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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA
JUDICIAL DA COMARCA DE ITIRAPINA/SP
Inquéritos Civis nsº 28/2007 e 01/94
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo
Promotor de Justiça signatário, com fundamento nos artigos 127 e 129, III, da
Constituição Federal; no artigo 25, inciso IV, alínea "a", da Lei 8625/93; no
artigo 103, inciso VIII, da Lei Complementar 734/93; nos artigos 1o, inciso I, e
5o , da Lei da Lei nº 7.347, de 24 de julho de, vem à presença de Vossa
Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de
liminar, contra o MUNICÍPIO DE ITIRAPINA, pessoa jurídica de direito
público interno, com sede na Av. Um, n. 106, centro, pelos fatos e fundamentos
a seguir expostos.
I. FATOS.
Os Inquéritos Civis ns. 028/2007 e 01/94 - Promotoria de
Justiça de Itirapina, que instruem a presente, foram instaurados para apurar a
ocorrência de parcelamento ilegal do solo no local denominado “Bairro Santo
Antônio”, mais conhecido como “Bairro do Broa”, neste Município, bem como
para verificar a ocorrências de danos ambientais daí decorrentes.
O local acima indicado foi inicialmente instituído como um
loteamento regular registrado no 2º Ofício de Imóveis de Rio Claro, desde o ano
de 1974, então composto por “chácaras de recreio” cada uma com 5.000m2 e
implantado em parte do imóvel objeto da transcrição n. 8944 da mesma
serventia, situando-se nas imediações da “Represa do Broa”, fonte de água,
turismo e extensa biodiversidade desta região.
Apurou-se, contudo, devido à omissão do Município de
Itirapina, que ao longo de décadas incontáveis “chácaras de recreio” foram
sendo ilegalmente subdivididas e alienadas em partes ideais ou desdobradas por
centenas de pessoas que sucessivamente as detinham, dando origem a um
parcelamento ilegal do solo com desenfreado adensamento populacional e
significativos impactos urbanísticos e ambientais.
Segundo foi identificado pelo Sr. Oficial de Registro de
Imóveis, atualmente encontram-se com alienações de frações ideais e desdobro
registradas dezenas de matrículas, como apontado a fls. 41 (IC 28/07).
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A situação de fato, todavia, é mais abrangente que as só
evidenciadas documentalmente pelo registro de imóveis, tendo em vista que a
alienação de partes ideais da terra raras vezes são levadas à averbação, e, além
disso, desde o ano de 1990 o 2º Registro de Imóveis de Rio Claro, atendendo
orientação da Eg. Corregedoria-Geral de Justiça tem impedido a averbação de
alienações de partes ideais de lotes (fls. 39/40 – IC 28/07).
Note-se que moradores da região levaram preocupação a esta
Promotoria, declarando que o parcelamento ilegal dos lotes vem causando
degradações ambientais, problemas de segurança pública, prostituição infantil e
tráfico de drogas na região (fls. 06– IC 28/07).
A requerida, contudo, mesmo ciente de toda essa situação
nada fez para impedir a proliferação de lotes, as construções irregulares, a
degradação ambiental e as demais conseqüências do adensamento populacional
desordenado. Como narrou a testemunha Waldira Ramos (fls. 451– IC 28/07) –
pessoa que também subdividiu seu lote sem maiores dificuldades - “muitos dos
lotes do Broa são de 250 metros quadrados e que são negociados livremente sem
nenhum obstáculo ou multa ou embargo de construção”.
A omissão da requerida teve e continua tendo sérias
conseqüências, valendo destacar o contido no laudo técnico (fls. 805/811– IC
28/07) elaborado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(CETESB), onde, note-se, há poluição das águas da represa agravado pela
ausência de adequado tratamento do esgoto produzido pelo loteamento:
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“A Represa do Lobo, também denominada Represa do Broa,
localizada no município de Itirapina, inserida na Área de Proteção Ambiental -
APA Corumbataí é utilizada por grande número de turistas (atingindo durante
os feriados cerca de 30.000 turistas). (...)
A referida represa vem apresentando alterações na qualidade
de suas águas, em decorrência de ser receptora dos esgotos sanitários tratados
na ETE - Estação de Tratamento de Esgotos de Itirapina, que além da
população da cidade, também possui 02 penitenciárias estaduais, totalizando
aproximadamente 13.456 habitantes na zona urbana (fonte: SEADE 2006), os
quais são lançados em corpo de água afluente da Represa do Broa, o Córrego
da Água Branca (classe 2), que também é agravado pela inexistência de rede
coletora e de tratamento dos esgotos gerados no interior do Loteamento Santo
Antonio, que possui lotes dispondo grande parte de seus esgotos sanitários em
fossas sépticas/sumidouros e o restante é lançado na represa, havendo
necessidade de implantação de interceptor, emissário e ETE - Estação de
Tratamento de Esgotos específica para o citado loteamento, para coleta,
afastamento e tratamento de seus esgotos sanitários. (...)
