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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DASUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FEIRA DE SANTANA/BA,
DIREITO À SAÚDE – PACIENTE COMDISFUNÇÃO GRAVE DA ARTICULAÇÃOTÊMPORO MANDIBULAR E DISFUNÇÃOCRÂNIO MAXILO FACIAL - NECESSIDADE DETRATAMENTO MÉDICO-ODONTOLÓGICO – EMCARÁTER DE URGÊNCIA – SISTEMA ÚNICO DESÁUDE - OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DA UNIÃO, DOESTADO E DO MUNICÍPIO.
URGENTE
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, peloProcurador da República infra-firmado, com base no art. 129, II e III da
Constituição Federal, na Lei Complementar Federal n. 75/93 e na Lei n.
7.347/85, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA, em face da:
1. UNIÃO, pessoa jurídica de direito público,
representada pelo Procurador-Chefe da
Advocacia Geral da União, com sede na Avenida
Tancredo Neves, n. 450, 28º andar, Ed. Suarez
Trade, Caminho das Árvores, Salvador/BA;
2. ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito
público, representada pelo Procurador-Geral do
Estado, com sede no Largo do Campo Grande, n.
382, Salvador/BA; e
3. MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, pessoa
jurídica de direito público, na pessoa do Prefeito
Municipal, com sede na Av. Sampaio, n. 344,
Centro, Feira de Santana/BA.
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I – DO OBJETO DA AÇÃO
Pretende-se com a presente ação a realização de
tratamento médico-odontológico e cirúrgico, EM CARÁTER DE URGÊNCIA,
para o Sr. ALFRÂNIO JORGE DE SOUZA SILVA, 37 anos, que padece de
DISFUNÇÃO GRAVE DA ARTICULAÇÃO TÊMPORO MANDIBULAR E
DISFUNÇÃO CRÂNIO-MAXILO-FACIAL (CID-K07.6).
II - D OS FATOS
Compareceu à sede da Procuradoria da República
da Subseção Judiciária de Feira de Santana/BA, em 02/04/2007, o Sr.
ALFRÂNIO JORGE DE SOUZA SILVA, portador de R.G. 0864875584, SSP/BA,
inscrito no CPF n. 521.547.695 00, brasileiro, maior, solteiro, técnico em
comercialização e mercadologia, residente e domiciliado neste município,
cujo termo de declarações encontra-se anexo aos autos, solicitando
providências do MPF, visto que necessita submeter-se a tratamento
médico-odontológico o mais breve possível, conforme relatórios médicos
que instruem a inicial, tendo em vista que padece de DISFUNÇÃO GRAVE
DA ARTICULAÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR E DISFUNÇÃO CRÂNIO-MAXILO-
FACIAL.
Consoante as declarações prestadas, o Sr.
ALFRÂNIO padece da referida enfermidade há cerca de 06 (seis) anos,
cujos principais sintomas são fortes dores de cabeça (cefaléia), dores
musculares e cervicais, traumas oclusais, mau hálito, dificuldade de
mastigação, problemas estomacais e distúrbios psíquicos, que o
levaram, inclusive, a perder o emprego e não ter condições físicas de
realizar qualquer atividade laborativa, tendo que viver, desde então, às
custas de sua genitora, a Sra. MARIA JOSÉ DE SOUZA SILVA, aposentada
como lavradora pela Previdência Social, que recebe um salário mínimo
mensal.
Ora, trata-se de um cidadão com 37 anos,
atualmente incapaz de desenvolver-se como ser humano e de exercer
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qualquer atividade laborativa, o que tem causado sérios danos de ordem
psíquica, o que obrigou o paciente a fazer tratamento psiquiátrico no
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) desde 2003, conforme relatórios
médicos emitidos por diversos psiquiatras que se encontram anexos,
entre os quais poder-se-ia destacar o emitido pela Dra. Maria de Lourdes
Souza (CREMEB 2450), no qual assinala que o Sr. ALFRÂNIO passou a
apresentar quadro psico-somático, caracterizado por depressão,
idéias obsessivas e manifestação dolorosa persistente, necessitando
fazer uso de Duloxetina (cymbalta) via oral, diariamente, e por tempo
indeterminado.
Cumpre ressaltar que, ao longo desses 06 (seis)
anos, o Sr. ALFRÂNIO já fez uso de 78 (setenta e oito) medicamentos,
para atenuar os sintomas da disfunção têmporo-mandibular, sobretudo
as fortes dores na região bucofacial, conforme demonstram as
numerosas receitas médicas anexas e a extensa lista de substâncias
utilizadas. Entretanto, tais medicamentos possuem um caráter paliativo,
pois destinam-se apenas a combater os sintomas da doença e amenizar a
dor, sem que a causa fosse sanada, ou seja, a realização de tratamento
médico, odontológico e cirúrgico para correção da disfunção
mandibular.
Ora, as fotografias da região bucofacial
anexadas aos autos demonstram, de maneira clara e inequívoca, a
gravidade da doença e o sofrimento pelo qual tem passado o Sr.
ALFRÂNIO.
Vale salientar que o tratamento custa
atualmente em torno de R$ 20.000,00. Em 2005, custava cerca de R$
15.000,00. Entretanto, o referido cidadão não disponhe de condições
financeiras para arcar com os custos do mesmo.
Com efeito, os orçamentos que se encontram
anexos aos autos fornecidos pelo Nucleo Integrado de Reabilitação
Orofacial de FS/BA (NIRO), no valor R$ 14.920,00 (quatorze mil,
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novecentos e vinte reais) (orçamento em 10/10/2005) e pela Clínica
Integrada de Saúde Oral, no valor de R$ 9.500,00 (nove mil e
quinhentos reais), além do tratamento de ortodontia na OrthoClinic
Correção Dentária, no valor R$ 3.648,00 (três mil, seiscentos e quarenta
e oito reais), o que totaliza R$ 13.148,00 (treze mil, cento e quarenta e
oito reais) (orçamento datado de 16/12/2003). Cumpre assinalar que tais
orçamentos certamente sofreram acréscimos no valor, por serem datados
de 2003 a 2005, de modo que se encontram atualmente defasados.
