardquo

A ideia aplicar ou passar esse conjunto de conhecimento de experiecircncia de know how que

foi construiacutedo e trabalhar para que taal seja reaplicado em outros contextos e em outras

experiecircncias

O que qualifica entatildeo uma tecnologia social Ela busca as soluccedilotildees leva em conta as

tradiccedilotildees do contexto a peculiaridade daquele contexto em que ocorrem saberes locais e o

poder natural da regiatildeo Ela natildeo se define apenas pelo impacto dos resultados ela tece o

conjunto dos relacionamentos a disseminaccedilatildeo das informaccedilotildees do conhecimento das partes

envolvidas e a transformaccedilatildeo da realidade das pessoas De fato as experiecircncias que foram

trazidas realmente objetivam essa questatildeo da inclusatildeo da cidadania e a questatildeo da

transformaccedilatildeo da sociedade

Tacircnia Almeida3 ndash Boa tarde a todos

Eu quero apresentar para vocecircs o Samuel O Samuel eacute meu filho e tem quatro anos Com

um mecircs e meio ele entrou no hospital ningueacutem sabia o que el tinha Depois de dois anos e meio

ele foi diagnosticado com Siacutendrome de Crab Crab eacute uma doenccedila rara degenerativa natildeo tem

cura natildeo tem tratamento soacute paliativos e para deixaacute-lo estaacutevel Ele ouve e presta atenccedilatildeo no que

a gente fala Entatildeo eacute isso eu queria apenas apresentar o Samuel a vocecircs porque como um

palestrante falou hoje aqui muita gente natildeo conhece e natildeo tem noccedilatildeo do que eacute uma doenccedila

rara A gente conhece a Neurofibromatose o Siacutendrome de Down mas outras coisas especiacuteficas

natildeo conhecemos E eu tive isso muito presente quando meu filho fez trecircs anos Eu resolvi dar

uma festinha de aniversaacuterio para ele Um colega meu que sabia da situaccedilatildeo dele das vaacuterias

internaccedilotildees e que estava sempre presente com a gente conversando falando mas que nunca

tinha visto o Samuel no aniversaacuterio dele esse colega chegou laacute ele falou Tacircnia eu natildeo sei o

que eu faccedilo agora com o presente do Samuel E aiacute eu disse Porquecirc E ele Porque o que

3 Matildee de paciente e advogada

116

eu comprei para ele acho que natildeo eacute devido E eu Natildeo se vocecirc comprou para ele eacute dele

Quando eu abri era um estojinho de pintura onde a crianccedila mexia e tal Quer dizer por mais

que ele soubesse da situaccedilatildeo do Samuel ele natildeo tinha a visatildeo de como seria o Samuel

Eu natildeo sou palestrante sou a matildee do Samuel entatildeo se eu gaguejar ningueacutem vai achar estaacute

Eu vim para falar na mesa dobre Inclusatildeo Juriacutedica de Pessoas com Doenccedilas Raras mas na

realidade eu queria falar sobre a dificuldade da inclusatildeo juriacutedica a realidade da famiacutelia que

passa por isso com alguns exemplos

Eu coloquei ali ldquoTacircnia Maria matildee de Samuelrdquo porque apesar de advogar apesar de

participar de uma Associaccedilatildeo de consumidores ANACOTRA apesar de ser funcionaacuteria

puacuteblica apesar de Teacutecnica em Enfermagem para cuidar do Samuel hoje eu sou conhecida

apenas como ldquoa Tacircnia matildee do Samuelrdquo E hoje estou aqui como tal

O objetivo da minha apresentaccedilatildeo eacute mostrar o que jaacute foi bastante falado aqui que natildeo

existem poliacuteticas puacuteblicas que atendam as famiacutelias com portadores de doenccedilas raras E isso

deixou de ser uma questatildeo discutida no executivo e no legislativo para ser uma questatildeo

discutida no judiciaacuterio porque eacute a uacutenica saiacuteda que noacutes encontramos buscar liminares para

atender as nossas necessidades Como fazer com um filho que precisa sair do Bipap para ir para

o respirador mas o plano de sauacutede ou o SUS natildeo tem cadastrado o coacutedigo do respirador para

dar para Home Care

Meu filho hoje estaacute em Home Care entatildeo natildeo funciona Vocecirc fica laacute esperando e nada

acontece Ateacute incluir o coacutedigo do respirador para ser atendido ningueacutem atende E vocecirc eacute

colocado de forma generalista Vocecirc tem aquele hall e se vocecirc natildeo estiver incluiacutedo exatamente

naquele hall vocecirc natildeo eacute atendido Entatildeo apesar de natildeo ser o ideal hoje a uacutenica forma de

conseguirmos alguma coisa eacute atraveacutes do judiciaacuterio eacute atraveacutes de liminares atraveacutes de accedilotildees que

a proacutepria famiacutelia vai buscar Eacute a falta de apoio estrutural aleacutem da emocional

Noacutes hoje temos vaacuterias Associaccedilotildees que vecircm tratar o paciente vecircm buscar o paciente e

graccedilas a Deus noacutes temos a AMAVI e outras Associaccedilotildees que nos daacute esse apoio Mas a falta de

estrutura em si eacute uma coisa que talvez muita gente natildeo tem noccedilatildeo Alguns exemplos reais

algueacutem jaacute imaginou a conta de luz de quem tem um filho em casa precisando 24 horas por dia

Acho que jamais passou pela cabeccedila de algueacutem Por exemplo a Light tem a questatildeo da tarifa

social mas para vocecirc se incluir na tarifa social vocecirc tem que ser ou beneficiado do Loas ou do

Bolsa Famiacutelia Para vocecirc ser beneficiaacuterio do Loas ou do Bolsa Famiacutelia vocecirc tem que ser muito

pobre ou seja soacute ter um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia Graccedilas a Deus eu natildeo estou dentro

desse um quarto de salaacuterio miacutenimo na famiacutelia eacute um pouquinho mais mas enfim natildeo fui inclusa

na tarifa social Entatildeo eu natildeo tenho como economizar energia eu natildeo tenho como ligar o ar

condicionado por duas horas deixar o ambiente fechado para refrescar o ar Meu filho precisa

de respirador 24 horas de um concentrador de oxigecircnio 24 horas e eu natildeo tenho como desligar

fora os outros aparelhos Entatildeo eacute uma coisa que ficou para encargo dessa famiacutelia porque

juridicamente isso natildeo eacute tratado

Outro exemplo que eu costumo dar eacute a ANVISA4 Noacutes tivemos um representante aqui que

jaacute foi da ANVISA e noacutes temos o exemplo no Rio de Janeiro duma crianccedila que precisava de

um determinado remeacutedio para a doenccedila natildeo evoluir e o distribuidor por ser um medicamento

oacuterfatildeo o distribuidor parou ou seja por ser um medicamento que natildeo estava sendo viaacutevel Para

importar esse medicamento demorava dois meses para chegar aqui e as burocracias enfim No

desespero a matildee conseguiu um laboratoacuterio que soubesse da foacutermula do remeacutedio e fizesse o

remeacutedio e entregasse para crianccedila A ANVISA multou o laboratoacuterio e quase fechou esse

laboratoacuterio porque ele natildeo tinha licenccedila de fato para fabricar o remeacutedio Esta eacute outra situaccedilatildeo

que juridicamente natildeo tem amparo nenhum

4 httpportalanvisagovbrwpsportalanvisahome

117

Auxiacutelio e acompanhamento eacute outro exemplo No Congresso existem inuacutemeros projetos de

lei em andamento sobre auxiacutelio e acompanhamento auxiacutelio de acompanhantes O que eacute o

auxiacutelio ao acompanhamento Vou dar o exemplo de uma matildee do Rio de Janeiro tambeacutem filho

uacutenico considerado milagre Conseguiu verba para viajar para o Hospital de Doenccedilas

Mitocondriais de Milatildeo ou seja ela conseguiu verbas natildeo foi o Governo que deu Ningueacutem

ajudou De acordo com o especialista da unidade italiana o problema de Harry estaacute na carecircncia

que seu organismo tem para produzir energia A Secretaria de Sauacutede alega que a natildeo

distribuiccedilatildeo do leite que ele precisa ndash porque ele precisa de um leite especial ndash eacute culpa do

distribuidor poreacutem ainda de acordo com a matildee o alimento eacute encontrado agrave venda na internet

em algumas farmaacutecias do Rio de Janeiro Este ano os amigos tecircm se virado para comprar as

latas de leite que duram apenas dois dias e custam R$17800 Ela fica pensando nas pessoas que

natildeo tem nenhuma condiccedilatildeo de comprar o leite Ela eacute ex-professora e tradutora atualmente

passa dia e noite soacute cuidando do filho que dorme cerca de cinco horas alternadas por dia tendo

como preocupaccedilatildeo maior o horaacuterio da alimentaccedilatildeo do menino que satildeo marcadas no despertador

a cada duas horas Ele natildeo come arroz feijatildeo verduras e outras coisas somente o leite O meu

maior medo eacute que se alimente fora do prazo porque corre o risco de enfraquecimento e

consequentemente de morte suacutebita Ningueacutem imagina que isso possa existir natildeo eacute

Conversei pessoalmente e essa matildee me relatou Tacircnia antigamente eu vivia no salto de

terninho andando para laacute e para caacute no meu trabalho Hoje eu vendo chocolate caseiro em casa

porque eu preciso cuidar do meu filho

Ningueacutem olha para isso ningueacutem enxerga isso Eu tento trabalhar tento estudar mas

assim eu tenho patrotildees muito legais e por trabalhar em uma empresa puacuteblica consigo adiantar

licenccedilas precircmio e feacuterias Acho que eu natildeo vou tirar feacuterias por uns dez anos ateacute porque meu

filho ficou internado um ano no hospital e eu fui tirando tudo que eu tinha direito mas natildeo

larguei ele laacute O pessoal fala assim Ah mas vocecirc pode deixar com algueacutem Como deixar

algueacutem Outro dia em uma das uacuteltimas internaccedilotildees dele ndash ele tambeacutem toma um leite especiacutefico

que ele tem problema de amocircnia e natildeo pode ingerir muita proteiacutena ndash quando eu olhei eu sei a

quantidade do frasco de leite e quando eu olhei estava cheio e ai eu falei Gente estaacute errado

isso daqui Quando eu fui ver o leite era de outra crianccedila Caramba a pessoa tem que estar

ligada e se eu natildeo estivesse ali Ele teria tomado o leite que poderia levaacute-lo a oacutebito porque

natildeo era o leite que ele pode tomar

Eacute muito importante essa questatildeo Quando se quer atingir a famiacutelia que se olhe esse aspecto

da famiacutelia poder cuidar do paciente Iisso vai esbarrar numa seacuterie de inconstitucionalidades

porque vai cair na questatildeo de quem paga a conta e vamos ver o que a gente consegue Soluccedilotildees

Quem sou eu para dar soluccedilotildees para um problema tatildeo complexo mas satildeo pontos que a gente

tenta jogar para ver se algueacutem escuta e tenta ouvir um pouco das nossas necessidades No direito

noacutes falamos muito sobre princiacutepio da igualdade que para ser atingido a gente precisa tratar os

desiguais como desiguais Eacute aquela velha histoacuteria do exemplo que eu dei da Light As pessoas

que passam por esse problema natildeo estatildeo inseridas no contexto que a Light coloca de tarifa

social entatildeo tem que ser tratada de uma forma diferente infelizmente Natildeo haacute como buscar

soluccedilotildees de maneira macro seria necessaacuterio que existisse uma verba destinada a atender

individualmente caso a caso dentro do grupo de casos

Eu fiquei muito feliz ontem ao saber na audiecircncia puacuteblica a que noacutes assistimos ao saber

que Eduardo Suplicy estaacute tentando destinar trinta por cento da verba do Ministeacuterio da Sauacutede

para a causa das doenccedilas raras Jaacute eacute alguma coisa Algueacutem estaacute jogando alguma coisa no ar

Assim como a tentativa de que as Instituiccedilotildees sejam interligadas para direcionar corretamente

pacientes seja a niacutevel nacional como internacional Isso eu tambeacutem fiquei sabendo hoje sobre

a Rede Raras o queque acabou vindo ao encontro a uma sugestatildeo que eu queria dar aqui mas

a gente fica feliz em saber que tem outras pessoas tambeacutem pensando junto com a gente e

tentando buscar soluccedilotildees

118

Todos noacutes temos de ter a consciecircncia de que qualquer um de noacutes ou algueacutem que nos eacute

proacuteximo pode ser acometido por alguma doenccedila rara de uma hora para outra portanto a luta

por mudanccedila tem que ser de todos

O Ministeacuterio da Sauacutede falou sobre a natildeo criaccedilatildeo da Secretaria de Doenccedilas Raras no

Ministeacuterio da Sauacutede Esse eacute um modelo que existe nos Estados Unidos e hoje eu sinto falta de

ter um foco para aonde eu possa me dirigir Porque se uma crianccedila eacute espancada chego ao

hospital o meacutedico informa ao oacutergatildeo responsaacutevel que a crianccedila foi espancada se chega uma

crianccedila com dengue ele eacute obrigado a informar que chegou uma pessoa com dengue se chega

uma crianccedila com a pessoa tendo alguma caracteriacutestica sindrocircmica tambeacutem deveria ter um oacutergatildeo

a quem ele pudesse informar ateacute para procurar informaccedilatildeo Eacute tanta falta a de informaccedilatildeo Vocecirc

natildeo tem um Centro para chegar e perguntar ldquoO que eacute isso Eu vou pra onde a partir daquirdquo

Eu natildeo conheccedilo Associaccedilatildeo aqui no Brasil da doenccedila de Crab eu natildeo sei onde ir buscar

informaccedilatildeo Devia existir uma secretaria de doenccedilas raras dentro do Ministeacuterio da Sauacutede Seria

ndashnatildeo sei se chama de secretaria ou se chama de outra coisa ndash mas seria um centro de

informaccedilotildees para ir buscar estatiacutesticas Eu acho que isso eacute importante para que as pessoas que

os proacuteprios meacutedicos pudessem se informar sobre as caracteriacutesticas da doenccedila expactativa de

tratamento laacute fora medicaccedilatildeo e tratamentos protocolozados Enfim seria um norte para a

partir daiacute as pessoas poderem seguir

Muito obrigado pela oportunidade

119

4ordf Mesa Pesquisas no SUS

Maacutercia Ribeiro1 ndash Boa tarde a todos

Eu gostaria de agradecer o fato de poder estar aqui falando de um tema tatildeo interessante

mas que realmente ainda necessita de uma seacuterie de atitudes para que seja mais pleno

Eu queria comeccedilar com toda a engrenagem que existe que move essa pesquisa dentro do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Ela eacute ministrada pelo Ministeacuterio da Sauacutede Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

como eacute o nosso caso que trabalhamos com a sauacutede Com a definiccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de

Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo em Sauacutede somadas as accedilotildees da Agecircncia Nacional de

Prioridades de pesquisa em Sauacutede noacutes tivemos um incremento nas verbas que vatildeo para o

departamento de ciecircncia e tecnologia e consequentemente um maior investimento em

pesquisas onde se revelam aacutereas estrateacutegicas necessaacuterias para a sauacutede puacuteblica

Dentro dessa engrenagem existe eacute importante definir esses temas de pesquisa condizentes

com as necessidades da populaccedilatildeo Quando a gente fala em populaccedilatildeo se pensa num numeraacuterio

muito extenso mas por que natildeo tambeacutem condizente com as necessidades das pessoas que tecircm

doenccedilas raras das pessoas que tecircm doenccedilas geneacuteticas Por que natildeo Isso tudo eacute muito bacana

porque facilita e promove a integraccedilatildeo dos pesquisadores dos profissionais de sauacutede e tambeacutem

dos gestores E sem duacutevida alguma auxilia no processo de aprimoramento do Sistema Uacutenico

de Sauacutede

As formas de fomento satildeo conhecidas por quem estaacute na aacuterea Eacute muito importante a

participaccedilatildeo do CNPq2 e das agecircncias que amparam a pesquisa Como sou carioca vou citar a

FAPERJ3 A ideia da promoccedilatildeo dessas pesquisas que satildeo resultados aplicaacuteveis no SUS tecircm a

ver com a inovaccedilatildeo ou seja que elas tragam um potencial de inovaccedilatildeo na aacuterea de tecnologia

em sauacutede Isso natildeo quer dizer que eacute soacute uma aacuterea dura que eacute soacute laboratoacuterio ou exame Natildeo Eacute a

aacuterea do soft tambeacutem que eacute aplicada ali no dia a dia do atendimento do acolhimento dos

pacientes Eu queria destacar o PPSUS4 que eacute um programa de pesquisa para o SUS e gestatildeo

compartilhada em sauacutede Quando ele foi criado ele era especiacutefico para alguns Estados era

separado atualmente ele eacute nacional Existem propostas esse eacute um edital que eacute aberto todo o

ano Satildeo feitas propostas do Brasil inteiro e satildeo escolhidos alguns estudos que seratildeo

financiados

Os objetivos do PPSUS satildeo o de contribuir para diminuiccedilatildeo das desigualdades regionais

em relaccedilatildeo agrave ciecircncia e agrave tecnologia em sauacutede fortalecer a capacidade de gestatildeo poliacutetica

cientiacutefica e tecnoloacutegica em sauacutede e tambeacutem descentralizar os recursos quer dizer se espalhar

por toda a naccedilatildeo em busca da equidade e respeito agraves vocaccedilotildees regionais Com isso entramos em

uma forma que natildeo tem como escapar que eacute a criaccedilatildeo das redes de pesquisa Essas redes vatildeo

propiciar aos pesquisadores um encontro com outros pesquisadores com outras realidades o

trabalhar junto a equipe multidisciplinar que eacute super importante

Jaacute foi mencionada aqui a Rede Raras Isso eacute de extrema importacircncia ateacute para que noacutes

conheccedilamos com o que estamos trabalhando Natildeo daacute para produzir conhecimento sozinho Satildeo

os estudos de cooperaccedilatildeo os estudos multicecircntricos e os de caraacuteter nacional que importam

porque o enfoque aqui eacute o Brasil eacute nacional Com isso noacutes podemos fortalecer e qualificar Noacutes

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ 2 Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico httpwwwcnpqbr 3 Fundaccedilatildeo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro httpwwwfaperjbr 4 Programa de Pesquisa para o SUS

120

natildeo o Ministeacuterio as accedilotildees em termos de pesquisa consideradas prioritaacuterias para o SUS E jaacute

existe uma modalidade que se chama EpiGen que eacute em epidemiologia geneacutetica

Pelo pouco que eu conheccedilo eu acho que ela ainda natildeo estaacute em funcionamento porque

existem vaacuterias modalidades mas eu acho que esta ainda natildeo estaacute Eu acho que vale a pena eacute

um dever de casa para todo mundo procurar saber e procurar pensar em desenvolver alguma

coisa que vem muito de encontro com aquilo que tem sido falado desde ontem

Eu gostaria de ressaltar um outro ponto que eu considero bastante interessante e muito

importante O Ministeacuterio tem uma poliacutetica indutiva Essa poliacutetica de programa de educaccedilatildeo para

o trabalho e do trabalho para o Pet Sauacutede foram muito interessantes porque foram criados

editais onde instituiccedilotildees de ensino participam em conjunto com os municiacutepios e Estados na

reuniatildeo de profissionais das universidades das instituiccedilotildees de ensino dos profissionais que

trabalham na rede puacuteblica e dos alunos dessas universidades Os alunos passaram a partir de

projetos a frequentar a rede de atendimento com orientaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo do preceptor que

trabalha na rede sob orientaccedilatildeo do tutor que eacute quem trabalha na universidade

Na verdade ela foi criada em 2009 mas depois a portaria foi substituiacuteda por uma de 2010

A ideia foi fomentar a formaccedilatildeo de grupos cuja aprendizagem eacute tutorial em aacutereas estrateacutegicas

para o SUS Ela funciona como instrumento de qualificaccedilatildeo em serviccedilo e isso eacute bastante

importante de iniciaccedilatildeo ao trabalho e vivecircncias dirigidas para o estudante de graduaccedilatildeo na aacuterea

de sauacutede Eu listei os Pet Sauacutede todos baseados em projetos Satildeo projetos de pesquisa onde essa

pesquisa eacute feita na rede ou seja no SUS com a orientaccedilatildeo do preceptor de quem trabalha ali

e o professor ou teacutecnico administrativo da universidade Existem dois Pets em sauacutede da famiacutelia

um em vigilacircncia um em sauacutede mental e o uacuteltimo em redes de atenccedilatildeo em sauacutede

Eu trouxe uma parte de um depoimento de uma aluna que participou do Pet Sauacutede da

famiacutelia onde ela diz ldquo despertou o interesse para o exerciacutecio da medicina de famiacutelia como

especialidade possiacutevel de atuaccedilatildeo futura relativizando assim a formaccedilatildeo hospitalocecircntricardquo

Eacute realmente uma fala que combina muito com o que jaacute foi dito Vamos para rede vamos

explorar tudo o que eacute possiacutevel explorar no sentido de fornecer conhecimento de aprender como

que estaacute acontecendo laacute de realmente poder ajudar E natildeo sei se vocecircs perceberam mas pareceu

haver um Gap mas natildeo no ano de 2012 o Pet Sauacutede se juntou ao Proacute-Sauacutede que eacute o Programa

Nacional de Reorientaccedilatildeo de Formaccedilatildeo Profissional em Sauacutede5 A UFRJ tambeacutem se candidatou

e aqui tem uma lista dos cursos que participaram quer dizer no momento estatildeo participando

ainda desse edital Quantos alunos satildeo lanccedilados quantas bolsas satildeo oferecidas Eacute bolsa para o

aluno bolsa para o tutor e para o preceptor Com isso satildeo criados novos cenaacuterios de praacutetica Os

alunos tecircm a possibilidade de uma iniciaccedilatildeo ao trabalho cientiacutefico e tambeacutem verificaccedilatildeo da

realidade e ao lado dele outros alunos de outros cursos trazendo a consolidaccedilatildeo dos estaacutegios

interdisciplinares

Eacute um programa bastante interessante e eu fiquei pensando ldquoPor que natildeo um Pet de Doenccedilas

raras Por que natildeordquo Eu acho que isso seria bastante interessante

Eu venho do Instituto de Puericultura e Pediatria Marta Gon e Gesteira e eu queria situar

esse hospital da UFRJ uma unidade hospitalar secundaacuteria e terciaacuteria dentro da histoacuteria da

pesquisa O nosso Instituto estaacute fazendo 60 anos no mecircs de outubro Conta com a pediatria geral

e diversas especialidades pediaacutetricas tem o serviccedilo especiacutefico de medicina transfusional tem o

nuacutecleo RDN que eacute de reabilitaccedilatildeo e ele eacute um centro de referecircncia para algumas doenccedilas aqui

jaacute listadas Com certeza muito do que noacutes somos hoje noacutes conseguimos atraveacutes de fomento

Eu trouxe dois exemplos que conseguimos atraveacutes do Ministeacuterio e tambeacutem da FAPERJ que foi

a criaccedilatildeo da Unidade de Pesquisa Cliacutenicas em Doenccedilas Crocircnicas da Infacircncia e da Adolescecircncia

que eacute do projeto do Hospital Dia e o nuacutecleo Transdisciplinar de Investigaccedilatildeo em Sauacutede da

Crianccedila e do adolescente onde noacutes envolvemos laboratoacuterio de geneacutetica citologia molecular e

5 httpwwwprosaudeorg

121

a biometria de fluxo Essas pessoas que trabalham docentes ou teacutecnico administrativos tecircm

tambeacutem a oportunidade de contribuir um pouco com um fomento individual como jovem

cientista bolsa de pro-atividade em pesquisa auxiacutelio agrave pesquisa edital universal o TCT6 da

FAPERJ e a bolsa de iniciaccedilatildeo cientiacutefica Tudo isso a gente vecirc que vai juntando que vai num

crescente que eacute muito interessante e todo mundo tem a ganhar

O meu serviccedilo de geneacutetica meacutedica foi fundado em 1969 Em 1989 foi criado o laboratoacuterio

de geneacutetica Em 2006 eu ganhei uma linha de pesquisa como docente da poacutes-graduaccedilatildeo dentro

da geneacutetica Em 2006 tambeacutem comeccedilou a terapia de reposiccedilatildeo enzimaacutetica e atualmente noacutes

temos no banco de dados 840 pacientes cadastrados

O programa de poacutes-graduaccedilatildeo em cliacutenica meacutedica que eacute o programa do qual eu faccedilo parte

tem essa oportunidade de com esses alunos todos que noacutes recebemos realizar pesquisas

diversas

Uma aluna minha que fez inicialmente o mestrado sobre o tema ldquoFisioterapia Motora na

Siacutendrome de Downrdquo depois ela fez o doutorado sobre Atenccedilatildeo Fisioterapecircutica a Siacutendrome de

Down e ela foi para rede Outra aluna minha Priscila trabalhou com sauacutede auditiva Outra uma

aluna neste momento que verificando qual eacute a oferta de reabilitaccedilatildeo no municiacutepio do Rio de

Janeiro Isto para ressaltar a importante ocorrecircncia do grupo de trabalho de atenccedilatildeo agraves doenccedilas

raras e tambeacutem porque acabou de se falar aqui no programa de fomento agrave pesquisa em sauacutede

Isso daacute uma visatildeo pelo menos para noacutes bastante positiva e mais otimista