Quanto à fonte de poluição gerada especificamente no
loteamento, a proposta tecnicamente mais viável é a construção de ETE -
Estação de Tratamento de Esgotos, sendo que o licenciamento desse
empreendimento, pertinente ao Processo CETESB nO28/00424/05, já teve início
com a obtenção, junto à SMA/DAIA, da dispensa de apresentação de RAP -
Relatório Ambiental Preliminar, mediante a análise do estudo apresentado,
cabendo à CETESB/Agência Ambiental Unificada de Araraquara a emissão das
Licenças Prévia, de Instalação e de Operação. A administração municipal já
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elaborou projeto básico da ETE/Loteamento Santo Antônio, bem como da
estação elevatória e espectivos interceptor/emissário, uma vez que a ETE será
construída fora da área do Balneário, com lançamento do efluente tratado a
jusante da Represa do Broa, restando somente à Prefeitura Municipal de
Itirapina solicitar essas licenças à Agência Ambiental Unificada de Araraquara,
o que poderá ocorrer após a apresentação das complementações exigidas pelo
DEPRN, pelo Ofício ETRC F169/06, de 22/05/2006 .
A Prefeitura Municipal de Itirapina não apresentou as
complementações exigidas pelo DEPRN, não atendeu, em tempo hábil, a
Carta CETESB nO 0716/06/CEA, de 08/06/2006, e foi apenada, em 0.06/2008,
com o Auto de Infração Imposição de Penalidade de Advertência - AUPA n
001558, por infração aos Artigos 28 da Lei Estadual nO9509, de 20/03/1997,
combinado com o Artigo 6°, inciso IV do Regulamento da Lei Estadual nO997,
de 31/05/1976, aprovado pelo Decreto Estadual n° 8468, de 08/09/1976, e suas
alterações, por não ter apresentado a documentação complementar solicitada,
para andamento e apreciação do Processo nO28/00424/05, de solicitação
Licenças Prévia e de Instalação da Estação de Tratamento de Esgotos do
Balneário Santo Antônio, dentro do prazo estabelecido na Carta n°
0716/06/CEA (cópias anexas), tendo sido fixado prazo de 30 (trinta) dias,
contados da ciência do referido AIlPA, para apresentação da citada
complementação, o que não ocorreu até a presente data.(...)
(...) constatou-se que os parâmetros DBO - Demanda
Bioquímica de oxigênio do esgoto sanitário tratado, lançado no Córrego Água
Branca, classe 2, encontrava-se em desacordo com o Artigo 18, Inciso V, do
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Regulamento da Lei Estadual na 997/76, aprovado pelo Decreto Estadual na
8468/76 e suas alterações. (...)”
E segundo laudo técnico elaborado pelo DEPRN (fls.
1424/1428 – IC 01/94):
“O bairro está inserido na Zona de Amortecimento da
Unidade de Conservação – Estação Ecológica de Itirapina, criada pelo
Decreto-Lei n22.335, de 07/06/1984 e inserido em Área de Preservação
Permanente - APP, definido pelo Artigo 20, alínea ub", da Lei Federal
nO4.771/65 e a1terada pela Resolução CONAMA 302102.
O 'bairro avança sobre Área de Preservação Permanente (Lei
Federal nO.4.771/65, Artigo 2°, alínea "b" e alterada pela Resolução COfjAMA
302102), ocupando-a com residências, ruas não pavimentadas, passeios
públicos, áreas de lazer, construções comerciais, etc. A área ocupada é de
aproximadamente 2,5 ha.
Não foram constatados que os procedimentos necessários
para obtenção de licenças e autorizações das obras existentes foram adotados.
(...) as ocupações (intervenções) constatadas na Área de Preservação
permanente não são passíveis de regularização , tendo em vista as
possibilidades de alternativas técnicas e locacionais para as estruturas
existentes atualmente na APP.
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As intervenções causaram impactos negativo diretos ao meio
físico, devido da supressão da vegetação a qual existia na área que contribuía
para a recarga das águas no "Aqüífero Guarani".
Houve impacto negativo direto ao meio biológico devido à
supressão da flora e retirada do habitat de fauna.
Com base no Decreto Estadual n.49.566 de 25 de abril de
2.005 e na Resolução do CONAMA n. 369 de 28 de março de 2.006 as
edificações existentes na Área de Preservação Permanente não são passíveis de
regularização.”
A área foi, pois, devastada.
Ao que se apurou, assim, há extensa ocupação da área de
preservação permanente por avenidas, por quiosques, por banheiros públicos
dos turistas, por rampas de descida de barcos e/ou jet-skis e por pontes de
madeira para pescadores, bem como por inúmeros lotes com construções.