Por fim, assevera que já procurou tratamento
junto à SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FEIRA DE SANTANA,
SECRETÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, MINISTÉRIO DA SAÚDE,
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA –
UFBA, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA e à ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA - ABO, não logrando êxito em suas
inúmeras tentativas, tendo em vista que as instituições alegam que não
dispõem de meios profissionais e materiais para realizar o tratamento,
por ser de alta complexidade técnica e do alto custo financeiro.
Com efeito, segundo o Sr. ALFRÂNIO, o
Município de Feira de Santana, através da Secretaria Municipal de
Saúde, negou-se a realizar o tratamento, sob a alegação de que não
dispõe de estrutura médico-odontológica para fazê-lo, pois se trata de
atribuição da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Esta, por sua vez,
informou-lhe que, como o Município de Feira de Santana encontra-se
habilitado na Gestão Plena do Sistema Único de Saúde, a ele compete a
realização do tratamento.
Por outro lado, a Secretaria de Atenção Básica
do Ministério da Saúde orientou o referido cidadão a se dirigir à
Secretaria de Saúde deste município, sob o mesmo argumento acima
indicado: a de que, por se encontrar em gestão plena, cabe ao Municipio
realizar o tratamento ou encaminhar o paciente para outros municípios
onde possa ser feito.
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Neste sentido, apesar das diversas tentativas
junto ao Município de Feira de Santana, o Estado da Bahia e a União,
conforme demonstram as inúmeras correspondências devidamente
protocolizadas pelo Sr. ALFRÂNIO, que instruem a inicial, encaminhadas
exaustivamente aos três entes federativos, o paciente continua submetido
a uma via crucis interminável, visto que cada uma das entidades
federativas atribui a competência à outra, sem que o tratamento, até a
presente data, fosse realizado apesar de já terem passado 06 (seis) anos,
desde que o Sr. ALFRÂNIO procurou auxílio médico junto ao Poder Público,
a quem cabe, por dever constitucional, garantir o direito à saúde aos
cidadãos.
Instaurado o Procedimento Administrativo n.
1.14.004.00076/2007-39 nesta Procuradoria da República, a fim de
viabilizar o tratamento médico-odontológico para o Sr. ALFRÂNIO JORGE
DE SOUZA SILVA, foram requisitadas informações à Secretaria Municipal de
Saúde de Feira de Santana, mediante o Ofício n. 673/07-PRM/FS-VA, à 2ª
Diretoria Regional de Saúde (2ª DIRES), através do Ofício n. 671/07-
PRM/FS-VA, à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde e à Secretaria de
Saúde do Estado da Bahia (Ofício n. 676/07-PRM/FS-VA).
A 2º Diretoria Regional de Saúde, mediante o
Ofício .GAB. n. 055/2007, informou que o “paciente deveria procurar a
Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, que faz parte do
Sistema de Gestão Plena da Saúde....”
A Secretaria Municipal de Saúde de Feira de
Santana informou, através do Ofício G.S. 851/07, que o “Sr. ALFRÂNIO já
realizou tratamento de periondentia e endodentia no CEO (Centro de
Especialidades Odontológicas), que são os tratamentos disponíveis e
pactuados pelo Município de Feira de Santana, porém Ortodontia, Prótese,
Cirurgia Crânio Maxilo Facial e Implantodontia ainda não estão disponíveis
na rede SUS a nível federal, Estadual e Municipal.”
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Por outro lado, a então Secretária Municipal de
Saúde de Feira de Santana/BA, Dra. Zênia Maria Aráujo Neves,
encaminhou, equivocadamente, o paciente ao Hospital Psiquiátrico Juliano
Moreira, que, entretanto, conforme ofício assinado pela Coordenadora
clínica, Dra. Lela Santos, “o hospital não realiza tratamento especializado
na área de prótese/oclusão para atendimento de pacientes com problemas
patológicos semelhantes ao do Sr. Alfrânio Jorge de Souza Silva, sugerindo
encaminhamento do paciente à Secretaria Municipal de Saúde de Feira de
Santana em parceria com o Ministerio da Saúde.”
Cumpre salientar que, em resposta encaminhada
ao próprio paciente, o Secretário de Políticas de Saúde, mediante o Ofício
n. 854/02-GAB/SPS/MS, datado de 02 de agosto de 2002, informa que “o
Ministério da Saúde repassa recursos financeiros regularmente à
Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, para os serviços de
saúde possam melhor atender os cidadãos moradores desse município.
Assim sendo, comunico que estou enviando cópia de sua carta ao
Secretário Municipal de Saúde de Feira de Santana, pleiteando que a
Secretaria analise a sua situação com vistas a avaliar a possibilidade de
atender à sua solicitação”
A Secretaria de Atenção Básica do Ministério da
Saúde, por sua vez, informou ao MPF que “o paciente encontra-se
atualmente em tratamento junto à Faculdade de Odontologia da
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.”, o que, entretanto,
não procede.
Com efeito, requisitadas informações ao
Departamento de Odontologia da UEFS, a Dra. Ângela Guimarães Martins,
Coordenadora da Área de Clínica Integrada informou que “o paciente
Alfrânio vem sendo atendido desde 2005 em uma das clínicas odontológicas
da UEFS... que o tratamento que vem sendo realizado contempla uma
parte de suas necessidades bucais, visto que o mesmo também necessita
de procedimentos de dentística (restaurações), endodontia (tratamentos e
retrataramentos de canal), periondontia (tratamento de gengivas) e
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procedimentos protéticos básicos, que já vem sendo realizads. O paciente
foi esclarecido em seu atendimento inicial que a Clínica Integrada do
Curso de Odontologia da UEFS não teria condições de realizar o
tratamento em Disfunção grave da Articulação Têmporo Mandibular e
Disfunção Crânio Maxilo Facial, pois esse tratamento não é realizado
em nenhum curso de graduação em Odontologia, por ser de elevado
grau de complexidade, exigindo nível de especialização dos
profissionais , mesmo contando em nosso quadro com professores na área
em nível de mestrado e doutorado, o tipo de tratamento requerido para o
caso não cabe no ambiente de graduação.” (grifos nossos)
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
informou, através do Ofício Gasec n. 646/07, que “os procedimentos
cirúrgicos de maior complexidade em odontologia devem ser referenciados
para a Faculdade de Odontologia sa UFBA, Hospital Geral do Estado (HGE)
e no Hospital Geral Roberto Santos.”