Sobre as publicaccedilotildees o Brasil cresceu na quantidade de publicaccedilotildees mas a qualidade natildeo

acompanhou e noacutes que submetemos artigos sabemos a dificuldade que eacute ter um paper publicado

numa revista que tenha um fator de impacto alto

Meu muito obrigado porque nada disso teria acontecido sem esse grupinho que estaacute por

traacutes de mim meus pacientes

Mara Gabrilli7 ndash Bom primeiro eacute uma honra para mim poder vir aqui e falar desse tema

que eacute tatildeo caro para todos noacutes

Eu hoje fiquei muito feliz na comissatildeo de seguridade social e da famiacutelia porque o Deputado

Perondi fez a leitura do projeto de lei de autoria do Deputado Marccedilal Filho que cria a poliacutetica

puacuteblica para doenccedilas raras e dispensaccedilatildeo de medicamentos para doenccedilas raras

Na hora que eu entrei o senhor estava falando que natildeo adianta fazer lei soacute a gente sabe que

em nenhum seguimento e em nenhum assunto fazer soacute a lei resolve Aaqui no Brasil a leieacute soacute

uma parte de todo o trabalho Desde que fui Vereadora sinto muito isso que aleacutem de fazer lei

a gente tem que entrar no universo do executivo para que a lei seja exequiacutevel e se consiga

cumprir essa lei Depois de feita a lei a gente tem que ficar no executivo trabalhando e

principalmente levando informaccedilatildeo

Eu tendo uma deficiecircncia eu quebrei o pescoccedilo e perdi os movimentos do pescoccedilo para

baixo e eu venho aprendendo nesse caminho que a minha funccedilatildeo muitas vezes eacute pedagoacutegica

Eacute uma funccedilatildeo de levar informaccedilatildeo de ensinar e eu acho que muito muito do que a gente tem

hoje foi agrave custa da peregrinaccedilatildeo e do sofrimento de muitas famiacutelias e do conteuacutedo que as

associaccedilotildees puderam trazer para o governo de alguma forma O pouquiacutessimo que tem eacute por

conta de vocecircs Eu acho que vocecircs merecem uma salva de palmas de vocecircs mesmos

Eacute tanto preconceito que a gente tem que ultrapassar na questatildeo das doenccedilas raras Desde o

ocorrido com um menino haacute semana atraacutes que tem epidermoacutelise bolhosa e que passou por um

constrangimento muito desagradaacutevel na Gol8 por conta de falta de informaccedilatildeo daqueles que

estavam dentro da companhia aeacuterea e dentro da aeronave Eu tenho certeza que natildeo eacute o

6 Treinamento e Capacitaccedilatildeo Teacutecnica 7 Deputada Federal 8 Gol Linhas Aeacutereas

122

pensamento do presidente da companhia mas falta de informaccedilatildeo Para a informaccedilatildeo conseguir

chegar em todas as pontas demora eacute trabalhoso A gente tem que ficar fazendo seminaacuterio

workshop levando informaccedilatildeo Por isso eu fico muito feliz de ter junto comigo e com vocecircs

parlamentares que vecircm trabalhando para isso

O livro que o Deputado Romaacuterio lanccedilou ontem eacute de extrema importacircncia o projeto de lei

do Dep Marccedilal eacute de extrema importacircncia Tem o projeto de lei do Dep Jean Willis que tambeacutem

eacute de extrema importacircncia e natildeo adianta vocecircs eacute que trazem a demanda Eu pedi vistas do

projeto de lei do Dep Marccedilal e eu pedir vistas para que serve Para poder aprimorar o projeto

de alguma forma

Esse projeto estaacute disponiacutevel e o seu aprimoramento tem que vir de vocecircs Para que vocecircs

saibam que esse projeto estaacute disponiacutevel no site da Cacircmara para que vocecircs leiam E vocecircs satildeo

os maiores conhecedores de toda a dureza do processo de conseguir e principalmente de natildeo

conseguir as coisas Eacute importante que vocecircs tenham conhecimento desse projeto que jaacute tem

qualidade mas que talvez tenha alguma coisa que a gente ainda natildeo pensou

Eacute impressionante porque nos Estados Unidos desde 83 jaacute se existe uma poliacutetica puacuteblica

para doenccedilas raras Eu estava vendo aqui que ateacute na Colocircmbia tem poliacutetica puacuteblica para doenccedilas

raras E a gente estaacute aqui ainda engatinhando nessa questatildeo Soacute que tudo bem a gente tem

doenccedilas em que existem poucas pesquisas cientiacuteficas tem doenccedilas que jaacute tecircm bastante pesquisa

cientiacutefica mas poucos resultados existem doenccedilas que realmente natildeo tem cura mas o que

importa eacute o hoje e a gente tem que aprender a viver Ter uma vida com qualidade natildeo importa

ateacute quando

Acho que esta eacute uma outra questatildeo que a gente vai ter que trabalhar dentro do Ministeacuterio

dentro do Governo dentro da Sociedade que eacute acabar com o preconceito e que o importante eacute

poder ter estrutura para viver bem Uma forma de fazer isso e eu natildeo consigo natildeo deixar de

falar eacute a possibilidade de vocecirc ter um cuidador E isso eu posso falar com bastante maestria

sobre a diferenccedila que faz Por exemplo se eu natildeo tivesse a Gil para ficar segurando o microfone

para mim eu natildeo poderia ser deputada e natildeo poderia fazer absolutamente nada eu natildeo ia sair

da cama Faz muita diferenccedila Natildeo importa a gravidade da situaccedilatildeo da pessoa Se for uma

severidade muito grande de limitaccedilatildeo faz diferenccedila e se for pouca tambeacutem faz muita diferenccedila

E a gente sabe que nas famiacutelias brasileiras algueacutem paacutera de trabalhar para que possa cuidar

dessa pessoa que tem uma doenccedila rara Com isso a renda da famiacutelia diminui a despesa aumenta

e vira um inferno um cenaacuterio muito dramaacutetico Eacute claro que se a gente tem essa ajudinha faz

uma diferenccedila muito grande Agraves vezes as pessoas me perguntam poxa mas natildeo eacute difiacutecil vocecirc

ter a sua liberdade tolhida porque precisa de algueacutem 24 horas por dia Eu tenho muita gratidatildeo

por poder ter algueacutem ao meu lado 24 horas por dia E ter essa pessoa eacute o contraacuterio eacute ter

autonomia e liberdade de ir e vir de viver e de poder ser a primeira deputada tetrapleacutegica desse

paiacutes Eacute oacutebvio que eu fiz dois projetos de lei pensando nisso que o Governo tem que fornecer

cuidador agraves pessoas que tecircm uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade mas tambeacutem tecircm que oferecer

uma espeacutecie de bolsa cuidador para aqueles que satildeo contribuintes e que podem ter essa bolsa

O cuidador pode ser ateacute um familiar mas pode ser uma outra pessoa e eacute uma forma da gente

conseguir apesar de viver com qualidade

Eu queria contar isso para vocecircs para vocecircs me ajudarem a lutar por isso porque com

certeza vai ter muita importacircncia A gente vecirc por exemplo a falta de informaccedilatildeo Vocecirc pega

a hipertensatildeo arterial pulmonar a gente tem oito medicamentos que jaacute satildeo aprovados pela

ANVISA mas soacute dois deles satildeo distribuiacutedos e tem dispensaccedilatildeo pelo SUS E a gente sabe de

casos absurdos de pessoas que acabam morrendo por natildeo terem conseguido o acesso ao

medicamento e hoje existem vaacuterios medicamentos

A gente precisa muito dessa poliacutetica puacuteblica que vai ordenar e vai facilitar muito para o

Ministeacuterio da Sauacutede a questatildeo das demandas judiciais Porque a demanda judicial existe porque

123

a publicaccedilatildeo a poliacutetica puacuteblica natildeo existe Se a gente consegue sanar determinadas questotildees a

gente evolui

Eu estava vendoo governador Geraldo Alckmin que eacute o governador do meu Estado que eacute

uma pessoa que eu admiro mas eu fiquei super chateada porque ele vetou no Estado de Satildeo

Paulo a poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras E por quecirc Porque ele natildeo tem dinheiro para

medicaccedilatildeo oacuterfatilde ele natildeo tem recurso- Mas isso eacute um problema dele ele que se vire que ache

esse recurso porque as pessoas tem urgecircncia nisso

Eu acho que haacute tanto recurso mal utilizado Temos que forccedilar a barra para que o recurso

seja bem utilizado e com certeza se o Brasil soubesse utilizar bem todos os seus recursos a

gente natildeo estaria passando a dificuldade que a gente passa no dia a dia por conta das doenccedilas

raras

Tem uma coisa com que eu fico nervosa Eacute uma frase que a gente vive ouvindo que vem

laacute do Ministeacuterio da Sauacutede com relaccedilatildeo a equipamento e a medicamentos que eacute aquela frase

fatiacutedica Natildeo temos evidecircncias cientiacuteficas nacionais suficientes para dizer que esse remeacutedio

funciona Enquanto isso as pessoas vatildeo esperando E satildeo vaacuterios equipamentos e medicamentos

que a gente vem trabalhando Quando eu falo a gente sou eu e a minha equipe Eacute que a gente

ouve essa afirmaccedilatildeo e a gente natildeo possui evidecircncias cientiacuteficas nacionais porque natildeo tem o

equipamento aqui mas a gente tem evidecircncias cientiacuteficas internacionais Por exemplo um

trabalho que a gente vem fazendo haacute quase trecircs anos eacute o de tentar incorporar o COFF ASIST

que eacute um equipamento importantiacutessimo para ajudar as pessoas a tossir Eu por exemplo tenho

dificuldade de tossir Tem muitas doenccedilas neurodegenerativas que trazem paralisias e

dificuldade de tossir e a pessoa quando natildeo consegue tossir e eliminar secreccedilatildeo vai ficar com

uma pneumonia vai ter uma infecccedilatildeo pulmonar vai parar no hospital vai parar na UTI e ela

fica muito mais cara para o governo Um equipamento que aparentemente parece ser caro ele

sai muito mais barato porque o governo vai economizar em leitos de UTI e sobre isso jaacute tem

evidecircncias cientiacuteficas no mundo inteiro Eacute esse tipo de informaccedilatildeo de exemplos que eu acho

que a gente natildeo pode parar de insistir e de ter esperanccedila e de ficar levando para o Ministeacuterio

para tentar convencer

Simples pessoas que usam cadeiras de rodas por exemplo se todas tivessem a

possibilidade de ter uma almofada com uma tecnologia de gomos de ar como eacute a almofada em

que eu estou sentada ningueacutem teria escaras Isso as pessoas ateacute estranham dentro de hospitais

porque eacute como se fosse uma condiccedilatildeo sine qua non vocecirc ficar hospitalizado ou ficar muito

sentado e ter escaras mas natildeo eacute Natildeo necessariamente

Esta eacute uma almofada cariacutessima mas tratar escara e ter a pessoa totalmente fora de

circulaccedilatildeo durante meses por conta de uma ferida eacute muito mais caro para o governo Entatildeo

muitas vezes a poliacutetica puacuteblica essa que natildeo existe chega a ser ldquoburrardquo porque ela vecirc as coisas

de uma forma invertida Porque se a gente consegue fazer as dispensaccedilotildees dos equipamentos

medicamentos ter um atendimento mais adequado levar conhecimentohellip Nossos meacutedicos natildeo

tecircm como disciplina obrigatoacuteria doenccedila rara na faculdade e aiacute o que acontece Onde isso vai

refletir Vai refletir no diagnoacutestico precoce80 das doenccedilas raras tecircm cunho geneacutetico e sem

esse diagnoacutestico precoce a sauacutede e a qualidade de vida ficam totalmente comprometidas

Entatildeo o que eacute isso Olha onde estaacute onde habita a gecircnese o iniacutecio do problema Na

faculdade de medicina A gente natildeo tem na faculdade de Medicina como disciplina obrigatoacuteria

a reabilitaccedilatildeo E olha o nuacutemero de pessoas com deficiecircncia que precisam de reabilitaccedilatildeo no

nosso paiacutes e eacute essa reabilitaccedilatildeo pode trazecirc-lo de volta ao trabalho de volta agrave cidadania e tal natildeo

acontece por uma lacuna que existe nas disciplinas de medicina E posso disser tambeacutem que

acessibilidade natildeo eacute disciplina obrigatoacuteria na faculdade de arquitetura e engenharia e por isso

temos um paiacutes tatildeo inacessiacutevel onde eacute tatildeo difiacutecil o ir e vir de pessoas que tecircm alguma limitaccedilatildeo

de movimento Nas calccediladas brasileiras que natildeo tecircm limitaccedilatildeo nenhuma de movimento as

124

mulheres de salto alto sofrem os homens distraiacutedos sofrem e todo mundo sofre com a falta de

acessibilidade

A gente tem uma lista de doenccedilas raras que jaacute satildeo atendidas pelo SUS vocecircs jaacute devem

estar cansados de saber porque satildeo mais de 6000 doenccedilas raras e a lista tem apenas 18 doenccedilas

ictioses hereditaacuterias hipoparatireoidismo insuficiecircncia adrenal primaacuteria que eacute a doenccedila de

Adson hiperplasia adrenal congecircnita hipotireoidismo congecircnito angioederma deficiecircncia de

hormocircnio do crescimento que eacute hipopituitarismo Siacutendrome de Tanner fibrose ciacutestica que haacute

manifestaccedilotildees pulmonares fibrose ciacutestica de insuficiecircncia pancreaacutetica miastemias graves

doenccedila celiacuteaca esclerose multipla doenccedila de Cron fenilcetonuacuteria doenccedila de Gaucher doenccedila

de Wilson e osteogenese imperfecta Infelizmente satildeo soacute essas as doenccedilas que satildeo atendidas

pelo SUS

Eu natildeo vim trazer palavra de ldquonatildeo esperanccedilardquo Temos muito trabalho a fazer e conto com

vocecircs para isso Vocecircs satildeo os principais guerreiros Eu vi com muito otimismo a audiecircncia

puacuteblica que foi realizada em abril pelo Ministeacuterio da Sauacutede que visa a Poliacutetica Nacional de

Diretrizes de atenccedilatildeo integral para pessoas com doenccedilas raras na rede puacuteblica prevenccedilatildeo

tratamento multidisciplinar e reabilitaccedilatildeo Mas natildeo pode ficar no papel como a Portaria 81 de

atenccedilatildeo em geneacutetica Eu acho que paralelamente a tudo que a gente precisa de doenccedila rara a

gente precisa de investimento em pesquisa cientiacutefica para doenccedila rara E isso eacute outro lado que

a gente vem trabalhando tambeacutem o deputado Romaacuterio tem um projeto de lei que eu sou a

relatora que eacute um projeto que desburocratiza a importaccedilatildeo de insumos para laboratoacuterios de

pesquisa Parece uma coisa muito complexa mas a gente quer eacute cura para doenccedilas rarasAs

pesquisas brasileiras satildeo muito lentas muitas vezes e na maioria das vezes o que os

pesquisadores pedem natildeo eacute recurso eles pedem condiccedilotildees para que consigam fazer as

pesquisas para que eles consigam importar reagentes por exemplo Nos Estados Unidos vocecirc

encomenda um reagente de manhatilde e agrave tarde ele estaacute no laboratoacuterio Aqui fica dois trecircs meses

preso no aeroporto e muitas vezes satildeo produtos pereciacuteveis que na hora que consegue retirar

jaacute estaacute estragado Eacuteisso que mais prejudica a pesquisa cientiacutefica no Brasil

Esse projeto estaacute na comissatildeo de seguridade social e famiacutelia para ser votado e quem sabe

eacute mais um incremento mais uma accedilatildeo para gente trabalhar em prol das doenccedilas raras para

poder ter a esperanccedila de contar com a pesquisa cientiacutefica no Brasil que eacute um paiacutes que tem

pesquisadores de alta competecircncia mas onde eacute tudo tatildeo engessado e dificultoso que muitas

vezes a nossa pesquisa natildeo desponta Eu acho que ela eacute competitiva com pesquisas no mundo

inteiro e que o Brasil tem chances inclusive de contribuir para a pesquisa em outros paiacuteses

Agora o Brasil atraveacutes de uma resoluccedilatildeo da ANVISA vai poder participar de estudos em fase

trecircs para medicamentos de uso compassivo Isso vai ser muito bom aqui no Brasil para a

pesquisa cliacutenica com pacientes porque eu vejo muitos pacientes de ELA que ficam em contato

com pacientes de outros paiacuteses que estatildeo sempre participando de protocolos de uso de

medicamentos novos E eu natildeo sei se haacute uma auto sugestatildeo ou natildeo mas estatildeo sempre

melhorando Os brasileiros natildeo podiam participar disso porque natildeo era aprovado no Brasil e

agora isso foi aprovado e a gente vai poder participar

Tambeacutem temos que ficar trazendo estiacutemulo para os nossos pesquisadores e para os nossos

laboratoacuterios para que possamos participar desse uso compassivo de medicamentos em fase trecircs

Eu vou continuar aqui e qualquer duacutevida qualquer coisa que vocecircs queiram me falar eu estou

a disposiccedilatildeo

Obrigada

Entatildeo acabo de receber uma pergunta e vou responder A pessoa pergunta que legislaccedilatildeo

existe hoje para famiacutelias que precisam de cuidadores ou home care e natildeo tecircm condiccedilotildees

financeiras

Na verdade de cuidador natildeo tem uma legislaccedilatildeo tem os projetos de lei que eu protocolei

Um na assistecircncia social para quem realmente natildeo tem recurso para pagar e outro na

125

previdecircncia para aquele que eacute contribuinte e pode vir a receber esse auxiacutelio cuidador para ele

mesmo pagar a algueacutem que pode ser um familiar ou um outro profissional Agora o que existe

na previdecircncia eacute um acreacutescimo de 25 para o segurado contribuinte que precise de uma

assistente pessoal Isso funciona para quem tem deficiecircncia severa doenccedilas raras e idosos

tambeacutem Hoje ainda natildeo existe esse tipo de lei que garanta o cuidador Existe uma portaria do

Ministeacuterio da Sauacutede que garante assistecircncia domiciliar e nessa portaria estatildeo cobertas vaacuterias

doenccedilas Poreacutem ela exclui o ventilador invasivo Muitas pessoas com distrofia muscular com

amiotrofia espinhal progressiva com esclerose lateral amiotroacutefica precisam de um respirador

volumeacutetrico para ficar 24 horas por dia na maacutequina Quem usa respiraccedilatildeo mecacircnica 24 horas

por dia precisa desse equipamento Esse equipamento estaacute excluiacutedo da portaria de atendimento

domiciliar Entatildeo eacute outro olhar que vem do lado do avesso porque o que que acontece Laacute em

fortaleza a Sra Faacutetima que tem um filho com amiotrofia espinhal progressiva fez uma

revoluccedilatildeo laacute e conseguiu tirar da UTI sete crianccedilas que como o filho dela tem AMP e estatildeo

morando em casa com muito mais qualidade de vida Hoje a gente natildeo consegue levar todas as

crianccedilas com amiotrofia que estatildeo na UTI para casa porque a gente tem essa portaria que natildeo

permite que ela funcione para quem usa respiraccedilatildeo invasiva E isso eacute um outro trabalho

Eu fui laacute e entreguei na matildeo do Ministro e tanto ele quanto a equipe dele me garantiu que

ateacute o fim do ano vai sair da portaria essa exclusatildeo da respiraccedilatildeo volumeacutetrica Eacute mais uma

inversatildeo de valores porquecirc Porque uma pessoa dentro da UTI custa 3300 reais por dia

enquanto que o atendimento domiciliar custa 272 reais por dia Olha a diferenccedila Eacute muito mais

saudaacutevel eacute muito mais humano eacute mais felicidade para pessoa que tem a doenccedila Entatildeo a gente

tem sim atendimento domiciliar mas precisa melhorar

Ieda Bussman9 ndash Boa tarde

Eacute com grande alegria que vejo acontecer hoje um dos grandes projetos do Rogeacuterio Desde

o iniacutecio da AMAVI ele desejava e planejava esse congresso Mais uma vez parabeacutens Rogeacuterio

Eu ainda espero ver um outro

Tambeacutem eacute grande a alegria de assistir agrave comprovaccedilatildeo de que a uniatildeo faz a forccedila Noacute

estamos hoje aqui reunidas diversas associaccedilotildees e vimos sendo merecedores de um olhar

especial finalmente pela parte do governo A uniatildeo tambeacutem do governo dos meacutedicos

pesquisadores e da induacutestria farmacecircutica

Ao aceitar o convite para proferir como paciente algumas palavras nesse Congresso

aceitei tambeacutem a sugestatildeo de que fosse sobre as pesquisas e os pacientes A importacircncia das

pesquisas para os pacientes o envolvimento dos pacientes nas pesquisas e a responsabilidade

dos pesquisadores para com os pacientes Natildeo haacute como negar a importacircncia das pesquisas para

os pacientes pois eacute por meio dela que se adquire o conhecimento a que se chega a investigaccedilatildeo

tratamento prevenccedilatildeo e finalmente eu espero a cura pelo menos de algumas doenccedilas

Enquanto natildeo chega a cura a qualidade de vida e a atenccedilatildeo que todos merecem

Com a uniatildeo novamente a uniatildeo dos cientistas das vaacuterias aacutereas a gente vem chegando a

grandes avanccedilos Na parte das doenccedilas raras muito aconteceu apoacutes o sequenciamento do

genoma humano As terapias celulares tirando outras terapias tambeacutem mas as terapias

celulares a princiacutepio com ceacutelulas tronco embrionaacuterias satildeo a partir de ceacutelulas adultas regredidas

ateacute agrave condiccedilatildeo semelhante agrave das ceacutelulas embrionaacuterias Terapias gecircnicas quando eacute a inserccedilatildeo de

um gene que funcional vai corrigir um gene mutado da proacutepria porfiria de que eu sou paciente

por exemplo Jaacute temos terapia geneacutetica ou gecircnica em andamento Haacute outras como

neuromodulaccedilatildeo nanotecnologia aplicada agrave sauacutede em que satildeo usadas nanopartiacuteculas em

9 Presidente da Associaccedilatildeo Brasileira de Porfiacuteria

126

medicamentos transplantes e contrastesA pesquisa realmente eacute muito importante para noacutes os

pacientes Eacute a porta que se abre para a cura

Eu estive olhando vaacuterias notiacutecias recentes que satildeo pouquiacutessimas e eu selecionei algumas

Satildeo notiacutecias boas que enchem a gente de esperanccedila Para mim qualquer coisinha qualquer

luzinha sobre uma cura um medicamento jaacute eacute uma coisa muito importante E eu acredito eu

acho que natildeo eacute hoje nem amanhatilde mas a gente vai chegar a muita coisa boa Todos os dias

temos notiacutecias mas ainda haacute muita coisa para ser descoberta Nada eacute possiacutevel sem a

participaccedilatildeo dos pacientes

Uma notiacutecia eacute que pesquisadores identificaram mecanismos e possiacuteveis medicamentos para

tumores da neurofibromatose notiacutecia de 2008 Outra eacute sobre a Siacutendrome de Down onde foram

usadas ceacutelulas tronco pluripotentes de uma pessoa com Siacutendrome de Down e foi inativada a

coacutepia extra do cromossoma 21 inserindo nela o gene Essa notiacutecia eacute recente de setembro Outra

eacute que cientistas usam o HIV para cura da leucodistrofia metapromatica e Siacutendrome de Willliams

Aldreans Consta aqui que foi usado como vetor viral do viacuterus da AIDS Essa aqui eacute da porfiria

que eu jaacute comentei antes e eacute um estudo que vem sendo feito desde 2007 na Universidade

Navarra na Espanha que eacute uma terapia para tratar a porfiria plurintermitente que eacute a porfiria

da qual eu sou portadora Jaacute foram realizadas as fases um e dois Natildeo eacute faacutecil Desde 2007 e noacutes

estamos em 2012

Existem muitas muitas notiacutecias Eu selecionei aqui algumas boas e mais tarde eu vou falar

de algumas natildeo tatildeo boas

Para falar do envolvimento dos pacientes nas pesquisas a gente se pergunta seria possiacutevel

que os novos tratamentos fosses testados apenas em cobaias Natildeo seria possiacutevel Quer dizer

satildeo feitos primeiro os testes em laboratoacuterios depois em cobaias mas como eacute um tratamento

para seres humanos ele tem que ser testado em humanos se natildeo natildeo vai valer E no caso das

doenccedilas raras mas natildeo soacute das doenccedilas raras os pacientes em geral tecircm muita preocupaccedilatildeo em

participar das pesquisas No caso das doenccedilas raras eacute mais difiacutecil ainda porque satildeo raras as

pessoas aiacute fica muito mais difiacutecil

Os fatos ruins que eu estou falando satildeo experiecircncias do passado que ficaram como marca

e ajudaram as pessoas a ter esse receio de participar das pesquisas Sob o regime Nazista

durante a Segunda Guerra Mundial cobaias humanas participaram contra a vontade de

experiecircncias Os meacutedicos apoacutes o teacutermino da Guerra foram julgados pelo julgamento de

Nuremberg O Governo dos Estados Unidos financiou experimentos na Guatemala de 1946 a