E, como se vê, até a presente data Administração não dá ao
problema a devida solução, apesar do envolvimento de inúmeras vidas humanas.
Permitiu, pois, por décadas o descontrolado parcelamento
ilegal da área e tolerou o adensamento populacional sem aparatos públicos
adequados. Agiu com negligência por não realizar o poder de policia que lhe
competia, desconsiderando que a área apontada (“Bairro Santo Antônio”)
instalou-se livremente em área de enorme interesse ambiental, degradando solo,
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flora e fauna, e especialmente contribuindo severamente para a poluição das
águas da represa, a qual é, como se extrai dos autos, além de área de importância
ambiental ímpar, fonte de água, biodiversidade, turismo e rendas para o
Município e sua população.
Portanto, o Município deverá regularizar o loteamento em
questão adequando-o a Lei de Parcelamento do Solo no que tange às ocupações
até os limites que não avançam sobre áreas de preservação permanente, e
extinguir, retirar, demolir todas as construções, obras ou formas de intervenção
que tenham sido formados na área de preservação permanente no interior do
loteamento e sua adjacências, inclusive nas margens da represa, bem como a
recuperar todas as áreas com danos ambientais, para tanto apresentando plano de
recuperação de área degradada, além de fiscalizar, manter e proteger a área a fim
de evitar novas invasões, construções, obras e desmatamentos, e nela cessar
imediatamente qualquer intervenção.
Deverá, ainda, realizar o adequado projeto de recuperação e
compensação ambiental no que toca a toda área ocupada pelo parcelamento do
solo quanto ao perímetro não abrangido pela área de preservação permanente.
Ressalte-se que a situação aqui enfocada e as medidas
pretendidas assemelham-se às tomadas em loteamentos em similares condições,
destacando-se aqui o julgamento referente ao parcelamento ilegal do solo
formado às margens da “Represa Billings”, na capital paulista, em que o
Município de São Bernardo do Campo foi condenado à obrigação de fazer nos
termos abaixo pretendidos pelo Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelação
Cível n° 066.800-5/2-00), em acórdão posteriormente confirmado pelo Eg.
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Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial n. 403.190-
SP (abaixo transcritos).
Anote-se que especificamente com relação à implementação
da Estação de Tratamento de Esgotos já houve propositura de ação civil pública
pelo Parquet, de sorte que esse pedido não integra a presente demanda.
II. FUNDAMENTOS JURÍDICOS.
Deveras, com o propósito de disciplinar o parcelamento do
solo urbano, assim garantindo condições satisfatórias de expansão das cidades e
de habitação à população urbana, editou-se a Lei nº 6.766/79, ali se consignando
os requisitos para que um loteamento seja aprovado, registrado e executado, tais
como medidas mínimas dos lotes, reserva e repasse de áreas para equipamentos
públicos e comunitários para o Município, obrigatoriedade de obras de
arruamento, escoamento de águas pluviais, etc. Leis estaduais e municipais
podem complementar estas exigências, funcionando a lei federal como
parâmetro mínimo a ser observado.
Nos termos de citada legislação, são exigências à execução de
qualquer parcelamento do solo para fins urbanos, dentre as quais se destacam: a)
necessária anuência da autoridade municipal competente em relação ao projeto
do loteamento (art. 12 e 13, parágrafo único, da Lei 6.766/79), observada
também a legislação municipal específica; b) licença prévia, de instalação e de
operação pela CETESB, necessária para a aprovação, implantação e registro de
loteamento ou desmembramento (item 169, Cap. XX, das Normas de Serviço da
Corregedoria Geral da Justiça; art. 2º da Lei 6.766/79), bem como para
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ocupação, pois qualquer parcelamento do solo é considerado fonte de poluição
pela legislação estadual, independente do fim a que se destina (art. 5º, parágrafo
único, da Lei Estadual 997/76; arts. 57, inciso X, 58, 58, III e 62, IV, 67 e
seguintes, todos do Decreto Estadual 8.468/76, alterado pelo Decreto Estadual
47.397/02); c) aprovação do GRAPROHAB, nos termos do artigo 5º do Decreto
nº 52.053/07; d) efetivação do registro (art. 18, Lei 6.766/79); e) elaboração de
contrato-padrão contendo cláusulas e condições protetivas ditadas por lei (arts.
25 a 36, Lei 6.766/79); f) estar a gleba situada fora das áreas de risco ou de
proteção ambiental (art. 3º, par. único, Lei 6.766/79), e em zona urbana ou de
expansão urbana, sendo necessária prévia audiência do INCRA, quando houver
a alteração de uso do solo rural para fins urbanos (arts. 3º, caput, e 53, Lei
6.766/79); g) execução de obras de infra-estrutura (art. 18, V, Lei 6.766/79).