Oficiado, o Hospital Geral do Estado, informou
(Ofício n. 1.812/2007) que “o Hospital Geral do Estado é campo de estágio
da Residência em Buco-Maxilo facial apenas no Setor de Emergência e
que o hospital não dispõe de meios/materiais especializados para
continuação de tratamento após a fase de emergência”. (grifo nosso)
Já a Diretoria Geral do Hospital Roberto Santos
infomou, mediante o Ofício n. 1.429/07, que “o procedimento de enxerto
ósseo poderá ser realizado neste hospital, os demais (movimentações
ortodônticas, próteses provisórias e definitivas sobre raízes
remanescentes, implantes e prótese sobre implantes) são feitos por
espeacialidades na Faculdade de Odontologia da UFBA.”
Sucede, entretanto, que, conforme termo de
declarações anexo, o Sr. ALFRÂNIO já esteve na Faculdade de Odontologia
da UFBA, onde foi submetido a uma avaliação médica detalhada, realizada
pela equipe médica Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, cujo laudo encontra-
se anexo, que diagnosticou a enfermidade e estabeleceu os procedimentos
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médicos, odontológicos e cirúrgicos a serem adotados, mas, segundo
informações da própria Dra. Maria F.P. Oliveira, o tratamento só
poderá ser realizado pela Rede privada, que dispõe de condições
técnicas em todas as especialidades, não adiantando encaminhar o
paciente para clínicas conveniadas pelo SUS, porque é mera perda de
tempo.
A Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da
Saúde, novamente oficiada pelo MPF, informou, mediante o Ofíco GS n.
1.797/07, o qual encontra-se anexo o Parecer Técnico do Coordenador
Nacional de Saúde Bucal e do Diretor do Departamento de Atenção Básica,
“que o município de Feira de Santana – BA está habilitado em gestão
plena dos recursos do Sistema Único de Saúde – SUS, devendo, assim,
programar as ações de sua população e realizar os encaminhamentos
para outros municípios, daquelas ações que não possuem oferta, por
insuficiência ou inexistência de capacidade instalada, mantendo
consonância com o processo de regionalização, conforme as Diretrizes
para a Programação Pactuada e Integrada da Assistência à Saúde.”
(grifo nosso)
Por outro lado, o Sr. ALFRÂNIO compareceu à
esta Procuradoria da República em 15 de janeiro de 2008, às 17:00h,
informando que “está sentindo fortes dores de cabeça , chegando a ser
internado 03 (três) vezes na emergência do Hospital Regional Clériston
Andrade, no EMEC e no Hospital D. Pedro, em face da dor insuportável,
em decorrência da Disfunção Grave da Articulação Têmporo
Mandibular e Disfunção Crânio facial; que não está suportando as
fortes dores, que não consegue sequer dormir; que está tomando
Diazepan, Amiptril (psicotrócopico e ansiolítico) e Rivotril
(antidepressivo).”
E continua:
“Que os médicos que o atenderam nas
emergências dos hospitais acima referidos, disseram que sem a
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realização do tratamento médico-dentário, as dores irão continuar e
se agravar e, com o passar do tempo, poderá ocorrer um aneurisma
cerebral, em virtude da falta de tratamento”.
Assinala ainda que “deseja providências do
Ministério Público Federal, pois a União, o Estado da Bahia e o
Município ficam um empurrando para o outro; que já procurou, em
diversas oportunidades, a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de
Santana e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, mas não obteve
atendimento; que já procurou a UFBA, mas o tratamento não é realizado;
que já esteve na Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia, mas o
tratamento também não é realizado; que já foi atendido pela Clínica
Integrada da UEFS, mas conforme relatório da Coordenadora Ângela
Guimarães Martins, que se encontra nos autos, a Universidade não tem
estrutura médica, pessoal e profissional para realizar o tratamento da
disfunção que acomete o paciente; que o tratamento que o paciente fez
na UEFS foi apenas um tratamento básico (restauração, tratamento de
canais), não contemplando as reais necessidades do quadro clínico do
declarante; que já entrou em contato com o Ministério da Saúde, sendo
informado que é atribuição do Município pois Feira de Santana possui
gestão plena do Sistema Único de Saúde.”
Destarte, conforme a farta documentação médica
que instrui a inicial, observa-se que o Sr.ALFRÂNIO padece de uma grave
enfermidade que acomete a articulação têmporo-mandibular, o que
provoca fortes dores na região bucofacial, ocasionando perturbações no
sistema psiquíco e neurológico, necessitando de tratamento médico,
odontológico, cirúrgico e psiquiátrico, que engloba ortodontia,
periondontia, implantodontia e reabilitação oclusal com prótese, além de
acompanhamento psicológico, fonodiaulógico e terapêutico.