1948 para determinar se a penicilina era uacutetil contra doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis Os

experimentos natildeo foram publicados e soacute foram divulgados em 2010 depois que uma professora

da Universidade os encontrou por acaso Outra experiecircncia draacutestica tambeacutem aconteceu com 600

negros saudaacuteveis e natildeo saudaacuteveis que foram acompanhados por cientistas durante 40 anos na

observaccedilatildeo da progressatildeo natural da siacutefilis sem tratamento algum A pesquisa foi suspensa apoacutes

denuacutencia do caso por um membro da equipe O Jardineiro Fiel que acho que todo mundo jaacute

conhece a histoacuteria o livro fala de um processo contra a induacutestria farmacecircutica que teria

realizado testes ilegais com pessoas na Nigeacuteria e nos testes constava que era para impedir a

disseminaccedilatildeo da AIDS Distribuiacuteam medicamentos gratuitamente e na verdade eram

medicamentos para testar um novo medicamento contra tuberculose e que tinha graves efeitos

colaterais Para que as pesquisas pudessem ter continuidade e as pessoas estivessem dispostas

a participar sem ter o medo e diante de uma justiccedila social foi necessaacuterio criar regras e coacutedigos

de eacutetica

Os Coacutedigos de Eacutetica jaacute existiam desde Hipoacutecrates Declaraccedilatildeo de Direitos dos Homens

declaraccedilatildeo de Genebra declaraccedilatildeo de Useink e suas atualizaccedilotildees Os princiacutepios baacutesicos das

pesquisas com seres humanos estatildeo na Resoluccedilatildeo 196 de 1996 do Conselho Nacional de Sauacutede

Atualmente parece que houve alguma coisinha mais mas os princiacutepios continuam os mesmos

respeito a dignidade e autonomia ponderaccedilatildeo entre riscos e benefiacutecios da pesquisa garantia de

127

que danos previsiacuteveis seratildeo evitados e igual consideraccedilatildeo entre os interesses envolvidos O

voluntaacuterio da pesquisa ele deve saber tudo o que vai acontecer na pesquisa antes de se decidir

qual a importacircncia da pesquisa o que os pesquisadores querem descobrir como aconteceraacute a

pesquisa que tipos de riscos e benefiacutecios existem se existem outras alternativas aleacutem dessa

como seraacute a assistecircncia meacutedica hospitalar sendo necessaacuteria quem faraacute o acompanhamento

quem seraacute o responsaacutevel pela pesquisa e como entrar em contato com eles 10

O participante tem direito a esclarecimento sobre a pesquisa em que estaacute participando a

qualquer momento desejado ele tem direito agrave privacidade e anonimato a respeito de suas

decisotildees haacutebitos e crenccedilas informaccedilotildees sobre o andamento e resultado exclusividade a

contribuiccedilatildeo dele deve ser usada apenas para aquele projeto que ele autorizou tratamento e

indenizaccedilatildeo para complicaccedilotildees previstas A garantia do respeito aos direitos se faz atraveacutes do

preenchimento e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido Crianccedilas

adolescentes e portadores de doenccedila mental tecircm o direito de serem informados ateacute onde forem

capazes de compreender e natildeo devem ser forccedilados a aceitar a participaccedilatildeo seratildeo assistidos

pelos pais ou responsaacuteveis legais que assinaratildeo o TCLE Natildeo deveraacute haver discriminaccedilatildeo entre

sexo idade raccedila etnia religiatildeo pobreza analfabetismo ou qualquer outro motivo Para evitar

que pessoas sejam pagas pela participaccedilatildeo em estudos e pesquisas eacute proibido o recebimento de

dinheiro presentes objetos ou favores Todo o estudo deve ser indiciado e aprovado pelo

comitecirc de eacutetica em pesquisa da instituiccedilatildeo na qual seraacute realizado e em algumas situaccedilotildees deve

ser aprovado pela CONEP11

Muito obrigado pela atenccedilatildeo

Maacuterio Saporta12 - Boa tarde a todos

Eu vou rapidamente agradecer agrave AMAVI pelo convite

Eu represento um dos trecircs braccedilos que eu acredito que formam o movimento proacuteprio de

doenccedilas raras Eu estou aqui representando a Universidade a pesquisa Noacutes temos pacientes e

familiares noacutes temos o governo aqui tambeacutem Entatildeo todos os elementos estatildeo aiacute juntos para

conseguir desenvolver o campo das doenccedilas raras O que eu vou apresentar hoje eacute o trabalho

que a gente desenvolve na UFRJ no laboratoacuterio nacional de ceacutelulas tronco13 e essa teacutecnica

nova chamada reproduccedilatildeo celular Eu quero mostrar para vocecircs o que ela pode oferecer em

relaccedilatildeo agrave pesquisa para novos tratamentos em doenccedilas raras Eu natildeo vou me concentrar aqui no

uso de ceacutelulas tronco que esse eacute um campo que a gente chama de terapia celular Eacute um campo

que ainda estaacute em desenvolvimento e que eu acho que provavelmente vai gerar frutos bem

mais tarde que o campo da reprogramaccedilatildeo celular Entatildeo o que eu quero falar durante esses 10

a 15 minutos eacute um pouco sobre pesquisa em doenccedilas raras focando no uso da reprogramaccedilatildeo

celular Vou explicar para vocecircs o que eacute reprogramaccedilatildeo celular e como ela pode ser usada no

estudo das doenccedilas raras E vou terminar falando um pouquinho tambeacutem do que eu conversei

com a plateia ontem na audiecircncia como fomentar como investir como financiar pesquisas em

doenccedilas raras

As doenccedilas raras individualmente satildeo raras mas coletivamente satildeo significativas em

relaccedilatildeo agrave frequecircncia delas em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo geral Eacute importante dizer que ela tem um

vieacutes ainda mais importante que acomete preferencialmente crianccedilas e isso com certeza gera

um senso de urgecircncia ainda maior em relaccedilatildeo agrave busca por tratamentos das doenccedilas raras 95

delas natildeo possui nenhum tipo de tratamento aprovado

10 Informaccedilotildees retiradas de um folder do Ministeacuterio da Sauacutede Conselho Nacional de Sauacutede ldquoVoluntaacuterio em pesquisa informe-

se para decidirrdquo 11 Comissatildeo Nacional de Eacutetica em Pesquisa httpconselhosaudegovbrweb_comissoesconepindexhtml 12 Laboratoacuterio Nacional de Ceacutelulas Tronco ndash UFRJ 13 httpwwwlance-ufrjorg

128

O que satildeo Ceacutelulas Tronco e o que satildeo Ceacutelulas Pluripotentes Ceacutelulas Pluripotentes satildeo

ceacutelulas que podem se transformar em qualquer outra ceacutelula do organismo humano Entatildeo com

essas ceacutelulas se a gente manipular quimicamente e de maneira especiacutefica a gente pode criar

tipos de ceacutelulas especiacuteficas Por exemplo se eu quero estudar uma doenccedila neuroloacutegica eu posso

criar neurocircnios a partir dessa ceacutelula se eu quiser estudar uma doenccedila cardiacuteaca eu posso criar

ceacutelulas do coraccedilatildeo para o estudo in vitro no laboratoacuterio em busca de novos tratamentos Elas

satildeo ceacutelulas com um potencial enorme para se estudar uma doenccedila porque a gente pode ser

extremamente especiacutefico usando uma ceacutelula humana que eacute um diferencial em relaccedilatildeo a

modelos animais

Para entender a programaccedilatildeo celular vamos fazer um paralelo com a informaacutetica que eacute uma

coisa que todo mundo usa no dia a dia Nossas ceacutelulas tecircm o que a gente chama de coacutedigo

geneacutetico e que funciona como a programaccedilatildeo de um computador Como na programaccedilatildeo de um

computador a gente pode usar ferramentas da geneacutetica para modificar esse coacutedigo essa

programaccedilatildeo Se a gente pegar por exemplo uma ceacutelula da pele que eacute faacutecil da gente tirar ou

ateacute da urina que eacute mais faacutecil ainda que eacute soacute coletar a amostra da urina e separar essas ceacutelulas

noacutes podemos introduzir alguns genes nessas ceacutelulas e fazer com que se reprogramem ou seja

mude a programaccedilatildeo a maneira com que o DNA dela eacute expresso e essas ceacutelulas se tornam

entatildeo como se fossem ceacutelulas tronco embrionaacuterias ou seja ceacutelulas que tecircm o potencial de virar

qualquer outro tipo celular que a gente queira estudar E daiacute a gente consegue mais uma vez

usando o estiacutemulo quiacutemico correto transformar essas ceacutelulas no tipo celular que a gente quer

estudar

Eu sou Neurologista estudo uma doenccedila rara neurogeneacutetica a doenccedila de Charcot-Marie-

Tooth Para mim especificamente eacute interessante estudar os neurocircnios e as ceacutelulas de Schwann

para outros pesquisadores vai ser outros tipos celulares mas a tecnologia se aplica do mesmo

jeito Desde a descriccedilatildeo dessa nova tecnologia em 2007 uma enormidade de doenccedilas a maioria

delas geneacuteticas e raras jaacute foram modeladas dessa maneira usando essa tecnologia

Soacute para mostrar a potencialidade dessa tecnologia com ela a gente consegue modelar natildeo

soacute a doenccedila mas o doente Podemos pegar um paciente e estudar especificamente naquele

paciente como a doenccedila se manifesta nas suas ceacutelulas E o que a gente pretende fazer mais para

frente eacute usar essa mesma plataforma para procurar medicamentos e substacircncias que possam

corrigir essa anormalidade celular Esse aqui eacute um exemplo com Um dos primeiros trabalhos

com reprogramaccedilatildeo celular foi um paciente com atrofia muscular espinhal de que os

pesquisadores reproduziram ceacutelulas Satildeo ceacutelulas IPS ou ceacutelulas de Pluripotecircncia Induzida de

um paciente com AME14 e da matildee dele que natildeo tinha a mutaccedilatildeo e isto mostrou que as ceacutelulas

desses pacientes se comportavam de maneiras diferentes Especificamente vocecircs conseguem

ver aqui15 que o azul eacute o nuacutecleo de uma ceacutelula e essas setas estatildeo apontando para uns pontinhos

verdes dentro desse nuacutecleo Essas ceacutelulas normalmente em pessoas natildeo afetadas pela AME

possuem esses pontinhos e eacute esperado que elas tenham isso Em pacientes com a Atrofia

Muscular Espinhal esses pontinhos desaparecem e isso tem repercussatildeo pela doenccedila eacute causado

pela doenccedila Os pesquisadores usaram isso como uma maneira de buscar tratamento Entatildeo eles

colocaram essas ceacutelulas numa placa e jogaram diferentes medicamentos e viram quais

medicamentos poderiam fazer com que esses pontinhos reaparecessem e com isso eles acharam

alguns medicamentos que podem potencialmente ter um efeito de tratamento para esse paciente

Isso daqui natildeo eacute obviamente um produto pronto Ah esse medicamento vai funcionar com

grande certeza mas eacute um grande avanccedilo por ser uma ceacutelula humana e do paciente ao inveacutes

de se fazer essa primeira testagem por exemplo em animais O que a gente tem identificado e

o que a gente espera mostrar em mais trabalhos eacute que essa tecnologia vai conseguir encurtar o

14 Atrofia Muscular Espinhal 15 Slide 8

129

tempo em que a gente identifica uma droga passa para um estudo animal e para um estudo

cliacutenico E natildeo eacute soacute encurtar o tempo mas aumentar a chance de que aquele primeiro achado

positivo venha a se confirmar num estudo cliacutenico mais para frente O que acontece muito em

doenccedila rara eacute a gente achar uma medicaccedilatildeo que funciona super bem em camundongo e quando

vai testar no ser humano natildeo funciona nada Utilizando o modelo humano de preacute-testagem de

drogas ou de medicamentos a gente espera conseguir aumentar nossa chance de acerto

Esse eacute o modelo que a gente estaacute desenvolvendo no nosso laboratoacuterio A gente coleta

amostra de pacientes tanto de pele quanto de urina faz aquela manipulaccedilatildeo geneacutetica mexe laacute

no coacutedigo geneacutetico das ceacutelulas e faz elas virarem ceacutelulas IPS ou ceacutelulas tronco induzidas A

diferenccedila no tipo celular que a gente quer estudar no nosso caso satildeo neurocircnios E outra coisa

que a gente tambeacutem pode fazer eacute usar outros tipos celulares que tambeacutem vatildeo servir para dizer

para a gente se a droga eacute segura do ponto de vista cardiacuteaco e do ponto de vista renal para que

essa droga tenha o miacutenimo de toxicidade possiacutevel quando ela for para um ensaio cliacutenico Essa

identificaccedilatildeo de drogas vai voltar para o paciente como um estudo cliacutenico primeiro e

eventualmente uma terapia Obviamente todo mundo deve estar pensando Entatildeo porque que

natildeo usa essas ceacutelulas para terapia celular e injetar essas ceacutelulas no pacienterdquo Com certeza esse

eacute um objetivo para o futuro e o futuro natildeo estaacute tatildeo distante A gente jaacute tem um estudo

comeccedilando no Japatildeo em que essas ceacutelulas estatildeo sendo usadas para tratar um tipo de

degeneraccedilatildeo retiniana quer dizer doenccedila oftalmoloacutegica e a gente imagina que esse vai ser o

caminho natural das coisas Mas a gente ainda aposta que identificar drogas medicamentos vai

ser mais raacutepido e vai surtir efeitos e resultados para os pacientes mais raacutepido que a terapia

celular que eacute uma coisa que a gente ainda precisa aprender muito sobre o como que essas

ceacutelulas se comportam no organismo humano

Esse aqui eacute o robocirc A gente tem um parecido no laboratoacuterio O que ele faz basicamente eacute

pegar uma placa com ceacutelulas e enfiar no microscoacutepio para fazer a leitura dessas placas tirar e

colocar de novo E com isso a gente pode fazer uma triagem de 3000 7000 mudanccedilas diferentes

durante uma noite enquanto a gente estaacute em casa dormindo por exemplo para voltar no

laboratoacuterio no dia seguinte e jaacute ter todos os dados para serem analisado E parece coisa de ficccedilatildeo

cientiacutefica mas jaacute tem um estudo utilizando essa plataforma que eu estou descrevendo aqui e

que foi capaz de identificar algumas substacircncias que no caso de pacientes com Esclerose Lateral

Amiotroacutefica reduzia a perda neuronal a perda de neurocircnios que eacute uma caracteriacutestica da doenccedila

Entatildeo o que eles fizeram foi colocar neurocircnios de pacientes com Esclerose Lateral Amiotroacutefica

e observaram que essas ceacutelulas morriam mais rapidamente em cultura que as ceacutelulas de

pacientes natildeo afetados e conseguiram identificar medicamentos que reduziam a velocidade com

que essa morte acontecia

Identificando potenciais candidatos a ensaios cliacutenicos em esclerose lateral amiotroacutefica

Aqui eacute o exemplo de como a gente pode fazer desses candidatos que a gente identifica como o

potencial tratamento para alguma medicaccedilatildeo eacute seguro do ponto de vista por exemplo

cardioloacutegico Eu quero que vocecircs observem essa regiatildeo da placa Tem uma regiatildeo da placa que

estaacute batendo ritmicamente Essa placa eacute uma placa com muacutesculo cardiacuteaco ceacutelulas do muacutesculo

cardiacuteaco Ela estaacute reproduzindo em uma placa de cultura o funcionamento de um coraccedilatildeo e

com isso a gente consegue fazer um eletrocardiograma dessa placa Agrave medida que a gente joga

diferentes compostos daacute para notar se estaacute havendo alguma alteraccedilatildeo desse funcionamento

cardiacuteaco E essa eacute uma maneira de se tentar identificar se uma droga tem efeito ruim no caso

efeito de toxicidade para o coraccedilatildeo e se sim ela jaacute natildeo seria usada no ensaio cliacutenico

A minha experiecircncia eacute com a doenccedila de Charcot-Marie-Tooth (CMT) que eacute uma

neuropatia hereditaacuteria uma doenccedila neurogeneacutetica que estaacute junto com a neurofibromatose

como as duas doenccedilas geneacuteticas mais comuns a afetar pacientes no mundo Eacute uma doenccedila que

natildeo eacute fatal mas que causa muita debilidade e muita incapacidade por degeneraccedilatildeo de nervos e

de muacutesculos E o nosso interesse aleacutem desse fator humano oacutebvio eacute que ela oferece um modelo

130

para a gente estudar nosso sistema nervoso Entatildeo cada gene mutado que causa a CMT eacute um

gene que estaacute associado a uma funccedilatildeo do neurocircnio ou da ceacutelula de Schwann que satildeo ceacutelulas do

sistema nervoso perifeacuterico Estudando a CMT a gente tambeacutem estaacute estudando como nosso

sistema nervoso funciona e como a gente pode tratar natildeo soacute a CMT mas outras doenccedilas

neuroloacutegicas raras e tambeacutem comuns

Durante o meu Poacutes Doutorado eu fiquei cinco anos nos Estados Unidos e dois anos eu

dediquei para produzir essas ceacutelulas reprogramadas essas ceacutelulas IPS de pacientes com

Charcot-Marie-Tooth e a gente conseguiu fazer isso com 14 pacientes e agora temos um

projeto tanto aqui no Brasil como laacute fora para expandir esse banco de ceacutelulas para serem usadas

natildeo soacute em pesquisa de como uma doenccedila funciona mas tambeacutem de como tratar essa doenccedila

O que a gente pode fazer para estimular as pesquisas em doenccedilas raras

Obviamente a gente precisa de dinheiro A elaboraccedilatildeo de editais de fomento das agecircncias

governamentais eacute fundamental para que a gente tenha a capacidade de comprar insumos e

produzir ciecircncia aqui no Brasil Mas mais importante que isso noacutes precisamos de redes de

colaboraccedilatildeo entre centros de excelecircncia ao redor do Brasil porque uma andorinha soacute natildeo faz

veratildeo e isso eacute verdade para qualquer coisa inclusive para a ciecircncia A gente precisa de gente

boa que saiba ver um paciente e saiba estudar a doenccedila desse paciente Noacutes temos quefortalecer

ndash e acho que o dia de hoje eacute tudo sobre isso ndash fortalecer o papel das associaccedilotildees de pacientes e

familiares no fomento de pesquisa em doenccedilas raras E uma coisa que a Deputada Mara jaacute

comentou eacute viabilizar mecanismos que tornem a nossa pesquisa mais competitiva que eacute

facilitar a entrada de insumos aqui no Brasil

Este eacute o modelo de apoio que eu mencionei no comeccedilo Estatildeo assistecircncia pesquisa e apoio

pacientes governo meacutedicos e pesquisadores E a conclusatildeo que todo mundo chega eacute essa que

paciente com doenccedila rara precisa de pesquisa e atendimento especializado Noacutes precisamos da

participaccedilatildeo do governo dos pacientes familiares meio acadecircmico fomento agrave pesquisa jaacute que

essas novas tecnologias que eu apresentei aqui hoje prometem revolucionar o estudo das

doenccedilas raras e aumentar a velocidade de descoberta de novos medicamentos Este eacute o nosso

grupo o grupo do professor Steven Hans da UFRJ de que eu faccedilo parte e eu agradeccedilo a atenccedilatildeo

de vocecircs aqui hoje

Obrigado

131

5ordf Mesa A realidade brasileira para doenccedilas raras

Marcos Burle Aguiar1 ndash Inicialmente eu gostaria de agradecer agrave AMAVI especialmente

ao Rogeacuterio que me convidou para participar desse evento que eacute um evento que trata de um

assunto pelo qual eu sou realmente apaixonado

Euvou abordar aqui dois aspectos da poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com doenccedilas raras no

acircmbito do SUS Vou abordar primeiro as caracteriacutesticas dessa poliacutetica e segundo a

implantaccedilatildeo da mesma e os problemas que a gente tem nesta implantaccedilatildeo

Qual foi a origem dessa poliacutetica Foi exatamente a semana internacional de doenccedilas raras

do ano passado e coincidentemente exatamente naquele dia foi lanccedilado na Inglaterra o seu

projeto para doenccedilas raras uma consulta que deve ter se encerrado a 31 de dezembro do ano

passado E isso eacute uma coisa muito interessante porque a Inglaterra jaacute tinha uma experiecircncia

muito grande em diagnosticar em tratar as doenccedilas raras mas eles tentam transformar isso num

projeto mais denso

O que a gente tinha ateacute a criaccedilatildeo desse grupo Na verdade a gente natildeo tinha nenhuma

poliacutetica como continuamos sem tecirc-la hoje natildeo eacute verdade E a gente tinha muitas

reinvindicaccedilotildees de demandas judiciais Vocecircs sabem mais do que eu que a poliacutetica de doenccedila

rara estaacute sendo criada pelos juiacutezes e natildeo pelo legislador do Ministeacuterio da Sauacutede A gente tinha

pacientes e associaccedilotildees mal atendidos e o que eacute pior eacute que isso natildeo permitia ganhos reais

ganhos no sentido de que cada decisatildeo beneficiava um paciente ou um grupo de pacientes E

essas iniciativas soacute tinham efeitos locais e imediatos a longo prazo elas eram ineficazes

O que a gente poderia fazer nesse grupo e esse debate passou no iniacutecio do grupo que era o

seguinte A gente vai fazer uma poliacutetica baseada apenas na divulgaccedilatildeo de educaccedilatildeo nas doenccedilas

raras Se a gente fizesse isso o que noacutes fariacuteamos Basicamente copiar o que os paiacuteses

desenvolvidos jaacute fizeram A gente ia pegar em muita coisa do orphanet2 coisa de muito boa

qualidade que a gente ia divulgar mas para fazer isso natildeo precisava de um grupo de trabalho

Se a gente trabalhasse tambeacutem numa poliacutetica baseada apenas no diagnoacutestico dessas doenccedilas

quem ia tratar esses pacientes E aqui eu digo tratamento como um todo natildeo eacute tratamento

medicamentoso apenas eacute o tratamento da pessoa Se a gente fosse fazer uma poliacutetica baseada

nas demandas judiciais mais comuns a gente ia tambeacutem fazer uma colcha de retalho Se a gente

fosse fazer uma poliacutetica baseada no tratamento de doenccedilas raras a gente ia atender mais ou

menos um e meio por cento das doenccedilas ou seja um grande nuacutemero de doenccedilas importantes

um grande nuacutemero de pacientes ficaria de fora Mas por outro lado a gente tinha que

compreender que a gente natildeo partia do zero vocecirc tinha no Brasil inuacutemeras Associaccedilotildees de

apoio as doenccedilas raras tanto com doenccedilas geneacuteticas e natildeo geneacuteticas que acumulavam

experiecircncia Essa experiecircncia que vocecircs tecircm hoje eacute importante para noacutes A gente tinha diversos

serviccedilos de geneacutetica no Brasil e isso mostrava para gente de que era necessaacuterio o quecirc Uma

poliacutetica abrangente Que significasse um passo inicial mas que previsse o seu desdobramento

E uma das preocupaccedilotildees da gente era aproveitar toda e qualquer iniciativa Se existe um lugar

em que tem um grupo pequeno uma Associaccedilatildeo que lida com uma doenccedila x a gente natildeo vai

proibir porque aquele grupo natildeo tem capacidade Aquele grupo vai poder existir e a gente vai

ver um jeito de como aproveitar a sua experiecircncia a longo prazo

A gente deveria entatildeo ter uma poliacutetica que permitisse essa organizaccedilatildeo e associar os

serviccedilos de geneacutetica que trabalham com doenccedilas raras e as associaccedilotildees numa poliacutetica uacutenica

1 Representante do Ministeacuterio da Sauacutede no Grupo de Trabalho para criaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica para doenccedilas raras 2 httpwwworphanetconsorcgi-binindexphp

132

Entatildeo a gente de uma certa forma de um ponto de vista ateacute mais da idade separou as doenccedilas

geneacuteticas das natildeo geneacuteticas Noacutes tiacutenhamos naquela eacutepoca 81 serviccedilos de geneacutetica mais de

metade situados no Sudeste mas todas as regiotildees do Brasil tinham pelo menos algum centro de

geneacutetica ou serviccedilo de geneacutetica Aleacutem disso existia a niacutevel do governo federal uma seacuterie de

programas tambeacutem voltados para doenccedilas raras O programa Viver sem limites com a sua rede

de deficientes os centros especializados de reabilitaccedilatildeo o transporte sanitaacuterio para tentar

abordar a questatildeo do transporte desses pacientes que tecircm dificuldade programa de recuperaccedilatildeo

da audiccedilatildeo programa de recuperaccedilatildeo da visatildeo coordenaccedilatildeo geral de alimentaccedilatildeo e nutriccedilatildeo

que eacute importante porque um conjunto grande das doenccedilas raras de natureza metaboacutelica depende

principalmente disso e tambeacutem a gente tinha grupos de definiccedilatildeo de protocolos

Vejam soacute satildeo todos programas novos que estavam comeccedilando e que natildeo tinha sentido

natildeo procurar natildeo se integrar com eles todos Na verdade a gente procura na poliacutetica o quecirc

Envolver tanto a atenccedilatildeo baacutesica quanto a atenccedilatildeo domiciliar a atenccedilatildeo especializada tanto a

niacutevel ambulatorial quanto a niacutevel hospitalar os centro especializados em reabilitaccedilatildeo que estatildeo

sendo criados no paiacutes e todos os centros jaacute existentes no paiacutes que lidassem com isso

O que a gente fez Primeiro a gente dividiu em dois grupos de doenccedilas as doenccedilas

geneacuteticas e as natildeo geneacuteticas Cada grupo tem trecircs eixos As doenccedilas geneacuteticas eixo das

anomalias congecircnitas deficiecircncia intelectual e erro inato do metabolismo As doenccedilas natildeo

geneacuteticas doenccedilas infecciosas auto imunes e auto inflamatoacuterias E ficou muito claro para noacutes

que principalmente na aacuterea das doenccedilas natildeo geneacuteticas essa separaccedilatildeo por grupo eacute mais difiacutecil

e que fica aberto para vocecircs criarem outros eixos outros serviccedilos e centros especializados