O loteamento que se originou com o indevido
desmembramento dos inúmeros lotes, em diversas partes menores, por não
terem projeto de desmembramento e loteamento, e consequentemente,
aprovação deste pelo Município, nem pelos demais órgãos competentes, é
inequivocamente classificado como CLANDESTINO.
Os danos sofridos pelos adquirentes dos lotes são evidentes,
tendo em vista que não podem usufruir dos terrenos para fins de moradia, já que
qualquer edificação será também considerada irregular; os danos ambientais e
urbanísticos, igualmente, foram demonstrados pelo laudo acima referido.
Noutra senda, inegável a responsabilidade do MUNICÍPIO,
pois sempre teve conhecimento dos fatos e do crescimento ilegal do loteamento.
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Não obstante, obras no loteamento tiveram continuidade, sem
qualquer outra providência do Município, evidenciando que este tem deixado de
exercer o poder de polícia que lhe compete.
Foi negligente em seu dever de fiscalizar, permitindo, por sua
omissão, que o loteamento permanecesse clandestino até a presente data.
O Município, portanto, deve realizar as obras de
infraestrutura no local, regularizá-lo juridicamente, inclusive junto ao registro de
imóveis, eliminar a possibilidade de danos ambientais dali advindos, e, claro,
evitar que novos parcelamentos ocorram.
Sabe-se que responsabilidade do Município pela
regularização do loteamento é um dever e não uma mera faculdade de agir (art.
40, da lei 6.766/79), sendo uma das fontes adicionais desse dever a omissão na
fiscalização do loteamento e impedimento da implantação de loteamentos
clandestinos.
Aliás, nos estudos contemporâneos de Direito Urbanístico é
firme a tendência de superar a tradicional concepção de que haveria, nesse caso,
simples exercício de faculdade derivada do domínio, para qualificar a
modificação ou a criação de áreas urbanas como uma função pública, atribuída,
essencialmente, ao Município. Por isso se sustenta, na doutrina, que o particular,
quando realiza um loteamento urbano e nele executa obras e serviços de infra-
estrutura, está, em verdade, "em nome próprio, no interesse próprio e às
próprias custas e riscos (...), exercendo uma atividade que pertence ao poder
público municipal, qual seja a de oferecer condições de habitabilidade à
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população urbana" (cf. JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Direito Urbanístico
Brasileiro", Ed. Revista dos Tribunais, 1981, págs. 376 e 562-563; em sentido
semelhante: EDUARDO GARCÍA DE ENTERRÍA e LUCIANO PAREJO
ALFONSO, "Lecciones de Derecho Urbanistico", Editorial Civitas, Madrid,
1981, 2ª ed., págs. 113/115 e 172/174; REGINA HELENA COSTA, "Princípios
de Direito Urbanístico na Constituição de 1988", "in" "Temas de Direito
Urbanístico - 2", Editora Revista dos Tribunais, 1991, págs. 118/127; EURICO
DE ANDRADE AZEVEDO, "O Projeto de Lei de Desenvolvimento Urbano", in
"Revista do Advogado", nº 18, julho/85, págs. 36/37).
Se não bastassem os fundamentos versados nos itens
precedentes, há norma legal, impondo ao Município o dever de agir. Estatui, a
respeito, o art. 40, caput, da Lei 6.766/79:
"A Prefeitura Municipal (...), se desatendida pelo loteador a
notificação, poderá regularizar loteamento ou
desmembramento não autorizado ou executado sem
observância das determinações do ato administrativo de
licença, para evitar lesão aos seus padrões de
desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos
adquirentes de lotes". (negritei)
A Lei nº 6.766/79 estipula que, para execução das obras
exigidas por legislação municipal, que incluirão, no mínimo, a execução das vias
de circulação do loteamento, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e das
obras de escoamento das águas pluviais deverá, no ato do registro, ser
apresentada cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo
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de verificação pela Prefeitura Municipal ou, aprovação de um cronograma, com
a duração máxima de quatro anos, acompanhado de competente instrumento de
garantia para a execução das obras (Redação dada pela Lei nº 9.785, 29.1.99)
Em interessante estudo sobre as licenças urbanísticas, LÚCIA
VALLE FIGUEIREDO argumenta que, no âmbito da Lei 6.766/79, por lhes
incumbir a fiscalização de todo o parcelamento do solo, há "obrigatoriedade de
as municipalidades procederem as obras de infra-estrutura, se estas não forem
realizadas pelo loteador" (cf. "LICENÇAS URBANÍSTICAS", in "Revista de
Direito Público", volumes 57-58, págs. 222 a 232, especialmente págs. 223-
224). Continua dizendo a ilustre Professora que: "Quem deixou de exercer
adequada fiscalização, deverá proceder as obras de infra-estrutura. Os
problemas atinentes a essas obras não dizem respeito aos adquirentes dos lotes.