A médica ortodentista Márcia Murici (CRO 4550),
especialista em disfunção crânio-mandibular, que acompanha o paciente
desde o ano de 2003, afirmou em seu relatório técnico anexo que “as
implicações clínicas no caso de não se iniciar o tratamento poderão ser
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um aumento da dor na região da Articulação Têmporo Mandibular
(ATM), um aumento do mau hálito e problemas estomacais já que não
consegue uma boa mastigação, aumento da perda óssea devida a
traumas oclusais e inflamação gengival. O paciente encontra-se
psicologicamente abalado, com a auto-estima baixa devido ao mau
hálito, ausência de elementos dentários, principalmente na região
anterior, dores musculares na região da ATM e dificuldade de
mastigação.” (grifo nosso)
Vale assinalar que a Disfunção Têmporo-
Mandibular e Maxilo-Facial tem sérias repercussões clínicas, físicas,
neurológicas e musculares, porquanto, além de prejudicar a mastigação,
dificultando a alimentação, provoca fortes dores musculares que
impedem o desenvolvimento de qualquer atividade por parte daquele
que sofre dessa enfermidade. Além disso, o mau hálito e as fortes e
incessantes dores na região da boca e do crânio, em conjunto com os
demais, sintomas, abalam o sistema psíquico e neurológico, causando
distúrbios, como depressão, ansiedade e insônia. No caso em epígrafe, o
Sr. ALFRÂNIO viu-se obrigado a fazer uso de ansiolíticos, psicotrópicos e
antidepressivos, pois está sofrendo de insônia, o que contribui para o
agravamento de seu debilitado quadro clínico, face à importância do sono
na saúde do ser humando de modo geral.
Consoante informações extraídas de sites
especializados em Odontologia que se encontram anexos, a Disfunção da
Articulação Têmporo-Mandibular caracteriza-se pelo funcionamento
anormal da articulação temporo-mandibular, ligamentos, músculos da
mastigação, ossos maxilar-mandíbula, dentes e estruturas de suporte
dentário.
Os principais sintomas são dores de cabeça na
região da testa, fundo de olho e nas têmporas, dores de ouvido,
zumbidos no ouvido, dificuldade para mastigar, principalmente
alimentos duros, dores durante a mastigação, tonturas, vertigens,
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barulho próximo à orelha ao abrir e fechar a boca, desgaste dental
excessivo e sensação de travar a mandíbula.
De acordo com a Dra. Shirley de Campos,
especialista em Odontologia Preventiva:
“As Disfunções Têmporo-Mandibulares (DTM)são desordens das articulações e músculos daregião bucofacial e cervical, que têm entreseus sintomas dor facial, dor de ouvido,cefaléia, neuralgias, ruídos, desvios etravamentos. Aproximadamente metade dapopulação apresenta problemas na regiãobucofacial e 5 a 10 % delas necessitamtratamento especializado. Devido à sua altaprevalência e impactos no indivíduo portadorpassou a ser reconhecida como área especifica.A etiologia das DTM é multifatorial incluindo aoclusão bucal, disfunções da articulação,fatores neuromusculares e psicogênicos. Assim,pode-se observar que se trata de uma doençacomplexa e cada paciente deve ser analisadocomo único, sendo importante identificar quaisos fatores envolvidos, devendo sempre estar emmente que as articulações temporomandibulares(ATM) são articulações complexas, tendo em suaintimidade várias estruturas (musculares eneurológicas) que podem desencadear dor. Nestesentido, o atendimento dessa afecção deve serrealizado por uma equipe multiprofissional,que inclua médico, dentista, fisioterapeuta,psicólogo e fonoaudiólogos. Estes profissionaissão necessários para o diagnóstico e oplanejamento do tratamento do paciente. Ospacientes com DTM apresentam sintomas clínicosmais exuberantes e geralmente utilizam grandequantidade de medicamentos. Estatísticas emportadores de cefaléia recorrente mostraram que66% dos pacientes apresentam uma DTM de tipomiogênica ou artrogênica. Na maioria desses otratamento sempre foi o da cefaléia e não daATM, ou seja, trataram-se os sintomas e não acausa.”
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E prossegue:
Cumpre salientar que fatores psicológicos easpectos comportamentais são fortementeassociados à DTM predispondo e mantendo ossintomas. Não existe descrição de uma"personalidade das DTM" porém o componentepsicológico é parte importante da abordagemmultiprofissional e, essencial o seu tratamento. Amaioria dos pacientes apresenta depressão eansiedade, portanto, uma personalidade maisvulnerável ao estresse. Os fatoresneuromusculares, articulares (anatômicos) ecomportamentais atuam em conjunto nodesenvolvimento destes distúrbios. Otratamento deve ser personalizado, comcondutas específicas para cada paciente.Existem duas fases a serem observadas. A Fase Iengloba: uso de órteses e os métodosfisioterápicos relacionados a seguir: Placaoclusal unimaxilar, Placa oclusal bimaxilar (usonoturno), TENS (estimulação elétricatranscutanea), Ultra-som e Iontoforese, comaplicação de medicamentos e analgésicos demodo não invasivo, Ajuste oclusal coronário,Imobilização dento-maxilar, Fisioterapia facial,Fisioterapia postural e Fonoaudiologia. Na faseII, são realizadas as correções anatômicasnecessárias sendo indicados: tratamento ortodôntico, tratamento protético,implantodontia e tratamento cirúrgico.
Nos termos do Relatório Médico emitido pelos
médicos – Cirurgiões – Dentistas, Dr. Márcio Freitas (CRM 15134 e CRO 4940)
e João Laporte (CRO 4940), do Núcleo Integrado de Reabilitação Orofacial,
de Feira de Santana “o paciente ALFRÂNIO nos foi encaminhado para
avaliação clínica no sentido de tratar os fatores relacionados à
Disfunção Grave da Articulação Têmporo Mandibular e Disfunção
Crânio Maxilo Facial, com etiologia intimada ligada à perda de
elementos dentários, mau posicionamento das unidades dentárias
remanescentes e parafunções. Há a necessidade de um tratamento
multidisciplinar, envolvendo as áreas de ortodontia, prótese, cirurgia
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crânio maxilo facial, implantodontia, periondontia e endodontia, com
o objetivo de reabilitar a oclusão.”