Para cada eixo satildeo definidos protocolos e quem ler a poliacutetica vai ver isso A gente tem

quais satildeo as funccedilotildees da atenccedilatildeo baacutesica os criteacuterios de encaminhamento da atenccedilatildeo baacutesica por

centro especializado e as interfaces que satildeo recomendadas Na atenccedilatildeo especializada as

funccedilotildees os procedimentos que ela pode realizar os criteacuterios de encaminhamento para

devoluccedilatildeo e o apoio diagnoacutestico tanto especiacutefico quanto geral

A atenccedilatildeo especializada seria a responsaacutevel por accedilotildees diagnoacutesticas e terapecircuticas de

indiviacuteduos com ou sob risco de doenccedilas raras Noacutes seguimos dois grandes setores o setor da

atenccedilatildeo especializada em doenccedilas raras e aqui esse serviccedilo pode atender apenas uma doenccedila

ou um grupo de doenccedilas de um mesmo eixo e os centros de referecircncias de doenccedilas raras que

satildeo centros mais complexos onde ele atende um grupo maior dois eixos dois setores daqueles

eixos ou mais do que isso

O que foi definido Portas de entrada O papel da atenccedilatildeo baacutesica o papel da meacutedia e alta

complexidade e isso tem que ter uma relaccedilatildeo tanto com o hospital como maternidade porque

o paciente com doenccedila rara natildeo vem soacute do ambulatoacuterio ou da atenccedilatildeo baacutesica ele pode vir do

berccedilaacuterio quando teve o diagnoacutestico de doenccedila rara da enfermaria ou de um CTI Aleacutem disso

deve-se fazer o treinamento de profissionais de sauacutede elaborar protocolos realizar pesquisa e

divulgar doenccedilas raras Aqui numa associaccedilatildeo estreita com as Associaccedilotildees Civis

O que a gente constata depois disso Que a gente propocircs uma poliacutetica integral criou-se

uma poliacutetica nova no SUS Cada conquista a gente entende que ela tem que representar um

avanccedilo e ela tem que estar aberta a modificaccedilotildees Ela natildeo vai estar focada apenas na

divulgaccedilatildeo nem no diagnoacutestico nem nas demandas judiciais e nem apenas no tratamento Ela

estaraacute centrada no acolhimento do paciente e no atendimento integral a esse paciente incluindo

a prevenccedilatildeo da doenccedila o tratamento etc Ela deve estar ligada tambeacutem ao conhecimento agrave

pesquisa e agrave divulgaccedilatildeo

A poliacutetica deve envolver todo o SUS tanto atenccedilatildeo baacutesica e especializada Ela tem vaacuterias

portas de entrada assegura interface assegura tratamento hospitalar de urgecircncia e ciruacutergico

assegura reabilitaccedilatildeo terapia ocupacional fonoaudiologia e outras especialidades de apoio

Aleacutem disso e esse eacute um ponto importante ela procura ampliar os testes geneacuteticos no SUS Natildeo

133

sei se vocecircs sabem mas o SUS hoje soacute reconhece carioacutetipo e a gente tem uma seacuterie de outros

exames que estatildeo defasados inclusive a nossa medicina suplementar natildeo cobre todos

Quais satildeo as questotildees atuais A primeira questatildeo eacute a seguinte a poliacutetica estaacute pronta A

poliacutetica vai vingar Porque todo mundo todo brasileiro sabe que a gente tem lei que vinga e

tem lei que natildeo vinga Tem lei que vai agrave praacutetica e tem lei que natildeo vai E o que eacute que a gente tem

que dizer para que essa poliacutetica vingue

A primeira questatildeo eacute que a poliacutetica natildeo estaacute pronta ela eacute soacute um primeiro passo Ela tenta

estruturar as linhas gerais de como vai se desenvolver o atendimento agraves pessoas com doenccedilas

raras no acircmbito do SUS A partir dele vocecirc pode construir um caminho longo e seguro E cada

conquista deve significar o quecirc Um avanccedilo consolidado das Associaccedilotildees Trata-se de uma

poliacutetica aberta sujeita portanto a desdobramentos Bem e aiacute vem a parte mais importante que

eacute o papel de vocecircs a poliacutetica vai vingar Quais satildeo os proacuteximos passos Olha para essa poliacutetica

vingar a gente tem duas coisas que satildeo fundamentais Primeiro o reconhecimento dos exames

de diagnoacutestico Se a gente faz a poliacutetica e natildeo tem exame de diagnoacutestico a gente natildeo tem

poliacutetica e a comissatildeo da tripartite eacute que vai colocar isso Mas eacute necessaacuterio o quecirc A adesatildeo dos

vaacuterios municiacutepios eacute esclarecer os gestores porque eacute preciso que o gestor saiba que noacutes natildeo

criamos doentes novos e nem doenccedilas novas noacutes estamos abordando e organizando doenccedilas

que jaacute existem que estatildeo no SUS o tempo inteiro de um lado para o outro gastando tempo

sofrendo e muitas vezes tendo o dinheiro gasto de uma forma desorganizada certo Entatildeo para

essa poliacutetica vingar o papel fundamental eacute de vocecircs isso porquecirc Porque o SUS tem base no

municiacutepio e natildeo adianta o Ministeacuterio da Sauacutede aprovar a poliacutetica porque se ela natildeo tiver um

apoio um financiamento e o municiacutepio natildeo aderir natildeo vai haver poliacutetica Isso jaacute aconteceu com

a poliacutetica de geneacutetica no SUS

Entatildeo eacute o seguinte qual eacute o papel de vocecircs Ou vocecircs organizam os gestores a niacutevel

municipal para poder valer e fazer com que o municiacutepio adira agrave poliacutetica ou a poliacutetica natildeo vai

existir Poliacutetica natildeo cai do ceacuteu eu fiz movimento estudantil na eacutepoca da ditadura e existia um

ditado que era assim ldquoLiberdade natildeo se pede conquista-serdquo Eu digo pra vocecircs essa poliacutetica

natildeo pode ser pedida ela tem de ser conquistada E satildeo as associaccedilotildees que vatildeo ter que pressionar

natildeo soacute o Ministeacuterio da Sauacutede mas as Secretarias estaduais e municipais de sauacutede para que ela

funcione senatildeo natildeo adianta Entatildeo a gente precisa estar unida ter uma visatildeo de conjunto e

acima de tudo ser perseverante

Obrigado

Maria Teresinha de Oliveira Cardos3 - Boa tarde a todos

Eu quero parabenizar a organizaccedilatildeo do Congresso por esse evento que eacute o primeiro em

Brasiacutelia Eu acho extremamente importante Agradecer ao Rogeacuterio o convite de estar aqui com

vocecircs conversar com vocecircs mostrando como funciona a rede puacuteblica de sauacutede no atendimento

de doenccedilas raras que eacute um trabalho que noacutes estamos fazendo haacute 20 anos dentro do Distrito

Federal Eacute o nosso dia a dia e a cada dia com maior nuacutemero de indiviacuteduos Hoje noacutes jaacute temos

oito geneticistas temos nossos residentes que estatildeo aqui Dr Rose Dra Romina Dr Gerson

que satildeo os novos geneticistas que se agregaram ao serviccedilo E para mim eacute extremamente

prazeroso estar aqui falando com vocecircs poder contar um pouco dessa histoacuteria e oferecer o

serviccedilo a vocecircs

Tem vaacuterias definiccedilotildees de doenccedilas raras noacutes jaacute vimos vaacuterias nesse congresso Para a Uniatildeo

Europeia por exemplo satildeo cinco casos para cada 10 mil habitantes Para os Estado Unidos eacute

menos de 200 mil pessoas no paiacutes e para a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede 13 a cada 2000

indiviacuteduos De qualquer jeito elas satildeo doenccedilas mesmo que natildeo muito raras agraves vezes um para

3 Coordenadora do nuacutecleo de doenccedilas raras da Secretaria de Estado da Sauacutede do Distrito Federal

134

2000 e outras satildeo um para 40000 ou 50000 Todas elas para o indiviacuteduo e para a famiacutelia satildeo

uacutenicas Por isso que eacute importante que a gente rebata essa definiccedilatildeo para mostrar que tem vaacuterios

trabalhos a niacutevel mundial mostrando isso

Qual que eacute o impacto populacional dessas doenccedilas

Cerca de 6 da populaccedilatildeo apresenta uma doenccedila rara entatildeo natildeo eacute tatildeo raro assim num

contexto global Todas elas se caracterizam por uma diversidade de sintomas e algumas a

maioria delas tem muitas manifestaccedilotildees que satildeo comuns a doenccedilas natildeo raras

Para a classe meacutedica que natildeo tem uma formaccedilatildeo baacutesica na graduaccedilatildeo de doenccedilas raras o

paciente realmente passa sem diagnosticar Tem um caraacuteter crocircnico progressivo em geral satildeo

incapacitantes a grande parte delas afeta muacuteltiplos sistemas e afeta loacutegico a qualidade de vida

dos familiares e do paciente em si Entatildeo ela tem um impacto social muito grande Entatildeo dessas

6000 a 8000 doenccedilas raras que jaacute estatildeo catalogadas e que jaacute estatildeo estabelecidas 80 tem uma

etiologia geneacutetica ndash vocecircs viram no trabalho anterior do Dr Marcos que o Ministeacuterio da Sauacutede

separou entre geneacuteticas e natildeo geneacuteticas ndash soacute que naquele bolo das natildeo geneacuteticas tambeacutem tem o

dedinho da geneacutetica porque as doenccedilas autoimunes as doenccedilas auto inflamatoacuterias elas tambeacutem

tecircm um componente geneacutetico da mesma forma que muitas doenccedilas infecciosas elas tecircm alguns

pacientes que tecircm maior predisposiccedilatildeo a doenccedilas infecciosas do que outros pacientes entatildeo

sobra o quecirc Mais os processos de acidentes que satildeo adquiridos coisas de acidentes de

trabalho acidentes de tracircnsito que vatildeo dar doenccedilas que natildeo tem nenhum componente geneacutetico

Tem trabalhos mostrando que cinco novas doenccedilas estatildeo sendo descritas a cada mecircs e a

cada semana Natildeo eacute que as doenccedilas estatildeo aparecendo elas estatildeo sendo identificadas em sua

etiopatogenia ou em sua etiologia geneacutetica 65 delas tem uma expressatildeo grave e 66 tem

trabalhos mostrando uma incidecircncia maior de 70 se manifestam antes dos dois anos de idade

10 vatildeo se manifestar entre um e cinco anos 12 entre cinco e quinze anos 35 delas vatildeo a

oacutebito no primeiro ano entatildeo eacute uma causa de mortalidade infantil elevada e 33 tem um certo

grau de limitaccedilatildeo Em todas elas o indiviacuteduo nasce com a predisposiccedilatildeo geneacutetica Quer dizer

com a mensagem ali truncada Ela vai se manifestar dependendo de cada tipo de patologia

numa eacutepoca da vida soacute que a maioria delas se manifesta ateacute aos dois anos de idade Ainda

falando do impacto populacional a gente vecirc que tanto eacute maior esse impacto quando tardio o

diagnoacutestico Por quecirc Porque ela se torna mais incapacitante e eacute menos um ser uacutetil socialmente

aleacutem do impacto familiar que eacute muito grande agravado pela carecircncia de Centros de referecircncia

No nosso serviccedilo e no Brasil elas podem ser divididas ndash e foi mais ou menos o que o Dr

Marcos apresentou para vocecircs que dentro das doenccedilas raras 3 a 5 dos receacutem nascidos nascem

com anomalia congecircnita ndash em dois grupos aqueles que tecircm anomalias congecircnitas e aqueles que

nascem perfeitos do ponto de vista de exame fiacutesico e morfoloacutegico ao nascimento mas vatildeo

apresentar uma alteraccedilatildeo metaboacutelica posterior

Entatildeo noacutes temos o grupo das anomalias congecircnitas que representa 3 a 5 na populaccedilatildeo

que eacute a segunda causa de oacutebito infantil no Brasil jaacute que a primeira eacute a infecciosa e um terccedilo

das internaccedilotildees pediaacutetricas se devem a crianccedilas com defeitos congecircnitos No nosso serviccedilo

aqui em Brasiacutelia noacutes temos um serviccedilo totalmente em rede SUS pode ser que o SUS natildeo tenha

os seus Centros de Referecircncia mas noacutes jaacute existimos haacute duas deacutecadas desde 1990 com o serviccedilo

de geneacutetica totalmente inserido do SUS Ele eacute plenamente SUS Loacutegico que tem parceria com

as Universidades Eu sou professora da Universidade Catoacutelica mas o Serviccedilo em si eacute um

serviccedilo da Rede Puacuteblica de Sauacutede do Distrito Federal

Os erros inatos do metabolismo que eacute o segundo grupo de pacientes ocorrem com a

frequecircncia se for somar no total de um para 1500 para 2000 receacutem-nascidos um percentual

alto de oacutebito ocorre no primeiro ano de vida decorrente dessas doenccedilas metaboacutelicas Entatildeo ele

natildeo tem defeitos ele tem alteraccedilotildees nos seus ciclos bioquiacutemicos Sequelas graves neuroloacutegicas

que podem ocorrer quando natildeo tratadas um exemplo delas eacute a fenilcetonuacuteria que eacute muito bem

135

conhecida de vocecircs E a triagem neonatal ampliada eacute um instrumento de atenccedilatildeo primaacuteria

porque ela eacute preventiva ela faz o diagnoacutestico antes da manifestaccedilatildeo cliacutenica

No Distrito Federal noacutes jaacute temos essa rede de triagem neonatal ampliada funcionando desde

2012 2011 e ela eacute totalmente inserida no SUS com 27 doenccedilas triadas pela triagem neonatal

ampliada

Aqui eu vou mostrar para vocecircs como funciona o nosso fluxo de atendimento dos pacientes

dentro da rede SUS no Distrito Federal no Nuacutecleo de Geneacutetica nos hospitais da rede Os

pacientes podem chegar via as Unidades Baacutesicas de Sauacutede grande parte desses pacientes satildeo

encaminhados das unidades baacutesicas noacutes temos uma rede muito grande de hospitais unidades

baacutesicas hospital primaacuterio secundaacuterio e terciaacuterio dentro da rede elas vecircm das cliacutenicas de

pediatria ou das UTIs emergecircncias e das cliacutenicas especializadas Entatildeo elas satildeo encaminhadas

dos vaacuterios graus de complexidade e elas vatildeo ser distribuiacutedas nos ambulatoacuterios no Nuacutecleo de

Geneacutetica que tem no HMIB4 no ambulatoacuterio geral o ambulatoacuterio de neonatal e tem o

ambulatoacuterio de erro inato do metabolismo No hospital da crianccedila eacute um hospital especializado

e noacutes estamos montando laacute aleacutem das doenccedilas neurogeneacuteticas monogeneacuteticas oncogeneacuteticas e

as endocrinopatias noacutes estamos criando agora o centro de referecircncias em infusatildeo e terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica

No hospital de apoio noacutes temos a triagem neonatal e todo o grupo multidisciplinar

dedicado a triagem neonatal e ao tratamento dos casos positivos e no Hospital de Base aleacutem

dos internos noacutes temos a geneacutetica dos adultos que natildeo pode ser deixado de fora Entatildeo eles

satildeo encaminhados baseados na especialidade na idade e no tipo de doenccedila As doenccedilas raras

estatildeo inseridas dentro do Nuacutecleo haacute 20 anos como doenccedilas geneacuteticas vindo desses vaacuterios locais

que depois satildeo encaminhadas agraves equipes multidisciplinares que trabalham em parceria com a

gente a neuropediatria a endocrinologia a cardiologia a oftalmologia a nefrologia todas

essas especialidades dependendo da necessidade do paciente Temos um grupo de apoio com

fonoaudioacutelogos psicoacutelogos odontologistas e a nutricionistas que trabalha com parceria direta

com a gente no ambulatoacuterio e aleacutem dos exames de imagem que fazem parte do diagnoacutestico

confirmatoacuterio

A coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras foi criada pela Secretaria de Sauacutede agora em marccedilo de

2013 tudo isso em diaacuterio oficial Entatildeo eacute tudo reconhecido oficialmente para exatamente

coordenar o fluxo de referecircncia e contra referecircncia desses pacientes implementar os exames a

facilitaccedilatildeo de ter consultas e o acesso a terapias especiacuteficas em que globalize o paciente e a

famiacutelia Eacute o Projeto Nacional de Doenccedilas Raras e eacute isso que estaacute no Ministeacuterio da Sauacutede e que

na verdade a gente vai colaborar para que isso seja realmente implementado com a ajuda de

vocecircs

As perspectivas para o centro para a coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras eacute exatamente tornar-se

um centro de reposiccedilatildeo enzimaacutetica um laboratoacuterio de neuromuscular integrado com as equipes

de apoio monogeneacutetica e as parcerias de investigaccedilatildeo e diagnoacutestico

Noacutes temos aqui a Dra Juliana que tambeacutem eacute da UnB e faz um trabalho de pesquisa Noacutes

jaacute temos vaacuterios projetos com a UnB a Dra Juliana eacute capitatilde nessas pesquisas em relaccedilatildeo as

doenccedilas dismorfoloacutegicas diagnoacutestico molecular dessas doenccedilas

Na Universidade Catoacutelica noacutes temos um grupo estudando displasias oacutesseas erros inatos do

metabolismo e um grande projeto que centralizou o nuacutecleo de geneacutetica da UnB e da

Universidade catoacutelica numa grande rede de investigaccedilatildeo diagnoacutestica das doenccedilas geneacuteticas em

geral principalmente dismorfoloacutegicas Entatildeo a gente tem todo esse arcabouccedilo noacutes temos

residecircncia temos a parte de pesquisa e temos os ambulatoacuterios de cliacutenica Eacute um centro completo

integrado de investigaccedilatildeo das doenccedilas raras

4 Hospital Materno Infantil de Brasiacutelia

136

Aqui estaacute o nosso site5 o nosso email que eacute do nuacutecleo de geneacutetica estaacute o telefone os

telefones do serviccedilo de geneacutetica do hospital de apoio

Eu quero agradecer vocecircs por terem me escutado e a gente daqui para a frente vai caminhar

junto para que essa coordenaccedilatildeo de doenccedilas raras no Distrito Federal faccedila parte de todo esse

processo de integraccedilatildeo social do paciente

5 saudedfgovbr nucleodegeneticadfyahoocombr

137

6ordf Mesa A rede de apoio ao paciente

Ana Maria Martins1 - Boa tarde a todos e a todas

Eu agradeccedilo ao Rogeacuterio por ter lembrado de mim para poder falar para vocecircs

Eu sou pediatra de formaccedilatildeoe depois especializado em geneacutetica cliacutenica e venho me

dedicando a essas doenccedilas jaacute haacute algum tempo

Na verdade o meu primeiro contato com doenccedila rara foi quando eu tinha nove anos de

idade Eu tenho uma irmatilde que nasceu com uma doenccedila rara Entatildeo esse foi o meu primeiro

contato e logicamente eu me envolvi muito porque eu tinha nove anos Eu era uma irmatilde assim

muito ansiosa Eu queria uma irmatilde pequena para poder ainda brincar e ela acabou precisando

fazer vaacuterias cirurgias Quer dizer eacute uma doenccedila bem complexa estaacute comigo haacute 49 anos Ela ia

fazer uma cirurgia com um mecircs e meio de vida e mamatildee tinha medo que ela natildeo voltasse da

cirurgia porque os meacutedicos disseram que era muito grave Uma cirurgia na cabeccedila naquela

eacutepoca era um pouco mais complicado E eu fui ao hospital para me despedir dela e entrei numa

sala que tinha muitas crianccedilas neuroloacutegicas para cirurgia muito hidrocefalia e eu falei para

minha matildee quando eu sai de laacute que eu ia crescer e ia realmente cuidar desse tipo de paciente

Entatildeo minha histoacuteria vem de haacute muito tempo E eu fui para a escola paulista de medicina laacute

eu fiz minha residecircncia em pediatria depois logo da residecircncia eu comecei a especializaccedilatildeo em

geneacutetica cliacutenica e comecei a tomar conta ndashporque a escola tinha uma cooperaccedilatildeo com a APAE2

de Satildeo Paulo ndash comecei a tomar conta dos pacientes com fenilcetonuacuteria Fui na APAE durante

sete anos como voluntaacuteria e atendendo esses pacientes Acabei fazendo meu doutorado em

fenilcetonuacuteria e na verdade esse foi o meu grande contato com as doenccedilas e os erros inatos do

metabolismo Fiz o meu poacutes-doutorado dentro da aacuterea de geneacutetica geral e natildeo do metabolismo

e em 1997 pela necessidade de se criar um serviccedilo que cuidasse desse grupo de pacientes a

gente acabou abrindo um centro de referecircncia em erro inato do metabolismo Em 1999 eu

comecei a fazer tratamento da doenccedila de Gaucher e aiacute comeccedilou a surgir um problema porque

eu dividia o ambulatoacuterio com o pessoal da dismorfologia Eu atendia segunda e quarta

trabalhava o dia todo e o pessoal da dismorfologia terccedilas e quintas Sexta era o dia das reuniotildees

cientiacuteficas Eu comecei a ter um problema que era local para fazer o tratamento que eacute

endovenoso dessas doenccedilas Em 2005 por essa necessidade a gente foi impulsionado a abrir

uma ONG que se chama Instituto de Geneacutetica e Erro Inato de Metabolismo Essa ONG existe

para dar suporte para ao ambulatoacuterio que eacute o CREIM3 que eacute o de erro inato de metabolismo

do SUS e da Universidade Federal de Satildeo Paulo

E o que satildeo essas doenccedilas

Satildeo todas doenccedilas geneacuteticas hereditaacuterias satildeo mais de 700 doenccedilas hoje Como toda a

doenccedila rara tem sintomas parecidos com doenccedilas mais frequentes e isso acaba dificultando o

diagnoacutestico

50 dessas doenccedilas tem tratamento Desse grupo de metabolismo um nuacutemero bastante

importante e a uacutenica coisa que eu posso dizer para o meacutedico para o profissional de sauacutede eacute que

toda vez que ele tem um caso um paciente com um quadro cliacutenico ou agudo que ele natildeo entende

o que estaacute acontecendo ele tem que pensar em erro inato ou em uma doenccedila rara Esta eacute a

caracteriacutestica Se manifesta diferente daquilo que eacute a maioria do conhecimento do meacutedico ou

do profissional de sauacutede e a gente natildeo tem essa dedicaccedilatildeo na Universidade

1 Universidade Federal de Satildeo Paulo 2 Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais 3 Centro de Referecircncia em Erros Inatos do Metabolismo httpwwwunifespbrcentroscreim

138

Entatildeo tudo depende aqui dessa nossa constituiccedilatildeo geneacutetica 80 das doenccedilas raras satildeo de

origem geneacutetica e aquelas que satildeo ambientais muitas vezes tecircm um papel de alguma

predisposiccedilatildeo que pode tornar a doenccedila mais grave E tudo vem da nossa formaccedilatildeo dos cerca

de 25000 genes que vieram do nosso pai e que se juntaram com 25000 da nossa matildee e formaram

um ser humano com 25000 pares de genes Isso vai determinar com quem a gente parece dentro

da nossa famiacutelia como a gente funciona e como eacute que eacute o nosso metabolismo

Da mesma forma aqui eu comeccedilo um pouco essa histoacuteria essa minha histoacuteria com o erro

inato de metabolismo Quando eu comecei quando eu abri o ambulatoacuterio era uma manhatilde por

semana no ano seguinte que foi em 98 jaacute era dois dias Nesse primeiro ano foi uma coisa

muito difiacutecil porque eram pacientes muito diferentes que vinham e eu nunca tinha atendido

eles os erros inatos do metabolismo todos juntos eu conhecia um ou outro E aiacute a gente ficou

meio perdido o primeiro ano foi um ano bastante difiacutecil Se trabalhava muito estudava muito

para entender o que era aquilo Aiacute a gente encontrou a informaccedilatildeo que mostrava uma

classificaccedilatildeo que pegava aquelas 700 doenccedilas e dividia em trecircs grupos E esse primeiro grupo

estaacute relacionado com a ingestatildeo de proteiacutena e accediluacutecar Eacute um grupo que se manifesta muito cedo

porque a crianccedila nasce e ela vai mamar e aiacute comeccedilam a acontecer os problemas porque ela tem

problema no metabolismo para proteiacutena ou o accediluacutecar Esse grupo relacionado a produccedilatildeo de

energia essa energia que manteacutem a gente de peacute manteacutem a gente vivo e que eacute uma energia

importante ou que nos mantm funcionando mesmo dormindo ou em jejum

Eacutesse grupo de doenccedilas vai aparecer em jejum prolongado E essas doenccedilas esses exames

que estatildeo em laranja eacute o que a grande maioria dos hospitais faz mas com algumas dificuldades

Os que estatildeo em azul satildeo os que a gente natildeo faz e aiacute a gente vai depender de algumas parcerias

ou de alguns favores porque satildeo exames que natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