Sequer teriam esses possibilidades de levar a efeito referidas obras. Não será o
particular que deverá arcar com qualquer ônus. E muito menos não conseguir
ver regularizada sua construção porque o loteamento passa a ter a conotação
de loteamento clandestino ou por não ter licença, ou por ter execução
desconforme com a licença outorgada. O particular nada tem a ver com a
omissão do Poder Público" (cf. ob. e loc. cit., pág. 224; em sentido semelhante:
NARCISO ORLANDI NETO, "Os Loteamentos Irregulares e sua
Regularização", "in" "Revista do Advogado", AASP, nº 18, julho/85, págs.
14/15).
Deixando de fiscalizar as obras no loteamento, a Prefeitura
desrespeitou o contido no art. 30, VIII da Constituição da República, que
estabelece que compete ao Município "promover, no que couber, adequado
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ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano....".
Portanto, a ausência de fiscalização, bem como a omissão da
exigência do respectivo projeto de loteamento e desmembramento, ocorreu a
falta do exercício do dever de polícia, acarretando para a Municipalidade a
obrigação de regularizar o loteamento, realizando as obras faltantes.
Noutro giro, a responsabilidade do requerido pelo dano
ambiental é de ordem objetiva, de sorte que o poluidor/predador tem de cessar
imediatamente a conduta nociva e, ainda, a obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados, nos termos do artigo 14, parágrafo 1º, da Lei
6938/81 e artigo 225, parágrafo 3º da Constituição Federal1.
A área atingida (Represa do Broa), localizada no município de
Itirapina, está inserida na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí
(fls. 806– IC 28/07).
A proteção jurídica do meio ambiente tem raízes
constitucionais em comandos imperativos, pois enuncia o artigo 225 da Carta da
República que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
1 Lei 6938/81, Art. 14, § 1º: Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. CF, artigo 225, § 3º: As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
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lo para as presentes e futuras gerações.” E o parágrafo 1º do mesmo artigo
enuncia que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público “(I) - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover
o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;” e “(VII) - proteger a fauna e
a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade”.
O caso dos autos, mudando o que deve ser mudado, é por
demais similar ao parcelamento ilegal do solo formado às margens da “Represa
Billings”, na capital paulista.
Em referido case o Município de São Bernardo do Campo foi
condenado à obrigação de fazer - nos termos abaixo pretendidos - pelo Eg.
Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelação Cível n° 066.800-5/2-00), em
acórdão posteriormente confirmado pelo Eg. Superior Tribunal de Justiça
(Recurso Especial n. 403.190-SP), valendo destacar, pois, as ementas de ambos
por conterem lições inteiramente aplicáveis à espécie:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO DO MEIO
AMBIENTE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. MATA
ATLÂNTICA. RESERVATÓRIO BILLINGS.
LOTEAMENTO CLANDESTINO. ASSOREAMENTO DA
REPRESA. REPARAÇÃO AMBIENTAL.
1. A destruição ambiental verificada nos limites do
Reservatório Billings – que serve de água grande parte da
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cidade de São Paulo –, provocando assoreamentos, somados à
destruição da Mata Atlântica, impõe a condenação dos
responsáveis, ainda que, para tanto, haja necessidade de se
remover famílias instaladas no local de forma clandestina, em
decorrência de loteamento irregular implementado na região.
2. Não se trata tão-somente de restauração de matas em
prejuízo de famílias carentes de recursos financeiros, que,
provavelmente deixaram-se enganar pelos idealizadores de
loteamentos irregulares na ânsia de obterem moradias mais
dignas, mas de preservação de reservatório de abastecimento
urbano, que beneficia um número muito maior de pessoas do
que as residentes na área de preservação. No conflito entre o
interesse público e o particular há de prevalecer aquele em
detrimento deste quando impossível a conciliação de ambos.
3. Não fere as disposições do art. 515 do Código de Processo
Civil acórdão que, reformando a sentença, julga procedente a
ação nos exatos termos do pedido formulado na peça
vestibular, desprezando pedido alternativo constante das
razões da apelação.