Com base na avaliação clínica, os referidos
especialistas estabeleceram o tratamento médico-odontológico que inclui:
1 – Movimentações Ortodônticas:
Objetivo: Reposicionar caninos superiores,
molares superiores e inferiores. Programação: realização de exames
radiográficos, fotografias, confecção de modelos e análises cefamétricas
para confecção e montagem do aparato ortodôntico.
2 – Implantações provisórias e definitivas sobre
raízes remanescentes:
Objetivo: manter uma oclusão satisfatória
durante o tratamento e finalizar o tratamento das raízes remanescentes
com coroas fixas unitárias.
Programação: núcleos, coroas provisórias e
coroas definitivas sobre o primeiro pré-molar superior direito, caninos
superiores direito e esquerdo, primeiro molar superior esquerdo, incisivos
laterais inferiores e incisivo central direito.
3 – Enxertos ósseos:
Objetivo: refazer a base óssea reabsorvida após
perda dos elementos dentários com a finalidade de obter base ósssea para
acomodação de implantes de titânio.
4 – Implantes ósseo integrados:
Objetivo: inserção dos parafusos de titânio para
ancoragem protética fixa.
Programação: 02 implantes em região maxilar
anterior (área de incisivos centrais e laterais superiores) e 01 implante em
região de pré molares superiores esquerdos.
5 – Prótese sobre implantes
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Objetivo: Colocação de 05 coroas metacerâmicas
sobre implantes programados no anterior.
Programação: 04 coroas em região maxilar
anterior )área de incisivos centrais e leterais superiores) e 1 coroa em
região de pré-molares superiores esquerdos.
No mesmo sentido, manifestou-se a equipe
médica da Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, CREMEB 6707, da Faculdade
de Odontologia da UFBA, na avaliação médico-odontológica realizada, ao
afirmar que o Sr.ALFRÂNIO necessita de:
a) tratamento ortodôntico com manutenção de
30 meses;
b) tratamento das disfunções da ATM;
c) Reabilitação oclusal superior e inferior;
d) Periodontia;
e) Endodontia;
f) Odontologia de estética (restaurações e
reconstruções dentárias);
g) Cirurgia de enxerto preparatório para
implantes;
h) acompanhamento psicológico.
Vale salientar que o Sr.ALFRÂNIO foi submetido
a uma nova avaliação pelo Médico Dr. Marcelo Peixoto, presidente da
Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia, que concordou, em
todos os seus termos, com a laudo médico elaborado pela UFBA e com o
tratamento recomendado.
Além disso, de acordo com o Parecer Técnico
emitido pela Coordenação Nacional de Saúde Bucal em conjunto com o
Departamento do Atenção Básica, anexo ao ofícvio n. GS/SAS n. 1.379/07,
“o tratamento da DTM pode, muitas vezes, necessitar de uma
abordagem multi-profissional, envolvendo além do cirurgião-dentista,
o médico, o psicólogo, o fisioterapeuta e o fonoaudiólogo.”
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III - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
O artigo 127, caput, da Carta Federal de 1988,
define o papel do Ministério Público, incumbindo-lhe a missão de defender
a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais
indisponíveis. No art. 129, II, comete-lhe a função de “zelar pelo efetivo
respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia”.
No caso vertente, o Ministério Público Federal
busca proteger direito fundamental à saúde.
Entrementes, para que não se pretenda afastar a
legitimidade ativa do Parquet, no caso específico, sob o argumento de que
os direitos que aqui se deduzem possuem a natureza de direitos individuais
homogêneos, insta observar que, ainda que assim fosse, a legitimidade está
preservada em face da relevância social do direito protegido, que o faz
transcender aos interesses do grupo atingido, a tal monta, que passam a
configurar os direitos sociais previstos no art. 127 da Constituição Federal,
conforme explana, entre outros, Teori Albino Zavascki, no brilhante estudo
“O Ministério Público e a Defesa de Direitos Individuais Homogêneos”(in Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul, nº 29, págs. 29/40, Porto Alegre,
Revista dos Tribunais, 1993).
A par disso, a Constituição Federal, no art. 197,
estabelece:“Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser
feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa
física ou jurídica de direito privado.”
O Ministério Público, ao promover ação civil
pública com o fim de compelir o Poder Público a garantir o direito à saúde
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a seus cidadãos/contribuintes, de outra atribuição não cuida senão daquela
constitucionalmente assinalada de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes
Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na
Constituição. Nesse sentido, o STF já se manifestou:
“Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito àsaúde fez com que o legislador constituinte qualificasse, comoprestações de relevância pública, as ações e serviços de saúde(CF, art. 197), em ordem a legitimar a atuação do MinistérioPúblico e do Poder Judiciário naquelas hipóteses em que os órgãosestatais, anomalamente, deixassem de respeitar o mandamentoconstitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outrainaceitável modalidade de comportamento governamentaldesviante”. (do voto do Min. Celso de Mello no RE nº 273.834-4/RS, 2ªTurma, Julg. em 12/09/2000).
Ademais, a proteção pretendida visa a atender
especificamente a portadores de Disfunção Grave da Articulação
Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-Maxilo-Facial. Assim, os
beneficiários da prestação jurisdicional pretendida serão todos os
cidadãos residentes no município de Feira de Santana acometidos pela
referida enfermidade, que necessitem de atendimento junto ao SUS,
derivando-se daí a legitimidade do Ministério Público para defender o
interesse individual indisponível, consistente no direito à saúde.
Cumpre assinalar que não há Defensoria Pública
da União em Feira de Santana, o que forçosamente impõe a ação do
Ministério Público Federal, em cumprimento à sua missão constitucional
que é zelar pelos serviços de relevância pública, nos termos do art.129,
inciso II e IX da carta Republicana de 1988.
IV - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
Os óbices burocráticos ou orçamentários
opostos pelos gestores do SUS não são aptos a afastar o dever
constitucionalmente imposto ao Estado (Poder Público) de garantir o
pleno direito à saúde, conforme a seguir se demonstrará.