O terceiro grupo eacute completamente diferente do outro grupo inclusive a investigaccedilatildeo Satildeo

doenccedilas onde o acuacutemulo eacute de uma moleacutecula maior Os pacientes vatildeo ter alteraccedilotildees visiacuteveis um

fiacutegado e um baccedilo grande uma estatura pequena um fundo de olho alterado uma alteraccedilatildeo na

coacuternea que vai dar uma opacidade de coacuternea Entatildeo eu vou ter situaccedilotildees de um depoacutesito e esse

depoacutesito pode ateacute ser visiacutevel

Muito importante nesse grupo satildeo as doenccedilas lisossocircmicas Elas trouxeram a terapia de

reposiccedilatildeo enzimaacutetica que teve um papel muito importante principalmente nos paiacuteses em

desenvolvimento porque acabou trazendo um desenvolvimento maior para as doenccedilas

geneacuteticas Porque aqui comeccedilou um estiacutemulo em relaccedilatildeo agrave diagnoacutestico As coisas comeccedilaram

a melhorar ateacute a informaccedilatildeo para os meacutedicos de maneira geral por conta desse tratamento A

gente tem alguns pacientes um grupo que eacute bastante conhecido jaacute encontrei umas amigas aqui

de associaccedilotildees de pacientes com mucopolissacaridose

O que que nos fez abrir essa ONG esse CREIM ou buscar esse tipo de tratamento

Eu jaacute tinha uma experiecircncia que vinha da APAE de Satildeo Paulo que era assistir e participar

das discurssotildees do atendimento multidisciplinar que eacute muito diferente do que a gente tem na

universidade Na residecircncia de pediatria eu natildeo via o atendimento multidisciplinar As pessoas

natildeo estavam juntas atendendo e conversando a respeito daquela situaccedilatildeo E aiacute eu comecei a

perceber que os pacientes quando eles chegam eles jaacute fizeram uma peregrinaccedilatildeo muito grande

por muitos serviccedilos meacutedicos ou consultoacuterios meacutedicos que tecircm uma falta de informaccedilatildeo muito

grande Todos os profissionais de sauacutede natildeo soacute dos meacutedicos todos de maneira geral Ficaram

muitos anos em busca do diagnoacutestico os que chegam para mim Tem paciente adulto que chega

com 45 anos Quando a gente consegue fazer o diagnoacutestico que ele procura desde os oito anos

de idade jaacute tem um atraso muito grande Eacute uma anguacutestia vocecirc ter um problema de sauacutede seacuterio

e descobrir o que eacute que eacute aquilo Muitos exames geralmente chegam com um pacote de exames

sem resultado ainda sem fechar aquele diagnoacutestico Anguacutestia muito grande decepcionados e

obviamente muito cansados Agraves vezes eles ateacute chegam bravos com o serviccedilo porque aquele eacute

o que ele chegou agora entatildeo agora ele vai descontar naquele laacute Tem essa questatildeo E muito

139

aacutevidos para ter informaccedilatildeo sobre aquele problema que estaacute na famiacutelia dele ou nele ou estaacute em

algueacutem da famiacutelia

Quando eu comecei a trabalhar em 97 a gente tinha alguns voluntaacuterios fono e fisioterapeuta

que iam trabalhar com a gente Isso sempre te agonia um pouco porque natildeo te daacute uma seguranccedila

de que o serviccedilo vai se manter mas ele funcionou assim ateacute 2005 Em 2005 quando a gente

abriu a ONG a gente alugou uma casa e passou a pagar a alguns profissionais para ficarem com

a gente soacute a atender os nossos pacientes A nutricionista a fono que trata dos problemas natildeo

soacute de fala mas daqueles que tem dificuldade para engolir A disfagia eacute muito frequente no meu

ambulatoacuterio a fisioterapia a psicologia e eacute aquilo que a gente conseguiu ateacute hoje de

multidisciplinar

O diagnoacutestico a gente ainda tem muita dificuldade Melhorou em relaccedilatildeo ao que era em 97

mas ainda tem por falta de recursos A maioria dos exames natildeo estatildeo disponiacuteveis no SUS

entatildeo a gente acaba dependendo de alguns favores

O tratamento tem ainda muitas dificuldades Vocecircs jaacute cansaram de ouvir mas a

judicializaccedilatildeo atrasa muito a introduccedilatildeo do tratamento Muitas vezes chega e natildeo daacute tempo

Entatildeo realmente eacute uma anguacutestia para quem trabalha laacute na linha da frente com o paciente

A gente divulga muito a informaccedilatildeo com relaccedilatildeo aos erros inatos do metabolismo temos

algumas publicaccedilotildees fizemos um livro de dietas Como no Brasil a gente natildeo tinha muita coisa

onde ir buscar esse tipo de informaccedilatildeo e a nossa missatildeo eacute ter um atendimento multidisciplinar

de excelecircncia para melhorar a qualidade de vida tanto do paciente como de seus familiares

fizemos esse livro E foi aiacute que a gente percebeu que realmente existia um deacuteficit muito grande

porque na verdade quem melhora a qualidade de vida do paciente satildeo os outros profissionais

de sauacutede natildeo o meacutedico O meacutedico faz diagnoacutestico mas quem melhora a qualidade de vida eacute a

fisioterapia eacute a nutriccedilatildeo sem duacutevida nenhuma e por isso eles satildeo tatildeo necessaacuterios e eacute nisso que

a gente acredita

As doenccedilas raras a gente pode falar agora no geral o que precisam

Informaccedilatildeo do profissional de sauacutede para que ele saiba identificar aquela doenccedila rara para

que aquele que estaacute laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede possa dizer Nossa isso daqui deve ser

uma doenccedila rara E aiacute ele encaminha porque senatildeo a gente natildeo vai sair de onde estaacute vamos

ter centros de referecircncia e natildeo vai ter como encaminhar porque ele natildeo identifica que aquilo eacute

uma doenccedila rara que essa situaccedilatildeo eacute uma doenccedila rara Se ele identificar ele encaminha para o

local disponiacutevel O meacutedico primeiro ele tem que querer descobrir o diagnoacutestico daquilo que

ele natildeo conhece porque ele natildeo sabe o que eacute mas ele tem que ter esse impulso de querer

descobrir Hoje se ele natildeo sabe ele fala para o paciente Natildeo precisa mais vir aqui porque eu

natildeo sei o que o seu filho tem ou Eu natildeo sei o que vocecirc tem e isso eacute uma coisa que natildeo pode

mais acontecer Ele vai ter que se envolver tambeacutem com as doenccedilas raras Ele vai ter que querer

descobrir o diagnoacutestico e a gente descobre estudando indo agrave internet conversando com os

colegas fazendo discussatildeo de caso quer dizer essa ferramenta de informaccedilatildeo ela tem que

chegar laacute na Unidade Baacutesica de Sauacutede O prognoacutestico a gente soacute vai poder falar para famiacutelia

E como eacute que vai ser o futuro

Se eu tiver o diagnoacutestico aiacute eu posso prevenir graves complicaccedilotildees posso fazer

aconselhamento geneacutetico posso fazer maiores orientaccedilotildees agrave famiacutelia Essa questatildeo do

diagnoacutestico eacute fundamental para vocecirc incluir esse indiviacuteduo dentro dessa rede de atendimento

A gente tem um 0800 e email para profissionais de sauacutede para gente ajudar nessa parte de

orientaccedilatildeo com relaccedilatildeo a conduzir um paciente que ele suspeite de erro inato de metabolismo

que eu acho que eacute o que vai precisar para as doenccedilas raras uma linha que a pessoa possa entrar

em contato e ter orientaccedilatildeo

Obrigada

140

Adriana Ueda4 - Boa tarde e obrigada

Hoje a gente jaacute falou de absolutamente de tudo a respeito de doenccedila rara poliacutetica puacuteblica

e tudo mais u tenho que contar a minha histoacuteria e explicar porque que eu vim parar aqui hoje

Meu menino nasceu e com o tempo natildeo se desenvolvia da forma que era esperado que uma

crianccedila se desenvolvesse normalmente Fomos a um neuropediatra que nos encaminhou para

o IGEIM justamente porque ele falou Natildeo eacute nada do que eu conheccedilo entatildeo vou suspeitar de

um erro inato de metabolismo ou uma doenccedila rara iniciando primeiro a pesquisa com o erro

inato de metabolismo

Foram feitos alguns exames A Dra Ana Maria ateacute era uma das meacutedicas que atendiam o

Guilherme Houve alguma alteraccedilatildeozinha e ele ficou com o diagnoacutestico de intoleracircncia a

proteiacutena lisinuacuterica Fez uma dieta restritiva de proteiacutena durante um ano que natildeo adiantou nada

o menino quase morreu perdeu ciacutelios sobrancelha unha porque ela era restritiva de proteiacutena

Retiramos aquela dieta e fomos procurar outra coisa

Acidentalmente no Hospital das Cliacutenicas de Satildeo Paulo uma meacutedica olhou e falou Nossa

que menino bonito o que ele tem Eu respondi ldquonatildeo seirdquo e Ele tem cara de ser Angelman

Ali foi a primeira vez que eu ouvi falar nessa Siacutendrome

Passei em outro meacutedico que olhou o eletro dele e falou Ah eletro de Angelman Fui para

outro geneticista e ele falou Eacute Algelman manda para o genoma para fazer o exame Fizemos

os exames para Siacutendrome de Angelman e deu negativo Mas como saiu o diagnoacutestico cliacutenico

de Angelman foi para Angelman e ficamos cuidado de Angelman ateacute que oito anos depois que

foi o tempo que demorou para conseguir trazer os reagentes para o Brasil porque por causa da

demora do Processo da ANVISA natildeo conseguia trazer esses reagentes Levou oito anos

Fecharam o diagnoacutestico fizeram o sequenciamento molecular e realmente o Gordo ndash o

Guilherme que eu chamo de Gordo ndash tem a Siacutendrome de Angelman na modalidade mutaccedilatildeo

Eacute uma crianccedila que tem uma Siacutendrome que se vocecirc der uma olhada ele vai parecer com inuacutemeras

outras Siacutendromes e porquecirc a dificuldade

Aleacutem de ser rara ela aparece com um monte de outra coisa Ele tem deficiecircncia intelectual

severa atraso psicomotor grave ausecircncia de fala problema de marcha falta de equiliacutebrio

ataxia deacuteficit de atenccedilatildeo hiperatividade hipermotricidade crises convulsivas epilepsia

espectro autista que varia de um leve a severo hipopigmentaccedilatildeo de pele e cabelos dificuldade

para dormir ndash e dificuldade para dormir significa que ele dorme trecircs horas por noite ndash

hipersensibilidade ao calor temperatura luz e exposiccedilatildeo solar estrabismo isotroacutepico

movimento aleatoacuterio de matildeos e microcefalia

Depois disso daqui vocecirc fala assim Quanta crianccedila tem com essa mesma caracteriacutestica

Tem inuacutemeras Siacutendrome de West os proacuteprios autistas o autista tiacutepico tem muita coisa aiacute

entatildeo eacute muito difiacutecil o meacutedico conseguir ir ali na cabeccedila e acertar Eu consegui depois de muitos

anos de luta E assim como eu tive todos esses anos de luta eu tive a sorte de ter apoio de pai e

de matildee que ficavam cuidando dele enquanto eu ficava passando email para o mundo inteiro

Tinha o meu carro que eu podia levar ele para todos os lados podia fazer os exames eu podia

pagar alguns exames com exceccedilatildeo do exame especiacutefico de sequenciamento molecular que estaacute

custando por volta de 17 mil reais e esse eu natildeo tinha dinheiro para pagar Eu soacute consegui fazer

porque foi um exame para a tese de poacutes-doutorado de uma meacutedica pesquisadora do genoma

que usou a verba do CNPQ dela porque senatildeo eu tambeacutem natildeo teria feito esse exame e outras

tantas pessoas com outras tantas crianccedilas com Siacutendromes raras tambeacutem natildeo vatildeo conseguir e

vatildeo ficar soacute com o diagnoacutestico cliacutenico porque elas natildeo tem condiccedilotildees de bancar um exame

desses

4 Instituto Canguru

141

Depois de estar envolvida com tudo isso eu vi a dificuldade que outras matildees tinham

Porque talvez natildeo tivesse o mesmo desembaraccedilo que eu tive ou natildeo tinham as mesmas

oportunidades entatildeo o que que eu fiz Eu comecei a entrar em contato com outras matildees com a

Siacutendrome de Angelman e montei na eacutepoca era o Orkut montei uma Associaccedilatildeo e tudo o mais

Soacute que o negoacutecio foi crescendo demais e eu falei Eu agora natildeo quero mais ficar soacute com a

Siacutendrome de Angelman Aiacute recebi o convite para ser presidente do Instituto Canguru que natildeo

eacute uma Associaccedilatildeo de pacientes eacute uma associaccedilatildeo para pacientes com erros inatos do

metabolismo e doenccedilas raras

Entatildeo o que aconteceu laacute no Instituto Canguru

Se aparece para mim algueacutem falando de homicistinuacuteria loacutegico que eacuteSimonee jaacute entro em

contado direto com ela Porfiria eacute a Dona Ieda neurofibromatose eacute a Lilian Entatildeo a gente jaacute

faz o encaminhamento e quando natildeo tem ningueacutem e quando natildeo tem associaccedilatildeo vai para

dentro da bolsa do Canguru e aiacute a gente abraccedila aquilo e vai atraacutes daquela doenccedila Fazemos

principalmente o serviccedilo de judicializaccedilatildeo para obtenccedilatildeo de medicamentos que eacute aquela coisa

que haacute 12 anos atraacutes que eacute o tempo que o Canguru temnatildeo se fazia era muito difiacutecil vocecirc

tinha que contratar

As associaccedilotildees natildeo estavam preparadas para lidar com esse tipo de problema que eacute o das

doenccedilas raras Agora no Instituto Canguru a gente jaacute estaacute passando para um outro enfoque

Agente jaacute estaacute pegando as deficiecircncias de uma forma geral porquecirc Porque todas as doenccedilas

raras podem causar deficiecircncia intelectual visual fiacutesica Oleque eacute gigantesco E qual eacute a

importacircncia das Associaccedilotildees de termos eventos como este

Vocecirc fica sabendo que a amiga da sua prima tem uma crianccedila que tem um problema assim

Vocecirc pode natildeo lembrar do nome da Siacutendrome de Angelman vocecirc pode natildeo lembrar do nome

da crianccedila o meu nome mas vocecirc vai lembrar de algueacutem que alguma vez contou uma histoacuteria

parecida dessa busca e de ir atraacutes e de natildeo conseguir o diagnoacutestico e aiacute vocecirc vai poder indicar

algueacutem e falar assim Olha tem o Rogeacuterio da AMAVI que vai de repente entrar em contato

com a Adriana daquela outrahellip bom a mulher do cabelo roxo Eacute para isso que as associaccedilotildees

estatildeo aqui A gente estaacute aqui para unir Entatildeo se bate em mim uma coisa que natildeo eacute minha eu

encaminho ela eacute quem sabe as outras e noacutes temos muita forccedila nisso E doenccedilas raras elas satildeo

raras mas se juntar todos noacutes noacutes somos muitos e a gente tem que cada vez se unir mais Vou

contar uma histoacuteria soacute para terminar Na eacutepoca que eu montei a associaccedilatildeo da Siacutendrome de

Angelman a minha vice-presidente era do Rio de Janeiro e laacute no Rio de Janeiro eles tecircm uma

certa facilidade com matildeo de obra para diaristas e ela tinha uma diarista que jaacute estava com ela

laacute coisa de sete anos coisa assim e uma amiga dela arrumou um emprego perto da casa da

minha vice-presidente Bem no primeiro dia ela falou para a amiga Vamos embora para casa

juntas eu passo aiacute Ela passou na casa da patroa da colega e falou Vamos embora e ela

respondeu Natildeo posso o filho da patroa estaacute passando mal e a mulher estaacute desesperada Taacute

ok mas o que eacute Eu natildeo sei eacute o meu primeiro dia acho que eu sou peacute frio neacute Bom nisso

entra a mulher trazendo o menino o menino se debatendo tendo uma crise convulsiva Como

essa diarista jaacute tinha experiecircncia com o filho da minha vice-presidente ela tomou a posiccedilatildeo

acalmou ajudou a matildee e tudo o mais Portanto satildeo esses casos que acontecem no dia a dia e a

informaccedilatildeo sobre a doenccedila rara pode vir de lugares que nem imaginamos Eacute preciso ficarmos

atentos Obrigado

Siacutelvia Portugal5 ndash Quando fui convidada para escrever o texto sobre doenccedilas raras procurei

nos dicionaacuterios as definiccedilotildees do que eacute raro Retomo aqui algumas questotildees do texto para pensar

um pouco sobre quais satildeo os problemas de alguns dos olhares sobre o raro e quais satildeo os

5 Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

142

desafios que ele coloca E portanto isto que jaacute foi aqui falado muitas vezes esta ideia do raro

com que noacutes poucas vezes nos confrontamos eacute de fato o problema

Falou-se muito de poliacuteticas puacuteblicas e como eacute que noacutes compatibilizamos uma poliacutetica que

tem que ser universal que tem que garantir tudo para todos com a questatildeo que natildeo eacute especiacutefica

soacute das doenccedilas raras mas que aqui assume um caraacuteter fundamental que eacute cada caso eacute um caso

Esta eacute uma dificuldade grande para as poliacuteticas e portanto o desafio eacute este eacute conseguirmos

simultaneamente garantir o universal e o singular E portanto isso nos faz olhar para a questatildeo

da integralidade da pessoa e do cuidado

Outra questatildeo importante eacute esta ideia de que o raro eacute o que foge agrave norma e o fugir agrave norma

nas nossas sociedades eacute dramaacutetico Noacutes somos sociedades cada vez mais normalizadas e os

impactos meacutedicos que foram aqui falados sobretudo os sociais resultam tambeacutem do fugir agrave

norma Tudo isto jaacute foi aqui falado a questatildeo dos diagnoacutesticos a questatildeo das relaccedilotildees sociais

o estigma fortiacutessimo que enfrentam estas pessoas e estas famiacutelias no cotidiano ao longo da

vida sistematicamente Se a doenccedila eacute rara a exclusatildeo social eacute de fato muito muito frequente

Depois este problema dos nuacutemeros e esta ideia de ldquonatildeo sei quantos por cento ser 100 na nossa

casardquo eacute de fato muito expressiva do que eacute doenccedila rara Mas a questatildeo da minoria natildeo eacute

meramente estatiacutestica ela faz com que a capacidade de pressatildeo seja de fato minoritaacuteria e

portanto isso eacute pretexto para o desinteresse o desconhecimento ndash dos governos da academia

da populaccedilatildeo em geral daqueles para quem o 100 estaacute muito longe da sua casa E os desafios

tambeacutem jaacute foram aqui sobejamente identificados investigar conhecer investir informar

divulgar e conhecer as doenccedilas Esta ideia que eacute a ideia deste seminaacuterio de um olhar social

Conhecer essas pessoas eacute essencial natildeo eacute soacute importante conhecermos as doenccedilas

obviamente que eacute conhecendo as doenccedilas que podemos melhorar a qualidade de vida das

pessoas mas saber quem satildeo essas pessoas como eacute que elas vivem quantas satildeo quem satildeo elas

como vivem quais satildeo as suas condiccedilotildees de vida quais satildeo as suas relaccedilotildees sociais quais satildeo

os apoios que elas tecircm quais satildeo os apoios que elas natildeo tecircm Isto eacute fundamental para melhorar

a qualidade de vida dessas pessoas e para combater o estigma a que a maioria delas estaacute sujeita

E esta ideia do raramente do raro enquanto adveacuterbio eacute para mim o que eacute mais dramaacutetico nesta

situaccedilatildeo Eacute o fato de as pessoas serem muito pouco ouvidas ou seja raramente a voz dos

pacientes a voz e as vozes das famiacutelias satildeo ouvidas seja pelos poliacuteticos seja pelos acadecircmicos

seja pelos profissionais do campo Muitas vezes e foram aqui os cartoons do professor Luiz

Oswaldo reveladores disso muitas vezes o olhar ou o ouvir natildeo eacute exatamente um olhar e um

ouvir eacute algo que eacute distante natildeo eacute proacuteximo natildeo eacute afetivo E o ouvir eacute ter como princiacutepio que as

pessoas sabem mais sobre a doenccedila do que muitas vezes eacute conhecido pelos outros e este

exemplo da diarista foi fenomenal Ou seja quem convive diariamente com a doenccedila os

proacuteprios ou aqueles que estatildeo proacuteximos sabem mais sobre aquela doenccedila e sobre aquela pessoa

viver aquela doenccedila do que um meacutedico que dispensa 10 a 15 minutos num consultoacuterio

Agora eu imagino o que eacute uma matildee ou um pai chegar a um consultoacuterio meacutedico e dizer o

diagnoacutestico que foi feito pela diarista como ouvimo haacute pouco Obviamente que haacute bons

exemplos em todas as profissotildees mas de fato as praacuteticas meacutedicas eacute disso que estamos aqui a

falar e a colocaccedilatildeo do Prof Luiz Osvaldo mostrou bem isso os profissionais meacutedicos estatildeo

muito pouco disponiacuteveis para ouvir outras vozes sobretudo para reconhecer o conhecimento

dessas vozes E natildeo eacute soacute saber que as pessoas sabem sobre as suas doenccedilas eacute tambeacutem pensar

que aquelas pessoas satildeo mais do que a doenccedila ou seja o diagnoacutestico jaacute foi aqui sobejamente

visto eacute fundamental mas as pessoas quando vivem com uma doenccedila quando vivem com o

diagnoacutestico continuam tendo vida para aleacutem desse diagnoacutestico Satildeo filhos satildeo matildees satildeo pais

satildeo avoacutes satildeo parentes satildeo amigos satildeo vizinhos gostam de trabalhar ou gostariam de trabalhar

de conviver de sair de ter momentos de prazer Por isso eacute tatildeo importante conhecer-las como

eacute importante conhecer a sua doenccedila aquilo que elas vivem e aquilo que elas natildeo vivem por

causa da sua doenccedila

143

Eu acho que um olhar que permite pelo menos refletir sobre esses problemas eacute de fato um

olhar a partir do cuidado e a partir das redes E tal como a definiccedilatildeo de raro enfrenta problemas

a definiccedilatildeo de cuidado tambeacutem enfrenta problemas ou seja a definiccedilatildeo generalizada do que eacute

o cuidado e esta ideia de que cuidar eacute algo pontual ou seja temos um problema e entatildeo

cuidamos e resolvemos ou entatildeo que o cuidado eacute assistecircncia eacute apoio eacute tratamento e eacute o

essencial o que foi mais falado aqui E isso tem a ver com o quecirc

Tem a ver com esta ideologia da independecircncia da autonomia que vigora nas nossas

sociedades nas quais noacutes temos que ser independentes uns dos outros natildeo podemos depender

uns dos outros E essa noccedilatildeo do cuidado como algo pontual e que noacutes soacute precisamos muito

episodicamente obscurece invisibiliza as necessidades das pessoas que precisam do cuidado a

tempo inteiro cotidiano prolongado ao longo da sua vida E portanto uma forma de combater

esta ideia do cuidado eacute exatamente reconhecer que todos noacutes somos dependentes uns dos outros

todos noacutes somos vulneraacuteveis e reconhecer tambeacutem que quem eacute cuidado quem precisa de

cuidados tambeacutem cuida de si proacuteprio Muitas vezes noacutes esquecemos disso As pessoas tambeacutem

satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado administram medicaccedilatildeo procuram informaccedilatildeo dialogam

com os meacutedicos discutem com os meacutedicos apresentam outras perspectivas e portanto cuidam

tambeacutem de si proacuteprias e satildeo agentes do seu proacuteprio cuidado

O cuidado eacute absolutamente central e transversal na vida de todos natildeo soacute daqueles que satildeo

doentes tambeacutem dos outros noacutes todos Noacutes todos precisamos de algueacutem que nos alimente que

nos vista que nos transporte etc E o cuidado tem todas essas dimensotildees o conhecimento os

saberes saber olhar para uma pessoa e saber que ela tem um determinado tipo de doenccedila e natildeo

eacute preciso ser meacutedico para se ver isso As praacuteticas o que eu faccedilo no cotidiano como eacute que eu

alimento como eacute que eu visto como eacute que eu administro a medicaccedilatildeo onde eacute que eu vou quem

eacute que estaacute envolvido nisto as relaccedilotildees e os significados E estas dimensotildees tornam difiacutecil uma

definiccedilatildeo consensual

Eu trabalho com uma estudante de Doutoramento a Joana Alves que trabalha sobre isto

Ela fez uma tese de mestrado e estaacute a fazer uma tese de doutorado sobre o cuidado e ela trabalha

muito sobre esta noccedilatildeo do cuidado tentando combater exatamente esta divisatildeo entre os

cuidados formais e os cuidados informais

O que eu queria passar aqui era a necessidade de desconstruir essa dicotomia

formalinformal O que eu penso que pode de fato estilhaccedilar essa separaccedilatildeo entre os

profissionais e os outros eacute um olhar a partir das redes ou seja um olhar a partir do sujeito da

pessoa doente da sua famiacutelia focando na integralidade da pessoa na integralidade das suas

necessidades E um olhar a partir da rede permite colocar o sujeito no centro O conceito de

Rede Social eacute um instrumento analiacutetico que permite olhar para a realidade social a partir de

duas dimensotildees a forma das relaccedilotildees sociais quais eacute que satildeo as relaccedilotildees e o conteuacutedo das

relaccedilotildees o que eacute que circula no interior das relaccedilotildees os noacutes e os laccedilos ou seja os membros das

redes e os laccedilos que os unem E assim basta experimentar fazer trecircs questotildees simples quem

o quecirc e como Ou seja olhar para uma pessoa e pensar Quem satildeo os membros da sua rede