4. Recursos especiais de Alberto Srur e do Município de São
Bernardo do Campo parcialmente conhecidos e, nessa parte,
improvidos.” (STJ: RECURSO ESPECIAL Nº 403.190 - SP
(2001/0125125-0) RELATOR : MINISTRO JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA )
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“AÇÃO CIVIL PÚBLICA: 1) Loteamento clandestino em
região de proteção da Mata Atlântica e de mananciais da
Represa Billings - Alienação de imóvel a adquirente com
objetivo declarado e exclusivo de loteamento - Alienante com
pleno conhecimento da ilegalidade do loteamento, quando da
alienação da área Conseqüência ilegal assumida
Responsabilidade por intermédio de ato de terceiro - Nexo de
causalidade configurado; 2) Responsabilidade também da
empresa que realizou trabalhos de abertura de ruas sem prévia
aprovação de projeto pela Prefeitura e sem os menores
cuidados técnicos; 3) Aplicação do art. 1o, I e 11, da Lei
Municipal n. 1.409/80 e Lei n. 6.938/81; 4) Responsabilidade
do Poder Público Municipal, resultante de irrecusável
inércia ao não coibir indevida devastação ambiental -
Apelação provida e reforma da sentença - Condenação dos
réus à restauração da área, ao estado anterior, com
completa recomposição do complexo ecológico atingido,
demolição das edificações realizadas, recomposição da
superfície do terreno, recobrimento do solo com vegetação,
desassoreamento dos córregos e demais providências a
serem indicadas em laudo técnico de reparação dos danos
ambientais - 5) Imposição de pagamento de quantia suficiente
no caso de descumprimento da obrigação de reparação dos
danos no prazo estabelecido – Apuração por liquidação; 6)
Condenação solidária ao pagamento de custas e despesas
processuais, observadas as isenções de que goza a ré Poder
Público; 7) Apelação do Ministério Público provida” (TJSP -
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APELAÇÃO CÍVEL n° 066.800-5/2-00, da Comarca de
SÃO BERNARDO DO CAMPO – Relator: Sidney Beneti).
III – LIMINAR
Além do poder geral cautelar que a lei processual estabelece
(CPC, arts. 798 e 799), o Código de Defesa do Consumidor autoriza o
Magistrado determinar liminarmente medidas que assegurem o resultado prático
da obrigação a ser cumprida (art. 84, CDC). Tais regras são aplicáveis a
qualquer ação civil pública que tenha por objeto a defesa de interesse difuso,
coletivo ou individual homogêneo (art. 21, da Lei de Ação Civil Pública, com a
redação dada pelo art. 117, do Código de Defesa do Consumidor).
No presente caso, é imperiosa a concessão da liminar com
esse conteúdo tutelar preventivo.
Os requisitos da liminar estão presentes, uma vez que a
ilegalidade da conduta do requerido se encontra demonstrada de plano, pois não
sendo aprovado o parcelamento do solo é proibido o início, ou continuação das
obras, a alienação e a ocupação dos lotes (Lei 6.766/79, arts. 2º, "caput", 3º,
"caput", 12, 13, 18, 37), assim como é indevida a permanência da ocupação em
áreas de preservação permanente.
Flagrante, ainda, que os fatos narrados no decorrer desta
inicial exigem, em razão do perigo da demora processual, um provimento
jurisdicional emergencial, não sendo razoável continuar a sujeitar a comunidade,
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até o provimento jurisdicional definitivo, aos efeitos deletérios já mencionados,
decorrendo sérios riscos quanto aos resultados úteis da presente demanda.
E não é correto, claro, deixar que o meio ambiente sofra com
as conseqüências de um adensamento populacional que produz esgoto, detritos e
demais formas de poluição, no caso produzindo enorme dano diário.
Em resumo: as constantes alienações de lotes, a despeito dos
vícios do loteamento, evidenciam o risco de que haja crescente ocupação da
área, imprestável ao aproveitamento ali projetado, afetando de forma irreversível
os padrões urbanísticos e o meio ambiente. Há inegavelmente, necessidade de
tutela jurisdicional antecipada para impedir que a área continue sendo
ilegalmente ocupada, dotada de precários equipamentos urbanos, com a
edificação de moradias sem cuidados técnicos, necessários para impedir a
degradação do meio ambiente e para preservar a segurança e a saúde de seus
habitantes. Afinal, a ocupação do solo, por loteamento clandestino, constitui-se
em fonte de poluição por acarretar inevitável produção e despejo de resíduos
domésticos (esgoto, p.ex.) sem tratamento.
Assim, requer-se a concessão de liminar independentemente
de justificação prévia e de oitiva da parte contrária, para o fim de impor ao
requerido que:
1. realize um cabal levantamento do loteamento em questão,
identificando quais lotes foram ilegalmente e de fato parcelados, e quais
se encontram com construções ou em situação irregular perante a
Prefeitura;
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2. determine ao requerido que exerça seu poder de polícia e tome todas
as providências para impedir imediatamente novos parcelamentos ilegais
do solo e construções ilegais no local, sugerindo-se ao Juízo que, em seu
poder de cautela, imponha ao requerido a obrigação de proceder ao
menos mensalmente a fiscalização da área e, se constatadas novas
subdivisões indevidas, tome as providências legais para evitá-la,
inclusive com embargo da obra, demonstrando a cada 30 dias o resultado
das diligências e as providências que tomou nestes autos;
3. tendo em vista a constante ocorrência de incalculáveis danos
ambientais na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí, o que
deve ser cessado o mais rápido possível, bem como não sendo razoável
aguardar-se muitos anos até o final da presente, determine ao requerido
que: 3.1) apresente em 180 dias um projeto de recuperação da área de
preservação permanente do loteamento (plano de recuperação de área
degradada), incluindo aí toda área no entorno da represa naqueles
limites, o qual deve contemplar restauração da área ao estado anterior,
com completa recomposição do complexo ecológico atingido, demolição
das edificações realizadas, recomposição da superfície do terreno,
recobrimento do solo com vegetação e demais providências a serem
indicadas em laudo técnico de reparação dos danos ambientais. Tal
projeto deve contemplar também toda a compensação e recomposição
ambiental no que toca aos danos provocados pelo loteamento também
fora das áreas de preservação permanente. 3.2) cesse imediatamente toda
e qualquer intervenção em área de preservação permanente, promovendo
medidas fiscalizatórias também para impedir que terceiros o façam.