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O artigo 196 da Constituição Federal
estabelece:“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantidomediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dorisco de doença e de outros agravos e ao acesso universal eigualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção erecuperação.”
Este dispositivo não é uma mera ordem
programática despida de conteúdo jurídico obrigacional. O art. 196 da CF
obriga o PODER PÚBLICO a garantir o direito à saúde mediante políticas
sociais e econômicas, bem como a exercer ações e serviços de forma a
promover, proteger e recuperar a saúde. A tal dever corresponde o direito
subjetivo público do cidadão de ver tais ações e serviços implementados.
Nesse sentido, pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal:
“PACIENTE COM PARALISIA CEREBRAL E MICROCEFALIA. PESSOADESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS. DIREITO À VIDA E À SAÚDE.FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS E DE APARELHOSMÉDICOS, DE USO NECESSÁRIO, EM FAVOR DE PESSOA CARENTE.DEVER CONSTITUCIONAL DO ESTADO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196).PRECEDENTES (STF). - O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativajurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pelaprópria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídicoconstitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, demaneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - eimplementar - políticas sociais e econômicas que visem a garantir,aos cidadãos, o acesso universal e igualitário à assistência médico-hospitalar. - O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da CartaPolítica - que tem por destinatários todos os entes políticos quecompõem, no plano institucional, a organização federativa doEstado brasileiro - não pode converter-se em promessaconstitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público,fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade,substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seuimpostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidadegovernamental ao que determina a própria Lei Fundamental doEstado. Precedentes do STF”. (STF, RE n. 273.834-4/RS. 2ª Turma, Rel.Min. Celso de Mello, Julg. 12/09/2000).
Como se observa, o direito à saúde implica para o
Poder Público o dever inescusável de adotar todas as providências
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necessárias e indispensáveis para a sua promoção. Nesse contexto jurídico,
se o poder público negligencia no atendimento de seu dever, cumpre ao
Poder Judiciário intervir, num verdadeiro controle judicial de política
pública, para conferir efetividade ao correspondente preceito
constitucional.
Por sua vez, a legislação infraconstitucional,
regulando e estruturando o Sistema Único de Saúde constitucionalmente
estabelecido, em atenção ao princípio da integralidade da assistência,
define, no artigo 2º da Lei n. 8.080/90 que “a saúde é um direito
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.”. Estabelece ainda, em seu artigo
6º, inciso I, alínea d, que “Estão incluídas [...] no campo de atuação do
Sistema Único de Saúde (SUS) [...] assistência terapêutica integral,
inclusive farmacêutica”.
Além disso, saliente-se que o art.7º da Lei
8.080/90, consagra os princípios e diretrizes que noteiam o Sistema Único
de Saúde:
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviçosprivados contratados ou conveniados que integram o SistemaÚnico de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com asdiretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal,obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveisde assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articuladoe contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais ecoletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidadedo sistema;
IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ouprivilégios de qualquer espécie; (grifos nossos)
Verifica-se, destarte, que a própria norma
disciplinadora do Sistema Único de Saúde elenca como princípio basilar a
integralidade de assistência, definindo-a como um conjunto articulado e
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contínuo de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema.
É, por conseguinte, dever do Sistema Único de
Saúde fornecer tratamento médico, odontológico e cirúrgico a todos os
cidadãos que não possam arcar com os custos do tratamento da DTM que,
por ser de alta complexidade técnica, é de alto custo, não apenas em
face da exigência do nível de especialização dos profissionais, bem como
dos materiais a serem utilizados para o tratamento (próteses provisórias e
definitivas, enxertos ósseos, implantes e próteses sobre implantes).
Por fim, a Lei n. 9.313/96 estabeleceu agratuidade do fornecimento de toda a medicação necessária ao tratamentoda AIDS, sendo perfeitamente cabível seu emprego analógico às demaisdoenças de um modo geral.
A Suprema Corte, por intermédio de uma de suas
dignas vozes, S. Exa. o Ministro CELSO DE MELLO, apresenta inteligente
orientação no seguinte sentido, verbis:
“Não deixo de conferir [...] significativo relevo ao tema pertinenteà ‘reserva do possível’ (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, “TheCost of Righs”, 1999, Norton, New York), notadamente em sede deefetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos desegunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujoadimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestaçõesestatais positivas concretizadas de tais prerrogativas individuaise/ou coletivas.É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – alémde caracterizar-se pela gradualidade de seu processo deconcretização – depende, em grande medida, de um inescapávelvínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias doEstado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, aincapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não sepoderá razoavelmente exigir, considerada a limitação materialreferida, a imediata efetivação do comando fundado no texto daCarta Política.Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em talhipótese – mediante indevida manipulação de sua atividadefinanceira e/ou político-administrativa – criar obstáculo artificialque revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito defraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e apreservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condiçõesmateriais mínimas de existência.
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Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da 'reserva dopossível' – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamenteaferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade deexonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais,notadamente quando, dessa conduta governamental negativa,puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitosconstitucionais impregnados de um sentido de essencialfundamentalidade (ADPF 45 MC/DF – Informativo do STF nº 345).”
Nítido está que o objetivo primordial da presente
demanda, para a qual está devidamente legitimado a figurar no pólo ativo
o Ministério Público Federal, é a proteção de um dos direitos individuais e
coletivos mais relevantes e que restou violado com a não disponibilização
do tratamento pelo SUS, a pacientes portadores de Disfunção Grave da
Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-facial;
Não menos maculada restou a garantia
constitucional da saúde, como direito de todos e dever do Estado, que se
não possuísse acepção de valor/interesse social, não mereceria tratamento
individualizado pela Carta Magna de 1988, no Título VIII (Da Ordem Social),
Capítulo II (Da Seguridade Social), Seção II.
Neste sentido, os tribunais pátrios têm
entendimento pacífico quanto à matéria em epígrafe, inclusive o
Superior Tribunal de Justiça, que, em reiteradas decisões, consagrou a
jurisprudência no sentido de que compete ao Poder Público a prestação
integral da assistência à saúde.