Eacute a matildee eacute o pai eacute uma tia satildeo os parentes satildeo os amigos satildeo os vizinhos eacute o meacutedico que

meacutedico eacute esse Que especialista Que psicoacutelogo Quem satildeo os membros da rede E depois O

que ela precisa O quecirc Quais satildeo os recursos que eacute preciso mobilizar Informaccedilatildeo apoio nas

tarefas cotidianas Medicaccedilatildeo O que for E entatildeo vamos ver Quem eacute que faz o quecirc E quem

eacute melhor a fazer o quecirc Eu natildeo diria que as diaristas satildeo melhores que os meacutedicos em fazer

diagnoacutesticos acho que isso deve ser caso uacutenico mas olhar muitas coisas que as pessoas da rede

informal fazem melhor do que os meacutedicos E portanto eacute isso que eacute olhar a partir das redes

O trabalho que tenho desenvolvido natildeo eacute especificamente sobre as doenccedilas raras mas

sobre a deficiecircncia e tambeacutem sobre a doenccedila mental mostra que quando noacutes olhamos para esta

rede quando noacutes olhamos para a prestaccedilatildeo de cuidados a famiacutelia estaacute sempre na primeira linha

Afamiacutelia eacute sempre a primeira a principal cuidadora a famiacutelia permanece no espaccedilo e no tempo

144

Como tal o Sistema de Sauacutede as poliacuteticas puacuteblicas os profissionais tecircm a obrigaccedilatildeo de tratar

as famiacutelias e os pacientes como parceiros

A rede eacute um instrumento analiacutetico mas eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo ou seja

colocar as pessoas no centro significa construir uma rede de cuidado O que eacute essencial na rede

eacute essa ideia de natildeo haver uma hierarquia de poderes dos saberes serem todos eles reconhecidos

e conheciacuteveis por todos aqueles que participam na rede E o saber tem que circular e as praacuteticas

tem que ser partilhadas E aqui eu pareccedilo que sou a grande defensora das famiacutelias e que estou

sempre a colocar os olhos nos profissionais que natildeo cumprem seu papel mas muitas vezes as

famiacutelias tambeacutem natildeo partilham com os profissionais de sauacutede tudo aquilo que fazem tudo

aquilo que procuram e escondem muitas vezes Como sabem que a hegemonia do modelo

meacutedico eacute muito forte por exemplo procuram terapias alternativas e tendem a esconder isso

dos profissionais de sauacutede o que muitas vezes tambeacutem complica e prejudica os itineraacuterios

terapecircuticos

Para terminar acabo voltando agrave definiccedilatildeo de raro essa ideia do raro como extraordinaacuterio

Eu acho que o dia de hoje foi um exemplo disso Isso eu jaacute sabia porque haacute muitos anos que

ouccedilo histoacuteria de famiacutelias cuidadoras e de fato as histoacuterias das famiacutelias e dos doentes com

doenccedilas raras Satildeo histoacuterias extraordinaacuterias que nos ensinam a viver num mundo que eacute

diferente que eacute um mundo de solidariedade que eacute um mundo de daacutediva e essa eacute uma realidade

que todos deviacuteamos conhecer e que a sociedade devia conhecer E este eacute de fato um desafio

para o futuro eacute perceber o que haacute de bom neste tipo de cuidado integraacute-lo no cuidado e nas

poliacuteticas puacuteblicas

Ouvi aqui hoje as posiccedilotildees acerca das poliacuteticas puacuteblicas no Brasil e elas parecem

corresponder a isso tudo No fundo o meu olhar natildeo foi muito diferente do do representante

do Ministeacuterio da Sauacutede no iniacutecio da manhatilde Soacute que eu devo dizer uma coisa o desenho das

poliacuteticas eacute muito diferente daquilo que eacute a praacutetica das poliacuteticas e portanto o grande desafio

para o futuro natildeo eacute o desenho da sua poliacutetica que de fato parece muito boa e que integra

muitos desses princiacutepios que eu aqui enunciei mas o desafio para a poliacutetica puacuteblica no Brasil

como em qualquer outro lugar (noacutes em Portugal temos poliacuteticas fantaacutesticas que depois colapsam

por praacuteticas que as pervertem) eacute o risco da recusa de partilha de praacuteticas de saberes que no

fundo por questotildees que muitas vezes satildeo questotildees de poder que natildeo fazem sentido pervertem

as poliacuteticas e deixam de colocar as pessoas no centro Muito obrigada por esta oportunidade e

por este fantaacutestico dia de debate e partilha

Maria Helena6 - Boa noite

Eu quero agradecer inicialmente ao Rogeacuterio por esta oportunidade de estar aqui

representando a associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil e num evento que jaacute eacute exitoso mesmo antes

de acontecer Imagina depois de ter acontecido o que eacute que ele natildeo vai ser

A minha apresentaccedilatildeo aqui hoje estaacute voltada para o apoio das Associaccedilotildees de pacientes

na Rede de apoio ao paciente Eu estou representando a Associaccedilatildeo Niemann Pick Brasil que

eacute uma associaccedilatildeo de apoio a familiares e amigos de pacientes com Niemann Pick uma doenccedila

ultra rara que afeta uma pessoa em 120 mil no mundo Os objetivos da minha apresentaccedilatildeo satildeo

destacar na rede de apoio ao paciente as associaccedilotildees de familiares e amigos evidenciando a

importacircncia das associaccedilotildees no apoio para os pacientes e elencar possiacuteveis formas de apoio

porque satildeo inuacutemeras as formas de apoio e eu vou elencar aqui apenas algumas possiacuteveis

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara eacute arrasador para o paciente e sua famiacutelia todos noacutes

sabemos disso Todo o mundo que tem uma pessoa com doenccedila rara na famiacutelia ao receber um

diagnoacutestico muda todo o seu trajeto toda a sua caminhada Noacutes somos parte de um mundo de

raridades somos muitos raros no mundo pelo que vencer desafios passa a ser imperativo mas

6 Associaccedilatildeo de Niemann Pick Brasil

145

sem sombra de duacutevidas eacute uma coisa amedrontadora Soacute o amor e a feacute podem tornar os caminhos

menos tortuosos e isso a gente vecirc em todas as associaccedilotildees de apoio onde impera o amor onde

impera a feacute antes de mais nada a feacute e depois o amor porque soacute assim a gente consegue lidar

com as doenccedilas soacute assim a gente consegue caminhar

Na rede de apoios eu aqui desenhei uma rede que eacute aberta ela natildeo estaacute fechada de forma

nenhuma mas eu coloquei aqui alguns pontos de apoio e destaquei as associaccedilotildees de pacientes

Entatildeo todos esses pontos se relacionam eles interagem Noacutes temos as associaccedilotildees de apoio

que interagem com as instituiccedilotildees de pesquisa que interagem com profissionais de sauacutede que

interagem com o governo que interagem com o centro de referecircncia e que interagem com os

laboratoacuterios farmacecircuticos

O que leva algueacutem a buscar o apoio de uma associaccedilatildeo de pacientes

O diagnoacutestico Eacute aiacute que a pessoa consciente de um diagnoacutestico de doenccedila rara se vecirc num

mundo completamente novo e se pergunta Onde eu estou para onde eu vou e o que eacute que eu

quero achar Eacute aiacute que comeccedila a busca por iguais pessoas que tecircm e padecem da mesma

situaccedilatildeo e que podem compartilhar alguma coisa trocar experiecircncias e dar apoio muacutetuo

O diagnoacutestico de uma doenccedila rara motiva na pessoa inicialmente um sentimento de

solidatildeo A pessoa se acha sozinha no mundo depois tem duacutevidas sobre a doenccedila e surgem as

necessidades de troca de experiecircncias porque cada um quer saber o que o outro tem como eacute

que ele age como eacute que ele faz e entatildeo quer trocar quer interagir quer compartilhar e por

fim a busca de informaccedilotildees porque as doenccedilas raras de modo geral natildeo tecircm informaccedilotildees

disponiacuteveis Quando descobrimos que existe uma doenccedila rara na famiacutelia a primeira coisa que

se faz eacute cair na internet e buscar informaccedilatildeo Quem pode traduz textos internacionais quem

natildeo pode vai atraacutes de quem possa dar alguma informaccedilatildeo de trocar alguma experiecircncia de

fazer alguma coisa

Qual eacute a expectativa do paciente eda famiacutelia com relaccedilatildeo agrave associaccedilatildeo de apoio Apoio nas

dificuldades e desafios luta por dias melhores quer dizer lutar junto por dias melhores e unir

esforccedilos para vencer a caminhada que eacute difiacutecil

A associaccedilatildeo pode possibilitar ao paciente o acesso atratamentos e eu vou explicar como

reivindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes interface com associaccedilotildees congecircneres e busca de um

olhar social sobre o paciente

Entatildeo como eacute que as associaccedilotildees vatildeo atuar considerando esses aspectos

O acesso aos profissionais de sauacutede acontece quando a associaccedilatildeo congrega os

profissionais de sauacutede que tratam da doenccedila congrega em encontros procura saber onde eles

estatildeo e presta informaccedilotildees sobre a existecircncia daqueles meacutedicos daqueles profissionais

fisioterapeutas fonoaudioacutelogos nutricionista e toda a gama de profissionais de sauacutede que se

dediquem ao tratamento das doenccedilas raras Estimulando a interaccedilatildeo entre os profissionais de

sauacutede e pacientes o que eacute muito importante essa inter-relaccedilatildeo acontece nos encontros

promovidos pelas associaccedilotildees nos seminaacuterios porque aiacute satildeo trazidos os profissionais de sauacutede

para informar muito mais ainda sobre as doenccedilas para trocar experiecircncias para saber aprender

tambeacutem com as famiacutelias e esta eacute uma inter-relaccedilatildeo fundamental que as associaccedilotildees sempre

procuram fazer

Como eacute que as associaccedilotildees conseguem que os pacientes tenham acesso aos tratamentos

Evidentemente que a associaccedilatildeo natildeo vai possibilitar tratamentos porque natildeo tem condiccedilatildeo

de fazer isso a maioria Pelo menos a maioria mas tem condiccedilatildeo de saber quais satildeo os

tratamentos que existem de informar sobre eles para que os pacientes busquem esses

tratamentos e prestam muita atenccedilatildeo para o progresso que existe nos tratamentos da doenccedila

porque a cada dia aparece uma coisinha nova que vai se acrescentando que vai trazendo

alguma novidade e que pode realmente mudar em alguma coisa a vida daquele paciente

Reinvindicaccedilatildeo dos direitos dos pacientes como a associaccedilatildeo reivindica esses direitos

146

Atuando junto agraves instituiccedilotildees puacuteblicas em defesa da paridade de tratamento dos pacientes

defendendo os direitos dos pacientes ao atendimento atraveacutes dos serviccedilos puacuteblicos de sauacutede

reivindicando os direitos de participaccedilatildeo na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas relativas a doenccedilas

raras Atuando em conjunto com as instituiccedilotildees congecircneres como a gente estaacute fazendo aqui

hoje junto ao governo todo mundo aqui buscando o mesmo objetivo de conseguir a definiccedilatildeo

e a aplicaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas na busca do atendimento igualitaacuterio e continuado para todos

os pacientes com doenccedilas raras

Na realidade eacute um atendimento que tem que ser igual para todo o mundo e continuado natildeo

eacute uma coisa que vai acontecer hoje nesse governo e depois no proacuteximo governo acabou

ningueacutem mais estaacute fazendo nada e fica por aiacute Tem que ser uma coisa igual e contiacutenua

continuada E finalmente disponibilizando assistecircncia juriacutedica aos pacientes uma coisa

tambeacutem importante porque infelizmente os medicamentos de alto custo precisam de

judicializaccedilatildeo

As Associaccedilotildees tem que estar preparadas tecircm que ter no miacutenimo uma assessoria juriacutedica

que possa reivindicar esse direito dos pacientes E a interface com as associaccedilotildees congecircneres

se faz pelo fortalecimento das iniciativas e articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees no paiacutes e no mundo

A gente procura saber o que estaacute acontecendo aqui no paiacutes o que as nossas ldquoirmatildesrdquo fazem aqui

e o que acontece no mundo De que forma tambeacutem a gente pode buscar beber do saber do

universo O que a gente pode trazer para o nosso cotidiano Apoiar eventos relativos a doenccedilas

raras no Brasil e em outros paiacuteses tambeacutem eacute uma atribuiccedilatildeo eacute uma coisa que noacutes podemos

fazer

Finalmente noacutes temos a busca de um olhar social para o paciente que eacute o tema um olhar

social para o paciente A gente tem essa busca quando a gente investe na consolidaccedilatildeo do

conhecimento sobre a doenccedila na sociedade quando a gente informa a sociedade sobre a doenccedila

para que a sociedade possa responder conhecendo o paciente conhecendo a pessoa que tem a

doenccedila rara Fortalecendo as accedilotildees da sociedade civil em defesa dos interesses do paciente

buscando apoio e solidariedade de todos os segmentos sociais sensibilizando a sociedade para

a necessidade de inclusatildeo do paciente com doenccedila rara Inclusatildeo na escola inclusatildeo em todos

aspectos da vida do ser humano em sociedade E lutando para que o paciente com doenccedila rara

seja considerado um ser igual ainda que raro

Isso daqui eacute fundamental igualdade para todos mesmo sendo um ser raro para todas as

pessoas com doenccedilas raras Eu quero dizer que admiro esse pensamento Gosto do que se diz

aqui porque acredito que eacute por aiacute que a gente tem que andar ldquoO sonho de igualdade soacute cresce

no terreno do respeito pelas diferenccedilasrdquo Este eacute um pensamento de Augusto Cury e eacute aquilo que

sintetiza a nossa missatildeo como associaccedilatildeo Aigualdade soacute cresce no terreno do respeito as

diferenccedilas

Obrigada

147

Perguntas e Respostas do I CIADR

148

Pergunta para a representante da Interfarma

Qual o custo dos medicamentos para Doenccedilas Raras O SUS cobre os custos

Maria Joseacute Delgado1 - Prestar assistecircncia adequada aos pacientes com doenccedilas raras significa

formular uma poliacutetica capaz de combinar as duas principais facetas da questatildeo cuidados e

tratamentos por um lado e oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo outro O fato do Brasil natildeo

possuir uma poliacutetica puacuteblica especiacutefica para doenccedilas raras natildeo significa que os pacientes natildeo

recebam cuidados e tratamentos Os medicamentos acabam chegando ateacute eles por via judicial

na maioria das vezes E o SUS de uma maneira ou de outra atende essas pessoas poreacutem de

forma fragmentada sem planejamento com grandes desperdiacutecios de recursos puacuteblicos e

prejuiacutezos para os pacientes

A oferta de medicamentos oacuterfatildeos pelo SUS depende da sua incorporaccedilatildeo em um protocolo

cliacutenico que por sua vez depende de uma avaliaccedilatildeo teacutecnica e econocircmica de viabilidade Poreacutem

os criteacuterios empregados pelo Governo para avaliar a disponibilizaccedilatildeo de medicamentos oacuterfatildeos

pelo sistema puacuteblico ndash baseados em custo-efetividade ndash tecircm na maioria dos casos excluiacutedo os

pacientes da possibilidade de obter este tipo de tratamento

A legislaccedilatildeo brasileira estabelece que os medicamentos destinados a doenccedilas de baixa

prevalecircncia sejam analisados para efeitos de incorporaccedilatildeo no SUS pelos mesmos paracircmetros

usados para os de grande prevalecircncia Satildeo levados em conta quesitos como eficaacutecia do

tratamento e impacto de custos em comparaccedilatildeo com outros medicamentos de mesma natureza

Se na teoria esses paracircmetros satildeo justificaacuteveis para planejar e priorizar os gastos puacuteblicos

na praacutetica tecircm funcionado como um enorme obstaacuteculo para os pacientes com doenccedilas raras A

baixa prevalecircncia das doenccedilas natildeo possibilita que os testes cliacutenicos de comprovaccedilatildeo de eficaacutecia

dos medicamentos oacuterfatildeos tenham a mesma duraccedilatildeo e nuacutemero de pacientes envolvidos que os

de grande prevalecircncia

Por se destinarem a poucas pessoas e natildeo terem seu custo de desenvolvimento diluiacutedo entre

grandes grupos populacionais os medicamentos oacuterfatildeos acabam sendo mais caros que os

convencionais Aleacutem disso a maioria dessas drogas natildeo conta com outro medicamento com a

mesma funccedilatildeo que permita a realizaccedilatildeo de uma anaacutelise comparativa de custo-efetividade como

determina a legislaccedilatildeo

Para tentar romper esse ciacuterculo vicioso que dificulta o acesso aos medicamentos oacuterfatildeos

muitos pacientes tecircm recorrido agrave justiccedila com consideraacutevel impacto financeiro para o poder

puacuteblico Uma medida do problema estaacute no fato de o Ministeacuterio da Sauacutede ter desembolsado

apenas em 2011 R$ 167 milhotildees para atender 433 accedilotildees judiciais que determinavam a compra

de remeacutedios para pessoas com doenccedilas raras

De acordo com o estudo da Interfarma para facilitar o acesso dos pacientes agraves drogas oacuterfatildes

e evitar os custos elevados decorrentes da judicializaccedilatildeo seria necessaacuterio ajustar os paracircmetros

de anaacutelise agraves particularidades das doenccedilas raras substituindo os criteacuterios de custo-efetividade

por outros mais adequados como o da efetividade cliacutenica

A falta de uma poliacutetica oficial para doenccedilas raras tem transformado a vida dos pacientes

em uma excruciante corrida de obstaacuteculos seja no tocante a cuidados e tratamento seja em

relaccedilatildeo a medicamentos estes uacuteltimos sujeitos a inuacutemeros entraves regulatoacuterios que dificultam

a sua entrada no mercado e no SUS

1 mariadelgadointerfarmaorgbr

149

Perguntas para asos representantes de pacientes

Em tudo que vocecirc falou entra a grande dificuldade das famiacutelias para cuidar de suas crianccedilas

especiais A assistecircncia domiciliar (home care) eacute a grande chave para tudo isso uma equipe

multidisciplinar que venha atender esses pacientes em casa com qualidade de assistencia e

humanizaccedilatildeo do cuidado Hoje soacute existe isso na assistecircncia privada O que podemos fazer

para implantar isso no SUS

Beatriz (fisiotrapeuta)

Tacircnia Almeida2 - Na realidade Beatriz hoje tambeacutem temos ldquodisponiacutevelrdquo este atendimento

pelo SUS O problema eacute que natildeo se tem estrutura e pela cabeccedila quadrada de nossos

governantes que entendem que uma Home Care eacute cara acabam colocando mil dificuldades

para levar este paciente para casa Independente disto o sistema de Home Care no Brasil ainda

estaacute muito aqueacutem de ser um serviccedilo de excelecircncia

No meu caso eu prefiro mil vezes que meu filho esteja em casa com Home Care mas eacute

muito despreparo de teacutecnicos de enfermagem e da proacutepria equipe multidisciplinar Quem tem

o paciente em casa tem que ser muito criterioso com quem vai deixar trabalhar com o paciente

Um plano de sauacutede paga por visita a um fisioterapeuta no Rio de Janeiro o valor de R$ 1800

Geralmente o bom fisioterapeuta natildeo quer sair das UTIs para vir receber R$ 1800 por visita

de paciente Eacute tudo muito sucateado e daiacute acabamos natildeo tendo bons profissionais e ateacute escassez

dos mesmos para o atendimento domiciliar

Considerando que 75 das doenccedilas raras acometem crianccedilas e geralmente satildeo

incapacitantes vocecirc acha importante a existecircncia de um serviccedilo com assistencia

especializada em pediatria

Anna Beatriz (fisioterapeuta Prime Home Care)

Tacircnia Almeida - Com certeza eacute importante mas o problema eacute a falta de estrutura para viabilizar

isto Hoje o governo investe na sauacutede de base ou seja projeto ldquosauacutede da famiacuteliardquo Eacute legal Eacute

legal mas esses meacutedicos da base que deveriam conseguir identificar uma crianccedila sindrocircmica

natildeo tem capacitaccedilatildeo para tal infelizmente Fora a escassez de meacutedicos pediatras que estamos

tendo A maioria soacute quer seguir carreiras como otorrino cirurgia esteacutetica Pediatra Obstetra

Estatildeo em extinccedilatildeo

2 almeidaadvogadaigcombr

150

Perguntas para o representante do Ministeacuterio da Sauacutede

Ficou notoacuterio o interesse na construccedilatildeo dessa nova poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras no SUS Eu queria saber seesta nova poliacutetica puacuteblica leva e incorpora os

determinantes sociais e determinantes de sauacutede na construccedilatildeo da mesma

Aluno da Universidade de Brasiacutelia Campus Ceilacircndia

Joseacute Eduardo Fogolin1 - Para a Comissatildeo Nacional sobre os Determinantes Sociais da Sauacutede

(CNDSS) os DSS satildeo os fatores sociais econocircmicos culturais eacutetnico-raciais psicoloacutegicos e

comportamentais que influenciam a ocorrecircncia de problemas de sauacutede e seus fatores de risco

na populaccedilatildeo Cerca de 80 das doenccedilas raras satildeo causadas por fatores geneacuteticos e 20 por

fatores natildeo geneacuteticos As doenccedilas geneacuteticas apresentam uma interaccedilatildeo grande com os fatores

ambientais Assim os determinantes e condicionantes sociais da sauacutede satildeo considerados na

Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS jaacute que tecircm papel

importante nas causas centrais daquelas doenccedilas

Como seraacute organizado o cuidado com os pacientes tendo em vista que as doenccedilas raras satildeo

agrupadas por caracteriacutesticas em comum mas os sintomas e prognoacutesticos satildeo diferenciados

Clara (estudante de medicina)

Joseacute Eduardo Fogolin - Conforme a Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS que estaacute sendo construiacuteda a organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo deve seguir a loacutegica de

cuidados produzindo sauacutede de forma sistecircmica por meio de processos dinacircmicos voltados ao

fluxo de assistecircncia ao usuaacuterio A assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em seu campo de

necessidades vistas de forma ampla

No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede

A atenccedilatildeo aos familiares e pacientes com DR deveraacute garantir

- Estruturaccedilatildeo da atenccedilatildeo de forma integrada e coordenada em todos os niacuteveis desde a

prevenccedilatildeo acolhimento diagnoacutestico tratamento (baseado em protocolos cliacutenicos e diretrizes

terapecircuticas) suporte e apoio ateacute a resoluccedilatildeo seguimento e reabilitaccedilatildeo

- Acesso a recursos diagnoacutesticos e terapecircuticos

- Acesso agrave informaccedilatildeo e ao cuidado

- Aconselhamento geneacutetico quando indicado

Os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras seratildeo

componentes da Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede na Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no SUS e deveratildeo oferecer assistecircncia especializada e integral prestada por

equipe multidisciplinar Seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas

aos indiviacuteduos com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares de acordo

com os seguintes eixos assistenciais I - Anomalias Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual

associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas

ou com risco de desenvolvecirc-las

Assim a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas dentro

desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios do SUS

da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as necessidades

1 joseeduardosaudegovbr

151

de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Tendo em vista a divisatildeo dos eixos de complexidade como eacute feita a triagem para a

classificaccedilatildeo desses eixos (sabendo das dificuldades de diagnoacutestico) Como ocorre a

capacitaccedilatildeo dos profissionais para o acolhimento desses pacientes

Marcelo ndash estudante de enfermagem

Joseacute Eduardo Fogolin - Juntamente com a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas

com Doenccedilas Raras deveratildeo ser incorporados no SUS a depender de parecer favoraacutevel da

Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS (CONITEC) 15 novos

procedimentos aleacutem do Aconselhamento Geneacutetico Esses procedimentos permitiratildeo o correto

diagnoacutestico das doenccedilas raras e o tratamento adequado de acordo com os serviccedilos

disponibilizados pelo SUS A capacitaccedilatildeo dos profissionais seraacute feita pela divulgaccedilatildeo de

materiais instrutivos entre os profissionais da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada

maternidades e outros

Na medida em que nem todas as doenccedilas raras estatildeo incluiacutedas nos eixos estruturantes

definidos existem doenccedilas que sequer conhecemos a etiologia profissionais de atenccedilatildeo

baacutesica que natildeo conhecem obrigatoriamente a etiologia das doenccedilas raras e e que teratildeo

dificuldade em fazer o encaminhamento natildeo estatildeo se criando barreiras adicionais de acesso

ao paciente ao se definir diferentes eixos estruturantes para qualificaccedilatildeo de centros de

atenccedilatildeo especializada

Simone (tcherniakovskysalxncom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Tendo em vista o princiacutepio da Universalidade a Poliacutetica de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS natildeo restringe os tipos de doenccedilas a serem

atendidas isto eacute todos os usuaacuterios devem ser acolhidos independente de sua doenccedila

O nuacutemero exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que existam entre 6000 e

8000 tipos diferentes de DR 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos as demais advecircm de

causas ambientais infecciosas imunoloacutegicas entre outras Sendo assim natildeo seria possiacutevel

organizar a atenccedilatildeo por doenccedilas sendo entatildeo organizada por eixos assistenciais I - Anomalias

Congecircnitas II - Deficiecircncia Intelectual associada a doenccedila rara III - Erros Inatos do