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O projeto mencionado deverá ser submetido a CETESB e a
entidade administradora da APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, para a sua
aprovação. Este deverá contemplar todas as medidas de recuperação das áreas
degradadas, comprovadamente fundamentado em um diagnóstico ambiental, que
contemple um levantamento detalhado da flora e fauna presentes e/ou que fazem
uso da área, com as espécies protegidas que constam no Decreto Estadual N.o
42.838/98 e/ou na Portaria AMA N.o 1.522/89, assim como uma avaliação dos
impactos para identificar e qualificar os danos ambientais já efetivados e os
impactos futuros, estabelecendo a distinção entre os que devem ser recuperados
e os que devem ser compensados. O projeto deverá ser ilustrado com plantas
topográficas georreferenciadas em escala compatível, indicando as áreas de
lotes, ruas, áreas construídas e espaços livres de uso público, antes e depois do
desmembramento. A situação atual deverá ser também ilustrada com os
remanescentes da vegetação com sua tipificação, as áreas desmatadas, as áreas
impermeabilizadas, as áreas de preservação permanente, e as áreas com processo
erosivos.
4. inicie à implantação dos projetos referidos no item anterior
imediatamente após aprovação, nos prazos em que a CETESB
estabelecer, ou, em sua falta, oportunamente, em prazos estipulados pelo
Juízo;
5. não aprove projetos de construção que não tenham a prévia
aprovação da CETESB e representante da entidade administradora da
APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, que analisarão questões como
desmatamento, área impermeabilizada e esgotamento sanitário;
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Para eventualidade de não cumprimento das obrigações de
fazer postuladas, requer-se, nos termos do artigo 273, parágrafo 3° e do artigo
461, parágrafo 4°, ambos do Código de Processo Civil, que seja fixada multa
diária equivalente a dois salários mínimos por dia de atraso, com a incidência da
correção monetária correspondente no momento do pagamento (art. 11 da Lei nº
7347/85), sem prejuízo da execução de obrigação de fazer, nos termos do artigo
632 e seguintes do Código de Processo Civil e das medidas de natureza criminal
cabíveis. No caso do item “2” acima, em sendo constatados novos
parcelamentos ilegais do solo ou obras irregulares após a concessão da liminar,
requer-se seja a multa fixada em 20 salários mínimos por caso verificado.
IV - PEDIDOS FINAIS
Diante de todo o exposto, requer o Ministério Público a
citação de MUNICÍPIO DE ITIRAPINA, com a faculdade do art. 172, parágrafo
2.°, do Código de Processo Civil) para, querendo, contestar o pedido, sob pena
de revelia e confissão, seguindo a presente ação o rito ordinário e, ao final, a
integral PROCEDÊNCIA da pretensão inicial, condenando-os:
1. A cumprir, em caráter definitivo, os pedidos formulados em sede de
liminar, que ficam reiterados na integra, mantendo-se, para o caso de
descumprimento da sentença, as multas mencionadas, com a incidência
da correção monetária correspondente no momento do pagamento (art.
11 da Lei nº 7.347/85), sem prejuízo da execução judicial e das medidas
de natureza criminal que a desobediência implicar, ou seja, para que o
requerido:
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1.1. realize um cabal levantamento do loteamento em questão,
identificando quais lotes foram ilegalmente e de fato parcelados, e quais
se encontram com construções ou em situação irregular perante a
Prefeitura;
1.2. exerça seu poder de polícia e tome todas as providências para
impedir imediatamente novos parcelamentos ilegais do solo e
construções ilegais no local, sugerindo-se ao Juízo que, em seu poder de
cautela, imponha ao requerido a obrigação de proceder ao menos
mensalmente a fiscalização da área e, se constatadas novas subdivisões
indevidas, tome as providências legais para evitá-la, inclusive com
embargo da obra, demonstrando a cada 30 dias o resultado das
diligências e as providências que tomou nestes autos;
1.3. apresente em 180 dias um projeto de recuperação da área de
preservação permanente do loteamento (plano de recuperação de área
degradada), incluindo aí toda área no entorno da represa naqueles
limites, o qual deve contemplar restauração da área ao estado anterior,
com completa recomposição do complexo ecológico atingido, demolição
das edificações realizadas, recomposição da superfície do terreno,
recobrimento do solo com vegetação e demais providências a serem
indicadas em laudo técnico de reparação dos danos ambientais. Tal
projeto deve contemplar também toda a compensação e recomposição
ambiental no que toca aos danos provocados pelo loteamento também
fora das áreas de preservação permanente.