“Constitucional e Administrativo. Mandado de Segurança. Objetivo:Reconhecimento do direito de obtenção de medicamentosindispensáveis ao tratamento de retardo mental, hemiatropia,epilepsia, tricotilomania e transtorno orgânico da personalidade.denegação da ordem. recurso ordinário. direito à saúde asseguradona constituição federal (art. 6º e 196 da cf). provimento do recursoe concessão da segurança.I - É direito de todos e dever do Estado assegurar aos cidadãos asaúde, adotando políticas sociais e econômicas que visem àredução do risco de doença e de outros agravos e permitindo oacesso universal igualitário às ações e serviços para suapromoção, proteção e recuperação (arts. 6º e 196 da CF).
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II - Em obediência a tais princípios constitucionais, cumpre aoEstado, através do seu órgão competente, fornecermedicamentos indispensáveis ao tratamento de pessoa portadora deretardo mental, hemiatropia, epilepsia, tricotilomania e transtornoorgânico da personalidade.III - Recurso provido. (Origem: STJ. Classe: ROMS. Processo:2001000890152. UF: MG. Órgão julgador: PRIMEIRA TURMA. Data dadecisão: 13/08/2002. Relator: GARCIA VIEIRA). (grifos nossos)
O direito à saúde, tal como assegurado na
Constituição de 1988, configura direito fundamental de segunda geração.
Nesta geração, estão os direitos sociais, culturais e econômicos, que se
caracterizam por exigirem prestações positivas do Estado. Não se trata
mais, como nos direitos de primeira geração, de apenas impedir a
intervenção do Estado em desfavor das liberdades individuais.
Destarte, os direitos de segunda geração
conferem ao indivíduo o direito de exigir do Estado prestações sociais
(positivas) nos campos da saúde, alimentação, educação, habitação,
trabalho, etc.
Cumpre ressaltar, por fim, que constitui
fundamento da República Federativa do Brasil o princípio da dignidade da
pessoa humana, insculpido no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal,
impondo-se, assim, ao Poder Público, em todas as suas esferas, federal,
estadual e municipal a adoção das medidas, políticas e providências no
sentido de cumprir o mandamento constitucional e garantir a todos, o
acesso aos serviços básicos e fundamentais, tal como a saúde e,
precipuamemte, à vida.
Não pode o Poder Judiciário, guardião do
ordenamento jurídico pátrio e dos direitos e garantias fundamentais,
admitir que o direito à saúde de um cidadão seja negado, sob a alegação
de que o Poder Público não dispõe de estrutura técnica e recursos
financeiros para realizar o tratamento ora requerido, porquanto se assim
fosse, condenar-se-ia ao abandono ou mesmo à morte todos os
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individuos que não disponham de recursos financeiros para socorrer-se a
clínicas particulares para obterem o tratamento médico que não é
disponibilizado pelo SUS.
Com efeito, o descaso com que este cidadão vem
sendo tratado pelo Poder Público é inconcebível e afronta os princípios e
valores mais fundamentais de um Estado que pretende ser Democrático de
Direito. Configura-se, por conseguinte, evidente afronta ao texto
constitucional que buscou tutelar o direito à saúde e à vida, elevando o
princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento de nossa
República. Em uma palavra, o Estado não pode se quedar inerte diante de
um problema de saúde de um cidadão, eximindo-se inconsticionalmente
de cumprir deveres que lhe foram impostos pelo Poder Constituinte
originário e pela legislação ordinária acima referida.
A conduta em epígrafe das Secretarias Municipal,
Estadual e Nacional de Saúde além de condenável é, sobretudo,
discriminatória, pois cria cidadãos de primeira e segunda classes, ou seja,
aqueles abastados que podem arcar com os custos do tratamento na rede
privada e, portanto, ter direito a uma vida normal e os “cidadãos”, ou
melhor, indivíduos esquecidos e abandonados pelo Poder Público,
condenados sumariamente à dor, ao sofrimento ou até mesmo à morte, o
que exige a ação pronta e eficaz do Poder Judiciário, a que compete
garantir, em última instância, a efetividade das normas e valores
constitucionais.
V - DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA
No presente caso, todos os requisitos exigidos
pela lei processual para o deferimento da antecipação da tutela
encontram-se reunidos.
A verossimilhança da alegação está plenamente
demonstrada, conforme as razões fáticas, jurídicas e probatórias desta
petição de ingresso. A demora na prestação jurisdicional evidentemente
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acarretará (como já tem acarretado) conseqüências graves para a saúde
do cidadão em epígrafe.
Em relação ao paciente nominado, há
necessidade premente de obtenção do tratamento da Disfunção Grave
da Articulação Têmporo Mandibular e Disfunção Crânio facial, em face
das fortes e incessantes dores que o acometem e que, a cada dia,
agravam-se, tendo em vista a ausência do tratamento médico-
odontológico.
Ora, nos últimos dias, o Sr. ALFRÂNIO foi
internado 03 (três) vezes na emergência de hospitais do Município de
Feira de Santana, em decorrência da insuportável cefaléia, que já não
mais responde à utilização de analgésicos tal a gravidade da doença.
Há ainda o fundado receio de dano irreparável,
que deflui da inequívoca gravidade da enfermidade que acomete o Sr.
ALFRÂNIO, porquanto a falta de tratamento pode ocasionar evolução da
doença e o aumento substancial das dores de cabeça (e isso
inevitavelmente ocorrerá) com a demora em iniciar-se o tratamento, que
deve ser realizado em caráter urgência.
Justifica-se, in casu, o pedido liminar em relação
a Sr. ALFRÂNIO, pelo fato de estarem caracterizados, a lume do artigo
804, do Código de Processo Civil, todos os pressupostos autorizadores de
sua concessão.