Metabolismo e IV - Doenccedilas Raras natildeo Geneacuteticas ou com risco de desenvolvecirc-las

Desta forma a organizaccedilatildeo da poliacutetica em eixos assistenciais classificando as doenccedilas

dentro desses eixos eacute uma forma de organizar a atenccedilatildeo Contudo considerando os princiacutepios

do SUS da equidade e da integralidade o cuidado aos usuaacuterios deveraacute levar em conta as

necessidades de sauacutede especiacuteficas de cada sujeito e seus familiares Para aleacutem de sua doenccedila a

atenccedilatildeo integral deveraacute considerar em primeiro lugar o sujeito que entre suas necessidades

possui a de cuidado em sauacutede em funccedilatildeo de sua doenccedila Organizar a atenccedilatildeo em eixos natildeo

significa homogeneizar o cuidado

Para isso o SUS jaacute tem propiciado processos de formaccedilatildeo mais ampla para melhorar em

primeiro lugar o acolhimento a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e o respeito agraves diferenccedilas Aleacutem disso

os profissionais de sauacutede deveratildeo ser incluiacutedos em processos de formaccedilatildeo especiacutefica sobre a

poliacutetica em questatildeo como forma de garantir a identificaccedilatildeo de possiacuteveis doenccedilas raras na

atenccedilatildeo baacutesica fazendo-se os encaminhamentos adequados

152

Foi mencionada a incorporaccedilatildeo de remeacutedios para a poliacutetica de atenccedilatildeo agraves pessoas com

doenccedilas raras Haacute tambeacutem alguma vertente que prevecirc processos terapecircuticos

multifuncionais que saia do baacutesico

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS a assistecircncia ao usuaacuterio deve ser centrada em suas necessidades vistas de forma

ampla No que se refere agrave atenccedilatildeo especializada em doenccedila rara seratildeo propostos Serviccedilos de

Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como componentes

estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer assistecircncia

especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e Centros seratildeo

responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos com doenccedilas

raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto a Poliacutetica natildeo se restringe agrave medicaccedilatildeo Ela prevecirc atenccedilatildeo integral com equipe

multidisciplinar conforme as necessidades do usuaacuterio

Como ter acesso aos documentos da Poliacutetica Puacuteblica e como poder participar do Grupo de

Trabalho

Anna Carolina F da Rocha (portadora de epidermoacutelise bolhosa ndash APPEB ndash Associaccedilatildeo

de Portadores de Epidermoacutelise Bolhosa annarochagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Os documentos formulados pelo Grupo de Trabalho em Doenccedilas

Raras foram colocados em Consulta Puacuteblica no dia 10 de abril de 2013 (Consulta Puacuteblica nordm

07) e estatildeo disponiacuteveis na internet na paacutegina da Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SASMS) O

acesso pode ser feito por meio do link2

Infelizmente a reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado sobre a Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras ocorreu no dia 23 de outubro de 2013 De

qualquer forma representantes de diversas associaccedilotildees estiveram presentes na reuniatildeo e

representaram natildeo soacute as suas respectivas associaccedilotildees mas todos os pacientes e demais

associaccedilotildees muito bem

Como estaacute a articulaccedilatildeo deste GT com o Conselho Nacional de Sauacutede na elaboraccedilatildeo desta

Poliacutetica

Tacircnia Dornellas (Associaccedilatildeo Brasileira dos Portadores de Charcot ndash Marie ndash Tooth)

Joseacute Eduardo Fogolin - A discussatildeo e pactuaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras seratildeo feitas com a Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT)

conforme preconizado pela Lei Orgacircnica da Sauacutede (Lei 8080 de 19 de setembro de 1990)

Por que natildeo tem nutricionista especializada no grupo O que estaacute sendo feito para as doenccedilas

metaboacutelicas para as quais a dieta eacute o tratamento

Joseacute Eduardo Fogolin - O grupo que elaborou os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras foi composto por teacutecnicos do Ministeacuterio da

Sauacutede meacutedicos especialistas e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras Como seria

inviaacutevel a participaccedilatildeo de um nuacutemero maior de pessoas em todas as reuniotildees surgiu a

2 httpportalsaudegovbrportalarquivospdfcp07_re_retificado30dpdf

153

necessidade da reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado cujos membros foram indicados pelos

membros titulares do Grupo de Trabalho original

Vale ressaltar que nutricionistas poderatildeo estar presentes na equipe complementar dos

Serviccedilos Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras de acordo com as

necessidades do cuidado Na equipe miacutenima assistencial dos Centros de Referecircncia em Doenccedilas

Raras que atenderem ao Eixo III ndashErros Inatos do Metabolismo ndash sua presenccedila eacute indispensaacutevel

Em relaccedilatildeo agraves doenccedilas cujo tratamento eacute a foacutermula nutricional o Ministeacuterio da Sauacutede

publicou a Portaria nordm 850 de 3 de maio de 2012 instituindo um Grupo de Trabalho (GT) com

a finalidade de orientar quanto agrave estruturaccedilatildeo de serviccedilos para Terapia Nutricional ambulatorial

e domiciliar no acircmbito do SUS De acordo com o Art 2ordm dessa portaria o GT apresentou agrave

Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede (SAS) orientaccedilotildees quanto agrave disponibilizaccedilatildeo de foacutermulas

nutricionais especiais destacando-se o Grupo de Dispensaccedilatildeo Permanente ndash Erros Inatos do

Metabolismo Foi encaminhado Parecer Teacutecnico Cientiacutefico agrave CONITEC (Comissatildeo Nacional

de Incorporaccedilatildeo de Tecnologias no SUS) solicitando o fornecimento da foacutermula alimentar

necessaacuteria a pacientes com homocistinuacuteria e o processo estaacute em avaliaccedilatildeo quanto ao impacto

financeiro que essa iraacute causar ao SUS De forma geral os resultados das discussotildees do GT

apontam a necessidade de organizaccedilatildeo de serviccedilos estruturados baseados em Protocolos

Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas (PCDT) nos estados e municiacutepios como passo inicial para

consolidaccedilatildeo de um fluxo de triagem diagnoacutestico tratamento dispensaccedilatildeo de produtos e

acompanhamento desses pacientes na rede puacuteblica de sauacutede ao niacutevel domiciliar e ambulatorial

Vocecirc tem data para iniciar o Protocolo ou seja o atendimento no SUS Vocecirc sabe que

continuam morrendo pacientes por falta do protocolo para atendimento e a demora em

conseguir medicamento feito famiacutelias estarem doentes E com isso a fila cresce nos hospitais

Maacutercia (Associaccedilatildeo Baiana de Mucopolissacaridose samarcia1gmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede tem consciecircncia do sofrimento dessas pessoas

e famiacutelias e natildeo eacute indiferente a esta situaccedilatildeo Por este motivo criou o Grupo de Trabalho para

elaborar a poliacutetica para pessoas com Doenccedilas Raras

Os textos norteadores da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras submetidos agrave Consulta Puacuteblica foram discutidos pelo Grupo de Trabalho Ampliado da

referida poliacutetica no dia 23 de outubro de 2013 e as contribuiccedilotildees seratildeo consolidadas pelo

Ministeacuterio da Sauacutede Em seguida devem ser discutidos no Grupo de Trabalho de Atenccedilatildeo da

Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em novembro e no mesmo mecircs devem ser pactuados

na CIT Depois de concluiacutedo esse processo seraacute publicada a portaria que institui a Poliacutetica

Como o Senhor pode trabalhar junto a Conitec para acelerar a criaccedilatildeo de PCDTS

(Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas) para doenccedilas raras

Roberto Larreta

Joseacute Edurado Fogolin - A Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC)

encaminha continuamente demandas para incorporaccedilatildeo de tecnologias e elaboraccedilatildeo de

protocolos no SUS para a CONITEC aleacutem da incorporaccedilatildeo de novos exames na tabela do

Sistema Uacutenico de Sauacutede Relativo agraves doenccedilas raras a CGMAC jaacute solicitou a inclusatildeo de 15

procedimentos para apoio diagnoacutestico a essas doenccedilas aleacutem do aconselhamento geneacutetico Jaacute a

solicitaccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de PCDT pode ser feita pela CGMAC (como vem sendo feita) e pela

sociedade interessada (maiores informaccedilotildees no siacutetio eletrocircnico)3

3 httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfmid_area=1611

154

Entende-se que se trata de um processo que seraacute continuamente ampliado com a

implantaccedilatildeo da poliacutetica

Para contemplar o apoio diagnoacutestico especiacutefico da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras atualmente encontra-se em anaacutelise na CONITEC a solicitaccedilatildeo de

incorporaccedilatildeo dos seguintes procedimentos

1 Identificaccedilatildeo de gliciacutedios urinaacuterios por cromatografia (camada delgada)

2 Identificaccedilatildeo de glicosaminoglicanos urinaacuterios por cromatografia em camada delgada

eletroforese e dosagem quantitativa

3 Identificaccedilatildeo de oligossacariacutedeos e Sialoligossacariacutedeos por cromatografia (camada

delgada)

4 Focalizaccedilatildeo Isoeleacutetrica da Transferrina

5 Dosagem quantitativa de carnitina perfil de acilcarnitinas

6 Dosagem quantitativa de aminoaacutecidos para diagnoacutestico de Erros Inatos do Metabolismo

7 Dosagem quantitativa de aacutecidos orgacircnicos para o diagnoacutestico de erros inatos do

metabolismo

8 Ensaios enzimaacuteticos no plasma leucoacutecitos e tecidos para erros inatos do metabolismo

9 Ensaios enzimaacuteticos em eritroacutecitos para erros inatos do metabolismo

10 Ensaios enzimaacuteticos em tecido cultivado para erros inatos do metabolismo

11 Anaacutelise de DNA pela teacutecnica De Southern Blot

12 Anaacutelise de DNA por MLPA

13 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeorearranjos por PCRQPCRPCR sensiacutevel a metilaccedilatildeoQPCR

sensiacutevel agrave metilaccedilatildeo

14 Identificaccedilatildeo de Alteraccedilatildeo Cromossocircmica Submicroscoacutepica por Array-Cg

15 Identificaccedilatildeo de mutaccedilatildeo por sequenciamento por amplicon ateacute 500 pares de bases

16 Aconselhamento Geneacutetico

Como resultado dessa articulaccedilatildeo jaacute existe tratamento protocolado para as seguintes

doenccedilas Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e

Polimiosite Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido

Distonias Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de

Parkinson Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral

Amiotroacutefica Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal

Congecircnita Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

O Doutor ressaltou em sua fala a falta de disciplinas acadecircmicas no decorrer de sua

graduaccedilatildeo Eu estudante de Sauacutede Coletiva da Universidade de Brasiacutelia tambeacutem sinto essa

falta Em sua opiniatildeo qual a importacircncia dos alunos que estudam o SUS terem em sua

graduaccedilatildeo aulas que orientem e informem sobre doenccedilas raras e seus desafios no SUS

Joseacute Eduardo Fogolin - De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) doenccedila rara

eacute aquela que afeta ateacute 65 a cada 100 000 indiviacuteduos (ou 13 a cada 2000 indiviacuteduos) O nuacutemero

exato de doenccedilas raras natildeo eacute conhecido Estima-se que exista entre 6000 e 8000 doenccedilas sendo

que 80 delas decorrem de fatores geneacuteticos e as demais advecircm de causas ambientais

infecciosas imunoloacutegicas dentre outras Muito embora algumas sejam individualmente raras

como um grupo elas acometem um percentual significativo da populaccedilatildeo o que resulta em um

problema de sauacutede relevante Por isso eacute tatildeo importante o estudo acerca das doenccedilas raras nas

graduaccedilotildees e poacutes-graduaccedilotildees na aacuterea de sauacutede bem como os desafios enfrentados diariamente

pelos profissionais de sauacutede e pacientes no SUS

155

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Sabendo que os profissionais de sauacutede pouco conhecem sobre as distrofias musculares que

acometem uma a cada 2000 pessoas e que no ranking das doenccedilas que mais matam ficam

em segundo lugar tendo como primeira causa as doenccedilas do coraccedilatildeo e perdendo para o

cacircncer noacutes pais lutamos pela conscientizaccedilatildeo da sociedade da classe meacutedica e poliacutetica

pelo apoio agraves pesquisas tratamentos instituiccedilotildees e direitos O que estaacute sendo feito para

conscientizar a classe meacutedica sobre doenccedilas raras

Tenho como experiecircncia pessoal na rede Sarah aqui de Brasiacutelia que eacute considerada

referecircncia no Brasil a ausecircncia de uma equipe capacitada e informada sobre as distrofias

musculares Quero ressaltar que sou filha de meacutedico

(ouroaninhagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - A capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros Aleacutem disso a Poliacutetica

pretende garantir que o atendimento seja feito por equipes multidisciplinares como forma de

melhor acolher e humanizar o cuidado a esses pacientes para que sejam atendidos em suas

necessidades

Espera-se que com a praacutetica da Poliacutetica das Doenccedilas Raras as Instituiccedilotildees de Ensino

venham gradativamente a integrar os conhecimentos gerados em seus curriacuteculosconteuacutedos

programaacuteticos

Atenccedilatildeo MS ou SUS A questatildeo das poliacuteticas de sauacutede voltadas para formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede no contexto prevenccedilatildeo Existem perspectivas em formaccedilatildeo de

profissionais de Educaccedilatildeo Fiacutesica para essas aacutereas de doenccedilas raras Teriacuteamos acesso a essas

Poliacuteticas

Professora Germana (UNIP e UNIPLAN germanabrouzadayahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - O Ministeacuterio da Sauacutede entende que a formaccedilatildeo dos profissionais de

Educaccedilatildeo Fiacutesica bem como dos demais profissionais da sauacutede para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras eacute fundamental para uma assistecircncia agrave sauacutede integral incluindo medidas de

prevenccedilatildeo Eacute esperado que a implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves

Pessoas com Doenccedilas Raras induza ao processo formativo e agrave inclusatildeo dos referidos

profissionais da rede de atenccedilatildeo agrave sauacutede e em especial ao cuidado das pessoas com doenccedilas

raras

Cabe informar que a capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em relaccedilatildeo ao cuidado das

doenccedilas raras seraacute feita por meio da divulgaccedilatildeo de materiais instrutivos entre os profissionais

da Atenccedilatildeo Baacutesica Atenccedilatildeo Especializada maternidades e outros

Com o desenvolvimento da Poliacutetica de Doenccedilas Raras esta questatildeo poderaacute ser melhor

abordada e acreditamos que esses profissionais poderatildeo ser incorporados

Vale destacar no acircmbito de atuaccedilatildeo dos profissionais envolvidos nas praacuteticas de atividade

fiacutesica que o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu o Programa Academia da Sauacutede na Atenccedilatildeo Baacutesica

Esse programa visa contribuir para a promoccedilatildeo da sauacutede da populaccedilatildeo a partir da implantaccedilatildeo

de espaccedilos puacuteblicos construiacutedos com infraestrutura equipamentos e profissionais qualificados

para o desenvolvimento de praacuteticas corporais orientaccedilatildeo de atividade fiacutesica promoccedilatildeo de accedilotildees

de seguranccedila alimentar e nutricional e de educaccedilatildeo alimentar bem como outras temaacuteticas que

envolvam a realidade local aleacutem de praacuteticas artiacutesticas e culturais (teatro muacutesica pintura e

156

artesanato) Os polos do programa satildeo parte integrante da atenccedilatildeo baacutesica compondo mais um

ponto de atenccedilatildeo agrave sauacutede A organizaccedilatildeo e o planejamento dos polos satildeo coordenados pela

atenccedilatildeo baacutesica e devem ser articulados com os demais pontos de atenccedilatildeo agrave sauacutede aleacutem de

estarem vinculados a um Nuacutecleo de Apoio agrave Sauacutede da Famiacutelia (NASF) ou a uma Unidade

Baacutesica de Sauacutede (UBS)

Existe a possibilidade das entidades de apoio muacutetuo atuarem na capacitaccedilatildeo dos

profissionais da rede jaacute que as entidades tecircm tido ecircxito nas accedilotildees desenvolvidas Como

fazer

Marcelo Dunas (graduando em enfermagem - marceloslima10yahoocombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - As entidades e associaccedilotildees de apoio agraves pessoas com doenccedilas raras

podem buscar estabelecer parcerias com as Secretarias Municipais e Estaduais de Sauacutede para

contribuir nos processos de formaccedilatildeo planejados pelos gestores locais

O desenvolvimento da poliacutetica dependeraacute muito dos diversos Estados e Municiacutepios ela

teraacute peculiaridades regionais Natildeo eacute o objetivo criar mecanismos riacutegidos mas flexiacuteveis e

amplos

Em princiacutepio a atuaccedilatildeo das entidades de apoio muacutetuo na capacitaccedilatildeo dos profissionais de

sauacutede natildeo eacute impossiacutevel os profissionais vinculados a essas associaccedilotildees com experiecircncia

comprovada na aacuterea poderatildeo atuar na capacitaccedilatildeo desde que em acordo com os demais

profissionais dos Municiacutepios e Estados e sob a orientaccedilatildeo das Secretarias Municipais e

Estaduais de Sauacutede Para tal as associaccedilotildees poderatildeo estabelecer parcerias com suas Secretarias

de Sauacutede a depender dos mecanismos locais de estabelecimento dessas parcerias

Assim a resposta completa a esta pergunta seraacute variaacutevel e dependente da evoluccedilatildeo da

Poliacutetica nos diversos locais

Que tipo de incentivo o Ministeacuterio pretende dar para Estados e Municiacutepios que

implementarem uma Poliacutetica direcionada agraves doenccedilas raras Tem dinheiro novo Estaacute sendo

discutido financiamento

(Mardones ndash Belford Roxo ndash RJ)

Joseacute Eduardo Fogolin - As poliacuteticas puacuteblicas instituiacutedas pelo Ministeacuterio da Sauacutede contam com

estrutura e financiamento Este Ministeacuterio alocaraacute recursos adicionais para as accedilotildees da Poliacutetica

Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras de acordo com a Portaria a ser

publicada do mesmo modo que ocorre com suas demais poliacuteticas de sauacutede

Vale ressaltar que o Ministeacuterio da Sauacutede jaacute repassa recursos relativos ao cuidado das

pessoas com doenccedilas raras pois hoje elas satildeo atendidas pela rede de sauacutede bem como novos

recursos alocados pela implementaccedilatildeo da Rede de Atenccedilatildeo agrave Pessoa com Deficiecircncia e Rede

Cegonha Toda articulaccedilatildeo e pactuaccedilatildeo acontece em seus respectivos colegiados intergestores

regional e bipartite

Dr Fogolin dentro da Poliacutetica de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede existe projeto de levantar o nuacutemero de

doentes ou famiacutelias portadoras de CADA doenccedila rara Sou da UPADHABH e natildeo temos a

menor ideia de quantas famiacutelias portadoras existem no Brasil portadoras de Huntington

(mirandaediliayahoocom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Como natildeo seria possiacutevel organizar as diretrizes abordando as doenccedilas

raras de forma individual devido ao grande nuacutemero de doenccedilas a Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras estaacute sendo organizada na forma de eixos estruturantes

157

que permitem classificar as doenccedilas raras de acordo com suas caracteriacutesticas comuns com a

finalidade de maximizar os benefiacutecios aos usuaacuterios

O Ministeacuterio da Sauacutede sabe da importacircncia de se conhecer a incidecircncia e a prevalecircncia das

doenccedilas especialmente as raras que natildeo possuem esse tipo de dados na literatura cientiacutefica No

entanto um desafio encontrado eacute o fato de vaacuterias das doenccedilas raras natildeo possuiacuterem coacutedigo

especiacutefico na Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas (CID-10) sendo informadas sob coacutedigos

gerais Eacute esse sistema de classificaccedilatildeo que eacute informado pelo profissional de sauacutede que atende

o paciente que permite que o Ministeacuterio da Sauacutede conheccedila o nuacutemero de pacientes com

determinada doenccedila atendidos na rede do SUS

Aleacutem disso eacute necessaacuterio observar a Lei nordm 8080 de 19 de setembro de 1990 Lei Orgacircnica

da Sauacutede no que diz respeito agrave informaccedilatildeo sobre a sauacutede dos pacientes O Art 7ordm V estabelece

que accedilotildees e serviccedilos puacuteblicos de sauacutede e os serviccedilos privados contratados ou conveniados que

integram o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) deveratildeo obedecer ao princiacutepio do direito agrave

informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutede Isso garante que o paciente tenha acesso a

informaccedilotildees sobre sua sauacutede e que elas natildeo sejam divulgadas a terceiros a natildeo ser com

autorizaccedilatildeo do paciente

Quais os locais de tratamento em Brasiacutelia para as pessoas com doenccedilas raras

Thamyres Ferreira ( Teacutecnica em Enfermagem)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem de

27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Cumpre informar que com a publicaccedilatildeo da Portaria da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras o gestor de sauacutede do Distrito Federal teraacute autonomia

para solicitar a habilitaccedilatildeo no termos da referida Portaria dos serviccedilos mencionados e de

158

demais serviccedilos que julgar necessaacuterios para o atendimento agrave sauacutede das pessoas com doenccedilas

raras

Tenho dois filhos com distrofia muscular (distrofia muscular de Steinert) Nos sentimos um

pouco sem apoio pois sabemos que a siacutendrome por enquanto natildeo tem cura mas devem ser

tratadas as doenccedilas que satildeo desencadeadas em funccedilatildeo da siacutendrome Soacute que quando

procuramos o especialista ele fica meio perdido Aqui em Brasiacutelia eu encontro pelo hospital

puacuteblico profissionais (neurologista ortopedistas otorrino gastroenterologista) que

entendam como um todo e que podemos tambeacutem ter acesso

Nadir

Joseacute Eduardo Fogolin - A Secretaria de Sauacutede do Distrito Federal tem uma Coordenaccedilatildeo de

Doenccedilas Raras que estaacute subordinada a Gerecircncia de Recursos Meacutedico-Hospitalares da Diretoria

de Assistecircncia Especializada Todas as doenccedilas geneacuteticas atendidas nos ambulatoacuterios de

Geneacutetica Cliacutenica da rede puacuteblica de sauacutede estatildeo sob essa coordenaccedilatildeo

Aleacutem de criar a coordenaccedilatildeo de Doenccedilas Raras a rede de sauacutede do DF oferece um serviccedilo

puacuteblico de geneacutetica cliacutenica iniciado em 1989 e oficializado como Nuacutecleo de Geneacutetica em 2007

com uma residecircncia em Geneacutetica Meacutedica reconhecida pelo MEC no Hospital de Base Tambeacutem

passou a disponibilizar desde 2010 o teste de triagem neonatal ampliado e oferece a triagem

de 27 doenccedilas raras a todas as crianccedilas nascidas no DF

Os locais de atendimento agraves pessoas com doenccedilas raras variam com a idade do paciente e

o quadro cliacutenico Existem atendimentos nos seguintes locais

- HMIB ambulatoacuterio geral de crianccedilas para triagem e direcionamento

- Hospital de Base do DF ambulatoacuterio para pacientes acima de 13 anos

- HCB satildeo atendidos pacientes das especialidades pediaacutetricas

- HAB satildeo atendidos receacutem-nascidos com teste de triagem neonatal realizado no Nuacutecleo de

Geneacutetica e que apresentam alguma alteraccedilatildeo

Os pacientes podem ser encaminhados via parecer para esses locais conforme a idade

Para ter acesso aos ambulatoacuterios de geneacutetica o paciente deve ser encaminhado por Unidades

Baacutesicas de Sauacutede Cliacutenicas de Pediatria UTIS Emergecircncias Cliacutenicas Especializadas

Em todos os locais os pacientes satildeo atendidos pelo meacutedico geneticista A equipe de apoio

a esses pacientes estaacute lotada no HAB e eacute composta de nutricionista odontopediatra terapeuta

ocupacional fisiatra assistente social fonoaudioacutelogo e psicoacutelogo Esses profissionais satildeo

agendados por solicitaccedilatildeo do geneticista

Para maiores informaccedilotildees e sobre como acessar os serviccedilos puacuteblicos de sauacutede do Distrito

Federal sugere-se entrar em contato com Maria Terezinha de Oliveira Cardoso que eacute a

Coordenadora de Doenccedilas Raras na SESDF Os telefones de Contato satildeo (61) 3905-

466846694681 e 3343-2104

Como paciente sinto falta de um olhar mais cuidadoso Muitos profissionais ficam focados

no tratamento com remeacutedios Quais seriam os objetivos relacionados ao olhar humanizado

dos envolvidos Isso deveria ser parte do perfil da formaccedilatildeo dos estudantes

Luiz Vargas (luisvargasgmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Com certeza a humanizaccedilatildeo da atenccedilatildeo em sauacutede deve fazer parte da

formaccedilatildeo dos profissionais desde a universidade No que diz respeito aos profissionais do SUS

as poliacuteticas relativas agrave formaccedilatildeo ao desenvolvimento profissional e agrave educaccedilatildeo permanente dos

trabalhadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) eacute responsabilidade do Departamento de Gestatildeo

da Educaccedilatildeo na Sauacutede (DegesSGTES) que tem atuado em parceria com estados municiacutepios e