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1.4. cesse imediatamente toda e qualquer intervenção em área de
preservação permanente, promovendo medidas fiscalizatórias também
para impedir que terceiros o façam.
(O projeto mencionado deverá ser submetido a CETESB e a entidade
administradora da APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, para a sua
aprovação. Este deverá contemplar todas as medidas de recuperação das
áreas degradadas, comprovadamente fundamentado em um diagnóstico
ambiental, que contemple um levantamento detalhado da flora e fauna
presentes e/ou que fazem uso da área, com as espécies protegidas que
constam no Decreto Estadual N.o 42.838/98 e/ou na Portaria AMA N.o
1.522/89, assim como uma avaliação dos impactos para identificar e
qualificar os danos ambientais já efetivados e os impactos futuros,
estabelecendo a distinção entre os que devem ser recuperados e os que
devem ser compensados. O projeto deverá ser ilustrado com plantas
topográficas georreferenciadas em escala compatível, indicando as áreas
de lotes, ruas, áreas construídas e espaços livres de uso público, antes e
depois do desmembramento. A situação atual deverá ser também
ilustrada com os remanescentes da vegetação com sua tipificação, as
áreas desmatadas, as áreas impermeabilizadas, as áreas de preservação
permanente, e as áreas com processo erosivos.)
1.5. inicie à implantação dos projetos referidos no item anterior
imediatamente após aprovação, nos prazos em que estabelecer, ou, em
sua falta, oportunamente, em prazos estipulados pelo Juízo;
1.6. não aprove projetos de construção que não tenham a prévia
aprovação da CETESB e representante da entidade administradora da
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APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, que analisarão questões como
desmatamento, área impermeabilizada e esgotamento sanitário;”.
2. na obrigação de fazer, consistente na regularização total do loteamento
nas partes ambientalmente viáveis, ou seja, fora das áreas de preservação
permanente ou consideradas intocáveis pela legislação ambiental ,
adequando-o aos ditames da Lei nº 6.766/79 e demais normas
pertinentes, no prazo de dois anos, inclusive no que tange a toda infra-
estrutura exigida, nos exatos termos do art. 18, V, Lei 6.766/79;
3. caso se verifique a inviabilidade técnica ou jurídica da regularização
do loteamento, desfazimento do loteamento ilegal, restaurando-se as
glebas ao seu estado primitivo, no prazo de 180 dias, sob pena de
pagamento de multa diária, de 1/3 (um terço) do salário mínimo
nacional, retirando do local todos os vestígios do parcelamento,
notadamente marcos de quadras, lotes, vias de circulação e edificações já
existentes;
4. a indenizar, recompor e compensar os danos urbanísticos e ambientais
verificados e eventualmente não contemplados nos projetos referidos
retro, situados na Área de Proteção Ambiental - APA Corumbataí
ocasionados pela execução do loteamento, o que será apurado em
oportuna liquidação e de acordo com lauto técnico, se o caso;
5. condenar o requerido, caso não cumpram a obrigação de reparação dos
danos no prazo estabelecido, a pagar quantia suficiente, a ser apurada em
liquidação em razão da execução das obras referidas, por terceiro
(podendo este ser órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente);
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6. ao pagamento das verbas de sucumbência (custas, honorários etc.);
As multas porventura incidentes deverão ser atualizadas
monetariamente pelos índices oficiais e recolhidas ao Fundo Estadual de
Reparação de Interesses Difusos Lesados (Decreto Estadual n. 27.070.87; art. 13
da Lei n. 7.347/85).
Requer, ainda: a) a produção de todas as provas admitidas em
Direito, notadamente documentos, depoimento pessoal dos réus, sob pena de
confissão, oitiva de testemunhas, realização de perícias e inspeções judiciais; b)
a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos (Lei
7.347/85, art. 18; C.D.C., art. 87).
Termos em que, dando-se à causa o valor de R$1.000,00 (mil
reais), para efeitos meramente legais, D.R. e A. esta com os inclusos
documentos.
P. Deferimento.
Itirapina, 15 de julho de 2010.
NEANDER ANTÔNIO SANCHES
Promotor de Justiça - Auxiliando
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