O fumus boni iuris, ou seja, a plausibilidade do
direito invocado, consubstancia-se nos inúmeros e minuciosos relatórios
médicos assinados por especialistas na área de odontologia, entre os
quais, a Prof.ª Dr.ª Maria de F.P. Oliveira, da Universidade Federal da Bahia
- UFBA, o presidente da Associação Brasileira de Odontologia – Seção Bahia
(ABO) , Dr. Marcelo Peixoto, a ortodentista Dra. Márcia Murici, os cirurgiões
dentistas Márcio Freitas, João Laporte e José Ricardo Aráujo de Andrade e
a Prof.ª Ângela Guimarães Martins, Coordenadora da Área de Clínica
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Integrada da UEFS, bem como os relatórios psiquiátricos emitidos pela Dra.
Maria de Lourdes de Souza (CEMEB 2450), pela Dra. Gleide Silva Diallo
(CREMEB 9823) e pelo clínico geral, Dr. Sílvio Luiz Marques (CREMEB 1729),
além dos exames clínicos e radiológicos realizados pelo Instituto de
Radiologia de Feira de Santana e da ressonância magnética das
articulações temporo-mandibulares e da cintilografia óssea trifásica
realizada pelo Instituto de Hematologia de Feira de Santana – IHEF, que
comprovam indubitavelmente que SR. ALFRÂNIO apresenta diagnóstico de
Disfunção Grave da Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio-
Maxilo-Facial, necessitando de tratamento médico e odontológico o mais
breve possível, que, no entanto, tem lhe sido negado reiteradamente pelo
SUS, ao longo de 06 (seis) anos em todas as suas esferas federativas,
apesar da luta incessante do cidadão, que, por não dispor de recursos para
arcar com os custos do tratamento, teve a sua vida totalmente destruída,
sob o ponto de vista pessoal, social e profissional, visto que não pode
sequer trabalhar ou exercer qualquer atividade laborativa e não pode ter
uma vida social e afetiva, em virtude não apenas dos problemas físicos
(fortes dores, mau hálito), mas da repercussão psicológica da doença, que
acarreta baixa estima e profundo estado de depressão.
O periculum in mora é notório e decorre do
risco da ocorrência de agravamento do quadro clínico deste paciente,
em decorrência da falta de tratamento médico adequado. O receio de lesão
consubstancia-se na possibilidade do paciente experimentar prejuízo
irreparável ou de difícil reparação, se tiver de aguardar o tempo necessário
para decisão definitiva da lide.
Impõe-se, na espécie, a dispensa de intimação
da Fazenda Pública para os fins do artigo 2º da Lei nº 8.437/92, no tocante
à disponibilização do tratamento médico e odontológico ao paciente Sr.
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ALFRÂNIO, em face da gravidade da enfermidade e da urgência que o
caso requer, sob pena de se tornar inócua decisão posterior, considerando
que já tem ciência do debilitado estado de saúde do cidadão e pouco ou
nada fez. Ademais, a garantia constitucional do direito à vida e à
dignidade prevalece quando em confronto com as regras de direito
processual civil, ainda que de ordem pública.
Deferir a antecipação da tutela, no presente
caso, significa preservar a dignidade e o estado de saúde do mencionado
enfermo e respeitar sua condição de ser humano e cidadão, que tem o
direito de cobrar do Estado o atendimento integral à saúde.
Todos os requisitos legalmente exigidos para o
deferimento do provimento jurisdicional se encontram presentes.
Em razão do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL requer a Vossa Excelência:
a) a concessão da antecipação da tutela
inaudita altera parte, a fim de que seja determinando à UNIÃO, ao ESTADO
DA BAHIA e ao MUNÍCIPIO DE FEIRA DE SANTANA, de forma solidária, a
disponibilização do integral tratamento multiprofissional nas áreas
médico-odontológica e cirúrgica, para a disfunção que acomete o
paciente, nas áreas de periodontia, ortodontia e implantodontia,
incluindo o material necesssário (próteses provisórias e definitivas,
enxertos ósseos, implantes e próteses sobre implantes), fisoterapêutico,
psicológico e fonodiaulógico, para o Sr. ALFRÂNIO, de forma imediata,
em qualquer dos estabelecimentos médicos existentes nesta cidade ou
no Estado da Bahia, públicos ou privados, pelo prazo necessário para
conclusão do tratamento, estimado em, no mínimo, 30 (trinta) meses.
Impende salientar que a relação obrigacional é solidária, devendo a UNIÃO,
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se for o caso, repassar ao ESTADO e ao MUNICÍPIO os recursos necessários a
custeá-la; e
b) a cominação de multa diária para caso de
descumprimento da decisão antecipatória, no valor de R$5.000,00 (cinco
mil reais).
VI - DOS PEDIDOS PRINCIPAIS
Por fim, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:
a) seja julgada procedente a pretensão ora deduzida, confirmando-se a
medida cautelar, condenando-se a UNIÃO, o ESTADO DA BAHIA e o
MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA, de forma solidária, nas obrigações ali
descritas relativamente a ALFRÂNIO e a todos os pacientes portadores de
Disfunção Grave da Articulação Têmporo-Mandibular e Disfunção Crânio
Maxilo-Facial, residentes no Estado da Bahia que necessitem de
atendimento pelo Sistema Único de Saúde;
b) a citação dos entes demandados, nas pessoas
de seus representantes legais, para contestarem a presente ação e
acompanhá-la em todos os seus termos, até final procedência, sob pena de
revelia e confissão;
c) a dispensa do pagamento das custas,
emolumentos e outros encargos, em vista do disposto no artigo 18 da Lei n.
7.347/85; e
d) em que pese já tenha apresentada prova pré-
constituída do alegado, o MPF requer se lhe faculte a produção de todos
os meios de prova em direito admitidos, especialmente prova
documental, testemunhal, pericial e inspeção judicial, na medida
necessária ao pleno conhecimento dos fatos.
Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (mil reais).
Pede deferimento.
Feira de Santana/BA, 22. JAN. 2008.
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VLADIMIR ARAS Procurador da República
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