159

instituiccedilotildees formadoras no desenvolvimento de processos de formaccedilatildeo e de uma poliacutetica

nacional de educaccedilatildeo permanente

No que diz respeito agrave humanizaccedilatildeo do cuidado a Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo (PNH)

do Ministeacuterio da Sauacutede busca colocar em praacutetica os princiacutepios do SUS no cotidiano dos serviccedilos

de sauacutede produzindo mudanccedilas nos modos de gerir e cuidar

Formaccedilatildeo eacute intervenccedilatildeo e intervenccedilatildeo eacute mudanccedila Atraveacutes de cursos e oficinas de

formaccedilatildeointervenccedilatildeo e a partir da discussatildeo dos processos de trabalho as diretrizes e

dispositivos da Poliacutetica Nacional de Humanizaccedilatildeo satildeo vivenciados e reinventados no cotidiano

dos serviccedilos de sauacutede Em todo o Brasil os trabalhadores satildeo formados teacutecnica e politicamente

e reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH pois satildeo os construtores de novas

realidades em sauacutede e poderatildeo se tornar os futuros formadores da PNH em suas localidades A

PNH investe em diversos materiais de formaccedilatildeo como cartilhas documento base e outras

publicaccedilotildees4

No que se refere especificamente agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras no SUS as diretrizes e normas de habilitaccedilatildeo de serviccedilos e centros estatildeo sendo pensados

na perspectiva de garantir o acolhimento cuidado humanizado e acesso agrave informaccedilatildeo aos

usuaacuterios e seus familiares por meio da garantia de equipes multidisciplinares e formaccedilatildeo dos

profissionais

Quais as medidas que o Ministeacuterio da Sauacutede pode tomar quanto a Profissionais que preacute-

determinam o diagnoacutestico sem exames e condicionam o paciente a morte e tentam convencer

a famiacutelia dessa verdadeQuando se recorre ao Ministeacuterio da Sauacutede para intervir junto ao

SUS em casos urgentes o Ministeacuterio daacute um retorno soacute alguns meses depois Que chances

um paciente com doenccedilas raras tem quando os profissionais mesmo apoacutes o diagnoacutestico nada

fazem para ter um miacutenimo de conhecimento sobre a doenccedila para natildeo incorrer em erros

baacutesicos

Marla (Tia de paciente com acidemia glutaacuterica II)

Joseacute Eduardo Fogolin - O SUS tem alguns mecanismos de controle social e canais de denuacutencia

dos quais os usuaacuterios podem se utilizar tais como os Conselhos Municipais e Estaduais de

Sauacutede e as Ouvidorias Aleacutem disso o SUS eacute um sistema descentralizado composto pelos trecircs

niacuteveis de gestatildeo municipal estadual e federal Nesse sentido os usuaacuterios devem recorrer agraves

Secretarias Municipais de Sauacutede para efetivar suas reclamaccedilotildees denuacutencias sugestotildees e

contribuiccedilotildees A busca pelas Secretarias Municipais por estes gestores estarem mais proacuteximos

dos usuaacuterios e conhecerem a realidade local facilita e agiliza a resoluccedilatildeo dos problemas locais

Acredita-se que a melhor forma de fazer isso de forma organizada e efetiva eacute por meio da

participaccedilatildeo dos usuaacuterios e seus familiares nas instacircncias de controle social tais como os

Conselhos de Sauacutede seja diretamente ou por meio de suas associaccedilotildees

Quanto agrave postura dos profissionais acredita-se que com a implantaccedilatildeo da Poliacutetica de

Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras haveraacute uma melhoria no atendimento

proporcionada pela organizaccedilatildeo da atenccedilatildeo e inclusatildeo de aspectos tais como possibilidade da

realizaccedilatildeo de exames diagnoacutesticos tratamentos protocolados melhor articulaccedilatildeo da rede

disponibilizaccedilatildeo de materiais informativos e formativos e outras modalidades de formaccedilatildeo dos

profissionais

4 Publicaccedilotildees disponiacuteveis em httpbvsmssaudegovbrbvshumanizacaopub_destaquesphp

160

Em se tratando de inserccedilatildeo de tecnologias no SUS qual a previsatildeo de inserccedilatildeo do Cough

Assist na Portaria MS 1370 (Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria a Pacientes com Doenccedilas

Neuromusculares)

Maria Clara (Associaccedilatildeo Carioca de Distrofia Muscular clarinhampbacadimcombr)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Portaria GMMS nordm 1370 de 3 de julho de 2008 que institui o

Programa de Assistecircncia Ventilatoacuteria Natildeo Invasiva aos Portadores de Doenccedilas

Neuromusculares foi regulamentada pela Portaria SAS nordm 370 de 4 de julho de 2008 Esta

uacuteltima estabelece o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no Programa e as indicaccedilotildees

cliacutenicas para a utilizaccedilatildeo de ventilaccedilatildeo natildeo invasiva em pacientes portadores de doenccedilas

neuromusculares Atualmente o Cough Assist natildeo estaacute incluiacutedo nos procedimentos da Portaria

370 essa incorporaccedilatildeo ainda estaacute sendo analisada internamente

Como ficaratildeo os pacientes com doenccedilas raras dependentes de ventilaccedilatildeo mecacircnica e

assistecircncia domiciliar

Faacutetima Braga (Presidente da Abrame fatima-abramehotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Atualmente esses pacientes satildeo amparados pelas seguintes Portarias

Portaria GMMS nordm 13702008 (institui o programa de assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos

portadores de doenccedilas neuromusculares) Portaria SASMS nordm 3702008 (estabelece na forma

do anexo i desta portaria o rol de doenccedilas neuromusculares incluiacutedas no programa de

assistecircncia ventilatoacuteria natildeo invasiva aos portadores de doenccedilas neuromusculares) e Portaria

GMMS nordm 9632013 (Redefine a Atenccedilatildeo Domiciliar no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede)

No entanto o Ministeacuterio da Sauacutede por meio da articulaccedilatildeo entre a Coordenaccedilatildeo-Geral de Meacutedia

e Alta Complexidade Coordenaccedilatildeo-Geral de Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia e Coordenaccedilatildeo-

Geral de Atenccedilatildeo Domiciliar estaacute revendo as portarias relativas agrave assistecircncia ventilatoacuteria

Qual a dificuldade de se criar uma Secretaria de Doenccedilas Raras dentro do Ministeacuterio da

Sauacutede onde se poderia centralizar as demandas

Tacircnia (matildee de paciente)

Joseacute Eduardo Fogolin - A criaccedilatildeo de uma Secretaria de Doenccedilas Raras na estrutura do

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo garante a efetiva implementaccedilatildeo da Poliacutetica nos municiacutepios O que se

busca eacute a inclusatildeo da atenccedilatildeo integral agraves pessoas com doenccedilas raras na rede de sauacutede tanto para

atendimento baacutesico quanto especializado Para isso eacute fundamental a articulaccedilatildeo de todas as

aacutereas e natildeo a fragmentaccedilatildeo O SUS deve estar preparado para atender a todos os usuaacuterios

independente de sua necessidade de sauacutede A criaccedilatildeo de unidades especiacuteficas e isoladas seria

um retrocesso pois natildeo se pretende implantar unidades ou instituiccedilotildees totais mas sim garantir

o direito dos usuaacuterios com doenccedilas raras de serem integrados na rede e ter suas necessidades

de sauacutede atendidas Desta forma a loacutegica de articulaccedilatildeo em rede deve ser pensada desde a

estrutura interna no Ministeacuterio da Sauacutede ateacute os serviccedilos que compotildee a rede de sauacutede nos

municiacutepios como forma de otimizar os atendimentos e garantir o direito dos usuaacuterios

Considerando que 75 das doenccedilas raras se manifestam em crianccedilas e satildeo incapacitantes

o que o senhor acha da existecircncia de uma empresa de assistecircncia especializada em pediatria

Ana Beatriz (Fisioterapeuta da Prime Home)

Joseacute Eduardo Fogolin - A Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras no SUS

estaacute sendo construiacuteda com a participaccedilatildeo da sociedade por meio das contribuiccedilotildees agrave Consulta

Puacuteblica e com participaccedilatildeo de especialistas usuaacuterios e seus familiares por meio de suas

161

associaccedilotildees As diretrizes da referida poliacutetica incluem o acolhimento e cuidado que deve ser

disponibilizado desde a atenccedilatildeo baacutesica agrave especializada Na atenccedilatildeo especializada seratildeo

propostos Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras como

componentes estruturantes complementares agrave Rede de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede que deveratildeo oferecer

assistecircncia especializada e integral prestada por equipe multidisciplinar Esses serviccedilos e

Centros seratildeo responsaacuteveis por accedilotildees preventivas diagnoacutesticas e terapecircuticas aos indiviacuteduos

com doenccedilas raras ou com risco de desenvolvecirc-las e seus familiares

Portanto natildeo se inclui na Poliacutetica a contrataccedilatildeo de empresas de assistecircncia especializada

em pediatria uma vez que a atenccedilatildeo nessa aacuterea deveraacute estar incluiacuteda na rede e serviccedilos

propostos

Eu tenho curiosidade sobre o teste do pezinho Ateacute que ponto ele pode ajudar no diagnoacutestico

de doenccedilas raras Quais as doenccedilas raras podem ser detectadas

Edna Santana Santos (edsantanasantoshotmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - O teste do pezinho obrigatoacuterio no paiacutes eacute apenas a primeira etapa de

qualquer programa de triagem neonatal Eacute uma accedilatildeo preventiva que permite fazer o diagnoacutestico

de doenccedilas a tempo de se interferir na evoluccedilatildeo delas por meio do tratamento precoce

especiacutefico permitindo a diminuiccedilatildeo ou a eliminaccedilatildeo das sequelas a elas associadas

O teste implica na coleta de algumas gotas de sangue do calcanhar do bebecirc na idade ideal

do 3ordm ao 5ordm dia de vida e possibilita o diagnoacutestico de certas doenccedilas geneacuteticas endocrinoloacutegicas

e doenccedilas metaboacutelicas que natildeo apresentam evidecircncias cliacutenicas ao nascimento Pode ser feito

em hospitais maternidades ou nos postos de sauacutede

O Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministeacuterio da Sauacutede tem a missatildeo de

promover implantar e implementar a poliacutetica de triagem neonatal para doenccedilas geneacuteticas

metaboacutelicas e congecircnitas no acircmbito do SUS visando o acesso universal integral e equacircnime

com foco na prevenccedilatildeo na intervenccedilatildeo precoce e no acompanhamento permanente das pessoas

com as doenccedilas incluiacutedas no Programa Nacional de Triagem Neonatal

As doenccedilas detectadas pelo teste do pezinho realizado na rede puacuteblica satildeo

Fenilcetonuacuteria Doenccedila geneacutetica que envolve falha no metabolismo das proteiacutenas ingeridas

Se natildeo tratada leva a lesotildees graves e irreversiacuteveis no sistema nervoso central (inclusive a

deficiecircncia intelectual) e o seu tratamento precoce pode prevenir estas sequelas

Hipotireoidismo Congecircnito Eacute um distuacuterbio causado pela produccedilatildeo deficiente de hormocircnios

da tireoacuteide que pode provocar lesatildeo grave e irreversiacutevel levando agrave deficiecircncia intelectual Se

instituiacutedo bem cedo o tratamento eacute eficaz e pode evitar estas sequelas

Hemoglobinopatias A doenccedila falciforme eacute a principal delas provocada por uma alteraccedilatildeo

na hemoglobina As complicaccedilotildees cliacutenicas satildeo tratadas com medidas profilaacuteticas antibioacuteticos

aacutecido foacutelico analgeacutesicos oxigenaccedilatildeo hipertransfusatildeo e uso de hidroxiureia

Fibrose Ciacutestica Eacute uma doenccedila geneacutetica tambeacutem conhecida como mucoviscidose cuja

alteraccedilatildeo leva a uma insuficiecircncia pancreaacutetica e faz com que se produza um muco espesso nos

brocircnquios e nos pulmotildees facilitando infecccedilotildees de repeticcedilatildeo e causando problemas respiratoacuterios

e digestivos entre outros

Deficiecircncia de Biotinidase doenccedila geneacutetica que consiste na deficiecircncia da enzima

biotinidase envolvida no metabolismo da vitamina B6 (biotina) Provoca nos quadros mais

graves convulsotildees retardo mental e lesotildees de pele O diagnoacutestico eacute difiacutecil a partir de sinais

cliacutenicos que satildeo poucos caracteriacutesticos

Hiperplasia Adrenal Congecircnita engloba um grupo de siacutendromes caracterizadas por defeitos

hereditaacuterios em diferentes passos enzimaacuteticos na biossiacutentese do cortisol Em meninas essas

162

alteraccedilotildees podem levar ao aparecimento de caracteres sexuais masculinos ndash como pelos e

aumento do clitoacuteris ndash e em ambos os sexos pode levar a uma perda acentuada de sal e ao oacutebito

Qual o caminho mais adequado que uma associaccedilatildeo pode ou deve percorrer em procura de

ajuda para suspender uma portaria do Ministeacuterio da Sauacutede que retira a distribuiccedilatildeo de uma

medicaccedilatildeo fundamental para pacientes com Deficiecircncia de BH4

Graccedila Afonso ( Safe Brasil)

Joseacute Eduardo Fogolin - Caso a autora da pergunta esteja se referindo agrave Portaria nordm 38 de 6 de

agosto de 2013 que torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no

tratamento da hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUS

esclarece-se que

A CONITEC em sua 14ordf reuniatildeo ordinaacuteria realizada no dia 4 de abril de 2013 recomendou

a natildeo incorporaccedilatildeo no SUS da sapropterina para o tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA)

com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4) A Comissatildeo considerou que os estudos a

maioria de baixa qualidade metodoloacutegica natildeo conseguiram comprovar a superioridade do

tratamento principalmente no que diz respeito agrave ausecircncia de dados especiacuteficos para o subgrupo

com deficiecircncia de BH4 Assim os membros da CONITEC presentes na 15ordf reuniatildeo do plenaacuterio

do dia 09052013 deliberaram por unanimidade natildeo recomendar a sapropterina para o

tratamento de hiperfenilalaninemia (HFA) com deficiecircncia em tetrahidrobiopterina (BH4)5

Tendo em vista o Relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da CONITEC foi publicada a portaria

conforme coacutepia abaixo

PORTARIA Nordm 38 DE 6 DE AGOSTO DE 2013

Torna puacuteblica a decisatildeo de natildeo incorporar o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no Sistema Uacutenico de Sauacutede - SUS

O SECRETAacuteRIO DE CIEcircNCIA TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATEacuteGICOS DO

MINISTEacuteRIO DA SAUacuteDE no uso de suas atribuiccedilotildees legais e com base nos termos dos art 20

e art 23 do Decreto 7646 de 21 de dezembro de 2011 resolve

Art 1ordm Fica natildeo incorporado o medicamento sapropterina no tratamento da

hiperfenilalaninemia com deficiecircncia de BH4 no acircmbito no Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS)

Art 2ordm O relatoacuterio de recomendaccedilatildeo da Comissatildeo Nacional de Incorporaccedilatildeo de

Tecnologias no SUS (CONITEC) sobre essa tecnologia estaraacute disponiacutevel no endereccedilo

eletrocircnico httpportalsaudegovbrportalsaudeGestorareacfm id_ area=1611

Art 3ordm A mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela CONITEC caso

sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise efetuada

Art 4ordm Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA

Conforme a Portaria a mateacuteria poderaacute ser submetida a novo processo de avaliaccedilatildeo pela

CONITEC caso sejam apresentados fatos novos que possam alterar o resultado da anaacutelise

efetuada Desta forma uma associaccedilatildeo pode realizar essa solicitaccedilatildeo apresentando esses fatos

5 O Relatoacuterio da CONITEC estaacute disponiacutevel em

httpportalsaudegovbrportalarquivospdfRelatorio_Sapropterina_FINALpdf

163

O Senhor falou das grandiosas perspectivas em relaccedilatildeo agrave atenccedilatildeo baacutesica e especializada no

SUS para pessoas com doenccedilas raras Atualmente constata-se um verdadeiro sucateamento

do SUS com falta de equipamentos baacutesicos para diagnoacutestico materiais e profissionais Quais

as providecircncias que estatildeo sendo tomadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede na praacutetica e a curto prazo

para mudar essa realidade

Riane Nataacutelia (Professora e fisioterapeuta Coordenadora das Aacutereas cliacutenicas da APAED -

Associaccedilatildeo de Pais e Amigos dos Excepcionais e Deficientes rianenataacuteliagmailcom)

Joseacute Eduardo Fogolin - Em relaccedilatildeo agrave Poliacutetica de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas

Raras tema da palestra proferida em 26 de abril de 2012 o Ministeacuterio da Sauacutede instituiu um

Grupo de Trabalho organizado pelo Departamento de Atenccedilatildeo EspecializadaCoordenaccedilatildeo de

Meacutedia e Alta Complexidade (CGMAC) contando com a participaccedilatildeo de representantes de

SociedadesEspecialistas e Associaccedilotildees de Apoio agraves Pessoas com Doenccedilas Raras (entre elas a

AMAVI) para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com

Doenccedilas Raras no acircmbito do SUS

A partir das discussotildees do Grupo de Trabalho (GT) o Ministeacuterio da Sauacutede colocou em

Consulta Puacuteblica ndeg 07 de 10 de abril de 2013 os seguintes documentos ldquoNormas para

Habilitaccedilatildeo de Serviccedilos de atenccedilatildeo Especializada e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

no Sistema Uacutenico de Sauacutederdquo e ldquoDiretrizes para Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

no acircmbito do Sistema Uacutenico de Sauacutede ndash SUSrdquo A consulta puacuteblica ficou disponiacutevel para o envio

de contribuiccedilotildees aos textos citados ateacute ao dia 9 de junho de 2013

As contribuiccedilotildees advindas da Consulta Puacuteblica foram consolidadas e o documento foi

discutido em reuniatildeo do Grupo de Trabalho Ampliado (GTA) da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo

Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras realizada no dia 23 de outubro de 2013 Sendo assim

as contribuiccedilotildees do GTA seratildeo avaliadas pelo Ministeacuterio da Sauacutede e o documento final seraacute

levado para discussatildeo e posterior pactuaccedilatildeo na Comissatildeo Intergestores Tripartite (CIT) em

novembro

Essa Poliacutetica pretende compatibilizar o cuidado integral (promoccedilatildeo prevenccedilatildeo tratamento

e reabilitaccedilatildeo) em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional e atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede As doenccedilas raras

seratildeo classificadas em sua natureza como de origem geneacutetica e de origem natildeo geneacutetica Desta

forma foram elencados quatro eixos de DR sendo os trecircs primeiros compostos por DR de

origem geneacutetica e o uacuteltimo formado por DR de origem natildeo geneacutetica

I- Anomalias Congecircnitas

II- Deficiecircncia Intelectual

III- Doenccedilas Metaboacutelicas

IV- Doenccedilas Raras de Natureza natildeo Geneacutetica

a) Infecciosas

b) Inflamatoacuterias

c) Autoimunes

Na atenccedilatildeo especializada os Serviccedilos de Atenccedilatildeo Especializada e os Centros de Referecircncia

em Doenccedilas Raras ofereceratildeo atenccedilatildeo diagnoacutestica e terapecircutica especiacutefica para uma ou mais

doenccedilas raras em caraacuteter multidisciplinar de acordo com os eixos assistenciais acima

especificados

Para o diagnoacutestico das doenccedilas raras no acircmbito dessa Poliacutetica seraacute necessaacuteria incorporaccedilatildeo

de novos procedimentos no SUS A proposta eacute a criaccedilatildeo de trecircs procedimentos principais com

finalidade diagnoacutestica de acordo com os eixos estruturantes e um procedimento relativo ao

aconselhamento geneacutetico Para cada procedimento principal com finalidade diagnoacutestica seraacute

permitida a execuccedilatildeo de um rol de exames (procedimentos secundaacuterios)Os procedimentos

164

orientaratildeo os Gestores do SUS quanto ao encaminhamento dos pacientes para os Centros de

Referecircncias ou Serviccedilo Especializado no SUS estabelecendo os criteacuterios diagnoacutesticos miacutenimos

para o encaminhamento

A inclusatildeo dos referidos exames dependem do parecer da CONITEC previsto para

novembro de 2013

Atualmente o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) jaacute disponibiliza tratamentos protocolados

(Cliacutenicos e Diretrizes Terapecircuticas - PCDT) para as seguintes doenccedilas rarasgeneacuteticas

Angioedema Hereditaacuterio Artrite Reativa - Doenccedila de Reiter Dermatomiosite e Polimiosite

Deficiecircncia de Hormocircnio do Crescimento ndash Hipopituitarismo Diabete Insiacutepido Distonias

Focais e Espasmo Hemifacial Doenccedila Celiacuteaca Doenccedila de Gaucher Doenccedila de Parkinson

Doenccedila de Crohn Doenccedila de Wilson Esclerose Muacuteltipla Esclerose Lateral Amiotroacutefica

Fenilcetonuacuteria Fibrose Ciacutestica Hepatite Autoimune Hiperplasia Adrenal Congecircnita

Hipotireoidismo Congecircnito Ictioses Hereditaacuterias Imunodeficiecircncias Primaacuterias com

Deficiecircncia de Anticorpos Insuficiecircncia Adrenal Primaacuteria (Doenccedila de Addison) Miastenia

Gravis Siacutendrome de Guillain-Barreacute Siacutendrome de Turner e Luacutepus Eritematoso Sistecircmico

Consideraccedilatildeo Foi mencionada a humanizaccedilatildeo de todos os profissionais mas haacute tambeacutem

uma intenccedilatildeo em encorajar tratamentos como por exemplo hidroterapias que natildeo satildeo

oferecidas Sabemos que os pacientes apresentam melhora ateacute mesmo socialmente mas

sinto uma certa negligecircncia O que pode mudar com a atuaccedilatildeo das Associaccedilotildees

Joseacute Eduardo Fogolin - Eacute preciso lembrar que as doenccedilas raras com tratamento baseado em

drogas representam apenas uma pequena fraccedilatildeo das doenccedilas raras de modo que uma assistecircncia

puramente farmacecircutica beneficiaria um nuacutemero limitado de pessoas com esse tipo de doenccedila

Natildeo soacute os tratamentos medicamentosos satildeo importantes para o cuidado das pessoas com

doenccedilas raras mas tambeacutem os tratamentos psicoloacutegicos fonoaudioloacutegicos fisioteraacutepicos entre

outros

Um dos objetivos da Poliacutetica Nacional de Atenccedilatildeo Integral agraves Pessoas com Doenccedilas Raras

eacute estabelecer um cuidado integral com accedilotildees de promoccedilatildeo prevenccedilatildeo diagnoacutestico tratamento

e reabilitaccedilatildeo em todos os niacuteveis de atenccedilatildeo com equipe multiprofissional atuaccedilatildeo

interdisciplinar possibilitando equacionar os principais problemas de sauacutede relacionados a

doenccedilas raras Isso deveraacute ser oferecido pela rede de assistecircncia do SUS incluindo os Serviccedilos

Especializados e Centros de Referecircncia em Doenccedilas Raras

As associaccedilotildees podem participar ativamente do controle social nos municiacutepios por meio do

diaacutelogo com os gestores locais e participaccedilatildeo em conselhos de sauacutede Essa participaccedilatildeo de

forma organizada eacute fundamental para aprimorar e garantir a implementaccedilatildeo contiacutenua da

poliacutetica

A Cescontexto eacute uma publicaccedilatildeo online de resultados de

investigaccedilatildeo e de eventos cientiacuteficos realizados pelo Centro de

Estudos Sociais (CES) ou em que o CES foi parceiro A

Cescontexto tem duas linhas de ediccedilatildeo com orientaccedilotildees

distintas a linha ldquoEstudosrdquo que se destina agrave publicaccedilatildeo de

relatoacuterios de investigaccedilatildeo e a linha ldquoDebatesrdquo orientada para a

memoacuteria escrita de eventos

Page 5: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 6: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 7: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 8: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 9: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 10: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 11: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 12: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 13: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 14: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 15: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 16: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 17: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 18: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 19: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 20: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 21: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 22: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 23: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 24: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 25: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 26: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 27: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 28: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 29: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 30: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 31: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 32: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 33: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 34: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 35: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 36: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 37: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 38: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 39: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 40: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 41: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 42: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 43: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 44: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 45: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 46: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 47: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 48: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 49: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 50: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 51: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 52: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 53: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 54: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 55: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 56: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 57: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 58: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 59: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 60: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 61: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 62: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 63: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 64: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 65: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 66: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 67: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 68: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 69: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 70: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 71: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 72: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 73: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 74: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 75: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 76: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 77: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 78: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 79: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 80: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 81: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 82: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 83: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 84: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 85: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 86: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 87: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 88: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 89: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 90: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 91: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 92: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 93: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 94: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 95: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 96: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 97: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 98: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 99: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 100: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 101: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 102: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 103: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 104: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 105: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 106: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 107: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 108: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 109: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 110: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 111: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 112: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 113: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 114: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 115: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 116: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 117: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 118: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 119: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 120: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 121: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 122: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 123: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 124: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 125: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 126: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 127: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 128: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 129: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 130: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 131: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 132: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 133: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 134: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 135: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 136: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 137: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 138: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 139: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 140: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 141: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 142: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 143: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 144: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 145: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 146: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 147: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 148: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 149: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 150: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 151: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 152: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 153: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 154: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 155: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 156: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 157: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 158: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 159: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 160: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 161: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 162: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 163: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 164: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 165: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia
Page 166: Actas do I Congresso Iberoamericano · 2019. 1. 17. · Um olhar social para o paciente Actas do I Congresso Iberoamericano de Doenças Raras Organização Rogério Lima Barbosa Sílvia